A1T2 Coseriu - Lições de Linguística Geral cap 1

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uçò DE LI NGUISTICA GERAL (Ediçãq revista e coårrigidpelo autor) Q . as

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Premussas Hrstórrcas da al.||'lgU|SÍ|Cõ Moderna ·1.1. Para oferecer uma idéia panorâmica da lingüística moderna toma-se neces— ,Sário, antes de tudo, Colocá�la no seu contexto histórico, tanto mediato quantoimediato e, após ter procurado quais os motivos e intuições do passado que servemde base a teorias e orientações atuais, apresentar destas uma síntese orgânica, quepermita formular uma série de propostas satisfatórias a respeito do problema fun-damental: "Que se entende, hoje, por linguagem?"1.2. Comecemos por uma observação óbvia: quem quer que depois de ter seguidoum curso de lingüística em uma universidade italiana, se detenha no estudo da cha-mada lingüística moderna, entendendo como tal as várias correntes surgidas dasprimeiras décadas do nosso século, é surpreendido pela diferença entre os proble-mas e os argumentos desta e daquela. É envolvido, por assim dizer, numa sensaçãode novidade, mais aparente do que real, quando confronta a pesquisa lingüística doséculo XIX com as formulações da lingüística "modema”, como se entre estas duasexistisse uma evidente rutura., Há mais ainda: quem procurar um Seguro nexo condutor entre as várias expe-riências da lingüística moderna e imaginar que poderá encontrar uma explicaçãocoerente de certos fatos em manuais introdutórios, se sentirá frustrado e perceberáque os manuais, introduzindo o leitor, na realidade, numa detemiinada visão dalingüística, oferecem não um panorama completo mas sim setorial, com desconhe-cirrrento freqüente de algumas orientações que outros manuais, por seu tumo, põememevidência. · 'A lingüística modema apresenta uma tal variedade de temas, concepções ehipóteses (formuladas muitas vezes numa linguagem que não hesitaríamos em clas-silicar de esotérica), que o iniciante, apesar de fascinado, não deixa de ficar tam-« bem aturdido. Daí os lingüistas deproñssão educados para trabalhar segundo

Premussas Hrstórrcas da al.||'lgU|SÍ|Cõ Moderna ·1.1. Para oferecer uma idéia panorâmica da lingüística moderna toma-se neces— ,Sário, antes de tudo, Colocá­la no seu contexto histórico, tanto mediato quantoimediato e, após ter procurado quais os motivos e intuições do passado que servemde base a teorias e orientações atuais, apresentar destas uma síntese orgânica, quepermita formular uma série de propostas satisfatórias a respeito do problema fun-damental: "Que se entende, hoje, por linguagem?"1.2. Comecemos por uma observação óbvia: quem quer que depois de ter seguidoum curso de lingüística em uma universidade italiana, se detenha no estudo da cha-mada lingüística moderna, entendendo como tal as várias correntes surgidas dasprimeiras décadas do nosso século, é surpreendido pela diferença entre os proble-mas e os argumentos desta e daquela. É envolvido, por assim dizer, numa sensaçãode novidade, mais aparente do que real, quando confronta a pesquisa lingüística doséculo XIX com as formulações da lingüística "modema”, como se entre estas duasexistisse uma evidente rutura., Há mais ainda: quem procurar um Seguro nexo condutor entre as várias expe-riências da lingüística moderna e imaginar que poderá encontrar uma explicaçãocoerente de certos fatos em manuais introdutórios, se sentirá frustrado e perceberáque os manuais, introduzindo o leitor, na realidade, numa detemiinada visão dalingüística, oferecem não um panorama completo mas sim setorial, com desconhe-cirrrento freqüente de algumas orientações que outros manuais, por seu tumo, põememevidência. · 'A lingüística modema apresenta uma tal variedade de temas, concepções ehipóteses (formuladas muitas vezes numa linguagem que não hesitaríamos em clas-silicar de esotérica), que o iniciante, apesar de fascinado, não deixa de ficar tam-« bem aturdido. Daí os lingüistas deproñssão educados para trabalhar segundo
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2 LIÇÕES DE LINGÜIŠTICA GERALVc�nones tradicionais lhe darem seguidamente um valor negativo, colocando em re-levo a escassa validade operacional, devida ao abismo existente entre arcabouçoteórico e resultados práticos. A lingüística tradicional, a chamada histórica, era maisconcreta, é o que se ouve dizer em muitos lugares, especialmente na Itália; mal-grado existissem nela divergências até mesmo fundamentais, como entre os defen-sores da lingüística genealógica e os da lingüística geográfica, havia um acordo subs-tancial na escolha dos temas a enfrentar. Quem teria jamais discutido, por exemplo,sobre a teoria da sintaxe?1.3. Primeiramente foi assinalado o caráter de aparente novidade, próprio dagüística moderna. Ora, é oportuno distinguir entre novidade efetiva e desenvolvi-mento, com roupagem modema, de temas já conhecidos. Isto posto, não há dúvidade que a lingüística moderna encara, de um lado, problemas sobre a natureza eestrutura da linguagem que a lingüística tradicional havia desprezado; por outrolado, ela não se ocupa absolutamente com indagações históricas; ou então, procurajustiñcar a história (desenvolvimento) partindo da descrição (estrutura).'Entretanto,é evidente, antes de tudo, que, dado o caráter abstrato e quase filosófico dessas ,preocupações, a lingüística atual deve reelaborar e desenvolver a seu modo taistemas e problemas que, constituindo-se em interesses culturais particulares, caduca- aram e não foram considerados como objetos de ciência, principalmente na segundametade do século XIX. _1.4. É opinião comum, introduzida na realidade pelos estudiosos desses períodos,que a lingüística científica é aquela que se segue à difusão da comparação comoestudo sistemático das correspondências entre as línguas. Mas se a esta visão, tãolegítima quanto estreita, opusermos uma outra que considera lingüística qualquerforma de reflexão sobre a linguagem, a lingüística modema parecer-nos-á um re� .I torno a temas essenciais da especulação lingüística do século XVIII, a qual, por suavez, reelaborava motivos intrinsecamente ligados às discussões mantidas já na anti-güidade clássica sobre a origem e as características da linguagem.- Distinguindo portanto a lingüística histórica e comparada da lingüística geral,teremos o seguinte quadro da sucessão dos interesses lingüísticos através dos tem-A pos: . _. A� a) Da antiguidade clássica até 0 Renascimento predominam problemas dedefinição, relativos, por exemplo, à essência da linguagem e às categorias das lín-guas, e problemas de descrição. Até o Renascimento quem se ocupou de línguas `teorizou sobre a linguagem e descreveu língua, baseado freqüentemente no que já,fora teorizado, por ele mesmo ou por outros. 'b) No Renascirnento, mesmo não descurando por completo a preocupaçãoteórica, há predominância de uma outra, que não fora absolutamente ignorada an-tes: a histórico-comparativa. Comparam�se línguas diversas ou também fases histó- .ricas de uma língua e se procura a explicação de fatos históricos. Exemplo

