Abridores de Letras de Pernambuco

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Abridores de Letras de Pernambuco, tipografia, letras, letreiramento, prévia do livro

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  • Abridores de letras de Pernambuco: um mapeamento da grfica popular

    2013 Ftima FinizolaSolange CoutinhoDamio Santana

    Editora Edgard Blcher Ltda.

    EditorEditor

    Projeto Grfico e DiagramaoBook Design

    RevisoText Revision

    TraduoTranslation

    Tratamento de ImagemImage Processing

    Corisco Design

    Edgard Blucher

    Consultexto

    Brian Honeyball

    Robson Lemos

    CoordenaoCoordinator

    Produo ExecutivaExecutive Producer

    Pesquisa de CampoField Research

    Anlise e Texto finalAnalysis and final text

    FotografiaPhotography

    Projeto | ProjectAbridores de Letras de Pernambuco um Mapeamento da Grfica Popular, Funcultura 20102011

    Sandro Lins

    Ftima Finizola

    Ftima FinizolaDamio Santana

    Ftima FinizolaSolange Coutinho

    Damio Santana

    4 Minrio de ferro, geologia e geometalurgia

    Todos os direitos reservados a Editora Edgard Blcher Ltda.

    ndice para catlogo sistemtico:1. Design: Artes 745.4

    proibida a reproduo total ou parcial por quaisquer meios, sem autorizao escrita da Editora

    Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4 andar04531-012 - So Paulo - SP - BrasilTel 55 11 [email protected]

    Segundo Novo Acordo Ortogrfico, conforme 5. ed. do Vocabulrio Ortogrfico da Lngua Portuguesa,Academia Brasileira de Letras, maro de 2009.

    Finizola, Ftima Abridores de letras de Pernambuco: um mapeamento dagrfica popular / Ftima Finizola, Solange Coutinho, DamioSantana. - So Paulo: Blucher, 2013.

    ISBN 978-85-212-0798-6

    1. I. Ttulo II. Coutinho, Solange III. Santana, Damio

    13-0819 CDD 745.4

    Abridores de letras de Pernambuco: um mapeamento da grfica popular

    2013 Ftima Finizola

    Solange CoutinhoDamio Santana

    Editora Edgard Blcher Ltda.

    FICHA CATALOGRFICA

  • Dedicatria /Agradecimentos

    We would like to express our gratitude to all those who collabo-rated with this research project, and especially to the craftsmen

    who have enhanced this work with their stories: Larcio, Carioca, Ely, Carlinhos, Marcos, Freq, Carlos, Java, Sebastio, Moiss,

    Genivaldo and Z Moura.

    Also to Funcultura Cultural Investment Fund for the State of Pernambuco, for providing us with the opportunity of presenting

    the results of our investigation to the general public.

    And to our families, for their encouragement.

    Agradecemos a todos aqueles que colaboraram para a realizao deste projeto de pesquisa e, em especial, aos

    artfices que enriqueceram esta obra com suas histrias: Larcio, Carioca, Ely, Carlinhos, Marcos, Freq, Carlos, Java,

    Sebastio, Moiss, Genivaldo e Z Moura.

    Ao Fundo de Incentivo Cultura do Estado de Pernambuco Funcultura, pela oportunidade de apresentar ao pblico o

    resultado desta investigao.

    s famlias pela fora e apoio incondicional.

    Dedications/acknowledgements

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    Prefcio | Lia Monica Rossi

    Apresentao, 11 Uma jornada tipogrfica do litoral ao serto pernambucano

    Introduo, 15 A grfica e o letreiramento popular de Pernambuco

    1.1 Uma breve reflexo acerca da produo informal de design e a grfica popular, 161.2 Os letreiramentos populares e sua insero nas paisagens urbanas, 191.3 O ofcio do pintor de letras um pouco de histria, 24

    Abridores de Letras, 29 Mapeando a grfica popular de Pernambuco

    2.1 Recife, 342.2 Gravat, 462.3 Caruaru, 542.4 Arcoverde, 662.5 Salgueiro, 762.6 Petrolina, 84

    Um Olhar Tipogrfico, 97Descobrindo padres visuais

    Aspectos Tcnicos, 105Materiais e modos de fazer

    4.1 Conhecendo os materiais de trabalho, 1064.2 Entendendo o mtodo geral de trabalho, 1104.3 Exemplificando alguns processos, 112

