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¹Professora da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná 2Orientador PDE da Universidade Estadual de Londrina - UEL

A ÉTICA E O ENSINO RELIGIOSO NA CONSTRUÇÃO DE UM GRÊMIO ESTUDANTIL PARTICIPATIVO E DINÂMICO

Manoelina Miguel Naves Pereira¹

Wander de Lara Proença²

Resumo

Este artigo apresenta uma proposta a ser desenvolvida no ambiente escolar, envolvendo os

integrantes do grêmio estudantil, para que se tornem mais participativos e dinâmicos, nas ações

escolares. Desta maneira, atuando como agentes e protagonistas da própria história, fundamentados

em princípios éticos e valores que integram a religiosidade. E assim aprimorar o conhecimento e as

relações humanas, numa vivência harmoniosa entre estudantes e professores. Através dos

resultados de observações, pesquisas e experiências da prática docente, a conclusão não traz

novidades. Pois o grande desafio para a concretização das propostas é a participação e o

compromisso de todos no processo educativo. Uma ação coletiva, com objetivos e metas bem

definidos: a teoria e prática, o conhecimento e formação humana, caminhando na mesma sintonia. A

contribuição do grêmio estudantil, na gestão escolar, é uma alternativa valiosa não só para a melhoria

do ensino e aprendizagem, mas também para a construção de uma nova cultura, fundamentada na

ética do respeito ao outro, do diálogo, do compromisso com o bem comum. E assim pretende-se

solucionar as questões de indisciplina, do desrespeito, do desinteresse e da violência no ambiente

escolar. E também como exercício de cidadania. Para isso foram propostas diversas atividades sobre

temas como: organização do grêmio estudantil e sua importância; liderança e escolha de

representantes de turmas, através do voto; bullying no ambiente escolar; valores, como respeito e

solidariedade; pessoa humana, direitos e deveres. Os educadores têm em suas mãos os recursos e o

poder para construir uma nova visão de pessoa e educação.

Palavras-Chave: Grêmio Estudantil, Princípios Éticos, Religiosidade, Valores.

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1. Introdução

Confesso que foi angustiante decidir sobre a escolha do tema a ser

desenvolvido. Pois me inscrevi no programa pela disciplina do Ensino Religioso, com

o intuito de realizar um grande sonho: ser uma colaboradora da disciplina de Ensino

Religioso, de maneira mais específica. Diante das alternativas: fazer uma reflexão

sobre o sagrado, junto aos docentes, com o objetivo de contribuir com a prática

pedagógica, ou atuar diretamente com os estudantes, enriquecendo sua prática

cidadã, em resposta a diversos problemas enfrentados no ambiente escolar, tais

como: desinteresse pela aprendizagem, desrespeito e falta de compromisso.

Como já vinha desenvolvendo um trabalho de acompanhamento do grêmio e

acreditando ser mais viável, optei pela segunda alternativa: o estudante. Isto

realizado na linha de filosofia e na área de história. E a providência divina foi tão

generosa que, diante deste dilema, colocou em meu caminho um mestre que

entendeu a proposta e não mediu esforços para que esta se concretizasse. E assim

nasceu o título do projeto, o mesmo deste artigo, com a pretensão de colaborar com

a formação da identidade do educando e participar da gestão escolar, agregando

mais qualidade ao ensino e aprendizagem, dentro de um ambiente escolar

harmonioso, de uns ajudando os outros, numa sintonia de paz, respeito e diálogo.

Segundo Paulo Freire, há necessidade de uma pedagogia dialógica

libertadora do oprimido, para conhecer a realidade em que vive e recriá-la, numa

relação interligada entre educando e educador. (Freire, 1983, p. 61)

2 . Fundamentação

Como fundamento destas propostas, estabelecendo uma relação entre teoria

e prática pedagógica e para melhor compreender a realidade em que os educandos

estão inseridos, a educação conta com a clareza teórico-prática do grande educador

Paulo Freire e outros estudiosos, para que as ações pedagógicas do professor, na

sua atuação em sala de aula, sejam realmente transformadoras.

