Aborto

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Aborto (Redirecionado de Interrupção da gravidez) Um aborto, abortamento ou interrupção da gravidez é a remoção ou expulsão prematura de um embrião ou feto do útero, resultando na sua morte ou sendo por esta causada. Isto pode ocorrer de forma espontânea ou induzida, provocando-se o fim da gestação, e consequente fim da atividade biológica do embrião ou feto, mediante uso de medicamentos ou realização de cirurgias. O aborto induzido, quando realizado por profissionais capacitados e em boas condições de higiene é um dos procedimentos mais seguros da medicina atual. Entretanto, o aborto inseguro, feito por pessoas não-qualificadas ou fora de um ambiente hospitalar, resulta em aproximadamente 70 mil mortes maternas e cinco milhões de lesões maternas por ano no mundo.4 Estima-se que sejam realizados no mundo 44 milhões de abortos anualmente, sendo pouco menos da metade destes procedimentos realizados de forma insegura.5 A incidência do aborto se estabilizou nos últimos anos, após ter tido uma queda nas últimas décadas devido ao maior acesso a planejamento familiar e a métodos contraceptivos.6 Quarenta por cento das mulheres do mundo têm acesso a aborto induzido em seus países (dentro dos limites gestacionais).

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Aborto

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Page 1: Aborto

Aborto

(Redirecionado de Interrupção da gravidez)

Um aborto, abortamento ou interrupção da gravidez é a remoção ou expulsão

prematura de um embrião ou feto do útero, resultando na sua morte ou sendo

por esta causada. Isto pode ocorrer de forma espontânea ou induzida,

provocando-se o fim da gestação, e consequente fim da atividade biológica do

embrião ou feto, mediante uso de medicamentos ou realização de cirurgias.

O aborto induzido, quando realizado por profissionais capacitados e em boas

condições de higiene é um dos procedimentos mais seguros da medicina atual.

Entretanto, o aborto inseguro, feito por pessoas não-qualificadas ou fora de um

ambiente hospitalar, resulta em aproximadamente 70 mil mortes maternas e

cinco milhões de lesões maternas por ano no mundo.4 Estima-se que sejam

realizados no mundo 44 milhões de abortos anualmente, sendo pouco menos

da metade destes procedimentos realizados de forma insegura.5

A incidência do aborto se estabilizou nos últimos anos, após ter tido uma queda

nas últimas décadas devido ao maior acesso a planejamento familiar e a

métodos contraceptivos.6 Quarenta por cento das mulheres do mundo têm

acesso a aborto induzido em seus países (dentro dos limites gestacionais).

Historicamente, o aborto induzido vem sendo realizado através de diferentes

métodos e seus aspectos morais, éticos, legais e religiosos ainda são objeto de

intenso debate em diversas partes do mundo.

Índice [esconder]

1 Tipos

1.1 Aborto espontâneo

1.2 Aborto induzido

1.3 Outras classificações

2 Riscos de um Aborto

2.1 Câncer da mama

2.2 Dor do feto

Page 2: Aborto

2.3 Síndrome pós-abortivo

2.4 Mulheres grávidas vítimas de violência

2.5 Consequências a longo prazo para a criança não desejada

3 Métodos de indução

3.1 Aborto farmacológico

3.2 Aborto cirúrgico ou por procedimentos

3.2.1 Aspiração uterina a vácuo

3.2.2 Dilatação e curetagem uterina

3.2.3 Dilatação e evacuação

3.2.4 Eliminação ou expulsão fetal (indução do trabalho de parto)

3.2.5 Aborto por esvaziamento craniano intrauterino

3.3 Outros métodos

4 História

4.1 Terminologia

5 Sociedade e cultura

5.1 Debate sobre o aborto

5.1.1 Consequências positivas

5.1.2 Consequências negativas

5.2 Legislação

5.3 Meios de comunicação

6 Ver também

7 Referências

8 Bibliografia

9 Ligações externas

Tipos

O aborto geralmente é dividido em dois tipos, aborto espontâneo e aborto

induzido. Outras classificações também são usadas, de acordo com o tempo

de gestação, por exemplo.

