A VOZ DO CLIENTE NO DESENVOLVIMENTO DE … · 3.4 Matriz de Seleção de Ferramentas 50 ......

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ UNIDADE DE CURITIBA DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE MATERIAIS - PPGEM SÉRGIO AUGUSTO VANALLI A VOZ DO CLIENTE NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO MÉTODO SD-VOC APLICADO A UM PRODUTO DE TELECOMUNICAÇÃO CURITIBA JUNHO - 2003

Transcript of A VOZ DO CLIENTE NO DESENVOLVIMENTO DE … · 3.4 Matriz de Seleção de Ferramentas 50 ......

  • CENTRO FEDERAL DE EDUCAO TECNOLGICA DO PARAN

    UNIDADE DE CURITIBA

    DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

    E DE MATERIAIS - PPGEM

    SRGIO AUGUSTO VANALLI

    A VOZ DO CLIENTE NO DESENVOLVIMENTO DE

    PRODUTO

    MTODO SD-VOC APLICADO A UM PRODUTO DE TELECOMUNICA O

    CURITIBA

    JUNHO - 2003

  • SRGIO AUGUSTO VANALLI

    A VOZ DO CLIENTE NO DESENVOLVIMENTO DE

    PRODUTO

    MTODO SD-VOC APLICADO A UM PRODUTO DE TELECOMUNICA O

    Dissertao apresentada como requisito parcial

    obteno do ttulo de Mestre em Engenharia

    Mecnica, do Curso de Ps-Graduao em

    Engenharia Mecnica e de Materiais, do

    Departamento de Pesquisa e Ps-Graduao,

    da Unidade de Curitiba, do CEFET-PR.

    Orientador : Prof. Carlos Cziulik, PhD

    CURITIBA

    MAIO - 2003

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    TERMO DE APROVAO

    SRGIO AUGUSTO VANALLI

    A VOZ DO CLIENTE NO DESENVOLVIMENTO DE

    PRODUTO

    MTODO SD-VOC APLICADO A UM PRODUTO DE TELECOMUNICA O

    Dissertao de Mestrado aprovada como requisito parcial obteno do grau de

    Mestre em Engenharia Mecnica, do Curso de Ps-Graduao em Engenharia

    Mecnica e de Materiais, do Departamento de Pesquisa e Ps-Graduao, da

    Unidade de Curitiba, do CEFET-PR, pela seguinte banca examinadora:

    Orientador : Prof. Carlos Cziulik, PhD

    Departamento de Engenharia Mecnica, CEFET-PR

    Prof. Andr Ogliari, DEng

    Departamento de Engenharia Mecnica, UFSC

    Prof. Kazuo Hatakeyama, PhD

    Departamento de Engenharia de Produo Civil, CEFET-PR

    Prof. Virginia Souza de Carvalho Borges Kistmann, DSc Departamento de Design , UFPR

    Curitiba, 30 de junho de 2003.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a:

    DEUS, pela beno da vida,

    Ediclia , minha esposa amada e companheira, pelo seu sorriso e luz na minha vida,

    Devanir e Nereide , meus amados pai e me, por tudo que tenho, pelos valores

    recebidos e exemplo de dedicao ao trabalho,

    Carlos Cziulik , orientador, pela incansvel dedicao e empenho.

    Tambm agradeo a:

    Janncio Medeiros Neto, pelo incentivo realizao da pesquisa,

    Piekarski, Rosa e Zeni, colegas de mestrado, pela cumplicidade e descontrao,

    Direo e colegas da FURUKAWA, pelo grande incentivo e apoio,

    CEFET-PR, por acolher o desenvolvimento da pesquisa.

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    Quem quiser se orgulhar, que se orgulhe

    daquilo que o Senhor faz 1Co 1.30

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) i

    RESUMO

    A sobrevivncia e prosperidade das empresas esto diretamente ligadas ao

    sucesso comercial de seus novos produtos. Para que este objetivo seja atingido,

    necessrio que se conhea as necessidades e desejos dos clientes para o

    desenvolvimento de uma soluo que tenha valor significativo para eles. No entanto,

    as etapas iniciais do processo de desenvolvimento, que incluem a identificao das

    demandas dos clientes, contm as atividades menos ou piores executadas em todo

    o processo. Apesar da existncia de inmeras ferramentas aplicveis ao

    entendimento do cliente, seu uso estruturado pouco difundido. A pesquisa

    apresenta um modelo de processo para a aquisio, interpretao e desdobramento

    das necessidades e desejos de clientes para o desenvolvimento de um produto, isto

    , a Voz do Cliente (VOC). Este modelo estabelecido atravs de uma perspectiva

    ampla, orientada por objetivos especficos para cada uma de suas sete fases, sendo

    operacionalizado pelas diversas ferramentas j disponveis, permitindo sua utilizao

    em qualquer produto e ambiente de desenvolvimento. A aplicao do modelo

    permite a coleta e processamento de informaes dos clientes de forma estruturada,

    fornecendo um conjunto maior e mais abrangente de necessidades e desejos

    relativos a um produto.

    Palavras-chave

    Voz do cliente, necessidades e desejos do cliente, desenvolvimento de produto,

    etapas iniciais do desenvolvimento, incio difuso.

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) ii

    ABSTRACT

    Survival and prosperity of the enterprises are closely related to the commercial

    success of their new products. To accomplish this goal, it is necessary to understand

    the customers needs and wants in order to develop an appropriate solution that has

    a significant value to them. Nevertheless, the initial steps of the product development,

    which includes the identification of customers demands, encompass the least or

    worst executed activities in the whole process. Despite the availability of innumerous

    applicable tools to the understanding of the customer, their structured use is little

    spread. The research depicts a process model for the acquisition, interpretation and

    deployment of customers needs and wants for the development of a product, i. e, the

    Voice of the Customer (VOC). This model is established in a broad perspective,

    guided by specific goals for each of its seven phases, and is implemented by the

    available tools, allowing its usage with any product and development environment.

    The usage of the model allows the collection and processing of customers

    information in a structured way, providing a bigger and broader set of customers

    needs and wants regarding a product.

    Keywords

    Voice of the customer, customer needs and wants, product development, initial

    stages of development, Fuzzy Front End.

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) iii

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS i RESUMO i ABSTRACT ii SUMRIO iii LISTA DE FIGURAS vi LISTA DE QUADROS viii LISTA DE TABELAS x LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xi 1 INTRODUO 1

    1.1 Justificativa 2 1.2 Objetivos 2 1.3 Hipteses 3 1.4 Mtodo 3 1.5 Limitaes da pesquisa 3 1.6 Organizao do trabalho 4

    2 A CAPTURA DA VOZ DO CLIENTE: CONTEXTUALIZAO 5 2.1 Era do Progresso 5

    2.1.1 Competitividade 5

    2.1.2 Inovao 7 2.2 Clientes 8

    2.2.1 Tipos de clientes 8

    2.2.2 Papis de clientes 9

    2.2.3 Comportamento dos clientes 10 2.3 Determinantes do comportamento 11

    2.3.1 Necessidades e desejos 11

    2.3.2 Valores 12

    2.3.3 Lacuna entre valores 15 2.4 Desenvolvimento de produtos 17

    2.4.1 Categorias de desenvolvimento de produtos 17

    2.4.2 Processo 18

    2.4.3 Processo de desenvolvimento de produto 19

    2.4.4 Modelos de processos de projetos 22

    2.4.5 Atividades crticas 26

    2.4.6 Fuzzy Front End 28

    2.4.7 Voz do cliente 32

    2.4.8 Mtodos e ferramentas disponveis 33

    2.4.9 Seleo de ferramentas 42

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) iv

    2.5 Consideraes finais 43 3 MODELO SETE DEGRAUS PARA A VOZ DO CLIENTE (SD-VOC) 44

    3.1 Macro processo de desenvolvimento 44 3.2 Fuzzy Front End 45 3.3 Sete Degraus para a Voz do Cliente (SD-VOC) 48 3.4 Matriz de Seleo de Ferramentas 50 3.5 Descrio, validao e aplicao do SD-VOC 51

    4 VALIDAO DO MODELO SD-VOC 53 4.1 Necessidade de validao 53 4.2 Mtodo de validao 53 4.3 Descrio do produto 53 4.4 Seleo de ferramentas 54

    4.4.1 Anlise preliminar da integrao de ferramentas 56 4.5 Descrio das ferramentas selecionadas 57

    4.5.1 Foco 58

    4.5.2 Coleta 61

    4.5.3 Interpretao 64

    4.5.4 Estruturao 65

    4.5.5 Quantificao 67

    4.5.6 Verificao 68

    4.5.7 Desdobramento 68 4.6 Aplicao do modelo em TEBT 69 4.7 Anlise da validao do modelo 80

    5 APLICAO DO SD-VOC 81 5.1 Objetivo da aplicao 81 5.2 Descrio do experimento 81 5.3 Seleo e descrio do produto comercial 81 5.4 Condies experimentais 83

    5.4.1 Cenrio experimental 83

    5.4.2 Pessoal envolvido 83 5.5 Seleo de Ferramentas 84 5.6 Descrio das ferramentas selecionadas 85 5.7 Lista de necessidades e desejos a partir de projetistas 85 5.8 Aplicao do SD-VOC na TMT 86

    5.8.1 Foco 86

    5.8.2 Coleta 88

    5.8.3 Interpretao 91

    5.8.4 Estruturao 92

    5.8.5 Quantificao 94

    5.8.6 Verificao 95

    5.8.7 Desdobramento 96

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) v

    5.9 Anlise dos resultados 97 6 CONCLUSES E RECOMENDAES 99

    6.1 CONCLUSES 99 6.2 RECOMENDAES PARA TRABALHOS FUTUROS 101

    REFERNCIAS 102 OBRAS CONSULTADAS 106 APNDICE A REGISTROS DO PROCESSO 109 APNDICE A1 12 QUESTES 109 APNDICE A2 MORFOLOGIA DOS CLIENTES 110 APNDICE A3 PERFIL DO CLIENTE 111 APNDICE A4 MATRIZ DE NECESSIDADES DE CLIENTES 112 APNDICE A5 PERFIL DE PRODUTO 113 APNDICE A6 MATRIZ DE SELEO DE CLIENTES 114 APNDICE A7 MATRIZ DE SELEO DE CLIENTES (ENTREVISTADOS) 115 APNDICE A8 RVORE FUNCIONAL DO PRODUTO 116 APNDICE A9 GUIA DE ENTREVISTA 117 APNDICE A10 ANOTAES DE ENTREVISTA 119 APNDICE A11 TABELA DE VERBATIM DE CLIENTE 120 APNDICE A12 DIAGRAMA DE AFINIDADES 122 APNDICE A13 DIAGRAMA DE AFINIDADES 123 APNDICE A14 DIAGRAMA DE RELAES 124 APNDICE A15 DIAGRAMA DE RELAES: APARNCIA 125 APNDICE A16 DIAGRAMA DE RELAES: FUNCIONALIDADE 126 APNDICE A17 DIAGRAMA DE RELAES: INSTALAO 127 APNDICE A18 DIAGRAMA DE RELAES: LIMPEZA 128 APNDICE A19 DIAGRAMA DE RELAES: MONTAGEM 129 APNDICE A20 DIAGRAMA DE RELAES: SEGURANA 130 APNDICE A21 DIAGRAMA DE RELAES: MERCADO 131 APNDICE A22 DIAGRAMA DE RVORE 132 APNDICE A23 HIERARQUIZAO SIMPLES 133 APNDICE A24 QUESTIONRIO DE KANO 135 APNDICE A25 TABELA DA VOZ DO CLIENTE 139 APNDICE A26 PRIORIZAO DAS DEMANDAS 142 APNDICE A27 QUANTIDADE DE INFORMAO GERADA 145 APNDICE A28 VOZ DO ENGENHEIRO 148 APNDICE A29 COMPARATIVO VOC E VOE 149 APNDICE A30 COMPARATIVO DETALHADO VOC E VOE 150 APNDICE B ARTIGO ICED 2003 154