    Consideraes Finais, 117O fim da jornada ou apenas o comeo

    English Version, 121Referncias, 142

    Contedo

    CAPTULO 1

    CAPTULO 2

    CAPTULO 3

    CAPTULO 4

    CAPTULO 5

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    Prefcio Desde sua criao, em 1972, o Curso de Design da UFPE, particularmente a rea de Programao Visual, nas aes de ensino, pesquisa e extenso, se caracteriza por um olhar sobre os aspectos culturais regionais, ao con-trrio de congneres nacionais mais voltados para uma nfase europeizan-te no enfoque do design. Os cursos de ps-graduao l criados mais recen-temente reforam essa preocupao com valores sociais incorporando saberes e tecnologias recentes, suas interrelaes com a cultura material e sua preservao, dando sentido prprio historia do design. Na inspi-rao dessa coisa regional, portan-to brasileirssima, nos arriscamos a colocar num grande balaio pensadores como Camara Cascudo, Celso Furtado, Josu de Castro, Gilberto Freyre, Ariano Suassuna, Glauber Rocha, entre ou-tros, e cada um sua maneira nica. E, acrescentando melodia ao texto e teoria, vemos tambm nessa mistura

    mestres como Tom Z, Raul Seixas, Z Ramalho, Sivuca, Hermeto, Chico Science, velhos e novos maracatus e tanto mais. Colagens de feira de sba-do com zabumba, sanfona, tringulo sobre trovadores medievais de cordel hodierno. Nordeste.

    Na narrativa fotogrfica empreendi-da on the road por Ftima, Solange e Damio, vemos um corte sincrnico que vai da escrita quase infantil para a tecnologia de arquivos digitais, pas-sando pela materialidade do molde vazado, lbuns de recortes, amostras, referncias visuais em cadernos/bi-bliotecas, pincis, rolinhos, compressor para aerografia, etc. Seja em transies ou em cortes, seja em tcnicas ou estilos, esteticamente vale quase tudo para agradar o cliente e conquistar um consumidor.

    Entre uma cidade e outra, encontramos a sinalizao rodoviria oficial e sua

    Preface

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    sintaxe grfica mais rigorosa, feita pelo design oficial para facilitar a viagem. J na entrada da cidade, surgem as placas dos abridores de letras, para tempe-rar a jornada. Nesse design popular, atravs de pouco ou nenhum respeito pela entrelinha e pelas margens, a hie-rarquia de espaos, dimenses e cores so ditadas unicamente pelo preten-dido impacto comunicativo. cones de produtos, marcas, caracteres, setas se arremessam em nossa direo numa desordem grfica que grita por nossa ateno com humor.

    E, num gostoso lance metalingustico, a tipografia de ttulos e abertura de captulos do livro incorporam em corru-tela o estilo dos abridores, desenhando vetorialmente o contorno para depois fingir-se de letra cheia feita de uma simples pincelada...

    Em seu brilhante Alvenaria Burguesa, o mestre Carlos Lemos nos fala da

    arquitetura sem arquitetos, cujos exemplos, comoventes ou no devem ser estudados em profundidade e at preservados porque so legtimos seg-mentos de nosso Patrimnio Cultural. Tais exemplares representam esforos populares que aliam dificuldades materiais dignidade consciente da imprescindibilidade da inteno artsti-ca. As obras dos grandes artistas, con-tinua Lemos, justamente por serem excepcionais, no so representativas de nossa sociedade. Julgamos perfeito o paralelo dessa citao com a obra e vida de nossos letristas, plenas de dificuldades materiais, mas cheias da imprescindvel inteno artstica.

    Vende-se letras, anuncia a placa. "Amadoras, quadradas, serifadas, cursivas, gordas, grotescas, caligrficas, fantasia, expressivas, na classificao da pesquisadora Ftima; e tambm boleadas, soltas, de frma, em bas-to reto, gticas, itlicas, romanas, na

    classificao dos artistas. Como acon-tece na arquitetura, os classicismos tipogrficos foram se sertanejando. Nas verses mais ingnuas, expe-se imodesta a composio sem planeja-mento, sem previso de espao, que permite abreviaes em solues ines-peradas. Nessas ruas onde apregam--se botes, tambm temo solda, h um(a) Bar-racharia, o abatedor o Doutor Galinha, e o rei do carbura-dor est 24 horas no ar (um alvio!). Afinal, como afirma o letrista Carlos, o ofcio de pintor ter uma vida longa, pois esse trabalho reflete a necessida-de de urgncia que as pessoas tm em resolver problemas de comunicao. Mas devemos acrescentar: nessas ruas e neste livro, a urgncia deixou lugar para o importante.

    Que bom para todos ns!

