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A TERRITORIALIZAÇÃO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS CULTURAS DA SOJA, MILHO E CANA-DE-AÇÚCAR ENTRE OS ANOS DE 1990, 1997, 2004 e 2012. Daiane Carlos Hohn 1 Thaylizze Goes Nunes Pereira 2 Resumo: O atual modelo de produção agropecuário brasileiro está baseado no Agronegócio no qual envolve o conjunto de todas as atividades de produção, processamento, distribuição e comercialização dos produtos agrícolas, que tem como característica baixo valor agregado. São mercadorias que se destinam ao mercado mundial. A crítica realizada por pesquisadores e movimentos sociais é que a produção de commodities não tem como finalidade produzir alimentos para consumo da população local, mas sim para serem transformados em suplementos para ração animal e/ ou no caso da cana-de açúcar para produção de energia. O Brasil possui uma área cultivada de milho de 15,12 milhões de hectares e produção de 82 milhões de toneladas. Com essas proporções é o terceiro maior produtor e o segundo maior exportador mundial de milho. Já a área plantada para o cultivo da soja deve chegar a 55,39 milhões de hectares em 2014, sendo 4% maior que o ano anterior, quando foram plantados cerca de 53,26 milhões de hectares. Produzimos 46,5% da cana-de-açúcar mundialmente consumida. Esses números dão a dimensão da apropriação do território pelos grupos capitalistas assim como dá a dimensão do controle absoluto do território. Palavras chaves: Agronegócio, Território, Territorialização, Cana-de-açúcar, Milho, Soja. Introdução O Agronegócio está em curso em todo o território brasileiro e em suas várias cadeias produtivas. O presente texto vai analisar sua territorialização nos cultivos de soja, milho e cana-de-açúcar entre os anos de 1990 e 2012. Para isso utilizamos como ferramenta da cartografia o software Philcarto para construir mapas desses cultivos nos estados de São Paulo, Alagoas, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, baseados no banco de dados do 1 Possui graduação em Administração Rural e Agroindustrial pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (2006). Especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo (2010). Atualmente é Mestranda do Curso de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe, no Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI), em São Paulo, em convênio com a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e parceria com a Via Campesina e o Conselho Latino-Americano de Ciência Sociais (CLACSO). [email protected] 2 Possui Bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, Campus de Marília. Atualmente é Mestranda do Curso de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe, no Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI), em São Paulo, em convênio com a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e parceria com a Via Campesina e o Conselho Latino-americano de Ciência Sociais (CLACSO) e Discente de Licenciatura no Curso de Graduação em Ciências Sociais na UNESP. É Integrante do Centro de Pesquisa e Estudos Agrários e Ambientais CPEA cadastrado no CNPq e pertencente a Universidade Estadual Paulista UNESP/Campus de Marília. Bolsista FAPESP. [email protected]

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A TERRITORIALIZAÇÃO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL: UM ESTUDO

COMPARATIVO DAS CULTURAS DA SOJA, MILHO E CANA-DE-AÇÚCAR

ENTRE OS ANOS DE 1990, 1997, 2004 e 2012.

Daiane Carlos Hohn1

Thaylizze Goes Nunes Pereira2

Resumo: O atual modelo de produção agropecuário brasileiro está baseado no Agronegócio

no qual envolve o conjunto de todas as atividades de produção, processamento, distribuição e

comercialização dos produtos agrícolas, que tem como característica baixo valor agregado.

São mercadorias que se destinam ao mercado mundial. A crítica realizada por pesquisadores e

movimentos sociais é que a produção de commodities não tem como finalidade produzir

alimentos para consumo da população local, mas sim para serem transformados em

suplementos para ração animal e/ ou no caso da cana-de açúcar para produção de energia. O

Brasil possui uma área cultivada de milho de 15,12 milhões de hectares e produção de 82

milhões de toneladas. Com essas proporções é o terceiro maior produtor e o segundo maior

exportador mundial de milho. Já a área plantada para o cultivo da soja deve chegar a 55,39

milhões de hectares em 2014, sendo 4% maior que o ano anterior, quando foram plantados

cerca de 53,26 milhões de hectares. Produzimos 46,5% da cana-de-açúcar mundialmente

consumida. Esses números dão a dimensão da apropriação do território pelos grupos

capitalistas assim como dá a dimensão do controle absoluto do território.

Palavras chaves: Agronegócio, Território, Territorialização, Cana-de-açúcar, Milho, Soja.

Introdução

O Agronegócio está em curso em todo o território brasileiro e em suas várias cadeias

produtivas. O presente texto vai analisar sua territorialização nos cultivos de soja, milho e

cana-de-açúcar entre os anos de 1990 e 2012. Para isso utilizamos como ferramenta da

cartografia o software Philcarto para construir mapas desses cultivos nos estados de São

Paulo, Alagoas, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, baseados no banco de dados do

1 Possui graduação em Administração Rural e Agroindustrial pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

(2006). Especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo (2010). Atualmente é Mestranda do

Curso de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe, no Instituto de Políticas

Públicas e Relações Internacionais (IPPRI), em São Paulo, em convênio com a Escola Nacional Florestan

Fernandes (ENFF) e parceria com a Via Campesina e o Conselho Latino-Americano de Ciência Sociais

(CLACSO). [email protected]

2 Possui Bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, Campus de Marília.

Atualmente é Mestranda do Curso de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e

Caribe, no Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI), em São Paulo, em convênio com a

Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e parceria com a Via Campesina e o Conselho Latino-americano

de Ciência Sociais (CLACSO) e Discente de Licenciatura no Curso de Graduação em Ciências Sociais na

UNESP. É Integrante do Centro de Pesquisa e Estudos Agrários e Ambientais – CPEA cadastrado no CNPq e

pertencente a Universidade Estadual Paulista – UNESP/Campus de Marília. Bolsista FAPESP.