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) vi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Modelo de Valor para Cliente, segundo van der Haar, Kemp & Omta

    (2001) 16

    Figura 2 Categoria de produtos, adaptado de Griffin & Page (1996)

    18

    Figura 3 Modelo bsico de processo 19

    Figura 4 Modelo Stage-Gate (estgio-portal) para desenvolvimento de produtos,

    adaptado de Cooper (2001) 20

    Figura 5 - Processo de planejamento, segundo Pahl & Beitz (1996) 24

    Figura 6 Processo de planejamento e projeto, segundo Pugh (1991) 25

    Figura 7 Fuzzy Front End e Processo de Desenvolvimento de Produto 28

    Figura 8 - Procedimento para planejamento de produto, adaptado de Pahl & Beitz

    (1996) 29

    Figura 9 Fase de especificao de engenharia, adaptado de Ullman (1997) 30

    Figura 10 Modelo de processo de VOC, adaptado de Shillito (2001) 35

    Figura 11 Macro processo de desenvolvimento 45

    Figura 12 Visualizao do Fuzzy Front End 46

    Figura 13 Proposta de Sete Degraus para a VOC (SD-VOC) 50

    Figura 14 Roteiro de avaliao do SD-VOC 52

    Figura 15 - Terminal eltrico de baixa tenso (TEBT) 54

    Figura 16 Ferramentas selecionadas para a validao do SD-VOC 56

    Figura 17 Tomada Modular de Telecomunicao (TMT) 82

    Figura 18 Ferramentas selecionadas para a aplicao do SD-VOC 84

    Figura 19 Extrato da VOE, lista de necessidades e desejos de clientes a partir de

    projetistas 85

    Figura 20 Matriz de Necessidades de Clientes para a TMT 88

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) vii

    Figura 21 Matriz de Seleo de Clientes para a TMT 89

    Figura 22 rvore Funcional da TMT 90

    Figura 23 Extrato da Tabela de Verbatins de Clientes 91

    Figura 24 Diagrama de Afinidades para a TMT. 92

    Figura 25 Diagrama de Relaes para a TMT. 93

    Figura 26 Diagrama de rvore para a TMT. 94

    Figura 27 Extrato da Tabela da Voz do Cliente. 96

    Figura 28 Extrato da tabela comparativa da quantidade de informaes da VOC e

    VOE. 97

    Figura 29 Extrato da tabela comparativa da VOC e VOE. 98

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) viii

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Influncias sobre as necessidades e desejos, segundo Sheth, Mitta &

    Newman (2001) 11

    Quadro 2 Papis dos clientes e valores 14

    Quadro 3 Atividades principais do processo de desenvolvimento, segundo Cooper (2001) 22

    Quadro 4 Ferramentas aplicveis fase de Foco 36

    Quadro 5 Ferramentas aplicveis fase de Coleta 37

    Quadro 6 Ferramentas aplicveis fase de Interpretao 39

    Quadro 7 Ferramentas aplicveis fase de Estruturao 39

    Quadro 8 Ferramentas aplicveis fase de Quantificao 40

    Quadro 9 Ferramentas aplicveis fase de Verificao 41

    Quadro 10 Ferramentas aplicveis fase de Desdobramento 41

    Quadro 11 Ferramentas aplicveis fase de Monitorao 41

    Quadro 12 Descrio da ferramenta 12 Questes 58

    Quadro 13 Descrio da ferramenta Morfologia dos Clientes 59

    Quadro 14 Descrio da ferramenta Perfil do Cliente 59

    Quadro 15 Descrio da ferramenta Matriz de Necessidades dos Clientes 60

    Quadro 16 Descrio da ferramenta Perfil do Produto 61

    Quadro 17 Descrio da ferramenta Matriz de Seleo de Clientes 61

    Quadro 18 Descrio da ferramenta rvore Funcional do Produto 62

    Quadro 19 Descrio da ferramenta Guia de Entrevista 63

    Quadro 20 Descrio da ferramenta Visita ao Cliente 63

    Quadro 21 Descrio da ferramenta Tabela de Verbatins do Cliente 64

    Quadro 22 Descrio da ferramenta Diagrama de Afinidades 65

    Quadro 23 Descrio da ferramenta Diagrama de Relaes 65

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) ix

    Quadro 24 Descrio da ferramenta Diagrama de rvore 66

    Quadro 25 Descrio da ferramenta Hieraquizao Simples 67

    Quadro 26 Descrio da ferramenta Pesquisa de Validao 68

    Quadro 27 Descrio da ferramenta Tabela da Voz do Cliente 69

    Quadro 28 Descrio dos dados e resultados da fase foco, objetivo 1 70

    Quadro 29 Descrio dos dados e resultados da fase foco, objetivo 2 71

    Quadro 30 Descrio dos dados e resultados da fase coleta, objetivo 1 72

    Quadro 31 Descrio dos dados e resultados da fase coleta, objetivo 2 73

    Quadro 32 Descrio dos dados e resultados da fase coleta, objetivo 3 74

    Quadro 33 Descrio dos dados e resultados da fase interpretao 75

    Quadro 34 Descrio dos dados e resultados da fase estruturao 76

    Quadro 35 Descrio dos dados e resultados da fase quantificao 77

    Quadro 36 Descrio dos dados e resultados da fase verificao 78

    Quadro 37 Descrio dos dados e resultados da fase desdobramento 79

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) x

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Qualidade e grau de execuo das etapas do processo de

    desenvolvimento, adaptado de Cooper (2001) 27

    Tabela 2 Matriz de Seleo de Ferramentas (MSF) 51

    Tabela 3 Matriz de Seleo de Ferramentas para o desenvolvimento TEBT 55

  • PPGEM Engenharia da Manufatura (2003) xi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    COPC - Customer Oriented Product Concepting CQM - Center for Quality of Management FFE - Fuzzy Front End GPS - Global Positioning System (Sistema Global de Posicionamento) INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia MSF - Matriz de Seleo de Ferramentas NHP - Nested Hierarchy Process (Processo de hieraquia casada) QFD - Quality Function Deployment (Desdobramento da Funo Qualidade) SD-VOC - Sete Degraus para a Voz do Cliente TEBT - Tomada Eltrica de Baixa Tenso TMT - Tomada Modular de Telecomunicao VOC - Voice of the Customer (Voz do Cliente) VOE - Voice of the Engineer (Voz do Engenheiro)

  • Captulo 1 Introduo 1

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    1 INTRODUO

    O ambiente em que as empresas encontram-se inseridas nas ltimas

    dcadas tem sido de elevada competitividade, onde as abordagens utilizadas para

    sobreviver tm sido caracterizadas por redues de custos, reestruturaes,

    comrcio eletrnico, fuses e aquisies. No entanto, para gerir esta nova realidade,

    as empresas tem tido que se reinventar continuamente e precisando aprender a se

    colocar no papel do cliente (Hamel, 2002).

    Aliada s atividades estruturais de melhoria de eficincia, a gerao de

    receita atravs de novos produtos, tornou-se um campo de rduo gerenciamento

    pelas empresas. Um comparativo entre produtos lanados no mercado americano,

    no incio dos anos 70 em relao ao fim dos anos 90 (Trout, 2000) indicou uma

    elevao de cinco a seis vezes nos tipos disponibilizados ao mercado. Em alguns

    casos, este crescimento foi ainda mais drstico. A variedade de modelos de tnis de

    corrida h 30 anos atrs apresentava cinco tipos, sendo que no final dos anos 90

    havia 285.

    O lanamento de produtos que sejam sucessos comerciais pode trazer

    benefcios significativos. Um estudo entre vrias empresas (Cooper, 2001) mostrou

    que as melhores tm cerca de 50% de suas vendas relacionadas a novos produtos,

    enquanto que as demais atingem apenas metade deste valor. Alm disto, a

    lucratividade das melhores mais que o dobro. Outros aspectos relevantes so o

    seu elevado retorno dos investimentos, tempo para este retorno mais reduzido e

    maiores participaes de mercado.

    Para que os novos produtos tenham aceitao no mercado, beneficiando de

    forma estratgica as empresas, fundamental compreender quais as necessidades

    e desejos dos clientes. A partir deste conhecimento, possvel realizar a sua

    transformao atravs do processo de desenvolvimento de produtos das empresas.

    Paradoxalmente, as etapas iniciais do desenvolvimento so as que mais apresentam

    problemas, incluindo a ineficincia ou ausncia de mtodos para adquirir, processar

    e desdobrar os elementos significativos para os clientes em relao aos produtos a

    serem desenvolvidos (Cooper, 2001).

  • Captulo 1 Introduo 2

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    1.1 Justificativa

    O desenvolvimento de um produto compreende uma srie de fases, que se

    inicia na identificao de oportunidades e gerao de idias de solues para os

    clientes, indo at o lanamento e monitoramento do desempenho de um produto que

    atenda s necessidades e desejos destes clientes.

    As etapas iniciais de desenvolvimento de um produto so qualitativamente

    piores executadas nas empresas (Cooper, 2001), sendo muitas atividades

    negligenciadas completamente, isto , no executadas. Entre estas etapas,

    encontra-se a identificao das necessidades e desejos dos clientes relativos a um

    produto.

    Como em qualquer processo, quando o elemento de entrada deficiente, sua

    sada provavelmente ser inadequada ou, no mnimo, comprometida. O mesmo vale

    para o processo de desenvolvimento de produto. Uma identificao inadequada das

    necessidades e desejos dos clientes pode levar ao estabelecimento de uma soluo

    que falhe em enderear aspectos valorizados pelos clientes.

