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Revista Científica Gamaliel Fatej / Fadisa | Vol.1 | Nº. 1 | Agosto/Novembro - Ano 2019 | A TEORIA DA PERCEPÇÃO E SUA CORRELAÇÃO COM A TEOLOGIA E A EDUCAÇÃO UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DE TOLERÂNCIA 1 “A percepção do desconhecido é a mais fascinante das experiências. O homem que não tem os olhos abertos para o misterioso passará pela vida sem ver nada”. Albert Einstein RESUMO Os dilemas sociais da atualidade fazem parte do cotidiano dos educadores no Brasil, bem como, estão de alguma maneira conectados à religião. É evidente, que muito dos conflitos sociais no Brasil estão no âmbito das transformações e dos novos contornos que a religião vem recebendo em meio às expressões múltiplas da fé e de suas controvérsias. Assim, este artigo procura elucidar junto aos educadores que atuam no ensino superior, o impacto que o contexto da experiência religiosa protestante no Brasil tem na educação. Ajuíza a força que a religiosidade protestante possui e que emiti opiniões delimitando convicções. Palavra-chave: Religião, Conflito, Educação, Teologia, Tolerância. ABSTRACT The social dilemmas of the present day are part of the daily life of educators in Brazil, as well as, they are somehow connected to religion. It is evident that much of the social conflicts in Brazil are within the scope of the transformations and the new contours that the religion has received amid the multiple expressions of the faith and its controversies. Thus, this article seeks to elucidate with the educators who work in higher education, the impact that the context of the Protestant religious experience in Brazil has on education. It adjusts the force that Protestant religiosity possesses and that it emitted opinions delimiting convictions. Key words: Religion, Conflict, Education, Theology, Tolerance. 1 O termo “Estado de Tolerância” neste artigo tem seus pressupostos baseados na proposta de John Locke no texto intitulado Carta acerca da Tolerância de 1689”; neste, Locke argui que a Tolerância é uma das principais características da verdadeira religião. Para Locke a religiosidade contempla a respeitabilidade às crenças e ao relativismo filosófico que as envolve, de sorte que, para a época da produção do seu texto, Locke foi considerado um liberal, e por esta razão se tornou uma referência no tocante à reflexão entre Religião, Estado e Política. autor Prof. Me. Marcelo Alves Dantas [email protected]

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A TEORIA DA PERCEPÇÃO E SUA CORRELAÇÃO COM A TEOLOGIA E A EDUCAÇÃO – UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O

DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DE TOLERÂNCIA1

“A percepção do desconhecido é a mais fascinante das experiências. O homem que não tem

os olhos abertos para o misterioso passará pela vida sem ver nada”.

Albert Einstein

RESUMO

Os dilemas sociais da atualidade fazem parte do cotidiano dos educadores no Brasil,

bem como, estão de alguma maneira conectados à religião. É evidente, que muito

dos conflitos sociais no Brasil estão no âmbito das transformações e dos novos

contornos que a religião vem recebendo em meio às expressões múltiplas da fé e de

suas controvérsias. Assim, este artigo procura elucidar junto aos educadores que

atuam no ensino superior, o impacto que o contexto da experiência religiosa

protestante no Brasil tem na educação. Ajuíza a força que a religiosidade protestante

possui e que emiti opiniões delimitando convicções.

Palavra-chave: Religião, Conflito, Educação, Teologia, Tolerância.

ABSTRACT

The social dilemmas of the present day are part of the daily life of educators in Brazil,

as well as, they are somehow connected to religion. It is evident that much of the

social conflicts in Brazil are within the scope of the transformations and the new

contours that the religion has received amid the multiple expressions of the faith and

its controversies. Thus, this article seeks to elucidate with the educators who work in

higher education, the impact that the context of the Protestant religious experience in

Brazil has on education. It adjusts the force that Protestant religiosity possesses and

that it emitted opinions delimiting convictions.

Key words: Religion, Conflict, Education, Theology, Tolerance.

1 O termo “Estado de Tolerância” neste artigo tem seus pressupostos baseados na proposta de John Locke no texto intitulado

“Carta acerca da Tolerância de 1689”; neste, Locke argui que a Tolerância é uma das principais características da verdadeira religião. Para Locke a religiosidade contempla a respeitabilidade às crenças e ao relativismo filosófico que as envolve, de sorte que, para a época da produção do seu texto, Locke foi considerado um liberal, e por esta razão se tornou uma referência no tocante à reflexão entre Religião, Estado e Política.

autor Prof. Me. Marcelo Alves Dantas

[email protected]

