MÉTODO DE PORTFÓLIOS EDUCACIONAIS PARA INCLUSÃO - AUTISMO E EDUCAÇÃO
A TRAJETÓRIA ESCOLAR DOS ALUNOS COM AUTISMO: … · Nas Diretrizes Nacionais para a Educação...
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VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
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A TRAJETÓRIA ESCOLAR DOS ALUNOS COM AUTISMO: UMA ANÁLISE DAS
MATRÍCULAS NO MUNICÍPIO DE LONDRINA – PARANÁ (2007 A 2012).
CAMILA LUDOVICO1,
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, ARAUCÁRIA/CNPQ
MICHELLE MAYARA PRAXEDES SILVA2,
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA,CAPES, CNPQ
Introdução
O presente trabalho agrega-se aos estudos desenvolvidos pelo Grupo Estudos e Pesquisas em
Educação Especial no âmbito do Observatório da Educação denominado “A escolarização de
alunos com deficiência e rendimento escolar: uma análise dos indicadores educacionais em
municípios brasileiros”. Temos por objetivo analisar o impacto causado pela reformulação
ocorrida na Educação Especial no ano de 2009 no município de Londrina, referente ao
processo de inclusão dos alunos com autismo na rede regular de ensino. Para tanto,
analisaremos a trajetória (entre 2007-2012) das matrículas dos onze alunos identificados com
autismo no ano de 2009.
No decorrer dos anos tivemos várias mudanças de nomenclatura para designar os alunos com
algum tipo de transtorno, incluindo o autismo. A população de autistas tem aumentado
consideravelmente no mundo todo e no nosso país na legislação atual os alunos com autismo
têm os mesmo direitos que os demais alunos da educação especial. Estes dentre outros fatores
mostram a clara necessidade de se investigar como estes alunos estão na rede de ensino
regular do município de Londrina.
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência ficou destinado historicamente à
educação especial e esta por sua vez constituiu-se de forma paralela ao sistema de ensino. O
poder público sempre mostrou-se pouco atuante, dando abertura para que as instituições
privadas dominassem este campo. Para tanto, a Constituição Federal de 1988 assegura esta
relação público/privado com repasse financeiro e isenção de impostos (MELETTI, 2010).
Jannuzzi (2006) afirma que esta relação público/privado é tão intensa como uma “parcial
simbiose”, a fim de que as políticas públicas sejam influenciadas pelo setor privado.
A adesão a acordos internacionais a partir da década de 90, trouxe mudanças significativas na
legislação e em aspectos gerais às formas de lidar com as pessoas com necessidades
educacionais especiais, incluindo as pessoas com deficiências. Temos início ao discurso
inclusivo nos aparatos legais brasileiros. Esta adesão desdobrou-se em diversas leis, das quais
destacamos a LDBEN 9394/96, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial CNE/2001
e em 2008 a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2008).
Com a Lei Federal n 9.394/96 a educação especial passa a ser instituída como uma
modalidade de ensino. É utilizado pela primeira vez o termo “necessidades educacionais
1 Discente de graduação em Pedagogia. Rua Aliança, 200, Vila Oliveira. Rolândia-PR.
[email protected] 2 Mestranda em educação. Rua: Izolina Bacci Nonino, 260, bloco 11 apart. 04, Vista Bela. Londrina-PR.
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especiais”, citado na Declaração de Salamanca (1994) dois anos antes. Percebe-se um avanço
no atendimento à pessoa com deficiência. A respectiva legislação avança no sentido de
ampliar e melhorar o atendimento à pessoa com deficiência, contudo não caracteriza
claramente quem é o aluno com necessidade educacional especial, dando abertura para um
atendimento incerto e impreciso. Nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica de 2001 (BRASIL, 2001),
temos a definição da educação especial como uma modalidade de ensino e há a delimitação
também de quem é o alunado da educação especial. O termo necessidade educacional especial
passa a ser utilizado de forma que amplia esta população alvo, incluindo além de alunos com
deficiência, mas também aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem. Com esta
imprecisão a incidência de ocorrer uma caracterização indevida é grande. Bueno (2008) afirma
que estes termos apresentam muitas imprecisões e ambiguidades
O que se observa neste percurso histórico e político é que partindo do pressuposto que a
sociedade que vivemos é excludente em sua essência, as políticas acabam mostrando-se
limitadas para o que ela almeja fazer que é acabar com a exclusão destes sujeitos.
