Adm Pública

6
.·notas e comentQrlos ., 1. Introduç40; 2. o administrador proFISsionalnos EUA; 3. O administrador profissioTlllInô BmsU; . 4. Conclw4o. Notas para a história da administração' brasileira: origens e desenvolvimento * Vera Suely Storck Bacharel' em direito; mestre emadministraç4b; profesliOrade pesquisa e po1fticade administraç/b em órgãos estaduais e federais; tlcnica em a,,"ntol educacio7lllis no PPGA /UFR GS, 1. INT~ODUÇÃO Dentre vários modos de se buscar explicações para o pre- sente e predições para o futuro, um deles é .0.de vascu- lhar o passado. Os "problemas" em diferentes campos es- tio, muitas vezes, orentados por suas origens e urna bus- ca ao passado da administração brasileira pode, 'no míni- mo, constituir-se em salutar exercício intelectual. Atual-, mente, a administração registra, em seu acerto, pequena preocupação com esse passado. . Há, como se sabe, vários trabalhos realizados em áreas distintas, que apresentam, de forma .maís ou me- . nos completa, a história de uma ou outra organizàÇlo empresarial bo Brasi1.e o caso, por exemplo, de A, colo- nizaçlIo alemã no Rio Grande do Sul; de Jean Roche, em que, à guisa de explicitar a contribuíção trazida por esses imigrantes à economia da região, acaba por apresentar urna ímportantesíntese.hístõríca de grande número de empresas sul-rio-grandenses. Também é o caso de Delmi- 1'0 Gouveia: pioneiro e nacionalista, de F, Magalhles Mar- tins, obra de caráter biográfico dedicada ao empreende- dorempresãrio cearense. Contudo, como õs exemplos bem demonstram, tais obras acentuam, não raro, as ca- racterísticas biográficas dos empresários: referem-se ao homem, não à obra. ( . A história da obra, ou seja, da organização empresa- rial, fica ofuscada pelo relevo da história do empresário. No entanto, a empresa. transcende. o empresúio,()u me- , lhor, a empresa nã'o.é o empresário: se o coatorno da sua figura é imprescindível para a hist6riada organização, a . história da organização vai além do contorno dessa fJgU- ra. ·0 reconhecimento da existência de. urna lacuna quanto a esse aspecto é mostrada de vários modos. Joio Batista Lodi o faz, em HistÓl'ill do administração, decla- rando que há muito tempo acalenta o projeto de escre- ver-uma história daadmínistraçãond Brasil; outros pro- fessores epesqaísadores já manifestaram, reiteradas ve- zes, o seu interesse em desenvolver projeto semelhante, Assim sendo; na medida em'que não se tem dispo- riível a história da admínístração no Brasil, é costume c0- meçar a falarem administração partindo de origens re- metas da disciplina. Diz-se, por exemplo, que urna das primeiras manifestações "administrativas" ocorreu com Moisés, quando organizou o povo escolhido. Atestariam, segundo considerável segmento de estudiosos da área, os fundamentos originais da administração. De acordo com essa linha,' a administração sempre existiu e a figura do administrador evoluiu ao longo do . . tempo. Teriam sido admínístradores.-segundo se deduz, todos os personagens bíblicos que demonstraram interes- se pela organização, pela hierarquia, pela dívísão de atri- buições; teriam sido admínistradores, segundo se indica, o os feitores de escravos. Assim, a teoria levada ao extremo induzira a considerar administradores os jJater familias da antiga Roma, como induzirá a considerar administra- dores os chefes tribais e o moderno "chefe da sociedade conjugal". Por conseguinte, essa teoria histórica da admi- nistração aplica-se a urna série incomensurável de pessoas e, logo, a coisas, o que enfim produzirá um tipo de racio- cínio que ignora a linha da informalidade: "tudo" pode ser "admínistrador'tc- árvores, casas, pássaros, pedras, .. E~ visão da. história da administração é, como se vê, uma visão que carece de especificidade; perdendo a dimensão da especificidade, vê a história da administra- ção sob .urna perspectiva linear, desconhecendo as fron- teiras entre oformal e o informal e ignorando o movi- mento. Em decorrência, o estudo da história da adminís- ttaçlb é feito para todas as nações como se essa fosse, de fato, ,uma hist6ria geral, universal. . Assim sendo, o argumento central sustentado aqui é o de que a história da administração brasileira deve fluir das precondíções necessárias ao seu surgimento: as con- dições que fízeram dela umadiscíplína autônoma no contextosocial, conjugada com a emergência de urn tipo de economia que julgasse indeclinável, no seu processo, a presença de administradores "formados", Neste trabalho, hã, pois, doíspropõsitos centrais: em primeiro lugar, pretende-se oferecer uma contribui- Ça'o~ história da administração no Brasil, a partir de uma teoria que incorpore a dinâmica do sistema capitalista, especialmente no que diz respeito às relações entre paí- ses centrais e periféricos; depois, quer-se, através dessa, aportar a uma explicação que permita chegar ao Brasil, hoje, e encontrar a disciplina operando como efetiva- mente opera Nesse contexto, parece verdade irrefutãvel ~ dada a j origem das preocupações o "administrativas" no Brasil - que o "passado imperfeito" da admínístração brasileira é o "passado mais que perfeito" da admínístração dos EUA~ De fato, afora a ínfluêncía britânica na administra- çlo nacional, tudo o mais vem dos EUA: os livros e, as. téfnicas; os, professores;a~ bolsas de estudos para cursos Rev. Adm. Empr., 'Rio d.Jáueiro, 23(3)157:.(;2 . juL/set. 1983

description

By Vera Sueli S.

