Acionamentos Pneumático e hidráulico

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO ACADÊMICO JÚLIA DE CÁSSIA MIGUEL VIEIRA EDUCAÇÃO EM SAÚDE COM ABORDAGEM TRANSCULTURAL: o padrão alimentar do idoso indígena RECIFE 2013

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hidráulica

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM MESTRADO ACADMICO

    JLIA DE CSSIA MIGUEL VIEIRA

    EDUCAO EM SADE COM ABORDAGEM TRANSCULTURAL: o

    padro alimentar do idoso indgena

    RECIFE

    2013

  • 0

    JLIA DE CSSIA MIGUEL VIEIRA

    EDUCAO EM SADE COM ABORDAGEM TRANSCULTURAL: o

    padro alimentar do idoso indgena

    Dissertao apresentada ao Colegiado do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal de Pernambuco, para obteno do Ttulo de Mestre em Enfermagem.

    Linha de Pesquisa: Enfermagem e Educao em Sade nos Diferentes Cenrios do Cuidar Grupo de pesquisa: Sade do Idoso Orientadora: Prof. Dra. Mrcia Carrra Campos Leal

    RECIFE

    2013

  • JLIA DE CSSIA MIGUEL VIEIRA

    EDUCAO EM SADE COM ABORDAGEM TRANSCULTURAL: o

    padro alimentar do idoso indgena

    Dissertao aprovada em: 26 de fevereiro de 2013.

    ______________________________________

    Prof. Dra. Mrcia Carrra Campos Leal UFPE (Presidente)

    ________________________________________

    Prof. Dra. Telma Marques da Silva UFPE

    ________________________________________

    Prof. Dra. Silvana Maria Sobral Griz UFPE

    ________________________________________

    Prof. Dra. Jael Aquino UPE

    RECIFE

    2013

  • Dedico a Steven de Souza Pimentel, pelo companheirismo e fora em todas as etapas percorridas.

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradeo a Deus pelos dons e talentos recebidos, pelo cuidado e

    conforto em todos os momentos.

    A Steven de Souza Pimentel, companheiro de todas as horas, pelo incentivo e apoio

    desde a seleo, que apesar das dificuldades sempre acreditou que seria possvel.

    minha me, Maria Goreti Miguel Vieira, pelo exemplo de fora, humildade e

    bondade, essenciais na formao de um ser humano capaz de reconhecer s necessidades dos

    outros.

    minha famlia, irmos, tios primos, que apesar da distncia estiveram na torcida e

    em oraes.

    minha nova famlia em Recife, representada por Elita Teixeira de Souza e Jos

    Incio de Souza (in memorian), obrigada pelo apoio e carinho.

    minha orientadora, Prof. Dra. Mrcia Carrra, por todos os ensinamentos no

    somente acadmicos, mas tambm nos aspectos humanos, com carinho, compreenso e

    respeito, obrigada pelo exemplo, incentivo, fora e oraes.

    Prof. Dra. Ana Paula Marques, pelo apoio e acompanhamento em todo o processo

    de construo deste estudo.

    Prof. Dra. Eloine Alencar, inicialmente minha co-orientadora, pela ajuda antes

    mesmo de iniciar este processo, obrigada pelos ensinamentos.

    Ao Prof. Dr. Renato Athias, por sua contribuio desde a condio de bolsista eleita

    do Programa Internacional de Bolsas de Ps-Graduao da Fundao Ford- IFP.

    Ao Prof. Dr. Ednaldo Cavalcante pelo incentivo e colaborao na vivncia

    intercultural de ensino e cuidado em enfermagem.

    Aos Professores da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra pelos ensinamentos

    acerca da Enfermagem Gerontlogica, em nome do Prof. Dr. Joo Apstolo.

    equipe IFP representada pela Fundao Carlos Chagas no Brasil em nome da

    Prof. Dra. Flvia Rosemberg, e em New York representada pela Prof. Dra. Joan Dassin.

    Ao corpo docente do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem do Centro de

    Cincias da Sade da Universidade Federal de Pernambuco, em nome da Coordenao

    representada pela Prof. Dra. Cleide Maria Pontes e da Prof. Dra. Eliane Maria Ribeiro

    Vasconcelos, pelos ensinamentos e pelo direcionamento na construo de nossos trabalhos

    com qualidade.

  • Aos funcionrios da Casa de Sade do ndio - CASAI de Manaus, em nome do Sr.

    Severo Gamenha, sinceros agradecimentos.

    Aos idosos e familiares internados na CASAI no perodo da coleta, pelos

    ensinamentos acerca de seus valores culturais e humanos essenciais no desenvolvimento de

    uma prtica de enfermagem transcultural.

    s minhas amigas Patrcia Monteiro e Carmen Castro pelo apoio incondicional e por

    mostrar que verdadeiras amizades superam qualquer distncia fsica.

    s minhas novas amigas e companheiras de mestrado, Adriana, Ana Luzia, Danielle,

    Emily, Felicialle, Francimar, Giselle, Marlia e Suely, obrigada pelo carinho e

    compartilhamento das alegrias, tristezas e dificuldades que nos fortaleceram a cada dia.

    Agradeo em especial Danielle Alencar, pela amizade, companheirismo e

    compartilhamento dos novos conhecimentos acerca da gerontologia e pela construo

    conjunta de todas as etapas percorridas neste processo.

    Aos amigos e colegas bolsistas IFP pelos compartilhamentos e empenho na busca de

    uma sociedade mais justa e igualitria.

    A todos que contriburam direta e indiretamente para a concretizao deste trabalho,

    muito obrigada.

  • O caminho de Deus perfeito; a palavra do Senhor

    provada; ele escudo para todos os que nele se

    refugiam.

    (Bblia Sagrada, Livro dos Salmos captulo-18: 30)

  • VIEIRA, J.C.M. Educao em sade com abordagem transcultural: o padro alimentar do idoso indgena. Recife-PE: UFPE, 2013. 142 f. Dissertao (Mestrado em Enfermagem) Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, 2013.

    RESUMO

    A alimentao considerada fator essencial para manuteno da sade dos indivduos, sendo

    permeada por contextos culturais particulares a grupos populacionais distintos, que em

    situaes diferentes daquelas comumente vivenciadas, com a mudana de hbitos, podem

    interferir no processo sade doena. Considerando as particularidades do idoso indgena, o

    contexto alimentar em Instituies de Sade carece atender aspectos inerentes sua cultura,

    crenas e valores que permeiam o ato de alimentar-se, que apesar das influncias de outros

    povos, apresenta suas razes ligadas a tradies milenares. O estudo foi organizado conforme

    as normas do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal de

    Pernambuco em 4 captulos: reviso de literatura, mtodos e resultados do artigo de reviso e

    artigo original. O artigo de reviso teve como objetivo avaliar as evidncias disponveis

    acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em especial o indgena, cuja busca foi

    realizada nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade

    (LILACS), Literatura Internacional da rea Mdica e Biomdica (MEDLINE), Base de

    Dados em Enfermagem (BDENF), selecionados 13 artigos conforme critrios

    preestabelecidos. Os resultados mostraram estudos em diversos pases, porm nenhum

    voltado ao idoso indgena, estes apontam mudanas nos hbitos alimentares de idosos,

    associados principalmente a questes socioeconmicas e culturais, alm das mudanas

    ocorridas com a globalizao e a transio nutricional. O artigo original teve como objetivo

    avaliar o contexto cultural da alimentao de idosos indgenas. O estudo descritivo,

    transversal, com abordagem quantitativa, teve como local de estudo a Casa de Sade do ndio

    CASAI de Manaus no perodo de 90 dias com a participao de 30 idosos internados neste

    perodo. Utilizou-se para anlise dos dados estatstica descritiva mediante o Software

    Estatstico Livre R, com embasamento terico conceitual da Teoria do Cuidado Cultural

    proposto por Madeleine Leininger. Os resultados demonstram as novas conformaes acerca

    da viso de mundo e das dimenses das estruturas social e cultural, representada pela presena

    de elementos tecnolgicos, nova configurao religiosa, modos de vida, questes econmicas,

    educacionais e de ambiente. Neste contexto, cada fator oriundo do modelo Sunrise de

    Leininger demonstra como o ambiente e o contexto social e cultural direcionam o padro

  • alimentar do idoso seja na aldeia ou em Instituies de Sade. No aspecto geral da

    alimentao e nutrio na CASAI, os alimentos oferecidos so bem aceitos, porm

    apresentam-se parcialmente diferentes daqueles consumidos na aldeia, podendo estar

    relacionado tendncia de significativa parcela referenciar a diminuio do apetite aps

    internao e apresentar quadro de desnutrio segundo avaliao pelo ndice de massa

    corporal. Partindo destes resultados foi elaborado material informativo sobre o contexto

    cultural da alimentao de idosos indgenas voltados para melhoria do planejamento de

    cuidados de enfermagem transcultural. Conclui-se que o contexto alimentar dos idosos est

    intimamente arraigado sua cultura, porm apresenta mudanas nos hbitos alimentares com

    forte influncia da globalizao. Inerente sade, os pontos principais relacionam-se

    presena de doenas crnicas como hipertenso e diabetes, o alto consumo de acares e

    gorduras, diminuio do apetite aps internao e quadro de desnutrio.

    Descritores: Idoso. Populao indgena. Hbitos alimentares. Enfermagem transcultural.

    Educao em sade.

  • ABSTRACT

    The feed is considered essential factor to maintaining the health of individuals, being

    permeated by particular cultural contexts to different population groups, which in situations

    different from those commonly experienced with changing habits, may interfere with the

    health condition. Considering the peculiarities of the indigenous elderly, the feed context in

    Institutions of Health meet needs inherent aspects of their culture, beliefs and values that

    permeate the act of eating that despite the influences of other people, has its roots linked to

    ancient traditions. The study was organized according to the rules of the Graduate Program in

    Nursing, Federal University of Pernambuco in 4 chapters: literature review, methods and

    results of the literature review and original article. The review article aim was to evaluate the

    available evidence on the issue of food and nutrition elderly, especially the indigenous, whose

    search was conducted in the databases: Latin American and Caribbean Health Sciences

    (LILACS), Literature International medical and biomedical (MEDLINE), Database of

    Nursing (BDENF), selected 13 papers as established criteria. The results showed studies in

    several countries, but none facing the indigenous elderly, these suggested changes in the

    eating habits of the elderly, mainly associated socioeconomic and cultural issues, in addition

    to changes with globalization and the nutrition transition. The original article aim was to

    evaluate the cultural context of feeding elderly indigenous. The descriptive study, transversal,

    with a quantitative approach, had as local of study the Health House of Indian CASAI

    Manaus within 90 days with the participation of 30 elderly patients hospitalized during this

    period. Was used for data analysis descriptive statistics by Statistical Software R Free, with

    basement conceptual theoretical the Theory of Cultural Care proposed by Madeleine

    Leininger. The results show the new conformations about the worldview and dimensions of

    social and cultural structures, represented by the presence of technological elements, new

    religious setting, livelihoods, economic issues, educational and environment. In this context,

    each factor derived from Sunrise Model of Leininger demonstrates how the environment and

    the social and cultural context direct the feeding patterns of the elderly is in the village or in

    Health Institutions. In general aspect of food and nutrition in CASAI, foods offered are well

    accepted, but have partially different from those consumed in the village, which may be

    related to the tendency to cite significant portion decreased appetite after hospitalization and

    present framework of malnutrition as assessed by body mass index. From these results were

    prepared information materials about the cultural context of Indian food elderly facing better

  • planning of transcultural nursing care. We conclude that the context feed the elderly is closely

    rooted to their culture, but shows changes in eating habits with a strong influence of

    globalization. Inherent to health, the main points related to the presence of chronic diseases

    such as hypertension and diabetes, high consumption of sugars and fats, decreased appetite

    after hospitalization and framework of malnutrition.

