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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE IV – BIGUAÇU CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ACEITAÇÃO E CONHECIMENTO DA POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM BIGUAÇU BIGUAÇU (SC), 2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE IV – BIGUAÇU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ACEITAÇÃO E CONHECIMENTO DA POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

EM BIGUAÇU

BIGUAÇU (SC), 2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Piera Mocelin

Tatiane Pacheco

ACEITAÇÃO E CONHECIMENTO DA POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

EM BIGUAÇU

Trabalho de Conclusão de Curso, requisito parcial para o encerramento do Curso de Graduação em Enfermagem, sob a orientação da Enfa Profa M.Sc. Teresa Cristina Gaio.

BIGUAÇU (SC), 2009.

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PIERA MOCELIN

TATIANE PACHECO

Aceitação e conhecimento da política nacional de práticas integrativas e

complementares de saúde nas Equipes de Saúde da Família em Biguaçu

Este trabalho de conclusão de curso foi submetido ao processo de avaliação pela

banca examinadora para obtenção do título de:

Enfermeiro

E aprovado na sua versão final em 11 de Dezembro, atendendo às normas da

legislação vigente da Universidade do Vale do Itajaí, Curso de Graduação em

Enfermagem.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Prof.ª MSc. Teresa Gaio

Orientadora

__________________________________________

Prof.ª MSc. Maria Catarina da Rosa

Membro

________________________________________

Prof.ª MSc Liliane Werner dos Santos

Membro

5

Agradecimentos

À nossa orientadora, incentivadora e amiga, Professora

Teresa Gaio, por tudo que pôde nos oferecer durante nossa

vida acadêmica e principalmente pela colaboração neste

trabalho.

As professoras membros da banca, Maria Catarina da

Rosa e Liliane Werner, que, desde cedo, deram sua

contribuição na iniciação da nossa carreira profissional.

Aos amigos, pessoas especiais e todos aqueles que

contribuíram de alguma forma com o nosso processo de

formação.

E aos sujeitos de pesquisa, sem os quais este material

não seria possível.

Agradecimentos de Piera

À Deus, pela vida e as oportunidades inseridas nela...

Aos meus pais, Pedro e Solange, por absolutamente tudo,

pois sem eles jamais seria quem sou e estaria onde estou...

A todos os meus familiares, pois cada um deles teve uma

parcela de culpa pela minha formação...

Às famílias Pacheco e Marcos Lourenço, por terem me

adotado...

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Ao meu namorado, Emerson, que mesmo antes de

ocupar essa posição na minha vida, já vinha tendo uma enorme

importância...

Aos meus melhores amigos, Nisi, Ana Francisca,

Ramsés, e a todos os outros, de Cunha Porã e Biguaçu, que me

apoiaram, me ouviram, aconselharam e estiveram presentes em

diversos momentos da minha vida... São muitos nomes para

citar, mas saibam que cada um ocupa um lugarzinho especial no

meu coração...

Aos meus colegas de trabalho, Rafael (o melhor chefe do

mundo), Eliane e Nelson e também aos colegas da UNIVALI,

pela amizade, companheirismo e compreensão...

Ao Arroz Papa, melhor grupo de estágio de todos os

tempos, por tudo, sem vocês eu seria só metade de tudo isto...

E à minha colega e amiga, Tati, por toda a nossa história,

por tudo que realizamos juntas, por tudo que sentimos uma pela

outra nesse período todo, mesmo os estresses, e pela

realização deste trabalho.

Agradecimentos de Tatiane

Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Deus.

Minha família, em especial meu Pai, minha Mãe, os quais

sempre estiveram ao meu lado, me apoiando e me incentivando,

obrigado pela dedicação para que eu chegasse até aqui, não

vou esquecer que mesmo quase formada eles sempre me

cobravam as notas boas, com toda razão. Minha irmã Jessica,

que sempre me paparicou e acreditou em mim. Vocês são meu

porto seguro. Obrigado por tudo. Amo vocês. Meus avós,

7

madrinha e tios que mesmo distantes estavam sempre

interessados em saber como estavam os meus estudos.

Minha segunda Família, tia Olidia, Anderson e Pri...

Obrigado por confiarem em mim, e sempre me darem um

colinho nas horas mais difíceis. Amo vocês.

Meu namorado Wagner o qual fez muita parte dessa

caminhada, obrigado por entender o meu mau humor, me

acalmar nas horas mais complicadas e me aconselhar sempre

com palavras importantes... Amo muito você.

Todos os meus colegas de sala em especial minhas

amigas Ana Francisca e Sarah, inseparáveis, companheiras e

pagodeiras. Obrigado pela amizade... Amo vocês amigas...

Com certeza não poderia deixar de falar da minha amiga

Pi, essa sim eu tenho muita coisa pra falar, mas vou resumir.

Nos identificamos desde que conhecemos melhor uma a

outra, amigas inseparáveis, todos diziam.. Onde uma estava à

outra também estava. Temos história para contar não é

mesmo...

Amiga, obrigado pelo carinho, confiança, amizade,

conselhos e ensinamentos.. Você fez e pode ter certeza que

ainda faz grande parte da minha vida, apesar da distância que

não foi por acaso. Nossos momentos juntas serão inesquecíveis,

cada risada, cada choro, cada saída, cada furada, toda a

bagunça, todo o estresse, todos os estudos. Te amo muito

obrigado por fazer parte da minha vida.

.

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MOCELIN, Piera; PACHECO, Tatiane. ACEITAÇÃO E CONHECIMENTO DA POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES DE SAÚDE NAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM BIGUAÇU, 2009. P. 62. RESUMO As Práticas Integrativas e Complementares foram introduzidas no Sistema Único de Saúde no ano de 2006, e a cada dia elas vem tendo uma melhor aceitação entre os profissionais da área da saúde e os usuários. Esta pesquisa foi realizada no município de Biguaçu e teve como sujeitos de pesquisa os profissionais médicos e enfermeiros de todas as Unidades de Saúde do mesmo. A pesquisa teve como objetivo conhecer a aceitação e o conhecimento dos profissionais sobre as Práticas Integrativas e Complementares do SUS. Como esse estudo traz muito presente a questão cultural, utilizamos Madeleine Leininger como referencial teórico, com seus conceitos em cima da Teoria da Universalidade e Diversidade do Cuidado Cultural. Para realizar a coleta de dados, utilizamos o método exploratório descritivo, através de um questionário semi-estruturado, contendo também questões descritivas, que foi aplicado durantes visitas em cada unidades de saúde do município. O total de sujeitos de pesquisa pretendido foi de 27 profissionais, porém, a amostra obtida foi de 23 entrevistados, por motivos diversos. Através da análise podemos observar as diversas opiniões dos profissionais quanto as práticas integrativas e complementares, observando que cada profissional tem uma opinião formada quanto às práticas, sendo que alguns apóiam o uso dentro das unidades e outros são contra. Percebemos nas falas que o profissional enfermeiro tem uma visão mais ampla do atendimento integrado incluindo essas práticas naturais, enquanto que o profissional médico tem maior resistência quanto a implementação dessa política na atenção básica. Concluímos que a mudança de paradigma e aceitação do uso de novos recursos terapêuticos se dará com o incentivo e a formação oficial aos profissionais e a divulgação a comunidade de um novo sistema de tratamento integrado. Palavras Chave: Instituição de Saúde; SUS; Profissões em Saúde.

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LISTA DE GRÁFICOS:

Gráfico 1 – Equipe de Médicos e Enfermeiros que participaram da pesquisa...........40

Gráfico 2 – Tempo de trabalho dos profissionais na ESF..........................................41

Gráfico 3 – Profissão dos Entrevistados....................................................................42

Gráfico 4 – Gênero dos entrevistados........................................................................43

Gráfico 5 – Conhecimento dos profissionais de saúde sobre a PNPIC do SUS........45

Gráfico 6 – Conhecimento sobre as práticas oferecidas pela PNPIC........................46

Gráfico 7 – Reconhecimento da eficácia das práticas oferecidas pela PNPIC do

SUS............................................................................................................................48

Gráfico 8 – Práticas aceitas para serem trabalhadas nas unidades de saúde..........49

Gráfico 9 –Atendimento com práticas complementares na Unidade de Saúde pelos

profissionais................................................................................................................51

Gráfico 10 – Aceitação de Capacitação sobre as práticas da PNPIC........................53

Gráfico 11 – Opinião dos profissionais sobre a PNPIC..............................................54

10

LISTA DE SIGLAS

MS – Ministério da Saúde

PNPIC – Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares

ESF – Estratégia Saúde da Família

ACS – Agente Comunitário de Saúde

OMS – Organização Mundial de Saúde

CNS – Conselho Nacional de Saúde

SIA/SUS – Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

CIPlan – Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação

UBS – Unidade Básica de Saúde

CRTN – Centro de Referência em Tratamento Natural

IBCTM – Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia Maharishi

HMA – Hospital de Medicina Alternativa

NASF – Núcleo de Atenção a Saúde da Família

11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA.........................................................................12

2 OBJETIVOS............................................................................................................16

2.1 Objetivo Geral.......................................................................................................17

2.2 Objetivos Específicos...........................................................................................17

3 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................18

3.1 A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC)...........20

3.2 Acupuntura...........................................................................................................21

3.3 Homeopatia..........................................................................................................22

3.4 Crenoterapia/Termalismo.....................................................................................23

3.5 Fitoterapia.............................................................................................................24

3.6 Medicina Antroposófica........................................................................................26

3.7 O desenvolvimento da PNPIC..............................................................................27

4 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................30

4.1Pressupostos Básicos Da Teoria..........................................................................32

4.2 Conceitos..............................................................................................................32

4.2.1Cultura................................................................................................................32

4.2.2 Saúde................................................................................................................33

4.2.3 Cuidado/ Cuidar.................................................................................................33

4.2.4 Enfermagem......................................................................................................33

4.2.5 Estrutura Social.................................................................................................33

4.2.6 Sistema Popular de Saúde................................................................................34

4.2.7 Sistema Profissional de Saúde..........................................................................34

5 METODOLOGIA.....................................................................................................35

5.1 Local de Estudo....................................................................................................36

5.2 Sujeitos de Pesquisa............................................................................................36

5.3 Coleta de Dados...................................................................................................37

5.4 Aspectos Éticos....................................................................................................38

6 ANÁLISE DOS DADOS..........................................................................................39

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................57

REFERÊNCIAS..........................................................................................................61

APÊNDICES...............................................................................................................65

12

APÊNDICE I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..............................66

APÊNDICE II – Questionário do Profissional de Saúde........................................68

13

______________________________________1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

14

Em 1978, na União Soviética, realizou-se uma reunião presidida pela

Organização Mundial da Saúde e UNICEF, da qual resultou a Declaração de Alma-

Ata. Dela estabeleceu-se como meta, que até o ano de 2000, todos os povos do

mundo obtivessem um nível de saúde com o qual se pudesse levar uma vida social

e economicamente produtiva (CHAVES, 1982 apud CHECHETTO, 2006). Para isso,

práticas acessíveis deveriam ser exploradas.

