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Teatro

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  • O moderno, o nacional e o popular no teatro oitocentista fluminense (1838-1908) Antonio Herculano Lopes

    Objetivo geral

    Nos ltimos anos, tenho desenvolvido o presente projeto guarda-chuva, com

    fases dedicadas a diferentes autores/atores que fizeram parte da cena teatral fluminense

    ao longo do sculo XIX: Joo Caetano, Martins Pena, Jos de Alencar, Francisco

    Correia Vasques e Artur Azevedo. A partir de suas trajetrias individuais, rede de

    relaes, produo teatral e recepo pelo pblico e pela crtica, o que procuro analisar

    como o teatro entendido de maneira ampla (as peas, as ideias e imagens nelas

    produzidas e circuladas, as sociabilidades promovidas pela vida teatral, a cultura interna

    de companhias e do meio profissional, etc.) capaz de oferecer novas perspectivas de

    interpretao daquela cultura e sociedade. Formalmente ligado linha de pesquisa

    Histria do Rio de Janeiro, o projeto tem no entanto fortes interfaces com as outras

    linhas do Setor de Histria da FCRB Cultura afro-brasileira e identidade nacional e

    Intelectuais, imprensa e humor.

    Anteriormente, havia estudado o teatro musical ligeiro das duas primeiras dcadas

    do sculo XX e nele identificado uma importante fonte para um dilogo interclasses e

    intertnico no mbito da cultura, fenmeno que contribuiu para a inveno de uma

    identidade carioca e brasileira (LOPES 2000a). Da, comecei a buscar no teatro

    fluminense do sculo anterior sinais da absoro de elementos da cultura popular de

    influncia africana atravs, por exemplo, de personagens (o capadcio, a baiana), ritmos

    (o batuque) e linguagens (oral, musical, corporal). Tais sinais mais adiante seriam

    determinantes naquela busca identitria, mas na poca causavam tenses insolveis.

    Como a cultura de um modo geral e o teatro em particular podiam lidar com a questo

    do popular, do afro-brasileiro e do mestio no Rio de Janeiro do sculo XIX, em plena

    vigncia do regime escravista? Ao lado dessa questo, outras foram surgindo, em

    particular a de relaes intergneros. A partir sobretudo de minhas pesquisas com o

    teatro de Alencar, pareceu-me claro que as mudanas aceleradas quanto presena da

    mulher no espao pblico e quanto aos valores que regiam as relaes entre homens e

    mulheres na poca faziam parte dos fantasmas que assombravam os homens bons do

    Imprio.

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    O objetivo geral desta pesquisa realizar uma releitura do teatro oitocentista no

    Rio de Janeiro, atravs de uma perspectiva de histria cultural, em que mais importante

    do que a avaliao esttica das produes a compreenso dos processos de construo

    de representaes que viriam a acompanhar a intelectualidade brasileira por longo

    tempo, em torno dos conceitos de moderno, nacional e popular. Em outras palavras,

    enquanto historiador da cultura, me proponho menos a uma crtica esttica e mais a uma

    crtica ideolgica. Isto no significa ignorar o aspecto esttico, mas transform-lo em

    um elemento mais na anlise da construo simblica, seguindo s avessas o mtodo de

    crtica literria proposto por Antonio Candido (1967).

    Quanto aos marcos temporais, 1838 o ano que a historiografia consensualmente

    considera como de nascimento de um teatro nacional, com a estreia dos considerados

    primeiros drama e comdia nacionais (respectivamente, Antnio Jos ou o poeta e a

    Inquisio, de Gonalves de Magalhes, e O juiz de paz na roa, de Martins Pena) pela

    primeira companhia liderada por um ator brasileiro, Joo Caetano (Ver SOUSA 1960,

    MAGALDI s/d, HESSEL 1979-1986, CACCIAGLIA 1986, AGUIAR 1994 e PRADO

    1999). J 1908 a morte de Artur Azevedo, ltimo grande dramaturgo vindo do sculo

    XIX, parte das duas geraes intelectuais (romnticos e realistas/naturalistas) que ao

    longo do perodo perseguiram o sonho de construo de um teatro nacional com

    qualidade literria.

    Para atingir o objetivo geral do projeto, e com base na minha formao como

    estudioso da performance, considero a atividade teatral de uma perspectiva ampliada,

    em que produo dramtica e s performances artsticas, somam-se linguagens

    parateatrais, atravs de festas, danas, ritmos, artes marciais e outros elementos da

    cultura urbana fluminense, alm da vivncia que delas tm autores, atores e produtores

    teatrais, levando-as ao palco. Esse procedimento permite identificar sinais de uma

    histria subterrnea (do corpo, dos gestos, das linguagens), que no se torna

    imediatamente visvel na cena teatral do momento, mas que a vincula ao cotidiano da

    cidade e ajuda a entender processos culturais de longa maturao que s se tornaro

    mais evidentes muito adiante. A esse quadro geral, acrescento a anlise mais especfica

    dos textos dramticos e suas encenaes (produo e recepo), assim como as

    discusses empreendidas no perodo sobre a funo do teatro.

