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Abordagem Centrada na Pessoa: Mtodo, Influncias, viso de Cincia e aplicaes da teoria de Carl RogersEmanuel Meireles[1] [email protected] Universidade Federal do Cear Fortaleza, Abril de 2002

ndiceIntroduo 1. A questo do Mtodo em Rogers 1.1 O Mtodo Clnico 1.2 O Modelo de Trabalho com Grupos 2. As principais influncias da ACP 3. As vises que Rogers tinha de Cincia 4. Concluso Bibliografia

IntroduoEste trabalho tem como objetivo "fazer uma viagem" atravs de trs aspectos fundamentais no pensamento de qualquer grande cientista, a saber, o mtodo, as influencias de outros pensadores no pensamento deste cientista e o conceito de cincia. O cientista a ser estudado aqui Carl Rogers (1902-1987) psiclogo americano de intensa produo e de grandes razes deixadas no Brasil, fundador da Abordagem Centrada na Pessoa. A parte do mtodo foi divida em duas: o da clnica e do trabalho com grupos, reas onde Rogers desenvolveu vasta produo. Os estudos pedaggicos de Rogers foram deixados de lado, pelo fato de no haver tempo para maiores estudos e estarmos em um curso de Psicologia. Espero fazer com que se perceba a relevncia desta abordagem psicolgica, no s como tcnica Psicoterpica (apesar de, como veremos no decorrer do trabalho, haver este aspecto tambm), mas como uma teoria psicolgica. Tenho, tambm, o intuito de, a partir das anlises que aqui sero feitas, produzir questionamentos que me levem a pensar cada vez mais, construtivamente, acerca da Abordagem Centrada na Pessoa e da Psicologia como um todo.

A Questo do mtodo em Rogers

1.1 O mtodo Clnico Rogers desenvolveu sua Terapia Centrada no Cliente a partir de observaes tiradas diretamente da clnica, no sendo uma mera especulao para ser aplicado na prtica. Pelo contrrio, a partir de fatos observados na clnica Rogers desenvolveu suas teorias, tanto a de interveno clnica, quanto a de personalidade (apesar de esta ltima ter tido menos nfase do que a primeira). Segundo Rogers(1970a,p.221)

"a partir de um ponto de vista limitado largamente apoiado na prtica, sem verificao emprica, chegou-se a uma teoria da personalidade e das relaes interpessoais bem como da terapia, que coordena sua volta um notvel corpo de conhecimentos experimentalmente conhecidos". Portanto, pode-se inferir que a Abordagem Centrada na Pessoa no teorizante (no sentido de no produzir teoria antes da prtica), mas ela no prescinde de uma teoria, pois, afinal, a preocupao de Rogers era a de fundar uma abordagem psicolgica; para isso, logicamente, era necessrio que se elaborassem teorias. Rogers foi pioneiro na psicologia em coleta de dados atravs de sesses gravadas, tanto em vdeo quanto em udio. Em seu momento mais experimental (Rogers oscilava entre a objetividade e a subjetividade do cientista), Rogers chegou a medir a preciso de determinadas palavras no decorrer de uma sesso teraputica*. Epistemologicamente, Rogers vivia o conflito da objetividade de uma cincia Psicolgica-principalmente em um meio eminentemente empirista como o americano (com uma predominncia do comportamentismo e da Psicanlise- da o nome de terceira fora dado s teorias "humanistas"), e a sua subjetividade colocada na relao teraputica. visvel, em seus textos, que o citado Psiclogo norte-americano se questionava, no raro, sobre a neutralidade cientfica, principalmente na cincia Psicolgica, que, diferente das cincias fsicas, lidam com pessoas e estas respondem ao que dito a respeito delas (da, por exemplo, tantas psicologias). Ou seja, este objeto da Psicologia no algo esttico, pois, por se tratar de um ser humano, responde ao que dito a seu respeito. Rogers(1970a, p.177) diz a respeito do seu conflito objetividade versus subjetividade que trata-se de uma "oposio entre o positivismo lgico em que eu fora educado e pelo qual tinha profundo respeito e um pensamento existencial orientado subjetivamente que crescia em mim, porque me parecia adequar-se perfeitamente minha experincia teraputica". Sobre seu objeto de estudos, Rogers no o parece centrar no cliente nem no terapeuta, mas no entre. De acordo com as leituras feitas para este trabalho, o objeto de estudos de uma Abordagem Centrada na Pessoa no exatamente o sujeito em terapia (ou os sujeitos), mas a relao teraputica. Da, porque, toda a querela a respeito do termo tcnica na abordagem. Rogers o contestava, dizendo tratarem-se de atitudes, e no tcnicas. Contudo, a confuso parece de ordem semntica. Se entendermos tcnica como um meio de que se utiliza para chegar a um determinado fim (no caso de Rogers, a "pessoa em funcionamento pleno"), toda teoria que se produza a respeito de como se chegou a este fim tem as suas tcnicas, ou seja, o seu meio de como se chegou a este fim. Contudo, se tcnica for entendido como um apertar ininterrupto de botes como se o cliente fosse uma mquina (por exemplo: se o cliente chorar, deve-se usar tal comportamento para fazer com que ele cesse seu mal-estar), no podemos falar de

tcnicas em Abordagem Centrada na Pessoa e, muito provavelmente, em pouqussimas Psicologias. Parece que, para Rogers, essa segunda definio de tcnica era a que lhe convinha, por isso, talvez, utilizava a palavra atitude para se referir ao comportamento humano, e no tcnica. Segundo Kinget (1977b, p.9) "A afirmao de que no existem tcnicas rogerianas, por mais paradoxal que seja, no deixa de exprimir uma caracterstica primordial desta prtica teraputica tal como Rogers a concebe. Para ele, o terapeuta deve se esforar, to plenamente quanto possvel, em se conduzir como pessoano como especialista. Seu papel consiste em pr em prtica atitudes e concepes fundamentais relativas ao ser humano". Portanto, depois desta tentativa de elucidar esta confuso semntica, parece ser possvel se falar em tcnica na terapia centrada no cliente, como um meio para se chegar a um fim, pois Rogers mostra de forma muito clara os meios para se chegar a um sucesso em terapia, atravs do que ele chama de trs atitudes facilitadoras. Vale ressaltar o que j dissemos, de que estas trs atitudes no se centram nem somente no terapeuta, nem somente no cliente, mas, principalmente, na relao dos dois. Explanemos de forma breve quais so e como so concebidas as trs atitudes facilitadoras. Estas atitudes so: a considerao positiva incondicional, a empatia e a autenticidade. Vejamos um pouco de cada uma delas: Considerao positiva incondicional: Consiste em considerar o cliente como um todo, sem submet-lo a qualquer tipo de julgamento de valores sociais, para que este possa experimentar-se livremente, sem qualquer empecilho ou bloqueio de sua conscincia aos seus sentimentos ou atitudes. Segundo Rogers (1992, p.564) "[...] o comportamento do orientador minimiza influncias prejudiciais sobre as atitudes expressas. A pessoa, normalmente, sente-se motivada a comunicar seu prprio mundo especial e os procedimentos utilizados encorajam-na a isso [...]". Empatia: a capacidade de colocar-se no lugar do outro como se fosse o outro, fazer este outro saiba que est sendo compreendido e respeitado, mesmo que, na relao, haja uma gama de diferenas entre este o terapeuta. Alis, a diferena, para uma Abordagem Centrada na Pessoa, algo de fundamental, pois implica em sade, em "ser voc mesmo", num sentido de no se deixar guiar por um outro referencial, que no o da sua prpria avaliao enquanto sujeito livre. Autenticidade: Trata-se da capacidade do terapeuta de ter abertura para a alteridade do cliente, sem precisar se esconder por trs de uma mscara de profissionalismo, tendo acessvel, sua conscincia, os dados do momento em que se desenvolve a relao e expressar o que sente ou pensa a qualquer momento em que achar conveniente. Convm lembrar que Rogers utilizava o termo atitudes para designar o fato de no era algo que poderia ser praticado sem qualquer sinceridade e fora do contexto de uma

