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A SANTA BÍBLIA O PENTATEUCO OS CINCO PRIMEIROS LIVROS DA BÍBLIA (O TESTAMENTO DA ETERNA ALIANÇA) José Haical Haddad CAPÍTULO III LIVRO DE LEVÍTICO OS RITUAIS E SEUS INTEGRANTES LEVÍTICO - Recebeu esse nome por causa da Tribo de Levi, que é a principal protagonista do Sacerdócio instituído em dois ramos. Primeiro o da Família ou como usado na terminologia bíblica o da Ca- sa de Aarão a quem fora outorgado o Sacerdócio Pleno; e, segundo, o das demais Famílias ou das Casas dos outros Filhos de Levi conheci- dos por Levitas, que receberam a responsabilidade pelas funções de Sacerdócio Auxiliar. Nesse livro descrevem-se os principais sacrifí- cios, as festas com seus rituais, e as funções sacerdotais bem delinea- das, e as regras morais de purificação e de santificação. Por causa des- sa vinculação da Tribo de Levi com o Exercício do Sacerdócio, os ri- tuais dos Sacrifícios e as várias normas religiosas descritas ness e “ ro- lo (v. § 2.1, Êxodo), o livro, que dele originou, recebeu o nome deri- vado de Levi - Levítico. Caminhavam os Israelitas para a Terra Prometida que receberiam de Iahweh para nela se estabelecerem definitivamente. Em virtude do princípio reinante de que cada povo tinha um Deus a quem servia e obedecia, no território que receberiam somente Iahweh seria invocado em virtude de ser o único proprietário de toda a área. Daí a necessida- de de leis atinentes ao exercício do culto exclusivo a Iahweh com a erradicação de todo e qualquer vestígio de outro deus, e da regulamen- tação do exercício do culto ao soberano absoluto. A isso se deu aqui o nome de Missão de Israel: “O meu anjo ir á adiante de ti e te levará aos... [seguem os nomes dos povos1 que a habitavam]... e eu os exterminar, não adorarás os seus deuses, nem lhes prestarás culto, imitando seus costumes. Ao contrário derrubarás e quebrarás as suas colunas. Servireis a Iahweh vosso Deus, e ele abençoará teu pão e tua água, e afastará do teu meio as enfermidades. (...) Não farás aliança com eles nem com seus deuses... fariam-te pecar contra mim: Servirias aos seus deu- ses, e isso seria uma armadilha para ti” (Ex 23,23 -33). Mais especificadamente desenvolver-se-á o teor do Livro de Le- vítico em torno do culto exclusivo a Iahweh, afastada assim a idolatri- a. Essa Missão de Israel várias vezes ratificada (cfr. Ex 34,13; Lv 18,3.24-30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29-31) é o fundamento para a re- gulamentação a ser exposta:

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A S A N T A B Í B L I A O P E N T A T E U C O

OS CINCO PRIMEIROS LIVROS DA BÍBLIA (O TESTAMENTO DA ETERNA ALIANÇA)

José Haical Haddad

CAPÍTULO III

LIVRO DE LEVÍTICO

OS RITUAIS E SEUS INTEGRANTES

LEVÍTICO - Recebeu esse nome por causa da Tribo de Levi ,

que é a principal protagonis ta do Sacerdócio inst i tuído em dois ramos.

Primeiro o da Família ou como usado na terminologia bíbl ica o da Ca-

sa de Aarão a quem fora outo rgado o Sacerdócio Pleno; e , segundo, o

das demais Famíl ias ou das Casas dos outros Fi lhos de Levi conheci-

dos por Levi tas , que receberam a responsabi l idade pelas funções d e

Sacerdócio Auxi l iar . Nesse l ivro descrevem-se os principais sacri f í -

cios , as fes tas com seus r i tuais , e as funções sacerdotais bem del ine a-

das , e as regras morais de puri f icação e de sant i f icação. Por causa des-

sa vinculação da Tr ibo de Levi com o Exercício do Sacerdócio , os r i -

tuais dos Sacri f ícios e as várias normas rel igiosas descri tas nesse “ro-

lo” (v . § 2.1, Êxodo) , o l ivro , que dele originou, recebeu o nome der i -

vado de Levi - Leví t ico.

Caminhavam os Israel i tas para a Terra Prometida que receberiam

de Iahweh para nela se es tabelecer em defini t ivamente. Em vir tude do

princípio reinante de que cada povo t inha um Deus a quem servia e

obedecia , no terr i tório que receberiam somente Iahweh ser ia invocado

em vir tude de ser o único proprietár io de toda a área . Daí a necessida-

de de leis at inentes ao exercício do cul to exclusivo a Iahweh com a

erradicação de todo e qualquer vest ígio de outro deus, e da regulame n-

tação do exercício do cul to ao soberano abso luto . A isso se deu aqui o

nome de Missão de Israel :

“ O m e u a n j o i r á a d i a n t e d e t i e t e l e v a r á a o s . . . [ s e g u e m o s n o m e s d o s p o v o s 1

q u e a h a b i t a v a m ] . . . e e u o s e x t e r m i n a r , n ã o a d o r a r á s o s s e u s d e u s e s , n e m l h e s

p r e s t a r á s c u l t o , i m i t a n d o s eu s c o s t u m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s

a s s u a s c o l u n a s . S e r v i r e i s a Ia h w e h v o s s o D e u s , e e l e a b e n ç o a r á t e u p ã o e t u a

á g u a , e a f a s t a r á d o t e u m e i o a s e n f e r m i d a d e s . ( . . . ) N ã o f a r á s a l i a n ç a c o m e l e s

n e m c o m s e u s d e u s e s . . . f a r i a m - t e p e c a r c o n t r a m i m : S e r v i r i a s a o s s e u s d e u -s e s , e i s s o s e r i a u m a a r m a d i l h a p a r a t i ” ( E x 2 3 , 2 3 - 3 3 ) .

Mais especif icadamente desenvolver -se-á o teor do Livro de Le-

ví t ico em torno do cul to exclusivo a Iahweh, afastada assim a idolatr i -

a . Essa Missão de Is rael várias vezes rat i f icada (cf r . Ex 34,13 ; Lv

18,3.24-30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29 -31) é o fundamento para a r e-

gulamentação a ser exposta :

2

“ . . . n ã o a d o r a r á s o s s eu s d e u s e s , n e m l h e s p r e s t a r á s c u l t o , i m i t a n d o s e u s c o s t u -

m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s a s s u a s c o lu n a s . S e r v i r e i s a I a h w e h

v o s s o D e u s . . . ” ( Lv 2 3 , 2 4 ) .

3.1. - O SACERDÓCIO

Antes do exame mais detalhado dos Sacri f ícios é bom que se

complete o já apresentado a respei to do Sacerdócio , sem o qual os r i -

tuais não se real izam. Desde a "eleição" dos primogêni tos , "consagr a-

dos a Iahweh", após a l ibertação do Egi to (Ex 13,1 -2) , o Sacerdócio

passa a ser uma inst i tuição defini t iva que vai ser rat i f icada com a

construção do Santu ário:

" D e p o i s m a n d a q u e , d o m e i o d o s i s r a e l i t a s , s e a p r o x i m e m a t i o t e u i r m ã o A a r ã o e s e u s f i l h o s N a d a b , A b i ú , E l e a z a r e I t a m a r , p a r a q u e m e s i r v a m c o m o s a c e r d o -

t e s . M a n d a r á s f a z e r v e s t e s l i t ú r g i c a s p a r a t e u i r m ã o A a r ã o ( . . . ) , p a r a c o n s a g r á -

l o c o m o s a c e r d o t e a m e u s e r v i ç o . E s t a s s ã o a s v e s t e s q u e d e v e r ã o f a z e r : u m p e i -t o r a l , u m e f o d , u m m a n t o , u m a t ú n i c a b o r d a d a , u m a m i t r a e u m c i n t o . A s s i m f a -

r ã o v e s t e s l i t ú r g i c a s p a r a t e u i r m ã o A a r ã o e s e u s f i l h o s p a r a q u e s e j a m m e u s

s a c e r d o t e s . U t i l i z a r ã o o u r o , p ú r p u r a v i o l á c e a , v e r m e l h a e c a r m e s i m e l i n h o f i n o ( . . . ) r e v e s t i r á s t e u i r m ã o A a r ã o e s e u s f i l h o s e o s u n g i r á s , i n v e s t i n d o - o s e c o n -

s a g r a n d o - o s p a r a q u e m e s i r v a m c o m o s a c e r d o t e s . F a z e - l h e s c a l ç õ e s d e l i n h o

p a r a c o b r i r e m a n u d e z , d a c i n t u r a a t é a s c o x a s . A a r ã o e s e u s f i l h o s o s u s a r ã o q u a n d o e n t r a r e m n a t e n d a d e r e u n i ã o o u q u a n d o s e a p r o x i m a r e m d o a l t a r p a r a

s e r v i r n o s a n t u á r i o , a f i m d e n ã o i n c o r r e r e m e m f a l t a e n ã o m o r r e r e m . E s t a é

u m a l e i p e r p é t u a p a r a A a r ã o e s e u s d e s c e n d e n t e s " ( E x 2 8 , 1 - 4 3 ) .

A invest idura obedeceria a r i tual próprio (Ex 29), durante o

qual , além da Unção de Aarão e seus f i lhos, seriam executados vários

r i tos de “purif icação” para a indispensável Sant i f icação geral e deles ,

oferecendo-se no curso do cerimonial , os seguintes t ipos de Sacri f í -

cios:

Sacrif ício pelo Pecado (Ex 29,10 -14);

Holocausto (Ex 29,15 -18); e ,

Sacrif ício Pacíf ico (Ex 29,19 -26) .

Quando da edif icação do Santuário (Ex 35 -40) o Sacerdócio de-

veria ser t ambém es truturado em seq uência e na mesma cerimônia:

" P e g a r á s o ó l e o d e u n ç ã o u n g i r á s a m o r a d a e t u d o o q u e n e l a e s t i v e r ; c o n s a -g r a n d o - a a s s i m c o m t o d o s o s p e r t e n c e s e l a s e r á s a n t a . U n g i r á s o a l t a r d o s h o l o -

c a u s t o s e t o d o s o s u t e n s í l i o s , c o n s a g r a n d o a s s i m p a r a q u e s e j a s a n t í s s i m o . U n -

g i r á s a b a c i a c o m a b a s e , p a r a c o n s a g r á - l a . M a n d a r á s A a r ã o e s e u s f i l h o s a p r o -x i m a r - s e d a e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o e o s l a v a r á s c o m á g u a . D e p o i s r e v e s t i -

r á s A a r ã o c o m a s v e s t e s l i t ú r g i c a s , e o u n g i r á s c o n s a g r a n d o - o p a r a q u e m e s i r v a

c o m o s a c e r d o t e . F a r á s o s f i l h o s a p r o x i m a r - s e e , d e p o i s d e r e v e s t i - l o s c o m a s t ú n i c a s , o s u n g i r á s c o m o u n g i s t e o p a i , p a r a q u e m e s i r v a m c o m o s a c e r d o t e s .

E s t a u n ç ã o l h e s h á d e c o n f e r i r o s a c e r d ó c i o p e r p é t u o p o r t o d a s a s g e r a ç õ e s .

M o i s é s e x e c u t o u t u d o e x a t a m e n t e c o m o Ia h w e h l h e h a v i a o r d en a d o " ( E x 4 0 , 9 -1 6 ) .

O que se observa é Moisés , recebida a invest idura diretamente

de Iahweh, oferecendo os sacri f ícios e c ometendo os atos l i túrgicos

pert inentes à ordenação sacerdotal de Aarão e seus f i lhos:

" D i a n t e d a e n t r a d a d a t e n d a d a r e u n i ã o , d a t e n d a d e r e u n i ã o , c o l o c o u o a l t a r d o s

h o l o c a u s t o s , e o f e r e c e u o h o l o c a u s t o e a o b l a ç ã o , a s s i m c o m o Ia h w e h t i n h a

3

m a n d a d o a M o i s é s . In s t a l o u a b a c i a e n t r e a t e n d a d e r e u n i ã o e o a l t a r , e p ô s a á g u a p a r a a s a b l u ç õ e s , o n d e M o i s é s , A a r ã o e o s f i l h o s l a v a v a m a s m ã o s e o s

p é s . La v a v a m - s e t o d a v e z q u e e n t r a v a m n a t e n d a d e r e u n i ã o e s e a p r o x i m a v a m

d o a l t a r , a s s i m c o m o Ia h w e h h a v i a m a n d a d o a M o i s é s . L e v a n t o u o á t r i o e m t o r -n o d a m o r a d a e d o a l t a r , e p e n d u r o u a c o r t i n a n a e n t r a d a d o á t r i o . A s s i m M o i s é s

d e u p o r c o n c l u í d a a o b r a " ( E x 4 0 , 2 9 - 3 3 ) .

Somente após a apresentação s is temát ica dos Sacri f ícios é que se

dará a Invest idura Oficial de Aarão e seus f i lhos no Sacerdócio, pra t i -

cando-se todas as operações já del ineadas para a "consagração ou sa n-

t i f icação" ex igida (Ex 29):

" Ia h w e h f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : “ T o m a c o n t i g o A a r ã o e s e u s f i l h o s , a s v e s t e s , o ó l e o d a u n ç ã o , o b e z e r r o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , o s d o i s c a r n e i r o s e o

c e s t o d e p ã e s s e m f e r m e n t o , e r e ú n e t o d a a c o m u n i d a d e à e n t r a d a d a t e n d a d e

r e u n i ã o ” . M o i s é s f e z c o m o I a h w e h l h e t i n h a m a n d a d o e a c o m u n i d a d e s e r e u n i u à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o . M o i s é s d i s s e à c o m u n i d a d e : “ É i s t o q u e Ia h w e h

m a n d o u f a z e r ” . D e p o i s m a n d o u q u e s e a p r o x i m a s s e m A a r ã o e s e u s f i l h o s , e o s

l a v o u c o m á g u a . V e s t i u A a r ã o ( . . . ) . D e p o i s M o i s é s p e g o u o ó l e o d a u n ç ã o , u n g i u

o t a b e r n á c u l o e t u d o o q u e n e l e h a v i a , p a r a c o n s a g r á - l o . A s p e r g i u s e t e v e z e s o

a l t a r , e u n g i u - o c o m t o d o s o s u t e n s í l i o s , b e m c o m o a b a c i a c o m o s u p o r t e , c o n -

s a g r a n d o - o s . D e r r a m o u ó l e o d e u n ç ã o s o b r e a c a b e ç a d e A a r ã o , e u n g i u p a r a c o n s a g r á - l o . D e p o i s m a n d o u a p r o x i m a r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , v e s t i u - l h e s a s

t ú n i c a s , c i n g i u - l h e s o c i n t o e l h e s p ô s o s t u r b a n t e s , c o m o Ia h w e h h a v i a m a n d a -

d o a M o i s é s . M a n d o u t r a z e r o b e z e r r o p a r a o s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o . A a r ã o e s e u s f i l h o s i m p u s e r a m a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d e s t e b e z e r r o . D e p o i s d e i m o l á -

l o , M o i s é s p e g o u s a n g u e e u n t o u c o m o d e d o a s p o n t a s e m v o l t a d o a l t a r , p u r i -

f i c a n d o - o . D e r r a m o u o s a n g u e a o p é d o a l t a r , e o c o n s a g r o u , f a z e n d o s o b r e e l e a e x p i a ç ã o . M o i s é s p e g o u t o d a a g o r d u r a q u e e n v o l v e a s v í s c e r a s , a c a m a d a g o r -

d u r o s a d o f í g a d o e o s d o i s r i n s , c o m a r e s p e c t i v a g o r d u r a , e q u e i m o u t u d o n o

a l t a r . O b e z e r r o , c o m p e l e , c a r n e e e x c r e m e n t o s , e l e q u e i m o u - o f o r a d o a c a m -p a m e n t o , c o m o Ia h w e h l h e t i n h a m a n d a d o . M a n d o u t r a z e r o c a r n e i r o d o h o l o -

c a u s t o , p a r a q u e A a r ã o e o s f i l h o s i m p u s e s s e m - l h e a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a .

M o i s é s o i m o l o u e d e r r a m o u o s a n g u e e m v o l t a d o a l t a r . D e p o i s d e e s q u a r t e j a r o c a r n e i r o , M o i s é s q u e i m o u a c a b e ç a e o s p e d a ç o s c o m a g o r d u r a . E l e l a v o u c o m

á g u a a s v í s c e r a s e a s p a t a s , e a s s i m q u e i m o u o c a r n e i r o i n t e i r o n o a l t a r . E r a u m

h o l o c a u s t o d e s u a v e o d o r , u m s a c r i f í c i o f e i t o p e l o f o g o a Ia h w e h , c o m o Ia h w e h t i n h a m a n d a d o a M o i s é s . M a n d o u t r a z e r o s e g u n d o c a r n e i r o , o c a r n e i r o d a c o n -

s a g r a ç ã o e A a r ã o e s e u s f i l h o s i m p u s e r a m a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d o a n i m a l .

D e p o i s d e i m o l á - l o , M o i s é s p e g o u o s a n g u e e u n t o u o l o b o d a o r e l h a d i r e i t a d e A a r ã o , o p o l e g a r d a m ã o d i r e i t a e o p o l e g a r d o p é d i r e i t o . M a n d o u a p r o x i m a -

r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , e u n t o u - l h e s c o m s a n g u e o l o b o d a o r e l h a d i r e i t a , o

p o l e g a r d a m ã o d i r e i t a e o p o l e g a r d o p é d i r e i t o , e d e p o i s d e r r a m o u o s a n g u e e m t o r n o d o a l t a r . P e g o u a g o r d u r a , a c a u d a , t o d a a g o r d u r a q u e c o b r e a s v í s c e r a s ,

a c a m a d a g o r d u r o s a d o f í g a d o , o s d o i s r i n s c o m a g o r d u r a e a p e r n a d i r e i t a . D o

c e s t o d o s á z i m o s , p o s t o d i a n t e d e Ia h w e h , t o m o u u m p ã o s e m f e r m e n t o , u m a t o r t a s e m f e r m e n t o a m a s s a d a c o m a z e i t e e u m b o l i n h o , e c o l o c o u s o b r e a s p a r t e s

g o r d u r o s a s e s o b r e a p e r n a d i r e i t a . E n t r e g o u t u d o i s s o n a s m ã o s d e A a r ã o e d e

s e u s f i l h o s , p a r a q u e a p r e s e n t a s s e m c o m u m g e s t o d e o f e r t a a Ia h w e h . D e p o i s , t o m o u t u d o d a s m ã o s d e l e s e q u e i m o u n o a l t a r , e m c i m a d o h o l o c a u s t o . E r a o

s a c r i f í c i o c o n s e c r a t ó r i o d e s u a v e o d o r , u m s a c r i f í c i o p e l o f o g o a Ia h w e h . D e -p o i s M o i s é s p e g o u o p e i t o d o c a r n e i r o e o a p r e s e n t o u c o m u m g e s t o d e o f e r e n d a

a Ia h w e h . E s t a f o i a p o r ç ã o d o c a r n e i r o d a c o n s a g r a ç ã o , p e r t e n c e n t e a M o i s é s ,

c o m o Ia h w e h l h e t i n h a m a n d a d o . M o i s é s t o m o u u m p o u c o d o ó l e o d e u n ç ã o e d o s a n g u e q u e e s t a v a s o b r e o a l t a r , a s p e r g i u A a r ã o e s u a s v e s t e s , b e m c o m o o s f i -

l h o s d e A a r ã o e s u a s v e s t e s . A s s i m c o n s a g r o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e a s r e s p e c t i -

v a s v e s t e s . M o i s é s d i s s e p a r a A a r ã o e s e u s f i l h o s : “ C o z i n h a i a c a r n e à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o . A l i m e s m o a c o m e r e i s c o m o p ã o q u e e s t á n a c e s t a d a s o -

f e r t a s d a c o n s a g r a ç ã o , c o n f o r m e e u m a n d e i , d i z e n d o : A a r ã o e s e u s f i l h o s h ã o d e

c o m ê - l a . O q u e r e s t a r d a c a r n e e d o p ã o d e v e r á q u e i m á - l o " ( L v 8 , 1 - 3 2 ) .

Para a Invest idura foi seguido o r i tual já es tabeleci do e próprio

(Ex 29), durante o qual , além da Unção de Aarão e seus f i lhos , vários

r i tos de puri f icação foram executados para a indispensável Sant i f ic a-

ção geral e deles , e ofereceram-se, durante o cerimonial , os t ipos de

Sacri f ícios já del ineados. Limitar -se-á por enquanto apenas à orden a-

ção sacerdotal , necessária por causa dos r i tuais dos vários Sacri f ícios

narrados no início, antes dessa i nvest idura. Isso se deu s implesmente

4

porque o Sacerdote oficiante de toda a cerimônia foi Moisés , o Sace r-

dote da Aliança que a completa com o Preparo e a Oferta das Primícias

Sacerdotais . Só então Moisés outorga as funções a Aarão e seus f i lhos

(Ex 8,33-9,24).

“ D u r a n t e s e t e d i a s n ã o s a i r e i s d a e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o , a t é s e c o m p l e t a -r e m o s d i a s d a v o s s a c o n s a g r a ç ã o , p o i s e l a d u r a r á s e t e d i a s . O q u e s e f e z n o d i a

h o j e , I a h w e h o r d e n o u q u e s e f i z e s s e p a r a e x p i a r p o r v ó s . F i c a r e i s d u r a n t e s e t e

d i a s , d i a e n o i t e , à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o , e o b s e r v a r e i s o q u e Ia h w e h m a n d o u , p a r a n ã o m o r r e r d e s , p o i s e s t a é a o r d e m q u e r e c e b i . A a r ã o e s e u s f i l h o s

f i z e r a m t u d o o q u e Ia h w e h l h e s m a n d o u p o r m e i o d e M o i s é s " ( Lv 8 , 3 3 - 3 6 ) .

Toda a cerimônia se completará com as Primícias dos Novos S a-

cerdotes:

" N o o i t a v o d i a M o i s é s c h a m o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e o s a n c i ã o s d e I s r a e l , e d i s s e p a r a A a r ã o : „ E s c o l h e u m b ez e r r o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o p e l o p e c a d o , e u m

c a r n e i r o p a r a o h o l o c a u s t o , a m b o s s e m d e f e i t o , e a p r e s e n t a - o s a Ia h w e h . F a l a r á s

a o s i s r a e l i t a s , d i z e n d o : T o m a i u m b o d e p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , u m b e z e r r o e u m c o r d e i r o , a m b o s d e u m a n o e s e m d e f e i t o , p a r a o h o l o c a u s t o , u m t o u r o e

u m c a r n e i r o p a r a o s a c r i f í c i o p a c í f i c o , a f i m d e s a c r i f i c á - l o s p e r a n t e Ia h w e h , e

u m a o b l a ç ã o a m a s s a d a c o m a z e i t e , p o r q u e h o j e Ia h w e h v o s a p a r e c e r á ‟ . T r o u x e -r a m d i a n t e d a t e n d a d e r e u n i ã o o q u e M o i s é s t i n h a m a n d a d o . A c o m u n i d a d e t o d a

s e a p r o x i m o u e s e p ô s d e p é d i a n t e d e Ia h w e h . M o i s é s d i s s e : „ É i s t o q u e Ia h w e h

m a n d o u q u e f i z é s s e i s p a r a q u e v o s a p a r e ç a a g l ó r i a d e I a h w e h ‟ . M o i s é s d i s s e p a r a A a r ã o : „ A p r o x i m a - t e d o a l t a r . O f e r e c e o t e u s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o e o h o -

l o c a u s t o , e f a z e a e x p i a ç ã o p o r t i e p e l o p o v o . A p r e s e n t a t a m b é m a o f e r t a d o

p o v o , e f a z e p o r e l e s a e x p i a ç ã o , c o n f o r m e Ia h w e h m a n d o u ( . . . ) L e v a n t a n d o a s m ã o s p a r a o p o v o A a r ã o o s a b e n ç o o u . T e n d o o f e r e c i d o o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , o

h o l o c a u s t o e o s a c r i f í c i o p a c í f i c o , d e s c e u , e M o i s é s e A a r ã o e n t r a r a m n a t e n d a

d e r e u n i ã o . A o s a i r , a b e n ç o a r a m o p o v o . E n t ã o a g l ó r i a d e Ia h w e h a p a r e c e u a t o d o o p o v o , e u m f o g o e n v i a d o p o r Ia h w e h c o n s u m i u n o a l t a r o h o l o c a u s t o e a s

g o r d u r a s . V e n d o , o p o v o i n t e i r o p r o r r o m p e u e m g r i t o s d e a l e g r i a , e p r o s t r a r a m -

s e t o d o s c o m o r o s t o p o r t e r r a ‟ " ( Lv 9 , 1 - 2 4 ) .

Pode-se, at revidamente , dizer que aqui deve ser o lugar cer to em

que se deu o fenômeno da tomada de posse com a habi tual teofania f i -

nal :

" E n t ã o a n u v e m e n v o l v e u a t e n d a d e r e u n i ã o , e a g l ó r i a d e Ia h w e h t o m o u c o n t a

d a m o r a d a . M o i s é s n ã o p o d i a e n t r a r n a t e n d a d e r e u n i ã o , p o r q u e s o b r e e l a r e -

p o u s a v a a n u v e m , e a g l ó r i a d e Ia h w e h o c u p a v a a m o r a d a . E m t o d a s a s e t a p a s d a v i a g e m o s i s r a e l i t a s p u n h a m - s e e m m o v i m e n t o s e m p r e q u e a n u v e m s e e l e v a v a

d e c i m a d a m o r a d a ; n u n c a p a r t i a m a n t e s q u e a n u v e m s e l e v a n t a s s e . D e f a t o , a

n u v e m d e Ia h w e h f i c a v a d u r a n t e o d i a s o b r e a m o r a d a , e d u r a n t e a n o i t e h a v i a u m f o g o v i s í v e l a t o d o s o s i s r a e l i t a s , a o l o n g o d e t o d a s a s e t a p a s d a v i a g e m "

( E x 4 0 , 3 4 - 3 8 ) .

3.2. - O SACRIFÍCIO

Muitas rel igiões giram em torno do sacri f ício, cujo s ignif icado

atual cada vez mais se afasta do original . É que, cul turalmente, mudou

tanto de sent ido que ele não mais ref lete a mesma real idade. Por causa

disso, nem mesmo um dicionário atual regis t ra aqui lo que correspo n-

dia ao seu s ignif icado real , pr incipalmente entre os israel i tas . Pelo

menos bibl icamente sacri f ício tem um sent ido bem mais profundo . Há

o percept ível sent ido de “sacri+ficar” = “ficar -sagrado”. E não se l i -

mita à "renúncia" ou à "privação" dolo rosa para quem a faz .

Quando Jesus se referiu ao sacri f ício ou o insinuou, confundiu

os chefes rel igiosos e os de seu povo, por ocasião da “expulsão dos

5

vendi lhões do Templo” (Jo 2,13 -22) e por ocasião do Anúncio da E u-

caris t ia ao d izer-se “comida” (Jo 6,50 -52).

No primeiro caso , Jesus não t inha nenhum direi to de fazer o que

fez , eis que, não pertencendo à Tribo de Levi ou à Casa de A arão não

se vinculava ao sacerdócio e ass im não lhe compet ia a adminis t ração

do Templo. Além de tudo isso , aquela área fora dest inada para o que lá

se prat icava, qual seja, a t roca de moeda est rangeira ou a venda de a-

nimais para as oferendas , a f im de que os judeus em peregrinação p u-

dessem cumprir os s eus votos e deveres rel igiosos. Em si , fora os abu-

sos, nada havia de errôneo no que lá se faz ia, e por causa de sua at i t u-

de dois fatos acontecem:

Quando do primeiro fato “os sacerdotes e escribas” perguntam a

Jesus “com que autoridade faz ia es tas co isas” (Mt 21,23) e “que s inais

lhes mostraria para assim agir” (Jo 2,18); e , quando do segundo, o E-

vangel is ta “recorda que os discípulos pensaram” que Ele agia ass im

porque “o zelo pela casa de seu Pai o dominara” recordando o Sl 69,10

(Jo 2,17) . A resposta de Jesus foi por demais desconcertante e mesmo

os seus discípulos só a compreenderam após a sua Ressurre ição. Des a-

f iara a “destruição do Templo e a sua reconstrução por Ele em três d i -

as”, “referindo -se ao seu próprio Corpo” (Jo 2,18 -22), com o que i r ia

se tornar o único sacri f ício. Por causa disso , tudo aqui lo era sem sen-

t ido e em consequência “fazendo da Casa do Pai uma casa de comé r-

cio” (Jo 2,16), pelo “cumprimento que Ele faz ia com seu corpo” , refa-

zendo totalmente o objet ivo a que o Sacri f ício se dest inava (Mt 5,17) e

a int imidade com o Pai , rompida pela Queda Or iginal (Lc 23,43) .

No segundo caso, recordando-se ainda a Mult ipl icação dos Pães

bem como o Anúncio da Eucaris t ia , tendo di to então que “meu corpo é

verdadei ramente comida” confundiu os judeus de tal forma que, após

dizerem “como pode este homem nos dar a sua carne para comer” (Jo

6,52), “o abandonam” na ocasião (Jo 6,66).

O sacri f ício tanto faz ia parte da compreensão cul tural israel i ta

que estava impregnado em seus hábi tos ou costumes até mesmo os e s-

pecif icamente não rel igiosos. Mesmo qua ndo part icipavam de uma r e-

feição comum ou t r ivial era - lhes necessário “derramar o sangue na te r-

ra” (Lv 17,13s; Dt 12,16. 23), a abster -se do “impuro” (Lv 11,1) e a

seguir determinadas normas de “purif icação” (Mc 7,4) , sem o que não

deveriam tomar al imento. Percebe-se que toda refeição t inha algo de

sagrado e a idéia de sacri f ício era - lhe vinculada pelo comer que nela

se prat ica.

As ideias de comer no tempo de Cris to já era milenar e unia-se

ao que a Bíbl ia relata ter s ido ele a causa da desgraça de Caim qu e

ma tou Abel porque “Deus agradou -se da oferenda dele (“ só em um sa-

cri f ício”) e não da sua” (Gn 4,3 -8) . Relata também que Noé o ofereceu

quando do término do Dilúvio (Gn 8,20) e a part i r de Abrão desde a

Promessa regis t ra o seu uso como forma de expressão da adesão à fé

em Iahweh (Gn 12,7 e 12,8) . Pross egue com a Aliança então contraída

com Abraão e com os demais Patr iarcas Isaac e Jacó (Gn 17,4 -14;

26,3-24; 28,13-15) que a rat i f icaram ofer ecendo-o (Gn 12,7.8; 26,25;

28,17-22). E, em vir tude dessa mesma Ali ança, o sacri f ício torna-se o

centro gravi tacional do cul to.

6

De Jacó adveio o Povo Israel i ta formado pelas doze t r ibos or i -

undas de seus doze f i lhos. Moisés , descende nte de um deles por ser da

Tribo de Levi conf i rma e repete essa Aliança com todo o povo no

Monte Sinai , selando-a também com o sangue de um sacri f ício (Ex

24,1-8) . Tudo is to já foi examinado e es tudado repet indo-se para fac i-

l i tar a memorização e o prosseguimento da exposição.

O sacri f ício torna-se essencial ao cul to para s ignif icar , real izar e

atual izar a união de Iahweh - Deus com o Seu Povo pela Alia nça. Após

a Inst i tuição da Páscoa (Ex 12), inicialmente uma comemoração fam i-

l iar , inst i tui -se o sacerdócio , indispensável e até mesmo essencial para

a celebração dele (Hb 8,3) oficial izando -se os primogêni tos (Ex 13,1-

2) para o seu exerc ício . Depois , com a Inst i tuição do Sacerdócio, foi

nomeada a Casa de Aarão (Ex 28 -29), como Cris to fará quando da In s-

t i tuição da Eucaris t ia , na inauguração da Páscoa Cris tã, const i tuindo

os Apóstolos para que a cele brassem “em sua memória” (Lc 22,19 -20 /

1Cor 11,23-25).

O Sacerdócio const i tuído pel a Tribo de Levi (Nm 8,14 -19) com-

pleta a organização rel igiosa e de cúpula de Is rael , tornando-se o cen-

t ro de unidade de todo o Povo de Deus pela consagração, s ignif icação

e difusão da Sant idade de Iahweh entre as demais t r ibos, por meio d e-

les (Lv 21,8) medianeiros entre o Povo e Ia hweh.

Em outra ocasião Jesus se refere ao sacri f ício ao dizer que “é o

al tar que sant i f ica a oferenda” (Mt 23,19). É que, desde o S inai o al tar

era “ungido” tal como os “sacerdotes ” com o “Óleo da Unção” (Ex

30,25-30), especialmente preparado de acordo com normas do próprio

Iahweh para “sant i f icar tudo que o t ocasse”:

“ O f e r e c e r á s p e l o a l t a r u m s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o , q u a n d o f i z e r e s p o r e l e a e x p i -a ç ã o ( “ c o m s a n g u e ” ) , e o u n g i r á s p a r a c o n s a g r á - l o . ( . . . ) ; a s s i m o a l t a r s e r á s a n -

t í s s i m o e t u d o q u e o t o c a r s e r á s a n t i f i c a d o ” ( E x 2 9 , 3 6 - 3 7 ) .

Um novo elemento aparece aqui com o r i to do sacri f ício pelo

pecado, a expiação, que tem como integrante essencial o sangue que

expia (Lv 17,11) e sem o qual não há remissão (Hb 9,22). Ao que se

conclui que , pela unção sagrada sant i f ica -se o al tar e o sacerdote ,

completando-se a ef icácia do ato com o sangue do sacri f ício pelo p e-

cado (Lv 6,17-22 / Hb 9,22). A part i r des sa Aliança organizou-se um

ri tual sabendo-se que sem al tar , sacerdote, sangue e ví t ima (= hóst ia)

não há sacri f ício , nem se consegue a sant i f icação (Hb 9,19 -22). Jesus

resume tudo isso numa frase apenas. ("é o Altar que sant i f ica a Of e-

renda" – Mt 23,19).

Também, somente poderia part icipar do sacri f ício quem est ive s-

se em estado de “pureza legal (Lv 7,20 -21; 11,44-45) e de sant idade”.

Caso algo as comp rometesse, o israel i ta deveria puri f icar -se antes con-

forme os r i tuais legais (Lv 11,25.28.32.40). No caso da sant idade

comprometida havia os sacri f ícios para a remissão: o holocausto e o

sacri f ício de expiação ou de reparação , ou pelo pecado. Têm em co-

mum que o ofertante impunha as suas mãos na cabeça da v í t ima , prat i -

cando assim a subst i tuição dele pela oferta, que era sacri f icada em seu

lar . Essa subst i tuição foi inst i tuída pelo pr óprio Deus em Gn 22,13 ,

entregando um cordeiro para ser sacri f icado subst i tuindo Isaac. Para

7

sat isfazê-la integralmente o ofertante imolava -a e a esquar tejava, e o

sacerdote após queimá-la completava o r i tual com o oferec imento do

sangue (Lv 1,4 -5) .

No holocausto a ví t ima (ou hóst ia) era toda queimada („ estava

toda contaminada pelo pecado do ofertante ‟ , não podendo servir de

al imento) , nenhuma de suas partes era " comida"; já , nos sacri f ícios

pelo pecado algumas partes eram comidas pelo sacerdote apenas (Lv

6,19-23) e outras queimadas, s ignif icando a “part icipação e sat isf a-

ção” do próprio Deus (Lv 7,1 -10 / Gn 15,17). Havia ainda o sacri f ício

de comunhão ou refeição sagrada no qual todos comem (Lv 3,1-7) , ca-

da qual a sua parte: o ofertante e seus famil iares ou amigos, o sacerd o-

te e o próprio Deus “aspirando a oferenda queimada em perfume de

suave odor a Iahweh” ( l i t . : ‘o bom cheiro que aplaca’ –Gn 8,21 / Lv

1,9; 3 ,5) :

I a h w e h f a l o u a M o i s é s e d i s s e : „ O r d e n a a o s f i l h o s d e I s “ r a e l o s e g u i n t e : T e r e i s c u i d a d o d e m e t r a z e r n o t e m p o d e t e r m i n a d o a m i n h a o f e r e n d a , o m e u m a n j a r , n a

f o r m a d e o f e r e n d a q u e i m a d a d e p e r f u m e a g r a d á v e l ” ( N m 2 8 , 1 - 2 ) .

É São Paulo quem melhor nos esclarece do fundamento teo lógico

de toda a inst i tu ição , ao dizer:

“ A q u e l e s q u e c o m e m a s v í t i m a s s a c r i f i c a d a s n ã o e s t ã o e m c o m u n h ã o c o m o a l -t a r ? ” ( 1 C o r 1 0 , 1 6 - 1 8 ) .

Deduz-se destas palavras que , pelo sacri f ício , se es tabelece a

comunhão entre o Ofertante, o Altar e Ia hweh, por meio do Sacerdote

e com a expiação do pecado pelo sangue. Assim, al tar , refere-se à ví -

t ima e sacerdote; sacerdote , a Deus e sangue que expia; sangue que

expia à ví t ima ou hóst ia de que se al imenta em co mum e em sant i f ica-

ção; e , sant i f icação, à comunhão de pessoas a part i r da comunhão com

o al tar formando-se uma “comunidade” de todos em “comunhão”com

“Iahweh Deus”.

Além da subst i tuição há outra conotação cul tural do sacri f ício

israel i ta que é necessário mencionar. É que não deixa de ser muito c u-

r iosa a dis t r ibu ição das partes da ví t ima do sacri f ício a serem “com i -

das” pelo Ofertante , pelo Sacerdote e por Iahweh, com a queima do

“Pão de Deus” (Lv 21,8; Nm 28,1) . Até mesmo as oferendas ou díz i -

mos estavam sujei tos a essa dis t r ibuição sacri f ical , sendo entregues

num ri tual em que uma parte apenas era “com ida” :

“ E m r e l a ç ã o a Ia h w e h , v o s s o D e u s . . . b u s c á - l o - e i s s o m e n t e n o l u g a r . . . e s c o l h i -d o . . . p a r a a í c o l o c a r o s e u n o m e e f a z ê - l o h a b i t a r . Le v a r e i s p a r a l á o s v o s s o s h o -

l o c a u s t o s e v o s s o s s a c r i f í c i o s , v o s s o s d í z i m o s e o s d o n s d e v o s s a s m ã o s , v o s s o s

s a c r i f í c i o s v o t i v o s e v o s s o s s a c r i f í c i o s e s p o n t â n e o s , o s p r i m o g ê n i t o s d e v o s s a s v a c a s e d a s v o s s a s o v e l h a s . E c o m e r e i s l á , d i a n t e d e I a h w e h , v o s s o D e u s , . . . v ó s

e v o s s a s f a m í l i a s . . . ( . . . ) . N ã o p o d e r á s c o m e r e m t u a s c i d a d e s o d í z i m o d o t eu

t r i g o , d o t e u v i n h o n o v o e d o t e u ó l e o , n e m o s p r i m o g ê n i t o s d a s t u a s v a c a s e o -v e l h a s , n e m a l g o d o s s a c r i f í c i o s v o t i v o s q u e h a j a s p r o m e t i d o , o u d o s s a c r i f í c i o s

e s p o n t â n e o s , o u a i n d a d o n s d a t u a m ã o . T u o s c o m e r á s d i a n t e d e Ia h w e h , t e u

D e u s , s o m e n t e n o l u g a r q u e Ia h w e h , t e u D e u s , h o u v e r e s c o l h i d o , t u , t e u f i l h o , t u a f i l h a . . . ” ( D t 1 2 , 4 - 1 8 ; l e i a - s e a i n d a D t 1 2 , 1 1 - 1 2 ; 1 4 , 2 2 - 2 6 ) .

Da ci tação acima vê-se que somente no lugar indicado por Deus

é que se podiam comer os sacri f ícios , i ncluído como um deles ou as

oferendas const i tuídas pelos primogêni tos do gado, ou pelas primícias

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das plantações, ou do vinho, ou do óleo, ou do pão, ou pelos dons etc.

É de se observar que as oferendas ou d íz imos não podiam ser “tota l -

mente comidos”, mas apenas “uma par te deles” , pois pertenciam, por

direi to , aos sacerdotes (Nm 18,9.20.23 -24). Fossem “todos comidos”

nada se lhes entregaria. Somente “uma parte” era objeto da “sant i f ic a-

ção sacri f ical” entregando -se o “todo” no Templo. Nessa perspect iva é

São Paulo quem esclarece ou tra concepção vigente fazendo com que se

entenda melhor o alcance do sacri f ício, is to é , a ex is tência da sol idar i -

edade da parte com o todo, isso é “à sant i f icação da parte correspo nde

à sant i f icação do todo” :

“ E s e a s p r i m í c i a s s ã o s a n t a s , a m a s s a t a m b é m o s e r á ; e s e a s r a í z e s s ã o s a n t a s ,

o s r a m o s t a m b é m o s e r ã o ” ( R m 1 1 , 1 6 ) .

Fundamentou-se naturalmente no que se prescreveu a respei to

das primícias da massa do primeiro pão a ser prep arado em Israel , qual

seja:

“ Q u a n d o t i v e r d e s e n t r a d o n a t e r r a p a r a a q u a l e u v o s c o n d u z o , d e v e r e i s o f e r e c e r u m a o f e r e n d a a Ia h w e h , t ã o l o g o c o m a i s d o p ã o d e s s a t e r r a . C o m o p r i m í c i a s d a

v o s s a m a s s a s e p a r a r e i s u m p ã o ; f a r e i s e s t a s e p a r a ç ã o c o m o a q u e l a q u e s e f a z

c o m a e i r a . D a r e i s a Ia h w e h u m a o f e r e n d a d o m e l h o r d a s v o s s a s m a s s a s ” ( N m 1 5 , 1 8 - 2 1 ) . “ C a d a d i a d e s á b a d o s e r ã o c o l o c a d o s , p e r m a n e n t e m e n t e , d i a n t e d e I -

a h w e h . . . ; p e r t e n c e r ã o a A a r ã o e s e u s f i l h o s , q u e o s c o m e r ã o n o l u g a r s a n t o , p o i s

é c o i s a s a n t í s s i m a p a r a e l e , . . . ” ( L v 2 4 , 8 - 9 ) .

At inge-se assim ao âmago do que se poderia d enominar de Teo-

logia do Sacri f ício, qual seja, o fato de que a "sant i f icação de uma

parte corresponde à sant i f icação do todo" pelo que se entra em “com u-

nhão” com Iahweh:

" E l e s m e f a r ã o u m s a n t u á r i o , e e u h a b i t a r e i n o m e i o d e l e s " ( E x 2 5 , 8 )

3.3. - OS VÁRIOS TIPOS DE SACRIFÍCIOS

Pode-se pensar que não seja de muita ut i l idade um exame do c e-

r imonial dos sacri f ícios , tendo-se em vis ta que , atualmente não mais

se tem deles a mesma compreensão cul tural . Por causa disso mesmo os

cerimoniais l i túrgicos são muitas vezes incompreendidos , mal vis tos

ou menosprezados como mera e desnecessária pompa. Além disso , por

desconhecer a Teologia do Sacri f ício é que atualmente não se tem na

devida conta o valor da Cerimônia Eucarís t ica , em seus elementos

const i tut ivos, bem com o, não se entendem algumas partes da Missa.

Há até quem admita que elas venham contrariar os princípios da s i m-

pl icidade e pobreza evangél icas . Não é bem a ssim, principalmente por

que a Igreja foi na Teol ogia do Sacri f íc io encontrar fundamento para a

sua l i turgia, para vários concei tos de doutr ina e até mesmo de moral .

Não que a Igreja tenha copiado ou plagiado tais disposições assim

proposi tadamente , mas decorre do próprio fato de que o cr is t ianismo

foi sedimentado em cima do judaí smo. Tal como já se disse alhures

Jesus não fundou uma nova rel igião , mas deu pleni tude à Lei e aos

Profetas (Mt 5,17) , no que foi seguido pelos primeiros cr is tãos que

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acomodaram à dout r ina cri s tã as suas t radições . Em vir tude disso, não

se pode deixar de abordar pelo menos resumid amente certos detalhes

sacri f iciais da l i turgia dos Israel i tas , seja pela sua importância na

cont inuidade desejada por Jesus Cris to, seja na perspect iva de "pleno

cumprimento" (Mt 5 ,17 -20) que Ele lhe impôs.

Os Sacri f ícios compõem-se de algumas partes l i t úrgicas comuns

como o Altar , o Ofertante, o Sacerdote , a Oferenda, a Imposição das

Mãos, a Expiação, Aspersão, Oferecimento do Sangue, de Farinha, a

Oblação e o Memorial s ignif icado na expressão ". . . de suave odor para

o Senhor" [Lv 1,9 / 5 ,11 -13; em hebraico = "o bom cheiro que aplaca "

(Gn 8,21)] . Apesar de sensíveis diferenças, todos estes elementos de s-

tacam-se faci lmente nos vários t ipos que ex is tem. Exatamente no ex a-

me dessas diferenças é que se compreendem, ta nto a f inal idade deles ,

como sua eficácia e uso, at ingindo-se assim em cheio a sua Teologia

ou os seus fundame ntos rel igiosos:

(1°) - Os Holocaustos : Esse é o r i tual mais perfei to , pleno e s o-

lene de cul to, pelo reconhecimento da soberania divina e pela home-

nagem ao Criador. É o Sacri f ício por exce lência de adoração, ação de

graças ou expiação de pecados, sempre usado, desde antes dos Patr ia r-

cas e por eles (Gn 4,3 -4; 8 ,20; 22,13; Ex 18,12; 24,50), s ignif icando

na queima total da ví t ima o nada da cr iatura e de seus bens , perante

Iahweh. É escolhido do gado maior da manada, - o bovino; ou do gado

menor do rebanho, - o ovino; ou, das aves , - as rolas ou os pombos. A

única diferença que ocorre é que o ofertante "imolará o animal „m e-

nor‟ junto ao f lanco norte do al tar" (Lv 1,11) e o „maior‟ à entrada da

Tenda da Reunião (Lv 1,3 -5) . Com a oferta de aves "o sacerdote leva-

rá a ví t ima ao al tar e , destroncando -lhe a cabeça a queimará sobre ele.

Depois de deixar escorrer o sangue sobre a parede do al tar t i rará o p a-

po e a plumagem e os lançará do lado les te do al tar , no lugar das cin-

zas . Em seguida , o sacerdote dividirá em duas metades uma asa de c a-

da lado, mas sem as separar , e a queimará sobre a lenha acesa no a l -

tar" (Lv 1,15-17).

A ví t ima da manada deve ser um macho sem defei to no qual o

ofertante impõe as mãos para a subst i tuição, es tabelecendo assim a

sol idariedade dela com ele. Então, apresenta -a na entrada da Tenda da

Reunião e imola-a "na presença de Iahweh", diante do Santuário, no

Átrio (Lv 1,5) , cujo sangue, "sede da vida" (Gn 9,4) , é derr amado pelo

sacerdote em torno do Altar . Então o Ofertante a esquartejará (Lv 1,6)

e os Sacerdotes disporão as várias partes no Altar onde tudo será t o-

talmente queimado no fogo aí ex is tente e que não se apaga (Lv 6,5 -6) ,

bem como, a gordura, as patas e vísceras d evidamente lavadas. É o

Sacri f ício por excelência junto aos Is rael i tas , tão importante que se

consideraria uma desgraça nacional a profanação ou ext inção do Hol o-

causto Quot idiano, prat icado a cada manhã e a cada tarde de todos os

dias , mantendo o fogo aceso "sem j amais se apagar" (Lv 6,6 / Dn 8,13;

11,31):

“ Ia h w e h f a l o u a M o i s é s : “ M a n d a d i z e r a A a r ã o e a s e u s f i l h o s : E s t a é a l e i d o

h o l o c a u s t o : o h o l o c a u s t o f i c a r á s o b r e a l a r e i r a d o a l t a r a n o i t e i n t e i r a , a t é a

m a n h ã s e g u i n t e , e o f o g o d o a l t a r s e r á m a n t i d o a c e s o " ( L v 6 , 1 - 3 / N m 2 8 , 3 - 8 ) .

10

Ident i f ica-se es te Sacri f ício, e , com menor ampli tude os demais ,

ao de Cris to de que é "f igura" (Hb 9,24; Rm 15,4; 1Co 10,6; Gl 4,24;

1Pe 3,21) de quem lhes vêm o valor e a ef icácia como adoração, exp i-

ação e ação de graças (Hb 9, 11-14). Cris to entregue para a Redenção

do Homem, Humanidade e Divindade, todo e intei ro subi ndo ao Altar

de Cruz e "derramando o Seu Sangue" . Deixa-se consumir complet a-

mente pela Caridade, melhor, p elo Amor de Deus, como Subst i tuição

Salutar do Homem em Expiação e em Ação de Graças . Sobe ao céu

Ressusci tado tal como o "perfume de agradável odor a Deus [ „ o bom

cheiro que aplaca’ ] " (Lv 1,9.13.17), e real iza , com pleni tude e perfe i -

ção, verdadeiro Holocausto de Si mesmo:

" C o m e f e i t o , s e g u n d o a L e i , q u a s e t o d a s a s c o i s a s d e v e m s e r p u r i f i c a d a s c o m s a n g u e e n ã o h á r e m i s s ã o s e m e f u s ã o d e s a n g u e . E r a n e c e s s á r i o , p o i s , q u e a s

' f i g u r a s ' d a s r e a l i d a d e s c e l e s t e s f o s s e m p u r i f i c a d a s . M a s a s p r ó p r i a s r e a l i d a -

d e s c e l e s t e s r e q u e r e m s a c r i f í c i o s m a i s e x c e l e n t e s d o q u e a q u e l e s . P o i s C r i s t o n ã o e n t r o u n u m s a n t u á r i o f e i t o p o r m ã o h u m a n a , f i g u r a d o v e r d a d e i r o , m a s n o

p r ó p r i o c é u , p a r a c o m p a r e c e r a g o r a n a p r e s e n ç a d e D e u s e m n o s s o f a v o r . E

n ã o e n t r o u p a r a s e o f e r e c e r m u i t a s v e z e s a s i m e s m o , c o m o o S u m o S a c e r d o t e q u e e n t r a v a t o d o s o s a n o s n o s a n t u á r i o , p a r a o f e r e c e r s a n g u e a l h e i o . D o c o n -

t r á r i o l h e s e r i a n e c e s s á r i o p a d e c e r m u i t a s v e z e s d e s d e o p r i n c í p i o d o m u n d o .

