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A voz de algumas imagens da Voz Fotografias do baú da Voz do Operário Cláudia Graça e Pascal Paulus 2004

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A voz de algumas imagens da Voz

Fotografias do baú da Voz do Operário

Cláudia Graça e Pascal Paulus

2004

Ficha técnica

Título: A voz de algumas imagens da Voz.

Autor: Cláudia Graça e Pascal Paulus.

Edição: maio 2004

junho 2014

Formato: e-livro PDF 14 x 21 cm

Letra: Garamond 10; Calibri light 8

Pascal Paulus (http://pascalpaulus.weebly.com)

A voz de algumas imagens da Voz

Claudia Graça e Pascal Paulus

Índice

História de uma história difícil de contar........................................................................ 5 Duas palavras acerca da imagem fotográfica ............................................................ 6

O contexto social e educativo da Voz do Operário até fins dos anos ’30. .................... 9 Um contexto social turbulento faz nascer “A Voz do Operário” .............................. 9 Um contexto educativo: projetos da Educação Nova e a Voz do Operário ........... 10 A Voz e as suas escolas… um ponto de vista. .......................................................... 13

Comentários para uma mini - galeria ........................................................................... 15 No início das escolas operárias – retratos de família .............................................. 15 Muitos anos mais tarde – para uma educação mais nova? .................................... 27

Uma palavra para terminar. .......................................................................................... 33

Bibliografia...................................................................................................................... 35

A voz de algumas imagens da Voz

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História de uma história difícil de contar.

A medida que fomos escrevendo o texto que apresentamos aqui, tomámos

consciência de que ele não passa de um ponto de partida. O início para um

trabalho historicamente mais cuidado. O fator tempo – o do presente e do

futuro e não o do passado – não jogou em nosso favor, porque alguns dos

obstáculos que encontrámos não nos são fáceis de contornar.

A ideia era simples: juntar fotografias, juntar textos acerca da pedagogia na

Voz do Operário e produzir uma reflexão. Mas…

Começa pela própria datação das fotografias que nos foram disponibilizadas.

Com exceção de algumas mais recentes, nenhuma vinha com data ou num

contexto documental que nos permitisse deduzir com exatidão o ano em que

foram tiradas. Arriscamo-nos assim termos sido induzido em erro por algumas

das inferências que fizemos a partir de comparações e tentativas de

identificação, numa procura em localizar as imagens apresentadas na história

da Voz do Operário.

Não nos foi fácil também não encontrar referências pedagógicas e do ensino

ministrado nas escolas da “Voz”. Adolfo Lima fala, numa das cartas que

transcrevemos, do relatório que publicou num dos jornais “A Voz do

Operário”. Um trabalho interessante poderia ser a análise pormenorizada dos

próprios jornais de A Voz do Operário. Fica a sugestão, caso ainda ninguém

tenha agarrado a ideia. Entretanto, tivemos que nos contentar de algumas

informações em artigos de António Candeias e ler entre linhas umas

publicações sobre a Voz do Operário alusivas ao centenário e aos 120 anos de

idade.

Escolhemos 11 fotografias num lote de 95. Pensamos que elas nos contam um

pouco da história como a imaginamos, sobretudo entre as duas guerras, a

partir das parcas informações que conseguimos reunir. Adolfo Lima refere

que, para a Voz do Operário, a quantidade era importante. Nove das

fotografias incluídas, representativas para um conjunto bem maior, mostram

grupos, nalguns casos grandes grupos, algumas das quais de que suspeitamos

mesmo serem de uma composição cuidadosa. Cria-se assim uma imagem de

uma escola operária ou para operários (Candeias, 1987), escola digna, em tudo

igual à escola clássica de referência, a escola para as crianças de meios não tão

miseráveis como a classe operária do primeiro quarto do século XX. É uma

leitura possível. E, neste cenário, o número também é importante, para

convencer, como se tratasse de uma fotografia publicitária (Berger, 1987).

Cláudia Graça e Pascal Paulus

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Como vemos mais a frente, António Candeias distingue a Voz do Operário

das outras escolas operárias, realçando antes a faceta mutualista operária da

instituição e não a informação pedagógica. Adolfo Lima mostrava-se bastante

crítico, em 1930, acerca do trabalho pedagógico na instituição. Estas

observações influenciaram-nos e estão integradas nalgumas das leituras que

fazemos das fotografias aqui apresentadas. Foi propósito nosso contextualiza-

las na época em que os anarco-sindicalistas e alguns pedagogos de renome,

entre os quais Adolfo Lima, Álvaro Viana de Lemos, mas também Adolphe

Ferrière e Francisco Ferrer, faziam duras críticas ao modelo de escola

existente, propondo a Educação Nova como alternativa. Em Portugal, a escola

oficina nº 1 é sem dúvida a escola de referência, até 1926 pelo menos. As

fotografias da época 1905-1912 que António Candeias (1994) nos mostra são

de grande contraste com as de época mais recente que nos foram

disponibilizados na Voz do Operário. Nas primeiras sugere-se claramente a

Educação Nova, as ideias de trabalho real, de investigação, enquanto nas

segundas impera o modelo transmissivo.

O registo depois da segunda guerra mundial muda ligeiramente. As fotografias

continuam a ser fotografias de grupo, mas começam a mostrar algumas

situações de trabalho, em que o cenário é mais descontraído. Escolhemos uma

fotografia que o ilustra, além de incluir uma que representa a importância dada

pela instituição às atividades extraescolares.

Ficamos portanto por este pequeno ensaio. A história está para contar.

Duas palavras acerca da imagem fotográfica

As fotografias contam uma história. Contam-na quando são sequenciadas.

Contam, como um texto discursivo conta, quando se ordena as palavras.

Contam uma história. Não contam a história. Diz o António Nóvoa (2001)

que o historiador do século XIX se recusava a entrar no jogo das

interpretações múltiplas das imagens, querendo ele próprio ser o fotógrafo da

história, a partir da sua “grande narrativa”. Era uma ilusão?

O discursivo não é incompatível com o figurativo. Os dois não são

incompatíveis com a escrita da história. Antes pelo contrário. O texto e a

imagem são complementares, “uns e outros de tal modo imbricados que ver textos e ler

imagens são processos inseparáveis”. (Joy citado por Nóvoa, 2001, p. 101).

Tal como as pinturas a óleo, as fotografias não mostram a realidade. Mostram

uma interpretação da realidade, feita pelo pintor, pelo fotógrafo, e pela relação

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que estabelece com o modelo, ou os modelos, que se deixam pintar ou

fotografar. Os rostos, por exemplo, correspondem ao tipo de retrato. “As

características do rosto tornaram-se a máscara que condizia com o vestuário. Hoje em dia,

pode ver-se a última etapa deste processo, no aspeto abonecado da apresentação na televisão

da generalidade dos políticos.” (Berger, 1987, p. 103). Os rostos nas fotografias de

grupo da Voz do Operário, que apresentamos de seguida, exprimem

invariavelmente seriedade, salvo nas fotografias na cantina e nos

acampamentos. Acaso?

