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ACOPLADORES DE FIBRA ÓPTICA
Jorge André Wan
DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ENGENHARIA
ELECTROTÉCNICA E DE COMPUTADORES
Júri:
Presidente: Prof. Doutor Fernando Duarte Nunes
Orientador:Prof. Doutor António Luís Campos da Silva Topa
Vogal: Prof. Doutor Manuel Ventura Guerreiro das Neves
6 de Junho de 2013
Para os meus avós,
com amor e carinho.
ii
Agradecimentos
Gostaria de expressar o meu agradecimento a todos aqueles que me ajudaram a concretizar
esta dissertação que a seguir apresento. Na impossibilidade de enunciar aqui todas as pes-
soas, gostaria de salientar pelo menos algumas delas.
Ao Professor Doutor António Topa agradeço, para além da sua permanente disponibili-
dade, o modo como me apoiou durante todo o percurso na realização desta dissertação. A
sua contribuição foi fundamental.
À minha família, em especial aos meus pais, por todo o apoio e carinho com que partici-
param directa e indirectamente ao longo do meu percurso académico.
À minha namorada, Ângela Fonte, pelo apoio e força.
Aos meus amigos dentro e fora do Instituto Superior Técnico, em especial aos meus colegas
de dissertação, Ana Cabete e Gonçalo Amaral, pelo apoio e ajuda disponibilizada. Ao Ricardo
Maurício, que me acompanhou no último mês a finalizar esta dissertação. E a todos aqueles
que conheci ao longo do curso pelos momentos passados juntos.
iv
Resumo
Na presente dissertação serão abordados alguns dos aspectos associados ao sistemas de co-
municação óptica. Numa primeira fase será analisada a propagação de impulsos em regime
linear e em regime não-linear. Em regime linear, será estudada a propagação de um impulso
gaussiano ao longo de uma fibra óptica, bem como as influências do efeito da Dispersão de
Velocidade de Grupo (DVG) e do parâmetro de chirp. Em regime não-linear, será estudada a
propagação do solitão fundamental e os efeitos de não-linearidade.
Na fase seguinte será feita uma breve introdução à teoria do acoplamento modal, onde
serão analisados dois guias ópticos paralelos de forma a estudar o acoplamento codireccional
e acoplamento contradireccional.
Posto isto, será estudada a comutação fotónica em regime linear e em regime não-linear.
Nesta parte serão identificados os coeficientes de transmissão, as matrizes de acoplamento e
o comportamento desses coeficientes para um acoplador half beat. Por último, será estudada a
influência da dispersão intermodal na comutação de solitões.
Palavras-Chave
Fibra Óptica, Chirp, Solitões, Comutação Fotónica, Acopladores Direccionais, Regime Linear,
Regime Não-Linear
vi
Abstract
In this dissertation, some aspects associated to the optical communication systems will be
addressed. In the first stage, the propagation of pulses in linear regime and nonlinear regime
will be analysed. In the linear regime, the propagation of a gaussian pulse through an optical
fiber, as well as the influences of the Group Velocity Dispersion (GVD) and the chirp parameter
will be studied . In the nonlinear regime, the propagation of the fundamental soliton and the
effects of nonlinearity will be studied.
In the following stage, a brief introduction to the coupled mode theory will be presented,
and two parallel wave guides will be analysed in order to study the codireccional and the
contradireccional couplings.
Hereupon, the photonics switching in the linear and nonlinear regimes will be studied.
In this part, the transmission coefficients, the coupling matrices and the behaviour of these
coefficients for an half beat coupler will be identified. Finally, the influence of the intermodal
dispersion on soliton switching will be studied.
Key words
Optical Fiber, Chirp, Solitons, Photonic Switching, Directional Coupler, Linear Regime,
Nonlinear Regime
viii
Índice
1 Introdução 1
1.1 Enquadramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Perspectiva Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Objectivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Estrutura da Tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.5 Contribuições Principais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2 Propagação de Impulsos 9
2.1 Propagação de impulsos em regime linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.1.1 Equação de propagação em regime linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.1.2 Resolução numérica da propagação de impulsos em regime linear . . . . 14
2.1.3 Simulação do impulso gaussiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1.4 Débito Binário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Propagação de impulsos em regime não-linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.1 Efeito óptico não-linear de Kerr . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.2 Auto-modulação de fase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2.3 Equação de propagação em regime não-linear . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.4 Solitão fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.2.5 Simulação numérica da propagação de impulsos em regime não-linear . 31
x
3 Teoria do Acoplamento Modal 35
3.1 Introdução ao acoplamento modal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2 Supermodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.3 Acoplamento Codireccional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4 Acoplamento Contradireccional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4 Comutação Óptica 53
4.1 Agregados lineares de fibras ópticas idênticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.1.1 Agregado de 2 fibras ópticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.1.2 Agregado de 3 fibras ópticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2 Comutação fotónica em regime linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.3 Comutação fotónica em regime não-linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.4 Acoplador no domínio da frequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.5 Comutação de solitões com diferentes comprimentos de onda . . . . . . . . . . . 71
4.6 Influência da dispersão intermodal na comutação de solitões em diferentes com-
primentos de onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
5 Conclusão 77
5.1 Conclusões principais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.2 Perspectivas de trabalho futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
xi
Lista de Figuras
2.1 Impulso gaussiano à entrada e saída da fibra óptica (C=0). . . . . . . . . . . . . . 18
2.2 Evolução do impulso gaussiano ao longo da fibra óptica (C=0). . . . . . . . . . . 18
2.3 Impulsos gaussianos à entrada e saída da fibra óptica para C=2 (Esquerda) e
C=-2 (Direita). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.4 Evolução dos impulsos gaussianos ao longo da fibra óptica para C=2 (Esquerda)
e C=-2 (Direita). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.5 Evolução espacial da largura dos impulsos na zona de dispersão anómala em
que β2 < 0 para três valores diferentes de chirp. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.6 Influência do chirp no produto B2L. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.7 Propagação de solitão fundamental sem perdas na fibra óptica. . . . . . . . . . . 33
3.1 Acoplamento entre dois rib waveguides. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2 Acoplamento codireccional com θ = π/2. P1(z) é representada pela curva azul
e P2(z) pela curva verde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.3 Acoplamento codireccional com θ = π/3. P1(z) é representada pela curva azul
e P2(z) pela curva verde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.4 Andamento das potências transportadas por cada guia. Considera-se ∆ = 0 e
κL = 1. P1(z) é representada pela curva a azul e P2(z) pela curva a verde. . . . . 49
xii
3.5 Variação da reflectividade com o parâmetro normalizado de sincronismo para
κL = 3. A curva a vermelho é a envolvente RE(∆). . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.1 Agregado de duas fibras ópticas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2 Coeficiente de transmissão para a frequência da portadora. . . . . . . . . . . . . 57
4.3 Coeficientes de transmissão para s = 3 (à Esquerda) e s = 6 (à Direita). . . . . . 58
4.4 Coeficientes de transmissão para s = 9 (à Esquerda) e s = 12 (à Direita). . . . . . 58
4.5 Agregado de três fibras ópticas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.6 Coeficiente de transmissão em função de LC/LB para um agregado linear de
três fibras ópticas idênticas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.7 Representação do sinal na fibra 1 (à Esquerda) e na fibra 2 (à Direita) . . . . . . 65
4.8 Representação do sinal na fibra 1 (à Esquerda) e na fibra 2 (à Direita) - Vista
Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.9 Funções de transferência t(λ) e tx(λ) para fibra de dois núcleos idênticos . . . . 70
4.10 Coeficiente de transmissão T em função da potência normalizada do pico de
entrada p para λ = 1.52µm, λ = 1.55µm e λ = 1.58µm com IMD. . . . . . . . . . 71
4.11 Coeficiente de transmissão T em função da potência normalizada do pico de
entrada p para λ = 1.52µm e λ = 1.58µm com e sem IMD. . . . . . . . . . . . . . 72
4.12 Coeficiente de transmissão T em função do comprimento de onda λ para p = 3
e p = 9 contabilizando a IMD. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.13 Sinal de saída |u1| em regime não-linear com IMD. . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.14 Sinal de saída |u1| em regime não-linear sem IMD. . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.15 Sinal de saída |u1| em regime linear sem IMD (ocorre uma comutação perfeita
do sinal não existindo sinal à saída da fibra 1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.16 Sinal de saída |u1| com IMD (para as frequências adjacentes à frequência central
é possível observar que existe ainda muita energia na fibra 1). . . . . . . . . . . . 76
xiii
Lista de Simbolos
α Coeficiente de atenuação
β Constante de propagação linear
β1 Inverso da velocidade de grupo
β2 Coeficiente de DVG
ε Constante dieléctrica relativa
η Coeficiente de alargamento
∆ Contraste dieléctrico
Γ Coeficiente de atenuação de potência normalizado, factor de reflexão
γ Parâmetro de não-linearidade
κ Coeficiente de dispersão de ordem superior, coeficiente de acoplamento normalizado
κij Coeficiente de acoplamento ij
λ Comprimento de onda
µ Coeficiente de dispersão normalizado de segunda ordem
νg Velocidade de grupo
Ω Desvio de frequência em relação à portadora
ω Frequência angular
ω0 Frequência angular da portadora
C Matriz de acoplamento do sistema
xiv
K(ω) Matriz de acoplamento
n Índice de refracção modal
T Matriz de transferência
ρ Distância entre eixos das fibras ópticas
σ Largura efectiva do impulso
σ0 Largura inicial dos impulsos
σω Largura espectral efectiva
τ Variável de tempo normalizada
τg Atraso de grupo
τ0 Tempo característico da duração do impulso
ξ Frequência normalizada
ζ Variável de espaço normalizada
Ae f f Área efectiva da fibra óptica
B Débito binário
B(z, t) Distribuição longitudinal do campo eléctrico
B2L Figura de mérito
C(ω) Coeficiente de acoplamento, parâmetro de chirp
Dτ Operador de dispersão no domínio temporal
Dξ Operador de dispersão no domínio espacial
E Campo eléctrico
E∗ Campo fictício induzido
F(x, y) Função elementar associado ao modo fundamental
I Intensidade óptica
k0 Constante de propagação no vácuo
K0 Função de Bessel modificada de segunda espécie de ordem zero
xv
K1 Função de Bessel modificada de segunda espécie de ordem um
L Comprimento da fibra óptica
LC Comprimento de acoplamento
LB Comprimento full beat
LD Comprimento de dispersão
LH Comprimento half beat
Le f f Comprimento efectivo da fibra óptica
LP01 Modo fundamental de propagação
n1 Índice de refracção do núcleo
n2 Índice de refracção da bainha
P Potência
Pin Potência à entrada da fibra óptica
R Reflectividade
Sz Distância de acoplamento normalizada
t Tempo, coeficiente de auto-transmissão
tx Coeficiente de transmissão cruzada
TB Período temporal de um bit
u Constante de propagação transversal no núcleo, envolvente do impulso
V Largura espectral efectiva normalizada
w Constante de atenuação na bainha
w0 Spot size
y∗ Admitância apropriada
xvi
Lista de Acrónimos
AMF Auto-modulação de Fase
EDFA Erbium Doped Fiber Amplifier
DVG Dispersão de Velocidade de Grupo
FFT Fast Fourier Transform
NLS Nonlinear Schrödinger
IFFT Inverse Fast Fourier Transform
IMD Intermodal Dispersion
IST Inverse Scattering Transform
SSFM Split Step Fourier Method
TAT Transalantic Telecommunication Cable
TPC Trans Pacific Cable
WDM Wavelength Division Multiplexing
XPM Modulação de Fase Cruzada
xviii
Capítulo 1
Introdução
1.1 Enquadramento
Nos dias que correm, as telecomunicações têm vindo a conquistar o seu espaço na sociedade
em que vivemos, desempenhando um papel cada vez mais importante, capaz de influenciar
e modificar, padronizando o estilo e o modo de vida actual. Essas alterações não são apenas
visíveis na sociedade comum, mas também, nas empresas que procuram cada vez mais so-
luções tecnológicas de comunicação, capazes de fazer alterar as bases de competitividade e
estratégias das empresas em todo o mundo.
Na última década, a procura de recursos digitais tais como, telemóvel, televisão e Internet
cresceu de tal maneira, que se tornou necessário um aumento na eficiência de transmissão de
dados de informação. A fibra óptica veio a tornar-se assim, uma forte aposta para a resolução
deste problema.
Uma fibra óptica é composta basicamente de material dieléctrico (em geral, sílica ou plás-
tico) com capacidade de transmitir luz, segundo uma longa estrutura cilíndrica, transparente
e flexível, de dimensões microscópicas comparáveis às de um fio de cabelo [13]. Uma fibra
óptica pode apresentar diâmetros variáveis, dependendo da aplicação, indo desde diâmetros
1
Capítulo 1. Introdução 2
muito pequenos, da ordem de micrômetros até vários milímetros [14].
Como todas as formas de comunicação, um sistema em fibra óptica para ser implementado
necessita de uma rede física e, esta última dividi-se essencialmente em três partes: geração,
transmissão e recepção. O sinal gerado através de lasers semicondutores, é colocado num
meio de comunicação, troço de cabo de fibra óptica, que é responsável pela transmissão da
informação, que podem ter curtas ou longas distâncias. Dependendo da distância, pode existir
a necessidade de usar amplificadores de sinal para regenerar o sinal degradado, fazendo com
que a informação seja recolhida correctamente pelo receptor no fim da ligação.
A presente dissertação aborda essencialmente a parte da transmissão e comutação. Será
estudado o comportamento de sinal ao longo da sua propagação pela fibra óptica e, também,
a comutação fotónica de sinal entre fibras ópticas.
