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Administração

Abordagem Burocrática

Professor Rafael Ravazolo

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Aula XXAdministração

ABORDAGEM BUROCRÁTICA

Hoje em dia, a Burocracia tem ao menos dois sentidos: um científico (seu tipo puro, estudado dentro da sociologia weberiana) e um popular (que acabou se disseminando por causa das disfunções da burocracia - papelada, morosidade, ineficiência etc.).

Inicialmente será abordada a visão sociológica, que vai definir as características “puras” da burocracia. Após, serão mostradas suas disfunções.

Burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos, a fim de garantir a máxima eficiência.

O conceito de Burocracia teria sido usado pela primeira vez em meados do século XVIII pelo economista Vincent de Gournay para designar o poder exercido pelos funcionários da administração estatal sob a monarquia absolutista francesa.

A burocracia remonta à época da Antiguidade, quando o ser humano elaborou e registrou suas primeiras normas estatais e sociais. Contudo, a burocracia, tal como existe hoje, teve sua origem nas mudanças religiosas verificadas após o Renascimento – séc. XV.

O grande teórico da Burocracia é o sociólogo alemão Max Weber.

Importante ressaltar que Weber não inventou a burocracia, tampouco a defendia. Ele relacionou suas características ao estudar a modernização* da sociedade alemã no século XIX. Em outras palavras, a administração burocrática já era praticada na sociedade, mas não era conhecida em detalhes porque ninguém a tinha estudado a fundo e conceituado suas principais características.

Modernização, no contexto do autor, representa as mudanças ocorridas nas sociedades capitalistas a partir do século XVIII, que fizeram o mercado e a sociedade civil se distinguirem do Estado: liberalismo, democratização, iluminismo, reforma protestante, revolução industrial, emergência de novas classes sociais etc.

A Burocracia Weberiana

Primeiramente, é importante destacar que Weber não estudou a administração de empresas, ele estudou a sociedade. A administração burocrática para ele, portanto, não é uma forma ideal de administração de empresas, tampouco um modelo a ser seguido, mas uma forma de poder exercida na sociedade.

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No livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber busca compreender quais foram as especificidades que levaram algumas sociedades ocidentais ao desenvolvimento do capitalismo, enquanto outras sociedades não desenvolveram (ou demoraram a desenvolver) este pensamento.

O sociólogo tinha a convicção de que as concepções religiosas exerciam um papel preponderante na condução e nas transformações econômicas que ocorriam nas sociedades.

Comparando as diversas sociedades ocidentais (local de origem do capitalismo) e as sociedades orientais (onde nenhum sistema econômico parecido havia se desenvolvido), ele concluiu que o protestantismo, mais especificamente o calvinismo, foi o fator principal do desenvolvimento do capitalismo.

Weber notou que o capitalismo, a organização burocrática e a ciência moderna constituem três formas de racionalidade que surgiram a partir dessas mudanças religiosas ocorridas inicialmente em países protestantes – como Inglaterra e Holanda – e não em países católicos.

Segundo ele, nas sociedades católicas o lucro era pecado (sendo a pobreza uma das chaves para entrar no céu); porém, as sociedades que adotaram os valores do protestantismo acreditavam que por meio do trabalho o homem alcançaria Deus e, como o trabalho gerava lucros, a riqueza não seria um impeditivo para alcançar o Senhor.

A diferença entre as sociedades está, portanto, na ética protestante: conjunto de normas sociais e morais que pregam o trabalho árduo, a poupança e o ascetismo (desapego aos prazeres mundanos). Essa ética proporcionava a reaplicação das rendas excedentes no próprio negócio, em vez de seu consumo em símbolos materiais e improdutivos de vaidade e de prestígio.

Dessa forma, as religiões protestantes contribuíram para a ascensão do capitalismo, enquanto as sociedades católicas conservaram os valores da idade média.

E onde está a burocracia nisso tudo?

O capitalismo é definido pela existência de empresas cujo objetivo é produzir o maior lucro possível, e cujo meio é a organização racional do trabalho e da produção. Nesse contexto, a burocracia entra mais fortemente nas sociedades protestantes como uma tentativa de racionalizar a evolução do capitalismo, organizando as pessoas e o crescimento econômico, político e social.

