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A união da Moda e Arte O diálogo intrínseco, que se desenvolveu ao longo dos anos Ana Isabel de Oliveira Abrantes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Branding e Design de Moda (2º ciclo de estudos) Orientadora: Profª Madalena Pereira Covilhã, Outubro de 2016 UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Engenharia

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A união da Moda e Arte

O diálogo intrínseco, que se desenvolveu

ao longo dos anos

Ana Isabel de Oliveira Abrantes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Branding e Design de Moda (2º ciclo de estudos)

Orientadora: Profª Madalena Pereira

Covilhã, Outubro de 2016

UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Engenharia

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Agradecimentos

Um agradecimento especial aos meus pais, pois foram eles que permitiram, que realiza-se este curso. O seu apoio e ajuda foram fundamentais, que estiveram sempre ao meu lado, quando eu mais precisava. E claro, não posso deixar de agradecer pela sua atenção, amor e carinho prestados. A seguir, tenho de agradecer às minhas irmãs, não só pela vossa companhia, amor, e carinho que me deram, mas também pela vossa ajuda nos momentos que eu mais precisei, e preocupação. Um grande agradecimento à orientadora e professora Madalena Pereira, pela sua ajuda, apoio, e paciência que teve no desenvolvimento deste trabalho, e também pelos seus aconselhamentos. Obrigado! Tenho de agradecer aos meus amigos, que sempre acreditaram em mim, se preocuparam, e disponibilizaram para me ajudar. Por último, um agradecimento particular, à Alexandra Gomes, à Catarina Silva, e à Elisabete Ziggue, pelo vosso apoio psicológico e emocional, que foram fundamentais para obter forças na conclusão deste culminar académico. Obrigado pela vossa preocupação.

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Resumo

A moda é uma área ligada ao uso de novas plasticidades, tecnologias,

materiais e novas performances. Por isso, de ano para ano, esta desenvolve

uma nova linguagem utilizada pelos designers, nomeadamente, criativos, de

forma a expressar a sua criatividade, ideias, e provocar questionamentos e

sentimentos, com o intuito de provocar no consumidor uma reflecção e

entusiasmo. Essa nova linguagem surge, inevitavelmente, com influência dos

vários meios artísticos e sociais, como o cinema, a música, o design, a

cultura, arquitectura, e a própria arte. Assim, a moda consegue criar relações

muito próximas, interessantes e poderosas com todas estas áreas. A arte é

dessas áreas, pela qual a moda tende a influenciar-se, por isso é impossível

desconectá-las. Todas estas áreas são poderosas, que permitem criar uma

relação intensa, muito forte e impactante com a moda. Ambas geram um

grande impacto na sociedade, a nível mundial. Por isso, conseguem ajudar a

moda a lançar tendências pela contribuição e influência natural, que os

actores, artistas, arquitectos, designers, músicos, entre outros têm na

sociedade, devido à sua projecção. O glamour, a ousadia, a extravagância,

sensualidade, sofisticação, versatilidade, teatralidade, rebeldia, e ainda as

transfigurações dos visuais escandalosos, incutidos no ADN dos próprios

artistas, provocam nos designers criativos, o desenvolvimento de colecções e

sua apresentação em performances. As colecções transformaram-se em

verdadeiras peças insólitas, icónicas, criativas, históricas, e simbólicas. Assim,

a moda passa por um grande processo transformativo, quando se envolve com

todas estes meios, no qual cria um valor e proximidade com o consumidor,

cria produtividade, maior divulgação das áreas em questão, e ainda cria uma

maior expansão das marcas em designers. Para se entender melhor esta

relação, realizou-se um estudo de caso, a marca Pepe Jeans London, e que

analisa a ligação, ao longo de vários anos entre o artista Andy Warhol, e as

colecções da marca, ao longo de várias estações. Conclui-se que existe uma

relação entre o artista a marca, o designer que a desenvolve e o consumidor,

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criando um valor acrescentado para a marca e uma maior projecção

internacional do artista.

Palavras-chave

Criatividade, arte, valor, influência, linguagem e moda.

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Abstract

Fashion is an area conected to the use of new plasticity, technologies, materials and

new performances. So, from year to year, it develops a new language used by

designers, particularly creative, to express their creativity, ideas, and provoke

questions and feelings, in order to cause the consumer a reflection and enthusiasm.

This new language emerges, inevitably, with the influence of various artistic and

social media, such as film, music, design, culture, architecture, and art itself. Thus

fashion can create very close relationships, interesting and powerful with all these

areas. Art is these areas through which the fashion tends to be influenced, so it is

impossible to disconnect them. All these areas are powerful, that allow you to create

an intense relationship, very strong and impactful with fashion. Both generate a large

impact on society worldwide. So, can help to launch fashion trends for the

contribution and influence natural that actors, artists, architects, designers,

musicians, and others have in society due to their projection. The glamor, daring,

extravagance, sensuality, sophistication, versatility, theatricality, rebellion, and also

the transfiguration of scandalous visual, engrained in the DNA of the artists

themselves, lead the creative designers, the development of collections and their

presentation in performances. The collections have become true unusual pieces,

iconic, creative, historical and symbolic. Thus, the fashion goes through a great

transformative process when it involves with all these means, which creates a value

and proximity to the consumer, creates productivity, greater dissemination of such

areas, and creates even greater expansion of the brands designers. To better

understand this relationship, there was a case study, the brand Pepe Jeans London,

and analyzes the connection over several years between the artist Andy Warhol, and

the collections of the brand over several seasons. We conclude that there is a

relationship between the artist the brand, the designer that develops and consumers,

creating added value for the brand and greater international projection of the artist.

Keywords

Creativity, art, value, influence, language and fashion.

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Índice

1. Lista de Figuras XI

2. Lista de Tabelas XV

3. Lista de Acrónimos XVII

4. Capítulo 1 1

4.1. Introdução 1

4.2. Revisão Bibliográfica 3

4.3. Linguagem da Moda 4

4.4. Cultura e a Moda 12

4.5. A Arte e as Colecções de Moda 25

4.6. A Arquitectura e a Moda 36

4.7. A Moda e o Design 46

4.8. O Cinema e a Moda 65

4.9. A música e a Moda 77

5. Capítulo 2 99

5.1. Introdução 99

5.2. Metodologia 100

5.3. Análise de Estudo de Caso 101

5.4. Identidade Corporativa 102

5.4.1. História 102

5.4.2. Perfil 104

5.4.3. Missão, Visão e Valores 105

5.4.5. Público- Alvo 106

5.4.6. Concorrentes 106

5.5. Estratégia 107

5.5.1. Branding 107

5.5.2. Produto 107

5.5.3. Preço 108

5.5.4. Inovação de Marketing 109

5.5.6. Distribuição 110

5.6. Identidade Visual 110

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5.6.1. Origem do nome da marca 110

5.6.2. Logótipo 110

5.7. Análise Swoot 111

5.7.1. Oportunidades + Pontos Fortes=

Vantagens Competitivas 111

5.7.2. Oportunidades + Pontos Fracos=

Capacidade de Defesa 112

5.7.3. Ameaças + Pontos Fortes= Necessidade de

Reorientação 112

5.7.4. Ameaças + Pontos Fracos =

Vulnerabilidades 113

5.8. Análise de Colecções 113

5.9. Conclusões 121

6. Recomendações Futuras 123

7. Bibliografia 124

8. Webgrafia 126

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Lista de Figuras

Figura 1 – Madame Germany February 2011 - editorial Dolce Vita

4

Figura 2 – Black Magic, Yves Saint Laurent, SS 2013, Paris 8

Figura 3 – Colecção da Vogue China, 2012, por Patrick 8

Figura 4 – Saigon Brown, Vogue UK, 1990, por Patrick Demarchelier 8

Figura 5 – Looks completamente brancos de Bottega Veneza, os dois primeiros, de Gucci e Ermenegildo Zegna, os dois últimos

9

Figura 6 - Bolsas e cintos da grife Louis Vuitton 11

Figura 7 – Museu Nacional do Traje, em Portugal 16

Figura 8 – Museu do Design e Da Moda, na zona da baixa de Lisboa, em Portugal

17

Figura 9 – MUDE, no ano da inauguração, em 2009 18

Figura 10 – Colecção de Francisco Capelo, desenvolvida a partir dos anos 90

18

Figura 11 – A exposição “De Matrix a Bela Adormecida”, com figurinos de António Lagarto, em 2015

19

Figura 12 – Exposição “Felipe Oliveira Baptista”, no MUDE, em 2015 19

Figura 13 – Traje civil e referentes acessórios do seculo XVIII 20

Figura 14 – Colecção Anadia- Traje e acessórios, pertencente aos condes de Anadia

21

Figura 15 – Colecção Anadia- Traje e acessórios, pertencente aos condes de Anadia

21

Figura 16 – Traje Caretos, Caretos de Podence 2008 24

Figura 17 – Campanha publicitária da colecção AW 2013, kenzo 29

Figura 18 – Vestido de Yves Saint Laurent, com inspiração no quadro do artista holandês

30

Figura 19 – Capa da revista Vogue, Paris 30

Figura 20 – Colecção AW, 2013/2014, Maison Marchiela 31

Figura 21 – Colecção de Maison Marchesa com inspiração na obra do artista francês

32

Figura 22 – Colecção AW2013 Dolce & Gabana 33

Figura 23 – Editorial de Bisovsky com inspiração na artista Frida 35

Figura 24 – Frida, e colecção de Bisovsky AW2012 36

Figura 25 – Colecção Vasarely, SS 2000/2001 44

Figura 26 – Colecção Vasarely, SS 2000/2001 44

Figura 27 – Colecção Universo, Primavera/Verão 2009, de Glória Coelho 45

Figura 28 – Colecção Universo, Primavera/Verão 2009, de Glória Coelho 45

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Figura 29 – Colecção Universo, Primavera/Verão 2009, de Glória Coelho 46

Figura 30 – Exposição do calçado marca Melissa 49

Figura 31 – Melissa x Karim Rashid “Karim Wedge”, 2009 51

Figura 32 – Melissa x Karim Rashid “Karim Wedge” 51

Figura 33 – Modelo da pareceria Melissa x Karim Rashid 52

Figura 34 – Miniatura da colecção de Design Melissa x Karim Rashid 52

Figura 35 – Jeremy Scott pousa com as modelos, editorial SS16 53

Figura 36 – Os seis modelos criados, pelo designer Jeremy Scott para a marca Melissa

54

Figura 37 – Modelo Inflatable Mule 55

Figura 38 – Colecção SS16, da pareceria Melissa x Jeremy Scott, com o modelo inflatable mule

55

Figura 39 – Jeremy Scott x Melissa Ankle Boot 56

Figura 40 – Calçado Melissa Ankle Boot, na colecção de Jeremy Scott, SS16

56

Figura 41 – Melissa x Jeremy Scott Space Love 57

Figura 42 – Melissa x Jeremy Scott Tube Sandal 57

Figura 43 – Jeremy Scott x Melissa Ultra Girl 58

Figura 44 – Jeremy Scott x Melissa Mini Monkey Boots 58

Figura 45 – Colecção Anglomania, Outono/Inverno, 2008/2009, Melissa x Vivienne Westwood

59

Figura 46 – Colecção Eat my, 2015 com cenas cinematográficas 60

Figura 47 – Colecção Eat My, 2015 com cenas cinematográficas 61

Figura 48 – Parceria da marca melissa com Gaetano Pesce 63

Figura 49 – Colecção de Gaetano Pesce, 2011/2012 64

Figura 50 – Modelo Fontessa, Melissa x Gaetano Pesce 64

Figura 51 – Marilyn Monroe, vista como símbolo emblemático para a moda

68

Figura 52 – Óculos de criação Tom Ford, com inspiração no look da diva Marilyn

68

Figura 53 – Primeira parte do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004 71

Figura 54 – Primeira parte do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004 72

Figura 55 – Primeira parte do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004 72

Figura 56 – Segundo momento do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004

73

Figura 57 – Segundo momento do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004

73

Figura 58 – Segundo momento do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004

74

Figura 59 – Colecção em Couro de Versace, 2010, inspirado no filme Matrix

75

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Figura 60 – Bonequinha de luxo como um ícone do cinema, de 1961 76

Figura 61 – Vestido da personagem Sabrina, que marcou o ano 1954 76

Figura 62 – David Bowie na capa do álbum “The Man Who Sold The World”

84

Figura 63 – Olhos bicolores de David Bowie 85

Figura 64 – Figurinos Thin White Duke e Ziggy Stardust 86

Figura 65 – Jean Paul Gaultier, SS 2013 87

Figura 66 – Vogue UK, 2003/ Vogue Paris 2012 87

Figura 67 – As etapas da carreira de David Bowie 88

Figura 68 – David Bowie´s Ziggy Stardust jumpsuit 1973, com inspiração dos figurinos de ballet da Bahaus

89

Figura 69 – Colecção AW 2011, Dries Van Noten 91

Figura 70 – Colecção da Miu Miu, AW 2012 92

Figura 71 – Colecção de Maison Margiela, SS 16 93

Figura 72 – Lady Gaga vestida por Nicola Formichetti 96

Figura 73 – Lady Gaga vestida por Alexander Mcqueen 96

Figura 74 – Lady Gaga nos Awrads, em 2010 e 2009, por Alexander Mcqueen

97

Figura 75 – Criações de Thierry Mugler, para Lady Gaga 97

Figura 76 – Lady Gaga como modelo da Versace 98

Figura 77 – Logótipo da marca dos irmãos Shah 110

Figura 78 – Colecção AW 2012/2013, Pepe Jeans London 114

Figura 79 – Colecção AW 2012/2013, Pepe Jeans London 114

Figura 80 – Colecção AW 2012/2013, Pepe Jeans London 114

Figura 81 – Colecção AW 2012/2013, Pepe Jeans London 115

Figura 82 – Colecção SS 2011, Pepe Jeans 116

Figura 83 – Colecção SS 2011, Pepe Jeans 116

Figura 84 – Colecção AW 2011, Pepe Jeans London 117

Figura 85 – Colecção AW 2011, acessórios da Pepe Jeans London 117

Figura 86 – Colecção SS2013, Pepe Jeans 118

Figura 87 – Acessórios da colecção SS2013, Pepe Jeans 118

Figura 88 – Colecção AW 2014, Pepe Jeans 119

Figura 89 - Lojas Andy Warhol, by Pepe Jeans, em Lisboa 120

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Preço de Vestuário 108

Tabela 2 - Preço de Acessórios e do Calçado 108

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Lista de Acrónimos

IADE Instituto de Arte, Design e Empresa

UBI Universidade da Beira Interior

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Capítulo 1

Introdução

No desenvolvimento desta pesquisa, decidiu-se abordar o tema a influência da

arte, quer na inspiração, quer no desenvolvimento das colecções dos

designers de moda e das marcas de moda. A arte está sempre presente na

área da moda, no qual os criadores vão sempre buscar, de alguma forma a sua

influência, seja num pequeno padrão, ou numa grande peça teatral

apresentada num desfile de colecção. Este processo é procurado para criar

valor acrescentado e através da criatividade, contribui para o

desenvolvimento de novas ideais, de novos produtos, possibilitando o maior

reconhecimento do designer de moda/ marca, e produzir significados. Dada a

complexidade do processo é importante e necessário um aprofundar desta

relação, arte / design de moda, bem como a sua investigação, conhecendo e

divulgando as boas práticas.

Como metodologia, numa primeira fase, recorreu-se a uma revisão

bibliográfica a bases de dados secundárias tais como: revistas, artigos, livros,

catálogos e enciclopédias para aprofundar a pesquisa bibliográfica, e ir de

encontro a informações esclarecedoras, técnicas e especificas no

desenvolvimento deste contexto. O tema aborda a interligação existente

entre a arte e a moda, no sentido de a arte estar sempre presente com a

moda, seja em produtos, desfiles e até mesmo sessões fotográficas. Ao longo

desta pesquisa, vai-se ressaltar os vários campos artísticos influentes para as

criações dos designers e criadores, como a pintura, musica, cinema, cultura,

arquitectura, e design, enumerando exemplos marcantes, que mais se

destacaram nas últimas décadas, fazendo uma pequena abordagem histórica.

“As roupas são inevitáveis, são nada menos que as mobílias da mente tornada

visível, a moda é um veículo de imagem que instiga, provoca, causa e

apaixona. As inspirações vêm de diversos lugares, situações que geram um

consumo desnecessário na vida do ser humano.”, (da Silva, p.23, 2009)

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Esta investigação tende evidenciar a importância da criatividade para os

designers, no qual é originada de uma veia artística, que os designers de moda

e criadores vão encontrar na rua, numa visita a um museu, numa sessão de

cinema que há tanto desejava, numa análise arquitectónica, ou até mesmo

escultórica, numa tarde em que decide retractar uma pintura paisagística,

entre outras situações do dia-a-dia, em que a arte se manifesta de várias

maneiras, e que dão origem a criações fenomenais, até de forma exagerada.

“O objectivo é a reinvenção a mudança sempre um desafio para quem cria a

Moda, que busca inspiração em todos os lugares, desde nas diversas formas de

expressão cultural até em simples fatos do cotidiano.”, (Rebouças, p.11,

2011).

Este discurso explicativo realça a presença da arte no design de moda,

evidenciado o resultado do processo criativo. No entanto, sabe-se que

enquanto a arte perdura e valoriza no tempo, a moda altera de estação para

estação. Nos dias de hoje, as marcas procuram parcerias e influências na arte

como factor referenciador de formas de criar valor acrescentado nos produtos

desenvolvidos pelos designers de moda, e pelas marcas associadas a um

determinado lifestyle, posicionamento e público-alvo.

Contudo isto, esta pesquisa tem como objectivo encontrar respostas para as

seguintes questões: Como é que se manifesta a influência da arte na moda?

Que relação existe com essas áreas? Qual importância para os criadores de

moda?.

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Revisão Bibliográfica

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1.1 Linguagem da Moda

“As roupas dançam nos cabides e depois envolvem os corpos humanos num

balé que aproxima, afasta e recria todos os dias para embalar nosso modo de

vida em direcção ao futuro”, (Miranda, p. 14, 2005).

A moda, actualmente, vive seu apogeu em uma sociedade dominada pela

efemeridade, sendo o símbolo máximo da renovação e da ânsia de consumo

de novos produtos.

Por isso, a moda oferece a cada individuo várias formas de se vestir, no qual

este tem a possibilidade de escolher as peças, não só de acordo com a sua

funcionalidade (clima e a ocasião do local), mas também o poder de expressar

como ele é, enquanto pessoa, ou o modo como este deseja ser percebido pelo

meio social.

Madame Germany February 2011 - editorial entitled Dolce Vita Fig.1.Madame Germany February 2011 - editorial Dolce Vita

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A vestimenta faz com que o ser humano assuma a sua liberdade, no qual pode

exprimir, através desta, o seu gosto, estilo e sentimentos, por outra palavras

o homem pode-se constituir a sua identidade, e naquilo que ele escolheu ser.

“A personalidade faz a moda, ela faz a vestimenta, mas o inverso também se

aplica, a vestimenta faz a personalidade. Existe certamente uma dialéctica

entre esses dois elementos. A resposta profunda depende da filosofia

praticada para cada um” (Barthes apud Lang, p.112, 2001).

Uma das formas das pessoas criarem significado é através de adornar o corpo.

Este intuito, tanto de caracter psicológico como social, demonstra que o

vestuário foi adoptado pela sociedade como forma de expressão.

“A moda está no cruzamento de peças que um indivíduo pode lançar e

generalizar no sistema vestimentar em que elas tornam-se algo partilhado

colectivamente, e de peças do vestuário generalizado e reproduzido em

escala colectiva, o domínio da Alta – Costura e Prêt-àPorter, por exemplo”,

(Cidreira, p.18).

A imagem da moda pode ser vista por fazer parte de um contexto sócio –

cultural, no qual pode ser entendida, não só através da antropologia cultural,

mas também pela parte artística, visto que o seu discurso pode ser

demonstrado baseado na linguagem, símbolos e significados próprios, sendo a

parte corporal usada para a sua expressividade. Toda esta linguagem

manifesta determinados valores, ideias, espaço, poder, hábitos, costumes

(colectivos e individuais) e espaço. A forma de como a moda se comunica, no

campo da arte, o designer envolve-se com questões de forma quando idealiza

um modelo (equilíbrio, volume, espaço, ritmo),visto que as roupas conseguem

se comunicar por uma diversidade de simbologias, uma linguagem em que os

próprios tecidos e modelos se interligam entre si pela composição de cores,

textura e formas. Analisando a relação existente entre os criadores e a

evolução da moda verifica-se um acompanhamento de movimentos artísticos

ao longo da época, em que a moda se apresenta no seu sentido técnico,

estético, e a sua relação com o corpo. A partir desta análise pode-se

evidenciar que a moda não se veste (moda conceitual), mas assim como a arte

contemporânea, esta propõe uma ideia.

