Aconselhamento Pastoral Em Meio a Crises de Doença e Morte

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ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA CARMITA SCHULZ ACONSELHAMENTO PASTORAL EM MEIO A CRISES DE DOENÇA E MORTE São Leopoldo 2009

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Dissertação de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em TeologiaEscola Superior de Teologia Programa de Pós-Graduação Teologia Prática.Orientadora: Valburga S. StreckAutora: CARMITA SCHULZ

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ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM TEOLOGIA CARMITA SCHULZ ACONSELHAMENTO PASTORAL EM MEIO A CRISES DE DOENA E MORTE So Leopoldo 2009 CARMITA SCHULZ ACONSELHAMENTO PASTORAL EM MEIO A CRISES DE DOENA E MORTE DissertaodeMestradopara obtenodograudeMestreem Teologia Escola Superior de Teologia Programa de Ps-Graduao Teologia Prtica. Orientadora: Valburga S. Streck So Leopoldo 2009 CARMITA SCHULZ ACONSELHAMENTO PASTORAL EM MEIO A CRISES DE DOENA E MORTE Dissertao de Mestrado para obteno do grau de Mestre em Teologia Escola Superior de Teologia Programa de Ps-Graduao Teologia Prtica 1.Examinador:ProfDrValburgaSchmiedtStreckPresidente EST. 2. Examinador: Prof Dr Gisela Isolde Waechter Streck EST. 3. Examinador: Prof Dr Marion Creutzberg PUC RS. RESUMO Neste trabalho ns apresentamos um estudo da disciplina Teologia Prtica, comaanlisedoaconselhamentopastoraldiantedecrisesocasionadaspor doenaquelevamorte.Aprimeiraparteabordaamorte,comooltimoestgio davida,buscandocompreenderoscasosdeenfermidadesgraves:amorte;o comportamentodoserhumano,juntamentecomseusfamiliares;suasatitudes; pensamentos;silncioeesperana.Eocomportamentodoserhumanodurante umadoenagraveatamorte.Asegundapartesereferecrisegeradapela doenaterminal;definioetiposdecrises;comolidarcomascrises.Falamos, tambm,sobreasobrevivnciadasfamliasapsperdas,especialmente,sendo umacrisequeculminouemmorte,utilizando-acomofatordecrescimento.Ns analisamosarelaopastoral,seusobjetivosemtodosdeapoioemcasode crisespordoenaterminal.Aterceiraeltimaparte,trazumpequenorelatoda histriadoaconselhamentopastoral;algumascontribuieshistricas;comose tornouaconselhamentoeaformaquechegouatns.Algumasformasde abordagem com moribundos e suas famlias, e da maneira que isso pode ser usado com doentes no limiar da morte. Ns verificamos que em quase todas as situaes com doentes terminais e morte, o ser humano precisa de algum aconselhamento. Palavras-chave: estgio terminal limiar moribundos. ABSTRACT InthisworkwepresentastudyofPracticalTheologysdiscipline,withthe analysisofthepastoralcounselingaheadofcrisescausedbyillnessthatleadsto thedeath.Thefirstparttreatsthedeath,asthelaststageofthelife,searchingto understand the cases of grave diseases; the death; the behavior of the human being together with its familiar ones; its attitudes; thoughts; the silence and the hope. And the human beings behavior during a grave illness until the death. The second part relates to the crisis generated by the terminal illness; the definition and the types of crises;howtodealwiththecrises.Wespeak,also,onthesurvivalofthefamilies afterlosses,especially,beingacrisisthatculminatedindeath,usingitasgrowth factor.Weanalyzethepastoralrelation,itsobjectivesandmethodsofsupportin case of crises by the terminal illness. The third and last part brings a small record of thehistoryofthepastoralcounseling;somehistoricalcontributions;ascounseling becameandasitarriveduntilus.Someformsofboardingwithdyingandits families, and how this can be used with diseased in the threshold of the death. We verify that in almost all the situations with sick terminals and death, the human being needs some counseling. Word-key: stage terminal threshold dying. AGRADECIMENTOS A Deus, Pela capacitao e sabedoria; Faculdade Unida pela oportunidade de participar; Escola Superior de Teologia pelo convnio e oportunidade; Aos professores da FUV e EST, pela sabedoria no ensinar; Aos funcionrios de ambas as faculdades pela ajuda nos momentos difceis; Ao Coordenador Prof Dr. Wilhelm Waholz; minha orientadora Prof Dr Valburga S. Streck. SUMRIO INTRODUO..................................................................................012 1.A MORTE COMO LTIMO ESTGIO DA VIDA..............................015 1.1. Situaes de enfermidades graves..........................................017 1.1.1. O silncio que vai alm das palavras. ................................018 1.1.2. Sensaes que a doena traz. ............................................019 1.1.3. Os sentimentos que envolvem as famlias dos doentes. .....020 1.2. A morte no contexto familiar. .......................................................021 1.2.1. Medo da morte: Esperana para o crente. ............................022 1.2.2. Enfrentando o pensamento de morrer. ..................................024 1.2.3. O medo da morte e do morrer. ..............................................026 1.3. Atitudes diante da morte e do morrer. ..........................................027 1.3.1. A prevalncia universal da doena. ......................................028 1.3.2. Benefcios gerais conferidos pela doena. ...........................028 1.3.3. Obrigaes especiais impostas pela doena. .......................030 1.4. A esperana e a famlia do moribundo. ........................................031 1.4.1. O desenvolvimento do ser humano at a morte. ...................032 1.4.2. A relao do ser humano com a morte. .................................033 1.4.3. Aprendendo a aceitar a morte. ..............................................034 1.5. Reaes para com os doentes no ltimo estgio da vida. ...........035 1.5.1. Uma pessoa que est morte. .............................................036 1.5.2. Os estgios de um processo de doena terminal. .................037 1.6. Lado a lado com os doentes. ........................................................039 1.6.1. A dificuldade em resolver problemas no decurso da doena...040 1.6.2. Dor e preocupao com a famlia. ..........................................041 1.6.3. Levando o doente ao hospital. ...............................................042 1.6.4. Na doena ou dor h revolta contra Deus. ...........................043 1.7. Quando a dor alcana o ser humano. ..........................................045 1.8. O que morte? ............................................................................047 Sntese. ........................................................................................048 2.A CRISE GERADA PELA DOENA TERMINAL. ..............................050 2.1. As crises podem ser prevenidas? ...............................................051 2.1.1. Tipos ou classificao de crises. ........................................052 2.1.2. Como e por que as pessoas reagem s crises. .................054 2.1.3. Situaes e seqncias de crises. .....................................055 2.2. Aprendendo a lidar com as crises. ..............................................056 2.2.1. Fazendo uso da crise. ........................................................057 2.2.2. A ltima crise. .....................................................................059 2.3. Como intervir em crises? ...........................................................060 2.4. Ferramentas para entender uma crise. ......................................064 2.4.1. Sobrevivendo s perdas em famlia. ...................................066 2.4.2. Trabalhando perdas alternativas. .........................................067 2.4.3. Aprendendo a viver com a perda. ........................................069 2.5. As primeiras reaes diante da perda. ........................................070 2.5.1. As reaes psicolgicas do doente terminal. ........................071 2.5.2. Como as crianas reagem durante as crises. .......................073 2.5.3. Atitudes positivas para com as crianas em crise. ................076 2.6. Aconselhamento pastoral nas crises. ..........................................078 2.6.1. Como o ser humano percebe que est em crise? ................079 2.6.2. Atitudes de um conselheiro diante de crises. ........................079 2.6.3. A relao pastoral nas crises. ...............................................080 2.6.4. Objetivos e mtodos do aconselhamento de curto prazo. ....082 Sntese. .................................................................................083 3.ACONSELHAMENTO PASTORAL NO LIMIAR DA MORTE. .............085 3.1. Tipos ou modelos de aconselhamento pastoral. ..........................086 3.1.1. A histria do aconselhamento pastoral e contribuies. .......088 3.1.2. A relao de pastoral de ajuda e a sua histria. ...................091 3.1.2. A relao de ajuda pastoral ao doente terminal. ...................094 3.1.4. Uma viso do aconselhamento para o crescimento. .............096 3.2. Proposta de abordagem. ..............................................................098 3.2.1. A centralizao do aconselhamento pastoral. ......................099 3.2.2. Pastoral dos moribundos e famlias. .....................................101 3.2.3. Ser que Deus v meu sofrimento? .....................................103 3.2.4. A empatia no processo do aconselhamento pastoral. ..........104 3.3. Os que se envolvem com os doentes. .........................................105 3.3.1. O ser humano e sua relao com a doena e morte. ...........109 3.4. Nem tudo que fazemos valorizado. ..........................................111 3.4.1. O limite entre a morte e a cura. ............................................112 3.4.2. Questionamentos sobre a morte e o morrer. ........................113 3.5. Maturidade no aconselhamento pastoral. ....................................114 3.5.1. O processo da relao pastoral aos doentes. ......................115 3.6. Aconselhamento e a tica. ..........................................................117 CONCLUSO. .............................................................................118 REFERNCIAS. ...........................................................................120 12 INTRODUO Estetrabalhoumarevisobibliogrfica,ondeanalisaremosascrisesem todasasfaixasetrias,desdeacrianaatoidoso.Umavezquetodospassam por crises e esto sujeitos s doenas que os levem morte e, por isso, necessitam deaconselhamentopastoral.Tambm,noestaremosvoltadosparanenhuma psicologia,psicanliseoupsicoterapia,emespecial.Analisaremosacontribuio do aconselhamento pastoral como forma de abordagem.O tema escolhido para esta pesquisa o aconselhamento pastoral, para o ser humano que se encontra em crise, por ter recebido uma notcia de que ele, ou umapessoaquerida,estcomumadoenaque,fatalmente,olevarmorte.A maioria de ns, durante a vida que atravessa, se surpreende quando acontece algo dolorosooudifcil.Aimpressoquevivemosnummundoondeassituaes dolorosassacontecemcomosoutros.Comcertezahpessoasquevivemcom recursostaisqueacreditamquetudoserresolvidocomumexcelenteplanode sade,timosprofissionaisaoalcance;outros,noentanto,estodesprovidosde qualquer recurso e passam ambos, pela mesma crise de doena que leva morte.O sofrimento faz parte do entrelaamento de nossas vidas. No existe vida sem dor seja ela mental, fsica, emocional ou espiritual. assim que somos. Isso fazpartedomundoemquevivemos.Podemospassarestavida,constantemente obrigadosarecuardiantedetantasdificuldadesquenosatribulam.Ouestar prontos e dispostos a enfrentar os problemas que inevitavelmente se atravessaro em nosso caminho.13Alinguagemdosofrimentomuitoestranhaelanospregapeas.Leva-nos a pensar, a dizer e at a crer em falsos fatos que no so verdade. Quando a dorcomeaaperfuraranossacarne,eapenetraremnossoesprito,edepois permanecealicorroendo,corroendo,anossamenteficacomoqueanuviada,eo crebro se pe a emitir pensamentos tais como se Deus no nos visse, ouvisse, ou simplesmente no se interessasse por ns.Emtodootempodenossaexistncia,vamosnosdepararcom enfermidades, umas mais graves, outras no. H doenas que nos abalam ou nos desestruturam.Algumasvezesficamosdeprimidos,outras,confusoseat ameaados. Como seres humanos que somos, nem sempre conseguimos enfrentar uma situao de enfermidade sem entrar em crise.Oprincipalobjetivodessetrabalhoajudaraoserhumanoacrescer. Crescer durante a crise da doena. De que maneira algum poder crescer durante umacrise?Aentraoobjetivodoaconselhamentopastoral.Oaconselhamento poder ser usado para ajudar ao ser humano a identificar padres de pensamentos queolevamateratitudesnegativas;ajud-loaaperfeioarseurelacionamento interpessoal;ensin-loaternovoscomportamentos;orient-loatomardecises difceis;ajud-loamudarseumododevivereensin-loabuscarosrecursos internos nos momentos de crise. Estadissertaoestestruturadaemtrscaptulos:oprimeiro,Amorte como ltimo estgio da vida. Vamos discorrer sobre a reao das crianas quando da doena grave de um ente querido; sobre a morte e a reao do ser humano com silncio, medo, insegurana e esperana. Os sentimentos que envolvem tanto o ser humanoafetadopeladoena,quantoosseusfamiliares.Atitudesqueacontecem diantedamorteecomoajudarosdoentesnessafase.Discorreremos,tambm, sobre o desenvolvimento do ser humano no decurso da doena at a morte e como deveaprenderaaceit-la.Mostraremososestgiospelosquaispassaumser humanoquandodiantedadoenaparaamorte.Quedificuldadesodoente enfrenta;suapreocupaocomafamlia.Tambmabordaremosopacienteno hospital;queatitudesoconselheirodeveterdiantedodoentenohospitaleem casa. E que comportamento o cristo deve ter quando a doena grave o alcana. O segundo captulo ter como ttulo A crise gerada pela doena terminal. Definiremos crises,suaduraoecomopodemserclassificadas.Lidarcomascrises; sobreviver s perdas. Reao dos doentes terminais que esto em crise por causa 14da doena. O comportamento das crianas; que atitudes positivas se podem tomar emrelaoscrianas.Aformadeaconselharnascrises,usandoaBblia.A relaopastoralnascrises,seusobjetivosemtodos.Eoterceirocaptulotem como ttulo Aconselhamento pastoral no limiar da morte. Vamos analisar as formas deaconselhamentopastoral;algumaspessoasque,historicamente,contriburam para que o aconselhamento pudesse existir e chegar at ns. Analisar o sofrimento do ser humano e como isso implica na sua relao com Deus. Como aqueles que desejamaconselhardevemproceder;regrasparaosdoentesesuasfamlias. Veremos que nem tudo o que se faz o bastante quando se trata de fim da vida. O quesequestionasobreamorteeomorrereporfimamaturidadedoconselheiro pastoral; sua relao com os doentes e a tica.Todos os que j passaram por uma grande dor, tm reaes estranhas com relao a essa dor e conhecem muito bem o valor de um amigo que, embora creia saberasoluoparatudo,limita-seaescutar.Quandoalgumqueamamos profundamente ferido sentimos como se fosse um de ns. Podemos nos colocar no lugar dessa pessoa e imaginar o que ela deve estar sentindo. Deus se une a ns quando sofremos da mesma maneira que um bom pai se une vida de seus filhos, assim tambm Deus presta ateno em ns.Aenfermidadeeamortecomocrisesnavidahumanasoumpoucode como importante ter algum preparado para dar uma ajuda correta. A serenidade davidainterrompidaquandoalgumqueamamosestdoente,mesmosendo umaleveenfermidade;pioraquandohospitalizadoousofrealgumtipode intervenocirrgica.Umapessoadoentenodeixadeserpessoaeprecisade compreenso e apoio. atravsdoaconselhamentoqueaconteceareconciliao,quecuraa alienaoemrelaoaosausentes,afastados,foradaIgreja.Oaconselhamento permite descobrir novas dimenses do ser humano.Jesus disse: ...Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundncia (Joo 10.10b); isso nos deixa claro que a nossa misso como Igreja que segue os ensinamentosdeJesus,libertar,sustentarepotencializarvidaplenaaoser humano, nas suas relaes ntimas, ou na sociedade em que est inserido.