Capítulo 1. Introdução 3
1.2 Perspectiva Histórica
Os primórdios da área da tecnologia óptica demonstraram ser possível direccionar a luz atra-
vés de refracção, como por exemplo Daniel Colladon e Jacques Babinet em 1840 e, John Tyndall
em 1854, realizando experiências de condução de luz através da água. Mais tarde, em 1880,
Alexander Graham Bell inventou o photophone, que permitia a transmissão de um sinal de voz
através de um feixe de luz até uma distância de cerca de 200 metros [11]. No mesmo ano, Wil-
liam Wheeling desenvolveu um método capaz de distribuir a luz em várias direcções usando
um conjunto de tubos espelhados, denominado de canal de luz. Esses estudos abriram portas
para desenvolvimentos mais profundos na área da comunicação óptica, mas só na segunda
metade do século XX é que a tecnologia óptica voltaria a sofrer significativos progressos.
No início da década de 1950, uma parceria entre Brian O’brien e Narinder Kapany resultou
no desenvolvimento de um sistema de transmissão de imagens que utilizava, pela primeira
vez, fibras de vidro [12].
Em 1956, definiu-se a fibra óptica, como um meio físico de transmissão de informação que
se propaga sob a forma de impulsos de luz.
Em 1957, Gordon Gould deu um enorme contributo à tecnologia óptica ao introduzir o
Laser (Light Amplification by the Stimulated Emission of Radiation), descrevendo este dispositivo
como uma fonte intensa de luz que produz radiação electromagnética monocromática e de
fases bem definidas.
Os primeiros testes efectuados à comunicação por fibras ópticas não tiveram resultados
favoráveis devido às elevadas perdas ópticas associadas à transmissão dos impulsos de luz,
limitando desta forma, as distâncias de transmissão. Mais tarde, com a adição da bainha
permitiu uma maior contenção de luz no interior da fibra, permitindo assim, reduzir conside-
ravelmente as perdas.
Capítulo 1. Introdução 4
Charles Kao e George Hockman propuseram, em 1966, a utilização de fibras ópticas como
meio ideal de transmissão do sinal óptico, caso este obtivesse atenuação inferior a 20 dB/km.
Contudo, os valores obtidos para as perdas foram da ordem dos 1000 dB/km, não sendo por
isso competitivas em relação aos outros meios de transmissão [12]. Mais tarde, viria a verificar-
se que as impurezas contidas no vidro como sendo os principais causadores no aparecimento
das perdas.
Estes resultados levaram Robert Maurer, Donald Keck e Peter Schultz a produzirem, em
1979, fibras ópticas com atenuação inferior 20 dB/km, tornando assim, viável a utilização de
fibra ópticas em sistemas de comunicação.
Nas últimas décadas, os sucessivos desenvolvimentos fizeram emergir várias gerações de
sistemas de comunicação por fibras ópticas. A primeira geração teve início na década de
1980, tratava-se de fibras multimodais a operar em cumprimentos de onda entre 800 e 900 nm
(primeira janela), com taxa de transferência de 45 MB/s e espaçamento entre repetidores de
cerca de 10 km.
Na segunda geração, as fibras operavam em cumprimentos de onda entre 1260 e 1360 nm
(segunda janela), com atenuações inferiores a 1 dB/km. Esta geração utilizava fibras monomo-
dais, atingindo taxas de transferência da ordem dos 1.7 GB/s e espaçamento entre repetidores
de cerca de 50 km. Em 1988, foi instalado o primeiro cabo submarino com fibra óptica, TAT-8
(Transalantic Telecommunication Cable). Utilizava lasers semicondutores multimodais a operar a
1300 nm, taxa de transferência de 0.28 GB/s e espaçamento entre repetidores de 70 km.
A terceira geração surge em 1990, com os cabos submarinos TAT-9, TPC-4 (Trans Pacific
Cable) e TAT-10/11 a operarem em cumprimentos de onda entre 1500 e 1600 nm (terceira ja-
nela), com taxas de transferência até 10GB/s. O grande problema era o uso de repetidores
3R (Rescaling Reshaping Retiming), repetidores espaçados entre 60 a 70 km. O principal desta-
que da terceira geração foi o aparecimento dos amplificadores ópticos, permitindo amplificar
Capítulo 1. Introdução 5
directamente o sinal sem recurso a electrónica adicional, colocando finalmente o sistemas de
comunicação óptica na era fotónica. Destes amplificadores destacam-se as fibras amplificado-
ras dopadas, as EDFAs (Erbium Doped Fiber Amplifiers) [1], que garantem maior transparência
dos sistemas e permitem o aumento do espaçamento dos repetidores para 60 a 100 km.
A quarta geração tem como principais características o facto de trabalhar no domínio óp-
tico, substituindo os anteriores regeneradores, e nela ser aplicada a multiplexagem no compri-
mento de onda (WDM - Wavelength Division Multiplexing) [1]. Os primeiros cabos submarinos
desta geração, TPC-5 e TAT-12/13, apareceram em 1996, utilizavam EDFAs e operavam a 1550
nm atingindo taxas de transferência 5.30 GB/s. Em 2000, o TPC-6 atingia taxa de transferência
de 100 GB/s. A utilização de técnicas de WDM permite aos sistemas de comunicação óptica
de hoje em dia a atingir taxas de transferência superiores a 1 TB/s.
Uma vez que o problema das perdas foi corrigido com a introdução das fibras amplifica-
doras, a grande questão que se coloca na quinta geração é como compensar a dispersão e as
não-linearidades em sistemas transoceânicos, sistemas com distâncias da ordem das dezenas
de milhares de quilómetros, ou em sistemas terrestres de muito alto débito. Várias técnicas
têm sido desenvolvidas para solucionar estes problemas, como por exemplo: sistemas de pré-
compensação da dispersão, sistemas de pós-compensação da dispersão e gestão da dispersão.
Embora permitindo compensar a dispersão, estas técnicas não compensam os efeitos não-
lineares, que em sistemas de longa distância e elevados ritmos de transmissão podem assumir
um papel dominante na degradação do desempenho dos sistemas de comunicação ópticos.
Uma técnica que permite compensar simultaneamente os efeitos não-lineares e a dispersão
é a transmissão de impulsos do tipo solitão. A utilização de técnicas conjuntas de solitões e
WDM apresentam um potencial considerável e são os principais candidatos para o desenvol-
vimento e aparecimento comercial de sistemas a operarem a 10 e 40 Gbit/s [15]. As fibras
ópticas juntamente com a fotónica, vieram revolucionar os sistemas de comunicação óptica.
Capítulo 1. Introdução 6
1.3 Objectivos
A presente dissertação tem como base o estudo de sistemas de comunicação por fibra óp-
tica. Será analisada a propagação de um sinal pela fibra óptica e obter as equações para a
propagação de impulsos em regime linear e em regime não-linear.
A propagação de um sinal em regime linear será estudada com base na equação fun-
damental de propagação de um impulso, onde é feita uma análise numérica que permite a
simulação do seu comportamento ao longo da fibra. Será estudada também, a influência do
parâmetro de chirp bem como o seu efeito no débito binário.
Em regime não-linear, será deduzida a equação de propagação neste regime, bem como a
relação entre a Auto-Modulação de Fase (AMF) e a DVG que permite a propagação de solitões
pela fibra óptica. É usado o Split Step Fourier Method (SSFM) como o método para a análise
numérica na obtenção dos resultados sobre a propagação de solitões ao longo da fibra.
A teoria do Acoplamento Modal também fará parte desta dissertação, onde é feita uma
análise a partir de dois guias ópticos tridimensionais, paralelos entre si. O objectivo é estudar
o acoplamento modal que se faz sentir quando os dois guias se aproximam, interagindo e
condicionando a propagação dos modos em cada um dos guias. Será estudado também,
o acoplamento codireccional e acoplamento contradireccional e as respectivas respostas do
andamento das potências transportadas por cada um dos guias.
Por último será analisada a comutação fotónica em sistemas de comunicação por fibra
óptica. Serão identificados os coeficientes de transmissão do acoplamento de duas e de três
fibras através da matriz de acoplamento, sendo observado o comportamento dos coeficientes
para um acoplador half beat. Será estudada a comutação em regime linear e em regime não-
linear. Será abordada, também, a influência da dispersão intermodal na comutação de solitões.
Capítulo 1. Introdução 7
1.4 Estrutura da Tese
Neste primeiro capítulo é feito o enquadramento ao tema e a perspectiva histórica, descre-
vendo o contexto em que se insere o estudo. São identificados os principais objectivos e as
contribuições para esta dissertação.
No segundo capítulo é abordada o tema da propagação de impulsos em regime linear e
em regime não-linear. Em regime linear, é formulada a equação de propagação de impulsos e
deduzido o modelo com o qual é possível simular o comportamento de um impulso gaussiano
influenciado pelo fenómeno de DVG ao longo de uma fibra. Em regime não-linear, é deduzida
a equação de propagação em regime não-linear e descrito o efeito óptico de Kerr. Através do
SSFM, é simulado o comportamento do solitão fundamental a propagar-se pela fibra.
No terceiro capítulo é analisada a teoria do acoplamento modal a partir de dois guias
ópticos tridimensionais quando estes dois se aproximam. É estudado também, o acoplamento
codireccional e acoplamento contradireccional e as respectivas respostas do andamento das
potências transportadas por cada guia.
No quarto capítulo é estudada a comutação de impulsos a propagarem-se em fibras de
núcleos idênticos e paralelos. São calculados os coeficientes de transmissão entre duas e três
fibras em regime linear. É também abordada a comutação fotónica em regime não-linear,
sendo estudada uma forma alternativa de cálculo dos coeficientes de transmissão. Também é
estudada a forma como a dispersão intermodal afecta a comutação de solitões.
O quinto capítulo é dedicado à apresentação das conclusões e das perspectivas de trabalho
futuro.
Capítulo 1. Introdução 8
1.5 Contribuições Principais
As principais contribuições ao nível dos sistemas de comunicação por fibra óptica apresen-
tadas nesta dissertação são as seguintes: Estudo do comportamento de um impulso sobre o
efeito do fenómeno da dispersão temporal; Análise do débito binário dependendo do valor do
parâmetro chirp; Estudo sobre o acoplamento codireccional e acoplamento contradireccional;
Dedução dos coeficientes de acoplamento e seu estudo; Caracterização da comutação fotónica
em regime linear e não linear; Estudo da influência da dispersão intermodal na comutação de
solitões.
Capítulo 2
Propagação de Impulsos
2.1 Propagação de impulsos em regime linear
A dispersão é um dos factores limitativos no desempenho das comunicações ópticas, pois é
capaz de impor um limite à distância e ao ritmo máximo de transmissão de informação numa
fibra óptica. Os mecanismos de dispersão são responsáveis por causar o alargamento dos
sinais ópticos à medida que estes se propagam na fibra. Alargamento esse, faz com que os
sinais que se propaguem por longas distâncias, se interfiram com outros sinais, provocando
perdas de informação. A este fenómeno dá-se o nome de Interferência Inter-simbólica.
Por forma a estudar o efeito da dispersão, será estudada a propagação de um impulso
numa fibra óptica monomodal em regime linear.
2.1.1 Equação de propagação em regime linear
Seja A(0, t) um impulso à entrada z = 0 da fibra óptica, modulando uma portadora de
frequência angular ω0. Supondo que o campo eléctrico está polarizado linearmente segundo
9
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 10
x, tem-se então
E(x, y, 0, t) = xE(x, y, 0, t), (2.1)
com
E(x, y, 0, t) = E0F(x, y)B(0, t), (2.2)
B(0, t) = A(0, t)exp(−iω0t). (2.3)
Como o regime é monomodal, F(x, y) representa a variação transversal do modo funda-
mental LP01. Sendo r, a coordenada transversal, com r2 = x2 + y2 para sistema de coordenadas
cilíndricas, tem-se
F(r) =
J0(
ra
u), r ≤ a
J0(u)K0(w)
K0(ra
w), r ≥ a(2.4)
onde a é o raio do núcleo da fibra óptica. Na Eq. (2.4) tomaram-se as seguintes considerações:
• uma constante de propagação transversal u no núcleo;
• uma constante de atenuação w na bainha.
Tanto u como w são valores normalizados e tais que
u2 + w2 = ν2, (2.5)
ν = k0a√
n21 − n2
2, (2.6)
onde n1 é o índice de refracção do núcleo, n2 o índice de refracção da bainha e k0 = ω/c é
a constante de propagação no vácuo. É de notar que na Eq. (2.4) para r = 0 e r = a tem-se
F = 1 e F = J0(u), respectivamente. Assim E0 é a amplitude do campo eléctrico em r = 0.
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 11
Para calcular o campo eléctrico num ponto z > 0, é necessário começar por calcular a
transformada de Fourier do campo em z = 0. Tem-se
A(z, ω) =
∞∫−∞
A(z, t)exp(iωt)dt, (2.7)
B(z, ω) =
∞∫−∞
B(z, t)exp(iωt)dt, (2.8)
onde as suas transformadas inversas são
A(z, t) =1
2π
∞∫−∞
A(z, ω)exp(−iωt)dω, (2.9)
A(z, t) =1
2π
∞∫−∞
B(z, ω)exp(−iωt)dω, (2.10)
obtém-se das Eq. (2.2) e (2.3)
E(x, y, 0, ω) = E0F(x, y)B(0, ω), (2.11)
B(0, ω) = A(0, ω−ω0). (2.12)
Sendo β = β(ω) a constante de propagação longitudinal do modo fundamental, tem-se
E(x, y, z, ω) = E0F(x, y)B(z, ω), (2.13)
B(z, ω) = B(0, ω)exp[iβ(ω)z]. (2.14)
Deste modo, num ponto z > 0, o campo eléctrico é dado por
E(x, y, z, t) = xE(x, y, z, t), (2.15)
com
E(x, y, z, t) = E0F(x, y)B(z, t). (2.16)
De notar que a Eq. (2.15) só é válida porque se admite que a fibra óptica mantém a
polarização. Tendo em conta que apenas nos interessa a transmissão da intensidade do campo
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 12
eléctrico e não a sua fase, esta suposição é uma forma de simplificar a notação, sem contudo
implicar a necessidade real de só se utilizarem fibras que mantenham a polarização.
