Acerbo Nimis - Judamore

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  • CARTA ENCCLICA ACERBO NIMIS

    Sobre o Ensino do Catecismo.

    aos Venerveis Irmos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos

    e Mais Ordinrios em Paz e Comunho com a Santa S Apostlica:

    Sobre o Ensino do Catecismo.

    PAPA PIO X

    Venerveis Irmos:

    Sade e Bno Apostlica.

    1. Pelos inescrutveis desgnios de Deus fomos elevados de nossa pequenez ao cargo de Supremo

    Pastor do Rebanho de Cristo, em dias bem crticos e amargos, pois o antigo inimigo anda em redor

    deste Rebanho e lhe arma laos em to prfida astcia, que hoje, principalmente, parece haver-se

    cumprido aquela profecia do Apstolo aos ancios da Igreja de feso: Sei que vos ho de assaltar lobos vorazes, que no pouparo o Rebanho (At 20,29). Dos males que afligem a Religio no h quem, animado de zelo pela Glria divina, deixe de investigar as causas e razes,

    acontecendo que, como as encontra cada qual diversas, proponha diferentes meios, de acordo com a

    sua opinio pessoal, para defender e restaurar o Reino de Deus na Terra. No proscrevemos,

    Venerveis Irmos, os pareceres alheios, mas estamos com os que pensam que esta depresso e

    debilidade das almas, de que derivam os maiores males, provm, principalmente, da ignorncia das

    Coisas Divinas. Esta opinio concorda inteiramente com o que o Deus mesmo declarou pelo Profeta

    Osias: No h conhecimento de Deus na Terra. A maldio e a mentira, e o homicdio e o roubo e o adultrio tudo inundaram; o sangue junta-se ao sangue e por causa disto a Terra se cobrir de

    luto e todos os seus moradores desfalecero (Os 4,1-3).

    Necessidade da Instruo

    2. Quo fundadas so, desgraadamente, estas lamentaes, hoje, que existe to crescido nmero

    de pessoas, entre o Povo Cristo, que ignoram totalmente as coisas que mister conhecer para

    conseguir a Salvao Eterna! Ao dizer Povo Cristo no nos referimos somente plebe, ou s

  • classes inferiores s quais servem de escusa o acharem-se com freqncia submetidas a homens to duros que lhes no deixam tempo nem para cuidar de si mesmas, nem das coisas que se referem

    sua alma mas e principalmente falamos daqueles aos quais no falta entendimento nem cultura e at se mostram dotados de profana erudio, apesar de que em coisas de Religio vivem da maneira

    mais temerria e imprudente que imaginar se possa. Dificlimo seria ponderar a espessura das trevas

    que os envolvem e o que mais triste a tranqilidade com que nelas permanecem! De Deus, Soberano Autor e Moderador de todas as coisas, e da Sabedoria da F Crist no se preocupam, de

    forma que verdadeiramente nada sabem da Encarnao do Verbo de Deus, nem da Perfeita

    Restaurao do Gnero Humano, por Ele consumada; nada sabem acerca da Graa, principal

    auxlio para alcanar os Bens Eternos; nada, acerca do Augusto Sacrifcio nem dos Sacramentos,

    mediante os quais conseguimos e conservamos a Graa. Quanto ao pecado, no conhecem sua

    malcia nem o oprbrio que consigo traz, de sorte que no pem o menor cuidado em evit-lo ou

    expi-lo, e chegam ao Dia Extremo em disposio tal que, para no os deixar sem qualquer

    Esperana de Salvao, o Sacerdote se v constrangido a aproveitar os derradeiros instantes de vida

    para sumariamente lhes ensinar Religio, ao invs de empreg-los principalmente, conforme

    conviria, em mov-los a afetos de Caridade; isto quando no sucede que o moribundo sofra de to

    culpvel ignorncia que tenha por intil o auxlio do Sacerdote e resolva tranqilamente franquear

    os Umbrais da Eternidade sem haver prestado a Deus conta dos seus pecados. Por isso, o Nosso

    Predecessor Bento XIV justamente escreveu: Afirmamos que a maior parte dos condenados s penas eternas padece sua perptua desgraa por ignorar os Mistrios da F, que necessariamente

    se devem conhecer e crer, para ser contado no nmero dos eleitos (Instit. XXVII, 18).