Freire, além de seu legado de ideias, demonstrou uma experiência concreta:

é possível uma educação questionadora e libertadora (Freire, 1992), firmada na

crença do ser humano, no respeito à diversidade cultural. O seu ideal de um mundo

justo e solidário faz o educador rever sua visão de homem e de mundo. E batalhar

pela construção de uma educação voltada para a paz, tendo como base a justiça e o

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diálogo. A paz que nasce a partir da ética que valoriza a pessoa humana, dentro de

um contexto democrático. E um ser humano capaz de amar as outras pessoas.

Demerval Saviani, através de seus estudos, fez um paralelo entre educação e

marginalização, passando por vários momentos e teorias que podem ser divididas

em dois grupos. Uma sendo defensora da educação como instrumento de igualdade

social e superação desta realidade. A outra entende a educação como instrumento

de discriminação social, legitimando este conceito, (Saviani, 1983).

Diante da ineficácia destas teorias educacionais, que não resolveram a

questão da classe trabalhadora, outros estudos buscaram novos conceitos como:

• Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica.

• Teoria da Escola enquanto aparelho ideológico de Estado.

• Teoria dualista.

No conceito de escola a serviço da ideologia de estado e da exploração

capitalista, é ainda mais repressora. Na tentativa de buscar uma solução, a teoria

dualista procura atender, de um lado, a força de trabalho da classe popular e, de

outro, da burguesia e seus ideais. A força da classe popular estava mais nos

movimentos sociais, fora da escola. O papel da escola era tornar o indivíduo

marginalizado em um pequeno burguês.

Segundo Libâneo (2004), diversas teorias buscaram novos rumos para a

educação. As teorias são importantes, mas não bastam, a prática dentro de um

compromisso ético com a educação é o grande desafio. A escola que atende a

necessidade da sociedade é aquela que inclui a luta contra a exclusão econômica,

política, cultural e pedagógica. O aluno como sujeito do seu conhecimento. Portanto

uma escola como construção histórica e sociocultural.

Pierre Bourdieu, filósofo francês, trata da divisão de classes e cultura, onde a

escola acaba legitimando a ideologia dominante, destacando a violência simbólica e

marginalização da classe popular. As famílias da classe popular transmitem a seus

filhos, de maneira indireta, uma certa cultura e um ethos. E isso diferencia as

crianças que ingressam na escola, como justifica Bourdieu:

[...] o sistema escolar pode, por sua lógica própria, servir à

perpetuação dos privilégios culturais sem que os privilégios

tenham que se servir dele. Conferindo às desigualdades

culturais uma sanção formalmente conforme seus ideais

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democráticos, ele fornece a melhor justificativa para essas

desigualdades [...]. (BOURDIEU, 1998, p.59)

E ainda segundo a sociologia Bourdieusiana, a prática humana é analisada

dentro de uma ordem social com suas implicações e afirma ser um novo modo de

dominação. Os valores, a cultura dos filhos de trabalhadores são ignorados pela

escola que impõe novos padrões. Isto traz dificuldades e mais tempo para aprender

e se inserir neste processo, para tornar-se um sujeito participativo da sociedade.

Essa situação do sistema de ensino é uma forma de violência chamada de simbólica

ou ideológica, que reproduz a cultura dominante (Bourdieu e Passeron, 1975).

Esta violência se manifesta de diversas maneiras, como: desprezo pelo saber

popular, pelas omissões, pelo modo como os alunos são acolhidos, pela

discriminação e preconceito.

Além dessas formas citadas, estão presentes no ambiente escolar outras

manifestações como: empurrões, socos, apelidos, xingamentos. E muitas vezes o

professor vê a sua autoridade fracassada diante dessas situações. E outras

medidas, nem sempre educativas, são tomadas, por exemplo, a intervenção do

conselho tutelar e da polícia.

Portanto no sistema educacional tanto a dominação quanto a reprodução das

relações sociais são evidentes e se concretizam por tais mecanismos e pela maneira

de pensar e conceber estes conceitos (BOURDIEU, 1998, p.224).