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“A moda conceitual nada mais é do que a arte contemporânea no mundo da

moda. Aparece nas colecções em que o conceito antecede o valor de uso e

aparência. É também visivelmente ligada ao uso de novas plásticas, materiais,

à tecnologia e às performances. Ela forma uma nova linguagem utilizada pelos

estilistas para expressar criatividade, comunicar ideias, provocar

questionamentos e convidar o espectador a reflectir e sentir-se instigado,

mesmo que nem sempre seja compreendido, e muitas vezes esta é a

intenção”, (Ramos, p.22, 2009)

A moda procura persistentemente por uma demonstração de uma linguagem

estética, na medida, em que se denota no seu historial, uma grande

multiplicidade história visual, onde se inclui acessórios, roupas, formas e

símbolos que caracterizam um dinâmico processo criativo, que vai desde à

transformação da busca do corpo ideal, da identidade visual, e ainda da

imagem (ver na fig.1). Assim, a indumentária pode ser entendida como a

interpretação do corpo, sendo tomada com uma idealização do presente, em

que manifesta o desejo de afirmação categórica do carácter de segunda pele

de toda vestimenta.

“O estilo no universo da moda tem um papel fundamental afinal não é por

acaso que os costureiros ganharam, com o passar do tempo, a alcunha de

estilistas (aqueles que conseguem estilizar, propor um estilo para alguém,

uma marca, uma assinatura). O estilista é visto e reconhecido no mundo da

moda como um criador, um artista de formas, cores e tessituras, que diante

de várias ideias e propostas, antevê, pressente o que poderá ir ao encontro

dos anseios e desejos do consumidor em geral”, (Cidreira, p.21)

Muitas vezes, a indumentária se resume numa ideia simplória de vestuário.

Porém, a sua linguagem é um combinado composto por roupa, acessórios e

calçado, em que todo o adereço tem uma simbologia única e esses elementos,

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quando vistos num todo, resultam num visual, que é a aparência externa do

indivíduo. Esta é a linguagem do vestuário.

A linguagem é transmitida pela aparência de uma pessoa, com o objectivo de

demonstrar a forma como se comunica e as informações da sua identidade a

outra pessoa, embora, por vezes acontece o oposto, fazendo com que mostre

aquilo que não é como o intuito de se inserir num determinado grupo de

referência. A moda, como linguagem, é um resultado de um conjunto de

peças, a que todos nos sujeitamos para podermos comunicar. Uma das formas,

de a moda passar a sua mensagem é através dos símbolos, que precisam de

ser compartilhados para ser construído valor entre diversas pessoas.

“A moda existe não só nas passarelas ou editoriais, pode-se encontrá-la na

decoração, gostos musicais, costumes, maquiagem, etc. Segundo afirma

BRAGA, João: “Moda, porém, no que diz respeito ao hábito de cobrir o corpo

com determinadas características visuais, é de fato uma maneira de ser, um

modo de se vestir dentro do padrão vigente. Nem sempre houve, na História

humana, o conceito de moda” (Braga, p.38, 2011).

Os símbolos são bastante diversificados e podem variar de cultura para

cultura, porém os itens mais comuns, que estão associados à linguagem da

moda são as cores, materiais e formas. O universo da moda, em termos de

convenção colectiva usufrui das suas significações e seus códigos distintos,

que por conseguinte, se tornam nas primeiras impressões, a nível de

identidade do individuo.

“A moda aparece desse modo, como uma espécie de exercício de

interpretação do corpo, e enquanto tal pode ser apreendida uma

representação do presente e mesmo uma re-apresentação do corpo

presente”, (Cidreira, p.20)

Neste universo, um dos símbolos mais marcantes são as cores, em particular o

preto e o branco, por serem designadas como cores básicas, que têm como

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principal funcionalidade combinarem com o resto da paleta de cores, e são

tonalidade que representam a elegância. A sua marca é tão grande, que

existe em todas as colecções, independentemente da tendência actual.

O preto está ligado ao misticismo, agressividade, ao obscuro, violência e à

oposição da sociedade, mas a principal simbologia desta é o luto em algumas

culturas. Uma qualidade desta cor é o facto de não demonstrar a sujidade e

diminuir a silhueta. Outro facto, bastante interessante desta tonalidade é que

sua presença, tomou, de tal forma o universo da moda, que na actualidade é

símbolo de noite e de festa (ver nas figuras 2,3 e

Fig.4.Saigon Brown, Vogue UK, 1990, por Patrick Demarchelier

Fig.3.Colecção da Vogue China, 2012, por Patrick Demarchelier

Fig.2.Black Magic, Yves Saint Laurent, SS 2013, Paris

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Já o branco tem como significado o oposto. Esta tonalidade transmite paz,

pureza, e limpeza. Esta ultima é uma das principais simbologias, pois tem

como particularidade destacar qualquer sujeira que esteja presente. A

mensagem de uma peça de roupa de cor perfeitamente branca, denota que o

usuário é uma pessoa higiénica e limpa. Outra associação bastante importante

trazida pelo branco é o conceito de paz. É por isso, que quando existia uma

guerra, a bandeira branca simbolizava um pedido de tréguas. Nos dias de

hoje, os intervenientes de uma manifestação vestem uma peça de cor branca,

com o intuito de colocar fim à violência. No meio da moda, o branco é a união

de todas as cores que forma com o preto a ausência das mesmas, e por ser a

junção de todas as cores e simbolizar tranquilidade e paz é a cor preferida

das pessoas para utilizaram na noite de passagem de ano, (ver na fig.5).

Fig.5.Looks completamente brancos de Bottega Veneza, os dois primeiros, de Gucci e Ermenegildo Zegna, os dois últimos.

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Para além das cores, existe um outro factor marcante na linguagem da moda,

e também, na forma, como os indivíduos expressam a sua identidade para se

colocaram em classes sociais, de preferência, nas mais elevadas, que é o

poder das grifes. A grife é uma enorme reveladora do carácter de uma pessoa,

principalmente na classe social que se introduz. Um exemplo, que evidencia

esta ideia é o uso de carteiras com a sigla de uma marca de luxo, que indica,

que o usuário deste acessório usufrui de um determinado padrão de vida. O

simples facto, do usuário utilizar uma carteira de tal marca, traduz numa

simbologia accionada por esta imagem, que supera os limites do vestuário, e

nos induz a outro tipo de conclusão. A grife divulga a procura pela qualidade,

por materiais e formas distinguidos, qualidades que apenas uma pequena

parte da população pode pagar. A identificação do valor simbólico dos bens e

serviços é o meio para a desenvolvimento de acções optimistas, em relação a

lojas, produtos e marcas, que determinam os valores individuais das pessoas.

Sendo assim, as marcas são uma forma de distinção e exigência social da

moda na actualidade, (fig.6). O aparecimento do prêt-à-porter (ready to

wear) fez com que a moda fosse mais uniforme, isto é, as peças da

actualidade são produzidas em série para obterem um custo mais reduzido,

fazendo com que os preços sejam mais acessíveis, permitindo às classes mais

baixas o uso de peças e acessórios de moda, exclusivo das classes mais

elevadas. Pelo surgimento desta acessibilidade, a globalização transformou a

comunicação mais acelerada, o que é o último lançamento da alta-costura,

em pouco espaço de tempo se transforma em inúmeras “reproduções” pelo

mundo. Embora, a moda seja uma forma de o indivíduo expressar a sua

identidade, esta também age como forma de simulação, como por exemplo,

as pessoas de classe baixa comprarem acessórios e roupas de preço mais

elevado para poderem exibir as marcas. O objectivo destes indivíduos é fazer

parecer algo, que elas não são, mas sonham ser, através da moda, ou seja, há

uma necessidade de integração num meio social, no qual não pertencem.

Deste modo, a maioria das pessoas compram o produto, não pela sua

funcionalidade, mas pelo seu significado social.

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Mara Sant´ana afirma que: “Somos testemunhos da globalização da ordem

neoliberal que recria o mundo à sua imagem e semelhança, no qual a

sociedade de consumo ganha uma nova força e deslumbra-se cada vez mais ao

som das novas tecnologias. Produtividade, flexibilidade, mobilidade tornam-se

as palavras-chave dos novos dirigentes. Aqui, o tempo que era consumido

como uma mercadoria tem sua fugacidade, sua efemeridade, hipervalorizada.

A moda, cuja vinculação com o presente e com o novo deve ser sua

existência, parece ser um dos significantes mais cómodos desse regime da

historicidade presentista”, (Sant´ana, p.15)

Posto isto, o vestuário, também tem o poder de transmitir informações a nível

de identidade das pessoas, mas, diversamente das expressões e gestos, que

normalmente são naturais, o meio da moda reforça o ser humano a se

exprimir verdadeiramente, ou a revelar algo que não é, de verdade. O corpo

tem um discurso com a capacidade de falar das relações internas à sociedade.

Fig.6.Bolsas e cintos da grife Louis Vuitton

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O vestuário é entendido como linguagem de comunicação, isto é, um

instrumento de relação e expressão de significados produzidos pelas acções

culturais. A nível de linguagem, Santaella afirma, que a “Linguagem se refere

a qualquer tipo possível de produção de sentido, por mais ambíguo, vago e

indefinido que seja esse sentido. (..) qualquer coisa que é capaz de tornar

presente ou ausente para alguém, produzindo nesse alguém um efeito

interpretativo. Nesse sentido, até mesmo os processos perceptivos, frutos do

olhar, escutar, apalpar, cheirar e degustar, aparentemente, tão imediatos já

funcionam como linguagens, visto que tornam presentes algo que está diante

de nós, mas que não deixam de ser mediatizados pelo equipamento específico

de nosso sistema sensório-motor e dos poderes de limitações de nossos

esquemas mentais”. A partir desta óptica, o vestuário pode ser compreendido

como uma linguagem, ou recurso de comunicação, que é capaz de activar as

sensações visuais e tácteis das pessoas, funcionado, ainda, como meio de

comunicação nas relações sociais.

1.2. A Cultura e a Moda

A moda é uma área, que se manifesta a vários níveis, de forma expressiva,

simbólica e com muito significado. A nível cultural, o ser humano tem a

oportunidade de se poder identificar socialmente, ao mesmo tempo em que se

distingue do todo. A moda pode ser observada como um recurso de expressão

colectiva, a partir do momento que mostra costumes, hábitos e valores do seu

grupo social. A moda manifesta-se por meio da cultura de cada pessoa, assim

quando este consome produtos de moda, ao mesmo tempo está a consumir um

conjunto de constituintes subjectivos, que é capaz de representá-lo na sua

diversidade.

“O vestuário, utilizado como fusão entre o corpo e a cultura, tem diversas

funções cujas origens são complexas. Segundo Monteiro (2002) os

acontecimentos históricos reflectem na maneira de vestir das pessoas; guerra,

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momentos de riqueza ou pobreza, influência religiosa enfim, todas as fases

vividas pelo homem influenciaram a vestimenta.”, (Martins, 2010).

A cultura revela ser um composto de signos e significados concebidos pelos

agregados sociais, ou seja, perceber as culturas é o mesmo que perceber o

significado dos símbolos, mitos e rituais. As pessoas de uma certa cultura,

também apresentam as suas interpretações do passado, no presente em que

vivem. Sendo assim, a cultura está interligada com todo o sistema cognitivo,

em que a visão do mundo, em cada indivíduo é construída pela experiência

cultural. Como produtora de subjectividade, a cultura é vista como uma

estrutura de significados originados pelo ser humano, transformando-se num

processo de produção discursiva, de produção de sentidos pelos sujeitos

sociais. Esta é o meio da experiência cotidiana, crenças, costumes, hábitos,

comportamento, por isso não é algo que seja estável, mas que está sempre

em evolução, onde há o aparecimento de novas práticas culturais surgindo.

A partir, da ideia de cultura concebida, toda produção é a execução de um

plano simbólico, isto é, o conceito de que a indumentária determina o tempo,

as pessoas e o local, enquanto integrantes de uma ordem cultural fica

evidente. A moda é considerada como uma parte constituinte da estruturação

simbólica exclusiva de uma certa cultura. “Moda, indumentária e traje são

práticas significantes, modos de gerar significados, que produzem e

reproduzem os grupos sociais ao mesmo tempo que suas posições de poder

relativo.” (Barnard, p.64,2003). Sendo assim, como todo discurso, a moda

pode ser polifónica, porque não é feita só pelo grupo social, no qual está

inserida e compreendida, nem apenas pelo indivíduo; não é apenas do

designer, nem só de quem usa e customiza o visual. A moda é então uma

prática colectiva com uma extensão ilusiva.

O vestuário, a roupa e a moda são produções, práticas e organizações, que

constituem as crenças, os valores, as ideias e as experiências de uma

sociedade. De acordo com esse ponto de vista, moda, roupa e indumentária

são meios pelos quais as pessoas comunicam não só coisas, tais como

sentimentos e humores, mas também valores, esperanças, crenças dos grupos

sociais a que pertencem. (Barnard, p.64,2003) Compreende-se, assim, a moda

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enquanto acontecimento social, económico, cultural, histórico e geográfica,

referidos à concepção estética do vestuário, bem como da aparência visual,

existente no cotidiano das sociedades modernas, interferindo, transformando

e remodelando-as. É um fenómeno exclusivo que tem características únicas e

historicamente demarcadas. A compreensão dos processos culturais pode ser

vista como o surgimento da novidade, realimentando as organizações da

própria moda e imprimindo, dialecticamente, a dinâmica de construção

permanente da cultura.

Analisando a conexão entre os princípios de moda com arte e cultura,

observa-se que existe um campo pouco explorado pelo campo de produção

cultural, em que a necessidade de dilatar a visão para os fundamentos de

moda é bastante importante, visto que pode haver um grande contributo

através desta linguagem, pela divulgação da cultura.

Partindo da ideia acima referida, é evidenciado um exemplo demonstrativo,

de que a cultura é uma prática que pode ser destacada de vários modos. Os

museus são o exemplo do contexto da produção cultural e é uma de suas

formas de actuação. Os museus, que são conhecidos na actualidade tiveram

surgimento no séc. XIX, que desde então vêm crescendo em número e com

bastante diversidade, e ainda, ganhando um papel importante na sociedade, e

no seu posicionamento. Estes são caracterizados pelo seu modelo tradicional,

sendo um local que acolhe objectos, artefactos e obras da natureza e da

cultura, que os agrupa em colecções com o intuito de os expor. Esses objectos

representam uma memória, que está responsabilizada com as ideias,

significados e o contexto da época, no qual ocorreu. Essa selecção e

isolamento dos objectos, retirados de seu contexto dão origem a um

património, transformando o museu em um local de culto, onde as pessoas

têm uma necessidade de ver essas obras da humanidade, por causa do seu

simbolismo. O museu torna-se assim num “espelho cultural”. A partir do

século XX, o museu deixa de ser um lugar de obras para adquirir a dupla

finalidade de exposição e arquivo, tendo como função manter experiências

sensíveis com o intuito de mostrá-las, tornando-se, assim, num prolongamento

da arte. No que diz respeito ao vestuário/moda, este artefacto tem funções

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distintas nos museus em que se encontra, porque aparece tanto em museus de

trajes e têxteis como também em museus de arte. Quando uma peça de

vestuário aparece num museu, do género os de trajes e têxteis, torna-se uma

peça do património cultural, isto é, transforma-se em objecto de

contemplação e ganha valor de culto. Por este ponto de vista, surgem duas

consequências, uma é o artefacto que muda o seu uso original, porque, se

antes era útil, agora a sua função está ligada à reflexão (ao exercício do

pensar), e a segunda consequência é pelo facto de o objecto se tornar

sagrado, visto que obtém uma aura que o valoriza e afasta, de tal forma do

público, que se torna intocável. Neste caso, a moda ganha assim um valor

cultural, no sentido do património histórico. Já nos museus de arte, que têm

peças de moda em seu interior, dão a eles o valor de exposição, por sua vez,

a moda adquire status de objecto de arte, trazendo a relação da moda com a

arte. Para fortalecer e analisar melhor a forma como a moda pode se

apresentar nesse tipo de museu, distintos, será referenciado dois museus da

cidade de Lisboa, em particular, o Museu Nacional do Traje (fig.7) e o MUDE,

o Museu do Design e da Moda (fig.8). Em relação, ao Museu Nacional do Traje,

este surgiu a partir da exposição “O Traje Civil Português”, que teve

acontecimento no Museu Nacional de Arte Antiga, no ano 1974, também em

Lisboa, passado três anos o museu foi inaugurado. Durante essa época

verificou-se a importância de criar uma instituição museológica que

representa-se a matéria de vários estudos, a exemplificar: sociológico,

antropológico, histórico, psicológico e linguístico, que são os signos e ícones

do traje, em função, não só do contexto sócio histórico, como também da

posição social, de quem os usa na sociedade de classes, ou seja, era

indispensável um espaço que mantivesse esse material. Este museu tem como

intuito preservar, valorizar o traje por todos os meios possíveis, progredir os

estudos e, fundamentalmente, expor, de maneira a ensinar através da

mensagem a passar. Assim o museu tomou para si o papel de ser um “centro

de recolha e restauro e, simultaneamente, de documentação e inventariação

de indumentárias” (Antunes, p.39). O museu se encontra na região do Lumiar,

em Lisboa, mais precisamente no palácio Palmela (séc. XVIII), onde se

encontra o parque Monteiro Mor.

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O MUDE (Museu Do Design e Da Moda) teve surgimento, a partir da colecção

de Francisco Capelo, no qual esteve exposta, de forma parcial, no Centro

Cultural de Belém, entre os anos 1999 e 2006, em Lisboa, no antigo Museu do

Design. A colecção por ter continuado a crescer, apareceu a necessidade de

um espaço mais específico, entre os anos 2006 e 2009. Nesta altura, apareceu

a necessidade de incorporar o nome da moda, para entender a ligação

existente entre moda e design, porém usufruindo das suas características

exclusivas. O MUDE inaugurou uma exposição que anteverte sua abertura:

“Ante-Estreia, uma viagem por momentos icónicos da moda e do design”, no

dia, 21 de maio de 2009 (fig.9). Este projecto tem como ideologia ser um

museu activo, sendo que a colecção é a base de uma grande parte, a outra

parte terá uma programação cultural, educacional e expositiva e uma política

de aquisições e incorporações, sempre actualizando e inovando no design e

moda contemporâneos.

Fig.7.Museu Nacional do Traje, em Portugal

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Existe diferentes contextos museológicos, no qual proporcionam debates

cativantes, pois são patrimónios com intenções diferentes, ao mesmo tempo

em que mantêm a impressão destas peças, como indicativos de memória da

história do têxtil, do vestuário, da moda e da linguagem plástica. O MUDE lida

com a parte da memória, da história da moda, seguindo as movimentações

artísticas ao longo da época, alinhando-os e relacionando-os, a partir das 42

peças mais avaliadas e inusitadas, das grandes criações dos estilistas, a nível

mundial. Este museu foca-se, tanto na arte moderna e contemporânea,

expondo o que foi e é novidade, no campo artístico através da linguagem do

design e da moda, como também na criação, inovação, sempre se

actualizando nesses contextos, no qual se encontra inserido.

Fig.8.Museu do Design e Da Moda, na zona da baixa de Lisboa, em Portugal

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Fig.9.MUDE, no ano da inauguração, em 2009

Fig.10.Colecção de Francisco Capelo, desenvolvida a partir dos anos 90

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Fig.11.A exposição “De Matrix a Bela Adormecida”, com figurinos de António Lagarto, em 2015

Fig.12. Exposição “Felipe Oliveira Baptista”, no MUDE, em 2015

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Enquanto, que o Museu Nacional do Traje se foca na história do têxtil,

apresentando a evolução da sociedade a partir da vestimenta, demostrando

como cada época se vestia, o porquê de se vestir daquela forma, o que queria

expressar com cada mudança na forma de vestir; ou seja, a conservação

patrimonial predomina como objectivo principal. As suas exposições

itinerantes focam o traje como recurso da comunicação intercultural,

escolhendo peças de vestuário de diferente etnias, a nível mundial, como

forma de expressar os seus ideais por uma sociedade multicultural. Sendo

assim, o foco do museu do traje é a história, o contexto cultural, étnico,

mostrar a história da cultura portuguesa, a partir do vestuário (fig. 13, 14 e

15).

Fig.13.Traje civil e referentes acessórios do seculo XVIII

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Fig.14.Colecção Anadia- Traje e acessórios, pertencente aos condes de Anadia.

Fig.14.Colecção Anadia- Traje e acessórios, pertencente aos condes de Anadia.

Fig.15.Colecção Anadia- Traje e acessórios, pertencente aos condes de Anadia.

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Os dois museus encaixam –se no meio da produção cultural, orientada para a

moda, que é entendida como arte e cultura. A informação que estes museus

passam, ao falar de moda, arte e cultura é que a moda desenvolveu uma

comunicação única, que lhe deu uma linguagem complexa em termos

materiais, técnica, conceitos e a nível social. Esta deixa de ser vista como um

capricho, ou gosto de uma época, e adquire força expressiva. A moda é uma

revelação estética, e é difícil de ser compreendida, se não se passar por uma

análise da roupa: seu carácter plástico e suas determinações estilísticas; sua

evolução dentro dos grupos culturais, como forma de expressão. É

precisamente esta a forma, que os museus representa a moda, fazendo parte

da cultura tanto pelo seu viés antropológico e sociológico, quanto por fazer

parte do contexto artístico. A moda é apresentada através dessas duas linhas

de raciocínio: a partir da roupa o homem produz, fala, exprime emoções,

sentimentos, seja criando-a em seu corpo, seja determinando a forma de se

vestir ou percebendo o tecido como meio para produzir e manifestar suas

ideias a partir de “esculturas de pano”.

