A Sociologia de Gilberto Freyre e A

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    A SOCIOLOGIA DE GILBERTO FREYRE E AEDUCAO PARA A SADE (*)

    Gi lberto Freyres Sociology and the Health Education

    Claudio Bertoll i Filho1

    Resumo: No contexto reavaliador dos escritos de Gilberto Freyre, pouco tem sido abordado das idiasdeste autor no referente compreenso do Homem como uma entidade ao mesmo tempo biolgica ecultural. Este artigo tem como objetivo apresentar as principais propostas freyrianas no campo da socio-logia da medicina e, na sequncia, avaliar as possibilidades de aplicao dessas idias nas iniciativas vol-tadas para a educao para a sade.

    Unitermos: Gilberto Freyre; sociologia da medicina, educao para a sade.

    Abstract:In re-evaluating Gilberto Freyres writings, few have said about the ideas of this author related tothe comprehension of the Man as a bilogical and cultural enti ty, at the same time. This art icle has as aim topresent the main freyri an proposals in the fi eld of sociology of medicine and, afterwards, to evaluate thepossibi li ties to apply these ideas in ini tiati ves towards to the health education.

    Keywords:Gi lberto Freyre; Sociology of Medicine, health education.

    Sei que no me contentaria nunca se dependesse de mim de ser simplesmente des-critivo no que escrevo. Nem simplesmente descri tivo nem apenas expositor de conheci-

    mentos ou de saberes adquiridos de livros ou de mestres ou de estudo somente linear desteou daquele objeto. E sim um tanto mais do que isto. Sugestivo. Evocativo, interpretati-vo. Provocante. Epi fni co (Freyre, 1968, p.189)

    Em estudo recente sobre a abordagem adotada por uma srie de livros didticos emrelao sade e doena e, em especial tuberculose, Carvalho (2002) observou que os auto-res analisados tendem a confinar em uma dimenso quase que exclusivamente biolgica asexplicaes dos processos fsio-patolgicos localizados no organismo humano, incorrendo emum perigoso reducionismo. Isto porque, ao isolarem a sade e a enfermidade das dimensessociais mais abrangentes, deslocam os contedos focados do contexto no qual os professores eseus alunos esto inseridos, criando graves obstculos para o pleno alcance dos objetivos pro-postos pelos processos de ensino e de aprendizagem.

    Contrariando esta tendncia histrica, os atuais Parmetros Curriculares Nacionaisadvogam que a sade e, conseqentemente a enfermidade, devem ser entendidas como refle-xos da maneira como vivem os indivduos e os grupos sociais, favorecendo avaliaes quelevam em considerao as relaes com o meio fsico, social e cultural. Em continuidade,ainda segundo os PCN, cabe escola, no contexto da educao para a sade, a formao de

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    (*) As idias apresentadas neste texto foram anteriormente expostas no Seminrio Internacional Mul tidisciplinar Relendo

    Gi lberto Freyre, patrocinado pela Faculdade de Fi losofia, Letras e Cincias Humanas da Uni versidade de So Paulo, emoutubro de 2000 e aprofundadas na palestra proferida no mbi to do XII I Ciclo de Seminrios em Ensino de Cincias,Matemtica e Educao Ambi ental promovido pelo Programa de Ps-Graduao em Educao para a Cincia daFaculdade de Cincias da Uni versidade Estadual Paul ista, cmpus de Bauru, em maio de 2002.1 Professor Assistente Doutor, Grupo de Pesquisa em Educao para a Sade e Grupo Internacional Cl iope,Departamento de Cincias Humanas e Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Faculdade de Arquitetura,Artes e Comunicao e do Programa de Ps-Graduao em Educao para a Cincia da Faculdade de Cincias,UNESP Uni versidade Estadual Paul ista, Cmpus de Bauru, So Paulo, Brasil e-mai l: cbertoll [email protected]: FUNDUNESP Fundao para o Desenvolvimento da UNESP.

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    protagonistas e no pacientes capazes de valorizar a sade, discernir e participar e deci-ses relativas sade individual e coletiva; assim, a renovao dos enfoques no setor implicasobretudo na formao do aluno para o exerccio da cidadania (Brasil, 1997, p. 32-33).

    Frente a esta questo, o objetivo deste artigo consiste na retomada da problemticarepresentada pela sade e pela doena enquanto tema transversal condicionado pelo contextoscio-antropolgico mais amplo, circunstanciado pela sociedade e pela cultura brasileira.Neste sentido, pensa-se que a multifacetada sociologia arquitetada por Gilberto Freyre seja umelemento motivador de novas discusses que podem resultar na ampliao dos horizontes deentendimento dos contedos pertinentes rea de Cincias e, conseqentemente, em melho-res desempenhos tanto dos docentes quanto dos discentes.

    O fato de Gilberto Freyre e sua obra serem pouco conhecidos por outros especialis-tas que no os formados nos quadros das Cincias Humanas sugere a necessidade da apresen-

    tao do autor e de sua produo intelectual para, em seguida, mesmo que rapidamente, ava-liar-se as possibilidades de emprego de suas contribuies no mbito da educao para a sade.

    A redescoberta de Gilberto Freyre

    As tardias celebraes em torno da figura de Gilberto Freyre (1900-1987), se justasespecialmente no ambiente universitrio paulista, que sempre o tratou com certo descaso, aca-bou gerando uma espcie de reificao do seu texto principal, Casa Grande & Senzala, datadode 1933. Ao mesmo tempo, tais homenagens lanaram escassas luzes sobre o conjunto de suasobras, j que as anlises contemporneas se viram praticamente limitadas ao que o autor pon-tificou nas primeiras dcadas de sua trajetria intelectual. Alm disto, esta operao resultouem alguns vieses comprometedores, tais como a fragmentao dos escritos do autor em blo-cos e fases de contornos to questionveis quanto pouco claros, ressaltando-se ainda o fato devrios estudiosos atriburem Freyre um pioneirismo acadmico to a gosto do ego do escri-tor pernambucano em situaes que no eram bem o caso.

    O recente af de abraar a memria de Freyre e de declar-lo patrimnio nacio-nal (como se o escritor e sua obra j no o fossem h um bom tempo!) corre o risco de relegara um segundo plano o empenho de entendimento da coerncia de sua produo intelectual.Parte-se do suposto que o seu texto central, assim como toda a trilogia batizada comoIntroduo Histria da Sociedade Patriarcal no Brasil 2, apresenta-se como um frtil e comple-

    xo mapeamento da cultura brasileira, propondo questes que, em grande parte, foram inicial-mente apenas delineadas ou insuficientemente aprofundadas. Parece claro que o prprio Freyretinha conscincia desta circunstncia de seus escritos e, por isso, uma parte significativa das pes-quisas que desenvolveu em seguida e que pouco tem sido contempladas como material deanlise visava exatamente responder s questes que foram deixadas em aberto nas pginas desua trilogia comprometida com a interpretao da sociedade nacional (Reis, 1999).

