A-Soberania-de-Deus-e-a-Responsabilidade-Humana-8-Presbitério-SBC

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A Soberania de Deus e a Responsabilidade Humana ̶ Reverência, consolo, estímulo e desafio missionário ̶ 1 (8) 3.4.6. Justificação “A justificação pela fé (...) é um fato, não um sentimento. É um estado legal atribuído a nós por Deus, que simples- mente declara ser assim, significando que fomos perdoados e não somos cul- pados. A justificação nada tem a que ver com uma mudança dentro de nós, mas com uma mudança feita totalmen- te fora de nós” – William Edgar. 2 “O Evangelho demonstra como um Deus justo pode justificar aos pecadores crentes” – J.I. Packer. 3 3.4.6.1. O HOMEM PERANTE DEUS A doutrina da justificação pela graça mediante a fé, é o pon- to capital sobre o qual se fundamenta a fé cristã e, consequentemente a nossa rela- ção com Deus. 4 Ela é a “artéria da graça”, 5 pela qual flui os demais privilégios da vi- da cristã. Devemos deixar claro que o fundamento de nossa justificação não é a fé, mas, a justiça de Cristo que é imputada a nós pela fé. 6 Diante da santidade e ma- 1 Texto disponibilizado pela Secretaria de Apoio Pastoral do Presbitério de São Bernardo do Campo, SP. 2 William Edgar, Razões do Coração: reconquistando a persuasão cristã, Brasília, DF.: Refúgio, 2000, p. 129. 3 J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 128. 4 Veja-se: João Calvino, As Institutas, III.11.1.Turretini diz que ela é “a principal plataforma da re- ligião cristã” (François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, Vol. 2, p. 757). “A doutrina da justificação pela graça é o âmago da fé cristã” (Franklin Ferreira; Alan Myatt, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 812). .... é a própria es- trutura e o pilar do cristianismo. Um erro sobre a justificação é algo perigoso, como um defei- to em uma fundação. A justificação dada por Cristo e a fonte da água da vida” (Thomas Watson, A Fé Cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, São Paulo: Cultura Cris- tã, 2009, p. 264). 5 Devo esta expressão a Kuyper (Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 329). 6 “A fé não é a base da justificação; se o fosse, a fé tornar-se-ia uma obra meritória. (...) De acordo com Paulo, não é sobre a nossa fé, mas sobre a retidão de Cristo, que a nossa justifi- cação está alicerçada” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP. Fiel, 1994, p. 130,131). Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, Vol. 4, p. 217ss.; p. 266.

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  • A Soberania de Deus e a Responsabilidade Humana Reverncia, consolo, estmulo e desafio missionrio 1 (8)

    3.4.6. Justificao

    A justificao pela f (...) um fato, no um sentimento. um estado legal atribudo a ns por Deus, que simples-mente declara ser assim, significando que fomos perdoados e no somos cul-pados. A justificao nada tem a que ver com uma mudana dentro de ns, mas com uma mudana feita totalmen-

    te fora de ns William Edgar.2

    O Evangelho demonstra como um Deus justo pode justificar aos pecadores

    crentes J.I. Packer.3

    3.4.6.1. O HOMEM PERANTE DEUS

    A doutrina da justificao pela graa mediante a f, o pon-to capital sobre o qual se fundamenta a f crist e, consequentemente a nossa rela-o com Deus.4 Ela a artria da graa,5 pela qual flui os demais privilgios da vi-da crist. Devemos deixar claro que o fundamento de nossa justificao no a f, mas, a justia de Cristo que imputada a ns pela f.6 Diante da santidade e ma- 1Texto disponibilizado pela Secretaria de Apoio Pastoral do Presbitrio de So Bernardo do Campo,

    SP. 2 William Edgar, Razes do Corao: reconquistando a persuaso crist, Braslia, DF.: Refgio,

    2000, p. 129. 3J.I. Packer, Vocbulos de Deus, So Jos dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 128.

    4 Veja-se: Joo Calvino, As Institutas, III.11.1.Turretini diz que ela a principal plataforma da re-

    ligio crist (Franois Turretini, Compndio de Teologia Apologtica, So Paulo: Cultura Crist, 2011, Vol. 2, p. 757). A doutrina da justificao pela graa o mago da f crist (Franklin Ferreira; Alan Myatt, Teologia Sistemtica, So Paulo: Vida Nova, 2007, p. 812). .... a prpria es-trutura e o pilar do cristianismo. Um erro sobre a justificao algo perigoso, como um defei-to em uma fundao. A justificao dada por Cristo e a fonte da gua da vida (Thomas Watson, A F Crist, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, So Paulo: Cultura Cris-t, 2009, p. 264). 5 Devo esta expresso a Kuyper (Abraham Kuyper, A Obra do Esprito Santo, So Paulo: Cultura

    Crist, 2010, p. 329). 6A f no a base da justificao; se o fosse, a f tornar-se-ia uma obra meritria. (...) De

    acordo com Paulo, no sobre a nossa f, mas sobre a retido de Cristo, que a nossa justifi-cao est alicerada (J.I. Packer, Vocbulos de Deus, So Jos dos Campos, SP. Fiel, 1994, p. 130,131). Veja-se: Herman Bavinck, Dogmtica Reformada, So Paulo: Cultura Crist, 2012, Vol. 4, p. 217ss.; p. 266.

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    jestade de Deus, quem, em s conscincia, honesta e sensatamente ousaria se considerar justo? E mais: O Deus santo no pode receber nem ter comunho com um pecador.7 O salmista, j sabendo a resposta, pergunta: Se observares (rm;v') (shamar), SE-NHOR, iniquidades, quem, Senhor, subsistir? (Sl 130.3). Ele no se ilude. Sabe que o escrutnio de Deus perfeito. Quem passaria ileso? Quem pode dizer diante de Deus que no tem pecado? Davi suplica: No entres em juzo com o teu servo, porque tua vista no h justo nenhum vivente (Sl 143.2). Elifaz indaga: Seria, porventura, o mortal justo diante de Deus? Seria, acaso, o homem puro diante do seu Criador? Eis que Deus no confia nos seus servos (an-jos)8 e aos seus anjos atribui imperfeies9 (J 4.17-18).

    O observar (rm;v') (shamar) de Deus (Sl 130.3), tem o sentido aqui de observar diligentemente, verdadeiramente atentar, prestar muita ateno em; uma rgida e judiciosa observao das faltas com o objetivo de prestar contas, como em J: Se eu pecar, tu me observas (rm;v') (shamar);10 e da minha iniquidade no me perdoa-rs (J 10.14).11 Esta a situao do homem finito diante do Deus infinito: a sua grandeza e senso de perfeio e de justia so como nada diante do Deus santo e perfeito. A grande-za de Deus revela a pequenez de nossas perspectivas. Moiss, escreve: Diante de ti puseste as nossas iniquidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocul-tos (Sl 90.8). Davi, consciente dos limites do seu prprio escrutnio, escreve: Quem h que possa discernir (!yBi) (biyn) as prprias faltas (ha'ygIv.) (shegiy'ah)(= erros)? Absolve-me das que me so ocultas (Sl 19.12). A palavra faltas (ha'ygIv.) (shegiy'ah) est geralmente associada aos pecados come-tidos inconscientemente. Da a dificuldade de discernir tais faltas.