Aborto espontâneo

Aborto espontâneo, involuntário ou casual, é a expulsão não intencional de um

embrião ou feto antes de 20-22 semanas de idade gestacional. Uma gravidez

que termina antes de 37 semanas de idade gestacional que resulta em um

recém-nascido vivo é conhecida como parto prematuro ou pré-termo. Quando

Page 3: Aborto

um feto morre no interior do útero após a viabilidade, ou durante o parto,

geralmente é chamado de natimorto.

A causa mais comum de aborto espontâneo durante o primeiro trimestre são as

anomalias cromossômicas do feto/embrião, que contabilizam pelo menos 50%

das perdas gestacionais precoces.

Outras causas incluem doenças vasculares (como o lúpus eritematoso

sistêmico), diabetes, problemas hormonais, infecções, anomalias uterinas e

trauma acidental ou intencional. A idade materna avançada e a história prévia

de abortos espontâneos são os dois fatores mais associados com um risco

maior de aborto espontâneo.

Aborto induzido

O aborto induzido, também denominado aborto provocado ou interrupção

voluntária da gravidez, é o aborto causado por uma ação humana deliberada.

Ocorre pela ingestão de medicamentos ou por métodos mecânicos. A ética

deste tipo de abortamento é fortemente contestada em muitos países do

mundo mas é reconhecida como uma prática legal em outros locais do mundo,

sendo inclusive em alguns totalmente coberta pelo sistema público de saúde.

Os dois polos desta discussão passam por definir quando o feto ou embrião se

torna humano ou vivo (se na concepção, no nascimento ou em um ponto

intermediário) e na primazia do direito da mulher grávida sobre o direito do feto

ou embrião.

O aborto induzido possui as seguintes subcategorias:

Aborto terapêutico

aborto provocado para salvar a vida da gestante8

para preservar a saúde física ou mental da mulher8

para dar fim à gestação que resultaria numa criança com problemas congênitos

que seriam fatais ou associados com enfermidades graves8

para reduzir seletivamente o número de fetos para diminuir a possibilidade de

riscos associados a gravidezes múltiplas.8

Aborto eletivo: aborto provocado por qualquer outra motivação.8

Outras classificações[editar | editar código-fonte]

Page 4: Aborto

Quanto ao tempo de duração da gestação:

Aborto subclínico: abortamento que acontece antes de quatro semanas de

gestação

Aborto precoce: entre quatro e doze semanas

Aborto tardio: após doze semanas

Riscos de um Aborto

Os riscos para a saúde envolvidos no aborto induzido dependem de o

procedimento ser realizado com ou sem segurança.

A Organização Mundial de Saúde define como abortos não-seguros aqueles

realizados por indivíduos sem formação, equipamentos perigosos ou em

instituições sem higiene.9 Os abortos legais realizados nos países

desenvolvidos estão entre os procedimentos mais seguros na medicina.3 10

Nos Estados Unidos, a taxa de mortalidade materna em abortos entre 1998 e

2005 foi de 0,6 morte por 100.000 procedimentos abortivos, tornando o aborto

cerca de 14 vezes mais seguro do que o parto, cuja taxa de mortalidade é de

8,8 mortes por 100.000 nascidos vivos.11 12

O risco de mortalidade relacionada com o aborto aumenta com a idade

gestacional, mas permanece menor do que o do parto até pelo menos 21

semanas de gestação.13 14 Isso contrasta com algumas leis presentes em

alguns países que exigem que os médicos informem os pacientes que o aborto

é um procedimento de alto risco.15

A aspiração uterina a vácuo no primeiro trimestre é o método de aborto não-

farmacológico mais seguro, e pode ser realizado em uma clínica de atenção

primária em saúde, clínica de aborto ou hospital. As complicações são raras e

podem incluir perfuração uterina, infecção pélvica e retenção dos produtos da

concepção necessitando de um segundo procedimento para evacuá-los.16

Geralmente são administrados antibióticos profiláticos (preventivos) (como a

doxiciclina ou metronidazol) antes do aborto eletivo,17 pois acredita-se que

Page 5: Aborto

eles diminuem substancialmente o risco de infecção uterina pós-operatória.18

19 As complicações após abortos no segundo-trimestre são similares às que

ocorrem após o aborto no primeiro trimestre, e dependem do método escolhido.