O campo da moda tem uma particular ligação com a arte e cultura, no meio

do mercado da produção cultural contemporânea, em que esta pode-se

manifestar inovadora para uns, vulgar para outros, e ainda o inverso para a

outra maioria. Tendo em conta, que este artigo tem como objectivo

desmistificar o processo criativo de um designer, antes e durante a produção

da sua colecção, mostrando o lado, que poucos sabem, ou percebem que

existem, tento evidenciar a importância do papel que a cultura tem para este

processo. O discurso do meio cultural é expressado como memória e

comportamento dos grupos sociais, no qual se desenvolverá uma análise

demonstrando o valor do papel da produção cultural para destacar a moda

através de arte, estética, e o criador de moda, trabalhando assim a linguagem

da moda.

“Permite-se, também, a compreensão dos processos culturais de uma dada

comunidade e ou sociedade, fazendo com que se busque não só a preservação

dos bens simbólicos representados pela vestimenta e acessórios, mas também

o surgimento da novidade, realimentando as engrenagens da própria moda e

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imprimindo, dialecticamente, a dinâmica de construção permanente da

cultura”, (Ramos, p.13,2009).

Dentro da sociedade contemporânea existe episódios bastante marcantes para

a sociedade que influenciam o mundo da moda, que são as transformações do

processo de globalização, que dessa forma, espelham alterações na criação de

identidades com a perda de força de identidades tradicionais, em que a moda

se introduz por se destacar pela sua parte expressiva de estilos de vida e de

novas identidades.

“No século XIX, a moda passou a ser uma das formas de classificação que

floresceram com a cultura industrial. Já não bastava ser-se reconhecido como

membro de uma certa classe, casta ou profissão. Desenvolveu-se um processo

de auto-afirmação do indivíduo tendo como veículo para a exibição de uma

personalidade individual única o vestuário”, (Bárrio, p.44, 2009).

A partir do século XIX, a moda começa a ganhar um papel importante para a

sociedade, esta reflecte, não só a escravidão da mulher, mas também a

emancipação e a independência que simbolizava para a mulher trabalhadora.

Desde então, a moda passou a incluir-se na cultura popular, devido á grande

produção em massa de roupa. O exemplo que clarifica o grande destaque na

moda neste século, é o aparecimento do traje popular dos caretos, quando

Maria Inês Bárrio afirma o seguinte: “Ao “Careto” tudo se permite nesses dias,

pois ele assume uma dupla personalidade. O indivíduo ao vestir o fato torna-

se misterioso e o seu comportamento muda completamente, fica possuído de

uma energia transcendental (fig.16). Existe algo de mágico e de forças

sobrenaturais ocultas em todo este ritual de festa que atribui a estas

personagens prerrogativas a imunidade interditas a outros mortais. A

antiguidade e originalidade desta tradição, cheia de cor e som e a vontade

das gentes de Podence, em preservar estas figuras, fizeram dos “Caretos”

personagens famosas para lá dos limites da aldeia (...) e são cada vez mais

frequentes os convites a este grupo etnográfico para deslocações a vários

pontos do país e do estrangeiro”, (Bárrio, p.27, 2009).

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Analisando a conexão entre os princípios de moda com arte e cultura,

observa-se que existe um campo pouco explorado pelo campo de produção

cultural, em que a necessidade de dilatar a visão para os fundamentos de

moda é bastante importante, visto que pode haver um grande contributo

através desta linguagem, pela divulgação da cultura.

“Produção cultural é um campo muito amplo, no qual há diversas formas de

se actuar, sendo, assim, necessário delinear aquilo que considero as principais

acções dos agentes culturais. O que entendo por “produção cultural” aqui são

todas as actividades realizadas para promover, incentivar e salientar a arte e

a cultura, o estímulo às práticas culturais na vida das pessoas, tanto do fazer,

quanto de ser espectador”, (Ramos, p.25,2009)

Fig.16.Traje Caretos, Caretos de Podence 2008

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1.3. A arte e as colecções de moda

“Cores, sombras, objectos, formas, conceitos, culturas, texturas, misturas.

Estilistas de todo o mundo recorrem a esses e muitos outros universos, reais

ou paralelos, em busca de inspirações que resultam em peças fantásticas,

capazes de mudar o rumo do mercado. São criações que fazem curva no

percurso histórico da moda. Um estilista criativo está, o tempo todo,

buscando novos desafios em lugares improváveis, através de pesquisas

intermináveis sobre história, culturas, etnias e claro, artes plásticas”, (Bon,

2014).

Ao observar o desenvolvimento da moda, ao longo destes anos, verifica-se que

a arte se transforma, não só numa fonte de inspiração para a criação das

colecções, como também se transverte num objecto de representação, em

peças de vestuários e acessórios. A forma como a arte auxilia a moda, realça

uma relação simbiótica, que esclarece o modo como a arte e a moda se

envolvem.

“A Arte de fato acaba por estar mesclada nas actividades do Design e em

especial da Moda, mas a Arte existiu antes da moda entrar em cena e as duas

áreas são concorrentes apenas quando a moda se aproxima duma arte

aplicada e recruta no campo da Arte as ideias, emoções e experiências,

independentemente de poder ser vestida ou de se relacionar no negócio, por

outras palavras trata-se de um cruzamento que acontece quando a

experiência visual/plástica contida na estética do produto é fruto de técnicas

provenientes da Arte”, (Loschek, 2009).

Uma das formas mais recorridas e interessantes de representar a arte é a

pintura. A pintura é vista como uma memória, que imortaliza a personalidade

pela ausência de referências fora do visível. Já a moda tem o poder de dar

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vida a estas memórias, dando-lhes utilidade e conectando-as a um corpo,

fazendo com que a pintura se torne viva. “Muitos artistas, utilizaram a moda

como uma forma de arte viva e aplicaram metodologias (artísticas) plásticas

ao tecido mais do que numa tela ou pedra a esculpir.” (English, pg. 43,2007).

O autor Ingrid Loschek confirma, que “a moda nunca manifesta um desejo de

ser arte, por muita afinidade visual que exista; o design de vestuário procura

sempre aparecer sobre um corpo antes de atingir qualquer museu ou galeria.

A Moda visualiza possibilidades na Arte como a liberdade, a diversidade, a

visão, imaginação, pluralidade; possibilidades que são instrumentos de se

esperar no contexto artístico (pg.9,2009). Segundo Marques, a ligação

existente entre “a moda e a arte surgiu no século XX em um momento de

reformulação de ideias que separavam as duas áreas. O factor social é o que

aproxima mais evidentemente moda e arte; o carácter selectivo da moda,

assim como a arte, tende a gerar transformações que, atingindo as classes

sociais, resultam na busca pelos símbolos de distinção, de respeitabilidade

social e de competição. Disto resultam as características mais visíveis da

moda – a mutabilidade, o efémero e a fantasia estética. É nesta visão que a

moda aparece como arte, apresentando tendência ao decorativo e ao excesso

de ornamentação, buscando inspiração na pintura, na escultura e na

arquitectura”, (Marques, p. 13-14,2003). A relação entre moda e arte,

segundo Moura “abrange quatro temáticas principais: objecto de arte x

objecto de moda; a moda na arte; a arte na moda e; a moda-arte. Desse

modo, o objecto de moda pode certamente ser considerado um objecto de

arte, pois moda e arte se utilizam dos mesmos elementos visuais para realizar

suas criações: “formas, linhas, cores, volumes e texturas”, (1994, p. 4).

Para além de a arte aparecer na moda, a moda também aparece, na arte, na

medida, em que a arte sempre expôs as vestimentas, de um dado período

histórico, através de vários métodos artísticos tradicionais, como pinturas,

afrescos, gravuras e esculturas. Enquanto, que na moda as obras de arte são

muito visíveis, em inúmeros objectos, principalmente nas colecções de

grandes criadores como Yves Saint-Laurent, Christian Dior e Jean Paul

Gautier. Os designers costumam evidenciar a influência da arte na

estampagem dos tecidos ao recriar imagens retiradas de obras de grandes

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artistas como Mondrian, Kandinsky, ou então, transmitem a essência dos

movimentos artísticos, como por exemplo, o caso do Neoplasticismo e da Op-

Art. Os anos 50 e 60 foram marcados pelo sucesso do estilista italiano Emilio

Pucci, que foi conhecido pelas suas estampas coloridas e psicadélicas, que

davam origem às criações de todas as suas peças, com estampas próprias

consideradas verdadeiras obras peculiares. Devido a este marco, as mesclas

dos desenhos de Pucci servem sempre de exemplo para os novos criadores do

século XXI. Nos anos de 1880 e 1920 deu-se a origem do “Glasgow”, que

provocou um novo desenvolvimento da moda, no campo da arte. Nos finais do

século XIX, a cidade Glasgow cresceu muito a nível industrial, económico e

cultural, e por isso ficou interligada a um grupo de arquitectos, pintores e

decoradores referentes ao estilo artístico Art Noveau francês. Outro

movimento artístico, que também marcou esta época, e que continua muito

presente na moda é o surrealismo, devido ao grande expoente Salvador Dali,

que também produziu moda-arte, através de uma série de vestidos “surreais”,

produzidos em 1929. As possibilidades geradas pelos artistas surrealistas são

das mais diversas, fazendo desabrochar a mente criativa de profissionais da

moda. Para além do Salvador Dali, artistas como Joan Miró e Rene Magritte

são os principais inspiradores para as produções de moda. Moura afirma, que

“a rapidez com que as sociedades capitalistas evoluíram juntamente com o

desenvolvimento da indústria têxtil e o aumento da visibilidade dos

movimentos feministas contribuíram para o surgimento da “Wearable-Arte”

(Arte Usável, Vestível) em 1960, nos Estados Unidos, (1994). Wearable-Arte é

um conceito, que se apoia na concepção de uma peça de roupa, como uma

obra de arte, em que o corpo atua como base do objecto artístico. Assim, o

vestuário representa dois lados estéticos, em particular, o uso e a

contemplação, onde cada peça tem um valor individual. Por tudo isto, a arte

produz um valor estético, centralizado a um objecto único, que se liga à moda

da alta-costura, enquanto no prêt-à-porter, a arte está associada à

reprodutibilidade.

Pelo que foi dito anteriormente, cada vez é mais notório, que o universo das

artes plásticas é um meio fenomenal (e quase inesgotável) como fonte

inspiração. Alguns artistas singulares já serviram como tema de colecções

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inteiras, produzindo produtos “ricos e cheios de vida”. O mais interessante é

quando esta é percebida de forma directa e visível, em que as colecções se

transformam em verdadeiras obras icónicas, engraçadas e verdadeiras obras

de arte. Porém, esta influência consegue ser discreta e subtil, sendo até

difícil até de ser percebida. Assim, torna-se impossível desgrudar esses dois

fenómenos artísticos, que “conversam” tanto a respeito das suas diferenças e

semelhanças, através da plasticidade das criações.

Para tornar mais evidente, a interessante linguagem entre estes dois universos

é feita uma abordagem de várias colecções de designers como Kenzo, Yves

Saint Laurent, Maison Marchesa, Dolce & Gabana, e ainda Susanne Bisovsky,

que se inspiraram em diversos movimentos artísticos, no qual transformaram a

moda com as suas colecções impressionantes, divertidas e revolucionárias. A

campanha da colecção AW 2013, da marca irreverente Kenzo deu uso ao clima

surrealista, como pano de fundo, em que os modelos dividiram as cenas com

elementos divertidos, que vão desde uma banana voadora a um cachorro

tigrado (fig.17). A campanha teve a estreia da actriz japonesa Rinko Kikuchi,

que foi acompanhada pela modelo americana Sean O´Pry. A primeira

impressão, que esta colecção nos trás é um pouco surpreendente, porque é

nos mostrado algo, ao qual não estamos acostumados a observar. A colecção

permite trazer uma sensação de espirito muito juvenil, e revolucionária ao

espectador, pelo facto de ser muito criativa e inovadora. Esta sensação está

relacionada à cultura por parecer muito fresca, elegante e alegre. A

campanha tem uma associação muito notória, que é a do olho, que significa

visão clara, percepção única, consciência, nova dimensão, evolução, infinito,

e ainda puro potencial. Estes significado estão ligados ao que a marca quer

transmitir ao público, através do motivo do olho. A campanha faz alusão a

três questões socias que são a insensibilidade para com os animais; o facto de

poder ser criticado por usar imagens puffery, e ainda pode ser criticado por

não fornecer qualquer informação (não tem nenhum slogan na propaganda).

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Um dos exemplos mais fortes e conhecidos, da influência da arte no design de

moda é o icónico vestido feito por Yves Saint Laurent, em 1965. O designer

concebeu uma série de peças com inspiração nas obras de Mondrian, mais

concretamente a obra “Composição com vermelho, amarelo e azul”. Este

vestido de Yves Saint Laurent é um marco no mundo da moda, por isso a peça

se tornou em réplicas, de várias capas das revistas, fotografias, e eventos

(fig.19). Actualmente, o vestido adquire releituras, não só em roupas, como

em acessórios, principalmente em bolsas. O vestido é feito em jersey, tem

como silhueta a linha tubo, justo ao corpo, sem mangas, decote junto ao

pescoço, e a zona da bainha é composta por uma barra na altura do joelho. O

tecido é estampado, com a pintura da tela de Mondrian, que foi aplicada na

parte frontal do vestido, ampliada e concentrando-se na região do maior

Fig.17.Campanha publicitária da colecção AW 2013, kenzo.

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rectângulo vermelho. A nível de tons, o designer decidiu aplicar as cores

primárias da obra (azul, amarelo e vermelho), (fig.18). A influência das linhas

verticais e horizontais, das cores primárias de Mondrian se expandiu por todas

as artes, no qual se tornou muito importante para a decoração, e marcou uma

nova era. Nesta era, as artes plásticas e os pintores famosos passam a inspirar

a moda, e assim a moda passou a ser vista como uma forma de arte. Portanto,

o vestido de 1965, se transformou num ícone de alta- costura dos anos 60,

fazendo com que os laços entre a moda e a arte moderna se estreitassem

mais. As linhas simplificadas, limpas e baseadas em geometrismos, destacadas

na funcionalidade e na harmonia dos planos continuam a servir de inspiração,

não só à moda, como também na decoração, e no design, da forma geral.

Fig.18.Vestido de Yves Saint Laurent, com inspiração no quadro do artista holandês

Fig.19.Capa da revista Vogue, Paris

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A maison Marchesa, conhecida por vestir as estrelas de Hollywood,

desenvolveu uma colecção AW 2013/2014, com inspiração na obra de Goya,

“Retrato de Maria Teresa de Vallabriga a cavalo”, (fig.20).

Fig.20.Colecção AW, 2013/2014, Maison Marchiela

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Antes desta colecção, Marchesa criou para a colecção AW 2012/2013,

Marchesa com inspiração no quadro “A Soul Brought to Heaven”, do francês

William-Adolphe Bouguereau. Essa colecção foi muito elogiada pela sua

riqueza de detalhes, que vai até ao macabro, (fig.21).

Fig.21.Colecção de Maison Marchesa com inspiração na obra do artista francês.

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O inverno do ano 2013 foi assinalado pela presença, bastante perceptível, da

influência directa da arte nas colecções de diversos criadores. A colecção de

Dolce & Gabanna AW 2013 foi uma delas, que teve como inspiração a arte

bizantina. A colecção reuniu vários elementos deste período artístico, em que

as peças eram compostas por muitos detalhes luxuosos, cores fortes, imagens

sacras, terços, coroas, flores e crucifixos. Encantando assim, os espectadores,

(fig.22).

Fig.22.Colecção AW2013 Dolce & Gabana

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A estilista Susanne Bisovsky, desenvolveu a colecção AW 2012, e um editorial

com inspiração directa na artista Frida Kahlo. A obra da artista é conhecida

pelos seus tons coloridos, técnica surrealista, e pelo enraizamento incrível da

profundidade de sentimentos, que influenciou não só vários artistas,

escritores, músicos e designers, como também inúmeras mulheres jovens com

intuito de encontrar a beleza na sua própria estranheza. O trabalho de

Bisovsky é conhecido por ser explosivo e por conter muita beleza. A colecção

é composta por fantasia, tons muito coloridos e rendas de croché. A estilista

conseguiu transmitir com um artesanato perfeito e uma colecção de caracter

imaginativo, um universo delicado, e ao mesmo tempo muito poderoso da

figura feminina.

A designer Susanne Bisovsky, desenvolveu a colecção AW 2012, e um editorial

com inspiração directa na artista Frida Kahlo. A obra da artista é conhecida

pelos seus tons coloridos, técnica surrealista, e pelo enraizamento incrível da

profundidade de sentimentos, que influenciou não só vários artistas,

escritores, músicos e designers, como também inúmeras mulheres jovens com

intuito de encontrar a beleza na sua própria estranheza. O trabalho de

Bisovsky é conhecido por ser explosivo e por conter muita beleza. A colecção

é composta por fantasia, tons muito coloridos e rendas de croché (fig.23 e

24). A criadora conseguiu transmitir com um artesanato perfeito e com uma

colecção de caracter imaginativo, um universo delicado, e ao mesmo tempo

muito poderoso da figura feminina.

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Fig.23.Editorial de Bisovsky com inspiração na artista Frida

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1.4. A arquitectura e moda

Um conceito interessante nas várias interfaces, que a moda tem com as várias

áreas artísticas é o possível diálogo que esta tem com a arquitectura, ou seja,

como o designer pode se inspirar em um prédio para desenvolver um estilo. A

arquitectura é compreendida como uma arte ou técnica, que solicita uma

reflexão persistente para existir um significado, que esteja de acordo com a

actualidade. Nesse sentido, Costa acredita que “a arquitectura envolve o

construir com alguma intenção, objectivando certa finalidade, para tornar um

determinado ambiente mais agradável. Essa construção deve atender às

necessidades do indivíduo ao qual se destina, sejam elas físicas, estéticas,

psicológicas, sociais, entre outras”, (1995). Por isso, a arquitectura pode ser

entendida como um ambiente consistente onde possam ocorrer as relações

humanas. A aproximação existente entre estas duas áreas, não se baseia,

Fig.24.Frida, e colecção de Bisovsky AW2012

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apenas nas formas, ou pela coerência de uma procura de novidade, mas pelo

facto de ambas se referenciarem pelos princípios e simbologias de um

processo construtivo que, embora seja distinto, os dois estão incluídos no

mesmo contexto histórico. A influência espontânea, que a arquitectura teve

com a moda começou a ser evidenciada na altura do Modernismo, com o

movimento francês “Art Noveau”, tornando-se interessante compreender a

linguagem existe entre ambas.

“Para Mello [12] (2008), as interfaces entre a arquitectura, o urbanismo e a

moda são estabelecidas a partir das variadas relações conceituais, materiais,

formais e espaciais, presentes no design. A arquitecta afirma que é possível

utilizar um conceito para o desenvolvimento de produtos de moda, bem como

na elaboração de um projecto urbano ou arquitectónico”, (Oliveira, p.32,

2015).

O diálogo entre estas duas áreas é facilitado, se existir a junção do design,

pois trocam sugestões e identificam-se nos seus processos criativos. A

fronteira entre as áreas, para Rocha, tende-se a quebrar cada vez mais,

quando declara o seguinte:” É saudável a troca de informações entre as

diversas actividades humanas e é normal que, após uma época em que se

valorizou a especialização, siga-se um período que valorize a integração entre

diversas áreas” (apud Ledo, 2011), pois ambas trocam informações úteis, a

nível de técnicas, práticas e de funcionamento de produto, para o

desenvolvimento do mesmo tenha mais qualidade, uso, rentabilidade, e

integridade. Esta ideia é notória, quando Lawson aborda o seguinte: “Nesses

campos, na maioria dos casos, é provável que projectar exija considerável

especialização e conhecimento técnico, além de imaginação visual e

capacidade específica” (2011, p. 16). Exemplos dos campos à qual se faz

referência é arquitectura, o urbanismo, paisagismo, design de interiores, o

desenho industrial, o design de produto e de moda, que fazem parte de um

conjunto de áreas próximas. O design, a arquitectura e a moda são artes

agregadas, que lado a lado, andam em permanente equilíbrio, visto que para

ambas, não é só essencial lançar e desenhar tendências, como também criar

tendências novas para o futuro, e recriar o passado para o presente, através

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de sensações e percepções. Ambos os profissionais das áreas específicas têm

de ser únicos, pessoais, criativos e idealizadores, a partir da sua sensibilidade

ou da sua alma O diálogo presente entre as duas áreas artísticas têm mais

“intimidade” do que é visível, porque ambas procuram novas visões,

abordagens e experimentações. Santos, afirma que “tanto a moda, quanto a

arquitectura expressam ideias de identidade pessoal, social e cultural” (p.

01,2010). Na forma como trabalham os materiais (alterando superfícies planas

e bidimensionais para formas tridimensionais complexas), e por exprimirem

ideias de movimentos, espaço e volume, conseguem usufruir de práticas

idênticas. A conexão flui de forma muito natural, devido aos pontos comuns,

isto é, ambas trabalham com recortes, sombras, transparências, formas,

volumes, cortes, estrutura, e recortes, e ainda protegem e abrigam os corpos.

