Abbagnano, nicola. Dicionário de Filosofia

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  • 1. PREFACIOO objetivo deste dicionrio colocar disposio de todos um repertrio das possi-bilidades de filosofar oferecidas pelos conceitos da linguagem filosfica, que vem se cons-tituindo desde o tempo da Grcia antiga at nossos dias. O Dicionrio mostra como algumasdessas possibilidades foram desenvolvidas e exploradas exausto, ao passo que outrasforam insuficientemente elaboradas ou deixadas de lado. Ele apresenta, assim, um balanodo trabalho filosfico do ponto de vista de sua fase atual.Em funo desse objetivo foi estabelecida a regra fundamental a que obedeceu aformulao dos verbetes: a de especificar as constantes de significado passveis de seremdemonstradas ou documentadas com citaes textuais, mesmo que de doutrinas aparente-mente diferentes. Mas as constantes de significado s podem ser especificadas quando osdiferentes significados, compreendidos por um mesmo termo, so claramente reconhecidose distintos. Essa a exigncia da clareza, considerada fundamental numa obra como estae que, na verdade, condio essencial para que a filosofia possa exercer qualquer funode esclarecimento e orientao nos confrontos entre os seres humanos.Numa poca em que os conceitos so freqentemente confusos e equvocos a pontode se tornarem inutilizveis, a exigncia de uma definio rigorosa dos conceitos e de suasarticulaes internas adquire importncia vital. Espero que o Dicionrio que ora apresentoao leitor esteja altura dessa exigncia e contribua para difundi-la, restituindo aos conceitossua fora diretiva e asseguradora.Vejo-me agora na grata obrigao de lembrar aqui as pessoas que me ajudaram narealizao deste trabalho.O professor GIULIO PRETI elaborou para mim alguns verbetes de lgica (sendo oprincipal, justamente, Lgica), todos assinados com as iniciais G. P. Tambm me ajudou nacompilao de alguns outros, que trazem suas iniciais e as minhas.Todos os artigos principais do Dicionrio foram discutidos, s vezes longa e minucio-samente, com um grupo restrito de amigos: NORBERTO BOBBIO, EUGNIO GARIN, C. A. Viano,Pietro Rossi, Pietro Chiodi.Outros amigos ajudaram-me a encontrar ou confrontar textos de mais difcil acesso.Foram eles GRAZIELLA VESCOVINI FEDERICI, GRAZIELLA GIORDANO, SRGIO RUFFINO.Minha mulher, Marian Taylor, me prestou grande ajuda na correo das provas.A todas essas pessoas dirijo meu cordial agradecimento. Mas o trabalho deste Dicionriono teria sido iniciado nem levado a termo sem a ampla ajuda da grande e benemrita casaeditora UTET, que agora a publica. A ela expresso, portanto, minha gratido.NlCOLA ABBAGNANO Turim, 11 de outubro de 1960.

2. VI PREFCIONOTA SEGUNDA EDIO ITALIANA Esta segunda edio, inteiramente revista, contm 22 verbetes novos: Artefato; Assero;Autmato; Casamento; Classe, conscincia de, Deus, morte de, Diacrnico, Sincrnico;Doxologia; Ensomatose; Futurologia; Iluminismo; Ocorrncia; Performativo; Poitico;Praxiologia; Previso-, Psicodlico; Recusa, grande, Tbuas de verdade, Teleonomia; Ler, Tra-balho. Foram inteiramente refeitos os verbetes: Condicional; Conseqncia; Entimema; Implicao-, Matrizes, mtodo das; Pantesmo;Tecnocracia. N.A. Turim, 20 de abril de 1971. 3. OBSERVAES 1. O Dicionrio contm apenas termos, no nomes prprios. No entanto, contmtermos como Platonsmo, Aristotelismo, Criticismo, Idealismo, etc, que se referem dou-trina de um filsofo ou de uma escola, ou a aspectos ou linhas comuns a vrias doutrinas.Mas esses verbetes limitam-se a expor os pontos principais das doutrinas ou linhas emquesto com a maior brevidade possvel, dado que as opinies dos filsofos a que sereferem so amplamente citadas em todos os verbetes principais. 2. Foram includos artigos dedicados no apenas s simples disciplinas filosficas(Metafsica, Ontologia, Gnosiologia, Metodologia, tica, Esttica, etc), mas tambm a discipli-nas cientficas de carter ou fundamento terico (Matemtica, Geometria, Economia, Fsica,Psicologia, etc), em cuja abordagem os verbetes do Dicionrio limitam-se a distinguir asdiversas fases conceituais pelas quais a disciplina passou ou as diversas linhas que ela oferececomo alternativas de pesquisa ou de interpretao. 3. Para os termos que se referem a conceitos complexos ou problemticos, ou quetiveram ou tm interpretaes diversas, foi adotado o seguinte procedimento: A) Demos deincio, quando possvel, o significado geral ou generalizado ao qual podem ser reduzidostodos os significados encontrveis, ou a maioria deles; E) distinguimos e agrupamos empoucas categorias estes ltimos significados; O cada categoria de significado foi ilustradacom citaes de textos. Tivemos o cuidado de fazer com que os significados fundamentaisfossem distinguidos e formulados de modo que inclussem o maior nmero possvel designificados encontrveis. 4. O Dicionrio tem, como qualquer outro Dicionrio lingstico, uma base essen-cialmente histrica: isso mostra quais foram e quais so os usos de um termo na linguagemfilosfica ocidental e tambm, se for o caso, relaciona-os com seu uso na linguagem comum.As ambigidades de significado foram cuidadosamente registradas. Quando foi possvelfaz-lo sem demasiado arbtrio, indicamos o modo de evitar tais ambigidades. 5. Foram utilizadas abreviaes para os ttulos das obras citadas com maior freqn-cia (ver a lista apresentada nas pginas seguintes). Para as obras clssicas, utilizamos ossistemas de citao adotados correntemente pelos estudiosos. Sempre que possvel, indica-mos, das obras citadas, a parte ou volume, o captulo e o pargrafo, alm da pgina, paratornar a citao independente das diversas edies ou tradues existentes. 6. Os verbetes assinados pelas iniciais G. P. so da autoria do professor Giulio Preti,da Universidade de Florena. 4. LISTA DAS PRINCIPAIS ABREVIATURASAristteles (384-322 a.C.) Bocio (c. 480-c. 526)An.post. = Analayticaposteriora, ed. Ross, 1949- Phil. cons. = Phosophiae consolations libri V, 524.An. pr. = Analyticapriora, ed. Ross, 1949-Cat. = Categoriae, ed. Minio-Paluello, 1949. Campanella (1568-1639)De cael. = De caelo, ed. Allan, 1936.Phil. rat. = Philosophia rationalis, 1638.Degen. an. = De generatione animalium, ed. Ccero (106-43 a.C.)Bekker, 1831.Acad. = Academicontm reliquiae cum Lucullo,Depart. an. = departibusanimalum, ed. Becker,ed. Plasberg, 1923.1831.De divin. = De divinatione, ed. Plasberg e Ax,El. sof. = De sohphisticis elenchis, ed. Bekker, 1965.1831.De finibus = De finibus bonorum et malorum,Et. eud. = Ethica eudemia, ed. Susemihl, 1879.ed. Shiche, 1915.Et. nic. = Ethica nicomachea, ed. Bywather 1957. De leg. = De legibus, ed. Mueller, 1897.Eis. = Physcorum Hhri VIII, ed. Ross, 1950. De nat. deor. = De natura deorum, ed. PlasbergMet. = Metaphysica, ed. Ross, 1924.1933.Poet. = De arte potica, ed. Bywather, 1953. De off. = De officis, ed. Atzert, 1932.Pol. = Poltica, ed. Newman, 1887-1902.De rep. = De republica, ed. Castiglioni, 1947.Ret. = Rethorica, ed. Bekker, 1831.Top. = Tpica, ed. Klotz, 1883.Top. = Topicorum libri VIII, ed. Bekker, 1831. Tusc. = Tusculanae disputationes, ed. Pohlenz, 1938.Arnauld (1612-1694)log. = La logque ou lart depenser, 1662, inDescartes (1596-1650)CEuvres Phosophiques, 1893. Discours = Discours de Ia mthode, 1637.Aulo Gllio (c. 122-c. 180)Md. = Mditations touchant Iapremirephilo-Noct. Att. = Noctes Attcae, ed. Hertz e Hosius,sophie, 1641. Pass. de Vrne = Passions de Vme, 1649. 1903. Princ.phil. = Principia philosophiae, 1644.Bacon (1561-1626)Nov. Org. = Novum Organum, 1620. Diels (1848-1922)Deaugtn. scient. = De augmentis scientiarum, DIELS = Die Fragmente der Vorsokratiker, 5a 1623.ed., 1934. A letra A refere-se aos testemu-nhos, a letra B aos fragmentos; o nmeroBergson (1859-1941) sempre o que foi dado por Diels em suavol. cratr. = volution cratrice, 1907, 8a ed.,classificao. 1911.Deux sources = Deux sources de Ia morale et de Digenes Larcio (sc. III d.C.) Ia religion, 1932; trad. it. M. Vinciguerra,DIOG. L. = Vitae etplacta philosophorum, ed. Milano, 1947.Cobet, 1878. 5. LISTA DAS PRINCIPAIS ABREVIATURASDunsScot (1265-1308)Inq. Cone. Underst. = Inquiry ConcerningRep. Par. = Reportata Parisiensa, in Opera, ed. Human Understanding, 1748. Wadding, vol. Xi, 1639-Treatise = A Treatise of Human Nature, 1738;Op. Ox. = Opus Oxoniense, nelle Opere, ed. deed. Selby-Bigge, 1888. L. Wadding, vol. V-X. As partes desta obra publicadas sob o ttulo de Ordinatio nos Husserl (1859-1938) quatro primeiros volumes da Opera omnia, ldeen, I, II, III = Ideen zu einer reinen em ed. org. pela Commissione Vaticana emPhnomenologie u ndphnomenologischen 1950, foram citadas no texto seguido nestaPhilosophie, I, II, III, 1950, 1951, 1952. ltima edio. Cart.Med.= Cartesianische Meditationen, 1950.Krisis - Die Krisis der europischen Wissens-Fichte (1762-1814)chaften unddie transzendentalePhnome-Wissenschaftslehre = Grundlagedergesammtennologie, 1954.Wissenschaftslehre, 1794, in Werke, org. pelo filho I. H."Fichte, 8 vols., 1845-46.Jaspers (1883-1969) Tambm as outras obras de Fichte so cita- das (salvo advertncia em contrrio) por essaPhil. = Philosophie, 3 vols., 1932; 3a ed., 1956. edio ou pela das Machgelassene Werke, org. tambm pelo filho, 1834-35 (citadas noKant (1724-1804) texto como Werke, IX, X, XI).Antr. = Anthropologie inpragmatischerHinsicht, 1798.Ficino (1433-1499)Crt do JUZO = Kritik der Urteilskraft, 1790.Theol. Plat. = Theologia Platnica, in Opera, 1561. Crt. R. Prtica Kritik derpraktischen Vernunft,In Conv. Plat. de Am. Comm. = In Convivium 1787.PlatonisdeAmore Commentarium, bidem. Crt. R. Pura = Kritik der reinen Vernunft, Ia ed., 1781; 2a ed., 1787. As citaes referem-Flon (c. 20 a.C.-c. 50 d.C.)se 2- ed., salvo indicao em contrrio.Ali. leg. =Allegoria legis, ed. Colson e Whitaker,Met. derSitten = Metaphysik der Sitten, 1797. 1929-62. Prol. = Prolegomena zu einer jeden knftigen Metaphysik, die ais Wissenschaft wird auf-Hegel (1770-1831)treten knnen, 1783-Ene. = Encyklopdie derphilosophischen Wis- Religion = Die Religion innerhalb der Grenzensenschaften im Grundrisse, 2- ed., 1827; ed. der blossen Vernunft, 1793.Lasson, 1950. Nas citaes desta obra tam- s vezes so indicadas entre colchetes asbm foi consultada a verso italiana de B. pginas segundo a edio da AcademiaCroce, Bari, 1906. Prussiana. Nesse caso, no que diz respeito Fil. do dir. = Grundlinien der Philosophie des Crtica da Razo Pura, indica-se com A a 1 -Rechts, 1821.edio e com B a segunda,Phnomen. des Geistes = Phnomenologie desGeistes, 1807.Kierkegaard (1813-1855)Quando no dada outra indicao, as obras Werke = Gesammelte Werke, trad. ted. E. Hirsch,de Hegel so citadas na edio original: 1957 ss.Werke, Volstndige Ausgabe, 1832-45.Leibniz (1646-1716)Hobbes (1588-1679)Disc. demt. = Discoursdemtaphysique, 1686,Decorp. = De corpore, 1655.De bom. = De homine, 1658ed. Lestiene, 1929.Leviath. = Leviathan, 1651. Monad. = Monadologie, 1714.Nouv. ess. = Nouveaux essaissur 1entendementHume (1711-1776) humain, 1703.Inq. Cone. Morais = Inquiry Concerning theThod. = Essais de Thodice sur Ia bont de Principies ofMorais, 1752; ed. Greene Grose,Dieu, Ia liberte de Vhomme et Vorgine du 1879; nova ed., 1912. mal, 1710. 