[Adenáuer Novaes] Psicologia e universo quântico

download [Adenáuer Novaes] Psicologia e universo quântico

of 208

Transcript of [Adenáuer Novaes] Psicologia e universo quântico

Psicologia e Universo QunticoUm olhar sob o paradigma espiritual

PUC (p 1-160-A).pmd

1

21/1/2009, 07:57

1 Edio Do 1 ao 5 milheiro

Criao da capa: Objectiva Comunicao Fotos da capa: Grupo Keystone Direo de arte: Gabriela Diaz Reviso: Maria Anglica de Mattos Reviso de contedo: Evanise M. Zwirtes Editor: Djalma Motta Argollo Diagramao: Joseh Caldas

Copyright 2009 by Fundao Lar Harmonia Rua Dep. Paulo Jackson, 560 Piat 41650-020 [email protected] www.larharmonia.org.br (71) 33751570 e 32867796

Impresso no Brasil ISBN: 978-85-86492-25-9

Todo o produto da venda desta obra destinado s obras sociais da Fundao Lar Harmonia

PUC (p 1-160-A).pmd

2

21/1/2009, 07:57

Adenuer Novaes

Psicologia e Universo QunticoUm olhar sob o paradigma espiritual

FUNDAO LAR HARMONIA CNPJ/MF 00.405.171/0001-09 Rua Dep. Paulo Jackson, 560 Piat 41650-020 Salvador Bahia Brasil 2009

PUC (p 1-160-A).pmd

3

21/1/2009, 07:57

Biblioteca Nacional Catalogao na Publicao

Novaes, Adenuer, 1955 Psicologia e Universo Quntico, um olhar sob o paradigma espiritual ISBN: 978-85-86492-25-9 208 p. CDU CDD 154.6 ndice para catlogo sistemtico: 1. Psicologia 2. Fsica Quntica 3. Espiritismo 154.6 530.12 139.9

PUC (p 1-160-A).pmd

4

21/1/2009, 07:57

Aos fsicos e matemticos, pesquisadores indiretos da psiqu humana, velhos alquimistas e sacerdotes do mundo atual. A convico da fora divina em todas as coisas sustenta minhas ideias que emergem a respeito do Universo Quntico. O arqutipo natureza pura, no deturpada... C. G. Jung.

PUC (p 1-160-A).pmd

5

21/1/2009, 07:57

PUC (p 1-160-A).pmd

6

21/1/2009, 07:57

Prefcio

o h obstculo mente humana que no seja por ela criado quando se trata de imaginar. essa arte que tem feito o ser humano chegar ao mais alto ponto de sua trajetria evolutiva, desfigurando vus e construindo diferentes alicerces do seu saber. Os horizontes tm se tornado cada vez mais largos na percepo da vida, do Universo e da prpria mente humana, e isso se deve ao que nela criou as fantasias, os mitos e tudo que representa o transcendente. Os frutos do esforo humano em superar limites surgem nas grandes obras a servio do esprito empreendedor e nas realizaes benemritas, nas quais aparecem a solidariedade e o amor. Esse sim, tem sido o grande fator motivacional das realizaes humanas. Mesmo que se construam teorias contrrias ao rompimento da ignorncia, a mente humana, num esforo autorealizador, extrapolar aqueles limites, apresentando o novo e o singular. Assim sempre foi na histria do progresso humano. Quando tudo parece apontar para o ocaso do mundo, eis que surge uma luz, um novo paradigma, uma nova cincia ou um novo heri para mostrar de forma surpreendente que algo maior sempre se apresentar adiante. Paradoxalmente, e ao mesmo tempo compreensvel, quanto mais a mente humana desvenda o mistrio que envolve as coisas e o Universo como um todo fora dela, mais o ser humano se percebe a

N

PUC (p 1-160-A).pmd

7

21/1/2009, 07:57

si mesmo. O movimento, mesmo sendo para fora, voltase para dentro. O que me moveu a escrever sobre esse tema tem a influncia do olhar que sempre tive para as estrelas e para mim mesmo.

Adenuer NovaesNatal de 2008

PUC (p 1-160-A).pmd

8

21/1/2009, 07:57

SumrioIntroduo ................................................................... 11 Primeira Parte: Uma Outra Realidade Breve Histria da Fsica Quntica ............................. O Que Universo Quntico? ...................................... As Ideias Qunticas ..................................................... A Busca da Unidade .................................................... Segunda Parte: A Realidade Espiritual O Que o Espiritismo? ............................................... A Religio Esprita . .................................................... Os Caminhos do Espiritismo ...................................... Implicaes das Ideias Espritas ................................ Terceira Parte: Psicologia do Esprito Psicologia e Espiritismo ............................................. Breve Histrico dos Primrdios da Psicologia .......... A Cincia da Mente ..................................................... O Lcus do Inconsciente ............................................ A Psicologia do Esprito .............................................. Fsica Quntica e Psicologia Analtica .......................

23 41 47 57

67 73 81 89

97 101 113 121 125 131

Quarta Parte: O Humano e o Divino Espiritismo, Psicologia e Universo Quntico ............ 143 Multidimenses ........................................................... 151 A Sinfonia Csmica ..................................................... 155

PUC (p 1-160-A).pmd

9

21/1/2009, 07:57

A Nova Cincia da Mente ........................................... Que Campos Criamos e Sintonizamos ....................... O Universo Elegante? ............................................... Ideias Qunticas e Distrbios Psicoespirituais .......... Dvidas e Possibilidades ............................................. Exerccios Qunticos ..................................................

159 163 169 177 185 191

Glossrio...................................................................... 195 Bibliografia ................................................................. 203

PUC (p 1-160-A).pmd

10

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

Introduo

Desde que Max Planck publicou, em 1900, as leis sobre a radiao trmica e Niels Bohr afirmou que era impossvel usar, num mesmo fenmeno fsico, uma descrio no tempo e no espao das leis de conservao de quantidade de movimento e de energia, o Universo deixou de ser o mesmo. Abriu-se a mente humana para a percepo de possibilidades mltiplas de compreenso da Realidade, exigindo total reestruturao de conceitos. No adiantaram as tentativas de Albert Einstein de enquadrar ou limitar o Universo conhecido a um princpio nico, pois a mente humana queria expandir-se para alm dos limites estabelecidos. A lgica mecanicista estava com seus dias contados. A dissidncia havida nos primrdios da Fsica Quntica era apenas uma das inmeras divergncias existentes na Cincia, que est longe de ser uma unanimidade. Semelhante mudana de paradigma ocorreu dcadas antes, em 1857, com o advento do Espiritismo, enquanto conhecimento que afirma as leis que regem os destinos humanos aps a morte do corpo fsico. Outro mundo se percebia, englobando a realidade material. Espiritismo e Fsica Quntica so duas grandes revelaes cientficas que contriburam para o avano do Esprito em sua ascenso infinita. Adiante, veremos esses dois conhecimentos com mais detalhes.11

PUC (p 1-160-A).pmd

11

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

Definitivamente, a mente do observador foi inserida nos processos fsicos, desagradando interpretaes contrrias. Essa insero no foi forada nem ocorreu como alternativa de interpretao, mas por imposio do prprio fenmeno. O ser humano passava a se perceber como participante ativo do Universo e no apenas observador passivo do que lhe ocorre. Isso o obrigou a rever sua viso de mundo, de realidade e a sua concepo a respeito de Deus. O mais nefito dos fsicos qunticos sabia que no encontraria a unidade ltima da matria, por se tratar de uma abstrao, mas que alcanaria seus rastros, passveis de identificar a natureza das coisas. Os fsicos qunticos no imaginaram, porm, que se deparariam com um outro universo: o fantstico e imprevisvel mundo microatmico. Descobriram um universo dentro de outro, funcionando com princpios inalcanveis e paradigmas distintos. Os significativos avanos proporcionados pela Fsica Quntica no se limitaram ao laser, aos computadores e ao uso, muitas vezes inadequado e inconsequente, da energia nuclear, mas, principalmente, alcanaram uma nova viso de mundo e a quebra de importantes paradigmas clssicos. Teorias novas a respeito da vida, do Universo e da realidade foram surgindo, proporcionando uma grande abertura mente humana para compreenso de sua origem, de seu destino, bem como de sua complexa estrutura. Assuntos de ordem espiritual, antes de domnio exclusivo das religies, passaram tambm a ser objeto de interesse da Fsica, em face dos mltiplos universos dimensionais que as equaes da Matemtica Quntica evocavam. O mundo fsico e o mundo espiritual passaram e se entrelaar sem que se pudesse estabelecer onde comea um ou termina o outro.12

PUC (p 1-160-A).pmd

12

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

Novas disciplinas, novos tericos e um sem nmero de experimentos promoveram a insero de algo inimaginvel para as conservadoras academias cientficas: a especulao filosfica baseada na intuio humana, que balanariam os alicerces do saber humano. A racional cincia se rendia ao escaninho do inconsciente humano. Nada mais justo para um saber que se afastou da submisso dos excessos teolgicos da Idade Mdia, indo para o extremo oposto da afirmao exclusiva da deusa razo. No esqueamos, porm, de que essa mesma deusa o conduziu percepo da natureza espiritual por detrs da matria bruta. O mundo quntico, ou Universo Quntico, a nova ordem sob a qual devem se basear os poetas, msticos, cientistas, filsofos e leigos, como base de suas ideias e especulaes. Com as descobertas da Fsica Quntica, o Materialismo ficou mais rfo do que antes, e a concretude da realidade quedou-se diante do observador, agora senhor do processo, que legitima sua existncia. o observador que qualifica a matria. preciso ter algo muito mais robusto para negar o que se percebe no mundo microscpico e que se ope e complementa o que ocorre no macroscpico. Por que deveria haver uma unidade? Ser que a mente humana est se reestruturando para comportar a possibilidade de compreenso de mltiplas leis para os fenmenos fsicos? Ou ainda prevalecer a velha concepo de que no pode haver contradies s leis conhecidas? No seria mais sensato pensar que a mente evolui com o Esprito, permitindo-lhe manifestar a complexidade de sua natureza? As ideias que esto surgindo com as pesquisas e estudos, aps as descobertas da Fsica Quntica, proporcionam uma ampliao da conscincia para alm dos horizontes, at ento definidos para o destino humano, e sua compreenso da realidade. Estamos diante de uma13