    Ao longo destes anos, diversos artigos resultaram da pesquisa, sendo apresentados

    em reunies acadmicas e publicados em revistas e coletneas. O projeto tem sido

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    regularmente beneficiado pelo apoio de bolsas de iniciao cientfica, tendo contribuido

    para que alguns estudantes prosseguissem no rastro da histria cultural e da pesquisa

    acadmica, entrando para programas de mestrado. Desde o ano passado, dei incio

    tambm, sempre que possvel, a uma prtica de coautoria na feitura dos artigos

    resultantes.

    O projeto mantm um amplo dilogo com a comunidade acadmica, sobretudo

    atravs de quatro instncias: 1) as reunies cientficas, exposies, publicaes e cursos

    de extenso promovidas pelo Grupo de Pesquisa sobre Histria Poltica, Social e

    Cultural do Brasil Monarquia e Primeira Repblica, liderado por mim, tendo por cerne

    o grupo de historiadores da FCRB; 2) o Grupo de Trabalho Nacional de Histria

    Cultural da Anpuh, de que fao parte do Comit Cientfico, e que promove a cada dois

    anos o Simpsio Nacional de Histria Cultural, alm de publicar regularmente; 3) as

    reunies nacionais e regionais da Anpuh, em que nos ltimos cinco anos tenho

    coordenado simpsios temticos sobre histria das sensibilidades, envolvendo sempre

    um grande nmero de doutores, doutorandos e mestrandos que tm a oportunidade de

    discutir a evoluo de seus trabalhos; 4) os encontros nacionais da Anpocs, em que

    tenho regularmente apresentado minhas pesquisas, em especial nos grupos de trabalho

    Performance, Drama e Sociedade e Pensamento Social no Brasil.

    Objetivo especfico

    Ao comear a desenvolver este projeto, alguns produtos j existiam, frutos de meu

    trabalho anterior acima citado especificamente, anlises sobre os papis de Joo

    Caetano (LOPES 2000a) e de Artur Azevedo (LOPES 2000b) no desenvolvimento de

    uma ideia de teatro nacional. A primeira figura que me chamou ateno foi o ator e

    dramaturgo Francisco Correia Vasques (1839-1893), justamente porque levou para o

    palco algo da cultura das ruas (linguajar, tipos, ritmos), num momento em que isso era

    absolutamente incomum, em torno das dcadas de 1860 e 70. Apesar de sua origem

    popular e de ser mestio, o Vasques, como era conhecido, refletia a dificuldade geral

    de artistas e intelectuais da poca de lidar com a questo da escravatura. Dois ensaios

    deram conta dessa primeira etapa do projeto, um abordando a produo cmica de

    Vasques (LOPES 2006a) e outro a dramtica (2007b). Como sua veia cmica tinha forte

    inspirao em Martins Pena (1815-1848), dediquei uma segunda etapa a este autor,

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    explorando mais fundo as representaes sobre o popular e, em particular, sobre os afro-

    brasileiros e a escravido (LOPES 2007a).

    Na terceira etapa, voltei-me para Jos Martiniano de Alencar (1829-1877), que

    serviu como o modelo mais completo para Vasques em seus exerccios em alta

    comdia ou drama. Comecei por analisar a produo dramtica de Alencar, as

    encenaes que suas peas receberam em vida do autor, o impacto junto ao pblico e

    crtica e o pano de fundo das questes ideolgicas e estticas que se debatiam naquele

    momento anos 1850, 60 e 70. Animava-me o fato de que, diferena de seus

    contemporneos, o escritor cearense enfrentara corajosamente o problema da

    escravido, que est no centro de duas de suas produes: O demnio familiar, de 1857,

    e Me, de 1860. Surpreendi-me, no entanto, ao identificar que muito mais do que com a

    chamada questo servil, Alencar estava preocupado com as mudanas que afetavam a

    famlia patriarcal e, em particular, a situao da mulher. Como fruto dessa reflexo

    produzi um artigo sobre o que chamei de olhar feminino de Jos de Alencar (LOPES

    2010).

    Buscando no arquivo privado deste autor, guardado na FCRB, por novas

    evidncias dentro dos temas que norteiam a pesquisa, acabei por descobrir um

    fragmento, ento indito, que se afastava de tais preocupaes, mas mantinha um

    vnculo com um Weltanschauung de Alencar que me interessava e ajudava a iluminar

    suas posies sobre a chamada questo servil. Da resultou outro artigo, que apresentei

    na 33o Encontro Nacional da Anpocs, ainda indito (2009a).

