Adopt dtv estudo-etnografico-anexos_out2011

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1 “ADOPT_DTV: Barreiras à adopção da televisão digital no contexto da transição da televisão analógica para o digital em Portugal” ( PTDC/CCI‐COM/102576/2008) Relatório do Estudo Etnográfico ‐ ANEXOS Setembro de 2011

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“ADOPT_DTV:Barreirasàadopçãodatelevisãodigitalnocontextoda

transiçãodatelevisãoanalógicaparaodigitalemPortugal”

(PTDC/CCI‐COM/102576/2008)

RelatóriodoEstudoEtnográfico‐ANEXOS

Setembrode2011

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Índice

Relatório da visita a casa da família 1 (“Rosário”) ................................................................. 5

Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 10

Relatório da visita a casa da família 2 (“Sobral”) ................................................................. 21

Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 25

Relatório da visita a casa da família 3 (“Roda”) ................................................................... 31

Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 35

Relatório da visita a casa da família 4 (“Pereira”) ................................................................ 40

Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 44

Relatório da visita a casa da família 5 (“Santos”) ................................................................ 51

Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 55

Relatório da visita a casa da família 6 (“Alves”) .................................................................. 61

Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 66

Relatório da visita a casa da família 7 (“Pinto”) ................................................................... 73

Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 77

Relatório da visita a casa da família 8 (“Lopes”) .................................................................. 82

Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 86

Relatório da visita a casa da família 9 (“Gaudêncio”) .......................................................... 93

Transcrição da entrevista semi-estruturada ........................................................................... 98

Relatório da visita a casa da família 10 (“Graça”) .............................................................. 102

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 106

Relatório da visita a casa da família 11 (“Assis”) ............................................................... 112

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 116

Relatório da visita a casa da família 12 (“Marques”) ......................................................... 124

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 129

Relatório da visita a casa da família 13 (“Andrade”) .......................................................... 137

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Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 140

Relatório da visita a casa da família 14 (“Freitas”) ............................................................ 145

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 148

Relatório da visita a casa da família 15 (“Matos”) ............................................................. 156

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 162

Relatório da visita a casa da família 16 (“Mendonça”) ...................................................... 171

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 175

Relatório da visita a casa da família 17 (“Sousa”) .............................................................. 180

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 184

Relatório da visita a casa da família 18 (“Fragoso”) ........................................................... 193

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 198

Relatório da visita a casa da família 19 (“Baptista”) .......................................................... 211

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 213

Relatório da visita a casa da família 20 (“Mendes”) .......................................................... 219

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 222

Relatório da visita a casa da família 21 (“Costa”) .............................................................. 229

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 232

Relatório da visita a casa da família 22 (“Guerreiro”) ........................................................ 238

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 241

Relatório da visita a casa da família 23 (“Simões”) ............................................................ 249

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 254

Relatório da visita a casa da família 24 (“Fonseca”) .......................................................... 260

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 262

Relatório da visita a casa da família 25 (“Neves”) ............................................................. 268

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 269

Relatório da visita a casa da família 26 (“Gomes”) ............................................................ 275

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 278

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Relatório da visita a casa da família 27 (“Brito”) ............................................................... 285

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 286

Relatório da visita a casa da família 28 (“Cardoso”) .......................................................... 293

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 298

Relatório da visita a casa da família 29 (“Justino”) ............................................................ 309

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 313

Relatório da visita a casa da família 30 (“Ribeiro”) ............................................................ 319

Transcrição da entrevista semi-estruturada ......................................................................... 322

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Relatório da visita a casa da família 1 (“Rosário”)

17 de Setembro de 2010

Nazaré

Adelaide (mãe): 33 anos, professora.

Carlos (pai): 37 anos, gerente de um bar.

Crianças: 8, 4 e 2 anos.

João (avô): 59 anos, marceneiro.

Marta (avó): 53 anos, auxiliar de acção educativa.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Rosário”, residente na Nazaré, no dia 17 de

Setembro de 2010.

O agregado familiar dos “Rosário” é composto por cinco pessoas: os pais, Adelaide e

Carlos, de 33 e 37 anos, e os três filhos, de 8, 4 e 2 anos. Na entrevista estiveram

também presentes os avós, Marta e João, de 53 e 59 anos, que apesar de constituírem

um agregado familiar diferente (de quatro pessoas) participaram no questionário.

A família “Rosário” tem por hábito reunir-se toda à hora do jantar. As três gerações

juntam-se à mesa e, muitas vezes, os motivos das conversas surgem como reacção às

notícias do telejornal, «o único programa obrigatório» para a família. Na verdade, de

Figura 1 - Família “Rosário” reúne-se à hora do jantar, depois de alguma insistência por parte da mãe em conseguir afastar as crianças do computador

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acordo com Adelaide e Carlos, que afirmam ver cerca de uma hora de televisão por

dia, o noticiário é um dos únicos conteúdos que os liga à televisão. «Preferências não

tenho… A única coisa que eu vejo mais é o noticiário. Esse sim é obrigatório e vemos

em conjunto», explica Carlos. Por sua vez, Adelaide lembra que quando vêem mais

televisão, optam por séries do AXN e da FOX, ou pelos documentários do National

Wild, da National Geographic. Adelaide é professora e Carlos gerente de um bar. O

casal explica que, quando lhes sobra tempo entre o trabalho e os cuidados com os

filhos, não o aproveitam para ver televisão, privilegiando antes o computador e a

internet. «Quando tenho tempo livre não é para a televisão», revela Adelaide.

«Quando arranjo um tempinho gosto de ler ou de ligar a net», completa o marido.

No caso dos avós Marta e João, a rotina é bastante diferente. João assume-se o maior

consumidor de televisão da família, assistindo a uma média de quatro horas por dia,

Figura 3 - Enquanto faz o jantar, a avó, Marta, de 53 anos, vai ouvindo o telejornal

Figura 2 - Na sala de estar, a televisão está ligada, mas ninguém presta atenção ao ecrã

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sobretudo durante a noite. A descrição que o marceneiro faz do seu dia-a-dia leva a

crer que a televisão é um passatempo muito importante. «Todos os dias começo

relacionado com a televisão. Começo às 06h00 da manhã, quando não é mais cedo, e

ligo logo a televisão (…) Vejo e revejo as notícias porque a SIC Notícias está, de hora a

hora, a repetir. Quando acabam as notícias das 10 para as 8 é quando começa a

publicidade e eu saio de casa. Devo ver para aí umas quatro horas de televisão (…) Tem

a ver com a estação do ano. Por exemplo, no Inverno, sou capaz de ver sete ou oito

horas de televisão por dia. Enquanto no Verão não… Passeia-se mais», descreve Carlos,

que elege o canal Hollywood e a Eurosport como canais preferidos, a par da SIC

Notícias. Para Marta, a televisão funciona sobretudo como uma presença de fundo. «É

mais como uma companhia. Se estiver em casa, gosto de pôr um canal que esteja a

ouvir. Se estou a passar a ferro ou se ando de um lado para o outro, para não estar a

fixar os olhos, tenho a televisão naqueles programas da tarde. É-me indiferente… Ou é

a SIC, ou a RTP, ou a quatro… Onde se esteja a ouvir a falar», explica, sublinhando que

para si tanto faz ter apenas os quatro canais, ou uma grelha mais variada de

possibilidades. Quanto às crianças, estas dividem-se entre a Playstation, o

computador, a Wii e a televisão. De acordo com Carlos, os filhos vêem mais televisão

ao fim-de-semana, durante a manhã. Apesar de terem televisão no quarto, esta só é

ligada para ajudar a adormecer.

Figura 4 - Irmãos disputam acesso ao computador. O mais novo acaba por sair em desvantagem e começa a chorar

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No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital,

houve claramente um elemento da família que se destacou por estar informado sobre

o tema. Carlos assumiu prontamente que já tinha ouvido falar em TV digital. «A ideia

que eu tenho é que é um formato diferente, que tem a capacidade de transportar mais

informação. O que permite uma série de funcionalidades. No imediato, uma melhor

qualidade de imagem e de som. E depois uma série de funcionalidades que a TV

normal não permite», explicou. Todos os entrevistados afirmaram ter ouvido falar na

TV digital, mas só Carlos é que espontaneamente relacionou o termo com o «apagão».

A família explicou que ouviu falar do assunto no noticiário. Questionado sobre as

vantagens que este tipo de transmissão televisiva poderá trazer, Carlos voltou a

sublinhar que a TV digital traz funcionalidades que até agora não existiam. «Por

exemplo, utilizando o nosso cabo, a qualidade de imagem é notória. Permite-nos…

Mas isso não sei se terá exactamente a ver com o digital… Permite-nos a gravação, ver

o programa à hora que bem entender… Uma série de funcionalidades». Quanto às

desvantagens, Carlos apontou «a necessidade de adaptar o equipamento mais antigo»

e, consequentemente, «os custos», como o principal problema.

A família “Rosário” afirma ter televisão por cabo digital numa das televisões e explicou

que as restantes recebem o sinal através da box ligada a essa televisão, na sala. Carlos

afirma que a família não sente necessidade de ter uma box para cada televisão.

Quanto ao conhecimento sobre o desligamento do sinal analógico de TV (P21.), todos

afirmaram estar a par, mas apenas Carlos relacionou a questão com a palavra

Figura 5 – A família “Rosário” afirmou já ter ouvido falar em televisão digital, nos noticiários

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“apagão”. Apesar de não saberem o nome que se dá ao processo, nem a data-limite

para o “switch-off”, Carlos considerou que a mudança está «para breve». Quando lhe

foi pedido para apontar uma data específica, o nazareno respondeu: «Se não for este

ano (2010), é já para o ano (2011). Acho que está assim para perto».

Carlos teve de se ausentar da entrevista antes de esta terminar, por motivos de

trabalho, mas Adelaide continuou a responder às questões sobre a TV digital. A

professora considera que esta não é mais complicada de utilizar do que a televisão

analógica (P24.), não notando qualquer diferença a nível de utilização.

Quando não sabem como funciona um dado equipamento electrónico (P23.),

normalmente pai (João) e filha (Adelaide) recorrem às instruções e vão

experimentando possíveis soluções para os problemas. Adelaide realça que, por vezes,

é a internet que a auxilia, caso os equipamentos não tragam instruções. «Também nos

suportamos na net. Por exemplo, eles têm consolas e, no outro dia, eu não sabia do

manual das instruções da consola para sintonizar um comando e fui ver na net»,

descreveu. João acrescenta que os mais novos têm mais facilidade em lidar com novas

tecnologias, por isso, pedir ajuda aos filhos também é uma boa solução. «Vai-se

experimentando, vai-se à procura. E vai-se esperando que algum filho chegue a casa e

que comece a dominar (risos)».

Questionados sobre se verão mais ou menos televisão daqui a 5 anos, João considerou

que passará mais tempo em frente ao ecrã «de certeza absoluta». «Daqui a cinco anos

já tenho 65, já vou para a reforma e vou ter mais tempo livre», disse, acrescentando

Figura 6 – Os membros mais jovens da família “Rosário” prevêem usar cada vez mais o computador e menos a TV, enquanto os avós imaginam-se a ver mais televisão daqui a 5 anos

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que apenas a familiarização com os computadores e a informática lhe permitiria

desligar-se mais da televisão. Pelo contrário, Adelaide acha que «a tendência até vai

ser o inverso»: ver cada vez menos televisão. «Acho que, por exemplo, há cinco anos,

via bem mais televisão do que vejo hoje e vou substituindo gradualmente. Porque o

pouco tempo livre que tenho vou ocupando com a leitura, com a pesquisa de alguma

coisa que precise, mesmo para o trabalho… Portanto, vou substituindo a televisão».

No que toca ao futuro da televisão, João prevê que esta seja «bem mais evoluída». «A

televisão daqui a dez anos é capaz de não se parecer com nada do que é hoje». Face à

possibilidade de a televisão passar a incorporar serviços de informação prática ligados,

por exemplo, à saúde e ao emprego, a família demonstrou-se receptiva, mas mantém

algumas dúvidas, sobretudo porque a internet e a comunicação interpessoal

sobressaem como as formas privilegiadas de obter este tipo de informação. «Esse tipo

de informação costumamos procurar na net (…) Eventualmente era interessante, mas

eu não sei se iria substituir a busca na net pela da televisão», refere Adelaide. «Acho

que isso era mais vantajoso para os grandes centros. Agora para a gente aqui, que

somos mais pequenos, é mais fácil a pessoa rapidamente saber por alguém», conclui

João.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Carlos: Preferências não tenho… A única coisa que eu vejo mais é o noticiário.

Adelaide: Algumas séries…

Carlos: Sim…

Adelaide: Eu vejo o noticiário e algumas séries.

As séries são dos canais portugueses?

Adelaide: Não. São do AXN, da FOX…

João: Eu é essencialmente as notícias… É a SIC Notícias, que está sempre a dar. Em termos de filmes, é o canal Hollywood, e as séries é o AXN, a FOX… Ah e também os canais de desporto.

Francisco: Quando não estou a ver bonecos, vejo filmes…

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P3. Que tipo de programas habitualmente vê?

Adelaide: Costumamos ver os da National Wild, da National Geographic.

Carlos: O único canal obrigatório cá em casa são as notícias.

Marta: Eu no meu local de trabalho tenho só os quatro canais. E como faço turnos, durante a noite, vejo as séries para estar acordada. A uma certa altura, a SIC acaba de dar as novelas e as séries do CSI e eu viro para a dois, para ver aquelas entrevistas e assim… Então para si, ter apenas os quatro canais ou o serviço de canais temáticos é a mesma coisa? Marta: Sim, para o João é que não é a mesma coisa, porque ele gosta de ver o Hollywood. João: E desporto. Aquele canal… A Eurosport. Porque há uma parte que é falada e comentada em português. Quando isso acontece eu estou sempre a ver. Gostava de ter mais programas legendados? João: Sim. Sinto a falta de se perceber o que se está a passar.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Carlos: O difícil é ter tempos livres… Mas quando arranjo um tempinho gosto de ler ou de ligar a net.

Adelaide: Por acaso ia dizer que quando tenho tempo livre não é para a televisão.

João: A mim é um bocado… É um bocado para a televisão… Os meus tempos livres são um bocado exíguos e depois têm que servir para ver tudo… Para ver um bocado de notícias, um bocado de desporto… Também sou um bocado adverso às telenovelas. Todas elas, sejam nacionais ou internacionais.

Marta: Eu gosto de ver uma novela… Uma.

Qual?

Marta: É na SIC. Só vejo essa, mas se não vir também não há problema. É à noite.

Então e como é que conjugam isso?

João: Quando ela chega a casa e eu estou com tempo para ver qualquer coisa, tenho que mudar para a telenovela.

(risos)

Marta: Não… Não é assim. Já estás a dormir… É quase à meia-noite que a novela dá.

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Adelaide: Nós aqui não temos desses problemas (risos).

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Carlos: Amanhã, por exemplo, vou pôr a Adelaide à escola às 08h00, venho levantar os miúdos, pequeno-almoço, vestir, levá-los à escola… Normalmente quando regresso de levá-los à escola, venho eu tomar o pequeno-almoço e consultar o e-mail. E depois trabalho.

João: Eu todos os dias começo relacionado com a televisão. Começo os dias às 06h00 da manhã, quando não é mais cedo, acordo e ligo logo a televisão.

Vê as notícias logo de manhã…

João: Sim, vejo e revejo, porque a SIC Notícias está, de hora a hora, a repetir.

Adelaide: Nós aqui também. Quando venho para baixo, antes de sair, ligo a SIC Notícias. Entre o tempo de eles tomarem o pequeno-almoço e preparar as coisas para sair, vê-se.

João: Quando acabam as notícias das 10 para as oito, que é quando começa a publicidade, é à hora que eu saio de casa. Trabalho, tenho o horário normal de almoço e saio do trabalho, por volta das 18h30/19h00. E depois é isto assim. É um bocadinho de convivência com a família depois do jantar… E daqui a bocadinho está-se a ver outra vez a SIC Notícias.

Nunca substitui as notícias da televisão pelas da rádio?

João: Dificilmente. Também tenho um bocadinho de dependência da rádio, mas é porque tenho uma oficina própria onde a rádio está sempre ligada.

Lá não tem televisão?

João: Não. É uma carpintaria/mercenária. Não posso ter mesmo televisão. E, muitas vezes, a rádio está ligada e passam-se horas em que ninguém consegue ouvir o que ela está a transmitir. A música ouve-se, porque consegue-se ouvir com umas colunas boas, mas o noticiário nem sempre se consegue ouvir. É estranho chegar lá e a rádio estar apagada. Porque a primeira coisa que o rapaz faz quando chega à oficina é ligar a rádio.

E já experimentaram ouvir rádio através da televisão?

Carlos: Sim, mas é só quando há uma entrevista qualquer que me interessa ouvir. Não tenho por hábito fazer isso.

Mas sabem como é que se faz…

Carlos: Ah sim, sim.

P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)?

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Adelaide: Eu sinceramente acho que vemos pouca televisão. Ela acaba por estar ligada, mas vemos pouco.

Mas a televisão está ligada todos os dias? Adelaide: Sim, isso está. P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)? Adelaide: Uma hora. Carlos: Sim, uma hora. João: Eu devo ver para aí umas quatro horas de televisão. Porque vejo-a essencialmente durante a noite. Marta: Eu se estiver em casa, gosto de pôr um canal que esteja a ouvir. Se estou a passar a ferro ou se ando de um lado para o outro, para não estar a fixar os olhos, tenho a televisão naqueles programas da tarde. É me indiferente… Ou é a SIC, ou a RTP, ou a quatro… Onde se esteja a ouvir… A ouvir falar. Então, tem a televisão ligada durante muitas horas. Não é? Enquanto está a fazer as tarefas domésticas? Marta: Tenho, sim. Mas não estou a ver. É mais como uma companhia. P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana? Carlos: Os miúdos vêem mais, da parte da manhã. João: Tem a ver com a estação do ano. Eu, por exemplo, no Inverno, sou capaz de ver sete ou oito horas de televisão por dia. Enquanto no Verão não… Como eu vivo muito perto da marginal, a gente sai mais no Verão, todos os dias. Passeia-se mais. No Inverno, como não estou habituado a sair, passo o dia a ver televisão. P11. Onde vê mais televisão? Carlos: Nós é aqui na sala. Temos televisão no quarto dos miúdos, para eles às vezes verem um filme ao fim-de-semana, ou para adormecerem… Mas normalmente vemos na televisão da sala. E eles têm autorização para irem ver televisão para o quarto, quando quiserem? Carlos: Sim. Mas normalmente, por hábito, ficam cá em baixo. Mas se, por acaso, está a chegar às 22h00 e eles estão muito alerta, eu mando-os para o quarto, eles vêem qualquer coisa na televisão e adormecem.

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João: Connosco é dividido. Muitas vezes, vemos uma parte da televisão no quarto e outra parte na sala. Muitas vezes, está-se a ver qualquer coisa na sala, chega a hora de deitar e continua-se a ver no quarto. Adelaide: Nós, por exemplo, temos televisão no quarto, mas nem costumamos acender. P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia? Carlos: Normalmente sentamo-nos para ver televisão. O que é obrigatório é o noticiário e aí estamos à mesa. Aí sim é obrigatório e vemos em conjunto. Depois só se for sentarmo-nos um bocadinho depois do jantar, a conversar um bocadinho. Adelaide: Sim, e a ver qualquer coisa interessante… E sozinhos? Têm o hábito de ver algum programa sozinhos? Carlos: Não. Por exemplo, eu se vier para casa sozinho nem sequer ligo a televisão. Estou ali no computador… João: Eu gosto de ver sozinho. Até gosto mais de ver televisão sozinho. Acompanhado sinto-me distraído. Talvez seja também por ser muitos anos a ver televisão. Mas é assim, eu se estiver a ver um filme a meu gosto e tiver alguém que me distraia, perco um bocado o gosto. E com o futebol é a mesma coisa. Gosto de ver, no máximo, com a família. Não sou capaz de ver um jogo de futebol no café ou numa esplanada… Não consigo concentrar-me a ver. Perco o interesse. P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?) Adelaide: Cinco. Nos três quartos, na sala e na cozinha. O do nosso quarto nunca é ligado, o da cozinha muito raramente… E os quartos é quando os miúdos vão ver. Carlos: Também temos cinco porque entretanto fomos reformando os televisores velhos e pondo outros mais novos. João: Nós temos quatro televisões. P13. (família) Quando compraram o último televisor? Adelaide: Em Agosto ou Junho de 2010. Então foi há relativamente pouco tempo… Adelaide: Sim.

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P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses? Carlos: Não. P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura? Carlos: Eu uso com pouca frequência. Só se for para ir à procura de alguma informação… E que tipo de informação procura? Carlos: Normalmente é para ver a programação da televisão, porque para outro tipo de informação vou à net. João: Nós raramente usamos. II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital? João acena com a cabeça afirmativamente. Que ideia é que têm do que é a televisão digital? Carlos: A ideia que eu tenho é que é um formato diferente, que tem a capacidade de transportar muito mais informação. O que permite uma série de funcionalidades. No imediato, uma melhor qualidade de imagem e de som. E depois uma série de funcionalidades que a TV normal não permite. Todos já tinham ouvido falar? Sim. Carlos: No “apagão” (risos). Onde é que ouviram falar? Na televisão? Carlos: Sim, no noticiário. O Carlos já respondeu um pouco a esta questão, mas vamos colocá-la na mesma porque podem surgir outras ideias. Que vantagens é que associam à TV digital? Carlos: Por exemplo, utilizando o nosso cabo, a qualidade de imagem é notória. Permite-nos… Mas isso não sei se terá exactamente a ver com o digital… Permite-nos a gravação, ver o programa à hora que eu bem entender… Uma série de funcionalidades…

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O serviço de Pausa TV, a rádio… Não é? Carlos: Exacto. P18. Que desvantagens associa à TV digital? Carlos: A haver desvantagem, será a necessidade de adaptar o equipamento mais antigo. O que também envolve custos… Mais alguma? Carlos: Não sei… Assim, honestamente, nunca pensei que desvantagens é que me traria a TV digital. E têm televisão digital aqui em casa? Carlos: Nós temos digital, sim. Este sinal que recebemos é digital. Temos Cabovisão. Em todas as televisões da casa? Carlos: Não. Temos só na sala. Nas outras temos o sinal analógico por cabo. Têm algum motivo especial para não terem televisão digital nas outras televisões? Carlos: Não… Não há motivo nenhum em particular. Eu presumo – e agora estou a falar um bocadinho de cor – que nós temos digital, porque esta caixa é digital. Mas não sei… Porque o sinal que nós recebemos aqui é o mesmo sinal que é distribuído pelo resto da casa. Nós temos é a caixa aqui. Estão a pensar em colocar televisão digital nas outras televisões? Carlos: Não. Não se coloca essa necessidade. P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia? Carlos: Sim. Adelaide: Sim, sabíamos. Carlos: O “apagão”. Sabem qual é o nome que se dá ao processo? Carlos: Não…

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P24. Quando é essa data-limite: tem ideia? Carlos: Acho que está para breve. Não está? Podem apontar um ano? Carlos: Se não for este ano, é já para o ano. Acho que está assim para perto. Não está? É sucintamente explicado o processo de desligamento do sinal analógico de televisão. (Carlos tem de abandonar a entrevista para ir trabalhar) P24. Instalar e usar TV digital é mais complicado que a TV analógica, em sua opinião? Adelaide: Acho que não. Não sente nenhuma diferença a nível de utilização? Adelaide: Não… P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação? Adelaide: Ou por experimentação ou, se houver possibilidade de haver instruções, consultar. Mas normalmente é por experimentação. Nós aqui, por exemplo, a nível das gravações, foi o que fizemos. Fomos experimentando e a ver como é que funcionava. E o João, em sua casa, como é que faz? João: Se houver alguma indicação, nas instruções, tudo bem. Senão vai-se tentando. Adelaide: E eu agora estava-me a lembrar que, às vezes, também nos suportamos na net. Estava-me a lembrar porque, por exemplo, eles têm consolas e no outro dia eu não sabia do manual de instruções da consola para sintonizar um comando e fui ver na net. João: Vai-se experimentar, vai-se à procura. E vai-se esperando que algum filho chegue a casa e que comece a dominar (risos). Eles estão mais virados para estas novas tecnologias. P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia? João: Se for vivo, de certeza absoluta que vou ver mais televisão.

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Porquê? João: Porque daqui a cinco anos já tenho 65 anos, já vou para a reforma e vou ter portanto mais tempo livre (risos). Adelaide: Eu acho que não. Acho que a tendência, se calhar, é até ser o inverso. Acha que vai ter outros interesses? Adelaide: Sim, porque eu acho que, por exemplo, há cinco anos atrás, via bem mais televisão do que vejo hoje e vou substituindo gradualmente. Porque o pouco tempo livre que tenho vou ocupando com a leitura, com a pesquisa de alguma coisa que precise, mesmo para o trabalho… Portanto, vou substituindo a televisão. P33. Como imaginam que a televisão venha a ser daqui a 10 anos? João: Será, de certeza, bem mais evoluída. A televisão daqui a dez anos é capaz de não se parecer com nada do que é hoje. É capaz de ser mais evoluída. A minha filha tocou agora numa situação que é eu ver muito mais televisão do que via há uns anos atrás, mas se, por exemplo, eu tenho seguido a evolução do manuseamento dos computadores, se calhar hoje não via tanta televisão. Estava mais ao computador. Mas ainda vai a tempo de se dedicar ao computador… Adelaide: É! A gente vai pô-lo a experimentar. João: Já tenho experimentado uns cursozitos, mas eles nos cursos nunca ensinam tudo o que a gente quer. Mas isto também tem a ver com a idade, porque eu quando tinha a vossa idade ia à procura do desconhecido e tentava saber, tentava conhecer… E com a passagem dos anos, para mim, isso perdeu um bocadinho o interesse. Porque, se não fosse isso, se calhar não estaria a ver tanta televisão como vejo hoje. Outro tipo de serviços, como poderem procurar qual é a farmácia de serviço através da televisão, ou outros serviços de informação útil… O que é que gostavam de poder fazer através da televisão? Adelaide: Por acaso nunca tinha pensado nisso, porque normalmente esse tipo de informação costumamos procurar na net. Acha que seria interessante ter serviços de procura de emprego, ou serviços ligados à saúde na televisão? Adelaide: Eventualmente sim. Mas, por exemplo, no meu caso, não sei se iria substituir a busca na net pela da televisão.

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João: Acho que isso era mais vantajoso para os grandes centros. Agora para a gente aqui, que somos mais pequenos é mais fácil a pessoa rapidamente saber por alguém. E se a televisão trouxesse agora um canal extra gratuito? Acham que seria importante ou não iria trazer nada de proveitoso? João: Acho que era mais um… Como já têm tantos canais, não iria fazer a diferença… Adelaide: Exacto. Apesar de terem muitos equipamentos de entretenimento, fazem um esforço para terem momentos em família, em que não “ligam” aos media… Adelaide: Sim, principalmente à hora do jantar. João: Eu disse que via uma média de 6 horas de televisão, mas são horas nocturnas, em que eu estou meio a dormir, meio a ver televisão. Vejo metade, adormeço outra metade e depois tenho que esperar para ver o resto do que não vi…

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Adelaide: 33 anos Carlos: 37 anos. Crianças: 8, 4 e 2 anos. João: 59 anos. Marta: 53 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré. P38. Ocupação e Profissão Adelaide: Professora. Carlos: Gerente de um bar. João: Marceneiro. Marta: Auxiliar de Acção Educativa. P39. Habilitações académicas Adelaide: Licenciatura. Carlos: 12º ano. Está a frequentar uma licenciatura. João: 4º ano. Marta: 9º ano. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Estavam dois agregados familiares presentes na entrevista. O de Adelaide e Carlos, com os três filhos (cinco pessoas) e o de João e Marta, com os dois filhos mais novos (quatro pessoas).

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P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam telemóvel, há mais de dez anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Em casa de Adelaide e Carlos todos usam o computador, há cerca de 9 anos (até mesmo as crianças). Em casa de João e Marta, os dois filhos usam o computador e João afirma que está a esforçar-se por aprender a usar. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Os dois agregados familiares têm internet em casa há cerca de nove anos. Em casa de João e Marta, só os filhos é que usam a internet. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Playstation, Wii, leitor de DVDs, rádio, leitor de CDs.

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Relatório da visita a casa da família 2 (“Sobral”)

17 de Setembro de 2010

Nazaré

José (pai): 68 anos, reformado.

Beatriz (mãe): 60 anos, gerente de loja.

Laura (irmã): 70 anos, reformada.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Sobral”, da Nazaré, no dia 17 de Setembro

de 2010.

A família “Sobral” é composta por três pessoas: o casal José e Beatriz, de 68 e 60 anos,

e a irmã de José, Laura, de 70 anos. José e Beatriz têm três filhos, de 22, 37 e 38 anos,

mas nenhum deles estava em casa no momento da entrevista, até porque já não

habitam na vila, regressando apenas nalguns fins-de-semana. A visita teve início pelas

23h00 e durou cerca de 1 hora e 15 minutos.

O casal “Sobral” passa grande parte do dia a trabalhar no supermercado do qual é

proprietário. Neste momento, é Beatriz que faz a maior parte da gestão da loja e, por

isso, sobra-lhe pouco tempo para o lazer. Nos tempos livres, Beatriz acaba por

Figura 1 – Beatriz, de 60 anos, tem pouco tempo livre. Quando não está no supermercado de que é proprietária, aproveita para adiantar as tarefas domésticas e consegue ver um pouco de televisão ao mesmo tempo.

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aproveitar para fazer tarefas domésticas. No dia da entrevista, esteve num dos

quartos, a passar a ferro, enquanto espreitava a programação na TV. Na verdade, esta

imagem representa bem os hábitos de Beatriz relativamente à televisão. A lojista

raramente está em frente ao ecrã, sem fazer outra coisa ao mesmo tempo. Quando

acontece, geralmente o cansaço fala mais alto e Beatriz acaba por adormecer. Ainda

assim, a nazarena revela que entre os seus programas de eleição estão “o Malato

(Quem quer ser milionário), e uma ou outra telenovela, que afirma nunca seguir ao

pormenor. No caso de José, a televisão ocupa um espaço muito mais relevante na

rotina. Enquanto a esposa não assiste a mais de uma hora de televisão por dia, José

afirma ver cerca de duas horas de TV diariamente. No entanto, Laura garante que o

irmão está sempre a ver televisão. Efectivamente, José liga a televisão logo pela

manhã, quando acorda, para se manter a par do que se passa no mundo. Depois, os

programas de entretenimento da manhã servem «para estar em fundo» e só se algum

tema lhe despertar interesse, segue a história com atenção. Mais tarde, quando vai

para a loja, José mantém a televisão ligada, mas diz que dificilmente presta atenção ao

que está a emitir. De facto, José gostaria de ter a oportunidade de ver mais os

programas de que gosta. Para além da falta de tempo, as questões técnicas impõem-se

na hora de ver os programas favoritos. «Há programas como o National Geographic, o

Odisseia, que eu tenho muita pena de não ver, porque gosto imenso deles. Mas esta

televisão não está bem sintonizada com alguns programas desses», explica. José

sublinha que outro dos motivos para ligar a TV é o futebol. «Gosto de ver futebol, mas

não sou doente pelo futebol. Ultimamente até tenho ido ao café, porque deixei de ter

a Sport TV», conta. Já a irmã, Laura, de 70 anos, admite que é quem vê mais televisão

na família: cerca de quatro horas diárias. No topo das suas preferências, estão os

programas de humor. Ultimamente vê sem falhar o programa Cinco para a Meia-Noite,

rejeitando a ideia de que este “talk show” interessa apenas aos jovens.

A família “Sobral” tem três televisões em casa e normalmente vê mais televisão na sala

de estar. Quanto às funcionalidades da televisão, José e Laura explicam que nunca

sentiram necessidade de utilizar o teletexto, nem sabiam como fazê-lo. No entanto,

José considera que um serviço como o teletexto pode ser bastante útil a partir do

momento em que se aprende a funcionar com ele. «Nunca percebi… Não é que não

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tenha o seu interesse, para a gente ver aquilo que vai dar. Vermos os programas

antecipadamente. Mas eu não consulto porque nunca me ensinaram a mexer nisso (…)

Há muitas coisas destes comandos, que às vezes aparecem ali e ninguém sabe fazer.

Eu nunca fui ensinado e também nunca me preocupei muito em procurar saber. Mas

que tem interesse, tem», considera.

No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital, foi

José o membro da família que demonstrou ter mais noções sobre o tema. Questionado

sobre se já ouviu falar em TV digital, José respondeu afirmativamente, acrescentando

de imediato que esta é uma tecnologia já em utilização e que ainda só lhe conhece

uma vantagem. «Já ouvi falar. Já está em funcionamento… Mas tirando a qualidade da

imagem, não sei o qual é o benefício que traz», comenta. Quanto às desvantagens

deste tipo de transmissão, José diz não conhecer o suficiente sobre ela para lhe

apontar pontos fracos. Por sua vez, Laura reporta para a questão dos preços. «É

conforme o custo dela…», avisa.

Em casa dos Sobral, há televisão por cabo. Questionados sobre os motivos que

levaram a família a pagar uma assinatura de televisão, os Sobral discordam. Enquanto

Laura considera que a família precisava de ter uma grelha de canais mais alargada,

José conclui que não necessitava de mais do que quatro canais. «Bem vistas as coisas,

eu não precisava de mais de quatro canais. Eu continuo a usar os canais portugueses.

Não quer dizer com isso, que não tragam vantagens aqueles que eu não vejo. Gostaria

Figura 2 - Laura, de 70 anos, vê cerca de quatro horas de televisão, sobretudo à noite. Um dos seus programas preferidos é o Cinco para a Meia-Noite, da RTP2.

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de ver. Ainda não vejo porque há alguns que não estão sintonizados e precisava de

trazer aqui uma pessoa não para desfazer o que está, mas para organizar os canais. A

gente fica sempre com a impressão de que são poucos os quatro canais. Mas, quando

nós olhamos para trás, vemos que, na maioria dos casos, nós só usamos os quatro

canais. Se me perguntarem o que é que eu vi ontem, ou no resto dos dias, foi os

quatro canais», reflecte.

No que toca ao conhecimento acerca do “switch-off”, José afirmou estar a par do

processo. Apesar de não conhecer a data-limite para o “apagão”, o lojista suspeita que

«não vai estar muito tempo sem isso acontecer», acreditando que desligarão o sinal

ainda em 2011. Por sua vez, Laura admitiu já ter ouvido falar, «mas não ligou» ao

assunto.

A família “Sobral” não prevê que as suas rotinas relativamente à televisão mudem nos

próximos cinco anos. Laura imagina que passará o mesmo tempo em frente ao ecrã, e

José demonstra-se sem opinião sobre o assunto. A verdade é que, de acordo com estes

irmãos, a televisão seria muito mais interessante se apostasse nos conteúdos mais

ligados à cultura e ao espectáculo. Para José, regressar aos tempos do teatro na

televisão tornaria a programação mais apelativa. «Gostava que houvesse teatro na

televisão, como antigamente. Os teatros na televisão eram muito bonitos», sugere.

Por fim, a partir da questão “Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10

anos?”, José anteviu televisores cada vez mais finos, com mais qualidade e ao mesmo

Figura 3 - A família “Sobral” não precisa de se preocupar em adaptar as suas televisões, pois tem um serviço de televisão paga. No entanto, José estava a par do apagão analógico.

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preço que os televisores tradicionais. «Ultimamente, a tendência tem sido aparelhos

fininhos. E estou convencido de que não vamos sair daí. Este televisor (aponta para o

seu televisor da sala) pesa 70 quilos. Têm que ser dois homens com força para o

transportar. De maneira que temos que esperar que venham outras coisas mais leves.

Estou convencido de que será esse o caminho. Não os vejo agora a voltarem outra vez

atrás. Quanto ao custo que podia impedir as pessoas de comprar, o plasma já está

quase ao mesmo preço do que um televisor vulgar. Aparelhos plasma, que ninguém

pensava poder comprar há uns anos atrás, estão ao mesmo preço que um televisor

normal. O caminho é serem mais leves, ao mesmo preço», prevê.

Transcrição da entrevista semi-estruturada I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos? Laura: Todos (risos). A partir das notícias, a minha preferência não é assim muito grande. Gosto de coisas cómicas, gosto de um bom programa de fado… Gosto de notícias na televisão, que me deixem mais esclarecida, entrevistas… Laura assiste também diariamente ao programa “5 para a meia-noite”, da RTP2. Este é um dos seus programas preferidos no momento. Então vê mais programas portugueses ou também vê coisas estrangeiras? Laura: Mas o que é que eu percebo de estrangeiro? Programas que tenham legendas… Laura: Com legendas sim. Vejo, mas não tenho assim muito tempo nem disposição para estar a ver um filme, por exemplo. Não tenho paciência para ver a mesma série, do princípio ao fim. E a Beatriz? Beatriz: Gosto de ver o programa do Malato. Laura: Ah esse programa está muito interessante… Beatriz: Gosto de ver uma novela… Vejo uns bocadinhos de vez em quando, mas não vejo ao pormenor. E o José? Beatriz: O futebol… José: Eu agora não me lembro quais são, mas gosto de muitos programas. Gosto de ver futebol, mas não sou doente pelo futebol. Ultimamente até tenho ido ao café, porque deixei de ter a Sport TV. Depois há programas como o National Geographic, o Odisseia, que eu tenho muita pena de não ver, porque gosto imenso deles. Mas esta televisão não está bem sintonizada com alguns programas desses. P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

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Beatriz: Eu nunca tenho tempo livre, estou sempre a trabalhar.

José: Não há tempos livres.

Mas quando têm um tempinho livre, o que fazem?

José: Vamos à Pederneira.

P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)?

José: Todos.

Beatriz: Todos.

Laura: Todos

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Laura: Não sei. É incerto…

Cinco ou seis horas de TV por dia?

Laura: Eia não… Acho que não.

Quatro horas?

Laura: Talvez. Por aí…

E o senhor José?

Laura: Ele está sempre a ver televisão (risos).

José: Eu vejo televisão quando acordo, aí às 08h00/08h30. Gosto de pôr logo a televisão a trabalhar para ver o que se passa no mundo. Depois vêm as notícias. Depois sou capaz de adormecer um bocadinho. Hoje adormeci um bocadinho mais do que a conta. Quando me levantei, era já tarde. Depois também vejo um bocado do programa da manhã da RTP, umas vezes com atenção, outras só para estar em fundo. Vou-me interessando por aquilo que eles às vezes lá põem.

Então quantas horas vê de televisão por dia? Quatro horas?

José: Não. Duas horas. Não vou dizer que quando vou para baixo, a televisão não está ligada. Mas não estou com a mesma atenção. Está a televisão a trabalhar, e quando vejo que há alguma coisa que me interessa, chego-me ao pé. Quando não interessa, recuo.

E ao fim-de-semana?

José: Ao fim-de-semana é a mesma coisa.

Beatriz diz que nunca tem tempo para si, está sempre a trabalhar. Por isso, também não tem tempo para a televisão.

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P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Laura: É quase sempre sozinhos… A maioria do tempo… A gente tem que se desenvencilhar.

Vira-se para o irmão

Laura: Então e tu não gostas do “5 para a meia-noite”?

José: Já tenho visto… Não é nada do outro mundo.

Laura: É engraçado.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

José: É-me indiferente.

P11. Onde vê mais televisão?

José: É aqui (na sala).

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Laura: Três. Na sala e em dois quartos.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Laura: Há cerca de cinco anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Laura: A ver se não…

José: Eu quero ver se sim. Eu preciso de uma televisão maiorzinha para o meu quarto. E eu compre duas, aqui há tempo, para as minhas filhas e têm o tamanho ideal.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Laura: Não.

José: Não. Nunca percebi… Não é que não tenha o seu interesse, para a gente ver aquilo que vai dar. Vermos os programas antecipadamente. Mas eu não consulto porque nunca me ensinaram a mexer nisso.

Laura: Nunca foi preciso…

José: Há muitas coisas destes comandos, que às vezes aparecem ali e ninguém sabe fazer. Eu nunca fui ensinado e também nunca me preocupei muito em procurar saber. Mas que tem interesse, tem.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

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José: Já ouvi falar. Já está em funcionamento… Mas tirando a qualidade da imagem, não sei o qual é o benefício que traz.

Portanto, a única vantagem que conhecem da TV digital, é o facto de trazer melhor qualidade de imagem. Certo?

José: Sim, sim.

P18. Que desvantagens associa à TV digital?

José: Também não conheço o suficiente para saber se há desvantagens.

Laura: É conforme o custo dela…

Tem televisão digital aqui em sua casa?

Laura: Não…

José: É capaz… Aqui em casa… Essa é uma boa pergunta. Eu não sei se esta tem ou não tem, mas é capaz de não ter.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

José: Temos Cabovisão.

Porque é que têm este serviço de televisão paga?

José: Bem vistas as coisas, eu não precisava de mais de quatro canais.

Laura: Precisavas…

José: Eu continuo a usar os canais portugueses. Não quer dizer com isso, que não tragam vantagens aqueles que eu não vejo. Gostaria de ver. Ainda não vejo porque há alguns que não estão sintonizados e precisava de trazer aqui uma pessoa não para desfazer o que está, mas para organizar os canais. A gente fica sempre com a impressão de que são poucos os quatro canais. Mas, quando nós olhamos para trás, vemos que, na maioria dos casos, nós só usamos os quatro canais. Se me perguntarem o que é que eu vi ontem, ou no resto dos dias, foi os quatro canais.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

José: Sei, sei.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

José: Não sei. Isso não perguntei.

Sabem se será este ano, para o ano, daqui a vinte anos?

José: Não, não. Estou convencido de que será daqui a um ano ou assim.

Em 2011?

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José: Julgo que sim. Acho que não vai estar muito tempo sem isso acontecer.

E sabem como se chama esse processo?

Laura: Eu já ouvi falar, mas não liguei.

É sucintamente explicado o “switch-off”

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

José: Não sei.

Laura: Eu sou capaz de ver a mesma coisa.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

José: Em termos de conteúdos, gostava que houvesse teatro na televisão, como antigamente. Os teatros na televisão eram muito bonitos.

Laura: Sim, era muito interessante!

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

José: Ultimamente, a tendência tem sido aparelhos fininhos. E estou convencido de que não vamos sair daí. Este televisor (aponta para o seu televisor da sala) pesa 70 quilos. Têm que ser dois homens com força para o transportar. De maneira que temos que esperar que venham outras coisas mais leves. Estou convencido de que será esse o caminho. Não os vejo agora a voltarem outra vez atrás. Quanto ao custo que podia impedir as pessoas de comprar, o plasma já está quase ao mesmo preço do que um televisor vulgar. Aparelhos plasma, que ninguém pensava poder comprar há uns anos atrás, estão ao mesmo preço que um televisor normal. O caminho é serem mais leves, ao mesmo preço.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade José: 68 anos. Beatriz: 60 anos. Laura: 70 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré P38. Ocupação e Profissão José: reformado. Laura: reformada. Beatriz: gerente de loja. P39. Habilitações académicas José: 4ª classe. Laura: 4ª classe.

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Laura: 4ª classe. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Quatro pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) José: Usa de vez em quando. Há seis meses. Laura: Sim. Há dois ou três anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Rádio, VCR, DVD.

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Relatório da visita a casa da família 3 (“Roda”)

11-10-2010

Famalicão, Nazaré

Margarida (mãe): 35 anos, auxiliar de Acção Educativa.

Jacinto (pai): 40 anos, pedreiro.

Célia (filha): 20 anos, doméstica.

Sandra (filha): 18 anos, doméstica.

Fátima (filha): 15 anos, estudante.

Henrique (filho): 14 anos, estudante.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Roda”, residente em Famalicão, no concelho

da Nazaré, no dia 11 de Outubro de 2010.

A família “Roda” é composta por 8 elementos: um casal com cinco filhos – quatro

raparigas e um rapaz – e um neto recém-nascido. A mãe tem 35 anos e o pai 40. As

raparigas têm 20, 18, 15 anos e 19 meses e o rapaz tem 14 anos. Margarida é auxiliar

de acção educativa e o marido pedreiro. As filhas de 20 e 18 anos já não estudam e são

domésticas.

Figura 1 – O televisor na sala da família “Roda” foi encontrado pelo pai, que o mandou arranjar e o levou para casa

32

Figura 3 – Célia teve um filho há pouco tempo e passa muitas horas em frente ao ecrã. As telenovelas são o seu género televisivo de eleição

A visita teve início às 18h00 e durou cerca de 40 minutos. A televisão tem lugar central

na sala desta família. Entre alguma confusão decorrente dos trabalhos de remodelação

da casa, que a própria Margarida leva a cabo, a televisão está acesa, com som, mas

ninguém está a ver. Célia, de 20 anos, cuida da filha recém-nascida num dos quartos e

a irmã Sandra faz-lhe companhia. Só mais tarde vão para a sala ver um pouco de

televisão. Célia senta-se no sofá com o bebé ao colo e assiste ao novo programa da

Fátima Lopes, na TVI. A irmã Sandra junta-se a ela e divide a atenção entre o televisor

e a sua irmã mais nova, de 19 meses, com quem vai brincando. Mais tarde, mudam de

canal, de forma a poderem ver a novela brasileira que têm seguido, na SIC, ao fim da

tarde. Margarida está ocupada com as tarefas domésticas e não se interessa pelo que

Figura 2 – A mãe, Margarida, aproveita os tempos-livres para trabalhar em casa, remodelando o quarto de uma das filhas

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passa na TV. O único televisor da casa está na sala há cerca de cinco meses. O marido

de Margarida encontrou-o e mandou arranjá-lo. A família recebe mais de quatro

canais, mas não pagam assinatura. Margarida não sabe «se é TV Cabo ou Cabovisão».

Na entrevista, não estiveram presentes o pai, de 40 anos, nem o filho de 14 anos. Este

último é o único elemento da família que passa mais tempo ao computador do que a

ver televisão. De acordo com a mãe, o jovem entretém-se a “jogar”. Entre as

entrevistadas, Célia e Sandra passam a maior parte do dia em casa pois já não estudam

e não estão empregadas. Sandra, de 18 anos, explica que para além das tarefas

domésticas, vê “mais de cinco horas por dia” de televisão, elegendo as telenovelas, as

séries e os programas da MTV como os seus predilectos. Só o domingo difere do resto

da semana, pois Sandra prefere “sair” a ver televisão. Normalmente “irmãos e primos”

vêem televisão juntos, já que há apenas um televisor na casa. É unânime que nenhuma

rapariga na casa gosta de ver programas sobre desporto. Célia vê “novelas e algumas

séries” e, tal como a irmã Sandra, passa grande parte do dia em frente ao ecrã. Já

Fátima, que ainda estuda, vê menos televisão do que as irmãs, não ultrapassando as

cinco horas diárias. A jovem de 15 anos prefere ver a «SIC, a SIC Mulher, a MTV e a

MTV Portugal», não perdendo os programas sobre «moda e remodelação de casas». Já

a matriarca, Margarida, gosta de ver as telenovelas e séries do canal AXN. «Vejo umas

quatro ou cinco horas de TV por dia. Chego do trabalho às 17h00, faço o jantar, mas

costumo ver a novela das 19h00 às 20h00 e depois vou-me deitar». Desde que tem a

Figura 4 – Sandra, de 18 anos, está desempregada e, no tempo que sobra das tarefas domésticas, vê TV, sobretudo telenovelas e programas da MTV

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Figura 5 – A mãe, Margarida, explica que a família só tem o comando da TV Cabo, por isso, não consegue aceder ao teletexto, um serviço que antigamente utilizava

nova televisão, não usa o teletexto. «Eu usava muito, mas como esta televisão não tem

comando… O comando que usamos é o da TV Cabo e não tem teletexto».

Quando questionadas acerca da televisão digital (P16. “Já ouviu falar da TV digital?”),

apenas Margarida e Fátima respondem afirmativamente. Margarida diz ter ouvido

mencionar o assunto no telejornal, enquanto Fátima explica que o que vê é «em casa

das amigas». No entanto, nenhuma conseguiu mencionar vantagens ou desvantagens

desta tecnologia. Célia e Sandra afirmaram que nunca ouviram falar em TV digital e

nenhuma das entrevistadas estava a par do desligamento do sinal, nem faziam ideia da

data-limite deste processo. Margarida demonstrou saber vagamente o que as pessoas

sem TV digital têm que fazer para continuarem a receber os quatro canais gratuitos de

TV em casa: «Ouvi falar que tem que se comprar um aparelho para adaptar à

televisão». Fátima «não fazia ideia». Nenhuma das entrevistadas conhecia os custos

envolvidos para quem não tem TV Digital continuar a ter TV em casa. Questionada

sobre «quanto estaria disposta a pagar para continuar a ter TV», Margarida referiu,

rindo-se: «Alguma coisa vai ter que se pagar… Nunca dão nada de graça».

Margarida considera que, daqui a 5 anos, vai ver menos televisão do que actualmente.

«Cada vez temos que trabalhar mais para ter alguma coisa (risos). E os programas

começam a ser desinteressantes. Estão a repetir muito os programas e uma pessoa

começa a perder o interesse na televisão por isso», explica. Fátima partilha da mesma

opinião. «São sempre os mesmos programas, sempre a mesma coisa. Torna-se

35

repetitivo». Ao ouvir falar de serviços interactivos como a possibilidade de ver quais são

as farmácias de serviço na sua zona ou de procurar emprego através da televisão, a mãe

olha para a filha Sandra e acena com a cabeça dizendo que “sim”, é útil. «A pessoa não

ter que sair de casa para ir à procura de emprego ou saber onde está uma farmácia onde

possa ir buscar um medicamento era muito bom». Por outro lado, há serviços que a

televisão permite que não são alheios a esta família, como a rádio. Margarida explica que

ouve «muitas vezes» rádio através da televisão porque gosta de ouvir a RDP África. Por

fim, as entrevistadas têm dificuldade em expressar a forma como imaginam a televisão

daqui a 10 anos e apenas Margarida lança algumas ideias, considerando que «o aparelho

vai ser mais fininho, mas cada vez maior».

Transcrição da entrevista semi-estruturada

P1. Quais os programas favoritos?

Margarida (mãe): Novelas e séries do AXN.

Célia (filha): Também gosto de ver novelas e algumas séries. A novela é a da SIC, “Caras e Bocas”.

Sandra (filha): Vejo as mesmas coisas e também gosto de ouvir música na televisão (MTV). Mas o que vejo mais é a telenovela e filmes. A minha série preferida é o CSI.

Fátima (filha): Vejo a SIC, a SIC Mulher, a MTV e a MTV Portugal. Na SIC Mulher vejo programas de moda, remodelação de casas…

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Margarida: Futebol (risos)

Fátima: Programas de desporto.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres? Usa o computador?

Sandra: Uso o computador dos meus irmãos.

Margarida: Elas vêm mais televisão do que usam o computador, mas o irmão usa mais o computador do que a televisão, para jogar e ouvir música.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Sandra: De manhã estou em casa, limpo as coisas, faço o almoço para o meu irmão, depois vou buscar a minha mãe. É sempre assim.

36

P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)?

Sandra: Todos os dias. Vejo mais de segunda a sábado porque ao domingo costumo sair.

Fátima: Vejo todos os dias.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Sandra: Mais de cinco horas por dia.

Margarida: Vejo umas quatro ou cinco horas de TV por dia. Chego do trabalho às 17h00, depois é fazer jantar, mas costumo ver a novela das 19h00 às 20h00 e depois vou-me deitar.

Célia: Vejo mais ou menos o mesmo que ela (Sandra).

Fátima: Acho que não vejo mais de cinco horas por dia.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Sandra: Vejo com os meus primos e os meus irmãos.

Fátima: Vejo com as minhas irmãs.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Margarida: Um. Na sala.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Margarida: Este televisor foi o meu marido que encontrou e o mandou arranjar. Temo-lo há cerca de cinco meses.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Margarida: Não.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Margarida: Não. Eu usava muito o teletexto, mas como esta televisão não tem comando…O comando que usamos é o da TV Cabo e não tem teletexto.

P16. Já ouviu falar de TV digital?

Margarida: Eu já ouvi falar, no telejornal.

Célia: Nunca ouvi falar.

Sandra: Eu também não.

Fátima: Já ouvi falar.

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P17. Que vantagens associa à TV digital?

Margarida: Não. Eu ouvi falar, mas como não eram daquelas coisas que me estavam a interessar, não liguei muito.

Fátima: O que vejo é em casa das minhas amigas.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Margarida: Não sei se é TV Cabo se é Cabovisão. Temos mais de quatro canais.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Margarida: Não.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Margarida: Não.

P25. Sabe o que as pessoas sem TV digital têm que fazer para continuarem a receber os 4 canais gratuitos de TV em casa?

Margarida: Ouvi falar que tem que se comprar um aparelho para adaptar à televisão.

Fátima: Não fazia ideia.

P26. Sabe se há custos envolvidos para continuar a ter TV em casa?

Margarida: Não sei.

P27. Quanto estaria disposto/a a pagar para continuar a ter TV em casa?

Margarida: Alguma coisa vai ter que se pagar… Nunca dão nada de graça (risos).

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Margarida: Basicamente o que vemos agora. As séries, as novelas…Às vezes lá vemos uns programas sobre os modelos ou remodelações de casas…

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Margarida: Menos. Isto cada vez temos que trabalhar mais para ter alguma coisa (risos). E também os programas começam a ser desinteressantes. Estão a repetir muito os programas e uma pessoa começa a perder o interesse na televisão por isso.

Fátima: Menos. São sempre os mesmos programas, sempre a mesma coisa. Torna-se repetitivo.

P32.1 Se, por exemplo, a televisão proporcionasse serviços como poderem ver quais são as farmácias de serviço na vossa zona ou poderem procurar emprego através da televisão, isso seria útil para vocês?

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Margarida: (Olhando para a filha Sandra e acenando com a cabeça) Sim.

Sandra: Era bom.

Margarida: A pessoa não ter que sair de casa para ir à procura de emprego ou saber onde está uma farmácia onde possa ir buscar um medicamento era muito bom.

P32.2 Ouvem rádio na televisão?

Margarida: Oh, muitas vezes.

P32.3 Porquê?

Margarida: Porque gosto de ouvir a RDP África.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos? Acha que vai ser igual?

Margarida: Não. Vão acabar com estas televisões. Agora é tudo LCDs e plasmas. O aparelho vai ser mais fininho, mas vai ser cada vez maior.

P33.1 O que acham dos serviços de vídeo-on-demand e pausaTV?

Fátima: Acho bom. Dá jeito.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade Margarida (mãe): 35 anos. Jacinto (pai): 40 anos. Célia (filha): 20 anos. Sandra (filha): 18 anos. Fátima (filha): 15 anos. Henrique (filho): 14 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência Famalicão, Nazaré. P38. Ocupação e Profissão Margarida: Auxiliar de Acção Educativa. Jacinto: Pedreiro. Célia: Doméstica. Sandra: Doméstica. Fátima: Estudante. Henrique: Estudante. P39. Habilitações académicas Margarida: 9º ano. Jacinto: 4ª classe. Célia: 9º ano. Sandra: 9º ano. P42. Uso de telemóvel Margarida: Sim.

39

Jacinto: Sim. Célia: Sim. Sandra: Sim. Fátima: Sim. Henrique: Sim. P43. Uso de computador Margarida: Não. Jacinto: Não. Célia: Não. Sandra: Sim. O do irmão. Fátima: Sim. O do irmão. Henrique: Sim. P44. Uso de internet Margarida: Não. Jacinto: Não. Célia: Não. Sandra: Não. Fátima: Não. Henrique: Não. Nota: Os restantes elementos da família são um recém-nascido e uma criança de 19 meses. A caracterização dos elementos da família que não estavam presentes na entrevista foi fornecida pela mãe.

40

Relatório da visita a casa da família 4 (“Pereira”)

15-11-2010

Valado dos Frades – Nazaré

Isabel (mãe): 73 anos, reformada.

João (pai): 77 anos, reformado.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Pereira”, residente em Valado dos Frades, no

concelho da Nazaré, no dia 15 de Novembro de 2010.

O agregado familiar dos “Pereira” é composto por um casal: Isabel, de 73 anos, e João,

de 77 anos. Os dois têm ritmos muito diferentes. Apesar de reformada, Isabel ainda

trabalha - é proprietária de uma retrosaria no rés-do-chão da casa - enquanto João se

mantém em casa. A visita teve início pelas 14h00 e durou cerca de 90 minutos. João

almoça mais cedo que Isabel, mas faz companhia à esposa, tal como a televisão,

sempre ligada em casa dos “Pereira”. No ecrã passa o programa As Tardes da Júlia, na

TVI, mas o que os fez escolher aquele canal foi o noticiário, que não gostam de perder.

Quem liga a televisão é quase sempre Isabel. Mesmo não estando atenta às imagens,

Figura 1 – À hora do almoço, Isabel, de 73 anos, aproveita para ver um pouco de televisão, pois valoriza muito o telejornal

41

«num ou noutro canal», à hora do almoço, tem sempre a emissão nas notícias. «Tudo

em português, para poder lidar e ouvir. Às vezes até tenho a televisão muito alta, para

ouvir e fazer outras coisas. Quando estou atrasada, já não pode ser nada, tenho que

apagar. Porque levamos sempre mais tempo a fazer as coisas quando estamos a ver

televisão». Isabel afirma escolher os programas tendo em conta os momentos do dia e

o seu estado de espírito. «Durante o dia tem que ser coisas de acção para me

despertar (risos). Lamechices vejo à noite», explica a comerciante, concluindo que vê

cerca de quatro horas de televisão por dia, principalmente ao serão. «A televisão

funciona sempre em casa, porque não gosto do silêncio. Muitas vezes não estou a

olhar para ela, mas está a funcionar». No trabalho, Isabel não tem televisão, para não

se distrair, e só ouve rádio. No entanto, se lhe tirassem o ecrã do quotidiano, seria

dramático. «Ai não. Era difícil. Eu às vezes não sou capaz de adormecer sem ver

televisão. Mas isto também tem a ver com a idade», explica depois de admitir que, em

tempos, «já viu outro tipo de programas, mais responsáveis», e que agora só vê TV

para se “distrair” e não para «se meter em assuntos rigorosos».

Já para João, a ausência da televisão não faria muita diferença. «Depois de ter optado

pelo computador deixei a televisão», afirma, explicando que liga a televisão à hora do

lanche, porque gosta de ver o fórum da SIC Notícias, mas que até o futebol deixou de

ver na TV para seguir na Internet. «Cheguei a ver muitas horas de televisão. Agora não.

Cerca de 45 minutos à hora do almoço e mais um pouco ao lanche». O mundo dos

blogues foi o que levou João a «fugir da televisão» e a correr para o computador. Aos

Figura 2 – Nos últimos anos, João tem visto cada vez menos TV, pois passa a maior parte do tempo na internet

42

76 anos, criou o seu primeiro blogue e não tardou até idealizar o segundo, que hoje

actualiza com a colaboração do genro. «O primeiro blogue foi criado em 2009. Eu não

sabia mexer em computadores, andava à procura das teclas. Todos os dias tinha

problemas naquilo porque não percebia nada até que dois alunos da escola onde a

minha filha dá aulas vieram fazer um estágio à biblioteca do Valado e ensinaram-nos a

mexer em computadores. (…) Agora o blogue tornou-se o meu vício. E eu era contra a

Internet!». João sublinha que a sustentação dos dois blogues lhe exigem horas, mas

ainda tem tempo para «outras pesquisas». «Também tenho que dar resposta aos e-

mails que me enviam (…) E à noite, por exemplo, a última coisa que faço é ir às

notícias. Não vou muito aos jornais, mas vou às notícias isoladas que me interessam.

Por exemplo, se vejo que na Nazaré houve um temporal, vou lá clicar para ler a

notícia». Isabel faz questão de mencionar que foi ela a dar a ideia de comprar um

computador portátil e aderir à Internet: «Para fazer pesquisas, que é tão interessante.

Pensei que, com o portátil, ele saía de casa e ia para “cascos de rolha” fazer os seus

trabalhos. Afinal não. Enfiou-se em casa com o portátil, é impressionante. É capaz de

estar horas, horas e horas ao computador».

Apesar de estar cada vez mais afastado da televisão, João continua a ter uma opinião

sobre esta. «Sabe o que é que eu tenho contra a televisão? É nós não nos podermos

manifestar em cima do acontecimento porque estão os telefones sempre impedidos

(…) As pessoas que falam na televisão muitas vezes falam partidariamente ou

“clubisticamente”. Nós (cidadãos) devíamos poder dar sugestões para ajudar».

Também Isabel, que gosta de fazer “rally de canais”, considera que os conteúdos

televisivos poderiam melhorar. Questionada sobre a possibilidade de ter um canal

sobre a região Oeste, a valadense considerou que «a televisão ganhava muito» com

isso. «Pelo menos um canal que fosse mais dedicado a Portugal. Nós temos coisas

lindíssimas, buraquinhos lindíssimos. Se houvesse um canal português que se

dedicasse a esse tipo de conteúdos, se calhar teríamos muito mais turistas do que

temos. A Galiza nesse aspecto é muito mais esperta. Mostra aquilo tudo». Tanto Isabel

como João sabem utilizar as possibilidades que a sua televisão oferece. Isabel, por

exemplo, utiliza o teletexto para ver os números da lotaria. Já João procura conteúdos

sobre desporto, nomeadamente os resultados e classificação das equipas.