6. LISTA DAS PRINCIPAIS ABREVIATURAS XI As duas obras precedentes e muitos outrosAp, = Apologia Socratis. escritos de Leibniz so citados de Opera Carm. = Charmides. Phosophica, ed. Erdmann, 1840. Tambm Conv. = Symposium. so citadas as duas coletneas: MathematischeCrat. = Cratylus. Schriften, ed. Gerhardt, 7 vols., 1849-63; Crit. = Crito. Philosophische Schriften, ed. Gerhardt, 7 vols., Critia = Critias. 1875-90. Def. = Definitiones.Ep, = Epistulae.Locke (1632-1704) Eutid. = Euthydemus.Saggio = An Essay conceming Human Un- Eed. = Phaedo.EU. = Philebus. derstanding, 1690; ed. Fraser, 1894; trad. it.Gorg. = Gorgias. C. Pellzz, Bari, 1951. lon. = Lone.Lach. = Laches.Lucrcio (c. 96-c. 53 a.C.)Leggi = Leges.Derer. nat. =Dererum natura, ed. Bailey, 1947.Men. = Menon.Parm. = Parmenides.MillJ. S. (1806-1873) Pol. = Politicus.Logic = System of Logic Ratiocinative and Prot. = Protagoras. Inductive, 1843. Rep. = Respublica, ed. Chambry, 1932.Sof. = Sophista.Nicolau de Cusa (1401-1464) Teet. = feaethetus.De docta ignor. = De docta ignorantia, 1440.Tim. = Timaeus. Os textos so citados na edio de Burnet,Ockham (c. 1280-c. 1349)1899-1906.In Sent. = Quaestiones in LVlibros Sententiarum,1495. Plotino (205-270)Enn. = Enneades, ed. Brhier, 1924.Orgenes (c. 185-c. 253)Deprinc. = De principiis. Santo Agostinho (354-430)Injohann. = Lnjobannem. De civ. Dei = De civitate Dei.Conf. = Confessionum libri XIII.Pascal (1623-1662)Penses (os nmeros referem-se ordem da Santo Toms de Aquino (1225-1274)ed. Brunschvicg). S. Th. = Summa Theologiae, ed. Caramello,P. G. = MIGNE, Patrologia graeca, o primeiro Torino, 1950.Contra Gent. = Summa contra Gentiles, Torino,nmero indica o volume. 1938.P. L. = MIGNE, Patrologia latina, o primeiro n-De ver. = Quaestiones disputatae de veritate,mero indica o volume.Torino, 1931.Pedro Hispano (Papa Joo XXI, c. 1220-1277) Scheler (1874-1928)Summ. log. = Summulae logicales, ed. Bo-Formalismus = Formalismus in der Ethik und nhenski, 1947 die materiale Wertethik, 1913-16.Sympatbie= Wesen undFormen der SympathiePeirce 1839-1914)1923; trad. franc. Lefebvre, 1928.Coll. Pap, = Collected Papers, vols. I-VI, ed.Hartshorne e Weiss, 1931-35; vols. VII-VIII,Schelling (1775-1854) ed. Burks, 1958. Werke = Smmtliche Werke, organizada pelo filho K. F. A. Schelling: I srie (obras j edita-Plato (c. 427-c. 347 a.C.)das), 10 vols.; II srie (obras inditas), 4Ale, I, II = Alcibiades, I, II.vols., 1.856 ss. 7. XII LISTA DAS PRINCIPAIS ABREVIATURASSchopenhauer (1788-1860) Stobeo (sc. V)Die Welt = Die Welt ais Wille und Vorstellung, Ed. = Eclogaephysicaeetethicae, ed. Wachsmuth 1819; 2a ed., 1844; trad. it. P. Savi-Lopez e e Hense, 1884-1923. G. De Lorenzo, Bari, 1914-30. Spinoza Et. = Ethica more geomtrico demonstrata, 1677,Scotus Erigena (sc. D0in Opera, ed. Wachsmuth e Hense, 1884-1923.De divis, nat. = De divisione naturae, nella P. L, 122. Telsio (1509-1588) De rer. nat. = De rerum natura iuxta prpriaprincipia, I-II, 1565; III-IX, 1586; ed. Spam-Sneca (12 a.C-65 d.C.) panato, 1910-23.Ep. = Epistulae moralesadLucilium, ed. Beltrami,1931; trad. it. U. Boella, Torino, 1951. Wittgenstein (1889-1951) Tractatus= Tractatns logicophilosophicus, 1922.Sexto Emprico (180-220.)Adv. math. = Adversus mathematicos, ed. Mau, Wolff (1679-1754)1954.Cosm. = Cosmologia generalis, 1731-Pirr. hyp. = Pirroneion hypotyposeon libri trs, Log. = Philosophia rationalis, siveLgica, 1728. ed. Mutschmann, 1912. Ont. = Philosophia prima sive Ontologia, 1729.Outras abreviaturas no esto registradas acima porque ou so de uso corrente entre osestudiosos, ou so de compreenso imediata, como Ap., para Apndice; Fil. para Filosofia;Phil. para Philosophie ou Philosophy; Intr. para Introduo; Schol. para scholium; etc. 8. AA. 1. Foi Aristteles quem usou pela primei- 1). Durante muito tempo essa frmula expri-ra vez, particularmente em Analticos, as pri-miu o princpio de identidade e, ao mesmomeiras letras maisculas do alfabeto, A, B, F,tempo, constituiu um tipo de verdade absoluta-para indicar os trs termos de um silogismo.mente indubitvel. Diz Boutroux: "O princpioTodavia, como na sua sintaxe o predicado de identidade pode ser assim expresso: A A.posto antes do sujeito (A vnp%ti tco B, "A No digo o Ser, mas simplesmente A, isto ,inerente [ou pertence] a B"), em geral em Ana-qualquer coisa, absolutamente qualquer, susce-lticos os sujeitos so B e L. Na Lgica da Idade tvel de ser concebida, etc." (De 1ide de loiModerna, com o costume de se escrever "A estnaturelle, 1895, p. 12).B", A tornou-se normalmente o smbolo do5. No simbolismo de Lukasiewicz a letra "A"sujeito. usada como o smbolo da disjuno para a2. A partir dos tratadistas escolsticos (aoqual se emprega mais comumente o smboloque parece, de Introductiones de Guilherme"V" (cf. A. CHURCH, Introduction to Mathema-de Shyreswood, sc. XIII), a letra A usada na tical Logic, nota 91).Lgica formal "aristotlica" como smbolo da ABALIEDADE. V. ASF.IDADE.proposio universal afirmativa (v.), segundoos conhecidos versos que chegaram at ns emABDERITISMO (ai. Abderitismus). Assimvrias redaes. Nas Summulae de Pedro His- Kant designou a concepo que considera quepano (ed. Bochenski, 1. 21), l-se: a histria no est em progresso nem em re-A affirmat, negat E, sed universalitergresso, mas sempre no mesmo estado. Desteambae,ponto de vista, a histria humana no teriaI affirmat, negat O, sed particulariter mais significado do que a de qualquer espcieambae.animal; seria apenas mais penosa (Se o gnero3. Na lgica modal tradicional, a letra A de- humano esta em constante progresso para osigna a proposio modal que consiste namelhor, 1798).afirmao do modo e na afirmao da propo-ABDUO (gr. nayorf]; lat. Keductio; in.sio. P. ex.: " possvel que p" onde p umaAbduction; fr. Abduction; ai. Abduction; it.proposio afirmativa qualquer (ARNAULD, Log.,Abduzion). um processo de prova indireta,II, 8). semidemonstrativa (teorizado por Aristteles4. Na frmula "A A" ou "A=A", que come- em Top., VIII, 5, 159 b 8, e 160 a 11 ss.; An.pr,ou a ser usada com Leibniz como tipo das ver-II, 25, 69 a 20 ss.), em que a premissa maior dades idnticas e foi adotada depois por Wolffevidente, porm a menor s provvel ou dee por Kant como expresso do chamado prin-qualquer forma mais facilmente aceita pelocpio de identidade (v.), A significa um objeto interlocutor do que a concluso que se querou um conceito qualquer. Fichte dizia: "Todos demonstrar. Embora se trate de um processoconcordam que a proposio A A (assim mais dialtico do que apodtico, j fora admiti-como A=A porque este o significado da c- do por Plato (cf. Men., 86 ss.) para a matem-pula lgica) e, de fato, no preciso pensar tica, e tambm ser sancionado como um dosmuito para reconhec-la como plenamente cer-mtodos de demonstrao matemtica porta e indubitvel" (Wissenschaftslehre, 1794,Proclo (In Eucl, 212, 24). 9. ABERTO ABSOLUTISMO Peirce introduziu o termo abduction (oumim, salv-la-". Por isso nos Evangelhos, aretroducton) para indicar o primeiro momentonoo de abnegao no uma noo de mo-do processo indutivo, o da escolha de umaral asctica, mas exprime o ato da renovaohiptese que possa servir para explicar determi- crist, pelo qual da negao do homem velhonados fatos empricos (Coll. Pap., 2.643).nasce o homem novo ou espiritual. ABERTO (in. Open; fr. Oiwert; it. Aperto). ABSOLUTISMO (in. Absolutisni; fr. Absolu-Adjetivo empregado freqentemente em sen-tisme, ai. Absolutismus; it. Assolutismo). Termotido metafrico na linguagem comum e filo-cunhado na primeira metade do sc. XVIII para sfica para indicar atitudes ou instituies queindicar toda doutrina que defenda o "poder ab- admitem a possibilidade de participao ou co- soluto" ou a "soberania absoluta" do Estado. No municao ampla ou at mesmo universal. Um seu sentido poltico original, esse termo agora "esprito aberto" um esprito acessvel a su- designa: le o A. utopista de Plato em Rep-gestes, conselhos, crticas que lhe vm dos blica; 2- o A. papal afirmado por Gregrio VII outros ou da prpria situao e que est dis-e por Bonifcio VIII, que reivindica para o Papa,posto a levar em conta, isto , sem preconcei-como representante de Deus sobre a Terra, atos, tais sugestes. Uma "sociedade aberta" plenitudopotestatis, isto , a soberania absolutauma sociedade que possibilita a correo de sobre todos os homens, inclusive os prncipes,suas instituies por vias pacficas (K. POPPER,os reis e o imperador; 3Q o A. monrquico doThe Open Society and it Enemies, Londres, sc. XVI, cujo defensor Hobbes; 4B o A. demo-1945). Bergson deu o nome de sociedade aber-crtico, teorizado por Rousseau no Contrato so-ta quela que "abraa a humanidade inteira" cial, por Marx e pelos escritores marxistas como(Deux sources, 1932,1; trad. ital., p. 28). C. Morris "ditadura do proletariado". Todas essas formasfalou de um "eu aberto" (The Open Self, 1948),do A. defendem igualmente, embora com moti-A. Capitini de uma "religio aberta" (Religione vos ou fundamentos vrios, a exigncia de queaperta, 1955).o poder estatal seja exercido sem limitaes ou AB ESSE AD POSSE. uma das consequen- restries. A exigncia oposta, prpria do libe-tiaeformales (v. CONSEQNCIA) da Lgica Esco-ralismo (v.), a que prescreve limites e restri-lstica; ab esse ad posse valet (tenef) con-es para o poder estatal.sequentia, ou, com maior rigor, ab Ma de inesse No uso filosfico corrente, esse termo novalet (tenet) Ma depossibili; isto : de "p ver-se restringe mais a indicar determinada doutri-dadeira" segue-se que "p possvel". G. P. na poltica, mas estende-se designao de AB INVTDIA. Assim Wolff denomina "as ra- toda e qualquer pretenso doutrinai ou prticazes com as quais se provoca dio contra as ao absoluto, em qualquer campo que seja con-opinies dos outros" (Log., 1.049). o assunto siderado. Diz, p. ex., Reiehenbach (The Theorypreferido pelos "perseguidores", isto , porof Probablty, p. 378): "Devemos renunciar aaqueles "que, com o pretexto de defender atodos os resduos do A. para compreender overdade, procuram levar os adversrios ao pe- significado da interpretao, em termos de fre-rigo de perderem a fama, a fortuna ou a vida" qncia, de uma assero de probabilidade em(Ibid., 1.051). torno de um caso individual. No h lugar para ABISSAL, PSICOLOGIA. V. PSICOLOGIA, E. o A. na teoria das asseres de probabilidade ABNEGAO (gr. 7rpvr|Oi; lat. Abnega- referentes realidade fsica. Tais asseres sotio-, in. Self-denial; fr. Abngation; ai. Verleu-usadas como regras de conduta, como regrasgnung- it. Abnegacione). a negao de sique determinam a conduta mais eficaz emmesmo e a disposio de pr-se a servio dosdado estgio do conhecimento. Quem quiseroutros ou de Deus, com o sacrifcio dos pr-encontrar algo a mais nessas asseres des-prios interesses. Assim descrita essa noo nocobrir no fim que perseguiu uma quimera". O A.Evangelho (Mat., XVI, 24; Luc, IX, 23): "Se al- filosfico no tanto de quem fala do Absolutogum quer vir aps mim, renuncie a si mesmo,ou de quem lhe reconhece a existncia, mas dee tome cada dia a sua cruz". Essa negao de si quem afirma que o prprio absoluto apoia suasmesmo, porm, no a perda de si mesmo,palavras e lhes d a garantia incondicional de ve-mas, antes, o reencontro do verdadeiro "siracidade. Nesse sentido, o prottipo do A.mesmo", como se explica no versculo seguin-doutrinai o Idealismo romntico, segundo ote: "pois quem quiser conservar a sua vida, qual, na filosofia, no o filsofo como ho-perd-la-; mas