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1 A SOCIOLOGIA EVOLUTIVA Ricardo Ernesto Rose Jornalista, Graduado em Filosofia, Pós-graduado em Gestão Ambiental e Sociologia 1. A Sociologia Evolutiva 1. a) O que é a sociologia evolutiva e qual sua relação com a sociologia clássica? A sociologia evolutiva é ciência recente. Surgiu com este nome há cerca de trinta anos, como sucessora da sociobiologia. Esta nova área de estudos da sociologia tem sua base científica tanto nas ciências sociais, quanto nas biológicas e no neodarwinismo; a teoria da evolução de Darwin associada às descobertas genéticas de Mendel, chamada de síntese evolucionária moderna. A expressão foi proposta pelo biólogo Julian Huxley, em seu livro Modern Synthesis (Síntese Moderna) publicado em 1942. Outra disciplina associada à sociologia evolucionista é a psicologia evolucionista, igualmente fundamentada nos corolários teóricos do neodarwinismo e voltada para o estudo da mente humana. Ainda pouco conhecida no Brasil, a sociologia evolutiva também por vezes titulada como sociologia evolucionista é mais praticada nos Estados Unidos, onde se desenvolveu, mesmo assim de maneira ainda limitada. Contando atualmente com alguns estudiosos famosos, como os sociólogos Robert Boyd (Universidade da Califórnia), Peter Richerson (Universidade da Califórnia Davis) e William Wimsatt (Universidade de Chicago), a disciplina ainda não é amplamente difundida, inclusive entre os sociólogos americanos. Assim, foi somente em 2006 que a ASA American Sociology Association (Associação Americana de Sociologia) criou uma seção regular chamada Evolution and Sociology (Evolução e Sociologia), contado àquela época com pouco mais de 300 membros associados. Trata-se, portanto, de uma disciplina

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    A SOCIOLOGIA EVOLUTIVA

    Ricardo Ernesto Rose

    Jornalista, Graduado em Filosofia, Ps-graduado em Gesto Ambiental e Sociologia

    1. A Sociologia Evolutiva

    1. a) O que a sociologia evolutiva e qual sua relao com a sociologia

    clssica?

    A sociologia evolutiva cincia recente. Surgiu com este nome h cerca

    de trinta anos, como sucessora da sociobiologia. Esta nova rea de estudos da

    sociologia tem sua base cientfica tanto nas cincias sociais, quanto nas

    biolgicas e no neodarwinismo; a teoria da evoluo de Darwin associada s

    descobertas genticas de Mendel, chamada de sntese evolucionria moderna.

    A expresso foi proposta pelo bilogo Julian Huxley, em seu livro Modern

    Synthesis (Sntese Moderna) publicado em 1942. Outra disciplina associada

    sociologia evolucionista a psicologia evolucionista, igualmente fundamentada

    nos corolrios tericos do neodarwinismo e voltada para o estudo da mente

    humana.

    Ainda pouco conhecida no Brasil, a sociologia evolutiva tambm por

    vezes titulada como sociologia evolucionista mais praticada nos Estados

    Unidos, onde se desenvolveu, mesmo assim de maneira ainda limitada.

    Contando atualmente com alguns estudiosos famosos, como os socilogos

    Robert Boyd (Universidade da Califrnia), Peter Richerson (Universidade da

    Califrnia Davis) e William Wimsatt (Universidade de Chicago), a disciplina

    ainda no amplamente difundida, inclusive entre os socilogos americanos.

    Assim, foi somente em 2006 que a ASA American Sociology Association

    (Associao Americana de Sociologia) criou uma seo regular chamada

    Evolution and Sociology (Evoluo e Sociologia), contado quela poca com

    pouco mais de 300 membros associados. Trata-se, portanto, de uma disciplina

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    nova dentro da sociologia que, at onde pudemos pesquisar, ainda no tem

    uma rede regularmente estabelecida de especialistas no Brasil.

    Por motivos que desenvolveremos adiante, a sociologia evolutiva em

    grande parte ainda encarada com desconfiana por muitos socilogos, sendo

    incorretamente associada com a antiga biossociologia ou sociologia biolgica,

    que por muitos socilogos foi considerada um reducionismo cientfico. No

    Brasil, j Gilberto Freyre em seu grande trabalho Sociologia Introduo ao

    estudo dos seus princpios, cuja primeira edio data de 1945, referia-se

    relao dos estudos sociolgicos com a biologia da seguinte maneira:

    A Sociologia, no seu primeiro esforo para firmar status de cincia, baseou-se quase exclusivamente sobre a Biologia, adotando-lhe a terminologia (organismo social, evoluo, sobrevivncia do mais apto) e por tal modo identificando o social com o biolgico ou com o scio-biolgico que acabou por no restar quase lugar nenhum, em tal sociologia biolgica, para o cultural, muito menos dentro do cultural, para o elemento histrico-biogrfico a que acabamos de nos referir. Tentou-se a explicao do fato sociolgico pelo fato biolgico: do processo sociolgico pelo processo biolgico (FREYRE, p. 230, 1973 negrito nosso).

    No segundo volume da mesma obra o socilogo brasileiro ainda dedica

    todo um captulo sociologia biolgica. Freyre escreve que no final do sculo

    XIX, falando sobre as origens da sociologia, esta ainda tinha forte influncia da

    biologia, tomando dessa a terminologia e o que Freyre chama de a filosofia

    predominante dos bilogos: a (filosofia) evolucionista. Sobre a relao entre as

    duas cincias, o socilogo brasileiro diz que os chamados socilogos

    bioorganicistas querem submeter totalidade de fenmenos sociolgicos e de

    cultura a processos biolgicos e leis naturais.

    No caso de Freyre e de outros socilogos da primeira metade do sculo

    XX, devemos levar em conta que naquela poca a teoria da evoluo ainda

    no dispunha dos slidos fundamentos experimentais que s adquiriu ao

    incorporar a teoria gentica, transformando-se na sntese evolucionria

    moderna. Este avano cientfico deu-se durante os anos 1930 e 1940 nos

    Estados Unidos e Inglaterra e lentamente se popularizou ao longo das dcadas

    seguintes. Assim, antes disso, havia certo receio de que a sociologia fosse

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    influenciada em demasia pelo evolucionismo, transformando a cincia em uma

    sociologia biolgica. Mesmo assim a teoria da evoluo despertava o interesse

    de muitos socilogos, que a utilizavam como mtodo de trabalho em suas

    pesquisas, empregando o evolucionismo como base daquilo que o socilogo

    Robert K. Merton chamou de sistema global de teoria sociolgica. Os

    trabalhos desenvolvidos por estes estudiosos, no entanto, tiveram apenas um

    papel secundrio na posterior estruturao do corpus doutrinrio da sociologia.

    At hoje as relaes entre a sociologia evolutiva e a sociologia clssica

    ainda no esto claras. Se, por um lado, os socilogos evolucionistas esto

    convencidos de trabalharem com uma nova cincia sobre bases cientficas, por

    outro os socilogos clssicos, em sua maioria, ainda encaram a sociologia

    evolucionista como um reducionismo ou, na melhor das hipteses, uma

    biologia que toma emprestado expresses e temas da sociologia. Porque de

    todas as cincias sociais, a sociologia a disciplina mais resistente a um

    dilogo com a biologia e com a teoria evolutiva. Quanto mais nos aproximamos

    das especialidades centrais da sociologia, maior a resistncia, escreve o

    socilogo Andr Luiz Ribeiro Lacerda.

    1. b) Como se originou a Sociologia Evolutiva?

    As primeiras idias da sociologia evolutiva tiveram sua origem nos anos

    1950, quando o neodarwinismo comeou a ser aplicado aos estudos das

    comunidades de smios antropomorfos os orangotangos, gorilas,

    chimpanzs, bonobos e gibes ; as espcies de macacos mais aparentadas

    com o homem. Estudando estes animais em seus ambientes naturais e

    descrevendo suas organizaes sociais, antroplogos, primatlogos e etlogos

    descobriram que havia muita similaridade entre as sociedades dos macacos e

    a humana. A partir dos anos 1960 a teoria neodarwinista j estava sendo

    utilizada em outras reas do conhecimento, gerando grande quantidade de

    dados cientficos nos campos da zoologia (Goodall), paleontologia e

    antropologia fsica (Leakey) e ecologia (Odum), entre outros.

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    Em 1975 o bilogo americano Edward Osborne Wilson lana

    Sociobiology The new synthesis (Sociobiologia A nova sntese), livro que

    reunia informaes de recentes pesquisas sobre o comportamento animal e

    desenvolvia novas idias sobre a seleo natural. No captulo final de seu livro,

    Wilson faz uma projeo destes dados sobre as sociedades humanas,

    entrando no terreno da sociologia. Em relao a esta cincia Wilson escreve:

    Considere a perspectiva (futura) para a sociologia. Esta cincia est agora no estgio de histria natural de seu desenvolvimento. Houve tentativas de construir um sistema, mas, como na psicologia, elas foram prematuras e no foram suficientes. Muito do que em sociologia considerado atualmente teoria, na realidade, classificao de fenmenos e conceitos, na maneira como feito na histria natural. O processo de difcil anlise, porque as unidades fundamentais so vagas, talvez inexistentes. As snteses geralmente consistem em tediosas referncias cruzadas de diferentes conjuntos de definies e metforas elaboradas pelos mais imaginativos pensadores (WILSON, p. 574, 2000 traduo e negrito nossos).