relao teraputica especfica com cada indivduo. Portanto, no se trata aes prfabricadas para determinadas situaes, mas de atitudes vividas e experienciadas no momento de uma especfica relao, tendo estas atitudes um total imbricamento entre si, sendo uma totalmente dependente uma da outra. J que Rogers elaborou sua terapia, qual seria seu conceito de normalidade? Rogers no se ateve a uma rotulao, uma psicopatologia, pois, para o mesmo (Evans, 1979, p.110), "o uso de testes diagnsticos pior do que perda de tempo[...] relega o indivduo para a categoria de objeto, de modo que voc possa pensar nele , confortavelmente, sem considera-lo como uma pessoa real com quem voc se relaciona". Apesar de sua resistncia a conceitos como normalidade e patologia, Rogers (1992, p.577) consegue dar a sua definio de neurose, pois, segundo o mesmo "na neurose tpica, o organismo satisfaz uma necessidade no reconhecida pela conscincia atravs de meios comportamentais coerentes com o conceito de self e que, portanto, podem ser conscientemente aceitos". Para que se compreenda de forma mais clara o que foi explicitado acima, faz-se necessrio que falemos acerca da teoria de personalidade de Rogers, pois foi usado o termo self, o que exige uma explanao um pouco mais detalhada. Para Rogers, o indivduo cria uma imagem de si, chamada de self, que pode ou no reagir a uma experincia de maneira realista; ou seja, se o indivduo se percebe como algum "bonzinho" e que as exigncias do meio social onde convive definem que ter atitudes agressivas algo ruim, quando uma reao de raiva for desencadeada pelo organismo, esta poder at nem ser experimentada, ou, na melhor das hipteses, negada, pois, segundo a imagem que o indivduo tem de si mesmo, ele no algum que experimente este tipo de sentimento. Para Rogers (1978b, p.197), as religies e a famlia vm a ser as grandes causadoras de distrbios psicolgicos, com noes como pecado ou o filho ideal. Segundo Rogers (1992, p.566)"como resultado da interao com o ambiente, e particularmente, como resultado da interao avaliatria como os outros, formada a estrutura do self- um padro conceitual organizado, fluido e coerente de percepes de caractersticas do eu e do mim, juntamente com valores ligados a este conceito".

Quando se tem uma situao como a citada acima (a do filho ideal), causa-se um desequilbrio entre a experincia vivida pelo cliente e a percebida pelo organismo. Esse desequilbrio ocorre, para Rogers, a partir de uma introjeo de valores que no so propriamente do indivduo, mas de uma srie de exigncias feitas por sua sociedade. O grande mrito da terapia, portanto, o de deixar com que o indivduo seja livre para experimentar todo e qualquer sentimento sem qualquer medo de represses sociais, uma vez que o terapeuta mantm uma atitude de considerao positiva incondicional, empatia e autenticidade.

Uma vez em terapia, o sujeito pode ser quem ele , sem medo de sofrer qualquer exigncia de valores por parte do terapeuta. Para Rogers (1974, p.47) o terapeuta "estimula a livre expresso de sentimentos em relao com o problema. Em certa medida essa liberdade provocada pela atitude amigvel, interessada e receptiva do conselheiro". Poderia-se, talvez, suscitar a seguinte questo: a atitude do terapeuta pode ser considerada uma "amizade comprada"? A resposta para esta questo negativa, uma vez que se tratam de atitudes e, como tal, um modo de concepo de ser humano. Portanto, o terapeuta no age de forma artificial, com o mero uso de suas atitudes na clinica, mas na vida de um modo geral, em todas as relaes interpessoais. Por que se dar uma liberdade to grande de expresso para o cliente? Ser que esta pessoa no poderia, por exemplo, ter reaes agressivas, ou coisa parecida, para com o terapeuta? A resposta para esta pergunta encontra-se no que Rogers (1978b, p.194) considerava o nico postulado bsico da ACP: a Tendncia Atualizante. Mas que tendncia essa? Seria uma tendncia para a manuteno, crescimento e reproduo do organismo. Alm destas caractersticas, a tendncia atualizante uma abertura para o novo, para a criatividade. Parte da a crena de que o prprio cliente quem vai encontrara a sada para os seus problemas, desde que lhe sejam dadas as condies bsicas para que estes problemas sejam superadas. Esta tendncia atualizante pode, eventualmente, segundo Rogers (1983, p.40) "ser frustrada ou desvirtuada, mas no pode ser destruda sem que se destrua o organismo". O comportamento neurtico, segundo Rogers (1978b, p.198) " o produto dessa dissociao dessa tendncia realizao". Uma questo levantada para a elaborao deste trabalho (e que agora faz mais sentido ainda faze-la, depois de realizadas as leituras) foi a de se a Tendncia Atualizante de Rogers pode ser considerada como que fazendo parte da Matriz Funcionalista e Organicista de que fala Lus Cludio Figueiredo. A matriz funcionalista e organicista v o homem atravs de tre processos bsicos: manuteno, reproduo e crescimento do organismo. Rogers (1983, p.40) afirma textualmente que "os comportamentos de um organismo esto voltados para sua manuteno, seu crescimento e sua reproduo". Qual era a funo da conscincia (agida) para os funcionalistas? A de adaptao do organismo a uma determinada situao. Para Rogers, como veremos quando abordarmos a questo da pessoa em funcionamento pleno, exatamente esta uma caracterstica patente numa pessoa psicologicamente saudvel: a fcil adaptao, por ser aberta a novas experincias.

Segundo Figueiredo (1996, p.75) a imagem de organismo para a Matriz Funcionalista e Organicista a de "um ser vivo plstico, adaptativo, participando ativamente do processo de equilibrao em suas interaes com o meio". Portanto, pensando por esse vis, a resposta a pergunta de se podemos ver a tendncia atualizante em uma Matriz Funcionalista e Organicista parece ser positiva, mas apenas em parte, pois, como j foi dito, Rogers viveu de forma muito ntida o conflito entre objetividade e subjetividade, e os funcionalistas buscavam ser o mais objetivos e pragmticos quanto fosse possvel. Na verdade, atribui-se* muito mais a tendncia atualizante a um fisiolgo norteamericano chamado Kurt Goldstein, que desenvolveu para a psicologia um conceito muito parecido com o da Biologia, o de homeostase. Alis, no raro, v-se a citao de The Organism (livro de autoria de Kurt Goldstein) nas bibliografias das obras de Carl Rogers. Contudo, no podemos dizer que Rogers no escapou de influencias de seu contexto scio-cultural e, no caso dos Estados Unidos, o rastro deixado pela matriz funcionalista deixou pegadas que levaram a caminhos muito bem aceitos naquele meio. Voltemos questo do self. Como desenvolver um self saudvel? Isso se daria dentro de uma relao que no fosse ameaadora para a estrutura do self, onde a pessoa fosse considerada de forma integral e um ser mltiplo de possibilidades, podendo apresentar comportamentos variados- socializados ou no. Rogers (1992, p.571) diz que "o pai ou a me capaz de aceitar sinceramente esses sentimentos de satisfao [em bater no irmozinho] experimentado pela criana, aceitar integralmente a criana que os experimenta, e aceitar, ao mesmo tempo, seus prprios sentimentos de que tal comportamento inadmissvel na famlia, cria para a criana uma situao muito diferente da habitual". notvel, portanto, que a terapia centrada no cliente vem reproduzir este ambiente propcio para a experimentao, para a interpretao (num sentido de ao, como no teatro) de si mesmo, onde as possibilidades de existncia so respeitadas a partir das condies facilitadoras. Como seria a "Pessoa em Funcionamento Pleno" descrita por Rogers? Esta pessoa teria algumas caractersticas bsicas, tais como: maior abertura para o novo, percepo de si, no como uma estrutura rgida e imutvel, mas como um ser humano pleno de possibilidades e que pode se reconhecer em sua experincia, porque ele "" a sua experincia. Para Rogers (1970b, p.263) o cliente "descobre-se a experimentar [...] sentimentos de modo amplo, completo, no relacionamento, de modo que, em um dado instante, ele "" o seu medo, a sua ira, a sua ternura, a sua fora. E quando vive estes sentimentos amplamente diversos, em todos os graus de intensidade, descobre