Existe pouca diferença em termos de segurança e eficácia entre o aborto

farmacológicos usando regime combinado de mifepristona e misoprostol e o

aborto não-farmacológico (aspiração a vácuo) quando são realizados no início

do primeiro trimestre (até 9 semanas de idade gestacional).20 O aborto

farmacológico com o uso do análogo de prostaglandina misoprostol isolado é

menos efetivo e mais doloroso do que o aborto usando o regime combinado de

mifepristona e misoprostol ou do que o aborto cirúrgico.21 22

Existe controvérsia na comunidade médica e científica sobre os efeitos do

aborto. As interrupções de gravidez feitas por médicos competentes são

normalmente consideradas seguras para as mulheres, dependendo do tipo de

cirurgia realizado.23 24 Entretanto, um argumento contrário ao aborto seria de

que, para o feto, o aborto obviamente nunca seria "seguro", uma vez que

provoca sua morte sem direito de defesa.25 26

Os métodos que não são realizados com acompanhamento médico (uso de

certas drogas, ervas, ou a inserção de objectos não cirúrgicos no útero) são

potencialmente perigosos para a mulher, conduzindo-a a um elevado risco de

infecção permanente ou mesmo à morte, quando comparado com os abortos

feitos por pessoal médico qualificado.

Segundo a ONU, pelo menos 70 mil mulheres perdem a vida anualmente em

consequência de abortos realizados em condições precárias,27 não há, no

entanto, estatísticas confiáveis sobre o número total de abortos induzidos

realizados no mundo nos países e/ou situações em que o aborto é

criminalizado.

Existem, com variado grau de probabilidade, possíveis efeitos negativos

associados à prática abortiva, nomeadamente a hipótese de ligação ao câncer

de mama, a dor fetal, o síndrome pós-abortivo. Possíveis efeitos positivos

Page 6: Aborto

incluem redução de riscos para a mãe e para o desenvolvimento da criança

não desejada.

Em janeiro de 2012 uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de

Saúde revelou que a prática do aborto é maior nos países em que ele é

proibido e quase metade de todos os abortos feitos no mundo é realizada com

altos riscos para a mulher.

Entre 2003 e 2008, cerca de 47 mil mulheres morreram e outros 8,5 milhões

tiveram consequências graves na sua saúde, decorrentes da prática do aborto.

Quase todas as interrupções de gravidez intencionais realizadas de maneira

insegura, aconteceram em nações em desenvolvimento, na América Latina e

África. "O aborto é um procedimento muito simples. Todas essas mortes e

complicações poderiam ter sido facilmente evitadas", disse Gilda Sedgh,

pesquisadora-sênior do Instituto norte-americano Guttmacher, autora do

estudo.28

Câncer da mama

Ver artigo principal: Hipótese de câncer causado pelo aborto

Há uma hipótese de relação causal entre o aborto induzido e o risco de

desenvolvimento de câncer de mama.

A teoria é que no início da gravidez, o nível de estrogénio aumenta, levando ao

crescimento das células mamárias necessário à futura fase de lactação. A

hipótese de relação positiva entre câncer de mama e aborto sustenta que se a

gravidez é interrompida antes da completa diferenciação celular, então existirão

relativamente mais células indiferenciadas vulneráveis à contracção da doença.

Esta hipótese, não é bem aceita pelo consenso científico de estudos de

associações e entidades ligadas ao câncer,29 30 31 mas tem alguns

defensores como o dr. Joel Brind.32

Dor do feto

Page 7: Aborto

Ver artigo principal: Dor fetal

A existência ou ausência de sensações fetais durante o processo de

abortamento é hoje matéria de interesse médico, ético e político. Diversas

provas entram em conflito, existindo algumas opiniões defendendo que o feto é

capaz de sentir dor a partir da sétima semana33 enquanto outros sustentam

que os requisitos neuro-anatómicos para tal só existirão a partir do segundo ou

mesmo do terceiro trimestre da gestação.34

Os receptores da dor surgem na pele na sétima semana de gestação.

O hipotálamo, parte do cérebro receptora dos sinais do sistema nervoso e que

liga ao córtex cerebral, forma-se à quinta semana.