Transcript of Adm Pública

Page 1: Adm Pública

.·notas e comentQrlos. , 1. Introduç40;

2. oadministrador proFISsionalnos EUA;3. O administrador profissioTlllInô BmsU;

. 4. Conclw4o.

Notas para ahistória da

administração'brasileira: origens

edesenvolvimento *

Vera Suely StorckBacharel' em direito; mestre emadministraç4b;

profesliOrade pesquisa e po1fticade administraç/bem órgãos estaduais e federais; tlcnica em a,,"ntol

educacio7lllis no PPGA /UFR GS,

1. INT~ODUÇÃO

Dentre vários modos de se buscar explicações para o pre-sente e predições para o futuro, um deles é .0.de vascu-lhar o passado. Os "problemas" em diferentes campos es-tio, muitas vezes, orentados por suas origens e urna bus-ca ao passado da administração brasileira pode, 'no míni-mo, constituir-se em salutar exercício intelectual. Atual-,mente, a administração registra, em seu acerto, pequenapreocupação com esse passado. .

Há, como se sabe, vários trabalhos realizados emáreas distintas, que apresentam, de forma .maís ou me- .nos completa, a história de uma ou outra organizàÇloempresarial bo Brasi1.e o caso, por exemplo, de A, colo-nizaçlIo alemã no Rio Grande do Sul; de Jean Roche, emque, à guisa de explicitar a contribuíção trazida por essesimigrantes à economia da região, acaba por apresentarurna ímportantesíntese.hístõríca de grande número deempresas sul-rio-grandenses. Também é o caso de Delmi-1'0 Gouveia: pioneiro e nacionalista, de F, Magalhles Mar-tins, obra de caráter biográfico dedicada ao empreende-dorempresãrio cearense. Contudo, como õs exemplosbem demonstram, tais obras acentuam, não raro, as ca-racterísticas biográficas dos empresários: referem-se aohomem, não à obra. ( .

A história da obra, ou seja, da organização empresa-rial, fica ofuscada pelo relevo da história do empresário.No entanto, a empresa. transcende. o empresúio,()u me-

, lhor, a empresa nã'o.é o empresário: se o coatorno da sua

figura é imprescindível para a hist6riada organização, a .história da organização vai além do contorno dessa fJgU-ra.

·0 reconhecimento da existência de. urna lacunaquanto a esse aspecto é mostrada de vários modos. JoioBatista Lodi o faz, em HistÓl'ill do administração, decla-rando que há muito tempo acalenta o projeto de escre-ver-uma história daadmínistraçãond Brasil; outros pro-fessores epesqaísadores já manifestaram, reiteradas ve-zes, o seu interesse em desenvolver projeto semelhante,

Assim sendo; na medida em'que não se tem dispo-riível a história da admínístração no Brasil, é costume c0-meçar a falarem administração partindo de origens re-metas da disciplina. Diz-se, por exemplo, que urna dasprimeiras manifestações "administrativas" ocorreu comMoisés, quando organizou o povo escolhido. Atestariam,segundo considerável segmento de estudiosos da área, osfundamentos originais da administração.

De acordo com essa linha,' a administração sempreexistiu e a figura do administrador evoluiu ao longo do .

. tempo. Teriam sido admínístradores.-segundo se deduz,todos os personagens bíblicos que demonstraram interes-se pela organização, pela hierarquia, pela dívísão de atri-buições; teriam sido admínistradores, segundo se indica,

o os feitores de escravos. Assim, a teoria levada ao extremoinduzira a considerar administradores os jJater familiasda antiga Roma, como induzirá a considerar administra-dores os chefes tribais e o moderno "chefe da sociedadeconjugal". Por conseguinte, essa teoria histórica da admi-nistração aplica-se a urna série incomensurável de pessoase, logo, a coisas, o que enfim produzirá um tipo de racio-cínio que ignora a linha da informalidade: "tudo" podeser "admínistrador'tc- árvores, casas, pássaros, pedras, ..

E~ visão da. história da administração é, como sevê, uma visão que carece de especificidade; perdendo adimensão da especificidade, vê a história da administra-ção sob .urna perspectiva linear, desconhecendo as fron-teiras entre oformal e o informal e ignorando o movi-mento. Em decorrência, o estudo da história da adminís-ttaçlb é feito para todas as nações como se essa fosse, defato, ,uma hist6ria geral, universal. .

Assim sendo, o argumento central sustentado aqui éo de que a história da administração brasileira deve fluirdas precondíções necessárias ao seu surgimento: as con-dições que fízeram dela umadiscíplína autônoma nocontextosocial, conjugada com a emergência de urn tipode economia que julgasse indeclinável, no seu processo, apresença de administradores "formados",

Neste trabalho, hã, pois, doíspropõsitos centrais:em primeiro lugar, pretende-se oferecer uma contribui-Ça'o~ história da administração no Brasil, a partir de umateoria que incorpore a dinâmica do sistema capitalista,especialmente no que diz respeito às relações entre paí-ses centrais e periféricos; depois, quer-se, através dessa,aportar a uma explicação que permita chegar ao Brasil,hoje, e encontrar a disciplina operando como efetiva-mente opera

Nesse contexto, parece verdade irrefutãvel ~ dada aj origem das preocupações o "administrativas" no Brasil -que o "passado imperfeito" da admínístração brasileiraé o "passado mais que perfeito" da admínístração dosEUA~ De fato, afora a ínfluêncía britânica na administra-çlo nacional, tudo o mais vem dos EUA: os livros e, as.téfnicas; os, professores;a~ bolsas de estudos para cursos