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INTRODUÇÃO

Este artigo procura demonstrar a teologia, enquanto detentora de critérios

educacionais que justapõe: a compreensão de que a experiência religiosa quando

analisada é uma ferramenta que elucida as limitações racionais inerentes da mente

humana, permitindo assimilar a alienação da razão e o comprometimento da

sociedade atual; analisa a obstrução do diálogo e do respeito que retarda a

consolidação do Estado de Tolerância. Portanto, tem como interesse elucidar e

contribuir com a conscientização dos docentes que atuam no ensino superior, bem

como, auxiliar no exercício das funções pedagógicas. Argui as tensões entre a

consciência teológica e a educação no ensino superior. Atenta para a importância da

percepção que a teologia produz e sua intersecção nos Projetos Pedagógicos de

Curso (PPC). Evoca a conscientização do saber teológico como vetor necessário de

conscientização para a educação no século XXI.

Platão no Livro VII página 317, por meio da alegoria conhecida como Mito da

Caverna argui a importância libertadora da percepção, de forma que, torna-se

impreterível trazer a lembrança sua narrativa que se inicia declarando a importância

da educação, tanto quanto, os prejuízos de sua ausência. A argumentação platônica

supõe uns homens vivendo nos limites de uma caverna subterrânea, onde por uma

pequena fresta se dá uma entrada de luz abrangendo a caverna em seu todo. Os

habitantes da caverna, não conhecem outro universo, senão o da pequena caverna

em que habitam desde a infância, tendo como agravantes algemas e grilhões nas

pernas e pescoços, sendo assim, impedidos de ausentar-se do lugar e tendo a

mobilidade comprometida, de tal maneira que, lhes é facultado permanecer no

mesmo local, e tendo o olhar fixo sempre para frente. Na caverna se faz queimar ao

longe uma fogueira por detrás deles, dando-lhes certa iluminação; a sua frente

encontra-se uma parede tendo o reflexo da iluminação do fogo, nesta se faz projetar

as sombras de movimentação de trabalhadores, animais, dentre outras ocupações.

Contudo, nada mais lhes é acessível, senão as imagens projetadas na dimensão da

parede da caverna, de forma que, uma vez não transpondo o mundo subterrâneo da

caverna para o lado de fora, lhes falta o acesso e conhecimento do universo externo.

O Mito da Caverna tem a intenção de elencar o sentido e o valor da percepção por

meio da ruptura dos limites impostos a experiência humana no interior da caverna.

Portanto, dependendo do lugar e dos acessos que o ser humano possuir, aí se

estabelecerá a sua percepção e sentido da realidade, de forma que, acessível lhe é

apenas as sombras dos que passam do lado de fora da caverna. Ora, o fato é que

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vivendo desde a infância delimitados no mundo subterrâneo da caverna, nunca

tendo acesso ao lado de fora, estavam limitados, não conhecendo outra claridade,

senão à luz da fogueira e as sombras projetadas na parede, porém, sair da caverna

e conhecer a luz do Sol e o universo externo, propõe novos desafios e novas

percepções do mundo exterior a caverna.

Esta introdução, ainda que sucinta, tem como objeto a delimitação e a

importância da teoria da percepção como meio que acessa a realidade. Convém

salientar a importância da teoria da percepção no contexto da teologia, destacando o

seu papel fundamental na elaboração do discurso e no progresso do conhecimento,

viabilizando o Estado de Tolerância.

A percepção é a construção ativa de um estado neural que se correlaciona a elementos biologicamente relevantes do ambiente. Esta correlação, longe de estabelecer uma representação fiel do mundo, guia nossas ações na elaboração de comportamentos adaptativos, sendo, portanto, condicionada por fatores evolutivos. Já que a construção de um percepto é um processo intrinsecamente ambíguo, discrepâncias perceptivas podem surgir a partir de condições idênticas de estimulação (BALDO, 2003:06).

Destaca-se a relevância da percepção, enquanto aquela que constrói,

correlaciona, elabora e guia as ações humanas. Ainda é de sublimidade destacar os

termos, elaboração, adaptação, condicionamentos, evolução, ambiguidade,

discrepâncias; porquanto, assim é a percepção, um universo de sentidos, imagens,

visões e compreensões, que se integram, e que se desintegram cotidianamente,

todavia, mesmo diante de condições idênticas com suas variáveis, permite acessar

fragmentos da realidade.

I - METODOLOGIA DA PESQUISA

O método se constitui de pesquisa bibliográfica, segundo Prodanov o método

bibliográfico se define da seguinte maneira:

Pesquisa bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de: livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo material já escrito sobre o assunto da pesquisa. Em relação aos dados coletados na internet, devemos atentar à confiabilidade e fidelidade das fontes consultadas eletronicamente. Na pesquisa bibliográfica, é importante que o pesquisador verifique a veracidade dos dados obtidos, observando as possíveis incoerências ou contradições que as obras possam apresentar (PRODANOV, 2013:54).