    7Veja-se: Thomas Watson, A F Crist, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, So

    Paulo: Cultura Crist, 2009, p. 266. 8 Aqui no indica o pecado dos anjos; antes, que Deus realiza as suas prprias tarefas essenciais.

    9BJ: Verbera o erro; ACR: Atribui loucura. O significado da palavra traduzida imperfeies

    no v. 18b, que ocorre somente aqui, totalmente desconhecido, e tem dado origem a mui-tas conjecturas e emendas (Francis I. Anderson, J: Introduo e Comentrio, So Paulo: Mundo Cristo/Vida Nova, 1984, (J 4.18), p. 112). 10

    Vejam-se: Hermann J. Austel, Shama: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionrio Internacional de Teologia do Antigo Testamento, So Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1585-1587; Keith N. Schoville, Smr: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionrio Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Tes-tamento, So Paulo: Cultura Crist, 2011, Vol. 4, p. 181-183. 11

    Do mesmo modo: Ainda que eu seja justo, a minha boca me condenar; embora seja eu ntegro, ele me ter por culpado (J 9.20). ....observas (rm;v') (shamar) todos os meus caminhos e traas limi-tes planta dos meus ps (J 13.27).

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    Entretanto, a suposta ignorncia no inocenta o infrator. O no ter percebido a in-dicao de contramo em determinada rua no invalida a possibilidade da multa ca-so seja flagrado. O conhecimento da Palavra d-nos maior sensibilidade espiritual. Por isso mes-mo, temos maior conscincia de nossos pecados e, ao mesmo tempo, sabemos das limitaes do tribunal de nossa conscincia.12 A minha conscincia um elemento importante em meu progresso espiritual, ain-da que no seja o tribunal definitivo.13 No entanto, Deus nos conhece perfeitamente. Ele tem o perfeito discernimento do que somos e pensamos. O salmista sabe que pecador, ainda que por vezes involuntariamente. Tem conscincia de que Deus o conhece perfeitamente. No entanto, sabe que o Seu Deus alm de onisciente, um Deus santo, cujo padro a Sua perfeita santidade.

    Os nossos pecados sempre so uma afronta santidade de Deus. Eles precisam ser expiados. Contudo, como faz-lo adequada e completamente se sou pecador e a minha dvida parece aumentar sempre?

    Davi, consciente disso roga o perdo de Deus: Absolve-me (hq;n") (naqah) (= tor-

    nar isento, ficar livre) das que me so ocultas (rt;s') (cathar) (Sl 19.12). Ele recorre a Deus porque somente Ele pode perdoar nossas faltas.14

    Como ento, Deus pode nos considerar justos, sendo Ele Santo? Como pode o

    homem pecador tornar-se justo aos olhos de Deus? Deus diminuiu o Seu padro le-gal?

    Calvino (1509-1564) apresenta a resposta:

    Lemos que justificado diante de Deus aquele que, ao juzo de Deus, no s considerado justo, mas que tambm foi aceito em razo de sua justia, porque, como a iniquidade abominvel vista de Deus, assim o pecador no pode achar graa a seus olhos, na qualidade de pecador e por quanto tempo for tido como tal. Consequentemente, onde quer que haja pecado, a tambm se manifesta a ira e vingana de Deus. Portanto, justificado a-quele que no tido na conta de pecador, mas de justo, e por esse titulo se posta firme diante do tribunal de Deus, onde todos os pecadores se pros-

    12

    Faramos bem em relembrar que, fazendo de nosso conhecimento e de nossa conscin-cia miseravelmente imperfeitos e a medida de nossa pecaminosidade, estamos pisando em terreno perigoso (J.C. Ryle, Santidade, So Jos dos Campos, SP.: Editora Fiel, 1987, p. 23). 13

    A conscincia no um tribunal celestial, porm o mais elevado tribunal terreno, pois o sistema de alerta da alma (John MacArthur, Certezas que impulsionam um ministrio duradou-ro: In: John Piper; Justin Taylor, eds. Firmes: um chamado perseverana dos santos, So Jos dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2010, p. 70). 14

    O verbo est no piel. Neste modo, sempre Deus o sujeito da ao. (Veja-se: Milton C. Fisher; Bruce K. Waltke, Nq: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionrio Internacional de Teologia do Antigo Testamento, So Paulo: Vida Nova, 1998, p. 998.

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    tram abatidos. Da mesma forma, se um inocente acusado for levado perante o tribunal de um juiz imparcial, depois de ser julgado segundo sua inocncia, se diz que foi justificado diante do juiz; assim justificado diante de Deus a-quele que, excludo do nmero dos pecadores, tem a Deus por testemunha e arauto de sua justia. (...) Ser justificado pela f aquele que, excludo da jus-tia das obras, apreende pela f a justia de Cristo, revestido da qual apare-ce perante Deus no como pecador, mas, pelo contrrio, como justo. Portan-to, interpretamos a justificao simplesmente como a aceitao merc da qual, recebidos sua graa, Deus nos tem por justos. E dizemos que ela con-siste na remisso dos pecados e na imputao da justia de Cristo.15

    Portanto, no podemos baratear o perdo de Deus. Devemos nos lembrar de que o perdo gratuito de Deus custou o preciso sangue de Seu Filho. Perdoar significa considerar o devedor como se no houvesse ofendido em nada; no imputar-lhe nenhuma dvida. Aps o perdo, o devedor deixou de ser um deve-dor, ou mesmo, um devedor perdoado, para ser apenas uma pessoa, sem maiores adjetivos. Tanto a ofensa como o perdo j no contam mais. Com o perdo de Deus o nosso relacionamento com Ele restabelecido. O perdo de Deus, longe de minimizar o pecado e a sua gravidade, antes, reala a misericrdia de Deus.16 A Palavra de Deus nos diz que todos pecaram (Rm 3.23). Por outro lado, temos no Novo Testamento a declarao explcita que vale para todas as pocas, que em Cristo Jesus somos justificados, sendo perdoados de todos os nossos pecados.17 O perdo um favor de Deus, uma prerrogativa Sua, no algo a que temos direito por nossos merecimentos. Daniel, diz: Ao Senhor, nosso Deus, pertence a miseri-crdia e o perdo.... (Dn 9.9). No Novo Testamento, Paulo estabelece um contraste entre a graa e as obras: E, se pela graa, j no pelas obras; do contrrio, a graa j no graa (Rm 11.6). Mritos humanos esto excludos de todo o plano da salvao.18 Deus (...) rico em perdoar (Is 55.7). Portanto, Bem-aventurado o homem a

