A SAGA DO RÁDIO POTIGUAR!

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Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte Nós,doRN... Suplemento DO A República A República Editorial Ano I - Nº 10 - Setembro de 2005 A SAGA DO RÁDIO POTIGUAR! E AGORA COM VOCÊS...

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A SAGA DO RÁDIO POTIGUAR!

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Page 1: A SAGA DO RÁDIO POTIGUAR!

Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte

Nós,doRN...Suplemento

DOA RepúblicaA RepúblicaEditorial

Ano I - Nº 10 - Setembro de 2005

A SAGA DORÁDIO POTIGUAR!

E AGORA COM VOCÊS...

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2 Natal - Setembro de 2005 nós, do RN Suplemento

Apresentação

Rubens Lemos Filho

Está de parabéns aequipe que produz osuplemento cultural

do Diário Oficial, este "nósdo RN", que tanto orgulhao Departamento Estadualde Imprensa - DEI. Foi umverdadeiro achado a lem-brança de garimpar daHistória do Rádio Potiguar,coligindo, reunindo e sele-cionando estórias e perso-nagens que conquistaram opúblico ouvinte do Estado.

Embora ainda tenhamosmuito que cascavinhar nesteveio precioso, trazemos nofundo da bateia as primeiras"rádios piratas" e resíduosvaliosos das modernas"FM".

Desfilam nestas páginasinolvidáveis personagens do

rádio-jornalismo, das nove-las e da narração esportiva,muitos deles dando-se, poramor, ao sacrifício dehorários penosos e saláriosdesprezíveis. Há os memori-alistas, que legam aos futu-ros historiadores depoimen-tos singulares - dos bizarros,às raridades que o tempo vaiapagando.

Por um defeito corpora-tivista, obrigo-me a destacar osmeus contemporâneos, comquem convivi e aprendi arespeitá-los profissionalmente,como Ademir Ribeiro, BetânioBezerra, D u a r t e Júnior,Eugênio N e t o , Fel intoRodrigues, José Ayrton - oRisadinha, Roberto Machado,Rosemilton Silva, Paulo TarcísioCavalcante, We l l i n g t o n

Carvalho - o Pantera, e a eternadiva Glorinha Oliveira.

Esses heróis inspiraramas novas gerações, queencontrei na Cabugi, Trairi,Nordeste e Tropical, e comquem trabalhei com a alegriaque só o Rádio oferece aosidealistas, entre eles CarlosPeixoto, C i r o Pedroza,Diógenes Dantas, FranklinMachado, Jurandir Nóbrega,Ricardo Rosado, RobertoGuedes, T ú l i o Lemos eWellington Medeiros.

É com saudade que evo-camos os velhos compa-nheiros e recordamos osbons momentos em quesurfávamos nas ondas doRádio...

Uma nova vitória do DEI

Aqui estamos o número 10 destesuplemento cultural. Com ele, aImprensa Oficial do Rio Grande do

Norte cumpre a sua tarefa no conjunto doselementos determinados na política culturalinspirada pela Excelentíssima SenhoraGovernadora Wilma Maria de Faria.

Pela repercussão favorável obtida nosdiversos segmentos da sociedade norte-riograndense, e com repercussão além doslimites territoriais do Estado, "nós, do RN"avança no sentido de contribuir para o arqui-vo das memórias que escrevem a História. Éuma nova vitória do Departamento Estadualde Imprensa - DEI.

É gratificante participar da originalidadedo tema da edição de setembro, que levanta

os primórdios da radiofonia e os pioneirosdesse impulso tecnológico que revolucionoua Comunicação Social no mundo. Ha chama-da de capa diz tudo o que os curiosos sobrea matéria esperam encontrar, e as pesquisasvêm valorizadas pela autoria de grandesnomes do jornalismo norte-riograndense.

Por tudo isso nos sentimos à vontade empoder agradecer, mais uma vez, a colabo-ração de todos que contribuem para o êxitodeste encarte do Diário Oficial, expressando airrestrita confiança de que o DepartamentoEstadual de Imprensa - DEI, voltará a pre-sentear o povo potiguar com novos e exi-tosos produtos do interesse do povo norte-rio-grandense.

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTEASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

WILMA MARIA DE FARIAGOVERNADORA DO ESTADO:CARLOS ALBERTO DE FARIA

GABINETE CIVIL DO GOVERNO DO ESTADO

RUBENS MANOEL LEMOS FILHOASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

RUBENS MANOEL LEMOS FILHODIRETOR GERAL EM EXERCÍCIO

HENRIQUE MIRANDA SÁ NETOCOORDENADOR DE ADMINISTRAÇÃO

E EDITORAÇÃO

JURACIR BATISTA DE OLIVEIRASUBCOORDENADOR DE FINANÇAS

EDUARDO DE SOUZA PINTO FREIRESUBCOORDENADOR DE INFORMÁTICA

nós, do RNeditor-geralMIRANDA SÁ

chefe de redaçãoMOURA NETO

equipe redacionalPAULO DUMARESQ - REPORTAGEMANCHIETA FERNANDES - PESQUISAJOÃO MARIA ALVES - FOTOGRAFIA

diagramação e arte finalEDENILDO SIMÕES

ALEXANDRO TAVARES DE MELO

Programação VisualEMANOEL AMARAL

ALEXANDRO TAVARES DE MELO

CapaEMANOEL AMARAL

ColaboradoresCARLOS MORAISCARLA XAVIER

EDSON BENIGNOCARLOS DE SOUZA

JOÃO RICARDO CORREIAJOSÉ AYRTON DE LIMA

apoio gráficoWILLAMS LAURENTINO

VALMIR ARAÚJO

D.E. I.

Editorial“nós” nas ondas do Rádio

Miranda Sá

DEPARTAMENTO ESTADUAL DE IMPRENSAAV. CÂMARA CASCUDO, 355 - RIBEIRA - NATAL/RN

CEP.: 59025-280 - TEL.: (084) 3232-6793SITE: www.dei.rn.gov.br - e-mail: [email protected]

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Rádio Educadora de Natal, construída em terreno doado pelo governador Rafael Fernandes

Anchieta Fernandes

Corajoso e idealista. Um homem de visão. Sevivo fosse, Carlos Lamas completaria esteano, no dia 1º de setembro, cem anos de

idade. A ele é atribuída a iniciativa de idealizar e ser omaior acionista da sociedade que fundou a primeiraemissora radiofônica do Rio Grande do Norte, aRádio Educadora de Natal (REN), que passou aoperar oficialmente em 30 de novembro de 1942 como prefixo ZYB - 5. O aniversário de Carlos Lamas,não por acaso, transcorre no mês em que se come-mora, também, o Dia do Radialista (21) e o Dia daRadiodifusão (25).

A Rádio Educadora de Natal, depois transformadaem Rádio Poti, é considerada, de fato, a primeira emis-sora legalmente constituída no Rio Grande do Norte.Antes dela funcionou apenas uma emissora sem razãojurídica e função comercial, que foi instalada pelaDiretoria Geral dos Telégrafos, no bairro dePetrópolis, no ano de 1928. Entusiasta da fundação daREN, o comerciante Carlos Lamas participou daassembléia geral, realizada em 31 de janeiro de 1939,nos salões do Aero Clube, que resultou na aprovaçãodo estatuto que disciplinou a atuação da emissora.

Seu nome consta, no estatuto publicado no jornal"A República" no dia 4 de fevereiro de 1939, comodiretor de rádio. Aparecem ainda os nomes de JoãoGalvão Filho (presidente), Januário Cicco (vice-presi-dente), Francisco Ivo Cavalcanti (procurador), Luis daCâmara Cascudo (diretor cultural) e ValdemarAlmeida (diretor artístico). O capital da sociedade erade 200 contos de réis.

Ainda de acordo com o estatuto, a RádioEducadora de Natal foi criada com a finalidade de"irradiar programas de caráter artístico, cultural eeducativo". Para concretizar o projeto, os fundadoresorganizaram festas sociais e campanhas para angariarrecursos, material de construção e equipamentos,como cimento, microfones e discos. A obra deconstrução do prédio que abrigou a primeirarádio oficial do Rio Grande do Norte só termi-nou no final de 1940, em terreno doado pelo entãogovernador Rafael Fernandes, no local onde hoje fun-ciona ainda a Rádio Poti (avenida Deodoro daFonseca). Comprou-se então o equipamento técniconos Estados Unidos, cuja instalação ficou sob aresponsabilidade do engenheiro Valter Obermuller,da R.C.Victor.

E tudo começa com a Rádio EducadorRádio Educadora de Naa de Natal tal

Genar Genar WWanderander leley ory orgganizanizououa pra proogg rramação da emissoramação da emissoraa

Somente em 16 de maio de 1941, o Ministério de Obras e Viação autorizou o funcionamento da RádioEducadora de Natal. A inauguração oficial, no entanto, só ocorreria em 30 de novembro de 1941, passandoa emissora a funcionar, efetivamente, no dia 29 de novembro de 1942. A primeira transmissão recaiu sobreum show musical, realizado em um local próximo da Casa do Estudante, na Cidade Alta, com DeniseAlbuquerque ao violão, Jandira Albuquerque ao violino e Clarice Palma ao bandolim. Esta transmissão, emfase de teste, foi apresentada pelo locutor Genar Wanderley.

Coube ainda a Genar Wanderley organizar a programação da REN, constando de música ao vivo, seleçãomusical, leituras de poemas e do primeiro noticioso radiofônico do rádio potiguar, Gazeta Sonora, redigidoe apresentado por ele3 próprio, Genar Wanderley, no horário compreendido entre 12 e 13 horas. A primeirapartida de futebol transmitida foi entre os times do ABC e Payssandu, narrada por Francisco Lamas, irmãode Carlos Lamas, direto do Estádio Juvenal Lamartine.

Até que a REN foi comprada pela rede dos Diários e Emissoras Associadas, passando a ser chamada deRádio Poti, em homenagem ao principal cacique dos índios potiguares que viviam nestas terras antes dainvasão portuguesa. A nova estrutura da até então única rádio-emissora do Rio Grande do Norte foi inau-gurada a 1º de novembro de 1948, contando com estúdios próprios e o que, na época, foi considerado "omaior auditório do país".