Weber, no livro Economia e Sociedade, define:

“Poder significa toda probabilidade de impor sua própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade”.

Dentre os tipos de poder, ele cita a disciplina e a dominação.

• Disciplina é a “[...] probabilidade de encontrar obediência pronta, automática e esquemática a uma ordem, entre uma pluralidade indicável de pessoas, em virtude de atividades treinadas”.

• Dominação é a “[...] probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado

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Tipos de Dominação

Dentre os fundamentos da dominação está a crença na legitimidade, portanto, quem é dominado crê que tal dominação é legítima.

Existem três tipos puros de dominação legítima, que se distinguem pelo objeto de sua crença: carismática, tradicional e racional-legal.

Importante: “tipo puro” ou “tipo ideal” mostra como se desenrolaria uma ação humana se estivesse orientada para o fim de maneira estritamente racional, pura, sem perturbações ou desvios irracionais. É uma construção conceitual, abstrata, formada a partir de elementos empíricos e, portanto, não é encontrada nessa forma pura na vida real, mas sim misturada com as demais e influenciada por fatores irracionais.

1. Dominação Carismática: baseada na veneração, nas características pessoais que tornam uma pessoa “alguém a ser seguido” (profeta, líder etc.); o líder carismático é assim reconhecido por possuir poderes, senão sobrenaturais, ao menos um comportamento exemplar, ímpar.

2. Dominação Tradicional: tem respaldo nos costumes, nas tradições que legitimam a autoridade; não se obedece a estatutos, mas à pessoa indicada pela tradição; o governante domina com ou sem um quadro administrativo e tem total liberdade para emitir ordens, ficando apenas limitado pelos costumes e hábitos de seu grupo social. Durante o período do Estado Absolutista na Europa, a dominação tradicional redundou em um forte Patrimonialismo: o Estado era uma extensão do patrimônio do soberano, não havia diferenciação entre os bens do governante – res principis – e os bens públicos – res publica –; os empregos públicos eram concessões individuais e os servidores possuíam status de nobreza.

3. Dominação Racional (legal): baseada nas regras e no direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação (autoridade legal e funcional).

Segundo Weber, a forma de legitimidade mais corrente na sociedade é justamente a crença na legalidade, a submissão a estatutos e a procedimentos formalmente corretos.

Ao explorar a questão da dominação racional-legal, o autor aborda que o Estado Moderno é formado por um conjunto de normas e regras, de origem impessoal e pré-determinada, que limita o poder de dominação, mas, ao mesmo tempo, o legitima. Como exemplos dessa dominação legal tem-se a burocracia e o exercício, pelo Estado, do monopólio da violência institucionalizada.

Para Weber, a dominação legal com quadro administrativo burocrático (Administração Burocrática) está mais adaptada às mudanças sociais de sua época - surgimento da sociedade industrial, desenvolvimento da economia monetária, crescimento quantitativo e qualitativo das tarefas administrativas. Por ser a forma mais racional do ponto de vista técnico e formal, ela seria inevitável para as necessidades de administração de massas.

O grande instrumento de superioridade da administração burocrática em relação às outras de sua época é o conhecimento profissional, ou seja, é o exercício da dominação baseado no

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saber. No Estado Moderno, portanto, a administração burocrática representa uma forma de profissionalização, um contraponto ao patrimonialismo.

Características

A Burocracia é definida como o conjunto de regulamentos, leis e normas que os funcionários devem cumprir, sempre supervisionados e respeitando a hierarquia. Em outras palavras, ela traduz uma organização legal, formal e racional por excelência.

Segundo Weber, a burocracia é um sistema que busca organizar, de forma estável e duradoura, a cooperação de um grande número de pessoas, cada qual detendo uma função especializada. O homem organizacional é um ser que age racionalmente (racionalidade funcional) com base nas regras formais que lhe estabelecem um papel na organização (função). Separa-se a esfera privada e familiar da esfera do trabalho, esta vista como a esfera pública do indivíduo.

A racionalidade da burocracia permite adequar os meios da melhor forma possível para o alcance dos fins, ou, em outras palavras, alcançar a máxima eficiência da organização.