    15

    Joo Calvino, As Institutas, III.12.2. 16

    Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgresses por amor de mim, e dos teus pecados no me lembro (Is 43.25). Desfao as tuas transgresses como a nvoa, e os teus pecados como a nu-vem; torna-te para mim, porque eu te remi (Is 44.22). Quem, Deus, semelhante a ti, que perdo-as a iniquidade, e te esqueces da transgresso do restante da tua herana? O Senhor no retm a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericrdia. Tornar a ter compaixo de ns; pisar aos ps as nossas iniquidades, e lanar todos os nossos pecados nas profundezas do mar (Mq 7.18-19). ....Perdoarei as suas iniquidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei (Jr 31.34). (Vejam-se: Is 55.7; Jr 5.1; 33.8; Ez 36.25). 17 Se Deus perdoasse o pecado sem contudo ministrar sua justia, deixaria de ser Deus. A maravilha deste plano que Deus, ao colocar os nossos pecados sobre Cristo e ao tratar deles punindo-os em Cristo, pode perdoar-nos e ainda ser justo. Ele puniu o pecado, no o esqueceu, no o ignorou (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: Vol. 1), p. 53). 18

    William S. Plumer, Psalms, Carlisle: The Banner of Truth Trust, 1978, (Reprinted), (Sl 130.4), p. 1125.

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    quem o SENHOR no atribui iniquidade e em cujo esprito no h dolo (Sl 32.2). Detalhemos o nosso assunto.

    3.4.6.2. JUSTO O SENHOR

    Voc no avaliado por Deus de acordo com o que , mas voc o que Deus diz que voc Abraham Kuy-

    per.19

    Deus essencial, absoluta e perfeitamente justo em Si mesmo e em todas as Suas relaes. O Seu padro a justia. O Seu juzo justo (Sl 45.7/Hb 1.8-9).20 H um hino composto no sculo XIX, baseado no Salmo 145.17-18,21 que diz as-sim: Justo o Senhor em seus santos caminhos, Benigno em todas as suas obras. (bis) Perto est o Senhor, perto est dos que o invocam, De todos os que o invocam

    Em verdade. Aleluia! Aleluia!22

    Na justia de Deus vemos estampada a Sua glria. Portanto, voltamos questo inicial: Quem poderia se considerar justo por si mesmo diante de Deus? 14 Que o homem, para que seja puro? E o que nasce de mulher, para ser justo? 15 Eis que Deus no confia nem nos seus santos; nem os cus so puros aos seus olhos, 16 quanto menos o homem, que abominvel e corrupto, que bebe a iniquidade como a gua! (J 15.14-16).23 19

    Abraham Kuyper, A Obra do Esprito Santo, So Paulo: Cultura Crist, 2010, p. 380. Do mesmo modo, pgina 385. 20

    Amas a justia e odeias a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o leo de alegria, como a nenhum dos teus companheiros (Sl 45.7). 8....acerca do Filho: O teu trono, Deus, para todo o sempre; e: Cetro de equidade o cetro do seu reino. 9 Amaste a justia e odiaste a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o leo de alegria como a nenhum dos teus companheiros (Hb 1.8-9). 21

    17Justo o SENHOR em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras. 18 Perto est o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade (Sl 145.17-18). 22

    Composio original para coro feita por Lowell Mason (1792-1872), adaptada em 1974 pela profes-sora e soprano Atenilde Cunha (1931-2009?). Extrado no Hinrio Presbiteriano, Novo Cntico, n 1, Doxologia. 23

    No h ningum que com maior descaro se atreva a falar da justia das obras do que quem publicamente no passa de perdido e est carregado de pecados de todos conhe-cidos, ou, melhor, por dentro esto cheios de vcios e maus intentos. Isso acontece porque no cogitam da justia de Deus, pela qual se fossem afetados sequer de um mnimo senti-mento, nunca a teriam em to grande desconsiderao. De fato, na verdade ela desme-didamente desvalorizada, se no de tal forma reconhecida que nada dela seja aceito,

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    A natureza santa de Deus a lei a partir da qual todas as demais leis devem ser avaliadas. O padro da justia de Deus -nos revelado nas Escrituras.24 A retido de Deus consoante Sua justia. A justia a manifestao do carter essencialmen-te santo de Deus. Deus justo em todos os Seus atos, no se desviando de Seu prprio padro que decorrente de Sua santidade. A prtica da justia, que pode ser chamada de retido, significa agir conforme o carter de Deus, Aquele que jus-to absolutamente. Deus o prprio padro: "....Deus fidelidade, e no h nEle in-justia: reto e justo (qyDIc;)(tsadiyq) (Dt 32.4). Justo (qyDIc;)(tsadiyq) o SENHOR em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras (Sl 145.17). O trono do Senhor est fundamentado em Sua prpria natureza santa, verdadeira e justa; deste modo que Ele governa: Justia (qd,c) (tsedeq) e direito so o funda-mento do teu trono; graa e verdade te precedem (Sl 89.14). Justamente por este fato, devemos confiantemente nos aquietar e nos alegrar no conforto de Suas pro-messas e louv-lo. Afinal, o fundamento do seu trono permanece inabalvel. Reina o SENHOR. Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas. Nuvens e escurido o rodeiam, justia (qd,c) (tsedeq) e juzo so a base do seu trono (Sl 97.1-2).

    3.4.6.3. JESUS CRISTO, O JUSTO JUSTIFICADOR DOS HUMA-NAMENTE INJUSTIFICVEIS

    Qual o seu nico conforto na vida

    e na morte? R.: O meu nico conforto que - corpo e alma, tanto na vida como na morte - no perteno a mim mesmo, mas a meu fiel Salvador, Jesus Cristo, que, com o seu prprio sangue, pagou totalmente por todos os meus pecados e me libertou completamente do poder do diabo Catecismo de Heidelberg (1563), Perg. 1.

    necessrio que entendamos que a doutrina da justificao no uma fraude, como se Deus considerasse justo o que no justo, fazendo vista grossa condio humana de pecado e depravao. Contudo, se no somos justos, como Deus, ento, nos declara justos? Nesta doutrina nos deparamos com o absolu-to padro de Deus e a realidade da aplicao de Sua justia. Prossigamos. O Antigo Testamento refere-se ao Messias que viria como Aquele que agiria com justia. O Novo Testamento atesta a realidade do cumprimento histrico do que fora dito. No Antigo Testamento lemos as profecias messinicas: "Para que se aumente o seu governo e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juzo e a justia (hq'd'c.) (tsedaqah) desde agora e

    se nada ntegro e absolutamente isento de toda mancha, o que jamais se encontrar nem poder ser encontrado em homem algum (Joo Calvino, As Institutas, III.12.1). 24

    Veja-se: Louis Berkhof, Teologia Sistemtica, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 77-78.