    3. Sendo assim, Venerveis Irmos, que h de surpreendente, pergunto, em que a corrupo dos

    costumes e sua depravao sejam to grandes e cresam diariamente, no digo nas naes brbaras,

    mas at nos prprios Povos que ostentam o nome de Cristos? Com razo dizia o Apstolo So

    Paulo, escrevendo aos Efsios: A fornicao e toda espcie de impureza ou avareza nem sequer se nomeie entre vs, como convm a Santos; nem palavras torpes, nem chocarrices (Ef 5,3-4). Como fundamento deste Pudor e Santidade, com os quais se moderam as paixes, determinou a Cincia

    das Coisas Divinas: E assim, cuidai, irmos, em andar com Prudncia; no como insensatos, mas como circunspectos Portanto, no sejais imprudentes, mas considerai qual a Vontade de Deus (Ef 5, 15.17).

    Sentena justa; porque a vontade humana apenas conserva algum resto daquele amor honestidade

    e retido, inspirados ao homem por Deus, seu Criador, amor que o impelia para um bem, no

    velado por sombras, mas claramente visto. Mas, depravada pela corrupo do pecado original e

    esquecida de Deus, seu Gerador, a vontade humana inclina-se a amar a vaidade e a procurar a

    mentira. Extraviada e cega pelas ms paixes, necessita de um guia que lhe mostre o caminho para

    que retome as Veredas da Justia, que desgraadamente abandonou. Este guia, que no preciso

    buscar fora do homem, e de que a natureza o proveu, a prpria razo; mas se razo falta aquela

    luz, irm sua, que a Cincia das Coisas Divinas, suceder que um cego guiar outro cego e ambos

    cairo no abismo. O Santo Rei Davi, glorificando a Deus por esta Luz da Verdade que havia

    infundido na razo humana, dizia: A luz do Vosso rosto, Senhor, est impressa em ns. E indicava o efeito desta comunicao da Luz, acrescentando: Infundistes a alegria em meu corao (Sl 4, 6-7).

    Efeitos das Doutrina Crist

    4. Descobre-se facilmente que assim , porque, de fato, a Doutrina Crist nos faz conhecer a Deus e

    o que chamamos suas Infinitas Perfeies, qui mais fundamente que as foras naturais. E de que

    forma? Mandando-nos ao mesmo tempo reverenciar a Deus por obrigao de F, que se refere razo; por dever de Esperana, que se refere vontade, e por dever de Caridade, que se refere ao corao, com o qual torna o homem inteiramente submetido a Deus, seu Criador e Moderador.

    De igual forma s a Doutrina Crist estabelece o homem na posse de sua eminente dignidade

  • natural como filho do Pai Celestial, que est nos Cus, e que o fez Sua imagem e semelhana para

    viver eternamente feliz com Ele. Mas desta mesma dignidade e do conhecimento que dela se deve

    ter, deduz Cristo que os homens devem amar-se como irmos e viver na Terra como convm aos

    Filhos da Luz, no em glutonerias e embriaguez, no em desonestidades e dissolues, no em contendas e emulaes (Rm 13,13). Manda-nos, outrossim, que nos entreguemos s Mos de Deus, que quem cuida de ns; que socorramos os pobres, faamos o bem a nossos inimigos e

    prefiramos os Bens Eternos da alma aos perecedores bens temporais. E, mesmo sem esmiuar tudo,

    no , porventura, a Doutrina de Cristo que recomenda e prescreve ao homem soberbo aquela

    humildade que o verdadeiro manancial de Sua Glria? Todo aquele, pois, que se humilhar, esse ser o maior no Reino dos Cus (Mt 18,4). Nesta Celestial Doutrina nos ensinada igualmente a Prudncia de Esprito, que serve para nos proteger da prudncia da carne; a Justia, por meio da

    qual damos a cada um o que lhe pertence; a Fortaleza, que nos torna capaz de sofrer e padecer tudo

    generosamente por Deus e pela Bem-aventurana Eterna; enfim, a Temperana, que nos torna

    amvel a Pobreza por Amor de Deus, e que em meio de nossas humilhaes faz com que nos

    gloriemos na Cruz. De maneira que pela Sabedoria Crist no somente recebe nossa inteligncia a

    Luz que nos permite alcanar a Verdade, mas at a vontade fica empolgada daquele Amor que nos

    conduz a Deus e a Ele nos une mediante o exerccio da Virtude.

