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6 ALTERNATIVO São Luís, 10 de novembro de 2016. Quinta-feira O Estado do Maranhão Trump já tinha sido presidente A animação "Os Simpsons" acertou mais uma previsão: o empresário Donald Trump foi eleito como o presidente dos Estados Unidos com no episódio exibido em 2000. Os Simpsons “A intenção é somar, ajudar o técnico daquele time a trazer algumas considerações para esses artistas que estão no palco” Sobre participar como super técnica do TheVoice Brasil Turnê PARA FECHAR Fotos/ Divulgação O Foo Fighters anunciou pelo site oficial a participação da edição de 2017 do festival português Nos Alive. Será a primeira vez em seis anos que o quinteto tocará em Portugal. Foo Fighters anuncia shows IVETE SANGALO, cantora Divulgação A nos atrás, escrevi um ar- tigo para um evento aca- dêmico sobre música em que discorria sobre a pe- culiaridade das canções interpreta- das por Daniela Mercury. Mostrava que, ao contrário das concorrentes diretas Ivete Sangalo e Claudia Leit- te, por exemplo, ela conseguia man- ter a homogeneidade e a fidelidade à expressividade da cultura africa- na, especialmente aos temas e sím- bolos daquele povo. Em "O Axé, a Voz e o Violão", show com o qual está percorrendo o país, Daniela Mercury deixa esta marca autoral bastante explícita: ao percorrer o catalógo de músicas que a consagraram, a exaltação do ne- gro permeia quase todo o repertó- rio em uma recente apresentação em um teatro do centro de São Pau- lo. Inclusive no figurino da cantora, que trajava vestido tipo Kaftan e mangas morcego em textura africa- na com cores da bandeira do Brasil. Pelas letras, o público é levado a mergulhar no universo do carnaval da Bahia, dos costumes negros, e dos oxirás cultuados no candomblé. “Eu surgi em meio à redemocra- tização deste país. Em Brasília, o pes- soal do rock se perguntava que país era esse. Na Bahia, ganhava fôlego a voz de um grupo que, para se fazer ouvido, precisava gritar alto. Gritar alto para ser respeitado”, explicou a cantora em determinado momen- to do show. Soou como um desaba- fo. Talvez fosse mesmo. É que, na realidade, o título que batiza a tur- nê não faz jus ao que é apresentado. Não é apenas uma cantora acom- panhada por violão. O show é um manifesto musical em defesa do axé. No palco, Daniela resgata mo- mentos e curiosidades da carreira, relembra diálogos com Chico César, com Gilberto Gil, e conta experiên- cias sobre como começou a cantar. São detalhes. O tom é o de reivindi- cação para o axé. “Ah, vocês estão dançando? Olha, a música que eu faço é macumba. Eu e Bethânia”, brincou, quando terminava o me- dley de “O mais belo dos belos” e “Por amor ao Ilê”. Antes de começar "Nobre vaga- bundo", Daniela diz que vagabun- da é o que ela é. Falou que concor- da com o governo Temer quando ele diz que os artistas são vagabundos. "Quem precisa de Mozart? Pra que serve as poesias de Gregório de Ma- tos? Os textos de Clarice? A dança? Isso é coisa de vagabundo, só serve para vagabundos". O tom era irôni- co e sério, ao mesmo tempo. Reto- mando as palavras dos opositores aos investimentos em cultura, Da- niela reivindicava para a arte um lu- gar de respeito. Perguntou ao público quantos outros eram vagabundos como ela. Suspendeu a mão um rapaz. Era um poeta. Depois outro; era um bailari- no. Depois uma moça; era uma mu- sicista. Mais outro, um violinista. Ela pediu que todos esses "vagabundos" que, enquanto cantasse a canção, usassem a expressão artística para mandar uma mensagem a quem os considera vagabundos. Do impro- viso, surgiram poesia sobre arte, acordes de violino e de cavaquinho, e passos de dança de urban dance. Essa miscelânea artística é uma demonstração da artista incansável que é Daniela Mercury. Apesar de ter se firmado como cantora de axé nos anos 1990, experimentou música eletrônica no início dos anos 2000, com os álbuns “Sou de qualquer lu- gar” (2001)” e “Carnaval eletrônico” (2004), e se aventurou pela MPB, com “Clássica” (2005). Mas, mesmo quando abraça outras vertentes, é no axé que ela encontra solo firme para ser a artista que é, conseguin- do inclusive tornar político um show com músicas de carnaval. “Pensam que só se pode dançar no carnaval. Quem quiser, vai poder dançar”, convidava a cantora em sessão de autógrafos depois de um pocket show em uma livraria da ca- pital paulista na tarde de segunda- feira. A ideia de ver Daniela Mercu- ry, bailarina e performática, tolhida por um violão, soa bastante estra- nha. Muito já se dançou ao som das músicas dela; em tempos sombrios, que exigem reflexão e atenção, tal- vez devamos ouvir. Luís Rodolfo Cabral é profes- sor pesquisador e aluno do Pro- grama de Doutorado em Lin- guística Aplicada e Estudos da Linguagem PUC-SP) LUÍS RODOLFO CABRAL Especial para o Alternativo Um manifesto pelo AXÉ No show "O Axé, a Voz e o Violão", a cantora Daniela Mercury reafirma sua marca em ser fiel à expressividade da cultura africana em sua música Daniela Mercury faz um manifesto musical em novo show

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6 ALTERNATIVO São Luís, 10 de novembro de 2016. Quinta-feira O Estado do Maranhão

Trump já tinhasido presidenteA animação "Os Simpsons"acertou mais uma previsão: o empresário Donald Trumpfoi eleito como o presidentedos Estados Unidos com noepisódio exibido em 2000.