quem perder a sua vida pormem que se manifesta e fala, mas o prprio 10. ABSOLUTOABSOLUTOAbsoluto que chega sua conscincia e se ma- A grande voga filosfica desse termo deve-nifesta.se ao Romantismo. Fichte fala de uma "dedu-ABSOLUTO (in. Absolute; fr. Absolu; ai. o A.", de "atividade A.", de "saber A.", de "re-Absoluto; it. Assoluto). O termo latino absolutas flexo A.", de "Eu A.", para indicar, com esta(desligado de, destacado de, isto , livre de ltima expresso, o Eu infinito, criador dotoda relao, independente) provavelmente mundo. E na segunda fase de sua filosofia,corresponde ao significado do termo grego quando procura interpretar o Eu como Deus,kath auto (ou por si) a propsito do qual dizusa a palavra de modo to abusivo que beira oAristteles: "Por si mesmo e enquanto ele mes-ridculo: "O A. absolutamente aquilo que ,mo significam a mesma coisa; p. ex.: o ponto repousa sobre si e em si mesmo absolutamen-e a noo de reta pertencem linha por si por- te", "Ele o que absolutamente porque porque pertencem linha enquanto linha" (An.si mesmo... porque junto ao A. no permanecepost., I, 4, 73 b 30 ss.). Nesse sentido, essanada de estranho, mas esvai-se tudo o que nopalavra qualificaria uma determinao que per- o A." (Wissenschaftslehre, 1801, 5 e 8;tence a uma coisa pela prpria substncia ou Werke, II, pp. 12, 16). A mesma exageraoessncia da coisa, portanto, intrinsecamente. dessa palavra acha-se em Schelling, que, assimEsse um dos dois significados da palavra dis- como Fichte da segunda maneira, emprega,tinguidos por Kant, o que ele considera maisalm disso, o substantivo "A." para designar odifundido, mas menos preciso. Nesse sentido,princpio infinito da realidade, isto , Deus. O"absolutamente possvel" significa possvel "em mesmo uso da palavra reaparece em Hegel,si mesmo" ou "intrinsecamente" possvel. Des- para quem, como para Fichte e Schelling, o A.se significado Kant distingue o outro, que con- , ao mesmo tempo, o objeto e o sujeito dasidera prefervel, segundo o qual essa palavrafilosofia e, embora definido de vrias formas,significaria "sob qualquer relao"; nesse caso,permanece caracterizado pela sua infinida-"absolutamente possvel" significaria possvelde positiva no sentido de estar alm de to-sob todos os aspectos ou sob todas as relaesda realidade finita e de compreender em si(Crt. R. Pura, Dial. transe, Conceitos da razotoda realidade finita. O princpio formulado napura, se. II). Fenomenologia (Pref.) de que "o A. essen-Esses dois significados se mantm ainda nocialmente o resultado" e de que "s no fim estuso genrico dessa palavra, mas o segundo o que em verdade" leva Hegel a chamar deprevalece, talvez por ser menos dogmtico e Esprito A. os graus ltimos da realidade, aque-no fazer apelo ao misterioso em si ou natu-les em que ela se revela a si mesma comoreza intrnseca das coisas. P. ex., dizer "Isto Princpio autoconsciente infinito na religio, naabsolutamente verdadeiro" pode eqivaler aarte e na filosofia. O Romantismo fixou assim odizer "Esta proposio contm em si mesma uso dessa palavra tanto como adjetivo quantouma garantia de verdade"; rna.s pode tambm como substantivo. Segundo esse uso, a pala-querer dizer "Esta proposio foi amplamentevra significa "sem restries", "sem limitaes",verificada e nada h ainda que possa provar "sem condies"; e como substantivo significaque ela falsa"; este segundo significado a Realidade que desprovida de limites oumenos dogmtico do que o primeiro. Assim, condies, a Realidade Suprema, o "Esprito"responder "Absolutamente no" a uma perguntaou "Deus". J Leibniz dissera: "O verdadeiro in-ou a um pedido significa simplesmente avisarfinito, a rigor, nada mais que o A." (Nouv. ess.,que este "no" est solidamente apoiado por II, 17, 1). E na realidade esse termo pode serboas razes e ser mantido. Esses usos comuns considerado sinnimo de "Infinito" (v.). Em vis-do termo correspondem ao uso filosfico que,ta da posio central que a noo de infinitogenericamente, o de "sem limites", "sem res-ocupa no Romantismo (v.), entende-se por quetries", e portanto "ilimitado" ou "infinito". esse sinnimo foi acolhido e muito utilizado noMuito provavelmente a difuso dessa palavra,perodo romntico. Na Frana, essa palavra foique tem incio no sc. XVIII (embora tenhaimportada por Cousin, cujos vnculos com osido Nicolau de Cusa que definiu Deus como oRomantismo alemo so conhecidos. Na In-A., De docta ignor, II, 9), devida lingua-glaterra, foi introduzida por William Hamilton,gem poltica e a expresses como "poder A.",cujo primeiro livro foi um estudo sobre a Filo-"monarquia A.", etc, nas quais a palavra signi- sofia de Cousin (1829); e essa noo tornou-sefica claramente "sem restries" ou "ilimitado".a base das discusses sobre a cognoscibilida- 11. ABSORO, LEI DE ABSTRAOde de A., iniciadas por Hamilton e Mansel eit. Astrazion). a operao mediante a qualcontinuadas pelo evolucionismo positivista alguma coisa escolhida como objeto de per-(Spencer, etc), que, assim como esses dois cepo, ateno, observao, considerao,pensadores, afirmou a existncia e, ao mesmo pesquisa, estudo, etc, e isolada de outras coi-tempo, a incognoscibilidade do Absoluto. Nasas com que est em uma relao qualquer. Afilosofia contempornea, essa palavra foi am-A. tem dois aspectos: l2 isolar a coisa previa-plamente usada pela corrente que estava mais mente escolhida das demais com que est rela-estreitamente ligada ao Idealismo romntico, cionada (o abstrair de); 2- assumir como objetoisto , pelo Idealismo anglo-americano (Green, especfico de considerao o que foi assim iso-Bradley, Royce) e italiano (Gentile, Croce), lado (A. seletiva ou prescindente). Esses doispara designar a Conscincia infinita ou o Espri-significados j foram distinguidos por Kantto infinito. (Logik, 6), que, porm, pretendia reduzir a A.Essa palavra permanece, portanto, ligada a somente primeira dessas formas.uma fase determinada do pensamento filosfi- A A. inerente a qualquer procedimentoco, mais precisamente concepo romnticacognoscitivo e pode servir para descrever tododo Infinito, que compreende e resolve em siprocesso desse gnero. Com tal finalidade foitoda realidade finita e no , por isso, limitadoutilizada desde a Antigidade. Aristteles expli-ou condicionado por nada, nada tendo fora de ca com a A. a formao das cincias teorticas,si que possa limit-lo ou condicion-lo. No seuisto , da matemtica, da fsica e da filosofiauso comum, assim como no filosfico, essepura. "O matemtico", diz ele, "despoja as coi-termo continua significando o estado daquilo sas de todas as qualidades sensveis (peso, le-que, a qualquer ttulo, desprovido de condi- veza, dureza, etc.) e as reduz quantidadees e de limites, ou (como substantivo) aquiloque se realiza a si mesmo de modo necessrio e descontnua e contnua; o fsico prescinde deinfalvel. todas as determinaes do ser que no se redu- zam ao movimento. Analogamente, o filsofoABSORO, LEI DE (in. Law of absorption; despoja o ser de todas as determinaes parti-fr. Loi dabsorption; it. Leggi di assorbimen- culares (quantidade, movimento, etc.) e limita-to). Com esse nome designam-se na Lgica se a consider-lo s enquanto ser" (Met., XI, 3,contempornea os dois teoremas da lgebradas proposies: 1.061 a 28 ss.). O processo todo do conhecer pode ser, segundo Aristteles, descrito com a A.: "O conhecimento sensvel consiste em assu- prpq = p;p(.prq)=p, mir as formas sensveis sem a matria assim como a cera assume a marca do sinete sem oe os dois teoremas correspondentes da lge-ferro ou o ouro de que ele composto" (Debra das classes: an., II, 12, 424 a 18). E o conhecimento intelec- tual recebe as formas inteligveis abstraindo-as a xab =a; a (arb) = a.das formas sensveis em que esto presentes (ibid., III, 7, 431 ss.). S. Toms reduz o conheci- A A. , nessas expresses, a possibilidademento intelectual operao de A.: abstrair algica de substituir-sep porpvpq ou porp(/>r)forma da matria individual e assim extrair oq) nas primeiras expresses; ou a por a r abuniversal do particular, a espcie inteligvel dasou por a(ar b) nas segundas expresses. (Cf.imagens singulares. Assim como podemos con-CHURCH, Intr. toMathematicalLogic, 15, 8). Forasiderar a cor de um fruto prescindindo do fruto,da linguagem da lgica, essa lei significa que,sem por isso afirmar que ela existe separada-se um conceito implica outro, ele absorve este mente do fruto, tambm podemos conhecer asoutro, no sentido de que a assero simultnea formas ou as espcies universais do homem,dos dois eqivale assero do primeiro e do cavalo, da pedra, etc, prescindindo dospode ser, portanto, substituda pela asseroprincpios individuais a que esto unidas, masdeste toda vez que ela reaparea. Cf. TAU- sem afirmar que existem separadamente des-TOLOGIA. tes. A A., por isso, no falsifica a realidade, masABSTRAO (gr. pccpeai; lat. Abstractia, s possibilita a considerao separada da for-in. Abstraction; fr. Abstraction; ai. Abstraktion; ma e, com isso, o conhecimento intelectual hu- 12. ABSTRAOABSTRAOmano (S. Th., I, q. 85, a. 1). Esses conceitos, ou anlises, todavia, no negam a A., mas a suaconceitos afins, repetem-se em toda a Es-noo psicolgica em favor do seu conceito l-colstica. A Lgica de Port-Royal (I, 4) resumiu gico-simblico. A A. no o ato pelo qual o es-muito bem o pensamento da Escolstica e a es-prito pensa certas idias separadamente detreita conexo do processo abstrativo com aoutras; , antes, a funo simblica de certasnatureza do homem, dizendo: "A limitao darepresentaes particulares. Kant, porm, su-nossa mente faz que no possamos compreen- blinha a importncia da A. no sentido tradicio-der as coisas compostas seno considerando-asnal, pondo-a ao lado da ateno como um dosnas suas partes e contemplando as faces diver- atos ordinrios do esprito e sublinhando a suasas com que elas se nos apresentam: isto o funo de separar uma representao, de queque geralmente se costuma chamar conhecerse est consciente, das outras com que ela estpor A.". ligada na conscincia. Embora ele exemplifiqueLocke foi o primeiro a evidenciar a estreita de modo curioso a importncia desse ato ("Mui-conexo entre o processo de A. e a funo sim- tos homens so infelizes porque no sabemblica da linguagem. "Mediante a A.", diz ele, abstrair". "Um celibatrio poderia fazer bom"as idias extradas de seres particulares tor-casamento se soubesse abstrair a partir de umanam-se representantes gerais de todos os obje- verruga do rosto ou a partir da falta de umtos da mesma espcie e os seus nomes tornam- dente de sua amada" [Antr., 31), claro que ose nomes gerais, aplicveis a tudo o que existeprocedimento todo de Kant, que tem por fime est conforme com tais idias abstratas... As- isolar (isolieren) os elementos do conhecimento,sim, observando-se hoje no gesso ou na neveapriori, ou da atividade humana, em geral, a mesma cor que ontem foi observada no leite,um procedimento abstrativo. Diz ele, por ex.:considera-se s esse aspecto e faz-se com ele a"Em uma lgica transcendental, ns isolamos orepresentao de todas as outras idias da mes-intelecto (como acima, na Esttica transcen-ma espcie; e dando-se o nome brancura,dental, a sensibilidade) e extramos de todo ocom este som significa-se a mesma qualidade, nosso conhecimento s a parte do pensamen-onde quer que ela venha a ser imaginada ou