AÇÕES PARA UMA BOA PAUTA SOBRE A CRIANÇA E O … · Infantil tendem finalmente a ocupar no...

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Em mais de 600 páginas de conteúdo,atualizadas diversas vezes por dia, o site daANDI disponibiliza informações importantespara a produção de reportagens emtorno do direitos da infância e daadolescência fundamentais para a garantiado pleno desenvolvimento humano e paraum melhor diálogo entre profissionais damídia e outros atores sociais. Boletinseletrônicos, provacação de pautas,indicações de fontes de informação e a

A Ç Õ E S P A R A U M A B O A P A U T A S O B R E A C R I A N Ç A E O A D O L E S C E N T E

www.andi.org.brUm portal para a realidade nada virtual da criança e do adolescente no Brasil

PUBL ICAÇÕES IMPRESSAS

Análise do Clipping ❿ informesemanal, com 16 páginas,contendo as principais notíciasveiculadas pela mídia brasileira naárea da infância e juventude,editadas por temas e regiões.Distribuído para assinantes.

Direto ao Assunto ❿ informativodo projeto Jornalista Amigo daCriança, com assuntos em pauta eartigos exclusivos.

Rádio pela Infância ❿ publicaçãomensal, distribuída a cerca de1.000 radialistas em todo o País,com notícias e sugestões de pautapara programas de rádio.Semanalmente, um resumo dosprincipais fatos na área dainfância e juventude, o MomentoCriança, é veiculado na Voz doBrasil.

Pesquisa A Mídia dos Jovens ❿pesquisa semestral que analisa ocomportamento editorial desuplementos de jornais e revistasque têm como público-alvo osadolescentes.

Radicais Livres ❿ informesemanal que resume as principaisnotícias de relevância socialveiculadas por suplementos,revistas e programas de televisãodedicados aos jovens.

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agenda dos principais eventos do setorestão disponíveis no site.As publicações realizadas pela ANDI e seusparceiros podem ser encontradas no site,muitas vezes com versões integrais detextos e imagens editados em versãoimpressa. Alguns conteúdos, entretanto, sãoorientados especificamente para acomunicação online. Entre eles, umglossário com conceitos precisos paraabordagem de diversos temas relacionados

Conversa Afiada ❿ publicaçãotemática com fontes de consulta einformações para a mídia dirigidaaos adolescentes.

Ponto J – Jornalismo eJuventude ❿ pautas e fontes paramatérias sobre a prevenção dagravidez e da Aids naadolescência.

Pesquisa Infância na Mídia ❿análise do comportamentoeditorial da mídia impressa, apartir do acompanhamento de 50jornais de todo o País e 8 revistasde circulação nacional.

PUBLICAÇÕES ELETRÔNICAS

Infância na Mídia ❿ informeatualizado ao meio-dia com oresumo das principais matériassobre infância e adolescênciapublicadas em 50 jornais de 24capitais brasileiras e em oitorevistas de circulação nacional.Distribuído por e-mail para maisde 3.000 personalidades eorganizações sociais.

Niños y Jóvenes en Línea/Brasil ❿informe semanal distribuído paramais de 1.000 atores sociaisíbero-americanos, contém oresumo das principais notíciasbrasileiras de interesse universal.Também na versão em inglês:Children in Media/Brasil.

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à criança e ao adolescente. Para jornalistas,educadores e outros profissionais háinformações sobre 17 prêmios oferecidos naárea da infância e do jornalismo.No Banco de Projetos Sociais estãocadastrados cerca de dois mil projetos,organizações e especialistas envolvidos emdiversas áreas temáticas. O usuário temacesso aos contatos de cada uma das fonteslistadas e a um resumo das atividadesdesenvolvidas pela organização.

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A começar pelas condições adequadas a uma boa gestação e parto, uma série devariáveis compõem o cenário para que possa ser pleno o que chamamosdesenvolvimento humano. Entre tais variáveis, as muitas faces do que é a EducaçãoInfantil tendem finalmente a ocupar no Brasil seu devido espaço na agenda das políticaspúblicas. Recentes mudanças legais, ainda em fase lenta de implementação, inauguram acompreensão de que o atendimento a crianças com zero a seis anos de vida naschamadas creches e pré-escolas não é uma mera questão de assistência social.Historicamente concebidas como verdadeiros depósitos de crianças com a únicafinalidade de “guardá-las” enquanto seus pais (ou mais notadamente suas mães) vão aotrabalho, estas instituições passam a ser consideradas espaços de educação, assim comode seus funcionários passou-se a exigir formação adequada para a missão. O própriotermo pré-escola está em fase de extinção, uma vez que mesmo as creches (zero a trêsanos) são, ou devem ser, escola.Ao destacar, nesta edição, uma análise sobre como a imprensa brasileira cobre a questão,a pesquisa Infância na Mídia mostra que se a realidade (física e pedagógica) dessesespaços é ainda uma “ação pobre para os pobres”, assim também pode-se definir o olharque os jornalistas lançam sobre o tema – quase que exclusivamente orientado para

inaugurações e pela luta dos pais às poucas vagas existentes.

GERALD INHO V IE IRA • AND I V IV IANE SENNA • IAS

Por esta razão, a ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infânciae o Instituto Ayrton Senna acreditam que a presente análise(construída em aliança com a Fundação Orsa e com o envolvimento deespecialistas de outras intituições parceiras), assim como asrecomendações que dela podem-se deduzir para jornalistas e fontes deinformação (governamentais e não governamentais), são umacontribuição para que a imprensa possa construir uma mudança de óticasignificativa o suficiente para que se observe o acesso a esses espaços deeducação (e sua qualidade) não simplesmente como uma questão do“direito à vaga”, mas sobretudo como o início de um processo – umberçário, poderíamos dizer - desde a primeira infância, para que todo serhumano possa confirmar o desejo do poeta: gente é pra brilhar!Agradecemos à Fundação Orsa – uma das maiores referênciasbrasileiras sobre o tema – e ao Unicef, MultiRio e OMEP por terem sejuntado à nossa aliança para propiciar a presente análise.

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B E R Ç Á R I O D E E S T R E L A S

ESTA PUBLICAÇÃO É DIRIGIDA A

PROFISSIONAIS DE IMPRENSA,

PROFESSORES E ESTUDANTES DE

COMUNICAÇÃO E OUTRAS ÁREAS

ACADÊMICAS, ORGANIZAÇÕES

NÃO GOVERNAMENTAIS E

GOVERNAMENTAIS E A TODOS OS

QUE QUE ACREDITAM SER A

INFORMAÇÃO UM DIREITO DO

CIDADÃO, E QUE POR ISSO SE

SENTEM (COMO JORNALISTAS OU

FONTES) CO-AUTORES DE SUA

PLURALIDADE, INDEPENDÊNCIA

CRÍTICA E RESPONSABILIDADE

SOCIAL.

Primeiras palavras

N O S S O S P A R C E I R O S

A PESQUISA INFÂNCIA NA MÍDIA

É UMA REALIZAÇÃO DA ANDI -

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS

DIREITOS DA INFÂNCIA E DO

INSTITUTO AYRTON SENNA

A PRESENTE EDIÇÃO CONTA COM

OS SEGUINTES APOIOS:

A pesquisa Infância na Mídia pode ser

solicitada à ANDI. É distribuída gratuitamente

aos assinantes das revistas Imprensa e

Educação – que se somam às parcerias desta

realização.

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E D U C A Ç Ã O I N F A N T I LA pauta que o Brasil não viu

R E D E A N D IImprensa regional se destaca na investigação de soluções

Educação e Violência são prioridade nos noticiários estaduais

Programa forma jornalistas para a cobertura social

2 0 0 0 • O B R A S I L N A S B A N C A SVeículos regionais aumentam a atenção sobre a infância

Violência cresce nos jornais brasileiros

Educação pautou o fim dos anos 90

G R A N D E P R Ê M I O A Y R T O N S E N N ADesenvolvimento humano, o desafio do século 21

M U I T O A L É M D O J O R N A L I S M OAs empresas de comunicação na era da responsabilidade social

E R R O S E E R R A T A SDa apuração às bancas: quem responde pela informação?

P R O F I S S I O N A I S A T E N T O S À I N F Â N C I AA década da criança e do adolescente na TV brasileira

P I N G - P O N GRicardo Noblat: Investigar saídas para problemas sociais do Brasil

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E X P E D I E N T E

INFÂNCIA NA MÍDIA • PESQUISA ANDI/IAS(ISSN 1519-1702) ANO 6 / NÚMERO 11 / SETEMBRO 2001

ANDI • AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA

PRESIDENTEÂmbar de Barros

DIRETOR-EXECUTIVOGeraldinho Vieira

DIRETOR-ADJUNTOMarcus Fuchs

EDITOR-DIRETORVeet Vivarta

INSTITUTO AYRTON SENNA

PRESIDENTEViviane Senna

SUPERINTENDENTEMargareth Goldenberg

COORDENADORA/ÁREA DE COMUNICAÇÃOMaria Helena Magalhães

INFÂNCIA NA MÍDIA • Pesquisa ANDI/IAS

REALIZAÇÃOANDI / Instituto Ayrton Senna

APOIOUnicef / Fundação Orsa / Ministério da Educação

EDIÇÃOCynthia Garda

CONSULTORIA TÉCNICAGuilherme Canela de Souza Godoi

COLABORAÇÃO TÉCNICAMarco Túlio Alencar

PRODUÇÃOAna Flávia Flôres

DISTRIBUIÇÃOAdélia Rondon

EQUIPE DE PESQUISADiana Teixeira Barbosa, Márcia Teixeira Barbosa, Paulo MarcelloFonsêca Marques (processamento de dados), Railssa Peluti Alencar(assistente sênior)

EQUIPE DE CLIPAGEM E CLASSIFICAÇÃOAlaíse Beserra, Aline Falco, Cláudia Alves, Deílson Vogado, ÉrikaNunes, Fabíola Coelho, Gabriela Goulart, João Rodrigo de Lavor eSilva, Lino Moniz, Liana Aragão, Magda Cardoso, Manoel deOliveira, Mariana Baltar, Nylcian Isaac, Renata Noiar, RiltonPimentel, Sérgio de Cássio e agências da REDE ANDI

ASSISTENTESAntônia Amélia, Eduardo Tavares e Rubenita Correa

PROJETO GRÁFICOCélia Matsunaga e Marcelo Terraza

FOTOGRAFIASMila Petrillo • Creche Nossa Senhora Maria Auxiliadora (PI) – p.8,11; Creche Munir Abbud (SP) – p.8; Creche Cidade Jardim (PI) – p.9,19; Projeto Auto-estima da Criança Negra (MA) – p.10, 14, 16, 20,21, 22, 25, 26, 27; Creche Antônio Correia (SP) – p.8, 11, 24;Unidade de Educação Infantil do Erê (PA) – capa, p.12, 13, 18, 22, 24

FOTOLITO E IMPRESSÃOEditora Segmento

TIRAGEM20 mil exemplares

A pesquisa Infância na Mídia pode ser adquirida diretamente na ANDI:fone: (61) 322-6508 ou [email protected] com Adélia Rondon.As opiniões e análises desta pesquisa são de responsabilidade exclusiva da ANDIe dos autores dos artigos. É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da InfânciaSDS, Ed. Boulevard Center, Bloco A, sala 101 • 70391-900 • Brasília, DFTelefone: (61) 322-6508 e Fax: (61) 322-4973 • www.andi.org.br

A presente edição da pesquisa Infância na Mídia tem

como destaque uma análise sobre a cobertura do tema

Educação Infantil. Para compor o universo deste estudo

foram selecionadas todas as inserções (matérias, artigos,

editoriais) sobre o tema publicadas em jornais

pesquisados pela ANDI durante o ano 2000.

São 769 inserções em 62 jornais, dos quais 50 são

acompanhados diariamente pela ANDI. No ano passado,

esses 50 jornais, de 24 capitais, publicaram 64.396

matérias sobre vários temas relevantes para a infância e

a adolescência.

Para a análise especial sobre Educação Infantil, não foi

utilizada uma amostragem das matérias classificadas

pela ANDI nesse tema, mas o total delas (769 inserções).

Excluíram-se desse universo as notas e, para efeito de

dados estatísticos, as matérias de revistas foram

analisadas separadamente.

Todas as inserções analisadas possuíam como tema

central matérias sobre a prática do cuidado e educação

em creches e pré-escolas, políticas governamentais para

a educação infantil e outras questões afins. Temáticas

correlatas à educação de crianças de 0 a 6 anos aparecem

como questão secundária em material classificado em

outros temas do banco de dados da ANDI, como

mortalidade infantil, comportamento, inclusão de

deficientes, nutrição e violência, mas não fizeram parte

deste estudo, que selecionou apenas textos cujo tema

principal era especificamente a Educação Infantil.Uma vez separadas as matérias, artigos e editoriais, foi

preparado um questionário para sistematizar as

informações contidas nesse universo.

Depois da leitura prévia das matérias, o questionário foi

dividido em dois blocos. O primeiro analisava as

informações sobre educação infantil. O segundo,

aspectos jornalísticos dessa cobertura. O questionário foi

então apresentado a especialistas no assunto. Esses

consultores forneceram importantes contribuições para

a forma final do instrumento de pesquisa. Depois,

reuniram-se novamente para discutir os números e

aspectos qualitativos da cobertura. A base completa dos

dados analisados pode ser encontrada no site da ANDI.

A margem de erro na presente pesquisa é de 0,3% para

mais ou para menos.

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G R U P O D E A N Á L I S E D E MÍ D I A

Craig Loftin é oficial de projeto na área deEducação do Unicef, psicólogo graduado pelaUniversidade de Iowa (EUA) e doutor em psicologiainfantil pela Universidade de Utah (EUA).

Maria Helena Magalhães é assistente socialpós-graduada em Marketing pela FundaçãoGetúlio Vargas (Rio Grande do Sul) ecoordenadora da área de comunicação doInstituto Ayrton Senna.

Rachel Mello é oficial de comunicação doUnicef, jornalista e mestranda do programade pós-graduação da Faculdade deComunicação da Universidade de Brasília.

Regina de Assis é presidente da MultiRio(Empresa Municipal de Multimeios). Graduadaem Serviço Social e Pedagogia e pós-graduada em EdM Harvard Graduate Schoolof Education, Cambridge (EUA); CAS HarvardGraduate School of Education, Cambridge(EUA); EdD Teachers College, ColumbiaUniversity, New York (EUA).

Valéria Mateus é coordenadora decomunicação e marketing da Fundação Orsa.Publicitária, formada pela FAAP - FundaçãoArmando Alvares Penteado e pós-graduadaem Marketing pela ESPM - Escola Superiorde Propaganda e Marketing. Atua no TerceiroSetor desde 1997.

Vera Melis é coordenadora do núcleo deeducação da Fundação Orsa. Graduada emPedagogia pela Faculdade Oswaldo Cruz,mestre em educação pela University ofHouston (EUA) e doutora em Administraçãoe Recursos pela Universidade Mackenzie.Vera também é professora no programa demestrado em educação da UNIMONTE.

Vital Didonet é vice-presidente daOrganização Mundial para a Educação Pré-Escolar (OMEP) e consultor em educação.Graduado em Filosofia e Pedagogia commestrado em educação e especialização emeducação infantil.

A FUNDAÇAO ORSA

A Educação Infantil em nosso País vem seexpandindo e ganhando expressão. AConstituição Brasileira e o Estatuto daCriança e do Adolescente estabelecem que édever do Estado, por meio dos municípios,garantir a Educação Infantil, ou seja,atendimento em creches e pré-escolas atodas as crianças entre 0 e 6 anos de idade.A participação da Fundação Orsa tem sidoefetiva na defesa dos direitos das criançaspor meio de programas que secomplementam, buscando criar um sistemade rede para fortalecer as políticas públicasnesta área. A Fundação - mantida pelo GrupoOrsa que, junto com a Jarcel S/A, repassa 1%de seu faturamento bruto anual para essasações sociais - trabalha em programas eprojetos próprios ou parcerias nas áreas deeducação , saúde e promoção social.No campo da educação, com o foco naeducação dos 0 aos 6 anos de idade, aFundação desenvolve programas deformação continuada para os profissionaisque atuam na área, de promoção e defesa dainfância por meio de fóruns, pesquisas e doatendimento direto e administraçãopedagógica em centros de educação infantil.O Prêmio Qualidade na Educação Infantil,promovido pela Fundação Orsa, peloMinistério da Educação e Undime àsmelhores experiências de educação infantilnos estados brasileiros, é uma iniciativa parafortalecer o intercâmbio de informações. Essatroca é imprescindível para que a concepçãodo educar e cuidar nos primeiros anos devida se fortaleça entre os cidadãos brasileiros,responsáveis pela infância no País.A Fundação é parceira da ANDI e do InstitutoAyrton Senna neste estudo por acreditar nopapel fundamental da mídia para que aconstrução das políticas para a EducaçãoInfantil possa se tornar realidade. É atravésda investigação e, principalmente, de umnovo olhar para a importância das condiçõesoferecidas para o desenvolvimento nosprimeiros seis anos de vida, que a mídiaimpressa pode impulsionar uma nova culturapara a infância brasileira.

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I M AG E N S D O A N O : A E D U C A Ç Ã O I N FA N T I L N O S J O R N A I SDIÁRIO DO NORDESTE – A FOTO DE CID BARBOSA FOIPUBLICADA DO DIA 10 DE MAIO DE 2000 EM REPORTAGEMINTITULADA LEI PROMETE O FIM DAS ESCOLINHAS DE FUNDODE QUINTAL, EXIBINDO A ENTRADA DA CRECHE COMUNITÁRIAÁLVARO WEYNE.

AGÊNCIA ESTADO – MÃES PROTESTAM NA PRAÇA DA SÉ, EMSÃO PAULO. A FOTO DE MILTON MICHIDA FOI PUBLICADA NOJORNAL DA TARDE DO DIA 11 DE OUTUBRO DE 2000.

FOLHA IMAGEM – TAMBÉM NO DIA 11 DE OUTUBRO DE 2000, OREPÓRTER FOTOGRÁFICO ANCHIETA PUBLICOU NA FOLHA DE S.PAULO A IMAGEM DO PROTESTO DE MÃES NA PRAÇA DA SÉCONTRA UM DECRETO DO ENTÃO PREFEITO CELSO PITTA,TRANSFERINDO CRIANÇAS COM MAIS DE QUATRO ANOSDAS CRECHES MUNICIPAIS PARA EMEIS (ESCOLA MUNICIPALDE ENSINO).

O POPULAR – FOTO DE CRISTINA CABRAL PARA REPORTAGEM PUBLICADA NO DIA 16 DEMARÇO DE 2000. NA IMAGEM, O GAROTO JOÃO HENRIQUE BRINCA NO INSTITUTOPESTALOZZI, EM GOIÂNIA, QUE DESENVOLVE PROGRAMA PEDAGÓGICO PARACRIANÇAS AUTISTAS.

O POPULAR – CRIANÇAS BRINCAM EMUMA SALA DA CRECHE MÃEDOLOROSA, EM GOIÂNIA. IMAGENS DOLOCAL FORAM PUBLICADAS PORCRISTINA CABRAL NO DIA 15 DEFEVEREIRO DE 2000, EM MATÉRIAINTITULADA CRECHES REDUZEMVAGAS POR FALTA DE MONITORES.

DIÁRIO DE NATAL – A FOTO DE IANOANDRADE FOI PUBLICADA NAEDIÇÃO DO DIA 30 DE JANEIRO DE2000.

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GUILHERME CANELACONSULTOR TÉCNICO

A construção do espaço público - parautilizar expressão do filósofo alemão JürgenHabermas - no qual se dá a formação dosformadores da opinião pública e, logo, daprópria opinião pública, estáintrinsecamente ligada ao comportamentoda mídia impressa. Aqui são iniciados,escondidos, valorizados ou deturpados osdebates fundamentais para o Público (assimmesmo com P maiúsculo).A mensagem dos meios de comunicaçãocontribui para a construção da realidade emque vivemos. “O aparecer na mídia”, nãoraro, é o fiel da balança na decisão públicade se atirar determinada políticagovernamental nas gavetas do

E d u c a ç ã o I n fa n t i l

“Nas democracias de hoje, são

os meios de comunicação de

massa que desempenham o

papel mais amplo e mais

central na formação da opinião

pública. [...] Resumindo tudo

numa única frase, diríamos que

o mundo é – para o público em

geral – a mensagem dos meios

de comunicação”1

QUEM GUARDA OS GUARDIÃES?

