ABRIL 2012 R E V 1ST A PRO F I S S I ON A L D E A GRO N E ... · para além de constituírem, em...
-
Upload
vuongtuong -
Category
Documents
-
view
213 -
download
0
Transcript of ABRIL 2012 R E V 1ST A PRO F I S S I ON A L D E A GRO N E ... · para além de constituírem, em...
MENSAL . N" 1776 ANO 59 ABRIL 2012 3,60!: (CONT1l<EHff)
R E V 1ST A PRO F I S S I ON A L D E A GRO N E G Ó e lOS www.vida rural .pt
I~ MASSÓ DIVISION AGRO
CASO INTERNACIONAL
As ra~as autóctones das Canárias: um. exem.plo de preserva~ao dos recursos genéticos insulares A cria~ao de gado baseada nas ra~as autóctones Canárias tem constituído tradicionalmente urna produ~o de incalculável riqueza, sob diversos pontos de vista, tanto económicos como sociais e ambientais, sem esquecer que estas ra~as constituem urna reserva genética fundamental, que é necessário preservar.
o arquipélago canário encontra-se situado no Oceano Atlantico, ao largo da costa Noroeste de África, de que dista, aproximadamente, 100 km. Este arquipélago é composto por 7 ilhas (Gran Canária, Fuerteventura, Lanzarote, Tenerife, La Palma, La Gomera e El Hierro) que constituem urna das 17 comunidades autónomas existentes em Espanha, sendo a superfície do arquipélago canário de 7447 km>, 50% dos quais constituem área protegida, para preservac;áo da sua riqueza natural. Este facto junto com o abandono do sector primário, por outros mais rentáveis como o turismo, fizeram com que restem cada vez menos criadores dispostos a manter a criac;áo de rac;as de animais domésticos autóctones daquelas ilhas. No entanto, é de destacar que as ilhas Canárias sáo das regi6es mais ricas de Espanha em recursos genéticos autóctones, contando-se um total de urna rac;a suína, duas rac;as bovinas, tres ovinas e tres caprinas, sendo que duma delas
nln --llH11l1O LA~IIA 'UIITt''':IMlUIA
~
Figura 1- Carta Pluviométrica das IIhas Canárias. Note-se a extrema disparidade entre ilhas Orientais (Fuerteventura e Lanzarote) com escassa pluviosidade e as ilhas Ocidentais como La Palma e o Norte de Tenerife com preci p ita~oes muito mais abundantes
(Tinerfeña) está divida em dois ecótipos muito distintos e mesmo urna rac;a de dromedário. Para esta extraordinária diversidade, contribui o facto das sete ilhas terem, cada qua!, regimes pluviométricos muito diferenciados (ver figura 1), caracterizando-se frequentemente pela existencia de microclimas dentro da mesma ilha. Este art igo tem como objectivo dar a conhecer a extraordinária variedade de rac;as Canárias de animais domésticos. Procurar-se-á caracterizar cada urna delas de forma breve e introdu
tória, ilustrando-se como a preservac;áo destas rac;as constitui um excelente exemplo de preservac;áo de rac;as autóctones em regi6es insulares e ultra-periféricas da Uniáo Europeia.