Rev. Adm. Empr., 'Rio d.Jáueiro, 23(3)157:.(;2 . juL/set. 1983

Page 2: Adm Pública

de pós-graduação (essas s[o oferecidas, quase que em suaintegralidade, em instituições de ensino de administra-ção norte-americana). Dessa sorte, a administração apre-senta-se, no Brasil, como a mais norte-americana de nos-sas disciplinas. '

Por conseguinte, UIÍl estudo do passado da adminis-tração brasileira precisa começar com o estudo do passa-do da administração norte-americana, ainda que com issose esteja longe- de querer afirmar que o presente ou o fu-turo desta seja ou será, .também, elemento explicativopara o presente ou o futuro daquela.

2. O ADMINISTRADOR PROFISSIONALNOS EUA

:e Chiavenattoquem afirmaque "a administração, em to-da a sua longa história até o início do século xx, se de-senvolveu com uma lentidão impressionante para, a par-'tír deste século, passar 'por fases "de desenvolvimento denotável pujança e ínoeação".' De fato, até o século XX,não se registram quaisquer obras que se voltem específi-ca e diretamente à administração, enquanto profissão ou

. campo autônomo do conhecimento. O surgimento daadministração está, assim "associado ao capitalismo mo-nopolista e ao controle da produção pelas organizaçõesburocrâtícas, a partir do ínfcío do-século XX".'

Realmente, segundo registra Chandler Jr., até 1850raras organizações norte-americanas contavam com o tra-balho de administradores. Empresas de pequeno porte,normalmente de origem familiar, dispensavam, até aque-la época, a presença de tais profissionáis. No mais dasvezes, a administração dos empreendimentos era feita in-tegralmen te pelo prQprietãrio ou acionista majoritãrio,apenas ocasionalmente auxiliado por membros da famí-lia.3

Em 1850, contudo, a sociedade norte-americana co-meça a metabolizar os impactos da Primeira ReVOluçãoIndustrial, ocorrida graças à aplicação do carvão e do fer-ro a fins industriais. Embora se registre que essa transfor-mação tenha ocorrido no período de 1780 a 1860 na In-glaterra, então centro hegemôníco do capitalismo mun-dial, foi só a partir de 1850 que os EUA viram seus efei-tos no que respeita ao desenvolvimento industrial geral,"Dá-se, então, extraordinário desenvolvimento de estradasde ferro, integrando zonas distantes entre si, .abrindomercados, transportando mercadorias compradas ou ven-didas. Em conseqüência, toma-sesimples para as empre-sas estabelecer filiais em outras localidades do territórionorte-americano.

Esse complexo de acontecimentos contribui para au-mentar os níveis de exigência em torno da figura do pro-prietãrio ou acionista majoritãrio. Se, até então, era-lherelativamente fácil administrar integralmente a empresa,controlando os mais simples aspectos operacionais aomesmo tempo em que tomava as mais complexas deei-sões; nesse momento isso jâfíea sendo inviãvel. As dis-tâncias geogrâfícas a serem vencidas entre 'os estabeleci-mentos, por um lado, e a crescente complexidade dos ne-gócios, por outro, fazem com que os empresãrios ou oacionista majoritário fiquem virtualmente impedidos deseguir sozinhos à .testa de toda a administração.

58

._------- -----~--

Toma corpo assim, mais expressivamente, a figurado administrador proIlSSional de empresas, como o resul-tado da especíalízação de funções do proprietário. Logi-camente; essa figura só se torna possível a partir de umaaliança tácita entre as partes: o administrador, ao assumiras funções que o propríetâríodelega, assume, implícita-mente,a sua 'ótica, ou, por outra, assume o compromissode fazer as coisas tal como o proprietãrio faria. Assimsendo, 'é explicável que nesse primeiro momento o admi-nistrador guardasse,' ainda;, íntbna relaçlo com o capitale fosse pinçado dentre acionistas minoritãrios da empre-sa. Além disso, suas funções, nesse momento, são aquelasque mais oneram o proprietãrio, mas que, ao final, sãopara este as menos importantes: as atividades internas, ocontrole e a supervisãO da linha de produção, o dia-a-dia,o processo. Exemplos dessa distribuição de tarefás ocor-reram na John Jacob Astor's American Fur Company ena Nicholas Biddle's Second Bank of the Uníted States. 5.

Se a Primeira Revolução Industrial foi responsávelpor uma tal divisão de tarefas entre proprietãrfo e admi-nistrador - ou, melhor dizendo, foi responsãvel pelo au-

, mento do trabalho do proprietãrio de tal forma que elese viu forçado a abrir mão de parte das suas funções emfavor de administradores, ocasionando, assim, a primeirademanda quantitativa desses profissionais - foi a chama-da Segunda Revolução Industrial, que teve lugar de 1860a 1914, que se responsabilizou não apenas pelo àumentodaquela demanda, mas, mais do que isso, por uma subs-tancial mudança nos requisitos de qualidade dessa de-manda.

A Segunda Revolução Industrial introduz no mundo'industrial' a utilização -da eletricidade, dos motores decombustão interna, das ondas eletromagnéticas, das des-cobertas havidas na química (petróleo e derivados) e das.técnícas de produção em massa. 6 Tais ocorrências deter-minaram, por conseguinte, a continuação do processoiniciado na fase anterior, no que respeita à incorporaçãodo a'dministrador aos quadros dás indústrias.