que teve uma experincia de si prprio, que ele tudo o que sente". preciso que se defina essa abertura para a experincia para que fique claro o que significa este termo para esta Abordagem de Psicologia, pois segundo Rogers (1970, p.266), isso no quer "dizer que o indivduo se capacitaria, autoconscientemente, de tudo o que se passa no seu ntimo, como a centopia se tornaria consciente de todas as suas pernas". Uma avaliao organsmica da experincia no se daria em um patamar intelectual, no seria exatamente fazer escolhas a partir de deliberaes, mas ser este prprio processo de escolhas, de ser um eterno devir. A compreenso de si, como esse devir, essa multiplicidade de possibilidades no , segundo Kinget (1977a , p.70) "refletida ou articulada. um tipo de conhecimento essencialmente implcito, existindo na experincia[...] Este tipo de compreenso de si menos um conhecimento do que um modo de funcionamento". A Pessoa em Funcionamento Pleno seria, mais plenamente, ela mesma. Vale ressaltar, contudo, que este ser ela mesma no fundado em uma mesmidade. Pelo contrrio; ser voc mesmo significa no introjetar valores e desejos que no so os experimentados na experincia pontual do momento. Portanto, ser um fluido, um devir, e no algo esttico que consistiria na "essncia" da pessoa. Para Rogers, a pessoa hipottica aqui descrita um processo. Ainda segundo Rogers (1970b, p.267) "o eu e a personalidade emergiriam da experincia, em vez de ser esta traslada ou distorcida para adaptar-se a uma auto-estrutura pr-concebida". lgico que no podemos nos livrar de valores sociais e jog-los na lata do lixo, "sendo ns mesmos" o tempo todo; portanto, a pessoa plena de Rogers hipottica. Esse ser voc mesmo implica uma situao tica, pois, a partir da aceitao de sentimentos de si mesmo, por parte do individuo, ele considera a diferena do outro, porque ele quer ser o diferente. Quais seriam as vantagens de uma Terapia Centrada no Cliente? Para Rogers (1992, p.564) "a situao [de terapia] minimiza a necessidade de atitudes defensivas [...] a pessoa normalmente sente-se motivada a comunicar seu prprio mundo especial, e os procedimentos utilizadas encorajam-na a isso. A comunicao cada vez maior traz, gradualmente, mais experincias para o mbito da conscincia, e assim, obtm-se um quadro cada vez mais completo e acurado do mundo de experincias do individuo. Dessa forma, emerge um quadro de comportamento muito mais compreensvel" E quais seriam as limitaes do que Rogers chamava de observao fenomenolgica? Segundo Rogers (1992, p.563) "Em primeiro lugar, estamos limitados, em grande medida, a obter um contato com o campo

fenomenolgico da forma como este experimentado na conscincia. [...] quanto mais tentamos inferir o que est presente no campo fenomenolgico no consciente [...] mais complexas ficam as inferncias, at que a interpretao das projees do cliente pode tornar-se meramente uma ilustrao dos projees do clnico[...] Alm disso, [...] a comunicao sempre falha e imperfeita. Assim, s de maneira vaga podemos ver o mundo da experincia da forma como ele parece ser para o individuo". Vale lembrar que, em se tratando de mtodo, Rogers tinha plena convico de que cincia um sistema aberto e, portanto, nunca responde de forma completa a pergunta alguma. fato, por exemplo, que, em todo o decorrer do desenvolvimento da ACP at a sua morte (em 1987), vrios foram os mtodos e as formas de se abordar o sujeito em sua Psicologia. Portanto, portanto, provavelmente, se ainda estivesse vivo, sua abordagem poderia, possivelmente, ter outro nome e, at, abordar o ser humano de forma diferente da que praticada ainda hoje pelos que clinicam na Abordagem Centrada na Pessoa.

1.2. O Modelo de Trabalho com Grupos Assim como na clnica, as teorias acerca do modelo de trabalho com grupos da Abordagem Centrada na Pessoa partiram de observaes diretas das realizaes do que Rogers convencionou chamar de Grupos de Encontro. Na segunda metade da dcada de quarenta, Rogers, juntamente com seus colaboradores, em Chicago, estavam empenhados em um treinamento de conselheiros para administradores dos veteranos, que lidariam com os soldados regressados, contudo, segundo Rogers (1978, p.13) "Nenhum treino intelectual poderia prepar-los, por isso tentamos uma experincia de grupo intensiva na qual os participantes se reuniam vrias horas por dia, a fim de [...] se relacionarem uns com os outros, por formas que pudessem vir a ser de ajuda e que se pudesse transpor para o trabalho de aconselhamento". Contudo, somente a partir do final da dcada de sessenta que o trabalho com grupos vem a fazer parte mais constantemente do trabalho de Carl Rogers. tanto, que, a partir deste perodo, encerra o atendimento individual e se dedica exclusivamente ao trabalho com grupos, a partir dos workshops. Antes de Rogers, Kurt Lewin j desenvolvia idias de trabalhos com grupos, que se chamavam grupos "T" (de training, em ingls, devido ao treino de capacidades

