Acidentes Trabalhos Campo

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PREVENÇÃO DE DOENÇAS E ACIDENTES NOS TRABALHOS DE CAMPO Atualização: 3/7/2003 Os trabalhos de campo podem expor o pesquisador a diversos agravos de saúde, como acidentes em geral, agentes de doenças endêmicas e acidentes por animais peçonhentos. Diversas precauções e medidas preventivas podem e devem ser tomadas. Doenças infecciosas e parasitárias Antes de dirigir-se a uma nova área é bom saber que doenças endêmicas existem lá, para que possa tomar medidas preventivas adequadas. Estas informações podem ser obtidas junto ao Ministério da Saúde e nas Secretarias de Saúde dos Estados e Municípios. A febre amarela é doença grave, com índice elevado de letalidade. É causada pelo vírus da febre amarela que é transmitido ao homem por mosquitos. Atualmente sua transmissão ocorre apenas no ambiente silvestre. A febre amarela urbana ocorria quando havia grande infestação do mosquito Aedes aegypti, sendo famosos os trabalhos de Oswaldo Cruz para o controle desta transmissão. A reinfestação das áreas urbanas com este mosquito, que vem ocorrendo nas últimas décadas pode permitir a urbanização da febre amarela. O controle do vírus é praticamente impossível pois é perpetuado na natureza em reservatórios vertebrados, principalmente macacos, sendo transmitido por mosquitos silvestres, que têm hábitat predominante nas copas das árvores. Há uma vacina eficaz, disponível gratuitamente em postos de saúde. Ela confere boa proteção, devendo ser tomada uma dose de reforço a cada 10 anos. É indicada a todas as pessoas com mais de 6 meses de idade que se dirigem a áreas onde pode ocorrer a transmissão silvestre da doença, que são de modo geral no Brasil os estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Maranhão e dos demais estados amazônicos. A vacina deve ser tomada 15 dias antes do deslocamento para áreas endêmicas. Casos isolados têm ocorrido no oeste do estado de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. O encontro de macacos mortos em matas pode ser decorrente desta doença e este fato deve ser notificado às autoridades de saúde da área. A dengue é causada pelo vírus da dengue, transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, do homem infectado para o homem susceptível. O mosquito é caracteristicamente diurno. O quadro clínico é bastante variável, indo desde infecções inaparentes, até quadros graves de hemorragia e choque. A grande preocupação com relação ao controle desta doença é sua a urbanização, já que o mosquito transmissor é bastante sinantrópico, propagando-se com facilidade em pequenas coleções de água limpa dentro de domicílios e em sua proximidade, como pratos de plantas, latas, vidros, pneus, ferros-velhos, etc. Não existe vacina contra esta doença. A malária é transmitida pelos mosquitos do gênero Anopheles e atinge 80% do território brasileiro. Os grandes ornitólogos Olivério Mario de Oliveira Pinto e Helmut Sick foram acometidos de malária em suas andanças pelos sertões. O quadro clínico caracteriza-se pelos acessos febris típicos que apresentam três fases bem distintas

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PREVENO DE DOENAS E ACIDENTES NOS TRABALHOS DE CAMPO

PREVENO DE DOENAS E ACIDENTES NOS TRABALHOS DE CAMPOAtualizao: 3/7/2003

Os trabalhos de campo podem expor o pesquisador a diversos agravos de sade, como acidentes em geral, agentes de doenas endmicas e acidentes por animais peonhentos. Diversas precaues e medidas preventivas podem e devem ser tomadas.

Doenas infecciosas e parasitrias

Antes de dirigir-se a uma nova rea bom saber que doenas endmicas existem l, para que possa tomar medidas preventivas adequadas. Estas informaes podem ser obtidas junto ao Ministrio da Sade e nas Secretarias de Sade dos Estados e Municpios.

A febre amarela doena grave, com ndice elevado de letalidade. causada pelo vrus da febre amarela que transmitido ao homem por mosquitos. Atualmente sua transmisso ocorre apenas no ambiente silvestre. A febre amarela urbana ocorria quando havia grande infestao do mosquito Aedes aegypti, sendo famosos os trabalhos de Oswaldo Cruz para o controle desta transmisso. A reinfestao das reas urbanas com este mosquito, que vem ocorrendo nas ltimas dcadas pode permitir a urbanizao da febre amarela. O controle do vrus praticamente impossvel pois perpetuado na natureza em reservatrios vertebrados, principalmente macacos, sendo transmitido por mosquitos silvestres, que tm hbitat predominante nas copas das rvores. H uma vacina eficaz, disponvel gratuitamente em postos de sade. Ela confere boa proteo, devendo ser tomada uma dose de reforo a cada 10 anos. indicada a todas as pessoas com mais de 6 meses de idade que se dirigem a reas onde pode ocorrer a transmisso silvestre da doena, que so de modo geral no Brasil os estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Gois, Distrito Federal, Tocantins, Maranho e dos demais estados amaznicos. A vacina deve ser tomada 15 dias antes do deslocamento para reas endmicas. Casos isolados tm ocorrido no oeste do estado de So Paulo, Minas Gerais e Bahia. O encontro de macacos mortos em matas pode ser decorrente desta doena e este fato deve ser notificado s autoridades de sade da rea.

A dengue causada pelo vrus da dengue, transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, do homem infectado para o homem susceptvel. O mosquito caracteristicamente diurno. O quadro clnico bastante varivel, indo desde infeces inaparentes, at quadros graves de hemorragia e choque. A grande preocupao com relao ao controle desta doena sua a urbanizao, j que o mosquito transmissor bastante sinantrpico, propagando-se com facilidade em pequenas colees de gua limpa dentro de domiclios e em sua proximidade, como pratos de plantas, latas, vidros, pneus, ferros-velhos, etc. No existe vacina contra esta doena.