[email protected]

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O texto a seguir é dividido em quarto

partes: a primeira apresenta uma breve contextualização dos conceitos de território,

territorialização e agronegócio; a segunda mostra a evolução e consolidação do agronegócio

nas terras brasileiras; a terceira tratara mais especificamente da evolução dos cultivos de

milho, soja, e cana-de-açúcar entre os anos 1990, 1997, 2004 e 2012 e a última traz as

considerações finais revelando aprofundamento da apropriação do território pelo capital.

Território e Territorialização: Uma breve definição de conceitos

Um conceito muito caro a Geografia, que tem seu uso em um universo cada vez mais

amplo é o conceito de Território e em decorrência dele o conceito de Territorialidade. Esse

fato se explica, pois não há como definir um grupo, comunidade, uma sociedade ou até

mesmo um indivíduo sem inseri-los num contexto geográfico; territorial (HAESBAERT,

2004, p. 20). Segundo Santos, devemos entender o Território como lugar onde se

desembocam todas as ações, paixões, poderes, forças e franquezas; sendo ele o lugar onde a

história do homem se realiza a partir da manifestação de sua existência (SANTOS, 2007).

O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas

superpostas; o território tem que ser entendido como o território usado, não o

território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o

sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do

trabalho; o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da

vida (SANTOS, 2007, p. 14).

Segundo Raffestin, para compreender o território como uma relação entre homem e

espaço, é fundamental compreender que o espaço é anterior ao território.

O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um

ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar

de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator

"territorializa" o espaço (RAFFESTIN, 1993, p. 50).

O território nessa perspectiva deveria ser entendido com sendo um espaço onde o

homem projetou um trabalho. Já o espaço é a “prisão original”, o território é a prisão que os

homens constroem para si (RAFFESTIN, 1993, p. 50). Assim pode-se dizer que o território

apoia-se no espaço, mas não pode ser confundido com ele. O território deve ser entendido

como uma produção, a partir do espaço. “Ora, a produção, por causa de todas as relações que

envolve, se inscreve num campo de poder” (RAFFESTIN, 1993, p. 51).

Segundo Haesbaert, o território e os processos de territorialização são o fruto da

interação entre “[...] relações sociais e controle de/pelo espaço, relações de poder em sentido

amplo, ao mesmo tempo de forma mais concreta (dominação) e mais simbólica (um tipo de

apropriação)” (HAESBAERT, 2004, p.235).

Compreendemos então que as relações sociais não são alheias aos territórios e sim,

produzidas por ele da mesma forma com que o território se produz por elas. Segundo

Haesbaert, os sujeitos produzem seus próprios territórios, e a destruição dos mesmos levaria o

fim desses sujeitos, de suas identidades, de seus grupos sociais, pois esses, não existem sem

seus territórios. Segundo Bonnemaison e Cambrézy,

Pertencemos a um território, não o possuímos, guardamo-lo, habitamo-lo,

impregnamo-nos dele. [...] Enfim, o território não diz respeito apenas à função ou ao

ter, mas ao ser. Esquecer este princípio espiritual e não material é se sujeitar a não

compreender a violência trágica de muitas lutas e conflitos que afetam o mundo de

hoje: perder seu território é desaparecer (BONNEMAISON; CAMBRÉZY, 1996, p.

13-14 apud HAESBAERT, 2004, p. 72-73).

Nesse sentido entendemos que desterritorialização dos sujeitos de seus territórios

significa a destruição dos mesmos e é nesse processo que surgiram e surgem as lutas e os

mais diversos tipos de resistência oriunda desses povos atingidos. Para Fernandes, a

territorialização acontece através da espacialização dessa luta pela terra; pela conquista de

frações do território. “A territorialização da luta pela terra é aqui compreendida como o

processo de conquista de frações do território pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem

Terra, e também por outros Movimentos” (FERNANDES, 1999, p. 241).

Segundo Haesbaert,

Num mundo dito globalizado como o nosso, o acesso pleno a um território como

"experiência integrada do espaço" só se dará quando todos, de alguma forma,

puderem vivenciar o mundo em suas múltiplas escalas, pois o território é, hoje,

sobretudo, multiescalar e um território-rede. Por isso o combate a

desterritorialização enquanto exclusão socioespacial significa também o acesso

amplo às diferentes escalas e redes que, ainda hoje, constitui-se um privilégio de

uma elite planetária cada vez mais auto-segregada (HAESBAERT, 2007, p. 68).

