Nome:Rodrigo Yutaka Ueda Numero:31 Turma: 1ºA. A VISÃO FILOSÓFICA SOBRE O TRABALHO.
A Visão Calvinista de Trabalho
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A visão Calvinista de Trabalho
O objetivo desse artigo não é analisar a história da filosofia do trabalho, contudo, é
necessário mencionar, que a Reforma e a visão calvinista resgataram o conceito cristão de
trabalho.
Trabalho pode ser definido como o esforço físico ou intelectual, com vistas a um
determinado fim. O verbo "trabalhar" é proveniente do latim vulgar tripaliar: torturar com o
tripalium. Este é derivado de tripalis, cujo nome é proveniente da sua própria constituição
gramatical: três & palus (pau, madeira, lenho), que significava o instrumento de tortura de três
paus. A ideia de tortura evoluiu, tomando o sentido de "esforçar-se", "laborar", "obrar1”.
Calvino defendeu três princípios éticos fundamentais: Trabalho, Poupança e
Frugalidade2. Note-se que a poupança deveria ter sempre o sentido social3.
Na Idade Média, o trabalho era visto como maldição, como um castigo dado por Deus
ao pecado do homem. Com base nesse pensamento, era também ensinado que cada um
deveria “conservar-se na condição em que nasceu” (PIRENNE,1982, p. 19), ou seja, o homem
deveria contentar-se com sua situação social, pois isso teria sido algo proposto por Deus para
a grande massa populacional que vivia em condição de pobreza. Era ensinado que seria nobre
se contentar com essa situação, pois seria bem-visto aos olhos de Deus. Isso significava que o
trabalho não poderia constituir uma possibilidade de mudança de condição social, mas deveria
apenas suprir as necessidades diárias, de forma a prover a subsistência. A Igreja Romana
ensinava que “a renúncia do monge é o ideal a que toda a sociedade deve aspirar. Procurar
riqueza é cair no pecado da avareza. A pobreza é de origem divina e de ordem providencial”
1 Cf. Trabalho: In: José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa, Confluência, 1956, II, p. 2098; Trabalhar: In: Aurélio B.H. Ferreira, Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2ª ed. rev. aum. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986, p. 1695; Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, 2ª ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1991, p. 779; Trabajar: In: J. Corominas, Diccionário Crítico Etimológico de la lengua Castellana, Madrid, Editorial Gredos, (1954), Vol. 4, p. 520-521; Trabalho: In: Antonio Houaiss, ed. Enciclopédia Mirador Internacional, São Paulo, Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1987, Vol. 19, p. 10963-10964.2 É interessante notar que em 1513, N. Maquiavel (1469-1527), na sua obra O Príncipe, dedicada a Lorenzo di Medicis, diz: “... um príncipe deve gastar pouco para não ser obrigado a roubar seus súditos; para poder defender-se; para não se empobrecer, tornando-se desprezível; para não ser forçado a tornar-se rapace; e pouco cuidado lhe dê a pecha de miserável; pois esse é um dos defeitos que lhe dão a possibilidade de bem reinar.” [N. Maquiavel, O Príncipe, São Paulo, Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. IX), 1973, p. 72]. (grifos meus).3 Vd. por exemplo, J. Calvino, As Institutas, III.7.5-6; III.10.4-5; Idem., Exposição de 2 Coríntios, São Paulo, Paracletos, 1995, (2 Co 8), p. 165ss.; André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 643. (Veja-se, também, Hermisten M.P. Costa, As Questões Sociais e a Teologia Contemporânea, São Paulo, 1986. Quando à ação prática dos conceitos de Calvino em Genebra, Vd. Alderi Souza de Matos, João Calvino e o Diaconato em Genebra: In: Fides Reformata, 2/2 (1997), p. 61-68; Ronald S. Wallace, Calvin, Geneva and the Reformation, Grand Rapids, Michigan, Baker Book House/Scottish Academic Press, 1990, passim.