humanas). Os primeiros trabalhos, contudo, s foram realizados, na prtica, aps a morte de Lewin. Rogers (1978, p. 13) relata que seu trabalho com grupos era algo paralelo aplicao prticas das idias de Kurt Lewin, em 1947. No podemos, contudo, esquecer-nos de que um pensador no pode fugir das influncias que culturais presentes em seu meio. No caso de Rogers, como americano que era, e conhecedor do trabalho de Lewin, parece bastante coerente se falar em uma ressonncia do trabalho de Kurt Lewin no do criador da ACP, pois, segundo Rogers (1978, p.14) "os alicerces conceptuais de todo este movimento [dos grupos] foram, por um lado, inicialmente, o pensamento lewiniano e a psicologia gestaltista e, por outro, a terapia centrada no cliente". Rogers (1978, p.14) estabelece uma diferena inicial entre seu estilo de trabalho com grupos e o dos grupos de Bethel (como eram conhecidos os grupos de Kurt Lewin e seus colaboradores), afirmando que os grupos de encontro que desenvolveu "tinham [...] uma orientao experiencial e teraputica maior do que a dos grupos originados em Bethel". Contudo, segundo o mesmo Rogers (1978, p.14) "esta orientao para o crescimento pessoal e teraputico fundiu-se com o processo do treino de capacidades em relaes humanas e ambas em conjunto formam o ncleo do movimento que se espalha hoje rapidamente [...]". Feito este pequeno apanhado histricos, podemos nos perguntar a respeito dos grupos: com eles se caracterizam? Os grupos comearam de forma pequena (constando de oito a doze pessoas), mas, numa fase j final do trabalho de Rogers, em Recife, chegou-se a ser registrado um workshop com oitocentas pessoas*. Entre essas pessoas, h a figura do facilitador, que tem como "tarefa" facilitar a expresso dos membros do grupo. O facilitador, contudo, no exerce, exatamente, um papel de liderana, nem se encontra em um lugar privilegiado ou diferente do dos outros membros. Wood (1983b, p.27) afirma que "[...] o grupo usualmente no tolerar ningum, nem mesmo o facilitador (como o profissional de ajuda chamado agora) mantendo-se, com um lder, separado, ou diferente dos outros membros do grupo [...]". Qual seria a diferena entre o trabalho didico e o de grupos? Ser que apenas uma ampliao? Wood (1983b, p.28) esclarece que "[...] Na situao de um para um possvel para o profissional de ajuda manter o drama da outra pessoa sempre em mente. No grupo de encontro, quando se transforma num membro do grupo, o facilitador, sendo agora mais humano e vulnervel, tem mais dificuldade de seguir e lembrar-se do drama de cada pessoa. Ele tem de renunciar, a mais ainda, abrir mo do papel de especialista, curador, ou de terapeuta, ou mesmo de profissional de ajuda [...]". Muitas vezes, crticas infundadas colocam que o facilitador utiliza um laissez-faire, sem ter um papel atuante dentro do grupo. Isso uma incompreenso do processo, pois,

segundo Fonseca (1998, p.222), "o facilitador assume e respeita na alteridade dos participantes o vigor de uma atitude ativa [pois a ele] no interessa programar ou liderar o grupo, mas privilegiar a espontaneidade dialgica [...] no processo de constituio e desdobramento da realidade grupal". A atmosfera que caracteriza o grupo muito parecida com a experimentada na Psicoterapia Centrada na Pessoa, onde as pessoas tm toda uma liberdade para se experimentarem, expressando aquilo que sentem, inclusive sentimentos hostis com relao a outros membros do grupo, sem que isso venha a prejudicar os seus relacionamentos. Na verdade, h uma confiana no auto-direcionamento do grupo, como h na relao terapeuta-cliente (tendncia atualizante presente tambm nos grupos). Segundo Wood (1983b, p.37) "[...] Existe uma sabedoria no grupo. Emerge sutilmente e faz-se sentir quando o promotor e outros no grupo se entregam a uma resposta que ningum espera [...]". Ainda a respeito da confiana no grupo, Rogers (1978, p.17) afirma que "h um maior feedback de uma pessoa para a outra, de tal modo que cada indivduo aprende de que maneira visto pelos outros e que efeito tem nas relaes interpessoais". Alm do que, se os indivduos do grupo esto mais abertos para o novo (caracterstica de sade apontada por Rogers em sua "Pessoa em funcionamento pleno"), o respeito ao outro vai existir. Os grupos de encontro poderiam, ento, ser considerados como um modo de amenizar caractersticas existentes em relaes, ou seja, fazer com que as pessoas gratuitamente passem a se relacionar melhor? A resposta para Rogers no parece ser positiva, pois segundo o mesmo (1978a, p.136) "se esse fosse o resultado, poderia ser muito prejudicial, a longo prazo. Pelo contrrio, a profunda compreenso que tenho visto aparecer nestes grupos culmina muitas vezes em medidas de ao, positivas [...] que fornecem uma base de aes construtivas comunitrias para remover os piores obstculos igualdade racial". Rogers via como importante o trabalho com grupos, pois, segundo mesmo (1978a, p. 158) "numa cultura atingida por exploses raciais, violncia dos estudantes, tenses internacionais insolveis e todo tipo de conflito, instrumento para a melhoria da comunicao profunda da maior importncia". O modelo de trabalho com grupos, aps a morte de Rogers, se esgotou? Ser que Rogers desenvolveu tudo que havia para s-lo? Fonseca (1998, p.225) no pensa assim, pois afirma que"o modelo de trabalho com grupos[...] est longe de esgotar suas possibilidades, demandando uma compreenso de seus fundamentos fenomenomelogico-existenciais-organismicos, e a ousadia pragmtica da experimentao e do intercambio de nossa aprendizagem, para que possa ser utilizado em suas potencialidades prprias, e desenvolvido em sua proposta e aplicaes".

Portanto, assim como o trabalho clnico didico da ACP, o trabalho de grupo ainda tem que ser bastante explorado e experimentado por ns, dentro de nosso prprio contexto e levando este contexto em considerao, pois no podemos considerar as obras de Carl Rogers como livros sagrados onde todas as verdades esto contidas. Antes, fazse necessrio que vejamos Rogers apenas como o iniciador da Abordagem Centrada e que cabe a ns o desenvolvimento infinito do modelo iniciado por este psiclogo americano, pois a cincia nunca pode deixar de ser compreendida como um sistema aberto, sempre com teses prontas para serem refutadas por outras teses que, provavelmente, tambm o sero.

As principais influncias da ACP Feitas explanaes a respeito do mtodo do trabalho clnico (didico) e dos mtodos do trabalho com grupos da Abordagem Centrada na Pessoa, faz-se necessria uma reflexo acerca das influncias de outros pensadores no desenvolvimento da ACP e no pensamento de Carl Rogers. Falar de influncias para a Abordagem Centrada percorrer um caminho tortuoso, pois Rogers no parece ter deixado muitas pistas sobre os lugares tericos por onde passou. Logicamente, que Rogers chega a comentar, como ser visto no decorrer deste tpico, algumas de suas influncias; contudo, a partir de estudos posteriores (onde muitos brasileiros esto envolvidos) que o trabalho de Rogers vem ganhar uma nova cara, saindo do que se poderia chamar de humanismo (possivelmente, no sentido mais ingnuo do termo) para o que os pesquisadores da abordagem aqui estudada vo chamar de Psicologia fenomenolgica-existencial, alegando que os pensadores da fenomenologia e do existencialismo influenciaram o pensamento de Carl Rogers, alm de uma teorizao mais rica do que a presente no trabalho original do fundador da ACP. A influncia a que por repetidas vezes Rogers se refere a de Otto Rank, a partir de seu modelo de relao teraputica. Rogers chegou a ver seminrios de dois dias com Otto Rank e contratou uma assistente social de orientao "rankiana", com quem, segundo o mesmo (1978, p.202), aprendeu bastante. Rogers (1978, p.202) enfatiza, contudo, que no foi a teoria, mas a terapia de Otto Rank que o atraiu. Rogers (1973, p.39) afirma que, apesar da dificuldade de enumerao das influncias recebidas por sua abordagem psicolgica, ela tem como "ponto de partida importante" (Rogers, 1973, p.39) a relao teraputica de Otto Rank, alm de crticas feitas por dissidentes da Psicanlise. Pois Rogers (1973, p.40) afirma que "a actual* anlise freudiana que ganhou suficiente confiana para criticar os modos teraputicos de Freud e aperfeiolos outra fonte".

