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  • O ACORDO ORTOGRFICO DA LNGUA PORTUGUESA

    Marcelo Mrio de Melo

  • Orths em grego certona rgua e na bitola a coisa na medida

    o passe certo da bolaa obra bem acabada

    em corte costura e cola.

    A palavra ortografiaquer dizer a escrita certa

    seguindo o que manda a regraolhando os sinais de alerta

    aos erros do caminhosem deixar a porta aberta.

    Juntando nove paseso Brasil e Portugal

    assinaram um acordopra se ter grafia igual

    mesmo com as diferenasque h na expresso oral.

    Angola e Cabo VerdeBrasil e Guin Bissau

    Moambique e So TomeTimor Leste e Portugal

    Junto a So Tom e Prncipepara fechar o total.

    Aconteceram mudanasque j esto em vigor

    e preciso saberem detalhe o seu teor.

    Eu vou tratar do assuntopreste ateno por favor.

    As mudanas atingiram

    o alfabeto e o tremao hfen e os acentos

    tudo a servio de um lema:unificao da lngua

    e reduo de problema.

    As letras do alfabetoso agora vinte e seis.

    O k o w o yderam entrada os trsmarcando sua presena

    no idioma portugus.

  • Em palavras estrangeiraselas so utilizadas.

    Em todos os nomes prpriosdevem ser incorporadas.E assinalar os smbolos

    faz parte das coordenadas.

    O trema saiu da tramano h mais em quase nada

    foi deletado da lngua matria encerrada

    ningum vai chorar por eleno fim da sua jornada.

    S se usa em nomes prprios

    e os devidos derivadoscomo Mller mllerismoe outros assemelhados.

    Restou somente um fiapodos pontinhos enganchados.

    Em matria de acentomuita coisa foi mexida.Houve grande reduo

    mudaram peso e medida.Fique atento s regrasna escrita produzida.

    No recebem mais acento

    ei e oi ditongo aberto.No se acentua a plateiaque aplaude o que certoigualmente o paranoicoque v perigo por perto.

    Ditongo em paroxtona

    o que trato no momentopois na palavra oxtona

    no muda o procedimento.Nela o ditongo abertocontinua com acento.

    E tambm nada se altera

    no ditongo aberto uem palavras conhecidascomo vu ilhu chapue tudo que assim existaentre a terra e o cu.

  • Agora o hiato oono mais acentuado.O voo dos passarinhosfoi na escrita podadoe o incmodo enjoo

    tambm assim foi tratado.

    E o hiato eesegue no mesmo compasso.Crem lem deem vem

    sumiram foram pro espao.Creem leem deem veem:

    agora este o trao.

    Antes palavras homgrafasas de grafia igual

    recebiam um acentodito diferencial.

    Isto agora mudou.Vamos dar uma geral.

    Para do verbo parare para preposio

    se escrevem do mesmo jeito sem diferenciao

    que se faz pelo sentido sem sinal pra distino.

    Nos casos de pode e pde

    o acento tem efeitomarcando os tempos do verbo

    e veja isto direito:presente do indicativo

    e pretrito perfeito.

    Permanece o circunflexono verbo pr. E ateno:escreve-se sem acentotodo por preposio.

    V pr o acento direitopor esta compreenso.

    Para do verbo parare para preposio

    se escrevem sem acentona nova orientao.

    Pera pelo e tambm poloseguem o diapaso.

  • Antes do g e do qe tambm do e e i

    a letra u perde o acentoIsto no Acordo eu li.

    So palavras rizotnicas:deixo esclarecido aqui.

    Argi enxage apazige

    averige e obliqej so coisas do passado

    e agora assim se aplique:argui enxague apazigue

    averigue e oblique

    No se deve acentuarpara no ser anacrnico

    palavra paroxtonaque no tem i e u tnico

    precedidos de ditongo:assim tudo ficar harmnico.

    Agora eu dou quatro exemplos

    ilustrando este conjunto:dois so baiuca e boiunae mais dois eu boto junto:

    so saiinha e feiurapara encerrar o assunto.

    Houve hfen retiradoe ficou hfen de p.