A necessidade de rnanter as ra~as locais das Canárias Existe, presentemente, urna procura crescente de urna grande variedade de produtos, que desde as suas origens foram obtidas pelo homem, com o objectivo da sua subsistencia. Quando associado a um processo de globalizac;áo, levou as populac;6es a criac;áo e explorac;áo, de rac;as exóticas mais produtivas ou rentáveis, dando lugar ao cruzamento de rac;as com um extraordinário vigor híbrido. No entanto, este tipo de animais, seleccionados para urna alta produC;áo, apresenta um concomitante incremento da sua taxa metabólica, que influi de forma negativa no seu próprio bem-estar, tornando-se adicionalmente mais susceptíveis a sofrer de doenc;as infecciosas e de desequilíbrios reprodutívos. O melhor exemplo do atrás refer ido será por exemplo as vacas leiteiras da rac;a Frísia, com urna capacidade de produc;áo leiteira muito superior as necessidades do bezerro, as quais náo seriam capazes de sobreviver em condic;6es naturais. Esta evoluc;áo levou a necessidade de legislar sobre a obrigac;áo de conservar os recursos genéticos das rac;as autóctones, seguindo-se as recomendac;6es da Food and Agriculture Organization das Nac;6es Unidas e do United Nations Enviroment Programme, já que a perderem-se, náo seria possível transmitir os aspectos positivos que estas rac;as possuem de forma inata as futuras gerac;6es de animais, sendo disto um claro exemplo a maior resistencia as parasitoses que certas rac;as de vacas africanas possuem, em comparac;áo com os exemplares da rac;a Frísia. Pelo anteriormente descrito, a criac;áo de gado baseada nas rac;as autóctones Canárias tem constituído tradicionalmente e constitui hoje em dia, urna produc;áo de incalculável riqueza,
Lorenzo Enrique Hernández-Castellano . Faculdade de Veterinária. Universidade de Las Palmas de Gran Canaria. Arucas, Gran Canaria, Canárias, Espanha
André Martinho de Almeida . IlCT - Instituto de Investiga\,iío Científica Tropical. Faculdade de Medicina Veterinária. UTL, Lisboa
sob diversos pontos de vista, tanto económicos como sociais e ambientais, sem esquecer que estas rac;as constituem urna reserva genética fundamental, que é necessário preservar, para além de constituírem, em muitas zonas, a base das produc;6es pelo seu grau de adaptac;áo a um meio de grande dureza, o que faz com que a manutenc;áo desta criac;áo de gado seja imprescindível para a conservac;áo de ecossistemas que, de outra forma, se degradariam irremediavelmente.
Urna introdu~ao as ra~as caprinas nas Canárias Calcula-se que foi por volta do ano 1000 AC que os primeiros povoadores chegaram as Ilhas Canárias, trazendo consigo caprinos, ovinos do tipo deslanado, porcos e cáes, tal como o demonstram os restos arqueológicos encontrados no arquipélago. No que respeita aos caprinos, a partir de urna única populac;áo inicial de animais sujeitos a acc;áo combinada do isolamento insular e da adaptac;áo as condic;6es ambientais de cada ilha (mais húmidas as ilhas ocidentais, mais áridas as ilhas orientais), levou-se a cabo urna separac;áo em diferentes subpopulac;6es, até a formac;ao das tres rac;as caprinas existentes no arquipélago canário: Majorera, Palmera e Tinerfeña. Exemplar de animais destas rac;as encontra-se ilustrado na figura 2 .
Ra<;a Majorera. Está presente em todo o arquipélago canário, ainda que a maior populac;ao se concentre nas ilhas de Gran Canária (no 0 0 0 animais) e Fuerteventura ÜI9 0 0 0
animais), convertendo-se assim na segunda ra~a espanhola com maior produC;áo de leite por lactac;áo, apenas superada pela rac;a Murciano-Granadina. A origem desta rac;a poderá ter sido o cruzamento entre as cabras existentes nas ilhas com as rac;as do sul de Portugal e Espanha e trazidas durante a conquista espanhola e as viagens de navegac;áo durante a época dos descobrimentos. Esta rac;a está adaptada as zonas áridas, sendo reconhecida