Já na Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2008), percebeu-se que a proposta é contemplar a educação especial nas propostas
do ensino regular. Uma caracterização do aluno com deficiência é feita, deixando mais
delimitado, retira-se as dificuldades de aprendizagem, restringindo a população alvo da
educação especial aos alunos com deficiência. A educação especial é definida “como apoio às
necessidades do alunado classificado como população alvo e não de modo amplo como a
responsável pela implementação da escola inclusiva” (MELETTI, 2010, p.15). Entretanto,
apesar dos avanços nesta política, Bueno e Meletti (2011) afirmam que este documento não
tem o mesmo caráter dos anteriores, podendo ser ou não seguido por tratar-se de “uma
proposição de governo e não de estado (p.163)”.
Assim, podemos destacar que a atual política do país volta-se para a inclusão das pessoas com
deficiência na rede regular de ensino, entendendo esta inclusão como uma forma de superar as
formas de exclusão na qual estas pessoas foram expostas até o momento. Lembrando também
que no nosso entendimento a inclusão da forma como está estruturada não passa de um
discurso politicamente correto, pois conforme Meletti (2006), inclusão e exclusão fazem parte
da mesma trama, o sistema depende da existência da exclusão que ele mesmo cria para sua
própria manutenção.
Como população alvo da educação especial temos o autismo. O autismo na atualidade tem sua
classificação dentro dos TGD. O TGD por sua vez, é classificado em “transtorno autista,
transtorno de Rett, transtorno desintegrativo da infância, transtorno de Asperger e TGD sem
outra especificação” (MECCA et al, 2011, p.117. A característica destes transtornos é que
apresentam
[...] início precoce e desenvolvimento crônico, com prejuízos na interação
social, na comunicação social e com padrões restritivos de comportamento e
interesse, sendo que o quadro clínico e o grau de comprometimento dos
indivíduos podem ser bastante variados (PAULA et al, 2012, p.199).
Com o decorrer do tempo houve um aumento considerável nos casos de autismo. Não há
concordância na área da real causa deste aumento, mas existem vários motivos possíveis. Um
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destes refere-se a constante mudança de nomenclatura e dos critérios para diagnosticar que “
por serem critérios baseados na descrição de sintomas, torna o sistema de classificação menos
restrito, mais abrangente e pouco específico” (PAULA et al, 2012, p.201). Outro motivo para o
aumento das taxas de autismo dá-se talvez
[...] (1) a maior conscientização de clínicos e da comunidade sobre as
manifestações dos TEA (particularmente em países desenvolvidos);
(2) a melhor detecção de casos sem deficiência mental;
(3) a melhora nos serviços de atendimento a essa população, o que incentiva
o diagnóstico, já que pais e profissionais encontram recursos para assistir a
esses indivíduos (particularmente em países desenvolvidos);
(4) o aumento de estudos epidemiológicos populacionais, o que contribuiu
para a detecção de casos anteriormente não identificados em amostras
baseadas exclusivamente em casos clínicos;
(5) e o melhor conhecimento do transtorno, o que permite o
desenvolvimento de medidas e avaliações mais acuradas (PAULA et al,
2012, p.202)
Apesar das discrepâncias de opiniões, a única certeza que se tem é de que o aumento nos
casos de autismo não tem ligação com algum tipo de epidemia (PAULA et al, 2012).
Tendo em vista esta classificação da criança com autismo, a Política Nacional da Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), em sua definição sobre os
TGD, o incluem como população alvo da educação especial,
[...] alterações qualitativas nas interações sociais recíprocas e na
comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado
e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do
espectro autístico e psicose infantil (p.15).