Queremos ainda deixar duas outras ideias. Berger escreve acerca da pintura

animalista: “Não aparecem animais na sua condição natural, mas de gado, cujo pedigree é

acentuado, como prova do seu valor comercial, vincando por sua vez o estatuto social do

proprietário.” (1987: 103). Podemo-nos perguntar em que medida as fotografias

de crianças transformadas em alunos de uma instituição, transmitam uma

preocupação semelhante: apresenta-se situações que aumentam, dentro do

contexto histórico, o valor da escola que os alunos frequentam: a seriedade e a

dedicação que transparecem das imagens ajudam assim representar a seriedade

e a dedicação da escola.

Berger (1987, p. 107) fala do pintor Adriaan Brouwer, que pintava com grande

realismo as tabernas baratas, com os pobres lá dentro, retratos só comprados

por colegas pintores. Os pobres sorridentes, de Frans Hals, pelo contrário,

sugerem pobres felizes a vender aos abastados, que por isso são fonte de

esperança para o mundo. Algo que agrada como ideia, sobretudo aos

abastados. Estes quadros já tinham compradores. Observando as duas

primeiras fotografias que incluímos, poderíamos também imaginar pobres

felizes. Sérios, por estarem na escola, mas mostrando felicidade pela pose e

roupa que exibem: a instrução dada aos pobres tem algo de festivo. Não foi a

câmara de Lisboa ajudar com 2000 reis o arranque do jornal “A Voz do

Operário”, em 1879? Não foi doado um terreno para a construção da sede de

que se tornará a maior escola de Lisboa para filhos de operários?

A fotografia pode ser composta como o pintor compõe um quadro. No caso

servir de espelho para o que se faz numa instituição, não é de estranhar que ela

se transforma num tipo de fotografia publicitária.

Inspirando-nos um pouco nas palavras de António Nóvoa (2001), construímos

uma história, relacionando as imagens entre elas, fazendo uma leitura acerca

das pessoas que nelas constam.

Cláudia Graça e Pascal Paulus

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Não vamos portanto, relatar a história da Voz do Operário. Vamos sequenciar

uma história possível, com imagens e palavras. A história será, talvez, um dia, a

junção de muitas histórias como a que aqui apresentamos.

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O contexto social e educativo da Voz do Operário até fins dos

anos ’30.

Um contexto social turbulento faz nascer “A Voz do Operário”

“1879 foi um ano de crise profunda na indústria dos tabacos, situação que agravou ainda

mais o desemprego, concorrendo para a existência de situações tais que levaram António

Enes a escrever, num relatório, datado de 1880, que «as fábricas são depósitos e museus das

misérias sociais».” (Galhordas e Damas, 1992).

Estas misérias sociais não eram publicadas nos jornais da época. Jornais havia

que recusavam de incluir notícias sobre a condição de trabalho dos operários

tabaqueiros. Faz parte da história não escrita que um operário, Custódio

Gomes, terá afirmado que, se soubesse escrever, há muito que tinha um jornal

para relatar o que não era dito.

Terá sido ele a propor, na Associação dos Manipuladores de Tabaco, lançar

um periódico. Assim, é lançado o jornal “A Voz do Operário”.

Em 1883, portanto, 4 anos mais tarde, a sociedade “A Voz do Operário”

funda-se para suster o jornal. Sabemos que “A frente do grupo dinamizador do

jornal encontrava-se um operário, Custódio Braz Pacheco, figura destacada das organizações

laborais e grande impulsionador do movimento associativo. […] Colaborou na Associação

Fraternal dos Operários das Fábricas de Tabaco, que visava opor-se à mecanização

industrial e lutar contra a importação de tabaco já manufaturado.” (Galhordas e Damas,

1992).

Mas, voltando ao próprio jornal: logo no primeiro número aponta-se para a

educação profissional e moral da classe operária, instrução do povo, traçando

algumas linhas para um programa de instrução dos assalariados. Embora com

notórias influências das ideias socialistas (o partido socialista fundou-se por

proposta de Azedo Gneco em 1875), os fundadores afirmam não estarem

ligados a nenhum partido.

Rapidamente, a Sociedade de Instrução e Beneficência “A Voz do Operário”,

de uma sociedade de bairro, criado para apoiar o jornal em crise financeira,

torna-se numa associação mutualista, intervindo na ação social, nomeadamente

na saúde e no serviço funerário. Lança também atividades escolares para

operários.

A associação ganha força e reconhecimento: a sede atual será construída em

terreno doado, ainda durante o reinado de D. Manuel II, doação decretada por

João Franco, chefe de governo. O lançamento da primeira pedra, em 1912, é

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feito na presença do Presidente da República, Manuel de Arriaga. A construção

arrasta-se mais do que previsto, devido à primeira guerra mundial e fica

concluída em 1930.

Um contexto educativo: projetos da Educação Nova e a Voz do

Operário

A crítica à escola da época.

Lemos em O metalúrgico nº 25 de 1904 (citado por Candeias, 1987, p. 331)

escreve: “... a escola de hoje mais se assemelha a uma caserna que a uma instituição

encarregada de fornecer à sociedade homens livres e úteis... O professor, salvo honrosas

exceções, é o carrasco e o verdugo da criança enquanto deveria ser o seu pai espiritual. É

verdade que a instrução tal como está preparada, tem por fim, não fazer homens

compreendedores dos seus direitos dentro da sociedade, mas autómatos que se prestem a

soldados para defesa da sociedade, bolsas para o pagamento de impostos... escravos que

mourejem dia-a-dia para que os zangãos sociais folguem e se divirtam... Há portanto

conveniência da parte de quem dirige a educação que ela se mantenha da mesma forma...”.

A proposta da Educação Nova, com a Escola Ativa.

As ideias acerca da Educação Nova, circulam e fervilham durante o período da

primeira república. Existem muitos contactos entre Ferrière, Ferrer, Adolfo

Lima, Álvaro Viana de Lemos.

Os liceus Passo Manuel e Pedro Nunes defendem um trabalho pedagógico que

o Adolfo Lima exemplifica num trecho escrito em 1925, quando fala dos

benefícios da associação escolar:

“Um caso, para exemplo, da influência da Associação escolar na educação

integral do indivíduo. Num ano em que fomos professor na 4ª classe do

Liceu Pedro Nunes, havia, numa turma, um rapazola pouco assíduo e de

aproveitamento desigual. Entrava na aula sempre tarde, num desalinho de

vestuário e com sinais evidentes de desarranjo. As suas notas eram

irregularíssimas. Tinha de tudo: de 10 a 18 valores, ora de disciplina para

disciplina, ora de período para período. Volvidos três anos, voltamos a ser

professor no referido liceu e fomos escolhidos para fazer parte da redação

do jornal Os Novos. Encontrámo-nos com esse aluno na colaboração do

periódico. Estava completamente mudado; tornara-se escrupuloso no

cumprimento dos seus cargos e obrigações de estudante: pontual,

meticuloso no seu fato, no seu cabelo, e atitudes corretas, igual em todos os

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seus trabalhos, numa aplicação equilibrada. Quem o transformou assim? A

Associação Escolar! O exercício voluntário de vários cargos associativos.