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O método comporta análise bibliográfica interdisciplinar, tanto quanto, das

comparações histórico-sociais, políticas e religiosas descritas em obras literárias.

Este artigo apetece despertar o interesse pela percepção que teologia

proporciona, enquanto teoria que parte do discurso de Deus e da vida, tendo parte

de seus pressupostos caracterizados por grupos através da experiência religiosa de

comunidade, o que de antemão aprovisiona a compreensão da força da religião,

enquanto ajuntamento da fé, considerando a sinergia dos parâmetros de

doutrinação, ou seja, a ação ou esforço simultâneos, cooperação, coesão; trabalho

ou operação associados; portanto, ao se tratar de grupos religiosos, falamos da

percepção de elos que se firmam e crenças que se enrijecem.

Contudo, considera-se que a ortodoxia protestante não é totalmente rígida,

mas de transformações lentas, as palavras do Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S. J.,

auxilia na compreensão de que:

A história do cristianismo nos mostra que o surgimento de seitas cristãs sempre foi acompanhado de crescimento, apogeu e declínio, pois a melhoria das condições econômicas, o aumento da consciência crítica e da escolaridade, e a pouca solidez teológica, são fatores que condicionam a expansão e a retração do fenômeno religioso na sociedade (JACOB, 2013:6).

Assim, sustenta-se que o fenômeno do crescimento religioso, seu apogeu e

declínio, delineasse por meio das questões vinculadas a economia, o aumento da

consciência crítica, da escolaridade e da pouca solidez teológica, condicionando a

expansão e retração do fenômeno religioso. O quadro permite assimilar que

mudanças são partes de um processo histórico-teológico, bem como sociocultural,

de sorte que a análise bibliográfica com ênfase na percepção auxilia para melhor

compressão do fenômeno.

Ainda que o fenômeno da religiosidade no âmbito do protestantismo conte

com certa dose de ortodoxia e conservadorismo, pode se identificar uma crise de

autenticidade, nas palavras do teólogo presbiteriano Lopes, (2007:07), apesar da

grande euforia pelo expressivo crescimento, os protestantes também devem ser

compreendidos por seus problemas doutrinários, suas crises teológicas, seus grupos

sectários e extremistas, um verdadeiro paradoxo que afeta diretamente a questão da

autenticidade.

Embora o universo da experiência religiosa seja tão relativo e complexo,

torna-se necessário refletir sobre a teoria da percepção, como um dos vetores que

abaliza os planejamentos pedagógicos na contemporaneidade.

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2. O PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO A PARTIR DOS

PRESSUPOSTOS DA TEORIA DA PERCEPÇÃO

Considerando algumas autoridades no âmbito da docência no ensino

superior, optei por Agnela da Silva Giusta2, professora Adjunta do Departamento de

Ciências Aplicadas à Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal

de Minas Gerais (UFMG), autora de um artigo, cuja releitura atenta para as “teorias e

concepções de aprendizagem que comumente subsidiam as práticas pedagógicas,

as contradições que marcam a produção do conhecimento psicológico, sendo

desveladas através da explicitação dos pressupostos epistemológicos”. Seus

questionamentos explicitam certa complexidade na psicologia, porquanto, resume

que as teorias não definem o campo total da produção do conhecimento psicológico,

e muito menos o esgotam.

Conforme Giusta, o conceito de aprendizagem emergiu das investigações

empiristas em Psicologia, investigações cujo pressuposto, é de que todo

conhecimento provém da experiência, sendo sua expressão mais imponente o

behaviorismo. Sua reflexão postula que a Gestalt opõe-se ao behaviorismo por ter

um fundamento epistemológico de tipo racionalista, ou, mais precisamente, por

pressupor que todo conhecimento é anterior à experiência, sendo fruto do exercício

de estruturas racionais, pré-formadas no sujeito.

Tendo seu olhar voltado para os educadores do ensino superior, questiona a

tese, de que o tratamento dado à aprendizagem pelas duas correntes em foco é,

antes de tudo, reducionista. O behaviorismo, como toda teoria positivista, reduz o

sujeito ao objeto, já a Gestalt, como uma teoria racionalista, faz o contrário. Para ela

o behaviorismo acentua o primado do objeto, mas ignora a objetividade, destruindo-

se, portanto, pela sua própria prática. Assim, Giusta pressupõe que o behaviorismo

é um objetivismo sem objetividade, a Gestalt é um subjetivismo sem subjetividade, o

que dá no mesmo.