A respeito da influencia de Otto Rank na prtica da Abordagem Centrada na Pessoa, Fonseca (no prelo, p.11) diz que "[...] Otto Rank imigrou para os Estados Unidos e l teve forte influncia, a partir de suas perspectivas - que valorizavam a relao espontnea entre o terapeuta e o cliente e a potencializao da criatividade - sobre o meio do qual emergiria a Psicologia humanista norteamericana, em particular sobre Rogers[...]". Esta "relao espontnea" a que se refere Fonseca pode ser bastante percebida no modo como o psicoterapeuta "centrado na pessoa" lida com o seu cliente. A palavra espontnea nos remete ao conceito de autenticidade usado por Rogers (uma de suas condies facilitadoras). Uma outra influncia que Rogers dizia ter recebido a da Psicologia da Gestalt, a partir de noes do tipo anlise do todo, relao figura-fundo e trabalho com a percepo do cliente. Detenhamo-nos um pouco em como podemos perceber estes conceitos no modo de aplicao da Abordagem centrada na pessoa. A partir do momento em que a preocupao da Abordagem Centrada na Pessoa no elementarista, uma vez que se preocupa com o como e no com o porqu do desajuste psicolgico, podemos ver a noo de todo presente no modo de concepo tericoprtica da ACP, pois o modo como o mundo fenomenal se apresenta para o cliente que enfatizado, e no os elementos que o levaram a percebem uma determinada situao de uma maneira "distorcida" da "realidade". A relao figura-fundo est presente nos destinos que Rogers dizia existirem para as experincias, pois, segundo o mesmo (1992, p. 550) "[...]a maior parte das experincias do indivduo constitui o plano de fundo do campo de percepes, mas podem facilmente tornar-se figura, enquanto outras experincias retornam ao plano de fundo". Para Rogers, a realidade aquilo que o indivduo percebe como sendo real, uma verdade fenomenal, pois segundo o mesmo (1992, p.551) "[...] o campo perceptivo , para o indivduo, a realidade". Portanto, de acordo com a percepo do cliente que a ACP trabalha. De acordo com algumas afirmaes de Rogers (1992, p.559), quando diz que "[...] fcil perceber como essa necessidade [de afeto] e todas as outras, elaborada e canalizada [...] em necessidades que se baseiam remotamente na tenso fisiolgica subjacente" questionamo-nos se haveria alguma influncia da biologia no modo com Rogers concebia o Homem. Leito (1986, p.77-8) afirma que "[...] Rogers tem razes camponesas e seu interesse inicial foi para a biologia e a agronomia, havendo na sua teoria uma forte tendncia para explicar o processo da vida e seus conceitos tericos[...]". Rogers relatava ter

vivido em uma fazenda boa parte de sua infncia e juventude*, sendo estas as razes camponesas a que Leito se refere. Influncia posterior, que algumas pessoas confundem com as anteriores, foi a dos pensamentos de Buber e Kierkegaard, com suas noes de encontro e afirmao do valor da subjetividade, respectivamente. Rogers afirma que estes pensadores no foram uma influncia originria, e que s os leu porque alguns alunos o alertaram a respeito da similaridade de concepo do humano destes pensadores e a sua. Sua sensao foi a de que "[...] era muito agradvel descobrir, a, amigos que nunca pensei que tivesse [...]"(Evans, 1979, p.90). Apesar de no ter uma leitura prvia de Kierkegaard e de Buber ao elaborar sua teoria, Rogers admitia uma influencia posterior. At porque leu o que estes pensadores produziram na dcada de 50 e produziu at a dcada de sua morte (80). Rogers fala de uma "[...] influncia posterior* de homens como Kierkegaard e Buber, que foi realmente grande[...]"(Evans, 1979, p.118). Mesmo sendo influncias posteriores, Kierkegaard e, principalmente, Buber tm sido estudados por psiclogos que trabalham dentro da Abordagem Centrada na Pessoa, como uma possibilidade de dilogo entre o pensamento de Rogers e destes dois grandes pensadores. Rogers, inclusive, chegou a ter um encontro com Buber. Mesmo tentando fazer da terapia um lugar para ocorrer o que Buber chamava de encontro, no o era possvel acontecer por completo, visto que, se pensarmos com Buber, veremos que o encontro no tem hora nem local para acontecer (pode ser no mbito da terapia, como tambm no) e, quando nos apercebemos desse encontro atravs da relao Eu-Tu, ele j passado. Alm do que, uma relao em que, por mais que o psicoterapeuta se esquive do poder sobre ele colocado, existe uma relao de poder atravs dos papis que so atribudos a cada pessoa, sendo impossvel a ocorrncia de uma mutualidade, um pr-requisito para a relao horizontal que caracteriza a relao Eu-Tu. Amatuzzi (1994, p.58) coloca que"[...]Rogers gostaria de pensar que um dos exemplos mais eminentes da relao Eu-TU o da relao teraputica, coisa que Buber nega, exatamente pela restrio da mutualidade que a se verifica, pela prpria definio da natureza da relao, definio que no depende nem de Rogers nem de Buber, mas est assim socialmente definida ou institucionalizada, faz parte da expectativa de papis com as quais as pessoas chegam situao. A relao teraputica tambm uma relao especfica e no uma relao totalmente aberta, como seria o contexto para o melhor exemplo de concretizao da relao Eu-Tu

Outras influncias so relatadas por grandes estudiosos da Abordagem Centrada na Pessoa, mas no citadas por Carl Rogers em sua obra. Na verdade, no podemos dizer que, mesmo no citando estas influncias, Rogers no tenha sido tocado por algumas idias que fizeram parte do contexto cultural onde viveu.

Estas influncias relatadas por outras pessoas que estudam Rogers tratam da Fenomenologia e do Existencialismo. Como j dissemos, apesar da pouca leitura de Rogers tanto na Fenomenologia quanto no Existencialismo (havendo, inclusive, m interpretao*, em alguns momentos), o contexto cultural pode ter trazido estas influncias para seu trabalho. A partir da dcada de 80, quando os estudos fenomenolgicos-existenciais se iniciaram em torno da ACP, a abordagem saiu de uma matriz romntica e humanista (na concepo mais ingnua do termo) para um corpo terico mais slido, recebendo ento o rtulo de uma abordagem fenomenolgica-existencial, juntamente com a Gestaltterapia, de Fritz Perls. "[...] Falar da vertente europia de constituio da ACP e da psicologia humanista remontar, inevitavelmente, contribuio de F. Nietzsche ao processo de constituio da cultura da civilizao ocidental [...]" (Fonseca no prelo, p.5). Nietzsche afirmava (diferentemente de Scrates) o valor dos sentidos, do corpo, a afirmao da vida e do vivido, indo contra o azedume da vida e o conceito de culpa pregados pela religio de sua poca. Rogers vem exatamente trabalhar a questo dos valores como algo que impede o crescimento e o desenvolvimento do organismo. Centra na confiana no indivduo, no organismo, a base para o "sucesso" do processo teraputico, aproximando seu conceito de "tendncia atualizante" do de "vontade de potncia", de Nietzsche. Assim como para Nietzsche, para Rogers a existncia tambm inocente; no h uma procura no que est por trs de um discurso ou uma descrena nos instintos desprovidos de razo, algo que se expressa no que Rogers chamava de tendncia atualizante. Se forem dadas as condies bsicas para o organismo crescer, e lhe for proporcionado um clima de liberdade, este vai saber se desenvolver rumo ao melhor caminho possvel. Alm do que, Otto Rank, segundo Fonseca (no prelo, p.10), "[...] foi profundamente influenciado pelas perspectivas de F. Nietzsche e buscou integrar estas perspectivas como fundamento de seu sistema de psicoterapia[...]" e, como sabemos, Rogers teve, na relao teraputica de Otto Rank uma grande influncia no inicio de seu trabalho. Portanto, mesmo que "por tabela", Rogers possivelmente recebeu a influncia do pensamento nietzscheano em seu trabalho, atravs de Otto Rank. Dissidentes do movimento psicanalista tambm exerceram influncia no pensamento rogeriano. Assim como Rogers, Jung, por exemplo, se centra na sade para o seu conceito de individuao, vendo benignidade na existncia humana, ao contrrio de uma perspectiva psicanaltica. Reich tambm teve uma contribuio, quando trouxe o corpo para psicologia e, segundo Fonseca (no prelo, p.10), foi "[...] um dos primeiros a sustentar a perspectiva de uma auto-regulao organsmica [...]". Reich, inclusive, segundo Fonseca (no prelo,

