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ACADEMIA MILITAR A Participação dos Artilheiros Portugueses em missões no exterior. Ilações a reter. Autor Aspirante a Oficial de Artilharia, Jonathan Oliveira Marques Orientador: Major de Artilharia Comando, Hélder Jorge Pinheiro Barreira Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada Lisboa, julho 2013

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  • ACADEMIA MILITAR

    A Participao dos Artilheiros Portugueses em misses no

    exterior. Ilaes a reter.

    Autor

    Aspirante a Oficial de Artilharia, Jonathan Oliveira Marques

    Orientador: Major de Artilharia Comando, Hlder Jorge Pinheiro Barreira

    Relatrio Cientfico Final do Trabalho de Investigao Aplicada

    Lisboa, julho 2013

  • ii

    ACADEMIA MILITAR

    A Participao dos Artilheiros Portugueses em misses no

    exterior. Ilaes a reter.

    Autor

    Aspirante a Oficial de Artilharia, Jonathan Oliveira Marques

    Orientador: Major de Artilharia Comando, Hlder Jorge Pinheiro Barreira

    Relatrio Cientfico Final do Trabalho de Investigao Aplicada

    Lisboa, julho 2013

  • iii

    Dedicatria

    Dedico este trabalho aos meus Pais e av,

    por todo o apoio incondicional, compreenso e carinho

    durante estes ltimos anos na realizao do sonho em ser Oficial do Exercito.

  • iv

    Agradecimentos

    Os meus sinceros agradecimentos so dirigidos s pessoas que, de alguma forma,

    contriburam para o presente trabalho, dedicando disponibilidade e ateno ao seu

    desenvolvimento.

    Ao Sr. Tenente-Coronel de Artilharia lio Santos, pela sua dedicao e

    disponibilidade ao longo destes ltimos dois anos.

    Ao Major de Artilharia Helder Barreira, pela orientao e pelo empenho que desde

    o incio demonstrou, tornando possvel a realizao deste Trabalho de Investigao

    Aplicada.

    Ao Sr. Tenente-Coronel de Artilharia Marqus de Sousa pela disponibilidade, pelos

    preciosos contributos e experincia do Teatro de Operaes de Timor-Leste.

    Ao Sr. Tenente-Coronel de Cavalaria Miguel Freire pela sua disponibilidade,

    simpatia, experincia e conhecimento prestado no mbito do Teatro de Operaes do

    Kosovo.

    Ao Sr. Major de Artilharia Carlos Prata pela sua disponibilidade, experincias

    partilhadas na entrevista e conhecimento acerca dos Teatros de Operaes da Bsnia e

    Herzegovina e Kosovo.

    Ao Sr. Major de Artilharia Lus Sardinha pela sua disponibilidade, pela sua

    entrevista e experiencia enriquecedora relativa ao Teatro de Operaes de Timor-Leste.

    Ao Sr. Major de Artilharia Nlson Rego pela disponibilidade, entrevista e

    experiencia relativa ao Teatro de Operaes da Bsnia e Herzegovina.

    E a toda a minha famlia pelo apoio incondicional prestado, dedicao e ajuda

    constante.

    A todos os meus sinceros agradecimentos.

  • v

    Resumo

    O presente trabalho tem como finalidade investigar e analisar a participao de

    artilheiros portugueses em misses no exterior no mbito das Foras Nacionais Destacadas.

    O trabalho foi elaborado na Sede da Academia Militar em Lisboa, tendo sido feitas

    deslocaes ao Estado-Maior do Exrcito, ao Instituto de Estudos Superiores Militares, ao

    Comando da Foras Terrestres e ao Grupo de Artilharia de Campanha da Brigada

    Mecanizada, em Santa Margarida, tendo em vista a obteno de informao pertinente e a

    realizao de entrevistas.

    Este trabalho inicia-se com a reviso documental da bibliografia existente sobre esta

    temtica, tendente ao necessrio enquadramento conceptual do tema, sendo esta seguida de

    uma anlise especfica das funes desempenhadas pelos Oficiais de Artilharia nos Teatros

    de Operaes (TO) de Timor-Leste, Bsnia Herzegovina e Kosovo, cujos contributos

    foram recolhidos atravs de entrevistas.

    A metodologia utilizada baseia-se, fundamentalmente, no Manual de Investigao

    em Cincias Sociais, descritas no livro de Quivy e Campenhoudt.

    Com esta investigao pretende-se identificar as funes desempenhadas pelos

    Oficiais de Artilharia nos TO acima identificados, de acordo com a delimitao definida

    neste Trabalho de Investigao Aplicada, e analisar os condicionamentos e mais-valias que

    as mesmas incorporam, culminando com a identificao das prespetivas futuras quanto

    participao dos Oficiais de Artilharia em misses no exterior, no mbito da Unio

    Europeia, NATO e ONU.

    O objetivo de estudo deste trabalho centra-se assim na participao de Artilheiros

    Portugueses em misses no exterior, no mbito das Foras Nacionais Destacadas, atravs

    do estudo das funes que os Oficiais de Artilharia do Exrcito Portugus desempenharam

    nos TO da Bsnia, Timor e Kosovo.

    A ttulo conclusivo, constatamos que os Oficiais de Artilharia Portugueses so

    proficientes no desempenho das suas funes no exterior, independentemente da funo

    que lhes seja atribuda, sendo a sua participao nas FND um elemento potenciar dos

    niveis de motivao e da aptido profissional.

    Palavras-chave: Foras Nacionais Destacadas, Artilharia, Timor-Leste, Bsnia e

    Herzegovina, Kosovo.

  • vi

    Abstract

    The main purpose of this Applied Research Assignment is to investigate and

    analyze the participation of the Portuguese Artillery in foreign missions with in Deployed

    National Forces.

    The research was mainly conducted at the Military Academy Detachment in

    Amadora, but also included the Army General Staff, the Institute of Higher Military

    Studies, and the Land Forces Command, and the Field Artillery Battalion of the

    Mechanized Brigade, stationed in Santa Margarida, in order to gather relevant information

    and to carry out interviews.

    This work starts with a bibliographic review on this theme, in order to establish its

    the conceptual framework, followed by a specific analysis of the jobs performed by the

    Artillery Officers in the Theatres of Operations of East-Timor, Bsnia and Herzegovina

    and Kosovo, which information was gathered by interview.

    The methodology used was based upon the handbook Manual de Investigao em

    Cincias Sociais by Quivy and Campebhoudt.

    With this Applied Research Assignment we aim to to identify the functions carried

    out by the interviewed Artillery Officers, in accordance with the limits hereby proposed,

    and to analyze its restraints and the benefits, ending by identifying the future perspectives

    about the Artillery Officers participation in foreign missions, within the European Union,

    NATO and UNO .

    This study focuses on the foreign participation of Portuguese Artillery Officers, as

    members of Deployed National Forces, by analyzing the functions performed by Artillery

    Officers, in the theaters of Bosnia, Timor and Kosovo.

    At the end of this work, it can be concluded that the Portuguese Artillery Officers

    are proficient in the performance of their duties abroad, regardless of the function assigned

    to them, being their participation in Deployed National Forces a augmented factor of

    motivation and professional aptitude.

    Keywords: Deployed National Forces, Artillery, East Timor, Bosnia and Herzegovina,

    Kosovo.

  • vii

    ndice

    Dedicatria .......................................................................................................................... iii

    Agradecimentos .................................................................................................................. iv

    Resumo ................................................................................................................................. v

    Abstract ............................................................................................................................... vi

    Lista de Apndices ............................................................................................................ xiii

    Lista de Anexos ................................................................................................................. xiii

    Lista de Abreviaturas, Siglas e Acrnimos .................................................................... xiii

    Captulo 1 - Introduo ....................................................................................................... 1

    1.1. Enquadramento / Contextualizao ................................................................................ 1

    1.2. Justificao do Tema ...................................................................................................... 1

    1.3. Objetivos ......................................................................................................................... 2

    1.4. Problema de Investigao, Questo Cental e Questes Derivadas ................................. 2

    1.5. Delimitao do estudo .................................................................................................... 4

    1.6. Metodologia .................................................................................................................... 4

    1.7. Estrutura do Trabalho ..................................................................................................... 5

    Captulo 2 Enquadramento Conceptual ......................................................................... 7

    2.1. Foras Nacionais Destacadas.......................................................................................... 7

    2.2. North Atlantic Treaty Organization (NATO) ................................................................. 9

    2.3. Os Conceitos de NATO Response Force e de Battle Groups....................................... 11

    2.4. Organizao das Naes Unidas (ONU) ...................................................................... 13

    2.5. Operaes de Resposta a Crises ................................................................................... 14

    Captulo 3 Teatro de Operaes de Timor-Leste. ....................................................... 17

    3.1. O Conflito em Timor-Leste ........................................................................................... 17

  • viii

    3.2. A Participao Nacional em Timor-Leste .................................................................... 18

    3.3. Sntese Conclusiva ........................................................................................................ 21

    Captulo 4 - Teatro de Operaes da Bsnia e Herzegovina ......................................... 22

    4.1. O Conflito na Bsnia Herzegovina ............................................................................... 22

    4.2. A Participao Nacional na Bsnia e Herzegovina ...................................................... 23

    4.3. Sntese Conclusiva ........................................................................................................ 25

    Captulo 5 Teatro de Operaes do Kosovo ................................................................. 26

    5.1. O Conflito do Kosovo .................................................................................................. 26

    5.2. A Participao Nacional no Kosovo ............................................................................. 27

    5.3. Sntese Conclusiva ........................................................................................................ 29

    Captulo 6 - Participao dos Artilheiros Portugueses nas FND - Aspetos

    positivos e negativos .......................................................................................................... 31

    6.1. O Futuro da Artilharia Portuguesa nas Foras Nacionais Destacadas ......................... 31

    6.2. Mais-valias para o Exrcito Portugus ......................................................................... 34

    6.3. Sntese Conclusiva.. ...................................................................................................... 35

    Captulo 7 Concluses e Propostas ............................................................................... 37

    7.1. Concluses Finais ......................................................................................................... 37

    7.2. Limitaes .................................................................................................................... 39

    7.3 Propostas e Recomendaes.. 42

    Bibliografia .......................................................................................................................... 41

    Apndices ............................................................................................................................ 43

    Anexos ................................................................................................................................. 71

  • ix

    ndice de Figuras

    Figura 1 - Espectro das Operaes Militares ....................................................................... 77

    Figura 2 - Artigo 5 Defesa Coletiva ................................................................................... 78

    Figura 3 - Participao de Artilheiros em FND ................................................................... 72

    Figura 4 - Quadro de misses em Timor, no mbito das FND. ........................................... 74