. O aumento do volume da demanda de administrado-res determina, aí, uma mudança qualitativa de monta nafigura do profissional de administração, ria medida emque a indústria norte-americana precisa dispor de umagrande quantidade de tais profissionais e já não podecoritar, para tal fim, com o recurso único de suprimentode admínístradores de que se vinha utilizando, que era ode guindar a tal categoria os acionistas minoritãrios. :enesse momento, então, que se di a ruptura entre admí-nistradore capital, ruptura no sentido de não ser maisaquele, doravante, um interessado direto no capital. :enesse momento que começa a surgir a figura do admi-nistrador empregado.

No entanto, a mudança qualitativa não se operou so-mente no plano da separação entre administrador e· capttal. Embora mais timidamente, também as funções doadministrador sofreram modificações - resultado deuma nova, mas ainda tênue divisão de funções do pro-prietãrio. Com efeito, a descentralização geográfica dasunidades: produtivas, acrescida do fato de que nesses ne-gócios fundiram-se muitos capitais além do capital doempresãrio, não justificava nem possibilitava que ele; con-tinuasse à testa de todo o procesS? decisório. Fatos taiscomo a participação dos estados na constituição das em-presas, indefinindo a composiçãosocietãria, contribuíamtambém para que se procedesse à nova divisão. Assim, ao

Rev;,ta de Administração de EmpreBflll'

Page 3: Adm Pública

administrador profissional, já historicamente treinado no 'desempenho de tarefas simples, atribui-se também a tare-fa de decidir pelas unidades. Não que devesse decidir emtoda a extensão: dadas as regras gerais pela "casa ma-

, triz", ao administrador profissional coube implantá-las,na íntegra ou em adaptações, para toda a linha de unida-des das organizações do grupo.

~ a partir daí que a economia norte-americana passaa caracterizar-se, cada vez mais pelo fenômeno das gran-des empresas, das grandes corporações. Ao mesmo tem-po, a figura do administrador vai" 'cada vez .maís, assu-mindo traços de uma figura indeclinável e necessária noprocesso. Como conseqüência dessa situação, os admínís-tradores se profissionalizam rapidamente. Como mostraChandler Jr.: '

"Tal profissionalização tomou a mesma forma que ela ti-nha com os administradores das ferrovias nos anos de1870 e 1880 e com os engenheiros mecãnicos nos anosde 1890 e 1900. Sociedades profissionais foram forma-das, foram publicados jornais profissionais nos maiorescolégios e universidades americanas.'"

De tal sorte, se em 1900 cursos de contabilidadeeram dados somente em 12 instituições de ensino supe-rior e tais cursos eram pouco mais do que apanhados de

. técnicas de escrituração de livros comerciais, em 1910 52 'colégios e universidades ofereciam cursos de contabilida-de e em 1916 o número alcança a 116. Neles, os cursosincluíam auditoria, contabilidade pública e contabilidadede~~8 .

De tais dados, talvez o elemento mais importante apinçar seja o papel assumido pela universidade junto àformação de administradores. Tratou-se, como se vê,deum papel de "especializadora", já que o profissional sehabilitava ao exercício do cargo mediante o ingressonum vasto e promissor mercado de trabalho, para, sóentão, recorrer à, universidade em busca de especializa-ção,

3. O ADMINISTRADOR PROFISSIONALNO BRASIL

A admínístração surge, no Brasil, um século' após o seudesenvolvimento nos EUA. Ela aparece mais nitidamentena sociedade brasileira no momento em que, nos EUA,se dá o processo de implantação de filiais e subsídiérías-das grandes empresas norte-americanas. O processo, en-t!o, da criação e organização da proflssão de administra-dor, do modo como a disciplina administração foi inseri-da em cursos universitários bem como as estruturas quevieram a abrigá-la foi extremamente distinto daquele vis-to até aqui. ,

Essas diferenças são parcialmente explicadas pelo ti-po de desenvolvimento industrial ocorrido no Brasil. Apropósito, é sabido que, historicamente, o país atraves-sou três fases distintasno seu modo de articulação com ocapitalismo mundial: a primeira, no período coloníal,quando funcionou como "campo de extração" de metaispreciosos e produtos extratívoae agrícolas para a Europacomercial e manufatureíra; a segunda, no século XIX, emque vigora o modelo prímáno-exportador, funcionando

Hi.t6ri1l d4 administrtlçlo lmzlilelrtz

--_. __ ._- -

o Brasil como fornecedor de produtos agrícolas para aEuropa capitalista industrial; a terceira, por fim, no sécu-lo XX, em que os EUA, alguns países da Europa e o Ja-pão utilizam o Brasil "como mercado para os seus capi-tais excedentes, sua tecnologia, seus produtos índustría-lizados,' bem como necessitam de matérías-ptímas, pro-dutos agrícolas e alguns produtos índustríaís".? É a fasede substituição de importações.

Ao longo dessa história, a industrialização brasileirainscreveu, também, a sua. Assim, na fase colonial, a ati-vidade industrial no Brasil era irrelevante e, à medida quese pronunciasse um pouco mais, era reprimida com pesa-das sanções. Tal é o caso, por exemplo, do embrião daindústria têxtil, severamente reprimido pelo alvará de D.