    Aliada a aplicao deficiente nas empresas, a literatura apresenta pouca

    orientao quanto a mtodos a serem empregados nesta identificao.

    A necessidade das empresas fornecerem solues que os clientes valorizem e,

    portanto, seja um sucesso comercial, de extrema relevncia para a sua

    sobrevivncia. Desta forma, se faz necessrio o estabelecimento de um mtodo que

    se insira no processo de desenvolvimento de produtos e que fornea a orientao na

    busca do entendimento das necessidades e desejos dos clientes.

    A presente pesquisa busca apresentar a importncia das etapas iniciais do

    desenvolvimento de produto e evidenciar a falha que ocorre nesta fase difusa,

    quanto ao rigor sistemtico do tratamento das necessidades e desejos dos clientes.

    1.2 Objetivos

    Pretende-se propor um mtodo objetivo para preencher a lacuna existente no

    incio do processo de desenvolvimento de produtos. Este mtodo tem por premissa

    ser abrangente o suficiente para aplicao de acordo com os recursos disponveis

  • Captulo 1 Introduo 3

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    pela empresa, sendo mais eficiente que um processo no-estruturado de

    identificao de necessidades e desejos de clientes.

    1.3 Hipteses

    A investigao busca demonstrar que o uso de um processo estruturado de

    coleta e interpretao de informaes, desde a identificao dos clientes at o

    fornecimento da lista de necessidades e desejos dos clientes para desenvolvimento

    de um produto, permite o fornecimento de um conjunto de informaes com as

    seguintes caractersticas:

    1. Uma quantidade de informaes gerada pelo processo estruturado maior que o

    processo no estruturado;

    2. Um conjunto que abrange questes que no so levantadas pelo processo no

    estruturado.

    1.4 Mtodo

    O atendimento aos objetivos propostos e avaliao das hipteses

    estabelecidas foi realizada em trs etapas:

    1. Reviso bibliogrfica referente aos clientes, ao processo de desenvolvimento e

    projeto de produto e mtodos e ferramentas associadas necessidades e

    desejos de clientes;

    2. Estabelecimento de um modelo de processo de aquisio, processamento e

    desdobramento das necessidades e desejos de clientes, utilizando um referencial

    terico identificado na reviso bibliogrfica, validando-o atravs de um estudo de

    caso;

    3. Aplicao do modelo de processo para um problema comercial e comparando-o

    a um processo no-estruturado.

    1.5 Limitaes da pesquisa

    O campo de investigao proposto trata com grande quantidade de

    informaes de elevado teor subjetivo, como as expresses de sentimentos e

    opinies dos clientes, da estruturao destas informaes, das priorizaes dos

    elementos, entre outros. Estas informaes so obtidas e tratadas atravs de

  • Captulo 1 Introduo 4

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    determinadas ferramentas que fazem a operacionalizao do mtodo proposto.

    Apesar do resultado final da utilizao do mtodo ter relao direta com a qualidade

    da execuo das ferramentas, a investigao no abordou a eficincia destas

    ferramentas em configuraes distintas de usurios e recursos.

    Entende-se que a anlise dos resultados finais continua vlida, uma vez que

    esta realizada de forma relativa, comparando-se o processo estruturado e com o

    no-estruturado, fazendo-se uso dos mesmos recursos para os dois casos.

    1.6 Organizao do trabalho

    No primeiro captulo feita a contextualizao, sendo expostas justificativas,

    objetivos e hipteses da pesquisa. Alm disto, apresentado o mtodo de

    investigao utilizado e as limitaes do trabalho.

    A fundamentao terica discutida no segundo captulo, onde se expe o

    cenrio em que as empresas devem sobreviver e prosperar nos dias atuais. Os

    tipos, papis e comportamento dos clientes so avaliados, assim como os fatores

    determinantes para seu comportamento. Categorias de desenvolvimento de

    produtos e os processos estabelecidos na literatura so revisados. Ainda no captulo

    dois, exploram-se as etapas iniciais do desenvolvimento, apresentando as lacunas

    existentes em relao identificao das necessidades e desejos dos clientes. Uma

    ampla reviso bibliogrfica apresentada em relao aos mtodos e ferramentas

    disponveis.

    No captulo trs a interpretao do autor para as atividades contidas nas

    etapas iniciais do desenvolvimento apresentada, assim como a descrio do

    modelo de processo proposto para a aquisio, processamento e desdobramento

    das necessidades e desejos dos clientes.

    Uma validao do modelo proposto realizada no captulo quatro atravs de

    um estudo de caso, utilizando-o para descrever as ferramentas aplicveis.

    No captulo cinco o modelo efetivamente implementado e os resultados so

    apresentados.

    No captulo seis as concluses e recomendaes relativas ao modelo de

    processo proposto so descritas.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 5

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    2 A CAPTURA DA VOZ DO CLIENTE: CONTEXTUALIZAO

    2.1 Era do Progresso

    As ltimas dcadas podem ser chamadas de Era do Progresso. Neste

    perodo, grandes corporaes concentraram-se em desenvolver sistematicamente

    suas operaes atravs da utilizao de disciplinas de planejamento rigoroso,

    melhoria contnua, controle estatstico de processo e qualidade total (Hamel, 2001).

    A grande estabilidade das corporaes associadas s baixas taxas de

    mudanas do ambiente econmico, permitia s empresas concentrarem-se na busca

    da eficincia de suas operaes. No entanto, o cenrio e as foras vigentes se

    alteraram significativamente a partir dos anos 90.

    Uma destas foras a expectativa dos clientes. Ao longo dos anos, eles tm

    sido acostumados com uma crescente variedade, disponibilidade e acessibilidade de

    produtos. Alm disto, muitos servios tem sido ofertados com maior velocidade,

    eficincia e excelncia. A melhoria do desempenho destes atributos tende a gerar a

    demanda da melhoria de produtos concorrentes. Este ciclo deve ter uma maior

    intensidade nos prximos anos (Case, 2002).

    Um reflexo deste novo cenrio pode ser observado pelos dados referentes s

    500 maiores empresas brasileiras, que tiveram um aumento em seu faturamento de

    5,8% em 2001 em comparao com 2000. Entretanto, os lucros decresceram de 8,4

    milhes de dlares para 3,6 milhes no mesmo perodo (Santos & Carvalho, 2002),

    evidenciando a diminuio das margens de lucro das empresas em funo da

    competitividade.

    As atividades de todas as empresas, sejam elas de manufatura ou servios,

    pblicas ou privadas, tm sido obrigadas a se adequar a este novo cenrio, exigido-

    se alteraes profundas no modo em que elas operam e, portanto, necessitando um

    conhecimento profundo e excelncia em cada aspecto associado ao negcio, se

    quiserem ser respeitadas e lucrativas.

    2.1.1 Competitividade

    O desafio das empresas nesta virada de sculo sobreviver intensa

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 6

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    velocidade e competio. Para tanto, o objetivo mais importante atingir, manter,

    defender e renovar a vantagem competitiva (Palh & Beitz, 1996).

    O cenrio atual apresenta condies que tornam as estratgias das empresas

    e seus produtos cada vez mais rapidamente obsoletos. O aprimoramento constante

    da tecnologia, a facilitao do comrcio internacional, o acirramento da

    competitividade e as alteraes mais freqentes das necessidades e desejos dos

    clientes esto levando os produtos obsolescncia a um ritmo mais elevado. O ciclo

    de vida dos produtos est se tornando cada vez mais curto (Cooper, 1998). Nos

    anos 80, a indstria de computadores pessoais registrava um ciclo de vida de cerca

    de um ano. Em 1997, este foi reduzido para cerca de trs meses (Cole, 2001).

    Tecnologias de materiais, produo, comunicao, transporte, entre outras,

    permitem cada vez mais o desenvolvimento e a disseminao de produtos e

    servios diferenciados, com uma freqncia crescentemente maior. Estas condies

    geram uma demanda de atendimento de necessidades e desejos de clientes de

    forma mais dinmica.

    Com a presso de consumidores para o fornecimento de produtos e servios

    adequados s suas demandas (freqentemente mutveis), as empresas que tm a

    percepo de que a sobrevivncia de seu negcio est em jogo caso se limitem a

    viver de glrias passadas, tm buscado uma atitude que privilegie a velocidade e a

    mudana como arma competitiva central (Cooper, 2001). A direo da Hewlett-

    Packard afirma que a janela de superioridade tecnolgica da maioria de seus

    produtos menor que seis meses (van der Haar, Kemp & Omta, 2001).

    A velocidade acelerada no desenvolvimento de produtos para o mercado traz

    uma srie de benefcios:

    Um aumento da vantagem competitiva, atendendo s necessidades e mudando

    mercados mais rapidamente que a concorrncia;

    Aumento da rentabilidade, uma vez que o faturamento de uma venda realizado

    mais cedo;

    Diminuio de surpresas, pois as necessidades demandadas pelo mercado se

    alteram com o tempo.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 7

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    evidente que os benefcios sero para aqueles que atendem s

    necessidades dos mercados de forma mais rpida e de acordo com as necessidades

    e desejos esperados.

    2.1.2 Inovao

    Torna-se imperativo a sustentao continuada de uma vantagem competitiva

    para que as empresas tenham sucesso, levando-se em conta a composio de

    elementos que definem o cenrio presente.

    As foras vigentes no cenrio atual so (Hamel, 2002):

    Mudanas descontnuas e abruptas, ocorrendo de forma e freqncia cada vez

    mais inesperadas. Isto , o momento destas mudanas e sua intensidade tm

    sido cada vez menos previsveis;

    Capitalismo gil, onde o nvel de informao sobre os produtos e a facilidade a

    seu acesso tm sido cada vez mais aumentado para os consumidores;

    Novos competidores, com estratgias inovadoras e arrojadas. Como novos

    concorrentes no mercado, estas empresas devem se diferenciar para conseguir

    uma participao que sustente o negcio;

    Convergncia de estratgias, com consultores disseminando as melhores

    prticas dos setores cada vez em menor tempo e custo. A inovao tecnolgica e

    de gerenciamento proporciona um ativo que rapidamente compartilhado pela

    concorrncia, deixando de ser uma vantagem competitiva;

    Menor ciclo de vida de produtos, devido demanda dinmica dos consumidores

    estimulada pela evoluo tecnolgica, de informao e concorrncia.

    Desta forma, o mundo dos negcios comea a ser delineado por dois tipos

    distintos de empresas:

    as que esto baseadas apenas na melhoria contnua, desenvolvendo seus

    processos e produtos de forma lenta e gradual;

    as que conseguem dar um salto para a inovao no-linear, tendo a inovao

    como um processo continuado e sustentado (Hamel, 2002).

