Accao Social e Facto Social

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INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL 1 Introdução A forma mais positiva para iniciar um trabalho de pesquisa, acerca de algo, é aquela que consiste na tentativa de coligar o interesse pelo mesmo com a força de vontade para o levar a cabo. Por isso tentei explorar este tema do modo que o achei interessante. Neste trabalho pretendo analisar as ideias centrais de Émile Durkheim e Max Weber. Durkheim e Weber viveram na Europa dos finais do séc. XIX, e ambos, observaram e esforçaram-se para compreender a mesma realidade social. No entanto, a forma como a interpretaram foi desigual, porque o contexto nacional, o tecido intelectual, o sistema de valores em que estiveram inseridos, assim como a sua própria personalidade, são discrepantes e influenciam o seu modo de expressão intelectual. Durkheim foi considerado o pioneiro do pensamento estrutural – funcionalista, considerando que a sociedade devia ser estudada como um todo. Segundo esta corrente de pensamento que iniciou, a sociedade não é uma simples soma das suas partes, mas um sistema formado pela sua combinação e relação mútua, que possui uma identidade e um carácter que lhe são próprios e que se impõem aos indivíduos. Através desta interligação e associação das partes são asseguradas a harmonia, a manutenção e a continuidade do todo, a sociedade. Partindo desta concepção, ele analisou a sociedade em torno do conceito facto social. Em contrapartida, Webber tem uma maior afinidade com o interaccionismo simbólico, sublinhando a natureza individual e intencional da acção humana, focando o conceito de acção social em toda a sua abordagem teórica. Para tornar mais fácil a compreensão deste trabalho dividi-o em três partes. A principal linha de pensamento de Durkheim, e um espaço final para comentários ou criticas apontadas ao seu pensamento. A principal linha de pensamento de Weber, e um espaço final para os comentários ou criticas a ele apontadas. Por fim a conclusão, onde pretendo realçar os pontos mais importantes destes dois sociólogos.

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    Introduo

    A forma mais positiva para iniciar um trabalho de pesquisa, acerca de algo, aquela que

    consiste na tentativa de coligar o interesse pelo mesmo com a fora de vontade para o

    levar a cabo. Por isso tentei explorar este tema do modo que o achei interessante.

    Neste trabalho pretendo analisar as ideias centrais de mile Durkheim e Max Weber.

    Durkheim e Weber viveram na Europa dos finais do sc. XIX, e ambos, observaram e

    esforaram-se para compreender a mesma realidade social. No entanto, a forma como a

    interpretaram foi desigual, porque o contexto nacional, o tecido intelectual, o sistema de

    valores em que estiveram inseridos, assim como a sua prpria personalidade, so

    discrepantes e influenciam o seu modo de expresso intelectual.

    Durkheim foi considerado o pioneiro do pensamento estrutural funcionalista,

    considerando que a sociedade devia ser estudada como um todo. Segundo esta corrente

    de pensamento que iniciou, a sociedade no uma simples soma das suas partes, mas

    um sistema formado pela sua combinao e relao mtua, que possui uma identidade e

    um carcter que lhe so prprios e que se impem aos indivduos. Atravs desta

    interligao e associao das partes so asseguradas a harmonia, a manuteno e a

    continuidade do todo, a sociedade. Partindo desta concepo, ele analisou a sociedade

    em torno do conceito facto social.

    Em contrapartida, Webber tem uma maior afinidade com o interaccionismo simblico,

    sublinhando a natureza individual e intencional da aco humana, focando o conceito de

    aco social em toda a sua abordagem terica.

    Para tornar mais fcil a compreenso deste trabalho dividi-o em trs partes.

    A principal linha de pensamento de Durkheim, e um espao final para

    comentrios ou criticas apontadas ao seu pensamento.

    A principal linha de pensamento de Weber, e um espao final para os

    comentrios ou criticas a ele apontadas.

    Por fim a concluso, onde pretendo realar os pontos mais importantes destes

    dois socilogos.

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    O Objectivo de Durkheim

    O objectivo de Durkheim a construo de uma nova cincia, autnoma em relao s

    j existentes, que analise de forma objectiva a realidade social: a Sociologia. De acordo

    com Aron Raymond, a sociologia o estudo dos factos essencialmente sociais, e a

    explicao desses factos de maneira sociolgica1.

    Para que a Sociologia seja uma cincia, tem de obedecer a alguns princpios como:

    procurar as causas e no os fins dos fenmenos sociais; descobrir leis de causalidade

    entre os fenmenos sociais; eliminar as pr-noes e os juzos de valor do processo de

    conhecimento; possuir mtodos empricos de observao para a validao do

    conhecimento adquirido. Para que estes princpios sejam cumpridos, Durkheim sugere

    dois factores que reconhece como imperativos que so os seguintes: Identificao de um

    objecto de estudo especfico da Sociologia e que se distinga dos objectos de estudo de

    todas as outras cincias; Constituio de um mtodo de investigao que lhe permita

    observar e explicar esse objecto de forma semelhante quela como os objectos das

    outras cincias so observados e explicados.

    Tem como fim ltimo provar que os comportamentos humanos tambm podem ser

    estudados objectivamente pela cincia.

    O objecto de estudo da Sociologia O facto social

    Para Durkheim, s os factos sociais tm as caractersticas que permitem oferecer

    sociologia um objecto de estudo especfico e distinto do das outras cincias. Para ele

    facto social toda a maneira de fazer, fixada ou no, susceptvel de exercer sobre o

    indivduo uma coaco exterior ou ainda que geral na extenso de uma sociedade

    1 ARON, RAYMOND; As Etapas do Pensamento Sociolgico, Publicaes Dom Quixote, Lisboa, 1999, pag.352.

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    dada, tendo ao mesmo tempo uma existncia prpria, independente das suas

    manifestaes individuais.2

    Daqui possvel tirar algumas concluses dos factos sociais que so os seguintes: so

    comportamentos e representaes (normas e valores culturais) que so exteriores aos

    indivduos; tm um poder coercivo em virtude do qual se impem aos indivduos. Por

    outro lado, so gerais e objectivos, pois so colectivos e independentes da

    subjectividade dos indivduos. Finalmente, e dadas as qualidades anteriores, os factos

    sociais tm uma existncia e um carcter prprios, independentemente dos indivduos.

    Este conjunto de caractersticas dos factos sociais conduz-nos a uma ideia que se

    enquadra no estrutural o funcionalismo. Os comportamentos e as representaes

    colectivos no so o simples resultado da soma dos comportamentos e representaes

    individuais, apesar de dependerem deles para se constituir. Os comportamentos e as

    representaes individuais combinam-se e associam-se, constituindo uma nova

    realidade especfica com um carcter prprio, exterior aos indivduos e que se impe a

    eles.

    A partir daqui, Durkheim pode individualizar o objecto de estudo da sociologia em

    relao aos das outras cincias. Por um lado, os factos sociais so representaes e

    aces, no se confundem com os fenmenos orgnicos, estudados pela Biologia. Por

    outro lado, sendo exteriores aos indivduos, distinguem-se dos fenmenos psquicos,

    estudados pela Psicologia.

    Ele distingue dois tipos de factos sociais: os factos sociais materiais so exteriorizados

    e materializados em elementos concretos; os factos sociais imateriais so constitudos

    pelas representaes (normas e valores) que no atingem a exteriorizao e a

    materializao.

    No fundo, os factos sociais materiais so o reflexo e a consolidao dos factos sociais

    imateriais, porque tm uma primazia causal, afectando ou determinando os factos

    sociais imateriais. Podemos dizer que os factos sociais materiais, simultaneamente,

    condicionam e reflectem os factos sociais imateriais.