    5. Longe estamos de afirmar que a malcia da alma e a corrupo dos costumes no possam co-

    existir com a conscincia da Religio. Prouvera a Deus que os fatos demonstrassem o contrrio.

    Mas compreendemos que quando e esprito est envolto pelas espessas trevas da ignorncia, no se

    pode capacitar nem da retido da vontade nem dos bons costumes, porque se, caminhando com

    olhos abertos, pode o homem apartar-se do bom caminho, o que sofre de cegueira est em perigo

    iminente de desviar-se. Acrescente-se que em quem no est de todo apagado o archote da F, resta

    ainda uma Esperana de que se emende e se cure da corrupo dos costumes; mas quando a

    ignorncia se junta depravao, j no resta possibilidade de remdio, mas est aberto o caminho

    da runa.

    O Primeiro Ministrio.

    6. Posto que da ignorncia da Religio procedem to graves danos, e, de outro lado, so to grandes

    a necessidade e a utilidade da Doutrina Religiosa, desde que, desconhecendo-a, em vo se esperaria

    que algum cumprisse as obrigaes de Cristo, convm saber agora a quem compete preservar as

    almas desta perniciosa ignorncia e instru-las em to indispensvel Cincia. O que, Venerveis

    Irmos, no oferece dificuldade alguma, porque essa transcendente misso recai sobre os Pastores

    de Almas. Estes, efetivamente, acham-se obrigados por preceito do prprio Cristo a conhecer e

    apascentar as ovelhas que lhes foram confiadas. Apascentar , antes do mais, doutrinar. Eu vos darei Pastores segundo o Meu Corao, que vos apascentaro com a Cincia e com a Doutrina (Jr 3,15).

    Assim falava Jeremias, inspirado por Deus; pelo que dizia o Apstolo So Paulo: Cristo no me enviou para Batizar, mas para pregar (1Cor 1,17). Advertindo assim que o principal Ministrio de quantos exercem, em certo sentido, o governo da Igreja, consiste em ensinar aos fiis a Doutrina

    Sagrada.

    7. Intil se nos afigura aduzir novas provas da excelncia deste Ministrio e da estima que merece

    de Deus. Certo que Deus exalta grandemente a Piedade que nos move a procurar o alvio das

    humanas misrias; mas, quem negar que muito acima dela devem ser colocados o zelo e o trabalho

    mediante os quais o entendimento recebe o ensino e os conselhos referentes, no s necessidades

    terrenas, mas aos Bens Celestiais? Nada pode ser mais grato a Jesus Cristo, Salvador das almas, que

    pelo Profeta Isaas disse de Si Mesmo: Fui enviado para Evangelizar os pobres (Lc 4,18). Importa muito, Venerveis Irmos, insistir para que todos os Sacerdotes compreendam bem que

    ningum tem maior obrigao e dever mais imperioso. Porque, quem negar que no Sacerdote ho

  • de unir-se a Cincia e a Santidade de Vida? Nos lbios do Sacerdote deve estar o depsito da Cincia (Ml 2,7). E, com efeito, a Igreja o exige rigorosamente de quantos aspiram a ingressar no Sacerdcio. E por que isto? Porque o Povo Cristo espera receber do sacerdote o ensinamento da