Este facto, que é um exemplo de tantos outros que conhecemos, revela que

o caminho a seguir na educação ou obra educativa está exatamente na

autonomia, na emancipação consentida dos educandos por meio das

associações escolares. É ela que é a base, o fundamento da Escola Ativa.”

Ramos Do Ó (2002).

Adolfo Lima, consciente do fosso entre escolas para burgueses e escolas para

operários, sonha de uma escola única, em que trabalho intelectual e trabalho

manual estejam equilibradamente inscritos no programa da escola.

Desenvolveu um projeto inovador com a Escola Oficina nº 1, objeto do livro

Educar de Outra Forma de António Candeias (1994). Subscrevendo a critica dos

movimentos operários, é, não só na Escola Normal, onde leciona, como no

Liceu Pedro Nunes, onde trabalha em dois momentos distintos,

principalmente naquela escola, no largo da Graça, que leva mais longe as suas

ideias pedagógicas. Transforma as salas em ateliers de trabalho, enche os

espaços de material que serve para ilustrar o mundo exterior, trazendo-o de

certa forma para dentro da escola. O Adolphe Ferrière estima muito o trabalho

de Adolfo Lima, elogiando-o em vários momentos, inclusivamente quando

mais tarde a repressão do Estado Novo lhe baterá à porta (Candeias, 1995).

Mesmo estando muito envolvido com o projeto educativo da Escola Oficina

nº 1, Adolfo Lima afastar-se-á, depois de uma disputa, acerca da gerência da

escola.

Mais tarde, em provavelmente em Junho de 1929, é contratado pela Voz do

Operário como diretor de serviços pedagógicos. Três cartas (Candeias et al.,

1995) ao Álvaro Viana de Lemos situam o ensino praticado, visto pelos olhos

de quem critica a escola.

A primeira, de 11 de Novembro de 1929 mostra um pedagogo razoavelmente

otimista acreditando na mudança de estilo:

Eu, este ano, nem férias tive. (Nota dos autores: Tem na altura 55 anos). Em

Agosto caiu-me em cima dos ombros os serviços escolares da Voz do

Operário, e durante os meses de Agosto e Setembro tive de tomar pé e por

em marcha algumas coisas que julguei indispensáveis realizar

imediatamente. As outras virão depois, a pouco e pouco... tudo era à

antiga...

Imagina, o meu caro, que a Voz do Operário tem uma escola (a da sede) com

612 alunos, e 13 professores e mais 28 escolas espalhadas por Lisboa, em

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que há um total de perto de 3000 crianças! Os serviços estavam

desorganizados tanto sob o aspeto burocrático como pedagógico.

E como primeiro passo já há uma aula de Modelação e Desenho, com

professora privativa, outra aula de Trabalhos Manuais. Espero ainda este

ano pôr a funcionar um gabinete de Física e um laboratório de Química.

Devo acrescentar que há também dois cursos noturnos, um na sede e outro

na escola da Estrela. Nesses cursos há secções femininas que tenho muito

empenho em desenvolver e valorizar.

[...]

Quanto aos trabalhos manuais na escola primária, é certo que eles não

figuram nos programas, mas as instruções falam deles e o professor que

quiser pode ensiná-los. O pior é que a grande maioria não quer. Para os

grandes professores o ensino primário é só «ler, escrever e contar».

(Candeias et al., 1995, p. 127)

Dia 1 de Abril de 1930, na segunda carta ao Álvaro Viana de Lemos em que

refere à Voz do Operário, Adolfo Lime continua com ideia positiva acerca da

Instituição:

Estive atarefado com mil e uma coisas. A Escola Normal, A Voz do Operário

esgotam-me todo o tempo. […] Quanto ao raio que me caiu em cima da

cabeça, isto é, a comissão da reforma das normais e o Conselho Superior de

Instrução, direi que neste caso apenas sirvo de bola. Não foi pelos meus

olhos que me escolheram, mas sim para largarem uma piada aos meus

ilustres colegas superiores da Normal. […] foi uma ordem de serviço, como

posso provar. […]

Aguardo a sua vinda com júbilo. […] Naturalmente a nossa reunião será na

sede da Voz do Operário visto que ser-lhe-á mais fácil ir lá do que vir a

Queluz. Além de que visitará a Voz o que ser-lhe-á agradável, estou certo.

No mesmo correio mando-lhe o jornal a Voz do Operário, onde vem o meu

3º relatório.

(Candeias et al, 1995, p. 132)

Na terceira carta ao Álvaro Viana de Lemos nem sequer um ano depois da

primeira, em 15 de Setembro 1930, o discurso é completamente diferente.

Algo terá acontecido no momento de avaliação, durante as férias de verão?

Facto é que Adolfo Lima escreve:

Há uma guerra surda contra tudo que não seja rotina, de que os ingleses

chamam os RRR (reading writing reckoning – ler escrever e contar). Por isso

o seu livro não tem nem terá o êxito que merecia. É caso para desanimar?

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Creio que não! É caso para reagir, e teimar cada vez mais! E um dia a santa

Rotina morrerá!

Mas onde se deve atuar, não é nos velhos, nos já feitos, é nos novos,

naqueles que ainda têm ideais. Se entre 30 alunos nossos, nós conseguimos

que três tomem pelo bom caminho já nos havemos de dar por muito bem

compensados. Não é assim?

Foi por ver que a minha ação era toda perdida entre a velhada rotineira de A

Voz do Operário, que eu tive de desistir do lugar que lá tinha e pedi a

demissão. A «rotina» sabe muito e não consulta os que não estão com ela…

A Voz do Operário tem atrás de si como um grande penedo inamovível o

Passado rotineiro. O que os preocupa é a quantidade de alunos, e não a

qualidade. São os exames e não o saber. E por mais que se queira remar

contra a maré, não é possível: uma má instrução em detrimento de uma boa

educação! O que eu tentava fazer para «renovar» era destruído pela Rotina

que não compreendia ou não queria compreender. Demais, se os

burgueses-patrões são custosos de aturar, muito mais custam a aturar os

operários-patrões. O nosso e bom «camaradinha» arvorado em mandão é

cem vezes mais autoritário e malcriado do que o burguesão!

[…]

Conforme os desejos e regras de vida do Ferrière expressos nas cartas que

me mandou vejo que só poderemos fazer um programa modesto, muito

modesto.

As visitas a escolas ou estabelecimentos educativos, não há por onde

escolher: Escola-Oficina nº 1, Jardim-Escola João de Deus, Escola nº 76 (nota

dos autores: escola onde lecionava Irene Lisboa), […]. Quanto à Voz do

Operário parece que não é de indicar, se nós quisermos respeitar as

indicações que me mandou.

(Candeias et al, 1995, p. 137)

A passagem de Adolfo Lima na Voz do Operário foi portanto de curta

duração.

A Voz e as suas escolas… um ponto de vista.

António Candeias (1987) distingue na caracterização que faz das escolas

privadas nos anos ’20, as escolas operárias e as escolas para operários.