    Nos mltiplos enredos e subenredos que compuseram seus estudos sobre a trajet-ria da sociedade patriarcal, Freyre dedicou-se sobretudo em tecer uma leitura original da vidacotidiana brasileira, superando os cmodos aspectos da vida pblica para ingressar na multi-

    dimensionalidade do convvio privado. Com isto, afastou-se, e de certa forma constrangeu, atendncia historiogrfica dominante por dcadas na academia tupiniquim que, com rarasexcees tal como Srgio Buarque de Holanda, pontificava sobre um certo homo sociologicussem boca, sem comida, sem nus (Vasconcelos, 1987, p. 26). Nesta operao, inevitavelmenteo escritor nordestino no se furtou em enveredar por temas at ento estranhos para quase

    2Esta triologia composta por, alm de Casa-Grande & Senzala, Sobrados & Mocambos (1936) e Ordem & Progresso (1959).

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    todos os estudiosos da cultura brasileira como a alimentao e a vestimenta, os modos dedormir e de defecar, a mobiliria e a arquitetura e, sobretudo a sade e a doena nos contex-tos scio-cultural e ecolgico.

    Os enfoques conferidos pelo autor na verificao destes itens guardam a marca dosconhecimentos que obteve como aluno do mdico e antroplogo Franz Boas, a quem GilbertoFreyre, durante toda a sua vida, no se furtou em referendar como seu grande mestre. Foi gra-as ao estgio com que foi agraciado na Universidade de Columbia, ainda na dcada de 1920,que o brasileiro encontrou estmulos para repensar a equao composta pelos termos nature-za e cultura, assim como para opor-se perspectiva tradicional que advogava a supremaciada raa em relao cultura e tambm a presumvel inferioridade biolgica e mental dos agru-pamentos miscigenados, especialmente nos ambientes tropicais.

    Nesse encaminhamento, que nem sempre se mostrou totalmente fiel s orientaes

    de Boas, Freyre dedicou-se a apreender o Homem como um foco de interseo entre o biol-gico e o cultural, buscando distanciar-se dos postulados dos determinismos racial e geogrfi-co que durante um longo perodo imperaram nos estudos tematizadas pela populao brasi-leira (Lima, 1989). Para alcanar este objetivo, recorreu s novas teorias mdicas em voga apartir da dcada de 30 do sculo passado, encontrando apoios na Higiene, na Climatologia esobretudo na Medicina Tropical para construir novas explicaes globais sobre a cultura bra-sileira. Vale destacar que o prprio esforo freyriano em entender o Homem como uma enti-dade biocultural levou o autor a organizar e participar durante dcadas de um grupo cujosmembros eram na maioria mdicos, ensinando aos discpulos de Hipcrates a necessidade dedimensionamento antropolgico dos problemas mdico-sanitrios e recebendo em trocanoes atualizadas do que vinha sendo proposto pelo setor mdico-epidemiolgico. Dentre osclnicos participantes deste grupo, vrios deles deixaram-se seduzir pelo entusiasmo do mes-tre de Apipucos a ponto de eles prprios elaborarem pesquisas originais na rea das CinciasSociais, encontrando-se nesta situao Ulisses Pernambucano e seu filho Jarbas, Jos Otviode Freitas Filho e, em especial, Ren Ribeiro (Valadares, 1962).

    Estabelecidos os fundamentos da proposta que aproxima o biolgico e o culturalpara o entendimento do Homem, desde seus primeiros escritos Gilberto Freyre deixou mar-cas sobre o que mais tarde viria a denominar de sociologia da medicina. Em cada um de seusestudos o leitor depara-se com trechos incisivos, sempre atualizados, nos quais se buscava veri-

    ficar as possibilidades e os limites de comunho entre as Cincias Sociais e as Cincias Mdico-biolgicas.Conseqncia disto foi que, a partir dos finais da dcada de 1950, tornou-se comum

    encontrar o escritor ministrando cursos e proferindo palestras sobre o tema em escolas mdicasdo Brasil e do exterior. O momento oportuno para colocar no papel sua grande sntese sobre amatria deu-se no decnio seguinte; em 1965 Freyre ministrou um curso sistemtico de socio-logia da medicina na Faculdade de Medicina de Recife e, em seguida, aps cancelar misteriosa-mente o mesmo curso que seria ministrado na Faculdade de Medicina da Universidade de SoPaulo escola que poca buscava organizar um currculo inovador e afinado com as questes

    de sade preementes da sociedade brasileira participou de seminrios acerca das CinciasSociais aplicadas Medicina nas universidades da Califrnia e de Estocolmo, eventos para osquais redigiu centenas de pginas que pouco depois seriam publicadas em forma de livro pelaFundao Calouste Gulbenkian e, na sequncia, aps o texto ser submetido a inmeras altera-es, inclusive de ttulo, por editoras da Itlia e do Brasil (Freyre, 1967, 1975 e 1983) 3.

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    3As referncias indi cadas neste artigo sobre esta obra de Freyre baseiam-se na edio portuguesa.

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    O que animou o autor a publicar este livro que, diferentemente de outras de suasobras, desponta mais como notas apressadas de aula, pouco esmerado em estilo e de umaredundncia de idias e temas que chega a entediar o leitor?Se certamente havia a necessida-

    de de sntese aprimorada de tudo o que tinha exposto sobre a sociologia mdica em mais detrinta anos de contnua produo intelectual, percebe-se tambm que Gilberto Freyre mostra-va-se temeroso sobre os rumos que a medicina havia tomado sobretudo no perodo aberto como final da Segunda Guerra Mundial. Em cada uma das pginas do seu Sociologia da Medicinaencontram-se implcita ou explicitamente referncias nostlgicas sobre a prtica mdica dopassado, da intimidade tramada culturalmente entre os esculpios e seus pacientes, da fluidezde um dilogo que fora sendo paulatinamente obliterado e despojado de contedo humanopela opo tecnicista e pelo laconismo de uma medicina que, ao reduzir o doente doena,isolou o Homem, sadio ou enfermo, de suas condicionantes culturais. Com isto, ainda segun-

    do Freyre, abriram-se oportunidades para que os laboratrios emitissem a ltima palavra sobrea sade individual e coletiva e, ainda mais, orientassem suas atividades para a produo einduo ao consumo de drogas da moda, muitas delas incuas ou prejudiciais sade, rele-gando a um plano anmico o compromisso de atender s reais necessidades teraputicas de umpas que desde o incio do sculo passado, vinha sendo definido como um vasto hospital.

