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Anais do Simpósio Brasileiro de Geomática, Presidente Prudente - SP, 9-13 de julho de 2002. p.397-407. E. Girardi; A. Meneguette ATLAS INTERATIVO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SANTO ANASTÁCIO: IMPLEMENTAÇÃO E DISPONIBILIZAÇÃO EM CD-ROM E NA WWW EDUARDO PAULON GIRARDI ARLETE APARECIDA CORREIA MENEGUETTE Universidade Estadual Paulista - Unesp Faculdade de Ciências e Tecnologia - FCT Departamento de Cartografia, Presidente Prudente - SP [email protected] [email protected] RESUMO – Este artigo descreve o processo de implementação e disponibilização do Atlas Interativo da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio, que está localizada no Extremo Oeste do Estado de São Paulo, Brasil. O desenvolvimento deste Atlas está inserido no bojo da Implementação do Atlas Interativo do Pontal do Paranapanema. O principal objetivo é a contribuição à Educação Ambiental através da elaboração de material didático-pedagógico sobre a região para ser utilizado pelos professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem, de forma que a realidade seja melhor compreendida com a ajuda e interpretação dos gráficos, tabelas, vídeos, mapas e textos que são apresentados neste Atlas, tanto em CD-ROM quanto na Web. Esta pesquisa conta com o apoio da FAPESP para seu desenvolvimento, através de auxílio à pesquisa e bolsas. ABSTRACT – This paper describes the process of implementation and delivery of an Interactive Atlas for the Santo Anastacio River Basin, which is located at the western part of São Paulo State, Brazil. The development of this atlas is part of another project being carried out on the Implementation of an Interactive Atlas for the Pontal do Paranapanema. The main objective is the contribution to the Environmental Education with the preparation of material about this region to be used by teachers and students in the process of teaching and learning, so that the reality may be better understood with the help and interpretation of graphics, tables, videos, maps and texts which are presented in this Atlas both in CD-ROM and on the Web. This research is supported by FAPESP, through grants and scholarships. 1 INTRODUÇÃO O homem tem experimentado nas últimas duas décadas uma grande (r)evolução tecnológica digital. A evolução dos sistemas digitais de informação e de produção é disseminada e implantada em uma velocidade incrível, isso graças ao sistema capitalista, o qual exige rapidez e atuação em massa para que o mesmo possa se perpetuar e acelerar a acumulação. A propriedade sine-qua-non da informação é algo incontestável. Todos os órgãos gerenciais, sejam privados ou públicos, utilizam-se das informações para melhor gerir seus recursos. A importância dos meios de informação em tempo real existente e que se utilizam das novas tecnologias para sua propagação é indiscutível no mundo moderno, onde a globalização do comércio, culturas e informações é cada vez mais intensa através da Rede Mundial de Computadores. Nos dias atuais, a Sociedade do Conhecimento está cada vez mais atrelada aos meios digitais, tais como o CD, Internet, satélites etc., sendo que essas ferramentas se tornam cada dia mais indispensáveis para a obtenção e divulgação da informação. A representação cartográfica do mundo real é uma das mais notáveis formas de informação e aquela que auxilia em diversos segmentos, tais como o Gerenciamento de Recursos Hídricos, Gestão Ambiental, decisões quanto a implantação de obras de infra-estrutura, serviço de localização, planejamento urbano, localização de malhas de dutos subterrâneos, só para citar alguns. Segundo PETERSON (1995), o crescimento do acesso aos mapas pelas pessoas coincide com a criação de uma sociedade mais democrática. Sendo assim, um Atlas é uma ferramenta muito importante dentro da nossa sociedade, sendo utilizado desde a escola até em uma empresa pública ou privada. É importante citar as diversas utilizações possíveis dos Atlas Interativos, visto que as informações contidas nestes servem a diferentes fins, tais como a Educação, o Planejamento Ambiental, o Planejamento Regional, o Turismo etc. Na área educacional vem crescendo cada vez mais, no Brasil e no Mundo, a utilização do computador. O

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Anais do Simpósio Brasileiro de Geomática, Presidente Prudente - SP, 9-13 de julho de 2002. p.397-407.