15 1. A MORTE COMO LTIMO ESTGIO DA VIDA Osofrimentotorna-semaisdensodevidosensaodequeadornunca chegaraofim.Equandoaspessoastentamconsolar-noscompalavrascomo: logovocestarbem;nonosrestamenergiaerecursosinternospara corresponderreaodelas.VejamoscomoJreagiuaoseusofrimento:Ainda hoje a minha queixa est em amargura; o peso da mo dele maior do que o meu gemido.Ah,seeusoubesseondeencontr-lo,epudessechegaraoseutribunal! Euexporiaanteeleaminhacausa,eencheriaaminhabocadeargumentos. Saberia as palavras com que ele me respondesse, e entenderia o que me dissesse. [...] Eis que vou adiante, mas no est ali; volto para trs, e no o percebo; procuro-oesquerda,ondeeleopera,masnoovejo;viro-meparaadireita,enoo diviso.Maselesabeocaminhoporqueeuando;provando-meele,saireicomo ouro. (J 23.2-5 e 8-10).Desde os tempos antigos os cristos procuram desenvolver uma prtica do cuidadocomoserhumano,conformeexemplodavidadeJesus,descritaem Marcos10.45,ondesel:PoistambmoFilhodohomemnoveioparaser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos. Carregando essecompromisso,deacolheresocorreroserhumano,queocristianismose manifestaesetornapresenteemnossomeio,comoextensodaobradoSenhor Jesus Cristo, modelo da compaixo exercida ao prximo.16CadaservivocompartilhadomesmoinciodecriaoporDeuseseu destino sobre a face da terra, por isso, Deus insiste no amor ao prximo. Amars aoteuprximocomoatimesmo(Mateus22.39).oreconhecimentodeque DeusoSenhor,doadoremantenedordavida.Podemoscompletareste mandamento,usandootextoqueseencontraemMateus25.35-45,deonde podemosdestacararespostadeJesusaosseusinquisidores:Aoquelhes responder: Em verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes maispequeninos,deixastesdefaz-loamim.(Mateus25.45).EVilmarNo explica desta maneira: SemoauxliodoEspritodeDeus,oserhumanotorna-sepresadesi mesmoeincapazdeumarelaoverdadeiradeliberdade,porquesuas relaesestopautadaspelasrelaesdeuso:douporqueespero receberdevolta.contraessaperspectivaracionalqueJesusse apresentaaosseuscomooabscnditonomundo.Noevangelhode Mateus,encontramosumdiscursoescatolgiconoqual,nofimdos tempos, os seres humanos sero julgados pelas suas aes 1. AfaltadaaosantificadoraeregeneradoradoEspritoSantolevaoser humanoaodesesperoquandosevdiantedaLei,comonosadverteMartinho Lutero: Osmandamentosnosensinameprescrevemtodootipodeboasobras; masnoassimqueseefetivam.Elesorientam,masnoajudam; ensinamoquesedevefazer,masnodoforaparaisso. Conseqentemente,elessforamordenadosparaqueohomemveja nelesasuaincapacidadedefazerobemeaprendaadesesperar-se consigo mesmo 2. Ocuidadodoprximonadamaissignificasenoorespeitopelapresena do sinal de Deus em nosso meio. O prximo a minha representao enquanto ser humano.Deusnosvatravsdonossocomportamentoparacomoprximo.Ele observa nossos atos praticados contra o ser humano. Gomes nos orienta: Namaioriadasvezespodemosapelarparaaescrituracomonossoguia, isto,quandoapalavradeDeustiveralgodefinidoadizersobrea psicologiaousobreoaconselhamentocomo,porexemplo,sobre antropologia e sobre a natureza da soluo do problema do homem 3. NotextodeColossenses3.16,Paulorecomendou:ApalavradeCristo habiteemvsricamente,emtodaasabedoria;ensinai-voseadmoestai-vosuns aos outros, com salmos, hinos e cnticos espirituais, louvando a Deus com gratido em vossos coraes. Para aquele que se especializa, h lugar como em todas as 1NO,S.Vilmar(Org.).Espiritualidadeesade:Dacuradalmasaocuidadointegral.So Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 155.2 LUTERO, Martinho. A liberdade do cristo. So Paulo: UNESP, l998, p. 33.3 GOMES, M. Wadislay. Aconselhamento redentivo. So Paulo: Cultura Crist, 2004, p. 10.17outrasreasministeriais.Contudo,oaconselhamentodeveservistocomoa habilidaderelacionaldeajudamtuaparaoconhecimentodeDeusedohomem. Na verdade, o nosso conhecimento, nada mais que a soma do conhecimento de Deus e do conhecimento de ns mesmos.Otrabalhopastoralnoesconderofatodequeomembrodaigrejavai morrer,achandoqueassimseestprotegendoapessoa.Oserviodo aconselhamentosefaznosentidodecompreenderoquepodeacontecerno processo de adaptao e acompanhar a pessoa de um estgio para o outro at que esteja totalmente preparada e pronta para morrer. Se que possvel algum estar prontoparamorrer!bomlembrarqueoscrentes,emborapossuamrecursos especiaisntimos,espirituais,continuamsendosereshumanos.ElenyV.P. Cavalcanti nos diz o seguinte: H um momento em que no h mais dor, e o paciente entra num estado deconscinciadistante;nosecomunicamais,seuolhardistantee apagado;suamojnoreageaotoqueamigo;seurostotemuma expresso nova; sua pele perde a colorao normal... Est semimorto. 4 1.1.Situaes de enfermidades graves Sempreesperamosqueosmaisvelhosmorressemprimeiro.Amortede umacriana,adolescenteoujovemsempremuitodolorosa.Seacrianasofre antesdamorte,nossadoraumentaaindamaisporimaginarqueacrianano suporte a dor como uma pessoa madura ou adulta poderia suportar.As crianas precisam ser ensinadas a lidar com a morte, da mesma forma que so ensinadas sobre sexo ou a enfrentar outras situaes. Elas no podem ser protegidasparasempre,portanto,precisamestarpreparadas.Nossaatitudedeve ser natural, verdadeira e positiva. Tudo o que est vivo ir morrer algum dia. Tudo que for perguntado pela criana deve ser respondido de forma verdadeira e simples e se sua idade pode entender essa explicao. H momentos para as quais nossa respostapodeserqueexplicaremosisso,maistardequandoelaformaisvelha. No falar demais para no ultrapassar a rea de interesse. Tentar ver as coisas do ponto de vista da criana e no impor palavras sofisticadas o melhor. 4CAVALCANTI,V.P.Eleny.Aconselhamentoapacientesterminais.SoPaulo:Presbiteriana, [s.d.], p, 26.18O sofrimento que sempre precede morte outra razo pela qual a morte nainfnciatodifcilparaospaissuportarem.Ascrianasforamfeitaspara brincar e rir, para o sol e no para a dor. Elas no possuem, tambm, a capacidade paraenfrentarosofrimentoquechegacomamaturidade.Tambmlhesfaltauma espcie de amnsia para entenderem a senilidade dos velhos.Oqueseperguntanumcasodealgumprestesamorrerseeletem conhecimentosobresuamorte.Seelesabequeestmorrendo;poisesteum direitodele.claroqueestesabereaceitaoouno,variadepessoapara pessoa.Nemtodospassamportodososestgios,nempassamigualmentepor eles.Hgrandevariaonoprocessoadaptativomorteinevitvel.difcilfalar paraumacrianasobreamortedealgumamado.Issoapenasmostranossa dificuldade,comopessoas,detransmitirasprpriasdificuldades,embaraose temores, em lugar da realidade por simples despreparo. 1.1.1. O silncio que vai alm das palavras Chega um momento na vida do ser humano que est seguindo da doena para a morte, que a dor cessa e a mente no tem reao; o alimento mnimo e a vidaestlheescapandonaescurido.Nohmaisnecessidadesparapalavras, nem intervenes mdicas, mas, no hora para abandonar o doente. Nessa hora umapessoaforadafamliapodesermaistilqueodaprpriafamlia.Vejao conselho que Elisabeth Kbler-Ross nos deixou: Aquelesquetiveramaforaeoamorparaficaraoladodeumpaciente moribundocomosilncioquevaialmdaspalavras,saberoquetal momento no assustador nem doloroso demais, mas um cessar em paz do funcionamento do corpo. Observar a morte em paz de um ser humano faz-nos lembrar uma estrela cadente. 5 Se pararmos para meditar sobre a morte que um acontecimento inevitvel a qualquer ser humano, perceberemos o quanto debilitante nossa conscincia. Ela poder ser vista como um acidente, algo sem muita razo, e sem que tenhamos qualquertipodecontrolesobreela.Quandoconsiderarmosamortecomosendo 5KBLER-ROSS,Elisabeth.Sobreamorteeomorrer.(TraduoPauloMenezes).SoPaulo: Martins Fontes, 1981, p. 278. 19simplesmenteumacidente,estamosignorandoonossoprpriotrajetodevida.O desconhecido nos traz receio, medo, temor e quando comeamos a nos familiarizar com este desconhecido, tudo se torna mais fcil. Assim com a morte.Onossomedodamorteestligadoaonarcisismo.Nadaameaamais nossoapegonarcisistaansmesmoseanossaauto-imagemdoquea conscinciadanossadestruio.perfeitamentenaturalquetenhamosmedoda morte. Quanto mais ignoramos a morte mais perto ela poder estar.Ao tentar excluir a morte do nosso cenrio de vida, ela opera um processo demedoeangstia.Amortedeumapessoaqueridaprovocasofrimentoainda maior quando agravada por circunstncia de surpresa ou violncia. Apesar das grandes evolues no decorrer das dcadas, tanto econmicas, comoculturalesocialtemos,infelizmente,emdestaquedoenasqueacincia aindanoencontrouacuraeoutrastantas,quemesmomedicadas,conduzemo ser humano morte. Atravs da histria o ser humano vem aprendendo a lidar com a realidade da morte. O ser humano da antigidade conhecia bem os sinais que antecediam a morteetomavatodasasprovidnciasemrelaosuavidaedesuafamlia.A morteeraumeventopblico,doqualtodososfamiliareseamigosparticipavam. Com a descoberta da contaminao, no sculo XVIII, a morte passou a ser um ato solitrio, sem a participao da famlia. Com a Revoluo Industrial tambm vieram grandesmudanasnestarea.Agora,ahumanidadecomeaapensaremmorte como perda (esposa, marido, pais, filhos, irmos, etc.), e o medo da morte tomam contadavida.Apartirdeento,oserhumanopassaarepresent-lapelaarteou literatura, tentando expuls-la de seu pensamento. 1.1.2. Sensaes que a doena traz Adoenapodetrazeraoserhumanoasensaodedor,estressee desamparo. Cada pessoa reage de maneira diferente dor. Tambm a dor varia de intensidadeedurao.Hdoresquepassamapsumamedicao,outrasno. So to intensas que, junto com a doena, h uma dor emocional. O aparecimento de uma dor ou doena no fcil de ser aceita, quando se desconhece o que h de 20errado. E a sensao de impotncia ter que se submeter a estranhos, acreditar e obedecer mesmo que sejam profissionais. Da resulta presses psicolgicas.Outrassensaesqueadoenatrazsoaperdadocontrole;terquese submeter a desconhecidos; o medo de perder amor, aprovao e intimidade com os outros. Pode ocorrer perda de mobilidade (pernas, braos); de controlar o intestino oubexiga.Issogeralmenteacontecenumhospitalediantedeestranhos.muito difcil e assustador ter que permitir que um estranho toque no seu corpo, criando s vezes, situaes muito constrangedoras. A separao das pessoas queridas, de objetospessoais,adependnciadosoutros,tudoissoabalaapessoa.Eleny Cavalcanti completa assim: Hpessoassolitriasedistantesdasociedadequedescobremnelaum mododeconseguirasimpatiadasoutraspessoas.Estopresasaum leito, mas em troca so bem alimentadas, no precisam trabalhar, no tem responsabilidade e atraem a compaixo de todos. 6. Por isso h pessoas que fazem questo de continuar doentes e chegam a fabricarsintomasenecessidadesmedicamentosasparacontinuaremausufruir benefcios dos outros. 