Desta forma, ao analisarmos a territorialização do agronegócio no Brasil verificamos

uma pluralidade de conflitos e de embates travados por distintos movimentos para combater

sua desterritorialização.

Panorama do surgimento e consolidação do Agronegócio no Brasil

O espaço agrário brasileiro nos últimos 50 anos vem passando por várias

metamorfoses de território e conteúdo. Território porque sai da região centro-sul para as

regiões norte e nordeste. E de conteúdo, porque deixa de produzir uma diversidade de

alimentos para a produção mais especializada de alguns cultivos e pecuária. Consigo carrega

o slogam de levar o desenvolvimento para as regiões ditas atrasadas.

Nessa perspectiva, o agronegócio, também denominado agrobusiness, consiste na rede

que envolve todos os segmentos da cadeia produtiva vinculada à agropecuária. Conforme

Fernandes (2008) esse termo foi desenvolvido por Davis e Goldberg, em 1957, onde envolve

o conjunto de todas as atividades de produção, processamento, distribuição e comercialização

dos produtos agrícolas. Esse conceito foi traduzido para o Brasil por Ney Bittencourt, Ivan

Wedekin e Luiz A. Pinazza (OLIVEIRA, 2005).

No final dos anos 80 começamos a escutar no Brasil a expressão Agronegócio sendo

utilizado pelo governo, mídia, pesquisadores, tendo uma grande repercussão quando se se

referiam a grandes propriedades modernas que se dedicam à monocultura, com o emprego de

tecnologia avançada e reduzida mão-de-obra. Na maioria dos casos, a produção é destinada ao

mercado externo ou às agroindústrias, com objetivo do lucro (MATOS e PÊSSOA, 2011).

Essa repercussão se deu a partir das alterações ocorridas na sociedade desde a década

de 70 e que se intensificaram nas décadas de 80 e 90, causando em nossa sociedade profundas

mudanças no cenário nacional e internacional, tais transformações eram de caráter social,

econômico, político-ideológico, cultural, tecnológico e institucional. No que se refere ao

agronegócio, as organizações buscaram planejamento estratégico para apoiar esse processo,

pois, esse exigiria antecipação temporal de investimentos e ações de pelo menos uma década,

considerando, por exemplo, que a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação constituem um

processo complexo e de longa duração.

Sendo assim, a década de 70, foi caracterizada como o período de internacionalização

do modelo de produção agrícola intensiva em insumos e tecnologia, denominado Revolução

Verde. O agronegócio brasileiro passou por diversas transformações, orientadas não apenas

pela modernização tecnológica da agricultura, mas também pela abertura da economia

internacional e a globalização, incorporando a esse setor novas condições de competitividade.

Essas grandes transformações estruturais, principalmente na agricultura, ocorridas após a

Revolução Industrial, foram diretamente influenciadas pela dinâmica da inovação tecnológica

que esteve presente nessas três últimas décadas (EMBRAPA, 2003).

Dentre as transformações mais recentes, a emergência do conceito de agronegócio

deriva da necessidade de ampliar a abrangência do significado histórico da palavra

agricultura. Assim, desde sua origem, este novo conceito incorpora a dimensão

tecnológica como vetor fundamental da competitividade atual e futura do

agronegócio, motivo pelo qual será utilizado no presente trabalho que visa a

construção de cenários do ambiente de atuação das organizações públicas de

pesquisa, desenvolvimento e inovação para o agronegócio brasileiro, no horizonte

dos próximos 10 anos (EMBRAPA, 2003, p.9).

O Presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA), Marcos SawayaJank

em uma entrevista ao Estado de São Paulo, definiu:

O agronegócio nada mais é do que um marco conceitual que delimita os sistemas

integrados de produção de alimentos, fibras e biomassa, operando desde o

melhoramento genético até o produto final, no qual todos os agentes que se propõem

a produzir matérias-primas agropecuárias devem fatalmente se inserir, sejam eles

pequenos ou grandes produtores, agricultores familiares ou patronais, fazendeiros ou

assentados” (Estado de São Paulo, 1º Caderno, 05/07/2005, p. A2).

Porém, segundo Fernandes e Welch (2004), agronegócio é o novo nome do modelo de

desenvolvimento econômico da agropecuária capitalista. Esse modelo não é novo, sua origem

está no sistema plantation, onde grandes propriedades foram utilizadas na produção para

exportação. Desde os primórdios do capitalismo e em suas diferentes fases, esse modelo

passou e vem passando por adaptações e modificações, aumentando a produtividade e

intensificando a exploração da terra e do homem.

Segundo eles, o agronegócio tentou mudar o enfoque dos problemas gerados pelo

latifúndio. Em suas palavras,

Agronegócio é uma palavra nova, da década de 1990, e é também uma construção

ideológica para tentar mudar a imagem latifundista da agricultura capitalista. O

latifúndio carrega em si a imagem da exploração, do trabalho escravo, da extrema

concentração da terra, do coronelismo, do clientelismo, da subserviência, do atraso

político e econômico. É, portanto, um espaço que pode ser ocupado para o

desenvolvimento do país. Latifúndio está associado com terra que não produz, que

pode ser utilizada para reforma agrária.