'Maria I, em 5 de janeiro de 1785.10 No segundo perío-do, paralelamente ao modelo prímârio-exportador, a in-dústria têxtil no Brasil começa a demonstrar um peque-no desenvolvimento e, embora voltados aos interesses deexportação do setor prímãrío, começam a ser realizadosempreendunentos de infra-estrutura (ferrovias, portos,hidrelétricas, sistemas de comunicação), de vital impor-tância para a indústria brasileira que se desenvolverá maisacentuadamente no período seguinte.l ' É só na terceirafase Que a industrialízação brasileira começa a se censo-lidarJ 2 " ,

Efetivamente, como demonstra Bresser Pereira, "aRevolução Industrial brasileira tem início nos anos 30",facilitada pela "oportunidade econômica para investi-mentos industriais, proporcionada paradoxalmente pelaDepressão Econômica e pela Revolução de 1930".1 3

Com a Grande Depressão, o modelo primário-exportador- entra em crise e com a revolução de 30 é "apeada do po-

der a oligarquiaagrário-comercial brasileira que por qua-tro séculos dominou o Brasil".' 4 Em conseqüência, ogoverno quese seguiu a tais eventos "identificava-se comos ideais de renovação da política e da economia brasilei-ra".15

Foi assim que se desenharam, na história da indús-tria brasileira, quatro distintos momentos: a) o primeiro(1930-39) corresponde ao início da chamada "Revolu-ção Industrial" brasileira; b) o segundo, contemporâneoà 11 Guerra Mundial (1940-45); c) o terceiro, referenteao decênio pôs-guerra (1946-55); d) o último, iniciadoem 1956, corresfondendo à fase de consolidação da in-dústria no Brasil. 6

A primeira fase da industrialização brasileira dá-secom a opção urbano-industrial e nacionalista do primei-ro governo Vargas. Assim, e "apesar de tudo, com cercade 150 anos de atraso em relação às nações pioneiras,com fraca base cultural e quase nenhuma base científicae tecnológica, e sem nenhuma experiência manufatureirarazoável, o Brasil opta pela díversífícação de sua econo-mia (até então essencialmente agrãria) e decide-se a ingres-,sar na era industrial". 1,

Desta forma, surgem pequenos estabelecimentos decaráter artesanal (pequenas e médias indústrias) juntoaos centros habitados do país. Esses estabelecimentossão de origem quase sempre familiar e o investimento pa-ra sua constítuíção é levantado junto aos próprios mem-bros da família. Atendem, dentro da primeira fase domodelo de substituição de importações, ao mercado debens de consumo duráveis, onde se sobressaem as indús-triaà tradicionais. 1 8

S9

Page 4: Adm Pública

o empresário desta época .lembra-em muito,o em-presãrío norte-americano de antes de 1850. Comoaque-le, este também se-encarrega de todo o controle internoe de todas as decisões da empresa. Como aquele, estetambém não tem espaço, em sua empresa, paraadminis-tradores profissionais. Um bom exemplo da orgaóizaçãbdesse período é o. das Indústrias Renner, no Rio Grandedo Sul: Antônio Jacob Renner, o fundador, sintetiza per-feitamente a figura do industrial da época.' Com efeito,sua hístôría, contada em vârias passagen~, registra que elese. associara, .por volta de 1911, a um técnico em tecela-gem, adiantando-lhe, conjuntamente com dois cunhados,os fundosnecessârios à sociedade. Periclitando tal socie-dade, .desembaraçaram-Se 'do especialista e Renner tor-nou-se industrial. 1 9 A partir disso é que A. J. Renner de-monstra a sua presença, em todos QS setores. de empre-endímento.

Sua presença na pesquisa e desenvolvimento do pro-duto é inegável Como refere.Roche:

"Tem de aprender tudo acerca da fiação, tecelagem e tin-tura. Aprende-o. Multiplica ao mesmo tempo as experi-ências num laboratôrío improvisado, fazendo correr in-cansavehnente a âgua de uma ducha sobre amostras detecidos, às quais um estranho mecanismo, montado em ,cima da armação de uma máquina de costura, imprimeos movimentos semelhantes ao andar do cavalo: Rennerprocura fabricar seu capote ideal. Os começos slo muitoduros: gasta dois anos para' obter o fio que deseja. De-pois, vindo a conhecer os inconvenientes de ficar em Ca(,

, transfere a fábrica para Porto Alegre, no bairro industrialde Navegantes, Hoje, aí se estende todo um ~uarteirãORenner, ocupado pelas fâbricas e seus anexos." o

Além disso, Renner era também o homem de marke-ting. Em tal condição,

"Não obstante o aumento da procura, teme que o mer-,cado dos capotes seja logo saturado; por isso, começa afabricar tecidos para roupas feitas e trajos.,,2 1 .

Exerce, ademais, o papel de supervisor da qualidadedo produto e assim conclui que: "se os tecidos do bons,os forros, as' telas, os bolsos não os valem; põe-se a fabrí-cá_los".22

'É, por outro lado; um empresârío que investe, 1lIlS,sobretudo, decide no que deve investir:

"A corrente for'necida pela companhia de Porto Alegre'não lhe permite empregar motores elétricos; monta umacentral térmica em sua fábrica, Mas a caldeira devora setemetros cúbicos de lenha por hora; compra terras e nelas',planta eucaliptos que lhe são trazidos através de barcoou caminhão, em enormes engradados, que uma ponterolante transporta até a caldeíra,"? 3

Rennerassume ainda as funções do distribuidor, doresponsável pelo fomento, sempre índícando oportunida-des de ainpliaçio dos negõcíos; .

