Aconselhamento Pastoral da Família — uma Proposta Sistêmica

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    Estudos Teolgicos, 34(2):184-198, 1994

    Aconselhamento Pastoral da Famlia uma Proposta Sistmica

    Christoph Schneider-HarpprechtValburga Schmiedt Streck

    A Situao de Famlias no Brasil

    As Naes Unidas (ONU) declararam 1994 o Ano Internacional da Famlia .Com este lema a ONU quer lembrar a situao cada vez mais difcil de milharesde famlias em diferentes pases e culturas. Observa-se o quanto tambm no Brasilas famlias sofrem e se desestruturam devido ao empobrecimento. Realidadefamiliar para muitos significa: divrcio, abandono de crianas, violncia, agressividade contra crianas dentro do lar, abuso sexual, diminuio da famlia tradicional constituda, pais afastados do lar, empobrecimento da me depois da separaoe dificuldades econmicas da mesma. Em quase todos os nveis sociais constata-se uma mudana da tica matrimonial. Muitas pessoas esto negando o compromisso matrimonial para toda a vida. Os casamentos formalmente legalizadosdiminuem e parece se estabelecer um novo modelo de convivncia entre homeme mulher em que h uma maior rotatividade de parceiros; com isso o compromissomtuo se restringe apenas a alguns anos. Isto se reflete em estruturas familiaresque tendem a ser complicadas, incluindo os filhos de casamentos anteriores eatuais, bem como os compromissos com os parceiros de casamentos anteriores.

    Especialmente em famlias empobrecidas a figura paterna parece estar ausen

    te. Muitos homens so alcoolistas ou dependentes de drogas e as mulheres trabalham fora de casa para garantir o sustento da famlia. Isso faz com que as crianaspassem a maior parte do tempo em creches e escolas, longe do convvio com ospais. O tempo que pais e filhos passam juntos cada vez menor. Muitas crianascomeam a trabalhar precocemente para ajudar no sustento da famlia.

    A situao habitacional de famlias pobres e de classe mdia baixa precria.Em favelas e apartamentos populares falta espao fsico, o que causa uma convivncia fsica muito intensa (crianas no tm uma cama prpria, dormem nomesmo quarto ou na mesma cama com os pais, tm relaes incestuosas com paise irmos, sofrem agresses fsicas, no tm espao para fazer as tarefas escolares,

    para brincar, no tm estmulo para o desenvolvimento intelectual). Em geral asfamlias sofrem de problemas de sade sem atendimento mdico suficiente. Ainiciao sexual acontece prematuramente antes do casamento, aumentando o

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    Esse quadro da realidade familiar, que se estende cada vez mais rea rural, um grande desafio para uma nova pastoral de famlias que vai ao encontrotambm daquelas famlias que no correspondem mais aos padres tradicionais damoral crist, preocupando-se com famlias de casais juntados , no legalmentecasados, com mes solteiras e seus filhos, etc. Tbmar-se- necessrio que a comunidade crist descubra a si mesma como uma rede social em que famlias dediferentes camadas da sociedade convivem em nome de Jesus Cristo, compartilhando a f, descobrindo as prprias necessidades e aquelas dos outros, apoiando-se, buscando e organizando ajuda aos necessitados, acompanhando pessoas em

    processos de mudanas e crises, abrindo um espao em que pessoas de diferentesgeraes consigam achar a si mesmas como sujeitos que constroem a sua vidaorientadas pela tradio e pelos valores cristos.

    Faz parte de tal proposta de pastoral de famlias, que aqui no pode seraprofundada, o aconselhamento pastoral de famlias em crises de ordem psicolgica e social. Trata-se de uma tarefa de profissionais de psicoterapia, assistnciasocial e obreiros/as pastorais. Estes/as tm livre acesso a muitas famlias, ficamsabendo de conflitos ou so chamados/as para ajudar na soluo de problemas. Narea rural os/as obreiros/as da pastoral no raras vezes so os nicos terapeutasacessveis para o povo. Querendo ou no, deveriam adquirir mais conhecimentostericos e certa competncia profissional para cumprir essas exigncias. No soterapeutas de famlia e nem pretendem ser, mas a Igreja e a sociedade os consideram aconselhadores habilitados para ajudar famlias em crises. Neste artigo pretendemos fornecer alguns subsdios da teoria da terapia familiar sistmica, j bastanteconhecida na psicologia brasileira, para um melhor entendimento da realidadefamiliar, e desenvolver uma proposta concreta de aconselhamento pastoral dosistema familiar.

    Terapia Estrutural da Famlia

    a) Elementos Bsicos

    A terapia estrutural foi desenvolvida por Salvador Minuchin, um psiquiatraargentino radicado nos Estados Unidos, e colaboradores. O marco iniciai considerado o estudo realizado em Wiltwyck, uma escola de periferia para adolescentes

    delinqentes, e descrito no livroFamilies o f the Slums( Famlias da Favela). Omodelo teraputico primorado mais tarde no Centro de Orientao Infantil daFiladlfia, com estudos sobre famlias psicossomticas, no atendimento de milhares de famlias e no curso de treinamento intensivo de terapeutas.