Suas observações levantam questionamentos os quais, segundo ela, devem

nortear os projetos pedagógicos, são considerações que argumentam o fracasso

das ações pedagógicas assentadas na concepção positivista de aprendizagem, as

quais silenciam os alunos, isolam-nos e os submetem à autoridade do saber dos

professores, dos conferencistas, dos textos, dos livros, das instruções programadas,

2 Agnela da Silva Giusta - Professora Adjunta do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação da Faculdade de Educação

da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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das normas ditatoriais da instituição, e tudo isso para chegar a um único resultado:

ao falso conhecimento e à subordinação.

Giusta, com base em (Piaget, 1976-prefácio) aprecia a aproximação dos

trabalhos iniciados por este, bem como, os que incorporam as contribuições dos

especialistas do centro de epistemologia genética, aprovisionando os elementos

necessários, e dando sustentação ao que ele qualifica como ideia central de sua

teoria: a de que "[...] o conhecimento não procede nem da experiência única dos

objetos, nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções

sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas".

A teoria de Piaget é resultante da relação sujeito X objeto, relação essa em que os dois termos não se opõem, mas se solidarizam, formando um todo único. As ações do sujeito sobre o objeto e deste sobre aquele são recíprocas. O ponto de partida não é o sujeito, nem o objeto, e, sim, a periferia de ambos; assim, o desenvolvimento da inteligência vai-se operando da periferia para o centro, na direção dos mecanismos centrais da ação do sujeito (dando lugar ao conhecimento lógico-matemático) e das propriedades intrínsecas do objeto (dando lugar ao conhecimento do mundo). Essa direção no sentido do sujeito e do objeto não deve ser entendida como uma polarização: o conhecimento lógico-matemático e o conhecimento do mundo objetivo se relacionam mutualmente. O pensamento humano pretende, legitimamente, deter a possibilidade, o poder de atingir a verdade absoluta. O pensamento humano pretende possuir a soberania sobre o mundo e o direito absoluto sobre a verdade 'infinita'. O pensamento dos indivíduos não pode ter tais pretensões; é sempre finito, limitado, relativo. Mas essa contradição é resolvida pela sucessão das gerações humanas e pela cooperação dos indivíduos nessa obra coletiva que é a ciência. (LEVEBVRE, 1979:100).

Giusta, com precisão faz considerações que consentem por meio da

psicologia, delimitar o relativismo e a finitude da razão humana, auxiliando na

limitação das concepções de aprendizagem de teor mecanicista e idealista; seus

pressupostos assinalam a necessidade da averiguação no campo da Psicologia, os

quais emitam novas formulações superando as teorias mecanicistas e idealistas.

Para Giusta, a percepção no que diz respeito à aprendizagem, tem sua

demanda no campo da psicologia e da sociologia, isto se refle, quando ao

mencionar Piaget, nota que o sujeito constitui com o meio uma totalidade, sendo,

portanto, passível de desequilíbrio, em função das perturbações desse meio, de

forma que, é impossível encarar a vida psíquica, senão, sob a forma de suas

relações recíprocas. Isso o obriga a um esforço de adaptação, de readaptação, a

fim de que o equilíbrio seja restabelecido; portanto, a adversidade a que o indivíduo

está sujeito o torna escravo das circunstâncias e de uma ética circunstancial, de

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modo que, a educação atua na adaptação, ou no restabelecimento do equilíbrio,

comportando dois processos distintos, porém indissociáveis, que são a assimilação

e a acomodação.

Portanto, Giusta com base nas aproximações epistemológicas da psicologia,

contribui para a apreensão, de que os litígios educacionais e os conflitos sociais

estão estritamente ligados às questões psicológicas, sendo relevante a teoria das

percepções, enquanto fonte e recurso para sensibilização do educador no século

XXI. É sob as bases até aqui sugestionadas, que se fundamentam os argumentos

de que a teologia deve ser vista como necessária e elaboradora de percepções

contundentes para o ensino superior, cuja contribuição é condescendente para o

desenvolvimento do Estado de tolerância.

3. PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO E CONSCIENTIZAÇÃO NO

ENSINO SUPERIOR - A PERSPICÁCIA DA TEOLOGIA

Faz-se necessário levar em consideração o significado de planejamento

educacional, planejamento curricular e planejamento de ensino.

Luckesi3, (1992:121,122) apresenta as três questões de forma relevante,

sendo o "Planejamento Educacional: os procedimentos elaborados sob a lógica que

aborda cientificamente os problemas de educação; definindo prioridades e

considerando a relação entre os diversos níveis do contexto educacional.