E. Girardi; A. Meneguette

ATLAS INTERATIVO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SANTO ANASTÁCIO: IMPLEMENTAÇÃO E DISPONIBILIZAÇÃO EM

CD-ROM E NA WWW

EDUARDO PAULON GIRARDI ARLETE APARECIDA CORREIA MENEGUETTE

Universidade Estadual Paulista - Unesp

Faculdade de Ciências e Tecnologia - FCT Departamento de Cartografia, Presidente Prudente - SP

[email protected] [email protected]

RESUMO – Este artigo descreve o processo de implementação e disponibilização do Atlas Interativo da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio, que está localizada no Extremo Oeste do Estado de São Paulo, Brasil. O desenvolvimento deste Atlas está inserido no bojo da Implementação do Atlas Interativo do Pontal do Paranapanema. O principal objetivo é a contribuição à Educação Ambiental através da elaboração de material didático-pedagógico sobre a região para ser utilizado pelos professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem, de forma que a realidade seja melhor compreendida com a ajuda e interpretação dos gráficos, tabelas, vídeos, mapas e textos que são apresentados neste Atlas, tanto em CD-ROM quanto na Web. Esta pesquisa conta com o apoio da FAPESP para seu desenvolvimento, através de auxílio à pesquisa e bolsas. ABSTRACT – This paper describes the process of implementation and delivery of an Interactive Atlas for the Santo Anastacio River Basin, which is located at the western part of São Paulo State, Brazil. The development of this atlas is part of another project being carried out on the Implementation of an Interactive Atlas for the Pontal do Paranapanema. The main objective is the contribution to the Environmental Education with the preparation of material about this region to be used by teachers and students in the process of teaching and learning, so that the reality may be better understood with the help and interpretation of graphics, tables, videos, maps and texts which are presented in this Atlas both in CD-ROM and on the Web. This research is supported by FAPESP, through grants and scholarships.

1 INTRODUÇÃO

O homem tem experimentado nas últimas duas décadas uma grande (r)evolução tecnológica digital. A evolução dos sistemas digitais de informação e de produção é disseminada e implantada em uma velocidade incrível, isso graças ao sistema capitalista, o qual exige rapidez e atuação em massa para que o mesmo possa se perpetuar e acelerar a acumulação.

A propriedade sine-qua-non da informação é algo incontestável. Todos os órgãos gerenciais, sejam privados ou públicos, utilizam-se das informações para melhor gerir seus recursos. A importância dos meios de informação em tempo real existente e que se utilizam das novas tecnologias para sua propagação é indiscutível no mundo moderno, onde a globalização do comércio, culturas e informações é cada vez mais intensa através da Rede Mundial de Computadores.

Nos dias atuais, a Sociedade do Conhecimento está cada vez mais atrelada aos meios digitais, tais como o CD, Internet, satélites etc., sendo que essas ferramentas se

tornam cada dia mais indispensáveis para a obtenção e divulgação da informação.

A representação cartográfica do mundo real é uma das mais notáveis formas de informação e aquela que auxilia em diversos segmentos, tais como o Gerenciamento de Recursos Hídricos, Gestão Ambiental, decisões quanto a implantação de obras de infra-estrutura, serviço de localização, planejamento urbano, localização de malhas de dutos subterrâneos, só para citar alguns.

Segundo PETERSON (1995), o crescimento do acesso aos mapas pelas pessoas coincide com a criação de uma sociedade mais democrática. Sendo assim, um Atlas é uma ferramenta muito importante dentro da nossa sociedade, sendo utilizado desde a escola até em uma empresa pública ou privada.

É importante citar as diversas utilizações possíveis dos Atlas Interativos, visto que as informações contidas nestes servem a diferentes fins, tais como a Educação, o Planejamento Ambiental, o Planejamento Regional, o Turismo etc.