"Com os investimentos feitos por Assis Chateaubriand, a rádio Poti passou por uma transformação com-pleta, tanto em termos de equipamentos como de instalações", conta o pesquisador José Airton Lima, queescreveu "A História do Rádio no Rio Grande do Norte" (Natal, 1984). Nasceram então famosos programasde auditório ("Domingo Alegre", "Sabatina da Alegria" e "Vesperal de Brotinhos" - o primeiro, criação deGenar Wanderley; o último, comandado por Luis Cordeiro). A potência dos novos equipamentos da rádiolevou estes programas e seu noticiário a serem captados em várias partes do mundo, conforme ficouregistrado pelos próprios ouvintes que remetiam correspondências à emissora.

Foto: Arquivo

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Dele já foi dito que era corajoso e idealista.Apaixonado por música, também eraesportista, campeão nas modalidades de tênis

e voley com a equipe formada por ele e seus irmãosAmador, Francisco, Afonso e Jacó, consagrada emmemoráveis partidas realizadas no Aero Clube.Principal acionista do grupo que fundou a primeiraemissora de rádio no Rio Grande do Norte, CarlosLamas nasceu em Valparaíso, no Chile, em 1º desetembro de 1905, mas veio morar com a família emNatal em 1924.

Era filho do israelita Elias Lama, tendo tambémoutro irmão, Antônio, e quatro irmãs: Inês, Maria, Anae Emília. Em Natal, nasceu mais um casal, Eddie eÉster. Seus pais estabeleceram-se na rua Dr. Barata, naRibeira, como comerciante e proprietário de umarmazém que vendia de quase tudo, antecipando-se aopapel que hoje cumpre os supermercados.

Seu nome revelava o que ele era e gostava de ser.Carlos, palavra de origem germânica, significa"homem do povo". O que bem personaliza aquele queabriria, em nosso Estado, campo ao meio de comuni-cação tão popular como o rádio. O sobrenome Lamassoa estranho na língua portuguesa, mas deve ter lá suasrazões na etimologia hispânica.

Protagonizou casos que revelam sua personali-dade forte e a índole de fidelidade aos princípios quemantinha. Embora suas origens sejam de uma cidadebanhada pelo Oceano Pacífico, não era, absoluta-mente, pacífico. Já adulto, tornou-se cônsul do Chileem Natal e fez da casa do seu irmão Amador a sededo consulado em 1935, fatídico ano da IntentonaComunista. Ocorreu aqui um dos episódios maismarcantes da biografia dos Lamas.

Na noite de 23 de novembro daquele ano, os guer-

do pioneiro do Rádio:

CarCar loslosLamasLamas

100 anos

rilheiros rebeldes se dirigiram ao Teatro Carlos Gomes(hoje, Teatro Alberto Maranhão) para prenderem asautoridades locais (governador Rafael Fernandes,prefeito de Natal Gentil Ferreira de Souza e outrosnomes de destaque da administração pública) que alise encontravam, participando de uma solenidade decolação de grau de alunos do Colégio Marista.

Não os encontraram mais ali. Sabendo que os man-datários e seus principais assessores estavam noConsulado chileno, os comunistas intimaram os Lamas aentregarem os refugiados. Carlos foi enfático na suaresposta: somente com a ordem do embaixador do seupaís poderia atendê-los. Fora disso, só se invadissem oConsulado e retirassem à força aqueles a quem procu-ravam, "pois só a estes reconhecia como autoridadeslegítimas naquela conjuntura". O caso está descrito nolivro de João Medeiros Filho, "82 Horas de Subversão"(1980).

Fundador da Sociedadede Cultura MusicalFilho de comerciante, comerciante foi.

Carlos Lamas criou também seu estabeleci-mento comercial que, embora batizado de"Carlos Lamas - Sport", vendia não somenteartigos esportivos, mas também musicais.Aliás, Carlos era um aficionado por música,tendo fundado, em 4 de junho de 1932, aSociedade de Cultura Musical do Rio Grandedo Norte, que seria presidida por DomMarcolino Dantas, o primeiro bispo do Estado.

Movido pela paixão que nutria pela música,certamente foi impulsionado a dotar o RioGrande do Norte de estrutura de transmissãoe recepção à distância dos sons harmônicos viaaparelhos radiofônicos. Antes de partir para oRio de Janeiro, onde faleceu em 3 de outubrode 1972, patrocinou a sociedade que criou emanteve a Rádio Educadora de Natal (REN), apartir de 1939. (AF)

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Carlos Lamas: Idealizador da REN

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Ogênero humano não conhece limites. Nocampo das comunicações, então, a cada diasurgem novos veículos e novas ferramentas

midiáticas, que possibilitam o envio de mensagem a umreceptor. Dentro desse arco de opções, o rádio insere-se com o objetivo de comunicar, encurtar distâncias eentreter as pessoas. Antenada no mundo, Natal nãoficou isolada na corrida das comunicações.

Prova disso foi a inauguração da pioneira RádioEducadora de Natal (REN), no distante ano de 1941, doisanos após a realização da assembléia geral, na sede do AeroClube, com a participação especial de Gentil Ferreira deSouza e Luís da Câmara Cascudo, além dos criadores daemissora Carlos Lamas e Carlos Farache. O Brasil vivia ogrande momento do rádio. Com o seu espírito empreende-dor e expansionista, o jornalista Assis Chateaubriand, pormeio dos Associados, adquire o controle da emissora em1944, dando-lhe o nome de Rádio Poti.

Seguindo o padrão da Rádio Cosmos e da RádioNacional, que já tinham inaugurado o seu auditório, noRio de Janeiro, a Poti mostra ser possível implantar emNatal um novo estilo de radiodifusão, investindo nainteração das grandes estrelas do veículo com o públi-co. A fórmula funciona e a emissora passa a atrair asatenções da sociedade natalense. Os programas deauditório multiplicam-se e revelam ao público eouvintes os nomes de Ademilde Fonseca, GlorinhaOliveira, Agnaldo Rayol, Trio Irakitan e Trio Maraiá,para ficar nos mais representativos. Naquela época, oCacique Genar Wanderley comandava o "DomingoAlegre" e Luiz Cordeiro "Vesperal dos Brotinhos".

Com os programas de auditório e as radionovelas, a

Poti sai do padrão meramente educativo para o popu-lar. A Segunda Guerra Mundial também mexe com aprogramação da emissora. Os antigos programas dedi-cados à música francesa e à italiana cedem lugar para asbig bands norte-americanas, especialmente pela pre-sença de soldados yankees na cidade. "Natal tinhapraia, futebol, remo e a Rádio Poti", lembra o atualdiretor da emissora, Albimar Furtado.

A fase de ouro da Rádio Poti vai até fim da décadade 1950. Com a penetração cada vez maior da televisãonos lares brasileiros e natalenses, o rádio começa aentrar em decadência. Nos anos 1960, o auditório daPoti passa a funcionar como cinema e os programas aovivo são substituídos por programas em estúdio. Oselencos das radionovelas são extintos e a emissora ini-cia a importação de enlatados do Sudeste.

Albimar Furtado destaca ainda que o grande nomeda crônica esportiva da Rádio Poti, nos tempos do está-dio Juvenal Lamartine, era Aluisio Menezes. Mas nãoesquece de citar também Almeida Filho, RobertoMachado, Hélio Câmara, César Rizzo e CelsoMartinelli. O jornalista lamenta não haver pesquisas e,por conseguinte, publicações abordando a memória dorádio em Natal, especialmente o esportivo.

Nova fase - Com a chegada da rádio em FreqüênciaModulada (FM), a Poti passa a trilhar o caminho doradiojornalismo, pois, afinal de contas, não dava paraconcorrer com o som limpo das rádios FMs. Outroagravante foi a redução de dez quilos para meio quilo depotência, em face de mudança na legislação. ConformeFurtado, a emissora passará por uma reformulação geralem sua programação, no próximo ano, uma vez que

aumentará a potência do atual meio quilo para cinco qui-los, ganhando status de emissora regional. Jornalismo eserviço serão os carros-chefes da Poti. "Nós ainda esta-mos estudando o formato", desconversa.

O jornalista afirma que hoje a programaçãoesportiva é o destaque da emissora: "o futebol é umapaixão". Está previsto, para 2006, investimento empesquisas para que a emissora possa conhecer me-lhor o perfil do seu ouvinte. "Vamos ter esse acom-panhamento, porque aí teremos uma resposta maisobjetiva para podermos montar a programação",adianta. E acrescenta: "O rádio está em todo canto.Não existe nada mais fascinante do que o rádio, pelapassagem da mensagem, pela presença em qualquerlugar e pelo imediatismo que tem". (PJD)

Pioneirismo e vPioneirismo e vanguaranguardadaem amplitude modulem amplitude moduladaada

A fase de ouro da Rádio Poti vai até fim da década de 1950, antes da penetração cada vez maior da televisão nos lares da população brasileira

Albimar Furtado: superintendente dos Associados

Foto: Cedida

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Coincidência ou não, o sur-gimento das primeirasemissoras de rádio em

Natal trouxe quase sempre naretaguarda a figura de um político.Somente 10 anos depois que osDiários Associados instalaram aRádio Poti, surgiu outra emissorana cidade, a Rádio Nordeste, inau-gurada em 21 de setembro de1954 por determinação do entãogovernador Dinarte Mariz. Nestemesmo ano, em 25 de dezembro,o senador Georgino Avelinoimplantava a terceira emissora, aRádio Cabugi, que antecedeu, emquatro anos, a instalação daEmissora de Educação Rural, criadapela Igreja Católica para promover aevangelização do hom e m docampo. Coubeao então de-putado federalTheodor icoBezerra fun-dar, em 1962,a Rádio Trairy.

Sucessorada REN, ahegemonia daRádio Potidurou, por-tanto, umadécada. Comuma progra-mação diver-sificada, aR á d i oNordeste angariou a preferênciados ouvintes, segundo registra opesquisador e jornalista JoséAirton Lima, que escreveu umlivro sobre a História do Rádio noRio Grande do Norte. Alguns dosprincipais nomes do rádiopotiguar trabalharam na emissora,que ficou conhecida como "líderde audiência" e que sacudiu aradiofonia local com um transmis-sor de 10 quilowatts, até entãoinédito. É o caso, entre outros,de Paulo Câmara, FranciscoMacedo, Aluízio Menezes, noprimeiro momento, e AssisCâmara, Adalberto Rodrigues,Eugênio Neto, Franklim Machadoe Roberto Machado, posterior-mente.