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    para sempre. O zelo do Senhor dos exrcitos far isto (Is 9.7). Alegra-te muito, fi-lha de Sio; exulta, filha de Jerusalm: eis a te vem o teu Rei, justo (qyDIc;)(tsadiyq) e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta (Zc 9.9). No Novo Testamento, na iminncia da condenao de Jesus, a mulher de Pilatos, Cludia Prcula, manda um recado ao seu marido: ".... No te envolvas com esse justo (di/kaioj); porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito (Mt 27.19). Ao presenciar o modo como morreu nosso Senhor, um centurio, glorificando a Deus, exclamou: Verdadeiramente, este homem era justo (di/kaioj) (Lc 23.47). Aps a morte, ressurreio e ascenso de Jesus, Pedro, no seu discurso diante dos judeus, demonstra que eles escolheram libertar um criminoso (Barrabs) ao in-vs de Jesus Cristo, contra quem no havia acusao real passvel de qualquer condenao judicial: "Vs, porm, negastes o Santo e o Justo (di/kaioj), e pedistes que vos concedessem um homicida (At 3.14). Anos mais tarde, na sua primeira Epistola, Pedro escreveria: .... Cristo morreu, uma nica vez, pelos pecados, o justo (di/kaioj) pelos injustos (a)/dikoj = mpio, desonesto25).... (1Pe 3.18). As Escrituras nos ensinam que Jesus Cristo, a nossa justia, a prpria justia de Deus; e que o Seu ministrio consistiu em cumprir a obra que o Pai lhe confiara, em favor de todo o Seu povo (Jo 17.4). A sua obra foi realizada retamente, em harmonia com o "Conselho da Trindade" (Ef 1.11). Por isso, o escritor da Carta aos Hebreus pde dizer: "Porque no temos sumo sacerdote que no possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as cousas, nossa semelhana, mas sem pecado (Hb 4.15). John Murray (1898-1974) diz corretamente que: "A nica justia concebvel que satisfar as necessidades da nossa situ-

    ao como pecadores e que satisfar as exigncias de uma plena e irre-vogvel justificao a justia de Cristo. Esta afirmao implica a sua o-bedincia e, portanto, a sua encarnao, morte e ressurreio. Em uma palavra, a necessidade da expiao inerente e essencial justificao. Uma salvao do pecado que divorciada da justificao uma impos-sibilidade, e a justificao de pecadores sem a justia divina do Redentor inconcebvel".26

    A santidade absoluta de Deus se revela na cruz, onde o seu amor e a sua justia se evidenciam de forma eloquente e perfeita.27 A cruz enfatiza o Deus santo e ma-

    25

    a)/dikoj * Mt 5.45; Lc 16.10,11; 18.11; At 24.15; Rm 3.5; 1Co 6.1,9; Hb 6.10; 1Pe 3.18; 2Pe 2.9. 26

    John Murray, Redeno: Consumada e Aplicada, So Paulo: Editora Cultura Crist, 1993, p. 19. 27

    A cruz e a coroa revelam no apenas as virtudes do Filho, mas tambm do Pai. Todos os atributos divinos alcanam plena expresso aqui. Dentre todas elas, uma sobressai: a justia do Pai. Se Ele no tivesse sido justo, certamente no teria entregue Seu Filho Unignito. E

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    jestoso, zeloso por sua glria.28 A cruz no fez Deus nos amar, antes, o Seu amor por ns a produziu e se revelou ali.29 Enquanto para ns as circunstncias servem de pretexto para os nossos atos pe-caminosos e os posteriores atenuantes, para Deus tais circunstncias sobre as quais tem total domnio: Ele tambm o Senhor das circunstncias oportunizam a manifestao do que Ele em Sua essncia. O pecado no tornou Deus misericor-dioso, santo ou justo; Ele eternamente misericordioso, santo e justo. No entanto, o pecado propiciou a Deus, por sua livre graa, revelar-se desta forma para conosco. 30 Na cruz vemos a manifestao gloriosa dos atributos de Deus. A justia e o amor se encontraram e se abraaram. Os santos atributos de Deus so glori-ficados juntamente na morte do Filho de Deus na cruz.31 A nossa dvida foi paga. Nada ficou pendente. Cristo satisfez completamente as santas e justas exi-gncia do Pai. Tudo foi pago pela graa e com justia. A Trindade nos justifica (At 13.39; Rm 8.30,33; 1Co 6.11).

    3.4.6.4. A CONDENAO QUE NOS LIBERTA

    A justia de Deus no nos condena porque Deus mesmo nos revestiu com a justia de Cristo.32 No haveria para nenhum de ns salvao de nossos pecados sem a justificao. Da mesma forma, existe a justificao porque Jesus Cristo a nossa justia; Ele mesmo quem nos redime (1Co 1.30).33 Como escreveu Lloyd-Jones (1899-1981): Se lhes fosse solicitado responder onde a Bblia ensina a santidade de Deus mais poderosamente teriam de ir ao Cal-vrio. Deus to santo, to plenamente santo, que nada seno aquela mor-te terrvel poderia tornar possvel que Ele nos perdoasse. A cruz a suprema e a mais sublime declarao e revelao da santidade de Deus.34 Na cruz

    tambm, se no fosse justo, Ele no teria recompensado o Filho por Seu sofrimento. Mais, por meio dos louvores da multido salva, o Pai (bem como o Filho) glorificado (William Hen-driksen, O Evangelho de Joo, So Paulo: Cultura Crist, 2004 (Jo 17.1), p. 754). A cruz se levanta como testemunho da infinita dignidade de Deus e o infinito ultraje do pecado (John Piper, A Supremacia de Deus na Pregao, So Paulo: Shedd Publicaes, 2003, p. 31). 28

    A justia de Deus o zelo resoluto pela exaltao de Sua glria (John Piper, A Suprema-cia de Deus na Pregao, So Paulo: Shedd Publicaes, 2003, p. 27). 29

    Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecio-nadas, 1997 (Grandes Doutrinas Bblicas, Vol. 1), p. 426. 30

    Watson (c. 1620-1686) disse que A justificao uma misericrdia provinda das entranhas da livra graa (Thomas Watson, A F Crist, estudos baseados no breve catecismo de Westmins-ter, So Paulo: Cultura Crist, 2009, p. 264). 31

    David Martyn Lloyd-Jones, Uma Nao sob a Ira de Deus: estudos em Isaas 5, 2. ed. Rio de Ja-neiro: Textus, 2004, p. 222. 32

    Veja-se: Herman Bavinck, Dogmtica Reformada, So Paulo: Cultura Crist, 2012, Vol. 4, p. 179. 33

    Ver: John Murray, Redeno: Consumada e Aplicada, So Paulo: Editora Cultura Crist, 1993, p. 19. 34 D. M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 1997, p. 97. A santidade e a retido do Seu ser eterno e do Seu carter significam que Ele no pode ignorar o pecado. O pecado uma realidade, um problema (...) at para Deus.