Planejamento Curricular: - como uma tarefa multidisciplinar que delimita a

organização de um sistema de relações lógicas e psicológicas, levando-se em conta

a complexidade do conhecimento, porém viabilizando o processo ensino-

aprendizagem; procura relevar a previsão de todas as atividades que o educando

realiza sob a orientação da escola para atingir os fins da educação. Planejamento do

Ensino: - como previsão inteligente das etapas do trabalho escolar que envolvem as

atividades docentes e discentes. Segurança, economia, eficiência da relação ensino-

aprendizagem, possibilitando melhores resultados e maior produtividade. Sob essa

interconexão de educação, currículo e ensino, postula-se o dialogar dos projetos

pedagógicos para a contemporaneidade, e para tanto, a teoria das percepções, junto

à teologia, funciona como um vetor para o planejamento pedagógico e a atividade na

docência do ensino superior.

3 Doutor em Filosofia da Educação pela PUC/SP, Professor da Universidade Federal da Bahia - UFANA -e da Universidade

Federal de Feira de Santana. Planejamento e Avaliação na Escola: articulação e necessária determinação ideológica.

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De acordo com Assmann4 (1998:65) educar é [...] recriar novas condições

iniciais para auto-organização das experiências de aprendizagem [...] educar é ir

criando continuamente novas condições iniciais de transformar todo o espectro de

possibilidade pela frente.

Seguindo este modelo de educação, a EST - Escola de educação Luterana

empenhou-se na busca pelo reconhecimento do Curso de Teologia, sendo a

primeira no Brasil a gozar de seus benefícios.

Em 1985 os luteranos deram mais um passo importante, ao criarem a Escola Superior de Teologia (EST) da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, englobando cinco institutos, ou os cinco ramos da formação teológica – Antigo Testamento, Novo Testamento, Teologia Sistemática, História Eclesiástica e Teologia Prática. Toda esta trajetória dedicada aos luteranos tem como objetivo demonstrar o importante papel que esta denominação teve com o surgimento do Parecer CNE/CES

5 nº 241/1999,

que oficializou o ensino teológico no país, pois a EST foi a primeira instituição teológica brasileira oficializada pelo Ministério da Educação, com o curso de Bacharelado em Teologia.

Entretanto, o fator mais importante na questão da Escola Luterana, está no

aproveitamento no importante papel do Parecer CNE/CES nº 241/1999, oficializando

o ensino teológico no país, sendo a partir deste ano, que a teologia passa a tomar

seu impulso e buscar um diálogo de maior impacto na sociedade brasileira. Portanto,

trata-se de uma área da educação, cujos valores e sentido são ainda desconhecidos

por muitos. De modo que, em se tratando da teologia como processo de educação

no ensino superior e o planejamento educacional na contemporaneidade, torna-se

interessante o argumento de Barbosa (2007:01) ao mencionar que a história da

Educação e a história da Igreja possuíram vínculos expressivos em determinados

momentos, sendo fonte de influências recíprocas; destaca que na Idade Média a

relação educação-igreja foi intensa, a ponto de refletir-se na Igreja como o núcleo

encarregado pela educação visando à garantia da instrução de seus clérigos, bispos

e abades, fomentando nas crianças e jovens as aspirações pela vida religiosa. De

sorte que, a igreja tornou-se responsável pela organização e manutenção da

educação. Cita que Matinho Lutero (1483–1546), monge da ordem de Santo

Agostinho, sustentou a defesa da Reforma do ensino secundário e da universidade,

junto à criação de escolas de educação elementar com acesso a população.

Segunda Barbosa, Lutero é reconhecido como um crítico do sistema educacional de

4 Apud. Edinalva Madalena Almeida Mota / Angela Notarantonio. Planejamento de Ensino Numa Perspectiva Crítica. UNOPAR

Cient., Ciênc. Human. Educ., Londrina, v. 12, n. 2, p. 63-69, Out. 2011. Acesso: 17/01/2018. 5 CNE – Conselho Nacional de Educação / CES – Câmara de Educação Superior.

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sua época, sendo suas concepções baseadas numa educação cristã; menciona que

Lutero em seus escritos ao apresentar uma nova proposta para o currículo escolar,

baseava-se nas obras de Aristóteles julgando-os como livros nocivos, e acusando de

que estes levavam as pessoas para mais longe da Bíblia, assim fazendo uma crítica

ao sistema medieval que se baseava na filosofia de Aristóteles e na qual nada de útil

se aprendia. Observa-se que Lutero fora influenciado por uma formação teológica,

cuja crítica lhe permitiu ir um pouco além de seu tempo combatendo as restrições

impostas pelo sistema religioso de seus dias, contudo seu radicalismo teológico e

sua postura essencialmente bíblica, o colocou em oposição à filosofia Aristotélica.