43

No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV Digital,

Isabel e João afirmam já terem ouvido falar nesta (P16), mas Isabel confessa «não

estar assim muito por dentro» do assunto. Questionado sobre as vantagens deste tipo

de transmissão, João afirma que ouviu dizer que é «muito melhor», mas revela-se um

pouco confuso quanto ao avanço das tecnologias ligadas à televisão. «Agora ainda vai

aparecer outra, não é? Eu, como não estou muito virado a aderir a estas

transformações, ou porque nos telefonam ou porque temos lido que vai haver uma

nova tecnologia, às vezes não aprofundo e não sou capaz de, como agora sugere,

explicar o que é». João e Isabel, que têm TV Digital há uma semana, estão

constantemente a ser contactados, através do telefone fixo, por empresas que os

informam dos novos serviços de televisão, Internet e telefone no Mercado. Foi num

desses telefonemas que João ouviu falar, pela primeira vez, na TV Digital. «Outro dia

foi através da oferta de um novo serviço, prestado pela Cabovisão, outras vezes é por

outras empresas, que telefonam a perguntar se já temos os serviços ou se estamos

satisfeitos com o trabalho que nos é fornecido e a dizer que têm agora um pacote e

“tal”. Depois, numa altura qualquer, foi-nos dito que este sistema que temos é uma

coisa efémera e relativamente perto vai acabar». O casal explica que colocou a TV

Digital «mais por causa do telefone» pois «vinha tudo junto». Isabel realça que notou

diferença «na cor» e gostou da imagem, para além de o pacote que lhes ofereciam ser

“bom”. De acordo com a valadense, a nova caixa que tem por cima da televisão traz

serviços com os quais ainda não aprendeu a lidar, mas sabe que existem. «Gravar um

programa enquanto estamos a ver outro. Mais ainda não aprendi, ainda não tive

tempo». João e Isabel dizem estar a par do desligamento do sinal analógico de TV

(P21), mas desconhecem a data-limite para o processo. «Já falaram sobre isso, mas

não liguei assim muita importância».

João e Isabel estão a pensar comprar uma televisão nova nos próximos tempos. «Um

plasmazinho pequenino. Não pode ser muito grande senão depois é exagero», diz

Isabel. João até prevê que, se começar a ter problemas de mobilidade, acabará por ter

dificuldades em mexer no computador e passará a adormecer a olhar para a televisão.

Para o casal, o futuro da televisão é “imprevisível”, mas a evolução é “imparável”. «Eu

acho que o futuro passa mais pelo telemóvel completo do que propriamente pela

44

televisão. Desde que me conheço, até aos dias de hoje, a evolução é impensável.

Nunca me tinha passado pela cabeça as coisas que foram vindo», exclama Isabel.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

A primeira parte da entrevista fez-se ainda na fase que deveria ser apenas de observação, tendo em conta as dificuldades em realizar a observação não-participante. Aproveitou-se a altura para se falar sobre o consumo que a família faz de outros media, como o computador, tendo o tema surgido espontaneamente.

João: Eu tenho dois blogues. Veja lá que até tenho dois blogues com esta idade! (risos). Um, durou um ano, ainda o tenho e depois fiz um segundo blogue em que eu sou o fornecedor do material e o meu genro faz a paginação. Eu só tenho a 4ª classe. Como ele tem muito mais capacidades, faz a contextualização da informação e a paginação. Por exemplo, se quero falar da terra da abóbora, ele vai fazer uma pesquisa e vai escrever que a abóbora veio da América, etc. Ou seja, faz o complemento às minhas informações. Ontem houve Crisma e eu fiz fotografias e, passado uma hora, já tinha no blogue parte delas. Tenho é alguma dificuldade no sentido em que tenho na minha cabeça uma orientação e depois sai ao contrário porque o blogue é ao contrário. A primeira coisa que pus vem no fim. Eu procuro orientar-me nesse aspecto porque a nível de datas, etc. aquilo é uma miscelânea que não tem pés nem cabeça. O blogue que o meu genro organiza já não é assim. Está tudo impecável porque ele o sabe paginar. O primeiro blogue foi criado em Agosto de 2009, quando tinha 76 anos. Eu não sabia mexer em computadores, andava à procura das teclas. Todos os dias tinha problemas naquilo porque não percebia nada até que, em Julho de 2009, dois alunos da escola onde a minha filha dá aulas vieram fazer um estágio à biblioteca do Valado e ensinaram-nos a mexer em computadores. (…) Agora o blogue tornou-se o meu vício. E eu era contra a internet!

Isabel: Eu é que lhe dei a ideia de ele comprar um portátil e pôr internet, para fazer pesquisas, que é tão interessante. Pensei que, com o portátil, ele saía de casa e ia para cascos de rolha fazer os seus trabalhos. Afinal não. Enfiou-se em casa com o portátil, é impressionante. E é capaz de estar horas, horas e horas ao computador. Por mim tudo bem! Ele antes era contra a internet. Dizia que era muito viciante e perigoso. Afinal são horas e horas…

João: A sustentação de dois blogues, a busca de fotografias e a organização por temas exigem horas. Depois também tenho que dar resposta aos e-mails que me enviam. Quando se chega a noite, vou lá ver e já lá tenho trinta coisas para ir abrir. Alguns dizem-me assim “Ah eu nem os abro, mando-os para o lixo”, mas eu respondo “Epá, eu para saber se são bons ou se não prestam tenho que os abrir!”. E os que me conhecem sabem que há coisas que para mim não têm interesse e podiam ter um bocadinho de cuidado em não enviar esses mails.

45

Isabel: (Explica ao marido) Mas as pessoas quando acham alguma coisa interessante enviam para a lista toda de contactos. É isso que eles fazem. Mas o João não envia assim, o João faz a escolha.

João: (…) Em relação às outras buscas. Por exemplo, à noite, a última coisa que faço é ir às notícias. Não vou muito aos jornais, mas vou às notícias isoladas, que me interessam. Por exemplo, se vejo que na Nazaré houve um temporal, vou lá clicar para ler a notícias. Em relação a compras ou sites de outros países, não vou muito. No mail, faço categorias para todos os temas “Católicas, Maliciosas, Amizade”, etc. Se me enviam e-mails sobre a América ou as Cataratas do Niágara ponho-as numa pasta e gosto, mas não sou de ir procurar esses temas.

E a Isabel, também usa a Internet?

Isabel: Não. Só quando ele me chama para ver alguma coisa. Nem tinha tempo!

João: Ela é mais televisão…

Isabel: Há uma coisa muito importante. Mesmo que eu (olham um para o outro e riem-se) quisesse ou me disponibilizasse para ir à Internet não podia porque está sempre ocupada! Mas não tenho essa necessidade porque tenho o dia muito ocupado e à noite fico cansada e vejo um bocadinho de televisão. Mas já vi outro tipo de programas, mais responsáveis e assim…Agora não, agora vejo para me distrair, não vou para me meter em assuntos rigorosos. Também sou capaz de ver, mas vejo mais televisão para me distrair. Por exemplo, vou muitas vezes à “Travel”, que tem coisas muito engraçadas e eu gosto de ver, mas é preciso estar bem. De manhã tenho um hábito tremendo de acender a televisão e de ver parte das notícias, nem que seja a parte dos jornais (Revista de Imprensa). Estou sempre à espera que eles apareçam. Eles dão os cabeçalhos dos jornais e fico mais ou menos a saber o que é que se passa. Porque, muitas vezes, chego aqui à hora do almoço e já passou da uma e as notícias já avançaram. Mas estou sempre nas notícias. Num ou noutro posto (canal), estou sempre nas notícias. É tudo em português, que é para eu poder lidar e ouvir. Às vezes até tenho a televisão muito alta, para ouvir e fazer outras coisas. Às vezes, quando estou muito atrasada, já não pode ser nada, tenho que apagar. Porque levamos sempre mais tempo a fazer as coisas quando estamos a ver televisão porque sempre nos distraímos. Se há uma ou outra novela que me interesse – o que é raro acontecer – até vejo. Ultimamente até tenho visto uma no primeiro canal depois de almoço – das 14h30 às 15h00 - mas não quer dizer que veja sempre. É muita acção, eu gosto muito de acção. Lamechices vejo à noite. Durante o dia tem que ser coisas de acção para me despertar (risos).

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Isabel: À noite vejo bastantes. Cerca de 4 horas por dia. A televisão funciona sempre em casa, porque não gosto do silêncio. Muitas vezes não estou a olhar para ela, mas a televisão está a funcionar. Não estou a olhar, mas estou a ouvir, porque é português. Se for estrangeiro não, porque tenho que estar a olhar para as legendas.

Mas também vê facilmente programas com legendas?

46

Isabel: Vejo muito. Filmes principalmente.

Gostava que esses filmes fossem dobrados em português?

Isabel: Não, não. Eu penso que, a partir do momento em que a televisão portuguesa deixar de legendar filmes, vai haver muitos mais analfabetos em Portugal. Porque quem gosta de ver um bom filme e não sabe falar inglês, italiano ou até mesmo o espanhol, se vir um filme dobrado deixa de saber definir as línguas. Eu posso nem estar a olhar, mas sei que é um filme inglês que está a dar. Aprende-se qualquer coisinha, sabemos como é que os actores falam, sabe-se isso tudo. E se for dobrado em português não tem graça. Mas durante o dia não vejo televisão. No trabalho não tenho televisão, só ouço rádio. Quando vêm clientes, baixo um pouco o volume, mas quando estou sozinha aumento o som porque não gosto de estar em silêncio. Na casa da costura ainda tenho outra coisa – o meu marido perguntou-me porque é que eu a comprei – que é um leitor de CDs. E quando estou sozinha, a passar a ferro ou a fazer qualquer coisa para mim, e preciso de descansar a cabeça e não estar nervosa, ponho os meus “cdzinhos”.

João: Rádio temos por todo o lado, se for preciso ligá-los. Como na retrosaria não temos televisão, ela tem o rádio todo o dia aberto. No leitor de CDs lá ouve a Ana Moura…

Isabel: É engraçado, porque eu não era muito de ouvir fados, mas é o que tenho lá mais.

O facto de usarem tanto o computador e o rádio quer dizer que, se vos tirassem a televisão do dia-a-dia, não seria dramático?

Isabel: Ai não. Era difícil. Eu às vezes não sou capaz de adormecer sem ver televisão. Mas isto também já tem a ver com a idade.

Então, mesmo utilizando outro tipo de media, a televisão continua a ser central para si?

Isabel: Para mim é.

E para o João?

Isabel: Para ele não…

João: Depois de ter optado pelo computador deixei a televisão. Vejo sempre à hora do lanche, por volta das 17h00, ligo a SIC Notícias porque gosto de ver o fórum. Vejo um bocado de futebol, mas até deixei de ver o futebol na televisão (risos). Quando dá na Sport TV, já não vou ao café ver, vejo na Internet. Cheguei a ver muitas horas de televisão. Agora não. Cerca de 45 minutos à hora do almoço e mais um pouco ao lanche.

Isabel: Ele foge da televisão. Ele ultimamente foge da televisão. Mas isso, pelo que eu me apercebo, quase todas as pessoas que têm o computador e a internet vêem pouca televisão.

47

João: Quase não vejo televisão.

Substituiu o consumo de televisão pelo consumo do computador e internet?

João: Um bocado.

Isabel: Ainda em relação à televisão. E gosto de fazer rally de canais também. Gosto do canal 2. Acho que tem coisas muito giras. Tem aquele programa, perto da meia-noite (Bairro Alto), com um rapazinho – esqueci-me do nome dele, às vezes não sei os nomes – muito simples, mas conhecedor. Gosto daquela maneira de entrevista. E é giro porque ele leva lá muita gente nova e falam sobre música, sobre isto e sobre aquilo e vê-se muito bem. Também via o “5 para a Meia Noite” porque achava piada. E gosto das séries inglesas. Eu sou diversificada nesse aspecto.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Isabel: Sei lá, quando eles ralham muito não me apetece ver. Debates malcriados. Às vezes ainda ficava a ver para depois falar sobre isso, mas depois pensava assim “Ai não estou para te aturar”. Já gostei mais do que gosto daquele debate da segunda-feira (Prós e Contras). Acho que a apresentadora, quando não lhe agrada aquilo que o outro quer dizer, corta muito. E eu não gosto muito dela. Também não gosto muito da Judite Sousa.

Acha que esses programas prestam serviço público?

Isabel: Não presta tanto serviço como eles podem pensar. É um debate de alerta, mas nem todos os portugueses estão preparados para esse tipo de debate. Ouvem, mas não entendem. Por isso é que eles dizem todos: “Ah, fala-se nisto e fala-se naquilo mas nunca se resolve nada”. Nem tem que se resolver. É para alertar o problema. Mas já ouvi mais esses programas. Às vezes fazem muito barulho.

João: Sabe o que é que eu tenho contra a televisão? É nós não nos podermos manifestar em cima do acontecimento porque estão os telefones sempre impedidos.

Acham que os programas de televisão deviam ser mais interactivos?

João: Eu acho que sim. As pessoas que falam na televisão muitas vezes falam partidariamente ou clubisticamente. Nós (cidadãos) devíamos poder dar sugestões para ajudar.

Se a televisão tivesse mais canais regionais, que mostrassem mais Portugal, isso agradar-vos-ia?

Isabel: Era. Porque, por exemplo, no canal “Travel” há, de facto, um português mas não é à hora boa para mim.

Se houvesse, por exemplo, um canal sobre a região oeste, acham que era interessante?

Isabel: Ai eu acho que sim. A televisão ganhava muito. Ou pelo menos um canal que fosse mais dedicado a Portugal. Nós temos coisas lindíssimas, buraquinhos lindíssimos.

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Se houvesse um canal português que se dedicasse a esse tipo de conteúdos, nós se calhar teríamos muito mais turistas do que temos. A Galiza nesse aspecto é muito mais esperta. Mostra aquilo tudo.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões?

Isabel: Agora só temos duas. Já tivemos três. Uma na sala e outra na cozinha.

P11. Onde vê mais televisão?

Isabel: Eu vejo mais na sala.

João: Eu é mais na cozinha.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Há uns cinco, seis anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Isabel: Eu acho que sim (risos). Esta (da cozinha) voltará para o quarto porque é pequenina. Vai uma nova para a sala, assim mais direitinha, destas agora novas. Um plasmazinho pequenino, não pode ser muito grande senão depois é exagero.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Isabel: Utilizo o teletexto para ver os números da lotaria.

João: Eu é o desporto. Para ver as classificações, o resultado dos jogo.

Isabel: E às vezes também vou procurar páginas e leio alguma coisa q ache interessante. E quando não sei muito bem e estou intrigada sobre uma notícia vou procurar a notícia e vejo. Isso sou capaz de fazer, mas não sou capaz de fazer muitas coisas.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

João: Ouvir falar já ouvi…

Isabel: Pois, mas não estou assim muito por dentro…

P17. Que vantagens associa à TV digital?

João: São uns ladrões (risos) porque eu tinha um aparelho que via a SportTV e eles vieram tirá-lo. Quando nós não tínhamos televisão digital comprámos um aparelho – havia quem vendesse - que era ligado à televisão, e a gente via a SportTV.

Isabel: Oh João, mas isso era pirata… Estavas sempre aflito. Ele até a utilizava e, às vezes, ficava com medo.

João: Depois veio a digital e o aparelho deixou de ter funcionalidade. Mas isto é um “entre-aspas”. Ouço dizer que a TV digital é muito melhor. Agora ainda vai aparecer

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outra, não é? Eu, como não estou muito virado a aderir a estas transformações, ou porque nos telefonam ou porque temos lido que vai haver uma nova tecnologia, às vezes não aprofundo e não sou capaz de, como agora sugere, explicar o que é.

Onde é que ouviram falar na TV digital?

João: Outro dia foi através da oferta de um novo serviço, prestado pela Cabovisão, outras vezes é por outras empresas, que telefonam a perguntar se já temos os serviços ou se estamos satisfeitos com o trabalho que nos é fornecido, a dizer que têm agora um pacote “tal”. E depois, numa altura qualquer, foi-nos dito que este sistema que temos é uma coisa efémera e relativamente perto vai acabar.

P20. Porque razão têm TV digital?

João: Foi mais por causa do telefone. Vinha tudo junto.

Isabel: Para mim teve mais influência a cor. Gostei da imagem. E como o pacote foi bom…

Quando é que aderiram a este pacote de TV digital?

João: A semana passada. Porque acabou o outro pacote que tínhamos.

Isabel: E isto traz coisas que ainda não aprendi, mas sei que tem, que é gravar um programa enquanto estamos a ver outro. Mas ainda não aprendi, ainda não tive tempo.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Sim.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Já falaram sobre isso, mas não liguei assim muita importância.

P25. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Isabel: Eu acho que enquanto tivermos capacidade para ver e compreender, vamos ver televisão. Se estivermos doentes não apetece porque cansa. Mas se calhar vamos ver menos.

João: Eu, se calhar, é o contrário. Começo a ter dificuldades em mexer no computador e deixa-me adormecer a olhar para a televisão (risos). Digo eu, mas isso é no caso de perder a mobilidade, etc.

Isabel: É a presença. Eu não gosto muito de estar só.

P26. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

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Isabel: Da maneira como as coisas estão a avançar, hoje é de uma maneira, amanhã é de outra… É rápido. Isso aí faz-me pensar.

João: É imprevisível dizer o que é amanhã, quanto mais daqui a anos… É uma coisa impressionante o que o telemóvel hoje faz. É imparável de tal forma que suponho que um dia isto ainda vai ser destruído porque infelizmente está na mão do Homem e na capacidade dele poder destruir ou destruir-se.

Isabel: Eu acho que o futuro passa mais pelo telemóvel completo do que propriamente pela televisão. Desde que me conheço, até aos dias de hoje, a evolução é impensável. Nunca me tinha passado pela cabeça as coisas que foram vindo.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade Isabel: 73 anos. João: 77 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Valado dos Frades, Nazaré, Leiria. P38. Ocupação e Profissão Ambos reformados, mas Isabel ainda trabalha numa retrosaria. P39. Habilitações académicas Ambos possuem a 4ª classe. P40. Nível de rendimento da família (Se tivesse de se enquadra num escalão de rendimento com 3 níveis: baixo, médio, alto. Em qual se enquadraria?) P41. Nº de pessoas no agregado familiar 2 pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. João usa desde 2009. Isabel só usa quando o marido a chama para ver alguma coisa. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. João utiliza a Internet diariamente. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Duas televisões e rádios.

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Relatório da visita a casa da família 5 (“Santos”)

19 de Outubro de 2010

Alenquer

Catarina: 73 anos, reformada.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Santos”, residente em Alenquer, no dia 19

de Outubro de 2010.

A família “Santos” é composta por apenas um elemento: Catarina, de 73 anos,

reformada desde os 35. A entrevista teve início pelas 15h00 e durou cerca de 90

minutos. Catarina mostra o quarto onde vê televisão. Em cima da cómoda tem dois

televisores, um em cima do outro, mas apenas um funciona. «Esta televisão quando

veio para cá já não trabalhava. Trouxe-a para pôr a outra em cima dela, porque senão

ficava muito baixa», explica. É deitada na cama que vê mais televisão. Quando não sai

de casa, vê televisão quase todo o dia. «Levanto-me às 07h00 e ligo a televisão só para

ver o tempo que vai fazer. Depois fico a ver as notícias e só depois é que costumo

mudar de canais à procura daquilo que mais gosto», descreve Catarina, acrescentando

que vê sempre, pelo menos, cinco, seis horas de televisão por dia. «Passo muito tempo

sozinha», refere, quando lhe pedem para descrever um dia

Figura 1 – Catarina, reformada de 73 anos, usa um televisor antigo, que já não funciona, como base para outro, de modo a que este ultimo fique mais alto

52

normal de semana. Quanto aos fins-de-semana, Catarina pede que nem falemos neles,

pois a programação na TV não é tão boa, e sente-se mais a solidão. «Ai não me fale no

fim-de-semana, que são os dias piores para mim». Catarina está completamente

isolada da família. Enquanto descreve quem está nas várias fotografias espalhadas pela

sala, explica que os familiares a foram abandonando aos poucos. Um dos seus filhos

faleceu jovem e os outros não lhe falam. Catarina nem sequer sabe onde eles vivem.

De vez em quando, para se distrair, ainda vai ao baile, mas não como antigamente. Em

casa, já lá vai o tempo em que se entretinha a fazer bordados. Por isso, o seu principal

passatempo é a televisão. É esta que lhe proporciona, muitas vezes, a sensação de

estar acompanhada. «Gosto de ver o Quem quer ser Milionário, porque às vezes até

acerto em certas perguntas que o Malato faz. Participo sozinha aqui comigo. Eu digo

assim: “É tal”, e às vezes bate certo (…) Não perco dia nenhum esse concurso, porque

acho graça. E eu também estou aqui sozinha e, parecendo que não, vou participando

também cá para comigo». Catarina não gosta da TVI, porque o canal exibe demasiadas

telenovelas. Apesar de gostar de alguns programas deste género, Catarina prefere os

programas que apelam à sua participação. «Gosto de ver a Conceição Lino e o

programa das manhãs, na SIC. Gosto de ver e, muitas vezes, ainda ligo para lá e

inscrevo-me para ver se me sai alguma coisa para eu poder sair daqui para fora»,

conta, acrescentando que o programa Preço Certo de Fernando Mendes, também a

diverte muito. Catarina vê televisão através do sinal analógico terrestre. Para além da

habitual “chuvinha” na RTP, Catarina queixa-se das interferências na televisão quando

Figura 2 – Catarina passa pelo menos cinco horas do seu dia deitada, em frente à televisão

53

os vizinhos estão em casa. Já chegou a ter TV Cabo e adorava ver os programas do

“National Geographic”, o canal Panda e os filmes antigos. Na verdade, Catarina não

perde a esperança de voltar a ter mais do que quatro canais. «Eu gostava de ter aquela

coisa do Meo. Mesmo que não tivesse muitos canais, tinha sempre coisas para ver. Eu

gosto muito de ver o “National Geographic”, que é dos animais», revela. Catarina

nunca usou teletexto, não sabe em que é que consiste o serviço e julga nem sequer o

ter. «Eu às vezes vejo no primeiro canal… Mas eu não chego a compreender o que é

essa coisa do teletexto», diz, acrescentando que a televisão que possui já foi comprada

há 20 anos e não tem «nada dessas coisas». Na verdade, Catarina até gostaria muito

de comprar um televisor novo.

No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV Digital,

Catarina prontamente assegurou que nunca ouviu sequer falar no tema. Justificando a

razão de não ter mais do que quatro canais, Catarina explicou que «é muito dinheiro e

a sua reforma muito pequena». Questionada sobre se sabia que o sinal analógico de

TV, com os 4 canais de TV gratuitos, será desligado, Catarina demonstrou não estar a

par da situação. Na verdade, Catarina pensou que o processo de que lhe estavam a

falar tinha a ver com o desaparecimento das «antenas exteriores». Depois de lhe ter

sido brevemente explicado o processo de “switch-off”, a idosa questionou: «porque é

que eu ainda não ouvi falar nisso na televisão?». Catarina não fazia ideia da data-limite

para o “switch-off”, mas depois de ser esclarecida, sugeriu que esta será uma transição

«para melhor». Ainda assim, considerou que esta é uma mudança «para quem pode».

Questionada sobre o valor que estaria disposta a pagar para continuar a ter TV em

casa, Catarina respondeu que não poderia ser «algo muito elevado». Mais do que uma

vez, a idosa reforçou a ideia: «Mas eu vou ficar mesmo sem televisão? Oh meu Deus…

Isto é a minha companhia!». Depois de lhe terem sido revelados os procedimentos a

ter para continuar a ter televisão e os valores envolvidos na compra de um

descodificador, Catarina assumiu que 50 euros até seria um valor razoável. «Dava para

comprar, pelo menos agora na altura do Natal ou isso». Ainda assim, as dúvidas

continuavam a ser muitas. «Quer dizer, esta televisão deixa de trabalhar

completamente?»; «Então, mas afinal, esses da televisão digital quantos canais é que

54

vão pôr na televisão?»; «Então e depois o aparelho pode ser assim pequeno como isto

(mostra um pequeno objecto que tem em cima da mesa) ou tem que ser um maior?».

No final, Catarina acabou por concluir que não vai deitar fora a antena que capta o

sinal analógico terrestre.

«Catarina: Aquela antena já não vai ser precisa?

Não, já não vai precisar dela.

Catarina: Ah, mas não a vou deitar fora.

Porquê?

Catarina: E porque é que eu vou deitar fora uma coisa ainda boa?

Mas já não lhe vai servir…

Catarina: Então, fica para recordação (risos)»

Apesar de, no momento da entrevista, não lhe surgirem ideias sobre o que gostaria de

ver ou aceder na televisão, Catarina mostrou-se receptiva em relação a serviços como

o da gravação de programas ou a serviços de informação útil sobre saúde, por

exemplo. Se a televisão digital lhe trouxesse mais um canal gratuito Catarina «gostava

pois sempre era mais um que ela via». Por outro lado, o possível surgimento de um

canal de televisão local não despertou muito o interesse de Catarina. Concluindo,

Catarina projectou-se a ver ainda mais televisão no futuro, uma vez que a televisão

digital traz a promessa de eliminar as interferências que, muitas vezes, a mal dispõem.

Figura 3 – Catarina possui uma antena, que lhe permite receber apenas os quarto canais gratuitos

55

«Se for assim acho que vou ver mais televisão, porque assim já não há interferências»,

remata.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

Catarina: Agora vou pôr no 3, que é o canal que eu mais vejo. A Conceição Lino gosto de ver. Há programas da SIC que eu gosto muito de ver. Mas também há outros. Gosto de ver o canal 1, com o Fernando Mendes, gosto de ver o Quem quer ser milionário?, porque às vezes até acerto em certas perguntas que o Malato faz. Participo sozinha aqui comigo. Eu digo assim: “É tal”, e às vezes bate certo. Assim como ontem, estava lá um rapaz, e o Malato fez-lhe uma pergunta com quatro números e eu acertei e ele não. São coisas que acontecem.

Um dia tem que lá ir então…

Catarina: Ai não vou. O que é que eu vou lá fazer? Para depois fazer figura de parva?

(…)

Catarina: Eu distraio-me muito com a televisão. E quando dá coisas boas eu até gosto de ver e é a minha distracção. A TVI é que eu não gosto tanto. É muita, muita, muita telenovela portuguesa.

(…)

A propósito da televisão antiga, que já não funciona.

Catarina: Trouxe-a para pôr aquela em cima, porque aquela em cima da cómoda fica muito baixa.

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Catarina: Tenho vários. Por exemplo, a telenovela portuguesa, na SIC. Como é que ela se chama? Laços de Sangue. Gosto de ver a Conceição Lino, o programa das manhãs, também na SIC. Gosto de ver e, muitas vezes, ainda ligo para lá e inscrevo-me para ver se me sai alguma coisa para eu poder sair daqui para fora.

Então quando está a ver televisão gosta também de participar?

Catarina: Gosto, gosto.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Catarina: Olhe, detesto essa telenovela dos vampiros. Assim que eu vejo que vai dar essa novela, que é a não sei quê vermelha (Lua Vermelha), eu mudo logo de canal. Que é na altura em que está a dar o Malato. Não perco dia nenhum esse concurso, porque

56

acho graça. E eu também estou aqui sozinha e, parecendo que não, vou participando também cá para comigo.

Sente que é um pouco uma companhia?

Catarina: É. Eu até digo assim: “Se eu ali estivesse sabia a resposta” (risos). Era dinheiro que vinha. Porque é assim, eu também só tenho quatro canais. Vejo também muito a TV2. Também dá filmes bons e eu também gosto de ver filmes. Filmes estrangeiros. Está a dar o filme e eu até posso tirar o som e vou vendo pelas legendas. Porque não interessa nada eu estar com o som alto porque eu não percebo a língua. Pelas legendas vou lendo e vou sabendo mais ou menos o rumo do filme.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Catarina: Eu como não posso fazer assim muitos trabalhos pesados por causa da coluna, vou arrumando a casa e fazendo aquilo que posso. Como estou sozinha e os meus filhos não me visitam…

Tem que os visitar a eles…

Catarina: Eu não sei onde é que eles moram… Vou estando aqui deitada… Às vezes para me distrair saio um bocadinho…

(…)

Catarina: Os meus tempos livres são mais eu ir ao baile… Antigamente ia mais. Aqui há um mês atrás estive muito doente.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Catarina: Passo muito tempo sozinha.

Costuma entreter-se a fazer bordados e esse tipo de trabalhos?

Catarina: Cheguei a fazer muitos, mas no dia em que fiquei com uma paralisia neste braço deixei de fazer. Fazia renda, ponto cruz… Antigamente fazia muita renda.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Catarina: Se estiver em casa, vejo cinco/seis horas de televisão por dia. Levanto-me às 07h00 e ligo a televisão só para ver o tempo que vai fazer. Depois fico a ver as notícias e só depois é que costumo mudar de canais à procura daquilo que eu mais gosto.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Catarina: Ai não me fale no fim-de-semana, que são os dias piores para mim.

Vê mais televisão nesses dias?

Catarina: Não porque o fim-de-semana não têm assim grandes coisas de programas.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões?

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Catarina: Uma, no quarto. A outra que está no quarto não trabalha. Quando veio para cá já não trabalhava.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Catarina: Ui, há tanto ano. Já para aí há uns vinte e tal anos. Se não for mais…

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Catarina: Ai eu gostava, mas… Então, tenho que ter aquela. Tenho umas interferências, mas não é da televisão. Esta antena é uma antena boa. São os vizinhos que fazem interferências de propósito. Quando eles não estão em casa ela trabalha sempre bem. Só a RTP1 é que tem aquela chuvinha.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Catarina: Eu às vezes vejo no primeiro canal… Mas eu não chego a compreender o que é essa coisa do teletexto.

É um serviço de informação prática, que tem informação sobre os horários dos programas, os números do Euromilhões, resultados desportivos…

Catarina: Ah, mas eu não tenho isso. Eu gostava de ter aquela coisa do Meo. Mesmo que não tivesse muitos canais, tinha sempre coisas para ver. Eu gosto muito de ver o “National Geographic”, que é dos animais. Eu cheguei a ter cá a TV Cabo, mas depois tirei quando saí desta casa.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Catarina: Não. P19. (família) Que tipo de TV tem em casa? Os quatro canais (Televisão Analógica Terrestre). P20. Porque razão não tem TV digital?

Catarina: É muito dinheiro e a minha reforma é muito pequena.

P23. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Catarina: Isso é a antena exterior. Não é?

(É brevemente explicado o porquê do sinal analógico ser desligado e as vantagens que poderão estar associadas ao processo)

Catarina: Então é mudar para melhor não é? Mas isso é para quem pode…

P24. Quando é essa data-limite: tem ideia?

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Catarina: Não. Porque é que eu ainda não ouvi falar nisso na televisão?

Estaria disposta a pagar algo para continuar a ter TV em casa?

Catarina: Se esse algo não fosse muito elevado… Mas se por acaso vier isso eu vou ficar mesmo sem televisão?

Sim.

Catarina: Oh meu Deus… Isto é a minha companhia!

(São revelados os valores de alguns descodificadores)

Acha que 50 euros é uma quantia razoável? Podia pagar?

Catarina: Dava para comprar, pelo menos agora na altura do Natal ou isso. Quer dizer, esta televisão deixa de trabalhar completamente?

(É explicado mais pormenorizadamente o processo de “switch-off”)

Catarina: Então, mas afinal, esses da televisão digital quantos canais é que vão pôr na televisão?

Vai continuar a ter apenas os quatro canais.

Se esta mudança da televisão lhe trouxesse mais um canal gratuito, gostava?

Catarina: Ai eu gostava! Sempre era mais um que eu via.

O que é que gostava de ver nesse canal?

Catarina: Várias coisas… Eu quando tive a TV Cabo tinha mais de 20 canais e tinha a “National Geographic”, que eu gostava muito de ver, tinha o Panda, tinha filmes antigos.

Lembra-se de ver o canal RTP Memória?

Catarina: Aquele do 1º canal? Ah sim, cheguei a ver. Tinha coisas que já passaram. Era bom.

Gostava de ter um canal sobre Alenquer?

Catarina: Não. Para ver todos os dias?

Um canal sobre Alenquer e arredores…

Catarina: Ah… Havia de haver coisas. Agora estou-me a lembrar que havia de haver coisas.

P28. A quem se vai dirigir de forma a obter apoio ou ajuda para continuar a ter os 4 canais gratuitos TV em casa?

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Catarina: Eu sou uma pessoa muito metida comigo. Se precisar de ir pedir ajuda não vou. Só quem podia dar-me informação a esse respeito era a assistente social. Se por acaso me puserem outra televisão, a pessoa que me vier cá pôr outra tem que me explicar mais ou menos como é que aquilo funciona.

Catarina: Então e depois o aparelho pode ser assim pequeno como isto (mostra um objecto que tem em cima da mesa) ou tem que ser um maior?

O tamanho em princípio não está relacionado com a qualidade do aparelho, mas nós vamos deixar-lhe uma reportagem da associação DECO com algumas informações sobre os descodificadores e todo o processo de transição para o digital.

Catarina: Aquela antena já não vai ser precisa?

Não, já não vai precisar dela.

Catarina: Ah, mas não a vou deitar fora.

Porquê?

Catarina: E porque é que eu vou deitar fora uma coisa ainda boa?

Mas já não lhe vai servir…

Catarina: Então, fica para recordação (risos).

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Catarina: Agora de momento não me recordo de nada.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Catarina: Se for assim acho que vou ver mais, porque assim já não há interferências e uma pessoa pode escolher o canal que quiser ver.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Catarina: Vai ser diferente. Se vai ser digital… Acho que vai ser diferente.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade 73 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Paredes, Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Reformada (desde os 35 anos) Trabalhava numa fábrica de lanifícios. P39. Habilitações académicas 4ª classe. P41. Nº de pessoas no agregado familiar

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Uma pessoa. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Usa. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usa. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usa. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Rádio.

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Relatório da visita a casa da família 6 (“Alves”)

21 de Outubro de 2010

Nazaré

Marília (mãe): 43 anos, doméstica.

Vasco (pai): 51 anos, funcionário público.

Luísa (filha): 32 anos, doméstica.

João (filho): 25 anos (ausente na entrevista).

Carla (filha): 23 anos, doméstica.

Mário (filho): 15 anos, estudante.

Raquel (filha): 13 anos, estudante.

Joana (neta): 9 anos, estudante.

Sofia (filha): 8 anos, estudante.

Miguel (neto): 1 ano.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Alves”, da Nazaré, no dia 21 de Outubro de

2010.

O agregado familiar dos “Alves” é composto por dez pessoas: os pais (Vasco e Marília),

os filhos (Luísa, Carla, João, Mário, Raquel e Sofia), e os netos (Joana e Miguel). A visita

teve início pelas 18h00 e durou cerca de 1 hora e 15 minutos.

Residente no centro da Pederneira, a família “Alves” reúne-se ao fim da tarde, quando

a casa parece tornar-se pequena para tanta gente. No sofá da sala cabem três pessoas

Figura 1 – Os “Alves” são uma família numerosa e normalmente distribuem-se pela casa para ver TV, pois todos os quartos têm televisor

62

e quem chegar primeiro consegue um lugar. Normalmente a família dispersa-se pelos

quartos, todos com televisão. Vasco, de 51 anos, tem por hábito ir para o seu quarto

quando chega do trabalho e por ali ficar durante algum tempo, entretido com a sopa

de letras e, em segundo plano, a televisão. «Quando despego do trabalho, lavo os

presuntinhos e ponho-me em cima da cama a fazer sopa de letras. Algumas vezes

mudo de canal, mas estou com mais atenção à sopa do que à televisão». Nas três a

quatro horas diárias que assiste de televisão, a maior parte das vezes Vasco segue o

canal RTP Memória, e afirma ser capaz de ver vezes sem conta filmes antigos como os

protagonizados por “Joselito”. «O canal que eu vejo mais é o 7, que dá aqueles filmes

já antigos. São filmes que eu sempre gostei de ver». Por sua vez, os irmãos Mário e

Raquel entretêm-se no computador a falar com os amigos através do MSN Messenger.

Raquel brinca com o irmão incitando-o a meter conversa com raparigas e implica com

a sua forma de escrever no “chat”. «Põe música», diz a jovem, decidindo depois ligar

ela própria a aparelhagem. O quarto do irmão mais velho, de 25 anos, é o local

predilecto de Mário e Raquel, de 15 e 13 anos, para passarem o tempo, visto ser o

único equipado com computador, telefone, aparelhagem, televisão e leitor de DVD.

«Tem televisão, rádio, o aparelho da Cabovisão, telefone, computador, impressora… E

falta a Playstation 3, que está no arranjo», enumera Mário com a ajuda dos dedos.

Depois de pôr a conversa em dia com os amigos no MSN, o jovem começa a jogar no

computador e a irmã segue-o, lançando algumas observações: «És a polícia. O carro é

Figura 2 – Os irmãos Mário e Raquel, de 15 e 13 anos entretêm-se a usar o computador, a Playstation e a aparelhagem no quarto do irmão mais velho, de 25 anos

63

teu?». «Tenho que apanhar este ladrão», responde Mário. Joana e Sofia, mais novas,

juntam-se ao grupo e também comentam o jogo de Mário. «Tu não dás o salto como

deve ser», diz Joana, de 9 anos. «Vou sempre contra a parede», lamenta Mário. Apesar

de hoje estar ao pé do irmão a vê-lo jogar, Raquel passa a maior parte do seu tempo

livre ao telemóvel. «Agarra-se ao telemóvel ali na garagem e anda ali a falar horas e

horas sem passar cartão ao parceiro!», diz o pai. Mesmo que quisesse explorar mais o

computador, Raquel tem de dar sempre prioridade aos irmãos mais velhos e só

quando estes não estão no computador é que esta pode usá-lo.

É quase hora do jantar e Marília tem tudo organizado, o que lhe permite ver a novela

das 18h00, que normalmente não perde. «A televisão é uma coisa boa. A esta hora

estou a ver a novela e a partir das 21h00 a televisão está ligada até à meia-noite»,

explica a nazarena de 43 anos. Tal como a filha Carla, de 23 anos, Marília é dona de

casa. As duas são as maiores consumidoras de televisão da família. «Eu estou sempre a

ver televisão. É só aquele intervalo de cuidar do meu filho, dar-lhe banho e de comer,

fazer as camas… Sento-me no sofá e…televisão!», diz Carla, acrescentando que, a

partir das 19h00, vê a TVI até adormecer. «Sim, eu também. Nós duas trabalhamos

aqui em casa. Quando está tudo feito vemos televisão, quando eles estão na escola.

Mas quando vêm todos para casa não há nada para ninguém! (risos)», confirma

Marília. Quanto a preferências, Carla sublinha que não gosta dos programas que os

canais generalistas passam durante a tarde. «O resto vimos tudo», completa a mãe. Já

Figura 3 – O quarto do irmão mais velho, de 25 anos, é o único que tem box, sendo o próprio que financia o aluguer do aparelho

64

os mais novos rejeitam os programas de informação. Mesmo com os apelos do pai («O

jornal é o melhor! O que se deve ver não vêem»), Mário diz não gostar «do jornal», tal

como as suas irmãs, Raquel e Carla. O programa preferido do jovem de 15 anos é

“Sobrevivência”, que passa no Discovery Channel. «Eu saio às 16h40 da escola e vou

para a televisão. Depois vejo os “Morangos” e vejo o homem (“Sobrevivência”)».

Mário e Raquel vêem mais televisão ao fim-de-semana. Marília explica que os filhos

passam esses dias em frente ao ecrã. «Ao sábado e ao domingo é de manhã até à noite

(…) Estão sempre a ver! Eles só têm um intervalo para irem buscar comida e comem

aqui no sofá». A filha Luísa, de 32 anos, chega a casa depois da entrevista ter

começado. Na sua primeira intervenção aproveita para criticar o tempo que a

publicidade ocupa na emissão, recebendo o apoio de toda a família neste tema. «É

muito tempo. Às vezes uma pessoa não vê um programa até ao fim por causa da

publicidade porque é muito tempo. É quase meia hora». Luísa afirma ver duas a três

horas de televisão por dia porque tem outros passatempos. «Vejo pouco. O que me

interessa eu vejo (…) Mas sou um bocadinho viciada (risos), estou sempre na

Playstation a jogar… Quando tenho vagar, depois de arrumar a casa, ponho-me a jogar

Playstation e vou para o computador. Vou para a internet explorar… Músicas,

documentários… O que me interessa eu exploro». No entanto, Luísa explica que usa

mais a televisão do que o computador. «Às vezes, quando não ponho a aparelhagem a

tocar, ligo a televisão e estou a ouvir».

A família Alves tem quatro televisões e é cliente da Cabovisão. Questionados sobre a

utilização do teletexto, explicam que usam o serviço para ver os números do

Figura 4 – A família “Alves” possui um serviço de TV por cabo e não sabia que o sinal analógico de TV ia ser desligado

65

Euromilhões. Mário e Vasco afirmam que «para quem sabe ler» o teletexto é simples

de usar. «Sim. Chegamos aqui, ligamos o botãozinho e vamos ver os números», diz

Vasco.

No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital,

nenhum membro da família "Alves" conhecia as vantagens ou desvantagens deste tipo

de transmissão. Questionados sobre se já tinham ouvido falar na TV digital (P16.), Luísa

respondeu que «já todos ouviram falar», mas posteriormente compreendeu-se que

apenas Luísa estava familiarizada com o termo e mesmo esta demonstrou depois não

saber defini-lo. «Afinal fui só eu, que ouvi no telejornal. Que era digital. Agora já não

há comandos, já não há nada. É tudo pelo ecrã, muito fininho. Deu no telejornal». Em

relação às vantagens da TV digital, Luísa disse: «Sei lá… Aquilo dá para mandar

fotografias de uma televisão para a outra e dá para mandar e-mails… É como se a

televisão fosse um computador». Quanto às desvantagens, Luísa sugeriu: «Eu acho que

se aquilo avariar não há arranjo possível (risos). Depois a pessoa vai ter interesse

naquilo e vai estar sempre a mexer».

Questionados sobre se sabiam que o sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV

gratuitos, irá ser desligado (P21.), os “Alves” afirmaram desconhecer o processo e a

data-limite da sua realização. Depois de ter sido explicado o “switch-off” e os custos

envolvidos para quem não tem televisão paga, Marília considerou que «é dinheiro mal

empregado».

No que respeita às perspectivas sobre o futuro da televisão, os “Alves” demonstraram

vontade de ver alguma novidade nos conteúdos televisivos e, por outro lado, de rever

alguns programas antigos. «Eu gostava de ver programas novos. São sempre os

mesmos. A SIC e a TVI dão os mesmos programas durante anos», diz Luísa. «Eu gostava

de ver o Big Show SIC outra vez», opina Carla. Já Mário interessa-se por mais

programas de pára-quedismo. O jovem acha que se o programa do Discovery, O

Sobrevivente continuar a passar, continuará a ver televisão daqui a cinco anos. Vasco

considera que verá o mesmo tempo de televisão nos próximos tempos e Marília pensa

que, à medida que vai envelhecendo, vê mais televisão.

Por fim, a família “Alves” olha optimista para o futuro da televisão (P33). «Eu acho que

vai ser mais fininha. Se eles já fazem plasmas, estou convencido de que a televisão vai

66

ser ainda mais leve», afirma Vasco. «Eu acho que vai ser melhor. Cada vez vão

melhorando a imagem e os programas», defende Luísa. O patriarca deixa apenas uma

certeza: «Quando essas coisas vêm cá para Portugal, já estão há 10 ou 20 anos no

estrangeiro».

Transcrição da entrevista semi-estruturada (Em conversa, na fase de observação, antes da entrevista semi-estruturada)

Vasco: Este costuma ir para o computador e andar a brincar à bola no quintal. Eu quando despego do trabalho, lavo os presuntinhos, ponho-me em cima da cama a fazer sopa de letras. Algumas vezes mudo de canal, mas estou mais com atenção à sopa do que à televisão. Elas é que estão a ver as novelas.

A novela faz parte do dia-a-dia…

Marília: Sim. É uns bocadinhos que a gente tenha.

Vasco: Elas é que vêem mais. Mas eu, por exemplo, saio às 17h30 do trabalho, às vezes vou a um recado primeiro, trago as coisas para casa e fico ali entretido. O canal que eu vejo mais é o 7, o canal Memória, que dá aqueles filmes já antigos. Já tem dado o Joselito, que é aquele filme antigo, e por aí fora. São filmes que eu sempre gostei de ver. Elas é que vêem mais as novelas.

Marília: E são as crianças com os bonecos. Entretêm-se com os bonecos.

(…)

Marília: A televisão é uma coisa boa. A esta hora (18h00) estou a ver a novela e depois a partir das 21h00 a televisão está ligada até à meia-noite.

Mário: Eu vejo o Discovery. Canal 36.

O que gostas de ver nesse canal?

Mário: “Sobrevivência”.

Vasco: Ele gosta muito de ver isso!

Marília: Entretêm-se muito com a televisão.

P1. Quais os programas favoritos?

Mário: Vejo o Discovery e a TVI.

O que é que vês na TVI?

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Mário: Os “Morangos”.

Raquel: O canal que eu gosto é a TVI. É os “Morangos”…

Mário: É a TVI, agarra-se ao telemóvel ali na garagem e anda ali a falar horas e horas sem passar cartão ao parceiro!

Vasco: Eu vejo o canal 7 e, às vezes, o 3 ou o 4, para ver um filmezinho.

Joana: O Panda e a TVI. Na TVI vejo as novelas.

Carla: Eu vejo principalmente a novela da SIC, à hora do almoço e a TVI, que começa das 19h00 da noite, até eu adormecer.

Então as novelas todas da TVI?

Carla: O que eu puder ver eu vejo.

Marília: Também eu.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Mário: Do jornal (risos).

Carla: Já somos dois!

Vasco: O jornal é o melhor! O que se deve ver não vêem. É ao contrário.

Raquel: Não gosto do jornal.

Marília: Eu gosto de ver quase tudo. O jornal também gosto de ouvir.

Luísa: Não gosto de ver a publicidade.

Carla: Eu não gosto de ver aqueles programas que dão à tarde, da Fátima Lopes, etc. Eu não engraço muito com isso.

Marília: O resto vimos tudo.

Luísa: Não gosto da Júlia Pinheiro nem da publicidade. A publicidade é que é um bocado exagerada.

Vasco: É muito tempo!

Luísa: É muito tempo. Às vezes uma pessoa não vê um programa até ao fim por causa da publicidade porque é muito tempo. É quase meia hora.

Vasco: Mas se formos a ver, quem paga o coiso é a publicidade.

Acham que seria melhor fazerem mais intervalos, mas mais curtos?

Família: Sim!

Marília: Até me dá o sono.

68

Luísa: Como o AXN. Passa dois minutos de intervalo e começa logo.

Carla: Cada intervalo vai a 15 e 20 minutos.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Mário: Eu saio às 16h40 da escola e vou para a televisão. Depois vejo os “Morangos” e depois vejo o homem (Programa “Sobrevivência”, do Discovery Channel)

Raquel: É como eu.

Vasco: Eu quando chego a casa fico entretido com a sopa de letras (risos). De vez em quando, lá estico o pescoço para o lado para ver qualquer coisa na TV. E depois é o trabalho. Às vezes estou aqui e chamam-me. Já tem acontecido, à 01h00 da manhã, chamarem-me. E quando há chuva temos que estar de prevenção.

Marília: E come umas bolachinhas! (risos)

Usa o computador?

Vasco: Não. Não sei mexer naquilo e nunca usei. Os meus filhos já me têm dito para usar, mas eu não quero.

P8. Quantas horas de televisão vêem por dia (em média)?

Marília: Estão sempre a ver! Eles só têm um intervalo para irem buscar comida e comem aqui no sofá.

Raquel: Eu vejo poucas horas. Não chega a quatro horas. Estou mais ao telemóvel.

Carla: Eu estou sempre a ver televisão. É só aquele intervalo de cuidar do meu filho, dar-lhe banho e de comer, fazer as camas… Sento-me no sofá e televisão.

Marília: Sim, eu também. Nós duas trabalhamos aqui em casa. Quando está tudo feito vemos televisão. Quando eles não estão na escola, mas quando vêm todos para casa não há nada para ninguém! (risos)

Luísa: Eu vejo pouco. O que me interessa eu vejo. Vejo duas a três horas por dia. Mas eu também sou um bocadinho viciada (risos), estou sempre na Playstation a jogar… Quando tenho vagar, depois de arrumar a casa, ponho-me a jogar Playstation e vou para o computador. Vou para a internet explorar… Músicas, Documentários… O que me interessa eu exploro aquilo.

Usa mais o computador do que a televisão?

Luísa: Não. Uso mais a televisão. Às vezes, quando não ponho a aparelhagem a tocar, ligo a televisão e estou a ouvir.

P9. Vêem mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Mário: Mais.

69

Marília: Ao sábado e ao domingo é de manhã até à noite.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Carla: É sempre aos pares. Aos dois, quatro… Quem chegar primeiro é que fica com a televisão. O resto quer, vê.

P11. Onde vê mais televisão?

Mário: Na sala.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Marília: Temos quatro televisões. Cada um tem uma televisão no seu quarto.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Vasco: Foi o plasma. Ainda não tem um ano. Vai fazer agora um ano.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Mário: Eu uso às vezes para ver o Euromilhões para ele (aponta para o pai).

Vasco: Eu às vezes peço-lhes e outras vezes também vou ver, para ver os números.

São uma grande família…

Vasco: E ainda somos mais. Um saiu agora, foi ter com a rapariga. O outro está nos bombeiros, a trabalhar. Esta menina é sobrinha e costuma vir aqui fazer as coisas da escola. Esta é neta.

É só para isso que utilizam o teletexto?

Vasco: Sim.

E têm facilidade em usar?

Vasco: Sim. Chegamos aqui, ligamos o botãozinho e vamos ver os números.

Mário: Quem sabe ler.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Luísa: Todos ouviram… (ri-se e olha para a família).

Carla: Eu nunca ouvi…

Raquel: Eu também não.

Luísa: Mas deu aqui há dias no telejornal (diz para a irmã).

Carla: Não. Eu não vejo o telejornal.

70

Quem é que já ouviu falar?

Luísa: Fui só eu, que ouvi no telejornal. Que era digital. Agora já não há comandos, já não há nada. É tudo pelo ecrã, muito fininho. Deu no telejornal.

P17. Que vantagens associa à TV digital?

Luísa: Sei lá… Aquilo dá para mandar fotografias de uma televisão para a outra e dá para mandar e-mails… É como se a televisão fosse um computador.

P18. Que desvantagens associa à TV digital?

Luísa: Eu acho que se aquilo avariar não há arranjo possível (risos). Depois a pessoa vai ter interesse naquilo vai estar sempre a mexer.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa? (confirmar com observação de equipamento e com pergunta relativa à subscrição de TV paga? Em caso de terem TV paga, perguntar qual a empresa?)

Vasco: Temos Cabovisão. É só até aos 45 canais. No quarto do meu filho é que temos um aparelho que já dá até aos cento e tal canais.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Vasco: Não.

Carla: Eu por acaso nem ouvi.

Luísa: Eu também não.

Nem fazem ideia de quando é que vai ser esse desligamento do sinal?

Vasco: Não, não.

(É explicado mais pormenorizadamente o processo de “switch-off” e os custos envolvidos para quem não tem televisão paga)

O que acham disto?

Marília: Eu acho que é dinheiro mal empregado.

Se tivessem que fazer a transição para o digital nalguma televisão fariam ou passariam bem sem isso?

Vasco: Se for só numa não sei… Nós temos uma no quarto, outra aqui na sala e outra acolá, não é? Mas não sei.

Mas iriam ficar com uma televisão inutilizada?

Vasco: Eu acho que, em princípio, não. Estamos habituados a ter televisão no quarto. Não há hipótese… Estamos habituados.

71

P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Vasco: Em princípio, quem faz essas coisas aqui é o meu filho mais velho, que está mais ou menos metido no assunto. Ele é que faz isso.

E fora da família, costumam recorrer a alguém?

Vasco: Não. O meu filho João é que faz isso.

Marília: Ele é que está sempre com engenhocas, com as televisões e com os computadores.

P25. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Vasco: Se calhar vou ver menos. Com a idade que já tenho, já vou para os cinquenta e tais… (risos). Mas deve ser a mesma coisa. Gosto de ver aqueles canais e enquanto houver livros de sopa de letras, eu vou andando.

Mário: Não sei… Se aquele programa (“Sobrevivência”) continuar a dar…

Carla: Eu é menos. Com o terror de filho que eu tenho (risos), daqui a cinco anos já está na escola, ando sempre pela escola.

Luísa: Eu acho que é igual. Então, uma pessoa senta-se no sofá com uma mantinha e vê televisão…

Marília: Então, eu vou para velha, vejo mais a televisão.

O que é que gostaria de ver na televisão no futuro?

Luísa: Eu gostava de ver programas novos. São sempre os mesmos. A SIC e a TVI dão os mesmos programas durante anos.

Carla: Eu gostava de ver o Big Show SIC outra vez.

Vasco: Se você for a ver, de manhã à noite, a televisão só dá novelas.

Mário: Eu gostava de ver mais programas de pára-quedismo.

Se a TV Digital trouxesse novos serviços, como poderem ver qual a farmácia de serviço na televisão, procurar emprego, pausar um programa, isso seria interessante para vocês?

Vasco: Eu já não ligo tanto, mas para a malta nova, em princípio, era bom.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Vasco: Eu acho que vai ser mais fininha. Se eles já fazem plasmas, estou convencido que a televisão vai ser ainda mais leve.

Carla: É capaz. Porque a televisão com aquelas traseiras grandes já não há.

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Luísa: Eu acho que vai ser melhor. Cada vez vão melhorando a imagem e vão melhorando os programas.

Vasco: Mas há uma coisa: quando essas coisas vêm cá para Portugal já estão há 10 ou 20 anos no estrangeiro.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade Marília: 43 anos. Vasco: 51 anos. Luísa: 32 anos. João: 25 anos (ausente na entrevista) Carla: 23 anos. Mário: 15 anos. Raquel: 13 anos. Joana: 9 anos. Sofia: 8 anos. Miguel (filho de Carla): 1 ano. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré P38. Ocupação e Profissão Vasco é funcionário público. Marília, Carla e Luísa são domésticas. Mário, Raquel, Joana e Sofia estudam. P39. Habilitações académicas Marília não sabe ler nem escrever. Mário tem a 4ª classe. Carla e Luísa têm o 9º ano. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Nove pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam, já há alguns anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Vasco nunca usou o computador; Raquel usa apenas poucas vezes, quando o irmão não está. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam menos Vasco e Marília. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Computador, DVD, rádio, Playstation 3.

73

Relatório da visita a casa da família 7 (“Pinto”)

23 de Outubro de 2010

Nazaré

Margarida: 69 anos, mulher-a-dias.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Pinto”, da Nazaré, no dia 23 de Outubro de

2010.

O agregado familiar dos “Pinto” é composto por um casal: Margarida e António. No

entanto, apenas Margarida estava em casa no momento da entrevista. A visita teve

início pelas 10h00 e durou cerca de 45 minutos.

Margarida, de 69 anos, trabalha como mulher-a-dias e hoje está livre durante a

manhã. Enquanto prepara o almoço tem a televisão da sala ligada e vai espreitando o

canal Panda. A convivência com as netas fê-la também ela ser adepta do canal de

desenhos animados. «Quando as minhas netas estão cá vêem o Panda. Vou para ao pé

delas e também estou ali tardes inteiras a ver os “bonequinhos”». Margarida explica

que há uma televisão em cada quarto. «Normalmente, durante o dia, a televisão da

sala é que está acesa. A do quarto é à noite. E, às vezes, estão as três, quando as netas

estão cá». A televisão é uma das suas mais preciosas companhias e chega mesmo a

chamar-lhe o seu «desabafo». Na mesa-de-cabeceira, junto ao comando da

Figura 1 – Margarida amanha o peixe para o almoço, enquanto ouve em fundo o canal Panda, que as netas a habituaram a ver

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televisão, tem uma revista onde, para além da programação, encontra reportagens

sobre as personalidades que aparecem na televisão e previsões dos próximos

episódios das telenovelas que tanto gosta. «Gosto muito de ver as novelas. Ando

sempre a virar a televisão de um lado para o outro para ver. E os da “Casa”

então…farto-me de rir (Casa dos Segredos, na TVI). Estou morta para ver quem é que

das duas raparigas vai para a rua». Esta noite passa, segundo Margarida, o último

episódio de uma das novelas do serão da TVI. «Esta do “Meu Amor” é tão linda. Acaba

hoje (…) Hoje não perco. Nem quero dormir (risos)». Junto à televisão do quarto, Maria

colocou as fotografias de toda a família e também o rádio, que liga sobretudo ao fim-

de-semana, para ouvir a “Rádio Nazaré” e os fados que nela passam. No entanto,

sábados e domingos são, muitas vezes, passados a ver televisão. A filha e netas de

Margarida visitam-na nesta altura e gostam de assistir aos seus programas favoritos.

«Ao domingo, a Filipa (filha) está nesta da sala para ver o filme que anda a seguir em

casa dela. As pequeninas vêem o Panda na televisão, no meu quarto. É uma casa cheia

de televisões. Um quer ver uma coisa, outro quer ver outra. Às vezes a Filipa está aqui

e eu quero conversar um bocadinho e ela diz: “Ah mãe deixa-me ver o filme”. E eu

pergunto: “Então mas tu vens para ver o filme ou para falar comigo?”. Ela está uma

semana longe de mim e nós às vezes temos muita coisa para conversar, mas ela diz

“Ah mãe deixa-me estar a ver televisão”». Apesar de acordar com os noticiários da

manhã e de, muitas vezes ao dia, passar os olhos pelos telejornais, Margarida afirma

Figura 2 – A televisão é uma presença constante em casa de Margarida. A nazarena chama-lhe o seu “desabafo”

75

não gostar de ver notícias pois não gosta de “desgraças”. Por outro lado, adora ver o

canal RTP Memória. «Tem coisas muito antigas que as pessoas já não se lembram e

ouvem-se muitos fados antigos que agora já não se cantam. Margarida diz que vai

vendo “bocadinhos” de televisão durante o dia, nos períodos em que não está a

trabalhar, mas é à noite que passa a maior parte do tempo em frente ao ecrã.

«Sentada numa cadeira a ver a televisão, estou a partir das 21h00 até à meia-noite ou

uma hora». Para poder fazer o seu croché, por exemplo, a nazarena necessita sempre

da companhia da televisão, senão adormece. Para além disso, a nazarena diz que não

consegue estar em casa sem ouvir barulho. «Mesmo que esteja em casa de alguma

pessoa (em trabalho) com quem tenha confiança, pergunto logo se posso acender a

televisão (…) Porque eu gosto de sentir trapaça».

Ao todo, Margarida tem três televisões na casa onde pernoita e uma no rés-do-chão. É

cliente da Cabovisão e a última vez que comprou um televisor foi há cerca de dois

anos. Margarida não tenciona comprar uma televisão nos próximos tempos, «só se um

avariar». Questionada sobre a utilização do teletexto, que entende como um

«comando para ver o mau tempo», explica que o seu marido utiliza para saber se vai

chover, mas esta não usa porque não sabe.

No que toca ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital,

Margarida afirmou que nunca ouviu falar nesta (P16). No entanto, depois explicou que

o técnico que costuma ajudá-la com os equipamentos electrónicos a alertou para uma

mudança. «Mas acho que é uma televisão dessas que agora vão pôr, não é? O Jaime

Figura 3 – Margarida tem o hábito de comprar as revistas sobre TV, para acompanhar todos os pormenores das telenovelas e das estrelas do pequeno ecrã

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quando veio aqui uma vez arranjar a antena disse-me: “Isto depois já não presta. Daqui

a dois anos isto vai-se embora tudo”. Mas eu tenho Cabovisão. Era o rés-do-chão que

não tinha Cabovisão. E eu disse-lhe: “Então, mas vai-se embora tudo e o que é que a

gente faz às nossas televisões? E ele disse-me que eu tinha que comprar um aparelho

não sei o quê. Mas ele não explica como deve ser (…) Foi há dois anos, quando eu

comprei a televisão e ele a veio regular. Ele até me disse que a gente depois tinha que

ter plasmas e mais não sei o quê». Margarida não associa quaisquer vantagens ou

desvantagens à TV digital, mas tem a noção de que vai haver um desligamento do sinal

(P21 e P22) e de que este está para breve, tendo em conta o alerta do técnico de

televisão bem como algumas conversas que ouviu no café. A ideia de poder ficar sem

televisão é assustadora, mas Margarida já resolveu a situação do único televisor da

casa que recebia televisão analógica, ligando-o também à Cabovisão. Assim, a

nazarena espera ver mais televisão daqui a cinco anos (P32). «Estou com fé, graças a

Deus, de ver televisão até aos 50. Ver mais. Hão-de pôr mais coisas na televisão para a

gente ver! Já que a gente não sai daqui para ver nada nem somos nada, ao menos que

ponham na televisão para a gente ver».

Por fim, Margarida imagina que a televisão do futuro «não deve ser igual», mas sim

«mais evoluída» do que a actual e mantém a intenção de ter mais canais na sua grelha.

«Não sei se é muito caro, mas eu ainda hei-de pôr um canal que tem a vida de Cristo,

que elas gabam muito. Tenho que saber que canal é esse».

Figura 4 – Margarida possui um radio, que utiliza sobretudo para ouvir a rádio local

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Transcrição da entrevista semi-estruturada

Durante a fase de observação, antes de iniciar a entrevista semi-estruturada

Margarida: Está uma televisão em cada quarto. Normalmente, durante o dia, a televisão da sala é que está acesa. A do quarto é de noite. E, às vezes, estão as três, que é quando as netas cá estão.