A Rádio Cabugi, instaladanaquela época no município deParnamirim, possuia um trans-missor de um quilowatt, destacan-do-se desde o início na divulgação

da música e jornalismo. No seuquadro de locutoresapareciam nomescomo os de ArnóbioAzevedo, NoharIzidin, Dóris Sandra,Gilvani Moreira,Sidney Gurgel,Almeida Filho,Liênio Trigueiro,Nilson Freire,Walter Pedrosa eAdemar Azevedo.Romildo Gurgelrespondia pelasuperintendência;Oggi Pozzoli pela

direção artística. O noticiárionacional e internacional era grava-do da Rádio Globo e RádioNacional. Foi aprimeira emis-sora a fazer umat r a n s m i s s ã oe x t e r n a ,cobrindo a visi-ta do presidenteCafé Filho numevento realizadono porto deNatal.

Entre osfundadores daEmissora deEducação Ruralestavam DomEugênio Sales, oentão monsenhor Nivaldo Montee o professor Otto Brito Guerra."A fase áurea da rádio no seu tra-balho de politização e conscienti-zação do povo foi de 1961 e 1964,

quando chegou a sofrerrepresálias do governo federal,ficando mais de uma semana forado ar, acusada de fazer críticas aoregime militar", relata José Airton.A Rural foi pioneira no RioGrande do Norte não apenas notrabalho de alfabetização, mas nadivulgação de técnicas agrícolas,noções de higiene e conscientiza-ção política religiosa. "As aulas dasescolas radiofônicas repercutiamtanto que logo os poderes públi-cos se interessaram pela iniciativae passaram a adotá-lo", diz Airton.

A inauguração da Rádio Trairycontou com a presença deninguém menos do que o presi-dente Juscelino Kubitschek. Aemissora funcionou nos primeirostempos na praça PresidenteKennedy, transferindo-se depois

para a Cidade Altae Alecrim antes dese fixar no Tirolcom a denomi-nação atual deRádio Tropical. Oe x - d e p u t a d oestadual KleberBezerra, filho doproprietár io daempresa, trabalhouna e q u i p e d elocução, ao lado deG u t e m b e r gMarinho, IvanildoNunes e EdmilsonBraga. O jornalista

Francisco Macedo, da linha defrente do departamento de radio-jornalismo, realizou a l g u m a sproezas, como viabilizar a trans-missão, em cadeia com a Rádio

Nacional de Lisboa, da solenidadeem que a Câmara Municipal deLisboa homenageava JuscelinoKubitschek. No início da décadade 80, o ex-governador TarcisioMaia comprou a emissora.

Ainda s

obre os

primór

dios do

rádio

Moura Neto

Rádio Trairy: Redação da emissora fundada em 1962 e depois transformada em Rádio Tropical

A primeira emissora derádio a se fixar no interior foitambém a terceira do RioGrande do Norte, depois daREN e Poti. Em 7 de setem-bro de 1950, a Rádio Difusorade Mossoró era fundada peloempresário Renato Noronhada Costa, que em 1984 passouo controle acionário da emis-sora para a família Alves. Noano em que a Nordeste pas-sou a atrair audiência emNatal (1954), outras duasempresas de radiodifusão seestabeleciam no interior: aRádio Tapuyo de Mossoró,em 1º de maio, pertencente aDix-Huit Rosado, e a RádioDifusora de Caicó, em 21 desetembro, obra do padre JoséCelestino Galvão. Cinco anosdepois, surgia a Rádio Brejuí,de Currais Novos, sob a batu-ta do desembargador TomazSalustino.

Rádio Difusora,a primeira do interior

Theodorico Bezerra: Trairy

Dinarte Mariz: Nordeste

Fotos: Arquivo

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José Airton com Wellington Medeiros na Cabugi

Antes de o Brasil declarar guerra aos países doEixo, Natal era uma cidade pacata, com pouco maisde 40 mil habitantes, conforme o censo de 1940. Asnotícias só chegavam pelos jornais. Nesta época, umjovem chamado Luiz Romão teve a idéia de instalarum serviço de publicidade, que era, na verdade, umarede composta de 22 autofalantes. As chamadas"bocas de som" ficavam espalhadas pelos bairros dasRocas, Cidade Alta, Lagoa Seca e Alto Juruá.Preferencialmente, transmitiam as notícias da guerraem cadeia com a BBC de Londres e a Voz daAmérica.

A primeira grande atraçãodo rádio natalense foi a no-vela. Transmitida ao vivo,surgiu primeiro na REN.Depois na Poti, Nordeste eCabugi. Destacaram-se, comoatores e atrizes nesta épocaáurea, entre outros, GenarWanderley, Sandra Maria(nome artístico de EuniceCampos Freire), Clarice Palma,Nilson Freire, Jacinto Maia eSuzete Amaral. As novelaseram realizadas praticamentesem recursos técnicos. Ocontra-regra precisava fazerma-labarismos: para imitar tro-pel de cavalos, batia-se com aspontas dos dedos na mesa domicrofone; retorcia-se umpapel nas mãos para imitar obarulho de fogo. Neste setor,destacou-se Eider Furtado.

Na Rádio Nordeste, asnovelas de autores norte-rio-grandenses eram apre-sentadas ao vivo. As produções com autores nacionaisvinham gravadas em fitas, sendo veiculadas ao públi-co ouvinte sempre pela manhã. Aos sábados, retrans-mitia em audio-tape um programa humorístico daRádio Nacional, do Rio de Janeiro, chamado "Balançamas não cai". A emissora, que inicialmente pertenciaa Dinarte Mariz, passou para o controle do jornalistaFelinto Rodrigues na década de 70.

Além de Genar Wanderley, primeiro diretor artísti-co da REN, trabalharam nesta emissora, como locu-tores, Protásio Melo, Pedro Machado e WalterCardoso - também responsáveis pelos shows

humorísticos. Outros intelectuais passaram a colabo-rar com a programação da rádio: Carlos Homem deSiqueira, Alcides Cicco, Didi Câmara, EsmeraldoSiqueira, Fernando Cardoso, Ubaldo Brandão eWaldemar de Almeida.

O primeiro locutor esportivo foi Francisco Lamas,que transmitiu o jogo ABC e Payssandu, um timelocal que existiu na década de 20, por ocasião daimplantação da REN. Os programas esportivos quesurgiram nesta época chamavam-se Gazeta Sonora(REN), Almoço Esportivo (Nordeste, com direção de

Aluízio Menezes) eChutando a Gol (Cabugi,sob a direção de RobervalPinheiro). No interior, asemissoras Tapuyo eDifusora, de Mossoró, forampioneiras na transmissão ecobertura dos eventosesportivos.

Na década de 50, o rádionorte-rio-grandense chegou aser um dos melhores do país,sendo superado apenas pelasdo Rio de Janeiro, São Paulo,Minas Gerais e Pernambuco.Nessa época, a Rádio Potipossuía o maior auditório daradiofonia brasileira, além desustentar garbosamente umaorquestra que só chegou a sersuperada, no Nordeste, pelaTabajara - que nasceu emJoão Pessoa e depois trans-feriu-se para o Rio de Janeiro.

Dos programas de auditório da Rádio Poti despon-taram alguns nomes que se tornaram nacionalmenteconhecidos, como os irmãos Rayol (Agnaldo e Marli),Glorinha de Oliveira, que brilhou com o programa"A Estrela Canta" e Ademilde Fonseca. Em seu castainda figuraram Jorge Ivan Cascudo Rodrigues(depois prefeito de Natal), Aluízio Menexes,Fernando Garcia, Nilson Freire, César Rizzo, AldericoLeandro, Liênio Trigueiro e Ademir Ribeiro.

A sexta emissora de rádio AM fundada em Natal, aRio Grande, do então prefeito Djalma Maranhão, tevea concessão cassada pela revolução de 64. Funcionoupor dois anos numa sede nas Quintas, tendo como

Fatos e CuriosidadesFatos e Curiosidadessobrsobre a História do rádio potiguare a História do rádio potiguarJosé Ayrton de Lima

diretores Carlos Lima, Celso da Silveira e UbirajaraMacedo, que priorizaram a divulgação da metodologiada campanha "De pé no chão também se aprende aler", motivo que justificou a perseguição dos militares.

A primeira FM do Rio Grande do Norte foi aNatal Reis Magos, inaugurada em 23 de dezembro de1981, por iniciativa dos jornalistas Luis Maria Alves eFrancisco Sinedino.

As emissoras comunitárias surgiram nos EstadosUnidos com a finalidade de atender os bairros ecomunidades rurais. No Brasil, a novidade ganhou onome de emissoras piratas, no final do século passa-do, por não haver lei que disciplinasse seu funciona-mento. Só depois o governo federal oficializou asinstalações das mesmas, embora a legislação aindaseja muito falha neste setor. No Rio Grande doNorte, elas operam não apenas em Natal, mas nointerior, todas na faixa de Freqüência Modulada, depouco alcance. Ao contrário das emissoras conven-cionais, não podem ter fins lucrativos; os patrocíniospodem somente alcançar o bairro que atinge, sendoos recursos destinados à própria manutenção.

Charges de Carlos Estevão (O Cruzeiro de 1956)

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8 Natal - Setembro de 2005 nós, do RN Suplemento

Assim como o brasileiro (nascido no Rio Grandedo Sul) padre Roberto Landell de Moura é o ver-dadeiro inventor não reconhecido da radio-emissão(internacionalmente, sempre se diz que é o italianoGuglielmo Marconi, que no entanto só chegou aosresultados técnicos da comunicação por ondashertzianas quando o brasileiro já tinha feito adescoberta), o natalense Jayme dos GuimarãesWanderley é pioneiro não reconhecido, por ter sidoo primeiro escritor norte-rio-grandense a escreverradionovelas.