to que tem origem unicamente no intelecto"encontrada; e assim so compostos os univer- (Crt. R. Pura, Div. da Lg. transcend.).sais, quer se trate de idias, quer se trate deCom Hegel, assiste-se ao estranho fenmenotermos" (Ensaio, II, 11, 9). Baseando-se nes-da supervalorizao da A. e da desvalorizaosas observaes de Locke, Berkeley chegou do abstrato. Hegel ope-se opinio de quenegao da idia abstrata e da prpria funoabstrair significa somente extrair do concreto,da abstrao. Nega, em outros termos, que opara proveito subjetivo, esta ou aquela nota quehomem possa abstrair a idia da cor das cores, constitua o conceito, entre outras que todaviaa idia do homem dos homens, etc. No h, de permaneceriam reais e vlidas fora do conceito,fato, a idia de um homem que no tenha ne-na prpria realidade. "O pensamento abs-nhuma caracterstica particular, assim comotraente", diz ele, "no pode ser consideradono h, na realidade, um homem desse gnero. como pr parte a matria sensvel que noAs idias gerais no so idias desprovidas de seria prejudicada por isso em sua realidade; ,carter particular (isto , "abstratas"), mas idias antes, superar e reduzir essa matria, que sim-particulares assumidas como signos de um gru-ples fenmeno, ao essencial, que s se ma-po de outras idias particulares afins entre si. O nifesta no conceito" (Wissensch. der Logik, III,tringulo que um gemetra tem em mente paraDo conceito em geral, trad. it., pp. 24-25). Odemonstrar um teorema no um tringulo conceito a que se chega com a A. , por isso, se-abstrato, mas um tringulo particular, p. ex., gundo Hegel, a prpria realidade, alis, a subs-issceles; mas j que no se faz meno dessetncia da realidade. Por outro lado, todavia, ocarter particular durante a demonstrao, o abstrato considerado por Hegel como o que teorema demonstrado vale para todos os trin-finito, imediato, no posto em relao com ogulos indistintamente, podendo cada um deles todo, no resolvido no devir da Idia, e por issotomar o lugar do que foi considerado (Princ. ofproduto de uma perspectiva provisria e falaz.Hum. Know., Intr., 16). Hume repetiu a anli-"O abstrato o finito, o concreto a verdade, ose negativa de Berkeley {Treatise, I, 1, 7). Taisobjeto infinito" (Phil. derReligion, II, em Werke, 13. ABSTRAOABSTRATTVO, CONHECIMENTOed. Glockner, XVI, p. 226). "Somente o concretos verdadeiras e prprias entidades abstratas, o verdadeiro, o abstrato no o verdadei- como p. ex., na matemtica. "O fato mais co-ro" (Geschicbte der Phil, III, em Werke, ed. mum da percepo, como, p. ex., h luz, impli-Glockner, XIX, p. 99). Est claro, todavia, queca A. prescindente ou prescindncia. Mas a A.Hegel entende por abstrato aquilo que co-hiposttica, que transforma h luz em h luzmumente se chama concreto as coisas, osaqui, que o sentido que dou comumente objetos particulares, as realidades singulares palavra A. (desde que prescindncia indica a A.oferecidas ou testemunhadas pela experincia prescindente), um modo especialssimo do enquanto chama de concreto o que o uso co- pensamento. Consiste em tomar certo aspectomum e filosfico sempre chamou de abstrato,de um objeto ou de vrios objetos percebidosisto , o conceito; e chama-o de concreto por- (depois que j foi pr-cindido dos outros as-que este constitui, para ele, a substncia mesma pectos de tais objetos) e em exprimi-lo de formada realidade (conforme o seu princpio "Tudo proposicional com um juzo" (Coll. Pap., 4.235;o que racional real e tudo o que real ra-cf. 3.642; 5.304). Essa distino que j fora ace-cional"). De qualquer forma, essa inverso denada por James (Princ. ofPsychol, I. 243) esignificado permitiu que boa parte da filosofiaaceita por Dewey {Logic, cap. 23; trad. it., pp.do sc. XIX se pronunciasse a favor do concreto603-604) no impede que tanto a prescindnciae contra o abstrato, ainda quando o "concreto" quanto a A. hiposttica sejam especificaes dade que se tratava era, na realidade, uma simples funo geral seletiva, que tradicionalmente foiA. filosfica. Gentile falava, p. ex., de uma "lgi- indicada pela palavra "abstrao". Paul Valryca do abstrato", ou do pensamento pensado, e insistiu poeticamente na importncia da A. emde uma "lgica do concreto", ou do pensamen- todas as constaies humanas, logo tambmto pensante (Sistema di lgica, I, 1922, pp. 119 na arte: "Estou dizendo que o homem fabricass.). Croce falava da "concretitude" do conceito por A.; ignorando e esquecendo grande partecomo imanncia deste nas representaes sin- das qualidades daquilo que emprega, aplican-gulares e da "abstrateza" das noes considera-do-se somente a condies claras e distintasdas desligadas dos particulares ilgica, A- ed., que podem, via de regra, ser simultaneamente1920, p. 28). Bergson contraps constantemente satisfeitas no por uma, mas por muitas esp-o tempo "concreto" da conscincia ao tempo cies de matrias" (Eupalinos, trad. ital., p. 134)."abstrato" da cincia e, de modo geral, o proce- ABSTRACIONISMO (in. Abstractionisni; fr.dimento da cincia que se vale de conceitos ou Abstractionnisme, ai. Abstraktionismus; it. As-smbolos, isto , de "idias abstratas ou gerais", trazionismo). Assim William James (The Mea-ao procedimento intuitivo ou simptico da filo-ning of Truth, 1909, cap. XIII) denominou osofia (cf., p. ex., Lapenseet le mouvant, 3- ed., uso ilegtimo da abstrao e em particular a1934, p. 210). Esses temas polmicos foram tendncia a considerar como reais os produtosbastante freqentes na filosofia dos primeiros da abstrao.decnios do nosso sculo. E certamente a pol-ABSTRATAS, CINCIAS. V. CINCIAS, CLASSI-mica contra a A. foi eficaz contra a tendncia de FICAO DAS.entificar os produtos dela, isto , de considerarABSTRATAS, IDIAS. V. ABSTRAO.como substncias ou realidades, entidades queno tm outra funo seno possibilitar a des-ABSTRATIVO, CONHECIMENTO (latcrio, a classificao e o uso de um complexo Cognitio abstractiva-, in. Abstractive knowledge,de dados. Mas, por outro lado, essa mesma po-fr. Connaissance abstractive, ai. Abstrahierendelmica s vezes fez esquecer a funo da A. em Erkenntniss; it. Conoscenza astrattiva). Termotodo tipo ou forma de atividade humana, en-que Duns Scot empregou de modo simtricoquanto tal atividade s pode operar atravs de e oposto ao de conhecimento intuitivo (cog-selees abstrativas. Mach insistiu nessa funo nitio intuitiva), para indicar uma das esp-da A. nas cincias, afirmando que ela indis- cies fundamentais do conhecimento: a pri-pensvel para a observao dos fenmenos,meira delas "abstrai de toda existncia atual"para a descoberta, ou para a pesquisa dos prin-enquanto a segunda "se refere ao que existecpios (Erkenntniss undIrrtum, cap. VIII; trad.ou ao que est presente em certa existnciafr., pp. 146 ss.). A esse propsito foi oportuna-atual" (Op. Ox., II, d. 3, q. 9, n. 6). A distinomente distinguida por Peirce uma dupla funofoi aceita por Durand de St. Pourain (In Sent,da A.: a de operao seletiva e a que d ensejoProl, q. 3, F) e por Ockham, que, porm, a reinterpretou a seu modo, entendendo por co- 14. ABSTRATOR ACADEMIAnhecimento intuitivo aquele mediante o qual seEm sentido mais restrito e preciso, essa pa-conhece com evidncia a realidade ou a irrea- lavra significa "impossvel" (adynatori) porquelidade de uma coisa ou de algum outro atributocontraditrio. Nesse sentido, Aristteles falavaemprico da prpria coisa; portanto, em geral,de raciocnio por A. ou de reduo ao A.: seria"toda noo simples de um termo ou de vriosum raciocnio que assume como hiptese atermos de uma coisa ou de vrias coisas, em vir-proposio contrria condio que se quertude da qual se possa conhecer alguma verdade demonstrar e faz ver que de tal hiptese derivacontingente especialmente em torno do objetouma proposio contraditria prpria hipte-presente" (In Sent., Prol., q. 1, Z.). F. entendeuse (An. pr, II, 11-14, 61 ss.). A demonstraopor conhecimento abstrativo o que prescinde dapor A., acrescenta Aristteles (ibid., 14, 62 brealidade ou da irrealidade do objeto e uma 27), distingue-se da demonstrao ostensivaespcie de imagem ou cpia do conhecimentoporque assume aquilo que, com a reduo aointuitivo. Nada se pode conhecer abstrativa-erro reconhecido, quer destruir; a demonstra-mente, diz ele, que no tenha sido conhecidoo ostensiva, ao contrrio, parte de premissasintuitivamente, seno at mesmo o cego de nas-j admitidas. Leibniz chamou de demonstraocena poderia conhecer as cores (Ibid, I, d. 3, q.apaggica o raciocnio por A. e considerou-o2, K). Essa doutrina do conhecimento intuitivo til ou pelo menos dificilmente eliminvel, noa primeira formulao da noo de experincia domnio da matemtica (Nouv. ess., IV, 8, 2).no sentido moderno do termo (V. EXPERINCIA). Kant, que emprega o mesmo nome, justifi-ABSTRATOR. V. OPERADOR. cou-o nas cincias, mas o excluiu da filosofia.ABSTRUSO (lat. Abstrusus [= escondido]; Justificou-o nas cincias porque nestas im-in. Abstruse, fr. Abstrus; ai. Abstrus; it. Astruso). possvel o modus ponens de chegar verdadeTermo pejorativo para qualificar qualquer no- de um conhecimento a partir da verdade daso inslita ou de difcil compreenso; ou, suas conseqncias: seria necessrio, de fato,como diz Locke (Ensaio, II, 12, 8), "distante conhecer todas as conseqncias possveis: odos sentidos e de toda operao do nosso esp-que impossvel. Mas, se de uma proposiorito". Esse termo aplicado sobretudo a no-pode ser extrada ainda que uma s conse-es abstratas, mas aplica-se igualmente a noes qncia falsa, a proposio falsa: por isso oque se afastem, mais ou menos, do universomodus tollens dos silogismos conclui ao mes-comum do discurso.mo tempo com rigor e com facilidade. MasABSURDO (gr. cetOTiov, avaxov; lat. Ab- esse modo de raciocinar isento de perigos ssurdum; in. Absurd; fr. Absurde, ai. Absurd; it.nas cincias em que no se pode trocar objeti-Assurd). Em geral, aquilo que no encontra vo por subjetivo, isto , nas cincias da nature-lugar no sistema de crenas a que se faz refe-za. Em filosofia, porm, essa troca possvel,rncia ou que se ope a alguma dessas cren- isto , pode acontecer que seja subjetivamenteas. Os homens e, em especial, os filsofos impossvel o que no objetivamente imposs- sempre usaram muito essa palavra para con-vel. Portanto, o raciocnio apaggico no levadenar, destruir ou pelo menos afastar de si cren- a concluses legtimas (Crt. R. Pura, Disciplinaas (verdadeiras ou falsas) ou mesmo fatos ou da razo pura, IV).observaes perturbadoras, incmodas ou, de AB UMVERSALI AD PARTICULAREM. qualquer modo, estranhas ou opostas aos sis-uma das consequentiaeformates (v. CONSEQN-temas de crenas aceitos por eles. Portanto, noCIA) da Lgica escolstica: ab universali adpar- de surpreender que at mesmo experincias tcularem, sive ndefinitam sive singularemou doutrinas que depois seriam reconhecidas valet (tenef) consequentia; isto : de "todo A como verdadeiras tenham sido por muito ou B" valem as conseqncias "alguns A so B",pouco tempo definidas como absurdas. P. ex.:"A B", "S (se S um A) B".os antigos reputavam A. a crena nos antpodasACADEMIA (gr. AKatu.eia; lat. Acade-porque, no tendo a noo da relatividade das mia; in. Academy, fr. Acadmie, ai. Akademie,determinaes espaciais, acreditavam que nosit. Accademia). Propriamente a escola funda-antpodas os homens deveriam viver de cabeada por Plato no ginsio que tomava o nomepara baixo. Nesse sentido, a palavra significado heri Academos e que depois da morte de"irracional", isto , contrrio ou estranho quiloPlato foi dirigida por Espeusipo (347-339em que se pode crer racionalmente, ou "in-a.C), por Xencrates (339-14 a. C.), por Pole-conveniente", "fora de lugar", etc. mon (314-270 a. C.) e por Cratete (270-68 a.C). 