    So os factos sociais imateriais que esto no centro da interpretao sociolgica de

    Durkheim. Contudo, tendo em conta as regras metodolgicas que ele enuncia, e que so

    expostas mais adiante, eles no podem ser analisados directamente por no se

    manifestarem exterior e concretamente. Deste modo, necessrio procurar e observar os

    2 ARON, RAYMOND, As Etapas do Pensamento Sociolgico, Publicaes Dom Quixote, Lisboa, 1999, pag.354.

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    factos materiais, dado que reproduzem os factos imateriais. deste modo, por exemplo,

    que ele utiliza o Direito (facto social material), conjunto de leis de uma sociedade, para

    procurar encontrar o tipo de solidariedade (facto social imaterial) existente nessa mesma

    sociedade.

    Mas, se os dois tipos de factos sociais tm graus de consolidao diferentes; no interior

    de cada tipo podemos encontrar tambm vrios nveis de cristalizao. Eles so

    descriminados seguidamente por ordem decrescente de consolidao:

    Factos sociais materiais:

    sociedade;

    componentes estruturais da sociedade;

    componentes morfolgicas da sociedade;

    Factos sociais imateriais:

    o moralidade;

    o conscincia colectiva;

    o representaes colectivas;

    o correntes sociais;

    Os factos sociais apresentam-se, assim, num continuum, que vai desde a sociedade, que

    apresenta um maior grau de consolidao, s correntes sociais, que ainda no se fixaram

    de modo definitivo, estes factos sociais unem-se e combinam-se, tendo cada um a sua

    funo, de forma a assegurar a manuteno e a continuidade do todo, a sociedade.

    As regras de investigao da sociologia

    Para definir um facto social, Durkheim prope um conjunto de regras de modo a

    organizar um mtodo de investigao para a sociologia que incide sobre os seguintes

    pontos:

    Observao;

    Ao nvel da observao Durkheim aponta quatro pontos importantes que so os

    seguintes:

    - Os factos sociais devem ser considerados como coisas. Durkheim apoia-se em duas

    razes para esta regra. Eles so os nicos dados que podem ser observados pelos

    socilogos, e tm as caractersticas de coisas, pois so exteriores aos indivduos e

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    independentes da sua vontade; ou seja, so objectivos, no sendo sujeitos

    subjectividade dos indivduos.

    - O socilogo deve eliminar todas as pr-noes e preconceitos para conhecer

    cientificamente os factos sociais. Porque o socilogo, como indivduo que , possui a

    sua subjectividade e, como tal, tende a introduzir conceitos vulgares da sua vida

    quotidiana na esfera cientfica. No entanto, o conhecimento cientfico exige

    objectividade. Logo, no compatvel com tais pr-noes e preconceitos.

    - fundamental identificar de forma objectiva os fenmenos a estudar, o que s

    possvel atravs da identificao das suas caractersticas visveis, ou seja, das suas

    caractersticas exteriores. Apesar de Durkheim acreditar que as propriedades no

    visveis dos fenmenos so as mais importantes e vitais e, por isso, tm um maior valor

    explicativo, elas no so conhecidas a priori. por esta razo que o autor analisa os

    factos materiais para compreender os factos imateriais.

    - Por fim o socilogo, quando pretende estudar um conjunto de factos sociais, deve

    isol-los das suas manifestaes individuais. A importncia que ele d aos valores

    estatsticos deve ser contextualizada nesta regra.

    distino normal / patolgico e constituio de tipos sociais;

    O segundo conjunto de regras est relacionado com a atitude reformista de Durkheim.

    Ele concebe a Sociologia como uma cincia que no se limita a observar e a explicar os

    factos sociais, pois tambm deve intervir na realidade social, indicando de uma maneira

    objectiva, os passos que contribuem para a melhorar.

    Para que a Sociologia tenha uma atitude reformista sem pr em causa a sua

    objectividade cientfica deve haver uma distino normal / patolgica e constituio de

    tipos sociais. Ele encara os problemas que atingem uma determinada sociedade como

    patologias e no como problemas inerentes a essa sociedade. Desta forma, os problemas

    sociais (doenas) podem ser ultrapassados (curados) atravs da aco do socilogo

    (mdico social) que reconhecer a natureza desses problemas e delinear reformas

    estruturais para os anular.

    Por normais, Durkheim entende os fenmenos que so frequentes e gerais numa

    sociedade de um dado tipo, num dado momento do seu devir. Subentende-se que, pelo

    contrrio, patolgicos so os fenmenos raros e excepcionais numa determinada

    sociedade.

    Sendo assim, a determinao do normal e do patolgico s pode ser realizada por

    relao a um determinado gnero de sociedade e porque esta passa por vrias fases de

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    evoluo, por referncia fase especfica em que essa sociedade se encontra. Ento,

    ser necessrio identificar esses gneros de sociedade. Cabe ao socilogo construir e

    classificar tipos sociais.

    explicao e prova;

    O ltimo conjunto de regras diz respeito, explicao e prova. Em relao

    explicao existem trs normas.

    A primeira : quando tentamos explicar um facto social devemos procurar a sua causa,

    ou seja, identificar o facto anterior que necessariamente o produz.

    Desta norma surge a segunda, a causa de um facto social deve ser averiguada entre os

    factos sociais antecedentes. Ou seja, os factos sociais s podem ser explicados a partir

    do meio social.

    Para Durkheim, a sociedade no idntica soma dos indivduos que a constituem;

    algo distinto, cujas propriedades diferem das que revelam os indivduos isolados. Deste

    modo, a causa de um determinado facto social no pode ser encontrada nas

    caractersticas individuais de cada pessoa.

    Tendo em ateno este raciocnio chegamos ltima regra sobre a explicao, ou seja,

    se na sociedade que devemos procurar a causa para os factos sociais, estes variam

    consoante a forma que a sociedade toma. A morfologia de uma sociedade delimita os

    fenmenos sociais. Aplicando novamente os conceitos de factos sociais materiais e

    factos sociais imateriais, podemos dizer que os factos sociais materiais condicionam e

    determinam os factos sociais imateriais. O socilogo necessita, ento, de identificar as

    propriedades da sociedade que mais interferem nas caractersticas dos fenmenos

    sociais, ou seja, os factos sociais materiais que mais influenciam os factos sociais

    imateriais.

    Por fim, o autor transmite uma srie de princpios referentes utilizao da prova.

    Segundo ele, s possvel demonstrar que um fenmeno causa de um outro

    comparando os casos em que eles esto simultaneamente presentes ou ausentes e apurar

    se as variaes que apresentam nessas diferentes combinaes de circunstncias

    testemunham que um depende do outro. Para observar todas as diferentes combinaes

    que estes dois fenmenos tm, importante percorrer as vrias sociedades, ou,

    aplicando o termo de Durkheim, todos os tipos sociais. Para atingir este objectivo, o

    socilogo utiliza o mtodo comparativo, que tem exactamente como fim a comparao

    entre as diferentes sociedades.

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    A construo de um pensamento

    Podemos concluir que Durkheim um percursor da corrente estrutural funcionalista,

    pois transmite a ideia de que a sociedade no o resultado da soma dos indivduos que a

    constituem, mas a sua combinao e associao. Tendo em conta esta noo, podemos

    compreender a razo pela qual ele encara os factos sociais como exteriores aos

    indivduos e independentes da sua vontade, gerais e objectivos. Estes cruzam-se e

    ligam-se de forma a preservar a manuteno e continuidade da sociedade.

    Ao terem estas caractersticas, os factos sociais, podem ser objecto de estudo de uma

    nova cincia, a Sociologia, que para ele o estudo dos factos sociais, a sua natureza e

    transformao, e a sua explicao em termos sociolgicos. Mas, para que isso seja

    possvel, torna-se necessria esta cincia possuir um conjunto de regras metodolgicas

    que permitam analisar os factos sociais de forma racional e objectiva.