    Neste ponto, senti a necessidade de j comear a integrar a trade Martins Pena-

    Alencar-Vasques numa montagem panormica sobre a importncia do teatro do sculo

    XIX na construo das imagens, percepes e valores com que a sociedade brasileira em

    geral, e a fluminense em particular, se representou e viria a se representar ainda por um

    longo perodo, sculo XX adentro. Dois textos fazem parte desse esforo. Comecei por

    pensar a importncia da msica no teatro oitocentista em apresentao num seminrio

    sobre msica e histria na Casa de Rui Barbosa. O texto completo sair em livro

    publicado pela prpria FCRB ainda no corrente ano (LOPES 2011).

    O segundo texto est ligado questo que me movia desde o princpio da

    pesquisa: a escravido e as relaes intertnicas. O resultado dessa anlise foi

    apresentado no seminrio internacional O sculo XIX e as novas fronteiras da

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    escravido e da liberdade, realizado na Unirio, em agosto de 2009, permanecendo

    tambm indito (LOPES 2009b).

    Finalmente, no segundo semestre de 2010 comecei o estudo sobre Artur Azevedo,

    etapa ainda em curso, desdobrada em dois temas. O primeiro voltado para a sua obra,

    no s como dramaturgo que ao chegar ao Rio j encontrou uma cena dominada pelos

    musicais ligeiros, mas tambm como cronista e crtico (alm disso, foi ainda poeta e

    contista). Azevedo vem sendo foco de maior ateno ao menos desde que, a partir do

    incio dos anos 1980, Antnio Martins comeou seu notvel esforo para publicar a obra

    teatral do maranhense atravs do extinto Instituto Nacional do Teatro (AZEVEDO

    1983-1995). Pouco tempo depois, veio a lume sua tese de doutorado, em que examina a

    comicidade nas peas de Azevedo (MARTINS, A. 1988). Nessa mesma poca, Flora

    Sssekind (1986) publicou uma sofisticada anlise sobre a relao visceral das revistas

    de ano do autor com o surgimento de uma determinada ideia de Rio de Janeiro. De l

    para c, outros aspectos da produo textual vm sendo explorados, como seus contos e

    crnicas.

    Mas Artur Azevedo tem seu nome ligado primordialmente ao teatro, tendo se

    consagrado como o grande autor das revistas de ano, alm de produzir burletas e

    comdias no musicadas que ficaram como o que de melhor o perodo produziu. No

    sentido mais amplo, foi um homem de teatro, envolvido com as produes e com os

    atores. Ao escrever, tinha com frequncia em mente um ator especfico. Foi um defensor

    da classe teatral, empenhado em criar condies econmicas para a atividade, assim

    como para garantir sua qualidade esttica. Lutou pelo apoio estatal, nico capaz de

    combinar esses dois fatores, vendo na construo de um teatro e na constituio de uma

    companhia subsidiada pelo governo a sada para se lograr esse objetivo.

    O segundo tema a assim chamada vida teatral, envolvendo a vivncia dos

    habitantes da cidade com as atividades e as prticas desenvolvidas a partir do processo

    de produo e exibio de peas. As sociabilidades geradas a partir da atividade teatral,

    os usos diversificados dados ao prdio, a vida bomia da classe, com seus valores

    particulares e com as teias de relaes desenvolvidas com outros artistas e com grupos

    populares e de elite, a vida das companhias e suas prticas tudo isso contribui para dar

    maior densidade anlise. Mais ligado a uma histria do cotidiano urbano, esse tema

    vem permitindo analisar melhor as conexes entre as instncias estticas, comerciais,

    polticas e dos usos e costumes da cidade.

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    At o momento, a pesquisa sobre Artur Azevedo gerou trs artigos, apresentados

    na Anpuh nacional, em julho, num seminrio na Casa de Rui Barbosa, em agosto e na

    Anpocs, em outubro, todos em coautoria com a bolsista Julia Lanzarini (LOPES 2011a,

    b e c). At o final de 2012, continuarei neste trabalho e deverei fazer a apresentao de

    mais um resultado parcial no Congresso Internacional de Americanistas, em Viena, em

    julho prximo. Nessa fase final, conto com o apoio das bolsistas Camilla Campoi, que

    vem se dedicando ao levantamento iconogrfico, e Sulyn Goulart, que d continuidade

    pesquisa textual em peridicos.