15. ACADEMIA FLORENTINA AONessa fase, a Academia continuou a especula-AO (gr. Tipv; lat. Actio; in. Action; fr.o platnica, vinculando-a sempre mais estrei- Action; ai. Tat, Handlung; it. Azione). 1. Termotamente ao pitagorismo; pertenceram a ela ma- de significado generalssimo que denota qual-temticos e astrnomos, entre os quais o mais quer operao, considerada sob o aspecto dofamoso foi Eudoxo de Cnido. Com a morte determo a partir do qual a operao tem incio ouCratete, a Academia mudou de orientao com iniciativa. Nesse significado, a extenso do ter-Arcesilau de Pitane (315 ou 314-241 ou 240mo coberta pela categoria aristotlica do fazera.C), encaminhando-se para um probabilismo(Tiovev), cujo oposto a categoria da paixoque derivava da poca em que Plato afirmara, (v.) ou da afeio (v.). Fala-se, assim, da A. dosobre o conhecimento das coisas naturais, que cido sobre os metais ou do "princpio de A. eestas, no tendo nenhuma estabilidade e soli- de reao" ou da A. do DDT sobre os insetos;dez, no podem dar origem a um conhecimen-ou ento fala-se da A. livre ou voluntria ou res-to estvel e slido, mas s a um conhecimento ponsvel, isto , prpria do homem e qualifica-provvel. De Arcesilau e de seus sucessores da por condies determinadas. Produzir, cau-(de que no sabemos quase nada) esse pontosar, agir, criar, destruir, iniciar, continuar,termi-de vista estendeu-se a todo o conhecimen- nar, etc. so significados que inscrevem-se nesseto humano no perodo que se chamou de significado genrico de ao."Academia mdia". A "nova Academia" comea2. Aristteles foi o primeiro a tentar destacarcom Camades de Cirene (214 ou 212-129 ou desse significado genrico um significado espe-128 a.C); essa orientao de tendncia ctica e cfico pelo qual o termo pudesse referir-se so-probabilstica foi mantida at Flon de Larissa,mente s operaes humanas. Assim, comeouque, no sculo I a.C, iniciou a IV Academia, de excluindo da extenso da palavra as operaesorientao ecltica, na qual Ccero se inspirou.que se realizam de modo necessrio, isto , deMas a Academia Platnica durou ainda porum modo que no pode ser diferente do que .muito tempo e sua orientao tambm se reno-Tais operaes so objeto das cincias teo-vou no sentido religioso-mstico, que prprio rticas, matemtica, fsica e filosofia pura. Essasdo Neoplatonismoiy.). S em 529 o imperador cincias referem-se a realidades, fatos ou even-Justiniano proibiu o ensino da filosofia e con- tos que no podem ser diferentes do que so.fiscou o rico patrimnio da Academia. Da- Fora delas est o domnio do possvel, isto , domscio, que a dirigia, refugiou-se na Prsiaque pode ser de um modo ou de outro; mascom outros companheiros, entre os quais Sim-nem todo o domnio do possvel pertence plcio, autor de um vasto comentrio a Aris-ao. Dele preciso, com efeito, distinguir o datteles, mas logo voltaram desiludidos. Foi as- produo, que o domnio das artes e que temsim que terminou a tradio independente do carter prprio e finalidade nos objetos produ-pensamento platnico. zidos (Et. nic, VI, 3-4, 1.149 ss.). S. Toms ACADEMIA FLORENTINA. Foi fundada distingue A. transitiva (transiens), que passapor iniciativa de Marslio Ficino e de Cosimo de quem opera sobre a matria externa, comode Mediei e reuniu um crculo de pessoas quequeimar, serrar, etc, e A. imanente (imma-viam a possibilidade de renovar o homem e a nens), que permanece no prprio agente, comosua vida religiosa mediante um retorno s sentir, entender, querer (S. Tb., II, I, q. 3, a 2; q.doutrinas genunas do platonismo antigo. Nes- 111, a. 2). Mas a chamada A. transitiva nadasas doutrinas, os adeptos do platonismo, espe-mais do que o fazer ou produzir, de que falacialmente Ficino (1433-1499) e Cristvo Lan- Aristteles (ibid., II, I, q. 57, a. 4). Nessas obser-dino (que viveu entre 1424 e 1498), viam avaes de S. Toms, assim como nas desntese de todo o pensamento religioso da An- Aristteles, est presente a tendncia a reconhe-tigidade e, portanto, tambm do cristianismo cer a superioridade da A. chamada imanente,e por isso a mais alta e verdadeira religio pos- que se consuma no interior do sujeito operante:svel. A esse retorno ao antigo ligou-se outroA. que, de resto, outra coisa no seno a ativi-aspecto da Academia florentina, o anticuria-dade espiritual ou o pensamento ou a vidalismo; contra as pretenses de supremacia pol- contemplativa. S. Toms diz, com efeito, que stica do papado, a Academia sustentava um re-a A. imanente "a perfeio e o ato do agente",torno idia imperial de Roma; por isso, Deenquanto a A. transitiva a perfeio do termomonarchia de Dante (V. RENASCIMENTO) era obje-que sofre a A. {ibid., II, I, q. 3, a 2). Por outroto freqente de comentrios e discusses. lado, S. Toms distingue, na A. voluntria, a A. 16. AO, FILOSOFIA DA AO, FILOSOFIA DAcomandada, que a ordenada pela vontade, p.do da razo prtica, de que Kant falara, no ti-ex., caminhar ou falar, e a A. elcita da vontade,nha significado fora do domnio moral; masque o prprio querer. O fim ltimo da A. nocom Fichte esse primado significa que s na A. o ato elcito da vontade, mas o comandado: j o homem se identifica com o Eu infinito. Oque o primeiro apetecvel o fim a que tende a smbolo da filosofia da A. pode ser expressovontade, no a prpria vontade iibid., II, I, q. 1, na frase de Fausto, na obra de Goethe, quea. 1 ad 2a). Esses conceitos permaneceram du- propunha traduzir In principio erat Verbumrante muito tempo inalterados e so pressupos-do IV Evangelho por "No princpio era a A.".tos tambm pela chamada filosofia da A. (v.); Foi com esses pressupostos romnticos queesta, se tende a exaltar a A. como um caminho a filosofia da A. se vinculou; na Frana, atravspara entrar em comunicao mais direta com ade OU-Laprune (1830-99) e de Blondel (1861-realidade ou o Absoluto, ou na posse mais se- 1949), assumiu forma religiosa: para ela a A. gura destes, no se preocupa muito em forne-o ncleo essencial do homem e s uma anlisecer um esquema conceituai da A. que lhe deter-da A. pode mostrar as necessidades e as defi-mine as constantes. Essa tentativa, porm, foicincias do homem, assim como sua aspiraofeita por cincias particulares, em vista das suasao infinito, que, por sua vez, s pode ser satis-exigncias, especialmente pela sociologia. As-feita pela A. gratuita e misericordiosa de Deus.sim, p. ex., Talcott Parsons determinou o esque-A supremacia da A. era transferida por Georgema da ao. Esta implicaria: 1Q um agente ouSorel (1847-1922) do domnio religioso para oum ator; 2Q um fim ou estado futuro de coisas social e poltico. Aqui a ao se desembaraavaem relao ao qual se orienta o processo da A.; de toda limitao factual ou racional e era re-3U uma situao inicial que difira em um ou conhecida como capaz de criar por si, com omais importantes aspectos do fim a que tende amito, a sua prpria justificao (Rflexions surA.; 4e certo complexo de relaes recprocas en-Ia violence, 1906). A crena de que a A. possatre os elementos precedentes. "Dentro da rea produzir por si s as condies cio seu xito ede controle do ator", diz Parsons, "os meios em-por si s justificar-se de modo absoluto, consti-pregados no podem, em geral, ser considera-tui o ativismo (v.) prprio de algumas correntesdos como escolhidos ao acaso ou dependentes filosficas e polticas contemporneas.exclusivamente das condies da A., mas de- Por uma das no raras ironias da histria dovem de algum modo estar sujeitos influncia pensamento, justamente uma das correntes quede determinado fator seletivo independente, pertencem filosofia da A. deveria levar a no-cujo conhecimento necessrio compreensoo de A. at seus limites mximos e enca-do andamento concreto da A.". Esse fator aminh-la para uma nova fase interpretativa. Essaorientao normativa que, embora possa sercorrente o pragmatismo (v.). Se, num pri-diferentemente orientada, no falta em nenhum meiro momento, William James declara que atipo de A. efetiva (The Structure of Social A. a medida da verdade do conhecer e, por-Action, 1949, pp. 44-45). Esse esquema analti- tanto, considera-a capaz de justificar propo-co proposto por Parsons sem dvida cor- sies morais e religiosas teoricamente in-responde muito bem s exigncias da anlise justificveis, as anlises empiristas de James e,sociolgica; mas pode ser assumido tambm melhor ainda, as de Dewey deveriam eviden-em filosofia como base para a compreenso daciar o condicionamento da A. por parte das cir-A. nos vrios campos de que a filosofia se ocu- cunstncias que a provocam, sua relao com apa, isto , no campo moral, jurdico, polti- siaiao que constitui seu estmulo e, da, os li-co, etc.mites da sua eficincia e da sua liberdade. Mas, AO, FILOSOFIA DA (in. Philosophy ofdesse ponto de vista, a A. deixa de estar ligadaAction; fr. Phlosophie de Vaction, it. Filosofia unicamente ao sujeito e de encontrar unica-delVazion). Com esse nome indicam-se algu- mente nele ou na atividade dele (vontade) omas manifestaes da filosofia contempornea, seu princpio. Perde a possibilidade de consu-caracterizadas pela crena de que a A. constituimar-se e de exaurir-se no prprio sujeito; e tor-o caminho mais direto para conhecer o Absolu- na-se um comportamento, cuja anlise deveto ou o modo mais seguro de possu-lo. Trata- prescindir da diviso das faculdades ou dosse de uma filosofia de origem romntica: opoderes da alma, enquanto deve ter presente amoralismo de Fichte fundava-se na superiori-situao ou o estado de coisas a que deve ade-dade metafsica da A. (V. MORALISMO). O prima-quar-se (V. AO; COMPORTAMENTO). 