    Algumas das regras so as seguintes:

    -os factos sociais devem ser considerados como coisas, porque so exteriores aos

    indivduos e independentes da sua vontade e, portanto, objectivos; mas tambm com o

    objectivo de afastar as pr-noes e os preconceitos que o socilogo transporta, como

    indivduo que , e que tende a introduzir na esfera cientfica.

    -por outro lado, de realar a regra que define que a explicao de um facto social

    implica a procura da sua causa na prpria sociedade: a causa de um facto social s, e

    sempre, outro facto social. Mais uma vez est expressa a noo de autonomia da

    sociedade.

    No entanto, Durkheim encara a Sociologia, no s como a cincia que observa e tenta

    explicar a realidade social, mas tambm como uma cincia activa, que tem capacidade

    de intervir nessa realidade de forma a ultrapassar os seus problemas. Neste ponto

    Durkheim apresenta uma atitude reformista.

    A sua principal obra : Da Diviso do Trabalho Social, que onde traduz o tema central

    do seu pensamento: a relao entre os indivduos e as colectividades. Nesta obra tenta

    responder a algumas questes para explicar as profundas transformaes que se viviam

    naquela conturbada sociedade, pois ele tenta explicar como que um grupo de

    indivduos pode constituir uma sociedade; e como que os indivduos podem

    permanecer em harmonia na sua existncia social.

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    Torna-se, ento, importante interpretar esta obra, no s porque o tema central do

    pensamento Durkheimiano, mas tambm devido ao facto de, atravs dessa

    interpretao, ser possvel esclarecer alguns conceitos e regras mencionados

    anteriormente.

    Anlise da Obra Da Diviso do Trabalho Social

    Para Durkheim a diviso do trabalho social, uma das principais caractersticas das

    sociedades modernas.

    Nesta obra ele define a diviso do trabalho social, como a diviso de funes ao nvel

    de toda a sociedade e em todas as suas reas (economia, arte, cincia, poltica, justia,

    administrao, etc.), que por conseguinte, gera a especializao de todos os indivduos.

    Atravs da diviso do trabalho e da consequente especializao dos indivduos, eles

    tornam-se socialmente interdependentes e cooperantes uns com os outros. Assim, a

    sociedade permanece uma unidade coerente e consensual.

    A diviso do trabalho social - um fenmeno puramente social e, como tal, seguindo o

    pensamento Durkheimiano, s possvel de ser explicado por outro fenmeno social.

    Assim, fenmenos individualistas, como por exemplo o tdio, a busca de felicidade, o

    desejo de aumentar o rendimento do trabalho colectivo, no podem ser encarados como

    causas da diviso do trabalho social.

    Mas, para facilitar a compreenso da causa da diviso do trabalho social, Durkheim

    utiliza o mtodo de identificao de tipos sociais. Ele, considera dois tipos de sociedade:

    as primitivas e as modernas. Cada um destes dois tipos de sociedade caracterizado por

    um gnero de solidariedade diferente, que impede a sociedade de se desagregar, nas

    sociedades modernas impera a solidariedade orgnica.

    As sociedades primitivas so dominadas pela solidariedade mecnica que a

    semelhana, nestas sociedades os indivduos so semelhantes entre si, pois ocupam

    tarefas indiferenciadas, experimentam os mesmos sentimentos e aderem aos mesmos

    valores. A principal responsvel por estas similitudes a conscincia colectiva.

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    Para Durkheim, conscincia colectiva o conjunto das crenas e dos sentimentos

    comuns mdia dos membros da sociedade3, este conjunto forma um sistema com

    vida prpria e que se impe aos indivduos.

    A conscincia colectiva possui quatro dimenses:

    Volume: nmero de pessoas envolvidas pela conscincia colectiva;

    Intensidade: profundidade dos sentimentos que os indivduos tm pela

    conscincia colectiva;

    Rigidez: clareza com que a conscincia colectiva est definida;

    Contedo: forma que assume a conscincia colectiva;

    Podemos dizer que a conscincia colectiva manifesta um volume, uma intensidade e

    uma rigidez com graus bastante elevados na solidariedade mecnica. Por outro lado, o

    seu contedo resume-se religio, esta estende-se a todas as esferas da sociedade, para

    alm das crenas propriamente religiosas, como a moral, o direito, os princpios de

    organizao poltica e at a cincia.

    O princpio da solidariedade orgnica a cooperao. Aqui, a diferenciao o

    principal factor de consenso da sociedade. Nas sociedades modernas os indivduos

    executam funes especializadas, que so interdependentes e complementares entre si.

    Por trs desta harmonia est a diviso do trabalho social.

    Estes dois tipos de solidariedade no so estanques. So duas fases extremas, que no

    existem no seu estado puro, entre as quais as sociedades evoluem progressivamente.

    Esta tipologia das sociedades humanas tem, portanto, por trs, uma viso evolucionista

    da sociedade.

    De acordo com Durkheim, as sociedades evoluem desde as suas formas mais

    elementares at s mais complexas atravs da intensificao da vida social. Para

    explicar este mecanismo, o autor invoca o conceito de luta pela vida.

    de salientar que a semelhana entre os indivduos, caracterstica das sociedades

    primitivas, permite que hajam mais tenses competitivas, ou seja, se h um aumento do

    nmero de indivduos que tentam viver juntos, mais intensa a luta pela vida. A

    diferenciao social a soluo pacfica para esta luta, pois obriga cooperao. A

    intensificao da vida social traduz-se pela conjugao de dois factores: pelo aumento

    do nmero de indivduos numa sociedade e, simultaneamente, pelo crescimento da

    interaco entre eles, ou seja, o volume de uma sociedade e a sua densidade dinmica.

    3 ARON, RAYMOND, As Etapas do Pensamento Sociolgico, Publicaes Dom Quixote, Lisboa, 1999, pag.316.

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    Daqui podemos concluir que a diviso do trabalho social, como facto social que ,

    resulta de outros factos sociais, o volume e a densidade dinmica da sociedade. De

    facto, para este autor, as sociedades evoluem, passando de uma solidariedade

    tipicamente mecnica para uma solidariedade tipicamente orgnica, atravs de um

    processo de diferenciao e especializao crescente, que resulta do aumento do volume

    e da densidade dinmica das sociedades.

    Paralelamente a este gradual incremento da diviso do trabalho social, Durkheim

    observa uma sucessiva transformao da conscincia colectiva.

    Com a progressiva diferenciao social, as crenas, os sentimentos e as normas

    colectivas perdem a sua fora e tornam-se cada vez mais gerais e indeterminados,

    oferecendo uma margem maior interpretao individual dos imperativos sociais.

    Desta forma, a tomada de conscincia da individualidade decorre do desenvolvimento

    histrico da sociedade e s pode, por isso, ser explicado por ela. a transformao da

    sociedade e o seu percurso em direco a uma solidariedade orgnica, evidenciada pela

    diviso do trabalho social, que permite a conscincia da individualidade. Por outras

    palavras, no so as vontades, os interesses ou as aspiraes dos homens que

    desencadeiam a progressiva diferenciao social e especializao dos indivduos.

    Todavia, a solidariedade social e a conscincia colectiva que lhe est inerente so factos

    sociais imateriais e, por isso, no so directamente observveis pelas suas caractersticas

    exteriores. Por esta razo, para reconhecer e analisar a sua natureza e a sua

    transformao, Durkheim utiliza um facto social que as reflecte: o Direito. O autor

    distingue dois tipos de direito, que correspondem aos dois tipos de solidariedade:

    Solidariedade mecnica direito repressivo revelador da conscincia colectiva

    existente nas sociedades, caracterizadas pela solidariedade mecnica uma vez que

    manifesta o elevado grau do volume, da intensidade e da rigidez dos sentimentos e das

    crenas comuns. Dado que todos os indivduos acreditam profundamente numa

    conscincia colectiva comum e esto fortemente envolvidos nela, qualquer acto que

    ofenda a conscincia colectiva considerado um crime e tem que ser severamente

    punido.