Na área educacional vem crescendo cada vez mais, no Brasil e no Mundo, a utilização do computador. O

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sistema público de ensino brasileiro tem recebido, nos últimos anos, recursos de Informática, sendo que a grande maioria das escolas já possui laboratórios equipados com bons computadores.

Com isso deve-se destacar a elaboração de produtos regionais para que o aluno possa apreender conhecimentos presentes em sua região de vivência, o que em muito auxilia e facilita o processo ensino-aprendizagem.

Merece também destaque a potencialidade destes materiais enquanto recursos de apoio didático-pedagógico, sendo que desta maneira o professor pode contar com mais um instrumento alternativo ao giz e ao quadro negro.

Algumas pesquisas têm demonstrado que é possível realizar atividades, principalmente ligadas ao desenvolvimento de projetos na escola, com a utilização de tecnologias da informação espacial e através destes recursos discutir conceitos que contribuam para a formação do cidadão (GOMES, 2002).

O surgimento de materiais multimídia para a Educação Ambiental é de extrema importância, pois isso auxilia na conscientização dos alunos para com a situação dos elementos naturais de sua região, dentre os quais está em primeiro plano a água. 1.1 O papel das novas tecnologias de produção cartográfica na Geografia

Atualmente a Cartografia se desenvolve utilizando-se das novas tecnologias de produção, reprodução e divulgação de informações, inserindo no processo os mais modernos softwares e hardwares.

A Cartografia se beneficia da Fotogrametria (que se baseia principalmente em Aerofotos), do Sensoriamento Remoto (que emprega principalmente Imagens de Satélites), do CAD (Computer Assisted Design – Projeto Assistido por Computador), do GPS (Global Positioning System – Sistema de Posicionamento Global) e do SIG (Sistema de Informações Geográficas) para a construção de produtos de informação.

Foi nessas novas tecnologias de produção cartográfica que o Geógrafo encontrou apoio para a elaboração de Mapas e Cartogramas mais facilmente, utilizando-se de ferramentas de coleta de dados, digitalização e interpretação de imagens que facilitam e dão mais precisão aos produtos resultantes.

É de grande importância citar também as formas pelas quais esses produtos cartográficos serão disponibilizados, sendo que na atualidade os mais importantes veículos de disponibilização são a Internet e os CDs, o que barateia bastante os custos de reprodução, possibilita a consulta à distância e também a interação usuário-material quando este é disponibilizado de modo interativo, tal como um CD-ROM.

É dessas novas formas de produção e divulgação de material de apoio didático-pedagógico e de suporte à tomada de decisão que o presente artigo tratará, relatando

o desenvolvimento de um Atlas Interativo com abordagem geográfica e direcionado à Educação Ambiental. 2 IMPLEMENTAÇÃO DO ATLAS INTERATIVO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SANTO ANASTÁCIO

A produção de Atlas Interativos é a proposta do Grupo de Pesquisa em Tecnologia da Informação Espacial, liderado pela Profª. Adj. Arlete Meneguette do Departamento de Cartografia da FCT/Unesp, campus de Presidente Prudente.

O Atlas Interativo da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio se insere no Atlas Interativo do Pontal do Paranapanema (MENEGUETTE, 2001a), o qual está disponibilizado através do site da FCT/unesp em http://www.prudente.unesp.br/atlaspontal.

O processo de implementação do Atlas Interativo da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio envolve a elaboração de cartogramas sócio-econômicos e mapas físico-territoriais para a Bacia Hidrográfica em questão, sendo que através da interpretação desses mapas e cartogramas é feita uma análise ambiental e sócio-econômica da região.