Ele nasceu em Natal, no prédio que é hoje oMuseu Café Filho, a 06 de Julho de 1897. Foi criadonum engenho no município de São Gonçalo doAmarante, mas veio para a capital estudar nos colé-gios Santo Antônio e Ateneu Norte-rio-grandense.Em 1918, o jornal "A República" publicou seuprimeiro trabalho, o poema "As Mariposas". Em1921, obteve o diploma de farmacêutico pelaFaculdade de Recife. Voltou ao Rio Grande doNorte, para ensinar na Escola de Farmácia de Natal.Em 1926, a Imprensa Oficial publicou seu primeirolivro, "Fogo Sagrado".

Poeta, dramaturgo, romancista, ensaísta, bió-grafo, memorialista, cronista, jornalista e radionove-lista - participou da fundação da Academia Potiguarde Letras e da Academia de Trovas, e ocupou acadeira n. 23 da Academia Norte-rio-grandense deLetras. Integrou também grupos de teatro amador, oInstituto Histórico e Geográfico do Rio Grande doNorte; foi Presidente do Clube de Poesia, e formoucom os amigos José Maux Júnior e Evaristo de Souzaum trio de seresteiros. Foi boêmio e folião car-navalesco.

Funcionário da Prefeitura de Natal e do IPASE,deixou, ao falecer em Natal, a 24 de fevereiro de1986, 22 livros publicados (o último que publicoufoi o livro de memórias "É Tempo de Recordar",publicado em 1984) e 26 inéditos. A sua radionovela"Espinhos da Encruzilhada" (Rádio Nordeste,1957) recebeu um prêmio concedido pela Federaçãodo Comércio do Rio Grande do Norte. (AF)

Jaime Wanderley,O novelista

Um tipo de programa hoje quase desaparecido,mas que fez muito sucesso no Brasil nos anos30, 40, 50 e 60 do século passado foi o das

radionovelas. Com a mesma comunicabilidade quealcançam atualmente suas sucessoras, as telenovelas.Antes de elas chegarem ao país, importadas de Cubaou do México, o Nordeste já fora precursor inauguran-do o esquema de histórias contadas pelo rádio em capí-tulos: pela Rádio Clube de Pernambuco, em 1937, foitransmitida a primeira história seriada: "SinhazinhaMoça", adaptação de Luiz Maranhão, em capítulosdiários, do romance "Senhora de Engenho", doescritor pernambucano Mário Sette.

Somente em 1941 é que a Rádio Nacional, do Riode Janeiro, começou a transmitir a que - ignorando-seo pioneirismo nordestino (tanto em termos de dataanterior, como da autoria brasileira da história) - éerroneamente considerada sempre a primeiraradionovela brasileira: "Em Busca da Felicidade", escri-ta pelo cubano Leandro Blanco, adaptada em por-tuguês por Gilberto Martins, e transmitido cada capí-tulo em meia hora por manhã.

Privilegiando o público feminino, a chamada dizia:"Senhoras e senhoritas, o famoso creme dental Colgateapresenta o primeiro capítulo da empolgante novela'Em Busca da Felicidade'". Foram mais de três anos deemoções fortes, com uma multidão de personagens ("àmedida que os capítulos iam se sucedendo, o númerode personagens crescia" - informou Floriano Faissalem entrevista num velho exemplar da revista "Rádio-Teatro", do Rio de Janeiro).

E Floriano completou seu histórico daquelaradionovela com uma curiosidade: "Em Busca daFelicidade não acabou...Houve um desentendimento

entre a Rádio e o anunciante, e a história ficou no ar,feito a Sinfonia Inacabada..."

As estações de rádio também transmitiam novelasno Rio Grande do Norte. Pela Rádio Poti se ouvirammuitas. Tanto as que apresentavam dramas adultos,como as que eram novelas seriadas dedicadas aosjovens ("Aventuras de Tarzam", "Jerônimo, o Herói doSertão", "O Capitão Atlas"). A de maior sucesso foi,sem dúvida, "O Direito de Nascer", do cubano FélixCaignet, adaptada por Eurico Silva, e com a radio-atrizGuiomar Gonçalves magnificamente interpretando aterna e bondosa Mamãe Dolores.

Mas tivemos também um autor, que escreveuradionovelas que foram irradiadas nas estações locais,com elenco local. Foi Jaime Wanderley, podendo-semencionar de sua autoria: "Vingança Que Redime"(Rádio Poti, 1954); "Porque Me Fiz Criminoso" (RádioNordeste, 1956); "Espinhos da Encruzilhada" (RádioNordeste, 1957); "O Pierrô Escarlate" (Rádio Poti,1958); "Suplício de Uma Paixão" (Rádio Nordeste,1959); "O Crime Da Rua Sem Nome" (RádioNordeste, 1960).

Os nossos principais galãs de radionovelas foramNilson Freire (que foi também locutor do noticioso "OGalo Informa"), Ademir Ribeiro (os antigos devem se lem-brar de sua voz grave interpretando o personagem de"Amargo Silêncio") e Genar Wanderley. As atrizes princi-pais foram Glorinha Oliveira (o seu maior êxito foi inter-pretando uma personagem menina na novela "ATempestade") e Marli Rayol (chegou mesmo a receber amedalha de ouro como "a melhor radio-atriz do Estado")e Eunice Freire (ou Sandra Maria - seu nome artístico -, quetrabalhou em outros setores do rádio, chegando a ser dire-tora de programação de uma emissora do nosso Estado).

Quem foi

As radionovelas eram dirigidas principalmente ao público feminino

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9Natal - Setembro de 2005 nós, do RNSuplemento

a eterna diva do rádioGlorinha OliveiraPaulo Jorge Dumaresq

Faz tempo que a era de ouro do rádio natalenseacabou. Na memória dos saudosistas, porém,ficou a voz que fazia a diferença nos programas

de auditório, encantando o público e os ouvintes daRádio Poti nas décadas de 1940 e 1950. Nascida e bati-zada Maria da Glória Mendes Oliveira, na Igreja doBom Jesus das Dores, na Ribeira, em 1925, a eternadiva do rádio natalense sempre fez jus ao nome debatismo. Embora atualmente sem o devido reconhe-cimento, que reclama e merece, Glorinha Oliveira égrife e marca registrada de uma época marcada peloromantismo e pelainocência.

As inclinaçõesmusicais começamcedo, notadamenteno seio familiar.Luíza Mendes deOliveira, a mãe bioló-gica, soltava a voz etocava o pinho nastertúlias promovidaspelo ex-governadorPedro Velho.

Quando a genito-ra faleceu prematu-ramente, Glorinha jáestava morando noRecife com a tiamate r n a M a r i aM e n d e s C o s t aT inoco, que "can-tava, tocava v io -l ã o e gostava detomar uma cerve-jinha". O primoLauro Costa tambémespantava os males,irmanado com aboemia recifense. NaVeneza brasileira, vaimorar inicialmentena rua São Jorge, nohistórico bairro doRecife, onde des-filavam os ursos, osmaracatus e os blocos carnavalescos tradicionais.

Em 1934, ainda na capital do frevo, recebeu con-vite para cantar num programa infantil, na RádioClube de Pernambuco, defendendxo a canção "Linda",gravada pelo paulista Ubirajara. Resultado: primeirolugar e um relógio de ouro. "Naquela época a famílianão via com bons olhos a mulher que cantava fora",revela. Não é novidade para ninguém que cantar sem-pre foi a paixão de Glorinha Oliveira que, relembra,subia no sapotizeiro do quintal de casa, fazendo de

conta que ia estudar, para rivalizar com os pássaros decanto mais inefável.

A primeira apresentação pública ocorreu nastábuas do antigo Teatro Carlos Gomes, hoje TeatroAlberto Maranhão, em 1940. Com o futuro traçadopelas linhas do destino, certo dia passa um "anjo",ouve a voz vinda do sapotizeiro, pára e pede permis-são à tia e mãe de criação de Glorinha para a adoles-

cente cantar na "Campanha daPedra e do Tijolo", almejando aconstrução da Rádio Educadorade Natal (REN), com o regionaldo clarinetista e compositor K-Chimbinho. A partir daí a"cotovia" começa a voar alto.

Na REN, trabalha até 1943recebendo módicos cachês.Nesse mesmo ano, a emissora évendida ao grupo dosAssociados do jornalista AssisChateaubriand e rebatizada como nome de Rádio Poti. Na novavelha casa, assina carteira epassa a cantar profissionalmente.Apresenta-se ainda como come-diante e radioatriz.

Atua nas radionovelas "Alémdo horizonte", "Um dia na vida","A intrometida", "Tudo poramor" e "Tormenta de amor",sob a direção de Genar Wanderley,o Cacique, e interpretadas peloelenco do radioteatro da Poti,integrado ainda por DécioCâmara, Idalmo César, Barros deAlencar, Luiz Cordeiro, NilsonFreire, Jorge Ivan CascudoRodrigues, Nice Fernandes,Sandra Maria (Eunice Campos),Clarice Palma, Teresinha Palma eEliete Regina, entre outras cele-bridades do mundo radiofôniconatalense.

Em meio aos compromissos na Rádio Poti, ondeparticipava de todos os programas, Glorinha Oliveiraainda encontrou tempo para casar com o compositore instrumentista José Correia de Queiroz. Exercitandosua veia poética, José Queiroz compõe para a musa"Quatro meses de ausência", "Voltei! Voltei!","Tinteiro de nanquim", "Quase desiludida", "Banzo" e"Meu passado", esta última em parceria com ChicoElion e imortalizada por Glorinha e Rinaldo Calheiros,o cantor-galã da Poti.

A estrela cantae encanta o fã clube

O programa "A Estrela Canta" faz a deusa ganharrespeito e popularidade. Tanto é verdade que, em 31 de julhode 1954, é inaugurado o Fã-Clube Glorinha Oliveira, nosmoldes dos famosos fãs-clubes de Emilinha Borba eMarlene. A repercussão da inauguração do fã-clube chega àspáginas das revistas Radiolândia e Revista do Rádio. Não dáoutra: é convidada para cantar em diversos Estados da fede-ração. O poder do rádio era tão impressionante que a nossadiva recebe carta até de fã da distante Groenlândia.