    Descriptors: Aged. Indigenous population. Food habits. Transcultural nursing. Health

    education.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    REVISO DE LITERATURA

    Figura 1. Pirmide etria populacional indgena da regio norte do Brasil....................... 20

    Figura 2. Organizao do DSEI e Modelo Assistencial.................................................... 23

    Figura 3. Mapa do Brasil com localizao dos DSEI....................................................... 25

    Quadro 1. Etnias indgenas do Estado do Amazonas....................................................... 19

    Quadro 2. Principais marcos da legislao sobre Sade indgena no Brasil..................... 24

    MTODO

    Figura 1. Modelo Sunrise de Leininger e as dimenses da diversidade e universalidade

    do cuidado cultural............................................................................................................

    35

    ARTIGO 1

    Tabela 1. Artigos encontrados nas bases de dados LILACS, MEDLINE E BDENF..... 30

    Quadro 1. Sinopse dos artigos inclusos na reviso integrativa..........................................

    46

    ARTIGO 2

    Figura 1. Modelo Sunrise de Leininger............................................................................. 66

    Figura 2. Modelo Sunrise adaptado para o cuidado cultural indgena.............................. 69

    Figura 3. Padro alimentar de idosos indgenas segundo a frequncia de consumo......... 73

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ALCESTE - Anlise Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto

    BDENF Base de Dados em Enfermagem

    CASAI Casa de Sade do ndio

    DSEI Distrito Sanitrio Especial Indgena

    ENDEF - Estudo Nacional de Despesa Familiar

    FBS - Fundao Brasil Central

    FNS - Fundao Nacional de Sade

    FUNAI Fundao Nacional do ndio

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IFP International Fellowship Program / Programa Internacional de Bolsas de Ps-

    Graduao da Fundao Ford

    IMC ndice de Massa Corporal

    LILACS Literatura Latino Americana em Cincias da Sade

    MEDLINE Medical Literature and Retrieval System on Line

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PBE Prtica Baseada em Evidncias

    PNDS - Pesquisa Nacional sobre Demografia e Sade

    PNI Poltica Nacional do Idoso

    PNSN - Estudo Nacional sobre Sade e Nutrio

    PUC Pontifcia Universidade Catlica

    SESAI Secretaria Especial de Sade Indgena

    SISREG- Sistema de Regulao do SUS

    SUS Sistema nico de Sade

    SUSA - Servio de Unidades Sanitria

    TDUCC - Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural

    UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro

    UFPE Universidade Federal de Pernambuco

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .............................................................................................................. 14

    2 CAPTULO 1 - REVISO DE LITERATURA......................................................... 19

    2.1 Os idosos indgenas no Brasil ..................................................................................... 19

    2.2 Sade indgena no Brasil ............................................................................................ 22

    2.3 Alimentao e nutrio dos idosos indgenas brasileiros.......................................... 25

    2.4 O papel da enfermagem nos diversos cenrios do cuidar: uma abordagem transcultural

    27

    3 CAPTULO 2 - MTODO............................................................................................. 29

    4 CAPTULO 3 - ARTIGO DE REVISO..................................................................... 41

    5 CAPTULO 4- ARTIGO ORIGINAL.......................................................................... 61

    6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................ 83

    REFERNCIAS................................................................................................................ 85

    APNDICES...................................................................................................................... 93

    APNDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE......................... 93

    APNDICE B Termo de Responsabilidade do Pesquisador.......................................... 95

    APNDICE C Termo de Autorizao para Pesquisa DSEI Manaus............................. 96

    APNDICE D Termo de Autorizao para Pesquisa FUNAI Manaus......................... 97

    APNDICE E Instrumento de Coleta de Dados do Artigo Original ............................. 98

    APNDICE F Material Informativo nos moldes da Teoria de Leininger ................... 104

    ANEXOS............................................................................................................................. 121

    ANEXO A Instrumento de avaliao do rigor metodolgico dos artigos selecionados na reviso integrativa.........................................................................................................

    121

    ANEXO B Instrumento para classificao hierrquica das evidncias para avaliao dos estudos selecionados na reviso integrativa..............................................

    123

    ANEXO C Carta de Anuncia DSEI................................................................................ 124

    ANEXO D Carta de Anuncia FUNAI............................................................................. 125

    ANEXO E Parecer do Comit Nacional de tica em Pesquisa....................................... 126

    ANEXO F Normas de publicao da Revista de Nutrio PUC de Campinas ............ 129

    ANEXO G Normas de publicao da Revista de Enfermagem da UERJ ..................... 137

  • 14

    1 INTRODUO

    O envelhecimento populacional considerado um fenmeno mundial1. Estima-se

    que o nmero de pessoas com mais de 60 anos, em termos de proporo da populao global,

    aumentar de 11% em 2009 para 22% em 20502.

    Estudo realizado pelas Naes Unidas (2009) aponta que este acontecimento resulta

    da transio de alta para baixa fertilidade e a sucessiva reduo da mortalidade adulta,

    representando uma mudana demogrfica sem precedentes iniciada no mundo desenvolvido

    no sculo XIX e, de modo recente nos pases em desenvolvimento, os quais apresentam

    propenso ao clere crescimento no futuro prximo, devido ao menor tempo de adaptao s

    mudanas associadas a este fenmeno2.

    No Brasil, o quadro demogrfico vem evidenciando uma reduo no ritmo de cres-

    cimento populacional e alteraes na sua estrutura etria. Este processo de transio associado

    queda das taxas de mortalidade e fecundidade tem causado uma acelerada variao na estru-

    tura etria do pas, com diminuio da proporo de crianas e jovens, aumento da populao

    adulta e uma tendncia expressiva da elevao de idosos3.

    Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) apontam a projeo

    populacional brasileira para um aumento do nmero de idosos acima de 60 anos ou mais, com

    duplicao no perodo de 2000 a 2020, ao passar de 13,9 para 28,3 milhes, elevando-se em

    2050 para 64 milhes4. No estado do Amazonas, os dados referentes a este grupo populacio-

    nal mostram o aumento de 4,9% no ano 2000 para 6% em 20103.

    Neste cenrio, importante considerar que, o processo de envelhecimento apresenta

    mudanas especiais na sade do idoso, incluindo fatores de origem fisiolgica ou em

    decorrncia de outros fatores externos, o que pode interferir direta ou indiretamente na

    manuteno e promoo da sade desta populao.

    De tal modo, os idosos diferenciam-se conforme sua histria de vida, seu nvel de

    independncia funcional e necessidade de servios de sade, onde a avaliao deve estar

    embasada no processo de envelhecimento e de suas particularidades de acordo com a

    realidade sociocultural em que vivem5. No caso de idosos com culturas distintas,

    especialmente os indgenas, reconhecer as mudanas peculiares ao envelhecimento e aspectos

    inerentes cultura fundamental na prestao dos cuidados de sade.

    Em relao aos servios de sade prestados ao idoso indgena, estes so realizados

  • 15

    nos municpios amazonenses atravs do Subsistema de Ateno Sade Indgena, organizado

    na forma de Distrito Sanitrio Especial Indgena (DSEI), disposto de uma rede de servios de

    sade articulado com o Sistema nico de Sade (SUS), composto por plos-base ou posto de

    sade, e apresenta como apoio em alguns municpios as Casas de Sade do ndio (CASAI).

    Entretanto, para execuo de servios de sade a estes idosos, a ausncia de recursos

    humanos representa uma das principais barreiras de acesso, alm das barreiras geogrficas,

    financeiras, organizacionais, informacionais e culturais, que expressam o tipo da oferta que,

    de modo conexo, operam promovendo ou dificultando a possibilidade destas pessoas

    utilizarem os servios de sade6.

    No caso das comunidades indgenas amazonenses, estas apresentam particularidades

    geogrficas que atuam dificultando o acesso aos servios de sade, devido s distncias

    percorridas em horas ou dias entre os municpios e comunidades. Alm disso, grande parte

    destas apresenta deslocamento majoritariamente por via fluvial e em alguns casos por via

    area.

    Nesse contexto, considerando a diversidade tnica no Estado do Amazonas e a

    misso da CASAI em direcionar suas atenes para populao indgena, de fundamental

    importncia que a equipe de enfermagem no direcione suas aes apenas para idosos

    acometidos por doenas em geral, mas atue com uma viso holstica no cuidado ao ser

    humano, com suas particularidades e necessidades individuais e coletivas, respeitando suas

    crenas e costumes como um todo.

    Durante vivncia profissional em uma CASAI do interior do Amazonas, observou-se

    que alguns idosos indgenas, ao chegar Instituio recusavam a alimentao, o que

    provavelmente contribua para o retardamento do processo de recuperao da sade e de seu

    estado geral. Em conversas individuais sobre tal situao, muitos informaram que alm da

    interferncia da doena no gostavam da comida de branco, por isso no se alimentavam,

    sendo necessria a adaptao de cardpio de acordo com a disponibilidade dos alimentos no

    municpio.

    Acredita-se que o processo de sada das aldeias indgenas para a cidade de Manaus

    pode contribuir para diversas alteraes no contexto alimentar, interferindo no processo

    sade-doena do idoso, pois alm de estar longe de seu povo, pode encontrar diversos

    obstculos que impeam o desenvolvimento de suas prticas sociais e culturais.

  • 16

    No mbito da sade, a alimentao considerada um fator imprescindvel para

    promover, manter e/ou recuperar a sade em todas as fases da vida, com variao das

    necessidades nutricionais de acordo com sexo, faixa etria, atividade fsica, estado fisiolgico

    ou patolgico7.