17. AO ELCITA e AO COMANDADA 10AO REFLEXA AO ELCITA e AO COMANDADA mas escolha dos conceitos e das hipteses (lat. Actus elicitus et actus imperatus). Segundo para a descrio dos fenmenos naturais (v. os Escolsticos, a A. voluntria elcita a pr- ECONOMIA). pria operao da vontade, o querer, enquanto aAO RECPROCA. V. RECIPROCIDADE.A. comandada dirigida, iniciada e controla-AO REFLEXA (in. Reflex action; fr. Ac- da pela vontade, como, p. ex., caminhar ou tion rflexe, ai. Reflex Bewegung; it. Azione falar (S. TOMS, S. Th., II, I, q, 1, a, 1). riflessd). Em geral, uma resposta mecnica (in- AO MNIMA (in. Least action; fr. Moin-voluntria), uniforme e adaptada, do orga- dre action; ai. Kleinsten Aktion; it. Azione mni- nismo a um estmulo externo ou interno ao ma). Princpio de que "a natureza nada faz deprprio organismo. Um reflexo , p. ex., a con-intil" (natura nihilfacitfrustra) e segue o ca- trao da pupila quando o olho estimuladominho mais curto e econmico. Essa mxima pela luz ou a salivao pelo gosto ou pela vistaencontra-se em Aristteles (Dean., III, 12, 434 a de um alimento. Do reflexo assim entendido31; Decael, I, 4, 271 a 32; Depart. an., I, 5, 645deve distinguir-se o arco reflexo, que o dis-a 22), repetida por S. Toms (In IIIAn., 14) epositivo anatomofisiolgico destinado a pr oretomada nos tempos modernos por Galileu, reflexo em ao. Tal dispositivo formadoFermat, Leibniz, etc. Em 1732, Maupertuis for- pelo nervo aferente ou centrpeto que sofre omulava matematicamente esse princpio e oestmulo, pelo nervo eferente ou centrfugointroduzia em mecnica com o nome de "lei de que produz o movimento e por uma conexoeconomia da natureza" (LexParsimoniae). Masentre esses dois nervos, estabelecida nas clu-tambm para Maupertuis esse princpio conser-las nervosas centrais. A importncia filosficavava o carter finalista que convencera Aris-dessa noo, elaborada primeiramente pela fi-tteles a adot-lo. No Ensaio de cosmologia, siologia (sc. XVIII), depois pela psicologia,Maupertuis escrevia: " este o princpio, to s-est no fato de ter sido assumida como esque-bio, to digno do Ser supremo: qualquer quema explicativo causai da vida psquica; inicial-seja a mudana que se realize na natureza, a mente, apenas dos mecanismos involuntriossoma de A. despendida nessa mudana a me-(instintos, emoes, etc), depois, tambm dasnor possvel". Todavia o princpio no tem, em atividades superiores. Tudo o que, da vida ps-mecnica, o significado finalista que lhe atribua quica, pode ser reportado A. reflexa, podeMaupertuis. Na reexposio que dele fez La-ser explicado causalmente a partir do estmulogrange (Mcanique analytique, II, 3, 6), ficou fsico que pe em movimento o arco reflexo.claro que ele exprime a conservao no s doEm vista de sua uniformidade, essa A. previ-mnimo como tambm do mximo de A. e que,svel a partir do estmulo: isso quer dizer quealm disso, tanto o mnimo quanto o mximo ela causalmente determinada pelo prpriodevem ser considerados de modo relativo e noestmulo. Desse modo, a A. reflexa no se-absoluto. Desse ponto de vista, Hamilton gene- no o mecanismo pelo qual a causalidade ps-ralizava o princpio na forma de "princpio da A.quica se insere na causalidade da natureza, comoestacionaria": e, nessa forma, diz somente que,parte dela.em certas classes de fenmenos naturais, o Essas noes foram sendo elaboradas a par-processo de mudana tal que qualquer gran- tir da metade do sc. XIX, isto , desde que adeza fsica apropriada um extremo (isto , umpsicologia se constituiu como cincia experi-mnimo ou um mximo, mais freqentemente mental (V. PSICOLOGIA). De acordo com a orien-um mnimo). Mas a grandeza em questo e otao atomista, prpria da psicologia duranteseu mnimo ou mximo so coisas que podemmuito tempo, ela procurou resolver os reflexosmudar de uma ordem de consideraes para complexos em reflexos simples, dependentesoutra. de circuitos nervosos elementares. A doutrinaSobre princpio da mnima ao j se falou dos reflexos condicionados, fundada por Pav-em psicologia, em esttica e at na tica (cf. lov em bases experimentais (a partir de 1903;JAMES, Princ. qf PsychoL, II, pp. 188, 239 ss.;cf. os escritos de Pavlov recolhidos no volume /SIMMEL,Einleitung in die Moral Wissenschaft, riflessi condizionati, Turim, 1950), obedece 1892,1, p. 58). No deve ser confundido com omesma exigncia e, alis, contribuiu paraprincpio metodolgico da economia, que norefor-la durante algum tempo, fazendo nas-diz respeito ao da natureza ou de Deus,cer a esperana de que os comportamentos su- 18. AO REFLEXA 11ACASOperiores tambm pudessem ser explicados pelagado ilegtimo: e, com efeito, todos os reflexoscombinao de mecanismos reflexos simples.observveis so complexos e um reflexo "sim-Um reflexo condicionado aquele em que a ples", isto , no decomponvel, uma simplesfuno excitadora do estmulo que habitual- conjectura. Em terceiro lugar, as mesmas refle-mente o produz (estmulo incondicionado) xes sobre os reflexos condicionados demons-assumida por um estmulo artificial (condicio-tram a irregularidade e a imprevisibilidade denado) ao qual o primeiro foi de algum modocertas respostas: irregularidade e imprevisibili-associado. P. ex., se se apresenta um pedao de dade que Pavlov explicava com a noo de ini-carne a um co, esse estmulo provoca nelebio, que, porm, somente um nome parasalivao abundante. Se a apresentao do pe- indicar o fato de que certa reao, que se espe-dao de carne foi muitas vezes associada comrava, no se verificou (GOLDSTEIN, DerAufbauoutro estmulo artificial (p. ex., o som de uma des Organismus, 1927; MERLEAU-PONTY, Struc-campainha ou o aparecimento de uma luz),ture du comportement, 1949). Essas e outras or-este segundo estmulo acabar por produzir, dens de observao, apresentadas sobretudosozinho, o efeito do primeiro, isto , a saliva-pela psicologia da forma (cf., p. ex., KATZ,o do co. claro que a combinao e a so-Gestaltpsychologie, cap. III), mostram que o re-breposio dos reflexos condicionados podem flexo no pode ser entendido como uma A. de-explicar numerosos comportamentos que, vida a um mecanismo causai. Fala-se de reflexoprimeira vista, no esto ligados a reflexos na-sempre que se pode determinar, em face deturais ou absolutos. Mais recentemente, viu-secerto estmulo, um campo de reaes suficien-tambm no reflexo condicionado a explicao temente uniformes para serem previstas comdo chamado comportamento simblico do ho-alto grau de probabilidade. As A. reflexas cons-mem, isto , do comportamento dirigido porsignos ou smbolos, lingsticos ou de outra na-tituem, desse ponto de vista, uma classe de rea-tureza. P. ex., o viajante que encontra na estra- o, mais precisamente a que se caracterizada um cartaz advertindo que a estrada est in-pela alta freqncia de uniformidade das pr-terrompida adiante, reage (p. ex., voltando)prias reaes. Mas com isso a noo de reflexoexatamente como se houvesse visto a interrup- sai do esquema causai para entrar no esquemao da estrada. Aqui o smbolo (o cartaz) subs- geral de condicionamento (V. CONDIO).tituiu, como estmulo artificial, o estmulo natu-ACASO (gr. aTjiaxov; lat. Casus; in. Chan-ral (a vista da interrupo). Pavlov e muitos ce, fr. Hasard; ai. Zufall; it. Caso). Podem-sedefensores da teoria dos reflexos condiciona- distinguir trs conceitos desse termo que sedos mantiveram-se fiis ao princpio de que entrecruzaram na histria da filosofia. ls o con-todo reflexo que entra na composio de umceito subjetivista, que atribui a imprevisibilida-reflexo condicionado um mecanismo simples de e a indeterminao do evento casual ig-e infalvel, realizado por determinado circuito norncia ou confuso do homem. 2a o conceitoanatmico. Por isso, a teoria do reflexo condi- objetivista, que atribui o evento casual mistu-cionado, na forma exposta por Pavlov, inscre- ra e interseo das causas. 3e a interpretaove-se nos limites daquilo que hoje se costuma moderna, segundo a qual o acaso a insufi-chamar "teoria clssica do ato reflexo", isto ,cincia de probabilidades na previso. Este l-da interpretao causai da A. reflexa.timo conceito o mais geral e o menos me-tafsico. Todavia, um respeitvel complexo de obser-vaes experimentais, feitas pela fisiologia els Aristteles (Fs., II, 4, 196 b 5) j falava dapela psicologia nos ltimos decnios, a partiropinio segundo a qual a sorte seria uma cau-de 1920, aproximadamente, foi tornando cada sa superior e divina, oculta para a intelign-vez mais difcil entender a A. reflexa segundocia humana. Os Esticos equiparavam o A. aoseu esquema clssico. Em primeiro lugar, viu- erro ou iluso; julgavam que tudo acontecese que a A. dos estmulos complexos no no mundo por absoluta necessidade racionalprevisvel a partir da A. dos estmulos simples (Plac. philos., I, 29). claro que quem admiteque o compem, ou seja, os chamados reflexosuma necessidade desse gnero e a atribuisimples combinam-se de modos imprevisveis. (como achavam os Esticos) divindade ima-Em segundo lugar, o prprio conceito de "re-nente no cosmos ou ordem mecnica do uni-flexo elementar", isto , do reflexo que entraria verso no pode admitir a realidade dos eventosna composio dos reflexos complexos, foi jul-que costumam ser chamados de acidentais ou 19. ACASO12 ACASOfortuitos e muito menos do acaso como princ- bito das coisas que no acontecem nem depio ou categoria de tais eventos; deve ver nelesmodo absolutamente uniforme nem freqentea ao necessria da causa reconhecida em ato e que poderiam acontecer com vistas a uma fi-no universo, negando como iluso ou erro onalidade" (ibd., 197 a 32). Para Aristteles, aseu carter casual. esse o motivo por que determinao da finalidade essencial, j queKant, que modela as suas categorias e os seus o A. tem ao menos o aspecto ou a aparncia daprincpios a priori sobre a fsica newtoniana,finalidade: como no exemplo de quem vai aointeiramente fundada no princpio de causali- mercado por motivo completamente diferentedade, nega a existncia do A., e faz, alis, dessae ali encontra um devedor que lhe restitui anegao um dos princpios a priori do intelec-soma devida. Nesse exemplo chama-se A. (outo: "A proposio nada ocorre por A. (in mun-sorte) o evento da restituio devido ao encon-do non datur casus) uma lei a priori da na-tro que no foi deliberado ou desejado comotureza" (Crt. R. Pura, Analtica dos princpios, finalidade, mas que teria podido ser uma finali-Refutao do idealismo). Hegel, que parte dodade: enquanto, na realidade, foi o efeito aci-princpio da perfeita racionalidade do real, atri-dental de causas que agiam com vistas a outrasbui o A. natureza, ou melhor, v na naturezafinalidades. A noo de encontro, de enre-"uma acidentalidade desregulada e desenfrea-damento de sries causais para a explicao doda" (Ene, 248), mas na medida em que a natu-A., foi retomada na Idade Moderna por filso-reza no est adequada substncia racionalfos, matemticos e economistas, que reconhe-do real e, por isso, carece ela prpria de reali- ceram a importncia da noo de probabilida-dade. De modo anlogo, na filosofia contem- de (v.) para a interpretao da realidade empornea, Bergson explicou o A. pela troca, me-geral. Assim, Cournot definiu o A. como o car-ramente subjetiva, entre a ordem mecnica e a ter de um acontecimento "devido combina-ordem vital ou espiritual: "Que a mecnica daso ou ao encontro de fenmenos indepen-causas que fazem a roleta parar sobre o nme- dentes na ordem da causalidade" (Thorie desro me permita vencer e, por isso, aja como um chances et desprobabilits, 1843, cap. II), no-gnio benfico para quem os meus interesses o que se tornou predominante no positi-tivessem grande importncia; ou que a fora vismo, tambm porque foi aceita por Stuart Millmecnica do vento arranque uma telha do teto(Logic, III, 17, 2): "Um evento que aconteae a arroje sobre a minha cabea, isto , que ajapor A. pode ser mais bem descrito como umacomo um gnio malfico que conspirasse con- coincidncia da qual no temos motivo para in-tra a minha pessoa; em ambos os A. eu encon-ferir uniformidade... Podemos dizer que doistro um mecanismo onde eu teria procurado eou mais fenmenos so reunidos ao A. ou queonde deveria encontrar, ao que parece, uma in-coexistem ou se sucedem por A., no sentidoteno: isso que se exprime quando se falade no serem, de modo algum, vinculados pelade A." (vol. cratr, 8a ed., 1911, p. 254).causao; que no so nem a causa ou o efeitoum do outro, nem efeitos da mesma causa ou 2e Por outro lado, seguncio a interpretaode causas entre as quais subsista uma lei deobjetivista, o A. no um fenmeno subjetivo,coincidncia, nem efeitos da mesma colocaomas objetivo, e consiste no entrecruzar-se de de causas primrias". De modo semelhante,duas ou mais ordens ou sries diversas de cau-Ardig (Opere, III, p. 122) relaciona