A malria transmitida pelos mosquitos do gnero Anopheles e atinge 80% do territrio brasileiro. Os grandes ornitlogos Olivrio Mario de Oliveira Pinto e Helmut Sick foram acometidos de malria em suas andanas pelos sertes. O quadro clnico caracteriza-se pelos acessos febris tpicos que apresentam trs fases bem distintas que so: calafrio, febre, sudorese. O mosquito transmissor se reproduz em guas naturais como rios, lagos, riachos, reas irrigadas, represas, etc. O controle feito com medidas de saneamento como desobstruo de valas e canais, limpeza de vegetao e inclinao das margens dos rios, retificao de cursos d'gua, drenagem de pntanos e outras, medidas estas muitas vezes infelizmente de grande impacto ambiental. Nas habitaes pode-se eliminar os mosquitos com o uso de inseticidas de ao residual, instalao de telas, mosquiteiros e roupas adequadas e o uso de repelentes. H regies onde a malria se transmite durante todo o ano e outras onde s ocorre na chamada "estao de malria". Uma alternativa de proteo contra a malria a quimioprofilaxia, ou seja, o uso de um medicamento para evitar que se contraia a doena. O tipo de medicamento, a dose e o tempo de uso dependem de diversos fatores, como o tempo que o indivduo permanecer na regio endmica, o tipo de Plasmodium (protozorio causador da doena) existente na rea e sua resistncia aos medicamentos. Portanto, o uso destes medicamentos deve ser feito sempre com orientao mdica. Nos ltimos anos muitos avanos foram conseguidos para obteno de uma vacina, que entretanto ainda no est disponvel.

A leishmaniose cutneo-mucosa uma infeco causada por um protozorio, a Leishmania brasiliensis e atinge quase exclusivamente a pele e mucosas. uma zoonose de roedores silvestres e se transmite ao homem e animais domsticos, como o co e gato, pela picada de mosquitos flebtomos (gnero Phlebotomus), vulgarmente chamados no Nordeste de "mosquito-palha" e no sul do Brasil de "birigui". Medem 2 milmetros de comprimento e picam geralmente ao pr do sol e noite, deixando uma leso com intenso prurido. Os criadouros so locais midos e sombrios, como por exemplo ocos de rvores. Esta doena tem ampla distribuio no pas, ocorrendo em praticamente todos os estados. Sua ocorrncia est quase sempre associada com a presena de mata na regio. Ela se manifesta inicialmente por lceras na pele, em geral indolores. Existe tratamento medicamentoso eficaz. A principal medida de preveno individual evitar contato com os mosquitos transmissores.

A leishmaniose visceral, ou calazar causada nas Amricas pelo protozorio Leishmania chagasi e transmitida pelo mosquito Lutzomyia longipalpis, conhecido popularmente como mosquito palha ou birigui, de hbito noturno. Ocorre principalmente no nordeste do Brasil, mas alguns focos j foram descritos na regio sudeste e centro-oeste, em diversos municpios, mesmo capitais como Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os hospedeiros do parasita so principalmente candeos, tanto silvestres como o co domstico, responsvel pela transmisso da doena em reas urbanas. A maior parte dos casos de infeco humana so assintomticos, seguindo-se os oligossintomticos, que se manifestam por um quadro infeccioso inespecfico. O quadro mais grave constitui o calazar clssico, caracterizado por desnutrio, aumento do abdome devido ao aumento do fgado e bao, febre, hemorragias e diversos outros padecimentos. H um tratamento eficaz. Ces doentes na regio pode ser uma indicao da ocorrncia de leishmaniose visceral. Estes apresentam geralmente emagrecimento, descamao e lceras de pele, apatia, diarria e hemorragia intestinal, entre outros. A principal medida individual de preveno evitar contato com o mosquito transmissor.

A esquistossomose uma verminose causada pelo Schistosoma mansoni. A longo prazo esta doena pode causar uma forma de cirrose heptica, alm de outras complicaes. A doena adquirida quando se entra em contato com guas naturais contaminadas com o parasito, como rios, crregos, lagoas, audes, valas de irrigao, etc. Para a ocorrncia do parasito necessria a existncia nestas guas do hospedeiro intermedirio, que so caramujos do gnero Biomphalaria. As cercarias, que constituem uma fase do ciclo biolgico do parasito, saem do caramujo e penetram diretamente na pele ntegra do homem e outros animais (hospedeiros definitivos). O diagnstico pode ser feito pelo exame de fezes. Atualmente existem medicamentos bastante eficazes para o tratamento desta doena. O controle desta endemia muito difcil, pois exige grandes investimentos. A medida individual de preveno evitar entrar em contato com guas naturais suspeitas estarem contaminadas com o parasita.

A raiva uma doena com letalidade de 100%. Mordeduras de mamferos domsticos e silvestres so potencialmente transmissoras do vrus da raiva. Qualquer acidente deste tipo exige atendimento mdico imediato. A norma de tratamento preventivo anti-rbico indica a aplicao de soro e vacina anti-rbicos em todo caso de mordedura por mamfero silvestre, em que no tenha sido possvel sacrific-lo para fazer o exame necroscpico para verificar se tinha ou no raiva. Pessoas que trabalham com animais que oferecem risco potencial de transmisso de raiva podem receber o

esquema de vacinao pr-exposio. Em outros pases j ocorreram casos de raiva adquiridos pela inalao de aerossis em cavernas habitadas por morcegos portadores do vrus desta doena. Em nosso meio no foi descrita esta forma de transmisso. Entretanto, o Desmodus rotundus, morcego hematfago transmissor da raiva, pode atacar pessoas que dormem em lugares abertos deixando partes do corpo desprotegidas.

Desmodus rotundus Luiz Fernando Figueiredo

A encefalite por arbovrus Rocio doena aguda do sistema nervoso central, com histria de ocorrncia, inclusive de epidemias, na regio sudeste do estado de So Paulo (Baixada Santista e Vale do Ribeira) e regio limtrofe do Paran. Rocio o nome da localidade onde o vrus foi descoberto. Perpetua-se na natureza em hospedeiros vertebrados, aves e mamferos, e transmite-se por mosquitos hematfagos. Tem perodo de incubao em torno de 10 dias e manifesta-se com febre, dor de cabea intensa, tontura, fraqueza, vmitos, alteraes da conscincia e diversos outros sinais e sintomas, caractersticos do envolvimento do sistema nervoso central. Sequelas graves, envolvendo a motricidade e o equilbrio podem ocorrer em at 20% dos casos. O diagnstico feito pelo exame de lquor e sorolgico do sangue, alm do isolamento do vrus nestes dois materiais, estes ltimos confirmatrios. No h tratamento especfico, apenas sintomtico e de manuteno.