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    Um dos principais fundamentos da Terapia Estrutural que o ser humanono vive isolado, mas um membro ativo e reativo no seu grupo social. O queele experiencia como real vai depender tanto do seu mundo interno como do seumundo externo. Por isso a experincia do ser humano determinada pela sua

    interao com o mundo externo.As tcnicas da terapia tradicional normalmente enfocam o indivduo e com

    isso a preocupao se volta para o intrapsquico. Pouca ateno dada ao indivduo no seu contexto social. A pessoa vista como a portadora de uma patologiasem estabelecer uma relao com o meio ambiente. O terapeuta de famlia tem umenfoque diferente. Ele v a pessoa como parte de um sistema, visando a interaoda famlia. Considera a pessoa dentro de diferentes aspectos sociais e sua reaoa estes. Assim a patologia pode estar na pessoa, no seu contexto ou na forma de

    interao que existe entre eles.A terapia estrutural tem trs axiomas: primeiro, que a vida da pessoa no s um processo interno o ser humano vive no seu contexto, o qual eleinfluencia e influenciado por ele; segundo, uma mudana no sistema provocauma mudana em seus membros; e terceiro, o terapeuta, ao trabalhar com afamlia, se toma parte do contexto, formando um processo teraputico.

    Para o terapeuta estrutural, a famlia uma unidade social que passa pordistintas fases de desenvolvimento, durante as quais deve se ajustar a diferentestarefas. Em cada cultura h caractersticas prprias, mas existem tarefas que souniversais. Por exemplo: o casal deve aprender a conviver junto j no incio docasamento, compartilhando as tarefas e se acomodando mutuamente ao trabalho,ao lazer, sexualidade... H diversas fases pelas quais a famlia passa, como onascimento do primeiro filho, filhos em idade escolar, filhos adolescentes, aposentadoria, etc. Todas essas mudanas requerem adaptaes, e os membros precisamse apoiar mutuamente.

    Como a famlia um sistema aberto em constante transformao, ela recebee envia influncias para o mbito extrafamiliar e tambm se ajusta s exigncias

    nas diferentes fases pelas quais passa. Por isso, muitas vezes difcil distinguiruma famlia normal de uma famlia anormal pela ausncia de problemas, poistodas passam por situaes de estresse. Tndo isso em mente, o terapeuta podecompreender o sistema familiar operando pelo seguinte esquema: a) a estruturafamiliar um sistema scio-cultural em transformao; b) a famlia passa por umdesenvolvimento, atravessando certo nmero de estgios que requerem reestruturao; c) a famlia se adapta a circunstncias modificadas de maneira a manter acontinuidade e a intensificar o crescimento psicossocial de cada membro.

    Conforme Minuchin, fronteiras so regras que definem quem participa equando participa. Elas tem o objetivo de proteger a diferenciao do sistema. Hbarreiras invisveis que circundam os indivduos e os subsistemas. Cada indivduoparticipa de um subsistema diferente, como o subsistema de pais, de filhos, deadolescentes... e espera-se que o subsistema aja de acordo quando trata com

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    algum de outro subsistema por exemplo, no caso de pai e filho. Para ofuncionamento adequado da famlia, as fronteiras devem ser ntidas. H trs tiposde fronteiras que se podem observar: fronteiras desligadas em que os relacionamentos so rgidos e distantes. Numa famlia assim os pais no sabem onde est

    a filha noite, ou os filhos no fazem idia de onde est a me nem de quandoela volta. As famlias com fronteiras emaranhadas tm o relacionamento prximoe difuso. Estas podem tentar se prender mutuamente, s vezes at com doenas,

    para impedir que algum saia de casa. Por ltimo temos as fronteiras ntidas, emque o relacionamento normal e todos tm seu espao e Uberdade de acordo comsua posio e idade.

    Na terapia de famlia o terapeuta muitas vezes funciona como um criador defronteiras, tomando ntidas as fronteiras emaranhadas e abrindo as inadequada

    mente rgidas. Para poder haver uma transformao nas estruturas, deve haver umanegociao de fronteiras.

    b) Processo Teraputico

    A famia procura terapia por causa dos sintomas de um de seus membros.Este chamado de paciente identificado e a famlia o classifica como tendo

    problemas. Os sintomas desta pessoa podem servir para manter o sistema ou osistema pode estar reforando o sintoma. A funo do terapeuta auxiliar o

    paciente e a famlia a mudar o sistema familiar. O terapeuta assume uma posiode liderana e se une famia, tentando ver o que est ocorrendo e procurandoformas de intervir para que possam ocorrer mudanas.

    Ao entrar em contato com a famlia, o terapeuta tenta obter um quadro doque est acontecendo e elabora um esquema sobre a organizao da famlia que denominado mapa da famlia . Isto lhe permite ter uma idia do funcionamentoda famlia. O mapeamento inicial ocorre durante a primeira sesso, e o terapeuta

    j pode dar algumas tarefas para a famlia atingir o objetivo a ser alcanado. Nas

    sesses seguintes o mapa modificado devido a novas informaes.Juntando-se famlia, o terapeuta faz uso de si mesmo , considerando-se

    como um membro agente e reagente no processo teraputico. Ele pode usaraspectos de sua personalidade e experincia que so parecidos com os da famia.Tambm tem a liberdade de fazer sondagens quando necessita.

