A Teoria das Restrições numa análise preliminar do mercado ... · brasileiro com a utilização...
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A Teoria das Restries numa anlise preliminar do mercado de biodiesel do Brasil com nfase nas oleaginosas.
Santos, F. do N. R dos; Jesus, E. S. de; Pereira, A. N.; Cogan, S.
Custos e @gronegcio on line - v. 4, n.3 - Set/Dez - 2008. ISSN 1808-2882 www.custoseagronegocioonline.com.br
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A Teoria das Restries numa anlise preliminar do mercado de biodiesel do Brasil com nfase nas oleaginosas.
Recebimento dos originais: 12/10/2008 Aceitao para publicao: 30/04/2009
Flvia do Nascimento Reis dos Santos Mestranda em Cincias Contbeis pela FACC/UFRJ Instituio: Universidade Federal do Rio de Janeiro
Endereo: Av. Pasteur, 250 Campus da Praia Vermelha Urca Rio de Janeiro - RJ. CEP: 22.290-240 E-mail: [email protected]
Esdras Silva de Jesus
Mestrando em Cincias Contbeis pela FACC/UFRJ Instituio: Universidade Federal do Rio de Janeiro
Endereo: Av. Pasteur, 250 Campus da Praia Vermelha Urca Rio de Janeiro - RJ. CEP: 22.290-240
E-mail: [email protected]
Antnio Nunes Pereira Mestrando em Gesto e Estratgia em Negcios pelo PPGEN/UFRRJ
Instituio: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Endereo: BR 465, Km 7
Seropdica RJ. CEP: 23.890-000 E-mail: anpenc[email protected]
Samuel Cogan
Doutor em Engenharia de Produo pela UFRJ Instituio: Universidade Federal do Rio de Janeiro
Endereo: Av. Pasteur, 250 Campus da Praia Vermelha Urca Rio de Janeiro - RJ. CEP: 22.290-240
E-mail: [email protected] Resumo O presente artigo procura discutir o processo de escolha dos insumos bsicos para a cadeia do biodiesel na matriz energtica brasileira, a partir da simulao de aplicao da teoria das restries. Faz-se um panorama sobre os leiles realizados pela Agncia Nacional de Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis (ANP), que foram institudos com o propsito de garantir o mercado de compra do biodiesel para diminuir o risco dos investimentos em plantas de produo de biodiesel. Utiliza-se a teoria das restries para analisar dois aspectos especficos deste mercado: a capacidade de produo instalada versus a demanda por biodiesel no perodo de 2006 at 1 semestre de 2008 e a eficincia na produo do biodiesel utilizando diferentes oleaginosas (plantas para produo do leo). A discusso do estudo parece sinalizar que a flexibilizao de outras fontes, alm da soja, seja uma alternativa importante para contornar o alto custo desse insumo, bem como a falta de produo em escala de outra cultura alternativa. Palavras-chave: Biodiesel, Teoria das Restries, Oleaginosas.
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1. Introduo
Atualmente, o biodiesel despontou globalmente como alternativa factvel ao uso do
petrleo devido reduo da oferta de petrleo e aos aumentos constantes de seu preo.
Contudo, em mbito nacional dificuldades na viabilizao dessa fonte alternativa podem
ensejar estudos no intuito de acelerar o alcance dos objetivos dos agentes privados e pblicos
que atuam nessa cadeia ou pelo menos reduzir as chances de perda de valor.
recorrente a referncia do biodiesel desde o final do sculo XIX com a criao dos
motores diesel. Diversos testes com leos vegetais foram realizados por Rudolf Diesel,
inventor do motor a diesel. Ainda que os resultados fossem satisfatrios, o baixo custo do
leo diesel de fonte mineral levou a descontinuidade do uso de leo vegetal como
combustvel de longa utilizao (AGARWAL, 2007).
No Brasil, a trajetria do biodiesel comeou a ser delineada com as iniciativas de
estudos pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), na dcada de 20 do sculo XX, e ganhou
destaque em meados de 1970, com a criao do Pr-leo Plano de Produo de leos
Vegetais para Fins Energticos, que nasceu na esteira da primeira crise do petrleo (SEBRAE,
2007, p. 16).
Em 1980, o Conselho Nacional de Energia ampliou o escopo do ento defasado Pr-
leo com o Programa Nacional de leos Vegetais para Fins Energticos. O objetivo do
programa era promover a substituio de at 30% de leo diesel apoiado na produo de soja,
amendoim, colza e girassol. Novamente aqui, a estabilizao dos preos do petrleo e a
entrada do Prolcool, juntamente com o alto custo da produo e esmagamento das
oleaginosas, foram fatores determinantes para a desacelerao do programa (SEBRAE, 2007,
p. 16).
Segundo Ryan et al (1984 apud ALI; HANNA, 1994), periodicamente, durante as
crises de petrleo, o biodiesel tem sido utilizado como diesel, porm devido ao
restabelecimento do preo econmico do diesel derivado do petrleo, o biodiesel no
permanece na matriz energtica.