Para o Estado, ela representa uma forma de profissionalização, a qual preconiza o controle a priori das ações, o formalismo, a racionalidade, o atendimento fiel às regras, a impessoalidade, a divisão do trabalho, a hierarquia funcional e a competência técnica baseada no mérito.

Pode-se dizer, também, que ela parte de uma desconfiança prévia nos administradores públicos e nos cidadãos que buscam serviços e que, por isso, são sempre necessários controles rígidos dos processos.

As principais características da burocracia são:

1. Caráter legal das normas e regulamentos: normas e regulamentos são estabelecidos previamente, por escrito, determinando todo o funcionamento – define competências, funções, autoridade, sansões etc. Predomínio da lógica científica e racional sobre a lógica "mágica", "mística" ou "intuitiva".

2. Caráter formal das comunicações: comunicações são escritas, gerando comprovação e interpretação unívoca. Por outro lado, a informação é discreta, pois é fornecida apenas a quem deve recebê-la.

3. Racionalidade e divisão do trabalho: divisão racional do trabalho, limitando as tarefas a serem realizadas por cada cargo, buscando maior eficiência. Cada função é específica, com competências, poderes e responsabilidades bem definidas. Isso reduz o atrito entre as pessoas, pois cada funcionário conhece o que é exigido dele e quais os limites entre suas responsabilidades e as dos outros.

4. Impessoalidade nas relações: o poder e a responsabilidade de cada pessoa são impessoais, não pertencem a ela, mas derivam da função que ela exerce. As relações são baseadas nos cargos/funções e não nas pessoas.

5. Hierarquia de autoridade: a estrutura é hierárquica e cada cargo inferior está sob controle e supervisão do superior. A autoridade burocrática ocorre quando os subordinados

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aceitam as ordens dos superiores como justificadas, porque concordam com um conjunto de preceitos ou normas que consideram legítimos e dos quais deriva o comando.

6. Rotinas e procedimentos padronizados: as atividades de cada função são definidas e padronizadas pelos regulamentos. A pessoa não faz o que quer, e sim que deve fazer de acordo com as regras. Há aprimoramento dos processos de trabalho em função dos objetivos.

7. Competência técnica e meritocracia: profissionalização das relações de trabalho, visando à garantia da igualdade de tratamento perante regras e à redução do clientelismo. Da mesma forma, a escolha da pessoa (seleção, transferência, promoção etc.) para exercer uma função é feita de forma técnica e baseada no mérito e na qualificação profissional. Somente o chefe supremo da organização ocupa sua posição de autoridade em virtude de apropriação, eleição ou designação para a sucessão, mas mesmo sua autoridade consiste num âmbito de competência legal.

8. Especialização da administração: separação entre propriedade e administração. As pessoas não são donas do cargo ou dos bens a ele ligados.

9. Profissionalização dos participantes: o cargo é uma profissão e as pessoas devem ter intensa instrução para assumir a função. As pessoas em uma estrutura burocrática tornam-se profissionais especialistas, ocupam um cargo por tempo indeterminado, são assalariadas, nomeadas por instâncias superiores dentro das regras definidas, devem ser fiéis ao cargo, podem ser promovidas pelo mérito e seguem carreira dentro da instituição.

10. Completa previsibilidade do funcionamento: esta é a consequência desejada. A previsibilidade do comportamento das pessoas, de acordo com as normas, gera rapidez nas decisões, univocidade nas tarefas, confiabilidade, redução de falhas e maior eficiência, pois cada um conhece o que deve ser feito e por quem e as ordens e papéis tramitam através de canais pré-estabelecidos.

Por fim, uma característica menos citada na literatura, mas que também explica o avanço da burocracia é o isomorfismo: a estrutura impessoal é um modelo fácil de ser transportado para outras sociedades, países e culturas.

Vantagens

Diversas razões explicavam o avanço da burocracia sobre as outras formas de associação. Essas chamadas “vantagens” da Burocracia são:

• Racionalidade em relação ao alcance dos objetivos da organização.

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• Precisão na definição dos cargos e operações.

• Rapidez nas decisões – cada um conhece as regras e os canais de comunicação.

• Univocidade de interpretação – regulamentação específica e escrita, transmitida para quem deve recebê-la.