    Hamel (2002) afirma que a maioria das empresas j exauriu suas

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 8

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    possibilidades de aumentar os lucros pela reduo de custo, reengenharia ou

    melhoria de desempenho. Em tal ambiente de lucratividade decrescente, o

    desenvolvimento de produtos de sucesso torna-se estratgico, formando a base da

    longevidade dos negcios.

    Este desenvolvimento deve ter como orientadores os clientes. Portanto,

    fundamental entender quais os valores que estes buscam ou necessitam, permitindo

    assim o desenvolvimento dos produtos e servios que podero satisfazer suas

    necessidades e desejos e, por conseqncia, permitir lucratividade para a empresa.

    2.2 Clientes

    O termo cliente se refere a uma empresa ou indivduo que recebe ou usa um

    produto ou servio. O cliente pode ser um membro ou parte de outra empresa, da

    mesma empresa ou ainda, um usurio final (Blazey, 2002). O cliente desempenha

    um papel fundamental na consumao de uma transao (Sheth, Mitta & Newman,

    2001), definindo seu rumo e concretizao.

    Geralmente, o termo consumidor tem sido utilizado para se referir apenas aos

    mercados de bens de consumo, sendo o termo cliente usado para o mercado

    industrial. Apesar de diferenas sutis, nesta pesquisa ser utilizado o termo cliente

    para se referir a ambos os casos.

    H cerca de 30 anos, Peter Drucker afirmou que a finalidade fundamental de

    uma empresa criar e manter clientes felizes (Drucker, 2001). Este objetivo central

    tem como desdobramento direto a manuteno de uma relao que seja benfica

    para ambas as partes, atendendo s necessidades e desejos dos clientes e um

    retorno financeiro adequado empresa.

    Desta forma, todo o esforo deve ser direcionado para criar condies que

    permitam que a empresa entenda quais elementos so necessrios para que se crie

    uma base significativa de clientes e quais elementos os manter com elevado grau

    de satisfao com os produtos e servios consumidos ou utilizados, mantendo

    relaes de elevada lealdade em relao s empresas.

    2.2.1 Tipos de clientes

    Os clientes podem ser divididos em diversas tipologias, sendo a mais bsica:

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 9

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    Organizaes: quando estes so organizaes. Incluem lojas de venda no

    varejo, fabricantes de mquinas, produtores de alimentos, montadoras de

    automveis, entre outros.

    Indivduos: quando estes so consumidores diretos de bens de consumo ou

    servios. Incluem pacientes de um hospital, motoristas de carros de passeio, uma

    criana e seu brinquedo, uma dona de casa e seu liquidificador, entre outros.

    2.2.2 Papis de clientes

    Uma transao de mercado requer pelo menos trs papis desempenhados

    pelos clientes (Sheth, Mitta & Newman, 2001):

    Usurio: indivduo que efetivamente consome ou utiliza o produto ou recebe os

    benefcios do servio (p.ex. uma cozinheira preparando um bolo com uma

    batedeira);

    Pagante: pessoa que financia a compra (p.ex. o pai que compra um carro para o

    filho);

    Comprador: aquele que participa da aquisio do produto no mercado (p.ex. o

    funcionrio do departamento de compras que viabiliza a aquisio de uma matria

    prima).

    Em muitas situaes um mesmo indivduo pode desempenhar mais de um

    papel:

    Usurio pagante, mas no comprador (p.ex. uma secretria adquire material de

    escritrio que usado e pago por seu chefe);

    Usurio comprador, mas no pagante (p.ex. adolescente que compra um

    celular e o pai paga por ele);

    Pagante comprador, mas no usurio (p.ex. pai que compra um jogo para

    filho);

    Usurio comprador e pagante (p.ex. executivo que compra para seu uso um

    novo computador porttil).

    Esta especializao de papis pode ser resultado de uma srie de fatores

    (Sheth, Mitta & Newman, 2001):

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 10

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    Falta de habilidade do interessado (p.ex. uma empresa contrata um consultor

    para identificar o melhor maquinrio para um novo processo de produo);

    Indisponibilidade de tempo (p.ex. executivo delega a secretria a deciso de

    compra de material de escritrio);

    Falta de poder de compra: (p.ex. aquisio centralizada em um departamento

    para obter vantagem de economia de escala);

    Falta de acesso pelo usurio (p.ex. barreira de lngua na importao de um

    equipamento);

    Produto caro demais (p.ex. compra de um carro pelo filho, mas pai que paga);

    Produto subsidiado ou grtis (p.ex. caf oferecido em posto de abastecimento

    em uma rodovia).

    2.2.3 Comportamento dos clientes

    A determinao dos rumos de uma transao definida pelo comportamento

    do cliente, expresso por atividades fsicas e mentais (Sheth, Mitta & Newman, 2001).

    Estas atividades resultam em decises e aes, como comprar e utilizar produtos e

    servios, assim como pagar por eles.

    Atividades mentais realizadas pelos clientes incluem:

    Julgar a qualidade da marca de um produto;

    Avaliar a esttica de um produto;

    Fazer inferncias sobre a qualidade de um produto com base em informaes de

    propaganda;

    Avaliar a experincia efetiva com um produto.

    J as atividades fsicas incluem:

    Visitar lojas;

    Ler relatrios;

    Conversar com vendedores;

    Emitir pedido de compras.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 11

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    O estudo do comportamento do cliente oferece os conhecimentos bsicos

    necessrios para decises empresariais de sucesso. Uma vez que todo o

    comportamento do cliente orientado pelas suas necessidades e desejos (Sheth,

    Mitta & Newman, 2001) necessrio um aprofundamento em sua compreenso.

    2.3 Determinantes do comportamento

    2.3.1 Necessidades e desejos

    Necessidade a privao de alguma satisfao bsica (Kotler, 2000). uma

    condio insatisfatria do cliente, que o leva a uma ao que tornar essa condio

    melhor, sendo mais influenciada pela fisiologia, tendendo a mudar menos ao longo

    do tempo (Sheth, Mitta & Newman, 2001).

    Desejo a busca de elementos especficos para a satisfao das

    necessidades (Kotler, 2000). o af de obter mais satisfao do que

    absolutamente necessrio para melhorar uma condio insatisfatria. muito

    influenciado pelo contexto, tendendo a mudar muito ao longo do tempo (Sheth, Mitta

    & Newman, 2001).

    Uma outra diferenciao que pode ser feita entre necessidades e desejo,

    atravs dos fatores que causam estes sentimentos, conforme a Quadro 1.

    As necessidades so determinadas pelas caractersticas do indivduo e do

    ambiente. H padres de comportamentos de usurios que tem uma constituio

    gentica semelhante, como a alergia a determinadas substncias. Caractersticas

    biognicas criam diferenas marcantes entre gneros, raas, assim como idades. A

    Quadro 1 - Influncias sobre as necessidades e desejos, segun do Sheth (2001).

    GENTICA CLIMA VALOR PESSOAL ECONOMIA

    BIOGENIA TOPOGRAFIACONTEXTO

    INSTITUICIONALTECNOLOGIA

    PSICOGENIA ECOLOGIACONTEXTOCULTURUAL

    POLTICA PBLICA

    CARACTERSTICASPESSOAIS

    CARACTERSTICASFSICAS DOAMBIENTE

    CONTEXTOINDIVIDUAL

    CONTEXTOAMBIENTAL

    NECESSIDADES DESEJOS

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 12

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    psicogenia, isto , estados e traos individuais induzidos pelo funcionamento do

    crebro, despertam disposies, emoes, percepes, cognies e experincias

    armazenadas na memria que criam necessidades bsicas a serem preenchidas

    (Sheth, Mitta & Newman, 2001).

    Caractersticas do ambiente, como o clima, influenciam diretamente o

    comportamento das pessoas, como as necessidades de seu vesturio ou tipo de

    materiais a serem utilizados nos produtos. A topografia gera necessidades distintas

    com produtos mais adaptados a condies de montanha ou beira-mar. Da mesma

    forma, a ecologia pode relacionar-se com os indivduos criando necessidades

    bastante especficas, como a proteo solar em funo de altos nveis de exposio

    a raios ultravioletas causadores de cncer de pele.

    J os desejos so determinados pelo contexto individual e ambiental. Os

    valores pessoais, ou em outras palavras, os recursos financeiros disponveis,

    influenciam o nvel de especificao do seu desejo, conferindo maior ou menor

    poder de compra ao cliente. Dependendo do seu contexto institucional, isto do

    grupo ou empresa em que est inserido, um cliente pode orientar seus desejos,

    como um estilo particular de vesturio. O contexto cultural do indivduo ou empresa

    valoriza ou reprova atitudes e padres de consumo, por exemplo, estimulando o uso

    de produtos apelativos visualmente, com cores fortes e formas ousadas.

    Sem dvida, o grau de desenvolvimento e ciclos econmicos de uma nao

    tem um grande impacto sobre o que comprar e em que freqncia. Aliado ao

    desenvolvimento tecnolgico possvel criar, em maior ou menor proporo,

    desejos antes no vislumbrados (p.ex. possuir um GPS Sistema de

    posicionamento global, para realizar caminhadas no final de semana). O controle

    realizado por polticas pblicas tambm pode criar demandas ou obstculos para a

    realizao dos desejos, como o banimento de propagandas de certos produtos

    (p.ex. cigarros) ou um aumento do rigor de controles (p.ex. venda de armas para

    pessoas fsicas).

    2.3.2 Valores

    Hoje h um vasto universo de produtos e servios entre os quais os clientes

    podem optar. A seleo de um entre inmeros produtos e servios ofertados, feita

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 13

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    pelos clientes com base na formao de uma expectativa de valor e sob esta,

    decises so tomadas (Kotler, 2000).

    As empresas podem ter um melhor desempenho que sua concorrncia, e at

    mesmo serem as melhores do mercado, se forem capazes de ser orientadas para os

    clientes. Este direcionamento passa pela compreenso do potencial que um produto

    ou servio tem de satisfazer s necessidades e os desejos de seus clientes, isto ,

    qual o seu valor de mercado.

    O valor aquilo que, segundo o cliente, preenche suas necessidades e

    desejos. So os benefcios da soluo dos problemas, sejam eles tangveis ou no,

    que uma pessoa recebe de um produto ou servio (Sheth, Mitta & Newman, 2001).

    O valor para o cliente sua percepo do que ele quer que acontea numa

    situao especfica de uso, com o auxlio de um produto ou servio, de forma a

    realizar um propsito ou objetivo desejado (van der Haar, Kemp & Omta, 2001).