PUC (p 1-160-A).pmd

13

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

nova era de incertezas e descobertas a respeito da vida, do Universo e do destino humano. Parece que o ser humano est vivendo um grande momento de mudana de paradigma, tal qual ocorreu aps as afirmaes de Nikolau Koprnico sobre o sistema heliocntrico, no Sculo XVI, e confirmaes por Galileu no sculo seguinte. A temtica quntica tem despertado grande interesse nos meios acadmicos e na mdia em geral. Porm, ainda no o suficiente para a referida mudana, pois os ecos filosficos das ideias geradas ainda no alcanaram definitivamente a psiqu humana. uma questo de tempo e de maturao do saber. Escrevo este livro como uma contribuio ao desenvolvimento das ideias a respeito e numa tentativa de apresentar certos temas fronteirios Fsica, Psicologia e ao Espiritismo. Este no um livro sobre Fsica Quntica, mas sobre a filosofia que se pode fazer a partir das elucubraes de suas formulaes tericas. Trata de ideias, especulaes e teorias. No apresentarei complicadas frmulas matemticas nem experimentos cientficos, mas ideias e princpios para subsidiar reflexes ao leitor. Portanto, meu olhar ser filosfico, psicolgico e esprita, cujas consideraes sero de ordem no-fsica. O leitor mais exigente com enunciados cientficos e com equaes matemticas deve recorrer bibliografia relacionada ao final. No quero, creio que talvez no seja possvel, fundamentar-me apenas na Fsica Quntica, pois a cincia j reformulou suas teorias inmeras vezes. Quero apenas tornar mais claro para mim mesmo que as descobertas recentes no campo cientfico, particularmente na Fsica Quntica, sugerem um preparo da psiqu para novas percepes da realidade. Os limites do pensar humano ainda esto condicionados s interpretaes clssicas da realidade, segundo pressupostos exclusivamente materialistas. Porm,14

PUC (p 1-160-A).pmd

14

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

oriundas de um materialismo mecanicista e determinstico, contrrio realidade hoje observada na prpria matria. At mesmo o mundo macrocsmico retratado e pensado segundo ideias clssicas, j ultrapassadas. O Universo comumente representado por um conjunto de pontos luminosos que, pelo pano de fundo em que so retratados, denotam se encontrar a distncias incomensurveis. Isso induz a acreditarmos que o desconhecido se encontra distante e, por muito tempo, inalcanvel ao ser humano, como se vivssemos numa grande caixa tridimensional, em que estamos no meio dela, muito distante de seus limites. Na realidade, ainda no se consegue perceber, salvo matematicamente, a possibilidade de multidimenses que se interpenetram, englobando o Universo tal qual hoje representado. O Universo conhecido, detectvel cientificamente, forjado (concebido) pelo ser humano segundo as projees do Inconsciente. As multidimenses contm o ser humano. Observamos o Universo a partir dos rgos dos sentidos, que plasmam uma realidade de acordo com a frequncia que possvel ser percebida. Abstraindo-nos dos rgos dos sentidos, iremos nos perceber inseridos em um contexto muito maior, no qual a mente no prisioneira dos sentidos, mas conectada sua essncia, o Esprito imortal. O ser humano ainda prisioneiro de seus sentidos e de suas ideias determinsticas. A Matemtica, com sua simbologia, consegue faz-lo enxergar alm de seus limites orgnicos, porm no o permite sentir sua dupla natureza, orgnica e espiritual. Por outro lado, a mediunidade, como me das faculdades psquicas, leva-o a uma outra dimenso em que sua mente pode transitar, percebendo fenmenos inalcanveis pelos estreitos limites sensoriais impostos pelo corpo fsico. A Fsica Quntica, com seus experimentos e descobertas, o far, com a ajuda da Psicologia e do Espiritismo, perceber alm dos limites autoimpostos.15

PUC (p 1-160-A).pmd

15

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

C. G. Jung, mestre da Psicologia, e Allan Kardec, mestre das questes espirituais, so coerentes em afirmar a relao estreita entre mente e matria. Para Jung,Da mesma forma que o tomo no indivisvel, assim tambm, como haveremos de ver, o inconsciente no puramente inconsciente. E, da mesma forma como a Fsica nada mais pode fazer, sob o ponto de vista psicolgico, do que constatar a existncia de um observador, sem ter condies de afirmar o que quer que seja sobre a natureza deste observador, assim tambm a Psicologia s pode indicar a relao da psique com a matria, sem ter condies de dizer o mnimo que seja quanto a natureza da mesma.1

Allan Kardec, por sua vez, tratando do fenmeno medinico, afirma quePode-se fazer objeo ao fenmeno porque ele no se produz sempre de uma maneira idntica, segundo a vontade e as exigncias do observador? Os fenmenos de eletricidade e de qumica no esto subordinados a certas condies; deve-se neg-los ento porque se produzem fora dessas condies? Portanto, no h nada de estranho que o fenmeno do movimento dos objetos pelo fluido humano tenha tambm suas condies de ser e deixe de se produzir quando o observador, apoiando-se no seu ponto de vista, pretende faz-lo acontecer ao seu capricho ou sujeita-lo s leis dos fenmenos conhecidos, sem considerar que, para fatos novos, pode e deve haver novas leis. Ora, para conhecer essas leis, preciso estudar as circunstncias em que os fenmenos se produzem, e esse estudo s

1

JUNG, C. G. Obras completas. 2. ed. Petrpolis: Vozes, 1991. par. 417, p. 220. v. VIII.

16

PUC (p 1-160-A).pmd

16

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

pode ser fruto de uma observao perseverante, atenta e, muitas vezes, bastante prolongada. 2

Mais adiante analisaremos esses dois aspectos, psicolgico e esprita, em relao s afirmaes e dvidas da Fsica Quntica. Veremos que estamos diante de algo maior, que permeia tudo e que tem como centro a psiqu humana e, acima de tudo, a relao entre o Esprito imortal e o Divino. Por vezes, ao escrever este livro, me vi na necessidade de decidir entre analisar ideias imbuindo-me do paradigma clssico da causalidade absoluta ou deixando que minha mente seguisse sob o domnio do Universo Quntico, pouco convencional. Sentia-me inclinado primeira alternativa, mesmo querendo fazer de forma diferente. De um lado, o convencionalismo cartesiano, cuja criatividade tem limites; do outro, o infinito em aberto espera de explorao pela mente humana. O leitor ver que ora estarei analisando influenciado sob um, ora sob outro paradigma. O Universo parece ser constitudo de algo que no pode ser tocado, sentido, percebido, seno indiretamente. Nenhuma coisa pode ser diretamente percebida por outra coisa. Em relao ao ser humano, nada do que vive o pe em contato com algo, seno de forma indireta. Tudo acontece em sua mente e de acordo com seu modo de perceber a realidade. At mesmo sua observao do que poderia ser o mais concreto possvel s ocorre indiretamente. Parece que o Criador da vida nos colocou num Universo intocvel. Tocar algo apenas perceber indiretamente e sentir seus efeitos. Um exemplo disso se d na observao do cu estrelado. Ao apontar seus rudimentares telescpicos para2

KARDEC, Allan, O livro dos espritos. Salvador: Ed. Harmonia, 2007, p. 20. Introduo ao estudo da doutrina esprita, item III.

17

PUC (p 1-160-A).pmd

17

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

o cu estrelado, os astrnomos da Antiguidade no sabiam que estavam olhando para o passado. No imaginavam que a luz das estrelas que alcanavam seus olhos tinha viajado milhes de quilmetros e cuja fonte j poderia estar extinta. Hoje, graas aos avanos cientficos e estudos astronmicos, sabemos que a luz viaja no Universo e demora a alcanar nossa percepo. Quando vemos as estrelas, j no mais o presente para um observador que esteja l. Quando observamos a realidade de um simples momento nossa vista, custamos a entender que algo se passou entre o observador e o objeto observado. A luz que viaja do objeto para o sujeito traz sua histria e seu passado. O presente sempre fugaz, mas a certeza mxima do Esprito. Sobre as descobertas da Fsica Quntica (incerteza, probabilidade, no causalidade, observador/observado etc.), tm-se trs atitudes: desdenhar, por no compreender ou no encontrar aplicao prtica, fazendo de conta que no lhe afeta ou no existe, semelhana de uma avestruz que enterra a cabea no cho; estudar e pesquisar mais, tornando-se um fsico ou matemtico quntico, contribuindo para o progresso da cincia; filosofar, ampliando sua viso de mundo, impulsionando o desenvolvimento da personalidade na direo da autoconscincia, autodeterminao e contribuio para uma sociedade melhor. Optei por esta ltima. Pareceu-me de acordo com minha designao pessoal.

18

PUC (p 1-160-A).pmd

18

21/1/2009, 07:57

Primeira Parte: Uma Outra RealidadeBreve Histria da Fsica Quntica O Que Universo Quntico? As Ideias Qunticas A Busca da Unidade

PUC (p 1-160-A).pmd

19

21/1/2009, 07:57

PUC (p 1-160-A).pmd

20

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

Uma Outra Realidade

Avizinha-se o descortinar de um outro mundo, no qual a conscincia humana desempenhar significativo papel para descobri-lo e simultaneamente se autodeterminar. Um mundo onde a vida material ser de fato encarada como representao de algo maior que estar sendo consciente e inevitavelmente buscado para a definitiva (ou novamente provisria) compreenso do significado da existncia humana. Essa nova realidade ser de fato o resultante das conscincias humanas j amadurecidas para o entendimento da participao na sua construo. Independentemente da realidade ser ou no maya, o meu eu est aqui e agora, devendo ampliar cada vez mais meu campo de percepo de mim mesmo.

21

PUC (p 1-160-A).pmd

21

21/1/2009, 07:57

PUC (p 1-160-A).pmd

22

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

Breve Histria da Fsica Quntica

udo comeou com as experincias da radiao do corpo negro (receptor, no emissor de luz ou emissor perfeito). O objetivo era avaliar a radiao, leia-se emisso de luz, por um corpo aquecido. Todo corpo a partir de determinada temperatura, de acordo com sua constituio, emite radiao, isto , incandesce. Pensava-se que a luz era um fenmeno de emisso contnua, porm Max Planck percebeu que havia uma quantizao, isto , a radiao ocorre em pacotes mensurveis denominados quantum. Isso foi o comeo de uma srie de experimentos e observaes que mudariam para sempre as leis da Fsica, bem como o papel do observador no Universo por ele conhecido. Buscando uma melhor percepo da trajetria do conhecimento da Fsica, farei uma breve retrospectiva. A Fsica de hoje est longe de ser uma unanimidade, pois as teorias se multiplicam a cada momento nos diferentes laboratrios de pesquisas. Misturam-se fsica, metafsica, misticismo e teologia. H fsicos experimentalistas, tericos, filsofos, matemticos e, para desconforto da maioria, existem os religiosos ou espiritualistas. Isso pertinente, pois, nos limites do saber de uma cincia, tende-se aos23

T

PUC (p 1-160-A).pmd

23

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

princpios que foram negados. Afirmava-se a exclusiva existncia da matria, negando-se peremptoriamente algo metafsico ou espiritual. Pois foi exatamente na intimidade da matria que se descobriu sua inconsistncia e a possibilidade de existir a no matria ou antimatria. Antes de Newton, preponderava o conhecimento emprico, oriundo da chamada fsica aristotlica, na qual os objetos eram animados e tendiam para uma configurao esttica da natureza. A natureza tendia para o belo e o harmnico. Da Fsica dos tempos aristotlicos at Isaac Newton, pouco se evoluiu em termos do estabelecimento de princpios cientficos matemticos. Pode-se dizer que a Fsica, tal qual concebida hoje, comea com Isaac Newton. Mas, antes dele, veremos algumas ideias que modificaram o modo de pensar humano.