Outros musicais de sucesso são: "Domingo Alegre","Vesperal dos Brotinhos" e "Uma voz e um violão", emparceria com as irmãs Marli e Zilma Rayol. A música regio-nal encontra eco em "Alpendre na fazenda". Eclética,Glorinha também participa dos humorísticos "PensãoChampanhota", "A vida em três tempos" ("Beco semsaída"), onde faz o papel de Agripina, "a moça mais feia domundo" e da revista carnavalesca "Vamos para a casa deNoca". A redação dos programas levava a assinatura deEider Furtado, Jaime Wanderley e José Martins.

Naquele período de parcos eventos, os programas deauditório da Rádio Poti envolviam toda a sociedade natalense.As mocinhas casadoiras deliravam com as vozes de RinaldoCalheiros,Zezé Gomes,Paulo Tito,Rubens Cristino,ArmandoMarçal, Luiz Favela, Pedro Viana, Gurgel Filho, Roberto Ney,Paulo Silva, Agnaldo Rayol - em início de carreira - e ZitoBorborema. O cast de locutores da casa contava, por exemplo,com Alcântara Barbosa, Jaime Queiroz, Genar Wanderley,Alberto Salomão, Marcelo Fernandes e Pedro Machado.

Já os homens aplaudiam entusiasticamente as cantorasGlorinha Oliveira, Marisa Machado, Terezinha Maia,Maria Isabel Noronha, Dulce Pinto, Carminha Silva,Salete Dias, Waldira Medeiros, Luiza de Paula, DalvinaLopes e as irmãs Francisca Francinete, Francisca de Assise Francisca Canindéa Ferreira.

A época de ouro do rádio natalense durou até fins da déca-da de 1950. Após pendenga judicial com a Rádio Poti, em1960, Glorinha deixou a emissora, onde trabalhara 17 anos.Em 1961, voltou ao batente atuando na Rádio Nordeste, noprograma "Vovô Patrício", que fazia parte da campanha "Depé no chão também se aprende a ler".

Com a entrada no ar da Rádio Trairi, Glorinha Oliveira ini-cialmente labutou como locutora para logo adiante voltar com"A Estrela Canta".Deixou a Trairi em 1965 e em julho de 1966foi contratada pela Rádio Cabugi para trabalhar nos programas"Cruzada da Esperança" e "Patrulha da Cidade", deixando aemissora em 1967. A volta à Rádio Poti ocorreu em 1980 como carro-chefe "A Estrela Canta", que reapresentou na Trairi em1982. À Poti, regressou mais duas vezes, em 1984 e em 1990.

Desde então, a "cotovia" dedica-se à realização deshows, à gravação de discos - já são quatro - e à participaçãoem projetos de artistas amigos. Publicou suas memórias nolivro "A Estrela Conta" (A.S. Livros, 2003, 196p.), com textofinal do jornalista Nelson Patriota. Ainda tem esperança devoltar ao veículo que a consagrou e no qual alicerçou suafecunda carreira de cantora. "Eu gosto de cantar. Vou mor-rer cantando. Por isso que eu não paro nunca".

Glorinha Oliveira: sucesso como cantora e radioatriz

Foto: Arquivo

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10 Natal - Setembro de 2005 nós, do RN Suplemento

Natal vibrou com um fenômeno da radiofonia edo jornalismo impresso, revolucionando acidade, por seu estilo único e até hoje insu-

bstituível, reinando nos anos 60 e 70. Chamou aatenção de todos pelo seu peculiar talento genial deimprovisador de temas, pelas suas tiradas de humorrefinado, às vezes descaradamente debochado, beiran-do àquilo que ele chamava de "escrotice", num nívelpopularesco. Um dos rebentos da bem nutrida, finan-ceiramente, família Machado, foi um dos poucos pri-vilegiados do Estado a freqüentar os bancos univer-sitários ingleses da prestigiada Oxford. Daí porquecultivou um estilo híbrido, pulando de uma aristocráti-ca formação intelectual, de um Shakespeare, digamosassim, para um nível espalhafatoso e popularesco.Assim, em função de seu humor, agia nessa dicotomiaquando alguém suspeitava de seus dotes intelectuais.

João de Vasconcelos Machado, nascido em 20 defevereiro de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial,foi um autêntico combatente da hipocrisia, da ignorân-cia (mesmo letrada) e da dolce far niente. Tinha mania demetáforas, sacadas sempre com fina ironia e alto poderde encantamento. Muitas vezes, subia as escadas doprédio da Tribuna do Norte, me via trabalhando e seaproximava para papos memoráveis e incríveis, antesde ir receber, mesmo sem já trabalhar, um minguadosalário mensal. Aí, quando aparecia alguém, eu o inci-tava, perguntando o que tinha vindo fazer. "Vim rece-ber o dinheiro da Souza Cruz!". E completava paraexplicar: "Só dá para o cigarro!".

Seu tipo esquisito, careca, cabelo comprido,roupa cáqui, folgadona, para esconder a ostensivahérnia que se avolumava, se tornou inesquecível nacidade. E quando mesmo uma curiosa criança seaproximava, perguntando o que era aquilo, JoãoMachado era curto e grosso: "É um cunhão, meni-no!" E se algum pudico reclamasse do termo, eledespachava: "Você queria bem que eu dissesse queera um confeito para ele chupar!" João Machado, norádio e no jornal, matava o natalense de rir, numtempo em que a televisão, a futura babá eletrônicadas nossas crianças e guru-mor da cultura brasileira,não tinha espalhada a receita de sua filosofia fun-cional, em que "nada se cria, tudo se copia".

Desconcertante, imaginativo, criador de neologis-mos, parafraseador de casos e acontecimentos, hiper-bolizador de pessoas, fatos e acontecimentos, geradorde situações multiestapafúrdias, o conhecido "homemdos cunhões grandes" era um gigante de improvisosmagistrais, excêntrico no vestir, no falar, na convivên-cia espalhafatosa. Morreu, esquisitamente, em conse-qüência de uma queda no banheiro, em 11 de fevereirode 1976. A cidade chorou seu artista popular, até hojeinsubstituível (um anjo torto, um Garrincha, um cha-pliniano). Hoje, sua ausência ainda dói. E quando acidade se lembra dele, ainda consegue sorrir.

Carlos Morais

João Machado: fenômeno da radiofonia, com peculiar talento de improvisador de temas

sorsorrirriruma cidaduma cidade e que fque faziaaziaanjoanjo tortor to to Um Um

MorMor rr e o homem, fica o riso imore o homem, fica o riso imor taltalQuando um repórter ia cumprir pauta na antiga

Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol, João Machadocismava de não fornecer as informações, criando uma espéciede código interno, conhecido apenas entre ele e Manuel,morador nos fundos do estádio Juvenal Lamartine e fun-cionário eterno e onipresente da entidade. "O senhor já sabequem apitará ABC e Botafogo?" O presidente da FND,então, adotava um ar de muxoxo, virava-se para seu com-panheiro e negaceava: "Manuel, você me traga aí oDNA, depois coloque ao lado do BDC e meprocure o CDF...". E matava o repórterde cansaço e de raiva, sem conceder ainformação.

No seu programa radiofônico"Curruchiado", também escritonas páginas de Tribuna doNorte, João Machado espalha-va um humor finíssimo, de altonível. Na época, quando viroumania nacional batizar osestádios com aumentativos, tipoCastelão, Almeidão, JoãoMachado perguntou aos ouvintescomo é que se chamaria o ginásio doColégio Imaculada Conceição, queestava sendo construída pela diretoramadre Cunha?

Nos tempos da ditadura de Salazar, em Portugal, umconfrade lusitano, que veio cobrir a Copa do Sesquicentárioda Independência, em Natal, quando a seleção portuguesacom Eusébio e companhia jogou no Castelão, ao falar sobreas realidades em sua pátria e exaltar a grande avenidaLiberdade, um dos orgulhos de Lisboa, João Machadoaproveitou: "Me diga uma coisa, patrício, quando é que vãoinaugurar essa tal avenida?"

Aluízio Menezes, presidente da Associação dosCronistas Esportivos do Rio Grande do Norte

(Acern), seguiu com João Machado para acobertura da corrida de São Silvestre, em

São Paulo. Lá, no hotel, deparou-secom um tipo, parecidíssimo com seuamigo, inclusive com a mesma veiahumorística do natalense. Ficouprocurando João Machado paraapresentá-lo. E, quando conversa-va com ele, no saguão do hotel,João Machado surgiu, logoreconhecendo a semelhança física

entre eles. Então, quando AluízioMenezes gritou, chamando-o, João

Machado correu, de braços abertos,para abraçar seu "sósia", já insinuando

que era mais velho do que ele, berrando:"Papai!".

Fotos: Acervo do Diário de Natal

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11Natal - Setembro de 2005 nós, do RNSuplemento

No começo dos anos 60, ele fezum teste de locução na RádioPoti, disputando com 20 can-

didatos, e foi o único aprovado. Daí pordiante começa a sua grande trajetória norádio. Dono de uma voz limpa, grave emarcante, fez história na radiofoniapotiguar apresentando, por muitos anos,o programa Show da Manhã, um dosmaiores líderes de audiência no horário."Eu lia poemas meus e de outrosautores. Abria espaço para uma crônicachamada "O Nome do Dia" e tocavaapenas músicas do passado. O progra-ma foi um sucesso que marcou muitominha vida", diz Ademir Ribeiro, hojecom 66 anos.

Ainda apresentou, na Rádio Poti, onoticiário O Galo Informa, com notí-

cias do Brasil e do Mundo. E participoude rádio-novela da emissora. "Eu queriaser somente locutor. Mas, um dia, esta-va no ar a novela Amargo Silêncio, deJanete Clair. Quem fazia o galã era meucompanheiro de rádio Nilson Freire,porém ele adoeceu e Genar Wanderleyme pediu para substituí-lo", conta."Logo de principio recusei, mas acabeidepois aceitando. Dei um verdadeiroshow de interpretação. Após a exibiçãodaquele capítulo, o telefone da emisso-ra não parava de tocar. Todos queriamsaber quem era o novo galã da novela.Confesso que fui endeusado pelo povo.Depois desta experiência passei atuarem novelas da emissora, além de conti-nuar como locutor e redator", relembra.