Além de, a Moda interferir e se encaixar directamente na Arquitectura, pode

se inspirar dela. No entanto a Arquitectura vai de encontro a Moda, devido às

tendências. A Moda e a Arquitectura manifestam a nossa identidade pessoal,

política, religiosa e cultural. Os materiais são como utensílios, tanto para a

Arquitectura, como para a Moda, ou seja, criam a forma, a escultura. O

Arquitecto também pode desenvolver os objectos do seu projecto, a partir dos

conceitos do designer, quando este escolhe realçar as partes do corpo, a

partir dos volumes e texturas. A casa e a roupa têm uma estrutura de

habitáculo, onde o corpo se protege, essa ideia é discutida quando o

engenheiro Yopanan Rebello afirma o seguinte: “A roupa pode ser vista, em

primeira instância, como o abrigo imediato, mais próximo da pele humana do

que qualquer outro elemento que a Arquitectura possa conceber. Uma espécie

de arquitectura primeira, abrigo que se descola da pele do homem e se

projecta ampliando sua ocupação", ou seja, ambas têm a mesma função de

revelar o espírito, e as vontades de uma época, mas a partir de matérias e

formas distintas. Esta relação já advém de há muito tempo, em que a moda e

a arquitectura seguiram a mesma linhagem, ao serem influencias pelas linhas

curvas, motivos naturais e formas orgânicas da Art Nouveau, nos inícios do

século XX. Anos mais tarde, quando surgiu a Art Decó, este movimento ocupou

o seu espaço no mundo da moda, pelos vestidos rectos e por cobrir o corpo

todo da mulher. Já na arquitectura foi evidenciado as tentativas de

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racionalização dos volumes, ornamentações pontuais, predominância de linhas

verticais, rigor geométrico, e pelos materiais característicos do tempo

moderno. Outra característica, que aproxima a arquitectura à moda, é o facto

de esta ter, também aptidão para evidenciar as tendências das épocas,

relacionadas a interesses sociais e mudanças tecnológicas (sobretudo ao uso

de novo materiais e técnicas de reprodução). Alguns exemplos, de designers,

que esclarecem esta grande ligação, são o japonês Yohji Yamamoto e Rey

Kawakubo. Outros designers que trazem perspectivas da arquitetura para seus

trabalhos são Gareth Pugh, Viktor & Rolf, Iris van Herpen, Issey Miyake,

Hussein Chalayan e Nicolas Ghesquière.

De acordo com Baudot, o estilista espanhol Cristobal Balenciaga (1895-1972)

é considerado o “arquiteto da moda”. A autora afirma que Balenciaga era um

mestre do corte, um intenso pesquisador da “[...] harmonia perfeita entre

silhueta, proporções e postura [...] a arte de Balenciaga se aproxima muito da

arquitetura” (Baudot, p. 154,2002). O estilista teve a capacidade de transpor

figuras arquitectónicas para roupas, em perfeita sintonia com as dimensões do

corpo feminino.

O diálogo entre estas duas áreas começou a ser existente, segundo Adolfo

(2003) em 1960 e conectado ao “surgimento de um novo comportamento e,

em alguns casos de novos conceitos em design”. Nos anos 1970 era possível

ver as estampas do estilista Emilio Pucci no mobiliário e em outros artigos de

decoração. Na década de 90, nasceu uma tendência idêntica, tanto para

“vestir” quanto para “morar”, o Minimalismo, devido à simplicidade dos

traços e à moderação das cores. O Minimalismo, para Adolfo (2003) foi

provavelmente “a primeira manifestação contemporânea de um novo conceito

surgido a partir da união da arquitectura e da moda”, relacionando linhas,

formas e silhuetas. Esta união tem como princípio a emocionalidade, que é

um critério bastante edificante para as criações do designer e do arquitecto.

A moda dá muito valor à parte emocional, quando não consegue poupar os

detalhes emotivos. Quando se trata de “emocionar” a moda não economiza

detalhes, que é o grande objectivos das griffes nacionais e internacionais, nos

desfiles de alta-costura, ao procurar despertar as emoções do público. Torna-

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se evidente, que o conceito de “arquitectura como emoção” é relacionável

com a moda, visto que esta, em algumas ocasiões procura o prodígio da

“emoção” para chegar ao cliente.

De acordo, o que já foi referenciado anteriormente, verifica-se que existem

vários processos comuns na arquitectura e na moda, na fase da criação.

Apesar de serem vistas, como práticas paralelas, existe uma grande diferença,

na medida, em que os designers trabalham em um curto espaço de tempo,

que se actualiza a cada temporada, e os arquitectos focam–se, apenas numa

obra, que ficará marcada para sempre. Durante o processo de idealização,

para a criação de um produto de moda, é essencial e indispensável, saber ler

e compreender os fenómenos da moda, ou seja, é de sublime importância

entender todo o processo criativo (desde a concepção, produção e significados

do planeamento das colecções), pelo facto de o objectivo do designer ser

transformar uma ideia abstracta, num objecto palpável, ou vestível, num

estilo, numa marca, e ainda num objecto de desejo. Os conceitos que dão

origem às concepções, a moda e a arquitectura são semelhantes, na medida,

em que tudo, praticamente é tridimensionalmente, que é realizado através de

um desenho bidimensional. Na arquitectura, é possível usar um conceito para

o desenvolvimento de produções de moda, bem como na elaboração de um

projecto arquitectónico, ou seja, a arquitectura não é vista como um produto,

mas como um projecto, cuja essência, está no desejo, no desenho e no

projecto. Por isso, pode-se afirmar, que as tendências são a imagem de um

tempo, expressando uma cultura, através do design, arquitectura, urbanismo

e arte.

Desde 1980, até a actualidade os conceitos arquitectónicos têm vindo

influenciar a arte, que no ano 2008, esta ligação deu origem ao tema da

exposição, “Skin / Bones, Parallel Practices in Fashion and Architecture”, em

Londres, onde foram exploradas criações de designers, de inspirações

arquitectónicas , como a de Martin Margiella, Hussein Chalayan, Comme des

Garçons e Yohji Yamamoto. Ambas as áreas são propícias a imagem de poder,

na arquitectura, isso é demonstrado pelos monumentos arquitectónicos e os

traçados urbanos, incluídos na grandiosidade de um design singular, linguagem

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de interpretação universal, onde é capaz de transmitir a história e a

simbologia da cultura.

Rebouças afirma que “os critérios para julgar a criação de uma obra

arquitectónica ou uma peça de roupa são os mesmos: Ao analisar um produto

quanto à sua elaboração, deve-se considerar três pontos importantes: o

objecto de inspiração, contemporaneidade da forma e estética, noção do

belo. Ao analisar um produto quanto à sua adequação, deve-se considerar

funcionalidade e aspectos comerciais e cultural do produto. (Rech, p.72,

2002, apud Rebouças, p.66, 2011) Em relação aos objectos de inspiração das

profissionais é possível notar a admiração das duas pela cultura. Enquanto Bo

Bardi se inspira, mais especificamente, na cultura brasileira, principalmente

na cultura nordestina, Coelho vai buscar inspirações na literatura, cinema,

astrologia e inclusive arquitectura. Ambas também possuem uma forte

influência das artes plásticas… A moda sempre criou estruturas. Às vezes

sutilmente esculpidas em tecido, mas tecnológica e inovadora como as

formam dos edifícios. Quando um estilista desenvolve uma colecção ele

escolhe evidenciar aspectos do corpo, criando volumes e texturas. O

arquitecto também pode apresentar objectos dessa maneira.”(Lucchese,

p.01, 2010 apud Rebouças, p.66, 2011).

O estudo analisado para exemplificar e esclarecer o que foi dito

anteriormente é o da criadora Glória Coelho, que uma das suas principais

características é recorrer à Arquitectura como fonte de inspiração.

O sucesso de Glória Coelho vem da sua história, uma vez que sua marca

alcançou a importância, que tem no mercado e na cultura actual, devido ao

seu árduo trabalho e intensa pesquisa, desenvolvendo assim, uma maturidade

de particularidades estilísticas e conceituais, ao criar, tornando-se numa

marca única. A designer é ligada à arte desde a infância, pois sempre teve

gosto pela pintura, tinha o hábito de escrever poemas e fazer as roupas para

as amigas. Esta estudou num instituto de arte e decoração, mais tarde vai

para Paris onde tirou um curso no Studio Berçot e, em 1974, lançou a primeira

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colecção. No início, a confecção fazia um prêt-à-porter chique e bem

comportado, para a mulher tradicional. A marca já fez pareceria com a

designer Carla Fincato e seu filho Pedro Lourenço. Na época de 2000,

intencionou facilitar o processo de internacionalização da marca ao usar o

nome G para Glória Coelho. Em 2009, Glória é premiada como Melhor Estilista

de Moda Feminina. Devido à crescente procura por vestidos exclusivos, a

marca cria uma nova vertente, Glória Coelho – Noivas, desenvolvida sob

medida pela designer. Glória vai além, e inova com a pareceria Electrolux.

Devido ao facto, de os electrodomésticos terem uma função decorativa,

dentro de um ambiente, Glória consegue ganhar destaque no mercado de

consumo. Em 2010, Glória usou o logo da marca de electrodomésticos para

produzir criações únicas em sua colecção Primavera/Verão chamada de

“Sistema & Símbolo”, que misturou vários sistemas, como o sistema de listras,

o sistema dos anos 60, o sistema biológico das plantas, o sistema do sol e o

sistema dos cristais com o símbolo da Electrolux.

Conhecida por ser autoral e arrojada, a designer pesquisa, desenvolve temas,

faz releituras, procura ser única, e evidencia peças de roupas visualmente

interessantes. As suas criações são singulares, pelo facto de ter um carácter

pessoal e artesanal suas criações são singulares. Desenvolveu seu processo de

criação para ir ao encontro a uma identidade própria, obtendo uma

consciência da linguagem têxtil. Glória identifica e consegue utilizar o

potencial plástico das matérias-primas têxteis – naturais e artificiais. Por ter

tido uma experiência profunda com os processos industriais, esta desenvolveu

tecidos exclusivos com a tecelagem, como um tipo especial de neoprene

(elástico e de fina espessura) para o vestuário, o novo tecido modela sem

marcar o corpo, criando uma silhueta sexy, moderna e, sobretudo, elegante.

Glória Coelho recorre a temas específicos para as suas inspirações criativas,

tais como, o futurismo, cinema, artes plásticas, literatura, historia e

astrologia. Este último, é um dos seus temas preferidos. A designer tem a

capacidade de transpor todas estas influências, em uma única colecção de

forma coerente, através do seu trabalho de estudo, pesquisa, análise e

desenvolvimento de conceitos.

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As suas criações transpõem a ideia de armadura, pelo uso de silhueta rígida,

que sem perder a sofisticação deixa a mulher elegante e feminina, como se a

criadora tivesse uma aspiração de transformar as mulheres em “heroínas-

guerreiras”, ou seja, Glória procura um ideal feminino contemporâneo e

urbano. Há sempre certa sobriedade em suas criações, em que tudo contido e

subtil, fazendo com que a mulher, que veste Glória Coelho seja no mínimo

interessante.

Dando relevância, às criações arquitectónicas, os estilos arquitectónicos que

Glória tem dado mais prevalência, ao longo de todos esses anos de criação são

os estilos Minimalista, Moderno e Contemporâneo. A presença minimalista é

notória pela ausência de ornamentos e adornos, muito brancos e/ou pretos,

no melhor sentido da máxima “Menos é mais”, de Mies Van Der Rohe. O estilo

moderno é caracterizado pela semelhança de construção de formas

geométricas bem definidas, puras e simples. Já o estilo contemporâneo, é

reconhecido nas colecções da designer, por agregar conceitos de tecnologia e

sustentabilidade às criações. Na colecção “Vasarely”, Primavera/Verão

2000/2001, Glória se inspirou nas formas e curvas do arquitecto Oscar

Niemeyer (uns dos maiores ícones da arquitectura Moderna), sempre

mesclando com outros temas, neste caso, em particular, o Op Art, do artista

plástico Victor Vasarely (fig. 25 e 26). As suas mais recentes colecções têm

sido inspiradas em conceitos e formas da arquitectura moderna, fazendo

referência a Frank Lloyd Wright, acrescentando princípios contemporâneos

como o do desenvolvimento tecnológico, a preocupação com o meio ambiente

e a “Arquitectura Espetáculo” de Frank Gehry. Dentro das suas influências

arquitectónicas, a colecção que se destacou mais foi a colecção Universo

(Primavera/Verão 2009/2010),pelo vestido, cuja silhueta recorda o design do

museu Guggenheim de Frank Gehry, as suas formas são inovadoras, divulgam

uma preocupação além do formal, devido às suas peças serem multiformes e

modulares procurando uma qualidade funcional, (fig.27, 28 e 29).

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Fig.25.Colecção Vasarely, SS 2000/2001

Fig.26.Colecção Vasarely, SS 2000/2001

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Fig.27.Colecção Universo, Primavera/Verão 2009, de Glória Coelho.

Fig.28.Colecção Universo, Primavera/Verão 2009, de Glória Coelho.

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Fig.29.Colecção Universo, Primavera/Verão 2009, de Glória Coelho.

1.5. A moda e o Design

O design é conhecido por ser um processo onde se cria objectos, tendo em

conta a criatividade na configuração, concepção, especificação e elaboração

do produto. Este tipo de objectos podem ser dos mais variados, desde

vestimentas, máquinas, ambientes, imagens e produtos domésticos. No Design

é ponderado a forma à qual o objecto foi idealizado, todavia este não é uma

forma de arte, tendo em conta o conceito da arte moderna, visto que a arte

resulta de uma produção individualista e sublime, o design propõe atender a

sociedade, em que este abrange a solução de problemas, criando uma

novidade. Para este fim, o designer tem que saber as funcionalidade do

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produto, o que o obriga a investigar e explicar. Este é o conceito de design,

em que existe a concepção de um procedimento, direccionado até ao seu

objectivo, que satisfaz as necessidades do cliente, e soluciona problemas,

melhorando situações, e ainda originando uma novidade, ou algo com

utilidade. Ulrich afirma que “… design é conceber e dar formas a artefactos

que resolvam problemas”, (2001). Quanto mais o produto, que o designer

criar, satisfazer as necessidades do consumidor, mais qualidade o designer

terá. Um facto bastante determinante nesta satisfação do cliente é a

fidelização da elaboração de um plano, em que como designer, este deve

facultar um produto lógico, ou seja, o designer deve compreender o

problema, saber desfragmentar, de modo a explorar as várias alternativas e

descobrir uma solução. O design encontra-se misturado com o nosso dia-a-dia,

o que o torna mais elaborado, este é tudo o que está integrado no espírito

visual do tempo, por outras palavras, nem todos vão a uma galeria, mas todos

são afectados pelo design, de alguma maneira.

O mundo pensa constantemente e de forma diferenciada, já que os signos são

interpretados, segundo a cultura do lugar, o que faz a sociedade pós-moderna

ser bombardeada pelos signos. Dentro de uma cultura, torna-se

imprescindível, a necessidade de mudança, por passageira que seja, pois na

moda é um factor determinante em algumas variações e mutações. Essa

mudança estabelece as características, os elementos essenciais, como

também se pode identificar pela moda, como uma base importante, que

determina, ou participa do estilo de uma época. A moda por ser mais notável

em objectos pessoais, a selecção do vestuário é, grande parte, pelo meio

afectivo. Segundo, Nelson (1962) “a moda é a expressão do hábito popular

tirado das coisas e é constantemente obsoleta e cíclica e, que para se

distinguir entre o que está na moda e o que está em obsolescência se deve

considerar o desgaste do objecto devido à superação de um dado técnico e

formal.” O Design de Moda é um sistema de arte ligada à concepção de

vestuário e acessórios de classe de vida, no qual é classificado em duas

categorias: alta-costura e pronto-a-vestir. A colecção de pronto-a-vestir

significa produção em larga escala sendo, por isso massificada, ou seja,

pretende satisfazer a necessidade do cliente, mas sem ser individualizada.

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Enquanto, que a alta-costura direccionada para um certo tipo de cliente, que

são considerados especiais, o que significa, que é personalizada, e não é

confeccionada para um grande aglomerado de pessoas. Charles Frederick

Worth é considerado o primeiro designer de moda e no século XIX, abriu a sua

casa em Paris, onde procurou inspiração na indumentária da realeza, e no

qual foi inovador. Em vez seguir as vontades e imposições do cliente, pela

primeira vez, se tornou num estilista que lançava as tendências, que deu

origem a um enorme sucesso, conseguindo desta forma, fazer com que o seu

nome e rosto fossem reconhecidos pelas suas criações. Foi a partir daqui, que

nasceu a tradição de ter um designer numa casa, que criasse roupas e

representa-se o significado de uma marca. Para um indivíduo alcançar

sucesso, enquanto designer é preciso ter uma personalidade muito artística e

criativa, como também boas bases de desenho para poder transmitir as suas

ideias, com mais clareza, nos seus esquiços. Ser um designer é ter facilidade

em combinar cores, texturas e tons, trabalhar com tecidos com criatividade e

originalidade, uma outra característica forte é pensar em três dimensões, e

por ter uma boa imaginação visual, torna-se colocar as suas ideias do esboço

para o vestuário. O cuidado com as imposições do mercado, como também

saber quais são as necessidades e o estilo de vida do consumidor torna-se

imprescindível.

“Podemos observar que, cada vez mais, a Moda e o Design estão se

aproximando e esta aproximação não está marcada apenas pela inserção da

palavra design para nomear o profissional que atua no campo da moda. De

alguma forma o design, não apenas como palavra, mas também como

conceito, passou a fazer parte do universo da moda”, (Christo, p.1). Deborah

Christo, afirma ainda “E não só a moda assimilou o design em seu universo,

também o design incorporou a moda ao seu campo” (Christo, p.1, 2006).

A parceria da Melissa com vários designers, como Karin Rashid, Jeremy Scott,

Vivienne Weswood e o Gaetano Pesce são casos demonstrativos de que a moda

e o design estão muito interligados e a sua relação é complexa.

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Melissa, não é um calçado, mas um produto de design, que devido à

mensagem que pretende passar, a escolha do plástico, consegue ultrapassar a

forma e conteúdo (fig.30). A marca considera, que a tecnologia está a serviço

das emoções humanas. Para a marca se recriar, em novas versões de si

mesma, esta vai procurar influência ao mundo das artes, arquitectura,

fotografia, música, e de outros universos. A marca é conhecida, pelos seus

consumidores, das formas mais variadas, estes enaltecem-na, como sendo

feminista, original, refinada, curiosa, inusitada, lúdica, otimista, bem-

humorada, sedutora, e inocente. Melissa é uma marca brasileira, que nasceu

em 1979 e foi inserida no mercado pela empresa Gaúcha Grendene, fundada

em 1971, reconhecida pela fabricação de embalagens plásticas para garrafões

de vinho. Os irmãos Alexandre e Pedro Grendene investiram na sandália

melissa, onde surgiu o primeiro modelo o Aranha, inspirado nas sandálias

Fisherman . Em 1982, a releitura do modelo Aranha, na versão Rock, fez um

enorme sucesso, pelo facto de a marca ter vindo a ganhar grande

responsabilidade, devido ao significado do plástico, que se transformou num

item de valor agregado na transformação da moda, especialmente, nos

acessórios que a compõem. O surgimento da marca é símbolo de grande

diferencial, que inspirou a moda de grande capitais como Nova York e Paris.

No ano de 1983, a mesma assinou contractos com grandes estilistas

internacionais, como Thierry Mugler, Jean Paul Gaultier, Jacqueline Jacobson,

e Elisabeth Seneville, fazendo com que as sandálias melissa fossem vistas nas

Fig.30.Exposição do calçado marca Melissa

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50

vitrines mais famosas, a nível mundial. Em Outubro, desse mesmo ano, estes

estilistas utilizaram, o calçado melissa, criado por cada um deles, nos seus

desfiles, nas colecções de Primavera-Verão em São Paulo. Arrebatador. Desde

então, este produto tornou-se num dos mais desejados mundialmente, desde

da sua criação, até aos acessórios, que desperta nos seu consumidores valores

que vão além da sua criação, porque a marca permite que os seus clientes

vivenciem uma experiência única, quando criaram um perfume, que é

colocado no produto. Assim, este passa por experiências desde as sensoriais,

até às emocionais, que estão ligadas à auto-estima, e memória afectiva. Por

tudo, o que foi referido anteriormente, as sandálias melissa marcaram, de

forma arrebatadora, o meio do design, que levou à celebração e

democratização.

Retornando, aos casos referidos anteriormente, a pareceria entre melissa e

karim Rashid surgiu em 2005, com o modelo Karim Rashid High. O designer

nasceu no Cairo (metade egípcio, metade inglês), e actualmente trabalha em

New York. Este desenhando para uma diversidade de clientes, desde da

Umbro à Prada, de Miyake à Method, Rashid quer transformar o design de

produtos e a cultura de consumo. O “declarado” designer de objectos,

Rashid é reconhecido como o “príncipe de plástico”, e pelo seu trabalho

tipicamente futurista. Unindo-se à marca melissa, o designer conseguiu

democratizar e delinear seus sonhos com o modelo Karim Rashid High, que foi

inspirada na união entre a sua arte e a maleabilidade do plástico, e por isso

foi possível a criação de uma Melissa que se tornou num ícone mundial

(fig.31). Actualmente, esta faz parte de uma colecção de miniaturas

coleccionáveis.

O modelo Karim Rashid High é um sapato com salto de formato gota. Esta

característica enaltece as curvas do designer com a flexibilidade do plástico,

e que vem reeditado em novas cores. Derivado ao seu designer diferenciado e

pelo seu conforto incrível, a contemporânea Melissa Karim Rashid é um luxo.