Considera que as escolas operárias são aquelas que inequivocamente estão

ligadas ao movimento operário. E continua: “Ao estudarmos as suas realizações

concretas, poderemos assim destetar a ligação entre as perspetivas teórico-pedagógicas de fundo

e as práticas possíveis traçando assim os contornos da realidade e compará-los com os sonhos

do futuro.” (Candeias, 1987: 329). No fim da caracterização das escolas

Cláudia Graça e Pascal Paulus

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operárias, escreve: “mesmo estando fora do movimento operário organizado, torna-se

impossível a compreensão da realidade educativa operária no Portugal dos princípios do século

sem proceder ao estudo deste gigante do mutualismo popular que foi «A Voz do Operário».”

Os números deste gigante impressionam. Adolfo Lima fala de 612 alunos com

13 professores na sede (47 alunos por professor) e de 3000 no total. Refere-se

que, em 1932, a Voz do Operário se transformou no mais importante núcleo

da Instrução Primária da cidade de Lisboa. Existe uma imagem de jornal (de

muito má qualidade, razão pela qual não a incluímos) de uma concentração dos

alunos no Terreiro do Paço, para festejar o aniversário da Voz em 1938. O

título fala de 4200 alunos e entende-se um alinhamento tipo militar feito pela

maioria desta população.

Tem que se perceber esta expansão da Voz do Operário dentro do contexto

político decorrente da instalação do Estado Novo com contornos autoritários

e fascistas. Seguindo o raciocínio de Candeias (1987): numa primeira fase,

desde o início do século XX até 1916, aparecem os regulamentos sindicais, a

fundação das comissões escolares, embora sem por isso as associações de

classe falar sobre a questão educativa. A Voz do Operário não está, naquela

altura, diretamente ligada a estas comissões, nem na fase seguinte: uma

segunda, muito produtiva, que decorrerá entre 1916 e 1924 e que faz surgir

múltiplas iniciativas educativas. Importa-se referir para esta fase que o C.G.T.

se funde em 1919 e se reorganiza em 1925, depois das clivagens entre os

anarco-sindicalistas e os comunistas. A 3ª fase, de 1924 até 1927 é marcada

pela retração dos movimentos operários, levando à 4ª fase, de 1927 até 1934

em que a ditadura militar e o regime liderado por Salazar acaba com o

sindicalismo livre em Portugal. É então que “A Voz do Operário”, estando de

certa forma fora deste sindicalismo livre, parece agrupar o que resta das escolas

sindicais e para operários, sem demasiados obstáculos da parte do governo. Ao

acreditar as palavras de Adolfo Lima, a preocupação continua a ser uma de

número de alunos e menos de projeto pedagógico. Galhordas e Damas (1992)

destacam o jornalista e sociólogo Raul Esteves dos Santos como uma das

personalidades que consegue ajudar a preservar a “Voz” e o seu património.

A voz de algumas imagens da Voz

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Comentários para uma mini - galeria

Como já referimos, escolhemos 11 fotografias de um conjunto de 95. São

representativas pelo facto de sempre mostrar grupos, muitas vezes grandes

grupos. Selecionamos mais imagens do período entre as duas guerras, por

termos encontrado alguma informação pedagógica daquela época sobre a Voz

do Operário. Mesmo sabendo que o Adolfo Lima era muito crítico, as

fotografias podem bem ilustrar as reservas que ele formulou quanto a

qualidade, suplantada pela quantidade.

As três últimas fotografias, já dos anos ’50, testemunham uma possível

mudança, ainda em plena ditadura. As 95 fotografias que nos foram

disponibilizadas relatam mais atividades peri-escolares do que escolares,

nomeadamente o serviço de cantina (desde 1957) e as colónias de férias.

Porém, mantivemo-nos no registo da escola, incluindo só uma fotografia de

uma colónia de férias.

Em suma, traçamos uma linha em que está sempre um grupo, ainda que em

épocas e contextos diferentes. Além disso, apesar da total ausência nas duas

primeiras, na segunda série de fotografias, as … flores parecem ter algum

significado especial, mas só como elemento decorativo. Hoje seriam os Patos

Donald, os Bambi’s e outros heróis dos desenhos animados a terem o

destaque, mesmo que também não tenham nada a ver com o que se faz na sala

de aula.

No início das escolas operárias – retratos de família

A grande sede de “A Voz do Operário” ainda não existe. Começamos com

duas fotografias ao ar livre. Ar livre, mas dentro da cidade. Atrevemo-nos

mesmo a datar essas imagens na primeira década do século XX, tendo como

base, essencialmente, o tipo de vestuário utilizado pelas professoras.

O fotógrafo foi à procura do tipo de ensino que se faz para os filhos de

operários. Grande ocasião para mostrar o seu lado melhor! Mas em grupo.

Aliás, dois grupos de crianças, um de rapazes, outro de raparigas, alunos e

alunas da instituição. Nas duas fotografias há algo de festivo nas roupas, o que

contrasta com o fundo: a parede rachada dum pátio. Entre prédios, ou num

prédio que servia de escola…?

Cláudia Graça e Pascal Paulus

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Fotografia 1. – Grupo de rapazes com um professor.

Os rapazes primeiro. São 42, em 4 filas. O adulto que facilmente se pode ver

como o professor, no canto da fotografia, está numa posição algo mais

informal do que alguns alunos que se apresentam numa pose estudada.

Faz falta, no lado oposto da fotografia, o outro professor, ou o auxiliar.

Também pode ser que aconteceu algo ao fotógrafo, ou à máquina, que não

centrou bem o grupo. Do lado direito, o corte é um pouco abrupto, fazendo

acreditar que alguns ficaram fora da imagem.

Tirando meia dúzia de rapazes, espalhados pela fotografia, todos têm o cabelo

rapado ou bem curtinho.

Fotografia 1 – Grupo de rapazes com um professor.

É talvez a última fila que nos permite referir que se trate dum grupo escolar, já

que o saber é sugerido através de dois livros, que dois alunos seguram de

forma visível. Na mesma fila, um rapaz, em segunda posição começando pela

direita, não tem dúvidas que a instrução lhe fará subir na vida. Uma pose bem

estudada. Esta fila tem ainda a particularidade de solicitar uns a pôr a mão no

ombro de outros, da mesma fila ou da fila anterior: ao todo contamos cinco.

Em relação às duas filas do meio, há pouco para avançar: são simplesmente

duas filas, uma sentada, outra em pé. Todos os alunos marcam corpo presente.

Animação? Na primeira fila, há dois rapazes que se abraçam, o que pode ser

uma outra pose, agora para transmitir um certo bem-estar. De facto, não se

A voz de algumas imagens da Voz

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olham, mas miram o espectador, numa demonstração de que estar num grupo-

escola fortifica laços afetivos.

O rapaz do centro, como o da última fila, mostra como ganhou espaço, como

se o facto de estar na escola permite aumentar a posse sobre o meio

envolvente. O único boné visível, está também nesta fila, no joelho, em

repouso, fazendo conjunto com o fato completo que a criança exibe.