M a s s ó a p a r e c e u a g o r a , u m a v e z a p e n a s , n a p l e n i t u d e d o s s é c u l o s , p a r a d e s -t r u i r o p e c a d o p e l o s a c r i f í c i o d e s i m e s m o " ( H b 9 , 1 9 - 2 6 ) .

Ensina o atual Catecismo da Igreja Catól ica:

" É c o m b a s e n a h a r m o n i a d o s d o i s t e s t a m e n t o s ( v . " D e i V e r b u m " n ° s . 1 4 - 1 6 )

q u e s e a r t i c u l a a c a t e q u e s e p a s c a l d o S e n h o r ( c f . Lc 2 4 , 1 3 - 4 9 ) e , d e p o i s , a d o s A p ó s t o l o s e d o s P a d r e s d a I g r e j a . E s t a c a t e q u e s e d e s v e n d a o q u e e s t a v a o c u l t o

s o b a l e t r a d o A n t i g o T e s t a m e n t o : o m i s t é r i o d e C r i s t o . É c h a m a d a " t i p o l ó g i c a " ,

p o r q u e r e v e l a a n o v i d a d e d e C r i s t o a p a r t i r d a s " f i g u r a s " ( t i p o s ) q u e a a n u n c i a -v a m n o s f a t o s , p a l a v r a s e s í m b o l o s d a p r i m e i r a A l i a n ç a . A q u e l a s f i g u r a s s ã o

d e s v e n d a d a s p o r e s t a r e l e i t u r a n o E s p í r i t o d e v e r d a d e a p a r t i r d e C r i s t o ( v . 2 C o

3 , 1 4 - 1 6 ) . A s s i m , o d i l ú v i o e a a r c a d e N o é p r e f i g u r a v a m a s a l v a ç ã o p e l o B a t i s -m o ( c f . 1 P e 3 , 2 1 ) ; i g u a l m e n t e a n u v e m e a t r a v e s s i a d o M a r V e r m e l h o , e a á g u a

d o r o c h e d o e r a m f i g u r a d o s d o n s e s p i r i t u a i s d e C r i s t o ( c f . 1 C o 1 0 , 1 - 6 ) ; e o m a -

n á d o d e s e r t o p r e f i g u r a v a a E u c a r i s t i a , " v e r d a d e i r o P ã o d o C é u " ( J o 6 , 3 2 ) " ( n . ° 1 0 9 4 , d e s t a q u e s p r o p o s i t a i s ) .

(2°) - As Oblações : São os Sacri f ícios denominados de Incrue n-

tos em vir tude de não ocorrer o derramamento de sangue. São prat ic a-

dos com produtos do solo, cul t ivados e usados como al imento pelo

Homem tais como farinha de t r igo no estado natural (Lv 2,1 -3) ou em

forma de pão sem fermento, cozido no forno ou em ass adeira (Lv 2,4 -

7) a que o Sacerdote junta o azei te e o incenso oferecido a uma parte

queimada em "suave odor a Iahweh". O restante, pertencente aos S a-

cerdotes (Lv 2,2 -3) , deveria ser comido no Átrio da Tenda da Reunião,

o "lugar sagrado" (Lv 6,9) . Formam uma exceção, pois , o verdadeiro

Sacri f ício ex ige o derramamento do sangue "que expia" (Lv 17,11). Só

raramente são prat icadas isoladamente (Lv 5,11; 6 ,12 -16) então usadas

como al ternat iva para os pobres tendo o mesmo valor expiatório (Lv

5,11-13). Geralmente é um complemento obrigatório , tanto no Holo-

causto como nos Sacri f ícios Pacíf icos . Não se pode usar fermento,

nem mel , e ". . . porás sal . . . o Sal da Aliança de Iahweh, nas ofertas e

em todas as ofertas oferecerá sal" (Lv 2 ,13). É a es te sal que compara

Jesus seus Apóstolos pela consagração fei ta:

11

" V ó s s o i s o s a l d a t e r r a . M a s s e o s a l p e r d e r o s e u s a b o r , c o m o q u e s e h á d e s a l g a r ? J á n ã o s e r v i r á p a r a n a d a , a p e n a s p a r a s e r j o g a d o f o r a e p i s a d o p e l a s

p e s s o a s " ( M t 5 , 1 3 ) .

Não se podia usar o fermento e o mel , pois são faci lmente dege-

neráveis enquanto que o sal , além da qual idade de conservar os al i -

mentos , tem no Oriente Médio o condão de unir até mesmo inimigos.

Tanto é ass im que quando ingerido em comum, mesmo por acaso e por

dois inimigos, causa -lhes a "união do coração", de duração perene e

inviolável . É esse caráter que adquire ao se tornar presente no Sacri f í -

cio que envolve qualquer fato in erente à Aliança, daí a denominação

de Al iança de Sal :

" S a b e i s m u i t o b e m q u e Ia h w e h D e u s d e I s r a e l c o n c e d e u a D a v i o d i r e i t o d e r e i n a r s o b r e I s r a e l p a r a s e m p r e , a e l e e s e u s d e s c e n d e n t e s , p o r u m a a l i a n ç a

d e s a l " ( 2 C r o 1 3 , 4 - 5 ) .

Vem, em seguida , a Oblação das Primícias , oblação part icular

dos neo-Sacerdotes , que difere das oferendas públ icas das prim ícias

(Ex 13,2; 22,28-29):

" S e f i z e r e s a Ia h w e h u m a o b l a ç ã o d e p r i m í c i a s , d e v e r á s e r d e e s p i g a s t o s t a d a s a o f o g o e g r ã o s m o í d o s d o f r u t o f r e s c o . S o b r e e l a o f e r e c e r á s a z e i t e e p o r á s i n -

c e n s o . É u m a o b l a ç ã o . D e l a o s a c e r d o t e q u e i m a r á c o m o m e m o r i a l u m a p a r t e d o s

g r ã o s m o í d o s e d o a z e i t e , a l é m d e t o d o o i n c e n s o . É u m s a c r i f í c i o p e l o f o g o a I a h w e h " ( Lv 2 , 1 4 - 1 6 ) .

Desde os primórdios do Cris t ianismo , a Tradição vê no Sacri f í -

cio da Missa o cumprimento da Profecia de Malaquias refer indo-se à

"oblação pura" e i ncruenta (v. tb . Catecismo da Igreja Catól ica n°s

1330, 1350 e 2643):

" S i m , d o l e v a n t a r a o p ô r - d o - s o l , m e u n o m e s e r á g r a n d e e n t r e a s n a ç õ e s e e m

t o d o l u g a r s e r á o f e r e c i d o a m e u n o m e u m s a c r i f í c i o d e i n c e n s o e u m a o b l a ç ã o p u r a . P o r q u e m e u n o m e é g r a n d e e n t r e a s n a ç õ e s ! – d i z o S e n h o r T o d o -

P o d e r o s o " ( M l 1 , 1 1 ) .

(3°) - Os Sacrif ícios Pacíf icos ou Salutares : São as denomina-

das Refeições Sagradas celebradas em agradecimento por algum f avor

recebido ou para consegui - lo , em que, determinadas partes da ví t ima

eram comidas no Santuário , pelo ofertante e s eus convidados. As par-

tes gordas eram queimadas e o sangue era derramado sobre o Altar e

ao seu redor e duas partes da ví t ima eram dest inadas aos Sacerdotes .

Dist inguem-se do Holocausto e ssencialmente nas partes dest inadas a

Iahweh que passam a se resumir apenas no sangue e na gordura da v í-

t ima. Essa pode ser macho ou fêmea, sendo que, o pei to e uma perna

vão para os Sacerdotes e o res tante é "banquete ado" pelo Ofertante e

seus famil iares ou com convid ados. Não há necessidade de detalha r

todas as espécies de les , pois muito se assemelham sem variação, e são

faci lmente percept íveis por uma s imples lei tura do tex to. É a es tes t i -

pos de Sacri f ícios que São Paulo refere -se ao compará -los com a Eu-

caris t ia (Veja acima o n° 2.8 do Capí t ulo II) :

" O l h a i o I s r a e l s e g u n d o a c a r n e . N ã o e n t r a m e m c o m u n h ã o c o m o a l t a r o s q u e

c o m e m d a s v í t i m a s s a c r i f i c a d a s ? " ( 1 C o r 1 0 , 1 8 ) .

12

Esse "banquete" do qual todos ( Iahweh-Deus, os Sacerdotes , o

Ofertante, seus fami l iares e convidados) part icipam é parte obrigatória

do r i tual e imprime aquela int imidade de vidas que é a principal cara c-

ter ís t ica do aconchego de uma refeição famil iar : aquela comunhão

plena que se manifesta na l iberdade de ampla e descontraída comun i-

cação mútua. Tudo indica que isso cul turalmente , es teja enraizado na

própria natureza humana, pois t rata -se de acontecimento comum a t o-

das as épocas e civi l izações. Basta mencionar a real ização costumeira

de banquetes por ocasiões de fatos ou comemorações especiais como o

noivado, o casamento, o bat izado, o anive rsário etc. . Também nos atos

públ icos : inaugurações, instalações, vis i tas de pessoas célebres , aco r-

dos internacionais etc. , essas cerimônias sempre se completam com

uma refeição fest iva. Nessas ocasiões , todos se confraternizam de

forma descontraída e se harmonizam. Jesus se despediu dos Seus Di s-

cípulos em uma "Refeição Sagrada", na Santa Ceia, onde inst i tuiu a

Eucaris t ia , conhecida como " comunhão", " . . . fonte e ápice da vida

cristã . . . " (Conc. Do Vat . II , "Lumen Gent ium", n .° 11):

" J e s u s f e z a m a n i f e s t a ç ã o s u p r e m a d a o b l a ç ã o l i v r e d e S i m e s m o n a r e f e i ç ã o q u e t o m o u c o m o s d o z e A p ó s t o l o s ( c f . M t 2 6 , 2 0 ) , n a " n o i t e e m q u e f o i e n t r e g u e "

( 1 C o 1 1 , 2 3 ) . N a v é s p e r a d a S u a P a i x ã o , q u a n d o a i n d a e r a l i v r e , J e s u s f e z d e s t a

Ú l t i m a C e i a c o m o s A p ó s t o l o s o m e m o r i a l d e s u a o b l a ç ã o v o l u n t á r i a a o P a i ( c f . 1 C o 5 , 7 ) p a r a a s a l v a ç ã o d o s h o m e n s : " I s t o é o m e u C o r p o , q u e v a i s e r e n t r e g u e

p o r v ó s " ( Lc 2 2 , 1 9 ) . " I s t o é ( . . . ) o M e u S a n g u e d a N o v a A l i a n ç a , q u e v a i s e r

d e r r a m a d o p o r u m a m u l t i d ã o , p a r a r e m i s s ã o d o s p e c a d o s " ( M t 2 6 , 2 8 ) " ( C a t e -c i s m o d a Ig r e j a C a t ó l i c a n . ° 6 1 0 , n e g r i t o s p r o p o s i t a i s ) .

(4°) - Os Sacrif ícios Pelo Pecado : São também conhecidos co-

mo Sacri f ícios Expiatórios ou De Expiação, eis que não exist ia uma

palavra específ ica para "pecado", tal como atualmente. O Israel i ta u-

sava "iniquidade", "impiedade", "fal ta", "mancha", "t ransgressão",

"revol ta", "injust iça", "dívida" etc. . Contra pondo-se à f igura do "jus-

to", o que “anda na presença de Deus ( „ faz o bem ‘ )” , o pecador de

então é "aquele que faz o mal na face de Deus", um "ímpio", "mau"

etc . . Também não se usava o termo "perdão" nas dimensões atuais da

"just i f icação bat ismal", refer indo-se a e le, mas esse termo "expiação”,

como uma purif icação "propiciatória" levando o H omem a se predispor

em condições de agradar a Deus que desagradou com al gum ato que

necessi ta "expiar", ex t inguir , puri f icando-se. Impondo as mãos sobre a

cabeça da ví t ima ident i f icava -se com ela , representando-o na subst i tu-

ição e sol idariedade estabelecida. Todo Sacri f ício Pelo Pecado ident i -

f ica-se ao Holocaus to e a ele se assemelha, dis t inguindo-se na varie-

dade casuís t ica em que se apresenta.

Após uma breve int rodução , em que se s i tuam os pecados por

inadvertência ou por er ro, fruto da f raqueza humana contra qualquer

dos Mandamentos (Lv 4,1 -12) , apresenta-se o Sacri f ício pelo Pecado

do Sumo Sacerdote (Lv 4,3 -12), de todo o Povo (Lv 4,13 -21), de um

Chefe (Lv 4,22-26) e de um simples Israel i ta (Lv 4,27 -35) , comple-

tando-se com a exceção do Sacri f ício especial para a Pobreza (Lv

5,7.11-13).

13

(4.1) - Sacrif ícios de Reparação ou Pelo Del i to, por um ato

involuntário ou por ignorância (Lv 5 ,1-10.14-26). É necessário es-

clarecer que dessa "classi f icação" dos pecados há que se dis t inguir

aqueles prat icados "com a mão levantada" (Nm 15,30 -31) para os

quais não há remissão, resul tando sem pre na el iminação do culp ado do

seio do Povo, numa espécie de "excomunhão". Essa divisão caracteriza

ainda a gravidade do pecado que tem maior efei to danoso , quando pra-

t icado por pessoa responsável pela integridade moral no meio social a

começar com "o que foi ungido" (Lv 4,3.16; 6 ,15; 7 ,35), e recebe a

denominação de Sumo Sacerdote. A mais impo rtante personal idade de

Is rael caso cometa fal ta no exercício de suas funções compromete , em

muito , a sant i f icação de toda a comunidade, ex igindo assim um Sacr i -

f ício especial : oferece então um novi lho sem defei to , impo ndo-lhe as

mãos e imolando-o em frente ao Santuário; em seguida, t omando do

sangue, vai à Tenda da Reunião onde molha nele o dedo e faz sete a s -

persões em frente do véu; "unge" com ele os chifres do Altar do In-

censo, derramando o resto ao pé do Altar dos Holocaustos; " t i rará de-

pois a gordura do bezerro sacri f icado pelo pecado, a gordura que c o-

bre as vísceras e toda a gordura aderente, os dois r ins com a gordura

que os cobre na região lombar, e a camada gor durosa do f ígado que

deverá separar com os r ins - exatamente como se faz com o touro de

um sacri f ício pacíf ico - e o sacerdote queimará tudo sobre o al tar dos

holocaustos . O couro do bezerro, toda a carne, além da cabeça, pernas ,

vísceras e excrementos, en fim, será levado o bezerro intei ro para fora

do acampamento a um lugar puro e o queimará sobre um fogo de l e-

nha. Será queimado no lugar onde se jogam as cinzas “ (Lv 4,8 -12), e

queimando-o, queima-se também a fal ta cometida.

Os demais seguem o mesmo esquem a, mudando-se o t ipo de v í-

t ima e alguns detalhes do r i tual , mas sempre é mant ido o caráter de

um verdadeiro Holocausto. Assim , a ninguém seria permit ido al ime n-

tar-se das ví t imas imoladas para não se beneficiar o pecador com a

ví t ima ocasionada pelo seu pecado. Por causa disso , queimando-se a

ví t ima fora do acampamento esse Sacri f ício pelo Pecado do Sumo S a-

cerdote é comparado com a Crucif ixão de Jesus que se renova na Mi s-

sa de maneira incruenta:

" O s c o r p o s d a q u e l e s a n i m a i s c u j o s a n g u e , p a r a a e x p i a ç ã o d o s p e c a d o s , é i n t r o -

d u z i d o n o s a n t u á r i o p e l o S u m o S a c e r d o t e , s ã o q u e i m a d o s f o r a d o a c a m p a m e n t o .

P e l o q u e t a m b é m J e s u s , a f i m d e s a n t i f i c a r o p o v o c o m s e u s a n g u e , p a d e c e u f o r a d a s p o r t a s . S a i a m o s , p o i s , p a r a i r t e r c o m e l e f o r a d o a c a m p a m e n t o c a r r e g a n d o

a s u a i g n o m í n i a , p o i s n ã o t e m o s a q u i c i d a d e p e r m a n en t e , a o c o n t r á r i o , b u s c a -

m o s a f u t u r a . P o r e l e o f e r e ç a m o s c o n t i n u a m e n t e a D e u s s a c r i f í c i o s d e l o u v o r , i s t o é , o f r u t o d o s l á b i o s q u e c e l e b r a m s e u n o m e . D a b e n e f i c ê n c i a e d a m ú t u a

a s s i s t ê n c i a n ã o v o s e s q u e ç a i s , p o i s D e u s s e c o m p r a z c o m e s t e s s a c r i f í c i o s " ( H b

1 3 , 1 0 - 1 6 ) .

Essa variedade de Sacri f ícios , conforme a gravidade das fal tas

cometidas , serve para se conhecer a ex is tência de uma graduação d e-

las , como ainda são dispostos atualmente em mortais e veniais :

" S e a l g u é m v i r o i r m ã o c o m e t e r u m p e c a d o q u e n ã o l e v a à m o r t e , o r e e a l c a n ç a -

r á a v i d a p a r a o s q u e n ã o p e c a m p a r a a m o r t e . H á u m p e c a d o p a r a a m o r t e , m a s

n ã o é p o r e s t e q u e d i g o q u e s e r o g u e . T o d a i n j u s t i ç a é p e c a d o , m a s h á p e c a d o q u e n ã o é p a r a a m o r t e " ( 1 J o 5 , 1 6 - 1 7 ) .

14

"Há um pecado para a morte. . . há pecado que não é para a mo r-

te" - eis a í , a graduação bem clara com o que mais uma vez se ident i -

f ica com a cont inuidade de algumas noções teológicas do judaísmo

(cfr . Catecismo da Igreja Catól ica n.°s . 1852 a 1861 e1 862 a 1864).

Quanto aos demais conteúdos dos sacri f ícios , bastam uma sim-

ples lei tura do contexto todo , para se d is t inguir as diferenças e seme-

lhanças, dispensando-se maiores comentários e mant idos os princípios

aqui exarados .

3.4. - DIREITOS, FUNÇÕES E DEVERES DOS SACERDOTES NO SACRIFICIO

Descreve-se, em seguida , a maneira do Sacerdote apresentar -se

no Santuário e como se manter na Sant idade necessária ao seu minis t é-

r io . Delas se deduz o que se denomina aqui de " direi tos e deveres dos

Sacerdotes" confor me os Sacr i f ícios a que se vinculam cer tas prát icas .

Por "direi tos" ver -se-á aquelas porções que lhes sejam dest inadas nos

Sacri f ícios e por "deveres" aqueles elementos const i tut ivos dos r i tuais

l i túrgicos a que se deveriam vincular , cumprindo -os rel igiosamente.

Apresentam-se, ass im, disposições relacionadas com os sacri f ícios já

descri tos , especif icando -se que parte da ví t ima seria “comida” pelo

sacerdote oficiante e sua famíl ia , pelo ofe rtante e seus famil iares e o

"Pão de Iahweh" (Lv 21,6.8):

(1°) - No Holocausto Cotidiano - Desde Abraão há curios idade

sobre o fato de Isaac, "enquanto caminhavam" (Gn 22,7a) e ao recl a-

mar a ausência da ví t ima mencionar a presença de um "fogo" (Gn

22,7c) já ci tado antes pelo narrador (Gn 22,6 - " . . . tomou na mão o

fogo e o cutelo. . . " ) . É clara a ex is tência e a ex igência de um fogo e s -

pecial , um fogo sagrado, que deveria ser mant ido aceso. Quando da

invest idura de Aarão e seus f i lhos para o exercício do Sacerdócio , o

Holocausto , então oferec ido, foi consumido por um fogo do céu:

" . . . e u m f o g o e n v i a d o p o r I a h w e h c o n s u m i u o h o l o c a u s t o e a s g o r d u r a s q u e e s -t a v a m s o b r e o a l t a r . V e n d o , o p o v o i n t e i r o p r o r r o m p e u e m g r i t o s d e a l e g r i a , e

p r o s t r a r a m - s e t o d o s c o m o r o s t o p o r t e r r a " ( L v 9 , 2 4 ) .

Este fato vai se repet i r outras vezes (J z 6,21; 1Cro 21,26; 2Mac

2,10) e também, quando da inauguração do Templo por Salomão o que

não deixa de ser um fato bem signif icat ivo pela freq uência com que

ocorre:

" Q u a n d o S a l o m ã o t e r m i n o u a o r a ç ã o , c a i u f o g o d o c é u e d e v o r o u o h o l o c a u s t o e

o s s a c r i f í c i o s ; e a g l ó r i a d o S e n h o r e n c h e u o t e m p l o . O s s a c e r d o t e s n ã o p u d e -

r a m e n t r a r n o t e m p l o d o S e n h o r , p o i s a g l ó r i a d o S e n h o r o e n c h i a . T o d o s o s f i -l h o s d e I s r a e l , q u a n d o v i r a m o f o g o d e s c e r e a g l ó r i a d o S e n h o r s o b r e o t e m p l o ,

s e a j o e l h a r a m , c o m o r o s t o e m t e r r a , s o b r e o p a v i m e n t o , a d o r a r a m e l o u v a r a m o

S e n h o r : „ S i m , e l e é b o m e e t e r n o é s e u a m o r ‟ . E S a l o m ã o c o m t o d o o p o v o o f e -r e c e u s a c r i f í c i o s d i a n t e d o S e n h o r . O r e i S a l o m ã o i m o l o u v i n t e e d o i s m i l b o i s e

c e n t o e v i n t e m i l o v e l h a s . A s s i m o r e i e t o d o o p o v o i n a u g u r a r a m o t e m p l o d e

D e u s " ( 2 C r o 7 , 1 - 4 ) .

15

A exis tência desse t ipo de fogo vem confirmada por um dos l i -

vros de Macabeus:

" E s t a m o s p a r a c e l e b r a r , n o d i a 2 5 d o m ê s d e C a s l e u , a p u r i f i c a ç ã o d o t e m p l o . P o r i s s o j u l g a m o s n e c e s s á r i o d a r - v o s e s t a i n f o r m a ç ã o , p a r a q u e t a m b é m v ó s a

c e l e b r e i s a m o d o d a f e s t a d a s T e n d a s , e e m m e m ó r i a d o f o g o q u e f o i r e e n -

c o n t r a d o q u a n d o N e e m i a s o f e r e c e u s a c r i f í c i o s , d e p o i s d e t e r r e c o n s t r u í d o o t e m p l o e o a l t a r . C o m e f e i t o , q u a n d o n o s s o s p a i s f o r a m l e v a d o s à P é r s i a , o s

p i e d o s o s s a c e r d o t e s d e e n t ã o t i r a r a m o f o g o d o a l t a r e o o c u l t a r a m s e c r e t a -

m e n t e n o f u n d o d e u m p o ç o d e á g u a s e c o , r e s g u a r d a n d o - o d e t a l m o d o q u e o l u g a r p e r m a n e c e u d e s c o n h e c i d o d e t o d o s . P a s s a d o s m u i t o s a n o s , q u a n d o a -

p r o u v e a D e u s , N e e m i a s , e n v i a d o p e l o r e i d a P é r s i a , d e t e r m i n o u q u e o s d e s -

c e n d e n t e s d o s s a c e r d o t e s q u e h a v i a m o c u l t a d o o f o g o , o f o s s e m p r o c u r a r . Q u a n d o e l e s n o s i n f o r m a r a m q u e n ã o t i n h a m e n c o n t r a d o o f o g o , m a s s i m u m

l í q u i d o e s p e s s o , o r d e n o u - lh e s q u e a p a n h a s s e m d a q u e l e l í q u i d o e o t r o u x e s -

s e m . E s t a n d o t u d o d i s p o s t o p a r a o s a c r i f í c i o , N e e m i a s o r d e n o u a o s s a c e r d o -t e s q u e a s p e r g i s s e m , c o m o l í q u i d o , a l e n h a e o q u e s e e n c o n t r a v a s o b r e e l a .

A o r d e m f o i e x e c u t a d a . Q u a n d o o s o l , a n t e s r e c o b e r t o p o r n u v e n s , r e c o m e ç o u

a b r i l h a r , a c e n d e u - s e g r a n d e f o g o , c a u s a n d o a d m i r a ç ã o e m t o d o s “ ( 2 M a c 1 , 1 8 - 2 2 ) .

Este fogo deve ser do t ipo mantido sempre aceso pelos Sacerd o-

tes , num Holocausto Cot idiano (Ex 29,38 -42; Nm 28,3-8) , i s to é, se-

gundo uma ant iga t r adição "o fogo vindo do céu" (Lv 9,24 / Ex 40,38)

que se deveria manter sempre ac eso:

" Ia h w e h f a l o u a M o i s é s : “ M a n d a d i z e r a A a r ã o e a s e u s f i l h o s : E s t a é a l e i d o

h o l o c a u s t o : o h o l o c a u s t o f i c a r á s o b r e a l a r e i r a d o a l t a r a n o i t e i n t e i r a , a t é a m a n h ã s e g u i n t e , e o f o g o d o a l t a r s e r á m a n t i d o a c e s o . ( . . . ) O f o g o , p o r é m , q u e

a r d e s o b r e o a l t a r , j a m a i s s e d e v e e x t i n g u i r . T o d a s a s m a n h ã s o s a c e r d o t e o a -

l i m e n t a r á c o m l e n h a , p o r á s o b r e e l a o h o l o c a u s t o , e q u e i m a r á a g o r d u r a d o s s a -c r i f í c i o s p a c í f i c o s . O f o g o d e v e a r d e r c o n t i n u a m e n t e n o a l t a r s e m j a m a i s s e a -

p a g a r " ( Lv 6 , 1 - 6 ) .

Há tão grande respei to e veneração pela Sant idade do Santuário

que o Sacerdote responsável por esse fogo sagrado deveria t rocar a

roupa que usava para levar as cinzas para fora do acampamento, ev i-

tando assim a contaminação com o profano (Lv 6,4) . É que tanto o

sant i f icado como o impuro contaminavam as pessoas , e os objetos (Lv

6,11c.18-23; Ex 29,37; Lv 11,24 -28.31-40):

" O s a c e r d o t e , v e s t i n d o t ú n i c a e r o u p a d e b a i x o d e l i n h o , r e m o v e r á a s c i n z a s d e i x a d a s p e l o f o g o q u e c o n s u m i u o h o l o c a u s t o , e a s d e p o s i t a r á a o l a d o d o a l t a r .

D e p o i s d e d e s p i r e s s a s v e s t e s e v e s t i r o u t r a s , l e v a r á a s c i n z a s p a r a f o r a d o a -c a m p a m e n t o , a u m l u g a r n ã o c o n t a m i n a d o " ( L v 6 , 3 - 4 ) .

(2°) - Nas Oblações (Lv 2,1 -16 / 6 ,7-11):

" E s t a é a l e i d a o b l a ç ã o : O s f i l h o s d e A a r ã o d e v e m a p r e s e n t á - l a a o S e n h o r

d i a n t e d o a l t a r . O s a c e r d o t e p e g a r á u m p u n h a d o d e f l o r d e f a r i n h a d a o b l a ç ã o c o m a z e i t e , b e m c o m o t o d o o i n c e n s o p o s t o s o b r e a o f e r e n d a , e q u e i m a r á n o

a l t a r c o m o m e m o r i a l d e s u a v e o d o r a o S e n h o r . O r e s t a n t e d a o b l a ç ã o , A a r ã o

e s e u s f i l h o s o c o m e r ã o ; d e v e r á s e r c o m i d o s e m f e r m e n t o , e m l u g a r s a n t o , n o á t r i o d a t e n d a d e r e u n i ã o . N ã o s e r á a s s a d o c o m f e r m e n t o . É a p a r t e q u e l h e s

d e s t i n e i d o s s a c r i f í c i o s q u e m e s ã o o f e r e c i d o s p e l o f o g o . É c o i s a s a n t í s s i m a ,

d a m e s m a f o r m a c o m o o s a c r i f í c i o d e e x p i a ç ã o e o d e r e p a r a ç ã o . D e l a p o d e -r ã o c o m e r t o d o s o s f i l h o s d e A a r ã o d o s e x o m a s c u l i n o . É u m a l e i p e r p é t u a

p a r a v o s s o s d e s c e n d e n t e s , r e f e r e n t e a o s s a c r i f í c i o s p e l o f o g o a o S e n h o r : t u d o

q u e o s t o c a r f i c a s a g r a d o ” ( L v 6 , 7 - 1 1 ) .

Parte da Oblação const i tuída por "um punhado de f lor de far inha

com azei te , e todo o incenso posto sobre a oferenda" seria "queimada

no al tar como memorial de suave odor a Iahweh. O restante dela , Aa-

16

rão e seus f i lhos comeriam sem fermento" no Santuário e "no át r io da

Tenda de Reunião". Só Aarão e os seus f i lho s e descendentes mascul i -

nos, dela poderiam comer no Átrio em frente da Tenda da Reunião, no

lugar sagrado, por ser Sant íss ima , dela "comendo" também Iahweh, e

queimando-se uma parte "como memoria l de suave odor a Iahweh " (Lv

6,8) . Somente os homens comeria m dessas oblações pelo fa to das m u-

lheres da Casa de Aarão não terem sido "ungidas", e ass im , "não sant i -

f icadas para o múnus sacerdotal" não as poderiam tocar "por serem

oferendas sant íss imas" e as profanariam pelo contá gio.

Apresenta -se, a seguir , uma Oblação especial que os f i lhos de

Aarão deveriam oferecer no dia em que fo ssem "ungidos", "metade de

manhã e metade de tarde", inst i tuída de forma perpétua e sempre que

ocorresse a consagração para o exercíc io do Sacerdócio. O Sacerdote

que a oferece, di feren temente de outros , dela não se beneficiar ia c o-

mendo, pois pertence intei ramente a Iahweh:

" O S e n h o r f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : „ E s t a é a o f e r t a q u e A a r ã o e s e u s f i l h o s f a -

r ã o n o d i a e m q u e f o r e m u n g i d o s : q u a t r o l i t r o s e m e i o d e f l o r d e f a r i n h a , c o m o o b l a ç ã o p e r p é t u a , m e t a d e d e m a n h ã e m e t a d e d e t a r d e . S e r á p r e p a r a d a n a c h a p a

e a p r e s e n t á - l a - á s e m b e b i d a e m a z e i t e . T r i t u r a n d o - a em p e d a c i n h o s , o f e r e c ê - l a -

á s e m s u a v e o d o r a o S e n h o r . A m e s m a o b l a ç ã o f a r á o s a c e r d o t e q u e e n t r e o s f i -l h o s f o r u n g i d o e m s e u l u g a r . É u m a l e i p e r p é t u a : s e r á i n t e i r a m e n t e q u e i m a d a

e m h o n r a a o S e n h o r . T o d a o b l a ç ã o d e u m s a c e r d o t e s e r á t o t a l , e n ã o s e c o m e r á ‟ ”

( Lv 6 , 1 3 - 1 6 ) .

(3°) - Nos Sacrif ícios Expiatórios ou Pelo Pecado (Lv 6,17-23

/ Lv 4) - Esse r i tual destaca a Sant idade da ví t ima pelo lugar onde se

dá a imolação, por onde se deve comê -la, pelos efei tos de qualquer

contato com a ca rne ou com o sangue, pela parte reservada apenas aos

Sacerdotes , ou por não comer dela o Ofertante que pecou para não se

beneficiar de seu pecado e em peni tên cia. É imolada, após a imposição

das mãos pelo Sacerdote, em nome do Ofertante, no mesmo l ocal do

Holocausto e após a efusão do Sangue no Santuário, tornando -se assim

Sant íss ima pelo que qualquer contato com ela infunde Sant idade, por

isso somente o Sacerdote celebrante , e os colegas mascul inos que se

permit i r , podem dela comer. No caso do oferecido pelo pecado do S u-

mo Sacerdote ou da Comunidade ninguém dela comerá, devendo ser

totalmente queimada, pois , o sangue é derramado em l ugar santo (Lv

6,23):

" O S e n h o r f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : “ F a l a p a r a A a r ã o e s e u s f i l h o s : E s t a é a l e i

d o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o . N o l u g a r o n d e s e i m o l a o h o l o c a u s t o , t a m b é m s e r á i m o l a d a d i a n t e d o S e n h o r a v í t i m a p e l o p e c a d o . É c o i s a s a n t í s s i m a . O s a c e r d o t e

q u e o f e r e c e r a v í t i m a p e l o p e c a d o , d e l a p o d e r á c o m e r . D e v e s e r c o m i d a e m l u -

g a r s a n t o , n o á t r i o d a t e n d a d e r e u n i ã o . T u d o q u e t o c a r e s t a c a r n e , f i c a r á c o n -s a g r a d o . S e o s a n g u e r e s p i n g a r a l g u m a v e s t e , l a v a r á s a m a n c h a e m l u g a r s a n t o .

A v a s i l h a e m q u e f o r c o z i d a , s e r á q u e b r a d a , s e f o r d e b a r r o . S e f o r d e b r o n z e ,

s e r á e s f r e g a d a e l a v a d a e m á g u a . T o d o i n d i v í d u o d e s e x o m a s c u l i n o e n t r e o s s a -c e r d o t e s p o d e r á c o m e r d e s t a c a r n e . É c o i s a s a n t í s s i m a . M a s n ã o s e p o d e r á c o -

m e r n e n h u m a v í t i m a e x p i a t ó r i a d a q u a l s e l e v o u s a n g u e à t e n d a d e r e u n i ã o p a r a

f a z e r a e x p i a ç ã o n o s a n t u á r i o ; s e r á q u e i m a d a n o f o g o " ( Lv 6 , 1 7 - 2 3 ) .

(3º . 1) . - Nos Sacrif ícios Pelo Del i to ou de Reparação (Lv 7,1-

10) - Há aqui uma espécie de complemento del in eando-se outros r i tos

a serem também observados no caso de ofensas mais s imp les , os del i -

tos (Lv 5,14-26). A ví t ima será imolada no mesmo local do Holocau s-

17

to e segue o mesmo ri tual do Sacri f ício de Reparação, pode ndo assim

ter o seu dano aval iado, acrescido de um quinto e então pago ao S a-

cerdote que fará a expiação por ele (Lv 5,16 .23-26). A ví t ima, após a

efusão do sangue , torna-se "coisa sant í ss ima" entregue ao sacerdote

que fará a reparação pelo ofertante obedecendo às regras seguintes ,

dispensando-se comentários pela s implicidade do ato:

" S e r á o f e r e c i d a t o d a a g o r d u r a d a v í t i m a : a c a u d a , a g o r d u r a q u e e n v o l v e a s v í s c e r a s , o s d o i s r i n s c o m a g o r d u r a q u e o s c o b r e n a r e g i ã o l o m b a r , e a c a -

m a d a d e g o r d u r a d o f í g a d o q u e s e r á s e p a r a d a c o m o s r i n s . O s a c e r d o t e q u e i -

m a r á t u d o n o a l t a r , c o m o s a c r i f í c i o p e l o f o g o a o S e n h o r . T r a t a - s e d e u m s a -c r i f í c i o d e r e p a r a ç ã o . D e l e p o d e r á c o m e r , e m l u g a r s a n t o , t o d a p e s s o a d o s e -

x o m a s c u l i n o e n t r e o s s a c e r d o t e s . É c o i s a s a n t í s s i m a " ( L v 7 , 3 - 6 ) .

Tanto aqui , como no anterior , a ví t ima é do sacerdote que faz a

expiação, is so é, daquele que oferece a gordura queimando-a e derra-

ma o sangue:

" V a l e a m e s m a l e i t a n t o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , c o m o p a r a o s a c r i f í c i o d e r e p a r a ç ã o : A v í t i m a p e r t e n c e a o s a c e r d o t e q u e f a z a e x p i a ç ã o . A o s a c e r d o t e q u e

o f e r e c e o h o l o c a u s t o d e a l g u é m , p e r t e n c e a p e l e d a v í t i m a q u e o f e r e c e u . T o d a

o b l a ç ã o a s s a d a a o f o r n o o u p r e p a r a d a e m p a n e l a o u c h a p a , p e r t e n c e a o s a c e r d o -t e q u e o f e r e c e . T o d a o f e r e n d a a m a s s a d a c o m a z e i t e o u s e c a , s e r á p a r a t o d o s o s

d e s c e n d e n t e s d e A a r ã o , s e m d i s t i n ç ã o " ( L v 7 , 6 - 1 0 ) .

Destacam-se, nos vers ículos f inais , a propriedade do Sacerdote

que faz a expiação da pele dos animais e das Obl ações pecul iares a

esses t ipos de Sacri f ícios se assada ao forno ou na panela , porém se

amassada, com ou sem azei te , pertencerá então a todos os f i lhos de

Aarão, indis t intamente.

(4°) - Nos Sacrif ícios Pacíf icos , ou Salutares ou Refeições S a-

gradas (Lv 3,1 -17 / Lv 7,11-21) - Pela relação com a Mult ipl icação

dos Pães e com a Ceia Pascal , unidas por Cris to na Eucaris t ia , es te

r i tual é muito importante para os Cris tãos . Completando -se o que já

foi apresentado a respei to aparece um t ipo especial de Obl ação que se

incorpora à ví t ima (Lv 7,12 -14), bem como, regras at inentes ao co n-

sumo da carne (Lv 7,15 -21). Divide-se conforme a f inal idade prete n-

dida em Sacri f ícios de Ação de Graças ou de L ouvor ou de Reconhe-

cimento (Lv 7,12-15) e o Sacri f ício Votivo ou Espontâneo por qua l-

quer motivo (Lv 7,16 -17). Por primeiro vem o Sacri f ício de Ação de

Graças que, em grego , se diz Eucaris t ia:

" E s t a é a l e i d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o q u e s e o f e r e c e a o S e n h o r : S e f o r o f e r e c i d o

e m a ç ã o d e g r a ç a s , a l é m d a v í t i m a d e a ç ã o d e g r a ç a s , s e r ã o o f e r e c i d o s p ã e s á -

z i m o s a m a s s a d o s c o m a z e i t e , b o l o s á z i m o s u n t a d o s d e a z e i t e , e f l o r d e f a r i n h a

e m b e b i d a e m a z e i t e . A l é m d e s t e s , c o m o s a c r i f í c i o p a c í f i c o d e a ç ã o d e g r a ç a s ,

s e r á o f e r e c i d o p ã o f e r m e n t a d o " ( L v 7 , 1 1 - 1 3 ) .

Não pode haver out ro motivo para assim se denominar a Ceia

Eucarís t ica das Missas , vendo-se nela a Oblação de Cris to, atual izada

no Pão Ázimo da Hóst ia da Comunhão que é o Seu Corpo, tal como a

ela se refere o Catec ismo da Igreja Catól ica, no n° 610:

" J e s u s f e z a m a n i f e s t a ç ã o s u p r e m a d a O b l a ç ã o L i v r e d e S i m e s m o n a r e f e i ç ã o q u e t o m o u c o m o s d o z e A p ó s t o l o s ( c f . M t 2 6 , 2 0 ) , n a n o i t e e m q u e f o i e n t r e g u e

( 1 C o r 1 1 , 2 3 ) . N a v é s p e r a d a s u a P a i x ã o , q u a n d o a i n d a e r a l i v r e , J e s u s f e z d e s t a

18

ú l t i m a C e i a c o m o s A p ó s t o l o s o m e m o r i a l d a S u a O b l a ç ã o V o l u n t á r i a a o P a i ( c f . 1 C o r 5 , 7 ) p a r a a s a l v a ç ã o d o s h o m e n s : " I s t o é o m e u C o r p o , q u e v a i s e r e n t r e -

g u e p o r v ó s " ( Lc 2 2 , 1 9 ) . " I s t o é o m e u S a n g u e d e A l i a n ç a , q u e v a i s e r d e r r a m a -

d o p o r u m a m u l t i d ã o , p a r a a r e m i s s ã o d o s p e c a d o s " .

Prossegue o Catecismo n°s . 1328 a 1332 , referindo-se ao Sacra-

mento da Eucaris t ia:

“ 1 3 2 8 - I I . C o mo é c h a ma d o e s t e s a c r a me n t o ? A r i q u e z a i n e s g o t á v e l d e s t e s a -

c r a m e n t o e x p r i m e - s e n o s d i f e r e n t e s n o m e s q u e l h e s ã o d a d o s . C a d a u m d e s t e s

n o m e s e v o c a a l g u n s d o s s e u s a s p e c t o s . E l e é c h a m a d o : E u c a r i s t i a , p o r q u e é a ç ã o d e g r a ç a s a D e u s . A s p a l a v r a s " e u c h a r i s t e i n "

( Lc 2 2 , 1 9 ; 1 C o 1 1 , 2 4 ) e " e u l o g e i n " ( M t 2 6 , 2 6 ; M c 1 4 , 2 2 ) l e m b r a m a s b ê n ç ã o s

j u d a i c a s q u e p r o c l a m a m - s o b r e t u d o d u r a n t e a r e f e i ç ã o - a s O b r a s d e D e u s : a C r i a ç ã o , a R e d e n ç ã o e a S a n t i f i c a ç ã o .

1 3 2 9 - B a n q u e t e d o S e n h o r ( 1 C o 1 1 , 2 0 ) , p o r q u e s e t r a t a d a C e i a q u e o S e n h o r t o m o u c o m o s d i s c í p u l o s n a v é s p e r a d a s u a P a i x ã o e d a a n t e c i p a ç ã o d o b a n q u e t e

n u p c i a l d o C o r d e i r o ( A p 1 9 , 9 ) n a J e r u s a l é m C e l e s t e .

F r a ç ã o d o P ã o , p o r q u e e s t e r i t o , p r ó p r i o d a r e f e i ç ã o d o s j u d e u s , f o i u t i -

l i z a d o p o r J e s u s , q u a n d o a b e n ç o a v a e d i s t r i b u í a o p ã o c o m o c h e f e d e f a m í l i a

( M t 1 4 , 1 9 ; 1 5 , 3 6 ; M c 8 , 6 . 1 9 ) , s o b r e t u d o a q u a n d o d a ú l t i m a C e i a ( c f . M t 2 6 , 2 6 ;

1 C o 1 1 , 2 4 ) . É p o r e s s e g e s t o q u e o s d i s c í p u l o s O r e c o n h e c e r ã o d e p o i s d a R e s -s u r r e i ç ã o ( c f . Lc 2 4 , 1 3 - 3 5 ) e é c o m e s s a e x p r e s s ã o q u e o s p r i m e i r o s c r i s t ã o s

d e s i g n a r ã o a s s u a s A s s e m b l é i a s E u c a r í s t i c a s ( c f . A t 2 , 4 2 . 4 6 ; 2 0 , 7 . 1 1 ) . Q u e r e m ,

c o m i s s o , s i g n i f i c a r q u e t o d o s o s q u e c o m e m d o ú n i c o p ã o p a r t i d o , C r i s t o , e n -t r a m e m c o m u n h ã o c o m e l e e f o r m a m u m s ó c o r p o n E l e ( c f . 1 C o 1 0 , 1 6 - 1 7 ) .

A s s e mb l e i a E u c a r í s t i c a ( " s y n a x i s " ) , p o r q u e a E u c a r i s t i a é c e l e b r a d a e m

A s s e m b l é i a d e F i é i s , e x p r e s s ã o v i s í v e l d a Ig r e j a ( c f . 1 C o 1 1 , 1 7 - 3 4 ) . 1 3 3 0 - M e mo r i a l d a P a i x ã o e R e s s u r r e i ç ã o d o S e n h o r . S a n t o S a c r i f í c i o , p o r -

q u e a t u a l i z a o ú n i c o S a c r i f í c i o d e C r i s t o S a l v a d o r e i n c l u i a o f e r e n d a d a Ig r e j a ;

o u a i n d a S a n t o S a c r i f í c i o d a M i s s a , S a c r i f í c i o d e L o u v o r ( H b 1 3 , 1 5 ) [ c f . S l 1 1 6 , 1 3 . 1 7 ] , S a c r i f í c i o E s p i r i t u a l ( 1 P e 2 , 5 ) , S a c r i f í c i o P u r o e S a n t o ( c f . M l

1 , 1 1 ) , p o i s c o m p l e t a e u l t r a p a s s a t o d o s o s S a c r i f í c i o s d a A n t i g a A l i a n ç a .

S a n t a e D i v i n a L i t u r g i a , p o r q u e t o d a a L i t u r g i a d a I g r e j a e n c o n t r a o c e n t r o e a s u a e x p r e s s ã o m a i s d e n s a n a c e l e b r a ç ã o d e s t e S a c r a m e n t o ; n o m e s m o

s e n t i d o t a m b é m s e l h e c h a m a c e l e b r a ç ã o d o s S a n t o s M i s t é r i o s . F a l a - s e i g u a l -

m e n t e d o S a n t í s s i mo S a c r a me n t o , p o r q u e é o S a c r a me n t o d o s S a c r a me n t o s . E , c o m e s t e n o m e , s e d e s i g n a m a s E s p é c i e s E u c a r í s t i c a s g u a r d a d a s n o S a c r á r i o .

1 3 3 1 - C o mu n h ã o , p o i s é p o r e s t e S a c r a m e n t o q u e n o s u n i m o s a C r i s t o , o q u a l n o s t o r n a p a r t i c i p a n t e s d o S e u C o r p o e d o S e u S a n g u e , p a r a f o r m a r m o s u m s ó

C o r p o ( c f . 1 C o 1 0 , 1 6 - 1 7 ) ; d e s i g n a - s e a i n d a a s c o i s a s s a n t a s ( " t a h a g i a " ; " s a n c -

t a " ) ( C o n s t . A p p . 8 , 1 3 , 1 2 ; D i d a k é 9 , 5 ; 1 0 , 6 ) - é o s e n t i d o p r i m á r i o d a " C o m u -n h ã o d o s S a n t o s " d e q u e f a l a o S í m b o l o d o s A p ó s t o l o s - , p ã o d o s a n j o s , p ã o d o

c é u , r e mé d i o d a i mo r t a l i d a d e ( S a n t o In á c i o d e A n t i o q u i a , E f 2 0 , 2 ) , v i á t i c o . . .

1 3 3 2 - S a n t a M i s s a , p o r q u e a L i t u r g i a e m q u e s e r e a l i z a o M i s t é r i o d a S a l v a ç ã o

t e r m i n a p e l a d e s p e d i d a d o s f i é i s ( " m i s s i o " ) , p a r a q u e v ã o c u m p r i r a v o n t a d e d e

D e u s n a s u a v i d a q u o t i d i a n a " .

A Comunhão em figura , que se buscava vai se cumprir no Sacr i -

f ício Eucarís t ico , "a tual iza o único Sacr i f ício de Cris to Salvador e i n -

clui a oferenda da Igreja ". Não seria possível essa af i rmação do Cat e-

cismo se não t ivesse seu fundamento na Inst i tuição da Eucaris t ia por

Jesus. É preciso se lembrar de que se é necessário , atualmente, es tudar

a Lei dos Sacri f ícios , com os Apóstolos não acontecia o mesmo, pois

vinculados à mesma cul tura de seu tempo , conheciam sufic ientemente

a Teologia das Oferendas. Compreenderam desde então que na Festa

dos Pães Ázimos (Ex 13,3 -7) terminada a Ceia Pascal judaica (Lc

22,18), Jesus toma o Pão e se faz a Oblação Eucarís t ica (Lc 22,19):

" C h e g o u , p o i s , o d i a d a F e s t a d o s P ã e s Á z i m o s , e m q u e s e d e v i a m a t a r o C o r -

d e i r o P a s c a l . J e s u s e n v i o u P e d r o e J o ã o , d i z e n d o - l h e s : “ Id e p r e p a r a r - n o s a C e i a d a P á s c o a ” . . . ( . . . ) . . . A o c h e g a r a h o r a , J e s u s s e p ô s à m e s a c o m o s a p ó s t o l o s e

l h e s f a l o u : “ D e s e j e i a r d e n t e m e n t e c o m e r e s t a C e i a d a P á s c o a c o n v o s c o a n t e s d e

s o f r e r . P o i s e u v o s d i g o : N u n c a m a i s a c o m e r e i , a t é q u e e l a s e r e a l i z e n o r e i n o

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d e D e u s ” . T o m a n d o u m c á l i c e , d e u g r a ç a s e d i s s e : “ T o m a i e s t e c á l i c e e d i s t r i b u í e n t r e v ó s . P o i s e u v o s d i g o : N ã o m a i s b e b e r e i d e s t e v i n h o a t é q u e c h e g u e o r e i -

n o d e D e u s ” . E t o m a n d o u m p ã o , d e u g r a ç a s , p a r t i u - o e d e u - l h e s d i z e n d o : “ I s t o

é o m e u c o r p o , q u e é d a d o p o r v ó s . F a z e i i s t o e m m e m ó r i a d e m i m ” . D o m e s m o m o d o , d e p o i s d e h a v e r c e a d o , t o m o u o c á l i c e , d i z e n d o : “ E s t e c á l i c e é a n o v a a -

l i a n ç a e m m e u s a n g u e , d e r r a m a d o p o r v ó s " ( Lc 2 2 , 7 - 8 . 1 4 - 2 0 ) .