2 LIÇÕES DE LINGÜIŠTICA GERALVcānones tradicionais lhe darem seguidamente um valor negativo, colocando em re-levo a escassa validade operacional, devida ao abismo existente entre arcabouçoteórico e resultados práticos. A lingüística tradicional, a chamada histórica, era maisconcreta, é o que se ouve dizer em muitos lugares, especialmente na Itália; mal-grado existissem nela divergências até mesmo fundamentais, como entre os defen-sores da lingüística genealógica e os da lingüística geográfica, havia um acordo subs-tancial na escolha dos temas a enfrentar. Quem teria jamais discutido, por exemplo,sobre a teoria da sintaxe?1.3. Primeiramente foi assinalado o caráter de aparente novidade, próprio da güística moderna. Ora, é oportuno distinguir entre novidade efetiva e desenvolvi-mento, com roupagem modema, de temas já conhecidos. Isto posto, não há dúvidade que a lingüística moderna encara, de um lado, problemas sobre a natureza eestrutura da linguagem que a lingüística tradicional havia desprezado; por outrolado, ela não se ocupa absolutamente com indagações históricas; ou então, procurajustiñcar a história (desenvolvimento) partindo da descrição (estrutura).'Entretanto,é evidente, antes de tudo, que, dado o caráter abstrato e quase filosófico dessas ,preocupações, a lingüística atual deve reelaborar e desenvolver a seu modo taistemas e problemas que, constituindo-se em interesses culturais particulares, caduca- aram e não foram considerados como objetos de ciência, principalmente na segundametade do século XIX. _1.4. É opinião comum, introduzida na realidade pelos estudiosos desses períodos,que a lingüística científica é aquela que se segue à difusão da comparação comoestudo sistemático das correspondências entre as línguas. Mas se a esta visão, tãolegítima quanto estreita, opusermos uma outra que considera lingüística qualquerforma de reflexão sobre a linguagem, a lingüística modema parecer-nos-á um re­ .I torno a temas essenciais da especulação lingüística do século XVIII, a qual, por suavez, reelaborava motivos intrinsecamente ligados às discussões mantidas já na anti-güidade clássica sobre a origem e as características da linguagem.- Distinguindo portanto a lingüística histórica e comparada da lingüística geral,teremos o seguinte quadro da sucessão dos interesses lingüísticos através dos tem-A pos: . _. A‛ a) Da antiguidade clássica até 0 Renascimento predominam problemas dedefinição, relativos, por exemplo, à essência da linguagem e às categorias das lín-guas, e problemas de descrição. Até o Renascimento quem se ocupou de línguas `teorizou sobre a linguagem e descreveu língua, baseado freqüentemente no que já,fora teorizado, por ele mesmo ou por outros. 'b) No Renascirnento, mesmo não descurando por completo a preocupaçãoteórica, há predominância de uma outra, que não fora absolutamente ignorada an-tes: a histórico-comparativa. Comparam­se línguas diversas ou também fases histó- .ricas de uma língua e se procura a explicação de fatos históricos. Exemplo
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PRENIISSAS HISTÓFHCAS DA LINGÚIŠTICA MODERNA 3disto é a indagação por que o latim se transformou em italiano, francês, espanhol,etc. Muitas soluções da lingüística histórica do século XIX já tinham sido anuncia-das no Renascimento mas, como é óbvio, com um reduzidíssimo instrumental teó-rico. Formulava�se de fato uma hipótese sobre a evolução natural das línguas, ouas modificações eram atribuídas a influxos de substratos ou superstratos (ex.: paraas línguas rom�nicas,—a influência de um superstrato germânico). Estas mesmasquestões predominam até o final do século XVII.C) No século XVIII problemas antigos são retomados, discute-se novamente,por exemplo, a teoria e descrição. Esta é, com efeito, a época da gramática geral eda descrição de algumas das línguas modernas. De acordo com esta temática, não ésurpreendente que na lingüística do século XVIII sejam encontradas várias questõespassíveis de ser julgadas atuais. Quem ler, por exemplo, Hermes, de James Harrisl,das obras lingüísticas mais importantes do século, poderá ter a impressão, aomenos no que diz respeito à colocação de certos problemas, de se achar diante deum trabalho de nossos dias.d) Com o século XIX temos, de certo modo, um retomo à problemática do ARenascimento, estando o interesse voltado principalmente para comparação e his-tória. Quem, entretanto, baseando�se no preconceito de que somente agora esti-vesse nascendo um método históricocrítico, fizesse coincidir com este século o nas-cimento da lingüística moderna, certamente estaria ignorando a especulação pre-cedente e sobretudo identificaria a lingüística moderna com a histórico-comparativajecomo se fosse esta a nossa verdadeira disciplina. Todavia apenas um motivo,não novo, é retomado, e além do mais — enquanto solicitado pelo contexto his-tórico particular — oposto aos da lingüística do século XVIII.e) A lingüística atual é novamente dominada pelas questões seguintes: 1) oproblema da teoria, com várias orientações e teorias da linguagem diferentes entresi; 2) o problema da descrição e da aplicação, com propostas de questões práticas °também no âmbito da lingüística histórica. A lingüística atual, portanto, reelabora,mas à maneira de tese e antítese, a problemática do século XVIII. “Com respeito à lingüística atual — sobretudo teórica, descritiva, sincrônica(referente a determinada fase de uma língua) e não diacrônica (relativa ao estudoda língua através do tempo)- a lingüística imediatamente precedente pode serconsiderada como uma espécie de parêntese no longo desenvolvimento dos pro-dblemas lingüísticos, a partir da antiguidade, isto é, desde quando esses problemasforam postos pela primeira vez no mundo ocidental, uma vez que, neste nosso pa-norama, se omite deliberadamente, pela nenhuma repercussão em nossa cultura, aobra dos gramáticos hindus antigos, particulannente a de P�nini.‘ J. Harris, Hermes or a Philosophícal Inquíry Concerníng Language and UníversalGrammar [HermeS ou pesquisa filosófica sobre a linguagem e a gramática universal], Londres,1751.