(…)

Margarida: Ao domingo, a Filipa (filha) não se tira desta. Está nesta da sala para ver o filme que anda a seguir em casa dela. As pequeninas vêem o Panda na televisão, no meu quarto. É uma casa cheia de televisões. Um quer ver uma coisa, outro quer ver outra coisa. Às vezes a Filipa está aqui e eu quero conversar um bocadinho e ela diz: “Ah mãe deixa-me ver o filme”. E eu pergunto: “Então mas tu vens para ver o filme ou para falar comigo?”. Ela está uma semana longe de mim e nós às vezes temos muita coisa para conversar. E ela não… Diz “Ah mãe deixa-me estar a ver a televisão”.

(…)

Gosta de ouvir rádio?

Margarida: Também gosto. A Rádio Nazaré. Pelo menos quando estão pessoas a cantar fados e assim… Às vezes, ao sábado, ouço rádio a manhã toda.

E tenho aqui a revista para ler. Gosto muito de ver as novelas. Ando sempre a virar a televisão de um lado para o outro, para ver. E os da “Casa” então… farto-me de rir (Casa dos Segredos, na TVI). Estou morta para ver quem é que das duas raparigas vai para a rua.

Estas revistas têm muita informação sobre a televisão, certo?

Margarida: Pois têm. Têm muitas coisas boas.

P1. Quais os programas favoritos?

Margarida: O que eu gosto mais são as telenovelas, que estão muito bonitas. As da TVI. São coisas que, às vezes, são passadas na vida real. Eu gosto de estar a ver estas coisas assim. E esta do “Meu Amor” é tão linda. Acaba hoje.

Hoje é o último episódio? Não perde nem por nada não é?

Margarida: Não. Hoje não perco. Nem quero dormir (risos). Se adormecer já não vejo e já não sei o que é. Não sei o que é que se vai passar. Ela ontem matou-o a ele e atirou-se e também se matou. A menina salvou-se porque estava amarrada. Estas coisas assim… Não se sabe o que é que se vai passar. Gosto muito de ver também o Canal da Memória (RTP Memória) porque tem coisas muito antigas que as pessoas já não se lembram e ouvem-se muitos fados antigos que agora já não se cantam. Gosto muito desse canal. Porque isto agora é só política, política, estes “GPCs” que são os comboios

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que andam por aí. Desculpa que eu, às vezes, não sei falar muito bem. Estas coisas que andam por aí e que não interessam porque a gente antigamente não tinha nada dessas coisas e vivia-se e criava-se. Mas também gosto de ver os “bonequinhos”. Quando a minha neta está com o canal Panda também gosto de ver. Vou para ao pé delas e também estou ali tardes inteiras a ver os “bonequinhos”. E as notícias só ouço porque ouço muito o tempo. Não quero chuva. Gosto muito de ouvir o tempo, seja em que canal for.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Margarida: Não gosto de ver notícias. Vejo à hora do almoço só. E à hora do jantar até virem as telenovelas.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Margarida: De fazer um “crochezinho”, para fazer uns paninhos para as minhas netinhas. A televisão tem que estar acesa senão durmo.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Margarida: Levanto-me, vejo na televisão as notícias. Saio de casa às nove horas, mas já deixo o almoço adiantado. Quando venho, almoço, lavo a loiça, depois vou tomar o café e trabalhar. Depois quando volto para casa, faço outra vez o comer, penso no que tenho que fazer para o dia seguinte. Sentada numa cadeira a ver a televisão, estou a partir das 21h00 até às meia-noite ou uma hora. No resto do dia vou vendo aos poucos.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Margarida: Vejo mais. Ao fim-de-semana vejo tudo porque eu não posso estar em casa sem ter barulho. Mesmo que esteja em casa de alguma pessoa (em trabalho) com quem tenha confiança, pergunto logo se posso acender a televisão. Como , muitas vezes, não sei mexer no rádio, peço logo para acender a televisão. Porque eu gosto de sentir “trapaça”.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Margarida: Vejo mais sozinha. Vejo muita televisão sozinha porque é o meu desabafo à noite. Quando ele está a pregar, estou eu com a televisão muito alta. Ninguém pode entrar. Não oiço nada. Podem-se matar e esfolar que eu não oiço nada, que é para ver se ele se cala.

P11. Onde vê mais televisão?

Margarida: No quarto.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Margarida: Três. Uma na sala e uma em cada quarto.

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P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Margarida: Há dois anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Margarida: Quando avariar. Só se avariar é que compro.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura? Margarida: O teletexto é o comando para ver o mau tempo, não é? Usa o meu marido. Eu não uso. Ele procura as informações do tempo. Eu não sei nada disso.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Margarida: Não. Isso não. Mas acho que é uma televisão dessas que agora vão pôr, não é? O Jaime (técnico de televisões) quando veio aqui uma vez arranjar a antena disse-me: “Isto depois já não presta. Daqui a dois anos isto vai-se embora tudo”. Mas eu tenho Cabovisão. Era o rés-do-chão que não tinha Cabovisão. E eu disse-lhe: “Então, mas se vai-se embora tudo e o que é que a gente faz às nossas televisões?”. E ele disse-me que eu tinha que comprar um aparelho não sei o quê. Mas sabes como é o Jaime, não explica como deve ser.

Quando é que ele lhe explicou isso?

Margarida: Foi há dois anos, quando eu comprei a televisão e ele a veio regular. Ele até me disse que a gente depois tinha que ter plasmas e mais não sei o quê.

Ele disse que toda a gente tinha que comprar televisões melhores?

Margarida: Sim, ele disse-me isso.

P17. Que vantagens associa à TV digital?

Margarida: Não sei. Isso ele não explicou.

P18. Que desvantagens associa à TV digital?

Margarida: Isso também não falou.

Mas ficou assustada com o facto de ter que mudar de televisão?

Margarida: Fiquei. Tinha que mudar de televisão. A gente também não tem muito dinheiro para fazer esse serviços.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Margarida: Tenho Cabovisão. Tenho um aparelho cá em cima, para estas três televisões e outro lá em baixo, no rés-do-chão, para a outra televisão.

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P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Margarida: O Jaime disse-me qualquer coisa sobre isso e eu por acaso já ouvi no café, mas são coisas que eu não ligo.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Margarida: Não sei. Eu falei-te em dois anos porque foi o Jaime que me tinha dito. Mas ele disse-me isso há dois anos.

Sabe se há custos envolvidos neste processo?

Margarida: Não sei. Nunca comprei nada destas coisas.

P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Margarida: Ao Jaime.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Margarida: Não sei…

Há uma série de serviços que a TV digital pode oferecer como serviços de informações práticas (Farmácias, Emprego), Pausa TV, Gravador. Acha que isso é interessante?

Margarida: É. Isso é muito interessante. Procurar uma coisa para o trabalho ou uma urgência que a gente tenha… O Pausa TV não fazia diferença na minha vida. O gravador tinham que me ensinar, para eu gravar as novelas quando estou a trabalhar.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Margarida: Estou com fé, graças a Deus, de ver televisão até aos 50. Ver mais. Hão-de pôr mais coisas na televisão para a gente ver! Já que a gente não sai daqui para ver nada nem somos nada, ao menos que ponham as coisas na televisão para a gente ver.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Margarida: Não deve ser igual.

Mais evoluída?

Margarida: Mais evoluída, para a gente estar a perceber o que se está a passar dia-a-dia. Às vezes eu aborreço-me, mas também gosto de ver notícias… Não gosto de ver é desgraças. Não sei se é muito caro, mas eu ainda hei de pôr um canal que tem a vida de Cristo, que elas (amigas) gabam muito. Tenho que saber que canal é esse.

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Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade 69 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré, Leiria. P38. Ocupação e Profissão Mulher-a-dias. P39. Habilitações académicas 3ª classe. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Duas pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim, há mais de dez anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não tem, nem usa. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não tem, nem usa. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Rádio .

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Figura 1 – A única televisão que funciona em casa de Joana tem muitas interferências e não capta todos os canais

Relatório da visita a casa da família 8 (“Lopes”)

29 de Outubro de 2010

Alenquer

Joana: 71 anos, reformada.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Lopes”, de Alenquer, no dia 29 de Outubro

de 2010.

Joana tem 71 anos, é viúva e vive sozinha. Das três televisões que tem em casa, só uma

funciona, mas Joana não tem coragem para as colocar no lixo. «Esta televisão da casa

de trabalho, por exemplo, gostava que ela funcionasse, mas é muito antiga, nem tem

comando nem nada. Está aqui porque… Olhe… Porque até tenho pena de a deitar fora.

Ponho-a onde? Mas ela trabalhar, não trabalha. Porque não tenho antenas, não tenho

TV Cabo nem nada dessas coisas. Isto ainda é uma Mitsubishi… E está ali outra

pequenina na outra sala, que também não trabalha». Joana está reformada e vai

fazendo alguns trabalhos de costura em casa. A televisão é a sua principal companhia.

É por isso que lamenta tanto o facto de o ecrã estar sempre cheio de interferências.

«Tenho saudades de ver televisão. Vou a casa de outras pessoas e vejo televisão com

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Figura 2 – Joana guarda em casa duas televisões que já não funcionam, pois tem pena de as deitar fora

uma qualidade que eu não tenho. E sinto saudades realmente. Esta televisão está

cheia de interferências e só tenho o 3 e o 4. E nem sempre». Joana explica que gostava

que alguém a ajudasse a ter um melhor sinal de televisão, mas garante que não tem

condições para assinar um serviço de televisão paga. Há uns anos, até anulou o serviço

de telefone fixo para baixar as contas. Por isso, a televisão por cabo ou por satélite

seria um luxo. «Não posso estar a pagar, porque é mais uma renda… Eu mandei tirar o

telefone para não acrescer mais essa despesa. Ora se vou para isto da TV Cabo ou

coisa assim, a pouco e pouco vai aumentando e a pessoa chega a pontos em que não

dá». Sentada na poltrona da sala, onde passa quase todo o dia, Joana não tem

dificuldades em eleger o Preço Certo como o seu programa preferido, revelando que

Fernando Mendes é capaz de a levar a dar algumas gargalhadas sozinha. «Adoro aquilo

porque é bom para as pessoas de idade. O programa está jeitoso». De resto, a

costureira considera que a informação é fundamental e coloca os noticiários - a par das

telenovelas e dos programas sobre moda - no grupo dos seus programas predilectos.

Em contrapartida, Joana frisa que não suporta violência na televisão, realçando que

gosta de assistir a «tudo o que sejam coisas decentes». É difícil contabilizar o tempo

(em média) que a costureira vê de televisão, parecendo mais fácil contar as horas em

que não está em frente ao ecrã. «Então, eu assim que me levanto, por volta das 09h00,

venho à sala e a primeira coisa que faço é carregar no botão. Depois pronto… É a

companhia… Só desligo quando vou para a rua (…) Por volta das 17h00, quase todos os

84

dias, vou uma hora à biblioteca ler o jornal, venho para casa, ligo a televisão e pronto,

cá estou eu outra vez (…) até à meia-noite, uma, duas… É uma companhia sempre

presente». Ao fim-de-semana, Joana vai a casa dos filhos e pode finalmente ver

televisão com mais qualidade. «Eles têm TV Cabo, têm essas coisas… E têm mais

canais. É diferente (…) Depois chego a minha casa, carrego no botão e aparece-me

isto». Apesar dos problemas com o televisor, Joana não pensa comprar um novo nos

próximos 12 meses, explicando que não tem dinheiro para isso neste momento.

Questionada sobre a utilização do teletexto (P15.), a costureira responde que nunca

recorreu a este serviço. «Não, nem sei funcionar com isso. O comando original

também já se estragou e eu comprei este provisório. E aqui acho que não funciona».

No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital,

Joana demonstrou já ter ouvido falar neste tema (P16.), através do jornal local. «Li no

jornal, não ouvi falar. Alenquer ia ser a primeira a fazer a experiência da televisão

digital. Ora, a partir daí nem sei do que é que isso é feito nem como é que funciona».

Questionada sobre as vantagens ou desvantagens associadas à TV digital, Joana

reforçou que o que leu serviu apenas para perceber que Alenquer vai ser «a primeira

em televisão digital». Neste sentido, Joana reagiu com surpresa à informação de que o

sinal analógico de TV será desligado (P23.), sublinhando que não fazia ideia do

processo. No entanto, no desenrolar da entrevista, vieram-lhe à memória algumas das

informações que leu no jornal de Alenquer. «Li que a experiência era em Abril (…) Eles

Figura 3 – Joana gostaria de ter televisão com mais qualidade, uma vez que passa muito tempo sozinha e a televisão é de extrema importância no seu quotidiano

85

diziam lá qualquer coisa… Que íamos ter melhor imagem e não sei quê… E qualquer

coisa sobre o desligar da televisão. Não sabiam quando isso ia acontecer». Ainda

assim, Joana não estava a par dos procedimentos a seguir para continuar a ter os

canais de televisão gratuitos em casa. «Eu não. Não me mande pagar porque eu não

tenho dinheiro». Inicialmente a costureira temeu que a transição para o digital fosse

«mais uma forma de obrigar as pessoas a pagar aquilo que não pagavam». No entanto,

depois de lhe ter sido explicado que não iria passar a pagar uma mensalidade, a

costureira considerou que o “switch-off” só lhe trará benefícios. «Então e depois não

pago mais nada todos os meses? Vou usufruir da boa imagem e não vou pagar mais

nada? (…) Ah sim isso acho bem». Para Joana, dar cerca de 50 euros por uma caixa

descodificadora que lhe permita ver os quatro canais (Note-se que, neste momento,

Joana consegue ver apenas a SIC e a TVI) com uma imagem melhor é “aceitável”,

mesmo que tenha que fazer um esforço acrescido para poupar naquele mês. Joana

admitiu mesmo ter ficado «muito contente» com a novidade da transição para o

digital, mas ainda não faz ideia de a quem se poderá dirigir para obter mais

informações sobre o assunto.

Questionada sobre o que gostaria de ver ou aceder através da televisão, Joana

sublinhou que «programas engraçados» como o Preço Certo são sempre bons para

entreter quem está sozinho em casa. Quanto a novos serviços, a costureira

demonstrou algum interesse em ver a televisão assemelhar-se a um computador, para

que assim se possam introduzir as novas tecnologias nos lares das pessoas mais idosas.

Figura 4 – Joana afirma que não sabe funcionar com o teletexto

86

«Ai eu acho que sim. Isso já vai um bocadinho ao computador, coisa que eu também

não tenho. Já é um bocadinho computorizado e já dá para a gente apanhar ali um

rabiscozinho dessas coisas». A possibilidade de ouvir rádio através da televisão seria

outro aspecto a trazer mais qualidade no consumo de televisão. «Olhe, outra coisa

boa, Duas numa. Dois em um!». No que toca à hipótese de criação de um novo canal

gratuito generalista, Joana expressou a vontade de ver algo diferente. «Não sei qual é

o conteúdo desse canal… Podem até ser conteúdos de que uma pessoa gosta…

Depende… Se for do género dos outros, já temos os outros, não precisamos de outro

igual».

Por fim, depois de sugerir que as televisões do futuro poderão ser transportadas «na

algibeira», Joana prevê que, daqui a cinco anos, vá ver mais televisão do que

actualmente. «Acho que vou ver mais ainda. Já posso sair menos… Cada vez vou

podendo sair menos e acho que poderei ver mais ainda. E, na medida em que estou

sozinha, não vejo outras alternativas».

Transcrição da entrevista semi-estruturada (Ainda durante a fase de observação) Joana: Tenho outras televisões, mas não trabalham. Esta televisão da casa de trabalho, por exemplo, eu gostava que funcionasse, mas ela é muito antiga, nem tem comando nem tem nada. Está aqui porque… olhe… porque até tenho pena de a deitar fora. Ponho-a onde? Mas ela trabalhar, não trabalha. Porque eu antenas não tenho. Não

Figura 5 – Joana recorda-se de ter lido uma notícia sobre o apagão no jornal local, mas não sabe o que tem de fazer para continuar a ter sinal de TV

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tenho TV Cabo, não tenho nada dessas coisas. Isto ainda é uma Mitsubishi… E está ali outra pequenina na outra sala, que também não trabalha.

Deixaram de trabalhar há muito tempo?

Joana: Ah sim, já há muito tempo. Já foi há mais de dez anos. Quando o meu marido era vivo tínhamos uma antena no telhado, só nossa, que ele mandou pôr. E havia a antena colectiva. Assim ainda conseguia trabalhar. Entretanto, não sei o que é que fizeram por lá, o que é que aconteceu, que esta depois deixou de dar. Agora nem a antena colectiva funciona bem. A televisão está cheia de interferências e eu só tenho o três e o quatro. E nem sempre. Eu sempre estive num sítio muito mau a nível de sinal.

Joana: E está aí essa pequenina, a ver se tinha coragem para a pôr no lixo. Pu-la aqui escondida. Eu até tinha pedido ao meu filho se ele via se podia fazer qualquer coisa, porque eu quando ligo esta dá chuva, não dá imagem.

Joana: Tenho saudades de ver televisão. Vou a casa de outras pessoas e vejo televisão com uma qualidade que eu não tenho. E sinto saudades realmente.

Precisava de alguém que a ajudasse nesse sentido…

Joana: Ah sim, sim. Porque eu também não posso estar a pagar. Porque é mais uma renda… Eu mandei tirar o telefone, já aqui há uns anos, para não acrescer mais essa despesa. Ora se vou para isto da TV Cabo ou coisa assim, a pouco e pouco vai aumentando e a pessoa chega a pontos em que não dá.

Joana: Eu gosto… eu gosto muito de ver filmes… Até aprecio muito a televisão. Gosto muito do noticiário e assim… Telenovelas lá gosto de uma ou de outra, mas isso não sou viciada. Neste momento nem tenho assim nenhuma que diga: “eu gosto de ver esta ou eu estou a ver esta”.

Joana: E é assim que eu passo o meu tempo, na minha costura. Costuro aqui na sala. Não posso perder tempo.

Joana: É aqui o meu poiso. Costuro para os meus filhos. Eles têm uma fábrica de candeeiros e eu dou-lhe uma mãozinha.

E enquanto costura vai vendo um bocadinho de televisão, certo?

Joana: Sim. É o que me vale porque eu estou sozinha.

Ouve rádio?

Joana: Não sou muito de rádio.

Então, a televisão está sempre ligada…

Joana: Ah, sim. É a minha companhia. Não tenho mais ninguém…

88

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Joana: Olhe os meus programas preferidos são os noticiários. E depois uma ou outra telenovela. Gosto de moda. A moda é a minha paixão. Gostava de ver mais programas sobre moda.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Joana: Não gosto aqueles que têm violência. Por exemplo, programas gays e assim. Pronto, tudo o que é coisas decentes eu gosto de ver.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Joana: Levanto-me de manhã, trato de mim, tomo o pequeno-almoço, dou um jeito na casa, trato ali da minha caturra (pássaro) e depois ajeito qualquer coisa para o almoço. Neste meio tempo vou trabalhando na costura…

E a televisão está ligada?

Joana: Sim, a televisão está ligada. E depois venho para aqui para a sala trabalhar, porque é tudo trabalhos de mão. E passo assim o tempo. Por volta das 17h00, quase todos os dias, arranjo-me, vou ali uma hora, uma hora e tal ali à biblioteca ler o jornal. Leio o jornal, venho para casa, ligo a televisão e pronto, cá estou eu outra vez. Às 19h00 adoro o programa do Fernando Mendes. Adoro aquilo porque é bom para as pessoas de idade. Aquele programa está jeitoso.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Joana: Então, eu assim que me levanto, por volta das 09h00, venho à sala e a primeira coisa que faço é carregar no botão. Depois pronto… é a companhia… Só desligo quando vou para a rua. Chego da rua sempre por volta das 19h00, que à hora que a biblioteca fecha e carrego no botão outra vez, até à meia-noite, uma, duas… É uma companhia sempre presente. Mesmo quando estou a fazer o almoço e assim é a minha companhia.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Joana: Aos fins-de-semana vou para os meus filhos. Ou vou para um ou vou para outro. Mas venho dormir a casa. Depois chego a minha casa, carrego no botão e aparece-me isto (interferências).

Quando vai a casa dos seus filhos vê televisão com mais qualidade?

Joana: Ah pois. Eles têm TV Cabo, têm essas coisas… E têm mais canais. É diferente.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Joana: Sozinha.

Esta única televisão a funcionar já foi comprada há quanto tempo?

89

Joana: Foram os meus filhos que ma deram, já há mais de doze anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Joana: Não tenho dinheiro para isso neste momento.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Joana: O teletexto no comando?

Sim.

Joana: Não, nem sei funcionar com isso. O comando original também já se estragou e eu comprei este provisório. E aqui acho que não funciona. Eu nem posso carregar aqui por causa do dedo. Mas este comando também já não dá nada.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas

P16. Já ouviu falar de TV digital?

Joana: Já. Li no jornal, não ouvi falar. Li no jornal de Alenquer. Ia ser a primeira a fazer a experiência da televisão digital. Ora, a partir daí nem sei do que é que isso é feito nem como é que isso funciona.

Mas sabe que Alenquer vai ser uma zona…

Joana: Pioneira. Vai ser a primeira em televisão digital.

Mas acabou por ficar sem perceber o que era a televisão digital?

Joana: Exactamente.

Não me sabe dizer que vantagens ou desvantagens estão associadas à mesma?

Joana: Não sei. Sei que realmente eu li que iam ser pioneiros na televisão digital… E pronto, foi isso apenas.

P19. Que tipo de TV tem em casa?

Joana: Não chego a ter os quatro canais.

P20. Porque razão não tem TV digital?

Joana: Porque não posso. Tenho uma reforma de 700 e poucos euros. E para condomínio não chega. Isto é uma casa com elevador e o condomínio é caro. Então não me vou meter com mais essa despesa. Depois é a falta de saúde também.

P23. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Joana: Ai é? Então e depois?

Não fazia ideia disso?

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Joana: Não!

P24. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Joana: Não, não. É como digo, só li aquilo. Eu ontem li que a experiência era em Abril.

Mas nessa leitura apercebeu-se de que iria haver um desligamento do sinal?

Joana: Eles diziam lá qualquer coisa… Que íamos ter melhor imagem e não sei quê… E qualquer coisa sobre o desligar da televisão, não sabiam quando isso ia acontecer.

P25. Sabe o que tem que fazer para continuar os 4 canais gratuitos de TV em casa?

Joana: Eu não. Não me mande pagar porque eu não tenho dinheiro.

P26. Sabe se há custos envolvidos para continuar a ter TV em casa?

Joana: Não.

(Depois de uma breve explicação sobre os procedimentos necessários para continuar a ter televisão)

Joana: Eu li isso. Então e as televisões novas são quais? E se eu ficar com esta?

Tem que comprar um descodificador. Faz ideia de quanto custa?

Joana: Não.

(Depois de serem explicados os custos envolvidos)

Joana: Quer dizer, eu depois tenho que ir pagar… Isso é mais uma forma de obrigar as pessoas a pagar aquilo que não pagavam.

A senhora só vai ter que pagar uma vez, pelo descodificador ou por uma televisão nova.

Joana: Então e depois não pago mais nada todos os meses? Vou usufruir da boa imagem e não vou pagar mais nada?

Não. O que acha disso? Dar cerca de 50 euros e poder ter uma imagem com melhor qualidade? (Actualmente Maria Teresa tem a televisão cheia de interferências)

Joana: Ah sim, isso acho bem. Acho isso muito bem. Eu pensava que agora quem não pagava ia começar a pagar. Nós já pagamos a taxa de televisão no recibo da luz… Eu até pago televisão do elevador! Não sei porquê. Aquilo é a luz da escada. Pagamos como se tivéssemos uma televisão na escada e outra no elevador. Eu se for a ver pago quatro televisores.

Acha, então, se passar a ter televisão com mais qualidade de imagem…

Joana: Ai filha, eu isso nem me importava de dar um euro por dois por mês!

Então, a quantia de 50 euros para si é aceitável, certo?

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Joana: Era. Eu acho que sim, era aceitável. Embora custasse um bocadinho mais naquele mês, mas pronto.

P28. A quem se vai dirigir de forma a obter apoio ou ajuda para continuar a ter os 4 canais gratuitos TV em casa?

Joana: Ai eu sei lá. Também não sei.

P29. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Joana: Quando há qualquer coisa é com os meus filhos.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Joana: A informação é fundamental. Sei lá, programas engraçados para passar um bocado o tempo, assim como este do Preço Certo, que até dá para a gente às vezes dar uma gargalhada. Dar aqui uma gargalhada sozinha.

Acharia interessante se surgissem novos serviços e mais canais?

Joana: Ai eu acho que sim. Isso já se vai um bocadinho ao computador, coisa que eu não tenho também. Já é um bocadinho computorizado e já dá para a gente apanhar ali um rabiscozinho dessas coisas.

Ter mais um canal generalista gratuito seria interessante para si?

Joana: Não sei qual é o conteúdo desse canal… Podem até ser conteúdos de que uma pessoa gosta… Depende… Se fosse do género dos outros, já temos os outros, não precisávamos de outro igual.

E poder ouvir rádio através da televisão?

Joana: Olhe, outra coisa boa. Duas numa. Dois em um.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Joana: Acho que vou ver mais ainda. Já posso sair menos… Cada vez vou podendo sair menos e acho que poderei ver mais ainda. E, na medida em que estou sozinha, não vejo outras alternativas.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Joana: Ai nem sei… Eu acho, na minha ideia, que os televisores têm tendência a diminuir, para se poder, por exemplo, trazer já um televisor na algibeira. Um televisor portátil.

E gostava de ter um desses?

Joana: Até gostava.

92

Então acha que a televisão será muito diferente do que é agora…

Joana: Sim, sim.

Depois de eu lhe ter falado sobre esta questão da televisão digital, há alguma coisa que gostasse de acrescentar sobre o assunto?

Joana: Olhe, fiquei muito contente. Para o efeito que é… Para mim foi surpresa.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade 71 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Reformada. Foi chefe de confecção de uma fábrica. P39. Habilitações académicas P41. Nº de pessoas no agregado familiar Uma. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. Há mais de 10 anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não. Na biblioteca já tentou usar, mas não o achou útil. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Televisão e um rádio-despertador.

93

Relatório da visita a casa da família 9 (“Gaudêncio”)

29 de Outubro de 2010

Alenquer

Adelaide (mãe): 37 anos, auxiliar de Educação.

Teresa (filha): 6 anos.

Rita (filha): 11 anos.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Gaudêncio”, de Alenquer, no dia 29 de

Outubro de 2010.

O agregado familiar dos “Gaudêncio” é composto por três pessoas: a mãe, Adelaide,

de 37 anos, e as duas filhas, Rita e Teresa, de 11 e 6 anos. A visita começou às 18h00 e

durou cerca de uma hora e vinte minutos. O dia-a-dia da família “Gaudêncio” gira

sobretudo em torno de Rita, que inspira cuidados especiais por ter uma deficiência

mental. Desempregada até há pouco tempo, Adelaide desdobra-se entre o trabalho e

os cuidados com a filha mais velha, sobrando-lhe pouco tempo para o lazer. Depois de

as filhas adormecerem, a única altura do dia em que consegue algum tempo para si,

Adelaide vê televisão, o seu principal e quase único entretenimento. «À noite a minha

Figura 1 – O dia-a-dia da família “Gaudêncio” gira em torno de Rita, a filha mais velha, com necessidades especiais

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televisão é tudo, porque eu não tenho com que me entreter quando elas adormecem.

Não posso adormecer cedo porque só o faço quando vejo que elas estão ferradinhas a

dormir. Depois, durmo aqui no sofá ao pé da televisão». Adelaide confessa que prefere

manter um sono leve, para não correr o risco de não se aperceber de algum problema

que Rita possa ter durante a noite. A luz e o som da televisão ajudam-na a não cair no

sono profundo. Quando pode, a auxiliar de Educação gosta de ver filmes no canal

“Hollywood” e algumas telenovelas. Os “Gaudêncio” têm passado por algumas

dificuldades financeiras e Adelaide explica que a casa onde vivem actualmente –

emprestada pela câmara municipal – só tem televisão porque esta lhes foi oferecida.

Para seu espanto e alegria, quando chegou a esta casa, Adelaide encontrou um cabo

Figura 3 – Quando chega a casa, Adelaide ocupa as primeiras horas do serão a cuidar de Rita, sobrando pouco tempo para o lazer

Figura 2 – Adelaide conta que a única TV da casa lhes foi oferecida

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preto a mais que, ligado ao televisor, dá acesso a vários canais. «Uma bênção», realça.

«Quem não tiver estes canais de TV Cabo, não tem bonecos nem nada para ela (Rita).

Porque dão novelas todo o dia. Acho que devia haver mais bonecos. Se eu não tivesse

este canal, que até foi uma bênção, tínhamos que nos contentar com o 1º, 2º, 3º e 4º.

Para a Teresa, por exemplo, estes canais não têm interesse nenhum. Só dá o que ela

gosta de ver à noite e eu à noite quero que ela esteja a dormir. A gente levanta-se

todos os dias às 06h00 para cuidar da Rita e ela tem que dormir», explica Adelaide. A

auxiliar de Educação acrescenta que a televisão é muito importante para a sua família,

sobretudo para Rita. Esta não pode dizer o que acha da televisão porque não fala, mas

a sua mãe tem a certeza de que ela se sente bem em frente ao ecrã. «Que ela gosta de

ver, ela gosta. Senão não estava sempre a olhar para lá. Porque ela está sempre a olhar

para lá. E é a música. Ela gosta muito», descreve Adelaide. A televisão está sempre

ligada por causa de Rita e a programação varia. «A televisão está mais nos desenhos

animados porque estes são mais para a idade dela. Mas se calha a pôr um filme… Por

exemplo, quando são filmes para rir, em português, como ela ouve as gargalhadas,

também se ri», conta Adelaide. Já a filha mais nova, Teresa, gosta, tal como a mãe, de

assistir aos filmes do canal Hollywood e de ver a novela da noite da TVI. A mãe lembra-

a de que ela gosta de ver a tourada na televisão. «Só vi a tourada na televisão. Eu

gostava de ver na realidade… Só vi quando era pequenina, quando tinha 3 anos»,

explica Teresa. Quanto aos programas de que não gosta, Teresa refere as «coisas de

rapazes» como futebol.

No que toca ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV Digital,

observou-se que Adelaide já tinha ouvido falar no tema, mas demonstrou-se um pouco

confusa ao falar deste. «Já ouvi falar. Mas, no fundo, não sei mesmo o que é que se

passa». Questionada sobre as vantagens ou desvantagens associadas à TV Digital, a

auxiliar de Educação considerou que a TV Digital é sinal de evolução. «O que entendi

como TV Digital é que são aquelas televisões que a gente não precisa de ter, por

exemplo, um comando para a ligar e desligar. Adelaide demonstrou não estar a par do

desligamento do sinal analógico, nem fazia ideia da data-limite para o processo. No

entanto, questionada sobre os procedimentos a seguir por parte de quem não tem TV

Digital, Adelaide sugeriu que estas famílias devem ter que «comprar um aparelho»,

96

uma informação que ouviu, em conversas, na rua e no trabalho. «O que eu sei é o que

vamos ouvindo umas das outras. Uns comentários aqui e acolá…», explicou a auxiliar

de Educação. Adelaide confirmou saber que a compra do “aparelho” exigirá um

investimento de cerca de 40 euros. Depois de lhe ter sido explicado como decorrerá o

“switch-off” analógico, Adelaide reagiu avisando que não poderá pagar um

descodificador ou uma nova televisão, caso o desligamento do sinal a afecte. Na

verdade, apesar de a televisão ser uma presença essencial para a família, não constitui

uma “prioridade” tendo em conta as dificuldades económicas por que a família passa.

a compra do aparelho exigirá um investimento de cerca de 40 euros. «Ia ficar sem

televisão. A gente trabalha para ter as coisas, mas não era a minha prioridade. Preferia

então ligar o DVD à televisão e comprar filmes para ver no DVD», explica. Ao

aperceber-se da nova realidade, Teresa protesta quase a choramingar: «Mas eu quero

ver televisão!».

No que respeita ao futuro da televisão, Teresa afirmou prontamente que gostava de

ter jogos na TV. Quanto a Adelaide, esta disse ter «umas ideias espectaculares»

sobretudo para conteúdos adaptados às necessidades especiais da sua filha Rita,

demonstrando também grande interesse nos conteúdos sobre Saúde. «Eu sou suspeita

a falar, mas gostava que dessem mais na televisão programas a explicar as doenças…

Os sintomas das doenças… Porque acho que nós devíamos estar preparados e

devíamos saber o mínimo dos mínimos disso (…) Acho que se eu estiver informada,

mesmo em relação à Rita, posso precaver-me porque vi aquilo na televisão. Penso

Figura 4 – A televisão está sempre ligada por causa de Rita, que gosta muito de ver

97

“olha vi aquilo na televisão, será que é isso?” e assim posso me precaver. E o telejornal

é uma coisa que me aborrece muito, muito, muito. Aliás, não me aborrece, entristece-

me. E eu deixei de ver. Prefiro não ver porque olhos que não vêem, coração que não

sente». Para Adelaide, faria todo o sentido a existência de um canal próprio para

crianças com dificuldades cognitivas. «Acho que devia haver um locutor que, por

exemplo, quando aparecesse um dado, repetisse duas ou três vezes “Isto é um dado”.

Porque é assim que a minha terapeuta trabalha com a minha filha. Eu gosto muito de a

ver trabalhar. Eu própria gosto de ouvir. Eles têm um rádio em que gravam a minha

filha a fazer “Bah, bah…” e depois a minha filha ouve. E nota-se que ela reconhece a

voz. Há coisas na televisão que podiam ser feitas para melhorar», explica a auxiliar de

Educação, depois de sugerir a existência de um programa dedicado à fisioterapia e aos

doentes.

Por fim, Adelaide considera que, daqui a cerca de cinco anos, verá menos televisão,

devido à falta de disponibilidade e não à falta de interesse. «Porque não tenho muita

saúde, nem tenho muito tempo. Com o crescimento da Rita, se Deus quiser isto vai

dar, mas vou ver menos. Eu gosto tanto de ver, mas não posso porque não tenho

tempo. Por isso é que eu nunca me deito sem ver», conclui.

Figura 5 – Adelaide afirma que gostaria de usufruir de mais serviços ligados à saúde, na TV

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Transcrição da entrevista semi-estruturada

Adelaide: Que ela gosta de ver, ela gosta. Senão não estava sempre a olhar para lá. Porque ela está sempre a olhar para lá. E é a música. Ela gosta muito. Eu tenho um radiozinho no quarto da Teresa e, muitas vezes, ligo-o para ela ouvir. Mas se forem músicas assim tristes, aquelas músicas mais românticas, ela chora, faz birra.

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Teresa: Filmes. Eu também gosto de ver filmes do Hollywood. Também são um pouco “sorridentes”. Gosto de ver telenovelas. A novela da “Zé” é a minha preferida.

E a Adelaide?

Adelaide: A Adelaide também é a novela da “Zé” (risos). Mas a Teresa esqueceu-se de dizer que gosta muito de tourada.

Já foste à tourada mesmo?

Teresa: Não. Só vi na televisão. Eu gostava de ver na realidade… Só vi quando era pequenina, quando tinha 3 anos.

Adelaide: Ainda temos muito tempo filha.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Teresa: Coisas de rapazes.

Já percebi que passam grande parte do dia a cuidar da Rita. De qualquer forma, a televisão está sempre ligada. Certo?

Adelaide: Sim, está sempre. Mais por causa da Rita, porque ela está sempre a olhar.

Põem mais nos desenhos animados, não é?

Adelaide: Sim. É mais nos desenhos animados porque estes são mais para a idade dela. Mas se calha a pôr um filme… Por exemplo, quando são filmes para rir, como ela ouve as gargalhadas, quando são coisas portuguesas, ela ouve e ri-se.

O que é que acha que a televisão podia ter para a sua filha mais facilmente se entreter?

Adelaide: É assim, quem não tiver estes canais de TV Cabo, não tem bonecos nem nada que dê para ela. Porque dá novelas todo o dia. Acho que devia haver mais bonecos. Se eu não tivesse este canal, que até foi uma bênção, tínhamos que nos contentar com o 1º, 2º, 3º e 4º. Para a Teresa, por exemplo, estes canais não têm interesse nenhum. Só dá o que ela gosta de ver à noite e eu à noite quero que ela esteja a dormir. A gente levanta-se todos os dias às 06h00 para cuidar da Rita e ela tem que dormir.

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P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Adelaide: Nem é minha, mas já foi comprada há muito tempo. É do pai da Teresa.

P16. Já ouviu falar de TV digital?

Adelaide: Já. Isso já ouvi falar. Mas, no fundo, não sei mesmo o que é que se passa.

Conhece algumas vantagens ou desvantagens da TV digital?

Adelaide: O que eu entendi como TV Digital é que são aquelas televisões que a gente não precisa de ter, por exemplo, um comando para a ligar e para a desligar.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Adelaide: Não.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Adelaide: Não.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Adelaide: Eu tenho aqui um cabo preto que experimentei ligar e apareceram mais canais. Mas nem sei de onde vêm. Não sei se o cabo também vai deixar de funcionar.

P25. Sabe o que é que as pessoas que têm TV analógica têm que fazer para continuarem a ter os 4 canais gratuitos de TV em casa?

Adelaide: Comprar um aparelho…Não?

Já recebeu alguma informação sobre o assunto?

Adelaide: Não. O que eu sei é o que vamos ouvindo umas das outras. Uns comentários aqui e acolá…

P26. Sabe se há custos envolvidos para continuar a ter TV em casa?

Adelaide: Sei lá… Ouvi falar numa média de 40 e tal euros.

Vamos imaginar que não tinha este cabo que actualmente lhe permite ver mais do que os 4 canais. O que é que isso significaria? Ia poder pagar para continuar a ter televisão?

Adelaide: Não. Ia ficar sem televisão. A gente trabalha para ter as coisas, mas não era a minha prioridade. Preferia então ligar o DVD à televisão e comprar filmes para ver no DVD. Para elas verem. Porque não é muito tempo. É a esta hora.

Teresa: Mas eu quero ver televisão! (faz uma expressão como se fosse começar a chorar)

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

100

Teresa: Eu gostava de ter jogos!

Adelaide: Eu sou suspeita a falar, mas gostava que dessem mais na televisão programas a explicar as doenças… Os sintomas das doenças… Porque acho que nós devíamos estar preparados e devíamos saber o mínimo dos mínimos disso.

Mais informação sobre saúde?

Adelaide: Sim, sobre saúde. Para mim era. Tanto que quando dão aquelas coisas no canal 2 eu gosto muito de ver. Acho que se eu estiver informada, mesmo em relação à Rita, posso precaver-me porque vi aquilo na televisão. Penso “olha vi aquilo na televisão, será que é isso?” e assim posso me precaver. E o telejornal é uma coisa que me aborrece muito, muito, muito. Aliás, não me aborrece, entristece-me. E eu deixei de ver. Prefiro não ver porque olhos que não vêem, coração que não sente.

Acha que poder ouvir rádio através da televisão seria útil para si?

Adelaide: Ah sim. Isso eu gosto. Era muito bom, tínhamos tudo em um.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Adelaide: Menos.

Porquê?

Adelaide: Porque não tenho muita saúde, nem tenho muito tempo. Com o crescimento da Rita, se Deus quiser isto vai dar, mas vou ver menos. Eu gosto tanto de ver, mas não posso porque não tenho tempo. Por isso é que eu nunca me deito sem ver.

Caso o desligamento do sinal os deixe sem televisão, vai ser uma quebra muito grande?

Adelaide: Sim, para mim e para elas. À noite a minha televisão é tudo, porque eu não tenho com que me entreter porque elas adormecem. Não posso adormecer cedo porque só adormeço quando elas estiverem ferradinhas a dormir. Durmo aqui no sofá ao pé da televisão.

Considera que a televisão tem em conta os telespectadores com necessidades especiais?

Adelaide: Eu não tenho razões de queixa… Porque é assim… Não dão filmes de terror durante o dia, o que já é muito bom. A única coisa que me aborrece é aqueles bonecos de pancadaria porque acho que aquilo não tem jeito nenhum. E eu como sou auxiliar de Educação, vejo os miúdos na escola a imitar o “wrestling”. Isso são programas que eu dispensava, mas a televisão… Há muitas pessoas que vivem para a televisão. Por exemplo, há agora esse programa que está a dar na TVI (Casa dos Segredos), do qual eu não gosto. Para mim é a coisa mais ridícula que apareceu até hoje. A única coisa

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que me interessou nesses programas foi o Big Brother 1. É um tipo de programa que eu nem deixo a Teresa ver. Não vale nada. Não gosto mesmo de ver.

Eu estou a ver a Rita a bater umas palminhas de contente, acha que poderia, por exemplo, existir um canal ou um serviço destinado mesmo…

Adelaide: Ai eu gostava mesmo. Com fisioterapia. E até tinha umas ideias espectaculares para isso. Acho que devia haver um locutor que, por exemplo, quando aparecesse um dado, repetisse duas ou três vezes “Isto é um dado”. Porque é assim que a minha terapeuta trabalha com a minha filha. Eu gosto muito de a ver trabalhar. Eu própria gosto de ouvir. Eles têm um rádio em que gravam a minha filha a fazer “Bah, bah…” e depois a minha filha ouve. E nota-se que ela reconhece a voz. Há coisas na televisão que podiam ser feitas para melhorar. A televisão também já esteve pior… Já houve muitas cenas que elas não podem ver e já esteve pior. Agora até acho que nem está mal de todo. A Rita entretinha-se mais. Porem um canal desses para a ensinar, para ela ir ouvindo e memorizando até a ajudava.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade Adelaide: 37 anos. Teresa: 6 anos. Rita: 11 anos. P37. Localidade de residência Alenquer P38. Ocupação e Profissão Adelaide é auxiliar de educação. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Três pessoas. P42. Uso de telemóvel Adelaide usa telemóvel. P43. Uso de computador Não têm e não usam. P44. Uso de internet Não têm e não usam. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Duas televisões (uma delas não funciona) e um DVD.

102

Figura 1 – A família “Graça” tem quarto televisões, sendo a sala o local que privilegiam para ver TV

Relatório da visita a casa da família 10 (“Graça”)

5 de Novembro de 2010

Alenquer

Celeste: 74 anos, reformada.

Américo: 77 anos, reformado.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Graça”, no dia 5 de Novembro de 2010.

O agregado familiar dos “Graça”, residente em Alenquer, é composto por um casal:

Celeste, de 74 anos, e Américo, de 77 anos. A visita à quinta da família teve início pelas

15h00 e durou cerca de 40 minutos. Celeste e Américo estão reformados, mas Celeste

ainda trabalha activamente no restaurante da quinta, onde a família organiza

casamentos e baptizados. O gosto e a experiência de Celeste na cozinha fizeram com

que esta fosse convidada para dar aulas na Universidade Sénior de Alenquer. Assim, ao

contrário do marido, que por motivos de saúde não pode fazer esforços, Celeste passa

a maior parte do dia no restaurante ou fora da quinta, guardando para a noite os

momentos de lazer em frente à televisão. «À noite vejo sempre televisão. Nunca me

deito sem ver. Se há alguma coisa que me agrade, algum filme, fico a ver. Gosto muito

de cinema e os canais Hollywood e TV Cine são os que têm os melhores filmes»,

103

considera. Na verdade, apesar de praticamente só ver televisão quando acorda, no

quarto, e à noite, antes de se deitar, Celeste admite que vê mais horas de televisão do

que o marido, ultrapassando as cinco horas diárias em frente ao ecrã. «Eu tenho a

impressão de que gosto de tudo. Quando não gosto desligo (risos). Na sala mais

confortável da casa, com direito a lareira e muito espaço, Celeste e Américo fazem

companhia um ao outro a ver televisão, cada um na sua poltrona. É quase sempre

Celeste que muda de canal porque Américo tem dificuldades em agarrar no comando

pela falta de sensibilidade numa mão. Apesar de, por vezes, discordarem na escolha

dos programas, têm em comum o interesse por canais como o “Discovery” ou o

“National Geographic”. O serviço de televisão paga que assinam tem mais canais do

que o “pacote” padrão, possibilitando-lhes uma panóplia de escolhas. Hoje, Celeste

comenta uma reportagem de um dos canais “DIscovery”. «É muito bom. É como vivem

determinados povos. Está ali a fazer uma feijoada (risos). É feito com amor, diz ele. São

uns aventureiros». Américo segue Celeste em termos de preferências. Gosta de

«bicharada» e de filmes. «Cowboyada», particulariza Celeste, depois de frisar que o

marido também gosta de “bola”. A rotina de Américo baseia-se nos passeios que faz

pela quinta e nos momentos em que está em frente à TV. Celeste diz que o marido vê

muitas horas de televisão enquanto não adormece e, ao contrário dela, vê muitas

telenovelas.

Figura 2 – Américo não pode fazer esforços devido a problemas de saúde, sendo a TV um dos seus maiores passatempos. O reformado costuma precisar de ajuda para mudar de canal, pois tem problemas de mobilidade

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A família “Graça” tem quatro televisores em casa. «Graças a Deus temos televisões em

todos os quartos», conta Celeste. A sala é o local que privilegiam para ver televisão,

pois é lá que podem aceder a um maior número de canais. Apenas duas televisões da

casa (a da sala e a do quarto de uma das filhas) estão ligadas a boxes da TV Cabo,

sendo que as restantes recebem apenas os 4 canais gratuitos de televisão. O televisor

mais recente da casa foi oferecido pela filha, no natal do ano passado, e o casal não

tenciona comprar um novo nos próximos 12 meses. Apesar de a televisão ser muito

importante para ambos, o aparelho não está completamente adaptado às

necessidades de Américo. Este tem falta de sensibilidade numa das mãos e precisa

quase sempre de ajuda para ligar ou desligar a televisão. Serviços como o teletexto,

por exemplo, que Celeste utiliza por vezes para obter informações sobre a

programação, são completamente inacessíveis para Américo.

No que toca ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital, a família

“Graça” afirmou já ter ouvido falar no tema. Enquanto Celeste associou como

vantagem da TV digital deixar de haver antenas, Américo admitiu que ouviu falar no

assunto, mas «não ligou nenhuma». Celeste explica que não foi na televisão nem nos

jornais que ouviu falar no assunto, mas antes através dos empregados do seu

restaurante. Questionada sobre se sabia que o sinal analógico de TV, com os 4 canais

de TV gratuitos, será desligado, a cozinheira demonstrou que o processo não lhe era

completamente estranho. «O sinal das televisões antigas não é? Já ouvi falar. Ainda há

Figura 3 – Celeste vê TV até de madrugada, porque durante o dia está a trabalhar e não tem tempo

105

bocado um empregado meu estava a falar disso». Celeste admitiu não estar a par da

data-limite para o desligamento do sinal e afirmou nem sequer conhecer a

denominação usada para o processo. Depois de ter sido feita uma breve explicação

sobre o “switch-off”, a cozinheira revelou estar a par da necessidade de um

investimento para se fazer a transição para o digital. «Tem que se comprar qualquer

coisa, não é? Um aparelho qualquer para poder ver…», sugeriu. Após terem sido

revelados os preços aproximados dos descodificadores, Celeste confirmou que, para

resolver o problema das televisões que recebem o sinal analógico, vai comprar «uma

televisão ou um aparelho». Ainda assim, a cozinheira demonstrou-se mais interessada

em alargar o serviço da TV Cabo às televisões da casa que só recebem o sinal analógico

terrestre. «Prefiro pôr mais canais também nessas televisões. Por acaso, há pouco

tempo, disse à minha filha que tínhamos que pôr mais canais nas outras televisões. Eu

se comprasse outra televisão seria para ter os canais todos. Questionada sobre se a

televisão digital, como tem na sua sala - com boa qualidade de imagem e mais canais -

se tornou imprescindível para o seu dia-a-dia, Celeste respondeu: «Para mim é

imprescindível». Américo concorda com a esposa, «diversos canais é melhor», apesar

de considerar que, mesmo os canais temáticos de cinema, deveriam ter mais filmes

novos e menos repetições.

Quanto à possibilidade da televisão integrar novos serviços úteis, Celeste demonstrou-

se interessada na possibilidade de saber quais as farmácias de serviço através da

televisão, bem como nos serviços de gravação de programas ou de Pausa TV. No

entanto, a cozinheira só se mostrou a favor destas novidades, depois de a

investigadora lhe falar no assunto. Habitualmente, quando não sabem como funciona

um equipamento electrónico, Celeste e Américo recorrem «aos mais novos»,

sobretudo à filha. É esta última que, segundo Celeste, se vai encarregar de obter apoio

para que os pais continuem a ter sinal em todas as televisões da casa.

Por fim, o casal “Graça” teve alguma dificuldade em responder à questão «Daqui a 5

anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo que vê hoje em

dia?». Celeste sublinhou que não sabe, mas considera que já vê televisão suficiente. Na

verdade, o seu sonho era poder ter um cinema em casa. «Da última vez que fui ao

cinema pensei: “Ai, se eu fosse rica, era uma coisa destas, uma televisão do tamanho

106

daquela parede que eu queria” (risos)». Quanto a Américo, este acha que não precisa

de ver mais televisão, mas precisa que «a televisão seja melhor».

Transcrição da entrevista semi-estruturada Celeste: Gosto muito deste canal de televisão… (um dos canais Discovery).

Este canal é pago não é?

Celeste: É. É muito bom. É como vivem determinados povos. (Enquanto vê o programa vai comentando) Está ali a fazer uma feijoada (risos). É feito com amor, diz ele. Diz que o ingrediente mais importante é o amor. São uns aventureiros.

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Celeste: Eu gosto muito deste género assim (programas como os do canal Discovery). O meu marido gosta muito de ver a bola (risos)

O que é que prefere ver na televisão?

Américo: É assim bicharada.

Celeste: E os filmes…

Américo: Sim, filmes.

Celeste: “Cowboyada” (risos).

Portanto, gostam de ver programas como os que passam no National Geographic, no Discovery Channel…

Celeste: Sim, é isso.

E os noticiários? Também gostam de ver?

Celeste: Sim, isso é sempre. Isso é o essencial.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Celeste: Sei lá… Eu tenho a impressão de que gosto de tudo, quando não gosto desligo (risos).

Américo: Às vezes aparece aí cada programa… Não se aproveita nada.

Celeste: Às vezes eu gosto e ele não gosta (risos).

Que lugar tem a televisão na sua rotina?

Celeste: À segunda não vejo, à terça também não e à quarta só estou a ver porque estou aqui. À noite vejo sempre. Nunca me deito sem ver televisão. Se há alguma coisa

107

que me agrade, algum filme, fico a ver. Gosto muito de cinema. Se eu sei que há algum filme que me agrade fico a ver, mas mais nos canais Hollywood ou TV Cine, que são os canais que têm os filmes melhores. O meu marido tão depressa está a ver televisão como está ali na rua.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Celeste: (referindo-se ao marido) Enquanto não adormece vê muitas (risos).

Américo: Às vezes acontece…

Mais ou menos três horas por dia de televisão?

Celeste: Mais! Vê mais… Ele gosta muito de ver as telenovelas. Eu não gosto.

Cinco horas?

Américo: Sim.

A Celeste vê mais?

Celeste: Sim, eu vejo mais porque eu vejo muita televisão à noite. E de manhã também, quando estou na cama, ligo a televisão no quarto.

P11. Onde vê mais televisão?

Celeste: Graças a Deus temos televisões em todos os quartos. Vemos mais aqui na sala.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões?

Celeste: Aqui em casa temos quatro, na sala e nos quartos. Depois lá no restaurante também temos e no escritório.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Celeste: Gosto muito de ver os filmes na televisão. Mas ao fim-de-semana eu também trabalho a fazer bolos. Tinha televisão na cozinha do restaurante, mas como os cozinheiros estavam sempre a olhar para a televisão, não se limitavam a ouvir, tivemos que a retirar. Eu gosto de estar a trabalhar e a ver televisão, mas não deixo de trabalhar para ver.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia? Celeste: Normalmente vemos os dois. Às vezes ele diz-me: “Estás a ver isso que não presta para nada”. Ele não gosta, mas eu gosto… P13. (família) Quando compraram o último televisor? Celeste: Não sei… Geralmente a minha filha é que trata disso. Este já foi o ano passado. Penso que foi no Natal, que ela me deu.

108

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Celeste: Não.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Celeste: Sim, para saber o que há. Uso para saber a programação dos canais a que eu aderi.

Usa muito?

Celeste: Não. De vez em quando.

E o senhor Américo, usa?

Celeste: Ele não. Ele custa-lhe muito ligar a televisão, porque tem pouca sensibilidade na mão direita.

Tem dificuldades em utilizar este tipo de comando?

Celeste: Sim, ele tem. Ele naquela mão tem pouca segurança e põe o comando na outra mão, que é para depois com a direita carregar. Mas geralmente pede-me sempre a mim ou a um empregado. (Dirigindo-se ao marido) Mas já tens mudado não tens? Já tens ligado a televisão sozinho…

Américo: Tenho.

Mas é difícil…

Celeste: É. Depois embaralha-se.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Celeste: Já.

Américo: Eu ouvi falar, mas não liguei nenhuma. P17. Que vantagens associa à TV digital? Celeste: Não ter as antenas? Ouviram falar na televisão?

Celeste: Não. Ouvimos às vezes os empregados a falar e assim.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Celeste: TV Cabo.

Duas das quatro televisões da casa têm quatro canais. As restantes têm apenas os 4 canais gratuitos de TV.

109

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Celeste: O sinal das televisões antigas não é? Já ouvi falar. Ainda há bocado um empregado meu estava a falar disso.

Sabe como se chama esse processo?

Celeste: Não.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Celeste: Não.

(É feita uma breve explicação sobre o “switch-off”)

Celeste: Mas as televisões podem ser transformadas…

P25. Sabe o que tem que fazer para continuar os 4 canais gratuitos de TV em casa?

Celeste: Tem que se comprar qualquer coisa, não é? Um aparelho qualquer para poder ver…

Tem a noção de que há custos envolvidos então…

Celeste: Sim.

(São revelados os custos dos descodificadores)

Estariam dispostos a dar este dinheiro para continuar a ter televisão (nas restantes televisões)?

Celeste: Sim, ou compro uma televisão ou compro um aparelho.

Acha que seria interessante passar a ter mais um canal de televisão gratuito nessas televisões onde só tem os quatro canais?

Celeste: Não, porque eu gosto de escolher os canais. Prefiro pôr mais canais também nessas televisões. Por acaso, há pouco tempo, disse à minha filha que tínhamos que pôr mais canais nas outras televisões. Eu se comprasse outra televisão seria para ter os canais todos.

Alargaria este serviço da TV Cabo às outras televisões?

Celeste: Sim.

Portanto, a televisão digital, com boa qualidade de imagem e mais canais tornou-se imprescindível?

Celeste: Para mim é.

Já não ficam satisfeitos só com os 4 canais.

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Américo: Sim, diversos canais é melhor. Eu acho é que dão poucos filmes.

Mas têm os canais de cinema, como o TeleCine, não têm?

Celeste: Temos, mas eles repetem muito os filmes. Ainda não temos uma televisão em condições. Ele diz tanta vez “Olha, eu já vi este filme!”. É raro ver um filme novo.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Celeste: Põem a bola ali à frente dos noticiários quando devia ser dada no fim…

Não tem ideia de serviços que gostasse de ter na TV?

Celeste: Assim agora não…

Vou dar-lhe um exemplo, poder saber qual é a farmácia de serviço através da televisão…

Celeste: Ah, sim, sim!

E um serviço como o de Pausa TV (é explicado o serviço)?

Celeste: Ah, isso era óptimo, porque a gente quando vem já não vê o que é que se está a passar.

P29. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Celeste: Recorremos aos mais novos (risos). A televisão eu já mexo nela bem, mas o telemóvel… Como não gosto muito do telemóvel, às vezes nem sei onde é que ele anda.

P28. A quem se vai dirigir de forma a obter apoio ou ajuda para continuar a ter os 4 canais gratuitos TV em casa? (nos restantes televisores)

Celeste: A minha filha vai-se encarregar disso.

E acha que ela sabe a quem recorrer?

Celeste: Sabe. Ainda há pouco lhe telefonaram por causa da televisão, que ela está para lá cheia de aparelhos no escritório.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Celeste: Ai não sei… Eu acho que o que vejo é o suficiente.

Américo: Eu não preciso de ver mais, só preciso é que a televisão seja melhor.

Celeste: Olhe, eu agora tenho ido mais ao cinema porque abriu um cinema novo. Da última vez que fui, para ver o filme “Comer, Orar e Amar”, pensei: “Ai, seu eu fosse rica, era uma coisa destas, uma televisão do tamanho daquela parede (risos). É que eu gosto muito de televisão.

111

Gostava de ter um cinema em casa…

Celeste: Era isso mesmo (risos).

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Celeste: Ai vai ser grande!

Como uma tela de cinema?

Celeste: Sim, acho que sim. Já não estou é cá para ver.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Celeste: 74 anos. Américo: 77 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Atalaia, Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Celeste é reformada, mas ainda trabalha activamente no restaurante da quinta onde organizam casamentos e baptizados. Américo é reformado e já não trabalha. P39. Habilitações académicas Celeste: 3º ano. «Ambos andámos a estudar. Ele andou num colégio em Lisboa e eu só tirei o 3º ano». P41. Nº de pessoas no agregado familiar Duas pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam, mas Celeste vai começar brevemente a fazer um curso de informática, na Universidade Sénior, porque tenciona aprender a mexer no computador. «Acho que isso é importantíssimo», diz. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Televisões, DVD e aparelhagem.

112

Figura 1 – Carlos vê muito mais televisão do que a esposa, usando quase exclusivamente a única TV da casa

Relatório da visita a casa da família 11 (“Assis”)

5 de Novembro de 2010

Alenquer

Carlos: 76 anos, reformado.

Rosa: 76 anos, reformada.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Assis”, de Alenquer, no dia 5 de Novembro

de 2010. O agregado familiar dos “Assis” é composto por um casal: Rosa e Carlos,

reformados do sector da agricultura, ambos com 76 anos. A visita teve início pelas

15h00 e durou cerca de 40 minutos. Os “Assis” vivem numa vivenda rodeada por uma

pequena quinta, vestígio da familiaridade que têm com o campo. Agora que estão

reformados, têm rotinas muito diferentes. Carlos é um verdadeiro adepto da televisão.

Desde que o televisor da marquise avariou, é ele que utiliza quase exclusivamente a

única televisão da casa. Rosa vai aproveitando os momentos em que o marido não está

a ver o futebol ou o “wrestling”. Nessas alturas, acompanha-o a ver, por exemplo, o

telejornal ou programas de conversa como As Tardes da Júlia, com Júlia Pinheiro ou o

Você na TV, com Manuel Luís Goucha. Ainda assim, Rosa prefere estar no café com as

113

amigas ou ler um pouco, assumindo que «não tem muita paciência para a televisão».

«Eu não vejo muita televisão. O meu marido é que vê todos os jogos. A gente tem tido

sempre duas televisões, mas uma avariou (…) À tarde eu via as novelas, mas o meu

marido é uma pessoa carente, gosta de conversar e eu, em vez de ver as novelas,

estou a conversar com ele (…) Já vi mais televisão, porque ele gosta de ver a bola e eu

não vejo. Estou aqui e fecho os olhos», explica. Enquanto Carlos gosta de dormir até

tarde, Rosa utiliza a manhã para fazer tarefas domésticas e conversar com as amigas,

em Alenquer. Quando está em casa de manhã, a televisão não é ligada, já que Carlos

está a descansar. No entanto, Rosa tem por hábito ligar o rádio enquanto está na

cozinha ou a tratar de roupas. «Utilizo o rádio todos os dias (…) Gosto de ouvir

enquanto estou de pé e ando para aqui e para acolá», descreve. No que toca às

preferências de cada um, como já foi referido, Rosa acaba por se restringir aos

conteúdos que lhe agradam dentro da programação que o marido escolhe. Poucas

vezes vê televisão sozinha, até porque normalmente tem mais com que se ocupar.

«Aqueles programas da tarde gosto de assistir. Ele às vezes está nesses canais.

(Virando-se para o marido) O que é que tu gostas de ver? Júlia Pinheiro, Goucha… É

todos esses… Mas eu não vejo muito (…) Eu ocupo-me muito bem. Não me levanto

tarde como ele. De manhã, penso o que é que tenho que fazer, se me falta alguma

coisa, pego no carro e vou buscar. Depois demoro-me. Vou ao café, vejo as pessoas

que eu gosto e ele fica deitado. Eu converso até ver que não sou precisa. Depois

Figura 2 – Rosa sublinha que prefere passear e socializar do que ficar em casa a ver TV

114

quando vejo que não posso estar mais tempo a conversar, venho fazer qualquer coisa

para a gente comer e depois damos uma volta os dois. Se alguma vez ele não está, eu

vou para o primeiro andar ler. E depois, à tarde, gosto de apanhar sol». Ao contrário

de Rosa, Carlos passa muito do seu tempo em frente ao ecrã. O antigo agricultor não

parece ter uma vida social tão activa como a da esposa e diz que é capaz de passar

horas em frente ao ecrã, a ver competições de ciclismo, futebol ou “wrestling”. «O

meu desporto preferido é o ciclismo. Primeiro é a volta à Itália, depois vejo a volta à

França, a volta à Espanha, vejo tudo», explica Carlos, realçando que paga 33 euros e 77

cêntimos por mês para poder ter acesso a esses conteúdos, na Sport TV. Quanto ao

“wrestling”, na SIC Radical, «é muitas horas a ver», conta Rosa. «Quase todos os dias»,

acrescenta Carlos. Fazendo as contas, Rosa acaba por ver, no máximo, cerca de três

horas de televisão por dia, sendo o período da noite aquele a que mais assiste

televisão. Carlos afirma ver o mesmo tempo, «duas, três horas», mas a esposa

recorda-lhe que ele vê todas as corridas de bicicletas e que «às vezes nem quer ir ao

café porque está a dar a volta à França», sugerindo que o marido tem alguma

dependência da televisão. Ao fim-de-semana, a rotina é diferente, já que o casal sai

muito para passear, como é o caso deste sábado, em que se preparam para ir a uma

excursão. Rosa explica que «só se chover ou estiver frio» ficam em casa em frente ao

ecrã. Carlos acrescenta a excepção dos dias de jogo: «se houver bola…», também fica

em casa.