    Uma abordagem financeira para o valor seria o resultado da relao do preo

    pela qualidade ou ento do comparativo do que uma pessoa recebe pelo custo de

    sua aquisio. No entanto, h consideraes sobre o valor como tendo

    componentes afetivos e emocionais (Lemmink, Ruyter & Wetzels, 1998). Seu

    aspecto extrnseco visualiza o produto ou servio como um meio para o atendimento

    de um fim especfico. O intrnseco uma avaliao emocional, sendo a parte afetiva

    da resposta do cliente frente ao produto ou servio. Alm disto, h o aspecto

    sistmico, onde h uma avaliao da experincia como um todo, atravs da

    percepo integrada da funcionalidade, do esforo de aquisio, do consumo ou

    uso do produto ou servio, do relacionamento de todos elementos.

    um conceito dinmico, mesmo para a experincia de consumo de um

    produto em curto espao de tempo (p.ex. a aquisio de um aparelho tocador de

    DVD). Os valores pr, durante, imediatamente aps e algum tempo depois da

    aquisio geralmente podem ser distintos).

    A identificao da percepo do que os clientes acham importante acontecer

    ou estar disponvel em uma situao especfica (van der Haar, Kemp & Omta, 2001)

    ou a determinao da potencialidade da realizao da satisfao durante a

    experincia com o produto ou servio em dado instante (Lemmink, Ruyter & Wetzels,

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 14

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    1998) um dos grandes desafios das empresas.

    Traduzir estes valores para o projeto de um produto pode ser fator decisivo

    para seu sucesso comercial e lucratividade da empresa, uma vez que os clientes

    vo preferir os produtos ou servios cujos valores satisfazem suas necessidades e

    desejos (Sheth, Mitta & Newman, 2001).

    Os valores podem ser classificados (Sheth, Mitta & Newman, 2001) em:

    Universais: so aqueles que satisfazem s necessidades que todos os clientes

    os buscam todas as naes e culturas (p.ex. a iluminao para realizar uma

    leitura noite);

    Pessoais: so os que satisfazem os desejos, sendo mais diversos que as

    necessidades, diferindo de uma pessoa para outra (p.ex. o uso de uma luminria

    articulada de madeira para realizar leituras deitado em uma cama);

    Pessoais especficos de grupos: so aquelas desejadas por um segmento (p.ex.

    a cor da luz de uma luminria ser levemente azulada, para leitores que trabalham

    com cromoterapia);

    importante observar que dependendo do papel do cliente, os valores tm

    significados distintos (Sheth, Mitta & Newman, 2001), como pode ser observado no

    Quadro 2.

    Algumas caractersticas de valores (Sheth, Mitta & Newman, 2001) so:

    Instrumentalidade: valores so meios para se atingir um objetivo e se o valor no

    atend-lo, no serve;

    Dinamismo: mudanas porque as necessidades e desejos mudam;

    Quadro 2 Papis dos clientes e valores.

    VALORES UNIVERSAIS DESEMPENHO

    VALORES PESSOAISESPECFICOS DE GRUPOS

    VALOR SOCIAL

    VALORES PESSOAIS VALOR EMOCIONAL

    USURIO

    PREO

    VALOR DE CRDITO

    VALOR DEFINANCIAMENTO

    PAGANTE

    SERVIO

    VALOR DECONVENINCIA

    VALOR DEPERSONALIZAO

    COMPRADORVALORES PAPIS

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 15

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    Hierarquia: os valores universais so superiores aos especficos de grupo, que

    por sua vez so superiores aos especficos do indivduo;

    Sinergia: a relao entre os valores multiplicativa, isto , a interao entre

    estes estabelece nveis distintos superiores do que a somatria dos valores

    isoladamente;

    Especificidade de papis: os valores diferem entre os usurios, pagantes e

    compradores;

    Variabilidade entre clientes: mesmo dentro de um papel existe variabilidade de

    atribuio de valor.

    2.3.3 Lacuna entre valores

    A importncia do conceito de valor do cliente tem sido cada vez mais

    reconhecida na literatura. No entanto, sua aplicao nas empresas tem sido

    deficitria (van der Haar, Kemp & Omta, 2001), sendo um dos problemas a

    visualizao do valor em dois nveis de abstraes.

    O de primeira ordem a compreenso de quais os sacrifcios que um cliente

    est disposto a fazer para obter os benefcios que um produto ou servio tem a

    oferecer, isto , quais as concesses. Uma abstrao de segunda ordem seria o

    entendimento de que elementos preencheriam os desejos dos clientes.

    O que se deve disponibilizar aos clientes uma soluo que atenda suas

    necessidades e desejos, isto , uma oferta de valor. O produto vendido por uma

    empresa um meio atravs do qual solues so disponibilizadas para o

    preenchimento das lacunas criadas pelas necessidades e desejos dos clientes. Se

    estas solues so percebidas como eliminadoras ou minimizadoras destas lacunas,

    elas podem ser transformar em valor recebido pelo cliente. O conhecimento preciso

    destas informaes permite, ento, a criao de um diferencial efetivo para os

    produtos ou servios.

    Ao fazer uma proposta de desenvolvimento de produto, uma empresa est

    delineando um valor proposto. Do outro lado, o cliente detm suas necessidades e

    desejos, que so preenchidos por um valor desejado. A existncia de uma

    dissociao entre o valor proposto e o desejado funo basicamente da falta de

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 16

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    informao apropriada pela empresa sobre as necessidades e desejos dos clientes

    do mercado alvo do desenvolvimento.

    Observa-se nesta lacuna, a primeira e, talvez, uma das mais fundamentais

    enfrentadas pelas empresas. Se o valor disponvel no atender aos objetivos do

    cliente, este ter maior possibilidade de ser rejeitado, principalmente se a lacuna de

    um produto concorrente for menor.

    Esta lacuna de informao, como pode ser vista na Figura 1, deve ser

    minimizada, uma vez que existem lacunas adicionais no processo desenvolvimento

    de um produto ou servio ao mercado. Uma lacuna de projeto aparece quando o

    valor proposto torna-se diferente do valor projetado. Esta dissociao pode ser

    funo de restries tcnicas, de custos, de tempo ou mesmo de falha no

    desdobramento das necessidades de mercado para requisitos de projeto e

    manufatura. O valor desejado pelo cliente tambm pode diferir do valor esperado

    na aquisio, em funo de um compromisso fraco com seus desejos prvios.

    Ainda pode existir uma defasagem entre o que est sendo ofertado ao cliente

    pelo valor projetado e o que este tem como valor esperado. Um baixo nvel de

    ateno existncia de caractersticas no produto que poderiam preencher suas

    necessidades e desejos acaba criando uma lacuna de percepo. Podem haver

    caractersticas disponveis, no entanto, este no as percebe ou valoriza no processo

    de aquisio. Finalmente, o cliente usa o produto e tem uma experincia em relao

    VALOR PROPOSTO VALOR DESEJADO

    VALOR PROJETADO VALOR ESPERADO

    VALOR RECEBIDO

    LACUNA DE INFORMAO

    LACUNA DE PROJETO LACUNA DE COMPROMISSOLACUNA DE

    PERCEPO

    LACUNA DESATISFAO

    DE

    SE

    NV

    OL

    VIM

    EN

    TO

    DO

    NE

    G

    CIO

    ORGANIZAO MERCADO CLIENTE

    AQ

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    I

    OU

    SO

    Figura 1 Modelo de Valor para Cliente, segundo va n der Haar, Kemp & Omta (2001).

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 17

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    a ele, o valor recebido. Uma lacuna de satisfao criada quando o cliente

    compara o valor recebido com a percepo que ele tinha inicialmente em relao ao

    produto.

    Para o atendimento adequado das necessidades e desejos dos clientes, estas

    lacunas devem ser eliminadas ou minimizadas, de forma que o valor desejado pelo

    cliente seja coincidente com o valor recebido, elevando assim a possibilidade de

    satisfazer o cliente e, por conseqncia, obter o retorno financeiro esperado pela

    empresa. Entende-se que, a compreenso maior das necessidades e desejos dos

    clientes permitiria, no mnimo, diminuir a lacuna de informao, isto , aproximar o

    valor proposto pela empresa com o valor desejado pelo cliente.

    2.4 Desenvolvimento de produtos

    2.4.1 Categorias de desenvolvimento de produtos

    A empresa do desenvolvimento de produtos em categorias facilita o processo

    de tomada de decises durante o processo, indicando o nvel de detalhamento das

    informaes necessrias em cada fase (Englund & Graham, 1999).

    As variantes do processo de desenvolvimento apontadas por Ulrich &

    Eppinger (1995) so:

    Genrico (puxado pelo mercado): onde h uma identificao de oportunidade de

    mercado e a empresa busca tecnologia apropriada para preencher as

    necessidades dos clientes;

    Tecnologicamente empurrado: a partir de uma nova tecnologia, a empresa busca

    um mercado apropriado;

    Produto plataforma: um produto desenvolvido sobre um sub-sistema

    tecnolgico pr-existente;

    Intensivo de processo: as caractersticas do produto so altamente compelidas

    pelo processo de produo;

    Customizado: o produto uma pequena variao de uma configurao existente.

    A forma de classificao utilizada pela Hewlett-Packard baseada na

    extenso de mudana do produto versus extenso de mudana no processo

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 18

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    (Englund & Graham, 1999). As categorias so:

    Melhoramento, hbrido ou derivativo: onde h uma pequena mudana no produto

    e no processo;

    Prxima gerao ou plataforma: onde h uma pequena mudana no processo e

    uma mudana de nvel mdio no produto ou onde h uma grande mudana no

    processo e uma mudana de nvel baixo ou mdio no produto;

    Inovao: onde h uma grande mudana no produto, independente do grau de

    mudana no processo.

    Outra forma de categorizar novos produtos e seus desenvolvimentos, a que

    compara o grau de novidade para a empresa versus o grau novidade para o

    mercado (Griffin & Page, 1996), como mostrado na Figura 2.

    2.4.2 Processo

    Um processo consiste de uma srie de aes inter-relacionadas que visam

    transformar um conceito, pedido ou ordem em um produto ou servio. uma

    atividade ou grupo de atividades que toma uma entrada, adiciona valor e fornece

    uma sada para um cliente interno ou externo (Okes & Wescott, 2001).

    As empresas so habitualmente constitudas por reas ou pessoas com

    conhecimentos ou atuaes especficas. Estas pessoas ou reas tm como

    NOVO PARA ACOMPANHIA

    NOVO PARA OMUNDO

    MELHORIA DEPRODUTO

    ADIO S LINHASEXISTENTES

    REDUO DECUSTOS

    REPOSICIONAMENTO

    AL

    TA

    ALTABAIXA

    BA

    IXA

    NOVIDADE PARA OMERCADO

    NO

    VID

    AD

    E P

    AR

    A A

    EM

    PR

    ES

    A

    Figura 2 Categoria de produtos, adaptado de Griff in & Page (1996).

