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A WEBCOLABORATIVA: CONSTRUINDO E DIVULGANDO O CONHECIMENTOACADÊMICO E POPULAR
Autores: Paula Ferro Mendes Campos e Darlana Ribeiro Godoi, Grupo PETEducação da Universidade de Brasília
RESUMO
A Webcolaborativa é um portal virtual que foi criado a partir do projeto de
Validação do Observatório de Inclusão Educacional e Tecnologias Digitais, financiado
pela Unesco, com a finalidade de proporcionar o cadastro e divulgação gratuita e
segura da produção acadêmica dos estudantes além de ser espaço aberto para a
comunidade em geral e a movimentos sociais. O PET Educação já possui sua página
cadastrada apresentando suas atividades e atualmente coordena a inserção do
movimento estudantil organizado no Portal atuando junto aos demais grupos PET da
UnB e do Centro Acadêmico da FE.
1. INTRODUÇÃO
O caminho para a pretendida Inclusão Educacional e Digital do Brasil envolve o
desenvolvimento de estratégias para a formação de uma cultura favorável à
democratização de informações e meios tecnológicos. O Observatório do Mundo
Acadêmico em consonância com a atual discussão sobre o acesso livre ao
conhecimento pretende criar um ambiente virtual gratuito para a divulgação da
produção cientifica em países como o Brasil que carecem desses espaços.
A criação paralela da Webcolaborativa integrase ao trabalho do Observatório
contribuindo com a efetiva democracia evocada pelo paradigma do acesso livre e
arquivos abertos. Este Portal do Aluno e da Cidadania Espaço gratuito de
compartilhamento do saber comprometido com o reconhecimento da produção dos
alunos, graduandos e pósgraduandos, e com o conhecimento popular de ongs, redes
sociais e entidades.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Inclusão Educacional e Digital
A sociedade da informação precisa ser uma sociedade para todos. Na definição
das medidas de política para a sua construção, devemse estabelecer condições para
que todos os cidadãos tenham oportunidade de nela participar, e desse modo
beneficiarse das vantagens que este novo momento do desenvolvimento da civilização
tem para oferecer.
O texto do artigo 205 Constituição Federal, promulgada em 1988, prescreve:”A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Na LDB, a educação é concebida como processo de formação abrangente,
inclusive o de formação de cidadania e o trabalho como principio educativo, portanto,
não restrita às instituições de ensino.
“Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na
vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais.
§ 2º A educação escolar deverá vincularse ao mundo do trabalho e à
prática social.”
A educação é um insumo básico para o desenvolvimento científico e tecnológico
do país e, conseqüentemente, para a inserção soberana e sustentável do Brasil no
cenário internacional. Hoje, o conhecimento é a principal riqueza das nações.
Nesse contexto, mais que a inclusão “no digital”, o desafio global é o de inclusão
no conhecimento, ou seja, em cadeias produtivas de conhecimento que se afirmam
como a principal via de acesso a oportunidades de emprego, renda e investimentos.
Se a inclusão “pelo digital” se der com o objetivo de incluir cada indivíduo “no
conhecimento”, esse indivíduo estará capacitado a produzir valor e, participando do
processo de inovações tecnológicas, possivelmente participar também da valorização
das competências associadas ao trabalho em rede, com exercício de habilidades
comunicativas.
O acesso à informação e o direito à comunicação são direitos inalienáveis do ser
humano e, por isso, o acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e a
produção da informação com seu uso devem ser compreendidos como um novo direito
humano fundamental, garantidos e promovidos pelo Estado brasileiro.
É preciso capacitar organizações comunitárias para identificar competências e
habilidades da população local e o potencial do seu mercado de trabalho e promover,
nos telecentros comunitários, o mapeamento e a divulgação das oportunidades de
trabalho locais, além de incorporar ao processo de inclusão digital as ações de
capacitação voltadas ao empreendedorismo, o trabalho colaborativo e o
desenvolvimento de capacidades para a busca de demandas e oportunidades que o
mercado oferece.
A sociedade brasileira e a sociedade mundial encontramse num momento em
que as “mídias” passam por crise profunda. O uso de computadores está mudando a
forma como a informação é criada,gerenciada e acessada. Essa habilidade de gerar,
copiar, pesquisar e transmitir informação em rede esta permitindo a adoção crescente
de tecnologias de informação de acesso aberto.
Também com essas tecnologias pode ser realizada uma coleta seletiva de fontes
de informação de acesso livre que facilita o trabalho dos profissionais da informação,
recuperando coleções digitais que estarão permanentemente e gratuitamente
disponíveis.