    Figura 5 - Quadro de misses na Bsnia e Herzegovina, no mbito das FND. .................. 75

    Figura 6 - Quadro de misses no Kosovo, no mbito das FND. ......................................... 76

    Figura 7 - Estrutura representativa de uma NRF. ................................................................ 79

    Figura 8 - Estrutura genrica de um Battlegroup. ............................................................... 80

    Figura 9 - Organizao da UNTAET .................................................................................. 81

    Figura 10 - Organizao da Fora de Manuteno de Paz (PKF) ....................................... 84

    Figura 11 - Diviso Territorial da Bsnia e Herzegovina em 1995 ..................................... 87

    Figura 12 - Logtipo da IFOR ............................................................................................. 85

    Figura 13 - Estrutura de Comando e Controlo da IFOR ..................................................... 86

    Figura 14 - Logtipo da KFOR ........................................................................................... 88

    Figura 15 - Estrutura de Comando e Controlo da KFOR .................................................... 89

  • x

    ndice de Tabelas

    Tabela 1 - Entrevistas. ........................................................................................................... 4

  • xi

    Lista de Apndices

    Apndice A: Entrevista de Timor ........................................................................................ 46

    Apndice B: Entrevista de Timor ........................................................................................ 51

    Apndice C: Entrevista da Bsnia e Herzegovina ............................................................... 55

    Apndice D: Entrevista da Bsnia e Herzegovina............................................................... 60

    Apndice E: Entrevista do Kosovo ...................................................................................... 62

    Apndice F: Entrevista do Kosovo ...................................................................................... 66

    Apndice G: Participao dos Artilheiros ........................................................................... 72

  • xii

    Lista de Anexos

    Anexo A: ...... Histrico das FND nos TO de Timor:Leste, Bsnia e Herzegovina e Kosovo 72

    Anexo B: ............................................................................ Espectro das Operaes Militares 75

    Anexo C: ......................................................................................... Artigo 5 Defesa Coletiva 76

    Anexo D: ............................................................ Estrutura da NATO Responce Force (NRF) 77

    Anexo E: .................................................................................... Estrutura de um BattleGroup 78

    Anexo F: ........................................................ Princpios das Operaes de Resposta a Crises 79

    Anexo G:Organizao da UNTAET (United Nation Transitional Administration in East Timor) 81

    Anexo H: .............................................. Organizao da Fora de Manuteno de Paz (PKF) 82

    Anexo I: ............................................... Misso e Estrutura de Comando e Controlo da IFOR 83

    Anexo J: ..................................................................................... O Acordo de Paz de Dayton 85

    Anexo K: ............................................ Misso e Estrutura de Comando e Controlo da KFOR 86

  • xiii

    Lista de Abreviaturas, Siglas e Acrnimos

    A

    AOp rea de Operaes

    ADM Armas de Destruio Macia

    B

    BG Battle Group

    Btr Bateria

    BrigMec Brigada Mecanizada

    C

    CAP ART Capito de Artilharia

    CRO Operaes de Resposta a Crises

    CRC Centro de Relato e Controlo

    CSNU Conselho de Segurana das Naes Unidas

    COMKFOR Comando da KFOR

    CJSOR Combined Joint Statement Of Requirements

    CPOS Curso de Promoo a Oficial Superior

    CCmds Companhia de Comandos

    CAt Companhia de Atiradores

    E

    EOM Encargo Operacional de Material

    EOP Encargo Operacional de Pessoal

    ERec Esquadro de Reconhecimento

    ECOSF Elementos da Componente Operacional do Sistema de Foras

    F

    FND Foras Nacionais Destacadas

    FAP Fora Area Portuguesa

    G

    GPA Governance and Public Administration

    H

    HAER Humanitarian Assistance and Emergency Relief

  • xiv

    I

    INTERFET International Force in East Timor

    IEBL Inter Entity Boundary Line

    ISTAR Intelligence, Surveillance, Targeting Acquisition and Reconnaissance

    K

    KVM Kosovo Verification Mission

    M

    MTA Military Technical Agreement

    MHP Misses Humanitrias e de Paz

    MAJ ART Major de Artilharia

    MNBN Multinational Brigade North

    MNBC Multinational Brigade Center

    MNBE Multinational Brigade East

    MNBS Multinational Brigade South

    MNBW Multinational Brigade West

    N

    NATO North Atlantic Treaty Organization

    NAC North Atlantic Council

    NRF NATO Response Force

    O

    OAP Operaes de Apoio Paz

    OMLT Operational Mentor Liasion Team

    OI Organizaes Internacionais

    P

    Pel Peloto

    PITOP Plano de Instruo de Treino Operacional do Exercito

    R

    RAAA1 Regimento de Artilharia Antiarea n1

    S

    SAR Search And Rescue

    Sec Seco

    SFN Sistema de Foras Nacional

    T

  • xv

    TO Teatro de Operaes

    TCOR ART Tenente-Coronel de Artilharia

    TACP Tactical Air Control Party

    U

    UE Unio Europeia

    UNMOZ United Nations Operation in Mozambique

    UNTAET United Nations Transitional Administration in East Timor

    UNOGIL United Nation Observer Group in Lebanon

    UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

    UNSCR United Nations Security Council Resolution

    UNPROFOR United Nations Protection Force

    UEB Unidade de Escalo Batalho

  • Captulo 1 - Introduo

    1

    Captulo 1 - Introduo

    1.1. Enquadramento / Contextualizao

    O presente Trabalho de Investigao Aplicada (TIA) enquadra-se no Tirocnio para

    Oficial de Artilharia (TPOA) e, conforme definido na Norma de Execuo Permanente

    520/DE, da Academia Militar, tem como objectivo geral a aplicao de competncias

    adquiridas e o desenvolvimento de capacidades que permitam e constituam a base de

    aplicaes originais, em ambiente de investigao, nos domnios da segurana e defesa e,

    em particular, em reas concretas de especializao.

    Neste contexto, o presente trabalho, subordinado ao tema A Participao dos

    Artilheiros Portugueses em misses no exterior. Ilaes a reter, pretende contribuir com

    novo conhecimento sobre a participao dos Oficiais da Arma de Artilharia em misses no

    exterior, conduzidas sob a gide da Unio Europeia, NATO e ONU, identificando

    eventuais mais-valias que as mesmas acarretam para o Exrcito Portugus, apurando ainda

    possveis evolues neste dominio.

    Embora estas participaes possam ser analisadas sobre vrias perspetivas, o

    objetivo de estudo deste trabalho circunscreve-se participao de Artilheiros Portugueses

    no exterior, no mbito da componente operacional e tcnico-militar, no perodo

    compreendido entre 1996 at aos dias de hoje, no mbito das Foras Nacionais Destacadas

    (FND), atravs da anlise das funes desempenhadas por oficiais Artilheiros Portugueses

    nos TO da Bsnia, Timor e Kosovo no perodo considerado.

    1.2. Justificao do Tema

    O atual cenrio de empenhamento de foras militares nacionais materializa-se na

    conduo de Operaes de Resposta a Crises, conduzidas sob a a gide da Unio Europeia,

    NATO e/ou ONU, onde se inserem as foras presentes nos TO j identificados.

    Portugal, dando cumprimento aos compromissos internacionalmente assumidos,

    tem projetado FND para estes cenrios, onde os Oficiais de Artilharia, membros

  • Captulo 1 - Introduo

    2

    integrantes do Sistema de Foras do Exrcito, tm naturalmente sido chamados a

    desempenhar funes nesta tipologia de operaes, as quais importa identificar e analisar,

    tendo por objetivo ltimo retirar ensinamentos com vista ao seu cabal emprego futuro

    1.3. Objetivos

    Os objetivos especficos que pretendemos atingir com a presente investigao so

    os seguintes:

    Fazer um ponto de situao das misses desempenhadas pelos Artilheiros

    Portugueses na amostra identificada;

    Identificar as mais-valias ou vantagens inerentes s misses realizadas pelos

    Oficiais de Artilharia;

    Fazer uma avaliao e anlise das suas participaes em misses no exterior,

    dentro da delimitao deste trabalho de investigao;

    Identificar possveis perspetivas para o futuro das misses a desempenhar pelos

    Artilheiros Portugueses.

    1.4. Problema de Investigao, Questo Cental e Questes Derivadas

    Com vista a atingir os objetivos acima definidos, e aps a pesquisa bibliogrfica

    exploratria efetuada sobre "A Participao dos Artilheiros Portugueses em misses no

    exterior: Ilaes a reter.", levantmos as seguintes Questes Central (QC) e Derivadas

    (QD):

    (QC): Quais as principais ilaes identificadas nas misses desempenhadas pelos

    Artilheiros Portugueses em todo o espectro das operaes no exterior, no

    mbito das Foras Nacionais Destacadas (FND)?

    QD1: Quais so as funes desempenhadas pelos Artilheiros Portugueses no Teatro

    de Operaes de Timor?

    QD2: Quais as funes desempenhadas pelos Artilheiros Portugueses no Teatro de

    Operaes da Bsnia e Herzegovina?

  • Captulo 1 - Introduo

    3

    QD3: Quais as funes desempenhadas pelos Artilheiros Portugueses no Teatro de

    Operaes do Kosovo?

    QD4: Quais so as proficincias identificadas pelos Artilheiros Portugueses nas

    misses no exterior, que concorrem para a obteno de mais-valias e prestigio

    para o Exrcito Portugus?

    1.5. Delimitao do estudo

    O presente trabalho circunscreve-se aos TO de Timor, Bsnia e Herzegovina e

    Kosovo, e envonlve a recolha e anlise de informaes sobre a participao de Artilheiros

    Portugueses nestes TO, tendo por finalidade de identificar as funes desempenhadas pelos

    Oficiais de Artilharia, apurar eventuais mais-valias para a Arma de Artilharia e para o

    Exrcito Portugus, bem como prespetivar as funes que os Artilheiros Portugueses

    podero vir a desempenhar fora do territrio nacional num futuro prximo, no ambito das

    FND.

    A anlise da participao de Oficiais de Artilharia no TO de Timor-Leste incide no

    perodo de 1999 at 2004, no TO da Bsnia e Herzegovina o perodo abrangido

    compreende os anos de 1996 a 2007, e no TO do Kosovo o perodo temporal entre 1999 e

    2013, tendo no entanto em considerao que no intervalo entre 2001 e 2005 no houve

    emprego de FND no Kosovo, as quais foram empenhadas no TO de Timor-Leste.1

    O presente TIA cinge-se s misses conduzidas sob a gida da Unio Europeia

    (UE), NATO e ONU, e incide apenas nas funes desempenhadas por Oficiais de

    Artilharia do Quadro Permanente do Exrcito Portugus no mbito das FND, uma vez que

    a anlise das funes igualmente desempenhadas por sargentos e praas se toma

    inexequvel face dimenso e ao tempo impostos para a elaborao do presente TIA.