O modelo de saúde regente em nosso país até 1988, dividia os brasileiros em

três categorias: os que podiam pagar por serviços de saúde privados; os que tinham

direito à saúde pública por serem segurados pela previdência social (trabalhadores

com carteira assinada); e os que não possuíam direito algum (BRASIL, 2009)

A VIII Conferência Nacional de Saúde, que tratou de três temas

especificamente: Saúde como direito, Reformulação do Sistema Nacional de Saúde

e Financiamento do setor, culminou com o consenso obtido em torno da criação do

Sistema Único Descentralizado de Saúde (Suds), que depois se transformaria no

SUS (Sistema Único de Saúde). Assim, o SUS foi criado para oferecer atendimento

igualitário, cuidar e promover a saúde de toda a população. O Sistema constitui um

projeto social único que se materializa por meio de ações de promoção, prevenção e

assistência à saúde dos brasileiros (BRASIL, 2009)

Como estratégia de saúde do SUS, foi criada a Saúde da Família em 1994,

estruturando os sistemas municipais de saúde, provocando um importante

movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção no SUS (BRASIL, 2009)

Pensando em contemplar as alternativas levantadas na Declaração de Alma-

Ata, o Ministério da Saúde aprovou como parte do SUS, em 03 de maio de 2006, a

portaria nº 971, que dá origem a Política Nacional de Práticas Integrativas e

Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde, garantindo acesso da

população às modalidades de acupuntura, fitoterapia, homeopatia, termalismo e

posteriormente medicina antroposófica (BRASIL, 2006).

Estas práticas, segundo a portaria n° 971, contemplam “sistemas médicos

complexos e recursos terapêuticos, também chamados de medicina tradicional e

complementar/alternativa. Tais sistemas e recursos buscam aumentar os

mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de

tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no

desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio

ambiente e a sociedade, pretendendo ampliar a visão do processo saúde-doença e

15

também buscar a promoção global do cuidado humano, especialmente do

autocuidado” (BRASIL, 2006).

Uma das práticas asseguradas por esta política é a acupuntura, introduzida

no Brasil há aproximadamente 40 anos. E que em 1988, através da resolução nº

5/88, obteve normas para atendimentos em serviços públicos de saúde (BRASIL,

2006).

Ela é um conjunto de procedimentos que estimulam determinados pontos

anatômicos com a inserção de agulhas metálicas. É uma prática utilizada tanto no

processo de recuperação, como também no processo de promoção e manutenção

da saúde (BRASIL, 2006)

A fitoterapia, outra técnica que compõe esta mesma política, é utilizada como

recurso terapêutico de forma generalizada baseada na crença popular e em

formações culturais (BRESSOLIN; CECHINEL FILHO, 2003).

É a denominação técnica para o que é conhecido como o uso popular de

plantas de origem vegetal para o tratamento de problemas de saúde (BRESSOLIN;

CECHINEL FILHO, 2003).

Seguindo com as atividades oferecidas pela Política de Práticas Integrativas e

Complementares, têm-se a homeopatia que surgiu através de Samuel Hahnemann,

no século XVIII. Pela observação clínica e em experimentos realizados na época,

estudando e refletindo, e posteriormente sistematizando os príncipios filosóficos e

doutrinários da homeopatia (BRASIL, 2006).

Esta terapia utiliza medicamentos derivados de substâncias naturais,

provindas principalmente de vegetais, mas incluindo também minerais e animais

(AMARAL, 2005).

A próxima terapia abordada na PNPIC, é o termalismo, que é utilização de

água mineral, porém em diferentes maneiras, como em banhos, sauna, entre outras,

sendo indicada a ser realizada em fontes de águas termais, como em Poços de

Caldas – Minas Gerais, por exemplo (BRASIL, 2006).

O termalismo, também conhecido como crenoterapia, chegou ao Brasil com

os portugueses que valorizavam muito esta técnica para tratamentos de saúde.

Porém, sua utilização é descrita 450 anos antes de Cristo, podendo ser considerada

um dos tratamentos mais antigos (BRASIL, 2006).

E a medicina antroposófica, última proposta da política de práticas

integrativas e completares, trata de olhar o ser humano em sua essência,

16

considerando sua relação com a natureza, sua vida emocional e sua individualidade

(ABMA, 2008).

O tratamento que esta terapia propõe, busca além de um histórico detalhado

e totalmente individualizado do paciente, utilizar medicamentos produzidos com

substâncias naturais como minerais, plantas, alguns animais, através da técnica

homeopática e também da fitoterapia, podendo contar com o auxílio de

medicamentos alopáticos. Porém, procura também prescrever orientações

alimentares, de saúde em geral e estilo de vida (ABMA, 2008).

O município de Biguaçu é possuidor de várias políticas de saúde como, por

exemplo, o NASF, que já utiliza uma das práticas oferecidas pela PNPIC. Porém,

como conta com uma população considerável, e que observada em estágios

curriculares realizados pelas acadêmicas, é adepta à alternativas para a não

utilização do tratamento alopático, julgamos então, necessária a implantação desta

política.

Para que efetue-se a implantação da mesma, é preciso que haja

anteriormente um estudo sobre a capacitação profissional e a aceitação das classes

interessadas. Com esse intuito, optamos por pesquisar estes dados, tendo em vista

a melhoria da saúde no município.

Tendo conhecimento de todas as práticas que compõe a nova política

implantada, buscamos, através da questão norteadora, compreender: Qual a

aceitação e o conhecimento apresentado pelos profissionais de saúde a

respeito das práticas integrativas e complementares?

17

________________________________________________________2 OBJETIVOS

18

2.1 Objetivo Geral

• Identificar a aceitação e o conhecimento apresentado pelos profissionais de

saúde de nível superior com relação à Política Nacional de Práticas

Integrativas e complementares (PNPIC) nas ESFs do município de Biguaçu.

2.2 Objetivos Específicos

• Identificar o conhecimento dos profissionais de saúde de nível superior sobre

as práticas oferecidas pela PNPIC;

• Conhecer a aceitação por parte dos profissionais de saúde de nível superior

sobre a possível implantação da PNPIC nas ESFs de Biguaçu.

• Conhecer as práticas naturais já utilizadas pelos profissionais de saúde nas

ESFs.

19

___________________________________________3 REVISÃO DE LITERATURA

20

A saúde sempre foi motivo de busca de novos meios de manutenção e cura.

Essa busca sempre foi em meio à natureza. A principio, os responsáveis por esse

conhecimento de cura provinda da natureza, eram os pajés ou feiticeiros (CAPRA,

1982 apud FARIA, 2004).

Já na Antiguidade, as doenças passaram a ser estudadas cientificamente,

além de terem o significado místico (CAPRA, 1982 apud FARIA et al, 2004).

Na Idade Média, o processo saúde-doença começou a ser visto como algo

envolvendo a fé. Sendo que a doença era tida como conseqüência de um pecado

cometido (LAPLATINE, 1991 apud FARIA et al, 2004).

A partir da Revolução Científica, a doença passou a ser estudada mais

meticulosamente e os cientistas começaram a ter a visão do holístico. E foi através

deste pensamento, que evoluiu, que surgiu o modelo biomédico, que é o modelo que

ainda predomina em nosso sistema de saúde (CAPRA, 1982 apud FARIA et al,

2004).

Buscando a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o

diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde, o Ministério da

Saúde brasileiro, criou a Atenção Básica, que é alcançada através de práticas

gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, contando com a equipe

multidisciplinar. É o primeiro contato do cidadão com o sistema de saúde, e é

através dele que deve-se alcançar cuidados de baixa e média complexidade (MS,

2009).

Para alcançar a organização da Atenção Básica, o Ministério da Saúde criou

também a Estratégia Saúde da Família, que visa “promover a reorientação das

práticas e ações de saúde de forma integral e contínua, levando-as para mais perto

da família e, com isso, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros” (MS, 2009).

É dentro desta estratégia que encontra-se a Política Nacional de Práticas

Integrativas e Complementares, que busca estimular os mecanismos naturais de

prevenção de agravos e recuperação da saúde através de tecnologias eficazes e

seguras, utilizando-se da escuta acolhedora, do vínculo terapêutico e da integração

do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. Outro ponto forte dessa política

é a visão ampliada do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado

humano, especialmente do autocuidado (MS, 2009).

21

3.1 A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares

A saúde começou a ser pensada como algo a ser investido com todas as

armas, através da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde,

realizada na cidade Alma Ata - URSS (gerando um documento intitulado Declaração

de Alma Ata), em 1978 (PORTAL DA SAÚDE, 2003).

Foi por meio desta declaração e de acordo com a Lei 8.080/90, que surgiu o

Sistema Único de Saúde, com seus princípios básicos, como o acesso universal aos

serviços públicos de saúde e a participação da sociedade nas decisões sobre tais

serviços (PORTAL DA SAÚDE, 2003).

A própria lei citada acima, busca condições para a promoção, proteção e

recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços

correspondentes e dá outras providências (BRASIL, 1990).

Ao perceber que nas redes municipais já vinham se desenvolvendo práticas

deste âmbito, porém de forma desigual, descontinuado e muitas vezes incorreto, o

Ministério da Saúde, decide integrá-las ao SUS, em forma da Política Nacional de

Práticas Integrativas e Complementares (BRASIL, 2006).