Figura 3 – A família “Assis” tem televisão por cabo, usufruindo de um pacote de canais mais vasto do que o básico, para que Carlos possa ver os canais de desporto

115

Os “Assis” já chegaram a ter três televisões em casa, quando o filho ainda não tinha

casa própria. De acordo com o casal, a situação de terem apenas um televisor é

provisória, pois pensam comprar uma televisão nova para a marquise da cozinha, de

forma a substituir a que se avariou. A família é servida pela TV Cabo, tendo um pacote

de canais mais alargado do que o básico, que lhes permite ver a Sport TV. Nem Carlos

nem Rosa sabiam o que é o teletexto e, depois de lhes ter sido explicado, afirmaram

«nunca terem sido habituados a usar» este serviço.

No que toca ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV Digital, Rosa e

Carlos afirmaram já ter ouvido falar no tema, mas não foram capazes de explicar em

que é que consiste este tipo de transmissão televisiva nem de relacionar quaisquer

vantagens ou desvantagens à TV digital. «Já tenho ouvido falar. Mas foi pouco. A gente

também não está assim muito interessada em saber porque temos um filho que nos

explica…», diz Rosa. Quanto ao desligamento do sinal analógico de TV, Carlos afirma

ser «a primeira vez que ouve falar nisso». Depois de lhes ter sido feita uma breve

explicação sobre o “switchover” digital, o casal disse encarar a novidade como algo

positivo. «Eu acho que é sempre bom essas coisas», considera Rosa. «Eu acho que isso

vai ser uma inovação, que vai ser bom», acrescenta Carlos. O casal não fazia ideia da

possibilidade desta transição envolver custos, mas caso necessitasse de adaptar a sua

televisão, não se importaria de pagar uma importância mensal semelhante à que paga

pela TV Cabo. «Quanto estaria disposto a pagar para continuar a ter TV em casa?

Carlos: Essa parte dos 33 euros… (Os 33,77 euros mensais que pagam pela TV Cabo).

Mais do que isso não seria muito fácil». Ou seja, a família “Assis” não se demonstrou

disposta a pagar mais do que paga actualmente pelo consumo de televisão. Caso o

televisor da marquise não se tivesse avariado, Carlos e Rosa teriam de arranjar uma

forma de o ligar à TV Cabo ou à Televisão Digital Terrestre, uma vez que este só

apanhava os quatro canais. Para resolver este tipo de situações, normalmente o casal

recorre ao filho. «É o meu filho que nos ajuda. Qualquer coisa que haja…», explica

Carlos. Há pouco tempo, devido à trovoada, a caixa da TV Cabo deixou de funcionar e

foi o filho que tratou de ajudar os pais a trocar de caixa. De resto, Carlos e Rosa

explicam que nunca tiveram problemas com a TV Cabo. Rosa confessa que,

inicialmente, o novo sistema de televisão lhe pareceu «um bocadinho» mais difícil de

116

utilizar do que a televisão analógica, mas Carlos afirma que «não teve dificuldades» em

adaptar-se ao sistema digital.

No que respeita ao consumo de televisão desta família nos próximos tempos, Carlos

considera que não verá mais televisão do que actualmente, pois já é um espectador

assíduo, sobretudo dos conteúdos desportivos. Por outro lado, Rosa assume a

possibilidade de ver mais televisão nos próximos tempos. «Eu sou capaz de ver mais

agora no Inverno do que tenho visto. As noites são grandes e frescas e a televisão

serve para entreter um bocadinho mais».

Por fim, questionados sobre como imaginam a televisão daqui a dez anos, Carlos e

Rosa sugerem que a televisão, como tecnologia, está sempre a evoluir. «O mundo está

sempre em mudanças, portanto, vai haver novas tecnologias… E nós temos que nos

adaptar», refere Carlos. A possibilidade de a televisão integrar novos serviços e

funcionalidades, como a gravação de programas, não interessa muito ao casal. Carlos,

apesar de confessar que seria capaz de ver 10 horas seguidas de “wrestling” caso

pudesse gravar os episódios, afirma que «isso é para a malta nova». Nem mesmo os

serviços de informação útil relacionados com saúde ou os resultados desportivos

parecem despertar a curiosidade do casal “Assis”, que parece satisfeito com a

televisão tal e qual como a consome actualmente.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

(Antes do início da entrevista semi-estruturada, na cozinha, Rosa vai falando um pouco dos seus hábitos) Rosa: Amanhã vou a uma excursão e estou a ver coisas que são precisas…

Prefere passear do que ficar em casa…

Aqui não tem televisão…

Rosa: Não, não. Nós tínhamos aqui uma, mas avariou. Temos que comprar uma para aqui para a marquise.

Faz-lhe falta a televisão aqui nesta zona?

Rosa: Faz, faz, aqui na marquise. Na cozinha não, porque a cozinha é pequenina.

117

Na garagem, a família tem duas antenas em cima de um móvel. Rosa diz que não as utilizam e não sabe para que servem. Neste momento, a única televisão da casa é servida pela TV Cabo.

Rosa: Aquelas antenas deram ao meu filho, mas não estão a ser usadas.

Rosa: Eu não vejo muita televisão. O meu marido é que vê todos os jogos. A gente tem tido sempre duas televisões, mas uma avariou.

E este rádio, utilizam?

Rosa: Sim, utilizo quase todos os dias. Eu gosto de fazer a comida aqui nesta cozinha e então todas as manhãs ligo. (…) Gosto de ouvir enquanto estou de pé e ando para aqui e para acolá.

Gosta de ouvir rádio…

Rosa: Um bocado. Da parte da manhã. À tarde eu via as novelas, mas o meu marido é uma pessoa carente, gosta de conversar e eu em vez de ver as novelas estou a conversar com ele. Então, a gente vê as notícias e depois conversa.

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Carlos: Futebol, notícias e o “wrestling” luta livre.

Em que canal é que vê o “wrestling”?

Carlos: O “wrestling” é no 22…SIC.

Na SIC Radical, não é?

Carlos: Sim.

Vê muitas vezes?

Carlos: É quase todos os dias.

Rosa: É muitas horas a ver.

Carlos: O meu desporto preferido é o ciclismo. Primeiro é a volta à Itália, depois vejo a volta a França, a volta a Espanha, vejo tudo.

Em relação ao “wrestling”, é tudo em inglês, não é?

Carlos: É.

O senhor acompanha bem as legendas?

Carlos: Não, mas o “wrestling” é dobrado em português.

Rosa e Carlos acendem a televisão para mostrar um pouco dos canais que costumam ver. Começam por um jogo de futebol, que está a passar na SportTV.

118

Rosa: Lá está… Isto é uma perdição. Ele também vive.

Carlos: O 22 é o “wrestling”, não sei se está a dar agora. Não. Estão a dar desportos radicais.

Tem a Sport TV não é? Esses canais são todos pagos à parte…

Carlos: São 33 euros e 77 cêntimos…

Rosa: Por mês?

Carlos: Por mês.

E a senhora? Que canais gosta de ver?

Rosa: Ah… É assim, eu gosto de ver, mas não tenho muita paciência. Sento-me, mas parece que quando me levanto perco-me. Mas quando é um programa bom à tarde, eu estou aqui um bocadinho.

A que programas é que gosta mais de assistir?

Rosa: Aqueles da tarde gosto. E até da manhã. Qualquer um assim que tenha… coiso.

RTP, SIC e TVI, certo?

Rosa: Sim, ele às vezes está nesses canais. (Virando-se para o marido) O que é que tu gostas de ver? Júlia Pinheiro, Goucha… É todos esses… Mas eu não vejo muito. Já vi mais. Porque ele gosta de estar a ver bola e bola eu não vejo. Estou aqui e fecho os olhos. Não tenho muita paciência

Estava-me a dizer que antigamente gostava de ver as novelas, mas que nem sempre podia…

Rosa: Sim, houve um tempo que eu gostei, mas depois também me aborreci. Não sei. Agora também só temos esta televisão. Estamos à espera da outra… Não sei se agora no Inverno a novela dá mais cedo. A gente também não se deita muito tarde. A gente conversa muito.

Então preferem conversas a ver televisão…

Carlos: Eu gosto mais de televisão.

Rosa: Mas depois já é muitas horas… É a tarde toda e um bocado da manhã… Ele está sempre aqui…

Carlos: Política gosto muito de ver. Perco horas a ver política.

Como o debate do Prós e Contras?

Rosa: Ah, esse também eu gosto. Mas a outra política eu já não…

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

119

Rosa: Olhe, touradas não aprecio nada. Tenho pena…

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Carlos: Vamos até às Caldas da Rainha tomar um café…

Rosa: Eu ocupo-me muito bem. Não me levanto tarde como ele. De manhã, penso o que é que tenho que fazer, se me falta alguma coisa, pego no carro e vou buscar. Depois demoro-me. Que eu não gosto de ir aqui e acolá muito à pressa. Vou ao café, vejo as pessoas que eu gosto e ele fica deitado. Eu converso até ver que não sou precisa. Depois quando vejo que não posso estar mais tempo a conversas, venho fazer qualquer coisa para a gente comer e depois damos uma volta os dois. Se alguma vez ele não está, eu vou para o primeiro andar ler. E depois à tarde gosto de apanhar sol.

Carlos: Ai eu adoro a cama (risos). Raramente dou os bons dias às pessoas. Ela sai muito é à noite, com as amigas.

Rosa: Saio à noitinha por aí. Não é à noite escura. É assim depois do jantar.

Carlos: Ela das seis às sete…

Rosa: Pira-se (risos).

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Rosa: Vejo pouco. Oiço rádio de manhã enquanto faço a comida. Se estou a lavar a roupa ou qualquer coisa eu oiço rádio, até o levo lá para trás, para ao pé de mim, se for preciso. Depois, normalmente só vejo televisão à uma hora, para ver as notícias. Vejo talvez umas três horas de televisão por dia, se vir alguma coisa à noite que me agrade. Agora se é luta livre ou futebol não vejo.

Carlos: Duas, três horas…

Rosa: Só Carlos? As corridas de bicicletas do verão ele vê todas…

Carlos: Volta a Itália, volta à França, depois volta à Espanha e volta a Portugal. Vejo todas e tem que ser todos os dias.

Rosa: Às vezes já nem quer ir ali ao café porque está a dar a volta à França.

Carlos: Vais tu, que tens ali o teu carro.

O senhor prefere ficar a ver televisão…

Carlos: Ah isso sim.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Rosa: A gente sai.

Carlos: Amanhã vamos numa excursão.

Preferem passear ao fim-de-semana…

120

Rosa: Sim.

Há fins-de-semana em que ficam em casa a ver televisão?

Rosa: Só se chover ou estiver frio.

Carlos: Não muito.

Então não se vê televisão ao fim-de-semana…

Carlos: Se houver bola…

O senhor Carlos também ouve rádio?

Carlos: Não. Rádio nem no carro.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Rosa: Temos esta na sala, mas vamos comprar outra para a marquise, para substituir a que se avariou. Porque sempre tivemos pelo menos duas televisões. Quando estava cá o nosso filho tínhamos três.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Carlos: Já aí há uns doze ou treze anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

(Ver resposta a pergunta P12.)

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

(Rosa faz uma expressão de estranheza e olha para o marido)

Rosa: teletexto?

Carlos: Eu já ouvi falar no teletexto, mas não sei…

(Depois de uma curta explicação sobre no que consiste o teletexto)

Rosa: Nunca fomos habituados a usar…

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Rosa: Já tenho ouvido falar. Mas foi pouco. A gente também não está assim muito interessada em saber porque temos um filho que nos explica…

Mas tem alguma ideia das vantagens da TV digital?

Rosa: Não, não tenho.

E das desvantagens?

121

(Rosa pensa um pouco e olha novamente para o marido)

Carlos: Não sei, desvantagens não sei.

Por acaso sabem se a televisão que têm aqui é televisão digital?

Rosa: Não sei.

Carlos: Não sei.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Carlos: TV Cabo. Pagamos 33 euros e 77 cêntimos sempre.

E porque razão têm TV Cabo?

Carlos: Para ver o “wrestling”, a volta em bicicleta e os jogos da bola.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Carlos: Não. É a primeira vez que oiço falar nisso.

Rosa: Não.

(Explica-se no que consistirá o “switchover” digital e que Alenquer será uma das três zonas piloto para a transição para a televisão digital)

Faziam alguma ideia deste processo?

Rosa: Não, não.

O que acham disto?

Rosa: Eu acho que é sempre bom essas coisas…

Imaginem que ainda tinham a anterior televisão (que tinha apenas os 4 canais), sabiam o que teriam de fazer para continuarem a ter sinal nessa televisão?

Carlos: Não.

Rosa: Não.

P26. Sabe se há custos envolvidos para continuar a ter TV em casa?

Carlos: Não.

P27. Quanto estaria disposto/a a pagar para continuar a ter TV em casa?

Carlos: Essa parte dos 33 euros… (Os 33,77 euros mensais que pagam pela TV Cabo). Mais do que isso não seria muito fácil.

P29. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

122

Carlos: É o meu filho que nos ajuda. Qualquer coisa que haja…

P30. Instalar e usar TV digital é mais simples ou complicado que a TV analógica, em sua opinião?

Rosa: No princípio foi um bocadinho, não foi Carlos?

Carlos: Eu não tive dificuldades.

Rosa: Agora com a trovoada deixou de funcionar. Tivemos que ir trocar a caixa. Tive que ir com o meu filho a Torres Vedras para trocar a caixa.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Carlos: Mais do que aquilo que vejo não…

Rosa: Eu sou capaz de ver mais agora no Inverno do que o que tenho visto. As noites são grandes e frescas e a televisão serve para entreter um bocadinho mais.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Carlos: O mundo está sempre em mudanças, portanto, vai haver novas tecnologias… E nós temos que nos adaptar.

Acham que para as pessoas de mais idade será mais difícil a adaptação a essas novas tecnologias da televisão?

Carlos: Acho que não. Se a pessoa souber carregar no botão…

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Rosa: Não sei… Eu não tenho muita paciência.

Por exemplo, poder ver quando quer o “wrestling”, gravando o programa…

Rosa: Ah isso sim.

Carlos: Isso sou capaz de estar dez horas seguidas a ver (risos).

Interessa-lhe a possibilidade de gravar os programas?

Carlos: Isso é para a malta nova. Eu já estou com 76, isso já não é para mim…

E poderem ver, através da televisão, qual é a farmácia de serviço?

Carlos: Também não temos grande interesse nisso.

E notícias e resultados desportivos?

Carlos: Não…

Depois deste fim-de-semana em que vai à excursão, por exemplo, poder ver os resumos dos jogos a que não pôde assistir…

123

Carlos: Não. Não tem grande interesse. O que passou passou.

Há programas que deixam de ver por serem legendados e terem dificuldades em acompanhar as legendas?

Rosa: Se forem em inglês a gente apanha qualquer coisa.

Se os filmes fossem dobrados em português, viam mais?

Rosa: Não…

Carlos: Não perco muito tempo a ver filmes…

Gostariam de acrescentar alguma coisa acerca deste tema da TV digital?

Carlos: Eu acho que isso vai ser uma inovação, que vai ser bom.

Mesmo que tenham que fazer algum investimento, acham que é algo necessário?

Carlos: Eu julgo que sim, temos que acompanhar a evolução.

Rosa: Sim, temos que acompanhar.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Ambos têm 76 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Vila Verde dos Francos, Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Reformados do sector da agricultura. P39. Habilitações académicas Têm ambos a 4ª classe. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Duas pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Ambos usam já alguns anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam nem sabem usar. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Rádio e televisão. Rosa explica que o seu filho é que tem todos estes equipamentos.

124

Figuras 1 e 2 – Avó, mãe e filha conversam na sala-de-estar, com a TV ligada

Relatório da visita a casa da família 12 (“Marques”)

8 de Novembro de 2010

Nazaré

Carla (mãe): 50 anos, desempregada.

Amélia (avó): 76 anos, reformada.

Rodrigo (avô): 71 anos, reformado.

Lara (filha): 18 anos, estudante.

Cristiano (filho): 23 anos, engenheiro informático.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Marques”, da Nazaré, no dia 8 de Novembro

de 2010.

O agregado familiar dos “Marques” é composto por cinco pessoas: os avós, Amélia e

Rodrigo, de 76 e 71 anos, a mãe, Carla, de 50 anos, e os filhos, Lara e Sérgio, de 18 e 23

anos. A visita teve início pelas 14h00 e durou cerca de 65 minutos. Sérgio era o único

que não estava em casa, uma vez que actualmente vive e trabalha em Lisboa.

O início da tarde dos “Marques” é passado na sala de estar, em frente à televisão.

125

Amélia, Carla e Lara estão sentadas no sofá e conversam sobre as pessoas da terra. Na

televisão passa o programa As Tardes da Júlia, mas as histórias de quem está na TV são

secundárias. Carla está a bordar enquanto conversa. Lara – que hoje não tem aulas à

tarde – aproveita a companhia das familiares, observando o trabalho da mãe. Mais

tarde, a jovem vai um pouco para o computador, ligando-se aos amigos através do

MSN Messenger. É junto do portátil que esta passa a maior parte do tempo.

«Basicamente só vejo televisão um bocadinho de manhã enquanto me estou a arranjar

para ir para a escola e depois do jantar», diz a jovem, afirmando que o resto do tempo

é passado em linha ou a estudar. Nas duas a três horas diárias que vê de televisão, Lara

varia nos conteúdos: «Gosto de ver a Júlia Pinheiro quando tenho tempo, vejo a Casa

Figura 3 – Lara, de 18 anos, passa muito tempo na internet, sobretudo em “chats”

Figura 4 – Amélia explica que, por vezes, a TV atrasa-a nas tarefas domésticas e tem de a desligar para não se desconcentrar

126

dos Segredos e gosto de ver o National Geographic e o Odisseia». Por outro lado, não

aprecia concursos como o Quem quer ser milionário ou O Preço Certo, ao contrário da

avó, principal consumidora de televisão da família. Amélia vê mais de 6 horas diárias

de televisão e gosta de assistir aos programas em que é testada a cultura dos

participantes. Ainda assim, nenhum concurso ultrapassa o imperdível Preço Certo. «À

hora do jantar ninguém tira o Fernando Mendes à minha mãe», explica Carla. «Ah pois

não! Eu gosto! Já gostava do pai dele. Quando ele entrava no palco era logo uma

barrigada de riso, só com aquelas banhas todas a abanar», responde Amélia.

Reservando para si uma das cinco televisões da casa, Amélia passa toda a tarde em

frente ao ecrã, sentada na sua cadeira preferida. «Vejo a Júlia até determinada altura e

depois passo para o Portugal no Coração. E quem não quiser ver, corra, porque ainda

há aí mais televisões». No entanto, quando tem as tarefas domésticas pendentes,

Amélia resiste à tentação de ligar o televisor. «Da parte da manhã, pelo menos, se

ninguém a acender, eu nunca a acendo. Tenho a minha lida para fazer e se está a dar

alguma coisa que me interessa, está-se outra coisa a atrasar. Para isso não acontecer,

não a acendo». Também os momentos de oração são incompatíveis com a TV. «No fim

do jantar sento-me aqui. Às vezes apago a televisão para fazer as minhas orações e

depois volto a acendê-la». Carla explica que o resto da família vê menos televisão, no

entanto, o aparelho está sempre ligado: «A Lara tem os trabalhos da escola, está no

computador e às vezes faz lá as “conversetas” com os colegas; eu estou nos bordados,

tenho a televisão ligada às vezes 4 e 5 horas seguidas, mas não estou a ver. Estou a

ouvir, faz-me companhia (…) Não deixa de lá estar, está sempre presente». Apesar de

não dar atenção exclusiva à televisão, Carla passa algumas horas entretida com os

programas do canal Travel, sobre decoração e arquitectura. «Essas coisas gosto de ver.

E gosto de ver a SIC Notícias, que engloba todas aquelas entrevistas políticas. E

também vejo a minha novela, pronto… Gosto de seguir». Já Amélia admite que, ao

contrário da filha - adepta dos debates - só aprecia um programa de informação: o

Portugal em Directo, ao fim da tarde, na RTP. «O noticiário que gosto de ver é aquele

das seis às sete. Só fala no nosso país e não fala no país dos outros. Eu só vivo aqui!».

Amélia até acha interessante a ideia de ser criado um canal só sobre a sua região,

lembrando que «a gente tem coisas tão bonitas». Carla fica ainda mais agradada com

127

esta possibilidade e aponta a televisão espanhola como um exemplo a seguir: «Há um

canal que eu gosto muito de ver, que é o canal da Galiza. Eles apresentam uma

pequena aldeia – se formos lá não tem graça nenhuma – como uma pequena

maravilha. A forma como tratam o assunto, um pequeno bosque, uma ruína… Eles

fazem sobre aquilo um programa e eu gosto de ver. Assim como a TVE. Gosto muito de

ver porque mostra muito sobre Espanha. Durante o Verão deu um programa que

começou pelo norte de Espanha, na Galiza e correu toda a Espanha (...) Espectacular!

Mostrou cidades, aldeias, as ilhas… Parece que estou a viajar a ver aquilo (…) Gostava

que as televisões portuguesas fizessem do nosso país, que tem coisas tão bonitas, o

mesmo tipo de programa. Está bem que eles devem ter outras possibilidades

financeiras, mas os portugueses perdem tanto tempo a fazer séries ou até a comprar

programas ao estrangeiro para adaptar, que se calhar também conseguiriam (…) Não

precisa de ser um canal em cada região, mas um único a preocupar-se a fazer isso (…)

Eu gosto desses programas. Fazem-me viver. E se mostram coisas que eu já conheci e

de que gostei, então fico ali, parece que não está cá ninguém. Estou só eu e a minha

televisão». Amélia vai concordando com os argumentos da filha na defesa de uma

televisão que mostre o artesanato, os hábitos e as histórias dos portugueses, e Lara

acrescenta: «Eu acho que era interessante, mas abordarem o passado, o presente e

fazerem uma perspectiva de como vai ser daqui a alguns anos».

Rodrigo, o avô, só chega à sala mais tarde e resiste um pouco em falar dos seus hábitos

em relação à televisão. No entanto, visto ser ele o único a usar o teletexto, acaba por

Figura 5 – Rodrigo mostra o aparelho de “Home Cinema” que a família possui

128

participar na entrevista explicando a sua experiência neste âmbito: «Uso para ver os

programas que vão dar no dia, ver se ganhei o Totoloto ou o Euro Milhões…». Rodrigo

considera que seria útil, «para quem não tem computador», a existência de um serviço

que proporcionasse a leitura de notícias na televisão. Carla concorda com o pai, mas

entusiasma-se mais com a possibilidade de poder aceder a informações sobre bens e

serviços na televisão.

No que toca ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital, os

“Marques” afirmaram já ter ouvido falar nesta forma de transmissão (P16). No

entanto, nenhum deles foi capaz de apontar as vantagens ou desvantagens associadas

à TV digital (P17). Carla demonstra-se um pouco confusa em relação ao tema,

apresentando algumas dificuldades com o vocabulário ligado à TV digital. «Não sei… Eu

sei que vamos passar, até porque quando foi da Cabovisão andaram a trocar as boxes,

para preparar para a… De resto, não estou lá muito bem informada sobre isso». Já

Rodrigo, que no decorrer da entrevista demonstrou ter a noção de uma passagem para

o digital, sem no entanto a conseguiu explicar, espera que a empresa que lhes fornece

televisão – a Cabovisão – trate de adaptar os seus televisores ao novo sistema de

transmissão. «Eu não sei se quando passar a ser unicamente a digital, a própria

Cabovisão vai meter o digital nos televisores». Carla foi a primeira a mencionar que

ouviu falar na compra de um aparelho para se poder aceder à televisão digital. «Ouvi

na televisão uma entrevista qualquer a alguém e ouvi dizer que era perto. Não fixei a

data, mas disse “Epá está quase”. Eles falaram num aparelho que tinha que se

comprar. Não deram preços, ou pelo menos eu não fixei». Com excepção de Amélia,

parece que os “Marques” já se tinham apercebido de que irá haver um desligamento

do sinal analógico, apesar de não saberem bem o que é este processo representa,

como se denomina ou a sua data-limite. Na verdade, nestas questões tecnológicas,

quem costuma estar mais por dentro dos assuntos é Sérgio, o filho mais velho,

licenciado em Engenharia Informática. É este quem normalmente resolve os

problemas quando alguém não sabe como funciona um dado equipamento electrónico

(P29). Questionados ainda sobre a possibilidade de verem mais ou menos televisão no

futuro (P32), os “Marques” apresentam perspectivas diferentes. Carla diz que tudo

depende da idade, explicando que a diminuição da actividade significa ver mais

129

televisão; Rodrigo acha que passará menos horas em frente ao ecrã; e Lara acha que

verá «mais ou menos a mesma coisa».

Por fim, quanto às ideias sobre a televisão do futuro, Carla, por exemplo, revela

admiração pela televisão tipo projector. «Eu acho muito interessante a pessoa

projectar o que quer ver numa parede. Já tenho visto programas sobre isso. Não

ocupar espaço». Amélia brinca com a situação, dizendo que não têm espaço na sala

para tal inovação («Aqui só se for no tecto!»), ao que a filha responde que a projecção

é possível numa simples folha de papel. Carla acrescenta ainda a vontade de, um dia,

poder ter uma televisão portátil, que lhe permitisse, por exemplo, esperar a sua vez no

centro de saúde, a ver um programa de que goste. «Por exemplo, agora estou aqui

numa sala de espera do hospital e estão a ver alguma porcaria e eu vou ver o que

quero. Ainda no outro dia, no centro de saúde, me aconteceu terem a televisão num

canal que não me interessava e pensei “agora é que me apetecia ter aqui qualquer

coisa com que uma pessoa estivesse distraída”».

Transcrição da entrevista semi-estruturada Amélia: Eu vejo um pouco de cada. Gosto mais assim de programas deste género (As Tardes da Júlia) e vejo poucas novelas. Irritam-me as novelas.

Carla: (risos) Ela gosta muito enquanto está tudo muito bem. Quando começa aquela parte complicada de fazer mal uns aos outros, de intriguismo, desiste. Porque a minha mãe vive. Não vê aquilo como um filme. A minha mãe está a ver e a viver aquilo.

Amélia: E filmes, só gosto daqueles filmes com drama, mas daqueles dramas que não sejam violentos.

Gosta de filmes antigos, como os que passam na RTP Memória?

Amélia: Exactamente. Ando à procura, a ver onde está alguma coisa que me interessa e vejo. E não é só filmes antigos. Dão muitas palestras antigas… Eu gosto de ver. Isto de ver a Júlia Pinheiro é porque no outro lado está a dar uma novela.

Lara: Eu gosto de ver a Júlia Pinheiro quando tenho tempo, vejo a Casa dos Segredos, gosto de ver o National Geographic e o Odisseia.

Algum programa em específico nesses canais temáticos?

Lara: Programas sobre o Ambiente.

Gostas de séries?

130

Lara: Só o CSI.

Carla: Eu gosto muito de ver, por exemplo, o Travel. Gosto muito de ver aqueles canais que têm aqueles programas sobre decoração, arquitectura, essas coisas; gosto de ver a SIC Notícias, que engloba todas aquelas entrevistas políticas, que gosto muito de ver. E também vejo a minha novela, pronto… Gosto de seguir. Há uma ou outra que eu não gosto tanto e sou capaz de prescindir dela para ir para o Travel ou para um programa da SIC Notícias. Por exemplo, à segunda-feira gosto de ver os Prós e Contras. Dentro desses programas eu gosto.

Amélia: Eu disso já não gosto. Enerva-me. O noticiário que gosto de ver é aquele das seis às sete. Só fala no nosso país e não fala no país dos outros. Eu só vivo aqui!

Gosta de ver coisas sobre a zona onde vive?

Amélia: Exactamente. Gosto de ver coisas do nosso país.

Acha que se houvesse um canal só sobre a sua região era interessante?

Amélia: A gente tem coisas tão bonitas.

Carla: Sim, era interessante. Há um canal que eu gosto muito de ver que é o canal da Galiza. De uma pequena aldeia, que se nós lá formos aquilo não tem graça nenhuma, eles apresentam-na ali como uma pequena maravilha. A forma como tratam o assunto, um pequeno bosque, uma ruína… Eles fazem sobre aquilo um programa e eu gosto de ver aquilo. Assim como a TVE. Gosto muito de ver porque mostra muito sobre Espanha. Durante o Verão deu um programa que começou pelo norte de Espanha, na Galiza, correu toda a Espanha, o Mediterrâneo todo por aí abaixo e depois outra vez pela Estremadura acima. Espectacular! Correu o país todo, mostrou cidades, aldeias, as ilhas… Eu, parece que estou a viajar a ver aquilo. Gosto imenso de a ver aqueles programas. E gostava que as televisões portuguesas – fosse qual fosse – fizessem do nosso país, que tem coisas tão bonitas, o mesmo tipo de programa. Está bem que eles são capazes de financeiramente ter outras possibilidades, mas os portugueses perdem tanto tempo a fazer séries ou até a comprar programas ao estrangeiro para adaptar, que se calhar também conseguiriam. Talvez não com tantos meios nem com tanto impacto, mas irem…Até podia ser um único a fazer isso no nosso país. Não precisa de ser um canal em cada região, mas que fosse um único a preocupar-se em fazer isso. Porque quem não pode viajar… Eu gosto desses programas. Faz-me viver. E então se mostra coisas que eu já conheci e que gostei, então eu fico ali, que parece que não está cá ninguém. Estou só eu e a minha televisão.

Então não é só o desconhecido que procura ver nesse tipo de programas. É também aquilo que já conhece…

Carla: Sim, mesmo aquilo que conheço. Agora há uns dias, quando mostrou o Papa em Santiago de Compostela, eu estava a viver aquilo porque há dois anos estivemos em Santiago de Compostela. Aquelas ruas, mostravam aquelas ruas e eu estava-me a ver ali porque eu estive lá. E a Lara também lá esteve. Parece que nos toca ainda mais porque nós já lá estivemos. Ainda outro dia deu Valência. E nós estivemos lá. Estavam

131

a mostrar o Oceanário de Valência e a Lara adorou aquilo tudo quando andámos por lá. Mostraram e eu até chamei a Lara “Olha, anda cá ver o oceanário”. Porque eu fixo aquelas coisas e quando vejo, penso assim: “E Portugal não faz…”. Lá faz um ou outro programa sobre uma ou outra cidade, uma ou outra vila, mas depois esquece tudo o resto. Ou então é só nesse programa do “Regiões” que mostram.

Amélia: Esse é bom.

Carla: Mas é tudo muito superficial. E os programas da manhã, quando abordam, também é tudo muito superficial. Não mostram o artesanato, que eu gosto tanto de ver, e essas coisas… E aquilo revolta-me. Já os espanhóis já mostram o artesanato, os modos de viver, a gastronomia… Têm a preocupação, que eu não vejo aqui em Portugal, porque é tudo muito a correr. Por exemplo, eles já têm vindo à Nazaré. Estão a falar de uma coisa e a mostrar outra. E depois, de repente, já acabou e a pessoa fica sem saber. “Mas conversaram de quê? Então, mas já passou”. E quando vamos para ver a entrevista ou qualquer coisa já passou. Não mostrou nada. As coisas deviam ser mais aprofundadas. Não digo só da Nazaré. Que fosse de todas as regiões.

(…)

Lara: Eu acho que era interessante, mas abordarem o passado, o presente e fazerem uma perspectiva de como vai ser daqui a alguns anos. Acho que era interessante fazerem isso.

Carla: A pessoa ao falar dessas coisas todas depois vai mostrar a pessoa no presente e as expectativas que tem para o futuro. Não quer dizer que seja só o passado, o passado, o passado, que também se torna maçudo. Tem que mostrar, por exemplo, como era a Nazaré há cem anos atrás, como é agora, como é que se está a perspectivar este futuro. Antes poucos iam para o colégio, agora felizmente já vai tudo para a faculdade. Já temos grandes pessoas nazarenas e tudo isso devia ser mostrado.

A nossa televisão baseia-se sempre nos famosos, não é?

Carla: Pois, é isso. Estas revistas de sociedade para mim não têm valor nenhum. Para que é que eu quero saber se aquela foi a outra festa, se teve um menino, se teve uma menina, se já casou, se já se divorciou, se comprou uma casa nova, se tem um carro novo, se foi vestida desta maneira ou daquela, quem é que a vestiu… Isso para mim acho que tem pouco interesse. Tinha mais interesse as pessoas comuns. Não quer dizer que eu não goste de ouvir entrevistas a políticos sobre a vida deles, etc.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Carla: Desporto e aqueles concursos de televisão.

Como o Preço Certo, etc.?

Carla: O Preço Certo costumo ver porque a minha mãe adora ver o Fernando Mendes e, então, à hora do jantar ninguém tira o Fernando Mendes à minha mãe.

132

Amélia: Ah pois não! Eu gosto! Já gostava do pai dele. O pai dele quando entrava no palco era logo uma barrigada de riso, só com aquelas banhas todas a abanar.

Lara: Eu não gosto de ver os concursos. Tipo o Quem quer ser milionário ou o Preço Certo não aprecio.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Amélia: Da parte da manhã, pelo menos, se ninguém a acender (a TV) eu nunca a acendo. Tenho a minha lida para fazer e se está a dar alguma coisa que me interessa está-se outra coisa a atrasar. Então para isso não acontecer não a acendo.

E o rádio, também não liga?

Amélia: Não. Ao tempo que eu não acendo um rádio… Quando eu quero ver qualquer coisa e ouvir vejo na televisão. Depois do almoço estou nesta cadeira, tal e qual como hoje. Às vezes estou aqui uma tarde inteira.

Rodrigo: A ver a Júlia…

Amélia: Vejo a Júlia até determinada altura e depois passo para o Portugal no Coração, que eu gosto de ver. E quem não quiser ver, corra, porque ainda há aí mais televisões. À noite vejo os concursos que elas não gostam de ver. Elas não gostam, por exemplo, de ver o Quem quer ser milionário, mas eu gosto de os ouvir porque há perguntas que eles fazem que eu – praticamente analfabeta – sei e eles não sabem. E eu gosto de ver aqueles que têm mais cultura, menos cultura. No fim do jantar sento-me aqui. Às vezes apago a televisão para fazer as minhas orações e depois volto a acendê-la. Gosto de ver

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Amélia: Mais de 6 horas. Eles não vêem tanta televisão como eu.

Carla: Pois, nós não vemos tanto. A Lara tem os trabalhos da escola, está no computador e às vezes faz lá as “conversetas” com os colegas; eu estou nos bordados, tenho a televisão ligada às vezes 4 horas e 5 horas seguidas, mas não estou a ver. Estou a ouvir, faz-me companhia. Mesmo que eu ande a fazer alguma coisa em casa, como estou sozinha, geralmente ponho na SIC Notícias e a pessoa está-me a fazer companhia. Ouço o debate de manhã, ouço aqueles programas que as pessoas telefonam e dão as suas opiniões (Fórum). Ando a fazer a minha vida e estou a ouvir. À tarde, gosto de estar sentada, a fazer os bordados e estou a ouvir. Gosto de ver o Goucha, mas não estou parada a ver o Goucha.

Lara: Vejo duas/três horas de televisão.

Então a televisão está sempre num segundo plano?

Carla: Em relação ao que eu tenho para fazer sim.

Mas não deixa de lá estar…

133

Carla: Não deixa de lá estar, está sempre presente. Eu vou ao café, venho, ligo a televisão, faço o que tenho a fazer, mas não estou sentada ali

Lara: Eu só vejo televisão basicamente um bocadinho de manhã enquanto me estou a arranjar para ir para a escola e depois do jantar.

Tens televisão no teu quarto?

Lara: Tenho.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Amélia: Ao fim-de-semana é quando vejo menos.

Lara: Durante o fim-de-semana também não vejo muito.

O que é que fazes mais?

Lara: Estou no computador e a estudar.

Utilizas mais o computador e a internet do que a televisão?

Lara: Sim.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa?

Cinco.

P11. Onde vêem mais televisão?

Na sala.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

No Verão de 2009.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Para já não.

P15. Usa teletexto? Que tipo de informação procura?

Carla, Amélia e Lara não utilizam.

Rodrigo: Às vezes. Para ver os programas que vão dar no dia, ver se ganhei o Totoloto ou o Euro Milhões…

Acha que o teletexto é útil?

Rodrigo: É.

Se tivessem acesso a serviços como, por exemplo, poderem ver qual a farmácia de serviço através da televisão, isso seria útil?

134

Carla: Isso era óptimo. Era engraçado.

Rodrigo: Ou ler os jornais. Quem não tem computador.

Carla: Principalmente as chamadas notícias “gordas”. Uma ou outra mais desenvolvida…

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Carla: Ouvir falar já ouvimos…

Rodrigo: Já todos ouviram falar…

P17. Que vantagens associa à TV digital?

Rodrigo: Para já, não conheço isso.

Carla: Não sei… Eu sei que vamos passar, até porque quando foi da Cabovisão andaram a trocar as boxes, para preparar para a… De resto, não estou lá muito bem informada sobre isso.

Lara: Não sei.

Amélia: Eu estou a zero. Ouvir falar, ouço-os aqui em casa a falar e isso tudo

A família afirma ter TV Digital (Cabovisão) no televisor da sala e televisão por cabo analógico nas restantes televisões.

Rodrigo: Eu não sei se quando passar a ser unicamente a digital, a própria Cabovisão vai meter o digital nesses próprios televisores (refere-se às restantes televisões da casa que não têm TV Digital).

Falou-me num momento em que a televisão vai passar a ser apenas digital. O que é que sabe sobre isso? Já ouviu falar nessa questão?

Rodrigo: Não. É que eu não sei se a Cabovisão vai modificar esses tais analógicos para digital.

Carla: Pois porque eles falavam na compra de um aparelho para se poder aceder à televisão digital.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Carla: Pois.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Rodrigo: Eu já ouvi dizer, mas não me lembro.

P29. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

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Lara: Ao meu irmão (risos).

Carla: É ao meu filho (risos).

O serviço de Pausa TV, gravador, etc. interessa-vos?

Carla: Interessar, interessa, trabalhar com eles é que é mais complicado.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Carla: É mesmo isso. É a gravação. Por vezes, há programas a certas horas, durante a noite, que nós gostávamos de ver, por exemplo, a esta hora. E, no entanto, aquilo passou à noite…

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Carla: Sei lá… Não sei, conforme. A idade das pessoas depois é mais, já podemos fazer menos.

Rodrigo: Se calhar, menos.

Lara: Comigo deve ser mais ou menos a mesma coisa.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Carla: Sei lá…

Maior? Mais pequena?

Amélia: Maior não pode ser, senão não cabe no buraco (risos).

Carla: Não, mas o problema não está no buraco. O problema está nos móveis que já são muito antigos (risos) Se fossem mais actuais nem era preciso o buraco. Eu acho muito interessante é a televisão tipo projector. A pessoa projectar o que quer ver numa parede. Já tenho visto programas sobre isso. Não ocupar espaço.

Amélia: Aqui só se for no tecto!

Carla: Não. Aquilo tu viras, até numa simples folha de papel a pessoa pode projectar e estar a ver. Acho isso muito interessante.

É uma televisão portátil…

Carla: É isso. Por exemplo, agora estou aqui numa sala de espera do hospital e estão a ver alguma porcaria e eu vou ver o que quero. Ainda no outro dia, no centro de saúde, me aconteceu terem a televisão num canal que não me interessava e pensei “agora é que me apetecia ter aqui qualquer coisa com que uma pessoa estivesse distraída”.

No final da entrevista, Carla ainda comenta:

136

Carla: Ouvi na televisão uma entrevista qualquer a alguém e ouvi dizer que era perto. Não fixei a data, mas disse “Epá está quase”. Eles falaram nesse aparelho que tinha que se comprar. Não deram preços, ou pelo menos eu não fixei.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Lara: 18 anos. Carla: 50 anos. Amélia: 76 anos. Rodrigo: 71 anos. Cristiano: 23 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré, Leiria. P38. Ocupação e Profissão Lara: Estudante Amélia: Reformada. Rodrigo: Reformado. Carla: Doméstica. P39. Habilitações académicas P41. Nº de pessoas no agregado familiar Cinco. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam. Amélia só usa quando vai ao cabeleireiro ou ao médico, para depois chamar alguém para a ir buscar. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) DVD, sistema de Home Cinema, 1 computador Desktop e dois computadores portáteis.

137

Relatório da visita a casa da família 13 (“Andrade”)

15 de Novembro de 2010

Nazaré

Júlia (mãe): 26 anos, cozinheira.

Manuel (pai): 48 anos, pescador (desempregado).

Filhos: 9 e 6 anos.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Andrade”, da Nazaré, no dia 15 de

Novembro de 2010.

O agregado familiar dos “Andrade” é composto por quatro pessoas: a mãe, Júlia, de 26

anos, o pai, Manuel, de 48 anos, e os dois filhos, Rui e Ivo, de 6 e 9 anos. Júlia é

cozinheira num restaurante e Manuel é pescador, tendo ambos completado o 6º ano

de escolaridade. A visita começou pelas 11h00 e durou cerca de 55 minutos.

De início, Manuel, sozinho em casa, assiste a um pouco de televisão, sentado no sofá

da sala. O pescador está numa situação de baixa médica e passa muito tempo1 em

1 Manuel afirma ver mais de 7 horas diárias de televisão, sobretudo por estar numa situação de baixa

médica. Parte dessas horas em frente ao ecrã são passadas na companhia dos dois filhos.

Figura 1 – Manuel está desempregado e vê mais de 7 horas de TV por dia

138

frente ao ecrã, percorrendo os seus conteúdos favoritos, «notícias, reportagens,

programas do National Geographic» ou vendo concertos em DVDs. Esta manhã assiste

ao programa de Manuel Luís Goucha, na TVI, divertindo-se com as histórias insólitas

expostas no programa, das quais realça o caso do cemitério onde se pagava taxa de

televisão. Júlia aproveita a manhã do seu único dia de folga para tratar de alguns

assuntos fora de casa, mas logo regressa para receber os técnicos que vão instalar a

Internet. É Júlia que trata dos assuntos ligados à televisão, telefone, Internet e

computadores, uma vez que tudo o que tem a ver com tecnologia «é com ela», mais

informada sobre estas questões do que o marido. A decisão de acrescentar o serviço

de Internet ao pacote da televisão por cabo partiu de Júlia, que há pouco tempo

completou uma formação em informática e passou a ser adepta da rede. Inicialmente,

o seu objectivo ao navegar era o de controlar os conteúdos a que o filho mais velho

tinha acesso na Internet, mas rapidamente deixou-se conquistar pelas possibilidades

das redes sociais. «Através da Internet conheci uma irmã que não conhecia. Falo com

os meus primos que não falava há anos. Falo com uma tia que está na Inglaterra…E é

Figuras 2 e 3 – No dia da entrevista, a família “Andrade” recebeu a visita dos técnicos da empresa que lhes fornece TV, para fazer a instalação da internet

139

por aí». A cozinheira aproveita a presença dos técnicos para fazer algumas questões

sobre a televisão («Como é que eu posso actualizar os canais?»), mostrando-se

interessada em usufruir ao máximo do serviço, mas acabando por perceber que tem

tudo actualizado. No pouco tempo que passa em casa, Júlia divide-se entre as tarefas

domésticas, a televisão e, nos últimos tempos, o computador. Na televisão gosta de

ver «filmes e concursos» e não tem dificuldades em utilizar o teletexto. «Sim, uso para

ver os horários dos programas, os números do Euro Milhões, receitas, os signos (…) E

depois tenho uma coisa boa, que é a possibilidade de pôr só metade do ecrã e ver a

televisão e o teletexto ao mesmo tempo». As três televisões da casa permitem que

cada elemento da família possa ver o que quiser. As crianças vêem maioritariamente

desenhos animados, mas o filho mais velho gosta muito de assistir ao programa do

Sobrevivente, no National Geographic. De acordo com Júlia, em tempos, a televisão

chegou mesmo a servir de “babysitter”, tendo sido esse o motivo para aderir à

televisão paga. «Eu quis pôr por causa dos garotos. Porque, na altura, trabalhávamos

os dois e era uma maneira que tinha de deixar os meus filhos sossegados naquele

canto, para poder estar descansada. (…) Eles viam televisão até adormecer enquanto

eu e o pai estávamos a trabalhar».

No que toca ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital, Júlia e

Manuel afirmam já ter ouvido falar nesta (P16). No entanto, questionados sobre as

vantagens que associam a este tipo de transmissão (P17), Júlia responde que «pouco

ou nada percebe disso» e Manuel acrescenta: «e eu então muito menos! Mas que já

ouvi falar, já. Qual a utilidade e o que tem de melhor, isso não me perguntem que eu

não sei». Neste sentido, o casal não estava a par do desligamento do sinal analógico

nem fazia ideia da data-limite para o processo. Apesar de esta família não precisar de

se preocupar em adaptar a sua televisão para receber a TV Digital – visto já ter

televisão por subscrição – tanto Manuel como Júlia temem pela situação dos seus

familiares mais próximos, que não têm TV Digital em todas as televisões. Manuel

considera que a sua mãe não quererá comprar um descodificador ou outra televisão.

«A minha mãe já tem 78 anos, recebe uma reforma de cento e tal euros. Como é que

ela pode?».

140

Por fim, questionados sobre o que gostariam de ver/aceder através da TV Digital (P31),

é Júlia que responde à pergunta, pedindo mais serviços: «por exemplo, no teletexto,

há lá informação sobre as candidaturas para a PSP, o que é interessante para quem

quiser ir. Mas podia haver mais serviços desse tipo, sobre emprego e outras coisas».

Transcrição da entrevista semi-estruturada

P1. Quais os programas favoritos?

Manuel: Notícias, National Geographic, reportagens e assim… Júlia: Eu gosto mais de ver filmes e concursos. E as crianças? Manuel: Eles vêem bonecos. Júlia: O Ivo também gosta muito de ver O Sobrevivente, no National Geographic. P2. Quais os programas dos quais não gosta? Manuel: Olhe, eu não gosto de novelas (risos). Júlia: E eu futebol! (risos) P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres? Manuel: Eu vejo televisão. Vou ao café, venho para casa e vejo muita televisão. P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)? Manuel: Presentemente, como estou de baixa, passo muito tempo a ver. Vê mais de 7 horas de televisão? Manuel: Sim. Ela está a trabalhar. Vou buscar os miúdos e depois vimos para casa e vemos televisão. Ouve rádio? Manuel: Não. Vejo concertos. Tenho aí DVDs. E o computador? Utiliza? Manuel: Agora não. Isso é com ela (referindo-se à esposa). Júlia: O pouco tempo que tenho livre é para vir a casa arranjar o jantar deles. À noite, quando chego, é que me sento aqui no sofá e, às vezes, é até adormecer. Vejo televisão ou, se me apetecer, vou um bocadinho ao computador. Já utiliza a Internet há muito tempo?

141

Júlia: Não. Utilizava o Magalhães do menino. Como ele tinha direito ao Magalhães, eu adquiri a “pen” da Vodafone, mas pouco ou nada percebia. Nem ligá-lo sabia. Depois, andei a frequentar uma formação de iniciação e então aí é que comecei a mexer mais. Conforme ia aprendendo, vinha para casa estudar. E foi importante para si aprender a mexer em computadores? Júlia: Foi porque, pelo menos o meu mais velho, já sabe muita coisa sobre os computadores, já percebe daquilo de trás para a frente e eu também gosto de saber por onde é que ele anda. É mais o controlo. Tive partes positivas. Através da Internet conheci uma irmã que não conhecia. Falo com os meus primos que não falava há anos. Falo com uma tia que está na Inglaterra…E é por aí. P6. Conte como passa o fim-de-semana? Manuel: É a mesma coisa. Júlia: É igual. São dias normais. Eu trabalho como se fosse um dia de semana. Ele vai dar um passeiozinho à frente do mar com os garotos. Manuel: Depois venho para casa. Ou oiço música ou vejo televisão… Então a televisão está sempre ligada? Manuel: Sim, isso está sempre. P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Três. P11. Onde vêem mais televisão? Manuel: Aqui na sala. Na cama é mesmo para adormecer (risos). P13. (família) Quando compraram o último televisor? Foi há mais de 12 meses? Sim.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses? Júlia: Talvez não. Depende da situação económica. Manuel: Se tivéssemos mais dinheiro, até comprávamos um maior (risos). P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura? Manuel: Ela (aponta para a esposa). Ela é que usa tudo. Eu não mexo em nada disso. Eu ligo, desligo, mudo de canal para trás e para a frente… Júlia: Sim, eu uso. Para ver os horários dos programas, os números do Euro Milhões, para ver se calhou alguma coisa (risos), receitas, os signos… Então ainda usa bastante, não é? Júlia: Uso. E depois tenho uma coisa boa, que é a possibilidade de pôr só metade do ecrã e eu vejo televisão e vejo o teletexto ao mesmo tempo. II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas

142

P16. Já ouviu falar de TV digital? Manuel: Eu já. Ouvir falar, já. P17. Que vantagens associam à TV digital? Júlia: Eu pouco ou nada percebo disso. Manuel: E eu então muito menos! Mas que já ouvi falar, já. Qual a utilidade e o que tem de melhor, isso não me perguntem que eu não sei. Recordam-se de onde é que ouviram falar? Manuel: Na televisão. Porque razão têm Cabovisão? Júlia: Eu quis pôr por causa dos garotos. Porque, na altura, trabalhávamos os dois e era uma maneira que eu tinha de deixar os meus filhos sossegados naquele canto, para eu poder estar descansada. Eles passavam horas a ver televisão e eu podia estar descansada da vida. Os quatro canais não dão bonecos 24 horas sobre 24 horas e eles, a certa altura cansam-se e chateiam-se porque não está a dar nada. A televisão era a “babysitter”. Eles viam televisão até adormecer enquanto eu e o pai estávamos a trabalhar. P23. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia? Manuel: Não. Júlia: Não. (Vira-se para o marido e diz) Lembras-te de eu te ter dito que a Zulmira que as televisões normais iam deixar de funcionar? Manuel: Ah, então deve ser isso. Júlia: A minha colega de trabalho disse-me que as televisões – não estes plasmas, mas as outras normais – iam deixar de funcionar. Se calhar era isso dos canais… (Explicação do processo de “switchover” digital) Os senhores não precisam de se preocupar, mas talvez tenham familiares que só tenham os quatro canais… Júlia: Sim, os meus pais. Manuel: A minha mãe tem uma que é só ligada à antena. Essa vai deixar de funcionar? P25. Sabe o que é que essas pessoas têm que fazer para continuarem a ter os 4 canais gratuitos de TV em casa? Júlia e Manuel: Não. P26. Sabe se há custos envolvidos para continuar a ter TV em casa? Júlia e Manuel: Não. (Explicam-se os custos envolvidos na compra do descodificador) O que acham disto?

143

Manuel: Na minha família não devem querer. A minha mãe já tem 78 anos. Recebe uma reforma de cento e tal euros, como é que ela pode? Ela já esteve para cortar a Cabovisão. O serviço de PausaTV, por exemplo, também vos daria jeito? Júlia: Jeito dava. Nós perdemos muita coisa na televisão por termos de nos levantar. P29. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação? Manuel: Eu não recorro a ninguém… Júlia: Eu aventuro-me (risos). P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital? Júlia: Por exemplo, no teletexto, há lá informação sobre as candidaturas para a PSP, o que é interessante para quem quiser ir. Mas podia haver mais serviços desse tipo, sobre emprego e outras coisas. E quando não consegue resolver a situação? Júlia: Então ligo para os serviços. Eu agora pensei que a Cabovisão podia actualizar os canais, liguei para lá mas não consegui nada. Quando foi para pôr a Internet também liguei para lá. Em relação ao computador, tenho pessoas conhecidas que percebem, que me vão explicando algumas coisas, e o resto aprendo na formação. P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia? Júlia: Eu espero ver o mesmo tempo de televisão. É sinal de que continuo no meu trabalho e que tenho pouco tempo para ver televisão. Manuel: Depende. Se tiver alta não vou ver tanta. P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos? Acham que vai ser igual? Manuel: É capaz de ser diferente. Isto está sempre tudo a mudar.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Júlia: 26 anos. Manuel: 48 anos. Filhos: 9 e 6 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré, Leiria. P38. Ocupação e Profissão Júlia: Cozinheira.

144

Manuel: Pescador (mas está de baixa médica). P39. Habilitações académicas Júlia: 6º ano. Manuel: 6º ano. P41. Nº de pessoas no agregado familiar 4. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Júlia: Sim. Há 12 anos. Manuel: Sim, mas desde há pouco tempo. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Júlia usa e Manuel não. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) DVD.

145

Relatório da visita a casa da família 14 (“Freitas”)

22 de Novembro de 2010

Nazaré

Paula: 59 anos, costureira.

Jorge: 64 anos, reformado.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Freitas”, da Nazaré, no dia 22 de Novembro

de 2010.

O agregado familiar dos “Freitas” é composto por um casal: Paula e Jorge, de 59 e 64

anos. A visita teve início pelas 10h00 e durou cerca de 70 minutos. Um dos primeiros

aspectos a realçar passa pelo facto de Jorge ser cego, mas a sua vida girar em torno da

televisão. De acordo com a esposa, o primeiro gesto de Jorge ao acordar é justamente

agarrar no comando e ligar o televisor, para ouvir os títulos dos jornais e se manter

actualizado. Depois, sintoniza a rádio local (Rádio Nazaré), para se pôr a par das

«desgraças da praia». Por volta do meio-dia, não perde a rubrica sobre Justiça Crime

diz ele, com Hernâni Carvalho, no programa da manhã da SIC. Paula, costureira,

dedica-se da mesma forma ao ecrã. Ambos dizem que são “dependentes” da televisão,

mantendo este aparelho ligado todo o dia. Hoje, ao ligar a televisão da sala, Paula

Figura 1 – Jorge é cego e admite que consome TV de manhã à noite

146

prontamente comenta o programa que a SIC emite àquela hora (Companhia das

Manhãs), descrevendo alguns pormenores ao marido que, como ela, está a par do que

se passa no mundo dos famosos da TV. « - Ai o Gerson foi expulso ontem à noite… -

Quem? - O Gerson. Aquele moço que estava nos Ídolos ontem à noite. Tu adormeceste

nessa altura, não foi? - Ele enganou-se duas vezes. - Coitado, tem pouca prática…

Pensava que era a Merche Romero que vinha hoje apresentar, mas não é. Esteve só no

primeiro dia. Foi no dia que a Rita (Rita Ferro Rodrigues) teve que ir ao médico. Agora

está outra moça. Não é a Merche, com as tatuagens todas. Ela tem as pernas todas

tatuadas. - É mesmo tatuado aquilo? - Eu acho que sim. Tem tudo tatuado, desde

baixo até cá cima, à volta da perna. (Olha mais um pouco para a televisão) Pois, o pai

do Gerson é um homem novo ainda… - Tem 46 anos. - E a mãe também é muito

bonita». Paula e Jorge têm três televisões distribuídas pela sala, quarto e cozinha.

Normalmente vêem televisão em conjunto. «O que vemos mais são as novelas», revela

Paula. Jorge acrescenta que o casal é adepto do programa Preço Certo, com Fernando

Mendes, vendo-o sempre antes de jantar, e diz que não perdem também as notícias,

seguidas pelo «programa do Malato», que traz «um bocadinho de cultura» à família.

Jorge explica que, quando os canais nacionais não lhe despertam interesse, percorre

quase todos os canais temáticos para encontrar algo que lhe prenda a atenção.

«Nunca deixa estar isto sossegado. Está sempre pimba, pimba a mudar de canal.

Sempre na pesquisa (risos)», protesta Paula. Sendo cego, para Jorge há programas que

são mais fáceis de assistir do que outros. «Os programas culturais, como o canal

Figura 2 – Paula é costureira e adora ver televisão. Tal como o marido, diz-se “dependente” do aparelho

147

História, os canais didácticos… O Discovery, o National Geographic, o Odisseia. Quando

não está cá a minha neta, porque quando ela cá está é só Panda». Paula acrescenta

que ambos gostam de ver o canal RTP Memória «porque dá tudo o que é antigo, como

os teatros de revista, entrevistas… E mostra como eram as pessoas naquela altura». De

facto, a televisão parece ser fundamental para o bem-estar da família “Freitas”. O casal

sublinha como ver televisão se tornou sinónimo de conforto. «A melhor coisa que se

inventou foi o comando à distância. Antigamente nós tínhamos que nos levantar para

ir acender ou mudar a televisão», afirma Jorge, recordando com a esposa a época em

que levou uma cana para casa, de forma a poder mudar de canal sem se levantar do

sofá. A última televisão a entrar na casa dos “Freitas” foi comprada no Natal de 2007.

Apesar de Paula sonhar com as televisões mais modernas, o casal não prevê comprar

um aparelho nos próximos 12 meses, a não ser que algum se avarie. «Caso avarie, é

óbvio que temos que comprar uma. É imprescindível», avança Paula. O casal não se

esquece da noite em que, por uma avaria eléctrica, ficaram sem ver TV ao serão.

«Nesse dia foi uma tristeza! Assim que acabámos de jantar, a luz apagou e tivemos que

ir dormir. Depois, os técnicos da EDP chegaram pela uma da manhã e, assim que eles

me chamaram para ver se já tínhamos luz, acendemos a televisão e ganhámos uma

espertina…», recorda Paula. Por estarem sempre atentos às questões sobre televisão,

Paula e Jorge assumem já terem ouvido falar na TV Digital (P16.). Questionados sobre

o que ouviram dizer sobre o assunto, Jorge respondeu que «vai ser uma televisão com

Figura 3 – A família “Freitas” ainda recorda o tempo em que não havia comando remoto, um objecto que trouxe mais conforto na hora de ver TV

148

mais qualidade», sublinhando que para ele é “indiferente”, uma vez que é cego. Paula

referiu ter ouvido falar no assunto na televisão, tal como ouviu falar «naquela 3D». No

que toca às vantagens ou desvantagens da nova plataforma, a nazarena sugere que

talvez a «poupança de energia» seja um benefício da TV Digital, mas logo o marido a

corrige dizendo que «aquilo é só melhor qualidade de som e imagem». Nem Paula

nem Jorge estavam a par do desligamento do sinal analógico de televisão (P21), nem

da data-limite para o processo (P22.). No entanto, Jorge explicou que «não está nada

preocupado com isso», já que tem Cabovisão. A possibilidade de vir a existir um 5º

canal generalista gratuito ou novos serviços interactivos não causa entusiasmo nos

“Freitas”, que consideram que este tipo de novidades não seria de grande utilidade

para a família. Jorge não tem mesmo ideia nenhuma sobre serviços que possam

melhorar a sua experiência televisiva enquanto cego. Certo é que, no futuro, o casal

espera ver ainda mais televisão. «Mesmo que tenhamos dificuldades nos bracinhos

para carregar no botão, desde que os dedos apertem…», brinca Jorge. De acordo com

Paula, quanto mais só o casal estiver, mais a televisão sobressairá como uma boa

companhia. «Daqui a cinco anos os meus netos já são maiores, já não estão aqui com a

gente e já temos que ter qualquer coisa que nos entretenha (risos). A televisão é uma

companhia».

Por fim, Paula e Jorge imaginam que a televisão daqui a dez anos será decididamente

diferente, já que a evolução nunca pára. «Estão sempre a fazer modificações. Os

programas são outros, os noticiários já são contados de maneira diferente… Acho que

vai ser diferente, pelo menos que seja para melhor», prevê Paula. «Cada dia muda a

face das coisas. Já há daqueles que são “tactáveis”… O contacto é com os dedos. Anda

para trás, mexe, muda e tal. As televisões devem ser melhores, a qualidade de quem

está a fazer televisão é que pode não ser», conclui Jorge.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

(Durante a fase de observação, Paula e Jorge vão falando de alguns dos seus hábitos de consumo dos media)

Então liga o rádio logo de manhã, certo?

149

Jorge: Sim. É logo. A Rádio Nazaré é de manhãzinha.

Paula: De manhã, na cama, ele acende logo a televisão.

Jorge: É. Ouço os títulos dos jornais, pelo menos para estar actualizado. Depois ligo a Rádio Nazaré para estarmos a par das desgraças da praia. Depois, por volta do meio-dia, acende-se a televisão, põe-se na SIC, para se ver um bocadinho daquele programa que analisa a qualidade da Justiça em Portugal (rubrica integrada no programa Companhia das Manhãs). Ouço isso.

Que programa é esse?