O berne a larva da mosca Dermatobia hominis, que parasita a pele de mamferos, inclusive o homem. As fmeas depositam seus ovos sobre o abdome de outros insetos, mosquitos ou moscas Depois de uma semana as larvas esto maduras e aproveitam o momento em que o inseto vetor pousa sobre algum mamfero para abandonarem o ovo e se alojarem na pele deste. A se desenvolvem em um perodo que geralmente de 35 a 40 dias, mas que pode prolongar-se a dois e at trs meses. Completada esta fase o berne abandona seu hospedeiro e termina seu desenvolvimento no solo sob a forma de pupa.

Ao penetrarem na pele as larvas do a sensao de picada ou prurido, mas podem tambm passar despercebidas. Em torno delas desenvolve-se uma reao inflamatria, a pele fica avermelhada e entumecida, como um furnculo. No meio da leso h um orifcio, por onde a larva respira. Com o progredir do desenvolvimento da larva, podem ser sentidas dores agudas, como ferroadas e tambm se percebe o movimento do parasito. Com a sada da larva a leso tende para a cura expontnea, porm pode haver complicaes com a contaminao bacteriana, formando-se verdadeiros furnculos. Tambm pode ser uma porta de entrada para o bacilo do ttano.

O diagnstico fcil. O fato de ter ido recentemente para reas silvestres ou rurais o primeiro indcio. A leso caracterstica, com orifcio no centro, onde com ateno pode-se ver o movimento do parasito, d a certeza final.

O tratamento consiste na extrao da larva. A estratgia impedir que ela respire, o que a forar a sair. Para isto utiliza-se um esparadrapo sobre a leso ou ainda uma receita provavelmente de origem popular mas tambm muito indicada pelos mdicos: aplica-se sobre a leso por algumas horas um pedao de toucinho, para dentro do qual a larva acabar saindo. O fato de ser uma substncia natural e presente na pele deve encorajar a larva a sair.

Na falha deste processos a larva dever ser tirada cirurgicamente.

Pequenos ferimentos so comuns nas atividades de campo. Uma consequncia grave destes pode ser o ttano, que pode ter alta letalidade. O micrbio causador, o Crostridium tetani, ocorre livremente na natureza, de onde pode atingir a corrente sangunea por meio de ferimentos, especialmente os mais profundos e que no podem ser adequadamente limpos. A preveno absolutamente fcil por meio da vacina. Esta deve ser tomada desde o primeiro ano de vida. Os adultos no imunizados anteriormente devem receber um esquema bsico de trs doses e posteriormente devem receber uma dose de reforo a cada 10 anos. A vacina faz parte do Programa Nacional de Imunizaes e est disponvel nos postos de sade, algumas vezes associada vacina contra a difteria (Vacina Dupla Adulto).

A doena de Chagas causada pelo protozorio Trypanosoma cruzi que transmitido ao homem pela picada de insetos triatomneos chamados popularmente de "barbeiros", parecidos com os comuns percevejos. Os insetos picam noite suas vtimas para sugarem sangue e ao mesmo tempo defecam. Ao coar-se o indivduo leva as fezes do inseto, onde se encontra o protozorio parasita, ao ferimento causado pela picada, por onde ele penetra. Um fator que facilita muito a transmisso da doena de Chagas a domiciliao do inseto transmissor, que vem viver na habitao humana ou prximo dela. Um local preferencial usado como esconderijo diurno pelos insetos so as frestas existentes nas casas de pau-a-pique do interior. A transmisso desta doena est em declnio no Brasil em decorrncia da atuao dos servios sanitrios de sade, que realizam a dedetizao das habitaes rurais e a educao sanitria, eliminando o principal vetor da doena, o Triatoma infestans. Entretanto tem-se notado um aumento de casos na Amaznia, possivelmente pela vinda aos domiclios de triatomneos silvestres. A infeco ocorre tambm em diversos mamferos silvestres e domsticos, que funcionam como reservatrios da doena. A doena de Chagas tem evoluo bastante insidiosa e os sintomas crnicos geralmente surgem aps uma dcada da contaminao. Os principais acometimentos referem-se ao corao (arritmias e insuficincia cardaca) e o aparelho gastrointestinal. No existe um tratamento eficaz para eliminar o parasita do organismo. Os medicamentos visam diminuir o nmero de parasitas.

A toxoplasmose causada pelo protozorio Toxoplasma gondii. Os felinos ocupam um papel singular no ciclo de vida deste parasita, j que funcionam como hospedeiros definitivos e intermedirios ao mesmo tempo. Em seu intestino ocorre uma fase do ciclo. O parasita eliminado pelas fezes dos felinos e contaminam via oral os hospedeiros intermedirios, entre os quais ovinos, bovinos, sunos, roedores, aves e o homem. Nestes o parasita pode ser levado a diversos tecidos, principalmente o tecido nervoso e muscular, onde formam cistos que podem ali permanecer por toda a vida do hospedeiro. Quando felinos se alimentam destes animais, ingerem novamente os parasitos, reiniciando-se o ciclo. O homem pode infectar-se comendo alimentos contaminados com fezes de felinos ou comendo carnes que no tenham sido suficientemente cozidas ou assadas. A maior parte das pessoas contaminadas no apresentam sintomas e as manifestaes clnicas quando ocorrem so pouco exuberantes, sendo raros os casos graves, exceto na pessoa com imunodeficincia. Entretanto a infeco congnita (infeco do feto por transmisso transplacentria), pode causar malformaes muito graves. Um acometimento clnico importante decorrente da instalao dos parasitas na retina, causando problemas visuais de difcil tratamento. A preveno consiste em evitar comer carne mal passada ou mal cozida e nunca beber gua que no seja potvel, alm de medidas de higiene, naturalmente. Riachos cristalinos em meio a matas podem estar contaminados com fezes de felinos, j tendo sido descrito um surto de toxoplasmose em soldados que teve possivelmente esta fonte de contaminao. Como os gatos domsticos tm o hbito de se lamberem para fazerem a limpeza do plo, podem levar os parasitas do nus para o plo. Ao acarici-los podemos contaminar nossas mos e em seguida alimentos que venhamos a pegar. A preveno se d tambm evitando contato com gatos, e com suas fezes.