Este modelo passa uma imagem de glamour e elegância pelas cores sóbrias,

que espalham seriedade, tornando-se perfeita para ocasiões nocturnas (fig.32,

33 e 34).

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Fig.31.Melissa x Karim Rashid “Karim Wedge”, 2009

Fig.32. Melissa x Karim Rashid “Karim Wedge”

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Fig. 33.Modelo da pareceria Melissa x Karim Rashid

Fig.34.Miniatura da colecção de Design Melissa x Karim Rashid

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A pareceria Melissa-Jeremy Scott nasceu em 2015, e neste mesmo ano, em

2016 uniram-se novamente para lançar a continuidade do trabalho, e

apresentam uma nova linha, colecção Technicolor, inspirada no trabalho

anterior, dividido em quatro colecções (a coleção tem inflatable mules, ankle

boots e sapatilhas). A parceria foi anunciada, pela primeira vez, durante a

NYFW do Verão 2016, quando Jeremy calçou as modelos de seu desfile com as

sandálias Melissa. Nesta segunda colaboração com Melissa, Jeremy Scott,

americano (frente da Mochino), e da sua própria marca, demonstra o seu

espirito independente, que por ser apto de revolucionar o meio industrial, faz

dele uma “máquina” além do tempo, ou seja, este vê a moda além dos

sentidos, o que faz vislumbrar o que os outros não vêem (fig.35). Por isso, se

ter tornado num dos designers mais abordados nos dias de hoje. Em relação a

moda, este afirma o seguinte: “A moda é muito mais poderosa do que o

crédito que damos a ela. Ela pode servir como uma inspiração visual, um

conceito. E esse conceito reforçar uma ideia para que ela se torne realidade”.

Fig. 35. Jeremy Scott pousa com as modelos, editorial SS16

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Esta paixão pela moda, e as suas qualidades criativas, capacidade

transformadores e as suas técnicas vêm desde criança, quando este morava na

fazenda, em Missouri, costumava criar os seus brinquedos, devido a motivos

financeiros. Jeremy tinha a habilidade de transformar uma caixa, num navio,

que mais tarde se tornava num carro. Na época da adolescência, por não ter

acesso ao mundo da moda, modificava as peças ao seu gosto. Muitas das suas

inspirações são dos Flintstones, Barbie e McDonald´s, que se encontram

notáveis nos ícones pop das colecções dos seus desfiles, o que levou a ser

apelidado como uma espécie de Andy Warhol, na última década.

Actualmente, os brinquedos de plásticos infláveis são inspiração, em termos

de cor, da segunda pareceria com a marca, colecção Technicolor. Para esta

colecção foram criadas seis modelos de sandálias (Inflatable Mule, Ankle Boot,

Space Love, Tube Sandal, Ultragirl e Mini Monkey Boot), (fig.36), que

“brincam” com ventis de ar, equivalente a bóias de ar e água, o que faz

parecerem brinquedos de piscinas, mesmo assim, são funcionais. Continuando

o trabalho da primeira pareceria este foi buscar a versão dos modelos, como a

sapatilha decorada, em que sugere novas opções, como sandálias coloridas e

mules. Outros modelos são uma sandália ankle boot que tem um salto baixo e

fino, e um mule com salto grosso e alto, ambos com cores vibrantes e

diversificadas (ver as figuras 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43 e 44).

Fig. 36.Os seis modelos criados, pelo designer Jeremy Scott para a marca Melissa

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Fig. 37.Modelo Inflatable Mule

Fig.38.Colecção SS16, da pareceria Melissa x Jeremy Scott, com o modelo inflatable mule

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Fig.40.Calçado Melissa Ankle Boot, na colecção de Jeremy Scott, SS16

Fig.39.Jeremy Scott x Melissa Ankle Boot

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Fig.41.Melissa x Jeremy Scott Space Love

Fig.42.Melissa x Jeremy Scott Tube Sandal

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Fig.43.Jeremy Scott x Melissa Ultra Girl

Fig.44.Jeremy Scott x Melissa Mini Monkey Boots

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Dando continuidade a esta linha de parecerias, é feita uma alusão à colecção

Eat My, com a britânica Vivienne Westwood, que é considerada uma óptima

versão, do ano 2015.

O trabalho criativo da designer Vivienne Westwood começou a ser conhecido

na época de 70, mas a sua trajectória não começou nessa altura. O ponto de

partida, para entrar no mundo da fama foi quando abriu uma loja, em

Londres, onde proporcionava produtos de rock, como discos e roupas. Quando

esta vestiu a icónica banda punk/rock, Sex Pistols, em 1976, revolucionou o

mundo da moda, sendo considerada a rainha da moda punk. Um dos seus

outros grandes marcos foi no final da década de 80, quando esta decidiu

aplicar nas suas colecções uma mistura de cortes dos séculos XVII e XVIII, com

a alfaiataria. Já nos anos 90, esta expande as características do seu trabalho,

com o famoso xadrez da cultura britânica, que aparece na colecção

Anglomania. Actualmente, a designer continua a ter influência e poder a nível

mundial, pelo seu estilo irreverente, ousado e ao mesmo tempo elegante. O

seu prestígio divide-se em quatro marcas, como Gold Label, Red Label, Man e

Anglomania.A designer exerce um olhar único sobre a moda, em que esta,

tem de facto, o poder de transformar o mundo, no qual se pode considerar “o

seu mundo”, que inspira pelo seu título nobreza e passado rebelde. Esta

associou-se, pela primeira vez, à marca de calçado Melissa, com o intuito de

criar uma mini colecção de inverno 2008/2009, “Melissa Vivienne Westwood

Anglomania” (fig.45). Devido a esta parceria, Westwood afirma que: “Os

sapatos devem ter saltos muito altos e plataformas para colocar a beleza da

mulher num pedestal”.

Fig.45.Colecção Anglomania, Outono/Inverno, 2008/2009, Melissa x Vivienne Westwood

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Na primeira colecção, a rainha da moda punk, cria dois modelos de sapatos

em PVC, misturando irreverência com classicismo, de inspiração retro,

biqueira arredondada e salto alto. Mary Jane é o primeiro modelo, de versão

plástico, de cores vibrantes, das suas famosas sandálias em couro. O segundo

modelo, as sabrinas Ultragirl customizadas, têm duas versões de materiais,

uma é em veludo com o forro xadrez, a outra em plástico brilhante com o

forro floral. Este produto é caracterizado pela aplicação do símbolo da marca

Anglomania, que resume a essência da etiqueta de designer, em particular, a

coroa é o símbolo do poder, a órbitra significa tradição e o satélite remete

para o futuro. Para a última colecção, Eat My a designer criou o modelo

Aranha Hits, com inspiração no universo gastronómico, em particular no

cheiro que desperta a fome, e pratos e sobremesas cinematográficos, onde se

apresentam as tortas, frutas e doces. Assim, a colecção é uma representação

de cores fortes e bicolores, e variações entre o retro e o moderno (fig.46 e

47).

Fig.46.Colecção Eat my, 2015 com cenas cinematográficas

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Fig.47.Colecção Eat My, 2015 com cenas cinematográficas

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A última pareceria analisada é a de Melissa com Gaetano Pesce. O designer,

que também é reconhecido por ser arquitecto e por valorizar a imperfeição

nas suas obras, cria uma nova concepção de beleza, no qual este assina um

trabalho durável, quebrando fórmulas (fig.48).

Gaetano Pesce, formado em Arquitectura, na Universidade de Veneza, é

reconhecido, a nível mundial, pelas suas criações, como designer de

mobiliário, no qual era notável a sua procura persistente por materiais

inovadores e tecnologias, e também era característico do seu trabalho o uso

intenso de cor. Em 1969 e 1993, este recebeu o prémio Chrysler de inovação e

design, pela criação da famosa poltrona UP5. Nas suas criações observa-se,

que este cria com base nas suas interpretações contemporâneas. O seu

conceito, inverte as ideias básicas do design, no qual não se baseia na

solução, mas tem como base o produto. As suas influências criativas têm

origem nos elementos de rotina e na rua, em que este oferece um novo alento

à arte. É partir destes ideias, que a arte ganha novas formas. Por isso, a sua

carreira é tao sólida, quanto o concreto dos prédios que idealiza.

O novo modelo desta pareceria é intitulado Fontessa (nome dado pelo

designer para homenagear a filha), sendo o primeiro modelo, que se torna

inteiramente customizável da marca. Este calçado é uma irreverente ankle

boot originada por inúmeras bolas, de tamanhos variados, em que estão

dispostas de forma assimétrica, no qual podem ser recortadas até que se

obtenha a forma desejada. As bolas têm aparência semelhante às bolhas de

sabão, dando um aspecto lúdico. A ankle boot vira, facilmente, em outros

modelos de sapatos, com a ajuda de uma tesoura, de acordo com o gosto e a

criatividade do consumidor. As cores são novas, metálicas, alegres e vivas. O

modelo ankle boot mescla design, conforto e estilo (fig.49).

Gaetano utiliza, sempre, materiais idênticos ao plástico, fazendo com que o

trabalho desta união surja de forma muito espontânea, no qual o designer

guia a moda pela sua forma de olhar para o material associado a uma nova

prática, enquanto a marca trás o material característico, o plástico, associado

à “fome” de ideias contemporâneas. Em conjunto com a marca, o italiano

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confere com entusiasmo a sua “impressão digital”, como designer e

arquitecto, num projecto de pequenas proporções métricas.

Sem fórmulas ou regras, o designer permite, que o consumidor crie a sua

própria Melissa, na sua forma perfeita, dentro da sua beleza única, particular

(fig.50). “É como comprar um pedaço de papel e um lápis”, afirma Gaetano

Pesce.

O modelo Fontessa é uma das obras considerada das mais singulares,

actualmente, onde muitas peças estão em exposição nos museus, em

particular, o Moma (Nova Iorque), e o Victoria and Albert Museum (Londres).

“Queria algo que desse ao consumidor a possibilidade de mudar o design”,

explica Gaetano o objectivo da Fontessa.

Fig.48.Parceria da marca melissa com Gaetano Pesce

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Fig.49.Colecção de Gaetano Pesce, 2011/2012

Fig.50.Modelo Fontessa, Melissa x Gaetano Pesce

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1.6. O cinema e moda

“Na arte, é possível observar diversos meios de expressão. No cinema, é

sabido que antes de haver qualquer tecnologia que pudesse contribuir para a

transmissão de uma ideia ou situação, existia um figurino expressivo dizendo

muito sobre aquele personagem, que até então, para o espectador era mudo e

monocromático”, (Weitzel, p.14, 2013).

A partir da década de 1920, os figurinistas, em Hollywood, ganham

importância. No princípio da década, verificava-se uma grande

responsabilidade em desenhar as roupas da época para os filmes históricos.

Nos filmes modernos, os próprios actores levavam as suas próprias roupas. Ao

longo dos anos 20, a estética dominou o modernismo. Esta vanguarda foi

retratada pelo cinema, de Hollywood, pelos seus cenários e figurinos. As

roupas de alta-costura, de Paris e o mobiliário da art déco, europeu, serviram

de grande inspiração para o charme, evidenciado nos filmes americanos. Por

este motivo, os designers, desde 1925, começaram a visitar a cidade francesa,

com o intuito de obter inspiração e copiar as ultimas tendências do mobiliário

e da moda. Nesta altura, era muito frequente, os produtos de moda,

deixarem de estar dentro das tendências, no tempo que eram lançados, pois

após as filmagens, os filmes demoravam dois anos, até chegar ao mercado.

Isto chegou mesmo a acontecer, com o caso do designer Jean Patou, que em

1929, acabou por alongar o comprimento dos vestidos, determinando uma

nova estética para os anos 30. Como consequência, Hollywood agiu,

proclamando a intenção de superar Paris, com o intuito de liderar a moda. O

designer Gilbert Adrien afirmava, que a moda para o cinema precisa estar fora

das tendências, para mais tarde se tornar tendência. Porém, alguns

costureiros europeus criaram roupas para os filmes de Hollywood, originando

algumas parcerias económicas, e recompensadoras, em termos estéticos. Os

costureiros da marca Givenchy, Dior, e Balmain inspiraram-se em Hollywood,

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como uma fonte essencial para o marketing, e patrocínio das suas marcas,

após a Segunda Guerra Mundial. A cobertura dos midia, acerca dos estilos das

actrizes, fora do ecrã, dos seus gostos e personalidades, era a base das

publicidades, das casas de moda.

As tendências de moda foram muito influenciadas pelo cinema de Hollywood,

que levaram, à grande maioria da população, a imitar as roupas dos filmes.

Exemplo disso, foi o vestido branco, em que as mangas eram constituídas por

babados, idealizado pelo designer Gilbert Adrian, para a artista Joan

Crawford, e o estilo New Look, que a estilista Edith Head criou para a actriz

Elizabeth Taylor. Desde os anos 30, até aos finais dos anos 50, Hollywood

começou a investir em filmes de enredos modernos, quebrando os enredos

épicos e históricos, por começar a existir a necessidade da venda de produtos,

para além do próprio filme. A partir daqui, as roupas desenhadas para as

actrizes foram produzidas em larga escala. Esta estratégia fez com, não só a

carreira dos directores dos filmes femininos crescesse, como também das

próprias estrelas e figurinistas.

Com isto, a moda e a música sempre andaram de mão dadas, ao longo dos

tempos. Assim, a moda, não é só o reflexo de uma época, mas também de

uma linguagem, sendo uma forma de expressão de um filme, apesar de,

algumas das vezes, a intenção da roupa era caracterizar a personalidade de

uma personagem. O cinema conseguiu ajudar a moda a lançar tendências,

pela contribuição natural das actrizes, que acabaram por mudar

comportamentos, romper códigos, e ainda fizeram, com que as mulheres se

sentissem mais confortáveis na sociedade.

“A moda tem uma estreita ligação com as artes cinematográficas. A sétima

arte vem exercendo uma influência significativa nas elaborações e tendências.

Pelo estudo é possível captar a harmonia e a interacção entre o cinema das

décadas de 50 até o ano 2000 e o vestuário usado tanto nas passarelas quanto

na vida cotidiana. Portanto, o objectivo e a hipótese de que o figurino pode ir

além do traje de cena se comprovam.”, (da Silva, p.6, 2010).

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Marilyn Monroe é um grande exemplo, da mensagem transmitida. A actriz foi

um das actrizes mais influente do século XX, em que a sua predominância

passa pela literatura de Truman Capote, pela pintura de Andy Warhol, e

também pela música de Madonna. Na área do cinema, Marilyn Monroe inspirou

as actrizes Lindsay Lohan e Scarlett Johnson. Após a morte da actriz, criaram-

se inúmeras biografias e cinebiografias, que a deixaram viva, na visão dos fãs.

É natural, que se tenham feito muitas homenagens à actriz, pelo impacto que

estaca teve no universo artístico, e o artista Andy Warhol foi logo, uns dos

primeiros a homenageá-la, em 1964 com um serie de serigrafias. A galeria

Sydney Paris, e Nova Iorque, três anos mais tarde, decidiu reunir artistas do

mundo pop, com a exposição “Hommage to Marilyn Monroe”.

Segundo Reed,“nas provas de roupa, os executivos vislumbraram o corpo da

actriz coberto por um tecido revelador bordado e paetês, e pediram a Travilla

que a deixasse mais recatada”,(2014), o que fez com que as luvas compridas e

o vestido, até ao tornozelo usado pela diva , se tornasse num “sex symbol”

emblemático (fig.51). O estilo de Marilyn aliava conforto e elegância,

misturado com peças masculinas e femininas. Os seus coordenados eram

compostos por vestido de lamé, saltos vertiginosos e colares de pérolas, em

público Marylin costumava usar shorts, saia lápis e camisa masculina. A actriz,

ainda continua a influenciar os estilistas, a nível mundial. O designer Tom

Ford, é uma prova, de que não conseguiu resistir ao estilo da diva, ao lançar

uma linha de óculos de sol borboleta. A marca Yves Saint-Laurent criou o look

“bland-sur-blanc”, e “Nez à Nez” para lançar a fragrância “Immortelle

Marilyn”, com inspiração na Mariyn Monroe. A marca Dior utilizou a actriz em

uma propaganda para a marca, em 2012.

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Fig.51.Marilyn Monroe, vista como símbolo emblemático para a moda

Fig.52.Óculos de criação Tom Ford, com inspiração no look da diva Marilyn

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“O cinema contribui para o aumento do consumo de produtos de moda; o

grande ecrã é, então, um objecto de procura para a criação de

temáticas/inspiração para colecções de moda e serve como suporte de

divulgação”, (da Silva, p. 69, 2014).

Uma forma de salientar esta união é a colecção SS 2004, produzida pelo

designer Alexander Mcqueen, em Paris. O percurso do designer é marcado por

ter uma visão livre, conceitual, muito autoral, que este transpõe para as suas

criações, com temáticas, sempre instigantes, deslocando ao de cima, a

complexidade do corpo humano. Os corpos performáticos são uma zona de

inúmeras intervenções, através destes possui um discurso político, dialoga

com a ética, faz denúncia à miséria e violência humana, revoluciona-se e

destrói silhuetas “sacralizadas”, formas e estruturas do mundo fashion. Para

McQueen, não bastava representar só a moda, nos seus desfiles, por isso,

muitas vezes, este vai buscar a arte, a tecnologia, o circo, o cinema, e outra

linguagem, como formas de renovar as suas criações e espectáculos, na

grande maioria dão origem a questionamentos incómodos, como fez nesta

colecção, inspirada no filme de Sydney Pollack. A colecção do designer teve

como base o filme “They shoot horses, don’t they?”, produzido em 1969,

baseado na obra homónima, do escritor e jornalista estadunidense Horace

McCoy. A obra homónima tem como inspiração a história o cenário a grande

depressão de 1929, no qual foi reconhecida com uma das maiores crises do

capitalismo do século XX. Os Estados Unidos atravessaram, no meio

económico, um momento de euforia, no final nos anos 20, pelo facto de haver

uma maior funcionamento industrial, no qual esta operava a todo o vapor,

fazia com que houvesse milhares de clientes “sedentos” para consumir.

Porém, na noite de 24 de Outubro, em 1929, tornou-se na famosa quinta-feira

negra, na medida, em que as acções desabaram, e fortunas guardas ruíram,

completamente da noite para o dia.

Na obra, a Noite dos Desesperados é retratada com um ambientado de

concurso de dança, no qual os casais inscritos, vindos de várias cidades dos

Estados Unidos, tinham que executar a “sinistra” tarefa de passar horas, dias

e noites dançando, onde havia pequenos intervalos, interrompidos pelo toque

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de uma sirene, que os fazia retornar ao salão. Depois desta árdua tarefa, em

que acabam por ficar extenuados devido ao cansaço e à dor, os próprios casais

tinham que participar numa maratona, que mais se parecia com uma corrida

de cavalos, e o casal, que chegasse em último era desclassificado.No que diz

respeito ao filme, “They shoot horses, don’t they?”, este fazia alusão à dança

e à maratona, em que ambos representavam um pequeno mundo dos dramas

diários da sociedade. Este pequeno mundo revelava os desastres, e a vida

pessoal dos personagens, no qual se mistura com um cenário onde se dá

prevalência à degradação do ser humano, a lei de quem era mais competente

e vigoroso, ou seja, alguém que fosse capaz de ditar as regras vigente no

mundo do mercado. Como no livro, o ambiente da maratona, não se

assemelhava a pessoas, que participavam de forma humilhante, mas pareciam

“cavalos” a disputar um jogo. Várias analogias podem ser tiradas, a partir

deste filme, a nível de contemporaneidade, sob a defesa dos interesses

capitalistas, e ainda pela relação entre o concurso de dança e a luta de

gladiadores na Roma antiga, visto que o cenário de violência, e a eliminação

dos fracos era uma regra que tinha de ser seguida. Durante o decorrer do

filme, pode-se verificar que existe uma crítica ao universo fashion, onde o

lucro, o marketing e a comercialização dos produtos, tinham mais

prevalência, que a criação.

Neste sentido, através de uma narrativa de significados múltiplos, em que a

coreografia e a música asseguravam o discurso político, o desfile do Alexander

Mcqueen usa uma discussão abrangente, que faz a reconstrução do filme com

figurinos e cenário da época. Assim, a partir da moda e da estética, o

designer nos leva à cruel e dolorosa realidade, que foi vivida pela grande

maioria da população norte americana. O designer decidiu revelar a história,

com uma coreografia (assinada por Mickael Clark), usando modelos e

bailarinas, com diversos números de dança e maratonas, ao som da orquestra

Duke Ellington. Devido à inspiração, que está por detrás da colecção, e do

designer em questão, esta foi uma colecção, considerada pelos críticos, e

entendedores da moda, como umas das colecções mais criativas, das últimas

temporadas daquela época, visto que Mcqueen soube reproduzir, de forma

lúcida, obscura, política e contundente, um dos períodos mais dramáticos do

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séc. XX. O cenário do desfile foi o salão parisiense, do séc. XIX, Salle Wagram.

A colecção foi acompanhada por capas de cetim (cinza e preto), boleros e

saias, estilo anos 30, vestidos de seda e chiffon, com mistura de tops

atléticos, estampados numéricos, fazendo alusão às maratonistas (ver nas

figuras 53, 54 e 55). No final do desfile, o cenário muda, com os corpos das

modelos mais fatigados, e tomados pela exaustão, no qual pareciam seres sem

vida, esgotados pelo, prolongado, esforço físico, em corpos de inúmeras

significações (ver figuras 56, 57 e 58).