    Alguns mudaram de norma.Outros chegaram com f.A parte mais complicada

    do Acordo esta .

    Prefixo ou falso prefixoque terminar em vogalse a palavra da frentetiver vogal por igual

    no recebe mais acento:esta a regra geral.

    Infra neo semi e suprainfra contra extra autoe acrescentando ultrano self servicelauto

    seguem o mesmo padro:nisto no seja incauto

  • Autoajuda autoescolaautoestrada autoinstruo

    contraexemplo contraordem e contraindicao

    extraescolar tambmcaminhando no cordo.

    E a infraestrutura

    do projeto intraocular? o neoimperialista

    que pretende comandar?Vamos dar a contraordem

    e o problema sanar.

    Que se estude o semiridocom supracompreenso.

    Na semiobscuridadeno se encontra a soluo.

    Prejuzo ultraelevadoj pesa na regio.

    Quando a palavra da frente

    comea por r ou sse escreve tudo emendado

    o hfen desaparecedobra-se a consoante

    e a velha regra se esquece.

    Agora peo ateno a um destaque que h.

    Quando a palavra da frentecomea pelo h

    como anti-heri e anti-humanoo hfen tem seu lugar.

    Se duas vogais iguais

    se encontram na esquinaelas se emendam no hfen

    esta a sua sina.Anti-ibrico de um lado

    micro-ondas noutra quina.

    Mas h uma exceoquando o prefixo co.Escreva cooperaofaa o hfen virar pcoordene a operao

    na soma de o com o.

  • No se usa mais o hfenquando j so esquecidos

    um a um os elementoscom o tempo reunidos

    s sendo colhidos juntos como se juntos nascidos.

    Mandachuva paraquedasparabrisa e parachoqueparalama e parabrisaagora tm esse toque.

    Sem esquecer paraventodentro do mesmo enfoque.-

    Certas palavras compostas

    sem termos de ligaocontam com a marca do hfen:

    mdico-cirurgioconta-gotas guarda-chuvasegunda-feira ateno!

    Me contaram que um hfen

    dirigiu-se a um quartelcolou-se segunda-feiranum tenente-coronelviu o cu azul-escuro

    e depois foi comer mel.

    Zoologia e botnicaao hfen do a vez.

    Ano-luz e couve-florso exemplos pra vocs.Bem-te-vi e mal-me-quer.Beija-flor outro fregus.

    O Brasil fala fechado Portugal fala aberto.Foi preciso no Acordodeixar isto muito certo

    abrindo excees na regrapra ficar tudo coberto.

    Os casos que vou mostrarnavegando na poesiatm o endereo certo

    seu nome dupla grafia:palavras de duas caraspresentes no dia a dia.

  • Matin ou matinns ammos ou amamos

    o coc ou o cocnem louvmos nem louvamos

    escrevemos pnei/pneie nisto ns no erramos.

    Vnus a Deusa do amor Vnus em Portugal

    fmur l se escreve fmuresta a regra geral

    e chamar nix de nixtambm no faz nenhum mal.

    O sof muito cmodome falou o portugus.

    respondi: muito cmodoconforme falo a vocs

    e no sou gnio ou gnioreafirmei aos ingls.

    Pondo Portugal de ladoh outros casos no meio.Neste aspecto ou aspeto

    negocio ou negoceioe se houver merecimento

    eu premio ou premeio.

    Dblio e diferenarso duas palavras raras

    exibem dupla grafiapasseiam com duas caras:

    dbliu e diferenciarse penduram nas araras.

    Duplicidade tambmnada nas guas do acento.

    Avergue ou averigue gue ou ague: fique atento.

    O acento miudinhocaprichoso e embirrento.

    No final deste folhetoquero prestar homenagem

    a um padre guerrilheiroculto e de muita coragemque na histria do Brasil

  • cunhou a sua imagem.

    Eu falo de Frei Caneca (*)defensor da liberdadejornalista e professor

    de fora e profundidadeautor de uma gramtica

    que busca a simplicidade.

    Ele escreveu alisobre a ortografia

    com proposta radicalque espanta hoje em dia.