    Para alm destas circunstncias preciso lembrar que Gilberto Freyre havia hmuito encetado uma sadia disputa acadmica com o seu amigo e tambm antroplogo RogerBastide, um professor francs que atuou durante vrios anos na Universidade de So Paulo eque j havia escrito importantes estudos que pontuavam a necessidade do entrelaamentoentre as Cincias Sociais e a Medicina (Bastide, 1950 e 1965). Neste sentido, as consideraestecidas por Freyre podem ser entendidas como uma resposta nacional mais abrangente ao queestava sendo propugnado pelo pesquisador francs4.

    Resultado destas condicionantes, como um cruzado, desponta no livro em questoum escritor algo nostgico e incisivo porque avesso uma Medicina emblematizadora damodernidade vigente na segunda metade do sculo XX. No confronto entre o presenteimpregnado de tecnicismos e um pretrito supostamente mais humano, Gilberto Freyre avi-zinhou seu discurso do movimento que aflorou no mesmo perodo e que ficou conhecidocomo anti-medicina. Para travar sua batalha, o escritor recorreu a todo o seu arsenal intelec-tual, rememorando pginas antigas de seus escritos, recorrendo fontes j visitadas em outros

    de seus estudos e tcnicas ento inovadoras para a abordagem das questes mdicas, comoas histrias de vida e as anotaes auto-biogrficas. A j mencionada reiterao dos mesmostemas em partes diferentes de sua sociologia mdica pode ento ser entendida no como falhade escrita mas, sobretudo, como estratgia de convencimento sobre o que achava importanteser absorvido pelos eventuais leitores que, no Brasil, experimentavam a rpida escalada dos tec-nocratas ao poder, inclusive na rea da sade.

    O empenho de sntese

    A disposio de construir um livro de sntese de sociologia da medicina exigiu que

    o autor se debruasse sobre uma infinidade de temas que abrangem praticamente todo oelenco de objetos explorados pelas Cincias Sociais aplicadas Medicina; as relaes de poderengendradas entre o Estado e o estamento hipocrtico, as linhas de ensino e pesquisa adota-das pelas escolas formadoras de profissionais da sade, o amoldamento do trabalho mdicosegundo as necessidades do capital, a rotao dos procedimentos clnicos e teraputicos como4 O autor agradece professora Ria Lemai re, da Universidade de Poitiers, as informaes sobre o relacionamentoacadmico nem sempre harmonioso entre Freyre e Basti de.

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    mercadorias e como bens simblicos, alm das condicionantes sociais e ecolgicas na causa-o das enfermidades, a representao social da doena e de seus tributrios, as prticas mgi-co-religiosas e o dilema da proposta socializadora da medicina, de tudo Gilberto Freyre tra-

    tou. A extenuante peregrinao por mltiplos ramais, to peculiares ao irriquieto intelectualpernambucano, comportava um desfecho nico: ponderar sobre a constituio de um sabere de uma prtica na rea da sade definida como medicina tropical .

    A busca englobalizadora de questes vrias remeteu o autor para o campo da multi eda interdisciplinaridade, tambm to a seu gosto, situando-o como mediador de um dilogotravado entre os especialistas da sade e os das Cincias Sociais. Neste sentido, Freyre declara-va-se convicto que a Medicina e seus saberes correlatos encontravam-se capacitados para contri-buir para a explicao dos fatos sociais na mesma medida que os cientistas sociais, especialmen-te os antroplogos e os socilogos, comportavam conhecimentos fundamentais para o esclare-

    cimento dos eventos sanitrios. Desta forma, o que Freyre definiu como sendo Sociologia daMedicina seria um territrio de confluncia entre as Cincias Mdicas e as Cincias Humanas,nutrindo anlises complexas sobre situaes mdico-sociais peculiares vivncia humana emreas geogrficas especficas. Para alm de um saber terico, Freyre advogava sua verso de socio-logia da medicina como uma cincia aplicada cuja misso fundamental constitua-se, alm deconferir maior eficincia s intervenes mdicas nas coletividades, favorecer a reconceituaodo Homem enquanto objeto da clnica e da epidemiologia, cobrando insistentemente medidasque viabilizassem novas formas de humanizao da medicina contempornea.

    Aflorou assim, na pena freyriana, um promissor territrio a ser desbravado pelasCincias Humanas comprometidas com o clareamento e orientao das aes preventivas e deassistncia sade, sendo que o prprio autor reclamou para si, precipitadamente, o pionei-rismo nesta rea de estudo, alis como j havia feito em outros setores das Cincias Sociais(Santos, 1993). Sobre isto, vale lembrar que a sociologia da medicina, inclusive sob uma pers-pectiva ecolgica, j vinha se esboando nos Estados Unidos desde a dcada de 1930, substi-tuindo a ultrapassada noo de medicina colonial e, em 1960, foi reconhecida como reade especializao acadmica pela American Sociological Association(Canesqui, 1995).

    A partir da indicao das linhas gerais da proposta de constituio de uma sociolo-gia da medicina, Freyre publicou um volume que, como j foi ressaltado, apresenta-se pauta-do pela redundncia temtica. O convite que se coloca no exatamente o de releitura siste-

    mtica do texto em questo mas sim a verificao de alguns dos temas centrais que foramabordados no livro e que certamente so de extrema utilidade para os especialistas em educa-o para a sade. Para alcanar tal objetivo, partiu-se da seguinte questo: quem so os inter-locutores, explicitados ou no por Freyre neste livro?Em que medida o autor incorporou ouno as idias expostas nas obras que o ajudaram o compor sua sociologia da medicina?

    a- Os fundamentos tericos da medicina tropical

    A formulao de uma sociologia da medicina implicava, para Freyre, no rompi-mento do esquema cartesiano indutor do que se convencionou denominar de medicinamoderna que, em uma de suas pontas, definiu a oposio entre corpo e esprito e, a partirdisto, a noo do biolgico e do cultural como realidades estanques e autnomas. A consti-tuio de uma medicina do futuro que, em um certo momento do texto o autor brasileirodefiniu como ps-moderna, teria que necessariamente superar tal polaridade, permitindocom isto a construo de um novo campo de conhecimento e de uma prtica mdica dedimenso compreensiva. Assim, a doena e o doente poderiam extrapolar os limitados qua-dros da explicao mdica e, inseridos no contexto ecolgico e no padro cultural dominante,

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    viabilizariam a organizao de uma perspectiva holstica e, em conseqncia humanstica davida, dos (des)funcionamentos orgnicos e dos procedimentos mdicos.