Evidencia-se em Lutero, o pressuposto de que a teologia atua como fonte de

percepção crítica, porém, também pode se tornar uma fonte restritiva de liberdade,

porquanto, Lutero fixou em seu espírito de Reforma Protestante, a atitude

mantenedora de um estado absolutista, deflagrando intolerâncias, como

consequência, chocou-se com as transformações sociais de seu tempo, cujas raízes

estavam subjacentes no movimento iluminista de sua época, a saber, o século XVI,

movimento este determinante para o desenvolvimento do Estado Laico.

Portanto, é fato que o espírito da Reforma Protestante em sua origem não

coaduna com o espírito, tanto quanto, com os efeitos de uma globalização. De forma

que, não é suficiente aos educadores apenas compreender os pressupostos teóricos

que envolvem o litígio, é preciso entender as questões fundamentais que dificultam a

relação ensino-aprendizagem. Assim, os argumentos da teoria da percepção, junto à

teologia, permitem opinar, de que às crenças estabelecidas no ambiente das

experiências religiosas protestantes de base reformada, fazem parte intrínseca das

barreiras que dificultam o processo de ensino-aprendizagem na história. Ainda sim,

convém avultar, que não é de natureza simplista a interpretação do que se

denomina “Protestantismo”.

Ribeiro (2007:01) discorre de forma sucinta, porém objetiva, a radicalidade

histórica do Protestantismo brasileiro, percorrendo o caminho das obras literárias

publicadas por Oliveira Vianna (1920), Alceu Amoroso Lima (1931) e Gilberto Freyre

(1933); perpassa por diversos autores e títulos, citando Batistas, Presbiterianos,

Metodistas, Igreja Congregacional, Pentecostalismo e Neopentecostalismo,

fundamentando de maneira coerente os períodos e as transformações do

protestantismo no Brasil. O artigo destaca “a diversidade institucional, litúrgica,

doutrinária, ética e política, dentre outras variáveis, indicando a quase

impossibilidade de se estudar o protestantismo brasileiro como um todo”. São bem

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estabelecidas as palavras do pesquisador Robinson Cavalcanti ao dizer que não

existe um protestantismo brasileiro, mas “protestantismos no Brasil”. Todavia, a

presença de um único livro, a Bíblia, onde todos bebem de uma mesma fonte,

unifica e planifica até certo ponto a doutrinação protestante, de maneira que o

absolutismo é a matriz que faz o sustento de pontos específicos da fé cristã. Os

apontamentos fazem menção do impacto da divulgação da Bíblia, bem como da

influência do protestantismo na educação e na cultura brasileira, ainda que haja

evidências das demandas entre católicos e protestantes. O gráfico abaixo mostra a

produção literária, permitindo uma breve percepção da produção intelectual.

Figura 1: Produção Intelectual na América Latina no

Âmbito protestante - Pentecostalismo e Carismatismo

Fonte: O Protestantismo Brasileiro: Objeto em Estudo.

REVISTA USP, São Paulo, n.73.

Uma vez que, o Protestantismo brasileiro se manifesta através do

protecionismo do fiel, sobrepõe imperativamente uma ortodoxia paradoxal marcada

muitas vezes pela falta de lucidez teológica coerente, permanecendo sob um viés

fundamentalista, o que torna evidente um tipo de comportamento, cujas concepções

são apinhadas de resistência. Sendo dada estatística, uma forma de gerir

percepções de um determinado estado ou situação, delimita-se a importância de

gráficos para aguçar e sensibilizar a questão.

Sobre a formação das concepções, Ponte (1992:185) comenta:

As concepções formam-se num processo simultaneamente individual (como resultado da elaboração sobre a nossa experiência) e social (como resultado do confronto das nossas elaborações com as dos outros). As concepções têm uma natureza essencialmente cognitiva. Atuam como uma espécie de filtro. Por um lado, são indispensáveis, pois estruturam o sentido

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que damos às coisas. Por outro lado, atuam como elemento bloqueador em relação a novas realidades ou a certos problemas, limitando as nossas possibilidades de atuação e compreensão.

A ênfase está no elemento bloqueador e limitador que inviabiliza a

compreensão, sendo este um fator preponderante que deve ser levado em

consideração para efeitos de conscientização do educador e seus desafios atuais.

Conforme Jacob (2013) sabe-se que a expansão das igrejas pentecostais

como um ramo do protestantismo se constitui no principal fator da transformação do

perfil religioso no Brasil, principalmente nos anos 1980. Na discussão está a redução

do número de católicos, destacando o crescimento dos evangélicos pentecostais e

arguindo como um dos principais fatores da diversificação religiosa brasileira.