Enquanto Cris to se faz o Único Sacerdote, o Único Ofertante, a

Única Vít ima e a Única Oblação de que todos part icipam, no Sacri f í -

cio Is rael i ta há uma dis t r ibuição da ví t ima imolada, destacando -se a-

qui a parte que pertencerá ao Sacerdote Celebrante , que é aquela des-

t inada a Iahweh:

" A l é m d e s t e s , c o m o s a c r i f í c i o p a c í f i c o d e a ç ã o d e g r a ç a s , s e r á o f e r e c i d o p ã o f e r m e n t a d o . U m a p a r t e d e c a d a u m a d e s t a s o f e r e n d a s s e r á o f e r e c i d a c o m o t r i b u -

t o a o S e n h o r , e p e r t e n c e r á a o s a c e r d o t e q u e d e r r a m o u o s a n g u e d a v í t i m a d o s a -

c r i f í c i o p a c í f i c o " ( Lv 7 , 1 3 - 1 4 ) .

Já a carne desse t ipo de Sacri f ício por ser mais santa que a dos

Pacíf icos dever -se-á cuidar para não se to rnar impura ou corrompida ,

motivo pelo qual se comerá toda no mesmo dia. Já a dos vot ivos ou

espontâneos poderá permanecer até o dia seguinte após cujos interv a-

los deverão ser tota lmente queimadas, sob pena de ineficácia da of e-

renda:

" A c a r n e d a v í t i m a d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o d e a ç ã o d e g r a ç a s s e r á c o m i d a n o p r ó -

p r i o d i a e m q u e f o r o f e r e c i d a ; d e l a n a d a s e d e v e r á d e i x a r p a r a o d i a s e g u i n t e .

S e a o f e r t a d o s a c r i f í c i o f o r e m c u m p r i m e n t o d e u m v o t o , o u f o r e s p o n t â n e a , s e -r á c o m i d a n o d i a e m q u e s e o f e r e c e r . O q u e s o b r a r p o d e r á s e r c o m i d o n o d i a s e -

g u i n t e . M a s o q u e s o b r a r d a c a r n e d o s a c r i f í c i o p a r a o t e r c e i r o d i a , d e v e r á s e r

q u e i m a d o . S e a l g u é m , a o t e r c e i r o d i a , c o m e r d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o , o o f e r t a n t e n ã o s e r á a c e i t o , n e m l h e s e r á l e v a d o e m c o n t a o q u e o f e r e c e u . É c a r n e i n f e c t a e

a p e s s o a q u e d e l a c o m e r c a r r e g a r á o p e s o d a s u a c u l p a " ( Lv 7 , 1 5 - 1 8 ) .

O cuidado com a carne imolada como ví t ima exigia que se ev i-

tasse o menor contato com aqui lo que fosse consid erado impuro (Lv

11-15) sob pena de ser queimada, para não comp rometer a sua Sant i -

dade e, pelo mesmo motivo, os part icipantes "impuros" não pod eriam

dela comer:

" A c a r n e q u e t i v e r t o c a d o q u a l q u e r c o i s a i m p u r a n ã o s e d e v e r á c o m e r . S e r á c o n -s u m i d a p e l o f o g o . M a s d a o u t r a c a r n e p o d e r á c o m e r q u e m e s t i v e r p u r o . M a s

q u e m c o m e r c a r n e d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o o f e r e c i d o a o S e n h o r , a p e s a r d e e s t a r i m p u r o , s e r á e l i m i n a d o d o s e u p o v o . Q u e m t o c a r q u a l q u e r i m u n d í c i e d e h o m e m

o u a n i m a l , o u q u a lq u e r o u t r a i m u n d í c i e a b o m i n á v e l , e c o m e r c a r n e d o s a c r i f í c i o

p a c í f i c o p e r t e n c en t e a o S e n h o r , s e r á e l i m i n a d o d o s e u p o v o ” ( Lv 7 , 1 9 - 2 1 ) .

Por tudo isso vê-se o cuidado com o Sagrado e a Sant idade daí

emanadas, caráter especif icamente Israel i ta quanto aos Sacri f ícios .

Tudo aqui lo que a eles se referia pessoas, objetos e coisas , eram Sa n-

t i f icadas pela "unção" ou pelo contato com o que o fosse ungido, d e-

vendo assim permanecer. Esse zelo pelo sagrado faz da Aliança muito

mais do que um simples compromisso de boa conduta e comportame n-

to, mas leva a t raduzi - lo em gestos e ati tudes de reconhecimento int e-

r ior . Tornam-se cuidadosa e elaborada adoração à majest ade de Iah-

weh, o centro de tudo pois tudo gira em seu redor. Nos Sacri f ícios ,

manifesta-se um profundo respei to pelo que Lhe concernia ass im como

no modo de se al imentar , abstendo -se da gordura e do Sangue de ani-

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mais , mesmo abat idos por acidente , sendo muito mais r igorosa a sa n-

ção em se t r atando de Sangue:

" O S e n h o r f a l o u a M o i s é s : “ F a l a a o s i s r a e l i t a s : N ã o c o m e r e i s g o r d u r a a l g u m a d e b o i , o v e l h a o u c a b r a . D a g o r d u r a d e u m a n i m a l m o r t o o u e s t r a ç a l h a d o , p o d e r e i s

s e r v i r - v o s p a r a q u a l q u e r u s o , m a s d e m a n e i r a a l g u m a a c o m e r e i s . P o i s t o d o a -

q u e l e q u e c o m e r g o r d u r a d e a n i m a l q u e s e o f e r e c e p e l o f o g o a o S e n h o r , s e r á e -l i m i n a d o d o p o v o . N ã o c o m e r e i s s a n g u e a l g u m , n e m d e a v e , n e m d e a n i m a l , e m

n e n h u m a d e v o s s a s m o r a d i a s . A q u e l e q u e c o m e r q u a l q u e r e s p é c i e d e s a n g u e , s e -

r á e x t i r p a d o d o p o v o ” ( L v 7 , 2 2 - 2 7 ) . / " . . . É u m a l i m e n t o o f e r e c i d o p e l o f o g o , d e s u a v e o d o r . T o d a a g o r d u r a p e r t e n c e a o S e n h o r . E s t a é u m a l e i p e r p é t u a , v á l i d a

p a r a v o s s o s d e s c e n d e n t e s , o n d e q u e r q u e h a b i t e i s : N ã o d e v e r e i s c o m e r n e n h u m a

g o r d u r a o u s a n g u e ” ( Lv 3 , 1 6 - 1 7 ) .

Coerentemente com toda a es t rutura básica do Santuário f inal i -

za-se o a regulamentação de todos os Sacri f ícios , separando-se as par-

tes dos sacerdotes das partes de Iahweh:

" Ia h w e h f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : „ F a l a a o s i s r a e l i t a s : A q u e l e q u e o f e r e c e r a I -

a h w e h u m s a c r i f í c i o p a c í f i c o , l e v a r á a Ia h w e h a o f e r t a t i r a d a d o s a c r i f í c i o p a c í -

f i c o . L e v a r á c o m a s p r ó p r i a s m ã o s o q u e s e o f e r e c e r p e l o f o g o a Ia h w e h : l e v a r á a g o r d u r a a l é m d o p e i t o a s e r a g i t a d o r i t u a l m e n t e d i a n t e a Ia h w e h . O s a c e r d o t e

q u e i m a r á a g o r d u r a n o a l t a r , e o p e i t o f i c a r á p a r a A a r ã o e s e u s f i l h o s . D a r e i s

t a m b é m a o s a c e r d o t e a c o x a d i r e i t a , c o m o t r i b u t o d e v o s s o s s a c r i f í c i o s p a c í f i -c o s . A q u e l e d e n t r e o s f i l h o s d e A a r ã o q u e o f e r e c e r o s a n g u e d o s a c r i f í c i o p a c í -

f i c o e a g o r d u r a , é q u e t e r á a c o x a d i r e i t a c o m o p a r t e . P o i s d o s s a c r i f í c i o s p a c í -

f i c o s d o s i s r a e l i t a s r e s e r v e i p a r a m i m o p e i t o a g i t a d o r i t u a l m e n t e e a c o x a d o t r i b u t o , e d e i - o s a A a r ã o e a s e u s f i l h o s , c o m o l e i p e r p é t u a a s e r o b s e r v a d a p e -

l o s i s r a e l i t a s . E s s a é a p a r t e d e A a r ã o e d e s e u s f i l h o s n o s s a c r i f í c i o s o f e r e c i -

d o s p e l o f o g o a o S e n h o r , d e s d e o d i a e m q u e f o r a m p r o m o v i d o s a e x e r c e r o s a -c r i f í c i o d i a n t e d o S e n h o r . F o i o q u e o S e n h o r l h e s m a n d o u d a r d a p a r t e d o s i s -

r a e l i t a s , d e s d e o d i a d a u n ç ã o , c o m o l e i p e r p é t u a p a r a t o d a s a s g e r a ç õ e s ‟ . E s t a é

a l e i p a r a o h o l o c a u s t o , a o b l a ç ã o , o s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o , o s a c r i f í c i o d e r e -p a r a ç ã o , o s a c r i f í c i o d a c o n s a g r a ç ã o e o s a c r i f í c i o p a c í f i c o . F o i o q u e o S e n h o r

o r d e n o u a M o i s é s n o m o n t e S i n a i , n o d i a e m q u e m a n d o u o s i s r a e l i t a s o f e r e c e -

r e m o b l a ç õ e s a o S e n h o r n o d e s e r t o d o S i n a i " ( L v 7 , 2 8 - 3 8 ) .

"Pois dos sacri f ícios pacíf icos dos israe l i tas reservei para mim o

pei to agi tado r i tualmente e a coxa da el evação, e dei -os a Aarão e a

seus f i lhos, como lei perpétua a ser observada pelos israel i tas" (Lv

7,34): - Esse cerimonial será sempre observado entendendo -se, pela

agi tação fei ta da parte a dest inação dela a Iahweh pelo pr imeiro lance

do movimento e a entrega dela ao Sacerdote, passando pelas mãos do

ofertante, no seu retorno de Iahweh, e da mesma forma, o r i tual da e-

levação da coxa. Esse gesto é a entrega da ví t ima a Iahweh pelo pr i -

meiro movimento ou agi tação em sua d ireção e o recebimento dela p e-

lo Sacerdote ofician te, saindo das mãos do ofe rtante na sua vol ta. Na

Cerimônia Eucarís t ica , atualmente, é o mesmo gesto do Celebrante ao

dizer , empunhando o Cál ice com o Sangue e a Patena com o Pão, o

Corpo de Cris to, “Por Cris to, Com Cris to e Em Cris to” , entregando-os

a Deus que os retorna ao Sacerdote , para dis t r ibuí - los aos f iéis ofer -

tantes:

" D a r e i s t a m b é m a o s a c e r d o t e a c o x a d i r e i t a , c o m o t r i b u t o d e v o s s o s s a c r i f í -

c i o s p a c í f i c o s . A q u e l e d e n t r e o s f i l h o s d e A a r ã o q u e o f e r e c e r o s a n g u e d o s a c r i f í c i o p a c í f i c o e a g o r d u r a , é q u e t e r á a c o x a d i r e i t a c o m o p a r t e . P o i s

d o s s a c r i f í c i o s p a c í f i c o s d o s i s r a e l i t a s r e s e r v e i p a r a m i m o p e i t o a g i t a d o r i -

t u a l m e n t e e a c o x a d o t r i b u t o , e d e i - o s a A a r ã o e a s e u s f i l h o s , c o m o l e i p e r -p é t u a a s e r o b s e r v a d a p e l o s i s r a e l i t a s . E s s a é a p a r t e d e A a r ã o e d e s e u s f i -

l h o s n o s s a c r i f í c i o s o f e r e c i d o s p e l o f o g o a o S e n h o r , d e s d e o d i a e m q u e f o -

r a m p r o m o v i d o s a e x e r c e r o s a c r i f í c i o d i a n t e d o S e n h o r . F o i o q u e o S e n h o r l h e s m a n d o u d a r d a p a r t e d o s i s r a e l i t a s , d e s d e o d i a d a u n ç ã o , c o m o l e i p e r -

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p é t u a p a r a t o d a s a s g e r a ç õ e s ” . E s t a é a l e i p a r a o h o l o c a u s t o , a o b l a ç ã o , o s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o , o s a c r i f í c i o d e r e p a r a ç ã o , o s a c r i f í c i o d a c o n s a g r a ç ã o

e o s a c r i f í c i o p a c í f i c o . F o i o q u e o S e n h o r o r d e n o u a M o i s é s n o m o n t e S i n a i ,

n o d i a e m q u e m a n d o u o s i s r a e l i t a s o f e r e c e r e m o b l a ç õ e s a o S e n h o r n o d e s e r -t o d o S i n a i " ( Lv 7 , 3 5 - 3 8 ) .

Desde o Sinai e em várias ocasiões , a Lei da Aliança quando d e-

terminava que "ninguém compareça à m inha presença de mãos vazias"

(Ex 23,15. . . ) , e com a dis t r ibuição aos Sacerdotes de partes da ví t ima

"como t r ibuto a Iahweh", já se anunciava o dever e a f inal idade das

"Oferendas".

3.5. - OS SACRIFÍCIOS E A INVESTIDURA SACERDOTAL

Regulamentados os vários t ipos de Sacri f ícios , principia -se a

const i tuição do elemento fundamental de sua ex is tê ncia e sem o qual

não há possibi l idade de sua concret ização: a invest idura de Aarão e

dos seus f i lhos para o exercício perene do Sacerdócio, tal como del i -

neado o desígnio que Iahweh mostrou a Moisés [cfr o n° 2.13, do C a-

pí tulo II, no que for ref erente a Ex. 28-29] :

" Ia h w e h f a l o u a M o i s é s , d i z e n d o : “ T o m a c o n t i g o A a r ã o e s e u s f i l h o s , a s v e s t e s ,

o ó l e o d a u n ç ã o , o b e z e r r o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , o s d o i s c a r n e i r o s e o c e s t o d e p ã e s á z i m o s , e r e ú n e t o d a a c o m u n i d a d e à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i -

ã o ” . M o i s é s f e z c o m o Ia h w e h l h e t i n h a m a n d a d o e a c o m u n i d a d e s e r e u n i u à e n -

t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o . M o i s é s d i s s e à c o m u n i d a d e : “ É i s t o q u e o S e n h o r m a n d o u f a z e r ” . D e p o i s m a n d o u q u e s e a p r o x i m a s s e m A a r ã o e s e u s f i l h o s , e o s

l a v o u c o m á g u a . V e s t i u A a r ã o c o m a t ú n i c a , c i n g i u - l h e o c i n t o , r e v e s t i u - o c o m

o m a n t o , c o l o c o u - l h e o v é u u m e r a l e o p r e n d e u , a t a n d o - o c o m o r e s p e c t i v o c i n -t o . P ô s - l h e o p e i t o r a l c o m o s u r i m e o s t u m i m . C o l o c o u - l h e n a c a b e ç a a m i t r a , e

n a p a r t e d i a n t e i r a a l â m i n a d e o u r o , o d i a d e m a s a g r a d o , c o n f o r m e Ia h w e h h a v i a

m a n d a d o a M o i s é s . D e p o i s M o i s é s p e g o u o ó l e o d a u n ç ã o , u n g i u o t a b e r n á c u l o e

t u d o o q u e n e l e h a v i a , p a r a c o n s a g r á - l o . A s p e r g i u s e t e v e z e s o a l t a r , e u n g i u - o

c o m t o d o s o s u t e n s í l i o s , b e m c o m o a b a c i a c o m o s u p o r t e , c o n s a g r a n d o - o s . D e r -

r a m o u ó l e o d e u n ç ã o s o b r e a c a b e ç a d e A a r ã o , e o u n g i u , p a r a o c o n s a g r a r . D e -p o i s m a n d o u a p r o x i m a r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , v e s t i u - l h e s a s t ú n i c a s , c i n g i u -

l h e s o c i n t o e l h e s p ô s o s t u r b a n t e s , c o m o o S e n h o r h a v i a m a n d a d o a M o i s é s "

( Lv 8 , 1 - 1 3 ) .

"Moisés fez como Iahweh lhe t inha mandado e a comunidade se

reuniu à entrada da Tenda de Reunião. Moisés di sse à comunidade: 'É

isso que Iahweh mandou fazer '”: - coube a Moisés , em vir tude de sua

condição de "elei to" e “prof e ta”, conduzir e celebrar a consagração do

Sacerdócio Pleno. A invest idura de Aarão caracteriz a desde aqui a

função principal do Sumo S acerdote conhecido como "o Sacerdote da

Unção" por ser o que recebe o "óleo de unção sobre a cabeça". Some n-

te após a conclusão de todo o r i tual de Consagração do Santuário total

e de Aarão é que se dá a unção de seu s f i lhos, agora em conjunto com

Aarão e por aspersão (cfr . Ex 29,5 -8.21). Com isso , f ica clara a un i-

dade e indissolubi l idade colegial do Poder Sacerdotal fundamentado

em Aarão, o Sumo Sacerdote, o Chefe da Famíl ia Sacerd otal :

" D e r r a m o u ó l e o d e u n ç ã o s o b r e a c a b e ç a d e A a r ã o , e o u n g i u , p a r a o c o n s a g r a r .

D e p o i s m a n d o u a p r o x i m a r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , v e s t i u - l h e s a s t ú n i c a s , c i n -g i u - l h e s o c i n t o e l h e s p ô s o s t u r b a n t e s , c o m o o S e n h o r h a v i a m a n d a d o a M o i s é s

( . . . ) M o i s é s t o m o u u m p o u c o d o ó l e o d e u n ç ã o e d o s a n g u e q u e e s t a v a s o b r e o

a l t a r , a s p e r g i u A a r ã o e s u a s v e s t e s , b e m c o m o o s f i l h o s d e A a r ã o e s u a s v e s t e s . A s s i m c o n s a g r o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e a s r e s p e c t i v a s v e s t e s " ( Lv 8 , 1 2 - 1 3 . 3 0 ) .

22

Jesus vai manter esse caráter de unidade e indissolubi l idade s a-

cerdotal no Colégio Apostól ico que insti tui r . Tal como aconteceu com

Aarão ungido primeiro e depois a Aarão junto com os seus f i lhos,

também a Pedro foi dado prime iramente o poder de l igar e desl igar

(Mt 16,19) e a seguir o mesmo poder foi dado a Pedro , junto com os

demais Apóstolos (Mt 18,18).

Como já se expôs, na Invest idura dos Sacerdotes foi seguido o

r i tual já es tabelecido e próprio (Ex 29) , durante o qual além da Unção

de Aarão e seus f i lhos vários r i tos de puri f icação foram executados

para a indispensável Sant i f icação geral e deles , oferecendo -se durante

o cerimonial os seguintes Sacri f ícios:

Sacrif ício pelo Pecado (Lv 8,14 -17 / Ex 29,10-14);

Holocausto (Lv 8,18 -21 / Ex 29,15-18); e ,

Sacrif ício Pacíf ico (Lv 8,22 -32 / Ex 29,19-26)" .

Resta a explanação mais ampla da ut i l ização desses t ipos de r i -

tuais nessa consagração sacerdotal de Aarão e seus f i lhos, dos Sacri f í -

cios oferecidos por Moisés o mediador da Aliança , a começar com o

Sacri f ício Pelo Pecado, o primeiro oferecido:

" M a n d o u t r a z e r o b e z e r r o p a r a o s a c r i f í c i o p e l o p e c a d o . A a r ã o e s e u s f i l h o s i m -

p u s e r a m - l h e a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a . D e p o i s d e i m o l á - l o , M o i s é s p e g o u s a n g u e e u n t o u c o m o d e d o o s c h i f r e s e m v o l t a d o a l t a r , p u r i f i c a n d o - o . D e r r a m o u o

s a n g u e a o p é d o a l t a r , e o c o n s a g r o u , f a z e n d o s o b r e e l e a e x p i a ç ã o . D e p o i s t o -

m o u t o d a a g o r d u r a q u e e n v o l v e a s v í s c e r a s , a c a m a d a g o r d u r o s a d o f í g a d o e o s d o i s r i n s c o m a s u a g o r d u r a , e q u e i m o u t u d o n o a l t a r . O b e z e r r o , s u a p e l e , c a r n e

e e x c r e m e n t o s , q u e i m o u - o s f o r a d o a c a m p a m e n t o , c o m o o S e n h o r l h e t i n h a m a n -

d a d o " ( L v 8 , 1 4 - 1 7 ) .

Como vis to no número anterior (n° 3.4 /3º) ess e r i tual tem por

f inal idade a Sant i f icação em geral tanto das pessoas como dos objetos ,

para uma perfei ta união com Deus. São puri f icados pelo Sangue da

Vít ima imolada por Moisés que u nge os chifres com o dedo embebido

e o derrama em redor do Altar , fazendo a devida expiação e puri f ic a-

ção, após a imposição das mãos por Aarão e seus f i lhos. Queimam -se

as gorduras no Altar e o bezerro, seu couro, a sua carne e os excre-

mentos fora do Santuário, nada ind o para o celebrante , para não se a-

provei tar de sua própria fal ta , por quem também é oferecido [ (cfr . Lv

6,17-23 / Lv 4, conforme di to alhures que "no caso do oferecido pelo

pecado do Sumo Sacerdote ou da Comunidade, ninguém dele comerá,

devendo ser totalme nte queimado, pois o sangue é derramado em lugar

santo (Lv 6,23)]". Ao que se vê este Sacri f ício dest ina -se à Sant i f ica-

ção do Santuário, de seus pertences e objetos , bem como do oficiante,

dos ofertantes que são consagrados e da v í t ima.

Vem em seguida o Holocausto:

" M a n d o u t r a z e r o c a r n e i r o d o h o l o c a u s t o , p a r a q u e A a r ã o e o s f i l h o s i m p u s e s -

s e m - l h e a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a . M o i s é s o i m o l o u , e d e r r a m o u o s a n g u e e m v o l -

t a d o a l t a r . D e p o i s d e e s q u a r t e j a r o c a r n e i r o , M o i s é s q u e i m o u a c a b e ç a e o s p e -d a ç o s c o m a g o r d u r a . M o i s é s l a v o u c o m á g u a a s v í s c e r a s e a s p a t a s , e a s s i m

q u e i m o u o c a r n e i r o i n t e i r o n o a l t a r . E r a u m h o l o c a u s t o d e s u a v e o d o r , u m s a c r i -

f í c i o f e i t o p e l o f o g o a o S e n h o r , c o m o Ia h w e h t i n h a m a n d a d o a M o i s é s " ( L v 8 , 1 8 - 2 1 ) .

23

Com esse Holocausto , a puri f icação at inge a pleni tude pela ex-

piação conseguida , f icando Aarão e seus f i lhos em condições de Sa n-

t idade para o exercício do Sacerdócio pela imposição das mãos sobre a

ví t ima que prat icaram (Lv 8,18) e da renúncia de s i em face da maje s-

tade e soberania de Iahweh, s ignif icadas no aniqui l amento da ví t ima,

oferecida em subst i tuição deles , totalmente destruída pelo fogo.

Terminada essa fase do r i tual passa Moisés à f inal , oferecendo o

Sacri f ício Pacíf ico , a Refeição Sagrada, uma vez que todos f icaram em

condições de Sant idade para se al imentar , entrando em comunhão com

Deus, e oferecendo o que se denominou "Carneiro da Consagr ação ou

da Invest idura":

" M a n d o u t r a z e r o s e g u n d o c a r n e i r o , o c a r n e i r o d a c o n s a g r a ç ã o , e A a r ã o e s e u s f i l h o s i m p u s e r a m a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d o a n i m a l . D e p o i s d e i m o l á - l o , M o i s é s

p e g o u o s a n g u e e u n t o u o l ó b u l o d a o r e l h a d i r e i t a d e A a r ã o , o p o l e g a r d a m ã o

d i r e i t a e o p o l e g a r d o p é d i r e i t o . M a n d o u a p r o x i m a r e m - s e o s f i l h o s d e A a r ã o , e u n t o u - l h e s c o m s a n g u e o l ó b u l o d a o r e l h a d i r e i t a , o p o l e g a r d a m ã o d i r e i t a e o

p o l e g a r d o p é d i r e i t o , e d e p o i s d e r r a m o u o s a n g u e e m t o r n o d o a l t a r " ( L v 8 , 2 2 -

2 4 ) .

Esse Sacri f ício toma aqui uma conotação diferente pela sua e s-

pecíf ica f inal idade de se dest inar à cons agração sacerdotal pelo uso do

Sangue da Vít ima. Para isso, antes de derramá-lo no Altar , deveria

banhar por primeiro "o lóbulo direi to , o polegar da mão direi ta e o d e-

dão do pé direi to" de Aarão e depois de seus f i lhos , preparando-os pa-

ra o exercício do Sacerdócio. Tinha essa unção o mesmo sent ido pur i -

f icador dos chifres do Altar e somente depois de terminada é que era o

Sangue derramado.

As partes dest inadas aos Sacerdotes , nes se caso, sofrem modif i -

cação est rutural indo para Moisés , o celebrante, o pei to , fazendo o r i to

da agi tação perante Iahweh, a perna direi ta , a gordura e outras partes ,

e a oblação, passando tudo pelas "mãos de Aarão e seus f i lhos" para o

"gesto de oferta a Iahweh", se ndo então queimadas:

" P e g o u a g o r d u r a , a c a u d a , t o d a a g o r d u r a q u e c o b r e a s v í s c e r a s , a c a m a d a g o r -

d u r o s a d o f í g a d o , o s d o i s r i n s c o m a g o r d u r a , e a p e r n a d i r e i t a . D o c e s t o d o s á -

z i m o s , p o s t o d i a n t e d e Ia h w e h , t o m o u u m p ã o s e m f e r m e n t o , u m a t o r t a s e m f e r -m e n t o a m a s s a d a c o m a z e i t e e u m b o l i n h o , e c o l o c o u s o b r e a s p a r t e s g o r d u r o s a s

e s o b r e a p e r n a d i r e i t a . E n t r e g o u t u d o i s s o n a s m ã o s d e A a r ã o e d e s e u s f i l h o s , p a r a q u e a p r e s e n t a s s e m c o m u m g e s t o d e o f e r t a a Ia h w e h . D e p o i s , t o m o u t u d o

d a s m ã o s d e l e s e q u e i m o u n o a l t a r , e m c i m a d o h o l o c a u s t o . E r a o s a c r i f í c i o d e

c o n s a g r a ç ã o , u m s a c r i f í c i o p e l o f o g o d e s u a v e o d o r a o S e n h o r . D e p o i s M o i s é s p e g o u o p e i t o d o c a r n e i r o e o a p r e s e n t o u c o m u m g e s t o d e o f e r e n d a a Ia h w e h .

E s t a f o i a p o r ç ã o d o c a r n e i r o d a c o n s a g r a ç ã o , p e r t e n c e n t e a M o i s é s , c o m o Ia h -

w e h l h e t i n h a m a n d a d o " ( Lv 8 , 2 5 - 2 9 ) .

Com a "unção sagrada" completa -se a consagração de Aarão e

seus f i lhos, e suas vestes , Sant i f icando -os para o Minis tér io do Sace r-

dócio:

" M o i s é s t o m o u u m p o u c o d o ó l e o d e u n ç ã o e d o s a n g u e q u e e s t a v a s o b r e o a l t a r ,

a s p e r g i u A a r ã o e s u a s v e s t e s , b e m c o m o o s f i l h o s d e A a r ã o e s u a s v e s t e s . A s s i m

c o n s a g r o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e a s r e s p e c t i v a s v e s t e s " ( L v 8 , 3 0 ) .

Sant i f icação que se consuma com a Refeição Sagrada, "e ntrando

então em comunhão com o Altar", c omo ensina São Paulo (1Co 10,18),

24

cujo cerimonial vai se repet i r durante "sete dias" tempo em que Aarão

e seus f i lhos permanecerão "à entrada da Tenda da Reunião" (Ex

29,35-37) no local onde deverá "cozinhar a carne" , com o que se man i-

festa o caráter rel igioso e não al imentar de t oda a consagração:

“ M o i s é s d i s s e p a r a A a r ã o e s e u s f i l h o s : “ C o z i n h a i a c a r n e à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o . A l i m e s m o a c o m e r e i s c o m c o n f o r m e o p ã o q u e e s t á n a c e s t a d a s o f e r -

t a s d a c o n s a g r a ç ã o , e u m a n d e i , d i z e n d o : A a r ã o e s e u s f i l h o s h ã o d e c o m ê - l a . O

q u e r e s t a r d a c a r n e e d o p ã o d e v e r e i s q u e i m á - l o . D u r a n t e s e t e d i a s n ã o s a i r e i s d a e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o , a t é s e c o m p l e t a r e m o s d i a s d a v o s s a c o n s a g r a -

ç ã o , p o i s e l a d u r a r á s e t e d i a s . O q u e s e f e z n o d i a h o j e o S e n h o r o r d e n o u q u e s e

f i z e s s e p a r a e x p i a r p o r v ó s . F i c a r e i s d u r a n t e s e t e d i a s , d i a e n o i t e , à e n t r a d a d a t e n d a d e r e u n i ã o , e o b s e r v a r e i s o q u e Ia h w e h m a n d o u , p a r a n ã o m o r r e r d e s , p o i s

e s t a é a o r d e m q u e r e c e b i ” . A a r ã o e s e u s f i l h o s f i z e r a m t u d o o q u e Ia h w e h l h e s

m a n d o u p o r m e i o d e M o i s é s " ( Lv 8 , 3 0 - 3 6 ) .

3.5.1. - AS PRIMÍCIAS DOS SACERDOTES:

Terminada a consagração e decorridos os se te dias perante a

Tenda da Reunião, no oi tavo dia, são oferecidas as primícias da Inve s-

t idura Sagrada , no Primeiro Ofício Sagrado , dos Primeiros Sacerdotes ,

Aarão com a assis tência de seus f i lhos:

" N o o i t a v o d i a M o i s é s c h a m o u A a r ã o , s e u s f i l h o s e o s A n c i ã o s d e I s r a e l , e d i s s e p a r a A a r ã o : „ E s c o l h e u m b ez e r r o p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o p e l o p e c a d o , e u m

c a r n e i r o p a r a o h o l o c a u s t o , a m b o s s e m d e f e i t o , e a p r e s e n t a - o s a Ia h w e h . F a l a r á s

a o s i s r a e l i t a s , d i z e n d o : T o m a i u m b o d e p a r a o s a c r i f í c i o e x p i a t ó r i o , u m b e z e r r o e u m c o r d e i r o , a m b o s d e u m a n o e s e m d e f e i t o , p a r a o h o l o c a u s t o , u m t o u r o e

u m c a r n e i r o p a r a o s a c r i f í c i o p a c í f i c o , a f i m d e s a c r i f i c á - l o s p e r a n t e Ia h w e h , e

u m a o b l a ç ã o a m a s s a d a c o m a z e i t e , p o r q u e h o j e Ia h w e h v o s a p a r e c e r á ‟ ” ( Lv 9 , 1 -4 ) .

Em seguida " . . . Moisés chamou Aarão, seus f i lhos e os Anc iãos

de Israel . . ." , reaparecendo os Anciãos de Israel num r etorno ou numa

renovada atuação representat iva do povo , a f im de part iciparem da

"entrega" que Moisés faz ia de sua função sacerdotal . São destacados

como homens maduros que part icipam de uma espécie de Conselho D i-

retor , gozando de respei tosa autoridade moral , judiciária , de governo e

representat iva do povo já nos dias do Egi to e após a Al iança do Sinai

(Ex 3,16.18; 4 ,29; 12,21; 17,5 -7; 18,12.13-26; 19,7; Lv 4,15):

" D i s s e e n t ã o Ia h w e h a M o i s é s : A j u n t a - m e s e t e n t a h o m e n s d o s a n c i ã o s d e I s r a e l ,

q u e s a b e s m a d u r o s e a p t o s p a r a o g o v e r n o e o s t r a r á s p e r a n t e a t e n d a d a r e u n i -ã o , p a r a q u e e s t e j a m a l i j u n t o d e t i . E n t ã o d e s c e r e i e a l i f a l a r e i c o n t i g o , e t i r a -

r e i d o e s p í r i t o q u e e s t á s o b r e t i , e o p o r e i s o b r e e l e s ; e c o n t i g o l e v a r ã o e l e s o

p e s o d o p o v o p a r a q u e t u n ã o o l e v e s s ó . . . . ( . . . ) . . . S a i u , p o i s , M o i s é s , e r e l a t o u a o p o v o a s p a l a v r a s d e Ia h w e h ; e a j u n t o u s e t e n t a h o m e n s d e n t r e o s a n c i ã o s d o

p o v o e o s c o l o c o u a o r e d o r d a t e n d a . E n t ã o Ia h w e h d e s c e u n a n u v e m , e l h e f a -

l o u ; e , t o m a n d o d o e s p í r i t o q u e e s t a v a n e l e , i n f u n d i u - o n o s s e t e n t a a n c i ã o s ; e

a c o n t e c e u q u e , q u a n d o o e s p í r i t o r e p o u s o u s o b r e e l e s p r o f e t i z a r a m , m a s d e p o i s

n u n c a m a i s o f i z e r a m " ( N m 1 1 , 1 6 - 2 5 ) / " D i a n t e d a s c ã s t e l e v a n t a r á s , e h o n r a r á s

a f a c e d o a n c i ã o , e t e m e r á s o t e u D e u s . E u s o u Ia h w e h " ( Lv 1 9 , 3 2 ) / " O s a n c i -ã o s d a c o n g r e g a ç ã o p o r ã o a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d o n o v i l h o p e r a n t e Ia h w e h ; e

i m o l a r - s e - á o n o v i l h o p e r a n t e Ia h w e h " ( Lv 4 , 1 5 ) .

Sempre i rão compor a organização rel igiosa e pol í t ica de Is rael

desaguando futuramente como um dos elementos const i tut ivos do S i-

nédrio judaico e no Cris t ianismo ao lado dos Apóstolos , como os

Presbí teros (At 11,30; 15,2 -6; 20,17; Tt 1 ,5) , ass im conhecidos em

25

diversas confissões cr is tãs , e como Padres no Clero da Igreja Catól ica.

Presbí tero é palavra de origem grega , s ignif icando ancião e também

senior > senhor do lat im com o mesmo signif icado de o mais velho

(donde a referência de senhor dir igido a um Padre ou Sacerdote Cató-

l ico não ser um pronome de t ratamento) . É uma das Inst i tu ições da

cul tura ant iga não só dos Israel i tas , mas até me smo de out ros povos

(Gn 50,7; Nm 22,4.7) cujo s ignif icado se perdeu, não se sabe ndo ao

certo as dimensões exatas de sua atua ção, em vir tude da ampl i tude de

esferas em que são mencionados .

Então Aarão , com a assis tência de seus Fi lhos , e em obediência

ainda a Moisés assume sua função:

" E n t ã o t r o u x e r a m a t é a e n t r a d a d a t e n d a d a r e u n i ã o o q u e M o i s é s o r d e n a r a , e c h e g o u - s e t o d a a c o n g r e g a ç ã o , e f i c o u d e p é d i a n t e d e Ia h w e h . E d i s s e M o i s é s :

' I s t o o q u e o I a h w e h o r d e n o u q u e f i z é s s e i s ; p a r a q u e a g l ó r i a d e Ia h w e h v o s a -

p a r e ç a ' . D e p o i s d i s s e M o i s é s a A a r ã o : ' C h e g a - t e a o a l t a r , e a p r e s e n t a a t u a o f e r -

t a p e l o p e c a d o e o t e u h o l o c a u s t o , e f a z e e x p i a ç ã o p o r t i e p e l o p o v o ; t a m b é m

a p r e s e n t a a o f e r t a d o p o v o , e f a z e e x p i a ç ã o p o r e l e , c o m o o r d e n o u Ia h w e h " ( L v

9 , 5 - 7 ) .

Aarão dá , então, início ao Cerimonial das Primícias , composto

das diversas oferendas e celebrando todos os Sacri f ícios a começar

pelo Holocausto e o Sacri f ício Expiatório, ou Pelo Pecado, por s i

mesmo, por sua casa e pelo povo:

" A a r ã o , p o i s , c h e g o u - s e a o a l t a r , e i m o l o u o b e z e r r o q u e e r a a s u a p r ó p r i a o f e r -

t a p e l o p e c a d o . O s f i l h o s d e A a r ã o t r o u x e r a m - l h e o s a n g u e ; e e l e m o l h o u o d e d o

n o s a n g u e , e o p ô s s o b r e o s c h i f r e s d o a l t a r , e d e r r a m o u o s a n g u e à b a s e d o a l -t a r ; m a s a g o r d u r a , e o s r i n s , e o r e d e n h o d o f í g a d o , t i r a d o s d a o f e r t a p e l o p e -

c a d o , q u e i m o u - o s s o b r e o a l t a r , c o m o o Ia h w e h o r d e n a r a a M o i s é s . E q u e i m o u

f o r a d o a c a m p a m e n t o a c a r n e e o c o u r o . D e p o i s i m o l o u o h o l o c a u s t o , e o s f i l h o s d e A a r ã o l h e e n t r e g a r a m o s a n g u e , e e l e o e s p a r g i u s o b r e o a l t a r e m r e d o r .

T a m b é m l h e e n t r e g a r a m o h o l o c a u s t o , p e d a ç o p o r p e d a ç o , e a c a b e ç a ; e e l e o s

q u e i m o u s o b r e o a l t a r . E l a v o u o s i n t e s t i n o s e a s p e r n a s , e a s q u e i m o u s o b r e o h o l o c a u s t o n o a l t a r " ( Lv 9 , 8 - 1 4 ) .

Seguem os mesmos sacri f ícios pelo povo al i reunid o em comuni-

dade seguidos da Oblação e do Sacri f ício Pacíf ico , observando-se f i -

elmente todos os r i tuais até mesmo a movimentação da ví t ima e entre-

ga ao celebrante, em tudo buscando , pela Refeição Sagrada , a amizade

e a reconci l iação com Iahweh:

" E n t ã o a p r e s e n t o u a o f e r t a d o p o v o e , t o m a n d o o b o d e q u e e r a a o f e r t a p e l o p e -c a d o d o p o v o , i m o l o u - o e o o f e r e c e u p e l o p e c a d o , c o m o f i z e r a c o m o p r i m e i r o .

A p r e s e n t o u t a m b é m o h o l o c a u s t o , e o o f e r e c e u s e g u n d o o r i t u a l . E a p r e s e n t o u a

o b l a ç ã o e , t o m a n d o d e l a u m p u n h a d o , q u e i m o u - a s o b r e o a l t a r , a l é m d o h o l o -c a u s t o d a m a n h ã . Im o l o u t a m b é m o b o i e o c a r n e i r o e m s a c r i f í c i o d e o f e r t a p a -

c í f i c a p e l o p o v o ; e o s f i l h o s d e A a r ã o e n t r e g a r a m - l h e o s a n g u e , q u e e l e e s p a r -

g i u s o b r e o a l t a r e m r e d o r , c o m o t a m b é m a g o r d u r a d o b o i e d o c a r n e i r o , a c a u -d a g o r d a , e o q u e c o b r e a f r e s s u r a , e o s r i n s , e o r e d e n h o d o f í g a d o ; e p u s e r a m a

g o r d u r a s o b r e o s p e i t o s , e e l e q u e i m o u a g o r d u r a s o b r e o a l t a r ; m a s o s p e i t o s e

a c o x a d i r e i t a , o f e r e c e u - o s A a r ã o p o r o f e r t a m o v i d a p e r a n t e Ia h w e h , c o m o M o i -s é s t i n h a o r d e n a d o " ( Lv 9 , 1 5 - 2 1 ) .

Então segue a Bênção de Aarão seguida de outra conjunta com

Moisés após permanecerem na Tenda da Reunião com o ges to estend i-

do t raduzindo a Imposição das Mãos, manifestando -se então a Glória

de Deus com o Fogo Sagrado consumindo as ví t imas:

26

" D e p o i s A r ã o , l e v a n t a n d o a s m ã o s p a r a o p o v o , o a b e n ç o o u e d e s c e u , t e n d o a c a -b a d o d e o f e r e c e r a o f e r t a p e l o p e c a d o , o h o l o c a u s t o e a s o f e r t a s p a c í f i c a s . E

M o i s é s e A a r ã o e n t r a r a m n a t e n d a d a r e u n i ã o ; d e p o i s s a í r a m , e a b e n ç o a r a m o

p o v o ; e a g l ó r i a d e Ia h w e h a p a r e c e u a t o d o o p o v o , p o i s s a i u f o g o d e d i a n t e d e I a h w e h , e c o n s u m i u o h o l o c a u s t o e a g o r d u r a s o b r e o a l t a r ; p e l o q u e t o d o s o s

p r e s e n t e s a c l a m a r a m e p r o s t r a r a m - s e c o m o s s e u s r o s t o s e m t e r r a " ( Lv 9 , 2 2 - 2 4 ) .

Não pode ser outro o teor dessa Bênção que o determinado pelo

próprio Iahweh:

" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a A a r ã o , e a s e u s f i l h o s , d i z e n d o : A s s i m a -b e n ç o a r e i s o s f i l h o s d e I s r a e l ; d i r - l h e s - e i s : I a h w e h t e a b e n ç o e e t e g u a r d e ; Ia h -

w e h f a ç a r e s p l a n d e c e r o s e u r o s t o s o b r e t i , e t e n h a m i s e r i c ó r d i a d e t i ; I a h w e h

l e v a n t e s o b r e t i o s e u r o s t o , e t e d ê a p a z . A s s i m p o r ã o o m e u n o m e s o b r e o s f i -l h o s d e I s r a e l , e e u o s a b e n ç o a r e i " ( N m 6 , 2 2 - 2 7 ) .

" . . . todos os presentes aclamaram e prostraram -se com os seus

rostos em terra" (Lv 9,24): ass im se consumava o Santuário juntame n-

te com a Inst i tuição do Sacerdócio, f igura que “cumprir -se-á com Je-

sus”:

" E l e s m e f a r ã o u m S a n t u á r i o , e E u h a b i t a r e i n o m e i o d e l e s " ( E x 2 5 , 8 ) / " E o

V e r b o s e f e z c a r n e , e h a b i t o u e n t r e n ó s . . . " ( J o 1 , 1 4 ) .

Tal como no Jardim do Éden , Deus cont inua conduzindo o H o-

mem para uma vida em comunhão agora s i gnif icada nos efei tos dos

Sacri f ícios tal como era vis to pelos Is rael i tas , f ig ura do que se cum-

prirá com Jesus. Cris to Jesus é o retorno do Homem ao Jardim de

Deus:

" D i s s e e n t ã o ( “ o B o m La d r ã o " ) : ' J e s u s , l e m b r a - t e d e m i m , q u a n d o e n t r a r e s n o

t e u r e i n o . ' R e s p o n d e u - l h e J e s u s : ' E m v e r d a d e t e d i g o q u e h o j e e s t a r á s c o m i g o

n o p a r a í s o " ( L c 2 3 , 4 2 - 4 3 ) .

Cabe aqui uma observação importante a respei to das vest imentas

dos Sacerdotes Israel i tas : os Ofícios Rel igiosos eram celebr ados sem

calçados de espécie alguma nos pés , apesar de toda a pompa de seu

paramento, e se moviam em lugar santo , o Sa ntuário, em obed iência à

ordem de Iahweh a Moisés:

" P r o s s e g u i u D e u s : N ã o t e a p r o x i m e s e t i r a o s s a p a t o s d o s p é s , p o r q u e o l u g a r

e m q u e t u e s t á s é t e r r a s a n t a " ( E x 3 , 5 ) .

3.6. - O SACERDÓCIO E A SANTIDADE

Não se pode deixar de exemplif icar , nes ta oportun idade o cuida-

do que se deve ter com a divisão em capí tulos e vers ículos das Escr i -

turas Sagradas , para não se tornar uma fonte de equívocos. A ssim, a

presença súbi ta do capí tulo dez pode levar à suposição de que no cap í-

tulo nove onde se narrou o início do e xercício sacerdotal com o ofer e-

cimento das primícias se encerrasse o assunto. Não é bem assim, p o-

rém. Ocorreu o narrado ac idente fatal com Nadab e Abiú (Lv 10,1 -7)

antes do consumo das partes das oferendas dest inadas aos s acerdotes

(Lv 10,12-15) que comple tava os Sacri f ícios então oferecidos. A na r-

rat iva do fato faz com que se dê às perícopes do capí tulo dez t í tulos

com signif icações dis t intas do tema al i desenvolvido, abrindo-lhe uma

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espécie de parêntesi s como se t ratasse de um acrésc imo às normas que

deveriam seguir os Sacerdotes . Porém, o que se narra após a expos ição

dessa insurreição, e a seguir , fazem parte do tema do capi tulo nove

anterior que não exauriu o assunto. Isso é muito comum em Bíbl ia,

devendo sempre se lembrar que os t í tulos , subt í tulos , ca pí tulos e ver-

s ículos não fazem parte dela, n ão foram inspirados nem revelados sen-

do, apenas, divisões fei tas conforme o uso l i túrgico ou a visão de

quem as dispôs ou para faci l i tar a lguma local ização.

Por causa do episódio de Nadab e Abiú , aparecem fora de lugar

normas r i tuais novas e repet idas . Destacam -se então , como centro ne-

vrálgico , a Sant idade plena do Sacerdócio ao exercer a celebração do

Sacri f ício. Sant idade necessária "porque está sobre vós o óleo da u n-

ção do Senhor" (Lv 10,7) , bem como, "para f azer separação entre o

santo e o profano, e entre o imundo e o l impo; e , também, e nsinar aos

f i lhos de Israel todos os es tatutos que Iahweh lhes tem dado por i n-

termédio de Moisés" (Lv 10,10 -11). Nadab e Abiú quiseram queimar a

Oblação da Invest idura Sace rdotal e o incenso que a acompanhava com

um fogo que não o sagrado e não como estabel ecido (Lv 6,14-18 / Lv

9,4b), "um fogo est ranho perante Iahweh, o que ele não lhes orden a-

ra". Por causa disso foram at ingidos e fulminados por um fogo tão

violento que "os devorou e morreram diante de Ia hweh" (Lv 10,2) , o

que se tomou como um cast igo em vir tude de não se conduz irem com a

dignidade sacerdota l necessária. Não pode ser outro motivo por que

Moisés recorda e aler ta Aarão das palavras de Iahweh de que "serei

sant i f icado naqueles que se chegarem a mim, e serei glori f icado diante

de todo o povo" (cf r . Ex 19,22). Também, ai nda em consequência do

acontecido, Iahweh proíbe o uso de vinho ou de bebidas inebriantes no

ofício rel igioso , ex igindo coerência de conduta e comportamento no

modo de se conduzirem os Sacerdotes ("serei sant i f icado. . . serei glor i -

f icado. . . não somente para separar o santo e o profano. . . mas também

para ens inar . . . ") :

" F a l o u t a m b é m o S e n h o r a A a r ã o , d i z e n d o : N ã o b e b e r e i s v i n h o n e m b e b i d a f o r -t e , n e m t u n e m t e u s f i l h o s c o n t i g o , q u a n d o e n t r a r d e s n a T e n d a d a R e u n i ã o , p a r a

q u e n ã o m o r r a i s ; e s t a t u t o p e r p é t u o s e r á i s s o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s , n ã o s o m e n t e

p a r a f a z e r s e p a r a ç ã o e n t r e o s a n t o e o p r o f a n o , e e n t r e o i m u n d o e o l i m p o , m a s t a m b é m p a r a e n s i n a r a o s f i l h o s d e I s r a e l t o d o s o s e s t a t u t o s q u e Ia h w e h l h e s t e m

d a d o p o r i n t e r m é d i o d e M o i s é s " ( L v 1 0 , 8 - 1 1 ) .

Em consequência ocorre a interdição di reta de Iahweh a A arão e

seus f i lhos do vinho ou bebida forte , quando da celebração sacerd otal ,

que se impõe então como norma discipl inar . Com isso, evi ta-se a pos-

s ível embriaguez durante o minis tér io rel igioso, não apenas por uma

questão de Sant idade e Pureza pessoais , mas como condição n ecessária

para o ensino rel igi oso, a part i r do exemplo , mant ida a sobri edade ou

lucidez da mente. Assim, após a punição, várias observâncias são

mencionadas a começar pela ret i rada para fora do Santuário e do a-

campamento dos cadáveres , com as suas vestes , por es tarem contam i-

nadas pela impureza dos corpos (Lv 10,4 -5) . É vedado a Aarão e seus

f i lhos manifestar sua dor, numa antecipação do modo dos Sace rdotes

se comportarem no luto (Lv 10,6 -7 / Lv 21,1-6.10-12). São impedidos

de o fazerem então para não t ransparecer qualquer reprovação à pun i-

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ção imposta por Iahweh e para infundir o respei to ao s formal i smos

r i tuais pelos Sacerdotes , os quais devem ser muito mais respons áveis

que os demais membros da comun idade:

" D i s s e M o i s é s a A a r ã o : I s t o é o q u e Ia h w e h f a l o u , d i z e n d o : S e r e i s a n t i f i c a d o n a q u e l e s q u e s e c h e g a r e m a m i m , e s e r e i g l o r i f i c a d o d i a n t e d e t o d o o p o v o . A a -

r ã o c a l o u - s e " ( Lv 1 0 , 3 ) .