Verifica-se ento uma histria de avanos e retrocessos na produo do biodiesel
brasileiro que emerge como alternativa em momentos de crise do petrleo e, em seguida,
sucumbem capacidade de produo de derivados de petrleo e do biocombustvel lcool
anidro.
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Em 13 de janeiro de 2005, foi sancionada a Lei 11.097, que introduziu o biodiesel na
matriz energtica que permitiu a mistura de 2% de biodiesel no diesel e estipulou prazo de
trs anos para a mistura se tornar obrigatria, conforme Figura 1. Em 2013, oito anos aps a
promulgao da lei, o percentual obrigatrio de mistura ser de 5%.
Figura 1 Cronograma de evoluo do Programa Nacional de Produo e Uso do Biodiesel (PNPB)
Fonte: Adaptado de Sebrae (2007).
No entanto o mercado de biodiesel no Brasil se iniciou, de fato, em 2006, com
compras de combustvel via leilo da ANP.
Pela lei brasileira o biodiesel definido como biocombustvel derivado de biomassa
renovvel para uso em motores a combusto interna com ignio por compresso ou,
conforme regulamento para gerao de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou
totalmente combustveis de origem fssil.
Sendo que as especificaes para biodiesel no Brasil, tratadas na Resoluo da ANP
n 42 de 24/11/2004, so menos restritivas que na Europa, de forma a permitir a produo do
biodiesel com base em diversas matrias-primas. Essa flexibilizao das especificaes pode
contribuir no s para maior competitividade entre matrias-primas, mas tambm para a
diversificao da produo em termos regionais.
Nesse ponto, o estudo objetiva identificar fatores que possam ser tratados luz da
Teoria das Restries no processo de escolha dos insumos bsicos da produo do biodiesel.
A utilizao dessa metodologia pode sugerir insights para os gestores e empreendimentos
dessa cadeia produtiva inovadora.
2005 a
2007 (2% autorizativo)
2008 a
2012 (2% obrigatrio) (5% autorizativo)
2012 em diante (5% obrigatrio)
Mercado Potencial800 milhes de litros/ano
Mercado Firme1 bilho de litros/ano
Mercado Firme2,4 bilhes de litros/ano
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2. Metodologia
A presente pesquisa pode ser considerada exploratria e descritiva (MARTINS;
THEPHILO, 2008). Foram selecionadas informaes junto a fontes oficiais, eventos
cientficos com foco em gesto e literatura sobre o tema. Destacam-se nos materiais, os
marcos regulatrios e as sries de produo do biodiesel que materializam as polticas dessa
relevante alternativa energtica. Em especial, os documentos foram coletados prioritariamente
de portais governamentais como o do biodiesel e da ANP, alm de fontes bibliogrficas como
relatrios setoriais do BNDES e do Ministrio de Minas e Energia.
Para atender o objetivo de simulao da aplicao da Teoria das Restries na escolha
da matria-prima no processo produtivo do biodiesel, em comparao ao leo de soja, buscou-
se identificar informaes bsicas de produtividade disponveis sobre o biodiesel e as diversas
oleaginosas. A partir da pesquisa bibliogrfica construiu-se essa simulao no mercado
brasileiro com a utilizao de planilha eletrnica comercial para os clculos e simulaes.
Assim, neste estudo, o boletim do Ministrio de Minas e Energia forneceu as
informaes de preo e volumes. Enquanto que do Centro de Estudos Avanados em
Economia Aplicada da Universidade de So Paulo (ESALQ/USP) utilizou-se os custos de
produo por regio geogrfica.
As propriedades qumicas e energticas do biodiesel padronizado por oleaginosa no
so escopo desse trabalho, sendo adotada a premissa de gerao energtica idntica
independente da oleaginosa adotada, o que constitui uma limitao.
3. O Biodiesel
O biodiesel um combustvel derivado de fontes naturais e renovveis, seja
proveniente de gordura animal ou leo vegetal in natura ou residual. O biodiesel resultante
menos poluente do que o leo diesel convencional, alm de ser semelhante ao diesel em suas
principais caractersticas. Pode ser utilizado puro ou misturado ao diesel em quaisquer
propores, em motores do ciclo diesel, sem a necessidade de grandes modificaes
(AGARWAL, 2007).
Holanda (2004 apud AMORIM, 2005) apresenta como potenciais matrias-primas do
biodiesel a baga de mamona, polpa de dend, amndoa do coco de dend, amndoa do coco
de babau, semente de girassol, amndoa do coco da praia, caroo de algodo, gro de
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amendoim, semente de canola, semente de maracuj, polpa de abacate, caroo de oiticica,
semente de linhaa, semente de tomate e de nabo forrageiro. O autor tambm menciona que
entre as gorduras animais, destacam-se o sebo bovino, os leos de peixes, o leo de mocot, a
banha de porco, entre outros. Mesmo leos e gorduras residuais, resultantes de processamento
domstico, comercial e industrial podem ser utilizados como material-prima do biodiesel.