Fig.53.Primeira parte do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004

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Fig.54.Primeira parte do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004

Fig.55.Primeira parte do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004

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Fig.56.Segundo momento do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004

Fig.57.Segundo momento do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004

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Segundo, o que foi analisado, é possível comprovar, que a criatividade e a

genialidade de McQueen, ultrapassam o universo da moda, com o objectivo de

criar uma zona, em que a subjectividade, a arte, o sombrio e o lúdico, se

interligam em todas as criações. Ao desenvolver traços e detalhes,

considerados muitas vezes secundários, como a vestimenta, Alexander

McQueen, vai além do que foi exibido e do que foi dito. Resgatando, a partir

de sentimentos, perdas, dores e emoções, as suas criações traduzem-se em

histórias e socializações, de experiência de indivíduos incógnitos.

Para além deste marco, existem vários filmes que deram “vida” ao mundo da

moda, e que interlaçaram esta relação. O filme “Matrix, de 1993, que trouxe

à moda o Couro preto, óculos escuros, capas, botas e um estilo Cyberpunk, os

quais passaram a figurar em desfiles, provocando tanto sucesso quanto Keanu

Reeves na pele do personagem Neo (fig.59). Sabrina é um filme dessa época e

descreve exactamente essa ascensão da Moda. A cintura sempre marcada e

afunilada proporcionava feminilidade (fig.60 e 61); Os vestidos até os

Fig.58.Segundo momento do desfile, de Mcqueen, colecção SS 2004

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tornozelos eram completos ao acompanhar com os sapatos de salto alto, uma

verdadeira glória. Indispensáveis ao guarda-roupa feminino”, (da Silva, p.2,

2010).

“A música, os filmes, as pessoas, aderiram a essa moda e até hoje ela é

lembrada. Nas telas, Bonequinha de Luxo foi o filme que marcou a época e

traduziu muito bem o momento pelo que estavam passando. Bonequinha de

luxo é quase um desfile de Moda, realizado pela actriz Audrey Hepburn…o

figurino de Holly (Audrey) foi construído pelo estilista francês Hubert

Givenchy feitos exclusivamente para a actriz, dando um ar de feminilidade,

elegância e refinamento. E por consequência determinou novos padrões da

imagem mulher, delicada, magra e livre”, (da Silva, p.3, 2010).

Fig.59.Colecção em Couro de Versace, 2010, inspirado no filme Matrix

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Fig.61.Vestido da personagem Sabrina, que marcou o ano 1954

Fig.60.Bonequinha de luxo como um ícone do cinema, de 1961

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1.7. A moda e a música

“Os movimentos que criam estilos musicais geralmente são ditados e

difundidos pela juventude. E é aí que a música se une à moda, mesclando

símbolos e criando códigos de identificação. A escolha de determinada moda

ou música funciona como veículo de comunicação do eu, ambas possuem

caracterizações específicas que definem o indivíduo de acordo com seus

gostos, aquisições e preferências. Assim, moda e música possuem uma

linguagem própria, são dois ricos meios de expressão da atualidade, e estão

em constante mutação ao longo de suas evoluções enquanto manifestações

históricas.” (Freire, p.5, 2011).

A música cada vez mais tem influenciado o meio da moda. Nos anos 80, estava

teve um grande marco, no qual deu início a uma relação mais próxima,

marcando a sociedade, a nível de status, valores da marca, identidades, etc,

por isso é feita uma maior referência a essa época. A moda, como factor

social, tende-se a interligar com a cultura. Segundo Barthes (1983), “As

roupas são as bases do material moda, sendo que ela própria é um sistema de

significados culturais”. Fazendo ligação com o mundo cultural da música,

Braga (2007) afirma que: “A diversão fazia parte da vida das pessoas e um dos

valores muito em voga nesse período foi a dança e, por incrível que pareça,

contribuiu para as mudanças da moda”. A música é um produto cultural, que

proporciona os clientes uma experiência ética, no qual provoca um estímulo

no meio sensorial do homem, pelo facto de assumir várias funções. Devido à

grande diversidade de géneros musicais, a música exerce uma influência aos

fãs, para se diferenciarem na sociedade, e criando assim, uma identidade. A

década de 80 foi marcante devido aos músicos de referência, como Michael

Jackson e Madonna, que ditaram moda na altura, e actualmente ainda fazem

sucesso. Desde então, se nota que a moda se encontra nos figurinos dos ícones

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da música, que acabam influenciando a criação dos estilistas, e da mesma

forma, a moda adequa-se às tendências criadas pela música. ara além de

formarem fortes opiniões do público, comportamentos e atitudes para o ser

humano, as tendências e novidades musicais, como também as de moda são

instrumentos usados com o intuito de se expressarem e comunicarem. A

música, através da letra e capacidade sonora, e a moda através da

indumentária e acessórios, são capazes de manifestar sentimentos e desejos.

Uma das formas de a música e a moda, se transformarem em tendências de

comportamento, e meios poderosos de comunicação são as revistas de moda e

os clips musicais. Nos figurinos dos ícones musicais a moda encontra-se,

sempre presente, que acabam por influenciar e inspirar as criações

estilísticas, ou seja, cada vez, é mais notório, que as tendências musicais

estão a ser utilizadas pelos designers de moda. Por isto, os universos de

música e moda representam semelhanças, a nível de expressões e

denominações, onde se complementam, e até se fundem, na medida, em que

o visual de um estilo musical é determinado pela moda, e a música se traduz

na forma de qualquer estilo de moda. A cumplicidade poderosa, existente

entre as duas áreas é perceptível, quando os artistas musicais criam as suas

marcas de roupa, para conseguir vender ainda mais a imagem que pretendem

passar. Actualmente, os designers começam a invadir o palco dos artistas,

chegando mesmo a actuar como Dj´s, e ainda a formar bandas próprias.

Assim, para chegar ao campo da inovação, ambas as artes dependem uma da

outra, ou então vão evocar os estilos do passado já consagrados, com o intuito

de não quebrar as vendas no mercado.

“A música e a moda protagonizaram vários momentos artísticos na história da

sociedade ocidental contemporânea e produziram uma memória colectiva,

bastante alimentada pelo funcionamento de sociedades globalizadas, ávidas

pelas instantâneas informações do mundo através da internet. Informações

essas que interferem ou são absorvidas directa e indirectamente nas práticas

cotidianas de consumidores, que também são sujeitos historicamente

construídos”, (Rodrigues, p.26, 2012).

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Nos dias de hoje, os anos 80 é uma das épocas, que ainda influencia o nosso

cotidiano, no universo da moda e da música, por ser a primeira época que

contribui e assinalou esta poderosa comunicação. Esta relação tem vindo a

expandir-se, ao longo das épocas, através das suas características históricas,

artísticas, culturais, sociais, etc. No desenvolvimentos dos anos 80, a moda

traduziu-se em alegria, versatilidade e diversão, mas mesmo tempo em

sensualidade, ousadia e sofisticação, por isso é possível afirmar, que foi uma

década excessivamente inovadora e intensa. Esta é ma das fases mais

marcantes deste dois universos, em que o pop-rock ganha destaque. Ícones

como Madonna e Michael Jackson, ditaram a tendência da época. Os casacos

coloridos e exóticos, constituídos por zíperes, do cantor Mickael Jackson, e

peças que davam um toque militar causaram muito sucesso. Já Madonna,

também ditou tendências pelo uso de muitas pérolas, ombreiras, faixas de

tule envoltas à cabeça, mini-saias sobre leggings, maquilhagem forte e

vibrante. No universo da música, nasce um dos estilos musicais, mais

essenciais nos dias de hoje, o hip hop, e foi marcada como a década da

música electrónica nas pistas de dança. Posteriormente, surgiram um número

vasto de bandas, que se expuseram com diversas tendências, como new

romantics, darks, góticos, rastafáris e metaleiros. A década de 90 foi marcada

pelo ano das transformações. Esta época foi influenciada pelos excessos dos

anos anteriores na música e na moda. Ressalta-se o género musical Grunge,

impulsionado pelo rock, por ter influenciado as tendências da moda, e o

comportamento dos adolescentes, pelo estilo despojado de calças largas e

camisas com padrão ao xadrez, da região de Seattle, origem dos músicos. A

camisa xadrez foi uma verdadeira moda, até mesmo usada pelos rapazes mais

tradicionais. O universo pop ditou também tendências com muito rosa, roupa

de saias de padrão xadrez, coletes de tricô, saltos mary-jane, transparências,

vestidos justos, onde a marca Calvin Klein teve grande predominância, por ser

uma das mais famosas da altura. A moda se torna notável pelas

transformações comportamentais do ser humano, as forma de expressar sua

personalidade e de revelar a sua opinião modificaram-se, com também a

valorização dos materiais e os acabamentos das peças.

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Década de 2000, caracteriza-se pelo conforto e interacção A moda foi

mudando, pouco a pouco, cores únicas e cabelos mais lisos se predominavam.

No final da década, a moda transitou para o estilo retro, período de vestes

mais coloridas, calças justas de cinta subida, relembrando a moda dos anos 80

e 90. A dance music começou a perder popularidade com o lançamento do

MP3. Neste período, a tecnologia da internet ganhou importância. Em 2003 os

singles da cantora Amy Winehouse começaram a fazer sucesso mundial. Ao

longo desta década, diversos artistas, que marcaram os anos de 90, fizeram

grande sucesso, como Mariah Carey, Lion, Jennifer Lopez, e ainda Britney

Spears (uma das cantoras que mais vendeu discos nesse período).

A Era da Ostentação, assim é chamada a época, do ano 2010. A moda

começa, passar por uma grande transformação, em particular a geração da

adolescência, no qual as vestes começam a ganhar mais cores, e as roupas

ajustam-se ao corpo. Um género musical, que vem ganhando força, no início

de 2010 é o happy rock, conhecido como rock colorido, por ter um som leve,

as músicas serem românticas, e pelo seu visual, exageradamente, colorido.

Sucessos mundiais, se tornam evidentes, quando se referência Beyoncé,

Rihanna, Lady Gaga, Katy Perry e Adele. Segundo a Billboard, a artista mais

importante da década é Beyoncé. Para além, destes sucessos, bandas de

gerações passadas também se destacaram, tais como a banda Calypso, Nx

Zero, Roupa Nova e Pitty. Nesta mesma altura, perdeu-se a cantora e

compositora britânica, Amy Winehouse, no qual o álbum “Back to Black”, se

tornou no disco mais vendido do século XXI. Segundo, a revista Billboard, Katy

Perry tornou-se a primeira mulher na história a ter cinco canções, do mesmo

álbum, no número um, da Billboard Hot 100.A partir desta década, verifica-se

que há um crescendo do músical pop e dance music, na medida, em que a

popularidade é evidente. No universo musical, aumentaram as vendas digitais.

Pelo que foi analisado, ao longo destas quatro décadas, pode-se abordar, que

dentro do universo dos empreendimentos musicais, a roupa é considerada,

como uma forma de linguagem. Actualmente, é notório que existe um

cruzamento entre a roupa e o desejo de comunicação, isto é, cada vez mais

há uma necessidade de saber utilizar a imagem, como um meio directo de

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comunicação, o que provoca uma dependência ao consumidor. Este processo,

gera uma competição, perante, pela procura de novos métodos e produtos,

que consigam despertar o desejo do consumidor. Por isso, se tem vindo a criar

diversos grupos com estilos e hábitos, de indumentárias diferenciadas.

Segundo Gomes, “a maioria das informações apresentadas por meio da mídia

ou meios de comunicações, nos oferecem uma variedade de novidades que

atraí sonhos e desejos de posse”, (p.117, 2001).

As tendências chegam ao consumidor de várias formas, onde a moda concebe

imagens e os mídia encantam e dominam o consumidor, de todas as gerações,

em maior número e menor tempo. O que dá acesso a esta conquista é a

valorização do consumidor, onde se encontra a confiança estabelecida entre o

varejo e o cliente, e isto é comprovados quando os artistas conquistam

admiradores, e acabam por usar as vestes e acessórios, que os seus ídolos

utilizam. Assim, as roupas transformam-se num modo de linguagem, e difusão

mercadológica, onde a moda se propaga da rua para a passerelle. A influência

que a música exerce sobre a moda, realmente é poderosa, quando se criou a

famosa camisola com o símbolo dos Roling Stones (a língua), e pelo

surgimento do símbolo, imortal, da camisa xadrez, que foi usada pelos

vocalistas das bandas Nirvana, Kurt Koubain, e do Pearl Jam, Eddie Vedder.

Sendo assim, os meios de comunicação da moda e da música se

complementam, naturalmente, na medida, em que ambas precisam de estar

interligadas, para se propagarem e difundirem. A autora Palomino, salienta

esta cumplicidade, ao afirmar que “no mundo da moda muitos cantores e

artistas ganharam destaque e se perpetuam até aos dias atuais, podendo ser

citados como exemplos, John Lennon, Michael Jackson e Madonna, além de

muitos outros. Ao retractar o mundo da moda, Madonna foi um referencial

importante para a criação dos figurinos da Blond Ambition Tour desenhada

pelo estilista Jean Paul Gaultier que usou da sensualidade e poder fashion da

actriz para colocar no mercado consumidor os sutiãs de cone na história da

moda”, a autora complementa assegurando que “são muitos estilistas que

buscam inspiração no mundo musical, citando entre muitos, Anna Sui e Isaac

Mizrahi, (norte americanos) que por meio de colecta de informações de

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“kinderwhore”, iniciaram a mistura de tiaras com strass, vestidos curtos

floridos e curtumes são estilos utilizados pelo vocalista e líder do grupo Hole,

Courtney Love, de colocaram nas passarelas seu estilo musical a fim de

propagar sua mensagem”, (p. 97, 2000).

Para além de existir influência no meio social, esta pode ser visível no

mercado do marketing, em que a música tem predomínio na compra dos

produtos de moda. O mercado do marketing define a variedade existente no

mundo da moda, que está conectada aos midia, moda e imagem. Diversos

especialistas do sistema de varejo aludem, que a ferramenta chave, para bons

resultados na conquista do cliente, vem dos poderosos cinco sentidos, que

embora aparentem ser invisíveis são grandes estimuladores para a venda do

produto. Este meio de atracção, sensorial, permite estratégias específicas,

em particular, as visuais e as auditivas, com o intuito de entrar em contacto

directo, entre o produto e o cliente, isto é, aliar visualmente a moda com um

género musical, ligado à identidade da marca, pode fazer muita diferença.

Autores, como Bueno, dão prevalência a este meio sensorial, quando o próprio

pensa que “a música como forma de comunicação é considerada uma forte

ferramenta para o sector comercial do mundo fashion, um chamariz, a

utilização da música a um bom desempenho comercial cria uma ligação

directa com o consumidor, e principalmente, ao valor a ser pago, assinalando

assim a classe social a ser atingida nesse tipo de marketing”, (p. 33, 2008).

A música é um sistema inovador e um potencial diferenciador de classes

sociais. Uma das virtudes da música é a versatilidade adequada a qualquer

ambiente e classe social. Posto isto, a empresa que utiliza esta ferramenta,

consegue em primeiro lugar chegar ao coração (local das emoções), e só

depois é que chega ao cérebro, permitindo o consumidor pensar e escolher.

Bezerra, complementa esta ideia, firmando que” a música harmoniza o local,

derruba barreira e aviva o mundo físico, espiritual e intelectual do ser

humano que quanto mais tempo ficarem dentro da loja, mais irão consumir”,

(p.7, 2007). Por este ponto de vista, este género de marketing vem

colaborando para as vendas do produto, pois proporciona ao cliente sensação

de bem-estar, no qual este acaba por ficar mais tempo no local, fazendo com

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que o produto não passe despercebido. Contudo isto, a forma de vestir

encontra-se, inteiramente, ligada à identificação entre os grupos de

determinados géneros musicais. Assim, a roupa, não é só consumida por ter

como função principal vestir, mas também por ser uma forma de o indivíduo

se comunicar com a sociedade.

Dentro desta relação poderosa, entre a moda e a música, existe dois exemplos

significativos que marcaram a época dos anos 80, quando a música se

expandiu e se transformou, que são David Bowie e Lady Gaga.

No que diz respeito, ao ícone da época, David Bowie, este foi uma

personalidade marcante para as diversas áreas culturais, em particular, a

moda. O camaleão do Rock, como era conhecido, começou a sua carreira nos

anos 60, porém o seu sucesso só foi alcançado nos anos 70, quando adoptou

um estilo Glam. O disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders

fom Mars”, marcou a fase da sua vida, e também lhe deu sucesso na sua

expansão profissional, quando criou a personagem Ziggy Stardust,

caracterizado por ser uma figura andrógino, bissexual, rockstar e alienígena.

A sua presença era marcante, pelo facto de ter um visual impressionável,

pelas suas apresentações teatrais, tornando-se num autêntico fenómeno.

Dentro de muitos discos, o artista modifica bastante o seu visual, que se foi

tornando em polémica e escândalo para a sociedade e para os seus fãs. No

ano 1973,este surge com um visual escandaloso, para época, em que este se

encontra maquilhado e acompanhado pela modelo Twiggy, na capa do disco

“Pin Ups”. Pela sua personagem camaleónica, David se reinventa em 1974,

com o disco Diamond, onde gerou polémica, por aparecer nu. Neste mesmo

disco, destaca-se a música “Rebel Rebel”, por se ter tornado num hit. No final

deste mesmo ano, o artista muda completamente seu visual, ao lançar seu

álbum “David Live” e passando a se apresentar de terno, um visual muito

elegante, e ao mesmo tempo, chocante para os fãs. Bowie seguiu na carreira

de actor, em 1976 estrelando o filme “O homem que caiu na terra”. Por ser

um artista tão ousado e versátil, David Bowie, teve sempre oportunidades,

que se mantinham abertas, ao longo da sua carreira, dando a ele a chance de

gravar dois discos fantásticos, “Heroes” e “Lodger”, em 1977 e 1979, sendo

considerados obras-primas. Para além, destas oportunidades, surgiram outras,

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como produzir junto a Iggy Pop e participar em alguns filmes. Além da

oportunidade de produzir junto a Iggy Pop mais dois discos, David estrelou

mais alguns filmes.

Este é considerado um ícone de música, e uma referência para a cultura e

conhecido pelo seu estilo único e surpreendente. O seu estilo foi desde o

hippie, modd, e glam-rocker, e é caracterizado por ser camaleónico e

efervescente, transformando-o numa personalidades da música e da cultura

pop, mais avançado, no mundo da moda. A sua figura androginia, elemento

forte no mundo da moda, começou a ser desenvolvida durante a juventude do

artista. Isto é notório, quando Bowie aparece com cabelos compridos, e com

um vestido, complementado por botas altas, deitado num sofá, na capa do

álbum “The Man Who Sold The World”, nos anos 70 (fig.62). "Há uma coisa

muito importante que tem a ver com a relação entre feminino/masculino,

quando um homem percebe esse balanço e convive bem com o seu lado

feminino, aceita-o. Isso também acho fundamental", diz o criador de moda,

Filipe Faísca, ao público, sobre este elemento na vida de Bowie.

Fig.62.David Bowie na capa do álbum “The Man Who Sold The World”

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Dentro de toda a sua carreira artística, David Bowie, deixa alguns legados,

que marcaram o mundo da moda e da música, que influenciam a carreira de

outros músicos, estilista, e até mesmo artistas, a nível criativo. Os olhos

bicolores de Bowie era uma característica particular da sua identidade, em

que este exaltava a beleza, através das suas mudanças visuais (fig.63). Os

seus olhos são um ícone de diversidade, que implementou na moda e na

música, na identidade do género e na postura de vida, como um outsider. O

efeito de olhos bicolores é causado pela heterocromia, nome da anomalia

genética de Bowie, que se tornou, não só uma qualidade, como também num

charme.

A sua figura andrógina é uma grande influência. Actualmente, o fim da

barreira, entre a roupa masculina e feminina é o assunto mais pulsante, e

Bowie se tornou num pioneiro, há mais de quarenta anos, nos anos, pelas suas

personagens de Ziggy Stardust e Thin White Duke, mas em especial Ziggy

(fig.64). Ambas as personagens, ressaltam a liberdade de ser homem, mulher,

ou um misto indefinido de ambos, com a possibilidade, transgressora, de não

precisar se colocar em definições formais. Este marco é um astro do rock

mensageiro de extraterrestres. Na época, o alter ego mais famoso de Bowie se

transformou numa referência de estilo, até aos dia de hoje, com sua imagem

Fig.63.Olhos bicolores de David Bowie

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glam rock e andrógina, onde divulgava sua sexualidade livre e ambígua. Antes,

da personagem Ziggy, existiu o astronauta Major Tom e Thin White Duke,

caracterizados pelo seu visual meio dândi, meio cabaré, sombrio, com camisas

brancas, colete e calças escuras.

Este marcou o mundo da moda, na medida, em que, designers como Jean Paul

Gaultier a Jonathan Saunders, de Hedi Slimane a Alexander McQueen,

declararam influência directa, ou indirecta, da estética criada por Bowie. Esta

influência é visível, tanto em colecções assumidamente reverenciais (caso de

Gaultier e Saunders), como em inspirações mais difusas (fig.65). “Ele foi

relevante em vários períodos, os influenciando, até os criando musical,

intelectual e humanamente. Pessoalmente, fui muito influenciado por sua

criatividade, sua extravagância, seu senso de moda, brilho, elegância e jogo

de géneros”, disse Gaultier, resumindo a importância do músico no meio da

moda.