Todavia, outras estruturas anatómicas envolvidas no processo de sensação da

dor ainda não estão presentes nesta fase do desenvolvimento. As ligações

entre o tálamo e o córtex cerebral formam-se por volta da 23ª semana.35

Existe também a possibilidade de que o feto não disponha da capacidade de

sentir dor, ligada ao desenvolvimento mental que só ocorre após o

nascimento.36

Novos estudos do Hospital Chelsea, realizados pela Dra. Vivette Glover em

Londres sugerem que a dor fetal pode estar presente a partir da décima sétima

semana de vida do feto. O que justificaria, segundo os proponentes do aborto,

o uso de anestésicos para diminuir o provável sofrimento do feto. Estes

estudos contrariam a versão da entidade que reúne obstetras e ginecologistas

do Reino Unido, o Royal College of Obstretics and Gynacologists; para esta

organização, só há dor depois de 26 semanas.37

Síndrome pós-abortivo

Ver artigo principal: Síndrome pós-aborto

A síndrome pós-abortivo seria uma série de reações psicológicas apresentadas

ao longo da vida por mulheres após terem cometido um aborto.

Há vários relatos de problemas mentais relacionados direta ou indiretamente

Page 8: Aborto

ao aborto; uma descrição clássica pode ser encontrada na obra "A

psicopatologia da vida cotidiana", de Sigmund Freud. No livro "Além do

princípio de prazer", Freud salienta: "Fica-se também estupefato com os

resultados inesperados que se podem seguir a um aborto artificial, à morte de

um filho não nascido, decidido sem remorso e sem hesitação."

Há médicos portugueses, porém, que questionam a existência do síndroma;

não existe nenhum estudo português publicamente divulgado sobre o assunto.

Entretanto nos Estados Unidos, Reino Unido e mesmo no Brasil, essa

possibilidade já é bastante discutida, com resultados contrastantes.

O síndroma pós-abortivo (PAS), conhecido também como síndroma pós-

traumático pós-abortivo ou por síndroma do trauma abortivo, é um termo que

designa um conjunto de características psicopatológicas que alguns médicos

dizem ocorrer nas mulheres após um aborto provocado.42 Alguns estudos, no

entanto, concluem que alguns destes sintomas são consequência da proibição

legal e/ou moral do aborto e não do ato em si.

Entretanto, tal síndrome teria sido catalogada em inúmeras pesquisas, entre

elas a do dr. Vincent Rue que no estudo da Desordem Ansiosa Pós-Traumática

(DAPT), presente em ex-combatentes do Vietnã, que teria sua correspondente

na síndrome pós-aborto (SPA).

Algumas estatísticas de organizações pró-vida argumentam que há um

aumento de 9% para 59% nos índices de distúrbios psicológicos em mulheres

que se submetem ao aborto.43

Outro estudo, do Royal College of Psychiatrists, a associação dos psiquiatras

britânicos e irlandeses, considerou que o aborto induzido pode trazer distúrbios

clínicos severos para a mulher, e que essa informação deve ser passada para

a mesma, antes da opção pelo aborto.

Esse estudo foi repassado à população pelo Jornal Britânico Sunday Times.

Mulheres grávidas vítimas de violência

Page 9: Aborto

Embora existam notícias indicando que muitas mulheres grávidas morrem em

consequência de atos violentos, aparentemente46 não há dados conclusivos

que cruzem esta informação com o risco de morte geral das mulheres não-

grávidas em situações semelhantes.

Consequências a longo prazo para a criança não desejada.

Muitos membros de grupos pró-escolha47 consideram haver um risco maior de

crianças não desejadas (crianças que nasceram apenas porque a interrupção

voluntária da gravidez não era uma opção, quer por questões legais, quer por

pressão social) terem um nível de felicidade inferior às outras crianças

incluindo problemas que se mantêm mesmo quando adultas, entre estes

problemas incluem-se:

doença e morte prematura

pobreza

problemas de desenvolvimento

abandono escolar

delinquência juvenil

abuso de menores

instabilidade familiar e divórcio

necessidade de apoio psiquiátrico

falta de autoestima

Uma opinião contrária, entretanto, apresentada por grupos pró-vida, seria que,

mesmo que sejam encontradas correlações estatísticas entre gravidez

indesejáveis e situações consideradas psicologicamente ruins para as crianças

nascidas, esta situação não pode ser comparada com a de crianças abortadas,

visto que estas não estão vivas. Uma "situação de vida" não seria passível de

comparação com uma "situação de morte", visto a inverificabilidade desta

enquanto situação possivelmente existente (a chamada "vida após a morte")

pelos métodos científicos disponíveis. Como não se pode estipular se uma

situação ruim de vida, por pior que fosse, seria pior que a morte, o aborto, no

caso, não poderia ser apresentado como solução, visto que não dá a

capacidade de escolha ao envolvido, enquanto ainda é um feto.53 54 55

Page 10: Aborto

Métodos de indução

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Advertência: A Wikipédia não é consultório médico nem farmácia.

