A Segunda Placa

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Letras 2018

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A SEGUNDA PLACANo sei porque a viagem passou to depressa,afinal,no sou muito imprudente quanto a velocidade no volante,o velocimetro e os medidores de velocidade so prova disso. No intendo muito o tempo,alguns dizem que a idade muda a sensao como vemos sua passagem,da criana que no o teme aos idosos sendentos por novos amanhaceres. Outros acreditam que talvez sua dimenso nunca nos permita intender-lo,mas,indepentende da problematica,desejei naquele momento voltar a ser aquele rapaz que clamava para o tempo passar mais depressa,pois,tudo que tinha era um lugar,j reservado,no corredor do onibus,que apesar de torturado pela superlotao ,nunca se deixava intimidar pelo cansao nos ps. E como se intimidar? Naquela epoca tinha tanto a aprender,no me referindo apenas a essencia das frases to repedidas do Paulo Freire ou de Mandela sobre aprender e ensinar. Muito alm disso,at hoje carrego um pouco da moa quadrilheira. Do poeta romantico do seculo XXI. Do escritor de contos eroticos,etc.Era junho de dois mil e dezoito,manh de segunda-feira,estava seguindo a cansativa e repetitiva CE-176,com destino a Sobral,movido pelo interesse de conhecer a tal placa dos formados,precisava de algo que me desse absorvio,pois a quatro anos atrs intenrronpe caminhada coojunta,no podendo participar da colao de grau das moas e cavaleiros da esperana. Pra muitos pode ser tolice,mas precisava ver a tal placa na parede,uma que me trouxesse felicidade. Ah,mas aquele foi um dia especial. No! No me refiro ao jogo que ouve entre Espanha e Inglaterra no Mundial da Russia em So Petersburgo. Isso no me motiva. Patriotismo de Copa no chega a durar mais que as bandeiras amareladas pela aco do tempo,que ainda estambam os estantardes feitos a quatro anos atrs. Nossa! Quatro anos? Novamente a mesma sensao,o tempo ultimamente me atinge como um dispertador que se faz de silencioso e age por impulso,como se quisesse apenas chamar minha ateno. engraado,pois convivi com tantas outras que apenas me frustraram,com nomes de ditatares,como na Avenida Ernesto Geisel ou na Rua Costa e Silva. E com outras tantas que me tentarem me seduzir. Como se dissesem Me siga! So apenas 40km! 50km! A direita temos Granja ou Carir? Ipu ou Coreu? E a saudade seria a combusto que me move. J na Betania,caminhando pelo campus no demorou muito pra me deparar com a placa,de vidro,com rostos sorridentes e uma frase. Rostos familiares. Triste v que com o tempo elas se desgastam mais triste foi a minha,que de tolo no pude estar l. Enquando observava lembrei que quando crianca tive tremenda emoo quando fiz minha primeira casa na arvore,na fazenda,dias e dias l esteve,uma mesma emoo me atingia quando, ao olhar o cho, via a madeira que,inevitavelmente,me fazia imaginar florestas e lendas. Agora,como um djavu,a mesma sensao que tinha ao ver em madeiras, florestas,senti quando olhei para aqueles rostos. Pois tinha a certeza que em algum lugar nesse Noroeste,de norte a sul,belas arvores ornam as salas de aulas e criam o fruto da paixo pela Lingua Portuguesa,para ento, d continualidade a esse ciclo. E essa foi a maneira que encontrei pra me deslumbrar com as pessoas, analisar seus veios, suas florestas apesar das distancias. Confesso que,na volta pra casa tambm fui atingido pela sindrome do corvo de Allan Poe,o nunca mais, tentou me intimidar e logo pensei em fazer uma segunda placa de consolo,uma que no se desgasta como as bandeirinhas,no de vidro nem to bela,no guiava caminhos,nem mostrava instruoes ou pessoas mas nela pensei em colocar por escrito as palavras de Victor "A vida uma longa despedida de tudo aquilo que a gente ama". Foi nesse momento que,de repente, o beijo-flor de Azevedo envadiu a porta da minha casa,sua presena me fez esquecer o velho corvo,e foi com suas mil batidas de asas por segundo que ele me elucidou que no compreender a tal dimenso do tempo s mais uma jogada da vida pra conseguir seguir nossos voos e esquecer que tudo tem seu fim,at os amores que acretidamos um dia ser longivos e que se perdem nas veredas naturais que a vida cria"Talvez por isso que temos braos longos, para os adeuses." Mas prefiro os abraos, e talvez no me divorciar disso seja meu maior consolo. 10 de maro de 2020Obrigado por esses dias,colegas.