Jorge: É entre o meio-dia e a uma, com o Hernâni Carvalho. O Goucha e a Cristina Ferreira são uma parodia feita. E depois os “batedores de palmas”, que é a parte que eu não concebo, são mesmo uns apaziguados!

Paula: Oh, isso todos têm.

Jorge: Mas aqueles a baterem palmas por coisas sem sentido nenhum… É palhaçada a mais. Depois, gosto da RTP1, mas não gosto do Jorge Gabriel. Faz-me lembrar um moço forcado, quando está à frente dos touros e faz “Hahahaha”. Ele é muito gozão em relação à humildade das pessoas que vão ao programa.

(Em frente à televisão da sala)

Paula: Ai o Gerson foi expulso ontem à noite…

Jorge: Quem?

Paula: O Gerson. Aquele moço que estava nos Ídolos ontem à noite. Tu adormeceste nessa altura, não foi?

Jorge: Ele enganou-se duas vezes.

Paula: Ele não se enganou. Foi na voz…

Jorge: Entrou assim com um tom… Estava um bocadinho destoado.

Paula: Coitado, tem pouca prática. E eu acho que para estarem aos saltos e a cantar cansam-se mais e a voz foge um bocadinho.

Paula: Pensava que era a Merche Romero que vinha hoje apresentar, mas não é. Esteve só no primeiro dia. Foi no dia que a Rita (Rita Ferro Rodrigues) teve que ir ao médico. Agora está outra moça. Não é a Merche, com as tatuagens todas. Ela tem as pernas todas tatuadas.

Jorge: Pintadas…

Paula: Ela tatuou…

Jorge: É mesmo tatuado aquilo?

150

Paula: Eu acho que sim. Tem tudo tatuado, desde baixo até cá cima, à volta da perna. (Olhando mais um pouco para a televisão) Pois, o pai (do Gerson, participante no programa Ídolos) está muito novo. É um homem novo ainda…

Jorge: Tem 46 anos…

Paula: E a mãe também é muito bonita.

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Paula: O que vemos mais são as novelas. Tirando as novelas, ele está mais no canal História porque, como ouve e não vê…

Jorge: As novelas, à noite, uma ou outra que interesse. Vemos o programa do Fernando Mendes, que é o Preço Certo, antes de jantar, ali na cozinha.

Paula: Vemos as notícias a seguir. Depois quando acabam as notícias, vêem-se as novelas. Também gostamos de ver o programa do Malato.

Jorge: Sim, também gostamos de ver isso. É um bocadinho de cultura.

Paula: O programa do Herman José é muito tarde…

Jorge: Ele também às vezes começa a descambar com a linguagem,

Paula: Ele agora até nem está muito mal. Aquele do Lado B, do Bruno Nogueira é que às vezes é um bocado para o ridículo.

Jorge: Abusa um bocadinho.

Paula: E é um bocadinho sádico. Por exemplo, não gostei da maneira como ele falou quando morreu o Saramago. Não gosto de brincar com essas coisas. Depois quando ficamos com sono, vamos para o quarto e vemos lá televisão até adormecer.

Vêm sempre televisão antes de adormecer?

Paula: Sim. Isso é sempre. São as vantagens e as desvantagens de termos televisão no quarto…

Jorge: A melhor coisa que inventaram foram os comandos à distância.

Paula: É verdade!

Jorge: Então, antigamente nós tínhamos que nos levantar para ir mudar a televisão ou para acender.

Paula: Dantes também não tínhamos tantos canais… Mas ele, uma vez, arranjou uma cana (risos) porque as televisões não tinham comando, mas tinham aquelas teclas grandes… Se não, tínhamos que andar constantemente.

Jorge: Era um comando à distância manual (risos).

151

Paula: Mas nós dantes também só tínhamos três canais. Agora como temos Cabovisão…

Jorge: Também temos canais a mais, que não interessam nada.

Paula: E nós só temos o básico…

Sendo cego, há programas que são mais fáceis de assistir do que outros?

Jorge: Os programas culturais, como o canal História, os canais didácticos. O Discovery, o National Geographic, o Odisseia. Quando não está cá a minha neta, porque quando ela cá está é só Panda.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Jorge: Epá, isso não sei. É mais fácil dizer os que gosto do que os que não gosto.

Paula: Uma das coisas de que não gosto, e não devo ser a única, é que eles têm muita publicidade.

Jorge: E depois estão os três em simultâneo.

Paula: Tem que ser mesmo, que é para não haver fugas, não é? Senão havia fuga. É muito tempo. Se está a dar um programa com interesse a publicidade é tanto tempo, que nós acabamos por adormecer.

Jorge: A “Dois” também tem uns programas bons à hora do almoço, sobre saúde, etc. A RTPN também tem programas bons, uns de desporto, outros de promoção do vinho. Tem aqueles programas da alimentação, sobre culinária e vinhos. Logo às 07h00 da manhã já eles têm esse programa. Dá às 07h00 da manhã e à tarde.

Paula: Eu às vezes é que ralho com ele: “Nunca deixas estar isso sossegado. Estás sempre pimba, pimba a mudar de canal. Sempre na pesquisa” (risos). Outro canal que eu gosto muito de ver é a RTP Memória. Porque dá tudo o que era antigo. Os teatros de revista, entrevistas antiga, que a gente gosta. E vemos quem eram as pessoas naquela altura.

Jorge: Os velhos é que gostam de ver isso. A malta nova já não vê televisão. Tem os computadores.

Paula: O meu neto gosta de ver os Simpsons. Vem para aqui, almoça connosco e assim que acaba de almoçar vai logo ver os Simpsons. São programas que os mais novos gostam… Depois há aqueles Morangos com Açúcar, mas eu não gosto muito. Acho que aquilo incentiva a juventude a certas coisas… Os Morangos com Açúcar e o Rebelde Way são programas que não favorecem muito a juventude. Acho que incentivam os jovens em certas coisas de que eles não precisam de incentivo porque aprende-se com facilidade.

(…) Depois há outra coisa um bocadinho negativa, que é os telejornais apresentarem uma notícia como se tivesse um grande impacto e depois não tem. No início do jornal

152

reptem imensas vezes a notícia, fazem tanto “suspense” e quando vão a dar não é nada de especial.

Jorge: É para prender o pessoal. Mas a pessoa acaba por se aborrecer.

Paula: Eles fazem uma especulação tão grande que a gente pensa que vai sair dali uma coisa diferente, mas afinal não é.

P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)?

Paula: Todos os dias. É a nossa companhia.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Jorge: É igual porque os dias são todos iguais para nós.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Jorge: Às vezes é de manhã à noite.

Paula: É todo o dia.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Jorge: Foi no Natal de 2007.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Jorge: Só se alguma se avariar. Estamos servidos.

Paula: Caso esta avarie, é óbvio que temos que comprar uma. É imprescindível. Vem logo uma para aqui. Ainda no outro dia estava a pensar em quando é que se avaria esta televisão, para poder comprar um LCD, porque esta ocupa muito espaço. E quando a fui a acender, ela não dava nada, mas foi um problema qualquer passageiro. E pronto, enquanto ela for aguentando, não se troca. É a cores, não é a preto e branco… É lógico que, assim que esta vá a baixo, vem outra para aqui. Que isto também não tinha jeito nenhum termos aqui uma sala sem uma televisão.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Paula: Não. Nunca usei. Até sou franca, nunca foi uma das coisas que eu tentasse fazer no comando. A gente liga para aquela que a gente quer e não usa teletexto.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Paula: Eu já, na televisão.

O que é que ouviu dizer?

Jorge: Que é diferente, que vai ser uma televisão com mais qualidade… É o que dizem… Mais qualidade de emissão. Para mim é indiferente porque eu não vejo.

153

Paula: Também há agora aquela 3D.

Jorge: Nem sei se tem mais qualidade de som, mas ouvi dizer que tem mais qualidade de imagem.

P17. Que vantagens associa à TV digital?

Paula: Talvez poupança de energia… Não? Ou é a mesma coisa?

Jorge: Aquilo é só melhor qualidade de som e imagem.

P18. Que desvantagens associa à TV digital?

Jorge: Não sei. Não estamos informados de nada disso. Nem informados, nem com intenções de pôr esse sistema. Só se for obrigatório. Aquela televisão (a mais nova) já tem o DTI, ou DNI… não sei, já está preparada para esse sistema.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Jorge: Não.

Paula: Não.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Jorge: Não.

Paula: Não.

Jorge: Eu também não estou nada preocupada com isso. Tenho Cabovisão… Mas essa gentinha que não tem acesso à Cabovisão, como é que vai fazer?

Gostavam de ter mais um canal generalista?

Jorge: A gente desde que tenha coisas para ver… para a concorrência é capaz de ser útil. É uma opção. Eu, por exemplo, estou aqui. Vou à um não me agrada, vou à dois não me agrada, vou à três não me agrada, vou à quatro não me agrada… Passo para a seis, a SIC Notícias, que às vezes tem programas bons, vou ao canal Memória não me interessa, passo pela RTPN e olha agrada-me e fico por ali nesses genéricos. Quando não me agradam esses, passo para o Odisseia, para o Discovery, para o canal História, o National Geographic… Passo por esses canais todos e vejo se há algum que me satisfaça. E passo aqui um bocado a ver esses programas de cultura. A gente aprende qualquer coisa.

Paula: Aprende qualquer coisa e é uma coisa que é mais fácil de assistir tendo em conta que ele não vê.

Os serviços de Pausa TV, de gravação, etc. interessam-vos?

Jorge: Isso para mim não tem grande interesse…

154

E ouvir rádio através da televisão?

Jorge: Tenho ali um rádio por cima da televisão… Não está muito longe uma coisa da outra. Tenho aqui dois canais de música.

P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Paula: Olha, à minha Margarida! Às netinhas ou à minha filha, que sempre percebem um bocadinho mais do que eu e sabem onde é que hão-de mexer.

Jorge: A gente já tem os dedos muito grossos e aquelas teclas são fininhas (risos).

P25. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Jorge: Mesmo que tenhamos dificuldades nos bracinhos para carregar no botão, desde que os dedos apertem…

Paula: Daqui a cinco anos os meus netos já são maiores, já não estão aqui com a gente e já temos que ter qualquer coisa que nos entretenha (risos). A televisão é uma companhia. Esta semana, houve uma falha de luz por causa de um fio que avariou, e a EDP já chegou cá era quase 01h00 da manhã. Nós fomos logo para a caminha, adormecemos a ouvir um radiozinho daqueles a pilhas. É que nem tínhamos rádio nem televisão… Uma tristeza! Porque isto é uma companhia. Tanto que houve uma vez que a televisão que estava aqui na sala avariou e eu tive que ir logo buscar outra porque isto é uma companhia.

Jorge: Isto é uma dependência.

Paula: E é uma companhia… Faz-nos companhia.

Imaginam-se sem televisão?

Paula: Epá não, não! Isso para mim

Jorge: Sem luz, já não é fácil vivermos.

Paula: Nesse dia que faltou a luz foi uma tristeza! Assim que acabámos de jantar a luz apagou. Ligámos logo para a EDP, mas só lá para a uma da manhã é que eles vieram. Já eu estava a dormir mais o meu marido na caminha porque era uma tristeza. Depois acordei com o barulho deles a chegar com os cabos e, assim que eles me chamaram para ver se já tínhamos luz, acendemos a televisão e ganhámos uma espertina…

Recuperaram o tempo perdido…

Paula: Embora já não tenhamos apanhado aqueles programas que gostamos…

Jorge: Estivemos a ver as televendas com aqueles produtos com a baba de caracol.

P26. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

155

Paula: Isto, estão sempre a fazer modificações. Os programas são outros, os noticiários já são contados de maneira diferente… Acho que vai ser diferente, pelo menos que seja para melhor.

Jorge: Cada dia muda a face das coisas. Já há daquelas que são tactáveis… O contacto é com os dedos. Anda para trás, mexe, muda e tal. As televisões devem ser melhores, a qualidade de quem está a fazer televisão é que pode não ser…

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade Paula: 59 anos. Jorge: 64 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré. P38. Ocupação e Profissão Paula: Costureira. Jorge: Reformado. P39. Habilitações académicas P41. Nº de pessoas no agregado familiar Duas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Paula usa, há cerca de 6 anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Leitor de DVD e rádios.

156

Relatório da visita a casa da família 15 (“Matos”)

25 de Novembro de 2010

Nazaré

Celeste: 72 anos, reformada.

Manuel: 71 anos, reformado.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Matos”, da Nazaré, no dia 25 de Novembro

de 2010.

O agregado familiar dos “Matos” é composto por um casal: Celeste e Manuel, de 72 e

71 anos. A visita teve início pelas 20h00 e durou cerca de 1 hora e dez minutos.

A família “Matos” liga mais o rádio do que a televisão. Este faz parte da rotina do casal

desde há muitos anos e continua a ser o meio privilegiado para ouvir notícias, música,

o terço e outros temas de interesse. «Preferem o rádio à televisão? Manuel: Sim, eu

acho que temos o rádio mais tempo ligado do que a televisão. Quando nos levantamos

ligamos logo a rádio, não só por causa das notícias como por causa dos temas que são

abordados, e pela música. Aquilo está tudo muito bem encaixado e vamos ouvindo».

Figuras 1 e 2 – A rádio e o leitor de CDs estão muito presentes no quotidiano da família “Matos”

157

Manuel e Celeste estão reformados, mas continuam a trabalhar na papelaria/livraria

da qual são proprietários. Celeste passa mais tempo em casa do que Manuel, mas a

vida activa de ambos leva a que não dediquem mais do que duas horas por dia à

televisão. Um dos canais que faz Celeste acender o televisor é o RTP Memória. Para

além dos programas Há conversa e dos filmes e teatros antigos da RTP Memória, a

nazarena gosta de concursos como o Quem quer ser milionário. «Eu gosto de ver o

concurso do Malato. E gosto de ver a RTP Memória, que é o meu canal preferido. Vejo

os teatros, o programa Há conversa, programas antigos que estava habituada a ver na

televisão, para recordar. De resto, às vezes vejo o telejornal. Só falam em política e já

estou farta», explica Celeste. Na sala de trabalho, onde se entretém a costurar, Celeste

tem uma pequena televisão e uma aparelhagem, para ouvir os seus CDs favoritos. Na

sala de jantar, guarda também um gira-discos, que um dos filhos lhe ofereceu para que

Figura 3 – Manuel passa a maior parte do tempo a trabalhar, na livraria/papelaria da qual é proprietário, sobrando-lhe pouco tempo para a TV

Figuras 4 e 5 – Celeste ocupa o seu tempo de lazer a bordar, ouvir música e ver TV

158

Figura 6 – Uma das razões que levam Manuel a ligar a TV são os jogos de futebol

possa aproveitar os imensos discos de vinil que vem coleccionando há anos. Por tudo

isto, Celeste afirma não ver muita televisão. Para filmes não tem paciência porque as

legendas são muito pequenas e poucas são as telenovelas que lhe despertam o

interesse. «Às vezes, quando estou a bordar ou a passar a ferro ligo a televisão, na

salinha onde faço esse trabalho. Mas quando não me agrada desligo. Faço isso muitas

vezes. Ponho um CD, ponho o rádio, o gira-discos… Chego a ligar a televisão, mas

depois começam a dar as telenovelas que não me interessam e desligo». No caso de

Manuel, os jogos de futebol são o que mais vezes o levam a pôr-se em frente ao ecrã.

Ainda assim, são raras as vezes em que assiste ao jogo todo. «Gosto de ver os jogos de

futebol, mas é só porque gosto de futebol. Mas já tem acontecido, muitas vezes, não

ver o jogo todo, porque estou ocupado e tenho outras prioridades. Nunca estou só a

ver televisão. Tenho mais que fazer». Os filmes de Cowboys que passam sobretudo na

RTP Memória e séries antigas como Poirot, MacGyver e os Soldados da Fortuna são

outros dos conteúdos favoritos de Manuel. «Dá-me vontade de rir aqueles efeitos. A

gente já sabe o que vai acontecer. De resto, vejo alguma coisa de interesse no

telejornal. Não condiciono a minha vida. Só se for alguma coisa que valha mesmo a

pena». Em conjunto, Celeste e Manuel gostam de ver programas antigos como a

“Grande Noite”. «Há uma coisa que costumamos ver e que nos agrada: os

espectáculos de variedades, na Memória (…) Porque dá para estar a fazer qualquer

coisa e para estar a acompanhar (…) É uma coisa leve». Apesar da hora tardia a que

159

passa, Manuel gosta também de acompanhar os debates do programa Prós e Contras.

«É feito para pessoas que não trabalham. É tardíssimo. Os motivos são muito

importantes, as pessoas que intervêm são sempre pessoas que têm conhecimento,

têm capacidade, e é uma pena eu não poder aproveitar esse programa. E como eu,

muitas pessoas. Eu nem sei se as pessoas que estão no programa no outro dia vão

trabalhar. Ou, se forem trabalhar, rendem». Tendo em conta o facto de os “Matos”

verem muito a RTP Memória, foi-lhes questionado se consideram que este canal

presta serviço público, ao que Manuel respondeu prontamente que sim. «Eu acho que

presta mesmo serviço público. Preenche um vazio. Não só para as pessoas de alguma

idade, como para outro tipo de pessoas. Não haja condicionamento de idades, porque

é verdade que as coisas não são actuais, porque já passaram, mas dispõem». Celeste e

Manuel têm duas televisões em casa, em duas salas, e a última televisão já foi

comprada «há muito tempo». O casal não usa teletexto e só pensam na compra de

uma televisão caso as que possuem se avariem. «Para aquilo que nós vemos, estas são

suficientes», diz Manuel. À partida, nem mesmo um canal regional ou local os faria ver

mais televisão. Os conteúdos locais e regionais são, no ponto de vista de Manuel,

sempre «agradáveis de ver». No entanto, um canal sobre a Nazaré ou a região Oeste

não se justificaria. «Para eu deixar de fazer as minhas coisas para ir ver, só se houvesse

alguma coisa de grande interesse (…) Em termos de canal, acho que não. Mas um

período, durante o dia, por semana, era capaz de ser interessante. Em termos de canal

não me parece que se justificasse. Só valeria a pena se as pessoas que o

desenvolvessem tivessem qualidade, para não cair no risco do ridículo. Porque, a

pretexto de falar da Nazaré, e de se mostrarem coisas da Nazaré, algumas vezes somos

confrontados com opiniões que não correspondem à verdade, quer actual quer do

passado».

No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital,

Celeste e Manuel afirmam já ter ouvido falar no assunto (P16.). No entanto, Celeste diz

não saber o que é. Por outro lado, Manuel demonstra ter algumas noções sobre o

tema. «Fala-se muito na televisão digital. Que é um sistema de transmissão de

televisão diferente daquele que actualmente está em uso. Agora os pormenores

técnicos não sei». Questionado sobre como chegou a estas conclusões, Manuel

160

explicou que «se vai ouvindo» falar no assunto. «Nunca perguntei. A ideia que eu

tenho é que é uma coisa nova, que vai ser aplicada em Portugal, mas não só na

televisão. Noutros sistemas de comunicação também. Às vezes nos jornais vai-se

apanhando informação ou até nos noticiários. Manuel não faz ideia das vantagens ou

desvantagens que a TV digital pode trazer. «Já fui abordado pelo telefone por

indivíduos que me querem oferecer e depois começar a pagar mais tarde (…) Fui

abordado por telefone, mais de uma vez. No caso diziam-me que tinha ganho um

prémio e que me ofereciam o equipamento. E depois só começaria a pagar

mensalmente ao fim de uns meses. E na ocasião em que pedi para me porem tudo em

papel para eu poder estudar com calma, em qualquer das vezes, recusaram. Dizem

que não o podem fazer. O que é uma coisa esquisita, porque eu não vou assumir um

compromisso sem conhecer o que estou a fazer». Manuel prossegue explicando que

foi através de um destes telefonemas que ouviu falar mais concretamente, pela

primeira vez, em TV digital, mas não lhe pareceu «uma coisa séria». «Sim, sim. Falaram

em televisão digital, diziam que iam aplicar um equipamento para poder fazer a

transformação no caso dos televisores que já existem porque os futuros vêm já

preparados. Portanto, os que existem, as pessoas compram um equipamento e isso é

que eles ofereciam. Nos primeiros quatro meses não se pagava, mas havia a

obrigatoriedade de se pagar a instalação. E a instalação eram 50 euros. Portanto, vinha

cá alguém colocar, pagava 50 euros, depois o homem ia-se embora. Eu não sabia quem

Figura 7 – Celeste e Manuel gostam muito de ver o canal RTP Memória

161

era o homem que vinha, quem era o homem que ia e também não sabia o que é que

vinha no equipamento. De forma que não gostei. Eles apanham os números de

telefone, não se identificam (aparece número desconhecido). Ficamos sem saber

quem telefona. Dizem que são uma empresa relacionada com… uma delas era

relacionada com a Zon. E a outra não me ocorre». A família “Matos” tem TV Cabo. No

momento da entrevista, Manuel já estava a par do desligamento do sinal analógico,

mas nunca deu muita atenção ao assunto, explicando que o mais provável é que, daqui

a algum tempo, se preocupe mais em saber pormenores, «para não ser apanhado de

surpresa». «Já ouvimos dizer que, a partir de certa altura do próximo ano, esse sinal

desaparece e passa a haver só o sinal digital. Isso está nos jornais, em revistas e vamos

ouvindo. E também já se sabe que a Nazaré é uma das localidades escolhidas como

projecto-piloto».

Por fim, no que toca aos conteúdos e serviços que a TV Digital pode oferecer, Celeste e

Manuel consideram que, numa zona pequena como a Nazaré, um serviço de

informações úteis sobre as farmácias ou o emprego, por exemplo, não tem grande

interesse. No entanto, a possibilidade de lerem notícias na televisão, bem como os

serviço de Pausa TV e de gravação melhorariam a experiência televisiva dos “Matos”.

«Ah, isso era capaz até de ser bom. Por exemplo, se eu quisesse ver o “Prós-e-

Contras”, não via à noite, via no outro dia. Nós escolhíamos o momento que nos desse

mais jeito». Celeste e Manuel consideram que a televisão daqui a 10 anos «tem que

Figura 8 – Os “Matos” têm mais do que quatro canais e Manuel disse estar a par do desligamento do sinal

162

ser diferente». Manuel prevê que esta se torne uma “chapinha” e que a evolução

passe mais pelo volume do objecto do que por aquilo que é transmitido. «Eu só espero

que seja diferente na qualidade. Na qualidade daquilo que transmitem, não é na

qualidade de imagem. Na qualidade de imagem já se percebeu que vai melhorar

bastante, quer o som quer a imagem. Não é? Eu digo a parte dos conteúdos, porque se

não for diferente, então mais vale estarem quietos».

Transcrição da entrevista semi-estruturada

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes

P1. Quais os programas favoritos?

Celeste: Eu gosto de ver o concurso do Malato. Não me lembro do nome dele. E gosto de ver a RTP Memória, que é o meu canal preferido. Nalgumas coisas. Vejo os teatros, o programa da “À conversa”, programas antigos que estava habituada a ver na televisão, para recordar. De resto, às vezes vejo o telejornal. Só falam em política e já estou farta.

Tenta recuperar os programas de antigamente porque, de alguma forma, não se sente satisfeita com a televisão actual?

Celeste: Sim. Telenovelas não vejo nenhumas. Não tenho paciência. Na RTP Memória, o meu programa preferido é o “À conversa” porque tem coisas muito interessantes. E vejo os filmes antigos, os teatros antigos, e essas coisas. Porque eu não vejo muita televisão. Durante o dia, só a ligo um bocadinho à hora do almoço e é às vezes. À noite só vejo mesmo o concurso da RTP1.

Não gosta de ver uns filmes, de vez em quando?

Celeste: Pouco. Não tenho paciência.

Manuel: Têm as legendas muito pequenas.

Celeste: Custa-me estar a ler e os filmes também não me interessam muito.

Se fossem dobrados em português ou se passassem mais filmes portugueses, via mais?

Celeste: Isso às vezes vejo alguns. Também há filmes portugueses que eu não tenho paciência para ver. São muito complicados.

P1. Quais os programas favoritos?

Manuel: Gosto de ver os jogos de futebol, mas é só porque gosto de futebol. Mas já tem acontecido, muitas vezes, não ver o jogo todo, porque estou ocupado e tenho

163

outras prioridades. Nunca estou só a ver televisão. Tenho mais que fazer. Quando consigo apanhar um filme antigo de “cowboys” eu vejo, mas nunca consigo vê-lo desde o início. Quando chego a casa já está em andamento. E habitualmente eles dão na RTP Memória. Ou um outro filme de acção, como aquelas séries antigas o Poirot, o MacGyver e os Soldados da Fortuna. Porque dá-me vontade de rir aqueles efeitos. A gente já sabe o que vai acontecer. De resto, vejo alguma coisa de interesse no telejornal. Não condiciono a minha vida. Só se for alguma coisa que valha mesmo a pena. Eu até julgava que ontem estava a dar o Benfica e quando cheguei cá cima, já eram horas da segunda parte, julgava que estava a dar e não estava. Se souber que na Memória há uma peça de teatro que me agrade… Mas não são todas. Tem que ser uma coisa que me prenda e que goste de ver. Há uma coisa que costumamos ver e que nos agrada: os espectáculos de variedades, na Memória.

Como a “Grande Noite”, etc.?

Manuel: Isso mesmo. Porque dá para estar a fazer qualquer coisa e para estar a acompanhar.

Celeste: E dispõe bem.

Manuel: É uma coisa leve.

Acham que devia haver mais teatro na televisão?

Celeste: Acho que sim. Antigamente havia muito.

Manuel: De resto, telenovelas e assim não vejo.

Celeste: Eu também não gosto. Às vezes vejo uma da TVI, que é assim mais ou menos engraçada, mas vejo tão poucas vezes que nem sei o nome dela. É uma que se passa em Coruche (Espírito Indomável).

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Celeste: Eu não ligo importância aos programas da Júlia Pinheiro, do Portugal no Coração com aquele João Baião… A Júlia Pinheiro é muito exagerada, muito aos gritos. As coisas que eles apresentam são só problemas complicados que vão descobrir não sei onde. Para mim o que tem mais valor, que é mais instrutivo e que tem mais nível é a “Praça da Alegria”.

Acham que o canal RTP Memória vem enriquecer muito a grelha dos canais de televisão?

Celeste: Eu acho que sim, para pessoas com as nossas idades.

Acham que devia ser um canal de acesso gratuito?

Manuel: Eu acho que sim!

Consideram-no serviço público?

164

Manuel: Eu acho que sim, presta mesmo serviço público. Preenche um vazio. Não só para as pessoas de alguma idade, como para outro tipo de pessoas. Não haja condicionamento de idades, porque é verdade que as coisas não são actuais, porque já passaram, mas dispõem, no que respeita às variedades, ao teatro e até mesmo às séries de acção. Há ainda uma coisa que eu gostava de ver, o “Pós e Contras”, mas é feito para pessoas que não trabalham. É tardíssimo. Os motivos são muito importantes, as pessoas que intervêm são sempre pessoas que têm conhecimento, têm capacidade, e é uma pena eu não poder aproveitar esse programa. E como eu, muitas pessoas. Eu nem sei se as pessoas que estão no programa no outro dia vão trabalhar. Ou, se forem trabalhar, rendem.

Conseguir contornar este problema do horário dos programas, gravando-os, dava-vos algum jeito. Certo?

Manuel: Sim, isso dava. No domingo vai dar o filme “Nazaré”. Essas coisas também tenho curiosidade me ver, mas aqueles programas que vêm cá fazer não me prendem.

Se houvesse um canal, não só sobre a Nazaré, mas sobre esta zona do Oeste, seria interessante, no vosso ponto de vista?

Manuel: É sempre agradável de ver, se houver alguma coisa.

Mas acham que seria um canal a que assistiriam regularmente?

Manuel: Não.

Porquê?

Manuel: Para eu deixar de fazer as minhas coisas para ir ver, só se houvesse alguma coisa de grande interesse.

E o que é que poderia ser de grande interesse?

Manuel: Um acontecimento onde eu não pudesse estar ao vivo.

Então não vêem interesse num canal regional nem local?

Manuel: Em termos de canal, acho que não. Mas um período, durante o dia, por semana, era capaz de ter interesse. Em termos de canal, não me parece que se justificasse. Só valeria a pena se as pessoas que o desenvolvessem tivessem qualidade. Para não se cair no risco do ridículo. Porque, a pretexto de falar na Nazaré, e de se mostrarem coisas da Nazaré, algumas vezes somos confrontados com opiniões que não correspondem à verdade, quer actual quer do passado.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Manuel: Nós só costumamos abrir a televisão um bocadinho à hora de almoço.

Celeste: E à tardinha, quando eu venho para cima. Quando estou em casa de manhã ligo a “Praça da Alegria”, mas como quase sempre saio… Às vezes, quando estou a bordar ou a passar a ferro ligo a televisão, na salinha onde faço esse trabalho. Mas

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quando não me agrada desligo. Faço isso muitas vezes. Ponho um CD, ponho o rádio, o gira-discos… Chego a ligar a televisão, mas depois começam a dar as telenovelas que não me interessam e eu desligo.

Então preferem o rádio à televisão?

Manuel: Sim, eu acho que temos o rádio mais tempo ligado do que a televisão. Quando nos levantamos ligamos logo a rádio, não só por causa das notícias como por causa dos temas que são abordados e pela música. Aquilo está tudo bem encaixado e vamos ouvindo. O que mais ouvimos é a Antena1.

Celeste: Pomos às vezes a Rádio Renascença, porque dá o terço. E há uma Rádio Renascença que é a Rádio SIM e passa música portuguesa daquela muito antiga. Essa liga um bocadinho de manhã.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Manuel: Vemos cerca de duas horas. Com o concurso (Quem quer ser milionário) pelo meio e algum bocadinho de algum debate, chegam a ser duas horas.

Se ficassem sem televisão, de um momento para o outro, isso iria afectá-los?

Manuel: Não. Só se soubéssemos que havia uma coisa qualquer que a televisão transmitia e que gostávamos de ver e que acabássemos por não ver, suponhamos, por não haver electricidade ou a televisão estar avariada.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Celeste: Duas. Em duas salas.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Celeste: Há muito tempo.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Celeste: Não. Só se esta se avariar. Para aquilo que nós vemos, esta televisão é suficiente.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Manuel: Não.

Celeste: Não.

Sabem usar?

Celeste: Eu não.

Manuel: Eu também não. Nunca me preocupei.

166

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Manuel: Fala-se muito na televisão digital. Que é um sistema de transmissão de televisão diferente daquele actualmente está em uso. Agora os pormenores técnicos não sei.

Como é que chegou a essas conclusões? Onde é que ouviu falar?

Manuel: Vai-se ouvindo. Nunca perguntei. A ideia que eu tenho é que é uma coisa nova, que vai ser aplicada em Portugal, mas não só na televisão. Noutros sistemas de comunicação também. Às vezes nos jornais e nas revistas vai-se apanhando informação ou até nos noticiários.

As informações chegam-lhes mais através dos media e não tanto em conversas. Certo?

Manuel: Sim, sim. Em conversas, já podia ter perguntado, mas não me ocorreu perguntar.

P17. Que vantagens associa à TV digital?

Manuel: Não, não tenho. Sei que já fui abordado pelo telefone por indivíduos que me querem oferecer e depois começar a pagar mais tarde, mas não…

Como é que foi essa abordagem?

Manuel: Fui abordado pelo telefone, por mais de uma vez. Pessoas que têm condições especiais e que oferecem. No caso era que eu tinha ganho um prémio e que me ofereciam o equipamento. E depois só começaria a pagar mensalmente ao fim de uns meses. E na ocasião em que pedi para me porem isso tudo em papel para eu poder estudar com calma, em qualquer das vezes, recusaram. Dizem que não podem fazer. O que é uma coisa esquisita, porque eu não vou assumir um compromisso sem conhecer o que estou a fazer.

E quando o abordaram pelo telefone, lembra-se de lhe falarem na televisão digital?

Manuel: Sim, sim. Falaram em televisão digital, diziam que iam aplicar um equipamento para poder fazer a transformação no caso dos televisores que já existem porque os futuros vêm já preparados. Portanto, os que existem, as pessoas compram um equipamento e isso é que eles ofereciam. Nos primeiros quatro meses não se pagava, mas havia a obrigatoriedade de pagar a instalação. E a instalação era 50 euros. Portanto, vinha cá alguém colocar, pagava 50 euros, depois o homem ia-se embora. Eu não sabia quem era o homem que vinha, quem era o homem que ia e também não sabia o que é que vinha no equipamento. De forma que não gostei. Eles apanham os números de telefone, não se identificam (a nível de número). Ficamos sem saber quem telefona. Dizem que são de uma empresa relacionada com… Uma delas era relacionada com a Zon. E a outra não me ocorre…

167

Então foi mais do que uma…

Manuel: Foram. Já telefonaram uns três ou quatro, ou mais.

Então não gostaram dessa abordagem deles…

Manuel: Não. Não me pareceu ser uma coisa séria.

E davam-lhe que tipo de informações? Que iam ter mais canais?

Manuel: Que tinham mais canais, melhor qualidade… E quando eu pedia “então ponha-me isso tudo para um papel, se faz favor”, eles diziam “não podemos fazer”. Paciência!

P16. Já ouviu falar de TV digital?

Celeste: Ouvi, mas não liguei nenhuma. Não sei o que é isso.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

TVCabo.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Manuel: Pois, já ouvimos falar de que a partir de certa data do próximo ano esse sinal desaparece e passa a haver só o sinal digital. Isso está nos jornais, em revistas e vamos ouvindo. E também já se sabe que a Nazaré é uma das localidades escolhidas como projecto-piloto. Aliás, em 1989, numa campanha eleitoral, foi referido como projecto a retirada dessas antenas dos telhados da Nazaré.

Então soube do “switch-off” através dos media. Os jornais locais também falaram no assunto?

Manuel: Os jornais locais de vez em quando falam nisso e há agora aí uma revista que saiu agora que também traz um trabalho sobre isso. Mas isso já se vai sabendo.

Celeste: Eu não ligo a nada disso. Passou-me ao lado.

Manuel: O mais provável é que, daqui a algum tempo, vou preocupar-me mais em saber pormenores, que é para não ser apanhado de surpresa. Depois vou ter que me prevenir, vou ter que falar com um especialista.

Mas fazem ideia do que quem tem televisão analógica terrestre tem que fazer para continuar a ter televisão? (P25.)

Manuel: A única coisa que fiquei a saber foi a propósito dos telefonemas dos indivíduos. Que é preciso aplicar um equipamento para podermos continuar a ter televisão.

Têm ideia dos custos envolvidos nesse processo? (P27.)

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Manuel: Não. Os indivíduos falaram em custos, mas eu não fixei. Como era “oferecido” e depois como se estabeleceu ali a conversa de que eu queria era que eles me mandassem por papel…

(É explicado melhor o processo de transição para o digital e os custos envolvidos para quem tem televisão analógica terrestre)

Manuel: E as pessoas que não têm possibilidades de pagar os 50 euros? Eu acho que, em termos de aceitação, as pessoas da Nazaré vão aceitar porque não têm escolha. Em termos económicos, vai ser complicado porque há pessoas que têm dificuldades. Muitas pessoas.

Mesmo se forem subsidiadas?

Manuel: De uma vez, será sempre muito dinheiro. Uma grande parte da população da Nazaré tem rendimentos reduzidos. São pessoas reformadas, com reformas pequenas. A menos que tenham familiares que dêem uma ajuda.

Caso também tivessem que adaptar os vossos televisores, quanto é que estariam dispostos a pagar para continuarem a ter televisão? Estariam dispostos a pagar esse valor de, pelo menos, 50 euros?

Manuel: Como nós não teremos escolha quando chegar a ocasião e, se não houver facilidade no pagamento, não temos alternativa. Não há duas coisas. Tem que ser aquela. E aí…

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Manuel: Em termos de programas, acho que programas que nos permitam ter um momento em que vejamos acontecimentos agradáveis, sobretudo na área dos espectáculos recreativos ou culturais, como o teatro e variedades.

Serviços de informação útil (Farmácias, Emprego) seriam interessantes, no vosso ponto de vista?

Manuel: No caso da Nazaré não.

E se pudessem ver as notícias do dia, como se estivessem na Internet?

Manuel: Às vezes dava jeito. Muitas vezes apanham-se as notícias e não apanho a notícia toda. Quando oiço e vejo que me interessa já foi. Assim dava para voltar atrás.

E o serviço de Pausa TV?

Manuel: Ah, isso era capaz até de ser bom! Por exemplo, se eu quisesse ver o “Prós-e-Contras”, não via à noite, via no outro dia. Nós escolhíamos o momento que nos desse mais jeito.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

169

Celeste: (risos) Sei lá, não sei…

Manuel: Provavelmente… Se tivermos mais tempo disponível e se a programação agradar… Agora, se a programação não agradar, aquilo tem ali um botão e agente desliga. Até porque gostamos de ouvir música e isso é uma grande vantagem.

Sabem que existe a possibilidade de ouvirem rádio através da televisão?

Manuel: Sabemos.

Não vos interessa terem esse serviço?

Celeste: Nós aqui temos quatro rádios em casa… Um na sala, um na cozinha, um no quarto e outro na casa de banho.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Celeste: Tem que ser diferente…

Manuel: Eu só espero é que seja diferente na qualidade… Na qualidade daquilo que transmitem, não é na qualidade de imagem. Na qualidade de imagem já se percebeu que vai melhorar bastante, quer o som quer a imagem. Não é? Eu digo a parte dos conteúdos, porque se não for diferente, então vale mais estarem quietos.

E a nível físico, acham que a televisão vai ser muito diferente do que é agora?

Manuel: Ah, eu acho que sim. Acho que vai ser uma chapinha. A evolução vai mais para o volume do objecto do que aquilo que é transmitido.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Celeste: 72 anos. Manuel: 71 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré, Leiria P38. Ocupação e Profissão Reformados, mas ainda a trabalhar na papelaria/livraria da qual são proprietários. P39. Habilitações académicas Têm ambos a 4ª classe. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Duas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. Ambos usam há mais de dez anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Manuel usa, principalmente para trabalhar. Celeste não usa. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?)

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Manuel usa, principalmente para trabalhar. Celeste não usa. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Rádios, gira-discos, leitor de CDs.

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Relatório da visita a casa da família 16 (“Mendonça”)

25 de Novembro de 2010

Nazaré

Rita: 70 anos, reformada.

Ricardo: 71 anos, reformado.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Mendonça”, da Nazaré, no dia 25 de

Novembro de 2010.

O agregado familiar dos “Mendonça” é composto por um casal: Rita, de 70 anos, e

Ricardo, de 71 anos. Ambos estão reformados e aproveitam o tempo livre sobretudo

para se dedicarem aos netos e às actividades na Igreja. Rita passa mais tempo em casa

do que o marido, já que este frequenta a Universidade Sénior. No entanto, de acordo

com os "Mendonça", para nenhum dos dois a televisão é central, sendo a sua presença

importante apenas à noite. Na verdade, é o programa de Fernando Mendes, Preço

Certo, às 19h00, que abre o serão televisivo da família. «Ligamos a televisão para ver o

"gordo"», diz Rita, rindo-se da situação. «A partir dessa hora, a minha irmã vem cá

para casa. Elas gostam de ver e eu ligo a televisão. Entretanto dão as notícias - que é

uma coisa que eu não dispenso - e a partir daí é que a televisão fica sempre mais ou

Figura 1 – Para os “Mendonça”, entrar na reforma não significou passar a ver mais TV

172

menos ligada, até às 11h00 da noite», completa Ricardo. Apesar de terem um serviço

de múltiplos canais, a programação durante o dia não "entusiasma" Rita e Ricardo e

estes preferem ocupar-se com as tarefas domésticas ou a leitura. Por vezes, vêem «aos

bocadinhos» programas como o Portugal no Coração ou As Tardes da Júlia,

detestando, por outro lado, os "sensacionalismos" de Manuel Luís Goucha. «Não gosto

dos programas do Goucha, na TVI. O programa da Júlia Pinheiro ainda vejo de vez em

quando. Por acaso ontem prendeu-me porque apresentou a história de um rapaz

jovem que esteve na igreja, saiu, depois por um acaso na vida voltou e pôs-se ao

serviço dos outros», conta Ricardo, que também gosta de ver os debates políticos,

como os Prós e Contras. Questionado sobre a importância da televisão no quotidiano

da família, Ricardo explica que a televisão é simultaneamente um bem essencial e

superficial: «Digamos que é as duas coisas. Porque nem sempre estamos ocupados

com outras coisas e, às vezes, também acendemos um bocadinho a televisão. Digamos

que é as duas coisas». Rita lembra que a televisão serve de companhia: «Quando eles

não estão aí eu ligo a televisão, mas ando para lá e para cá. Não estou mesmo em cima

daquilo». Os "Mendonça" vêem menos televisão ao fim-de-semana, período que

reservam para ir à missa e passear. «Ao domingo levantamo-nos e vamos para a missa.

Figuras 2 3 –Os “Mendonça” aderiram recentemente à TV digital, com receio de que as suas televisões ficassem desactualizadas

173

Depois vimos almoçar e acendemos a televisão para ver as notícias. Depois das

notícias, como normalmente o tempo está bom, agarro no carro e vou com a Rita e a

minha irmã ao café. E damos por lá umas voltinhas. Eu tenho que procurar sempre um

café para ler o jornal». Apesar de verem apenas "três a quatro horas" de televisão por

dia, Ricardo e Rita têm três televisores em casa: na sala, no quarto e na cozinha. «No

quarto só vimos à noite. Na cozinha vemos as notícias e, de vez em quando, o

programa da manhã, do Jorge Gabriel», descreve Ricardo. A última vez que compraram

um televisor já foi há muitos anos, mas não têm intenção de comprar um nos próximos

tempos. Ainda assim, Ricardo faz questão de salientar que a família acompanha a

evolução tecnológica e aderiu há alguns meses ao serviço de televisão digital.

Neste sentido, no que toca ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV

digital, os "Mendonça" demonstraram já ter ouvido falar nesta forma de transmissão

televisiva, visto que há bem pouco tempo tinham sido abordados e esclarecidos sobre

o tema pelos técnicos da empresa que lhes fornece televisão. No entanto, as

dificuldades surgem na altura de explicar em que é que consiste a TV digital. Rita

confessa não ter qualquer ideia das vantagens ou desvantagens que esta pode trazer e

Ricardo hesita na resposta. «Talvez não saiba explicar bem, mas a televisão digital é a

que… É….É o quê… Vamos lá ver se eu te sei explicar…». Por outro lado, depois de lhe

ser sugerido que fale sobre as vantagens deste tipo de transmissão, Ricardo demonstra

possuir algumas noções sobre o tema. «As vantagens que traz são ver-se melhor e ter

outros programas. E pronto, é isso que eu sei. Sei que daqui por algum tempo a

televisão que vai funcionar é a digital e é só isso que eu sei». Ricardo afirma que estas

informações lhe foram fornecidas pelos técnicos da Cabovisão e fizeram com que, após

alguma reflexão, aderisse à TV digital. «Fui contactado várias vezes telefonicamente

pela Cabovisão. Entretanto houve uma altura em que eu pensei a sério no assunto e

depois veio cá um funcionário da Cabovisão, que esteve a falar comigo, e fizemos o

contrato. Agora nós estamos sempre muito de pé atrás com estas coisas do oferecer.

Eu penso sempre que as pessoas não têm nada para oferecer de graça a ninguém. É

sempre para ganhar dinheiro. Acontece isso com a televisão, mas acontece com outros

telefonemas que fazem aqui para casa, que eu digo logo imediatamente que não estou

interessado. Mas eles insistiram nos telefonemas e então lá pus». Ricardo explica

174

ainda que o alargamento do pacote de canais ao BenficaTV e a informação sobre o

“switch-off” o levaram a decidir-se pela TV digital. «Porque é que acabou por aceitar

pôr a TV digital? Ricardo: A maior razão foi, de facto, o canal do Benfica - metido no

canal digital - e ver mais programas. E essa informação que o senhor me deu de que

daqui por algum tempo era só o digital a funcionar». Assim, apesar de saber que não

iria ser afectado pelo desligamento do sinal analógico, Ricardo teve em conta o

argumento de que «o futuro da televisão era o digital» na altura de tomar a decisão e

quis actualizar-se. O nazareno aponta para 2012 a data-limite do “switch-off” e, apesar

de encarar a transição para o digital como algo "positivo", demonstra-se preocupado

com os que, por serem pobres, poderão «deixar de ver televisão». «É capaz de ser

positivo, mas também não sei o que poderá acontecer com aquelas pessoas que vivem

abaixo do limiar da pobreza e que, se calhar, não têm facilidade em pôr a digital. Não

sei se não acabarão por deixar de ver televisão. Isso é uma preocupação». Apesar de

exigir «mais técnica» e que se «puxe mais pela cabeça», a TV digital é, no entender de

Ricardo, mais fácil de utilizar do que a analógica. De qualquer forma, quando há algum

problema ou dúvida em relação ao funcionamento de equipamentos tecnológicos,

Ricardo e Rita contam sempre com os conhecimentos dos mais novos, nomeadamente

dos filhos. Ricardo considera que, daqui a cinco anos, o casal não verá mais televisão

do que actualmente, mas não exclui essa hipótese e sugere que, no futuro, a TV seja

mais educativa. «Acho que a televisão devia ter mais programas educativos. Penso que

há uma grande disputa entre as televisões e acho que não procuram apresentar

programas educativos. A disputa das televisões não é para melhor, mas é para pior.

Para programas que não têm muito interesse, como por exemplo, a Casa dos Segredos

e essas coisas assim do género». Lançando uma crítica à "caixinha" que, por vezes, é

prejudicial, Ricardo e Rita não escondem que gostariam que a televisão daqui a dez

anos fosse "diferente", e afirmam confiar nos jovens, mais "instruídos" do que

antigamente, para fazer a mudança.

175

Transcrição da entrevista semi-estruturada

P4. O que mais gostam de fazer nos tempos livres?

Ricardo: De manhã acordamos e vamos rezar as laudes. Depois vamos preparando as coisas para o almoço. Ela está com dificuldades e eu tenho que ajudar. Vou ao pão, etc. Ela entretém-se a fazer limpezas. Depois do almoço vamos um bocadinho ao café, eu leio o jornal, ela conversa lá com as amigas, e voltamos para casa. Não sei porque é que nunca me dá muito para ligar a televisão, mas às vezes lá ligo. A essa hora está a dar o programa do João Baião e, às vezes, vemos um bocadinho. Mas não tenho assim muito entusiasmo durante o dia para ver televisão. Quando vimos do café, eu tenho coisas para tratar da Comunidade neocatecomunal, porque nós temos temas para estudar e apresentar.

Então acabam por se dedicar mais à leitura?

Ricardo: Sim.

P8. Quantas horas de televisão vêem por dia (em média)?

Rita: É pouco.

Ricardo: Quando vimos mais é à noite. Ao todo vemos três/quatro horas por dia.

Rita: Ligamos a televisão para ver o "gordo" (Preço Certo) (risos).

Ricardo: A partir dessa hora (hora do Preço Certo) a minha irmã vem cá para casa. Elas gostam de ver e eu ligo a televisão. Entretanto dá as notícias - que é uma coisa que eu não dispenso - e a partir daí é que a televisão fica sempre mais ou menos ligada, até às 11h00 da noite.

Ouvem rádio?

Ricardo: Nem por isso. Eu oiço no carro. Em casa, só temos um rádio na garagem.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Ricardo: Não gosto dos programas do Goucha, na TVI. O programa da Júlia Pinheiro ainda vejo de vez em quando. Por acaso ontem prendeu-me porque esteve a dar um programa com um rapaz jovem que esteve na igreja, saiu, depois por um acaso na vida dele voltou. Continuou e pôs-se ao serviço dos outros. (…) (Fala de mais duas histórias contadas no programa As Tardes da Júlia do dia anterior)

A televisão é, de alguma forma, essencial para vocês ou um bem superficial?

Ricardo: Digamos que é as duas coisas. Porque nem sempre estamos ocupados com outras coisas e, às vezes, também acendemos um bocadinho a televisão. Digamos que é as duas coisas.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

176

Ricardo: Menos. Ao domingo levantamo-nos e vamos para a missa. Depois da missa, vimos almoçar e acendemos a televisão para ver as notícias. Depois das notícias, como normalmente o tempo está bom, agarro no carro e vou com a Rita e a minha irmã ao café. E damos por lá umas voltinhas. Eu tenho que procurar sempre um café para ler o jornal.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões?

Ricardo: Três. Um na sala, outro no quarto e outro na cozinha. No quarto só vimos à noite. Na cozinha vemos as notícias e, de vez em quando, o programa da manhã, do Jorge Gabriel. Aos bocadinhos.

Rita: Ah sim, é aos bocadinhos mesmo. A pessoa tem que fazer e, para não estar sozinha, às vezes acende.

A TV acaba por ser um pouco uma companhia?

Rita: É. Ele às vezes sai e eu não vou porque não posso. E quando eles não estão aí eu ligo a televisão, mas ando para lá e para cá. Não estou mesmo em cima daquilo.

Ricardo: Como estava a dizer, ao domingo damos uma volta lá por baixo e quando vimos para casa acendemos um bocadinho a televisão.

P13. (família) Quando compraram o último televisor? Foi há mais de doze meses?

Ricardo: Sim. Há muito mais. Só o que pusemos agora foi TV Digital.

E estão a pensar comprar uma televisão nos próximos tempos?

Ricardo: Não.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Não.

(Explica-se o que é o teletexto)

Ricardo: Quem faz isso é o João Pedro quando cá vem.

E sabem o que é que ele procura no teletexto?

Ricardo: Não. Eu penso que ele acende mais isso para ver os programas que dão nos canais.

Porque é que vocês não usam? Ricardo: Não sei usar e também não tenho assim muito entusiasmo por isso.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

177

Ricardo: A televisão digital foi agora posta há pouco tempo, há uns meses. Diz que daqui por algum tempo é só digital que vai funcionar e então eles lá me convenceram e lá pus a digital.

O que é que sabem sobre a TV Digital?

Ricardo: Talvez não te saiba explicar bem, mas a televisão digital é a que… É….É o quê… Vamos lá ver se eu te sei explicar…

Rita: Eu é que não sei nada disso.

P17. Que vantagens associam à TV digital?

Ricardo: As vantagens que traz são ver-se melhor e ter outros programas. E pronto, é isso que eu sei. Sei que daqui por algum tempo a televisão que vai funcionar é a digital e é só isso que eu sei.

Como é que lhe chegou essa informação?

Ricardo: Fui contactado telefonicamente pela Cabovisão, várias vezes. Entretanto houve uma altura em que eu pensei a sério no assunto e depois veio cá um funcionário da Cabovisão, que esteve a falar comigo, e fizemos o contrato. Agora nós estamos sempre muito de pé atrás com estas coisas do oferecer. Eu penso sempre que as pessoas não têm nada para oferecer de graça a ninguém. É sempre para ganhar dinheiro. Acontece isso com a televisão, mas acontece com outros telefonemas que fazem aqui para casa, que eu digo logo imediatamente que não estou interessado. Mas eles insistiram nos telefonemas e então lá pus.

Porque é que acabou por aceitar pôr a TV digital?

Ricardo: A maior razão foi, de facto, o canal do Benfica - metido no canal digital - e ver mais programas. E essa informação que o senhor me deu de que daqui por algum tempo era só o digital a funcionar.

Já tinham televisão por cabo antes de colocarem este novo serviço?

Ricardo: Sim. E já tivemos a Sport TV, mas depois desistimos porque ficava muito caro.

E os técnicos da Cabovisão disseram-lhes que iam ficar sem televisão se não aderissem a este novo serviço?

Ricardo: Não, isso não disseram. Disseram que o futuro da televisão era o digital.

P24. Quando é a data-limite do “switch-off”: tem ideia?

Ricardo: Acho que é em 2012.

Consideram esta transição positiva?

Ricardo: É capaz de ser positivo, mas também não sei o que poderá acontecer com aquelas pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza e que, se calhar, não têm

178

facilidade em pôr a digital. Não sei se não acabarão por deixar de ver televisão. Isso é uma preocupação.

Fazem ideia do que é que essas pessoas precisam de fazer para continuarem a ter televisão em casa?

Ricardo: Não.

(É explicada a necessidade de compra de um descodificador ou de uma nova televisão)

P29. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Ricardo: Pedimos ao João Pedro ou à Marta (familiares).

P30. Instalar e usar TV digital é mais simples ou complicado que a TV analógica, em sua opinião?

Ricardo: A digital é mais fácil de usar. Tem mais técnica, temos que puxar pela cabeça para sabermos orientar os programas.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Rita: (risos)

Ricardo: (risos) Não sei. Eu penso que não vamos ver mais televisão. No entanto, pode acontecer. Daqui por cinco anos é muito tempo.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Ricardo: Há uma coisa que eu me esqueci de dizer. Gosto muito de ver os debates na televisão sobre a política. Prós e Contras, etc. Às vezes até estou aí sozinho. Ela já está a dormir e eu estou até à uma da manhã, ou mais, a ver isso. Acho que a televisão devia ter mais programas educativos. Eu penso que há uma grande disputa entre as televisões e acho que não procuram apresentar programas educativos. Acho que a disputa das televisões não é para melhor, mas é para pior. Para programas que não têm muito interesse, como por exemplo, a Casa dos Segredos e essas coisas assim do género.

Acham que a televisão também pode ser um pouco prejudicial?

Ricardo: A caixinha normalmente é mais prejudicial do que… Não quer dizer que não tenha coisas boas. Mas pesa mais o lado péssimo.

Imaginem que a televisão digital vos traria outros serviços como verem na TV qual é a farmácia de serviços, procurarem emprego através da televisão, esse tipo de informação. Acham que seria interessante?

179

Ricardo: Isso era bom. Embora para nós já não tenha muito interesse devido à nossa idade… Mas eu acho que era bom. Era bom para os mais novos.

E, por exemplo, o serviço de Pausa TV (é explicado o serviço)?

Ricardo: Isso era interessante, sim. Até acho que era bastante interessante.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Ricardo: Eu preferia que fosse diferente.

Porquê?

Ricardo: As mentalidades estão a mudar e os jovens cada vez têm mais instrução. Penso que era bom se mudasse, e acho que é isso que vai acontecer.

E a nível físico?

Ricardo: Já existe uma diferença entre esta televisão e o plasma. Eu penso que eles são capazes de inventar outras técnicas para porem a televisão diferente.

Imaginam os vossos netos a verem televisão através do telemóvel?

Ricardo: Sim. Acho que se Deus deu inteligência ao Homem é para ele a desenvolver. Por isso acho que é importante.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Rita: 70 anos. Ricardo: 71 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré, Leiria. P38. Ocupação e Profissão Reformados. P39. Habilitações académicas Ambos têm a 4ª classe. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Duas pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Ricardo usa há cerca de 6 anos. Rita não usa. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Não usam. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Têm um DVD, que não utilizam, dois rádios e um VHS.

180

Relatório da visita a casa da família 17 (“Sousa”)

26-11-2010

Nazaré

Maria (avó): 65 anos, proprietária de uma churrasqueira. Sara (mãe): 46 anos, desempregada. Joana (filha): 6 anos. Matilde (filha): 9 anos.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Sousa”, da Nazaré, no dia 26 de Novembro

de 2010.

O agregado familiar dos “Sousa” é composto por quatro elementos: a avó, Maria, de

65 anos, a mãe, Sara, de 46 anos e duas filhas, Joana e Matilde, de 6 e 9 anos

respectivamente. Maria fez a 4ª classe e é comerciante. Sara completou o 9º ano e

está desempregada.

A visita teve início às 14h30 e durou cerca de 60 minutos. A casa tem a particularidade

de, no rés-do-chão, integrar um restaurante/churrasqueira pertencente à família, onde

Maria trabalha todo o dia. Quase todas as divisões da residência têm televisão. Para

além dos dois aparelhos no restaurante (na principal sala de refeições e numa pequena

sala de trabalho) os três quartos da casa, no primeiro andar, têm direito a um

televisor. No quarto das crianças e no quarto de Sara as televisões estão rodeadas de

Figura 1 – Os “Sousa” têm uma televisão em quase todas as divisões da casa

181

DVDs, que Sara afirma ter comprado na feira a bom preço. Os quartos são

relativamente pequenos, mas grande parte do espaço é dedicado ao audiovisual.

Sentada na cama, Joana assiste televisão no quarto da mãe e depois no seu, fixando-se

no ecrã sem mudar de canal mesmo durante o longo período de publicidade. Nada a

desconcentra. A visita ao quarto de Maria inspira a conversa sobre a frequência com

que esta adormece a ver televisão. Segundo a filha Sara, Maria deixa a televisão acesa

toda a noite, mas poucas vezes toma realmente atenção ao que está a ser transmitido,

servindo o televisor para a embalar ou entreter durante alguns minutos, caso acorde a

meio da noite. «Não precisa de comprimidos (risos)», brinca Sara. No momento da

entrevista estavam em casa três elementos da família, já que uma das crianças (Joana)

estava doente e não foi à escola. Por isso, a criança faz questão de participar no

questionário, também ela dando algumas respostas sobre as suas preferências e

hábitos em relação à televisão. Quando chega da escola, depois de fazer os T.P.C.,

Joana liga imediatamente a televisão para ver os desenhos animados, na RTP2, e mais

tarde não perde um episódio da série Morangos com Açúcar. A mãe e a avó não a

deixam mentir: «Ela faz guerra para ver», diz Maria. «Gosta mesmo de ver. Se der o

episódio repetido não liga tanto, mas o novo gosta de ver», acrescenta Sara. Joana

lembra que também gosta de ver «o programa dos vampiros», Lua Vermelha, e O

Figuras 2 e 3 – Nos quartos das crianças, as televisões e os DVDs têm um espaço privilegiado

182

Mundo de Patty, na SIC, outras duas séries dedicadas aos pré-adolescentes e

adolescentes. Segundo Sara, desde que recebeu o computador Magalhães, Joana

acompanha os desenvolvimentos da telenovela Morangos com Açúcar através da

internet. «Ela vai à internet ver os episódios que já deram e põe as músicas». Sara

também começou a utilizar o computador há pouco tempo: «Utilizo há um mês e

pouco. Não tenho muita paciência. Normalmente utilizo para ir à internet, mas é só à

noite quando me vou deitar». De resto, a televisão é um dos seus principais

passatempos. «Se não tiver nada que fazer, vejo televisão. Gosto de ver este (aponta

para o programa que está a passar na TVI, As Tardes da Júlia) e gosto de ver o da SIC

(Boa Tarde). Às vezes estou com o comando a mudar entre um e outro. À noite gosto

de ver o telejornal, as telenovelas e depois vou dormir», explica Sara, assumindo que

vê mais de cinco horas de televisão por dia e que, se passar um bom filme na TV, é

capaz de passar ainda mais tempo em frente ao ecrã. Ex-atleta, Sara partilha com a

mãe o gosto por ver desporto na televisão. Enquanto Maria aproveita para ver os jogos

de futebol e andebol na RTP1 e 2 ao fim-de-semana, Sara usa o teletexto para saber as

últimas novidades nesta área. Maria admite que não deve ser difícil utilizar este

serviço pois já viu a filha a fazê-lo para se informar sobre desporto, programação,

meteorologia e, por vezes, os signos. No entanto, não o usa porque «não tem

paciência». Mãe e filha rejeitam a ideia de comprar um televisor nos próximos 12

meses. «Enquanto este funcionar, deixa-o estar», diz Maria. Joana demonstra-se alerta

Figura 4 – Maria, a avó, estima um rádio antigo, que lhe permite ouvir as notícias da terra, na rádio local

183

neste tema e diz «Se a minha televisão avariasse e não pudesse ver os “Morangos”

ficava a chorar», ao que a avó responde prontamente: «Mas as televisões não

avariavam todas ao mesmo tempo. Deus queira que não». A comerciante explica que

não dá atenção à televisão mais do que três horas por dia, mas admite que o aparelho

faz parte da sua rotina: «Eu ligo sempre a televisão de manhã para ver as notícias, mas

não me sento ao pé dela, só estou a ouvi-la. Gosto de estar a ouvir. Não gosto de estar

aqui dentro no silêncio. Às vezes ligo o rádio antes da televisão, principalmente ao

sábado e ao domingo. Ouço a Rádio Nazaré. Gosto de ouvir as notícias de cá da terra2

e, às vezes, palermices que eles dizem (risos)». Quanto aos programas preferidos,

Maria afirma gostar muito de ver «o telejornal e assim umas conversinhas», para além

de ser apaixonada pelos jogos de futebol. Tanto Maria como Sara afirmam ver menos

televisão ao fim-de-semana porque – à excepção dos programas de Desporto - a grelha

não é tão interessante. «Às vezes não dá nada que preste, nem vale a pena. Passam

filmes repetidos», protesta Sara. «Ao fim-de-semana não dá nada disto (refere-se aos

programas como o da Júlia Pinheiro), por isso, não gosto de ver. No sábado vejo a

repetição da gala da Casa dos Segredos porque à noite não consigo ver porque

adormeço», acrescenta Maria.

TV digital: conhecimentos, atitudes e expectativas

No que toca ao conhecimento acerca do que consiste a televisão digital, Maria e Sara –

que possuem apenas os quatro canais de televisão - demonstraram ter algumas

noções sobre o tema. Questionadas sobre se já ouviram falar na TV digital (P16), mãe e

filha responderam afirmativamente. Sara explica que já ouviu dizer «que a Nazaré é

uma das pioneiras da televisão digital», tendo sido o seu filho a informá-la sobre o

assunto, em tom de aviso. «Sei que, a partir de Maio, vai deixar de funcionar esta. Não

sei como é que o meu filho soube, mas ele disse-me já para me prevenir». Face à

2 Questionada sobre a possibilidade de criação de um canal regional sobre a Nazaré e arredores, Maria

mostrou-se adepta da ideia. “Também gostava. Eu não nasci na Nazaré, mas gosto muito da Nazaré.