    Os conceitos apresentados na publicao se alinhavam com os

    trabalhos de bilogos e zologos famosos poca, como George Williams

    (1926-2010), William Hamilton (1936-2000), John Maynard Smith (1920-2004)

    e Robert Trivers (1943). Com seu trabalho, Wilson apresentou pela primeira

    vez ao grande pblico as teorias que especialistas j utilizavam h anos em

    seus laboratrios e blocos de anotaes: de que grande parte do

    comportamento humano tinha tambm origem gentica e no somente social.

    O assunto em si no era novo tendo j sido abordado por Charles Darwin no

    sculo XIX. No entanto a maneira como Wilson apresentou a teoria causou

    grande impacto poca. R. S. Machalek, do departamento de sociologia da

    Universidade do Wyoming escreve com relao aos objetivos prticos da

    sociobiologia:

    Quando aplicado ao estudo das sociedades humanas, o escopo da anlise sociobiolgica foi expandido, para incluir fenmenos sociais mais complexos e mais amplos, como sistemas familiares e de parentesco, sistemas de estratificao, padres criminais e causadores do crime, relaes tnicas, urbanizao e industrializao, evoluo social. A diversidade de sociedades humanas e de comportamentos sujeitos anlise evolucionista dos socilogos contemporneos continua a se expandir (Machalek, s/d traduo e negrito nossos).

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    Sociobiology recebeu crticas negativas, tanto por parte de outros

    bilogos quanto do mundo acadmico. Colegas de Wilson, como o

    paleontlogo Stephen Jay Gould e o geneticista Richard Lewontin, atacaram o

    contedo da publicao, classificando-a como proponente da eugenia e do

    darwinismo social, entre outras coisas. Sobre as crticas que caram sobre o

    bilogo e sua obra, escreve o psiclogo evolucionista Steven Pinker:

    Tambm acusaram Wilson de discutir as salutares vantagens do genocdio e de fazer instituies como a escravido [...] parecerem naturais em sociedades humanas devido sua existncia universal no reino biolgico. Para o caso de a relao no estar suficientemente clara, um dos signatrios escreveu em outro texto que em ltima anlise, foram os textos da sociobiologia [...] que forneceram a estrutura conceitual pela qual a eugenia foi transformada em prtica genocida na Alemanha nazista (PINKER, p. 159, 2004).

    Pinker toma a defesa de Wilson, admitindo que o bilogo tenha utilizado

    alguns dados imprecisos e elaborado raciocnios incorretos em partes do seu

    trabalho. Escreve que, no entanto, as crticas feitas a Wilson atravs de

    manifestos e at por livros (o bilogo Marshall Sahlins com Uso e abuso da

    biologia) no so justificadas. Todo o desenrolar dos ataques sociobiologia,

    envolvendo alguns dos mais famosos bilogos americanos e ingleses (como

    Stephen Rose, Leon Kamin, Richard Dawkins, alm dos j citados), bem como

    lances de falseamento de dados cientficos, calnia e difamao, so descritos

    em vrios detalhes por Pinker em um captulo de seu clssico Tbula Rasa A

    negao contempornea da natureza humana. Na obra o psiclogo rebate

    todas as crticas e demonstra que ao contrrio do que diziam os objetores da

    sociobiologia o ser humano ao nascer no uma tbula rasa, isto , dispe

    de um crebro que j tem algum contedo preexistente, transmitido

    geneticamente.

    Os principais crticos da sociobiologia, termo que foi substitudo pela

    expresso sociologia evolutiva a partir do final dos anos 1990, negam que

    caracteres adquiridos atravs da evoluo e transmitidos pelos genes possam

    influenciar o comportamento social humano alguns at ignoram

    completamente a existncia destes caracteres, como o psiclogo Skinner.

    Argumentam que caso isso fosse possvel, uma srie de prticas consideradas

    desumanas, como o darwinismo social, seriam aceitveis. A Enciclopdia

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    Stanford de Filosofia (Stanford Encyclopedia of Philosophy) escreve que os

    opositores da sociobiologia humana defendem que seus modelos so

    inadequados para serem aplicados ao comportamento humano, porque

    ignoram a contribuio da mente e da cultura; baseiam-se no determinismo

    gentico e aprovam tacitamente o status quo. Sobre a confuso normalmente

    feita por aqueles que no conhecem a teoria da evoluo e suas implicaes,

    escreve o zologo Frans de Waal em Der Affe in uns Warum wir sind, wie wir

    sind (O macaco em ns por que somos como somos):

    Dado o popular uso e mau uso da teoria da evoluo, quase no causa surpresa que o darwinismo e a seleo natural tenham se tornado sinnimo de competio desenfreada. Darwin mesmo era tudo menos um darwinista social. Ele acreditava, ao contrrio, de que na natureza humana como tambm no ambiente natural a convivncia teria seu lugar. (DE WAAL, p. 232, 2006 traduo e negrito nossos).

    1. c) Quais cincias e correntes de pensamento contriburam para a

    formao da sociologia evolutiva?

    A sociologia evolutiva produto intelectual do neodarwinismo e de

    pesquisas de campo em diversas reas ligadas biologia, etologia, gentica,

    citologia e outras cincias afins. Para explicar as bases tericas da sociologia

    evolutiva, abordaremos sucintamente: a) O neodarwinismo; e b) A psicologia

    evolutiva.

    O neodarwinismo:

    A teoria da evoluo de Darwin surgiu em 1859, com a publicao de A

    origem das espcies. O cientista s lanou sua teoria depois de uma

    preparao de mais de 20 anos em pesquisas, precedida por uma viagem de

    estudos por todo o globo. Uma parte da teoria, o conceito de mutao ou

    transformao das espcies, j era conhecida e tida como provvel por grande

    parte do pblico instrudo do incio do sculo XIX e at antes. O prprio av de

    Darwin, Erasmus Darwin (1731-1802), j havia elaborado um esboo de uma

    teoria da mutao das espcies (Zoonomia, 1792) que teve considervel

    impacto no meio cientfico ingls da poca. A grande inovao da teoria de

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    Darwin, portanto, foi explicar cientificamente como ocorria a evoluo das

    espcies em todos os seus aspectos.

    Darwin estruturou sua teoria da seleo natural em torno dos seguintes

    pontos:

    a) As espcies evoluem atravs dos tempos. A geologia e a paleontologia, j

    na poca de Darwin, provavam que no passado outros tipos de criaturas

    povoavam a Terra;

    b) Espcies aparentemente diversas tm um ancestral comum; fato

    comprovado por Darwin, tanto na pesquisa com animais domsticos quanto

    com espcies selvagens. A mais acalorada discusso sobre este ponto da

    teoria de Darwin foi com relao aos antepassados e evoluo do ser

    humano;

    c) A transformao evolutiva sempre acontece gradualmente (gradualismo) e

    nunca aos saltos (saltacionismo). Este aspecto da teoria de Darwin sempre foi

    motivo de crticas, inclusive de seus colegas, como Thomas H. Huxley. Tal

    parte da teoria da evoluo, no entanto, comeou a se provar verdadeira

    quando da elaborao da sntese evolucionista, com a ajuda da teoria gentica.

    Mesmo assim o debate continua em nossos dias (Stephen Jay Gould e outros);

    d) A multiplicao das espcies resulta em grande diversidade. Darwin explicou

    este aspecto de sua teoria como sendo causado pelo isolamento geogrfico de

    grupos pertencentes originalmente mesma espcie. A comprovao final

    deste aspecto da teoria da evoluo tambm ocorreu com a ajuda da teoria

    gentica;

    e) A seleo natural, a parte mais inovadora e importante da teoria da

    evoluo. Diz basicamente que dentro de uma grande variedade de indivduos

    (a multiplicidade de espcies) ocorre um processo seletivo por mecanismos

    sexuais e de sobrevivncia (acasalamento, ambiente, concorrncia por

    alimento). Como resultado deste processo, apenas alguns indivduos

    sobrevivem, que ento transmitem suas caractersticas aos seus

    descendentes. Este ponto tambm ficou posteriormente provado, quando se

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    verificou que a transmisso das singularidades e de eventuais mutaes

    ocorre atravs do gene.