o A. com asas. A mais antiga das interpretaes desse tipopluralidade e o entrelaamento de sries cau- a de Aristteles. Aristteles comea notandosais distintas. Essa noo, todavia, objetiva sque o A. no se verifica nem nas coisas que entre certos limites, ou melhor, s na aparn-acontecem sempre do mesmo modo, nem nas cia. Dizer que o A. consiste no encontro deque acontecem quase sempre do mesmo duas sries causais diferentes significa que elemodo, mas entre as que ocorrem por exceo um acontecimento causalmente determinadoe sem qualquer uniformidade (Fs., II, 5, 196 b como todos os outros, mas s mais difcil de10 ss.). Desse modo, ele atribui corretamente o ser previsto porque a sua ocorrncia no de-A. esfera do imprevisvel, isto , do que acon- pende do curso de uma srie causai nica. Se-tece fora do necessrio ("o que acontece sem- gundo essa noo, a determinao causai do A.pre do mesmo modo") e do uniforme ("o que mais complexa, mas no menos necessitante;acontece quase sempre do mesmo modo"). As-a imprevisibilidade, caracterstica fundamentalsim sendo, o A. (ou a sorte) definido por do A., deve-se to-somente a tal complexidadeAristteles como "uma causa acidental no m- 20. ACATALEPSIA 13 ACIDENTEe no de natureza objetiva. Para que seja de portanto, suspende o seu assentimento, isto ,natureza objetiva, tal imprevisibilidade deve serno afirma nem nega (SEXTO EMPRTCO, Pirr. hyp.,realmente devida a uma indeterminao efetivaI, 25).inerente ao funcionamento da prpria causali- ACCEDENTIS FALLACIA. A falcia (v.) jdade. identificada por Aristteles (El. sof, 5, 166 b)3Q Essa ltima alternativa constitui um tercei-como derivada da identificao de uma coisaro conceito do A., conceito que se pode fazercom um seu acidente ou atributo acidental ("Seremontar a Hume. Parece que Hume quer re-Corisco diferente de Scrates, e Scrates ho-duzir o acaso a um fenmeno puramente sub- mem, Corisco diferente de um homem"). Cf.jetivo, pois diz: "Embora no haja no mundo al-PEDRO HISPANO, Summ. log., 7, 40 ss.G. P.guma coisa como o A., a nossa ignorncia daACENTO (gr. rcpooua; lat. Accentus; in.causa real de cada acontecimento exerce aAccent; fr. Accent; ai. Prosodie, it. Accento).mesma influncia sobre o intelecto e gera se-Segundo Aristteles (Sof. ei, 4, 166 b), seguidomelhante espcie de crena ou de opinio". pelos lgicos medievais (cf. PEDRO HISPANO,Mas, na realidade, se no existe "A." como no- Summ. log., 7, 31), da acentuao diferente daso ou categoria em si, tampouco existe a "cau-palavras pode derivar, em enunciados escri-sa" no sentido necessrio e absoluto do termo; tos, uma equivocidade que pode causar paralo-existe somente a "probabilidade". E na proba-gismos. G. P.bilidade que est fundado o que chamamos A.: ACIDENTE (gr. cruu.pefkiK; lat. Accidens;"Parece evidente que, quando a mente procu-in. Accident; fr. Accident; ai. Accidenz; it. Ac-ra prever para descobrir o acontecimento que cident). Podem-se distinguir trs significadospode resultar do lanamento do dado, consi-fundamentais desse termo, quais sejam:dera-se o aparecimento de cada lado como igual-Ia uma determinao ou qualidade casualmente provvel; e essa a verdadeira natureza ou fortuita que pode pertencer ou no a deter-do A.: de igualar inteiramente todos os eventosminado sujeito, sendo completamente estranhaindividuais que compreende" (Inq. Cone. Un- essncia necessria (ou substncia) deste;derst., VI). Essa idia de Hume deveria revelar- 2B uma determinao ou qualidade que, em-se extremamente fecunda na filosofia contem- bora no pertencendo essncia necessriapornea. O conceito de que o A. consiste na(ou substncia) de determinado sujeito e estan-equivalncia de probabilidades que no do do, portanto, fora de sua definio, est vincu-acesso a uma previso positiva em um sentido lada sua essncia e deriva necessariamenteou em outro foi enfatizado por Peirce, que tam-da sua definio;bm viu sua implicao filosfica fundamental: 3S uma determinao ou qualidade qualquera eliminao do "necessitarismo", isto , da de um sujeito, que pertena ou no sua es-doutrina segundo a qual tudo no mundo acon-sncia necessria.tece por necessidade (Chance, Love and Logic,Os dois primeiros significados do termo fo-II, 2; trad. it., p. 128 ss.). Desse ponto de vista, ram elaborados por Aristteles. "Acidente", dizo A. torna-se um exemplo particular do juzo ele (Top., I, 5, 102 b 3), "no nem a definiode probabilidade, mais precisamente, de que anem o carter nem o gnero, mas, apesar dis-prpria probabilidade no tem relevncia sufi- so, pertence ao objeto; ou tambm, o queciente para permitir prever um evento. Nesse pode pertencer e no pertencer a um s e mes-sentido, o A. foi considerado uma espcie de mo objeto, qualquer que seja ele." Como essaentropia (v.) e o conceito relativo comumentedefinio exprime a essncia necessria de empregado no campo da informao e da ci-uma realidade, isto , a substncia (v. DEFINI-berntica (v.).O), o acidente est fora da essncia necess- ACATALEPSIA (gr. Kaxa^riv|/a; in. Aca-ria e, portanto, pode pertencer ou no ao ob-talepsy, fr. Acatalepsie, ai. Akatalepsie, it. Acata-jeto a que se refere. Todavia, o acidente podelessid). a negao feita por Pirro e pelos ou- ter uma relao mais ou menos estreita com otros cticos antigos da representao com- objeto a que se refere, conforme a causa dessapreensiva ((pavTocaaKaTocT|7rTiKri), isto , dorelao; por isso, Aristteles distingue dois sig-conhecimento que permite compreender e nificados, ambos empregados no Organon eapreender o objeto, que, segundo os Esticos,A metafsica: 1- o acidente pode ser casual naera o verdadeiro conhecimento. A acatalepsia medida em que a sua causa indeterminada:a atitude de quem declara no compreender e, p. ex., um msico pode ser branco, mas como 21. ACIDENTE 14 ACIDENTEisso no acontece por necessidade ou na maior prpria realidade. Talvez esse uso tenha sidoparte dos casos, ser branco, para um msico,iniciado por Porfrio, que define o aci-ser um "acidente". Da mesma forma, para al-dente (Isag., V, 4 a, 24): "O que pode ser gera-gum que cave um buraco a fim de colocardo ou desaparecer sem que o sujeito sejauma planta, encontrar um tesouro acidental, destrudo". Essa definio, obviamente, refere-j que a encontrar um tesouro no se segue ne-se definio aristotlica do acidente como "ocessariamente o ato de cavar um buraco, nem que pode pertencer e no pertencer a um s eacontece habitualmente em semelhante cir- mesmo objeto". S. Toms anota corretamentecunstncia. Nesse significado (Mel, V, 30,1.025 (Met., V, 1.143) que, no segundo dos dois signi-a 14), portanto, acidente tudo o que acontece ficados aristotlicos, o acidente se contrape por acaso, isto , pela inter-relao e o entrela-substncia. Em virtude dessa contraposio, oamento de vrias causas, mas sem uma causa acidente "o que est em outra coisa" (S. Th.,determinada que assegure a sua ocorrncia III, q. 77, a. 2 ad l e ), isto , em um sujeito ouconstante ou, pelo menos, relativamente fre-substrato sem o qual ele, no curso ordinrio daqente. Mas h tambm: 2a o acidente no ca-natureza (isto , prescindindo da ordem da gra-sual, ou acidente por si, isto , aquele cartera que se manifesta no sacramento do altar)que, embora no pertena substncia, estan- no pode subsistir (ibid., III, q. 76, a. 1 ad-).do, pois, fora da definio, pertence ao objeto Nesse significado, em que o acidente se contra-em virtude daquilo que o prprio objeto . P. pe substncia, porquanto o seu modo de serex., ter ngulos internos iguais a dois retos no inerir (inesse) a algum sujeito, em oposiopertence essncia necessria do tringulo, talao subsistir da substncia que no tem neces-qual expressa pela definio; por isso, umsidade de apoiar-se em outra coisa para existir, oacidente. Mas um acidente que pertencetermo acidente torna-se coextensivo ao de qua-ao tringulo por acaso, isto , por uma causa lidade em geral, sem referncia a seu carterindeterminvel, mas por causa do prpriocasual e gratuito, que Aristteles tinha ilustra-tringulo, quer dizer, por aquilo que o tringu-do. A terminologia dos escolsticos adere habi-lo ; e por isso um acidente eterno (Met., V, tualmente a este ltimo significado, que destes30, 1.025 a 31 ss.). Aristteles ilustra a diferenapassa para os escritores modernos, na medidado seguinte modo (An.post, 4, 73 b 12 ss.): "Se em que se valem da linguagem escolstica. To-relampeja enquanto algum caminha, isso davia, mais prxima da definio aristotlicaum acidente, j que o relmpago no causa-que do uso escolstico encontra-se a definiodo pelo caminhar... Se, porm, um animal morrede Stuart Mill, para quem os acidentes so to-degolado, em virtude de um ferimento, dire- dos os atributos de uma coisa que no estomos que ele morreu porque foi degolado, e compreendidos no significado do nome e nono que lhe ocorreu, acidentalmente, morrer tm vnculo necessrio com os atributosdegolado". Em outros termos, o acidente por siindivisveis dessa mesma coisa (Logic, I, 7, 8).est vinculado causalmente (e no casualmen-Locke e os empiristas ingleses, o mais das ve-te) s determinaes necessrias da substn-zes, usam no lugar da palavra acidente, a pa-cia, embora no faa parte delas. E emboralavra qualidade (v.). Mas a sua insistncia nano haja cincia do acidente casual, porque a inseparabilidade das qualidades em relao cincia s do que sempre ou habitualmente substncia, que sem elas se esvai no nada, influi(Met., X, 8, 1.065 a 4) e porque ela investiga ano uso posterior da palavra em questo: usocausa, ao passo que a causa do acidente in- que tende a reduzir ou a anular a oposio en-definida (Fs., II, 4, 196 b 28), o acidente por si tre acidente e substncia e a considerar os aci-entra no mbito da cincia, como indicado dentes como a prpria manifestao da subs-pelo prprio exemplo geomtrico de que se tncia. Na verdade esse uso tambm pode servaleu Aristteles em Met., V, 30, e em numero-encontrado em Spinoza, se, porm, se admi-sos textos dos Tpicos. tir que a palavra "modo" que ele emprega sinnimo de acidente; essa sinonmia parece Com esse segundo significado aristotlicoser sugerida pela definio que ele d deda palavra pode-se relacionar o terceiro signifi- "modo" (Et., I, def. 5) como o que est em outracado, segundo o qual ela designa, em geral, ascoisa e concebido por meio dessa outra coisa.qualidades ou os caracteres de uma realidadeDe qualquer forma, a mudana de significado (substncia) que no podem ficar sem ela, por-claramente verificvel em Kant e Hegel. Kantque o seu modo de ser o de "inerir" (nesse) 22. ACIDIA15ACORDOdiz (Crt. R. Pura, Analtica dos princpios, Pri- te nesse sentido que Husserl falou de "mtodomeira Analogia): "As determinaes de umada A. (Klrung)" (Ideen, I, 67, 125). Husserlsubstncia, que no so seno modos especiaisinsistiu no fato de que a A. exige que seja leva-do seu existir, chamam-se acidentes. Eles sodo evidncia o seu substrato (as experinciassempre reais, porque dizem respeito existn- vividas que a sustentam) de tal modo quecia da substncia. Ora, se a esse real que est na "transforme todo elemento morto em vivo,substncia (p. ex., ao movimento como aciden-toda confuso em distino e todo elementote da matria) se atribui uma existncia especial, no intuvel em intuvel" (Jbid., 125). Por suaessa existncia chamada de inerncia, para vez, Jaspers usou do termo Erhellung para indicardistingui-la da existncia da substncia, que se a relao entre existncia e razo. A A. achama subsistncia". Essa passagem retoma aexistncia que procura tornar-se evidente paraterminologia escolstica com um significado to-si mesma e assim aclarar-se como razo. "A A.talmente diferente, pois os acidentes so consi- existencial", diz Jaspers, "no conhecimentoderados "modos especiais de existir" da prpriada existncia, mas recorre s suas possibilida-substncia. Noo anloga encontra-se em des" (Vernunft undExistenz, II, 7). Isto signi-Hegel, que diz (Ene, 151): "A substncia a fica que "a razo no existe como pura razo,totalidade dos acidentes nos quais ela se reve-mas o fazer-se da existncia possvel" (ibid., II, 6); e precisamente este fazer-se a aclarao.la como a absoluta negatividade deles, isto ,como potncia absoluta e, ao mesmo tempo, co-ACONTECIMENTO (gr. crvu.