    Lia Monica RossiSetembro 2013

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    O livro Abridores de Letras de Pernambu-co um mapeamento da grfica popular resultado de uma extensa pesquisa visual por vrias cidades e regies do Estado de Pernambuco ao longo de mais de 5 anos. Os primeiros registros na cidade do Recife foram realizados no mestrado em Design da Universida-de Federal de Pernambuco, entre 2008 e 2010. Em 2011, o projeto foi contem-plado pelo edital do Fundo de Incentivo Cultura do Estado de Pernambuco Funcultura, e, por meio deste, conse-guiu estender a pesquisa a outras cida-des do interior do Estado.

    Dessa forma, este estudo d continui-dade ao projeto de mestrado concludo em janeiro de 2010, intitulado Panorama Tipogrfico dos Letreiramentos Populares um estudo de caso na cidade do Recife, desenvolvido dentro do Programa de Ps-Graduao em Design da UFPE, e tambm se configura como parte com-

    plementar da tese de doutorado, sob o mesmo tema, em desenvolvimento no mesmo programa de ps-graduao desde maro de 2010, pela designer e pesquisadora Ftima Finizola, sob a orientao da professora Solange Gal-vo Coutinho e com a colaborao do designer e fotgrafo Damio Santana. Ambos os projetos so parte integrante da pesquisa interinstitucional (Procad/Capes) Memria Grfica Brasileira: estu-dos comparativos de manifestaes gr-ficas nas cidades do Recife, Rio de Janeiro e So Paulo, que envolve pesquisadores da PUC-Rio, UFPE e Senac-SP.

    A linguagem grfica popular e vernacu-lar so um tema instigante e desafia-dor para o desenvolvimento de pesqui-sas culturais. Alguns outros pases j registraram, por meio de livros e cat-logos, parte da riqueza desse universo. Aqui no Brasil, algumas obras tambm j foram produzidas abrangendo o

    APRESENTAO

    Alosio Magalhes

    O ARTESO BRASILEIRO BASICAMENTE UM

    DESIGNER EM POTENCIAL

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    tema. Algumas enfatizam os aspectos relacionados construo gramatical dos textos e ao seu contedo, outras abordam seus aspectos grficos; no entanto, o assunto ainda tem muito a ser explorado.

    O objetivo principal do projeto de pes-quisa desenvolvido, descrito neste livro, foi realizar um mapeamento e anlise da produo de letreiramentos popula-res e da profisso do pintor letrista em Pernambuco, por meio do estudo com-parativo entre as paisagens urbanas das cidades do Recife, de Gravat, Ca-

    ruaru, Arcoverde, Salgueiro e Petrolina.Assim, buscamos investigar as similari-dades e diferenas da linguagem visual dos letreiramentos populares dessas cidades, em busca de traar um perfil da configurao visual e do processo pro-dutivo desses artefatos no Estado, sob o olhar do design, com nfase nos as-pectos tipogrficos.

    Dessa forma, foi possvel constituir um acervo com mais de 1.000 imagens de letreiramentos populares coletadas nessas regies, que podero ser utiliza-das tambm para outras pesquisas.

    Neste livro, procuramos nos aprofun-dar na investigao da linguagem vi-sual desses artefatos uso de cores, tipografias e suportes , bem como no processo de confeco desses objetos por seus artfices, procurando revelar as inspiraes e influncias que norteiam o trabalho dos pintores letristas e suas ferramentas e tcnicas.

    Suas pginas ilustram, com riqueza de imagens, os principais resultados dessa jornada, despertando o olhar do leitor para o rico universo do letreiramento popular comercial, que muitas vezes

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    passa despercebido diante da vida fu-gaz das grandes cidades.

    Para compreender a estrutura deste livro, o captulo 1 introduz o leitor ao nosso campo de pesquisa o design vernacular , bem como ao nosso ob-jeto especfico de estudo os letreira-mentos populares. Apresentamos, no captulo 2, um painel visual composto pelos inmeros registros fotogrficos dos letreiramentos e pintores letristas realizados durante o estudo de cam-po, organizados de acordo com cada cidade visitada, bem como pequenas

    biografias dos artfices entrevistados nesses centros urbanos. No captulo 3, fizemos uma anlise, sob o ponto de vista da tipografia, das peculiaridades e similaridades entre os letreiramentos das diversas cidades visitadas, em bus-ca de delinear um panorama tipogrfi-co desses artefatos no Estado de Per-nambuco. O captulo 4 procura resumir de forma sucinta os principais instru-mentos e tcnicas utilizados pelos pin-tores letristas entrevistados de acordo com o tipo ou gnero do suporte a ser pintado. Por fim, o captulo 5 apresenta as consideraes finais sobre o tema

    estudado, bem como reflexes sobre o futuro do ofcio do pintor letrista.