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CYNTHIA GARDA • EDITORA-EXECUTIVA DA ANDI

A P A U T A Q U E O B R A S I L N Ã O V I U

Os primeiros seis anos da vida de uma criança são decisivos para desenvolver suas habilidades lógicas, musicais,comunicativas, emocionais, motoras e de convívio social. Diversos campos científicos convergem para a necessidade degarantir que a criança tenha os estímulos e condições necessários para atingir o seu desenvolvimento pleno nessa fase.As conclusões de neurologistas, psicólogos e pedagogos sobre a grande oportunidade de desenvolvimento humano querepresentam os primeiros anos de vida inspiraram leis que pretendem fazer as políticas públicas do País atenderem aessa faixa etária de sua população.Um passo fundamental foi dado com a Constituição Federal que, em 1988, definiu a Educação Infantil como um direitoda criança. Ou seja, o acesso às chamadas creches e pré-escolas é parte do direito de todo brasileiro a desenvolver suascapacidades e não apenas uma resposta à necessidade de um local seguro no qual as mães trabalhadoras possam deixarseus filhos – abordagem válida, mas que não é o centro da questão. Essa mudança de ótica foi reforçada por uma sériede leis que definiram metas para a educação dos brasileiros de 0 a 6 anos que o País tem que atingir em uma década.A Lei também determina que se deve priorizar o atendimento em instituições públicas das crianças de famílias de menorrenda. Tal prioridade não pode caracterizar esse atendimento como uma ação “pobre para os pobres”.

É pobre, porém, a ação da mídiaimpressa do País na cobertura daEducação Infantil. No ano passado, os50 jornais de 24 capitais brasileirasque a ANDI acompanha diariamentepublicaram 19.619 reportagens,editoriais e artigos sobre educação decrianças e adolescentes. Menos que800 delas tinham como temaprincipal o atendimento à faixa etáriade 0 a 6 anos.Para esta edição da pesquisa Infânciana Mídia foram analisadas 769

textos publicados em jornais no anopassado (ver Universo Pesquisado,p. 5). Os resultados dessa análise,expostos nas próximas páginas,mostram que, na hora de pautar,apurar e escrever sobre a EducaçãoInfantil, o jornalista tende a ignorarque o centro da questão é o direitoda criança a seu desenvolvimentopleno, reproduzindo visõesassistencialistas que o País precisadeixar para trás, sob pena decomprometer seu futuro.

esquecimento ou trazê-la à tona,reforçando-a com o debate e as verbasnecessários para que a mesma se tornerealidade. A mídia tem, assim, um podercentral nas democracias contemporâneas:definir a agenda pública. Essa hipótese,conhecida como agenda-setting, salienta:“Em conseqüência da ação dos jornais, datelevisão e dos outros meios de informação, opúblico sabe ou ignora, presta atenção oudescura, realça ou negligencia elementosespecíficos dos cenários públicos. As pessoastêm tendência para incluir ou excluir dos seuspróprios conhecimentos aquilo que os massmedia incluem ou excluem do seu próprioconteúdo. Além disso, o público tende a

atribuir àquilo que esse conteúdo inclui umaimportância que reflete de perto a ênfaseatribuída pelos mass media aosacontecimentos, aos problemas, às pessoas.”2

Partindo desse princípio, pesquisar acobertura da imprensa sobre determinadoassunto permite entender um poucomelhor como tal assunto refletirá narealidade cotidiana. Mais do que isso,permite entender como ele não serefletirá, a partir da observação daslacunas dessa mesma cobertura.À figura do watchdog, ou à do guardião,atribuída à mídia, cabe a indagação: quemguarda os guardiães? Às fontes deinformação, cruciais ao pautar a mídia, fica a

pergunta: estão democratizando oconhecimento que acumulam em suas árease que é, a princípio, um bem público? Estapesquisa e os debates por elas gerados sãoinstrumentos para que imprensa e fontesavaliem posturas. E para que, sem nuncaabrir mão da independência, da investigaçãoe do pragmatismo, ajudem a estabelecer osfundamentos de uma sociedade melhor.Nada mais lógico que iniciar esta caminhadapelo começo: a Educação Infantil.

OS PRÓPRIOS GUARDIÃES

1 SARTORI, GIOVANNI. – A TEORIA DA DEMOCRACIA REVISITADA. V.1.SÃO PAULO: EDITORA ÁTICA, 1994. P. 133.2 SHAW (1979), APUD WOLF, MAURO – TEORIAS DA COMUNICAÇÃO. 5ª

ED. LISBOA: EDITORIAL PRESENÇA, 1999. P. 144

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LEIS E GESTÃO DAEDUCAÇÃO INFANTILA REVOLUÇÃO QUE

NÃO ATINGIU A PAUTADOS JORNAIS

Desde a aprovação da Lei de Diretrizes eBases da Educação (LDB) em 1996, o Paísvive uma reformulação legal semprecedentes na história recente, iniciada naConstituição Federal de 1988, que pelaprimeira vez fala na Educação Infantil comodireito. Vive uma revolução na maneira deencarar a educação de crianças em seusprimeiros seis anos de vida: como direito dacriança, dever do Estado e opção da família.A creche e a pré-escola passam a serdiferenciadas exclusivamente pela faixaetária das crianças que as freqüentam – de 0a 3 anos e de 4 a 6, respectivamente. Ou seja,na lei pelo menos, a creche não é mais umainstituição para crianças pobres. À União eaos estados cabe definir, junto aosmunicípios, competências e diretrizescurriculares. Mas é da esfera municipal,segundo a LDB, a incumbência de garantiresse atendimento. Outro salto substancial foia definição de padrões para o profissionalque trabalha na área.Executivo, Judiciário, universidades esociedade civil compartilham aresponsabilidade de criar as condições paraque essa revolução legal não caia no vazio. E,ao contrário do que acontece há dez anoscom o Estatuto da Criança e do Adolescente,muito citado e debatido pela imprensa, essamudança nas leis não encontrou seu lugarna cobertura sobre a Educação Infantilrealizada pela mídia impressa no anopassado.

…7,9% (61) TÊM COMO TEMAPRINCIPAL O CENSO DA EDUCAÇÃO

Quase 8% de todas as matérias sobreEducação Infantil pesquisadas nesta análisesão sobre o censo que o Ministério daEducação se propõe a realizar este ano, oprimeiro na área. Mas se a cobertura équantitativamente expressiva, também équalitativamente viciada: 65,5% dos textosparecem gerados a partir dos press releasesdo Governo.O Governo Federal é a principal fonte citadaem 50,8% das reportagens, artigos eeditoriais a respeito do censo. Mas o alcancedo trabalho das assessorias de imprensagovernamentais deve ser maior. Em 21,3%das matérias não foi possível identificar afonte, mas a maioria delas parece ter sidoredigida a partir de informações obtidas do

Governo, embora não o cite.A cobertura do tema foi praticamentegerada por uma única fonte, distribuídapelas agências e reproduzida em diferentesveículos do País sem alterações nemdesdobramentos sobre a realidade do estadoou município. Quase não há discussões emtorno da qualidade dos questionários docenso, e 51,7% dessas matérias sãofavoráveis ao Governo. As demais sãoneutras. Nenhum dos textos sobre o censoanalisados no universo desta pesquisa foiclassificado como desfavorável ao Governo,no sentido de questionar a eficiência do queestava sendo proposto nem em outrosentido. A maioria tampouco expõe porque ocenso será importante para educadores epolíticas públicas.Debates importantes ficaram de fora damaior parte da cobertura. Por exemplo: osnúmeros do censo cobrem a totalidade dapopulação de crianças de 0 a 6 anos e suasfamílias? Permitem analisar questões sobre aqualidade de vida e a constituição do grupofamiliar? Refletem o universo das criançasportadoras de necessidades especiais?Essas e outras perguntas são extremamenteimportantes considerando-se que a LDB,apesar de estabelecer que o atendimento eminstituições de educação infantil é umaobrigação dos municípios, não define umadestinação específica de verbas para esseatendimento. Do percentual mínimo doorçamento destinado à educação, 10% sãopara a educação infantil e “outras despesaseducacionais do município”.Sobre esses 10% do orçamento, porém, a leidetermina “a atuação em outros níveis deensino, somente quando estiverem atendidasplenamente as necessidades de sua área decompetência (ou seja, a educação básica)”.Aqui está um aspecto importante do censo:definir quais são as necessidadeseducacionais das crianças de até seis anosem cada município. Em outras palavras, onúmero de famílias que querem optar poresse tipo de atendimento, definido pela leicomo direito de suas crianças e dever doEstado. Sem esse dado, não é possível cobrardos municípios a aplicação de verbas nessaetapa da Educação.Segundo os especialistas que participaramdesta análise, o censo, cujos resultados nãoforam divulgados até o fechamento destaedição, deve também fornecer dados a

ENTRE 769 REPORTAGENS,ARTIGOS E EDITORIAISANALISADOS…

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respeito do trabalho de equipesmultidisciplinares e da formação específicade professores e pessoal de apoio nasinstituições de educação infantil, a naturezadesses estabelecimentos e sua inserção nossistemas municipais de educação. Ou seja, oquadro dos recursos humanos, espaço físico,equipamento, material pedagógico,regimento escolar e proposta de cuidado eeducação.Esses questionamentos não aparecem nostextos analisados. A mídia e os especialistasda área, que poderiam provocá-la,permitiram que o noticiário sobre o censo sereduzisse à informação de que o Governo ohavia iniciado, praticamente semcontextualizar suas razões nem investigarsua efetividade.

…3,9% DAS MATÉRIAS TÊM COMOFOCO PRINCIPAL A LEGISLAÇÃO

Embora 25,5% dos 769 textos jornalísticos sobreEducação Infantil publicados em 2000 eanalisados neste estudo citem diferentes leis emalgum momento, apenas 30 têm a legislaçãoeducacional como foco principal da matéria.Desses, 12 são especificamente sobre a LDB.Responsáveis pela regulamentação da lei, ospareceres dos conselhos de educação(Federal, estaduais e municipais) são o temacentral em apenas 5 das matérias sobrelegislação em educação infantil. E osconselheiros, profissionais aptos a emitiropiniões fundamentadas a respeito do tema,são fonte em apenas 2 desses textos.As três esferas do Poder Executivo alternam-se como fonte em 10 dessas matérias. Já ospoderes legislativos foram ouvidos em 4 dasreportagens, artigos e editoriais sobrelegislação. Esse índice tem potencial paracrescer, até como forma de estabelecer umcontraponto às posições dos órgãosexecutivos.Judiciário e Ministério Público não sãoouvidos quando o tema central é legislação,o que demonstra o afastamento dessessegmentos das discussões sobre educaçãoinfantil. Essa atuação do Judiciário e doMinistério Público como fontes deinformação e/ou protagonistas de açõesefetivas surpreende se comparada à forteinfluência que apresentam em outros temas.No ano passado, esses atores pautaram10,46% das 64.396 inserções de matérias

relacionadas a crianças e adolescentes,clipadas em 50 jornais de capitais brasileirasacompanhados pela ANDI, nas quais foipossível identificar a fonte da informação.

OMISSÃO, ATRASO E DÍVIDA

Apenas 0,9% de todas as matérias analisadastêm como assunto principal amunicipalização da educação infantil. Com asanção da LDB em 20 de dezembro de 1996ficou estabelecido, no Art. 89 das disposiçõestransitórias, que as “creches e pré-escolasexistentes ou que venham a ser criadasdeverão, no prazo de três anos, a contar dapublicação desta Lei, integrar-se aorespectivo sistema de ensino”. A integraçãodessas instituições no sistema de ensinobásico não é uma opção do estabelecimentonem do sistema, mas uma imposição legalque responde às necessidades e direitos dascrianças brasileiras de 0 a 6 anos e suasfamílias.Prefeitos, secretários de educação estaduaise municipais, câmaras de vereadores,conselhos municipais de educação, dacriança, tutelares, varas e promotorias dainfância e juventude, Ministério Público,universidades, cursos de Pedagogia isolados,escolas normais, famílias, movimentos eorganizações da sociedade civil dividem aresponsabilidade de não deixar que maisinstituições sejam fechadas, mas de exigirpadrões básicos para seu funcionamento eas condições para alcançá-los.Para isso, a lei determina que as equipespedagógicas de governos estaduais emunicipais têm que redefinir e apoiar aqualificação dessas instituições. Asuniversidades e os cursos de formação deprofessores das secretarias municipais eestaduais de educação precisam criarestratégias de qualificação do pessoal leigo,atualmente 40% do total de profissionaisatuantes. Legislativo e Judiciário, exigir de

prefeitos e secretários de educação ocumprimento da lei. E os conselhos e asfamílias, supervisionar a transformação dasinstituições.

UMA DÉCADA EM DUAS

A “Década da Educação” foi instituída com apublicação da LDB. O Art.87 das disposiçõestransitórias definiu o prazo de um ano apartir da sanção daquela lei para que aUnião encaminhasse ao Congresso Nacionalo Plano Nacional de Educação (PNE), comdiretrizes e metas para os dez anosseguintes.No mesmo artigo fica estabelecido que:“Até o fim da Década da Educação somenteserão admitidos professores habilitados emnível superior ou formados por treinamentoem serviço”.Mas o PNE e suas metas para dez anos sóforam sancionados em 9 de janeiro último.Com esse atraso, o Brasil acabou criando“duas décadas da educação” diferentes. Umacomeçou em 1997, um ano depois desancionada a LDB; a outra, em 2001, com aentrada em vigor do Plano. Segundo aprimeira delas, em 2007 vence o prazo paraque os professores tenham formação emcursos superiores. Em 1998, porém, 13% dosque atuavam na chamada pré-escolapossuíam apenas o ensino fundamental,completo ou incompleto.Esse quadro não ganhou relevância nasmatérias que tratavam da educação infantilcomo foco principal no ano passado: apenas1,0% dos textos analisados abordava aformação dos profissionais da área.

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O B E R Ç O D O D E S E N VO LV I M E N TO H U M A N O

“A educação das crianças de zero a seis anos em estabelecimentos específicos de educação infantil vem

crescendo no mundo inteiro e de forma bastante acelerada, seja em decorrência da necessidade da família

de contar com uma instituição que se encarregue do cuidado e da educação de seus filhos pequenos,

principalmente quando os pais trabalham fora de casa, seja pelos argumentos advindos das ciências que

investigaram o processo de desenvolvimento da criança. Se a inteligência se forma a partir do nascimento e

se há “janelas de oportunidade” na infância quando um determinado estímulo ou experiência exerce maior

influência sobre a inteligência do que em qualquer outra época da vida, descuidar desse período significa

desperdiçar um imenso potencial humano. Ao contrário, atendê-la com profissionais especializados capazes

de fazer a mediação entre o que a criança já conhece e o que pode conhecer significa investir no

desenvolvimento humano de forma inusitada. Hoje se sabe que há períodos cruciais no desenvolvimento,

durante os quais o ambiente pode influenciar a maneira como o cérebro é ativado para exercer funções em

áreas como a matemática, a linguagem, a música. Se essas oportunidades forem perdidas, será muito mais

difícil obter os mesmos resultados mais tarde.” *

“Considera-se, no âmbito internacional, que a educação infantil terá um papel cada vez maior na formação

integral da pessoa, no desenvolvimento de sua capacidade de aprendizagem e na elevação do nível de

inteligência das pessoas, mesmo porque inteligência não é herdada geneticamente nem transmitida pelo

ensino, mas construída pela criança, a partir do nascimento, na interação social mediante a ação sobre os

objetos, as circunstâncias e os fatos. Avaliações longitudinais, embora ainda em pequeno número, indicam

os efeitos positivos da ação educacional nos primeiros anos de vida, em instituições específicas ou em

programas de atenção educativa, quer sobre a vida acadêmica posterior, quer sobre outros aspectos da vida

social. Há bastante segurança em afirmar que o investimento em educação infantil obtém uma taxa de

retorno econômico superior a qualquer outro.”*

*Trechos da Lei nº 10.172, que instituiu, em 9 de janeiro de 2001, o Plano Nacional de Educação.

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AS LEIS

PARA OS PRIMEIROS

SEIS ANOS DE VIDA DE

UM BRASILEIRO

Para investigar, retratar e criticar a natureza das

instituições de educação infantil, sua inserção

nos sistemas municipais de educação, a formação

dos professores, o trabalho de equipes

multidisciplinares, os recursos humanos,

materiais, pedagógicos e a infraestrutura

necessários na formação de crianças até os seis

anos de idade, é importante conhecer os

seguintes documentos:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVADO BRASIL (1988)Nos artigos 6º, 7º, 30, 203, 208 (IV), 211 e 227, a

Constituição define educação, saúde, proteção à

maternidade e à infância e assistência aos

desamparados como direitos sociais. Também

estipula o direito dos trabalhadores urbanos e

rurais de acesso a creches e pré-escolas para seus

filhos. Envolve municípios, assistência social,

Estado, União, família e comunidade na garantia

dos direitos das crianças de 0 a 6.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE(1990)Cap.IV art.53 – IV “É dever do Estado assegurarà criança e ao adolescente (…) atendimentoem creche e pré-escola às crianças de zero aseis anos de idade.”Parágrafo único “É direito dos pais ou do

responsável ter ciência do processo pedagógico,

bem como participar da definição das propostas

educacionais.”

LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL(1993)Art. 2º “A Assitência Social tem por objetivos:

I- Proteção à família, à maternidade, à velhice;

II- Amparo às crianças e adolescentes carentes.”

DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO(Lei Nº 9.394/96)A Lei dispõe sobre a integração entre os esforços

da família e do Estado na educação, obrigação

dos municípios de oferecer atendimento gratuito

em creches e pré-escolas, concepção,

desenvolvimento e avaliação de propostas

pedagógicas, finalidade da educação infantil,

formação dos professores, recursos financeiros e

papel dos conselhos. Os principais artigos que

tratam da educação de crianças entre 0 e 6 anos

são: 1º; 2º; 4º (IV); 11 (V); 12 (VI e VII); 13 (I,II e IV);

14 (I e II); 17 (& único); 18 (I e II); 29; 30; 31

(disposições transitórias); 62; 63 (I e II); 64; 67

(disposições transitórias); 69; 70; 77; 90.

DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARAEDUCAÇÃO INFANTIL (RESOLUÇÃO No 1/99E PARECER No 022/98)As Diretrizes Nº 4, 5, 6, 7 e 8 tratam da elaboração

de propostas pedagógicas; dos processos de

avaliação das crianças; da exigência da presença

de professores na equipe de direção e

coordenação com, pelo menos, o curso normal de

nível médio; e das propostas pedagógicas e

regimentos como ferramentas da gestão

autônoma e de qualidade das instituições de

educação infantil.

PARECER CEB Nº 20 (1998)A Câmara de Educação Básica e o Conselho

Nacional de Educação se manifestam sobre a

inclusão de crianças de 6 anos no ensino

fundamental.

PARECER CEB/CNE Nº 26 (1997)O Conselho Nacional de Educação se manifesta

sobre financiamento.

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (Lei Nº10.172/01)Instala, em 9 de janeiro de 2001, a Década da

Educação, definindo os objetivos e metas que o

País deve atingir para a educação infantil nos

próximos dez anos.

CONSTITUIÇÕES E LEIS ORGÂNICASESTADUAIS E MUNICIPAISGarantem o direito das crianças à educação

infantil e, em alguns casos, avançam mais que a

legislação federal.

CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DE TRABALHOAssegura o direito dos pais trabalhadores a que seus

filhos freqüentem instituições de educação infantil.

TRATADOS INTERNACIONAISDeclaração Universal dos Direitos Humanos –

ONU (1948)

Convenção Internacional sobre Direitos da

Criança – ONU (1989)

Declaração Mundial sobre Educação para Todos –

Jomtien (1990)

* Seleção de leis extraída do Parecer 04/2000 da

Câmara de Educacação Básica do Conselho Nacional

de Educação, que em sua seção 2. Fundamentos

Legais dos Direitos das Crianças de 0 a 6 anos,

sintetiza os artigos mais significativos da legislação

citada acima, com exceção do Plano Nacional de

Educação e da Consolidação das Leis do Trabalho.