Antecedentes HistricosNikolau Koprnico (1473 a 1543), astrnomo, matemtico, mdico, administrador e jurista polons, trouxe, por volta de 1514, ao mundo, seus estudos a respeito do Sistema Solar, propondo o sol como seu centro. O geocentrismo aristotlico fora abalado e definitivamente considerado anticientfico. No foi sem reaes explcitas que se aceitou o sistema heliocntrico. As reaes, principalmente da Igreja Catlica, autoridade sobre o conhecimento humano at o Iluminismo, foram quixotescas. A f colocava o ser humano como imagem de Deus e centro do Universo, porm a realidade diferia da crena cega. Galileu Galilei (1564 a 1642), fsico, matemtico, astrnomo e filsofo italiano, deu continuidade aos estudos de Koprnico e foi o principal precursor das ideias de Isaac Newton. Construiu uma srie de instrumentos importantes para a cincia, principalmente para a Astronomia. Ele confirmou matematicamente o sistema heliocntrico e24

PUC (p 1-160-A).pmd

24

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

identificou alguns corpos celestes. considerado o pai da cincia. Isaac Newton (1643 a 1727), fsico, matemtico, alquimista, astrnomo e filsofo ingls, publicou, em 1687, o famoso livro Philosophiae Naturalis Principia Mathematica (Princpios Matemticos da Filosofia Natural), no qual apresentava seus estudos sobre a lei da Gravitao Universal e sobre a dinmica do movimento dos corpos. Suas teorias uniram os fenmenos celestes aos terrestres. o criador da Mecnica Clssica, que fez surgir o Determinismo Mecanicista. Com seus estudos, o ser humano pode compreender diretamente a dinmica da Natureza, excluindo o fator divino nos movimentos dos corpos, a partir de enunciados de leis simples e mensurveis. As ideias de Koprnico, Galileu e Newton formam a trade de paradigmas que vo nortear o nascimento de uma nova cincia, a Fsica Clssica, e da Fsica Quntica. Com eles, tornou-se possvel experimentar, repetir, mensurar e prever os fenmenos naturais. Paradoxalmente, sem as ideias clssicas, no se chegaria ao que proposto pela Fsica Quntica. Os cientistas que trouxeram as novas ideias foram formados dentro dos princpios da antiga Fsica Clssica. A Fsica se ocupa do estudo da Natureza e das leis que regem as relaes entre os objetos que a compem. No , a Fsica, materialista nem so, os fsicos, cticos. Simplesmente o que espiritual no objeto de estudo dessa cincia. S o ser quando o olhar humano se tornar mais amplo e menos mecanicista.

eventos Principais eventos que marcaram surgimento marcaram o surgimento da Fsica QunticaNo dia 14 de dezembro de 1900, em Berlim, o fsico alemo Max Planck (1858 a 1947) apresentou sua famosa25

PUC (p 1-160-A).pmd

25

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

Teoria dos Quanta de energia, demonstrando como se davam as trocas de energia entre os corpos. Ele foi responsvel pelo clculo da intensidade de radiao do corpo negro, alm de quantificar a ao de movimento, propondo a existncia de quantidades de energia em pacotes iguais, discretas e finitas: quanta de energia. Seus clculos levaram a determinao da famosa Constante de Planck: h = quantum elementar de ao ou quntica. Ele introduziu, na Fsica, a ideia dos quanta com seus estudos sobre a radiao dos corpos incandescentes, apresentando sua famosa constante. Ele descobriu que os eltrons, quando mudam de camada no interior do tomo, emitem uma certa quantidade de energia ou quantum. Com isso, nascia a Fsica Quntica, mudando os destinos da cincia, principalmente no que diz respeito ao pensamento determinstico reinante. As descobertas de Max Planck causaram profundo impacto nos meios cientficos, sobretudo entre os que se apegavam aos antigos paradigmas. No imaginavam que a Fsica estava para se revolver em suas entranhas e partir para um novo paradigma: o observador foi inserido no Universo como seu coconstrutor. Esse paradigma novo adveio da percepo de que as medies, os instrumentos de experimentao e as prprias experincias influenciavam nos resultados obtidos. Os clculos probabilsticos passaram a fazer parte da Fsica, pois no se podia determinar com preciso aquilo que se conhecia como a unidade da matria: o tomo. A Fsica, que estuda os corpos submetidos luz, paradoxalmente inicia uma nova fase a partir do estudo de um corpo sem luz. A dialtica dos opostos j fora apontada por C. G. Jung (1875 a 1961) como sendo a forma de se encontrar a unidade. Para ele, s h conscincia com a diferenciao dos opostos. A conscincia parece ser uma confirmao da evoluo humana, mesmo com sua tendncia separatividade. Ele afirma que Energetica26

PUC (p 1-160-A).pmd

26

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

mente, a oposio significa um potencial, e onde h um potencial, h a possibilidade de um fluxo e de um acontecimento, pois a tenso dos opostos busca o equilbrio.3 E que no oposto que se acende a chama da vida.4. Em 1905, o fsico alemo, naturalizado suo e depois norte-americano, Albert Einstein (1879 a 1955), apresentou sua Teoria da Relatividade, considerando que a energia matria sob determinada frequncia, de acordo com a equao E=mc2. Estudou a luz, estabelecendo sua velocidade como a mxima no Universo. Posteriormente afirmou que as ondas de gravidade viajam velocidade da luz, demonstrando tambm que o espao curvo. A ideia da gravitao, tal qual descrita por Einstein, sugere a existncia de um tecido csmico no qual os objetos deslizam. Ele props o modelo corpuscular para a radiao eletromagntica ou efeito fotoeltrico, pelo qual ganhou, em 1921, o Prmio Nobel da Fsica. Einstein ampliou as descobertas de Planck sobre a radiao para todos os fenmenos da natureza, porm no concordava com a possibilidade do Universo ser probabilstico. dele a famosa frase, numa carta ao fsico e amigo Max Born, Deus no joga dados. Ele achava que a teoria quntica ainda no era a certa. Ela parecia contrariar sua ideia de que, por existir um Deus nico, havia uma lei geral que regia todos os fenmenos da Natureza. A obstinao de Einstein em negar a Mecnica Quntica (Isaacson, 2007) pode ter razes em sua crena judaica. Sua convico em um Deus nico, criador e mantenedor da ordem e do Universo, exerceu forte influncia sobre suas opinies e ideias. Muito embora se mostrasse um homem religioso, condenava os fsicos qunticos por considerar que as ideias sobre no localidade das partculas eram espiritualistas. Paradoxalmente, sua3 4

JUNG, C. G. Obras completas. Petrpolis: Vozes, 1976. v. IX/1, par. 426, p. 230. Ibidem, 2. ed. Petrpolis: Vozes, 1981. v. VII, par. 78, p. 45.

27

PUC (p 1-160-A).pmd

27

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

obstinao para provar o realismo era to grande que afirmava haver uma natureza racional na realidade, e que essa natureza era de ordem religiosa. Ele era, no fundo, um mstico que condenava o que considerava misticismo nos outros, por adotarem a Mecnica Quntica. Para ele, havia uma certeza da existncia real dos objetos, e no, como queriam os fsicos qunticos, uma probabilidade de existncia. Para ele, as ideias qunticas punham o funcionamento da Natureza como se fosse um jogo de azar. Foi de fato essa obstinao em criar inmeros experimentos, frutos de sua frtil imaginao, que levou Einstein a contribuir para a formulao consistente da Mecnica Quntica, malgrado seu desejo de ridicularizala. Independentemente de no ter aceito a Fsica Quntica, Einstein foi o mais brilhante fsico e o impulsionador da cincia no mundo, smbolo da inteligncia humana. Em 1911, o fsico neozelands Ernest Rutherford (1871 a 1937), ganhador do Prmio Nobel de Qumica em 1908, realiza pesquisas com desintegrao atmica e percebe que a carga do tomo est concentrada em seu centro. Por conta de seus estudos, prope o famoso modelo atmico com um ncleo e os eltrons em rbitas. Esse modelo seria fundamental para o desenvolvimento da energia nuclear. Prenunciava algo interessante que aproximaria o fenmeno fsico do fenmeno qumico, como se uma alquimia estivesse ocorrendo. O modelo atmico de Ernest Rutherford era algo presumido, pois nunca fora diretamente observado. De onde ele tirava a ideia dos eltrons em volta do ncleo? Provavelmente do mesmo lcus de onde o famoso qumico alemo Friedrich Kekul (1829 a 1896), em 1895, props o anel hexagonal para sua estrutura. Retirou-o do Inconsciente. A proposta de Kekul veio de um sonho que teve com uma serpente filando a prpria cauda. O modelo de Rutherford no veio de um sonho, mas de uma projeo do Self, pois a esfera circundada pelos pontos luminosos28

PUC (p 1-160-A).pmd

28

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

(ncleo atmico e eltrons em rbita) uma representao mandlica (circular) do Self. C. G. Jung afirmava que Em todo caso, as mandalas expressam ordem, equilbrio e totalidade. 5 e Apesar de a mandala ser apenas um smbolo do si-mesmo como totalidade psquica, ao mesmo tempo uma imagem de Deus, uma imago dei, ...6. Os nossos fsicos qunticos estavam bem prximos de algo divino. Como os alquimistas, os fsicos qunticos, em suas pesquisas e experimentos, trazem concluses mais prximas do Inconsciente do que da Conscincia, em face das limitaes perceptivas desta ltima. Em 1913, o fsico dinamarqus Niels Bohr (1885 a 1962), ganhador do Prmio Nobel de Fsica de 1922, estudando o tomo de Hidrognio, aperfeioou o modelo de Rutherford, propondo a existncia de saltos qunticos dos eltrons em rbita do ncleo. Ele aplicou a Teoria dos Quanta ao modelo atmico. Nasciam a Fsica Quntica e a Fsica Atmica. Bohr tambm props o Princpio da Complementaridade, isto , impossvel usar, num mesmo fenmeno fsico, uma descrio, no tempo e no espao, das leis de conservao de quantidade de movimento e de energia. Isso se confirmava na dualidade onda/partcula. Com isso, conclui-se que a Fsica Clssica uma particularidade da Quntica. Einstein se ops s ideias de Bohr, pois acreditava num Universo determinstico, com uma nica lei que o explicasse. Bohr propunha um Universo probabilstico, no qual o observador desempenha importante papel. Einstein insistia na existncia de um mecanismo causal para justificar a Natureza. A Escola de Copenhague, leia-se Niels Bohr, afirmava que o universo quntico era incerto.

5 6

JUNG, C. G. Obras completas. Petrpolis: Vozes, 1976. v. IX/1, par. 645, p. 356. Ibidem, par. 572, p. 319.