p.9) influenciou Kurt Goldstein, que, por isso, "valorizou fundamentalmente estas capacidades de auto-regulao e de auto-atualizao do organismo humano como fundamentos [...] de sua psicologia organsmica [...]". Kurt Goldstein, mdico que estudou psicologia, foi uma outra grande influncia ao trabalho de Rogers. Segundo Fonseca (no prelo, p.8) "[...] de um eminente neuropsiquiatra e pesquisador, Goldstein morreu estudando fenomenologia e existencialismo [...]". Goldstein um grande alicerce para a psicologia organsmica, e teve seu trabalho baseado na Psicologia da Gestalt, pois segundo Fonseca (no prelo, p.9)"[...] contraps os seus estudos a uma psicologia fundamentada na distino corpo-mente e na compartimentalizao do corpo e do psiquismo humano em funes independentes, sem uma considerao adequada para com os importantes aspectos de seu funcionamento sistmico[...]".

A noo de organismo como um todo organizado bastante visvel em Rogers, quando este afirma que "[...] o organismo reage ao seu campo fenomenolgico como um todo organizado [...]" (Rogers, 1992, p.553). Rogers (1992, p.554) complementa esta frase, afirmando que "[...] o organismo, em todos os momentos, um sistema organizado total, no qual a alterao de uma das partes pode produzir modificaes em qualquer outra [...]". Diante do exposto, podemos perceber que, tanto a viso de Kurt Goldstein quanto a de Rogers so holsticas. James tambm influenciou o pensamento de Carl Rogers, principalmente em seus primrdios, quando a coleta de dados estatsticos e a tentativa de tornar a Abordagem Centrada na Pessoa eram preocupaes constantes (preocupaes estas que foram cada vez mais diminuindo na obra de Rogers). Segundo Leito (1986, p.80) "[...] um aspecto a ser salientado na histria da vida de Rogers sua formao experimentalista, que o levou a pesquisar longamente seus pressupostos tericos [...]". Talvez, isso responda um pouco acerca da questo sobre o enquadramento da Tendncia Atualizante em uma matriz Funcionalista e Organicista. Segundo Fonseca (no prelo, p.15) o encontro "[...] da vertente europia com a vertente norte-americana de psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial estas perspectivas da filosofia pragmtica de W. James serviram como um poderoso gancho de integrao entre a mentalidade da psicologia pragmtica norteamericana e as influncias fenomenolgico existenciais que lhe chegavam, ento, da Europa[...]". Contudo, como j foi salientado, a influncia do pragmatismo de James se deu para o nascimento da ACP, pois, j no final de sua vida, Rogers no mais acreditava neste

tipo de cincia empirista, propunha uma nova filosofia da cincia para a Psicologia. Dizia Rogers: "[...] O empirismo permanecer como parte de nossa cincia, mas para vastas reas do conhecimento psicolgico,precisamos de uma cincia muito mais humana. No sei que forma poder tomar, mas sei que no estar longe da fenomenolgica[...] Acho que a Psicologia se preocupou tanto em tornar-se cincia para se comparar com a fsica, que, sob muitos aspectos, virou cientismo. No creio que estejamos enfrentando os problemas mais fundamentais da condio humana [...]" (Evans, 1979, p.79)

H, ainda, a influncia de dos psiclogos fenomenolgico-existenciais europeus, como Ludwig Binswanger, M. Boss e E. Minkovski, que foram impulsionados pela idias de Heidegger* e romperam com a Psicanlise. Alm destes psiclogos europeus, houve, evidentemente, a influncia bvia de psiclogos humanistas americanos, como Maslow, Angyal e Rollo May, que, segundo Fonseca (no prelo, p.16) [...] foi um dos organizadores do livro Existncia, que pela primeira vez trazia aos Estados Unidos as concepes de psicoterapeutas existenciais europeus,como Binswanger, Minkovski, Stauss e outros [...]". Alis, segundo o prprio Fonseca (idem) Rogers foi o revisor do livro organizado por May. A influncia de Kurt Lewin visvel no trabalho com grupos e j foi comentada anteriormente. V-se, portanto, a partir do que foi dito neste tpico, que muitas so as influncias recebidas pela Abordagem Centrada na Pessoa, fato que abre espao para bastantes pesquisas e uma verdadeira arqueologia acerca da histria desta abordagem Psicolgica. Alis, Rogers (1974, p.39) j apontava para este fato ao afirmar que a Abordagem Centrada na Pessoa "[...] tem suas razes em fontes muito diversas. Seria muito difcil indic-las todas [...]".

As vises que Rogers tinha de Cincia Depois de fazer uma visita pelo mtodo de Rogers, tanto na clnica quanto no trabalho com grupos, e observar as influncias recebidas por este psiclogo americano, chegamos agora ltima parte do trabalho: as vises que Rogers tinha de cincia como e da Psicologia em particular, com posies manifestadas, textualmente, acerca da Teoria Comportamental e da Psicanlise. Como Rogers via cincia? Ser que ele a concebia como um sistema aberto, ou imaginava produzir uma verdade e que todas as outras abordagens de Psicologia no tinham nada a contribuir? Tentemos responder estas questes.

Em se tratando de Psicologia, Rogers via o grande nmero de Teorias como algo benfico e rico para esta cincia. Segundo ele (1992, p.14) "[...] a atitude um tanto crtica geralmente empregada com relao a tudo que possa ser definido como uma escola de pensamento origina-se de uma falta de apreciao do modo como a cincia se desenvolve [...]". Rogers parecia saber, portanto, que cada mtodo tinha os seus mritos e s vinham enriquecer o desenvolvimento da cincia Psicolgica. Fica claro, ento, que, para Rogers, a cincia nada mais do que um grande nmero de hipteses testveis, e no uma produo de dogmas, de verdades absolutas, onde um grande guru carrega consigo a verdade. Alis, Rogers se esquivava de uma posio de Guru. Em Evans (1979, p. 118) Rogers diz que "[...] quando se encontra a pessoa que a chave de tudo, a resposta, esse meu guru, etc., essa a hora de afast-lo desta posio [...]". Trabalhos como os que so realizados no Brasil acerca de uma maior teorizao para a Abordagem Centrada na Pessoa e o percurso por caminhos por onde Rogers no passou, atravs da Filosofia (tentativa feita principalmente por Fonseca) so vistas como benficas pelo cientista americano. Rogers dizia sentir "[...] pena das pessoas que trabalharam comigo e se sentiram inclinadas a me destacar como a principal influncia em seu trabalho [...]" (Evans, 1979, p.118). Continua, afirmando que "[...] os estudantes que mais me alegraria ter influenciado so os que se dispuseram a ir alm, que no hesitam em discordar de mim, que so pessoas independentes [...]" (Evans, 1979, p.118). Como exemplo vivo do tipo de influncia que Rogers gostaria de ter exercido, temos o americano, residente no Brasil, John Wood, que foi colaborador de Rogers no Centro de Estudos da Pessoa, em La Jolla, Califrnia. Wood, segundo Gobbi e al (1998, p. 152) a maior personalidade da ACP, no chega a negar Rogers, mas, assim com Fonseca, prope uma reviso terico-prtica da abordagem criada por Carl Rogers. A posio de cincia como um sistema aberto foi imutvel no pensamento de Carl Rogers, mas o modo como sua cincia devia ser organizada mudou muito durante a obra do criador da Abordagem Centrada na Pessoa. Como j foi dito anteriormente, Rogers viveu de forma intensa o conflito entre objetividade e subjetividade. No incio de sua produo, Rogers via a psicoterapia como uma tcnica, uma tecnologia a ser aplicada sobre o ser humano. Dizia em seu livro (1992, p.23) "Terapia Centrada no Cliente", publicado em 1951, que "[...] no campo da terapia, o primeiro requisito uma tcnica que produza um resultado efetivo [...]". Portanto, dependendo do perodo do pensamento rogeriano a ser estudado, h uma preocupao tcnica. "Terapia Centrada no Cliente", por exemplo, , segundo Belm (no prelo, p.15) uma obra clssica do perodo da "Psicoterapia Reflexiva", quando ainda tinha uma preocupao tcnica, neste caso, a tcnica da reflexo de sentimentos. A funo do terapeuta era comparvel a um espelho.