O biodiesel tem sido obtido por diferentes processos qumicos, tais como esterificao,
transesterificao e craqueamento trmico. No caso da esterificao, um ster obtido a partir
da reao de um cido com um lcool. Na transesterificao, o processo inicia-se juntando o
leo vegetal ou gordura animal com lcool (metlico ou etlico) e ainda um catalisador
(hidrxido de sdio ou hidrxido de potssio) para acelerar o processo. Aps a reao, obtm-
se a glicerina e o ster (biodiesel). O craqueamento um processo qumico que tem como
objetivo dividir em partes menores um composto pela ao de calor e/ou catalisador.
A transesterificao o processo mais difundido no mundo e no Brasil. Dependendo
do tipo de lcool empregado na reao, o biodiesel pode ser do tipo metil-ster (oriundo da
utilizao do metanol) ou etil-ster (etanol), que gera como subprodutos o farelo, a torta e a
glicerina. A glicerina um produto de alto valor agregado quando utilizado na indstria
farmacutica, de cosmticos e alimentos e bebidas, entre outros.
provvel que outros processos surjam ou estejam em franca utilizao no Brasil e no
mundo. Poder-se-ia antecipar a descrio e a comparao dos mesmos, contudo, a
apresentao da sntese de Parente (2003) faz-se necessria e suficiente para os objetivos do
presente.
O fluxograma a seguir uma forma simplificada de apresentar os elos das cadeias
produtivas do biodiesel, considerando a multiplicidade de matrias-primas.
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Figura 2 Processo de produo do biodiesel Fonte: Parente (2003 apud PRATES; PIEROBON; COSTA, 2007).
4. Leiles de Compra de Biodiesel pela Agncia Nacional de Petrleo, Gs Natural e
Biocombustveis (ANP)
Em 2005, o Governo percebeu a necessidade de estudar mecanismos visando
antecipao da comercializao durante o perodo em que a mistura estava autorizada, porm
em carter voluntrio. Para isso, o Conselho Nacional de Poltica Energtica (CNPE), em
23/9/2005, por meio da Resoluo n 3, autorizou a realizao dos leiles pblicos pela ANP,
sob a assessoria tcnica do Ministrio de Minas e Energia (MME). Esse, por meio da Portaria
483, de 03/10/2005, estabeleceu as diretrizes para realizao, pela ANP, dos leiles pblicos
de aquisio de biodiesel, posteriormente regulamentados pela Resoluo da ANP n 31, de
04/11/2005.
Nessa Resoluo, foram autorizados a comprar o biodiesel os produtores e
importadores de diesel mineral, com fornecimento provido pelos produtores que possuam o
Selo Combustvel Social ou que possuam os requisitos necessrios obteno do referido
selo, o chamado Enquadramento Social. Alm disso, a ANP indica as quantidades mximas
ANIMAIS MO-DE-OBRA LEOS E GUAS VIVOS E INSUMOS GORDURAS SERVIDAS
COUROS GROS LEOS MATRIA E PELES AMNDOAS RESIDUAIS GRAXA
LEO LEO DEBRUTO FRITURAS
LEOS EGORDURASRESIDUAIS DE ESGOTOS
FARINHA DE CARNE GORDURASOU DE DE ANIMAISOSSOS
LCOOL OUTROS INSUMOS
CATALISADOR
BIODIESEL GLICERINA
TORTA OUFARELO
ABATEDOUROS E
FRIGORFICOS
LAVOURAS E PLANTIOS DE
OLEAGINOSAS
CURTUMES
PROCESSO DE EXTRAO COM GUA QUENTE
EXTRAO MECNICA E/OU POR SOLVENTE
REFINAO DO
LEO BRUTO
FRITURAS COMERCIAIS E INDUSTRIAIS
ESTAES DE TRATAMENTOS
DE ESGOTOS
PROCESSOS EM FASE DE
P&D
REFINAO DO LEO
RESIDUAL
ACUMULAO E
COLETA
LEOS E GORDURASPARA BIODIESEL
PROCESSO DE PRODUO DE BIODIESEL
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de combustvel a serem adquiridas, assim como estabelece, para cada leilo, em seus
respectivos editais, o preo (mximo) de referncia (PEREIRA, 2008).
Esses leiles foram importantes para estimular os investimentos na produo de
biodiesel, pois garantiam uma demanda pelo produto e, em tese, diminuiriam a incerteza do
mercado no perodo em que a adio do biodiesel ao combustvel mineral ainda era
voluntria. Pois, antes, os produtores temiam que os distribuidores e postos no adquirissem a
mistura, vez que seria provvel que o biodiesel, produzido em menor escala, fosse mais caro
que o diesel mineral. Estudos posteriores, entretanto, questionam a poltica de manuteno de
preos como ferramenta de mitigao de riscos da cadeia face ausncia de matrias-primas,
elevao de insumos e mercados alternativos de maior valor para os produtores. Quadro 1 - Resumo dos Leiles
Leilo 1 Leilo 2 Leilo 3 Leilo 4 Leilo 5 Leilo 6 e 7 Ms de realizao Nov/05 Mar/06 Jul/06 Jul/06 Fev/07 Nov/07 Volume (milhes de litros) 70 170 50 550 45 380 Preo Mdio de Fechamento (R$)
1,905 1,860 1,754 1,746 1,862 1,866
Prazo de Entrega Em 2006 Jul/06 a jun/07 Em 2007 Em 2007 Em 2007 1 sem 2008 Fonte: Boletim Mensal dos Combustveis Renovveis (2008).