  • A Soberania de Deus e a Responsabilidade humana (8) Rev. Hermisten 28/07/14 9/16

    temos a reconciliao do santo com o pecador, do perfeitamente justo com o total-mente injusto, do infinito com o finito; do Deus eterno com o homem temporal: A cruz o centro da histria e a reconciliao de todas as antteses.35 Isaas diz que Todos ns andvamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele [Jesus Cristo] a iniquidade de ns todos (Is 53.6). De acordo com as Escrituras, ou somos justificados por Cristo por meio da f, ou estamos definitivamente condenados. A iluso humana fruto do seu pecado achar que no tem pecado ou que pode por seus prprios merecimentos apresentar-se di-ante de Deus.36 Na realidade, no h meio-termo; no h sntese entre nossas su-postas obras e a f em Cristo. No h meia-justia. Ou tudo ou nada. Para a Te-ologia Reformada, a justificao totalmente pela graa, mediante a f; ou seja: por Cristo Jesus.37 Jesus Cristo o nico que cumpriu perfeitamente a justia divina. Portanto, so-mente nEle podemos e de fato somos declarados justos. A graa nos justifica na jus-tia de Cristo. Deste modo, no a f que nos justifica, antes, Deus quem nos jus-tifica em Cristo nos comunicando esta bno pela f. Sem a graa no haveria f. Como vimos, a f a boa obra do Esprito Santo em ns. A f em Cristo o esvazi-amento de toda confiana em nossa capacidade e merecimento. A eficcia da f no est em sua suposta perfeio alis, nossa f sempre limitada e imperfeita , mas, no seu repouso humilde e total na justia perfeita de Cristo.38 A justia de Deus no nos condena, mas nos justifica. Somos revestidos da justia de Cris-to.39 No existe justificao sem a pessoa e obra de Cristo (Rm 3.24; Tt 3.740).41 .... mas vs vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do

    uma coisa que Ele v e da qual tem que tratar, e assim manifesta a glria do Seu ser em Sua santidade e justia (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, So Paulo: Publicaes Evan-glicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: Vol. 1), p. 51). 35

    Herman Bavinck, Teologia Sistemtica, Santa Brbara DOeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 48. 36

    A iluso mais perigosa de todas o farisasmo. Essa a verdadeira barreira a Jesus Cris-to. Toda a rejeio da graa de Deus toma essa forma. Aqueles que recusam o perdo gra-tuito de Deus por meio de Cristo fazem assim porque acham que no precisam desse per-do. Eles no admitem que so pecadores. Eles negam que estejam desesperadamente perdidos (Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, So Paulo: Cultura Crist, 2006, p. 79). 37

    Veja-se: Joo Calvino, Glatas, So Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 2.15-16), p. 68-71. 38

    Ver: Joel R. Beeke, Justificao pela F Somente (A Relao da F com a Justificao): In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja: Justificao pela F Somente, So Paulo: Editora Cultura Crist, (2000), p. 54. 39

    Herman Bavinck, Dogmtica Reformada, So Paulo: Cultura Crist, 2012, Vol. 4, p. 179. 40

    Sendo justificados gratuitamente, por sua graa, mediante a redeno que h em Cristo Jesus (Rm 3.24). A fim de que, justificados por graa, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperana da vida eterna (Tt 3.7). 41

    Vejam-se: Michael Horton, Unio com Cristo. In: Michael Horton, org., Cristo o Senhor: A Reforma e o Senhorio da Salvao, So Paulo: Editora Cultura Crist, 2000, p. 105-106; Charles Hodge, Teo-logia Sistemtica, So Paulo: Hagnos Editora, 2001, p. 1115.

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    Senhor Jesus Cristo e no Esprito do nosso Deus (1Co 6.11). Jesus Cristo cumpriu a Lei. Ele a nossa justia: Mas vs sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tor-nou, da parte de Deus, sabedoria, e justia, e santificao, e redeno (1Co 1.30). O Esprito aplica em ns a justia de Cristo; por isso, somos declarados justos di-ante de Deus. Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar todos os e-leitos; e Cristo, no cumprimento do tempo, morreu pelos pecados deles e res-suscitou para a justificao deles; contudo, eles no so justificados at que o Esprito Santo, no tempo prprio e de fato, comunica-lhes Cristo.42 (Rm 3.4; 4.25; Tt 3.6-7/1Co 6.11). Desse modo, vemos que Deus eternamente decretou nos justificar. Contudo, Ele o faz no tempo, tambm por graa, por meio da f.

    3.4.6.5. UM PERDO LEGAL: UM NOVO STATUS

    A justificao o fundamento judicial ou forense da santifi-cao.43 Na justificao pressupomos uma relao entre duas partes considerando o seu direito. Nesta doutrina temos a regulamentao das relaes entre as partes.44 H uma mudana na nossa condio legal: Deus declara ao homem culpado que j no h mais culpa em ns. Aqui de fato passamos a ter vida.45 Mudamos da situa-o de um condenado que aguardava tristemente a terrvel sentena condenatria para a condio de filho de Deus, na expectativa da sua majestosa herana (Rm 8.14-18)46.47 importante enfatizar que na justificao Deus no declara que o mpio santo; ele declara que, no obstante sua pecaminosidade e indigni-dade pessoal, ele aceito como justo com base no que Cristo fez por ele.48 Portanto, como escreveu Calvino: Quando Deus nos justifica pela intercesso

    42

    Confisso de Westminster, XI.4. 43

    Vejam-se: Herman Bavinck, Dogmtica Reformada, So Paulo: Cultura Crist, 2012, Vol. 4, p. 209; L. Berkhof, Teologia Sistemtica, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 540. 44

    Abraham Kuyper, A Obra do Esprito Santo, So Paulo: Cultura Crist, 2010, p. 371-372. 45

    Justificao forense significa que somos declarados justos por Deus em um sentido legal. A base dessa declarao legal a imputao da justia de Cristo a nosso favor (R.C. Spro-ul, O que teologia reformada, So Paulo: Cultura Crist, 2009, p. 51. Do mesmo modo: R.C. Sproul, A natureza forense da justificao: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual a Igreja: Justificao pela F Somente, So Paulo: Editora Cultura Crist, (2000), p. 27ss. Veja-se: George Whitefield, Cristo: Sabedoria, Justia, Santificao, Redeno, So Paulo: Publicaes Evan-glicas Selecionadas, (s.d.), p. 8. 46

    14 Pois todos os que so guiados pelo Esprito de Deus so filhos de Deus. 15 Porque no rece-bestes o esprito de escravido, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o esprito de adoo, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. 16 O prprio Esprito testifica com o nosso esprito que somos filhos de Deus. 17 Ora, se somos filhos, somos tambm herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, tambm com ele seremos glorificados. 18 Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente no podem ser comparados com a glria a ser revelada em ns (Rm 8.14-18). 47

    Veja-se: J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, So Paulo: Mundo Cristo, 1980, p. 121. 48

    Charles Hodge, Teologia Sistemtica, p. 1115. A justificao um ato judicial de Deus, no qual ele declara, com base na justia de Jesus Cristo, que todas as reivindicaes da lei so satisfeitas com vistas ao pecador (L. Berkhof, Teologia Sistemtica, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 517).