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 19

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    resultado de suas atividades uma informao, produto ou servio.

    O resultado de um elemento organizacional (pessoa, departamento, unidade,

    fornecedor, cliente, acionista) pode servir como uma entrada para a execuo das

    atividades de outros elementos, que subseqentemente as transforma, gerando

    novas informaes, produtos ou servios. Desta forma, percebe-se que cada

    elemento organizacional faz parte de um fluxo de construo de um resultado final, o

    qual pode ser chamado de processo, como pode ser visto na Figura 3.

    O desenvolvimento de produtos um processo que tem como entrada as

    necessidades, desejos ou demandas de clientes, da empresa ou de alguma outra

    parte envolvida. A transformao a modificao sistemtica da entrada atravs de

    recursos de pessoal, conhecimento, materiais e tecnologia para o fornecimento de

    uma sada adequada aos objetivos das partes interessadas.

    A diviso da tarefa global do desenvolvimento de um produto em tarefas com

    objetivos especficos, torna a soluo dos problemas mais orientada (Back &

    Forcellini, 1998) e possibilita uma simplificao, racionalizando as operaes,

    incorporando-se conhecimento previamente adquirido, direcionando habilidades e

    recursos de forma mais adequada e desta forma aumentando a eficincia e eficcia

    do processo.

    A combinao de elementos de sistemas de transformao scio-tcnica

    referenciada por Hubka & Eder (1988) como Processo Tcnico.

    2.4.3 Processo de desenvolvimento de produto

    O desenvolvimento de produto um processo que mapeia, orienta,

    estabelece caminhos desde a gerao de idias at do lanamento no mercado e

    mesmo alm (Cooper, 1994).

    TRANSFORMAOENTRADA SADA

    Figura 3 Modelo bsico de processo.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 20

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    J foi demonstrado que falhas em atender o desempenho funcional (Juran &

    Gryna, 1992) ou mercadolgico (Cooper, 2001) esperados advm, em grande parte,

    de processos de desenvolvimento estabelecidos inadequadamente. Na verdade, um

    dos fatores crticos de sucesso no desempenho de novos produtos o

    estabelecimento, explcito ou no, de um processo de desenvolvimento de produtos

    de alta qualidade, isto , onde todas as fases so claramente estabelecidas e

    executadas (Cooper, 1996).

    As diversas empresas se organizam operacionalmente de modos distintos,

    sendo influenciadas por vrios aspectos como: grau de tecnologia do produto,

    competitividade do mercado, complexidade de processos de produo, composio

    acionria, cultura organizacional, princpios de gesto, entre outros. Estes aspectos

    tambm afetam a forma como se estruturaram para desenvolver seus produtos.

    Diversos autores, como Cooper, Clark & Wheelright, McGrath, entre outros

    (Valeri, 2000) dividem o processo de desenvolvimento de produtos em fases

    distintas, alocando as diversas atividades para consecuo do processo entre as

    fases. Um dos modelos mais citados na literatura foi introduzido por Cooper (2001) e

    pode ser visto na Figura 4.

    Ele estabelece um modelo de cinco fases, que divide o processo em etapas

    DESCOBERTA

    ESTGIO 1

    PORTAL1

    ESTGIO 2

    SELEO DE IDIAS

    ESCOPO

    PORTAL2 ESTGIO 3

    PORTAL3 ESTGIO 4

    PORTAL4 ESTGIO 5

    PORT AL5

    CASO DE NEGCIO DESENVOLVIMENTO TESTE EVALIDAO

    LANAMENTO

    $REVISO

    PS-VENDA

    DIRECIONANDO NOVOS PRODUTOS PARA O MERCADO

    SEGUNDASELEO

    VAI PARA ODESENVOLVIMENTO

    VAI PARATESTES

    VAI PARA OLANAMENTO

    Figura 4 Modelo Stage-Gate (estgio-portal) para desenvolvimento de produtos , adaptado de Cooper (2001).

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 21

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    discretas e identificveis. Cada fase no caracterizada por sua propriedade

    funcional, isto , no existe fase do departamento de marketing, fase do

    departamento de produo e assim por diante. Um dos fundamentos de cada fase

    a inter-disciplinaridade, onde a fase em curso de responsabilidade de especialistas

    de vrias reas da empresa, com a misso de cumprir seus objetivos especficos.

    As fases bsicas definidas por Cooper so:

    Descoberta: trabalho preliminar que tem o objetivo de descobrir ou clarificar

    oportunidades e gerar idias;

    Escopo: investigao preliminar rpida do projeto;

    Construo do caso de negcio: uma investigao mais detalhada, envolvendo

    pesquisa primria tcnica e mercadolgica que gera um caso de negcio,

    incluindo a definio do produto e do projeto, justificativa do projeto e seu plano

    de execuo;

    Desenvolvimento: o efetivo projeto do novo produto, das operaes e do

    processo de produo;

    Teste e validao: teste ou ensaios junto a clientes, em laboratrios e dentro da

    empresa para verificar e validar o novo produto proposto, sua comercializao,

    operao e produo;

    Lanamento: comercializao, incio das operaes ou produo total,

    comercializao e venda.

    As fases so compostas por uma srie de atividades, sendo que entre estas

    se encontram algumas consideradas elementos chaves para o desenvolvimento de

    produto (Cooper, 2001), conforme mostrado no Quadro 3.

    Na literatura de engenharia de projeto, muitos autores abordaram o processo

    de desenvolvimento, estabelecendo fases em seus modelos de projetos para as

    etapas iniciais do desenvolvimento, como pode ser visto na seo seguinte.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 22

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    2.4.4 Modelos de processos de projetos

    A diviso da tarefa global de desenvolvimento em fases ou etapas foi

    realizada por diversos autores de projetos de produtos como Pahl & Beitz (1996),

    Pugh (1991), Ullman (1997), Asimov and Coryel (Back, 1998).

    Quadro 3 Atividades principais do processo de desenvolvimen to, segundo Cooper (2001).

    Seleo inicial A seleo de idias - a primeira deciso de ir frente com o projeto; o primeiro comprometimento de recursos (pessoas e dinheiro).

    Avaliao mercadolgica preliminar

    O estudo de mercado inicial: uma avaliao rpida e superficial do mercado, requisitos de clientes, possvel aceitao de mercado e situao competitiva; altamente no-cientfica e baseando-se, principalmente, em fontes internas.

    Avaliao tcnica preliminar

    Avaliao tcnica inicial, abordando questes como o produto pode ser desenvolvido? Como? Pode ser produzido?, baseada amplamente em discusses, fontes internas e alguma pesquisa em literatura.

    Estudo mercadolgico detalhado

    Pesquisa de mercado: estudo de mercado detalhado, estudos de posicionamento e anlise competitiva; envolve consideravelmente trabalho de campo e entrevista aprofundada com clientes.

    Anlise pr-desenvolvimento, de negcio e financeira

    A deciso de iniciar o desenvolvimento completo; envolve, por exemplo, uma anlise financeira, avaliao de risco e uma avaliao quantitativa do negcio, olhando para a atratividade do mercado, vantagem competitiva.

    Desenvolvimento de produto O projeto e desenvolvimento propriamente dito do produto fsico.

    Testes internos de produtos Testes do produto realizados internamente sob condies controladas ou de laboratrio; testes alfa.

    Testes no cliente de produtos

    Testes de produto com o cliente; testes em campo, beta testes ou testes de preferncia: fornecendo o produto para o cliente e permitindo que o utilizem em condies reais de campo.

    Venda teste

    Um teste de mercado do produto: uma tentativa de vender o produto para um nmero limitado de clientes ou uma rea geogrfica limitada; um lanamento limitado.

    Produo piloto Produo inicial do produto para ajustes em condies de processo e manufatura.

    Anlise pr-comercializao de negcio

    A deciso de comercializar: uma anlise final do negcio e financeira anterior ao lanamento.

    Incio de produo e operao

    Incio de produo em larga escala (ou comercial) e operao.

    Lanamento de mercado Um lanamento no mercado completo do produto: a implementao de um plano de comercializao.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 23

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    A nfase destes autores est no projeto do produto, como poder ser visto em

    Pahl & Beitz (1996), Figura 5. Vrios autores englobam em seus modelos de

    desenvolvimento de produtos todas as etapas desde a gerao da idia at a venda

    e seu monitoramento, como visto no modelo de Pugh (1991), Figura 6. Fica evidente

    a considerao pelos autores, da importncia das etapas preliminares do

    desenvolvimento, havendo alguns que chegam a detalhar, de forma breve, estas

    etapas, como pode ser visto na seo 2.4.6. Apesar disto, os modelos enfocam

    prioritariamente o projeto.

    de grande importncia compreender, que o efetivo projeto de produto

    apenas mais uma fase, embora no menos importante, de todo o processo de

    desenvolvimento de produto. Este sub-processo tambm caracterizado por uma

    entrada, uma transformao e uma sada. Assim como em todo processo, a

    qualidade da sada deste sub-processo, a especificao do produto, depender

    fortemente da qualidade do processo de projeto e de sua entrada.

    O incremento da qualidade das informaes que alimentam os processos de

    projeto, de vital importncia para seu resultado final e os modelos de processos

    estabelecidos devem servir como base para este objetivo. No entanto, verifica-se

    que as atividades que antecedem estes processos apresentam falhas ou no so

    executadas, como pode ser visto na seo 2.4.5. Enxerga-se que existe a

    necessidade do estabelecimento de um modelo de processo complementar e

    anterior ao projeto de produto, que seja eficaz na disponibilizao de informaes

    relevantes e mais precisas.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 24

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    TarefaMercado, empresa, economia

    Planejar e c lar i f icar a tarefa:Analisar o mercado e a situao da empresa

    Encontrar e selecionar idias de produtosFormular uma proposta de produto

    Clarifar a tarefaElaborar uma lista de requisitos

    Lista de requisitos(Especificao de projeto)

    Definar a estru tu ra de cons tru o :Eliminar pontos fracos

    Buscar por erros, influncias pertubadores e custos mnimosPreparar a listar preliminar de partes e documentos de produo e

    montagem

    Leiaute definitivo

    Desenvo lver a es tru tu ra de cons truo :Projeto preliminar da forma, seleo de materiais e clculos

    Selecionar os melhores leiautes prelim inaresRefinar e melhorar os leiautes

    Avaliar contra critrios econmicos e tcnicos

    Leiaute preliminar

    Desenvo lver o p r inc p io d e so luo :Identificar os problemas essenciaisEstabelecer estruturas funcionais

    Buscar por princpios e estruturas de trabalhoCombinar e estabelecer variantes de conceitosAvaliar contra critrios econmicos e tcnicos

    Conceito(Princpio de soluo)

    Preparar docum en tos de p rod uo e operao :Elaborar desenhos detalhados e lista de partes

    Intrues completas de produo, montagem, transporte eoperaes

    Verificar todos os documentos

    Documentao do produto

    Soluo

    Info

    rma

    o

    : a

    dp

    tar

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    sta

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    iza

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    nc

    pio

    s

    Evo

    lu

    o e

    me

    lho

    ria

    Figura 5 - Processo de planejamento, segundo Pahl & Beitz (1996).