    Para cumprir este intento, Freyre carecia de dois conceitos bsicos: primeiramente o

    de sade e, em seguida, o de cultura. Quanto a um possvel conceito de sade, gerido impli-citamente no texto, o autor endossou o que estava sendo preconizado pela OrganizaoMundial de Sade desde a dcada de 1950 e que definia a sade, sob uma tica idealista, comosendo o bem-estar fsico, mental e social do indivduo (WHO, 1951); em relao defini-o de cultura, Freyre reiterou seu apego perspectiva de ser ela um sistema adaptativo, nosendo estranho, portanto, menes em vrias de suas obras s idias do antroplogo neo-evo-lucionista Leslie White. Nesse sentido, j em 1933 o autor declarava que o Homem tropi-cal, contextualizado no perodo colonial, j no era um man-gostoso de carne abrindo osbraos ou deixando-os cair, ao aperto do calor ou do frio (Freyre, 1988, p. 52). No, o talen-

    to adaptativo proporcionado pela cultura permitia que o brasileiro arquitetasse estratgias ori-ginais de sobrevivncia em todas as frentes da cultura material.A opo por estes dois apoios conceituais permitiu que o autor do livro Sociologia da

    Medicinatravasse um extenso dilogo com mltiplos autores, sendo que um nmero razoveldestes pesquisadores e seus estudos j tinham sido mencionados por Freyre nas pginas de suatrilogia fundamental. Dentre tantos nomes, destaca-se o de Walter B. Cannon, que em 1929estudou as transformaes fsico-corporais em indivduos inseridos em situaes que mais tardea cincia classificaria como estressantes; o de Rui Coutinho, mdico que em 1935 estudou asrelaes entre padres alimentares, enfermidades e cultura e o do tambm mdico Antonio daSilva Mello, que durante dcadas dedicou-se anlise dos hbitos alimentares dos brasileiros.Para preencher as lacunas deixadas pelos textos produzidos no passado, Freyre somou a eles aspropostas oferecidas pelas teorias sociolgicas de razes anglo-saxnicas, sobretudo o funcio-nalismo de Talcott Parsons e Thomas Merton, estudiosos que pontificaram o entendimento dasade e da enfermidade em termos de funo/disfuno, papis sociais e interao.

    Claro est que a incorporao da matriz anglo-saxnica ocorreu inclusive para colo-car em contraste as idias de Freyre em relao s anlises que vinham sendo propostas porRoger Bastide. O desafio acadmico frutificava ao alargar as possibilidades de entendimentodo contexto brasileiro, cujos pesquisadores at ento revelavam-se excessivamente tributriosdos ensinamentos oferecidos pela tradio scio-antropolgica francesa.

    O apego freyriano ao paradigma sociolgico funcionalista conduziu seus estudos afazer uso, na maior parte das vezes de maneira no declarada, do modelo epidemiolgico ado-tado pela Organizao Mundial da Sade a partir de meados do sculo passado. Este modelode dimenso tambm funcionalista, conhecido como Histria Natural da Doena, estavasendo gestado desde 1930 pelos higienistas associados Fundao Rockefeller e JohnsHopkins University, ganhando forma definitiva em um texto hoje clssico assinado pelos epi-demilogos Hugh Leavell e Edwin G. Clark (1953). Esta perspectiva tornou-se vital paraFreyre compor sua verso de uma sociologia mdica afastada do modelo unicausal da doen-a que, apesar de j ser considerado ultrapassado, ainda estava presente em um nmero signi-

    ficativo de estudos mdicos e sociais assinados por pesquisadores brasileiros. quase certo que as premissas funcionalistas aplicadas epidemiologia tenham sidoapresentadas a Freyre pelo antroplogo Donald Pierson que, por sua vez, as adotou como estu-dante na rea de ecologia humana junto Escola Sociolgica de Chicago, ncleo de pesquisa-dores que ganhou prestgio acadmico ao devotar a maior parte de suas iniciativas ao enfoquedas relaes entre cultura e meio-ambiente, sem no entanto incorrer nas malhas do determi-nismo de qualquer espcie (Nunes, 1992).

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    Pierson chegou ao Brasil em 1939, graas a um acordo entre o Brasil e os EstadosUnidos, para ocupar o posto de direo da rea de Educao Sanitria do Servio Especial deSade Pblica, aproveitando a oportunidade para entrar em contato com Freyre, que o auxiliou

    na sua pesquisa de doutoramento. Como responsvel por uma diviso da Sade Pblica, oantroplogo norte-americano era seguidor do que estava se configurando como Histria Naturalda Doena, compartilhando com o anfitrio brasileiro sua experincia na rea sanitria. O certo que, a partir de ento, Gilberto Freyre passou a mencionar em seus trabalhos os estudos queestavam sendo realizados segundo a tica funcionalista na sade, a qual implicava na noo desade e enfermidade como um processo dimensionado pela interao do agente patolgico (quepoderia ser de origem animal, vegetal ou mineral), o hospedeiro humano e o ambiente, sendoeste entendido sob a dupla perspectiva do contexto scio-cultural e das estruturas ecolgicas.

    A explicao multicausal do tipo agente-hospedeiro-meio comporta um objetivo

    bem definido: a identificao dos grupos populacionais de risco, isto , com maiores probabi-lidades de adoecer e eventualmente recuperar a sade ou chegar a bito. A partir do diagns-tico do grupo ameaado, que inclui a definio do padro cultural vigente na comunidade,define-se estratgias intervencionistas, viabilizando assim se no a erradicao, pelo menos ocontrole das patologias. No mago da ao sanitria encontra-se o empenho de alterao dostraos culturais considerados potencialmente patgenos, sendo que a substituio de hbitose comportamentos avaliados como tradicionais por elementos modernos constitui-se em umponto vital do trabalho dos agentes de sade, especialmente dos cientistas sociais envolvidosnos trabalhos sanitrios orientados pela linhagem funcionalista.

    O aproveitamento que Freyre fez desta teoria singular e talvez seja sua maior con-tribuio para a sociologia da medicina. Isto porque o escritor pernambucano inverteu o pro-cedimento padro ensinado pelos articuladores do modelo da Histria Natural; assim, em vezde analisar as causas que poderiam levar ao enfermamento individual ou coletivo, o autor deCasa-Grande & Senzalavislumbrou os resultados da interao entre o agente patolgico, ohospedeiro e o meio enquanto resultado da adaptao humana s circunstncias, podendo sertais frutos considerados positivos, quando as respostas culturais mostravam-se eficientes egarantidoras da sade, ou negativos, quando favorecia a instalao da doena na trama cole-tiva. Neste encaminhamento, o socilogo pontificou que as solues funcionais ou os ele-mentos desfuncionais no campo da cultura constituiam-se em elementos importantes para a

    explicao do perfil sanitrio de cada agrupamento humano.O carter original da proposta freyriana reside tambm na apresentao do proces-so adaptativo no como um dispositivo a ser acionado em um meio-ambiente genrico, mas,no contexto brasileiro, como um recurso cultural especfico de uma nao de vertente luso-tropical. Seguindo este direcionamento, a teoria proposta por Gilberto Freyre na rea da socio-logia da medicina apresenta-se como desfecho de questes abordadas em seus estudos anterio-res que, por sua vez, encontram-se alinhavadas no seu New World in the tropics(1959), noqual, pela vez primeira, buscou estabelecer um sistema interpretativo de um padro culturaloriginal: o luso-brasileiro. Sade, doena e cultura, pois, ganhavam um sentido unitrio, favo-

    recido pelo ambiente tropical que, se em um primeiro momento foi identificado com o terri-trio brasileiro, em seguida ganhou o curso pan-regional, englobando tambm Angola,Moambique, Macau, Goa e, em alguns momentos, Portugal. para estes territrios e suasrespectivas populaes que Freyre dirigiu a palavra, reiterando com sofreguido a urgncia deuma nova medicina afinada com a problemtica sanitria e cultural das regies mencionadas. Suatropicologia, portanto, relativiza a eficincia e as condies de operacionalizao da medicinamoderna articulada na Europa e nos Estados Unidos para anunciar que, nas reas colonizadas