"Partindo da lf ríc-grandense, que costumaJn mandar osprodutores selecionar (LI Ideal, do nome de leumodoJo

60

de ~te). fia, tece, corta e cose capas e trajos, vendidosprontós' para usar ou quase prontos; cria para si uma re-de de revendedores no Rio Grande do Sul e no Brasil in-teiro, &Sse1Plra-lhesa exclusividade de seus produtos, quecompreendem também a camisaria, a malharia, os calça-dos. Com efeito, desejando utilizar as sobras dos tecidosdeconfecçfo, .eomeça por fabricar chinelos; irritado por-que paga a peso de dínheíro as solas que usa, instala umcurtume; para que este' dê lucro, deve produzir, donde afábrica de calçados. Depois, são os feltros, os chapéus. Eas rouPas de verlo? Renner fabrica-as, primeiro, com li-nho importado e, mais tarde, a partir de 1932, com linhoproduzido nas colônias. Distribui sementes selecionadas,enviando especialistas para explicar aos colonos comodevem cultivar e colher o linho. A maceração deixa a de-sejar. Renner funda uma sociedade anexa, que se encar-rega disso. As fibras de linho chegam em feixes, e um ser-viço de m~sa ou um trajo saem da fâbrica.,,24

e, também, um gerente de produção e' um gerentede vendas:

"Abandonou' os métodos tradicionais de confecção econcebeu uma cadeia de montagem ao longo da qual sefuem o-corte, a armação e o acabamento do trajo. Abre,na cidade, uma grande loja de roupas feitas, que, simples-mente, pela fama adquirida se torna grande loja: multi-

. plíea-lhe, depois, as filiais, atualmente em número deseis, nos diferentes bairros de Porto Alegre; os objetos delouça e porcelana, por exemplo, também saem das fábri-cas Renner. Após ter realizado o mais completo sístemavertical, estende-o horizontalmente em todas as direções:tem ações de fábricas de máquinas de costura, de tintas evernizes, de caixas de metal, de papel' e de cartona-gem."H

Ele também era um f"manciador:

''Mas, se pllrticipa de outras empresas, sempre se recusoua recorrer' ao empréstimo para seu pr6prio estabeleci-mento: todas as compras de máquinas, todas as constru-ções, tudo foi IUlanciado pelaprôpria empresa, pelo rein-vestimento dos lucros. ,,26 . , -,

A conclusão disso tudo é a que o próprio Rocheapresenta:

'''Suas fãbricas ampliam-se e multiplicam-se sem que eledeixe de visitá-las diariamente" administrando tudo porcontatos diretos, salvo durante. suas viagens de estudos àEuropa ou à Am6rica (aprendeu o inglês e um pouco defrancês), Em resumo, é um 'capítão' . E o lema, que, semdúvida, ele não abandonara Senfo morto, será tomadopor se~s filhos, formadospeío mesmo método."? 7

Nesse contex~o,V'8>se, então, perfeitamente que nãohá no exemplo rereridoj 11mespaço para o administradorprofissional, ao menos' o "tomador de decisões". e certoque tarefas mais específicas, como a contabilidade; as re-~s COmempregados, devem contar com um assessor,mas aquele tipo de assessor que corresponderia no máxi-mo ao administracklr resultante da prímeíra divisão de ta-refas. Quanto aos decisores, estes eram engendrados no•• ~ pr6pria família:

Rm.ttl de Admillliirrzpl'o de Empre6llll

Page 5: Adm Pública

"A. J. Renner quis evitar aos filhos as dificuldades queexperimentara para .adquidr sua formaçio técnica: Porisso, depois que lhes mandou ministrar a instrução gerale aprender o alemãoeo ingJ!s, pê-los no trabalho, nas'diversas seçOes da fâbríca; enviou-os, após, aos EstadosUnidos; à Inglaterra eà Alemanha, a partir de 1928; es-tudaram a fiaçlo,a tecelagem, a confecção, a química, aorganização do trabalho. O quarto foi surpreendido pelaguerra de 1939, quando 9éguiacursós na Alemanha. Oquinto, que 010 pôde ir à Europa, estudou, na Argenti-na, a classificação das lA'se, no Chile, a produção das f•.bras de linho. De volta à fâbríca, repartiram entre si asdiversas seçOes, segundo sua especialização, enquanto o

. Ih ..••. L,,28mais ve o tomava, pouco a pouco, a gerencie gera

~ 16gicoque' emorg~8Ç;Oes "atípicas" na econo-mia nacional já se podiam encontrar administradores. Namedida em que dados de 1909-11 demonstram que jánessa época predominava o capital estrangeiro sobre onacional nos grandes empreendimen tos (de 118 autoriza-ções para o funcionamento ge sociedades anônimas nopaís, 86 eram estrangeiras e apenas 32 eram .nacío-nais),29 é lícito supor que tais empreendimentos contas-sem já com admínístradores profissionais. No entanto,

, essa não era a regra e tais casos configuram-se, naquele. momento, como exceções. -

Mas o .fato de que houvesse poucos administradores- exceções à regra - no Brasil, não impediu que; na re-forma administrativa que criou o Dasp,)e criasse a pro-fissão de/administrador. Reahnente, é em 1930 que, soba inspiração de Luiz Simões Lopes ~e se introduz aadmínístração na legislaçlo brasileira 3 ,

Na fase que se seguiu. contemporânea à 11GuerraMundial, manifestou-se uma reduçl'o do ritmo industrialbrasileiro: entre 1940 e 1944 a produção industrial au-.menta em apenas 30%, menos, portanto, do que no qüin-qüênio anterior, quando crescera para 31%.31 Apesardisso, em 1944, pelo Decreto n9 6.693 .•é criada a Fun-daçlo Getulio Vargas.32 '.