No ano de 2012 foi instituída a Lei Federal n. 12.764 (BRASIL, 2012), a qual afirma que as
crianças com autismo são consideradas pessoas com deficiência, logo tem de receber o
mesmo atendimento destinado a outros tipos de deficiência. Em 2013 tivemos a Nota Técnica
n. 24/2013 (BRASIL, 2013), com o intuito de orientar os sistemas de ensino para a
implementação da lei citada, para garantir que as crianças com autismo tenham o mesmo
atendimento que as demais crianças da educação especial no atendimento educacional
especializado.
No Brasil, temos o uso da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10), e do
Manual de Diagnóstico e Classificação Estatística das Doenças Mentais (DSM) para a
classificação do autismo. Vasques (2008), tece sua crítica na utilização frequente destes
documentos, pois estes reduzem o aluno apenas ao seu comportamento, sem problematizar o
seu diagnóstico, tratando-o apenas como uma “racionalidade técnica e instrumental”
(VASQUES, 2008, p.14). Neste sentido,
Como uma espécie de moldura, o diagnóstico, neste sentido, enquadra, e no
interior desse quadro instalamos a criança, acreditando que ela pode ser
modificada, adaptada, corrigida. A realidade do autista lhe é natural, sendo
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explicada pela ciência e explicitada através do diagnóstico, das
classificações e avaliações (VASQUES, 2008, p.13).
Assim, tendo em vista todas as características e peculiaridades do autismo, sendo parte da
população alvo da educação especial, temos de nos debruçar com afinco sobre a realidade
educacional destes indivíduos. Para isto nos atentaremos a trajetória dos alunos com autismo
matriculados no município de Londrina nos anos de 2007 a 2012.
Método
Para alcançar o objetivo deste trabalho e compreendermos como estão ocorrendo as
matrículas de alunos com autismo no município de Londrina - PR, faremos uso do banco de
microdados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Anísio Teixeira (INEP).
O INEP fornece anualmente um banco de dados disponível para download em seu site, com
todos os dados coletados pelo Censo nos anos anteriores. Para extração e tratamento deste
banco utilizamos o software de estatística PASW Statistics (SPSS/17).
A partir deste software isolamos os dados do município de Londrina e estabelecemos o ano de
2009 como ano base para este trabalho. Atualmente o INEP disponibiliza os dados referentes
aos alunos com autismo separadamente dentro do termo TGD que engloba o autismo a
Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett e TDI. O termo utilizado até o ano de 2007 era
condutas típicas e passa oficialmente para o termo TGD com Política Nacional da Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). Como afirma Feijó
Em busca de uma melhor caracterização dos alunos com condutas típicas,
observando-se os quadros comportamentais ou síndromes que mais
acometem os alunos, a literatura científica e as publicações que destinam ao
mapeamento estatístico como as Sinopses Estatísticas da Educação
Básica/Censo Escolar realizadas e divulgadas pelo INEP, a partir do ano de
2007, passam a classificar as condutas típicas como uma das manifestações
dos Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD). (FEIJÓ,2011,p. 32)
Para os anos de 2007 e 2008 os dados foram disponibilizados pelo INEP agregando autismo,
Síndrome de Asperger e Síndrome de Rett dentro do termo TGD, apenas a partir de 2009 é
que o INEP disponibiliza os dados separadamente. A partir de 2009 que os alunos com
autismo são encontrados separadamente dos demais transtornos. Foram encontrados, neste
ano, onze alunos. Por meio do número de matrícula buscamos cada um destes alunos nos anos
de 2007 a 2012. Até o ano de 2006 Feijó (2011) destaca em sua pesquisa a imprecisão
existente nos dados do INEP na conceituação das condutas típicas, termo que era utilizado
antes do TGD. Esta imprecisão mostra-se no caso do autismo “que ora estava agregada às
condutas típicas e depois separada (FEIJÓ, 2011, p.90)”. A partir de 2007, a unidade de coleta do Educacenso passa a ser o aluno, o que possibilita o
acesso aos dados de todas as matrículas da Educação Básica brasileira. Assim, no ano de 2009
identificamos os 11 alunos com autismo e a partir do número do código do aluno foi possível
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rastreá-los de 2007 a 2012 (último ano de dados disponibilizados até o encerramento desta
pesquisa).