A imagem do agronegócio foi construída para renovar a imagem da agricultura

capitalista, para “modernizá-la”. É uma tentativa de ocultar o caráter concentrador,

predador, expropriatório e excludente para dar relevância somente ao caráter

produtivista, destacando o aumento da produção, da riqueza e das novas tecnologias.

Da escravidão à colheitadeira controlada por satélite, o processo de exploração e

dominação está presente, a concentração da propriedade da terra se intensifica e a

destruição do campesinato aumenta (FERNANDES & WELCH, 2004, p.2).

Entretanto, quando analisamos as palavras de Marcos SawayaJank tem se a impressão

de que o agronegócio é o que existe de mais eficiente e avançado para o desenvolvimento da

agricultura brasileira, porém, precisamos analisá-lo mais criticamente, pois o que se tem na

verdade é um avanço que se constitui a partir da reprodução e exploração daquilo que há mais

frágil e atrasado em nosso país.

Baseado na leitura de especialistas sobre o assunto como Oliveira (2006) Stédile

(2005) podemos afirmar o agronegócio tem algumas características, a saber: produção

especializada de alguma commodities, monocultivos em alta escala, produção destinada a

exportação, dependência do mercado no que e quanto produzir, uso intensivo de capital

(máquinas e equipamentos) e tecnologia com uma dependência de elementos externos a

propriedade, forte integração com a indústria, a circulação da produção em outros países, o

preço dos produtos não se dá pelo custo de produção mas é definido pela mercados de ações,

ou seja pelo capital financeiro.

A agricultura brasileira foi marcada pelo legado da modernização, que se consolidou e

repercutiu na transnacionalização da agricultura e em sua inserção definitiva na divisão

internacional do trabalho. Com a internacionalização da agricultura e dos complexos

agroindustriais, ocorreu o fenômeno de padronização dos sistemas produtivos, porém, mesmo

sendo múltiplas as fontes de matéria-prima, a origem e o destino dos produtos, o que

sobressai é um único o padrão produtivo para todo o mundo.

Assim, por exemplo, da mesma maneira que se fala no carro mundial, fala-se no

frango mundial, no novilho mundial. Se pegarmos, por exemplo, um suíno que é

engordado na Holanda, na ração dele tem soja brasileira e trigo canadense, a gaiola é

de aço indiano e os medicamentos alemães ou são feitos em outro lugar qualquer

(SILVA apud AGRA e SANTOS, 2007, p. 4).

Conclui-se que o processo de modernização da agricultura brasileira, significa sua

transnacionalização e inserção no jogo da divisão internacional do trabalho. Esse que estão

voltados para a formação dos complexos agroindustriais e para a modernização dos

latifúndios.

Outro predicado divulgado pela mídia, pesquisadores, governo é que o agronegócio se

destaca na economia brasileira, por contribuir com o superávit na balança comercial, segundo

o MAPA (2013) no acumulado de doze meses, de julho de 2012 a junho de 2013, as

exportações do agronegócio cresceram 4,2%, ultrapassando R$ 100 bilhões, o equivalente a

42% do total das exportações brasileiras. Os principais produtos destinados para exportação

são soja, carne bovina, frango, acúçar, milho, suco de frutas, café, entre outros. O Gráfico 1

(abaixo), nos mostra os principais produtos exportados em 2003 e em 2013 fazendo um

comparativo de como essas cultivos vem aumentando com decorrer dos anos

Gráfico 1: Principais Produtos Exportados em 2003 e 2013.

Entretanto, agronegócio possui a maior parte das terras do país, mas são das pequenas

e médias propriedades que veem a maior parte dos alimentos responsáveis por abastecer o

mercado interno.

O Atlas Fundiário Brasileiro, publicado pelo Incra, indicava que 62,4% da área dos

imóveis cadastrados fora classificada como não-produtiva e apenas 28,3% como

produtiva. Estas informações revelam, pois, a contradição representada pela

propriedade privada da terra no Brasil, retida para fins não-produtivos. Inclusive na

prática, o único compromisso social que os latifundiários deveriam ter seria o

pagamento do imposto territorial rural (ITR), mas não é o que ocorre (OLIVEIRA,

2001, p. 187).

Assim, mesmo estando em desvantagem em relação ao agronegócio, os camponeses

são aqueles que abastecem a mesa dos brasileiros, produzindo mais da metade de toda a

produção consumida no Brasil de mandioca, tomate, banana, feijão, batata-inglesa, caju, café,

guaraná, cacau, uva, ovos, leite, rebanho suíno, aves, etc. Além de produzirem a maioria

absoluta da produção de legumes e hortaliças.

Conforme exposto no documento do II Plano Nacional de Reforma Agrária do

Governo Lula 2003-2006, a agricultura familiar camponesa corresponde a,

[...] 4,1 milhões de estabelecimentos (84% do total), ocupa 77% da mão-de-obra no

campo e é responsável, em conjunto com os assentamentos de reforma agrária, por

cerca de 38% do valor bruto da produção agropecuária, 30% da área total, pela

produção dos principais alimentos que compõem a dieta da população – mandioca,

feijão, leite, milho, aves e ovos – e tem, ainda, participação fundamental na

produção de 12 dos 15 produtos que impulsionaram o crescimento da produção

agrícola nos anos recentes (OLIVEIRA, 2007, p. 151).