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Entre 1997 e 1998, o número de matrículasna pré-escola caiu em 200 mil. Em 1999,houve nova queda: 159 mil matrículas amenos. Com a criação do Fundef recursosantes aplicados na educação infantil foramtransferidos, por municípios e estados, aoensino fundamental, fechando muitasinstituições para crianças de 0 a 6 anos.Tramita no Congresso um projeto de lei paracriar o fundo próprio para a Educação Básica(Fundeb).A realidade traduzida por esses números,porém, se choca com a cobertura daimprensa para o tema no ano passado.Apenas 0,9% das mais de 700 matériasanalisadas pela ANDI focaliza o Fundef.E tendem a ignorar suas conseqüências,positivas para o ensino fundamental, masnegativas para as crianças de 0 a 6 anos.Orçamento foi o tema em 7,8% (60) delas.Outros fincanciamentos, verbas paraprogramas, distribuição, desvio ou má gestãoresponderam, juntos, por 5,4% (42) dostextos analisados.A queda no número de matrículas tambémse choca com as metas estabelecidas noPlano Nacional de Educação. Com a sançãodo Plano em 9 de janeiro de 2001, o Brasilassumiu várias metas para creches e pré-escolas, algumas resumidas abaixo.

A partir de janeiro de 2001• Só admitir profissionais com titulação

mínima em nível médio.• Assegurar que, em todos os municípios,

além de outros recursos municipais, os10% dos recursos de manutenção edesenvolvimento do ensino não vinculadosao Fundef sejam aplicados,prioritariamente, na educação infantil.

• Instituir mecanismos de colaboração entreos setores da educação, saúde e assistênciana manutenção, expansão, administração,controle e avaliação das instituições deatendimento a crianças de 0 a 3 anos.

• Garantir a alimentação escolar naeducação infantil, através da colaboraçãofinanceira da União e estados.

• Extinguir as classes de alfabetizaçãoincorporando as crianças imediatamenteno ensino fundamental e nele matricular

todas as crianças de 7 anos ou mais quefreqüentem instituições de educaçãoinfantil.

• Implantar conselhos escolares e outrasformas de participação da comunidadeescolar.

• Adotar progressivamente o atendimentointegral a crianças de 0 a 6 anos.

• Estabelecer parâmetros de qualidade naeducação infantil.

• Realizar estudos sobre os custos daeducação infantil com base nosparâmetros de qualidade.

• Promover debates com a sociedade civilsobre direitos dos trabalhadores àassistência gratuita a seus filhos edependentes em creches e pré-escolas.

• Ampliar oferta de cursos superiores paraprofessores de educação infantil.

• União e Estado devem apoiar municípioscom maiores necessidades técnico-financeiras.

• Garantir recursos do Tesouro e daAssitência Social para programas de rendamínima associados à educação; e recursosda Saúde e Assistência Social para aeducação infantil.

Em um ano• Elaborar “padrões mínimos de

infraestrutura” para o funcionamentoadequado de instituições de educaçãoinfantil. A partir de então, só poderão serconstruídas instituições que se adequem aesses critérios.

Em dois anos• Municípios definem sua política para

educação infantil.

Em três anos• Implementar o programa de formação em

serviço.• Todas as instituições formulam seus

projetos pedagógicos.• Estabelecer sistema de acompanhamento,

controle e supervisão da educação infantilnos municípios.

• Incluir creches ou entidades equivalentesno sistema nacional de estatísticaseducacionais.

UMA PAUTA

PARA A DÉCADA

COMPROMISSOS QUE O PAÍS

ASSUMIU PARA EDUCAR

SUAS CRIANÇAS

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• Informatizar as secretarias estaduais deeducação, integrando-as em rede aosistema nacional de estatísticaseducacionais.

Em cinco anos• 30% da população de até 3 anos de idade

e 60% da população entre de 4 a 6 comacesso à educação infantil.

• Adaptar as instituições de educaçãoinfantil que existem hoje aos “padrõesmínimos de infraestrutura”.

• Todos os dirigentes possuem formação emnível médio e os professores, habilitaçãoespecífica de nível médio.

• Fornecer aos municípios materiaispedagógicos adequados para garantir ospadrões mínimos de infraestrutura.

• Informatizar as secretarias de educação dametade dos municípios com mais de 20mil habitantes.

• Estabelecer, nos municípios, programas deacompanhamento e avaliação dosestabelecimentos de educação infantil.

Em dez anos• Incluir na educação infantil 50% das

crianças de 0 a 3 e 80% de 4 e 5 anos.• Nível superior para todos os dirigentes e

para 70% dos professores.• Estabelecer em todos os municípios, com a

colaboração dos setores responsáveis pelaeducação, saúde e assistência social e deorganizações não-governamentais,programas de orientação e apoio aos paiscom filhos entre 0 e 3 anos, oferecendo,inclusive, assitência financeira, jurídica e desuplementação alimentar nos casos depobreza, violência doméstica edesagregação familiar extrema.

• Informatizar TODAS as secretariasestaduais de educação, integrando-as aosistema nacional de estatísticaseducacionais.

A tabela ao lado reflete a participação dos veículosno universo da pesquisa, composto por 769inserções. O percentual “outros” reúne as seguintespublicações: A Gazeta do Paraná; A Região; Folha doBoqueirão; Folha de Londrina; Jornal da Cidade;Jornal da Comunidade; Jornal do Estado; Jornal deJuazeiro; O Estado do Paraná; O Metropolitano;Primeira Hora; RAC; Valor Econômico.

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ENTRE 769 REPORTAGENS,ARTIGOS E EDITORIAISANALISADOS…

A educação infantil só é tratada como umdireito da criança em 2% (15 inserções) detodas as matérias analisadas. Segundo odiagnóstico do Plano Nacional de Educação(PNE), as estatísticas disponíveis até ocomeço de 2001 davam conta de 1,4 milhãode crianças de até 3 anos freqüentandocreches, embora os brasileiros nessa faixaetária sejam 12 milhões. Das crianças comidades entre 4 e 6 anos, aproximadamente9,2 milhões, 44% estavam matriculadas napré-escola em 1998.A chance de freqüentar os serviços deeducação infantil é fundamental pararespeitar o direito da criança aodesenvolvimento integral. Se o acesso detodos os brasileiros que têm esse direitolegal não é garantido, o País está plantandouma semente de desigualdade.Freqüentar esse tipo de instituição é decisivopara o desenvolvimento e a aprendizagem,potencializando a construção das estruturasde inteligência, capacidades de expressãooral, corporal e artística, habilidades deinteração social e formação da auto-imagem. Não freqüentá-la implica no riscode não realizar plenamente odesenvolvimento por ela incrementado.

…22,7% TRATAM DO ACESSO AINSTITUIÇÕES E SUA INFRAESTRUTURA

Nos textos que compõem o universo destapesquisa, as questões de acesso ainstituições e de sua infraestrutura foram otema principal em 22,7% dos casos. Esseíndice não considera as matérias sobrequestões orçamentárias, que indiretamenteestão relacionadas com a melhora,manutenção e ampliação da rede.Orçamento, critérios de distribuição derecursos, verbas para programas, desvio oumá gestão, Fundef e outros financiamentosrespondem por 14,1% do total de matérias.O percentual de 22,7% representa 174inserções. Fazendo um recorte estatísticoapenas para essas matérias sobre acesso einfraestrutura, a expansão da rede é o temamais abordado (ver gráfico Acesso einfraestrutura: o enfoque dasmatérias, p. 17).As matérias tendem a repercutir pautasoficiais e transmitir uma visão favorável aonível de governo a que estão relacionadas. Amaioria reflete apenas a política de

inauguração de creches e pré-escolas, o queé, em si, uma pauta positiva, mas na qual ojornalista pode optar ou não por ultrapassaro discurso político e analisar o que aqueleevento representa enquanto ampliação doacesso à educação infantil. Os enfoques maisrespresentativos - disputa por vagas (41inserções) e expansão da rede (52) - sãoexemplos da dicotomia denúncia vs.exaltação da atividade estatal (ver tabelaInaugurações festivas ou protesto por vagas:a visão é sempre parcial, p.17).Quando a pauta é a disputa por vagas, aimprensa ouve outras fontes além do governo,como os usuários do sistema, em 11 inserções.Ainda nessa pauta, 16 inserções foramclassificadas como desfavoráveis ao governo.Já quando o foco principal é a expansão darede de atendimento, os poderes executivossão a fonte em 36 das matérias. Entre asreportagens sobre a ampliação da oferta devagas no município, 35 são geradas poranúncios oficiais - solenidades deinauguração. Aqui, 41 matérias foramclassificadas como favoráveis ao governo.Esse índice expõe uma cobertura que se limitaa informar o leitor que, por exemplo, há umanova creche na cidade. Não ocorre umainvestigação sobre a pertinência de se construiressa insituição e se ela está de acordo com ospadrões mínimos descritos pelas normas doConselho Nacional de Educação.Tanto nas matérias sobre inauguraçõesquanto nas sobre falta de vagas, a pautafactual carrega uma visão reducionista.Tende a ficar limitada a algumas famílias oubairros. O jornalista perde a chance de, apartir desse gancho, aprofundar o temaEducação Infantil, abordando outrasquestões ou expandindo o contexto para oquadro nacional.A creche é inaugurada e, no texto, aparecemo discurso do político e o número decrianças atendidas. O jornalista não explora oespaço, todas as atividades que a criança vaidesenvolver ali, o que poderia ser a pauta,inclusive, para uma seqüência da matéria nodia seguinte. Se isso é exposto, o leitor podecomeçar a entender a educação infantilcomo um direito da criança, além de umanecessidade da mãe trabalhadora e, aindamais, o significado da experiência educativana instituição.É válida a abordagem da creche comoequipamento social que dá condição ao

O ACESSOAOS ESPAÇOS DE

EDUCAÇÃOPLANTANDO

UMA SEMENTE DEDESIGUALDADE

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trabalho extra-domiciliar dos pais. Mas aquestão não está restrita ao trabalhador teracesso a um lugar para deixar sua criança.Além disso, a mídia impressa tende a abordaro assunto como associado quaseexclusivamente à mãe, ignorando acompreensão de que o pai compartilha essaresponsabilidade, o que é melhor para acriança e a família. As matérias reforçam,assim, o estereótipo e a prática cultural deque a criança é assunto de mulher,responsabilidade da mãe. Outro grandeavanço jurídico da Constituição Federal,fundamentado na realidade bio-psicológicado ser humano, é o conceito de que a criançatambém é “filha do pai”.Na maioria das matérias, o espaço não éavaliado enquanto um ambiente educativo(ver Questões Pedagógicas, p.18). Asreportagens sobre condições físicas einfraestrutura tendem a se voltar para a faltade condições de saneamento, descriçãoinstalações, das condições de higiene e dasegurança no espaço físico da instituição.Também não se investiga como essa estruturase apresenta na casa dos pais - o que implicanão fazer uma reportagem com a ótica dodireito às condições de desenvolvimento,ignorando que as condições disponíveis paraa criança se desenvolver na família tambémestão pauta. A matéria é mais enriquecedorase leva o leitor a conhecer melhor o que sepassa no novo espaço educativo, o quanto elese articula com o familiar e o complementa.No caso das denúncias, apontam-se, porexemplo, a falta de vagas e o prejuízo vivido

pelas famílias quando a mãe vê suacapacidade de trabalho limitada pela falta deum local onde deixar suas crianças. Aquestão é reduzida a garantir a segurança ea higiene do lugar, não um ambientepropício para desenvolver as capacidadescognitivas, a imaginação, a brincadeira,noções de música, lógica e linguagem. Ojornalismo parece reforçar o estereótipo deque a educação infantil pública é uma açãopobre para os pobres. Embora não se trate deum silêncio completo, pouco se comentamas questões propriamente pedagógicas daeducação infantil. Predominam aexternalidade, o contexto, o fato aparente.Nesse aspecto, vale destacar que, quando amatéria tem característica de serviço - paraorientar os pais na escolha de umestabelecimento privado e sugerir estratégiasde adaptação da criança à creche ou à pré-escola - o jornalista tende a estar atento aosaspectos propriamente educacionais,incluindo o desenvolvimento infantil nocentro da apuração.A determinação legal de que o País orienteuma prática pedagógica que respeite oprocesso de desenvolvimento da criança nosprimeiros anos de vida, extraída do PNE, valeaqui para jornalistas. O texto da lei chama aatenção para a necessidade de superar asdicotomias entre creche e pré-escola,assistencialismo e educação, atendimento acarentes e educação para a classe média.Dicotomias que “orientações políticas epráticas sociais equivocadas foramproduzindo ao longo da história”.

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“Nossas crianças têm direito:à brincadeiraà atenção individuala um ambiente aconchegante, seguro eestimulanteao contato com a naturezaà higiene e à saúdea uma alimentação sadiaa desenvolver sua curiosidade, imaginaçãoe capacidade de expressãoao movimento em espaços amplosà proteção, ao afeto e à amizadea expressar seus sentimentosa uma especial atenção durante seuperíodo de adaptação à crechea desenvolver sua identidade cultural,racial e religiosa”

A escolha entre as diferentes instituiçõesde educação infantil é tema de 3,5% dostextos analisados enquanto 5,3%focalizam a disputa por vagas. A primeirapauta quase sempre trata deestabelecimentos particulares entre osquais os pais (leitores) podem optar paraos filhos na época de matrículas.Quando a matéria tem essa característica deserviço à população, orientando os pais naescolha de um estabelecimento privado,comentando e sugerindo estratégias deadaptação da criança à creche ou à pré-escola, o jornalista demonstra interesse pelosaspectos pedagógicos, propriamenteeducacionais. Tende a ser preciso, cuidadoso,didático. Põe as atividades das crianças nocentro da matéria.Se a pauta é a disputa por vagas, a tendênciaobservada pelos consultores desta pesquisa éa de que os textos jornalísticos discutamapenas o acesso. Mas acesso a quê,exatamente? A resposta é: a um local onde oconjunto de ações pedagógicas favoreça opleno desenvolvimento da criança e não aapenas a um abrigo seguro onde ela possapassar o dia enquanto os pais trabalham.Quando o repórter vai até o estabelecimento,em geral, centraliza as observações sobre aqualidade da instituição apenas no visualexterno do prédio. Ao reforçar esse segundoolhar, como foi observado em muitas matériassobre a falta de vagas no sistema público, amídia tende a perpetuar a noção de “umaeducação pobre para os pobres”.

A infância é uma fase do desenvolvimentohumano com características próprias. Acriança é um ser ativo, curioso, imaginativo,criativo. Aprende com brincadeiras. Exercitarriscos, rabiscos e desenhos é uma etapaimportante antes do ensino da escrita.Assim, ao entrar em uma creche ou pré-escola, é importante mudar o olhar: ao invésde procurar por cadeiras e mesas dispostasem salas, típicas da fase da escolarização, épreciso buscar por livros de histórias,brinquedos e observar se o espaço físico éflexível, permitindo organizar diferentesatividades e deixar a criança livre paraexplorá-lo.Ainda prevalece a noção, com raízes nahistória da educação de crianças até os seisanos de idade, que surge a partir daurbanização, da industrialização, da inserçãoda mulher na força de trabalho extra-domiciliar e da conseqüente necessidade dese pensar instituições e espaços para acriança. Desde meados do século XIX, aPedagogia estuda e propõe condições paratornar a pré-escola uma etapa rica, quecomplemente as experiências vividas emcasa e em outros ambientes sociais. Nasegunda metade do século XX, a Pedagogiavolta-se também para o atendimento dascrianças de 0 a 3 anos.Na família e nas instituições de educaçãoinfantil, o adulto deve propiciar ações paraque a criança interaja no mundo social, físicoe lógico. Nesse processo de desenvolvimento,ela vive a partir da brincadeira, daoportunidade do movimento, do ambienterelacional, funcional, do jogo, vencendodesafios propostos em relação à leitura domundo que a cerca. A atuação do adultonesse processo, permeada por relaçõesafetivas saudáveis, orienta, estimula eproblematiza. Esse desenvolvimento em umambiente enriquecedor propicia aconstrução da auto-estima, da criatividade,da segurança e da solidariedade.

... 3,8% (29)CARREGAM A ÓTICAASSISTENCIALISTAFreqüentar uma instituição que promova oeducar e o cuidar é um direito da criança,opção da família e dever do Estado. Essesespaços de educação infantil deverãoorganizar ações educativas práticas quecontribuam para que as crianças possamexperimentar as vivências necessárias para

(Trecho dos Critérios para um atendimento em creches que respeite osdireitos fundamentais das crianças, COEDI/MEC, 1995, por FúlviaRosemberg e Maria Malta Campos)

ENTRE 769 REPORTAGENS,ARTIGOS E EDITORIAISANALISADOS…

QUESTÕESPEDAGÓGICAS

DESENVOLVIMENTOPLENO OU SÓ A VAGA

EM UM ABRIGOSEGURO?

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seu desenvolvimento e nas quais osprofissionais da infância, principalmenteprofessores, possam construir projetos,organizar espaços e estabelecer parcerias. Nouniverso de matérias que compõe estapesquisa, no entanto, em 3,8% dos textos, aeducação infantil é retratada apenas sob aótica assistencialista, ignorando as diretrizescurriculares que direcionam essa práticapedagógica.A assistência social é também um direito dacriança, mas não resume a forma adequadade cuidar e educar. É preciso considerar ascaracterísticas de cada faixa etária e exigirdos adultos a compreensão da importânciadas brincadeiras, das atividades dirigidas esemi-dirigidas. No Brasil, ainda há entravespolíticos, técnicos e financeiros para aconstrução de uma condição educacionalpara as crianças de 0 a 6. As creches sãopensadas como paliativas e, dentro dessaabordagem assistencial, professores eprofissionais não são valorizados.Nos textos, a ênfase está em financiamentos,alimentação, situação de higiene e sono. Sãotodos pontos importantíssimos, mas não háinvestigação sobre o ambiente, o cotidiano, osbrinquedos ou como a instituição desenvolvea educação conjunta com a família.

... 8,6% ABORDAM ODESENVOLVIMENTO DA CRIANÇAA grande maioria das matérias querelacionam educação infantil edesenvolvimento da criança (8,6% ou 66 dototal de inserções) têm como tema principalo Prêmio Qualidade na Educação Infantil,promovido pela Fundação Orsa, peloMinistério da Educação e Undime àsmelhores experiências de educação infantilnos estados.Nessas reportagens, porém, o foco não é aquestão pedagógica nem mesmo as práticasou experiências premiadas. Raras vezes umainstituição é visitada pelos jornalistasautores dos textos. A pauta quase sempre serestringe à solenidade de entrega do prêmio,realizada com a presença do presidente daRepública em Brasília e repercutida emagências de notícia. O contato com ospremiados de cada região é feito, na maioriados casos, por telefone, mesmo quandoestão na mesma cidade do jornal. Osjornalistas perdem a chance de focalizar aquestão pedagógica, que é forte e

concretamente percebida a partir do prêmioem si, refletida na entrega de materiais,brinquedos, equipamentos e recursos que oprofessor pode utilizar para enriquecer ocotidiano das crianças de 0 a 6 anos.

... 0,4% (3) FOCALIZAM RECURSOSMATERIAIS E RELAÇÕESINTERPESSOAISOs recursos materiais utilizados nasinstituições podem funcionar comoindicadores para o olhar da prática daeducação infantil. As formas de utilização eorganização do ambiente físico, social erelacional refletem a concepção que ainstituição tem da criança de 0 a 6.É preciso investigar tamanho, distribuição evariedade de recursos materiais quepermitam o desenvolvimento da criança, eque na pesquisa só são o tema principal em0,4% das inserções. Aqui, as diferenças entrea educação infantil e o ensino fundamentalprecisam estar bem refletidas no espaço que,ao invés de salas cuidadosamentepreenchidas com cadeiras e mesas, deve serocupado privilegiando a brincadeira e asdemais atividades pedagógicas,desenvolvidas ludicamente.Esse percentual (0,4%) inclui as reportagenscujo tema central são as relaçõesinterpessoais. Isso reforça a necessidade deque o índice aumente já que, para isso, ojornalista deve procurar saber como sedesenvolve a aproximação com a família,com a comunidade e como se estabelecemessas presenças dentro da instituição, alémdo número de adultos por grupo de crianças.