Olhando novamente para o grupo todo, observamos várias crianças que

mostram uma certa compenetração, como conscientes que algo é diferente:

afastadas do trabalho da fábrica, vivem um dia fora do normal, sugerindo até

uma escola dominical. À primeira vista, as roupas parecem confirmar esta

ideia. Sensivelmente metade traz laço ou gravata. Os sapatos e as meias da

primeira fila porém, não são tão impecáveis como as camisas e os casacos. As

aparências iludam, ou houve mesmo antes da fotografia, alguma correria neste

pátio, que depois foi transformado em pano de fundo?

Existe uma certa firmeza em muitos dos olhares. Será que procuram afirmar

assim a beneficência que a instrução lhes oferece? E será que também desejam

mostrar que existe entre eles uma certa consciência do peso da instituição, que

lhes fornece a instrução que os pais e os pedagogos lhes querem?

Ninguém se ri. As sobrancelhas afirmam a seriedade. Instruir-se não é

brincadeira.

Fotografia 2 – Grupo de raparigas com duas professoras.

A fotografia parece-nos ter sido tirada no mesmo dia que a anterior.

Agora, trata-se de uma fotografia de grupo, somente de raparigas, o que

demonstra, em conjunto com a primeira, que nesta altura existia uma

separação entre os sexos em contexto escolar. O princípio de coeducação dos

sexos1 ainda estava longe da Instituição. Nota-se também que o grupo, apesar

de só contar 38 alunas, não está longe da média de uma turma da época. No

entanto, existiam duas professoras.

Tanto as professoras como as alunas mantêm-se numa pose clássica de grupo

e demonstram estar a olhar para o fotógrafo à espera que este tire a fotografia.

Reparamos que a maior parte das crianças se identificam com as professoras,

mostrando isso na forma como se encontram sentadas e como colocam as

1 Defendido por escrito por Faria de Vasconcelos em 1915 (Candeias et al., 1995).

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suas mãos. Somente uma das raparigas parece-nos não estar atenta ao

fotógrafo, algo a distraiu na altura que a fotografia foi tirada.

Tem-se alguma dificuldade em detectar o seu status social, embora nos pareça

que se tratem de crianças de classe média baixa. Importa também aqui realçar

que, nesta fotografia, possa ter havido o cuidado de as crianças aparecerem

com um aspecto mais cuidado, e, por esse facto, existe um risco em cair no

erro de fazer alguns juízos precipitados. Ainda nesta sequência, podemos

identificar que, apesar de tudo, há algumas diferenças sociais entre as raparigas,

todas elas de cabelo apanhado, aspecto cuidado e com os seus vestidos de

“domingo”.

Fotografia 2 – Grupo de raparigas com duas professoras.

Denota-se alguma rigidez na sua postura, e neste caso, tanto nas crianças como

nas duas pessoas adultas que aparecem na fotografia. As professoras

encontram-se cada uma em seu lado, aparentemente para manter a ordem. As

suas expressões faciais demonstram firmeza, contenção e atrevemo-nos

mesmo a dizer, principalmente na professora do lado esquerdo, um certo ar de

“maldade”.

Aparentam serem já duas professoras com idades compreendidas entre os 30 e

os 40 anos, embora a professora que se encontra à direita pareça ser um pouco

mais nova. Talvez aqui possamos também dizer que o seu vestuário não facilita

e que poderá ser também um meio para nos induzir em erro quanto às suas

verdadeiras idades.

A voz de algumas imagens da Voz

19

Quanto às crianças, podemos arriscar em dizer que muito provavelmente será

uma turma de 3ª ou 4ª classe.

O tipo de relacionamento que possa existir entre as crianças e até mesmo entre

as professoras não está demonstrada na fotografia, parece-nos mesmo quase

nulo, somente se verifica um toque no ombro por parte da criança que se

encontra na segunda fila, na terceira posição a contar do lado direito à criança

que se encontra na primeira fila em primeira posição a contar do lado direito.

O que podemos pressupor? Possível irmã, amiga… não sabemos. Mas que esta

fotografia é uma coisa muito séria, é.

Entre as duas guerras – arranjos não só florais.

Entramos agora no edifício. Cinco imagens entre paredes, mais uma vista lá

fora, cá dentro: o pátio da escola. Sempre se trata de grupos, grandes grupos,

ou partes de grandes grupos, formados para transmitir uma imagem de

seriedade da instrução na instituição.

São cenários, arranjados como os arranjos florais, para apresentar a escola de

massas e para operários como meio eficaz para a transmissão de saberes.

Fotografia 3 – Cenário de uma aula coletiva.

A escola, portanto, é vista, essencialmente, como um espaço de transmissão de

saberes. Mas que saberes? Ao olharmos para a fotografia, encontramos perto

de 80 alunos e neste caso, em contexto misto, com duas professoras, em que

uma delas parece-nos explicar algo. O caricato é ver que a sua explicação é algo

que aparentemente não parece despertar a atenção dos alunos. Pois vejamos…

Todos eles se concentram com um livro na mesa, quase todos olham para ele,

à exceção de alguns que estão de cabeça baixa e de braços cruzados como se

fosse uma boa altura de dormir a sesta. Uma outra criança que se encontra na

terceira mesa a contar do lado esquerdo, encontra-se mesmo de costas para o

quadro. E depois questionamo-nos como será possível fazer a explicação de

uma multiplicação, mesmo a professora apontando o seu ponteiro de uma

forma bastante firme, quando nenhum dos alunos parece estar

verdadeiramente a olhar naquela direção.

A auxiliar, ou professora auxiliar, pois parece estar a dar um apoio mais

individualizado, controla o lado direito da sala.

Quanto ao modo como a sala está estruturada, não parece ser também a mais

adequada. Temos nesta fotografia dois quadros de lousa numa posição em que

Cláudia Graça e Pascal Paulus

20

muitas das crianças não conseguem visionar o que neles possa estar escrito. A

luminosidade não é das piores, mas o facto de um dos quadros ser maior do

que o outro, parece desfavorecer o lado direito da sala. Os bancos corridos

parecem ter tamanho despropositado para os alunos e quanto a sua

funcionalidade, talvez fosse interessante ver como no final desta aula os alunos

se organizam para sair.

Fotografia 3. – Cenário de uma aula coletiva.

As paredes brancas estão despidas de qualquer decoração, embora existe um

espelho do lado esquerdo. Quase nos atrevíamos a especular que tal poderia

muito bem ser para facilitar a tarefa das professoras no visionamento das

crianças do lado direito.

Nitidamente verificamos também que a posição das professoras é central para

com certeza ter um maior controlo. A par das suas secretárias com um lindo

ramo de flores, só existem os quadros.

As crianças embora apresentem algum enfadamento, não parece que disturbem

o contexto escolar. Outra coisa engraçada é que não se sugere que alguém

delas tenha lápis na mão. Mas que método será este de ensinar a fazer uma

multiplicação nestes condições?

Ainda denota-se que o fotógrafo não parece ter sido anunciado. Outra

hipótese é, que foi de tal maneira anunciado, que cada criança tente teatralizar

o melhor que sabe o contexto escolar em que está inserida.

A voz de algumas imagens da Voz

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Fotografia 4. – Na sala de aula.