    1.6. Metodologia

    A abordagem do tema baseou-se inicialmente numa pesquisa bibliogrfica

    documental, seguida de uma anlise especfica s misses e participaes j identificadas.

    1 Ver Anexo A Histrico das FND nos TO de Timor:Leste, Bsnia e Herzegovina e Kosovo.

  • Captulo 1 - Introduo

    4

    Posteriormente, procedemos a um conjunto de entrevistas a personalidades que

    possuem comprovada experincia e conhecimentos relativamente ao assunto em estudo.

    Para tal, construmos um guio de entrevista com vista obteno de informao

    pertinente que permitiu no s enriquecer o contedo do trabalho, como tambm retirar

    concluses ajustadas. As entrevistas obedeceram estrutura abaixo indicada (Tabela 1).

    Tabela 1 -- Entrevistas

    Entrevistado Local Teatro de Operaes Data

    TCor Art Marqus de Sousa

    Academia Militar,

    Amadora Timor-Leste 11 / Maro / 2013

    TCor Cav Miguel Freire

    Academia Militar, Sede Kosovo 14 / Maro / 2013

    Major Art Nlson Rego

    Estado Maior do Exercito Bsnia e Herzegovina 18 / Maro / 2013

    Major Art Lus Sardinha

    Comando da Foras

    Terrestres Timor-Leste 20 / Maro / 2013

    Major Art Carlos Prata

    Santa Margarida Bsnia e Herzegovina e Kosovo 21 / Maro / 2013

    Fonte: Do Autor, 2013

    Seguidamente elabormos a construo terica que serviu de base ao nosso trabalho

    de investigao, onde so identificados as participaes de Oficiais de Artilharia

    Portugueses em misses no exterior, e no perodo delimitado, em misses de natureza

    operacional e tcnico-militar.

    Analisando cada um dos cenrios identificados, que incluiram a participao de

    Oficiais de Artilharia, procuraremos de seguida identificar as lies aprendidas que

    podero construir uma mais-valia para a Arma de Artilharia e para o Exrcito Portugus,

    quanto ao exerccio futuro dessas mesmas funes.

    Para responder s questes derivadas, tivemos por base a anlise da informao

    documental, cientfica e emprica recolhida, para que numa fase final fosse possvel

    responder s questes derivadas e central, bem como extrair concluses que permitam

    identificar as possveis funes que o Artilheiro Portugus poder vir a desempenhar fora

    do territrio nacional num futuro prximo, no ambito das FND.

    No que metodologia diz respeito, percorreram-se as etapas que Quivy e

    Campenhoudt designam por etapas de procedimento cientifico. Este procedimento

    cientfico composto por trs atos e sete etapas que devem acompanhar de uma forma

    lgica a realizao de um trabalho de carter cientfico (Quivy e Campenhoudt, 1992).

  • Captulo 1 - Introduo

    5

    A rotura corresponde ao primeiro dos trs atos da investigao que, por sua vez,

    visa romper com os preconceitos e as falsas evidncias, que somente nos do a iluso de

    compreender as coisas (Quivy e Campenhoudt, 1992, p. 25). Este ato compe trs etapas,

    sendo que, a primeira etapa referente escolha de uma QC ou pergunta de partida, a

    segunda etapa referente explorao e a terceira etapa corresponde problemtica.

    Uma investigao presume caminhar para um melhor conhecimento(Quivy e

    Campenhoudt, 1992, p. 29), e no sentido de nortear a presente investigao, levantou-se a

    seguinte QC: Quais as principais ilaes identificadas nas misses desempenhadas pelos

    Artilheiros Portugueses em todo o espectro das operaes no exterior, no mbito das

    Foras Nacionais Destacadas (FND)? Esta pergunta serviu de fio condutor para poder-

    mos dar uma resposta adequada para a problemtica da investigao, sendo a etapa a seguir

    a explorao. Esta fase implica a obteno de informao, que decorreu da consulta de

    bibliografia e das entrevistas a entidades que participaram em FND.

    1.7. Estrutura do Trabalho

    O presente trabalho composto por sete capitulos.

    No primeiro capitulo, a introduo, efectuamos o enquadramento do problema,

    definimos o objetivo, apresentamos a importncia deste tema, a estrutura do trabalho e a

    metodologia adotada.

    No segundo captulo apresentamos, de forma necessariamente sucinta, um

    enquadramento conceptual das FND, um breve enquadramento histrico das mesmas, bem

    como o seu conceito. So igualmente abordadas neste captulo o conceito e organizao da

    North Atlantic Treaty Organization (NATO) e da ONU. Por fim, ainda neste capitulo,

    abordamos as Operaes de Resposta a Crises (CRO) quanto sua tipologia, identificando

    as funes atribuveis aos Artilheiros Portugueses no mbito das FND, tendo em conta a

    delimitao do tema j indicada.

    Nos terceiro, quarto e quinto capitulos iremos responder a cada uma das questes

    derivadas, relativas aos cenrios de Timor-Leste, Bsnia e Herzegovina e Kosovo,

    respetivamente, tendo por base as entrevistas realizadas aos Oficiais que integraram, num

    passado recente, as FND.

  • Captulo 1 - Introduo

    6

    No sexto captulo identificamos os aspectos positivos e negativos inerentes

    participao dos Artilheiros Portugueses em misses no exterior, face s funes

    desempenhadas, de modo a conseguirmos prespetivar a participao futura dos Oficiais de

    Artilharia neste tipo de misses.

    Por fim, no stimo e ltimo captulo, iremos expor as concluses finais, dando

    resposta questo central, identificar as limitaes que se reconhecem, e tecer as propostas

    tidas por justificadas face ao estudo realizado.

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    7

    Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    2.1. Foras Nacionais Destacadas

    O Exrcito Portugus tem vindo a constituir FND que tm sido integradas num

    quadro de foras multinacionais, constitudas e empregues sob a gide da UE, NATO e

    ONU. Desempenham misses ditas de paz, embora de uma forma conceptual se

    enquadrem vulgarmente, se designam por Operaes de Resposta a Crises (no mbito

    NATO), Operaes de Apoio Paz (no mbito ONU) ou at mesmo Operaes de

    Estabilizao e Apoio (considerando a doutrina do exrcito dos EUA) (Santos,

    2007,p.235).

    No intento de clarificar o conceito de FND, deparamo-nos com a inexistncia de

    uma definio oficial, pelo que optmos por traar a nossa prpria definio e enquadr-la

    no mbito da nossa investigao. Assim sendo, no mbito deste trabalho, entendemos

    como FND uma unidade militar devidamente comandada, treinada, equipada e enquadrada,

    que cumpre uma misso no exterior do territrio nacional, no mbito da satisfao dos

    compromissos internacionais assumidos por Portugal.

    2.1.1. Enquadramento Histrico

    As mudanas que tiveram lugar no sistema internacional desde 1991 levaram os

    estados democrticos ao desempenho de novos papis nas relaes internacionais,

    designadamente, atravs do emprego de contingentes militares (Leandro, 2002, p.317).

    Enquadrado neste contexto, Portugal tem vindo a participar ativamente em Misses

    Humanitrias e de Paz (MHP), sendo necessrio recuar aos finais da dcada de oitenta para

    encontrar a primeira presena2 nacional na UNTAG

    3, onde cooperaram trs oficiais do

    Exrcito Portugus na superviso do processo eleitoral. Esta participao foi seguida da

    Operao das Naes Unidas em Moambique (UNMOZ)4, entre abril de 1993 e dezembro

    2 Esta a primeira participao nacional em MHP aps o conflito ultramarino, j que a gnese da

    participao nacional remonta ao ano de 1958, com a UNOGIL (United Nation Observer Group in

    Lebanon). 3 UNTAG United Nations Transition Assistance Group; 4 UNMOZ United Nations Operation in Mozambique;

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    8

    de 1994, na qual o Exrcito Portugus contribuiu com um Batalho de Transmisses e com

    observadores militares.

    A partir desta data, o Exrcito atingiu uma absoluta integrao neste tipo operaes

    militares, edificando um longo historial de participao materializado com a presena em

    cerca de sessenta e quatro MHP dispersas por vinte e trs TO5 e dois pases adjacentes a

    TO6. Ao longo da sua colaborao em MHP ao abrigo das diversas OI, o Exrcito

    Portugus empenhou um efetivo total de vinte mil quinhentos e vinte e um militares

    (RCMA/GabCEME, 2012).

    2.1.2. Foras Nacionais Destacadas O Conceito

    O historial de participao nacional em misses no exterior tem-se concretizado em

    diferentes moldes, atravs de militares inseridos em unidades constitudas (como por

    exemplo, o AgrBravo na KFOR7), de observadores militares (como por exemplo, os trs

    oficiais que integraram a UNTAG) ou ainda de elementos em funes de Estado-Maior

    (como os militares que integraram o Quartel-General (QG) da AFOR8).

    Importa distinguir a participao de carcter individual (observadores militares e

    elementos em funes de Estado-Maior) da participao de unidades constitudas que

    atuam como uma Fora9. Assim, usmos o termo FND unicamente para nos referirmos

    s unidades constitudas, definindo-o de acordo com aquilo que tem sido a experincia

    nacional10

    nas ltimas duas dcadas: uma FND uma unidade militar devidamente

    comandada, treinada, equipada e enquadrada que cumpre uma misso no exterior do

    territrio nacional, no mbito da satisfao dos compromissos internacionais assumidos

    por Portugal; a sua constituio normalmente mission tailored, ou seja, orientada para a

    misso de forma a respeitar as Combined Joint Statement of Requirements (CJSOR).

    estabelecido um Encargo Operacional de Pessoal (EOP) e um Encargo

    Operacional de Material (EOM), com base numa unidade constituda do Sistema de Foras

    5 Bsnia e Herzegovina, Timor-Leste, Angola, Kosovo, Moambique, Ex-Jugoslvia, Congo, Guin-Bissau,

    Macednia, Saara Ocidental, Albnia, Afeganisto, Lbano, Crocia, Nambia, Costa do Marfim, Libria,

    Burundi, Iraque, Sudo, Chade, Etipia, Paquisto; 6 frica do Sul e Austrlia;

    7 KFOR Kosovo Force;

    8 AFOR Albania Force;

    9 Fora Um conjunto de militares, sistemas de armas, equipamento, ou a combinao destes (JP,

    2006,p.210). 10

    Ver Anexo A Histrico das FND nas MHP.