• Uniformidade de rotinas e procedimentos – favorece a padronização e a redução de erros.

• Continuidade da organização, mesmo com a substituição do pessoal.

• Redução do atrito entre as pessoas – cada funcionário sabe seu papel e responsabilidades.

• Constância – os mesmos tipos de decisão devem ser tomados nas mesmas circunstâncias.

• Confiabilidade – regras conhecidas, processos previsíveis (gerando os mesmos resultados).

• Benefícios para as pessoas – hierarquia formalizada, trabalho ordenado, treinamento, carreira e meritocracia.

Crítica: as Disfunções da Burocracia

O próprio Weber era um crítico à burocratização, que, para ele, constituía a maior ameaça à liberdade individual e às instituições democráticas e, por isso, deveria ser controlada pelo Parlamento: “É horrível pensar que o mundo possa vir a ser um dia dominado por homenzinhos colados a pequenos cargos, lutando por maiores [...]”.

A teorização de Weber foi empobrecida pela reinterpretação cultural, principalmente na obra do americano Talcott Parsons, que traduziu Weber para o inglês. Parsons usou diversos conceitos weberianos de forma equivocada e fomentou o chamado Funcionalismo Estrutural (posteriormente adotado na Administração como Teoria Estruturalista). O estruturalismo vê a sociedade como um organismo unívoco e funcional. Dentro desse sistema, o indivíduo é simplesmente um reflexo da vida social, se adaptando e cumprindo uma função (um papel), como uma formiga em um formigueiro.

Essa mesma interpretação errada fez alguns autores incluírem Weber na Escola Clássica.

Não se pode esquecer que o ponto central da obra de Weber era a dominação burocrática, não a estrutura burocrática em si como um modelo a ser seguido para organizações. As críticas à burocracia “tipo puro” de Weber são, portanto, oriundas de um erro de interpretação, pois ele não tinha a intenção de tornar a burocracia um modelo administrativo para as organizações modernas, ele apenas descreveu as características mais básicas de algo que já existia na sociedade.

As críticas a seguir são de autores que consideravam a burocracia como uma teoria da administração defendida por Weber. Para eles, existe uma discrepância entre o modelo burocrático oficial e a vida real, na qual as práticas informais, sentimentos e demais ações humanas gerariam uma série de disfunções. Alguns autores chegam a propor modelos próprios

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de burocracia, os quais prezam principalmente pela “humanização” e necessidade de adaptação ao ambiente.

Um desses autores foi Robert K. Merton. Segundo ele, o homem foi excluído dos estudos de Max Weber – o qual descreveu um sistema social desumano e mecanicista. Quando participa da burocracia, o homem passa por transformações que fazem com que toda a previsibilidade, que deveria ser a maior consequência da organização, escape ao modelo preestabelecido. Merton diagnosticou e caracterizou as seguintes disfunções:

1. Internalização das normas.

2. Excesso de formalismo e papelório.

3. Resistência a mudanças.

4. Despersonalização do relacionamento.

5. Categorização do processo decisório – excesso de hierarquia.

6. Superconformidade às rotinas e procedimentos – maior importância ao modo de fazer do que ao resultado.

7. Exibição de sinais de autoridade.

8. Dificuldades com clientes.

Outros autores citam diversas disfunções:

• Individualismo: consequência da disputa pelo poder.

• Defesa de interesses particulares e corporativismo

• A burocracia não assimila as novas tecnologias adotadas pela organização.

• Mecanicismo: o ponto de vista de Weber é puramente mecânico e não político, no qual as pessoas são vistas como seguidoras de regras em um sentido mecanicista e não como criaturas sociais interagindo dentro de relacionamentos sociais. Em outras palavras, não considerou os aspectos subjetivos e informais, como a aceitação das normas e a legitimação da autoridade, nem a reação formal da organização perante a falta de consentimento dos subordinados.

• Os recursos humanos não são plenamente utilizados por causa da desconfiança, do medo de represálias etc. Ela modifica a personalidade das pessoas que se tornam obtusas, limitadas e obscuras: o "homem organizacional" (funcional) condicionado.

• As distinções de Weber entre tipos de autoridade são exageradas, embora tenha discutido a "combinação de diferentes tipos de autoridade".