29

PUC (p 1-160-A).pmd

29

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

Esses dois gigantes da Fsica debatiam ideias aparentemente opostas, mas que tratavam de uma nica realidade: a natureza, seus fenmenos e suas origens. Suas ideias representavam faces de uma mesma moeda. Em 1923, nos Estados Unidos, o fsico americano, ganhador do Prmio Nobel de Fsica em 1927, Arthur Compton (1892 a 1962) descobriu que os eltrons, ao interagir com ftons7, ou quanta de energia, aumentam seu comprimento de onda. Com isso, ele confirmava a natureza dual da luz, isto , a depender do experimento, ela se comporta ora como partcula, ora como onda. Isso aprofundava cada vez mais a ideia de um Universo probabilstico. Em 1924, o fsico francs, ganhador do Prmio Nobel de Fsica em 1929, Louis de Broglie (1892 a 1987) apresenta sua tese de doutorado, experimentada posteriormente, confirmando a dualidade onda-partcula. Ele provava que no s as ondas so partculas como tambm as partculas so ondas, isto , cada partcula tem sua onda associada. Isso significava dizer que existem ondas de matria. Nos objetos grandes, a frequncia da onda de matria imperceptvel. No pequeno, um eltron, por exemplo, tem tamanho menor do que o comprimento de onda a ele associado. Gradativamente, a Fsica Clssica perdia terreno para a Quntica, que se afirmava a cada novo estudo e experimento. Em 1925, o fsico austraco Wolfgang Pauli (1900 a 1958), ganhador do Prmio Nobel de Fsica em 1945, prope o Princpio da Excluso, afirmando que no pode existir mais de um eltron numa mesma rbita atmica. dele os principais estudos sobre a teoria do Spin do eltron. Pauli tinha conhecimentos de Psicologia, pois colaborou com C. G. Jung na formulao dos princpios7

O eltron, quando passa para uma rbita interna, emite um fton. Quando passa para uma rbita externa, absorve um quantum.

30

PUC (p 1-160-A).pmd

30

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

do que veio a ser conhecido com o nome de Sincronicidade. Com isso, o modelo atmico de Rutherford ia se desenhando, alcanando um formato cada vez mais definido e prximo de contornos regulares e simtricos. A mandala representativa do Self se desenhava com mais preciso. Sem qualquer intencionalidade consciente, os fsicos, cientificamente, iam representando o Self maneira dos alquimistas quando procuravam a pedra filosofal. Porm, a possibilidade da unidade da matria de fato ser esfrica e materialmente palpvel caa gradativamente, pois as teorias ondulatrias se sobrepunham. Os cientistas percebiam que aquilo que chamavam de matria era algo que emitia uma frequncia, sem se definir seu formato ou sua natureza. O modelo atmico idealizado por Niels Bohr se aproxima mais de uma representao arquetpica do Self do que daquilo que se concebe como sendo a partcula atmica, com a infinidade de subpartculas, ou ondas, que a compem. Tal modelo atmico nos mostra que o ser humano, no conseguindo ter acesso direto realidade, constri modelos mentais aproximados, segundo o arqutipo predominante em seu psiquismo. Nesses 25 anos (de 1900 a 1925) de fsica experimental, conhecida como Fsica Atmica ou velha Fsica Quntica, houve alguns avanos, entre eles: quantizao mnima dos entes fsicos, a exemplo da energia que era considerada contnua; passou-se a utilizar a Constante de Planck nas equaes; determinao de propriedades ondulatrias para os tomos, molculas, partculas subatmicas, associandose uma frequncia de onda a cada ente fsico; determinao de propriedades corpusculares para a luz (emisso de ftons); o Princpio da Complementaridade tornou-se inegvel;31

PUC (p 1-160-A).pmd

31

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

percepo de que as partculas no podiam ser diretamente vistas, pois no eram reais, mas ondas de probabilidade. Nesses 25 anos, muitas discusses e controvrsias surgiram. Dada a complexidade dos temas e a incipincia dos instrumentos de experimentao, os progressos foram lentos, mas os resultados animadores. A Fsica avanava por um terreno movedio, cujos temas beiravam a Filosofia, a Psicologia e a Teologia. A partir de 1925 at 1927, as descobertas e experimentaes, bem como as especulaes e formulaes matemticas deram ensejo ao que se chamou de Nova Fsica Quntica, principalmente pelo uso de matrizes e outros modelos matemticos na anlise dos fenmenos qunticos. Foram seus expoentes: Werner Heisenberg (1901 a 1976), fsico alemo, ganhador do Prmio Nobel de Fsica de 1932, principal criador da Mecnica Quntica Matricial. Em 1927, enunciou o famoso Princpio da Incerteza, afirmando ser impossvel medir simultaneamente e com absoluta preciso a posio e a velocidade (Momentum) de uma partcula. Heisenberg era um dos fsicos que achavam que a natureza parecia absurda, ao analisar os resultados obtidos experimentalmente. Max Born (1882 a 1970), fsico alemo, naturalizado britnico, ganhador do Prmio Nobel de Fsica de 1954, interpretou adequadamente componentes da equao de Schrdinger, principalmente a densidade da probabilidade para * (psi-estrela e psi so ondas que se movem para trs e para frente, no tempo). Afirmava no ser possvel visualizar as ondas porque elas no so entes reais, mas ondas de probabilidade.32

PUC (p 1-160-A).pmd

32

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

Ernst Pascual Jordan (1902 a 1980), fsico alemo que fundou, com Max Born e Werner Heisenberg, a Mecnica Quntica e, com Wolfgang Pauli e Eugene Wigner, a Eletrodinmica Quntica. Erwin Schrdinger (1887 a 1961), fsico austraco, ganhador do Prmio Nobel de Fsica de 1933, contribui para a Mecnica Quntica com sua famosa equao que leva seu nome e com o experimento conhecido por Gato de Schrdinger. Paul Dirac (1902 a 1984), engenheiro e matemtico britnico, ganhador do Prmio Nobel de Fsica de 1933, com E. Schrdinger, impulsionou a chamada Mecnica Matricial, reunindo conceitos da Mecnica Ondulatria. Ele o descobridor de uma partcula semelhante ao eltron, porm com carga positiva (Psitron), conhecida como a antimatria. Com ele consolida-se a ideia de que as partculas eram algo que vibrava, uma espcie de funo de onda. Richard Feynman (1918 a 1988), fsico e matemtico norte-americano, ganhador do Prmio Nobel de Fsica de 1965, demonstrou que no h vcuo e provou a existncia de partculas onde se pensava existir um vazio. Em paralelo aos trabalhos na rea de fsica terica, Feynman foi pioneiro da Eletrodinmica Quntica e da Computao Quntica e introduziu o conceito de Nanotecnologia no encontro anual da Sociedade Americana de Fsica, em 29 de Dezembro de 1959, na sua palestra sobre o controle e a manipulao da matria na escala atmica. Feynman defendeu que no existia nenhum obstculo terico construo de pequenos dispositivos compostos por elementos muito pequenos, no limite tomo a tomo, nem mesmo o Princpio da Incerteza.33

PUC (p 1-160-A).pmd

33

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

Nova Consequncias da Nova Fsica Quntica Queda do determinismo na Fsica. Surge a Fsica no determinstica. Validao do Princpio da Incerteza. Complementaridade. A Fsica Clssica um caso particular da Fsica Quntica. No h possibilidade de se prever condies iniciais. Os conceitos de velocidade, tempo e espao so aplicveis provisoriamente e por fora da exigncia de uma nomenclatura em cincia. Com a Fsica Quntica, a cincia se humaniza. H de fato entes no fsicos, no detectveis. H implicaes do observador com o objeto observado. Surgimento do Chip, do Laser e do microcomputador. Graas aos postulados da Fsica Quntica, temos a possibilidade de construir o cdigo gentico, mapeando os organismos vivos, visando uma compreenso maior a respeito da vida. Se a Fsica Clssica era preciso e a Fsica Quntica, probabilidade, a vida deixou de ser algo absolutamente definido, tornando-se de fato subjetividade. A Teoria da Relatividade Geral, com o compromisso da ideia da existncia de Deus como autor de um Universo mecnico, em oposio Teoria Quntica, de um Universo aleatrio, formam um par de opostos da cincia do mundo microscpico. A primeira exclui o poder humano, e a segunda o coloca como observador participante e atuante do Universo. Nenhuma das duas poder prescindir da conscincia de que h uma inteligncia suprema que deu incio a tudo, sobre a qual nada se pode dizer a respeito. Einstein buscava uma teoria unificadora das foras e formas do Universo. Ele no aceitava a possibilidade de no haver uma unidade no Universo e dizia que Deus no joga dados. Ele no aceitava as ideias de Copenhague34

PUC (p 1-160-A).pmd

34

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

(Niels Bohr), que postulava um Universo cheio de incertezas. Einstein tinha razo quanto existncia de Deus, porm pouco provvel que tivesse informaes precisas a respeito do que Deus faz ou deixa de fazer. Agrada-me a ideia de que a incerteza faa parte dos planos de Deus e de que eventualmente Ele jogue dados. Falar sobre ou em nome de Deus ser sempre uma incerteza. A Fsica Quntica essencialmente estudo a respeito da luz, do que simbolicamente , portanto, estabelecido pela Conscincia. Na realidade, a cincia, ou melhor, a Fsica, vem se debruando sobre a natureza da luz. O que no percebido como luminosidade no de seu domnio. Suas afirmaes so simblicas. Da Mecnica Clssica passamos Mecnica Relativstica, Mecnica Quntica, Mecnica Matricial e, depois, Mecnica Ondulatria. Aguardaremos o prximo passo da Fsica na direo da percepo da natureza espiritual por detrs dos fenmenos fsicos. Atualmente j foram detectadas mais de 100 diferentes partculas. Hoje, so consideradas como partculas elementares: ftons, lptons, msons e barions. Elas respondem pelas foras nucleares fortes e fracas. Algumas delas se subdividem em outras menores ainda e de vida curta. Vale ressaltar que existem partculas que desafiam as interpretaes dos prprios fsicos, mas que, matematicamente, so confirmveis. Entre elas, o Tequion partcula no fsica, que viaja a velocidade superior da luz, e a partcula Y, de massa igual a zero, conhecida como Grviton. Por enquanto, o ser humano, submetido aos seus sentidos fsicos e ao que os instrumentos podem captar, projeta aspectos de seu Inconsciente na percepo do que entende ser o real. Desde a Segunda Guerra Mundial at os dias atuais, a Fsica Quntica tem avanado em experimentos de apoio alta tecnologia e ao desenvolvimento de novos instrumentos teis vida humana, favorecendo a erradicao de doenas, a otimizao de processos fsico35