Essa política compõem-se das práticas de medicina tradicional chinesa -

acupuntura, homeopatia, termalismo/crenoterapia, fitoterapia e medicina

antroposófica, explicadas a seguir (BRASIL, 2006).

Através de diretrizes e recomendações observadas em várias conferências

nacionais de saúde e também de acordo com o que preconiza a Organização

Mundial de Saúde (OMS), em junho de 2003, representantes de Associações

Nacionais de Fitoterapia, Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antroposófica,

reuniram-se com o então Ministro da Saúde, e deste encontro, definiu-se um grupo

de trabalho para discutir e planejar a implementação da Política, contando com

participação de representantes das Secretarias de Ciência, Tecnologia e Insumos

Estratégicos e de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde/MS; Agência Nacional

de Vigilância Sanitária (Anvisa); e Associações Brasileiras de Fitoterapia,

Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antroposófica (BRASIL, 2006)

O grupo gestor, dividiu o restante em subgrupos, cada qual com determinadas

responsabilidades. Após diagnosticar a situação de saúde dos municípios, o grupo

gestor juntamente com todos os subgrupos, utilizando os resultados providos pelo

22

grupo de trabalho já citado, elaborou a Proposta de Política Nacional de Medicina

Natural e Práticas Complementares. Depois de muitas reuniões, revisões e edições,

o documento contendo a política final, foi aprovado por unanimidade pelo Conselho

Nacional de Saúde (CNS) em fevereiro de 2006, consolidando então a Política de

Práticas Integrativas e Complementares no SUS, através das Portarias Ministeriais

nº 971 em 03 de maio de 2006, e nº 1.600, de 17 de julho de 2006 (BRASIL, 2006).

3.2 Medicina Chinesa - Acupuntura

Uma das práticas asseguradas pela política em questão, é a Medicina

Chinesa – Acupuntura. A medicina chinesa procura interagir energeticamente o

macrocosmos e o microcosmos, e é isto que exerce influencia sobre as funções

próprias de cada organismo (CONGRESSO BRASILEIRO DE ACUPUNTURA,

1981).

E a medicina oriental, vê ainda, o homem como unidade, composto por corpo,

mente e alma. Ao contrário da ocidental, que enxerga apenas a doença, e tem por

meta, curá-la (CONGRESSO BRASILEIRO DE ACUPUNTURA, 1981).

A acupuntura faz parte dessa medicina chinesa, e é ela que procura fazer do

corpo, são; ou seja, busca deixá-lo em equilíbrio funcional-energético, fazendo com

que assim possa ser curado (CONGRESSO BRASILEIRO DE ACUPUNTURA,

1981).

A acupuntura tem como fundamento, a teoria do Yin-Yang, que divide o

mundo em duas forças fundamentais, e seu objetivo é alcançar o equilíbrio entre

essa dualidade (BRASIL, 2006).

Conforme achados arqueológicos, o conhecimento dessa prática já era

utilizado à 3000 anos. A denominação original, ou seja, na língua chinesa, para a

técnica é zhen jiu, onde zen significa agulha e jiu, calor. Porém, adaptada pelos

jesuítas em seus relatos no século XVII, obteve o vocabulário de acupuntura, ou seja

Acus que significa agulha e Punctio que significa punção (BRASIL, 2006)

Foi só a partir do século XX que ela foi assimilada a medicina contemporânea

e que também comprovou-se seus efeitos terapêuticos (BRASIL, 2006).

23

Em meados de 1953, com sua eficácia comprovada através de estudos

específicos, que sua prática se iniciou, primeiramente no Rio de Janeiro e em São

Paulo (CONGRESSO BRASILEIRO DE ACUPUNTURA, 1981).

Após ser introduzida no Brasil, e ter ganhado espaço nos serviços públicos, a

acupuntura passou a ser muito utilizada pelos usuários do SUS, através de sua

inserção na tabela de Sistemas de Informações Ambulatoriais (SIA-SUS), atingindo

em 2003, 181.983 consultas, com uma maior concentração de médicos

acupunturistas na região Sudeste do país (BRASIL, 2006).

Hoje, se apresenta em 19 estados brasileiros, distribuídas em 107 municípios,

sendo destes 17 capitais (BRASIL, 2006).

3.3 Homeopatia

Outra inserção na PNPIC, foi a homeopatia, que emprega remédios

dinamizados, e em pequenas doses, com o fim de obter a cura do enfermo, e

quando administrados em doses mais fortes, tem o poder de produzir os mesmos

sintomas da doença que se pretende curar (WEYKE, N/C).

Ela é baseada na Lei dos Semelhantes, citada pela primeira vez por

Hipócrates no século IV a. C. (BRASIL, 2006).

Após sua criação por Samuel Hahnemann no século XVIII, ela começou a ser

difundida pelo mundo, fixando-se em alguns lugares (BRASIL, 2006).

No Brasil , ela foi introduzida no ano de 1840, por Benoit Mure, ficando

conhecida rapidamente e tornando-se uma nova opção de tratamento (BRASIL,

2006).

Entre os anos de 1979 e 1993, a homeopatia obteve grandes conquistas,

como, ser reconhecida como especialidade médica e posteriormente como

especialidade farmacêutica, receber uma associação específica a ela, e ter

reconhecida uma associação de homeopatia veterinária (BRASIL, 2006).

Mesmo antes de ser implantada a tabela do SIA-SUS em 1999, a homeopatia

já era oferecida como especialidade médica em alguns serviços de saúde, sendo

que em 1988, a Ciplan firmou normas para seu atendimento nestes serviços

(BRASIL, 2006).

24

Sua situação hoje, é extremamente favorável, pois já faz parte de pelo menos

10 universidades públicas, presente em atividades de ensino, pesquisa ou

assistência (BRASIL, 2006).

Além da implementação da homeopatia no SUS, apresentou-se também uma

importante estratégia, visando o sujeito como centro da atenção, compreendendo-o

nas dimensões física, psicológica, social e cultural, desejando fortalecer a relação

médico–paciente e atuando em diversas situações clínicas (BRASIL, 2006).

Embora alguns estudos digam que qualquer pessoa é capaz de orientar seu

próprio tratamento homeopático, julga-se mais confiável o auxílio de um homeopata,

de preferência experiente, ainda mais quando a doença a qual se deseja tratar é

grave (WEYKE, N/C).

3.4 Crenoterapia/Termalismo

Sendo que a utilização das águas minerais para tratamentos de saúde é um

método dos mais antigos, desde o tempo do Império Grego, ela se mantêm bastante

atual. Foi descrita pela primeira vez por Heródoto em 450 a. C. aproximadamente.

Ele foi o autor da primeira publicação envolvendo águas termais. Como já

citado, o termalismo se utiliza de diferentes maneiras de utilização da água mineral e

aplicações em tratamentos de saúde e a crenoterapia usa águas minerais

objetivando atuar de maneira complementar aos demais tratamentos de saúde

(BRASIL 2006).

Após chegar ao Brasil com os portugueses, a crenoterapia obteve uma

disciplina de muito conceito e valor, estando presente em muitas escolas médicas.

Após a segunda guerra mundial, esta área de tratamento a saúde sofreu uma

grande redução de sua produção científica e divulgação, devido as mudanças

ocorridas na área da medicina (BRASIL, 2006).

A partir da década de 90, com a nomenclatura de Medicina Termal, passou-se

a abordar coletivamente a população, tanto prevenindo como promovendo e

recuperando a saúde, e aproveitando-se disto nasceu o Turismo Saúde e de

Termalismo Social, que leva as pessoas a locais específicos buscando a

manutenção da saúde (BRASIL, 2006).

25

De acordo com a resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 343, de 07 de

outubro de 2004, o termalismo é um instrumento que visa fortalecer a definição de

ações de governos envolvidos na revalorização dos mananciais das águas minerais,

seu aspecto terapêutico, definição de mecanismos de prevenção, fiscalização,

controle, e incentivo à realização de pesquisas na área (BRASIL, 2006).

3.5 Fitoterapia

A fitoterapia é uma pratica que se utiliza de plantas medicinais em suas

diferentes formas farmacêuticas (BRASIL, 2006).

A arte de curar vem dos tempos mais remotos, e a fitoterapia é a terapia mais

utilizada para isso. Ao longo do tempo, alguns outros tratamentos foram embasados

em produtos de origem vegetal, ou seja, a tiveram como ponto de partida (BRASIL,

2006).

As chamadas de plantas medicinais, ou seja, plantas que tem a capacidade

de aliviar, prevenir e curar certas doenças e distúrbios fisiológicos são a base da

fitoterapia (BRESSOLIN; CECHINEL FILHO, 2003).

Muitas plantas ainda são confundidas com rituais de bruxaria e crendices,

sendo então destituídas de seu potencial medicinal (BRESSOLIN; CECHINEL

FILHO, 2003).

Banerman e Chem (1983, apud CHECHETTO, 2006) citam que de acordo

com dados disponibilizados pela Organização Mundial da Saúde, aproximadamente

80 % da população dos países em desenvolvimento suprem suas necessidades

básicas de saúde através do uso de plantas medicinais.

A opção pelo seu uso, possivelmente se dá pela insatisfação com a eficácia,

os custos elevados e os efeitos indesejáveis dos medicamentos alopáticos, e

também pela crescente admiração pelos “produtos naturais” (BRESSOLIN;

CECHINEL FILHO, 2003).

Porém, a maior parte do conhecimento sobre este assunto ainda é adquirido

empíricamente por muitas pessoas, sendo transmitido verbalmente de geração a

geração (FERNANDES; et al 2006).

26

Chechetto (2006), diz ainda que são poucos os estudos na área, apesar da

grande utilização pelo povo brasileiro, porém ainda gasta-se grandes quantias ao

importar a matéria-prima de 90% dos remédios sintéticos consumidos pela

população. O que é ou uma incoerência ou um descaso já que “o Brasil, possui a

flora mais rica do mundo e possui apenas 8% de plantas conhecidas

científicamente” (BRESSOLIN; CECHINEL FILHO, 2003).