    Dentre as medidas propostas para a assistncia ao idoso no aspecto nutricional

    recomenda-se o acompanhamento da aceitao da dieta diariamente, observao de alteraes

    de peso associada ingesto alimentar, favorecendo a adequao da dieta e intervenes

    necessrias para o envelhecimento saudvel1.

    Com o processo de envelhecimento, sendo este normal e fisiolgico, surgem

    alteraes no organismo que podem alterar as necessidades nutricionais, podendo agravar-se

    pelo surgimento de doenas, interferncias medicamentosas, problemas sociais e

    psicolgicos7.

    Segundo pesquisadores de referncia para sade indgena, ainda sabe-se pouco sobre

    o perfil nutricional do indgena brasileiro8-9, o que refora a necessidade de investigar o

    padro alimentar e nutricional do idoso indgena, bem como suas interferncias na

    recuperao de sua sade, utilizando de uma abordagem transcultural que possa fornecer

    subsdios que auxiliem a enfermagem na prestao da assistncia e adequao dos processos

    de educao em sade para a referida populao.

    Face s peculiaridades ocorridas no processo de envelhecimento, e a diversidade da

    populao indgena, em especial o idoso, estudos relacionados questo alimentar tornam-se

    importantes para entender o processo sade-doena e promover o adequado cuidado de

    enfermagem, utilizando como ferramenta principal a educao em sade.

    Nesse nterim, a educao e a sade atuam como meios de produo e emprego de

    conhecimentos voltados ao desenvolvimento de uma sociedade, que interligados, seja em dis-

    tintos nveis de ateno sade ou na aquisio contnua de conhecimentos pelos profissio-

    nais de sade, ocorre um aproveitamento mesmo que inconscientemente de um ciclo perma-

    nente de ensino e aprendizagem10.

    Partindo desse pressuposto, a CASAI representa um cenrio onde a enfermagem

    alm de reconhecer as particularidades dos pacientes, ao mesmo tempo pode utilizar os co-

    nhecimentos adquiridos na melhoria dos cuidados prestados em um ciclo constante de educar

    e cuidar.

  • 17

    Para a compreenso deste estudo ser utilizado como embasamento a Teoria Trans-

    cultural de Leininger11, que enfatiza a importncia para o enfermeiro em reconhecer o signifi-

    cado do cuidado cultural, os mtodos de cuidado caractersticos de cada cultura e como os fa-

    tores culturais so capazes de influenciar no cuidado ao indivduo.

    A teoria transcultural valoriza a importncia que os fatores culturais desempenham

    no ser humano, pois se o idoso for cuidado de forma incongruente em relao aos seus pa-

    dres e crena poder apresentar sinais de conflitos culturais, frustrao, estresse e preocupa-

    es de ordem moral e tica12.

    Para o alcance do cuidado cultural, o processo de educar em sade se torna a

    ferramenta fundamental para a implementao e adequao dos cuidados de enfermagem,

    sendo importante que os profissionais no mbito da educao em sade, valorizem o modo de

    ser individual e coletivo das pessoas, respeitando seus pontos de vista e seu modo de viver e

    preservar a sade, bem como os aspectos simblicos de seu convvio13.

    A equipe de enfermagem atravs de suas aes prticas mantm uma importante

    aproximao com o paciente submetido a cuidados em instituies de sade14. Portanto, este

    estudo poder auxiliar o Enfermeiro no reconhecimento das especificidades desta populao,

    contribuindo para a melhor assistncia e direcionamento das prticas de educao em sade.

    Dentre os aspectos prioritrios para os cuidados de enfermagem em nutrio,

    importante a verificao de alteraes no paladar e olfato, que podem ocorrer em decorrncia

    da reduo do nmero e mudanas na funo de papilas gustativas, atrofia das fibras olfatrias

    que recobrem a mucosa nasal, reduo da secreo salivar, uso de medicamentos, carncia

    nutricional e higiene oral imprpria, sendo recomendados os seguintes cuidados15:

    Com relao s alteraes papilares e das fibras olfatrias, deve-se salientar a

    importncia de alimentos com bom tempero;

    A diminuio da secreo salivar pode ser aliviada com ingesto frequente de

    lquidos e bochechos com gua quando da sensao de secura bucal;

    A diversificao alimentar evita carncias nutricionais e os regimes alimentares

    devem ser orientados considerando-se o hbito de pacientes e a dificuldade em

    modifica-los;

    A higiene oral (boca, dentes e/ou prteses) deve ser estimulada para proporcionar

    uma sensao agradvel de frescor oral e, estimular o apetite 15.

    Nesse nterim, enfatiza-se que, o idoso indgena apresenta hbitos alimentares parti-

    culares relacionados sua cultura, onde a alimentao est relacionada a crenas, valores,

  • 18

    costumes, rituais, interao social, e mudanas ocorridas podem alterar o padro alimentar e a

    manuteno e recuperao da sade do idoso. Mediante o exposto, este estudo apresenta a se-

    guinte pergunta condutora: Qual o contexto cultural alimentar do idoso indgena na CASAI

    Manaus?

    Desse modo, o estudo apresenta como objetivo geral: avaliar o contexto cultural da

    alimentao de idosos indgenas na CASAI de Manaus; e como objetivos especficos: descre-

    ver o padro alimentar na CASAI; identificar os hbitos alimentares dos idosos na CASAI e

    na comunidade; descrever o contexto cultural alimentar segundo a teoria do cuidado cultural;

    verificar as condies de sade; avaliar o estado nutricional.

    De acordo com as normas do Programa de Ps-graduao em Enfermagem da Uni-

    versidade Federal de Pernambuco (UFPE), a dissertao foi estruturada em quatro captulos,

    sendo apresentados dois artigos: um de reviso integrativa da literatura e outro do artigo ori-

    ginal, a serem encaminhados para publicao em peridico cientfico.

    O primeiro captulo apresenta a reviso da literatura com abordagem geral sobre o

    ndio brasileiro enfatizando o idoso, aspectos polticos da sade indgena, o cenrio da ali-

    mentao e nutrio indgena e o papel da enfermagem transcultural no processo de cuidado e

    educao em sade em diferentes contextos culturais.

    O segundo captulo descreve o mtodo de forma detalhada, utilizado nos dois artigos

    cientficos.

    O terceiro captulo refere-se ao artigo de reviso Padro alimentar de idosos em di-

    ferentes contextos culturais submetido Revista de Nutrio da Pontifcia Universidade Ca-

    tlica (PUC) de Campinas, cujo objetivo foi avaliar as evidncias disponveis na literatura

    acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em especial o indgena.

    O quarto captulo corresponde ao artigo original: Alimentao do idoso indgena sob

    a tica da enfermagem transcultural organizado nos moldes da Revista de Enfermagem da

    Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), cuja submisso ser realizada aps

    aprovao pela banca examinadora.

  • 19

    2 CAPTULO 1 - REVISO DA LITERATURA

    2.1 Os idosos indgenas no Brasil

    No Brasil existem mais de duzentas etnias indgenas, disseminadas por quase todos

    estados brasileiros, cujos povos so culturalmente distintos em comparao sociedade

    nacional e entre si, com cosmologias, dialetos, meios de subsistncia, organizao social e

    sistemas polticos prprios16.

    Discutir sobre os ndios brasileiros significa falar de diversidade de povos, cujos

    habitantes originariamente ocupavam o territrio conhecido nos dias atuais como continente

    americano, ocupao que se data de milhares de anos antecedentes invaso europeia,

    destacando-se alguns critrios mais aceitos de autodefinio entre esses povos, ressaltando que

    estes no so singulares e nem excludentes17:

    Continuidade histrica com sociedades pr-coloniais; Estreita vinculao com o

    territrio; Sistemas sociais, econmicos e polticos bem definidos; Lngua, cultura e

    crenas definidas; Identificar-se como diferente da sociedade nacional e; Vinculao

    ou articulao com a rede global dos povos indgenas.

    De acordo com dados da Fundao Nacional do ndio FUNAI (2012), a populao

    indgena brasileira representa cerca de 0,4 da populao nacional com 817.000 ndios,

    somente no Amazonas concentra-se cerca de 20% totalizando 168.680 ndios, distribudos na

    rea urbana em 34.302, rural em 134.37, pertencentes a diversos grupos tnicos, em mdia

    66 etnias indgenas, conforme figura abaixo18:

    Quadro 1. Etnias indgenas do Estado do Amazonas

    Apurin Iss Katawixi Marimam Parintintin Tuyca Arapso Jarawara Katukina Marubo Paumari Waimiri-Atroari Aripuan Juma Katwen Matis Pirah Waiwi Banav-Jaf Juriti Kaxarari Mawaina Pira-tapya Wanana Baniwa Kaixana Kaxinaw Maw Sater-Maw Warekena Barasna Kambeba Kayuisana May Surina Wayampi Bar Kanamari Kobema Mayoruna Tarina Xeru Deni Kanamanti Kokama Miranha Tenharin Yamamadi Desana Karafawyna Korubo Miriti Tor Yanomami Himarim Karapan Kulina Munduruku Tukano Zuruah Hixkaryana Karipuna Maku Mura Tukna

    Fonte: FUNAI, 2012.

  • 20

    Em 1991, a populao indgena praticamente era dividida entre a proporo de crian-

    as e adolescentes (0 a 14 anos de idade) e a proporo de adultos (15 a 64 anos de idade),

    enquanto os idosos (65 anos ou mais de idade) representavam 4,7% da populao total de in-

    dgenas19. Dados recentes apresentam a pirmide etria indgena da regio norte20, cuja base

    larga e vai se reduzindo com a idade, em um arqutipo que conjetura suas altas taxas de fe-

    cundidade e mortalidade, bastante influenciadas pela populao rural.

    Figura 1 Pirmide populacional indgena da Regio Norte

    Fonte: IBGE, 2010.

    O idoso indgena est amparado por polticas voltadas ateno aos povos indgenas

    em geral21, e pela Poltica Nacional do Idoso22, de acordo com as normas que regulamentam

    esta lei para o idoso brasileiro.

    Segundo a Poltica Nacional do Idoso considera-se idoso, para os efeitos desta Lei, a

    pessoa maior de sessenta anos de idade, conforme o artigo 3 que rege-se pelos seguintes

    princpios:

    I - a famlia, a sociedade e o estado tm o dever de assegurar ao idoso todos os direi-

    tos da cidadania, garantindo sua participao na comunidade, defendendo sua digni-

    dade, bem-estar e o direito vida;

  • 21

    II - o processo de envelhecimento diz respeito sociedade em geral, devendo ser ob-

    jeto de conhecimento e informao para todos;

    III - o idoso no deve sofrer discriminao de qualquer natureza;

    IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatrio das transformaes a serem

    efetivadas atravs desta poltica;

    V - as diferenas econmicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradies

    entre o meio rural e o urbano do Brasil devero ser observadas pelos poderes pbli-

    cos e pela sociedade em geral, na aplicao desta Lei22.