    Divina Lei e porque Deus o destina para propag-la. De sua boca se h de aprender a Lei, pois que ele o Anjo do Senhor dos Exrcitos (Ml 2,7). Por isso, nas Ordens Sacras, o Bispo diz, dirigindo-se aos que vo ser elevados ao Sacerdcio: Que vossa Doutrina seja remdio espiritual para o Povo de Deus, e os cooperadores de nossa Ordem sejam prudentes, para que, meditando dia

    e noite acerca da Lei, creiam no que leram e ensinem aquilo em que acreditam (Pontif. Romano). Se no h Sacerdote algum a quem no correspondam estas obrigaes, quais no sero as daqueles

    que pelo nome e autoridade que ostentam e por sua mesma dignidade tm a seu cargo e como que

    por compromisso a Cura das Almas? Estes devem ser colocados de algum modo nas fileiras dos

    Pastores e Doutores que Jesus Cristo deu aos fiis para que no sejam como meninos flutuantes, e levados, ao sabor de todo vento de doutrina, pela malignidade dos homens, pela astcia dos que

    induzem ao erro, mas, praticando a Verdade na Caridade, cresamos em todas as coisas naquele que

    a Cabea, o Cristo (Ef 4, 14-15).

    Disposies da Igreja.

    8. Por isso, o Sacrossanto Conclio de Trento, falando dos Pastores de Almas, julgou que a primeira

    e a maior de suas obrigaes era a de ensinar o Povo Cristo (Sess.V, c. 2 de Refor.; XXII, c. 8;

    sess. XXIV. c. 4 e 7 de Refor.). Disps, em conseqncia, que ao menos nos Domingos e Festas

    Solenes dessem ao Povo Instruo Religiosa, e durante os Santos Tempos de Avento e Quaresma

    diariamente ou ao menos trs vezes por semana. Mas no s isto, porque acrescenta o Conclio que

    os Procos esto obrigados, ao menos nos Domingos e Dias de Festa, a ensinar, por si ou por

    outros, aos meninos as Verdades da F e a Obedincia que devem a Deus e a seus pais; e lhes

    manda, outrossim, que, quando tenham de administrar algum Sacramento, instruam em sua virtude

    os que o vo receber, explicando-o por meio de Pregaes em lngua vulgar.

    9. Em sua Constituio Etsi Minime, Nosso Predecessor Bento XIV resumiu estas prescries e as determinou claramente, dizendo: Duas obrigaes impe principalmente o Conclio de Trento aos Pastores de almas: uma, que todos os Dias de Festa falem ao Povo acerca das Coisas Divinas;

    outra, que ensinem aos meninos e aos ignorantes os Elementos da Lei Divina e da F. Este Sapientssimo Pontfice distingue justamente o duplo Ministrio, a saber, a Pregao, que

    habitualmente se chama Explicao do Evangelho, e o Ensino da Doutrina Crist. No faltaro,

    porventura, Sacerdotes que, movidos do desejo de poupar-se trabalho, crem que com as Homilias

    satisfazem a obrigao de ensinar o Catecismo. Quem quer que reflita descobrir a erronia desta

    opinio; porque a Pregao do Evangelho est destinada aos que j possuem os Elementos da F e

    vem a ser como o po que se deve dar aos adultos; mas, pelo contrrio, o Ensino do Catecismo

    aquele alimento de que So Pedro queria que todos o desejassem avidamente com simplicidade,

    como meninos recm-nascidos. Este Ofcio de Catequista consiste em[1] escolher algumas

    Verdades relativas F e aos Bons Costumes Cristos e exp-las e explic-las em todos os seus

    aspectos. E como o fim do ensino a Perfeio da Vida, o Catequista h de comparar o que Deus

    manda obrar e o que os homens realmente fazem, depois do que, e havendo extrado oportunamente

    algum exemplo da Sagrada Escritura, da Histria da Igreja ou das Vidas dos Santos, h de

    aconselhar o seu auditrio e como que indicar-lhe a dedo a norma a que se deve ajustar a vida, e

    terminar exortando os presentes a fugir dos vcios e a praticar a Virtude.

    Instruo Popular.

    10. No ignoramos, em verdade, que o Ofcio de Ensinar a Doutrina Crist no grato a muitos,

    que o estimam em pouco e acaso imprprio para conseguir o elogio popular; isto posto, entendemos

    que semelhante juzo pertence aos que se deixam levar pela leviandade mais do que pela Verdade.