38 VIDA RURAL . abrilzOl2
CASO INTERNACIONAL
Figura 2 - Ra~s Caprinas Canárias: a - Rac;a Palmera (ilha de La Palma) adaptada aclimas chuvosos; b - Ra~ Majorera, originária das ilhas de Fuerteventura e Gran Canária, escassas em pluviosidade; e- Rac;a Tinerfena (ilha de Tenerife), ecótipo Norte, adaptado a regiOes de pluviosidade elevada; d - Ra~ Tinerfefla, ecótipo Sul,adaptada a regiéles de pluviosidade escassa
como ra¡;a autónoma e passando a fazer parte do Catálogo Oficial das Ra¡;as de Gado de Espanha, juntamente com as outras duas ra¡;as canárias no ano de 2003. Devido ao seu extraordinário potencial leiteiro, esta ra¡;a é também criada noutras zonas fora das Ilhas Canárias, tais como a Península Ibérica, as ilhas de Cabo Verde e na Venezuela. Além disso, a Cabra Majorera é a ra¡;a canária com maior
produ¡;ao de leite, existindo estudos em que sao ordenhadas tres vezes ao dia. O leite é pois o principal produto de interesse, já que, devido aausencia de agentes infecciosos para o ser humano, pode ser usado sem pasteuriza¡;ao na elabora¡;ao de queijos artesanais, tais como o queijo Majorero que possui Denomina¡;ao de Origem Controlada (D.O,C). Também a carne de cabrito é um produto muito apreciado, concentrando-se o seu consumo sobretudo em períodos festivos como o Natal. Rac;a Palmera. Está presente sobretudo na Ilha de La Palma, ainda que se possam encontrar alguns exemplares nas outras ilhas, existindo um total de aproximadamente 15 000
animais. A sua origem pode estar ligada ao cruzamento de exemplares selvagens que existiam na Caldera de Taburiente com outras ra¡;as de cabras Canárias e animais trazidos da Península Ibérica, na sua passagem para as Américas. A principal característica desta ra¡;a é a sua extraordinária adapta¡;ao a orografia abrupta da Ilha de La Palma, razao pela qual apresentam úberes mais recolhidos do que as cabras da ra¡;a Majorera. O principal produto de sta ra¡;a é a produ¡;ao do queijo Palmero, que possui D.O.C. e que fabrica exclusivamente com leite de cabra.
Rac;a Tinerfeña. Esta ra¡;a encontra-se, principalmente, na Ilha de Tenerife, existindo dois ecotipos (Sul e Norte) em fun¡;ao da zona da ilha em que se encontram, com um total, para os dois ecotipos, de 70 000 animais. Tal como as outras duas ra¡;as de cabras, devem a sua forma¡;ao aos cruzamentos, realizados na ilha, entre as cabras pré-hispanicas e as introduzidas com a conquista. Ainda que nao exista nenhuma D.O.C. para os queijos da Ilha de Tenerife, o leite é o produto mais valorizado desta ra¡;a, sendo localmente importante a prodw;ao de queijos artesanais.
Uma introdu~ao as Ra~as Ovinas Canárias O gado ovino ocupou sempre o segundo lugar, na produ¡;ao das Canárias, quando comparada com as popula¡;6es de gado caprino, no entanto, está a ter cada vez maior importancia devido ao alto valor económico dos queijos produzidos com leite de ovelha. A história das ovelhas Canárias remonta aos primeiros povoadores que introduziram, pela primeira vez nas Canárias, urna ra¡;a ovina procedente do norte de África, a qual deu origem a urna das tres ra¡;as que perduram até a actualidade, a Ovelha Canária de Pelo. Posteriormente, com
39 VIDA RURAL. abril2012
CASO INTERNACIONAL