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    pelos portugueses, o prprio padro cultural, definido segundo as lentes oferecidas por RuthBenedict (1934), j haviam problematizado e oferecido respostas concretas a uma parcela con-sidervel dos desafios sanitrios, independente e s vezes em oposio aos conhecimentos

    mdico-epidemiolgicos importados.Operando concomitantemente com o universal, representado pela medicina alop-

    tica forjada na Europa e nos Estados Unidos, e com o pan-regional, compreendido pela expe-rincia com a sade e com a enfermidade nas reas tropicais de tradio ibrica, o autor pro-ps, no caso nacional, um abrasileiramento dos debates como estratgia de diagnstico esoluo dos problemas sanitrios. Fica subentendido que tal abrasileiramento da medicinapraticada no pas corresponderia a uma etapa mais complexa de um movimento que se ini-ciou com a prpria articulao da cultura colonial, atravs da reelaborao das culturas lusita-na, africana e indgena e que viabilizou a adaptao do Homem ao meio tropical. Vale acres-

    centar que, como j o fizera anteriormente, Freyre destacou o papel civilizatrio dos africanostrazidos compulsoriamente para o Brasil, cabendo a eles elaborar, juntamente com os coloni-zadores portugueses e com os indgenas autctones, hbitos saudveis e higinicos que garan-tiriam o viver nos trpicos.

    Desta formulao sobrava a certeza em Freyre de que o afastamento em relao aomodelo estrangeiro e a busca de solues prprias, constitua-se em um compromisso que noera brbaro e sim eficiente defesa da sade pblica regional. Em contraposio, o autordeclarou que os hbitos burgueses (entenda-se aqui os predominantes na Europa e nosEstados Unidos) eram anti-higinicos, ironizando o fato de o homem moderno ser apre-sentado como um aplogo da sade e, ao mesmo tempo, adotar hbitos e comportamentosque foram avaliados como determinantes para a ocorrncia de enfermidades em srie.

    E concluiu Freyre, lembrando a matiz modernista do conjunto de sua obra, assimcomo os princpios que foram inscritos no final da dcada de 1920 no Mani festo Antropfagoassinado por Oswald de Andrade (1978) :

    Sob alguns aspectos, essa incompetncia ou essa incapacidade brasileira para a ade-so completa quela civilizao [a europia], elaborada em reas de climas frios etemperados, vem provavelmente representando antes vantagem que desvantagem,para o desenvolvimento de uma sociedade, como a do nosso pas, situada no trpi-

    co. Desenvolvimento que se processe de acordo com a ecologia tropical e no reve-lia dela ou contra ela. (Freyre, 1967, p. 189).

    Dentre tantas adaptaes e criaes originais orquestradas historicamente pelomundo tropical brasileiro estava a recusa do uso de trajes classificados como burgueses,incluindo as roupas pesadas, os ternos e vestidos fechados no peito, os calados tambm fecha-dos e as meias longas usadas pelas mulheres, os quais foram substitudos por roupas de tecidosleves, pelas tangas e pelas sandlias, se no pelo uso dos ps descalos. Da mesma forma, asconstrues de teto alto com janelas e portas amplas, a alimentao base da mandioca, a recor-

    rncia quinina, ao curare e ao guaran como agentes teraputicos e os banhos dirios, dentreoutros exemplos, constituam em solues sanitrias produzidas pela cultura popular que con-tava com o caboclo como o seu mais tpico representante que, longe de ser um brbaro comopreconizara tantos intelectuais brasileiros, era sim o tipo perfeito de Homem, ao mesmo tempoprodutor e produto da civilizao tropical.

    A apologia das solues culturais locais para os problemas de higiene e de sadeindividual e coletiva no implicaram que Freyre negasse radicalmente a cultura material

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    estrangeira. O apreo pela sade e pelo prazer de viver salutarmente foram entendidos peloautor como valores universais, impondo que muitos dos itens produzidos originalmente pelassociedades europias tivessem ampla aceitao nas reas tropicais, incluindo desde o papel

    higinico em substituio, entre as camadas menos instrudas ou mais rsticas da populao,ao capim, s folhas, ao papel de jornal, at alimentos esterilizados, sabonetes higinicos eaparelhos de ar condicionado.

    De qualquer forma, Freyre empenhou sua pena para criticar o etnocentrismo impe-rante na medicina ocidental do ps-guerra e a estandartizao da vida no mbito da socieda-de moderna, reiterando sua defesa do abrasileiramento da medicina, inclusive atravs daincorporao de representaes sociais sobre a doena e os doentes e os recursos teraputicosutilizados por uma infinidade de prticas curativas populares, desde os rituais desempenhadosno contexto do xang como alternativa psicanlise at as tisanas ministradas pelos ervateiros

    e curadores, cuja eficincia vinha sendo reconhecida para uma srie de enfermidades do coti-diano. Da mesma maneira, deveria ser valorizada o uso de redes para descansar e a possvelconjugao de conhecimentos e esforos entre os profissionais de sade com treino universi-trio e os prticos populares.

    Neste momento abre-se parnteses para lembrar que algumas destas propostas, iro-nizadas por mdicos e professores universitrios quando o livro em tela veio a lume, foramrecentemente testadas em alguns municpios nordestinos, sendo tais experincias avaliadas poragncias internacionais na rea da sade. Como resultado, seus promotores receberam prmiospor haverem reduzido o ndice de mortalidade infantil ou por incrementarem o bem-estar depacientes internados em unidades hospitalares, situao rara em um pas que ocupava a 125posio entre as 191 naes que tiveram seus servios de sade avaliados em 1999 pelaOrganizao Mundial da Sade.

    As solues simples e pouco dispendiosas foram oferecidas pela SecretariaEstadual de Sade do Cear; no municpio de Icapu, os pacientes internados no niconosocmio local puderam optar entre permanecerem em camas ou em redes, sendo que aescolha recaiu predominantemente nas redes, segundo a alegao dos internados que assimse sentiriam como se estivessem em suas prprias casas, diminuindo o grau de padecimen-to dos doentes isolados. Na cidade de Maranguape, devido ao fato de as mes de crianasdesidratadas preferirem levar seus filhos aos curadores populares e no ao Posto de Sade

    local, os responsveis pela administrao sanitria fizeram uma espcie de acordo com osbenzedores, convencendo-os a administrarem s crianas enfermas no mais gua, mas simsoro benzido, o que resultou no pronto declnio da taxa de bito infantil (Fernandes,2000, p. C6).