A febre maculosa causada por uma bactrias do gnero Rickettsia, ocorrendo em diversos continentes. Nas Amricas o agente a Rickettsia rickettsii, que transmitida ao homem por um vetor, o carrapato estrela, tambm chamado de carrapato do cavalo ou rodoleiro, Ambliomma cajennense.

Carrapato transmissor da febre maculosa. A: vista superior. B: vista inferior. Fonte: Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 59(2): 115-130 - Jul., 1961Diversos animais servem de reservatrio da bactria, tais como aves domsticas (galinhas, perus), aves silvestres (seriemas), cavalo, boi, carneiro, cabra, co, porco, veado, capivara, cachorro do mato, coelho, cotia, coati, tatu, tamandu e tambm animais de sangue frio, como ofdeos. Para que haja infeco do homem, h necessidade de que o carrapato fique aderido durante um certo tempo (4 ou 6 horas). O carrapato fica infectado durante toda sua vida e ocorre transmisso transovariana para sua prole. O perodo de incubao da doena de 2 a 14 dias (em mdia 7 dias). A doena tem incidncia maior na primavera e vero. O incio sbito com febre moderada a alta que dura de 2 a 3 semanas, acompanhada de cefalia, calafrios, congesto das conjuntivas, dores musculares. No terceiro ou quarto dia pode aparecer um exantema maculo-papular (manchas na pele) rseo, inicialmente nas extremidades, em torno do punho e tornozelo e da se estendendo para o resto do corpo, inclusive palmas das mos e plantas dos ps. Hemorragias podem ser frequentes, inclusive petquias (pequenas hemorragias puntiformes na pele). A doena pode tambm cursar assintomtica ou com sintomas muito discretos. Outros podem ser graves, ocorrendo sufuses hemorrgicas seguidas de necrose destas reas. H ainda torpor, agitao, sinais menngeos, coma. Casos graves no tratados podem ter letalidade em torno de 20%. A confirmao de faz com o exame sorolgico e cultura e o tratamento com antibiticos e cuidados de enfermagem. A preveno se faz conhecendo as reas endmicas; evitar andar pelas reas infestadas; evitar deitar-se ou assentar-se no cho; retirar imediatamente os carrapatos que aderirem ao corpo; usar cala comprida colocada dentro da bota, usando uma fita adesiva para lacrar o espao entre a cala e a bota ou utilizando neste local repelente de insetos; uso de roupa clara para melhor visualizar os carrapatos; no esmagar os carrapatos com as unhas, pois com o esmagamento pode-se liberar a bactria que pode assim penetrar por microleses da pele; retirar os carrapatos atravs de leve toro para liberar as peas bucais. Os pecuaristas podem promover rotao de pastagens e a aplicao de carrapaticidas nos animais domsticos. No Brasil as regies endmicas esto nos estados de SP, RJ, MG, ES e BA. Em SP, foram notificados casos nos municpios de Mogi das Cruzes, Diadema, Santo Andr, Pedreira, Jaguarina, Campinas, Piracicaba. A diarria a doena mais comum que acomete viajantes. So causadas por bactrias, vrus ou protozorios que se transmitem por meio da gua ou alimentos contaminados. A preveno consiste simplesmente em s beber e utilizar para a feitura de alimentos gua potvel adequadamente tratada. Na falta desta, a gua poder ser fervida ou tratada com hipoclorito de sdio (2 gotas por litro, aguardando-se 30 minutos para usar). O maior problema ser com relao aos alimentos, j que em reas rurais e outras distantes dos centros urbanos h grande disponibilidade de alimentos que no passam pelo processo de industrializao ou fiscalizao sanitria. Deve-se comer verduras e frutas adequadamente lavadas em gua potvel (podem tambm ser deixadas de molho em gua contendo 2 gotas de hipoclorito por litro, durante meia hora). Outros alimentos, comer de preferncia bem cozidos ou assados. Conservas devem ser vistas com cautela. Palmito em conserva caseira tem causado graves intoxicaes pela toxina botulnica (botulismo), o que frequentemente fatal. Leite nunca deve ser bebido in natura, mas previamente fervido. Como regra geral, todo alimento que no tiver o selo de inspeo e liberao do rgo sanitrio suspeito. Por outro lado, mesmo no caso de alguns alimentos industrializados preciso tomar alguma cautela. A embalagem pode ter sido contaminada durante o armazenamento ou transporte do produto. Saquinhos de leite devem ser lavados antes de abertos, da mesma forma refrigerantes e outra bebidas em lata. J foi descrito caso de leptospirose possivelmente adquirida com lata de refrigerante onde ratos urinaram durante o armazenamento. Cuidado tambm deve ser tomado com o caldo de cana, principalmente se a cana no lavada e adequadamente descascada antes de moda, j tendo sido relatado um surto de doena de Chagas, adquirida por via digestiva, pelo fato de que barbeiros haviam defecado sobre canas armazenadas.

Acidentes com animais peonhentos

Lacraias

Os acidentes so raros, mais relacionados com o trabalho domstico, quando algum objeto onde estava o animal pego inadvertidamente. mais comum um acometimento apenas local com eritema, edema, dor local ou irradiada, hemorragia local discreta, que pode evoluir para necrose superficial. Eventualmente cefalia, vmitos, ansiedade, tonturas. O tratamento consiste em analgsicos e bloqueio anestsico local ou no tronco nervoso.