1.1.3.Os sentimentos que envolvem as famlias dos doentes Algumasvezesprecisamosnosateremverificarasnossasreaese emoes,porqueelasexistem.Nspodemosavaliaremnossasemoesovalor davida.Oquoimportanteestarmosvivosepodermosajudaraalgum.Como nsnossentiramossetivssemosalgumdonossolado,casofossemosnsa estar morrendo. importante se colocar no lugar do outro.Algunspacientestmmaisfacilidadeparafalardeseussentimentos, emoescomalgumquenodafamlia.Umconselheirodeveestarprontoa ouvireentender.Quandoodoentepercebequeseufimestseaproximando,se sentecadavezmaisisoladodomundoedaspessoas.Afamliapodese desestruturarnasemoeseoconselheiroprecisaestarprontoparasupriressa necessidade de algum do lado do doente terminal. 6CAVALCANTI,V.P.Eleny.Aconselhamentoapacientesterminais.SoPaulo:Presbiteriana, [s.d.], p. 36.21JesuschoroujuntoaotmulodeseuamigoLzaro(Joo11.35). Demonstrouasinceridadedosentimento.Umerro,provavelmente,querer suavizarosofrimentodequemestmorrendocomnossaspalavras.Emnossos contatoscompessoasqueseaproximamdamorte,assimcomoemoutras situaes, um problema falar demais, falar quando deveramos apenas ouvir.NasituaodramticadeenfermidadedeJ,temosumexemplode solidariedade: os amigos que o foram consolar tiveram um momento exemplar. Eles ficaram ali sentados no cho com o amigo, sem dizer nenhuma palavra E ficaram sentados com ele na terra sete dias e sete noites; e nenhum deles lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande.(J 2.13). Podemosdemonstrarnossasensibilidadeempresenadatristezado outro, tornando-nos silenciosos, mais prontos para ouvir. Caso o doente no queira falar nada e demonstre inatividade e melancolia, achando que nada vale a pena, o conselheiropoderquestionar,gentilmente,essasatitudes,ajudando-oafalar sobresuaspreocupaes.Aesperanaparaumcristoacontinuidadedavida aps a morte. Gary R. Collins descreve assim essa esperana: Ela a certeza de que Deus, que vivo e soberano, controla todas as coisas e far com que acontea oquemelhorparans. 7.Issopodesignificarrecuperao;longosanosde sofrimento ou incapacidade; ou mesmo a morte. A morte para o crente no o fim de tudo. gozar a vida eterna com Cristo.Quandoumapessoaadoece,afamlia,emgeralafetada.Aspessoas quecuidamdodoentetambmprecisamserajudadas.Todaaequipeprecisade algum tipo de ajuda. Quase sempre, as pessoas esto desgastadas com o seu dia-a-dia,comosgastoscomodoente,estressadaseacabamporpassarissopara quem est fragilizado e quem precisa de ajuda. 1.2. A morte no contexto familiar Amorteoudoenagrave,decujavidaestemsuaplenitude,soasque provocam maior ruptura na famlia: morte dos pais ou filhos. Ainda na plenitude da 7 COLLINS, R. Gary. Aconselhamento Cristo. (Traduo Luclia M. P. da Silva). ed. Sculo XXI. So Paulo: Vida Nova, 2004, p. 401.22vida so aquelas que causam o maior desgaste familiar. Doenas prolongadas, que vo culminar na morte desfazem planos e esperanas.Verummembrodafamliamorrersentindodoresfortesesgotatotalmente osdemaisdafamlia.Estudoscomprovamparaosquesoextremamente religiosos, ter f diminui a dor. o apego ou sobrevivncia espiritual.AmudanaquetirouamortedoespaopblicocomeounosculoXIX devido s transformaes sociais e avano da medicina. Na dcada de 50, a morte passaparaosdomniosdasUTIs,tornando-seasspticaeinvisvel.Ohomem modernovivecomosejamaisfossemorrer.Evita-sefalarnoassunto.Inversodo progresso que perdeu o sentido da morte. Sua trajetria se dirige ao infinito, numa constantebuscadenovasexperinciasquetrazemmito,quetrazemimplcitaa idiadequeavidanodeveriaterfim.Apesardetodaaevoluo,ofatoser inevitvel, a morte intrnseca vida. Comparandoocasodenegaocomodeaceitao,observa-seque quandohaceitaofamiliar,apossibilidadedamorteestmaisequilibradae emocionalmente,tambmtmjuntosmelhoraceitao.Juntosqueremaproveitar aomximootempoqueaindalhesrestam,edentrodopossvelafamlia proporciona ao doente todos os seus desejos. Em algumas raras situaes, aps a morte de um ente querido, a famlia diz que foi melhor para todos, pois o sofrimento cessouparaodoenteeafamliajestavaesgotada.(Emtodosossentidos,at financeiramente). A famlia sabe que todos os desejos do doente foram atendidos e tudo que se tinha para fazer, foi feito.

1.2.1. Medo da morte: Esperana para o crente A Bblia traz um comentrio maravilhoso para aqueles que tm esperana, ela diz em Apocalipse 21.4 o seguinte: Ele enxugar de seus olhos toda a lgrima; e no haver mais morte, nem haver mais pranto, nem lamento, nem dor; porque j as primeiras coisas so passadas. Todo o desconhecido assustador. A morte comoumdesconhecido,assustadora.Ningumteveaexperinciacomelapara poderensinar.Nohnenhumaexperinciaquepossaamenizaromedodoser humanocomrelaomorte.ElenyV.P.Cavalcanticompletaestaesperanado 23crentedizendo:Ohomemnaturalvivesuavidadeacordocomsuasvontadese paixeseapavora-seaodefrontar-secomaidiadequeumdiaterquemorrer. Torna-se inseguro, pelo fato de no saber onde passar a eternidade. 8 Daaconstantemudanadereligioedereligiesdasmaisdiversas,no intuito de encontrar ou agradar a Deus e comprar seu favor por meio de boas obras. As boas obras no so suficientes para equilibrar a balana de Deus, que tem no outropratosuasmsobras.Issonopermitequeumapessoaencontreapaz procuradaemreligies.Comocrentes,sabemosqueasobrasboasso conseqnciasdasalvao;elasporsisnonossalvam.Comosalvos,as praticamos. A salvao, a paz, o direito ao cu aps a morte s conseguida pela graa de Deus. Porque pela graa sois salvos, por meio da f; e isto no vem de vs, dom de Deus; no vem das obras, para que ningum se glorie. (Efsios 2. 8-9).Paraoserhumano,salvoemCristoJesus,ocuacertezado enfrentamentodamorte.VejamoscomoPauloserefereaisto:Poistenhopara mimqueasafliesdestetempopresentenosepodemcompararcomaglria queemnshdeserrevelada.(Romanos8.18).EJosephBaylycompletada seguintemaneira:Onascimentoeamorteenvolvemohomemnumaespciede parntesesdopresente.Eossinaisnocomeoenofinaldosparntesesdavida continuam impenetrveis. 9 Por mais que tenham avanado os conhecimentos cientficos, as tcnicas, osrecursos,acapacitaoparaexplorao,nadamudouemrelaoaomistrio queamortetrazconsigo.Amortecontinuaaconfrontar-nos.Tudopodemudar, mas, a morte ainda imutvel. Podemos at adi-la, domar sua violncia, amenizar osofrimentoqueelanostraz,maselacontinuanossaespera.Ningumescapa dela.Sejaricooupobre,incultooucomgrandeconhecimento;jovemouvelho, experienteouinexperiente,crenteouno.Amortenopoupaningum.Mesmo sabendo estas coisas, ela assusta a todos. Amortedestriabelezadospssaros,dasfloresedaspessoas.No podemosembelezaramorte.Podemosvivercomelaeaceit-la,mas,no possvel defini-la como bonita, atraente ou colorida. Um cadver jamais belo, seja deanimaloudehomem.Podemosatsuavizarohorrordamortehonrandoo 8CAVALCANTI,V.P.Eleny,Aconselhamentoapacientesterminais.SoPaulo:Presbiteriana, [s.d.], p. 56/57.9 BAYLY, Joseph. Enfrentando a Morte. (Traduo de Neyd Siqueira). So Paulo: Mundo Cristo, 1995, p.5.24corpo.Podemosremend-lo,vesti-locomroupasdefestas,colocandosobreuma almofadaecerc-lodeflores.Masamortecontinuanotendonenhumabeleza. Ainda nos remetendo a Joseph Bayly, ele diz que: Talvezomaisimportantesejaafalhaemenfrentaravida.Desdeo comeodostempos,osfilsofosdestacaramoconfrontocomamorte comoachavedavida.Sequisermosentenderavida,dizemeles, precisamoslutarcomomistriodamorte,pesquisaroseusignificado, chegar a um acordo quanto sua natureza. 10 Vamos,ento,completarestetpicocomaexpressodosalmistasobre estaidiadeoutramaneira.Faze-meconhecer,Senhor,omeufim,equala medida dos meus dias, para que eu saiba quo frgil sou. Eis que mediste os meus diasapalmos;otempodaminhavidacomoquenadadiantedeti.Naverdade, todohomem,pormaisfirmequeesteja,totalmentevaidade(Salmos39.4-5).Eledizqueguardamosparansmesmosossentimentossobreamorte.Ao agirmos assim, descobrimos que o assunto pode ser facilmente excludo de nossos temas de conversa e discusso, e de nossos pensamentos ntimos.Algumaspessoas,quandodescobremqueestoemprocessoterminalda doena,sefechamenoqueremmaisternenhumacomunicao,oqueasleva rapidamente para a morte. necessrio manter acesa a chama de esperana e dar razesparaviverapacientesterminais,orientando-osavivercadadiacom serenidadeeesperana.AindamaisumapalavradeElenyCavalcantiqueassim diz:Amorte,vistasemaesperanadeumanovavidaeterna,causamedoe insegurana.Surgemperguntascomo:Paraondeireiquandodermeu ltimo suspiro? O que me espera? Ser verdade o que dizem a respeito do cuedoinferno?Sinto-metoculpado.Creioquemesentipunidopelos pecados que cometi. 11 1.2.2. Enfrentando o pensamento de morrer Todapessoatemmedodaquiloquenoconhece,doquenovo,ea morte para cada pessoa uma coisa desconhecida e nova. Na verdade nica; 10BAYLY,Joseph.Enfrentandoamorte.(TraduoNeydSiqueira).SoPaulo:MundoCristo, 1995, p. 12.11CAVALCANTI,V.P.Eleny.Aconselhamentoapacientesterminais.SoPaulo:Presbiteriana, [s.d.], p. 39.25pessoal; ningum pode dizer como . Temos medo de muitas coisas, mas tudo se origina da morte; temos medo de coisas que nos levam morte.Existemtrstiposdemedodamorte que o ser humano pode temer: a) O que vem depois da morte; b) O evento de morrer; c) O deixar de ser. Podem-se terestesmedostodosjuntosoucombinados.Omedo,tambm,contagiaas pessoasmaisprximas.Ahumanidade,ainda,podetemerosmortospelas maldadesquejulgaqueessesmortospossamfazer.Temeramorteeoquevir aps ela; medo do sofrimento prolongado antes e ou depois da morte.Oqueincomodaoserhumanoomedodosqueestomorrendo.A verdadequeummoribundopodeservistopornscomorepulsivoquecheira morte e no gostamos dela. 12. No sabemos como usar as palavras diante de um moribundo e acabamos conversando coisas banais, evitando falar de morte e essa atitudenosupreasnecessidadesdeumapessoaquesabequeestmorrendo. Assim acabamos por deix-la na solido, evitando um contato interno com ela. Seamorteocorrenumhospitalounumacidentenaruaouestrada,seja onde ela ocorrer, logo se tomam providncias para tirar o morto desse lugar afim de no chocar as pessoas. Em geral o morto de rua ou estrada totalmente coberto, com um lenol ou coisa assim, exatamente para no servir de pasmo para os que vopararparasaberoqueaconteceu.Atlidarcomocorpoeosepultamento bastantedifcil.Vejaqueoutrasprovidnciassologotomadas,segundoElenyV. P. Cavalcanti:Normalmenteevitamosqueascrianasparticipemdamorteedomorrer. Julgandoqueestamosprotegendo-asdeummal,estamosprejudicando-as.Aofazerdamorteedomorrerumtabueaoafastarascrianasdas pessoas que esto morrendo ou j morreram, estamos incutindo nelas um medo desnecessrio. 13