… 1,8% DISCUTEM COMOQUALIFICAR O EDUCADORO profissional da infância, ou o professor deeducação infantil enquanto profissional,reconhecido como tal, conta com apenasuma inserção no universo da pesquisa, o quereflete a presença de um número bastantediversificado de terminologias utilizadaspara identificar o adulto que cuida e educa acriança de 0 a 6. E a construção daidentidade do professor de educação infantilpassa pela qualificação profissional. Emboraapareçam algumas inserções na mídia sobreo tema, a questão aqui é especificar o que seentende por qualificação profissional, paraque, onde ela se realiza e como. Relacioná-lacom a legislação federal, com a política

pública municipal, e o locus onde ocorre.Vale, aqui, incluir a discussão da busca daidentidade deste profissional e a relação comos cursos de formação inicial e continuada.Segundo a LDB e o Parecer 022/98, até 2007todos os profissionais que passem a sercontratados para atuar na educação infantildeverão ter magistério ou curso dePedagogia, além de garantir sua formaçãocontinuada, por meio de cursos, reuniões.Também se estabelece a criação de equipesmultidisciplinares para atuar na área.Paralelamente ao profissional, inclui-se aFAMÍLIA – não na perspectiva doassistencialismo, mas na relação que deve tercom a instituição em compartilhar aresponsabilidade e o prazer na educação de 0a 6, envolvendo avós, tias, irmãos maisvelhos e vizinhos. Entre as matériasanalisadas nesta pesquisa, todas elasreferentes, em primeiro lugar, a creches epré-escolas, 3,0% (23) abordam o papel dafamília na educação dos filhos.

... 6,5% DOS TEXTOS QUE TRATAM DEPOLÍTICAS PÚBLICAS REFEREM-SE AQUESTÕES PEDAGÓGICASPolíticas Públicas conduzidas pelas diferentesesferas estatais correspondem a 58,0% (446)das inserções sobre educação infantilestudadas nesta pesquisa. Dessas, apenas 30referem-se a questões pedagógicas – 3 delasà educação especial e 14 à qualificaçãoprofissional.O essencial – traduzido aqui como aeducação, o aproveitamento do tempo dacriança na instituição para formar suainteligência, desenvolver estruturas deaprendizagem, expressão, inserção einteração social, para o entendimento desuas emoções e o uso delas como forçaspessoais para o crescimento, a auto-expressão e o relacionamento com o mundo– está pouco presente nas matérias.

CAMINHOS PARA OBSERVARQUESTÕES PEDAGÓGICASAlém das reportagens cujo tema sãopropostas pedagógicas para a educaçãoinfantil, alguns itens podem ser observadospelos jornalistas quando visitam instituiçõespara apurar uma matéria, independente dofoco principal da pauta. Isso significa, porexemplo, despertar o olhar para a construçãode um novo ambiente para a educação

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infantil. O ambiente é educativo einfluencia a vida dos que ali estão. Essa“arrumação” está relacionada ao projetopedagógico da instituição.Um aspecto importante é a utilização dediferentes espaços na comunidade, já que acreche e a pré-escola não são os únicoslocais onde acontecerá a aprendizagem dacultura. E concentrar mais atenção nasatividades que são desenvolvidas pelacriança naquele estabelecimento do que nascondições materiais para o funcionamentoda instituição ideal. É importante estaratento ao despertar do senso estético entreas crianças, por meio de uma proposta queinclua linguagens expressivas, a coerênciaentre os equipamentos e o planopedagógico, a regionalidade e a faixa etáriadas crianças. E à arte na comunidade e suainserção no universo educacional.Vale ter em mente alguns pontos quegarantem a qualidade na abordagem sobrequestões pedagógicas em matérias sobreEducação Infantil:

RELACIONAR LEIS, POLÍTICASE PRÁTICASConfrontar a proposta individual de cadaestabelecimento com as políticas públicasdo município, estado, Federação e comdecretos e diretrizes legais. É possíveldestacar o projeto político, pedagógico e aspráticas educacionais, lembrando que,como definido pelas diretrizes curricularespara a educação infantil, creche e pré-escola não devem antecipar a escolaridadenem negar à criança a oportunidade dedescobrir, aprender e se desenvolver.

EXPLORAR PESQUISAS ACADÊMICASNo meio universitário, há um grande volumede pesquisas nacionais e estrangeiras querelacionam a primeira infância com odesenvolvimento humano. Entre essas teses,podem-se encontrar estudos sobre: asrelações entre a família e a equipe escolar; ouso de materiais não-formais; a divisão deresponsabilidades entre escola, família eEstado. Pesquisas conduzidas por ONGs,Governo e organismos internacionaisoferecem dados sobre a situação daeducação infantil no Brasil e no mundo.

QUEM VAI APLICAR AS PROPOSTASPEDAGÓGICAS?Na equipe docente é importante verificar aqualificação e o número de profissionaispara cada grupo de crianças em diferentesfaixas etárias. Na proposta pedagógica,as atividades previstas e se elas estãoorganizadas de forma a ampliar ouniverso cultural, o repertório, afantasia, o movimento, a leitura deimagens, sons e palavras.

BRINCAR PARA APRENDER“Brincar com criança não é perder tempo, éganhá-lo: se é triste ver meninos sem escola,mais triste ainda é vê-los sentadosenfileirados, em salas sem ar, com exercíciosestéreis, sem valor para a formação dohomem” (Drummond)Na educação infantil, a criança aprendeatravés do brincar, que lhe permite descobrir,explorar, crescer e, conseqüentemente,aprender. É essencialmente diferente doensino fundamental. A criança de 0 a 6 temnecessidades, interesses específicos eestágios de desenvolvimento que devem serrespeitados. As matérias analisadasestabelecem uma relação muito forte entreprática de ensino e método, o que fortalece aação do adulto em olhar a educação infantilcom foco no de rol de atividades e não nacriança como um todo.Transformações do sistema produtivo e dasrelações de trabalho assombram pais e mãescom o fantasma do futuro desemprego deseu filho, os quais passam a acreditar que ascrianças deveriam ser estimuladas a obtersucesso, o que é comumente associado, nocaso de creches e pré-escolas, a umaantecipação da escolaridade, e isso pode ter,na realidade, reflexos negativos nodesenvolvimento da criança.A educação infantil não deve se basear nadivisão por disciplinas ou em horáriosrígidos, como no modelo do ensinofundamental. Para se desenvolver pessoal esocialmente, a criança precisa ter acesso aoconhecimento do mundo, o que, no seucaso, se dá na brincadeira e na descoberta,pelas quais desenvolve o senso estético eprincípios éticos. O parecer do ConselhoNacional de Educação sobre as DiretrizesNacionais para a Educação Infantil reúneconceitos e caminhos para entender melhoressa concepção.

PENSAR O ESPAÇO PARA ODESENVOLVIMENTO DA CRIANÇAA organização do espaço ajuda a criarcondições pedagógicas para odesenvolvimento dos valores de autonomia,responsabilidade, solidariedade, cooperaçãoe respeito, pela oportunidade que oferece àcriança de se relacionar com o outro, comanimais, a natureza e o mundo que tem àsua volta. Essas possibilidades podem ocorrerem creches, pré-escolas, parques e praçasinfantis, entre outros espaços.Para a criança, o espaço é um ambiente.Mais do que a metragem que ocupa, para acriança existe, segundo definiu a arquitetaMayumi Souza Lima, “o espaço-alegria,espaço-medo, espaço-proteção, espaço-mistério, espaço-descoberta, enfim, osespaços da liberdade ou opressão”.Os seguintes itens podem ajudar o jornalistaa analisar a qualidade do espaço de umainstituição de educação infantil:

• Ele oferece oportunidades para as criançasfazerem experiências com água, terra,plantas?

• Não apresenta risco de se machucarem?• Tem área livre e espaçosa para atividades

de movimento amplo, como correr,esconder-se, andar de triciclo?

• Oferece proteção contra chuva e solfortes?

• É iluminado e ventilado?• Os ambientes são alegres, acolhedores?• A decoração é feita com trabalhos das

crianças e/ou com motivos de nossacultura?

• As mesas e cadeiras são adequadas aotamanho das crianças e leves parar seremmovidas por elas mesmas?

• O espaço da sala é suficiente paraorganizar diferentes ambientes ou centrosde atividades e permite a mobilidade dascrianças entre um centro e outro?

• As estantes ou armários podem seralcançados pelas crianças na busca demateriais para atividades, como jogos,tintas, papéis, brinquedos?

• As maçanetas, pias, torneiras, estão emaltura adequada ao tamanho das crianças?

• Há um espaço para as mãesamamentarem?

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CrecheÉ a instituição para crianças de 0 a 3 anos. No Brasil, essa faixa etária foihistoricamente atendida na esfera da ação social, priorizando cuidados como saúde,alimentação e segurança. Grande parte dessas crianças freqüenta instituiçõesfilantrópicas e associações comunitárias. Mas, desde a aprovação da Lei de Diretrizese Bases da Educação (LDB) em 1996, as creches passaram a integrar o sistema deeducação básica dos municípios e a ter que responder por diretrizes curricularesbásicas, definidas pelo Conselho Nacional de Educação, com profissionaispreparados para garantir que, naquele espaço, a criança tenha acesso aos estímulosque garantem seu desenvolvimento pleno.Pré-escolaDos 4 aos 6 anos de idade, a criança pode ir à pré-escola. Atualmente, esse espaço émais freqüentado por crianças de famílias de renda média ou alta. Aqui é muitoimportante destacar que a pré-escola não significa “fora da escola” nem “antes daescola”. Essa etapa da escolarização faz parte do ensino básico e também deve seradministrada pelos municípios, sujeita a diretrizes pedagógicas. Não é uma fasepreparatória para o ingresso no ensino fundamental. As crianças nessa idadepossuem necessidades pedagógicas específicas e diferentes daquelas que já iniciaramsua alfabetização.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) reúne dados sobre os membros doSistema das Nações Unidas para medir as condições que oferecem para odesenvolvimento pleno de sua população. Vai muito além de utilizar a renda pessoale o crescimento econômico de um país como indicadores de boas condições de vida,estudando diversos indicadores que ajudam a retratar as oportunidades, o direito deescolha, o poder de participação das pessoas e da comunidade no processo dedesenvolvimento e a distribuição eqüitativa dos resultados do mesmo pela população.No relatório Situação da Infância Brasileira 2001, o Unicef Brasil reuniu indicadoresque ajudam a traçar um panorama das condições que o País oferece para odesenvolvimento de suas crianças, compondo o Índice de Desenvolvimento Infantil(IDI). Ambos os índices enfrentam as limitações de tentar mensurar a complexidadedo conceito de desenvolvimento humano, mas têm aplicações importantíssimas, quedesafiam esses limites e impulsionam a continuidade do processo de criar um novoparadigma, mudando o foco apenas do desenvolvimento econômico para o humano.No caso específico do IDI, é clara sua utilidade para mobilizar recursos e vontadepolítica e no processo de municipalização das políticas para as crianças de 0 a 6.

Nos primeiros três anos de vida, as sinapses, espécies de pontes entre um neurônio eoutro, fazem o cérebro chegar a 1,2 quilos, quase o tamanho que terá na faseadulta. Essa rede se desenvolve quando a criança vê, ouve, sente. Ou seja, quandorecebe estímulos. Acredita-se que a estabilidade emocional, o vocabulário potencial ea capacidade de racionínio lógico são determinados até os quatro anos. Pesquisas doIPEA apontam que os brasileiros que freqüentam a pré-escola entre os 5 e 6 anostendem a aumentar sua renda futura em até 18%. Em todo esse período, a família, acreche, a pré-escola e outros ambientes de convívio complementam a socialização e ocuidado afetivo da criança. Garantir o pleno desenvolvimento das futuras geraçõesdepende, assim, em primeiro lugar das condições que as crianças experimentam emcasa. E pode se dar em espaços alternativos, como o Centro Popular de Cultura eDesenvolvimento em Belo Horizonte (foto), que, entre outros projetos, disponibilizabrinquedos e jogos destinados ao desenvolvimento das capacidades de crianças dacomunidade. O Banco de Projetos Sociais (www.andi.org.br) lista iniciativasde todo o País.

EDUCAÇÃO INFANTIL

A FAMÍLIA EOUTROSAMBIENTES

ÍNDICES PARA ODESENVOLVIMENTOHUMANO E INFANTIL

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A educação acontece na família, no bairro,em parques, em projetos quecomplementam as vivências que a criançaexperimenta em casa e nas instituições queintegram o sistema de educação básica,como creches e pré-escolas. Esta análise demídia avalia a cobertura da mídia impressa àeducação nos primeiros seis anos de vidaparalela à oferecida pela família: apenasaquela que acontece em estabelecimentosapropriados para oferecer esse atendimento.No ano 2000, políticas públicas conduzidaspelas diferentes esferas estataiscorrespondem a 446 inserções sobreEducação Infantil. Isso representa 58% douniverso de 769 reportagens, editoriais eartigos analisados para esta pesquisa. Asociedade civil, incluídas empresas eentidades do Terceiro Setor, é o focoprincipal em 9,9% das matérias. Já otratamento da Educação Infantil de umponto-de-vista geral e não-governamental éo tema central em 32,1% (ver gráfico Temas).As políticas públicas estatais respondem,assim, pela maioria dos textos, o que justificaum mergulho em números extraídos desseuniverso específico – as 446 matérias quecompõem a cobertura das políticasgovernamentais para educação infantil nouniverso desta pesquisa. As administraçõesmunicipais são o nível de governo focalizadoem 255 matérias sobre políticas públicasestatais, enquanto o Governo Federalaparece em 120 delas.Esse último dado evidencia a tendência daimprensa em dedicar uma parte significativada cobertura do tema às ações do Ministérioda Educação. Por quê deveria ser diferente?No caso da educação infantil, porque elaintegra o sistema de educação básica, que éde resposabilidade municipal. Ou seja, háfontes de informação sobre o tema em cadaum dos 5.500 municípios brasileiros,responsáveis por garantir o acesso ainstituições para as crianças do País em seusprimeiros seis anos de vida.Essa municipalização está em curso depois

de haver sido definida por diversas leisaprovadas na última década. Pode-se dizer,assim, que a educação infantil no País seencontra em uma fase de transição. Nessemomento de transferência deresponsabilidades, alguns índices deveriamter aparecido mais na cobertura: os dasparcerias entre diferentes esferas do governo(ver gráfico As matérias se referem a).Nas cobertura das políticas públicas estatais,os próprios governos pautaram a mídia. Sesomarmos anúncios oficiais de medidas(140 inserções), a resposta do governo amovimentos (38) e a divulgação deprocedimentos de avaliações (42), chegamosà seguinte cifra: 49,3% das 446 inserçõesrelativas ao tema foram geradas a partir deum dos níveis governamentais(ver gráfico O que gerou matérias sobrepolíticas estatais).Esse índice esconde um problema nacobertura de políticas públicas: ainda sãopouco ouvidas fontes não-oficiais quepodem agregar perspectivas novas econtextualizar a iniciativa com seus aspectospositivos e negativos. Os momentos nosquais o governo pauta a mídia tendem aresultar em matérias favoráveis a suasiniciativas. 75% dos anúncios oficias gerammatérias positivas para o governo. Já nostextos gerados por informações dosegmento educacional, por exemplo, 71,7%das inserções são desfavoráveis ao governo.Esses dados reforçam a necessidade dediversificar as fontes de informação. Assim, épossível cobrir, por exemplo, o anúnciooficial abrindo espaço para que segmentossociais relacionados à educação infantilpossam contextualizar e, inclusive, contestaro programa, ação ou medida anunciados.Ouvir o Legislativo, que possui comissõesespecializadas na área de educação e só foi afonte em 2,7% das inserções, pode ser oponto de partida para estabelecer umcontraponto aos executivos. O mesmo seaplica ao Terceiro Setor, universidades,grupos sociais e organismos internacionais.

MÍDIA E GOVERNOLIMITAÇÕES DE UMA

PAUTA OFICIAL

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FALTAM OPINIÕESSOBRE EDUCAÇÃO

INFANTIL NOSJORNAIS

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Agrupando-se os veículos analisados nesta pesquisa por região, a cobertura realizadano Norte apresenta 48,3% de inserções favoráveis aos diferentes níveis de governo,16,9%, desfavoráveis e 34,8% neutras. No Sul, por exemplo, o índice de matérias comuma visão positiva das ações governamentais cai para 28,9% e o índice que crescemais é o de matérias neutras (53,3%). A análise das matérias publicadas em regiõescom altos índices de inserções favoráveis ao governo demonstra uma tendência de semostrar apenas o oficial. Comemora-se e a inauguração de cada nova creche, semestabelecer um contraponto, questionando, por exemplo, quantas creches seriamnecessárias para atender às reais demandas do município ou se esse é o melhordestino para o gasto público com a educação infantil. Questionamentos que, por si só,transformariam a matéria em neutra para efeitos desta pesquisa.

Entre os 14 jornais que apresentaram índices de participação superiores a 3% nouniverso desta pesquisa (ver ranking, p. 15), as diferenças regionais voltam a semanifestar. Desses 14 veículos, 6 são da região Sudeste e apresentaram, todos, índicesde matérias desfavoráveis superiores aos de favoráveis, assim como elevadospercentuais de inserções neutras. No caso dos 8 jornais das regiões Centro-Oeste(inclusive um dos primeiros colocados do ranking), Norte e Nordeste, 6 apresentarammais inserções favoráveis ao governo, sendo que em 4 deles o índice foi superior a40%, como mostra a tabela. No caso do Estadão do Norte, o índice favorável aogoverno foi de 70,8%. Tais dados tendem a demonstrar parcialidade por parte dejornais, assim como a tendência a ouvir poucas fontes - as governamentais.

É possível verificar que nas regiões Norte e Nordeste, onde aparecem os mais altosíndices de material favorável aos governos, também as principais fontes são asgovernamentais. A pouca variedade de fontes inibe uma maior diversidade deinformações sobre o tema. A melhora da cobertura implica, entre outras coisas, emuma mudança do viés oficialista. É necessário ressaltar que no ano 2000 as eleiçõesmunicipais produzem o aumento da inauguração de creches e pré-escolas, o quepermite aos governos se exporem mais no noticiário sobre o tema.

A forma como os textos são assinados também evidencia uma cobertura distoanteentre as diferentes regiões. No Sul, Norte e Nordeste o índice de inserções para asquais não foi possível identificar os autores é superior a 63%, contrastando com os35% da região Sudeste. Esse elevado índice de textos órfãos prejudica a informaçãodo leitor. Muitas vezes, trata-se da reprodução de matérias de agências noticiosassem a explicitação de tal uso nem a contextualização local do assunto tratado.

DIFERENÇASREGIONAIS

NA COBERTURADA EDUCAÇÃO

INFANTIL

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Os primeiros colocados doranking e suas posições paracom o governo

Presença da fonte Executivo(Federal, estadual emunicipal), por região

Regiões

Assinaturas

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Em 84,5% dos textos que compõem estaanálise foi possível identificar a fonte dainformação que gerou a matéria. O índicerepresenta 650 das 769 inserções. Dessas,quase um terço tem como fonte o PoderExecutivo - municipal, estadual ou federal.As três esferas legislativas são fonte emapenas 2,7% das matérias. As preocupaçõesparlamentares refletem, em grande medida,os anseios da sociedade, o que, pela difícilmensuração, acaba sendo tomado comoaquilo que é coberto pela mídia. Se osparlamentares têm pouco a dizer, e por issonão são ouvidos, é preciso compreender queeles não são instigados a se preocuparemcom o tema.Conclusões semelhantes podem ser extraídasda participação do Judiciário e MinistérioPúblico como provocadores de matérias sobreEducação Infantil. Cada um foi citado emuma matéria. Instituições tão ativas emquestões relacionadas a crianças eadolescentes não figuram no debate sobreEducação Infantil que chega à mídia.Mais surpreendente, no entanto, é que oConselho Tutelar tenha gerado apenas umadas 769 reportagens, artigos e editoriaisanalisados. E que todos os demais conselhos(de educação, saúde, da criança e doadolescente…) respondam juntos por 14matérias no ano 2000.Além de essas fontes ampliarem sua atuaçãojunto à mídia, e vice-versa, há espaço paraaumentar, por exemplo, a participação dasuniversidades na pauta dos jornais. Foi oconhecimento acadêmico produzido nasúltimas décadas que gerou a maior parte dasmudanças legais e pedagógicas que se tentamimplantar no País, e nesse ambiente continuasendo produzido um grande número depesquisas sobre a faixa etária dos 0 aos 6.

QUEM PAUTA AIMPRENSA?