    A etapa a ser iniciada em janeiro de 2013, dever ser a de consolidao e

    complementao de toda a pesquisa realizada at ento sob o projeto guarda-chuva

    para transform-la num livro sobre o teatro fluminense do sculo XIX. A tarefa dos

    bolsistas ser de me auxiliar na busca das informaes complementares que eu

    identificar como necessrias, assim como realizar uma ampla busca de material

    iconogrfico rea negligenciada para os outros autores que no Artur Azevedo. Alm

    disso, os dois bolsistas trabalhariam no aprimoramento da base de dados com o

    referenciamento da massa documental levantada, tarefa que tambm j foi iniciada

    especificamente para Artur Azevedo, e que contar, a partir de agosto de 2012, com o

    apoio de um bolsista tcnico para as questes de informtica. A inteno da base de

    no s me servir durante a escritura do texto final, mas tambm beneficiar outros

    pesquisadores, pois ser tornada pblica pelo portal da Casa de Rui Barbosa.

    Justificativa

    Meu interesse, sempre centrado no teatro, tem duas direes: por um lado, o

    dilogo mantido pelas peas com as questes que venho levantando nos diversos autores

    os conceitos de moderno, nacional e popular; as relaes de gnero, interclasses e

    intertnicas ; e, por outro, a vida teatral, com sua teia de relaes entre os

    profissionais da rea e o conjunto da cidade do Rio de Janeiro, ao longo do perodo

    proposto.

    A historiografia teatral no Brasil, alis, desde sempre lidou tanto com os aspectos

    estticos quanto com os sociolgicos da produo teatral. Apesar de ela

    tradicionalmente concentrar-se no texto, no faltou sensibilidade aos grandes crticos

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    tanto para a importncia e a autonomia da linguagem cnica e da performance artstica

    quanto para a insero dessas e da produo dramatrgica no movimento mais amplo da

    sociedade. Mas uma atividade crtica regular e especializada demorou a se estabelecer

    entre ns. A crtica e a historiografia teatral tornaram-se mais sistemticas e

    profissionais a partir da hegemonia intelectual e artstica do Modernismo, na esteira do

    qual se formaram Dcio de Almeida Prado e Sbato Magaldi. Ao primeiro, devemos a

    anlise mais completa da personalidade artstica de Joo Caetano (PRADO 1972, 1984).

    Ao segundo, a primeira ampla viso panormica da histria de nosso teatro dentro de

    uma perspectiva crtica moderna (MAGALDI s.d.). Ambos os crticos ajudaram a

    consagrar a encenao de Vestido de noiva, de Nlson Rodrigues, dirigida por Zbigniew

    Ziembinski, em 1943, como o marco inaugural do teatro moderno brasileiro.

    Quando Procpio Ferreira props-se a escrever, em 1938, uma biografia de

    Vasques (FERREIRA, P. 1979), o que o moveu foi na verdade um esforo de resistncia

    contra a voga intelectual dominante, que considerava passadista o estilo de atuar de

    Procpio e clamava por uma renovao da arte cnica, o nascimento de um teatro

    moderno. Na contramo daquele processo que dava seus primeiros passos, no mesmo

    ano de 1938, com a criao do Teatro do Estudante por Pascoal Carlos Magno, Procpio

    defendia uma tradio cmica brasileira, autenticamente popular e significativamente

    encarnada num ator, o Vasques, de quem seria o mais legtimo seguidor. Procpio

    perdeu a guerra em seu tempo, mas passados quase 70 anos a tradio cmica volta a

    ganhar prestgio crtico e Vasques retorna ao centro do palco, ao menos na pesquisa

    acadmica (SOUZA, S. 2002, LOPES 2006b, 2007a, MARZANO 2008). Esse resgate

    vincula-se a esforos de releitura das dinmicas entre o que se convencionou chamar de

    cultura popular e erudita e entre tradio e modernidade.

    Fora da rea do teatro, mas de fundamental importncia para ela, Antonio Candido

    (1959), a partir do seu seminal Formao da literatura brasileira que explicitamente

    excluiu a literatura dramtica , deu o tom da historiografia das produes artsticas que

    combina as perspectivas social e esttica. Em estudos posteriores, como o brilhante

    ensaio Dialtica da malandragem (CANDIDO 1970), demonstrou a fertilidade de seu

    mtodo, que no separa o universo simblico do social, nem reduz um ao outro,

    permitindo uma leitura sutil da construo de significados do nacional e do popular

    na prpria estrutura da obra (no caso, as Memrias de um sargento de milcias, de

    Manuel Antnio de Almeida).

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    Mas o pensamento modernista foi profundamente engajado no projeto de

    construo do nacional (nesse sentido, alis, dando continuidade tradio intelectual

    que vinha desde os romnticos) e, portanto, incapaz de fazer a sua crtica ideolgica. Na

    verdade, os intelectuais que desenvolveram sua obra entre as dcadas de 1930 e 60

    lograram finalmente reunir os trs mitos vindos do Oitocentos num projeto integrado de

    sociedade o moderno, o nacional e o popular e neles acreditaram. No possuam os

    instrumentos nem o distanciamento para deslindar a sua prpria insero na luta de

    poder no campo simblico pela hegemonia dos conceitos.