    Se ela fosse seguidatudo melhor ficaria.

    O Acordo Ortogrficobati aqui no martelo.Na matria da poesiatracei o seu paralelo

    em versos que querem sersemente claro e elo.

    (*) Frei Joaquim do Amor Divino Caneca [ ] , frade carmelita, professor, jornalista, escritor e revolucionrio pernambucano feito preso poltico e fuzilado no primeiro imprio pela sua participao na Confederao do Equador,revoluo ocorrida em Pernambuco em 1824.

  • CRONOLOGIA DO ACORDO

    1990, 16.12 Assinatura em Lisboa por Portugal, Brasil, Angola, So Tom e Prncipe, Cabo Verde.2004 Adeso de Timor Leste, depois de conquistar sua independncia da Indonsia1995, 28.4 A nova Ortografia aprovada pelo Decreto Legislativo n 54 e sancionado na Academia Brasileira de Letras no dia 29 de setembro, data do centenrio do escritor Machado de Assis.

  • Frei Caneca e a reforma ortogrficaMarcelo Mrio de Melo

    Sou inteiramente favorvel ao Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa, concebido e conduzido por Antnio Houaiss e j assinado por trs pases: Brasil, Cabo Verde e So Tom e Prncipe. Com ele, ficariam sem acento as palavras assemblia, idia, europia, enjo, vo. Seriam eliminados o tremae os acentos em lem, dem, pra (do verbo parar) plo (de pilosidade) plo (Plo Norte), apio, jia, herico. Perdendo-se a oportunidade da sua pura e simples eliminao, a incidncia do hfem seria reduzida, saindo de contra-regra, extra-escolar, anti-semita e anti-religioso, e mantendo-se em micro-ondas e arqui-inimigo. O alfabeto seria acrescido das letras k, w e y. Serei sempre favorvel ao mximo de mudanas em tudo, desde que elas, como o caso, no sejam movidas por puro modismo ou capricho de burocrata.

    As reformas ortogrficas anteriores, de 1943, 1958 e 1971, foram inquestionavelmente positivas, eliminando arcasmos inaceitveis, aproximando a regra gramatical do uso corrente, facilitando o manejo da lngua escrita e o intercmbio grfico-editorial entre os pases de lngua portuguesa. S para lembrar, em 1943 ficamos livres quase completamentedo h mudo e de grafias como pharmcia, ptimo, prompto, ah. E s isto j pode ser considerado uma grande conquista.

    Em 1958, no bojo da Nova Nomenclatura Gramatical Brasileira, o nmero das categorias gramaticais passou de oito para dez, incluindo-se como tais o numeral e o artigo, e foi estabelecido que s tnhamos trs conjugaes de verbo, sendo o verbo pr, o arcaico verbo poer (juntamente com os seus derivados), considerado uma anomalia da segunda conjugao.Tambm passamos a poder escrever oxente, pela primeira vez, na histria do Brasil, depois que os meninos de muitas geraes se cansaram de levar caro das professoras para pronunciarem oh, gente!, no mais estrito decalque do portugus de Portugal. E foram aportuguesadas vrias palavras, a exemplo de gol e futebol, que antes tnhamos de escrever em ingls e aspeado, goal e foot-ball. O sistema de acentuao tambm foi mexido. As palavras oxtonas terminadas em i e em u (cururu, oiti) deixaram de ser acentuadas, com exceo para quando formassem hiato em slaba tnica (Andara, Cuca).

    Em 1971 tivemos a retirada do acento grave na subtnica (p/pzinho; tima/timamente) e uma srie de acentos circunflexos diferenciais, com

  • exceo para pde/pode, pr/por, plo/pelo. A ausncia de exceo para frma e forma ainda uma boa fonte de confuso.