Gostava porque a gente ficava informada daquilo que às vezes não vê nem ouve”. Sara está de acordo

com a mãe: “A gente nunca sabe tudo”.

184

questão “Porque não tem TV digital?” (P20), Maria responde com outra pergunta:

«Não sei ainda como é. É preciso comprar qualquer coisa, não é?», e Sara queixa-se de

que “sai caro”. Apesar de não conhecerem o termo técnico que denomina o

desligamento do sinal analógico, Sara e Maria não encaram a informação sobre o

“switch-off” como uma novidade e, perante a possibilidade de adquirirem TV digital

em casa nos próximos 12 meses (P21), Sara diz: «Se a partir de Maio for (o “switch-

off”), tem que ser, para vermos televisão». No entanto, nem Sara nem Maria fazem

ideia do que têm que fazer para continuarem a ter os 4 canais gratuitos de TV em casa

(P25). «O meu filho só me disse isso. Também, até lá…», afirma Sara. Depois de feito

um esclarecimento sobre os custos da transição para a TDT e questionadas sobre se

conseguirão suportar o custo do descodificador para continuarem a ter TV, Sara e

Maria exclamam: «Tem que ser! Ficar sem televisão não vamos ficar». Ainda assim,

Sara, que está habituada a fazer as ligações dos televisores, já pensou em soluções:

«As malandrices arranjam-se sempre (risos). Pelo que o meu filho me disse, (o

descodificador) vai dar, pelo menos, para duas televisões. Acho que os aparelhos não

deviam ser tão caros porque são precisos mais do que um aparelho». Por seu lado,

Maria considera que já devia ter recebido mais informação sobre o tema: «Isto é uma

questão de dias. Eu acho que não é na própria hora que vão dizer às pessoas “Olhe,

isto vai apagar, não há mais televisão. Tem que comprar uma coisa”».

Por fim, Sara e Maria consideram que vão ver menos televisão daqui a cinco anos

(P32), pois os conteúdos estão a perder qualidade. «Antes do 25 de Abril, a televisão

tinha outro peso. Era muito melhor. Na RTP1 passavam muitas coisas portuguesas,

com o Camilo, etc. Teatro, revista… Pelo menos ao domingo havia esses programas,

depois acabaram com tudo. Ao menos uma vez por mês podia dar teatro e filmes

portugueses na TV. A televisão dá sempre as mesmas coisas», critica Maria.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Sara: Gosto de ver o telejornal e programas da TVI. Gosto da Júlia Pinheiro. Se puder ver o programa da tarde, vejo. (Maria fala ao mesmo tempo que a filha e comenta:

185

telenovelas não gosto. Ela gosta, mas eu não) De telenovelas, vejo uma da TVI e outra da SIC, mas se tiver sono também não me perco e durmo (risos).

Joana: Gosto de ver os bonecos, na RTP2. Também gosto de ver os Laços de Sangue (novela) e vejo os Morangos com Açúcar. (A mãe e a avó riem-se quando a criança diz que vê os Morangos com Açúcar: “Não querias dizer, mas digo eu! Ela faz guerra para ver”, diz Maria. “Gosta mesmo de ver. Se der o episódio repetido não liga tanto, mas o novo gosta de ver”, diz Sara.

Maria: O telejornal e assim umas conversinhas gosto muito de ver.

Sara: A minha mãe gosta muito de ver o programa da SIC, da Conceição Lino.

Maria: Eu também adoro ver futebol. Na RTP2 dá sempre desporto ao sábado e ao domingo e eu gosto de estar a ver.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Sara: (risos) Às vezes há para aí alguma…O que eu detesto é o programa do Fernando Mendes (Preço Certo).

Maria: Eu vejo! Mas ela não gosta (risos).

Entretanto Joana lembra-se de dizer que também gosta “do programa dos vampiros” (Lua Vermelha).

Maria: Não gosto de ver filmes. Gosto de ver um filme que tenha princípio e fim, mas não consigo ver porque adormeço.

P2.1 Isso quer dizer que não consegue ver muito tempo seguido de televisão?

Maria: Sim.

Sara: Ela adormece.

P2.2 A televisão serve um pouco para a embalar…

Maria: É isso é! (mãe e filha riem-se). A gente está a olhar para ali, adormece e pronto, esquece.

Sara: Não precisa de comprimidos (risos).

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Maria: Eu ligo sempre a televisão de manhã para ver as notícias, mas não me sento ao pé dela, só estou a ouvi-la. Eu gosto de estar a ouvir. Não gosto de estar aqui dentro no silêncio. Gosto de estar a ouvir a televisão. Às vezes ligo o rádio antes da televisão. Ao sábado e ao domingo ligo a rádio. Ouço a Rádio Nazaré. Gosto de ouvir as notícias de cá da terra e, às vezes, palermices que eles dizem (risos).

P5.2. Se houvesse um canal de televisão sobre a Nazaré e arredores, também gostava?

186

Maria: Também gostava. Eu não nasci na Nazaré, mas gosto muito da Nazaré. Eu gostava porque a gente ficava informada daquilo que às vezes não vê nem ouve.

Sara: A gente também nunca sabe tudo.

Maria: Nós também não andamos na rua. A minha vida é aqui dentro. Passo aqui quase 24 horas.

Sara: Nem precisava de haver um canal só sobre a Nazaré, mas um programa, como antes havia na RTP2. Isso aí sou capaz de ver e de me sentar. Desde que seja da Nazaré, sento-me para ver do princípio ao fim.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Sara: Se não tiver nada que fazer, vejo televisão. Gosto de ver este (aponta para o programa que está a passar na TVI, As Tardes da Júlia) e gosto de ver o da SIC (Boa Tarde). Às vezes estou com o comando a mudar entre um e outro. À noite gosto de ver o telejornal, as telenovelas e depois vou dormir.

Joana: Quando venho da escola faço os TPC e depois ponho logo a televisão nos bonecos.

Vês mais televisão ou usas mais o computador?

Joana: O computador. Vou ver os sites dos canais.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Maria: Vejo mais do que três horas de televisão. Não são muitas horas. À noite adormeço.

Sara: Vejo mais de cinco horas. Às vezes se vir um filme ainda são mais. Mas os filmes agora têm sido tão tarde que nem vejo. Dão as telenovelas todas, que até nos aborrecemos, e depois é que dão os filmes.

Maria: Eu não gosto é de ver a publicidade. Tanto tempo, tanto tempo, tanto tempo…Que horror. Aquilo não havia de ser assim. É muito chato.

Sara: Às vezes é mais de meia hora. Eu, às vezes, quero ver a gala da Casa dos Segredos e depois do intervalo já não vejo mais nada porque adormeço.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Maria: Ao fim-de-semana não dá nada disto (refere-se aos programas como o da Júlia Pinheiro), por isso, não gosto de ver. No sábado vejo a repetição da gala da Casa dos Segredos porque à noite não consigo ver porque adormeço.

Sara: Ao fim-de-semana vejo menos. Às vezes não dá nada que preste, nem vale a pena. Às vezes passam filmes repetidos que nem vale a pena estar a ver.

P9.1. Gostava de ter maneira de gravar programas para os ver noutra altura?

187

Maria: Alguns. Há uns que merecem, outros que não. Muitos não me interessam.

Também utiliza o computador?

Sara: Sim

Muitas horas?

Sara: Não. Utilizo há um mês e pouco. Não tenho muita paciência. Normalmente utilizo para ir à internet, mas é só à noite quando me vou deitar.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Maria: Cinco. Nos quartos, numa pequena sala e na sala de refeições do restaurante.

P11. Onde vê mais televisão?

Sara: Esta está sempre ligada. Se eu não estivesse aqui, a minha mãe estava na salinha a ouvir a televisão.

P13. (família) Quando compraram o último televisor? Já foi há mais de 12 meses?

Sara: Já.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Maria: Acho que não. Enquanto este funcionar deixa-o estar.

Joana: Se a minha televisão avariasse e não pudesse ver os “Morangos” ficava a chorar.

Sara: Ia ver no computador.

Maria: Mas elas não avariavam todas. Deus queira que não.

P15. Usa teletexto? Que tipo de informação procura?

Sara: Eu uso. Para ver o que vai dar na televisão e às vezes o tempo. Também gosto de ver o desporto. Muito raramente vejo os signos.

Maria: Eu não uso. Não tenho paciência.

Mas sabe como é que se utiliza?

Maria: Mais ou menos porque eu vejo-a (à filha). Era capaz de aprender, mas não quero.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Maria: Eu já.

Sara: Já.

188

O que ouviram?

Sara: Eu, por exemplo, já ouvi dizer que a Nazaré é uma das pioneiras da televisão digital.

Onde ouviu dizer isso?

Sara: Foi o meu filho que me disse.

E o que sabe sobre o assunto?

Sara: Que a partir de Maio vai deixar de funcionar esta. Não sei como é que o meu filho soube, mas ele disse-me já para me prevenir.

Maria: Eu sabia porque já tinha ouvido falar.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Sara: Os quatro canais.

P20. Porque razão não tem TV digital?

Maria: Não sei ainda como é. É preciso comprar qualquer coisa não é?

Sara: Sai caro.

P21. Está a pensar ter TV digital em casa nos próximos 12 meses?

Sara: Se a partir de Maio for (o “switch-off”), tem que ser, para vermos televisão…

P25. Sabe o que tem que fazer para continuar os 4 canais gratuitos de TV em casa?

Sara: Não. O meu filho só me disse isso. Também, até lá…

P26. Sabe se há custos envolvidos para continuar a ter TV em casa?

Sara: Não sei. Mas não vai tudo ser de graça.

Maria: Custos deve haver. Não sei se será muito, se será pouco…

P27. Quanto estaria disposto/a a pagar para continuar a ter TV em casa?

Sara: Conforme o preço…Isto está crise.

(Expliquei o que era necessário fazer, os custos e a possibilidade de subsidiação das caixas para algumas famílias)

Sara: Se fosse assim, se ajudassem pelo menos os que precisam mesmo…Porque as pessoas que não virem televisão…

Maria: Eu já tinha ouvido falar nisso. Que era preciso comprar qualquer coisa…

Sara: Também já me tinham falado sobre essa caixa. Não tinha era a certeza do que era.

189

Maria: E os que têm TV Cabo e Cabovisão continuam a ter televisão?

P17. Que vantagens associa à TV digital?

Maria: Não sei.

Sara: Não sei. Se eles vão desligar o sinal, nem toda a gente vai ter possibilidades de comprar os aparelhos. Acho que é uma coisa que eles deviam comunicar aqui na Nazaré. Eu soube já há bastante tempo, através do meu filho, mas ninguém sabe. Eu disse no outro dia a uma pessoa que ficou espantada a olhar para mim: “Agora vou ficar sem televisão?”. Ah, pois vais! A partir de Maio… E em princípio já tem data. O meu filho disse-me isso. Eu acho que as pessoas já haviam de ter sido informadas porque aqui a maioria das pessoas não percebe nada do assunto e já deviam estar preparadas para isso.

Acham que a campanha de comunicação já devia ter começado?

Maria: Eu acho que sim. Isto é uma questão de dias. Eu acho que não é na própria hora que vão dizer às pessoas “Olhe, isto vai apagar, não há mais televisão. Tem que comprar uma coisa”.

Sara: Sim. Já estamos quase no fim do ano. Eles já deviam ter dito alguma coisa, para as pessoas verem como é que vão fazer: se vão comprar televisão, se vão ficar com estas e comprar o aparelho… Tanto que há muita gente aqui que, se não for a televisão, não tem mais nada para fazer.

O que acham da possibilidade da transição para a TDT trazer um 5º canal generalista?

Maria: Só mais um não… (Olha para a filha) Se for um canal igual a estes todos, então não vale a pena. Não é?

Sara: Se tivesse uma coisa diferente…

Acham interessante a possibilidade de um canal como a RTP Memória ser de acesso universal?

Maria: Eu acho que sim. Tinha lá coisas antigas que a gente gosta de ver.

E a RTPN?

Sara: Sim, era bom para toda a gente.

Acham que conseguiriam suportar o custo do descodificador, para continuarem a ter televisão?

Sara: Tem que ser! Ficar sem televisão não vamos ficar.

Maria: Era um sacrifício que tínhamos que fazer.

Mas se calhar já não podiam ter tantas televisões…

190

Sara: As malandrices arranjam-se sempre… (risos) Pelo que o meu filho me disse, vai dar, pelo menos, para duas. Acho que os aparelhos não deviam ser tão caros porque são precisos mais do que um aparelho. Metade, por exemplo. Porque acho que as pessoas não vão, logo no início, comprar uns três ou quatro para ter todas as televisões ligadas em casa.

P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Maria: Ela é que as monta todas, ela é que faz tudo (referindo-se à filha).

Sara: Sei mexer e gosto. Fiz as ligações para todas, aqui em casa. Eu e o meu filho normalmente vamos comprar as coisas e fazemos.

P28. A quem se vai dirigir de forma a obter apoio ou ajuda para continuar a ter os 4 canais gratuitos TV em casa?

Sara: Nem sei… É que uma pessoa não sabe nada.

Maria: Aqui na Nazaré não há ninguém que informe nada. Eu acho que não… Não sei. Quem vende televisões é que tem interesse nisso e nos aparelhos.

Acham que o facto de passarem a ter melhor imagem e som é motivante para mudarem para a TDT?

Sara: Nós, comprando a caixa, vemos só os quatro canais… Nós aqui também não ligamos a mais canais nenhuns, mesmo da Cabovisão, porque são muito repetitivos. O aparelho só tínhamos que pagar uma vez, Cabovisão são todos os meses.

Acham que a melhoria na imagem e no som é suficiente?

Sara: É. Para ver filmes, eu compro DVDs. De resto não ligo a mais canais.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Sara: Como eu gosto muito de desporto…Só ao sábado é que nós vemos alguma coisa do que se passa em Portugal sobre desporto. Acho que se dessem mais coisas sobre desporto, mesmo durante a semana, se calhar entretinha-me mais… A nível de serviços, há coisas que nós não podemos ler ou ver no momento e se tiver no teletexto é bom. Na altura da gripe A, eu fui muitas vezes ao teletexto para ver o que é que eles lá diziam.

Poderem procurar emprego através da televisão, por exemplo, acham que seria útil?

Sara: Eu acho que sim. Há muita coisa que eles podiam pôr na televisão.

E o serviço de Pausa TV?

Sara: Não. A mim não me faz diferença nenhuma.

Joana: Há televisões que têm um comando para se parar a televisão e depois se começar a ver, como nos filmes.

191

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Sara: Se continuarem assim ainda vejo menos.

Maria: Antes do 25 de Abril, a televisão tinha outro peso. Era muito melhor. Na RTP1 passavam muitas coisas portuguesas, com o Camilo, etc. Teatro, revista…Pelo menos ao domingo havia esses programas, depois acabaram com tudo. Ao menos uma vez por mês podia dar teatro e filmes portugueses na TV. A televisão dá sempre as mesmas coisas. Na TVI, são aquelas telenovelas todas seguidas… No canal1 até gosto de ver programas como o “Conta-me como foi”, com coisas antigas. Nem toda a gente gosta de ver filmes portugueses e coisas portuguesas, mas eu gosto. Touradas também gosto.

Sara: E mais futebol!

Maria: Olha, é verdade, futebol! Agora os filmes só passam nos canais da Cabovisão…Uma pessoa quer ver um jogo à noite e, se for um jogo espanhol, passam na televisão, se for português não.

Sara: Já que o futebol é ao fim-de-semana, podiam dar um jogo no sábado e outro no domingo.

Maria: Têm quatro canais, podiam dividir a coisa, mas não. É interesses! Só euros, mais nada!

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Maria: Não sei. Acho que não vai evoluir muito. Nós já vemos televisão há tantos anos e estamos sempre a ver a mesma coisa.

Acham que vão poder ver TV através do telemóvel?

Sara: Isso já há, mas para nós só daqui a muitos anos, porque é muito dinheiro.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Maria: 65 anos. Sara: 46 anos. Joana: 6 anos. Matilde: 9 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Nazaré P38. Ocupação e Profissão Maria: Comerciante. Sara: Desempregada. P39. Habilitações académicas

192

Maria: 4ª classe. Sara: 9º ano. P40. Nível de rendimento da família (Se tivesse de se enquadra num escalão de rendimento com 3 níveis: baixo, médio, alto. Em qual se enquadraria?) P41. Nº de pessoas no agregado familiar Quatro pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Tanto Maria como Sara usam telemóvel há cerca de 5 anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. Têm dois computadores portáteis em casa (os Magalhães das crianças). Sara começou a usar o computador há cerca de um mês. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. Têm internet de banda larga móvel. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Têm 3 leitores de DVD e três rádios.

193

Relatório da visita a casa da família 18 (“Fragoso”)

29 de Novembro de 2010

Alenquer

Sandra (mãe): 34 anos, gerente de uma churrasqueira.

Jacinto (pai): 32 anos, funcionário de uma fábrica de sabonetes.

Filipe (filho): 14 anos.

João (filho): 12 anos.

Miguel (filho): 8 anos.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Fragoso”, de Alenquer, no dia 29 de

Novembro de 2010.

O agregado familiar dos “Fragoso” é composto por cinco pessoas: Sandra (34 anos),

Jacinto (32 anos), Filipe (14 anos), João (12 anos) e Miguel (8 anos). A visita começou

pelas 17h00 e durou cerca de uma hora. Sandra e Jacinto mostram a única televisão da

casa, colocada no centro da sala ainda por rechear. As dificuldades económicas têm

marcado os últimos meses desta família, com Sandra desempregada e Jacinto a

trabalhar numa fábrica de sabonetes. Apesar de já ter conseguido emprego, Sandra

explica que só têm televisão porque esta lhes foi oferecida. «A vida está cara», diz

Figura 1 – Sandra diz que a família só tem televisor, porque este lhe foi oferecido

194

Jacinto. «Esta foi o meu cunhado que nos deu. Tinha lá e deu-nos. Se não fosse assim,

não tínhamos televisão», reforça Sandra. Para a gerente de uma churrasqueira em

Alenquer, ter um televisor ou não ter seria a mesma coisa. Sandra explica que não

chega a ver uma hora de televisão por dia e que, quando está sozinha em casa, esta

nem chega a ser acesa. Quando não está a trabalhar, a sua principal ocupação, para

além das tarefas domésticas, é o computador e a Internet. Sandra iniciou-se no mundo

da informática há cerca de um ano, mas já se sente dependente do computador. No

Facebook joga Farmville, no Hi5 reencontra alguns amigos e no site PirataTuga

descarrega as músicas que gosta de ouvir enquanto faz a lida da casa. No entanto, o

seu principal interesse na Internet é contactar com os familiares que estão no

estrangeiro, sobretudo através do MSN Messenger: «No computador sou capaz de

estar o dia inteiro (…) Prefiro o computador porque tenho mais facilidade em falar com

a minha família. Tenho primos nos EUA, outros na Inglaterra… Às vezes a minha irmã

está longe e eu falo com a minha sobrinha…». Por outro lado, para Jacinto a televisão

tem um peso muito importante. Esta tarde, como uma criança quando recebe um

brinquedo novo, Jacinto enfatiza o gesto de mudar de canal, estalando a língua e

mudando de expressão conforme os conteúdos que lhe aparecem. Está à procura de

um episódio de “wrestling” que ficou a gravar de madrugada, na TVI. A família aderiu

ao serviço MEO recentemente e Jacinto rejubila por não ter de ficar sem dormir para

poder assistir às lutas encenadas. «Está programado para gravar todos os programas

de “wrestling” e o Dragon Ball, diz Jacinto enquanto maneja o comando protegido por

Figura 2 – A família “Fragoso” aderiu a um serviço de TV paga seduzida por um pacote vantajoso de telefone, TV e internet

195

plástico. A forma como o trabalhador fabril consome televisão mudou muito desde

que a família aderiu à MEO. Sandra decidiu optar por este serviço de televisão quando

quis ter telefone fixo em casa. O pacote que engloba telefone fixo, televisão e Internet

fica mais em conta e proporciona-lhe mais comodidade para falar com a filha, que vive

com o pai biológico: «A gente teve que pôr MEO porque eu assim falo mais vezes com

a minha filha. Porque se eu não tivesse telefone em casa, tinha que ir a uma cabine

telefonar até às 20h30. E assim com telefone em casa, até às dez da noite eu posso

telefonar-lhe. É uma coisa boa que eu tenho». Para Jacinto, a televisão digital

representa muito mais. «Que serviços utiliza no MEO? Jacinto: Tudo. Gravação,

videoclube, jogos, música, tudo…». Jacinto passa a demonstrar como se joga através

da televisão. Acede à página do xadrez e do “4 em linha”, onde já ganhou várias vezes

ao computador. O trabalhador fabril revela que aprendeu tudo sozinho. «Estava ali o

livro e eu depois fui vendo. Comecei desde o 1 até aos jogos». Filipe, o filho mais velho

de Sandra, também tem bastante facilidade em gravar e jogar na televisão. Tal como

Jacinto, Filipe interessa-se por “wrestling”, enquanto os irmãos têm como canal

predilecto o Panda. «Por exemplo, o meu marido agora está a ver o “wrestling” que

está gravado, mas tem que continuar gravado para quando o menino vier cá outra vez.

A pessoa paga, não é para se estragar…», explica a mãe. Sandra só pediu para Jacinto

lhe gravar um programa uma vez: o concerto do Mikael Carreira, que passou na

televisão.

Jacinto segue a demonstração dos serviços da TV Digital, mostrando as potencialidades

de ter um videoclube em casa. Apesar de saber como alugar os vídeos através da

Figura 3 – Jacinto sabe utilizar a maioria dos funcionalidades que o novo serviço de TV lhe possibilita. O trabalhador fabril faz uso da gravação de programas frequentemente

196

televisão, prefere descarregar as novidades do cinema na Internet. «Nunca aluguei

nenhum. Mas sei que posso alugar até 7,50 que é grátis. Só se passar desse valor é que

já pago. Mas eu prefiro ir à net sacá-los (risos) (…) É mais fácil e ficam logo guardados.

Quando eu quiser ver, é só ir buscar e vou logo dar com eles». Enquanto procura o

canal da Jukebox, Jacinto protesta contra os canais que passam imagens do “reality

show” Casa dos Segredos 24 horas por dia. «Nem lhe passo cartão», diz. O seu canal

favorito é o Benfica TV, onde pode ver futebol, andebol e futsal do seu clube. Para

além disso, gosta de ver os canais informativos e alguns filmes. «Quando chego, a

primeira coisa que faço é ligar isto (televisão). Ela tem que estar sempre a fazer

barulho. Sempre! Depois sento-me aqui. Às vezes pego no computador e trago-o para

aqui. Estou aqui e estou a ver televisão. Depois ela chega e diz: “É sempre as duas

coisas!”. E eu respondo: “É! É para estar bem informado! (risos)». No computador, ao

mesmo tempo que vê televisão, têm sempre alguma coisa para fazer: «Posso estar no

Facebook, posso ver o jornal “A Bola”, ou a baixar um filme… Ou então, se ela me pedir

músicas, vou buscar as músicas». Mas não são só os filmes que Jacinto vê no

computador. O trabalhador fabril aproveita os sites como o ExtraLive TV ou TV Tuga

para assistir aos jogos de futebol que só passam na Sport TV, bem como para ouvir

Figuras 4 e 5 – Jacinto demonstra como faz uso de algumas funcionalidades da TV digital, como os jogos ou a gravação de programas

197

rádio. Ao fim-de-semana, a rotina de varia um pouco pois não gosta da programação

dos canais generalistas. «À tarde já não vejo tanto, porque a TVI dá um programa de

que eu não gosto, a SIC não passa filme nenhum… Às vezes ainda me ponho a procurar

filmes ou então ponho-me a ver o que tenho gravado».

Sandra e Jacinto gostariam de comprar uma televisão brevemente. No entanto, há

outras prioridades no orçamento da família. «A gente estava a pensar comprar, mas o

orçamento também é pouco (risos). Quando estivermos mais ou menos orientados eu

quero comprar uma para aqui», promete Sandra. Questionados sobre a possível

utilização do teletexto, Sandra respondeu que nunca usou e Jacinto revelou que, antes

de ter MEO, usava o serviço regularmente. «Quando não sabia o que é que ia dar,

consultava na teletexto. Por exemplo, em futsal, que costuma dar na RTP2, se eu não

soubesse que jogo ia transmitir, ia à teletexto e está lá a dizer». No entanto, o

teletexto foi ultrapassado com os novos serviços da televisão digital. «Agora é só

chegar aqui (risos) e é mais fácil. Vou mesmo aqui ao guia deles e vejo que programa

vai dar e a que horas é que vai dar».

No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas acerca da TV digital, Jacinto

demonstrou estar a par da transição para o digital. «Já ouviu falar de TV digital?

Jacinto: Terrestre. Vai entrar em vigor em 2013». Jacinto explicou que ouviu falar no

assunto nos telejornais. «Já deu nas notícias e tudo. Eles já avisaram. Ou compra-se o

aparelho para estas televisões ou a pessoa é obrigada a comprar uma televisão LCD

que suporte esse sistema». Apesar de ser um interessado pelo tema e de ter algumas

noções sobre o “switchover”, Jacinto fez alguma confusão no que respeita à data do

desligamento do sinal analógico e aos espectadores que este vai afectar. Na verdade,

julgava que, mesmo tendo já televisão digital em casa, a sua família teria de comprar

um aparelho para continuar a ter sinal. «Jacinto: A Televisão Digital Terrestre já existe.

Mas em 2013 vai deixar de funcionar esta (…) Esta que tem através da MEO? Jacinto:

Sim. Se não comprar o aparelho. Mas o aparelho custa 50 euros». «É a TDT» completa,

com um ar um pouco assustado. «Para mim deviam deixar como está», afirma, antes

de dizer que não conhece as vantagens deste sistema de transmissão e que «as

desvantagens são para a carteira». Também Sandra julga que «é mais uma coisa para

gastar dinheiro». Ouviu falar na televisão digital através de um conhecido que «faz os

198

aparelhos» para receber a TDT. Depois de lhes ser explicado que o serviço de televisão

que possuem já é digital, os “Fragoso” ficaram aliviados. Jacinto explica que já está

habituado a este tipo de televisão e não tem tido razões de queixa. «Instalar e usar a

TV digital é mais simples ou complicado que a TV analógica, em sua opinião? Jacinto:

Para mim é mais fácil. Porque é assim… Primeiro, já sei o número dos canais que eu

quero ver e vou logo lá directo. E se não souber vou ali ver, na grelha. É mais fácil».

Quanto ao consumo de televisão nos próximos anos, os “Fragoso” têm perspectivas

diferentes. Sandra considera que verá o mesmo tempo de televisão que actualmente,

ou seja, muito pouco. «Eu não sou de estar sentada a ver televisão», explica. Já Jacinto

lembra que, enquanto o futebol não acabar, vai ser sempre fiel à televisão.

Questionados sobre o interesse na possibilidade de vir a existir um canal de televisão

sobre a sua região, o casal afirmou que as informações importantes da zona sabem-se

«em primeira mão», no café, e não pela televisão. Jacinto acrescenta que ver Alenquer

na televisão só seria interessante «para ver as imagens de como é que aconteceu.

Porque saber, a gente sabe logo».

Por fim, Jacinto respondeu pela família no que toca à forma como esta imagina a

televisão daqui a dez anos. «Bem, uma coisa é certa: se a televisão tiver o sistema de

3D é muito melhor. É superior (…) Porque é mesmo real. O pessoal ver em 3D parece

que a própria pessoa está dentro do filme. Então torna-se diferente. Essa é uma boa

ideia e uma boa aposta. Agora tirando isso… HD eu não vejo diferença nenhuma nas

duas imagens». Para além do 3D, ainda vai aparecer muita coisa porque «eles estão

sempre a inventar». Quanto ao aspecto físico da televisão, para Jacinto é certo que os

televisores vão ser cada vez mais finos. «Mais pequeno não, mas mais fino sim. Cada

vez vai ficando mais fininho. Agora até há aquelas de pôr na própria parede. A gente

pensa que aquilo é uma parede. A televisão é tão fininha…». Em acrescento, Jacinto

exprimiu ainda o desejo um dia ter uma televisão que ocupasse toda a parede da sala.

Transcrição da entrevista semi-estruturada Sandra: Esta é a única televisão que temos.

Jacinto: A vida está cara.

199

Sandra: E mesmo assim, esta foi o meu cunhado que nos deu. Ele tinha lá e deu-nos. Se não fosse assim, não tínhamos televisão.

Se não tivesse televisão, como seria a sua vida?

Sandra: Para mim era igual. Não vejo muita televisão. Ele está aqui…

Jacinto joga xadrez e “4 em linha” com o MEO e já venceu a televisão várias vezes.

Gosta de ver o “wrestling”?

Jacinto: Sim. Eu gravo, porque isto dá à meia-noite e tal… A box grava… Está programado para gravar todos os programas. É este e é o Dragon Ball (risos).

É desde que têm MEO que utilizam este serviço, não é?

Sandra: É. A gente teve que pôr a MEO porque eu assim falo mais vezes com a minha filha. Porque se eu não tivesse telefone em casa, tinha que ir a uma cabine telefonar até às 20h30. E assim com o telefone em casa, até às dez da noite eu posso telefonar-lhe. E é uma coisa boa que eu tenho.

Então e que serviços utilizam no MEO para além da gravação?

Jacinto: Tudo. Gravação, videoclube, jogos, música, tudo…

É completamente diferente o vosso consumo de televisão, não é?

Jacinto: Eu nem me preocupo em ver. Dá e fica aí gravado.

Sandra: É. Nós aqui não tínhamos antena e tínhamos que pagar a uma pessoa para fazer a instalação. Eu preferi pagar mais alguma coisinha para termos coisas em condições…

Jacinto: E até à data de hoje não tenho razão de queixa deles.

Jacinto faz a demonstração de como utiliza os jogos.

Vejo que já explorou isto tudo…

Jacinto: Oh eu já! Às vezes não tenho nada para fazer…

Sandra: Ele aos fins-de-semana está em casa. Eu vou trabalhar. E ele como, às vezes, não tem nada para fazer, vai jogando (risos).

Jacinto: O Filipe (um dos filhos) consegue-me ganhar neste jogo.

Esse comando é muito difícil de usar ou nem por isso?

Jacinto: Não. É a coisa mais fácil.

É mais fácil usar esse ou o anterior, quando tinha a televisão só com quatro canais?

Jacinto: Este. Para quem o conhece, é mais fácil este.

200

Foi o senhor que descobriu sozinho que havia estes jogos ou foram os técnicos que lhe mostraram?

Jacinto: Estava aí o livro e eu depois fui vendo. Comecei desde o 1 até aos jogos.

A Sandra não se interessa nada por estas coisas, pois não?

Sandra: Não porque eu prefiro o computador (risos). Porque no computador tenho mais facilidade em falar com a minha família. Tenho primos nos EUA, outros na Inglaterra… Às vezes a minha irmã está longe e eu falo com a minha sobrinha…

Que programas é que o Jacinto grava mais?

Jacinto: Se for algum filme que eu seja bom eu gravo. Ou algum jogo em que eu não esteja em casa, gravo. Praticamente é isso. Os meus enteados é que gravam mais coisas.

Sandra: É só o meu filho mais velho é que mexe.

Vê também o “wrestling”?

Sandra: Vê.

Jacinto: Ui. Ninguém pode desgravar enquanto ele não vir.

Sandra: É. O meu marido, por exemplo, agora está a ver, mas tem que ficar gravado para quando o menino vier cá outra vez ver. A pessoa paga, não é para se estragar…

A senhora não gostava de gravar nenhum programa, para ver quando está em casa?

Jacinto acena com a cabeça, sorridente.

Sandra: Eu só pedi a ele para me gravar uma coisa: foi uma vez o concerto do Mikael Carreira, que deu na televisão. Foi a única coisa que eu lhe pedi para gravar.

Jacinto: Não foi não… Foi o “Trio Espectacular” na Record.

Sandra: Mas nunca foi gravado…

Jacinto: Manda gravar!

Sandra: Mas eu não… Na folga tenho muita coisa para fazer. Tenho que passar a ferro. Lavar, estender, apanhar a roupa e arrumar a casa. E tenho sorte que ele ainda me vai ajudando quando está em casa.

Jacinto: Ainda vou arrumando as coisas.

Portanto, estes serviços na televisão são mais para o seu marido e para os seus filhos…

Sandra: É, é. São mais para eles. Para mim é mais o computador.

Jacinto: E eu, às oito, é as notícias…

201

Sandra: Pois, às oito é as notícias. Se não houver jogos…

Então, para além dos jogos e da gravação o que é que faz mais com o MEO?

Jacinto: Vou ao videoclube alugar filmes, se eu quiser…

Já alugou algum?

Jacinto: Não. Mas sei que posso alugar até 7,50 euros que é grátis. Só se passar desse valor é que já pago. Mas eu prefiro ir à net sacá-los (risos).

É mais fácil?

Jacinto: É mais fácil e ficam logo guardados (risos). Quando eu quiser ver, é só ir buscar e vou logo dar com eles.

E o que é que faz mais?

Jacinto: Ah, temos a Jukebox também. É das músicas. A gente aluga também as músicas. Também temos este canal da Casa dos Segredos 24 horas por dia.

Também vê?

Jacinto: Nem lhe passo cartão.

Enquanto procura a Jukebox…

Jacinto: Não sei onde é que está… Eu sabia que tinha… Onde é que está amor?

Sandra: Não sei.

E o que é que faz mais?

Jacinto: Uso a internet e o telefone…

E dá para aceder à internet pela televisão?

Jacinto: Ao Facebook. Está aqui a Jukebox. Sabia que tinha.

Jacinto procura agora o canal em que pode aceder ao Facebook, mas tem dificuldades em encontrar.

Sandra: É tanta coisa, que ele até se esquece.

Jacinto: Se o Filipe estivesse aqui, já lá tinha ido.

Sandra: Pois. Se ele cá estivesse, ele dizia-te já.

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

202

Sandra: Eu é muito raro ver televisão, mesmo. Quem vê mais é ele. Eu chego às nove horas, já venho tão cansada que vou para a cama. E se eu estiver um dia inteiro sozinha em casa, a televisão nunca é acesa.

Porquê? Não se interessa pela televisão?

Sandra: Não porque é assim: faço uma coisa, faço outra, não venho ver. Ele é que vê mais televisão, não sou eu.

Usa o computador nessas alturas?

Sandra: Uso. Ponho música no computador e faço o que tenho a fazer.

Portanto, não chega a ver uma hora de televisão?

Sandra: Não.

E quantas horas passa ao computador?

Jacinto: No computador sou capaz de estar até às… O dia inteiro (risos). Porque eu às vezes falo com as minhas primas que estão nos EUA, com a minha sobrinha que está na Inglaterra…

Faz só chamadas de voz ou também vídeo-conferência?

Sandra: Sim, às vezes uso a webcam. Nem sempre porque a minha sobrinha não tem.

Mas gosta de fazer vídeo-chamada?

Sandra: Não. Ainda ontem estive a fazer com uma colega minha que vive em Castelo Branco e para mim aquilo foi…

Prefere só o chat?

Sandra: Sim. Para mim é só o chat mesmo. É só mesmo escrever…

Jacinto: Mas não é só ao Messenger que vais…

Sandra: Não. Vou ao Facebook, vou ao Hi5.

Jacinto: Vais baixar músicas…

Sandra: Isso é…

Portanto, as músicas que ouve são as que baixa na Internet…

Sandra: É.

A que sites costuma ir?

Jacinto: Pirata Tuga.

Sandra: É. É o único a que eu sei ir é a esse. Não sei ir a mais nenhum (risos)

203

Jacinto: Eu já é o Emule.

Sandra: Para eu ir a outro, ele tem que me explicar como é que é, porque eu não…

Ambos utilizam o Facebook?

Sandra: Sim.

O que é que vão lá fazer?

Sandra: É jogar.

Então quanto tempo é que pode estar, por dia, ao computador?

Sandra: Ah, o dia inteiro se for preciso (risos)

Jacinto: É para jogar e para receber péssimas notícias… Porque boas nunca me dão. Só me dão é péssimas!

Mas, em média, consegue mais ou menos fazer uma conta?

Sandra: Não sei… Quando chego do trabalho, durante a semana, ligo o computador e vou até às 10h30/11h00…

Jacinto: É até eu me ir deitar!

Sandra: Pois. É até ele se ir deitar, porque ele levanta-se muito cedo.

E é sobretudo para comunicar com outras pessoas? Não é para procurar informação…

Sandra: Sim. Eu informação, para ver desgraças, chegam-me a que tenho cá em casa (risos).

O Jacinto estava a dizer que ainda não falou no seu canal favorito…Qual é?

Jacinto: O Benfica TV! (risos) Sou benfiquista…pronto…

Mas é por ser benfiquista ou é porque tem programação que o agrada?

Jacinto: É para saber tudo sobre o meu clube. Por isso é que o comprei…

E vê muitas horas, por dia, deste canal?

Jacinto: Depende. Se houver jogos, vejo.

Futebol?

Jacinto: Futebol, andebol, futsal… Agora se for voleibol não. Basket também não. Basketball também não. E vejo as notícias, o “wrestling”…

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

204

Jacinto: Quando chego, a primeira coisa que faço é ligar isto (televisão). Ela tem que estar sempre a fazer barulho. Sempre! Depois sento-me aqui. Às vezes pego no computador e trago-o para aqui. Estou aqui e estou a ver televisão. Depois ela chega e diz; “É sempre as duas coisas!”. E eu respondo: “É! É para estar bem informado!(risos)”.

E o que é que faz no computador ao mesmo tempo que vê televisão?

Jacinto: No computador posso estar no Facebook, posso ver o jornal “A Bola”, ou a baixar um filme, ou a ir buscar filmes novos… Ou então se ela me pedir músicas, vou buscar as músicas… Tenho sempre alguma coisa para fazer.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Jacinto: Depende. Se eu não fizer horas (extra) é desde as 17h00. A partir daí ela está sempre a trabalhar e eu estou sempre aqui.

Sandra: Até às 21h30…

Jacinto: Às vezes nem tanto. Às vezes às 20h30 desligo-a logo, quando vou buscá-la. Mas normalmente quando a vou buscar, a televisão fica ligada. Quando eu saio, normalmente deixo-a ligada.

Porquê?

Jacinto: É que os meus vizinhos abrem a porta a toda a gente. E então está sempre a fazer barulho.

Sandra: Faz de conta que está cá alguém…

Então, depois quando chega com a sua esposa, desliga a televisão?

Jacinto: Desligo porque vou jantar e vou para a cama. Levo o computador para o quarto e deito-me no quentinho. Está mais quentinho no quarto! (risos)

Então prefere estar no conforto do quarto, ao computador, do que a ver televisão…

Jacinto: À noite é. Mas de dia não. De dia estou aqui a ver televisão.

E ao fim-de-semana? Há alguma coisa de diferente?

Jacinto: É a mesma rotina. Mas à tarde já não vejo tanto, porque a TVI dá um programa de que eu não gosto, a SIC não passa filme nenhum… Às vezes ainda me ponho a procurar filmes ou então ponho-me a ver o que eu tenho gravado.

Isso dá-lhe muito jeito, não é?

Jacinto: Sim, porque eu posso programar para gravar um episódio ou posso programar para gravar uma série toda. Por exemplo, agora começou a gravar o Dragon Ball, que dá a esta hora. Ela própria liga sozinha. Eu escuso de estar a ligá-la. Está programada, é deixá-la gravar. Chega àquela hora ela liga e grava.

205

Ela faz tudo sozinha, não é?

Jacinto: Praticamente faz. É bem-mandada (risos).

E os seus filhos também vêem muita televisão?

Sandra: Vêem. Eles, se for preciso, estão aqui o dia inteiro a ver televisão.

Jacinto: E principalmente o canal Panda e o SIC K.

Sandra: Pois. O canal Panda é dos canais preferidos deles.

Eles têm que idades?

Sandra: Um tem 14, outro 12 e outro 8.

Também gostam de gravar os programas deles?

Sandra: É, é.

E eles já gravam sozinhos?

Sandra: Não. Só o mais velho é que grava.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Jacinto: Sozinho. É quase sempre sozinho. Ainda ontem estava aqui a ver futebol e a minha esposa foi para o quarto. Ela não gosta de futebol.

Sandra: Não gosto de ver futebol e estava cheia de frio (risos) Depois de um dia de trabalho, vou para a cama para descansar.

Jacinto: Mas eu não tenho SportTV. Pego no computador e lá estou eu a ver (risos). Se for na SportTV, vejo no computador.

Em que site?

Jacinto: Tenho tantos! Tenho a ExtraLive TV, que dá para ver, e agora vejo mais é na TV Tuga.

E há mais alguns canais que veja no computador?

Jacinto: Não. É só futebol.

Mas preferia ver os jogos na televisão?

Jacinto: Sim. Tem outra qualidade de imagem. E na televisão não pára. No computador às vezes bloqueia. Para ouvir a rádio às vezes também usamos o computador.

Jacinto deixa de prestar atenção à entrevista por alguns momentos para ir consultar na televisão o horário de um jogo de futebol a que quer assistir.

O que é que está a fazer?

206

Jacinto: Estou a ver a que horas é que é o jogo. Olha, é às oito!

Está a ver essa informação através do quê?

Sandra: Da SportTV.

Jacinto: Da box. A SportTV diz o jogo que vai dar. Como já sei, já sei que tenho que ir para o computador ver.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Um. Na sala.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

O televisor que têm foi-lhes oferecido por um familiar e já tem alguns anos.

Sandra: Foi o meu cunhado que ma deu.

Jacinto: Tanto que ela não tem comando.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Sandra: A gente estava a pensar, mas o orçamento também é pouco (risos). Quando estivermos mais ou menos orientados eu quero comprar uma para aqui.

Uma maior?

Sandra: Sim, um bocadinho maior.

P15. Antes de terem este serviço da MEO usavam teletexto?

Sandra: Não.

Jacinto: Eu usava. Quando eu não sabia o que é que ia dar, consultava na teletexto. Por exemplo, em futsal, que costuma dar na RTP2, se eu não soubesse que jogo é que ia transmitir, ia à teletexto e está lá a dizer.

Agora com os novos serviços da MEO, já não usam teletexto?

Jacinto: Não. Agora é só chegar aqui (risos) e é mais fácil. Vou mesmo aqui ao guia deles e vejo que programa vai dar e a que horas é que vai dar.

Faz isso muitas vezes?

Jacinto: Não, porque normalmente sei (risos). Só este jogo é que eu não sabia a que horas era. Agora já sei.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

207

Jacinto: Terrestre (acenando afirmativamente com a cabeça). Vai entrar em vigor em 2013.

Como é que lhe chegou essa informação?

Jacinto: Já deu nas notícias e tudo. Eles já avisaram. Ou compra-se o aparelho para estas televisões ou a pessoa é obrigada a comprar uma televisão LCD que suporte esse sistema. Senão…

Sandra: Eu já tinha ouvido falar porque eu conheço um rapaz que fazia esses aparelhos ou ainda faz, não sei. Ele trabalha mesmo nisso.

Jacinto: A Televisão Digital Terrestre já existe. Mas em 2013 vai deixar de funcionar esta.

Esta que tem através da MEO?

Jacinto: Sim. Se não comprar o aparelho. Mas o aparelho custa 50 euros.

O senhor acha que vai ter mesmo que comprar esse aparelho?

Jacinto: Sim.

Quem lhe deu essa informação?

Jacinto: Sabendo… (risos) É a TDT.

Diz isso com um ar um pouco assustado…

Jacinto: Não. É a TDT (risos).

Mas isso é bom ou é mau? Acha que vai trazer vantagens ou desvantagens?

Jacinto: Não… Para mim eles deviam deixar estar como está.

Não sabe que vantagens é que vai trazer a TDT?

Jacinto: Não.

E as desvantagens?

Jacinto: As desvantagens são para a carteira! Agora vantagens não estou a ver nenhumas (risos)

Já tem isso como certo… Já sabe que vai ter que gastar mais dinheiro?

Jacinto: Ah isso é certinho.

Sandra: É mais uma coisa para a gente gastar dinheiro.

P24. Instalar e usar TV digital é mais simples ou complicado que a TV analógica, em sua opinião?

208

Jacinto: Para mim é mais fácil. Porque é assim… Primeiro, já sei o número dos canais que eu quero ver e vou logo lá directo. E se não souber vou ali ver, na grelha. Vou à grelha sei logo o número. É mais fácil.

P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Sandra: É aqui ao técnico (ri-se apontando para o marido).

Jacinto: Eu não recorro a ninguém. Vou aos livros… Em relação aos computadores, ligo a um familiar ou a um amigo meu que é técnico. Mas normalmente não é preciso porque eu dou logo a volta.

P25. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Sandra: Ah, eu devo ver a mesma coisa, de certeza.

Porquê?

Sandra: Porque o fuso horário não dá.

Mesmo que surgissem novos programas que a pudessem interessar?

Sandra: Não. Eu não sou de estar sentada a ver televisão.

Jacinto: Arranja-se maneira de se pôr a televisão no tecto e tu poderes ver televisão de pé (risos).

Sandra: Não. Eu não sou capaz de estar sentada muito tempo a ver televisão.

Jacinto: Comparada comigo…

Se tivesse televisão no telemóvel, por exemplo, acha que já gostava?

Sandra: Não.

Jacinto: Eu era só para ver os jogos.

O Jacinto acha que vai ver mais ou menos televisão daqui a cinco anos?

Jacinto: Eu, para lhe ser franco, enquanto o futebol não acabar, vou estar sempre a vê-lo. Isso é certinho.

Mas acha que vai ver a mesma coisa ou mais televisão?

Jacinto: Depende.

Depende do quê? Se tivesse a SportTV se calhar via mais. Não?

Jacinto: Não… Por exemplo, eu ao fim-de-semana vejo menos, principalmente ao sábado, por causa da TVI… Porque não passam filmes. Por exemplo, aquele programa para mim (Casa dos Segredos) não me interessa nada. Até podem acabar com esse

209

programa. Não ligo. Ao fim-de-semana à tarde, por exemplo, a televisão está a tarde toda nas notícias. Na RTPN, na TVI24…

Gostavam de ter um canal que falasse sobre a vossa região?

Sandra: Aqui também não tem assim muita coisa para a gente saber (risos).

Jacinto: O que a gente tem que saber é logo à primeira mão. A gente sabe logo!

Sandra: É. A gente basta ir ali ao café, sabe logo as notícias todas daqui (risos).

Não precisam da televisão para nada, não é?

Sandra: Não.

Jacinto: A não ser para ver as imagens de como é que aconteceu! Porque saber, a gente sabe logo.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Jacinto: Bem, uma coisa é certa: se a televisão tiver o sistema de 3D é muito melhor. É superior.

Porquê?

Jacinto: Porque é mesmo real. O pessoal ver em 3D parece que a própria pessoa está dentro do filme. Então torna-se diferente. Essa é uma boa ideia e é uma boa aposta. Agora tirando isso… HD eu não vejo diferença nenhuma nas duas imagens. Eu tenho. Até tenho a RTP em HD e tenho mais canais em HD. Não vejo diferenças nenhumas.

Então acha que a diferença entre a televisão actual e a televisão do futuro vai ser o 3D?

Jacinto: O 3D e ainda vão aparecer mais coisas. Até lá eles inventam mais coisas.

O que é que tem em mente?

Jacinto: Oh sei lá… Eles estão sempre a inventar (risos).

Se o acesso à televisão no telemóvel fosse mais fácil e generalizado, acha que isso seria bom?

Jacinto: Liberar esse serviço é uma boa aposta. Mas o pior é que a gente tem que pagar (risos).

E fisicamente, como é que acha que vai ser a televisão?

Jacinto: Mais pequeno não, mas mais fino sim. Cada vez vai ficando mais fininho. Até há aquelas que há agora de pôr na própria parede. A gente pensa que aquilo é uma parede. A televisão é tão fininha…

Querem acrescentar algo sobre este tema?

210

Jacinto: Melhor, melhor, melhor era pôr um projector, meter uma tela e ficava a parede toda!

Gostava de ter um cinema em casa, no fundo…

Jacinto: Praticamente. Mas cinema com a televisão.

Gostava de ter uma televisão do tamanho desta parede?

Jacinto: Não. Havia um pequeno problema: Eu ao ver os jogos, já a bola estava dentro da baliza e eu ainda estava no início da parede! E não conseguia apanhar (risos). Tinha que ser mais pequena.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade Sandra: 34 anos. Jacinto: 32 anos. Filipe: 14 anos. João: 12 anos. Miguel: 8 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Sandra: gerente de uma churrasqueira. Jacinto: Trabalhador numa fábrica de sabonetes. P39. Habilitações académicas Sandra: 6º ano. Jacinto: 4ª classe. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Cinco pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Ambos usam, já há 20 anos. Os dois filhos mais velhos, desde este ano, também têm telemóvel. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Usam computador. Têm dois computadores portáteis: um de Sandra e outro do filho mais velho, Filipe (oferta da escola). Sandra começou a usar o computador há cerca de um ano e aprendeu a utilizá-lo sozinha. Jacinto já usa computador há muitos anos. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Ambos usam. Sandra começou a usar há um ano e Jacinto já lida com a Internet há cerca de três anos. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Televisão e computadores portáteis.

211

Relatório da visita a casa da família 19 (“Baptista”)

28 Dezembro 2010

Cacém

Sofia (mãe): 37 anos, desempregada.

Rui (pai): 40 anos.

Filipa (filha): 10 anos, estudante.

Ana (filha): 18 anos, estudante.

Este relatório realiza uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família Baptista, do Cacém, no dia 28 de Dezembro

de 2010.

O agregado familiar da família Baptista é constituído por quatro pessoas: Sofia, a mãe

de 37 anos, Rui, o pai de 40 anos e duas filhas, Filipa e Ana com 10 e 18 anos

respectivamente. A entrevista iniciou-se por volta das 11h00 e durou cerca de 45

minutos, tendo sido realizada com a presença de dois elementos da família – Sofia e

Filipa (mãe e filha mais nova).

No início da visita a casa desta família Sofia, a mãe, encontrava-se na sala a arranjar o

cabelo. Uma vez que foi pedido que a família continuasse as suas dinâmicas usuais

durante um período de tempo antes do início da entrevista, Sofia manteve-se na sala a

Figura 1 – Filipa, de 10 anos, faz os trabalhos de casa, enquanto a mãe, na cozinha, prepara o almoço

212

arranjar o cabelo com ajuda de um pequeno espelho. O pai também estava em casa,

no entanto, não querendo participar na entrevista manteve-se no quarto. Filipa, a filha

mais nova do casal entrava na escola às 13h00 e por isso estava em casa. Inicialmente,

a rapariga manteve-se na sala a fazer trabalhos para a escola, no entanto a instalação

de uma câmara de filmar despertou a sua curiosidade e Filipa acabou por a ir

inspeccionar e fazer questões sobre a mesma e sobre os motivos que levavam a

entrevistadora a a sua casa. Neste período de tempo em que se realizou observação

não participada, a televisão manteve-se sempre desligada e em casa não havia sinais

de utilização de qualquer aparelho de entrenimento pessoal. A única acção decorria na

cozinha, uma vez que Sofia preparava já o almoço. Durante a entrevista Sofia referiu

que se encontra desempregada, assim como o marido, estando a família a passar um

momento complicado.

Quando questionada sobre o seu uso e consumo televisivo, Sofia refere que “mesmo

estando desempregada não sou muito apegada à TV, prefiro estar em casa a pôr as

coisas em ordem do que estar sentada em frente à TV”. A mãe desta família refere que

opta por apenas ligar a TV à noite, a seguir ao jantar e antes de se deitar. No que

respeita a sua filha Filipa, a mesma menciona que adora ver TV, referindo que vê”

todos os dias, a todas as horas e todos os minutos e sempre que pode”. No entanto, a

sua mãe aponta que Filipa não consegue ver tanta TV pois tem de ir para a escola,

fazer os trabalhos de casa e, mesmo ao fim-de-semana não tem muito tempo livre

para ver TV. Segundo explica Sofia, a sua família é muito religiosa, “todos os Domingos

vamos à Igreja”, o que acaba por deixar menos tempo do que aquele que é desejado

Figura 2 – A família “Baptista” possui um serviço de TV digital, apesar de não ter consciência disso

213

por Filipa para ver TV. Segundo a mesma, o seu canal preferido é o Disneychannel e os

seus programas predilectos são “Hanna Montana” (que passa no Disneychannel) e

Morangos com Açúcar. No que respeita os gostos de Sofia, a mãe, a mesma refere

apenas ver novelas e o canal TPA, apontando este último como a forma que encontrou

de se manter informada sobre as notícias e eventos da sua terra de origem. Contudo,

como actividade preferida relacionada com TV Sofia refere gostar muito de ver DVDs

da Igreja que frequenta. Como a família possui apenas uma TV em casa, na sala, o seu

uso é normalmente partilhado, sendo necessário, por vezes, discutir o que se vê pois

todos apresentam gostos diferenciados. A família Baptista usufrui de um serviço de TV

paga da ZON, possuindo TV digital em casa, sem no entanto terem consciência disso.

Quando questionada “se já ouviu falar e sabe o que é TV digital” Sofia afirma “já ouvi

na TV a falar (de TV digital), até parece que ia ser a partir de Janeiro ou qualquer coisa,

mas não sei bem... Acho que ia começar haver a partir de Janeiro ou então ia começar

a chegar informação às pessoas, não sei...”. Todavia, apesar de ter já ouvido falar nesta

denominação, Sofia refere não saber o que é TV digital. Após explicadas as

características e funcionalidades de TV digital, Sofia confessa não associar grandes

vantagens ao sinal digital enquanto que a filha, Filipa, se mostra muito entusiasmada

com a funcionalidade de pausa do mesmo, dizendo “eu vejo (vantagens), imagina que

a minha mãe decide dar o jantar numa altura que está a dar um programa importante,

eu posso meter pausa e assim não perco nada...”.

No que respeita o processo de “switch-off” do sinal analógico, a família refere não ter

conhecimento do mesmo, realizando algumas perguntas de esclarecimento geral. Tal

como referido, a família possui uma TV, que se encontra na sala, sendo partilhada por

todos. Essa TV foi comprada há cerca de 5 anos e, de momento, apesar de alguns

elementos da família mostrarem interesse em ter uma TV melhor, não estão a planear

comprar outra, pelo menos enquanto a que possuem funcionar.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

P1. Quais os seus programa preferidos?

Sofia: Eu estou desempregada e estou em casa praticamente todos os dias mas não sou muito apegada à TV, prefiro estar em casa a pôr as coisas em ordem do que estar

214

sentada em frente à TV. Agora à noite, já depois do jantar e antes de deitar, gosto de ir deitar-me ali no cadeirão e ai já me sabe bem ver alguma coisa na TV. Normalmente vejo mais a SIC, as novelas, agora é a Laços de Sangue e depois vem a outra, e estou ali a descansar. Mas também vejo muito DVDs e vejo coisas da igreja no DVD. Isso prende-me mais do que os programas de TV.

Filipa: Eu gosto mais de Disneychannel e o programa preferido é a Hanna Montana.

P2. Programas de que não gostem?

Sofia: Programas de entretenimento não me dizem muito.

Filipa: Eu não gosto do telejornal, daqueles da manhã e aqueles tipo tarde da Júlia.

Sofia: Ah. Também gostamos de ver o TPA, e acabamos por estar ligados à nossa terra e vemos o noticiário de lá. Agora de resto esses programas de entretenimento não me dizem nada. Por exemplo, casa dos segredos eu não gosto.

Filha: Ah e eu gosto dos Morangos…

P4. O que gostam mais de fazer nos tempos livres?

Sofia: Gosto de deixar as coisas da casa organizadas e ver DVDs, filmes ou ler um livro. Agora como estou a tirar a carta condução às vezes vou para o computador fazer testes.

Filipa: Eu gosto de brincar com os meus amigos.

P5. Conte como passa um dia de semana normal?

Sofia: Durante a semana, bem, eu estou desempregada, por isso a esta hora estou sempre em casa. A minha filha tem dois dias que entra às 08h00 outros que entra mais tarde, às vezes levo-a à escola, depois venho, oriento o almoço, preparo o jantar e vou orientando as coisas. Também saio muito… Hoje fiquei cá para a receber...

Filipa: vou à escola, estudo e volto.

P6.E um dia de fim-de-semana?

Filipa: Sábado brinco e domingo vamos à Igreja.

Sofia: Normalmente ao sábado é o dia em que estamos todos em casa, faço almoço, costumo fazer pratos típicos angolanos, como a Muamba ou carne de peixe e aquele puré feito de farinha de mandioca.

215

Filipa: Chama-se funghi mãe, já vem no dicionário, podes dizer...

P7. Quantos dias por semana vê TV?

Sofia: Neste horário que eu disse, é todos os dias.

Filipa: Eu é todos os dias, todas as horas, todos os minutos e sempre que puder...

P8. Quantas horas por dia?

Sofia: É assim, como estou desempregada acabo por ver mais pois posso deitar-me tarde… Vejo até me deitar, mas se estiver a trabalhar é impossível, não vai ser a mesma coisa... Umas 4 horas por dia talvez...

Filipa: Eu é umas 7 horas por dia, talvez no dia de escola vejo umas 4 horas mas sábado vejo 7 horas e domingo acho que 2 horas.

P9. Vê mais TV durante semana ou fim-de-semana?

Sofia: Acho que é mais ao dia de semana.

Filipa: Sim, mais ao dia de semana.

P10. Costumam ver mais sozinhas ou acompanhadas?

Filipa: Quando o meu pai está cá vejo sempre acompanhada.

Sofia: Pois, há uma hora que é “hora de recolher” e vamos todos para sala e vemos TV todos juntos.

P11. Onde?

Sofia: Só temos uma TV, por isso é sempre na sala.

P12. Quantas TV têm em casa?

(uma)

P13. Quando comprou a ultima TV?

216

Sofia: Esta já comprámos há algum tempo, acho que já tem uns 5 anos.

P14. Está a pensar comprar uma TV nos próximos 12 meses?

Filipa: Sim, o pai quer!

Sofia: Não sei, o meu marido queria mas eu não sei... Eu não sou muito extravagante, cá para mim está boa, serve perfeitamente... O meu marido quer, mas é que já na altura esta TV custou caro e por isso enquanto der está bom assim... Não precisamos.

P15. A vossa TV tem teletexto?

Sofia: Esta tem sim. Nós usamos principalmente para ver o que vai dar ou mesmo o que está a dar nesse momento.

P16. Já ouviu falar de TV digital?

Sofia: Eu já ouvi na TV a falar, até parece que ia ser a partir de Janeiro ou qualquer coisa, mas não sei bem... Acho que ia começar haver a partir de Janeiro ou então ia começar a chegar informação às pessoas, não sei...

Tem ideia do que significa ou o que é TV digital?

Sofia: Pois eu já ouvi, mas não sei... não tenho ideia nenhuma

Explicação do que é TV digital / TDT

P17. Associa alguma vantagem à TDT?

Sofia: Pelo que me explicou não estou a ver grandes vantagens, parece que é como esta, mas talvez... Do meu ponto de vista não, mas se calhar para outras pessoas pode haver vantagens...

Filipa: Oh mãe, eu vejo, imagina que a minha mãe decide dar o jantar numa altura que está a dar um programa importante, eu posso meter pausa e assim não perco.

P19. Sabem que tipo de TV têm em casa?

Sofia: Não sei.

217

Têm algum tipo de serviço pago? Pagam para ter TV?

Sofia: Sim, temos a ZON.

Através do serviço da ZON já têm TV digital com as funcionalidades que a vossa box da ZON oferece.

P20. Porque decidiram ter a ZON?

Sofia: Porque a gente sabe que se não tivermos temos só 4 canais e inclusive, para poder ver este canal da minha terra que lhe falei eu tinha de ter. E mesmo os miúdos acham sempre que 4 canais é pouco. E assim acabamos por ter mais canais.

Explicação do processo de “switchover” e tipo de TV que têm (já é digital)

Filipa: Mas eu aqui em casa não posso meter pausa...

Pois esses serviços dependem do tipo de box que possuem, no caso da ZON é uma funcionalidade da box.

Continuação da explicação do processo de “switchover”

Filipa: Mas e o que vai acontecer mesmo?

Explicação mais simples

Sofia: E porque é que escolheram estas três zonas primeiro?

Foi uma escolha da ANACOM.

Sofia: Mas então nós aqui também não vamos ter problemas pois já temos a Zon, não é?

Sim.

P22. Tem alguma ideia de quando vai acontecer este processo?

Sofia: Acho que ouvi dizer que era em Janeiro, não sei de que ano... Mas não sei se em Janeiro acontecia já, ou se era apenas a transmissão de informação às pessoas.

P23. Quando não sabe como funciona um determinado equipamento electrónico, como resolve a situação?

218

Sofia: Chamamos um técnico. Por exemplo, a gente tem a ZON, se temos algum problema, ligamos para lá.

P25. Daqui a 5 anos acha que vai ver mais TV ou menos?

Sofia: Acho que vou ter tendência para ver menos

Filipa: Acho que vou ter tendência para ver mais

P26. Como imagina a TV daqui a 10 anos?