No decênio seguinte ao conflito, o Brasil experimen-ta de novo um crescente desenvolvímento índustrial, sebem que esse não se tenha manifestado uniformemente

, em todos os setores. A'partir daí tem início a instalaçfo,no país, da ind6stria de bens de consumo duráveis, alta-mente sofisticada, exigindo "volume de capital, tecnolo-giaavançada, mio-de-obra especializada, produçlo emescala, capacid.adegerencial". 33, Talvez' por' isso é que seregistra, no campo do ensino' e da pesquisa em admínís-tração, "a contríbuíção pioneira do Padre Sabóia de Me-deiros, ao criar, em São Paulo, ao final da d,tbada de 40,a Esan -Escola Superior'de Admínístração de Negõ-cios": mais ou menos à mesma época, por .ínícíatíva deArmando Salles de Oliveira é citado o Idort- Institutode Organização Racional do Trabalho; em 1946, cria-seo Instituto de Adm.inistraçlo junto à Universidade desso Paulo .: USP; em 1952, a E:BAP- Escola Brasileirade Admmístraçâo P6blica e em 1954, a EAEsP -Esco-la de Administraçlo de Empresas de Slo Paulo, ambasda Fundação Getulio Vargas - FGv.3 4 .

No. ültímo período, o modelo industrial sofre pro-fundas alterações, A' morte de Vargas, em 1954, deter-minara a',queda do seu projeto nacionalista de criação dosetor produtor' de bens de capital. Implanta-se, portanto,no país, a índüstría de bens de consumo duriveis, .em es-

Hilt6ritJdIi lId~iIt7rIpfq ,brtuIldr!I,

pecial eletrodomésticos e automóveis. 3~ Nessa conjun-tura, criam-se estímulosã entrada. do capital estrangeiro'(Instrução n9 113, da Somoc, por exemplo) e este passaa contar com franquias e facilidades de importação ine-xistentes ou negadas mesmo ao capital nacional.

De tal sorte, a grande empresa multinacional assumeo papel de carro-chefe da economia brasileira. Implan-tam-se no, país ínümeros estabe~cimentos multínacío-naís, Ela transplanta suas máquinas, políticas e técnicas,mas, sobretudo, transplanta a sua estrutura para ó Bra-sil.. Estrutura que não comporta, como se viu antes,admínístração em mãos de uma só pessoa, estrutura quenão comporta sequer o processo decisório centralizadona pessoa de um proprietário; estrutura, portanto, queprecisa de administradores formados, separados do capi-tal e aptos à decido longe da fígura do proprietário. Des-sa .maneira, "nesse novo contexto, torna-se mais gritan-te a valorízaçãoda planificação, .da técnica, da neeessí-dade de profíssíonaís especializados,. pelo vínculo pro-fundo que se redefme e se firma com o capitalismo' in-ternacional e com as ímposíções deste. Toda estruturaeconômica .se caracteriza por um processo de coneen-tração 'que resulta em grandes 'empresas, basicamenteestrapgeiras, estatais e algumas nacionais, impondo suavisro e interesse, ou seja, o predomínio do grande capitalao .resto do sistema econômico ." 36

Foi já nesse período que a Universidade de São Pau-lo começou, em 1963;0 seu curso de graduação emadministraÇl'o.37 Em 9de setembro de 1965 é promul-gada a Lei n9 4.769, que regula e dispOe sobre o exercí-cio da profis$fo de técriico em admíaístração." 8

O tipo de organízação característica desse períodoprivilegia a necessidade de admínístradores-decísores, namedida em que é constituído de elevado número de f•.líaís de grandes empresas tanto nacionais quantomultinacionais. Como atesta Fernando Henrique Cardo-so, "a direção de empresas industriais só está inteiramen-te afeta a admínístradores profissionais quando se tratade organizações com sede noutras áreas".39 Nem pode- ,ria ser diferente, de vez que a administração dos estabe-lecimentos industriais que estIo sob a supervisão direta

. de membros da famrlía proprietária ou de grupos acio-nistas, quando feita por administradores profissionais,in-clui um componente de compromisso com o capital "odiretor não acionista é, em geral, um 'homem de con-fIança"'.4 o Ademais; as pequenas empresas, numeríca-mente expressivas, estão no e$tágioque dispensa o traba-lho profissíonal de administradores. Como demonstraRobalínho de Barros:

"Independentemente de sua formação, o pequeno em-presário centraliza em sua pessba ,a organizaçlo do tra- 'balho e geralmente não delega autoridade para conseguiro funcionamento normal de sua empresa. Esobr.e ele, so-bre ele sozinho, que recai a responsabilidade das decisõesmaiores. Estej!l ele cercado ou não de, colaboradores es-pecialistas em produção ou assuntos comerciais, 6 elege-rahnente quem faz as vezes de responsivel comercial, dediretor fmanceiro, de inovador,e de diretor técnico. ~ eleque trata pessoalmente com os clientes principais, quemnegocia com fornecedores e banqueiros, quem garante aboa marcha da fAbricae,a &estio do pesscal; Tem que es-tar onipotente, decidir tudo e servir de canal íatermedíâ-rio. t<>dosos níveis. "4 I ' ,

61

Page 6: Adm Pública

4. . CONCLUSÃO

Pelo que ficou demonstrado, a figura do administradorde empresa surge com o adventó do capitalismo indus-trial Em tais condições, o capital não necessita do admi-nistrador, para se estruturar. Tal situação, contudo, so-fre mudanças consideráveis no momento em que se am-plíam suas possibilidades: aí o administrador passa a serum elemento necessário à continuidade do processo.