    Segundo o bilogo alemo Ernst Mayr, a teoria da evoluo passou por

    etapas distintas. A princpio aceita com entusiasmo, perdeu gradualmente sua

    fora como teoria cientfica, porque muitos pontos de sua argumentao s

    puderam ser definitivamente provados no decorrer do sculo XX, notadamente

    aps sua composio com a teoria gentica. Sendo assim, coincidentemente

    na poca da estruturao da sociologia no final do sculo XIX e incio do sculo

    XX, a teoria da evoluo exercia muito mais influncia intelectual como filosofia

    e ideologia, do que como cincia.

    Nesta parte do texto faremos um parntesis para esclarecer

    interpretaes incorretas do neodarwinismo, quando aplicado ao estudo

    humano como na sociologia evolutiva. Por vezes a crtica se vale das

    expresses a sobrevivncia do mais apto em seu sentido tendencioso, fora do

    contexto da teoria da evoluo; e darwinismo social, numa acepo que no

    tem relao alguma com o pensamento de Darwin. O mal-entendido repetido

    ad nauseam, geralmente por aqueles que no conhecem o assunto, est

    baseado em fatos que ocorreram no final do sculo XIX. Nesta poca o filsofo,

    bilogo e socilogo ingls Herbert Spencer criou a expresso a sobrevivncia

    do mais apto (Princpios de Biologia, 1864). Spencer, grande polmata,

    contribuiu em diversas reas do conhecimento de sua poca, tendo sido forte

    defensor do liberalismo econmico. Como cientista social e bilogo, sua

    interpretao da Origem das Espcies de Darwin era parcial, porque projetava

    incorretamente aspectos da teoria de Darwin sobre a sociedade inglesa da

    poca, que apresentava grandes problemas sociais, comparveis aos dos

    pases em desenvolvimento atuais. Cientificamente, Spencer tinha fortes

    influncias do lamarckismo que dizia que o uso propicia o desenvolvimento

    ou desaparecimento dos rgos , teoria elaborada por Lamarck (1744-1824) e

    refutada cientificamente pela teoria da evoluo. Spencer uniu sua viso

    deturpada de Darwin s suas posies de poltica social e econmica

    defendendo a eliminao da ajuda aos pobres e atuando como arauto de um

    intransigente laissez-faire econmico e acabou fazendo muitos adversrios

    intelectuais e inimigos polticos. Esta posio de Spencer foi chamada por seus

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    opositores poca de darwinismo social talvez mirando em um alvo, mas

    querendo acertar outro. Depois disso, na dcada de 1930, o darwinismo social

    reapareceu ligado a movimentos polticos direitistas, confundindo a idia de

    progresso ininterrupto com evoluo. Nessa linha de raciocnio, um indivduo

    mais adaptado aquele que ocupa uma posio social ou econmica superior,

    ou seja, os pobres so como so porque so evolutivamente mal-sucedidos.

    Este determinismo reducionista nada tem a ver com a teoria da evoluo.

    Este foi um dos motivos pelos quais havia grande cuidado entre os

    primeiros socilogos em no deixar que a filosofia dos bilogos (o

    evolucionismo, nas palavras de Gilberto Freyre) influenciasse as bases da

    sociologia. Provavelmente tambm foi a razo de outros expoentes do

    pensamento sociolgico, como Durkheim, Simmel, Weber, e Talcott-Parsons,

    entre outros, pouco ou em nada se referiram ao evolucionismo darwiniano.

    Atualmente, com o acmulo de dados da geologia, paleontologia,

    biologia, ecologia, etologia, entre outras cincias, o conhecimento cientfico

    permite dar uma forma mais elaborada e cientfica teoria da evoluo. Ponto

    importante que esta no teleolgica, isto , no se prev um objetivo na

    teoria da evoluo; a evoluo (transmutao segundo Darwin) age

    aleatoriamente atravs dos genes. O que atualmente se conhece como teoria

    do desenho inteligente, hiptese de que a evoluo dirigida (por Deus) e de

    que tem um objetivo determinado, no tem fundamento cientfico. A cincia

    prova que toda a evoluo ocorre por acaso, baseada em mutaes

    apresentadas pelos indivduos, que as transmitem aos seus descendentes.

    Estas transformaes fazem com que as espcies atualmente existentes se

    desenvolvam gradualmente em outras. Estas, se sobreviverem s condies

    ambientais, tero igualmente grande variedade de descendentes, dos quais

    novamente s sobrevivero alguns, que tero que se adaptar e sobreviver no

    ambiente novo o exemplo de um mar, que ao longo de milhes de anos vai

    secando e se transformando em um deserto como o Saara, permite imaginar o

    quanto espcies tm que se adaptar para sobreviver. A teoria da evoluo,

    apesar de bem fundamentada por Darwin, possua uma grande lacuna. Devido

    ao total desconhecimento da teoria gentica, no era possvel demonstrar

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    como se dava o processo de seleo e como as mutaes aleatrias eram

    transmitidas aos descendentes. Sobre este ponto escreve Mayr:

    A dificuldade comea com a descrio exata do processo de seleo. Depois de ter descoberto seu novo princpio, Darwin buscou uma terminologia apropriada e pensou t-la encontrado com o termo seleo (1859), que os criadores de animais utilizavam para seu estoque reprodutor. No entanto, como Herbert Spencer e depois Alfred Russel Wallace o alertaram, no existe na natureza um agente, que, como os criadores, selecione o melhor de todos. Em lugar disso, os beneficirios da seleo so os indivduos que restam depois que os menos aptos foram eliminados. A seleo natural, portanto, um processo de eliminao no aleatria. A frase de Spencer, sobrevivncia do mais apto, foi de todo legtima, desde que o termo mais apto seja apropriadamente definido (Mayr, 1963: 199) como sucesso reprodutivo (ibidem, p. 156, 2005 negrito nosso).

    Com a redescoberta da teoria gentica no incio do sculo XX,

    esquecida desde a morte do monge e bilogo Gregor Mendel (1822-1884), os

    bilogos se deram conta de que o gene seria o componente que faltava para

    explicar uma grande quantidade de fatos da biologia, previstos na teoria da

    evoluo. Hoje, quanto mais evoluem as pesquisas na rea da gentica,

    microbiologia e biotecnologia, tanto mais fica fundamentada a exatido da

    teoria da evoluo.

    A psicologia evolutiva:

    J em Principles of Psychology (Princpios de Psicologia, 1890), o

    psiclogo e filsofo americano William James, influenciado pela teoria

    evoluo, afirmava que a menos que tenha rudimentos de conhecimento inato,

    a mente humana no poderia incorporar a imensa quantidade de fatos e

    conhecimentos que absorvia. Contrariando a moda do empirismo que imperava

    na filosofia e cincia da poca, James afirmava que os seres humanos

    dispunham de tendncias inatas, que no provinham somente da experincia,

    mas do processo darwiniano de seleo natural. Escreve sobre William James

    o bilogo Matt Ridley:

    William James afirmava que os seres humanos tinham mais instintos que os outros animais, e no menos. O homem possui todos os impulsos que tm [as criaturas inferiores], e muitas outras alm destas (...) Ser observado que nenhum outro mamfero, nem mesmo o mico, mostra um leque

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    to amplo deles. Ele afirmou que era falso opor o instinto razo (RIDLEY, p. 56, 2003 negrito nosso).

    As idias de James contriburam para a criao da psicologia

    funcionalista e chegaram a fazer escola com seu discpulo William McDougall.

    O funcionalismo, no entanto, foi eclipsado por outras escolas de psicologia ao

    longo do sculo XX, como a escola behaviorista ou comportamentalista, de

    orientao empirista. Esta, fortemente representada em todas as cincias

    humanas, foi gradativamente adquirindo hegemonia, transformando-se na base

    terica da psicologia.

    Em toda a sua histria, a psicologia nunca chegou a estabelecer um

    pensamento nico sobre os seus pressupostos bsicos em relao ao

    empirismo ou funcionalismo (nativismo). Assim, uma das grandes dificuldades

    a construo de uma histria desta cincia. Usualmente tem se descrito o

    desenvolvimento da psicologia em uma seqncia cronologicamente ordenada

    porm no logicamente correta , no que se refere anlise dos problemas e

    tentativas de solues. No entanto, as posies com relao aos fundamentos

    desta cincia, mesmo entre seus precursores com exceo de William James

    e alguns outros nunca chegaram a ser claras. Desenvolveram-se assim

    vrias teorias sobre o funcionamento da mente, sem que fosse dada grande

    importncia maneira como operaria o substrato de todo o sistema: o crebro.

    A maior parte dos autores encarava este rgo como uma massa de certa

    maneira amorfa, dotada de algumas propriedades, que, no entanto, pouca

    influncia tinha no funcionamento da mente exceo seja feita a casos de

    malformao, acidentes ou doenas, que j eram conhecidos desde a

    Antiguidade e afetavam a atuao da mente. Referindo-se ao pensamento de

    Wilhelm Wundt (1832-1920), um dos fundadores da psicologia, em relao

    maneira como este encarava sua cincia, escreve o filsofo Jos Antonio

    Damsio Abib:

    Para Wundt, a psicologia como cincia psicologia emprica. E, como tal, interpreta a experincia psquica a partir da prpria experincia psquica; deduz os processos psquicos de outros processos psquicos; faz uma interpretao causal de processos psquicos com base em outros processos psquicos; no recorre a substratos diferentes destes processos, tais como mente-substncia ou processos e atributos da matria para explic-los (ADIB, p. 197, 2009 negrito nosso).