    Quando as famlias aceitam e respondem s investigaes do terapeuta, elaspodem: a) assimilar s suas interaes o que ele quer dizer, mas sem ter crescimento; b) responder pela acomodao, isto , tendo interaes alternativas; c)

    responder como se fosse uma situao totalmente nova, o que seria uma interveno reestruturadora onde a homeostase (a maneira como a famia se acomodoufrente s situaes) desequilibrada, permitindo uma mudana nas relaes habituais.

    Um diagnstico (hiptese) formulado para que se possa ter uma direo de

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    trabalho. Ao fazer o diagnstico, o terapeuta se volta de eventos distintos dopassado para as transaes que esto ocorrendo agora, tentando beneficiar todosos membros da famlia. Tmbm feito um contrato teraputico, para que a famliae o terapeuta cheguem a um acordo sobre o que se quer mudar. Quando necess

    rio, esse contrato deve ser revisto. Tmbm precisa ser estabelecido quem participadas sesses e quando. Por exemplo, pode ocorrer que s o casal participa, outrasvezes toda a famlia, inclusive os avs. Isso pode ser usado para construir fronteiras entre os subsistemas.

    A Concepo de Dinmica e Terapia de Famliada Escola de Heidelberg (Helm Stierlin)

    Helm Stierlin (* 1929) um psicanalista, psiquiatra e filsofo que trabalhoumuito tempo nos Estados Unidos. L teve contato com as novas linhas de um

    pensamento sistmico da realidade do ser humano. Participou de pesquisas bsicasde terapia de famlia no National Institute of Mental Health, e desde 1977 atuacomo diretor do departamento para pesquisa fundamental de psicanlise e terapiade famlia na Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Stierlin um dos maisconhecidos pesquisadores na rea de teoria da famlia. De fato pode-se observarno seu trabalho como ele passa mais e mais do paradigma da psicanlise individual

    para o paradigma sistmico de tal maneira que certos conceitos psicanalticos sservem ainda de pano de fundo para uma prtica teraputica bem diferente.

    As razes do modelo de Heidelberg so:

    A ciberntica:O filsofo Gregory Bateson e um grupo de pesquisadores narea de comunicao, o grupo de Paio Alto, descobriram nos anos cinqenta

    paralelos entre os processos circulares da comunicao na informtica e processosde comunicao entre seres vivos. Surgiu a idia de que tambm problemaspsquicos poderiam ser causados por perturbaes e bloqueios nos processos

    comunicativos.A dialtica e o status de mutualidade: Na famlia existe uma profunda

    mutualidade entre as aes dos membros. O agir de um o agir do outro.Stierlin descreve essa mutualidade como dialtica do relacionamento humano queest oscilando entre os extremos de conflito, delimitao e conciliao entre aspessoas. Referindo-se descrio da dialtica na relao entre senhor e escravoem Hegel, Stierlin diferencia em cada relao humana trs dimenses: desejo eprazer, trabalho e medo da morte. Nessas trs dimenses existem polaridades que

    caracterizam toda relao humana: preciso estabelecer constantemente nas relaes humanas um equilbrio entre as polaridades de momento-continuidade, diver-sidade-igualdade, satisfao-frustrao, proximidade e distncia. Dois namorados

    podem vivenciar no seu namoro a felicidade do momento e perguntam depois pela

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    continuidade da relao. Eles se gostam porque tm muitas coisas em comum eesto satisfeitos, porm depois de alguns anos de casamento sofrem frustraes porcausa das diferenas entre eles. Sentem distncia e procuram a proximidade quesentiam antes. No namoro e no trabalho um precisa do outro, pois o perdendodeveria sentir a falta de relao. A falta de relao, em ltima instncia, a morte.A troca mtua das relaes humanas preserva do medo da morte. Ela pode ter umcarter positivo ou negativo. Na troca positiva os parceiros aceitam-se mutuamentee descobrem juntos dimenses novas e existencialmente cada vez mais importantes. Na troca negativa as pessoas se desestabilizam.

    A teoria dos sistemas: Sistemas como a famlia dividem-se em diferentessubsistemas e estabelecem uma hierarquia entre os seus elementos, que estorelacionados de modo recproco. Isso significa que o indivduo considerado um

    elemento no sistema familiar e que devemos diferenciar subsistemas delimitados(os pais, os filhos, os parentes) dos quais cada indivduo participa. O indivduo assumido pelo sistema, faz parte de uma corrente familiar que vem do passado ese estende at o futuro.

    Existem no sistema familiar estruturas verticais, quer dizer: relacionamentosque incluem as diferentes geraes. Essa perspectiva intergeracional mostra comodoenas, mas tambm valores, profisses, idias sobre a misso de membros dafamlia no mundo ou o estilo de comunicao se transmitem de uma gerao paraa outra, dos pais para os filhos. No por acaso que muitos filhos de pastorcontinuem sendo pastores ou que em certas famlias o problema do alcoolismoaparea em cada gerao de novo.

    Entre as geraes observam-se relaes de herana e mrito. A contabilidadede mritos na famlia define que algum pode sentir-se til, importante e aceito nafamlia na medida em que cumpre as exigncias da mesma. Sempre existemtambm aqueles que fracassam e ficam em segundo plano. Essa perspectivaintergeracional abre para a terapia de famlia um espao para mudanas atravs de

    pequenas intervenes que interrompam e transformem a dinmica familiar.