A primeira etapa da construção desse Atlas Interativo foi a seleção da área a ser pesquisada. A Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio localiza-se na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Pontal do Paranapanema (UGRHI-22) que, por sua vez, está localizada na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná (Figura 1). 2.1 Levantamento bibliográfico

O levantamento bibliográfico foi realizado junto à Biblioteca da FCT/Unesp e da Internet, sendo que foram resgatados os artigos e mapas produzidos sobre a região em estudo, o que em seguida foi sistematizado e utilizado na elaboração dos textos, cartogramas, mapas, vídeos e outros elementos presentes no trabalho. 2.2 Delimitação da área de estudo

Nos mapas físico-territoriais, a representação foi

feita da forma convencional, adotando-se o limite da Bacia como delimitante do espaço mapeado; já nos cartogramas sócio-econômicos, o limite da Bacia não foi adotado, mas serviu como indicador de quais municípios faziam parte de seu sistema, ou que tinham alguma porcentagem de sua área dentro dela.

Após verificado isso, os cartogramas sócio-econômicos foram construídos a partir do recorte da área total desses municípios, não obedecendo mais o limite físico da Bacia, mas sim o limite político-administrativo. Por fim, sobre essa base, foram representados dados quantitativos e qualitativos dos fatores sócio-econômicos dos municípios.

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Figura 1 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio na UGRHI-22.

Geralmente, quando se faz uma análise sócio-econômica dirigida pelo limite de uma Bacia, recorta-se somente a parte do município que está dentro da unidade, o que não foi feito neste trabalho.

Optou-se pelo recorte de toda a área do conjunto de municípios a fim de melhor representar os dados, sendo que esses foram obtidos através da medida dos elementos presentes em toda a área territorial do município. Para a construção do Atlas Interativo foram realizadas diversas etapas, desde a coleta de dados junto à fontes como o IBGE até a produção do CD-ROM. 2.3 Caracterização da área de estudo

Dentre as Bacias Hidrográficas que compõem a

22ª UGRHI, é a de maior importância, visto seu grande tamanho, sendo deste modo responsável pelo abastecimento de uma extensa faixa, fornecendo o líquido precioso às áreas de agricultura e pecuária.

São 13 os municípios que possuem alguma porção de sua área territorial dentro dos limites deste sistema de

drenagem, os quais são: Álvares Machado, Anhumas, Caiuá, Marabá Paulista, Mirante do Paranapanema, Piquerobi, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Presidente Epitácio, Regente Feijó e Santo Anastácio. Entretanto, nenhuma dessas unidades administrativas tem sua área totalmente inserida no perímetro.

Possuem suas áreas urbanas totalmente inseridas na Bacia Hidrográfica os municípios de Presidente Venceslau, Santo Anastácio e Marabá Paulista, enquanto que os municípios de Presidente Prudente, Álvares Machado e Pirapozinho possuem apenas parte de suas áreas urbanas dentro da Bacia Hidrográfica, sendo que os municípios de Presidente Epitácio, Presidente Bernardes, Caiuá, Piquerobi, Regente Feijó, Anhumas e Mirante do Paranapanema têm a área urbana dentro de outra rede de drenagem. A somatória da área dos 13 municípios corresponde a 8.491 Km2. A população total (Figura 2) desses municípios é de 393.851 habitantes; a maior parte (359.889) habita as cidades e 33.958 são moradores rurais (Figura 03).

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Figura 2 – Tela do Atlas com o Cartograma de População Total dos Municípios que fazem parte da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio.

Figura 3 – Tela do Atlas com o Cartograma de População Urbana e Rural dos Municípios que fazem parte da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio.

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Esses municípios apresentaram um crescimento populacional médio de 1,62% entre os anos de 1996 e 2000 e um IDH-M (Índice Municipal de Desenvolvimento Humano) médio de 0,688 no ano de 1991, sendo que tal índice varia de 0 a 1,0.

A Geologia da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio é constituída por sedimentos areníticos do período Mesozóico, sendo subdividida em Formação Adamantina, Formação Santo Anastácio e Formação Caiuá. Grande parte do curso do Rio Santo Anastácio se dá sobre o arenito que leva o seu nome.