    Posto isto, quero salientar que todas essas mudanas propostas partem de uma matriz moderada, diferentemente das indicaes formuladas por Frei Caneca na gramtica que escreveu numa priso baiana, nos quatro anos em que esteve cumprindo pena, depois da derrota da Revoluo Pernambucana de 1817. Nos incios do sculo 19, o frade levava para os tratos da lngua o mesmo esprito radical e transformador que imaginava para a vida social, sobre a qual dizia: s h um partido que o da liberdade civil e da felicidade da ptria, e tudo que no for isto h de ser repulsado a ferro e fogo. Quanto gramtica ele denunciava: O alfabeto portugus muito imperfeito, visto que para formar umas slabas, tem letras demais, e para formar outras, faltam-lhe letras (...) a letra c com o som de k ou de q; a letra g com o som de j; a letra s com o som de z; as letras ch com o som de q ou x... Era desnecessrio colocar uma vrgula abaixo de um c para conservar o som de s: a, o, u e pronunciarmos sa, so, su

    Caneca era contra uma mesma letra representar diferentes sons, como o x, que soa x em xarope, z em exame e ks em fixo. Ou o g e o j , superpondo-se em ginsio e jia. Defendia para cada letra um som distinto. Seguindo este princpio, escreveramos xave, ezame e fiquiso (ou fiqso). Naquele tempo ele j combatia o h mudo e as letras mudas em geral, que na sua maioria s saram de cena em 1943. Mas ainda temos o h mudo em haver ehora, que bem poderiam ser grafados aver e ora. Na linha de Caneca, teramos que eliminar os paralelismos e as superposies entre ss, c e , todos os trs representando o fonema c, como em cu, isso e peo. Portanto, ou cu, ico e peco, ou u, io e peo, ou sseu, isso e pesso. E tambm seria necessrio dar um jeito no fonema k, representado, ora peloc (peco), ora pelo q (quero). Frei Caneca tambm de manifestou contra a consoante dobrada. E props a eliminao do u no pronunciado, em palavras como guerra, guia, quente, franquia, que poderiam ser, simplesmente, gerra, gia, qente e franqia Isto, estabelecendo-se previamente, no esprito de Caneca, a exclusividade do j para o fonema j edo g para o fonema gu.

    Tomar impulso a partir das propostas de Frei Caneca seria muito bom para a lngua portuguesa. Mas como isto ainda to avanado e radical como o direito de comer trs vezes por dia com sobremesas e lanches, vamos garantir, agora, um passo frente mais moderado, tirando do papel para avida, como dizia D. Hlder Cmara, o Acordo Ortogrfico em que Houaiss tanto se empenhou. O fundamental que haja simplificao para o povo e ampliao do denominador comum entre os diversos pases de lngua portuguesa, destacando-se a as vantagens nos andamentos da palavra impressa.

    (Publicado em Opinio, Jornal do Commrcio, Recife-PE, ed 18.6.2008)

  • NOTAS SOBRE ORTOGRAFIA (*)

    Frei Joaquim do Amor Divino Caneca O alfabeto portugus muito imperfeito, visto que para formar umas

    slabas tem letras demais, e para formar outras lhe faltam letras; porque adotaram os homens alguns erros que comunicaram posteridade, e que jesto irremediveis. Com esses erros fomos nos habituando desde a nossa infncia a pronunciar algumas letras com sons diferentes dos seus naturais, v. g: a letra c com o som de k ou de q; a letra g com o som de j; a letra s com o som de z; as letras ch com o som de q ou de x; as letras ph com o som de f.

    A letra c, to necessria e de tanta utilidade no alfabeto portugus,

    sofre tantas alteraes, que se pode afirmar que ela tem um som indeterminado, porque tendo o c naturalmente um som brando, semelhanteao de s, com ela unida s cinco vogais podamos formar as slabas sa, se, si,so, su, sem precisarmos de s. Mas no sucede assim, porque desde a nossa escola nos ensinam a pronunciar c com som de k ou de q, quando a unimos com as vogais a, o, u, v. g: ca, co, cu, pronunciamos ka, ko, ku; e somente aconservar o seu natural som de c quando a unimos com as vogais e, i, v. g: ce, ci, pronunciamos se, si. Ora, isso um erro imperdovel, porque se consultarmos a natureza das coisas, veremos, que se uma criana, quando inicia a pronunciar as primeiras slabas, interrogarmos ca? co? cu? Ela rapidamente responder sa, so, su e no ka, ko, ku; e era desnecessrio por uma vrgula abaixo do para conservar o som de s v. g: a, co, u, e pronunciamos sa, so, su.

    vista disso fao as seguintes observaes: Se a letra c tem o som natural de s, deve sempre conservar este som em todas as slabas; e ento torna-se desnecessria a letra s.