  • No negamos certamente a aprovao devida aos Oradores Sacros que, movidos do sincero desejo

    da Glria Divina, se empregam na defesa e reivindicao da F ou em fazer o Panegrico dos

    Santos; mas seu labor requer outra preliminar, a dos Catequistas, pois, faltando esta, no h

    fundamento e em vo se fadigam os que edificam a casa. Assaz freqente que floridos discursos,

    recebidos com aplauso por nutridas assemblias, somente sirvam para agradar ao ouvido e no

    comovam as almas. Em troca, o Ensino Catequtico, ainda que simples e humilde, merecem que se

    lhe apliquem estas palavras que Deus inspirou a Isaas: Do mesmo modo que a chuva e a neve descem do Cu e a ele no retornam, mas empapam a terra e a penetram e fecundam, a fim de que

    produzam semente para semear e po para comer, assim ser a Palavra que sai da minha boca:

    no tornar a mim vazia, mas obrar tudo aquilo que Eu quero e executar felizmente aquelas

    coisas para que Eu a enviei (Is 55,10-11). O mesmo juzo se h de formular daqueles Sacerdotes que, para melhor exporem as Verdades da Religio, publicam eruditos volumes, motivo pelo qual

    so dignos, certamente, de copiosos elogios; mas, sem embargo, quo reduzido o nmero dos que

    consultam as obras deste gnero e destas tiram os frutos que corresponderiam aos desejos do autor!

    Mas o Ensino da Doutrina Crist, se feito como se deve faz-lo, nunca intil para os que o

    escutam.

    11. Convm repeti-lo, para inflamar o zelo dos Ministros do Senhor; j crescidssimo, e aumenta

    cada dia mais, o nmero dos que tudo ignoram em matria de Religio, ou tm de Deus e da F

    Crist conceito tal, que, em plena Luz da Verdade Catlica, lhes permite viver como pagos. Ai!

    Quo grande o nmero, no diremos de meninos, mas de adultos e at de ancios, encurvados pela

    idade, que ignoram absolutamente os principais Mistrios da F, e, ouvindo falar de cristo,

    respondem: Quem Ele para que eu creia nEle? (Jo 9,36). Da o terem por lcito forjar e manter dio contra o prximo, fazer contratos inquos, explorar negcios infames, fazer

    emprstimos usurrios e constituir-se rus de outras prevaricaes semelhantes. Da que, ignorantes

    da Lei de Cristo que no somente probe toda ao torpe, mas tambm todo pensamento voluntrio e o desejo de comet-la muitos que, seja l pelo que for, quase se abstm dos prazeres vergonhosos, alimentam em suas almas, que carecem de Princpios Religiosos, os pensamentos

    mais perversos, e tornam o nmero de suas iniqidades maior que o dos cabelos de sua cabea. E

    deve-se repetir que estes vcios no se encontram somente entre a gente do Campo e o Povo Baixo

    das Cidades, mas tambm, e acaso com maior freqncia, entre homens de outra categoria,

    inclusive entre os que se invaidecem de seu saber e, apoiados em uma v erudio, pretendem

    ridicularizar a Religio e blasfemar de tudo quanto no conhecem (Jd 10).

    12. Se coisa v esperar colheita de terra que no foi semeada, como se pode esperar geraes

    adornadas de boas obras, se oportunamente no foram instrudas na Doutrina Crist? Donde

    justamente inferimos que, se a F enlanguesce em nossos dias a ponto de que em muitos sujeitos

    parece morta, que se tem cumprido descuidadamente, ou se omitiu de todo, a obrigao de ensinar

    as Verdades contidas no Catecismo. Intil ser dizer, para encontrar escusa, que a F nos foi dada

    gratuitamente e conferida a cada um no Batismo. Porque, certamente, quando fomos batizados em

    Jesus Cristo , fomos enriquecidos com a posse da F; mas esta divina semente no chega a

    crescer e lanar grandes ramos (Mc 4,32) se fica abandonada a si mesma e sua nativa Virtude. Tem o homem, desde que vem a este mundo, a faculdade de entender; mas esta faculdade

    necessita da excitao da palavra materna para converter-se em ato, como se costuma dizer nas

    escolas. Isto, precisamente, acontece ao homem Cristo, que, ao renascer pela gua e pelo Esprito

    Santo, traz como que em germe a F; necessita, porm, do ensinamento da Igreja para que esta F

    possa nutrir-se, desenvolver-se e dar fruto. Pelo que escrevia o Apstolo: A F provm do ouvir e o ouvir depende da Pregao da Palavra de Cristo (Rm 10,17). E, para mostrar a necessidade do ensino, acrescentou: Como ouviro falar, se no h quem lhes pregue? (Rm 10,14).