a chegada dos espanhóis, deu-se o cruzamento da rac;a existente nas Canárias com as rac;as de la trazidas da Península Ibérica, dando origem a actual Ovelha Canária. Por último, a influencia galaico-portuguesa, presente na conquista de La Palma, fez com que, as rac;as anteriormente referidas, se juntassem as ovelhas trazidas de stas regi6es, constituindo a Rac;a Ovina Palmera. Exemplares das tres rac;as encontrams-se ilustrados na figura 3. Rac;a Canária. A Rac;a Ovina Canária encontra-se distribuída por todo o arquipélago, no entanto as maiores populac;6es encontram-se nas ilhas de Gran Canária (21674 animais) e de Fuerteventura (¡9 II8 animais), existindo em todo o arquipélago, um total de 55471 exempIares registados. Esta rac;a passou a integrar o Catálogo Oficial das Rac;as de Gado de Espanba no ano de 1986. Os animais pertencentes a esta rac;a destacam-se pela produc;ao leiteira, adaptando-se muito bem aos microclimas existentes na ilha, sendo somente no norte da ilha de Gran Canária e na de El Hierro que ainda se mantém produc;6es convencionais (só ovelhas) que praticam a transumancia. O leite desta rac;a é usado na elaborac;ao de vários queijos canários tais como o queijo Majorero ou o queijo de Flor de Guía (ambos com D.O.C.), ou outros de menor produc;ao como o Herreño ou o Gomero. Ainda que nao tenha tanta importancia como o leite, a produc;ao de borregos tem também um interesse especial em determinadas datas, como o Natal. Outros produtos destes animais sao o esterco, muito usado, sobretudo, nas culturas ecológicas, e a la, que serve para a confecc;ao artesanal de roupa típica canária. Ra<;a Palmera. A Rac;a Ovina Palmera encontra-se somente na ilha de La Palma. É necessário destacar o risco de extinc;ao desta rac;a e os grandes esforc;os que tem sido desenvolvidos para conseguir a sua preservac;ao, já que se passou de 60 animais contabilizados nos anos 80, para 431 cabe<;as contabilizadas em Agosto de 201I. O motivo do abandono desta ra<;a resultou, principalmente, da introduc;ao de fibras sintéticas de melhor qualidade e menor custo que a la, da explorac;ao de rac;as de maior prolificidade e aptidao para a produc;ao de carne (Ovelha Canária de Pelo), ou com urna maior aptidao para a produc;ao leiteira (Ovelha Canária). No entanto, urna das vantagens desta rac;a é a sua melhor adaptac;ao ao meio, sendo, portanto, capazes de aproveitar os recursos que a dura orografia da ilha de La Palma consegue produzir, por isso a venda de borregos, criados em extensivo, é a sua principal aptidao, existindo estudos que destacam a excelente qualidade da respectiva carne. Rac;a Canária de Pelo. A ra<;a Ovina Canária de Pelo deve o seu nome ao facto de ter pelo
em vez de la, o que dá ao produtor desta rac;a a vantagem de evitar a tosquia dos animais, assim como os custos associados a mesma. O maior censo regista-se em Tenerife (9665 animais) e em Gran Canária (4554 animais), existindo um total de 20 872 animais distribuídos por todo o arquipélago canário. Segundo relatam as crónicas dos primeiros espanhóis que chegaram a ilha, era m estas as ovelhas dos antigos povoadores e que, sendo levadas para o Novo Mundo, aí originara m a maioria das rac;as de pelo que se encontram hoje em dia na América do Sul. Com o passar dos anos esta rac;a deixou de estar presente nas ilhas, tendo sido posteriormente reintroduzida, com exemplares trazidos da Venezuela, na ilha de Tenerife, que possui o maior efectivo das Canárias, como já referido. Esta rac;a é considerada como tendo grande aptidao para a produc;ao de carne e apresenta urna grande prolificidade, produzindo borre
Figura:3 - Ra~as Ovinas das IIhas Canárias: a. b - Animais de ra~a Canária; e - Animais de ra~a ovina Palmera; d - Ovelha Canária de Pelo
gos com um bom índice de conversao, sendo esta a sua melhor característica produtiva. Além disso, esta rac;a está associada a cultura da bananeira, alimentando-se dos seus subprodutos, valorizando as explora<;6es a que se encontram associadas.