    Para garantir uma maior visibilidade da pesquisa, todo o contedo do livro tam-bm pode ser consultado em ingls ao final da publicao.

    Esperamos, assim, oferecer ao leitor uma experincia verbo-visual dessa jornada tipogrfica do litoral ao serto pernambucano.

    Ftima Finizola, Solange Coutinho & Damio Santana

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    Captulo 1

    INTRODUO

    Lina Bo Bardi

    O rico universo popular brasileiro pas-sa por um processo de deslocamento, adaptao e traduo para os meios digitais. Ofcios antes desenvolvidos por processos exclusivamente manuais aos poucos necessitaram incorporar tcni-cas e ferramentas digitais para mante-rem-se vivos e concorrerem com a pro-duo de artefatos em larga escala. Foi assim que aconteceu com a indstria da comunicao visual brasileira. Com a introduo das novas tecnologias digi-tais, a maioria das antigas "oficinas de pintura" ou casas de "faixas e placas" desapareceram ou cederam espao para empresas de sinalizao e birs de impresso, que incorporaram ao seu maquinrio routers, plotters de recorte de vinil ou de impresso digital.

    Nesse processo de transio, alguns artfices e mestres no fazer manual de placas e letreiramentos perderam seu lugar no mercado e foram obrigados a migrar para outras profisses para ga-

    rantir seu sustento; outros se adapta-ram s novas tecnologias; no entanto, muitos ainda resistem e continuam at hoje desenvolvendo seus artefatos de forma manual.

    O trabalho de resgate do ofcio dos pintores de letras em Pernambuco que aqui denominamos abridores de letras1 busca contribuir para o for-talecimento da Memria Grfica Per-nambucana, principalmente daquelas manifestaes informais de design passveis de extino como a grfi-ca popular , com o intuito de tornar--se uma fonte de referncia para o de-senvolvimento de novos projetos que incluam, em sua essncia, elementos da cultura local.

    Ao mesmo tempo, o projeto tambm busca revalorizar um ofcio que se en-contra marginalizado no mercado, para quem sabe reintroduzi-lo na cadeia pro-dutiva local.

    A CONTNUA PRESENA DO TIL E NECESSRIO

    qUE CONSTITUEM O vALOR DESTA PRODUO, SUA POTICA

    DAS COISAS hUMANAS NO-GRATUITAS, NO CRIADAS

    PARA MERA fANTASIA.

    1 | O termo abridores de letras deriva da expresso abrir letras, utilizada

    pelos pintores para descrever a ao de desenhar o letreiro sobre

    o suporte escolhido.

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    Para realizar o mapeamento e a anlise da produo de letreiramentos popula-res e da profisso do pintor letrista em Pernambuco, foi desenvolvido um es-tudo comparativo entre as paisagens urbanas das cidades do Recife, de Gra-vat, Caruaru, Arcoverde, Salgueiro e Pe-trolina, com a finalidade de investigar as similaridades e diferenas da linguagem visual dos letreiramentos populares da regio metropolitana, ao agreste e ser-to pernambucano.

    Os mtodos utilizados para desenvolver esse levantamento envolveram pes-quisas de campo para a realizao de registros fotogrficos dos letreiramen-tos populares, bem como entrevistas e visitas ao local de trabalho dos artfices que desenvolvem esses artefatos. Essa extensa coleta de dados proporcionou a formao de um acervo de mais de 1.000 fotos e o registro do trabalho de 12 pintores letristas do Estado de Per-

    nambuco por meio de entrevistas se-miestruturadas. Para analisar as ima-gens dos letreiramentos sob o ponto de vista dos seus aspectos tipogrficos, foi utilizado como base o sistema de clas-sificao dos letreiramentos populares desenvolvido por Finizola5 (2010a) .

    As cidades escolhidas para esse levan-tamento pontuam toda a extenso do Estado de Pernambuco, do litoral ao serto, por meio da BR232 uma das rodovias mais importantes da regio, complementada pelo trecho que inter-liga as cidades de Salgueiro e Petrolina. Ao mesmo tempo, tambm represen-tam centros urbanos e comerciais de destaque que esto em pleno desenvol-vimento econmico em cada uma das suas respectivas regies.