Segundo Paulo Freire, mesmo a escola sendo conservadora, é possível

mudar a prática educativa. A escola é um dos fatores importantes para a

transformação social. Para isso é necessário acreditar no ser humano e ter um olhar

amoroso e acolhedor, através do diálogo e valorização dos seus questionamentos e

de sua cultura.

Inserida na própria cultura está a religiosidade, dentro de um contexto

histórico. O homem para bem viver constrói o mundo da cultura e do simbólico, para

dar sentido à vida, tanto a nível pessoal quanto coletivo. Tanto a filosofia quanto a

formação religiosa são significativas para a formação humana. Segundo o educador

salesiano, Ítalo Gastaudi, os valores são definidos como “a força capaz de tirar o

homem da sua indiferença e provocar nele uma atitude de avaliação porque

contribui de alguma forma para a sua relação pessoal (Educador: Novo Milênio,

2000, p.17).

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A legislação federal, no seu art. 205, afirma ser o objetivo da educação o

pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho. E a constituição brasileira reafirma que o cidadão tem

direito a viver bem, com justiça e igualdade.

Porém a realidade é outra. E para que estes conceitos se concretizem, cada

um tem sua parcela de responsabilidade e de compromisso com o bem comum para

que as mudanças aconteçam. A teoria e a prática interagindo e se complementando.

3. A ética e o ensino religioso no processo educacional

Como a ética e os princípios religiosos podem dar suporte à educação, sendo

mais um caminho de mudanças e resultados positivos? Como amenizar a carência

que muitos educadores sentem na busca de novas possibilidades para fazer uma

educação autêntica que atenda melhor à criança e ao adolescente?

A educação por si só não liberta a sociedade da opressão, mas é o papel do

ato educativo transformá-la e isto é possível, de acordo com o educador Freire,

através da conscientização, combatendo a concepção ingênua da pedagogia e

acreditando ser esta a alavanca de transformação social e política. (Freire, 1983, p.

10).

A ética, na visão do compromisso com a coletividade, fundamenta-se no

respeito ao outro, na receptividade ao diferente, na diversidade cultural, evitando

qualquer espécie de preconceito e discriminação. E também o respeito à natureza e

ao meio ambiente, enfim a todo tipo de vida. Esses valores são necessários para a

concretude das ações educativas, num clima pacífico, agradável, sem brigas,

disputas e egoísmos.

O ensino religioso traz conhecimentos e reflexões profundas que, além de

ampliar os horizontes do educando, prima pela dimensão do sagrado e resgata

assim o sentido cultural da religiosidade, atribuindo significado à existência humana,

melhorando o ensino e a aprendizagem e a autoestima dos estudantes. Não se pode

esquecer que os valores religiosos e os princípios éticos favorecem a convivência,

pois humaniza os relacionamentos entre estudantes e professores, condições

básicas para efetivar a aprendizagem.

Essa junção: ética, religiosidade e educação, fortalece a prática docente e a

participação dos estudantes.

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4. Local de implementação do projeto

A proposta de construir um grêmio estudantil participativo teve como cenário a

pequena cidade de São João do Ivaí, Paraná, que recebeu seu primeiro nome de

São João e posteriormente de São João da Ocalina, em homenagem à mãe do

pioneiro, o Sr. Bispo Vieira, fundador da localidade. Sendo seu primeiro prefeito o

senhor Acyr Leonardi, em 1964.

Uma das principais preocupações de sua gestão foi atender o setor

educacional, criando o grupo escolar José de Mattos Leão, tomando frente Cecília

Tereza Leonardi, que gerenciou a Escola por 30 anos. Nessa época, recebi o

convite para fazer parte desta instituição e logo foi me atribuída a função de

professora de ensino religioso, da qual me orgulho muito, fortalecendo a equipe das

professoras de educação artística, música e educação física.

O nome da Escola foi em homenagem ao Deputado que dava assistência a

esta região. No decorrer dos anos, a Escola passou por várias nomenclaturas, grupo

escolar, Escola, e Colégio, mas sempre mantendo o nome de José de Mattos Leão e

atualmente Colégio Estadual José de Mattos Leão Ensino Fundamental e Médio.