Amaioriadaspessoasmorrenumhospital,frioesemnenhumafeto familiar. Talvez isso torne a morte to fria, dura e difcil de ser aceita. O ser humano precisa de aconchego, carinho e cuidados especiais. H algumas dcadas atrs as pessoaseramlevadasparacasaparamorreremjuntoaosseusfamiliares.L podiamdizerasltimaspalavras,recebercarinho,seremtocadaseatbeijadas carinhosamente.Ascrianasparticipavamdessadespedidaeaprendiama enfrentar sua prpria morte, dando mais valor vida. 12CAVALCANTI,V.P.Eleny.Aconselhamentoapacientesterminais.SoPaulo:Presbiteriana, [s.d.], p. 18.13 CAVALCANTI, [s.d.], p. 20.26ParaumserhumanoquecremJesuscomoseuSalvador,temamorte como vitria. Tiago deixa isso bem claro em sua carta: Bem-aventurado o homem que suporta a provao; porque, depois de aprovado, receber a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam (Tiago 1.12). O que est morrendo est num estado, num processo que tem alguma durao. Durante este processo seu corpo declina,masaconscinciapsquicaeespiritualcresce.Algumaspessoasque estonesseprocessotendemaconsolareanimarquelesqueirovisit-las.O doente moribundo ou terminal tende a crescer espiritualmente em direo morte. Aspessoasqueseenvolvemcomosdoentesnumestgiofinaldevida precisamsersensveis.NsfomoscriadosporDeusparavivermosemharmonia comEleequandoissoacontecemantemosharmoniatambmcomoprximoe conoscomesmos.ParacultivarmosessaharmoniacomDeusprecisamosdedicar tempoasscomEle,quandoestaremosouvindo-oatravsdaBbliae conversando com Ele atravs da orao.Nossoespritoprecisaestarplenamentealimentado.Overdadeiro conselheiroaquelequecultivaaintimidadecomoseuSenhor,esabequesem Elenadapodefazer.Jesusdisse:Eusouavideira;vssoisasvaras.Quem permaneceemmimeeunele,essedmuitofruto;porquesemmimnadapodeis fazer(Joo15.5).SenonosprepararmosnapalavraecomunhocomDeus, dificilmente conseguiremos ajudar aqueles que vivem o drama de uma enfermidade quelevamorte.SmesmoconhecendooamordeDeuseconfiandoNele poderemos encontrar o seu consolo, para consolar. 1.2.3.O medo da morte e do morrer Elisabeth Kbler-Ross nos diz sobre o medo da morte o seguinte: Quanto mais avanamos na cincia, mais parece que tememos e negamos a realidade da morte. 14.Amorteaindaencaradacomotabu,ondeosdebatessobreelaso consideradosmrbidoseascrianasafastadas.Usamosdeartifciosestranhos fazendocomqueomortopareadormindo.Morrertristedemaissobvrios 14KBLER-ROSS,Elisabeth.Sobreamorteeomorrer.(TraduoPauloMenezes).SoPaulo: Martins Fontes, 1981, p. 19.27aspectos,sobretudomuitosolitrioedesumano.Hmuitasrazesparasefugir deencararamortecalmamente.Umadasmaisimportantesquehojeemdia, morrer se torna solitrio e impessoal porque o paciente no raro removido de seu ambiente familiar. Morrerlucroparaoserhumanoqueterminouseuestgiodevidae deixoutudoparaoutraspessoas.Sepensarmosassimamortelucro.Paulo escreveu: Para mim o viver Cristo e o morrer lucro (Fillipenses 1. 21). Evelyn Christenson nos acrescenta o seguinte: SeosnossosentesqueridosconheceramaCristocomoseuSalvadore Senhor, ento podemos ter absoluta certeza de que para eles tudo lucro. anossasensaodeperdaquenosfazquererqueelesfiquemaqui conosco, e no a deles. 15. Mesmo vendo a morte por este ngulo ela, tambm, perda. muito triste quealgunsachemqueosmoribundosdevemreceberremdiosparaqueno percebam seu fim. No se deve priv-los do direito de morrer com dignidade.Eleny V. P. Cavalcanti faz a seguinte observao:Todostmmedodeficardoentes,masadoenaatingeatodos,sendo causadaporvriosagentescomovrus,desnutrio,ferimento,ingesto desubstnciastxicas,desajusteoudegeneraodergosdocorpo,e outras. 16 1.3.Atitudes diante da morte e do morrer Porcausadoavanorpidodatecnologiaeasnovasconquistas cientficas,oshomenstornam-secapazesdedesenvolverhabilidadesnovase novasarmasdedestruiodemassaqueaumentamotemordeumamorte violenta e catastrfica.Em nosso inconsciente, no podemosconceber nossa prpria morte, mas acreditamosemnossaimortalidade.Podemosaceitaramortedoprximoeas notciasdosquemorremnasguerras,nasestradas,mas,noanossaprpria morte.Adoenaoassuntoquesempredeveserencaradodefrente.No podemosevit-la.Noprecisamossaberlerofuturoparasabermosqueumdiaa 15CHRISTENSON,Evelyn.Ganhandoatravsdaperda.(TraduoOdayrOlivetti).6.ed.So Paulo: Mundo Cristo, 2000, p. 79. 16CAVALCANTI,V.P.Eleny.Aconselhamentoapacientesterminais.SoPaulo:Presbiteriana, [s.d.], p. 30.28doenaterminalchegaacadaumdens.Paraunsmaislongaparaoutrosmais rpida. Para alguns, passageira, mas para outros at a morte. Todos esto sujeitos a morrer, mas vamos considerar trs pontos relacionados doena. 1.3.1. A prevalncia universal da doena Ningum,emlugaralgumdesteimensouniverso,escapadela.Masela noigualparatodos.Ela,tambm,diversificadacomrelaodaformacomo atinge ao ser humano. Nenhuma parte do corpo escapa dela. O nosso corpo inteiro sofre por causa dela. H uma conexo bem prxima entre corpo e mente. Algumas doenas atingem enormemente as emoes, estendendo-se sobre a personalidade humana, no importando a sua idade. 1.3.2. Benefcios gerais concedidos pela doena OserhumanoquediznoacreditaremDeus,oateu,noconsegue perceberobenefciodadoena,pois,umDeusdeamornopermitiriaador,a doena.SeeleDeuspodeimpedirtamanhosofrimento,masnoofaz.Como explicaristo?CremosqueadoenapermitidaporDeuseissonoatrapalhao amor que ele tem. A pergunta : Quantas vezes nos submetemos a uma perda no presenteporcausadeumganhofuturo;umadoragorapelasadefutura?Deus permiteadoreadoena,noporquegostedeafligiroserhumano,masporque desejabeneficiarocoraodele,assimcomosuamente,conscinciaealmapor toda a eternidade. Vamos ver, ento, os benefcios: Adoenaajudaoshumanosalembrarem-sedamorteAmaioriadas pessoasvivecomosenuncafossemorrer.Osnegcios,asviagens,osprazeres, como se fossem viver, aqui, eternamente e a morte fosse coisa para os outros. J. C. Ryle diz o seguinte: Uma doena grave, s vezes, faz muito para que este engano 29seja desfeito. 17. Ela desperta o ser humano de seus devaneios, fazendo-o lembrar que h de morrer, assim como h de viver.AdoenafazcomqueoserhumanopenseseriamentesobreDeus,como tambmsobresuaalmaeomundoqueestporvir,ouofuturo.-Amaioriados sereshumanosnogastatempocomtaispensamentos.Nogostamdeles; deixam-nosdelado,eosconsiderammrbidosoudesagradveis.Entretanto,s vezes uma doena sria tem o poder de reunir e unir pensamentos, e de traz-los diante dos olhos da alma do homem.Adoenaajudaasensibilizarocoraodoshomenselhesensinaa sabedoria. - O corao natural duro como uma pedra. Ele no v bem algum que no seja desta vida, nem felicidade alguma que no seja deste mundo. Uma longa enfermidade,svezes,ajudamuitoacorrigirestasidias.Assimqualquercoisa que nos obrigue a alterar nossos valores sobre as coisas terrenas realmente boa.Adoenaajuda-nosanosequilibrareanoshumilhar.-Todosnssomos naturalmenteorgulhososevaidosos.Oleitodaenfermidadeumpoderoso chamador de tais pensamentos. Diante do caixo e da sepultura no fcil sermos orgulhosos. Ento esta lio, certamente boa.A doena ajuda a testar a autenticidadeda religio dos seres humanos. - A religiocomumaquasetodosaquinaterra.Masnohreligioquesuportea inspeo da doena. A maioria vive dentro de uma religio herdada da famlia; mas o compromisso com Deus, coisa menor. Neste caso a doena boa quando nos faz descobrir a que Deus cultuamos.Quersejanavida,quersejanamorte,ograudeapatia,damaioriados sereshumanosomesmo,considerandoessasimpressessobreadoenaque traz obrigaes e no benefcios. Enfim, a doena do corpo humano tm resultado muitas vezes na salvao de almas. Vejamos como J. C. Ryle completa isso: Notemosodireitodemurmurarporcausadadoenaoudereclamara suapresenanomundo.AntesdevemosagradeceraDeusporela.[...] Enquantotivermosummundoondeexistepecado,umabenoqueo mesmo seja um mundo no qual h doena. 18 . 17RYLE,J.C.Doena:Universalidade,benefcioseobrigaes.SoPaulo:Publicaes Evanglicas Selecionadas, [s.d.], p. 9.18 RYLE, [s.d.], p. 13.301.3.3. Obrigaes especiais impostas pela doena nossaresponsabilidadepessoalconhecernossasobrigaesparacom uma doena. Mas, que obrigaes so essas? Adoenaimpeaoserhumanoviverconstantementepreparadopara encontrar-se com Deus. - A doena faz lembrar a morte. A morte a porta pela qual todos tero que passar algum dia. A Bblia deixa claro que todos sero julgados, ou seja,prestarocontasdiantedeDeus.Em2Corntios5.10,lemos:Porque necessrio que todos ns sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou o bem ou o mal.Certamenteessadeveseraprimeirapreocupaodequemestcomuma doenaqueolevarmorte:adeestarpreparadoparaencontrar-secomDeus. Essasnosomeraspalavrasdetelogosoucientistasdareligio.Estasso verdades sbrias, seguras e substanciais. Viver em real apropriao dessas coisas, num mundo cheio de doena e morte, a primeira responsabilidade.Outraobrigaoqueadoenaimpeadeviverconstantementepronto para suport-la com pacincia. - A doena sem dvida prova o ser humano no seu todo:corpo,emoeseesprito.Sentirosnervosabalados,aforafsicase esvaindo, planos sendo deixados de lado, frustrante. Sentir dor muito difcil para qualquer pessoa. No de se admirar se a doena trouxer irritao e impacincia. Como necessrio, num mundo como este, aprenderaterpacincia!J.C.Ryle diz o seguinte sobre este tpico: Comopoderemosaprenderasuportaradoenapacientementequando elanosaflige?Devemosarmazenarestoquesdegraaenquantotemos sade.PrecisamosbuscarainflunciasantificadoradoEspritoSanto sobrenossosindisciplinadostemperamentoseindisposies.Devemos levarasrionossasoraesepedirregularmenteforasparasuportara vontade de Deus, como tambm para pratic-la. s pedir e tal fora nos ser conferida.19. EissoBblico,poisJesusdisse:Semepedirdesalgumacoisaemmeu nome,euofarei(Joo14.14).Armazenamosumenormeestoquedepacincia contra o tempo da doena. 19RYLE,J.C.Doena:Universalidade,benefcioseobrigaes.SoPaulo:Publicaes Evanglicas Selecionadas, [s.d.], p. 15/16.31Ainda outra obrigao que a doena impe ao ser humano a de constante prontidoparaajudarosnossossemelhanteseidentificarmoscomeles.-Todos, em algum tempo, tem algum doente em famlia, um amigo, que precisa de nossa ajuda.Paratantoprecisamosestarprontosparaessedeversocial.Soestes tempos de doenas, dor, luto ou perdas que unem os seres humanos e tambm os aproximam da busca de Deus. Se voc pode viver num mundo onde h doena e morte sem sensibilizar-se pelos outros, ento ainda tem muito que aprender. 20 1.4. A esperana e a famlia do moribundo Oquesustentaatravsdosdias,dassemanasoudosmesesde sofrimento o fio de esperana. A nica coisa que realmente persiste, em todos os estgios, a esperana. A esperana de que tudo isso passe, de uma possibilidade de cura, da descoberta de um novo recurso. Quando a esperana acaba, a morte eminente. Se no levarmos devidamente em conta a famlia do moribundo em fase terminal,nopoderemosajud-locomeficcia.Osfamiliaressodefundamental importncia para o moribundo. Quandoosproblemasdomoribundochegamaofim,comeamou continuam os da famlia. Se os membros de uma famlia podem juntos compartilhar estasemoes,enfrentaroaospoucosarealidadedeseparaoechegaro juntos a aceit-la. Umpacienteterminaltemnecessidadesmuitoespeciaisquepodemser atendidas,setivermostempoparanossentar,ouviredescobrirquaisso. 