No Brasil, os camponeses são responsáveis por produzirem proporções significativas

da produção agropecuária do país, produzindo: uva 97%, mandioca 93%, guaraná 92%,

banana 85%, feijão 79%, tomate 77%, batata-inglesa 74%, pimenta-do-reino 74%, agave

73%, caju 72%, mamão 60%, coco 67%, trigo 61%, arroz 39%, maçã 35% e a maioria

absoluta, ultrapassando os 90% da produção dos hortigranjeiros. Produzem também, 27% do

rebanho bovino, 87% do rebanho suíno, 88% do plantel das aves, e, 64% da produção dos

ovos e 55% de leite (OLIVEIRA, 2007).

Desta forma, a pequena propriedade que detém apenas 20% da área ocupada do Brasil,

foi responsável por 43% da renda gerada no campo e 46% do valor da produção agropecuária.

Em contra ponto, as grandes propriedades que controlam mais de 44% da área ocupada total,

foram responsáveis por apenas 21% do valor da produção e 23% da renda gerada; e as médias

propriedades que controlam 36% da superfície ocupada, responsáveis por, 32% do valor da

produção e 34% da renda (OLIVEIRA, 2007).

Verifica-se aqui a lógica contraditória do desenvolvimento capitalista, que por um lado

concentra as terras nas mãos de poucos, gerando uma população despossuída de meios de

produção, que não possuem outro meio de sobreviver a não ser vendendo suas forças de

trabalho ao preço que o mercado queria pagar (OLIVEIRA, 2001).

Os dados do Censo 2006 mostram uma estrutura fundiária ainda concentrada no país,

onde os estabelecimentos não familiares apesar de representarem 15,6% dos estabelecimentos

do país, ocupam 75,7 % da área ocupada; enquanto 84,4%, cerca de 4.367.902

estabelecimentos ocupam a área de 24,3 (CENSO/IBGE, 2006). O Censo de 2006 demonstra

claramente essa situação peculiar a qual o Brasil se encontra, onde a concentração da terra e

renda da produção encontra-se nas mãos do agronegócio, embora a maior produção de

alimentos seja realizada pelos pequenos proprietários. Sendo assim, verifica-se que grande

parte das terras do país não está cumprindo sua função social, ao contrario, vem repercutindo

a desigualdade social.

Oliveira (2006) ainda reforça que o agronegócio é responsável por produz

commodities para o mercado mundial e não alimentos para consumo da população local.

Assim, entre os 200 países que o Brasil exporta sua produção, os principais mercados são,

sobretudo China, Estados Unidos, Países Baixos, Japão, Hong Kong, Rússia, Coréia do Sul,

Alemanha, Venezuela, Arábia Saudita (MAPA, 2013), como pode ser observado no gráfico a

seguir.

Gráfico 2: Principais destinos das Exportações do Agronegócio em 2013.

O Brasil torna-se assim, um dos grandes competidores no mercado externo, não

surpreendendo que das 100 maiores empresas voltadas ao agronegócio que atuam no Brasil,

38 delas são de capital predominantemente estrangeiro. Observa-se a exploração dos

trabalhadores do campo e um Governo omisso a eles, mas em compensação muito cordial ao

capital esterno que vai se instalando cada dia mais nas terras brasileiras, destruído nossas

reservas naturais e explorando a população que aqui vive (Anuário do agronegócio/Revista

Exame, junho 2008).

Já com relação aos Estados da federação brasileira, que mais vem contribuindo para as

exportações podemos observar que São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul,

Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pará tem maior relevância

como pode ser observado no Gráfico 3, a seguir:

Gráfico 3: Participação das Unidades da Federação no Total de exportações do

agronegócio em 2013.

Dentre a todos os dados que foram apresentados até o momento, optamos por

direcionar o foco de nossas análises a três cultivos de predominância do sistema do

agronegócio, sendo eles, a soja, o milho e a cana-de-açúcar. E assim para termos um

panorama se sua evolução, selecionamos alguns Estados brasileiros que nos mostram essa

evolução como, por exemplo, São Paulo, Alagoas, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do

Sul.

Brasil, o celeiro do mundo: A evolução do cultivo de Milho, Soja e Cana-de-

açúcar entre os anos de 1990 e 2012.

Dando sequência a analises desse texto, optamos agora for direcionar nosso foco a

essas três culturas produzidas no Brasil principamente pelo agronegócio, tentando fazer um

esboço aqui de como essas tem se territorializado ao longo dos anos em diferentes territorios

de nosso país. Iniciamos assim essa análise apresentando os dados referente ao cultivo da

Cana-de-açúcar no Brasil.

Mapa 1- Cultivo de Cana-de-acúçar no Brasil entre os anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.

O Brasil se tornou um importante produtor mundial de cana-de-açúcar, sendo

responsável por produzir cerca de metade da produção mundial desse produto, tendo uma

participação equivalente a 46,4% da produção mundial (Observatório Social, 2014, p. 18). O

açúcar passou a ser uma das commodities internacionais com maior ascendência da cotação

internacional, perdendo apenas para o óleo de girassol, o petróleo, e o óleo de soja.