As Ra.;as Bovinas das Canárias Os antigos povoadores das Ilhas Canárias nao possuíam este tipo de animais, pelo que as rac;as que se encontram nos dias de hoje nas ilhas resultam da introduc;ao de ra<;as após a conquista espanhola, sendo rac;as como a Rubia Gallega, ou a Retinta, as que mais influíram na formac;ao das rac;as Canárias. Se é verdade que as ovelhas e as cabras, presentes nas Canárias, tem origens locais, nao acontece o mesmo no caso das vacas, as quais se viram fortemente substituídas pela introdu<;ao nas explorac;6es de ra<;as estrangeiras, seja pela sua maior produ<;ao leiteira (Frísia), ou pela maior produ<;ao de carne (Limousine), no entanto, as festas tra
40 VIDA RURAL. abri l 20 12
dicionais das Canárias, em que as vacas participam de forma activa, tem levado a que pouco a pouco se volte a recuperar o interesse pelas duas ra<;as de vacas oriundas das Canárias: a Ra<;a Bovina Canária e a Ra<;a Bovina Palmera. Exemplares de animais destas ra<;as podem ser vistos nas figuras 4a e 4b. Ra<;a bovina Canária. Esta ra<;a encontra-se distribuída principalmente pelas ilhas de Gran Canária (773 animais) e de Tenerife (¡048 animais). A sua origem baseia-se na adapta<;ao de animais provenientes da fusao de ra<;as espanholas como a Rubia Gallega, Asturiana dos Vales e das Montanhas, Leonesa, Pirenaica, ou a Retinta, as quais se juntariam mais tarde ra<;as inglesas como a Jersey. A ra<;a é considerada como de tripla aptidao: leiteira, produ<;ao de carne e para trabalho e passou a integrar o Catálogo Oficial das Ra<;as de Gado de Espanha no ano de 1997, permanecendo, até ao presente, na lista de ra<;as em risco de extin<;ao. O leite e a carne sao os produtos com mais interesse de sta ra<;a, se bem que existam out ras ra<;as com maiores produ<;6es. Na ilha de Gran Canária há um grande número de produtores de gado que usam o leite desta ra<;a para misturá-lo com o leite de cabra Majorera e de ovelha Canária para elaborar o queijo Flor de Guía que tem Denomina<;ao de Origem Controlada (D.O.C.). Além disso a participa<;ao em concursos tradicionais de carregamento de cargas e a trac<;ao de carro<;as em festas populares, tem levado ao incremento do seu efectivo. Ra<;a Bovina Palmera. A ra<;a bovina Palmera conta com a quase totalidade do seu efectivo na ilha de La Palma (559 animais), encontrando-se um ou outro exemplar isolado nas outras ilhas. A origem destes animais nao é muito certa, ainda que se considere que estes animais derivam da adapta<;ao a dura orografia da ilha de La Palma de indivíduos provenientes da mistura de ra<;as do norte da Península Ibérica (principalmente da ra<;a Rubia Gallega) e outras ra<;as galaico-portuguesas. Passou a integrar o Catálogo Oficial das Ra<;as de Gado de Espanha no ano de 1997, sendo considerada em risco de extin<;ao. Pese embora que os seus caracteres produtivos sejam inferiores aos da ra<;a Bovina Canária, sao muitos os esfor<;os que se estao a realizar, para tentar estabelecer as características dos produtos desta ra<;a e dirigi-Ios a um público exigente que saiba dar-lhe um valor acrescentado, tornando-a mais competitiva no mercado actual, devido a serem animais explorados em regime extensivo, que lhe confere características especiais tanto ao leite, como acarne. Além disso, participa também nos diversos festejos populares, realizados na ilha de La Palma, assim como em concursos de carregamento de cargas.
CASO INTERNACIONAL
Porco Negro Canário Ao contrário das vacas, cabras e ovelhas, nas Canárias apenas existe urna ra<;a suína local que é o denominado Porco Negro Canário (ver figura 4C). OS maiores efectivos encontram-se nas ilhas de Gran Canária, Tenerife e La Palma, sendo nesta última onde se encontram os exempIares mais puros, contando-se actualmente com I 300 exemplares no arquipélago Canário. Esta ra<;a tem origem pré-hispanica, procedente de suínos africanos que se extinguiram em África, com a chegada dos POyOS mu<;ulmanos, encontrando-se vestígios da ra<;a, na ilha de La Palma, do ano de 200 AC. Com a posterior coloniza<;ao espanhola esta ra<;a cruzou-se com ra<;as ibéricas, dando origem ao que actualmente se conhece como Porco Negro Canário. Esta ra<;a esteve em vias de extin<;ao, nos anos 80, devido a industrializa<;ao da produ<;ao suína, que utiliza ra<;as de maior produtividade, como o Pietrain ou Large White. No entanto, um remanescente de ra<;a pura, procedente de La Palma, permitiu, através de vários anos de esfor<;os, a1can<;ar o efectivo actual desta ra<;a. É um animal que possui piores índices, tanto reprodutivos, como de conversao, contudo a sua adapta<;ao ao meio ambiente e o tipo de distribui<;ao da gordura, faz com que a sua carne seja muito valorizada localmente, destacando-se ainda, para além da carne, a elabora<;ao de dois produtos típicos: o chouri<;o canário e os "chicharrones" (couratos fritos panados em farinha torrada de milho ou de trigo, também chamada "gofio"), relativamente semelhantes a torresmos.