5. Selo Combustvel Social
O Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA) mediante a Instruo Normativa
n1, de 05/07/2005 determinou os critrios e procedimentos necessrios para a aquisio,
manuteno, renovao, suspenso e cancelamento da concesso, bem como a utilizao do
Selo Combustvel Social como certificado. O intuito social do Governo ampliar a gerao
de empregos na cadeia produtiva do biodiesel incluindo o agricultor familiar, beneficirio do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), conforme Decreto
n 1.946, de 28/06/1996, alterado pelo Decreto n 3.991, de 30/10/2001 (PRATES;
PIEROBON; COSTA, 2007).
Esses autores destacam, ainda, alguns critrios regulados por meio de contratos, a
saber: a exigncia de prestao de servios de assistncia tcnica e capacitao aos
agricultores familiares e os percentuais mnimos de aquisio de matria-prima do agricultor
familiar feitas pelo produtor de biodiesel so apresentados na Figura 3. Sendo que as duas
oleaginosas mais utilizadas na obteno do selo combustvel social so: dend e mamona.
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Figura 3 - Percentuais mnimos de aquisio de matria-prima do agricultor
familiar Fonte: Elaborao prpria, a partir de Prates, Pierobon e Costa (2007).
6. A Teoria das Restries (TOC): Vises e Estudos Selecionados
A Contabilidade de Ganhos da TOC (COGAN, 2007) permite que se chegue ao mix
que otimiza o sistema a partir da anlise do ganho por unidade de recurso restrito.
Os fundamentos da Teoria das Restries comearam a aparecer com o fsico
israelense Eliyahu Moshe Goldratt, em 1970. O pesquisador buscou resolver os problemas de
logstica de produo de uma fbrica que produzia gaiolas para aves mediante o emprego do
programa Optimum Production Technology (OPT) (FASSBINDER, 1999). Para o
entendimento do OPT alguns conceitos so destacados no presente trabalho: o ganho e a
restrio.
O ganho foi concebido como ndice no qual o sistema (empresa) gera ganho atravs
das vendas. Goldratt (1991, p. 17) enfatiza que a produo de um produto no significa
efetivo ganho. O ltimo garantido somente atravs das vendas.
Uma leitura didtica para restries trazida por Marques e Cia (1998). Os autores
esclarecem que a restrio um obstculo que limita o melhor desempenho do sistema em
direo meta. Destacam ainda que usualmente, a literatura define as restries fsicas como
gargalos (bottleneck) por estarem ligadas capacidade instalada da fbrica.
Santos et al. (2006) distinguem dois tipos de restrio: a primeira fsica, isto ,
restrio de recurso tal como: mercado, fornecedor, mquinas, materiais, pedido, projeto e
pessoas. Refere-se a uma situao especfica de restrio que tem capacidade insuficiente.
Assim, recurso gargalo trata-se de capacidade inferior demanda colocada nele. Enquanto
que recurso no-gargalo aquele cuja capacidade superior demanda colocada nele,
portanto no h restrio do sistema devido a esse recurso.
Percentual mnimo (%)
5030
10
Nordeste e Semi-rido Sudeste e Sul Norte e Centro-Oeste
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A segunda restrio a poltica que representada por normas, procedimentos e
prticas usuais do passado, que restringe a empresa de aumentar seus lucros.
Os autores seguem tambm a viso de Guerreiro (1999) que advoga que toda empresa
possui uma ou vrias restries. Dessa forma, se no houvesse restries e o sistema fosse
perfeito, o ganho seria infinito.
A teoria das restries determina que o ganho por unidade do fator de restrio deve
ser calculado para verificar o mix de produto mais apropriado mediante a existncia de um
recurso gargalo (COGAN, 2007).
Entretanto, o ganho deve ser definido em termos unitrios, como o resultado da
diferena entre o preo de venda e o gasto na aquisio de matria-prima utilizada na
fabricao do produto vendido. A TOC no considera nenhum tipo de alocao de custos.
Dessa forma, verifica-se uma flexibilidade para fazer oramentos, projees e simular os
virtuais impactos de decises da companhia (CIA; CIA; MARQUES, 1997).
Assim, pode-se perceber que o processo tem no apenas a simplicidade analtica, mas
propicia um acompanhamento de recursos que se tornam crticos na criao de gerao de
resultados para a empresa.
A partir da existncia de alguma restrio, Goldratt (1994) descreve o processo
decisrio da teoria das restries. Esse processo consiste em identificar as foras restritivas e
foras propulsoras, o que permite focalizar na soluo de problemas em seus sistemas de
produo mediante a seqncia de cinco passos que incluem a identificao, a explorao, a
tomada de deciso, a elevao das restries e o reincio do processo do estudo dos gargalos.