(Observatório Social, 2014, p. 19). O setor sucroalcooleiro passou também a ter grande

importância na economia brasileira, a produção de cana-de-açúcar passou a representar 0,8%

do PIB e o complexo sucroalcooleiro foi responsável por mais de 6,0% do total das

exportações.

Esse aumento da relevância do Brasil na produção de Cana-de-açúcar foi um reflexo

direto de um maior investimento no cultivo dessa cultura, assim como podemos observar no

Mapa 1 (acima). Em 1990 as áreas de maior concentração da produção de Cana-de-açúcar no

Brasil eram mais concentradas na região sudeste e em parte da Nordeste. Com a evolução dos

incentivos para a mesma, chegamos a 2012 com uma produção ainda parecida na região

nordeste, porém o que ressaltamos foi a intensificação massiva da produção no sudeste,

atingindo também agora a região centro-oeste.

Mapa 2 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado de São Paulo nos anos de

1990, 1997, 2004 e 2012.

O estímulo a plantação de cana de açúcar que pudemos observar no mapa tem um

elemento central, a produção de mercadorias e a obtenção de lucros extraordinários. A partir

de 2003, foi lançado o veículo flex-fuel no mercado doméstico e assim o crescimento do uso

do etanol tanto no Brasil como em muitos outros países cresceu. Então ele pode ser variável

no mercado, ora produz açúcar, ora etanol dependo dos resultados econômicos.

Como podemos observar mais claramente no Mapa 2 (acima), ouve uma crescente

expansão da produção de Cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, esta que por sua vez,

passou a substituir a produção de soja e milho no estamos, além também das demais culturas

como laranja e café por exemplo, que também eram presentes nessas região.

Nas áreas produtoras de cana-de-açúcar, no Estado de São Paulo, segundo a CPT

(Comissão Pastoral da Terra), dos 5 milhões de hectares plantados, apenas 20% é

proveniente de pequenos e médios produtores. Esta instituição afirma, ainda, que as

áreas plantadas de cana na região de Ribeirão Preto (SP) são de propriedade de oito

famílias. Em São Paulo, a corrida pela compra ou arrendamento de terras para a

cana-de-açúcar tem sido intensa suficiente para gerar conflitos entre as usinas de

açúcar e álcool com as empresas produtoras de suco de laranja (CAVALCANTE &

FERNANDES, 2011, p. 24).

No Mapa 2 (acima), e também no Mapa 3 (abaixo) podemos observar a substituição

dos cultivos de milho e/ou soja por cana de açúcar entre os anos de 1990 a 2012 e como ela

vai se territorializando no decorrer desses anos.

Mapa 3 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado de Alagoas nos anos de

1990, 1997, 2004 e 2012.

Até por volta da década de 1990 a produção da cana se concentrava nos estados no

Norte e Nordeste do país, e em alguns do Centro-sul, com maior enfoque em São

Paulo. Atualmente já se expandiu para estados como Goiás, Minas Gerais e Mato

Grosso. Minas Gerais e São Paulo são hoje os dois estados que mais produzem

açúcar e álcool oriundos da cana-de-açúcar, e conseqüentemente são os estados

concentradores das usinas sucroalcooleiras do país. O governo de Minas Gerais tem

incentivado a territorialização de usinas juntamente com a iniciativa privada desde

meados de 1990, e desde então tem crescido o número delas, principalmente no

Triângulo Mineiro, onde as condições climáticas e relevo são propícias para o

cultivo da cana-de-açúcar (MATOS & OLIVEIRA, 2012, p. 2).

Mesmo com esse novo componente no mercado, etanol3, que tem sua base produtiva a

cana de açúcar e o seu custo de produção é muito mais barato se comparado com a gasolina

que é produzida a partir do petróleo, ou seja, o produto etanol passou a ter o mesmo uso do

produto gasolina, ambos passam a serem vendidos a um preço que oscila em torno do preço

médio da gasolina, a patamares internacionais, o que expressa a mais valia extraordinária que

3Segundo Gonçalves (2007) o etanol em meados de 2005 tinha seu preço de venda pela indústria em US$

0,3/litro e em fevereiro de 2006 estava custando US$ 0,52/litro de álcool. (P.168)

este setor está gerando para quem se apropria dessa fonte, enquanto não se encontrar

tecnologia que possa alterar essa relação. Portanto, o campo tende a deixar de produzir

comida para produzir energia (GONÇALVES, 2007).

Outra lavoura que tem ganhado cada vez mais espaço nas terras brasileiras é a da soja,

essa que por sua vez, tem batido recordes na produção de commodities para a exportação. De

acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão que é ligado ao

Ministério da Agricultura, a produção de grãos, inclusive o de soja vem batendo recordes de

produção ano após anos, e em 2014 deve bater um novo recorde, produzindo cerca de 196

milhões de toneladas, representando um aumento de 5,2% em relação à safra do ano de 2013.

Dessas commodities a líder em produção continua sendo a soja com aproximadamente 90

milhões de toneladas, obtendo um aumento de 10% os 81 milhões de toneladas do ano

anterior (VEJA, 18/01/2014).