Fontes e referências paramatérias sobre Educação

Infantil podem ser encontradasno site da ANDIwww.andi.org.br

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A Infância na Mídia acompanha, desde1996, as matérias sobre crianças eadolescentes publicadas em algumas revistasde circulação nacional. Em 2000, Amanhã,Cláudia, Criativa, Época, Exame, Istoé, MarieClaire e Veja totalizaram, juntas, mais de 800inserções sobre infância e adolescência. AEducação Infantil, no entanto, teve menosque 15 inserções como tema principal dereportagens, editoriais ou artigos nessesveículos.Apesar do pequeno espaço que creches, pré-escolas e outros estabelecimentos ondeocorre o cuidar e o educar de crianças de 0 a6 anos ocuparam nessas publicações, partedos equívocos apontados no estudo das 769matérias de jornais impressos que compõemo universo desta análise de mídia aparecemnos textos das revistas.Em uma matéria sobre o aumento donúmero de crianças nordestinasfreqüentando a pré-escola, por exemplo,dados do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) são apresentados paramostrar que Recife tem 77% das criançasmatriculadas nessa faixa etária, enquanto amédia nacional é de 58%. Uma dasconclusões, no entanto, é que “essas criançasestão sendo mais bem preparadas paraingressar no ensino fundamental”. A pré-escola não tem como função preparar acriança para o ingresso na etapa seguinte deensino, mas sim permitir que ela desenvolvaplenamente capacidades emocionais,cognitivas, lingüísticas, artísticas que, nessafaixa etária, têm mais chances de seremestimuladas. Quando os estabelecimentosque atendem crianças de 4 a 6 anos tentamimitar a escola, aspectos pedagógicosfundamentais para garantir essedesenvolvimento pleno tendem a serignorados. Trata-se de um erro deconcepção.Na cobertura da tragédia de Uruguaiana, aexemplo dos jornais, o foco ficouexclusivamente na negligência que causou amorte de 12 crianças que dormiamdesacompanhadas no cômodo da crecheonde se iniciou um incêndio. O episódio nãodespertou na imprensa questionamentossobre que tipo de condições estão sendooferecidas no País para a formação daspróximas gerações. A creche tinha, segundo

um dos textos, 117 crianças matriculadas enenhum extintor de incêndio nas paredes. Aobservação, absolutamente grave epertinente, não foi estendida a aspectosfundamentais de um estabelecimento que,pela lei brasileira, deve oferecer o ambientepara que as crianças se desenvolvamplenamente. Esse desenvolvimento éindissociável de condições de segurança ehigiene. Mas de nenhuma maneira pode serdesligado dos aspectos pedagógicosdesenvolvidos no local. Quais eram asatividades realizadas na creche? Comoestava aproveitado o espaço? Como eram osbrinquedos? Qual a formação dosprofissionais que trabalhavam no local?Mais uma vez, a imprensa ingnorou queaquele estabelecimento deveria oferecer,além de um local seguro para que mães epais de um bairro carente deixassem seusfilhos no horário de trabalho, condições paraque 117 brasileiros dessem os primeirospassos de seu desenvolvimento humano.O mesmo raciocínio aparece, por exemplo,em uma matéria sobre a angústia de mãesque trabalham fora e precisam se separardos filhos por boa parte do dia quandotermina a licença maternidade. Dirigida aleitoras das classes média e alta, areportagem exemplifica opções como deixaros filhos aos cuidados de uma babá, comfamiliares ou em creches. Ao se referir auma empresa que cumpre a lei oferecendo oacesso a esse estabelecimento, a reportagemcita que a creche foi implantada paraatender às necessidades das funcionárias.Novamente, é uma visão incompleta: aprincipal missão de uma creche é atender àsnecessidades da criança. O acesso a umestabelecimento que ofereça condições depedagógicas e de segurança é um DIREITOdos brasileiros em seus primeiros seis anosde vida, uma opção de suas famílias e umdever do Estado.

CRECHES EPRÉ-ESCOLASUMA PAUTATÍMIDA NASREVISTASDO PAÍS

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Há pouco mais de 18 meses nasceu a Rede ANDI, uma parceria entreorganizações de comunicação pela infância e adolescência, com oobjetivo de facilitar o diálogo entre as fontes de informação,jornalistas e veículos de comunicação em todo o País, contribuindopara a qualidade da informação sobre os aspectos fundamentaispara a promoção dos direitos e para o desenvolvimento de crianças eadolescentes brasileiros.Entre outras ações, as cinco agências da Rede realizam pesquisassemestrais sobre a cobertura dos temas relevantes para a infância e aadolescência em publicações de seus estados. Os resultados revelamdiferenças regionais da imprensa brasileira. No segundo semestre de 2000,por exemplo, os jornais de influência local no Amazonas, Pernambuco eBahia/ Sergipe apresentaram percentuais de matérias que investigamsoluções para os problemas que denunciam superiores à média nacional,verificada na pesquisa Infância na Mídia, que desde 1996 analisa os 50maiores jornais de 24 capitais brasileiras.O índice nacional de Busca de Soluções é 31,01%. A imprensa dePernambuco alcançou 63,64%; a amazonense, 40,5%; e as deBahia e Sergipe, 38,3 %. Minas Gerais (24,7%) e Paraná (17,2%)estão abaixo da média.A articulação regional amplia o universo de jornais acompanhados,antes restrito às capitais, aumentando a aproximação com osveículos dos principais municípios de cada estado. Os jornais deinterior são monitorados nas pesquisas regionais, que tambémcomparam seu desempenho com o de veículos da capital. Dos 37jornais pesquisados pelas agências da Rede ANDI, 25 são das capitaise 12 de outros municípios. Os jornais do interior são 32,4% douniverso pesquisado.A Rede iniciou suas ações em março de 2000 com a transferência demétodos e estratégias desenvolvidas pela ANDI nos últimos anos,com o propósito de investir na formação de uma cultura jornalísticaque investigue e priorize as questões relativas ao universo dascrianças e adolescentes sob a ótica de seus direitos e dodesenvolvimento humano.

MAIS DE 10 MIL MATÉRIAS ANALISADAS NO 2ºSEMESTRE DE 2000

As cinco agências da Rede ANDI acompanharam diariamente, apenas nosegundo semestre de 2000, 37 jornais de capitais e do interior. Em 2001,já são 39 os jornais monitorados. Cada agência analisa quantitativa equalitativamente a cobertura desses veículos de comunicação sobre ainfância e adolescência em seus estados. Os resultados dessas análisessão publicados em cinco diferentes pesquisas semestrais. Em um anoforam lançadas oito edições regionais.Apenas no segundo semestre de 2000, foram analisadas 13.002reportagens, artigos e editoriais. Em cada estado, esses resultadossão apresentados e discutidos com os veículos de comunicação,atores da sociedade civil ligados às áreas da infância e da

Pluralidade ameaçadaquando a pauta oficialpredomina

ENEIDA MARQUESDIRETORA-EXECUTIVA DA AGÊNCIA UGA-UGA DE

COMUNICAÇÃO

“Integrar a Rede ANDI tem um forte significado paraa Agência Uga-Uga de Comunicação sob trêsaspectos: o da visibilidade nacional, fortalecida pelacredibilidade da ANDI; o do olhar para a mídiaregional, levando em conta que a imprensaamazonense, pela primeira vez, seria analisadaqualitativa e quantitativamente; e o da proposta daRede ANDI de, por meio de suas ações, estimular aqualidade da informação e uma cultura jornalísticade compromisso social, voltada para a promoção edefesa dos direitos de crianças e adolescentes.O Amazonas, por suas características geográficas esua história de colonização e desenvolvimento,ainda aparece nas estatísticasoficiais com baixos índices dedesenvolvimento humano, oque também confere à suapopulação uma consciênciasocial em fase de construção.Isso se reflete na imprensa,como mostra a pesquisa ACriança e o Adolescente naMídia – Amazonas.Embora o tema Educação sejao mais abordado, matériassobre Violência continuamentre as primeiras posições.Nossas análises também apontam que a principalfonte de notícias dos jornais de Manaus é o PoderExecutivo. Ou seja, estamos perdendo a oportunidadede envolver diversos atores sociais no debate eadotando um comportamento de subserviência àinformação oficial.O trabalho que a Agência Uga-Uga desenvolve noAmazonas há pouco mais de um ano chega paradesfazer alguns mitos, derrubar tabus e mostrar, deforma despretensiosa, aos profissionais deimprensa, às fontes de informação e aos veículosde comunicação, que é possível melhorar o nível dainformação, ser mais ético e contribuir, não com ofuturo, mas com o presente de crianças eadolescentes amazonenses.”

IMPRENSA REGIONAL SE DESTACA

LUÍS CLÁUDIO ALVES • COORDENADOR DA REDE ANDI

APOIOS LOCAIS: UNICEF,

SECRETARIA MUNICIPAL DE

EDUCAÇÃO DE MANAUS,

SAVE THE CHILDREN.

www.uga-uga.hpg.com.br

telefone: (92) 231-1385

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adolescência e estudantes universitários. Dessa forma, as agênciasutilizam as pesquisas como instrumentos facilitadores do diálogoentre as fontes de informação e os veículos e profissionais decomunicação das capitais e do interior.As pesquisas, articuladas com outras ações, são instrumentos para aimprensa observar virtudes e equívocos cometidos na cobertura,assim como as mudanças editoriais sugeridas por especialistas. Paraas fontes de informação, as análises de mídia representam apossibilidade de ler criticamente a imprensa e avaliar sua própriaresponsabilidade na qualidade geral da informação.• A Rede ANDI tem o apoio da Fundação Avina, Fundação W. K.Kellogg, União Européia/Novib/ Missão Criança e Unicef.

AÇÕES DAS AGÊNCIAS REGIONAIS

Clipping Hoje ❿ Resumo diário de notícias sobre a criança e oadolescente publicadas em jornais da capital e interior, enviado ajornalistas e atores sociais.Prioridade Absoluta ❿ Agenda semanal de eventos ligados aosdireitos da criança e do adolescente.Banco de Projetos Sociais ❿ Base de dados sobre projetos eentidades que atuam na área da infância e adolescência, contatos deespecialistas e coleção de artigos.A Criança e o Adolescente na Mídia ❿ Publicação semestral com aanálise da cobertura dos principais jornais do estado.Assessoria de imprensa ❿ Apoio eventual na divulgação de eventosrelacionados à infância e adolescência.Oficinas de Interação ❿ Encontros para aprimorar o diálogo entrejornalistas, atores sociais e especialistas.

COMO FAZER PARTE…

A fase piloto da Rede foi financiada com recursos captados pelaANDI e pelas agências regionais. Agora, cada agência é responsávelpor sua sustentabilidade. O conselho gestor, formado pelos líderesdas organizações que integram o projeto, é quem aprova a entradade novos parceiros.A nova agência se compromete por pelo menos 18 meses, atestandoter recursos físicos, financeiros e humanos para cumprir oscompromissos durante o período, considerado ideal para atransferência de tecnologia e integração à Rede. É preciso aindadisponibilizar espaço físico e equipamentos para a agência. Umjornalista em horário integral, um jornalista assistente e quatroestagiários cursando a universidade compõem a equipe mínima.Cidade Futura, em Santa Catarina, e Amencar, no Rio Grande do Sul,devem abrir novas agências regionais este ano. E, com apoio da Savethe Children, estuda-se neste momento a entrada de uma agênciano Rio de Janeiro.

Mais poder deatuação e trocade experiëncias

ANNA PENIDODIRETORA-EXECUTIVA DA CIPÓ COMUNICAÇÃO

INTERATIVA

“A Rede ANDI é um exemplo de como asorganizações não-governamentais bem-sucedidaspodem ampliar a abrangência da sua atuação,trabalhando em conjunto com instituições menosexperientes, que se capacitam a replicar estratégiase procedimentos já testados e consolidados,sempre com liberdade para criar e imprimir a suaprópria identidade às ações que multiplicam. Commuita eficiência e muita generosidade, a ANDI temdividido conosco o resultado de seus aprendizados,tanto no que se refere à mobilização da mídia pelainfância e adolescência, quanto nas áreas de

gestão e captação derecursos.Novos conhecimentos vêmagregando consistência ecompetência à nossa práticacotidiana. Todos nós,inclusive a própria ANDI,temos aprendido também atrabalhar de maneiraarticulada com outrasinstituições. Os processosinerentes à Rede ANDI sãoaltamente democráticos,envolvendo a ampla

participação de todas as organizações integrantesna definição de objetivos e métodos. Aprendemosuns com os outros, construímos juntos equebramos definitivamente com a lógica dacompetição, que não deve ter espaço entre asorganizações do Terceiro Setor.”

NA INVESTIGAÇÃO DE SOLUÇÕES

APOIOS LOCAIS: UNICEF, IG,

INSTITUTO AYRTON SENNA,

INSTITUTO C&A, CIA. BRASILEIRA

DE ALUMÍNIO – CBA.

www.cipo.org.br

telefone: (71) 461-4340

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GIP

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[email protected]

telefone: (61) 322-6508

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Entre os temas mais abordados nos estados onde a RedeANDI está presente, cinco se repetem nas primeiras posições -

Educação, Violência, Direitos e Justiça, Terceiro Setor eSaúde - mantendo a tendência apontada pela pesquisarealizada anualmente pela ANDI com 48 veículos de 24

capitais. Educação é o tema mais abordado no Amazonas,Paraná, Bahia e Sergipe. Em Minas Gerais e Pernambuco,

Violência foi o foco do maior número de matérias. Algumasrealidades regionais, no entanto, não chegam a influenciar apauta dos jornais. Em Pernambuco, por exemplo, estado que

tem a terceira maior taxa de mortalidade infantil do País –58,2 por mil nascidos vivos, segundo últimos dados do IBGE –

o tema ocupa o 12º lugar no ranking.

A mídia melhorpreparada:um País maisesclarecido

PAULA BAENA E LILIAN ROMÃOCOORDENADORAS DA CIRANDACENTRAL DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA

O projeto da Rede ANDI representa para a Cirandauma experiência que vem, diariamente, agregandoum grande valor ao trabalho da instituição com amídia e com os atores sociais do Paraná.A Ciranda nasceu em 1998 integrada à ANDI. Coma Rede, o trabalho ganhou mais força. Apossibilidade de atuar somando o trabalho deoutras agências que se dedicam a qualificar suasmídias locais é extremamente gratificante e nosinspira tanto a buscar novas pautas quanto aregionalizar as pautasnacionais.É cada vez maior o númerode jornalistas, organizações,estudantes e atores da áreada infância buscandoinformações, divulgação eapoio em iniciativas etrabalhos desenvolvidos naárea da infância e dajuventude.Estamos diante de umprojeto com força nacional eque, ao mesmo tempo, atua regionalmente,levando o trabalho de cada agência às diferentesregiões do País. Quando cada estado tiver umaagência da Rede ANDI atuando em favor dacriança e do adolescente, mais rápido teremos umPaís mais esclarecido e uma mídia melhorpreparada.“

Jornais pesquisados: ATarde, Tribuna da Bahia

e Correio da Bahia(Salvador); A Região

(Itabuna); Jornal do Sol(Porto Seguro); JornalNoite e Dia (Feira de

Santana); Jornal NovaFronteira (Barreiras);

Diário da Região(Juazeiro); Cinform,

Gazeta de Sergipe,Jornal da Cidade eCorreio de Sergipe

(Aracaju).

Jornais pesquisados: ACrítica, Amazonas em

Tempo e GazetaMercantil Regional

(circulação estadual);Jornal do Commercio e

Diário do Amazonas(Manaus).

EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIASÃO PRIORIDADE NOS

NOTICIÁRIOS ESTADUAIS

APOIOS LOCAIS: FUNDAÇÃO

MAURÍCIO SIROTSKY, UNICEF,

PROVEDOR ONDA.

www.ciranda.org.br

telefone: (41) 224-3925

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Relações maiscriativas entresociedadecivil e mídia

LUIZ GUILHERME GOMESDIRETOR OFICINA DE IMAGENS

“A afinidade entre missões institucionais, projetos eações aproximou, inicialmente, Oficina de Imagense ANDI. A Oficina de Imagens vinha desenvolvendopesquisas e metodologias dentro do campo dainter-relação comunicação e educação,trabalhando a relação entre mídia e crianças eadolescentes no contexto da escola (educaçãoformal) e da sociedade (educação não-formal),inclusive em projetos que visavam envolver essepúblico na leitura e discussão da própria mídia.Além da infra-estrutura física, profissionalizaçãodos recursos humanos, capacitações em captação

de recursos e planejamentoestratégico, o projeto RedeANDI tornou-se uma áreadentro da nova estruturaorganizacional, interligadocom as ações e projetoshistoricamente desenvolvidospela Oficina de Imagens.Conseqüentemente, serviu deimpulso para odesenvolvimento de outrasáreas, e, ao mesmo tempo,ganhou contribuições das

metodologias já desenvolvidas.As ações básicas do projeto Rede ANDI, queatingem um número considerável de atores, têmcontribuído, de alguma forma, para oestreitamento de relações entre as organizações dasociedade civil, mídia e empresas socialmenteresponsáveis. Como atividades integradas a essasações, estamos conseguindo articular melhor asorganizações que integram a Rede Mineira doTerceiro Setor, bem como, no conjunto de açõesdenominadas Universidade Cidadã, dialogar comalunos e professores universitários, mobilizando osestudantes em torno de projetos e atividadesacadêmicas e realizando visitas às equipes dosjornais pesquisados da capital e interior de MG.”

Jornais pesquisados:Gazeta do Povo, OEstado do Paraná,Folha do Paraná,Gazeta MercantilParaná (circulaçãoestadual); Jornal doEstado e Primeira Hora(Curitiba); O Paraná(Cascavel); Gazeta doParaná (Foz do Iguaçu,Cascavel).

Jornais pesquisados:Estado de Minas, Diárioda Tarde, O Tempo eHoje em Dia (BeloHorizonte), Tribuna deMinas (Juiz de Fora),Diário do Rio Doce(Governador Valadares),Correio (Uberlândia).

Jornais pesquisados:Diário de Pernambuco,Jornal do Commercio eFolha de Pernambuco(circulação estadual),Gazzeta Regional(Petrolina), Vanguarda(Caruaru), GazetaMercantil/Nordeste (PE,AL, PB e RN).

APOIOS LOCAIS: MAXITEL, CTBC

TELECOM, JORNAIS O TEMPO, HOJE

EM DIA, CORREIO, DIÁRIO DO RIO

DOCE E TRIBUNA DE MINAS.

www.latanet.com.br

telefone: (31) 3461-3584

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Ampliando oprojetode cadainstituição

RICARDO PAIVADIRETOR DO AUÇUBA COMUNICAÇÃO INTERATIVA

“A tendência atual dos trabalhos na área socialconverge para ações articuladas. A ampliação dasatuações de organizações nas mais diversas áreastem passado pela construção de parcerias e pelostrabalhos em rede. Nessa realidade, a Rede ANDIvem ocupar um espaço de trabalho voltado para asensibilização e qualificação dos meios decomunicação no Brasil no tangente à defesa dosdireitos de crianças e adolescentes. É um trabalho

articulado, de extremaimportância para o Auçuba,que, desta forma, consegueaumentar a envergadura deseu projeto, aproximar-se deinstituições afins e ganharqualidade na execução desuas ações.Participar da Rede ANDIgarante o intercâmbio deidéias, o aperfeiçoamentoprofissional e um retornomaior e de melhor qualidade

aos parceiros atendidos pelo Auçuba. Além depermitir a multiplicação das técnicas emetodologias desenvolvidas por nossa instituição.”