As mudanças trazidas pela tecnologia da informação, principalmente,
relacionadas às possibilidades de localizar informações que, a princípio, estariam
subutilizadas, elitizadas ou até mesmo não identificadas, apresentam um novo
panorama de atuação dos sistemas de informação no campo da comunicação científica
e exigem uma reflexão a respeito da utilização de meios e mecanismos que possam
facilitar o acesso a estes conteúdos.
A carta de São Paulo, assinada em São Paulo,em 2 de dezembro de 2005,
manifesto encabeçado pelo Ibict tem como intenção mobilizar a sociedade brasileira
em geral para a necessidade de se universalizar e democratizar a informação em
ciência e tecnologia, condição fundamental para o desenvolvimento econômico e social
do país.
A partir do modelo dos “open archives”, o IBICT vem trabalhando para que
instituições de ensino e pesquisa de todo o país passem a disponibilizar suas
produções científicas e acadêmicas também em formato livre, permitindo assim o
acesso pleno de todas as camadas sociais ao conhecimento produzido pelos vários
setores da sociedade.
O momento de transição do modelo clássico para o modelo de acesso livre foi
marcado por duas reações da comunidade científica. A primeira reação foi resistir às
altas de preços das assinaturas de periódicos até o surgimento dos consórcios que são
movimentos defensivos de resistência. No entanto, sem eficácia para alterar o status
quo. A segunda reação surgiu com a Declaração de Budapest em 2002 inaugurando o
Movimento de Acesso Livre que desencadeou uma série de movimentos integrados no
mundo todo para apoiar a transição para o chamado paradigma do acesso livre
eletrônico.
Hoje existem três declarações que regem o movimento Acesso Livre, ou seja, as
declarações de Budapeste, Bethesda e Berlim. As três apoiam o acesso global e
irrestrito ao conhecimento científico, nomeadamente aos resultados da investigação,
possibilitado pela publicação eletrônica.
As declarações de Bethesda e Berlim surgem como uma complementação a
Declaração de Budapeste, sendo que ambas indicam duas condições que devem ser
encontradas numa publicação para que esta seja considerada em acesso livre, que em
resumo são: o autor concede a todos os utilizadores o direito de utilizar sua obra
gratuitamente, desde que seja atribuída a correta autoria e uma cópia do trabalho
deverá ser depositado em pelo menos um repositório institucional.
Com a garantia da qualidade do material depositado, esperase atrair um maior
número de utilizadores, o que resultará no aumento da citação dos artigos, bem como,
no reconhecimento mundial do autor e da própria instituição.
Por acesso aberto, entendemos a disposição livre, gratuita e sem barreiras ou
restrições financeiras e técnicas, de literatura científica através da Internet ou na forma
impressa, permitindo que a mesma possa ser lida, impressa, copiada e distribuída sem
fins comerciais. Entendemos que o único limite para a reprodução e distribuição deve
ser o direito do autor sobre a integridade e crédito de sua obra, assim como a citação
adequada.
O acesso aberto à literatura científica pode contribuir à informação, criatividade,
inovação e conhecimento indispensáveis para a formação de um público instruído,
proporcionando também maiores oportunidades econômicas, culturais e sociais.
A disponibilidade eletrônica diminui os custos de publicação, aumenta
enormemente o acesso e permite otimizar o tempo gasto para o acesso,
potencializando o trabalho de pesquisa; o acesso aberto à literatura científica por meios
eletrônicos ou físicos proporciona um melhor aproveitamento dos investimentos
públicos em pesquisa, resultando em significativos benefícios para a ciência, à
economia e a sociedade.
A superação das barreiras de acesso à literatura científica estimula a pesquisa,
enriquece a educação e transforma a literatura em um bem útil e comum, contribuindo
para a superação das desigualdades de acesso ao conhecimento por razões
econômicas.
De acordo com a Declaração de Bethesda (2003), o livre acesso é um
pressuposto, pois se a informação não está amplamente disponível a informação não
está completa. Ou seja, o ideal de acesso é uma meta a ser alcançada por toda a
sociedade para promover o desenvolvimento científico e tecnológico.
O acesso aberto permite publicizar o que está sendo produzido na Universidade,
reforçando sua função de servir à sociedade ao promover o conhecimento científico e a
difusão cultural.
Garante, dessa forma, um bom funcionamento do sistema de comunicação
acadêmica assegurando que os resultados de pesquisa estejam disponíveis, a despeito
das barreiras geográficas e financeiras, para o irrestrito exame e, quando pertinente,
para a refutação.