    Moderno, nacional e popular so os trs eixos em torno do qual se organizaram

    todos os projetos de construo de uma ideia de nao brasileira e de sua cultura. Com

    frequncia, o moderno apareceu em oposio ao popular, enquanto o nacional oscilou

    entre uma forma especfica de pertencimento cultura ocidental crist e uma fidelidade

    maior s razes profundas do povo. Na viso dos modernistas, o Romantismo tivera o

    nacional como eixo privilegiado, o moderno como derivao natural dos tempos e o

    popular como metfora, pela impossibilidade de se lidar com ele numa sociedade

    escravocrata. Para o Realismo/Naturalismo, o moderno, representado pela razo e pela

    cincia era o foco, o nacional viria como consequncia e o popular deveria ser resgatado

    da sarjeta a que estava condenado, atravs da abolio da escravatura, da educao e da

    elevao moral. Veio a abolio, mas no se fizeram as outras reformas necessrias

    sociedade, e a belle poque, com seu cosmopolitismo vazio (no entendimento dos

    modernistas), representou um momento de estagnao cultural. Nessa viso, o Rio de

    Janeiro de Pereira Passos representou a imagem mais acabada de tal impasse: o

    moderno destitudo de povo e de nao.

    Contra esse estado de coisas que veio o furaco modernista, primeiro de forma

    iconoclasta, com uma violncia ultramoderna, o nacional ressignificado na antropofagia

    e o popular namorado ainda distncia com um encantamento idealizante,

    comportamento que comea a ser rompido por Mrio de Andrade em suas viagens pelo

    pas. Nos anos 30 e 40, deu-se o encontro definitivo do nacional-popular com o

    moderno. Getlio Vargas e Lus Carlos Prestes na poltica, Gilberto Freyre, Srgio

    Buarque e Caio Prado nas cincias sociais, Graciliano Ramos e o primeiro Rosa na

    fico, Drummond e depois Cabral na poesia, Di Cavalcanti e Portinari nas artes

    plsticas, Villa-Lobos e Francisco Mignone na msica erudita, Noel Rosa e Ari Barroso

    no campo da cano popular, com o samba j absorvido pela classe mdia tais eram os

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    cones do Brasil moderno. No teatro, o mencionado encontro de Nlson Rodrigues com

    Ziembinski e a moderna companhia de atores Os Comediantes consolidou o processo de

    modernizao da cultura.

    O paradigma marxista, que aos poucos tornou-se dominante ao longo dos anos 50

    e 60, ofereceu uma possibilidade de compreenso das vinculaes ideolgicas dos

    conceitos com interesses de grupos e classes. Era no entanto um paradigma que

    privilegiava o econmico, tornando o ideolgico praticamente uma derivao daquele.

    Foi sobretudo a partir da dcada de 70, ganhando mpeto nos anos 80 e 90, que se

    iniciaram processos de desconstruo de discursos, inclusive historiogrficos, em que

    temas como o da identidade nacional deixaram de ser uma misso do intelectual e

    passaram a ser vistos como um problema na interpretao e anlise das sociedades que

    os constituram. Ver, a respeito, o trabalho pioneiro de Dante Moreira Leite (1969) e, na

    dcada de 70, Carlos Guilherme Mota (1977) e Roberto Schwarz (1977); j nos anos 80,

    ver Renato Ortiz (1980, 1985.)

    Para esse movimento foram fundamentais a reviso interna do marxismo, a partir

    da Escola de Frankfurt, do desenvolvimento dos estudos gramscianos e do pensamento

    de Pierre Bourdieu; a crtica do ps-estruturalismo francs aos discursos totalizantes,

    especialmente atravs de Michel Foucault e Jacques Derrida; a grande influncia da

    antropologia, com seu conceito ampliado de cultura e seu voltar-se em direo s

    chamadas sociedades complexas; os novos rumos da histria, que ampliou seus objetos,

    suas fontes e seus mtodos, atravs do que se consagrou como nova histria cultural;

    e, fora do mbito acadmico, mas com enorme impacto nele, os movimentos sociais que

    chamaram ateno para outras identidades que no as nacionais e para outras questes

    como a do meio ambiente. O estudo que se tornou clssico na discusso da questo da

    identidade nacional, Imagined communities, de Benedict Anderson, data de 1983.