Se necessita de ajuda, consulte um profissional de saúde.

As informações aqui contidas não têm caráter de aconselhamento.

Aborto farmacológico

Ver artigo principal: Aborto farmacológico

Também conhecido como aborto médico, químico ou não-cirúrgico, é o aborto

induzido por administração de fármacos que provocam a interrupção da

gravidez e a expulsão do embrião. O aborto farmacológico é aplicável apenas

no primeiro trimestre da gravidez.

Tornou-se um método alternativo de aborto induzido com o surgimento no

mercado dos análogos de prostaglandina no início dos anos 1970 e do

antiprogestágeno mifepristona (RU-486) nos anos 1980.56 57 58

Os regimes de aborto mais comuns para o primeiro trimestre utilizam

mifepristona em combinação com um análogo de prostaglandina (misoprostol)

até 9 semanas de idade gestacional, metotrexato em combinação com um

análogo de prostaglandina até 7 semanas de gestação, ou um análogo de

prostaglandina isolado.56 Os regimes de mifepristona–misoprostol funcionam

mais rápido e são mais efetivos em idades gestacionais mais avançadas do

que os regimes combinados de metotrexato-misoprostol, e os regimes

combinados são mais efetivos que o uso do misoprostol isolado.

Em abortos muito precoces, com até 7 semanas de gestação, o regime

combinado de mifepristona-misoprostol é considerado mais efetivo do que o

aborto cirúrgico (aspiração à vácuo).20 Os regimes de aborto médico precoce

que utilizam 200 mg de mifepristona, seguido por 800 mcg de misoprostol

vaginal ou oral 24-48 horas após apresentam efetividade de 98% até as 9

semanas de idade gestacional.59 Nos casos de falha do aborto farmacológico,

é necessária a complementação do procedimento com o aborto cirúrgico.60

Page 11: Aborto

Os abortos farmacológicos precoces são responsáveis pela maioria dos

abortos com menos de 9 semanas de gestação na Grã-Bretanha, França,

Suíça, e nos países nórdicos.65 Nos Estados Unidos, o percentual de abortos

farmacológicos precoces é menor.

Regimes de aborto farmacológico usando mifepristona em combinação com um

análogo de prostaglandina são os métodos mais comumente usados para

abortos de segundo trimestre no Canada, maior parte da Europa, China e

Índia,58 ao contrário dos Estados Unidos, onde 96% dos abortos de segundo

trimestre são realizados cirúrgicamente com dilatação e esvaziamento uterino.

Aborto cirúrgico ou por procedimentos

Os procedimentos no primeiro trimestre podem geralmente ser realizados

usando anestesia local, enquanto os realizados no segundo trimestre podem

necessitar de sedação ou anestesia geral.

Aspiração uterina a vácuo

Um aborto realizado por aspiração a vácuo com equipamento elétrico em uma

gestação de oito semanas (seis semanas após a fertilização): Bolsa amniótica:

Embrião: Endométrio: Espéculo: Cureta de aspiração6: Saída para a bomba à

vácuo

No procedimento de aspiração uterina a vácuo o médico realiza vácuo no útero

da gestante para remover o feto. São utilizados equipamentos manuais ou

elétricos para a realização do vácuo. Geralmente são realizados em gestações

de até doze semanas (primeiro trimestre).

A aspiração manual intrauterina (AMIU) consiste em uma aspiração cujo vácuo

é criado manualmente utilizando-se uma cânula flexível acoplada a uma

seringa. Foi desenvolvida para ser realizada ambulatorialmente sem anestesia

geral, não necessitando ser realizada em bloco cirúrgico. Não é necessária a

dilatação cervical.

O procedimento também pode ser utilizando um aparelho de vácuo eléctrico.

Page 12: Aborto

Neste tipo de aspiração o conteúdo do útero é sugado pelo equipamento.

Ambos os procedimentos são considerados não-cirúrgicos e são realizados em

cerca de dez minutos. São eficazes e seguros, pois apresentam um baixo risco

para a mulher (0,5% de casos de infecção).