o Camelo Canário as Ilhas Canárias apenas existe, a semelhan
<;a do que se passa com o gado suíno, urna única ra<;a de dromedário, a que de forma errada
Figura lo - Bovinos. Suínos eCamelo das "has Canárias: a - Bovino Palmero; b - Bovino Canário; e - Suíno Canário: d - Camelo Canário
se chamou Camelo Canário, já que este era o termo tradicionalmente utilizado pela popula<;ao insular para a sua designa<;ao. É de destacar que se trata da única ra<;a oficial de camelídeos presente na Europa e está incluída no Catálogo Oficial das Ra<;as de Gado de Espanha. Na figura 4d apresenta-se uma fotografia de exemplares de Camelo Canário. Ao longo da história desta ra<;a, nas Canárias, as ilhas com maior efectivos tem sido a Gran Canária, Fuerteventura e Lanzarote, sendo que, actualmente, sao estas duas últimas que contam com a maioria do efectivo, que ascende a 1200 animais. O Camelo Canário foi introduzido nas Canárias, no ano de 1405, procedente do continente Africano, adaptando-se com o passar dos anos a geografia insular, dando lugar a um animal mais pequeno e musculado. Durante muitos anos esta ra<;a foi usada no transporte de pessoas e mercadorias, para além de desempenhar urna fun<;ao fundamental nos trabalhos agrícolas. No entanto, hoje em dia a sua principal utiliza<;ao dá-se no sector turístico. Nas ilhas nao há tradi<;ao de consumir a carne destes animais e o leite que
produzem destina-se, na sua totalidade, a alimenta<;ao das crias.
Considera~oes finais As Ilhas Canárias possuem várias ra<;as de animais domésticos autóctones, únicas no mundo, contribuindo para urna diversidade ela própria muito característica e caso único no contexto espanhol e da própria Uniao Europeia. Estas ra<;as autóctones tem como principal característica distintiva urna adapta<;ao total as condi<;6es de explora<;ao locais. muitas vezes muito extremas e urna aptidao muito grande para a produ<;ao de produtos tradicionais das ilhas Canárias, nomeadamente o queijo. Essas características permitem a valoriza<;ao de stas ra<;as e assim contrariar o espectro da extin<;ao que continua no entanto a amea<;ar muitas das ra<;as tradicionais. As ra<;as Canárias constituem pois um exemplo a seguir no contexto da preserva<;ao das ra<;as tradicionais de regi6es insulares e ultra-periféricas da Uniao Europeia.
Agradecimentos
Os autores agradecem aArmando Ramalho de Almelda pela
colabora~ao na prepara~ao do manuscrito e a António Mora·
les (figura 2b), Ana Novo (figura 4a), Juan Capote (figura 2a, e
aAssocia~ao de Criadores de Ra~a Tinerfeña (figura 2d) pela
amável cedencia de algumas das fotografias aqui publicadas.
Literatura recomendada
Análisis Sensorial de los Quesos de Cabra de Pasta Pren
sada. ISBN:978-84-690-9887-5
Catálogo Oficial de Razas Españolas. Real Decre o
212912008
El Ordeño de Las Cabras Canarias. ISBN: 8495037157.
Guía de Campo de Las Razas Autóctonas Españolas. So
ciedad Española para los Recursos Genéticos Amma
les. ISBN 978-84-491-0946-1
Os autores escreveram este texto de acordo com aan-e'
101 VIDA RURAL. abril 2012