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• Ao formular o modelo burocrático de organização, Weber não previu a possibilidade de flexibilidade da burocracia para atender a duas circunstâncias: a adaptação da burocracia às exigências externas dos clientes; a adaptação da burocracia às exigências internas dos participantes.

• O modelo "racional" de organização adota a lógica de sistema fechado em busca de certeza e previsão exata; não considera a natureza organizacional e nem as condições circunjacentes do ambiente; em resumo, a teoria weberiana se assemelha à Teoria Clássica da organização quanto à ênfase na eficiência técnica e na estrutura hierárquica da organização.

• Dentro da organização formal desenvolve-se uma estrutura informal que gera atitudes espontâneas das pessoas e grupos para controlarem as condições de sua existência. Assim, a burocracia deve ser estudada sob o ponto de vista estrutural e funcional e não sob o ponto de vista de um sistema fechado e estável, como no modelo weberiano. Essa análise deve refletir os aspectos do comportamento organizacional interno, bem como o sistema de manutenção da organização formal.

• O caminho moderno consiste em utilizar o modelo burocrático de Weber como ponto de partida, mas reconhecendo as suas limitações e consequências disfuncionais. A forma burocrática é mais apropriada para atividades rotineiras e repetitivas da organização em que a eficiência e a produtividade constituem o objetivo mais importante; mas não é adequada às organizações flexíveis que se veem à frente de atividades não rotineiras, em que a criatividade e a inovação são mais importantes.

• Para Gouldner, não há um tipo único de burocracia, mas uma infinidade, variando dentro de um continuum, que vai desde o excesso de burocratização (em um extremo) até a ausência de burocracia (no extremo oposto), ou seja, há graus de burocratização. Ele também cita 3 tipos de estruturas burocráticas: falsa – formada por regras que não representam ninguém e, por isso, são frequentemente desobedecidas; autocrática – representa os interesses de um grupo dominante; representativa – respeita interesses de todos os grupos organizacionais.

Perrow, um defensor da burocracia, a chama de visão “instrumental" das organizações: essas são vistas como arranjos conscientes e racionais dos meios para alcançar fins particulares. Para Perrow a burocratização envolve: especialização; necessidade de controlar as influências dos fatores externos sobre os componentes internos; um ambiente externo imutável e estável.

Por fim, há uma terceira visão sobre Burocracia (além da weberiana e da popular). Alguns autores enxergam a burocracia (mais especificamente os burocratas) como uma classe social, a qual assume várias formas: burocracia estatal, burocracia empresarial, partidária, sindical etc. Os burocratas teriam a tendência a se unir como um segmento social diferenciado da população em geral, buscando privilégios e poder. No caso dos burocratas do serviço público, por exemplo, entrar nessa classe exige certo nível de instrução, que na maioria dos casos só está amplamente disponível a uma minoria da população, e dessa forma a Burocracia se torna mais uma fonte de captação de segmentos sociais privilegiados.

Há diversos exemplos de países que possuíram, ou ainda possuem, uma classe burocrata dominante, como por exemplo, a Rússia da época comunista e a China (até hoje, com o partido comunista no poder). Nesses casos, o burocrata administra diretamente o Estado, tem acesso aos poderes de execução e de veto e muitas vezes é suscetível à corrupção. Assim, tal classe

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consegue privilégios, do mesmo modo diversas classes dominantes foram privilegiadas ao longo da história.

Resumo – Sistema Burocrático

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Slides – Abordagem Burocrática

Max Weber – Teoria da Burocracia

• ☼ 1864 – † 1920

• Professor, Sociólogo, Filósofo, Jurista, Economista, Cientista Político...

• Era Administrador de empresas?

• Inventou a burocracia?

• Defendia a Burocracia?

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Burocracia

• Século XVII - Vincent de Gournay‒Poder exercido pelos funcionários da administração estatal

sob a monarquia absolutista francesa.‒Bureau = escritório + krátos = poder, força‒“Temos uma doença que faz muitos estragos; essa doença

se chama buromania”.‒Gounay considerava a burocracia uma quarta forma de

governo (junto com monarquia, aristocracia e democracia).

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Burocracia• O que é burocracia?