O mapa pedológico da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio revela uma pluralidade de solos em sua área. Em toda a sua extensão existem 7 tipos de solo, os quais existem em áreas mais ou menos de mesma extensão. Mais de 50% do curso do Rio se dá na faixa que compreende o solo Pve5 (Podzólico vermelho-amarelo eutrófico + Podzólico vermelho-escuro eutrófico e distrófico, textura arenosa/média e média).

A área de estudo apresenta no alto de sua cabeceira altitudes de 515 metros e decresce gradativamente até os 255 metros junto ao Rio Paraná, tendo seu relevo classificado como colinoso.

A Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio apresenta inaptidão para culturas, sendo de maior potencialidade para pastagens plantadas. Grande parte do solo da área da Bacia Hidrográfica é utilizada para pastagens, sendo que uma área pequena é utilizada para a agricultura.

Sendo a pecuária a atividade que predomina, visto a grande extensão das áreas destinadas à pastagens, torna-se a área de estudo uma região ainda mais suscetível à ersosão, pois a pastagem é uma cultura que não oferece proteção ao solo, permitindo que suas riquezas sejam levadas pelas enxurradas, provocando deste modo as erosões.

Esta Bacia apresenta grande suscetibilidade à erosão. Cerca de 70% de sua área apresenta o índice Ia (muito alto). Apenas uma pequena faixa ao longo do curso do rio principal desta bacia apresenta o índice Vb (muito baixo), sendo que assim pode-se notar a importância da instalação de projetos de prevenção e recuperação ambiental nesta Bacia Hidrográfica. Deste modo, é importante lembrar que, uma vez que a pastagem acelera o processo erosivo, é necessário a adoção de técnicas que amenizem a erosão do solo nesta área, tal como o terraceamento.

A área de estudo sofreu franca e quase total extinção da floresta natural em sua ocupação, sendo que a presença de fragmentos de matas, cerrado e banhados é muito pequena e irrelevante se comparada ao que é descrito em relatos históricos que descrevem suas proporções originais, o que leva à conclusão que a fauna, juntamente com as áreas de matas, foi depredada e existe em pequenas proporções nos dias atuais.

A partir dessa caracterização física da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio pode-se concluir que se trata de uma área de natureza frágil e com seu ecossistema degradado pelo homem no processo de ocupação e utilização dos recursos naturais.

A grande fragilidade do solo chama a atenção para o fato de que se não forem tomadas providências imediatas, a área pode sofrer ainda mais danos físicos, tornando-se cada vez mais difícil de se corrigir esses impactos.

2.4 Coleta de dados não espaciais

Os dados não-espaciais foram extraídos do Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), obtidos em CD-ROM e também através da homepage http://www.ibge.gov.br/.

Outros dados relevantes foram cedidos pelo Escritório Regional de Articulação e Planejamento (ERPLAN), localizado em Presidente Prudente. 2.5 Tratamento de dados não-espaciais

Após obtidos os dados, estes foram selecionados e devidamente tratados, sendo transformados em tabelas (Tabelas 1 e 2) (no formato XLS), no software Microsoft Excel 2000.

Estes dados foram processados de modo que se apresentassem de forma ordenada, para que em seguida fossem transformados em representações gráficas, bem como favorecessem a construção de cartogramas sócio-econômicos.

A partir do processo de tratamento foi possível organizar tabelas com os seguintes dados:

• área municipal; • densidade demográfica; • população total; • população masculina; • população feminina; • população urbana; • população rural; • taxa de urbanização; • crescimento populacional; • projeção da população; • IDH-M.

Utilizando-se dos dados dessas tabelas foi possível

a construção de Gráficos referentes a cada um dos temas citados.

Pode-se visualizar no gráfico 1 o valor médio do Índice Municipal de Desenvolvimento Humano (IDH-M) da região de estudo para os anos de 1970, 1980 e 1991.