PRENIISSAS HISTÓFHCAS DA LINGÚIŠTICA MODERNA 3disto é a indagação por que o latim se transformou em italiano, francês, espanhol,etc. Muitas soluções da lingüística histórica do século XIX já tinham sido anuncia-das no Renascimento mas, como é óbvio, com um reduzidíssimo instrumental teó-rico. Formulava­se de fato uma hipótese sobre a evolução natural das línguas, ouas modificações eram atribuídas a influxos de substratos ou superstratos (ex.: paraas línguas romānicas,—a influência de um superstrato germânico). Estas mesmasquestões predominam até o final do século XVII.C) No século XVIII problemas antigos são retomados, discute-se novamente,por exemplo, a teoria e descrição. Esta é, com efeito, a época da gramática geral eda descrição de algumas das línguas modernas. De acordo com esta temática, não ésurpreendente que na lingüística do século XVIII sejam encontradas várias questõespassíveis de ser julgadas atuais. Quem ler, por exemplo, Hermes, de James Harrisl, das obras lingüísticas mais importantes do século, poderá ter a impressão, aomenos no que diz respeito à colocação de certos problemas, de se achar diante deum trabalho de nossos dias.d) Com o século XIX temos, de certo modo, um retomo à problemática do ARenascimento, estando o interesse voltado principalmente para comparação e his-tória. Quem, entretanto, baseando­se no preconceito de que somente agora esti-vesse nascendo um método históricocrítico, fizesse coincidir com este século o nas-cimento da lingüística moderna, certamente estaria ignorando a especulação pre-cedente e sobretudo identificaria a lingüística moderna com a histórico-comparativajecomo se fosse esta a nossa verdadeira disciplina. Todavia apenas um motivo,não novo, é retomado, e além do mais — enquanto solicitado pelo contexto his-tórico particular — oposto aos da lingüística do século XVIII.e) A lingüística atual é novamente dominada pelas questões seguintes: 1) oproblema da teoria, com várias orientações e teorias da linguagem diferentes entresi; 2) o problema da descrição e da aplicação, com propostas de questões práticas °também no âmbito da lingüística histórica. A lingüística atual, portanto, reelabora,mas à maneira de tese e antítese, a problemática do século XVIII. “Com respeito à lingüística atual — sobretudo teórica, descritiva, sincrônica(referente a determinada fase de uma língua) e não diacrônica (relativa ao estudoda língua através do tempo)- a lingüística imediatamente precedente pode serconsiderada como uma espécie de parêntese no longo desenvolvimento dos pro-dblemas lingüísticos, a partir da antiguidade, isto é, desde quando esses problemasforam postos pela primeira vez no mundo ocidental, uma vez que, neste nosso pa-norama, se omite deliberadamente, pela nenhuma repercussão em nossa cultura, aobra dos gramáticos hindus antigos, particulannente a de Pānini.‘ J. Harris, Hermes or a Philosophícal Inquíry Concerníng Language and UníversalGrammar [HermeS ou pesquisa filosófica sobre a linguagem e a gramática universal], Londres,1751.
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V4 LIÇÕES DE LINGÙIŠTICA GÉRAL1.5. No Renascimento e no século XIX prevaleceu o historicismo, e é natural quedessa natureza fosse também a lingüística de tal período, enquanto a preocupaçãoque hoje domina a disciplina, de modo geral, é, como dissemos, de caráter teóricoe descritivo. Por este motivo a lingüística moderna, em sua colocação essencial, nãoé absolutamente nova, antes retorna às suas tradições mais antigas. Trata-se de umretorno não declarado explicitamente e até mesmo por vezes ignorado pelos pró-prios lingüistas. _ `1.5.1. O esquema seguinte mostra a sucessão e a intercessão das orientações dalingüística através dos tempos:Origens �> Renascimento �> Século XVIII Século XIX Século XX— —> Renascimento �> Séc. XVIIITeoria e - Teoria e - Teoria edescrição Comimïaçao descrição Compãlagwi descriçãoe historia ,e histona _1.5.2. Eis alguns exemplos. � _ VA distinção entre "signiticante" (isto é, a parte material do signo lingüístico)e "signiÍicado" (ou seja, o conteúdo mental do próprio signo lingüístico) é atri-buída, a maior parte das vezes, a Ferdinand de Saussure, que todavia detinia 0 "sig-niñcante" como "imagem acústica", de natureza psíquica e não física. Mas tal dis-tinção é muito antiga: ela já aparece, com outras palavras, no De iriterprerationede Aristóteles, que distingue o que está na voz rd� év r� xpwvñ daquilo que está naalma rò� év 7f] gbvxfy. _Nem ao menos se fala daquilo que está fora do homem; o queestá na voz é símbolo do que está na alma. Tal distinção se torna explícita na gra-mática dos estóicos, que distinguem entre Onuo�ïvov e U‘!]]JOLLlJÓ/JEVOV e, fora destes,(isso é fora do signo), rrpõvyuo�, “Coisa". Só se explica que esta distinção seja atri-buída a Saussure porque se interrompeu a linha teórica no decorrer dos séculos.1.5.3. Uma outra distinção queparece recentíssima é aquela que se estabelece en-tre a linguagem que tem por objeto realidades extralingüísticas (chamá-la-emos"p1imária") e a que tem por objeto a própria linguagem ou "metalinguagem"2. Porexemplo: a (casa A casa tem dois andares (linguagem "primá1'ia"){ Casa tem quatro letrascasa . .Casa se pronuncia com S sonoro ou S surdo ("metalmguagem")° Veja�se ainda o capítulo 12.

V4 LIÇÕES DE LINGÙIŠTICA GÉRAL1.5. No Renascimento e no século XIX prevaleceu o historicismo, e é natural quedessa natureza fosse também a lingüística de tal período, enquanto a preocupaçãoque hoje domina a disciplina, de modo geral, é, como dissemos, de caráter teóricoe descritivo. Por este motivo a lingüística moderna, em sua colocação essencial, nãoé absolutamente nova, antes retorna às suas tradições mais antigas. Trata-se de umretorno não declarado explicitamente e até mesmo por vezes ignorado pelos pró-prios lingüistas. _ `1.5.1. O esquema seguinte mostra a sucessão e a intercessão das orientações dalingüística através dos tempos:Origens ―> Renascimento ―> Século XVIII Século XIX Século XX— —> Renascimento ―> Séc. XVIIITeoria e - Teoria e - Teoria edescrição Comimïaçao descrição Compãlagwi descriçãoe historia ,e histona _1.5.2. Eis alguns exemplos. ‛ _ VA distinção entre "signiticante" (isto é, a parte material do signo lingüístico)e "signiÍicado" (ou seja, o conteúdo mental do próprio signo lingüístico) é atri-buída, a maior parte das vezes, a Ferdinand de Saussure, que todavia detinia 0 "sig-niñcante" como "imagem acústica", de natureza psíquica e não física. Mas tal dis-tinção é muito antiga: ela já aparece, com outras palavras, no De iriterprerationede Aristóteles, que distingue o que está na voz rdć év rŷ xpwvñ daquilo que está naalma ròć év 7f] gbvxfy. _Nem ao menos se fala daquilo que está fora do homem; o queestá na voz é símbolo do que está na alma. Tal distinção se torna explícita na gra-mática dos estóicos, que distinguem entre Onuoćïvov e U‘!]]JOLLlJÓ/JEVOV e, fora destes,(isso é fora do signo), rrpõvyuoć, “Coisa". Só se explica que esta distinção seja atri-buída a Saussure porque se interrompeu a linha teórica no decorrer dos séculos.1.5.3. Uma outra distinção queparece recentíssima é aquela que se estabelece en-tre a linguagem que tem por objeto realidades extralingüísticas (chamá-la-emos"p1imária") e a que tem por objeto a própria linguagem ou "metalinguagem"2. Porexemplo: a (casa A casa tem dois andares (linguagem "primá1'ia"){ Casa tem quatro letrascasa . .Casa se pronuncia com S sonoro ou S surdo ("metalmguagem")° Veja­se ainda o capítulo 12.