‒Diversas visões: oSociológica - Weber - tipo puro, tipo idealoPopular – disfunçõesoClasse social

X

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Max Weber

• Para Weber interessava sobretudo entender a forma pela qual uma comunidade social aparentemente amorfa chegava a transformar-se em sociedade dotada de racionalidade.

• Entendia que a peculiaridade histórica do Estado moderno estava exatamente em ser uma empresa similar a uma fábrica.

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Max Weber

• Weber não se preocupou em definir a burocracia: ele relacionou suas características ao estudar a modernização na sociedade alemã no século XIX.‒Modernização = mudanças nas sociedades capitalistas:

liberalismo, democratização, iluminismo, reforma protestante, revolução industrial, emergência de novas classes etc.

• Para Weber: burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos, a fim de garantir a máxima eficiência.

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Max Weber6

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Max Weber

• Burocracia - remonta à Antiguidade, quando o ser humano elaborou e registrou suas primeiras normas estatais e sociais.

• Burocracia de hoje: origem nas mudanças religiosas verificadas após o Renascimento – séc. XV.

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Max Weber“A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”

• Por que algumas sociedades ocidentais desenvolveram o capitalismo, enquanto outras sociedades não?‒Por convicções religiosas!

• Catolicismo: lucro = pecado• Ética Protestante: normas sociais e morais que pregam o

trabalho árduo, a poupança e o ascetismo (desapego aos prazeres mundanos). ‒Reaplicação dos excedentes no próprio negócio, em vez do consumo

em símbolos improdutivos de vaidade e de prestígio.

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Max Weber“A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”

• O capitalismo, a organização burocrática e a ciência modernasão três formas de racionalidade que surgiram a partir das mudanças religiosas ocorridas inicialmente em países protestantes - Inglaterra e Holanda – e não em países católicos.‒Capitalismo = empresas cujo objetivo é o maior lucro possível

e cujo meio é a organização racional do trabalho/produção.• Papel da Burocracia = racionaliza a evolução do capitalismo,

organizando as pessoas e o crescimento econômico, político e social.

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Max Weber• Livro “Economia e Sociedade”

‒Originalmente: parte da coletânea Grundrissder Sozialökonomik - Elementos de economia social

‒Obra póstuma:o4 primeiros capítulos (conceitos sociológicos

básicos) - escritos em 1919-1920 e entregues para publicação pelo próprio Weber.

oOutros segmentos – manuscritos(entre 1909 e 1914) organizadospela viúva (Marianne Weber).

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Economia e Sociedade

• “Tipo puro” ou “Tipo ideal”: mostra como se desenrolaria uma ação humana se estivesse orientada para o fim de maneira estritamente racional, pura, sem perturbações ou desvios irracionais.‒Conceito abstrato - não encontrado na vida real.‒“A sociologia constrói conceitos de tipos e procura regras

gerais dos acontecimentos”‒Ex: três tipos puros de dominação legítima - carismática,

tradicional, racional-legal• Ação real: influenciada por irracionalidades

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• Estudos sobre poder: probabilidade de impor a própria vontade em uma relação social.

• Tipos de poder:‒Disciplina - obediência pronta, automática‒Dominação - “probabilidade de encontrar obediência a

uma ordem de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis”oFundamento: crença na legitimidade

Burocracia Weberiana

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Burocracia Weberiana• Tipos de dominação:

‒Carismática: baseada na veneração - características pessoais especiais, poderes sobrenaturais etc.

‒Tradicional: baseada em costumes, tradições – típica do Estado Absolutista - patrimonialismo

‒Racional-legal: baseada nas regras, nos estatutos, no direito de mando das autoridades legais

• “a forma de legitimidade mais corrente na sociedade é moderna é a crença na legalidade, a submissão a estatutos e a procedimentos formalmente corretos.”‒Estado Moderno = conjunto de normas e regras, de origem

impessoal e pré-determinada‒Vantagem da administração burocrática: é a forma mais racional

do ponto de vista técnico e formal‒É inevitável para a administração de massas‒É uma forma de profissionalização‒É a dominação baseada no saber/conhecimento

Burocracia Weberiana

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Dominação Tradicional

• Não se obedece a estatutos, mas a pessoas indicadas pela tradição.‒Tem respaldo nos costumes, nas tradições.