    Se a letra c tem o som de k ou de q, deve conservar sempre este som em todas as slabas; e ento tornam-se desnecessria as letras k , q.

    Se a letra c tem o som de k ou de q, deve conservar sempre este som em todas as slabas, e no era preciso usar-se de ch para produzir o som daquelas letras.

  • Se as letras ch tm o som de k ou de q, devem sempre conservar este som; e no mudar outras vezes para o som de x, porque desse modo estaremos constantemente ignorando quando convm pronunciar alguns desses sons, v. g: a palavra choro, escrita com as mesmas letras, significa xoro e coro.

    Para formarmos as slabas fa, f, fi, fo, fu, temos a letra f, e no preciso usar o ph. Para formarmos as slabas j, je, ji, jo, ju, temos a letra j, que deve pronunciar-se com o som ge, e no com o som de jota; e para as slabas je, ji no preciso usarmos g, que tem o som de de gue.

    Para as slabas gua, gue, gui, go, gu, basta usarmos simplesmente de g sem ajuntar-lhe u, porque g deve pronunciar-se com o som de gue, e no de je.

    Para as slabas qua, que, qui, quo, qu podemos usar simplesmente das letras q ou k, e no usarmos umas vezes de c, outras de ch, outras de q, s ou unido com u, e outras vezes de k.

    Para as slabas za, ze, zi, zo, zu, temos a letra z, e no precisamos usar de s, em lugar de z, nos termos compostos, v. g: desaparecer: e quando na pronuncia de dois termos o s final do primeiro fere naturalmente a vogal inicial do segundo termo, v. g: meus amigos, onde se percebe a slaba za.

    Para as slabas sa, se, si, so, su, temos a letra s, e no precisamos da letra c.

    Para as slabas xa, xe, xi, xo, xu, temos a letra x, e no precisamos das letras ch. At aqui tenho mostrado, que o alfabeto portugus, para formar umas slabas, tem letras demais; agora mostrarei que, para formar outras, faltam-lhe letras como:

    Para formar as slabas nh, nhe, nhi, nho, nhu, e lha, lhe, lhi, lhu, no temos letras, usamos do h entre as vogais e consoantes, porque sem este artifcio as consoantes l, n, ferindo na pronuncia as vogais, formam diferentes slabas, v. g: as palavras minha filha, sem h fica mina fila. Ora, bem se v que estas slabas so falsas; pois que no h palavras queiniciem por nh, lh. Reprovo, finalmente, o uso de duplicar as consoantes, v. g: bb sabbado, cc accento, dd addio, gg aggravo, ff affeio, ll elle, mm grammatica, nn anno, pp appenso, ss assembla , ct objecto, sc sciencia, pt escripto; porque demora a escriturao, e de nada serve pronuncia. Alm disso, se ns falamos para sermos entendidos, no h coisa mais miservel, que falarmos de modo que ningum nos entenda; o que assim sucederia, se pronuncissemos todas as consoantes duplicadas.

  • Esta verdade foi reconhecida pelo Sr. Jeronymo Soares Barbosa, que depois de dar em sua grammtica philosophica grande nmero de regras acerca da ortografia, disse finalmente: "Escrevam-se as palavras com tantas letras, quantas bastem para a pronunciao"

    (*) Texto com o ttulo de Notas, extrado do Breve Compndio de Gramtica Portugueza, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, Obras Polticas e Literrias, Tomos I e II, segunda edio fac-similar da Assemblia Legislativa de Pernambuco, 1979, partindo da edio da Typographia Mercantil, Recife, 1875. Escrito na priso, na Bahia, onde Frei Caneca passou quatro anos, depois da Revoluo Pernambucana de 1817. Pela participao na Confederao do Equador, foi condenado por tribunal militar e fuzilado no Recife em 1824.