Escorpies

Tityus serrulatus - escorpio amarelo Yuri F. Messas

(com a cortesia do Centro de Animais Peonhentos Ren D'vila, Itu, SP)

H centenas de espcies, mas apenas as do gnero Tityus tm importncia mdica, sendo mais graves os causados pelo escorpio amarelo, Tityus serrulatus. Os acidentes so relatados em todas as regies do Brasil. No Sudeste os acidentes so mais frequentes na primavera. No Estado de So Paulo apenas duas espcies so responsveis pelos acidentes de importncia mdica (T. serrulatus e T. bahiensis). So noturnos, ficando durante o dia escondidos sob cascas de arvores, pedras, troncos podres, folhas no cho, madeiras empilhadas, junto a domiclios e onde o lixo domstico fornece alimento fcil. Nos adultos ofendidos, geralmente os sintomas (quadro leve) so apenas forte dor local irradiada, com edema e sudorese local. Sinais e sintomas de acometimento mais grave (quadro moderado) envolvem, alm da dor local, manifestaes sistmicas como sudorese, nuseas, vmitos (quando profusos prenunciam gravidade), agitao, sialorria e manifestaes cardio-respiratrias. O quadro grave se caracteriza tambm por uma ou mais das seguintes manifestaes: bradicardia, insuficincia cardaca, edema pulmonar, choque, convulses e coma. Crianas e idosos podem evoluir para as formas mais graves com muito mais frequncia. Pela impossibilidade de se prever a evoluo de cada caso, o melhor a fazer encaminhar o acidentado a um servio mdico que disponha de soro anti-escorpinico. Os casos moderados e graves e crianas e idosos de modo geral devero receber este tratamento. T. serrulatus ocorre na BA, ES, RJ, MG, SP, PR e GO. T. bahiensis ocorre em SP, MT, MS, PR, SC e RS. T. stigmurus ocorre na BA, SE, AL, PE, PB, CE, PI e RS. T. cambridgei ocorre na regio amaznica.

Aranhas

So de importncia mdica os gneros Phoneutria (armadeira), Loxosceles (aranha-marrom) e Latrodectus (viva-negra). Os acidentes com Loxosceles e Latrodectus podem ter complicaes srias, entre outras, insuficincia renal e choque, respectivamente. Desta forma, estes acidentes sempre indicam o tratamento soroterpico. J os acidentes com a armadeira, que so os mais comuns, geralmente causam apenas forte dor local. Aranhas que fazem teias geomtricas (circulares, triangulares, etc) no oferecem riscos sade humana, causando apenas dor local.

Phoneutria sp - armadeira Yuri F. Messas

(com a cortesia do Centro de Animais Peonhentos Ren D'vila, Itu, SP)

Ocorre em praticamente todo o Brasil. Atinge 3 a 4 cm de corpo e at 15 cm de envergadura de pernas.

Os acidentes com a armadeira ocorrem geralmente quando as pessoas manipulam cachos de banana (por isto chamada pelos americanos de "banana spider") ou dentro de casa, ao vestir roupas e calados. Ela ativa noite, ficando durante o dia escondida em locais escuros. No faz teia. Quando surpreendida, no foge, colocando-se em posio de ataque, apoiando-se nas pernas traseiras e erguendo as dianteiras, armando-se para picar, da o nome armadeira. 90% dos casos de picadas apresentam apenas forte dor local com edema no local da picada. Em outros 9% dos casos, ditos moderados, h tambm taquicardia, hipertenso arterial, sudorese, agitao, viso turva, vmitos ocasionais, priaprismo e sialorria. Os casos graves, que felizmente ocorrem em apenas 1% dos acidentes e praticamente restritos a crianas apresentam, alm das citadas, diversas outras manifestaes graves, que podem incluir convulses, edema pulmonar, coma e choque. Nos casos moderados e graves est indicado o tratamento soroterpico. Desta forma recomendvel que todos os acidentados sejam encaminhados a servio de sade que disponha deste recurso. Enquanto se aguarda o atendimento especializado, pode-se combater a dor local com analgsicos vial oral (dipirona) ou infiltrao de anestsico (lidocana a 2% sem vasoconstritor) no local da picada ou tronco nervoso.

Loxosceles sp. - aranha-marrom Yuri F. Messas

Pode atingir 1 cm de corpo e 3 cm de envergadura de pernas. Ocorre em todo o Brasil, mas os acidentes so mais comuns nos estados da regio sul.

A aranha-marrom ativa noite e de dia esconde-se sob-cascas de rvores, folhas secas de palmeiras e tambm nas casas, atrs de quadros e mveis, nos cantos das paredes, stos, garagens, etc. Faz uma teia irregular. muito pouco agressiva, mas como pode tambm esconder-se em roupas, pica quando a pessoa se veste, espremendo-a contra o corpo. Em torno de 70 a 97% dos casos ocorre de imediato apenas edema e eritema no local da picada, ao que geralmente no dada importncia pelo ofendido. A dor local vai se intensificando lentamente, nas primeiras 12 a 36 horas. Posteriormente ocorrem reas avermelhadas e hemorrgicas, mescladas com reas de isquemia (aspecto marmreo) e tambm febre e exantema, quando geralmente feito o diagnstico. No local podem surgir bolhas e necrose. Os demais casos so da forma cutneo-visceral, que podem evoluir nas primeiras 24 horas com hemlise intravascular e insuficincia renal, de extrema gravidade. O tratamento de escolha a administrao do soro antiloxosclico ou antiaracndico. Pesquisas recentes mostraram que a lagartixa domstica (Hemidactylus mabouia), predadora da aranha-marrom, desta forma deve ser protegida e tolerada mesmo dentro de casas.

Os acidentes com a viva-negra so extremamente raros, mas j foram relatados no litoral nordestino, principalmente na BA e tambm no RJ, SP e RS. Apenas as fmeas causam acidentes. Geralmente so aranhas de cor preta intensa, sem plos evidentes, com abdome bem arredondado. No ventre podem ter uma mancha vermelha, em forma de ampulheta. Algumas espcies tm cor marrom. ativa durante o dia e vivem em casas da zona rural, plantaes, "salsa da praia", etc. Faz uma teia irregular na vegetao. Os acidentes se do de forma semelhante aos da aranha-marrom (roupa pessoal, camas) e tambm em colheitas no campo. H dor intensa e imediata, acompanhada tambm de "ngua". Seguem-se contraturas musculares e outros agravamentos, que podem levar ao choque. O tratamento indicado o uso do soro antilatrodctico.

Lycosa sp. - Aranha-de-gramaYuri F. Messas

(Cortesia do Centro de Animais Peonhentos Ren D'vila, Itu, SP)

A aranha-de-grama ou tarntula, do gnero Lycosa, pica ao ser pisada em gramados ou quando impossibilitada de fuga. comum em gramados, pastos, junto a piscinas e jardins. Desta forma estas picadas podem ser frequentes, porm destitudas de importncia mdico-sanitria.