    Ela detecta segredos e mitos da famlia que exigem em cada gerao sacrifcios e fazem pessoas de vtimas. Um mito familiar, p. ex., a idia de que nssomos uma famlia que no briga e vive em plena harmonia . S que em cadagerao uma pessoa se suicida. Em famlias brancas no Brasil encontra-se freqentemente o mito de que impossvel casar-se com uma pessoa morena. Os mitosso frmulas e clichs explicativos que servem para esconder conflitos, problemase tenses. Segredos da famlia so informaes s quais alguns membros no tmacesso (o filho adotivo no pode saber do fato) ou que a famlia no comunica

    para fora (o pai j foi casado uma vez; ou: o filho tem uma doena mental.) Essessegredos so um peso muito grande, pois delimitam a troca nas relaes e diminuem a confiana.

    Com base nesses elementos bsicos da teoria sobre o relacionamento huma-

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    no e da estrutura do sistema familiar desenvolve-se, segundo Stierlin, a dinmicafamiliar. Ele a caracteriza pelos seguintes aspectos gerais:

    Individuao relacionada:O desenvolvimento do indivduo em sistemas vi

    vos acontece por delimitao (contra a fuso) e conciliao (contra o isolamento). Oindivduo precisa diferenciar-se dos outros na famlia e relacionar-se com eles paraser ele mesmo. A individuao relacionada permite que o ser humano sinta-se emdiferentes contextos sociais ao mesmo tempo relacionado e separado dos outros(ser filho leal dos meus pais no impede que eu seja marido, que deixa a casa dos

    pais para morar com a esposa). Este equilbrio pode ser profundamente perturbadonas famlias e causar muito sofrimento (a lealdade para com os pais no permite que ofilho saia de casa; ou: sendo esposa de um pastor de comunidade no possvelse divorciar, mesmo sofrendo a morte emocional de um casamento, porque isso

    iria prejudicar o marido).Os modos de interao (vinculao e excluso): Modos de interao so

    estruturas ou cenrios de relaes que tm um efeito a longo prazo. Vinculao eexcluso refletem a dominncia centripetal e centrifugai nas relaes. Se o modode vinculao predomina na famlia, observa-se que os filhos tm dificuldades desair do ninho. A famlia toma-se um gueto. A separao necessria entre pais efilhos acontece com atraso. Se o modo de excluso predomina, os filhos saemmuito cedo de casa, desligam-se emocionalmente da famlia e desenvolvem uma

    autonomia prematura. As pessoas podem ficar presas nestas estruturas de talmaneira que um representante de famlias de vinculao sempre tem dificuldadesde desligar-se e separar-se , um representante de famlias de excluso temdificuldades de manter relaes fixas mesmo que as deseje e procure.

    O modo de excluso mostra-se por uma falta de atendimento das crianas.Fica uma grande necessidade de calor humano que faz a pessoa apegar-se muitoa outros ou compens-la pela procura exagerada de aceitao. Muitas vezes essesfilhos casam-se prematuramente por causa da necessidade de afeto.

    A perspectiva de delegao:O termo latino delegare significa: mandar, daruma misso, uma tarefa. O delegado aliado por lealdade da pessoa que odelegou. A relao de lealdade liga os dois. Desde a primeira infncia existemlaos de delegao entre pais e filhos. A delegao um processo normal derelacionamento intergeracional. Por ela transmitem-se idias, autoconcepes, valores e tarefas entre as geraes. O problema so processos desviados de delegao:

    uma criana com talento regular deve tomar-se uma superestrela para satisfazeras ambies da me e sofre um colapso;

    conflitos entre diferentes tarefas de delegao: a me exige que a filha fique

    em casa e cuide dela; por outro lado, gosta quando a mesma filha envolve-se emaventuras amorosas e chega em casa para cont-las. Realizando a misso desatisfazer um desejo inconsciente da me, a filha ter muitos problemas;

    conflitos de lealdade: o delegado tem sentimentos de culpa quando precisa

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    abandonar a misso de um parente autor de uma delegao por causa do outro. Sea misso do pai para a filha : Case e me d muitos netos e cuide de ns , masa misso da me : Seja independente e estude bastante porque eu no tive

    possibilidade de fazer isso , a filha tem que frustrar um dos dois ou vai se atrapalhar.

    Terapia de famlia: O objetivo principal da terapia de famlia curar osistema pelo encontro dos seus membros, pela modificao ativa da estrutura dafamlia. Os mtodos da terapia de famlia so em parte parecidos com os da terapiaestrutural. Stierlin exige que o terapeuta tenha empatia e reconhea as forasestruturais do sistema, as regras da famlia (misses, papis, heranas, mitos,segredos). Ele dirige as conversas, participa ativamente da dinmica familiar,observando o que ela faz com ele prprio e com os membros da famlia. No

    processo da terapia ele deveria manter uma boa relao com todas as partes do

    sistema familiar e trabalhar para conseguir delimitaes e conciliaes entre ossubsistemas que possibilitem a individuao de cada membro da famlia.