Dilatação e curetagem uterina

Figura mostrando como é empregada a técnica da curetagem

Em gestações mais avançadas, nas quais o material a ser removido do útero é

muito volumoso, recorre-se à curetagem. Ao contrário da aspiração uterina à

vácuo, que pode ser realizada em consultórios ou clínicas, a dilatação e

curetagem é um procedimento cirúrgico, devendo ser realizado em um hospital

com bloco cirúrgico. Inicialmente o médico alarga o colo do útero da paciente

com dilatadores, para permitir a passagem da cureta a seguir. A cureta é um

instrumento cirúrgico cortante, em forma de colher, que é introduzida no útero

para realizar a raspagem. Servindo-se da cureta, o médico retira todo o

conteúdo uterino, incluindo o endométrio.

Uma das principais complicações da curetagem é a perfuração uterina causada

pela cureta.

Evita-se a realização da curetagem uterina em gestações com mais de 12-16

semanas sem antes realizar a expulsão fetal.

Dilatação e evacuação

O procedimento de curetagem é aplicável ainda no começo do segundo

trimestre, mas se não for possível terá de recorrer-se a métodos como a

dilatação e evacuação. Neste procedimento o médico promove primeiro a

dilatação cervical (um dia antes).

Na intervenção que é feita sob anestesia é inserido um aparelho cirúrgico na

vagina para cortar o material intra-uterino em pedaços, e retirá-los de dentro do

útero. No final é feita a aspiração. O feto é remontado no exterior para garantir

Page 13: Aborto

que não há nenhum pedaço no interior do útero que poderia levar a infecção

séria. Em raríssimas situações (0,17% das IVGs realizadas nos Estados

Unidos em 2000) o feto é removido intacto.

Eliminação ou expulsão fetal (indução do trabalho de parto) A eliminação ou

expulsão fetal geralmente é reservada para gestações com mais de doze

semanas. Consiste em forçar prematuramente o trabalho de parto com o uso

do análogo de prostaglandina misoprostol. Pode-se associar o uso de ocitocina

ou injeção no líquido amniótico de soluções hipertônicas com solução salina ou

ureia.

Após a expulsão fetal, pode ser necessária a realização de curetagem.

Aborto por esvaziamento craniano intrauterino

O aborto por esvaziamento craniano intrauterino (ECI), também conhecido

como aborto com "nascimento parcial", é uma técnica utilizada para provocar o

aborto quando a gravidez está em estágio avançado, entre 20 e 26 semanas

(cinco meses a seis meses e meio).68 Guiado por ultrassom, o médico segura

a perna do feto com um fórceps, puxa-o para o canal vaginal, e então retira o

feto do útero, com exceção da cabeça.

Faz então uma incisão na nuca, inserindo depois um catéter para sugar o

cérebro do feto e então o retira por inteiro do corpo da mãe. Em alguns países,

essa prática é proibida em todos os casos, sendo considerada homicídio e

punida severamente. Esta técnica tem sido alvo de intensas polêmicas nos

Estados Unidos.

Em 2003, sua prática foi proibida em todo o país, gerando revoltas de

movimentos pró-aborto.

Outros métodos

No passado, diversas ervas já foram consideradas portadoras de propriedades

abortivas e foram usadas na medicina popular.72 No entanto, o uso de ervas

com a intenção abortiva pode causar diversos efeitos adversos graves e até

Page 14: Aborto

mesmo letais, tanto para a mãe quanto para o feto, e não é recomendado pelos

médicos.73

O aborto, às vezes, é tentado através de trauma no abdômen. O grau da força,

se intensa, pode causar diversas lesões internas graves sem necessariamente

induzir com sucesso a perda fetal.74 No Sudeste da Ásia, há uma tradição

antiga de se tentar o aborto através de forte massagem abdominal.75

Métodos utilizados em abortos autoinduzidos não seguros incluem o uso

incorreto de misoprostol e a inserção de materiais não cirúrgicos como agulhas

e prendedores de roupas no útero. A utilização destes métodos não seguros

raramente é observada em países desenvolvidos, onde o aborto cirúrgico é

legal e disponível.76

História[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: História do aborto

A história do aborto, segundo a Antropologia, remonta à Antiguidade.