Sofia: Acho que vai ser diferente, a tendência é sempre para modernizar cada vez mais, as novas tecnologias, sempre a tendência é para mais, novas coisas... Acho que principalmente Portugal não vai ficar apenas com 4 canais, acho que outros países têm mais do que Portugal e devemos tentar ter mais também...

Caracterização de cada indivíduo da família

Idade e género Sofia: 37 anos Filipa: 10 anos (outra filha tem 18 anos e o pai tem 40 anos) Qual a vossa nacionalidade? Nacionalidade portuguesa Usam telemóvel? Sim E computador? Sim Temos três, daqueles da escola. E internet? Sim, temos da escola também... E que outros aparelhos de entretenimento electrónico possuem? Playstation, DVD, aparelhagem de música.

219

Relatório da visita a casa da família 20 (“Mendes”)

10 de Janeiro de 2011

Alenquer

Sónia (mãe): 35 anos, funcionária de uma seguradora.

Ricardo (pai): 35 anos, arquitecto.

Marta (filha): 7 anos.

João (filho): 5 anos.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Mendes”, de Alenquer, no dia 10 de Janeiro

de 2011.

O agregado familiar dos “Mendes” é composto por quatro pessoas: Sónia e Ricardo, de

35 anos, e os filhos Marta e João, de 7 e 5 anos. A entrevista teve início pelas 15h00 e

durou cerca de 40 minutos. Tendo em conta que a família “Mendes” só regressa a casa

à noite - período em que é mais complicado efectuar uma entrevista porque as

crianças pedem maior atenção aos pais - optou-se por realizar a entrevista no local de

trabalho de Sónia, um escritório no centro de Alenquer. Uma vez que não foi possível

proceder à sessão de observação nas condições habituais, Sónia prometeu falar por

todos os elementos da família no que respeita aos hábitos e preferências em relação à

televisão. Na verdade, de acordo com a empresária de Seguros, não há muito a dizer

sobre o assunto. «Com a rotina que temos, a televisão acaba mesmo por ser o último

recurso», diz. «De manhã, não há televisão», prossegue. Esta atrasaria os banhos, o

pequeno-almoço, o vestir e ir para a escola, justificando «mais uma birra». «Os miúdos

adoram o Panda, a RTP2, tudo o que apareça eles consomem», explica Sónia. Por isso,

o casal prefere ter algum controlo no que toca a ligar e desligar a TV, mesmo que seja

para ver desenhos animados. A excepção dá-se ao fim-de-semana de manhã, quando

Marta e João podem assistir aos seus programas preferidos à vontade. Sónia lembra

que as manhãs de desenhos animados até proporcionam bons momentos em família.

«Eles gostam imenso que nos sentemos ao lado deles a ver os desenhos animados. Se

calhar conhecemos melhor a programação do Panda e da RTP2 do que dos canais de

220

que nós gostamos. Eles adoram que estejamos um bocadinho sentados ao pé deles a

ver», conta. No entanto, a família não costuma ver mais do que duas horas diárias de

televisão. «Só o fim-de-semana é que vem estragar a média», explica Sónia, pois,

mesmo os miúdos, «muito raramente» têm tempo para ver televisão. «Nos tempos

livres, para além daquilo que fazemos habitualmente, como exercício físico, danças,

música (o Ricardo toca viola e dá aulas de música), eu dedico-me imenso à casa e aos

filhos. Se calhar por isso é que não tenho tanto tempo para a televisão. Mas se houver

um tempo livre, gosto de me sentar em frente à televisão a ver um bom filme». A

concorrer directamente com a televisão estão a Playstation 2 para as crianças e o

recém-adquirido iPad para Ricardo. Para descontentamento de Sónia, o arquitecto

utiliza o novo “gadjet” mesmo à hora do jantar, o que lhe rouba tempo para o convívio

familiar. Sónia considera que a sua família é e será sempre mais ligada aos

computadores – e a equipamentos como a Playstation - do que à televisão. No

entanto, o casal não deixa de ter preferências em termos de programação. «O que

gostamos de ver é o telejornal, no dia-a-dia, para estarmos mais ou menos informados,

mas temos muito pouco tempo para ver. Gostamos de alguns programas de

entretenimento, como os Ídolos, programas que passam no Odisseia… Mas

basicamente, se tivermos tempo para nos sentarmos a ver televisão, ou o telejornal ou

um filmezinho que dê no Hollywood», afirma Sónia, acrescentando que o casal vê mais

televisão no quarto, depois de as crianças estarem deitadas, e os filhos normalmente

optam pela sala.

O último televisor que a família comprou tem cerca de nove anos e, apesar de «não

estar fora de questão», os “Mendes” não pensam comprar outro nos próximos doze

meses. A família tem por hábito utilizar “bastante” o teletexto, «para procurar horas

de programação e os números do Euromilhões».

No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV Digital,

Sónia afirmou já ter ouvido falar no tema, mas não saber o suficiente para falar dele.

«Já ouvi falar na televisão digital, mas muito sinceramente não tenho bem uma ideia

do que é…». A empresária disse não fazer ideia das vantagens ou desvantagens deste

tipo de transmissão televisiva, mas sugeriu que deve haver alguma vantagem. Os

“Mendes” são clientes da TV Cabo principalmente porque a aquisição do canal Panda e

221

outros canais temáticos fazem sentido no âmbito de uma família com dois filhos. À

questão “O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado –

sabia?” (P21.), Sónia respondeu que «sabia que isso ia acontecer», mas precisava que

alguém lhe explicasse o processo. «Passa a ser uma única via, não é? Tinha ouvido

falar, mas não estou muito esclarecida acerca do assunto», diz, assumindo que não faz

ideia da data-limite para o “switch-off”. Sónia afirmou que a sua família não saberá

como proceder caso se veja confrontada com a necessidade de adaptar as duas

televisões à era digital. Quando a família não sabe como funciona determinado

equipamento electrónico resolve a situação chamando quem lhes vendeu o

equipamento ou consultando a Internet. «Normalmente é muito bom ter uma

assistência técnica nesse aspecto. Alguém que nos possa orientar», acrescenta.

No que respeita a futuros possíveis conteúdos ou serviços na televisão, Sónia assume

que seria útil poder aceder a informação sobre saúde e emprego, mas só se a pesquisa

superasse em termos de facilidade e velocidade a busca através da Internet. «Eu acho

que isso seria útil. Mas não sei, já estamos tão ligados aos computadores… Se calhar,

isso passaria por criar uma nova necessidade às pessoas, porque noutras alturas isso

não foi muito necessário. Talvez fosse útil, mas hoje em dia, qualquer pessoa tem um

computador ou acesso à Internet e muito rapidamente vê. Se isso passasse por uma

coisa mais prática, de acender a televisão e ver logo, sim, se calhar era prático. Só

nesse caso. Porque hoje em dia há muita facilidade, mas realmente estar a ligar o

computador, ligar a Internet… É mais fácil ligar o televisor. Se calhar estou aqui a

desdenhar, mas até aderia a uma coisa dessas». Quanto à possibilidade de gravar

programas ou pausar um filme, Sónia demonstrou-se interessada em novas formas de

consumir televisão. «Sim, claro, gravar o programa, por exemplo, que já se faz, mas

nós não temos essa funcionalidade. Não temos, mas gostaríamos imenso de ter. Eu

acho que é muito importante isso (…) Há sempre a hipótese de adaptarmos o tempo

do que vemos em função do nosso tempo». Sónia hesita um pouco a responder à

questão relacionada com o consumo de televisão nos próximos tempos, explicando

que é provável que veja mais televisão à medida que os seus filhos crescem.

222

Por fim, quanto ao futuro da televisão, Sónia prevê grandes alterações nos próximos

tempos. «Vai ser tudo com ecrã táctil (risos). Acho que vamos ter televisão em todos

os cantos da casa, para controlar tudo…», conclui.

Transcrição da entrevista semi-estruturada I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Sónia: Poucos. O que gostamos de ver é o telejornal, no dia-a-dia, para estarmos mais ou menos informados, mas temos muito pouco tempo para ver. Gostamos de alguns programas de entretenimento, como os Ídolos, programas que dão no Odisseia… Mas basicamente, se tivermos tempo para nos sentarmos a ver televisão, ou telejornal ou um filmezinho que dê no Hollywood. Os miúdos adoram o Panda, a RTP2, tudo o que apareça eles consomem. Portanto, quanto mais tempo estiverem… O Joãozinho não tanto, tem cinco anos, mas não é tão ligado à televisão. É capaz de se distrair um bocadinho mais com a brincadeira, pára e vai brincar. A Marta consome tudo. Se a pusermos em frente da televisão…

Algum deles já vê as telenovelas, como os Morangos com Açúcar?

Sónia: Nada. Não há nada de novelas. Zero. Só desenhos animados. Eu e o meu marido gostamos de programas de informação, os telejornais, às vezes a SIC Notícias, para termos um resumo do que se passou, só para ficarmos mais ou menos informados. Mas muito raramente conseguimos ver televisão.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Sónia: Um canal que eu não gosto – nunca vi, mas acho que não gosto – é a TVI.

Porquê?

Sónia: Porque acho que é demasiado sensacionalista. Programas como aquele da Casa dos Segredos, acho que isso não tem piada nenhuma (risos).

Se puder escolher, escolhe que canal?

Sónia: Se puder escolher escolho a 1 ou a 2. A SIC tem programas com muita qualidade, como o Ídolos. Esse não perco um.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Sónia: O João não tem actividades praticamente nenhumas. As únicas actividades que tem são mesmo brincar em casa e, de vez em quando, jogar Playstation, mas também tudo muito controlado. O pai até faz mais questão de controlar isso e não deixar mais do que cerca de uma hora. De manhã não há televisão. Isso está instituído, não há televisão. Até porque depois atrasava imenso as coisas porque era mais uma birra para sair de frente da televisão. Então, de manhã, não há televisão. Nos tempos livres, para

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além daquilo que fazemos habitualmente, como o exercício físico, danças, música (o Ricardo toca muito viola e dá aulas de música), eu dedico-me imenso à casa e aos filhos. Se calhar por isso é que não tenho tanto tempo para a televisão. Mas se houver um tempo livre, gosto de ver um filme, de me sentar em frente à televisão a ver um bom filme. Não alugo filmes para ver em casa, mas se estiver a dar, sim, gosto de ver.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Sónia: Em média, não mais que duas horas. Nem isso. Só o fim-de-semana é que vai estragar a média, porque o fim-de-semana tem a manhã dos desenhos animados, que eles gostam sempre de ver. Aí sim, têm um bocadinho de desenhos animados sempre de manhã.

Então vêem mais televisão ao fim-de-semana…

Sónia: Sim, mais ao fim-de-semana. Durante a semana, por exemplo, a Marta não tem quase tempo para ver televisão, porque chega da escola vai fazer os trabalhos de casa, depois está cansadíssima, não dá tempo para ver televisão e vai-se deitar. No outro dia é outro dia de escola e é aquela rotina.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Sónia: As duas coisas. Se tivermos tempo, eles gostam imenso que nos sentemos ao lado deles a ver os desenhos animados. Se calhar conhecemos melhor a programação do Panda e da RTP2 do que dos nossos canais. Eles adoram que estejamos um bocadinho sentados ao pé deles a ver. Por exemplo, no outro dia, uma pessoa da família trouxe uns filmes ainda daqueles em VHS, da Disney, e eles gostam que fiquemos ali um bocadinho ao pé deles a ver. É um momento de família, que eles gostam de partilhar connosco.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Sónia: Temos duas. Uma no nosso quarto e outra na sala, mas que praticamente nem é ligada. É raríssimo. Vemos mais no quarto do que na sala. Eles vêem mais na sala, nós vemos mais no quarto.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Sónia: Há cerca de nove anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Sónia: Nos próximos 12 não digo, mas não sei, posso pensar nisso (risos). Não está fora de questão.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Sónia: Sim, bastante, para procurar horas de programação, sei lá, os números do Euromilhões… Quem sabe minimamente usar… Aquilo tem muita coisa, até tem

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horóscopo não tem? Há muita coisa que pode ser explorada. Quem souber mexer, é fácil explorar.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Sónia: Já ouvi falar na televisão digital, mas muito sinceramente não tenho bem uma ideia do que é…

Sabe apontar-me algumas vantagens ou desvantagens da TV digital?

Sónia: Não faço ideia, sinceramente.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Sónia: TV Cabo.

Rafael (Pai de Sónia): Temos uma caixa da TV Cabo antiga, que está lá desde o início e nunca substituímos nem pusemos “boxes” nem nada disso.

Porque razão é que optaram por ter mais do que 4 canais de televisão?

Sónia: Essencialmente pelo Panda (risos). Pelo canal História, o Bio também é engraçado, também gostamos de ver. Pontualmente vimos um ou outro canal desses. Vimos muito o SIC Mulher… Também é um canal que eu gosto bastante de ver. Mas é muito raro ver televisão.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Sónia: Sabia que isso ia acontecer… Passa a ser uma única via, não é? Tinha ouvido falar, mas não estou muito esclarecida acerca do assunto.

Recorda-se de onde é que ouviu falar no assunto?

Sónia: Foi através da Zon ou da Meo, que falaram nisso. Não foi? (dirige-se ao pai) O senhor que veio falar cá connosco sobre o contrato disse-nos.

Rafael: Foi para nos venderem…

Sónia: Ou já não sei se foi a PT… Alguém nos falou sobre isso pontualmente. Foi uma conversa informal até.

Portanto, não foram contactados para vos ser oferecido um novo serviço de televisão?

Sónia: Não, não. Foi uma conversa informal.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Sónia: Não, não faço ideia.

Não faz mesmo ideia se é este ano ou se é para o ano?

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Sónia: Não faço ideia. É este ano ainda?

Em Alenquer sim, porque Alenquer é uma das zonas-piloto.

Até à data não tiveram qualquer informação sobre isso, certo?

Sónia: Não, nada.

Fazem ideia do que é que as pessoas que têm televisão analógica terrestre necessitam de fazer para continuarem a ter televisão?

Sónia: Não. Poderão contratar a TV Cabo?...

Poderão fazer isso, mas não precisam de passar a ter televisão paga.

(São explicados os procedimentos a ter para a transição para o digital)

Se os senhores se vissem confrontados com esta situação, quanto estariam dispostos a pagar para continuar a ter televisão?

Sónia: Ai não faço ideia…

A televisão é essencial para a vossa família?

Sónia: Acho que é essencial nos dias de hoje. Mas também agora há outras coisas. Eu não sei, como é que isso funciona a nível de computadores, por exemplo? Por exemplo, o iPad tem uma aplicação própria para ver televisão.

P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Sónia: A quem nos vendeu o equipamento e que nos possa dar assistência ou consultamos na Internet e conseguimos resolver. Mas normalmente acho que é muito bom ter uma assistência nesse aspecto. Alguém que nos possa orientar.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Sónia: Assim, de repente, agora não me lembro de nada (risos).

Por exemplo, através da televisão acederem a serviços de informação útil sobre saúde - saberem qual é a farmácia de serviço, etc. - ou poderem, por exemplo, procurar emprego através da televisão…

Sónia: Sim, eu acho que isso seria útil. Mas não sei, já estamos tão ligados aos computadores… Se calhar, isso passaria por criar uma nova necessidade às pessoas, porque noutras alturas isso não foi muito necessário. Talvez fosse útil, mas hoje em dia qualquer pessoa tem um computador ou acesso à Internet e muito rapidamente vê. Se isso passasse por uma coisa mais prática, de acender a televisão e ver logo, sim, se calhar era prático. Só nesse caso. Porque hoje em dia há muita facilidade, mas realmente estar a ligar o computador, ligar a Internet… É mais fácil ligar o televisor. Se calhar estou aqui a desdenhar, mas até aderia a uma coisa dessas.

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O serviço de Pausa TV ou de gravação de programas interessa-vos?

Sónia: Sim, claro. Gravar o programa, que já se faz, mas nós não temos essa funcionalidade. Não temos, mas gostaríamos imenso de ter. Eu acho que é muito importante isso. Porque, por exemplo, nós acabamos às vezes por não ver umas notícias porque não houve tempo e, se calhar… Se bem que se acendermos na SIC Notícias está sempre a dar e a repetir, mas um filme já não é a mesma coisa. Há sempre a hipótese de adaptarmos o tempo do que vemos em função do nosso tempo.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Sónia: Mais, é provável que sim.

Porquê?

(Sónia tinha percebido que a pergunta era: Acha que daqui a 5 anos vai haver mais televisão?)

Sónia: Por exemplo, para as crianças, eles passam muito tempo a ver televisão. Os meus não passam porque nós controlamos essa situação, mas acho que a maioria das crianças hoje em dia está demasiado agarrada aos ecrãs, à televisão, à Internet…

Acha que a Sónia e o seu marido vão ver mais tempo de televisão daqui a cinco anos?

Sónia: Ah, se calhar não. E daí… talvez sim… por causa dos miúdos. Por exemplo, se uma criança não estivesse a ver o Panda, eu teria oportunidade para ver um canal que me interessasse. É provável que visse mais televisão se eles não vissem. Se calhar se eles crescem…

Acha que os seus filhos vão ver mais televisão?

Sónia: Se calhar não… Eles vão estar mais agarrados ao computador. Nós temos portáteis. Eu tenho um, o meu marido tem outro… Recentemente ele adquiriu um iPad, que ainda é pior…(risos)

O seu marido é adepto das novas tecnologias…

Sónia: Sim, ele é arquitecto e é o iPad é uma ferramenta de trabalho, que lhe facilita imenso a vida, mas também lhe retira tempo. Está a absorvê-lo para a família, porque absorve sempre. É por ser novidade, é porque, a qualquer momento, pode estar na cozinha e estar a mandar um e-mail… Quando precisava de mandar pelo portátil, se fosse jantar, deixava o portátil e vinha jantar. Assim vem com o iPad atrás, portanto já está também instituído que ele não pode trazer iPad para a mesa porque senão corta aquele momento. Eu acho que as novas tecnologias vão cortar cada vez mais os laços entre as pessoas. As relações, os valores, essas coisas.

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Gisela (mãe de Sónia): E às vezes está o Joãozinho a perguntar: “Oh papá, posso ir jogar Playstation?” E ele responde: “Não!”. Mas ele está sempre lá “tac, tac, tac”, no iPad.

Sónia: Isto é tanto para pais como para filhos, porque isto vai ser o futuro. As pessoas vão estar cada vez mais dependentes das máquinas, toda a informação está naquele micro-objecto, facilita-nos imenso a vida em muitas coisas. E vai gerar dependência, vai até se calhar ser o grande causador de muitos males a outros níveis. Sei lá, as pessoas não se mexem, estão paradas no mesmo local a fazerem seja o que for… Não há exercício…

Sente que a sua família é mais ligada aos computadores do que à televisão?

Sónia: Sim, mais aos computadores do que à televisão.

E encara isso como algo positivo ou negativo?

Sónia: Eu penso que é uma coisa boa porque nos mantém actualizados. Por um lado, é uma forma de estarmos sempre a acompanhar, porque se não acompanharmos também ficamos para trás. Por outro lado, acho que tem que haver uma grande dose de auto-controlo e de controlo sobre as crianças, porque eles então não têm mesmo noção, porque para eles o tempo não passa. Se lhes disser para ficarem a tarde toda com a Playstation eles ficam, não têm problema nenhum com isso.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Sónia: (risos) Vai ser tudo com ecrã táctil. Acho que vamos ter televisão em todos os cantos da casa, para controlar tudo…

(…)

Sónia: Com a rotina que temos, a televisão acaba por ser mesmo só o último recurso.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade Sónia: 35 anos. Ricardo: 35 anos. Marta: 7 anos. João: 5 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Sónia: Trabalha numa empresa seguradora. Ricardo: Arquitecto. P39. Habilitações académicas Sónia: Licenciada em Ensino. Ricardo: Licenciado em Arquitectura. P41. Nº de pessoas no agregado familiar

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Quatro pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sónia e Ricardo usam há alguns anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sónia e Ricardo usam há alguns anos. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sónia e Ricardo usam há alguns anos. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Duas televisões, um leitor de DVD, rádio (Sónia gosta de ouvir rádio de manhã, cerca de meia-hora por dia, enquanto se arranja, para ouvir as notícias e música, na RFM).

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Relatório da visita a casa da família 21 (“Costa”)

10 de Janeiro de 2011

Alenquer

Carla: 65 anos, trabalhadora na área dos Seguros.

Rogério: 64 anos, trabalhador na área dos Seguros.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Costa”, de Alenquer, no dia 10 de Janeiro de

2011.

O agregado familiar dos “Costa” é composto por duas pessoas: Carla, de 65 anos, e

Rogério, de 64 anos. A entrevista teve início pelas 16 horas e durou cerca de 40

minutos. Carla e Rogério têm uma vida muito activa. Os dois trabalham na empresa de

Seguros da família. Durante a semana, só estão em casa ao final da tarde e é durante a

noite que a televisão tem mais uso. «A primeira coisa que faço quando chego a casa,

na sala grande, é ligar a televisão e o ar condicionado. Estão os comandos todos em

cima do móvel da entrada e “tunga, tunga, tunga” a acender. É tudo seguido»,

descreve Carla. Enquanto Carla afirma ver «mais ou menos uma hora» de televisão por

dia, Rogério é capaz de estar horas a fio atento à TV. No entanto, desde que descobriu

os jogos de computador, a televisão serve apenas de distracção para os ouvidos, já que

os seus olhos estão postos no ecrã do portátil. «Estamos na mesma sala, que é grande,

eu estou normalmente à frente e ele está ao pé da mesa da sala de jantar, a jogar,

virado para a televisão e a ouvir tudo (…) Ele prende-se mais do que eu. Vê desenhos

animados e tudo. O meu marido absorve tudo na televisão», explica Carla,

acrescentando que o marido se deita muito mais tarde do que ela, por estar a ver

televisão «até às tantas». Ainda assim, há programas que o casal vê em conjunto,

sobretudo os noticiários, que é muito raro perderem. «Normalmente ele também

gosta de ver os noticiários (…) Vemos muito os debates. Eu vejo sempre e ele ouve.

Agora com as presidenciais não deixamos passar os debates. Ultimamente até tem

sido a Grande Entrevista, com a Judite Sousa, e isto nós vimos sempre», conta.

230

Individualmente Carla diz gostar de alguns programas de entretenimento, mas assume

que só vê televisão até às 22h30. «O telejornal vejo sempre, incondicionalmente. E

depois tenho aqueles programas, os Ídolos, o concurso no primeiro canal, Quem quer

ser milionário?… Normalmente após o concurso já não vejo mais televisão. Vou para a

cama, ligo a televisão do quarto e começo a dormir. E depois apago». Na verdade,

Carla afirma que até gostava de ver mais televisão, mas o trabalho e o gosto por

passear são mais fortes. «Eu às vezes até ralho. Tudo o que eu gosto de ver eu nunca

vejo», protesta. Para além da televisão, Carla lembra que adora ouvir música e diz que,

muitas vezes, até os seus netos se queixam do volume alto da aparelhagem. Para além

dos CDs, também há espaço para ouvir a rádio local, uma forma de o casal se pôr a par

da política da sua terra. «A rádio ouvimos de manhã, a Rádio Voz de Alenquer.

Ouvimos no domingo quando nos estamos a arranjar. Há aí um espaço de política, de

conversa com os autarcas sobre a região. Como conhecemos as pessoas, ouvimos

imenso», explica Carla. A propósito deste interesse pelos temas locais, surgiu a

questão «E se houvesse esse tipo de informação na televisão?», ao que Carla

respondeu «seria melhor ainda». Para Carla, um canal local seria «sem dúvida, muito

importante». «Isso prende muito as pessoas. Prende-nos a nós e sabemos que prende

muito outras pessoas. Quando há alguma coisa na televisão diz-se logo “Olha, viste?

Fulano tal e não sei quê… Apareceu isto e aquilo (…) Um canal é muito, muito

importante. Nós sabermos não só deste sítio, como também dos outros concelhos».

Os “Costa” têm três televisões servidas pela TV Cabo: uma no quarto e uma em cada

sala. É nestes dois últimos espaços que o casal vê mais televisão. «No quarto é só um

bocadinho quando me vou deitar». O último televisor da casa foi comprado há quatro

anos e está previsto comprar um novo nos próximos tempos. Tanto Carla como

Rogério utilizam frequentemente o teletexto. «Procuramos se há o programa “x”, se

não há… Ainda ontem estive a ver. Eu acho que é útil, dentro dos parâmetros… Às

vezes dá jeito a gente saber».

Quanto ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital, Carla

assumiu já ter ouvido falar no tema. «Já ouvi falar, através do senhor das televisões, o

nosso técnico. Ele já tinha dito que qualquer dia… E disse que Alenquer era uma das

zonas de experiência piloto». Ainda assim, Carla não conhece as vantagens ou

231

desvantagens deste sistema. «Ai não sei. Não percebo nada disso. Só quero é ver

televisão. Quando comprei o plasma disseram-me que já vinha equipado com não sei o

quê para a era digital», explica, referindo-se ao aparelho que comprou para ter na casa

de campo, que apesar de só ser utilizada nas férias, tem a televisão mais moderna.

Carla sabia que o sinal analógico de TV vai ser desligado, mas desconhecia a data-limite

para o processo. Depois de lhe ter sido feito um breve esclarecimento sobre o “switch-

off”, criticou o processo. «Mas isso não está certo. Então as pessoas não foram

informadas». O plasma da casa de campo já teve televisão por satélite, mas

actualmente recebe só os quatro canais gratuitos de televisão. Carla admite que, se a

televisão não estiver preparada para receber a TDT, terá que comprar um

descodificador. «Claro, nós não podemos estar sem televisão. Por exemplo, nós temos

o hábito de acender a televisão mesmo que não estejamos a ouvir nada. Está acesa.

Como já lhe disse, quando chego a casa, ligo logo a televisão e faço muita questão de

chegar a casa antes das 20h00 para poder ver o noticiário. E temos que estar a ouvir a

televisão. Há qualquer coisa. Não pode haver monotonia. A televisão é uma presença».

Carla já pensou várias vezes em tornar a televisão mais à sua medida em termos de

necessidades de consumo. O serviço de gravação de programas é uma das hipóteses

que a interessa pelo pouco tempo que tem para ver televisão durante o dia. «Estou

farta de dizer: “Eu quero o MEO que é para poder gravar!”. Mas não, ninguém compra

nada… É uma coisa que eu gostava tanto…», lamenta. Carla diz que não é capaz de

projectar se verá mais televisão daqui a cinco anos, mas tem tendência a pensar que

não. «Sei lá, não sei. Mas com este desenvolvimento que há a nível da tecnologia acho

que não. Ou a televisão cria novos interesses ou então… Mas acho que não. Por acaso,

há bocado estava a ver o meu genro a mexer no iPad. Ele mostrou-me umas notícias

do Carlos Castro e eu interiorizei: “Isto qualquer dia, já não precisamos de televisão.

Há outras coisas».

Por fim, a conclusão de Carla sobre o futuro da televisão vem também no seguimento

da comparação com outros media. Na verdade, Carla não perde muito tempo a

imaginar como será a televisão daqui a 10 anos, mantendo antes a convicção de que

esta vai ser «substituída por alguma coisa».

232

Transcrição da entrevista semi-estruturada

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Carla: O telejornal, sempre, incondicionalmente. E depois tenho aqueles programas, os Ídolos, o concurso no primeiro canal, Quem quer ser milionário?… Normalmente após o concurso já não vejo mais televisão. Vou para a cama, ligo a televisão do quarto e começo a dormir. E depois apago.

A televisão também serve para embalar?

Carla: Também serve para embalar às vezes. Se for um programa giro estou a ver, mas normalmente adormeço. Quando são filmes eu até desligo para não ficar ali e ter que entrar naquilo, porque depois fica muito tarde.

Mas usa a televisão do quarto diariamente…

Carla: Uso, sim, sempre.

E o seu marido?

Carla: O meu marido está a ver televisão até às tantas se for preciso. Entra num filme e não desgruda. Está ali e vê tudo até ao fim. Ele deita-se muito mais tarde do que eu.

Para ver televisão?

Carla: Para ver televisão e para jogar. Ele passa a noite inteira a jogar no computador (risos). Faz de conta que é os meninos. Os netos lá em baixo e ele cá em cima. E eu normalmente deito-me sempre primeiro do que ele.

E está, ao mesmo tempo, a ver televisão. Certo?

Carla: Ouve, ele ouve. Estamos na mesma sala - a sala é grande - eu estou normalmente à frente e ele está ao pé da mesa da sala de jantar, virado para a televisão e a ouvir tudo.

E o que é que ele gosta de ver na televisão?

Carla: Normalmente ele também gosta de ver os noticiários. Os noticiários são o que o prende mais. E filmes. Ele gosta muito de filmes. Há uma coisa que eu vejo sempre, que são os Prós e Contras.Eu vejo sempre e ele ouve. E prende-o muito a política porque ele gosta imenso de política. Vemos muito os debates. Agora com as presidenciais não deixamos passar os debates. Ultimamente até tem sido a Grande Entrevista, com a Judite Sousa, e isso nós vimos sempre.

A televisão é o meio que vocês privilegiam para ter notícias ligadas à política? Também ouvem rádio?

233

Carla: A rádio ouvimos de manhã, a Rádio Voz de Alenquer. Ouvimos no domingo de manhã quando nos estamos a arranjar e há aí um espaço de política, de conversa com os autarcas sobre a região. Depois, como conhecemos as pessoas e não sei quê, ouvimos imenso.

Se houvesse esse tipo de informação na televisão?

Carla: Melhor ainda.

Acha que era importante?

Carla: Ai eu acho que sim. Eu acho que era importante, sem dúvida.

Até reportagens sobre Alenquer, etc.…

Carla: Sim, sim. Isso prende muito as pessoas. Prende-nos a nós, mas também nós sabemos que prende muito outras pessoas. Quando há alguma coisa na televisão diz-se logo “Olha, viste? Fulano tal e não sei quê… Apareceu isto e aquilo”.

Sónia (a filha, que acompanhou a entrevista): É verdade. Também era uma forma de dar a conhecer estas regiões menos privilegiadas.

Carla: Um canal é muito, muito importante. Nós sabermos não só deste sítio, como também dos outros concelhos.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Carla: Levantamo-nos, arranjamo-nos, vimos até aqui ao escritório, depois chegamos ao final do dia voltamos para casa ou vamos para uma reunião. Nós temos imensas reuniões. Tenho uma empregada que ajuda. Ela é o suporte desta coisa toda. Entra de manhã e sai às 19h00, faz o almoço, faz o jantar, vamos todos lá almoçar, a família toda. Depois há uma coisa que eu adoro, que é ouvir música, mas como eles (os netos, que vivem no primeiro andar) estão sempre a queixar-se “oh vovó está em altos gritos”, estou desejosa sempre que eles saiam de lá para pôr aquilo tudo em altos gritos. Gosto muito de ouvir música e o meu marido não se importa nada porque está a jogar. Eu até estou entretida e ele na maior.

Então a televisão não é algo que vos prenda durante o dia…

Carla: Não. Eu às vezes até ralho. Tudo o que eu gosto de ver eu nunca vejo!

Porquê?

Carla: Porque acontece alguma coisa, ou é o trabalho ou é uma reunião ou vamos aqui ou ali…

Aí dava jeito poderem ter um serviço que gravasse os programas não era?

Carla: Sim, gravar! Nós fartamo-nos de gastar dinheiro nessas tecnologias. E na televisão há o MEO e eu estou farta de dizer: “Eu quero o MEO que é para poder

234

gravar!”. Mas não, ninguém compra nada… É uma coisa que eu gostava tanto… Porque há situações…

Sónia: Sim, mas por exemplo, eu se não vir na televisão, tenho muito o hábito de pôr no youtube, consultar e pronto. Eu acho que era importante, por exemplo, numa televisão fazer isso. Por exemplo, se eu não vi um programa, vou lá, consulto e posso ver. Sei lá, durante um mês, podermos ter acesso para podermos gravar.

Carla: É tão giro… O melhor equipamento que temos está numa casa de campo, onde ninguém está, é muito engraçado. Tenho lá um plasma grande na parede, tinha os canais todos, agora entendeu-se que não devia ter lá os canais todos tenho os 4 canais. Mas eu sei que tem lá uma função que grava. O próprio plasma tem uma função que grava, mas eu ainda não vi aquilo bem. O meu marido não estava lá quando o técnico lá foi aquilo, o meu filho João é que percebe mais daquilo, mas não tem paciência nenhuma. E eu digo “olha, deixa estar”, qualquer dia agarro eu no papel e vou para lá ler aquilo e pronto, está a andar.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Carla: Aquele do gordo não me diz nada (Preço Certo), aquela coisa da Fátima Lopes, do dinheiro, que as pessoas estão ali com os papéis do que gastam (“Agora é que conta”), acho isso horrível. Aqueles programas do Goucha, em que as mulheres estão lá todas a fazer gestos e a gritar… Mas aquilo tem imensa audiência. Mas o Preço Certo, por exemplo, é importante para muita gente. Se calhar, se eu não tivesse aqui este escritório, estaria em casa a ver o Preço Certo e essas coisas.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Carla: Ao fim-de-semana vejo muito pouca televisão. Só se for à noite. É sempre à noite, porque nós andamos sempre aí a girar.

Quando estão em casa a televisão está sempre ligada?

Carla: Antigamente nunca se acendia a televisão de manhã. Os meus filhos sempre foram habituados assim. Mas agora, de vez em quando, estou a arranjar-me de manhã e penso “deixa-me cá ligar a televisão” e ligo logo a do quarto.

Então, vê televisão todos os dias…

Carla: Sim, a primeira coisa que faço quando chego a casa, na sala grande, é ligar a televisão e o ar condicionado. Estão os comandos todos em cima do móvel da entrada e “tunga, tunga, tunga” a acender. É tudo seguido (risos).

Sónia: Então imagina teres uma televisão em que ligasses o ar condicionado! (risos)

Carla: Isto se os meus netos não estiverem lá, porque se estiverem começam logo a pedir: “oh vó pões o Panda?”, “oh vó põe na Amália”. Eles gostam do filme da Amália! Do musical do Filipe La Féria. O mais velho está sempre a pedir aquilo. Depois como tenho um som relativamente bom, ele deve achar graça àquilo porque aquilo treme por todos os lados (risos). Mas prefiro ver a Amália, porque para mim são uma seca

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aqueles desenhos animados. Do mal, o menos, prefiro estar a ouvir a Amália do que estar a ouvir aqueles bonecos dos desenhos animados, que é uma coisa horrível. Eu tenho que levar sempre com aquilo, porque os pais não estão lá.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Carla: Mais ou menos uma hora.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Carla: Três. Uma em cada sala e uma no quarto.

P11. Onde vê mais televisão?

Carla: Vemos mais na sala. No quarto é só um bocadinho quando me vou deitar.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Carla: Já foi há muito tempo! Há quatro anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Carla: Não, não. Só se alguma se estragar.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Carla: Sim, sim. Procuramos se há o programa “x”, se não há… Às vezes procuramos. Ainda ontem estive a ver. Eu acho que é útil, dentro dos parâmetros… Às vezes dá muito jeito a gente saber.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Carla: Já ouvi falar, através do senhor das televisões, o nosso técnico. Ele já tinha dito que qualquer dia… E disse que Alenquer era uma das zonas de experiência piloto.

P17. Que vantagens e desvantagens associa à TV digital?

Carla: Ai não sei. Não percebo nada disso. Só quero é ver televisão. Eu quando comprei o plasma disseram-me que já vinha equipado com não sei o quê para a era digital.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Carla: TV Cabo.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Carla: Sim.

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

236

Carla: Não.

(É revelada a data)

Carla: Quer dizer, as pessoas que não têm as coisas, não vêem nada, passam a não ver televisão. Não é?

Sim.

Carla: Ah mas isso não está certo. Então as pessoas não foram informadas.

P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Carla: Com os técnicos. Normalmente nós estamos sempre em contacto com eles se for preciso alguma coisa.

Se tiver que comprar um descodificador para a sua televisão na casa de campo, vai fazê-lo?

Carla: Claro, nós não podemos estar sem televisão. Por exemplo, nós temos o hábito de acender a televisão mesmo que não estejamos a ouvir nada. Está acesa. Como já lhe disse, quando chego a casa, ligo logo a televisão e faço muita questão de chegar a casa antes das 20h00 para poder ver o noticiário. E temos que estar a ouvir a televisão. Há qualquer coisa. Não pode haver monotonia. A televisão é uma presença. E não tenho a mínima dúvida

P25. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Carla: (risos) Sei lá, não sei. Mas com este desenvolvimento que há a nível da tecnologia acho que não. Ou a televisão cria novos interesses ou então… Mas eu acho que não. Por acaso, há bocado estava a ver o meu genro a mexer no iPad. Ele mostrou-me umas notícias do Carlos Castro e eu interiorizei: “Isto qualquer dia, já não precisamos de televisão. Há outras coisas”.

E em relação ao seu marido?

Carla: Não sei. Ele prende-se mais do que eu. Ele vê desenhos animados e tudo. O meu marido absorve tudo na televisão. Gosta de ver tudo. Prende e fica ali. Antigamente era horrível. Agora que tem os computadores é que é diferente, mas fica ali nem ouve nada. Consome tudo: desenhos animados e tudo. Até chora! (risos)

P26. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Carla: Eu acho que a televisão vai ser substituída por alguma coisa… Enfim.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade Carla: 65 anos.

237

Rogério: 64 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Trabalham ambos na área dos Seguros. P39. Habilitações académicas Têm ambos 7º ano do ciclo. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Duas pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Ambos usam, já há muitos anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim, ambos têm portáteis e já sabem utilizar o computador há muitos anos. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim, ambos usam. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Televisão, rádio, VCR e DVD.

238

Relatório da visita a casa da família 22 (“Guerreiro”)

10 de Janeiro de 2011

Alenquer

Verónica (filha): 22 anos, professora de dança.

Guilherme (filho): 18 anos, funcionário numa academia de dança

Josefa (mãe): 47 anos, funcionária pública (ausente na entrevista)

António (pai): 46 anos, trabalhador por conta própria (ausente na entrevista)

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Guerreiro”, de Alenquer, no dia 10 de

Janeiro de 2011.

O agregado familiar dos "Guerreiro" é composto por quatro pessoas: os pais, Josefa e

António, de 47 e 46 anos, e os filhos, Verónica e Guilherme, de 22 e 18 anos. A visita

teve início pelas 17h00 e durou cerca de 45 minutos. Apenas os filhos estavam

disponíveis para a entrevista. De acordo com Verónica e Guilherme, a televisão só

entra na rotina da família no período da noite. Os "Guerreiro" são proprietários de

uma academia de ginástica, em Alenquer, e só chegam a casa pelas 23h00. No entanto,

não é por regressarem tarde que vêem pouca televisão. Verónica explica que a família

está «sempre até às 02h00/03h00 da manhã com a televisão ligada, a ver programas».

Este horário obriga-os a algumas restrições em termos de programação. António, por

exemplo, habituado aos tempos em que ainda não dispunha de canais só de notícias,

continua a gravar os noticiários para assistir quando chega a casa. Já Verónica explica

que ver televisão só à noite tornou-a adepta de telenovelas e de séries norte-

americanas. «- Quais são os seus programas favoritos? - Não sei se posso dizer que são

os programas preferidos, mas talvez os que nós vemos mais. Porque nós não temos

uma vida que nos permita ver muita televisão porque chegamos a casa muito tarde.

Quando chegamos a casa, o que dá mais são as telenovelas - já mesmo no final dos

episódios - e séries, como Investigação Criminal, "CSIs"... É essa a base». O irmão,

Guilherme - que divide o seu tempo de lazer entre a televisão, o computador, o iPad e

239

a Playstation - confessa que também não rejeita as telenovelas, mas prefere a SIC

Radical. «Gosto da quatro, da SIC Radical - onde via muitas vezes o “wrestling” - que

agora só dá na Sport TV e, às vezes, na TVI. Gosto de ver filmes também», descreve,

acrescentando que a única coisa que não gosta de ver na TV são filmes de terror.

Guilherme tem um iPad há três meses e explica que o principal interesse do aparelho

está em descobrir como este funciona. «O que eu gosto mais de fazer é tentar

descobrir aquilo que eu não consigo fazer (...) Está a ser uma experiência boa. Agora

descobri músicas em "remoto"... Em "remoto"... Tipo, o som dá no computador e eu

digo-lhe para mudar as músicas no iPad», conta, acrescentando que também usa o

novo gadget para «tirar fotos, jogos e programas». Guilherme sabe que pode ver

televisão através do iPad. No entanto, não o faz porque não sabe como instalar o

programa indicado, nem se interessa por poder ver “apenas” os 4 canais num ecrã tão

pequeno. Guilherme diz que não chega a ver uma hora de televisão por dia graças ao

iPad, ao computador e à Playstation. Em oposição, Verónica aproveita quase todo o

tempo que passa em casa para estar em frente ao ecrã, vendo cerca de quatro horas

de televisão por dia durante a semana, e algumas horas a mais ao fim-de-semana. « -

Se não estiverem a trabalhar, um dos vossos passatempos é a televisão? - Sim, acaba

por ser. Não vemos muita televisão como, se calhar, as outras pessoas vêem. Mas a

televisão está sempre ligada. Às vezes não quer dizer que estejamos sentados a ver,

mas está sempre ligada», precisa.

No decorrer da entrevista, Verónica realça que uma das particularidades da sua família

é gostar de ser a primeira a adquirir os mais recentes equipamentos de tecnologia. A

compra do iPad para Guilherme, nos EUA, é exemplo disso. Verónica explica que os

pais fazem questão de trocar os computadores que possuem pelas novidades do

mercado e o mesmo acontece em relação à televisão. O último televisor a entrar em

casa dos “Guerreiro” – um ecrã plasma - foi comprado há dois meses. Ainda assim,

nem toda a família está a par das alterações tecnológicas por que a televisão

portuguesa está a passar. Guilherme afirmou nunca ter ouvido falar na televisão digital

e respondeu não saber que o sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos,

vai ser desligado em Portugal. Assumindo que só ouviu falar na televisão 3D, «com os

óculos», o jovem afirmou não fazer ideia de qual é o equipamento necessário para

240

receber televisão digital em casa e demonstrou não estar informado sobre se as

televisões lá de casa já têm ou não esta tecnologia.

Por outro lado, Verónica, questionada sobre se já ouviu falar na TV digital, afirmou que

sim, por intermédio de uma familiar residente em Espanha, país que já completou a

transição para o digital. «Sim, por acaso, até ontem estivemos a falar disso assim um

bocado por alto, por causa de Espanha. Estávamos a comentar que em Espanha isso

vai passar a ser assim. Mas sinceramente não percebi muito bem (…) Eu tenho uma

cunhada que vive lá e que estava a comentar que é estranho nós ainda não termos isso

cá. Estávamos a falar da vida lá comparada com a de cá, em termos de IVA, etc. Ela

estava a dizer que, em relação a Portugal, eles são muito “atrasados” a nível de

música. Nós somos mais adiantados e chega-nos mais facilmente a informação da

música. E ela estava a comentar “Ah, mas por exemplo, nas televisões, vocês são super

antiquados. Nós temos televisão digital e vocês não”».

A família “Guerreiro” tem uma box da Zon, na sala, que distribui sinal para todas as

televisões da casa. Verónica “apercebeu-se”, através da conversa com a cunhada, de

que a televisão portuguesa teria de sofrer alguma modificação, mas não reconheceu o

termo “switch-off”. «Na conversa com a minha cunhada apercebi-me, mas

sinceramente eu não liguei muito. Achei estranho… Pensei “Ai agora TV digital,

também agora fazem tudo. Não me digam que me vão tirar o comando”. Foi a primeira

coisa que eu disse (risos)». Na verdade, a jovem não fazia ideia da data-limite para o

desligamento do sinal analógico, não sabia se a sua família iria ser afectada pelo

processo e, caso acontecesse, desconhecia os procedimentos a ter para continuar a ter

televisão.

No que toca ao que gostariam de ver ou aceder na televisão nos próximos tempos,

Verónica e Guilherme afirmaram não ter muitas ideias. No entanto, Verónica admitiu

que seria interessante que a televisão em 3 dimensões fosse acessível à maioria dos

portugueses. «Acho que era giro a televisão a 3 dimensões… Claro que isso é sempre

um bocado difícil. Se esse serviço fosse mais acessível, acho que era interessante (…)

Acho que se torna mais real. Ou então acho interessante por não estar habituada. O

ser humano gosta de tudo o que é diferente. Se calhar, se depois todas as televisões

tiverem o 3D deixa de ser interessante», considera, acrescentando que, tendo em

241

conta o pouco tempo que vê de televisão, «não pode exigir muito dela, nem se

preocupa muito com isso». Apesar de ninguém na família utilizar o teletexto, já é

hábito Verónica e Guilherme recorrerem a serviços como a gravação de programas ou

o vídeo-on-demand. «É mais fácil e mais cómodo. Não tenho que sair de casa para ir

alugar um filme. E é o meu pai que paga (risos)».

Verónica e Guilherme não se sentem à vontade para antecipar se verão mais, menos

ou o mesmo tempo de televisão no futuro. Ainda assim, Verónica imagina que a vida

profissional cada vez mais activa a vai afastar da televisão, e não só: «Os nossos quatro

canais estão cada vez mais pirosos. Na minha idade, acho que há programas

completamente ridículos e que não fazem sentido. Mas dão audiência, é um facto. Eu

é que, se calhar, não percebo. Acho que há demasiadas telenovelas, nomeadamente

na TVI. E reality-shows… Agora houve a Casa dos Segredos, mas o que é certo é que, se

eu não visse esse programa, estava completamente desintegrada da sociedade,

porque toda a gente vê a Casa dos Segredos. Depois há a RTP, que simplesmente não

vejo, porque acho demasiado velha (…) A RTP é má em tudo», critica Verónica,

considerando que o desenvolvimento da televisão vai passar apenas pelas «melhores

tecnologias».

Por fim, Verónica e Guilherme prevêem que a televisão mude muito fisicamente, nos

próximos dez anos. «Se calhar vai ser maior, com botões grandes. Não faço ideia», ri-

se Guilherme. «Acho que já nem vai existir televisão, vai passar a ser uma

máquinazinha que projecta. Qualquer coisa desse género. O que acho que vai tirar

aquela graça da televisão. Eu, por exemplo, tenho uma televisão antiga, que tem ainda

os botõezinhos, que não está a trabalhar, mas eu acho engraçado. Acho que o

comando também vai ser uma das coisas a desaparecer e vai ser, sei lá, a tocar no

ecrã. Qualquer coisa tipo “touch”», completa Verónica.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Verónica: Não sei se posso dizer que são os programas preferidos, mas talvez os que nós vemos mais. Porque nós não temos uma vida que nos permita ver muita televisão

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porque chegamos a casa muito tarde. Quando chegamos a casa, o que dá mais são as telenovelas – já mesmo no final dos episódios – Investigação criminal, “CSIs”… É essa a base.

Séries e telenovelas…

Verónica: Sim, mais séries e telenovelas. Eu também gosto de ver tudo o que se relacione com dança, mas é tudo à base de séries e assim.

Guilherme: A quatro, a SIC Radical, onde via muitas vezes o “wrestling”, que agora só dá na Sport TV e, às vezes, na TVI. Gosto de ver filmes também.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Verónica: Agora não sei especificar (risos). Aqueles da tarde… Júlia Pinheiro e assim. Lá em casa normalmente não vemos. Só se estivermos lá sem fazer nada. Nesses casos, se calhar a televisão até pode estar ligada… Aquela coisa da companhia… Mas ninguém liga muito a esses programas.

Guilherme: Não gosto de filmes de terror (risos). De resto, não me lembro de mais nada de que não goste.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Guilherme: Estar no computador, ver coisas no iPad.

Como é que está a ser a sua experiência com o iPad?

Guilherme: Já o tenho há algum tempo. Já há três meses. Está a ser uma experiência boa. Agora descobri músicas em “remoto”… Em “remoto”… Tipo, o som dá no computador e eu digo-lhe para mudar as músicas no iPad. Agora descobri isso. Quer dizer, descobri e não descobri, porque aquilo dá-me um erro…

E o que é que faz mais?

Guilherme: Então, tiro fotos, tiro jogos, tiro programas… Vou à Internet, mas os programas são diferentes. Aquilo é em inglês. Não comprei cá…

Vê televisão no iPad?

Guilherme: Consigo ver, mas nunca vi (risos).

Porquê?

Guilherme: Aquilo tem programas para instalar…

E paga-se para instalar?

Guilherme: Não, não.

Então porque é que não instala?

Guilherme: Porque não sei como hei-de instalar.

243

Gostava de ver televisão no iPad?

Guilherme: Aquilo só deve ser a RTP1, a quatro e assim… Não deve ter os canais todos. Acho que era a mesma coisa.

O que é que faz mais nos tempos livres?

Guilherme: Gosto de jogar Playstation e jogar no iPad.

Os jogos são a actividade que te ocupa mais tempo?

Guilherme: O que eu gosto mais de fazer é tentar descobrir aquilo que eu não consigo fazer.

Gosta de saber como é que funciona…

Guilherme: Pois. Eu fiz uma utilização que apagou tudo o que eu tinha no iPad, para voltar a instalar outra vez.

Vê televisão todos os dias?

Guilherme: Quando estou em casa vejo.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Verónica: Vejo três a quatro horas de televisão, porque eu chego a casa – como quase toda a família – por volta das 23h00, mas depois estamos até às 02h00/03h00 da manhã sempre com a televisão ligada, a ver programas.

Guilherme: Nem a uma hora chega.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Verónica: A minha mãe levanta-se sempre pelas 08h00 da manhã e só chega a casa pelas cinco da tarde. Acaba o trabalho às cinco da tarde e vem para a academia trabalhar até às 23h00/23h30. O meu pai começa a trabalhar pelas 10h/10h30, mas tem um horário flexível, porque ele trabalha por conta própria. Por isso, tanto está em casa como não está…. Depende. Depois, também pelas 18h00 da tarde vem para a academia e também só chega a casa por volta das 23h00/23h30. Eu e o meu irmão normalmente levantamo-nos sempre pelo meio-dia, almoçamos e só vimos para aqui por volta das 15h00/15h30. Saímos daqui lá para a meia-noite, mais ou menos. E é nesse período que vemos televisão. O meu pai, por exemplo, grava sempre o telejornal para ver quando chegar a casa, porque gosta. Se não grava, vê aquelas notícias da meia-noite…

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Verónica: Vejo mais ao fim-de-semana, porque não estou a trabalhar.

Guilherme: Vejo menos ao fim-de-semana, porque às vezes não estou em casa.

Portanto, se não estiverem a trabalhar, um dos vossos passatempos é a televisão?

244

Verónica: Sim, acaba por ser. Não vemos muita televisão como, se calhar, as outras pessoas vêem. Mas a televisão está sempre ligada. Às vezes não quer dizer que estejamos sentados a ver televisão, mas está sempre ligada.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões?

Verónica: Quatro. Cada um tem uma televisão no quarto e há uma na sala.

P11. Onde vê mais televisão?

Verónica: Na sala.

Guilherme: No quarto.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Verónica: Acompanhada pelos meus familiares.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Verónica: Foi para aí há dois meses.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Verónica: Sinceramente não sei, mas acho que não. Temos um plasma…

P15. Usa teletexto?

Verónica: Não, nenhum de nós usa.

Porquê?

Verónica: Não sei, acho que é uma questão de hábito. Nunca foi hábito nosso.

Não é uma questão de dificuldade em usar…

Verónica: Não, não. É uma questão de hábito.

Guilherme: Eu já fui lá, mas não me interessa.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Verónica: Sim, por acaso, até ontem estivemos a falar disso assim um bocado por alto, por causa da Espanha. Estávamos a comentar que em Espanha isso vai passar a ser assim. Mas sinceramente não percebi muito bem.

Onde é que ouviram essa informação? Foi no telejornal?

Verónica: Não, porque eu tenho uma cunhada que vive lá e que estava a comentar que é estranho nós ainda não termos isso cá. Nós estávamos a falar da vida lá comparada com a de cá, em termos de IVA, etc. Falámos que lá a vida é melhor, apesar da crise. E ela estava a dizer que, em relação a Portugal, eles são muito “atrasados” a

245

nível de música. Nós somos mais adiantados e chega-nos mais facilmente a informação da música do que eles. E ela estava a comentar “Ah, mas por exemplo, as televisões, vocês são super antiquados. Nós temos televisão digital e vocês não”. E pronto, foi assim a conversa, também não passou disso.

Guilherme: Eu nunca ouvi falar.

Conhece algumas vantagens ou desvantagens da TV digital?

Verónica: Não, não sei.

Guilherme: Não sei. Já ouvi falar na televisão 3D, com os óculos…

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Verónica: Temos a Zon. Temos uma box que dá para a casa toda.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Verónica: Na conversa com a minha cunhada apercebi-me, mas sinceramente eu não liguei muito. Achei estranho… Pensei “Ai agora TV digital, também agora fazem tudo. Não me digam que me vão tirar o comando”. Foi a primeira coisa que eu disse (risos).

Guilherme: Não sabia (risos).

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Verónica: Não.

Sabe o que é que as pessoas que têm TV analógica têm que fazer para continuarem a ter televisão?

Verónica: Não.

P26. Sabe se há custos envolvidos para estas pessoas continuarem a ter TV em casa?

Verónica: Não sei.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Guilherme: Sei lá (risos) Não tenho ideia nenhuma.

Verónica: Tipo 3D e essas coisas assim?

Sim, como gostaria que fosse a televisão?

Verónica: Acho que era giro a televisão a 3 dimensões… Claro que isso é sempre um bocado difícil. Se esse serviço fosse mais acessível, acho que era interessante.

Porquê?

246

Verónica: Não sei. Acho que se torna mais real. Ou então por não estar habituada. O ser humano gosta de tudo o que é diferente. Se calhar se depois todas as televisões tiverem o 3D para mim não se torna tão interessante.

E a nível de serviços a que gostasse de aceder na televisão?

Verónica: Vou ser sincera. Para o tempo que eu passo a ver televisão também não posso exigir muito nem me preocupo muito com isso. O tempo que eu tenho é aquele e sei que não posso passar muito dali. É claro que acho que, hoje em dia, a televisão vai poder evoluir mais. Nós com a Zon já podemos ver os filmes, etc.

Considera esses serviços, como o vídeo-on-demand úteis? Costuma utilizá-los?

Verónica: Sim, uso. Alugar um filme e não sei quê.

Com regularidade?

Verónica: Sim, com regularidade sim.

Porque é que usa?

Verónica: Porque é mais fácil, é mais cómodo. Não tenho que sair de casa para ir alugar um filme. É o meu pai que paga (risos).

Têm o serviço de Pausa TV?

Guilherme: Sim.

Utilizam-no?

Guilherme: Raramente.

E o serviço de gravação de programas?

Guilherme: Gravo alguns programas. Aqueles que eu gosto.

P25. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Guilherme: Não faço a mínima ideia.

Verónica: Acho que, se calhar, vou ver menos.

Porquê?

Verónica: Por causa da minha vida profissional, porque eu não tenho mesmo muito tempo. E sinceramente também acho que a televisão – os nossos quatro canais – cada vez estão mais pirosos. Isto é o meu ponto de vista. Na minha idade, acho que há programas completamente ridículos e que não fazem sentido. Mas dão audiência, é um facto. Eu é que, se calhar, não percebo. Acho que há demasiadas telenovelas, nomeadamente na TVI, onde acho que há um abuso de telenovelas. É uma estopada de telenovelas. “Reality shows”… Agora houve a Casa dos Segredos, mas o que é certo

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é que se eu não visse a Casa dos Segredos, estava completamente desintegrada da sociedade. Porque toda a gente vê a Casa dos Segredos. Depois muita gente diz que é ridículo e quando eu pergunto porquê sabem-me explicar tudo. Das duas uma, ou eu me interesso um bocado pelo programa ou então fico completamente desenquadrada.

Então, sente-se um pouco insatisfeita com os canais generalistas…

Verónica: Sim. A RTP simplesmente não vejo. Acho demasiado “velha”. Na RTP2, só vejo mesmo o “5 para a meia-noite”… A SIC acho que tem uma grande desvantagem em relação à TVI, porque realmente os velhotes só vêem TVI independentemente se gostam ou não gostam. TVI é o canal de eleição deles. Até podem não gostar do programa. Eu tenho uma tia que, no outro dia, me disse assim: “Ai odiei ver a TVI na passagem de ano…”; e eu perguntei: “então porque é que não mudou de canal?”; e ela disse: “ai não, só vejo a quatro”. E acho que a SIC, a nível de produto, é melhor do que a TVI. Até mesmo a nível de telenovelas é melhor. Mas as pessoas têm aquela coisa da TVI. E eu própria, se a televisão estiver a fazer-me companhia, está na quatro.

É interessante dizer-me que não vê nada na RTP. Sabe que a RTP tem a responsabilidade acrescida de prestar serviço público. Acha que isso não acontece?

Verónica: Não. Acho que a RTP é má em tudo. Até a nível de realização. Eu acho que é uma desvantagem muito grande da RTP em relação à SIC e à TVI. Está antiquada, todos os programas que tem, os outros canais já tiveram há 500 mil anos… Um faz os Ídolos, eles vão logo fazer a Operação Triunfo… Telenovelas não têm, ou, se têm, já são repetidas… Coisas assim… Detesto o telejornal da RTP.

P26. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Guilherme: Acho que vai ser igual. Não sei, se calhar vai ser maior… Com botões grandes. Não faço ideia (risos).

Acha que vai ser melhor ou pior?

Guilherme: Deve ser melhor… Cada dia que passa há sempre melhores tecnologias.

P26. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Verónica: Não sei… Se calhar fisicamente, acho que até já nem vai existir televisão, vai passar a ser uma máquinazinha que projecta, qualquer coisa desse género… O que acho que vai tirar aquela graça da televisão. Eu, por exemplo, tenho uma televisão antiga, que tem ainda os botõezinhos, que não está a trabalhar, mas eu acho engraçado. Acho que o comando também vai ser uma das coisas que vai desaparecer e vai ser, sei lá, a tocar no ecrã. Qualquer coisa tipo “touch” ou uma coisa assim.

Vê o futuro da televisão como algo que trará mais interesse à televisão?

Verónica: Talvez… Eu acho que é tudo uma questão de hábito. Por exemplo, o iPad – que é uma coisa que ainda não está muito implantada aqui em Portugal – o meu irmão tem e eu achava aquilo ridículo… Tudo o que seja “touch” faz-me confusão, eu sinceramente não tenho muita habilidade… Mas ele tem um iPad e eu agora adoro o

248

iPad. Acho super útil. Pronto, lá está, é uma questão de hábito. A pessoa tem que pesquisar, procurar e eu acho que o português também tem um bocado essa… Primeiro que arranque… Tem uma mente um bocado quadradona.

Utiliza mais o computador do que vê televisão?

Verónica: Não, não. Utilizo muito o computador para trabalhar. Mas, por exemplo, ir à internet buscar informação, ou – como certas pessoas fazem – ler os jornais na Internet ou ver televisão na Internet, eu não faço isso.

Nem utiliza as redes sociais?

Verónica: Sim, Facebook sim. MSN e essas coisas…

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Josefa (mãe): 47 anos. António (pai): 46 anos. Verónica: 22 anos. Guilherme: 18 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Josefa (mãe) é funcionária pública, Verónica é professora de dança, Guilherme ajuda a irmã a administrar a Academia de Dança, António é trabalhador por conta própria. P39. Habilitações académicas Josefa tem o 12º ano, António tem o 9º ano, Verónica é licenciada em Dança e Guilherme tem o 12º ano. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Quatro pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam, já há muitos anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam. Verónica explica que, no que toca a computadores, a sua família gosta de estar sempre actualizada. «Se há um computador novo, trocamos, etc.». P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Leitor de DVD, rádio, iPad, Ipods, Playstation.

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Relatório da visita a casa da família 23 (“Simões”)

10 de Janeiro de 2011

Alenquer

Ana (mãe): 33 anos, empregada de balcão num café.

Alberto (pai): 38 anos, gerente de uma cadeia de oficinas.

Filhos: Um rapaz com oito anos e duas gémeas com 4 anos.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Simões”, de Alenquer, no dia 10 de Janeiro

de 2011.

O agregado familiar dos “Simões” é composto por cinco pessoas: Ana e Alberto, de 33

e 38 anos, e os três filhos, Carlos, Clarisse e Sofia (gémeas), de 8 e 4 anos. A entrevista

teve início pelas 18h00 e durou cerca de 40 minutos. Ana é empregada de balcão num

café no centro de Alenquer e Alberto é gerente de uma cadeia de oficinas. O trabalho

absorve o casal quase todo o dia. Enquanto os miúdos estão na escola e Alberto está a

trabalhar, Ana descreve a rotina da família em relação à televisão. Durante a semana,

o aparelho é ligado logo que chegam a casa, pelo fim da tarde, e assim permanece até

ao início da madrugada. Em casa, Ana e Alberto vêem cerca de quatro a seis horas de

televisão por dia, concentrando-se todo o consumo de TV no serão. «Gosto de

Figura 1 – Ana trabalha num café e explica que sustentar uma família de três filhos implica a dispensa de alguns confortos, como a TV paga

250

programas de entretenimento, como o Quem quer ser milionário?, o Ídolos… Gosto de

ver as notícias, sempre, todos os dias (…) Gosto de ver um bom filme, mas não vejo

muito porque, infelizmente, os filmes passam muito tarde e para quem trabalha e tem

que se levantar cedo é muito complicado», conta Ana. A empregada de balcão admite

que aprecia os momentos em que a família se junta a ver televisão. Considera-os

«pequenos grandes momentos», sobretudo no Inverno. «Quando estamos no sofá,

com a mantinha, no quentinho, estamos tão bem, nem estamos a dar o valor àquela

qualidade de vida que está a existir ali. São estes pequenos momentos os grandes

momentos de lazer hoje em dia, e aos quais temos que nos agarrar». À hora do jantar,

todos assistem à novela. Na verdade, Ana lamenta um pouco o facto de, a essa hora, a

escolha não ser muita. A família tem apenas os quatro canais gratuitos de televisão e a

programação no horário nobre é dominada pela ficção. «Acompanhamos sempre uma

novela, nem que seja à hora do jantar porque é o que está a passar em qualquer dos

canais, mas não é o meu programa favorito», revela a mãe. Na verdade, enquanto Ana

opta pelos filmes e noticiários, o marido, Alberto, prefere programas relacionados com

a tauromaquia. «O meu marido gosta de programas de touros. Gosta de tourada e

essas coisas. Também gosta imenso de desporto. Não só de futebol, mas de desporto

em geral, inclusive ginásticas rítmicas e esse tipo de coisas». Quanto às crianças, que

vêem menos televisão do que os pais porque à noite têm que se deitar cedo, gostam

sobretudo de desenhos animados. É ao fim-de-semana que Carlos e as gémeas se

“vingam” da falta de oportunidade para estarem em frente ao ecrã durante a semana.