    A maior diferena entre a terapia estrutural de famlia (Minuchin) e o modelode Heidelberg encontra-se na viso histrica de conflitos familiares e na hiptesede que eles so determinados pelo inconsciente. Os motivos da dinmica familiar,segundo Stierlin, so de carter inconsciente e no a disposio dos membros dafamlia. O processo da terapia de famia^ mesmo usando intervenes estratgicas,enfoca muito mais o trabalho de conscientizao e de entendimento daquilo que

    dirige os processos de relacionamento. Por outro lado, constata-se uma grandeproximidade na prtica dos modelos. Ambos esto interessados em mudar regrasde interao na famlia, em delimitar e conciliar. No momento atual o movimentode terapia de famlia sistmica passa por uma fase criativa de muitas descobertase pesquisas. Os conceitos esto em fluxo, as diferentes linhas ainda no esto bemdiferenciadas. Eles fornecem diferentes perspectivas que podem aprofundar acompreenso de processos familiares. Isso significa que na prtica do aconselhamento de famlia necessrio ser criativo e usar todos os recursos tericos disponveis.

    Exemplo de Acompanhamentode uma Famlia em Crise

    Numa visita ao hospital a pastora conhece Anita, que foi internada por causade uma grave doena reumtica que a fizera parar de trabalhar. No decorrer daconversa a pastora fica sabendo de graves problemas familiares, especialmente docomportamento agressivo de Felipe, um menino de 7 anos. Anita pergunta se a

    pastora no poderia ter contato com eles aps sua sada do hospital para aconselh-

    los. Depois de Anita ter alta do hospital, a pastora faz uma visita na casa dela econhece os outros familiares. Eles combinam um primeiro encontro no escritrioda pastora na semana seguinte.

    Anita tem 33 anos e trabalhou at recentemente numa grande empresa no

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    setor de informtica. Ela tem a aparncia envelhecida e se senta de forma contorcida na cadeira. Ao falar mostra poucas emoes. casada com Pedro h doisanos. Casou-se aos 22 anos com Joo, o pai dos meninos: Eduardo, de 9 anos, eFelipe, de 7 anos. Este casamento se dissolveu h seis anos. O motivo da separao, conforme Anita, foi a agressividade de Joo. Ele batia nela e em Eduardo. As

    brigas eram constantes, culminando com uma agresso to violenta que ela acabouna delegacia por maus tratos. No podendo alimentar os dois filhos, Joo pediuque Eduardo fosse morar com ele e sua me. Isso faz cinco anos, e Eduardo passaos fins de semana com sua me. O pai agora tambm tem uma companheira, daqual os meninos no gostam.

    Anita tambm relata que sua me invlida devido a um acidente de nibus.Assim mesmo, teve mais cinco filhos, entre os quais Anita. Quando esta tinha 2

    meses de idade, foi encontrada pela av e por uma tia em grave estado nutricional.Pedro tambm vem de dois relacionamentos desfeitos. Com a primeiraesposa esteve casado 22 anos e tem uma filha de 29 anos, que j constituiu famlia.A segunda relao durou pouco, pois a esposa o traiu. Desse matrimnio tem umafilha de 5 anos. Pedro tem uma aparncia calma e diz que gosta de estar em casacuidando dos afazeres domsticos. Diz que no consegue ficar brabo e que nosabe disciplinar. Observa-se que ele no reage indisciplina dos meninos na salada pastora. Estes o chutam e dizem nomes para ele. Indagado sobre a sua famlia,ele conta que foi filho nico e que a sua me era muito doente, sendo que ele

    cuidava dela. Quando tinha 10 anos ela morreu. O pai morreu quando ele tinha 16anos. Comeou a trabalhar cedo e a se sustentar sozinho. Revela que sempregostou de cuidar de pessoas doentes e que quer cuidar de Anita e ajud-la a criar Felipe.

    Eduardo apresenta um quadro de bulimia, e sua obesidade acentuada nasua idade. O menino comenta vrias vezes que o seu desejo ir morar com a mee que no gosta de ficar com o pai. Em contato com o irmo, brinca e briga.Percebe-se que ele sente cimes do irmo. As brigas se tomam mais acentuadasna hora da ida para a casa da av. Na sala da pastora os dois entram em conflitos.

    Me e padrasto no reagem a essa atitude. Ao ser questionada, a me diz que elano agenta mais os dois e que h alguns dias, numa briga violenta entre eles, deuuma faca de peixe a cada um e pediu que a matassem. Quando se irrita muito comos dois, bate neles. Anita comenta que no sabe ser me para eles e que Pedro noconsegue ser homem para ajud-la a criar os meninos. Pedro diz que gosta de estarcom Felipe, mas no quer Eduardo em casa, pois ele come tudo o que h nageladeira e isso aumenta os gastos da casa. A tristeza de Eduardo visvel, eFelipe se toma agressivo a ponto de dar um coice na me. Percebe-se que no s Felipe que tem problemas, mas o sistema familiar que est precisando de ajuda.

    Vejamos como conhecimentos dos dois modelos teraputicos acima descritospodem ajudar a pastora no processo de aconselhamento pastoral.

    Esta famlia passou por vrias crises no seu desenvolvimento e est diante

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    de mais uma crise. Houve a separao dos pais, a separao de um dos filhos, asada da tia av e o novo casamento da me, a entrada para a escola de Felipe ea solicitao de Eduardo de voltar para casa, bem como a doena da me,incapacitando-a de trabalhar. Para todas essas mudanas a famlia deve se adaptar

    e formar nova homeostase. Muitas vezes ela no consegue fazer isso e um ou maismembros comeam a mostrar sintomas. Nesta famlia Fepe assume esse papel,tomando-se agressivo na escola e em casa.