    A Poltica Nacional de Ateno Sade dos Povos Indgenas integra a Poltica Naci-

    onal de Sade, convencionada s determinaes das Leis Orgnicas da Sade com as da

    Constituio Federal, que reconhecem aos povos indgenas suas especificidades tnicas e cul-

    turais e seus direitos territoriais. A implementao desta poltica remete adoo de um mo-

    delo complementar e distinto de organizao dos servios direcionados proteo, promoo

    e recuperao da sade, que garanta aos ndios o exerccio de sua cidadania nessa rea21.

    Apesar da ausncia na literatura especializada sobre a importncia do ndio para a

    sociedade brasileira, suas contribuies iniciaram-se aps a chegada dos portugueses, com as

    orientaes tcnicas sobre sobrevivncia na selva e enfrentamento de seus perigos, alm de

    suas influncias culturais e religiosas incluindo seus conhecimentos milenares da medicina

    tradicional e mtodos de subsistncia. Tais contribuies denotam a importncia desses povos

    no somente na poca da colonizao, mas atualmente como atores que preservam seus sabe-

    res e na manuteno do equilbrio ecolgico to considerado pelo mundo inteiro17.

    Na cultura indgena, o milenar conhecimento dos mais velhos (idosos) destacado

    por seus domnios acerca do conhecimento de prticas teraputicas para o tratamento de do-

    enas, sendo considerados os guardies das tradies indgenas em seu grupo tnico, devido

    seus vrios anos de convvio com muitas pessoas e por serem dotados de dons superiores que

    permitem a cura de males e prticas de equilbrio da natureza23.

    Neste cenrio o papel do idoso na cultura indgena, representa o respeito por parte

    dos mais jovens que se deve suas experincias e conhecimentos adquiridos de gerao em

    gerao, e sua contribuio para harmonia de seu povo.

    Nas ltimas dcadas houve um aumento nos movimentos de reivindicao e

    conquista de direitos indgenas, favorecendo o seguimento de novos caminhos das polticas

    voltadas para os povos indgenas, apoiadas no modelo da particularidade da diferena, da

    interculturalidade e da apreciao da diversidade8.

  • 22

    Tais polticas vm sendo desenvolvidas no mbito das polticas especificas da

    populao indgena, mas sem muita nfase para as necessidades humanas e culturais, menor

    ainda no que se refere ao idoso, o que demonstra a necessidade de intensificar os modelos de

    cuidados em sade que busquem a interao entre usurios dos servios de sade para atender

    de forma holstica esta populao.

    2.2 Sade indgena no Brasil

    A partir do incio do sculo XX, especificamente em 1918 inicia-se o processo de

    criao e implantao de medidas voltadas ao cuidado da populao indgena, comeando

    com a criao do Servio de Proteo aos ndios. Todavia, somente em 1940, surgiram as

    primeiras tentativas de proporcionar aos povos indgenas servios de sade, partindo da

    iniciativa de Noel Nutels, que buscou reconhecer a realidade desta populao por meio da

    expedio Roncador-Xingu, organizada pela Fundao Brasil Central (FBC) 24.

    Nutels criou em 1952, um plano para defesa do ndio brasileiro contra a tuberculose,

    identificada como um dos principais agravos de sade, destacando a importncia da criao

    de barreiras sanitrias ao redor dos territrios indgenas. Este plano foi vigorado pelo

    Ministrio da Sade (MS) em 1956, denominado Servio de Unidades Sanitria (SUSA),

    vinculado ao Servio Nacional de Tuberculose24.

    A partir deste perodo at 1990, a sade indgena passou por transies, at a regu-

    lamentao pelo Decreto n. 3.156, de 27 de agosto de 1999, sobre as condies de assistncia

    sade, e pela Medida Provisria n. 1.911-8, acerca da organizao da Presidncia da Rep-

    blica e dos Ministrios, incluindo a transferncia de recursos humanos e outros bens destina-

    dos s atividades de assistncia sade da FUNAI para a Fundao Nacional de sade

    (FUNASA), e pela Lei n 9.836/99, de 23 de setembro de 1999, que constitui o Subsistema de

    Ateno Sade Indgena no mbito do SUS, conforme figura abaixo24.

  • 23

    Figura 2. Organizao do DSEI e Modelo Assistencial

    Fonte: Ministrio da Sade, 2002.

    Para o alcance dos propsitos da Poltica Nacional de Ateno Sade dos Povos

    Indgenas so estabelecidas as seguintes diretrizes, com objetivo de orientar a definio de

    ferramentas de planejamento, implementao, avaliao e controle das aes de ateno sa-

    de dos povos indgenas:

    Organizao dos servios de ateno sade dos povos indgenas na forma de Dis-

    tritos Sanitrios Especiais e Plos-Base, no nvel local, onde a ateno primria e os

    servios de referncia se situam;

    Preparao de recursos humanos para atuao em contexto intercultural;

    Monitoramento das aes de sade dirigidas aos povos indgenas;

    Articulao dos sistemas tradicionais indgenas de sade;

    Promoo do uso adequado e racional de medicamentos;

    Promoo de aes especficas em situaes especiais;

    Promoo da tica na pesquisa e nas aes de ateno sade envolvendo comuni-

    dades indgenas;

    Promoo de ambientes saudveis e proteo da sade indgena;

    Controle social21.

  • 24

    Segue no quadro abaixo16 os principais marcos das legislaes para a populao

    indgena no Brasil. A partir de 2012 a sade indgena passa por transio na sua gesto da

    FUNASA para a Secretaria Especial de Sade Indgena (SESAI) do Ministrio da Sade.

    Quadro 2. Principais marcos da legislao sobre sade indgena no Brasil

    Temas /Documentos Assuntos

    Decreto 23 /1991 Transfere da Funai para o Ministrio da Sade a responsabilidade pela coordenao das aes de sade para populao indgena.

    Decreto 1.141 / 1994 Constitui a Comisso intersetorial (CSI) e retorna a Coordenao da Sade indgena para Funai, sendo esta responsvel pela questo curativa, e o Ministrio da Sade pelas aes de preveno (revoga o decreto 23 / 1991)

    Resoluo 196 / 1996 do Conselho Nacional de Sade

    Aprova diretrizes e normas regulamentadoras sobre pesquisas com seres humanos, indicando a especificidade da populao indgena.

    Lei 9.836 (Lei Arouca) Institui no mbito do SUS, o Subsistema de Ateno Sade indgena, criando regras de atendimento diferenciado e adaptado s particularidades sociais e geogrficas de cada regio.

    Portaria 852 /1999 do Ministrio da Sade

    Cria os Distritos Sanitrios Especiais Indgenas (DSEI)

    Portaria 1.163 / 1999 do Ministrio da Sade

    Dispe sobre as responsabilidades na prestao de assistncia sade dos povos indgenas no Ministrio da Sade.

    Portaria 479 / 2001 da Funasa

    Estabelece diretrizes para elaborao de projetos de estabelecimento de sade, abastecimento de gua, melhorias sanitrias e esgotamento sanitrio, em reas indgenas.

    Portaria 254/2002 do Ministrio da Sade

    Aprova a Poltica Nacional de Ateno Sade dos povos indgenas.

    Portaria 2.405 /2002 do Ministrio da Sade

    Cria o Programa de Promoo da Alimentao Saudvel em comunidades indgenas.

    Portaria 69 / 2004 da Funasa

    Dispe sobre a criao do Comit consultivo da Poltica de Ateno Sade dos Povos indgenas, vinculado Funasa.

    Fonte: Santos, 2009.

  • 25

    No atual modelo de ateno sade indgena, os DSEI esto divididos em 34 por

    todo o pas, respeitando a distribuio geogrfica e particularidades tnicas da populao,

    conforme figura abaixo21.

    Figura 3. Mapa do Brasil com localizao dos DSEI

    Fonte: Ministrio da Sade, 2002.

    Destaque para os DSEI pertencentes ao Estado do Amazonas, conforme localizao

    no mapa: 5 - Alto Rio Purus - AC/AM; 6 - Alto Rio Negro AM; 7 - Alto Rio Solimes

    AM; 13- Vale do Javari AM; 18- Manaus AM; 22- Mdio Rio Purus AM; 23- Parintins

    - AM/PA; 25- Porto Velho - RO/AM; 29- Mdio Rio Solimes e Afluentes AM; 34-

    Yanomami - RR/AM.

    2.3 Alimentao e nutrio dos idosos indgenas brasileiros

    Tempos atrs, para a sua subsistncia, os povos indgenas utilizavam da agricultura,

    caa, pesca e coleta, porm, com a influncia das organizaes expansionistas, surgiram

    novos padres econmicos, restries territoriais e outros fatores que contriburam para

    expressiva mudana em sua subsistncia, resultando na diminuio e dficit no padro

    alimentar8.

  • 26

    Nas dcadas de 1970 a 1990 os trs principais estudos de pesquisas nacionais no

    incluram a populao indgena como segmento de anlise especfica, ocorridos no perodo de

    1974 a 1975 o Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF), em 1989 o Estudo Nacional

    sobre Sade e Nutrio (PNSN) e em 1996 a Pesquisa Nacional sobre Demografia e Sade

    (PNDS)8.

    A partir dos anos 70 surgiu a realizao de vastos e minuciosos estudos sobre as

    condies de alimentao e nutrio da populao brasileira, porm no ocorreu semelhante

    para os indgenas, j que atualmente o problema alimentar e nutricional um assunto

    fundamental das discusses do setor indgena, com amplo aparecimento nos crculos da

    mdia. Entretanto, apesar da falta de levantamentos mais abarcantes, ocorreu nos ltimos anos

    um acentuado aumento no nmero de investigaes sobre as questes nutricionais dos povos

    indgenas no pas16.

    Como avano neste campo, foi realizado entre 2008-2009, o I Inqurito Nacional de

    Sade e Nutrio dos Povos indgenas, com o objetivo de descrever a situao alimentar e

    nutricional e fatores determinantes em crianas < de 60 meses e mulheres de 14 a 49 anos de

    idade. Alm disso, nos ltimos anos foram realizados estudos relacionados questo

    nutricional de crianas, com investigao da sade e nutrio25-27. Outros estudos, neste

    mbito, avaliaram o crescimento fsico, perfil nutricional e o uso do ndice de Massa Corporal

    (IMC) na avaliao do estado nutricional de adultos28-29.

    O resultado dos estudos com crianas indgenas evidenciou graves quadros de

    anemia, desnutrio, baixa estatura para idade, baixo peso, cuja introduo de alimentos

    industrializados e mudanas culturais no mbito alimentar so apontadas como fatores

    desencadeantes para esse conjunto30-33. Em relao aos adultos, a maioria dos estudos remete

    para a questo do sobrepeso e obesidade, bem como os riscos para doenas metablicas,

    devido s constantes modificaes nos estilos de vida tradicionais e suas formas de

    subsistncia34-36.