    Nas ltimas dcadas, a cana-de-acar deixou de ser o principal produto prim-rio de Pernambuco. O Estado, recente-

    Captulo 2

    ABRIDORES DE LETRAS

    5 | Veja o sistema de classificao completo nas pginas 100 e 101.

    Tibor Kalman

    ENXERGAR O vERNACULAR ENXERGAR O INvISvEL.

    OLhAR PARA ALGO COMUM E SE APAIXONAR.

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    mente, observa uma relevante mudana na sua economia, com grandes inves-timentos nos setores secundrios, em especial o petroqumico, biotecnolgi-co, farmacutico e automotivo, aliada crescente importncia do setor tercirio, do turismo e de empreendimentos dos setores: alimentcio, qumico, txtil, de materiais eltricos, comunicao e me-talurgia, dentre outros. Destaca-se tam-bm a produo e exportao de frutas ao longo do So Francisco, alm de ou-tros polos dinmicos de desenvolvimen-to, como o gesseiro no Araripe, a pecu-ria leiteira e o polo txtil do Agreste, a cana-de-acar e a biomassa na Zona da Mata e o polo de informtica, indus-trial e de servios na Regio Metropoli-tana do Recife.

    As cidades mapeadas em nosso es-tudo, alm de pertencerem rota da BR232, encontram-se entre as 30 (de um total de 185) cidades mais populo-sas do Estado e representam quatro das cinco Mesorregies de Pernambuco: a Regio Metropolitana do Recife; o Agres-te Pernambucano; o Serto Pernambu-cano; o So Francisco Pernambucano; e a Zona da Mata, a nica no contempla-da, por estar muito prxima regio me-tropolitana e por ter apenas um pequeno trecho margeando BR232.

    Iniciamos pela regio metropolitana, onde visitamos a cidade do Recife. De-pois seguimos para o Agreste, onde per-corremos as cidades de Gravat e Carua-ru. Continuamos a adentrar o interior do Estado e visitamos as cidades de Arco-verde e Salgueiro, em pleno Serto per-nambucano, para finalmente alcanar a

    cidade de Petrolina, localizada no Vale do Rio So Francisco (Figura 9).

    interessante observar as transies e contrastes entre a paisagem, o bioma e topografia do Estado de Pernambuco e, ao mesmo tempo, tentar compreender como as particularidades de cada local os hbitos, costumes, tradies, etc. podem deixar marcas na paisagem tipogrfica de cada cidade.

    Cada centro visitado carrega consigo idiossincrasias que refletem os aspec-tos histricos, geogrficos e culturais que permearam o processo de formao de cada cidade, de seu tecido urbano e de suas paisagens arquitetnicas. Nes-se contexto, elementos de comunicao tambm se caracterizam como parte dessas paisagens urbanas por estarem integrados s edificaes ou se encon-trarem em locais pblicos. Entre eles, figuram fachadas de estabelecimentos

    comerciais, placas e murais, vitrines, carrocinhas de ambulantes, cartazes, entre outros gneros.

    De forma geral, todas as paisagens urbanas visitadas apresentaram cla-ramente o contraste entre fachadas e placas confeccionadas por processos manuais e aquelas desenvolvidas por meio de plotters de impresso digital ou recorte. As placas impressas por processos digitais geralmente tomam espao predominantemente nas vias principais de cada centro urbano. En-quanto que aquelas produzidas por pro-cessos manuais so encontradas com mais facilidade em vias secundrias ou reas mais populares.

    A presena de elementos de comuni-cao visual em cada cidade, indepen-dentemente da tcnica utilizada para sua confeco, est intrinsecamente ligada aos servios e atividades comer-ciais prestados nas reas visitadas, haja vista que a grande maioria dos letrei-ramentos porta-voz de mensagens de cunho comercial ou publicitrio, em detrimento daquelas com contedo po-ltico ou religioso. Entre as atividades que mais empregam letreiramentos populares como elemento de publici-dade em sua fachada, destacam-se pe-quenos estabelecimentos ou negcios informais, como borracharias, oficinas mecnicas, eletricistas, cabeleireiros, manicures, bares e restaurantes, entre outros. Por outro lado, um amplo espec-tro de atividades se utiliza dos murais publicitrios desenvolvidos por pintores letristas, entre elas estabelecimentos comerciais de mdio porte, cursos e

    PARA REALIZAR O MAPEAMENTO E A ANLISE DA PROfISSO DO PINTOR

    LETRISTA EM PERNAMBUCO, fOI DESENvOLvIDO UM

    ESTUDO COMPARATIvO ENTRE AS PAISAGENS URBANAS

    DAS CIDADES DO RECIfE, DE GRAvAT, CARUARU, ARCOvERDE,

    SALGUEIRO E PETROLINA.