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Tabela 1 – Dados censitários dos 13 municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio

Tabela 2 - Dados censitários dos 13 municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio

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Gráfico 1 – Valor médio do IDH-M dos municípios que têm área dentro da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio, para os anos de 1970, 1980 e 1991.

2.6 Criação da base digital

Para que os dados tabulares pudessem ser transformados em informações visuais, um dos passos foi a construção de uma base digital da malha municipal dos municípios pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio.

Desta forma, foi feita a conversão analógico-digital, através de scanner, do mapa da Divisão Administrativa e Judiciária do Estado de São Paulo – Escala: 1:500.000 – IGC. Com o emprego do software CorelDRAW 9, a área de interesse deste mapa foi digitalizada, tendo como resultado a base digital da malha municipal dos municípios pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio. Após esses passos foram inseridos os demais elementos que compõem um mapa, tais como: coordenadas geográficas, convenções cartográficas, legenda temática, bordas, escala gráfica, topônimos, construindo-se deste modo um mapa base dos municípios que compõem a Bacia Hidrográfica, na escala de 1:750.000. 2.7 Elaboração de cartogramas sócio-econômicos

Nessa etapa, foram construídas legendas específicas para cada tema analisado, visando sua inserção no Atlas Interativo. Para cada indicador foi construído um cartograma, totalizando cinco representações cartográficas: • densidade demográfica; • população total; • porcentagem de população urbana e rural; • porcentagem de população masculina e feminina; • taxa de urbanização.

2.8 Elaboração de cartogramas físico-territoriais

Os cartogramas físico-territoriais foram adaptados de SILVA (2001), que realizou o recorte a partir dos mapas temáticos disponibilizados por CPTI (1999).

Os mapas, que neste projeto passaram por uma generalização e redução de escala (de 1:250.000 para 1:600.000), são os seguintes:

• geológico; • geomorfológico; • pedológico; • suscetibilidade à erosão; • uso e ocupação do solo; • processo de assoreamento e qualidade das águas.

Outros mapas temáticos foram adaptados de

SENAGRO (1998), os quais são:

• carta-imagem de satélite; • vegetação natural remanescente; • conflito do uso do solo; • situação jurídica das terras; • aptidão agrícola; • criticidade potencial do solo à erosão; • fragilidade natural do solo à erosão; • assentamentos Implantados.

Na Figura 4 pode-se ver o mapa de suscetibilidade

à erosão do solo da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio.

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Figura 4 – Tela do Atlas com o Mapa de Suscetibilidade à Erosão do solo da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio.

A Figura 5 mostra a Carta Imagem de Satélite da

Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio, que foi adaptada a partir de um mosaico semicontrolado de imagens multiespectrais LANDSAT TM 5, obtidas em 1997 e disponibilizadas por SENAGRO (1998).

Uma legenda temática foi especialmente elaborada para inserção neste Atlas, tendo sido recortados trechos do mosaico em que são mostradas as seguintes feições: área urbana, mata, pastagem, plantação e rio. É importante ainda ressaltar que a rede hidrográfica que é apresentada neste mapa foi digitalizada e sobreposta à imagem de satélite.

Assim como nos demais cartogramas, além da legenda, são apresentados: título, norte, coordenadas geográficas, escala gráfica e fonte consultada.

3 DISPONIBILIZAÇÃO DO ATLAS INTERATIVO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SANTO ANASTÁCIO

A construção dos mapas e cartogramas da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio era a meta da primeira fase do trabalho, após o que foi possível organizar e disponibilizar os resultados.

Sendo assim, o Atlas Interativo da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio foi disponibilizado em dois formatos: em CD-ROM e em HTML.

3.1 Versão em CD-ROM

A disponibilização do material obtido através do CD-ROM contou com a utilização do software de Criação Multimídia Visual Class (TATIZANA, 2002).

O desenvolvimento de um projeto no Visual Class consiste na construção de diversas telas contendo som, imagem, texto, filme e áudio, sendo que posteriormente essas telas são ligadas através do uso de hyperlinks internos.