PUC (p 1-160-A).pmd

35

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

qumicos, ao desenvolvimento da informtica, entre outros. As buscas da Fsica Quntica no terminaram, tampouco esto em baixa. A Era da Incerteza foi inaugurada e isso traz grande contribuio ao desenvolvimento das cincias e da psiqu humana. Algumas ideias de cientistas, de filsofos e de msticos ampliaram os conceitos surgidos com o advento da Fsica Quntica. A especulao filosfica tem dominado o cenrio noticioso a respeito do mundo quntico. Uma das teorias mais aceitas no mundo cientfico a das cordas. As cordas so filetes multidimensionais (invisveis) que vibram produzindo a matria. So considerados elementos formadores da matria e de todos os fenmenos por ela protagonizados. O Prton, elemento considerado bsico do ncleo atmico, composto por uma subpartcula de nome quark, seria produzido pelas cordas que vibram. Muito embora matematicamente coerente, a teoria das cordas uma abstrao da mente humana, ainda incapaz de alcanar de fato a intimidade da matria. Para os fsicos qunticos, diferentes vibraes das cordas provocam o surgimento de diferentes partculas. Elas vibram em sintonia com leis csmicas ainda no acessveis ao conhecimento humano. Servem como estruturas provisrias para entendimento da dualidade existente no Universo material. Contribuem para explicao de fenmenos espirituais e de tudo que ultrapassa a mente lgica. A teoria das cordas no experimental. Para ser compreendida, ela precisa de dimenses extras. A teoria das cordas deu origem a outra, que sugere a existncia de Supercordas. Em 1968, o italiano Gabriele Veneziano e o americano Leonard Susskind desenvolveram a equao das cordas. Em 1985, havia cinco equaes da mesma teoria das cordas. Em 1995, Ed Witten unificou as cinco teorias, dando surgimento Teoria M. (Mother, Matria, Mistrio, Matrix, Monstruosa?). A teoria evoluiu para o estabelecimento de Membranas ou Branas,36

PUC (p 1-160-A).pmd

36

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

formadas pelas Supercordas. O Big Bang parece ter sido resultante de duas Branas que se tocaram. Acredita-se, com essa teoria, que existam dimenses ou universos paralelos, isto , mundos invisveis. Os estudos a respeito dessas teorias so recentes e no existem experimentos capazes de comprov-las. A vibrao das cordas, que colapsa (coagula) a matria, fornece a ideia de um Universo disponvel a quem aprenda a tocar ou reger uma melodia. Parece que tudo vibra sob a batuta de algum maestro ou sob um influxo de natureza desconhecida. Ser que algum dia penetraremos de fato nesse grande mistrio?

Cronologia Cronologia1803

Experimento da dupla-fenda pelo fsico e mdico britnico Thomas Young (1773 a 1829), mostrando o aspecto ondulatrio da luz.1897

Descoberta do eltron pelo ingls John Joseph Thomson (1856 a 1940).1900

Hiptese Quntica pelo fsico alemo Max Planck (1858 a 1947).1905

Apresentao da Teoria dos Ftons e da Teoria Especial da Relatividade pelo fsico alemo Albert Einstein (1879 a 1955).1908

O matemtico alemo Hermann Minkowski (1864 a 1909) prope matematicamente a variedade quadrimensional para representar o espao-tempo.37

PUC (p 1-160-A).pmd

37

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

1911

O fsico neozelands Ernest Rutherford (1871 a 1937) descobre a existncia do ncleo atmico.1913

O fsico dinamarqus Niels Bohr (1885 a 1962) prope o modelo atmico de rbitas especficas.1915

O fsico Albert Einstein (1879 a 1955) prope a Teoria Geral da Relatividade.1924

O fsico francs Louis de Broglie (1892 a 1987) prope as ondas de matria.1924

O fsico dinamarqus Niels Bohr (1885 a 1962), juntamente com o fsico holands H. A. Kramers (1894 a 1952) e o fsico norte-americano John C. Slater (1900 a 1976) formularam o primeiro conceito das ondas de probabilidade.1925

O fsico austraco Wolfgang Pauli (1900 a 1958) props o Princpio da Excluso.1925

O fsico alemo Werner Heisenberg (1901 a 1976) prope a Mecnica Matricial.1926

O fsico austraco Erwin Schrdinger (1887 a 1961) estabelece a Equao de Onda de Schrdinger.1926

O fsico alemo Max Born (1882 a 1970) promove a Interpretao da Probabilidade da Funo de Onda.38

PUC (p 1-160-A).pmd

38

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

1927

O fsico dinamarqus Niels Bohr (1885 a 1962), prope o Princpio da Complementaridade.1927

O fsico alemo Werner Heisenberg (1901 a 1976) prope o Princpio da Incerteza.1928

O engenheiro e matemtico britnico Paul Dirac (1902 a 1984) descobre a Antimatria.1932

Descoberta do Nutron pelo fsico britnico James Chadwick (1891 a 1974).1932

Postulado em 1928 por Paul Dirac, foi descoberto o Positron pelo fsico norte-americano Carl D. Anderson (1905 a 1991).1932

O matemtico hngaro, naturalizado americano, John von Neumann (1903 a 1957) desenvolve a Lgica Quntica.1935

O fsico alemo Albert Einstein (1979 a 1955), juntamente com o fsico russo Boris Podolsky (1896 a 1966) e o fsico israelita Nathan Rosen (1909 a 1991) propuseram o Experimento de EPR, desafiando a Mecnica Quntica.1949

O fsico e matemtico norte-americano Richard Feynman (1918 a 1988) prope a Eletrodinmica Quntica, introduzindo conceitos de Nanotecnologia.

39

PUC (p 1-160-A).pmd

39

21/1/2009, 07:57

PUC (p 1-160-A).pmd

40

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

O Que Universo Quntico?

Aquilo que chamo de Universo Quntico quer dizer diversidade de fenmenos e de possibilidades de compreenso da realidade. Trata-se de uma expresso aqui entendida como campo de possibilidades no convencionais de compreenso do que se chama de realidade. Engloba a totalidade dos fenmenos materiais e espirituais, todos vistos numa perspectiva no causalista nem mecanicista. O Universo Quntico se configura em torno do que se pode chamar de Paradigma Quntico, ou um novo olhar a respeito da realidade e do destino humano, ampliado pela perspectiva multidimensional, incluindo a dimenso espiritual, que o encerra. Esse novo paradigma no nasce exclusivamente nas academias e laboratrios de pesquisa, mas no psiquismo coletivo que se amplia gradativamente ao longo da evoluo da humanidade. As ideias geradas a partir da Fsica Quntica foram antecedidas pelas ideias espritas e pelas ideias a respeito do Inconsciente. A temtica da imponderabilidade j estava circulando no ar, independentemente do que discutiram os fsicos no final do Sculo XIX e incio do Sculo XX. O paradigma novo j se apresentava na conscincia popular. A Fsica Quntica apenas uma face do Universo Quntico, do qual somos elementos atuantes. No campo de entendimento do que Universo Quntico, colaboram ideias oriundas da Fsica Quntica,41

PUC (p 1-160-A).pmd

41

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

da Psicologia do Inconsciente, da Mediunidade, do Espiritismo, da Sincronicidade, da Ciberntica, da Filosofia, da Matemtica Avanada e da Alma Coletiva. A Fsica Quntica essencialmente estudo a respeito da luz, do que simbolicamente , portanto, estabelecido pela Conscincia. O que no percebido como luminosidade no de seu domnio. Suas afirmaes so simblicas. Suas descobertas pem em exibio os limites dos sentidos humanos e, em paralelo, a riqueza das possibilidades de compreenso da realidade. Graas ao estudo do mundo minsculo, pode-se perceber que o Universo tem seus caprichos, inimaginveis mente humana. Por muito tempo ainda ecoaro as incgnitas deixadas pelas teorias qunticas, principalmente a respeito do que de fato a matria. A Psicologia do Inconsciente promove a percepo de um outro, alm do eu da conscincia, agente eliciador do comportamento humano e de sua compreenso ou viso de mundo. Amplia suas possibilidades de entendimento do que ele prprio e de sua realizao no mundo. Possibilita uma melhor compreenso da estrutura psquica, auxiliando na diferenciao do que ele, o ego, e do que usa para enxergar o mundo. A formulao da existncia do Inconsciente proporciona ao ser humano sentir-se parte da vida das geraes que o antecederam, inserindo-o na histria da Humanidade. A mediunidade possibilita a ampliao da conscincia para alm dos limites do campo orgnico, contribuindo para que o ser humano penetre na dimenso espiritual. Graas a essa faculdade, torna-se possvel o entendimento da multidimensionalidade na Natureza, isto , a realidade no se limita ao visvel pelo espectro luminoso. A mediunidade sendo considerada como uma faculdade orgnica, portanto detectvel fisicamente, torna-a destituda do rano religioso e da credulidade vulgar. O Espiritismo, em face de seus princpios bsicos (reencarnao, vida espiritual, mediunidade, imortalida42

PUC (p 1-160-A).pmd

42

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

de, evoluo infinita do Esprito etc.), amplia os objetivos da existncia humana, trazendo consideraes metafsicas e transcendentes para o viver cotidiano. Seus princpios levam a autotransformao e a autodeterminao do Esprito. Ao apresentar o Mundo Espiritual, trazendo informaes precisas e concretas pela via medinica, insere uma dimenso quntica no pensar e existir humanos. A Sincronicidade, ou o princpio de conexes acausais, nos remete a uma ordem de fenmenos que no se enquadram no domnio mecanicista e causalista a que estamos acostumados a nos inserir. Sugere a necessidade de buscarmos uma compreenso do Universo a partir de paradigmas no convencionais. A Sincronicidade traz discusso, por enquanto sem apresentar respostas, fenmenos que parecem se enquadrar numa categoria que desconsidera a dimenso espao-temporal em que se situam os processos humanos conscientes. A Ciberntica, com seus estudos sobre informao e autocontroles, possibilitou o surgimento dos modernos e eficientes computadores a servio do desenvolvimento da mente humana, mais livre de tarefas operativas. Graas Ciberntica, a cincia da computao tem aproximado o ser humano de seus processos psquicos e da compreenso do funcionamento de sua prpria mente. Cada vez mais se v a interao crebro e mquina nos processos cotidianos, principalmente na biotecnologia para auxiliar pessoas com deficincia motora. A Filosofia, hoje dita Contempornea, com seus estudos a respeito das ideias que englobam o ser humano, o mundo e a totalidade, vem cada vez mais afirmando que a realidade multifacetada e de acordo com a forma ontolgica de abordagem. As mltiplas e divergentes interpretaes dentro da Filosofia vm demonstrando a diversidade de concepes de realidade. A Filosofia no impe limites ao pensar nem tampouco se mantm43

PUC (p 1-160-A).pmd

43

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

cristalizada numa ideia. Filosofia no Teologia ou qualquer saber restrito a um grupo ou escola. O paradigma quntico recebe a contribuio da Filosofia tanto quanto revolve seus pilares bsicos a respeito da natureza do ser e do mundo. A Matemtica Avanada, como cincia dos padres e regularidades, tem demonstrado que, no importando a observao direta, h algo subjetivo para o qual ela aponta e descreve. Com suas Teoria do Caos, Geometria dos Fractais e da Matemtica Quntica, cada vez mais penetra no impondervel e no incognoscvel. As equaes matemticas, longe de apresentar os padres da Natureza, tm se aproximado do mundo psquico, referindo-se aos processos mentais. As regularidades e os paradoxos da Matemtica so instncias psquicas representadas nos nmeros, que nada mais so do que entes metafsicos. Os matemticos, como os fsicos qunticos, tambm so os novos alquimistas em busca da perfeio da Natureza. A Alma Coletiva a sabedoria popular, ou conscincia coletiva, que se amplia a cada momento da evoluo humana. Podemos observar, nas diferentes culturas, a ampliao da conscincia a respeito da realidade, proporcionando uma viso de mundo cada vez mais complexa e, simultaneamente, mais divina. Isso est de acordo com a teoria de Rupert Sheldrake a respeito da Ressonncia Mrfica, com seus campos morfogenticos, que prope a transmisso de informaes no espao-tempo para outros sistemas materiais. Que relao pode ser encontrada entre essas reas do conhecimento que possa nos levar existncia de um novo paradigma? Segundo Thomas Kuhn, ... a existncia de um paradigma nem mesmo precisa implicar a existncia de qualquer conjunto de regras.8. Isso significa8

KUHN, Thomas S. A estrutura das revolues cientificas. 2. ed. So Paulo: Perspectiva, 1978. p. 69.

