Acção Antrópica na Costa de Caparica

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Acção Antrópica na Costa de Caparica Marisa Milhano 11ºB1 nº13 Biologia e Geologia Professora Vanda Grilo Escola Secundária Romeu Correia Ano Lectivo 2009/2010 23 de Abril de 2010

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Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Biologia e Geologia sobre a acção antrópica na Costa de Caparica. © Copyright Marisa Milhano 2010

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Acção Antrópica

na Costa de

Caparica

Marisa Milhano

11ºB1 nº13

Biologia e Geologia

Professora Vanda Grilo

Escola Secundária Romeu Correia

Ano Lectivo 2009/2010

23 de Abril de 2010

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Acção Antrópica na Costa de Caparica

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Índice Pág.

Introdução 3

Principais causas da erosão marinha nas praias da Costa de Caparica e nas

praias de São João 4

Fenómenos antrópicos na evolução do litoral nas praias de Costa de

Caparica e nas praias de São João 5

Intervenções antrópicas nas praias da Costa de Caparica e nas praias de

São João 6

Conclusão 8

Bibliografia 10

Webgrafia 10

Anexos 12

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Introdução

O troço litoral em estudo corresponde a uma porção

da fachada ocidental da Península de Setúbal,

nomeadamente localizada no Norte desta, entre as praias

de São João (e INATEL) e as praias da Costa de Caparica.

Este troço costeiro é principalmente caracterizado

como sendo possuidor de uma planície litoral baixa, em

que as cotas se encontram mais baixas que a preia-mar

das águas vivas, por possuir um substrato brando, de

areias claras, devido às ondulações intensas e persistentes

do mar, e pela intensa ocupação litoral que sofre

continuamente.

O estudo destas zonas costeiras possui como principais objectivos identificar as

causas e os efeitos da erosão marinha nas praias da Costa de Caparica e de São João da

Caparica, examinar a evolução do litoral nestas praias, observar e analisar as

consequências da construção de estruturas pesadas por parte da engenharia costeira,

como esporões ou molhes, enrocamentos e paredões, de forma a travar o avanço

contínuo do mar.

Fig.1: Parte do mapa da zona

costeira da Península de Setúbal,

nomeadamente entre a Cova do

Vapor e as praias da Fonte da Telha

Fig.2: Mapa da área situada a Norte da zona costeira da Península de Setúbal

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Principais causas da erosão marinha nas praias

da Costa de Caparica e nas praias de São João

As zonas costeiras (ou zonas da orla marinha) possuem uma intensa actividade

geológica, provocada pelo mar. Fenómenos como o movimento das ondas, a subida e

descida do nível das águas provenientes das marés, e as correntes marinhas resultantes

do movimento das águas de uns locais para outros, provocam um intenso desgaste dos

materiais da superfície continental, causando a deposição desses detritos, por vezes, em

locais afastados do original. Esta acção do mar sobre o litoral designa-se por abrasão

marinha.

Em Portugal, particularmente nas praias da

Costa de Caparica e nas praias de São João, a

principal causa de erosão nas zonas costeiras é o

défice de alimentação sedimentar, por parte do

rio Tejo. No tempo em que não possuía

barragens, o Tejo transportava até ao mar, a areia

resultante da erosão das suas bacias

hidrográficas. Contudo, actualmente, as

barragens, para além de reterem a água, retêm

também os seus sedimentos.

A construção de barragens no rio Tejo conduziu assim à redução da área que era

directamente drenada para o mar em 85%. Desta forma, se nas praias existe uma menor

quantidade de areia para as ondas do mar transportarem, estas começam então a

remover a que se encontra lá.

Por outro lado, é também possível observar-se uma tendência para uma subida do

nível médio do mar, nos últimos anos. Esta deriva do aumento da temperatura média

global do planeta, o que provoca uma expansão térmica dos oceanos e a fusão de

massas de gelo, originando um maior volume de água. Esta situação tem levado ao

avanço do mar relativamente à nossa costa portuguesa, ultrapassando os níveis em que

anteriormente se encontrava em relação à nossa faixa litoral. Este tipo de fenómeno

denomina-se por transgressão marinha.

Fig.3: Visível défice de alimentação sedimentar

nas praias de São João da Caparica

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Fenómenos antrópicos na evolução do litoral nas praias

da Costa de Caparica e nas praias de São João

A erosão e a deposição dos sedimentos

provenientes do rio Tejo conduziram à formação das

praias da Costa de Caparica e das praias de São João.