De acordo com a Eq. (2.14), tem-se
B(z, t) =1
2π
∞∫−∞
A(0, ω−ω0)expi[β(ω)z−ωt]dω. (2.17)
Introduzindo o desvio de frequência Ω em relação à portadora, tal que
Ω = ω−ω0, (2.18)
vem
B(z, t) =1
2πexp(−iω0t)
∞∫−∞
A(0, Ω)expi[β(ω0 + Ω)z−Ωt]dΩ. (2.19)
Aplicando à Eq. (2.19) um desenvolvimento de Taylor para simplificar o cálculo, fica então
β(ω0 + Ω) = β0 + ℘(Ω), (2.20)
℘(Ω) =∞
∑m=1
βm
m!Ωm, (2.21)
em que
β0 = β(ω0), (2.22)
pode-se escrever
B(z, t) = A(z, t)exp[i(β0z−ω0t)], (2.23)
A(z, t) =1
2π
∞∫−∞
A(0, Ω)expi[℘(Ω)z−Ωt]dΩ. (2.24)
É de realçar que a função B(z, t) é uma função rapidamente variável no tempo, enquanto
que a função A(z, t) é uma função lentamente variável no tempo. Tem-se |Ω| << ω0 em geral,
pelo que exp(−iΩt) oscila com uma frequência muito menor do que exp(−iω0t).
Os coeficientes βm são dados por
βm =∂mβ
∂ωm
∣∣∣∣ω=ω0
. (2.25)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 13
Em particular, para m = 1 e m = 2 tem se
β1 =1
νg(ω0), (2.26)
β2 = − 1ν2
g(ω0)
∂νg
∂ω
∣∣∣∣∣ω=ω0
, (2.27)
onde
νg =
(∂β
∂ω
)−1
(2.28)
representa a velocidade de grupo e, β2 é o coeficiente da expansão de Taylor da constante de
propagação responsável pela DVG.
As Eq. (2.16) e (2.23) permitem escrever
E(x, y, z, t) = E0F(x, y)A(z, t)exp[i(β0z−ω0t)]. (2.29)
Agora, é necessário calcular A(z, t) a partir de A(0, t)
Am(z, t) =1
2π
∫∞
∞A(0, Ω)Q(z, t; Ω)dΩ (2.30)
em que
Q(z, t; Ω) = exp[℘(Ω)z]exp(−iΩt), (2.31)
resulta da Eq. (2.24) que
∂A∂z
= i∞
∑m=1
βm
m!Am(z, t). (2.32)
No caso de incluir as perdas, deverá escrever-se a Eq. (2.32) da seguinte forma
∂A∂z
= i∞
∑m=1
βm
m!Am(z, t)− α
2A(z, t). (2.33)
onde α é o coeficiente de atenuação de potência.
Deste modo, obtém-se a equação linear que permite calcular A(z, t) a partir de A(0, t)
∂A∂z
+∞
∑m=1
im−1
m!βm
∂m A∂tm +
α
2A = 0. (2.34)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 14
Em geral, os impulsos são de banda estreita (i.e., |Ω| << ω0), é possivel considerar como
razoável a truncatura
℘(Ω) = β1Ω +12
β2Ω2 +16
β3Ω3 (2.35)
e desprezar todos os restantes termos de ordem superior. Assim, a equação geral descrita
anteriormente reduz-se a
∂A∂z
+ β1∂A∂t
+ i12
β2∂2A∂t2 −
16
β3∂3A∂t3 +
α
2A = 0. (2.36)
No caso de desprezar as perdas, i.e. α = 0, pode-se resumir o cálculo de A(z, t) a partir de
A(0, t) através dos seguintes passos:
1. Calcular A(0, Ω) =∞∫−∞
A(0, t)exp(iΩt)dt;
2. Igualar A(z, Ω) a A(0, Ω)exp[i℘(Ω)z];
3. Calcular A(z, t) =1
2π
∞∫−∞
A(z, Ω)exp(−iΩt)dΩ.
2.1.2 Resolução numérica da propagação de impulsos em regime linear
A resolução numéria da Eq. 2.36 é feita através da Fast Fourie Transform (FFT) e da Inverse
Fast Fourier Transform (IFFT), de forma a verificar o comportamento dos impulsos numa fibra
óptica monomodal.
Desprezando os efeitos dispersivos, tem-se βm = 0 para m ≥ 2. A Eq. (2.34) fica
∂A∂z
= −β1∂A∂t
. (2.37)
No domínio das transformadas de Fourier esta equação pode ser escrita na forma
∂A∂z
= iωβ1A(z, ω), (2.38)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 15
que tem como solução
A(z, ω) = A(0, ω)exp(iωβ1z). (2.39)
Assim, tem-se
A(z, t) =1
2π
∞∫−∞
A(0, ω)exp[−iω(t− β1z)]dt (2.40)
ou seja
A(z, t) = A(0, t− β1z) (2.41)
Consegue-se concluir através da Eq. (2.41), que na ausência de efeitos dispersivos, o impulso
propaga-se sem distorção com uma velocidade de grupo
νg =1β1
. (2.42)
Porém, o desprezo de β2 e β3 não é aceitável na maioria das situações práticas.
Se definir o atraso de grupo como
τg = β1z =z
νg(ω0), (2.43)
a Eq. (2.41) pode ser reescrita na seguinte forma
A(z, t) = A(0, t− τg). (2.44)
É usual definir o comprimento de dispersão LD como
LD =τ2
0|β2|
, (2.45)
onde τ0 representa um tempo característico da duração do impulso. E, apenas se pode dizer
que os efeitos dispersivos são desprezáveis quando LD > L.
Então, são definidas as seguintes variáveis normalizadas para o espaço e para o tempo:
ζ =z
LD, (2.46)
τ =t− β1z
τ0. (2.47)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 16
Passando das variáveis reais para as normalizadas, fica
∂
∂z=
1LD
∂
∂ζ− β1
τ0
∂
∂τ, (2.48)
∂
∂t=
1τ0
∂
∂τ. (2.49)
Desta forma, no domínio destas duas novas variáveis, a Eq. (2.36) assume num formato mais
simples
∂A∂ζ
+ i12
sgn(β2)∂2A∂τ2 − κ
∂3A∂τ3 = 0 (2.50)
em que
β2 = |β2|sgn(β2) (2.51)
e
κ =β3
6|β2|τ0. (2.52)
Como se vê, o coeficiente de dispersão de ordem superior κ, não só depende da relação entre
β2 e β3, como também depende da largura τ0 do impulso.
Para resolver numericamente a Eq. (2.50), introduz-se o par de Fourier
A(ζ, ξ) =
∞∫−∞
A(ζ, τ)exp(iξτ)dτ, (2.53)
A(ζ, τ) =1
2π
∞∫−∞
A(ζ, ξ)exp(−iξτ)dξ, (2.54)
onde ξ é uma frequência normalizada tal que
ξ = Ωτ0 = (ω−ω0)τ0. (2.55)
Então, no domínio da frequência normalizada, pode-se escrever a Eq. (2.50) da seguinte
forma
∂A∂ζ
= i[
12
sgn(β2)ξ2 + κξ3
]A(ζ, ξ) (2.56)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 17
cuja solução é
A(ζ, ξ) = A(0, ξ)exp
i[
12
sgn(β2)ξ2 + κξ3
]ζ
. (2.57)
Deste modo, a resolução numérica da Eq. (2.50) resume-se nos seguintes passos
1. Calcular A(0, ξ) = FFT[A(0, τ)];
2. Calcular A(ζ, ξ) pela Eq. (2.57) ;
3. Calcular A(ζ, τ) = IFFT[A(ζ, ξ)].
2.1.3 Simulação do impulso gaussiano
Considere-se a seguinte equação geral de um impulso supergaussiano
A(0, t) = exp
[−1 + iC
2
(tt0
)2m]
, (2.58)
onde C é o parâmetro de chirp do impulso, i.e., parâmetro que quantifica o desvio de frequên-
cia instantânea da portadora imposto pelo modulador - laser semicondutor - e m é a ordem
da gaussiana.
Se tomarmos o valor m = 1, estamos na presença de um impulso gaussiano.
Para um impulso gaussiano onde não há efeito de chirp, i. e., C = 0, a expressão fica
A(0, t) = exp[−1
2
(tt0
2)]. (2.59)
As figuras seguintes mostram o impulso gaussiano à entrada e à saída da fibra óptica, bem
como a sua evolução ao longo desta.
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 18
Na ausência do efeito de chirp, C = 0
−30 −20 −10 0 10 20 300
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1entrada − azul saida − vermelho
Tempo
Am
plit
ud
e
Figura 2.1: Impulso gaussiano à entrada e saída da fibra óptica (C=0).
Figura 2.2: Evolução do impulso gaussiano ao longo da fibra óptica (C=0).
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 19
Com efeito de chirp C = 2 e C = −2
−30 −20 −10 0 10 20 300
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1entrada − azul saida − vermelho
Tempo
Am
plit
ud
e
−30 −20 −10 0 10 20 300
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1entrada − azul saida − vermelho
Tempo
Am
plit
ud
e
Figura 2.3: Impulsos gaussianos à entrada e saída da fibra óptica para C=2 (Esquerda) e C=-2 (Direita).
Figura 2.4: Evolução dos impulsos gaussianos ao longo da fibra óptica para C=2 (Esquerda) e C=-2
(Direita).
Verifica-se que com chirp positivo no início da ligação, o alargamento do impulso vai ser
contrariado numa fase inicial, no entanto o seu efeito é limitado já que só pode ser introduzido
à entrada da fibra, terminando quando é alcançado o estreitamento máximo do impulso. A
partir daí, volta-se a ter um domínio do efeito dispersivo que vai provocar um alargamento
do impulso. Na presença do chirp negativo, em vez de compensar a dispersão, este reforça o
aumento da largura da sua componente espectral, alcançando piores resultados.
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 20
2.1.4 Débito Binário
O débito de transmissão digital (bit rate) encontra-se limitado pela interferência inter-simbólica
que, por sua vez, está condicionado pelo alargamento dos impulsos provocado pela dispersão.
O alargamento dos impulsos depende de vários factores: (i) a largura espectral da fonte;
(ii) a largura inicial dos impulsos; (iii) a dispersão - nomeadamente a DVG.
Começando por introduzir os momentos
〈tq〉 =
∞∫−∞
tq|A(z, t)|2dt
∞∫−∞|A(z, t)|2dt
(2.60)
em que A(z, t) representa a envolvente do impulso que se propaga na fibra óptica, que é
definido por
Ez(r, z, t) = E0F(r)A(z, t)exp[i(β0z−ω0t)]. (2.61)
Definiu-se a largura efectiva dos impulsos como sendo
σ(z) =√〈t2〉 − 〈t〉2, (2.62)
sendo σ0, a largura inicial dos impulsos.
Designa-se por σω, a largura espectral efectiva da fonte. A sua largura espectral normali-
zada é dada por
V = 2σωσ0. (2.63)
Note-se que, como
∆ω =
∣∣∣∣dω
dλ
∣∣∣∣∆λ =2πcλ2 ∆λ, (2.64)
será
σω =2πcλ2 σλ. (2.65)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 21
Para obter a estimativa do alargamento dos impulsos gaussianos, é utilizada a seguinte
expressão
(σ
σ0
)2
=
(1 + C
β2L2σ2
0
)2
+ (1 + V2)
(β2L2σ2
0
)2
+ (1 + C2 + V2)2 12
(β3L4σ3
0
)2
, (2.66)
sendo L , o comprimento da fibra óptica.
Uma forma prática usada para evitar a interferência inter-simbólica consiste em fazer
σ ≤ TB
4=
14B
⇒ B ≤ B0 =1
4σ(2.67)
onde TB é o período temporal atribuído a um bit e B = 1/TB representa o débito binário.
Desprezando o efeito da dispersão de ordem superior, a Eq. (2.66) pode reduzir-se a
(σ
σ0
)2
=
(1 + C
β2L2σ2
0
)2
+
(β2L2σ2
0
)2
(2.68)
desde que se considere V 1 (laser monomodal com pequena largura espectral).
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 20
1
2
3
4
5
6
Evolucao da largura dos impulsos com a distancia: sgn (β2) = − 1
ζ = z / LD
η
C = − 2
C = 0
C = 2
Figura 2.5: Evolução espacial da largura dos impulsos na zona de dispersão anómala em que β2 < 0
para três valores diferentes de chirp.
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 22
Assim, se se admitir um coeficiente de alargamento
η =σ
σ0(2.69)
cujo débito binário é
B =1
2γ0σ0=
12q0τ0
(2.70)
com γ0 =√
2q0 e τ0 =√
2σ0, onde q0 representa a separação entre impulsos vizinhos em
unidades normalizadas. Então, ao definir
x =|β2|L2σ2
0= 2γ2
0|β2|(B2L), (2.71)
pode-se resolver a Eq. (2.68) em ordem a x
(1 + C2)x2 + 2sgn(β2)Cx + (1− η2) = 0 ⇒ x =−sgn(β2)C +
√η2(1 + C2)− 1
1 + C2 .