Também trabalhou na Rádio Cabugi,

além de ter apresentado um noticiário naTelevisão Universitária, ao lado deLiênio Trigueiro. Porém, nunca quisprosseguir sua carreira em outro Estado."Fui convidado para trabalhar na RádioGlobo, do Rio de Janeiro, Na De VoyceOf América (Estados Unidos) eDeutsch Welle (Alemanha)", revela. Eacrescenta: "Inclusive, o diretor da RádioO Povo, do Ceará, veio aqui a Natal meconvidar, não para eu ser locutor, maspara que pudesse dirigir a rádio cearense.Falei pra ele que amo minha cidade enão sairia daqui de jeito nenhum. Alémdisso, eu tinha muito amor pelo prefixoonde estava trabalhando, a Rádio Poti,que naquela época era a dona do mundo,em termos de rádio", argumenta.

Apesar do vozeirão que possui,

Ademir nunca tomou cuidado especialcom sua voz. Nem jamais a usou emcampanhas políticas. "Tudo que conquis-tei, até hoje, foi através da minha voz emestúdio. Fui o maior salário do Brasil,como locutor de rádio, sem fazer políti-ca ou gravações foras", confessa. "Melembro bem que, no início da carreira, odiretor da Rádio Poti, chamado RuiRicardo, disse pra mim: 'Ademir issoaqui jamais irá ser profissão, não pas-sará de um bico'. E me aconselhou adedicar-se aos estudos. Tinha termina-do o científico e não queria fazer facul-dade. Disse ao diretor que eu ia con-seguir tudo na vida com esta voz, queDeus me deu. Provei também a ele quetrabalhar em rádio pra mim não era umhobby e sim uma profissão", conta.

Ademi rRibeiro,a voz de ouro

Edson Benigno

Religiosamente, todas as manhãs faz cincoorações. Obrigado, Senhor, por mais um dia. Queesse dia de hoje seja bem melhor que o de ontem, emtodos os sentidos, sob todos os aspectos e em qual-quer circunstância. "Essa é a abertura que faço mati-nalmente. Ainda continuo crendo muito. Tenho aquia medalha de Nossa Senhora de Fátima, minha prote-tora, e a Cruz de Cristo Jesus, meu Pai Celestial. Masse me perguntar se vou à missa, responderei que iaquando era menino. Hoje assisto à Santa Missa pelatelevisão, todos os domingos. Mas não vou à Igreja".

A paixão pelo América ainda é do mesmo jeito.Sem tamanho. Numa ocasião, o seu time tinha venci-do o ABC, e ele foi para a rádio fantasiado: bermudabranca, camisa vermelha, número 9 às costas, que eraa do Pancinha, seu ídolo à época. Aí César Rizzo Ademir Ribeiro: audiência com Show da Manhã

Religioso e americano,duas qualidades

disse: "Chefe, vá para casa descansar três dias...". Eleperguntou se estava sendo suspenso ou recebendouma licença. Era suspensão. Como retrucou e disse oque não devia, Rizzo emendou: "Você está demitido".A resposta veio na hora: "Me dê essa porcaria paraeu assinar", pedi. Assinou.

Na chefia de pessoal, Luis Sena perguntou o quetinha acontecido. "Eu expliquei que estava assinandominha demissão. César Rizzo foi falar com Luís MariaAlves. Chegou lá e contou que estava com uma demis-são para seu Luís assinar. Luís Maria Alves perguntoude quem era a demissão. Quando César disse que era aminha, imediatamente ouviu de Luís Maria Alves:'Ademir Ribeiro? Você é quem está demitido. Peçasuas contas, vá embora e volte para o Rio de Janeiro!'.

Ademir Ribeiro está aposentado e não pretendetrabalhar mais em rádio. Também acha que se aceitaralgum convite, estará tomando o lugar de alguém queprecisa mais do que ele. "Quando saí da Rádio Poti,recebi uma boa indenização. Hoje tenho o suficientepra viver e por isso não sinto vontade de voltar aorádio", explica.

Foto: Cedida

Foto: Edson Benigno

Ademir Ribeiro apresentando O Galo Informa

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12 Natal - Setembro de 2005 nós, do RN Suplemento

Era o carnaval de 1957 quando o entãojovem Severino dos Ramos BartolomeuMachado descobriu maravilhado o

mundo do rádio. Para ele, tudo não passou deuma obra do acaso, pois recebera o convite doamigo Paulo Câmara para fazer um teste daRádio Poti. “Nós nos conhecíamos e ele metrouxe uma vez aqui na Rádio Poti para fazer umteste e, na época do carnaval, eu fui encaixadopara dar o prefixo da rádio. E fui ficando, daípassei a apresentar o noticiário”.

Seu primeiro noticiário foi A GazetaIlustrada, ao meio-dia, em seguida passou afazer a parte esportiva da rádio. “Eu comeceicomo pista, fazendo ponta de gol, na equipe quetinha Almeida Filho, Aluízio Menezes, RuiRicardo. E um belo dia eu estava escalado parafazer uma reportagem volante, já não estavamais na ponta de gol, e o narrador faltou. Nãome lembro agora quem era. Aí me mandaramnarrar o jogo. Eu, tremendo mais do que varaverde, mas fui lá e dei meu recado”.

A partir daí, ele começou a fazer parte dotime de narradores da rádio. Até que um dia pas-

sou a ser o titular. Confirmada a sua desen-voltura, passou por várias emissoras de Natal,Mossoró, Fortaleza, Recife (na Rádio Jornal doCommércio) sempre narrando jogos de futebol.“Mas tudo começou assim, por acidente, foi umacidente minha entrada no rádio e um acidenteminha entrada para narração de futebol”.

O leitor mais atento já deve estar se pergun-tando quem foi esse famoso locutor de rádio.Porque a pessoa de nome comprido que dá iní-cio a esta matéria nada mais é que o radialistaRoberto Machado, hoje jornalista do Diário deNatal, que se notabilizou narrando jogos de fute-bol. “Veja bem, meu nome de radialista não temnada a ver com meu nome de batismo. Eu esta-va com Paulo Câmara apresentando A GazetaIlustrada, aqui na Rádio Poti, e eu estava comuma caneta na mão que era do irmão, que sechama Roberto. E na hora de dizer o nome dosapresentadores, Paulo Câmara pegou a caneta eRoberto Machado ficou sendo meu nome”.

A partir daí, Roberto Machado fez um longacarreira no rádio, que só se encerrou em 1983,sempre fazendo esporte. “A partir deste anodeixei o rádio de vez e comecei a trabalhar emjornal. Comecei pelo Diário de Natal, depoisTribuna do Norte, e fui para a Radiobrás, que naépoca era EBN. Aí veio o Collor, que acaboucom a empresa. Em seguida vim para o Diáriode Natal, novamente, a convite de AlbimarFurtado”. (C.S)

Roberto Machado fez uma longa carreira no rádio, de 1957 a 1983, sempre fazendo esportes: depois começou trabalhar em jornal, onde continua

Roberto Machado,

radialista por acaso

O procurador aposentado Manoel Procópio deMoura Júnior, no seu livro "Tributo aos ConjuntosVocais do Rio Grande do Norte" (1998), ressalta aimportância dos programas de auditório da Rádio Potipara a revelação de talentos musicais que marcaramépoca na cidade, alguns deles se destacando inclusivenos palcos de centros maiores.

Conta ele que um grupo de jovens estudantes de-dicados às artes teatrais e musicais fundou a SociedadeArtística Estudantil, em 1948, que apresentava umprograma musical na Rádio Poti, "Parada Estudantil",incentivado pelo diretor dos Diários Associados,Edílson Cid Varela.

O mais famoso desses conjuntos foi sem dúvida o"Trio Irakitan", nascido em 1950, com a seguinte for-mação inicial: Paulo Gilvan, Edson Reis e João Manoel.

Celeiro de revelações

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parecia que estava dentro de um Toyota, tremiatodo", ri.

No fim das notas, ajustou-se e foi convidado, emseguida, para trabalhar na Rádio Cabugi, fazendoparte do famoso "Escrete de Ouro", ao lado deEdvaldo Pereira, Franklin e Roberto Machado,"quando botamos para quebrar, na Copa de 70",época em que, como plantão esportivo, ficou sendochamado de "o ouvido de ouro".

Wellington conta que, naquela época, a gentecomeçava às 5 horas de manhã e só não cobriam o"resultado do jogo do bicho, nem de briga de galo".Até regata, no rio Potengi, eles participavam.

O estágio no seminário caicoense, quando osalunos eram obrigados a leituras, lhe facilitou a vidade plantonista radiofônico porque, "dedógrafo" ou"catador de milho", em máquina de escrever, ficoutreinando até ficar em forma e ser contratado pararedigir programas de rádio, especialmente o maisfamoso deles, "Patrulha da Cidade", de linha policial,envolvendo dramas e comédias nessa área, ao lado deNice Maria, Alnice Marques, "coronel Bolachinha",Tom Borges ( hoje, compenetrado em escrever umahistória do rádio natalense), Laerte Marinho, UbiratanCamilo, entre outros. O programa conquistou notá-vel audiência e os seus componentes organizavamshows em cidades interioranas que marcaram época.Num deles, o candidato a governador, GaribaldiFilho, estava em Jaçanã, ao lado do prefeito da cidadee de Wellington de Carvalho, quando alguém gritou:"Wellington, chegou o pessoal da Patrulha". Todomundo correu e abandonou as duas autoridades,inclusive Wellington.

Wellington marcou época como diretor de jorna-lismo da Rádio Cabugi, de onde só saiu uma vez, emuma temporada de cinco anos, em Fortaleza, na RádioDragão do Mar, de 1972 a 1977, levado pelo radialistaCelso Martinelli. Hoje aposentado, Wellington destilasua vida na praia da Redinha, sempre degustando a"cachaça nossa de cada dia". (C.M.)

alunos do seminário, apenas se tornaram padres osatuais monsenhores Lucas e José Mário, sendo queWellington foi "convidado" a abandoná-lo, porque"não tinha vocação". O que, segundo Wellington, erao mesmo que "ser expulso".