• Não possui elementos como:‒competência fixa segundo regras objetivas;‒hierarquia racional fixa;‒nomeação e promoção regulada por contrato;‒formação profissional;‒salário fixo - as fontes de sustento dos "servidores" são a

apropriação privada de bens e a degeneração do direito a taxas.

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Dominação Tradicional• Base do Patrimonialismo.

• Estado = extensão do poder e do patrimônio do soberano

‒Não havia diferenciação entre os bens do governante (res principis) e os bens públicos (res publica).

‒Captura da Adm. Pública por entes privados.‒Falta de regras universais – predominância de situações

casuísticas e personalistas.• Consequências: Nepotismo, Prebendas e sinecuras,

Clientelismo, Corrupção, Fisiologismo.

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Dominação Carismática

• Carisma: qualidade pessoal considerada extracotidiana.‒Se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades

sobrenaturais.o“O Líder” e “os adeptos”

‒Psicologicamente, esse “reconhecimento” é uma entrega crente e inteiramente pessoal, nascida do entusiasmo ou da miséria e esperança.

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Burocracia Weberiana - característicasPra quem adora listagens:1. Caráter legal das normas e regulamentos2. Caráter formal das comunicações3. Racionalidade e divisão do trabalho4. Impessoalidade nas relações5. Hierarquia de autoridade6. Rotinas e procedimentos padronizados7. Competência técnica e meritocracia8. Especialização da administração9. Profissionalização dos participantes

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Burocracia Weberiana - características

1. Caráter legal das normas e regulamentos‒Estabelece previamente todo o funcionamento – define

competências, funções, autoridade, sansões etc.‒Predomínio da lógica científica e racional sobre a lógica

"mágica", "mística" ou "intuitiva".

2. Caráter formal das comunicações‒Escritas, gerando comprovação e interpretação unívoca.‒Discreta - fornecida apenas a quem deve recebê-la.

Burocracia Weberiana - características3. Racionalidade e divisão do trabalho

‒Limita as tarefas de cada cargo/funçãooObjetivo: reduz o atrito entre as pessoas

‒Cada função é específica e especializada, com competências, poderes e responsabilidades bem definidas.oHomem organizacional – racionalidade funcional

4. Impessoalidade nas relações‒Poder e responsabilidade são impessoais‒Respeita a função, não a pessoa

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Burocracia Weberiana - características

5. Hierarquia de autoridade‒Hierarquia rígida – superior controla e

supervisiona‒Subordinados aceitam as ordens como legítimas

6. Rotinas e procedimentos padronizados‒A pessoa não faz o que quer, mas o que deve.‒Processos de trabalho aprimorados em função

dos objetivos.

7. Competência técnica e meritocracia‒Profissionalização das relações de trabalho‒Igualdade de tratamento perante regras‒Seleção, promoção por mérito e competência‒Exceção: o chefe supremo da organização

8. Especialização da administração‒Separação entre propriedade e administração‒Ninguém é dono do cargo e dos bens a ele ligados

Burocracia Weberiana - características

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9. Profissionalização dos participantes‒O cargo é uma profissão (especializada).‒Exige-se intensa instrução para assumir a função‒Ocupação do cargo por tempo indeterminado‒Assalariado‒Nomeação e promoção por instâncias superiores

dentro das regras definidas (competência, mérito)‒Fidelidade ao cargo

Burocracia Weberiana - características

Burocracia Weberiana - características

10. Completa previsibilidade do funcionamento‒É a consequência desejada.‒Gera rapidez nas decisões, univocidade nas tarefas,

confiabilidade, redução de falhas e maior eficiência. –típicos termos pra pegadinha da banca

• Característica “extra”:‒Isomorfismo: a estrutura impessoal é um modelo fácil de

ser transportado para outras sociedades, países e culturas.