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PREMISSAS HISTÓRICAS DA LINGÚIŠTICA MODERNA 5Também esta distinção entre uso primário das palavras e uso "reÍ1exivo"` (aplicado às próprias palavras) não é nova, pois aparece já em forma explícita noDe magistro de Santo Agostinho, onde, a respeito de verbum, se diz que é uma pa-lavra (verbum), do mesmo modo que o são "caSaÏ’, "cão", "livro”, e que significa"pa1avra" ("verbum"). Depois, tal distinção é retomada outras vezes na história dasreflexões sobre linguagem, p_articu1an'nente na lógica medieval, que distingue a sup� eposítio forrmzlis "hipótese forma1" ou "funCional" (consideração da linguagemcomo linguagem primária) da suppOsitíO`mJ1teríz1lis "hipótese material" (considera-ção da linguagem como "meta]inguagem’.’). `Trata-se ainda de um retomo a questões já existentes; isto nos deveria con-vencer de que muitos motivos e problemas da lingüística atual não são "novos"mas, retomados e redescobertos no curso da história, voltam hoje a ser postos à luz.1.5.4. Um outro exemplo é a distinção entre sincroniae diacronia (cf 1.4, e) tam-bém atribuída a Saussure, mas que já se acha, por exemplo, nas notas acrescentadasà edição francesa da obra já citada de Harris (cf 1.4, C), traduzida por FrançoisThurot, no quarto ano da República. Em uma das longas notas que ajunta à tradu-ção, Thurot declara que, ao apresentar o verbo francês, adotará não O ponto devista etimológico, mas o da "ordem sistemática", atual, do verbo francês, ou seja,a descrição de um estado é oposta à história da língua.Esta distinção aflora também no século XIX, num autor muito interessantee a que Saussure deve muitíssimo: Georg von der Gabelentz, autor da densa obraDíe Sprzzchwíssensch�zft, Ihre Aufg�zbe, Methoderz und bisherigerz Ergebnisse (A lin-güzsticu, seus objetivos, métodos e recentes resultados), editada em 1891 e, após amorte do autor ocorrida em 1893, reeditada em 1901, com reelaboraç�o de A. vonder Schulenburg, sobre a qual se reproduz a edição de 1969.Gabelentz distingue explicitamente entre fatos simultâneos (gleíchzeítíg "con-temporâneos, sincrònicos") e fatos que se sucedem um depois do outro, sucessivos(aufeirzanderfolgend "sucessivoS, diacrôr1icos"), e Saussure, na obra Cours de lín-guístíque générale (Curso de lingüística geral), publicação póstuma de 19163, re-torna estas definições e as traduz por faits synchroníques e termes Successíß. Edepois de Gabelentz, Dittrich, em uma obra de 1904 sobre a psicologia da lingua-gem, faz distinção entre as duas formas de lingüística, que chama respectivamenteSynchronístisch e metuchronístisclf.3 Consu1te�se a tradução italiana desse livro, dotada de amplo comentário, feita por T.de Mauro,`COrS0 dí lzrtguístiezz generule, Laterza, Bari, 1968. �‘ Trata-se da obra Grundzüge der Spruchpsychologíe [Furzdumentos derpsícologiu dalinguagem], onde se declara que o objetivo da psicologia da língua é entender “a língua comoproduto humano . . . no seu condicionamento através da organização psicofísica e da atividadeda coletividade lingüística?

PREMISSAS HISTÓRICAS DA LINGÚIŠTICA MODERNA 5Também esta distinção entre uso primário das palavras e uso "reÍ1exivo"` (aplicado às próprias palavras) não é nova, pois aparece já em forma explícita noDe magistro de Santo Agostinho, onde, a respeito de verbum, se diz que é uma pa-lavra (verbum), do mesmo modo que o são "caSaÏ’, "cão", "livro”, e que significa"pa1avra" ("verbum"). Depois, tal distinção é retomada outras vezes na história dasreflexões sobre linguagem, p_articu1an'nente na lógica medieval, que distingue a sup― eposítio forrmzlis "hipótese forma1" ou "funCional" (consideração da linguagemcomo linguagem primária) da suppOsitíO`mJ1teríz1lis "hipótese material" (considera-ção da linguagem como "meta]inguagem’.’). `Trata-se ainda de um retomo a questões já existentes; isto nos deveria con-vencer de que muitos motivos e problemas da lingüística atual não são "novos"mas, retomados e redescobertos no curso da história, voltam hoje a ser postos à luz.1.5.4. Um outro exemplo é a distinção entre sincroniae diacronia (cf 1.4, e) tam-bém atribuída a Saussure, mas que já se acha, por exemplo, nas notas acrescentadasà edição francesa da obra já citada de Harris (cf 1.4, C), traduzida por FrançoisThurot, no quarto ano da República. Em uma das longas notas que ajunta à tradu-ção, Thurot declara que, ao apresentar o verbo francês, adotará não O ponto devista etimológico, mas o da "ordem sistemática", atual, do verbo francês, ou seja,a descrição de um estado é oposta à história da língua.Esta distinção aflora também no século XIX, num autor muito interessantee a que Saussure deve muitíssimo: Georg von der Gabelentz, autor da densa obraDíe Sprzzchwíssenschćzft, Ihre Aufgćzbe, Methoderz und bisherigerz Ergebnisse (A lin-güzsticu, seus objetivos, métodos e recentes resultados), editada em 1891 e, após amorte do autor ocorrida em 1893, reeditada em 1901, com reelaboraçāo de A. vonder Schulenburg, sobre a qual se reproduz a edição de 1969.Gabelentz distingue explicitamente entre fatos simultâneos (gleíchzeítíg "con-temporâneos, sincrònicos") e fatos que se sucedem um depois do outro, sucessivos(aufeirzanderfolgend "sucessivoS, diacrôr1icos"), e Saussure, na obra Cours de lín-guístíque générale (Curso de lingüística geral), publicação póstuma de 19163, re-torna estas definições e as traduz por faits synchroníques e termes Successíß. Edepois de Gabelentz, Dittrich, em uma obra de 1904 sobre a psicologia da lingua-gem, faz distinção entre as duas formas de lingüística, que chama respectivamenteSynchronístisch e metuchronístisclf.3 Consu1te­se a tradução italiana desse livro, dotada de amplo comentário, feita por T.de Mauro,`COrS0 dí lzrtguístiezz generule, Laterza, Bari, 1968. ―‘ Trata-se da obra Grundzüge der Spruchpsychologíe [Furzdumentos derpsícologiu dalinguagem], onde se declara que o objetivo da psicologia da língua é entender “a língua comoproduto humano . . . no seu condicionamento através da organização psicofísica e da atividadeda coletividade lingüística?