    Solidariedade orgnica direito restitutivo ou cooperativo- exprime a

    solidariedade orgnica, pois o seu objectivo no punir, mas apenas restabelecer o

    estado das coisas quando este perturbado, organizar a coexistncia e regular a

    cooperao entre indivduos com funes diferenciadas. Este tipo de direito no

    acompanhado pela emoo e pela revolta que existem na solidariedade mecnica visto

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    que as normas que contem no interessam a todas as pessoas ao mesmo tempo, estas

    apenas so utilizadas nas diversas situaes particulares e concretas.

    Pode dizer-se que as sociedades esto numa etapa em que a conscincia colectiva

    correspondente s sociedades primitivas tende a desaparecer, e ainda no est

    completamente instituda a conscincia colectiva resultante da diviso do trabalho

    social.

    No seu estudo acerca do suicdio, Durkheim encara a anomia como uma das causas

    possveis para este fenmeno. De acordo com ele, o suicdio anmico ocorre quando os

    poderes reguladores da sociedade foram destrudos. Cessando os mecanismos sociais

    que asseguram a existncia de constrangimento ou coero externa sobre os indivduos,

    estes ficam entregues s suas paixes, que, sendo por definio insaciveis, conduzem a

    frustraes que podem desencadear no suicdio.

    Durkheim toma uma atitude reformista, reconhecendo a necessidade de instituir, de uma

    forma voluntria, uma autoridade que impea o declnio da conscincia colectiva, numa

    sociedade onde a diviso do trabalho social ainda no absoluta: as corporaes.

    Segundo ele, os conflitos desencadeados nas organizaes resultam da inexistncia de

    uma conscincia colectiva, que demonstrada pela ausncia de uma estrutura

    integradora. Essa estrutura integradora pode ser instituda atravs de associaes

    ocupacionais que acompanham e envolvem todos os indivduos da mesma indstria

    num nico grupo social, atravs da constituio de uma conscincia colectiva comum a

    todos os seus membros.

    Crticas ao Pensamento de Durkheim

    As primeiras crticas ao pensamento de Durkheim esto relacionadas com o prprio

    conceito de facto social.

    Em primeiro lugar, a preocupao em tornar autnomo e independente o objecto de

    estudo da Sociologia, levou-o posio extrema de considerar os factos sociais como

    coisas com uma existncia objectiva separada dos indivduos. Desta forma, ele no deu

    a ateno devida ao papel da conscincia individual na relao entre indivduo e

    sociedade. No teve em conta as representaes individuais que reflectem, no fundo, as

    relaes de cada a indivduo com a sociedade e com as representaes colectivas.

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    O papel coercivo que Durkheim d aos factos sociais tambm excessivo, porque

    argumenta que os factos sociais controlam os indivduos e impem-se a eles, ele est a

    dar um papel passivo e receptivo conscincia individual no processo social. Deste

    modo, os indivduos so produtos da sociedade e moldados por ela. Contudo, se existem

    uma srie de normas e valores numa dada sociedade, cada indivduo tem capacidade e

    liberdade para avaliar essas normas e esses valores e decidir as suas aces perante essa

    avaliao.

    Ao longo de toda a obra, Durkeim salienta os elementos de harmonia, de consenso e de

    continuidade, que esto associados sua viso de sociedade como um todo integrado

    que se impe aos indivduos. No entanto, se estes elementos esto presentes na

    sociedade, os factores de conflito, relacionados com a conscincia e a aco dos

    indivduos tambm fazem parte dela. Em sntese eu acho que a prpria diviso do

    trabalho geradora de conflitos, porque, se existem funes especficas na sociedade,

    geram-se grupos diferenciados que possuem interesses particulares sua funo, que

    muitas vezes entram em conflito com os interesses associados a outras funes.

    Por outro lado, esses elementos de estabilidade e equilbrio da sociedade tendem a estar

    ligados ao reconhecimento, legitimao e justificao da ordem social existente e

    das suas instituies. O pensamento Durkheimiano adquire, assim, um cariz

    conservador, os indivduos realizam aces intencionais que interferem na realidade

    social. Sendo assim, interrogo-me at que ponto a diferenciao e especializao da

    sociedade no resulta da vontade, dos interesses ou das aspiraes dos homens. Para

    mim, a ideia economicista segundo a qual a diviso do trabalho provm do interesse que

    os indivduos tm em dividirem as tarefas de maneira a aumentarem o rendimento da

    colectividade tem bastante lgica, apesar de poder ser considerada um pouco

    reducionista, pois no tem em conta outros possveis factores.

    Para Durkheim, a Sociologia no pode resumir-se observao e explicao dos

    fenmenos sociais, ela deve intervir na sociedade, aplicando os seus conhecimentos

    objectivos, de forma a melhor-la. Contudo, e apesar da prudncia e da reserva serem as

    suas atitudes mais frequentes, esta sua atitude reformista mostra que muitas vezes o

    autor tentado a fazer interferir a ideologia e a subjectividade no pensamento cientifico.

    Por fim, resta-me salientar que Durkheim formula a sua abordagem terica de uma

    forma demasiado abstracta e geral, sendo, por essa razo, difcil de interpretar e operar.

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    13

    Compreenso e Explicao dos Fenmenos Sociais

    Weber, vai definir os fronteiras conceptuais e metodolgicas da Sociologia, de forma a

    que esta nova cincia seja autnoma e no redutvel a outras cincias j existentes. No

    entanto, a forma como o faz bastante diferente de Durkheim.

    importante realar, o modo como ele encara a Sociologia, conciliando duas

    importantes correntes de pensamento dos finais do sc. XIX, que ocupam posies

    opostas na reflexo sobre o social. A Sociologia de Weber s pode ser compreendida

    tendo em conta estas duas correntes.

    De um lado, a anlise positivista que procura estabelecer leis gerais a partir das

    regularidades observadas ao longo da histria, com o objectivo de alcanar um

    conhecimento perfeito e totalizante da realidade social. O estabelecimento destas leis

    realizado atravs da utilizao do princpio de causalidade, que estabelece uma relao

    causal directa e inevitvel entre os fenmenos sociais, ou seja, se um fenmeno implica

    outro fenmeno, ento, sempre que se observa um fenmeno inevitvel que surja o

    outro. Desta forma, as cincias humanas podem ser comparadas s cincias naturais.

    Do lado oposto, a hermenutica considera que as cincias humanas so radicalmente

    diferentes das cincias naturais, pois as primeiras nunca conseguem estabelecer leis

    gerais para os fenmenos sociais. As cincias humanas apenas podem compreender,

    interpretar e explicar os fenmenos singulares. O princpio que est na base deste

    argumento sustenta que os fenmenos sociais so nicos, irredutveis e no repetitivos.

    Ele recusa a possibilidade encarada pelos positivistas do estabelecimento de leis gerais

    com o objectivo de alcanar um conhecimento totalizante da realidade social.

    Em primeiro, os indivduos nunca conhecem a realidade tal como ela ; os indivduos

    constroem a sua prpria realidade, atravs da aplicao de categorias ao real, na sua

    relao com ele. Em segundo lugar, a histria apresenta um conjunto interminvel de

    acontecimentos singulares, no susceptveis a generalizaes e a formulao de leis. No

    entanto importante o estabelecimento do princpio da causalidade proposto por esta

    corrente, apesar de o formular de uma forma desigual.

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    14

    Por outro lado, critica o excesso de particularismo defendido pela hermenutica. No

    entanto, desta linha de pensamento retm a subjectividade dada aos acontecimentos

    histricos, pois valoriza a conscincia individual e a aco dos indivduos na sociedade.

    desta maneira indispensvel a compreenso e a interpretao da aco social.