PROGRAMA FORMAJORNALISTAS PARA ACOBERTURA SOCIAL

As agências da Rede ANDI contribuem para a formação deestudantes universitários, inserindo futuros mobilizadores sociaise profissionais da imprensa no universo dos direitos humanos.Cada agência oferece no mínimo quatro bolsas a participantes doPrograma de Treinamento em Comunicação e Mobilização Socialpara Estudantes Universitários. Trinta e seis estudantes jápassaram pelo programa no Amazonas, Bahia, Minas Gerais,Paraná e Pernambuco. Em Brasília a ANDI integra outros 16.Os estudantes são iniciados nas principais questões sociaisrelativas à infância e adolescência pelo contato direto comentidades da sociedade civil, técnicos em políticas sociais,jornalistas e veículos de comunicação brasileiros. Experimentamnoções práticas de checagem de informação, construção depautas e textos jornalísticos, além de análise quantitativa equalitativa do noticiário. Os participantes são selecionados entrealunos dos últimos quatro semestres de cursos de Comunicação,que recebem uma bolsa-estágio. O programa é apoiado pelaFundação W. K. Kellogg.A estudante Andressa Zanin Rovani, 22 anos, do 7º semestre deJornalismo da Universidade Federal do Paraná e participante doprograma na Ciranda – Central de Notícias dos Direitos daInfância (PR), aproveitou a formação recebida e produziu umtrabalho acadêmico sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.Com ele, foi uma das vencedoras do GP Ayrton Senna deJornalismo de 2001 na categoria estudantes. Ela também é finalistado Prêmio Empreendedor Social, atribuído pela Ashoka.“A Ciranda sempre foi um incentivo e uma fonte de informaçãopara que eu pudesse desenvolver esses trabalhos. Encontrei muitaforça e estímulo para trabalhar meus projetos pessoais eacadêmicos e divido com a equipe essas conquistasfundamentais para o meu desenvolvimento pessoal eprofissional”, comemora Andressa.Para Fabrício Santos, 21 anos, do 7º semestre de Jornalismo daPUC de Minas Gerais, que participa do programa na Oficina deImagens (MG), a experiência marcou sua formação profissional epessoal. “Acredito que a missão de formar jornalistascomprometidos com os direitos da criança e adolescente equalificados para cobrir esses temas está sendo cumprida comêxito em nosso programa”, avalia.Com os novos conhecimentos, alguns estudantes já começam a“contaminar” os colegas de faculdade. Fernanda Meira, 22 anos,aluna do curso de Relações Públicas da Universidade Católica dePernambuco, destaca que o meio acadêmico não está sintonizadocom o que acontece com o Terceiro Setor no Brasil. “Asfaculdades não estão preparadas ou não querem debater oTerceiro Setor e conceitos como a responsabilidade social.Aproveito os ensinamentos que recebo no Auçuba para mostraressa outra realidade para os colegas.”

APOIOS LOCAIS: INSTITUTO

C&A, INSTITUTO AYRTON

SENNA, SAVE THE CHILDREN,

CONSELHO ESTADUAL DE

DEFESA DOS DIREITOS DA

CRIANÇA E DO ADOLESCENTE,

SINDICATO DOS JORNALISTAS

DE PERNAMBUCO,

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE

PERNAMBUCO, UNIVERSIDADE

FEDERAL DE PERNAMBUCO.

www.aucuba.org.br

telefone: (81) 3441-2722

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VEÍCULOS REGIONAISAUMENTAM A ATENÇÃOSOBRE A INFÂNCIA

O crescimento da pauta da criança e doadolescente nos jornais estaduais foidestaque na 10ª edição da pesquisaInfância na Mídia, lançada em marçodeste ano. O jornal O Estado de Minassubiu do 9º em 1999 para 1º lugar noranking ANDI/IAS – que consideraexclusivamente o número de matériaspublicadas – no ano 2000. O Liberal (PA),do 13º para o 2º. O Correio da Bahia, do 18ºpara 3º. E o Diário Popular (SP) subiu do15º para o 6º.Entre os chamados jornais de referêncianacional, o crescimento do número dereportagens, artigos e editoriais sobreViolência é uma tendência verificada noano passado, chegando a ultrapassar emalguns casos a cobertura que essesveículos deram à Educação.Dos 50 jornais acompanhados pela ANDIem 24 estados brasileiros no ano passado,os cinco veículos mais atuantes são todosde influência regional. E entre eles,Educação é o tema mais abordado. EmO Liberal, o índice de cobertura do temaapresenta um percentual 9,03% maior queo de Violência. No jornal Meio Norte (PI),essa diferença chega a 24,92%. A distânciaentre a cobertura dos dois temas diminuino caso do Estado de Minas, ficando em3,69%. O jornal realizou uma campanhacontra a violência em 2000 elevando onúmero de matérias sobre o tema.

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… SUBIU DO 9º LUGAR EM 1999 PARA O 1º EM 2000

… SUBIU DO 13º LUGAR EM 1999 PARA O 2º EM 2000

… SUBIU DO 18º LUGAR EM 1999 PARA O 3º EM 2000

… MANTEVE-SE NO 4º LUGAR ENTRE 1999 E 2000

… DESCEU DO 3º PARA O 5º LUGAR ENTRE 1999 E 2000

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• Os gráficos ao lado comparam o espaçodado pelos jornais apenas entre os 7 temasmais abordados por cada veículo segundoa classificação utilizada pela ANDI. Outrostemas que também foram cobertos pelaspublicações não foram considerados nacomposição do gráfico.

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VIOLÊNCIA CRESCE NOSJORNAIS BRASILEIROS

Nos dois últimos anos, chama a atenção ocrescimento do número de matérias sobreViolência. A cobertura do tema aumentade 6.660 reportagens, artigos e editoriaispublicados em 1999, para 14.762 em 2000.Sobe, assim, para o segundo lugar noraking, ultrapassando Saúde. Violênciaresponde por 23,09% das inserçõesclassificadas em 15 temas no ano passadopela Infância na Mídia, perde ainda paraEducação (30,56%). Essa tendência aparecenos “jornais de referência nacional”.Em Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo,os índices de cobertura para Educaçãoficam, respectivamente, 2,15% e 3,97%maiores que os de Violência.Já em O Globo e o Correio Braziliense, éViolência quem lidera a cobertura, com8,33% e 3,37% de matérias a mais quepara o tema Educação.O único que foge à tendência é o Jornal doBrasil. No veículo carioca, o percentual decobertura para o tema Educação é 10,34%maior que o mesmo índice para Violência.

• O universo pesquisado pela ANDI nãoinclui notas curtas nem matériaspublicadas na seção de notíciasinternacionais.

• Matérias sobre trabalho na condiçãode aprendiz são incluídas no temaEducação.

• A pesquisa não utiliza umaamostragem das edições de cadajornal. Cada edição dos 50 jornais éclassificada diariamente, assim comotodas as edições das revistassemanais e mensais.

• Os dados completos do ano 2000estão na edição anterior da pesquisaInfância na Mídia, que pode seradquirida na ANDI.

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• Os gráficos ao lado comparam o espaçodado pelos jornais apenas entre os 7 temasmais abordados por cada veículo segundoa classificação utilizada pela ANDI. Outrostemas que também foram cobertos pelaspublicações não foram considerados nacomposição do gráfico.

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EDUCAÇÃO PAUTOUO FIM DOS ANOS 90…

Em 1996, a ANDI começou a analisarnotícias sobre infância e adolescência –publicadas em cerca de 50 jornais do País.Esse acompanhamento foi divulgado empesquisas trimestrais sobre ocomportamento da mídia impressa. Naqueleano, três assuntos ocuparam o primeirolugar do ranking de temas mais abordados:Exploração Sexual; Direitos e Justiça; eSaúde. No ano seguinte, matérias sobreViolência ou Direitos e Justiça alternaram-se na primeira e segunda posições.Educação firma-se como o tema de maiorcobertura pela mídia impressa brasileira nouniverso das matérias sobre crianças eadolescentes a partir de 1998. Volta a ser otema mais abordado em 1999 e 2000.Além do crescimento da pauta Educação,uma das grandes marcas no último ano dadécada de 90 é a ascensão dos jornaisregionais (ver p. 33) no ranking ANDI/IAS,que mede a atuação quantitativa dosveículos na cobertura da infância eadolescência.Em 2000, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo e Correio Braziliensepublicaram um número menor de matériassobre crianças e adolescentes do que no anoanterior.Dos veículos de referência nacional, apenas oJornal do Brasil elevou seu número mas,ainda assim, ocupa a 28ª posição.Como resultado da queda do númeroabsoluto de matérias publicadas sobrecrianças e adolescentes e do crescimentodesse espaço em jornais regionais, Correio eFolha - que nas nove primeiras pesquisasANDI/IAS alternaram-se nas primeira esegunda posições no ranking ANDI/IAS –caem para o 7º e o 8º lugares,respectivamente. O Globo cai do 11º para o27º. O Estado de S. Paulo, do 5º para o 11º.Do ponto de vista qualitativo, entretanto,esses mesmos jornais trazem enormescontribuições. Os regionais tambémavançam nesse aspecto.

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O Brasil inicia o século diante de um grande desafio, refletido em duas posiçõesque ocupa em diferentes rankings mundiais. Somos a 10ª economia em termosde Produto Interno Bruto (PIB), mas estamos em 69º lugar no ranking queclassifica as nações segungo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Adistância entre 10o e 69o lugares nos dá a dimensão, a magnitude do desafioético-político de transformação social que temos pela frente, de um País queconvive com duas realidades tão distantes. Essa imagem – medida em números –mostra o que somos em termos econômicos e o que deixamos de ser emdesenvolvimento humano.Portanto, nosso desafio é reduzir as diferenças, fazer com que esse mundo, ondevive grande parte da população brasileira e que ocupa o 69o lugar, se aproximecada vez mais da realidade de uma economia que está entre as dez maiores doplaneta. As mudanças necessárias são estruturais e para realizá-las, comcompetência e eficiência, o País precisa contar com todos os setores dasociedade. A imprensa tem aí um papel fundamental.

As quatro edições do GP Ayrton Senna de Jornalismo (1999 a 2001) constataram aevolução quantitativa e qualitativa da cobertura das questões relacionadas à populaçãoinfanto-juvenil. As referências ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) têm sidocada vez mais positivas, corretas e ético-politicamente amadurecidas. A imprensa – quenão confunde imparcialidade com falta de compromisso – abraçou a causa da garantiados direitos às crianças e aos adolescentes, contribuindo para a transformação dasrealidades com uma rapidez surpreendente.Considerando o GP Ayrton Senna de Jornalismo uma ferramenta a serviço dessatransformação protagonizada pela imprensa, sentimos a necessidade de dar mais umpasso, de redimensioná-lo a partir do amadurecimento do jornalismo brasileiro naúltima década. Em sua 5ª edição (com inscrições abertas), o GP propõe uma nova óticapara os direitos: a do Paradigma do Desenvolvimento Humano (ver boxe abaixo -Paradigma do Desenvolvimento Humano).A partir desta edição (2001/2002), queremos valorizar e premiar jornalistas e veículosde comunicação que façam matérias em que os direitos das novas gerações à

O NOVO DESAFIO DO GPAYRTON SENNA DE JORNALISMO

DESENVOLVIMENTO HUMANOVIVIANE SENNA • PRESIDENTE DO INSTITUTO AYRTON SENNA

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• A vida é o mais básico e universal dosvalores

• Nenhuma vida vale mais do que a outra• Toda pessoa nasce com um potencial e

tem o direito de desenvolvê-lo• Para desenvolver o seu potencial, as

pessoas precisam de oportunidades• O que uma pessoa se torna ao longo da

vida depende de duas coisas: dasoportunidades que teve e das escolhasque fez

• Além do acesso a oportunidades, aspessoas precisam ser preparadas parafazer escolhas

• Cada geração deve legar para asgerações vindouras um meio ambienteigual ou melhor do que aquele recebidodas gerações anteriores

• As pessoas, as organizações, ascomunidades e as sociedades devem serdotadas de poder para participar nasdecisões que as afetem

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O DESAFIO DO SÉCULO 21

equidade social esustentabilidadeambiental

• A ética necessária parapôr em prática oparadigma dodesenvolvimento humanoé a ética da co-responsabilidade

educação, à saúde, à alimentação, entreoutros, não sejam mais tratados oucompreendidos per si, mas que leitores,ouvintes e espectadores possam entendê-loscomo instrumentos a serviço dodesenvolvimento humano das novasgerações, tarefa imprescindível para reduzira distância entre 10 e 69. Dessa forma, agarantia dos direitos às futuras gerações vaisituar-se em um outro patamar, maisabrangente e mais profundo, sob um novoquadro, considerando a criança e oadolescente não apenas em si mesmos,assim como o atendimento às suasnecessidades básicas não deve dar-se apenasporque lhes é de direito.O GP Ayrton Senna de Jornalismo propõe avisão de conjunto aos direitos, re-significando e valorizando cada um dentrode uma agenda de equidade social, com oobjetivo de reduzir as desigualdades.

A ÉTICA DA CO-RESPONSABILIDADE

Já é sabido que a imprensa pode formarconsciências e convocar vontades em amplaescala. Cabe a ela, também, a tarefa demonitorar essa nova agenda dedesenvolvimento para que a sociedade possavislumbrar, por exemplo, por meio de umamatéria, o que significa a falta de umaeducação de qualidade nessa agenda. Como

os analistas econômicos, que apontam aconseqüência para toda a economia de umaaprovação pelo Congresso da reformaprevidenciária, os “analistas sociais” devemabordar, por exemplo, o que significam osnúmeros da subnutrição ou a alta incidênciade jovens sem emprego para o futuro danação sob a ótica do desenvolvimentohumano. É importante que as matériassociais analisem as circunstâncias em umcontexto maior, em que haja uma visãosócio-histórica, ético-política ou político-estratégica, como é mais comum ocorrer nacobertura dos eventos econômicos.O Paradigma do Desenvolvimento Humanopropõe uma avaliação sistemática dosdesafios que o País ainda tem a enfrentar e acriação de uma agenda de transformaçãosocial que diminua as desigualdades sociaisintoleráveis.Por isso, o GP Ayrton Senna convida econvoca a imprensa a colocar seu talento,sua inteligência, sua competência e seuespírito crítico e ético a contribuir paravencer a distância entre o Brasil que temos eo Brasil que queremos.

• A promoção e a defesa dos DireitosHumanos é o caminho para aconstrução de uma vida digna paratodos

• O exercício consciente da cidadania é amelhor forma de fazer os DireitosHumanos transitarem da intenção àrealidade

• A política de desenvolvimento devebasear-se em quatro pilares: liberdadesdemocráticas, transformação produtiva,

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Profissionais comprometidos com os valores éticos do jornalismo, a consciência da importância da comunicação para odesenvolvimento social do País e o crescimento do sentimento de responsabilidade social fizeram com que surgissem asfundações e institutos mantidos por empresas de comunicação. No Brasil, seis grandes empresas ampliam seu envolvimentocom questões sociais através das seguintes instituições: Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, Fundação Romulo Maiorana,Fundação Demócrito Rocha, Fundação Roberto Marinho, Instituto Herbert Levy e Fundação Victor Civita.

problemas sociais. Já o Papel Social é umtablóide bimestral de 8 páginas que divulgatemas voltados para o Terceiro Setor. Oboletim prioriza as frentes trabalhadas pelaFundação, que são cidadania empresarial,implementação do Estatuto da Criança e doAdolescente (ECA), mobilização social ecooperação técnica e financeira. O PapelSocial existe há quatro anos e chega a 4.300leitores. A Fundação, para o ano 2001,trabalha com um orçamento de R$ 1,8milhão.

P R O F E S S O R E SCom um orçamento anual de R$ 22 milhões,a Fundação Victor Civita (FVC) atua eminiciativas relacionadas à educação. Ametade desses recursos vem do Grupo Abril.E também são complementados com avenda da revista Nova Escola, o principalprojeto da FVC. Lançada em março de 1986,a publicação é dirigida a professores.A cada mês, 1,2 milhão de leitores utilizam omaterial. “É a maior tiragem mensal de umarevista no País”, informa Geraldo Suzigan,diretor-técnico-comercial da FVC. “Dentro doGrupo Abril, é superada apenas pela tiragem darevista Veja.” Dois terços da revista sãodistribuídos gratuitamente, por meio deparcerias com governos, com o Instituto AyrtonSenna e com a Fundação Bradesco, entre outros.A Fundação Victor Civita nasceu há 16 anose leva o nome de seu criador, tambémfundador da Editora Abril. “É importantenotar que a FVC surgiu muito antes de sefalar em responsabilidade social empresarial,que sua criação deveu-se ao desejo decontribuir com a construção de um um Paísmais humano e com menos desigualdadessociais e que, desde então, o trabalho vemsendo dirigido para a formação dos

professores do ensino fundamental da redepública”, explica Cleide Castelan, diretora derelações corporativas do Grupo Abril.Atualmente está sendo implementado, emparceria com o SOS Mata Atlântica, umprojeto ambiental que consiste em umtrabalho de conscientização dosfuncionários da Abril para odesenvolvimento do trabalho voluntário. Aprimeira turma de 100 voluntários, todosfuncionários do Grupo Abril ou da FundaçãoVictor Civita, que em pouco tempo estaráministrando aulas de conscientizaçãoambiental em escolas públicas do estado deSão Paulo.

G A Z E T E I R O SUm sólido exemplo de parceria entre umafundação e a empresa que a mantém sedesenvolve em Fortaleza desde 1985. Ali, aFundação Demócrito Rocha e o jornal OPovo dividem ações como a UniversidadeAberta do Nordeste, na qual cursos de ensinoà distância são disponibilizados comoencarte do jornal, e o Projeto Editorial, queedita e publica livros dirigidos ao resgate dacultura e patrimônio do estado.Juntas, as instituições conduzem umacampanha de combate ao trabalho infantil,com o apelo para que a sociedade nãocompre jornais de gazeteiros com menos de16 anos. Há três anos, o projeto JovensGazeteiros: Aprendizes da Nova Era, preparaadolescentes para outras atividades nomercado de trabalho, por meio de oficinas deinformática e refrigeração, conduzidas emparceria com o Centro Federal de EducaçãoTecnológica (Cefet) e o programaCapacitação Solidária, do Governo Federal.Em 1999, 60 meninos foram capacitados. Em2000, foram 30, e, segundo Luciana Maciel,

NA ERA DA RESPONSABILIDADE SOCIALAS EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO

CAMILA MELOASSESSORA EXECUTIVA DA ANDICOLABOROU: ANA FLÁVIA FLÔRES

MUITO ALÉM DO JORNALISMO

“A mídia tem a possibilidade nãosó de colocar o assunto naagenda nacional, mas dedivulgar formas concretas doexercício da responsabilidadesocial pelas empresas e outrasorganizações”, defende PedroSirotsky, presidente da RBS emSanta Catarina, grupo quemantém a Fundação MaurícioSirotsky.A Maurício Sirotsky nasceu comoum braço social filantrópico doGrupo RBS de Comunicação e,com o tempo, passou a ocuparuma posição estratégica dentroda empresa. “O relacionamentocom a sociedade ganhou novasdimensões. Deixou de sersomente comercial e passoutambém a ser social e decidadania”, afirma Léo Voigt,diretor-executivo da Fundação.Dois projetos que trabalham acomunicação no Terceiro Setorreceberam investimentosespeciais do grupo sulista nosúltimos anos.Desenvolvido em parceria com atelevisão comunitária da RBS -TVCom, o Passaporte Social é umprograma semanal de trintaminutos que há três anosinvestiga soluções para

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psicóloga do jornal, aexpectativa é de que 60meninos sejam treinadosaté o final de 2001. “Aparticipação da FundaçãoDemócrito Rocha foifundamental para odesenvolvimento e sucessodeste programa, pois foi pormeio dela que o projeto foiaprovado e os equipamentos arrecadados”,afirma Luciana Maciel.Nos últimos dois anos, a Fundação investiu,em média, por ano, de R$ 1,5 a R$ 2 milhõesnos projetos que executa.

C O M U N I D A D ECom um modelo de atuação que investe nasparcerias com empresas privadas, entidadesgovernamentais, associações comunitárias,organismos internacionais e sindicatos, aFundação Roberto Marinho foi idealizadapelo presidente das Organizações Globo paracontribuir com a educação através dos meiosde comunicação. Criada em 1977, já conduziucerca de 150 projetos sociais.A urgência de educar toda a população éconsensual hoje no País, mas não era na épocaem que a Fundação criou o Telecurso 2000,atendendo à demanda de milhões debrasileiros que não concluíram o ensino básico.O Telecurso teve sua metodologia aprimoradaao longo dos anos e hoje é um símbolo daeducação básica no País, com 18 mil telessalase mais de 600 mil alunos beneficiados.Como resposta a várias experiências bemsucedidas em projetos educacionais, aFundação colocou no ar, em 1997, o CanalFutura. Um canal do conhecimento,viabilizado pela parceria com 14 instituiçõese grupos empresariais, que têm em comum ocompromisso com a educação no País. OFutura é o primeiro canal de televisãoprivado do Brasil inteiramente dedicado àeducação. Com 24 horas ininterruptas deprogramação, hoje conta com 14 milhões detelespectadores.Na Fundação existe o Departamento deMobilização Comunitária que é responsávelpelo sucesso da audiência dirigida, quebeneficia nove mil instituições, das quais86% são escolas públicas. “Um diferencial daFutura, reconhecido internacionalmente, é acapilaridade de instituições trabalhando

juntas”, diz Mônica Pinto,coordenadora de atendimento a parceiros.