    Na historiografia do teatro, essas novas preocupaes ainda esto comeando a

    render frutos, mas j h algum tempo existem bons trabalhos sobre a presena do negro,

    em particular os pioneiros estudos de Flora Sssekind (1982) e Miriam Garcia Mendes

    (1982) e mais recentemente Leda Martins (1995) e Orlando de Barros (2005). A

    presena da mulher foi estudada por Elza Cunha de Vincenzo (1992) e Maria Cristina

    de Souza (2001). Na rea dos conceitos, Beti Rabetti lidera um grande trabalho em

    andamento sobre o cmico (1997), preocupao inicialmente retomada por Vilma Aras

    (1987, 1990). A revalorizao do poltico no teatro tem sido explorada por Rosangela

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    Patriota (1999, 2008). Promove-se a reviso de movimentos, como o teatro realista

    (FARIA 1993, SOUZA, S. 2002) e, no escorregadio terreno do popular, resgatam-se

    gneros considerados menores, sobretudo o teatro de revista (SSSEKIND 1986, RUIZ

    1988, PAIVA 1991, VENEZIANO 1991, 1996, MENCARELLI 1999, LOPES 2000a,

    2000b, 2005, 2006b, 2008a, 2009c, GOMES 2004 e BARROS 2005).

    A partir de meu interesse pela performance, incluo nesta lista tambm os muitos

    novos estudos sobre manifestaes parateatrais e performticas, como o carnaval

    (SOIHET 1998, CUNHA, M. 2001, 2002, GONALVES 2007, PEREIRA 2004 e

    FERREIRA, F. 2005), as festas populares (REIS 1991, PRIORE 1994, ABREU 1999,

    JANCS 2001, SOUZA, MM 2002, SANTOS 2005), a capoeira (SOARES 2001), o

    samba (VIANNA 1995, CUNHA, F. 2004), os ritos religiosos (LIGIRO 2004), alm

    de campos limtrofes, como os estudos de Monica Pimenta Velloso sobre a

    intelectualidade bomia (1996, 2000b), a cultura das ruas (2004), e mais recentemente o

    maxixe (2007). Claro que toda essa bibliografia est longe de ser exaustiva e apenas

    ilustra um amplo campo da cultura que tem atrado cada vez maior ateno dos

    historiadores.

    Meu trabalho se insere nesse esforo de atualizao da historiografia em geral e da

    historiografia teatral em particular, em face das tendncias mais contemporneas das

    cincias humanas e investe numa rea que me parece bastante carente, a de uma crtica

    das representaes e imagens criadas pelo teatro e sua relao com os movimentos

    sociais e culturais nos quais est inserido. Em especial me interessa desmontar o quebra-

    cabeas das construes ideolgicas que se realizaram em torno destes trs conceitos-

    mitos o moderno, o nacional e o popular tanto de forma consciente e formalizada,

    enquanto projeto da intelectualidade, quanto como parte de processos mais ou menos

    inconscientes ou difusos, em que memrias corporais e rtmicas, sonhos e fantasmas

    presentes no imaginrio social e vivncias cotidianas se mesclaram com demandas

    concretas de consumo e as necessidades de uma indstria do entretenimento nos

    complexos processos da criao e fruio teatral.

    Como assinalei mais atrs, meu ponto de partida para o projeto maior foi Vasques,

    ator e autor popularssimo sua poca, atuante nos principais palcos da cidade, com

    um p na cozinha e outro nos sales letrados, participante da vida poltica e

    frequentador dos mais diversos ambientes de diverses pblicas. Minha guinada para

    Alencar, um dos mais prestigiados homens de letras do perodo, se deveu, por um lado,

  • 11

    sua importncia no estabelecimento de um modelo para a alta comdia na nascente

    dramaturgia nacional, modelo que tanto na forma quanto nos contedos e valores

    influenciaria Vasques em seu esforo de ascender de comediante a comedigrafo, um

    enorme salto social e cultural. Mas por outro se justificou em si mesmo, pela

    importncia intelectual de Alencar, pelo seu impacto no meio cultural da poca e pelas

    construes imagticas e ideolgicas que legou cultura brasileira. Em particular, atraiu

    minha ateno a dimenso nesse autor da presena do negro em cena. Se Martins Pena,

    muito mais interessado e simptico s classes populares, s representa o negro muito

    marginal ou indiretamente, Alencar o faz com uma explicitude indita at ento. Em O

    demnio familiar e em Me, personagens negros tornam-se centrais e a escravido

    tematizada com uma abertura que valeu elogios e admoestaes ao autor.

    Artur Azevedo j representa uma etapa frente. Tendo comeado sua carreira de

    comedigrafo ainda durante a vigncia da escravido, viveu intensamente o processo

    abolicionista e ainda produziu ao longo de quase duas dcadas, dentro de um quadro

    cultural radicalmente novo, em que algumas das principais instituies que davam

    suporte ao imaginrio da nacionalidade haviam sido eliminados. O povo, de ento em

    diante, no poderia deixar de incluir seu forte componente de origem africana.