21. Precisamos ter maturidade e experincia para examinarmos detalhadamente nossa posiodiantedamorteedomorrer,antesdenossentarmosdiantedeum paciente terminal.Algunspacientesagarram-sevidaporcausadealgumassuntoqueas incomodaesentemnecessidadedefalarcomalgum.Algunsguardam sentimentosdeculpaporalgumpecadoimaginriooumesmorealeprecisam 20RYLE,J.C.Doena:Universalidade,benefcioseobrigaes.SoPaulo:Publicaes Evanglicas Selecionadas, [s.d.], p. 3 a 18.21KBLER-ROSS,Elisabeth.Sobreamorteeomorrer.(TraduoPauloMenezes).SoPaulo: Martins Fontes, 1981, p. 271.32confess-lo.Todosospacientesemtaissituaessentem-semelhorquando encontramalgumcomquemcompartilharessessentimentos.ElisabethKbler-Ross diz que: impressionantecomoumasessopodealiviarumpacientedeuma cargapesadaesemprenosperguntamosporquetodifcilparaa equipehospitalareparaafamliaperceberemasnecessidadesdo pacientequando,geralmente,bastariaapenasumaperguntasincerae franca. 22. 1.4.1. O desenvolvimento do ser humano at a morte A morte inevitvel. parte da existnciahumana,doseucrescimentoe desenvolvimento desde o nascimento do ser humano. A morte estabelece um limite no tempo de vida e impele ao ser humano a fazer algo produtivo nesse espao de tempolembrandosuavementedenoesperarpeloamanhoquepodeedeve serfeitoparaaprenderaviveravida,enoapenasapassarporela.preciso viver cada dia como se fosse o ltimo.O crescimento o modo de vida do ser humano, e a morte, o estgio final doseudesenvolvimento.Umadasrazespelaqualamaioriadaspessoasevita qualquerconversasobreamorteaterrveleinsuportvelsensaodequeno hnadaquesepossafazerparaevit-laeatmesmodefazeroudizerpara consolar a algum que esteja morrendo. Aotrabalharmosjuntoaumserhumano,queestejacomdoenaqueo levar morte, importante que haja empenho para alcanar alguma esperana de quealgoaindapodeserfeitoedeconsolo.Aspessoasnoprecisamsofrer sozinhas quando esto para morrer. possvel ajud-las a repartir suas sensaes e,encontraralvioepaz.Todoserhumanoquestionadopelavida,espode replicaraoresponderpelaprpriavida.Evidaelespoderespondersendo responsvel. Pois a chave para o problema da morte abre a porta da vida.Morrerparteintegraldavida,tonaturaleprevisvelcomonascer.A mortenoseimportacomostatusouaposiodaquelesaquemescolhe;todos devem morrer um dia. difcil morrer e sempre ser mesmo depois de aceitarmos a 22KBLER-ROSS,Elisabeth.Sobreamorteeomorrer.(TraduoPauloMenezes).Martins Fontes, 1981, p. 272.33mortecomoparteintegraldavida,porqueamortesignificarenunciarvidaneste mundo. 1.4.2. A relao do ser humano com a morte Orelacionamentodopacientecomamorte,oprivilgiodeajudarumser humanomoribundoaatravessaroestgiodaaceitaoeoajudarsuafamlia algo do qual deve ser capaz qualquer profissional encarregado de pessoa doente. necessrio que se diga uma palavra a respeito de pessoas religiosas que tmacessoaohospitalparalidaremcompessoasdoentes.svezesatos mdicos e enfermeiros precisam de algum conforto, no somente o doente e seus familiares, pelo desgaste e sobrecarga emocional. As pessoas que so preparadas para cuidar de seres humanos doentes devem respeitar seus doentes, devem saber lidar com seus prprios sentimentos e us-los de modo a ajudar. As habilidades, os relacionamentos, as atitudes e os comportamentos implcitos nessas necessidades devem ser fundamentais para o contato com seres humanos doentes.Opacientemorteaindanovistocomoumapessoa,eassimnose pode falar com ele como pessoa. um momento pelo qual o doente terminal passa equetodossabemquetambmteremosdeenfrentarumdia.Morrerdifcilem qualquer circunstncia, porm, morrer no ambiente familiar do seu lar, com aqueles a quem se ama e que o amam, dissipa grande parte do medo.Oproblemamortediferenteentreculturasdiferentes.Hdiferentes modos de lidar com ela, h diferentes explicaes e reaes a ela. Quando a vida de um ser humano est terminando, certamenteh muitas coisas importantes que essa pessoa gostaria de fazer antes de morrer. Elisabeth Kbler-Ross diz que viver quedifcilviveratmorrer;sejaeminenteasuamorteoutenhaumlongo caminho a percorrer; seja voc quem vai morrer ou algum a quem ama. 23 23 KBLER-ROSS, Elisabeth. Morte: estgio final da evoluo. (Traduo Ana Maria Coelho). Rio de Janeiro: Record, 1975, p. 108.341.4.3. Aprendendo a aceitar a morte Oquepareceprocurarseucaminhocomdificuldadeatravsdetodas essas realidades, embora sejam diferentes, a necessidade de autenticidade e de retido. No se pode aprender a aceitar a morte quando a evita e nega. claro que o fim de uma vida no algo de fcil aceitao. Mas a morte no deixar de existir seforignorada.Orealdesafioestemviverplenamenteotempoquesetem. Aprenderalivrar-sedosentimentodedesesperoesubstitu-lopelodeesperana deviverumpoucomais.Aprenderavoltaraviverquandoseperdeualguma quem se ama muito difcil, mas necessrio o esforo para entender o significado da morte para aquela pessoa.As pessoas que so informadas de que tm limitado tempo de vida reagem demodosdiferentes.Algumasparecemcapazesdeenfrentaradequadamenteo sofrimentopsquicoquepodeadviremformaderaiva,depresso,medoouculpa imprpria.Elasseacomodameconseguemviverseutempofinaldemaneira tranqila.Outras,noentanto,noconseguemdominarseusofrimento.Oquese podefazerparaoserhumano,queestcomdoenaterminal,ajud-loaviver sem medo quanto possvel at morrer.Algumassugestespodemserteisaoconselheiroqueestdispostoa ajudar no momento de doena que termina em morte: Que tipo de desconforto o doente enfrenta? Que atitudes e crenas religiosas ele tem? Ter experincia prvia com pacientes moribundos. Controlar sua prpria ansiedade. Oconselheirodeveestarpreparadoaajudaraodoenteavivercadadia quelherestaealidarcomseussentimentos.Oajustamentoemocionalincluio conceitodepazinterioreautodomnio,masnoomesmoqueresignao, aceitao, ou desespero de restabelecimento.Nohnecessidadedetemeramorte.Noofimdocorpofsicoque deveriapreocupar-nos.Nossapreocupaodeveriaseradeviver,enquanto estamos vivos para liberar o nosso eu ntimo da morte espiritual.A morte a chave paraaportadavida.anegaodamorteque,parcialmente,responsvelpor viveremaspessoasvidasvaziasesemobjetivo.Sedistribuirmosamoraoutros, 35receberemosdevoltaoreflexodesseamor.Ento,devemosvivercadadiacomo se fosse o nico que temos.A morte o estgio final da evoluo nesta vida. No h morte total. S o corpomorre.Oeuouoesprito,imortal.Nestecontexto,amortepodeser considerada como uma cortina entre a existncia do que estamos cnscios e uma que est oculta de ns at erguermos essa cortina. 1.5.Reaes para com os doentes no ltimo estgio da vida Muitasvezessomoscolocadosemsituaesdifceis,tendoquevisitarou mesmotendoemcasaumparenteouamigoqueestmorte.Nessashoras tentamosfugiralegandonotermosjeitoparalidarcomisso.Ofatoquetemos medodamorte,nosdela,masmedodemorrer.Osestilosdamortese modificam; a morte chega de muitas maneiras diferentes: as doenas, os acidentes detrnsito,avelhice,aviolncianassuasformasdiversas.Averdadequea mortechega.Hpessoasqueencontramseguranaparadizerquesmorrero quandochegarasuavez.Issonoasimunizadomedodamorte.ABbliaapia esta atitude corajosa relativa morte, mas com certas limitaes. Deus detentor desselimiteoutempo.Nsnopodemosevit-lapornsmesmos.Temoso exemplo da vida de J: Visto que os seus dias esto determinados, contigo est o nmerodosseusmeses;tulhepusestelimites,eelenopoderpassaralm deles (J 14.5).SegundoaBblia,Deusdeterminaquandomorremos.Nessemisterioso relacionamento entre a soberania de Deus e a liberdade do homem, a durao de nossavidapodeserafetadapornossosprpriosatos.AseguranadequeDeus controlaasquestesdevidaemortetrazconfianaemperododecrise. Naturalmente para quem cr que Deus pode todas as coisas.Comomorrer?Amorteacessaopermanente,irreversvel,das funesvitaisdocorpo.Nemtodasasfunesparamaomesmotempo. Comeamos a morrer no momento em que nascemos. Para a pessoa idosa, pode serasilenciosaculminnciadoenvelhecimentodergosvitais.Adornestes casos no freqente, mesmo para aqueles que morrem de doenas incurveis ou 36malignas,poisaidadeavanadatrazgeralmentealviodesintomaseo embotamentodasensibilidade.Pesquisasindicamqueosvelhosnotm,em geral,muitomedodamorte,anoserqueestejamemambienteshostis,tensos, ondenosesentemdesejados.Issopodeaceleraroprocessodamorte.As pessoas que tm reaes mais fortes so as mais jovens, produtivas, que planejam ousocheiasderesponsabilidades,quedevemficarparatrs,inacabadas,para outros. 1.5.1. Uma pessoa que est morte Todosnsmdicos,enfermeiros,famlia,conselheirosouamigos queremos ajudar de alguma forma a suavizar o sofrimento dessa pessoa. Mas, em geral,temosdificuldadedeencontraraspalavrascertasparaomomentoto delicado.Porissoprecisamoscompreenderossentimentosdapessoaque queremos ajudar, assim como os nossos sentimentos. Entender que, provavelmente, a pessoa j sabe que caminha para a morte mesmo que ningum tenha lhe dito isto. Em geral todos sabem, com rara exceo quandodeacidentesrepentinos.Nsperguntamos,svezes,comopodealgum saberisto?simples:comanossaomissonaspalavras,comatitudespara desviaraatenorelacionadaaoestadododoente.Anegativadaspessoasque cuidamdodoenteemadmitirdiantedele,etambmpelosprpriossentimentos internos. preciso compreender que alguma preocupao o doente tem em relao a si mesmo, como ter que abrir mo dos seus, do cuidado para com eles; abrir mo deumaprofissooutrabalho;dacriaodosfilhos,entreoutros.Tambm podemosverificaroutrasituaoqueincomodaodoentequeestmorrendo:ele percebe que os relacionamentos afetivos esto se dissolvendo, as pessoas j no o tocam como antes; percebe que um peso para a famlia; difcil para ele ver que asvisitassetornammaisrpidaseverqueelasovisitamcomosefosseuma obrigao.Existemtambmtemorespessoais.Umdelesomedodador,que 37estinseparavelmenteligadomortenamentedamaioriadaspessoas,apesar dos avanos mdicos para o seu controle. 24. Dequeformapode-se,ento,ajudaressaspessoasdoentes?Contando-lhesaverdade.Aspessoasqueconhecemaverdadedoseuestado,noaquela verdadequeelassentemeimaginam,masaquelafaladaecomprovada,tm menos incidncia de complicaes mdicas e emocionais. O paciente tem o direito desaberaverdade,eessedireitotambmpertencefamlia.Odoentepode, ento, pedir esta informao. 25. Quandofalamosaverdade,opacientetemaoportunidadedefalar abertamente como ele se sente diante da doena e da famlia. Entretanto preciso havermuitasensibilidadedapartedaspessoasqueestojuntododoente,pois, nemtudofaladocompalavras.Hcoisasqueelefalacomlgrimas;outras querendoficarcalado;eoutras,ainda,deformasimblica:entregandopertences, tomandodecisesacercadealgumacoisa.Algumasvezesnodevemosenem precisamos dizer nada; podemos apenas ficar ao lado da pessoa que est sofrendo consolando-a com a nossa presena, segurando sua mo. 1.5.2. Os estgios de um processo de doena terminal Vamos conhecer alguns estgios mais comuns que acontecem quando um serhumanorecebeumanotciadequetemumadoenaqueolevarmorte. Assim identifica Elisabeth Kbler-Ross, os estgios: Choque quando algum que leva uma vida absolutamente normal se v diantedeumasituaooudoenaquepodelev-lomorte.Apessoaficasem ao, sem palavras, acelerada e pode incorrer em hiperativismo ou se envolver em atividades fteis, agindo como se isto no estivesse acontecendo com ela.Negao - Nasituaocomea-seaterdadosprticoscomoexames comprobatriosdeumasituao.Inicia-seanecessidadedeouviroutros diagnsticos e de fazer outros exames, porque aqueles que acusaram tal situao 24BAYLY,Joseph.Enfrentandoamorte.