Estas praias acumulam predominantemente areias de

grão fino e claro, que resultaram da litologia, da forma

da costa portuguesa e da dinâmica das ondas. São

locais muito frágeis, tanto do ponto de vista ecológico,

como do ponto de vista geológico.

Nas praias de São João é possível encontrar-se

dunas, que impedem o avanço do mar para o interior, e

que constituem ecossistemas únicos, de grande

diversidade. Estes, por sua vez, ajudam na fixação das

dunas, ocorrendo assim um dinamismo de mútua ajuda

e cooperação entre ambos.

A região da Costa de Caparica constitui também um bom exemplo da forte

intervenção antrópica no litoral do nosso país, conduzindo à sua artificialização,

acompanhada de uma densidade de construção crescente de forma desordenada.

Entre as acções antrópicas nas zonas costeiras da Caparica, destacam-se:

A ocupação da faixa litoral com estruturas de lazer e recreio, nomeadamente

hotéis e campos de golfe;

A destruição das defesas naturais, como as dunas, devido ao pisoteio e ao

arranque da cobertura vegetal;

Extracção de materiais para a construção civil.

Figs. 4, 5 e 6: Ecossistemas nas dunas das praias de

São João da Caparica

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Intervenções antrópicas nas praias da Costa

de Caparica e nas praias de São João

A situação na faixa litoral da Costa da Caparica tem levado, desde a década de 60

do séc. XX, a certas intervenções antrópicas que, muitas vezes, em vez de solucionarem

os problemas resultantes do avanço do mar, apenas os têm agravado ou deslocado

para outros locais.

Na tentativa de resolver estes problemas, o Homem tem construído ao longo da

costa algumas obras de protecção, como esporões, enrocamentos ou paredões.

Os esporões ou molhes são obras de protecção

costeira perpendiculares à linha da costa, geralmente

construídos com materiais rochosos, podendo também

ser constituídos por betão.

Os enrocamentos ou paredões são estruturas

longitudinais, compostas por blocos de rocha, que possuem

como objectivo salvaguardar, temporariamente, construções em

zonas de erosão.

Entre 1947 e 1951, o litoral da Costa de Caparica recuou 500 metros. Este facto

conduziu à construção do 1º esporão na Cova do Vapor, a fim de evitar a progressão

das areias para o interior do porto.

Figs. 7 e 8: Esquematização de esporões e de paredões, respectivamente.

Figs. 9 e 10: Fotos do primeiro esporão construído

na Cova do Vapor

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Mais tarde, foram construídos mais 7 esporões ao longo

da Costa de Caparica, a fim de reterem as areias que

viajavam de Sul para Norte. Estas construções de

estruturas pesadas por parte da engenharia costeira

deram origem a praias com acumulações triangulares de

sedimentos entre os esporões.

Com o aumento do poder erosivo do mar, e da

subida do nível médio das águas, as praias estão

sujeitas a ficarem sem areia, fazendo com que o mar

consiga até remover os blocos dos paredões ao longo

da costa, igualmente construídos para evitarem o

avanço do mar para as povoações locais.

O último caso grave do avanço do mar nas praias de São João da Caparica ocorreu

em Dezembro de 2006, e colocou em risco a vida das centenas de pessoas que se

encontravam no parque de campismo da INATEL. Como medida de urgência, realizou-

se uma alimentação artificial de sedimentos entre os esporões, desde 2007, de forma a

criar novas dunas que protegessem as povoações.

Figs. 11, 12 e

13: Fotos de

esporões

localizados nas

praias da Costa

de Caparica

Figs. 14, 15 e

16: Fotos de

paredões ao

longo das

praias da Costa

de Caparica

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Conclusão As zonas costeiras constituem um valioso recurso natural, insubstituível e não-

renovável para o Homem onde, para além de desempenharem importantes locais de

lazer e turismo, obtém também alimentos e recursos minerais. Contudo, a erosão

costeira apenas parece constituir um verdadeiro problema para o Homem quando

existe ocupação antrópica da faixa litoral em perigo.

A construção de estruturas pesadas por parte da

engenharia costeira, na Costa de Caparica, não possui como

objectivo proteger o nosso litoral, mas sim proteger as

propriedades, públicas ou privadas, do avanço das águas do

mar. São, normalmente, realizadas com carácter de urgência

e pretendem eliminar, localmente, a erosão costeira nas

praias. A construção destas obras protegem uns locais, mas

acabam por agravar a situação noutras zonas costeiras

próximas desses locais, conduzindo à necessidade de novas

medidas de protecção nessas zonas, num ciclo infindável de

intervenções de protecção.