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Burocracia Weberiana - características

Causas• Legalidade;• Impessoalidade;• Formalidade das comunicações –

documentação;• Racionalidade;• Divisão do trabalho;• Qualificação e meritocracia;• Profissionalização;• Disciplina, controle;• Hierarquia;• Separação patrimonial (público e

privado)

Consequências• Previsibilidade do

comportamento

• Padronização do desempenho

• Máximo rendimento –eficiência

Burocracia Weberiana - vantagens• Vantagem = avanço da burocracia sobre as outras formas de

associação‒Racionalidade e precisão‒Rapidez nas decisões‒Univocidade de interpretação‒Uniformidade de rotinas e procedimentos‒Continuidade da organização e constância‒Redução do atrito entre as pessoas ‒Confiabilidade – previsibilidade‒Benefícios para as pessoas - hierarquia formalizada, trabalho

ordenado, treinamento, carreira e meritocracia.

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Resumo - Burocracia Weberiana• Palavras-chave: formal, legal, racional, impessoal,

eficiente, profissional, mérito, especialização• Coisas que as bancas dizem:

‒Conjunto de regulamentos, leis e normas que os funcionários devem cumprir, sempre supervisionados e respeitando a hierarquia.

‒É um sistema que busca organizar, de forma estável e duradoura, a cooperação de um grande número de pessoas, cada qual detendo uma função especializada.

‒Separa-se a esfera privada e familiar da esfera do trabalho, esta vista como a esfera pública do indivíduo.

‒Permite adequar os meios da melhor forma possível para o alcance dos fins, ou, em outras palavras, alcançar a máxima eficiência da organização.

Disfunções da Burocracia

• Disfunções: problemas da burocracia na prática

• Para os autores que criticam a burocracia:‒Há uma discrepância entre o modelo burocrático oficial e a

vida real, na qual as práticas informais, sentimentos e demais ações humanas gerariam uma série de disfunções.

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Disfunções da Burocracia• Weber era um crítico à burocratização:

‒“É horrível pensar que o mundo possa vir a ser um dia dominado por homenzinhos colados a pequenos cargos, lutando por maiores”

• Weber foi reinterpretado de forma equivocada: o ponto central de sua obra era poder e dominação.‒As críticas à burocracia “tipo puro” de Weber são oriundas

desse erro‒Ele não queria tornar a burocracia um modelo administrativo

para as organizações modernas‒Ele apenas descreveu suas características mais “puras”

Disfunções da Burocracia• Merton - burocracia é um sistema social desumano e

mecanicista. ‒ Internalização das normas.‒Excesso de formalismo e papelório.‒Resistência a mudanças.‒Despersonalização do relacionamento.‒Categorização do processo decisório - excesso de hierarquia.‒Superconformidade às rotinas e procedimentos - maior importância

ao modo de fazer do que ao resultado.‒Exibição de sinais de autoridade.‒Dificuldades com clientes.

Administração – Abordagem Burocrática – Prof. Rafael Ravazolo

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Disfunções da Burocracia• Outros autores:

‒Weber analisou a burocracia sob um ponto de vista puramente mecânico e não político.

‒Weber não considerou a estrutura informal que gera atitudes espontâneas das pessoas e grupos.

‒A burocracia não assimila as novas tecnologias.‒Pessoas não são plenamente utilizadas, se tornam obtusas,

limitadas e obscuras.‒Weber não previu a possibilidade de flexibilidade para atender

exigências internas e externas.‒Adota a lógica de sistema fechado em busca de certeza e previsão

exata.

Disfunções da Burocracia• Autores estruturalistas:

‒O caminho moderno consiste em utilizar o modelo burocrático de Weber como ponto de partida, mas reconhecendo as suas limitações e consequências disfuncionais.oÉ adequada para atividades rotineiras e repetitivas; não é para

organizações flexíveis.

• Graus de burocracia: um continuum, que vai desde o excesso de burocratização (em um extremo) até a ausência de burocracia (no extremo oposto)

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Burocracia como classe social• Burocratas

‒Tendência a se unir como um segmento social diferenciado da população em geral, buscando privilégios e poder.

• Administração da coletividade: burocratismo• China, Rússia etc. – classe de funcionários que detinha o Estado como sua

propriedade.• A sociedade moderna é uma sociedade de organizações burocráticas

submetida a uma grande organização burocrática: o Estado.• Burocracia é poder, controle e alienação.

Burocracia - resumo

Burocracia é administração racional e eficiente; e também é o contrário disso.