Desta forma, o banco de dados nos fornece inúmeras variáveis, dentre as quais, selecionamos
para este trabalho; idade, modalidade de ensino (Ensino Regular, Educação Especial e
Educação de Jovens e Adultos-EJA) etapa de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental
de oito anos, Ensino Fundamental de nove anos, Ensino Médio) dependência administrativa
(Estadual, Municipal e Privada) e categoria de escola privada (particular, comunitária,
confessional e filantrópica).
Resultados e discussão
O município de Londrina, localizado no interior do estado do Paraná, conta com uma
população divulgada pelo último Censo Demográfico no ano de 2010 de 506.701. O
município tem uma área territorial de aproximadamente 1654 km2, contando com seus oito
distritos (Espírito Santo, Guaravera, Irerê, Lerroville, Maravilha, Paiquerê, São Luiz e Warta)
(IBGE, 2010). No estado do Paraná, mostra-se como a segunda cidade mais populosa, ficando
atrás apenas da capital Curitiba.
No que se refere à educação, a rede municipal de ensino, apresenta um total de 103 unidades
escolares. Destas no ensino fundamental são 72 na área urbana e 11 na área rural. Já na
educação infantil temos 20 Centros Municipais de Educação Infantil.
Quanto à educação especial, a partir do ano de 2009 ocorre a reformulação na educação
especial em Londrina, onde há reestruturação da equipe psicopedagógica responsável pela
avaliação, diagnóstico e encaminhamento das crianças com necessidades educacionais
especiais aos serviços da rede. Neste período ocorre também o fechamento das classes
especiais, mantendo-se apenas cinco delas para atendimento aos alunos com TGD. Tal
reformulação fez com que alunos com TGD fossem encaminhados de modos distintos na rede
municipal: permanência em classe especial; classe regular com sala de recursos no
contraturno; instituição especial. Assim, o presente trabalho tem por objetivo analisar o
impacto causado por tal reestruturação no que diz respeito ao processo de inclusão dos alunos
com autismo na escola regular de ensino.
Antes da análise dos dados cabe fazer alguns esclarecimentos. Quanto à modalidade de
ensino, apenas um aluno foi encontrado no ensino regular, (e apenas nos anos de 2009 e
2010), assim optamos por não inserir esta variável na tabela, mas apenas na discussão.
Também foi necessário não acrescentar a variável categoria de escola privada, pois todas as
escolas privadas apresentadas são privadas e filantrópicas. De acordo com os dados
apresentados na Tabela, alguns alunos não foram encontrados em todos os anos do período
analisado. Para estes foi feita uma busca no banco de dados do Paraná, porém não obtivemos
êxito em encontra-los, em nenhum dos casos.
Tabela: Trajetória dos alunos com autismo identificados no ano de 2009 em Londrina
por idade, etapa de ensino e dependência administrativa no período de 2007 a 2012.
Aluno Variáveis Ano
2007 2008 2009 2010 2011 2012
01 Idade - - 6 7 8 9
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Aluno Variáveis Ano
2007 2008 2009 2010 2011 2012
Et. de Ens. - - Pré-esc. Pré-esc. 1ª série 1° ano
Dep. Adm. - - privada privada privada privada
02
Idade - - 6 7 8 9
Et. de Ens. - - Pré-esc. Pré-esc. 1ª série 1° ano
Dep. Adm. - - privada privada privada privada
03
Idade - - 4 - - -
Et. de Ens. - - Pré-esc. - - -
Dep. Adm. - - privada - - -
04
Idade 12 13 14 15 16 17
Et. de Ens. 1ª série 1ª série 1ª série 1ª série 1ª série 1º ano
Dep. Adm. privada privada privada privada privada privada
05
Idade - 14 15 16 17 18
Et. de Ens. - Pré-esc. 1ª série 1ª série 1ª série EJA
Dep. Adm. - privada privada privada privada privada
06
Idade 14 15 16 17 - -
Et. de Ens. 1ª série 1ª série 1ª série 1ª série - -
Dep. Adm. privada privada privada privada - -
07
Idade 11 12 13 14 15 16
Et. de Ens. 1ª série 1ª série 1ª série 1ª série 1ª série 1º ano
Dep. Adm. privada privada privada privada privada privada
08
Idade 14 15 16 - - -
Et. de Ens. 1ª série 1ª série 1ª série - - -
Dep. Adm. privada privada privada - - -
09
Idade - 9 10 - - -
Et. de Ens. - 1ª série 1ª série - - -
Dep. Adm. - Estadual Estadual - - -
10
Idade 9 10 11 12 13 14
Et. de Ens. 1ª série 1ª série 1ª série 1ª série 1ª série 1ª série
Dep. Adm. Estadual Estadual Estadual Estadual Estadual Estadual
11
Idade - - 6 7 - 9
Et. de Ens. - - Pré-esc. 1° ano - 1º ano
Dep. Adm. - - Municip. Municip. - privada Fonte: Tabela elaborada com base nos dados extraídos do banco de Microdados do MEC/INEP.