(2.72)
Donde se infere que a figura de mérito é dada por
B2L =−C + sgn(β2)
√η2(1 + C2)− 1
2γ20β2(1 + C2)
. (2.73)
−6 −4 −2 0 2 4 60
2
4
6
8
10
12
14
16
18x 10
24 Influência do parâmetro C de «chirp» no produto B0
2 L
C
B02 L
β
2 = − 20 ps
2/km
β2 = 20 ps
2/km
Figura 2.6: Influência do chirp no produto B2L.
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 23
2.2 Propagação de impulsos em regime não-linear
Para além dos efeitos da dispersão, os impulsos que se propagam numa fibra óptica estão
ainda sujeitos aos efeitos não-lineares, originados pela interação entre a luz e o dieléctrico da
fibra óptica, quando existem campos electromagnéticos intensos.
No regime não-linear, a interacção entre a DVG e a AMF, onde os efeitos são contrários
entre si, num sistema sem perdas e em equilíbrio, permitem a propagação de impulsos con-
servando a sua forma ao longo da fibra óptica. Impulsos esses designados por solitões. A
propagação de solitões só é possível devido ao efeito de AMF e, este efeito, é uma das con-
sequências do efeito óptico não-linear de Kerr. Sendo este último uma variação do índice de
refracção de um material em resposta à alta intensidade do campo eléctrico aplicado nele.
2.2.1 Efeito óptico não-linear de Kerr
Sendo β a constante de propagação linear e n o índice de refracção modal, tem-se
β = nk0 (2.74)
em que k0 = ω/c é a constante de propagação no vácuo e c a velocidade de propagação da
luz no vácuo.
No plano transversal (x, y), o índice de refracção da fibra óptica n relaciona da seguinte
forma com a constante dieléctrica relativa ε
ε(x, y) = n2(x, y). (2.75)
Em regime linear, a equação de Helmholtz permite escrever
∇2t F + [n2(z, y)k2
0 − β2]F(x, y) = 0 (2.76)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 24
e, para coordenadas rectangulares
∇2t = F =
∂2F∂x2 +
∂2F∂y2 . (2.77)
No caso da aproximação dos modos LP para fibras ópticas de pequeno contraste dieléc-
trico, admite-se que
E(x, y, z, t) = xE(x, y, z, t) (2.78)
então
E(x, y, z, t) = F(x, y)B(z, t) (2.79)
onde
B(z, t) = A(z, t)exp[i(β0z−ω0t)]. (2.80)
Suponha-se que se perturba a constante eléctrica relativa de tal forma que
ε′ = ε(x, y) + ∆ε (2.81)
e mostra-se no Apêndice A em [4] que, em consequência, a nova constante de propagação
longitudinal será
β′ = β + ∆β (2.82)
em que
∆β =k2
02β
〈∆εF2〉F2 . (2.83)
Adoptando a notação
〈ψ〉 =∞∫−∞
∞∫−∞
ψ(x, y)dxdy (2.84)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 25
e de acordo com a Eq. (2.75), tem-se
∆ε = 2n(x, y)∆n. (2.85)
Fazendo a aproximação n(x, y) ≈ n, pode-se escrever a Eq. (2.83) na forma
∆β = k0〈∆nF2〉〈F2〉 . (2.86)
Numa fibra óptica de sílica, o efeito não-linear de Kerr estabelece que
n′ = n(x, y) + n′2|E∗|2 (2.87)
sendo E∗, um campo fictício induzido tal que
|E∗|2 = y∗|E|2 = I (2.88)
onde, I representa a intensidade óptica e y∗ uma admitância apropriada. Tem-se assim
|E∗|2(x, y, z, t) = y∗F2(x, y)|A(z, t)|2. (2.89)
Admitindo
∆n = n′2|E∗|2 (2.90)
conclui-se, da Eq. (2.86), que
∆β = y∗n′2k0〈F4〉〈F2〉 |A(z, t)|2. (2.91)
Introduzindo uma nova amplitude
Q(z, t) =√
y∗〈F2〉A(z, t), (2.92)
a Eq. (2.91) pode ser escrita na forma
∆β = γ|Q(z, t)|2 (2.93)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 26
em que
γ =n′2k0
Ae f f=
2πn′2λAe f f
(2.94)
é o parâmetro de não-linearidade e Ae f f representa a área efectiva da fibra óptica, dada por
Ae f f =
(∞∫−∞
∞∫−∞
F2(x, y)dxdy
)2
∞∫−∞
∞∫−∞
F4(x, y)dxdy. (2.95)
Na proximação gaussiana
F(x, y) = exp(− x2 + y2
2w20
), (2.96)
verifica-se que Ae f f = 2πw20 e assim
γ =n′2
λw20
(2.97)
2.2.2 Auto-modulação de fase
Como consequência do efeito óptico de Kerr, as variações dos índices de refracção da fibra
óptica estão sujeitos a efeitos não-lineares, causados pela presença de um impulso óptico, são
diferentes para diferentes pontos espaciais do impulso. Como resultado deste efeito, durante
a propagação, o campo eléctrico adquire um desvio de fase não-linear.
Admitindo dois novos indices de refracção, para o núcleo e para a bainha, n′1 e n′2 respec-
tivamente
n′1 = n1 + n2P
Ae f f(2.98)
n′2 = n2 + n2P
Ae f f(2.99)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 27
onde n2 é o coeficiente do índice não-linear e P a potência óptica.
Deste modo também a constante de propagação está dependente da potência óptica
β′ = β + k0n2P
Ae f f. (2.100)
Atendendo à Eq. (2.94), a fase não-linear pode ser dada por
ΦNL = γ
L∫0
P(z, t)dz, (2.101)
com
P(z, t) = Pin(t)exp[−αz], (2.102)
sendo α o coeficiente de atenuação e Pin a potência máxima do impulso à entrada da fibra
óptica. Então
ΦNL = γPin(t)L∫
0
exp[−αz]dz = γPin(t)Le f f , (2.103)
onde Le f f = (−1/α)[1− exp(−αL)] é o comprimento efectivo da fibra óptica.
De notar que existe um desvio da fase não-linear gerada pelo efeito de Kerr. Este fenómeno
é conhecido como auto-modulação de fase, uma vez que é um fenómeno auto induzido.
O desvio da frequência provocada pela AMF é dada por
δω(t) = −dφNL
dt= −γLe f f
dPin
dt, (2.104)
e desta maneiradPin
dt> 0⇒ δω(t) < 0 ocorre o desvio para o vermelho na frente do impulso
dPin
dt< 0⇒ δω(t) > 0 ocorre o desvio para o azul na cauda do impulso
(2.105)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 28
2.2.3 Equação de propagação em regime não-linear
Considerando a equação de propagação de impulsos em regime linear (2.36) e aplicando o
termo não-linear nela, a equação fica
∂A∂z
+ β1∂A∂t
+ i12
β2∂2A∂t2 −
16
β3∂3A∂t3 +
α
2A = iγ|A|2A, (2.106)
onde γ é o parâmetro de não-linearidade.
Esta equação não-linear de Schrödinger (NLS) descreve a propagação de um impulso óp-
tico sobre o efeito das perdas, da DVG e da não-linearidade da fibra óptica. Para valores de
β2 negativos, estamos na zona de dispersão anómala, i.e., há propagação de solitões claros
(solitões de primeira ordem ou apenas solitões), onde os impulsos conservam a sua forma ao
longo da propagação.
Para descrever o solitão, será considerado que a fibra óptica não tem perdas nem efeitos
de dispersão de ordem superior, ficando a equação com a seguinte forma
∂A∂z
+ β1∂A∂t
+ i12
β2∂2A∂t2 = iγ|A|2A. (2.107)
Definindo as variáveis normalizadas para o espaço (Eq. (2.46)) e para o tempo (Eq. (2.47)),
da mesma forma como foi feito anteriormente em regime linear, tem-se
∂A∂z
=1
LD
∂A∂ζ− β1
τ0
∂A∂τ
, (2.108)
∂A∂t
=1τ0
∂A∂τ
, (2.109)
∂2A∂t2 =
1τ2
0
∂2A∂τ2 . (2.110)
Substituindo na Eq. (2.107) fica
∂A∂ζ
= −iβ2LD
2τ20
∂2A∂τ2 + iγ|A|2A. (2.111)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 29
Por sua vez,
LD =τ2
0|β2|
e sgn(β2) =β2
|β2|, (2.112)
então
∂A∂ζ
= − i2
sgn(β2)∂2A∂τ2 + iγ|A|2A. (2.113)
Considerando o coeficiente N e uma nova variável normalizada U(ζ, τ) tal que
U(ζ, τ) =A(ζ, τ)√
P0, (2.114)
introduz-se assim ainda uma outra amplitude normalizada u(ζ, τ) tal que
u(ζ, τ) = NU(ζ, τ). (2.115)
E desta forma, chega-se à forma canónica da equação NLS
i∂u∂ζ− 1
2sgn(β2)
∂2u∂τ2 + |u|2u = 0. (2.116)
2.2.4 Solitão fundamental
Com base na Eq. (2.116) tentam-se encontrar soluções que produzam os solitões. Esta equação
NLS é uma equação não-linear parcial diferencial que apenas tem solução em casos específi-
cos. Neste caso, é possível resolver utilizando o método inverso da dispersão (IST - Inverse
Scattering Transform). Da aplicação deste método conclui-se que um impulso dado por
u(0, t) = Nsech(t) (2.117)
a propagar-se numa fibra óptica a operar na região anómala (β2 < 0) mantém a sua forma
quando N = 1. E para N > 1 os impulsos apresentam um padrão de período igual a π/2. O
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 30
caso em que N = 1 designa-se por solitão fundamental e a Eq. (2.116) pode ser reescrita na
forma
i∂u∂ζ
+12
∂2u∂τ2 + |u|2u = 0. (2.118)
Esta equação parcial pode ser resolvida assumindo uma solução do tipo
u(ζ, τ) = V(τ)exp[iφ(ζ)] (2.119)
onde V é independente de ζ para representar o solitão fundamental cuja forma se mantém
inalterada ao longo da fibra óptica. Por sua vez, a fase φ depende de ζ mas é independente
do tempo. Desta forma, substituindo na Eq. (2.118), vem
dφ
dζ=
1V
(12
∂2V∂τ2 + V3
)= K, (2.120)
onde K é uma constante. Da Eq. (2.120) pode escrever-se que a fase φ = Kζ. Nestas condições
a função V(ζ) satisfaz a equação diferencial não-linear
d2Vdτ2 = 2V(K−V2), (2.121)
multiplicando por 2(dV/dτ) e integrando em ordem a τ, tem-se
(dVdτ
)2
= 2KV2 −V4 + C, (2.122)
onde C é uma outra constante. Aplicando as condições de fronteira em que V e dV/dτ são
iguais a 0 quando τ → ∞, C = 0. E a condição de pico ocorre para τ → 0 sendo V = 1 e
dV/dτ = 0, K = 1/2.
Conhecendo os valores das duas constantes, aplicando na Eq. (2.122) e integrando, obtém-
se
V(τ) = sech(τ), (2.123)
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 31
substituindo na Eq. (2.119), vem
u(ζ, τ) = sech(τ)exp(
iζ
2
). (2.124)
De notar que o impulso tem um desvio de fase de ζ/2, mas que mantém a sua amplitude
ao longo da propagação. Pode-se concluir que os efeitos DVG e AMF se compensam mutua-
mente. Isto acontece quando as perdas não são contabilizadas.
2.2.5 Simulação numérica da propagação de impulsos em regime não-linear
Para a simulação em MATLAB será usado o SSFM, que é o método mais usado para resolver
as equações não-lineares que modelam a propagação de impulsos em fibra óptica.
Vai-se, por isso, querer fazer o tratamento numérico da equação geral, tendo em conta as
perdas através do coeficiente Γ, que corresponde às perdas considerando a distância normali-
zada ζ, e os efeitos de ordem superior κ
i∂u∂ζ
+12
∂2u∂τ2 − iκ
∂3u∂τ3 + |u|2u = −i
Γ2
u, (2.125)
Γ = αLD, (2.126)
que na forma (∂u/∂ζ) = (Dτ + Nτ)u(ζ, τ) se introduzem o operador linear ou operador de
dispersão
Dτ = i12
∂2u∂τ2 + κ
∂3u∂τ3 (2.127)
e o operador não-linear
Nτ = −Γ2+ i|u|2. (2.128)
Para se efectuar a resolução numérica da equação, vai-se separar a análise linear da não-
linear.
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 32
Desprezando o efeito da dispersão
Ficando com
∂u∂ζ
= Nτu(ζ, τ) =
(−Γ
2+ i|u|2
)u(ζ, τ), (2.129)
que tem como solução u(ζ, τ) = u(0, τ)exp(Nτ · ζ).