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    de Cristo, ele nos absolve no pela prova de justia pessoal, mas pela im-putao de justia, de sorte que somos tidos por justos em Cristo, ns que inerentemente no o somos.49 A justificao que ocorre fora de ns no produz nenhuma transformao es-piritual em nosso ser. Contudo, significa que Deus j a fez pela regenerao e conti-nuar fazendo pela santificao.50 Na regenerao recebemos um corao novo, com uma santa disposio. Na justificao, Deus, Senhor e Rei, nos declara justos, perdoando todos os nossos pecados, os quais foram pagos definitivamente por Cris-to; por isso, j no h nenhuma condenao sobre ns; estamos em paz com Deus resultante da justia de Cristo imputada a ns (Rm 5.1; 8.1,31-33).51 Deste modo, o Pai decretou nos justificar por meio dos mritos de Cristo, os quais so aplicados pe-lo Esprito Santo. O Senhor, no legtimo uso de Seus direitos e prerrogativas, mudou o nosso status de condenados para declarados justos.

    3.4.6.6. ACOMODAO INJUSTIFICVEL

    A justificao um presente gratui-to parte das obras, mas a graciosa imputao de Deus de Sua justia e o perdo das transgresses no podem ser reais se no forem acompanhadas

    de santidade Russell P. Shedd.52

    Eu creio, Senhor, na divina promes-sa, Vitrias j tive nas lutas aqui. Contudo, mui certo que a gente tro-pea;

    Por isso, Senhor, eu preciso de ti 53

    49

    Joo Calvino, As Institutas, III.11.3. 50 No h justificao sem regenerao, assim como no h regenerao sem justifica-o (James M. Boice, Fundamentos da F Crist: Um manual de teologia ao alcance de todos, Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 369). 51

    Justificados, pois, mediante a f, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5.1). Agora, pois, j nenhuma condenao h para os que esto em Cristo Jesus (Rm 8.1). 31 Que diremos, pois, vista destas coisas? Se Deus por ns, quem ser contra ns? 32 Aquele que no poupou o seu prprio Filho, antes, por todos ns o entregou, porventura, no nos dar graciosa-mente com ele todas as coisas? 33 Quem intentar acusao contra os eleitos de Deus? Deus quem os justifica (Rm 8. 31-33). 52

    Russell P. Shedd, A Justificao: A resposta de Deus para uma vida crist autntica, 2. ed. rev. So Paulo: Vida Nova, 2010, p. 28. frente, enfatiza: A ausncia de boas obras, ento, a prova concreta de que qualquer justificao alegada imaginria (Russell P. Shedd, A Jus-tificao: A resposta de Deus para uma vida crist autntica, 2. ed. rev. So Paulo: Vida Nova, 2010, p. 30). 53

    Primeira estrofe do Hino Necessidade, n 68 do Hinrio Presbiteriano Novo Cntico. Hino com-posto pelo pastor metodista, Antnio de Campos Gonalves (1899-1983) (letra) e Henriqueta Rosa Fernandes Braga (1909-?)(msica).

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    A justificao eterna e objetiva, conforme os propsitos de Deus em Cristo, e a justificao subjetiva,54recebida pela f, se consumam em nos-sa unio com Cristo.55 A obra de Cristo envolve ambos aspectos da mesma graa. Esta unio se revela e se desenvolve em nossa obedincia aos mandamentos de Deus, que podemos chamar de justificao demonstrativa. A justia imputada para justificao e a justia inerente para a santificao devem estar inse-paravelmente unidas.56 No fomos salvos porque Deus se agradou de nossas supostas obras de justia, do nosso justo modo de viver, antes, Ele nos declarou justo, nos perdoando os nos-sos pecados, aplicando em ns a justia de Cristo, nos capacitando a viver em novi-dade de vida, conforme o nosso novo status. O preo de nossa justificao, gratuita para ns, custou o sangue de Cristo Jesus. A justificao, por envolver a regenera-o,57 uma vocao incondicional santificao, conforme a vontade de Deus.58 A justificao nos livra da condenao do pecado. Deus chama pecadores, todavia, no deseja que continuem assim; antes, infunde neles a justia de Cristo, dando-lhes um novo corao, mudando as inclinaes de sua alma, habilitando-os a toda boa obra (Ef 2.8-10)59.60 "Cristo a ningum justifica, a quem ao mesmo tempo,

    54

    Vejam-se: L. Berkhof, Teologia Sistemtica, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 520-521; Herman Bavinck, Dogmtica Reformada, So Paulo: Cultura Crist, 2012, Vol. 4, p. 203ss.; 222ss.; Abraham Kuyper, A Obra do Esprito Santo, So Paulo: Cultura Crist, 2010, p. 383-384. 55

    A justia que nos justifica, portanto, no deve ser separada da pessoa de Cristo. Ela no consiste de um dom material ou espiritual que Cristo nos concede fora de Si mesmo, ou que ns podemos aceitar e receber sem que aceitemos e recebamos a pessoa de Cristo. No h possibilidade de se desfrutar dos benefcios de Cristo sem que haja comunho com a pessoa de Cristo e a comunho com Cristo invariavelmente traz consigo os benefcios de Cristo. Para ser aceito diante de Deus, para ser livre de toda culpa e punio e para desfru-tar da glria de Deus e da vida eterna, ns temos que ter Cristo, no algo dele, mas o pr-prio Cristo (Herman Bavinck, Teologia Sistemtica, Santa Brbara dOeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 499). 56

    Thomas Watson, A F Crist, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, So Paulo: Cultura Crist, 2009, p. 266. 57

    A regenerao inseparvel de seus efeitos, e um destes efeitos a f (John Murray, Redeno: Consumada e Aplicada, So Paulo: Editora Cultura Crist, 1993, p. 119). 58

    certamente verdade que somos justificados em Cristo to somente pela misericrdia di-vina, mas igualmente verdade e correto que todos quantos so justificados so chamados pelo Senhor para que vivam uma vida digna de sua vocao. Portanto, que os crentes a-prendam abra-lo, no somente para a justificao, mas tambm para a santificao, as-sim como ele se nos deu para ambos os propsitos, para que no venham a mutil-lo com uma f igualmente mutilada (Joo Calvino, Exposio de Romanos, (Rm 8.13), p. 274). Ver tam-bm: Joo Calvino, Efsios, (Ef 2.10), p. 63. 59

    8Porque pela graa sois salvos, mediante a f; e isto no vem de vs; dom de Deus; 9 no de obras, para que ningum se glorie. 10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas o-bras, as quais Deus de antemo preparou para que andssemos nelas (Ef 2.8-10). 60

    A justificao unicamente pela f. A santificao no unicamente pela f. A totali-dade da vida crist uma vida de f, porm na santificao temos que agir, e desenvolver, despir-nos e vestir-nos; como o apstolo nos diz em todos esses pormenores que nos oferece aqui. (Ef 4) (D.M. Lloyd-Jones, As Trevas e a Luz, So Paulo: Publicaes Evanglicas Seleciona-das, 1995, p. 130).