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 25

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    TENSO MECNICA

    MECANISMOS

    TENSO ELTRICA

    CONTROLE

    SNTESE

    TOMADA DE DECISO

    OTIMIZAO

    MANUSEIO DE DADOS

    MATERIAIS

    ANLISE DE MERCADO

    MANUFATURA CUSTO

    ATIVIDADE TOTAL

    PLANEJADO ORGANIZADO

    MERCADO

    ESPECIFICAES

    PROJETO CONCEITUAL

    PROJETO DETALHADO

    MANUFATURA

    VENDAS

    Tecnologia Tcnica

    Formulao dasespecificaes

    Elementos dasespecificaes

    Ordem deimportncia

    Fluxo principalou projeto

    Projeto completamente deacordo com as especificaes

    Etc.

    H

    E D

    C

    B

    A

    G

    F

    H

    E D

    C

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    G

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    H

    E D

    C

    B

    A

    G

    F

    Figura 6 Processo de planejamento e projeto, segu ndo Pugh (1991).

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 26

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    2.4.5 Atividades crticas

    Foi observado que a etapa de projeto de produto a que possui um

    desempenho mais satisfatrio nas empresas, sendo mais e melhor executada. Em

    oposio a este bom grau de adequao, encontram-se as etapas que precedem o

    projeto de produto, isto , exatamente as suas entradas (Cooper, 2001).

    Pode-se dizer que h trs pedras fundamentais para o desempenho do

    processo de desenvolvimento de novos produtos: estratgia para inovao de

    produtos, gastos e recursos adequados e processos de qualidade, tendo este ltimo

    o maior impacto no desempenho dos negcios (Cooper, 1996).

    A existncia formal de um processo no garante o sucesso do

    desenvolvimento. Para que este processo traga benefcios concretos algumas

    atividades devem estar includas:

    nfase em tarefas do incio do processo (trabalho pr-desenvolvimento);

    Definio precoce e precisa do produto (antes que o desenvolvimento tenha

    iniciado);

    Voz do cliente evidente atravs de todo o processo;

    Pontos de deciso de continuidade do processo;

    Foco na qualidade da execuo;

    Processo completamente executado;

    Processo flexvel, possibilitando ajuste de acordo com o risco do projeto.

    Entre as principais razes para insucessos comerciais de lanamentos de

    produtos encontram-se, principalmente, a m execuo das fases preliminares do

    processo de desenvolvimento (Cooper, 2001). De maneira geral, estas fases no

    so tecnolgicas, estando direta ou indiretamente relacionadas s atividades de

    marketing, isto , prospeco e avaliao de mercado, conhecimento das

    necessidades e desejos de cliente, teste de produtos junto a clientes entre outros.

    Um estudo entre vrias empresas levantou a qualidade de execuo e o grau

    de execuo (Q e E: escalas definida pelos autores) das atividades chaves para

    todo o processo de desenvolvimento de produto, conforme demonstrado na Tabela

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 27

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    1. As etapas preliminares do processo so as menos executadas quantitativamente

    e qualitativamente, em especial o estudo mercadolgico detalhado. Em oposio, o

    projeto e desenvolvimento do produto apresentaram-se como a atividade que as

    empresas mais executam e com maior qualidade. A combinao do grau de

    execuo e sua qualidade, demonstra que o projeto e desenvolvimento de produto

    cerca de quatro vezes melhor implementado que o estudo mercadolgico detalhado.

    Uma outra anlise, envolvendo projetos executados demonstrou que as

    etapas menos executadas so: venda teste (23%), estudo detalhado de mercado

    (25%), anlise de negcio pr-lanamento (35%). Em contra-partida, as mais

    executadas so: seleo inicial (92%), desenvolvimento de produto (89%), testes

    internos de produtos (89%) e avaliao preliminar tcnica (85%), (Cooper, 2001).

    A interao com os clientes no adiciona, necessariamente, valor em todas as

    Tabela 1 Qualidade e grau de execuo das etapas do process o de desenvolvimento, adaptado de Cooper (2001).

    ATIVIDADES Qualidade (Q)

    No executado

    %

    Executado % (E)

    Q x E %

    em relao ao menor

    Estudo detalhado mercadolgico

    3,5 57,2 42,8 149,8 0

    Anlise de negcio pr-comercializao 4,7 46,6 53,4 251,0 68

    Anlise de negcio e financeira pr-desenvolvimento 4,4 37,9 62,1 273,2 82

    Venda teste 5,8 45,6 54,4 315,5 111

    Lanamento de mercado 5,7 27,5 72,5 413,3 176

    Produo piloto 6,9 30,1 69,9 482,3 222

    Incio de produo e operao 7,1 26,2 73,8 524,0 250

    Avaliao preliminar mercadolgica 6,2 14,6 85,4 529,5 253

    Seleo inicial 6,1 12,3 87,7 535,0 257

    Avaliao preliminar tcnica 6,6 8,8 91,2 601,9 302

    Testes internos de produtos 6,9 12,6 87,4 603,1 303

    Testes no cliente de produtos 7,2 10,7 89,3 643,0 329

    Desenvolvimento de produto 7,9 6,9 93,1 735,5 391

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 28

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    etapas do desenvolvimento. No entanto, existe um efeito positivo na intensidade de

    interao nas etapas iniciais de desenvolvimento. Infelizmente a ocorrncia desta

    interao nas etapas iniciais baixa (Gruner & Homburg, 2000), implicando em uma

    ameaa qualidade das informaes que sero utilizadas como dados de entrada

    para o processo de desenvolvimento, podendo causar uma sria lacuna de

    informao entre o valor proposto e o desejado, conforme mencionado na seo

    2.2.3.

    2.4.6 Fuzzy Front End

    As etapas iniciais do desenvolvimento de produto tiveram modelos

    estabelecidos por alguns autores de projeto, denominando-as como Planejamento

    de Produtos (Pahl & Beitz, 1996) ou Especificao de Engenharia (Ullman, 1997).

    Estas etapas so normalmente referenciadas como o Fuzzy Front End (FFE)

    (Montoya-Weiss & ODriscoll, 2000) ou etapa inicial difusa, com pode ser visto na

    Figura 7, por ser geralmente pouco clara, confusa e mal detalhada. As atividades

    no so apropriadamente definidas ou aplicadas, as atribuies e as

    responsabilidades no so adequadamente designadas e o fluxo de informao

    entre as atividades no direcionado para o desdobramento das necessidades e

    desejos dos clientes atravs do ciclo de vida do desenvolvimento de produto.

    Normalmente, estas fases possuem processos mal definidos e um processo

    de tomada de deciso sem planejamento (Montoya-Weiss & ODriscoll, 2000). Uma

    maneira informal de capturar e preparar este conjunto de informaes

    PROJETO EDESENVOLVIMENTO

    DE PRODUTO

    FUZZYFRONT

    END

    CLIENTE

    Figura 7 Fuzzy Front End e Processo de Desenvolvi mento de Produto.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 29

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    simplesmente visitar um cliente, a partir do que uma especificao de produto

    obtida. Sendo um processo desestruturado, normal que questes fundamentais

    no sejam apropriadamente respondidas.

    Os modelos de processos de desenvolvimento de Pahl & Beitz (1996), e

    Ullman (1997) delineiam de forma geral o que compreende estas etapas iniciais,

    conforme pode ser visto na Figuras 8 e 9, respectivamente. Elas vo do

    estabelecimento inicial das necessidades de desenvolvimento devido a demandas

    ou necessidade dos clientes, empresa, acionista ou outra parte interessada e que

    culminam com a definio de uma especificao inicial de projeto.

    Um dos motivos das dificuldades enfrentadas nestas fases que elas esto

    num nvel mais abstrato e preliminar (Pahl & Beitz, 1996). Abordam-se questes

    Mercado Outras fontes Empresa

    Analisar a situao

    Formular estratgias de busca

    Encontrar idias de produtos

    Selecionar idias de produtos

    Definir produtos

    Clarificar e elaborar

    Projetar

    Figura 8 - Procedimento para planejamento de produt o, adaptado de Pahl & Beitz (1996).

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 30

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    bsicas e fundamentais geralmente pouco claras, como identificar com preciso

    quem so os clientes. Ao se desenvolver um brinquedo, quem o cliente? Somente

    a criana que passar horas com o brinquedo; o pai, pagador; a me, compradora?

    So exatamente estas fases iniciais do desenvolvimento as de menor

    execuo e de pior qualidade de execuo, como visto anteriormente. Como o FFE

    visto como um peso para o processo de negcio, as empresas geralmente adotam

    atalhos (Cooper, 2001), aplicando poucos recursos ou mesmo no a executando.

    Como uma conseqncia desta abordagem superficial, os resultados so

    inadequados para o negcio. O FFE incorpora as tarefas de entender claramente o

    que relevante e poderia surpreender os clientes e, como conseqncia de como as

    empresas enfrentam o FFE, elas geralmente assumem a lista de necessidades e

    desejos estabelecidos exclusivamente a partir de seus projetistas e vendedores.

    A forma de selecionar clientes, conduzir a coleta de informaes com

    objetivos claros e traduz-las para uma especificao de projeto usualmente

    realizada informalmente ou por procedimento no estruturados.

    Identificar quem so os clientes

    Gerar os requisitos dos clientes.O que eles querem?

    Avaliar a concorrncia.Como est sendo feito agora?

    Gerar as especificaes de engenharia.Como os requisitos so medidos?

    Definir metas.Quanto bom? Anlise

    Crtica

    Planejamento

    Decomposioem sub-tarefas

    Cancelamento

    ProjetoConceitual

    Figura 9 Fase de especificao de engenharia, ada ptado de Ullman (1997).

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 31

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    A busca de informaes junto a clientes uma atividade que, se estabelecida

    inadequadamente, pode trazer fatos e dados que alteram completamente o destino

    de um produto. Quando inquiridos, os clientes tendem naturalmente a uma

    orientao de curto prazo, tentando resolver seus problemas mais visveis. Desta

    forma, eles expressam as solues ou caractersticas que supe ser necessrias no

    produto que os poderiam auxiliar com estes problemas imediatos.

    Sem uma abordagem ordenada e sistemtica, as informaes obtidas junto

    aos clientes ficam comprometidas, podendo conduzir ao desenvolvimento de um

    produto que no inclua caractersticas que forneam o valor efetivamente desejado

    por eles, prejudicando o atendimento s suas necessidades e desejos.