    Em relao aos idosos indgenas, os dados so escassos, j que a maioria dos estudos

    tem retratado o perfil alimentar e nutricional de crianas, que apresentaram e ainda

    apresentam agravantes considerados como riscos para a sade, principalmente quando

    comparados a indicadores no mbito nacional.

    O conhecimento do perfil epidemiolgico em mudana dos povos indgenas,

    ressaltando a imensa diversidade tnica, de fundamental importncia para dirigir a

  • 27

    organizao, planejamento e melhoria da qualidade dos servios de sade, ainda focalizados

    nas doenas, especialmente as infecciosas e parasitarias, por questes histricas e

    contribuio na morbidade e mortalidade indgena16.

    2.4 O papel da enfermagem nos diversos cenrios do cuidar: uma abordagem

    transcultural

    A Enfermagem no mbito de seu exerccio profissional vem desempenhando

    importante papel nos processos de manuteno e recuperao da sade da populao

    brasileira, por ser uma profisso privilegiada no sentido de reconhecer os diversos contextos

    de insero dos indivduos, seja de forma individual ou coletiva, evidenciando que os

    conhecimentos relacionados a esta cincia precisam ser amplamente difundidos e

    aprofundados a cada dia, considerando as diversidades culturais de cada povo.

    No cenrio da sade indgena, salienta-se a riqueza em sua diversidade cultural17,

    que significa atualmente o alicerce em defesa de seus direitos e orgulho de pertencimento

    legtimo, quando a cultura no se refere ao nvel de interao com a sociedade nacional, mas

    com o particular modo de viso de mundo, no mbito social, poltico, econmico e espiritual.

    Neste aspecto, destaca-se a Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado

    Cultural (TDUCC) de Madeleine Leininger, que criou o termo enfermagem transcultural,

    considerando distinta da antropologia mdica e demais disciplinas, por estar enfocada em

    culturas diversas no cuidado cultural11.

    Mediante seus estudos, Leininger utilizou estes conceitos para embasar a teoria (cultu-

    ra, valores culturais, cuidado de enfermagem culturalmente diverso, etnocentrismo, generali-

    zao, esteretipo, congruncia cultural, etnoenfermagem e enfermagem transcultural)11.

    No mbito do cuidado ao idoso imprescindvel a interao com o paciente, visando

    compreenso e conhecimento sobre a sua maneira de viver, inclusive de seus familiares e/ou

    indivduos envolvidos no processo. Este direcionamento para a prtica gerontolgica baseada

    pela multiplicidade dos princpios culturais, defendendo-os como as muitas dimenses de sua

    vivncia, incluindo o seu meio de convvio, viabilizam um melhor desenvolvimento do cuidar

    em enfermagem37.

    fundamental a compreenso de que o cuidado cultural, uma vez que cada povo

    tem suas maneiras particulares de cuidar, sendo fundamental para uma assistncia adequada

  • 28

    que a enfermagem avalie as condutas de cuidados culturalmente competentes. Assim, a teoria

    de Leininger aplicvel, pois tem como objetivo o conhecimento da natureza, essncia, fins

    sociais, assim como o desenvolvimento e melhoria do cuidado de enfermagem, que tem fun-

    es culturais peculiares e globais38-39.

    Este processo teraputico eficiente culturalmente organizado e referenciado pelas

    necessidades do indivduo, podendo ser validado de acordo com as individualidades das pes-

    soas, pois as culturas tm seu modo tpico de conduta em relao ao cuidado, que habitual-

    mente notrio pelos prprios integrantes, mas comumente desconhecido por enfermeiras de

    outras culturas12.

    A diversidade cultural no processo de cuidar do idoso constitui-se em valorizar os

    costumes disseminados por cada povo, onde estes esto compenetrados de maneira decisiva

    em cada grupo tnico sendo muito complexa sua erradicao, pois os grupos desenvolvem as-

    pectos similares unidos sua histria, lngua e aos costumes, alm de habitualmente parti-

    lhar de modo comum de suas crenas sobre o envelhecimento40.

    Com base nesta teoria, a enfermagem pode desempenhar suas atividades profissio-

    nais e adapt-las ao contexto em que vivem os idosos indgenas, auxiliando-os a expor seus

    anseios e aflies, compartilhando os fatores que podem contribuir para as alteraes negati-

    vas em seu padro alimentar e nutricional e, adotar estratgias que promovam o seu bem-

    estar, uma vez que,

    Para uma boa prxis do cuidado de sade, alm da teoria e da filosofia meramente

    ilustrativa, que por longas dcadas ocupar a busca do saber cientfico na educao

    em enfermagem demanda levar em considerao aspectos do contexto ambiental,

    das pessoas, dos fenmenos envolvidos e das culturas41.

    Portanto, reconhecer as bases culturais da populao indgena, em particular no

    aspecto alimentar e nutricional, torna-se vivel as prticas de sade e educao voltadas

    realidade do idoso indgena.

  • 29

    3 CAPTULO 2 MTODO

    3.1 Primeiro Artigo - Padro alimentar de idosos em diferentes contextos culturais

    Neste captulo sero apresentados os procedimentos metodolgicos realizados na

    construo da reviso integrativa. A reviso integrativa apresenta como objetivo a anlise de

    pesquisas relevantes como suporte para a tomada de deciso e a melhoria da prtica clnica,

    permitindo a sntese do conhecimento de um dado assunto, bem como apontar lacunas que

    necessitam serem preenchidas com a realizao de novos estudos42.

    Para construo foram utilizadas as seguintes etapas43:

    1. Escolha do tema;

    2. Definio da hiptese e objetivos do estudo;

    3. Definio de critrios de incluso e excluso;

    4. Definio das informaes a serem extradas dos artigos selecionados;

    5. Busca na literatura, avaliao dos estudos, anlise e discusso dos resultados;

    6. Apresentao da reviso integrativa.

    Para direcionamento do estudo formulou-se a seguinte pergunta norteadora: quais as

    evidncias disponveis na literatura acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em es-

    pecial da populao indgena, e qual a sua contribuio para a prtica do cuidado em enfer-

    magem?

    Para seleo dos artigos foram utilizadas trs bases de dados: Literatura Latino-

    Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS), Literatura Internacional da rea

    Mdica e Biomdica (MEDLINE), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), utilizando os

    descritores extrados dos Descritores em Cincias da Sade (DeCS) disponvel na Biblioteca

    Virtual em Sade (BVS): idoso, hbitos alimentares, populao indgena, cuidados de enfer-

    magem. Para busca na base de dados MEDLINE utilizou-se em substituio ao descritor po-

    pulao indgena o descritor ndios sul-americanos, devido o no reconhecimento do pri-

    meiro descritor citado na base citada.

    Os critrios de incluso dos artigos para esta reviso integrativa foram: artigos que

    abordassem a temtica sobre alimentao e nutrio de idosos em diferentes culturas, artigos

    publicados em ingls, espanhol e portugus, publicados nos ltimos 20 anos (1991-2011).

  • 30

    A busca na literatura foi realizada atravs de cruzamento em pares dos descritores, uti-

    lizando a ferramenta descritor de assunto, na seguinte ordem: idoso and hbitos alimenta-

    res, idoso and populao indgena, idoso and ndios sul-americanos, idoso and cuidados de

    enfermagem, hbitos alimentares and populao indgena, hbitos alimentares and ndios sul-

    americanos e hbitos alimentares and cuidados de enfermagem.

    Os artigos foram pr-selecionados a partir do ttulo e resumo, e a seleo final obede-

    ceu aos critrios de incluso preestabelecidos, conforme descrio na tabela abaixo:

    Tabela 1. Artigos encontrados nas Bases de Dados LILACS, MEDLINE E BDENF,

    2011.

    Base de da-

    dos

    Artigos

    encontrados

    Artigos

    selecionados

    Artigos

    repetidos

    Artigos

    excludos

    Artigos

    inclusos

    LILACS 366 57 0 49 08

    MEDLINE 5498 56 01 56 05

    BDENF 02 0 0 0 0

    Total 5866 113 01 105 13

    Foram utilizados para avaliar a qualidade dos estudos selecionados dois instrumentos:

    o primeiro adaptado do Critical Apppraisal Skills Programme (CASP)44 Programa de habi-

    lidades em leitura crtica, integrante do Public Health Resource Unit (PHRU). O instrumen-

    to apresenta 10 itens (mximo 10 pontos): 1) objetivo; 2) adequao metodolgica; 3) apre-

    sentao dos procedimentos tericos e metodolgicos; 4) seleo da amostra; 5) procedimento

    para a coleta de dados; 6) relao entre o pesquisador e pesquisados; 7) considerao dos as-

    pectos ticos; 8) procedimento para a anlise dos dados; 9) apresentao dos resultados; 10)

    importncia da pesquisa. Os resultados de classificao apresentam os seguintes escores: 06 a

    10 pontos (boa qualidade metodolgica e vis reduzido), e mnima de 5 pontos (qualidade me-

    todolgica satisfatria, porm com risco de vis aumentado). A avaliao foi realizada em pa-

    res, cujos artigos selecionados neste estudo apresentaram escore entre 6 e 10.

    O segundo instrumento foi a Classificao Hierrquica das Evidncias para Avaliao

    dos Estudos45, que define os nveis de evidncia destes: 1) reviso sistemtica ou metnalise;

    2) ensaios clnicos randomizados; 3) ensaio clnico sem randomizao; 4) estudos de coorte e

    de caso-controle; 5) reviso sistemtica de estudos descritivos e qualitativos; 6) nico estudo

  • 31

    descritivo ou qualitativo; 7) opinio de autoridades e/ou relatrio de comits de especialida-

    des. Os estudos includos classificaram-se entre os nveis 5 a 6.

    Aps avaliao com os instrumentos acima citados foram selecionados 13 artigos. Pa-

    ra a organizao e coleta dos dados dos artigos inclusos na reviso integrativa, elaborou-se um

    instrumento composto pelos seguintes itens: Ttulo do artigo, Autoria, Revista/Ano, Fon-

    te/Idioma, Estudo realizado, Resultados, Concluses e recomendaes.

  • 32

    3.2 Segundo Artigo - Alimentao do idoso indgena sob a tica da enfermagem

    transcultural

    A pesquisa foi desenvolvida e organizada com base no modelo de estudos

    quantitativos propostos por Polit e Beck (2011)42, seguindo uma sequncia de etapas lineares

    e regulares dividida em cinco fases. A primeira fase de conceituao do estudo foi descrita no

    captulo 1 (introduo) e 2 (reviso da literatura), e da segunda a quinta fase foram descritas

    no captulo 3 (metodologia) e 4 (artigo original).