Com essas palavras Aarão se cala e Moisés insis t e nas inst ru-

ções relat ivas ao consumo das Oferendas , advindas da Inves t idura S a-

cerdotal a Aarão e a seus f i lhos remanescentes O resto da Oblação

queimada (Lv 9,4b / Lv 6,14-18 / Lv 10,12-13) deveria ser comido pe-

lo celebrante e famil iares " sem fermento junto ao Altar , pois é coisa

Sant íss ima" e no que se refere ao pei to e à perna do Sacri f ício Pacíf i -

co (Lv 9,21 / Lv 7,30 -34 / Lv 10,14-15), a que t inham direi to junt o

com seus famil iares , deveriam ser comidos em lugar puro sem prof a-

nação com as impurezas legais , l impas por ass im dizer conforme as

normas de então. O temor de Aarão e seus Fi lhos faz com que viessem

a evi tar até mesmo de comer a parte do bode que lhes cabia no Sacr i -

f ício Pelo Pecado (Lv 9,15 / Lv 6,24 -30 / Lv 10,16-18), em vis ta do

es tado emotivo em que se encontravam por causa do acontecido, ass im

expl icado a Moisés que o compreendeu e aprovou:

" E n t ã o d i s s e A a r ã o a M o i s é s : E i s q u e h o j e o f e r e c e r a m a s u a o f e r t a p e l o p e c a d o e o s e u h o l o c a u s t o p e r a n t e o S e n h o r , e t a i s c o i s a s m e a c o n t e c e r a m ; s e e u t i v e s s e

c o m i d o ( ' t r i s t e c o m o e s t o u ' ) h o j e a o f e r t a p e l o p e c a d o p o r v e n t u r a t e r i a s i d o i s s o

c o i s a a g r a d á v e l a o s o l h o s d o S e n h o r ? O u v i n d o M o i s é s i s t o , p a r e c e u - l h e r a z o á -v e l " ( L v 1 0 , 1 9 - 2 0 ) .

3.7. - A PUREZA LEGAL

Terminada a cerimônia da Invest idura Sacerdotal tem início a

apresentação das condições de Pureza Legal para aproximar -se de I-

ahweh, principalmente para a part icipação nos Sacri f ícios , seja como

Vít ima, seja como Ofertante, seja como Celebrante. Destaca -se, pr i -

meiramente, uma classi f icação de animais em puros e impuros cuja

observância far -se-á até mesmo nas refeições cot idianas:

" ( 1 ) F a l o u o S e n h o r a M o i s é s e a A a r ã o , d i z e n d o - l h e s : D i z e i a o s f i l h o s d e I s r a -e l : E s t e s s ã o o s a n i m a i s q u e p o d e r e i s c o m e r d e n t r e t o d o s o s a n i m a i s q u e h á s o -

b r e a t e r r a . . . ( . . . ) . . . O s s eg u i n t e s , c o n t u d o , n ã o c o m e r e i s . . . ( . . . ) . . . ( 8 ) D a s u a

c a r n e n ã o c o m e r e i s , n e m t o c a r e i s n o s s e u s c a d á v e r e s ; e s s e s v o s s e r ã o i m u n d o s . . . ( . . . ) . . . ( 4 4 ) P o r q u e e u s o u o S e n h o r v o s s o D e u s ; p o r t a n t o s a n t i f i c a i - v o s , e s e d e

s a n t o s , p o r q u e e u s o u s a n t o ; e n ã o v o s c o n t a m i n a r e i s . . . ( . . . ) . . . p o r q u e e u s o u o

S e n h o r , q u e v o s f i z s u b i r d a t e r r a d o E g i t o , p a r a s e r o v o s s o D e u s , s e r e i s p o i s s a n t o s , p o r q u e e u s o u s a n t o . E s t a é a l e i s o b r e o s a n i m a i s e a s a v e s , e s o b r e t o -

d a c r i a t u r a v i v e n t e q u e s e m o v e n a s á g u a s e t o d a c r i a t u r a q u e s e a r r a s t a s o b r e a

t e r r a ; p a r a f a z e r s e p a r a ç ã o e n t r e o i m u n d o e o l i m p o , e e n t r e a n i m a i s q u e s e p o -d e m c o m e r e o s a n i m a i s q u e n ã o s e p o d e m c o m e r " ( L v 1 1 , 1 - 4 . 8 . 4 4 - 4 7 ) .

Cabe observar que, ao contrário do que possa parecer , são cu i-

dados a serem observados pelos Is rael i t as para se conseguir a sant ida-

de necessária para a part icipação nos Sacri f ícios , só se aproxima ndo

de Iahweh aquele que fosse santo:

29

" P o r q u e e u s o u o S e n h o r v o s s o D e u s ; p o r t a n t o s a n t i f i c a i - v o s , e s e d e s a n t o s ,

p o r q u e e u s o u s a n t o . . . ( . . . ) . . . e u s o u o S e n h o r , q u e v o s f i z s u b i r d a t e r r a d o E g i -

t o , p a r a s e r o v o s s o D e u s , s e r e i s p o i s s a n t o s , p o r q u e e u s o u s a n t o " ( Lv 1 1 , 4 4 -

4 6 ) .

"Esta é a lei sobre os animais e as aves . . . ( . . . ) . . . para fazer sep a-

ração entre o imundo e o l impo e entre animais que se podem comer e

os animais que não se podem comer" - apesar dessas pal avras não se

t ratam de normas de higiene e l impeza f ís icas , propriamente di tas , tais

como são concebidas atualmente. Coerentemente com toda a e s t rutura

já montada o Israel i ta mantém -se f iel a Iahweh em torno do compr o-

misso assumido na Aliança de não se misturar com os gent ios “sep a-

rando-se e ass im sant i f icando -se” a que se incluiu a Missão de Israel :

“ . . . e e u o s e x t e r m i n a r , n ã o a d o r a r á s o s s e u s d e u s e s , n e m l h e s p r e s t a r á s c u l -

t o , i m i t a n d o s e u s c o s t u m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s a s s u a s c o -

l u n a s . S e r v i r e i s a o S e n h o r v o s s o D e u s , e e l e a b e n ç o a r á t e u p ã o e t u a á g u a , e a f a s t a r á d o t eu m e i o a s e n f e r m i d a d e s . ( . . . ) N ã o f a r á s a l i a n ç a c o m e l e s n e m

c o m s e u s d e u s e s . . . f a r i a m - t e p e c a r c o n t r a m i m : S e r v i r i a s a o s s e u s d e u s e s , e

i s s o s e r i a u m a a r m a d i lh a p a r a t i ” ( E x 2 3 , 2 3 - 3 3 ) .

Essa Missão de Israel é , várias vezes , rat i f icada (cf r . Ex 34,13;

Lv 18,3.24-30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29 -31) e foi ela que serviu de

orientação ao legis lador para a elaboração das leis at inentes ao p uro e

impuro. Com base , nisso evi tou-se principalmente as prát icas dos ge n-

t ios , seja nos vários sacri f ícios , seja na al imentação cot idiana (Os 9,3;

Ez 4,13; Tb 1,10-12; Dn 1,8-12; Jdt 12,2-4; Lv 18,2-5) . Israel deveria

se dis t inguir de out ros povos pela conformação de sua cond uta e de

seu comportamento com o Desígnio de Iahweh que não acei ta , de for-

ma nenhuma, a impureza (Dt 23,13-15) . Por isso, deve se "sant i f icar

(em hebraico = 'separar ' )" e a todos os objetos ou seres que o r odeiam

para poder ass im puros apresentá -los e a s i mesmo perante Iahweh (Ex

19,6.10.22; Lv 11,44s; 19,2; 20,7; 21,1-8; 22,1-9.31-33; Nm 31,19-

24). Por causa dessa impureza, que a Iahweh repugna a Missão de I s-

rael era destruir os al tares e santuários pagãos (Dt 7,5.25). Tal repu g-

nância vai crescer sobrem aneira até que se vedará qualquer contato

com eles (Jo 18,28; At 10,28; 11,3) . Vê -se faci lmente que es sa pureza

se relaciona com o homem vis to como um todo carnal , não se l im ita a

uma higiene f ís ica nem se ident i f ica apenas com norma moral , nem

com a cast idade. Tem referências exclusiv amente com o rel igioso , nas

suas relações com Iahweh e a Aliança, proven iente do inter ior e não se

res t r inge ao ex terior do Homem apenas, apesar de só a ele se r eferi r :

" A d v e r t i r e i s o s f i l h o s d e I s r a e l d a s u a i m p u r e z a , p a r a q u e n ã o m o r r a m p o r c a u s a

d e l a , c o n t a m i n a n d o a m i n h a H a b i t a ç ã o q u e e s t á n o m e i o d e l e s " ( L v 1 5 , 3 1 ) .

Além do sent ido de separar sant i f ica -se também se ret i rando a

impureza. A pureza é a condição com que alguém torna-se apto a a-

proximar-se de Iahweh, não se contaminando o Santuário com o prof a-

no. Esse sent ido da inst i tuição destaca -se pelo fato de ter s ido ab ol ida

pelo Cris t ianismo, o que não aconteceria se t ivesse s ido inst i tuída por

motivos de higiene f ís ica ou de moral ou de cast idade: Além de tudo

is to , a observância tem relação com o cerimonial pagão que se cara c-

30

ter izava na general idade pelo uso dos anima is t idos como impuros nos

sacri f ícios , e vário outros costumes que a Iahweh repugnava. Some nte

com Jesus em quem “tudo se cumpriu” (Mt 5,17) , essa inst i tuição vai

perder o sent ido, tendo -se em vis ta a superioridade da Nova Vít ima –

o Cris to Eucarís t ico:

" R e s p o n d eu - l h e s e l e : A s s i m t a m b é m v ó s e s t a i s s e m e n t e n d e r ? N ã o c o m p r e e n d e i s q u e t u d o o q u e d e f o r a e n t r a n o h o m e m n ã o o p o d e c o n t a m i n a r , p o r q u e n ã o l h e

e n t r a n o p u r o s c o r a ç ã o , m a s n o v e n t r e , e é l a n ç a d o f o r a ? A s s i m d e c l a r o u t o d o s

o s a l i m e n t o s " ( M c 7 , 1 8 - 1 9 ) / " . . . s u b i u P e d r o a o e i r a d o p a r a o r a r , c e r c a d e h o r a s e x t a . E t e n d o f o m e , q u i s c o m e r ; m a s e n q u a n t o l h e p r e p a r a v a m a c o m i d a , s o b r e -

v e i o - l h e u m ê x t a s e , e v i a o c é u a b e r t o e u m o b j e t o d e s c e n d o , c o m o s e f o s s e u m

g r a n d e l e n ç o l , s e n d o b a i x a d o p e l a s q u a t r o p o n t a s s o b r e a t e r r a , n o q u a l h a v i a d e t o d o s o s q u a d r ú p e d e s e r é p t e i s d a t e r r a e a v e s d o c é u . E u m a v o z l h e d i s s e : L e -

v a n t a - t e , P e d r o , m a t a e c o m e . M a s P e d r o r e s p o n d e u : D e m o d o n e n h u m , S e n h o r ,

p o r q u e n u n c a c o m i c o i s a a l g u m a p r o f a n a e i m u n d a . P e l a s e g u n d a v e z l h e f a l o u a v o z : N ã o c h a m e s t u p r o f a n o a o q u e D e u s p u r i f i c o u . S u c e d e u i s t o p o r t r ê s v e z e s ;

e l o g o f o i o o b j e t o r e c o l h i d o a o c é u " ( A t 1 0 , 9 - 1 6 ) .

Assim é que, perder -se-ia a pureza legal até mesmo por um si m-

ples contato , principalmente com cadáveres (Lv 11,24-28 .29-38.39-

40). Ao contrário do que se poderia esperar , a recuperação não se dá

pela prát ica de atos vir tuosos ou morais ou de higiene, mas das s e-

guintes manei ras:

1) Pelo desaparecimento da impureza por s i mesma e no decu rso

do tempo:

" T a m b é m p o r e l e s v o s t o r n a r e i s i m u n d o s ; q u a lq u e r q u e t o c a r n o s s e u s c a d á v e r e s s e r á i m u n d o a t é a t a r d e , e q u e m l e v a r q u a l q u e r p a r t e d o s s e u s

c a d á v e r e s , l a v a r á a s s u a s v e s t e s , e s e r á i m u n d o a t é a t a r d e " ( Lv 1 1 , 2 4 -

2 5 ) .

2) Pela ablução do corpo ou das vestes:

" D i s s e m a i s o S e n h o r a M o i s é s : V a i a o p o v o , e s a n t i f i c a - o s h o j e e a m a -

n h ã ; l a v e m e l e s o s s e u s v e s t i d o s ( . . . ) . E n t ã o M o i s é s d es c e u d o m o n t e a o

p o v o , e s a n t i f i c o u o p o v o ; e l a v a r a m o s s e u s v e s t i d o s " ( E x 1 9 . 1 0 . 1 4 ) / " E t o d o h o m e m , q u e r n a t u r a l q u e r e s t r a n g e i r o , q u e c o m e r d o q u e m o r r e

p o r s i o u d o q u e é d i l a c e r a d o p o r f e r a s , l a v a r á a s s u a s v e s t e s , e s e b a -

n h a r á e m á g u a , e s e r á i m u n d o a t é a t a r d e ; d e p o i s s e r á l i m p o . M a s , s e n ã o a s l a v a r , n e m b a n h a r o s e u c o r p o , l e v a r á s o b r e s i a s u a i n i q u i d a d e "

( Lv 1 7 , 1 5 - 1 6 ) .

3) Pelo Holocausto e pelo Sacri f ício Expiatório ou Pelo Pec ado:

" E , q u a n d o f o r e m c u m p r i d o s o s d i a s d a s u a p u r i f i c a ç ã o , s e j a p o r f i l h o

o u p o r f i l h a , t r a r á u m c o r d e i r o d e u m a n o p a r a h o l o c a u s t o , e u m p o m b i -

n h o o u u m a r o l a p a r a o f e r t a p e l o p e c a d o , à p o r t a d a t e n d a d a r e u n i ã o , a o s a c e r d o t e , o q u a l o o f e r e c e r á p e r a n t e o S e n h o r , e f a r á e x p i a ç ã o p o r

e l a ; e n t ã o e l a s e r á l i m p a d o f l u x o d o s e u s a n g u e . E s t a é a l e i d a q u e d e r

à l u z m e n i n o o u m e n i n a " ( Lv 1 2 , 6 - 7 ) .

4) No Grande Dia da Expiação e, durante essa festa, pelo "Bode

Expiatór io ou Emissário":

" D i s s e , p o i s , o S e n h o r a M o i s é s : D i z e a A r ã o , t e u i r m ã o . . . ( . . . ) . . . d a

c o n g r e g a ç ã o d o s f i l h o s d e I s r a e l t o m a r á d o i s b o d e s p a r a o f e r t a p e l o p e -

c a d o e u m c a r n e i r o p a r a h o l o c a u s t o . . . ( . . . ) . . . a s s i m f a r á e x p i a ç ã o p e l o s a n t u á r i o ; t a m b é m f a r á e x p i a ç ã o p e l a t e n d a d a r e u n i ã o e p e l o a l t a r ; i -

g u a l m e n t e f a r á e x p i a ç ã o e p e l o s s a c e r d o t e s e p o r t o d o o p o v o d a c o n -

g r e g a ç ã o . I s t o v o s s e r á p o r e s t a t u t o p e r p é t u o , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o u m a v e z n o a n o p e l o s f i l h o s d e I s r a e l p o r c a u s a d e t o d o s o s s e u s p e c a d o s . E

31

f e z A a r ã o c o m o o S e n h o r o r d e n a r a a M o i s é s " ( Lv 1 6 , 1 - 3 4 , s ó a s p a r t e s i n i c i a l e f i n a l , p o i s s e r á o b j e t o d e e s t u d o ) .

O valor fundamenta l dessa Inst i tuição da Pureza Legal foi o de

evidenciar a f idel idade à Aliança (Lv 11,44 -45) entregando -se ao mar-

t í r io vár ios f iéis para não desrespei tá - la nem profaná -la (2Mc 6,18-31;

7 ,1-42). Concorreu para se caracterizar e se f i rmar paulat inamente o

monoteísmo e manter f i rme o Povo de Deus na obed iência a Iahweh e

no caminho da renúncia de s i mesmo , como base para uma moral idade

que i rá se cumprir na perfeição da discipl ina cr is tã que condenará o

formal ismo a que se reduziu (Mt 15,2; 23,24 -25). Não há necess idade

de se del inear todos os animais puros e impuros, e todos os casos em

que se contrai a impureza ou se perde a pureza, dada a faci l idade com

que vêm narrados, bastando um estudo atencioso da na rrat iva (Lv 11-

15).

3.8. - A PUREZA LEGAL E A MULHER

Quando se nar raram as consequências do Dilúvio foi vis to que

se acredi tava na ocorrência da concepção do feto quando se frust rava

a menstruação da mulher e como fruto do sangue materno coagulado

pela mescla com o esperma, gerando -se o assim o nasci turo (Jó 10,10;

Sb 7,2; Lv 17,11):

" N o s e i o d e m i n h a m ã e , n o e s p a ç o d e d e z m e s e s e m c a r n e f u i f o r m a d o d o s a n g u e

c o a g u l a d o , p o r f o r ç a d o s ê m e n v i r i l e d o p r a z e r q u e a c o m p a n h a o s o n o " ( S b 7 , 1 -2 ) / " N ã o m e v e r t e s t e c o m o l e i t e e m e c o a l h a s t e c o m o q u e i j o ? " ( J ó 1 0 , 1 0 ) .

Por outro lado, é de se recordar o que Deus disse à mulher,

quando do Pecado Orig inal :

" . . . M u l t i p l i c a r e i o t e u s o f r i m e n t o n a t u a g r a v i d e z ; e m d o r d a r á s à l u z f i l h o s . . . "

( G n 3 , 1 6 ) .

Já Adão recebe além das consequências pessoais e as da natur e-

za aquelas que penal izavam o seu t rabalho pessoal , tendo s ido amald i-

çoada a terra (Gn 3,17 -19), percebendo-se faci lmente que Eva foi mais

responsabi l izada pelo acontecimento (Gn 3,6.12.13.16). Além da ma i-

or culpa pelo Pecado Original é ident i f icada com a ger ação da vida

tendo até recebido de Adão o nome de "Eva, a mãe de todos os vive n-

tes" (Gn 3,20). Além disso, as pal avras ". . . darás à luz f i lhos entre

dores . . ." caracterizam que o parto já era de sua const i tuição f ís ica,

acontecendo que o seu "sofr imento foi - lhe mult ipl icado" (Gn 3,16).

Ocorrem também nela tanto na menstruação como quando dá à

luz , duas efusões do sangue em decorr ência dessa geração de vida.

Torna-se assim o sangue alvo de profundo sent ido rel igioso (Lv

17,11). Juntando-se tudo isso com a concepção de que "a vida da carne

está no sangue" e que ". . . a carne com sua vida, is to é, com seu sa n-

gue, não comereis" (Gn 9,4 ) , es tabeleceu-se profundo respei to e ven e-

ração por ele por es tar , na concepção v igente, vinculado inseparave l-

mente com a vida:

32

" P o r q u e a v i d a d a c a r n e e s t á n o s a n g u e ; p e l o q u e v o - l o t e n h o d a d o s o b r e o a l -t a r , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o p e l a s v o s s a s a l m a s ; p o r q u a n t o é o s a n g u e q u e e x p i a e m

v i r t u d e d a v i d a . P o r t a n t o t e n h o d i t o a o s f i l h o s d e I s r a e l : N e n h u m d e v ó s c o m e r á

s a n g u e ; n e m o e s t r a n g e i r o q u e p e r e g r i n a e n t r e v ó s c o m e r á s a n g u e . T a m b é m , q u a l q u e r h o m e m d o s f i l h o s d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s q u e p e r e g r i n a m e n t r e

e l e s , q u e a p a n h a r c a ç a d e f e r a o u d e a v e q u e s e p o d e c o m e r , d e r r a m a r á o s a n g u e

d e l a e o c o b r i r á c o m t e r r a . P o i s , a v i d a d e t o d a a c a r n e e s t á n o s e u s a n g u e ; p o r i s s o e u d i s s e a o s f i l h o s d e I s r a e l : N ã o c o m e r e i s o s a n g u e d e n e n h u m a c a r n e ,

p o r q u e a v i d a d e t o d a a c a r n e é o s e u s a n g u e ; q u a l q u e r q u e o c o m e r s e r á e x t i r -

p a d o " ( L v 1 7 , 1 1 - 1 4 ) .

O t recho fala por s i e corre-se o r isco de at rapalhar o entend i-

mento claro com qualquer tentat iva de expl icação, cabendo apenas fr i -

sar a noção então bastante difundida do sa ngue "expiar em vir tude da

vida". Além disso, é de se acred i tar que, por cada uma de suas efusões

se ex igisse um restabelecimento da vi tal idade que ter ia s ido perdida

em consequência. Is so aconteceria no Parto e ass im aconteceria na

Menstruação . Pode-se concluir que o Is rael i ta de então via tanto a

menstruação como o parto da mulher , fontes de vida , donde o respei to

e verdadeira veneração rel igiosa por esses es tados f ís icos . E é esse o

ponto central da pos ição da mulher na v ida soc ial , famil iar e moral de

então. Por isso , a mulher desempenhava uma função de grande proj e-

ção na vida rel igiosa do Povo dos Fi lhos de Israel donde a ex is tência

de alguns capí tulos especiais que t ratam da impureza dela , t anto quan-

do da menstruação (Lv 15,19 -30) , como quando do parto (Lv 12,1-8) .

Nunca se deve perder de vis ta que a impureza não é tal qual se ente n-

de atualmente no tocante à higiene, com se fora uma s ujei ra mas se

resumia na impossibi l idade de comparecimento ao Santuário, bem c o-

mo, em qualquer of ício rel igioso. Is so por causa do sangue por ela

perdido, sangue que foi a vida que gerou no parto ou em vias de g erar

na menstruação. Tanto é ass im que a oferenda no Holocausto e no S a-

cri f ício de Expiação , oferecido por ela após o parto , busca rest i tu i r-

lhe a pureza do f luxo do seu sangue. Vê-se que não se t rata de pe rdão

de alguma fal ta como nos r i tuais t ípicos (Lv 5, 10.13.16 -19.25-26),

eis que, o narrador é expl íci to ao dizer que ela será l impa do f luxo do

seu sangue e não que ela será perdoada do f luxo do seu sangue:

" E , q u a n d o f o r e m c u m p r i d o s o s d i a s d a s u a p u r i f i c a ç ã o , s e j a p o r f i l h o o u p o r f i -

l h a , t r a r á u m c o r d e i r o d e u m a n o p a r a h o l o c a u s t o , e u m p o m b i n h o o u u m a r o l a p a r a o f e r t a p e l o p e c a d o , à p o r t a d a t e n d a d a r e v e l a ç ã o , a o s a c e r d o t e , o q u a l o

o f e r e c e r á p e r a n t e o S e n h o r , e f a r á e x p i a ç ã o p o r e l a ; e n t ã o e l a s e r á l i m p a d o

f l u x o d o s e u s a n g u e . E s t a é a l e i d a q u e d e r à l u z m e n i n o o u m e n i n a . M a s , s e a s s u a s p o s s e s n ã o b a s t a r e m p a r a u m c o r d e i r o , e n t ã o t o m a r á d u a s r o l a s , o u d o i s

p o m b i n h o s : u m p a r a o h o l o c a u s t o e o u t r o p a r a a o f e r t a p e l o p e c a d o ; a s s i m o s a -

c e r d o t e f a r á e x p i a ç ã o p o r e l a , e e l a s e r á l i m p a " ( L v 1 2 , 6 - 8 ) .

Por aí se nota que não é uma denominação justa nem muito m e-

nos certa, causando séria confusão quanto ao estado social da mulher

na comunidade Is rael i ta . Cabe levar em conta também que o respei to

para o Israel i ta vem manifestado de várias formas, destacando -se a l -

gumas dentre elas :

1 . É proibido na al imentação sob pena grave de exclusão do

meio social (Gn 9,3 -4; Lv 7,26-27; 17,10-12; Dt

12,16.23; 15,23; 1Sm 14,32-35).

33

2 . É "escorrido no chão e coberto com ter ra", "como água"

(Lv 17,13; Dt 12,24).

3 . É derramado em torno do Altar em oferenda a Iahweh (Lv

1,5.11.15; caps. 3-5) .

4 . Nas Alianças de Sangue, es tabelece laço vi tal (Gn 15,10 -

12; Ex 24,4-8; Hb 9,18-21).

5 . Proteção (Ex 12,7.23.27).

6 . Era usado para aspergir o Altar (Ex 29,16; Lv 3,2); o

Sumo Sacerdote (Ex 29,21); o véu do Templo (Lv 4,6);

para "untar / ungir" ( ' l impar ' ) os chif res do Altar" (Lv

4,7.18; 8 ,15).

7 . O sangue do Sacri f ício puri f ica (Lv 14,6 -7.14; Nm 19,4);

expia (Lv 16; Lv 17; Lv 18); sant i f ica (Ex 29,30 -31).

8 . Com ele se consagra (Ex 29,20 -21; Lv 8,23-24.30; Ez

43,20).

Assim, com tal respei to pelo Sangue animal , o Israel i ta não po-

deria deixar de t ratar com maior veneração ainda o Sangue da M ulher,

"a mãe de todos os vivent es" (Gn 3,20). E conclui de manei ra imediata

que ocorre a morte quando o sangue se esvai e que de sua vida é que

exala o vapor naturalmente quente quando escorre. Assim como " o

sangue expia enquanto é vida" (Lv 17,11) e em cada parto ocorre uma

geração, há uma perda de vi tal idade da mulher, eis que, se então pe r-

deu sangue perdeu vida. Necessi ta ela então de mais tempo para a r e-

cuperação de sua integridade vi tal , e então puri f icada (melhor seria

dizer: res tabelecida) do f luxo do seu sangue (Lv 12,7) , comparecer

perante Iahweh legalmente Sant i f icada. Ocorre a necessidade de mais

tempo também quando o nasci turo é do sexo feminino, de outra "mãe

de viventes", de outra "geradora de vida pelo f luxo do sangue " (Lv

12,5-6) , inf luindo também nesse cr i tér io a maior re sponsabi l idade da

Mulher pelo desate do Pecado Original . Para melhor compreensão do

tex to manter -se-á a mesma terminologia usada na Bíbl ia , porém nunca

se deve fazer a confusão do estado da mulher e também do homem

quanto ao sêmen.

Já no caso do Homem e do Homem e da Mulher no relac iona-

mento sexual em vi r tude de emissão seminal normal , a impureza de

ambos desaparece pelo decurso do tempo " até a tarde" (Lv 15,16-17),

e da mesma forma a Mulher , na menstruação , demandará o decurso do

tempo de sete dias (Lv 15 ,19), pelos mesmos motivos já deline ados no

caso de parto. Exigem o Holocau sto e o Sacri f ício Expiatório os casos

de emissão seminal ou de sangue quando enfermos pelo que , ao oi tavo

dia , após os sete dias de puri f icação buscarão a intervenção do Sace r-

dote para a puri f icação sacri f ical (Lv 15,13-15.28-30). De qualquer

maneira , o aspecto da reprodução humana no que se refere ao geni tal e

suas manifestações é objeto de inst i tuição especial no tocante à Sant i -

dade exigida para o Povo de Deus:

" A s s i m s e p a r a r e i s o s f i l h o s d e I s r a e l d a s u a i m p u r e z a , p a r a q u e n ã o m o r r a m p o r

c a u s a d e l a s , c o n t a m i n a n d o o m e u t a b e r n á c u l o , q u e e s t á n o m e i o d e l e s . E s t a é a

l e i d a q u e l e q u e t e m o f l u x o e d a q u e l e d e q u e m s a i o s ê m e n , d e m o d o q u e p o r e -l e s s e t o r n a i m p u r o ; c o m o t a m b é m d a m u l h e r e n f e r m a c o m a s u a i m p u r e z a e d a -

34

q u e l e q u e t e m o f l u x o , t a n t o d o h o m e m c o m o d a m u l h e r , e d o h o m e m q u e s e d e i -t a c o m m u l h e r i m p u r a " ( L v 1 5 , 3 1 - 3 3 ) .

Maria, f iel cumpridora dos compromissos rel igiosos após os sete

dias de sua puri f icação, no oi tavo dia, quando da ci rcuncisão de Jesus

cumpre precei to junto com a " consagração de 'seu f i lho primogên i to '"

(Ex 13,1.11 / Lc 2,7) , com a oferta de pobre que era e c omo exigia a

lei (Lv 12,8):

" T e r m i n a d o s o s d i a s d a p u r i f i c a ç ã o , s e g u n d o a l e i d e M o i s é s , l e v a r a m - n o a J e -

r u s a l é m , p a r a a p r e s e n t á - l o a Ia h w e h , c o m o e s t á e s c r i t o n a L e i d e Ia h w e h : ' T o d o p r i m o g ê n i t o s e r á c o n s a g r a d o a o S e n h o r ' , e p a r a o f e r e c e r e m u m s a c r i f í c i o s e g u n -

d o o d i s p o s t o n a l e i d e Ia h w e h : ' u m p a r d e r o l a s , o u d o i s p o m b i n h o s ' " ( Lc 2 , 2 2 -

2 4 ) .

Ainda no Evangelho há a cura que Cris to operou da hemorr oíssa:

" E e i s q u e c e r t a m u l h e r , q u e h a v i a d o z e a n o s p a d e c i a d e f l u x o d e s a n g u e , c h e -

g o u p o r d e t r á s d e l e e t o c o u - l h e a o r l a d o m a n t o ; p o r q u e d i z i a c o n s i g o : S e e u t ã o

s o m e n t e t o c a r - l h e o m a n t o , f i c a r e i c u r a d a . M a s J e s u s , v o l t a n d o - s e e v e n d o - a , d i s s e : T e m â n i m o , f i l h a , a t u a f é t e s a l v o u . E d e s d e a q u e l a h o r a a m u l h e r f i c o u

c u r a d a " ( M t 9 , 2 0 - 2 2 ) .

Por es tar ass im profundamente vinculado , indestacavelmente , à

vida é que, ingerindo o Sangue da Ceia Euc arís t ica , ingere-se a Vida

de Jesus tal como Ele anunciara:

" D i s s e - l h e s J e s u s : . . . ( . . . ) . . . Q u e m c o m e a m i n h a c a r n e e b e b e o m e u s a n g u e t e m a v i d a e t e r n a ; e e u o r e s s u s c i t a r e i n o ú l t i m o d i a . P o r q u e a m i n h a c a r n e v e r d a -

d e i r a m e n t e é c o m i d a , e o m e u s a n g u e v e r d a d e i r a m e n t e é b e b i d a . Q u e m c o m e a

m i n h a c a r n e e b e b e o m e u s a n g u e p e r m a n e c e e m m i m e e u n e l e . A s s i m c o m o o P a i , q u e v i v e , m e e n v i o u , e e u v i v o p e l o P a i , a s s i m , q u e m d e m i m s e a l i m e n t a ,

t a m b é m v i v e r á p o r m i m " ( J o 6 , 5 3 - 5 7 ) . / “ . . . e u v i m p a r a q u e t e n h a m v i d a e a t e -

n h a m e m p l e n i t u d e " ( J o 1 0 , 1 0 ) .

3.8.1. - A PUREZA LEGAL E A LEPRA

A Bíbl ia é escri ta sob a Inspiração do Espír i to Santo e tem n‟Ele

o único Autor. Por i sso , mantém entre t odos os l ivros que a compõem

coerência inflex ível . Assim entendido, quando se esbarra em algo i -

nexpl icável é de se procurar em out ras de suas partes o esc larecime nto

necessário. E, também, quando se chega à qualquer conclusão essa

conclusão deverá ser confi rmada pela própria Bíbl ia . É o caso da L e-

pra aqui narrada que tanto pavor inst i lava ant igament e, observando-se

inicialmente que não se narra em lugar nenhum os s intomas mais drá s-

t icos e conhecidos atualmente da fal ta de sensibi l idade em locais do

corpo, bem como da decomposição e deformação de ex tremidades. A-

lém disso, pelos vár ios s intomas descri t os (Lv 13 e Lv 14) evidencia -

se que não se deve t ratar de uma mesma doença. Bastaria a menção de

s intomas de úlceras , fer idas e manchas de pele, até mesmo, de Lepra

de Casas (Lv 14,33 -53) e de Vestes (Lv 13,47 -59) , para conf i rmar esta

af i rmação. Além disso , sabendo-se que a lepra propriamente di ta era

incurável , não deixa de ser contrad i tór io o r i tual para o caso de sua

cura por meios naturais . Acontece, porém que , conforme afi rmado en-

contram-se em vários outros t rechos da Escri tura a mesma denomin a-

35

ção aparecendo como sendo f ruto de um cast igo de Iahweh e com os

mais variados nomes:

" E n t ã o d i s s e Ia h w e h a M o i s é s e a A a r ã o : T o m a i m a n c h e i a s d e c i n z a d o f o r n o , e M o i s é s a e s p a l h e p a r a o c é u d i a n t e d o s o l h o s d e F a r a ó ; ( . . . ) e e l a s e t o r n o u e m

t u m o r e s q u e a r r e b e n t a v a m em ú l c e r a s n o s h o m e n s e n o g a d o " ( E x 9 - 1 0 ) .

" A s s i m s e a c e n d e u a i r a d e Ia h w e h c o n t r a e l e s ; e e l e s e r e t i r o u ; t a m b é m a n u -

v e m s e r e t i r o u d e s o b r e a t e n d a ; e e i s q u e M i r i ã s e t o r n a r a l e p r o s a , b r a n c a c o m o

a n e v e ; e o l h o u A a r ã o p a r a M i r i ã e e i s q u e e s t a v a l e p r o s a . ( . . . ) C l a m o u , p o i s , M o i s é s a Ia h w e h , d i z e n d o : Ó D e u s , r o g o - t e q u e a c u r e s " ( N m 1 2 , 9 - 1 3 ) .

" Ia h w e h t e f e r i r á c o m a s ú l c e r a s d o E g i t o , c o m t u m o r e s , c o m s a r n a e c o m c o c e i -r a , d e q u e n ã o p o s s a s c u r a r - t e ( . . . ) C o m ú l c e r a s m a l i g n a s , d e q u e n ã o p o s s a s s a -

r a r , I a h w e h t e f e r i r á n o s j o e l h o s e n a s p e r n a s , s i m , d e s d e a p l a n t a d o p é a t é o

a l t o d a c a b e ç a " ( D t 2 8 , 2 7 . 3 5 ) .

" T e n d o o r e i d e I s r a e l l i d o a c a r t a , r a s g o u a s s u a s v e s t e s , e d i s s e : S o u e u E l o -

h i m , q u e p o s s a m a t a r e v i v i f i c a r , p a r a q u e e s t e e n v i e a m i m u m h o m e m a f i m d e q u e e u o c u r e d a s u a l e p r a ? ( . . . ) D e s c e u e l e , p o i s , e m e r g u l h o u - s e n o J o r d ã o s e -

t e v e z e s , c o n f o r m e a p a l a v r a d o h o m e m d e D e u s ; e a s u a c a r n e t o r n o u - s e c o m o a

c a r n e d u m m e n i n o , e f i c o u p u r i f i c a d o " ( 2 R s 5 , 7 - 1 4 ) .

" . . . e s e o p u s e r a m a o r e i U z i a s , d i z e n d o - l h e : A t i , U z i a s , n ã o c o m p e t e q u e i m a r

i n c e n s o p e r a n t e Ia h w e h , m a s a o s s a c e r d o t e s , f i l h o s d e A a r ã o , q u e f o r a m c o n s a -g r a d o s p a r a q u e i m a r e m i n c e n s o . ( . . . ) E n t ã o U z i a s s e i n d i g n o u ; e t i n h a n a m ã o

u m i n c e n s á r i o p a r a q u e i m a r i n c e n s o . In d i g n a n d o - s e e l e , p o i s , c o n t r a o s s a c e r d o -

t e s , n a s c e u - l h e a l e p r a n a t e s t a , p e r a n t e o s s a c e r d o t e s , n a c a s a d e Ia h w e h , j u n t o a o a l t a r d o i n c e n s o . ( . . . ) p o i s Ia h w e h o f e r i r a . A s s i m f i c o u l e p r o s o o r e i U z i a s

a t é o d i a d a s u a m o r t e . . . " ( 2 C r 2 6 , 1 8 - 2 3 / 2 R s 1 5 , 5 ) .

O que se constat a de tudo is to é que , tanto a lepra propriamente

di ta era incurável , como o exame das fer idas , úlceras , manchas na p e-

le, mofo e bolor nas casas e nas vestes etc. , conhecidos também pelo

mesmo nome de lepra, se dest inavam a local izá -la no início. Assim,

isolava-se o portador do contato com o Santuário e com os demais

membros da comunidade Israel i ta por causa da sua impureza e até que

fosse curado para vol tar ao convívio. Dois fatores se des tacam: pr i -

meiro, não se buscava o doente para curá -lo , mas para isolá - lo; e , se-

gundo, se não se constatar a contaminação ou se foi curado após o e-

xame pelo Sacerdote e um ri tual todo especial era reintegrado à comu-

nidade. O fato é que a lepra propriamente di ta era um sinal de ca st igo

divino pelo que tudo era fei to para se e vi tar a presença do impuro no

Santuário ou qualquer ofício rel igioso . O r i tual de sua reint egração

era muito mais solene que os demais por causa da seriedade das co n-

sequências do mal e dos meios usados para se evi tar o contágio da i m-

pureza. Tanto é ass im que o primeiro ato do Sacerdote , em qualquer

caso, é o isolamento do chagado somente reintegrado após a veri f ic a-

ção da inexis tência do mal .

Jesus , em todas as oportunidades em que curou leprosos ou os

puri f icou (" l impou") , determinou o comparecimento deles para exame

do Sacerdote para o retorno deles ao co nvívio:

" Q u a n d o J e s u s d e s c e u d o m o n t e , g r a n d e s m u l t i d õ e s o s e g u i r a m . E e i s q u e v e i o

u m l e p r o s o e o a d o r a v a , d i z e n d o : S e n h o r , s e q u i s e r e s , p o d e s t o r n a r - m e l i m p o .

J e s u s , p o i s , e s t e n d e n d o a m ã o , t o c o u - o , d i z e n d o : Q u e r o ; s ê l i m p o . N o m e s m o i n s t a n t e f i c o u p u r i f i c a d o d a s u a l e p r a . D i s s e - l h e e n t ã o J e s u s : O l h a , n ã o c o n t e s

i s t o a n i n g u é m ; m a s v a i , m o s t r a - t e a o s a c e r d o t e , e a p r e s e n t a a o f e r t a q u e M o i -

s é s d e t e r m i n o u , p a r a l h e s s e r v i r d e t e s t e m u n h o " ( M t 8 , 1 - 4 / Lc 5 , 1 2 - 1 4 ; c f r . t b . Lc 1 7 , 1 1 - 1 9 ) .

36

A puri f icação de leprosos é um dos s inais Messiânicos menci o-

nado por Jesus e um dos poderes que deu na Missão Apostól ica aos

setenta discípulos:

" R e s p o n d eu - l h e s J e s u s : Id e c o n t a r a J o ã o a s c o i s a s q u e o u v i s e v e d e s : o s c e g o s v ê e m , e o s c o x o s a n d a m ; o s l e p r o s o s s ã o p u r i f i c a d o s , e o s s u r d o s o u v e m ; o s

m o r t o s s ã o r e s s u s c i t a d o s , e a o s p o b r e s é a n u n c i a d o o e v a n g e l h o " ( M t 1 1 , 4 - 5 ) .

" A e s t e s d o z e e n v i o u J e s u s , e o r d e n o u - l h e s , d i z e n d o : N ã o i r e i s a o s g e n t i o s , n e m

e n t r a r e i s e m c i d a d e d e s a m a r i t a n o s ; m a s i d e a n t e s à s o v e l h a s p e r d i d a s d a c a s a

d e I s r a e l ; e i n d o , p r e g a i , d i z e n d o : É c h e g a d o o r e i n o d o s c é u s . C u r a i o s e n f e r -m o s , r e s s u s c i t a i o s m o r t o s , l i m p a i o s l e p r o s o s , e x p u l s a i o s d e m ô n i o s ; d e g r a ç a

r e c e b e s t e s , d e g r a ç a d a í " ( M t 1 0 , 5 - 8 ) .

3.9. - O DIA DA EXPIAÇÃO

Encerrando a primeira parte do Livro de Leví t ico , conhecida

como Código Sacerdotal é apresentado um ri tual por excelência , o Dia

da Expiação . É o mais importante, solene e de profundas s ignif ic ações

nacionais e rel igiosas dos Israel i tas , ce lebrado uma vez por ano. Esse

dia era tão importante que se tornou conhecido s i mplesmente por O

Dia ou O Jejum (At 27,9) . Nele toda a nação Is rael i ta era puri f ic ada

de todas as suas fal tas que assim se tornava Santa (Ex 19,6) , "pr opícia

a Iahweh", t al como fora "separada" de outros povos (Dt 7,6) . Sant i f i -

cação que começava pela puri f icação dos Sacerdotes , de todo o Sant u-

ário com as suas par tes , e completando -se com a de toda a com unidade

(Lv 16,1 -3) .

Para que não suceda o mesmo acontecido com os f i l hos de Aa-

rão, Nadab e Abiú, que desrespei taram o Santuário, Moisés inst rui A a-

rão "que não entre em todo tempo no Santuário, para dentro do véu,

diante do propiciatório que está sobre a arca, para que não mo rra. . . " ,

eis que, o Propiciatório é o lugar onde I ahweh se manifestava e de o n-

de "falava com Moisés" (Ex 25,22; Lv 16,2; Nm 7,89). Só uma vez por

ano, Aarão, ou o Sacerdote em função sem usar os paramentos pompo-

sos, completos e habi tuais do cerimonial ou dos Sacri f ícios (Ex 29,5-6

/ Lv 8,7-9) , mas uma s imples túnica com as calças sobre a ca rne nua,

cingido com um cinto e a mitra, todos de l inho, na sua cor branca da

pureza pretendida, e vest ido com a humildade de um peni tente em

busca de perdão , entrará no Santu ário "para dent ro do véu" (Lv 16,4):

" A a r ã o e n t r a r á n o S a n t u á r i o c o m u m n o v i l h o p a r a o f e r t a p e l o p e c a d o e u m c a r -

n e i r o p a r a h o l o c a u s t o " ( Lv 1 6 , 3 ) .

Inicialmente , a cerimônia parte para a puri f icação dos Sacerd o-

tes , eis que, só quem é puro pode interceder para a puri f icação, e n-

t rando o celebrante com a oferenda do novi lho pelo pecado por s i e

por sua casa (os demais Sacerdotes ) , conforme r i tual bem determin a-

do:

" A a r ã o , p o i s , a p r e s e n t a r á o n o v i l h o d a o f e r t a p e l o p e c a d o , q u e é p o r e l e , e f a r á e x p i a ç ã o p o r s i e p e l a s u a c a s a ; e i m o l a r á o n o v i l h o q u e é a s u a o f e r t a p e l o p e -

c a d o . E n t ã o t o m a r á u m i n c e n s á r i o c h e i o d e b r a s a s d e f o g o d e s o b r e o a l t a r , d i -

a n t e d e Ia h w e h , e d o i s p u n h a d o s d e i n c e n s o a r o m á t i c o b e m m o í d o , e o s t r a r á p a -r a d e n t r o d o v é u ; e p o r á o i n c e n s o s o b r e o f o g o p e r a n t e I a h w e h , a f i m d e q u e a

n u v e m d o i n c e n s o c u b r a o p r o p i c i a t ó r i o , q u e e s t á s o b r e o t e s t e m u n h o , p a r a q u e

37

n ã o m o r r a . T o m a r á d o s a n g u e d o n o v i l h o , e o e s p a r g i r á c o m o d e d o s o b r e o p r o -p i c i a t ó r i o a o l a d o o r i e n t a l ; e p e r a n t e o p r o p i c i a t ó r i o e s p a r g i r á d o s a n g u e s e t e

v e z e s c o m o d e d o " ( Lv 1 6 , 1 1 - 1 4 ) .

Após isso, com a nuvem de incenso impedindo o celebrante de

ver a Glória de Iahweh no Propiciatório , sobre a Arca d isposta no

Santo dos Santos (Lv 16,2 / Ex 25,22), e espargindo o Sangue sobre o

Propiciatório, puri f ica a s i mesmo e a sua casa , ou seja, aos demais

Sacerdotes . Assim purif icados os Sacerdotes , penetra o Cel ebrante no

Santo dos Santos e passa a oferecer a expiação “para a expiação de

todas as fal tas cometidas por todo o Povo, para a Puri f icação e Sant i -

f icação respect ivamente pelo Santu ário, pela Tenda da Reun ião e pelo

Altar , imolando um dos b odes escolhido por sorte” (Lv 16,8):

" D e p o i s i m o l a r á o b o d e d a o f e r t a p e l o p e c a d o p e l o p o v o , e t r a r á o s a n g u e d o b o d e p a r a d e n t r o d o v é u ; e f a r á c o m e l e c o m o f e z c o m o s a n g u e d o n o v i l h o , e s -

p a r g i n d o - o s o b r e o p r o p i c i a t ó r i o , e p e r a n t e o p r o p i c i a t ó r i o ; e f a r á e x p i a ç ã o p e l o

s a n t u á r i o p o r c a u s a d a s i m p u r e z a s d o s f i l h o s d e I s r a e l e d a s s u a s t r a n s g r e s s õ e s , d e t o d o s o s s e u s p e c a d o s . A s s i m t a m b é m f a r á p e l a t e n d a d a r e u n i ã o , q u e p e r m a -

n e c e c o m e l e s n o m e i o d a s s u a s i m p u r e z a s . N e n h u m h o m e m e s t a r á n a t e n d a d a

r e u n i ã o q u a n d o A a r ã o e n t r a r p a r a f a z e r e x p i a ç ã o n o s a n t u á r i o , a t é e l e s a i r , d e -p o i s d e t e r f e i t o e x p i a ç ã o p o r s i m e s m o , e p e l a s u a c a s a , e p o r t o d a a c o m u n i -

d a d e d e I s r a e l . E n t ã o s a i r á a o a l t a r , q u e e s t á p e r a n t e o S e n h o r , e f a r á e x p i a ç ã o

p e l o a l t a r ; t o m a r á d o s a n g u e d o n o v i l h o , e d o s a n g u e d o b o d e , e o p o r á s o b r e o s c h i f r e s d o a l t a r a o r e d o r . E d o s a n g u e e s p a r g i r á c o m o d e d o s e t e v e z e s s o b r e o

a l t a r , p u r i f i c a n d o - o e s a n t i f i c a n d o - o d a s i m p u r e z a s d o s f i l h o s d e I s r a e l " ( L v

1 6 , 1 5 - 1 9 ) .

At ingido então o ponto culminante da cerimô nia com o desem-

penho da Purif icação e Expiação no Santo dos Santos proceder-se-á a

Sant i f icação e a Pur i f icação plenas. Eram signif icadas com o r i tual do

bode emissário ou expiatório , que levaria para uma região sol i t ár ia

todos os pecados do Povo dos Fi lhos de Israel , l ibertando -os deles ,

t raduzindo assim a exclusão de todas as iniq uidades que impediam a

Iahweh lhes ser propício:

" Q u a n d o A a r ã o h o u v e r a c a b a d o d e f a z e r e x p i a ç ã o p e l o s a n t u á r i o , p e l a t e n d a d a

r e u n i ã o , e p e l o a l t a r , a p r e s e n t a r á o b o d e v i v o ; e , p o n d o a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a

d o b o d e v i v o , c o n f e s s a r á s o b r e e l e t o d a s a s i n i q ü i d a d e s d o s f i l h o s d e I s r a e l , e t o d a s a s s u a s t r a n s g r e s s õ e s , d e t o d o s o s s e u s p e c a d o s ; e o s p o r á s o b r e a c a b e ç a

d o b o d e , e e n v i á - l o - á p a r a o d e s e r t o , p e l a m ã o d e u m h o m e m d e s i g n a d o p a r a i s -

s o . A s s i m a q u e l e b o d e l e v a r á s o b r e s i t o d a s a s i n i q ü i d a d e s d e l e s p a r a u m a r e g i -ã o s o l i t á r i a ; e e s s e h o m e m s o l t a r á o b o d e n o d e s e r t o " ( L v 1 6 , 2 0 - 2 2 ) .

Então Aarão lavar -se-á e vest i rá a roupa que lhe foi dest in ada ao

ser consagrado (Ex 29 / Lv 8) e de posse dos dois carneiros , um lev a-

do por ele mesmo (Lv 16,3) e o outro que lhe fora entregue pela c o-

munidade (Lv 16,5) , oferecê -los-á em Holocausto. Isso fe i to , vi rá o

desfecho defini t ivo com o retorno aos paramentos quot idi anos agora

Purif icados e Sant i f icados pela Expiação "por s i e pelo povo" e após

"queimar sobre o al tar a gordura da oferta pelo pecado ", ass im levada

a efei to:

" D e p o i s A a r ã o e n t r a r á n a t e n d a d a r e u n i ã o , e d e s p i r á a s v e s t e s d e l i n h o , q u e h a v i a v e s t i d o q u a n d o e n t r a r a n o s a n t u á r i o , e a l i a s d e i x a r á . E b a n h a r á o s eu

c o r p o e m á g u a n u m l u g a r s a n t o , e v e s t i r á a s s u a s p r ó p r i a s v e s t e s ; e n t ã o s a i r á e

o f e r e c e r á o s e u h o l o c a u s t o , e o h o l o c a u s t o d o p o v o , e f a r á e x p i a ç ã o p o r s i e p e -l o p o v o . T a m b é m q u e i m a r á s o b r e o a l t a r a g o r d u r a d a o f e r t a p e l o p e c a d o " ( L v

1 6 , 2 3 - 2 5 ) .