Censo Escolar da Educação Básica. Microdados: de 2007 a 2012.
Nota: Sinal convencional utilizado: (-) refere-se ao aluno não encontrado no respectivo ano.
Três pontos principais nos chamaram atenção nos dados coletados, dos quais pretendemos
tratar nesta análise. Em primeiro lugar é a não progressão dos alunos no que se refere à etapa
de ensino. Em segundo lugar a predominância dos alunos com autismo matriculados em
instituições privadas em detrimento das matrículas na escola pública. Em terceiro e último
lugar cabe uma discussão acerca da modalidade de ensino, já que estes dados apresentam uma
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quase hegemonia da educação especial sobre o ensino regular, ao menos quanto à educação de
alunos com autismo.
Percebemos que na maioria dos casos analisados houve pouca ou nenhuma progressão dos
alunos no que se refere à etapa de ensino. Podemos ver maior agravamento nos casos de
número 04, 07 e 103 em que os alunos não avançaram sequer uma vez na etapa de ensino. Nos
casos 03, 06, 08 e 09 não podemos afirmar se houve ou não mudanças significativas em suas
trajetórias já que não foi possível encontra-los em todos os anos do período analisado.
Ferreira aponta a gravidade da situação quando coloca em uma de suas pesquisas que;
No âmbito mais específico da educação especial, outras pesquisas
demonstraram como as classes de apoio ou salas de recursos podem se tornar
novas classes especiais, autônomas, reforçando outra vez os vínculos entre o
fracasso escolar, a educação e especial e a discriminação. (FERREIRA,
2006, p.108)
Essa evidente relação entre educação especial e o fracasso escolar nos parece ainda mais forte
no que se refere aos alunos com autismo.
No que se refere à falta de progressão dos alunos, analisando a matricula do aluno de número
10 que permanece por 6 anos na mesma etapa de ensino, vale destacar que estamos diante da
integração e não diante da efetiva inclusão, pois mesmo o aluno estando matriculado na rede
estadual, se encontra na modalidade especial sendo atendido apenas fora da sala comum. Vale
lembrar que o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais no paradigma
da integração diferencia-se da inclusão, conforme esclarecimentos de Camargo e Bosa
Enquanto na integração investe-se na possibilidade de indivíduos com
deficiência frequentarem escolas comuns de ensino, cujos currículo e
método pedagógicos estão voltados para crianças consideradas “normais”, na
inclusão muda-se o foco do indivíduo para a escola. Neste caso, é o sistema
educacional e social que deve adaptar-se para receber a criança deficiente.
(CAMARGO e BOSA, 2009 p.69).
Incluir o aluno com necessidade educacional especial significa garantir a ele o direito à
educabilidade. Ao tratarmos o aluno de numero 11 é possível entender que podemos estar
diante de um caso da falta de adaptação educacional, principalmente em termos de não
adaptação de currículo para atender as demandas educacionais que o aluno com autismo
apresenta.
E não seria esse apenas o fator desencadeador da não progressão no que se refere às
matrículas de aluno com autismo, mas também outros, como ausência do real conhecimento
sobre as necessidades educacionais dos alunos com autismo, dando lugar à “ideias
preconcebidas e caricaturizadas sobre o autismo, principalmente a partir da mídia,
3 Para manter o caráter de anonimato dos alunos optamos por identifica-los apenas pela ordem numérica em
que estão dispostos na tabela.