    Uma das primeiras atitudes da pastora ser tentar obter informaes sobre oque est ocorrendo, quando ocorre, quem se preocupa com a situao. Ela tambmusar de muita empatia com a famlia para poder compreender o que eles queremdizer e ser muito ativa, no s escutando pacificamente. Se a famlia alegre, elaser alegre, se mais formal, ela ser mais formal. Enfim, ela os aceita como so.

    Uma ou mais hipteses sero formuladas, de modo que ela possa ter uma orientao para trabalhar. Nas sesses testar as hipteses, formulando novas se aquelasno estiverem corretas. A pastora tambm tentar mostrar aos membros da famliaque o problema no est numa pessoa s, mas distribudo entre todos. A ao deum ativa a reao do outro e assim por diante. A pastora se pergunta: Quem temuma aliana com quem? ; Quem excludo? ; Onde e como esto os limitesentre os subsistemas? ; etc.

    A pastora tem a impresso de que o descuido materno um problemacrnico na famlia de Anita. No tendo recebido suficiente cuidado materno, Anita

    no capaz de cuidar dos prprios filhos, pois ela mesma permanece na posiode criana doente que quer ser cuidada por Pedro ou, anteriormente, pela tia. Issosobrecarrega Pedro. A pastora suspeita que o apetite incontrolvel de Eduardo

    possa significar uma falta que ele sente da presena da me. Pois quem normalmente d a comida para as crianas a me, e um segredo aberto que a bulimiaserve para preencher a falta da me. Morando durante a semana com a av

    paterna, Eduardo se abastece com comida para agentar durante a semana a faltada me. Vendo o pai diariamente, ele mantm o contato entre Anita e o seu

    primeiro marido, Joo. Eduardo o aliado expulso da famlia cujo misso manter

    o contato e trazer informaes. Parece que Felipe fica to agressivo porque cadasemana precisa se separar de novo do seu irmo. Assim a famlia sofre sempreuma nova separao.

    Para um prximo encontro a pastora pode pensar numa interveno nosentido de corrigir um pouco as disfunes na estrutura do sistema familiar. Ela

    percebe que Anita no consegue desempenhar sua funo de disciplinadora, quefaz parte de ser me, esperando que Pedro o faa por ela. A pastora pode pedirque Pedro no a ajude para que ela sozinha discipline os meninos e os faa brincar

    sem interromper os adultos. Quando ela conseguir, ver que capaz, e os familiares descobriro uma nova maneira de interagir. Para trabalhar a separao queatrapalha Eduardo e Felipe, a pastora, numa das conversas, pode sugerir que a mefale com Eduardo sobre a sua volta para casa e mostre o afeto que sente por ele.

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    Desta forma a pastora os ajuda a chegarem mais perto um do outro. O seu objetivono aconselhamento superar as dificuldades que surgiram com a separao decorrente do trmino do primeiro casamento. Ela quer ajudar na reconstituio dosegundo matrimnio, de modo que Pedro, Anita, Eduardo e Felipe possam final

    mente viver juntos como uma famlia. Numa das conversas todos exprimem a suavontade de ficar juntos, e Anita menciona que no est oficialmente casada comPedro e gostaria de receber a bno matrimonial. E sugerido que todos pensemsobre isso e at o prximo encontro faam uma proposta. Combina-se que nohaver mais de cinco, no mximo sete encontros.

    No aconselhamento pastoral sempre existe um lado espiritual. Como pastores/as podemos apoiar as famlias nas situaes de passagens crticas da vida. Noapenas as grandes cerimnias no ciclo da vida (culto, Batismo, casamento...)

    servem para renovar a vida familiar e a relao dos membros da famlia com Deus.Tambm pequenos atos simblicos e religiosos tm um grande valor. Dependendodo contexto, ele/ela pode contar uma estria bblica que exprima algo do conflitoatual da famlia, pode trabalhar com smbolos e metforas bblicas. Pode encaminhar pequenos rituais familiares (p. ex., finalmente o pai abenoa a filha que mesolteira e pega o neto no colo; toda a famlia vai junto com o/a pastor/a para ocemitrio e visita os tmulos dos ancestrais para conversar sobre aquilo que noficou resolvido quando eles ainda viviam). H a possibilidade de fazer cultos decomunidade na casa de membros e reunir a famlia com os vizinhos. No culto o

    membro doente da famlia pode falar sobre a sua doena e sentir o apoio dafamlia e vizinhana. Culto e orao do uma voz ao sofrimento e gratido. Parafaz-los precisa-se da aceitao dos membros da famlia.

    Proposta para o Aconselhamentocom Famlias em Crises

    O objetivo do aconselhamento com famlias em crises ajudar a famlia amelhorar a comunicao entre os membros e superar bloqueios, conscientizar-seda situao geral da famlia (as relaes) e do problema atual que a levou crisee procurar a mudana nas relaes atuais com a perspectiva de uma convivnciamais sadia.

    O aconselhamento de famlias em crises uma interveno de curto prazocujo enfoque o conflito atual. Ela pode ser acompanhada por um trabalho deenriquecimento matrimonial ou de vida familiar na comunidade e motivaras famlias para a participao em tal programa. Pode motivar para um processo

    de terapia familiar (ou de casal, ou individual). Como interveno em crise,entretanto, diferencia-se destas atividades.