De acordo com Luchi (2006), os diversos especialistas em TOC como Noreen, Corbett
Neto, Guerreiro, Marques e Cia, alm de Cox e Spencer, embora, refiram-se aos mesmos
princpios e procedimentos, denominam essas cinco etapas de forma diferente, a saber:
Processo de Aprimoramento Contnuo, Processo de Otimizao Contnua da Teoria das
Restries, Processo Decisrio e Processo de Focalizao de Cinco Etapas.
Em conformidade com Santos et al (2006), o incio de todo o processo passa a ser a
identificao da restrio ou das restries do sistema para se determinar o fator limitante do
sistema. Conhecido os elementos de restrio do sistema preciso explorar ao mximo os
recursos disponveis para, s ento, dar seqncia ao processo.
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Esquematicamente, a Figura 4 sintetiza o processo de gerenciamento por restries,
por assim dizer.
Figura 4 - Circuito da TOC Fonte: Elaborao prpria, a partir de Goldratt (2002).
No presente estudo, encontra-se tanto a restrio fsica de mercado quanto de
fornecedor de matria-prima. A segunda restrio que a poltica foi instaurada para a
introduo dessa nova matriz energtica no Brasil. Talvez num futuro com a consolidao
desse novo mercado, essa restrio poltica deixe de existir.
Aps a definio de como as restries sero exploradas, os recursos no-limitadores
devero ser subordinados s restries do sistema, ou seja, as necessidades das restries
determinam o programa de produo das no-restries, as quais devero fornecer tudo o que
as restries precisam na medida exata, nem mais nem menos, para que no haja perda de
recursos (SANTOS et al, 2006).
No intuito de verificar a aplicao da Teoria das Restries na cadeia de produo do
biodiesel, ser efetuada uma simulao. Assim, na primeira fase do processo, partindo do
pressuposto da identificao do gargalo quanto ao fornecimento de matria-prima, busca-se a
explorao do sistema com o objetivo de estabelecer qual a oleaginosa que passando pela
restrio, fornece o maior ganho global. Na terceira etapa do processo, os demais recursos
no-restritivos devem contribuir na performance" do ganho global. O passo seguinte que
Identificar gargalos
Explorar as restries do sistema
Suportar decises sob as restries
Elevar as restries do sistema
Recomear a anlise de
outros gargalos
S
N
Gargalo removido?Gargalo removido?
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elevar as restries do sistema somente pode ser considerado, depois do cumprimento dos
passos anteriores, pois pode necessitar de investimentos em materiais, maquinrios.
7. Anlise da Produo versus Consumo pela TOC
Mundialmente, h uma conveno de nomenclatura para identificar a concentrao do
biodiesel na mistura: BXX, onde XX a percentagem em volume do biodiesel mistura. Por
exemplo, o B2, B5, B20 e B100 so combustveis com uma concentrao de 2%, 5%, 20% e
100% de biodiesel, respectivamente.
A figura 5 sinaliza que a capacidade instalada para produo do biodiesel est muito
acima da demanda esperada de consumo para a mistura B2 no incio de 2008. Portanto,
provvel que foram feitos muitos investimentos na construo de plantas industriais para
produo do biodiesel sem levar em considerao a demanda restrita. Conforme estabelece a
TOC a deciso de investimento para aumentar a produo deveria estar condicionada ao
volume do recurso restrito que neste caso a demanda de consumo na ordem de 800 milhes
de litros, aproximadamente, calculada em funo da produo de diesel em 2006.
Figura 5 Biodiesel: evoluo da produo e da capacidade produtiva mensais Fonte: Boletim Mensal dos Combustveis Renovveis (2008).
factvel que esse excesso de investimentos na produo sem o devido crescimento
da demanda ocasionar perdas aos investidores conforme preconiza a ordem no processo
decisrio da TOC.
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8. Anlise da Melhor Matria-Prima para Produo do Biodiesel com Simulao da
Aplicao da Toc
Algumas instituies no Brasil criaram uma espcie de rede para viabilizar o biodiesel.
Em especial, a Embrapa que est contribuindo com o programa brasileiro do biodiesel,
mediante a disponibilizao de sementes de qualidade das culturas que servem de matria-
prima para a produo do biodiesel, tais como: dend, mamona, girassol, soja, entre outras
culturas, cujo leo vegetal extrado para a produo do biodiesel. o caso da mamona para
Nordeste e semi-rido, do dend para a regio Norte e da soja para o eixo centro-sul do pas,
por exemplo.
Khalil (2006, p. 84) comenta que a produo de biodiesel em larga escala deve
observar alguns aspectos estratgicos, a saber: a sazonalidade, produtividade e risco da
cultura; a mecanizao do plantio, da colheita e do beneficiamento da safra; as tcnicas de
armazenamento, de escoamento e de transformao de gro. Dessa forma, a atratividade
econmica do agronegcio deve elencar as diversas oleaginosas brasileiras por produo de
leo por unidade agrcola (Kg de leo/ha.ano) (Quadro 2).