38

A seguir veem as abluções, ao levar o bode para o deserto, e ao

que queimar o que restar do novi lho e do bode, integrantes da oferta

pelo pecado, para se conseguir a pu ri f icação necessária ao ingresso no

acampamento. Com isso se evi tam, tanto a contaminação das oferendas

sant íss imas que conduziram, como qualquer contato delas com o imp u-

ro ou profano. Termina o cerimonial com um repouso de sábado qua n-

do "afl igi reis as vos sas almas" (ou seja, "jejuareis") , e t ambém "nesse

dia não fareis t rabalho algum", por arrependimento e por pen i tência,

manifestando os sent imentos interiores , moral e rel igioso da festa , por

isso era conhecida também por Jejum ou D ia (At 27,9):

" E a q u e l e q u e t i v e r s o l t a d o o b o d e p a r a A z a z e l l a v a r á a s s u a s v e s t e s , e b a n h a r á o s e u c o r p o e m á g u a , e d e p o i s e n t r a r á n o a c a m p a m e n t o . M a s o n o v i l h o d a o f e r t a

p e l o p e c a d o e o b o d e d a o f e r t a p e l o p e c a d o , c u j o s a n g u e f o i t r a z i d o p a r a f a z e r

e x p i a ç ã o n o s a n t u á r i o , s e r ã o l e v a d o s p a r a f o r a d o a c a m p a m e n t o ; e l h e s q u e i m a -r ã o n o f o g o a s p e l e s , a c a r n e e o e x c r e m e n t o . A q u e l e q u e o s q u e i m a r l a v a r á a s

s u a s v e s t e s , b a n h a r á o s e u c o r p o e m á g u a , e d e p o i s e n t r a r á n o a c a m p a m e n t o .

T a m b é m i s t o v o s s e r á p o r e s t a t u t o p e r p é t u o : n o s é t i m o m ê s , a o s d e z d o m ê s , a -f l i g i r e i s a s v o s s a s a l m a s , e n ã o f a r e i s t r a b a lh o a l g u m , n e m o n a t u r a l n e m o e s -

t r a n g e i r o q u e p e r e g r i n a e n t r e v ó s ; p o r q u e n e s s e d i a s e f a r á e x p i a ç ã o p o r v ó s ,

p a r a p u r i f i c a r - v o s ; d e t o d o s o s v o s s o s p e c a d o s s e r e i s p u r i f i c a d o s p e r a n t e Ia h -w e h . S e r á s á b a d o d e d e s c a n s o s o l e n e p a r a v ó s , e a f l i g i r e i s a s v o s s a s a l m a s ; é

e s t a t u t o p e r p é t u o " ( Lv 1 6 , 2 6 - 3 1 ) .

Em resumo, nessa solenidade do Dia da Expiação (Lv 16,31) o

Sacerdote Israel i ta , no décimo dia do mês ' tchri ' (Lv 16,29-30) at ra-

vessará o véu e entrará no Santo dos Santos (Ex 26,31 -33, v . tb . o n.°

2 do Capí tulo 4) , para a cerimônia do Perdão dos Pecados cometidos

por toda a Nação:

" E o s a c e r d o t e u n g i d o e s a g r a d o p a r a a d m i n i s t r a r o s a c e r d ó c i o n o l u g a r d e s eu p a i , f a r á a e x p i a ç ã o , h a v e n d o v e s t i d o a s v e s t e s d e l i n h o , i s t o é , a s v e s t e s s a g r a -

d a s ; a s s i m f a r á e x p i a ç ã o p e l o s a n t u á r i o ; t a m b é m f a r á e x p i a ç ã o p e l a t e n d a d a r e -

u n i ã o e p e l o a l t a r ; i g u a l m e n t e f a r á e x p i a ç ã o p e l o s s a c e r d o t e s e p o r t o d o o p o v o d a c o m u n i d a d e . I s t o s e r á p a r a v ó s l e i p e r p é t u a , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o u m a v e z n o

a n o p e l o s f i l h o s d e I s r a e l p o r c a u s a d e t o d o s o s s e u s p e c a d o s . . . " ( L v 1 6 , 3 2 - 3 4 ) .

É com aquela "ví t ima", que recebeu o nome de "bode emissário

ou bode expiatório", que se pode ident i f icar Jesus ao iniciar o seu M i-

nis tér io de Redenção:

" E n t ã o v e i o J e s u s d a G a l i l é i a t e r c o m J o ã o , j u n t o d o J o r d ã o , p a r a s e r b a t i z a d o

p o r e l e . . . . ( . . . ) . . . B a t i z a d o q u e f o i J e s u s , s a i u l o g o d a á g u a ; e e i s q u e s e l h e a -

b r i r a m o s c é u s , e v i u o E s p í r i t o S a n t o d e D e u s d e s c e n d o c o m o u m a p o m b a e v i n d o s o b r e e l e . . . ( M t 3 , 1 3 - 1 7 ) / " E n t ã o J e s u s f o i c o n d u z i d o p e l o E s p í r i t o a o

d e s e r t o , p a r a s e r t e n t a d o p e l o D i a b o . . . " ( M t 4 , 1 - 1 1 ) .

Essa passagem de Jesus faz pensar na f igura do "bode emiss ário

ou expiatório" , conduzindo os pecados do homem ao deserto. É d if íci l

se conceber a idéia de Jesus em ligação com os pecados do H omem,

mas é São Paulo quem o afi rma:

" À q u e l e q u e n ã o c o n h e c e u p e c a d o , D e u s o f e z p e c a d o p o r n ó s ; p a r a q u e n e l e f ô s s e m o s f e i t o s j u s t i ç a d e D e u s " ( 2 C o r 5 , 2 1 ) / " P o r q u e n ã o t e m o s u m s u m o s a -

c e r d o t e q u e n ã o p o s s a c o m p a d e c e r - s e d a s n o s s a s f r a q u e z a s ; p o r é m u m q u e , c o -

m o n ó s , e m t u d o t e n t a d o , ex c e t o n o p e c a d o " ( H b 4 , 1 5 )

Isso pode ser resumido s implesmente dizendo que Jesus "era i -

gual ao homem em tudo , exceto no pecado". Mas, da mesma forma que

39

o "bode expiatório", sant i f icado, era conduzido "para Azazel" (Lv

16,8.10.21-22.26), Jesus, o Santo de Deus, car regado de nossos pec a-

dos "foi conduzido ao deserto para ser t entado pelo diabo". Ao d eserto

que era concebido como o antro onde os demônios habi tavam e onde

es tava Azazel :

" M a s a s f e r a s d o d e s e r t o r e p o u s a r ã o a l i , e a s s u a s c a s a s s e e n c h e r ã o d e h o r r í -v e i s a n i m a i s ; e a l i h a b i t a r ã o a s a v e s t r u z e s , e o s s á t i r o s p u l a r ã o a l i " ( I s 1 3 , 2 1 ) /

" E a s f e r a s d o d e s e r t o s e e n c o n t r a r ã o c o m h i e n a s ; e o s á t i r o c l a m a r á a o s e u

c o m p a n h e i r o ; e L i l i t e p o u s a r á a l i , e a c h a r á l u g a r d e r e p o u s o p a r a s i " ( I s 3 4 , 1 4 ) / " E n t ã o o A n j o R a f a e l p e g o u n o d e m ô n i o e a c o r r e n t o u - o n o d e s e r t o d o A l t o E -

g i t o " ( T b 8 , 3 ) .

O próprio Jesus vai confi rmar essa crença:

" O r a , h a v e n d o o e s p í r i t o i m u n d o s a í d o d o h o m e m , a n d a p o r l u g a r e s d e s e r t o s , b u s c a n d o r e p o u s o , e n ã o o e n c o n t r a " ( M t 1 2 , 4 3 ) .

É que dentre as inúmeras concepções que se faz do s ignif icado

da denominação de Azazel a que mais s obressai é de se t ratar de um

demônio. Nisso se encontra séria dif iculdade por não se conceber a

remessa de ví t ima santa para o demônio . R etruca-se argumentando que

o bode leva ao demônio o pecado de Israel em devol ução por ser coisa

própria dele e não se contaminando , da mesma forma que Jesus saiu

i leso:

" E n t ã o l h e o r d e n o u J e s u s : V a i - t e , S a t a n á s ; p o r q u e e s t á e s c r i t o : A o S e n h o r t e u

D e u s a d o r a r á s , e s ó a e l e s e r v i r á s . E n t ã o o D i a b o o d e i x o u ; e e i s q u e v i e r a m o s a n j o s e o s e r v i r a m " ( M t 4 , 1 0 - 1 1 ) .

Essa tentação de Jesus no deserto é de muita s ignif icação, po is ,

infr inge ao demônio a primeira derrota que anunciava a f inal . Não

houve tes temunhas do fato e somente Jesus o conhecia donde ter s ido

Ele quem o narrou e com alguma final idade. Jesus não falava nada à

toa, sem razão ou sem um objet ivo claro, e não há de ser para ex ibir

alguma vi tória, o que não Lhe é pr óprio, mas informou aos Apóstolos

que al i jou para o demônio a fonte de todo o mal , a fonte da cobiça

humana, ou seja, a concupiscência:

" N ã o a m e i s o m u n d o , n e m a s c o i s a s d o m u n d o . S e a l g u é m a m a o m u n d o , o a m o r d o P a i n ã o e s t á n e l e . P o r q u e t u d o o q u e h á n o m u n d o , a c o n c u p i s c ê n c i a d a c a r -

n e , a c o n c u p i s c ê n c i a d o s o l h o s e a o s t e n t a ç ã o d a s r i q u ez a s , n ã o v e m d o P a i , m a s

s i m d o m u n d o . O r a , o m u n d o p a s s a , e a s u a c o n c u p i s c ê n c i a ; m a s a q u e l e q u e f a z a v o n t a d e d e D e u s p e r m a n e c e p a r a s e m p r e " ( 1 J o 2 , 1 5 - 1 7 ) .

Foi o que Jesus fez e "permanece para sempre", venceu o demô-

nio não se sujei tando à concupiscência da carne :

" E , t e n d o j e j u a d o q u a r e n t a d i a s e q u a r e n t a n o i t e s , d e p o i s t e v e f o m e . C h e g a n d o ,

e n t ã o , o t en t a d o r , d i s s e - l h e : S e t u é s F i l h o d e D e u s m a n d a q u e e s t a s p e d r a s s e t o r n e m e m p ã e s . M a s J e s u s l h e r e s p o n d e u : E s t á e s c r i t o : N e m s ó d e p ã o v i v e r á o

h o m e m , m a s d e t o d a p a l a v r a q u e s a i d a b o c a d e D e u s " ( M t 4 , 2 - 4 ) .

Em si , não haveria mal algum em transformar pedras em pão p a-

ra se al imentar principalmente Por causa da fome; nunca porém em

atendimento a um desafio para provar que Ele é o Fi lho de Deus. O

que era necessário deixar claro ao demônio era o f im de seu domínio

40

com a implantação do Reino de Deus. Além disso, Jesus recusara para

a sua Missão o Poder profano e do mundo, demonstrando isso aos seus

discípulos ao lhes narrar o fato. No Reino de Deus não se busca o P o-

der que é fruto da concupiscência da carne, agora vencível . Traçava

Jesus as l inhas de atuação de Sua Igreja: viver só da " palavra que sai

da boca de Deus ".

Ele a inda derrotou o demônio não se sujei tando à concupiscên-

cia dos olhos :

" E n t ã o o D i a b o o l e v o u à c i d a d e s a n t a , c o l o c o u - o s o b r e o p i n á c u l o d o t e m p l o , e d i s s e - l h e : S e t u é s F i l h o d e D e u s , l a n ç a - t e d a q u i a b a i x o ; p o r q u e e s t á e s c r i t o :

A o s s e u s a n j o s d a r á o r d e n s a t e u r e s p e i t o ; e : e l e s t e s u s t e r ã o n a s m ã o s , p a r a q u e

n u n c a t r o p e c e s e m a l g u m a p e d r a . R e p l i c o u - l h e J e s u s : T a m b é m e s t á e s c r i t o : N ã o t e n t a r á s o S e n h o r t e u D e u s " ( M t 4 , 5 - 7 ) .

Da mesma forma, Cris to acabou com o domínio de Sa tanás no

mundo pondo f im à concupiscência dos olhos, isso é , daquele desejo

inato do Homem de prat icar obras mirabolantes aos olhos de s i pr óprio

e do mundo. Cris to não era um milagrei ro , usando do milagre apenas

para impressionar um públ ico sedento de ano rmalidades e maravi lhas .

Jesus não faz ia pedras voar, nem elevava coisas para se ex ibir , nem se

bi locava ou se t ransportava de um lugar para outro sem os meios no r-

mais de locomoção. Seus milagres t iveram uma conotação bem dif e-

rente. Ele mesmo diz ia que não o entendiam, pois curava cegos, su r -

dos, mudos, coxos, ressusci tou mortos , curou leprosos, apresentando o

advento do Reino de Deus , com o f im das consequências do pecado,

com o término do domínio do diabo. No Reino de Deus , tal como na

Sua Igreja , não se buscará mais a Honra ou a Glória de um malab aris ta

do mundo, coisas da concupiscência dos olh os, que têm por fonte o

demônio rejei tado para sempre. Jesus termina por se impor como Deus

e Senhor, dizendo-lhe "não tentarás o Senhor teu Deus".

Finalmente , f inda a concupiscência da ostentação das r iquezas ,

tornando-se verdadeira idolatr ia pela inversão de Sat anás em Deus:

" N o v a m e n t e o D i a b o o l e v o u a u m m o n t e m u i t o a l t o ; e m o s t r o u - l h e t o d o s o s r e i -

n o s d o m u n d o , e a g l ó r i a d e l e s ; e d i s s e - l h e : T u d o i s t o t e d a r e i , s e , p r o s t r a d o , m e a d o r a r e s . E n t ã o l h e o r d e n o u J e s u s : V a i - t e , S a t a n á s ; p o r q u e e s t á e s c r i t o : A o

S e n h o r t e u D e u s a d o r a r á s , e s ó a e l e s e r v i r á s . E n t ã o o D i a b o o d e i x o u ; e e i s q u e v i e r a m o s a n j o s e o s e r v i r a m " ( M t 4 , 1 - 1 1 ) .

Jesus recusa as r iquezas do mundo , a sua glória e a cobiça hu-

mana, como verdadeira idolatr ia:

" E x t e r m i n a i , p o i s , a s v o s s a s i n c l i n a ç õ e s c a r n a i s : a p r o s t i t u i ç ã o , a i m p u r e z a , a

p a i x ã o , a v i l c o n c u p i s c ê n c i a , e a a v a r e z a , q u e é i d o l a t r i a . . . " ( C l 3 , 5 ) .

Jesus afastou-a defini t ivamente do Reino de Deus e da Sua Igre-

ja , que então anunciava. Não é preciso dizer muito, Ele recusou a pro-

posta do Diabo que "mostrou-lhe todos os reinos do mundo, a glória

deles e disse- lhe que ' tudo is to te darei , se prostrado me adorares '" . O

que se conclui daí é que o bode expiatório devolveu a Satanás o peca-

do que lhe é próprio, inaugurando a era da Sant i f icação do Homem e

levando-o de vol ta ao Paraíso:

" . . . H o j e e s t a r á s c o m i g o n o P a r a í s o " ( Lc 2 3 , 4 3 )

41

E é isso que São Paulo afi rma ter fei to Jesus at ravessando o véu,

aquele que se rasgou quando padecia na Cruz:

" M a s C r i s t o , t e n d o v i n d o c o m o s u m o s a c e r d o t e d o s b e n s j á r e a l i z a d o s , p o r m e i o d o m a i o r e m a i s p e r f e i t o t a b e r n á c u l o , n ã o f e i t o p o r m ã o s , i s t o é , n ã o d e s t a c r i a -

ç ã o , e n ã o p e l o s a n g u e d e b o d e s e n o v i l h o s , m a s p o r s e u p r ó p r i o s a n g u e , e n t r o u

u m a v e z p o r t o d a s n o s a n t u á r i o , h a v e n d o o b t i d o u m a e t e r n a r e d e n ç ã o . P o r q u e , s e a a s p e r s ã o d o s a n g u e d e b o d e s e d e t o u r o s , e d a s c i n z a s d u m a n o v i l h a s a n t i -

f i c a o s c o n t a m i n a d o s , q u a n t o à p u r i f i c a ç ã o d a c a r n e , q u a n t o m a i s o s a n g u e d e

C r i s t o , q u e p e l o E s p í r i t o e t e r n o s e o f e r e c e u a s i m e s m o i m a c u l a d o a D e u s , p u r i -f i c a r á d a s o b r a s m o r t a s a v o s s a c o n s c i ê n c i a , p a r a s e r v i r d e s a o D e u s v i v o ? E p o r

i s s o é m e d i a d o r d e u m a n o v a A l i a n ç a , p a r a q u e , i n t e r v i n d o a m o r t e p a r a r e m i s -

s ã o d a s t r a n s g r e s s õ e s c o m e t i d a s d e b a i x o d a p r i m e i r a A l i a n ç a , o s c h a m a d o s r e -c e b a m a p r o m e s s a d a h e r a n ç a e t e r n a . . . ( . . . ) . . . P o i s C r i s t o n ã o e n t r o u n u m s a n t u á -

r i o f e i t o p o r m ã o s , f i g u r a d o v e r d a d e i r o , m a s n o p r ó p r i o c é u , p a r a a g o r a c o m p a -

r e c e r p o r n ó s p e r a n t e a f a c e d e D e u s ; n e m t a m b é m p a r a s e o f e r e c e r m u i t a s v e -z e s , c o m o o s u m o s a c e r d o t e d e a n o e m a n o e n t r a n o s a n t o l u g a r c o m s a n g u e a -

l h e i o ; d o u t r a f o r m a , n e c e s s á r i o l h e f o r a p a d e c e r m u i t a s v e z e s d e s d e a f u n d a ç ã o

d o m u n d o ; m a s a g o r a , n a c o n s u m a ç ã o d o s s é c u l o s , u m a v e z p o r t o d a s s e m a n i -

f e s t o u , p a r a a n i q u i l a r o p e c a d o p e l o s a c r i f í c i o d e s i m es m o . . . . " ( H b 9 , 1 1 - 2 8 ) .

Então, toda a es t ru tura do Santuário e o Sacerdócio de então ,

que culminam no Dia da Expiação , é f igura de Cri s to:

" . . . J u r o u o S e n h o r , e n ã o s e a r r e p e n d e r á : T u é s s a c e r d o t e p a r a s e m p r e , d e t a n t o

m e l h o r A l i a n ç a J e s u s f o i f e i t o f i a d o r . E , n a v e r d a d e , a q u e l e s f o r a m f e i t o s s a -c e r d o t e s e m g r a n d e n ú m e r o , p o r q u e p e l a m o r t e f o r a m i m p e d i d o s d e p e r m a n e c e r ,

m a s e s t e , p o r q u e p e r m a n e c e p a r a s e m p r e , t e m o s e u s a c e r d ó c i o p e r p é t u o . P o r -

t a n t o , p o d e t a m b é m s a l v a r p e r f e i t a m e n t e o s q u e p o r e l e s e c h e g a m a D e u s , p o r -q u a n t o v i v e s e m p r e p a r a i n t e r c e d e r p o r e l e s . P o r q u e n o s c o n v i n h a t a l s u m o s a -

c e r d o t e , s a n t o , i n o c e n t e , i m a c u l a d o , s e p a r a d o d o s p ec a d o r e s , e f e i t o m a i s s u -

b l i m e q u e o s c é u s ; q u e n ã o n e c e s s i t a , c o m o o s s u m o s s a c e r d o t e s , d e o f e r e c e r c a d a d i a s a c r i f í c i o s , p r i m e i r a m e n t e p o r s e u s p r ó p r i o s p e c a d o s , e d e p o i s p e l o s

d o p o v o ; p o r q u e i s t o f e z e l e , u m a v e z p o r t o d a s , q u a n d o s e o f e r e c e u a s i m e s -

m o . P o r q u e a l e i c o n s t i t u i s u m o s s a c e r d o t e s a h o m e n s q u e t ê m f r a q u e z a s , m a s a p a l a v r a d o j u r a m e n t o , p o s t e r i o r à l e i , c o n s t i t u i o F i l h o , e t e r n a m e n t e p e r f e i t o "

( H b 7 , 2 1 - 2 8 ) .

Não é diferente o que ensina o Catecismo da Igreja Catól ica :

" O n o m e d e D e u s S a l v a d o r e r a i n v o c a d o a p e n a s u m a v e z p o r a n o , p e l o S u m o S a -c e r d o t e , p a r a E x p i a ç ã o d o s P e c a d o s d e I s r a e l , d e p o i s d e t e r a s p e r g i d o o P r o p i -

c i a t ó r i o d o " s a n t o d o s s a n t o s " c o m o s a n g u e d o s a c r i f í c i o ( c f . Lv 1 6 , 1 5 - 1 6 ; S i r

5 0 , 2 0 ; N m 7 , 8 9 ; H b 9 , 7 ) . O P r o p i c i a t ó r i o e r a o l u g a r d a p r e s e n ç a d e D e u s ( c f . E x 2 5 , 2 2 ; Lv 1 6 , 2 ; N m 7 , 8 9 ; H b 9 , 5 ) . Q u a n d o S ã o P a u l o d i z d e J e s u s q u e D e u s

O " a p r e s e n t o u c o m o A q u e l e q u e e x p i a o s p e c a d o s , p e l o S e u S a n g u e d e r r a m a d o " ( R m 5 , 2 5 ) , s i g n i f i c a q u e , n a h u m a n i d a d e d ' E s t e , " e r a D e u s q u e e m C r i s t o r e c o n -

c i l i a v a o m u n d o C o n s i g o " ( 2 C o 5 , 1 9 ) [ n . ° 4 3 3 – s e m d e s t a q u e s ] / " A M o r t e d e

C r i s t o é , a o m e s m o t e m p o , o s a c r i f í c i o p a s c a l q u e r e a l i z a a r e d e n ç ã o d e f i n i t i v a d o s h o m e n s ( c f . 1 C o 5 , 7 ; J o 8 , 3 4 - 3 6 ) p o r m e i o d o " C o r d e i r o q u e t i r a o p e c a d o

d o m u n d o " ( J o 1 , 2 9 ) ( c f . 1 P e 1 , 1 9 ) , e o s a c r i f í c i o d a N o v a A l i a n ç a ( c f . 1 C o

1 1 , 2 5 ) q u e r e s t a b e l e c e a c o m u n h ã o e n t r e o h o m e m e D e u s ( c f . E x 2 4 , 8 ) , r e c o n -c i l i a n d o - o c o m E l e p e l o " s a n g u e d e r r a m a d o p e l a m u l t i d ã o , p a r a r e m i s s ã o d o s

p e c a d o s " ( M t 2 6 , 2 8 ; c f . L v 1 6 , 1 5 - 1 6 ) [ n . ° 6 1 3 - d e s t a q u e s a p r o p ó s i t o ] .

E quanto à Tentação de Jesus no deserto , cont inua o Catecismo :

" O s e v a n g e l i s t a s i n d i c a m o s e n t i d o s a l v í f i c o d e s t e a c o n t e c i m e n t o m i s t e r i o s o . J e s u s é o N o v o A d ã o , q u e S e m a n t é m f i e l n a q u i l o e m q u e o p r i m e i r o s u c u m b i u à

t e n t a ç ã o . J e s u s c u m p r e p e r f e i t a m e n t e a v o c a ç ã o d e I s r a e l : c o n t r a r i a m e n t e a o s

q u e o u t r o r a , d u r a n t e q u a r e n t a a n o s , p r o v o c a r a m D e u s n o d e s e r t o ( c f . S l 9 4 , 1 0 ) , C r i s t o r e v e l a - S e o S e r v o d e D e u s t o t a l m e n t e o b e d i e n t e à v o n t a d e d i v i n a . N i s t o ,

J e s u s v e n c e o d i a b o : " a m a r r o u o h o m e m f o r t e " , p a r a l h e t i r a r o s d e s p o j o s ( M c

3 , 2 7 ) . A v i t ó r i a d e J e s u s s o b r e o t e n t a d o r , n o d e s e r t o , a n t e c i p a a v i t ó r i a d a P a i -x ã o , s u p r e m a o b e d i ên c i a d o s e u a m o r f i l i a l a o P a i " ( C a t e c i s m o d a Ig r e j a C a t ó l i -

c a n . ° 5 4 0 ; v . t b . : n . ° s . 5 3 8 e 5 3 9 ) .

42

Concluindo, na Tentação do Deser to Jesus anuncia a Expiação

do Pecado do Homem pelo Seu Sacri f íc io no Altar da Cruz de maneira

defini t iva, er radicando -o do coração humano pela ação do Espír i to

Santo, bem como, a concupiscê ncia, e recusando para o Seu Reino ,

s ignif icado e corpori f icado na Sua Igreja, o Poder, a Glória e as Ri-

quezas do mundo , que devolve ao diabo , de uma vez por todas.

O CÓDIGO DE SANTIDADE

3.10. - AS LEIS DE SANTIDADE

Até aqui foram narrados os r i tos para a comunhão com Iahweh

pelo Sacri f ício e para se manter ou se recuperar a pureza legal sem o

que não há Sant idade. De agora em diante serão apresentadas normas

de conduta e comportamento que também e por sua vez a fav orecem ou

a comprometem nos termos da Aliança. São normas de moral rel igiosa ,

buscando-se at ingir a Sant idade interior mais ampla e perfe i ta que não

se exaure em uma Pureza Legal , nem em uma Sant i f icação Ritual , nem

se ident i f ica apenas com a ex teriorização rot ineira e apenas f ís ica .

Desde o tempo da promulgação do Decálogo lançaram-se as bases para

a vida rel igiosa plena do Povo de Israe l , o Código da Aliança, er igi n-

do-se imediatamente um Santuário. Além disso, es tabel eceu-se uma

série de observâncias para a part icipação na vida em comunidade, nos

Sacri f ícios para tornar Israel " a minha propriedade pecul iar dentre t o-

dos os povos", e "um reino de sacerdotes e uma nação santa" :

" V ó s t e n d e s v i s t o o q u e f i z a o s e g í p c i o s , c o m o v o s l e v e i s o b r e a s a s d e á g u i a s , e v o s t r o u x e a m i m . A g o r a , p o i s , s e a t e n t a m e n t e o u v i r d es a m i n h a v o z e s e g u a r -

d a r d e s a m i n h a A l i a n ç a s e r e i s a m i n h a p r o p r i e d a d e p e c u l i a r d e n t r e t o d o s o s p o -

v o s , p o r q u e m i n h a é t o d a a t e r r a ; e v ó s s e r e i s p a r a m i m u m r e i n o d e s a c e r d o t e s e u m a n a ç ã o s a n t a . S ã o e s t a s a s p a l a v r a s q u e f a l a r á s a o s f i l h o s d e I s r a e l ( . . . ) .

D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : V a i a o p o v o , e s a n t i f i c a - o h o j e e a m a n h ã ; l a v e m

e l e s o s s e u s v e s t i d o s ( . . . ) . E n t ã o M o i s é s d e s c e u d o m o n t e a o p o v o , e s a n t i f i c o u o p o v o q u e l a v a r a m o s s e u s v e s t i d o s ( . . . ) . O r a , s a n t i f i q u e m - s e t a m b é m o s s a c e r -

d o t e s , q u e s e c h e g a m a Ia h w e h , p a r a q u e Ia h w e h n ã o s e l a n c e s o b r e e l e s " ( E x

1 9 , 4 - 6 . 1 0 . 1 4 . 2 2 ) .

Essa ex igência de Sant idade , condicionada à condição de "ate n-

tamente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha Aliança" torna-os

"uma propriedade pecul iar dentre todos os povos ( . . . ) um reino de s a-

cerdotes e uma nação santa", acentuando -se coerentemente nos r i tuais

prat icados no Santuário de acordo com os Desígnios de Iahweh, ex t e-

r iorizando-se num comportamento “santo” assumido desde o int erior e

não apenas ex teriorizado f is icame nte:

" P o r q u e e u s o u I a h w e h o v o s s o D e u s ; . . . s a n t i f i c a i - v o s e s e d e s a n t o s p o r q u e e u

s o u s a n t o . . . ( . . . ) . . . e u s o u I a h w e h , q u e v o s f i z s u b i r d a t e r r a d o E g i t o , p a r a s e r o

v o s s o D e u s , s e r e i s p o i s s a n t o s , p o r q u e e u s o u s a n t o " ( L v 1 1 , 4 4 - 4 6 ) .

Por causa disso, entre os compromissos assumidos na Aliança se

incluiu o que se pode denominar de Missão de Is rael , várias vezes r a-

t i f icada (cfr . Ex 34,13; Lv 18,3.24 -30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29 -31),

43

e com base nela elaboraram-se as leis at inentes ao puro e impuro para

se evi tar principalmente as prát icas dos gent ios que os rodeavam, nos

vários sacri f ícios , no comportamento moral , ou na al imentação cot id i -

ana (Os 9,3; Ez 4,13; Tb 1,10 -12; Dn 1,8-12; Jdt 12,2-4; Lv 18,2-5):

" . . . n ã o a d o r a r á s o s s e u s d e u s e s , n e m l h e s p r e s t a r á s c u l t o , i m i t a n d o s e u s c o s t u -m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s a s s u a s c o l u n a s . S e r v i r e i s a Ia h w e h o

v o s s o D e u s ( . . . ) . N ã o f a r á s a l i a n ç a c o m e l e s n e m c o m s e u s d e u s e s . . . ” ( E x 2 3 , 2 3 -

3 3 ) / " G u a r d a r e i s , p o i s , t o d o s o s m e u s e s t a t u t o s e t o d o s o s m e u s p r e c e i t o s , e o s c u m p r i r e i s ; a f i m d e q u e a t e r r a , p a r a a q u a l e u v o s l e v o , p a r a n e l a m o r a r d e s ,

n ã o v o s v o m i t e . E n ã o a n d a r e i s n o s c o s t u m e s d o s p o v o s q u e e u e x p u l s o d e d i a n -

t e d e v ó s ( . . . ) : H e r d a r e i s a s u a t e r r a , e e u v o - l a d a r e i p a r a a p o s s u i r d e s , t e r r a q u e m a n a l e i t e e m e l . E u s o u o S e n h o r v o s s o D e u s , q u e v o s s e p a r e i d o s p o v o s .

( . . . ) E s e r e i s p a r a m i m s a n t o s ; p o r q u e e u , Ia h w e h , s o u s a n t o , e v o s s e p a r e i d o s

p o v o s , p a r a s e r d e s m e u s " ( L v 2 0 , 2 2 - 2 6 ) .

Is rael então deveria ass im se separar ou se dis t inguir de outros

povos principalmente pela conformação de sua conduta e de seu co m-

portamento com o Desígnio de Iahweh, o que o levaria a se sant i f icar ,

"para serdes meus". Portanto, para se "sant i f icar" (em seu radical h e-

braico t raz o sent ido de "separar , cortar") , e ra necessário "separar -se"

ou "dis t inguir -se" dos gent ios (Ex 19,6.10.14.22; Lv 11,44s ; 18 ,24-30;

19,2; 20,7.8; 21,1 -8; 22,1-9.31-33; Nm 31,19-24):

" N ã o v o s c o n t a m i n e i s c o m n e n h u m a d e s s a s c o i s a s , p o r q u e c o m t o d a s e l a s s e

c o n t a m i n a r a m a s n a ç õ e s q u e e u e x p u l s o d e d i a n t e d e v ó s ; ( . . . ) V ó s , p o i s , g u a r -

d a r e i s o s m e u s e s t a t u t o s e o s m e u s p r e c e i t o s , e n e n h u m a d e s s a s a b o m i n a ç õ e s f a -r e i s ( . . . ) g u a r d a r e i s o m e u m a n d a m e n t o , d e m o d o q u e n ã o c a i a i s e m n e n h u m

d e s s e s a b o m i n á v e i s c o s t u m e s q u e a n t e s d e v ó s f o r a m s e g u i d o s , e p a r a q u e n ã o

v o s c o n t a m i n e i s c o m e l e s . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s " ( Lv 1 8 , 2 4 - 3 0 ) .

Assim é que, desde o alvorecer bíbl ico, tal como com Adão e

Eva que "se esconderam da presença de Deus" (Gn 3,8) , usa -se a ex-

pressão "andou com Deus" (cfr . Gn 5,21.24; 6 ,9) ou "andar na prese n-

ça de Deus e ser perfei to" (Gn 17,1) ou outras equivalentes como

"guardar os caminhos de Iahweh prat icando o direi to e a ju s t iça" (Gn

18,19), para se exprimir e t raduzir a Sant idade de vida e vincula ndo-a

ao dever de "observar os (meus) precei tos e os (meus) es tatutos gua r-

dareis , para andardes neles", mantendo -se uma est rei t a comunhão com

Iahweh:

" F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : E u s o u I s r a e l o v o s s o D e u s . N ã o f a r e i s

s e g u n d o a s o b r a s d a t e r r a d o E g i t o , e m q u e h a b i t a s t e s ; n e m f a r e i s s e g u n d o a s o b r a s d a t e r r a d e C a n a ã , p a r a a q u a l e u v o s l e v o ; n e m a n d a r e i s s e g u n d o o s s e u s

e s t a t u t o s . O s m e u s p r e c e i t o s o b s e r v a r e i s , e o s m e u s e s t a t u t o s g u a r d a r e i s , p a r a

a n d a r d e s n e l e s . E u s o u I s r a e l o v o s s o D e u s " ( L v 1 8 , 2 - 4 ) .

Faci lmente percebe-se a já referida e es t rei ta l igação do conce i to

de "santo" com um sent ido claro de que se "é se parado" e não se mi s-

tura com o que for "profano" até mesmo no comportamento. Esse co n-

cei to de Santo em "guardar os caminhos de Iahweh prat icando o direi to

e a just iça" (Gn 18 ,19) é ainda bem claro nas palavras do Salmista

muitos séculos depois pela união q ue se almeja com Iahweh, seja "h a-

bi tando no teu tabernáculo" seja "descansando no teu santo monte":

" Q u e m , Ia h w e h , h a b i t a r á n o t e u t a b e r n á c u l o ? Q u e m d e s c a n s a r á n o t e u s a n t o

m o n t e ? A q u e l e q u e a n d a i r r e p r e e n s i v e l m e n t e e p r a t i c a a j u s t i ç a , e d o s e u c o r a -

ç ã o f a l a a v e r d a d e ; q u e n ã o d i f a m a c o m a s u a l í n g u a , n e m f a z o m a l a o s e u s e -m e l h a n t e , n e m c o n t r a e l e a c e i t a d i f a m a ç ã o ; a q u e l e a c u j o s o l h o s o r é p r o b o é

44

d e s p r e z a d o , m a s q u e h o n r a o s q u e t e m e m a o S e n h o r ; a q u e l e q u e , e m b o r a j u r e c o m d a n o s e u , n ã o m u d a ; q u e n ã o e m p r e s t a o s e u d i n h e i r o c o m u s u r a , n e m r e c e -

b e d á d i v a s c o n t r a o i n o c e n t e . A q u e l e q u e a s s i m p r o c e d e n u n c a s e r á a b a l a d o " ( S l

1 5 , 1 - 5 ) .

Isso porque a fonte única e o fundamento de toda a Sant idade é

Iahweh pelo fato de que somente Iahweh é Santo em vir tude de se r o

único absolutamente "separado". E em assim sendo só Iahweh Sant i f i -

ca (Lv 19,2; 20,7 -8 .26; 21,6.8.15.23; 22,9.16.32), a sant i f icação que

se vincula, como consequência, à ordem de "guardai os meus estat utos

e cumpri -os":

" G u a r d a i o s m e u s e s t a t u t o s , e c u m p r i - o s . E u s o u Ia h w e h , q u e v o s s a n t i f i c o " ( Lv

2 0 , 7 - 8 ) .

E tudo isso vai então ecoar como um gri to solene de Iahweh e

em torno do qual gi ra a Sant idade , na perspect iva l eví t ica:

" S e d e S a n t o s , p o r q u e e u Ia h w e h v o s s o D e u s S o u S a n t o " ( Lv 1 9 , 2 ) .

Essa Sant idade está es t rei tamente vinculada ao cumprimento dos

Desígnios de Iahweh , prescri tos nos seus precei tos ou mand amentos:

" O s m e u s p r e c e i t o s o b s e r v a r e i s , e o s m e u s e s t a t u t o s g u a r d a r e i s , p a r a a n d a r d e s

n e l e s . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s . G u a r d a r e i s , p o i s , o s m e u s e s t a t u t o s e a s m i -

n h a s o r d e n a n ç a s , p e l o s q u a i s o h o m e m , o b s e r v a n d o - o s , v i v e r á . E u s o u Ia h w e h " ( Lv 1 8 , 4 - 5 ) / " P o r t a n t o s a n t i f i c a i - v o s , e s e d e s a n t o s , p o i s e u s o u Ia h w e h o v o s -

s o D e u s . G u a r d a i o s m e u s e s t a t u t o s , e c u m p r i - o s . E u s o u Ia h w e h , q u e v o s s a n t i -

f i c o " ( L v 2 0 , 7 - 8 ) .

"Guardai os meus es tatutos , e cumpri -os . Eu sou Iahweh, que vos

sant i f ico" - clara f ica a vinculação da Sant idade com o cumpr imento

dos precei tos emanados de Iahweh consubstanciados nestes t r echos

selecionados dent re muitos outros que diz em o mesmo. Princ ipalmente

quando diz "pelos quais o homem, observando -os, v iverá" assume a

posse de bens e bênçãos n ecessárias a uma vida fel iz de que é "f igura"

o Jardim do Éden e m que se contrasta com a violação do prece i to , pelo

que "morrerás" (Gn 2,17).

3.10.1 - A LEI DE SANTIDADE DO SACRIFÍCIO E DE CULTO (LV 17) :

Usando-se a terminologia atual , a primei ra regulamentação hav i-

da foi a da Sant idade do Sacri f ício e do Cul to:

" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a A a r ã o e a o s s e u s f i l h o s , e a o s I s r a e l i t a s , e

d i z e - l h e s : I s t o é o q u e Ia h w e h t e m o r d e n a d o : Q u a l q u e r I s r a e l i t a q u e i m o l a r b o i , o u c o r d e i r o , o u c a b r a , d e n t r o o u f o r a d o a c a m p a m e n t o , e n ã o o t r o u x e r à p o r t a

d a t e n d a d a r e u n i ã o , p a r a o f e r e c ê - l o c o m o o f e r t a a Ia h w e h d i a n t e d o t a b e r n á c u l o

d e Ia h w e h , a e s s e h o m e m s e r á r é u d o s a n g u e ; d e r r a m o u s a n g u e , p e l o q u e s e r á e x t i r p a d o d o m e i o d o s e u p o v o . P o r i s s o o s f i l h o s d e I s r a e l t r a g a m a s v í t i m a s

q u e o f e r e c e m n o c a m p o , i s t o é , a s t r a g a m a Ia h w e h , à p o r t a d a t e n d a d a r e u n i ã o ,

e n t r e g a n d o - a s a o s a c e r d o t e p a r a q u e a s o f e r e ç a p o r s a c r i f í c i o s p a c í f i c o s a Ia h -w e h . E o s a c e r d o t e e s p a r g i r á o s a n g u e s o b r e o a l t a r d e I a h w e h , à p o r t a d a t e n d a

d a r e u n i ã o , e q u e i m a r á a g o r d u r a e m s u a v e f r a g r â n c i a a Ia h w e h " ( Lv 1 7 , 1 - 6 ) .

45

Desde o Dilúvio , não é tolerada a matança indiscriminada d e

homens e de animais , por cujo derramamento do sangue se responde de

igual maneira, veda ndo-se totalmente o seu consumo:

" A c a r n e , p o r é m , c o m s u a v i d a , i s t o é , c o m s e u s a n g u e , n ã o c o m e r e i s . C e r t a m e n -t e p e d i r e i s a t i s f a ç ã o d o v o s s o s a n g u e , d o s a n g u e d a s v o s s a s v i d a s ; d e t o d o a n i -

m a l a p e d i r e i ; c o m o t a m b é m d o h o m e m . . . " ( G n 9 , 4 - 5 ) .

O sangue e o respei to por ele torna -se essencial ao Sacri f ício

(Lv 17,11.14) e é a razão dos primeiros cuidados a serem observ ados

numa Sant idade mais vol tada ao interior . Assim, p or ser Vida, só pode

ser vert ido para o Autor da Vida em vir tude do que vigorava a regra de

não haver abate sem o r i tual do S acri f ício , com respei to ao sangue:

" T a m b é m , q u a l q u e r h o m e m d a c a s a d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s q u e h a b i t a m e n t r e e l e s , q u e c o m e r a l g u m s a n g u e , c o n t r a e s s a p e s s o a v o l t a r e i o m e u r o s t o , e a

e x t i r p a r e i d o s e u p o v o . P o r q u e a v i d a d a c a r n e e s t á n o s a n g u e ; e v o - l o t e n h o d a -

d o s o b r e o a l t a r , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o p e l a s v o s s a s f a l t a s ; p o r q u a n t o é o s a n g u e q u e f a z e x p i a ç ã o , e m v i r t u d e d a v i d a q u e e s t á n e l e . P o r t a n t o t e n h o d i t o a o s f i -

l h o s d e I s r a e l : N e n h u m d e v ó s c o m e r á s a n g u e ; n e m o e s t r a n g e i r o q u e h a b i t a e n -

t r e v ó s c o m e r á s a n g u e . T a m b é m , q u a l q u e r h o m e m d o s f i l h o s d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s q u e h a b i t a m en t r e e l e s , q u e a p a n h a r c a ç a d e f e r a o u d e a v e q u e s e

p o d e c o m e r , d e r r a m a r á o s a n g u e d e l a e o c o b r i r á c o m t e r r a . P o i s , a v i d a d e t o d a

a c a r n e e s t á n o s e u s a n g u e ; p o r i s s o e u d i s s e a o s f i l h o s d e I s r a e l : N ã o c o m e r e i s o s a n g u e d e n e n h u m a c a r n e , p o r q u e a v i d a d e t o d a a c a r n e é o s e u s a n g u e ; q u a l -

q u e r q u e o c o m e r s e r á e x t i r p a d o " ( L v 1 7 , 1 0 - 1 4 ) .

A Vida é um Dom de Deus, só a Ele pertence, e ela é e ass im se

acredi tava inseparável do sangue , motivo porque é Iahweh quem o tem

dado sobre o al tar , numa concessão que faz apenas e tão somente , "pa-

ra fazer expiação pelas vossas fal tas". Não permite o seu consumo c o-

mo al imento, nem dos animais puros abat idos em caça, dos quais "de r-

ramar-se-á o sangue e o cobri rá com terra". E é por causa disso ta m-

bém que se torna necessário, indispensável mesmo, que "qualquer Is-

rael i ta que imolar boi , ou cordei ro, ou cabra, dentro ou fora do aca m-

pamento, e não o t rouxer à porta da Tenda da Reunião para oferecê-lo

como oferenda a Iahweh diante do Tabernáculo de Iahweh, esse h o-

mem será réu do sangue; derramou sangue, pelo que se rá ex t i rpado do

meio de seu povo" (Lv 17,3 -4) . Com isso já se anuncia a futura ex i-

gência da unidade de santu ário:

" E n t ã o h a v e r á u m l u g a r q u e Ia h w e h o v o s s o D e u s e s c o l h e r á p a r a a l i f a z e r h a b i -

t a r o s e u n o m e ; a e s s e l u g a r t r a r e i s t u d o o q u e e u v o s o r d e n o : o s v o s s o s h o l o -

c a u s t o s e s a c r i f í c i o s , o s v o s s o s d í z i m o s , a v o s s a c o n t r i b u i ç ã o e t u d o o q u e d e m e l h o r o f e r e c e r d e s a o S e n h o r e m c u m p r i m e n t o d o s v o t o s q u e f i z e r d e s . E v o s a -

l e g r a r e i s p e r a n t e Ia h w e h o v o s s o D e u s , v ó s , v o s s o s f i l h o s e v o s s a s f i l h a s , v o s -

s o s s e r v o s e v o s s a s s e r v a s ( . . . ) . G u a r d a - t e d e o f e r e c e r e s o s t e u s h o l o c a u s t o s e m q u a l q u e r l u g a r q u e v i r e s ; m a s n o l u g a r q u e Ia h w e h e s c o l h e r ( . . . ) a l i o f e r e c e r á s

o s t e u s h o l o c a u s t o s , e a l i f a r á s t u d o o q u e e u t e o r d e n o " ( D t 1 2 , 1 1 - 1 4 ) .

”. . . a esse homem será imputado o sangue; derramou sangue, p e-

lo que será ex t i rpado do seu povo" - é a violação da Lei do Respei to à

Vida, seja humana, seja animal , pois a vida pertence só a Ia hweh pelo

que Ele mesmo punirá o culpado, pois "contra essa pessoa vol tarei o

meu rosto" (Lv 17,10) "ext i rpando-a do meio do povo" (Lv 17,4) , ve r -

dadeira excomunhão. Esse respei to pelo sangue vai v igorar ainda nos

primórdios do Cris t i anismo:

46

" P o r q u e p a r e c e u b e m a o E s p í r i t o S a n t o e a n ó s n ã o v o s i m p o r m a i o r e n c a r g o a -l é m d e s t a s c o i s a s n e c e s s á r i a s : Q u e v o s a b s t e n h a i s d a s c o i s a s s a c r i f i c a d a s a o s

í d o l o s , e d o s a n g u e , e d a c a r n e s u f o c a d a , e d a p r o s t i t u i ç ã o ; e d e s t a s c o i s a s f a -

r e i s b e m d e v o s g u a r d a r . S a u d a ç õ e s " ( A t 1 5 , 2 8 - 2 9 ) / " T o d a v i a , q u a n t o a o s g e n -t i o s q u e t ê m c r i d o j á e s c r e v e m o s , d a n d o o p a r e c e r q u e s e a b s t e n h a m d o q u e é

s a c r i f i c a d o a o s í d o l o s , d o s a n g u e , d a s c a r n e s d o s a n i m a i s s u f o c a d o s e d a p r o s t i -

t u i ç ã o " ( A t 2 1 , 2 5 ) .

3.10.2 -- A LEI DO AMOR AO PRÓXIMO E A SANTIDADE DOS COSTUMES :

A narrat iva vem impregnada de refrãos , que fazem dos vers ícu-

los por eles separados , episódios de uma formulação moral . São ch a-

madas de atenção para o princípio ordenador da Sant id ade a que Is rael

es tá comprometido, e a sua fonte em Iahweh para se dis t inguir dos o u-

t ros povos de costumes r eprovados:

" N ã o f a r e i s s e g u n d o a s o b r a s d a t e r r a d o E g i t o , e m q u e h a b i t a s t e s ; n e m f a r e i s

s e g u n d o a s o b r a s d a t e r r a d e C a n a ã , p a r a a q u a l e u v o s l e v o ; n e m a n d a r e i s s e -

g u n d o o s s e u s e s t a t u t o s . O s m e u s p r e c e i t o s o b s e r v a r e i s , e o s m e u s e s t a t u t o s g u a r d a r e i s , p a r a a n d a r d e s n e l e s . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s . G u a r d a r e i s , p o i s ,

o s m e u s e s t a t u t o s e a s m i n h a s o r d e n a n ç a s , p e l a s q u a i s o h o m e m , o b s e r v a n d o - a s ,

v i v e r á . E u s o u Ia h w e h " ( Lv 1 8 , 3 - 5 ; c f r . t b . 1 8 , 2 4 - 3 0 ) .

Considerando o paganismo do Egi to , reafi rma a Aliança e o De-

cálogo, unindo-os no futuro à Terra P rometida ou Terra de Canaã, c u-

jos costumes também são por Iahweh rechaçados como pecamin osos.

Apresenta então desenvolvimentos at inentes à Sant idade e à dignidade

da natureza humana no Casamento quanto às uniões i l íci tas , t idas co-

mo incestuosas , bem como alguns t ipos de consanguinidade, nem sem-

pre concordes com os atuais cujas causas não cient í f icas , mas rel igio-

sas se desconhecem quase sempre. Combate-se o adul tér io de ambos os

cônjuges (Lv 18,20 / Lv 20,10), e a proibição de se entregar os de s-

cendentes a Moloc em sacri f í cio, bem como a sodomia , juntamente

com o comércio carnal com animais , o que leva a crer numa conden a-

ção da prost i tuição s agrada que incluía homens, comum aos povos de

então. Tudo vai desaguar naquele gri to central que já ecoa e vai ecoar

por toda a vida Is raelense:

" . . . s e r e i s s a n t o s , p o r q u e e u , Ia h w e h v o s s o D e u s , s o u s a n t o " / " P o r t a n t o s a n t i f i -

c a i - v o s , e s e d e s a n t o s , p o i s e u s o u Ia h w e h v o s s o D e u s . G u a r d a i o s m e u s e s t a t u -t o s , e c u m p r i - o s . E u s o u Ia h w e h , q u e v o s s a n t i f i c o " ( L v 1 9 , 2 / Lv 2 0 , 7 - 8 ; c f r .

t b . : E x 2 2 , 3 0 a / Lv 1 1 , 4 5 c ) .

Não se pode deixar de perceber a presença salpicada de f rases

desse t ipo espalhadas por todo o contexto , seguido e encimado por

normas de conduta moral , advindas quase todas do Decálogo. Uma es-

pécie de l is ta de exemplo s de algumas fal tas que não se deve m come-

ter , caracterizando-se pelo diapasão cont ínuo à fonte interior das no r-

mas de procedimentos que deve m orientar o Israel i ta . Além disso, esse

desenrolar at inge a regra básica e genér ica profundame nte v inculada a

Iahweh:

" N ã o t e v i n g a r á s n e m g u a r d a r á s i r a c o n t r a o s f i l h o s d o t e u p o v o ; m a s a m a r á s o t e u p r ó x i m o c o m o a t i m e s m o . E u s o u Ia h w e h . G u a r d a r e i s a s m i n h a s l e i s " ( L v

1 9 , 1 8 - 1 9 a ) .