H I S T Ó R I A E A R T EO Instituto Herbert Levy foi fundado em1991 e tem como mantenedor o grupoGazeta Mercantil, composto pelo jornalhomônimo, pela TV Gazeta, pelo site Invest News e pelapublicação semanal International Weekly Edition. OInstituto atua principalmente na restauração de prédiospúblicos, para torná-los acessíveis à população, como a doPalácio da Justiça, no Rio de Janeiro, e a da Biblioteca doItamarati. E está criando o site Revisitando o Barão,composto pelos documentos mais importantes do Paísdesde 1500.Mantendo a sua característica de Instituto, o Herbert Levynão possui recursos próprios. Sempre que identifica umaoportunidade de trabalho parte em busca de um financiador e o incentiva a fazeruso da Lei Rouanet. Outro projeto desenvolvido por esta Instituição é o Você Acimada Média, que consiste na instalação de salas (atualmente 20) Gazeta Mercantildentro das principais universidades brasileiras equipadas com todo o conteúdoproduzido pelo jornal.De acordo com Reinaldo Leite Paes Barreto, secretário-geral do Instituto, aimportância de uma empresa de comunicação ter o seu braço social está napossibilidade dela usar todo o seu arsenal para uma ação do Terceiro Setor.A Fundação Romulo Maiorana, que leva o nome de seu fundador, tem comoprincipal projeto o Salão Arte Pará. O salão premia os melhores trabalhosproduzidos por artistas paraenses e se tornou a maior referência de arte amazônica.“Fundação e jornal têm uma boa relação de parceria”, afirma Daniela Oliveira,assessora de projetos. Segundo ela, o jornal O Liberal está sempre aberto paradivulgar as ações e campanhas desenvolvidas pela Fundação, que existe desde 1981e tem como mantenedora a Organização Romulo Maiorana. Roberta Maiorana,diretora-executiva da Fundação, diz que devido ao trabalho das fundações einstitutos de empresas de comunicação, será muito importante a criação de umgrupo para que juntos articulem políticas voltadas para a melhoria da qualidade devida da população.Todas as organizações de empresas decomunicação para investimento socialprivado são associadas ao GIFE (Grupode Institutos, Fundações e Empresas),que é a primeira associação daAmérica Latina constituída pororganizações privadas doadoras derecursos para projetos sociais.

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Como qualquer outra atividadeempresarial inserida em umregime capitalista, o setor dasempresas de comunicaçãopossui interesses econômicos eatua na perspectiva e na lógicado mercado, ou seja, tem comofim e foco principal o lucro.Entretanto, ao contrário deoutros setores, a mídia temcomo principal matéria-primae, ao mesmo tempo, produtofinal, uma mercadoria quepossui caráter público e social:a informação. Por essa peculiarcaracterística, parece inegável opapel estratégico que asempresas de comunicaçãoocupam no fortalecimento dademocracia e nodesenvolvimento da sociedadebrasileira.Sendo assim, por ser o carátersocial elemento intrínseco àatividade da mídia, as empresasde comunicação estariamdesobrigadas de quaisqueroutros compromissos com aárea social ao cumprir o seutrabalho jornalístico comprofissionalismo e ética?Como corporação empresarial,a mídia não tem nem mais nemmenos obrigação de realizarinvestimentos em projetossociais. Os gestores dessasorganizações devem observarno mínimo dois aspectos ao

analisar se elas devem ou nãoatuar nessa área.O primeiro diz respeito aonegócio. Nas duas últimasdécadas, a participação dainiciativa privada brasileira emprojetos sociais vem crescendode forma progressiva econsistente. Vários fatores sãodeterminantes para essamudança de comportamentodo empresariado brasileiro.A ampliação dos mecanismosde participação da sociedadecivil, especialmente a partir daConstituição de 1988, quepossibilitou a elevação do graude cidadania do brasileiro egerou maior vigilância sobre aspráticas das empresas; umacirramento da concorrência, oque obriga as corporações aadotar novos conceitos degestão; e a conscientização porparte dos empresários dodiferenciado papel social quetêm a desempenhar, são algunsdesses fatores.Assim, o próprio estágio dedesenvolvimento do mercadocapitalista em que atuam asempresas de comunicação,tanto no Brasil como nomundo, onde a relação com asociedade e seus váriosrepresentantes legítimos é umfator que se insere cada vezmais na estratégia de gestão do

negócio, impõe às empresas demídia uma nova relação com aárea social.O segundo aspecto é mais éticoque mercadológico. Ele dizrespeito ao compromisso queestas organizações deveriam terde colocar a serviço dodesenvolvimento socialbrasileiro: não só suasinfluências política emobilizadora – mesmo querelativas –, como também, comespecial destaque, o grandecapital social de que sãodetentoras em se tratando deprocessos comunicacionais.Aportando conhecimentosadquiridos no seu campo deação mercadológica, asempresas de comunicaçãopodem contribuir muito maiscom o setor social, porexemplo, realizando campanhaspúblicas, mobilizando outrosinvestidores privados etornando-se qualificadoras dasorganizações do terceiro setorquando o tema é comunicação.É o que acontece com osnossos seis associados que sãobraços sociais de empresas decomunicação.As empresas de comunicaçãonão podem se furtar atornarem-se acionistas dogrande movimento desolidariedade que vemocorrendo na sociedade civilbrasileira. Caso não tenhamuma postura pró-ativa, corremo risco de perder outraoportunidade histórica, comoocorreu com a campanha das“Diretas Já”, quando, comlouváveis exceções, ficou areboque de outros setores.

REBECCA RAPOSOSOCIÓLOGA, É DIRETORAEXECUTIVA DO GIFE

JUDI CAVALCANTEJORNALISTA, É GERENTEDE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO DO GIFE

NEM MAIS NEM MENOSOBRIGAÇÃO

MÍDIA E SOCIEDADE

FOTOS

FUNDAÇÃO MAURÍCIO SIROTSKY SOBRINHO

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PROJETO TOM DA MATA

FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO

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PROJETO TOM DA MATA

FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO

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PROJETO JOVENS GAZETEIROS: APRENDIZES DA

NOVA ERA DA FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA EM

PARCERIA COM O JORNAL O POVO.

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KIT TOM DA MATA

FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO

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“Escrevo a respeito de artigoassinado pelo senhor napublicação Infância na Mídia,março de 2001, ano 6, número1, edição 10, nas páginas 19 e20. Esse artigo trata da matériaintitulada ‘Eles estão maisperigosos’, publicada na ediçãoda revista Veja, de 8 denovembro de 2000 e que levameu nome. Quanto ao processode edição da revista Veja nareferida matéria esclareço oseguinte:Apesar de o material estarassinado com meu nome, o quepoderia significar que a redaçãofinal é de minha autoria, o textopublicado é da edição executivada revista. Fui responsável pelaapuração dos dados, pelasentrevistas com as fontesespecializadas no assunto – houve15 entrevistados, e pela produçãode um texto com esse material.

emenda constitucional que tratada maioridade penal, deputadofederal Inaldo Leitão; o ministroda Justiça, José Gregori.Meu texto, composto pelosdados apurados com as fontes,foi remetido à edição de Geralda revista e reescrito pela entãoresponsável por essa edição erepassado à edição executiva e,mais uma vez, reescrito e,finalmente, publicado. Esta foi aforma de funcionamento darevista, ao menos em relação aesse material.Quanto ao fato de não teremsido publicados depoimentosdos entrevistados ou nem terhavido a indicação de quem é afavor desta ou daquela idéia,trata-se de uma postura de Veja.A revista elaborou um texto finalsegundo suas convicções.Portanto, o texto e os conceitospublicados não são meus. Minhaproposta de pauta era mostrar oaumento de infrações violentascometidas por adolescentes comaté 18 anos de idade no País.Ainda durante meu trabalho deapuração fui informado pelaedição da revista que a posiçãode Veja era a de defender aredução da maioridade penalcomo uma forma de dar umaresposta rápida ao crescimentodos atos violentos praticadospelos adolescentes. A revista

E R R O S E E R R A T A S

Em março deste ano, a décima edição da pesquisa Infância na Mídia trouxe o artigo “Crimes, mentiras eerratas erradas”, sobre matéria publicada pela revista Veja em novembro do ano passado. Defendendo aredução da maioridade penal com base em uma interpretação equivocada das estatísticas oficiais deinfrações envolvendo crianças e adolescentes, a revista produziu o que o diretor-executivo da ANDI,jornalista Geraldinho Vieira, chamou de “um dos mais equivocados textos já publicados pela imprensabrasileira sobre a questão da criminalidade juvenil”.

Assinada pelo repórter Robson Luquêsi, a matéria não traz opiniões de fontes especializadas e, em tom afirmativo,assume contornos de editorial. Depois de listar condições previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente para ofuncionamento das instituições onde devem ser internados adolescentes infratores, o texto condena: “Como não dá paravirar uma Suécia em curto prazo, a saída mais rápida para atenuar o problema seria a redução da maioridade penal paraos 16 anos”.

ROBSON CARLOS LUQUÊSI SOARES

A resposta do repórter que assina o texto de Veja:

DA APURAÇÃO ÀS BANCAS:Quem responde pela informação?

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J A N E I R O D E 1 9 9 9 A J U N H O D E 2 0 0 0

ASSALTO - 1.520 INTERNADOS • 300 CUMPRIAM INTERNAÇÃO JÁ EM 1999

TENTATIVA DE HOMIC ÍDIO - 400 INTERNADOS • 105 CUMPRIAM INTERNAÇÃO JÁ EM 1999

LATROC ÍNIO – 1.040 INTERNADOS • 870 CUMPRIAM INTERNAÇÃO JÁ EM 1999

HOMIC ÍDIO – 2.900 INTERNADOS • 2.400 CUMPRIAM INTERNAÇÃO JÁ EM 1999

Foram entrevistados, entre outros, o oficial de projetos do Unicef,Mário Volpi; o jurista Dalmo Dallari; o promotor de Justiça daInfância e Juventude da cidade de São Paulo, Ebenezer SalgadoSoares; a diretora do Departamento da Criança e do Adolescente doMinistério da Justiça, Olga Câmara; o desembargador do Tribunal deJustiça de São Paulo, Marcelo Fortes Barbosa; o relator do projeto de

também queria saber dosentrevistados se haveria outrasformas desse tipo de ação rápidapara enfrentar essa situação.Como já disse, foram 15 pessoasentrevistadas. Houve posiçõesfavoráveis e contrárias a itens doEstatuto da Criança e doAdolescente, várias idéias quantoao tratamento hoje dispensadoaos infratores e sobre quaismedidas poderiam ser tomadaspara enfrentar o problema, entreoutros aspectos.Portanto, repito, o texto e osconceitos publicados nãorefletem toda a apuração que fiz.Com relação aos númerospublicados houve um completodesentendimento sobre o quefoi discutido durante o trabalhode apuração e o que terminousendo publicado. Os números dotexto final chegaram a sercorrigidos no processo dechecagem do material, queantecede a publicação. Horasdepois, se percebeu que ailustração correspondentetambém deveria ser alteradapara que ficasse mais clara ainformação. Porém, a edição darevista decidiu voltar o texto àsituação anterior, portanto, comos dados equivocados.”

OS NÚMEROS, SEGUNDO O REPÓRTER

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Em uma tarde de maio de 1992 eu era chamada pormeu diretor de Jornalismo para trabalhar pautas quesairiam da rotina diária dos telejornais da TV Cultura.Realizar um levantamento de projetos sociais comcrianças e adolescentes em todo o Brasil queestivessem conseguindo bons resultados na reduçãoda mortalidade infantil, prevenção e retirada demeninos e meninas das ruas, inclusão social demeninas exploradas sexualmente, prevenção daevasão e da repetência escolares. O objetivo:transformar essas experiências na pauta de umespecial jornalístico de uma hora de duração a serexibido no final do mesmo ano.O que aparentemente seria uma reportagem fria, sem

O projeto Jornalista Amigo daCriança foi cr iado pela ANDI –Agência de Notícias dos Direitos daInfância e Fundação Abrinq pelosDireitos da Criança em 1997 parapromover uma maior interlocução entreprofissionais de imprensa que dedicamesforços pela defesa dos direitos dacriança e adolescentes no País.Todos os anos são reconhecidos, pormeio de diplomação pública, trabalhos

de jornalistas engajados no compromisso de denunciarviolações de direitos e de investigar soluções para osproblemas da infância no País.Hoje são 200 os Jornalistas Amigos da Criança, profissionaisque se tornaram referências na área da infância eadolescência dentro e fora de suas redações. O projeto,realizado em parceria com a Embratur e com apoio do Unicef,Fundação Abrinq e McCann-Erickson, inclui iniciativas paramultiplicar informações para que esses profissionais possamse aprimorar em temas relevantes para a infância eadolescência, como envio de material especializado e convitespara participação em seminários e palestras.A repercussão da iniciativa ultrapassa o universo dasredações. A ANDI recebe anualmente centenas de e-mailsde estudantes universitários, entidades que desenvolvemtrabalhos com crianças e adolescentes e profissionais dediversas áreas, todos buscando informações sobre o projeto.

A produção também ganhou o1o Grande Prêmio Íbero-Americano de Comunicaçãopelos Direitos da Infância,concedido pelo Unicef e pelaAgência de Notícias EFE. ÂngelaSantos é a autora da idéiaoriginal e da produção de pautado roteiro premiado. Outrosespeciais produzidos pela TVCultura a partir de pautas dajornalista na década de 90incluem:

NUNCA FUI CRIANÇA

Série exibida como parte daprogramação do diainternacional da criança natelevisão. Em dezembro de 1995,o primeiro especial jornalísticodenunciou a exploração sexualde meninas no Nordeste, adesnutrição infantil no interiorde São Paulo, as criançasviciadas em crack na capital, aexploração da mão-de-obrainfanto-juvenil em carvoarias no

UMA AMIGA DA CRIANÇA POR TRÁS DAS CÂMERASEm abril de 1999, odocumentário “De volta paraCasa” foi o vencedor da 2a

edição Grande Prêmio AyrtonSenna de Jornalismo nacategoria televisão. Exibido pelaTV Cultura no dia internacionalda criança na televisão, emdezembro do ano anterior, oprograma mostrou a vida decrianças em situação de rua noPaís e a possibilidade de resgatede sua cidadania com arecuperação de laços familiares.

REFERÊNCIAS EMTODAS AS REDAÇÕES

A DÉCADA DA CRIANÇA E DOADOLESCENTE NA TVBRASILEIRA

Mato Grosso do Sul, e naprodução do sisal, pedreiras eolarias do interior da Bahia. Noano seguinte, mostrou adesnutrição de crianças no Valedo Jequitinhonha, em MinasGerais, e os programas quetentam melhorar essa situação.

ÂNGELA SANTOS *

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gancho, começou a dar corpo a umamudança de olhar que, a partir de então,passou a permear toda a produçãojornalística sobre a infância na TV Cultura,impulsionada pelas ações que o Unicefdesencadeava no Brasil em função daConvenção dos Direitos das Crianças de1989 e das metas estabelecidas pela CúpulaMundial da Infância, realizada em 1990 pelaOrganização das Nações Unidas (ONU).Vacinar, garantir escola, evitar a morte ouressocializar adolescentes nãorepresentavam mais apenas uma obrigaçãodos governos. Passavam a ser direitos decrianças e adolescentes.Já vivíamos a implantação do Estatuto daCriança e do Adolescente, mas a denúnciaainda era o tom das reportagens sobre ainfância ameaçada, e o ponto de vistacriminal prevalecia na cobertura da imprensasobre meninos e meninas em situação de ruaou sobre os jovens internados eminstituições como a Febem.O contexto social brasileiro não apresentavagrandes mudanças, apesar dasmovimentações no plano político. O Estatutoda Criança e do Adolescente (ECA) seriaaprovado, mas a opinião pública nãoentendia o que deveria mudar, embora aprioridade à infância prevista pelo novoEstatuto já tivesse sido incluída no texto daConstituição de 1988.

A partir de 1991, o Unicef buscava que osgovernos estaduais estabelecessem ecumprissem metas para melhorar aqualidade de vida das crianças eadolescentes, através do Pacto pela Infância.E o surgimento da ANDI- Agência deNotícias dos Direitos da Infância nessa épocaapoiou a mudança de paradigmas notratamento da temática infância pela mídia,consolidada ao longo da década de 90.Tive a felicidade profissional de acompanharna prática essa mudança de olhar,participando ano a ano, desde 1992, daprodução das pautas sobre infância eadolescência para o Telejornalismo daCultura e da formatação de projetos decoberturas especiais de fatos marcantes.Como os desdobramentos da 2ª Reunião dosGovernadores brasileiros pela Criança, em1993, que resultou em uma semana dedebates em outubro daquele ano noprograma Opinião Nacional. Ou a MarchaGlobal Contra o Trabalho Infantil, em 1998,na qual enviamos um vídeorreporter paraacompanhar a caravana brasileira que viajoupor diversas cidades de São Paulo atéBuenos Aires, onde se encontrou com acaravana latinoamericana em fevereirodaquele ano. Com editores, repórteres echefes de redação mobilizados em torno doassunto, as sugestões de pauta, aceitasprontamente, envolveram diversas outras

reportagens fora do factual eprogramas de debates, como o RodaViva. A ótica: o direito a ter direitos.Como emissora pública que prioriza ainfância e adolescência em toda sua

programação, a Cultura integra, desde 1995,a rede do Dia Internacional da Criança noRádio e na TV, coordenada pelo Unicef. Todoesse contexto tornou mais fácil, ao longo dosanos, propor e produzir pautas socialmenterelevantes mostrando na telinha a defesa e apromoção dos direitos dos cidadãos de 0 a18 anos, em abordagens diferenciadas nocontexto dos velhos problemas. Uma linhade evolução que alterou a hegemonia daPolítica e da Economia nos noticiários, com acumplicidade de outros pauteiros, editores erepórteres.Em 1997 fui diplomada Jornalista Amiga daCriança pela ANDI e Fundação Abrinq e aatuação nessa rede de jornalistas propiciouum ganho de qualidade ao meu trabalho edeu mais visibilidade à pauta da criança.Uma segunda mudança de curso está agoraaprofundando o tratamento que oJornalismo da TV Cultura dá à temáticainfância e adolescência. A criação do Núcleode Documentários, em 1998, e a produçãodos especiais para o Dia Internacional daCriança na TV na linguagem dedocumentário a partir desse ano.Depois de 11 anos de produção de pautaspara o jornalismo diário, tenho aoportunidade de propor projetos e participarda produção de documentários sobrecrianças e jovens na emissora. Como a TVCultura é protagonista na recentedinamização da produção de documentáriosno Brasil, temos aí um importante salto navisibilidade dos assuntos ligados à infância,na forma de apontar saídas para velhosproblemas e de contar histórias de nossascrianças e jovens.

Em 1997, o foco foi a exploraçãosexual de meninas em 5 cidadesbrasileiras.

ABUSO SEXUAL

• CRIME SILENCIOSO

Especial sobre abuso sexualcontra meninas no Brasil exibidoem agosto de 1998.

VIDA BANIDA

Documentário sobre o drama deadolescentes em conflito com alei no Brasil. Programa exibidoem dezembro de 1999 pela RedePública de Televisão durante aprogramação da TV Cultura parao Dia Internacional da Criançana TV, ganhadora pelo 3º ano

consecutivo do EMMY-2000 demelhor programação infantil domundo.

* ÂNGELA SANTOS

Jornalista do Núcleo deDocumentários da TV Cultura SãoPaulo, integra a Rede JornalistaAmigo da Criança a Rede deComunicadores Sociais da América

Latina e Caribe para as questõessociais do Trabalho, organizadapela OIT-Organização Internacionaldo Trabalho e é assessoratemporária da Organização PanAmericana de Saúde, na elaboraçãopela OPS de documento sugerindocompetências básicas dojornalismo em saúde.