Conhecendo a forma do impulso em ζ, é possível conhece-la em ζ + h
u(ζ + h, τ) = u(0, τ)exp(Nτ, ζ)exp(Nτ, h) ⇒ u(ζ + h, τ) = u(ζ, τ)exp(Nτ, h) (2.130)
Desprezando o efeito não-linear
Ficando apenas os efeitos dispersivos
∂u∂ζ
= Dτu(ζ, τ) =
(i12
∂2u∂τ2 + κ
∂3u∂τ3
)u(ζ, τ) (2.131)
que se resolve recorrendo à transformada de Fourieru(ζ, ξ) =
∞∫−∞
u(ζ, τ)exp(iξτ)dτ
u(ζ, τ) =1
2π
∞∫−∞
u(ζ, ξ)exp(−iξτ)dξ
(2.132)
que, por sua vez, aplicado na equação a resolver dá
∂u∂ζ
= Dξ u(ζ, τ) =
(−i
ξ2
2+ iκξ3
)u(ζ, τ) (2.133)
que tem como solução, em semelhança com o 1o passo,
u(ζ + h, ξ) = u(ζ, ξ)exp(Dξ , h) (2.134)
As duas soluções apresentadas permitem, através do processo iterativo SSFM, efectuar o
cálculo do sinal à saída de cada um dos pequenos troços consecutivos definidos como passos
longitudinais h. Em síntese, o SSFM consiste nos seguintes passos:
1. u(ζ, τ) = u(0, τ);
Capítulo 2. Propagação de Impulsos 33
2. ν(ζ, τ) = u(ζ, τ)exp(−h
2Γ)
exp(ih|u|2);
3. ν(ζ, ξ) = FFT[ν(ζ, τ)];
4. u(ζ + h, ξ) = ν(ζ, ξ)exp(−i
h2
ξ2)
exp(ihκξ3);
5. u(ζ + h, τ) = IFFT[u(ζ + h, ξ)];
6. u(ζ, τ) = u(ζ + h, τ);
7. Ir para (2).
Figura 2.7: Propagação de solitão fundamental sem perdas na fibra óptica.
Pode-se concluir através da observação da Fig. 2.7 que existe uma total compensação entre
DVG e AMF, onde a forma de onda é preservada ao longo da fibra, sem quaisquer alterações
na amplitude e na largura do impulso. Isto acontece porque estamos perante um cenário
ideal, em que as perdas não foram contabilizadas.
Capítulo 3
Teoria do Acoplamento Modal
3.1 Introdução ao acoplamento modal
O conceito de acoplamento modal é utilizado frequentemente para descrever a propagação da
luz em guias de onda ou cavidades ópticas, sob influência de efeitos externos, tais como per-
turbações externas ou interações não lineares. A ideia básica da teoria do acoplamento modal
é decompor a luz propagada em modos de propagação conhecidos num dado dispositivo sem
perturbações, e calcular como estes modos são acoplados entre si com uma certa influência
adicional.
!
y!
x!
Figura 3.1: Acoplamento entre dois rib waveguides.
35
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 36
Esta teoria é uma teoria de "pequena perturbação", uma vez que o acoplamento electro-
magnético altera as amplitudes modais mas não a estrutura dos modos transversais.
Considera-se que apenas existe acoplamento entre dois modos da estrutura. O sistema
em análise é representado na Fig. 3.1, onde se trata do acoplamento entre dois guias ópticos
tridimensionais, paralelos entre si, conhecidos por rib waveguides.
Em tudo o que se segue supõe-se que a variação temporal é da forma exp(jωt). Assim,
em todas as expressões, omite-se este factor.
Vai-se considerar o acoplamento como uma combinação linear de dois modosE(x, y, z)
H(x, y, z)
= A1(z)
e1(x, y)
h1(x, y)
+ A2(z)
e2(x, y)
h2(x, y)
. (3.1)
Para assinalar explicitamente a dependência longitudinal com a constante de propagação
de cada modo, escreve-se ainda
A1(z) = α1(z)exp(−jβ10z) (3.2)
A2(z) = α2(z)exp(−jβ20z). (3.3)
Se não existisse acoplamento, as amplitudes α1 e α2 não poderiam depender da distância z. De
notar que as constantes de propagação longitudinal de cada guia, na ausência de acoplamento,
são representadas por β10 e β20.
Na ausência de acoplamento, tem-se
dA1
dz= −jβ10A1 (3.4)
dA2
dz= −jβ20A2. (3.5)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 37
Adicionando os termos lineares de acoplamento às Eq. (3.4) e (3.5), vem
dA1
dz= −jβ10A1 − j(κ11A1 + κ12A2) (3.6)
dA2
dz= −jβ20A2 − j(κ21A1 + κ22A2). (3.7)
Tomando como hipótese, vai-se admitir que os coeficientes de acoplamento κij não dependem
de z.
Definindo
β1 = β10 + κ11 (3.8)
β2 = β20 + κ22, (3.9)
as Eq. (3.6) e (3.7) podem ser escritas na forma compacta
dAdz
= −jC · A(z) (3.10)
em que
A(z) =
A1(z)
A2(z)
(3.11)
e onde
C =
β1 κ12
κ21 β2
(3.12)
é a matriz de acoplamento do sistema. Na ausência de acoplamento, esta matriz é diagonal e
tem a seguinte forma
C =
β10 0
0 β20
. (3.13)
No caso de pequena perturbação, em que o acoplamento apenas afecta as amplitudes e
não as funções modais, tem-se
|κ12| |β1| (3.14)
|κ21| |β2|, (3.15)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 38
o que significa, que o acoplamento deve ser fraco.
Supõe-se que as funções e(x, y) e h(x, y) na Eq. (3.1) estão normalizadas de tal forma que,
sendo P1 e P2 as potências que cada modo transporta, se tem
P1(z) = |A1(z)|2 (3.16)
P2(z) = |A2(z)|2. (3.17)
As ondas podem transportar potências em direcções opostas. Define-se, então, p1,2 = ±1
de acordo com a potência P1,2 flua no sentido positivo ou no sentido negativo do eixo z. A
potência total P(z) é dada por
P(z) = p1|A1(z)|2 + p2|A2(z)|2. (3.18)
A conservação de potência [5] obriga a que
p1κ∗12 = p2κ21. (3.19)
Assim, para acoplamento codireccional (ondas que transportam potência na mesma direc-
ção), tem-se p1 p2 = +1. Consequentemente
κ12κ21 = |κ12|2. (3.20)
Por outro lado, para acoplamento contradireccional (ondas que transportam potência em
direcções opostas), tem-se p1 p2 = −1. Neste caso, tem-se
κ12κ21 = −|κ12|2. (3.21)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 39
3.2 Supermodos
Num dado problema de acoplamento modal (codireccional ou contradireccional), trata-se de
resolver a Eq. (3.10) sujeita a condição inicial A(0) que especifica as amplitudes dos dois mo-
dos elementares em z = 0. Para tal, procede-se à diagonalização da matriz de acoplamento.
Vai-se considerar a mudança de variável
A(z) = M ·Φ(z) (3.22)
com
Φ(z) =
Φs(z)
Φa(z)
. (3.23)
Substituindo a Eq. (3.22) na Eq. (3.10), obtém-se
dΦdz
= −jD ·Φ(z) (3.24)
com
D = M−1 · C ·M. (3.25)
Quando M é uma matriz diagonalizante da matriz de acoplamento, a nova matriz D é
diagonal com
D =
qs 0
0 qa
(3.26)
onde qs e qa são os valores próprios da matriz de acoplamento tais que
qs = β0 + S (3.27)
qa = β0 − S (3.28)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 40
e onde
β0 =12(β1 + β2) (3.29)
S =√
δ2 + κ12κ21 (3.30)
δ =12(β1 − β2). (3.31)
Deste modo, a Eq. (3.24) cuja a resolução é imediata. Vem
Φ(z) = Q ·Φ(0) (3.32)
em que
Q(z) = exp(−jβ0z)
exp(−jSz) 0
0 exp(jSz)
. (3.33)
Atendendo às Eq. (3.22) e (3.32) , obtém-se finalmente
A(z) = T(z) · A(0) (3.34)
onde T é a matriz de transferência tal que
T = M ·Q ·M−1. (3.35)
i.e.
T = exp(−jβ0z)τ (3.36)
em que
τ =
t11 t12
t21 t22
(3.37)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 41
tendo-se
t11 = cos(Sz)− jδ
Ssin(Sz) (3.38)
t12 = −jκ12
Ssin(Sz) (3.39)
t21 = −jκ21
Ssin(Sz) (3.40)
t22 = cos(Sz) + jδ
Ssin(Sz). (3.41)
Atendendo à Eq. (3.30), verifica-se facilmente que a matriz τ é unimodular, i.e., det(τ) = 1.
Existe uma diferença fundamental entre as funções Ai(z) com i = 1, 2 da Eq. (3.11) e as
funções Φs(z) e Φa(z) da Eq. (3.23). Enquanto que, Ai(z) é uma amplitude modal do i-ésimo
guia individual do sistema, as funções Φs(z) e Φa(z) pertencem aos chamados supermodos
do sistema de acoplamento modal.
Assim, as funções Φs(z) e Φa(z) devem ser entendidas como funções próprias do sistema.
Representam um tipo de modos característicos que pertencem a uma hierarquia de nível
superior à dos modos elementares associados a cada guia individual.
As constantes de propagação associadas às amplitudes Ai(z) são as constantes βi0 dos
guias individuais. Enquanto que as constantes de propagação associadas às funções próprias
Φs(z) e Φa(z) são, respectivamente, os valores próprios qs e qa da matriz de acoplamento.
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 42
3.3 Acoplamento Codireccional
No acoplamento codireccional os dois modos transportam energia no mesmo sentido. Sabe-se,
anteriormente, através da Eq. (3.18) que para este tipo de acoplamento
p1 p2 = +1. (3.42)
E, se na Eq. (3.20) se fizer
κ2 = |κ12|2 (3.43)
obtém-se
κ12κ21 = κ2. (3.44)
Desta forma, da Eq. (3.30), se δ , 0, vem
S = δ
√1 +
(κ
δ
)2. (3.45)
No caso de haver sincronismo, i.e., se δ = 0 ou β1 = β2, tem-se
S = κ. (3.46)
Introduzindo a variável θ tal que
tan(θ) =κ
δ(3.47)
resulta da Eq. (3.45) que
S = δ sec(θ). (3.48)
Para θ = π/2 há sincronismo e S é dado pela Eq. (3.46).
Tratando-se de um sistema de acoplamento codireccional recíproco, tem-se ainda
κ12 = κ21. (3.49)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 43
Pelo que, das Eq. (3.44) e (3.49), vem
κ12 = κ (3.50)
donde se infere que
κ12 = S sin(θ). (3.51)
Tomando em consideração as Eq. (3.48) e (3.51), obtém-se das Eq. de (3.38) a (3.41) que
t11 = t∗22 = cos(Sz)− j cos(θ) sin(Sz) (3.52)
t12 = t21 = −j sin(θ) sin(Sz) (3.53)
no caso do acoplamento codireccional recíproco e sem perdas.
Supondo que se verificam as seguintes condições iniciais
A1(0) = 1 (3.54)
A2(0) = 0. (3.55)
E, de acordo com as Eq. (3.16) e (3.17), vem
P1(z) = cos2(Sz) + cos2(θ) sin2(Sz) (3.56)
P2(z) = sin2(θ) sin2(Sz). (3.57)
Designa-se por comprimento de acoplamento Lc, a distância z para a qual se regista uma
máxima transferência de potência do guia 1 para o guia 2. Donde
LC =π
2δcos(θ) (3.58)
tendo-se
η =P2(Lc)
P1(Lc)= tan2(θ). (3.59)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 44
De notar que o valor máximo de η se obtém no sincronismo (θ = π/2). No sincronismo há
uma permuta perfeita de energias entre os dois guias acoplados com uma periodicidade dada
por
LC =π
2κ. (3.60)
Na Fig. 3.2 mostra-se a evolução de P1(z) e de P2(z) com a distância de acoplamento
normalizada Sz no caso em que há sincronismo, i.e., em que θ = π/2.
Figura 3.2: Acoplamento codireccional com θ = π/2. P1(z) é representada pela curva azul e P2(z) pela
curva verde.
Na Fig. 3.3 considera-se o caso em que θ = π/3. Enquanto que no caso da Fig. 3.2 se tem
η = ∞, no caso da Fig. 3.3 tem.se η = 3.
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 45
Figura 3.3: Acoplamento codireccional com θ = π/3. P1(z) é representada pela curva azul e P2(z) pela
curva verde.
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 46
3.4 Acoplamento Contradireccional
Viu-se anteriormente que no acoplamento contradireccional, os dois modos transportam ener-
gia em sentidos diametralmente opostos. Na Eq. (3.18) tem-se
p1 p2 = −1. (3.61)
Se na Eq. (3.21) se fizer
κ2 = |κ12|2 (3.62)
obtém-se
κ12κ21 = −κ2. (3.63)
Assim, da Eq. (3.30) vem
S = jΩ (3.64)
Ω = κ√
1− ∆2 (3.65)
∆ =δ
κ(3.66)
para ∆2 ≤ 1. No caso de haver sincronismo, i.e., ∆ = 0, tem-se
S = jκ. (3.67)
Introduzindo a variável ξ tal que
tanh(ξ) = ∆ (3.68)
resulta da Eq. (3.65) que
Ω = κsech(ξ). (3.69)
Por outro lado, para ∆2 > 1, por conveniência, introduz-se uma nova variável ζ tal que
tanh(ζ) =1∆
(3.70)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 47
de forma que
S = δsech(ζ). (3.71)
De notar que
sinh(ζ) = −j cosh(ξ) (3.72)
cosh(ζ) = −j sinh(ξ). (3.73)
Tratando-se de um sistema de acoplamento contradireccional recíproco, tem-se
κ12 = −κ21. (3.74)
Pelo que, das Eq. (3.63) e (3.74), vem
κ12 = κ. (3.75)
Desta forma, para ∆2 ≤ 1, infere-se que
κ12 = Ω cosh(ξ). (3.76)
Analogamente, para ∆2 > 1, vem
κ12 = S sinh(ζ). (3.77)
Assim, para ∆2 ≤ 1, tira-se das Eq. de (3.38) a (3.41) que
t11 = t∗22 = cosh(Ωz)− j sinh(ξ) sinh(Ωz) (3.78)
t12 = t∗21 = −j cosh(ξ) sinh(Ωz). (3.79)
E, para ∆2 > 1, vem
t11 = t∗22 = cosh(Ωz)− j sinh(ξ) sinh(Ωz) (3.80)
t12 = t∗21 = −j cosh(ξ) sinh(Ωz). (3.81)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 48
Supondo que o acoplamento se faz num troço de comprimento L tal que 0 ≤ z ≤ L e com
as seguintes condições iniciais:
A1(0) = 1 (3.82)
A2(L) = 0. (3.83)
Devido à natureza contradireccional do acoplamento, as condições a estabelecer inicial-
mente para as duas ondas devem ser impostas em pontos opostos. Então, em z = 0 para o
guia 1 e em z = L para o guia 2.