(TraduoNeydSiqueira).SoPaulo:MundoCristo, 1995, p. 27/28. 25 BAYLY, 1995, p. 29.38foram trocados ou os resultados confundidos. Evita-se pensar para no sofrer. Diz-sequeumpesadeloelogopassar.Anegao,oupelomenosanegao parcial,usadaporquasetodosospacientes,nosomentenaprimeira confrontaocomarealidade,masnoprocessointeirodemorrer.Opaciente precisanegarparasuportararealidadeduradesuaprpriamorte.Persistirem negar at o fim raro acontecer.Clera Quando sua situao comprovada e ele percebe que real, vem grande revolta.Umarevoltacontratudoecontratodos,dirigindosuairaprincipalmentea Deus, pois Ele tem controle sobre tudo. Vejamos as imagens do sofrimento de J: Ohomem,nascidodemulher,durapoucosdiasev-secercadodetribulaes. Ele aflora como uma flor e ento se resseca; como uma sombra fugidia, e no dura (J 14. 1-2). Em alguns casos a pessoa se torna agressiva e desesperada. Quando nomaispossvelmanteranegao,elasubstitudaporumsentimentode raiva, revolta, ressentimento.DepressoPassadoomomentodaagressividade,caiemdepresso.Esseo estgiomaislongoedifcildeserenfrentado.Ficaquieto,noexpressasuas preocupaes.Naturalmente,elecomeaasepreocuparcomafamlia,que fatalmenteterquedeixar.Sente-seculpado,impotente.Noconfiaemmais ningum;noacreditaemnada,pois,achaquetodosoestoenganando.Oque mais magoa o paciente e o deprime a perda da esperana.Barganha A condenao morte certa. No h mais como fugir dela. Comea, ento, o perodo ou estgio de negociar consigo mesmo e at com Deus. Ocorrem promessas de todos os tipos, se a pessoa conseguir se livrar da morte. Ela aceita a situao, mas negocia. Geralmente com Deus. Nem sempre o prolongamento da vida. s vezes so dias sem dor.AceitaoTerminaalutadesesperadaenegativa.Nohmaiscomolutar.A agoniaevidentee,finalmente,vemaaceitao.Apessoaqueenfrentatal situao promete paz. Organiza sua vida, seus negcios, conserta relacionamentos quebrados,confessaculpasparasedespedir.Tudoagoracaminhadeforma mansaesubmissa.Nenhumalutacomotratamento,mdicosoupessoasqueo cercam. Aos poucos passa a ocupar seus pensamentos consigo, como se todos os outrosjnoexistissemounotivessemmaisnenhumaimportncia.Estar cansado e bastante fraco na maioria dos casos. Sentir necessidade de cochilar ou 39dormircomfreqncia.Nosonodefuga,mas,dealviodadoroudealgo assim.26 O paciente percebe que a morte inevitveleaceitaauniversalidadeda experincia.Ossentimentospodemirdesdeumhumorneutroatohumor eufrico. Agora j nada mais importa. No h comunicao. Existe apenas uma luta interiorquenovisvel.Raramenteessalutainteriorchegaeseexteriorizareo moribundoreagir,ouatmesmosairdohospital,ficarcurado.Masissopode acontecer por causa da luta interior. 1.6.Lado a lado com os doentes Quando as pessoas envelhecem, elas se tornam mais frgeis no processo dedoenas,mal-estareasfraquezascaminhamjuntos.Porm,asmaisjovens acreditamquenadairatingi-las.Assimestaspodemfazerplanos,trabalhar, praticaresportes,sedivertiremesmoassimnemsempreestofelizes,aat,se dizem infelizes. Aquele que est doente, s deseja ser curado para ser feliz.Ningumpoupadodadoenae,poroutrolado,asadenoanica razo da felicidade. Algum que aprendeu a conviver com a doena pode ser uma pessoa muito feliz e uma fonte de alegria para ajudar quem cruzar o seu caminho. Na Bblia a doena faz parte da vida. Ela mostra os limites das nossas foras e, ao mesmotempo,consideradoummalquedeveriasersuperado.Normalmente desejamosqueadoenafiquelongedens.Doenapareceseralgoparaos outros. Como se houvesse um muro entre ns e a doena. O nosso comportamento mudaquandoencontramospessoascomumadoenaqueaindanotemcura, comoaAIDS,porexemplo.Ficamossemsabercomonoscomportar,oque perguntareatmesmooquefazer.Quandosetratadeumapessoaquenofaz partedonossoredutofamiliaraindapodemosnosesquivar,mas,quandoalgum da famlia adoece mesmo se tratando de uma doena que pode ser curada, tudo se 26KBLER-ROSS,Elisabeth.Sobreamorteeomorrer.In:KAPLAN,I.Harold;SADOCK,J. Benjamin e GREBB, A. Jack. Compndio de psiquiatria: Cincias do comportamento e psiquiatria clnica. (Traduo Dayse Batista). 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 1997, p. 85/86. 40tornadramtico.Agoratemosqueenfrentaressarealidade.Atqueremosajudar, mas, no sabemos como agir. Sobre o que conversar. Quandoasituaodedoentenossa,nossentimospesados,chatose percebemosoquantoaspessoasqueestoprximasestopreocupadas,quanto trabalhoamaisporcausadenossadoena.Oquefazer,ento,quandoestamos com medo, sofremos muita dor ou quando no entendemos um tratamento que cria um grande mal estar em ns? difcil trabalhar todas estas questes sozinhos.Sendoassim,achamosqueaIgrejaolugarondeosdoentes,eseus familiares,podemsairdoisolamento.EquenaIgrejaquedeveexistir solidariedade,apoioeacompanhamentodepessoasdispostasacompartilhar, procurando f e esperana.A dor e o sofrimento so algo muito especial. Ningum pode sentir a dor do outro,nementenderoqueopreocupaequaisassuasnecessidades.Porisso temos que procurar uma ponte para entrar no mundo em que as pessoas doentes vivem. Algumas questes podem ser ativadas para entendermos melhor um doente e como poder ajud-lo: 1.6.1. A dificuldade em resolver problemas no decurso da doena Umdoenteque,repentinamente,precisaserhospitalizadosesente inseguro, nervoso, com medo e vergonha. O mundo tcnico e de profissionais que votocarnele,tirarsuaroupa,invadirsuaprivacidade.Issoaindasetornamais difcilquandosetratadeumapessoaidosa,quenuncateveumadoenamais sria. Seria muito bom se os familiares e amigos pudessem estar por perto. Como explicar,ouquerespostasdaraumacrianaquepergunta:porqueaspessoas ficam doentes? Poderamos supor, por um momento, que Deus criou a doena no princpio? Ser que um mundo criado com tamanha perfeio teria necessidade de fazeroserhumanosentirdoresofrimento?Secomohumanosnopodemos encontrar essa resposta, temos de busc-la na Bblia. J. C. Ryle diz que: Algo veio 41aomundoquedestronouohomemdesuaposiooriginal,destituindo-odeseus privilgios originais. [...] Desfigurando a perfeita ordem da criao de Deus.27. Esse algo foi o pecado. Teologicamente, pecado a causa original de toda a doena, dor e sofrimento que existem neste mundo. Assim diz a Bblia: E entrou opecadonomundo,pelopecadoamorte(Romanos5.12).Existeminmeras outras explicaes que podemos obter atravs da Bblia, mas o que mais chama a ateno que a Bblia pode explicar que a doena, a dor e a morte, universalmente conhecidas,soconseqnciadopecadooriginal;dadesobedinciadeAdoe Eva,istodito,tornaaBbliaverdadeira.ABbliaseexplica,mesmoqueosseres humanos se calem, diante da doena terminal, a Bblia a encara de frente. 1.6.2. Dor e preocupao com a famlia importantesaberqueadortemumapartefisiolgica.Isto,osnervos transmitem este sentimento ao crebro e o corpo quer diminuir de qualquer forma a dor.Porissoapessoasemovimenta,reage.Eestareaooladosociale psicolgico. Em algumas culturas a dor reprimida a qualquer custo, e aos homens em geral no lhes permitido demonstrar a dor. Entoosentimentodedordependetambmdonossoestadopsquico. Tratar a dor com remdios e meios psicolgicos uma das tarefas importantes dos mdicos. No existe vida sem dor e no bom tomar remdios fortes e carssimos sem orientao mdica. O abrao e o consolo podem tornar-se profundos no caso de doentes com dor.A preocupao uma coisa que incomoda ao doente. muito difcil ter que cuidaremcasadeumapessoagravementeenferma.Igualmentenonadafcil deixar-secuidarpelosfilhos,maridoouesposa.Paraodoenteoestaremcasa melhor,embora,elesoframaispornopoderexecutarastarefasdomsticas,se senteumintil.Outrosaindatransformamavidafamiliarnumatorturaporque chamam todo o tempo para coisas desnecessrias e at do ordens aos outros. 27RYLE,J.C.Doena:Universalidade,benefcioseobrigaes.SoPaulo:Publicaes Evanglicas Selecionadas [s.d.], p. 5. 42Os familiares tambm sofrem por no terem coragem ou saber o que falar ou fazer. Alguns fogem de casa, arrumando tarefas extras, se afundam no trabalho, mas isso no resolve o problema. 1.6.3. Levando o doente ao hospital Ningum gosta de hospitais. Os que tm sade no gostam de ir a hospitais, porissonosabemoquesepassaldentro,nosabemcomoagir.Emgeralas pessoas que necessitam ficar hospitalizadas acreditam que ali vo estar melhores, bemcuidadasporprofissionaisequevosofrermenos.Bomseriasetodos soubessem um pouco mais de um hospital, quais as tarefas dos profissionais, quais osdireitosedeveresdosdoenteseassimhaveriamelhoraproveitamentodessa permanncia hospitalar.Oqueumhospital?Comosurgiu?Antigamente,eraumabrigopara doentesefracos.AcomunidadecristquelevouaspalavrasdeJesusCristoa srio: ... adoeci, e me visitaste; [...] Quando te vimos enfermo e fomos visitar-te? E responder-lhes-,oRei:Emverdadevosdigoque,semprequeofizesteaum destesmeusirmos,mesmodosmaispequeninos,amimofizestes(Mateus25. 36.39-40).Acomunidadecristcomeouasepreocuparcomaspessoas enfermas.Ohospitalumainvenocrist.NaIdadeMdia,osmonges continuaramasepreocuparcomaenfermagem.Ajudavamaosfracos,doentese idososcolocando-osnumaenormesaladeseusmosteiros,dando-lhesabrigo, assistncia social e espiritual, isto , tratavam do corpo e da alma. Desta forma as irmsdeSoVicentedePaulafundaram,apartirdosculoXVI,muitoshospitais que no Brasil se chamam Santa Casa.Tambmosprimeiroshospitaisevanglicosforamfundadosporvoltada metadedosculopassado.SurgiramnaIgrejaordensdediaconia,cujafinalidade era servir aos pobres e doentes, como enfermeiras evanglicas.Infelizmente,dizChristophSchneider-Harpprecht,amaioriadosmdicose enfermeirasnoaprendeuaconversarououvirospacientes,nemsabecomo 43reagir em situaes de conflito.28 Cada funcionrio de um hospital, no importando suafuno,deveriatertreinamentoparalidarmelhorcomseuspacientes. extremamente importante que mdicos, enfermeiros, e pacientes, se dem conta de que o paciente um ser humano. 