    Compreender o arco que vem de Joo Caetano, o abridor de caminhos, a Artur

    Azevedo, que encarna o apogeu e a perda de flego de uma sensibilidade oitocentista,

    permite inserir o teatro nos debates de ideias e valores da poca, assim como na

    representao dos fantasmas e aspiraes que vivenciou aquela socidade. Pretendo com

    isso elaborar uma histria cultural que d conta, na mdia durao do sculo inicial do

    Brasil independente, do processo de construo institucional e simblica da nao, pelo

    prisma do teatro. Fazer uma histria cultural do teatro no Brasil significa no s estudar

    as obras que produziu, as formas que adquiriu, a fortuna de longo prazo dos gneros

    dramticos e cmicos, das peras e dos musicais ligeiros, mas tambm costurar tudo

    isso histria poltica e social, s prticas corporais e lingusticas, e sobretudo s

    representaes que a sociedade fez sobre si mesma e sobre seus diversos outros.

    Questes terico-metodolgicas

    O estudo a que me proponho se filia ao que se convencionou chamar de nova

    histria cultural ou simplesmente histria cultural. Como o termo acaba sendo usado

  • 12

    para uma variedade grande de trabalhos, com perspectivas bastante variadas, importa

    ressaltar que me identifico com as definies de Roger Chartier, que destaca tanto os

    objetos dessa histria (linguagens, prticas e representaes) quanto a perspectiva do

    olhar, que parte de uma redefinio das relaes entre as formas simblicas e o mundo

    social (CHARTIER 2006: 29).

    Acompanho ainda a posio do historiador francs em sua polmica com o crtico

    literrio norte-americano Hayden White, ao no aceitar o que no limite seria uma

    equiparao da narrativa histrica literria (WHITE 1994; CHARTIER 2004). Mas o

    fato que White levantou questes importantes para a escritura da histria. Entendo que

    ao procurar estudar uma realidade passada, o historiador s pode se aproximar dela

    atravs das representaes (textuais, imagticas ou de outra ordem) que ficaram daquele

    momento e que, por sua vez, construir novas representaes atravs do discurso

    histrico, que no escapa totalmente da subjetividade e se submete s necessidades da

    retrica e s peculiaridades do estilo.

    Assim, sem abrir mo de um esforo de objetividade, o historiador deve ter

    conscincia de seus limites, do mundo da linguagem em que navega e do exerccio

    interpretativo a que estar fadado. A consequncia que as formas simblicas se tornam

    uma entrada importantssima, seno inevitvel, para quem se dedica a uma histria da

    cultura, invertendo-se o caminho tradicional que procurava explicar o surgimento das

    formas simblicas pela anlise do mundo social. A histria cultural procura iluminar o

    mundo social e suas relaes concretas atravs da forma como os atores sociais o

    representaram.

    Um segundo ponto destacado por Chartier diz respeito ao que chamou de novas

    alianas da histria, destacando a antropologia e a crtica literria (CHARTIER 2006:

    29). De fato, sobretudo a partir do conceito antropolgico de cultura, como definido

    por Clifford Geertz (1978) e do uso de categorias teatrais e do conceito de performance

    por Victor Turner (1982) que vejo a possibilidade de estabelecer relaes mutuamente

    esclarecedoras entre os processos sociais e o mundo do teatro. Os historiadores esto

    hoje sensveis s questes do corpo e da expresso dramtica na vida cotidiana. Nas

    palavras de Sandra Pesavento, a histria se expressa e pode ser buscada na gestualidade

    e teatralidade do corpo, na encenao dos gestos que se justapem fala e ao som

    (PESAVENTO 2003: 8). No meu caso, e com mais razo, tratando propriamente do

    teatro, esse dilogo metodolgico com a antropologia tornou-se ponto fulcral de

  • 13

    procedimento.

    Os estudos de performance, rea acadmica nascida nos EUA e em que realizei

    meu doutoramento, se caracterizam pela interdisciplinaridade, tendo se originado de um

    dilogo entre a antropologia (TURNER 1982) e o teatro (SCHECHNER 1977, 1985),

    desde logo ampliando seu escopo para abarcar as artes plsticas contemporneas, a

    dana, os ritos, os jogos, as diverses pblicas e a teatralizao do cotidiano. Ao longo

    do tempo, foram incorporando perspectivas psicanalticas, lingusticas, feministas, de

    estudos culturais, do folclore e do cotidiano, de estudos de gnero e sexualidade e

    preocupaes multiculturalistas. Como diz o nome, o conceito central, que d unidade

    ao campo, o da performance, entendida como toda relao presencial em que um ou

    mais performadores (performers) atuam para um determinado pblico na apresentao /

    representao de certos contedos simblicos. Essa definio, ao se referir presena,

    coloca desafios para uma histria da performance, que analisei em outro texto (LOPES

    1994) e que procurei resolver tomando boa dose de inspirao nas sugestes de Walter

    Benjamin em suas Teses sobre a filosofia da histria (1969).