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6 LIÇÕES DE LINGUIŠTICA GERAL.l.5.5.l Uma outra distinção moderna que, na realidade, vem desde a antiguidade e_que, por vezes, —é retomada até com a mesma roupagem daquele tempo, é a que dizrespeito a lzngua enquanto saber, técnica, e falar enquanto realização da técnicalingüística concreta — na terminologia saussuriana, entre langue a parole ou, segundoa oposição afim proposta recentemente por A. Noam Chomsky, entre competence(competência) e performance (desempenho). _— Na realidade, esta distinção, também atribuída correntemente a Saussure,está implícita em toda a gramática desde que existe uma disciplina gramatical, por-que nenhuma gramática jamais descreveu o falar, o desempenho, mas sempre pre-tendeu descrever a lmgua, o saber lingüístico, a langue, a competência. lsto, natu-ralmente, de modo implícito. Depois, de modo explícito, a distinção aparece naEncíclopédía das ciências filosóficas de Hegel, parágrafo 459, dedicado à lingua-gem. A fórmula de Hegel é muitíssimo simples: "Die }@e und ihr System, die‘ Spracl1e", ‘o falar e seu sistema, a língua’. O cursivo é do próprio Hegel, e parece »indicar um uso técnico para esses termos, ainda correntes com O mesmo valor nalíngua alemã. Entretanto, na obra de Gabelentz acima citada, esta distinção não éapenas formulada mas também discutida e tomada como fundamento de uma dis� ·tinção correspondente entre disciplinas lingüísticas, descritivas e históricas.Gabelentz distingue na "1inguagem" (Sprache) o "falar" (Rede), a "língua"(Einzelsprache) e a “faCuldade da linguagem" (Sprachvermögem); no Curso de lin· `gúzstica geral de Saussure, acham�se, através de conceitos praticamente análogos aestes, os termos parole, langue e faculte de langage. Poder-se-ia obter daí O seguinteA esquema:Rede (Saussure, parole)Spraclze [ Einzelspraclze (língua determinada; Saussure, langue) ' · —Sprach vermögen (Saussure, faculte de langage) .Esta distinção é entendida por Gabelentz como fundamento defuma outra,[ entre as disciplinas lingüísticas que, no seu entender, deveriam ser subdivididas em:a)A lingüística descritiva, isto é, uma disciplina que explica o falar e por isso des-creve o sistema que o regula;- b) lingüística histórico-comparativa, que procuraexplicar historicamente a língua; C) lingüística geral, cujo objeto é a faculdade dalinguagem em geral. ’_l.5.6. Ouve-se falar freqüentemente da teoria da arbitrariedade do signo lingüís-tico (arbítraíre du Signe; na terminologia de Saussure), segundo a qual as palavrasconsideradas em si não são motivadas naturalmente, isto é, não existe relação decausa entre a palavra e. a coisa significada ou designada. A palavra mesa não se asse-melha de modo nenhum ao objeto "meSa" nem ao respectivo conceito, e neste sen-tido é arbitrária. Esta teoria também foi atribuída a Saussure. Em recente artigo

6 LIÇÕES DE LINGUIŠTICA GERAL.l.5.5.l Uma outra distinção moderna que, na realidade, vem desde a antiguidade e_que, por vezes, —é retomada até com a mesma roupagem daquele tempo, é a que dizrespeito a lzngua enquanto saber, técnica, e falar enquanto realização da técnicalingüística concreta — na terminologia saussuriana, entre langue a parole ou, segundoa oposição afim proposta recentemente por A. Noam Chomsky, entre competence(competência) e performance (desempenho). _— Na realidade, esta distinção, também atribuída correntemente a Saussure,está implícita em toda a gramática desde que existe uma disciplina gramatical, por-que nenhuma gramática jamais descreveu o falar, o desempenho, mas sempre pre-tendeu descrever a lmgua, o saber lingüístico, a langue, a competência. lsto, natu-ralmente, de modo implícito. Depois, de modo explícito, a distinção aparece naEncíclopédía das ciências filosóficas de Hegel, parágrafo 459, dedicado à lingua-gem. A fórmula de Hegel é muitíssimo simples: "Die }@e und ihr System, die‘ Spracl1e", ‘o falar e seu sistema, a língua’. O cursivo é do próprio Hegel, e parece »indicar um uso técnico para esses termos, ainda correntes com O mesmo valor nalíngua alemã. Entretanto, na obra de Gabelentz acima citada, esta distinção não éapenas formulada mas também discutida e tomada como fundamento de uma dis­ ·tinção correspondente entre disciplinas lingüísticas, descritivas e históricas.Gabelentz distingue na "1inguagem" (Sprache) o "falar" (Rede), a "língua"(Einzelsprache) e a “faCuldade da linguagem" (Sprachvermögem); no Curso de lin· `gúzstica geral de Saussure, acham­se, através de conceitos praticamente análogos aestes, os termos parole, langue e faculte de langage. Poder-se-ia obter daí O seguinteA esquema:Rede (Saussure, parole)Spraclze [ Einzelspraclze (língua determinada; Saussure, langue) ' · —Sprach vermögen (Saussure, faculte de langage) .Esta distinção é entendida por Gabelentz como fundamento defuma outra,[ entre as disciplinas lingüísticas que, no seu entender, deveriam ser subdivididas em:a)A lingüística descritiva, isto é, uma disciplina que explica o falar e por isso des-creve o sistema que o regula;- b) lingüística histórico-comparativa, que procuraexplicar historicamente a língua; C) lingüística geral, cujo objeto é a faculdade dalinguagem em geral. ’_l.5.6. Ouve-se falar freqüentemente da teoria da arbitrariedade do signo lingüís-tico (arbítraíre du Signe; na terminologia de Saussure), segundo a qual as palavrasconsideradas em si não são motivadas naturalmente, isto é, não existe relação decausa entre a palavra e. a coisa significada ou designada. A palavra mesa não se asse-melha de modo nenhum ao objeto "meSa" nem ao respectivo conceito, e neste sen-tido é arbitrária. Esta teoria também foi atribuída a Saussure. Em recente artigo
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PRENIISSAS H\STÓF\ICAS DA L|NGÚ\'STlCA MODERNA « 7sobre oproblemas, demonstrei que se trata, porém, de uma tradição iniciada comAristóteles e que o arbitraire du signe é a fonna modema da teoria aristotélica se-gundo a qual o signo funciona não naturalmente, mas rro�ró� OUI/Ü'IL]Tl1’]V "segundouma instituição", de acordo com as tradições estabelecidas socialmente. Encontreitambém uma tradição ininterrupta, através de Boécio e da filosofia escolástica até aépoca modema, da determinação do signo como arbitrário. E também o termo "ar-bitrário" remonta à antiguidade, àsNOCtes atticae de Aulo Gélio. Novamente intro-duzido por Júlio César Escalígero em lugar de ex instituto, ex institutione (cor-rente na filosofia e na especulação lingüística medieval), foi depois retomado pormuitos autores, dentre os quais podemos recordar Hobbes, no De homíne (1658) eSchottel, na sua gramática alemã Ausführlíche Arbeit von der Teutschen HaubtSprache (1663). A expressão "arbitrariedade do signo" ocorre entretanto não ape-nas como noção, mas também