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    9

    Nacional (SFN) que pode ser ajustada com mdulos, para satisfazer as CJSOR. Um

    exemplo deste tailoring o caso das Companhias de Comandos (CCmds) no Afeganisto

    que incluam um TACP11

    da Fora Area Portuguesa (FAP), apesar de, em situaes

    normais, este no estar previsto no quadro orgnico (QO) das CCmds.

    No que diz respeito ao seu modo de emprego, as FND possuem algumas

    particularidades, como o facto de atravessarem trs periodos distintos: o aprontamento, a

    conduta da operao e por fim a desactivao/fim de misso (Leandro,2001).

    2.2. North Atlantic Treaty Organization (NATO)

    Com o fim da Guerra Fria e com o desaparecimento da ameaa de um ataque militar

    direto, a NATO teve de assumir uma nova postura orientada para as CRO, que lhe permitiu

    fazer face, nomeadamente, instabilidade nos Balcs. Com o surgimento de um novo

    espectro de operaes12

    , a NATO tem estado concentrada num esforo de transformao

    tendente ao desenvolvimento de novas capacidades e processos, que culminam num

    conjunto de reformas, iniciativas e programas para rever atividades e procedimentos de

    trabalho, estando mais voltadas para a manuteno de paz.

    A agenda da Aliana focada essencialmente para Operaes e na Transformao,

    introduzindo programas de Parceria para a Paz (Leito, Freitas & Costa, 2009).

    Enquanto aliana, o objetivo da NATO o de salvaguardar da liberdade e

    segurana de todos os seus membros, atravs de meios polticos e militares, em

    conformidade com os princpios da carta das Naes Unidas. Apelando-se em valores

    comuns da democracia, de respeito pelos direitos do homem em primazia do direito, a

    Aliana empenha-se desde a sua criao em instaurar uma ordem pacifica, justa e

    duradoura na Europa(NATO The Alliances New Strategic Concept, 2005).

    A NATO redefiniu as tarefas e responsabilidades para alm da defesa coletiva13

    dos seus estados membros, passou a sentir a necessidade de garantir a paz e a estabilidade

    na rea do Euro-Atlntico" (Leito, Freitas & Costa, 2009). Como reflexo desta mudana

    de ambiente, foi aprovado em Washington, em 1999, a alterao do conceito estratgico de

    Aliana, onde foram consideradas as ameaas por estados falhados, a proliferao de

    11

    TACP - Tactical Air Control Party; 12

    Ver Anexo B, Espectro das operaes Militares. 13

    Ver Anexo C, Artigo 5 Defesa Coletiva.

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    10

    Armas de Destruio Macia (ADM) e outras ameaas transnacionais tais como disputas

    tnicas ou religiosas (Leito Freitas & Costa 2009).

    Neste contexto, a NATO adaptou-se inteiramente reformulando estruturas e

    capacidades militares, assumindo outras tarefas, como a gesto de crises, as Operaes de

    Apoio Paz (OAP), para alm de continuar a assegurar as responsabilidades de defesa

    coletiva (Leito, Freitas & Costa, 2009)

    O novo conceito estratgico, aprovado em Lisboa em novembro de 2010, veio

    atualizar os objetivos e a misso da NATO, mantendo o princpio de defesa coletiva (artigo

    5) e o compromisso com a preveno de crises, gesto de conflitos, estabilizao ps-

    conflito, trabalhando mais perto com a ONU e a UE. Neste novo sculo a NATO mantm a

    sua poltica de porta aberta a futuros membros e mostra abertura para trabalhar com

    parceiros de todo mundo. No novo conceito estratgico a NATO permanece numa aliana

    nuclear enquanto existirem armas nucleares (Strategic Concept NATO 2010).

    Ao investigarmos as misses dos Oficiais de Artilharia portugueses no exterior, no

    podemos, de forma alguma, deixar de considerar a participao assdua do Exrcito na

    NATO Response Force (NRF) e nos Battle Group (BG). Estas foras assumem-se cada vez

    mais como um catalisador de mudana no que respeita interveno em conflitos,

    possuindo uma capacidade de projeo para misses em TO exteriores Europa, o que

    constitui um desafio para o Exrcito.

    Embora a disponibilizao de unidades do SFN14

    do Exrcito para integrarem a

    NRF e os BG no seja exatamente igual quela que integra as FND em MHP, pode

    facilmente ser estabelecido um paralelismo entre estas participaes, o qual reconhecido

    pela prpria legislao15

    que enquadra ambas as tipologias de misso. O facto de estas

    unidades serem submetidas a um perodo intenso de treino operacional que precedido de

    um exerccio de certificao internacional e do consequente perodo de stand by (sendo

    consideradas Earmarked16

    durante este perodo), refora esse paralelismo.

    Ao considerarmos o conceito de FND anteriormente definido, verifica-se que as

    unidades que integram a NRF e os BG no correspondem ao termo FND no seu sentido

    restrito. No entanto, podem ser enquadradas no seu sentido lato.

    14

    Sistema de Foras Nacional. 15 Diretiva n23/CEME/08. 16 Foras que as naes concordam colocar sob comando ou controlo operacional, em data futura, de um

    Comando OTAN (Baptista, 2008).

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    11

    Neste trabalho de investigao aplicada, a pesquisa ser direcionada de forma a

    identificar e analisar as funes desempenhadas por Oficiais de Artilharia nos cargos

    ierentes s misses no exterior, no mbito das FND.

    2.3. Os Conceitos de NATO Response Force e de Battle Groups

    Sem pretender efetuar uma reflexo exaustiva acerca dos conceitos de NRF e de

    BG, naturalmente fora do mbito deste TIA, importa esclarecer qual a misso, organizao

    e constituio destas estruturas militares. O objetivo desta breve abordagem aos dois

    conceitos alcanar uma base slida para a nossa investigao.

    2.3.1. A NATO Response Force NRF

    A Aliana Atlntica criou uma fora conjunta e combinada17

    , caracterizada pela sua

    elevada prontido a NATO Response Force18

    (NRF). Com um efetivo de 25.000

    militares, a NRF capaz de ser destacada aps uma deciso poltica, sendo

    autossustentvel por um perodo de 30 dias. As vrias componentes da NRF encontram-se

    em stand by nos seus pases de origem, estando preparadas para serem destacadas para a

    rea de Operaes (AOp) se for necessrio.

    A NRF atingiu a sua capacidade operacional plena em outubro de 2006 e,

    atualmente, abrange um largo espectro de misses e o seu emprego efetuado pelo North

    Atlntic Council (NAC). Como nica fora presente no TO, pode efetuar (NATO, 2007):

    Operaes de Evacuao de No-Combatentes;

    Apoio gesto de consequncias19;

    Operaes de Resposta a Crises;

    Apoio de Operaes de Contra Terrorismo;

    Operaes de Embargo;

    17

    Fora multinacional que inclui unidades do Exrcito, Marinha e Fora Area, oriundas de vrias naes. 18

    Ver Anexo D - Estrutura da NRF. 19

    Em caso de incidentes NRBQ (Nuclear, Radiolgico, Biolgico e Qumico), ou em situaes de crise

    humanitria (NATO, 2007).

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    12

    Atuar como Initial Entry Force, facilitando a chegada das Follow-on Forces

    numa AOp conjunta, com ou sem o apoio da nao hospedeira.

    A constituio da NRF baseia-se no catlogo de foras CJSOR. Porm, devido ao

    facto de se verificarem constantemente lacunas (denominadas shortfalls) no seu

    preenchimento (nomeadamente nas valncias mais crticas, como os helicpteros),

    provvel que se evolua da conferncia de gerao de foras para a gerao de foras

    baseada numa Framework Nation (FwN). Este conceito prev que uma determinada nao

    se constitua como espinha dorsal da NRF, disponibilizando as valncias mais crticas e

    impedindo que existam lacunas na gerao de foras. Desta forma, a NRF organizada em

    mdulos vinculados a um determinado nvel de participao das naes intervenientes

    (Baptista, 2007):

    Nvel A A FwN garante a totalidade do mdulo (UEB, UEC), s poder existir

    outra nao, no caso de afiliaes permanentes como por exemplo, o caso

    da Brigada Franco-Alem;

    Nvel B A FwN garante 50% do mdulo, a participao de outras naes (entre

    duas e quatro) nesse mdulo possvel;

    Nvel C A FwN responsvel por um 25% do mdulo;

    Nvel D O mdulo pode ser provido por outra nao que o disponibilize;

    2.3.2. Os Battle Groups

    O conceito de BG surge no mbito da EU, referindo-se a uma Fora Tarefa de

    resposta rpida constituda por um efetivo de 1.500 militares. Neste contexto, o BG

    assume-se como um pacote de foras minimamente eficaz, credvel, projetvel e coerente,

    capaz de garantir o cumprimento de operaes de forma isolada ou fases iniciais de

    operaes de maior envergadura ()20

    (EU, 2006,p.1).

    A constituio21

    do BG baseia-se num documento denominado BG Concept, que

    prev uma UEB de manobra, reforada com meios dimensionados de Apoio de Combate e

    de Apoio de Servios. Esta constituio assenta no princpio da multinacionalidade atravs

    da constituio de um FwN ou de uma coligao de Estados-Membros. Cada BG dever ter

    20 Traduo Livre; 21 Ver Anexo E - Estrutura de um Battle Group.

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    13

    associado um Comando de Fora e capacidades operacionais e estratgicas pr-

    identificadas, como, por exemplo, o transporte estratgico (EU, 2006).

    Os nveis de ambio estabelecidos no Headline Goals 2010 preveem a

    capacidade da UE empreender dois BG em simultneo, em reas geogrficas distintas, no

    ano de 2010. Quanto s misses atribudas a um BG, este deve estar apto a desenvolver as

    seguintes tarefas (Lindstrom, 2007):

    Separao das Partes em Conflito;

    Preveno de Conflitos;

    Estabilizao, Reconstruo e Consultoria Militar a Pases Terceiros;

    Evacuao de No-Combatentes;

    Assistncia a Operaes Humanitrias.

    No que diz respeito gerao da fora, a iniciativa parte dos pases-membros que

    propem UE a criao de um BG. Desta forma, a nao que se assume como FwN tem o

    nus de edificao, ou seja, deve disponibilizar todas as unidades que no consegue

    angariar junto das restantes naes que compem o BG.

    Assiste-se, nesta fase, a um constante processo de negociaes com uma forte

    componente poltica, pois as naes tendem a disponibilizar unidades que lhes

    proporcionem visibilidade (Show the Flag), como o caso das unidades de Operaes

    Especiais. Uma vez terminadas as negociaes, a FwN apresenta UE uma organizao

    especfica do BG com a indicao dos pases membros que para ele contribuem, de

    maneira a atingir o princpio da multinacionalidade. O modelo apresentado deve exibir as

    capacidades do BG, e o perodo de tempo que essa fora est disponvel para ser empregue

    em operaes (normalmente seis meses).