Na ltima fase de sua carreira, Rogers parecia j ter se decidido a respeito do dilema entre a objetividade e subjetividade, optando pela ltima. Sabia, inclusive, das crticas que lhe eram feitas pelas outras pessoas, como a de ser um ingnuo. Sobre estas crticas, Rogers (1977c, p.32) dizia: "[...] Para a maioria dos autores, a melhor maneira de lidar comigo me considerar, em um pargrafo, como o autor de uma tcnica - a tcnica no diretiva. Definitivamente, no perteno ao grupo fechado da academia psicolgica [...]". Rogers passou a no crer mais numa cincia emprica e dentro de todo o padro de cincia concebido em nossa civilizao. Na verdade, houve como que um desencantamento com as questes suscitadas pela Psicologia e por todas as cincias em geral. Para Rogers, as cincias estavam longe de estudar algo que realmente interessasse e contribusse para um progresso humanitrio. O criador da ACP cria em uma cincia autntica, mais criadora. A este respeito, Rogers dizia: "[...] Ver cientistas autnticos, se me permite a expresso, cientistas imaginativos, curiosos e, prontos a sonhar, cheios de convico e prontos a testar suas hipteses e constatar que se enganaram - e comparar com eles os cientistas do comportamento, muito deprimente [...]" (Evans, 1979, p.89). Os cientistas do comportamento a que Rogers se refere acima so cientistas presos em um academicismo e uma viso rgida do que cincia, academicismo este que, segundo o mesmo Rogers "[...] um dos motivos que impedem a psicologia de ser socialmente importante [...]" (Evans, 1979, p.88). Rogers achava que o saber psicolgico poderia prestar grandes servios a uma ditadura com planos para a manipulao de indivduos. Segundo ele, os psiclogos "[...] poderiam ensinar o ditador a manipular a opinio pblica e moldar o comportamento [...]". Estas crticas de Rogers, evidentemente, dirigiam-se ao Behaviorismo radical de Skinner, seu contemporneo e compatriota e cuja perspectiva de Rogers a seu respeito ser em breve abordada neste trabalho. Ainda a respeito da manipulao, podemos pensar: onde entra a ACP na questo relativa ao controle do comportamento humano? Ser que ela tambm no direciona, no controla? A resposta de Rogers a este respeito que a sua abordagem direciona, sim, mas no sentido de uma autonomia. Diz ele (1970a, p.319): "[...] Estabelecemos, atravs de um controle exterior, condies que, segundo as nossas previses, sero acompanhadas por um controle interior do indivduo sobre si prprio nos seus esforos para atingir os objetivos que interiormente escolheu [...]". Rogers (1970a, p.319) continua, afirmando, mais adiante, que "[...] essas condies estabelecidas por ns [psiclogos que trabalhamos com a ACP] prevem um comportamento que essencialmente livre [...]". Parece haver uma contradio no discurso de Rogers. Como pode ele criticar a manipulao do comportamento, se, de acordo com o que se pode concluir de suas palavras, "dada" ao indivduo a sua liberdade? Parece que h uma modelao do

individuo para ser a "pessoa em pleno funcionamento" que Rogers nos descreve. Seria o prprio Rogers esta "pessoa em funcionamento pleno"? Esta questo merece um maior aprofundamento e este no , neste trabalho, o nosso intuito. Passemos, agora, para a viso de Rogers sobre outras abordagens de Psicologia. Qual era sua opinio acerca do Behaviorismo? E da Psicanlise? So questes que tentaremos elucidar nos prximos pargrafos. Comecemos com o Behaviorismo. Rogers, como j foi dito aqui, foi contemporneo e patrcio de Skinner. Segundo o modelo de Psicologia eminentemente empirista americano, Skinner tinha um maior respeito e foi, nos anos 70, considerado pela revista Times como o maior psiclogo americano de todos os tempos. Era constante o debate de ambos. A posio de Rogers era, claramente em oposio ao Behaviorismo. Que fique claro que se tratava de uma questo cientfica, ou melhor, filosfica, segundo Rogers (1977c, p.36), que acabou "[...] percebendo que a diferena bsica entre as posies comportamental e humanstica em relao aos seres humanos reside numa opo filosfica* [...]". A opo filosfica residiria na questo do livre arbtrio, negada pelos behavioristas. Rogers (1977c, p.36) "[] impossvel negar a realidade e a significncia do livre arbtrio humano [...]". Quanto questo de ser a abordagem comportamental a preferida da "psicologia acadmica" norte-americana, Rogers achava que isso se devia ao seu contexto cultural eminentemente tecnologicamente orientada. Alm disso, a questo no parece ser apenas filosfica, mas de mtodo. Acerca do condicionamento operante, Rogers afirmava que foi "[...] uma verdadeira contribuio, mas acho que o tempo mostrar que foi uma contribuio acanhada, no sentido de que precisamos de algo que inclua muito mais da totalidade da pessoa na cincia da Psicologia [...]" (Evans, 1979, p.122). Outra abordagem a quem Rogers se opunha era a Psicanlise*, o que bastante bvio pelo fato de que ele prprio afirmara receber influncias de dissidentes do movimento psicanaltico, como Otto Rank. Sobre a Psicanlise, de onde, curiosamente, Rogers veio (mesmo que no fosse um psicanalista ortodoxo), Rogers achava que se tratava de uma abordagem ortodoxa. Dizia ele que "[...] na prtica o ponto de vista freudiano o degenerou numa ortodoxia muito estreita que poderia realmente ser comparada ao fundamentalismo. Os freudianos tm que aceitar esse credo, ou no so freudianos [...]" (Evans, 1979, p.103). Rogers comparava, portanto, a psicanlise a uma religio. Ou melhor, os psicanalistas como religiosos, pois acusar a psicanlise em se tratando de seu criador de ortodoxa pode ter, a meu ver (e no sou um grande estudioso de psicanlise, admito), no mnimo, duas respostas.