A Conab divulgou que o total da área plantada para o cultivo de grão deve chegar a

55,39 milhões de hectares em 2014, sendo 4% maior que o ano anterior, quando foram

plantados cerca de 53,26 milhões de hectares. Este aumento foi impulsionado pelo cultivo da

soja que terá cerca de 29,55 milhões de hectares de área plantada este ano, sendo que

finalizou os anos de 2013 com 27,73 milhões de hectares (VEJA, 18/01/2014).

Esse aumento de áreas plantadas destinadas ao agronegócio fez com que entre os anos

de 2003 a 2012, o preço médio do hectare no Brasil, teve um crescimento de 227%, o dobro

da inflação registrada no período, passa um hectare a custar R$7.470,00. Os investimentos em

terra superaram os investimentos tradicionais em ouro, dólar e na bolsa de valores. Uma das

principais causas para o superaquecimento do mercado de terras está o crescimento do

agronegócio, que tem auferido grandes lucros no mercado internacional com a exportação de

commodities como soja, milho e algodão, além do crescente apetite mundial pelo etanol.

Podemos observar no Mapa 4 (abaixo), as áreas de produção de soja no Brasil e junto a ela

sua territorialização.

Mapa 4 – Cultivo de Soja (em grão) no Brasil entre os anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.

No mapa acima, podemos observar o aumento intensivo das áreas plantadas de soja

nas ultimas duas décadas, pode-se perceber que esse cultivo era em grande parte presente na

região sul e sudeste e em parte do nordeste em 1990, e no decorrer dos anos começou a se

especializar por todo o território, não sendo encontrado apenas em uma parte da região norte.

Além disso, observa-se que de 2004 para 2012 houve intensificação dessas áreas de cultivo

nas regiões que ela já tinha predominância, como podemos observar nos estados do sul,

sudeste e centro-oeste. Destacaremos aqui mapas de três estados sendo eles, Rio Grande do

Sul, Goiás e Mato Grosso, onde podemos visualizar tanto o surgimento de novas áreas de

plantio da soja, tanto a substituição da plantação do milho por soja e também por cana-de-

açúcar.

Mapa 5 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado do Rio Grande do Sul nos

anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.

No Mapa 5, fica-nos nítido o crescimento na produção de soja no Brasil. Essa cultura

cresceu exorbitantemente nas últimas três décadas e hoje já corresponde a 49% da área

plantada em grãos no Brasil, firmando-se com um dos principais produtos da agricultura

nacional e da balança comercial. Ela é cultivada especialmente nas regiões Centro Oeste e Sul

do país.

Essa espacialização da soja por diferentes estados brasileiros revela simultaneamente a

expansão da fronteira agrícola e os interesses da economia mundial. Cabe, portanto, enfatizar

o papel das políticas públicas no que tange a essa commodities, pois o acréscimo dessa

monocultura inibe a produção de outros gêneros agrícolas oriundos da agricultura camponesa,

que vivencia fortes especulações em função dessa fronteira agrícola sob a conivência das

políticas públicas (FERREIRA, 2012).

Outra cultura em larga expansão no Brasil que também contribui para a expansão da

fronteira agrícola e os interesses da economia mundial são a produção e comercialização de

milho. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, totalizando 53,2 milhões de

toneladas na safra 2009/2010. O principal destino da safra são as indústrias de rações para

animais (MAPA, 2014).

Segundo Claudio de Miranda Peixoto, Diretor de Marketing e Regulamentação da

DuPont Pioneer (2014) o Brasil possui uma área cultiva de milho de 15,12 milhões de

hectares e produção de 82 milhões de toneladas. Com essas proporções é o terceiro maior

produtor e o segundo maior exportador mundial de milho.

O milho é cultivado em diferentes sistemas produtivos, mais é plantado principalmente

nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, assim como podemos observar no Mapa 6

(abaixo)

Mapa 6 – Cultivo de Milho (em grão) no Brasil entre os anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.

A projeção realizada pelo Ministério da Agricultura indica aumento de 19,11 milhões

de toneladas entre a safra de 2008/2009 e 2019/2020. Em 2019/2020, a produção deverá ficar

em 70,12 milhões de toneladas e o consumo em 56,20 milhões de toneladas. Esses resultados

indicam que o Brasil deverá fazer ajustes no seu quadro de suprimentos para garantir o

abastecimento do mercado interno e obter excedente para exportação, estimado em 12,6

milhões de toneladas em 2019/2020. Número que poderá chegar a 19,2 milhões de toneladas

(MAPA, 2014).

O Brasil está entre os países que terão aumento significativo das exportações de milho,

ao lado da Argentina. O crescimento será obtido por meio de ganhos de produtividade.

Enquanto a produção de milho está projetada para crescer 2,67% ao ano nos próximos anos, a

área plantada deverá aumentar 0,73%.

Conforme Claudio de Miranda Peixoto, Diretor de Marketing e Regulamentação da

DuPont Pioneer (2014) a produtividade brasileira aumentou em mais de 200%. Se pensarmos

em termos de regiões, pode-se observar que as regiões Centro-Oeste e Sul têm as maiores

produtividades. Estas duas regiões possuem produções mais tecnificadas, tanto em termos de

uso de insumos mais modernos quanto em termos de uso de maquinarias. No caso do Centro-

Oeste, também foram desenvolvidas cultivares que se adaptam mais às condições de solo e

clima desta região. Associada à produção de soja, que é altamente tecnificada, a produção do

milho no Sul e no Centro-Oeste tomou um caráter totalmente comercial e, ultimamente, com a

participação do Brasil no mercado internacional tem estimulado ainda mais a produtividade

nestas regiões.