O cenário é outro. Numa sala de aula, há 45 crianças, sendo por isso uma

turma estatisticamente representativa para a época em que para 612 alunos

havia 13 professores, nas carteiras, sentadas 3 a 3. Arrumadas num canto,

talvez para que o fotógrafo pudesse apanhar todos e ainda a professora,

sentada por trás da pesada secretária.

Como agora o contexto é a sala de aula, ninguém finge estar a trabalhar. Quase

todos olham para a professora, ou para o arranjo floral, de que não sabemos se

ele voltou depois de uma digressão, ou se ele faz parte dos adereços que o

fotógrafo acha por bem colocar nas diferentes imagens.

As crianças da última fila do lado direito tiveram licença para se levantar, para

serem mais visíveis. As que estão do lado esquerdo é que já não tiveram a

mesma facilidade, pelo que se perdem no cinzento da fotografia, apagando a

sua individualidade no anonimato da mancha.

A professora olha para o fotógrafo e isto faz com que alguns rapazes sigam

com o seu olhar o que parece captar o interesse da sua mestra. Ao lado da

professora, a auxiliar também ficou de pé, para ajudar a manter sossegados os

pequenos. Mas ela aproveita a aparente impressão que causa o trabalho do

fotógrafo, para também dirigir o olhar para o espectador.

Fotografia 4 – Na sala de aula

Na parede adivinha-se um mapa-mundo. A curiosidade que ela pode despertar

é reforçada pelo globo terrestre por cima do armário. No meio, um quadro,

provavelmente com as informações necessárias para apoiar as crianças

descobridoras na sua caminhada pela aquisição da leitura.

Cláudia Graça e Pascal Paulus

22

Talvez foi mesmo esta, a atividade que foi interrompida pela vinda do

fotógrafo. As crianças têm, nas carteiras, livros ou cadernos abertos e

agradecem este intervalo no árduo trabalho intelectual.

Nesta sala, a coeducação já se tornou realidade, e o lado esquerdo está

ocupado por rapazes, o lado direito por raparigas, mas alguma mistura parece

ser permitida. No lado das raparigas, a segunda fila é ocupada por rapazes. E

enquanto a regra é que na mesma carteira se sentem só 3 meninas ou 3

meninos, os colegas que estão em pé já têm mais liberdade para se misturar.

Mas uma regra é igual para todos: a bata uniformiza o grupo de crianças em

alunos da escola.

Fotografia 5. – Instrução primária.

O corte de cabelo continua parecido com o da fotografia anterior. As meninas

não têm que ter o cabelo comprido com os lacinhos atrás, usam o chamado

corte “à tigela”, cabelo muito mais curto, mas para estudar fazem risco ao lado

e põem um travessão, para que possam ver tudo o que escrevem ou o que

lêem. A moda das saias também já está a mudar…

Fotografia 5. – Instrução primária

As turmas não parecem mais saturadas de crianças, na foto devem encontrar-

se cerca de 25 alunas (o que não está mau), mas agora, rapazes, nem vê-los.

Talvez a outra metade da turma esteja escondida, pois existe ainda alguma

dúvida quanto ao princípio da coeducação.O bibezinho claro, esse se mantém,

A voz de algumas imagens da Voz

23

mas com bibe ou sem bibe, parece-nos que esta é provavelmente uma das

poucas fotografias que não seja uma pose forçada para a objetiva.

Efetivamente, as crianças encontram-se a trabalhar e quase nos atrevemos a

dizer que com algum empenhamento. Levantamos ainda uma questão: será

algum exame? Uma cópia? Um ditado? Sim, aqui falta-nos alguns elementos

para irmos muito mais além. O colorido nesta sala não é o arranjo floral, mas

uma faixa decorativa de forma a não manter as paredes num pálido branco

institucional.

A luminosidade parece relativamente boa e as carteiras, ainda que distribuídas

em fila, comportam somente duas crianças. Embora a sala não pareça ser

muito grande, verifica-se de facto já alguns elementos que demonstram uma

certa preocupação pelo bem-estar dos alunos.

Outra coisa interessante é que a docente não aparece na fotografia, o que

demonstra que o objetivo talvez não fosse tentar mostrar o poder do professor

face às alunas, mas efetivamente, captar uma turma em trabalho, sem reforçar

coisas como a postura, rigidez ou um comportamento adequadíssimo em sala

de aula.

Fotografia 6. – Cenário da aula dos trabalhos manuais femininos.

Voltamos à encenação. O cenário que se compõe nessa fotografia refere dois

grupos. Em cima temos o olhar de uma galaria de notáveis, dos quais os

retratos servem de decoração do espaço. O fundador da sociedade “A Voz do

Operário” recebe uma luminosidade no seu retrato oval, raio de luz que

também recai sobre o bordado colectivo que ocupa três pessoas em primeiro

plano do grupo de baixo.

Os dois grupos estão bem separados, são a história e o trabalho presente. O

arranjo floral voltou e tornou-se indispensável, destacado pela nudez da

parede, acentuando assim a separação entre o cima e o baixo. Até as paredes

ajudam a demarcar a sala em dois espaços, um terreno e outro altivo, em que a

linha de fronteira se apresenta acima das cabeças das aprendizas.

Para contemplar o passado, sugerido pelos seus representantes, qualquer

pessoa sentada ou em pé nesta sala, terá que levantar a cabeça e o olhar,

apropriando-se assim da herança deixada pelos seus percursores.

Descendo para o grupo que executa as suas tarefas no presente da fotografia,

acompanhamos a luz que recai sobre a peça mestre. Três raparigas, uma já

adolescente, concluem os bordados, cada uma numa das pontas do pano,

Cláudia Graça e Pascal Paulus

24

deixando uma amostra do trabalho no canto caído e visível para o espectador,

através do objetivo da câmara. As outras raparigas no primeiro plano, mais

novas, ocupam-se de trabalhos individuais, como se fossem trabalhos

preliminares antes de poderem participar num projeto coletivo mais ambicioso.

Fotografia 6. – Cenário da aula dos trabalhos manuais femininos.

Tanto do lado esquerdo como do lado direito do cenário, duas crianças têm

uma ocupação diferente: na almofada, tecem as fronteiras de um padrão

geométrico sob forma de renda, numa superfície onde ainda há pouco o plano

não estava delimitado.

A grande mesa apoia o trabalho de cinco raparigas em que é pouco claro se

duas delas estão a colaborar numa peça comum. Ao seu lado, mas em pé, está

outra rapariga, que poderá estar a colaborar, mas que também poderá estar a

fazer algum trabalho de recorte, individualmente. Na outra extremidade da

mesa, uma aluna observa o que a colega está a fazer, como se disponível para

dar uma sugestão.

Por trás, e outra vez nos dois cantos opostos do cenário que se compôs, dois

grupos de crianças mais novas se concentram a volta de duas máquinas de

costura. A professora, de bata branca, acompanha o grupo em frente dela, mas

desvia, no momento que é tirada a fotografia, o olhar para uma das alunas que

está em frente ao grupo a montar o seu trabalho de renda.