Segundo Pimentel (2006), houve um grande avanço nas práticas integrativas

e complementares, pois a Presidência da República, através do Decreto 5.813/06

aprovou a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, e instituiu a

inserção desta no Sistema Único de Saúde.

Através do Decreto, garante-se que a população brasileira tenha acesso

seguro e faça o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos (PIMENTEL,

2006).

Apesar da resolução do COFEN n°197/97 estabelecer as Terapias

Alternativas e Complementares como especialidade e/ou qualificação do profissional

de Enfermagem, essa é uma das classes mais negligenciadas nas investigações

sobre o tema (BARROS; TOVEY, 2007).

Barros e Tovey (2007) ainda citam que as Terapias Alternativas e

Complementares como cursos optativos nas grades curriculares adequavam-se à

demanda das décadas de 80 e 90 na área da saúde, porém hoje, há a necessidade

urgente de criar-se um projeto pedagógico de ensino das Terapias Alternativas e

Complementares nas escolas de enfermagem.

As Terapias Alternativas e Complementares são de fácil adesão, não apenas

por tratar holisticamente o ser humano, mas também porque influencia no fator

econômico, sendo que estas são práticas mais acessíveis e de menor custo do que

a maioria dos tratamentos convencionais. A fitoterapia em si, é geralmente melhor

aceita e mais conhecida pela carga cultural que a antecede (BARROS; TOVEY,

2007).

Segundo o Ministério da Saúde (2007), a proposta da Política Nacional de

Plantas Medicinais e Fitoterápicos, é de construir uma rede que desenvolva medidas

voltadas à melhoria da atenção à saúde, ao fortalecimento da agricultura familiar, à

geração de emprego e renda, à inclusão social e ao desenvolvimento industrial e

tecnológico, assim como controle social. A proposta continua com a contribuição da

27

redução da dependência tecnológica do Brasil por insumos farmacêuticos assim

como estabelecer uma posição de destaque do país no cenário internacional.

O Brasil possui grande potencial para o desenvolvimento dessa terapêutica,

como a maior diversidade vegetal do mundo, ampla sociodiversidade, uso de plantas

medicinais vinculado ao conhecimento tradicional e tecnologia para validar

cientificamente este conhecimento (BRASIL, 2006).

3.6 Medicina Antroposófica

Introduzida no Brasil a aproximadamente 60 anos a Medicina Antroposófica

(MA) apresenta-se como uma abordagem médico-terapêutica complementar, de

base vitalista, sendo modelo de atenção organizado de maneira transdisciplinar,

buscando a integralidade do cuidado em saúde (BRASIL, 2006).

Ao adentrar o país, a antroposofia instalou-se no sudeste, mais precisamente

na região de São Paulo. E foi através da Doutora Gudrun K. Burkhard, formada pela

Universidade de São Paulo, pioneira na prática, que esta terapia começou a ser

difundida (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MEDICINA ANTROPOSÓFICA, 2008).

Os conhecimentos e recursos da MA são utilizados pelos médicos

antroposóficos como instrumentos para ampliação da clínica, tendo obtido

reconhecimento de sua prática por meio do Parecer 21/93 do Conselho Federal de

Medicina, em 23/11/1993 (BRASIL, 2006).

Na Medicina Antroposófica, destaca-se o uso de medicamentos baseados na

homeopatia, fitoterapia e outros, que são especificamente da medicina

antroposófica. Está integrada também a relação multidisciplinar, de acordo com a

necessidade do atendimento (BRASIL, 2006).

A medicina antroposófica, vem sendo oferecida em alguns municípios

juntamente com a homeopatia e a acupuntura (BRASIL, 2006).

Em Belo Horizonte, no ano de 1996, foi realizado o primeiro concurso para

contratação de médico antroposófico no SUS. E em novembro de 2004, o serviço

que comemorou 10 anos de existência, pôde observar seu atendimento sempre

ascendente (BRASIL, 2006).

28

Na cidade de São Paulo, que possui o ambulatório da Associação

Comunitária Monte Azul há 25 anos, também se oferecem serviços baseados na

abordagem de aplicações externas de fitoterápicos e de outros modos, assim como

em São João Del Rei/MG. Busca-se nestes locais uma integração informal da rede

de referência da região, como centro de práticas não alopáticas (massagem, terapia

artística e aplicações externas). Desde 2001, a associação mantém parceria com a

Secretaria Municipal de Saúde para implantar a estratégia Saúde da Família no

município (BRASIL 2006).

Considerando a pequena representatividade no SUS e as avaliações iniciais

positivas que os serviços apresentam acerca de sua inserção, a proposta desta

política para a MA é de implementação, no âmbito das experiências consolidadas,

de Observatórios com o objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre suas

práticas e seu impacto na saúde (BRASIL , 2006).

3.7 O desenvolvimento da PNPIC

Mesmo a política tendo apenas 2 anos, ela já possui algumas experiências

que deram e continuam dando certo (BRASIL, 2008).

No município de Campinas (SP), foi criada uma coordenadoria especialmente

voltada para atender as práticas integrativas com o nome de Saúde Integrativa

(BRASIL, 2008).

Os interessados em aplicar a política no município, criaram um Grupo de

Estudos e Trabalho em Terapias Integrativas (GETRIS), objetivando criar condições

de desenvolvimento de técnicas, que até o momento eram pouco conhecidas da

maior parte da população (BRASIL, 2008).

A partir deste grupo de estudos é que foi possível a criação da Saúde

Integrativa, onde começaram a ser implantadas iniciativas que antes não passavam

de projetos (BRASIL, 2008).

As iniciativas que mais se destacam no município, são de acordo com o

campo das práticas integrativas. A Botica da Família , por exemplo, é uma farmácia

de manipulação de medicamentos fitoterápicos, e ela atende as 69 UBS de

29

Campinas, segundo a farmacêutica e bioquímica responsável, Marli Ribeiro

(BRASIL, 2008).

A medicina tradicional chinesa como acupuntura também foi implantada na

rede, utilizando profissionais já formados na área. O atendimento oferecido dessa

especialidade ocorre em ambulatório hospitalar, mas é feito dentro dos

procedimentos da Atenção Básica, pois somente são atendidos os clientes

encaminhados pelas UBS (BRASIL, 2008).

Outras práticas como o Tai Chi Chuan, uma modalidade de exercícios que

compõem a Medicina Tradicional Chinesa, combinada à meditação; a Ginástica

Harmônica, que trabalha ao mesmo tempo, o plano corporal, psíquico e espiritual,

através de terapias corporais; Yoga, Lian Gong, entre outros, também são

oferecidas pela Saúde Integrativa no município de Campinas, após a implantação da

PNPIC (BRASIL, 2008).

Em nosso estado, temos o exemplo bem sucedido da implantação da

Medicina Tradicional Chinesa na formatação de Do In em Itajaí (BRASIL, 2008).

Há quase dois anos, o município de Itajaí, decidiu oferecer, primeiramente em

apenas uma UBS, posteriormente em quase todas as que possuem a ESF, a técnica

de Do In, devido ao grande número de encaminhamentos à ortopedistas e também

aos problemas apresentados pela população, como ansiedade, depressão, insônia,

entre outros, todos podendo ser resolvidos com a prática em questão (BRASIL,

2008).

Além da prática ser oferecida à população, é também aos funcionários

municipais, pois é reconhecido o quão exaustiva é sua rotina de trabalho. Eles têm

direito a sessões coletivas três vezes por semana (BRASIL, 2008).

É importante ressaltar que a prática não é centralizada no médico, pois todos

os profissionais de saúde, incluindo Agentes Comunitários de Saúde, recebem

capacitação a respeito do assunto, podendo assim difundi-lo pela comunidade

(BRASIL, 2008).

No estado do Amapá, existe um sistema estadual que objetiva a assistência

especializada em terapias naturais, chamado de Centro de Referência em

Tratamento Natural do Amapá (CRTN) que foi inaugurado em 2004 (BRASIL, 2008).

É um centro que atende toda a região Norte e Nordeste do país. E que em

2007, ofereceu mais de 73 mil atendimentos na área (BRASIL, 2008).

30

Além de ofertar este tipo de atendimento, o CRTN também possui

atendimentos de fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia, nutrição e terapia

ocupacional (BRASIL, 2008).

Lá, também funciona o sistema de referência e contra-referência, através da

assistência ambulatorial (BRASIL, 2008).

Outros locais, como Suzano (SP), Fortaleza (CE), Vitória (ES) e Belo

Horizonte (MG), utilizam diversos tipos de terapias inclusas na PNPIC. Já em Goiás

(GO), por exemplo, o governo estadual, o MS e o Instituto Brasileiro de Ciência e

Tecnologia Maharishi (IBCTM), investiram em cursos para a formação em Práticas

Integrativas e Complementares (BRASIL, 2008).

São cursos de capacitação, que contam com estágios no Hospital de

Medicina Alternativa (HMA), e que podem ser cursados por qualquer profissional da

área da saúde (BRASIL, 2008).

Por estas e outras ações, a PNPIC busca conhecer, apoiar, incorporar e

implementar ações que já eram adotadas na rede pública, tornando-a simplesmente

mais acessível e disponível em todo o SUS (BRASIL, 2008).

31

____________________________________________4 REFERENCIAL TEÓRICO

32

Madeleine Leininger não possui registros exatos da sua data de nascimento,

porém sua graduação no curso básico de enfermagem ocorreu no ano de 1948, nos

Estados Unidos da América (HENCKMEIER, 1996).

Após a conclusão deste curso, ela logo ingressou em seu bacharelado e

mestrado, concluído em 1953 (HENCKMEIER, 1996).

Ao iniciar seus trabalhos como especialista em saúde mental com crianças,

observou o quão diferentes elas eram nas atividades mais cotidianas e simples.

Apesar da evidência destes fatos, seus motivos não eram claros (HENCKMEIER,

1996).

Com o passar do tempo, ela foi percebendo que essas diferenças vinham da

cultura de cada criança, pois as mesmas vinham de regiões de sociedades diversas

(HENCKMEIER, 1996).