29 1.6.4. Na doena ou dor h revolta contra Deus A dor faz parte da vida. Ela pode manifestar-se atravs de um corpo doente ou de um corao despedaado. De qualquer maneira, cedo ou tarde, ela surge e invadenossocotidiano.Quandoadorirrompecomtodaafora,temosduas escolhas a fazer:Culpar e rejeitar o Deus que poderia ter evitado o sofrimento, ConfiarqueaqueleocorridointegraoplanoperfeitodoSoberanoSenhorde nossas vidas.difcilveroutrapessoasofrerenosabercomoajudar.Apessoasofre juntocomodoente,porsesentircommosepsatados,noencontrando respostas para as indagaes do doente. Em toda a histria da humanidade, J foi a figura que melhor personificou a escolha da segunda opo, mesmo aps receber anotciadequatrotragdiasrepentinasincluindoamortedeseusdezfilhos.A Bblia relata: Ento, J se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabea, e se lanou em terra, e adorou, e disse: Nu sa do ventre de minha me, e nu tornarei para l. O Senhordeu, e o Senhor o tirou; bendito seja o nome do Senhor. (J 1. 20-21).A certeza, porm, que todo cristo deve ter que Deus no o abandonar. Segundo Christoph Schneider-Harpprecht veja o que significa ser cristo: Significa aceitaracruz,osofrimentoeamortepara,aomesmotempo,resistireprotestar contraosmesmosemnomedeDeusPai,emnomedavida.Quempoderiadar esse sentido a ele?. 28SCHNEIDER-HARPPRECHT,Christoph.Comoacompanhardoentes.SoLeopoldo:Sinodal. 1994, p. 27. 29 SCHNEIDER-HARPPRECHT, 1994, p. 26 4430. No Antigo Testamento a doena e a curaeramobjetivosdeDeus.Temos doenaspermitidasporDeusquelesquenoobedeceramaosseus mandamentos:osEgpciosqueescravizavamopovodeIsrael.Doenaera entendida como uma conseqncia de culpa concreta provocada pela transgresso Lei de Deus. Vamos entender isso melhor: Adoenacomolibertao.-Osdoenteseramconsideradospecadores, excludosemarginalizados.ApresenadeDeussignificava:vida,sadee salvao. Onde Deus no estava, dominava a morte. A viso do Novo Testamento. - A doena vista sob o ponto de vista do Reino deDeusedaSalvaoemCristoJesus.Osentidodadoenasersuperadoe, assim,testemunharaquelequeconseguiuailuminao:Jesus.OreinodeDeus comeaimplantandoavidaeesperananolugardemorteedesespero, substituindo a estigmatizao e isolamento por perdo, amor e comunho. Afcristafirmaavitrianomeiodosofrimentoecontraarealidadeda doena e morte. A mensagem da cruz consola por causa da solidariedade de Deus edaesperana.Desafiaoscristosaaceitaremquesofremeque,algumdia morrero para, apesar disso e ao mesmo tempo, lutarem em suas fraquezas e em favor de uma vida justa. 31 . Apesardasdificuldades,convivercomumapessoadoentepodeseruma experinciamuitointensaeenriquecedoraparaafamlia.Permiterelaesmais ntimas,nasquaistodosparticipamdaquiloquesepassacomodoente,repartem esperana,tristezaemedo,sentemcomobomquandonafamliaaspessoas conseguem ajudar-se.Geralmenteocontatocomosfamiliaresacoisamaisimportante.A experinciadolorosadepacientescrnicosaperdadavidasocial,dasrelaes que garantem segurana, carinho e que animam. Essa perda uma experincia de mortesocial.DizChristophSchneider-HarpprechtPoismorrersignifica,em primeirolugar,perderassuasrelaescomosoutros,comomundo,finalmente tambm consigo mesmo, com o prprio corpo. 32. 30SCHNEIDER-HARPPRECHT,Christoph.Comoacompanhardoentes.SoLeopoldo:Sinodal, 2004, p. 38.31 SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2004, p. 48.32 SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2004, p. 58. 45Quasetodossentemnecessidadedetercontatocomoutraspessoas. Queremcomunicar-se,ouvirnovidades,falarsobreascoisasquevivenciaram, dizer o que pensam e sentem.Adoenaexigequemudemosonossoestilodevida,quecoloquemos outrasprioridades.Elanosfazdescobriroquantonsprecisamosdosoutrose comobomdarereceberumpoucodecarinhoouateno.Adoenauma possibilidadedeabrir-sedenovoparaoladoespiritualdavida,buscandona relao com Deus uma cura muito mais profunda do que a cura somente do corpo. 1.7.Quando a dor alcana o ser humano

Quandoadornosalcanaatravsdadoenadeentequeridoouuma notciadeumadoenaemnsmesmos,nossentimosdivididos,assimcomoJ quepoderiaterculpadoerejeitadoaDeusquepermitetalacontecimentoem nossasvidas,ouconfiarqueaqueladoena,sejanossaoudeumentequerido, integraoplanoperfeitodeDeus.QuandoDeuspermitequealgoassimto devastador,nosatinja,anossaangstiapodecausarumefeitonegativono crescimentopessoal.Entocomofazeratransiodadoralegria?Tendoas seguintes atitudes: HonestidadecomDeus-Estaaprimeiraatitudequeumcrenteprecisatomar diantedeumadoenaterminal.ABblianosdumexemplonolivrodosSalmos que assim diz: Levanto a Deus a minha voz; a Deus levanto a minha voz, para que ele me oua. No dia da minha angstia busco ao Senhor; de noite a minha mo fica estendidaenosecansa;aminhaalmarecusaserconsolada.Lembro-mede Deus,emelamento;queixo-me,eomeuespritodesfalece.Conservasvigilantes osmeusolhos;estoutoperturbado,quenopossofalar(Salmos77.1-4).o desabafo perante o Senhor diante da situao dolorosa e angustiante. A confisso sinceradoquenosperturbaefazsofrer,leva-nosabuscarauxlioalmdens mesmos. No fcil procurar a Deus num momento de angstia. Assim o apstolo Pedro diz em sua carta: ... lanando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vs (1 Pedro 5.7). 46 Elaborandoperguntasverdadeiras-UsandoaindaosSalmosparanossa segunda atitude, onde lemos: Rejeitar o Senhor para sempre e no tornar a ser favorvel?CessouparasempreaSuabenignidade?Acabou-seaSuapromessa paratodasasgeraes?Esqueceu-seDeusdesercompassivo?OunaSuaira encerrou Ele as Suas ternas misericrdias? (Salmos 77. 7-9). Em segundo lugar o quevaidentrodaalmamachucadapeladoenaumquestionamento. importanteobservarqueDeusnuncaficaenraivecidoouimpacientecomas perguntas do ser humano.Tambmansocorremmomentosdetremendaescurido,quando imploramos ao Senhor que nos d uma explicao sobre seu procedimento. Mesmo queDeuspareaquietodiantedonossoquestionamento,Eleensinaque,depois de esperar na dificuldade, aprendemos a confiar no nosso Deus, mesmo sem obter respostas. Analisando o passado - O terceiro momento quando nos damos conta de tudo oqueDeusjfezpornseemns.Assimrecuperamosonossoemocionale racionalmente comeamos a enxergar luz em meio escurido que nos atormenta porcausadadoenaterminal.Assimtambm,quandoangustiados,areflexona bondadeefidelidadedeDeusnopassadorepresentaumancoradefpara enfrentarmos os dias futuros de aflio. DandolouvoresaDeus-Eporfim,depoisdeterderramadodvidase reclamaesdiantedoSenhoredetercompreendidoque,mesmoquieto,Deus continuasendoomesmo,isto,bondosoeoperante,fieleamoroso,louveao Senhor.Olouvoraarmamaispoderosacontraasforaseinimigosdispostosa derrotaratravsdadoenaterminal.Emmeionossamaiordificuldadepodemos ser transportados do desespero adorao, se... Formos honestos a respeito do que sentimos; Questionarmos o Senhor sobre o que nos perturba interiormente; Lembrarmos da Sua atuao poderosa e misericordiosa no passado; Louvarmos ao nosso Deus, mesmo antes de receber qualquer resposta. 33. 33 KEMP, Jaime. Onde est Deus no meu Sofrimento? 2. ed. So Paulo: Hagnos, 2001, pp. 49/56. 471.8.O que morte? Sermdicoserconfrontadocomamorteouoprocessodemorrer. Infelizmenteamaioriadosprogramasdetreinamento,abordademaneirafracao tema morte. Em conseqncia, o tratamento dos pacientes moribundos deficiente e o sofrimento tambm atinge a classe mdica. Deveria haver um curso mesmo que fossesespecializaocomplementar,sobreamorte.Masoqueamorte? CientificamenteconhecidacomonomedeTanatologia.oestudodofenmeno da morte e dos processos emocionais e psicolgicos envolvidos na reao morte, tanto nos moribundos quanto nos enlutados. 34. Aceitarecompreenderamortenosotarefasfceis.Morte,dopontode vista fsico, o que ocorre quando cessa a vida de um ser humano, seja por causas naturais, seja por motivos acidentais ou causados por doenas. A morte um fato consideradocheiodemistrios,edaquevemoestmuloparaestud-la,para refletircomoaspessoasavemeaaceitam.Quandooserhumanolutapara entender o mistrio da sua morte, na verdade ele est descobrindo o significado da vida.Tambmsefaznecessrioumaprendizadoparalidarcomareaodas pessoas que atendem o ser humano no finaldesuavida,equelesquesofremo lutodaperda,numhospital.E,sobretudo,osprofissionaisdeveriamaprendera lidar com seus prprios temores e sentimentos de perda. Presenciamosnessasltimasdcadasumalegtimareao,porpartedas cincias humanas, contra o modo como a sociedade ocidental contempornea tem concebidoetratadoamorteeosmoribundos.Bilogos,psiclogos,filsofose telogosdefendem,cadavezmais,commaisinsistncia,odireitobsicodetodo serhumanopoderviverseusltimosedecisivosmomentosdesuaexistnciade modo mais digno, respeitoso e humano possvel.Humanizar a morte no consistir tanto na utilizao de recursos tcnicos visandosuavizarouaatrasarasuavida,massim,fundamentalmente, ajudaroenfermoaserautenticamenteelemesmo,animando-oaque prossiga em seu crescimento at o ltimo alento. 35 . 34KAPLAN,I.Harold;SADOCK,J.BenjamineGREBB,A.Jack.CompndiodePsiquiatria: Cinciasdocomportamentoepsiquiatriaclnica.(TraduoDayseBatista).7.ed.PortoAlegre: Artmed, 1997, p. 85. 35 MARANHO, S. J. Luiz. O que a morte. So Paulo: Brasiliense, 1985, p. 4048 Aotomarconscinciadapossibilidadeimediatadesuaprpriamorte,o homemlevadoareverasprioridadeseosvaloresdesuaexistncia,tornando relativo o que at ento era considerado absoluto. A conscincia da morte revela a insignificnciadoacmulodepossesedoscuidadoscotidianos,dosquais freqentementeseescravo.Assim,oshomensfogemcontinuamentedo pensamento da morte no porque ela seja em si paralisante da vida, mas a fim de proteger os seus valores mundanos que cultivam com tanto esforo e abnegao.A prpria natureza do conhecimento humano parece contribuir para reprimir a conscincia humana da morte pessoal. O pensamento da morte no corresponde imagemdenossaprpriamorte;aimagemdenossamorteescapanossa capacidade de representao.Hcoisasimprevisveis,inexplicveis,misteriosasequedoemmuito.A morte, por exemplo, nunca foi ou ser um fenmeno simples e fcil de inspirar um comportamento sereno. perda! Se h uma estrutura religiosa, a recuperao est amparadanaesperana:mortenoofim,ocomeodenovavida.Mesmo assim,segundoosmaioresespecialistas,ocrebrohumanotemumanoparase refazerdochoquedeumaperda.Ascrianastendematermaisdificuldadede enfrentar uma perda, especialmente, se for de uma pessoa muito querida. Os pais ou responsveis pela criana devem ajud-la a superar essa perda. Sntese Eparafecharmosestecaptuloteremosumapalavrasobreoque discorremos. Durante dcadas se cumpria um verdadeiro ritual, do instante em que oserhumanomorriaatseusepultamento.Otempopassoueoscostumes mudaram.Desdeosculopassadoosentidooriginaldoritualfnebrefoi esvaziado.Numasociedadecomoanossacompletamentedirigidaparaa produtividadeeoprogresso,nosepensanamorteefala-sedelaomenos possvel.Osnovoscostumesexigemqueamortesejaoobjetoausentedas conversas educadas. Hoje o ideal que se morra sem se dar conta de sua morte, que no se saiba que seu fim se aproxima. Os sinais que possam alertar o doente do seu real estado so cuidadosamente afastados.49Um dos fatores importantes nessa mudana de atitude foi o deslocamento do lugar da morte. A maioria das pessoas levada para o hospital onde morre. Isso ocorredevidoaosenormesavanostecnolgicoseespecialidadesmdicas, recursosquepodemprolongaroestadodopacientemorte.Tudoisso,muitas vezes,peosmoribundosnumaagoniamaispenosaqueavividaemcasa.Em casa ele poderia morrer rodeado pela famlia, enquanto que no hospital, sozinho. A morteficoureduzidaanada.Nodeprivaroserhumanodesuaagonia,da conscinciadamorte,demarginalizarsocialmenteomoribundo.Aonegara experincia da morte e do morrer, a sociedade torna o homem em uma coisa.Daanecessidadedesefalarnacrisegeradapeladoenaterminal,que ser o nosso prximo captulo. 