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    O mesmo vale para outro expoente da psicologia mais

    especificamente psicanlise , Sigmund Freud. Apesar de estar envolvido

    desde o princpio de sua carreira com a pesquisa psicolgica estudando a

    histeria com o psiquiatra Charcot (1825-1893), Freud nunca estabeleceu uma

    posio em relao ao empirismo ou funcionalismo. Winograd em Freud e a

    Filogenia Anmica, escreve que:

    Freud aderiu s idias de Darwin e participava dos esforos para demonstrar os caminhos da evoluo. Porm seu darwinismo no o impediu de fazer uso de outras teorias evolutivas, o que custou crticas severas psicanlise (WINOGRAD, 2007).

    Diferentemente de James, ao que parece, Freud nunca tentou associar

    sua teoria da mente aos pressupostos do evolucionismo provavelmente por

    metodologia de trabalho.

    Escreve Ripley que o pensamento que imperou por muito tempo na

    psicologia (e em outras reas como a sociologia e a antropologia) tinha como

    caracterstica o que conhecido como tbula rasa. A expresso latina que

    literalmente quer dizer tbua raspada e utilizada no sentido de folha em

    branco, foi inicialmente empregada pelo filsofo ingls John Locke (1632-

    1704) em seu Ensaio Acerca do Entendimento Humano. Considerado o

    principal expoente do empirismo ingls e o idelogo do liberalismo, Locke dizia

    que o homem nascia com a mente em branco, sem idias inatas; ao contrrio

    do que diziam filsofos anteriores como Descartes (1596-1650) e Malebranche

    (1638-1715). Para estes, o ser humano j vinha ao mundo munido de conceitos

    como Justia, Bem, Deus e vrios outros, colocados em sua alma pela

    divindade. Locke, ao contrrio, dizia que tais idias o homem adquiria ao longo

    da vida, atravs do processo de interao com seu ambiente, formando desta

    maneira sua personalidade. O princpio da tabula rasa, associado ao

    empirismo, permeou toda a filosofia ocidental at praticamente o sculo XX, e

    ao mesmo tempo exerceu forte influncia sobre todo o desenvolvimento do

    pensamento cientfico, culminando com o incio da psicologia e da sociologia,

    na segunda metade do sculo XIX.

    Mas, havia algumas vozes que destoavam deste coro de unanimidades.

    Charles Darwin em sua obra A expresso das emoes no homem e nos

    animais (1872), fez uma descrio das vrias expresses faciais e corporais de

  • 13

    diversos tipos de animais, de acordo com a emoo que sentiam. Em seguida

    mostrou as reaes dos macacos, para ento descrever pormenorizadamente

    (documento por fotografias da poca) as diferentes expresses gestuais e

    faciais dos seres humanos, quando estavam sentindo as mais variadas

    emoes. O objetivo de Darwin, evidentemente, foi mostrar que existe uma

    ligao entre as expresses e reaes humanas e as dos outros animais. De

    seu trabalho conclui Darwin:

    Pelo que sabemos, apenas uns poucos movimentos expressivos, como aqueles aos quais acabamos de fazer referncia, so aprendidos individualmente; isto , foram realizados consciente e voluntariamente nos primeiros anos de vida com algum objetivo definido, ou por imitao, tornando-se depois habituais. A grande maioria dos movimentos expressivos, inclusive os mais importantes, inata ou hereditria, como vimos; eles no podem ser dependentes da vontade do indivduo. Entretanto, todos aqueles includos sob nosso primeiro princpio foram de incio desempenhados voluntariamente com um objeto definido, a saber, fugir de alguma ameaa aliviar um sofrimento ou satisfazer um desejo (DARWIN, p. 299-300, 2012 negrito nosso).

    A partir da dcada de 1920, com a diminuio da influncia do

    funcionalismo de William James, o behaviorismo e o comportamentalismo, de

    origem empirista, passam a dominar no s a psicologia (com John B. Watson

    e B. F. Skinner), mas tambm a antropologia (Franz Boas), a psicanlise

    (Sigmund Freud) e a sociologia (mile Durkheim, que foi aluno de Wundt e

    exerceu grande influncia terica sobre Freud).

    Em 1958, analisando um trabalho sobre a linguagem (Comportamento

    Verbal, 1957) do psiclogo Burrhus F. Skinner o maior expoente do

    behaviorismo poca o lingusta Noam Chomsky defendeu a tese de que era

    impossvel uma criana aprender as regras da linguagem somente atravs de

    exemplos da experincia, fato j intudo por James setenta anos antes.

    Afirmava que a criana deveria ter as regras inatas, pelas quais o vocabulrio

    da linguagem fixado. Para o lingusta, as gramticas gerativas das lnguas

    individuais so variaes de um nico padro, que Chomsky denominou de

    gramtica universal. Sobre esta descoberta, escreve Matt Ridley em Genome

    The autobiography of a species (Genoma A autobiografia de uma espcie):

  • 14

    Estudando a maneira como os seres humanos falam, Chomsky concluiu de que h similaridades na base de todas as lnguas, o que prova a existncia de uma gramtica universal humana. Todos ns sabemos como us-la, embora raramente estejamos cnscios desta habilidade. Isto deve significar, de que parte do crebro humano vem equipada por seus genes com uma habilidade especializada para aprender lnguas. Simplesmente, o vocabulrio no pode ser inato, ou ns todos falaramos uma s invarivel lngua. Mas talvez uma criana, ao adquirir o vocabulrio de sua sociedade nativa, insira estas palavras em um jogo de regras mentais inatas (RIDLEY, p. 93, 1999 traduo e negrito nossos).

    Muitos psiclogos evolucionistas consideram a teoria de Chomsky como

    uma das primeiras confirmaes de uma estrutura cerebral inata, mostrando

    que j nascemos com certas capacidades mentais herdadas. Chomsky

    atualizou sua teoria em 1984, com a teoria de princpios e parmetros.

    Atualmente, apesar de diversos crticos da teoria (Dell Hynes, Dan Everett e

    outros), esta ainda no foi definitivamente refutada.

    Grande parte dos psiclogos e psiquiatras considera que se estruturas

    cerebrais herdadas existem, estas so irrelevantes para o estudo da cincia

    psicolgica. Entretanto, atualmente j existem outras disciplinas como a

    neurologia, que vem avanando na pesquisa da mente e tambm trabalham

    com a hiptese de que esta contenha informaes preexistentes. O

    neurologista portugus Antonio Damsio em Der Spinoza-Effekt Wie Gefhle

    unser Leben bestimmen (O efeito Spinoza Como sentimentos determinam

    nossa vida) faz uma anlise da influncia dos sentimentos no comportamento

    humano. Para o cientista, os sentimentos e as emoes so reaes do corpo

    sobre o crebro e demonstra que desde o nascimento no h maneira de

    separar um do outro. Sobre a questo da mente do tipo tabula rasa, escreve o

    autor:

    Aqui eu talvez devesse complementar minha discusso com mais esclarecimentos. Quando eu digo que a mente formada por idias, que de uma ou de outra maneira so representaes do corpo no crebro, facilmente se poderia chegar idia de que o crebro uma folha em branco, que virgem e intocado aguarda que o corpo lhe inscreva sinais. Nada poderia ser mais errado. O crebro no principia como tabula rasa. J no incio de sua existncia, ele dispe do conhecimento, como o organismo deve ser acionado, ou seja, como o processo vital deve ser dirigido e como um grande nmero de acontecimentos do mundo exterior deve

  • 15

    ser dominado. (DAMASIO, p. 238-239, 2003 traduo e negrito nossos).