47

" . . . amarás o teu próximo como a t i mesmo Eu sou Iahweh" – es-

se precei to vai ser “cum prido” (Mt 5,17) por Jesus Cris to não mais se

rest r ingindo “o teu próximo” aos ". . . f i lhos do teu povo. . ." , mas a m-

pliando-o a qualquer outra pessoa com quem de alguma forma se rel a-

cione, amando-a por f idel idade e obediência a Iahweh que os ma ndou

"guardar as minhas leis" (Lv 19,19a). Jesus ainda ampliará a n oção de

próximo, es tendendo-a a todo "aquele com quem se deve usar de mis e-

r icórdia", com o que a univers al iza no Amor de Deus:

" E e i s q u e s e l e v a n t o u c e r t o d o u t o r d a l e i e , p a r a o e x p e r i m e n t a r , d i s s e : M e s t r e , q u e f a r e i p a r a h e r d a r a v i d a e t e r n a ? P e r g u n t o u - l h e J e s u s : Q u e e s t á e s c r i t o n a

l e i ? C o m o l ê s t u ? R e s p o n d e u - l h e e l e : A m a r á s a o S e n h o r t e u D e u s d e t o d o o t e u

c o r a ç ã o , d e t o d a a t u a a l m a , d e t o d a s a s t u a s f o r ç a s e d e t o d o o t e u e n t e n d i m e n -t o , e a o t e u p r ó x i m o c o m o a t i m e s m o . T o r n o u - l h e J e s u s : R e s p o n d e s t e b e m ; f a z e

i s s o , e v i v e r á s . E l e , p o r é m , q u e r e n d o j u s t i f i c a r - s e , p e r g u n t o u a J e s u s : E q u e m é

o m e u p r ó x i m o ? J e s u s , p r o s s e g u i n d o , d i s s e : U m h o m e m d e s c i a d e J e r u s a l é m a

J e r i c ó , e c a i u n a s m ã o s d e s a l t e a d o r e s , o s q u a i s o d e s p o j a r a m e e s p a n c a n d o - o ,

s e r e t i r a r a m , d e i x a n d o - o m e i o m o r t o . C a s u a l m e n t e , d e s c i a p e l o m e s m o c a m i n h o

c e r t o s a c e r d o t e ; e v e n d o - o , p a s s o u d e l a r g o . D e i g u a l m o d o t a m b é m u m l e v i t a c h e g o u à q u e l e l u g a r , v i u - o , e p a s s o u d e l a r g o . M a s u m s a m a r i t a n o , q u e i a d e v i -

a g e m , c h e g o u p e r t o d e l e e , v e n d o - o , e n c h e u - s e d e c o m p a i x ã o ; e a p r o x i m a n d o - s e ,

a t o u - l h e a s f e r i d a s , d e i t a n d o n e l a s a z e i t e e v i n h o ; e p o n d o - o s o b r e a s u a c a v a l -g a d u r a , l e v o u - o p a r a u m a e s t a l a g e m e c u i d o u d e l e . N o d i a s e g u i n t e t i r o u d o i s

d e n á r i o s , d e u - o s a o h o s p e d e i r o e d i s s e - l h e : C u i d a d e l e ; e t u d o o q u e g a s t a r e s a

m a i s , e u t o p a g a r e i q u a n d o v o l t a r . Q u a l , p o i s , d e s t e s t r ê s t e p a r e c e t e r s i d o o p r ó x i m o d a q u e l e q u e c a i u n a s m ã o s d o s s a l t e a d o r e s ? R e s p o n d e u o d o u t o r d a l e i :

A q u e l e q u e u s o u d e m i s e r i c ó r d i a p a r a c o m e l e . D i s s e - l h e , p o i s , J e s u s : V a i , e f a -

z e t u o m e s m o " ( Lc 1 0 , 2 5 - 3 7 ) .

Esse episódio comprova a necessidade de se conhecer o Ant igo

Testamento para se compreender o Novo. Ao que se perc ebe, de início ,

"um homem descia de Jerusalém a Jericó", isso é , pelas local idades

que menciona era um israel i ta , inimigo do povo da Samaria por causa

da idolatr ia pagã lá es tabelecida (2Rs 17,24 -41). Foi assa l tado e muito

fer ido "deixando-o meio morto". Foi um samari tano "que se e ncheu de

compaixão e do inimigo cuidou", após ter passado ao largo um sace r-

dote e um levi ta [ respect ivamente da Casa de Aarão (Ex 29) e da Tribo

de Levi (Nm 8,17-19), detentores do sacerdócio perene] . A ssim, Jesus

ressal ta que passa ao largo um sacerdote "pleno" e um "auxi liar" sem

pres tar socorro ao moribundo, o que um inimigo faz , um samari tano.

Jesus não os es tá condenando, mas mostrando ao doutor da lei ,

que "querendo just i f icar -se” perguntou -Lhe quem era o seu próx imo,

com um exemplo prát ico, a ef iciência do verdadeiro Amor ao Pr óximo.

Amor bem diferente daquele que a Lei de Sant idade exigia, impedindo

o Sacerdote que se aproximasse de uma pessoa morta (o moribundo foi

"deixado meio morto") , sob pena de se tornar "impura" (Lv 10,6;

21,1.11 / Nm 6,6 / „e não se chegará a cadáver a lgum; nem sequer por

causa de seu pai ou de sua mãe se contaminará‟ Lv 21,11), ao contr á-

r io do modo de agir do inimigo e es t rangeiro samari tano, que também

não era Sacerdote. Contrasta ainda com o pr econcei to legal de que "o

próximo seria um dos f i lhos de seu povo" o fato de ter s ido um “in i -

migo” o verdadeiro "próximo do ferido", “aquele que usou de miser i -

córdia para com e le”.

Vários exemplos de s i tuações , envolvendo o "amor ao próximo,

'dos f i lhos de seu povo'" são mencionados, após a repet ição da repu lsa

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que Iahweh sente pelos costumes dos gent ios , não os querendo prat i -

cados pelos Israel i tas , o Povo de Deus:

" N ã o v o s c o n t a m i n e i s c o m n e n h u m a d e s s a s c o i s a s , p o r q u e c o m t o d a s e l a s s e c o n t a m i n a r a m a s n a ç õ e s q u e e u e x p u l s o d e d i a n t e d e v ó s ; e , p o r q u a n t o a t e r r a

e s t á c o n t a m i n a d a , e u v i s i t o s o b r e e l a a s u a i n i q u i d a d e , e a t e r r a v o m i t a o s s e u s

h a b i t a n t e s . V ó s , p o i s , g u a r d a r e i s o s m e u s e s t a t u t o s e o s m e u s p r e c e i t o s , e n e -n h u m a d e s s a s a b o m i n a ç õ e s f a r e i s , n e m o n a t u r a l , n e m o e s t r a n g e i r o q u e p e r e g r i -

n a e n t r e v ó s . P o r q u e t o d a s e s s a s a b o m i n a ç õ e s c o m e t e r a m o s h o m e n s d a t e r r a ,

q u e n e l a e s t a v a m a n t e s d e v ó s , e a t e r r a f i c o u c o n t a m i n a d a . P a r a q u e a t e r r a n ã o s e j a c o n t a m i n a d a p o r v ó s e n ã o v o s v o m i t e t a m b é m a v ó s , c o m o v o m i t o u a n a ç ã o

q u e n e l a e s t a v a a n t e s d e v ó s . P o i s q u a l q u e r q u e c o m e t e r a l g u m a d e s s a s a b o m i -

n a ç õ e s , p o i s a q u e l e s q u e a s c o m e t e r e m s e r ã o e x t i r p a d o s d o s e u p o v o . P o r t a n t o g u a r d a r e i s o m e u m a n d a m e n t o , d e m o d o q u e n ã o c a i a i s e m n e n h u m d e s s e s a b o -

m i n á v e i s c o s t u m e s q u e a n t e s d e v ó s f o r a m s e g u i d o s , e p a r a q u e n ã o v o s c o n t a -

m i n e i s c o m e l e s . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s " ( Lv 1 8 , 2 4 - 3 0 ) .

Dentre essas s i tuações destacam -se vár ios deveres de just iça ao

próximo de então, "outro Israel i ta ", pro ibindo-se o roubo, a fraude, a

ment i ra, o falso juramento, a opressão e o prejuízo do menos favoreci-

do (Lv 19,11-13.35.36), a parcial idade nos julgamentos (Lv 19,15s) , o

desrespei to aos pais e aos velhos, bem como aos est rangeiros (Lv

19,3.32-34), o sadismo contra enfermos e portadores de defei tos f ís i -

cos (Lv 19,14), a maledicência, a di famação, o ódio e a vingança (Lv

19,16-18); algumas disposições quanto aos pobres (Lv 19,9s .13);

quanto aos variados costumes ét icos de então e a condenação de sort i -

légios , incisões de luto, tatuagem, recorrer -se a fei t iceiros e consul tar

adivinhos (Lv 19,19 .26 -31), a "incircuncisão" de f rutas nas terras co n-

quis tadas , delas só se p odendo al imentar após t rês anos de puri f icação

e um ano de consagração por serem contaminadas com as impur ezas

dos costumes pagãos (Lv 19,23 -25); quanto ao adul tér io com uma e s-

crava, uma exceção puni t iva (Lv 19,20-22) e muitos outros casos de

lei tura fáci l , a que se remete o estudo. Destacam-se algumas recomen-

dações quanto aos Sacri f ícios Pacíf icos , mais l igados aos leigos, ún i-

cos em que esses part icipavam da manducação das oferendas, inst r uin-

do-os para não se perder a ef icácia pela inobservância do prazo r i tual

para consumi-las , não incorrer em fal ta muito grave e por isso ser "e x-

t i rpado do meio de seu povo" (Lv 19,5 -8) . São ordenanças rel igi osas ,

ét icas e sociais , de colorido profundamente interior , em que se dest a-

cava, principalmente , a busca s is temát ica da Sant idade de vida, tão

cara a Iahweh, que assim "os sant i f icaria" (Lv 20,8) .

Segue um elenco de penas de morte , a que se sujei tam os tran s-

gressores a começar com a idolatr ia e os s acri f ícios humanos a Moloc,

o adul tér io , o comércio carnal entre homens e animais e vários outros

exemplos de desordens e taras sexuais . Também, mencionam -se exem-

plos de uniões t idas como i l íci tas e então pr át icas dos outros povos e

as punições consequentes que se es tendem aos que se omitem em p uni-

los (Lv 20,1-30):

" G u a r d a r e i s , p o i s , t o d o s o s m e u s e s t a t u t o s e t o d o s o s m e u s p r e c e i t o s , e o s c u m -

p r i r e i s ; a f i m d e q u e a t e r r a , p a r a a q u a l e u v o s l e v o , p a r a n e l a m o r a r d e s , n ã o v o s v o m i t e . E n ã o a n d a r e i s n o s c o s t u m e s d o s p o v o s q u e e u e x p u l s o d e d i a n t e d e

v ó s ; p o r q u e e l e s f i z e r a m t o d a s e s t a s c o i s a s , e e u o s a b o m i n e i . M a s a v ó s v o s t e -

n h o d i t o : H e r d a r e i s a s u a t e r r a , e e u v o - l a d a r e i p a r a a p o s s u i r d e s , t e r r a q u e m a n a l e i t e e m e l . E u s o u I a h w e h o v o s s o D e u s , q u e v o s s e p a r e i d o s p o v o s . F a -

r e i s , p o i s , d i f e r e n ç a e n t r e o s a n i m a i s l i m p o s e o s i m u n d o s , e e n t r e a s a v e s i -

m u n d a s e a s l i m p a s ; e n ã o f a r e i s a b o m i n á v e i s a s v o s s a s a l m a s p o r c a u s a d e a n i -m a i s , o u d e a v e s , o u d e q u a l q u e r c o i s a d e t u d o d e q u e e s t á c h e i a a t e r r a , a s

49

q u a i s c o i s a s a p a r t e i d e v ó s c o m o i m u n d a s . E s e r e i s p a r a m i m s a n t o s ; p o r q u e e u , I a h w e h , s o u s a n t o , e v o s s e p a r e i d o s p o v o s , p a r a s e r d es m e u s . O h o m e m o u m u -

l h e r q u e c o n s u l t a r o s m o r t o s o u f o r f e i t i c e i r o , c e r t a m e n t e s e r á m o r t o . S e r ã o a -

p e d r e j a d o s , e o s e u s a n g u e s e r á s o b r e e l e s " ( L v 2 0 , 2 2 - 2 7 ) .

Não há de se qual i f icar de cruéis a essas penas , comparando-as

com as conquis tas atuais , mas lembrar -se de que, naquela época, eram

das profundamente vinculadas à Aliança, tornando-se então uma ques-

tão de vida ou morte e de verdadeira sobrevivência, tal como seria a-

tualmente a prát ica de um ato de terrorismo ou t ráf ico de drogas . Não

se pode julgar o passado com as racional izações e conquis tas atuais .

3.10.3 - A LEI DE SANTIDADE DOS SACERDOTES E DAS OF E-RENDAS

O que o Sacerdócio representava para o Povo de Israel é faci l -

mente compreensível pela es t rutura teocrát ica da nação que se formava

a part i r da Aliança contraída com os Patr iarcas e perenizada num Sa-

cri f ício. Daí em diante e por meio d o sacerdócio , seguindo o mesmo

caminho e permanecendo na presença de Iahweh , buscou-se aprofundar

cada vez mais o relacionamento e d‟Ele receber as bênçãos de que c a-

recia o Povo até rat i f icar a Aliança no Si nai . A Aliança é um Trato ,

um Contrato , inal terável uni lateralmente, a part i r do súdi to, já contra-

ída no Sinai nas condições di tadas por Iahweh , onde e quando se es t ru-

turou. Sempre desempenhou um papel medianeiro entre ambos e era

tamanha a veneração que se lhe devotava que nem mesmo a s imples

refeição podia ser tomada sem se considerar as ma is elementares r e-

gras sacri f icais a part i r da veneração do sangue como fonte da vida e

sua rest i tuição ao so lo, bem como, não se nutr indo de animais class i f i -

cados como impuros . Com a unif icação do santuário até mesmo a Pá s-

coa, solenidade famil iar por excel ência, terá o seu cordeiro imol ado no

Templo e o Sangue derram ado no Altar por um Sacerdote (2Cro 35,11

/ Dt 12). O Sacerdócio, por causa dele, vai se tornar o centro de toda a

vida Israel i ta . Assim sendo, a Sant idade deles é mais r igorosamente

ex igida:

" F a l a a o s s a c e r d o t e s . . . S a n t o s s e r ã o p a r a s e u D e u s , e n ã o p r o f a n a r ã o o n o m e d o

s e u D e u s ; p o r q u e o f e r e c e m a s o f e r t a s q u e i m a d a s d e I a h w e h , q u e s ã o o p ã o d o s e u D e u s ; p o r t a n t o s e r ã o s a n t o s . ( . . . ) P o r t a n t o o s a n t i f i c a r á s ; p o r q u a n t o o f e r e c e

o p ã o d o t eu D e u s , s a n t o t e s e r á ; p o i s e u , I a h w e h , q u e v o s s a n t i f i c o , s o u s a n t o "

( Lv 2 1 , 1 a . 6 . 8 ) .

Aqui aparece a cláss ica dis t inção que se es tabeleceu entre os S a-

cerdotes: "Aarão", aquele "sobre cuja cabeça foi derramado o óleo da

Unção" (Lv 8,12) e "os f i lhos de Aarão", elev ados ao sacerdócio em

conjunto com Aarão numa Unção "indireta e por aspersão" (Lv

8,13.24.30). Exigia-se mais Sant idade do Sumo Sacerdote por ca usa da

Unção direta que recebeu (Lv 21,10 -15 / comparar com 21,1 -9) para se

evi tar a contaminação direta do Sant uário e do Cul to por a lguma pr o-

fanação, degenerando-se toda a es t rutura cul tual . Caber - lhe-ia zelar

pela pureza de seus i rmãos e do cul to em vir tude da responsab i l idade

que assumira para o pleno desempenho de sua função sagrada. Assim o

50

sacerdote não poder ia se aproximar de um morto, mesmo que seu pai

ou mãe, nem exteriorizar os s inais de luto, nem então se afas tar do

Santuário e só poder ia tomar por esposa uma vi rgem:

" A q u e l e q u e é s u m o s a c e r d o t e e n t r e s e u s i r m ã o s , s o b r e c u j a c a b e ç a f o i d e r r a m a -d o o ó l e o d a u n ç ã o , e q u e f o i c o n s a g r a d o p a r a v e s t i r a s v e s t e s s a g r a d a s , n ã o

d e s c o b r i r á a c a b e ç a n e m r a s g a r á a s u a v e s t i d u r a ; e n ã o s e c h e g a r á a c a d á v e r a l -

g u m ; n e m s e q u e r p o r c a u s a d e s e u p a i o u d e s u a m ã e s e c o n t a m i n a r á ; n ã o s a i r á d o s a n t u á r i o , n e m p r o f a n a r á o s a n t u á r i o d o s e u D e u s ; p o i s a c o r o a d o ó l e o d a

u n ç ã o d o s e u D e u s e s t á s o b r e e l e . E u s o u Ia h w e h . E e l e t o m a r á p o r e s p o s a u m a

m u l h e r n a s u a v i r g i n d a d e . V i ú v a , o u r e p u d i a d a , o u d e s o n r a d a , o u p r o s t i t u t a , d e s t a s n ã o t o m a r á ; m a s v i r g e m d o s e u p o v o t o m a r á p o r m u l h e r . E n ã o p r o f a n a r á

a s u a d e s c e n d ê n c i a e n t r e o s e u p o v o ; p o r q u e e u s o u Ia h w e h q u e o s a n t i f i c o " ( L v

2 1 , 1 0 - 1 5 ) .

Já "os f i lhos de Aarão" têm observâncias dis t intas e menos r ig o-

rosas:

" D e p o i s d i s s e Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s s a c e r d o t e s , f i l h o s d e A a r ã o , e d i z e -

l h e s : O s a c e r d o t e n ã o s e c o n t a m i n a r á p o r c a u s a d u m m o r t o e n t r e o s e u p o v o ,

s a l v o p o r u m s e u p a r e n t e m a i s c h e g a d o : p o r s u a m ã e o u p o r s e u p a i , p o r s e u f i -l h o o u p o r s u a f i l h a , p o r s e u i r m ã o , o u p o r s u a i r m ã v i r g e m , q u e l h e é c h e g a d a ,

q u e a i n d a n ã o t e m m a r i d o ; p o r e l a t a m b é m p o d e c o n t a m i n a r - s e . ( . . . ) N ã o t o m a -

r ã o m u l h e r p r o s t i t u t a o u d e s o n r a d a , n e m t o m a r ã o m u l h e r r e p u d i a d a d e s e u m a r i -d o ; p o i s o s a c e r d o t e é s a n t o p a r a s e u D e u s " ( Lv 2 1 , 1 - 7 ) .

Além disso, ex is tem as normas que se dest inam a ambos os S a-

cerdotes:

" N ã o f a r ã o o s s a c e r d o t e s c a l v a n a c a b e ç a , e n ã o r a p a r ã o o s c a n t o s d a b a r b a , n e m

f a r ã o l a c e r a ç õ e s n a s u a c a r n e . S a n t o s s e r ã o p a r a s e u D e u s , e n ã o p r o f a n a r ã o o n o m e d o s e u D e u s ; p o r q u e o f e r e c e m a s o f e r t a s q u e i m a d a s d e Ia h w e h , q u e s ã o o

p ã o d o s e u D e u s ; p o r t a n t o s e r ã o s a n t o s ( . . . ) P o r t a n t o o s a n t i f i c a r á s ; p o r q u a n t o

o f e r e c e o p ã o d o t e u D e u s , s a n t o t e s e r á ; p o i s e u , I a h w e h , q u e v o s s a n t i f i c o , s o u s a n t o . E s e a f i l h a d u m s a c e r d o t e s e p r o f a n a r , t o r n a n d o - s e p r o s t i t u t a , p r o f a n a a

s e u p a i ; n o f o g o s e r á q u e i m a d a " ( L v 2 1 , 5 - 6 . 8 - 9 ) .

A precaução com o casamento que contraíam era devido à re s-

ponsabi l idade famil iar assumida para o exe rcício do Sacerdócio que

não poderia correr o r isco de se contaminar com o profano, nem muito

menos se deformar ou se desviar para a infidel id ade, pela mistura com

outros povos ou com costumes e supers t ições pagãs :

" E n ã o p r o f a n a r á a s u a d e s c e n d ê n c i a e n t r e o s e u p o v o ; p o r q u e e u s o u o S e n h o r

q u e o s a n t i f i c o " ( L v 2 1 , 1 5 ) .

Ainda o sacerdote não se esquecerá da advertência fei ta por oc a-

s ião do ocorrido a Nadab e Abiú , t amanha era a Sant idade Sacerd otal

que se ex igia , pelas consequências advindas para todos os i rmãos do

povo e pela responsabi l idade que det inham principalmente no past o-

reio deles:

" D i s s e M o i s é s a A a r ã o : I s t o é o q u e Ia h w e h d e c l a r o u q u a n d o d i s s e : " S e r e i s a n t i -f i c a d o n a q u e l e s q u e s e c h e g a r e m a m i m , e s e r e i g l o r i f i c a d o d i a n t e d e t o d o o p o -

v o " . O q u e o u v i n d o A a r ã o , s e c a l o u " / " . . . p a r a q u e n ã o m o r r a i s , n e m v e n h a a i r a

d e Ia h w e h s o b r e t o d o o p o v o . . . " ( Lv 1 0 , 3 . 6 c ) .

" . . . serei glori f icado di ante de todo o povo" e ". . . para que não

morrais , nem venha a i ra de Iahweh sobre todo o povo. . . " - Assim se

resumia a relação de reciprocidade entre ambos em que a Sant idade do

51

Sacerdote ref let ia -se sobre o Povo. E tamanha era a suntuosidade que

ornava o Cul to Israel i ta que se rejei tava no cerimonial toda imperfe i -

ção possível , até mesmo humana, como uma homenagem à majest ade

de Iahweh:

" D i s s e m a i s o Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a A a r ã o , d i z e n d o : N i n g u é m d e n t r e o s t e u s d e s c e n d e n t e s , p o r t o d a s a s s u a s g e r a ç õ e s , q u e t i v e r d e f e i t o , s e c h e g a r á p a r a o f e -

r e c e r o p ã o d o s e u D e u s . ( . . . ) n e n h u m h o m e m d e n t r e o s d e s c e n d e n t e s d e A a r ã o ,

o s a c e r d o t e , q u e t i v e r a l g u m d e f e i t o , s e c h e g a r á p a r a o f e r e c e r a s o f e r t a s q u e i -m a d a s d o Ia h w e h ; e l e t e m d e f e i t o ; n ã o s e c h e g a r á p a r a o f e r e c e r o p ã o d o s e u

D e u s " ( Lv 2 1 , 1 6 - 2 1 ) .

Porém, se t ivesse algum defei to o descendente de Aarão, sace r-

dote por direi to perpétuo (Ex 29), não part iciparia de seu direi to nas

partes que lhe eram consagradas nos vários Sacri f ícios , apenas se al i -

mentando delas com a sua famíl ia , não podendo ofertá- las :

" C o m e r á d o p ã o d o s e u D e u s , t a n t o d o s a n t í s s i m o c o m o d o s a n t o ; c o n t u d o , n ã o e n t r a r á a t é o v é u , n e m s e c h e g a r á a o a l t a r , p o r q u a n t o t e m d e f e i t o ; p a r a q u e n ã o

p r o f a n e o s m e u s s a n t u á r i o s ; p o r q u e e u s o u Ia h w e h q u e o s s a n t i f i c o . M o i s é s ,

p o i s , a s s i m f a l o u a A a r ã o e a s e u s f i l h o s , e a t o d o s o s f i l h o s d e I s r a e l " ( L v 2 1 , 2 2 - 2 4 ) .

O Sacerdócio , por s i , só não impedia o Sacerdote de se contam i-

nar com alguma impureza legal afastando -o do Santuário como qua l-

quer Israe l i ta , bem como do exercício de sua função sagrada. Comp e-

t ia- lhe puri f icar -se conforme as normas vigentes e devotar a Iahweh

uma maior homenagem de vida sant i f icada, tendo -se em vis ta os com-

promissos assumidos na Aliança e co rpori f icados desde o Egi to:

" D i z e a A a r ã o e a s e u s f i l h o s q u e s e a b s t e n h a m d a s c o i s a s s a g r a d a s d o s f i l h o s

d e I s r a e l , a s q u a i s e l e s a m i m m e s a n t i f i c a m , e q u e n ã o p r o f a n e m o m e u s a n t o n o m e . E u s o u Ia h w e h . D i z e - l h e s : T o d o h o m e m d e n t r e o s v o s s o s d e s c e n d e n t e s p e -

l a s v o s s a s g e r a ç õ e s q u e , t e n d o s o b r e s i a s u a i m u n d í c i a , s e c h e g a r à s c o i s a s s a -

g r a d a s q u e o s f i l h o s d e I s r a e l s a n t i f i c a m a o Ia h w e h , a q u e l a a l m a s e r á e x t i r p a d a d a m i n h a p r e s e n ç a . E u s o u I a h w e h ( . . . ) s e j a q u a l f o r a s u a i m u n d í c i a , o h o m e m

q u e t o c a r e m t a i s c o i s a s s e r á i m u n d o a t é a t a r d e , e n ã o c o m e r á d a s c o i s a s s a g r a -

d a s , m a s b a n h a r á o s e u c o r p o e m á g u a e , p o s t o o s o l , e n t ã o s e r á l i m p o ; d e p o i s c o m e r á d a s c o i s a s s a g r a d a s , p o r q u e i s s o é o s e u p ã o ( . . . ) G u a r d a r e i s o s m e u s

m a n d a m e n t o s , e o s c u m p r i r e i s . E u s o u Ia h w e h . N ã o p r o f a n a r e i s o m e u s a n t o n o -

m e , e s e r e i s a n t i f i c a d o n o m e i o d o s f i l h o s d e I s r a e l . E u s o u Ia h w e h q u e v o s s a n -t i f i c o , q u e v o s t i r e i d a t e r r a d o E g i t o p a r a s e r o v o s s o D e u s . E u s o u Ia h w e h "

( Lv 2 2 , 2 - 4 . 5 b - 7 . 3 1 - 3 3 ) .

Da mesma forma, as ví t imas dest inadas às Oferendas não podiam

apresentar nenhum defei to f ís ico, nenhuma imperfeição, numa hom e-

nagem submissa e solene à majestade de Iahweh a quem se ofereceria

o que havia de melhor no reb anho, nunca um refugo:

" F a l a a A a r ã o , e a s e u s f i l h o s , e a t o d o s o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : T o d o

h o m e m d a c a s a d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s e m Is r a e l , q u e o f e r e c e r a s u a o f e r -

t a , s e j a d o s s e u s v o t o s , s e j a d a s s u a s o f e r t a s v o l u n t á r i a s q u e o f e r e c e r e m a o S e -n h o r e m h o l o c a u s t o , p a r a q u e s e j a i s a c e i t o s , o f e r e c e r e i s m a c h o s e m d e f e i t o , o u

d o s n o v i l h o s , o u d o s c o r d e i r o s , o u d a s c a b r a s . N e n h u m a c o i s a , p o r é m , q u e t i v e r

d e f e i t o o f e r e c e r e i s , p o r q u e n ã o s e r á a c e i t a a v o s s o f a v o r . E , q u a n d o a l g u é m o f e -r e c e r s a c r i f í c i o d e o f e r t a p a c í f i c a a o S e n h o r p a r a c u m p r i r u m v o t o , o u p a r a o -

f e r t a v o l u n t á r i a , s e j a d o g a d o v a c u m , s e j a d o g a d o m i ú d o , o a n i m a l s e r á p e r f e i -

t o , p a r a q u e s e j a a c e i t o ; n en h u m d e f e i t o h a v e r á n e l e " ( L v 2 2 , 1 8 - 2 1 ) .

Isso , ao lado de algumas aparentes superst ições , como deixar a

cr ia com a mãe no mínimo sete dias e somente então a imolar , bem

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como, não matar a mãe e sua cri a no mesmo dia (Lv 22,27) sob pena

de não ser acei ta a oferta. Da mesma forma qualquer sacri f ício, mesmo

o de Ação de Graças , deveria ser alvo de f idel id ade a todos os detalhes

r i tuais "de modo a serdes ace i tos":

" E , q u a n d o o f e r e c e r d e s a Ia h w e h s a c r i f í c i o d e a ç ã o d e g r a ç a s , o f e r e c ê - l o - e i s d e m o d o a s e r d e s a c e i t o s . N o m e s m o d i a s e c o m e r á ; n a d a d e i x a r e i s f i c a r d e l e a t é

p e l a m a n h ã . E u s o u Ia h w e h . G u a r d a r e i s o s m e u s m a n d a m e n t o s , e o s c u m p r i r e i s .

E u s o u Ia h w e h . N ã o p r o f a n a r e i s o m e u s a n t o n o m e , e s e r e i s a n t i f i c a d o n o m e i o d o s f i l h o s d e I s r a e l . E u s o u Ia h w e h q u e v o s s a n t i f i c o , q u e v o s t i r e i d a t e r r a d o

E g i t o p a r a s e r o v o s s o D e u s . E u s o u Ia h w e h " ( L v 2 2 , 2 9 - 3 3 ) .

" . . . e serei sant i f icado no meio dos f i lhos de Is rael" - Não é pos-

s ível passar adiante sem se quest ion ar: como é possível "ser sant i f ic a-

do" aquele que sant i f ica, ou seja, "Iahweh que vos sant i f ico . . ." É des-

de "que vos t i rei da terra do Egi to para ser o vosso Deus", ind ico-lhes

como adquir i r a Sant idade que oferecia ex teriorizada na conduta e no

comportamento de todos e de cada um. Então, dessa manei ra, o nome

de Iahweh, um Deus Santo, seria glori f icado e reconhecido. A ssim foi

no Egi to onde se impôs pelos prodígios prat icados. Jesus vai incluir

isso na Oração do Pai Nosso (Mt 6,9 -10 e Lc 11,2) , vinculando o "san-

t i f icado seja o teu nome" com o "venha o teu reino" e "seja fe i ta a tua

vontade":

" P o r t a n t o , o r a i v ó s d e s t e m o d o : P a i n o s s o q u e e s t á s n o s c é u s , s a n t i f i c a d o s e j a o t e u n o m e ; v e n h a o t e u r e i n o , s e j a f e i t a a t u a v o n t a d e , a s s i m n a t e r r a c o m o n o

c é u . . . " ( M t 6 , 9 - 1 0 ) . / " A o q u e e l e l h e s d i s s e : Q u a n d o o r a r d e s , d i z e i : P a i , s a n t i -

f i c a d o s e j a o t e u n o m e ; v e n h a o t e u r e i n o ; . . . " ( Lc 1 1 , 2 ) .

O que rat i f icará dizendo ainda que as obras prat icadas pelos seus

discípulos devam br i lhar para que os homens, vendo -as , glor i f iquem a

Deus (Mt 5,14-16):

" V ó s s o i s a l u z d o m u n d o . N ã o s e p o d e e s c o n d e r u m a c i d a d e s i t u a d a s o b r e u m

m o n t e ; n e m o s q u e a c e n d e m u m a c a n d e i a a c o l o c a m d e b a i x o d o a l q u e i r e , m a s n o

c a n d e l a b r o , e a s s i m i l u m i n a a t o d o s q u e e s t ã o n a c a s a . A s s i m r e s p l a n d e ç a a v o s -s a l u z d i a n t e d o s h o m e n s , p a r a q u e v e j a m a s v o s s a s b o a s o b r a s , e g l o r i f i q u e m o

v o s s o P a i , q u e e s t á n o s c é u s " ( M t 5 , 1 4 - 1 6 ) .

Não é diferente do que ensina a Igreja:

" A S a n t i d a d e d e D e u s é o f o c o i n a c e s s í v e l d o s e u m i s t é r i o e t e r n o . A o q u e s e

m a n i f e s t o u d e l a n a c r i a ç ã o e n a h i s t ó r i a , a S a g r a d a E s c r i t u r a c h a m a G l ó r i a , a i r -

r a d i a ç ã o d a s u a m a j e s t a d e ( c f . S l 8 ; I s 6 , 3 ) . A o f a z e r o h o m e m " à s u a i m a g e m e s e m e l h a n ç a " ( G n 1 , 2 6 ) , D eu s " c o r o a - o d e g l ó r i a " ( S l 8 , 6 ) , m a s , a o p e c a r , o h o -

m e m é " p r i v a d o d a g l ó r i a d e D e u s " ( R m 3 , 2 3 ) . A p a r t i r d a í , D e u s v a i m a n i f e s t a r

a s u a S a n t i d a d e r e v e l a n d o e d a n d o o s e u n o m e , p a r a r e s t a u r a r o h o m e m " à i m a -g e m d o s e u C r i a d o r " ( C o l 3 , 1 0 ) " ( C a t e c i s m o d a Ig r e j a C a t ó l i c a n . º 2 8 0 9 ) .

3.11. - AS FESTAS RELIGIOSAS DE TODO O POVO DE ISRAEL (Lv 23-25):

Toda a es t rutura da Nação Israel i ta era comprometida , indesta-

cavelmente , na Aliança com Iahweh. Em vi r tude de ser um “Trato” ou

“Acordo” essa Aliança oferec ida pelo Criador à sua criatura essenci-

almente se completava e se integrava num relacioname nto rel igioso.

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Dele part ia e nele sempre desaguava. Além de normas comportame n-

tais que a exprimiam como união i rrevers ível , havia o cul to que vinha

completar a resposta do Homem ao Apelo de Deus. Assim as Festas

Li túrgicas , comemorat ivas dos vários momento s épicos dessa História ,

são repet ições ou celebrações das intervenções em que Iahweh se m a-

nifestou e se revelou ao Seu Povo. O ponto culm inante dessa História

é a comunhão com Iahweh, perd ida no Éden, tão bem expressa pelo

“repouso” de Iahweh na Criação, no concei to do “shabat” de “cessar o

que faz e vol tar ao estado anterior”: Iahweh “cessa de criar e vo l ta a

própria int imidade” (cf r . Capí tulo I, n . º 1 .6.1) .Essa comunhão com I-

ahweh é também o principal f im do cul to e das celebrações l i túrg icas .

Por isso, as comemorações fest ivas começam com a do Sábado iniciada

pela mesma forma de convocação de reunião das demais s olenidades.

Vem em primeiro lugar , na ordem das fest ividades , exatamente por

inspirar maior respei to e observância. Todas elas foram form alizadas

desde o Sinai e inst i tuídas nessa oportunidade as t rês princ ipais , como

expressão de f idel idade e cul to exclusivo a Iahweh, como descr i tas

(cfr . Capí tulo II, n . º 2 .11).

Agora, observar -se-á outra formal idade que vem enriquecer os

r i tuais dest inados a incrementar ainda mais os laços de união entre t o-

dos e cada um com Iahweh, condição de unidade de um povo em to rno

de um ideal ou sentimento his tórico comum: - são as reuniões do povo

em Santas Assembléias no Santuário as quais se incorp oram às Festas

Rel igiosas já inst i tuídas . Essas Assembléias Sagradas dever -se- iam

convocar com esse sent ido solene e sant íss imo incluindo -se entre tais

solenidades e antes de todas a do Sábado do Decálogo, reforçando a s-

s im a sua exclusiva, dis t inta e inconfundível importância cu l tual :

" D e p o i s d i s s e Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : A s f e s t a s f i x a s d e Ia h w e h , q u e c o n v o c a r e i s c o m o s a n t a s a s s e m b l é i a s s ã o e s t a s : S e i s d i a s

s e f a r á t r a b a l h o , m a s o s é t i m o d i a é o s á b a d o d o d e s c a n s o s o l e n e , u m a s a n t a a s -

s e m b l é i a ; n e n h u m t r a b a l h o f a r e i s ; é s á b a d o d e Ia h w e h e m t o d a s a s v o s s a s h a b i -t a ç õ e s " ( L v 2 3 , 1 - 3 , c f r . t b . E x 1 6 , 2 3 ; 2 0 , 8 - 1 1 ; 3 1 , 1 2 - 1 7 ; 3 5 , 2 ) .

3.11.1 - A FESTA DA PÁSCOA E A DOS PÃES ÁZIMOS :

" S ã o e s t a s a s f e s t a s s a n t a s d e Ia h w e h , s a n t a s a s s e m b l é i a s , q u e c e l e b r a r e i s n o s e u t e m p o : N o m ê s p r i m e i r o , a o s c a t o r z e d o m ê s , à t a r d e , é a P á s c o a d e Ia h w e h .

E a o s q u i n z e d i a s d e s s e m ê s é a F e s t a d o s P ã e s Á z i m o s d e Ia h w e h . D u r a n t e s e t e

d i a s c o m e r e i s s e m f e r m e n t o . N o p r i m e i r o d i a t e r e i s s a n t a a s s e m b l é i a ; n e n h u m t r a b a l h o f a r e i s . E p o r s e t e d i a s o f e r e c e r e i s u m s a c r i f í c i o p e l o f o g o a I a h w e h ; n o

s é t i m o d i a h a v e r á s a n t a a s s e m b l é i a e n e n h u m t r a b a l h o f a r e i s " ( Lv 2 3 , 4 - 8 ) .

"Três vezes no ano todos os teus homens aparecerão diante de

Iahweh teu Deus" (Ex 23,17 / Ex 13,6) era a regra básica em vigor pa-

ra as t rês fes tas principais t ranscri tas , Ázimos, Pentecostes e Te ndas.

Nos termos da sua inst i tuição no Sinai , todos os homens deveriam

comparecer ao Santuário nas celebrações correspondentes , pr evendo-se

então dois dias solenes, o primeiro e o sét imo, quando não haveria n e-

nhum trabalho (Ex 12,15-17).

3.11.2. - A FESTA DA OFERENDA DAS PRIMÍCIAS :

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Esta fes ta é , muitas vezes , recomendada (Ex 22,29; 23,16.19;

34,26; Lv 2,14-16; Nm 15,17-21; 18,12; Dt 18,4; 26,1 -11), devendo

ser prat icada quando est iverem de posse da Terra Prom etida:

" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : Q u a n d o h o u v e r d e s e n t r a d o n a t e r r a q u e e u v o s d o u , e f i z e r d e s a c e i f a d a s s e a r a s , t r a r e i s

a o s a c e r d o t e u m m o l h o d a s p r i m í c i a s d a v o s s a c o l h e i t a ; e e l e m o v e r á o m o l h o

p e r a n t e Ia h w e h , p a r a q u e s e j a a c e i t o e m v o s s o f a v o r . N o d i a s e g u i n t e a o s á b a d o o s a c e r d o t e o m o v e r á . E n o d i a e m q u e m o v e r d e s o m o l h o , o f e r e c e r e i s u m c o r -

d e i r o s e m d e f e i t o , d e u m a n o , e m h o l o c a u s t o a Ia h w e h . S u a o f e r t a d e c e r e a i s s e -

r á d o i s d é c i m o s d e e f á d e f l o r d e f a r i n h a , a m a s s a d a c o m a z e i t e , p a r a o f e r t a q u e i m a d a e m c h e i r o s u a v e a Ia h w e h ; e a s u a o f e r t a d e l i b a ç ã o s e r á d e v i n h o , u m

q u a r t o d e h i m . E n ã o c o m e r e i s p ã o , n e m t r i g o t o r r a d o , n e m e s p i g a s v e r d e s , a t é

a q u e l e m e s m o d i a , e m q u e t r o u x e r d e s a o f e r t a d o v o s s o D e u s ; é e s t a t u t o p e r p é -t u o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s , e m t o d a s a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s " ( Lv 2 3 , 9 - 1 4 ) .

Essa Oferenda das Primícias tem um sent ido bem mais amplo do

que aparenta e para apreendê -lo será necessário antecipar , pelo menos

superficialmente , algumas noções do Inst i tuto das Oferendas, a part i r ,

por ora, de dois t rechos em que se destacam algumas noções do seu

s ignif icado para os Is rael i tas :

" O s s a c e r d o t e s l e v i t a s , e t o d a a t r i b o d e L e v i , n ã o t e r ã o p a r t e n e m h e r a n ç a c o m

I s r a e l . A l i m e n t a r - s e - ã o d a s o f e r e n d a s q u e i m a d a s a Ia h w e h e d o p a t r i m ô n i o d e l e . N ã o t e r ã o h e r a n ç a n o m e i o d e s e u s i r m ã o s ; Ia h w e h é a s u a h e r a n ç a , c o m o l h e s

t e m d i t o . E s t e , p o i s , s e r á o d i r e i t o d o s s a c e r d o t e s , a r e c e b e r d o p o v o , d o s q u e

o f e r e c e r e m s a c r i f í c i o s d e b o i o u d e o v e l h a : o o f e r t a n t e d a r á a o s a c e r d o t e a e s -p á d u a , a s q u e i x a d a s e o b u c h o . A o s a c e r d o t e d a r á s a s p r i m í c i a s d o t e u g r ã o , d o

t e u m o s t o e d o t e u a z e i t e , e a s p r i m í c i a s d a t o s q u i a d a s t u a s o v e l h a s . P o r q u e I -

a h w e h t e u D e u s o e s c o l h e u d e n t r e t o d a s a s t r i b o s , p a r a a s s i s t i r e m i n i s t r a r e m n o m e d e Ia h w e h , e l e e s e u s f i l h o s , p a r a s e m p r e " ( D t 1 8 , 1 - 5 ) .

Neste t recho vê -se que as oferendas eram a herança dos int e-

grantes da Tribo de Levi , que não receberam nenhuma posse ssão em

terras a não ser aquele mínimo para se es t abelecer e se f ixar com i n-

dependência pessoal e famil iar . Assim sendo , as Primícias eram direi to

deles e a ci tação delas é apenas exemplif icat iva, pois abrangiam todos

os produtos que se produzissem. Também, mais adiante, ainda se es t a-

beleceu:

" T a m b é m , q u a n d o t i v e r e s e n t r a d o n a t e r r a q u e Ia h w e h t e u D e u s t e d á p o r h e r a n -ç a , e a p o s s u í r e s , e n e l a h a b i t a r e s , t o m a r á s d a s p r i m í c i a s d e t o d o s o s f r u t o s d o

s o l o q u e t r o u x e r e s d a t e r r a q u e Ia h w e h t e u D e u s t e d á , e a s p o r á s n u m c e s t o , e

i r á s a o l u g a r q u e o Ia h w e h t e u D e u s e s c o l h e r p a r a a l i f a z e r h a b i t a r o s e u n o m e . E i r á s a o s a c e r d o t e q u e n a q u e l e s d i a s e s t i v e r d e s e r v i ç o , e l h e d i r á s : H o j e d e c l a -

r o a Ia h w e h t e u D e u s q u e e n t r e i n a t e r r a q u e o s e n h o r c o m j u r a m e n t o p r o m e t e u a

n o s s o s p a i s q u e n o s d a r i a . O s a c e r d o t e , p o i s , t o m a r á o c e s t o d a t u a m ã o , e o p o r á d i a n t e d o a l t a r d e Ia h w e h t e u D e u s ( . . . ) o Ia h w e h n o s t i r o u d o E g i t o c o m

m ã o f o r t e e b r a ç o e s t e n d i d o , c o m g r a n d e e s p a n t o , e c o m s i n a i s e m a r a v i l h a s ; e

n o s t r o u x e a e s t e l u g a r , e n o s d e u e s t a t e r r a , t e r r a q u e m a n a l e i t e e m e l . E e i s q u e a g o r a t e t r a g o a s p r i m í c i a s d o s f r u t o s d a t e r r a q u e t u , ó Ia h w e h , m e d e s t e .

E n t ã o a s p o r á s p e r a n t e o Ia h w e h t e u D e u s , e o a d o r a r á s ; e t e a l e g r a r á s p o r t o d o

o b e m q u e o Ia h w e h t e u D e u s t e t e m d a d o a t i e à t u a c a s a , t u e o l e v i t a , e o e s -t r a n g e i r o q u e e s t á n o m e i o d e t i " ( D t 2 6 , 1 - 5 . 8 b - 1 1 ) .

Neste segundo t recho , observa-se que as oferendas eram levadas

num cesto e entregues ao Sacerdote que dispunha uma parte no Altar .

Quanto à outra parte, dela se al imentava e entregava -se aos Sacerdotes

a sua herança que a comiam, junto com o forastei ro, para a Sant i f ic a-

ção geral da colhei ta . A palavra cesto em lat im é " sportula", donde o

costume da Igreja em receber espórtulas de alguns atos . É direi to da

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Igreja , desde os primórdios do cris t ianismo em que era a oferta levada

num “cesto” durante o Ofertório da Cerimônia Eucarís t ica e entr egue

ao Sacerdote . Este recolhia o conteúdo e depois se lavava para p oder

manusear e dis t r ibuir a Comunhão, donde o r i tual do Lava – Mãos das

Missas .

Como toda cerimônia rel igiosa, essa ter ia também o seu desate

num sacr i f ício solene e completo:

" E n o d i a e m q u e m o v e r d e s o m o l h o , o f e r e c e r e i s u m c o r d e i r o s e m d e f e i t o , d e u m a n o , e m h o l o c a u s t o a Ia h w e h . S u a o f e r t a d e c e r e a i s s e r á d o i s d é c i m o s d e e f á d e

f l o r d e f a r i n h a , a m a s s a d a c o m a z e i t e , p a r a o f e r t a q u e i m a d a e m c h e i r o s u a v e a

I a h w e h ; e a s u a o f e r t a d e l i b a ç ã o s e r á d e v i n h o , u m q u a r t o d e h i m " ( Lv 2 3 , 1 2 -1 3 ) .

A oblação seria o indispensável complemento consecratório de

toda a oferenda que se faz ia e somente após a Sant i f icação , ass im for-

mal izada, é que se al imentavam dos frutos da produção então "abenç o-

ada" (Lv 23,11 - " . . . para que sejais acei tos"):

" E n ã o c o m e r e i s p ã o , n e m t r i g o t o r r a d o , n e m e s p i g a s v e r d e s , a t é a q u e l e m e s m o

d i a , e m q u e t r o u x e r d e s a o f e r t a d o v o s s o D e u s ; é e s t a t u t o p e r p é t u o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s , e m t o d a s a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s " ( Lv 2 3 , 1 4 ) .

3.11.3. - FESTA DE PENTECOSTES OU FESTA DAS SEMANAS

A part i r do dia seguinte ao Sábado, quando do Movimento do

Feixe de Primícias , contar -se-ão sete semanas intei ras , cinq uenta d ias ,

para a celebração da Festa de Pentecostes ou Festa das Sem anas:

" C o n t a r e i s p a r a v ó s , d e s d e o d i a d e p o i s d o s á b a d o , i s t o é , d e s d e o d i a e m q u e

h o u v e r d e s t r a z i d o o m o l h o d a o f e r t a d e m o v i m e n t o , s e t e s e m a n a s i n t e i r a s ; a t é o d i a s e g u i n t e a o s é t i m o s á b a d o , c o n t a r e i s c i n q u e n t a d i a s ; e n t ã o o f e r e c e r e i s u m a

o b l a ç ã o n o v a d e c e r e a i s a I a h w e h " ( Lv 2 3 , 1 5 - 1 6 ) .

Então, no quinquagésimo dia ". . . o ferecereis uma oblação n ova

de cereais a Iahweh", ou seja, um sacri f ício de produtos da c olhei ta

recente cujo cer imonial se dest ina a agradecer a Iahweh pela far tura

reconhecida e então evidenciada, na prometida "ter ra boa e espaçosa

onde f lui o lei te e o mel " (Ex 3,8):

" D a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s t r a r e i s , p a r a o f e r t a d e m o v i m e n t o , d o i s p ã e s d e d o i s d é -

c i m o s d e e f á ; s e r ã o d e f l o r d e f a r i n h a , e l e v e d a d o s s e c o z e r ã o ; s ã o p r i m í c i a s a

I a h w e h . C o m o s p ã e s o f e r e c e r e i s s e t e c o r d e i r o s s e m d e f e i t o , d e u m a n o , u m n o -v i l h o e d o i s c a r n e i r o s ; s e r ã o h o l o c a u s t o a Ia h w e h , c o m a s r e s p e c t i v a s o f e r t a s d e

c e r e a i s e d e l i b a ç ã o , p o r o f e r t a q u e i m a d a d e c h e i r o s u a v e a Ia h w e h . T a m b é m o -

f e r e c e r e i s u m b o d e p a r a o f e r t a p e l o p e c a d o , e d o i s c o r d e i r o s d e u m a n o p a r a s a -c r i f í c i o d e o f e r t a s p a c í f i c a s . E n t ã o o s a c e r d o t e o s m o v e r á , j u n t a m en t e c o m o s

p ã e s d a s p r i m í c i a s , p o r o f e r t a d e m o v i m e n t o p e r a n t e I a h w e h , c o m o s d o i s c o r -

d e i r o s ; s a n t o s s e r ã o a Ia h w e h p a r a u s o d o s a c e r d o t e . E f a r e i s p r o c l a m a ç ã o n e s s e m e s m o d i a , p o i s t e r e i s s a n t a c o n v o c a ç ã o ; n e n h u m t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s ; é e s t a -

t u t o p e r p é t u o e m t o d a s a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s " ( L v 2 3 , 1 7 -

2 1 ) .

"Das vossas habi tações t rareis para oferta de movimento dois

pães de dois décimos de efá, de f lor de far inha e cozidos com lev edo,

como primícias a Iahweh". A oferenda desses dois pães levedados c a-

racteriza especif icamente a solenidade , por causa do fermento que se

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vedava nos sacri f ícios (Lv 2,11s) , motivo por que não seriam queim a-

dos no Altar . Seriam queimados então junto com dois cordeiros da o-

ferta pacíf ica e des t inar -se-iam ao Sacerdote, e seus fami l iares (Lv

23,20) após o holocausto de sete cordei ros , um novi lho e dois carne i-

ros , com as l ibações do r i tual , e o bode de oferenda de expiação (Lv

23,18-19). O nome de Oferta de Movimento origina -se do movimento

fei to pelo ofertante , empunhando a oferenda junto com o celebrante

em direção do Altar , entregando-a s imbol icamente a Iahweh e , ao t ra-

zê-la e recebê -la de vol ta, vinda de Iahweh que a recebera, de ixava-a

nas mãos do sacerdote.