Assim como Rogers, Freud tinha na sua teoria um organismo vivo e, de acordo com o que se verificava na clnica, modificava-a sem o menor constrangimento por faz-lo. Contudo, Freud rompia com aqueles que tivessem um ponto de vista diferente do seu. Assim foi, por exemplo, com Carl Gustav Jung, que era considerado por Freud o prncipe coroado, mas que, ao falar que nem toda pulso sexual, foi expurgado do crculo psicanaltico. Rogers afirmava a respeito dos psicanalistas que eles "[...] se uniram mais firmemente entre si e se organizaram em atitudes cada vez mais defensivas, o que, no final das contas, deixa-os frustrados [...]" (Evans, 1979, p.105). Ainda acerca da teoria psicanaltica Rogers afirmava que esta "[...] repousa, de fato, em dogmas essencialmente no comprovados e acho que, depois de algum tempo, o mundo comea a ficar um pouco cansado disso [...]" (Evans, 1979, p.104). Outra divergncia que podemos encontrar entre Freud e Rogers diz respeito questo da natureza humana. Enquanto Freud via-a de forma predominantemente pessimista, Rogers era otimista (e, s vezes, at ingnuo demais). Segundo Gusmo (texto da internet, p.2) "[...]Quando apreciamos a obra freudiana, observamos que toda ela marcada por um certo ceticismo em relao ao homem. Sendo a natureza humana, na sua viso, determinada, sobretudo, pelas pulses e foras irracionais, oriundas do inconsciente; pela busca de um equilbrio homeosttico; e pelas experincias vividas na primeira infncia [...]" Para Rogers, a confiana no Homem era a base para o desenvolvimento de sua abordagem, uma vez que, como j dissemos, a tendncia atualizante, que leva a uma crena na benignidade humana, pois se for proporcionado um clima de liberdade, o ser humano saber reagir de forma sbia, sem instintos destrutivos ou algo do tipo (pelo menos, esta a proposta da ACP). Em se tratando de crticas sua abordagem psicolgica, Rogers se irritava muito com as pessoas que o consideravam superficial. Afirmava ele que "[...] isso simplesmente no verdade. Essa crtica, que me lembre, me perturbou mais do que qualquer outra, porque no me considero superficial. No se pode levar a srio muitas crticas porque se baseiam na mais completa falta de compreenso do que eu e meus colegas temos feito [...]" (Evans, 1979, p.121). Como Rogers tinha conhecimento de que saber poder, tinha muito medo de o que poderia ser feito de seu trabalho com relao ao futuro. Portanto, quero encerrar este tpico, citando um longo trecho do prefcio de seu terceiro livro: Terapia Centrada no Cliente, de 1951, onde j temia os rumos que sua abordagem poderia vir a seguir:"[...] De boa vontade, eu eliminaria todas as palavras deste original, se pudesse, de alguma forma, apontar com eficcia a experincia que a terapia. A terapia um processo, uma coisa em si, uma experincia, uma relao, uma dinmica. No o que este livro diz a seu respeito, no mais do que uma flor a descrio de um botnico ou

o xtase do poeta diante dela. Se este livro servir como um grande indicador apontando para uma experincia que est aberta aos nossos sentidos da audio e da viso e a nossa capacidade de experincia emocional, e se despertar o interesse de alguns e estimul-los a explorar a coisa-em-si, ele ter cumprido seu propsito. Se, por outro lado, este livro for se juntar massa j avassaladora de palavras escritas sobre palavras, se incutir nos leitores a idia de que a pagina impressa tudo, ento ter fracassado lamentavelmente. E, se sofrer a degradao definitiva de tornar-se conhecimento de sala de aula- no qual as palavras mortas de um autor so dissecadas e despejadas na mente de estudantes passivos, de tal maneira que indivduos vivos carreguem consigo as partes mortas e dissecadas do que j foram pensamentos e experincias vivas, sem ao menos a conscincia de que algum dia j foram vivas- melhor seria que este livro jamais houvesse sido escrito [...]".

Que Fenmenos so Contemplados pelo Mtodo da ACP? Basicamente, onde houver relaes humanas, podem ser aplicados os conceitos da Abordagem Centrada na Pessoa. Portanto, no h uma restrio ao campo da Psicoterapia, at pelo trabalho de grupos desenvolvido por Carl Rogers. No raro, podem ser encontrados chefes de recursos humanos de empresas com uma orientao "rogeriana". Segundo Gobbi et al (1998, p.23) a aplicao da ACP em uma organizao seria no sentido de "[...] liderana e administrao centradas no grupo, seja no treinamento de pessoal, ou mesmo no acompanhamento de atividades desenvolvidas em organizaes [...]". A pedagogia uma outra rea onde as teorias de Rogers podem ser aplicadas*, pois Rogers dedicou duas obras suas pedagogia, propondo o que chamou de "Ensino Centrado no Aluno", que, segundo Gobbi et al (1998, p.23), "[...] consiste numa grande discusso de Rogers a respeito de educao e escolas, que se desenvolve em uma nova perspectiva pedaggica, bem como numa formulao prpria do sentido de aprendizagem [...]". Os trabalhos da Psicologia Comunitria usam recursos desenvolvidos nos de Grupos de Encontro, juntamente com os Crculos de Cultura de Paulo Freire, o que os profissionais de Psicologia comunitria chamam de "Crculos de Encontro". Rogers tentou explicar fenmenos sociais a partir de sua abordagem, mas pecou pela ingenuidade presente em sua proposta, pois acreditava que, a partir de uma revoluo pessoal, poderia haver uma revoluo social. Este tipo de viso por parte do citado psiclogo americano deu margem a uma srie de produes na dcada de 80 criticando sua viso no-dialtica dos processos sociais*. Mesmo assim, possvel uma aplicao da ACP para a Psicologia social a partir de "[...] especificaes para a psicoterapia de grupo, conduo de grupos de trabalho, aplicaes pedaggicas, aplicaes pesquisa no social (prtica da entrevista nodiretiva), aplicaes ao aconselhamento e interveno psicossocial [...]".

Como se percebe, os fenmenos cujo mtodo da Abordagem Centrada na Pessoa so eminentemente prticos (da, talvez, a razo de se dizer que a preocupao da abordagem tcnica), no possuindo explicao para fenmenos sociais ou subjetivos, no se caracterizando, portanto, como uma super-teoria, diferente do que acontece com a Psicanlise (que leva seu conceito de Inconsciente at s ltimas conseqncias) e com o Comportamentismo (que tudo explica a partir do conceito de Condicionamento Operante); com isso, conclui-se que a Abordagem Centrada na Pessoa no , ao contrrio das outras duas abordagens citadas, um sistema, configurando-se como uma teoria aplicvel a relaes humanas.

ConclusoEspero com este trabalho ter conseguido mostrar um pouco do que pode ser estudado na obra de Carl Rogers no que diz respeito ao mtodo, influncias, sua viso de cincia e aplicaes de sua teoria. Tenho a expectativa, tambm, de ter mostrado que, alm das tcnicas desenvolvidas por Rogers, h, tambm, a sua teoria de personalidade e sua preocupao epistemolgica, alm de uma viso muito clara, por parte deste cientista, de que cincia um sistema aberto e composto hipteses, jamais por certezas. Sei que este tipo de estudo exige anos a fio de leitura (tenho pacincia e posso esperar, lendo), mas espero que tenha servido (pelo menos para mim) como o incio de uma srie de estudos a serem feitos acerca da abordagem no que tange tanto s questes aqui abordadas quanto a outras que (espero) venham a surgir durante todo o decorrer do curso de Psicologia.

BibliografiaAMATUZZI, M. M. O Resgate da Fala Autntica. Campinas, Papirus, 1994. BELM, Diana M. de H. Carl Rogers: Do Diagnstico a Abordagem Centrada na Pessoa, Recife, no prelo, 1996. EVANS, Richard I. Carl Rogers: O Homem e suas idias. So Paulo, Martins Fontes, 1979.

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Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Cear (Brasil) e Professor da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Par (Brasil) [ Pgina anterior ]

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