Os Simpsons

“A intenção é somar,ajudar o técnico daqueletime a trazer algumasconsiderações para esses artistas queestão no palco”

Sobre participar como supertécnica do TheVoice Brasil

Turnê

PARA FECHARFotos/ Divulgação

O Foo Fighters anunciou pelosite oficial a participação daedição de 2017 do festivalportuguês Nos Alive. Será aprimeira vez em seis anos queo quinteto tocará em Portugal.

Foo Fighters anuncia shows

IVETE SANGALO, cantora

Divulgação

Anos atrás, escrevi um ar-tigo para um evento aca-dêmico sobre música emque discorria sobre a pe-

culiaridade das canções interpreta-das por Daniela Mercury. Mostravaque, ao contrário das concorrentesdiretas Ivete Sangalo e Claudia Leit-te, por exemplo, ela conseguia man-ter a homogeneidade e a fidelidadeà expressividade da cultura africa-na, especialmente aos temas e sím-bolos daquele povo.

Em "O Axé, a Voz e o Violão",show com o qual está percorrendoo país, Daniela Mercury deixa estamarca autoral bastante explícita: aopercorrer o catalógo de músicas quea consagraram, a exaltação do ne-gro permeia quase todo o repertó-rio em uma recente apresentaçãoem um teatro do centro de São Pau-lo. Inclusive no figurino da cantora,que trajava vestido tipo Kaftan emangas morcego em textura africa-na com cores da bandeira do Brasil.Pelas letras, o público é levado amergulhar no universo do carnavalda Bahia, dos costumes negros, edos oxirás cultuados no candomblé.

“Eu surgi em meio à redemocra-tização deste país. Em Brasília, o pes-soal do rock se perguntava que paísera esse. Na Bahia, ganhava fôlego avoz de um grupo que, para se fazerouvido, precisava gritar alto. Gritaralto para ser respeitado”, explicou acantora em determinado momen-to do show. Soou como um desaba-fo. Talvez fosse mesmo. É que, narealidade, o título que batiza a tur-nê não faz jus ao que é apresentado.Não é apenas uma cantora acom-panhada por violão. O show é ummanifesto musical em defesa do axé.

No palco, Daniela resgata mo-mentos e curiosidades da carreira,relembra diálogos com Chico César,com Gilberto Gil, e conta experiên-cias sobre como começou a cantar.São detalhes. O tom é o de reivindi-cação para o axé. “Ah, vocês estãodançando? Olha, a música que eufaço é macumba. Eu e Bethânia”,brincou, quando terminava o me-dley de “O mais belo dos belos” e“Por amor ao Ilê”.

Antes de começar "Nobre vaga-bundo", Daniela diz que vagabun-da é o que ela é. Falou que concor-da com o governo Temer quando elediz que os artistas são vagabundos."Quem precisa de Mozart? Pra queserve as poesias de Gregório de Ma-tos? Os textos de Clarice? A dança?Isso é coisa de vagabundo, só servepara vagabundos". O tom era irôni-co e sério, ao mesmo tempo. Reto-mando as palavras dos opositoresaos investimentos em cultura, Da-niela reivindicava para a arte um lu-gar de respeito.

Perguntou ao público quantosoutros eram vagabundos como ela.Suspendeu a mão um rapaz. Era umpoeta. Depois outro; era um bailari-no. Depois uma moça; era uma mu-sicista. Mais outro, um violinista. Elapediu que todos esses "vagabundos"que, enquanto cantasse a canção,usassem a expressão artística paramandar uma mensagem a quem osconsidera vagabundos. Do impro-viso, surgiram poesia sobre arte,acordes de violino e de cavaquinho,e passos de dança de urban dance.

Essa miscelânea artística é umademonstração da artista incansávelque é Daniela Mercury. Apesar de terse firmado como cantora de axé nosanos 1990, experimentou músicaeletrônica no início dos anos 2000,com os álbuns “Sou de qualquer lu-gar” (2001)” e “Carnaval eletrônico”(2004), e se aventurou pela MPB,com “Clássica” (2005). Mas, mesmoquando abraça outras vertentes, éno axé que ela encontra solo firmepara ser a artista que é, conseguin-do inclusive tornar político um showcom músicas de carnaval.

“Pensam que só se pode dançarno carnaval. Quem quiser, vai poderdançar”, convidava a cantora emsessão de autógrafos depois de umpocket show em uma livraria da ca-pital paulista na tarde de segunda-feira. A ideia de ver Daniela Mercu-ry, bailarina e performática, tolhidapor um violão, soa bastante estra-nha. Muito já se dançou ao som dasmúsicas dela; em tempos sombrios,que exigem reflexão e atenção, tal-vez devamos ouvir.

Luís Rodolfo Cabral é profes-sor pesquisador e aluno do Pro-grama de Doutorado em Lin-guística Aplicada e Estudos daLinguagem PUC-SP) �

LUÍS RODOLFO CABRALEspecial para o Alternativo

Um manifesto pelo AXÉNo show "O Axé, aVoz e o Violão", a

cantora DanielaMercury reafirma

sua marca em ser fiel à

expressividade dacultura africana em sua música

DanielaMercury faz ummanifestomusical emnovo show