    Outro autor originrio da neurologia, o neurocientista David Eagleman,

    ainda vai mais longe e d uma autonomia muito maior ao crebro; no s em

    relao ao fato de conter informaes preexistentes, mas at quanto ao prprio

    controle que temos desse rgo durante nosso tempo de vida. Eagleman

    escreve quanto ao aspecto funcionalista do crebro:

    O crebro um sistema complexo, mas isto no significa que seja incompreensvel. Nossos circuitos neurais foram gravados pela seleo natural para resolver problemas que nossos ancestrais enfrentaram durante a histria evolutiva de nossa espcie. Seu crebro foi moldado por presses evolutivas, assim como seu bao e os olhos. E o mesmo ocorreu com a conscincia. A conscincia se desenvolveu porque era vantajosa, mas vantajosa apenas de forma limitada (EAGLEMAN, p. 14, 2012 itlico do autor, negrito nosso)

    Em todo seu livro Incgnito As vidas secretas do crebro o autor

    desenvolve a teoria fundamentada por inmeros fatos cientficos de que

    nosso controle sobre o crebro, nossa mente, muito menor do que

    imaginvamos. O crebro escreve Eagleman, j geneticamente dotado de um

    programa de funcionamento, e nossa mente consciente em muitas ocasies

    apenas um coadjuvante desnecessrio de nossas aes fato que no pode

    ser o resultado de aprendizado, interaes sociais ou experincias. Apesar de

    este no ser o tema da obra, o livro de Eagleman um forte argumento

    cientfico contra na crena da tbula rasa:

    A primeira lio que aprendemos no estudo de nossos circuitos simples: a maior parte do que fazemos e sentimos no est sob nosso controle consciente. A vasta selva de neurnios opera seus prprios programas. O voc consciente o eu que ganha a vida quando voc acorda pela manh a menor parte do que se revela de seu crebro. Embora sejamos dependentes do funcionamento do crebro em nossa vida interior, ele cuida de seus prprios negcios. A maior parte de suas operaes est acima do espao de segurana da mente consciente. O eu simplesmente no tem o direito de entrar. (EAGLEMAN, p. 14, 2012 itlico do autor, negrito nosso).

    Para finalizar estes comentrios sobre as diversas teorias que formam

    as diferentes correntes psicolgicas, preciso ressaltar o fato de que nunca

    houve e h cada vez menos consenso sobre o campo prprio da pesquisa

  • 16

    psicolgica. At hoje ainda no existe uma idia comum sobre o conceito de

    comportamento e as relaes biolgicas e psicolgicas entre a sociedade

    humana e animal. Para alguns especialistas como Jacques Cosnier, autor de

    Clefs pour la psychologie (Chaves para a psicologia, 1971), a psicologia no

    seria mais uma cincia que estuda o comportamento, mas que se ocupa dos

    processos intercomunicativos, com razes na biologia e na lingustica. Cosnier

    considera que a fase comportamentalista da psicologia estaria ultrapassada,

    dada a impossibilidade de superar o hiato entre teoria e prtica. Assim,

    seguindo a linha argumentativa de Cosnier, daqui para frente a discusso na

    psicologia parece ser clara: possvel continuar com as prticas

    comportamentalistas, atuando na ponta final do sistema (exteriorizada pelo

    comportamento humano); ou pode-se enveredar por tcnicas que tambm

    levem em considerao o substrato gentico do crebro e da mente fato mais

    que demonstrado por diferentes correntes da psicologia e aprofundado cada

    vez mais pela neurologia.

    Especialmente nos Estados Unidos, despontaram nos ltimos trinta anos

    vrios especialistas em diversas reas influenciados pela sociobiologia. Em sua

    maior parte, tais profissionais atuam nos campos da biologia, antropologia,

    psicologia, filosofia e sociologia, utilizando-se, sob diversas formas, do

    ferramental terico da psicologia evolutiva. Walter Neves, bilogo, antroplogo

    e arquelogo brasileiro, responsvel pelo estudo de Luzia o esqueleto

    humano mais antigo do continente americano escreve o seguinte sobre a

    psicologia evolutiva no prefcio ao livro A pr-histria da mente, de Steven

    Mithen:

    A psicologia evolutiva tem crescido muito no exterior e grande parte dos profissionais envolvidos nessa abordagem formada por antroplogos, tendo se tornado, na verdade, uma nova subrea da antropologia evolutiva. Esta ltima, para ser praticada em nvel aceitvel, requer que os profissionais envolvidos tenham uma grande erudio sobre o fenmeno humano no espao e no tempo. Requer, tambm, que esses profissionais acreditem, ainda que apenas parcialmente, que possvel identificar as relaes de causa e efeito no comportamento social humano [...] (NEVES in MITHEN, p. 10, 2002).

  • 17

    Por um lado a maior parte dos socilogos e psiclogos ainda considera

    a mente um mecanismo de aprendizado geral, sem qualquer contedo prvio

    ao nascermos. O conhecimento e as idiossincrasias comportamentais so

    adquiridos atravs da interao cultural. De acordo com esta teoria da mente, a

    biologia tem um papel secundrio, quase irrelevante. No entanto, muitos

    antroplogos chegaram concluso que como melhor hiptese de trabalho, a

    mente deve ser encarada como um sistema de mdulos, com diferentes

    funes. Segundo essa concepo do formato da mente, nosso crebro levou

    milhes de anos para evoluir e para desenvolver suas capacidades.

    Esta a hiptese da psicologia evolutiva, teoria formulada pela primeira

    vez no incio da dcada de 1980, pelo filsofo e cientista cognitivo americano

    Jerry Fodor. Nos anos 1990 foi desenvolvida pelo antroplogo John Tooby e

    pela psicloga Leda Cosmides. Segundo a psicologia evolucionista, a

    constituio biolgica tem uma forte influncia em nossa maneira de pensar. A

    mente formada por vrios sistemas cognitivos especializados, cada qual

    dedicado a um tipo especfico de comportamento. Os autores da psicologia

    evolutiva comparam a mente a um canivete suo com vrias lminas, uma

    para cada funo. Por isso, ao nascermos, nosso crebro j est de certa

    maneira preparado devido aos sistemas cognitivos especializados a

    enfrentar o mundo. Em um artigo escrito em 2010, descrevi as principais

    caractersticas da psicologia evolutiva da seguinte maneira (baseado no texto

    original dos autores Evolutionary Psychology: a primer):

    A psicologia evolutiva, segundo Cosmides e Tooby, estuda: 1) Crebros; 2) Como crebros processam informaes; 3) Como os programas de processamento de informaes do crebro geram comportamento. Se assumirmos que a psicologia um ramo da biologia, vrias ferramentas podero ser aplicadas psicologia. Os cinco princpios bsicos, utilizados como mtodos pela psicologia evolutiva, so:

    1 Princpio: O crebro um sistema fsico, que atua como um computador. Seus circuitos so projetados para gerar comportamento que seja apropriado s nossas circunstncias ambientais. O crebro um sistema fsico, cuja operao governada unicamente pelas leis da qumica e da fsica. Sua funo processar informaes, ou seja, um computador feito de componentes base de carbono. Nesta estrutura, neurnios so conectados uns os outros, de uma maneira altamente organizada e so por sua vez conectados aos

  • 18

    circuitos neurais, que percorrem o corpo humano. Receptores sensrios so conectados a neurnios, que transmitem informao ao crebro. Em suma, os circuitos do crebro so projetados para gerar movimento, respondendo s informaes do ambiente. A funo do crebro, este computador molhado, gerar comportamento que seja apropriado s circunstncias encontradas pelo restante do corpo no ambiente.

    2 Princpio: O sistema neurnico e neural foi projetado pela seleo natural, para resolver problemas que nossos ancestrais enfrentaram durante a histria evolutiva de nossa espcie. Nossos circuitos neurais formaram-se para resolver problemas adaptativos, ou seja, como o organismo sobrevive: o que come, de quem presa, com quem se acasala, com quem se associa, como se comunica, e assim por diante.

    3 Princpio: A conscincia apenas a ponta do iceberg; a maior parte do que ocorre no crebro permanece desconhecido. Como resultado, nossa experincia consciente pode nos iludir e fazer-nos pensar que a estrutura da mente mais simples do que parece. A maior parte dos problemas que experimentamos como fceis de resolver so difceis requerem um circuito neural bastante complexo. A complexidade do funcionamento da mente humana muito grande. Podemos apresentar grandes generalizaes, que, todavia no explicam como a estrutura efetivamente funciona.

    4 Princpio: Diferentes circuitos neurais so especializaes para resolver diferentes problemas de adaptabilidade. Segundo a psicologia evolutiva, temos todos estes circuitos neurais especializados, porque o mesmo mecanismo raramente capaz de atender diferentes necessidades de adaptao, como escutar, enxergar, sentir raiva, medo, nusea, etc. Consequentemente, o crebro deve ser composto de grandes grupos de circuitos, com diferentes subcircuitos, especializados para resolver diferentes desafios.

    5 Princpio: Nosso moderno crnio abriga uma mente da Idade da Pedra. A seleo natural levou muito tempo para produzir suas mudanas e construir novos circuitos em nossos crebros. Quase 99% do tempo de existncia de nossa espcie despendemos como caadores-coletores. Nossos ancestrais viviam em pequenos grupos nmades, com poucas dzias de indivduos, obtendo seu alimento dirio quando disponvel caando animais e colhendo plantas. Desta forma, a chave para entender o funcionamento da mente moderna compreender que seus circuitos no foram projetados para problemas dirios de um cidado moderno foram desenvolvidos para problemas dirios de nossos ancestrais caadores-coletores. Isto, todavia, no quer dizer que nossa mente no tenha mecanismos de aprendizado, capazes de permitir que criemos novos ambientes e nos adaptemos a eles (ROSE, 2010 negrito nosso).