    Weber define a sociologia como a conjugao dos conceitos de compreenso e de

    causalidade que o autor retira destas duas correntes de pensamento. De facto, de acordo

    com o autor, deve entender-se por sociologia ...: uma cincia que pretende entender,

    interpretando-a, a aco social, para dessa maneira a explicar causalmente no seu

    desenvolvimento e nos seus efeitos.4

    Para melhor entender a definio de Sociologia, torna-se necessrio conhecer o modo

    como ele enuncia os conceitos de aco e aco social. Segundo Weber, por aco

    deve entender-se uma conduta humana (que consista num fazer externo ou interno, num

    omitir ou permitir) sempre que o sujeito ou os sujeitos da aco lhe dem sentido. A

    aco social, portanto, uma aco onde o sentido pensado pelo sujeito ou sujeitos

    est referido conduta de outros, orientando-se por esta no seu desenvolvimento.5

    Tendo em conta os conceitos de aco e de aco social propostos por Weber,

    pressupe-se que, para ele, aco um comportamento humano em que ele lhe atribui

    um significado subjectivo. Desta forma, a aco diverge da reaco, comportamento

    humano que automtico e no implica uma reflexo.

    Por sua vez, a aco social quando o sentido que o actor lhe d se refere ao

    comportamento das outras pessoas. Portanto, a aco social organiza-se em relao

    social. A relao social surge quando, agindo vrios actores, o sentido da aco de cada

    um se refere atitude do outro, de tal modo que as aces se orientam reciprocamente

    umas para as outras.

    A Sociologia a cincia da aco, ou seja, dos comportamentos humanos que envolvem

    processos de pensamento, visa compreender, interpretando, o sentido que os actores do

    aos seus comportamentos, de forma a poder chegar a explicaes causais do seu curso e

    dos seus efeitos. Sendo assim, os dois momentos decisivos desta cincia so:

    Compreenso interpretativa apreenso de significaes e sua organizao

    em conceitos;

    Explicao demonstrao das regularidades dos comportamentos;

    4 FERREIRA, J. M. e outros; Sociologia, McGrawHill, Alfragide, 1995, pag. 98. 5 Idem.

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    15

    A ambos os momentos esto associados alguns instrumentos de investigao propostos

    por Weber.

    A Sociologia compreensiva

    A Sociologia para Weber, pretende compreender e interpretar a aco social, ou seja,

    captar o sentido que os actores do aos comportamentos e torn-lo inteligvel. Da o

    conceito de Sociologia compreensiva para Weber.

    Para Weber os indivduos isolados ou em grupo, so seres actuantes, interferindo na

    sociedade atravs de comportamentos que para eles tm significado, tendo um papel

    fundamental no percurso da histria.

    A Sociologia procura captar a realidade subjectiva que est por trs dos acontecimentos

    histricos e dos fenmenos sociais, esta cincia pretende perceber as normas, valores e

    sentimentos que direccionam as aces dos indivduos, assim como o contexto cultural

    onde eles participam.

    importante realar que, segundo Weber, se por um lado, a sociedade nos sugere ou

    impe um sistema de valores que representa a herana do passado, por outro, os

    indivduos possuem uma conscincia individual que interfere nas suas respostas a um

    meio ou a uma situao, contribuindo para a criao do futuro. O universo de valores a

    que cada um dos indivduos se apega, uma criao simultaneamente colectiva e

    individual.

    Esta concepo voluntarista da aco conduz-nos a trs ideias chave no pensamento de

    Weber. Em primeiro, se os homens e os grupos sociais interferem na construo do

    sistema cultural, condicionando os acontecimentos histricos e os fenmenos sociais,

    cada sociedade tem um sistema cultural especfico, ou seja, os homens vivem em

    diversas formas de existncia, apenas compreensveis luz do seu sistema cultural,

    podendo as diferentes sociedades evoluir de forma desigual. Weber contesta o

    evolucionismo, segundo o qual as diferentes sociedades passam obrigatoriamente por

    vrias etapas de evoluo comuns, desde as formas mais elementares at s mais

    complexas.

    Em segundo, se a aco humana contribui para a criao do futuro histrico porque a

    evoluo das sociedades no est antecipadamente fixada: o futuro indeterminado.

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    16

    Desta forma, inaceitvel antever em que direces caminham as diferentes sociedades,

    apenas possvel apontar algumas tendncias.

    Por fim, se os diferentes indivduos e os diferentes grupos sociais do significados

    divergentes aco, isto , possuem normas, valores e sentimentos desiguais,

    impossvel existir um pleno consenso entre os homens e entre as sociedades. O conflito

    inevitvel.

    Compreenso e construo de tipos ideais

    A Sociologia pretender compreender a subjectividade da aco humana, apesar de no

    ser uma cincia subjectiva, porque dispe de instrumentos que conferem o rigor e a

    objectividade necessrios a uma cincia: tipos ideais. De acordo com Weber, obtm-

    se um tipo-ideal mediante a acentuao unilateral de um ou vrios pontos de vista, e

    mediante o encadeamento de grande quantidade de fenmenos isoladamente dados,

    difusos e discretos que se podem dar em maior ou menor nmero ou mesmo faltar por

    completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a

    fim de se formar um quadro homogneo do pensamento6

    Estes conceitos permitem-nos a racionalizao, ou ainda a apreenso lgica, de um tipo

    de comportamento ou de um fenmeno histrico singular. Por outro lado, tornam mais

    inteligvel a subjectividade da existncia humana. Por outras palavras, possibilitam a

    organizao das significaes apreendidas, com vista a dot-las de uma maior

    inteligibilidade. No fundo, oferecem objectividade e alguma unidade reflexo

    cientfica. Logo a sua construo, um instrumento fundamental para a compreenso

    dos sentidos subjectivos dos comportamentos humanos, estes tipos so apenas um meio

    de compreenso da realidade social, no um fim em si mesmo. De facto, eles so

    somente conceitos construdos pelo socilogo, no traduzem a prpria realidade. Mas, o

    melhor, evidenciar algumas caractersticas destes conceitos.

    Os tipos-ideais so uma construo mental que incorpora as propriedades essenciais e

    tpicas de um fenmeno particular, so tipos puros que nunca so encontrados na

    realidade. Este afastamento em relao realidade concreta torna-se mesmo

    conveniente, pois contrasta mais facilmente com determinados aspectos que interessam

    ser estudados. O tipo-ideal um instrumento de medida que permite encontrar pontos

    6 FERREIRA, J. M. e outros; Sociologia, McGrawHill, Alfragide, 1995, pag.102.

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    17

    de referncia. A sua funo ser comparado com a realidade emprica de forma a

    estabelecer as diferenas e semelhanas entre os dois para, em seguida, descrever essa

    realidade da maneira mais objectiva e inteligvel possvel.

    Por outro lado, necessrio entender que o termo ideal no tem qualquer conotao

    tica ou moral, ou seja, no implica nenhum dever ser nem se assume como algo

    exemplar. Weber distingue quatro espcies de tipos-ideais:

    Histricos; correspondem a formaes histricas caractersticas e especficas (ex.:

    capitalismo moderno, cidade do ocidente).

    Abstractos; correspondem a formaes histricas caractersticas e especficas (ex.:

    capitalismo moderno, cidade do ocidente).

    De aco e Estruturais so tipos-ideais que expressam reconstrues racionalizantes de

    comportamentos com um carcter particular. Enquanto os tipos-ideais de aco esto

    relacionados com as motivaes dos indivduos (ex: tipologia da aco), os estruturais

    manifestam as formas assumidas pelas causas e consequncias da aco social (ex.:

    estruturas de dominao).

    O principio da causalidade

    A sociologia no se limita a compreender o sistema cultural, porque tenciona

    estabelecer a forma como ele interfere no comportamento das sociedades, tenta

    simultaneamente interpretar de forma compreensiva e explicar causalmente os

    fenmenos sociais e acontecimentos histricos.

    Weber chama a ateno para o facto de que a aplicao do princpio da causalidade,

    assim como a construo dos tipos-ideais, no o objectivo, mas apenas um meio para

    o estudo de um dado fenmeno social. Por outro lado, o princpio de causalidade

    proposto por ele diverge do que sustentado pelo positivismo.