    Independente do processo que gerou os dados de entrada para o projeto de

    produto, normalmente ocorrer o seu desenvolvimento. Isto , a no execuo das

    etapas preliminares ou seu desenvolvimento precrio no impedem a continuidade

    de um projeto, sua produo ou lanamento. No entanto, ao longo do ciclo de vida

    do desenvolvimento a m qualidade das informaes iniciais acaba sendo a origem

    de atrasos e dificuldades no processo de desenvolvimento (Trabizi & Walleigh,

    1997), dificuldades de estabelecimento de propostas para alteraes significativas,

    necessidades de re-projetos para adequaes de insucessos comerciais, isto

    quando no ocorre uma descontinuidade prematura do produto. Ocorre ainda a

    convivncia pacfica com produtos que no foram exatamente um fracasso

    comercial, mas possuem taxas de retorno muito baixas, encarando-se com

    naturalidade que nem sempre possvel ter produtos de sucesso.

    J foi verificado que as empresas alocam muito pouco esforo e at menos

    recursos financeiros nas etapas iniciais da maioria dos projetos de novos produtos

    (Cooper, 2001). Para um processo que tipicamente mal definido, a escassez de

    recursos naturalmente acaba induzindo sua execuo com baixo rigor e dispndio

    de tempo. O processo de projeto ter como entrada as informaes destas etapas

    iniciais. Uma baixa qualidade de informaes geradas por estas etapas aumentar a

    probabilidade do projeto produzir uma especificao de produto que no levar a um

    sucesso comercial, uma vez que poder no refletir as demandas, necessidades ou

    desejos dos clientes. Um detalhamento do FFE ser proposto na seo 3.2.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 32

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    2.4.7 Voz do cliente

    Um conjunto completo, genuno e relevante de informaes referente a um

    produto chamado de Voz do Cliente (VOC: para um alinhamento com a literatura,

    nesta pesquisa utilizado o acrnimo de Voice of the Customer). Ela constitui um

    conjunto completo de desejos e necessidades, que so expressos em sua prpria

    linguagem.

    O entendimento e atendimento das necessidades e desejos dos clientes so

    um dos direcionadores de melhores resultados dos negcios (Cooper, 2001). Aes

    de marketing de alta qualidade, que incluam a captura da VOC, mais que dobram as

    taxas de sucesso com os produtos e atingem um fatia de mercado 70% maior que

    aqueles projetos com uma abordagem desestruturada e fraca (Cooper, 2001).

    No entanto, estas fases iniciais possuem as atividades menos e pior

    executadas pela maioria das empresas durante o processo de desenvolvimento de

    produto. Somente 25% dos processos incluem um estudo detalhado de mercado.

    Mesmo quando estes estudos so realizados sua qualidade de execuo

    extremamente baixa (Cooper, 2001).

    Uma simples listagem de desejos e necessidades por si s no suficiente

    para que se proceda a concretizao de solues. Uma priorizao destes itens

    deve ser estabelecida, para definir o foco em solues que maximizem o retorno. O

    atendimento de toda a listagem, caso isto fosse possvel, agregaria um custo ao

    produto que o inviabilizaria economicamente, alm do que, o tempo para

    disponibilizao deste para o mercado seria muito elevado.

    H vrios prejuzos para uma fraca definio da VOC (Shillito, 2001), como:

    Projeto pobre;

    Superdimensionamento;

    Desencontro entre valores desejados e desenvolvidos;

    Custos de manufatura inflados;

    Ciclos de re-projeto em excesso;

    Problemas em campo;

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 33

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    J foi afirmado anteriormente que o levantamento e anlise das necessidades

    pela voz do cliente implantada de forma no sistemtica e desorganizada. Isto se

    deve parcialmente pela ausncia ou desconhecimento de ferramentas apropriadas

    ou mesmo pela falta de conhecimento de como us-las (Krkkinen, Pipp &

    Tuominem, 2001). Escolhem-se os clientes atravs de bases subjetivas,

    questionam-se aspectos que podem no ser os mais relevantes, desconsiderando-

    se outros importantes. Registra-se e traduz-se a voz do cliente sem uma base

    sistemtica, assim como se estabelece uma lista de necessidades sem a devida

    priorizao.

    Muitas vezes ocorre uma relutncia inconsciente para realizar estas

    atividades por no haver um processo adequadamente estruturado dentro das

    empresas (Shillito, 2001). O fato que mtodos para coleta, anlise e interpretao

    das necessidades so fracamente desenvolvidos se comparados com ferramentas

    mais tcnicas de projeto de produto (Krkkinen, Pipp & Tuominem, 2001).

    2.4.8 Mtodos e ferramentas disponveis

    Akao (1997) afirmou que o desenvolvimento de produtos mais atrativos

    necessita de uma ligao entre os mecanismos de desdobramento (p.ex. QFD

    Quality Function Deployment) e as necessidades de mercado. Portanto, mtodos

    devem ser explorados e a grande quantidade de ferramentas disponveis utilizadas,

    permitindo que a VOC se ajuste s atividades de foco no cliente das empresas.

    O processo de captura da VOC est includo no FFE. O objetivo do processo

    VOC identificar as reais necessidades, coletar um conjunto completo e preciso das

    demandas dos clientes (declaradas ou ocultas) e represent-las de uma forma

    estruturada (Shillito, 2001; Krkkinen, Pipp & Tuominem, 2001; Mazur, 1997).

    Portanto, os resultados do processo VOC devem ser desdobrados para o produto e

    atividades de comercializao. Os dois mecanismos mais utilizados para o

    desdobramento so o Desdobramento da Funo Qualidade (QFD) (Shillito, 2001;

    Krkkinen, Pipp & Tuominem, 2001, Govers, 1996, Mazur, 1997; Akao, 1997) e

    Conceituao de Produto Orientado ao Cliente (COPC - Customer Oriented Product

    Concepting) (Shillito, 2001).

    A lacuna apontada por Akao, reflete que poucos recursos formais tm sido

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 34

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    utilizados para agrupar sistematicamente informaes dos clientes, que geralmente

    tem sido desdobradas de forma no estruturada.

    Duas iniciativas relevantes foram desenvolvidas para preencher este espao,

    conforme descrito abaixo:

    1. O Center for Quality of Management (CQM) forneceu uma metodologia chamada

    Processo FOCUS, consistindo de vinte passos divididos em cinco fases:

    Enquadrar o Projeto, Organizar os Recursos, Coletar Dados, Entender as Vozes

    e Selecionar as Aes (Burchill & Brodie, 1997).

    2. Processo estruturado de captura da VOC, proposto por Shillito (2001). Os passos

    bsicos do processo so: Foco, Coleta, Interpretao, Estruturao,

    Quantificao, Verificao, Desdobramento e Monitoramento, conforme mostrado

    na Figura 10.

    Para cada fase estabelecida para este processo podem ser utilizadas

    inmeras ferramentas que provem procedimentos mais sistemticos para interagir

    com a subjetividade de cada fase.

    As ferramentas para a operacionalizao do processo advm das mais

    variadas reas do conhecimento, sendo algumas muito utilizadas na gesto da

    qualidade, no marketing, no desenvolvimento da criatividade ou mesmo algumas

    muito usuais no projeto de produtos, como a anlise funcional. Uma compilao

    destas ferramentas mostra a diversidade de alternativas possveis para que as

    etapas iniciais possam ser executadas de forma organizada, sistemtica e geradora

    de um conhecimento que possibilitar o atendimento das necessidades dos clientes

    e o sucesso comercial do produto.

    Nos Quadros 4 a 11 so apresentadas algumas ferramentas associadas a

    cada fase do modelo de referncia de Shillito.

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 35

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    Uma extensiva, mas no exaustiva, avaliao da literatura revela que h

    vrias ferramentas para a maioria das etapas do processo VOC. Utilizando-se o

    modelo de processo proposto por Shillito como referncia, descreveu-se as fases e

    foram compiladas algumas ferramentas aplicveis a cada fase, conforme descrito

    nas sees a seguir. A utilizao de Shillito como referncia se deve ao fato de sua

    proposta de processo ser bastante clara e objetiva, sendo segmentada em fases

    discretas, enfatizando uma abordagem progressiva gerao de informao.

    2.4.8.1 Foco

    Logo no incio do processo, questes organizacionais, polticas,

    comportamentais e estratgicas devem ser abordadas de forma a diminuir tenses e

    dificuldades de alocao de recursos. Deve haver uma definio dos objetivos do

    trabalho, de seu escopo, do alvo, assim como do mercado e sua segmentao.

    Devem ser tambm registradas as premissas estabelecidas. Finalmente, define-se

    claramente o grupo de clientes alvo. Algumas ferramentas associadas a esta fase

    so descritas no Quadro 4.

    Focar Coletar Interpretar Estruturar Quantificar Verificar Desdobrar Monitorar

    Identificarobjetivos

    Definirescopo

    Definirmercado,

    segmento,cliente

    Documentarsuposies

    Selecionarclientes alvo

    Definir alvo

    Selecionarmtodos de

    coleta

    Prepararquestes

    Prepararguia de

    entrevista

    Coletar vozdo cliente

    Desdobraras visitas

    Compilar osdadosbrutos

    Prepararglossrio

    Codificarnecessidades,

    solues ecaractersticas

    Organizar einterpretarentrada de

    clientes

    Estabelecerrelacionamentose interconexes

    Procurar porpadres

    Quantificarentrada declientes porimportncia

    Verificarcodificaese priorizaocom clientes

    Lacunasidentificadas?

    Verificaonecessria?

    VOCverificada

    VerificarVOC com o

    caso denegcio

    Selecionarreas

    sensveis

    Monitorarmudanasem reassensveis

    Documentare quantificar

    o impactoda mudana

    Desdobrar amudana de

    VOC

    VerificarVOC comClientes

    Desenvolverestratgia

    DesdobrarVOC paraprodutos

    Desenvolvernovo produto

    Melhorarproduto

    existente

    Figura 10 Modelo de processo de VOC, adaptado de Shillito (2001).

  • Captulo 2 A captura da voz do cliente: contextua lizao 36

    PPGEM Engenharia da Manufatura (2003)

    Quadro 4 Ferramentas aplicveis fase de Foco.

    Ferramentas ou atividades Objetivo Referncia

    12 Questes Estabelecer o que conhecido e o que no conhecido sobre o assunto do estudo.

    Shillito, 2001

    Brainstorming Definio de objetivos para o projeto Mazur, 1997 King & Schlicksupp, 1999

    Diagrama de afinidades Organizao de dados para o estabelecimento de objetivos de projeto.

    Mazur, 1997 King & Schlicksupp, 1999

    Declarao de propsito