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    DISTNCIA DA CAPITAL

    Gravat

    Caruaru

    Arcoverde

    Salgueiro

    Petrolina

    85 Km

    Distance from Recife(aprox.)

    137 Km256 Km518 Km722 Km

    Figura 9 Cidades onde foi realizado o levantamento dos abridores de letras de PernambucoCities visited during the research project for sign painters in Pernambuco

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    A cidade de Caruaru est localizada a 130 km da capital na mesor-regio do Agreste do Estado de Pernambuco e microrregio do Vale do Ipojuca. a cidade mais populosa do interior, tendncia que deve per-durar devido instalao de grandes empresas na rea, recente dupli-cao da BR232, que tem facilitado o acesso cidade, bem como reforma do seu aeroporto e consolidao do polo universitrio na regio. Entre as atividades econmicas mais expres-sivas do local, esto o comrcio com destaque para as feiras livres e lojas de confeco , o turismo e a produo de artesanato, que consa-grou o ttulo de Maior Centro de Artes Figurativas da Amrica Latina cidade, pela Unesco.

    Na paisagem visual da cidade, nota--se a disseminao dos letreiros

    produzidos por processos digitais nas vias principais voltadas para o comrcio, competindo com os letreiramentos manuais, que se encontram em quantidade mais reduzida nessa regio.

    A cultura tipogrfica da cidade tambm marcada pela tradio da pintura de lameiras para caminhes e veculos de menor porte. Alm de empresas que confeccionam car-rocerias na prpria cidade, comum encontrar profissionais que prestam esses servios nas imediaes de centros comerciais e regies mais populares. Assim, identificamos os pintores Wilson que confecciona "lameires" e Marcos que faz lameiras para veculos de menor porte, como vans, caminhonetes e jipes alm do estabelecimento Casa das Lameiras.

    A C

    IDA

    DE

    The

    City

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    Letreiramentos | CaruaruLettering | Caruaru

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    Marcos trabalha h 32 anos como pintor e especialista na pintura de lameiras placas emborrachadas fixadas s car-rocerias dos caminhes para adornar ou proteger o veculo da lama. Faz ponto h anos na mesma esquina, situada numa regio comercial denominada Guara-rapes, no bairro de Nossa Senhora das Dores, no Centro de Caruaru.

    Iniciou a sua trajetria como aprendiz do pintor Freq, outro letrista da rea, e aos poucos se especializou na pintura de lameiras para caminhonetes e vecu-los menores.

    Sua banca de madeira, com aproxima-damente 1 m de altura, apresenta a inscrio "pintor" e chama ateno pelo colorido e personalidade (p.60). Lameiras

    so expostas por toda parte na parede ou em cima do mvel. H dois modelos predominantes de lameiras, aquelas na cor preta, apenas com a reproduo da marca do veculo em branco, e outras extremamente coloridas, com pinturas de paisagens e inscries de texto, ge-ralmente frases de cunho religioso com pedidos de proteo ao veculo: "S Je-sus Salva", "Proteo Divina", "Jesus ama voc", etc (p.61).

    Dentro da banca, alm das lameiras, tambm encontramos a maleta de ferramentas do artfice, tambm com a inscrio "pintor" grafada. Marcos prefere pintar as peas na sua prpria casa e usa seu ponto comercial ape-nas para vend-las ou retoc-las. As principais ferramentas de trabalho so pincis [chatos] de pelo de camelo e a tinta sinttica. A base das lameiras cortada num material de borracha de-nominado "Neolite".

    As lameiras simples, onde figura ape-nas a marca do veculo, geralmente so feitas a partir de uma tela de serigrafia, "para dar melhor acabamento". As la-meiras ilustradas, por outro lado, so pintadas exclusivamente mo. Estas se compem por uma moldura, uma ilustrao na metade superior e uma frase na parte inferior da pea. Como so vendidas aos pares, geralmente a frase dividida entre as duas lameiras que compem o jogo (p. 61).