    2.4. Organizao das Naes Unidas (ONU)

    A ONU foi fundada a 24 de julho de outubro de 1945, nos Estados Unidos da

    Amrica, mais propriamente na cidade de So Francisco do Estado da Califrnia. A ONU

    uma organizao constituda por governos da maioria dos pases do mundo. uma

    organizao internacional, cujo objetivo principal criar e colocar em prtica mecanismos

    que possibilitem a segurana internacional, desenvolvimento econmico, definio de leis

    internacionais que dizem respeito aos direitos humanos e o progresso social. Esta foi

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    14

    fundada logo aps a 2 Guerra Mundial e contava inicialmente logo com a participao de

    51 naes. Ainda no ambiente ps-guerra da segunda Guerra Mundial, a ONU procurou

    desenvolver mecanismos para evitar um novo conflito armado mundial. Hoje em dia so

    193 os pases membros desta organizao, em que 5 destes pases22

    fazem parte do

    Conselho de Segurana e detm o poder de veto sobre qualquer resoluo da ONU.

    A sua sede principal situa-se na cidade de Nova Iorque e os representantes definem,

    atravs de reunies constantes, leis e projetos sobre temas polticos, administrativos e

    diplomticos internacionais.

    A Carta das Naes Unidas exprime os principais objetivos da ONU que so os

    seguintes:

    Defesa dos direitos fundamentais do ser Humano;

    Garantir a paz mundial, colocando-se contra qualquer tipo de conflito armado;

    Busca de mecanismos que promovam o progresso social das naes;

    Criao de condies que mantenham a justia e o direito internacional;

    2.5. Operaes de Resposta a Crises

    De acordo com a delimitao do tema, que cinge o estudo participao nacional

    em misses no mbito da UE, NATO e ONU, torna-se fundamental distinguir as operaes

    previstas no conceito estratgico da NATO. Estas abrangem um vasto espectro23

    podendo

    ser operaes com base no artigo 5 24

    (referentes ao Tratado do Atlntico Norte25

    ), ou

    operaes de No-Artigo 5, normalmente designadas por CRO.

    A participao das FND em misses da NATO efetuou-se sempre no mbito das

    CRO, razo pela qual se aborda a participao nacional apenas neste domnio. Este facto,

    porm, no inviabiliza que as FND no possam vir a ser empregues em misses de carcter

    mais robusto, como por exemplo operaes ao abrigo do Artigo 5 da Aliana Atlntica.

    22

    Estados Unidos da Amrica, China, Rssia, Reino Unido e Frana. 23

    Ver Apndice B - Espectro das Operaes; 24

    Artigo 5 do Tratado do Atlntico Norte - () As Partes concordam que um ataque armado contra um

    ou vrios pases membros, na Europa ou nos EUA ser considerado um ataque contra todos, e,

    consequentemente, concordam que, se tal ataque armado se verificar, cada um, no exerccio do direito de

    legtima defesa, individual ou colectiva, reconhecido pelo artigo 51. da Carta das Naes Unidas,

    prestar assistncia Parte ou Partes atacadas () incluindo o uso da fora () (NATO, 1949). 25

    O Tratado Atlntico Norte foi assinado em 4 de Abril de 1949, e estabelecido ao abrigo do artigo 51 da

    Carta das Naes Unidas, o qual reafirma o direito inerente dos Estados Independentes, defesa individual

    ou colectiva.

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    15

    O atual sistema internacional marcado pela ecloso de focos de tenso e de conflitos

    regionais, com base em nacionalismos e diferenas tnicas, culturais e religiosas,

    possibilitou o aparecimento de uma ameaa multifacetada, imprevisvel e transnacional. O

    advento desta ameaa levou os Estados ao desenvolvimento de mecanismos coletivos para

    a satisfao de necessidades de segurana conjuntas, evitando o escalar da violncia a nvel

    mundial e promovendo a estabilidade internacional.

    Neste contexto, a Aliana Atlntica tem-se assumido como catalisadora na

    preveno e resoluo de crises, procedendo atualizao e desenvolvimento da doutrina

    de emprego das FA, permitindo que estas sejam empregues neste tipo de operaes (EME,

    2005). Perante este cenrio, as CRO surgem como () operaes multifuncionais que

    abrangem atividades polticas, militares e civis, executadas de acordo com a lei

    internacional, incluindo o direito internacional humanitrio, que contribuem para a

    preveno e resoluo de conflitos e a gesto de crises () (EME, 2005, 14-2).

    A tipologia das CRO compreende um vasto leque de operaes, as quais incluem

    um conjunto de diversas tarefas a serem desempenhadas em tempo de paz ou de crise.

    Estas regem-se por um aglomerado de princpios26

    , que tm como objetivo estabelecer uma

    uniformidade de comportamentos entre as entidades intervenientes neste tipo de operaes.

    As CRO organizam-se da seguinte forma (EME, 2005):

    1. Operaes de Apoio Paz (Peace Support Operations - PSO)

    Manuteno de Paz (Peace Keeping - PK);

    Imposio de Paz (Peace Enforcement PE);

    Preveno de Conflitos (Conflict Prevention CP);

    Restabelecimento de Paz (Peacemaking PM);

    Consolidao da Paz (Peace Building PB);

    Operaes Humanitrias (Humanitarian Operations - HO).

    2. Outras Operaes e Tarefas de Resposta a Crises

    Apoio s Operaes Humanitrias.

    Assistncia a Deslocados e Refugiados;

    Operaes Humanitrias (fora do mbito das PSO).

    Apoio a Assistncia a Desastres;

    Busca e Salvamento (Search and Rescue - SAR);

    Apoio a Operaes de Evacuao de No-Combatentes;

    26

    Ver Anexo F - Princpios das Operaes de Resposta a Crises.

  • Captulo 2 Enquadramento Conceptual

    16

    Operaes de Extrao;

    Apoio s Autoridades Civis;

    Imposio de Sanes e Embargos.

  • Captulo 3 - TO de Timor-Leste

    17

    Captulo 3 Teatro de Operaes de Timor-Leste

    3.1 O Conflito em Timor-Leste

    Em 1945, a Indonsia proclamou a independncia, e como se pretendia herdeira do

    imprio holands das ndias Orientais na sua integridade, no reivindicou Timor Leste.

    Com isto, alguns dos descontentes com a administrao portuguesa viravam-se para a

    Indonsia, no entanto o seu nmero sempre foi bastante restrito. A despeito da pobreza do

    territrio, mantinha-se de uma maneira geral, o equilbrio da sociedade tradicional, pouco

    abalada por uma colonizao rudimentar. Por sua Resoluo de 14 de Dezembro de 196027

    ,

    o Conselho de Segurana das Naes Unidas considerava Timor Leste como um territrio

    no autnomo, com direito autodeterminao (ONU, 2004).

    Portugal como potncia administrante responsabilizou-se perante a comunidade

    internacional em prestar informaes pedaggicas sobre o territrio at que este atingisse a

    autonomia plena. No entanto nesse mesmo ano, em 1975, comeou a agitao no territrio

    em que tiveram lugar diversas conversaes que deram origem a um programa de

    descolonizao. Contudo, este processo no decorreu de forma a evitar que eclodissem

    acontecimentos graves que culminaram numa guerra civil. Os partidos polticos que

    entretanto se formaram no consolidaram a sua posio, e a Frente Revolucionaria de

    Timor Leste Independente (FRETLIN), ideologicamente contraria ao Estado da Indonsia,

    declarou unilateralmente a independncia a Timor Leste em 28 de novembro desse mesmo

    ano. No final desse ano a Indonsia lanou uma operao militar anfbia contra Timor

    Leste. Em julho de 1976 o parlamento indonsio aprovou a integrao de Timor Leste

    como a provncia da Repblica da Indonsia. As autoridades indonsias procuravam

    concentrar a populao em aldeamentos junto ao litoral ou a vias de comunicao, o que

    fez com que as estruturas scias se desorganizem (Azevedo, Calmeiro, 2004).

    No exterior, os nacionalistas timorenses mantinham uma intensa atividade

    diplomtica, apoiados pela igreja28

    que teve um forte impacto sobre a opinio pblica

    mundial com os acontecimentos de 12 de novembro de 1991 no cemitrio de Santa Cruz,

    em Dili. Houve uma constante e ativa atividade diplomtica portuguesa que culminaram

    27

    Security Council Mission Reports, consultado em 19 Mar. 2013 e disponvel em http://www.un.org> 28

    Representada pelo administrador apostlico da diocese de Dili , Monsenhor Martinho da Costa Lopes.

  • Captulo 3 - TO de Timor-Leste

    18

    com a reverso da conscincia internacional, materializado pela atribuio do Prmio

    Nobel da Paz ao Bispo D. Carlos Ximenes Belo e ao dirigente poltico Jos Ramos Horta,

    ministro dos estrangeiros da resistncia timorense. (Idem)

    Em 1999, com a queda da presidncia do presidente Suharto da Indonsia, foi ento

    possvel a organizao de um referendo Timor Leste, atravs do qual o povo pde escolher

    livremente o seu prprio destino. Aps um complexo processo de negociaes

    diplomticas, Portugal e a Indonsia concluram em Nova Iorque trs acordos que

    permitiram que os timorenses fossem finalmente consultados sobre o futuro do seu

    territrio: autonomia no seio da Indonsia ou independncia. Nos termos desses acordos e

    com a interpretao que lhes foi dada pelas partes, pelo Secretrio-Geral e pelo Conselho

    de Segurana das Naes Unidas, decorreriam trs fases antes da transio para a

    independncia. A primeira fase decorria at consulta popular. A segunda fase dizia

    respeito revogao do ato de anexao pelo parlamento indonsio a Indonsia

    continuaria responsvel pela manuteno de paz e segurana do territrio. Durante a

    terceira fase Portugal e Indonsia comprometiam-se a transferir os destinos de Timor Leste

    at independncia ser declarada. As Naes Unidas atravs da United Nation Assistance

    Mission in East Timor (UNAMET), assumiram a responsabilidade da organizao da

    consulta popular e tambm pela avaliao dos resultados. (Ibidem)

    3.2 A Participao Nacional em Timor-Leste

    Relativamente a este TO, as foras militares portuguesas enviadas foram integradas

    na UNTAET (United Nations Transitional Administration in East Timor), sob mandato da

    Organizao das Naes Unidas.

    Para identificar a tipologia das funes desempenhadas neste teatro, recorremos s

    entrevistas realizadas a artilheiros portugueses que estiveram presentes neste TO. Neste

    contexto pudemos contar com a experiencia do Tenente-Coronel de Artilharia (TCOR

    ART) Marqus de Sousa e do Major de Artilharia (MAJ ART) Lus Sardinha.