A regulamentação da solenidade termina com uma recomendação

humanitár ia:

" Q u a n d o f i z e r e s a s e g a d a t u a t e r r a , n ã o s e g a r á s t o t a l m e n t e o s e x t r e m o s d o t e u c a m p o , n e m r e s p i g a r á s a s e s p i g a s c a í d a s q u e f i c a r e m ; p a r a o p o b r e e p a r a o e s -

t r a n g e i r o a s d e i x a r á s . E u s o u Ia h w e h v o s s o D e u s " ( L v 2 3 , 2 2 ) .

3.11.4. - FESTA DAS TROMBETAS

Assim era conhecida a fes ta que t inha início no primeiro dia d o

sét imo mês rel igioso, em que se anunciaria com o toque de t rombetas e

mais tarde o começo do ano civi l :

" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l : N o s é t i m o m ê s , n o p r i -m e i r o d i a d o m ê s , h a v e r á p a r a v ó s d e s c a n s o s o l e n e , e m m e m o r i a l , c o m t o q u e d e

t r o m b e t a s e u m a s a n t a a s s em b l é i a . N e n h u m t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s , e o f e r e c e r e i s

s a c r i f í c i o s p e l o f o g o a Ia h w e h " ( Lv 2 3 , 2 3 - 2 5 ) .

Todos os meses do ano e por ocasião da lua nova havia uma s o-

lenidade em que se ofereciam holocaustos e um bode , em expiação

(Nm 28,11-15). Este assumia um caráter especial de Sant idade por ser

o sét imo, o mês sabát ico, coincidindo ainda nele a Gra nde Festa de

Expiação e a Festa das Tendas (Lv 23,27-43). Isso faz com que seja

dis t inguido com uma comemoração especial , inicialmente de regozi jo

ao som das Trombetas (Nm 10,1 -2a.10), completando-se com mais Ho-

locaustos e Sacri f íc io Pelo Pecado, junto com o que já se celebravam

mensalmente (Nm 28,11 -15):

" N o s é t i m o m ê s , n o p r i m e i r o d i a d o m ê s , t e r e i s u m a a s s e m b l é i a s a n t a ; n e n h u m

t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s ; s e r á p a r a v ó s d i a d e t o q u e d e t r o m b e t a s . O f e r e c e r e i s u m h o l o c a u s t o e m c h e i r o s u a v e a Ia h w e h : u m n o v i l h o , u m c a r n e i r o e s e t e c o r d e i r o s

d e u m a n o , t o d o s s e m d e f e i t o ; e a s u a o f e r t a d e c e r e a i s , d e f l o r d e f a r i n h a m i s -

t u r a d a c o m a z e i t e , t r ê s d é c i m o s d e e f á p a r a o n o v i l h o , d o i s d é c i m o s p a r a o c a r -n e i r o , e u m d é c i m o p a r a c a d a u m d o s s e t e c o r d e i r o s ; e u m b o d e p a r a o f e r t a p e l o

p e c a d o , p a r a f a z e r e x p i a ç ã o p o r v ó s ; a l é m d o h o l o c a u s t o d o m ê s e a s u a o f e r t a

d e c e r e a i s , e d o h o l o c a u s t o c o n t í n u o e a s u a o f e r t a d e c e r e a i s , c o m a s s u a s o f e r -t a s d e l i b a ç ã o , s e g u n d o a o r d e n a n ç a , e m c h e i r o s u a v e , o f e r t a q u e i m a d a a Ia h -

w e h " ( N m 2 9 , 1 - 6 ) .

3.11.5. - FESTA DO GRANDE DIA DA EXPIAÇÃO

Esta fes ta é um complemento:

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" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : O r a , o d é c i m o d i a d e s s e s é t i m o m ê s s e r á o d i a d a e x p i a ç ã o ; t e r e i s s a n t a a s s e m b l é i a , e m o r t i f i c a r e i s a s v o s s a s a l m a s ( ' j e j u a r e i s ' ) ; e

o f e r e c e r e i s o f e r t a q u e i m a d a ( ' h o l o c a u s t o ' ) a Ia h w e h . N e s s e d i a n ã o f a r e i s t r a b a -

l h o a l g u m ; p o r q u e é o d i a d a e x p i a ç ã o , p a r a n e l e f a z e r - s e e x p i a ç ã o p o r v ó s p e -r a n t e Ia h w e h o v o s s o D e u s P o i s t o d a a l m a q u e n ã o s e a f l i g i r ( j e j u a r ) n e s s e d i a ,

s e r á e x t i r p a d a d o s e u p o v o . T a m b é m t o d a a l m a q u e n e s s e d i a f i z e r a l g u m t r a b a -

l h o , e u a d e s t r u i r e i d o m e i o d o s e u p o v o . N ã o f a r e i s n e l e t r a b a l h o a l g u m ; i s s o s e r á e s t a t u t o p e r p é t u o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s e m t o d a s a s v o s s a s h a b i t a ç õ e s . S á -

b a d o d e d e s c a n s o v o s s e r á , e a f l i g i r e i s a s v o s s a s a l m a s ; d e s d e a t a r d e d o d i a n o -

n o d o m ê s a t é a o u t r a t a r d e , g u a r d a r e i s o v o s s o s á b a d o " ( Lv 2 3 , 2 6 - 3 2 ) .

Dessa Festa , já se t ratou no n º 3 .9, do Capí tulo III, quando se

comentou Lv 16, impondo-se então uma breve recordação a que se r e-

mete o lei tor . Insis te -se, aqui , na observância r igorosa do jejum e do

repouso e sua duração , com graves ameaças para quem não respei tar o

cerimonial nos mínimos de talhes .

3.11.6. - FESTA DAS TENDAS OU DOS TABERNÁCULOS OU DAS CABANAS

Já se falou a respei to quando ainda t inha o nome de Festa da Co-

lhei ta , de f im de ano agrícola. Em vir tude da variedade de datas da

real ização das colhei tas na Palest ina não se f ixa a data dessa comemo-

ração, podendo -se observar a sua divers idade em vários locais (Ex

23,16 / Lv 28,33-43 / Dt 16,13-15 / Nm 29,12-38):

" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , d i z e n d o : D e s d e o d i a

q u i n z e d e s s e s é t i m o m ê s h a v e r á a f e s t a d o s t a b e r n á c u l o s a Ia h w e h p o r s e t e d i a s .

N o p r i m e i r o d i a h a v e r á s a n t a a s s e m b l é i a ; n e n h u m t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s . P o r s e t e d i a s o f e r e c e r e i s s a c r i f í c i o s p e l o f o g o a I a h w e h ; a o o i t a v o d i a t e r e i s s a n t a a s -

s e m b l é i a , e o f e r e c e r e i s s a c r i f í c i o p e l o f o g o a Ia h w e h ; s e r á u m a a s s e m b l é i a s o l e -

n e ; n e n h u m t r a b a l h o s e r v i l f a r e i s " ( Lv 2 3 , 3 3 - 3 6 ) .

Rat i f icam-se então, sem se descuidar dos sábados, todas as c o-

memorações do ano, cada qual com suas of erendas apropriadas e seus

Sacri f ícios específ icos , f inal izando -se a sua descrição. Realça-se, pelo

destaque da repet ição , a importância da Festa das Cabanas , como fora

o encerramento de todas elas exat amente por ser a úl t ima do ano. Daí a

sua celebração bem mais solene, tal como está descri to em Nm 29,12 -

38 com o oferecimento de Holocausto s , Sacri f ícios , Oblações e Lib a-

ções todos os dias da semana fest iva, sem prejuízo do Holocaus to Co-

t idiano, também oferecido (Nm 29,16.19.22.25.28.31.34.38) e dos

dons, votos , ofertas voluntárias , oferendas diversas , primícias , prim o-

gêni tos , díz imos etc . (D t 12,5 -7) , como se deduz da nomeação genér i -

ca então fei ta:

" E s t a s s ã o a s f e s t a s f i x a s d e Ia h w e h , q u e p r o c l a m a r e i s c o m o s a n t a s a s s e m b l é i a s ,

p a r a o f e r e c e r - s e a Ia h w e h o f e r t a q u e i m a d a , h o l o c a u s t o e o f e r t a d e c e r e a i s , s a -c r i f í c i o s e o f e r t a s d e l i b a ç ã o , c a d a q u a l e m s e u d i a p r ó p r i o ; a l é m d o s s á b a d o s

d e Ia h w e h , e a l é m d o s v o s s o s d o n s , e a l é m d e t o d o s o s v o s s o s v o t o s , e a l é m d e

t o d a s a s v o s s a s o f e r t a s v o l u n t á r i a s q u e d e r d e s a o S e n h o r " ( Lv 2 3 , 3 7 - 3 8 ) .

Esclarecida a f inal ização do ano l i túrgico , coincidindo com as

colhei tas f inais se f ixa a data inicial da fe s ta, descrevendo-se o caráter

comemorat ivo dela e o motivo da celebração vinculado à Aliança que

se corpori f icou a part i r da l ibertação do Egi to, lembrando a vida nô-

58

made do Povo de Deus em peregrinação no desert o em busca da Terra

Prometida a Abraão, e em fase de cumprimento defini t ivo :

" D e s d e o d i a q u i n z e d o s é t i m o m ê s , q u a n d o t i v e r d e s c o l h i d o o s f r u t o s d a t e r r a , c e l e b r a r e i s a f e s t a d e Ia h w e h p o r s e t e d i a s ; n o p r i m e i r o d i a h a v e r á d e s c a n s o s o -

l e n e , e n o o i t a v o d i a h a v e r á d e s c a n s o s o l e n e . N o p r i m e i r o d i a t o m a r e i s p a r a v ó s

o f r u t o d e á r v o r e s f o r m o s a s , f o l h a s d e p a l m e i r a s , r a m o s d e á r v o r e s f r o n d o s a s e s a l g u e i r o s d e r i b e i r a s ; e v o s a l e g r a r e i s p e r a n t e Ia h w e h v o s s o D e u s p o r s e t e d i a s .

E c e l e b r á - l a - e i s c o m o f e s t a a Ia h w e h p o r s e t e d i a s c a d a a n o ; e s t a t u t o p e r p é t u o

s e r á p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s ; n o m ê s s é t i m o a c e l e b r a r e i s . P o r s e t e d i a s h a b i t a r e i s e m t e n d a s d e r a m o s ; t o d o s o s n a t u r a i s e m Is r a e l h a b i t a r ã o e m t e n d a s d e r a m o s ,

p a r a q u e a s v o s s a s g e r a ç õ e s s a i b a m q u e e u f i z h a b i t a r e m t e n d a s d e r a m o s o s f i -

l h o s d e I s r a e l , q u a n d o o s t i r e i d a t e r r a d o E g i t o . E u s o u Ia h w e h v o s s o D e u s " ( L v 2 3 , 3 9 - 4 3 ) .

Certos aspectos d a Festa das Tendas só se esclarecem em outros

locais destacando-se o caráter fes t ivo de enorme regozi jo e solen idade

de que se revest ia , chegando a ser denominada s implesmente de " Fes-

ta". Era ocasião de verdadei ro reconhecimento das bênçãos com que o

Povo de Iahweh foi cumulado, passando da vida rúst ica e nôm ade do

deserto para a vida de far tura em terr i tório f ixo , cuja colhei ta se co-

memorava, pedindo-as ainda para a próxima semeadura (Ne 8,14 -18 /

2Mac 10,6-7 / cfr . tb . Dt 16,13 -17). Com essa Festa encerra -se a des-

crição pormenorizada das fes tas f ixas :

" A s s i m p r o m u l g o u M o i s é s a o s f i l h o s d e I s r a e l a s f e s t a s f i x a s d e Ia h w e h " ( L v

2 3 , 4 4 ) .

3.11.7. - O CANDELABRO E OS PÃES DA APRESENTAÇÃO

Novamente são alvo de anál ise algumas normas de cul to cot idi a-

no de valor fundamental , apesar de sua aparente s implicidade. São as

concernentes ao Candelabro e aos Pães da Proposição ou da Apr esen-

tação. O Candelabro é descri to de maneira muito idênt ica a Ex 27,20 -

21, a respei to dos quais já se c omentou (Cap. II, n . º 2 .12, i t em 3):

" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : O r d e n a a o s f i l h o s d e I s r a e l q u e t e t r a g a m , p a r a o

c a n d e l a b r o , a z e i t e d e o l i v e i r a , p u r o , b a t i d o , a f i m d e m a n t e r u m a l â m p a d a a c e s a

c o n t i n u a m e n t e . A a r ã o a c o n s e r v a r á e m o r d e m p e r a n t e Ia h w e h , c o n t i n u a m e n t e , d e s d e a t a r d e a t é a m a n h ã , f o r a d o v é u d o t e s t e m u n h o , n a t e n d a d a r e u n i ã o ; s e r á

e s t a t u t o p e r p é t u o p e l a s v o s s a s g e r a ç õ e s . S o b r e o c a n d e l a b r o d e o u r o p u r o c o n -s e r v a r á e m o r d e m a s l â m p a d a s p e r a n t e Ia h w e h c o n t i n u a m e n t e " ( Lv 2 4 , 1 - 4 ) .

A seguir , regulamenta-se o cerimonial dos Pães da Proposição já

inst i tuído e anunciado (Ex 25,30) , quando foi descri ta a mesa onde é

colocado (Ex 25,23-30; 37,10-16):

" T a m b é m t o m a r á s f l o r d e f a r i n h a , e d e l a c o z e r á s d o z e p ã e s ; c a d a p ã o s e r á d e

d o i s d é c i m o s d e e f á . E p ô - l o s - á s p e r a n t e Ia h w e h , e m d u a s f i l e i r a s , s e i s e m c a d a f i l e i r a , s o b r e a m e s a d e o u r o p u r o . S o b r e c a d a f i l e i r a p o r á s i n c e n s o p u r o , p a r a

q u e s e j a s o b r e o s p ã e s c o m o m e m o r i a l , i s t o é , c o m o o f e r t a q u e i m a d a a Ia h w e h .

E m c a d a s á b a d o , c o l o c a r - s e - ã o r e g u l a r m e n t e p e r a n t e Ia h w e h p a r a s e m p r e , c o m o u m a a l i a n ç a p e r p é t u a d a p a r t e d e I s r a e l . P e r t e n c e r ã o o s p ã e s a A a r ã o e a s e u s f i -

l h o s , q u e o s c o m e r ã o e m l u g a r s a n t o , p o r s e r e m c o i s a s a n t í s s i m a p a r a e l e s , d a s

o f e r t a s q u e i m a d a s a Ia h w e h p o r e s t a t u t o p e r p é t u o " ( L v 2 4 , 5 - 9 ) .

Em vários locais recebe também o nome de " Pão da Face", ou

"Pão da Presença" (Ex 25,30; 35,13; 39,36; 40,23; Nm 4,7; 1Sm 21,5 -

59

7; 1Rs 7,48; 2Cr 4,19), ou "Pão da Pi lha", is to é, "part ido em fi le i ras

ou pi lhas" (1Cr 9,32; 23,29; Ne 10,34; 2Cr 13,11). Eram Pães , que se

dispunham em mesa a eles dest inada (Ex 25,23 -30) "na minha presença

(de Iahweh - Ex 29,30)" , em número de doze, representando , logica-

mente, as t r ibos de Is rael , seis em cada f i lei ra, sobre os quais se de i-

tava Incenso a ser queimado em oblação (Lv 2,2) . Por se integrar num

cerimonial de sacri f ício eram "coisa sant íss ima para os sacerd otes , das

oferendas no fogo a Iahweh", devendo ser por eles comidos cada se-

mana, ao se subst i tui r por novos e no momento de se queimar o Ince n-

so “como memorial” perene da Aliança. Além do pão , há ainda resqu í-

cios do uso de l ibações de vinho, po is fala-se em "copos e taças de

ouro" (Ex 25,29; 37,16; Nm 4,7) , o que lembra a Ceia Eucarís t ica. J e-

sus menciona que Davi e seus soldados comeram desse Pão , quando em

fuga de Saul es tando com fome, e mostra aos far iseus que exis tem n e-

cessidades do homem que permitem o descumprimento de determ inadas

prescrições legais (Mt 12,4 e par . ) .

3.11.8. - O CASTIGO DAS BLASFÊMIAS E A LEI DO TALIÃO

A sequência da exposição é bruscamente deformada pela narrat i -

va de uma desavença ocorrida entre o f i lho de pai egípcio e mãe Isra e-

l i ta com outro israel i ta , que culmina com uma ofensa a Iahwe h (Lv

24,10-16). Tal blasfêmia era intolerável e desde o Sinai condenada (Ex

22,27), porém não t raz ia a pena corre spondente. Por causa disso é ele

enclausurado até que Moisés consul tasse Iahweh do cast igo a lhe ser

imposto, e aqui lo que Moisés dissesse era acei to como sendo determ i-

nado por Deus, tal como informara ao seu sogro Jetro em si tuações

s imilares:

" R e s p o n d eu M o i s é s a s e u s o g r o : É p o r q u e o p o v o v e m a m i m p a r a c o n s u l t a r a I a h w e h . Q u a n d o e l e s t ê m a l g u m a d e s a v e n ç a , v ê m a m i m ; e e u j u l g o e n t r e u m e

o u t r o e d o u - l h e s a c o n h e c e r o s e s t a t u t o s d e D e u s e a s s u a s l e i s " ( E x 1 8 , 1 5 - 1 6 ) .

Moisés se impusera ao Povo Israel i ta como um enviado de Deus.

Suas decisões fruto de oração e medi tação, bem como, de oráculos ( c-

fr . Hb 11,7) para se decidir pela sorte questõe s as mais diversas eram

reconhecidas como advindas de Deus. Usava para isso métodos então

reconhecidos (Gn 25,22-23) ou o "pei toral do julgamento" (Ex 28,15;

1Sm 14,41). O fato é que Moisés decreta em nome de Iahweh e era a-

cei to tal como se fora recebido d o própr io Deus:

" E n t ã o d i s s e Ia h w e h a M o i s é s : T i r a p a r a f o r a d o a r r a i a l o q u e t e m b l a s f e m a d o ;

t o d o s o s q u e o o u v i r a m p o r ã o a s m ã o s s o b r e a c a b e ç a d e l e , e t o d a a c o n g r e g a ç ã o

o a p e d r e j a r á . E d i r á s a o s f i l h o s d e I s r a e l : T o d o h o m e m q u e a m a l d i ç o a r o s e u D e u s , l e v a r á s o b r e s i o s e u p e c a d o . E a q u e l e q u e b l a s f e m a r o n o m e d e Ia h w e h ,

c e r t a m e n t e s e r á m o r t o ; t o d a a c o n g r e g a ç ã o c e r t a m e n t e o a p e d r e j a r á . T a n t o o e s -

t r a n g e i r o c o m o o n a t u r a l , q u e b l a s f e m a r o n o m e d e I a h w e h , s e r á m o r t o " ( L v 2 4 , 1 3 - 1 6 ) .

Esse fato da ocorrênc ia da blasfêmia ident i f ica-se à condição de

qualquer pessoa que oferecesse um fi lho seu a Moloc (Lv 20 ,2 -5) , cau-

sando a mesma ofensa a Iahweh que a adoração de outro Deus. Deveria

60

ocorrer , nesses casos, até mesmo a sol idariedade de todos com o ato ,

no caso de se omit i r a punição do responsável :

" E a q u e l e q u e b l a s f e m a r o n o m e d e I a h w e h , s e r á m o r t o ; t o d a a c o m u n i d a d e o a -p e d r e j a r á . T a n t o o e s t r a n g e i r o c o m o o n a t u r a l , q u e b l a s f e m a r o n o m e d e I a h w e h

s e r á m o r t o " ( L v 2 4 , 1 6 ) / " D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : T a m b é m d i r á s a o s f i l h o s

d e I s r a e l : Q u a l q u e r d o s f i l h o s d e I s r a e l , o u d o s e s t r a n g e i r o s p e r e g r i n o s e m I s r a -e l , q u e d e r d e s e u s f i l h o s a M o l o c , s e r á m o r t o ; o p o v o d a t e r r a o a p e d r e j a r á . E u

p o r e i o m e u r o s t o c o n t r a e s s e h o m e m , e o e x t i r p a r e i d o m e i o d o s e u p o v o ; p o r -

q u a n t o d e u d e s e u s f i l h o s a M o l o c , a s s i m c o n t a m i n a n d o o m e u s a n t u á r i o e p r o -f a n a n d o o m e u s a n t o n o m e . E , s e o p o v o d a t e r r a d e a l g u m a m a n e i r a e s c o n d e r o s

o l h o s p a r a n ã o v e r e s s e h o m e m , q u a n d o d e r d e s e u s f i l h o s a M o l o c , e n ã o o m a -

t a r , eu p o r e i o m e u r o s t o c o n t r a e s s e h o m e m , e c o n t r a a s u a f a m í l i a , e o e x t i r p a -r e i d o m e i o d o s e u p o v o , b e m c o m o a t o d o s o s q u e f o r e m a p ó s e l e , p r o s t i t u i n d o -

s e a p ó s M o l o c " ( Lv 2 0 , 1 - 5 ) .

Alguns fatos chamam a atenção a começar com a imposição das

mãos das tes temunhas sobre a cabeça d o ofensor , tal como no holo-

causto são colocadas na cabeça do animal oferecido em expiação. Tal

ato tem essa dimensão apoiando-se na afi rmação de que "o blasfema-

dor levará sobre s i o seu pecado ". As tes temunhas e principais acus a-

doras e executoras (Dt 17,7) declaram assim, solenemente , a culpa do

blasfemador apurada no julgamento, e as tes temunhas isen tavam -se de

qualquer sol idariedade com o ofensor , sofrendo este a plena respons a-

bi l idade do que f izera. Ret i ram o infrator para "fora do acampamento"

para não contaminá-lo tal como ao Santuário , com essa impureza ou

profanação, como se faz ia com as Oferendas da Festa da Expiação que,

contaminadas com as iniq uidades de Israel , eram queimadas fora da

mesma forma (Lv 16 ,27; 24,14; Nm 15,35; Dt 17,2 -7; At 7,57).

Surgem então , aparentemente deslocadas do contexto , essas duas

leis respect ivamente contra os que blasf emarem o nome de Iahweh e os

que feri rem a outrem da comunidade Is rael i ta , seja natural ou est ra n-

geiro. São meios enérgicos para coibir os abusos que venham provocar

desequi l íbrio, desarmonia ou confl i to ao meio social , t razendo inseg u-

rança aos integrantes da comunidade recém -formada. São alvos de rea-

ção enérgica e violenta por causa das conseq uências danosas que t r a-

zem à nova nação , a inda no nascedouro. São os del i tos prat icados dir e-

tamente contra as pessoas, agressões ou outras violências , bem como

as blasfêmias fer indo a Aliança com Ia hweh, fonte de todas as bênção s

ao Povo Is rael i ta:

" Q u e m m a t a r a l g u é m , s e r á m o r t o ; e q u e m m a t a r u m a n i m a l , o r e s s a r c i r á , a n i m a l

p o r a n i m a l . S e a l g u é m f e r i r o s e u p r ó x i m o , c o m o e l e f e z , a s s i m l h e s e r á f e i t o :

f r a t u r a p o r f r a t u r a , o l h o p o r o l h o , d e n t e p o r d e n t e ; t a l c o m o e l e t i v e r f e r i d o u m h o m e m , t a l l h e s e r á f e i t o . Q u e m , p o i s , m a t a r u m a n i m a l , f a r á r e s t i t u i ç ã o p o r e -

l e ; m a s q u e m m a t a r u m h o m e m , s e r á m o r t o . U m a m e s m a l e i t e r e i s , t a n t o p a r a o

e s t r a n g e i r o c o m o p a r a o n a t u r a l ; p o i s e u s o u o Ia h w e h v o s s o D e u s " ( L v 2 4 , 1 7 -2 2 ) .

Com isso, há um encerramento parcial das normas puni t ivas d a-

das por Iahweh no Monte Sinai para serem cumprida s pela comunidade

de Israel . Cumpriram-nas quando disse que "Eu porei o meu rosto co n-

tra esse homem, e o ex t i rparei do meio do seu povo ", subst i tuindo as-

s im a Deus na execução da pena di tada por Moisés:

" T o d o h o m e m q u e a m a l d i ç o a r o s e u D e u s , l e v a r á s o b r e s i o s e u p e c a d o . E a q u e l e

q u e b l a s f e m a r o n o m e d e I a h w e h , c e r t a m e n t e s e r á m o r t o ; t o d a a c o n g r e g a ç ã o c e r t a m e n t e o a p ed r e j a r á . ( . . . ) E n t ã o f a l o u M o i s é s a o s f i l h o s d e I s r a e l . D e p o i s

61

e l e s l e v a r a m p a r a f o r a d o a r r a i a l a q u e l e q u e t i n h a b l a s f e m a d o e o a p e d r e j a r a m . F i z e r a m , p o i s , o s f i l h o s d e I s r a e l c o m o I a h w e h o r d e n a r a a M o i s é s " ( Lv 2 4 , 1 5 -

1 6 . 2 3 ) . 0

No Novo Testamento , tanto São Estevão (At 7,57) como Jesus

são ví t imas do mesmo tratamento, de que S. Paulo na Epís tola aos H e-

breus t i ra uma concl usão prát ica:

" O u v i n d o e l e s i s t o , e n f u r e c i a m - s e e m s e u s c o r a ç õ e s , e r a n g i a m o s d e n t e s c o n t r a E s t ê v ã o . M a s e l e , c h e i o d o E s p í r i t o S a n t o , f i t a n d o o s o l h o s n o c é u , v i u a g l ó r i a

d e D e u s , e J e s u s e m p é à d i r e i t a d e D e u s , e d i s s e : E i s q u e v e j o o s c é u s a b e r t o s ,

e o F i l h o d o h o m e m e m p é à d i r e i t a d e D e u s . E n t ã o e l e s g r i t a r a m c o m g r a n d e v o z , t a p a r a m o s o u v i d o s , e a r r e m e t e r a m u n â n i m e s c o n t r a e l e e , l a n ç a n d o - o f o r a

d a c i d a d e o a p e d r e j a v a m . E a s t e s t e m u n h a s d e p u s e r a m a s s u a s v e s t e s a o s p é s d e

u m m a n c e b o c h a m a d o S a u l o . A p e d r e j a v a m , p o i s , a E s t ê v ã o q u e o r a n d o , d i z i a : S e n h o r J e s u s r e c e b e o m e u e s p í r i t o " ( A t 7 , 5 4 - 5 9 ) / " J e s u s C r i s t o é o m e s m o , o n -

t e m , e h o j e , e e t e r n a m e n t e . N ã o v o s d e i x e i s l e v a r p o r d o u t r i n a s v á r i a s e e s t r a -

n h a s ; p o r q u e b o m é q u e o c o r a ç ã o s e f o r t i f i q u e c o m a g r a ç a , e n ã o c o m a l i m e n -t o s , q u e n ã o t r o u x e r a m p r o v e i t o a l g u m a o s q u e c o m e l e s s e p r e o c u p a r a m . T e m o s

u m a l t a r , d o q u a l n ã o t ê m d i r e i t o d e c o m e r o s q u e s e r v e m a o t a b e r n á c u l o . P o r -

q u e o s c o r p o s d o s a n i m a i s , c u j o s a n g u e é t r a z i d o p a r a d e n t r o d o s a n t o l u g a r p e l o s u m o s a c e r d o t e c o m o o f e r t a p e l o p e c a d o , s ã o q u e i m a d o s f o r a d o a r r a i a l . P o r i s -

s o t a m b é m J e s u s , p a r a s a n t i f i c a r o p o v o p e l o s e u p r ó p r i o s a n g u e , s o f r e u f o r a d a

p o r t a . S a i a m o s p o i s a e l e f o r a d o a r r a i a l , l e v a n d o o s e u o p r ó b r i o ( H b 1 3 , 8 - 1 3 ) .

Também o Evangelho de Mateus , que pretendeu mostrar aos j u-

deus Jesus como o Novo Moisés (Dt 18,15) s i tua o Sermão da Mont a-

nha no al to de um monte (Mt 5,1) como ocorrera no Monte Sinai (Ex

19-20) com o Código da Aliança. Tanto é isso certo que Lucas o s i tua

num "lugar plano" (Lc 6,17) tal como Moisés recapi tula , a l tera e reno-

va o Decálogo , nas Planícies de Moab , na entrada da Terra Promet ida

(Dt 4,45-5,1-21, comparando-se com Ex 19-20). Com isso , os Evange-

l is tas t ransmitem o cumpr imento da Promessa por Jesus Cris to.

Não se pode ver a í uma contradição ou que os Evangelhos sejam

mais fruto de art i f íc io l i terário de seus autores , mas apenas que na di s-

t r ibuição dos temas interpretavam os fatos e escolhiam aqueles mais

adequados à catequese. Basta que se observe ser impossível Cris to ter

pronunciado somente essas bem -aventuranças e somente em um só l u-

gar . E é a í nesse Sermão da Montanha , que o Evangel is ta apresenta o

ponto de chegada , ou o cume de dout r ina de Cris to , part indo-se do

princípio de que viera para l evar a plena eficácia a Lei e os Profe tas:

N ã o p e n s e i s q u e v i m d e s t r u i r a l e i o u o s p r o f e t a s ; n ã o " v i m d e s t r u i r , m a s c u m -

p r i r . P o r q u e e m v e r d a d e v o s d i g o q u e , a t é q u e o c é u e a t e r r a p a s s e m , d e m o d o n e n h u m p a s s a r á d a l e i u m s ó i o u u m s ó t i l , a t é q u e t u d o s e j a c u m p r i d o . Q u a l -

q u e r , p o i s , q u e v i o l a r u m d e s t e s m a n d a m e n t o s , p o r m e n o r q u e s e j a , e a s s i m e n -

s i n a r a o s h o m e n s , s e r á c h a m a d o o m e n o r n o r e i n o d o s c é u s ; a q u e l e , p o r é m , q u e o s c u m p r i r e e n s i n a r s e r á c h a m a d o g r a n d e n o r e i n o d o s c é u s . P o i s e u v o s d i g o

q u e , s e a v o s s a j u s t i ç a n ã o e x c e d e r a d o s e s c r i b a s e f a r i s e u s , d e m o d o n e n h u m

e n t r a r e i s n o r e i n o d o s c é u s " ( M t 5 , 1 7 - 2 0 ) .

Quando à lei do Tal ião a modificará substancialmente ao "ens i-

nar com autoridade" (Mt 7,29):

" O u v i s t e s q u e f o i d i t o : O l h o p o r o l h o , e d e n t e p o r d e n t e . E u , p o r é m , v o s d i g o

q u e n ã o r e s i s t a i s a o h o m e m m a u ; m a s , a q u a l q u e r q u e t e b a t e r n a f a c e d i r e i t a ,

o f e r e c e - l h e t a m b é m a o u t r a ; e a o q u e q u i s e r p l e i t e a r c o n t i g o , e t i r a r - t e a t ú n i c a , l a r g a - l h e t a m b é m a c a p a ; e , s e q u a l q u e r t e o b r i g a r a c a m i n h a r m i l p a s s o s , v a i

c o m e l e d o i s m i l . D á a q u em t e p e d i r , e n ã o v o l t e s a s c o s t a s a o q u e q u i s e r q u e

l h e e m p r e s t e s " ( M t 5 , 3 8 - 4 2 ) .

62

Também, referindo-se à blasfêmia a esc larece bem:

" P o r t a n t o v o s d i g o : T o d o p e c a d o e b l a s f ê m i a s e p e r d o a r ã o a o s h o m e n s ; m a s a b l a s f ê m i a c o n t r a o E s p í r i t o n ã o s e r á p e r d o a d a . S e a l g u é m d i s s e r a l g u m a p a l a v r a

c o n t r a o F i l h o d o H o m e m , i s s o l h e s e r á p e r d o a d o ; m a s s e a l g u é m f a l a r c o n t r a o

E s p í r i t o S a n t o , n ã o l h e s e r á p e r d o a d o , n e m n e s t e m u n d o , n e m n o v i n d o u r o " ( M t 1 2 , 3 1 - 3 2 ) .

3.12. - O ANO SABÁTICO E O ANO DO JUBILAR

São as duas úl t imas festas rel igiosas advindas do Código da Al i -

ança (Ex 23,10-11) entregue a Moisés no Sinai ou Horeb (Lv 27,34) de

grande alcance comunitário, e basicamente rel igioso, vol tado para os

pobres e até mesmo para os animais do campo :

3.12.1. - O ANO SABÁTICO

" S e i s a n o s s e m e a r á s t u a t e r r a , e r e c o l h e r á s o s s e u s f r u t o s ; m a s n o s é t i m o a n o a

d e i x a r á s r e p o u s a r , p a r a q u e o s p o b r e s d o t e u p o v o p o s s a m c o m e r , e d o q u e e s t e s d e i x a r e m c o m a m o s a n i m a i s d o c a m p o . A s s i m f a r á s c o m a t u a v i n h a e c o m o t e u

o l i v a l " ( E x 2 3 , 1 0 - 1 1 ) .

É indispensável repet i r e ampliar o s ignif icado da palavra "s h-

bat" em hebraico que é "cessar o que se faz e se retornar ao que se f a-

z ia antes". Assim foi que , no f im da Criação , Deus "shabat" , qual seja

"cessou de toda obra que criando havia fei to" (Gn 2,3) . Os Isr ael i tas

são inst ruídos para fazer o mesmo com a terra "que pr oduz":

" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s n o m o n t e S i n a i : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l e d i z e -

l h e s : Q u a n d o t i v e r d e s e n t r a d o n a t e r r a q u e e u v o s d o u , a t e r r a g u a r d a r á u m s á -

b a d o e m h o n r a d e Ia h w e h . S e i s a n o s s e m e a r á s a t u a t e r r a , e s e i s a n o s p o d a r á s a

t u a v i n h a , e c o l h e r á s o s s e u s f r u t o s ; m a s n o s é t i m o a n o h a v e r á s á b a d o d e d e s -c a n s o s o l e n e p a r a a t e r r a , u m s á b a d o e m h o n r a d e Ia h w e h ; n ã o s e m e a r á s o t e u

c a m p o , n e m p o d a r á s a t u a v i n h a . O q u e n a s c e r d e s i m e s m o d a t u a s e g a n ã o s e -

g a r á s , e a s u v a s d a t u a v i d e n ã o t r a t a d a n ã o v i n d i m a r á s ; a n o d e d e s c a n s o s o l e n e s e r á p a r a a t e r r a . M a s o s f r u t o s d o s á b a d o d a t e r r a v o s s e r ã o p o r a l i m e n t o , a t i ,

e a o t e u s e r v o , e à t u a s e r v a , e a o t e u j o r n a l e i r o , e a o e s t r a n g e i r o q u e p e r e g r i n a

c o n t i g o , e a o t e u g a d o , e a o s a n i m a i s q u e e s t ã o n a t u a t e r r a ; t o d o o s e u p r o d u t o s e r á p o r m a n t i m e n t o " ( Lv 2 5 , 1 - 7 ) .

À guisa de busca de melhor entendimento e de comparação sub s-

t i tua-se a palavra "sábado" pelo correspo ndente sent ido hebraico de

"cessar", e ter -se-á uma “tradução” mais compreensível e conforme a

entenderam os Is rae l i tas , que desconheciam a deformação advinda p elo

uso inadequado do apel ido que r ecebeu o sét imo dia:

" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s n o m o n t e S i n a i : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l e d i z e -l h e s : Q u a n d o t i v e r d e s e n t r a d o n a t e r r a q u e e u v o s d o u , a t e r r a g u a r d a r á u m " c e s -

s a r " ( r e p o u s o s a b á t i c o ) e m h o n r a d e Ia h w e h . S e i s a n o s s e m e a r á s a t u a t e r r a , e

s e i s a n o s p o d a r á s a t u a v i n h a , e c o l h e r á s o s s e u s f r u t o s ; m a s n o s é t i m o a n o h a -v e r á " u m c e s s a r " ( u m s á b a d o ) s o l e n e p a r a a t e r r a , " u m c e s s a r " ( u m s á b a d o ) . e m

h o n r a d e Ia h w e h ; n ã o s e m e a r á s o t e u c a m p o , n e m p o d a r á s a t u a v i n h a . O q u e

n a s c e r d e s i m e s m o d a t u a s e g a n ã o s e g a r á s , e a s u v a s d a t u a v i d e n ã o t r a t a d a n ã o v i n d i m a r á s ; a n o s a b á t i c o ( " d e r e t o r n o a o e s t a d o a n t e r i o r " ) s o l e n e s e r á p a r a

a t e r r a . M a s o s f r u t o s d o " c e s s a r " ( s á b a d o ) d a t e r r a v o s s e r ã o p o r a l i m e n t o , a t i ,

e a o t e u s e r v o , e à t u a s e r v a , e a o t e u j o r n a l e i r o , e a o e s t r a n g e i r o q u e p e r e g r i n a c o n t i g o , e a o t e u g a d o , e a o s a n i m a i s q u e e s t ã o n a t u a t e r r a ; t o d o o s e u p r o d u t o

s e r á p o r m a n t i m e n t o " ( Lv 2 5 , 1 - 7 ) .

63

Então o que se recebe da ter ra no "Ano Sabát ico" são os frutos

da Bênção de Iahweh ao "Sét imo Dia" (". . . e Iahweh abençoou o sét i -

mo dia. . ." - Gn 2,3) , i s to é, de sua fec undidade natural , sem o concu r-

so humano e "em honra de Iahweh" , pelo que é uma dádiva de Deus. E

com a autoridade de dono de toda a "ter ra que vos dou" (Lv 25,2) de s-

t ina os mesmos frutos a todos os habi tantes (Lv 25,6 -7) e também aos

pobres e o que lhes sobrar , aos animais (Ex 23,10-11). A f inal idade da

comemoração não é outra que homenagear e reconhecer a soberania de

Iahweh agindo na Criação pela Bênção que lhe deu independent emente

do Homem. Sem tal Bênção , o t rabalho humano nada produzir ia e na

qual idade de dono exclusivo da terra e de tudo que ela contém” (Lv

25,2.23 / 1Cro 19,15) Iahweh dis t r ibui os frutos a quem dest inou na

Criação, is to é , a todos os seres vivos:

" S e d i s s e r d e s : Q u e c o m e r e m o s n o s é t i m o a n o , v i s t o q u e n ã o h a v e m o s d e s e m e a r ,

n e m f a z e r a n o s s a c o l h e i t a ? e n t ã o e u m a n d a r e i a m i n h a b ê n ç ã o s o b r e v ó s n o s e x -

t o a n o , e a t e r r a p r o d u z i r á f r u t o b a s t a n t e p a r a o s t r ê s a n o s . N o o i t a v o a n o s e m e -

a r e i s , e c o m e r e i s d a c o l h e i t a v e l h a ; a t é o a n o n o n o , a t é q u e v e n h a a c o l h e i t a n o -v a , c o m e r e i s d a v e l h a " ( L v 2 5 , 2 0 - 2 2 ) .

3.12.2. - O ANO JUBILAR

Fundamental para o Povo de Is rael desde o seu anúncio, durante

o seu preparo e no decurso de sua form ação é a busca de comunhão

com Iahweh t raduzida na Aliança. Essa condição é tão bás ica que se

torna a essência de sua v ida, tanto na esfera rel igiosa como na prof a-

na. Na Inst i tuição do Ano Jubilar a mesma tendência vai adquir i r um

sent ido vivencial prát ico para o equi l íbrio da comunidade , a f im de se

manter a paz e harmonia entre os seus membros. Para isso, busca -se

reduzi r ao máximo as diferenças de fortuna que soem acontecer sem

infr ingir as regras de just iça então vigentes . Coerentemente , o que re-

ge essa Inst i tuição é o princípio de que toda a terra é de Iahweh (Lv

25,2.23), que a dis t r ibui ao Seu Povo com a observância duma série

variável de condições , de acordo com cada t ipo de propried ade.

Del ineia-se o modo de se determinar a data da festa anunciada

no Dia da Expiação com " trombetas" ("yobel" = nome hebraico do ch i-

fre do carnei ro usado nelas , d e onde veio o nome da f esta - "jubi leu"):

" T a m b é m c o n t a r á s s e t e s e m a n a s d e a n o s , s e t e v e z e s s e t e a n o s ; d e m a n e i r a q u e o s d i a s d o s s e t e s á b a d o s d e a n o s s e r ã o q u a r e n t a e n o v e a n o s . E n t ã o , n o d é c i m o d i a

d o s é t i m o m ê s , f a r á s s o a r f o r t e m e n t e a t r o m b e t a ; n o d i a d a e x p i a ç ã o f a r e i s s o a r

a t r o m b e t a p o r t o d a a v o s s a t e r r a . E s a n t i f i c a r e i s o a n o q ü i n q u a g é s i m o , e a p r e -g o a r e i s l i b e r d a d e n a t e r r a a t o d o s o s s e u s h a b i t a n t e s ; a n o d e j u b i l e u s e r á p a r a

v ó s ; p o i s t o r n a r e i s , c a d a u m à s u a p o s s e s s ã o , e c a d a u m à s u a f a m í l i a . E s s e a n o

q ü i n q u a g é s i m o s e r á p a r a v ó s j u b i l e u ; n ã o s e m e a r e i s , n e m s e g a r e i s o q u e n e l e n a s c e r d e s i m e s m o , n e m n e l e v i n d i m a r e i s a s u v a s d a s v i d e s n ã o t r a t a d a s . P o r -

q u e é j u b i l e u ; s a n t o s e r á p a r a v ó s ; d i r e t a m e n t e d o c a m p o c o m e r e i s o s e u p r o d u -

t o . N e s s e a n o d o j u b i l e u t o r n a r e i s , c a d a u m à s u a p o s s e s s ã o " ( Lv 2 5 , 8 - 1 3 ) .

Ao que se observa , a abertura do Ano Jubi lar dava-se no Dia da

Expiação, ao som de t rombetas , e ass im , eram preparados pelo jejum e

a peni tência. O r i tual de sant i f icação compunha -se do retorno de cada

qual à sua herança ou propriedade e do escravo à sua famíl ia , bem co-

mo o repouso da ter ra igualar -se-á ao do ano sabát ico:

64

" S e v e n d e r d e s a l g u m a c o i s a a o v o s s o p r ó x i m o o u a c o m p r a r d e s d a m ã o d o v o s s o

p r ó x i m o , n ã o v o s d e f r a u d a r e i s u n s a o s o u t r o s . C o n f o r m e o n ú m e r o d e a n o s d e s d e

o j u b i l e u é q u e c o m p r a r á s a o t e u p r ó x i m o , e c o n f o r m e o n ú m e r o d e a n o s d a s c o -

l h e i t a s é q u e e l e t e v e n d e r á . Q u a n t o m a i s f o r e m o s a n o s , t a n t o m a i s a u m en t a r á s o p r e ç o , e q u a n t o m e n o s f o r e m o s a n o s , t a n t o m a i s a b a i x a r á s o p r e ç o ; p o r q u e é o

n ú m e r o d a s c o l h e i t a s q u e e l e t e v e n d e " ( Lv 2 5 , 1 4 - 1 6 ) .

Usando de l inguagem atual são rest r ições ao absolut ismo da pr o-

priedade privada com duas normas de fortes conseq uências econômicas

e sociais : o retorno da propriedade imóvel à herança do vendedor e a

l ibertação de todos os escravos israel i tas . P or se t ratar da Terra Pro-

metida e de um direi to Israel i ta de herança famil iar (Lv 25,25.47 -55)

em si inal ienável , vendia-se “o número das colhei tas” , uma espécie de

direi to de usufruto, em tudo conforme o soberano D esígnio de Iahweh,

cuja Bênção a acompanhava:

" N e n h u m d e v ó s o p r i m i r á a o s e u p r ó x i m o ; m a s t e m e r á s o t e u D e u s ; p o r q u e e u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s . P e l o q u e o b s e r v a r e i s o s m eu s e s t a t u t o s , e g u a r d a r e i s

o s m e u s p r e c e i t o s e o s c u m p r i r e i s ; a s s i m h a b i t a r e i s s e g u r o s n a t e r r a . E l a d a r á o

s e u f r u t o , e c o m e r e i s a f a r t a r ; e n e l a h a b i t a r e i s s e g u r o s . S e d i s s e r d e s : Q u e c o -m e r e m o s n o s é t i m o a n o , v i s t o q u e n ã o h a v e m o s d e s e m e a r , n e m f a z e r a n o s s a c o -

l h e i t a ? e n t ã o e u m a n d a r e i a m i n h a b ê n ç ã o s o b r e v ó s n o s e x t o a n o , e a t e r r a p r o -

d u z i r á f r u t o b a s t a n t e p a r a o s t r ê s a n o s . N o o i t a v o a n o s e m e a r e i s , e c o m e r e i s d a c o l h e i t a v e l h a ; a t é o a n o n o n o , a t é q u e v e n h a a c o l h e i t a n o v a , c o m e r e i s d a v e -

l h a . T a m b é m n ã o s e v e n d e r á a t e r r a e m p e r p e t u i d a d e , p o r q u e a t e r r a é m i n h a ;

p o i s v ó s e s t a i s c o m i g o c o m o e s t r a n g e i r o s e p e r e g r i n o s . P o r t a n t o e m t o d a a t e r r a d a v o s s a p o s s e s s ã o c o n c e d e r e i s q u e s e j a r e m i d a a t e r r a . S e t e u i r m ã o e m p o b r e -

c e r e v e n d e r u m a p a r t e d a s u a p o s s e s s ã o , v i r á o s e u p a r e n t e m a i s c h e g a d o e r e -

m i r á o q u e s e u i r m ã o v e n d e u . E s e a l g u é m n ã o t i v e r r e d e n t o r , m a s e l e m e s m o t i -v e r e n r i q u e c i d o e a c h a d o o q u e b a s t a p a r a o s e u r e s g a t e , c o n t a r á o s a n o s d e s d e a

s u a v e n d a , e o q u e f i c a r d o p r e ç o d a v e n d a r e s t i t u i r á a o h o m e m a q u e m a v e n -

d e u , e t o r n a r á à s u a p o s s e s s ã o . M a s , s e a s s u a s p o s s e s n ã o b a s t a r e m p a r a r e a v ê -l a , a q u i l o q u e t i v e r v e n d i d o f i c a r á n a m ã o d o c o m p r a d o r a t é o a n o d o j u b i l e u ;

p o r é m n o a n o d o j u b i l e u s a i r á d a p o s s e d e s t e , e a q u e l e q u e v e n d e u t o r n a r á à s u a

p o s s e s s ã o " ( Lv 2 5 , 1 7 - 2 8 ) .

Havia também modificações no Direi to Urbano da Propriedade

Imóvel , variando-se a vigência do Dire i to de Re sgate (Lv 25,29-31),

bem como o r i tual concernente à herança dos levi tas (Lv 25 ,32-34):

" S e a l g u é m v e n d e r u m a c a s a d e m o r a d i a e m c i d a d e m u r a d a , p o d e r á r e m i - l a d e n -

t r o d e u m a n o i n t e i r o d e p o i s d a s u a v e n d a ; d u r a n t e u m a n o i n t e i r o t e r á o d i r e i t o

d e a r e m i r . M a s s e , p a s s a d o u m a n o i n t e i r o , n ã o t i v e r s i d o r e s g a t a d a , e s s a c a s a q u e e s t á n a c i d a d e m u r a d a f i c a r á , e m p e r p e t u i d a d e , p e r t e n c e n d o a o q u e a c o m -

p r o u , e à s u a d e s c e n d ê n c i a ; n ã o s a i r á o s e u p o d e r n o j u b i l e u . T o d a v i a a s c a s a s d a s a l d e i a s q u e n ã o t ê m m u r o a o r e d o r s e r ã o c o n s i d e r a d a s c o m o o c a m p o d a t e r -

r a ; p o d e r ã o s e r r e m i d a s , e s a i r ã o d o p o d e r d o c o m p r a d o r n o j u b i l e u . T a m b é m , n o

t o c a n t e à s c i d a d e s d o s l e v i t a s , à s c a s a s d a s c i d a d e s d a s u a p o s s e s s ã o , t e r ã o e l e s d i r e i t o p e r p é t u o d e r e s g a t á - l a s . E s e a l g u é m c o m p r a r d o s l e v i t a s u m a c a s a , a c a -

s a c o m p r a d a e a c i d a d e d a s u a p o s s e s s ã o s a i r ã o d o p o d e r d o c o m p r a d o r n o j u b i -

l e u ; p o r q u e a s c a s a s d a s c i d a d e s d o s l e v i t a s s ã o a s u a p o s s e s s ã o n o m e i o d o s f i -l h o s d e I s r a e l . M a s o c a m p o d o a r r a b a l d e d a s s u a s c i d a d e s n ã o s e p o d e r á v e n d e r ,

p o r q u e l h e s é p o s s e s s ã o p e r p é t u a " ( L v 2 5 , 2 9 - 3 4 ) .

