Abertura Conservas 'namoram' Sesimbra 2 filegalantine de sardinha em molho de tomate, sushi de atum...
Transcript of Abertura Conservas 'namoram' Sesimbra 2 filegalantine de sardinha em molho de tomate, sushi de atum...
O regresso dasconservas Neroà piscosa Sesimbra
Vanda Pinto
T~ Tma saborosa viagemaos longínquos anos
— ' em que as conservas de
peixe fabricadas em Sesimbra
eram o 'ai jesus dos pala-dares mais refinados acon-teceu no Castelo, pelas mãos
do herdeiro da marca Nero
que no ano passado resolveu
reeditar os filetes de peixe-espada preto.
Dezenas de visitantessaborearam iguarias comoo peixe-espada preto com
polenta e com batata-doce,
galantine de sardinha emmolho de tomate, sushi de
atum com gengibre, atumem salada de feijão soja oubacalhau com batata-doce,num regresso aos temposem que as conservas eram
a imagem de marca da vila
'pexita'.O sucesso destes dois
eventos, quase 70 anos
depois do desaparecimentoda conserveira, em Sesimbra,deu a José Nero um novoânimo para relançar a
tradição neste concelho,numa operação que passará
por um acordo com a Arte-
sanalpesca e pela construçãode uma fábrica com tecno-logia de ponta aliada à expe-riência de quase cem anosda marca Conservas Nero.
O empresário, cujasfábricas estão agora implan-tadas em Matosinhos,pretende demonstrar que «a
tradição é uma mais-valia»,
pelo que «devemos
conservar os conhecimentos
do passado e, ao mesmo
tempo, inovar».
I Fábrica do BurroI mantém tradição
A fábrica Nero, antesconhecida por A Persistente,
ou Fábrica do Burro, foi a
última a sair de Sesimbra,em 1944, mas como bom filho
à casa torna, agora são os
pescadores locais quefornecem o peixe-espadapreto para a empresa conser-veira do herdeiro desta
tradição centenária e
preparam-se já para assistir
ao regresso das históricasconserveiras ao concelho.
Na altura, a mais-valiaera o atum de Sesimbra,embalado com a marcaCatraio, e como José Nero
assegura que o carinho pelavila permanece, uma das
novas apostas da unidadede Matosinhos vai para a
conserva de Espadarte.«Já vamos na segunda
experiência e preten-demos lançá-la ainda este
ano», revela o empre-sário, dando bons indi-cadores sobre a acei-
tação da última espe-cialidade: as anchovas
em Moscatel do Douro,
que «tem merecido
elogios a nível interna-cional» e diversas enco-mendas «de vários restaurantes italianos, incluindoo terceiro melhor restau-rante do mundo».
: Raiz milenar na vila 'pexita'• Aindústriaconserveiraem* Sesimbra tem uma história•. milenar, sendo dezenas as• provas arqueológicas que* confirmam pelo menos dois
. milanosdetradiçao.• Mas foi em meados do*
séculoXDtcomaimplantação
. da indústria de conservas de• peixe em azeite que se deu o* Txjom' da actividade conser-•. veira no concelho. De tal• modo, que o século XX chegou* já com 14 fábricas conser-
. veiras implantadas na vila, a
trabalharem com sardinha,atum, albacora, chaputa e
carapau.A crise dos anos 30 fez
morrer metade delas, aindaassim representavam um dos
maiores motores da economia
local No entanto, o declínio
gradual do sector.por falta deinvestimento em métodosinovadoresefalta de compe-titividade, deu-se a partir de
1945, no rescaldo da^GuerraMundial
Nos anos 50 do século
passado, restavamapenas três
conserveiras:Aßelavista,Persis-
tente e Primorosa, tendo sido
dado o golpe de misericórdia
eml96l,comoencerramentodaúltima fábrica, a Primorosa,
queentretanto,setinhafundido
comaßelavistaCentenas de trabalha-
dores ficaram no desempregonuma área em que a procurachegava a ser maior que aoferta, tendo em países comoa Alemanha e a Bélgica os
maiores consumidores.
Trabalhadora a enlatar sardinhas sem pele e sem espinha
Operárias da extinta fábrica de conservas
Sardinhas em água corrente
Trabalhadores da unidade fabril
Estufas onde o peixe era cozido Secção de fecho das latas (cravadeiras)
Cem anos depois da
primeira experiênciaconserveira Nero emSesimbra, vem o herdeiroda marca prestar home-
nagem à sua terra de
eleição, coma um projectode construção de umafábrica de ponta aliada à
tradição centenária.Na mira de José Nero
estão as pegadas do seu avô,Amadeu Henrique Nero que,com apenas 23 anos, fundava,
a 1 de Junho de 1912, em
Sesimbra, juntamente comoutros sócios, a sua primeira
fábrica de conservas.
Começou por se chamar
Paschoal,Nero Ca, depois foi
alterada para Borges, Nero
Ca, posteriormente para Nero
& Ca e, finalmente, para Nero
e Ca (sucessor), Lda.
A fábrica manteve-se emSesimbra até 1944, ano em
que foi transferida para Mato-sinhos. A produção das
conservas da marca foi recu-
perada por José Nero, netodo primeiro fundador que,não tendo indústria própria,contrata e acompanha a
produção noutras fábricas
que produzem com a sua
orientação as diversas marcas.
Para além do atum,Peixe-espada Preto, Sardi-nhas em azeite e Bacalhau à
portuguesa, as Conservas
Nero disponibilizam aindaoutros produtos, comomuxama de atum e bottargade atum na marca Catraio,
queijo de cabra com muxama,filetes de atum ao natural,sardinhas, filetes de cavala
e patês na marca Lucas.Satisfeito com o negócio,
José Nero quer agora
expandir a actividade, ciente
de que «o segredo do
sucesso das marcas é a
qualidade do peixe».