  • 19

    1. d) Em que pressupostos cientficos se baseia a estrutura terica da

    sociologia evolutiva?

    Fizemos uma breve apresentao, ressaltando os pontos mais

    importantes das duas principais bases tericas da sociologia evolutiva: o

    neodarwinismo e a psicologia evolutiva. Esta ltima efetivamente uma

    conseqncia, em sua teoria e prtica, da sociobiologia de Wilson. Cabe

    ressaltar, que em nossa metodologia de anlise da questo, consideramos que

    exatamente a psicologia evolutiva, com seus pressupostos tericos sobre o

    funcionamento da mente, que trar os argumentos e as fundamentaes

    cientficas para uma abordagem da sociologia sob o aspecto do

    neodarwinismo.

    Pesa ainda sobre a psicologia evolutiva a imagem de ser um

    reducionismo e para alguns um determinismo gentico. No entanto, se isto

    fosse efetivamente assim, as prprias descobertas da psicologia, antropologia,

    paleontologia, gentica, neurologia e demais cincias refutariam esta teoria.

    muito provvel, como acontece com todas as teorias principalmente aquelas

    envolvendo os seres vivos que muitos pontos daqueles defendidos por

    Cosmides e Tooby venham a ser revistos; a prtica do prprio processo

    cientfico. No entanto, pouco provvel que certos fatos bsicos da psicologia

    evolutiva sejam negados, mesmo no futuro. Dificilmente poder se provar o

    contrrio de que, assim como todos os outros animais, tambm nascemos com

    certos instintos e condicionamentos. Apesar de vrias pesquisas estarem em

    andamento nesta rea, ser tarefa da psicologia no futuro analisar o grau de

    influncia dos genes sobre as emoes, comportamentos e idias dos

    indivduos. Como escreve Steven Pinker:

    Significa apenas que os sistemas hereditrios de aprendizado, sentimento e pensamento, possuem uma organizao que, no ambiente onde evoluram nossos ancestrais, ter conduzido, em mdia, a maiores chances de sobrevivncia e reproduo (PINKER, p. 84, 2004).

    Nunca, evidentemente, ser possvel explicar a complexa realidade da

    vida e principalmente da experincia humana baseado somente em uma

  • 20

    teoria gentica e algumas outras conseqncias prticas e tericas. O que

    como corolrio tambm quer dizer que nem todos os aspectos da vida humana

    so produtos do gene; a cultura tambm tem um papel importante. Quanto a

    esta questo, que os cientistas americanos chamam de dilema nature and

    nurture (algo como qualidades inatas versus experincia), escreve o zologo

    Matt Ridley:

    Devo me repetir para ser absolutamente claro. No h nada de factualmente errado em afirmar que os seres humanos so capazes de aprender, ou que podem ser condicionados a associar estmulos, ou a reagir a recompensas e punies ou qualquer outro aspecto da teoria do aprendizado. Esses so fatos verdadeiros e tijolos essenciais na parede que estou construindo. Mas no se segue da que os seres humanos no tm instintos, e menos ainda que os seres humanos sejam incapazes de aprender se tm instintos. As duas coisas podem ser verdadeiras (RIDLEY, p. 240, 2003).

    2. A proposta da sociologia evolutiva

    2. a) Alguns aspectos da sociologia clssica

    Nesta parte do trabalho apontaremos algumas caractersticas da

    sociologia clssica e as compararemos com a sociologia evolutiva. O objetivo

    de nossa argumentao demonstrar que a sociologia evolutiva uma nova

    disciplina na sociologia clssica, que no pretende e nem pode suplant-la,

    mas que tem condies de atuar na pesquisa sociolgica com uma teoria

    bsica especfica, o neodarwinismo. O principal instrumento que esta nova

    disciplina utiliza a psicologia evolutiva, no necessariamente em seu formato

    atual, j que tambm esta psicologia est em fase de construo, como toda

    cincia. Em nossa abordagem, consideramos importantes as seguintes

    palavras de Lacerda:

    Vista a partir das especialidades estruturalmente sociolgicas, as reas centrais dominadas por generalistas que zelam pela tradio da teoria sociolgica, a teoria evolutiva no pode ajudar na explicao do comportamento social humano. Para socilogos no faz sentido pensarmos os comportamentos sociais humanos em termos de causas ltimas. A teoria da evoluo aceita para explicar nossa anatomia s at o pescoo. Para um socilogo tradicional, o comportamento social humano moldado inteiramente pelo processo de

  • 21

    socializao, que um processo exclusivamente sociocultural. O advento da psicologia evolucionista nos anos de 1990 ajudou a popularizar explicaes do comportamento social humano que conjugam causas ltimas com causas prximas, mas a sociologia continua como a ltima trincheira contra as explicaes neodarwinistas do comportamento humano (LACERDA, pag. 2, 2009 negrito nosso).

    Inicialmente abordaremos alguns tpicos em relao sociologia

    clssica, baseados em textos de socilogos conhecidos. Em relao

    sociologia clssica, trataremos: a) Seus pressupostos tericos bsicos; b) Sua

    metodologia de pesquisa; c) Seus principais objetos de pesquisa.

    Com relao aos pressupostos bsicos da sociologia observamos que

    esta cincia no dispe de um corpo unitrio de premissas tericas bsicas;

    uma teoria unificada na qual se acomodam os tijolos tericos com os quais se

    constroem as metodologias e seus objetos de pesquisa. Sobre isso, escreve o

    socilogo americano Robert K. Merton:

    A predileo dos socilogos do sculo XIX em desenvolver cada um seu prprio sistema de sociologia e que se manifesta ainda hoje em certos setores significa que os mesmos so elaborados, tipicamente, como sistemas opostos de pensamento, mais do que consolidados num produto cumulativo (MERTON, p. 37, 1970 - negrito nosso).

    Esse aspecto dos estudos sociolgicos, caracterizando a falta de uma

    base na qual os autores possam desenvolver seu sistema, d mais fora

    interpretao de que a sociologia no uma cincia unificada. O socilogo

    Andr Luiz Ribeiro de Lacerda, referindo-se ao surgimento da sociobiologia e

    reao na rea da sociologia, relata que o acontecimento provocou aumento

    das crticas em relao natureza do conhecimento sociolgico clssico. Se

    anteriormente Merton j desaprovava a falta de uma linha-mestra na cincia

    (como vimos no texto acima), a celeuma s acabou aumentando.

    Nos anos 1970, Gouldner (o socilogo americano Alvin W.Gouldner, 1920-1980) diagnosticou uma crise na sociologia ocidental. Uma crise terica e metodolgica que se manifestou na fragmentao da disciplina. A recepo hostil que a sociobiologia recebeu no mainstream foi contrabalanceada pela simpatia de alguns socilogos, que se manifestaram e continuam a se manifestar, intensificando crticas sociologia e ampliando o diagnstico de Merton e Gouldner (LACERDA, p.160, 2009 itlico e negrito nosso).

  • 22

    Merton, por seu lado, no tem iluses a respeito de uma teoria unificada

    permeando os estudos sociolgicos, j que escreve:

    As pginas seguintes levam a admitir que essa procura por um sistema global de teoria sociolgica, no qual as observaes sobre todos os aspectos do comportamento, da organizao e da mudana social, encontrariam prontamente seu lugar preordenado, tm o mesmo desafio estimulante e as mesmas promessas insignificantes daqueles sistemas filosficos que procuravam tudo abarcarem e que caram num merecido esquecimento (MERTON, p. 57, 1970 negrito nosso).

    Merton neste comentrio praticamente nega a possibilidade de uma

    teoria cientfica bsica na sociologia. Na filosofia, Merton parece estar se

    referindo aos grandes pensadores sistemticos, como Aristteles, Toms de

    Aquino e, especialmente, Georg W. F. Hegel, cujo sistema tinha a pretenso de

    encampar e explicar toda a realidade humana. Mas isto j seria esperar demais

    de uma cincia humana como a sociologia, que se prope a explicar e no s

    interpretar, como a filosofia. Merton at faz referncia a alguns socilogos,

    como Comte e Spencer, que tentaram construir sistemas abrangentes. Outros,

    como Gumplowicz (1838-1909), Ward (1841-1913) e Giddings (1855-1931),

    experimentaram elaborar um arcabouo terico que se destinava a guiar a

    investigao de problemas sociolgicos especficos, dentro de uma estrutura

    provisria e evolutiva, segundo Merton. Na praxis sociolgica, entrementes,

    no existe uma teoria central, como a teoria tectnica das placas na geologia e

    geografia ou a teoria da oferta e demanda na economia.