    3.2.1Delineamento da pesquisa

    Trata-se de um estudo descritivo, transversal, com abordagem quantitativa, estes

    apresentam como objetivo a informao a respeito da distribuio de um evento na populao,

    em termos quantitativos46. Os estudos quantitativos so caracterizados por um delineamento

    da realidade, ao mesmo tempo em que descreve, registra, analisa e interpreta processos ou fe-

    nmenos da natureza47.

    Para a coleta, anlise e discusso dos resultados foi utilizado o modelo conceitual

    criado por Madeleine Leininger, a Teoria da Universalidade e Diversidade Cultural. O modelo

    conceitual lida com abstraes reunidas por causa da sua relevncia para um tema comum,

    garantindo amplamente uma compreenso do fenmeno estudado e reflete as suposies e

    vises filosficas de quem o elaborou42.

    3.2.2 Local de estudo

    O estudo foi realizado na CASAI, localizada na cidade de Manaus, estado do

    Amazonas. A referida cidade apresenta populao estimada de 1.802.525 habitantes segundo

    dados do IBGE, 201048.

    A CASAI responsvel pelo atendimento de toda populao indgena do estado, os

    quais so referenciados por outras CASAI ou DSEI pertencentes ao Amazonas.

  • 33

    Segundo a Portaria do Ministrio da Sade N 1776, DE 08 de Setembro de 2003,

    Art.-106.,-so-competncias-da-Casa-de-Sade-do-ndio49:

    I - receber pacientes e seus acompanhantes encaminhados pelos Distritos;

    II - alojar e alimentar pacientes e seus acompanhantes, durante o perodo de

    tratamento-mdico;

    III - acompanhar pacientes para consultas, exames subsidirios e internaes

    hospitalares;

    IV - prestar assistncia de enfermagem aos pacientes ps-hospitalizao e em fase

    de-recuperao;-e

    V - fazer contra-referncia com os Plos Bases e articular o retorno dos pacientes e

    acompanhamento aos seus domiclios por ocasio da alta.

    A CASAI de Manaus est vinculada ao DSEI Manaus, que faz parte do subsistema

    de sade indgena sob gesto da Secretaria Especial de Ateno sade indgena (SESAI) do

    Ministrio da Sade (MS). Este local foi escolhido por receber pacientes indgenas de todos

    os municpios do Amazonas, incluindo idosos de diferentes etnias.

    No ms de maio de 2012 foi realizado o reconhecimento do local de estudo e

    apresentao do projeto aos gestores. Durante este perodo identificou-se a mudana na

    dinmica do processo de referncia e contra referncia da populao, com a implantao do

    sistema de regulao do Ministrio da Sade (SISREG), definindo-se que os DSEIs do

    interior s podero encaminhar os pacientes aps marcao de consulta e procedimentos

    especficos pela CASAI Manaus, o que contribuiu para significativa reduo de pacientes

    internados.

    3.2.3 Populao de estudo

    A populao de referncia foi composta por todos os idosos de ambos os sexos,

    internados na CASAI Manaus-Amazonas, no perodo de 90 dias. A idade estabelecida (60

    anos e mais) respeita condio que define a pessoa idosa de acordo com a Lei 8842/94 que

    trata sobre a Poltica Nacional do Idoso22;

    3.2.3.1 Amostra do estudo

    A amostra do estudo do tipo em sequncia, que envolve recrutar todas as pessoas

  • 34

    de uma populao acessvel que atendam aos critrios de elegibilidade ao longo de um

    intervalo de tempo especfico ou at alcanar um tamanho de amostra determinado42. A

    amostra foi composta por 30 idosos, internados no perodo da coleta (29/10/12 a 26/01/13),

    perfazendo 90 dias, conforme consentimento em participar do estudo.

    3.2.4 Critrios de incluso

    -Estar internado na CASAI no perodo de vigncia da pesquisa;

    -Concordncia em participar do estudo com a assinatura do Termo de Consentimento

    Livre e Esclarecido (APNDICE A).

    3.2.5 Critrios de excluso

    - Idosos acometidos por patologias que comprometesse os processos de cognio e

    comunicao, e que estivessem recebendo cuidados paliativos.

    3.2.6 Procedimentos para Coleta de dados

    O estudo utilizou como embasamento terico a Teoria da Universalidade e

    Diversidade Cultural Madeleine Leininger. Nos estudos quantitativos, o uso de teorias ou

    modelos conceituais deduz implicaes e formulam hiptese, ou seja, prev o comportamento

    das variveis em relao teoria, sendo necessria a medio das variveis-chave da teoria, a

    coleta de dados por amostra adequada e teste de hipteses por anlise estatstica42.

    3.2.6.1 Instrumento

    Para a obteno dos dados deste estudo foi elaborado um instrumento estruturado

    (APNDICE E), com perguntas fechadas do tipo dicotmicas e de mltipla escolha e abertas,

    obtidas atravs de registros institucionais (itens 1 a 12) e entrevista face a face (itens 13 a 35).

    Considerando as particularidades da populao idosa indgena e a escassez de

    estudos referente ao objeto de estudo optou-se por incluir perguntas abertas referentes viso

    dos participantes sobre o processo sade-doena e hbitos alimentares na CASAI e na

  • 35

    comunidade de origem.

    3.2.7 Operacionalizao das Variveis:

    As variveis investigadas foram organizadas nos moldes do modelo do sol nascente

    (nvel I) proposto por Leininger (figura 1)50, partindo da viso de mundo para as dimenses da

    estrutura cultural e social (fatores tecnolgicos, religiosos e filosficos, de companheirismo e

    sociais, culturais e modos de vida, polticos e legais, econmicos e educacionais) e sua relao

    com o contexto de ambiente e o padro de cuidado51. Alm do agrupamento das variveis

    sciodemogrficas e condies de sade.

    Figura 1- Modelo Sunrise de Leininger e as dimenses da diversidade e universalidade do cuidado cultural.

    Fonte: Leininger, 1991.

    Para codificao das perguntas abertas foi realizada anlise de contedo,

    especificamente a fase lexical, utilizando o Programa Estatstico Anlise Lexical Contextual

    de um Conjunto de Segmentos de Texto ALCESTE, cuja funo de anlise quantitativa de

  • 36

    dados textuais52.

    Quanto s consideraes acerca da anlise de contedo, apesar de comumente

    utilizada na anlise de comunicaes nas cincias humanas e sociais, autores alegam ser um

    mtodo mais frequentemente seguido no tratamento de dados de pesquisas qualitativas53.

    Entretanto, alguns autores a consideram um conjunto de tcnicas quantitativas53-56, enquanto

    outros57-59 defendem que ela possui elementos tanto da abordagem quantitativa como da

    qualitativa, porque, nesse caso,

    a contagem da manifestao dos elementos textuais que emerge do primeiro estgio

    da anlise de contedo servir apenas para a organizao e sistematizao dos dados,

    enquanto as fases analticas posteriores permitiro que o pesquisador apreenda a

    viso social de mundo por parte dos sujeitos, autores do material textual em

    anlise60.

    Para disposio dos alimentos consumidos utilizou- se como padro os estudos de

    Najas (1994), Philippi (1999) e Cornatosky (2009), adotando o mtodo de frequncia de

    consumo alimentar, que tem como objetivo verificar a partir de uma lista de alimentos a

    ocorrncia de ingesto destes em um perodo de tempo especfico, sendo estabelecido como

    porto de corte para o padro alimentar o consumo a partir de 70% na ingesto diria de

    alimentos 61-63.

    Para avaliao do estado nutricional foi utilizada a antropometria com verificao do

    peso e altura, para obteno do ndice de Massa Corporal IMC para idosos, segundo Lipschitz

    (1994)64.

    3.2.7.1 Varivel dependente

    Padro alimentar do idoso indgena

    3.2.7.2 Variveis independentes

    A) Sociodemogrficas

    Sexo masculino ou feminino;

    Data de nascimento formato dia, ms e ano;

    Local de nascimento categorizada por comunidade indgena de origem;

    DSEI Distrito Sanitrio Especial Indgena responsvel;

    Idade Considerada em anos completos, a partir da data de nascimento e coleta de da-

    dos, ou seja, na data da entrevista;

  • 37

    Motivo da internao motivo do encaminhamento para CASAI Manaus;

    Antecedentes pessoais hipertenso arterial sistmica (HAS), Diabetes Mellitus

    (DM), cardiopatias, cncer, nefropatias, outros.

    B) Condies de sade

    Motivo de internao descrio das causas da internao (diagnstico, tratamento);

    Antecedentes pessoais Hipertenso, Diabetes, Cardiopatias, Cncer, Nefropatias, ou-

    tras doenas;

    Sade autopercebida - tima, boa, regular, no sabe/no responde;

    Sade bucal- percepo da sade bucal, aspectos inerentes mastigao, presena de

    incomodo na boca, boca seca, dificuldade para engolir, escovao, atendimento odon-

    tolgico e uso de prtese dentria;

    Estado nutricional- classificao do IMC em desnutrio, peso adequado e sobrepeso.

    C) Fatores tecnolgicos

    Elementos tecnolgicos uso e propriedade de produtos tecnolgicos como televiso,

    aparelho de som, fogo, ventilador, geladeira;

    Equipamentos utilizados para transporte e agricultura motor de popa, ralador de

    mandioca;

    Elementos de comunicao na comunidade: aparelho telefnico (orelho), celular, ra-

    diofonia;

    D) Fatores religiosos e filosficos

    Religio catlico, protestante, outros;

    Presena de conhecedor das foras da natureza Paj;

    E) Fatores de companheirismo e sociais

    Etnia a ser categorizada, devido o grande nmero de etnias no Estado do Amazonas;

    Lngua falada lngua principal falada pelos idosos;

    Lngua materna lngua indgena tradicional falada pelos idosos;

    Estado conjugal casado (a) ou em unio consensual, solteiro (a) (nunca se casou ou

    morou com companheiro (a), vivo(a), separado(a) ou divorciado(a);

    Nmero de filhos descrio se o(a) idoso (a) teve filhos ou no;

    Arranjo familiar nmero e parentesco das pessoas que moram na mesma residncia

    com o (a) idoso (a);

    F) Fatores Culturais e modos de vida

  • 38

    Concepes sobre o processo sade-doena: Conceituao sobre sade e doena na vi-

    so indgena, baseado em estudos sobre O ndio Brasileiro: o que voc precisa saber

    sobre os povos indgenas no Brasil hoje (Luciano, 2006)40, que retrata a concepo

    sobre este processo de forma diferenciada no aspecto cultural, em contraste concep-

    o de povos no-indgenas.