Assim, para ∆2 ≤ 1, resulta das Eq. (3.78) e (3.79) que
A1(z) =cosh[Ω(z− L)]− j sinh(ξ) sinh[Ω(z− L)]
cosh(ΩL) + j sinh(ξ) sinh(ΩL)exp(−jβ0z) (3.84)
A2(z) = jcosh(ξ) sinh[Ω(z− L)]
cosh(ΩL) + j sinh(ξ) sinh(ΩL)exp(−jβ0z) (3.85)
uma vez que, nestas condições, se tem
A2(0)A1(0)
= −jcosh(ξ) sinh(ΩL)
cosh(ΩL) + j sinh(ξ) sinh(ΩL). (3.86)
As potências transportadas por cada modo são dadas por
P1(z)P1(L)
= cosh2[Ω(z− L)] + sinh2(ξ) sinh2[Ω(z− L)] (3.87)
P2(z)P2(0)
=sinh2[Ω(z− L)]
sinh2(ΩL)(3.88)
onde
P1(L) =1
cosh2(ΩL) + sinh2(ξ) sinh2(ΩL)(3.89)
P2(0) =cosh2(ξ) tanh2(ΩL)
1 + sinh2(ξ) tanh2(ΩL). (3.90)
Definindo um factor de reflexão Γ tal que
Γ =A2(0)A1(0)
(3.91)
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 49
obtém-se
Γ = −jcosh(ξ) tanh(ΩL)
1 + j sinh(ξ) tanh(ΩL). (3.92)
Analogamente, definindo a reflectividade R tal que
R =P2(0)P1(0)
= |Γ|2 (3.93)
vem
R =sinh2
(κL√
1− ∆2)
cosh2(
κL√
1− ∆2)− ∆2
(3.94)
No sincronismo é ∆ = 0 e obtém-se o R0 como sendo o máximo de R, tal que
R0 = tanh2(κL). (3.95)
Para ∆2 > 1, aplica-se
R =sin2
(κL√
∆2 − 1)
∆2 − cos2(
κL√
∆2 − 1) . (3.96)
Figura 3.4: Andamento das potências transportadas por cada guia. Considera-se ∆ = 0 e κL = 1. P1(z)
é representada pela curva a azul e P2(z) pela curva a verde.
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 50
Na Fig. 3.4 representa-se P1(z) e P2(z) para κL = 1 e ∆ = 0 (sincronismo). A diminuição
observada em P1(z) não se deve às perdas , mas sim à transferência de potência para o guia 2
através da potência reflectida P2(z).
A reflectividade R é aproximadamente constante e igual a R0 para ∆2 ≤ 1. Para ∆ = 1
ambas as Eq. (3.94) e (3.96) conduzem a uma indeterminação. Porém, tendo em consideração
que
sinh2(x) ≈ x2 (3.97)
cosh2(x) ≈ 1 + x2 (3.98)
para |x| 1, infere-se que R1 = R(∆ = 1) é dado por
R1 =(κL)2
1 + (κL)2 (3.99)
Os sucessivos nulos da reflectividade são dados por ∆n (com n=1,2,...) tal que
∆n =
√1 +
(nπ
κL
)2(3.100)
A envolvenete da curva R(∆) da Fig. 3.5 é a surva RE(∆) tal que
RE(∆) =1
∆2 (3.101)
sendo independente do valor de κL, i.e., todas as curvas de R(∆) têm a mesma envolvente
qualquer que seja o valor de κL.
Na Fig. 3.5 representa-se a reflectividade R em função do parâmetro normalizado ∆ de
sincronismo. Considera-se κL = 3
Capítulo 3. Teoria do Acoplamento Modal 51
Figura 3.5: Variação da reflectividade com o parâmetro normalizado de sincronismo para κL = 3. A
curva a vermelho é a envolvente RE(∆).
De notar que, sendo ∆ dependente de β1 e β2 (através de δ) e, por sua vez, β1 e β2 de-
pendentes da frequência (através da dispersão dos guias), a curva R(∆) da Fig. 3.5 pode ser
encarada como uma curva de resposta em frequência. Nesse sentido, pode dizer-se que o sis-
tema se comporta como um filtro sintonizável e, por outro lado, uma vez que a reflectividade
assume valores elevados na banda de rejeição caracterizada por ∆2 ≤ 1, trata-se, então, de um
filtro de rejeição.
Capítulo 4
Comutação Óptica
4.1 Agregados lineares de fibras ópticas idênticas
Considera-se o caso dos agregados lineares de N fibras idênticas operadas em regime mono-
modal, com N núcleos idênticos, cada um com um raio a e índice de refracção n1, imersos
numa bainha comum de índice de refracção n2. Os eixos dos N núcleos são paralelos e
encontram-se todos todos alinhados segundo um dos eixos transversais (o eixo x), com um
espaçamento uniforme ρ ≥ 2a entre eles.
O campo longitudinal total é dada pela seguinte expressão
Ez(x, y, z, t) =∞
∑−∞
Fn(x, y)Bn(z, t) (4.1)
onde Fn(x, y) é a função modal elementar do n-ésimo núcleo do modo LP01. Para cada núcleo,
o campo vem
Ezn(x, y, z, t) = Fn(x, y)Bn(z, t), 1 ≤ n ≤ N. (4.2)
53
Capítulo 4. Comutação Óptica 54
Aplicando os N pares de Fourier
Bn(z, ω) =
∞∫−∞
Bn(z, t)exp(iωt)dt) (4.3)
Bn(z, t) =1
2π
∞∫−∞
Bn(z, ω)exp(iωt)dω. (4.4)
e considerando, somente, o acoplamento entre núcleos adjacentes
∂
∂zB(z, ω) = iK(ω) · B(z, ω) (4.5)
com
K(ω) =
β(ω) C(ω) 0 . . . 0
C(ω) β(ω) C(ω) . . . 0
......
......
...
0 . . . C(ω) β(ω) C(ω)
0 . . . 0 C(ω) β(ω)
(4.6)
e
B(z, ω) =
B1(z, ω)
B2(z, ω)
...
BN(z, ω)
, (4.7)
onde K(ω) é a matriz de acoplamento e C(ω) o coeficiente de acoplamento.
A Eq. (4.5) pode ser resolvida através do processo de diagonalização da matriz K(ω),
determinando os seus valores próprios e os vectores próprios tais que
K · u = λu (4.8)
sendo u os vectores próprios e λ os valores próprios.
Capítulo 4. Comutação Óptica 55
4.1.1 Agregado de 2 fibras ópticas
Considera-se um agregado de N = 2!!!!!!!!!
!!
!!!!!!!! !
a! a!
!!! !!!
!!!
y
x!!
Fibra óptica 1 Fibra óptica 2
! ≥ 2a!
y
x
a! a! a!
Fibra óptica 1 Fibra óptica 2 Fibra óptica 3
Figura 4.1: Agregado de duas fibras ópticas.
Os valores próprios são dados por
λ1 = β + C ∧ λ2 = β− C (4.9)
e os vectores próprios
u1 =1√
2
1
1
, u2 =1√
2
1
−1
(4.10)
a matriz diagonalizadora da matriz de acoplamento, M, é dada por
M =
[u1 u2
]=
1√2
1 1
1 −1
. (4.11)
A matriz M é ortogonal, i.e.,
M−1= M. (4.12)
Introduzindo a matriz diagonalizadora tal que
B(z, ω) = M ·Φ(z, ω) (4.13)
Capítulo 4. Comutação Óptica 56
a Eq. (4.5) pode ser reescrita na forma
∂
∂zΦ(z, ω) = iΛ(ω) ·Φ(z, ω) (4.14)
em que
Φ(z, ω) =
φ1(z, ω)
φ2(z, ω)
(4.15)
Λ(ω) = M · K(ω) ·M =
β1ω + C(ω) 0
0 β2(ω)− C(ω)
. (4.16)
Sendo Λ uma matriz diagonal, a solução da Eq. (4.14) é imediata.
Φ(z, ω) = E(z, ω) · φ(0, ω) (4.17)
em que
E(z, ω) = exp[iβ(ω)z] =
exp[iC(ω)z] 0
0 exp[−iC(ω)z]
. (4.18)
A matriz de transferência do agregado será a matriz T tal que
B(z, ω) = T(z, ω) · B(0, ω) (4.19)
em que
T(z, ω) = M · E(z, ω) ·M. (4.20)
pelo que
T = exp[iβ(ω)z]
cos[C(ω)z] i sin[C(ω)z]
i sin[C(ω)z] cos[C(ω)z]
. (4.21)
Assim, tem-se
B1(z, ω) = B1(0, ω) cos[C(ω)z] + iB2(0, ω) sin[C(ω)z]exp[iβ(ω)z] (4.22)
B2(z, ω) = iB1(0, ω) cos[C(ω)z] + B2(0, ω) sin[C(ω)z]exp[iβ(ω)z]. (4.23)
Capítulo 4. Comutação Óptica 57
Considera-se um acoplador de comprimento LC em que B2(0, ω) = 0, é possível definir os
seguintes coeficientes de transmissão
t(LC, ω) =
∣∣∣∣ B1(LC, ω)
B1(0, ω)
∣∣∣∣2 = cos2[C(ω)LC] (4.24)
tx(LC, ω) =
∣∣∣∣ B2(LC, ω)
B1(0, ω)
∣∣∣∣2 = sin2[C(ω)LC], (4.25)
sendo ω0 a frequência da portadora do sinal, pode-se definir o comprimento LC = LH (half beat
length) como a menor distância para qual os módulos das envolventes dos impulsos comutam
de núcleo relativamente à situação de entrada, dado por
LH =π
2C(ω0)⇒ t(LH, ω0) = 0, tx(LH, ω0) = 1. (4.26)
Da mesmo forma, define-se o comprimento LC = LB (full beat length) como a menor dis-
tância para o qual os módulos dos envolventes dos impulsos nos dois núcleos são iguais aos
de entrada, tem-se
LB =π
C(ω0)⇒ t(LB, ω0) = 1, tx(LB, ω0) = 0. (4.27)
Os resultados da simulação dos coeficientes de transmissão, para um acoplador full beat,
para a frequência da portadora é apresentado na Fig. 4.2.
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 10
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
LC
/ LB
Coeficie
nte
s d
e tra
nsm
issão
Coefecientes de transmissão para w=w0
tx
t
Figura 4.2: Coeficiente de transmissão para a frequência da portadora.
Capítulo 4. Comutação Óptica 58
Definindo s = ρ/a com s ≥ 2, o coeficiente de acoplamento é dado por
C =
√2∆a
u2
ν3K0(sw)
K21(w)
, (4.28)
onde u = ν√
1− b, w = ν√
b e b = (1.1428− 0.9960ν )2 é a constante de propagação normali-
zada. K0 e K1 são funções de Bessel modificadas e ∆ é o contraste dieléctrico.
Considerando os seguintes parâmetros para um acoplador half beat: λ0 = 1.55µm, a =
4.5µm, n1 = 1.5, ∆ = 0.3% e variando o valor de s obtiveram-se os seguintes resultados:
1.5 1.51 1.52 1.53 1.54 1.55 1.56 1.57 1.58 1.59 1.6
x 10−6
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Comprimento de onda [µm]
Co
eficie
nte
s d
e t
ran
sm
issã
o
Coefecientes de transmissão de um acoplador half−beat
tx
t
1.5 1.51 1.52 1.53 1.54 1.55 1.56 1.57 1.58 1.59 1.6
x 10−6
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Comprimento de onda [µm]
Co
eficie
nte
s d
e t
ran
sm
issã
o
Coefecientes de transmissão de um acoplador half−beat
tx
t
Figura 4.3: Coeficientes de transmissão para s = 3 (à Esquerda) e s = 6 (à Direita).
1.5 1.51 1.52 1.53 1.54 1.55 1.56 1.57 1.58 1.59 1.6
x 10−6
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Comprimento de onda [µm]
Co
eficie
nte
s d
e t
ran
sm
issã
o
Coefecientes de transmissão de um acoplador half−beat
tx
t
1.5 1.51 1.52 1.53 1.54 1.55 1.56 1.57 1.58 1.59 1.6
x 10−6
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Comprimento de onda [µm]
Co
eficie
nte
s d
e t
ran
sm
issã
o
Coefecientes de transmissão de um acoplador half−beat
tx
t
Figura 4.4: Coeficientes de transmissão para s = 9 (à Esquerda) e s = 12 (à Direita).
Os resultados das Fig. 4.3 e 4.4 mostram-nos que, através do parâmetro s é possível con-
trolar a troca de energia entre os dois núcleos. Quanto maior o valor de s, mais rapidamente
variam os valores dos coeficientes de transmissão.
Capítulo 4. Comutação Óptica 59
4.1.2 Agregado de 3 fibras ópticas
Neste exemplo, considera-se um agregado de N = 3.
!!!!!!!!!
!!
!!!!!!!! !
a! a!
!!! !!!
!!!
y
x!!
Fibra óptica 1 Fibra óptica 2
! ≥ 2a!
y
x
a! a! a!
Fibra óptica 1 Fibra óptica 2 Fibra óptica 3
Figura 4.5: Agregado de três fibras ópticas.