Fig.64.Figurinos Thin White Duke e Ziggy Stardust

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Os editoriais de moda, das principais publicações do mundo, também têm esta

evidência, em particular, o caso da capa da Vogue UK de 2012, em que Kate

Moss aparece pintada, com o mesmo raio de Bowie, na capa do disco “Aladdin

Sane” no rosto (fig.66).

Fig.65.Jean Paul Gaultier, SS 2013

Fig.66.Vogue UK, 2003/ Vogue Paris 2012

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Para além de ser um camaleão visual, este foi também um camaleão musical,

devido aos géneros musicais diversificados, como o rock, cabaré, jazz, soul,

funk, e ainda música electrónica. Bowie afirmava, que tinha uma “plastic

soul”, misturando géneros musicais, passando de um para outro, conectando-

se com vários, ao mesmo tempo. Todavia, é a sua adaptação elástica a

diferentes influências musicais, enaltece a sua identidade artística, onde se

consegue mostrar mais original, marcando, assim, cada novas

experimentações (fig.67).

Os seus discos tinham músicas, que se tornaram num dos hits mais tocados,

como “Let’s Dance”, “Fashion”, “Changes”, “Heroes”, “Fame”, “Golden

Years”. As músicas nasceram no fim dos anos 60, que marcaram gerações e

gerações, desde então.

A lista de músicas é longa e passível, permitindo grandes discussões, o que

comprova a influência e a importância de Bowie na cultura musical, a nível

Fig.67.As etapas da carreira de David Bowie

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mundial. Bowie produzia as capas dos seus discos, escolhia os fotógrafos, os

figurinos, e ainda ajudava a fazer o cenário das fotos.

David Bowie pôde contar como a ajuda de designers, para a criação das

indumentárias dos seus figurinos. As figuras androginias do artista, permitiam

que este tivesse liberdade em misturar cores, estampados, de usar ternos

masculinos com formas femininas, permitiu dar mais masculinidade, às suas

maquilhagens masculinas, e o uso de roupas muito justas ao corpo. Freddie

Burretti desenhou alguns dos seus figurinos de Ziggy Stardust, em particular, o

macacão multicolorido de sua personagem. O estilista Hudson, criou os looks

para a turnê do álbum Station to Station, na fase mais rígida de Thin White

Duke.O estilista japonês Kansai Yamamoto foi responsável pelo macacão,

glitter brilhante com o listrado óptico da turnê Aladdin Sane (fig.68).

Fig.68.David Bowie´s Ziggy Stardust jumpsuit 1973, com inspiração dos figurinos de ballet da Bahaus

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Posto ao que foi dito, anteriormente, o artista faz com que várias entidades

da moda, declarem algumas afirmações sobre a sua carreira e

influência. "Bowie estreitou fronteiras que, agora, são a realidade", influente

editora da Vogue Internacional, Suzy Menkes, comenta a fluidez de género na

moda e o legado de Bowie. "Muito do que vejo nos desfiles de colecções

masculinas de hoje pode ser associado a Bowie e à sua atitude em relação à

sexualidade. O seu grande legado na moda é que a controvérsia que começou

acerca da definição sexual através da roupa já não é questionada no século

XXI", conclui Menkes.

Clare Keller, directora criativa da Chloé, salienta a enorme influência de

Bowie no mundo da moda, afirmando, que "ele foi o verdadeiro pioneiro de

todo o movimento andrógino”, Dando relevância à forma como trabalhava a

sua imagem, e como ela era importante para transmitir a sua mensagem aos

seus fãs e sociedade, Keller declara, que” Bowie usava isso para criar

personagens diferentes, para trazer algo único, não só lúdico mas inspirador e

intensamente criativo".

“David Bowie é, talvez, tudo aquilo que a moda aspira ser, tudo no seu

melhor: camaleónico, deslizando facilmente de uma identidade singular para

outra”, escrito pela Vogue norte-americana. A vogue, desenvolve na mesma

publicação, afirmando, que Bowie é “uma referência perene” para inúmeros

criadores, entre eles estão Raf Simons, Hedi Slimane, Jean Paul Gaultier,

Dries Van Noten, como também são inúmeras as referências das personagens

de Bowie, já notadas nas passerelles . Um dos exemplos foi a figura de Thin

White Duke, que serviu de inspiração para Van Noten e Alber Elbaz , nas

colecções AW 2011(fig.69). "O período do Thin White Duke é um dos meus

preferidos. Creio que o que era avant-garde nos anos 1970, faz parte da

psique de hoje", comentou Noten no final do seu desfile, em 2011.

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Já o figurino de Ziggy Stardust, na colecção AW 2012, influenciou a marca Miu

Miu. A colecção foi acompanhada por cortes mais masculinos, em que peças,

como jaquetas masculinas de tamanho grande, inundações de cintura alta,

gravatas com babados e echarpes conflituantes realçaram este look

androgénio (fig.70). Os acessórios escolhidos, para ajudar a complementar o

look foram os cintos grossos e mocassins volumosos, tornando uma bastante

interessante, rica e bem concedida.

Fig.69.Colecção AW 2011, Dries Van Noten

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A modelo britânica Kate Moss converteu-se duas vezes em Bowie, primeiro em

2003, quando recriou a capa do álbum Aladdin Sane, para a Vogue britânica, e

uma segunda vez em 2012, para a revista da Vogue francesa, com o cabelo

laranja de Ziggy Stardust. "Uma eterna inspiração", escreve Tim Blanks, crítico

do site de moda Style.com .

Neste ano presente, a personagem Aladdin Sane serviu de inspiração para a

Maison Margiela, pela mão de John Galliano, na colecção SS 2016. Desta vez,

Galliano encontrou uma oportunidade para celebrar o passado, e para isso,

contribui com materiais incomuns, e com as roupas, que desafiam a

gravidade. Na semana da moda, em Paris, Margiela homenageou o camaleão

do Rock, com os seus modelos inspirados na maquilhagem e cabelo de David

Bowie. No desfile de alta-costura, algumas modelos ostentavam uma beleza

simples, com uma maquilhagem natural, e perucas “agitadas”, enquanto

outras tinham uma maquilhagem, com inspiração na personagem Aladdin

Fig.70.Colecção da Miu Miu, AW 2012

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Sane. As modelos, que mais se destacaram utilizavam perucas com tons, em

memória à cor de cabelo de David Bowie, em particular, tom alaranjado,

preto, turquesa, roxo, e branco. Para além dos cabelos, os olhos se

destacavam pelo brilho, linhas fortes, lantejoulas e estrelas. Já os lábios eram

pintados com tons metálicos. Uma particularidade interessante, na

maquilhagem usada para complementar este look desafiante, são os pescoços

e rostos das mulheres, que foram pintados com lábios vermelhos, tornando-os

mais realçantes (fig.71). Para retractar o tema glam-rock, na colecção, foram

utilizadas botas coloridas, de cano alto, criações de materiais incomuns,

casacos formados por plissados delicados, vestidos de cetim com franja, e

ainda, ombros com arcos gigantes. Margiela deu uso a tecidos triturados,

brilhantes e volumosos.

Esta colecção é prova, de que ao longo desta época, o legado de David Bowie

vai permanecer nos universos da moda, música e beleza.

Fig.71.Colecção de Maison Margiela, SS 16

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“Actualmente, as celebridades da música são verdadeiros ícones de moda.

Fazem o papel de modelo para marcas poderosas, transformando os seus

figurinos em verdadeiros objectos de desejo. Lady Gaga desponta como o

nome mais expressivo da contemporaneidade onde moda e música são

exploradas.” (Freire, p.8, 2011).

Lady Gaga é uma hipotética das letras vangloriosas, dos shows de sonoplastia,

de uma tecnologia com efeitos especiais, que por detrás, esconde-se Stefani

Germanotta. Lady Gaga tem influências, completamente distintas, tais como

a pop de Warhol, a excentricidade dos Queen, a música e performance de

Freddie Mercury, o estilo glam rock de David Bowie, o visual andrógino de

Grace Jones, a estética singular de Boy George e a revolução musical e

estética de Madonna. O modo como cada um estava em palco, ditaram aquilo

que a cantora/performers, queria ser enquanto artista. De Stefani

Germanotta a Lady Gaga, a artista experimenta várias mudanças visuais

rodeando-se de designers, que ocupam e ampliam o seu mundo, para além do

mundo. Durante a evolução da carreira musical da cantora, evidencia-se que

os criadores de moda e estilistas, a tornam numa musa, pelo prazer que Lady

Gaga tem de se transfigurar, ao ultrapassar todas as normas, do que é

habitualmente, considerado pela sociedade, como indecente e abominável.

Uma característica é correr riscos, chocando, sempre até ao extremo. A

expressão, “vivo sempre entre a realidade e a fantasia”, bastante usada pela

Lady Gaga, consolida o perfil da cantora/perfomer. Torna-se numa fantasia,

quando se desmultiplica e se metamorfoseia, de performance em

performance. Gaga apresenta um corpo, que vai para além do real. Isto é

notório, pela forma como se veste, ao usar perucas, chapéus insólitos, óculos

invulgares, plataformas, e sapatos que desafiam “as leis da gravidade”, em

simultâneo com as instalações, os espectáculos e os videoclips. Porém, Gaga

demonstra, em claro antagonismo, o lado sombrio da fama, o cansaço, a

ambiguidade, e o medo, no álbum The Fame Monster. Existe uma dualidade,

que se materializa, no universo de performer, quando esta demonstra

fragilidade, teatralidade, revolta e tragédia, no qual fazem parte do universo

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de Lady Gaga. Através da afirmação da própria, “Sou uma rapariga com

glamour até à medula. Creio na vida com glamour e é a que vivo. Não quero

que me distingam quem sou eu com maquilhagem e quem sou sem ela. Sou a

mesma pessoa”, denota-se, que a mesma se apropria de um corpo, como um

terreno fecundo. As suas múltiplas performances artísticas, tornam-se assim,

impraticavelmente de serem obtidas e reproduzidas, sem uma tecnologia

sofisticada. A carreira da cantora pode-se transformar numa tela,

emparelhada a muitas telas, onde esta se conectada a muitos corpos que, são

feitos e refeitos, trabalhados como forma de expressão. Num remodelar

constante, Lady Gaga esforça-se para mostrar, que é uma recriação constante

de si mesma. A “arte” de Lady Gaga tem como objectivo levar à evasão, à

libertação, enquanto os fãs são conduzidos, durante os espectáculos, para

outros lugares e não lugares. Os seus espectáculos são encenados pelas suas

coreografias, seu guarda-roupa, organizados por estruturas invulgares, por

ornamentos tridimensionais, por justaposições inéditas, e ainda por volumes

exagerados.

“A performer Lady Gaga produz um diálogo activo e criativo com o mundo da

moda ao usar o seu corpo para divulgar marcas de grandes estilistas

renomados da contemporaneidade, vestir as suas criações, e manter uma

equipe criativa para a confecção dos seus próprios figurinos. Estes figurinos

não são utilizados como mero vestuário, mas sim como uma expressão

performativa da moda. Os próprios estilistas são conscientes da importância

de estabelecer laços com as celebridades e o quanto isso pode ser rentável.

Os senhores da moda usam os corpos dessas artistas como vitrines para suas

criações”, (Júnior, p.5). Na grande maioria, dos primeiros anos, da carreira

de Lady Gaga existiu uma relação criativa entre o designer Nicola Formichetti,

que elevou a fasquia de alguns dos coordenados mais icónicos da cantora (fig.

72). A performer representa, desde sempre, alguns monstros da moda, desde

o Alexander McQueen (fig. 73 e 74) a Marc Jacobs, um exemplo significativo é

o género de vestido de noiva, que a cantora usou nos óscares em 2015. Lady

Gaga também desfilou para Marc Jacobs, em Nova Iorque, segundo a própria,

como «musa criativa e artística», onde colocou todas as atenções viradas para

si. Mais recentemente, Lady Gaga participa, como actriz na quinta temporada

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da série “American Horror Story”, utilizando indumentárias criadas pelos

designers Yohji Yamamoto e Alexander McQueen fortalecendo, assim as

referências de moda da sua personagem.

Fig.73.Lady Gaga vestida por Alexander Mcqueen

Fig.72.Lady Gaga vestida por Nicola Formichetti

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Fig.74.Lady Gaga nos Awrads, em 2010 (primeira imagem ) e 2009, por Alexander Mcqueen

Fig.75.Criações de Thierry Mugler, para Lady Gaga

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Para além, dos designers acima referidos, dentro da indústria da moda, nomes

como Donatella Versace (fig.76), Thierry Mugler (fig. 75) e Tom Ford fazem

parte do grupo, a quem a cantora recorre para criar as suas peças insólitas.

Na noite da entrega de prémios da MTV, em 2010, a cantora conseguiu usar

um vestido controverso e insólito, por ser feito de carne crua bovina, criado

pelo designer pelo estilista Franc Fernandez. No desenvolvimento do vestido,

o estilista contou com a ajuda de um açougueiro para cortar 25 quilos de

carne, em que não houve muito tempo para pensar no design, no qual o

designer acabou por fazer um género de drapeado, devido ao “material”,

quase improvisado.

Fig.76.Lady Gaga como modelo da Versace

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Capítulo 2

Introdução

Neste capítulo, é desenvolvido uma análise, cuja metodologia é um estudo de

caso. O objectivo é analisar a importância, que arte representa na moda, em

termos da sua influência, com alusão a colecções e marcas que se destacam,

a nível mundial.

Para o desenvolvimento deste estudo de caso escolheu-se a marca denim Pepe

Jeans London, porque é bastante apelativa no mercado, tanto nacional, como

internacional. Esta é umas das marcas que está mais na moda, actualmente, e

por ser bastante actualizada a nível de tendências é muito escolhida pelos

jovens. É uma marca de muito sucesso, de qualidade, de valor, expansiva e

consciente. Para além disto, recorreu-se a esta marca por evidenciar a união

da moda com a arte. Desde alguns anos, que a marca tem vindo a fazer

pareceria com o artista Andy Warhol, do movimento pop art. Esta pareceria

tem sido incansável, e ainda hoje são feitas colecções em homenagem a

Warhol.

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2.1. Metodologia

No desenvolvimento desta dissertação, recorreu-se a uma selecção de diversas

metodologias, nomeadamente a revisão bibliográfica, recorrendo a bases de

dados secundárias, artigos científicos, a consultas bibliográficas das

universidades parceiras (UBI e IADE), dissertações, livros e projectos. Após a

elaboração da revisão bibliográfica optou-se por se recorrer à metodologia

estudo de caso, como complementação deste trabalho, de modo a contribui

para o enriquecimento da informação existente, relativamente à influência da

arte no Branding e Design de Moda.

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2.2. Análise de Estudo de Caso

Um estudo de caso tem várias opiniões, definições e objectivos. O estudo de

caso é uma “abordagem metodológica de investigação especialmente

adequada quando procuramos compreender, explorar ou descrever

acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão simultaneamente

envolvidos diversos factores”, (Araújo, 2008). Estudo de caso pode ser

definido com “com base nas características do fenómeno em estudo e com

base num conjunto de características associadas ao processo de recolha de

dados e às estratégias de análise dos mesmos”, (Yin, 2008). Segundo Yuniya,

estudo caso, envolve “obter informação sistemática acerca de uma pessoa,

grupo, ou de uma marca para que o investigador compreenda como é que este

grupo, ou pessoa funciona e opera. O estudo de caso, não é uma técnica de

recolha de dados, mas uma metodologia”.

Um estudo de caso pode ser de carácter qualitativo, ou quantitativo. Dentro

do carácter qualitativo, esta é uma questão controversa, não havendo

consenso entre os investigadores, quando os autores Coutinho e Chaves

afirmam o seguinte: ““se é verdade que na investigação educativa em geral

abundam, sobretudo os estudos de caso de natureza

interpretativa/qualitativa, não menos verdade é admitir que, estudos de caso

existem em que se combinam com toda a legitimidade métodos quantitativos

e qualitativos”, (2008). Grande maioria dos investigadores, considera que um

estudo de caso seja de carácter qualitativo. Dentro deste mesmo assunto,

Myers anuncia que “que o estudo de caso pode ter carácter positivista ou

interpretativo, dependendo da perspectiva filosófica do pesquisador. Em

educação têm-se tornado cada vez mais comuns os estudos de caso de

natureza qualitativa”, (2008).

Um estudo tem algumas características básicas, no qual devem ser seguidas.

Essas características, segundo Beanbasat são “Fenómeno observado no seu

ambiente natural; dados recolhidos utilizando diversos meios (Observações

directas e indirectas, entrevistas, questionários, registos de áudio e vídeo,

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diários, cartas, entre outros); uma ou mais entidades (pessoa, grupo,

organização) são analisadas; a complexidade da unidade é estudada

aprofundadamente; pesquisa dirigida aos estágios de exploração, classificação

e desenvolvimento de hipóteses do processo de construção do conhecimento;

não são utilizados formas experimentais de controlo ou manipulação; o

investigador não precisa especificar antecipadamente o conjunto de variáveis

dependentes e independentes; os resultados dependem fortemente do poder

de integração do investigador, e ainda podem ser feitas mudanças na selecção

do caso ou dos métodos de recolha de dados à medida que o investigador

desenvolve novas hipóteses”, (2008).

Assim, um estudo de caso tem como principal objectivo, segundo Yin

“explorar, descrever ou explicar”, (2008).

1. Identidade Corporativa

1.1. História

A Pepe Jeans surgiu, em 1973, a partir de três irmãos (Nitin, Arun e Milan

Shah), quando começaram a vender as suas calças jeans numa barraca, que

era alugada no chique Portobello Road Market. Esta barraca localizava-se na

região oeste, de Londres, conhecida como a cidade de coração, da moda. No

início da criação da marca, os irmãos inspiravam-se no estilo urbano para

comercializar as suas calças jeans, que apressadamente, devido à qualidade,

conforto, acabamento diferenciado e caimento irrepreensível, esta se tornou

popular, entre o público jovem. A partir daqui, os irmãos começam a vender

suas calças para as lojas multimarcas.

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Em 1975, a marca tem mais dois pontos de venda, em Londres, localizadas em

distritos comerciais modernos, em particular, a kings Road e a Carnaby Street,

no qual eram frequentados por um público alternativo e jovem. A marca,

neste ano expandiu-se rapidamente, no Reino Unido, em um mercado

controlado por grandes marcas norte-americanas. Este sucesso deveu-se à sua

capacidade de se movimentar mais rápido, que a concorrência, a nível de

fornecimento de tecidos de qualidade, bom design, e acabamentos

diferentes. Esta tornou-se uma marca preferida pelos jovens ingleses, pelo

facto de ter ousadia e qualidade. Por isso, a Pepe Jeans, em 1980, rivalizava

com as marcas jeans americanas. Em 1984, expande-se internacionalmente,

abrindo showroom na Irlanda. No ano 1988, a música How Soon Is Now?, pela

Smiths foi usado para anunciar a marca.

Nos inícios dos anos 90, confirmou-se, que a marca Pepe Jeans London, se

tornou numa das maiores marcas, do mercado de denim. Neste mesmo ano, a

marca conquista os quatro cantos da Europa, quando faz o lançamento em

Itália, Espanha, Portugal, Alemanha, Holanda, Suíça, Itália e França. Na época

de 1992, surge e é lançado no mercado o logótipo Pepe Jeans. Inicialmente, a

marca dedicava-se, apenas a produção de vestuário masculino, mas mais

tarde, o seu universo se alargou para a meio juvenil, e roupa feminina. Esta

década, sempre foi orientada pela filosofia “Tudo é usado com denim”, e a

partir desta foram lançados outros produtos, como camisolas, camisas,

vestidos, jaquetas e acessórios (femininos e masculinos). Assim, acaba-se por

transformar numa grife streetwear. Mais tarde, a marca estreou-se no Brasil,

em 1998, através de lojas multimarcas. Em 2001, inaugurou o seu primeiro

ponto de venda, em territórios da América Latina. No ano a seguir, cria novas

linhas, incluindo uma colecção de roupa infantil, uma colecção, em que o

designer se inspira no rock and rol, e faz evidência a Andy Warhol, e

colecções de calçado e óculos. Os anos seguintes são marcados pela marca se

integrar em países Asiáticos.

Poucos anos depois, em 2005, a marca contratou o jogador português

Cristiano Ronaldo, que ao lado de Jessica Miller foram modelos das campanhas

publicitárias. O ano 2006 , a marca anuncia, que a actriz britânica e estrela

de Hollywood é o novo rosto da marca.

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Em 2008, a marca britânica, ganha mais fama ao patrocinar a equipe Renault

na Fórmula 1 O logótipo da marca é estampando nos carros, nos macacões dos

pilotos e uniformes da equipe. Neste mesmo ano, Ashton Kutcher, é modelo

da campanha ao lado da brasileira Isabeli Fontana, que substituiu Sienna

Miller, a grande estrela da marca britânica, por três anos, a nova campanha

publicitária. Nesta altura, Pepe jeans é uma das empresas mais bem-

sucedidas da história, onde vende em mais de 60 mercados e locais em todo o

mundo.