    Com relao metodologia na sociologia, ainda nos baseamos em

    Merton, em seu clssico Sociologia Teoria e Estrutura:

    A condio das cincias fsicas e biolgicas permanece muito diferente das cincias sociais e da sociologia em particular. Se o fsico, como tal, no tem necessidade de impregnar-se dos Princpios de Newton, e o bilogo, como tal, no precisa ler e reler A origem das espcies de Darwin, o socilogo, mais como socilogo do que como historiador da sociologia, tem amplos motivos para estudar os trabalhos de Weber, Durkheim e Simmel e at mesmo para remontar, ocasionalmente, s obras de Hobbes, Rousseau, Condorcet, e Saint Simon (Ibidem, p, 48 negrito nosso).

    Em mais este aspecto a sociologia se aproxima de cincias como a

    filosofia, a psicologia e a histria. O cerne do aprendizado se d atravs da

  • 23

    leitura dos clssicos da disciplina, descobrindo os modelos de trabalho

    intelectual estabelecidos pelos fundadores; Comte (1798-1857), Marx (1818-

    1883), Weber (1864-1920), Durkheim (1858-1917), Tnnies (1855-1936),

    Simmel (1859-1918), Talcott-Parsors (1902-1979), Mannheim (1893-1947) e

    muitos outros. Tudo aliado observao emprica e um ceticismo

    metodolgico, a fim de eliminar os aspectos incontrolveis do processo de

    investigao. Assim, atravs dos clssicos, os libri fecondatori (livros

    fecundadores) segundo o escritor Salvemini, que o pesquisador tambm

    poder identificar um bom problema sociolgico a ser estudado. Em outras

    palavras: seguem-se os mestres, mesmo sabendo que estes tinham opinies

    diferentes e s vezes divergentes. Ainda sobre o mtodo sociolgico, escreve

    Merton a ttulo de recomendao para os futuros profissionais:

    A teoria sociolgica se pretende progredir de modo significativo, deve prosseguir nestes planos interconexos, 1) desenvolvendo teorias especiais das quais possam derivar hipteses que permitam ser investigadas empiricamente e, 2) evolvendo (e no revelando repentinamente) um esquema conceptual progressivamente mais geral, adequado a consolidar grupos de teorias especiais.

    Concentrar-nos exclusivamente em teorias especiais traz-nos o risco de ficarmos envolvidos em hipteses especficas que explicam aspectos limitados do comportamento, organizaes e mudanas sociais, mas que permanecem mutuamente inconsistentes (Ibidem, p. 63).

    Para finalizar este subcaptulo sobre a sociologia clssica, cabe discutir

    ainda sobre quais seriam os objetos de estudo da sociologia. Neste caso,

    existem vrias orientaes genricas. No entraremos em detalhes, apenas

    mencionaremos algumas interpretaes de socilogos famosos. Para Augusto

    Comte, considerado tradicionalmente o fundador da cincia sociolgica, a

    sociologia deve-se concentrar no estudo da ordem e do progresso social. mile

    Durkheim, considerado o sistematizador da cincia, ensina que o objeto de

    estudo da sociologia so os fatos sociais, os quais difceis de serem estudados

    tm como caractersticas a generalidade, a exterioridade e a coercitividade.

    Como amostras de fatos sociais, Durkheim cita as leis e as religies. Como

    exemplo desta metodologia, citamos um trecho de seu As regras do

    pensamento sociolgico:

  • 24

    Conseguimos, ento, representar-nos, de um modo preciso, o domnio da sociologia. Este s compreende um determinado grupo de fenmenos. Um fato social reconhece-se pelo poder de coero externa que exerce ou o suscetvel de exercer sobre os indivduos; e a presena desse poder se reconhece, por sua vez, pela existncia de uma sano determinada ou pela resistncia que o fato ope a qualquer iniciativa individual que tende a viol-la. (DURKHEIM, p. 37-38, 2002).

    Outra figura precursora da sociologia, como o alemo Max Weber,

    afirma sinteticamente que o objeto de estudo da sociologia so as conexes e

    a significao das manifestaes culturais por trs dos fatos sociais. Weber

    assim define os objetivos da sociologia:

    A cincia social que ns pretendemos praticar uma cincia da realidade. Procuramos compreender a realidade da vida que nos rodeia e na qual nos encontramos situados naquilo que tem de especfico; por um lado, as conexes e significao cultural das suas diversas manifestaes na sua configurao atual, e por outro, as causas pelas quais se desenvolveu historicamente assim e no de outro modo (WEBER apud COHN, p. 88, 1989).

    Dadas as caractersticas da sociologia clssica em relao teoria,

    metodologia e aos objetos de pesquisa expostos acima, conclumos que a

    sociologia evolutiva, sem querer substituir a sociologia clssica como j

    escrevemos, tem todas as condies de ocupar seu espao na pesquisa

    sociolgica brasileira.

    2. b) Quais so os diversos campos de pesquisa da sociologia evolutiva?

    Neste ponto do estudo comentamos alguns temas que j esto sendo

    pesquisados pela sociologia evolutiva. As questes que colocamos na forma

    de tpicos so resultado de nossas pesquisas e anlises, realizadas no

    decorrer da preparao deste trabalho.

    A) A origem da linguagem: este talvez o primeiro grande problema que separa

    a sociologia clssica da sociologia evolutiva. Para a maior parte dos socilogos

    clssicos, a pergunta nem se apresenta. Em Durkheim a questo da linguagem

    no existe; toda a cultura classificada como maneiras de agir e de sentir que

    apresentam notvel propriedade de existir fora das conscincias. O mesmo

    vale para a maior parte dos outros socilogos que no se ocuparam do

    assunto, por colocarem o tema fora da rea da sociologia. Com relao

  • 25

    origem da linguagem escreve o bilogo alemo Ulrich Kull, tambm seguidor

    da linha clssica:

    No improvvel que no caso do homem tenha havido um aumento do tamanho do crebro e com isso a capacidade de raciocnio e sua relao com os aspectos sociais. A importncia das caractersticas sociais no homem tem sua origem no forte desenvolvimento da linguagem, j que esta tem como funo a comunicao (KULL, p. 158, 1979 traduo nossa).

    Esta a resposta mais comum que encontramos depois de pesquisar

    em diversas fontes. A origem da linguagem explica a cultura, que explica mais

    linguagem, e assim por diante: linguagem cultura mais linguagem

    mais cultura... Na prtica o processo evidentemente no linear, mas

    dialtico. Entretanto, poucos se colocaram a questo se a capacidade de

    aprendizado da linguagem e outros aspectos da vida no poderia ser um

    fato de adaptao evolutiva, gravado nos genes. Nesse caso, somos os

    descendentes daqueles indivduos que em seu grupo tiveram mais capacidade

    de absorver e processar todo tipo de informao, transmitindo esta capacidade

    (evidentemente no a informao!) aos seus descendentes. Com a interao

    natureza inata/experincia (nature/nurture) a cultura espiritual e material das

    sociedades influenciando por sua vez tambm os indivduos se

    desenvolveu cada vez mais.

    Os indcios apresentados pela gentica j so em to grande nmero,

    que no mais possvel admitir que apenas caractersticas fsicas, como a

    propenso a desenvolver tipos de doenas e outros fatores fisiolgicos, tenham

    origens genticas, sendo apenas nosso crebro imune a este processo. No se

    trata, afirmamos mais uma vez, de um determinismo, mas de tendncias mais

    ou menos acentuadas, de acordo com fatores ambientais. No h um nico

    fenmeno nem um nico processo no mundo vivo que no seja parcialmente

    controlado por um programa gentico contido no genoma. No h uma nica

    atividade, em qualquer organismo, que no seja afetada pelo tal programa

    (Mayr, 2005).

    B) O desenvolvimento da cultura material e espiritual influenciada por fatores

    genticos: a evoluo da cultura e da tecnologia j encontra diferentes

  • 26

    interpretaes na sociologia clssica. No entanto, com o desenvolvimento das

    cincias, identificamos diversos aspectos, para os quais uma abordagem

    sociolgica clssica no suficiente. O Jornal da Fundep, sob o ttulo de Freud

    explica? publicou reportagem sobre pesquisas realizadas pela Universidade

    Federal de Minas Gerais (UFMG), no programa de ps-graduao em

    Neurocincias. Nesta universidade est em andamento um programa sobre

    Neuroimunologia, coordenado pelo professor Antonio Lcio Teixeira Junior, do

    Departamento de Clnica Mdica, que demanda conhecimentos das reas de

    Psiquiatria, Neurologia, Biologia Celular e Molecular e Imunologia. Segundo o

    professor, possvel ilustrar a importncia da interdisciplinaridade com

    pesquisas em Neuroimunologia, que visam elucidar como processos

    inflamatrios so capazes de influenciar o comportamento humano. Segundo

    o professor, h evidncias de que infeces virticas como a gripe, provocam

    mudanas na conduta das pessoas. No futuro, a equipe pretende desenvolver

    um modelo capaz de delinear a relao entre os sistemas imunolgicos e

    nervosos, o que pode trazer alternativas para o tratamento de males como a

    depresso, que possui propores endmicas. Desta reportagem podemos

    concluir que fatores genticos podem influir no aparecimento de doenas a

    depresso muito provavelmente tem origens genticas que por sua

    disseminao tm consequncias sociais. Neste caso o socilogo evolutivo

    pode pesquisar temas como: a depresso era comum no passado da

    humanidade, que tipo de reaes provocou nos indivduos e nas sociedades?