    Em primeiro lugar, de acordo com ele, a causalidade definida em termos

    probabilsticos. O investigador estima o grau em que determinado efeito potenciado

    por certas situaes. O raciocnio de Weber : um fenmeno A favorece mais ou menos

    fortemente um fenmeno B. Desta forma, a procura de relaes directas, regulares,

    repetidas e constantes entre os fenmenos para estabelecer uma relao causal

    insuficiente e incorrecta.

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    18

    Em segundo, os esquemas de weber pressupem a multicausalidade, porque no h,

    uma determinao unilateral do conjunto da sociedade por um s elemento, seja ele

    econmico, poltico, religioso,... ele analisa alguns fenmenos, procurando estabelecer

    a probabilidade de cada um deles fazer surgir um ou mais dos outros fenmenos. Aquilo

    que, sob um ponto de vista, tido como uma causa, pode, noutra situao, ser visto

    como um efeito.

    Weber, prope uma forma bastante curiosa de encontrar quais os fenmenos que

    concorrem para o aparecimento de um dado fenmeno particular. Segundo ele, para

    explicar um fenmeno singular necessrio enquadr-lo num conjunto de fenmenos.

    No entanto, nem todos os acontecimentos tm o mesmo peso e a mesma importncia,

    sendo conveniente que o pesquisador proceda a uma seleco.

    Weber prope dois conceitos: -possibilidade objectiva a imaginao de um conjunto

    de consequncias esperadas. A possibilidade objectiva porque se baseia na

    argumentao racional apoiada no conhecimento das condies existentes e no saber do

    investigador assente em regras de experincia, no tendo no entanto nada de arbitrrio

    ou subjectivo. Por outro lado, uma mera possibilidade, no constituindo uma evoluo

    necessria ou imperativa.

    A causalidade adequada, por sua vez, surge quando a possibilidade objectiva que

    resulta deste exerccio mental muito elevada ou quase inevitvel. Com a concepo de

    causalidade adequada, o socilogo emite afirmaes probabilsticas sobre as relaes

    entre os fenmenos sociais, note-se que estas afirmaes no consideram as relaes

    entre os fenmenos directas e inevitveis: a concretizao de um fenmeno depende de

    mltiplos factores.

    De facto, a anlise causal nunca pode alcanar certezas. O principal agente dessa

    limitao o homem, como indivduo participante na realidade social.

    Autonomia e interdependncia em relao s outras cincias

    Weber apresenta um objecto e instrumentos metodolgicos que individualizem a

    sociologia em relao s outras cincias sociais, de modo a criar a sua autonomia como

    se queria no final do sc. XIX. Por exemplo, a sua Sociologia compreensiva no se pode

    confundir com a Psicologia. Para Weber, o grande objecto de estudo a apreenso das

    significaes que os indivduos do aos comportamentos. Ele organiza essas

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    19

    significaes em conceitos, tipos-ideais, de maneira a torn-las objectivas e possveis de

    serem aplicadas na anlise dos fenmenos sociais.

    A sociologia tambm no pode ser confundida com a Economia. Weber atribui um

    papel fundamental aco social, no significando que d primazia racionalidade

    instrumental que tem em conta os objectivos a alcanar, tal como os economistas. Para

    ele, a sociologia preocupa-se com todos os tipos de aces, independentemente dos

    motivos que levam os indivduos a agir de determinada maneira.

    Por outro lado, Weber estabelece uma forte relao entre Sociologia e Histria, embora

    no omita a sua autonomia. Para ele, a Histria composta por um nmero ilimitado de

    fenmenos especficos e para estudar essa infinidade de fenmenos necessrio

    construir uma variedade de conceitos. A Sociologia a cincia que constri uma srie

    de conceitos gerais que permitem realizar anlises causais de fenmenos histricos

    especficos, os tipos-ideais. O historiador utiliza os conceitos traados pelo socilogo

    para identificar e definir a individualidade de cada fenmeno e os factores que levaram

    a que ele se desenvolvesse. Contudo, para a sociologia compor esses conceitos tem que

    se basear na repetio ou raridade, e na semelhana ou diferena, dos elementos que

    constituem os diferentes fenmenos histricos.

    Compreenso e explicao causal

    Podemos afirmar que Weber acaba por conciliar duas correntes de pensamento opostas,

    prope uma Sociologia que conjuga a preocupao com a compreenso do sentido que

    os indivduos do s suas aces com a explicao causal do desenvolvimento dessas

    aces e dos seus efeitos.

    Na formao da Sociologia est o valor que ele d aos indivduos como seres actuantes,

    que interferem na sociedade e no seu desenvolvimento atravs de comportamentos. Na

    fase da compreenso das aces sociais, Weber apresenta um instrumento chave: o tipo-

    ideal. Este instrumento tem como funo tornar inteligveis e objectivos os significados

    que os indivduos do s suas aces, atravs da sua organizao. Deste modo, a

    Sociologia assegura a objectividade e o rigor imprescindveis numa cincia.

    A explicao causal de Weber tem duas caractersticas: o modelo da multicausalidade:

    em que h vrios factores que podem influenciar o desenvolvimento de um dado

    fenmeno social e o princpio probabilstico, que resulta exactamente da

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    20

    multicausalidade. De facto, se so diversos os factores que podem concorrer para o

    desencadear de um fenmeno, impossvel estabelecer relaes de causalidade directas

    e inevitveis. Estas relaes apenas so provveis.

    Tipos Ideais

    Para Weber, os tipos-ideais tm um papel primordial, porque organizam o sentido e o

    significado que os actores do aos comportamentos, dotando-os de objectividade e

    inteligibilidade e, consequentemente, permitem a anlise causal dos fenmenos sociais.

    Os principais tipos-ideais esto precisamente relacionados com as diferentes formas de

    aco social.

    Tipologia da aco social

    A tipologia das formas de aco social tem uma natureza ideal tpica, uma vez que,

    por um lado, raramente a aco social se encontra exclusivamente orientada para um

    dos tipos-ideais e, por outro lado, eles no traduzem a realidade. De facto, as diferentes

    formas de aco no se ligam a nenhuma sociedade ou poca histrica precisas,

    podendo ser antes encontradas em qualquer uma e de forma combinada.

    A tipologia da aco social inclui quatro tipos distintos de aco:

    Racional por relao a fins, para Weber, definida pelo facto de conceber claramente

    o fim e combinar os meios com vista a atingi-lo. Dois elementos so, assim,

    determinantes para esta aco. Por um lado, o actor tem conscincia das consequncias

    da sua aco e, por outro, so precisamente essas consequncias que o levam a agir,

    utilizando os meios apropriados para as alcanar.

    Racional por relao a valores; este tipo de aco, o actor age racionalmente aceitando

    todos os riscos, no para obter um resultado extrnseco, mas para permanecer fiel aos

    seus valores e s suas crenas. Aqui podemos realar que ele age para satisfazer os seus

    valores pessoais e no para alcanar um fim exterior; por outro lado, as consequncias

    que podero advir da sua aco no tem qualquer importncia para o indivduo.

    Afectiva; ditada, no por referncia a um fim ou um sistema de valores, mas pelo

    estado emocional do actor colocado em circunstncias dadas.

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    21

    Tradicional; assenta, nos hbitos e costumes enraizados no indivduo por meio de uma

    longa prtica. Portanto, o actor, para agir segundo a tradio, no tem necessidade de

    procurar um fim, nem de conceber um valor, nem de ser agitado por uma emoo, pois

    obedece simplesmente aos reflexos incorporados em si pela experincia.