Por causa da igualdade e just iça que deveria nortear a dis t r ibu i-

ção da Terra Promet ida deveria ser amparada a escravidão dos "herdei-

ros" por se t ratar de "servos de Iah weh" (Lv 25,42) , que se empobrec i-

am e se vendiam por dívidas (Dt 15,4 -15), pelo que desde o in ício , o

Código da Aliança mit igava essa servidão (Ex 21,1-11). São os vários

deveres de misericórdia divina que o Povo de Iahweh deveria ref let i r

como "imagem", a té mesmo, com os estrangeiros (Ex 12,49; 22,20; Lv

65

19,33-34) pois se condena e se iguala o t ratamento dispensado ao e s-

cravo Is rael i ta:

" S e t e u i r m ã o f i c a r p o b r e a o t e u l a d o , e l h e e n f r a q u e c e r e m a s m ã o s , a m p a r á - l o -á s c o m o e s t r a n g e i r o e p e r e g r i n o p a r a q u e p o s s a v i v e r c o n t i g o . N ã o t o m a r á s d e l e

j u r o s n e m l u c r o , m a s t e m e r á s o t e u D e u s , p a r a q u e t e u i r m ã o v i v a c o n t i g o . N ã o

l h e d a r á s t e u d i n h e i r o a j u r o s , n e m o s t e u s v í v e r e s p o r u s u r a . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s , q u e v o s t i r e i d a t e r r a d o E g i t o , p a r a v o s d a r a t e r r a d e C a n a ã , p a r a

s e r o v o s s o D e u s . T a m b é m , s e t e u i r m ã o e m p o b r e c e r a o t e u l a d o e v e n d e r - s e a

t i , n ã o o f a r á s s e r v i r c o m o e s c r a v o . C o m o a s s a l a r i a d o e c o m o p e r e g r i n o t r a b a -l h a r á c o n t i g o a t é o a n o d o j u b i l e u . E n t ã o s a i r á d o t e u s e r v i ç o , e c o m e l e s e u s f i -

l h o s , e t o r n a r á à s u a f a m í l i a , à p o s s e s s ã o d e s e u s p a i s . P o r q u e s ã o m e u s s e r v o s ,

q u e t i r e i d a t e r r a d o E g i t o ; n ã o s e r ã o v e n d i d o s c o m o e s c r a v o s . N ã o d o m i n a r á s s o b r e e l e c o m r i g o r , m a s t em e r á s o t e u D e u s . E q u a n t o a o s e s c r a v o s o u à s e s c r a -

v a s q u e t i v e r e s s e r ã o c o m p r a d o s d a s n a ç õ e s q u e e s t i v e r e m a o r e d o r d e v ó s .

T a m b é m o s c o m p r a r e i s d e n t r e o s f i l h o s d o s e s t r a n g e i r o s q u e h a b i t a r e m e n t r e v ó s , b e m c o m o d e n t r e a s s u a s f a m í l i a s q u e v i v e m c o n v o s c o , q u e n a s c e r e m n a

v o s s a t e r r a ; s e r ã o v o s s a p r o p r i e d a d e . E d e i x á - l o s - e i s p o r h e r a n ç a a o s v o s s o s f i -

l h o s d e p o i s d e v ó s , p a r a o s h e r d a r e m c o m o p r o p r i e d a d e p e r p é t u a . D e s s e s t o m a -r e i s o s v o s s o s e s c r a v o s ; m a s s o b r e v o s s o s i r m ã o s , o s f i l h o s d e I s r a e l , n ã o o s o -

p r i m i r e i s c o m p o d e r " ( L v 2 5 , 3 5 - 4 6 ) .

"Eu sou Iahweh o vosso Deus, que vos t i rei da ter ra do Egi to,

para vos dar a terra de Canaã, para ser o vosso Deus" ( . . . ) "Porque são

meus servos, que t i rei da terra do Egi to ; não serão vendidos como e s-

cravos. Não dominarás sobre ele com rigor, mas temerás o teu Deus" -

O temor de Iahweh é o fu ndamento rel igioso de t odas as Inst i tuições

Is rael i tas do que não se isentaria o Jubi leu. Esse temor não era prop ri -

amente falando medo, mas o profundo receio de não mais gozar da

Bênção de Iahweh. A generosidade de Deus deveria ser part i lhada por

todos os povos que se abrigassem em Is rael . É a sober ania de Iahweh

que se t raduz em atos de seus súdi tos dis t ingui ndo-os dos demais e

que os tornava "santos", “separados”, cu ja sant idade vai se comemorar

na Festa do Ano Jubi leu que se inicia no Dia da Expi ação . Assim, a

generosidade de Iahweh, "que não faz acepção de pessoas ", vai se re-

f let i r tanto no t rato do est rangeiro , como no do escravo Israel i ta , dis-

pensando igual t ratamento desde a l ibert ação do Egi to.

É claro que , somente fora dos domínios de I ahweh, junto dos

demais povos é que era possível adquir i r escravos nos moldes vigentes

de propriedade perpétua, objeto até mesmo de herança. Tal como no

cris t ianismo, o obje to fundamental do t ratamento aos i rmãos e es t ra n-

geiros al i res identes e reduzidos à miséria , era o que se denomina as-

s is tência social no sent ido de que tudo se far ia para a sua recuperação

de just iça. Buscava-se ampará-los no infortúnio , res t i tuindo-lhes a l i -

berdade e os bens , quando os pudessem possuir e adminis t rar . Daí a

proibição da usura e dos mei os de provento de qualquer espécie em

toda a legis lação da Aliança (cfr . Ex 22,25 e Dt 23,20 -21) e o t rata-

mento especial dispensado ao escravo hebreu, que nem poderia ser

vendido a outrem. A essa Lei do Jubi leu sujei tava -se até mesmo o es-

t rangeiro , no caso do infortúnio do Is rael i ta (Lv 25,47 -55), pelo mes-

mo fundamento:

" P o r q u e o s f i l h o s d e I s r a e l s ã o m e u s s e r v o s q u e t i r e i d a t e r r a d o E g i t o . E u s o u

I a h w e h o v o s s o D e u s " ( L v 2 5 , 5 5 ) .

66

João Paulo II fundamentado nessa comemoração Is rael i ta do J u-

bi leu conclama a Igreja a sua prát ica na Carta Apostól ica " Tercio Mi l-

lenio Adveniente " ("O Advento do Terceiro Milênio") onde diz :

“ 1 0 . N o c r i s t i a n i s m o , o t e m p o t e m u m a i m p o r t â n c i a f u n d a m e n t a l . D e n t r o d a s u a

d i m e n s ã o , f o i c r i a d o o m u n d o , n o s e u â m b i t o s e d e s e n r o l a a h i s t ó r i a d a s a l v a ç ã o ,

q u e t e m o s e u p o n t o c u l m i n a n t e n a " p l e n i t u d e d o t e m p o " d a E n c a r n a ç ã o e a s u a m e t a n o r e g r e s s o g l o r i o s o d o F i l h o d e D e u s n o f i m d o s t e m p o s . ( . . . ) D e s t a r e l a -

ç ã o d e D e u s c o m o t e m p o n a s c e o d e v e r d e s a n t i f i c á - l o . T a l s e v e r i f i c a , p o r e -

x e m p l o , q u a n d o s e d e d i c a m a D e u s t e m p o s e s p e c í f i c o s , d i a s o u s e m a n a s , c o m o j á s u c e d i a n a r e l i g i ã o d a A n t i g a A l i a n ç a , e a c o n t e c e a i n d a , e m b o r a d e m o d o n o v o ,

n o c r i s t i a n i s m o .

( . . . ) . 1 1 . N e s t e c o n t e x t o , t o r n a - s e c o m p r e e n s í v e l o c o s t u m e d o s j u b i l e u s , q u e t e m i n í c i o n o A n t i g o T e s t a m e n t o e r e e n c o n t r a a s u a c o n t i n u a ç ã o n a H i s t ó r i a d a

I g r e j a . U m d i a J e s u s d e N a z a r é , t e n d o i d o à s i n a g o g a d a s u a C i d a d e , l e v a n t o u - s e

p a r a l e r ( c f . Lc 4 , 1 6 - 3 0 ) . F o i - l h e e n t r e g u e o l i v r o d o p r o f e t a I s a í a s , o n d e l e u o s e g u i n t e t r e c h o : " O E s p í r i t o d o S e n h o r e s t á s o b r e M i m , p o r q u e M e u n g i u , p a r a

a n u n c i a r a B o a - N o v a a o s p o b r e s : e n v i o u - M e a p r o c l a m a r a l i b e r t a ç ã o d o s c a t i -

v o s e , a o s c e g o s , o r e c o b r a r d a v i s t a ; a a n d a r e m l i b e r d a d e o s o p r i m i d o s , a p r o -

c l a m a r u m a n o d e g r a ç a d o S e n h o r " ( I s 6 1 , 1 - 2 ) .

O P r o f e t a f a l a v a d o M e s s i a s . " C u m p r i u - s e h o j e - a c r e s c e n t o u J e s u s - e s -

t a p a s s a g e m d a E s c r i t u r a , q u e a c a b a i s d e o u v i r " ( Lc 4 , 2 1 ) , f a z e n d o c o m p r e e n d e r q u e E l e p r ó p r i o e r a o M e s s i a s a n u n c i a d o p e l o P r o f e t a , e q u e n ' E l e t i n h a i n í c i o o

" t e m p o " t ã o e s p e r a d o : t i n h a c h e g a d o o d i a d a s a l v a ç ã o , a " p l e n i t u d e d o t e m p o " . T o d o s o s j u b i l e u s s e r e f e r e m a e s t e " t e m p o " e d i z e m r e s p e i t o à m i s s ã o m e s s i â n i -

c a d e C r i s t o , q u e v e i o c o m o " c o n s a g r a d o c o m a u n ç ã o d o E s p í r i t o S a n t o " , c o m o

" e n v i a d o p e l o P a i " . É E l e q u e a n u n c i a a B o a - N o v a a o s p o b r e s . É E l e q u e l e v a a l i b e r d a d e à q u e l e s q u e d e l a e s t ã o p r i v a d o s , q u e l i b e r t a o s o p r i m i d o s , q u e r e s t i t u i

a v i s t a a o s c e g o s ( c f . M t 1 1 , 4 - 5 ; Lc 7 , 2 2 ) . D e s t e m o d o , E l e r e a l i z a " u m a n o d e

g r a ç a d o S e n h o r " , q u e a n u n c i a n ã o s ó c o m a p a l a v r a , m a s s o b r e t u d o c o m a s s u a s o b r a s . J u b i l e u , o u s e j a , " u m a n o d e g r a ç a d o S e n h o r " “ é a c a r a c t e r í s t i c a d a a t i -

v i d a d e d e J e s u s , e n ã o a p e n a s a d e f i n i ç ã o c r o n o l ó g i c a d e c e r t a o c o r r ê n c i a . "

3.13. - EXORTAÇÕES

Elas formam o que se denomina geralmente de " Bênçãos e Mal-

dições", decorrentes do cumprimento ou não das leis di tadas por Ia h-

weh no Monte Sinai , ou seja, as Leis da Aliança. A Terra Prometida é

tal e qual uma antevisão do Paraíso a que Deus dest inou e ainda dest i -

na o Homem, e cuja violação do precei to de vida (" bênção") en tão lhe

t rouxe a morte ("maldição ") . Da mesma forma , aqui o abandono de I-

ahweh e a violação dos precei tos di tados t rarão a es ter i l idade da ma l-

dição:

" S e a n d a r d e s c o n f o r m e o s m e u s p r e c e i t o s , e g u a r d a r d e s o s m e u s m a n d a m e n t o s e o s c u m p r i r e s , e u v o s d a r e i a s v o s s a s c h u v a s a s e u t e m p o , e a t e r r a d a r á o s e u

p r o d u t o , e a s á r v o r e s d o c a m p o d a r ã o o s s e u s f r u t o s ; a d e b u l h a v o s c o n t i n u a r á

a t é a v i n d i m a , e a v i n d i m a a t é a s e m e a d u r a ; c o m e r e i s o v o s s o p ã o a f a r t a r , e h a -b i t a r e i s s e g u r o s n a v o s s a t e r r a . T a m b é m d a r e i p a z a o p a í s , e v o s d e i t a r e i s , e

n i n g u é m v o s a m e d r o n t a r á . F a r e i d e s a p a r e c e r d a t e r r a o s a n i m a i s n o c i v o s , e p e l a

v o s s a t e r r a n ã o p a s s a r á e s p a d a . P e r s e g u i r e i s o s v o s s o s i n i m i g o s , e e l e s c a i r ã o à e s p a d a d i a n t e d e v ó s . C i n c o d e v ó s p e r s e g u i r ã o a u m c e n t o d e l e s , e c e m d e v ó s

p e r s e g u i r ã o a d e z m i l ; e o s v o s s o s i n i m i g o s c a i r ã o à e s p a d a d i a n t e d e v ó s . O u -

t r o s s i m , o l h a r e i p a r a v ó s , e v o s f a r e i f r u t i f i c a r , e v o s m u l t i p l i c a r e i , e c o n f i r m a -r e i m i n h a a l i a n ç a c o n v o s c o . E c o m e r e i s d a c o l h e i t a v e l h a p o r l o n g o t e m p o

g u a r d a d a , a t é a f i n a l a r e m o v e r d e s p a r a d a r l u g a r à n o v a . T a m b é m p o r e i o m e u

s a n t u á r i o n o m e i o d e v ó s , e n ã o v o s r e j e i t a r e i . A n d a r e i n o m e i o d e v ó s , e s e r e i o v o s s o D e u s , e v ó s s e r e i s o m e u p o v o . E u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s , q u e v o s t i -

r e i d a t e r r a d o s e g í p c i o s , p a r a q u e n ã o f ô s s e i s s e u s e s c r a v o s ; e q u e b r e i a s c a -

d e i a s d o v o s s o p e s c o ç o p a r a a n d a r d e s d e c a b e ç a e r g u i d a " ( Lv 2 6 , 3 - 1 3 ) .

"Andarei no meio de vós. . ." lembra com perfeição uma frase já

bem conhecida do Jardim do Éden:

67

" E , o u v i n d o a v o z d o S e n h o r D e u s , q u e p a s s e a v a ( ' a n d a v a ' ) n o j a r d i m . . . " ( G n

3 , 8 ) .

" . . . porei o meu santuário no meio de vós. . ." - Enquanto em pe-

regrinação a "f igura" do Paraíso se concentra no Santuário de Ia hweh

cuja edif icação se consuma com vis tas à Terra Prometida e o Re ino de

Deus que vai se inaugurar com a Ressurreição de Jesus [cfr . Jo 1,14

(„ . . . e habi tou entre nós ') / Lv 26,12; Ex 25,8; 29,45] :

" . . . q u e b r e i a s c a d e i a s d o v o s s o p e s c o ç o p a r a a n d a r d e s d e c a b e ç a e r g u i d a " ( L v

2 6 , 1 3 ) / " O r a , q u a n d o e s s a s c o i s a s c o m e ç a r e m a a c o n t e c e r , e x u l t a i e l e v a n t a i a s v o s s a s c a b e ç a s , p o r q u e a v o s s a r e d e n ç ã o s e a p r o x i m a . . . ( . . . ) . . . q u a n d o v i r d e s

a c o n t e c e r e m e s t a s c o i s a s , s a b e i q u e o r e i n o d e D e u s e s t á p r ó x i m o . E m v e r d a d e

v o s d i g o q u e n ã o p a s s a r á e s t a g e r a ç ã o a t é q u e t u d o i s s o s e c u m p r a " ( Lc 2 1 , 2 8 -3 2 ) .

A condição fundamental é a exclusividade da adoração de um só

Deus, Iahweh (Lv 26,1 -2) , por cujo abandono várias "maldições" se

manifestarão , denotando a fal ta da Bênção d‟Ele . Não se t rata de s i m-

ples fal tas decorrentes de uma fraqueza humana , sempre previs ível em

qualquer inst i tuição , mas de um desl igamento defini t ivo e obst inado

de Iahweh:

" N ã o f a r e i s p a r a v ó s í d o l o s , n e m p a r a v ó s l e v a n t a r e i s i m a g e m e s c u l p i d a , n e m

c o l u n a , n e m p o r e i s n a v o s s a t e r r a p e d r a c o m f i g u r a s , p a r a v o s i n c l i n a r d e s a e l a ; p o r q u e e u s o u Ia h w e h o v o s s o D e u s . G u a r d a r e i s o s m eu s s á b a d o s , e r e v e r e n c i a -

r e i s o m e u s a n t u á r i o . E u s o u Ia h w e h " ( L v 2 6 , 1 - 2 ) / " M a s , s e n ã o m e o u v i r d e s , e

n ã o c u m p r i r d e s t o d o s e s t e s m a n d a m en t o s , e s e r e j e i t a r d e s o s m e u s e s t a t u t o s , e d e s p r e z a r d e s o s m e u s p r e c e i t o s n ã o c u m p r i n d o t o d a s a s m i n h a s l e i s , m a s v i o l a n -

d o a m i n h a a l i a n ç a , e n t ã o e u v o s t r a t a r e i a s s i m : p o r e i s o b r e v ó s . . . " ( Lv 2 6 , 1 4 -

1 6 ) .

A primeira decorrência da preferência e exclusividade de Iahweh

como único Deus é a f idel idade aos seus precei tos ou leis em que se

ex terioriza ou se manifesta ef icazmente a Aliança , que se apresenta

até mesmo em cada movimento de conversão ou de retorno:

" S e e n t ã o o s e u c o r a ç ã o i n c i r c u n c i s o s e e n v e r g o n h a r , e p e d i r e m p e r d ã o d e s u a s

i n i q ü i d a d e s , e u m e l e m b r a r e i d a m i n h a a l i a n ç a c o m J a c ó , d a m i n h a a l i a n ç a c o m

I s a a c , e d a m i n h a a l i a n ç a c o m A b r a ã o . . . " ( Lv 2 6 , 4 1 - 4 2 ) .

O seu rompimento ocasionará uma série de maldições exemplif i -

cadas em cinco ameaças, dest inadas mais a aler tar quanto às cons e-

quências do abandono de Iahweh , que propriamente a um cast igo. É

um chamado ped agógico à conversão:

1ª) - A Doença e a pi lhagem das colheitas fei ta por inimigos ,

em vir tude da impossibi l idade de sua defesa pela f raqueza dos homens

ocasionada pelo f l agelo:

" . . . e u , c o m e f e i t o , p o r e i s o b r e v ó s o t e r r o r , a t u b e r c u lo s e e a f e b r e a r d e n t e , q u e

c o n s u m i r ã o o s v o s s o s o l h o s e f a r ã o d e f i n h a r a v i d a ; e m v ã o s e m e a r e i s a v o s s a s e m e n t e , p o i s o s v o s s o s i n i m i g o s a c o m e r ã o . P o r e i o m e u r o s t o c o n t r a v ó s , e c a -

i r e i s d i a n t e d e v o s s o s i n i m i g o s ; o s q u e v o s o d i a r e m d o m i n a r ã o s o b r e v ó s , e f u -

g i r e i s s e m q u e n i n g u é m v o s p e r s i g a " ( Lv 2 6 , 1 6 - 1 7 ) .

68

2ª) - A Esteri l idade da Terra , cuja fer t i l idade e abundância das

colhei tas os levaria ao orgulho , levando-os ao esquecimento de Iah-

weh, aler tando-os pois quer sempre o retorno de les ou seja a conver-

são:

" S e n e m a i n d a c o m i s t o m e o u v i r d e s , p r o s s e g u i r e i e m c a s t i g a r - v o s s e t e v e z e s m a i s , p o r c a u s a d o s v o s s o s p e c a d o s . P o i s q u e b r a r e i a s o b e r b a d o v o s s o p o d e r , e

v o s f a r e i o c é u c o m o f e r r o e a t e r r a c o m o b r o n z e . E m v ã o s e g a s t a r á a v o s s a

f o r ç a , p o r q u a n t o a v o s s a t e r r a n ã o d a r á o s e u p r o d u t o , n e m a s á r v o r e s d a t e r r a d a r ã o o s s e u s f r u t o s " ( Lv 2 6 , 1 8 - 2 0 ) .

"Se nem ainda com is to me ouvirdes prosseguirei em cast igar -

vos sete vezes mais por causa dos vossos p ecados" - essa f rase mostra

o caráter pedagógico da conversão que Iahweh lhes imporá "sete v e-

zes", até a exaustão, - em que "quebrarei a soberba do vosso poder"

(“do vosso orgulho”). A terra nada produzirá por causa do calor exce s-

s ivo e da seca decorrente.

3ª) - A Invasão dos Animais selvagens , então comuns na Terra

Prometida, ou se ja, a atual Palest ina:

" O r a , s e a n d a r d e s c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o m i g o , e n ã o m e q u i s e r e s o u v i r , t r a r e i

s o b r e v ó s p r a g a s s e t e v e z e s m a i s , c o n f o r m e o s v o s s o s p e c a d o s . E n v i a r e i p a r a o m e i o d e v ó s a s f e r a s d o c a m p o , a s q u a i s m a t a r ã o o s v o s s o s f i l h o s , e d e s t r u i r ã o o

v o s s o g a d o , e v o s r e d u z i r ã o a p e q u e n o n ú m e r o ; e o s v o s s o s c a m i n h o s s e t o r n a -

r ã o d e s e r t o s " ( Lv 2 6 , 2 1 - 2 2 ) .

"Ora, se andardes contrariamente para comigo e não me quiseres

ouvir t rarei sobre vós pragas sete vezes mais , conf orme os vossos pe-

cados" - a mesma frase pedagógica e crescente da conversão , mostran-

do a vinda de animais selvagens como um dos frutos da desordem i m-

plantada pela idolat r ia (2Rs 17,25-26).

4ª) - O Flagelo da Guerra e suas conseq uências como a peste,

a fome e a opressão inimiga:

" S e n e m a s s i m q u i s e r d e s v o l t a r a m i m , m a s c o n t i n u a r d e s a a n d a r c o n t r a r i a m e n t e

p a r a c o m i g o , e u t a m b é m a n d a r e i c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o n v o s c o ; e e u , e u m e s m o ,

v o s f e r i r e i s e t e v e z e s m a i s , p o r c a u s a d o s v o s s o s p e c a d o s . T r a r e i s o b r e v ó s a e s p a d a , q u e e x e c u t a r á a v i n g a n ç a d a a l i a n ç a v i o l a d a , e v o s a g l o m e r a r e i s n a s

v o s s a s c i d a d e s ; e n t ã o e n v i a r e i a p e s t e e n t r e v ó s , e s e r e i s e n t r e g u e s n a m ã o d o i n i m i g o . Q u a n d o eu v o s q u e b r a r o s u s t e n t o d o p ã o , d e z m u l h e r e s c o z e r ã o o v o s -

s o p ã o n u m s ó f o r n o , e d e n o v o v o - l o e n t r e g a r ã o r a c i o n a d o ; e o c o m e r e i s , m a s

n ã o v o s f a r t a r e i s " ( L v 2 6 , 2 3 - 2 6 ) .

Isso indica a principal consequência do f lagelo da guerra, a fa l ta

do pão, aqui s ignif icada na quant idade tão ex ígua que "dez mulh eres

cozerão o vosso pão num só for no, e de novo vo-lo entregarão racio-

nado peso; e o comereis , mas não vos far tareis "

5.ª) - A Devastação do País , o Agravamento da Fome e o Ex í-

l io:

" S e n e m a i n d a c o m i s t o m e o u v i r d e s , m a s c o n t i n u a r d e s a a n d a r c o n t r a r i a m e n t e

p a r a c o m i g o , t a m b é m e u a n d a r e i c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o n v o s c o c o m f u r o r ; e v o s

c a s t i g a r e i s e t e v e z e s m a i s , p o r c a u s a d o s v o s s o s p e c a d o s . E c o m e r e i s a c a r n e d e v o s s o s f i l h o s e a c a r n e d e v o s s a s f i l h a s . D e s t r u i r e i o s v o s s o s l u g a r e s a l t o s , d e r -

r u b a r e i a s v o s s a s i m a g e n s d o s o l , e l a n ç a r e i o s v o s s o s c a d á v e r e s s o b r e o s d e s -

69

t r o ç o s d o s v o s s o s í d o l o s ; e a m i n h a a l m a v o s a b o m i n a r á . R e d u z i r e i a s v o s s a s c i -d a d e s a d e s e r t o , e a s s o l a r e i o s v o s s o s s a n t u á r i o s , e n ã o c h e i r a r e i o v o s s o c h e i r o

s u a v e . A s s o l a r e i a t e r r a , e s o b r e e l a p a s m a r ã o o s v o s s o s i n i m i g o s q u e n e l a h a b i -

t a m . E s p a l h a r - v o s - e i p o r e n t r e a s n a ç õ e s e , d e s e m b a i n h a n d o a e s p a d a , v o s p e r -s e g u i r e i ; a v o s s a t e r r a s e r á a s s o l a d a , e a s v o s s a s c i d a d e s s e t o r n a r ã o e m d e s e r -

t o " ( Lv 2 6 , 2 7 - 3 3 ) .

A devastação será de tal envergadura que não mais se conterá a

selvageria decorrente , nem o amor natural pelos f i lhos em busca da

própria sobrevivência. Parece que o inst into de conservação da espécie

vai falar mais al to a ponto de " comereis a carne de vossos f i lhos e a

carne de vossas f i lhas ", o que acontecia às vezes naq uele tempo, pela

crueldade dos cercos mil i tares de conquis ta (cfr . 2Rs 6,28 -29; J r 19,9;

Lm 2,20; 4 ,10; Ez 5,10). Outra consequência da envergadura da "ma l-

dição" que at ingir ia os idólatras , além da destruição dos lugares de

cul to , seria a privação da sepul tura (J r 14,10-13; J r 22,18-19; Tb

4,3s) . Isso era considerado uma i r reparável t ragédia f icando os mortos

expostos ao relento ta is e quais as imagens ou ídolos destruídos, igu a-

lando-os, servindo ainda de pasto às aves de rapina. Os lugares al tos

de cul to eram muito venerados ant igamente, pois quanto mais al to se

f icasse mais perto dos céus e de Deus e s tar-se- ia. Al i se erguiam as

várias imagens ou ídolos , mencionando-se aqui , especif icamente uma

imagem do "Deus - Sol", que deveria ser uma das idolatr ias de então.

Após isso tudo, ou após a ocorrência das maldições advi ndas da

idolatr ia implantada com o exí l io , vi r ia a puri f icação da ter ra contra s-

tando com a covardia dos sobreviventes que apodreceriam em terra e s-

t rangeira, "por causa de suas iniq uidades e a dos seus pais ":

" E n t ã o a t e r r a r e p o u s a r á n o s s e u s s á b a d o s , t o d o s o s d i a s d a s u a d e s o l a ç ã o , e v ó s e s t a r e i s n a t e r r a d o s v o s s o s i n i m i g o s ; n e s s e t e m p o a t e r r a d e s c a n s a r á , e r e p o u -

s a r á n o s s e u s s á b a d o s . P o r t o d o s o s d i a s d a d e s o l a ç ã o d e s c a n s a r á , p e l o s d i a s q u e

n ã o d e s c a n s o u n o s v o s s o s s á b a d o s , q u a n d o n e l a h a b i t á v e i s . E , q u a n t o a o s s o b r e -v i v e n t e s , e u l h e s i n f u n d i r e i p a v o r n o c o r a ç ã o n a s t e r r a s d o s s e u s i n i m i g o s ; e o

r u í d o d e u m a f o l h a a g i t a d a o s p o r á e m f u g a ; f u g i r ã o c o m o q u e m f o g e d a e s p a d a ,

e c a i r ã o s e m q u e n i n g u é m o s p e r s i g a . E , e m b o r a n ã o h a j a q u e m o s p e r s i g a , t r o -p e ç a r ã o u n s s o b r e o s o u t r o s c o m o d i a n t e d a e s p a d a ; e n ã o p o d e r e i s r e s i s t i r a o s

v o s s o s i n i m i g o s . A s s i m p e r e c e r e i s e n t r e a s n a ç õ e s , e a t e r r a d o s v o s s o s i n i m i g o s

v o s d e v o r a r á ; e o s q u e d e v ó s f i c a r e m a p o d r e c e r ã o p e l a s u a i n i q ü i d a d e n a s t e r -r a s d o s v o s s o s i n i m i g o s , c o m o t a m b é m p e l a i n i q ü i d a d e d e s e u s p a i s " ( Lv 2 6 , 3 4 -

3 9 ) .

Toda a consequência dessa idolatr ia pra t icada pela infidel idade a

Iahweh seja t rocando-O por out ro, seja igualando -O a outros deuses do

panteão dos outros povos seria esquecida com a conversão futura de

descendentes . Seria possível isso desde que reconhecessem e confe s-

sassem o er ro dos antecessores juntamente com a expi ação das culpas ,

pela acei tação da justa ret r ibuição a que se sujei tara m, t raduzida no

pedido de perdão. Seria a ss im uma conversão plena a part i r do interior

por causa da f idel idade de Iahweh à A liança com Abraão, Isaac e Jacó

apesar da impureza advinda pelo convív io com povos pagãos pelo que

se tornavam também de certa forma incircuncisos:

" E n t ã o c o n f e s s a r ã o a s u a i n i q u i d a d e , e a i n i q u i d a d e d e s e u s p a i s , c o m a s s u a s

t r a n s g r e s s õ e s , c o m q u e t r a n s g r e d i r a m c o n t r a m i m ; i g u a l m e n t e c o n f e s s a r ã o q u e ,

p o r t e r e m a n d a d o c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o m i g o , e u t a m b é m a n d e i c o n t r a r i a m e n t e p a r a c o m e l e s , e o s t r o u x e p a r a a t e r r a d o s s e u s i n i m i g o s . S e e n t ã o o s e u c o r a -

ç ã o i n c i r c u n c i s o s e h u m i l h a r , e e x p i a r e m a s s u a s i n i q u i d a d e s , e u m e l e m b r a r e i

d a m i n h a a l i a n ç a c o m J a c ó , d a m i n h a a l i a n ç a c o m Is a a c , e d a m i n h a a l i a n ç a c o m A b r a ã o ; e b e m a s s i m d a t e r r a m e l e m b r a r e i . A t e r r a t a m b é m s e r á d e i x a d a p o r e -

70

l e s e r e p o u s a r á n o s s e u s s á b a d o s , t e n d o s i d o d e s o l a d a p o r c a u s a d e l e s ; e e l e s e x p i a r ã o a s s u a s i n i q ü i d a d es , e m r a z ã o m e s m o d e q u e r e j e i t a r a m o s m e u s p r e c e i -

t o s e a d e s p r e z a r a m o s m e u s e s t a t u t o s . T o d a v i a , a i n d a a s s i m , q u a n d o e l e s e s t i -

v e r e m n a t e r r a d o s s e u s i n i m i g o s , n ã o o s r e j e i t a r e i n e m o s a b o m i n a r e i a p o n t o d e c o n s u m i - l o s t o t a l m e n t e e q u e b r a r a m i n h a a l i a n ç a c o m e l e s ; p o r q u e e u s o u

I a h w e h o s e u D e u s . A n t e s p o r a m o r d e l e s m e l e m b r a r e i d a a l i a n ç a c o m o s s e u s

a n t e p a s s a d o s , q u e t i r e i d a t e r r a d o E g i t o a o s o l h o s d a s n a ç õ e s , p a r a s e r o s e u D e u s . E u s o u Ia h w e h " ( L v 2 6 , 4 0 - 4 5 ) .

Aqui f inal iza o Código da Aliança e o de Sant idade com a reg u-

lamentação de todo o cul to e da vida toda dos Israel i tas em torno do

Único Deus , reconhecendo toda a lei que Iahweh entregou a Moisés no

Sinai onde se formal izou com o Povo de Iahweh a Pr omessa a Abraão,

a Isaac e Jacó:

" S ã o e s s e s o s e s t a t u t o s , o s p r e c e i t o s e a s l e i s q u e Ia h w e h f i r m o u e n t r e s i e o s

f i l h o s d e I s r a e l , n o m o n t e S i n a i , p o r i n t e r m é d i o d e M o i s é s " ( L v 2 6 , 4 6 ) .

Estavam assim preparados espir i tualmente para tomar posse da

Terra Prometida , rat i f icando-se a fonte de todas as normas:

" S ã o e s s e s o s m a n d a m e n t o s q u e Ia h w e h o r d e n o u a M o i s é s , p a r a o s f i l h o s d e I s -

r a e l , n o m o n t e S i n a i . " ( Lv 2 7 , 3 4 ) .

3.14. - A CONSAGRAÇÃO PARA A CONQUISTA

Descort ina-se outra regulamentação necessária à tomada de

consciência rel igiosa do Is rael i ta para a Co nquista da Terra Prometida,

verdadei ra Guerra Santa desde a saída do Eg i to:

" F i z e r a m , p o i s , o s f i l h o s d e I s r a e l c o n f o r m e a p a l a v r a d e M o i s é s ( . . . ) e d e s p o j a -r a m o s e g í p c i o s . ( . . . ) E a c o n t e c e u q u e , ( . . . ) n a q u e l e m e s m o d i a , t o d o s o s e x é r c i -

t o s d o S e n h o r s a í r a m d a t e r r a d o E g i t o ( . . . ) . E n a q u e l e m e s m o d i a Ia h w e h t i r o u

o s f i l h o s d e I s r a e l d a t e r r a d o E g i t o , s e g u n d o o s s e u s e x é r c i t o s " ( E x 1 2 , 3 5 -3 6 . 4 1 . 5 1 ) .

Basta uma lei tura atenta dos t rechos des tacados para se perceber

a ex is tência de um preparo para uma Co nquista armada da Terra de

Canaã. Em se t ratando de uma conquis ta rel igiosa impunha -se uma a-

desão exclus iva à Aliança , em obediência a Iahweh o que implica n u-

ma consagração plena que agora se reg ula.

3.14.1. - A CONSAGRAÇÃO DE PESSOAS E BENS – VOTOS E OFERENDAS

Inicialmente apresentam -se os votos , as consagrações de pessoas

ou bens e as oferendas voluntár ias . Não eram obrigatórios , porém

quando fei tos , impunham-se o seu pleno e cabal cumprimento (Dt

23,21-23), ou o seu resgate, i sso é a entrega ao Santuário do valor co r-

respondente então aval iado, pois se dest inavam à manutenção dos S a-

cerdotes:

" D i s s e m a i s Ia h w e h a M o i s é s : F a l a a o s f i l h o s d e I s r a e l , e d i z e - l h e s : Q u a n d o a l -g u é m f i z e r a I a h w e h u m v o t o e s p e c i a l q u e e n v o l v a p e s s o a s , o v o t o s e r á c u m p r i -

d o s e g u n d o a t u a a v a l i a ç ã o d a s p e s s o a s . S e f o r d e u m h o m e m , d e s d e a i d a d e d e

71

v i n t e a t é s e s s e n t a a n o s , a t u a a v a l i a ç ã o s e r á d e c i n q ü e n t a s i c l o s d e p r a t a , s e -g u n d o o s i c l o d o s a n t u á r i o . S e f o r m u l h e r , a t u a a v a l i a ç ã o s e r á d e t r i n t a s i c l o s .

S e f o r d e c i n c o a n o s a t é v i n t e , a t u a a v a l i a ç ã o d o h o m e m s e r á d e v i n t e s i c l o s , e

d a m u l h e r d e z s i c l o s . S e f o r d e u m m ê s a t é c i n c o a n o s , a t u a a v a l i a ç ã o d o h o -m e m s e r á d e c i n c o s i c l o s d e p r a t a , e d a m u lh e r t r ê s s i c l o s d e p r a t a . S e f o r d e

s e s s e n t a a n o s p a r a c i m a , a t u a a v a l i a ç ã o d o h o m e m s e r á d e q u i n z e s i c l o s , e d a

m u l h e r d e z s i c l o s . M a s , s e f o r m a i s p o b r e d o q u e a t u a a v a l i a ç ã o , s e r á a p r e s e n -t a d o p e r a n t e o s a c e r d o t e , q u e o a v a l i a r á c o n f o r m e a s p o s s e s d a q u e l e q u e t i v e r

f e i t o o v o t o " ( L v 2 7 , 1 - 8 ) .

O uso de voto envolvendo pessoas ocorr ia em Israel tendo aco n-

tecido em várias ocasiões (Jz 11,30 -40; 13,3-4; 1Sm 1,11). Destaca-se

o de Ana, a mãe de Samuel que o consagrou desde antes do nascimento

usando outra forma para o apresentar , pelas palavras "e pela sua cab e-

ça não passará navalha", faz ia também outro voto , o do Nazireu (Nm

6):

" E l a , p o i s , c o m a m a r g u r a d e c o r a ç ã o , o r o u a Ia h w e h , e c h o r o u m u i t o , e f e z u m

v o t o , d i z e n d o : Ia h w e h d o s e x é r c i t o s ! S e a t e n t a r e s p a r a a a f l i ç ã o d a t u a s e r v a , e

d e m i m t e l e m b r a r e s , e d a t u a s e r v a n ã o t e e s q u e c e r e s , m a s l h e d e r e s u m f i l h o

v a r ã o , a Ia h w e h o d a r e i p o r t o d o s o s d i a s d a s u a v i d a , e p e l a s u a c a b e ç a n ã o p a s s a r á n a v a l h a " ( 1 S m 1 , 1 0 - 1 1 ) .

Quanto ao voto de bens , destaca-se o de Jacó:

" F e z t a m b é m J a c ó u m v o t o , d i z e n d o : S e D e u s f o r c o m i g o e m e g u a r d a r n e s t e

c a m i n h o q u e v o u s e g u i n d o , e m e d e r p ã o p a r a c o m e r e v e s t e s p a r a v e s t i r , d e m o -d o q u e e u v o l t e e m p a z à c a s a d e m e u p a i , e s e Ia h w e h f o r o m e u D e u s , e n t ã o e s -

t a p e d r a q u e t e n h o p o s t o c o m o c o l u n a s e r á c a s a d e D e u s ; e d e t u d o q u a n t o m e

d e r e s c e r t a m e n t e t e d a r e i o d í z i m o " ( G n 2 8 , 2 0 - 2 2 / G n 3 1 , 1 3 ) .

Resgatava-se da mesma forma e regulamenta -se o voto de ofe-

renda de animais:

" S e f o r a n i m a l d o s q u e s e o f e r e c e m e m o f e r t a a Ia h w e h , t u d o q u a n t o d e r d e l e a

I a h w e h s e r á s a n t o . N ã o o m u d a r á , n e m o t r o c a r á b o m p o r m a u , o u m a u p o r b o m ;

m a s s e d e q u a l q u e r m a n e i r a t r o c a r a n i m a l p o r a n i m a l , t a n t o u m c o m o o o u t r o s e -r á s a n t o . S e f o r a l g u m a n i m a l i m u n d o , d o s q u e n ã o s e o f e r e c e m e m o f e r t a a Ia h -

w e h , a p r e s e n t a r á o a n i m a l d i a n t e d o s a c e r d o t e ; e o s a c e r d o t e o a v a l i a r á , s e j a

b o m , o u s e j a , m a u ; s e g u n d o t u , s a c e r d o t e , o a v a l i a r e s , a s s i m s e r á . M a s , s e o h o m e m , c o m e f e i t o , q u i s e r r e s g a t á - l o , a c r e s c e n t a r á a q u i n t a p a r t e s o b r e a t u a

a v a l i a ç ã o " ( L v 2 7 , 9 - 1 3 )

Em todas as oferendas voluntárias , numa espécie de s imples

promessa, se es tabelece o valor e o modo do resgate da importância

que se entrega ao Santuário , em subst i tuição ao voto. Quando se r efe-

r i r a um campo levar -se-á em conta o tempo do Jubi leu para a aval i a-

ção (Lv 27,16-25). Porém, não pode ser objeto de oferenda ou resgate

aqui lo que já pertence a Iahweh por precei to , tal como os primogêni tos

(Ex 13,1-2.12-16 / Ex 34,19-20). Um caso de re sgate imposto pelo

próprio Iahweh é o proveniente da subs t i tuição dos primogêni tos pelos

levi tas , no exercício do sace rdócio auxi l iar (Nm 3,12.40 -51) .

3.14.2. - OS INTERDITOS OU ANÁTEMAS

Também não pode ser vendido ou resgatado o que for objeto de

consagração por interdi to a Iahweh de que nada era reservado para o

ofertante, que dava tudo a Iahweh i rrevogavelmente de forma pacíf ica

72

ou na guerra. " . . . toda coisa consagrada será sant íss ima a Iahweh" (Lv

27,28). Por essa fórmula se percebe que o princípio dessa operação era

rel igioso, e era sant íss imo por ter s ido subtraído ao profano, não p o-

dendo ser resga tado , tal como não se comiam as oferendas dos hol o-

caustos contaminadas pelo pecado. Ass im, não se resgata o que se d e-

nomina aqui de interdi to ou anátema que são tanto os despojos ou as

prendas advindas dos inimigos, ou eles mesmos. Conquistados ou de s-

t roçados por Is rael , contaminados pela idolatr ia (Dt 20,10 -20) tornam-

se como as pessoas ou bens que alguém oferece a Iahweh em c aráter

solene e i rrevogável . É que, entre os compromissos da Aliança há a

"Missão de Israel" várias vezes rat i f icada (cf r . Ex 34,13; Lv 18,3.24 -

30; Nm 33,52; Dt 7,5; 12,3.29 -31):

" . . . n ã o a d o r a r á s o s s e u s d e u s e s , n e m l h e s p r e s t a r á s c u l t o , i m i t a n d o s e u s c o s t u -m e s . A o c o n t r á r i o d e r r u b a r á s e q u e b r a r á s a s s u a s c o l u n a s . S e r v i r e i s a Ia h w e h o

v o s s o D e u s ( . . . ) . N ã o f a r á s a l i a n ç a c o m e l e s n e m c o m s e u s d e u s e s . . . ” ( E x 2 3 , 2 3 -

3 3 / N m 3 3 , 5 0 - 5 6 / D t 1 2 , 1 - 3 ) / " Q u a n d o Ia h w e h t e u D e u s t e h o u v e r i n t r o d u z i d o n a t e r r a a q u e v a i s a f i m d e p o s s u í - l a , e t i v e r l a n ç a d o f o r a d e d i a n t e d e t i m u i -

t a s n a ç õ e s , ( . . . ) e q u a n d o I a h w e h o t e u D e u s a s t i v e r e n t r e g a d o e m t u a s m ã o s , e

a s f e r i r e s , t o t a l m e n t e a s d e s t r u i r á s ; n ã o f a r á s c o m e l a s a l i a n ç a a l g u m a , n e m t e -r á s p i e d a d e d e l a s . . . " ( D t 7 , 1 - 2 )

Com base nela tal como se el aborou a lei at inente ao puro e im-

puro para se evi tar principalmente as prát icas dos pagãos que os rod e-

avam (Os 9,3; Ez 4,13; Tb 1,10 -12; Dn 1,8-12; Jdt 12,2-4; Lv 18,2-5)

é que se inst i tui o interdi to ou anátema , principalmente na Guerra co n-

t ra pagãos:

" Q u a n d o t e a p r o x i m a r e s d u m a c i d a d e p a r a c o m b a t ê - l a , a p r e g o a r - l h e - á s a p a z . S e

e l a t e r e s p o n d e r e m p a z , e t e a b r i r a s p o r t a s , t o d o o p o v o q u e s e a c h a r n e l a s e r á s u j e i t o a t r a b a l h o s f o r ç a d o s e t e s e r v i r á . S e e l a , p e l o c o n t r á r i o , n ã o f i z e r p a z

c o n t i g o , m a s g u e r r a , e n t ã o a s i t i a r á s , e l o g o q u e Ia h w e h o t e u D e u s a e n t r e g a r

n a s t u a s m ã o s , p a s s a r á s a o f i o d a e s p a d a t o d o s o s h o m e n s q u e n e l a h o u v e r ; p o -r é m a s m u l h e r e s , o s p e q u e n i n o s , o s a n i m a i s e t u d o o q u e h o u v e r n a c i d a d e , t o d o

o s e u d e s p o j o , t o m a r á s p o r p r e s a ; e c o m e r á s o d e s p o j o d o s t e u s i n i m i g o s , q u e

I a h w e h o t e u D e u s t e d e u . A s s i m f a r á s a t o d a s a s c i d a d e s q u e e s t i v e r e m m a i s l o n g e d e t i , q u e n ã o s ã o d a s c i d a d e s d e s t a s n a ç õ e s . M a s , d a s c i d a d e s d e s t e s p o -

v o s , q u e Ia h w e h o t e u D e u s t e d á e m h e r a n ç a , n a d a q u e t e m f ô l e g o d e i x a r á s c o m

v i d a ; a n t e s f e r i r á s c o m i n t e r d i t o ( . . . ) c o m o Ia h w e h o t e u D e u s t e o r d e n o u ; p a r a q u e n ã o v o s e n s i n e m a f a z e r c o n f o r m e t o d a s a s a b o m i n a ç õ e s q u e e l e s f a z e m a

s e u s d e u s e s , e a s s i m p e q u e i s c o n t r a Ia h w e h o v o s s o D e u s " ( D t 2 0 , 1 0 - 1 8 ) .

É a essa interdição que se refere também o fecho das inst ruções

para a Conquista , exatamente pela imposs ibi l idade do resgate:

" T o d a v i a , n e n h u m a c o i s a c o n s a g r a d a a Ia h w e h p o r i n t e r d i t o , s e j a h o m e m , o u a -

n i m a l , o u c a m p o d a s u a p o s s e s s ã o , s e r á v e n d i d a n e m s e r á r e s g a t a d a ; t o d a c o i s a

i n t e r d i t a s e r á s a n t í s s i m a a o S e n h o r . N e n h u m a p e s s o a q u e d e n t r e o s h o m e n s f o r i n t e r d i t a s e r á r e s g a t a d a , m a s c e r t a m e n t e s e r á m o r t a . " ( L v 2 7 , 2 8 - 2 9 )

Jesus vai se insurgi r contra os abusos decorrentes dos interdi tos

e das oferendas , em seu tempo, que passaram a servir de cobertura ao

descumprimento da Lei de Deus nos Mandamentos em favor do ofe r-

tante, ocasionando verdadei ra inversão de valores:

" E l e , p o r é m , r e s p o n d e n d o , d i s s e - l h e s : E v ó s , p o r q u e t r a n s g r e d i s o m a n d a m e n t o

d e D e u s p o r c a u s a d a v o s s a t r a d i ç ã o ? P o i s D e u s o r d e n o u : H o n r a a t e u p a i e a t u a m ã e ; e , Q u e m m a l d i s s e r a s e u p a i o u a s u a m ã e , c e r t a m e n t e m o r r e r á . M a s v ó s

d i z e i s : Q u a l q u e r q u e d i s s e r a s e u p a i o u a s u a m ã e : O s u s t e n t o q u e p o d e r i a s r e -

c e b e r d e m i m é i n t e r d i t o a o S e n h o r ; e s s e d e m o d o a l g u m t e r á d e h o n r a r a s e u

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p a i . E a s s i m p o r c a u s a d a v o s s a t r a d i ç ã o i n v a l i d a s t e s a p a l a v r a d e D e u s " ( M t 1 5 , 3 - 6 / M c 7 , 1 0 - 1 3 ) .

3.14.3. - OS PRIMOGÊNITOS, AS PRIMÍCIAS E OS DÍZIMOS

Em vir tude de se t ratar de oferendas já consagradas a Iahweh,

em princípio não podem ser objeto de resgate, mas são regulamentadas

de uma maneira especial :

" C o n t u d o o p r i m o g ê n i t o d u m a n i m a l , q u e p o r s e r p r i m í c i a j á p e r t e n c e a Ia h w e h ,

n i n g u é m o c o n s a g r a r á . Q u e r s e j a b o i o u g a d o m i ú d o , j á p e r t e n c e a Ia h w e h . M a s s e o p r i m o g ê n i t o f o r d u m a n i m a l i m u n d o , r e s g a t a r - s e - á s e g u n d o a t u a a v a l i a ç ã o ,

e a e s t a s e a c r e s c e n t a r á a q u i n t a p a r t e ; e s e n ã o f o r r e s g a t a d o , s e r á v e n d i d o s e -

g u n d o a t u a a v a l i a ç ã o . ( . . . ) T a m b é m t o d o s o s d í z i m o s d a t e r r a , q u e r d o s c e r e a i s , q u e r d o f r u t o d a s á r v o r e s , p e r t e n c e m a Ia h w e h ; s ã o c o n s a g r a d o s a Ia h w e h . S e

a l g u é m q u i s e r r e s g a t a r u m a p a r t e d o s s e u s d í z i m o s , a c r e s c e n t a r - l h e - á a q u i n t a

p a r t e . Q u a n t o a t o d o d í z i m o d o g a d o e d o r e b a n h o , d e t u d o o q u e p a s s a r d e b a i x o

d a v a r a , e s s e d í z i m o s e r á c o n s a g r a d o a Ia h w e h . N ã o s e e x a m i n a r á s e é b o m o u

m a u , n e m s e t r o c a r á ; m a s s e , c o m e f e i t o , s e t r o c a r , t a n t o u m c o m o o o u t r o s e r á

c o n s a g r a d o ; n ã o s e r ã o r e s g a t a d o s . S ã o e s s e s o s m a n d a m e n t o s q u e Ia h w e h o r d e -n o u a M o i s é s , p a r a o s f i l h o s d e I s r a e l , n o m o n t e S i n a i . " ( Lv 2 7 , 2 6 - 2 7 . 3 0 - 3 3 )

O t recho é muito claro dispensando -se outros comentários . É de

ser di to apenas que o s is tema de seleção então usado de passar debaixo

da vara as cr ias novas do gado e delas t i rando o díz imo, faz com que

não se dest ine a Iahweh apenas o refugo ou o defei tuoso. A o contrário,

obriga a uma separação justa entre a to tal idade mesmo que , aparente-

mente aleatória , não f icava sujei ta à escolha.

Não se pode deixar de comentar a regulamentação do resgate de

parte do díz imo, uma exceção quanto ao consagrado, mas que, em vi r -

tude disso mesmo deverá ser acrescido de um quinto no valor a ser e n-

t regue aos sacerdotes . Porém , em si , o todo não poderá ser objeto de

nenhuma t ransação e nem d e resgate. O interessante é o caso de uma

t roca f raudulenta caso , em que ambos f icarão consagr ados e ass im in-

disponíveis .

Fonte: www.mundocatol i co.com.br/Bib l ia/curso.htm