E após constatar isto, percebeu como estresses e conflitos culturais podiam

influenciar no processo de saúde-doença, tanto físicas quanto mentais

(HENCKMEIER, 1996).

Foi então, que Leininger ingressou no curso de doutorado em Antropologia,

sendo a primeira enfermeira a ocupar uma cadeira assim (HENCKMEIER, 1996).

Ela iniciou sua teorização, baseando-se sempre no fator cultural. Chegou

então a conclusão de que a essência da enfermagem é o cuidado e ele precisa ser

aplicado dentro de uma perspectiva transcultural, adquirindo a denominação de

Teoria da Universalidade e Diversidade do Cuidado Cultural (HENCKMEIER, 1996).

Mesmo, tendo uma teoria baseada em suas experiências, que também eram

vivenciadas por outras classes da saúde, as enfermeiras da época, demoraram a

aceitá-la, pois estavam ocupadas em prestar atenção nas necessidades físicas e

emocionais dos pacientes (HENCKMEIER, 1996).

Hoje, porém, em muito lugares se utiliza esta teoria, pois sabe-se que a

enfermagem é multicultural, tanto vista pelo cliente como pelo profissional

(HENCKMEIER, 1996).

Como Leininger continua viva, sua teoria não é imutável, podendo ser

trabalhada e modificada (HENCKEIER, 1996).

Foi através deste conceito que nos propusemos a utilizá-lo, pois as práticas

integrativas e complementares são aceitas ou não pela carga cultural que

transmitem às pessoas.

33

4.1 Pressupostos Básicos da Teoria

Os pressupostos são fatos que ocorrem antes de outros, ou seja, idéias que

permitem a formação de conceitos (HENCKMEIER, 1996).

Os pressupostos de Leininger são:

• Os seres humanos são seres culturais e capazes de sobreviver ao passar do

tempo, através de sua capacidade de prestar cuidado aos outros, de todas as

idades, em vários ambientes e de muitas maneiras.

• Os valores podem ser diversificados ou universais.

• O cuidado ao homem é universal, em todas as culturas, o cuidado pode ser

demonstrado por meio de expressões, ações, padrões e estudos de vida e

sentidos diferentes.

• Todas as culturas possuem práticas de cuidado de saúde profissionais e

populares.

• O Cuidar e o cuidado incluem ações que são essenciais à sobrevivência dos

homens, bem como para seu desenvolvimento e habilidades para lidar com

acontecimentos graves e freqüentes da vida, inclusive as doenças, as

deficiência e a morte.

• A enfermagem é uma profissão de cuidado transcultural.

4.2 Conceitos segundo Leininger

4.2.1 Cultura:

São os valores, crenças, normas e práticas de vida de grupos que podem ser

partilhados, transmitidos ou adquiridos, e servem para orientar o pensamento, as

decisões e ações, de maneira padrão (LEININGER, 1985 apud HEINCKMEIER,

1996).

34

4.2.2 Saúde:

É um estado de bem estar, que reflete a capacidade dos indivíduos (ou

grupos) de realizar atividades diárias, de forma satisfatória (LEININGER, 1985

apud HEINCKMEIER, 1996).

4.2.3 Cuidado/Cuidar:

São as atividades e ações que visam auxiliar na assistência, apoiar ou facilitar

o (s) individuo(s) com necessidades reais ou previstas, amenizando ou

melhorando sua condição humana de vida (LEININGER, 1985 apud

HEINCKMEIER, 1996).

4.2.4 Enfermagem

Profissão cientifica e humanística, que é apreendida e focalizada no

fenômeno do cuidado humano e em atividades que propiciam assistência,

suporte, facilitação e capacitação a indivíduos ou grupos, para manter ou reaver

o seu bem-estar de uma forma culturalmente significativa e satisfatória, ou para

ajuda-los a enfrentar as dificuldades ou a morte (LEININGER, 1985 apud

HEINCKMEIER, 1996).

4.2.5 Estrutura Social:

São os elementos básicos de uma cultura, tais como valores religiosos, de

parentesco, políticos, econômicos, educacionais, tecnológicos e culturais,

35

demonstradas no contexto ambiental (LEININGER, 1985 apud HEINCKMEIER,

1996).

4.2.6 Sistema Popular de Saúde:

Ele ocorre na comunidade, sendo que pessoas leigas oferecem ou auxiliam

tratamentos ou práticas de cura com cuidados nativos, locais ou tradicionais

(LEININGER, 1985 apud HEINCKMEIER, 1996).

4.2.7 Sistema Profissional de Saúde:

Este é um sistema que oferece cuidado, tratamento e/ou cura, através de

pessoal capacitado e em instituições específicas (LEININGER, 1985 apud

HEINCKMEIER, 1996).

36

____________________________________________________5 METODOLOGIA

37

Este estudo envolveu o conhecimento de profissionais de saúde sobre a

Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, ocorrendo de forma

exploratória descritiva através da aplicação de um questionário semi-estruturado,

onde foi utilizado para avaliação o método de análise quantitativa.

O método quantitativo trata do emprego da quantificação tanto na coleta das

informações quanta na análise das mesmas. Esse método procura investigar as

características de um fenômeno como ele é. Ele também visa a interpretação mais

fidedigna dos dados, garantindo a precisão de resultados (RICHARDSON, 1999).

A pesquisa exploratória é indicada quando o pesquisador não possui muitas

informações, sendo este orientado para descobertas (Hair, et al ,2005).

5.1 Local de Estudo

O estudo foi realizado nas Unidades de Saúde de Biguaçu, sendo elas:

CIABS, Marco Antônio, Prado, Cachoeira, Bom Viver, Saveiro, Janaína, Vendaval e

Três Riachos, que possuem as 14 equipes de ESF, composta por profissionais

médicos, enfermeiros, ACS, entre outros.

As equipes compreendem vários bairros do município, sendo que em alguns

bairros, uma única Unidade de Saúde possui mais de uma equipe assim como existe

uma mesma equipe de SF para mais de uma unidade de saúde no interior do

município.

O município de Biguaçu foi emancipado em 17 de maio de 1833, sua

população aproximada no ano de 2006 (Ultimo Senso), era de 59.097 habitantes. O

município localiza-se a 28 quilômetros de Florianópolis, a capital do Estado de Santa

Catarina.

5.2 Sujeitos de Pesquisa

A pesquisa foi realizada no primeiro e segundo semestre de 2009 entre os

meses de Julho a Setembro, após a aprovação pela Comissão de Ética da UNIVALI

38

sob o parecer número 504/08 de 01 de Julho de 2009. Os sujeitos de pesquisa

foram todos os profissionais de ensino superior que compõem as equipes de saúde

da família do município de Biguaçu, totalizando 13 profissionais médicos, 14

profissionais enfermeiros. O total de sujeitos de pesquisa foram 27 entrevistados.

5.3 Coleta de Dados

A aplicação da pesquisa aconteceu em todas as Unidades de Saúde que

compõem o município de Biguaçu, sendo a aplicação semelhante em todas as

Unidades. Não foi considerado como objeto de pesquisa a Unidade Central, pois a

mesma não possui ESF.

Foi solicitada a Secretaria Municipal de Saúde a autorização para a realização

da pesquisa nas unidades de saúde, onde a coordenadora da ESF do município

disponibilizou uma autorização por escrito para que as pesquisadoras pudessem

apresentar nas unidades no momento da coleta.

Após os esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa e o

comprometimento ético assumido pelas acadêmicas diante dos profissionais de

saúde, passava-se para o momento de aceitação destes profissionais, sujeitos da

pesquisa.

Ao aceitar a participação na pesquisa, o entrevistado assinou o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido; a entrevistadora, então, aplicou um questionário

semi-estruturado.

A amostra obtida foi de 23 profissionais, sendo 14 Enfermeiros e 9 Médicos.

Os 4 profissionais médicos não participantes da pesquisa, assim o fizeram por

motivo de licença ou férias.

Durante este processo encontramos dificuldades na coleta como a distância

de algumas unidades de saúde, onde foi realizada apenas uma visita; e a referida

falta de tempo dos profissionais que precisaram ser instigados por mais de uma vez

a responderem o questionário.

O instrumento de pesquisa elaborado pelas acadêmicas, atingiu as

expectativas, dando pouca margem para erro ou interpretações incorretas. Sua

análise também foi facilitada, uma vez que a maioria das questões eram objetivas.

39

Alguns profissionais mostraram-se interessados no objetivo pretendido com

esta monografia e atenderam prontamente à solicitação de resposta a esta

pesquisa.

5.4 Aspectos Éticos

Utilizando-se da resolução 196/96, que trata dos direitos e deveres da

comunidade científica e sujeitos pesquisados, fica definido que a pesquisa em geral

objetiva desenvolver ou contribuir para o conhecimento generalizado em teorias,

relações ou princípios. A pesquisa envolvendo seres humanos mesmo que de forma

indireta, é aquela que inclui o manejo de informações ou matérias. (C.N.S., 1996).

Alguns aspectos éticos devem ser seguidos como a existência do

Consentimento Livre e Esclarecido; da ponderação entre riscos e benefícios; da

garantia que danos previsíveis serão evitados; e garantindo a igual consideração

dos interesses envolvidos; obedecendo os quatro referenciais básicos da bioética:

autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. Além disso, ela deve seguir

algumas exigências, como ter princípios científicos justificados; ser realizada quando

o conhecimento que se pretende obter não possa ser feito por outro meio; respeitar

sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos, e éticos que envolvem a

comunidade, entre outros (C.N.S., 1996).

40

________________________________6 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS

41

Esta etapa foi realizada em forma de tabulação das informações coletadas.

Após computados, foram gerados gráficos de comparação para uma melhor análise

dos dados e visualização dos resultados. Neste capítulo apresentaremos os gráficos

com análise quantitativa seguida de discussão acerca do que nos foi apresentado

pelos profissionais de saúde.

Apresentaremos a seguir a composição das equipes que participaram da

pesquisa, o tempo de serviço, a profissão dos entrevistados e seu gênero, o

conhecimento sobre a Política do PIC/SUS, a credibilidade da eficácia das práticas e

a aceitação pelo profissional em utilizá-las, assim como seu interesse em participar

de uma capacitação na área, finalizando com a opinião pessoal dos profissionais

sobre PNPIC.