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influenciam as expectativas do professor sobre o desempenho de seus alunos, afetando a
eficácia de suas ações quanto à promoção de habilidades.” (CAMARGO; BOSA; 2009, p.69).
Temos o aluno 11 como o único que obteve acesso ao ensino regular, isso apenas em 2009 e
2010, retornando à modalidade especial em 2012. A literatura revela que há uma falta de
preparação do corpo docente e das escolas para a inclusão do aluno com autismo no ensino
regular, resultando na não progressão dos mesmos e ainda mais, prejudicando o seu
desenvolvimento. “Quando não há ambiente apropriado e condições adequadas à inclusão, a
possibilidade de ganhos no desenvolvimento cede lugar ao prejuízo para todas as crianças”.
(CAMARGO e BOSA, 2009, p.70).
Contudo, podemos destacar que, sobre a formação dos professores para atuar com a educação
especial, a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2008, p. 17) sugere que “Para atuar na educação especial, o professor deve ter
como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da
docência e conhecimentos específicos da área.” Seguindo desta forma para trabalhar com as
necessidades apresentadas pelo aluno em questão.
Apesar dos avanços com relação ao conceito de escolarização e aos direitos dos alunos que
apresentam necessidades educacionais especiais, dentre eles, os alunos com autismo existem
pessoas que não acreditam na escolarização dos sujeitos. Vasques e Baptista apontam que;
Existe, contudo, uma forte tendência de separação desses alunos do ambiente
sócio-educacional. Os estudos sugerem que, ainda hoje, crianças com
psicose infantil e autismo são excluídas da escola e, portanto, do circuito
social. Certamente, trata-se de um fenômeno de múltiplas determinações. Há
quem acredite que tais crianças não são capazes de aprender, ou que a escola
não teria como “contribuir” frente a crianças com comportamentos tão
diferenciados. (VASQUES E BAPTISTA, 2002 p. (?))
Os autores tratam a questão como sendo muito valorizado o atendimento psicoterápico e que
esse fator pode justificar a falta de atenção a outros tipos de intervenção ao aluno psicótico.
Podendo assim caracterizar o ensino na modalidade especial por estarmos diante de resultados
tão alarmantes em que os alunos não ultrapassam a primeira série na etapa de ensino.
Os dados denunciam ainda que apesar das reestruturações e do desenvolvimento de políticas
de educação inclusiva, a predominância ainda está nas instituições privadas especializadas e
filantrópicas. Dos onze alunos, um esteve na rede pública por dois anos e no último ano do
período analisado já estava na escola privada. Nos demais casos, oito estiveram durante este
período em instituições privadas e dois na rede pública. Para Kassar,
[...] as instituições „privadas‟, principalmente no setor do atendimento
especializado a pessoas com deficiências, apresentam-se na história do
atendimento à educação especial como extremamente fortes, com lugar
garantido no discurso oficial, chegando a confundir-se com o próprio
atendimento „público‟, aos olhos da população, pela „gratuidade‟ de alguns
serviços. (KASSAR, 1999 p.22)
Estes espaços privados vão se configurando como fundamentais ao atendimento de alunos
com deficiência à medida que as escolas públicas não conseguem sustentar a demanda de tal
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atendimento. Realidade, que de acordo com os dados apresentados não se altera, pelo menos
para o atendimento de alunos com autismo em Londrina.
Outra questão importante é a presença quase unânime dos alunos na educação especial em
detrimento do ensino regular. Mesmo aqueles que estavam matriculados em escolas públicas
estavam na modalidade de educação especial, ou seja, em classes especiais. O que remete a ao
fato de estarem recebendo atendimento em caráter substitutivo e, consequentemente,
segregado.
Assim, entendemos que os dados caracterizam o atendimento aos alunos com autismo no
município de Londrina, excludente e segregado. Características que se mantém, mesmo
depois da reestruturação de 2009, já que como podemos ver nos três primeiros casos, os
alunos foram matriculados em instituições de educação especial, sendo que estes iniciam sua
vida escolar á partir do ano de 2009 já em espaços de segregação.