(3epriK; lat. Ac-mo a riqueza de cada contedo". O que signi-cidens; in. Occurrence; fr. vnement; ai.fica que os acidentes, na sua totalidade, so Vorfall; it. Accadiment). Um fato ou um eventoa revelao ou a prpria manifestao da subs- que tem certo carter acidental ou fortuito ou,tncia. Fichte exprimira, por outro lado, um pelo menos, do qual no se pode excluir esseconceito anlogo, afirmando, na esteira de carter.Kant, que "Nenhuma substncia pensvel se- A CONTRARIO. Forma de argumentaono com referncia a um A. ... Nenhum A. dialtica por analogia: do contrrio se concluipensvel sem substncia" (Wssenschaftslehre,o contrrio. (Se a A convm um predicado B, a 1794, 4 D, 14). O uso desse termo sofreu, as- no-A provvel que convenha um predicadosim, ao longo da sua histria, uma evoluo pa-no-B).G. P.radoxal: comeou significando as qualidades ou ACORDO (in. Agreement; fr. Convenance;determinaes menos estreitamente ligadas ai. bereinstmmung; it. Accord). Essa noonatureza da realidade, ou at mesmo gratuitasserviu, na Idade Moderna, para definir a natu-ou fortuitas, e acabou por significar todas as de- reza do juzo ou da proposio em geral. Diz aterminaes da realidade e, assim, a prpria rea-Lgica de Port-Royal: "Depois de conceber aslidade em sua inteireza. coisas atravs de nossas idias, comparamos essas idias entre si; e descobrindo que algu- ACDIA (lat. Acedia; in. Sloth; fr. Accidie, ai.mas esto de acordo entre si e outras no, nsAcedie, it. Accidia). O tdio ou a nusea no as ligamos ou as desligamos, o que se chamamundo medieval: o torpor ou a inrcia em que afirmar ou negar e, geralmente, julgar" (Log.,caam os monges que se dedicavam vidaII, 3). Essa noo foi usada no mesmo sentidocontemplativa. Segundo S. Toms, consiste no por Locke, para definir o conhecimento em"entristecimento do bem divino" e uma esp-geral, entendido como "a percepo do vncu-cie de torpor espiritual que impede de iniciar o lo e do acordo ou desacordo e da oposiobem (S. Th., II, II, q. 35, a. 1). Com o tdio, aentre as nossas idias, quaisquer que sejamacdia tem em comum o estado que a con-elas" (Ensaio, IV, 1, 2). Essa noo foi criticadadiciona, que no de necessidade, mas de sa-por Leibniz: "O acordo ou o desacordo no tisfao (V. TDIO). propriamente o que expresso pela proposi- ACLARAO (in. Clarification; fr. clair- o. Dois ovos esto de acordo e dois inimigoscissement; ai. Klrung, Erhellung; it. Chiarifi- esto em desacordo. Trata-se aqui de um modocazion). No uso filosfico contemporneo, de acordo ou de desacordo bastante particular"esse termo tem um significado especfico, por- (Nouv. ess., IV, 5). Spinoza falou de acordoque no significa genericamente "esclarecimen- (convenientia) entre a idia e o seu objeto. "Ato", mas indica o processo com que se leva idia verdadeira deve convir com o seu ideado;clareza conceituai certo substrato de conscin-ou seja, o que objetivamente est contido nocia ou de experincias vividas. Foi precisamen-intelecto deve necessariamente ser dado na na- 23. ACOSMISMO16ADEQUAOtureza" (Et., I, 30). Mas para esse significado, v. Ben Salomo Israel (que viveu no Egito entreVERDADE.845 e 940) no seu Liber de definitionibus. EssaACOSMISMO (in. Acosmism; fr. Acosmis- definio foi retomada por S. Toms que lheme, ai. Akosmismus; it. Acosmism). Termo em- deu uma exposio clssica (S. Th., I, 16, 2;pregado por Hegel (Ene, 50) para caracte- Contra Gent., I, 59; Dever., q. 1, a. 1). As coisasrizar a posio de Spinoza, em oposio naturais, cuja cincia o nosso intelecto recebe,acusao de "atesmo" freqentemente dirigida so a medida do intelecto, j que este possui aa este filsofo. Spinoza, segundo Hegel, noverdade s na medida em que se conforma sconfunde Deus com a natureza e com ocoisas. As prprias coisas so, por sua vez, me-mundo finito, considerando o mundo como didas pelo intelecto divino, no qual subsistemDeus, mas, antes, nega a realidade do mundo suas formas tal como as formas das coisas ar-finito afirmando que Deus, e s Deus, real. tificiais subsistem no intelecto do artfice. Deus,Nesse sentido a sua filosofia no atesmo,portanto, a verdade suprema porquanto omas acosmism, e Hegel nota, ironicamente,seu entendimento a medida de tudo o que que a acusao contra Spinoza deriva da ten-e de todos os outros entendimentos. A noodncia a crer que se pode mais facilmente ne- de adequao (ou acordo, ou conformidade,gar Deus do que negar o mundo.ou correspondncia) pressuposta e empre-ACRIBIA (gr. cncppeioc). Exatido ou preci-gada por muitas filosofias, mais precisamenteso. No sentido moderno, escrpulo em seguirpor todas as que consideram o conhecimentoas regras metdicas de qualquer pesquisa cien-como uma relao de identidade ou semelhan-tfica. No significado platnico, "o exato em si" a (v. CONHECIMENTO). Locke afirma que "o(orr xaicpip) o justo meio (x (xxpiov), istonosso conhecimento real s se h conformi-, o conveniente, ou o oportuno enquanto ob-dade entre as idias e a realidade das coisas"jeto de um dos dois ramos fundamentais da (Ensaio, IV, 4, 3). O prprio Kant declaraarte da medida, isto , daquele que propria-pressupor "a definio nominal da verdade comomente interessa tica e poltica. O outro acordo do conhecimento com o seu objeto" eramo da mesma arte o que, sendo propria-prope-se o problema ulterior do critrio "geralmente matemtico, concerne ao nmero, aoe seguro para determinar a verdade de cadacomprimento, altura, etc. (Pol, 284 d-e)conhecimento" (Crt. R. Pura, Lgica transe,ACROAMTICO (gr. Kpoa(J.atiK; in.Intr., III) e Hegel usa explicitamente a idia deAcroamatic; fr. Acroamatique, ai. Akroama-correspondncia (Ene, 213): "A idia a ver-tisch; it. Acroamatic). Assim foram chama- dade, j que a verdade a correspondnciados, por se destinarem a ouvintes, os textos de entre objetividade e o conceito, mas no queAristteles que constituam lies por ele mi-coisas externas correspondam s minhas re-nistradas no Liceu, para distingui-las das des- presentaes; estas so apenas representaestinadas ao pblico, das quais restam apenas exatas que eu tenho como indivduo. Na idiafragmentos. Todas as obras aristotlicas queno se trata nem disto, nem de representaes,possumos so acroamticas, porque os textosnem de coisas externas". Aqui Hegel faz a dis-compostos para um pblico mais vasto, quase tino entre a exatido das representaestodos em forma de dilogo, caram em desuso finitas, prprias do indivduo, enquanto corres-quando os textos de lies, levados a Romapondentes a objetos finitos, e a verdade dopor Sila, foram reorganizados e publicados porconceito infinito, ao qual s pode corresponderAndronico de Rodes em meados do sc. I a.C. a idia infinita ("O singular por si no cor-(V. EXOTRICO).responde ao seu conceito: esta limitao da suaexistncia constitui a finitude e a runa do sin- ADEQUAO (lat. Adaequatio; in. Adequa-gular"). Num e noutro caso, o critrio sempretion; fr. Adquation; ai. bereinstimmung; it.o da correspondncia. Na orientao lingsticaAdequazon). Um dos critrios de verdade,da filosofia analtica contempornea mantm-mais precisamente aquele pelo qual um conhe-se a noo de correspondncia como relaocimento verdadeiro se est adequado ao ob-de semelhana entre linguagem e realidade.jeto, isto , se se assimila e corresponde a eleWittgenstein, p. ex., diz: "A proposio a ima-de tal modo que reproduza, o mais possvel, a gem (Bild) da realidade... A proposio, se sua natureza. A definio da verdade como verdadeira, mostra como esto as coisas""adequao do intelecto e da coisa" foi dada(Tractatus, 4.021, 4.022). A coincidncia entrepela primeira vez pelo filsofo hebraico Isac 24. ADEQUADO 17ADIVINHAOdoutrinas to diferentes sobre essa noo deno se sente desejo nem repulsa, como, p. ex.,verdade deve-se interpretao do conheci- o fato de que os cabelos ou as estrelas sejammento como relao de assimilao (v. CONHE-em nmero par. O segundo indica aquilo peloCIMENTO; VERDADE).que se sente excitao ou repulsa, mas noADEQUADO (lat. Adaequatus; in. Adequate,mais por isto do que por aquilo, como no casofr. Adquat; ai. Adquat; it. Adeguadd). Nemde duas moedas idnticas das quais precisosempre o significado desse adjetivo est vin- escolher uma. No terceiro sentido, diz-se que culado ao significado do substantivo corres-indiferente "o que no contribui nem para a fe-pondente. Ele pode significar em geral "co- licidade nem para a infelicidade, como a sademensurado a". Nesse sentido dizemos que uma e a riqueza ou, em outros termos, aquilo dedescrio adequada se no neglicencia ne- que se pode fazer bom ou mau uso" (Pirr. hyp.,nhum elemento importante da situao des- III, 177). Kant usou esse termo para indicar ascrita; ou que um pagamento adequado se aes julgadas moralmente indiferentes, isto ,proporcional importncia da remunerao,nem boas nem ms (Religon, I, observao eetc. Spinoza fez uso constante da noo denota relativa) (v. LATITUDINARISMO; RIGORISMO).idia adequada, por ele assim definida (Et., II, ADIAFORSTICA, CONTROVRSIA (indef. IV): "Entendo por idia adequada a que,Adiaphoristic controversy, fr. Controverse adia-considerada em si, sem relao com o objeto,phoristque, ai. Adiaphoristen Streit; it. Contro-tem todas as propriedades ou as denomina- vrsia adiaforistica). Controvrsia surgida entrees intrnsecas da idia verdadeira. Digo in-os luteranos a respeito do valor das prticas reli-trnsecas para excluir a denominao que giosas (como a Missa, a Extrema-Uno, o Cris-extrnseca, isto , a correspondncia da idiama, etc.) que Lutero declarara "indiferentes"com o objeto ideado". Aqui, como se v, a para a salvao e que Melncton aceitara por es-noo de adequado admitida de modo com- prito de conciliao ou de paz. A controvrsiapletamente independente da noo de ade-concluiu-se com a "frmula de concrdia", dequao (v.). Spinoza nega explicitamente que1577-80, que reafirmava o carter indiferente oua idia verdadeira seja a que corresponde aoneutro dos ritos e das cerimnias.prprio objeto porque nesse caso ela se dis- ADIO LGICA (in. Logical addition; fr.tinguiria da idia falsa somente pela denomi- Addtion logique, ai. Logsche Addition, it. Ad-nao extrnseca e no haveria diferena en-dizione lgica). Na lgebra da Lgica (v.) d-setre idia verdadeira e idia falsa quanto sua esse nome a operao "a + b", que goza derealidade e perfeio intrnsecas (Et., II, 43, propriedades formais anlogas s da adio arit-escol.).mtica (importantssima a exceo "a + a = a"). AD HOMINEM. Assim foi chamada, na lgi-Int