Segundo a EMBRAPA (2014) os níveis de produtividade do Nordeste são

historicamente muito baixos, sendo inferior a 1.000 kg/ha até o início dos anos 2000. A partir

do início desta década, os níveis de produtividade aumentaram até alcançar a média de 1.300

kg/ha nos últimos anos; isto principalmente pelo aumento da produção de milho nas regiões

Oeste da Bahia, Alto do Rio Parnaíba no Piauí e Sul do Maranhão. Apesar dos melhores

níveis de produtividade nestas regiões, ainda os índices do Nordeste ficam bem abaixo da

média brasileira.

Em resumo, as regiões que têm melhores produtividades são aquelas que produzem

comercialmente, com condições melhores, com uso de tecnologias modernas, com cultivares

adaptadas às regiões, com possibilidade de maior mecanização e mercado bem definido para o

produto. Por outro lado, as regiões com menores produtividades são aquelas onde a produção

de milho é feita de forma quase artesanal, com sementes vindas de grãos e muitas vezes não

adaptadas à região, com baixo nível de uso de insumos modernos e para consumo próprio

(EMBRAPA, 2014).

Para chegar a estes índices de produtividade, é importante lembrar que é utilizado um

conjunto de tecnologias como sementes melhoradas, plantio direto, utilização de inseticidas,

herbicidas, adubação química que tem impactos sobre o meio ambiente (desmatamento,

contaminação do lençol freático, entre outros) e a vida da população que provavelmente teve

que sair de seu território para dar lugar a esses cultivos, e ainda a saúde dos consumidores

finais desses produtos, a médio, longo prazo, mas os índices, ou melhor o mercado, não está

preocupado com essa dimensão.

Os principais países que importaram milho do Brasil em 2012 foram: Egito, Coreia do

Sul, Taiwan (Formosa), Irã, Marrocos, Arábia Saudita, Japão, República Dominicana,

Malasia, Colômbia. A China ficou na posição de 17º e os Estados Unidos em 19º (MAPA,

2012).

No Mapa 7 (abaixo) observamos que o cultivo de milho vai sendo aos poucos

substituído pela soja no Estado de Santa Catarina entre os anos de 1990 e 2012.

Mapa 7 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado de Santa Catarina nos

anos de 1990, 1997, 2004 e 2012.

Já nos Mapa 8, que representam os Estado do Paraná observa-se que os cultivos de

milho e soja têm grande expressão nos estados todavia, na ultima década começa a ser

substituído pela cana de açúcar.

Mapa 8 – Cultivo de Milho, Soja e Cana-de-açúcar no Estado do Paraná nos anos de

1990, 1997, 2004 e 2012.

Considerações Finais

Conforme as atividades das empresas agrícolas, observamos que os novos sujeitos

territorializaram novos cultivos e, portanto, houve a criação de novas territorialidades ligadas

ao modelo modernizante. Essas novas territorialidades se consolidaram em função da

desterritorialização do agricultor regional, dos seus métodos, cultivos, hábitos culturais e

relações sociais, e de sua reterritorialização, em muitos casos, no espaço urbano, onde perdeu

o poder de cultivar a terra. A adição de capital no espaço leva à corrente migratória em dois

sentidos: a expulsão dos sujeitos que não se adaptam aos níveis técnicos e de capital; e a

inserção, nesse espaço, de atores dotados das novas capacidades exigidas para movimentar as

inovações técnico-científicas, gerando, consequentemente, novos usos do território.

Como podemos observar nos três cultivos estudados há uma expansão territorial em

curso com a finalidade de “produzir” alimentos propagandeado pelos setores do agronegócio.

Todavia, um objetivo ainda mais estratégico alcançado tem sido o controle do território.

Assim, saímos da discussão sobre a apropriação territorial para a constituição de cadeias

produtivas, quando tratávamos da apropriação do território pelas tradings, nas formas relativa

e absoluta, para a discussão sobre a reprodução funcional do território agrícola. Trata-se,

nesse caso, de uma relação indissociável, pois as empresas do agronegócio se apropriam da

cadeia produtiva da soja, do milho ou da cana-de-açúcar ao mesmo tempo em que se

apropriam do território funcionalmente. Isso significa que o campo, as cidades, as infra-

estruturas de transporte e energia e os sistemas públicos de educação e saúde, são organizados

e reorganizados para atender suas demandas. Assim, o território do agronegócio é efetivado

pela relação contratual das empresas com as propriedades agrícolas, e pela receptividade do

Estado e da sociedade. A relação de dominação se amplia com o interesse expansionista das

empresas, que, como afirmamos, acaba concentrando as propriedades de forma absoluta. Essa

articulação empresarial tem sido tão bem sucedida que nem mesmo as atuais crises do setor

têm intimidado seu poder de apropriação do território.

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