Estruturas como os esporões e os paredões,

construídos nas praias da Costa de Caparica e nas

praias de São João, apresentam elevados custos,

tanto na sua construção como na sua manutenção,

e apenas oferecem protecção local e reduzida no

tempo, visto que se tratam de estruturas estáticas e

rígidas, inseridas num meio profundamente

dinâmico. Estas produzem assim, impactes

negativos no litoral, como a alteração da estética da

paisagem e, a longo prazo, podem até tornarem-se

estruturas de risco. Não são soluções

ambientalmente aceitáveis.

Fig.17: Esporão numa praia

da Costa de Caparica

Fig.18: Derrocada de sedimentos,

nomeadamente grandes blocos de pedra, numa

praia da Costa de Caparica, um fenómeno que

pode pôr em risco várias vidas humanas.

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Actualmente, muitos geólogos e organizações ambientais defendem a redução ao

mínimo ou mesmo a eliminação destas construções de protecção, argumentando que

deve ser o Homem a respeitar a dinâmica normal do nosso litoral, e não o contrário.

Em vez disso, apostam na alimentação artificial de sedimentos das praias, como

aconteceu recentemente nas praias de São João da Caparica. É um procedimento

menos agressivo para a paisagem, mais dispendioso mas com melhores resultados a

longo prazo. Contudo, em litorais muito energéticos, como é o caso das praias da Costa

de Caparica, este processo pressupõe uma contínua e sistemática alimentação de

sedimentos.

Penso que só um ordenamento cuidado da nossa costa permitirá a gestão eficaz

dos seus recursos de forma sustentada e principalmente duradoura. A aprovação e

implementação de planos de ordenamento da orla costeira deverão corrigir,

provavelmente pela demolição de algumas construções humanas, todos os erros

cometidos num passado recente, visando a diminuição do risco de perdas humanas e

materiais. O conhecimento adequado dos processos geológicos e dos materiais

rochosos que constituem as áreas litorais da Costa de Caparica poderão, igualmente,

representar uma redução das consequências dos riscos geológicos na nossa zona.

Assim, de modo a respeitar a dinâmica das praias da Costa de Caparica e das

praias de São João mas, ao mesmo tempo, de proteger as povoações humanas

existentes na zona, proponho um estudo contínuo e pormenorizado destas zonas

costeiras, a fim de se avaliar as regiões mais sujeitas a riscos geológicos, suspendendo,

nessas áreas, as construções humanas. Proponho também uma contínua alimentação

artificial das praias, apoiadas por sucessivos paredões, com direito a recarregamentos

periódicos. Desta forma, não perderemos as nossas praias, e os custos destes

procedimentos poderão ser futuramente superados pelo turismo, numa zona mais

segura e protegida.

Fig.19 e 20: Paredões

recentemente

construídos nas

praias da Costa de

Caparica.

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Bibliografia

DIAS, A. Guerner, GUIMARÃES, Paula, ROCHA, Paulo, Geologia 11, Areal Editores,

1ªedição, 2009

ISBN: 978-989-647-000-5

Páginas: 12, 13, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30 e 31

Webgrafia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Praia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Molhe

http://pt.wikipedia.org/wiki/Enrocamento

http://www.costadacaparica.freguesias.pt/

http://www.slideshare.net/Luisd3000/dunas

http://pt.wikipedia.org/wiki/Costa_da_Caparica

http://www.fc.up.pt/pessoas/ptsantos/azc-aula2.pdf

http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=602433

http://www.ecogenesis.com.ar/index.php?sec=PRarticulo.php&Codigo=50

http://www.scribd.com/doc/13523630/ocupacao-antropica-e-ordenamento-do-

territorio

http://www.romeucorreia.org/elearning/mod/resource/view.php?inpopup=true&id

=2734

http://www.romeucorreia.org/elearning/mod/resource/view.php?inpopup=true&id

=1182

http://www.romeucorreia.org/elearning/mod/resource/view.php?inpopup=true&id

=1183

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http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/Home/geologia-problemas-e-

materiais-do-quotidiano/zonas-costeiras/costa-portuguesa

http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/Home/geologia-problemas-e-

materiais-do-quotidiano/zonas-costeiras

http://dminas.ist.utl.pt/Geomuseu/MINGEO%20LEC2007LET/Aulas%20Te%F3ricas

%20(Documentos%20opcionais)/Geomorfologia%20e%20Ocupa%E7%E3o%20antr%F3p

ica%20do%20Territ%F3rio/OCUPA%C7%C3O%20ANTR%D3PICA.pdf

Fig.1

http://1.bp.blogspot.com/_v-TzIl8lNlE/RmBONFOeFcI/AAAAAAAAAmw/

jaaMPUx3PVM/s320/ mapa-praias.gif

Fig.2

http://fotos.sapo.pt/5h4QRJtsqwkJ3187OKHM

Fig.7

http://renatoparreira.pt.to/

Fig.8

http://renatoparreira.pt.to/

Todos os sites encontravam-se operacionais no dia de entrega do trabalho.