CaranguejeiraYuri F. Messas

(Cortesia do Centro de Animais Peonhentos Ren D'vila, Itu, SP)

As caranguejeiras, a despeito de seu aspecto assustador, causam com sua picada apenas dor local discreta. Mais importante a dermatite pruriginosa causada pela ao irritante dos pelos situados no dorso do abdmen, que ela desprende quando se sente ameaada ou manipulada.

Abelhas e vespas

Pertencem a esta ordem os nicos insetos que possuem ferres verdadeiros, com duas famlias de importncia mdica: Apidae (abelhas e mamangavas) e Vespidae (vespas e marimbondos). H dois fatores agravantes nos acidentes com estes insetos: o nmero de picadas e hipersensibilidade do ofendido (alergia). As abelhas peonhentas encontradas no Brasil so a extica Apis mellifera (europia: A. m. mellifera, a italiana: A. m. ligusta e a africana: A. m. escutellata) e a nativa mamangava, Melipona anthidioides. Aps picarem, deixam na vtima o ferro com a glndula de veneno, motivo pelo qual sua retirada deve ser feita por raspagem com lmina (faca cega) e no pelo pinamento de cada um deles, j que a compresso da glndula ajuda a inocular o veneno. Picadas de abelhas podem sensibilizar o organismo, com exacerbao da resposta a picadas subsequentes. O efeito mais comum a dor local no local da ferroada, que tende a desaparecer espontaneamente em alguns minutos, deixando vermelhido, prurido e edema por vrias horas ou dias. Pode seguir-se uma indurao local, que aumenta de tamanho nas primeiras 24-48 horas, podendo at limitar a mobilidade de um membro afetado. Manifestaes graves envolvem anafilaxia, edema de laringe, hipotenso, at colapso vascular total, arritmias cardacas, insuficincia respiratria e insuficincia renal aguda. Podem tambm ocorrer reaes alrgicas tardias, vrios dias aps a(s) picada(s), com artralgias, febre e encefalite, quadro semelhante doena do soro. Picadas mltiplas ou mesmo uma s picada em pessoa alrgica constitui emergncia mdica e o ofendido deve ser encaminhado com urgncia a um pronto socorro para receber medidas de suporte, j que no existe um antdoto especfico contra o veneno de abelhas. Os acidentes com abelhas tornaram-se mais frequentes no Brasil aps a introduo no pas de rainhas puras de abelhas africanas. Sua hidridao acidental com as europias j existentes aqui anteriormente resultou no aparecimento das abelhas africanizadas.

As vespas ou marimbondos, ao contrrio das abelhas, no deixam o ferro no local da picada. As manifestaes clnicas so muito semelhantes aos das picadas de abelhas, desta forma o tratamento igual.

Formigas

Na Amaznia e Brasil Central ocorre a tocandira, Paraponera clavata, de 22 mm, e que faz ninho subterrneo onde se alojam at 500 formigas. Tambm pode ser encontrada sobre rvores. muito agressiva e sua picada causa dor profunda, que se intensifica com as horas, ocasionando tambm calafrios e s vezes vmitos. Os sintomas se prolongam por mais de um dia. As formigas conhecidas como formiga-de-fogo ou formiga-lava-p, do gnero Solenopsis, picam causando comicho e ardor e em pessoas sensveis em cada lugar de picada desenvolve-se uma pstula. Com picadas como as da lava-ps so as formigas-de-correio, do gnero Eciton, como a Eciton praedator. As formigas-de-embaba, do gnero Azteca, tambm ferroam.

Lepidpteros

O lepidopterismo o acidente causado pelo contato com larvas (erucismo), casulos ou adultos (mariposa) de lepidpteros. Em nosso meio ocorrem trs forma de lepidopterismo: a) dermatite vsico-urticante por contato com larvas urticantes (taturana) ou certas txicas da mariposa Hylesia sp; b) periartrite falangeana por pararama e c) sndrome hemorrgica por Lonomia. As taturanas (termo indgena que significa "semelhante ao fogo") ou lagartas-de-fogo, so larvas de lepidpteros, que dispem em suas cerdas de peonha que ao contato com a pele causam dor intensa, com prurido e eritema locais e "ngua". A leso evolui com vesculas, edema e eventualmente bolhas, quadro que pode persistir por at 10 dias. Necrose local rara. O tratamento consiste apenas em tratamento local com anestsico, corticides tpicos, analgsicos. Uma compressa de gua fria pode aliviar os sintomas.

As fmeas adultas do gnero Hylesia tm na poro distal do abdomen cerdas microscpicas que se desprendem e, atingindo a pele, causam um eritema pruriginoso que evolui para reao micropapular que pode chegar formao de vesculas e exulceraes. Obviamente as leses s ocorrem nas reas descobertas do corpo e duram de uma a duas semanas. O tratamento pode ser feito com anti-histamnicos via oral ou parenteral (para o prurido), compressa fria local, e pomadas de corticosterides. Atradas pela luz e em revoadas, invadem os domiclios facilitando o contato.

Nos seringais cultivados no Par, a larva da mariposa pararama, Premolis semirufa, dotadas de cerdas injuriantes, atinge os trabalhadores destes seringais, causando leses crnicas que comprometem as articulaes falangeanas, agravo conhecido como doena dos seringais ou reumatismo dos seringueiros ou ainda pararamose. O contato causa queimao, como nas demais espcies de lagarta. Exposies mais prolongadas podem levar artrite crnica deformante.

A Lonomia uma mariposa da famlia Saturniidae cuja lagarta venenosa. Habita principalmente as matas, gostando de lugares midos e sombrios. Alojam-se nas rvores. A fmea da mariposa de cor cinza escuro e o macho amarelo alaranjado, ambas com uma lista transversal sobre as asas.

Casal de Lonomia copulando.Roberto Moraes - Instituto Butantan.

As lagartas atingem at 7 cm, so gregrias, ficando agrupadas durante o dia nos troncos de rvores. Tm cor marrom esverdeada e espinhos ramificados em forma de rvore de natal, de cor verde. Um carater distintivo uma mancha branca em forma de "U" no dorso. Gostam de sombra e umidade, sendo por isto seu hbitat natural a mata. Podem invadir quintais de casas.