Quadro 2 - Valores mdios de produtividade e teor de leo em algumas oleaginosas brasileiras
Tipo de Oleaginosa
Teor de leo (% m3)
Produtividade (kg/ha ano)
Produo de leo (kg/ha ano)
Mamona 50 2.500 1.250 Girassol 42 1.600 672 Amendoim 40 1.800 720 Gergilim 39 1.000 390 Colza 38 1.800 684 Pinho 33 4.000 1.320 Dend 20 10.000 2.000 Soja 18 2.600 468 Algodo 15 1.800 270 Babau 6 12.000 720
Fonte: Khalil (2006).
Khalil (2006) elaborou, ento, uma espcie de quadro regionalizado acerca da
viabilidade das culturas oleaginosas. Pode-se verificar que em termos de viabilidade a
mamona superada pela soja e algodo, culturas aptas em 4 regies brasileiras, conforme
Quadro 3.
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Quadro 3 - Potencialidade de oleaginosas brasileiras por regio geogrfica Cultura Norte Centro-Oeste Sul Nordeste Sudeste
Soja X X X X Algodo X X X X Mamona X X X Dend X X Babau X X Girassol X X X Nabo X Colza X Pinho X X Coco X
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Khalil (2006).
O programa brasileiro do biodiesel delimitou esse mercado sendo de 2% a 5% do
mercado de diesel fssil brasileiro, um market-share garantido por regulao, ou seja, um
mercado razovel, estimado, conservadoramente, em R$ 1.44 bilhes (800 mil m de diesel a
R$ 1,8/litro) com um impacto considervel na economia de qualquer pas (PEREIRA e
LIMA, 2008). Contudo, no obstante a tradio da cultura da soja no Brasil espera-se que
ocorra a participao expressiva de outras oleaginosas no processo de produo do biodiesel.
Numa primeira leitura do Quadro 2, a cultura mais rentvel seria a do Pinho Dend,
sem considerar outros aspectos passveis de incluso nessa anlise. Estudos realizados pelo
Plo Nacional de Biocombustveis e pelo Centro de Estudos Avanados em Economia
Aplicada (Cepea) da Esalq-USP apresentam o biodiesel produzido a partir de leo de caroo
de algodo como o mais vivel economicamente, pois um litro desse biodiesel poderia ser
produzido pelo mnimo de R$ 0,66 na safra 2004/2005. (OLIVRIO, 2006, p. 113).
O algodo, contudo, pelo Quadro 4 a seguir, seria um fator limitador visto que sua
produo limitada, inviabilizando a produo do biodiesel nacional liderado pela cultura.
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Quadro 4 - Produo de leos vegetais no Brasil (x1.000t)
Brasil Jan-Dez/2002 Jan-Dez/2003 Jan-Dez/2004 Part. 2004
leo de Soja 4.937,0 5.387,0 5.571,0 89,2%
leo de Algodo (Caroo) 195,7 217,0 268,4 4,3%
leo de Palma (Dend) 118,0 129,0 140,0 2,2%
leo de Girassol 55,7 62,1 74,6 1,2%
leo de Milho 45,9 39,7 63,6 1,0%
leo de Mamona 40,1 20,4 60,8 1,0%
leo de Colza (Canola) 16,9 21,8 22,8 0,4%
leo de Amendoim 28,1 14,5 21,8 0,3%
leo de Palmiste 13,3 2,0 15,8 0,3%
leo de Linhaa 1,7 1,9 2,1 0,0%
leo de Coco 1,9 1,9 0,0
TOTAL 5.454,3 5.950,4 6.242,8 100,0%
Fonte: Adaptado de Oil World Annual (2005 apud DALLAGNOL, [200-]).
O boletim mensal do Ministrio de Minas e Energia apresenta a influncia do preo da
matria-prima no custo de produo do biodiesel, pois o leo vegetal representa cerca de 80%
do preo final do biodiesel no produtor, sem tributos. Em fevereiro/2008, a cotao
internacional do leo de soja de aproximadamente de R$1,95/litro (07/02/2008),
conseqentemente, acarretaria um preo final do biodiesel no produtor, sem tributos, na
ordem de R$ 2,44/litro.
Considerando, o preo mdio de R$ 2,186/l, incluindo os tributos federais e custos de
transporte na aquisio pela Petrobras e Refap no leilo de dezembro/2007, alm de observar
os demais pontos destacados anteriormente, ser efetuada uma simulao da aplicao da
TOC no processo decisrio da produo de biodiesel.
Baseado nos valores obtidos no trabalho realizado pelo Cepea (Centro de Estudos
Avanados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a Dedini Indstria de
Base, responsvel pela maior parte das usinas de biodiesel em construo no Pas efetuou-se a
simulao dos custos da matria-prima do biodiesel nesse processo, conforme Quadro 5
apresentado a seguir:
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Quadro 5 Biodiesel a partir de matria-prima agrcola a custo de produo agrcola (com arrendamento) em planta de 40 mil t/ano Safra 2004/5 (R$/l)
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Soja 1,167 Soja 1,670 Soja 0,883 Soja 1,247 Soja
1,786 Dend 1,231 Mamona 1,585 Girassol 1,034 Amendoim
1,610 Girassol 1,649
Caroo de algodo 0,712
Caroo de algodo 0,975
Girassol 1,534
Fonte: Centro de Estudos Avanados em economia Aplicada ESALQ/USP (2006).