No plano posterior, temo uma fila inteira de crianças em pé que têm todas o

olhar inclinado. Não parece uma posição cómoda para executar uma das

tarefas de trabalho manual que a fotografia apresenta. Talvez só estão a

observar o trabalho das outras, esperando a sua vez para se sentarem. Estão,

A voz de algumas imagens da Voz

25

nesse compasso de espera, acompanhadas por uma auxiliar que, para a

distinguir da professora, tem bata de cor diferente.

Toda a composição sugere que, sob olhar do passado, o currículo de ler,

escrever e contar foi enriquecido com trabalhos manuais. Sugere-se também

alguma diferenciação de atividades, em que cada uma das alunas se

responsabiliza para o que está a fazer. Mas, ao mesmo tempo, mantém-se a

representação do trabalho sério em que, se já existe alguma alegria em criar,

esta fique bem ocultada por trás de uma máscara de seriedade.

Fotografia 7. Cenário no recreio da escola.

Meninos e meninas, hoje vamos tirar uma fotografia no recreio. Para quê?

Talvez para mostrar como o jardim está bem tratado, que é grande e onde

dispensamos o arranjo floral, que a natureza está aí mesmo, até tem algumas

sombras para as crianças brincarem quando está muito sol.

Fotografia 7. – Cenário no recreio da escola.

E as crianças perguntam. “Professora, o que é brincar?” Sim, porque tirar

fotografias, todos os meninos sabem. É preciso estar quieto e olhar todos para

a objetiva sem sorrir. Aqui houve pelo menos duas crianças que cruzaram os

braços e disseram é sempre a mesma coisa, um deles até disse mais: “Sou

importante”. Uma outra criança, aquela que se encontra do lado direito,

sentada logo na primeira fila, resolveu ignorar um pouco as diretrizes olhando

para a cara de mau da criança que se encontra bem central na fotografia vestida

Cláudia Graça e Pascal Paulus

26

de algo escuro. Todas as outras colocaram o seu olhar submisso e disseram:

vamos lá a isso.

Mas reparem também nas professoras. Uma delas mostrou o que era

inevitável: um sorriso...

Um sorriso desesperado ou um sorriso de boa vontade?

O interessante é mesmo ver a quantidade de crianças que estão na fotografia.

Será mesmo que somente duas professoras davam conta do recado. O

importante é a quantidade Veja, como são muitos a estarem na instituição. E a

qualidade? Bem, têm um jardim, e se este não nos parece ser para os trabalhos

agrícolas, prezados pela Educação Nova, gostaríamos mesmo de pensar que

era um local por excelência para brincar.

Fotografia 8. – Cenário mestre: corpo docente feminino

Para acabar esta série, nada melhor do que apresentar o pomposo corpo

docente que resolveu posar para a fotografia. O local escolhido não podia ser

outro. Atrás, nas paredes brancas, encontra-se a já conhecida “galeria” dos

históricos, entre eles o fundador da Voz do Operário, homenageado pelo

inevitável arranjo floral.

Interessante é ver que todo este corpo docente é formado por professoras, ou

será que naquela altura também havia distinção entre os sexos e a seguir segue-

se a fotografia dos professores?

Houve o cuidado, como mande a tradição de as professoras mais velhas

ficarem sentadas e logo na primeira fila, pois as mais novas ainda podem com

as pernas.

E reparem na sua postura…

Quase todas de fato e casaco, de preferência escuro, e carteira no colo, as que

não têm as mãos substituem. Pernas meio cruzadas, o seu olhar firme, rígido e

sem um mínimo sorriso. Naquela altura o fotógrafo ainda não tinha à vontade

de pedir às senhoras que dissessem: “cheese”.

Mas os comentários ainda não ficam por aqui, pois parece-nos que existem

algumas senhoras que já naquela altura sabiam qual era o seu melhor perfil

para a fotografia, pois vejamos. Temos pelo menos três professoras que

optaram por se colocarem de perfil em que duas delas estão voltadas para o

lado esquerdo e outra para o lado direito. Senhoras, senhoras! Isto não seria

correto com certeza caso fossem os seus alunos a fazerem.

A voz de algumas imagens da Voz

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Fotografia 8 – Cenário mestre: o corpo docente feminino

Outra coisa interessante é que de facto o espectador talvez tenha alguma

dificuldade em detetar onde está a objetiva, pois nem todas as senhoras olham

na mesma direção. Estará alguém mais naquela sala? A Velha Rotineira

provavelmente. Porque, vistas bem as coisas, o Adolfo Lima deve ter batido

com a porta.

Muitos anos mais tarde – para uma educação mais nova?

Mas, quem sabe se algumas sementes da inquietação não ficaram? Depois da 2ª

guerra, as fotografias têm outro aspeto. Os grupos focados são mais pequenos,

ou são “close-ups” de grupos maiores. A quantidade é mostrada,

principalmente através das festas de fim de ano, flores para os encarregados de

educação substituem os arranjos desenquadrados. Estas festas são

normalmente fotografadas no salão da sede, salão enorme que faz cúpula sobre

todo o edifício. Os convívios estão registados na cantina, que abriu em 1957.

Nestas fotografias, o número continua a ser a principal preocupação

Entre estas fotografias, também há aquelas que sugerem as atividades dos

alunos, paralisando momentos que podemos pressupor serem de uma ação

mais prolongada no tempo. Dessas imagens, resolvemos escolher três.

Finalizamos fora do edifício, como iniciámos.

Cláudia Graça e Pascal Paulus

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Fotografia 9. – Festa de fim de ano com demonstração de ginástica.

Senhores e senhoras, meninos e meninas, têm aqui uma festa de final de ano,

com uma demonstração em ginástica.

Foto 9. – Festa de fim de ano com demonstração de ginástica

Começa, então, por haver uma preocupação: mente sã, corpo são. Alterações

curriculares e introdução no programa escolar, algo muito importante. No

entanto, ainda se verifica que a ginástica era somente para rapazes, o homem

deve ser másculo, a menina uma dona de casa. Talvez um pouco de ballet e

piano?

Um plinto, um colchão, um professor a dar as suas orientações e três alunos,

cujo o objetivo é fazer uma demonstração para a plateia recheada de outras

crianças e adultos, estes últimos talvez professores e encarregados de educação.

Trata-se de um esquema, um banco sueco, virado ao contrário para

demonstrar o certo equilíbrio por parte do atleta, um impulso no plinto com

somente duas caixas e salto de pernas fletidas para depois cair no colchão em

pé e de forma equilibrada.

Estamos no salão da Voz do Operário, palco de muitas reuniões, teatros,

cinema e as flores são outras: festas de fim de ano. Os atletas ficam assim com

a certeza que a representação deles é considerada algo de muito importante.

A luminosidade é que dá um toque um pouco estranho à fotografia, pois de

facto, incide mais luz na plateia do que propriamente no palco. Será que era

esse o efeito pretendido? A luz incomodaria os atletas no seu esquema de

ginástica?