O Manifesto Brasileiro de apoio ao Acesso Livre à Informação Científica define
contribuições em acesso livre:
“Contribuições em acesso livre incluem resultados de pesquisas científicas
originais, dados não processados, metadados, fontes originais,
representações digitais de materiais pictóricos, gráficos e material acadêmico
multimídia. As contribuições em acesso livre devem satisfazer duas condições
os(s) autor(es) e o(s) detentores dos direitos de tais contribuições concede(m)
a todos os usuários: direito gratuito, irrevogável e irrestrito de acessálas;
licença para copiálas, usálas, distribuílas, transmitilas e exibilas
publicamente licença para realizar e distribuir obras derivadas, em qualquer
suporte digital para qualquer propósito responsável, em obediência à correta
atribuição da autoria (as regras da comunidade continuarão a fornecer
mecanismos para impor a atribuição e uso responsável dos trabalhos
publicados, como acontece no presente) e com a garantia de fazer cópias”.
O movimento de apoio aos open archives e ao acesso livre à informação tem
recebido manifestações de apoio de vários países e instituições de pesquisa ou de
apoio à pesquisa como a Declaração de Berlim, a Declaração de Bethesda, a
Declaração de Budapeste, o Manifesto Brasileiro de Apoio ao Acesso Livre à
Informação Científica e a Declaração de Salvador, entre outras manifestações
institucionais. Esse movimento vem propondo a criação de repositórios de acesso livre,
com base no modelo open archives, ressaltando a importância de que toda e qualquer
pesquisa financiada com recursos públicos devem ter os seus resultados publicados,
obrigatoriamente, nesses repositórios.
2.2 Relato da Experiência
Nosso primeiro contato com o Observatório foi como integrante do grupo PET
Educação por meio da Profª Drª Leila Chalub Martins, então tutora do grupo. No
entanto, naquele momento outra petiana, Pollyanna Miranda, juntouse aos
pesquisadores do projeto a fim de realizar o cadastro da tutora no site.
Em maio de 2005, a Profª Drª Maria Helena Carneiro, convidada a integrarse ao
grupo de validação do Observatório, acenou a possibilidade de figurarmos, em
paarceria, como pesquisadorasjunior sob sua orientação no projeto.
Foi oficializada então nossa participação no projeto e ante a desistência de
Pollyanna, assumimos o compromisso de cadastrar e pesquisar novas ferramentas
tecnológicas na área temática das professoras supracitadas. Tendo contribuído mais a
frente com o cadastro do Profº Drº Paulo Bareicha.
O Observatório foi pensado, sobretudo como um espaço gratuito de
compartilhamento do saber entre pesquisadores de todo o Brasil e teve sua primeira
fase de validação na Universidade de Brasília, em grupo de pesquisadores
principalmente da área educacional e de tecnologias da informação. Ao pesquisador
junior cabia o trabalho de automatização da entrada de dados, pesquisa de novas
tecnologias em educação e a validação pedagógica do sistema de cadastro e
navegação do sítio sob o auxilio de professores e estudantes da área de Ciências da
Computação e sob orientação do professor o qual ele se vinculava.
As discussões promovidas ao longo do trabalho e formalizadas em reunião às
sextas feiras, para além do simples relato de bugs e os encaminhamentos por parte do
núcleo de pesquisadores de Ciências da Computação, foram importantes para
sugestão de idéias que flexibilizassem o acesso e cadastramento de informações, bem
como para pesquisa por novas ferramentas que facilitariam a interatividade do sistema.
Somandose a este momento reflexões sobre o próprio formato e design do sistema, e
suas implicações para o interesse do usuário pelo conteúdo postado.
O desejo de fomentar espaços para a realização de cursos a distância e para a
troca com os alunos no campo de “Apoio a Disciplinas” levou a novas discussões sobre
as limitações do Observatório em cumprir estas propostas, ainda caracterizado como
um ambiente rígido por ser uma base de dados dependente de administração
especializada. A dificuldade de promover esta interação necessária para o processo de
ensino e aprendizagem em ambiente virtual somada a ausência de espaço no
Observatório para a produção do aluno de graduação, levou o grupo a criação de uma
plataforma paralela ao Observatório, a Webcolaborativa, no momento a chamada
Drupal.
A criação da Webcolaborativa imprimiu uma nova dinâmica ao trabalho, se antes
os alunos, pesquisadoresjunior, limitavam sua função ao exaustivo e muitas vezes
mecanizado trabalho de cadastro de informações de outrem, a possibilidade de sua
própria produção ser considerada inaugura fase completamente diferenciada.