Para que o consulente compreenda melhor alguns conceitos presentes no Atlas, foi criado o módulo Conceitos, onde podem ser encontrados os referentes à Região, Atlas Interativo, UGRHI-22 e Bacia Hidrográfica, ao qual dá-se destaque especial.

Este contém um texto e uma figura, a qual elucida muito bem o que é uma bacia hidrográfica (Figura 6)

Vídeos digitalizados podem ser visualizados, dentre os quais: • Cenários do Rio Santo Anastácio, • Viagem Aérea sobre o Rio Santo Anastácio, • Rio Santo Anastácio desaguando no Paraná, • Incêndio Florestal, • Chuva • Agricultura com Curvas de Nível Próximas a um

Córrego.

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Figura 5 – Tela do Atlas com a Carta Imagem de Satélite da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Anastácio.

Figura 6 – Tela do Atlas com o conceito e a figura de Bacia Hidrográfica

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E. Girardi; A. Meneguette

Um módulo que merece ser ressaltado é o de Atividades, onde o usuário pode testar seus conhecimentos e ser desafiado intelectualmente a resolver problemas relativos à área de estudo.

Foi incluído, também, um menu de perfis profissionais das diversas áreas afins deste projeto, o qual pode auxiliar os alunos concluintes do Ensino Médio, a escolherem suas futuras profissões. Esse mesmo item conta com uma série de links para sites de instituições que podem auxiliar os alunos em pesquisas e também na escolha de suas carreiras.

Um módulo de Glossário baseado em MENEGUETTE (2001b) foi incluído no Atlas, de modo a favorecer o entendimento sobre os assuntos tratados.

Uma extensa lista de bibliografias é apresentada, permitindo ao usuário o aprofundamento de seus estudos e pesquisas.

Para a execução desse CD-ROM basta inseri-lo no drive de CD do computador e o Atlas iniciará automaticamente, pois este foi gerado com um sistema de auto-run. 3.2 Versão em HTML

Uma primeira versão HTML teve como software de criação o FrontPage da Microsoft. Esse software permite a criação de diversas páginas interligadas por hyperlinks. Também permite inserir links externos, os quais acionam outras páginas na Internet ou programas de e-mail como o Outlook.

Foi desenvolvida posteriormente uma segunda versão. Para isso, foi utilizado o software GeraHTML. Este software converte todo o conteúdo do CD-ROM, previamente elaborado em Visual Class, para o formato HTML, o que possibilita a consulta de todo o material via internet. Essa versão está disponível em: http://www.prudente.unesp.br/atlas/stoanastacio.

4 VALIDAÇÃO DO ATLAS INTERATIVO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SANTO ANASTÁCIO

O CD-ROM foi avaliado inicialmente por professores e estudantes de Ensino Fundamental e Médio do Colégio Cooperativo e da Escola Estadual Francisco Pessoa, de Presidente Prudente, durante a Semana da Água, organizada em outubro de 2001 pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Pontal do Paranapanema (CBH-PP), durante a qual ocorreu o lançamento da versão 1.0.

Sugestões encaminhadas pelos usuários foram valiosas para a edição do CD-ROM. Após as edições sugeridas foram incorporadas atividades de aferição de aprendizagem, contendo desafios intelectuais e propostas de exercícios.

O lançamento da versão 2.0 ocorreu no Dia Mundial da Água, em 22/03/2002, na Estância Turística de Presidente Epitácio, durante o IV Encontro de Educadores em Defesa da Água, quando foi realizada a Oficina Pedagógica denominada “Novas Tecnologias na Educação Ambiental”, organizada pelo CBH-PP.

Educadores provenientes dos 26 municípios da UGRHI-22 avaliaram o CD-ROM e encaminharam sugestões de aprimoramento.