    O processo de confeco segue as se-guintes etapas: pintura da base branca, pintura dos motivos coloridos e fundos degrad, finalizao das letras com tin-ta preta. Marcos nos conta que, no in-cio de sua carreira, fazia esboos a lpis antes de pintar, mas que hoje em dia faz tudo "de cabea".

    interessante observar que a maioria das lameiras possuem mensagens es-critas num estilo tipogrfico chamado de degrad pelo pintor, que elaborado em duas etapas: a primeira consiste em pintar a base com um degrad, e a segunda em finalizar a letra de forma vazada com tinta preta sobre o campo degrad, deixando transparecer a pin-tura do fundo. A letra tem aspecto ex-trabold, sua base um retngulo com hastes retas e cantos cortados em 45, que vai sendo trabalhado at dar forma a cada caractere. O mesmo estilo tam-bm pode ser encontrado facilmente em diversos letreiramentos inscritos nos para-choques traseiros de cami-nhes da regio para reproduzir a placa do veculo ou frases temticas.

    O pintor, que vive exclusivamente des-se ofcio, observa que ultimamente as vendas tm cado bastante, pois acre-dita que os motoristas esto usando menos as lameiras devido moderni-zao dos carros do mercado. Aos pou-cos, as lameiras tendem a se transfor-mar em objetos do passado.

    AS LAMEIRASDE MARCOS

    Caruaru

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    // PREfACE

    Since its creation in 1972, the Design Course at UFPE, particularly the Graphic Design area, with its teaching, research and extended ac-tions, has been characterized by its examina-tion of the local culture, quite unlike most of its national counterparts which have tended to give emphasis to an European focus within the area of design. Recent postgradu-ate courses created at this same institution have continued to reinforce this concern with social values, as well as incorporating con-temporary knowledge and technologies, their interrelationships with the 'material culture' and its preservation. This is the manner in which they attribute their own very particular meaning to the history of design. Inspired by this 'regional thing', so very very Brazilian, we could even risk including in the same basket, thinkers such as Camara Cascudo, Celso Fur-tado, Josu de Castro, Gilberto Freyre, Ariano Suassuna, Glauber Rocha, among others, each with their own unique manner. In order to add melody to this text and theory, we may also behold within this mixture, musical masters like Tom Z, Raul Seixas, Z Ramal-ho, Sivuca, Hermeto, Chico Science, traditional and new maracatus and much, much more. Collages including local Saturday markets, bass drums, accordion and triangle entwined with medieval troubadours within the pages of a piece of modern cordel literature. That is the Brazilian Northeast.

    In the on the road photographic narrative by Ftima, Solange and Damio we observe

    a synchronic cross-section that ranges from graphic examples of almost childlike writing to the technology of digital files, and through to the materiality of stencils, scrapbooks, samples, visual references in books/libraries, brushes, rollers, airbrush compressors, etc. Whether as transitional styles or pushing new directions on painting techniques, it is aesthetically worth to do almost everything in order to please the customer and gain a client.

    Between one city and another we encounter the official road signs and their stringent graphical syntax, produced by official design methods. Arriving at the entrance to a city, hand-painted signs begin to emerge, sea-soning the journey. This form of vernacular design, with little or no respect for spacing and margins, spatial hierarchy or dimensions and colours is dictated solely by the intended communicative impact. Icons of products, brands, characters and arrows hurl them-selves towards us in a graphic 'disarray' that humorously screams for our attention.

    And in a delicious metalinguistic bid, the typography of titles and opening chapters of this book incorporates linguistic corrup-tions of the sign painters style, vectorially drawing the outline and then feigning to be a filled in letter completed in one simple brush stroke ...

    In his brilliant Alvenaria Burguesa (Bourgeois Masonry; 1989, Ed Nobel, pag 191), Carlos Lemos speaks of "architecture without archi-tects", whose examples, whether "poignant or not," need to be studied in depth and even preserved "because they are legitimate seg-ments of our Cultural Heritage". These exam-ples represent "grassroots efforts" that align "material hardships" to the conscious dignity "of impressive artistic intent.". The works of the great artists, continues Lemos, "precisely because they are exceptional, they are not representative of our society." It is our belief that this quote sits perfectly alongside the work and life of our sign painters, full of "material hardship" but also of impressive "artistic intent".

    SIGN PAINTERS OfPERNAMBUCOMapping out the vernacular graphics

    The sign says "Letters for sale"... "Amateur, squared, serif, cursive, rounded, grotesque, calligraphic, fantasy, expressive", in the clas-sification of the researcher Fatima, as well as rounded, loose, block, straight, Gothic, Italic, Roman, in the classification of artists. As in architecture, the typographical classicisms have become "countrified". In the most ingenuous versions, unplanned composi-tions with little spacing planning are exposed shamelessly, with little space planning, which results on certain abbreviations and unexpected typographic solutions. On these streets where "buttons is sewn" and "we has welding", there is a "Rubberised Bar", where the "slaughterer" is "Doctor Chicken", and the "King of the carburettors" is "on the air for 24 hours" (what a relief!).