    Normas.

  • 13. Se, pelo que at aqui foi exposto, j se pode ver qual a importncia da Instruo Religiosa do

    Povo, devemos fazer quanto nos seja possvel a fim de que o Ensino da Sagrada Doutrina, que,

    servindo-nos das palavras do Nosso Predecessor Bento XIV, a instituio mais til para a Glria

    de Deus e a Salvao das Almas (Const. Etsi Minime, 13), se mantenha sempre florescente ou, onde

    tenha sido descuidada, se restaure. Assim, pois, Venerveis Irmos, querendo cumprir esta grave

    obrigao do Apostolado Supremo e fazer que em toda parte se observem em matria to

    importante as mesmas prticas, em virtude de Nossa Suprema Autoridade, estabelecemos para todas

    as Dioceses as seguintes disposies, que devero ser rigorosamente observadas e cumpridas:

    14. I. Todos os Procos, e em geral quantos Sacerdotes exercem a Cura de Almas, ho de instruir

    com respeito ao Catecismo, durante uma hora inteira, todos os Domingos e Dias de Festa do ano,

    sem exceptuar nenhum, a todos os meninos e meninas naquilo que devem crer e praticar para

    alcanar a Salvao Eterna.

    15. II. Os mesmos ho de preparar as meninas e meninos, em poca fixa do ano, e mediante

    Instruo que h de durar vrios dias, a receber dignamente os Sacramentos da Penitncia e

    Confirmao.

    16. III. Alm disso, ho de preparar com especial cuidado aos jovenzinhos e jovenzinhas, para que,

    santamente, se aproximem pela primeira vez da Sagrada Mesa, valendo-se para este fim de

    oportunas Instrues e Exortaes, durante todos os dias da Quaresma, e, se for necessrio, durante

    vrios outros depois da Pscoa.

    17. IV. Em todas as Parquias se erigir canonicamente a Associao que vulgarmente se

    denomina Congregao da Doutrina Crist [Cf. CD, 30], com a qual, principalmente onde acontea

    ser escasso o nmero de Sacerdotes, tero os Procos auxiliares do Estado Secular para o Ensino do

    Catecismo, os quais se ocuparo neste Ministrio, tanto por zelo da Glria de Deus, como para

    lucrar as Santas Indulgncias que os romanos Pontfices tm enriquecido essa Associao.

    18. V. Nas grandes cidades, principalmente onde haja Faculdades maiores, Liceus e Colgios,

    fundem-se Escolas de Religio, para instruir nas Verdades da F e nas prticas da Vida Crist a

    Juventude que freqenta as Escolas Pblicas em que se no menciona as Coisas de Religio.

    19. VI. Porque nestes tempos de desordem a Idade Madura no est menos que a Infncia

    necessitada de Instruo Religiosa, os Procos e quantos Sacerdotes tenham Cura de Almas, alm

    da costumada Homilia sobre o Santo Evangelho, que ho de fazer todos os Dias de Festa, na Missa

    Paroquial, escolham a hora mais oportuna para o comparecimento dos fiis exceptuando a destinada Doutrina dos meninos e faam Instrues Catequsticas aos adultos, em forma simples e acomodadas s suas inteligncias, devendo para isso acomodar-se ao Catecismo do Conclio de

    Trento; de tal modo que no espao de quatro ou cinco anos expliquem quanto se refere ao Smbolo,

    aos Sacramentos, ao Declogo, Orao e aos Mandamentos da Igreja.