Ai entrou no Diocesano, familiarizando-se comos clássicos da literatura universal, entre eles,Homero e Cervantes, além dos brasileiros Machadode Assis e Monteiro Lobato. Terminou, em seguida,vindo para Natal, trabalhando como faturista daempresa Nóbrega & Dantas, na subida da entãoJunqueira Aires, ao lado do jornal A República, mas"vivia escutando rádio o tempo todo e pensando ementrar no ramo". Antes disso, casou-se com MariaDulce, sua saudosa companheiro de trabalho. Ànoite, vai ao Grande Ponto, só para "paquerar ospapos com João Machado", indo, em seguida, tomarcaldo de cana no "Orós", no beco da CoronelCascudo com o Beco da Lama.

Sua entrada no rádio aconteceu, quase acidental-mente, quando anunciava-se na cidade a vinda dofamoso Santos, de Dorval, Mengálvio, Coutinho,Pelé e Pepe, ataque que todos os meninos do Brasilsabiam mais do que a cartilha de ABC. Na calada danoite, Wellington sintonizava as rádios do paísinteiro, catando novidades. Aí descobriu que oSantos não viria mais para Natal porque, depois dejogar em Manaus, contra o Nacional, na quarta-feira,acertara outro amistoso, na sexta-feira, diante doFast Clube, embarcando, então, da capital amazo-nense, direto para São Paulo. Na manhã seguinte,quando todas as emissoras e jornais de Natal anun-ciavam o jogo contra o ABC, Wellington ligou paraesse pessoal, mas ninguém lhe deu atenção. Ele,assim, num desses telefonemas, foi convidado porPaulo Tarcísio, que o convidou para trazer a notíciaaté à Rádio Rural, colocando-o no fogo: Wellington,leia a notícia", pediu Paulo Tarcísio, dentro do estú-dio, falando ao vivo. Wellington, que trouxera a notí-cia escrita leu, assustado: "O papel na minha mão

13Natal - Setembro de 2005 nós, do RNSuplemento

Em outubro de 1943, durante a SegundaGuerra Mundial, a telegrafista Inês Pereira deCarvalho, com quase nove meses de gravidez,

recebe a notícia, em código Morse, da morte do seumarido, o também operador de telégrafo LuísGonzaga de Carvalho, que fora convocado, emParelhas, na região do Seridó, para ajudar no esforçode guerra, em Natal, patrulhando as costas. Aflita ese contorcendo de dores, chega, às pressas e sobres-saltada, no sítio Maracujá, onde residia, sendo ajuda-da pelo seu tio, o ginecologista Graciliano Jordãoque, sem opção (só existia maternidade em CurraisNovos e Santa Cruz, a muitos quilômetros de dis-tância), deu a luz a um bebê, deitada em cima de umapedra de cortar boi, no dia 11 daquele mês. Naocasião, o afamado doutor Lordão jurou: "Nuncamais, em Parelhas, ia nascer um menino sobre umalaje de cortar animais". Cumpriu a promessa e hoje amaternidade de Parelhas, construída em mutirão,recebe o seu nome.

Logo depois, descobriu-se: o morto era umhomônimo, não o marido de Inês. E a criança, rece-beu o nome de Wellington Pereira de Carvalho, oconhecido Pantera, que, ao ser quase excomungadodo seminário, se tornaria um dos mais completosprofissionais do rádio norte-rio-grandense. Sua tra-jetória vivencial, desde o berço, parece mais a de umpersonagem imaginado nos contos fantásticos doamericano Edgar Alan Poe ou um dos tipos carica-turizados pela pena do romancista inglês CharlesDarwin.

Um ano depois, o pai foi transferido, sucessiva-mente, para Acari e Currais Novos, também noSeridó, onde Wellington viveu sua infância e ado-lescência. Daí ele sempre, ironicamente, ao ser entre-vistado, dizia ter nascido, ora em Parelhas, ora emAcari e também em Currais Novos. "Esse rapaz é aúnica pessoa que eu vi nascer em três lugares", brin-cava o jornalista Abmael Morais, quando comen-tavam a extravagância da "tricidadania".

Aos 11 anos, Wellington é mandado para estudarno seminário "Santa Cura Dars", colado ao ColégioDiocesano Seridoense. Nos dois estabelecimentos católi-cos existia um time de ovelhas negras, arrebanhadas atéde rapazes que davam trabalho em Natal, caso dosirmãos Joilson e Jorbertino Santana. Da turma de 46

"Pantera",incrível até

no nascimento

Wellington Pereira de Carvalho: marcou época como diretor de jornalismo da Rádio Cabugi

Foto: Arquivo TN

Page 14: A SAGA DO RÁDIO POTIGUAR!

14 Natal - Setembro de 2005nós, do RN Suplemento

Orádio potiguar sempre teve grandes nomes à frentede programas de grande apelo popular como OPovo no Rádio, do radialista Duarte Júnior, um dos

poucos em atividade em Natal que tem o curso de jorna-lismo em sua bagagem. Há 20 anos tocando o progra-ma na Rádio Cabugi, ele lembra sua trajetória. "Eu jávou fazer 30 anos de rádio. Comecei na Rádio Rural,que foi e ainda é uma escola para quem estavacomeçando. Porque, antigamente, nós tínhamos asgrandes empresas que eram a Rádio Cabugi, aRádio Poti, a Rádio Nordeste e essas empresas sóaceitavam profissionais já com um certo nível".

Duarte Júnior conta que passou pela RádioNordeste e depois voltou para a Rádio Rural."Nessas minhas passagens pela Rural e pelaNordeste eu aprendi um pouco de tudo. Eufazia programas de disc-jóquei, fui programadormusical, fui redator, noticiarista, repórter...Aprendi um pouco de tudo". Essa vasta experiên-cia em rádio AM o levou para uma temporada naFM 96. Aí recebeu um convite da Rádio Cabugi,onde estreou no dia 1º de abril de 1985, chegando acompletar 20 anos na mesma emissora. O convite erapara fazer o programa O Povo no Rádio, a maior audiên-cia de rádio AM em Natal, que ia ao ar de 8h às 11h damanhã, que vinha sendo apresentado por Gerson Luiz.

"Eu ousei, naquela época, colocar um projeto de fazerum programa sem tocar música.Na época foi um espanto, mas eutinha em mente que a únicaforma do rádio AM sobreviverera ser diferente. Ser um rádioprestador de serviços, informati-vo e essa fórmula, graças a Deus,deu certo e está aqui até hoje". Osucesso do programa de DuarteJúnior é tão grande que, em seuhorário, chega a competir com asrádios FM. "Você sabe que a FMé o rádio da moda, principal

mente para quem gosta de ouvir música, mas aqui vocêtem um diferencial, quer dizer, eu não podia competircom a FM tocando música,

porque a qualidade da FM é infinitamente superior.Então as pessoas ligam na rádio AM porque querem

ouvir informação e prestação de serviços. E é issoque nós fazemos aqui".

Para Duarte Júnior, o futuro do rádio AM ésegmentar a programação naquilo que está sendofeito em seu programa. Sem jamais perder ofator da instantaneidade, que é o grande trunfodo rádio AM. "O rádio AM está na frente dojornal e até mesmo da televisão, quando se tratade dar a informação instantaneamente. E orádio AM não pode perder esse colóquio, nãopode perder essa facilidade, que nós comuni-cadores temos, de nos comunicar com o públi-co, como se estivéssemos na sala, na cozinha da

casa de quem está escutando.O programa O Povo no Rádio vem de uma

longa tradição de grandes comunicadores de massa.E isso rendeu prestígio político para radialistas como

os já falecidos Souza Silva e Carlos Alberto. Mesmoassim, isso não tem atraído Duarte Júnior. "Esse progra-ma meu deu muita projeção política, só que eu nunca quisme envolver politicamente. Eu fui candidato uma vez,muito mais para dar uma satisfação ao pessoal da casa, ao

PMDB, porque eles achavamque eu era apolítico demais enão custava nada eu dar umacontribuição. Então eu fiz umacampanha muito boa, por sinal,fui muito bem votado, mas eununca quis me envolver politica-mente. Agora os espaços seabriram. Ainda hoje, se euquisesse sair candidato por qual-quer partido, eu seria bemaceito. Mas meu espírito nãobate muito com política, não".

O programa O Povo no Rádio tem muda-do muito com o passar do tempo e principal-mente depois da junção da Rádio Cabugi com aprogramação da Rádio Globo. "Nós tínhamosum perfil de um programa assistencialista,não no sentido negativo da palavra, na verdadequando eu vim aqui para a Rádio Cabugi, eunão vim com o objetivo de ser assistencialista.Eu vim para ser um comunicador, eu tinhaacabado de fazer meu curso de jornalismo naUFRN, e a proposta de Agnelo Filho (diretorda empresa) era que ele queria um comuni-cador com embasamento jornalístico parafazer um programa de informação. Isso acon-teceu por acaso, até entrar a Globo, que mudouesse perfil, ela não quer essa parte assistencia-lista, então durante 17 anos eu fui um comuni-cador que prestou serviços à população tam-bém no sentido de ajudar até materialmente".

Então foram feitas algumas mudanças.Havia um quadro chamado Casamento no

Rádio, que hoje tem o nome de Alguém emMinha Vida; havia um outro chamadoQuadros da Vida, que também sofreu modi-ficações. "Realmente a base era essa parte deprestar serviços. Eu abria o programa comorações, hoje não faço mais isso, até por faltade tempo, porque o programa está muito cor-rido. Eu tinha quatro horas, mas agoraficamos de 10h ao meio-dia, por conta derede, você sabe que depois entrou a Globo, oúnico programa local é o meu".

O radialista Duarte Júnior se confessa umentusiasta do rádio AM. "Eu confio no rádioAM, sempre levantei a bandeira do rádio AMe lamento profundamente que hoje eu sejauma das poucas pessoas do Rio Grande doNorte que ainda ousam defender a bandeirado rádio AM. Eu acho que o rádio AM nãoacabou, não vai acabar nunca e acho que meuexemplo é de que não acabou e estou sempredando entrevistas dizendo isso. Estou realiza-

Duarte Júnior,comunicador de massa há 30 anos

Carlos de Souza

Programa popular e assistencialista

do na minha profissão, que me deu uma certa condição de vida. Eunão me tornei nenhum empresário, nem político para vencer naprofissão. Eu tenho o privilégio de dizer para você que venci naminha profissão sendo comunicador de rádio AM e enquanto eupuder, enquanto houver espaço eu vou defender o rádio AM".