A proposta da Escola, conforme o projeto político pedagógico, é a construção

de uma Escola baseada na prática coletiva, numa perspectiva de transformação da

sociedade. Uma Escola para todos, onde seus estudantes desenvolvem sua

autonomia, exercício da sua prática democrática através da participação, com a

finalidade de garantir a qualidade do processo educacional, uma educação que

atenda a pessoa na sua totalidade, nas diversas dimensões.

Os nossos estudantes, grande parte são filhos de trabalhadores rurais e que

encontram na Escola não só o lugar de obter o conhecimento, mas a orientação

para as suas vidas e formação humana e esperam que a Escola os receba com

amor e atenção.

A organização do grêmio estudantil surgiu da necessidade dos estudantes

aperfeiçoarem os seus relacionamentos, vivência e a busca pelos seus anseios e

desejos. E também pelo incentivo da secretaria de educação que entende a

organização estudantil como um caminho para democratizar o ensino e apoiar a

gestão escolar. Nesta tarefa o diretor e os professores precisam motivar e apoiar os

estudantes, como diz o grande mestre Paulo Freire, que a pessoa é o sujeito da sua

história, um agente que precisa participar e viver.

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O grêmio estudantil foi criado em outubro de 2008. E ainda se encontra na

fase de aprendizagem, de saber o que é e o que significa esta organização. Uma

das primeiras práticas já realizadas é a eleição da diretoria do próprio grêmio e a

escolha dos representantes de turma que atuam junto ao grêmio. E também os

estudantes consideram importante obter a carteirinha que dá direito a descontos no

comércio e em atividades culturais e de lazer. Porém, este documento está a cargo

da UPE (União Paranaense de Estudantes).

Houve época da história em que os jovens cumpriram papel importante na

formação e desenvolvimento educacional, nas áreas da cultura, esportiva, na vida

social e política do país.

O regime militar de 1964 não foi complacente com os movimentos da

juventude, impedindo as atividades dos grêmios. Muitas escolas superaram esta

resistência e continuaram suas lutas pelos direitos e interesses dos jovens, e com a

democratização brasileira os grêmios puderam ser livres, legalizados e reconhecidos

no seu importante papel na sociedade. Em 1985 ficou assegurado o funcionamento

do grêmio pela lei 7.398/1985, dando autonomia e representatividade aos

estudantes. Hoje em dia não se ouve muito falar dos grêmios e os sindicatos

também não têm tanta força como antes. De um lado o desenvolvimento da ciência

e da tecnologia e de outro o retrocesso, o individualismo, a comodidade e o medo do

novo. O que fazer diante deste impasse? Como recuperar a capacidade de se

indignar diante das injustiças e de se compadecer da dor do outro, sendo solidário?

É o grande desafio da gestão democrática, a soma de forças em favor da

educação e da dignidade humana. Neste sentido é bom retomar Freire de 1950 e

1960 e aprender com ele a olhar o mundo com sensibilidade e indignação,

procurando entender os sinais dos tempos, de acordo com as considerações do

educar Gilmar Aparecido Altran, sobre o legado Freireano.

5 . Implementação das propostas

A implementação das ações junto aos estudantes, coordenadores do grêmio

estudantil e representantes de turmas, no contraturno, teve modificações, a pedido

da equipe pedagógica da escola. Sendo essas incorporadas à programação da

instituição. Porém, não houve prejuízos na aplicação das atividades e sim pontos

positivos, como o envolvimento de todos os estudantes e professores, tendo como

resultado uma maior participação e continuidade até o final do ano letivo.

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Em primeiro plano, foi realizada uma conscientização sobre liderança e

função dos representantes de turmas. Em seguida, uma votação para a escolha dos

líderes de sala. E feito isso, a organização do grêmio estudantil atualizou seus

membros e documentação. Para reflexão, discussões, debates e palestras foram

escolhidos alguns temas relevantes para o dia a dia dos educandos, como: bullying

no ambiente escolar, conceito, causas e consequências. Pois esta realidade aflige

estudantes e professores; o valor da vida, evitando o uso de drogas, especialmente

o álcool; quanto aos valores, importância do respeito e solidariedade; pessoa

humana, direito e deveres.