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    no santifique".61 Todavia, a realidade do pecado ainda existe em ns; o justificado simultaneamente justo e pecador (Simul justus et peccator), conforme expresso de Lutero (1483-1546).62 Ele declarado justo por Deus. Aqui no o ponto final, antes, o incio. As evidncias de seu novo nascimento vo, gradativamente se tor-nando mais claras por meio de sua obedincia a Deus em santificao. A nossa justificao pela graa mediante a f (Gl 3.11; Fp 3.9; Tt 3.4-7).63 "....A f o instrumento pelo qual o pecador recebe e aplica a si tanto Cristo co-mo sua justia".64 O veredicto de Deus sobre o pecador o considera justo porque ele, pela f, aceitou a justia de Cristo. Esta justia nada tem a ver com obras huma-nas, antes, a justia de f. Se assim no fosse, como j mencionamos, a f seria por si mesma meritria, sendo a obra sacrificial de Cristo descartada por sua total inutilidade. Como acentua Bavinck: A f no justifica por meio de sua prpria essncia, nem age por ela mesma ser justa, mas por seu contedo, porque f em Cristo, que nossa justia. Se a f justificasse por si mesma, o objeto desta f (isto , Cristo) perderia totalmente seu valor. Mas a f que justifica precisamente a f que tem Cristo como seu objeto e contedo.65 H um hino antigo muito apreciado nas igrejas, que reflete esta compreenso b-blica, Firmeza na F,66 cuja primeira estrofe e coro, dizem assim: Somente ponho a minha f Na graa excelsa de Jesus, No sacrifcio remidor, No sangue do bom Redentor. A minha f e o meu amor

    Esto firmados no Senhor,

    61

    Joo Calvino, As Institutas, III.16.1. 62

    Vejam-se: G.C. Berkouwer, Faith and Sanctification, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1952, p. 71ss.; R.C. Sproul, A natureza forense da justificao: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual a Igreja: Justificao pela F Somente, So Paulo: Editora Cultura Crist, (2000), p. 34. 63

    E evidente que, pela lei, ningum justificado diante de Deus, porque o justo viver pela f (Gl 3.11). 8Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo 9 e ser achado nele, no tendo justia prpria, que procede de lei, seno a que me-diante a f em Cristo, a justia que procede de Deus, baseada na f (Fp 3.8-9). 4 Quando, porm, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, 5 no por obras de justia praticadas por ns, mas segundo sua misericrdia, ele nos salvou mediante o lavar regene-rador e renovador do Esprito Santo, 6 que ele derramou sobre ns ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, 7 a fim de que, justificados por graa, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperana da vida eterna (Tt 3.4-7). 64

    Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 73. Bavinck, ainda que no de modo convincente, ar-gumenta de forma restritiva quanto expresso causa instrumental atribuda f (Veja-se: Herman Bavinck, Dogmtica Reformada, So Paulo: Cultura Crist, 2012, Vol. 4, p. 224-225). 65

    Herman Bavinck, Dogmtica Reformada, So Paulo: Cultura Crist, 2012, Vol. 4, p. 214. 66

    Hino do pastor e compositor britnico, Edward Mote (1797-1874), traduzido pelo pastor gacho, Francisco Caetano Borges da Silva (1863-1963?). A letra utilizada foi extrada do Hinrio Presbiteria-no Novo Cntico, Hino n 93.

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    Esto firmados no Senhor. Por sua vez, deve ser acentuado que a justificao subjetiva marca o nosso novo itinerrio de vida, j selado em nossa eleio eterna, rumo glorificao com o Se-nhor, vivendo, conforme o propsito de Deus, para as boas obras, fruto da f,67 pre-paradas pelo prprio Deus para o Seu povo (Ef 2.10). A justificao frutuosa. A graa justificadora jamais estril. A justificao implica necessariamente em santi-ficao. A santificao pressupe essencialmente a justificao. No ousemos dividir o indivisvel. A separao destas duas verdades de nossa salvao, propicia cair no equvoco da anomia, declarando que j no h mais lei; portanto, no precisamos de santificao visto que, considerados salvos, podemos fazer o que bem entendermos. No entanto, a verdade bblica outra: somos declarados justos para vivermos em santidade.68 Portanto, insisto, a nossa real justificao tem implicaes ticas. A santificao a grande evidncia de nossa nova relao com Deus. A nossa justificao (subjeti-va) nos d o status de filhos. Como tais, salvos para sempre (Ef 1.5,13-14).69 O de-safio para ns hoje viver em harmonia com a nossa nova natureza e condio, an-dando, conforme vimos, nas obras preparadas por Deus para ns (justificao de-monstrativa)(Ef 2.8-10).70 Paulo, diante do rei Agripa, testemunhando a sua converso e o seu chamado ministerial para trabalhar entre os gentios, relata as palavras de Cristo a ele dirigi-das: "Para lhes abrir os olhos e convert-los das trevas para a luz e da potestade de Satans para Deus, a fim de que recebam eles remisso de pecados e herana en-tre os que so santificados pela f em mim (At 26.18). A santificao um processo que tem incio no ato de Deus. Em outras palavras, estamos dizendo que fomos separados do mundo (sendo santificados), para cres-cermos, progredirmos em nossa f (santificao). O Esprito opera em ns a salva-o a qual se evidencia em santificao (1Co 6.11; 2Co 3.18; 1Pe 1.2/Jo 17.17). O mesmo Esprito que nos regenerou por meio da Palavra (Tg 1.18; 1Pe 1.23), age mediante esta mesma Palavra, para que vivamos de fato, como novas criaturas que somos. A Bblia o instrumento eficaz do Esprito, porque Ela foi inspirada pelo Es-

    67

    Vejam-se: Catecismo de Heidelberg, p. 86; Confisso Belga, Art. 24; Segunda Confisso Helvtica, XVI.2; Confisso de Westminster, XVI.2. 68