    Por ltimo sobra a questo: quais seriam os motivos, segundo Freyre, do baixo statusdesade da populao tropical?Se o prprio autor advertiu que as reas tropicais apresentam-secomo desafio para a adaptao humana, sua resposta deslocou as vistas da cultura para a adminis-trao pblica, alegando que a persistncia dos problemas sanitrios deviam-se sobretudo ao euro-pocentrismo mdico e ao centralismo imposto pelo Estado que, neste sentido, buscava impor

    solues mdico-sanitrias nicas para regies cultural e ecologicamente distintas. Especificandoo caso brasileiro, o autor apontou, alm da ausncia de uma organizao satisfatria das institui-es e rgos de sade, a fragilidade dos planejamentos regionais que, quando existiam, no con-templavam suficientemente os programas que objetivam erradicar as patologias que mais cobra-vam vidas da populao.

    Na sequncia, Freyre alertou que a sociologia da medicina no deveria ser confun-dida com a socializao da rea da sade. Este recurso, que em um primeiro momento pode

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    parecer pouco lgico, foi a maneira encontrada pelo autor para declarar-se contrrio ao movi-mento que havia florescido no Brasil graas ao e os textos dos mdicos Caetano deMagalhes Jess (1944) e Milton Lobato (1957), este ltimo incansvel propagandista da pro-

    palada eficincia dos servios de sade da Unio Sovitica.Para o intelectual pernambucano, as propostas socialistas na sade, preconizadas

    internacionalmente por Henry Sigerist (1937 e 1944), tanto nos pases autoritrios quantonos democrticos implicavam na despersonalizao do atendimento mdico e tambm dosprprios pacientes, depondo contra a humanizao dos servios e o reconhecimento da figu-ra e da cultura do doente como fundamentais no processo de recuperao da sade.

    b- As doenas e seus tributrios

    A adoo do j mencionado conceito de sade assumido pela Organizao

    Mundial de Sade implicou na admisso da doena como um fenmeno que contm umadimenso sociocultural que o senhor de Apipucos soube habilmente perceber as nuances.A partir disto o autor explicou a doena como um fenmeno gerado nos interstcios do teci-do social e, portanto, dependente variando em grau o papel causador do padro culturaldominante na comunidade.

    Retomando uma vez mais os ensinamentos de Ruth Benedict acerca da importn-cia dos padres culturais na vida cotidiana, o autor nordestino invocou os estudos que vinhamsendo realizados sobre a ocorrncia da lcera pptica assunto recorrente em grande nmerode livros tematizados pela sociologia da medicina para reafirmar que esta patologia, comotantas outras, era resultante da insero dos indivduos em sociedades complexas cujas relaessociais mostravam-se altamente competitivas, sendo a doena praticamente inexistente nasculturas que se apresentam menos exigentes com seus membros. Nesta rota, Freyre relembrouas classificaes das doenas fomentadas ainda no sculo XIX para afirmar sobre a existnciade doenas da civilizao, geradas pelas tenses produzidas pela incorporao de novas tec-nologias e pela lgica do trabalho imperante nas sociedades urbano-industriais. Para o autor,tais condicionantes propiciavam distrbios de carter psicossomtico, reclamando a presenaativa dos cientistas sociais como assessores das intervenes mdicas e, mais do que isto, comoorientadores de possveis estudos que viabilizassem transformaes culturais que poderiamauxiliar na constituio de um padro sanitrio mais salutar.

    Um exemplo elucidador da perspectiva culturalista incorporada pelo autor encon-tra-se no enfoque que deu ao baixo padro de sade das populaes residentes nos mocam-bos. Para ele, a principal causa das enfermidades que se abatiam sobre os moradores das fave-las nordestinas consistia na desarticulao entre as partes rurais e urbanas de um complexopopulacional regional, destacando entre os fatores intervenientes, por exemplo, a marginali-zao econmica e a desqualificao da herana cultural do grupo. A soluo vivel seria entouma melhor compreenso da cultura urbana e principalmente a retificao do planejamentoestatal para este agrupamento social.

    Na seqncia, Freyre percebeu como problemtica universal a existncia de enfer-

    midades produzidas pela especificidade das relaes sociais em estado de desequilbrio, oque o fez endossar a tese de que as patologias sociais eram geradoras de problemas desade tanto para o indivduo quanto para a comunidade. Segundo este ponto de vista, asdisfunes sociais e as patologias orgnicas ou mentais se complementariam e se potencia-lizariam mutuamente, retomando o que fora pontificado pela Escola de Chicago atravs dosestudos de Stuart Queen e Delbert Mann (1925). Em coerncia com esta vertente do pen-samento, o pesquisador brasileiro enumerou os desajustamentos sociais geradores de

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    enfermidades fsicas, somando argumentos tradicionais e moralistas como a semiprostitui-o feminina (?!) e a irreligiosidade elementos modernos, como os novos comportamen-tos da juventude, a sujeio coletiva aos ditames da moda e a disseminao do consumo de

    bebidas alcolicas e entorpecentes.Ao concluir sobre esta questo, o autor reforou seu empenho em avaliar as doen-as como resultado de fatores biolgicos e sociais, apesar de tornar-se alvo frgil das crticaspor, ao mesmo tempo, endossar perspectivas que j se mostram superadas quando seu livro foipublicado:

    claro que so problemas esses, de Medicina Social, no trato dos quais, mdicos,administradores, magistrados, precisam de ser, quase sempre, orientados ou esclare-cidos pelo socilogo, em geral, e, hoje, pelo socilogo da Medicina, em particular,quanto aos planos que elaborem e decidam executar para o tratamento ou a preven-

    o de tais distrbios. Pois tais distrbios so, de ordinrio, conseqncias de situa-es mais sociais que biolgicas embora se saiba de vrios desajustados crimino-sos, mendigos, prostitutas, viciados serem produtos de taras, das chamadas defamlia; ou expresses de uma hereditariedade patolgica (Freyre, 1967, p. 92-3).

    Na lgica freyriana, muitos dos males do momento em que escrevia eram explica-dos pela introduo de inovaes perniciosas, geradoras tanto de desequilbrios sociais quan-to orgnicos. Tais inovaes correspondiam desde a incorporao de novos valores morais quelevavam reconceituao e minimizao da importncia do ncleo familiar at novos hbi-tos de vida e de consumo que, ao serem assumidos pelos habitantes das reas culturalmentecolonizadas, multiplicavam os problemas de ordem patolgica, citando como exemplo acarncia vitamnica devido ao consumo de alimentos modernos, como os lanches rpidosem substituio ao almoo, alterando o bom funcionamento orgnico que era garantido pelasdietas tradicionais. Alm disso, a presena de novos indivduos, animais e mercadorias coloca-riam em risco o equilbrio ecolgico conquistado nos trpicos, resultando em novas enfermi-dades. Vale acrescentar que, implcita nesta ltima afirmao, encontrava-se alguns postuladosesboados pela historiografia francesa que, no mesmo perodo, estudava o fenmeno, deno-minando-o unificao microbiana do mundo (Le Roy Ladurie, 1978).