    Tanto a aco afectiva como a aco tradicional encontram-se no limiar do que pode ser

    considerada como aco social. De facto, a aco tradicional pode, muitas vezes,

    consistir apenas numa reaco a estmulos habituais. Por sua vez, a aco afectiva pode,

    frequentemente, tratar-se apenas de uma reaco a um estmulo extraordinrio. Assim,

    ambas se distinguem da aco racional por relao a valores por esta supor a elaborao

    consciente dos seus objectivos. Mas aproximam-se dela pelo facto de, em todas elas, o

    sentido da aco se esgotar na prpria aco e no no seu resultado, ou seja, no h uma

    considerao das consequncias. Pelo contrrio, na aco racional por relao aos fins,

    o actor considera sempre os fins, os meios e as consequncias, ponderando-os de forma

    racional.

    Com base nesta tipologia da aco social, Weber constri uma tipologia das relaes

    sociais. Relao social uma conduta de vrios indivduos em que o sentido da aco de

    cada um se refere atitude do outro, de tal modo, que as aces se orientam

    reciprocamente umas para as outras. Ele distingue dois tipos de relao social: a

    comunalizao e a sociao.

    Assim, enquanto que a aco afectiva e a aco tradicional desembocam na relao

    social com o nome de comunalizao, a aco racional com relao a fins e a aco

    racional com relao a valores convergem na relao social a que o autor chama

    sociao.

    A comunalizao d origem a um grupo, a que podemos chamar comunidade, cujo

    fundamento um sentimento de pertena recproco. Contrariamente, a sociao

    promove um grupo, a que podemos chamar sociedade, em que a motivao das aces

    sociais constituda por uma coordenao ou igualdade de interesses.

    importante assinalar que, para Weber, qualquer um destes dois tipos de relao social

    tem uma natureza ideal - tpica. A seu ver, a grande maioria das relaes sociais

    combina a comunalizao com a sociao. Contudo, ele considera que a racionalizao

    a caracterstica dominante da modernidade, ou a sua principal tendncia. Ora, se a

    comunalizao se baseia no sentimento ou na tradio e a sociao assenta na razo, e

    se Weber sugere que a racionalizao da aco caracterstica da sociedade moderna,

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    22

    at que ponto no podemos concluir que, progressivamente, a sociao predomina sobre

    a comunalizao?

    Tipologia da dominao

    Com a tipologia da aco social, Weber constri tambm a tipologia da dominao.

    Mas, primeiro que tudo, necessrio definir dominao e distingui-la do conceito de

    poder.

    Tendo em conta a anlise que Aron faz de Weber, poder define-se simplesmente pela

    probabilidade que um actor possui de impor a sua vontade a um outro, mesmo contra a

    resistncia deste7. Por sua vez, a dominao pode definir-se pela probabilidade por

    parte do senhor de obter a obedincia daqueles que, em teoria, lha devam8. A

    diferena entre poder e dominao resulta do facto de: poder o comando no ser

    necessariamente legtimo, nem a submisso obrigatoriamente um dever, ao passo que,

    no segundo caso, a obedincia assenta no reconhecimento, por parte dos que obedecem,

    das ordens que lhes so dadas.

    Assim sendo, a tipologia da dominao baseia-se na tipologia da legitimao que

    assegura a dominao. Weber distingue trs tipos de dominao:

    Carismtica; assenta numa dedicao, para alm do quotidiano, ao carcter sagrado e

    excepcional, fora herica ou poderes especiais de uma pessoa e da ordem revelada ou

    criada por ele. Este tipo de dominao est associada a uma virtude, o carisma, que

    inerente pessoa que o possui.

    Tradicional; fundamentada na crena, no carcter sagrado das tradies antigas e na

    legitimidade dos que foram chamados pela tradio ao exerccio da dominao. O

    fundamento deste tipo de dominao o prprio costume. Ele implica uma atitude de

    respeito piedoso para com o passado, de reverncia para com realidades cuja origem

    parece perder-se, confundida com o comeo dos tempos. fundamentada na crena, no

    carcter sagrado das tradies antigas e na legitimidade dos que foram chamados pela

    tradio ao exerccio da dominao. O fundamento deste tipo de dominao o prprio

    costume. Ele implica uma atitude de respeito piedoso para com o passado, de reverncia

    7 ARON, RAYMOND; As Etapas do pensamento Sociolgico, Publicaes Dom Quixote, Lisboa, 1999. 8 Idem.

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    23

    para com realidades cuja origem parece perder-se, confundida com o comeo dos

    tempos.

    Racional funda-se na crena da legalidade das regras institucionalizadas, bem como na

    legalidade dos ttulos dos que exercem a dominao. Este tipo de dominao emerge da

    legitimidade de um sistema racional legal.

    Estes tipos de dominao correspondem aproximadamente a trs dos quatro tipos de

    comportamento, porque h um paralelismo entre a aco racional relativa a um fim e a

    dominao legal. Finalmente, h uma aproximao entre a aco afectiva e a dominao

    carismtica.

    Weber relembra que os tipos de dominao so tipos-ideais que, na realidade concreta,

    apenas podemos encontrar combinados entre si, em propores e formas variadas.

    Todavia, de acordo com Weber, se a racionalizao o trao principal das sociedades

    modernas, a dominao racional parece traduzir essa tendncia. A forma estrutural que

    exprime a dominao racional a burocracia, ou seja, a existncia de um sistema

    racional legal.

    A burocracia

    Weber constri um tipo-ideal de burocracia de modo a destacar as suas caractersticas

    fundamentais. Existe um corpo de funcionrios com hierarquia de funes, direitos e

    deveres bem definidos e esferas de competncia bem demarcadas. A burocracia

    assemelha-se com uma pirmide, estando o chefe no topo e estendendo-se o comando

    do topo at base, sendo assim possvel a coordenao da tomada de decises: cada

    funcionrio de nvel mais alto controla e supervisiona o seu subordinado. Desta forma,

    apesar de cada departamento burocrtico ter uma esfera de aco delimitada, existe uma

    organizao contnua de funes.

    Existe um conjunto de regras de conduta dos funcionrios que, por um lado, so

    impessoais, e, por outro lado, so escritas. As prprias pessoas que exercem a

    dominao tambm esto sujeitas a este conjunto de regras.

    De seguida , os funcionrios so trabalhadores a tempo inteiro e assalariados. O seu

    recrutamento feito atravs das suas qualificaes tcnicas. Logo, os subordinados no

    devem aos seus superiores hierrquicos fidelidade pessoal. Cada funo na hierarquia

    tem um salrio fixo e definido. Espera-se que os funcionrios faam carreira na

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    organizao, ou seja, que ocupem apenas temporariamente a mesma funo. A

    progresso dos funcionrios na carreira baseia-se na capacidade e/ou na antiguidade,

    nunca na fidelidade pessoal prestada, h uma separao entre as tarefas do funcionrio

    na organizao e a sua vida privada. A vida privada do funcionrio distinta das suas

    actividades no local de trabalho, assim como tambm est fisicamente distanciada.

    Por fim, nenhum membro da organizao dono do lugar que ocupa, assim como dos

    recursos materiais que opera. Tanto o lugar como os recursos pertencem organizao.

    Sendo assim, os trabalhadores no os controlam.

    Weber acha que do ponto de vista tcnico, a burocracia transporta uma srie de

    vantagens, porque permite atingir um elevado grau de eficcia devido estabilidade,

    disciplina, fiabilidade que ela impe, ao elevado nvel de previsibilidade que ela

    alcana e ao universo de funes que ela cobre (aplicvel a todo o tipo de tarefas

    administrativas). por esta razo que acha que as grandes organizaes tendem

    necessariamente a ser de natureza burocrtica. Como relata Giddens, segundo este

    autor, a expanso da burocracia um fenmeno inevitvel das sociedades modernas; a

    autoridade burocrtica a nica forma de lidar com as implicaes administrativas de

    grandes sistemas sociais9

    Por outro lado, Weber diz que a progressiva racionalizao das sociedades conduz

    alienao dos indivduos.