O caso do aluno de número 11 foi a única exceção, (ou poderia ter sido), pois o aluno foi
matriculado no ensino regular em uma escola municipal e os dados apresentaram nos dois
primeiros anos da vida escolar deste aluno idade e etapa de ensino condizentes. Porém, no ano
de 2011 este aluno não é encontrado em nenhuma instituição de ensino no município de
Londrina, ou mesmo do Paraná, reaparecendo em 2012 já matriculado em uma instituição de
educação especial, privada e filantrópica. De acordo com as orientações da Política Nacional
de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), na Portaria n°
948/2007 (2008)
O atendimento educacional especializado identifica, elabora e organiza
recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a
plena participação dos alunos considerando as suas necessidades específicas.
As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado
diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo
substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou
suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência
na escola e fora dela.
Desta forma cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial na perspectiva da
educação inclusiva disponibilizar dos recursos que forem necessários para o atendimento dos
alunos com autismo na rede regular de ensino. É importante ressaltar que os alunos não
estiveram em nenhum dos casos, matriculados concomitantemente na escola regular e na
educação especial, mas o atendimento se passa exclusivamente nesta segunda modalidade.
Além das discrepâncias já citadas, o atendimento especializado no município de Londrina,
vem ocorrendo como medida substitutiva à escolarização. Kassar e Meletti (2012) em um de
seus estudos nos mostram que tal prática se configura coerente com a determinação legal do
Estado do Paraná que adota a Resolução 3600/2011 (GS/SEED, 2011), de agosto de 2011
No estado do Paraná a ocorrência de classes especiais é ainda considerável e
uma resolução recente altera a denominação das Escolas de Educação
Especial para Escolas de Educação Básica, na modalidade de Educação
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Especial, as reconhecendo, de certa forma, como escolas de educação básica
para fins de subsídios públicos. (MELETTI; KASSAR, 2012, p.61)
Entende-se, portanto que o estado do Paraná apresenta dificuldades na implementação da
política educacional brasileira vigente. Sabemos que a questão não se resume simplesmente
ao ato de incluir, seja na rede pública, seja no ensino regular, mas que os estudos neste sentido
vão muito além, por isso recorremos à Ferreira quando esclarece
A escola não se torna inclusiva ou democrática apenas porque amplia o
acesso ou porque matricula alunos com deficiência em classes comuns. De
outra parte, não há como esperar que ela se torne um espaço ideal, sem os
alunos, para apenas depois os matricular. (FERREIRA, 2006 p.111)
Entendemos assim que considerar a educação na perspectiva inclusiva, não se trata apenas de
propiciar meios para que aconteça, mas de prever e construir a inclusão concomitantemente.
Isto não é diferente quando tratamos de alunos com autismo, estando eles inseridos no grupo
maior de alunos com deficiência ante as políticas públicas da educação.
Conclusões
Mediante o objetivo desta pesquisa de analisar a trajetória de alunos com autismo no
município de Londrina, considerando as alterações realizadas no ano de 2009, percebemos
que a escolarização destes alunos ocorre de maneira segregada, tendo em vista que os três
pontos principais da análise assinalam tal conclusão. Sendo que o primeiro tratou da não
progressão dos alunos, questão agravante que denota a precariedade do atendimento
fornecido. O segundo demonstrou a predominância de matrículas destes alunos nas
instituições privadas filantrópicas reiterando o caráter de desresponsabilização da escola
pública sobre a educação de alunos identificados com transtorno autista. E finalmente o
terceiro ponto em questão ressalta que esta preponderância também ocorre (e é ainda mais
efetiva) quando se trata da modalidade de ensino. Neste caso a Educação Especial predomina
sobre o Ensino Regular, salientando ainda o caráter de atendimento especializado como
medida substitutiva à escolarização. Vale ressaltar que o Estado do Paraná sofre dificuldades
de implementação da política educacional brasileira vigente ao adotar a Resolução 3600/2011
(GS/SEED, 2011) o que pode indicar uma tendência para o atendimento em instituições
filantrópicas, pressuposição que merece mais estudos.
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