    Segundo o TCOR ART Marqus de Sousa, a misso da ONU em Timor teve incio

    em setembro de 1999, aps a misso da INTERFET29

    (International Force in East Timor).

    A ONU estabeleceu ento a UNTAET sendo esta representada pelo Governo e

    29

    Ver anexo G Organizao da UNTAET (United Nations Transitional Administration in East Timor)

  • Captulo 3 - TO de Timor-Leste

    19

    Administrao Pblica (GPA Gorvenance and Public Administration), a ajuda

    Humanitria e Assistncia de Emergncia (HAER Humanitarian Assistence and

    Emergency Relief) e pela Fora Militar de Manuteno de Paz (PKF Peace Keeping

    Force). Esta PKF30

    constituia a componente militar da UNTEAT e teve como misso

    conduzir Operaes de Segurana de acordo com o mandato n 1272 do Conselho de

    Segurana da Organizao das Naes Unidas, e proteger e apoiar os outros componentes

    da UNTAET com o objetivo de estabelecer um ambiente de Paz e Segurana,

    possibilitando a organizao poltica, social e econmica em Timor Leste. (Sousa, 2001).

    O TCOR ART Marqus de Sousa, na poca Capito de Artilharia (CAP ART) foi

    Adjunto do Oficial de Operaes do Comando do Sector Central da PKF (Peace Keeping

    Force da UNTAET) que constitua o comando do sector portugus na ilha de Timor-Leste.

    Relativamente a meios humanos e materiais, estes foram adequados e suficientes

    para o cumprimento da misso, dispondo a clula de Operaes de bons meios

    comunicao, quer dentro do TO quer para Portugal, bem como um eficaz sistema de

    intranet das Naes Unidas. Esta clula de operaes era constituda dois oficiais do

    Exrcito (1 Major + 1 Capito) e um Sargento Fuzileiro, que dispunham de todos os meios

    adequados para o cumprimento das suas misses, embora as instalaes (alojamentos)

    carecessem de trabalhos de requalificao.

    Quanto ao ambiente operacional, foi salientada a necessidade das foras militares

    manterem um estreito contato com a populao, nomeadamente atravs de aes de apoio

    social, com o objetivo de obter a sua confiana, garantir a sua proteo e obter

    informaes. Neste tipo de operaes as informaes adquirem especial importncia face

    ao carcter clandestino das milcias, pela sua forma de atuar e pelo facto de se encontrarem

    inseridos no seio da populao, tornando necessrio um conhecimento profundo do meio,

    da populao e do terreno. Esta situao foi parcialmente mitigada pela relativa eficcia do

    apoio areo, sendo fcil solicitar um helicptero para reconhecimentos, buscas, etc.

    No que respeita ao meio fsico, as maiores dificuldades encontradas consistiram nas

    elevadas temperaturas, ms condies da rede rodoviria e acentuado relevo na zona

    central da ilha.

    Ao nvel operacional as principais dificuldades residiam, numa fase inicial, na

    ameaa das milcias que teimavam em resistir no seu objetivo de recuperar Timor para a

    Indonsia e que tentavam aterrorizar as populaes (que tinham votado e decidido serem

    30

    Ver anexo H Organizao da Fora de Manuteno de Paz (PKF)

  • Captulo 3 - TO de Timor-Leste

    20

    independentes) e procuravam afastar a ONU do territrio, tendo assassinado seis elementos

    do comissariado para os refugiados (UNHCR United Commissioner for Refugees) e dois

    militares da Nova Zelndia alguns dias antes de iniciar a Operao Cobra, em Agosto de

    2000. Esta operao destinou-se especificamente a limpar a zona sul do nosso sector,

    afastando as milcias que tinham o apoio clandestino de alguns generais indonsios e no

    mbito dessa misso. Em setembro de 2000, houve combates diretos entre foras

    portuguesas e grupos de milcias. Tambm ao nvel operacional foi difcil a comunicao

    devido ao facto dos militares estrangeiros no saberem falar as lnguas locais (Tetun, o

    dialecto tradicional ou a lngua Bahasa, indonsia).

    De acordo com a entrevista realizada, e no mbito da funo que desempenhou no

    TO de Timor-Leste, verifica-se que a motivao consituiu um factor de relevo, pelo facto

    de ser responsvel pelo sector mais importante, zona central, que inclua a cidade de Dli,

    uma das cidades mais problemticas do TO, tornando-se assim um desafio a superar.

    Por sua vez, o MAJ ART Lus Sardinha desempenhou as funes de Comandante

    do Mdulo de Ligao e Vigilncia do Campo de Batalha. Para alm de ser Oficial de

    Ligao do Batalho no 1BIMec, trabalhava igualmente para as informaes no mbito da

    proteo da fora.

    No que respeita a meios humanos e materiais necessrios para o cumprimento da

    misso, o mdulo era constitudo por um oficial, dois sargentos e duas praas, sendo mais

    tarde reforado por um oficial, formando assim duas equipas de trs elementos. O mdulo

    dispunha de boas comunicaes bem como dos meios informticos necessrios para o

    cumprimento da minha misso.

    As principais dificuldades que encontrou no TO de Timor-Leste residiram na

    passagem do testemunho, ou seja, na adaptao s novas tarefas e na dificuldade em

    colocar-se a par de tudo o que se passava. Sentiu ainda inicialmente alguma limitaes em

    estabelecer contatos no mbito do UMINT e familiarizar-se com os mesmos, pois tinha que

    ganhar confiana para que a recolha de informao fosse mais fluida. A nvel do meio

    fsico, as dificuldades mais sentidas foram as condies meteorolgicas e o terreno.

  • Captulo 3 - TO de Timor-Leste

    21

    3.3 Sntese Conclusiva

    Relativamente a este TO, as foras militares portuguesas enviadas foram integradas

    em misses da Organizao das Naes Unidas em Timor-Leste UNTAET (United

    Nations Transitional Administration in East Timor). A tipologia de funes estava

    relacionada com a Ajuda Humanitria e Assistncia de Emergncia, assegurada pela Fora

    Militar de Manuteno de Paz, aliada com as atividades na rea das informaes. Era assim

    importante manter um estreito contacto com a populao com o objetivo de obter a sua

    confiana, garantir a sua proteo e obter informaes, em especial se atendermos ao

    carcter clandestino das milcias.

    Considerando a informao recolhida, podemos dar resposta QD1: Quais as

    funes desempenhadas pelos Artilheiros Portugueses no TO de Timor-Leste?.

    As funes desempenhadas pelos Oficiais de Artilharia, apuradas nas entrevistas,

    foram as de Adjunto do Oficial de Operaes do Comando do Sector Central da PKF,

    desempenhada pelo TCOR ART Marqus de Sousa, e de Comandante do Mdulo de

    Ligao e Vigilncia do Campo de Batalha, desempenhada pelo MAJ ART Lus Sardinha.

    Releva-se que, em ambos os casos, a motivao constituiu um factor digno de relevo.

  • Captulo 4 - TO da Bsnia e Herzegovina

    22

    Captulo 4 - Teatro de Operaes da Bsnia e Herzegovina

    4.1 O Conflito na Bsnia Herzegovina

    A Ex-Federao da Jugoslvia foi at 1990 constituda pelas Repblicas da Crocia,

    Srvia, Eslovnia, Bsnia, Macednia e Montenegro. Em 1991, a Eslovnia e a Crocia

    efetivaram o seu desejo de abandonar a Federao da Jugoslvia e a situao tornou-se

    insustentvel quando 94% dos eleitores na Crocia aprovaram em referendo a

    independncia, que foi proclamada em 25 de junho de 1991. No mesmo dia, a Eslovnia

    declarava a independncia, o que originou a guerra com a interveno do Exrcito do Povo

    Jugoslavo em resposta s tomadas de posio da Eslovnia e da Crocia.

    Em 29 de fevereiro de 1992 era realizado um referendo na Bsnia e Herzegovina,

    tendo a maioria (muulmanos e croatas) obtido um resultado de 99% a favor da

    independncia. Com este resultado tambm a Bsnia e Herzegovina se viria a tornar

    independente no dia 3 de maro de 1992, sendo reconhecida pela Comunidade Europeia

    trs dias depois.

    Em maio de 1992, o Conselho de Segurana das Naes Unidas (CSNU), atravs da

    UNSCR31

    752, exigia o fim dos combates na Bsnia e Herzegovina entre srvios, croatas e

    muulmanos, aprovando o envio da UNPROFOR32

    para esta regio.

    Acompanhando as restantes repblicas, tambm a Macednia declarou a sua

    independncia no dia 8 de abril de 1993.

    A UNPROFOR, sob os auspcios da ONU, no conseguiu controlar a crise existente

    nos Balcs, obrigando a NATO a intervir por diversas vezes para fazer respeitar a zona de

    excluso do espao areo33

    imposta sobre a Bsnia e Herzegovina ao abrigo da UNSCR

    781. Apesar das sanes impostas pela ONU, a situao agravou-se e assistiu-se mesmo a

    uma escalada da violncia, o que obrigou a NATO a elaborar planos de emergncia para

    apoiar uma eventual retirada das tropas da ONU da Bsnia e Herzegovina. Assiste-se a um

    intenso debate poltico para alcanar uma soluo, porm as partes envolvidas tardavam a

    chegar a um acordo, enquanto que no terreno a NATO intensificava os raids e os

    31

    UNSCR - United Nations Security Council Resolution; 32

    UNPROFOR - United Nations Protection Force; 33

    No-Fly Zones ;

  • Captulo 4 - TO da Bsnia e Herzegovina

    23

    bombardeamentos areos em resposta aos ataques areos srvios na zona de excluso do

    espao areo estabelecida pela Aliana.

    Finalmente, no dia 5 de outubro de 1995, era assinado um acordo geral de cessar-

    fogo proposto pelos Estados Unidos da Amrica (EUA), sendo aceite por todas as partes

    beligerantes iniciando-se as negociaes de paz.

    O Acordo de Paz de Dayton34

    veio consolidar o acordo geral de cessar-fogo,

    constituindo-se como o trmino de uma guerra que durou cerca de trs anos e meio e

    provocou centenas de milhares de mortos. Ao abrigo deste acordo, foram estabelecidas

    duas entidades no territrio da Bsnia e Herzegovina: a Repblica Srvia da Bsnia e a

    Federao Croata Muulmana. Estas duas entidades encontravam-se separadas por uma

    linha (IEBL)35

    , sobre a qual foi criada uma rea de segurana materializada no terreno por

    uma faixa de dez quilmetros, designada por zona de separao (ZOS)36

    (Saraiva, 2008).