    Weber cr que a racionalizao no conduz a uma maior autonomia e liberdade dos

    indivduos, mas antes a uma cada vez maior sujeio destes aos meios racionais que

    criou para atingir os seus objectivos.

    Por outro lado, com o aumento da especializao, os indivduos so forados a

    desempenhar estritamente uma funo limitada, obedecendo aos imperativos de uma

    razo annima. Assim, cada vez menos as motivaes afectivas e morais determinam a

    aco, o que provoca um certo desequilbrio de motivaes.

    Por fim, com a racionalizao das sociedades, observa-se uma queda das grandes

    crenas na vida colectiva.

    9 GIDDENS, ANTONY; Sociologia, Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2000.

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    25

    Crticas ao Pensamento de Weber

    A teoria de Weber tal como o pensamento de Dhurkeim possui algumas deficincias

    que importante salientar.

    O pensamento de Weber apresenta-se bastante disperso e difuso, o que torna a sua

    anlise e sntese algo complicadas. A primeira crtica resulta do valor que ele d aco

    dos indivduos nos acontecimentos histricos e nos fenmenos sociais. Para ele, as

    aces dos indivduos decidem o futuro da histria. apesar da direco da evoluo das

    sociedades no estar pr-determinada, os indivduos tm margem de liberdade para

    agir, tal como argumenta Weber; existem, por vezes, condies exteriores aos

    indivduos que marcam o evoluir da histria (ex. fenmenos naturais) e nas quais eles

    no podem interferir.

    Por outro lado, Weber defende a multicausalidade, um dado fenmeno social sempre o

    resultado simultneo de diversas circunstncias, no h determinao do conjunto da

    sociedade por apenas um elemento. No entanto, ele d nfase ao sistema cultural. De

    facto, ao longo da sua obra, a preocupao com os valores, os sentimentos e as normas

    que esto por trs das aces dos indivduos bem visvel. Na minha opinio, eu acho

    que ele valoriza em excesso a aco social.

    Ele recusa uma viso evolucionista da histria, segundo a qual todas as sociedades

    evoluem desde as formas mais simples at s mais complexas passando por diferentes

    fases comuns de evoluo, as diferentes sociedades tm a sua prpria evoluo

    particular devido diversidade de factores que podero interferir na histria de cada

    uma delas. Todavia, ele mesmo diz que os tipos-ideais da aco racional e da burocracia

    esto principalmente presentes nas sociedades modernas.

    Ainda enquadrado no modelo da multicausalidade aparece um outro problema. Weber

    defende que, para detectar as causas que interferiram em determinado fenmeno social,

    o investigador deve proceder a um exerccio mental em que imagina uma evoluo

    possvel, por eliminao de cada um dos factores, para poder determinar a sua

    significao e importncia para o surgimento desse fenmeno. Na minha opinio, esta

    operao bastante subjectiva. Seguindo o prprio pensamento de Weber, nenhuma

    pessoa pode captar a realidade concreta de uma forma absoluta; por isso, nenhum

    investigador tem capacidade de captar todos os factores que intercedem num dado

    fenmeno, apenas tem em conta aqueles que lhe saltam vista, os factores que podem

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    26

    ter importncia para um investigador podem ser irrelevantes para outro; depende da

    forma como cada um interpreta a realidade.

    Por fim, uma ltima crtica refere-se ideia de Weber segundo a qual as sociedades

    modernas tendem necessariamente para a burocratizao, pois a burocracia a nica

    maneira de trabalhar eficazmente em grandes sistemas sociais. Mas, o que se observa

    bem diferente. Por um lado, as organizaes baseadas nos princpios formulados pelo

    autor, como grandes fbricas com linhas de montagem e hierarquias de dominao

    bastante rgidas, acabam por ter muitas dificuldades, porque devem ouvir todos os

    intervenientes nas empresas para poderem ter sucesso.

    Concluso

    semelhana de outros autores dos finais do sc. XIX, Durkheim e Weber pretendem

    uma autonomia da Sociologia face s outras cincias humanas mais antigas e

    estruturadas. Ambos, acham que importante delimitar o objecto de estudo e os

    instrumentos metodolgicos, os que cada um prope so bastante diferentes.

    Para Durkheim o objecto de estudo o facto social, a sociedade muito mais do que a

    soma das aces individuais; ela uma entidade com propriedades prprias, exteriores

    aos indivduos e que constrangem os seus comportamentos. Para Weber aco social,

    quando os indivduos so seres conscientes, que do sentido s suas aces e que, ao

    agirem, interferem na evoluo da sociedade.

    Durkheim d uma grande importncia ao grupo em detrimento do indivduo na

    determinao da conduta humana, em contrapartida, Weber diz que h uma grande

    diferena entre fenmenos sociais e naturais, devendo compreender o desenrolar da

    aco humana, compreensivista, pois tudo tem que se compreender para ele a

    sociologia ter que investigar quais os valores existentes na sociedade, para ver o que

    que esses valores exercem na aco humana.

    Durkheim diz que os factos sociais no so redutveis a factores individuais.

    Para Weber no h leis sociais, podendo-se compreender e encontrar as consequncias

    causais, a sociologia subjectiva porque tenta compreender a transformao da

    sociedade faz uma compreenso causal, entre a causa e o efeito.

    Para Durkheim a pesquisa da realidade social deve-se observao dos factos, que so

    reflexo das relaes sociais profundas ele preocupa-se com os fenmenos de coeso

    social.

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    Os factos sociais so externos ao individuo, moldam a aco humana e interrelacionam

    se entre si, porque fazem parte de uma entidade que est acima dos homens, para ele a

    sociologia, deve preocupar-se em tentar explicar a realidade social no explicando os

    factos sociais atravs da psicologia ou biologia, deixou heranas nas escolas, era

    positivista e funcionalista.

    Para Weber, a aco social, analisada a partir do significado que o sujeito d sua

    aco e aco dos outros uma sociologia subjectiva, sendo a sociedade analisada a

    partir do sujeito.

    Traados que foram os objectivos expostos na parte introdutria deste trabalho, e

    efectuadas que foram as tarefas ao longo de todo o desenvolvimento do mesmo, posso

    ento afirmar que, de facto, as concluses que cheguei foram as esperadas.

    Alarguei indubitavelmente os meus conhecimentos acerca de Durkheim e Weber, e

    espero que este trabalho satisfaa os objectivos propostos.

    Bibliografia

    ARON, RAYMOND; As Etapas do Pensamento Sociolgico, Publicaes

    Dom Quixote, Lisboa, 1999;

    FERREIRA, J. M. e outros; Sociologia, McGrawHill, Alfragide, 1995;

    GIDDENS, ANTHONY; Sociologia, Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa,

    2000;

    TIMASHEFF, Nicholas S. Sociological Theory: its nature and

    growth. Traduzido por Antnio Bulhes para Zahar ed, Rio, 1960.

    Www.faculty.rsuedu

    Www.tbe.unesco

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    ndice

    Introduo................

    1

    Durkheim.

    2

    O objectivo de Durkheim.

    2

    O objecto de estudo da sociologia o facto social...

    2

    As regras da investigao da sociologia

    4

    A construo de um pensamento...

    7

    Anlise da obra Da Diviso do Trabalho Social.

    8

    Crticas ao pensamento de Durkheim...

    11

    Max Weber.

    13

    Compreenso e Explicao dos Fenmenos Sociais

    13

    A sociologia compreensiva...

    15

    Compreenso e construo de tipos ideais.

    16

    O principio da causalidade

    17

    Autonomia e interdependncia em relao s outras cincias.

    18

    Compreenso e explicao causal.

    19

    Tipos ideais...

    20

    Tipologia da aco social.

    20

    Tipologia da dominao

    22

    A burocracia.

    23

    Crticas ao Pensamento de Weber

    25

    Concluso

    26

    Bibliografia.

    27

    ndice...

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