Lonomia obliqua

Yuri F. Messas

O envenenamento se d pelo contato com a lagarta. O veneno age destruindo o fibrinognio, tendo assim grande poder hemorrgico. O quadro clnico varia de acordo com a quantidade de veneno inoculada. Vai desde quadros leves com ardor intenso e edema locais, passando por hemorragias pequenas nas mucosas ou em cicatrizes, sem alteraes hemodinmicas at os casos graves, com hemorragias digestivas, renais, pulmonares e do sistema nervoso central. Pode haver acometimento dos rins levando a insuficincia renal. Os sintomas se manifestam de 1 a 12 horas aps o contato.

Este agravo comeou a ser melhor conhecido no Brasil apenas em 1983, quando ocorreram casos no Amap e no Par. Mais recentemente ganhou notoriedade com o registro de casos nos estados do RS, SC, PR e SP, com maior concentrao nos dois primeiros. Nesta regio a espcie implicada a Lonomia obliqua, que parasita rvores silvestres como o araticum, cedro, figueira-do-mato, ip, aroeira, tapi (Alchornea) e tambm espcies exticas como o pessegueiro, abacateiro, ameixeira, nespeira, pereira e outras frutferas de pomar. O Instituto Butantan produz o soro antilonmico, especfico para estes acidentes. Os acidentados devem fazer repouso absoluto para evitar traumas que possam levar a sangramentos e serem levados com urgncia para receberem ateno mdica especializada.

Colepteros

Um fenmeno conhecido pelos chineses h mais de 1.200 anos, mas apenas no sculo passado registrado na medicina ocidental o pederismo, resultante do contato da pele com substncias txicas de efeito custico, liberadas pelo besouro do gnero Paederus (Coleoptera, Staphylinidae). H mais de 600 espcies deste gnero em todo o mundo, em torno de 50 sul-americanas. So conhecidos popularmente como pot, trepa-moleque, pla-gua, fogo-selvagem. Podem ocorrer surtos, pois estes insetos so atrados pela luz, favorecendo o contato com as pessoas. O quadro vai desde um discreto eritema, iniciado 24 horas aps o contato e que persiste por 48 horas, passando por quadros com vesculas que secam aps uns 8 dias e esfoliam, deixando manchas pigmentadas que duram at mais de um ms, at casos severos, geralmente decorrentes de vrios contatos com o inseto, apresentado tambm febre, dor local, artralgia e vmitos. O eritema pode durar meses. As palmas das mos e plantas dos ps parecem poupadas. Em caso de contato inadevertido, lavar imediatamente as mos.

Serpentes

bom lembrar que o fato de estarmos calados com botas de cano longo no previne totalmente um acidente ofdico. Serpentes podem estar sobre troncos de rvores ou sobre ramagens, a diversas alturas do cho. Os acidentes ofdicos ocorrem em todas as regies e estados brasileiros. Quatro gneros de serpentes tm importncia mdica: Bothrops (jararacas), Crotalus (cascavel), Lachesis (surucucu) e Micrurus (corais), compreendendo cerca de 60 espcies. H uma srie de caractersticas distintivas entre as serpentes peonhentas e as no peonhentas, porm estas caractersticas nem sempre sero aplicveis no campo ou a todos os gneros. Portanto, diante de qualquer picada de serpente a conduta mais prudente ser mat-la e lev-la junto com o acidentado ao pronto socorro mais prximo. As serpentes no venenosas dificilmente causam mordeduras.

CascavelYuri F. Messas

(Cortesia do Centro de Animais Peonhentos Ren D'vila, Itu, SP)

Uma caracterstica evidente de grande nmero de serpentes peonhentas a presena de presas inoculadoras de veneno localizadas na regio anterior do maxilar superior. Entretanto nas corais estas presas so fixas e pequenas, podendo passar despercebidas. Nunca confie, a no ser que se trate de um especialista, se algum disser que determinada coral no venenosa. Considere todas potencialmente perigosas. A presena da fosseta loreal, um orifcio entre o olho e a narina da serpente, tambm uma caracterstica prpria de serpentes peonhentas, mas que tambm falta nas corais. A presena do chocalho na ponta da cauda identifica imediatamente a cascavel, nica que tem esta caracterstica.

Os acidentes ofdicos so de forma geral mais comuns no perodo de setembro a maro. No Brasil como um todo, 75% dos acidentes so causados por jararacas, 7% pela cascavel, 1,5% pela surucucu e 0,5% por corais. 3% dos acidentes, neste caso simplesmente mordidas, so causadas por serpentes no peonhentas.

70% dos acidentes ofdicos atingem o p ou perna e 13% a mo e antebrao. Isto mostra que o uso de botas e evitar colocar a mo em local onde pode haver serpentes, j previne um grande nmero de acidentes.

O nico tratamento realmente efetivo nos casos de acidentes ofdicos o uso de sro anti-ofdico. Quando se conhece a serpente causadora do acidente utilizado o sro especfico para o gnero em questo, j que o veneno das diversas espcies de cada gnero o mesmo. Por isto importante levar a serpente morta ao local de atendimento. Diante de qualquer acidente ofdico em que a possibilidade de ser serpente peonhenta no possa ser afastada com certeza, o acidentado deve ser levado o mais rpido possvel a um servio de sade que preste o atendimento a este tipo de agravo. No se deve aguardar surgimento de sintomas para fazer isto. O acidentado deve fazer o mnimo de esforo possvel (a acelerao da circulao facilita a disseminao do veneno). Com o mesmo objetivo deve-se manter o membro afetado abaixo do nvel do corao. Procurar manter-se calmo. Retirar anis, roupas restritivas, calados, etc, antes do aparecimento de edema. Beberagens diversas e aplicao de materiais diversos sobre o local da picada, de conhecimento popular, no tm comprovao cientfica de serem teis. Cortar o local da picada para forar a sada do veneno pode piorar a situao. Nos acidentes por jararacas (os mais comuns) h manifestaes no local da picada e estes cortes agravam as leses. Torniquetes tambm no so recomendados de modo geral. Nos acidentes botrpicos os torniquetes pode acelerar as leses locais, exatamente por no permitir a circulao do veneno. A retirada sbita do torniquete libera uma quantidade grande de veneno podendo causar hipotenso. Apesar de no haver estudos com elapdeos no Brasil, aceitvel usar uma faixa constritora nos acidentes por coral, quando o tempo de remoo for excessivamente longo. Tambm chupar o local da picada no traz benefcio, podendo favorecer a absoro do veneno.