    20. VII. Todas as coisas, Venerveis Irmos, mandamos e estabelecemos em virtude de Nossa

    Autoridade Apostlica. Agora, obrigao vossa procurar, cada qual em sua prpria Diocese, que

    estas prescries se cumpram inteiramente e sem tardana. Velai, pois, e, com a autoridade que vos

    peculiar, procurai que nossos mandamentos no caiam em olvido ou o que seria igual se cumpram com negligncia e frouxido. Para evitar esta falta, haveis de empregar as recomendaes

    mais assduas e imperativas aos Procos, a fim de que no expliquem o Catecismo sem preparao,

    mas preparando-se antes com esmero, de modo que no falem a linguagem da sabedoria humana,

    seno que com simplicidade de corao e sinceridade diante de Deus (2Cor 1,12) sigam o exemplo de Cristo, que, embora expusesse coisas que estavam ocultas desde a criao do mundo (Mt 12,34), sem embargo as dizia todas ao povo por meio de Parbolas ou exemplos, e sem

  • Parbolas no lhes pregava (Mt 12,34). Sabemos tambm que o mesmo fizeram os Apstolos, ensinados por Jesus Cristo, e deles dizia So Gregrio Magno: Puseram todo cuidado em pregar aos povos ignorantes coisas simples e acessveis, e no coisas altas e rduas (Moral. lib. 17, c. 26). E, em Coisas de Religio, uma grande parte de homens de nosso tempo deve ser considerada

    ignorante.

    O Trabalho do Ensino.

    21. No quisramos que algum, em razo desta mesma simplicidade que convm observar,

    imaginasse que o Ensino Catequstico no requeira trabalho nem meditao; pelo contrrio, so de

    maior necessidade que em qualquer outra. mais fcil achar um Orador que fale com abundncia e

    brilho, que um Catequista cujas explicaes meream elogios em tudo. Todos , portanto, ho de ter

    em conta que, por grande que seja a facilidade de conceitos e de expresso de que sejam

    naturalmente dotados, nenhum falar da Doutrina Crist com proveito espiritual dos adultos e dos

    meninos, se antes no se preparou com estudos e sria meditao. Enganam-se os que, fiando-se na

    inexperincia e aviltamento intelectual do Povo, julgam-se poderem proceder negligentemente nesta

    matria. O contrrio que a verdade; quanto mais seja a incultura do auditrio, maior zelo e

    cuidado se requerem para lograr que as Verdades mais sublimes, to elevadas sobre o entendimento

    da generalidade dos homens, penetrem na inteligncia dos ignorantes, os quais, no menos que os

    sbios, necessitam conhec-las para alcanar a Eterna Bem-Aventurana.

    22. Seja-nos permitido, Venerveis Irmos, dizer-vos ao terminar esta Carta, o que disse Moiss:

    Aquele que seja do Senhor, rena-se comigo (Ex 32,26). Rogamo-vos e suplicamos que observeis quo grandes so os estragos que produz nas almas a s ignorncia das Coisas Divinas.

    Talvez muitas outras obras teis e dignas de elogio se encontrem estabelecidas por vs nas vossas

    Dioceses, para bem de vossos respectivos rebanhos; mas, com preferncia a todas elas, e com todo

    o empenho, todo o zelo e toda a constncia que vos sejam possveis, haveis de cuidar

    esmeradamente de que o conhecimento da Doutrina Crist chegue a penetrar na mente e no corao

    de todos. Comunique cada qual ao prximo repetimos com o Apstolo So Pedro a graa segundo a recebeu, como bons dispensadores dos dons de Deus, os quais so multiformes (1Pe 4,10).

    Que, mediante a intercesso da Imaculada e Bem-Aventurada Virgem, vosso zelo e piedosa

    indstria se excitem com a Bno Apostlica, que amorosamente vos concedemos, a vs, a vosso

    Clero e ao Povo que vos est confiado, e seja testemunha de Nosso afeto e primcias dos Divinos

    Dons.

    Dado em Roma,

    junto de So Pedro,

    no dia 15 de Abril do ano de 1905,

    segundo de Nosso Pontificado.

    PIO, PAPA X

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