O trabalho de validação do Observatório do Mundo Acadêmico caracterizouse
primeiramente pela superação pessoal de resistências ao mundo digital seguida da
inserção no debate a cerca da inclusão educacional e digital e do acesso livre ao
conhecimento. Este processo foi acompanhado de muitas reflexões sobre as relações
professoraluno manifestadas na relação pesquisador/professor e pesquisadorjunior,
precisamente em se tratando daquelas referentes a dependência/autonomia.
Ainda que pertencente a parte privilegiada do país, com acesso significativo aos
bens intelectuais, materiais, sociais e culturais, percebemos resistências pessoais
constantes a lógica digital instaurada. Essas resistências eram principalmente devido
ao ritmo imprimido pela tecnologia da realidade do mundo em rede. O volume de
informações e possibilidades que o trabalho no Observatório produzia era tamanho,
principalmente por contar com pesquisadores diretamente ligados a área de
tecnologias da educação e do curso de Ciências da Computação, que por vezes
sentimos nossa produção bastante limitada dentro do projeto.
O convívio com os profissionais supracitados melhorou consideravelmente nossa
produção e empenho, além de ter contribuído para o contato com vocabulário e
referencial próprio dessa área. Dessa forma passamos aos poucos a nos inserir na
discussão sobre acesso livre ao conhecimento, inclusão educacional e digital no país,
as políticas publicas a ela vinculadas, bem como a importância da iniciativa da Unesco
no fomento desta. Ultrapassando as informações de senso comum, nos sentimos
responsáveis enquanto cidadãs e futuras pedagogas a contribuir com a inclusão digital
que é antes de tudo educacional. Conseguimos então entender claramente o porquê de
fazer parte de uma equipe interdisciplinar e do papel da educação para o projeto.
Passado essa fase inicial as maiores dificuldades surgiram devido às constantes
adaptações e atualizações no site do Observatório, que implicaram em demora e
perdas no cadastramento de dados bem como na própria impossibilidade de pesquisar
novas ferramentas devido à instabilidade do sistema. Enfrentamos um novo problema,
desta vez com os professores, que envolvidos em outras atividades muitas vezes não
conseguiam estar presente nas reuniões e fornecer mais materiais para alimentar suas
páginas. Esse quadro limitava a atuação no projeto já que esta estava atrelada à
produção do professor. A resistência ao mundo digital também foi fator relevante neste
aspecto, agora manifestada pelos professores, que sem muita familiaridade com a
internet restringiam as possíveis trocas com o uso desta.
A instabilidade do sistema, as perdas e o caráter experimental do projeto não
motivavam os professores, paralelamente a isso pude observar que não havia também
um consenso sobre a questão do acesso livre, e alguns, ainda privilegiavam ambientes
mais fechados e seguros para seus conteúdos acadêmicos.
Essa dinâmica se por um lado provocou uma distorção na proposta do projeto
que previa o progressivo uso autônomo das ferramentas do sítio pelos próprios
professores numa perspectiva de atuação provisória dos pesquisadoresjunior, por
outro foi oportunizada no sentido de se pensar em um espaço para os próprios alunos
onde estes protagonizariam uma ação que dependia somente deles mesmos.
A Webcolaborativa transformouse em espaço de autonomia e aprendizagem
colaborativa entre os pesquisadoresjunior e posteriormente estendida aos demais
alunos da Faculdade de Educação, UnB. O compromisso do grupo de pesquisa da UnB
com Validação do Observatório do Mundo Acadêmico terminou, passando o estudo e
intervenção para demais universidades do Brasil, contudo os alunos persistiram junto a
alguns docentes com o trabalho do Portal do Aluno e da Cidadania.
Ainda experimental, o portal caracterizase pela indissociabilidade de pesquisa,
ensino e extensão para a promoção de excelência acadêmica, modernização do ensino
superior pautado na cidadania e na função social da educação. A atuação de
integrantes do PET Educação no projeto de validação da Webcolaborativa contribui
para a escolha deste como espaço de divulgação e troca dos trabalhos desenvolvidos
pelo grupo. Para além desta escolha, elaboramos uma proposta de inserção do
movimento estudantil organizado, com enfoque no PET, coordenado pelas autoras em
nome do grupo.
3. RESULTADOS
O grupo PET Educação já orientou a inserção de informações de 9 grupos no
Portal tendo sido registradas suas produções em ensino, pesquisa e extensão. Em sua
atual fase de implementação e ampliação, estão sendo pensadas estratégias para a
inserção demais grupos PET. A depender da estabilidade e segurança do portal após
validado, o programa poderá figurar no site com produções regionais até atingirmos a
totalidade dos grupos nacionalmente.
CONTATOS
Darlana Ribeiro Gogoi – [email protected]
Paula Ferro Mendes Campos – [email protected]