A voz de algumas imagens da Voz

29

E o equipamento… calção branco, t-shirt de cava branca, meiazinha “pé de

gesso” e sapatilha branca, não existe nikes, reebocks, oldstars, o’neiks, nem

mesmo publicidade à vodafone, Optimus e TMN, por isso podemos pressupor

que se trata de um trabalho sem qualquer tipo de patrocínios. Só o anúncio do

próximo filme que será exibido.

Do lado esquerdo, uma criança olha para o piano, no qual alguém está a tocar,

sem que ele apareça na fotografia. Não é com certeza raggae ou rap, mas

temos música ao vivo, pois não havia cassete ou DVD.

Senhores e senhoras, meninas e meninos, o espetáculo continua, vamos lá

prestar atenção.

Fotografia 10. – Troca de livros.

Também o ensino da leitura apresenta um salto. Chegou uma nova remessa de

livros para a biblioteca e a turma foi convidada a folhar as aquisições.

O ponto de focagem é a mesa. Agora, os objectos estão relacionados com o

trabalho: são livros para escolher, as flores já não são precisas para chamar a

atenção. À volta desta mesa, as crianças tomam contacto com o conteúdo, para

definir a sua escolha. Os rapazes precipitaram-se, olhando com olhos e dedos,

enquanto as raparigas aguardam, tentando ver o que poderá haver de

interessante para elas. Entre os rapazes, só uma está a folhar também. Outra já

retirou um livro, foi-se sentar e, não perdendo tempo, concentra-se na leitura

do tesouro apanhado. Ela deixa-se envolver pela história e não mais se

apercebe do que acontece à volta da mesa.

Em primeiro plano, uma indecisão. Com a cigarra (e a formiga?) já por baixo

do braço, o rapaz observa atentamente o que o colega está a ler. Talvez ainda

não decidiu se vai mesmo entrar no mundo moral de La Fontaine ou se

procura uma história que apela menos à reflexão acerca do comportamento

politicamente correto. Ainda que, nos tempos que correm, e com parte da

biblioteca da Voz do Operário no índice dos livros proibidos, talvez não ser

fácil encontrar, em cima da mesa, livros politicamente não corretos. E a

fotografia não sugere sequer o que se passa por baixo da mesa.

Cinco raparigas aguardam, tranquilamente. Sabem que os livros não se

esgotam e que com certeza também encontrarão algo que lhes poderá ajudar

para momentaneamente sair da realidade que mostram na fotografia através do

olhar do fotógrafo, para entrar na realidade das personagens mostradas pelo

autor do livro que irão escolher.

Cláudia Graça e Pascal Paulus

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Fotografia 10 – Troca de livros.

Não há professor ou professora visível. Será que está do outro lado, fixando

com um disparar da câmara que tem na mão, um momento de trabalho que

apresentará como de ensino moderno ou de Educação Nova? Quer mostrar

que tem uma rotina de se deslocar à biblioteca da escola, com a turma, para

incentivar os alunos a escolherem leitura em alternativa à prática corrente em

que leem o que lhes é apresentado, no manual, igual para todos? É isso que se

passa “por baixo da mesa”, percetível para quem consegue captar a mensagem?

A composição da fotografia transparece alguma naturalidade relacionada a

atividade. O faz de conta eventual de estar a escolher livros corresponde ao

que o espectador habituado a procurar leitura numa biblioteca ou numa

livraria, espera ver.

Continua-se, como em todas as fotografias anteriores, a notar como o trabalho

é levado a sério. A alegria do trabalho não se mostra com sorrisos…

Fotografia 11. – Colónias de férias de 1954

O contexto mudou. Estamos com a Instituição mas não estamos na

Instituição. Os acampamentos, as colónias, já eram prezados pela Educação

Nova, 40 anos antes2.

A fotografia sugere a equipa de futebol vencedora depois de um jogo em que

duas árvores de cada lado terão servido como delimitadores das balizas.

2 Ver supra, nota 1.

A voz de algumas imagens da Voz

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Os onze, embora não exatamente em fato desportivo, mostram a alegria de

quem ganhou a partida. Será que o rapaz de chapéu foi o guarda-redes ou o

capitão da equipa, que, com o seu sorriso, mostra ter escolhido os colegas

certos?

Fotografia 11. Colónias de férias de 1954

Na linha de frente, a bola, que a equipa se apropriou e que a levou à satisfação

mostrada. O rapaz que a segura, demonstra a convicção da tarefa bem

executada. Os jogadores da segunda fila cresceram para a fotografia. Têm uma

pose que ao mesmo tempo mostra alguma descontração, dizendo que sabem

que foram os melhores, mas que isto é uma sabedoria tranquila. O grupo

mostra uma certa bonomia, não tem nada de arrogante. Ainda não tinham

modelos multimilionários…

Dois sorrisos rasgados, em primeira fila, atraem alguma luz. O espectador é

influenciado por estes dois sorrisos e é fácil imaginar como é bom estar em

colónia de férias entre colegas, longe de casa e das ocupações do dia a dia, no

meio da natureza.

Quando mostrar aos outros, que não estiveram lá, este momento congelado do

decorrer da colónia, será fácil convencê-lo: “Para a próxima colónia de férias,

vê se também nos acompanha.”

Por trás do grupo, vislumbramos duas tendas, que ajudam soltar a imaginação.

Dormir nelas, acordar de maneira diferente, com a luz pálida do sol a entrar

através da lona a alterar o jogo de sombras e claridade que é muito diferente do

que se vê em casa, é algo que valerá a pena guardar no sorriso, quando voltar

Cláudia Graça e Pascal Paulus

32

para a Instituição. Quem sabe, se o sorriso não ajudará a razão a melhor

iluminar o trilho à conquista do saber.

A voz de algumas imagens da Voz

33

Uma palavra para terminar.

Escolhemos simplesmente onze fotografias.

Onze fotografias que têm cada uma por si algo de publicitário, quando

olhamos para cada uma dela no contexto e na época em que foi concebida.

Todas elas convencem ou tentam convencer quem o tem que ser, benfeitores

ou utilizadores, que de facto o futuro dos filhos dos operários está nesta

instituição de instrução e beneficência.

O olhar crítico do pedagogo da época tem um peso muito relativo, seja qual

for a época. O pedagogo, com ideias revolucionárias, está fora do “main-

streaming”. A escola de massas massifica a alternativa, que para poder ser

acolhida pelo público-alvo, não pode ser muito alternativa à escola criticada,

sob pena de não chegar a ser expressa. A direção de uma escola privada, seja

ela direcionada para classes populares ou burgueses, tem que construir uma

imagem de escola que é reconhecível. O pedagogo de vanguarda consegue, na

melhor das hipóteses, lançar pequenas iniciativas para um público restrito. Ou,

quando o contexto político o permite, poderá investir na escola pública ou

semipúblico.

O olhar publicitário e o olhar crítico do pedagogo influenciaram-nos na

história que aqui contamos. Mais do que contar uma história possível ou parte

da história da Voz do Operário – o que nunca foi a nossa intenção – quisemos

produzir uma reflexão sob forma de história, esperando despoletar com isso

outras reflexões.

A voz de algumas imagens da Voz

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Bibliografia

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quarto do século XX”. In Análise psicológica série V nº 3. Lisboa.

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