Gráfico 1 – Equipe de Médicos e Enfermeiros que participaram da pesquisa.

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

0

1

1

1

0

0

1

1

1

0

1

1

1

0

Cachoeira

Bom Viver

Ciabs I

Ciabs II

Ciabs III

Três Riachos

Jardim Janaina

Marcos Antonio I

Marcos Antonio II

Prado I

Prado II

Vendaval

Rio Caveiras

Saveiro

Médicos

Enfermeiros

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

42

Analisando o gráfico acima, podemos observar que das 14 equipes

entrevistadas, 85% (23) dos profissionais responderam, sendo que 60.9% (14) são

enfermeiros e 39.1% (9) são médicos. Do total de equipes, apenas uma não está

completa, sendo composta apenas do enfermeiro, tendo o médico reincidido o cargo

no mês anterior a pesquisa, por motivos de mudança. Os profissionais que não

responderam a pesquisa, assim o fizeram por motivos variados, como licença-saúde,

férias ou por estarem em cursos.

Todos os profissionais que estavam em atividade responderam a pesquisa,

mas percebemos que os enfermeiros se prontificaram imediatamente em fazê-lo,

bem como inteirar-se da política quando não conheciam totalmente o tema

pesquisado enquanto os médicos resistiram mais em responder, prolongando o

tempo de coleta de dados, tendo as pesquisadoras que retornar a unidade mais de

uma vez para a coleta.

Gráfico 2 – Tempo de trabalho dos profissionais na ESF

0

1

2

3

4

5

6

7

8

< 6 meses de 6 meses a1 ano

De 1 ano a 2anos

De 2 anos a 3anos

> de 4 anos

Médicos

Enfermeiros

Total

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

43

No gráfico 2, observamos que a permanência de profissionais nas equipes de

saúde de Biguaçu tem grande rotatividade, sendo que a maioria deles permanecem

até um ano no seu cargo. Do total de profissionais entrevistados 91.3% (21)

responderam a pergunta, sendo que destes 76.2% (16) trabalham na ESF a menos

de um ano. Acima desse período os profissionais que prevalecem são os

enfermeiros contabilizando um total de 14.3% (3).

Levando em consideração a alta rotatividade dos profissionais da equipe de

saúde, pode-se supor que a resolubilidade do atendimento integral ao paciente

diminui, reduzindo também o convívio entre profissionais e usuários, sendo que os

primeiros acabam por não se ater a estabelecerem um vínculo com os últimos.

Assim distancia-se do preconizado pelos princípios doutrinários do SUS

(Equidade, Universalidade e Integralidade), pois os profissionais deixam de dedicar-

se exclusivamente ao único emprego, ou talvez pelo descomprometimento

empregatício, já que os mesmos estão na busca constante de estabilizar-se.

Os profissionais de saúde buscam estabilidade de emprego, sendo assim

procuram instituições que realizam concursos públicos ao contrário do sistema

seletivo de vagas que rege no município destes profissionais, que não garante

estabilidade e continuidade do atendimento. Esse fator também interfere no

investimento de formação continuada aos profissionais pelo município, pois com a

constante mudança de profissionais não garante um serviço continuado com

acúmulo de conhecimento oferecido pelo município nas formações.

Gráfico 3 – Profissão dos Entrevistados

9

14

Médicos

Enfermeiros

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

44

Analisando o gráfico 3 acima, podemos perceber que o número de

profissionais enfermeiros que responderam a pesquisa é maior do que o número de

profissionais médicos, representando um valor de 60.7%(14) para 39.3%(9).

Segundo a portaria n° 648 de 28 de março de 2006, a equipe de saúde da

família necessita ser composta de um profissional médico e um profissional

enfermeiro, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e Agentes

Comunitários de Saúde. Apesar disto, neste caso entrevistamos mais enfermeiros

devido à ausência de médicos por questões já relatadas anteriormente.

Aqui é possível observar que nenhum dos profissionais, sejam médicos ou

enfermeiros, recusaram responder a pesquisa, mesmo que tenham respondido

parcialmente as questões, não colocando sua opinião nas perguntas abertas apenas

assinalando as questões objetivas.

Isso demonstra que apesar da opinião negativa ou confusa de alguns deles,

esta política provocou interesse e merece ter uma discussão maior.

Por suas atribuições, o enfermeiro tem um contato mais abrangente com as

políticas de saúde e talvez por isso demonstre maior interesse em conhecer esta em

particular.

Gráfico 4 – Gênero dos entrevistados

15

8

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Feminino

Masculino

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

45

De acordo com o gráfico 4 acima, buscamos classificar os profissionais

entrevistados por gênero. Assim percebemos que a maioria deles é representada

por profissionais do sexo feminino, totalizando 65.2% (15). Hoje, observamos que

todos os serviços incluindo o da saúde tem uma predominância do sexo feminino na

busca do emprego formal.

As mulheres passaram a assumir o mercado de trabalho após a I e II Guerras

Mundiais, quando os homens tinham a responsabilidade de enfrentar os campos de

batalha e por diversas vezes deixavam-na viúva, tendo que a partir deste momento

gerenciar o próprio lar (RAQUEL, 2008)

No Brasil, não foi diferente, porém o grande avanço das mulheres no mercado

de trabalho iniciou nos anos 90, quando elas conseguiram aumentar seu poder

aquisitivo, o nível de escolaridade, através de qualificações profissionais, e

conseguiu reduzir a diferença salarial em relação aos homens (RAQUEL, 2008).

Atualmente, de acordo com Shinyashiki (2006, apud Raquel, 2008), o

mercado de trabalho necessita de novos valores como diferencial, além da escolha

pelo profissional possuidor da melhor qualificação. Esses valores, antes tidos como

fraquezas, são: afetividade, sensibilidade, percepção aguçada, versatilidade, entre

outras, naturalmente femininas e ignoradas pelos homens para não demonstrarem

fragilidade (RAQUEL, 2008).

Com isso a mulher vem tomando cada vez mais lugar no mercado de

trabalho, e comparando o gráfico 3 com o 4 constatamos que a maior parte dos

entrevistados são de enfermeiros e do sexo feminino, provando que historicamente,

a maior parcela de cuidadores é feminina, pelo fato das mulheres possuírem

características maternas, aspecto caritativo e identificação das práticas de cuidar

como auxiliar do médico (ASSUNÇÃO et al, 2009).

46

Gráfico 5 – Conhecimento dos profissionais de saúde sobre a PNPIC do SUS.

0

5

10

15

20

Médicos 5 4

Enfermeiros 12 2

Total 17 6

Sim Não

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

Quando questionados sobre seu conhecimento com relação à Política

Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS, 73,9% (17) afirmam

conhecê-la, sendo que destes 70.6% (12) são enfermeiros. Dos profissionais que

negam o conhecimento sobre a política, a maioria, 66.7% (4) é de profissionais

médicos.

Observamos que a enfermagem tem um contato mais próximo com o

atendimento das práticas integrativas, principalmente com a fitoterapia, talvez pelo

fato do currículo da maioria dos cursos de enfermagem de Santa Catarina

oferecerem esta disciplina. Também cabe ressaltar que o profissional médico tem

uma formação ainda muito cartesiana, voltada para o atendimento alopático de

causa e efeito.

Outro fato importante para o não conhecimento em grande escala sobre a

política é sua recém aprovação, datada de 2006, e ainda a não implantação no

município de Biguaçu, sendo que os profissionais acabam por habituar-se aos

47

programas oferecidos em sua própria unidade, e no máximo com o que é oferecido

no restante das unidades do município. Essa política ainda é nova para os

profissionais em geral, apenas os mais atualizados ou interessados nas alternativas

terapêuticas estão motivados para uma nova proposta implantada pelo Ministério da

Saúde.

Gráfico 6 – Conhecimento sobre as práticas oferecidas pela PNPIC. (questão 2)

4 43

2 2

1211

10

43

1615

13

65

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Médicos Enfermeiros Total

Fitoterapia

Acupuntura

Homeopatia

Termalismo

Antroposofia

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

Dos 73.9% (17) de profissionais que afirmaram conhecer a PNPIC, 94.1%

(16) responderam quais das práticas oferecidas conhecem. No gráfico 6 acima

então, podemos perceber que das práticas oferecidas pela PNPIC a mais conhecida

48

é a fitoterapia com 94.1% (16); seguida da acupuntura com 88.2% (15), homeopatia

com 76.5% (13), termalismo com 35.3% (6) e antroposofia com 29.4% (5).

Analisando ainda o gráfico 6 acima, percebemos que a maior parte dos

profissionais que afirmam conhecer as práticas são enfermeiros. Também

percebemos nesta fala que a fitoterapia é a mais conhecida, talvez pelo fato de ser

uma cultura milenar, mas também pela formação acadêmica oferecida pelos cursos

de enfermagem.

Outro ponto que influencia o conhecimento do profissional enfermeiro, é a

vivência cultural e prática, que pode vir da própria história familiar, ou da convivência

com pacientes possuidores de conhecimentos na área, historicamente o enfermeiro

é o profissional que mantém maior contato com os usuários, seja em visitas

domiciliares, em consultas de enfermagem por um tempo mais prolongado, em

grupos de educação em saúde ou atendendo diariamente o usuário na unidade de

saúde, além do seu contato diário com os Agentes Comunitários de Saúde que são

o elo de ligação entre a comunidade e a equipe de saúde. O atendimento médico

ainda está sendo priorizado em atendimento de consultório com um tempo menor

para a escuta e o diagnóstico e tratamento medicamentoso.

Leininger (1985) pressupôs que todas as culturas possuem práticas de

cuidado de saúde profissionais e populares. Sabendo disto, observamos nos

profissionais um conhecimento adquirido empiricamente, principalmente com a

convivência com pacientes ou pessoas idosas. O conhecimento científico vem sendo

agora incutido nas novas formas de tratamento oferecidas pela PNPIC.

Parece-nos que a acupuntura é conhecida pelo fato de também ser uma

cultura milenar, porém não tão difundida quanto a terapia citada anteriormente, mas

já oferecida no município, através do Núcleo de Atenção a Saúde da Família, por um

fisiatra.