Para os valores próprios
λ1 = β +√
2C ∧ λ2 = β ∧ λ3 = β−√
2C. (4.29)
e vectores próprios
u1 =1√
2
1√2
1
1√2
.
, u2 =
1√2
1
0
−1
, u3 =1√
2
1√2
−1
1√2
, (4.30)
a matriz M é ortogonal, i.e., M−1= M, e é dada por
M =
[u1 u2 u3
]=
1√2
1√2
11√
2
1 0 −1
1√2−1
1√2
. (4.31)
Capítulo 4. Comutação Óptica 60
Definindo
B(z, ω) = M ·Φ(z, ω) (4.32)
a Eq. (4.5) pode ser reescrita na forma
∂
∂zΦ(z, ω) = iΛ(ω) ·Φ(z, ω) (4.33)
onde
Φ(z, ω) =
φ1(z, ω)
φ2(z, ω)
φ3(z, ω)
(4.34)
Λ(ω) = M · K(ω) ·M =
β1ω 0 0
0 β2(ω) 0
0 0 β3(ω)
. (4.35)
As soluções da Eq. (4.14) são fáceis de encontrar
Φ(z, ω) = E(z, ω) · φ(0, ω) (4.36)
com
E(z, ω) = exp[iβ(ω)z] =
exp[i
√2C(ω)z] 0 0
0 1 0
0 0 exp[−i√
2C(ω)z]
. (4.37)
A matriz de transferência do agregado será
B(z, ω) = T(z, ω) · B(z, ω) (4.38)
em que
T(z, ω) = M · E(z, ω) ·M. (4.39)
Capítulo 4. Comutação Óptica 61
Donde
T =12
exp(iβz)
cos(√
2Cz) + 1 i√
2 sin(√
2Cz) cos(√
2Cz)− 1
i√
2 sin(√
2Cz) 2 cos(√
2Cz) i√
2 sin(√
2Cz)
cos(√
2Cz)− 1 i√
2 sin(√
2Cz) cos(√
2Cz) + 1
. (4.40)
Admintindo
B2(0, ω) = β3(0, ω) = 0 (4.41)
obtém-se
β1(z, ω) =121 + cos[
√2C(ω)z]B1(0, ω)exp[iβ(ω)z] (4.42)
B2(z, ω) =i2
sin[√
2C(ω)z]B1(0, ω)exp[iβ(ω)z] (4.43)
β3(z, ω) = −121− cos[
√2C(ω)z]B1(0, ω)exp[iβ(ω)z]. (4.44)
Os coeficientes de transmissão são dados por
t1(LC, ω) =
∣∣∣∣ B1(LC, ω)
B1(0, ω)
∣∣∣∣2 =141 + cos[
√2C(ω)LC]2 (4.45)
t2(LC, ω) =
∣∣∣∣ B2(LC, ω)
B2(0, ω)
∣∣∣∣2 =12
sin2[√
2C(ω)LC] (4.46)
t3(LC, ω) =
∣∣∣∣ B3(LC, ω)
B3(0, ω)
∣∣∣∣2 =141− cos[
√2C(ω)LC]2. (4.47)
Half beat length
LH =π
2√
2C(ω0)⇒ t1(LH, ω0) = t3(LH, ω0) =
14
, t2(LH, ω0) =12
. (4.48)
e full beat length
LB =π√
2C(ω0)⇒ t1(LB, ω0) = t2(LB, ω0) = 0, t3(LB, ω0) = 1. (4.49)
Capítulo 4. Comutação Óptica 62
Os resultados da simulação dos coeficientes de transmissão em função de LC/LB para um
agregado linear de três fibras ópticas idênticas é apresentado na Fig. 4.6
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 10
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
LC
/ LB
Coeficie
nte
s d
e tra
nsm
issão
AGREGADO LINEAR DE TRÊS FIBRAS IDÊNTICAS
t1
t2
t3
Figura 4.6: Coeficiente de transmissão em função de LC/LB para um agregado linear de três fibras
ópticas idênticas.
Capítulo 4. Comutação Óptica 63
4.2 Comutação fotónica em regime linear
A partir deste ponto são considerados apenas agregados de duas fibras ópticas. A interacção
das duas fibras vai originar um fenómeno designado por dispersão intermodal (IMD - Inter-
modal Dispersion), proveniente dos dois supermodos existentes. Essa dispersão vai originar
a passagem de energia electromagnética de uma fibra para a outra e, desta forma, o campo
numa fibra irá influenciar o campo na outra ao ponto de a propagação de um sinal numa das
fibras também depender do sinal na outra.
No caso em estudo, o impulso é inserido apenas numa das fibras
A1(0, τ) = exp(−τ2
2
)e A2(0, τ) = 0. (4.50)
O ponto de partida para a simulação numérica são as equações de acoplamento entre as
duas fibras ópticas∂A1
∂τ+ δ
∂A2
∂τ+ i
12
[sgn(β2)
∂2A1
∂τ2 + µ∂2A2
∂τ2
]= iκA2
∂A2
∂τ+ δ
∂A1
∂τ+ i
12
[sgn(β2)
∂2A2
∂τ2 + µ∂2A1
∂τ2
]= iκA1
. (4.51)
Pode observar através das Eq. (4.51) que ambas as equações de acoplamento são afectadas
pelos sinais à entradas das duas fibras.
Manipulando algebricamente estas equações obtém-se, para o domínio da frequência ξA1(ζ, ξ)
A2(ζ, ξ)
= S
A1(0, ξ)
A2(0, ξ)
(4.52)
com
S(ζ, ξ) = MR(ζ, ξ)M (4.53)
= exp[
i12
sgn(β2)ξ2ζ
] cos[θ(ζ, ξ)] i sin[θ(ζ, ξ)]
i sin[θ(ζ, ξ)] cos[θ(ζ, ξ)]
(4.54)
Capítulo 4. Comutação Óptica 64
em que
θ(ζ, ξ) = b(ξ)ζ =
(κ + ξδ +
12
ξ2µ
)ζ. (4.55)
Se não existir impulso à partida na segunda fibra, A2(ζ = 0, ξ) = 0, obtém-seA1(ζ, ξ) = S11A1(0, ξ)
A2(ζ, ξ) = S21A1(0, ξ)
(4.56)
onde
S11 = exp[
i12
sgn(β2)ξ2ζ2]
cos[θ(ζ, ξ)] (4.57)
S21 = exp[
i12
sgn(β2)ξ2ζ2]
i sin[θ(ζ, ξ)] (4.58)
Sendo A2(0, ξ) = 0, definem-se os seguintes coeficientes de transmissão
τ(ζ, ξ) = |S11|2 =
∣∣∣∣ A1(ζ, ξ)
A1(0, ξ)
∣∣∣∣2 = cos2[(
κ + ξδ +12
ξ2µ
)ζ
](4.59)
τx(ζ, ξ) = |S21|2 =
∣∣∣∣ A2(ζ, ξ)
A1(0, ξ)
∣∣∣∣2 = sin2[(
κ + ξδ +12
ξ2µ
)ζ
](4.60)
Para obter os impulsos que se propagam ao longo da fibra A1(ζ, τ) e A2(ζ, ξ) seguem-se
os seguintes passos:
1. Calcular A1(0, ξ) = FFT[A(0, τ)];
2. Calcular A1(ζ, ξ) = exp[
i12
sgn(β2)ξ2ζ
]cos[θ(ζ, ξ)]A1(0, ξ);
Calcular A2(ζ, ξ) = exp[
i12
sgn(β2)ξ2ζ
]i sin[θ(ζ, ξ)]A1(0, ξ);
3. Calcular A1(ζ, τ) = IFFT[A1(ζ, ξ)];
Calcular A2(ζ, τ) = IFFT[A2(ζ, ξ)].
Capítulo 4. Comutação Óptica 65
Admitindo sgn(β2) = −1 (zona anómala de dispersão), κ = 1, δ = −0.0156 e µ = 2.4422×
10−4, obtêm-se os gráficos dos impulsos ao longo das duas fibras para um acoplador half beat
Figura 4.7: Representação do sinal na fibra 1 (à Esquerda) e na fibra 2 (à Direita)
Figura 4.8: Representação do sinal na fibra 1 (à Esquerda) e na fibra 2 (à Direita) - Vista Superior
Da observação dos resultados das simulações facilmente se verifica que existe um acopla-
mento periódico ao longo da fibra óptica, que quando o sinal numa fibra é nulo na outra é
um máximo e vice-versa. Isto acontece, através das Eq. (4.57) e (4.58), que o sinal presente em
ambas as fibras depende de um cos(ζ, ξ) para a fibra 1, e de um sin(ζ, ξ) para a fibra 2. Estas
duas funções são conhecidas por terem o mesmo período e serem ortogonais.
Pode-se dizer que existe uma comutação de impulsos perfeita, onde a intensidade do
impulso, para cada acoplamento, permanece constante em cada troca de energia.
Capítulo 4. Comutação Óptica 66
4.3 Comutação fotónica em regime não-linear
Neste ponto apresentam-se as equações não-lineares acopladas que governam a comutação de
impulsos em acopladores de fibras com a não-linearidade de Kerr.
Assumindo duas fibras idênticas de baixo contraste com acoplamento de campo evanes-
cente e, embebidas em bainha comum. No passado foi mostrado que o campo eléctrico na
fibra óptica é dado por
Ezn(x, y, z, t) = Fn(x, y)Bn(z, t), n = 1, 2. (4.61)
onde Fn(x, y) são as funções modais elementares associadas ao modo LP01 em cada núcleo.
Esta equação pode ser reescrita na forma
Bn(z, t) = An(z, t)exp[i(β0z−ω0t)], (4.62)
onde β0 = β(ω0) e An(z, t) são funções de z de variação lenta. Adoptando a expansão de
Taylor
β(ω0 + Ω) = β0 + β1Ω +12
β2Ω2, (4.63)
A1(z, t) e A2(z, t) satisfazem as seguintes equações NLS acopladas
i(
∂A1
∂z+ β1
∂A1
∂t
)− β2
2∂2A1
∂t2 + γ|A1|2A1 + C0A2 = 0 (4.64)
i(
∂A2
∂z+ β1
∂A2
∂t
)− β2
2∂2A2
∂t2 + γ|A2|2A2 + C0A1 = 0, (4.65)
sendo γ o parâmetro de não-linearidade e C0 = C(ω0), é o já visto coeficiente de acoplamento.
Nestas equações não estão contabilizadas as perdas, os efeitos de dispersão de ordem superior,
nem o acoplamento não-linear induzido por modulação de fase cruzada (XPM - Cross-Phase
Modulation). Daqui adiante, serão considerados apenas os acopladores half-beat.
Capítulo 4. Comutação Óptica 67
Tomando em conta o comprimento do acoplador
LC =π
2C0, (4.66)
e introduzindo as unidades normalizadas já conhecidas anteriormente, para o tempo e para o
espaço
ζ =z
LDe τ =
t− β1zτ0
, (4.67)
as Eq. (4.64) e (4.65) podem ser reescritas, no regime da zona de dispersão anómala, como
i∂u1
∂ζ+
12
∂2u1
∂τ2 + |u1|2u1 + κu2 = 0 (4.68)
i∂u2
∂ζ+
12
∂2u2
∂τ2 + |u2|2u2 + κu1 = 0 (4.69)
onde
un(ζ, τ) = NAn(ζ, τ)√
P0, n = 1, 2. (4.70)
Sendo N2 = LD/LNL, onde LNL = 1/γP0 é o comprimento não-linear para a potência de
pico do impulso incidente P0. Nas Eq. (4.68) e (4.69) não foram contabilizadas o efeito da
dispersão intermodal, mas introduziu-se o coeficiente de acoplamento normalizado κ de tal
forma que
κ = C0LD. (4.71)
Se β+ e β− representam, respectivamente, os números de onda longitudinais para os super-
modos pares e ímpares do acoplador óptico de duas fibras de núcleos idênticos, então
β±(ω) = β(ω)± C(ω). (4.72)
Adoptando a expansão de Taylor de C(ω) tem-se
C(ω0 + Ω) = C0 + C1Ω +12
C2Ω2, (4.73)
Capítulo 4. Comutação Óptica 68
com Cm = (dmC/dωm)ω=ω0 obtém-se as novas equações
i(
∂A1
∂z+ β1
∂A1
∂t+ C1
∂A2
∂t
)− β2
2∂2A1
∂t2 −C2
2∂2A2
∂t2 + γ|A1|2A1 + C0A2 = 0, (4.74)
i(
∂A2
∂z+ β1
∂A2
∂t+ C1
∂A1
∂t
)− β2
2∂2A2
∂t2 −C2
2∂2A1
∂t2 + γ|A2|2A2 + C0A1 = 0. (4.75)
Novamente, com as unidades normalizadas ζ e τ e, desta vez, também, amplitudes normali-
zadas un(ζ, τ), as duas últimas equações reduzem-se a
i(
∂u1
∂ζ+ δ
∂u2
∂τ
)+
12
(∂2u1
∂τ2 − µ∂2u2
∂τ2
)+ |u1|2u1 + κu2 = 0 (4.76)
i(
∂u2
∂ζ+ δ
∂u1
∂τ
)+
12
(∂2u2
∂τ2 − µ∂2u1
∂τ2
)+ |u2|2u2 + κu1 = 0 (4.77)
com
δ =C1LD
τ0e µ =
C2LD
τ20
, (4.78)
sendo δ coeficiente de acoplamento de dispersão normalizado de primeira ordem e µ de
segunda ordem. De notar que, para δ = µ = 0 as equações NLS linearmente acopladas são
recuperadas.