50 2. A CRISE GERADA PELA DOENA TERMINAL Onossoobjetivopodeserdeajudaraspessoasadescobrirmaneiras prticasdesolucionarsuascrises.Paraqueistoaconteademaneiracorreta precisoconhecimentoparaavanaremdireoaoalvointegralizador.HawardJ. Clinebellvesseobjetivocomoumacaminhada.Essecrescimentotemseis aspectos que devem ser considerados:Avivar sua mente; Revitalizar seu corpo; Renovar e enriquecer seus relacionamentos ntimos; Aprofundar sua relao com a natureza e a biosfera;Crescer em relao s instituies significativas em sua vida; Aprofundar e vitalizar seu relacionamento com Deus. 36. Todos os seres humanos em algum momento de suas vidas sentem algum tipodeinsegurana.Muitospassamporansiedadesecrisesqueasdeixampor baixo,temporariamente,masconseguetirardaprpriasituaoadversaa motivao e a coragem necessria para darem a volta por cima.As crises nos incomodam, porque interrompem a nossa rotina diria e nos foramaacharmeiosparaenfrent-las,queaindanohavamosusadoou conhecido. Mas o que uma crise? Gary Collins nos traz uma boa definio; ele diz que: Uma crise qualquer acontecimento ou srie de circunstncias que ameaa o bem-estar do indivduo e interfere em sua rotina. 37. 36CLINEBELL,J.Howard.Aconselhamentopastoral:Modelocentradoemlibertaoe crescimento. (Traduo Walter Schlupp e Lus Marcos Sander). 4. ed. So Leopoldo: Sinodal, 2007, p.29.37 COLLINS, R. Gary. Ajudando uns aos outros pelo aconselhamento. (Traduo Neyd Siqueira). So Paulo: Vida Nova, 2005, p. 113.51Ascrisesquesurgemnosoiguaisenossareaotambmvaria.H crises que podemos at prever, como por exemplo, o incio de um casamento; meia idade;velhice;chegadadefilhos.Outrassomenosprevisveisepodemocorrer repentinamente;comoporexemplo,ficardesempregado,acidentedetrnsito, mortedealgumdafamliaouumamigo.Sosituaesqueexigemmaisdas pessoas do que na rotina diria. Podemos ainda acrescentar que: Criseumestadotemporaldetranstornoedesorganizaocaracterizado por:incapacidadedoserhumanooudafamliapararesolverproblemasusando mtodoseestratgiascostumeiras;etambm,caracterizadoporumpotencial para gerar resultados radicalmente positivos ou radicalmente negativos. Umacriseumarupturadereaesqueexigemumabuscadenovas formas de funcionamento, melhor adaptadas nova situao por ela criada. Assim ascrisescriamumaameaaestabilidadedosistemae,tambm,apresentama oportunidade para que o sistema mude.Umacrisepodedurardesdeunspoucosdiasatumaspoucassemanas (no mximo de 6 a 8 semanas) para serem resolvidas para bem ou para mal. Este curto tempo pode ser o suficiente para deixar o ser humano acabar de enfrentar a vidacomsentimentosdeconfiananofuturooutemeroso,inseguroecom sentimentos de incapacidade e confuso. 38 2.1.As crises podem ser prevenidas? Algumascrisespodemserprevenidas,outrasno.Aprevenodecrises consiste,principalmente,emtrabalharcomoserhumano,naaquisiodeum melhorconhecimentodesimesmo,conhecerseusrecursospessoaisouos disponveis.Istoincluiomanejodashabilidadesnecessriasparaenfrentar mudanas,lidarcomosconflitosedesenvolveratitudespositivasperanteos problemas.Oserhumanonuncaestisento,totalmente,desofreralgumacrise. Algumassosbitasesignificativaseoutraschegamdevagar.Todassejam perdas,traumas,desastres,afetamaspessoas,asfamliasecomunidadeseat 38 COLLINS, R. Gary. Aconselhamento cristo. (Traduo Luclia M. P. da Silva). ed. Sculo XXI. So Paulo: Vida Nova, 2004, p. 74/75.52povosinteiros.Aajudasemprechega,pormaisdistantequeoserhumanose encontra dela. Infelizmente a ajuda que chega, em geral, s material. Os aspectos emocionais, mentais e espirituais no so considerados com tanta urgncia quando se trata de um desastre, por exemplo.Se nos dispusermos a aconselhar em voz audvelouemsilnciovememnossamenteperguntassobreassuntosde significado transcendental: a graa, os valores, o sentido da vida ou morte.39

2.1.1.Tipos ou classificao de crises

Existemvriostiposouclassificaesdecrises;cadaestudiosodecrises tem uma forma de classificao.Vamos tentar entender algumas idias para que o nosso trabalho fique mais claro:Existemvriasmaneirasdeclassificarcrises.Amaneiradependedecada especialista e da forma como se interpreta a interao entre o fator desencadeante dacriseeareaodoserhumanodiantedessacrise.Hautoresquepropem doistiposdecrises:ascircunstanciaiseasdedesenvolvimento;outrosautores descrevem-nasemtrstipos:asquesodisparadasbiologicamente,asqueso produzidaspelomeioambiente,e,ascausais.Eaindaemquatro:as circunstanciais(ouinesperadas);asdedesenvolvimento;asestruturaiseasde desvalia podem ser consideradas por outros. J Collins, falou em trs tipos: crises acidentais ou circunstanciais, as de crescimento e as existenciais. Com tantos tipos, vamos tentar entender alguns que so mais comuns: Ascrisescircunstanciaissoacidentais,inesperadas.Apresentamum estressemanifestoeimprevisvel,surgemdecausasexternas,alheiasaoser humano.Porexemplo:doena,guerra,acidente,incndio,etc.Emgeralso resolvidassemintervenoprofissional.Algumasvezesasobrecargareduzas defesas do ser humano e a ajuda se faz necessria. Isto para estimular as pessoas afetadasaexpressaremseussentimentosemumambientedeaceitao, solidariedadeeempatia;e,acompanharaspessoas,famliasegruposemum processomedianteoqualseanaliseoeventodacrise.Acontecimentosquese 39 COLLINS, R. Gary. Aconselhamento cristo. ed.Sculo XXI. (Traduo Luclia M. P. da Silva). So Paulo: Vida Nova, 2004, p. 80.53originam fora da famlia geralmente fortalecem os laos familiares, porque a famlia seuneemtornodelesparasuperaracrise.Porexemplo:perseguies, preconceito racial, desastre natural. J em alguns casos as crises podem surgir de fatosinternos,taiscomo:suicdio,estupro,doenagraveoumorterepentina. Nestes casos a crise mais forte e pode provocar o rompimento familiar. Quando a crise leva o ser humano a procurar aconselhamento ele est muito grave. J viveu umadessascrises,pois,empoucotempoperdeufamlia,riquezas,sadee posio social. O casamento ficou abalado e seus amigos perceberam a alterao do emocional dele.Ascrisesdecrescimentosoaquelasqueacontecemnocursodo desenvolvimentonormaldoserhumano.Sovriososexemplosquepodemos citar:chegadadeumfilho;aposentadoria;estudaremoutracidade;mudanade empregooupromoonoemprego.Emtodaselasprecisomeditar,escolhere decidir para amadurecer. Ascrisesestruturaisouexistenciaissorecorrenteseresultamdo agravamento de dinmicas internas da famlia. Surgem de tenses ocultas que no foramresolvidas.Elasprovocaramumrumodiferentedoplanejado,desejadoe esperado.Podemoscitaralgunsexemplos:alcoolismo,violnciadomstica, promoonoservionoalcanada,cursoindefinido,casamentoqueacabouem divrcio, preconceitos dos mais variados. 40 Crises de desvalia. Temos para defini-la uma boa frase de Maldonado que diz: Estascrisessurgemquandoexistemmembrosdisfuncionaisou dependentes, quando a ajuda de que se precisa muito especializada ou difcil de ser substituda, e quando a famlia perde o controle daqueles que dependem dela. 41. Nascrisesdedesvaliahpoucoqueoconselheiropossafazer,exceto evitarqueoadotemcomoalgumqueirprestarajudademaneirailimitada.No sepodeesperarumasoluodefinitivadosproblemas,nemosucessode mudanassignificativas.Ouvircomateno,jdegrandevalia,etambm, respostassincerassobreasdificuldadesdestacriseestimulandoaoserhumano 40 COLLINS, R. Gary. Aconselhamento cristo. (Traduo Luclia M. P. da Silva). ed.Sculo XXI. So Paulo: Vida Nova, 2004, p. 74/77. 41MALDONADOE.Jorge.Criseseperdasnafamlia:Consolandoosquesofrem.(Traduode Carlos Grzybowski). Viosa (MG): Ultimato, 2005, p. 43.54emcriseaexploraralternativasmaisjustasquemanejemmelhoroestadode dependncia. 2.1.2.Como e por que as pessoas reagem s crises? Ossereshumanosaolongodesuasvidassentemalgumtipode insegurana.Muitospassamporansiedadesecrisesqueasdeixam desestruturadas,temporariamente,masconseguetirarproveitodasituao adversa a motivao e a coragem necessria para darem a volta por cima.Umacriseummomentodedecisoquenopodeserevitado.As situaesdecrisespodemseresperadasouinesperadas;reais ou imaginrias ou ainda potenciais. Collins assim se refere a esta situao:As crises representam perigo porque interrompem o curso normal da vida e ameaam esmagar as pessoas atingidas. medida que nos aproximamos da idade adulta, cada um de ns desenvolve vrias tcnicas de resoluo deproblemas,baseadasemnossasexperincias,educaoetraosde personalidade. 42 Hpessoas,porm,quetmumareaomaisequilibrada.Avaliama situaoeprocuramdesenvolverumatcnicapararesolveroproblemaqueseja criativo, socialmente aceitvel e realista, e que alm de ajud-las com a dificuldade que esto enfrentando, seja til em situaes futuras. Collins diz o seguinte: Quandoosmdicosusamapalavracrise,estosereferindoaum momento crucial em que ocorre uma mudana qualquer, quer implique em melhoraerecuperaodopaciente,querleveaodeclnioemorre.Da mesma forma, as crises emocionais e espirituais so momentos de deciso que,inevitavelmente,ocorremnavidadequalquerindivduo.Viver passarporcrises.Atravessarcriseseamadurecer,ouentodeteriorare permanecer na imaturidade. 43 Podemosobservaralgumascaractersticasqueaspessoasapresentam quando vivenciam uma crise de doena terminal em famlia ou com elas mesmas:AnsiedadeOquefazcomquenohajaclarezadospensamentoseas decises podem ser tomadas de forma errada;Desesperana-Nosaberoquefazeresentir-seenvergonhadoporno conseguir ser mais autoconfiante; 42 COLINS, R. GARY. Aconselhamento Cristo. (Traduo Luclia M. P. da Silva). ed. Sculo XXI. So Paulo: Vida Nova, 2004, p.74.43 COLLINS, 2004, p. 75. 55DependnciadosoutrosAculpaporserdependenteeincapazdetomar decises. Existem muitas outras caractersticasquevariamdeacordo com a pessoa e a intensidade da crise vivenciada. 2.1.3.Situaes e seqncias de crises Ascrisesnochegamsmelhoreshoras.Nopodemosprev-lasem nosso calendrio. Elas acontecem. Vejamos o que nos diz Donald E.Price: Aspessoasnoprecisamdeajudaapenasporcausadeperdasque tiveramdeenfrentar,mastambmparalidarcomasconseqnciasdas perdas. As crises podem piorar e se expandir a exemplo dos incndios. 44. Humadistinoentrecriseeproblema.Nemtodososproblemasso crises.Oserhumano,emgeral,noconseguediferenciarseuproblemadeuma criseequerateno.Seoserhumanoacreditaqueseuproblemacrtico,deve sertratadocomosefosseumacrise,pelo