Recentemente, a marca coloca no mercado um jeans, que vem “para lá de

viajado”, visto que o denim vem do Japão, e ainda é modelado em Londres, e

regressa ao Oriente para ser acabado à mão. A marca consegue misturar a

excentricidade britânica, com a fusão do tradicional e o ultramoderno. O que

comanda a marca são as calças jeans, que se diferenciam pelas suas lavagens

modernas, e cortes extraordinariamente inovadores. A marca também tem

apostado em roupa completas de romantismo, e bastante modernismo, como

jaquetas, e vestidos de estilo juvenil, e camisas, de detalhes bem

diferenciados.

Actualmente, a marca encontra-se presente em mais de cem países, e

emprega mais de 5000 funcionários, a nível mundial. A Pepe Jeans, cria assim,

uma consciência de marca global, tornando-se numa das marcas mais

desejadas de momento.

1.2. Perfil

Pepe Jeans é uma marca Denim e internacional, que representa a cultura

britânica, ao albergar a cidade de Londres, como a alma de marca. A marca

transformou-se em uma etiqueta jeanswear. Esta pertence ao sector de

varejo e lifestyle, e tem como slogan Pepe Jeans London. Esta é uma marca

inovadora, de preços acessíveis, e é composta por uma mudança elegante, no

qual possui variedade. O segmento é composto por homens e mulheres ligados

ao estilo contemporâneo, que tenham uma atitude rebelde.

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A marca Pepe Jeans, tem um compromisso, em especial, com os seus clientes,

na medida, em que tem como promessa, se tornar numa das marca mais

emocionantes da moda, com o intuito de levar, o denim ao planeta. Na

grande maioria das vezes, a marca se coloca à frente do tempo, e

ultimamente tem sido bastante controversa.

1.3. Missão, Visão e valores

Desde 1973, a marca internacional Pepe Jeans London tem percorrido um

longo caminho, permanecendo sempre com a mesma missão, a de criar denim

e marcar tendências. A partir do momento, em que começaram o seu

percurso nas ruas londrinas, tanto as suas colecções visionárias, e as suas

campanhas publicitárias têm sido constantes, e é definida, como sendo uma

das marcas de denim mais actuais, emblemáticas, e dentro das tendências da

moda. A marca começou aos poucos, a inserir-se, no mercado internacional, a

partir dos anos 80, regida, sempre pelo compromisso da inovação. Esta

atitude, continua a inspirar o seu espirito e design.

O crescimento da marca Pepe Jeans tem-se desenvolvido, não só pela sua

ambição de comércio, a partir de múltiplas plataformas, de linha retalhista e

armazenista, mas também pela sua determinação em romper,

constantemente em novos mercados, numa tentativa de introduzir, a visão

única da marca, para um público mais amplo.

Direccionando e desafiando a moda juvenil, a marca pretende valorizar o

conforto e a qualidade, através da criação de Denim.

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1.4. Público-alvo

A marca Pepe Jeans London pretende cativar o público, que contenha homens

e mulheres, de idade entre os 20 e 35 anos, que sejam conscientes, no que diz

respeito às tendências da moda. Este pertence à classe média alta.

O público, que veste as peças da marca londrina, caracteriza-se por ser

jovem, independente, com personalidade, actual, elegante, de muita atitude,

e socialmente mais experiente. Exteriormente, o cliente, espelha um espírito

juvenil, e é visto, como um seguidor de tendências. A sua imagem interior é

espelho de uma personalidade extrovertida, com um gosto pelo desporto, e

um amante da música.

1.5. Concorrentes

Dentro do grupo denim, os principais rivais da marca são a Salsa, Seven, Gap,

Levis, Lee, Wrangler, e ainda Diesel, porque ambas as marcas, caracterizam-

se por ser globais, juvenis, actuais, inovadoras, dinâmicas, e por oferecerem

conforto e qualidade ao cliente. Estas têm como objectivo criar denim, e têm

com principal produto os jeans.

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2. Estratégia

2.1. Branding

A marca, dos três irmãos Shah é dedicada em criar denim, e desafiar a moda

dos jovens. Sendo assim, a “espinha dorsal” da marca é o denim e a

capacidade de ajuste, do tecido, que é conhecido com sendo óptimo. A marca

pretende ser individual, e ainda, ter uma boa representação cultural. A sua

relação com o cliente é distinta, tentado sempre criar uma ligação forte,

pensando nas suas necessidades. A marca Pepe Jeans London, tem uma

campanha publicitária global, apresentada em todos os países, no qual tem

atitude. A própria, acredita em doar uma mensagem de marca firme, em todo

o mundo. Todas as campanhas publicitárias retractam a identidade da marca,

que abordam "os jovens com uma atitude forte".

2.2. Produto

A marca tem como principal produto os jeans de estio britânico, que devido

aos imenso detalhes fascinaram o mundo. A categoria predominante é a roupa

casual. Inicialmente, os irmãos só se dedicavam, exclusivamente à moda

masculina, mas devido à sua evolução, a marca passou a incluir vestuário

feminino e infantil, calçado e acessórios. Dentro do vestuário, encontra-se

uma grande variedade de peças masculinas, femininas e infantis. As roupas

fabricadas são confortáveis e elegantes, o que torna o cliente mais confiante

com a peça que tem vestida. No entanto, os produtos caracterizam-se por

serem modernos, e desafiadores, chegando até mesmo, serem agressivos. A

marca dá especial atenção aos detalhes, que à primeira vista passam por

despercebidos. Os zipares de qualidade, as pequenas e grandes bolsas

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distinguem o denim fabricado pela Pepe Jeans London. A empresa apresenta

novas ideias de jeans, jaquetas, acessórios, como entre outros, em cada

colecção sua. Como se pode verificar, pelo que foi dito anteriormente, é que

uma das grandes inovações da marca são os jeans reversíveis, que podem ser

transformados, de dentro para fora para criar um modelo de jeans,

completamente novo.

2.3. Preço

Tabela 1. Preços do vestuário

Tabela 2. Preço dos acessórios e do calçado

Peças Homem Senhora Camisolas 55€ - 99€ 55€ - 99€ Camisas 60€ - 95€ 35€ - 120€ T-shirts 25€ - 45€ 30€ - 45€ Polos 50€ - 65€ ---------

Vestidos -------- 65€ - 190€ Denim 85€ - 110€ 75€ - 130€ Calças 65€ - 95€ 65€ - 90€ Calções 55€ - 65€ 75€

Saias -------- 70€ - 140€ Casacos 95€ - 320€ 90€ - 270€

Acessórios Homem Senhora Malas 60€ - 160€ 60€ - 90€ Cinto 45€ - 50€ 35€ - 45

Óculos 84€ -------- Calçado 65€ - 165€ 55€ - 185€ Pulseiras 15€ - 20€ 10€ - 15€

Anéis ------ 10€ Colares ------ 19€ - 50€ Lenços 35€ - 40€ ------

Cachecóis 35€ - 45€ 40€ Luvas 25€ - 45€ ------

Gorros/ Bonés 25€ ------

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2.4. Inovação do marketing

Ao longo das épocas, que a marca tem apostado no marketing, de forma

significativa. Em 1986, quando a marca trabalha com directores divergentes

para criar o fascinante e desafiador material de marketing, a marca aparece

com um comercial televisivo, que faz referência ao artista performativo Leigh

Bowery. O comercial ficou conhecido pelo discurso do artista: “Where´s

Pepe?, este ganha um prémio, e foi seguido com a produção da faixa, “How

Soon Is Now”, da banda britânica The Smiths, um comercial intitulado

“Raindance”. Esse comercial, marcou as pistas de dança, desse ano.

A partir daqui, a marca trabalha com criativos, inovadores e modelos

emergentes, como também actores. A colecção de Outono/ Inverno, dos 90 e

91, ganha destaque com a presença da jovem modelo Kate Moss. No ano a

seguir, a marca convida o fotógrafo/cineasta Bruce Wester para filmar a

campanha publicitária, que alto perfil do anúncio foi famoso actor Jason

Priestley. Uns dos principais trabalhos do fotógrafo/cineasta Weber, foi

quando este fotografou a primeira, e grande campanha da modelo americana

Bridget Hall. Esta tradição teve continuação com a presença de faces

famosas, como o Cristiano Ronaldo, Sienna Miller, Fernando Torres, Ashton

Kutcher, Alexa Chung, e grandes modelos, em particular, Natalia Vodianova,

Laetitia Casta, Daria Werbowy, e a Cara Delevingne. A marca britânica cria

mais inovação, quando começa a patrocinar, de forma continua, a equipa

Renault, da fórmula 1, desde 2010, em que o seu logotipo tradicional é

estampado nos carros, macacões dos pilotos e uniformes da equipa. Desde

2010 até 2015, que a marca tem lançado colecções Infiniti Red Bull Racing,

para homens, mulheres e juniores. Para além de patrocínios com marcas,

modelos, e actores, a marca trabalha com fundações. A Pepe Jeans London

colabora com a Fundação Ferrer Vincent, com o intuito de propagar a

autonomia das mulheres rurais, num centro de Gandlapenta, no qual é

proporcionado aulas de costura e bordado sari, na região indiana. Esta

colaboração conseguiu melhorar a vida de 225 mulheres, e também de suas

famílias, fortalecendo a sua produtividade, e ainda dando-lhes habilidades

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para criar os seus próprios negócios. A marca trabalhou com a fundação

Sauce, de forma a proporcionar um lugar em Nikom, mobilado, onde as

crianças de Cambójia, dos 3 aos 5 anos, possam exercer as suas actividades. A

equipa da marca, percebe as necessidades dos clientes indianos, e por isso,

oferece grandes promoções, fazendo descontos em peças de vestuário.

2.5. Distribuição

Os produtos da marca Pepe Jeans London são produzidos em mais de 80

países, ao redor do mundo, através de lojas de renome departamentais, no

qual existem mais de 7.000 lojas multimarcas, e mais de 300 lojas próprias, e

outlets.

3. Identidade visual

3.1. Origem do nome da marca

O nome da marca, “Pepe” surgiu, pelo facto de ser curto, fácil de escrever

nos espaços das etiquetas das peças, e por não haver dificuldade em escrever.

3.2. Logotipo

O logótipo da marca Pepe Jeans London foi criado em 1992, baseado numa

assinatura.

Fig.77.Logótipo da marca dos irmãos Shah

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4. Análise Swoot

4.1. Oportunidades + Pontos Fortes = Vantagens

Competitivas

- Grande número de produção, a nível mundial. A marca produz 10 milhões

de peças, por ano, e ainda tem 3 armazéns e centro logísticos,

completamente equipados, em grande escala na Europa, Ásia, e Norte de

África.

- Forte crescimento, derivado da sua ambição. Óptimo crescimento orgânico,

e comercial, nos mercados existentes, e expansão para novos territórios

- Estabelecimento de lojas próprias

- Está entro do segmento da elite, dos quatro principais produtores de denim

do mundo.

- A marca é muito reconhecida a nível Europeu, devido à constante produção

de silhuetas próprias

- A marca tem uma extensa publicidade, onde maioria das vezes, ultrapassa

os limites, do imaginário social aceitável, e normas, fazendo com muitos

consumidores tenham uma forte atracção.

- É uma marca forte, e tem também uma forte posição financeira, na

industria do denim.

- A marca tem muitos contractos com embaixadores, no qual, muitos deles

são celebridades internacionais. Aumentando, assim o valor da marca.

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4.2. Oportunidades + Pontos Fracos = Capacidades

de Defesa

- A marca está constantemente a mudar as tendências de moda, o que dá

origem a problemas de catálogo.

- É uma marca de elevado valor, o que faz com que tenha uma forte

concorrência.

4.3. Ameaças + Pontos Fortes = Necessidade de

Reorientação

- A marca tem investido, significativamente em estruturas de abastecimento

internacional diversificada (45% da produção é derivada na Europa, Norte de

África, e os 55% são referentes à Ásia). Isto para garantir melhor qualidade de

produção e os os prazos de entrega serem mais curtos

- A marca está a trabalhar de forma intensa, em expandir em mercados

emergentes.

- A marca continuará a investir em lojas próprias nas cidades chave.

- Investir mais nas redes sociais, como Facebook, de forma a atingir e

envolver a comunidade social.

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4.4. Ameaças + Pontos Fracos = Vulnerabilidades

- O custo de comutação entre as marcas é muito baixa, o que dá origem a

umam guerra, de preços regulares entre os concorrentes.

- Aumento de concorrência, marcas como Levis e Lee.

5. Análise de Colecções

Ao longo destes últimos anos a marca tem evoluído muito, a nível de

colecções. As colecções Pepe Jeans London representam não só o denim e o

street wear, mas também a influência da arte, em particular, o estilo da pop

arte, do artista Andy Warhol. Desde o ano 2002, até hoje, que a marca vem

demonstrando esta influência. Por isso, vou abordar algumas colecções da

marca particular, a colecção AW 2012/2013, a colecção AW/SS 2011, colecção

SS 2013 e a colecção AW 2014.

A colecção AW 2012/2013 é composta pela irreverência das obras de Andy

Warhol, peças com cortes diferentes, silhuetas justas, tons creme, azuis,

vermelhos, preto e branco, e uma mistura de tecidos estampados, lisos e

rendados (fig. 79 e 80). É uma colecção com motivos da pop art, como as

latas de sopas Campbell, garrafas de coca-cola, rostos de figuras conhecidas

como Marilyn Monroe, Liz Taylor, Michael Jackson, Elvis Presley, e

símbolos icónicos da história da arte, como Mona Lisa. Esta colecção também

é completada com acessórios e peças masculinas, com referência à pop arte,

que é o principal esqueleto da colecção (fig.81).

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Na colecção SS2011, a Pepe Jeans decidiu, mais uma vez, prestar homenagem

ao grande criativo Andy Warhol. A colecção expõe umas das imagens mais

emblemáticas do património de Warhol, tanto para homem, senhora, como

para criança (figuras 83, 84 e 85). Esta colecção é dividida em duas linhas, a

evidenciar a linha “Pop”, com estampas coloridas de Warhol, como as latas de

sopa de campbell, las dos marilyns e brillo boxes, e a outra linha “Factory”, é

baseada no estilo pessoal, e distintivo dos discípulos de Warhol (Edie

Sedgwick, Candy Darling, etc).

Para o desenvolvimento da colecção, a marca decidiu utilizar indumentárias

com silhueta ecléctica, estilo contemporâneo, tecidos longos, finos e

aderentes, de modo a realçar as linhas corporais. As peças são versáteis, e

enriquecidas com charme, humor, e estilo detalhado. Nesta colecção, as

cores são fundamentais, e das mais variadas, onde se pode verificar tons como

o azul e vermelho pop, cores neutras (preto, prata básico), e ainda o verde

militar (fig. 82).

Fig.81.Colecção AW 2012/2013, Pepe Jeans London

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Fig.82.Colecção SS 2011, Pepe Jeans

Fig.83.Colecção SS 2011, Pepe Jeans

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Na colecção SS 2013, a marca Pepe Jeans London deixa de lado a

simplicidade, e produz uma colecção concentrada nos estampados de cores

brilhantes, coloridas e alegres, evidenciando o artista pop. As peças são das

mais diversificadas, como t-shirts e tops brilhantes, calções cortados,

vestidos, todos com estampas pop. A colecção é complementada com

acessórios, a exemplificar, malas e carteiras com imagens de Marilyn Monroe.

Fig.85.Colecção AW 2011, acessórios da Pepe Jeans London

Fig.84.Colecção AW 2011, Pepe Jeans London

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Então, a marca traz uma colecção com um toque de vivacidade e cores de

verão (fig. 86 e 87).

Na colecção AW 2014, a marca propões uma série de peças de vestuário com

inspiração nas obras icónicas de Warhol. A Pepe Jeans resolveu criar uma

Fig.87.Acessórios da colecção SS2013, Pepe Jeans

Fig.86.Colecção SS2013, Pepe Jeans

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série de camisolas e blusas, que se transformam em autênticas obras de arte.

A famosa lata Campbell foi utilizada para as camisolas masculinas, e a face de

Marilyn Monroe visível nas camisolas femininas. A colecção é composta por

gravuras e cores pop, dando à colecção um estilo irreverente. As peças são

compostas por estampas de camuflagem, de tons azul, para o homem, e tons

rosa, para mulher (fig.88).

A marca Pepe Jeans desde 2002, que faz parceria com Andy Warhol, e para

além de o homenagear na roupa, também o faz em lojas, como “The Andy

Warhol Fundation of the Arts”.

A loja portuguesa “The Andy Warhol Fundation of the Arts”, foi inaugurada

em Lisboa, no bairro Príncipe Real, pela marca Pepe Jeans, com o intuito de

reportar o universo do artista, através da decoração do espaço. Por o espaço

se situar numa zona de galerias, e lojas lifestyle, reforça a oferta da marca

com uma colecção denim e casual wear, inspirada na vida e obras de Andy

Warhol (fig.89). Esta união pretende homenagear o artista, e mesclar a

dinâmica iconográfica do trabalho de Warhol, com o valor de uma das marcas

mais reconhecidas, dentro das marcas denim da Europa. A nível de decoração,

as paredes de tijoleira da zona da entrada são pintadas de cor prata, e as

outras são decoradas com papel prata, como o Billy Name (discípulo do

artista), fez no seu estúdio, em Nova Iorque. O balcão é completamente

composto por sobreposição de latas Campbell Soup, e a área dos provadores

Fig.88.Colecção AW 2014, Pepe Jeans

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(exterior e inteiror) é forrada com papel de parede de estampagem amarelo e

rosa, do print “Cow”, de Warhol. Já na zona dos acessórios aparece decorada

cpm estampagens da obra “Flowers”, e o resto da loja é composta pelas obras

icónicas “Elvis”, e “Campbell´s Soup Cans” a negativo e positivo.

Fig.89.Lojas Andy Warhol, by Pepe Jeans, em Lisboa

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Conclusões

Com esta pesquisa, pode-se verificar, que a arte está sempre presente no

processo evolutivo de um designer. A moda com todas estas uniões, consegue,

não só crescer, mas também ajudar na divulgação das outras áreas (cultura,

cinema, música, arte, arquitectura e design), chegando assim mais facilmente

ao público-alvo. A arte na moda ajuda as pessoas a construir a sua identidade,

a comunicar os seus sentimentos, humores, valores, crenças, ideais, a inserir-

se em grupos sociais, gostos pessoais, a criar significado, e também no

desenvolvimento de poder e hábitos. Esta união complexa consegue fazer com

que o consumidor vivencie experiências únicas, que vão desde as sensoriais,

às emocionais. Assim, a moda aliada às outras áreas, complementa-se criando

valor, história e simbologia.

A influência directa de todas as áreas evidenciadas ajudou no

desenvolvimento pessoal e criativo dos designers de moda, na sua expansão, a

nível nacional e internacional, no desenvolvimento de produtos, na criação de

novas parecerias, no valor acrescentado e democratização das marcas.

Numa primeira parte, deste trabalho, par além de ter sido feita uma pesquisa

bibliográficas das varias temáticas do design, da arte, do cinema, da musica,

da cultura, e da arquitectura, foram também apresentados vários exemplos

aplicados ao design de moda.

A Pepe Jeans London é uma marca, que está sempre dentro das tendências, e

procura sempre por novas novidades. Esta tem valores muito importantes para

uma marca de moda, pelo facto de os seus produtos conterem muita

qualidade, conforto, acabamento diferenciado, caimento irrepreensível,

variedade, acessibilidade e inovação. Para além de ser muito procurada.

No estudo de caso, pode-se comprovar que a marca está muito bem inserida

no meio do mercado, e tem grandes qualidades pra continuar a evoluir. Esta é

um grande exemplo, de que a procura pela arte é uma valia, pois contribui

para maior valor acrescentado dos produtos, que é o caso da pareceria com o

artista Andy Warhol; contribui para uma maior diferenciação e exclusividade,

contribui para a divulgação da arte, chegando com mais facilidade aos jovens;

cria maior curiosidade nos jovens, a nível cultural; contribui para influenciar o

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lifestyle da população, e ainda contribui para os profissionais desenvolverem

um trabalho mais consciente, a nível cultural.

De acordo às questões lançadas como proposta desta pesquisa é importante

destacar, que é através de parecerias com artistas, como Andy Warhol, que a

influência da arte se manifesta na moda. Para além, das parcerias, as

colecções analisadas, como a de Dolce & Gabana, o vestido de Yves Saint

Laurent, e a campanha publicitária de Kenzo, retractam bem, que arte pode-

se manifestar através de padrões, cores, estruturas de silhueta, ou os

diferentes tipos de cortes da peça.

Respondendo à outra questão, a relação existente com estas áreas é muito

poderosa, intensa, e profundo. Assim, esta relação consegue fazer com que a

moda se transforme, lance tendências, construa simbolismos e significados,

novos valores, e ideias, e também novos conceitos.

Por tudo isto, é evidente, que a influência da arte, se torne importante para

os criadores de moda, pois ajuda no seu desenvolvimento pessoal, e

profissional. O criador desenvolve mais criatividade, as ideias são mais fluidas

e espontâneas, o seu trabalho ganha maior divulgação, conquista mais

facilmente o público-alvo, e ganha mais valor.

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Recomendações Futuras

Devido ao estudo em questão, eu recomendo um trabalho, que aborde uma

análise profunda de todo o processo criativo de um designer, desde a parte do

croqui, até à parte da apresentação da colecção, de modo a realçar o

aparecimento de ideias, conceitos, valores, etc. É importante perceber, que

existe um processo transformativo por detrás de uma colecção, que costuma

ser desvalorizado, e até mesmo esquecido.

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