    Paralelamente, Gilberto Freyre sugeriu que as doenas deveriam ser tambm obser-

    vadas como objetos produzidos no campo das representaes sociais, tema clssico da antro-pologia e que, na dcada de 1960 ganhava novo impulso, mais uma vez no contexto francs,destacando-se neste caso o grupo dos Annales. Se nas pginas da Sociologia da medicinaaflo-ram menes de como as doenas eram interpretadas pela voz de latifundirios, escravos,donos de casa e trabalhadores urbanos, rejeita-se uma vez mais o pretendido pioneirismo dointelectual brasileiro neste procedimento em relao ao estudo da sade e da doena. Isto por-que esta operao j contava com uma longa histria no mbito das anlises histrico-sociais,destacando-se um texto seminal de Marc Bloch (1983), publicado pela primeira vez no finalda dcada de 1920.

    Imbrincado no fato social instrudo pelas doenas, encontrava-se o indivduo enfer-mo. Em sintonia com o funcionalismo, tendo como referncia uma vez mais os textos funda-mentais de Talcott Parsons (1951) e de Robert Merton (1957) sobre o tema, Freyre assumiua percepo do enfermamento como estratgia de emancipao individual, consciente ou no,das expectativas nutridas pela sociedade em relao aos seus membros sadios. Em continuida-de, o doente foi apresentado como aquele que foge de seus compromissos grupais, buscandoa redefinio dos papis sociais que lhe so cobrados.

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    grotesca dos camponeses tradicionais do Vale do Paraba, inclusive pelo hbito de postarem-se de ccoras tanto durante certas atividades produtivas quanto nos momentos de descanso.Cadeiras, quando existiam na tapera do caboclo, eram apenas toscos bancos de trs pernas

    que, mesmo assim, eram reservados para os raros visitantes vindos da cidade.Opondo-se a esta verso, Freyre recorreu ao discurso redundante para fazer a apo-logia das solues nacionais, esforando-se para oferecer evidncias de que os hbitos adota-dos da cultura indgena, de descansar sobre os calcanhares e de dormir e at mesmo trabalharcom o corpo acomodado em esteira ou em rede constituam-se em modos alternativos e bemmais salutares de posicionamento corporal, confidenciando o autor que ele prprio costumei-ramente assim agia. Tais hbitos estavam coadunados ao estilo tropical de vida que, nomximo, servia-se de cadeiras, divs e marquesas de assento de palhinha que, por serem flex-veis e arejados, respeitam as curvas do corpo. Assim, Freyre avaliou estes costumes dos povos

    tropicais como higinicos e bem mais confortveis que os impostos pelos europeus, avaliandotambm como positivo o acomodar-se de pernas cruzadas sobre coxim, tapete ou esteira,apontando como meio-termo cultural o uso da cadeira de balano semi-mvel adotado pelacultura norte-americana.

    Acredita-se que o mais importante que esta discusso comportou foi a preocupaode Freyre em anunciar o condicionamento cultural do corpo humano, explorando, segundo asmenes inscritas no texto, a trilha aberta por Bronislaw Malinowski, Franz Boas e MargarethMead, mas silenciando-se sobre o pioneirismo dos estudos do francs Marcel Mauss. O ensina-mento de Freyre sobre o fato de a cultura alterar as prticas corporais, reiterando que a atitu-de vital do Homem deve ser entendida tambm nos quadros sociolgicos, soou, no momen-to da publicao do seu livro, como mais uma excentricidade do autor; transcorridos os anos,atualmente o estudo do corpo humano no contexto cultural tem despertado o interesse daAntropologia, fazendo com o que o socilogo-antroplogo (assim Freyre chegou a se definir)pontificou como uma inovadora frente de pesquisa na rea das Cincias Sociais.

    Resgatando os ensinamentos freyrianos na educao para a sade

    Realizada a apresentao das principais propostas de Gilberto Freyre na rea dasociologia da medicina, ressalta-se que seu livro sobre a matria foi alvo de uma fria acolhidano Brasil, contrastando com as avaliaes elogiosas feitas na Europa. Aqui, sua obra pratica-

    mente no foi discutida pelos especialistas, no sendo nem mesmo lembrada pelas iniciativasmais recentes, comprometidas com a avaliao bibliogrfica das cincias sociais aplicadas sade (Canesqui, 1995 e 1997; Nunes, 1999). Na poca do lanamento da edio brasileirado livro, veiculou-se apenas algumas resenhas jornalsticas superficiais; Demcrito Moura(1983), reprter especializado nas questes de sade, mostrou-se pouco entusiasmo com otexto de Freyre, afirmando que faltava ao livro preocupaes tericas, acrescentando quealguns anos antes havia sido lanado um texto bem mais profundo sobre o tema, de autoriado norte-americano George Rosen (1980), um dos mais destacados discpulos da sociologiamdica marxista proposta por Sigerist.

    Uma avaliao atualizada do texto (e bem menos rancorosa em relao ao seu autor)faz perceber que Freyre associou observaes de cunho tradicionalista e em parte j superadasa uma notvel sensibilidade em relao ao condicionamento social da sade e da doena. Acautelosa releitura de sua obra, pois, permite vislumbrar enfoques inovadores que at hojepouco mereceram de ateno sria por parte de seus crticos.

    Retomando as orientaes contidas nos PCNs e voltadas para a educao emsade, a obra de Freyre aflora como um importante recurso para discusses, sobretudo no

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    que tange busca de um enquadramento nacional das questes sanitrias. Por bvio, se exis-te as condicionantes universais na produo do saber, tambm existe os fatores nacionais eregionais que precisam ser explorados sob o risco de se assim no se fizer, incorrer-se no que

    Paulo Freire (1987) classificou como sendo a educao bancria. A atividade docente podee deve ser pensada como um encontro de culturas (Carvalho, 1992) pois, se o professorapresenta-se como porta-voz da cultura cientfica, o aluno desponta como tributrio da cul-tura do grupo no qual est inserido, cultura esta permeada inclusive pelas informaes,representaes e valores disseminados pela mdia. Assim, colocar em confronto o universalrepresentado pela cincia e o nacional e local propiciado pelos contedos assumidos peloaprendiz fora da sala de aula, inclusive em um perodo anterior sua insero no ensino for-mal, constitui-se em recurso fomentador do saber e de postura construtiva de posiciona-mentos articulados com as noes de cidadania.