O processo de validação do produto em sua versão 2.1 se deu junto ao CEFAM (Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério) de Presidente Prudente. O CD foi apresentado para alunos e professores em sessões diferentes, sendo que através desta apresentação os mesmos puderam avaliar o Atlas com o preenchimento da Ficha de Avaliação. Esta ficha possibilitava aos consultados a classificação de diferentes itens em ruim, bom e ótimo, sendo esses itens os seguintes: • Estética da Apresentação; • Qualidade dos Textos; • Qualidade dos Mapas; • Qualidade das Imagens; • Qualidade das Animações; • Recursos de Navegação; • Interatividade; • Aplicabilidade; • Utilidade.

Após fazer essa avaliação quali-quantitativa, o professor ou o aluno tinha a sua disposição um espaço onde podia manifestar sua opinião de forma mais aberta quanto ao CD e citar outras críticas.

Foram consultados 21 alunos, sendo que a partir de suas respostas foi possível verificar que a avaliação do Atlas foi satisfatória, pois a maioria dos alunos classificou os quesitos como bons ou ótimos, sendo o que mais lhes agradou foi a utilidade do Atlas, alcançando uma média de 76,2% de aprovação como sendo ótima, sendo este antecedido por dois outros itens que atingiram 71,4% de aceitação como ótimo, sendo estes o de qualidade dos mapas e interatividade.

Na avaliação dos 10 professores os quesitos que mais se destacaram como sendo ótimos foram os de utilidade e de qualidade das animações, os quais ganharam 70% dos votos, sendo estes seguidos pelo item de qualidade dos mapas, que atingiu 60%.

No processo de avaliação, 98,83% dos pesquisados colocaram os aspectos do Atlas entre bom e ótimo, o que permite perceber que o objetivo do projeto foi alcançado satisfatoriamente.

5 CONCLUSÕES

O Atlas Interativo da Bacia Hidrográfica do Rio

Santo Anastácio (GIRARDI e MENEGUETTE, 2002) é constituído por diversos módulos que permitem ao usuário ter uma visão da real situação da área de estudo.

Através do Menu Principal do Atlas é possível escolher três hipertextos: um sobre a localização, outro sobre a caracterização da área de estudo e um terceiro sobre a importância da água do Rio Santo Anastácio. Destaque especial é dado aos cartogramas e mapas.

O Atlas tem sido testado em escolas públicas e particulares onde tanto alunos como professores aprovam o produto e ressaltam a sua importância para a Educação Ambiental na Região do Pontal do Paranapanema.

Anais do Simpósio Brasileiro de Geomática, Presidente Prudente - SP, 9-13 de julho de 2002.

E. Girardi; A. Meneguette

Pode-se ter como conclusão deste trabalho o fato que este servirá como material de apoio didático-pedagógico para os professores e alunos das escolas da região, quando forem abordados diferentes assuntos geográficos e cartográficos, dentre os inúmeros temas que são apresentados neste Atlas Interativo. No desenvolvimento deste projeto foi muito importante o aprendizado sobre as formas de produção cartográfica que o geógrafo pode lançar mão para enriquecer o seu trabalho conceder a ele mais elementos didáticos, assimilativos e analíticos.

A disponibilização deste trabalho em diferentes meios digitais como o CD e a Internet contribui para a democratização das formas de acesso ao material pois não são necessários grandes custos, como os que seriam requeridos no meio analógico, porém é necessário visar que grande parte da população ainda não possui computador ou mesmo acesso à Internet. Sendo assim, intenciona-se converter este Atlas para o meio analógico a fim de democratizar ainda mais o acesso a este produto de informação.

REFERÊNCIAS COOPERATIVA DE SERVIÇOS, PESQUISAS TECNOLÓGICAS E INDUSTRIAIS (CPTI). Diagnóstico da situação dos recursos hídricos da UGRHI – 22 Pontal do Paranapanema: relatório zero. São Paulo: CPTI, 1999. CD-ROM. FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo demográfico 2000: resultados preliminares. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. CD-ROM. Também disponível em <http://www.ibge.gov.br/>. Acesso: 10 de dezembro de 2001.

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