Custo Mnimo: Considera despesas e resultados (positivos/negativos) dos subprodutos gerados nos processos industriais; Equilibra custos e receitas da unidade industrial integrada (esmagamento + usina biodiesel).; Nota: Os valores acima derivam de clculos que consideraram:
* custo agrcola com arrendamento; * venda do lcool hidratado - portanto, sem coluna desidratadora.
A identificao do produto mais lucrativo, na leitura do Quadro 6, o algodo na
Regio Nordeste, seguidos pela soja e pelo algodo na Regio Centro-Oeste. Sendo a soja na
Regio Sul a matria-prima menos lucrativa. Todavia, tornar-se necessrio atentar para as
restries do sistema produtivo. Assim, numa simulao, aplicando os percentuais do Quadro
4 e a teoria das restries, o amendoim participaria somente com 0,3% do volume arrematado,
a mamona com 1,0%, o girassol com 1,2%, o dend com 2,2%, o caroo de algodo com
4,3% e a soja com os 91,0% restantes. Quadro 6 - Simulao do lucro global por oleaginosa
Fonte: O autor (2008)
Tipo de Oleaginosa por Regio Receitas de Vendas($)Custos de
produo($/l)Despesas ($/l)
20% dos custosLucro Global
($)
dend (regio Norte) 2,19 1,23 0,25 0,71 soja (regio Norte) 2,19 1,17 0,23 0,79
algodo (regio Nordeste) 2,19 0,71 0,14 1,33 soja (regio Nordeste) 2,19 1,67 0,33 0,18
mamona (regio Nordeste) 2,19 1,59 0,32 0,28 algodo (regio Centro Oeste) 2,19 0,98 0,20 1,02
soja (regio Centro Oeste) 2,19 0,88 0,18 1,13 girassol (regio Centro Oeste) 2,19 1,03 0,21 0,95
soja (regio Sudeste) 2,19 1,25 0,25 0,69 amendoim (regio Sudeste) 2,19 1,61 0,32 0,25
girassol (regio Sudeste) 2,19 1,53 0,31 0,35 soja (regio Sul) 2,19 1,79 0,36 0,04
girassol (regio Sul) 2,19 1,65 0,33 0,21
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Em conformidade com o volume de 380 milhes de litros arrematado nos 6 e 7
leiles por Regio Geogrfica, prioriza-se a oleaginosa participante da simulao que
apresentar maior lucro global, alm de respeitar as caractersticas regionais (Quadro 3).
Considerando que todo o volume seja demandado ao preo mdio arrematado no leilo,
elaborou-se o quadro a seguir: Quadro 7 - Simulao dos custos totais de produo por regio geogrfica
Fonte: O autor (2008)
Assim, utiliza-se os valores unitrios simulados no Quadro 6 na distribuio obtida no
Quadro 7, verifica-se que o resultado do sistema produtivo de biodiesel apresenta um lucro
global de aproximadamente $210 milhes. Quadro 8 - Simulao do lucro global por regio geogrfica
Fonte: O autor (2008)
* Diferena abastecida por outra regio
O Quadro 8 apresenta uma quantidade a ser abastecida por outra Regio. Nesse
aspecto, para completar o volume arrematado nos leiles, considerou-se o custo mdio de
algodo dend sojaNorte dend e soja 36.000 792 35.208 50.463.360 Nordeste algodo, mamona e soja 104.000 4.472 98.488 202.753.200 Centro Oeste algodo, soja e girassol 103.000 4.429 * 93.730 106.068.370 Sudeste soja, amendoim e girassol 55.000 * * 50.050 76.607.850 Sul soja e girassol 82.000 * * 74.620 161.497.360 Total (1) 380.000 8.901 792 352.096 597.390.140 Diferena abastecida por outra regio* (2) 14.126 22.884.120 Total Geral (3) = (1) + (2) 380.000 8.901 792 366.222 620.274.260
Regio Tipo de Oleaginosa da Regio
Volume Arrematado
(m3)
Custos e despesas de produo($/l)
% participao por oleaginosa
Regio Tipo de Oleaginosa Receitas de Vendas($/l) Lucro Global ($)
Norte dend e soja 78.696.000 28.232.640 Nordeste algodo, mamona e soja 227.344.000 24.590.800 Centro Oeste algodo, soja e girassol 217.277.470 111.209.100 Sudeste soja, amendoim e girassol 111.212.750 34.604.900 Sul soja e girassol 165.270.344 3.772.984 * soja 30.879.436 7.995.316 Total 830.680.000 210.405.740
161.497.360
620.274.260
50.463.360 202.753.200 106.068.370
76.607.850
22.884.120
Custos de produo($/l)
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R$ 1,62/litro para a soja que a oleaginosa com maior volume de produo no mercado
brasileiro.