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(PIRENNE, 1982, p. 19). Dito de outra forma, a Igreja ensinava que os pobres estavam sob a
maldição de Deus e, por isso, deveriam trabalhar muito. Não poderiam aspirar a uma situação
social mais favorável. Cabia-lhes trabalhar em submissão aos desígnios de Deus. Quanto ao
clero e às famílias ricas, como tinham sido agraciados por Deus, não deveriam trabalhar, pois
todo o sustento viria do trabalho do povo. De acordo com Biéler (1999, p. 118), esses
princípios da Igreja Romana estavam muito distantes dos fundamentos do cristianismo:
Para que essa visão distorcida do trabalho fosse corrigida, A Reforma foi importante.
Segundo Costa (2004, p. 119), “a Reforma resgatou o conceito cristão de Trabalho”, e
também “pode-se [...] dizer, com toda justiça, que Calvino conferiu ao trabalho sua
dignidade” (BIÉLER, 1999, p. 126). Tanto Calvino como Lutero entenderam que o trabalho
nos é dado por Deus, como uma vocação a ser realizada, e assim se torna benção em nossas
vidas.
Tratando-se de trabalho, o mesmo não pode ser uma fonte de opressão para o ser
humano (homem), mas o meio pelo qual Deus concede o sustento para a humanidade.
Portanto, o trabalho não deve tornar-se uma fonte de problemas, ansiedade, injustiça e
opressão. Para isso não acontecer, é dever do homem dar uma pausa em suas próprias
atividades descansando em Deus e se entregando ao comando de seu próprio trabalho. Daí a
importância do repouso, o dia de descanso. Porém, sendo o desemprego um flagelo social que
deve ser combatido, priva-se com isso o homem de seu trabalho, como diz Calvino, é como se
degolássemos4. Para que seu autor encontre nele satisfação, é mister que o ser humano se
reintegre pessoalmente no trabalho de Deus, que se ajuste à ação divina conduzida no mundo
para nutrir as pessoas. Para tanto, o ser humano deve fazer uma pausa, parar sua própria
atividade, deixar-se possuir por Deus e entregar-lhe o comando de seu próprio labor. Aí está o
sentido e a importância do repouso, do sábado, dia santificado. O repouso do ser humano
tampouco tem valor em si. O repouso lhe é prescrito somente para que possa ter acesso ao
labor de Deus. “O Senhor, diz Calvino, não nos ordenou simplesmente repousar no sétimo
dia, como se ele se alegrasse com o nosso ócio; antes, seu mandamento é para que, libertos
de toda ocupação, nos apliquemos mais diligentemente ao conhecimento do criador do
mundo.” “Os fiéis devem repousar de suas próprias obras, a fim de sentirem a necessidade
de Deus em suas vidas.” Essa reintegração do ser humano em Deus só é possível pela
mediação de Cristo. Para que reencontre o justo sentido de seu trabalho, o ser humano deve
4 BIÉLER, André. O Humanismo Social de Calvino, Título original em francês – L’Humanisme Social de Calvin,. Tradução: A Sapsezian. Edition Labor et Fides, Genebra 1961. Pag. 42.
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entrar em comunhão com Deus, comunhão que Cristo lhe concede. Arrependendo-se e
comprometendo-se pessoalmente na comunidade da igreja, ele é santificado e reabilitado na
presença de Deus5.
Na concepção Calvinista sobre a vida econômica (trabalho), ele buscava o equilíbrio
social de um lado, sempre renovado pelos bens e direitos da pessoa; do outro o respeito das
necessidades do conjunto social. Seu pensamento sobre o trabalho, o econômico e o social,
abriga-se um tempo de preocupação pela pessoa e pela sociedade. Para Calvino, não se deve
buscar os bens materiais por cobiça. Se a pessoa vive na pobreza, que a suporte com
paciência. Por outro lado, se a pessoa é tida como rica, que não venha se prender nas riquezas.
5 Ibid 4