44

PUC (p 1-160-A).pmd

44

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

dizer que no precisamos olhar diretamente para a cincia e procurar, em seus manuais e padres, aquilo que podemos enxergar graas intuio. Essas reas, em conjunto ou isoladamente, apontam para ideias que sustentam um novo paradigma no saber humano. O paradigma quntico tem modelado as pesquisas cientficas, bem como teorias e estudos a respeito da vida, do ser humano e do Universo em que ele vive. Alm disso, tem sido presente na conscincia coletiva, balizando uma nova e surpreendente viso de mundo. J fazem parte do vocabulrio popular conceitos sobre relatividade, dualidade, interdimensionalidade, desmaterializao, realidade virtual etc.. Livros, filmes, documentrios, teses de doutoramento, bem como a tecnologia da informtica, atestam a penetrao irreversvel do paradigma quntico na sociedade. O Universo, como agora est sendo percebido, no indiferente ao ser humano. Seria indiferente se fssemos meros expectadores da realidade, sendo afetados por ela, sem a mnima possibilidade de modific-lo, restando-nos apenas fazer escolhas entre as polaridades psquicas do bem e do mal. Nesse sentido, o livre-arbtrio no uma simples escolha entre duas ou mais opes. O ser humano, sendo artfice da realidade, implica-se nela, tomando-a para si, como aquele que tem a responsabilidade de format-la a servio da evoluo pessoal e coletiva. Um Universo indiferente ao humano, determinstico, decorre da viso da Mecnica Clssica. Com o advento das ideias qunticas, cria-se um Universo cuja configurao depende do humano. Essa mudana no Universo no se deve mera troca de concepo da mente humana, mas, de fato, a uma simultnea atualizao evolutiva do prprio Universo, do ser humano e do que rege suas existncias. A conscincia de que se pode modificar o curso dos acontecimentos e dos fenmenos da Vida, amplia as possibilidades de45

PUC (p 1-160-A).pmd

45

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

realizao humana e de percepo do sentido e significado da vida. H uma lgica (ou um sentido) no Universo, independentemente do caos observado no microscpico mundo quntico do tomo. Certamente que no a lgica requerida para a compreenso do mundo, onde impera a ideia da causalidade. Mas, ento, qual essa nova lgica? O que ser que permeia todas as coisas a as tornam um fenmeno nico chamado realidade? Existir mais de uma lgica, acima da que concebemos? Essa lgica estar fora do observador e deve por ele ser percebida em si mesmo, como parte integrante de seu ser? O aparente caos observado no mundo subatmico obedece a algum princpio, por enquanto, desconhecido para a mente humana. Aquele caos parece ser o estado originrio de algo que tende organizao. Os fsicos no aceitam o acaso, pois sabem que, em qualquer distribuio aleatria de eventos, nmeros, por exemplo, possvel encontrar uma ordem ou uma lgica que justifique a sequncia encontrada (Pagels, 1982). A palavra acaso, quando usada em argumentos de premissas pelos fsicos, tem o sentido de aleatrio. A prpria mente humana no aceita um Universo regido pelo caos, mas tambm j no aceita que prevalea a antiga lgica determinstica. O que quer que seja est inevitavelmente conectado mente humana.

46

PUC (p 1-160-A).pmd

46

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

As Ideias Qunticas

rise do mecanicismo, falncia de determinismo e nascimento de uma nova viso de mundo so as consequncias diretas dos novos paradigmas qunticos. Isso representa o incio de uma modificao substancial e gradativa no funcionamento da mente humana. Uma mente mais criativa, mais livre e conscientemente disponvel para o Universo est por acontecer. As ideias qunticas nos permitem sonhar uma realidade diferente que, mesmo emergida da lgica cartesiana, passa a ser permeada por uma liberdade construda pela prpria mente humana. A questo : com que valores se deve construir uma realidade pessoal que suporte a vida coletiva sem conflitos de interesses? Talvez, por mais pueril que possa parecer, o valor mximo do ser humano ainda o amor desinteressado e espontneo para com o outro, tambm ser humano, e, o amor Fati, como veremos adiante. As ideias qunticas devem nos levar a construir e a desconstruir antiquados modos de pensar a Vida. Isso implicar na ampliao da conscincia para alm dos limites, sem medos, sem bloqueios ou convenes, ao menos nas reflexes. Ideias cristalizadas, que servem como pontos de apoio para a prpria existncia, podem ser agora cotejadas luz de novos paradigmas. Crenas antigas, sustentadas ou no pela lgica, podem e devem ser revistas sem que se resvale pelo anarquismo, mas que se tenha a coragem de questionar tudo. No se47

C

PUC (p 1-160-A).pmd

47

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

trata de destruir tudo, mas de construir o que se pensa, tendo como base o fato de se compreender a relevncia do observador na configurao do Universo. Isso nos leva a entender que tudo que o ser humano viveu, pensou, sentiu e fez ao longo de sua histria obedeceu aos ditames do corpo e de sua incipiente conscincia. Tudo isso de forma inconsciente, isto , sem a necessria autodeterminao. As ideias qunticas so conhecimentos oriundos da percepo no linear e no causal da realidade. Permitem um olhar diferente sobre o mundo, ampliando os limites estabelecidos pelos sentidos fsicos e pelos condicionamentos enraizados na mente humana. So ideias que aproximam o ego da percepo do Esprito sobre a realidade que lhe pertinente. Fazem parte de um conjunto de paradigmas que superam os limites condicionantes da lgica cartesiana empirista. A ausncia de uma causalidade para os fenmenos do mundo microscpico, como sugere a Fsica Quntica, contrapondo-se a uma realidade governada por leis determinsticas agua a inteligncia humana que, por enquanto, felizmente ou no, teima em no aceitar totalmente nenhuma das duas hipteses. Elas so complementares e de acordo com a dualidade existente entre o Inconsciente e a Conscincia. As duas ideias tm gerado imensos benefcios vida humana. Os fsicos qunticos tateiam a matria na busca da pedra filosofal, atendendo, na sua curiosidade ltima, ao Self. Esperam, nos limites de seus instrumentos e, principalmente, nos da conscincia humana, encontrar a unidade primordial da matria. Muito provavelmente constataram, em meio utilizao dos princpios estabelecidos a partir de suas descobertas a servio do bem-estar humano, que a matria um epifenmeno resultante de algo incognoscvel. Promovendo-a, h algo que provoca o colapso que a torna real para o humano. esse algo indiretamente48

PUC (p 1-160-A).pmd

48

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

detectvel como uma frequncia de onda, como um quantum de energia ou como matria. de fato algo incognoscvel ou irrepresentvel em si. semelhana, poderemos entender o mundo psquico, no qual pensamentos, ideias, vontades, entes subjetivos so capazes de acionar clulas, molculas, msculos etc.. A relao entre vontade e movimento corporal para a realizao do simples ato de acenar com a mo para algum obedece um complexo mecnico, psquico e orgnico. A saudade, por exemplo, que me leva a pensar em algum querido e que me move a acionar o telefone, se comporta como a onda e a partcula. Ela, a saudade, impondervel e entra em colapso quando a trago conscincia na forma de pensamento (onda), que me leva a atuar (partcula) buscando um telefone.

Novas Novas ideias a construirLiberdade em relao ideia clssica de Deus Comecemos analisando a ideia de Deus. Isso quer dizer que teceremos consideraes to somente sobre a ideia, pois no poderemos penetrar na existncia ou na essncia de Deus, que, da forma como o postulamos, tornase inacessvel ao humano. A crena em Deus sempre foi uma poderosa ncora psquica, garantindo a base da segurana desejada por todo ser humano. Nos primrdios do desenvolvimento humano, imperava o inconsciente, promovendo medos e a criao de monstros e deuses para super-los. Para justificar a existncia de tantos deuses, um deus maior nasce na psiqu humana. Tornase, estruturalmente, a garantia da ordem interna, projetada num mundo assegurado pela fora e predomnio daquele deus maior. Tornando-se, o indivduo, consciente, construindo um ego maduro e preparado para enfrentar seus desafios49

PUC (p 1-160-A).pmd

49

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

e toda a carga de contedos inconscientes, o deus maior comear a ser substitudo. Tomar lugar a conscincia de que lhe pertence o domnio do obscuro mundo inconsciente. A conscincia de que o funcionamento do Universo tem sua participao e de que os monstros eram criaes do ego imaturo, fomentar o surgimento de novas ncoras psquicas garantidoras da ordem interna. Isso possibilitar o surgimento de uma nova forma de se lidar com a ideia que se tem de Deus. Talvez a evoluo, tal qual a enxergamos, seja uma caracterstica da dimenso em que se situa nossa mente. Da mesma forma, concebemos um Deus de acordo com nosso nvel de compreenso. Ao invs de se apelar para Deus ou de se criar uma relao psquica de dependncia, ter-se- a conscincia de que Deus, no mais a ideia de Deus, opera atravs do ser humano, maduro e autodeterminado.Liberdade em relao causalidade absoluta A causalidade absoluta, embutida sob nome de lei de causa e efeito, vem merecendo novas interpretaes por conta dos princpios apontados pela Fsica Quntica. Sob um olhar menos apurado, diz-se que um efeito advm de uma causa, porm no se pode afirmar com preciso que esta igual quele ou mesmo qual sua natureza. A lgica humana no consegue conviver com a ideia de uma no causalidade para os fatos. No se aceita a possibilidade de algo surgir do nada. Realmente seria difcil sustentar-se essa ideia. Porm, o mundo subatmico suscitou uma nova ordem a esse respeito. Os saltos qunticos dos eltrons, sem que se saiba de onde e como surgem e desaparecem, exigem explicaes conscincia. Evocar-se-ia uma outra dimenso, onde eles vo e voltam? H um certo grau de liberdade inerente a tudo no Universo, que impossibilita a preciso de qualquer ordem? O espao geomtrico, bem como o tempo, so entes psquicos ou abstraes necessrias ao funcionamento da50