    Postula-se que, somente assim, os contedos apresentados em sala de aula possamser reconhecidos pelos discentes como fatos concretos porque participantes de seu cotidiano.Neste contexto, o corpo, a doena e os doentes ganham uma especificidade ao mesmo tempobiolgica e social, afastando-se dos esquematismos caricaturais que impregnam a maior partedos textos didticos. Se inquestionvel que a cincia oferece orientaes imprescindveis parao trato da sade e da doena, de se levar em considerao que a cultura popular brasileira,como demonstrou Freyre, comporta elementos eficientes direcionados para o mesmo objeti-vo. Assim, a aproximao entre cincia (ou cultura da elite, como quer Bosi (1992, p. 310)e cultura popular contribui para que o educando se reconhea no s como receptor das men-sagens veiculadas pelo professor, mas tambm como elemento partcipe da produo de umsaber muito mais amplo, o qual Gilberto Freyre atribuiu como sendo aquele elaborado peloHomem tropical.

    Se a sade e a doena ganham um sentido mais dinmico porque inserido na exis-tncia pblica e privada dos membros do grupo do qual o aluno pertence, por outro lado o per-sonagem doente merece, ainda como fez Freyre ao utilizar depoimentos pessoais e fontesmemorialsticas, melhor tratamento por parte dos profissionais comprometidos com a educa-o. Se a prpria histria sanitria do estudante e de seu crculo familiar pode ser tomada comorecurso para o ensino e a aprendizagem, o compromisso das unidades de ensino em estreitar oslaos que as unem sociedade abre possibilidades para que representantes da comunidade pos-

    sam ser convocados para contar suas histrias de sade e de doena para os jovens estudantes.Em anos passados, o autor, juntamente com um docente da rea de Cincias, serviu-se destaestratgia ao convidar um ex-hanseniano para contar sua experincia com a patologia para umgrupo de estudantes das ltimas sries do ensino fundamental; com isto, se antes da visita umquestionrio aplicado junto aos discentes permitiu perceber que eles nutriam uma viso estig-matizadora sobre a lepra e os leprosos, aps a palestra percebeu-se uma saudvel remodela-o das posturas estudantis. Um dos alunos que participou do evento avaliou o encontro como doente afirmando que o que aprendia nas aulas de Cincias havia ganho vida.

    Na seqncia da obra apresentada, Freyre chamou a ateno para o corpo humano

    como uma realidade biolgica, mas tambm como uma entidade socialmente construda.Como j se constatou, os alunos do ensino fundamental e mdio, pelas prprias circunstn-cias ditadas pela faixa etria em que se encontram, apresentam preocupaes peculiares sobreseus corpos, pautadas pela descobertas de sua potencialidade e por transformaes em srie(Bertolli Filho & Obregon, 2000). Como alvo privilegiado das representaes sociais, o corpo do jovem, do adulto e do idoso, do homem e da mulher, do sadio e do enfermo ganhadefinies e valorizaes ditadas pelo ambiente cultural, merecendo ser objeto de discusses

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    que, como pontificou um outro aluno una o interno (os rgos e sistemas) ao externo (a visi-bilidade corporal), o que certamente conferiria um novo e mais dinmico sentido ao que seensina e ao que se aprende.

    Completando o percurso apresentado pelo autor da Sociologia da medicina, os temasmencionados anteriormente contam como desfecho com a anlise dos servios de sade,inclusive no referente aos procedimentos que distinguem o atendimento patrocinado peloEstado daqueles pagos em regime privado e tambm sobre a atual poltica de sade. A maiorparte dos manuais escolares, quando mencionam este tpico, referem-se apenas genericamen-te aos hospitais e outros centros de atendimento sade e, via de regra, os apresentam comoorganizaes neutras e racionais, destitudas de uma dimenso social. Em contrapartida,conversas travadas informalmente entre o autor e alguns estudantes permitiram perceber queos jovens comportam informaes bem menos idealizadas sobre o tema, fruto de experincias

    pessoais e familiares junto s diferentes formas de atendimento mdico-hospitalar. Em resul-tado, assim como fez Freyre, a incorporao de discusses sobre o tema em sala de aula cons-titui-se em uma outra possibilidade de concretizao de um ensino que, por ser mais compro-metido com o cotidiano dos alunos, pode contribuir para a renovao do ensino de cinciasnos termos atualmente propostos.

    Consideraes finais

    Cruzado em tantas batalhas vitoriosas, Gilberto Freyre viu-se dolorosamente con-frontado dado ao silncio da crtica imposto sua Sociologia da medicina. De qualquer forma,o autor certamente no se viu frustrado do seu intento porque exercitou o que lhe era mais

    caro: a originalidadde das idias e a defesa de acirrada de seus posicionamentos, inclusive nopertinente ao campo da sade e da doena. Num dilogo que se voltou sobretudo para osautores e princpios cientficos que tomou contato durante sua trajetria intelectual, Freyreno se resignou em apenas repetir o que lera; das leituras buscou estabelecer snteses, derivarconcluses prprias e enfatizar a positividade das solues engendradas pela cultura brasileiraque ele um tanto canhestramente generalizou como cultura tropical.

    Se alguns dos argumentos que empregou hoje so considerados datados e j nomais pertinentes, boa parte de sua contribuio de Freyre no setor da sociologia mdica con-tinua sendo importante instrumento para pensar a sade, a doena e seus derivados e no pode

    ser relegada ao esquecimento. As iniciativas no campo do ensino de Cincias podem encon-trar em suas idias um estimulante recurso de debate e ensino, sobretudo porque, ao confluiro biolgico e o scio-cultural, seus ensinamentos permitem aproximar os contedos fixadosnos programas de ensino ao cotidiano dos estudantes. Com isto, no s o ensino e a aprendi-zagem ganham novos incentivos, como tambm fomenta atitudes cidads.

    Claro est que o aproveitamento dos ensinamentos do escritor pernambucano no uma tarefa a ser realizada solitariamente. A complexidade de suas propostas apontam para ocomprometimento coletivo, favorecendo a multidisciplinaridade proposta para os temas trans-versais, convidando a conjugao de empenhos de docentes de reas distintas, especialmenteCincias, Histria e Geografia.

    Por fim, preciso lembrar que muito do que Gilberto Freyre ambicionava comointelectual e como cidado brasileira bem parecido ao que todos ns almejamos: contri-buir com o nosso labor para a arquitetura de um futuro representado por uma nova era dodesenvolvimento humano. E o que ele pontificou sobre os intelectuais que se acomodam sombra da mesmice fomentada pelos donos do poder serve perfeitamente como alerta aosprofessores do sculo XXI , inclusive aos que escrevem livros didticos: O escritor que se

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    acovarda diante dessas foras corre o risco de tornar-se escriturrio em vez de escritor; inte-lecturio em vez de intelectual (Freyre, 1968, p. 187).

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