E para enfatizar a importância do grêmio foi confeccionado um banner e

fixado no mural do pátio, com diversos itens conceituando a entidade, para ser

colocados na prática durante o ano letivo.

O trabalho de organização do grêmio aconteceu não só em uma escola da

cidade, mas também em uma de um distrito, com a votação dos responsáveis de

turmas e do grêmio, onde a diretora já vem dinamizando ações junto aos seus

educandos.

Uma realidade observada na prática docente, nas pesquisas e experiências,

já é do conhecimento de todos, mas precisa sempre ser reavaliada. A eficácia ou

sucesso do trabalho educativo está nas mãos do professor e da equipe pedagógica,

com o apoio e incentivo do diretor. Isto realizado com a participação dos professores

das diversas disciplinas, numa ação coletiva, sem medir esforços para haver a

concretização das mesmas, caso contrário a teoria estará cada vez mais distante da

prática, só restando acontecer uma solução mágica para resolver todos os

problemas da escola e da humanidade!

Os nossos adolescentes e jovens deixam a escola, sem aprender a

questionar e entender o mundo que os cerca. Nos últimos dias, quando ocorreram

as manifestações populares, grande parte dos participantes não tinha

direcionamento e objetivos claros. E a criançada da escola queria também protestar,

sem entender os acontecimentos, pois não têm referências históricas e nem uma

consciência política para uma prática cidadã mais criteriosa.

Um grêmio, onde seus participantes são dinâmicos e comprometidos, é mais

um caminho de aprendizagem para o exercício de cidadania e para que os

educandos se tornem protagonistas de sua história e transformadores de sua

realidade.

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6. Relato de experiências – GTR

A participação dos professores cursistas do GTR-2013 (Grupo de Trabalho

em Rede) foi valiosa, com diversas contribuições, como: troca de experiências,

sugestões e palavras e incentivo, que enriqueceram a proposta da construção de um

grêmio estudantil dinâmico e comprometido com a melhoria da educação. Com base

nos princípios éticos e religiosos.

Diante das proposições para eficácia e continuidade das propostas, alguns

tópicos importantes tornam necessário uma reflexão sobre a prática docente.

Quanto ao grêmio, conscientização por parte de todos para que seja valorizado;

resgate histórico e importância desta organização; como manter a continuidade das

ações dos estudantes; escolha dos representantes de turma, pelo voto, como

aprendizagem da prática cidadã; construção de novas práticas e atitudes que

agreguem valores; como tornar a escola um local de debates, discussões e diálogo;

valores éticos a serviço da educação.

Outro fator marcante das experiências relatadas é a necessidade do

envolvimento da comunidade escolar, especialmente o diretor e professores, nas

ações junto aos estudantes, pois isso faz a diferença. Tudo realizado no ambiente

de colaboração, de diálogo, harmonia, onde cada um tem sua participação, espaço e

reconhecimento. Segundo os relatos da prática docente, em uma das escolas, o

trabalho com os estudantes teve sucesso, atingindo os objetivos propostos,

tornando-os motivados e dinâmicos. Foi um sucesso. Porém, na troca do diretor tudo

ficou paralisado. Em outra escola, a professora que liderava as atividades mudou-se

para outro estabelecimento e aconteceu a mesma coisa.

Outro fato intrigante, capaz de tirar o sono de todo educador comprometido:

enquanto alguns abraçam a tarefa de colaborar com os estudantes, em prol da

educação, outros, alem de não cooperar, fazem críticas, piadas, e comentários

negativos. É um olhar egoísta como se o colega fosse um rival e não parceiro,

empenhado pela mesma causa. Uma das colocações ressaltou que a dificuldade

maior é convencer o professor da necessidade e da importância de se realizar uma

ação, contando com a colaboração de todos.