    Em meados dos anos 90, ao passar a dedicar-me a estudos histricos do teatro

    dentro dessa perspectiva ampliada oferecida pelo conceito de performance, encontrei na

    histria cultural, ento em pleno desenvolvimento no Brasil, o instrumental adequado,

    em virtude das claras reas de convergncia. O ponto principal talvez seja o interesse

    pelo simblico, no como mera superestrutura da realidade socioeconmica, nem como

    campo autnomo, mas como parte integrante do devir histrico, ao mesmo tempo

    moldando e sendo moldado pelas relaes concretas estabelecidas pelos indivduos em

    sociedade. Outros pontos so o interesse pelo cotidiano e pela vida urbana, a linguagem

    corporal como produtora de significados, as relaes entre arte e vida e a relao

    complexa entre cultura popular e erudita, termos de difcil conceituao, mas ainda

    inevitveis. A tudo isso, juntei uma preocupao, que j me acompanhava desde a

    dissertao de mestrado (LOPES 1979), com a anlise de discurso e a crtica ideolgica,

    que alis no so estranhas ao escopo da histria cultural.

    O mtodo que utilizei na minha tese de doutorado, em que estudei os musicais

    ligeiros carioca de 1900 a 1920 (LOPES 2000a), indica o caminho que agora venho

    trilhando em relao ao sculo XIX. O ponto de partida um foco fechado na anlise de

    um fenmeno circunscrito (a produo, a representao cnica e a recepo das peas

    dos autores estudados), sua descrio cerrada e anlise por pontos de vista mltiplos

  • 14

    formal, psicolgico, moral, social, poltico e filosfico. Dando um passo alm das peas

    em si, trato de enriquecer o estudo com a histria de vida dos profissionais envolvidos

    com a produo teatral, as relaes que mantiveram entre si e com outros grupos e, por

    fim, o pano de fundo cultural, social e poltico da cidade do Rio de Janeiro de ento.

    Como a questo da escravido, do negro e da mestiagem so centrais neste

    estudo, ele se realiza em dilogo com a literatura, alis vasta, que vem sendo produzida

    nas duas ltimas dcadas sobre os temas. Para ficar apenas no domstico, uma vez que

    Cultura afro-brasileira e identidade nacional uma linha de pesquisa do Setor de

    Histria da Casa de Rui Barbosa, meu trabalho mantm uma interface e se beneficia dos

    desenvolvimentos dos de Ivana Stolze Lima (2003) e Eduardo Silva (2003, s/d). No

    posso deixar de mencionar estudos como os de Joo Jos Reis (1986, 1992), Mary

    Karasch (2000), Hebe Mattos (2000) e Carlos Eugnio Lbano Soares (2001). No plano

    terico, minha discusso da mestiagem se beneficia do trabalho de Serge Gruzinski

    (2001).

    Por lidar com o gnero cmico, tambm mantenho dilogo com a produo do

    Setor sobre o humor, sua poderosa capacidade de comunicao e seu particular modo de

    significao, em especial, atravs das obras de Isabel Lustosa (1989, 1993), Luiz

    Guilherme Sodr Teixeira (2001, 2005) e Monica Pimenta Velloso (1996, 2000a). Na

    rea da comicidade, no posso deixar de referenciar tambm a produo de Beti Rabetti

    (1997) e Elias Thom Saliba (1998). As estratgias textuais e corporais utilizadas na

    produo das peas para conquistar seu pblico, inclusive atravs do humor, constituem

    elementos fundamentais para a leitura dos contedos explcitos e implcitos que

    povoavam o imaginrio daquela sociedade e os projetos de seus intelectuais.

    Finalmente, igualmente necessrio manter um dilogo com a tambm ampla

    historiografia social e poltica do perodo apogeu e decadncia do Imrio e advento da

    Repblica , dentro da qual pino aqui alguns analistas emblemticos como Jos Murilo

    de Carvalho (1987, 1990) e Sidney Chalhoub (1986), alm das discusses que vm

    sendo promovidas por ngela de Castro Gomes e Martha Abreu sobre o que chamaram

    de a nova Velha Repblica, em parte reunidas num dossi temtico da revista

    Tempo (CASTRO GOMES, ABREU 2009).

    Como mencionei ao comeo, as pesquisas sobre Joo Caetano, Martins Pena, Jos

    de Alencar, Francisco Correia Vasques e Artur Azevedo so objetivos especficos de

    etapas do meu projeto, mas o objetivo mais amplo o entendimento do papel do teatro

  • 15

    oitocentista do Rio de Janeiro na formao dos conceitos de moderno, nacional e

    popular e na criao de imagens que ajudariam seus cidados a traduzir sua prpria

    experincia histrica de pertencimento a uma comunidade imaginada.

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