    O que significa tal fato sob o aspecto evolutivo e quais suas consequncias

    atuais?

    Ainda acrescentaremos lista outras quatro questes que, segundo

    Lacerda (conforme Crippen, 2006) esto sendo estudadas pelos socilogos

    evolucionistas:

    1 Como o comportamento funciona? Quais so as causas prximas?

    2 Qual a ontogenia (descrio da origem e desenvolvimento de um

    organismo) do comportamento? Como ele se desenvolve ao longo do curso da

    histria de vida do organismo?

  • 27

    3 Qual a funo do comportamento? Qual a sua contribuio para a

    sobrevivncia e o sucesso reprodutivo do organismo?

    4 Como o comportamento evoluiu no contexto do ambiente ancestral do

    organismo?

    Com referncia diferena de abordagem entre a sociologia clssica e a

    sociologia evolutiva, completamos este captulo com as palavras do socilogo

    zologo alemo Rupert Riedel:

    Afirmava o behaviorismo (comportamentalismo): O comportamento conseqncia do meio; toma um posicionamento oposto a sociobiologia: Todo comportamento uma conseqncia da herana gentica. Ali afirmam os de esquerda: Culpa pelo teu comportamento somente o meio. Ali afirmam os de extrema direita: Culpa pelo teu comportamento somente tua herana gentica. Ambas as posies querem justificar um mundo sem responsabilidades e por isso desumano. Ainda bem que em suas conseqncias radicais as duas idias esto erradas (RIEDL, p. 53, 1987).

    3. Estudo de caso: a sociologia evolutiva e o estudo da religio

    Uma rea onde houve grande desenvolvimento na utilizao do

    arcabouo terico do neodarwinismo e da psicologia evolutiva foi na

    antropologia social, especificamente nos estudos da religio. Resumidamente,

    a viso neodarwinista diz que assim como qualquer outro rgo ou funo do

    corpo humano, a mente tambm tem um efeito de seleo natural e de

    contribuio para a evoluo lembrando que nunca utilizamos a palavra

    evoluo no sentido de melhoria, mas apenas de melhor adaptabilidade ao

    ambiente, aumentando as chances de sobrevivncia do indivduo. Produto da

    mente, a religio estudada pela psicologia, antropologia e sociologia

    evolutivas, vendo nela uma atividade humana que tambm tem ou tinha a

    funo de contribuir para a melhor sobrevivncia da espcie (com foco nos

    indivduos). Importante lembrar que estas cincias no se preocupam com a

    existncia ou no de Deus j que isto tema para a filosofia e a teologia

    mas apenas com os eventuais efeitos da crena na evoluo humana.

  • 28

    Com relao ao papel da religio como instrumento da seleo natural,

    existem duas orientaes tericas bsicas. A primeira, afirma que a religio

    realmente produto da evoluo e confere vantagem adaptiva aos seus

    praticantes. A outra viso que a crena produto secundrio da evoluo da

    mente humana, sem que tivesse sido selecionada por proporcionar qualquer

    vantagem evolutiva. Fato que a crena em deus ou deuses incorpreos,

    crena na vida alm-tmulo, crena em oraes e ritos para mudar o curso dos

    eventos humanos, tem sido encontrado em todas as culturas.

    Para a maior parte dos estudiosos ainda no est clara a funo da

    religio sob a perspectiva evolucionista. Segundo reportagem no jornal The

    New York Times, em seu recente livro In Gods we trust: the evolutionary

    landscape (Ns confiamos nos deuses: a paisagem evolucionria) o

    antroplogo Scott Atran escreve: Imagine qualquer outro animal que toma

    ferimento por sade, grande por pequeno, rpido por lento ou morto por vivo.

    pouco provvel que tal espcie possa sobreviver. Assim, Atran procurou outra

    explicao: se a crena religiosa no era um processo adaptivo, talvez

    estivesse associada com outra necessidade que, esta sim, era adaptiva.

    Uma teoria que tenta explicar a origem da crena em seres

    supranaturais como prtica secundria de outro processo adaptivo a da

    deteco do agente. Segundo ela, nossos antepassados provavelmente

    tinham que se precaver contra qualquer movimento, sombra, barulho; em

    suma, qualquer agente ameaador, mesmo que no tivessem visto nada de

    maneira ntida. Uma sobra na savana poderia, ou no, ser um predador. Assim,

    fugir primeira impresso poderia significar a diferena entre continuar vivo ou

    virar almoo de uma hiena. Na caverna escura, a impresso de ter visto um

    agente talvez um urso e se precaver com fogo e lanas, tambm poderia

    ser a diferena entre a vida e a morte. Milhares e milhares de anos dessa

    prtica condicionaram nosso crebro a ver coisas, agentes onde no os

    havia. Experimentos efetuados pelos psiclogos Heider e Simmel nos anos

    1940 chegaram a concluses que permitem comprovar esta teoria. Deste

    comportamento adaptivo, provavelmente presente em nossos antepassados

    mais primitivos e pr-humanos, pode ter se desenvolvido a crena em seres

    no presentes; espritos, deuses e outros.

  • 29

    Outra hiptese que explicaria a crena no sobrenatural do psiclogo

    Justin Barrett, que em 2004 escreveu um artigo intitulado Why would anyone

    believe in God? (Por que algum acreditaria em Deus?). Barrett argumenta que

    um dos motivos para a crena seria a necessidade de encontrar um causador

    para os fatos que nos afetam, tanto na nossa vida, quanto na natureza.

    Precisamos precaver-nos da chuva, do calor sufocante, das secas e carestia.

    Deste tipo de comportamento adaptivo (correr para um abrigo, procurar gua

    ou alimento), fortemente entranhado em nossos genes, derivou a pergunta

    sobre a origem destes fatos; da fome, da sede, do medo. Com isso, deuses e

    outras potncias seriam fortes candidatos para ocupar esta funo na mente

    dos nossos ancestrais.

    Uma terceira teoria chama-se teoria da mente e j conhecida da

    psicologia. Em sua formulao bsica diz que toda a nossa vida social est

    baseada no fato de que sabemos o que outros pensam e que podemos

    antecipar aes e fazer com que acreditem o que queremos. Trata-se de uma

    constatao de como qualquer ser humano, mesmo o membro de uma tribo

    primitiva, se comporta socialmente. O passo seguinte a assuno de que os

    mortos ou um deus poderiam ter este tipo de mente. Assim, poderamos

    saber o que esta divindade espera de ns e o que dela poderamos esperar,

    de acordo com nosso comportamento.

    Depois do aparecimento dos espritos e deuses atravs de processos

    iguais ou semelhantes aos descritos, os humanos passariam a associar estas

    entidades com outros tipos de comportamento que poderiam conferir

    vantagens adaptivas ao grupo: paz de esprito, coeso social, transformao

    de sentimentos sociais compaixo com os fracos, respeito pelos mais fortes

    ou mais velhos, esprito de cooperao, sentimento de equidade. Segundo

    pesquisas recentes, grande parte destes sentimentos j estava presentes entre

    chimpanzs e bonobos (De Waal, Taylor, Lewis-Williams).

    Outra viso cientfica do surgimento da crena no sobrenatural coloca o

    problema de forma diferente. Para esta linha de pensamento, representada

    principalmente pelos antroplogos entre eles Steven Mithen e David Lewis-

    Williams alteraes genticas aleatrias no crebro, provocaram na mente

  • 30

    fenmenos diversos. Mithen, por exemplo, se refere a um big-bang da cultura

    humana, ocorrido h 35-40 mil anos, quando ocorreu um repentino

    desenvolvimento na arte, religio e linguagem. Lewis-Williams segue

    aproximadamente a mesma linha de pesquisa, afirmando que a religio

    apareceu antes como sentimento do sagrado em certos indivduos, que depois

    foi transformado em outras funes sociais (arte, religio, instituies, entre

    outros).

    Sem dvida, a religio posteriormente teve uma funo primordial na

    organizao das primeiras sociedades organizadas agrrias. O antroplogo

    Joseph Campbell em seu clssico As mscaras de Deus d religio o papel

    de organizadora das primeiras cidades-estado da Sumria, em cerca de 3.200

    A.C. Atualmente, os movimentos religiosos assumiram outras funes e tm

    influncia na poltica e nos grandes movimentos sociais. Apesar de tudo, no

    entanto, a religio no perde sua atratividade como fenmeno humano

    antiqussimo, sempre presente e como matria de estudo para compreenso

    da natureza humana.

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    Ricardo Ernesto Rose

    Jornalista, Graduado em Filosofia, Ps-graduado em Gesto Ambiental e Sociologia

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