Para isso, o respeito, o amor, a solidariedade, ética, são valores tão

necessários e tão distantes da realidade. Segundo Freire, a educação é um ato de

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amor, de comunicação e integração com o outro. Quem ama respeita seu

semelhante, com seus defeitos e qualidade. (Freire, 1983, p. 29).

Os relatos mostram que a realização de qualquer proposta em favor da

educação depende do esforço e compromisso da coletividade: diretor, professores,

pais, estudantes e comunidade. Destaca-se aqui a importância do diretor, como o

líder que integra e incentiva a todos os membros participantes da comunidade

escolar. O sucesso de todo trabalho educativo encontra-se na ação coletiva, em

busca de uma nova cultura e jeito de fazer uma nova educação. O que acontece na

escola é o reflexo das fragilidades de uma sociedade contaminada pelo

individualismo. Diante destes fatos, é um grande desafio reverter este quadro. Pois

como recuperar o lado humano e se colocar no lugar do outro e se comprometer, se

estamos imersos no próprio comodismo? Ou, como coloca uma das professoras: “o

ambiente educa e só um ambiente ético forma pessoas éticas”. Realmente o

exemplo torna eficaz qualquer ação, o discurso sem a prática é vazio e inoperante. E

a escola é um local privilegiado de discussões debates e mudanças. E está nas

mãos do educador provocar estas transformações.

A metáfora da semente que para frutificar, antes de tudo, precisa de um bom

terreno elucida o fato de que os projetos, as ideias inovadoras, os avanços são

sementes. E o sucesso e a eficácia das mesmas dependem do solo onde são

lançadas. Este campo é a escola com seus protagonistas. A boa vontade, o ardor, e

a participação dos envolvidos no processo educativo, em favor do bem comum, são

elementos que alicerçam toda ação coletiva, sem medos e desânimos. Ou

caminhamos para um novo paradigma ou estaremos fadados ao fracasso, sendo

meros espectadores. Muitas vezes consumimos muito tempo com problemas

disciplinares e esquecemos de avaliar a prática pedagógica, para a tomada de

novas metodologias e recursos. O grande mestre Paulo Freire enfatiza que o

diálogo, o ouvir o outro são necessários para entender a realidade e propor uma

educação significativa para a vida dos estudantes.

Considerações Finais

Esta proposta de trabalho teve inicio com uma pesquisa preliminar,

envolvendo estudantes, pais e professores, sobre o assunto a ser estudado, como

base para uma sondagem dos problemas que causam o desinteresse pela

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aprendizagem, atitudes de violência e desrespeito, repercutindo na atuação do

grêmio. Com os resultados, foram elaboradas as proposições, de modo a atender os

educandos quanto à melhoria do ensino e aprendizagem, e da convivência entre os

educandos e entre educandos e educadores.

Em seguida, o planejamento das ações, com a participação dos estudantes e

a sua implementação. Não se pode afirmar que foi um sucesso, que todos os

objetivos e metas foram efetivados. Pois, depende também da programação da

escola e participação de toda a comunidade escolar, cuja integração não é nada

fácil.

Mas, por menor que seja a mobilização, é notório que o adolescente quer

mostrar que é capaz de prestar a sua colaboração. Porém quer ser valorizado,

acolhido e orientado. O mais interessante é como se mostram solidários e

complacentes com os idosos. Isto foi observado numa das visitas ao asilo da cidade.

Portanto, é relevante uma reflexão sobre a realidade, agregando valores

como respeito, diálogo, amor. Neste sentido, os princípios éticos e a dimensão

religiosa fortalecem os relacionamentos entre os estudantes, transformando a

convivência, criando um ambiente de compreensão, harmonia, ajuda mútua e

diálogo, espaço para ouvir e entender os outros e o meio em que vivem.

Com base nos temas abordados e como conclusão dessas reflexões, urge

realizar um trabalho mais amplo que conduza a mudanças a prática docente e

discente.