    .... nunca se deve abrir uma lacuna entre a justificao e a santificao. (...) Voc no pode, voc no deve tentar dividir Cristo. falsa a doutrina que diz que voc pode ser justi-ficado sem ser santificado. impossvel; voc santo antes de ser fiel. Voc foi separado. por isso que voc cr. Estas coisas esto entrelaadas indissoluvelmente. No permita Deus que as separemos ou que as dividamos, jamais! (D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propsito de Deus, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 1996, p. 33). 69

    5 nos predestinou para ele, para a adoo de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o benepl-cito de sua vontade, (...) 13 em quem tambm vs, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evan-gelho da vossa salvao, tendo nele tambm crido, fostes selados com o Santo Esprito da promessa; 14 o qual o penhor da nossa herana, at ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glria (Ef 1.5,13-14). 70

    8Porque pela graa sois salvos, mediante a f; e isto no vem de vs; dom de Deus; 9 no de obras, para que ningum se glorie. 10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas o-bras, as quais Deus de antemo preparou para que andssemos nelas (Ef 2.8-10).

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    prito Santo (2Pe 1.21). Portanto, o Esprito no somente testifica que somos filhos de Deus, mas, tambm, nos ensina pela Palavra a nos comportar como filhos (Rm 8.14),71 desenvolvendo em ns, ou seja, em todos os cristos, o carter de Cristo que consiste no fruto do Esprito.72

    ANOTAES PONTUAIS SOBRE A JUSTIFICAO PELA GRAA

    A doutrina da justificao pela f como um dos pilares da Reforma,73 estabelece o caminho bblico entre sacerdotalismo (f mais obras), a anomia (justificados na eter-nidade e, portanto, j salvos pela graa, estamos livres para fazer o que bem enten-dermos) e o legalismo (salvos pela observncia da lei) e o galacianismo (salvos pela graa vivemos pela lei). A viso Reformada aponta para o fato de nossa total inca-pacidade de nos salvar a ns mesmos. Ao mesmo tempo, enfatiza a livre graa de Deus que providencia a salvao para o Seu povo. A salvao, portanto, est condi-cionada f em Cristo Jesus, recebendo os seus merecimentos, sendo transforma-dos por Deus e, deste modo, declarados justos aos olhos de Deus.74 A justificao descortina diante de ns o caminho da glorificao. O Deus que nos justifica o mesmo que nos glorificar (Rm 8.30). A justificao coroada com a glorifi-cao.75

    Sem a compreenso adequada da doutrina da justificao pela f, no h Evangelho a ser anunciado.76 S h Evangelho se de fato houver a Boa Nova da perfeita justia de Cristo que -nos imputada pela graa. O Evangelho tem como uma de suas prin-cipais caractersticas, o anncio da justificao pela f.77

    71

    Veja-se: Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espritu Santo, p. 80. Do mesmo modo, A.A. Hoeke-ma, Salvos pela Graa, p. 37. 72

    Veja-se: James M. Boice, Fundamentos da F Crist: Um manual de teologia ao alcance de todos, Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 330-333. 73

    A justificao foi a doutrina que acendeu a Reforma (John F. MacArthur, Jr., Muito Antes de Lutero: Jesus e a Doutrina da Justificao: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja: Justificao pela F Somente, So Paulo: Editora Cultura Crist, (2000), p. 15). 74

    A viso reformada da justificao forense se fundamenta no princpio de que pela impu-tao da justia de Cristo o pecador agora feito formalmente, mas no materialmente, justo aos olhos de Deus (R.C. Sproul, Justificao pela F Somente: a natureza forense da justifi-cao: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja: Justificao pela F Somente, So Paulo: Editora Cultura Crist, (2000), p. 33). 75

    Thomas Watson, A F Crist, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, So Paulo: Cultura Crist, 2009, p. 265. 76

    Um entendimento correto sobre a justificao pela f constitui o fundamento do Evange-lho (John F. MacArthur, Jr., Muito Antes de Lutero: Jesus e a Doutrina da Justificao: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja: Justificao pela F Somente, So Paulo: Editora Cultura Crist, (2000), p. 24). 77

    As igrejas e denominaes que se firmam em sola fide permanecem evanglicas. Aque-las dispostas a ceder nesse ponto inevitavelmente se rendem ao liberalismo, revertem ao sacerdotalismo ou adotam formas at piores de apostasia. O evangelicalismo histrico, por-tanto, sempre encarou a justificao pela f como sendo uma doutrina central se no a-quela doutrina mais importante a ser bem compreendida. No foge verdade definir os evanglicos como sendo os que creem na justificao somente pela f (John F. MacArthur, Jr., Muito Antes de Lutero: Jesus e a Doutrina da Justificao: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A

  • A Soberania de Deus e a Responsabilidade humana (8) Rev. Hermisten 28/07/14 16/16

    Para ns Reformados a justificao o ato que faz parte do incio de um proces-so que se iniciou na eternidade (eleio) e se consumar na eternidade (glorifica-o).78 A justificao no tempo real porque foi estabelecida por Deus na eternida-de.79 Cristo, com o seu prprio sangue, reconciliou-nos com Deus, sendo assunto aos cus, como nosso eterno e perfeito Mediador.80 O Grande Amor de Deus.81 1. A Deus demos glria, por seu grande amor, O Filho bendito por ns todos deu, E graa concede ao mais vil pecador, Abrindo-lhe a porta de entrada no cu.

    Exultai! Exultai! Vinde todos louvar A Jesus, Salvador, a Jesus, Redentor! A Deus demos glria, porquanto do cu Seu Filho bendito por ns todos deu!

    2. Oh, graa real! Foi assim que Jesus, Morrendo, Seu sangue por ns derramou. Herana nos cus, com os santos em luz, Legou-nos Aquele que o preo pagou. 3. Tal prova de amor nos persuade a confiar Nos merecimentos do Filho de Deus! E quem, a Jesus, pela f se entregar, Vai v-lo na glria eterna dos cus. (F.J. Crosby J. Jones)

    Maring, 28 de julho de 2014. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

    Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja: Justificao pela F Somente, So Paulo: Editora Cultura Crist, (2000), p. 11). 78

    Veja-se, conforme j citado: Confisso de Westminster, XI.4. A justificao o ponto de con-vergncia de um vastssimo princpio e de um vastssimo fim. o ponto em que se encontram duas eternidades: a do passado e a do futuro (T. Austin Sparks, O Evangelho Segundo o A-pstolo Paulo, (s. cidade): (s. editora), (s. data), p. 11). 79

    Herman Bavinck, Dogmtica Reformada, So Paulo: Cultura Crist, 2012, Vol. 4, p. 219. 80

    Veja-se Joo Calvino, Exposio de Hebreus, (Hb 10.22), p. 268. 81

    Hino n 42 do Hinrio Novo Cntico, So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1991.