como termo, a partir de obras em língua latina atéobras em línguas modernas.1.5.7. Assim procedendo, pode-se chegar a descobrir também os precedentes deproblemas científicos particulares, como ocorre com certas noções gramaticais.Em recente artigo sobre categorias de pessoa, Émile Benvenisteó sustenta que aspessoas gramaticais são somente a primeira e a segunda, porque a terceira é, ao con-trário, a não-pessoa; a primeira e a segunda, de fato, enquanto pessoas que parti-cipam efetivamente do diálogo, são, na realidade, pessoas, enquanto a terceira, oumelhor, a chamada terceira pessoa, enquanto aquilo de que se fala, não éÏ necessa-riamente pessoa, mas pode ser uma coisa qualquer, ainda uma idéia abstrata: numaanálise extrema, todo o resto do mundo.Também esta teoria e esta interpretação das pessoas gramaticais se encontramna obra já citada de Harris: em pequena nota ao pé de página, ele sustenta que exis-tem somente a primeira e a segunda pessoas, enquanto a terceira é a não-pessoa(aliás Harris encampa expressamente uma tese de Apolônio Díscolo).1.6. Tudo o que dissemos não pretende diminuir os méritos da lingüística moder-na, mas mostrar que ela não está fora da tradição, como se ouve dizer seguidamente,e que, ao contrário, retoma posições teóricas sobre a linguagem existentes desde ai' ‘ E. Coseriu, L’arbitraire Clu Sígne, Zur Spätgeschichte eines aristotelíschen Begríffes [Aarbitrariedade do signo. Sobre a história tardia de um conceito arítotelico], Archiv fir dasStudium der neueren Sprachen und Literaturen, CXIX, vol. 204, N. 2, 81-112, 1967 (Agorainserido em Tradíciórz y novedad en la Cíencía del lenguaje, p. 13-61. Gredos, Madrid, 1977.)° E. Benveniste interessou-se pela primeira vez por esta questão em Structures desrelatíons de personne dansle verbe [Estruturas de relações de pessoa no verbo], Bulletin de laSociété de Linguistique, XLIII, vol. 1, N. 126, 946 e numa segunda vez em La nature despronoms [A natureza dos pronomes] no volume de homenagem For Roman Jakobson (Haia,1956). Ambos os artigos se acham agora recolhidos em Problèmes de línguístique generale[Problemas de lingüística geral], Paris, 1966. Desta obra existe tradução para o português deMaria da Glória Novak e Luiza Neri, com revisão de Isaac N. Salum, Companhia EditoraNacional, São Paulo, 1976. _

PRENIISSAS H\STÓF\ICAS DA L|NGÚ\'STlCA MODERNA « 7sobre oproblemas, demonstrei que se trata, porém, de uma tradição iniciada comAristóteles e que o arbitraire du signe é a fonna modema da teoria aristotélica se-gundo a qual o signo funciona não naturalmente, mas rroćróć OUI/Ü'IL]Tl1’]V "segundouma instituição", de acordo com as tradições estabelecidas socialmente. Encontreitambém uma tradição ininterrupta, através de Boécio e da filosofia escolástica até aépoca modema, da determinação do signo como arbitrário. E também o termo "ar-bitrário" remonta à antiguidade, àsNOCtes atticae de Aulo Gélio. Novamente intro-duzido por Júlio César Escalígero em lugar de ex instituto, ex institutione (cor-rente na filosofia e na especulação lingüística medieval), foi depois retomado pormuitos autores, dentre os quais podemos recordar Hobbes, no De homíne (1658) eSchottel, na sua gramática alemã Ausführlíche Arbeit von der Teutschen HaubtSprache (1663). A expressão "arbitrariedade do signo" ocorre entretanto não ape-nas como noção, mas também como termo, a partir de obras em língua latina atéobras em línguas modernas.1.5.7. Assim procedendo, pode-se chegar a descobrir também os precedentes deproblemas científicos particulares, como ocorre com certas noções gramaticais.Em recente artigo sobre categorias de pessoa, Émile Benvenisteó sustenta que aspessoas gramaticais são somente a primeira e a segunda, porque a terceira é, ao con-trário, a não-pessoa; a primeira e a segunda, de fato, enquanto pessoas que parti-cipam efetivamente do diálogo, são, na realidade, pessoas, enquanto a terceira, oumelhor, a chamada terceira pessoa, enquanto aquilo de que se fala, não éÏ necessa-riamente pessoa, mas pode ser uma coisa qualquer, ainda uma idéia abstrata: numaanálise extrema, todo o resto do mundo.Também esta teoria e esta interpretação das pessoas gramaticais se encontramna obra já citada de Harris: em pequena nota ao pé de página, ele sustenta que exis-tem somente a primeira e a segunda pessoas, enquanto a terceira é a não-pessoa(aliás Harris encampa expressamente uma tese de Apolônio Díscolo).1.6. Tudo o que dissemos não pretende diminuir os méritos da lingüística moder-na, mas mostrar que ela não está fora da tradição, como se ouve dizer seguidamente,e que, ao contrário, retoma posições teóricas sobre a linguagem existentes desde ai' ‘ E. Coseriu, L’arbitraire Clu Sígne, Zur Spätgeschichte eines aristotelíschen Begríffes [Aarbitrariedade do signo. Sobre a história tardia de um conceito arítotelico], Archiv fir dasStudium der neueren Sprachen und Literaturen, CXIX, vol. 204, N. 2, 81-112, 1967 (Agorainserido em Tradíciórz y novedad en la Cíencía del lenguaje, p. 13-61. Gredos, Madrid, 1977.)° E. Benveniste interessou-se pela primeira vez por esta questão em Structures desrelatíons de personne dansle verbe [Estruturas de relações de pessoa no verbo], Bulletin de laSociété de Linguistique, XLIII, vol. 1, N. 126, 946 e numa segunda vez em La nature despronoms [A natureza dos pronomes] no volume de homenagem For Roman Jakobson (Haia,1956). Ambos os artigos se acham agora recolhidos em Problèmes de línguístique generale[Problemas de lingüística geral], Paris, 1966. Desta obra existe tradução para o português deMaria da Glória Novak e Luiza Neri, com revisão de Isaac N. Salum, Companhia EditoraNacional, São Paulo, 1976. _
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8 d LIÇÕES DE LINGÚIŠTICA GERAL .antiguidade: o abismo e a ruptura, portanto, dizem respeito apenas à lingüísticaimediatamente precedente, e, em particular, à lingüística dos últimos decênios doséculo XIX. Se, porém, em certo sentido, a lingüística moderna é antiga no queconcerne aos temas e é, por isso mesmo, tradicional, isto não significa que o sejatambém em seu desenvolvimento. Poder-se-ia entretanto objetar que também a· organização atual das disciplinas lingüísticas retoma de certo modo a tradicional,criada pelos gregos. Para estes, são quatro as disciplinas lingüísticas: enquanto aprimeira delas, não denominada de modo específico, é identificável com a teoria,as outras três receberam um nome e se constituíram me-smo em objeto de estudo,na Antiguidade e na Idade M�(ll3îgïãfïl¿ŽÍlCd, retórica e dialética.Ao lado da teoria ou filosofia da linguagem, a gramática tinha a tarefa dedescrever a língua independentemente das circunstâncias do seu uso (hoje 'se diriaaproximadamente, com terminologia gerativa, de maneira livre do contexto,COntext—free). Por