O ideal toda vez que for a campo, informar-se previamente sobre o local mais prximo que presta atendimento anti-ofdico. A Secretaria de Sade do Estado de So Paulo, por meio do Centro de Vigilncia Epidemiolgica, divulga periodicamente uma lista dos chamados "pontos estratgicos" que so as instituies de sade de todo o estado que esto aptas a fazerem este atendimento. No Estado de So Paulo a referncia tcnica para o atendimento de casos de acidentes por animais peonhentes o Hospital Vital Brazil, localizado no Instituto Butantan.

Medidas gerais de preveno

Deixe sapatos e botas cobertos para evitar a entrada de insetos. Bata as botas bem pela manh, para ver se no tem nada dentro antes de cala-las.

Deixar as roupas dobradas e em lugar alto. Sacudi-las bem antes de vesti-las e mesmo vira-las ao avesso.

Nunca deixar malas e mochilas abertas. Inspecionar bem a bagagem antes de lev-la para o carro.

Quando se afastar do carro no campo deix-lo bem fechado.

Em acampamentos dormir sempre em barracas completamente vedadas contra insetos.

Nunca ponha as mos em qualquer lugar onde haja risco de ter animais peonhentos. Use varas ou outro objetos se necessrio. No caso e coletar ninhos abandonados, coloque-os dentro de sacos plsticos com inseticida para no correr o risco de levar artrpodes peonhentos junto com a bagagem.

Caso tenha que manipular objetos ou lugares onde pode haver artrpodes peonhentos, use luva de raspa de couro.

Tenha o hbito de sair a campo sempre de bota de cano longo.

Ao andar em meio a vegetao densa, olhe bem antes nas ramagens, j que algumas cobras como jararacas podem subir nestas ramagens.

Em alojamentos nas zonas rurais, olhar bem debaixo das camas, frestas, etc, onde pode haver animais escondidos. Vedar bem as soleiras das portas, frestas de janelas, etc. Uso se inseticidas no aconselhvel, devido a sua pequena eficcia nestes animais.

Se tiver que entrar em habitaes abandonadas, faz-lo com toda cautela, pois podem ser esconderijos de diversos animais peonhentos.

Em reas onde h risco de barbeiros, dormir dentro da barraca, mesmo dentro do alojamento.

Se for colher bananas, principamente em regies da mata atlntica, faa-o com total cuidado, pois junto ao cacho pode estar a aranha-armadeira.

Procure conhecer bem os animais peonhentos, pois sua correta identificao no campo poder orientar nas decises a serem tomadas em casos de acidentes.

Caso tenha que ter um contato direto com rvores ou subir nelas, inspecione-as primeiro, procura de lagartas ou sinais de sua presena, como folhas rodas na copa e a suas fezes no solo, semelhantes a gros dessecados de pimenta-do-reino. Caso seja indispensvel subir em rvores noite, usar camisas de manga compridas e luvas de raspa de couro.

Acidentes

Se os acidentes podem nos surpreender em nossa prpria casa que to bem conhecemos e onde temos o poder de manter as coisas sob nosso controle, o que dizer de um ambiente natural desconhecido percorrido pela primeira vez?

Quando as observaes so feitas em lugares acidentados deve-se redobrar os cuidados. O estudo de aves marinhas em penhascos um exemplo de uma situao perigosa. O ornitlogo Elias Pacheco Coelho foi fatalmente vitimado numa destas situaes.

Um evento raro ser atingido por raios. Em campos abertos recomenda-se no procurar abrigo da chuva debaixo de rvores, j que estas atraem os raios. Sentar-se no meio do campo e esperar o melhor a fazer. Os carros constituem uma proteo, no porque estejam isolados pelos pneus como se pensa, mas porque sua estrutura metlica cria uma espcie de gaiola eltrica que o raio percorre, sem atingir seus ocupantes. Os raios no caem apenas onde est chovendo, podendo tambm cair a boa distncia destes locais.

Em reas onde existe gado necessrio algum cuidado. Vacas com bezerros novos podem estar agressivas. O melhor a fazer indagar dos proprietrios ou pessoas do campo sobre eventuais riscos de andar pelos pastos. Em caso de dvida manter sempre distncia e ir beirando cercas que podem ser transpostas rapidamente em caso de necessidade ou vegetao densa onde se possa esconder. Bezerros crescidos costumam ajuntar-se e caminhar ou mesmo correr em direo a estranhos, desviando seu curso a alguma distncia, o que pode causar grande susto em pessoas que desconhecem este comportamento.

Agresses por aves so extremamente raras. Talvez a situao mais dramtica seja o relato de um beb indgena levado por uma guia real, Harpia harpyja. Em estudos de campo a nica situao que pode oferecer riscos quando o pesquisador aproxima-se muito de ninhos de falconiformes.

Bibliografia

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Knysak, I., Martins, R., Bertim, C. R. & Wen, F. H. (1994) Lacrais de importncia mdica no Estado de So Paulo. Biologia e Aspectos Epidemiolgicos. So Paulo: Centro de Vigilncia Epidemiolgica. (Documento Tcnico, Secretaria de Estado da Sade de So Paulo)Prado, F. C., Ramos, J. & Ribeiro do Valle, J. (Ed.) (2001) Atualizao teraputica. So Paulo: Editora Artes Mdicas.So Paulo. Secretaria de Estado da Sade. (1993) Acidentes por animais peonhentos. Identificao, diagnstico e tratamento. So Paulo: Centro de Vigilncia Epidemiolgica. (Manual de Vigilncia Epidemiolgica)So Paulo. Secretaria de Estado da Sade. (1999) Profilaxia da raiva humana. So Paulo: Impressa Oficial do Estado de So Paulo. (Manual Tcnico do Instituto Pasteur N 4).

"O nico lugar onde sucesso vem antes do trabalho no dicionrio." Albert Einstein