    A IFOR intervm no territrio da Bsnia e Herzegovina ao abrigo da UNSCR 1031,

    com a misso37

    de fiscalizar e impor o cumprimento do Acordo de Paz de Dayton. A

    estrutura de comando da IFOR38

    era composta por trs divises lideradas pela Frana,

    Reino Unido e EUA.

    4.2. A Participao Nacional na Bsnia e Herzegovina

    Com base nas entrevistas realizadas, iremos identificar e analisar as funes

    relativas participao de artilheiros portugueses no TO da Bsnia e Herzegovina,

    nomeadamente no mbito da EUFOR e da SFOR.

    Neste TO os entrevistados desempenharam funes no especificas da Arma de

    Artilharia, embora estivessem presentes no TO unidades de Artilharia constitudas,

    oriundas de outros pases da aliana.

    Relativamente a este TO identificmos, de acordo com as entrevistas realizadas, as

    funes de Comandante de Peloto de Morteiros Mdios da Companhia de Apoio do

    1BIPara/SFOR, desempenhadas pelo MAJ ART Carlos Prata (na altura Tenente) e de

    34

    Ver Anexo J - O Acordo de Paz de Dayton. 35

    IEBL - Inter Entity Boundary Line; 36

    ZOS - Zone Of Separation; 37

    Ver Anexo I Misso da IFOR em 1996. 38

    Ver Anexo I Estrutura de Comando e Controlo da IFOR em 1996.

  • Captulo 4 - TO da Bsnia e Herzegovina

    24

    Oficial de Pessoal / Logstica / Justia no CampPRT / EUFOR LOT / EUFOR,

    desempenhada pelo MAJ ART Nlson Rego.

    Segundo o MAJ ART Carlos Prata, a motivao consituiu um factor de relevo, uma

    vez que teve a oportunidade de desempenhar de funes de comando. O Peloto de

    Morteiros que comandou era guarnecido por militares da Arma de Artilharia, orirundos do

    RA4, sedeado em Leiria. os quais foram previamente sujeitos a formao especfica na

    operao deste sistema de armas na fase do aprontamento.

    Em sua opinio, a escassa participao de artilheiros em FND acarreta algum

    descontentamento e at desmotivao dos oficiais de Artilharia. A sua misso foi,

    comparativamente com as outras Armas e Servios, cumprida com igual proficincia, o

    que indicia a competncia profissional dos Oficiais de Artilharia no que respeita sua

    participao neste tipo de misses.

    As principais dificuldades sentidas residiram na adaptao ao TO da Bsnia e

    Herzegovina, que em 2001/2002 era ainda desconhecido por parte dos militares

    portugueses.

    Para alm de dispor dos meios necessrios, chegou a fazer tiro de morteiros no TO

    da Bsnia e Herzegovina, o que foi bastante motivador face nova experincia operacional

    adquirida. Executou igualmente patrulhas, quando empregue conjuntamente com as

    Companhias de Atiradores, tendo os artilheiros cumprido com igual proficincia,

    comparativamente com os seus antecessores de Infantaria ou Cavalaria, as misses,

    servios e patrulhas que lhes foram imputados.

    Outra perspetiva foi manifestada pelo MAJ ART Nlson Rego, que testemunhou a

    elevada experincia adquirida ao nvel do Estado-Maior de uma Unidade. O desempenho

    de tarefas na rea das informaes e HUMINT foi igualmente bastante motivador, por se

    tratar de uma nova experincia.

    Releva-se o facto de que as funes desempenhadas no TO da Bsnia e

    Herzegovina, por estes Oficiais de Artilharia, no so especficas da Arma de Artilharia,

    mas tradicionalmente desempenhadas por Oficiais de Infantaria, Cavalaria ou de qualquer

    Arma ou Servio. Na maioria dos casos, a participao dos Artilheiros Portugueses

    verifica-se no mbito das funes de Estado-Maior, check points, Centros de Relato e

    Controlo (CRC), patrulhas e segurana a determinadas reas do TO, Servio de Guarnio,

    Apoio de Servios, entre outros.

  • Captulo 4 - TO da Bsnia e Herzegovina

    25

    Ambos dispuseram de meios humanos e materiais adequados para o cumprimento

    das suas misses.

    4.3. Sntese Conclusiva

    Nos dias de hoje, o emprego de uma Unidade de Artilharia, na sua funo especfica

    de apoio de fogos, s se enquadra em cenrios de combate, como so o caso do Lbano e

    Afeganisto.

    Tal no invalida que a participao de Artilheiros portugueses em misses de FND,

    para alm de possibilitarem a aquisio de novas experiencias e aptides, aos nveis

    pessoal e profissional, designadamente atravs do desempenho das mesmas funes

    normalmente atribudas aos oficiais de manobra, constituam uma mais-valia para a

    Artilharia em particular e para o Exercito Portugus em geral.

    De acordo com as experiencias estudadas, depreende-se que a participao de

    Artilheiros Portugueses em FND, em especial no que ao TO da Bsnia e Herzegovina, se

    centra no desempenho de funes de Estado-Maior ou de apoio s unidades de manobra,

    inseridos ou no nestas, nomeadamente atravs da execuo de check points e patrulhas,

    guarnecendo Centros de Relato e Controlo (CRC) ou desempenhando tarefas no mbito do

    Servio de Guarnio e do Apoio de Servios, entre outros.

    .Considerando a informao recolhida, podemos dar resposta QD2: Quais as

    funes desempenhadas pelos Artilheiros Portugueses no TO da Bsnia e Herzegovina?.

    As funes identificadas foram as de Comandante de Peloto de Morteiros Mdios

    da Companhia de Apoio do 1BIPara/SFOR e de Oficial de Pessoal / Logstica / Justia no

    CampPRT / EUFOR LOT / EUFOR,

  • Captulo 5 TO do Kosovo

    26

    Captulo 5 Teatro de Operaes do Kosovo

    5.1. O Conflito do Kosovo

    Durante a ltima dcada, o Exrcito Portugus participou sucessivamente com FND

    na KFOR, exceo feita interrupo ocorrida entre os anos de 2001 e 2004, devido

    necessidade de envio de tropas para o TO de Timor-Leste.

    semelhana do conflito da Bsnia e Herzegovina, e antes da anlise dos study-

    case, importa efetuar um breve enquadramento dos antecedentes que levaram sua

    interveno da NATO no territrio do Kosovo.

    A provncia do Kosovo fica situada no Sul do territrio da Repblica da Srvia,

    possuindo uma populao mista com maioria de etnia albanesa. At 1989 a provncia

    beneficiou de um elevado grau de autonomia dentro do territrio da antiga Ex-Jugoslvia.

    No entanto, quando Slobodan Milosevic39

    subiu ao poder, a provncia perdeu a sua

    autonomia ficando sob o controlo direto de Belgrado, o que levou os albaneses residentes

    no Kosovo a oporem-se radicalmente a esta deciso.

    Durante o ano de 1998, os confrontos entre as foras da Srvia e os kosovares

    albaneses resultaram em mais de 1.500 mortos e 400.000 refugiados. A comunidade

    internacional manifestou preocupao relativamente catstrofe humanitria e

    permanente escalada do conflito, com a possibilidade de este se estender a pases vizinhos.

    A UNSCR 1199 exteriorizava uma profunda preocupao com o excessivo uso de

    fora por parte das foras da Srvia, apelando tambm ao cessar-fogo por ambas as partes

    do conflito e estabelecendo um limite mximo de foras srvias no Kosovo. Ficou tambm

    acordado que a Organizao para a Segurana e Cooperao na Europa (OSCE)

    estabelecesse uma unidade de observao, a Misso de Verificao no Kosovo (KVM)40

    ,

    para observar o cumprimento das diretivas do CSNU.

    Apesar de todos os esforos, a situao no Kosovo agravou-se novamente aps uma

    srie de atos de provocao de ambas as partes. As foras militares e policiais srvias

    intensificaram o uso da fora nas suas operaes contra os kosovares albaneses,

    39

    Slobodan Milosevic foi presidente da Repblica da Srvia entre 1989 e 1997, e presidente da Jugoslvia

    entre 1997 e 2000. Em 2001, foi acusado pelo Tribunal Penal Internacional de Haia por crimes de guerra

    contra a humanidade e genocdio cometidos durante a guerra civil da Jugoslvia. 40

    KVM Kosovo Verification Mission;

  • Captulo 5 TO do Kosovo

    27

    movimentando tropas e meios militares para a regio num claro desrespeito UNSCR

    1199. Este facto fez com que a KVM se retirasse da regio pois, para alm de no poder

    cumprir a sua misso de observao, tambm enfrentava oposio das foras srvias.

    Face ao incumprimento da UNSCR 1199, no dia 23 de Maro de 1999, a Aliana

    iniciou os ataques areos com a operao Allied Force. Esta campanha area de 77 dias

    terminou no dia 10 de junho de 1999, quando o Secretrio-Geral da NATO, Javier Solana,

    anunciou suspender temporariamente as operaes areas contra a Jugoslvia. Esta deciso

    foi tomada pelo NAC depois de atingido um consenso e de o Comandante Supremo Aliado

    da Europa (SACEUR) ter confirmado que as foras jugoslavas tinham iniciado a sua

    retirada do Kosovo. Esta retirada encontrava-se em conformidade com o Acordo Tcnico

    Militar (MTA41

    ).

    No dia 10 de junho foi aprovada a UNSCR 1244 que congratulava a aceitao dos

    princpios sobre a soluo poltica para a crise no Kosovo por parte da Repblica Federal

    da Jugoslvia. A UNSCR 1244 inclua um fim imediato da violncia e uma rpida retirada

    das suas foras militares, policiais e paramilitares do Kosovo. Com a adopo desta

    resoluo, o NAC iniciou os preparativos para o envio rpido de uma fora de segurana

    mandatada pelo CSNU (NATO, 2001).

    A KFOR42

    entrou no Kosovo no dia 12 de junho de 1999, executando a Operao

    Joint Guardian43

    com uma fora de carcter multinacional inicialmente constituda por

    cerca de 20.000 militares divididos entre 6 Brigadas (MNB44

    ), lideradas respetivamente

    pela Alemanha, EUA, Frana, Itlia e duas pelo Reino Unido. Estas brigadas foram

    implantadas territorialmente45

    , dando origem a 5 sectores sob o comando unificado do

    Comandante da KFOR (COMKFOR46

    ) (NATO, 1999).