O maior objectivo nesta parte é mostrar que para o estudo da comutação de solitões em
diferentes comprimentos de onda, devem ser utilizadas as Eq. (4.76) e (4.77) em vez das
equações anteriores que não consideravam a IMD. É possível o uso das antigas equações mas
considerando o coeficiente κ diferente para cada nova frequência portadora. Desta forma,
torna mais viável o uso das novas equações uma vez que os coeficientes são os mesmos para
solitões a diferentes comprimentos de onda.
Para o estudo do regime linear basta anular os termos de auto-fase nas Eq. (4.68) e (4.69),
ou no caso de se ter em conta a IMD, anular os mesmos termos nas Eq. (4.76) e (4.77). Algo
muito importante de referir é que este modelo apenas é válido enquanto se desprezar os
efeitos de ordem superior.
Capítulo 4. Comutação Óptica 69
4.4 Acoplador no domínio da frequência
Se ρ representa a distância entre os eixos os núcleos e a o raio do núcleo, seja s = ρ/a, então,
o coeficiente de acoplamento de um acoplador não-linear em fibra óptica de dois núcleos
idênticos pode ser dado pela Eq. (4.28).
Introduzindo Bn(z, ω) como a transformada de Fourier de Bn(z, t) da Eq. (4.62)
Bn(z, ω) =
∞∫−∞
Bn(z, t)exp(iωt)dt, n = 1, 2 (4.79)
e, de acordo a Eq. (4.5), se não houver sinal à entrada do segundo canal do acoplador, i.e.,
B2(0, ω) = 0, pode-se derivar ficando
B1 = B1(0, ω)exp[iβ(ω)z]cos[C(ω)z], (4.80)
B2 = iB1(0, ω)exp[iβ(ω)z]sin[C(ω)z]. (4.81)
Desta forma, é possível obter as expressões aproximadas para os coeficientes de trans-
missão nas duas fibras, quando se utiliza a expansão da Eq. (4.73), obtêm-se as expressões
aproximadas
t(ξ) ≈ sin2[
π
2κ
(δξ +
12
µξ2)]
, (4.82)
tx(ξ) ≈ cos2[
π
2κ
(δξ +
12
µξ2)]
, (4.83)
onde ξ é a frequência normalizada, tal que
ξ = Ωτ0. (4.84)
Para a simulação dos coeficientes de transmissão optou-se por usar os seguintes valores:
n1 = 1.50; a = 4.5µm; ∆ = 0.30%; τ0 = 1ps, λ0 = 1.55µm e β2 = −20ps2/km. Optou-se tam-
bém por usar κ = 1 e s = 9.5124. Uma vez que foi desprezada a dispersão material obteve-se
Capítulo 4. Comutação Óptica 70
δ = −0.0156 e µ = 2.4422× 10−4.
1.5 1.51 1.52 1.53 1.54 1.55 1.56 1.57 1.58 1.59 1.6
x 10−6
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
λ [µm]
Coeficie
nte
s d
e tra
nsm
issao
Coefecientes de transmissao de um acoplador half−beat
tx
t
tx(aprox)
t(aprox)
Figura 4.9: Funções de transferência t(λ) e tx(λ) para fibra de dois núcleos idênticos
De notar que existe uma boa correspondência entre os resultados obtidos com as ex-
pressões exactas e os obtidos com as expressões aproximadas. Nos comprimentos entre
1.52µm ≤ λ ≤ 1.58µm ocorre uma correspondência exacta entre as duas formas de cálculo
dos coeficientes de transmissão.
Capítulo 4. Comutação Óptica 71
4.5 Comutação de solitões com diferentes comprimentos de onda
Definindo o coeficiente de transmissão
T =1Q
∞∫∞
|u1(ζC, τ)|2dτ, (4.85)
onde Q é a energia total, representado por
Q =
∞∫−∞
(|u1(ζC, τ)|2 + |u2(ζC, τ)|2
)dτ. (4.86)
Para o estudo dos coeficientes de transmissão, vai-se analisar a transmissividade T em
função da potência normalizada do pico de entrada p, para diferentes comprimentos de onda:
λ = λ0 ± ∆λ com comprimento de onda central λ0 = 1.55µm e ∆λ = 30nm.
0 2 4 6 8 10 120
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
p
transm
issiv
idade
λ = 1.52
λ = 1.55
λ = 1.58
Figura 4.10: Coeficiente de transmissão T em função da potência normalizada do pico de entrada p
para λ = 1.52µm, λ = 1.55µm e λ = 1.58µm com IMD.
Capítulo 4. Comutação Óptica 72
Estes resultados, que revelam o comportamento não-linear, correspondem a uma entrada
de
u1(0, τ) =√
psech(√
pτ)exp(−iξτ) (4.87)
u2(0, τ) = 0 (4.88)
Pode-se dizer que a variação do comprimento de onda faz variar as curvas de transmissão.
Por exemplo, para um impulso com p = 8, sai no primeiro núcleo se for λ = 1520nm e sai no
segundo núcleo se for λ = 1580nm.
De acordo com a Eq. (4.85) tem-se ξ(λ) = ξ0(λ0/λ− 1) com ξ = ω0τ0. Apenas quando
ξ = 0, i.e., para λ = λ0 se obtêm a habitual curva de transmissão não-linear T(p) com
T(0) = 0. Para δ = µ = 0, todas as curvas seriam idênticas a T(p) para o comprimento de
onda central como é observável na Fig. 4.10.
0 2 4 6 8 10 120
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
p
transm
issiv
idade
λ = 1.52
λ = 1.52 (sem IMD)
λ = 1.58
λ = 1.58 (sem IMD)
Figura 4.11: Coeficiente de transmissão T em função da potência normalizada do pico de entrada p
para λ = 1.52µm e λ = 1.58µm com e sem IMD.
Capítulo 4. Comutação Óptica 73
Da mesma maneira da Fig. 4.9, pode-se resolver este problema através das Eq. (4.68) e
(4.69) se forem escolhidos os coeficientes κ correctamente. Deste modo, para λ = 1.52µm
toma-se o valor de κ = 0.6874 e para λ = 1.58µm tomou-se o valor de κ = 1.4438, também se
deve tomar ξ = 0 para a entrada. É possível assim comparar os resultados demonstrados na
Fig. 4.10 com aqueles obtidos através do modelo acima mencionado, essa comparação é feita
na Fig. 4.11.
1.5 1.51 1.52 1.53 1.54 1.55 1.56 1.57 1.58 1.59 1.60
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
λ[µm]
transm
issiv
idade
p = 3
p = 9
Figura 4.12: Coeficiente de transmissão T em função do comprimento de onda λ para p = 3 e p = 9
contabilizando a IMD.
Outro aspecto interessante de analisar é o comportamento da transmissividade com o
comprimento de onda para duas entradas em que é diferente o valor da potência de pico
normalizada. A função à entrada da fibra continua a ser ilustrada pela Eq. (4.87) e o modelo
usado com a dispersão intermodal, i.e., Eq. (4.82) e (4.83) (Fig. 4.12).
Capítulo 4. Comutação Óptica 74
4.6 Influência da dispersão intermodal na comutação de solitões em
diferentes comprimentos de onda
De forma a estudar o efeito da lMD na comutação de solitões em sistemas WDM, analisou-se
o comportamento da comutação para uma entrada
u1(0, τ) =√
psech(√
pτ)3
∑k=1
exp(−iξkτ), (4.89)
com u2(0, τ) = 0, ξ1 = ξ(λ = 1.52µm), ξ2 = ξ(λ = 1.55µm) e ξ3 = ξ(1.58µm). O valor de
potência normalizada do pico de entrada para todas as simulações é p = 9
A Fig. 4.13 mostra o sinal de saída de |u1(ζC, τ)| em regime não-linear com IMD.
Figura 4.13: Sinal de saída |u1| em regime não-linear com IMD.
Capítulo 4. Comutação Óptica 75
Figura 4.14: Sinal de saída |u1| em regime não-linear sem IMD.
Porém, se a IMD não for considerada, o resultado é diferente como se pode verificar através
da Fig. 4.14. Uma vez que se encontra dentro da região de dispersão anómala, o impulso mais
à esquerda das duas referidas figuras corresponde ao comprimento de onda mais pequeno,
λ = 1.52µm. Como existem variações notáveis nos dois resultados, pode-se concluir que, para
estudar a comutação entre solitões, não se podem usar as Eq. (4.68) e (4.69), isto verifica-
se, pelo que, a variação do coeficiente κ entre os canais WDM não pode ser normalmente
desprezado, o que torna obrigatório a utilização das Eq. (4.76) e (4.77).
Pode-se ver também que, para um sistema WDM a operar em regime linear as diferenças
entre os sinais de saída obtidos com e sem IMD são significativas. Quando existe a contribui-
ção da IMD, nas frequências adjacentes à frequência central é possível observar que o sinal à
saída da fibra 1 tem muita energia, ao contrário daquilo que ocorre quando não existe essa
contribuição, Fig. 4.15 e 4.16.
Capítulo 4. Comutação Óptica 76
Figura 4.15: Sinal de saída |u1| em regime linear sem IMD (ocorre uma comutação perfeita do sinal
não existindo sinal à saída da fibra 1).
Figura 4.16: Sinal de saída |u1| com IMD (para as frequências adjacentes à frequência central é possível
observar que existe ainda muita energia na fibra 1).
Capítulo 5
Conclusão
5.1 Conclusões principais
O estudo efectuado no Capítulo 2, permitiu concluir que, na propagação de impulsos em re-
gime linear, o sinal pode sofrer interferência inter-simbólica, em consequência do alargamento
dos impulsos e do fenómeno da dispersão, o que condiciona o débito binário da transmissão
digital. Analisou-se a influência do parâmetro de chirp na compensação da dispersão. Obtém-
se piores resultados para valores negativos, acentuando-se o efeito da interferência intersim-
bólica, uma vez que se obtém sempre maior largura do impulso. Entre o chirp positivo e a
ausência do mesmo existe um compromisso intermédio. A influência do chirp positivo produz
um menor alargamento do impulso até a uma certa distância, a partir do qual a sua ausência
produz melhores resultados.
No mesmo capítulo, foi dedicada ao estudo da propagação de impulsos em regime não-
linear, nomeadamente à propagação do solitão de primeira ordem ou solitão fundamental. A
introdução do SSFM é fundamental na resolução das equações não-lineares de propagação
de impulsos. Verificou-se que na ausência de perdas o solitão fundamental, mantém a sua
amplitude e largura inalteradas ao longo do percurso na fibra óptica. Isto deve-se ao facto de
77
Capítulo 5. Conclusão 78
haver um equilíbrio perfeito entre o DVG e a AMF.
No Capítulo 3, foi analisada a teoria do acoplamento modal feito a partir da análise de dois
guias ópticos tridimensionais, paralelos entre si. Concluiu-se que, da proximidade dos dois
guias, passa a existir um supermodo que resulta do acoplamento de potência de um guia para
o outro. É de notar que este fenómeno só ocorre quando os guias estão a uma determinada
distância mínima, quando a intensidade do campo evanescente for suficientemente elevada
para poder excitar um modo no guia adjacente. Estudou-se também o acoplamento codirecci-
onal e acoplamento contradireccional e as respectivas respostas do andamento das potências
transportadas por cada guia. No acoplamento codireccional concluiu-se que, no caso de haver
sincronismo, há uma perfeita permuta de energias entre os guias acopladas com uma certa
periodicidade. Já no caso do acoplamento contradireccional, na situação de sincronismo, a
transferência de energias de um guia para outro depende da reflectividade do sistema. No
entanto, esta transferência não é total nem é periódica.
O Capítulo 4 foi dedicado ao tema da comutação óptica. Foi visto que, em fibras ópticas
de dois núcleos idênticos, o método utilizado para o estudo da propagação de impulsos em
acopladores direccionais com não-linearidade de Kerr, baseia-se em duas equações NLS aco-
pladas, onde existe uma parte linear devido ao coeficiente de acoplamento e uma outra parte
não-linear devido à XPM. Verificou-se que o modelo que consiste em duas equações NLS aco-
pladas linearmente, pode ser aplicado à comutação de solitões em diferentes comprimentos
de onda. Neste caso é necessário alterar o coeficiente de acoplamento para cada novo compri-
mento de onda da portadora. Por outro lado, o novo modelo que considera a IMD, é capaz de
analisar o mesmo problema para diferentes comprimentos de onda. Verificou-se também, que
existem situações em que se pode desprezar o efeito da IMD e assim, usar equações que não
incluam esse efeito. Uma destas situações é a propagação de solitões na frequência central
de um acoplador half beat, i.e., quando o comprimento de onda é igual à distância de acopla-
Capítulo 5. Conclusão 79
mento. Por último, o modelo que não toma a IMD em conta, falha na análise da comutação
de solitões em sistemas WDM. Com efeito, se houver uma variação no coeficiente de acopla-
mento entre os dois canais mais exteriores do sistema WDM, apenas o modelo que inclui o
efeito da IMD pode dominar as dinâmicas do acoplamento com a necessária precisão.
Em suma, as fibras ópticas e a fotónica vieram revolucionar os sistemas de comunicação de
hoje em dia, abrindo portas a novos estudos e técnicas na transmissão de dados de informação,
desempenhando papeis cada vez mais preponderantes na área da comunicação óptica.
Capítulo 5. Conclusão 80
5.2 Perspectivas de trabalho futuro
Após o cumprimento dos objetivos propostos, existem alguns outros tópicos interessantes
que podem ser abordados em trabalhos futuros: Acopladores com amplificação óptica; Uso
de comutação para filtro de ruído do sinal; Controlo de comutação através da potência de pico
dos sinais; Análise de acopladores não lineares de constante de acoplamento linear variável
longitudinalmente; Estudo e análise de efeito de Raman;
Bibliografia
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