Justapõe o fato, de pessoas que declaram pertencer a uma das religiões do grupo

pentecostal se encontrar em constante aumento no país: 3,9 milhões em 1980, 8,2

milhões em 1991, 17,6 milhões em 2000 e 25,4 milhões em 2010. Exige atenção,

por razão de que a população pentecostal dobra a cada década entre 1980 e 2000 e

no período de 2000 a 2010, o crescimento, apesar de significativo, é inferior ao das

décadas anteriores. Embora o censo e as estatísticas sejam caraterizados pelos

pentecostais delimitados como: “determinados e indeterminados”, e haja uma

variável na questão de identidade, é possível conhecer os indeterminados pelo

estado de trânsito religioso, diagnosticado pelo tipo de comportamento que lhes é

característico. Não obstante, o pentecostalismo contar com diversos grupos, ainda

sim o termo “Pentecostal” atua como força motriz da crença religiosa e mantém uma

identidade que lhes é comum, a saber: a crença numa revelação divina especial e

singular, crença essa que forja a unidade na diversidade dos grupos. Contudo,

impetra-se com clareza a força que o Protestantismo Pentecostal exerce no País, o

que deve ser considerado como relevante na condução dos projetos pedagógicos

que lidam no cotidiano com a mentalidade ortodoxa e absolutista própria do universo

do protestantismo de vertente pentecostal.

Neto6 (2014) faz notório o questionamento acerca da complexidade do

conhecimento, busca em Edgar Morin, o argumento a não existência de ciência

pura, nem verdade pura no conhecimento, partindo dessa premissa, pondera, que

desde o século XVI aspectos da teologia acastelam uma Reforma Protestante, sob a

hipótese de uma ruptura com o catolicismo; este último, interpretado como

experiência religiosa subserviente e manipuladora, subsidiada por um sistema de

6 A Visão de Complexidade de Edgar Morin para o Entendimento da Verdade nos Estudos Organizacionais.

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indulgências dissimulador da verdade; contudo, contraditoriamente, emerge-se o

movimento protestante pentecostal recriando experiências religiosas detentoras de

intepretações subjetivas, carentes de fundamentação metodológica e científica

coerentes. Logo, o argumento do contraditório se funda no que se institui como

Reforma, porquanto, é insustentável a tese da Reforma com base numa verdade

absoluta, senão, quando subsidiada pelo conceito de “revelação7”; porquanto, o

absolutismo é filosoficamente contraditório para atualidade das reflexões

acadêmicas no século XXI.

Figura 2 - Número de Fiéis das Principais Igrejas Pentecostais

Fonte: IBGE, Censo Demográficos de 1991, 2000, e 2010

O gráfico reforça a compreensão do impacto do crescimento e da força do

protestantismo pentecostal no país, entretanto, o objetivo não é criticar o

pentecostalismo em si e sua matriz doutrinária educacional delimitada pela Reforma

Protestante, mas entender o papel da teoria das percepções e da teologia no âmbito

da experiência religiosa protestante e consequentemente mensurar os pressupostos

que auxiliem o desenvolvimento dos projetos pedagógicos da educação no século

XXI. Cabe delimitar o equivocado entendimento daquilo que se apreende por

teologia no seio do protestantismo, visando o diálogo inteligente e interdisciplinar. É

importante enfrentar o litígio que se estabelece e elucidar a compreensão da

importância da teologia na educação, assim, alimentar a análise da teologia,

enquanto fonte de ciência crítica da religião, buscando entender as bases da

7 O conceito de revelação é essencial para a ortodoxia cristã. A fé reformada está alicerçada no entendimento de que a Bíblia é

a revelação especial de Deus inspirada e norma suprema de fé e prática. Após o movimento do humanismo renascentista, a Escritura deixou de ser a única fonte de autoridade para a teologia e outras fontes passaram a ser abraçadas pelos teólogos. No século 20, liberais, neo-ortodoxos e pentecostais passaram a utilizar outros critérios, como a razão, a experiência e a filosofia existencialista - FIDES REFORMATA XII, Nº 2 (2007:63-77).

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educação e da transformação social no século XXI. Não se trata de reafirmação de

fundamentalismos, mas da busca de esclarecimentos que promovam a harmonia da

existência humana levando-se em conta o universo do sagrado, através da

conscientização teológica.

Assim, torna-se indispensável aos educadores conhecer o significado e o

papel da teoria das percepções e teologia, bem como, a sua contribuição nos

projetos pedagógicos contemporâneos, visando à construção da interdisciplinaridade

e de uma cosmovisão mais coerente do mundo hodierno. Para isto, é necessário

que os projetos pedagógicos façam a inclusão das disciplinas que agucem as

percepções e que sejam consideradas relevantes para o currículo, de forma que

falem imperativamente a realidade humana contemporânea, com efeito, isto só pode

ser realizado a partir do estudo analítico em busca do sentido e do valor que a

disciplina possui, assim, esse artigo propõe a valorização e necessidade da teoria

das percepções com base na teologia para os projetos pedagógicos.