    O aconselhamento com famlias em crises acontece em cinco passos:

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    Aconselhamento Pastoral da Famlia

    a) Estabelecer uma relao positiva:As circunstncias sob as quais o acon-selhador encontra a famlia influenciam o processo de aconselhamento.

    Devemos ter clareza sobre as seguintes questes:

    Sou visitador da famlia e por acaso fico sabendo da crise? Se algum procura a minha ajuda, quem e qual a tarefa que ele projeta

    sobre o aconselhador (aliado, resolver o problema, culpar uma pessoa, ajudar aacalmar o paciente, lev-lo ao hospital, asilo, desintoxicao...)?

    O que significa a minha interveno para os outros membros da famlia?

    Como eles se relacionam comigo?

    O que a presena ou ausncia deles tem a ver com o aconselhador e como prprio conflito?

    O aconselhador precisa esclarecer expressamente por que est lidando como conflito da famlia, qual o seu papel e o que ele quer. Ele deveria mostrar deuma maneira corts e educada que respeita a postura de todos os membros dafamlia, mesmo que eles no gostem da sua interveno. Oferece a sua cooperaono conflito atual j antes de estabelecer um contrato.

    b) Perceber a situao de conflito e a comunicao no sistema e nos subsis-temas:Para perceber e entender a situao o aconselhador pode usar a tcnica daentrevista circular (ele pergunta uma pessoa a respeito de opinies, posturas,

    idias de outras pessoas na famlia). Assim possibilita que cada um possa colocara sua verso das coisas. Isso extremamente importante quando se trata desegredos na famlia sobre os quais ningum quer falar (violncia, abuso sexual...).

    A entrevista com a famlia serve para aprofundar a compreenso do conflitoatual e da estrutura da famlia. Faa cada pessoa falar sobre como ela est sesentindo na situao do aconselhamento agora, o que ela deseja, teme, espera,como est vendo o conflito e as possibilidades de mudana. Descubra h quantotempo a crise comeou e se um acontecimento nico ou se esses tipos de criseso comuns na famlia.

    A observao dos seguintes aspectos pode facilitar a percepo do conflito eda estrutura da famlia:

    Quem o paciente identificado (quem tem o problema)?

    De que tipo de problema se trata (alcoolismo, abuso de drogas, violncia,brigas)?

    Quem o chefe da famlia (quem manda)?

    O que os outros membros da famlia pensam sobre o paciente?

    Quais so as principais alianas? Onde existem limites entre os subsistemas (pai-me/ pais-avs/ pais-

    filhos) e onde faltam limites (p. ex.: pai no papel da criana)?

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    Como a comunicao nos subsistemas (p. ex.: pai e me esto afastados; a me vive em fuso com o filho mais velho; briga entre os irmos).

    Que modo de interao prevalece: aliar ou excluir?

    Quais so as normas bsicas de tica que dirigem a vida das pessoas?Sempre existe uma diferena entre norma e realidade, mas deveramos saber quaisos principais ideais de conduta (p. ex.: quero prazer; ou: cumprir os deveres nafamlia tem prioridade; viver a sexualidade permitido para os jovens; ns somosmembros ativos da Igreja, ela vem em primeiro lugar...).

    c) Fechar um contrato com a famlia:No final do primeiro encontro deve-sefechar um contrato em que se negocia com os membros da famlia:

    Quantas vezes vocs vo reunir-se (uma, duas...) para resolver a questo?

    Qual o objetivo dos encontros (p. ex.: ver se ainda existem recursos nocasal para conviver ou se eles vo optar por uma separao; ver que soluo afamlia pode achar para resolver a questo do av doente...)?

    Onde e quando vocs vo encontrar-se?

    d) Formar uma hiptese sobre a situao:Durante a reunio ou no final, emcasa, voc formula para si mesmo uma hiptese sobre a situao que responde sseguintes perguntas:

    Qual o conflito?

    Quem est envolvido? Como a famlia mantm o conflito?

    Quais so os recursos para mudar?

    Respostas para estas perguntas pode procurar em cooperao com a famlia.

    e) Planejar e realizar uma interveno:A partir de sua hiptese voc podeplanejar uma interveno. O perigo maior das suas intervenes vai ser que vocpega o pacote , oferece solues que ningum quer. A interveno deve sempre

    motivar a famlia a procurar solues e descobrir de maneira criativa novos recursos.Intervenes possveis:

    facilitar a comunicao e fazer a famlia explorar a si mesma;

    abrir a comunicao entre membros que se bloqueiam;

    mostrar o outro lado da moeda (o que a famlia ganha mantendo talcomportamento; que sentimento no deve surgir [luto, p. ex.]);

    abrir espao para a expresso de emoes e para um esclarecimento

    sincero das relaes entre os membros da famlia; introduzir um questionamento tico na famlia;

    descobrir o contrato clandestino (sobre papis e tarefas) na famlia eajudar a renegociar o contrato;

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    Aconselhamento Pastoral da Famlia

    usar as possibilidades que a comunidade oferece: convidar a mulher quevive deprimida e dependente de outros em casa a participar da OASE ou de umgrupo de mulheres para valoriz-la e colocar limites entre ela e os outros. Pedir aohomem para ajudar na preparao de uma festa....

    encaminhar as pessoas para outros servios ou planejar com elas comoseria possvel no momento superar as dificuldades financeiras.

    ajudar os membros da famlia a decidir e comprometer-se com certastarefas com as quais eles introduzem mudanas na famlia (p. ex.: no sbado ascrianas preparam o almoo; os pais no cumprem mais qualquer desejo dascrianas e combinam que elas tm que trabalhar em casa para ganhar extras ;num final de semana o marido pode decidir o que o casal faz no tempo destinadoao lazer, no outro final de semana a esposa...).