Além disso, demonstrou-se também como se mani-festa a criação dos postos de administradores: de início,o admínístrador é diretamente interessado no capital esó deixa de ,sê-Io quando as possibilidades do capital seampliam de tal forma que não se pode ter no posto ex-clusivamente acionistas. ~ somente aí que o capital re-corre ao administrador-empregado. Por outro lado, acriação da categoria administrador-empÍegado coincide,historicamente, com a atribuição de parte do processodecisório a tais administradores.

A relação existente entre administradores e capital,doutra parte, foi, é econtínuarâ sendo uma relação deSUbordinação/associação do primeiro em relação ao últi-mo. ~ por isso que, embora tendo de pensar como pro-prietário, o administrador só se relaciona com este naqualidade de subordinado.

Demonstrou-se, ademais, que o processo de "cria-ção" da figura do administrador ocorreu de modo dife-rente no Brasil e nos EUA. Enquanto nos EUA o surgi-mento do administrador profissional em suas diferentesmanifestações ("de processo":e "decisões") é resultantede um mesmo eixo histórico, no Brasil essas duas mani-festações silo oriundas de dois eixos hístôrícos distintos:um, que é a história da empresa nacional; outro, que dizrespeito 'à hístôria do capital estrangeiro. Além disso, aprofissionalização desse administrador também ocorre deforma distinta nos dois países: enquanto nos EUA a uni-versidade especializou profissionais jâ inseridos no mer-cado de trabalho, no Brasil ela começou habilitando pro-fissionais para competir nesse mercado. Disso se depre-endeque, em qualquer circunstância, as diferenças entreos administradores em tais países são muito profundas,

Assim, devem ficar claros os porquês mencionadosna íntroduçãc deste trabalho: trata-se de uma proflssâointroduzida, no país, às avessas. A antecipação dos cur-sos ao mercado de trabalho, por exemplo, se de um ladoé indicador de eficiência, por outro é de uma eficiênciaatroz: enquanto a universidade continuar "habilitando"administradores para um mercado de trabalho pratica-mente esgotado, sem ter presente as diferenças das exi-

, gências entre os dois segmentos da economia (o nacionaleo estrangeiro), as questões de desemprego e inadequa-ção persístírão,

* Este trabalho foi desenvolvido pela ,autora no âmbito dadis-cip1inaadministração de recursos humanos, que ministrou noPrograma de Pó~raduaçfo em Administraç!'o (PPGA/UFRG8)em 1982. No mesmo ano, serviu de base ao documento Avalia-ção e perspectivas da área de 'ad,ministraçlo (eJabonÍdo e coor-

62

, denado pelo Prof. Robmo:Costa Facbin e patrocinado pelo Con-selho Nacional de DesenvolYimento Científico e Tecnológico).

1 Chiavenatto, Idalberto, Introdução à teoria geral da adminis-traçiio. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1977.2 Bresser. Pereira, l--uizCarlos. Economia e administração: mer-cado e poder. Revi8ta de Administraçdó de Empresas, Rio de Ja-neiro, 19(4):3943, out/dez. 1979.3 Chandler Jr., Alfred. The visible,hand; the managerial revolu-tion in America.n business. Cambridge, Harvard University, 1980.608p.4 Bresser Pereira, Luiz Carlos. Desenvolvimento e crise no Bra-sil 7. ed. Sio Paulo, Brasiliense, 1977.5 Chandler Jr., Alfred. op. cito6 iBresserPereira, Luiz Carlos. Desenvolvimento e crise. .. op.cito7 Chandler Jr., Alfred. op. cito p.8 Id. ibid.9 Brum, Algemiro. O desenvolvimento econômico brasileiro.Petrópolis, Vozes, 1982.220 p.10 Bresser Pereira, Luiz Carlos. Desenvo/'Pimento e crise. .. op.cito11 Id. ibkL12 Id. ibid.13 Id. ibid.14 Id. ibid.15 Id. ibid.1 6 Brum, Algemiro. op. cit,17 Id. ibid.l8 Bresser Pereira, Luiz Carlos. Desenvolvimento e crise. .. op.cito19 Roche, Jean. A colonlzaç4'o alemã no Rio ,Grande do SuLPorto Alegre. Globo, 1969. 2 v.20 Id. ibid.21 Id. ibid.22 Id. ibid.23 Id. ibid.24 Id. ibid.25 Id. ibid.26 Id. ibid.27 Id. ibid.28 Id, ibid.29 Brum, Algemiro. op. cito30 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-lógico. Avaliação e pmpéctiva. 1978.31 Bresser ·PereirJ, LuiZ Carlos: D~,envolvimento e crise... op.cito32 Covre, Maria de Lourdes Manzini A form4çãO e a ideologiado administrado! de emprelifl&Petrópolis, Vozes, 1981. 191 p.33 Brum, Argemíro; op. eít,34 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-lógico. op. cito35 Bresser Pereira" Luiz Carlos, Desenvolvimento e crise. .. 'bp.cito36 Brum, Algemiro. op. cito37 Covre, Maria,de Lourdes Manzini. op. cito38 Id. ibiei.39 Cardoso,.Fernando Henrique. Empresllrio e desenvolvimentoeconômico no Brasil RiO de Janeiro,DifeL40 Id. ibiei.

41 Robal.inhp de BarrOs, Frederico. Pequena e média empresa epolftictl eron6miCII; um delÚlO à mu~ça. Rio de Janeiro,APE<:. 1978. 318 p. '