PUC (p 1-160-A).pmd

50

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

mente, que necessita de suas concretudes para que o Esprito se insira como vivente. Da mesma forma, a causalidade uma necessidade do atual nvel de evoluo do Esprito. No devemos considerar, porm, que ser sempre assim por toda a evoluo do Esprito. A causalidade obedece a uma lgica que nos obriga a aceitar a existncia de um ente organizador dos eventos da Natureza, seja uma fora, uma energia ou outra coisa qualquer. Tudo parece obedecer uma relao de consequncia e de objetividade. Isso seria consequncia da mente lgica, ou seria de fato algo inerente aos objetos e seus fenmenos? Se h um papel do observador nos fenmenos, ento poderemos aventar a possibilidade de ser ele o fornecedor da causalidade aos eventos. Se h uma causalidade absoluta, ento no h liberdade de escolha nem o surgimento de algo novo. Portanto, as coisas se sucedem umas s outras, sendo tudo um arremedo de uma nica causa inicial. O raciocnio perfeito, lgico e simples, porm desaprovado por uma ordem de fenmenos que teimam em se apresentar de forma diferente. Se no h causalidade, ento o que governa a Natureza? A questo no o que governa, pois a pergunta implica numa causalidade. Talvez devamos perguntar o que queremos com a Natureza e como ela poder se apresentar a ns. H algo que permeia a Natureza e todos os processos, porm no d mais para acreditar que seja algo mecnico e absolutamente racional. Esse algo parece convidar o humano realizao conjunta de propsitos no preestabelecidos.Liberdade em frente da impossibilidade de alterao das leis consideradas imutveis Aprendemos que o Universo regido por leis imutveis, segundo uma lgica cartesiana da repetibilidade dos processos, o que garante a veracidade de enunciados. Significa dizer que os eventos se sucedem logicamente aos51

PUC (p 1-160-A).pmd

51

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

outros de acordo com um princpio preestabelecido. Isso parece ser garantidor da ordem do Universo. Sem leis, haveria um caos. Na medida em que essa ordem tem a participao ativa do observador, ele poder ento intervir nela. Um observador mais consciente poder, ento, proporcionar fenmenos que parecero no seguir tais leis, visto que seu grau de conscincia sobre si mesmo e sobre o funcionamento daquelas leis ampliou-se. Ele no s protagonizar fenmenos que no obedecem aquelas construes, antes tidas como leis, como tambm poder formular novas leis, mesmo que provisrias, desconhecidas at ento. Por outro lado, ao se afirmar que uma lei, tm-se a certeza de que se trata de algo universal, absoluto e vlido, sempre. Mas no se v a prpria cincia modificar suas leis quando novos princpios so descobertos? H quem afirme que tal ou qual lei no do domnio humano, pois se trata de uma proposio divina. Mas quem tem, de Deus, um mandato, para lhe representar, que lhe traga a palavra? Deus se revela no humano, em todo ato humano, e pelo humano que surgem suas leis. Quando observamos o funcionamento das coisas, acreditamos que assim ocorre por uma lei externa psiqu humana. No percebemos que as leis que acreditamos existir fora de ns se encontram embrionariamente na mente coletiva, constituda ao longo da evoluo anmica. Novas compreenses e desdobramentos dessas leis, ditas divinas, fazem parte do amadurecimento humano.Liberdade em relao ao encontro do Si-Mesmo Aprende-se, principalmente no Ocidente, que o ser humano deve buscar a Deus. Para tal, ele conta com um arsenal de possibilidades que englobam livros sagrados, sacerdotes que se mostram como intermedirios divinos, rituais cabalsticos, substncias miraculosas, frmulas mgicas, vestes especiais, palavras msticas, alimentaes52

PUC (p 1-160-A).pmd

52

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

rejuvenescedoras, cultos a divindades, entre outros. Com a conscincia de si mesmo e a percepo do divino como algo autoportante, deve-se entender a necessidade de dispensar-se tais instncias, que, na sua maioria, atendem a projees inconscientes.Liberdade em relao ao domnio do prprio destino O destino sempre foi algo imaginado pelo ser humano como pertencente ao divino. Somos conduzidos a ele sem alternativa de mudana ou de escolha. Ou j estava traado por Deus, ou pelo carma passado. Agora, podemos antever que o Esprito, dono de seu destino, sabendo-se influenciador da matria e de todos os fenmenos do Universo, poder alterar seu destino segundo alguns limites decorrentes de seu prprio nvel de evoluo. A conscincia do mito pessoal levar cada indivduo a alter-lo, ou no, de acordo com sua percepo do que lhe mais vantajoso do ponto de vista evolutivo.

Ideias a desconstruirConcomitantemente construo dessas ideias, outras, no entanto, necessitam ser desconstrudas, plasmando-se um novo edifcio psquico adequado aos paradigmas qunticos pessoais e coletivos. O processo de desconstruo lento do ponto de vista prtico, mas intenso e fundamental do ponto de vista psquico. Muda-se o modo de pensar e perceber a realidade e, depois, o de agir. preciso buscar no mais raciocinar de acordo com a causalidade absoluta, mas num universo de probabilidades de respostas e de eventos no alinhados com causas conhecidas. Deve-se permitir pensar que aquilo que acontecer consigo no estar de acordo com suas expectativas negativas ou positivas, principalmente em relao ao primeiro aspecto.53

PUC (p 1-160-A).pmd

53

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

Deve-se adotar uma religio pessoal no necessariamente alinhada com os preceitos formais das religies tradicionais, mas oriunda da experincia pessoal com seu prprio sentimento de Deus. Buscar o entendimento de que o Deus pregado, discutido e procurado pelas religies serve para o consumo coletivo, devendo-se adequar o conceito apreendido com a vivncia pessoal. Dentro da dimenso religiosa, refletir sobre os meios oferecidos para se alcanar a Deus ou a sua mxima essncia, compreendendo que se tratam de representaes arquetpicas; portanto, servem de molde ao encontro da prpria forma direta de proporcionar a percepo do Si-Mesmo. Deve-se passar a considerar que o funcionamento do Universo obedece princpios desconhecidos, at ento compreendidos pela causalidade e pela presena de um Princpio Ordenador Divino, mas que agora devem ser construdos pelo prprio indivduo. Tal construo se dar na base da tentativa, pelos erros e acertos, cotejando-se com o compartilhamento dos outros. As leis do Universo sero, agora, percebidas sob um outro olhar, que admite a probabilidade de serem diferentes e surgirem novas a cada momento. Consequentemente, a chamada realidade se tornar um mosaico maravilhosamente construdo pelo mundo interior das pessoas. A conhecida expresso O homem Cocriador da Natureza ganha novo colorido, pois alcana conscientemente a dimenso prtica. Torna-se possvel a realizao de projetos, sonhos e todo um mundo interior maravilhoso, pertencente de fato alma humana.

54

PUC (p 1-160-A).pmd

54

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

CONSTRUIR Liberdade em relao causalidade absoluta Deus Pessoal Liberdade em relao ideia clssica de Deus Liberdade em frente da impossibilidade de alterao das leis consideradas imutveis Realidade multidimensional Liberdade em relao ao encontro do Si-Mesmo Liberdade em relao ao domnio do prprio destino

DESCONSTRUIR Causalidade absoluta Deus coletivo Antiga ideia de Deus Leis de Deus e concepo humana do funcionamento do Universo Realidade definida pelos sentidos humanos Religies como nicas vias de acesso a Deus Destino inflexvel e pr-definido.

55

PUC (p 1-160-A).pmd

55

21/1/2009, 07:57

PUC (p 1-160-A).pmd

56

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

A Busca da Unidade

tentativa de se encontrar um princpio nico que justifique os diversos e complexos processos da Natureza, como tambm englobe a compreenso humana a respeito da vida e do humano em si mesmo, antiga. Na Filosofia, os pr-socrticos afirmavam que os quatro elementos terra, fogo, gua e ar formavam a unidade das coisas. Posteriormente surgiu o termo tomo (indivisvel) representando a unidade da matria. Na Idade Mdia, em busca de uma conciliao entre o espiritual e o material, afirmava-se que f e razo eram unidades do saber humano, cujo encontro era possvel desde que se aceitasse a supremacia do primeiro em relao ao segundo. Portanto, h muito tempo, a mente humana tenta encontrar a unidade, provavelmente por fora do arqutipo do Self, cuja tendncia a organizao de processos. No Sculo XX, Albert Einstein tentou encontrar um princpio nico que unificasse as principais foras da Natureza, porm sem sucesso. Ele se baseou nos trabalhos do escocs James Clerk Maxwell (1831 a 1879), que uniu a eletricidade, o magnetismo e a tica em suas famosas equaes, dando origem ao Eletromagnetismo. Einstein queria unir as quatro foras: o eletromagnetismo, a gravitao, fora nuclear forte e fora nuclear fraca. Mais tarde, a Teoria das Supercordas tentaria tambm unificar as teorias do grande com as teorias do pequeno. A57

A

PUC (p 1-160-A).pmd

57

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

obstinao de Einstein foi tratada com desdm pelos seus pares, pois ele discordava dos novos conhecimentos oriundos da Fsica Quntica. Sua obstinao representava uma projeo da grande busca humana pela percepo da unidade de Deus. Einstein foi o ltimo fsico clssico e, indiretamente, um dos primeiros cientistas a abrir os caminhos para a Fsica Quntica. O ser humano nasce inconsciente e transita pela conscincia para o encontro com sua prpria unidade, isto , sua individualidade ou designao divina. Antes de se perceber unidade, entende-se como grupo. Nesse processo, faz-se necessria a projeo de sua unidade (individualidade) no mundo. Isso pode ser visto, por exemplo, na aceitao e tentativa de compreenso de um Deus nico. Independentemente da unidade ou no de Deus, a ideia dessa unidade representao fundamental para a construo da individualidade consciente. Mesmo que no se acredite em Deus ou que se tenha devoo a vrios deuses, h uma intencional referncia a um objeto transcendente. Para aquela construo, necessria uma lgica racional, constituda pelos seus principais fundamentos: temporalidade, causalidade e consequencialidade. No parece ser possvel a construo de uma individualidade consciente sem a projeo da ideia de existir uma unidade, seja ela simblica ou considerada concreta. O Um, o Si-Mesmo, a unidade interna da psiqu humana, torna-se projetada na procura de uma unidade externa. Esse mecanismo (da projeo) conciliador em face de uma persistente tenso entre o Inconsciente (atemporal, coletivo, parcialmente individual e natural) e um Consciente (inserido no espao-tempo, pessoal, parcialmente coletivo e originado do Inconsciente) irremediavelmente conectado aos objetos externos. No sem sentido que os recentes estudos e reflexes sobre as descobertas da Fsica Quntica nos levem a uma desconstruo de uma unidade externa. Talvez isso seja58