Como a soja a oleaginosa com maior volume de produo no Brasil (Quadro 4),
simulou-se a mesma como nica matriz energtica do biodiesel, verificando-se o lucro global
de aproximadamente $202 milhes (Quadro 9).
Quadro 9 - Simulao do lucro global por regio geogrfica
Fonte: O autor (2008)
9. Aspectos Conclusivos
O presente estudo procurou contribuir com a discusso e avaliao da viabilidade do
biodiesel com aplicao da teoria das restries. Observou-se que houve investimentos em
produo acima da demanda. Esse primeiro fator pode ser considerado uma restrio do
biodiesel brasileiro, visto como um sistema. Em tese, a demanda estimulada e ampliada no
mercado de biodiesel atravs de obrigao legal. Nesse cenrio virtual, a antecipao dos
percentuais para 3% pelo governo ou rgos reguladores poderia ser uma forma de evitar a
perda dos investimentos na produo, uma vez que, aparentemente, o parque fabril j est
preparado para atender ao mercado nesse novo patamar.
A partir do estudo pode-se sinalizar que a produo do biodiesel com a utilizao de
leo de soja como matria-prima a mais factvel, dada a sua alta representatividade na
produo de leos vegetais no Brasil. Entretanto, a TOC demonstrou que existem outras
matrias-primas que podem contribuir com o aumento do lucro global desse mercado, desde
que se pondere a expanso da produo dessas oleaginosas. Ainda que a soja seja
tradicionalmente cultivada em grande escala na maior parte das regies brasileiras, outras
culturas no tradicionais poderiam ter suas participaes ampliadas. Cabe salientar que no s
Regio Tipo de Oleaginosa Receitas de Vendas($/l) Lucro Global ($)
Norte soja 78.696.000 25.416.000 Nordeste soja 227.344.000 19.344.000 Centro Oeste soja 225.158.000 115.978.000 Sudeste soja 120.230.000 37.730.000 Sul soja 179.252.000 3.772.000 Total 830.680.000 202.240.000 628.440.000
109.180.000 82.500.000
175.480.000
Custos de produo($/l)
53.280.000 208.000.000
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o estudo de alternativas de matrias-primas para essa nova matriz energtica, como o prprio
mercado de biodiesel ainda esto em desenvolvimento. As anlises do presente trabalho
demonstram a possibilidade de utilizao da teoria das restries.
Sugerem-se novos estudos que possam alavancar o uso de algodo na produo do
biodiesel em maiores escalas.
Recomenda-se para futuras pesquisas a aplicao da TOC em anlises comparativas
utilizando todas as matrias-primas fornecedoras de leos vegetais para um mercado de
biodiesel a 5% ou 20%.
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APNDICE
Restries como Sub-Ocupao da Capacidade das Plantas de Biodiesel Brasileiras Quadro 10 - A ociosidade como evidncia de gargalos na cadeia de produo do biodiesel no Brasil
Usina Localidade Capacidade (m3/ms) Produo (m3/ms)
Ocupao (1/2)
CARAMURU So Simo/GO 9.375,0 8.695,0 92,7%BRASIL ECODIESEL Iraquara/BA 9.000,0 7.873,6 87,5%COOPERBIO Lucas do Rio Verde/MT 250,0 195,9 78,4%BRASIL ECODIESEL Rosrio do Sul/RS 9.000,0 6.358,6 70,7%BRASIL ECODIESEL So Luis/MA 9.000,0 6.313,9 70,2%BRASIL ECODIESEL Porto Nacional/TO 9.000,0 4.738,0 52,6%GRANOL Anpolis/GO 10.175,0 5.132,0 50,4%BRASIL ECODIESEL Crates/CE 9.000,0 3.992,3 44,4%COMANCHE Simes Filho/BA 8.375,0 2.476,9 29,6%BRASIL ECODIESEL Floriano/PI 6.750,0 1.607,0 23,8%BIOCAPITAL Charqueada/SP 20.600,0 1.652,7 8,0%COOAMI Sorriso/MT 250,0 19,2 7,7%FERTIBOM Catanduva/SP 1.000,0 67,2 6,7%BSBIOS Passo Fundo/RS 8.625,0 399,6 4,6%AGROPALMA Belm/PA 2.000,0 53,6 2,7%ARAGUASS Porto Alegre do Norte/MT 2.500,0 66,2 2,6%BIOVERDE Taubat/SP 6.686,0 6,9 0,1%SUBTOTAL 121.586,0 49.648,60 40,8%Outras 36 USINAS Variadas localidades 114.737,5 0,0 0,0%TOTAL 236.323,5 49.648,60 0,0%
Fonte: Elaborao prpria a partir de Pereira (2008).
Comentrio: Verifica-se uma subutilizao da capacidade instalada para o biodiesel. A busca da plena capacidade produtiva e a reavaliao dos mecanismos de preos so aes que podem potencializar a rentabilidade do setor.