exemplo, a formação dos tempos do verbo, do singular e doplural, do masculino e do feminino, etc., são fatos lingüísticos que valem para êqualquer circunstância, independentes de circunstâncias determinadas.A retórica pretendia, por seu tumo, estudar a língua em usos específicos_ecom finalidade determinada; ocupava-se, portanto, por exemplo, das circunstânciasobjetivas concernentes ao próprio objeto do falar, e daí derivava a distinção entre osdiversos estilos, segundo a qualidade ea natureza do objeto em questão. _A dialética finalmente estudava o uso da linguagem enquanto meio apto adescobrir a verdade, numa discussão em que se opõem tese e antítese.Ora, destas disciplinas, a gramática, bem ou mal, persiste viva, pelo menoscomo disciplina prática, nas escolas; quanto à retórica (em grande parte eliminadado ensino, sobretudo devida à influência exercida pela filosofia idealista nas Con-cepções lingüísticas do ·século passado e mais ainda do nosso), teve sua importânciaressaltada nestes últimos tempos, provocando um movimento de retorno a ela porvários caminhos, entre os quais prevaleceu primeiramente a chamada ‘Ïestilística da ‘l�mgue", representada sobretudo pela obra de Charles Ballyl, um dos responsáveisdo Curso de Saussure, isto é, o estudo das características afetivas e expressivas dedeterminados sistemas lingüísticos. Entre os lógicos, desempenha mais ou menus omesmo papel da retórica antiga a chamada pragmática, ou seja, o estudo da lingua-gem em seu uso na vida prática (nas relações humanas).A dialética, ao contrário, abandonada como disciplina no século passado(depois de 1830 também no ensino universitário, recorde-se que o uso da palavratese, para indicar o trabalho de doutorado, provém da dialética, pois que se apresen-— tava, de fato, uma determinada tese, que era defendida), foi retomada pelos lógicosmodernos noestudo da sintaxe lógica da linguagem. A grumziticzz, retórica e dialé-tica correspondem, respectivamente, na distinção proposta por Rudolf Carnap e por' I 7 Veja-se especialmente C. Bally, Línguístique générale et línguístíque frunçaíse [Lin-'gúístícu geral e lingüística francesa], 4.3 ed., Francke, Berne, 1965. Há tradução italiana comapêndice de C. Segre, I1 Saggiatore, Milano, 1963. `

8 d LIÇÕES DE LINGÚIŠTICA GERAL .antiguidade: o abismo e a ruptura, portanto, dizem respeito apenas à lingüísticaimediatamente precedente, e, em particular, à lingüística dos últimos decênios doséculo XIX. Se, porém, em certo sentido, a lingüística moderna é antiga no queconcerne aos temas e é, por isso mesmo, tradicional, isto não significa que o sejatambém em seu desenvolvimento. Poder-se-ia entretanto objetar que também a· organização atual das disciplinas lingüísticas retoma de certo modo a tradicional,criada pelos gregos. Para estes, são quatro as disciplinas lingüísticas: enquanto aprimeira delas, não denominada de modo específico, é identificável com a teoria,as outras três receberam um nome e se constituíram me-smo em objeto de estudo,na Antiguidade e na Idade MĆ(ll3îgïãfïl¿ŽÍlCd, retórica e dialética.Ao lado da teoria ou filosofia da linguagem, a gramática tinha a tarefa dedescrever a língua independentemente das circunstâncias do seu uso (hoje 'se diriaaproximadamente, com terminologia gerativa, de maneira livre do contexto,COntext—free). Por exemplo, a formação dos tempos do verbo, do singular e doplural, do masculino e do feminino, etc., são fatos lingüísticos que valem para êqualquer circunstância, independentes de circunstâncias determinadas.A retórica pretendia, por seu tumo, estudar a língua em usos específicos_ecom finalidade determinada; ocupava-se, portanto, por exemplo, das circunstânciasobjetivas concernentes ao próprio objeto do falar, e daí derivava a distinção entre osdiversos estilos, segundo a qualidade ea natureza do objeto em questão. _A dialética finalmente estudava o uso da linguagem enquanto meio apto adescobrir a verdade, numa discussão em que se opõem tese e antítese.Ora, destas disciplinas, a gramática, bem ou mal, persiste viva, pelo menoscomo disciplina prática, nas escolas; quanto à retórica (em grande parte eliminadado ensino, sobretudo devida à influência exercida pela filosofia idealista nas Con-cepções lingüísticas do ·século passado e mais ainda do nosso), teve sua importânciaressaltada nestes últimos tempos, provocando um movimento de retorno a ela porvários caminhos, entre os quais prevaleceu primeiramente a chamada ‘Ïestilística da ‘lćmgue", representada sobretudo pela obra de Charles Ballyl, um dos responsáveisdo Curso de Saussure, isto é, o estudo das características afetivas e expressivas dedeterminados sistemas lingüísticos. Entre os lógicos, desempenha mais ou menus omesmo papel da retórica antiga a chamada pragmática, ou seja, o estudo da lingua-gem em seu uso na vida prática (nas relações humanas).A dialética, ao contrário, abandonada como disciplina no século passado(depois de 1830 também no ensino universitário, recorde-se que o uso da palavratese, para indicar o trabalho de doutorado, provém da dialética, pois que se apresen-— tava, de fato, uma determinada tese, que era defendida), foi retomada pelos lógicosmodernos noestudo da sintaxe lógica da linguagem. A grumziticzz, retórica e dialé-tica correspondem, respectivamente, na distinção proposta por Rudolf Carnap e por' I 7 Veja-se especialmente C. Bally, Línguístique générale et línguístíque frunçaíse [Lin-'gúístícu geral e lingüística francesa], 4.3 ed., Francke, Berne, 1965. Há tradução italiana comapêndice de C. Segre, I1 Saggiatore, Milano, 1963. `
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PREMISSAS HISTÓRICAS DA LINGÜIŠTICA MODERNA 9outros lógicos modernos, a semântica (que trata, na realidade, da gramática emgeral), pragmática e sintaxe lógica da linguagem. —1.7. Assinalamos os problemas lingüísticos da época clássica, da Idade Média e doséculo XVIII, e recordamos também que certas noções ou distinções se aproximamde Hegel e Gabelentz. Ao menos em certo sentido, estas idéias e posições estiverampresentes também quando a lingüística foi dominada por outros interesses; por issodevemos modificar nosso esquema do desenvolvimento das idéias lingüísticas e terpresente que a problemática lingüística é e foi sempre complexa. De fato, quando seafirma que o objetivo essencial da lingüística é a teoria ou a descrição, isto nãoimplica a ausência total de temas históricos: eles são apenas/menos importantes e,obviamente, com respeito ao problema principal da descrição, a história lingüísticase faz só de modo parcial e em função da própria descrição, lnversamente, quandoos objetivos essenciais da lingüística foram a comparação e a história, a descriçãocertamente daí não desapareceu, mas passou, por assim dizer, ao segundo plano e,no caso, foi