    Hbitos alimentares no local de origem a ser categorizada, pois muitos alimentos da

    culinria indgena no so conhecidos e descritos na literatura, a ser organizada por

    tipos de alimentos, quantidade e horrio das refeies e com quem realiza as refeies;

    Alimentao na CASAI descrio de alimentos oferecidos pela Instituio, com

    descrio da quantidade, horrio, tipos de alimentos e aceitao;

    G) Fatores polticos e legais

    Liderana na Comunidade Ocupao de cargo poltico de destaque na comunidade;

    H) Fatores econmicos

    Situao Previdenciria Identificao do tipo de vnculo com a Previdncia Social

    distribuda nas seguintes categorias: no aposentado (a), aposentado (a), pensionista

    ou em benefcio;

    Renda Renda do (a) idoso (a) em salrios mnimos vigentes no momento da investi-

    gao;

    Contribuio na renda familiar Participao do (a) idoso (a) no oramento da famlia

    distribuda nas seguintes categorias: participa totalmente, parcialmente ou no contri-

    bui.

    Atividades realizadas para contribuio no sustento familiar prticas agrcolas (ro-

    a), caa e pesca.

    I) Fatores educacionais

    Escolaridade categorizada em anos de estudo com aprovao.

    3.2.6.2 Pr-teste

    No processo de elaborao de questes de um instrumento estruturado necessrio

    cuidado na construo de cada pergunta, no intuito de garantir clareza, sensibilidade ao estado

    psicolgico dos entrevistados, ausncia de desvio e nvel de leitura. Nesse sentido, a

  • 39

    realizao de pr-teste fundamental, por permitir a avaliao da utilidade do instrumento e

    sua aplicabilidade de acordo com os objetivos da pesquisa42.

    Neste estudo optou-se pela realizao deste processo na primeira semana da coleta,

    no intuito de adequar as questes de acordo com as particularidades da populao alvo e da

    dinmica do servio de sade. Aps esse momento foram realizados os ajustes necessrios

    nos blocos relacionados s condies de sade e hbitos alimentares. Acerca dos principais

    alimentos consumidos, foram listados segundo o ponto de corte de 70% para ordenao no

    instrumento de coleta.

    Outro ponto identificado neste momento foi sobre a necessidade de recrutar outro

    profissional para realizao da coleta, pois durante a entrevista havia perguntas abertas que

    demandam muita ateno, obteno de dados para avaliao do ndice de massa corporal,

    alm da interao com familiares dos idosos, alm do reconhecimento prvio acerca da cultu-

    ra indgena. Nesse sentido, foi treinada uma enfermeira com experincia profissional em sa-

    de indgena para auxlio durante o procedimento de coleta de dados.

    3.2.6.2 Etapas da Coleta de Dados

    Para execuo da coleta e obteno do TCLE seguiu-se as seguintes etapas:

    1. Explicao sobre o projeto de pesquisa ao idoso e (se for o caso) solicitao da

    presena do acompanhante ou representante legal;

    2. Aps entendimento solicitou-se permisso para realizar a entrevista;

    3. Posteriormente a aceitao seguiu-se a prxima etapa, em caso negativo encerrou

    a etapa;

    4. Perguntou-se cada item do questionrio de forma clara, respeitando as

    particularidades de cada etnia e o nvel de compreenso;

    5. Aps o fim da entrevista solicitou-se a assinatura do idoso ou impresso digital,

    bem como a assinatura das testemunhas;

    6. O pesquisador responsvel, o idoso e/ou a pessoa responsvel por este (se for o

    caso), rubricaram todas as folhas do TCLE e complementaro com as assinaturas completas

    na ltima folha deste documento.

    7. Entregou-se uma cpia do TCLE informando contatos do pesquisador para

    possveis dvidas e/ ou desistncia;

  • 40

    3.2.8 Anlise dos dados

    Aps a coleta foi organizado um banco de dados e realizada anlise quantitativa das

    informaes, mediante processo sistematizado de base estatstica, utilizando o Programa de

    Base Estatstica Livre R.

    Para anlise e discusso dos resultados foi utilizada como embasamento a Teoria do

    cuidado cultural de Leininger, sendo descritas as variveis em bloco: variveis

    sciodemogrficas, condies de sade, viso de mundo, dimenses da estrutura cultural e

    social e contexto de lngua e ambiente.

    No plano de anlise estatstica, as variveis categricas foram descritas sob a forma

    de propores, as discretas sob a forma de mdias e frequncia. A digitao foi realizada em

    dupla entrada para validao do banco de dados.

    3.2.9 Aspectos ticos

    O estudo foi submetido apreciao do Comit de tica e Pesquisa do Centro de

    Cincias da Sade da Universidade Federal de Pernambuco, encaminhado e aprovado pelo

    Comit Nacional de tica e Pesquisa (CAAE 00574012.1.0000.5208).

  • 41

    4 CAPTULO 3 ARTIGO DE REVISO INTEGRATIVA

    Padro alimentar de idosos em diferentes contextos culturais

    Dietary patterns of elderly in different cultural contexts

    Short title: Alimentao e cultura na Terceira idade

    Food and culture in old age

    Jlia de Cssia Miguel Vieira1,2

    Mrcia Carrra Campos Leal1

    Ana Paula de Oliveira Marques1

    Danielle Lopes de Alencar1

    Resumo

    Trata-se de uma reviso integrativa da literatura com o objetivo de avaliar as evidncias

    disponveis acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em especial o indgena, por

    ser uma populao diferenciada pelos seus hbitos alimentares arraigados a sua cultura e

    de interesse para definio de politicas assistenciais, bem como de subsidiar teoricamente

    os cuidados de enfermagem no mbito da nutrio em sade. Foram utilizadas para

    seleo trs bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da

    Sade (LILACS), Literatura Internacional da rea Mdica e Biomdica (MEDLINE), Base de

    dados em Enfermagem (BDENF), selecionados 13 artigos conforme critrios

    preestabelecidos. Os resultados mostraram estudos em diversos pases, porm nenhum

    voltado ao idoso indgena, estes apontam mudanas nos hbitos alimentares de idosos,

    associados principalmente a questes socioeconmicas e culturais, alm das mudanas

    ocorridas com a globalizao e a transio nutricional, o que ressalta a importncia de mais

    estudos que abordem essa temtica, enfatizando o indgena, como subsdio para a prtica

    do cuidar em enfermagem.

    Termos de indexao: Idoso, Hbitos Alimentares, Populao Indgena, ndios Sul-

    Americanos

  • 42

    Abstract

    It is an integrative literature review aimed to assess the available evidence on the issue of

    food and nutrition elderly, especially the indigenous population to be a differentiated by their

    eating habits ingrained in their culture and of interest to define welfare policies, as well as

    theoretically subsidize nursing care within the health nutrition. Were used to select three

    databases: Latin American and Caribbean Health Sciences (LILACS), International Literature

    medical and biomedical (MEDLINE), Database of Nursing (BDENF), selected 13 papers as

    established criteria. The results showed studies in several countries, but none facing the

    elderly indigenous, these suggested changes in the eating habits of the elderly, mainly

    associated socioeconomic and cultural issues, in addition to changes with globalization and

    the nutrition transition, which highlights the importance of more studies that address this

    theme, emphasizing the indigenous, as support for the practice of nursing care.

    Indexing terms: Aged, Food habits, Indigenous population, Indians, South American.

    INTRODUO

    O aumento significativo da populao idosa requer crescente capacitao dos

    profissionais para atender e cuidar de modo particular dessa populao, observando as

    peculiaridades que so inerentes ao ser idoso, que apresenta caractersticas que

    demandam cuidados diferenciados1.

    Os idosos diferenciam-se conforme sua histria de vida, seu nvel de independncia

    funcional e necessidade de servios de sade, onde a avaliao deve estar embasada no

    processo de envelhecimento e de suas particularidades de acordo com a realidade

    sociocultural em que vivem2.

    Abordando a alimentao, esta considerada um importante fator para promoo,

    manuteno e ou/recuperao da sade em todas as fases da vida, sendo que com o

    processo de envelhecimento surgem alteraes no organismo que podem modificar as

    necessidades nutricionais do idoso3.

    Inmeras so as razes que envolvem a escolha dos alimentos, podendo existir mais

    de uma varivel na escolha final como: a cultura, o status, o prestgio, a presso publicitria,

    o aspecto religioso4. Tal afirmao denota a importncia em reconhecer o contexto alimentar

    dos idosos nos diferentes cenrios do cuidar em sade.

  • 43

    Devido ao nmero crescente e da complexidade de conhecimentos na rea de

    sade, tornou-se indispensvel o desenvolvimento de estratgias no mbito da pesquisa

    com embasamento cientfico, aptas a delimitar procedimentos e passos metodolgicos mais

    precisos e de apresentar aos profissionais um melhor emprego das evidncias explanadas

    em numerosos estudos5. Portanto, nesse estudo optou-se pelo uso de um dos recursos da

    prtica baseada em evidncias (PBE), a reviso integrativa da literatura6, que objetiva a

    organizao da sinopse do conhecimento cientfico produzido sobre a temtica investigada

    para sua posterior associao prtica.

    Uma das finalidades da Prtica Baseada em Evidncias (PBE) alentar a utilizao

    de resultados de pesquisa atrelada prtica assistencial de sade nos distintos nveis de

    ateno, avigorando a importncia da pesquisa para a prtica clnica7, o que possibilita uma

    viso amplificada dos processos de interveno sobre a problemtica em questo.

    Poucas pesquisas brasileiras tm investigado os padres alimentares de indivduos

    idosos8. Portanto, visando aprofundar os conhecimentos de forma integrada no contexto do

    cuidado aos idosos, este estudo tem como objetivo avaliar as evidncias disponveis na

    literatura acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em especial o indgena, por ser

    uma populao diferenciada pelos seus hbitos alimentares arraigados a sua cultura e de

    interesse para definio de politicas assistenciais, bem como de subsidiar teoricamente os

    cuidados de enfermagem no mbito da nutrio em sade.

    PROCEDIMENTO METODOLGICO

    Foram utilizadas as seguintes etapas para organizao da presente reviso: escolha

    do tema, definio da hiptese e objetivos do estudo, definio de critrios de incluso e ex-

    cluso, definio das informaes a serem extradas dos artigos selecionados, busca na lite-

    ratura, avaliao dos estudos, anlise e discusso dos resultados, apresentao da reviso

    integrativa9.

    Para direcionamento do estudo formulou-se a seguinte pergunta norteadora: quais as

    evidncias disponveis na literatura acerca da questo alimentar e nutricional do idoso, em

    especial da populao indgena, e qual a sua contribuio para a prtica do cuidado em en-

    fermagem?