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ANDI • Cobrir temas relacionados à defesados direitos de crianças e adolescentes foiuma definição desde o começo do projetoque você implantou no Correio Braziliense apartir de abril de 1994 ou foi surgindo notrabalho diário?Ricardo Noblat • Foi surgindo, não houve nadapreviamente pensado. Como várias coisas aquia partir de 1994. Acho que o jornal ganhoumuito destaque com a campanha da Paz noTrânsito e ela não foi uma coisa pensada,amadurecida, calculada. Foi a coincidênciaentre nós termos umas três ou quatroreportagens de gaveta sobre trânsito e odesastre do atropelamento e morte de umrapaz no Lago Norte provocados pelo filho doministro dos Transportes na época, OdacirKlein. A gente cobriu muito bem o assunto, osdesdobramentos e começou a soltar asmatérias de gaveta. Só então se pensou: vamostornar isso pauta diária. Acho que o mesmoaconteceu um pouco com os temas derelevância social. Não houve um gatilho, como

no caso do trânsito com esseatropelamento. Mas teve a ver

com a passagem de várias pessoas pelaredação. Ao longo dos anos, há momentos emque o jornal é mais ou menos presente naabordagem desses temas, porque isso nãodepende apenas de uma deliberação da direçãode redação. Depende também de você terpessoas que se interessam mais ou menos porquestões sociais ou que têm um maior pendorou vocação ou gosto ou prazer em cobri-las.

ANDI • Nos anos 80, com o fim da ditadura,a cobertura da infância e adolescênciaacorda para o menor abandonado. Nosanos 90, a mobilização para aprovar oEstatuto da Criança e do Adolescenteunifica atores sociais da área e ajuda afixar a pauta da criança fora da escola.Que perspectivas podem ser traçadas paraesta década?Noblat • Acho que essa perspectiva já vem sedesenhando nos últimos anos, que é a de umjornalismo menos de denúncia dessesproblemas, não que os esqueça, mas que aomesmo tempo em que os apresenta tentadiscutir soluções, abordar experiências bemsucedidas na área. Acho que vai emergir muito,as próprias pesquisas da ANDI mostram isso. O

que pode vir depois da consolidação desse tipode tendência, eu não sei. Talvez a questão daética na abordagem dos temas de relevânciasocial. Vejo essa questão crescendo a partir dapolítica, ou das más lições que ela tem nosdado. Pode ser que isso venha, não sei como, ase colocar na abordagem desses temas. Mas,com clareza, vejo que a pauta dos jornais estáse direcionando muito para um “não bastaapresentar problemas vamos propor soluções,atrair quem tenha propostas, debatê-las eapresentar o que está sendo feito”.

ANDI • Isso tem algum apelo juntoao leitor?Noblat • Acho que tem. O leitor já se cansou, edá sinais muito claros disso, de ter alguémapenas apontando o dedo para os problemas.Ótimo, apresente os problemas, ele querconhecê-los em toda sua extensão. Mas, e aí,qual é a saída? Tem alguma coisa sendotentada? Há várias soluções já pensadas paraele, dando certo em vários lugares? Ou, se nãohá, o que fazer? Isso, claramente, o leitor indicaque quer ler. Mas acho que os jornalistas ainda

têm dificuldades para entender esse recado.Não só na abordagem de temas de relevânciasocial, embora nesses fique mais clara essadificuldade. Eles ainda estão voltados para ojornalismo de denúncia. É mais fácil, dá menostrabalho, até porque, na maioria das vezes, asdenúncias nos chegam mais ou menos prontasou, pelo menos, em estado adiantado deapuração. Então, é só arrematar. É muitosimples você ouvir um procurador dizer quetem uma investigação em curso e nela estáapurando tais e tais coisas. Outra coisa é vocêidentificar um problema e pesquisar onde hásoluções para ele. Isso implica, muitas vezes,sair da sua base de atuação, o que esbarra naslimitações dos jornais, uns mais outros menos,de verbas para viagens. Aí, é meio cíclico,depende da conjuntura econômica do país, dasempresas, naquele momento.

ANDI • A cobertura com a ótica de buscarsoluções fica prejudicada com a crise?Noblat • Fica um pouco em suspenso. Como aprópria abordagem de temas de relevânciasocial. Se você não ficar apenas na suaparóquia, no seu quintal, e tentar enxergá-losmais num país tão grande e com tantos

Em 1996 a ANDI começou aacompanhar diariamente todasas notícias sobre infância eadolescência publicadas em 50jornais de diferentes capitaisbrasileiras. A primeira ediçãoda pesquisa Infância na Mídiaapresentou naquele ano oranking de jornais que maispublicaram reportagens, artigose editoriais relacionados aotema naquele trimestre. OCorreio Braziliense estava emprimeiro lugar. Em dez ediçõesda pesquisa, lançadas ao longode cinco anos, o jornal voltariaa liderar seis vezes a lista dosveículos mais atuantes. Durantetodo esse período, a redação doCorreio esteve sob a direção dojornalista Ricardo Noblat. Aqui,ele fala sobre o desafio de nãodeixar que, depois de anossendo exploradas, as questõesda infância pareçam umapauta velha.

PING-PONG

INVESTIGAR SAÍDAS PARA PRO R I C A R D O N O B L A T

CYNTHIA GARDAEDITORA-EXECUTIVA DA ANDI

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problemas como o nosso, esbarra emlimitações maiores. Porque fica mais fácil, maisbarato, ir ali na Esplanada dos Ministérios ouno Palácio do Buriti colher alguma informação,do que se mandar para a Amazônia, parao Piauí ...

ANDI • Nossa análise sobre a cobertura deEducação Infantil em 2000 mostra que 248das 769 matérias analisadas forampautadas por uma das esferas do Executivo.Noblat • Acho que isso, em parte, podedecorrer de limitações que os jornais têm derecursos. Mas em parte ainda é por umadependência muito grande que os meios decomunicação têm do poder como fonte deinformação.

ANDI • Esse número não leva em conta asmatérias geradas a partir do Judiciário eLegislativo…Noblat • Aí é imenso. A pauta da imprensabrasileira é muito oficial. Acho que os meios decomunicação refletem menos a vida daspessoas e mais o que os poderes fazem ou

deixam de fazer. É claro que os atos do poderatingem a vida das pessoas. Mas para mim issonão faz mais nenhum sentido. O grau dedependência dos jornais do Rio e de São Paulodas informações que recebem de Brasília éescandaloso. O Gilberto Dimenstein contouuma história muito interessante. Ele chefiava asucursal da Folha em Brasília quando aEleonora Lucena, que fazia a primeira página,ligou e perguntou: “Qual é a manchete deamanhã?” Aí, ele disse: “Vem cá, não tem umtal de Rio Tietê, que transbordou no centro deSão Paulo, alagou tudo, a cidade não estáinfernal?”

ANDI • O Ministério da Educação, porexemplo, é eficiente ao lançar números epesquisas que rendem matérias. Ondeestão o Terceiro Setor, a universidade, osespecialistas? Vocês sentem essas fontestentando chegar à imprensa?Noblat • Acho que é uma crítica que se podefazer ao chamado Terceiro Setor. Fora algumasáreas mais organizadas, ou mais competentesem termo de comunicação, a maioria dá muitotrabalho. Claro que, se os jornais tivessem umacobertura mais aplicada desse Terceiro Setor,

descobririam os assuntos. As pessoas sãomuito receptivas nessa área, não se fecham,não escondem informação. E acho que sãomuito pouco procuradas. É uma dificuldade deduas mãos. Acaba sendo mais cômodo,preguiçoso, ser pautado pelas fontes oficiais, oque é um horror, ao meu ver.

ANDI • Em 1999 a ANDI classificou 6.660matérias sobre violência envolvendocrianças e adolescentes. Em 2000, 14.753.Dessas, 563 foram do Correio. Você percebeum crescimento do tema no jornal?Noblat • Crescimento do tema, sim, se você formedir. Mas não que o jornal esteja orientado aprocurar mais notícias a respeito disso: ojovem como vítima ou autor de violência. Asensação que eu tenho, embora seja uma coisaempírica, é de que os jovens estariamprotagonizando mais esse tipo de episódio,onde são vítimas ou, eventualmente, autores.Sinto isso em Brasília.

ANDI • Nessas quase 15 mil matérias sobreviolência, crianças e adolescentes

brasileiros foram vítimas em56,35% delas e agentes em17,77%. Você acha que essaproporção está bem refletidanas capas dos jornais hoje,no tratamento editorial quedão ao assunto violência?Noblat • Acho que não. Atéporque, como a gente não fazesse tipo de medição, muitasvezes perde a sensibilidade parasaber se isso está aumentando oudiminuindo. Você tem isso deforma muito intuitiva.

ANDI • A cobertura desses crimes é muitopautada pela Polícia?Noblat • Acho até que pela dificuldade notóriado Correio com o governo do Distrito Federal, aPolícia deixou muito de ser fonte deinformação para o jornal desde que começou ogoverno Joaquim Roriz. Então, pelo contrário,ela na maioria das vezes nos omite informação.

ANDI • E a escola? Os jornais estãoconseguindo entrar nela, trazer esseuniverso para suas páginas?Noblat • No geral, os jornais cobrem pouco aEducação e têm pouca intimidade com o quese passa dentro das escolas. Seja por interesse,seja por outras barreiras. Aqui no Correioestamos enfrentando dificuldades que nãosentíamos antes. Tudo aqui está muitocontaminado por uma má vontade do governocom o jornal. Isso tem nos criado limitaçõesmuito grandes.

ANDI • Em 2000, a ANDI registrou menosde 30 matérias, editoriais e artigos sobreEducação Infantil publicadas pelo Correio.Na pauta dos jornais brasileiros, assimcomo nas políticas públicas, a criança sócomeça a existir aos sete anos de idade?Noblat • É um pouco isso. As poucas ações que

os jornais fazem – aqui não estoufalando de cobertura, mas de

promoções e criação de produtos– levam em conta isso, nunca sepensa em alguma coisa maisprecoce. Aqui tivemos ainiciativa de criar umsuplemento infantil diário, oEste é Meu, mas também só

atinge crianças a partir dos seteanos. É como se todos nós

pensássemos: bom, o problema dacriança, antes disso, é dos pais.

ANDI • E não daspolíticas públicas.

Noblat •Exatamente. Ouentão, osproblemas nosparecem ser tãomaiores no Paíspara quem estáentrando naadolescência, que agente não olha paraessa fase maisberço.

BLEMAS SOCIAIS DO BRASIL

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Eu gostaria que a genteestivesse sempre disputando o

primeiro lugar. Então, quando agente cai, me acende uma luz

vermelha de preocupação em relaçãoa em que estamos falhando que não

continuamos oferecendo aquantidade, e mesmo a

qualidade, das matérias queoferecíamos.

ANDI • Você sentiu muita diferença namaneira de o jornal cobrir Educação,cultivar fontes na área, depois de criar umapágina fixa para o tema?Noblat • Era uma forma de nos obrigar apublicar as coisas. Acho até que pode ser aforma mais inteligente - foi - de forçar osprofissionais a se voltar para esse assunto. Ouse tornava aquela uma pauta permanente,criando o espaço, a obrigatoriedade de sepublicar, ou aquilo dificilmente aconteceria. Poroutro lado, acho que a gente tem queperseguir uma situação na qual não se preciseter o espaço ou dias determinados, porquepode-se cair numa outra armadilha: só pôreducação no jornal naqueles dias.

ANDI • Em 2000, o Correio cai da 1a e 2aposições no ranking da ANDI para o 7o lugar.Essa queda aconteceu com a maioria dosjornais de influência ou circulação nacional.Já o Estado de Minas subiu da 9a para a 1a

posição. O Liberal (PA), da 13a para a 2a. OCorreio da Bahia, da 18a para a 3a.Noblat • Cada um dos jornais que caiu nesseranking pode ter sua explicação particular. Aquinão houve nenhuma mudança de orientaçãoem relação a isso. Algumas questões podemser internas, pontuais dos jornais. Mas se vocêtem a emergência de alguns jornais queestavam em posições distantes do topo, éporque eles começaram a descobrir aimportância de alguns assuntos. Os jornaisregionais vivem muito da cobertura local e doque recebem de agências. A cobertura localdeve ter crescido nesses jornais.

ANDI •Correio eEstado deMinas sãodestaques napesquisa da ANDI.Mas você tem, porexemplo, o Diário dePernambuco em 42o lugar, oDiário de Natal em 28o, apesar de ser umareferência na cobertura de Educação. Épossível ou interessante para os DiáriosAssociados pensar em unificar essespadrões, essas estratégias de cobertura?Noblat • Os Diários Associados, em 75 anos,nunca conseguiram fazer isso. E eu nãoacredito que vão conseguir agora. Cada umdos jornais do grupo atua de formaindependente, e há muito pouca interaçãoentre um e outro. Não acredito que seránenhuma deliberação superior do comandodos Diários que fará com que esses jornaisreflitam mais ou menos. Será sempre umadecisão local de cada um desses veículos, e damaior ou menor sensibilidade das pessoas queos comandam.

ANDI • Você foi homenageado no GrandePrêmio Ayrton Senna de Jornalismo com ocapacete simbólico de corredor de fórmula1. Na cerimônia, em 1999, todo mundoficou de olho no seu capacete-troféu, era oxodó da premiação…Noblat • Tá ali até agora. Teve uma faxineira,na primeira noite em que o capacete chegouque, quando foi limpar a sala, passou a mãopor cima, se benzeu. Dois dias depois, apareceuuma vela acesa ao lado dele. Quando a gentechegou de manhã, só tinha um toquinho,podia ter caído no carpete e dado umproblema grande. Ela achava que era ocapacete original do Senna. E, durante algumtempo, eu até dizia que era mesmo. Mostrava:

“Olha temesta parte

aqui támeio que

descascando,porque o

capacete é antigo”(risos)… Não pretendo

tirá-lo aqui da sala. Comcerteza, é o prêmio mais importante que já

recebi. De vez em quando, quando olho paraele, embora tenha se incorporado ao ambiente,me provoca muito: “Ih, rapaz! Como é que agente está na cobertura de temas de relevânciasocial?” Funciona um pouco como um vigiasilencioso, e isso não é figura de literatura, nãoestou fazendo subliteratura aqui. Essequestionamento me faz provocar a Redação.Me preocupa quando eu vejo o jornal queesteve tanto tempo em primeiro lugar noranking estar em sétimo. Não que sejadesprimoroso nem que meu instinto decompetição seja tão forte que não admitaqualquer outro lugar que não seja o primeiro,mas me incomoda. Eu gostaria que a genteestivesse sempre disputando o primeiro lugar.Então, quando a gente cai, me acende uma luzvermelha de preocupação em relação a em queestamos falhando que não continuamosoferecendo a quantidade, e mesmo aqualidade, das matérias que oferecíamos. Éclaro que vejo todas essas outras questões daspautas repetitivas ou da nossa incapacidade decriar pautas mais originais em cima disso. Podedecorrer de nossa incapacidade como de umpróprio esgotamento do assunto. Comesgotamento estou falando em pautasdiferentes sobre o assunto, não que os temasestejam se esgotando. Estão todos aí, quaseque intocados. Esse capacete tem muitaimportância para mim por essas razões todas.Deixa ele aí que é bom.

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MUITO SE TEM DEBATIDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A MÍDIA E AS

ORGANIZAÇÕES DO CHAMADO TERCEIRO SETOR, MAS A MAIORIA

DAS DISCUSSÕES RESUME-SE AO MURO DE LAMENTAÇÕES DAS

ONGs SOBRE ERROS COMETIDOS PELA IMPRENSA NA COBERTURA

DA ÁREA SOCIAL – ERROS, ALIÁS, MUITO SEMELHANTES AOS QUE

SE PODE ENCONTRAR EM MATÉRIAS SOBRE ESPORTES, ECONOMIA,

POLÍTICA, MODA. ÀS VEZES, ERROS REALMENTE GRAVES, QUASE

TODOS CONSAGRADOS PELA MÁ FORMAÇÃO ACADÊMICA E PELA

PRESSA COM QUE SE APURA, ESCREVE E EDITA INFORMAÇÕES.

MAS A QUALIDADE DA INFORMAÇÃO É UMA VIA DE MÃO DUPLA: DEPENDE DE QUEM A PRODUZ (AS FONTES) E DE QUEM A COLETA E

EDITA (JORNALISTAS). POR ISSO, AS ONGs DEVEM REEXAMINAR SEU PAPEL E SUA RESPONSABILIDADE. TODAS SABEM QUE

COMUNICAÇÃO É ALGO ESTRATÉGICO, MAS QUANTAS DELAS TÊM EM SUA ESTRUTURA UM ASSESSOR DE IMPRENSA? EM QUANTOS

PROJETOS SÃO PREVISTAS, NO FIM DE SUA EXECUÇÃO, AÇÕES DE COMUNICAÇÃO QUE TORNEM PÚBLICOS OS RESULTADOS OBTIDOS?

UM MITO SOBRE ESSE TEMA É O DE QUE, COM O DINHEIRO QUE SE GASTARIA COM O SALÁRIO DE UM ASSESSOR DE IMPRENSA, A

ORGANIZAÇÃO PODERIA ALIMENTAR MAIS CRIANÇAS, COMPRAR MAIS AGASALHOS OU SUPRIR OUTRAS NECESSIDADES. PARECE

UM ARGUMENTO DEFINITIVO, MAS, EMBORA EVIDENCIE AS DIFICULDADES DE SOBREVIVÊNCIA DAS ORGANIZAÇÕES, DEVE SER

MELHOR PENSADO.

DUAS RAZÕES PODEM E DEVEM MOVER UMA ORGANIZAÇÃO EM SEU EMPENHO POR UMA COMUNICAÇÃO PÚBLICA MAIS EFETIVA.

A PRIMEIRA É NORMALMENTE BEM ENXERGADA: TODA ORGANIZAÇÃO PRECISA DE VISIBILIDADE PARA QUE SE LEGITIME DIANTE

DA SOCIEDADE, PARA QUE SEJA AGREGADA CREDIBILIDADE POLÍTICA DIANTE DOS PODERES PÚBLICOS E PARA QUE SEJAM ATRAÍDOS

NOVOS APOIADORES (OU CONSOLIDADAS AS PARCERIAS JÁ EXISTENTES). PODER ÍAMOS CHAMAR ESSE TIPO DE AÇÃO DE

COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL, MOVIDA PELO OBJETIVO DE CONSOLIDAR UMA IMAGEM.

A SEGUNDA RAZÃO, POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, ESTÁ MENOS PRESENTE, OU PELO MENOS NÃO É TÃO CLARA ENTRE OS LÍDERES SOCIAIS.

OUSO CHAMÁ-LA DE DEMOCRACIA DA INFORMAÇÃO, PORQUE CONSIDERO UMA OBRIGAÇÃO DE TODA ORGANIZAÇÃO COM FINS

PÚBLICOS DEMOCRATIZAR O CONHECIMENTO ACUMULADO PELA EXPERIÊNCIA NO ATENDIMENTO DIRETO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

(E EM OUTRAS ÁREAS). DENÚNCIAS, SOLUÇÕES ENCONTRADAS, ENTRAVES POLÍTICOS OU CULTURAIS PARA O ENFRENTAMENTO DE

SITUAÇÕES ADVERSAS, DIAGNÓSTICOS DE REALIDADES… TUDO ISSO É INFORMAÇÃO QUE DEVE SER TORNADA PÚBLICA.

VALE DIZER QUE AS ORGANIZAÇÕES MOVIDAS PELA SEGUNDA RAZÃO - DEMOCRACIA DA INFORMAÇÃO - SÃO EXATAMENTE

AQUELAS QUE MAIORES “LUCROS” ATRAEM PARA SI. OU SEJA, AS ONGs QUE LEVAM À IMPRENSA AQUILO QUE PARA O JORNALISMO

É MATÉRIA PRIMA E RAZÃO DE EXISTIR (INFORMAÇÃO) ACABAM GANHANDO MAIOR ESPAÇO NA MÍDIA E MAIOR LEGITIMIDADE DE

IMAGEM JUNTO AOS DIVERSOS SEGMENTOS SOCIAIS.

SE É ASSIM, PENSE DUAS VEZES ANTES DE CONSIDERAR QUE SUA ORGANIZAÇÃO NÃO DEVE OU NÃO PODE INTENSIFICAR ESFORÇOS

E INVESTIMENTOS EM COMUNICAÇÃO.

G E R A L D I N H O V I E I R AJORNALISTA E DIRETOR-EXECUTIVO DA ANDI

ESTE ARTIGO FOI ESCRITO, ORIGINALMENTE, PARA

REVISTA DA FUNDAÇÃO GOL DE LETRA.

Q U E MNÃO C OM

UN ICA …as fontes são co-autoras da qualidade da inform

ação

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