PUC (p 1-160-A).pmd

58

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

representativo de uma nova possibilidade de compreenso da Natureza em face do amadurecimento do ser humano, que se liberta da necessidade de se individualizar considerando-se separado do outro. Parece que foi necessrio passar pela ideia da unidade externa a fim de chegar unidade interna, para depois se perceber conectado s coisas. Isso no significa que o processo se finda. Onde se chegar improvvel afirmar-se, mas possvel, agora, entender que o restante do percurso, ou melhor, a continuidade da caminhada, depender menos da crena num Deus externo, e muito mais da conscincia de que Deus se realiza no prprio ser humano. Na Mitologia Grega, h um mito que pode retratar, pelo menos parcialmente, esse novo estgio, no qual a orfandade parece bater porta da conscincia humana. Faetonte, filho de Hlio e Clmene, foi educado sem saber quem era o seu pai. Veio a saber pela me, na adolescncia, quando decidiu certificar-se da verdade, pois no suportava o escrnio dos outros que no acreditavam ser ele filho de Hlio. Aps rdua busca, chega Faetonte ao palcio reluzente de seu pai, Hlio, que disposto a agradar o filho, prometeu-lhe qualquer pedido. Faetonte lhe pede para conduzir, por um dia, o Carro do Sol, que atravessava o cu conduzido por quatro vigorosos cavalos. Sem poder negar sua palavra, aps srias recomendaes para que o carro fosse conduzido a meia altura, sem ir muito alto nem tocasse a terra, Hlio viu suas ponderaes de nada valerem. Quando, na aurora, Faetonte tentava subir o cu, conduzindo os quatro cavalos, estes sentiram que no eram mos firmes nem seguras que os conduziam, passando a variar de direo e de altura. Faetonte perde o controle e a carruagem dispara, tocando as estrelas e os montes, incendiando cu e terra. Cidades, rios, montes e nuvens incendiaram-se, envolvendo o prprio Faetonte. Zeus, deus supremo do Olimpo, vendo a tragdia instalada, lana um de seus poderosos raios contra a carruagem e59

PUC (p 1-160-A).pmd

59

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

seu condutor, que despenca, morto, no rio Erdano. O raio, certeiramente desferido, estanca o incndio, deixando a Terra, por um dia, mergulhada em trevas. Esse mito pode representar no s a audcia humana, como tambm a condio inicial de sua incompetncia diante da complexidade do Universo. Tais condies so estimuladoras busca de uma, cada vez melhor e mais completa, se que possvel, formatao para a Realidade. Somos Faetonte na medida em que nos arrojamos a buscar algo alm de nossos limites de compreenso, exatamente para ampli-los. A diferena que Faetonte, diversamente do Self, sucumbe, qual ego frgil diante de um grande desafio, maior do que suas foras. O que quer hoje conduzir o carro do sol no um ego frgil, mas o Esprito imortal, que j compreende ser o verdadeiro herdeiro do que era creditado a um Deus superpoderoso que se reservava o exclusivo encargo de comandar os destinos humanos. A busca da unidade pressupe que se venha encontrar uma harmonia em torno de um centro organizador, o que no ocorre no mundo subatmico. No se consegue medir o grau de ordem ou de desordem no mundo micro. O mundo subatmico talvez no esteja sujeito Entropia, segunda lei da Termodinmica. A Entropia pode ser traduzida como uma medida estatstica do grau de desordem de um sistema fechado. No mundo microscpico, o grau de desordem pode aumentar ou diminuir, a depender do prprio sistema. No se pode garantir que os postulados da Mecnica Clssica sejam validos na anlise dos fenmenos qunticos. Modernamente, a partir das equaes de John von Neumann, conseguiu-se generalizar a Entropia, incluindo as partculas qunticas, porm no se chegou a concluses precisas. Isso quer dizer que o Universo est aberto a novas interpretaes e formulaes fsicas e, principalmente, metafsicas. A velha ordem csmica cede lugar a uma outra60

PUC (p 1-160-A).pmd

60

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

ordem, desta feita com a participao consciente e ativa do sujeito observador, o Esprito. No h um cosmo, ou um Universo, ou mesmo uma nica totalidade. A pluralidade tambm regra na Natureza. Deus plural e, por isso, singular. Isso pode ser depreendido a partir da dificuldade de se encontrar uma nica formulao que englobe o mundo micro e o macro. Pensar que a teoria das cordas resolve a questo o mesmo que se dizer que o enunciado da existncia do tomo solucionava tudo. Mesmo que matematicamente se prove que as cordas formam a substncia da natureza, resta-nos saber de que elas so feitas. A unidade procurada no est na natureza, mas na individualidade humana. A busca da unidade da matria ps mostra uma contradio existente no saber humano: determinismo x liberdade do observador. A Fsica Quntica pe fim ao determinismo e objetividade clssica. A Fsica Relativstica vem complementar a Quntica e vice-versa. Porm, nem o determinismo nem o caos quntico podem explicar definitivamente a Natureza, pois h algo sempre novo que possa explic-la e que gradativamente se descortina mente humana. A liberdade do observador, improvvel de ser aceita antes da Fsica Quntica, passa a ter definitivo papel na natureza. O Esprito ganha supremacia em relao matria. As interpretaes dos fsicos qunticos so, de fato, provisrias. No apenas pela fragilidade em se encontrar uma teoria que explique os poucos resultados obtidos nas pouqussimas experincias levadas efeito e na baixa aplicabilidade do que se obtm, mas, principalmente, pela falta de interdisciplinaridade em se refletir sobre os temas e pressupostos. Tal no ocorre s com a Fsica, mas com todas as cincias. Novas cincias e novas reas do saber humano esto surgindo com a interdisciplinaridade. Foi assim que surgiu a Ciberntica pela unio da Fsica Quntica, da Matemtica, da Engenharia e da Computao.61

PUC (p 1-160-A).pmd

61

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

Da mesma forma, no campo prtico, surgiu a Biotecnologia, a Biomedicina, a Bioenergia etc.. A unidade no regra. A mente humana exige sua existncia. Buscar uma teoria unificadora da Natureza , talvez, menosprezar a Inteligncia Divina. A Teoria das Supercordas pretendeu fazer o que Einstein no conseguiu: uma teoria unificadora dos parmetros do Universo. Uma teoria do tudo. Os velhos alquimistas, travestidos de fsicos modernos, buscam a pedra filosofal. Ela um dos mais antigos mistrios para a mente humana desvendar.

62

PUC (p 1-160-A).pmd

62

21/1/2009, 07:57

Segunda Parte: A Realidade EspiritualO Que o Espiritismo? A Religio Esprita Os Caminhos do Espiritismo Implicaes das Ideias Espritas

PUC (p 1-160-A).pmd

63

21/1/2009, 07:57

PUC (p 1-160-A).pmd

64

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

A Realidade Espiritual

Por enquanto, o tema do domnio das religies em particular, porm mais evidenciado no Espiritismo. Creio que se deve ao arqutipo religioso, que busca representaes nas experincias relacionadas com a morte, com o destino e com as escolhas humanas. Como a fronteira entre o religioso e o profano cada vez mais se estreita, o assunto passar para o domnio comum, sendo objeto das cincias e da normalidade do cotidiano humano. Os limites psquicos decorrentes da evoluo humana esto sendo reduzidos pelas ideias qunticas, e isso levar a uma maior compreenso da realidade espiritual como sendo a origem do Universo.

65

PUC (p 1-160-A).pmd

65

21/1/2009, 07:57

PUC (p 1-160-A).pmd

66

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

O Que o Espiritismo?

omo bem o definiu Allan Kardec (1804 a 1869), ... a doutrina esprita ou o espiritismo tem por princpios as relaes do mundo material com os Espritos ou seres do mundo invisvel. 9. Portanto, trata da dimenso espiritual, inserida no Universo Quntico, do qual, em princpio, tudo faz parte. A dimenso do Esprito como algo que se manifesta no mundo material, sob certas circunstncias nele detectvel, passvel de ser qualificvel matematicamente do ponto de vista da Fsica Quntica. Independentemente da questo moral, sempre evocada no Espiritismo, a dimenso espiritual , como a material, um campo de manifestao do Esprito, possuindo caractersticas prprias, bem como dinmicas interativas pertinentes. Seria equvoco querer aplicar a lgica causal, tpica da dimenso material, a uma outra com especificidades pouco conhecidas. A dimenso espiritual obedece a leis prprias, pelas quais o Esprito est habituado a se orientar. Quando penetra, ou toca, na dimenso material, h que se adequar a um outro referencial, cuja vibrao lhe permite plasmar a inteligncia, bem como outros atributos pertinentes.9

C

KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Salvador: Ed. Harmonia, 2007, p. 15. Introduo ao estudo da doutrina esprita, item I.

67

PUC (p 1-160-A).pmd

67

21/1/2009, 07:57

adenuer novaes

O Espiritismo abre possibilidades amplas de percepo, ainda dentro de estreitos limites, utilizandose da lgica e do bom senso pertinentes vida material, a outras dimenses da realidade do Universo. Isso amplia a compreenso da mente humana para outras dimenses a serem experienciadas naquilo que entendemos ser a evoluo do Esprito. O Espiritismo, visto e praticado como uma religio, responde ao anseio psquico de atingir-se a transcendncia da superao da dimenso material. Tal formato parece capacitar a mente a incurses em nveis dimensionais no atingidos pelo exclusivo uso da razo, pertencente ao intelecto humano. a prtica da mediunidade que possibilita a ampliao da conscincia, capacitando a mente para ir alm dos limites do sistema cerebral. Esse exerccio, da mediunidade, deve ser cautelosa e persistentemente experimentado mediante metdico processo de aprendizagem, em face de suas implicaes com o Inconsciente, matriz das motivaes humanas. Como a conscincia do eu ainda no consegue lidar adequadamente com o Inconsciente, a possibilidade da mediunidade originada da dimenso inconsciente torna a questo mais complexa. A crescente aceitao e procura pelo Espiritismo, pelos mais diversos motivos, demonstra que j est havendo, ao menos embrionariamente, o desenvolvimento de habilidades psquicas adequadas imerso do ego na dimenso espiritual. Isso coloca o Espiritismo, como meio, ao alcance do ser humano, para que acesse dimenses existenciais distintas da dimenso material em que vive e atua. O conhecimento do Espiritismo permite uma maior compreenso do Universo Quntico, pois amplia a conscincia para a percepo multidimensional. O Espiritismo uma espcie de portal de acesso a dimenses que agora a Fsica Quntica descobre e comprova, ao menos matematicamente, a existncia.68

PUC (p 1-160-A).pmd

68

21/1/2009, 07:57

Psicologia e Universo Quntico Um olhar sob o paradigma espiritual

H um s Espiritismo, fundado por Allan Kardec. Porm, a realidade do Esprito aps a morte muito mais ampla do que tem sido possvel ser captado pela mediunidade. O Espiritismo de hoje, ao menos na cultura brasileira, apresenta, pela via medinica, uma formatao da realidade espiritual muito semelhante ao que ocorre na dimenso material. Isso relativo ao estgio de desenvolvimento da psiqu humana, sendo, portanto, uma percepo provisria. A doutrina do Espiritismo se fundamenta na existncia, individualidade e comunicabilidade dos espritos, sendo estes a matriz da pessoa humana e a continuao da sua vida aps a morte do corpo fsico. Os desdobramentos desses princpios, explicitados na prtica do Espiritismo, forjam o que se conhece com o nome de Movimento Esprita. O espectro de prticas entre os adeptos e os modelos de instituio so muito extensos, estando longe de existir uma homogeneidade. A diversidade existente nas prticas espritas no se deve, em geral, a divergncias de interpretao da doutrina do