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Anexos Entrevista a Mota Oliveira Prof. Universitário e engenheiro hidráulico

"Ou se fazem mais esporões ou se aceita a erosão."

Qual é a principal causa de erosão na costa portuguesa?

É sem dúvida, no meu entendimento, o défice de alimentação sedimentar com

origem nos rios. Os rios, quando não tinham barragens, transportavam até ao mar a

areia resultante da erosão nas bacias hidrográficas. Mas as barragens, para além de

reterem a água, também retêm sedimentos. E estes, que antigamente alimentavam as

praias, agora ficam nas albufeiras - com a agravante de, em alguns locais, os sedimentos

que existem nos leitos dos rios serem extraídos para a construção civil. Ora, se nas

praias as ondas têm menos areia para transportar, removem a que lá está.

As alterações climáticas não jogam aqui um papel?

O clima muda, mas, à escala de cem anos, não muda muito! Não é aí que se

encontra a explicação dos nossos problemas. Há factores fundamentais, factores

secundários e factores secundaríssimos - e esse é secundaríssimo. As ondas poderão ser

diferentes de há 50 anos, mas será uma diferença mínima.

Não é daí que vem o desequilíbrio?

Diminuiu muito a compensação que se fazia, predominantemente, no sentido

norte-sul ao longo da costa oeste. A somar à falta dessa alimentação houve a

construção de grandes obras portuárias sobre a costa, grandes molhes. Refira-se que os

portos de Lisboa, Douro ou Setúbal não tiveram influência nenhuma, porque são portos

interiores - os problemas são os molhes atlânticos que se construíram nos últimos 50

anos por toda a parte Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Leixões (final do século XIX),

Aveiro, Figueira da Foz, Ericeira, um pouco a marina de Cascais... Para sul, Sesimbra é um

caso particular, em Sines já havia uma barreira natural, o cabo de Sines. Indo para o

Algarve, no Barlavento (Lagos, Praia da Rocha), o sentido dominante do transporte é de

poente para nascente.

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A dimensão do problema no Algarve e no Oeste são comparáveis?

Na costa oeste o fenómeno tem uma envergadura muito maior! Ela é beneficiária

de rios de grande dimensão já nem falo do Mondego, mas do Douro ou do Minho, que

têm - ou tiveram - nas suas enormes bacias uma grande capacidade de produção de

sedimentos. Ora, no Algarve, há só uns riozinhos: o Arade, o Bensafrim em Lagos, a

ribeira de Odelouca...

... tem o Guadiana com uma grande capacidade, mas, se a dinâmica é poente-

nascente, toda a areia vai para a costa de Espanha...

... Ora aí está! O Guadiana não beneficia a nossa costa. Mas voltando ao confronto

como a costa oeste era alimentada por rios de grande capacidade e agora já não é, o

défice é muito superior. Na costa algarvia o défice é da ordem das dezenas de milhares

de metros cúbicos por ano; na costa oeste é das muitas centenas de milhares!

A situação é grave?

É, na medida em que é irreversível. A não ser que deitássemos as nossas barragens

abaixo. Mas, depois, ainda era preciso declarar guerra aos espanhóis; e, admitindo que

ganhávamos, deitar abaixo as barragens deles (risos). Está a ver que não é fácil...

O que é que podemos fazer?

Na costa sul, podemos fazer alimentação sedimentar - alimentar as praias com

areia todos os anos, ou de tantos em tantos anos. Isso já foi feito em Vale do Lobo.

Onde é que se pode ir buscar a areia?

Com sedimentos a ir buscar ao largo, por exemplo. Ir ali um quilómetro em frente,

com umas dragas, tirar areia a uns trinta metros de profundidade, ou coisa no género.

Devo dizer que não acho esta a melhor solução, porque essa areia é muito mais fina e

facilmente removível pelo mar.

Por Luís Miguel Viana, Diário de Notícias, 11 de Junho de 2005