Alguns tópicos contribuem com a construção de novas atitudes e nova

maneira de pensar e fazer educação:

• A educação priorizada em todas as esferas e níveis de ensino, havendo

sequência e continuidade. Pois desde o momento em que a criança inicia

seus estudos até a conclusão dos mesmos é preciso construir pontes de

ligação entre o ensino e aprendizagem e a formação humana e cidadã. A

criança precisa aprender a questionar e fazer suas escolhas e através dos

anos escolares continuar aprimorando seus conhecimentos e aprendendo a

conviver com o outro dentro do respeito e compromisso com o bem comum.

• O ideal seria as autoridades que gerenciam a educação exercer sua função

de acordo com as exigências educacionais e a realidade de cada escola. No

caso das secretarias municipais, trabalhar em parceria com as instituições

estaduais da própria localidade, dentro de critérios e metas bem definidos.

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Assim atender a realidade, disponibilizando de recursos como bibliotecas

equipadas, promoções culturais, lazer e esporte, sob a orientação do núcleo

regional de educação.

Muitas vezes os cargos são ocupados pelo compromisso político e não

pela competência de exercer a função. Isso é prejudicial porque existem pessoas

que não buscam o bem comum e sim se preocupam com suas particularidades e

usam o cargo para levar vantagens. Quando isto acontece, é lamentável, pois

atinge toda a ação educacional.

• Construir a cultura da paz, da participação, do prazer pela pesquisa e leitura e

do trabalho coletivo. Isto começando pelo professor. O exemplo é ainda o

melhor incentivo. Só consegue fazer este trabalho o professor que realiza,

com amor, paixão e compromisso, as suas atribuições docentes. E assim

consegue despertar no educando o senso criativo e a curiosidade pelo

conhecimento. O educador que deixa marcas na vida de quem passa pelas

suas mãos é aquele que incentiva e aponta caminhos e tem um olhar

amoroso, fraterno, sem discriminações e preconceitos. Só existirão

estudantes leitores, pesquisadores e éticos se o professor for referência.

• Valorização da disciplina de ensino religioso, com professores preparados

para esta especificidade. E aulas em todas as turmas. E não como acontece,

apenas para complementar as aulas de algumas disciplinas. Infelizmente não

houve avanços neste sentido. Não se pode esquecer que a religiosidade, o

sentido do sagrado, humaniza os relacionamentos na vida comunitária e abre

caminhos para o crescimento a nível pessoal e coletivo dos educandos.

• Proporcionar momentos para a discussão, debates, troca de experiências

entre professores, funcionários e equipe pedagógica da escola, onde cada um

pode expor seu trabalho, ouvir o outro, sem medos, num clima amigável de

cooperação. Assim evitando qualquer constrangimento e atitudes de

hostilidade.

• Dinamizar ações e refletir sobre temas do cotidiano do educando, através do

diálogo e dinâmicas entre estudantes, para que tenham oportunidade de

participar e serem autores da própria aprendizagem.

• Conscientização sobre liderança e organização do grêmio estudantil, com o

apoio do diretor da escola, professores, numa ação coletiva. Formar

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lideranças através de encontros, cursos, palestras. Cada um pode ser um

líder para uma determinada função e não como privilégio de poucos.

• Priorizar os princípios éticos e os valores como respeito, compromisso,

solidariedade, para a construção de novas atitudes e assim transformar o

ambiente escolar. Não adianta promover grandes mudanças para uma

educação de qualidade, para todos, se os relacionamentos não forem

modificados, se uma nova mentalidade não for buscada, se a gestão

pedagógica não for valorizada. Ouve-se falar muito que grande parte do

tempo é consumida em coisas secundárias, como atitudes de comportamento

e questões disciplinares.

• Propiciar trocas de experiências entre outros grêmios estudantis da região.

O grande desafio da educação é reverter este quadro. Resta saber como lidar

com aqueles estudantes que não se enquadram nos moldes da escola? Que além

de não participarem, ainda incomodam aos demais.

Diante das proposições para a eficácia e a continuidade das propostas,

alguns tópicos importantes requerem uma reflexão sobre a prática docente.

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Referências

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LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. revista e ampliada. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.