feita em função da história. Assim, se no século XIX a linha principalde desenvolvimento da lingüística passa pela lingüística histórica, pela comparaçãolingüística, pela história das línguas e pela gramática histórica, ao mesmo tempo sedesenrola, debaixo desta mesma linha, a lingüísticaßeórica e descritiva, que con-tinua a tradição do século XVIII, tradição mais antiga e jamais desaparecida, a quepertencem estudiosos da envergadura de um Humboldt, na primeira metade doreferido século, e de um Steinthal e Gabelentz, na segunda metade. Deste ponto devista, a lingüística atual constitui um retorno, em primeiro plano, à lingüísticateórica e descritiva; de certo modo, ela retoma a problemática do século XVIII,porém em outras direções, impostas pela ampla experiência do século XIX, quandoa lingüística histórica se tinha tornado a lingüística por excelênciaê{ 1.8. Recapitulando: os temas teóricos e descritivos da lingüística atual recuam à_Antigüidade e à Idade Média, e sobretudo ao século XVHI; os históricos e compara-tivos, à lingüística do Renascimento e do século XIX. Isto no que tange ao contextohistórico geral da lingüística atual. Entretanto, no que conceme ao contexto histó-rico imediato, necessário se faz ter presente que a lingüística atual constitui umareação à lingüística imediatamente precedente. Para compreender nas suas raízesdialéticas a lingüística do início do século até hoje, é preciso lembrar uma reaçãodecisiva a determinada ideologia, a dos neogramáticos, que outra coisa não erasenão a forma que a ideologia evolucionista e positivista assumiu na lingüística.Não será surpreendente, portanto, que as reações a ideologias dos neogramá-ticos sejam contemporâneas, na lingüística, a outras reações que se manifestamparalelamente em outros setores da cultura, e, de modo particular, na filosofia.FiXar�se�á, como data inicial, o período em torno de 1900, durante o qual foramvárias as reações ao positivismo, desde a Estétícu de Croceg até o chamado intui-‘ B. Croce, Estetícrz come scíenz�z del! espressíone e línguístíca generzzle [Estétíca comoCíénci�z da expressão e lingüística geral], Laterza, Bari, l1.“ ed., 1965.

PREMISSAS HISTÓRICAS DA LINGÜIŠTICA MODERNA 9outros lógicos modernos, a semântica (que trata, na realidade, da gramática emgeral), pragmática e sintaxe lógica da linguagem. —1.7. Assinalamos os problemas lingüísticos da época clássica, da Idade Média e doséculo XVIII, e recordamos também que certas noções ou distinções se aproximamde Hegel e Gabelentz. Ao menos em certo sentido, estas idéias e posições estiverampresentes também quando a lingüística foi dominada por outros interesses; por issodevemos modificar nosso esquema do desenvolvimento das idéias lingüísticas e terpresente que a problemática lingüística é e foi sempre complexa. De fato, quando seafirma que o objetivo essencial da lingüística é a teoria ou a descrição, isto nãoimplica a ausência total de temas históricos: eles são apenas/menos importantes e,obviamente, com respeito ao problema principal da descrição, a história lingüísticase faz só de modo parcial e em função da própria descrição, lnversamente, quandoos objetivos essenciais da lingüística foram a comparação e a história, a descriçãocertamente daí não desapareceu, mas passou, por assim dizer, ao segundo plano e,no caso, foi feita em função da história. Assim, se no século XIX a linha principalde desenvolvimento da lingüística passa pela lingüística histórica, pela comparaçãolingüística, pela história das línguas e pela gramática histórica, ao mesmo tempo sedesenrola, debaixo desta mesma linha, a lingüísticaßeórica e descritiva, que con-tinua a tradição do século XVIII, tradição mais antiga e jamais desaparecida, a quepertencem estudiosos da envergadura de um Humboldt, na primeira metade doreferido século, e de um Steinthal e Gabelentz, na segunda metade. Deste ponto devista, a lingüística atual constitui um retorno, em primeiro plano, à lingüísticateórica e descritiva; de certo modo, ela retoma a problemática do século XVIII,porém em outras direções, impostas pela ampla experiência do século XIX, quandoa lingüística histórica se tinha tornado a lingüística por excelênciaê{ 1.8. Recapitulando: os temas teóricos e descritivos da lingüística atual recuam à_Antigüidade e à Idade Média, e sobretudo ao século XVHI; os históricos e compara-tivos, à lingüística do Renascimento e do século XIX. Isto no que tange ao contextohistórico geral da lingüística atual. Entretanto, no que conceme ao contexto histó-rico imediato, necessário se faz ter presente que a lingüística atual constitui umareação à lingüística imediatamente precedente. Para compreender nas suas raízesdialéticas a lingüística do início do século até hoje, é preciso lembrar uma reaçãodecisiva a determinada ideologia, a dos neogramáticos, que outra coisa não erasenão a forma que a ideologia evolucionista e positivista assumiu na lingüística.Não será surpreendente, portanto, que as reações a ideologias dos neogramá-ticos sejam contemporâneas, na lingüística, a outras reações que se manifestamparalelamente em outros setores da cultura, e, de modo particular, na filosofia.FiXar―se―á, como data inicial, o período em torno de 1900, durante o qual foramvárias as reações ao positivismo, desde a Estétícu de Croceg até o chamado intui-‘ B. Croce, Estetícrz come scíenzćz del! espressíone e línguístíca generzzle [Estétíca comoCíéncićz da expressão e lingüística geral], Laterza, Bari, l1.“ ed., 1965.
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10 —_ LIÇÕES DE LINGÚIŠTICA GERALcíonismo ou vitalísmo de Bcrgson, ·à fenomenologia de Husserl (a obra em que sefundam e têm início as indagações lógicas de Husserl apareceu justamente em 1900,como reação àlogica e à gnoseologia do positivismo).Veremos em que sentido é possível afirmar que, em suas raízes, alingüísticaatual, vista neste contexto ideológico geral,pode ser interpretada como uma reaçãoao positivismo. Tanto na lingüística quanto nas outras disciplinas, sob várias formas,segundo o objeto específico de cada uma, os princípios fundamentais sobre os quaistal reação se articula são, como veremos, os mesmos. —

10 —_ LIÇÕES DE LINGÚIŠTICA GERALcíonismo ou vitalísmo de Bcrgson, ·à fenomenologia de Husserl (a obra em que sefundam e têm início as indagações lógicas de Husserl apareceu justamente em 1900,como reação àlogica e à gnoseologia do positivismo).Veremos em que sentido é possível afirmar que, em suas raízes, alingüísticaatual, vista neste contexto ideológico geral,pode ser interpretada como uma reaçãoao positivismo. Tanto na lingüística quanto nas outras disciplinas, sob várias formas,segundo o objeto específico de cada uma, os princípios fundamentais sobre os quaistal reação se articula são, como veremos, os mesmos. —