Segundo Morin (1990:11),

“Todo conhecimento opera por seleção de dados significativos e rejeição de dados não significativos: separa (distingue ou desune) e une (associa, identifica); hierarquiza (o principal, o secundário) e centraliza (em função de um núcleo de noções mestras)”.

Nos termos da teologia, enquanto percepção, a seleção de dados

significativos, bem como, sua rejeição, está conectada à reciclagem dos métodos

justapostos para a aquisição do conhecimento, tanto quanto, no acesso a

historiografia, porquanto, na teologia, os dados histórico-culturais são vetor

importante no diálogo das estruturas sociais, na percepção do conceito de tolerância

de cada geração, e no desenvolvimento da cosmovisão de cada indivíduo.

Neto, (2014:3) elenca que estudar o homem, tanto quanto o seu

comportamento, abarca dimensões complexas e específicas, sendo objeto de difícil

mensuração, cabendo ao estudo das ciências sociais e humanas a ação reflexiva

que busca desvendar os seus mistérios, a força motriz dessa empreitada está na

particular concepção de que o homem como objeto científico, é uma ideia surgida

apenas no século XIX, tendo a Filosofia como aquela que sempre assumiu esse

legado.

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Figura 3 – Pentecostais no Brasil em 2010

Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2010

Conforme o gráfico do total dos evangélicos pentecostais que moram na

cidade de São Paulo, 44% não têm instrução ou possuem no máximo ensino

fundamental incompleto. Dados que aproximam a percepção que, embora seja

relativa, de certa forma aponta e delimita a importância do planejamento

pedagógico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo permite refletir e dar importância à teoria das percepções,

como um importante vetor na análise do fenômeno religioso do protestantismo no

Brasil, marcado pelas manifestações de crescimento, de apogeu e declínio, tanto

quanto, de mudanças lentas e falta de solidez teológica. Destaca-se a expansão e a

retração deste fenômeno religioso e suas implicações no contexto da educação. As

indicações subsidiam a teoria das percepções, enquanto instrumento dos

planejamentos pedagógicos contemporâneos, sua atualização mediante os

processos de reflexão histórica e psicológica a partir da teoria das percepções

conforme proposta por Giusta. O artigo permite a conscientização da crise de

autenticidade dos evangélicos protestantes, seus problemas doutrinários, crises

teológicas, presença de grupos sectários e extremistas, sendo este cenário um

paradoxo que afeta diretamente a educação no Brasil, a vida em sociedade, e a

questão do desenvolvimento de um Estado de Tolerância.

A teoria das percepções pondera a realidade das transformações lentas do

protestantismo brasileiro e os relaciona a conscientização, lançando as bases da

educação na contemporaneidade. Especificamente considera a vertente pentecostal

evocando a importância de uma percepção da alteridade religiosa, bem como, de

suas implicações para o contexto da educação no Brasil. Assim, os dados do artigo,

quando comparados, apontam que a teoria das concepções, junto à teologia, pode

contribuir com uma maior na percepção da realidade e aprimorar os planejamentos

educacionais. Evoca a responsabilidade dos educadores de curso superior de

teologia, uma vez que são estes os idealizadores dos princípios que norteiam as

bases da educação religiosa e do diálogo no cotidiano, de modo que, estes possam

militar diligentemente e diretamente nos projetos pedagógicos com maior exatidão.

Propõe a leitura sob o prisma da psicologia-teologia e as tensões vigentes na

contemporaneidade, em busca de soluções que atenuem as demandas e lancem luz

no desenvolvimento do Estado de Tolerância.

Assim, sugestiona que os projetos pedagógicos atuais, no exercício da

docência em nível superior, tenham em sua matriz curricular apontamentos que

valorizem a percepção da realidade como elemento intrínseco dos educadores no

século XXI.

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RIBEIRO, Lidice Meyer Pinto. O Protestantismo Brasileiro: Objeto em Estudo. REVISTA – USP. São Paulo - n.73, p. 117-129, março/maio 2007. Artigo originalmente apresentado em forma de capítulo da tese de doutorado em Antropologia Social, apresentada à FFLCH-USP, intitulada “Religião/Magia/Vida de um Protestantismo Rural”, sob a orientação da profª. Drª. Margarida Maria Moura.

Autor – Me. Marcelo Alves Dantas

Docente FATEJ / FADISA Bacharelando em Direito - UNIESP/FAPAN Mestre em Ciências da Religião - UMESP; Mestre em Teologia do Novo Test. - FTBSP; Docência do Ensino Superior - UNOPAR; Bacharel em Teologia - UMESP. E-mail: [email protected]