Apesar de reconhecida como especialidade médica há quase 30 anos

conforme a Associação Médica Homeopática Brasileira, esta especialidade é

reconhecida por poucos profissionais da saúde pública do município. Isso se deve,

provavelmente à falta de atualizações sobre o assunto, ou pelo desinteresse nessa

área.

As outras práticas são conhecidas por alguns profissionais talvez por

nomenclaturas diferenciadas, como por exemplo, o termalismo, que é popularmente

tratado como hidroterapia.

49

E no caso da antroposofia, é uma prática não conhecida, tem apenas o

conceito reconhecido pelos profissionais.

Gráfico 7 – Reconhecimento da eficácia das práticas oferecidas pela PNPIC do SUS.

12

6

2 20

2

4

6

8

10

12

14

Enfermeiros Médicos

Sim

Não

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

De acordo com o gráfico, 95.6% (22) dos entrevistados responderam a

questão referente ao reconhecimento da eficácia das práticas oferecidas pela PNPIC

sendo que 81.8% (18) relataram que a reconhecem. Notamos então, que os

profissionais enfermeiros estão em maioria nesta categoria, totalizando um valor de

66.7% (12).

Isso deve-se talvez, ao maior contato do profissional enfermeiro com a

população, sendo que assim é possível analisar os resultados, comprovando a

eficácia das práticas.

50

Os enfermeiros costumam estar mais atentos também à alternativas de

tratamento, enquanto os profissionais médicos, preferem realizar atualizações em

especialidades curativas e de tratamento alopático.

Este tratamento baseia-se na busca e combate dos sintomas das doenças,

através de terapias medicamentosas (AMARAL, 2005).

Gráfico 8 – Práticas aceitas para serem trabalhadas nas unidades de saúde.

7

13

9

13

2

9

0

21 1

0

2

4

6

8

10

12

14

Médicos Enfermeiros

Fitoterapia

Acupuntura

Homeopatia

Termalismo

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

Quando perguntados sobre quais as práticas oferecidas pela PNPIC que

aceitariam trabalhar, observamos que profissionais enfermeiros são mais adeptos as

práticas, afirmando que de 100% (14), 92.8% (13) gostariam de trabalhar com a

fitoterapia e acupuntura, 64.3% (9) com a homeopatia, 14.3% (2) com o termalismo

e 7.1% (1) com a antroposofia. Os profissionais médicos, preferem a acupuntura,

51

sendo que 100% (9) deles aceitariam trabalhar com esta prática, 77.8% (7)

aceitariam a fitoterapia, 22.2% (2) a homeopatia, 11.1% (1) a antroposofia e nenhum

citou o termalismo.

Como já citado, os profissionais enfermeiros são mais adeptos aos

tratamentos alternativos, por já possuírem contato com a população e estarem

cientes das condições populares.

Como a maior parcela das pessoas já utiliza chás como forma de cura ou

mesmo prevenção e tratamento para algumas patologias, os profissionais

enfermeiros, gostariam de organizar este conhecimento para facilitar a utilização já

existente.

Quanto a utilização da acupuntura, cremos que a aceitação desta prática, se

dá pelo fato de que como já é oferecida pelo município, a população relata a

melhora sintomática das suas patologias ao enfermeiro, tendo ele então a referencia

da eficácia, aceitando utilizá-la em maior escala.

Outro fato que aumenta a aceitação dos enfermeiros da implementação das

práticas nas unidades de saúde pode ser também que, com exceção da homeopatia

e antroposofia, as demais práticas podem ser oferecidas por outros profissionais

inclusive enfermeiros, considerando que este profissional tenha uma especialização

para atuar em tal área, aumentando a autonomia desde profissional.

Futuramente segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e

Complementares busca-se implementar a discussão das práticas nas grades

curriculares de cursos superiores da área da saúde para formar profissionais já

capacitados para atuar dentro das modalidades da política. Assim como as

universidades hoje estão criando cursos de pós graduação nestas áreas específicas.

Outras práticas que se encontram dentro da política, podendo ser trabalhadas

também por qualquer profissional da saúde capacitado ou especializado, são: o tai-

chi-chuan, lian gong, lien chi, tui-ná, shantala, yoga, shiatsu, do-in, e reiki, que

conforme pesquisa do ministério da saúde realizada em 2004 e publicada em 2006,

como parte da elaboração da Política, antes chamada de Política Nacional Medicina

Natural e Práticas Complementares, são as mais utilizadas nos municípios

brasileiros, principalmente na atenção básica, sendo que o nosso objeto de estudo,

a saúde da família, se encontra em segundo lugar nessa classificação.

52

Gráfico 9 – Atendimento com práticas complementares na Unidade de Saúde pelos profissionais.

5 9

5 4

10 13

0 5 10 15 20 25

Enfermeiros

Médicos

Total

Sim

Não

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

Os profissionais foram questionados sobre a utilização das práticas em seu

atendimento, 43.5% (10) responderam que já as utilizam e 56.5% (13) responderam

que não. Do total de profissionais que responderam que sim, 50% (5) são médicos e

os outros 50% (5) são enfermeiros. Já dos que tiveram a resposta negativa, 69.2%

(9) são enfermeiros e 30.8 % (4) são médicos.

Quando questionados qual o motivo que os leva a não utilizarem as práticas

em seu atendimento, os profissionais alegam que não possuem formação para tal e

conhecimento profissional na área.

53

Segundo Gomes e Oliveira (2005), os profissionais médicos e enfermeiros

possuem características próprias de cada profissão, podendo haver a definição de

um espaço comum de saberes e fazeres entre as mesmas, neste caso muitas

práticas integrativas podem ser utilizadas por mais de um profissional, tendo em

vista a sua capacitação em especialidades.

Atualmente existe uma grande polêmica sobre a autonomia dos profissionais

de saúde, surgindo estudos de normas e leis que tratam das atribuições de cada

categoria.

Dos profissionais que já utilizam as práticas, o relato principal é o uso de

plantas medicinais e o encaminhamento para acupuntura do NASF. Pode-se

perceber isto, através das falas abaixo:

“Oriento sobre o uso de arnica para contusões e dores muscular e babosa para cicatrização de úlcera por pressão, chá camomila e era cidreira para calmante, entre outros” (enfermeiro 1).

“Existe acupuntura no município de Biguaçu,

através do NASF. Um fisiatra que promove as sessões de acupuntura nas unidades de saúde” (médico 1).

Mesmo que apenas poucos profissionais já trabalhem com as terapias da

política a fitoterapia, é a terapia mais trabalhada, conforme pesquisa realizada pelo

Ministério da Saúde.

Porém, também é possível perceber que alguns profissionais realmente não

tem conhecimento com relação à nenhuma das práticas oferecidas pela política,

como na fala abaixo:

“Fitoterapia: efeito placebo; acupuntura: tratamento dor crônica”. (Médico 2)

54

Gráfico 10 – Aceitação de Capacitação sobre as práticas da PNPIC.

11

0

3 3 3 3

0

2

4

6

8

10

12

Enfermeiros Médicos

Sim

Não

Não responderam

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

Quanto ao interesse na capacitação profissional das práticas integrativas

observamos que a maioria são de enfermeiros 78.5% (11), observamos ainda que

entre os médicos não há um consenso no interesse pelo aprendizado, no gráfico 10

acima constatamos que 33% (9) aceitam a capacitação, 33% (9) ignoram a

formação e por fim 33% (9) não tem interesse.

A maioria dos enfermeiros que aceitam a capacitação sobre as práticas da

PNPIC podem ser representados pela fala a seguir:

“Por me interessar por estas práticas,

acredito em sua eficácia, e assim podendo ter mais uma opção de tratamento para os pacientes” (Enfermeiro 2).

Continuando a análise ao gráfico 10 acima, podemos concluir que dos

profissionais enfermeiros, nenhum discorda da capacitação com relação à política,

alguns apenas não tem opinião formada. Já os profissionais médicos, dividem a

própria classe, entre o aceite, o não aceite e os que não sabem ainda.

55

Dos profissionais médicos podemos perceber o quanto ignoram a política,

suas práticas e o desenvolvimento das mesmas, através das falas a seguir:

“Por não acreditar em sua eficácia

terapêutica e a utilização desde dinheiro que poderia suprir outras necessidades da rede” (Médico 3).

“Por que não é a área que gosto de atuar,

acredito que um curso (rápido de capacitação [definido pela mesma]) não me tornaria capacitada para usá-las” (Médico 4).

Porém, como a categoria se encontra dividida, há também os médicos que

concordam com a capacitação. Observamos isso através das falas:

“Melhora para o município” (Médico 5)

“Para oferecer alternativas que a

medicina alopática não resolve” (Médico 6)

Gráfico 11 – Opinião dos profissionais quanto a PNPIC.

0

1

2

3

4

5

6

7

Médicos Enfermeiros

Não conhece

Adjuvante aotratamento

Promoção daSaúde

Não achaadequada

Qualidade devida

Possibilidades

Fonte: Questionário de pesquisa semi-estruturado dos profissionais de saúde.

56

Quando questionados sobre a opinião dos profissionais em relação à Política

Nacional, obtivemos um retorno de 100% (9) da classe médica e 85,7% (12) do total

de enfermeiros. As opiniões podem ser vistas no gráfico 11 acima, onde observamos

mais opiniões positivas por parte dos enfermeiros, da mesma forma como as

opiniões negativas podem ser observadas por parte dos profissionais médicos.