    Cuidado: voc nunca est nas famlias em crise para vender o seu peixe.Pessoas em crise so limitadas na sua capacidade de assumir responsabilidade nacomunidade. Voc, p. ex., nunca deveria admitir que um alcoolista que continuabebendo faa visitas!

    f) Avaliar o processo: Aps cada encontro voc deve avaliar a situao erefletir como se sentiu, o que aconteceu na famlia, onde surgiram novos problemas.Anote num cademo ou numa ficha as observaes principais e os planos de

    mudana (de voc mesmo e de membros da famlia).

    Aconselhamento de Famlias no Contextodo Ministrio de Reconciliao da Comunidade

    Confrontando-se com a proposta acima descrita, uma estudante de Teologiadisse: Acho que a nossa tarefa pastoral no fazer aconselhamento de famlias,

    pois isso muito complicado e se deveriam ter muitos conhecimentos. Imagina

    mos que ela no seja a nica com essa opinio. Outros podem dizer que, seguindoeste modelo, o/a obreiro/a pastoral toma-se um especialista que continua dominando a comunidade, desta vez no atravs da sua posio espiritual, mas pelacompetncia poimnica. Alm disso, ele defende um modelo burgus de famliaque est longe de ser realizado na populao mais pobre. Em vez de deix-losorganizarem a sua vida conforme as prprias necessidades, ele quer adapt-las sregras das classes dominantes na sociedade.

    Surge assim de novo a antiga pergunta pelo perfil do trabalho pastoral na

    comunidade. Tendo em vista que esse trabalho uma tarefa de todos os membros,de que maneira o/a obreiro/a pastoral pode ajud-los a alcanar esse objetivo,sendo um especialista com competncias especficas que coloca disposio dacomunidade ou sendo um generalista que faz contatos, cria comunicao, serve

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    como catalisador entre as pessoas? O perigo para o especialista que ele facilmente perde a conscincia do todo. O generalista pode tomar-se rapidamente umdiletante que sabe de tudo um pouco e no se aprofunda em nada. Quem vai lev-lo a srio? Ambos podem ser dominadores da comunidade!

    Segundo Paulo, o ministrio da comunidade o ministrio que prega areconciliao (2 Co 5.18)1. Esse objetivo deve tambm orientar o perfil dotrabalho de obreiros/as pastorais. Como generalistas especializados em comunicao, eles ajudam a comunidade a realizar o seu ministrio em diferentes subsistemas (presbitrio, OASE, grupo de idosos, grupo de jovens). At agora a maioriadas pessoas vive em grupos familiares que so subsistemas dentro da comunidade.Visando a reconciliao da famlia, o aconselhamento sistmico vai ao encontrodo ministrio da reconciliao. Ao lado de outras atividades, a pastoral de famlias

    ajuda a realiz-lo no mbito mais ntimo e mais conflituoso das pessoas. Ascomunidades da Igreja Evanglica de Confisso Luterana no Brasil (IECLB) somuitas vezes constitudas apenas por algumas grandes famlias, de modo queconflitos familiares resultam em conflitos da comunidade e vice-versa. Considerando isto, v-se a importncia de uma perspectiva sistmica para aqueles quelidam com esses conflitos.

    Bibliografia

    COLAPINTO, Jorge. Structural Family Therapy. In: GURMAN, Alan & KNISKERN, David. Handbook o f Fam ily Therapy.New York, Brunner/Mazel, 1991.

    FOLEY, Vincent. Introduo Terapia Familiar.Porto Alegre, Artes Mdicas, 1990.

    HOFFMAN, Lynn.Foundations o f Family Therapy.New York, Basic Books, 1981.

    MINUCHIN, Salvador. Famlias: Funcionamento e Ttatamento.Porto Alegre, Artes Mdicas, 1982.

    MINUCHIN, Salvador & FISHMAN, H. Charles. Tcnicas de Terapia Familiar.Porto Alegre, ArtesMdicas, 1990.

    MINUCHIN, Salvador et al. Families o f the Slums.New York, Basic Books, 1967.

    SllRLIN, Helm. Delegation und Familie.2. ed. Frankfurt/M., Suhrkamp, 1982.STlHRLIN, Helm et al. Das erste Familiengesprch. 4. ed. Stuttgart, Klett, 1987.

    STEERLIN, Helm. Individuation und Familie.Frankfurt/M., Suhrkamp, 1989.

    Nota

    1 Cf. Chr. MLLER, Zwischen Amt und Kompetenz ; Ortsbestimmung pastoraler Existenz heute,Pastoraltheologie, 82(12):466, 1993.

    Christoph Schneider-HarpprechtValburga Schmiedt StreckEscola Superior de Tologia

    Caixa Postal 1493001-970 So Leopoldo RS

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