Há evidências que sugerem que, historicamente, dava-se fim à gestação, ou

seja, provocava-se o aborto, utilizando diversos métodos, como ervas

abortivas, o uso de objetos cortantes, a aplicação de pressão abdominal entre

outras técnicas.

Terminologia[editar | editar código-fonte]

A palavra aborto tem sua origem etimológica no latim abortacus, derivado de

aboriri ("perecer"), composto de ab ("distanciamento", "a partir de") e oriri

("nascer").

Sociedade e cultura[editar | editar código-fonte]

Debate sobre o aborto[editar | editar código-fonte]

Situação jurídica do aborto ao redor do mundo:

Legalizado em todos os casos

Legalizado em caso de estupro, risco de vida, problemas de saúde, fatores

Page 15: Aborto

socioeconômicos ou má-formação do feto

Legalizado em caso de estupro, risco de vida, problemas de saúde ou má-

formação do feto

Legalizado em caso de estupro, risco de vida ou problemas de saúde

Legalizado em caso de risco de vida ou problemas de saúde

Proibido em todos os casos

Varia por região

Não há informação

Ver artigo principal: Debate sobre o aborto

Ver página anexa: Aborto por país

Consequências positivas[editar | editar código-fonte]

Em um estudo polêmico de Steven Levitt da Universidade de Chicago e John

Donohue da Universidade Yale associa a legalização do aborto com a baixa da

taxa de criminalidade na cidade de Nova Iorque e através dos Estados Unidos.

Tal estudo apresenta, com base em dados de diversas cidades norte-

americanas e com significância estatística, o possível efeito da redução dos

índices de criminalidade onde o aborto é legal. Ainda segundo os autores,

estudos no Canadá e na Austrália apontariam na mesma direção.

O recurso a abortos ilegais, segundo os defensores da legalização, aumentaria

a mortalidade maternal. Tanto a mortalidade quanto outros problemas de saúde

seriam evitados, segundo seus defensores, quando há acesso a métodos

seguros de aborto.

Segundo o Instituto Guttmacher, o aborto induzido ou interrupção voluntária da

gravidez tem um risco de morte para a mulher entre 0,2 a 1,2 em cada 100 mil

procedimentos com cobertura legal realizados em países desenvolvidos. Este

valor é mais de dez vezes inferior ao risco de morte da mulher no caso de

continuar a gravidez.

Pelo contrário em países em desenvolvimento em que o aborto é criminalizado

as taxas são centenas de vezes mais altas atingindo 330 mortes por cada 100

mil procedimentos.77 Para o Ministro da Saúde brasileiro, José Gomes

Temporão, defensor da legalização do aborto, a descriminalização do aborto

Page 16: Aborto

deveria ser tratada como problema de saúde pública.78

Consequências negativas[editar | editar código-fonte]

Como consequências negativas da legalização do aborto na sociedade,

apontam-se, entre outras: a banalização de sua prática, a disseminação da

eugenia, a submissão a interesses mercadológicos de grupos médicos e

empresas farmacológicas, a diminuição da população, o controle demográfico

internacional, a desvalorização generalizada da vida, o aumento de casos de

síndromes pós-aborto, e, indiretamente, o aumento do número de casos de

DSTs (doenças sexualmente transmissíveis).79 80 81

Legislação[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Legislação sobre o aborto

Dependendo do ordenamento jurídico vigente, o aborto do nascituro considera-

se uma conduta penalizada ou despenalizada, atendendo a circunstâncias

específicas.

As situações possíveis vão desde o aborto ser considerado um crime contra a

vida humana, até ao apoio estatal para a sua realização a pedido da grávida.

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Meios de comunicação[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Aborto nos meios de comunicação

Os assuntos relacionados com o aborto de gravidez ainda são um grande tabu

em boa parte do mundo, sobretudo em países de maioria religiosa. Os meios

de comunicação divulgam posicionamentos e opiniões variadas sobre a prática.

O assunto já foi tema de muitas músicas, filmes e documentários.

Recentemente Rebecca Gomperts provocou polêmica no Facebook, com a

publicação de um manual de aborto caseiro seguro.83 O Facebook retirou,

entretanto, a imagem que continha informações sobre como praticar o aborto

com segurança - recorrendo a um medicamento com efeito abortivo - em

países onde o aborto é ilegal.