O Povo no Rádio, com Duarte Júnior: há 20 anos na Cabugi

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15Natal - Setembro de 2005 nós, do RNSuplemento

Um caso no mínimo inusitado. Nos idos dos anos50 e 60, até os anos 80 do século passado, acidade de Santa Cruz era provavelmente a única

do país a ter uma rádio oficial que não era instalada de fatoem seu território, o que contrariava a legislação vigente.Era a Rádio Trairy, de propriedade do "Majó" TheodoricoBezerra, que tinha sede naquela cidade, mas os estúdios,torre e transmissor ficavam em Natal. Utilizava a freqüên-cia 1.590 Khz, AM (Amplitude Modulada) e por serregional não podia ter potência acima de um kilowats.

O caso ficou despercebido enquanto não aparecianinguém com interesse em montar outra emissora, oque só ocorreu em 1º de setembro de 1988, quando foiconseguida a mudança da freqüência da Rádio Trairypara 1.190 Khz e, em seguida, vendida ao grupo deTarcísio Maia, que a instalou em Natal com o nome deRádio Tropical. Na mesma freqüência, foi aberta umanova concessão para o município, cujo controle ficoucom o deputado Iberê Ferreira de Souza, que regula-mentou o veículo junto aos órgãos competentes e atéhoje mantém o comando da Rádio Santa Cruz.

Mas antes que isso viesse a acontecer, outro casodigno de nota revela a prodigalidade de Santa Cruz na áreada radiocomunicação. A cidade foi realmente pioneira noNordeste na implantação de rádio pirata. Em 1963, umaemissora, operando em AM, foi instalada nos fundos daPrefeitura Municipal, na gestão do prefeito ClodovalMedeiros. Era um transmissor montado na carcaça de umamplificador RCA - que foi utilizada para a campanha doentão candidato Clodoval - e que era ouvida nos municí-

nos anos 60

Santa Cruz desponta com

Rádio PirataRosemilton Silva

pios de Lajes Pintadas, Campo Redondo, Sítio Novo, SãoTomé, Coronel Ezequiel (então Melão), Jaçanã, Tangará(ainda chamada de Riacho), Japí e Campestre.

A Rádio Santa Cruz, este era seu nome, contava comlocutores de peso como José Maria Marques, conhecidocomo José Maria Madri, e Jandir Apolônio Cruz, amboshaviam trabalhado na Rádio Tupi do Rio de Janeiro.Também participavam da programação João Leite -filho do ilustre doutor advogado Jonas Leite -,Francisco de Assis Dias Ribeiro, o professor Ribeiro,Emanuel Soares Filho (Manu) e este que aqui escreve,atuando, naquela época, como controlista.

A verdade é que não sabíamos que estávamos tra-balhando - não seria melhor dizer brincando? - numaemissora, digamos, clandestina. Aos sábados, dia defeira, havia um programa de música ao vivo, que con-tava com a participação de Zito Borborema eChiquinha do Acordeon e, às vezes, quando estavamem Santa Cruz, os Elias (Zé e Manoel), dois foleiros deprimeira e compositores de mão cheia, que davam umacanja ao lado de Zé do Côco - hoje Germano Filho -todos da família Germano. Zito Borborema eChiquinha e seus Cabras da Peste cantavam ao vivo,sempre encerrando a apresentação com a música demaior sucesso da dupla - "Zé da Onça".

Foi num sábado de muito sol, estúdio com gentesaindo pelo "ladrão", que chegou um caminhão lotadode soldados do Exército para lacrar a rádio e levar todomundo preso. Empurra daqui e de lá, confusão, choro emuito protesto: a rádio foi lacrada e o transmissor con-fiscado sob nossos olhares atônitos e indignados.Felizmente ninguém foi preso. Daquele ano até meadosdos anos 80, contudo, não se ouvia mais falar em rádiopirata no Estado.

Quando ainda estava na Faculdade de Jornalismo, em1985, um amigo de Santa Cruz, técnico em eletrônica esobrinho do dito cujo que havia montado aquela emisso-ra pirata no nosso município, instalou uma rádio em umsoquete de válvula, que eu colocava no cofre do Fuscavelho, com um gravador, e deixava a "danadinha moen-do" com alcance em quase todo o Campus Universitário.

É preciso dizer que estávamos todos sob a influênciade um livro chamado "Rádios Livres", que não apenascontava a história das rádios livres na Itália e Holandacomo ainda apresentava esquemas para montagem detransmissores em FM (Freqüência Modulada). Nãodemorou muito tempo e essas emissoras começaram aaparecer em Natal e em algumas áreas do interior, maisprecisamente nas regiões do Oeste e Seridó.Rosemilton Silva: veterano no radiojornalismo

Tudo era apenasbrincadeira até que...

No princípio, essas emissoras eram usadasapenas como diversão de jovens. Aos poucos,porém, foram ganhando outras atribuições,pondo-se a serviço principalmente de grupospolíticos e religiosos, notadamente evangélicos,que passaram a atuar com maior intensidade nes-sas rádios, uma vez que não tinham, como aindanão têm, o tempo gratuito destinado à IgrejaCatólica nas rádios ditas comerciais.

Algum tempo depois surgiram as rádioscomunitárias, denominação que se contrapunha àde pirata, pejorativo cunhado pelos proprietáriosde veículos comerciais que já se sentiam inco-modados com a concorrência desleal, uma vezque aquelas emissoras não tinham uma tabelacomercial estabelecida e seu interesse maior nãoera ganhar dinheiro e sim divulgar a mensagemde seus controladores.

As rádios comunitárias têm tido umaimportância grande no interior do Estado, umavez que elas estão mais voltadas para assuntosda comunidade, embora deva se ressaltar que há sempre o componente político implícitona sua programação. Na verdade, a grandemaioria funciona ainda na base do amadorismo.Mesmo assim, são uma fonte a ser exploradapelos estudiosos da comunicação, que ainda pre-cisam descobrir as razões do real alcance de suaaudiência.

Voltando ao caso da rádio do MajóTheodorico, que citei no início do texto: combase em dados fornecidos pelo DepartamentoNacional de Telecomunicações (Dentel, hojeAnatel), fiz uma matéria para "A República", em1979, denunciando a irregularidade. A direção dojornal, no entanto, estava com Nilson Patriota,amigo íntimo de Theodorico, como o fora tam-bém meu pai, e que nada sabia da matéria até suapublicação. Foi uma manhã tensa, para mim e oscompanheiros de batente, porque a matériarepercutiu. Até que veio a sentença: fui demitido.

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Natal - Setembro de 200516 Suplemento

Rádioamador, hobby e prestação de serviço

Não precisa falar a mesma língua,nem tão pouco ter contato físico.Seja por amizade, prestação de

serviço ou entretenimento, o radioamadorismonão encontra barreiras. Do Oiapoque ao Chuí, oudo Brasil para o resto do Mundo, seus usuários seorgulham dessa atividade e transmitem a alegriaque é poder servir a toda hora, de qualquer lugar, aobem do próximo.

“Somos uma grande família, unida pelomundo inteiro. Não existe, entre nós, diferença decor, política, raça ou religião”, define FranciscoEdvaldo Pereira de Freitas, o Ed, como é maisconhecido, presidente da Liga de AmadoresBrasileiros de Radio Emissão do Rio Grande doNorte (Labre/RN), atualmente com cerca de 590membros.

Os radioamadores conversam entre si sobreassuntos comuns, como a situação do tempo, masdispensam atenção especial aos serviços de

utilidade pública e prestação de socorro,não raro diante de desastres marítimos, fazendouso de um rádio e uma antena, basicamente. Aatividade possui regras e leis específicas. Éproibido falar sobre assuntos polêmicos ou fazerqualquer tipo de transação comercial. Foidevidamente regulamentada pela AgênciaNacional de Telecomunicações (Anatel) e utilizaresse serviço sem autorização é considerado crimefederal.

José Bezerra Marinho tornou-se em 1939 oprimeiro radioamador do Rio Grande do Norte,com o indicativo PY7QB (identidade), sendoempossado, também, o primeiro presidente daLabre/RN, fundada na mesma época. Com ointuito de congregar os radioamadores, foi criadoem 1948 o primeiro Clube de Radioamadores doBrasil, exatamente aqui, no RN, localizado até hojena avenida Rodrigues Alves, Tirol.

Todos aqueles que desejam se tornarradioamadores devem obter o Certificado deOperador de Estação de Radioamador (COER),através da realização de provas sobreconhecimentos da legislação de Telecomunicaçõese/ou conhecimentos técnicos de radioeletricidadee telegrafia. Essas provas são realizadas pela Labre,por meio de um convênio firmado junto ao

Uma atividade humanitária O maisimportante dessa atividade é que sempre vaiexistir um radioamador em uma determinadafreqüência, em um determinado lugar do mundo,seja fazendo escuta ou conversando. Pronto paraajudar quem precisa. Ed relembra uma viagemque fez à Aracaju, quando foi visitar seu sogrodoente. “Eu não conhecia nada, não sabia chegarao hospital. Por causa de um rádio em meu carro,um colega me guiou por toda cidade, parecia queele estava sentado ao meu lado”, disse.

Outra história que transmite a importânciadessa atividade é a que Ed e sua esposa viven-ciaram quando prestaram apoio a uma jovemenvolvida em um acidente de carro. “A meninanão tinha família em Natal e ficamos no hospitalaté a hora que ela foi liberada. Pelo nosso rádio, ajovem falou com seu pai em Maceió,tranqüilizando-o”, relembra o radioamador.

A prática de radioamadorismo ainda érestritiva pelo elevado custo dos equipamentos.No Brasil não existem fabricantes deradioamador. Um equipamento básico rádio,fonte de alimentação, cabos e antenas custa emtorno de R$ 1 mil. O padre gaúcho RobertoLandell de Moura realizou em 1893 experiênciasque culminaram com as primeiras transmissões detelegrafia e telefonia sem fio, com aparelhosinventados por ele mesmo, que se tem notícia. Porisso, é considerado precursor das fibras óticas epatrono dos radioamadores brasileiros. Só depoiso italiano Guglielmo Marconi difundiu seutrabalho com telégrafo sem fio, ganhando a famaque deveria ser do brasileiro.

José Bezerra Marinho,primeiro radioamadordo Rio Grande do Norte

Carla Xavier