    After all, as the sign painter Carlos states, the craft of sign painting still has a long life ahead, because the work reflects the press-ing need people have to solve communica-tional problems. But we should add that along these streets and within this book the call for urgency has given place to graphic artefacts of cultural importance.This is good for all of us!

    Lia Monica RossiAugust 2013

    // PRESENTATION

    A typographic journey from the coast to the hinterlands

    Basically, the Brazilian artisan is much more a potential designer, than an artisan in the classical sense. Alosio Magalhes

    Sign Painters of Pernambuco mapping out the vernacular graphics is the result of an extensive visual research across various cities and regions throughout the state of Pernambuco over a period of 5 years. The first visual registers, in the city of Recife, were recorded for the Design masters degree course at the Universidade Federal

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    BARUGEL, E. RUBI, N. 2004. El Filete Por-teo. Buenos Aires: Maizal Ediciones.

    CARDOSO, Rafael. (2008). Uma introduo a histria do design. So Paulo, Blucher.

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    CARDOSO, Fernanda Abreu. (2003). Design Grfico Vernacular: a arte dos letristas. Dis-sertao (Mestrado em Design) - Ponti-fcia Universidade Catlica, PUC-RIo, Rio de Janeiro.

    FARIAS, Priscila L. (2010). "Prefcio" in FINIZOLA, Ftima. Tipografia Vernacular Urbana: uma anlise dos letreiramentos populares. So Paulo: Ed. Blucher.

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    WALKER, Sue. (2001). Typography and Language in everyday life: prescription and practice. Harlow, England: Longman/Pear-son education.

    REfERNCIASReferences

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    SOBRE OS AUTORESAbout the authors

    Designer, PhD pela University of Reading, Inglaterra; Pesquisadora PQ 2 - CNPq; Professora do Departamento de Design da UFPE (Graduao e Ps-graduao); Coordenadora da Equipe Associada 1 - PROCAD/CAPES.

    Designer, PhD from the University of Reading, UK; A researcher PQ 2 - CNPq; Professor at the Department of Design at UFPE (Graduation and Post-graduation); Coordinator of the Equipe As-sociada 1 - PROCAD/CAPES.

    Especialista em design da Informao pela UFPE. Scio da Corisco Design e fundador do projeto colaborativo Crimes Tipogrficos. Designer por formao e fotgrafo por vocao.

    Specialised in information design at UFPE. An associate partner of Corisco Design and was responsible for founding the collaborative project entitled Crimes Tipogrficos. A designer by gradu-ation and a photographer by vocation.

    Designer grfica e pesquisadora na rea de design vernacular e tipografia. Dou-toranda em Design pela UFPE e scia da Corisco Design, onde tambm desenvolve o projeto colaborativo Crimes Tipogrfi-cos. Autora do livro Tipografia Vernacular Urbana (Blucher). Integrou a diretoria da ADG Brasil entre 2009-2013.

    Graphic designer and researcher in the field of vernacular design and typography. She is currently undergoing a Doctorate in Design at UFPE and is an associate partner of Corisco Design, where she also develops the collaborative project entitled Crimes Tipogrficos. Author of Tipografia Vernacular Urbana (Blucher). She was part of the directorship at ADG Brasil during the period 2009-2013.

    SOLANGE COUTINhO DAMIO SANTANAfTIMA fINIZOLA

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    Este livro resultado do projeto Abridores de Letras de Pernambuco um mapeamento da grfica popular, contemplado pelo edital do

    Fundo Pernambucano de Incentivo cultura 2010-2011. O projeto grfico foi elaborado pela Corisco Design utilizando as fontes Cartaz Popular , Din e Titillium. A impresso offset foi

    realizada pela Grfica Santa Marta em papel couch fosco 150g/m2 .A tiragem de 1.000 exemplares.

    This book is a result of the project Sign Painters of Pernambuco mapping out the vernacular graphics, included in the edict of Fundo Pernambucano

    de Incentivo cultura 2010-2011. The layout was created by Corisco Design using Cartaz Popular, Din and Titillium fonts. The offset printing

    was by Grfica Santa Marta with couche matt 150g/m2 paper.1.000 copies were printed.

    Saiba mais sobre o projeto:

    www.DESIGNvERNACULAR.COM.BR/ABRIDORESDELETRAS

    COLEO GRfICA POPULAR BRASILEIRA

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