    3.4 A Participao Nacional no Kosovo

    No que toca tipologia de funes, e tendo por base as entrevistas efetuadas, foram

    identificadas as seguintes funes: Comandante do Esquadro de Reconhecimento (ERec)

    41

    MTA Military Technical Agreement; 42

    Ver Anexo K - Misso da KFOR; 43

    Nome de cdigo da operao KFOR, conduzida pela OTAN na provncia srvia do Kosovo, a partir de 10

    de Junho de 1999 (NATO, 2009). 44

    MNB Multinational Brigade;

    45

    Ver Anexo K Estrutura de C2 da KFOR.

    46 COMKFOR Commander KFOR;

  • Captulo 5 TO do Kosovo

    28

    do Agrupamento Delta da KFOR, desempenhada pelo TCOR ART Miguel Freire, e

    Adjunto das Informaes do 3 Batalho de Infantaria Paraquedista (3BIPara),

    desempenhada pelo MAJ ART Carlos Prata.

    Segundo o TCOR CAV Miguel Freire, os nveis motivacionais foram elevados,

    uma vez que, no seu caso em particular, comandava uma unidade de manobra, mais

    concretamente um ERec.

    Ao nvel dos meios, a nica alterao relevante, tendo por base os quadros

    orgnicos do ERec da Brigada Mecanizada (BrigMec), foi a substituio dos M113 e dos

    carros de combate pelas viaturas M11 e Chaimites, sendo mantida a organizao base e a

    doutrina de emprego do ERec. Relativamente ao efetivo, este era constitudo por cerca de

    uma centena de militares, em que 50% eram da unidade de origem. O restante efetivo,

    como por exemplo os condutores de VBTP e de M11, era proveniente de outras unidades,

    designadamente do Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) da BrigMec.

    O ERec constitua uma das duas subunidades do Agrupamento Delta, que

    compreendia uma Companhia de Atiradores (CAt), equipada com viaturas blindadas de

    rodas M11, Chaimite e V200 (Chaimite com morteiros) e uma segunda CAt equipada com

    viaturas M113 e Iveco. O ERec compreendia organicamente trs pelotes, dois de

    reconhecimento e um de morteiros pesados, os quais foram reorganizados para garantir que

    possussem as mesmas capacidades, podendo cumprir de igual modo as mesmas misses,

    independentemente da sua natureza.

    Referiu ainda que o MAJ ART Luz Costa desempenhou as funes de 2

    Comandante de Batalho do Kosovo, o que indicia que, independentemente do seu

    desempenho, todos os Oficiais de Artilharia tm condies para desempenhar funes de

    Estado-Maior, que normalmente so atribudas a Oficiais de Infantaria ou Cavalaria.

    NO entanto, dado que os Agrupamentos tm origem em Unidades de Escalo

    Batalho, de Infantaria ou Cavalaria, natural que os Oficiais de Operaes e os

    Comandantes de Unidade das FND sejam oriundos dessas unidades de origem.

    No que respeita s funes de Oficial de Operaes, e dadas as suas

    responsabilidades no aprontamento, superviso do treino e planeamento e execuo no

    teatro, natural que a escolha recaia sobre o oficial da unidade de origem, uma vez que

    conhecedor dos seus homens e meios, bem como da tipologia de misses que podero ser

    atribudas sua unidade.

  • Captulo 5 TO do Kosovo

    29

    Foi ainda referid que, embora a nomeao de Oficial de Operaes de uma FND

    incida normalmente sobre oficiais habilitados com o Curso de Estado-Maior, tal no exclui

    a possibilidade de um Oficial de Artilharia, habilitado com o Curso Promoo Oficial

    Superior (CPOS), desempenhar estas funes. Como anteriormente referido, natural que

    um Comandante escolha um Oficial de Operaes da sua unidade, o que no obsta a que o

    Oficial de Operaes possa ser um Oficial de Artilharia com reconhecimento e

    competncia tcnica.

    Segundo o MAJ ART Carlos Prata, Adjunto das Informaes do 3BIPara (e que

    mais tarde veio a assumir a funo de Oficial de Informaes do Batalho, face passagem

    reserva do seu chefe direto), a funo que lhe foi atribuda s tinha sido desempenhada

    por Oficiais de Infantaria, tratando-se pois de uma situao motivadora, uma vez que a sua

    nomeao indicia o reconhecimento das suas competncias, em paridade com os oficiais

    das restantes Armas e Servios. O facto de ter tido a oportunidade de trabalhar com uma

    Equipa de Operaes Especiais, especializada na busca e pesquisa de informaes,

    constituiu igualmente uma nova experincia e, uma vez mais, um fator motivador.

    Relativamente aos meios humanos e materiais, os mesmos foram suficientes para o

    eficiente cumprimento da misso. A sua seco, tal como definida na ordem de batalha da

    misso, estava integralmente constituda, sendo ainda apoiada, como j vimos, por uma

    Equipa de Operaes Especiais.

    Quanto s dificuldades encontradas, o MAJ ART Prata destaca a adaptao ao TO

    do Kosovo, onde as populaes eram mais desconfiadas e arrogantes. Por outro lado, a

    nvel profissional, sentiu tambm algumas dificuldades no trabalho em equipa com os

    militares ingleses integrados na KFOR, cujos procedimentos e terminologia diferem dos

    adotados pelas foras nacionais, o que influenciou negativamente a realizao de algumas

    operaes conjuntas. No entanto, com o decorrer das operaes, as dificuldades foram

    ultrapassadas, cumprindo deste modo a misso estabelecida.

    3.5 Sntese Conclusiva

    Os Oficiais de Artilharia tm as condies para o desempenho das funes de

    Comandante e 2Comandante, tendo como exemplo do MAJ ART Luz Costa, que foi o

    2Comandante de Batalho no Kosovo. Independentemente do seu desempenho, todos os

  • Captulo 5 TO do Kosovo

    30

    oficiais de Artilharia tm igualmente condies para desempenhar as funes normalmente

    atribudas a oficiais de Infantaria ou Cavalaria.

    No caso especfico das funes de Comandante de Unidade e Oficial de Operaes,

    normal estas recarrem nos militares das unidades de manobra de origem, uma vez que

    so conhecedores dos seus homens e meios. No entanto esta situao obsta a que o Oficial

    de Operaes, por norma, possa ser um Oficial de Artilharia, independentemente do seu

    mrito e competncia tcnica.

    Considerando a informao recolhida e apresentada, estamos em condies de dar

    resposta QD3: Quais as funes desempenhadas pelos Artilheiros Portugueses no TO do

    Kosovo? As funes desempenhadas por artilheiros portugueses foram a de Comandante

    do ERec do Agrupamento Delta da KFOR e de Adjunto das Informaes do 3BIPara.

  • Captulo 6 Participao dos Artilheiros Portugueses nas FND - Aspetos positivos e negativos

    31

    Captulo 6 - Participao dos Artilheiros Portugueses nas FND - Aspetos

    positivos e negativos

    6.1. O Futuro da Artilharia Portuguesa nas Foras Nacionais Destacadas

    No Seminrio de Artilharia de Campanha, subordinada ao tema Linhas para o

    futuro, realizado em Queluz a 20 de junho do corrente ano, no Regimento de Artilharia

    Antiarea n1 (RAAA1), teve lugar o debate sobre a participao da Artilharia nas OAP.

    Este tema no novo, sendo a questo da participao da Artilharia em misses no

    exterior, no mbito das FND, um assunto que tem vindo a ser objeto de debates nos

    ltimos anos, quer no mbito dos Seminrios de Artilharia quer ainda em artigos militares,

    das quais naturalmente se destacam as declaraes e artigos de opinies emanados pelos

    Diretores Honorrios da Arma de Artilharia, cujas orientaes e diretivas constituem a

    posio institucional da Arma, e que importa assim considerar. De entre estes, destacamos

    os seguintes:

    As Operaes de Apoio Paz, solicitao prioritria, da atual conjuntura

    estratgica, tm um quadro de exigncia diversificado e essa resposta tem sido dada de

    forma multidisciplinar, envolvendo em todos os Exrcitos as suas unidades operacionais,

    que hoje tm de ter capacidade para, em simultneo e em todo o espectro do conflito,

    desenvolverem as aes especficas da sua natureza operacional, aes de estabilizao e

    aes humanitrias/CIMIC, em todo o Teatro de Operaes que lhe for atribudo. Estas

    novas misses e correspondentes capacidades, devem ser encaradas como prioritrias e, na

    oportunidade mais conveniente, equacionar a participao de uma Unidade de Artilharia de

    Campanha, de escalo Grupo e tambm da Artilharia Antiarea, de escalo Peloto ou

    Bateria, nas NRF.

    Tambm no quadro das FND, considera-se necessrio ponderar a utilizao que at

    agora tem acontecido com os quadros artilheiros, apenas ao nvel de funes de Estado-

    Maior, de monotorizao e de ligao, devendo essa prtica ser ampliada para a utilizao

    de unidades constitudas, includas na normal rotao dos agrupamentos que tm vindo a

    ser formados. (Pinto Ramalho, 2006)

  • Captulo 6 Participao dos Artilheiros Portugueses nas FND - Aspetos positivos e negativos

    32

    A este propsito, julgo oportuno trazer aqui as principais concluses do seminrio

    que a Artilharia efetuou, este ano, no Regimento de Artilharia Antiarea N 1, tendo como

    tema A Artilharia nas Foras Expedicionrias, no qual a participao de subunidades de

    Artilharia na NRF da NATO e nos BG da UE foi considerada de grande importncia para a

    Arma, ().

    Os artilheiros manifestaram, tambm, a disponibilidade, capacidade e vontade de

    participarem, com unidades constitudas, na rotao normal dos agrupamentos em misses

    de manuteno da paz e humanitrias, no mbito das Foras Nacionais Destacadas. Esta

    participao representa uma mais-valia para o Exrcito, na medida em que aumenta as

    foras disponveis para este tipo de misses e contribui para um nvel de treino e de

    experincia operacional mais equitativo entre as Armas, com reflexos positivos na

    motivao do pessoal e no prestgio da Arma. (Ferreira da Silva, 2007)

    J aqui referi, no ano passado, e reafirmo a disponibilidade e o interesse dos

    artilheiros em participarem, de forma mais igualitria com as outras Armas, nas misses

    internacionais, com o que isso representa para a sua valorizao profissional. Estamos

    convencidos de que possvel e desejvel uma participao mais equilibrada de unidades

    de Artilharia nas Operaes de Apoio Paz, designadamente como unidades de manobra

    de escalo superior a peloto, o que alm de constituir um importante estmulo para o

    pessoal, permitiria contribuir para um nvel de treino e de experincia operacional mais

    equitativo entre as Armas e aumentar as Foras do Exrcito disponveis para este tipo de

    operaes. (Ferreira da Silva, 2008)

    Por sua vez, uma regular parti