A partir disto, observamos que os profissionais médicos em sua maioria ainda

remetem ao conceito de que a PNPIC é um complemento da terapia alopática,

porém existe uma parcela que desconhece a política e outra que não a considera

adequada. Isso pode ser visto, respectivamente, nas falas seguintes:

“Acredito nestas práticas como adjuvantes do

tratamento” (Médico 7)

“Podem ter grande eficácia porém devem ser usadas como alternativa e não como primeiro tratamento” (Médico 6)

“Não conhecia o programa” (Médico 8)

“Não acho adequada pois há falta de

profissionais de áreas básicas, medicamentos básicos. Então, acredito que implementar a PNPIC só devesse ocorrer após a revolução desses problemas, prioritariamente os da atenção básica de saúde” (Médico 3)

“Podem criar qualquer tipo de programa, porém

se não houver melhora em problemas sócio-econômicos e cultural faltando medicamentos em farmácia básica, nada adiantará” (Médico 2)

Já os enfermeiros são mais positivos quando a implantação da política

acreditando que está abre um leque de oportunidades, melhora a qualidade de vida

dos pacientes e possibilita a promoção da saúde, conforme as falas a seguir:

“Colabora para a integralidade da atenção a saúde. A PNPIC torna disponíveis opções preventivas e terapêuticas aos usuários do SUS” (Enfermeiro 3). “Acredito que através dessas práticas os pacientes poderiam ter um atendimento mais integral, tendo outras alternativas de tratamento, auxiliando no tratamento e prevenção de doenças, bem como uma maior satisfação do usuário” (Enfermeiro 2).

57

Além disso, os profissionais enfermeiros citam que estas práticas além de

terem baixo custo para o município, despertam maior interesse na população.

58

____________________________________________7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

59

O sistema de saúde atualmente são regidos pela terapia alopática. Visto que

a população mesmo acostumada com tal, desde sempre busca recursos na natureza

como complemento para suas patologias.

Esse estudo objetivou analisar a opinião dos profissionais de saúde

(enfermeiros e médicos) sobre as Práticas Integrativas e Complementares

atualmente oferecidas pelo SUS no sistema básico de saúde.

Através do diagnóstico situacional elaborado pelo Ministério da Saúde durante

a elaboração da política, pôde-se constatar que dos estados que já utilizavam

alguma das práticas, o estado de Santa Catarina encontra-se ocupando o 5° lugar,

sendo que a modalidade mais exercida é a de práticas complementares,

provenientes da Medicina Tradicional Chinesa, seguida da Fitoterapia, Homeopatia e

Acupuntura.

Ainda segundo registros da Política, a forma de capacitação dispensada aos

profissionais antes da aprovação da PNPIC, era em sua maioria (45,2%) oferecida

em serviços próprios pela equipe.

As Práticas Integrativas e Complementares, também conhecidas como

Medicina Alternativa, vem sendo a cada dia mais utilizada pela população e por

profissionais de saúde. Esse termo “Medicina Alternativa” é utilizado para

diferenciar da medicina tradicional (alopática), a qual vem sendo a de maior escolha

pelos usuários desde a década de setenta, acredita-se que por motivos de crenças e

costumes. Atualmente devido a inserção das Práticas Integrativas e

Complementares no SUS os conceitos dos usuários estão mudando quanto as

práticas alternativas, tornando-se cada vez mais utilizadas e reconhecidas pelos

profissionais e usuários.

A medicina oriental vê o homem como um todo, composto por corpo, mente e

alma, ao contrário da medicina tradicional que trabalha apenas em cima da doença e

sua cura, talvez seja por este motivo que nos últimos anos a medicina alternativa

vem ganhando a cada dia mais espaço entre todos os outros tipos de tratamento,

nos dias de hoje a população acaba se preocupando muito mais com o emocional e

suas conseqüências, o que vêm abrindo espaço para um tratamento que envolva

todos estes aspectos.

Diante de tudo isso, e percebendo que durante os estágios realizados na rede

básica de saúde do município de Biguaçu, trabalhamos com algumas das práticas

oferecidas pela política, porém sem os devidos recursos, resolvemos pesquisar

60

sobre a aceitação e conhecimento dos profissionais de ensino superior que

compõem as equipes de saúde do município. Os participantes foram médicos e

enfermeiros, sendo que os enfermeiros rapidamente prontificaram-se em responder

as pesquisas, diferenciando-se dos médicos que não apresentavam muito interesse.

O tempo de trabalho dos profissionais nas unidades foi de grande importância

para a pesquisa, pois, gostaríamos de saber o tempo de permanência deles na

unidade para que haja uma suposta especialização nas Práticas.

O número de profissionais enfermeiros nas unidades de saúde de Biguaçu

que responderam a pesquisa é consideravelmente maior que o número de

profissionais médicos, isso acaba trazendo alguns benefícios para a mesma já que

eles foram os mais interessados sobre a inserção das Práticas nas Unidades.

Profissionais do sexo feminino também estavam em maior quantidade na

pesquisa, acredita-se que este seja mais um grande beneficio para a pesquisa e

inserção das práticas devido ao interesse maior das profissionais mulheres em

quase sempre aceitarem com menos resistência novas formas de tratamento.

Quanto aos conhecimentos dos profissionais sobre as práticas integrativas e

complementares, constatamos que os profissionais enfermeiros são os que mais têm

conhecimento sobre as práticas, sabe-se que alguns cursos de graduação de

enfermagem têm na grade curricular algumas das práticas, fazendo com que

entendamos o maior conhecimento dos enfermeiros, mas esse dado serve também

para nos perguntarmos o porquê aulas de Práticas Integrativas e Complementares

não são dadas em todos os cursos da área da saúde para que assim todos os

alunos saiam da graduação com conhecimento na área, talvez esta seja uma

proposta que deveria ser feita para os grandes gestores.

Observamos que cada profissional tem uma opinião formada quanto às

práticas, sendo que alguns apóiam o uso dentro das unidades e outros são contra.

Falta de conhecimento e falta de capacitação foram as questões mais citadas

durante a pesquisa, enquanto alguns profissionais concordam em utilizá-las desde

que tenham capacitação, outros dizem que as práticas não servem como tratamento

e sim como efeito placebo. Quando perguntados se utilizam algumas das práticas no

seu atendimento, a metade afirma utilizar, este acaba sendo um aspecto positivo

quanto à aceitação das práticas.

Analisar a resposta dos profissionais foi o nosso objetivo, já que as práticas

integrativas e complementares vêm sendo usadas cada dia mais, não só no

61

município de Biguaçu, mas em todo o Brasil. Podemos dizer que outro objetivo desta

pesquisa proporcionar aos gestores do município a opinião dos profissionais sobre

as práticas integrativas e incentivando sua inclusão no atendimento da rede básica,

e como já foi citado anteriormente, também inserir as práticas na grade curricular

das universidades que tenham cursos da área da saúde.

Sendo assim, concluímos, com base nas análises anteriores, que os

profissionais enfermeiros demonstram grande interesse na implantação da política

na rede básica, enquanto os médicos dividem opiniões. Da mesma forma, se

oferecido capacitação, como preconiza a política, esta deve ser direcionada a toda

equipe.

A aceitação destes novos recursos terapêuticos pelos profissionais de saúde

trará benefícios à população, porém só serão alcançados após mudança na visão de

alguns profissionais, interesse político do município e de maior divulgação para a

população dessa modalidade a ser inclusa no atendimento da rede básica.

62

_______________________________________________________REFERÊNCIAS

63

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64

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65

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66

_________________________________________________________APÊNDICES

67

_________________APÊNDICE I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

68

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Eu,___________________________________________________________,

declaro que estou ciente da minha participação na pesquisa “Aceitação e

conhecimento da política nacional de práticas integrativas e complementares

de saúde nas ESFs em Biguaçu”, que será realizada pelas acadêmicas Piera

Mocelin e Tatiane Pacheco, sob a supervisão da docente MsC. Teresa Gaio do

Curso de Graduação de Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, campus

Biguaçu.

Esta pesquisa tem por objetivo identificar a aceitação e o conhecimento

apresentado pelos profissionais de saúde com relação a esta Política.

Será realizada em todas as unidades de saúde em Biguaçu, tendo como

sujeitos de pesquisa os profissionais de nível superior médicos e enfermeiros que

compõem as ESFs do município, o qual será aplicado um questionário semi-

estruturado após assinatura de carta de aceite do sujeito de pesquisa.

Declaro, que recebi de forma clara e objetiva todas as explicações pertinentes

a pesquisa tais como, o porque de sua realização e sua importância para o meio

acadêmico. E estou ciente que todos os dados a meu respeito serão sigilosos,que

estou sendo esclarecido (a) sobre a entrevista de que participarei. Será preservado

o meu direito de desistir de participar da entrevista a qualquer momento, sem que

isto implique em alterações do acompanhamento de minha assistência no sistema

de saúde.

Por fim declaro que concordo com a utilização das informações da pesquisa,

bem como a divulgação dos resultados, desde que minha identidade seja

preservada.

___________________________________________________________________

Assinatura do entrevistado

______________________ ________________________ Acad. Piera Mocelin Acad. Tatiane Pacheco (estudante de enfermagem) (estudante de enfermagem) TEL: 48 9941 1999 TEL:48 9977 2820

_________________________________ Prof° Msc. Teresa Cristina Gaio

TEL:48 9104 9299

69

______APÊNDICE II – Questionário Semi-Estruturado do Profissional de Saúde

70

Questionário Semi-Estruturado ao Profissional de Saúde

Nome:__________________________________________________________ Profissão:_______________________________________________________ Há quanto tempo trabalha em Biguaçu na ESF:_______________________ 1.)Você conhece a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do SUS?

( ) Sim ( ) Não

2.)Você sabe quais são as práticas oferecidas por ela? ( ) Sim ( ) Não ( ) Fitoterapia ( ) Termalismo ( ) Acupuntura ( ) Homeopatia ( ) Antroposofia 3.) Você acredita profissionalmente na eficácia dessas práticas? ( ) Sim ( ) Não 4.) Você aceitaria utilizar as Práticas Integrativas e Complementares em sua Unidade de Saúde? ( ) Sim ( ) Não ( ) Fitoterapia ( ) Termalismo ( ) Acupuntura ( ) Homeopatia ( ) Antroposofia 5.) Você já utiliza alguma prática em seu atendimento? ( ) Sim ( ) Não Por que? 6.) Se a resposta anterior foi Sim, como você utiliza as práticas?

7.) Se a resposta anterior foi NÃO, você gostaria que o município oferecesse um Curso de Capacitação Profissional em Práticas Integrativas e Complementares? ( ) Sim ( ) Não Por que? 8.) Qual sua opinião sobre a PNPIC?