    Para seleo dos artigos foram utilizadas trs bases de dados: Literatura Latino-

    Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS), Literatura Internacional da rea

    Mdica e Biomdica (MEDLINE), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), utilizando os

  • 44

    descritores extrados dos Descritores em Cincias da Sade (DeCS) disponvel na Bibliote-

    ca Virtual em Sade (BVS): idoso, hbitos alimentares, populao indgena, cuidados de en-

    fermagem. Para busca na base de dados MEDLINE utilizou-se em substituio ao descritor

    populao indgena o descritor ndios sul-americanos, devido o no reconhecimento do primeiro descritor citado na base citada.

    Os critrios de incluso dos artigos para esta reviso integrativa foram: artigos que

    abordassem a temtica sobre alimentao e nutrio de idosos em diferentes culturas, arti-

    gos publicados em ingls, espanhol e portugus, publicados nos ltimos 20 anos.

    A busca na literatura foi realizada atravs de cruzamento em pares dos descritores,

    utilizando a ferramenta descritor de assunto, na seguinte ordem: idoso and hbitos alimen-tares, idoso and populao indgena, idoso and ndios sul-americanos, idoso and cuidados

    de enfermagem, hbitos alimentares and populao indgena, hbitos alimentares and n-

    dios sul-americanos e hbitos alimentares and cuidados de enfermagem.

    Os artigos foram pr-selecionados selecionados a partir do ttulo e resumo, e a sele-

    o final obedeceu os critrios de incluso preestabelecidos, conforme descrio na tabela

    abaixo:

    Tabela 1. Artigos encontrados nas Bases de Dados LILACS, MEDLINE E BDENF,

    2011.

    Base de

    dados

    Artigos

    encontrados

    Artigos

    selecionados

    Artigos

    repetidos

    Artigos

    excludos

    Artigos

    inclusos

    LILACS 366 57 0 49 08

    MEDLINE 5498 56 01 56 05

    BDENF 02 0 0 0 0

    Total 5866 113 01 105 13

    Foram utilizados para avaliar a qualidade dos estudos selecionados dois instrumen-

    tos: o primeiro adaptado do Critical Apppraisal Skills Programme (CASP)10 Programa de

    habilidades em leitura crtica, integrante do Public Health Resource Unit (PHRU). O instru-mento apresenta 10 itens (mximo 10 pontos): 1) objetivo; 2) adequao metodolgica; 3)

    apresentao dos procedimentos tericos e metodolgicos; 4) seleo da amostra; 5) pro-

    cedimento para a coleta de dados; 6) relao entre o pesquisador e pesquisados; 7) consi-

    derao dos aspectos ticos; 8) procedimento para a anlise dos dados; 9) apresentao

    dos resultados; 10) importncia da pesquisa.

    Os resultados de classificao apresentam os seguintes escores: 06 a 10 pontos

    (boa qualidade metodolgica e vis reduzido), e mnima de 5 pontos (qualidade metodolgi-

  • 45

    ca satisfatria, porm com risco de vis aumentado). A avaliao foi realizada em pares, cu-

    jos artigos selecionados neste estudo apresentaram escore entre 6 e 10.

    O segundo instrumento foi a Classificao Hierrquica das Evidncias para Avalia-

    o dos Estudos11, que define os nveis de evidncia destes: 1) reviso sistemtica ou me-

    tnalise; 2) ensaios clnicos randomizados; 3) ensaio clnico sem randomizao; 4) estudos

    de coorte e de caso-controle; 5) reviso sistemtica de estudos descritivos e qualitativos; 6)

    nico estudo descritivo ou qualitativo; 7) opinio de autoridades e/ou relatrio de comits de

    especialidades. Os estudos includos classificaram-se entre os nveis 5 a 6.

    Aps avaliao com os instrumentos acima citados foram selecionados 13 artigos.

    Para a organizao e coleta dos dados dos artigos inclusos na reviso integrativa, elaborou-

    se um instrumento composto pelos seguintes itens: Ttulo do artigo, Autoria, Revista/Ano,

    Fonte/Idioma, Estudo realizado, Resultados, Concluses e recomendaes.

    RESULTADOS

    Conforme os critrios de incluso e avaliao foram analisados 13 artigos, onde to-

    dos os temas dos artigos estavam relacionados questo alimentar e nutricional do idoso,

    bem como sua contribuio para a prtica do cuidado em enfermagem, entretanto nenhum

    destes apresentou referncia ao idoso indgena.

    Dos 13 artigos, 10 (77%) foram publicados em revistas internacionais e 3 (23%) em

    revistas nacionais, sendo 5 (39%) em revistas de nutrio, 4 (31%) em revistas de sade

    pblica, 2 (15%) em revistas de Enfermagem e 2 (15%) em revistas de Cincias da sade

    em geral.

    Em relao aos delineamentos de pesquisa dos artigos includos 11 (84,6%) so de

    abordagem quantitativa, 1 (7,7%) abordagem qualitativa e 1(7,7%) quantitativa e qualitativa,

    sendo 06 estudos analticos (46%) e 7 (54%) descritivos.

    Quanto ao local de estudo 3 (23%) foram realizados no Brasil, 2 (15%) nos Estados

    Unidos da Amrica, 1 (7,7%) na Inglaterra, 1 (7,7%) na Sucia, 1 (7,7%) no Mxico, 1

    (7,7%) na Espanha, 1 (7,7%) no Kenya, 1 (7,7%) no Chile, 1 (7,7%) na Argentina, 1 (7,7%)

    na Colmbia. No Brasil, 2 (67%) realizado no estado de So Paulo, 1 (33%) no Esprito San-

    to.

    Segue nas Figuras de 1 a 3 a avaliao sinptica dos artigos avaliados na presente

    reviso integrativa, organizados conforme paridade nas temticas.

  • 46

    Quadro 1 - Sinopse dos artigos inclusos na reviso integrativa

    Ttulo do artigo 1. Los hbitos alimentarios en el adulto mayor y su relacin

    con los procesos protectores y deteriorantes en salud12

    Autoria Restrepo SLM, Morales RMG, Ramrez MCG, Lpez MVL, Varela

    LEL

    Revista/ano Rev. chil. nutr. / 2006

    Fonte /Idioma LILACS /Espanhol

    Estudo

    realizado

    Estudo descritivo, corte transversal, com abordagem quantitativa e

    qualitativa, buscou investigar os aspectos protetores e

    deteriorantes relacionados alimentao e nutrio do idoso.

    Resultados Os hbitos alimentares so contribuintes para fragilidade dos

    idosos.

    Concluses e

    recomendaes

    O consumo identificado est relacionado a questes econmicas e

    estado psicossocial dos idosos.

    Ttulo do artigo 2. Hbitos de consumo de productos apcolas en un colectivo

    de ancianos13

    Autoria Orzaez VillanuevaMT, De Frutos Prieto A, Tellez Gonzalez M et al.

    Revista/ano ALAN / 2002

    Fonte /Idioma LILACS / Espanhol

    Estudo

    realizado

    Estudo descritivo com abordagem quantitativa, cujo objetivo foi

    identificar os hbitos de consumos apcolas por idosos da

    Espanha.

    Resultados Os idosos consomem produtos apcolas e tem conhecimento sobre

    este.

    Concluses e

    recomendaes

    Apesar do consumo e conhecimento em relao ao mel, a maioria

    dos idosos ignoram os outros produtos apcolas como a prpolis.

    Ttulo do artigo 3. Relacin entre los factores que determinan los sntomas

    depresivos y los hbitos alimentarios en adultos mayores de

    Mxico14

    Autoria vila-Funes JA, Garant MP, Aguilar-Navarro S

    Revista/ano Rev Panam Salud Publica / 2006

    Fonte /Idioma LILACS / Espanhol

    Estudo Estudo analtico com abordagem quantitativa objetivou determinar

  • 47

    continuao

    realizado

    os fatores comuns associados a hbitos alimentares e sintomas

    depressivos.

    Resultados Os sintomas depressivos associaram hipertenso arterial, como

    tambm o uso de prtese dentria, incontinncia urinria e quedas.

    Concluses e

    recomendaes

    Os autores enfatizam a importncia do padro alimentar em

    estudos sobre depresso em idosos, recomendam estudos

    longitudinais.

    Ttulo do artigo 4. The relationship between nutrient intake, dental status and

    family cohesion among older Brazilians15

    Autoria Andrade FB, Caldas Junior AF, Kitoko PM, Zandonade E

    Revista/ano Cad. Sade Pblica / 2011

    Fonte /Idioma LILACS /Ingls

    Estudo

    realizado

    Estudo analtico, transversal, quantitativo visou avaliar a relao

    entre consumo inadequado de nutrientes, condio bucal e coeso

    familiar.

    Resultados No houve associao entre o consumo inadequado e a coeso

    familiar.

    Concluses e

    recomendaes

    H relao entre a condio de sade bucal e o consumo

    inadequado de nutrientes importantes entre idosos no

    institucionalizados.

    Ttulo do artigo 5. Nutritional status, functional abilities and food habits of

    institutionalized and non-institutionalised elderly people in

    Morogoro Region, Tanzania16

    Autoria Nyaruhucha CN, Msuya JM, Matrida E

    Revista/ano East Afr Med J / 2004

    Fonte /Idioma MEDLINE / Ingls

    Estudo

    realizado

    Estudo descritivo, transversal, quantitativo, objetivo de determinar o

    estado nutricional, hbitos alimentares e as habilidades funcionais.

    Resultados Diferena no estado nutricional entre homens, ambos os sexos

    com baixo peso e desnutrio. Hbitos alimentares idnticos,

    incontinncia urinria foi a incapacidade funcional mais comum

    entre homens.

  • 48

    continuao

    Concluses e

    recomendaes

    A maioria dos idosos tem pouca ou nenhuma fonte de renda, que

    fazem com que eles tenham condies de vida precrias.

    Ttulo do artigo 6. Dietary patterns of Hispanic elders are associated whit

    acculturation and obesity17

    Autoria Lin H, Bermudez OI, Tucker KL

    Revista/ano J Nutr. / 2003

    Fonte /Idioma MEDLINE / Ingls

    Estudo

    realizado

    Estudo descritivo, transversal, quantitativo, objetivo de identificar

    padres alimentares entre os idosos hispnicos e no hispnicos.

    Resultados Os hispnicos foram mais propensos a ingesta de vegetais ricos

    em amido ou derivados de leite do que no hispnicos, sugerindo

    associao entre a obesidade. Os idosos com maior grau de

    aculturao apresentaram maior consumo de frutas e cereais.

    Concluses e

    recomendaes

    Os autores sugerem que estudos longitudinais so necessrios

    para esclarecer a natureza causal dessas associaes.

    Quadro 2 Sinopse dos artigos inclusos na reviso integrativa

    Ttulo do artigo 7. Hbitos alimentarios de adultos mayores de dos regiones de

    la Provincia de Catamarca, Argentina18

    Autoria Cornatosky MA, Barrionuevo OT, Rodr