«Ao fim-de-semana vê-se mais porque os miúdos estão em casa e a manhã é a ver

desenhos animados, tanto ao sábado como ao domingo». O casal “Simões” não tem

por hábito controlar o que os filhos vêem na televisão, mas Ana é adepta dos

programas que ajudam na educação das crianças. «Eu sou mãe. Tenho três filhos. E há

um programa na RTP2, o Zig Zag, que as crianças gostam muito de ver. Gostam de ver

os desenhos animados e quem faz o programa tem uma maneira de chegar às crianças

de maneira diferente (…) Chegam até elas e ensinam-lhes através de brincadeiras.

Gosto desse tipo de programas que entretém e ensina. Assim como também já

existiram programas com miúdos, tipo concurso, em que os miúdos estão entretidos

mas aprendem». A família “Simões” tem três televisores, apesar de um deles não estar

251

a funcionar. A última televisão foi comprada há dois anos e Ana afirma convictamente

que não pensa comprar outra nos próximos 12 meses. A família vê televisão na sala e

na cozinha e utiliza o teletexto sobretudo quando quer saber os horários dos

programas. «Usamos para procurar o horário de algum programa ou para sabermos o

título de um filme que apanhámos a meio… Para saber o que é que vai dar nesse dia à

noite, por exemplo. Para ver os resultados do futebol…». Apesar de, em casa, os

“Simões” não terem um serviço de televisão paga, no café do qual são proprietários,

local de trabalho de Ana, aderir à televisão paga revelou-se uma inevitabilidade.

«Quando estou no café vejo muito os canais de música porque dá um ambiente

diferente ao café», explica Ana. A empregada de balcão conta que se viu obrigada a

aderir à TV por satélite, pois o serviço que a TV Cabo prestava não funcionava bem.

Ana sublinha que, tendo uma casa aberta ao público, a televisão não pode estar

constantemente a sofrer falhas técnicas, como acontecia com o sistema de

transmissão por cabo.

Quanto ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital, Ana afirmou

já ter ouvido falar “vagamente” no tema. Questionada sobre as vantagens ou

desvantagens associadas a este tipo de transmissão televisiva, a empregada de balcão

disse não saber o suficiente sobre o assunto. No entanto, falou espontaneamente na

questão dos custos: «Não sei que custos é que isso poderá ter…». Como já foi referido,

a família “Simões” é servida pelo sinal analógico terrestre de televisão. Ana explica que

Figura 2 – Ana aproveita o facto de haver TV paga no café onde trabalha, para levar os filhos a verem aí os canais de desenhos animados, que não podem ver em casa

252

não pode juntar mais uma mensalidade às despesas de uma família numerosa como a

sua. «Como estou pouco tempo em casa, não se justifica eu pagar um valor acrescido

para ver mais televisão. Porque esse valor também conta no orçamento da família e é

um grande abalo no agregado familiar. Num agregado familiar grande como o meu,

tudo conta, e não se justifica. Às vezes os miúdos chateiam-me porque gostavam de

ver o Panda. E eu digo “quando lá fores abaixo ao café, vês”. Têm que ter paciência (…)

Não se justifica porque os preços também são elevadíssimos».

Apesar de, inicialmente, não ter conseguido associar vantagens ou desvantagens à TV

Digital, Ana demonstrou depois ter algumas noções sobre a transição da televisão

analógica para o digital, explicando que, através das conversas no café, percebeu que

uma mudança se avizinhava. «Ouvi dizer que estava-se a pensar retirar todo o tipo de

ecrãs do mercado… Aliás, não é todo o tipo de ecrãs, mas sim os ecrãs mais antigos,

para fazer uma instalação de TV digital. Mas só ouvi assim isto muito vagamente.

Também, na altura, não me despertou interesse porque estava ocupada e passou. Não

falei sobre o assunto com ninguém. Não sei como é que esse processo poderá ser

feito, não sei que custos é que poderá ter, não sei se posso tirar alguma vantagem ou

não daí». À questão «Acha que vai ser afectada por esse processo?», Ana respondeu

não saber, acrescentando que «depende da obrigatoriedade das coisas» e admitindo

que não faz ideia da data limite para o processo. Depois de lhe ter sido explicado que o

sinal que possibilita que a sua família tenha televisão em casa será desligado, Ana disse

não fazer ideia dos procedimentos a ter para continuar a ver os quatro canais gratuitos

de TV e reforçou que não sabe se há custos envolvidos no processo. Depois de saber o

preço médio de um descodificador, a empregada de balcão sugeriu que esse é «um

investimento que se pode justificar». «Se o investimento for só um descodificador…

Não é por aí… Mesmo que o descodificador custasse o dobro do dinheiro que me

disse, 100 euros. Não é uma coisa que vou comprar todos os meses. Não é? É um

investimento a longo prazo», disse. Ainda assim, Ana afirmou não saber a quem se

poderá dirigir de forma a obter apoio ou ajuda para continuar a ter os quatro canais

gratuitos em casa. Normalmente, quando não sabe como utilizar um equipamento

electrónico, recorre «a um familiar habilidoso» que costuma resolver os problemas.

Ana considera que, se a transição para o digital trouxesse um acréscimo de canais,

253

«seria o ideal», uma vez que, nestas condições, não se sente motivada para fazer a

transição. «Não. Não há oferta. A melhoria da qualidade de imagem não é suficiente

para motivar, mas nós os portugueses também não nos chateamos com nada, somos

muito permissivos. E se foi uma decisão da União Europeia, nós vamos ter que acatar

com ela. Claro que, se puderem melhorar alguma coisa… Se, ao facto de sermos

obrigados a mudar para continuar a ter televisão, conseguissem juntar uma mais-valia

ao cliente, só caía bem (risos)».

Questionada sobre se serviços como o da gravação de programas ou de Pausa TV

seriam interessantes para a sua família, Ana confirmou que estes poderiam também

«ser uma mais-valia por causa da situação dos horários». Gravar os filmes permitiria a

Ana não ter de perder algumas horas de descanso para poder ver um filme que lhe

interesse. Quanto aos serviços de informação útil, estes também parecem positivos

aos olhos de Ana. «As farmácias de serviço então… Muito importante… Acho que

facilitava a vida a muita gente (…) É uma informação que toca a todos. Na Internet é

verdade que já temos tudo, mas esquecemo-nos que Portugal tem uma população

muito envelhecida e o nosso concelho aqui de Alenquer também. Ou seja, nem todas

as pessoas têm capacidades nem sabedoria para trabalhar com a inovação que é um

computador».

Ana considera que, daqui a cinco anos, verá menos televisão do que actualmente. «Da

maneira que o país está acho que não vou ver mais. Porque nós cada vez trabalhamos

mais e temos menos tempo para o lazer», protesta.

Por fim, no que respeita à forma como imagina a televisão daqui a dez anos, Ana

considera que, a nível físico, «a televisão tem tendência a ser, cada vez mais, uma coisa

“touch”, como os telefones». A empregada de balcão pensa que a televisão «vai ter

um aspecto exterior e um contacto muito mais facilitado e versátil». No que toca aos

conteúdos, a pergunta torna-se mais difícil. «Depende muito da evolução da

população. Se me perguntar o que é que eu acho que a televisão evoluiu em dez anos,

digo-lhe que não evoluiu nada, ou praticamente nada. E eu dei-lhe aquele exemplo do

Big Brother, que deu há dez anos e foi o único que eu acompanhei. Passados dez anos,

continua a ser a mesma coisa. Não há uma evolução. Eu acho que piorar também não

vai piorar, mas não vai evoluir muito», conclui.

254

Transcrição da entrevista semi-estruturada

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Ana: Gosto de programas de entretenimento, como o Quem quer ser milionário?, o Ídolos… Gosto de ver as notícias. Vejo sempre, todos os dias. Apesar de as notícias não serem muito boas na sua generalidade… (risos). Mas acho que faz parte mantermo-nos informados no dia-a-dia, não só cá, mas no mundo. Essencialmente é o que vejo. Gosto de ver um bom filme… Não vejo muito porque os filmes, infelizmente, passam muito tarde e para quem trabalha e tem que se levantar cedo é muito complicado. Por acaso hoje até estou aqui um bocadinho à rasquinha porque ontem estive a ver um filme pelo qual me interessei e estive até mais tarde acordada. Mas essencialmente vejo notícias, alguns programas de entretenimento, acompanho também uma novela – acompanhamos sempre mais que não seja à hora do jantar porque é o que está a passar em qualquer um dos canais – mas não é o meu programa favorito.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Ana: De momento não sei o que poderá haver… É porque eu também só vejo televisão à noite. Quando estou aqui no café vejo muito os canais de música porque dá um ambiente diferente ao café. Passam os videoclipes e como aqui temos o sistema satélite implementado, tenho essa vantagem de ter acesso a outros canais.

Nesta televisão costuma ver canais generalistas ou só mesmo os canais de música?

Ana: Geralmente só os canais de música e os tais noticiários, sempre, à hora do almoço. Claro que já tenho passado por um Fox ou por um Hollywood quando as coisas estão assim mais calmas. Em relação aos programas que eu não gosto, estava-me a lembrar agora, que não gosto d e programas sensacionalistas. Aquele tipo de programas como a Casa dos Segredos, por exemplo, não gosto. Aliás, desse tipo de programas vi um, o primeiro, o Big Brother, que acompanhei. Era uma novidade. A partir daí deixou de ter qualquer interesse. Não gosto desse tipo de programas. Não é um programa enriquecedor. Muito pelo contrário, é um programa que existe só para deteriorar a imagem de certas pessoas, porque elas o permitem, mas pronto. E isso também não tem interesse nenhum para o público.

Gosta que um programa, para além de a entreter, tenha uma função didáctica?

Ana: Gosto muito. Eu sou mãe. Tenho três filhos. E há um programa na RTP2, que é o Zig Zag, que as crianças gostam muito de ver. Gostam de ver os desenhos animados e quem faz o programa tem uma maneira de chegar ao público, que são as crianças, de maneira diferente. Através de imagens da realidade, de pessoas reais, chegam a eles e ensinam-lhes através de brincadeiras. Gosto desse tipo de programas que entretém e ensina. Assim como também já existiram – penso que, de momento, não existe –

255

programas com miúdos, tipo concurso, em que os miúdos estão entretidos mas aprendem.

Gostaria de ter um canal sobre a região de Alenquer, que falasse, por exemplo, sobre a cultura, a gastronomia, as pessoas…

Ana: Nós temos uma rádio local e eu não oiço a rádio local. Isto pode ser uma vergonha, mas não oiço. Provavelmente também não iria perder muito tempo a ver um programa sobre a minha região, até porque conheço um pouco dela. Talvez possa ter interesse me ver de outras regiões. Isso sim. Agora aqui não, porque eu também conheço a zona e não tinha interesse. Assim como na rádio local não tenho interesse, porque a música que passa a mim não me diz nada.

O que é que a sua família gosta de ver na televisão?

Ana: O meu marido gosta de programas de touros. Gosta de tourada, programas de tauromaquia, gosta dessas coisas. Gosta imenso de desporto, não só de futebol, mas de desporto em geral, inclusive ginásticas rítmicas e esse tipo de coisas. Os meus filhos gostam de ver desenhos animados, filmes, acham graça à telenovela à hora do jantar.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Ana: Entre quatro a seis horas, em casa.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Ana: Ao fim-de-semana vê-se mais porque os miúdos estão em casa e a manhã é a ver desenhos animados, tanto ao sábado como ao domingo. Estas quatro a seis horas referem-se à noite, durante a semana, porque há dias que eu chego a casa às seis e pouco e a televisão fica ligada até à meia-noite e tal.

P11. Onde vê mais televisão?

Ana: Na sala e na cozinha.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões?

Ana: Temos três, mas activas estão duas. A outra está avariada.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Ana: Há dois anos.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Ana: Não.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Ana: Usamos. Para procurar o horário de algum programa ou para sabermos o título de um filme que apanhámos a meio… Para saber o que é que vai dar nesse dia à noite, por exemplo. Para ver os resultados do futebol também usamos…

256

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Ana: Vagamente.

P17. Que vantagens ou desvantagens associa à TV digital?

Ana: Não sei. Não sei que custos é que isso poderá ter… Não sei, não tenho informação suficiente para lhe responder a essa pergunta agora.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Televisão analógica terrestre.

P20. Porque razão não tem TV digital?

Ana: Como estou pouco tempo em casa, não se justifica eu pagar um valor acrescido para ver mais televisão. Porque esse valor também conta no orçamento da família e é um grande abalo no agregado familiar. Num agregado familiar grande como é o meu, tudo conta, e não se justifica. Às vezes os miúdos chateiam-me porque gostavam de ver o Panda. E eu digo “quando lá fores abaixo ao café, vês”. Têm que ter paciência porque não se justifica. E casa, nós quase que não temos tempo para ver televisão. É chegar a casa, tomar banho, jantar e deitar. Não se justifica porque os preços também são elevadíssimos.

O que sabe sobre isso é o resultado de conversas aqui no café?

Ana: Exactamente. Ouvi dizer que estava-se a pensar retirar todo o tipo de ecrãs do mercado… Aliás, não é todo o tipo de ecrãs, mas sim os ecrãs mais antigos, para fazer uma instalação de TV digital. Mas só ouvi assim isto muito vagamente. Também, na altura, não me despertou interesse porque estava ocupada e passou. Não falei sobre o assunto com ninguém. Não sei como é que esse processo poderá ser feito, não sei que custos é que poderá ter, não sei se posso tirar alguma vantagem ou não daí. Só sabendo esses pormenores é que poderia…

E acha que vai ser afectada por esse processo?

Ana: Depende… Não sei… Depende da obrigatoriedade das coisas.

P22. Quando é a data-limite para esse processo: tem ideia?

Ana: Não faço ideia.

(Faz-se uma breve explicação sobre o “switch-off”)

Ana: As pessoas não estão informadas.

P25. Sabe o que tem que fazer para continuar os 4 canais gratuitos de TV em casa?

Ana: Não, não faço ideia.

P26. Sabe se há custos envolvidos para continuar a ter TV em casa?

257

Ana: Não sei, de momento não sei.

(É referido o preço médio de um descodificador)

P27. Quanto estaria disposto/a a pagar para continuar a ter TV em casa?

Ana: Se o investimento for só um descodificador… Não é por aí… Mesmo que o descodificador custasse o dobro do dinheiro que me disse, 100 euros. Não é uma coisa que vou comprar todos os meses. Não é? É um investimento a longo prazo. É um investimento que se pode justificar.

P28. A quem se vai dirigir de forma a obter apoio ou ajuda para continuar a ter os 4 canais gratuitos TV em casa?

Ana: Não, não sei a quem é que me posso dirigir. Não faço ideia.

P29. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Ana: Tenho um familiar muito habilidoso.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Ana: O que é que eu gostava de ver que não vejo agora… Boa pergunta… Pois é, assim de repente não sei… Mas tenho a certeza de que gostava de ver, pelo menos, uma programação diferente a nível de horários, porque gosto imenso de ver séries e filmes e todas as séries e filmes de que eu gosto e que acho interessantes passam depois da uma da manhã.

Serviços como a gravação de programas ou a Paus TV, seriam interessantes para si?

Ana: Exacto, poderia ser uma mais-valia por causa dessa situação dos horários. A Pausa TV também poderia ser interessante.

E serviços de informação útil? Como, por exemplo, poder saber qual é a farmácia de serviço através da televisão?

Ana: Muito importante. As farmácias de serviço então muito importante… Acho que facilitava a vida a muita gente.

Mesmo havendo já essa informação disponível na Internet?

Ana: Você falou em farmácia que é uma informação que toca a todos. Na Internet é verdade que já temos tudo, mas esquecemo-nos de que Portugal tem uma população muito envelhecida e o nosso concelho aqui de Alenquer também. Ou seja, nem todas as pessoas têm capacidade nem sabedoria para trabalhar com a inovação que é o computador. Existe muita gente que ainda não sabe trabalhar com um computador e que não vai aprender porque não se sente capaz ou porque não está para isso. Existem inúmeras justificações para isso. Mas são pessoas normalmente debilitadas e são as

258

que mais ganham com esse tipo de informação, até porque nós, no nosso concelho, temos as farmácias de Alenquer e Carregado englobadas no mesmo grupo e pode não haver nenhuma farmácia de serviço em Alenquer, só haver no Carregado. Portanto, é assim, não é que a distância seja muito grande, mas para quem está limitado seria uma informação útil.

(…)

Se a transição para o digital, trouxesse um acréscimo de canais, seria importante e uma motivação para mudar?

Ana: Para mim era. Isso era o ideal.

Sente-se motivada para fazer esta transição para o digital?

Ana: Não. Não há oferta. A melhoria da qualidade de imagem não é suficiente para motivar, mas nós os portugueses também não nos chateamos com nada, somos muito permissivos. E se foi uma decisão da União Europeia, nós vamos ter que acatar com ela. Claro que, se puderem melhorar alguma coisa… Se ao facto de sermos obrigados a mudar para continuar a ter televisão, conseguissem juntar uma mais-valia ao cliente, só caía bem (risos).

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Ana: (risos) Da maneira que o país está acho que não. Porque acho que nós cada vez trabalhamos mais e cada vez temos menos tempo para o lazer. Como eu costumo dizer, há pequenos grandes momentos, quando estamos no sofá, com a mantinha, no quentinho, estamos tão bem, nem estamos a dar o valor àquela qualidade de vida que está a existir ali, porque não estes pequenos momentos que são os grandes momentos de lazer hoje em dia, e aos quais temos que nos agarrar.

P26. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Ana: A nível físico, acho que a televisão tem a tendência para ser, cada vez mais, uma coisa “touch”, como os telefones. Acho que vai ter um aspecto exterior e um contacto muito mais facilitado e versátil. A nível de conteúdos, é uma pergunta muito difícil. Depende muito da evolução da população. Se me perguntar o que é que eu acho que a televisão evoluiu em dez anos, eu acho que não evoluiu nada, ou praticamente nada. E eu dei-lhe aquele exemplo do Big Brother, que deu há dez anos e foi o único que eu acompanhei, e que, passados dez anos, continua a mesma coisa. E existem pessoas a ganhar programas de televisão como mesmo perfil dos concorrentes que ganharam há dez anos. Não há uma evolução. Portanto, tudo depende muito da evolução das pessoas. Eu acho que piorar também não vai piorar. Acho que não vai é evoluir muito.

Gostaria de acrescentar alguma coisa?

Ana: Existem muitas pessoas que não vão gostar. Muitas!

259

Ana: Tive muitas chatices e tive que mudar. Não vou dizer se é melhor ou pior, mas estes funcionam melhor aqui. Não tenho tido problemas. Também já têm tido avarias, mas são coisas momentâneas.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Ana: 33 anos. Alberto: 38 anos. Filhos: Um rapaz com oito anos e duas gémeas com 4 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Ana: Empregada de balcão. Alberto: Gerente de uma cadeia de oficinas. P39. Habilitações académicas Têm ambos o 12º ano. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Cinco pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. Desde os 17 anos. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc.) Televisão, rádio, VCR e DVD.

260

Relatório da visita a casa da família 24 (“Fonseca”)

Dia 10 de Janeiro de 2011

Cacém

Isabel (mãe): 39 anos, cozinheira num restaurante.

Filipa (tia): 48 anos, desempregada.

Matilde (irmã): 32 anos, estudante. (Ausente na entrevista)

Pedro (filho): 21 anos. (Ausente na entrevista)

Mário (filho): 19 anos. (Ausente na entrevista)

Rui (filho): 14 anos, estudante. (Ausente na entrevista)

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família Fonseca, do Cacém, no dia 10 Janeiro de

2011.

O agregado familiar dos “Fonseca” é constituído por seis pessoas: Isabel e os seus três

filhos, a sua irmã mais nova e a sua tia Filipa. A entrevista foi realizada com dois

elementos tendo durado cerca de 40 minutos.

No dia da entrevista, a responsável da casa, Isabel, encontrava-se de baixa,

acompanhada pela sua tia Filipa que está desempregada. Nesta família não foi possível

fazer observação filmada dado que foi pedido pelas pessoas presentes que não se

filmasse a casa e equipamentos tecnológicos disponíveis, assim como as próprias

pessoas. Dessa forma, a parte de observação das dinâmicas familiares relativas ao uso

e consumo televisivo foi realizada através de apontamentos escritos feitos e de diálogo

posterior com os dois elementos da família que se encontravam presentes para

entrevista.

Segundo Isabel, a TV não tem um lugar central no seu dia-a-dia. Costuma tê-la ligada

quase sempre quando está em casa, mas muitas vezes apenas para ouvir. Têm três

televisões em casa, uma no seu quarto, outra na sala e outra na cozinha, local onde

261

refere passar a maior parte do tempo que está em casa «Não gosto de me ir sentar na

sala, não gosto mesmo. O meu lugar preferido é a cozinha». É na cozinha que esta e a

sua tia passam a maior parte do seu tempo livre, a fazer arrumações, preparar

refeições para o resto da família e a conviver, muitas vezes acompanhadas pelo som da

televisão ligada. A entrevista foi igualmente realizada nesta divisão da casa.

Isabel possui um serviço de televisão paga nas três televisões que tem em casa pois

refere que os canais que mais gosta de ver não os quatro canais portugueses «Eu gosto

mesmo é da RTP África e Canal Record (Brasil)». Nesses canais segue as notícias da sua

Terra de origem e as novelas brasileiras, mas afirma apenas ter tempo para ver TV à

noite, pois trabalha das 09h00 às 17h00. Filipa encontra-se numa situação diferente,

passa muito tempo em casa pois está desempregada, no entanto diz que a sua melhor

companhia é a música «quando dão música é quando eu mais gosto. A música que dão

de África. É isso que gosto».

Isabel é a pessoa responsável pelos assuntos da casa, sendo também a única que se

encontra empregada no momento, apesar de se encontrar de baixa. Assim, refere ter

um rendimento muito baixo para a família que tem, mostrando vontade em poder

comprar uma nova televisão, uma nova aparelhagem, mas sem capacidade para o

fazer dado que sustenta todo o seu agregado familiar.

No que respeita TV digital, Isabel e Filipa referem já ter ouvido a designação mas não

possuem qualquer conhecimento sobre o assunto, não sendo capazes de associar

vantagens ou desvantagens a este tipo de sinal televisivo. Também no que respeita o

processo de transição do sinal analógico para digital, Isabel e Filipa referem igualmente

não ter ouvido falar, não se encontrando a par da situação «Nem sabia que isso ia

acontecer». Isabel calculou que o processo de transição do sinal televisivo apenas

decorresse a partir de 2013, ficando surpreendida quando soube que, na sua zona de

residência, o mesmo teria lugar no ano seguinte. No final da entrevista ambas

compreenderam a informação transmitida associando algumas funcionalidades de

interesse pessoal à TV digital e compreendendo as implicações que o processo de

transição do sinal de televisão poderia ter nas suas vidas e na sua casa.

262

Transcrição da entrevista semi-estruturada

P1. Quais são os seus programas preferidos?

Isabel: Eu gosto mesmo é da RTP África e Canal Record (Brasil).

Filipa: Novelas, várias, principalmente as da noite e no Canal Record.

P2. Quais os programas de que não gostam?

Isabel: Há uns que a gente não gosta mas esses a gente não vê. Eu praticamente vejo TV pouco, é só noticiário, RTP África, Canal Record, e SIC. O que vejo mais é SIC.

Filipa: Sim, SIC também é bom. Gosto da SIC.

Mas e esses que não vê... sabe dizer quais são?

Isabel: Isso não posso dizer... Não é que a gente não goste do canal. Às vezes o canal está... É o programa. Por exemplo programas violentos, eu não gosto. Mas não é o canal, o canal às vezes põe bons programas outras vezes põe outros que a gente não gosta. Mas agora estar a dizer nomes, não sei... Por exemplo na SIC, gosto muito da Fátima Lopes, adoro. Agora vejo mais porque estou de baixa. Porque senão saio às 09h00 e entro às 17h00, chego a casa e só vejo noticiário, às vezes nem há tempo, tenho de arrumar a casa e fazer jantar. Filipa: Gosto também da RTP África, mas quando dão música é quando eu mais gosto. A música que dão de África. É isso que gosto.

A questão seguinte pergunta quais são os programas que habitualmente vêem, mas uma vez que já responderam passamos à próxima

P4. Quando tem algum tempo livre, o que é que gosta mais de fazer?

Isabel: Tempo livre? Eu? Bem, ouvir música, arrumar a casa, passar a ferro e sempre a ouvir música. O que gosto mais é de música. Mais no rádio do que na TV. Televisão vejo porque pronto... Mas não tenho muito tempo para olhar e uma pessoa fica desabituada da TV. Depois chego aqui à noite, tenho de lavar loiça, fazer comer, arrumar, preparar casa, deitar criança levantar para ir levar para escola... Às vezes ligo, só aproveito telejornal, às vezes não vejo, ou vejo só aquele das 22h30 que dá na RTP África que dá o resumo e é nessa hora que aproveito. Ou o Record que dá o telejornal... E é principalmente arrumar a casa... Às vezes ler um bocadinho. Filipa: Gosto de fazer costura, bordar, fazer a renda. Às vezes vejo música.

263

P5. Como é que passa um dia de semana normal?

Isabel: É com os tachos e as panelas. Trabalho num restaurante. E com o lume. Acordo de manhã, preparo a minha filha para ir para a escola, levo e ela fica na escola e vou trabalhar. Depois venho, dou-lhe banho, preparo jantar, preparo a roupa dela para ir para escola, e o resto, e dou uma olhadela na TV, ligo a TV na cozinha mas ouço mais do que vejo.

Filipa: Passo a ouvir música. Gosto muito da música. Levanto às 07h00 e fico aqui, às vezes saio, ou fico a costurar. Não tenho ainda nada que faça, ando à procura...

P6. Se for um dia de fim-de-semana, como passa?

Isabel: É quando trabalho mais no restaurante. O único dia que tenho descanso é 5ª feira. É quando vou para reunião da escola, ou vou ao médico, nunca chega para nada um dia. Trato das papeladas, da escola e é isso.

Filipa: Eu não trabalho, é a mesma coisa.

P8. Quantas horas por dia vê TV?

Isabel: TV aqui não pára... Essa TV trabalha só quando está quente, tem problemas, só sai imagem quando está quente. Vejo mais que uma hora. De manhã acendo logo, à noite fico com TV acesa.

Filipa: Os programas da Igreja também gosto muito.

Isabel: Este tempo que estou de baixa vejo mais ou menos duas, três horas. Mas a TV está ligada mais tempo, fica ligada a noite toda.

Filipa: Quando a TV tem bons programas vejo. Acho que ontem vi umas 4 horas.

P9. Vê mais TV durante a semana ou ao fim-de-semana?

Isabel: Aqui não tem fim-de-semana. Vejo menos à 5ªfeira que é quando tenho folga.

Filipa: É a mesma coisa.

P10. Vêem mais TV sozinhas ou acompanhadas?

Isabel: Sozinhas, a TV faz a companhia.

Filipa: Também.

P11. Onde costumam ver mais TV?

264

Isabel: Na cama. Quarto e cozinha. Não gosto de me ir sentar na sala, não gosto mesmo. O meu lugar preferido é a cozinha.

Filipa: Eu também, vejo mais aqui (cozinha) e no quarto. Na cozinha tem comida, é cozinhar, comer, passar a ferro. É tudo aqui.

P12. Quantas TV têm?

Isabel: Três. Uma no quarto, outra na cozinha, outra na sala. Têm TV cabo.

P13. Quando compraram a ultima TV?

Isabel: Já não me lembro. Já foi há muito tempo.

P14. Estão a pensar comprar alguma TV nos próximos 12 meses?

Isabel: Já comprámos a última há muito tempo. Gostava de comprar uma nova, mas não tenho dinheiro.

P15. Utiliza teletexto?

Isabel: Não, mas sei o que é.

P16. Já ouviu falar de TV digital?

Isabel: Já.

P17. Que vantagens associa à TV digital?

Isabel: Eu não sei, porque eu não conheço, não tenho. Ah… Digital! Bem… Acho que conheço mas não sei explicar...

P18. E desvantagem, reconhece alguma desvantagem à TV digital?

Isabel: Não.

Explicação do que é TV digital e das vantagens associadas (melhor imagem, som, serviços interactividade, possibilidade de ter mais canais gratuitos).

265

P20. Já me disse anteriormente que tem TV cabo. Tem algum motivo especial para ter TV cabo?

Isabel: É mais para ver RTP África e outros canais.

P21. O sinal analógico de TV, com os quatro canais gratuitos, vai ser desligado. Sabia disto?

Isabel: Não.

Explicação do processo de “switchover”.

P22. Tem alguma ideia da data em que o sinal analógico será desligado aqui no Cacém?

Isabel: Não, não sei. Nem sabia que isso ia acontecer.

Quer tentar adivinhar… Acha que será este ano de 2011, no próximo 2012 ou nalgum ano até 2020?

Isabel: Do jeito que isto está, isso pode ser uma surpresa aqui para a gente. Mas do jeito que isto está, olhe... não sei… Talvez lá para 2013/2014/2015.

Explicação da data para “switch-off” no Cacém.

Isabel: Mas e a Record, vai continuar a existir?

Filipa: Sim, vai... não é?

Sim, os canais vão todos continuar a existir e até pode haver a possibilidade de existirem mais canais que sejam gratuitos. E aliás, dado que tem um serviço de TV paga, TV cabo, não precisa de se preocupar com esta situação porque não a irá afectar, pelo menos se mantiver o serviço que já tem. Se por acaso não quiser manter terá de adaptar a sua televisão para receber o sinal digital através da compra de um descodificador ou de uma televisão que já capte o sinal digital. É um processo parecido com o do gás natural que já tiveram aqui.

Isabel: Agora essas televisões já vêm com rádio e tudo, não é?

Sim, a televisão digital tem um serviço de rádio onde pode ouvir música através da TV.

Isabel: Hum... Então a TV cabo é que vai ficar a perder, porque essa televisão digital já tem muitas coisas e é gratuita.

Filipa: Pois. Parece.

266

P23. Quando não sabe funcionar com um determinado aparelho electrónico como resolver a situação?

Isabel: Peço ajuda ao meu filho.

Filipa: Peço a alguém que me ensine. Peço a uma pessoa que conheça bem o aparelho.

Isabel: Sim, o meu filho compra telefones e não lê as instruções. Ele consegue logo perceber como funciona.

Filipa: Há telefones que são complicados e é preciso pedir informações a uma pessoa que conheça muito bem o telemóvel para nos explicar.

P25. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais ou menos TV do que hoje?

Isabel: Acho que vou ver mais.

Filipa: Mais.

P26. E como imagina que a TV venha a ser daqui a 10 anos?

Isabel: Vai ser diferente. Há umas que são digital... Vai ser... Hum… Como o meu telefone... Tipo “screen touch”.

Filipa: Não sei... Por acaso não sei.

Caracterização de cada indivíduo da família

Quantas pessoas fazem parte do agregado familiar?

Isabel: Somos 6. O meu filho que tem 21, o outro tem 19 e o outro tem 14 e a pequena tem 6. A minha irmã tem 32. E depois somos nós as duas: eu que tenho 39 e a Filipa que tem 48.

Localidade

Agualva

Ocupação

Isabel: Trabalho num restaurante, na cozinha. Os meus filhos estudam. A minha irmã voltou há pouco tempo mas agora está em Espanha. Não trabalha, é estudante.

Filipa: Eu estou desempregada.

Habilitações académicas:

267

Isabel: Eu estudei até ao 8º.

Filipa: 11º ano.

Nacionalidade

Isabel: Nascemos na Guiné. Mas viemos muito novas. Eu vim só com 4 meses.

Rendimento familiar

Isabel: Baixo

Usa telemóvel?

Isabel: Uso desde que saiu.

E computador?

Isabel: O meu filho tinha, mas agora estragou-se. Ele é que usava, eu não.

Filipa: Eu também não uso.

Internet?

Isabel: Só os meus filhos.

Equipamentos electrónicos

Rádio, DVD, TV, aparelhagem de música.

268

Relatório da visita a casa da família 25 (“Neves”)

11 Janeiro 2011

Cacém

Cristina (filha): 24 anos, estudante. (A única presente na entrevista)

Antónia (mãe): 48 anos, funcionária de um hipermercado.

Pedro (primo): 14 anos, estudante.

Miguel (primo): 17 anos, estudante.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada na casa da família Neves, do Cacém, no dia 11 Janeiro de 2011.

O agregado familiar da família Neves é constituído por quatro elementos: Cristina de

24 anos, Antónia com 48 anos, mãe de Cristina, e dois primos mais novos com 14 e 17

anos, que estão temporariamente a residir na casa de Antónia, filhos de sua irmã. A

entrevista foi realizada da parte da manhã a pedido da família e Cristina foi o único

elemento presente. Os seus primos estavam na escola e a sua mãe a trabalhar. A

entrevista demorou cerca de 50 minutos.

Cristina refere que a TV tem um peso importante na sua vida, estando quase sempre

ligada quando se encontra em casa. Cristina está a tirar licenciatura em Animação

Social e está, neste momento, à espera de realizar o estágio curricular, última etapa do

seu curso, encontrando-se por isso com mais disponibilidade que a restante família.

Cristina refere que a família tem apenas uma TV que está na sala, sendo bastante

recente, comprada há cerca de um mês. A estudante diz que gostava muito de ter uma

TV no seu quarto, uma vez que a da sala tem de partilhar com os restantes familiares

sendo a escolha da programação um assunto diariamente discutido na sua casa. Se

pudesse ter uma TV no seu quarto, Cristina refere que o que mais veria seriam filmes e

séries.

No entanto, uma vez que vê TV na sala, diz-nos que normalmente de manhã vê

desenhos animados, pois o seu sobrinho pequeno, de 5 anos, costuma estar na sua

269

casa «Vejo de manhã o Canal Panda e Disney Channel porque tenho sempre cá o meu

sobrinho». De resto refere ainda que não costuma ver o noticiário e que não gosta de

ver os canais Portugueses, pois não gosta dos programas de entretenimento nem de

novelas «Aqueles programas da TVI e SIC, tipo aqueles do género Casa dos Segredos,

As Tardes da Júlia, esses não gosto e não vejo».

Cristina afirma que não tinha conhecimento do processo de transição do sinal

analógico para digital, referindo ainda que ninguém da sua família tem conhecimento

de que esse processo irá ter lugar proximamente. A estudante menciona ainda, em

relação ao processo de “switch-off”, que acredita que o mesmo apenas acontecerá

entre 2015 e 2020 «Como ainda não tive conhecimento e ainda não aconteceu em

nenhuma zona que eu conheça, penso que talvez seja só entre 2015 ou 2020».

No que toca ao conhecimento sobre TV digital, Cristina diz já ter ouvido falar e saber o

que é, afirmando que a possibilidade de ter mais canais disponíveis é uma das

vantagens que associa a esse serviço, chamando a atenção, no entanto, que, na sua

opinião, quantidade nem sempre reflecte qualidade e que ter muitos canais não é

importante para si «Acho que a maior vantagem é poder ter mais canais, como tenho

TV cabo tenho mais opções”, “Por vezes há canais a mais, há muita quantidade e

pouca qualidade...».

Na sessão de observação, Cristina optou por ficar na sala a trabalhar no projecto que

iria levar para o estágio. A TV da sala esteve sempre ligada apesar de Cristina estar

concentrada a trabalhar no seu computador portátil. Na sala encontravam-se

igualmente outros media, como DVD, computador (desktop), aparelhagem e uma

outra TV antiga já sem uso, no chão encostada a uma parede.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

P1. Quais são os seus programas favoritos?

Vejo de manhã o Canal Panda e Disney Channel porque tenho sempre cá o meu sobrinho. E até é giro porque eu nunca esqueci os bonecos. Às vezes também vejo filmes no Hollywood, e séries também, por exemplo Investigação Criminal. E às vezes quando tenho tempo vejo as notícias.

270

P2. Quais os programas de que não gosta?

Aquelas programas da TVI e SIC, tipo aqueles do género Casa dos Segredos, As tardes da Júlia, esses não gosto e não vejo.

P3. Programas habitualmente vê?

Vejo mais filmes e séries.

P4. O que gostas mais de fazer nos tempos livres?

Ir ao cinema, andar por aí com o pessoal, amigos, mas não vou muito. E também gosto de estar aqui, na preguiça, e nessa altura às vezes vejo TV

P5. Como passa um dia normal semana?

Quando não tenho trabalho na escola sou capaz de acordar 11h00 ou 12h00, fico aqui (sofá) até ter vontade de me levantar, ligo a TV e fico a ver. Geralmente quando adormeço aqui tenho sempre a TV ligada e depois quando acordo fico a ver um bocado. Às vezes levanto-me e saio... Depois vou para faculdade e chego tarde a casa. Janto e volto para a sala para ver TV e adormecer. Normalmente a TV ajuda-me adormecer mas não tenho nenhuma no quarto.

P6. E um dia de fim-de-semana?

Acordo e vou para os escuteiros. Sou chefe na secção dos lobitos e como é no Estoril, que é longe, acabo por ficar lá o dia todo. Depois volto e se for sair com amigos visto-me ou então fico em casa e durmo. Domingo ou vou para casa da minha tia ou então estou na rua, depende... Se eu sair na noite de sábado passo domingo quase todo a dormir.

P7. Quantos dias por semana vê TV?

Todos os dias.

P8. Quantas horas?

Mais de três.

271

P9. Vê mais ao fim-de-semana ou durante a semana?

Depende. Talvez veja mais durante a semana.

P10. Normalmente vê sozinha ou acompanhada?

Normalmente vejo mais sozinha, mas por exemplo ao fim-de-semana tenho cá os meus primos e vemos todos juntos. Durante a semana é mais sozinha.

P11. Costuma ver mais TV onde?

Na sala. A TV do meu quarto tive de dar ao meu primo.

P12. Quantas TV têm em casa?

Agora temos uma.

Nós mudamos de casa há um ano e a TV antiga teve um pequeno acidente, ficou partida. Por isso o meu tio emprestou-nos uma TV que ele tinha em casa, mas agora comprámos esta que é nova e muito maior.

P13. Quando compraram a última TV?

Há menos de um mês.

P14. Está a pensar comprar mais alguma TV nos próximos 12 meses?

Quando começar a trabalhar acho que sim. Gostava de ter uma no quarto. Eu gosto muito de estar no meu quarto, mas acabo por sair para poder ver TV.

P15. Costuma usar teletexto?

Não. Mas costumo ver a informação quando mudo de canal, o que vai dar e a que horas.

P16. Já ouviu falar TV digital?

Sim.

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Sabe o que é?

Eu já ouvi falar mas nunca dei muita importância. Não sei explicar.

Explicação do que é TV digital.

P17. Que vantagens associa à TV digital?

Acho que a maior vantagem é poder ter mais canais, como tenho TV cabo tenho mais opções.

P18. Que desvantagens associa à TV digital?

Por vezes há canais a mais, há muita quantidade e pouca qualidade... E tive de reduzir os canais que queria na TV, porque senão eram muitos e era só palha... Não vejo e não me interessa.

P19. Que tipo de TV tem em casa?

TV cabo.

P20. Porque razão tem TV digital?

O motivo foi o Canal Panda, como o meu primo está cá muito tempo precisávamos ter canais com bonecos. E também como preciso de ter Internet e por isso optei por ter um serviço com tudo. E tenho também o telefone pela TV cabo.

P21. O sinal analógico de TV vai ser desligado, sabia?

Não.

Explicação do processo de “switchover”, boxes descodificadoras, forma de aceder ao sinal digital de TV.

P22. Sabe qual é a data limite para o desligamento do sinal analógico de TV?

273

Penso que é capaz de demorar uns meses ou um ano acontecer.

Se lhe desse a escolher entre 2011 a 2020?

Como ainda não tive conhecimento e ainda não aconteceu em nenhuma zona penso que talvez seja só para 2015 ou 2020.

Será desligado neste ano para a sua zona, 2011. E nas restantes zonas em 2012.

Pois... Não sabia... Ainda não tinha ouvido. Penso que 8 meses dá tempo às pessoas, mas se calhar vai ser preciso ajuda para as pessoas mais idosas. Também acho que a maioria das pessoas tem já este tipo de TV e por isso não terá problemas. Mas realmente não sabia, nunca ouvi falar nisso.

P23. Quando não sabe como funciona um determinado equipamento electrónico como resolve?

Vou buscar o guia ou então chamo o meu tio. Ele percebe dessas coisas. Também costumo ir mexendo, vou experimentando.

P24. Acha que usar e instalar TV digital é mais simples ou mais complicado que a TV analógica?

É mais fácil, penso. Temos a informação logo disponível do que vai dar e do que está a dar.

P25. Acha que vai ver mais TV ou menos daqui a 5 anos?

Espero que menos.

P26. Como imagina a TV daqui 10 anos?

Penso que será tudo muito xpto. Acho que toda a gente já terá a TV 3D. E provavelmente não será nada de especial para a altura...

Caracterização de cada indivíduo da família

Agregado familiar

274

Cristina: 24 anos

Antónia: 48 anos

Pedro: 14 anos

Miguel: 17 anos

Localidade

Agualva

Ocupação/ profissão

A minha mãe trabalha no continente e eu estou a estudar e estagiar.

Habilitações

Estou a fazer uma licenciatura.

Nível de rendimento

Eu acho sinceramente que é baixo. Agora só a minha mãe é que está a trabalhar. Mas quando tentei pedir à segurança social um subsídio para a família, subsídio de inserção social, disseram-nos que não tínhamos um rendimento baixo, mas temos. Nós somos 3 estudantes e só a minha mãe é que trabalha.

Usam telemóvel

Sim, desde que existem.

Usam computador

Sim

Internet

Sim

Equipamentos de entretenimento pessoal

Impressora, rádio, TV, computador desktop, computador portátil.

275

Relatório da visita a casa da família 26 (“Gomes”)

12 de Janeiro de 2011

Cacém

Joana (avó): 83 anos, reformada.

Carla (neta): 28 anos, educadora de infância.

José (tio de Carla e Sérgio): 50 anos, funcionário de uma embaixada.

Maria (tia de Carla e Sérgio): 50 anos, desempregada.

Sérgio (primo): 30 anos, técnico na área da televisão.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Gomes”, do Cacém, no dia 12 de Janeiro de

2011.

O agregado familiar dos “Gomes” é composto por quatro pessoas: a avó Joana, de 83

anos, os tios José e Maria (ausentes na entrevista), de 50 anos, e a sobrinha Carla, de

28 anos. À hora da visita estavam em casa também os primos Sérgio e Pedro. Apesar

de não pertencer ao agregado familiar, Sérgio, com cerca de 30 anos, também

participou na entrevista.

Os “Gomes” têm duas televisões por cabo. A televisão da sala é a mais utilizada e

normalmente os “Gomes” vêem televisão todos juntos. A avó Joana, por passar a

maior parte do dia em casa, é a principal consumidora de televisão da família,

Figura 1 – A família “Gomes” associou a TV digital aos conteúdos em Alta Definição

276

passando cerca de dez horas diárias em frente ao ecrã. Enquanto passa a ferro ou

descansa, Joana gosta sobretudo de ver telenovelas. No entanto, não perde um bom

jogo de futebol, assistindo às partidas na companhia dos filhos. «Eu gosto de ver

quando está a dar o jogo», sublinha. «A avó vibra com o futebol», acrescenta Carla. A

sobrinha acompanha a avó nas telenovelas e explica que também gosta de séries.

«Gosto muito de ver séries, tipo CSI, Mentes Criminosas… E novelas. Vejo

especialmente as da SIC, Laços de Sangue, e a outra, Passione. É praticamente isso. E

depois vejo mais AXN e FOX. Não sou muito de seguir séries porque aqueles horários

são todos esquisitos, na minha opinião. Então, o que estiver a dar eu vejo». Já Sérgio

afirma preferir os canais de informação. «Para mim são as séries e normalmente

documentários e notícias. Aqueles canais tipo SIC Notícias e TVI 24». Quanto aos

programas de que não gostam, os “Gomes” são unânimes, sublinhando que

desprezam tudo o que seja baseado em “sensacionalismos”. Secret Story. É que nunca

vi!” garante Carla, que assiste a cerca de 6 horas de televisão por dia. «Programas

sensacionalistas… Há programas que mostram casos de vidas, mas quando são muito

sensacionalistas eu corto logo. Tudo o que seja para vender e fazer aqueles

espectáculos de televisão dá-me nervos. E programas de apanhados também não

gosto. Enerva-me um bocado», completa Sérgio. Em casa dos “Gomes” utiliza-se muito

a internet. Aceder às redes sociais é uma das actividades que Carla e Sérgio

mencionam quando se fala em tempos livres. Os fins-de-semana são a oportunidade

para estarem todos em família, em casa, a ver televisão. Com excepção da avó, toda a

família afirma ver mais televisão nesta altura.

O último televisor a entrar em casa dos “Gomes” chegou há cerca de dois anos e a

família tenciona comprar um aparelho novo nos próximos doze meses. Carla explica

que só estão a tentar organizar-se, para poderem depois adquirir um LCD, como Maria,

a mãe, sonha. «A minha mãe queria outro género de televisão, até porque esta já está

a dar o berro. De manhã então, quando ela liga, é pior. E então estávamos a pensar

comprar outra. Mas também eu disse que não adianta estarmos a comprar outra

televisão, como um LCD – que era o que ela queria – enquanto não mudarmos os

móveis, porque ela não vai caber ali». Na verdade, os “Gomes” também valorizam

bastante outro tipo de equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal tendo,

277

ao longo do tempo, investido em computadores com acesso à internet, consolas de

jogos, uma aparelhagem e um leitor de DVDs.

De acordo com Carla, o teletexto não é muito utilizado pelos “Gomes”, sendo apenas

os tios a procurar este serviço para obter informações sobre a lotaria ou o desporto.

«Não muito. Só às vezes para ver os números do Euromilhões, do Totoloto ou assim…

Ou, às vezes, os meus tios para verem os resultados dos jogos».

No que respeita ao conhecimento, atitudes e expectativas em relação à TV digital,

todos os entrevistados afirmaram já ter ouvido falar no tema (P16.). Enquanto Sérgio

estava mais esclarecido sobre o assunto uma vez que trabalha na área, Carla e Joana

demonstraram-se pouco seguras quando tentaram definir televisão digital. «Eu acho

que… Acho eu, mas não sei se estou certa, vai mais pelos conteúdos da televisão. Por

exemplo, ter canais em HD, em alta definição. Vai mais para outro tipo de televisão.

Por exemplo, esta televisão eu sei que não dá. Apesar de o aparelho que eu tenho, a

box, estar preparada para receber canais em HD, eu sei que esta televisão não dá»,

afirmou Carla, enquanto a avó Joana disse já ter ouvido falar no tema, mas «não saber

bem o que é». Depois de lhes ter sido explicado sucintamente o que é a televisão

digital, Carla continuou a associá-la à Alta Definição. «Associa algumas vantagens à TV

digital? Carla: Sim. Para já essa coisa de ter mais canais, com uma maior variedade de

escolha. E depois os tais canais em HD. Pronto, é a tal coisa, aqui eu nunca vi porque

esta televisão não dá. Eu fico assim a pensar… HD? Como é que será? Para mim a

imagem está boa, mas em HD ainda deve ter mais nitidez». Carla explica que a família

aderiu ao serviço de televisão por cabo para ter uma maior grelha de canais, que

incluísse o GNT, canal da Globo que Maria gosta muito.

Questionadas sobre se sabiam que o sinal analógico de TV, com os 4 canais gratuitos,

será desligado, Carla e Joana afirmaram não estar a par do processo, nem fazer ideia

de quando este poderá acontecer. No entanto, após lhe ter sido pedido que apontasse

uma data, Carla demonstrou ter a noção de que o “switch-off” está para breve. «Até

ao primeiro trimestre do próximo ano?», sugeriu.

No que toca ao consumo de televisão nos próximos anos, Carla considerou que verá

menos televisão do que actualmente, porque espera «não ficar sedentária». Já Sérgio

(depois de se ter ausentado por alguns minutos da entrevista) explicou que já vê pouca

278

televisão, mas pretende ver ainda menos. «Sem dúvida que espero ver menos

televisão porque quero fazer mais coisas». O que também é certo para Sérgio é que a

televisão daqui a 10 anos será muito diferente do que é hoje, sinalizando novos

tempos, mas trazendo também novos perigos. «Sem dúvida que vai ser diferente.

Muito diferente. Mais interactiva… Esta palavra é um bocado “cliché”, mas mais

proactiva. Além da interactividade que o utilizador vai ter, a televisão vai ser quase

como um computador. Ou seja, vai permitir comunicar com o exterior e dar depois

esse “output”, esse “feedback” (…) Mas toda a tecnologia tem um lado perverso. E

como, no início, nós tínhamos aquela internet relativamente “clean”, de repente

começaram os vírus, os banners, pop-ups, aquelas coisas todas… E eu tenho a certeza

de que a televisão vai pelo mesmo caminho».

A conclusão da entrevista deixou esta última ideia no ar. Para Sérgio, o futuro passará

pelo surgimento de muitas mais aplicações, que permitirão ao telespectador interagir

com a televisão e tirar proveito do seu constante desenvolvimento.

Transcrição da entrevista semi-estruturada I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Carla: Gosto muito de ver séries, tipo o CSI, Mentes Criminosas… E novelas. Vejo especialmente as da SIC, Laços de Sangue, e a outra, Passione. É praticamente isso. E depois dos canais generalistas, vejo mais AXN e FOX. Não sou muito de seguir séries porque aqueles horários são todos, na minha opinião, esquisitos. Então, o que estiver a dar eu vejo.

Sérgio: Para mim são as séries e normalmente documentários e notícias. Aqueles canais tipo SIC Notícias, TVI 24 basicamente…

E a avó?

Joana: Novelas…

Aquelas dos nossos quatro canais?

Joana: Sim.

Tem alguma preferida?

Joana: Gota de sangue.

Laços de Sangue…

279

Joana: Sim.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Carla: Secret Story (risos). É que nunca vi!

Sérgio: Programas sensacionalistas… Há programas que mostram casos de vidas, mas quando são muito sensacionalistas eu corto logo. Tudo o que seja para vender e fazer aqueles espectáculos de televisão dá-me nervos. E programas de apanhados também não gosto. Enerva-me um bocado.

Carla: Ah isso eu gosto.

E a avó? Tem algum programa de que não goste?

Joana: Não (risos).

Sérgio: Programas que tenham cobras a minha avó não gosta (risos).

Também havia um programa desses antigamente, que era com o Jorge Gabriel. Não era?

Sérgio: Ah, ponha, ponha! Era qualquer coisa assim do género. Mas esse ficou, marcou.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Carla: Estar na internet (risos). Eu acho que isso é mais assim um vício… Ou está-se a tornar um vício.

O quê? O Facebook?

Carla: Pois, agora o que está a dar é o Facebook.

Sérgio: Eu, como a minha área de trabalho tem também como ferramenta a internet, nos tempos livres utilizo. Mas gosto muito de sair, de namorar, estar com os amigos, conduzir…

Carla: Karaoke…

Sérgio: Karaoke!

Carla: Eu acho que isso também depende muito das alturas do ano. No inverno, como eu ando a pé, fico em casa. Mas sempre que posso saio para ir ao centro comercial, ao cinema, essas coisas assim.

Joana: Olhe, eu não gosto de fazer nada. Gosto de estar quieta (risos).

Quando tem oportunidade, gosta de descansar…

Joana: Sim, é descansar.

E vê televisão?

280

Joana: Sim, vejo televisão.

E música? Gosta de ouvir?

Joana: Gosto. Gosto muito.

E, se calhar, também gosta de fazer as tarefas da casa… Não é?

Joana: Sim. Gosto muito.

Carla: Adora. A avó adora. Não é vó?

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Carla: Eu vou trabalhar, venho… Como fico aqui estas quatro horas, vejo televisão ou, às vezes, como eu trabalho com crianças, se tiver algum trabalho para adiantar adianto. E depois vou trabalhar e só despego às 19h30. Ver telejornal, novela… Naquele meio termo ou fico a ouvir música ou a organizar as músicas no meu computador, o que já ando a fazer há mais de um ano. E pronto, fico assim a organizar coisas no computador.

Joana: Eu gosto de ver quando está a dar o jogo. Gosto de ver jogo.

Jogo de futebol?

Joana: Sim.

Qual é o seu clube?

Carla: Vá, diga a verdade vó! (risos)

Joana: Não. Não tenho clube. Gosto de todos.

Carla: A avó esconde, mas lá no fundo nós sabemos que a avó é do Sporting…

Joana: Não sou nada.

Carla: Mas pronto, a avó diz que não (risos). Mas a avó gosta muito de futebol. A avó vibra. E vê sempre os filhos a jogar também.

E o que é que costuma fazer num dia de semana normal?

Joana: A passar a ferro, a lavar a loiça…

P6. Conte como passa o fim-de-semana?

Carla: Ao fim-de-semana é um bocadinho diferente… Também aproveito para não estar em casa. Saímos daqui de manhã, a minha mãe normalmente vai sempre fazer as compras para a semana, na praça, depois vamos buscá-la… E depois do almoço normalmente saio sempre. Aos domingos é quando vêm os tios almoçar sempre cá em casa e acabamos por ficar aqui. Sai-se da mesa tarde, ficam todos na conversa…

E a avó? No fim-de-semana faz alguma coisa de diferente?

281

Joana: É mais ou menos a mesma coisa.

P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)?

Carla: Todos.

Joana: Também vejo todos os dias.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Carla: Uma média de seis horas, mais ou menos.

Joana: Dez horas.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Carla: É mais ao fim-de-semana.

Joana: A mim é mais durante a semana.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Carla: Mais acompanhados.

P11. Onde vêem mais televisão?

Carla: Aqui na sala. Temos mais uma televisão, no quarto do meu tio, mas é aqui que vemos mais. Normalmente quando estão cá os tios todos, para as crianças poderem ver os desenhos animados e não fazerem confusão, eu digo-lhes para irem lá para dentro ver. Mas de resto é na sala.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Carla: Duas. Uma na sala e outra no quarto. P13. (família) Quando compraram o último televisor? Carla: Não me lembro bem. Há dois anos mais ou menos. P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses? Carla: Eu estou. A minha mãe queria outro género de televisão, até porque esta já está a dar o berro. De manhã então, quando ela liga, é pior. E então estávamos a pensar comprar outra. Mas também eu disse que não adianta estarmos a comprar outra televisão, como um LCD - que era o que ela queria - enquanto não mudarmos os móveis, porque ela não vai caber ali. P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

282

Carla: Não muito. Só às vezes para ver os números do Euromilhões, do Totoloto ou assim… Ou, às vezes, os meus tios para verem os resultados dos jogos.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Carla: Sim.

E sabe-me dizer, mais ou menos, o que é a televisão digital?

Carla: Eu acho que… Acho eu, mas não sei se estou certa: vai mais pelos conteúdos da televisão. Por exemplo, ter canais em HD, em alta definição. Vai mais para outro tipo de televisão. Por exemplo, esta eu sei que não dá. Apesar de o aparelho que eu tenho, a box, estar preparada para receber canais em HD, eu sei que esta televisão não dá.

E a avó? Já alguma vez ouviu falar em televisão digital?

Carla: Já, mas não sei bem o que é.

É-lhes explicado sucintamente o que é a televisão digital e a Televisão Digital Terrestre.

P17. Associa algumas vantagens à TV digital?

Carla: Sim. Para já essa coisa de ter mais canais, com uma maior variedade de escolha. E depois os tais canais em HD. Pronto, é a tal coisa, aqui eu nunca vi porque esta televisão não dá. Eu fico assim a pensar… HD? Como é que será? Para mim a imagem está boa, mas em HD ainda deve ter mais nitidez.

P18. Que desvantagens associa à TV digital?

Carla: À partida não.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Carla: TV Cabo.

Têm algum motivo em especial para ter esse tipo de televisão?

Carla: Na altura, quando eles vieram pôr o cabo foi mais por causa do canal GNT, que a minha mãe adorava. O GNT da Globo. Era principalmente por isso.

P23. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Carla: Não.

Tem ideia de quando isso vai acontecer?

Carla: Não faço ideia.

Pode apontar uma data?

283

Carla: Até ao primeiro trimestre do próximo ano?

2012?

Carla: Sim.

É explicado resumidamente o processo de desligamento do sinal analógico de televisão.

Sérgio: Sim, eu estou informado sobre isso. É a minha área. Por acaso nós, dado o serviço que temos, não nos afecta muito. Mas a próxima televisão que virá para aqui, já virá equipada com TDT.

P29. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação? Carla: Para já tento ver no papel. Fico lá a ler, a ler… E assim eu costumo resolver a coisa.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Carla: Devo ver menos. Espero que sim. Não fico tão sedentária. Espero eu.

Sérgio: Eu espero ver menos. Já vejo pouca. A maior parte que vejo é quando estou aqui em Lisboa. Mas sem dúvida que espero ver menos de televisão porque quero fazer mais coisas.

E depois também tem muito o hábito do computador, não é?

Sérgio: Sim.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos? Acham que vai ser diferente?

Sérgio: Sem dúvida que sim. Muito diferente. Mais interactiva. Mais… Esta palavra é um bocado “cliché”, mas mais proactiva. Além da interactividade que o utilizador vai ter, a televisão vai ser quase como um computador. Ou seja, vai permitir comunicar com o exterior e dar depois esse “output”, esse “feedback”.

Estão a surgir agora muitos serviços de interactividade, como a possibilidade de se procurar emprego através da televisão, ou serviços ligados à saúde…

Sérgio: Exactamente. Podemos ver a evolução, que começou pelo simples teletexto – esses comandos simples – e passou para a parte do cabo, com o Meo, com a interactividade, e agora o futuro vai ser essas aplicaçõezinhas através da televisão, que vão permitir interagir.

E acha que vai ser útil termos essas coisas na televisão? Ou com a internet…

Sérgio: Toda a tecnologia tem um lado perverso. E como, no início, nós tínhamos aquela internet relativamente “clean”, de repente começou os vírus, os banners, pop-

284

ups, aquelas coisas todas… E eu tenho a certeza de que a televisão vai pelo mesmo caminho. A invasão da nossa privacidade, sem dúvida que sim. Como é óbvio, eles querem potenciar o negócio o máximo possível. Já vemos isso quando vamos ao youtube, por exemplo. Dantes o youtube não tinha quase publicidade nenhuma. Agora sempre que vais fazer uma pesquisa no youtube, aparece sempre qualquer coisa antes. Não é a mesma coisa. Esse é o lado mais perverso e até mais perigoso da internet. E, sem dúvida, que com a televisão vai acontecer a mesma coisa. Por exemplo, no futuro, está aqui uma criança a ver o canal Panda e, de repente, aparece publicidade, sei lá, de viagens ou do que seja.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Joana: 83 anos. Carla: 28 anos. José (tio de Carla e Sérgio): 50 anos. Maria (tia de Carla e Sérgio): 50 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Cacém. P38. Ocupação e Profissão Joana: Reformada. Carla: Educadora de Infância. José: Funcionário da embaixada de Angola. Maria: Desempregada. Sérgio: Técnico na área da televisão. P39. Habilitações académicas Carla: 12º ano. Chegou a frequentar o Ensino Superior, mas não terminou o curso. Sérgio: 12º ano e um curso de informática. José e Maria têm a escolaridade obrigatória. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Quatro pessoas. (Joana, Carla, Maria e José) Sérgio, o primo de Crla, também participou na entrevista. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam. Há cerca de 10 anos. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Leitor de DVDs , aparelhagem e consolas de jogos.

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Relatório da visita a casa da família 27 (“Brito”)

Dia 17 Janeiro 2011

Cacém

Rita (mãe): 47 anos, desempregada.

Inês (filha): 20 anos, estudante.

Jorge (irmão): 35 anos, de baixa médica.

Este relatório realiza a síntese da entrevista realizada no dia 17 Janeiro de 2011 na

casa da família Brito, do Cacém.

O agregado familiar dos Brito é composto por duas pessoas, a mãe Rita e a sua filha,

Inês. Temporariamente, o irmão de Rita também está a residir na sua casa,

encontrando-se neste momento no hospital por ter sofrido um acidente de trabalho.

Após as operações que irá realizar no hospital, Rita refere que o irmão irá ficar na sua

casa para que o possa ajudar pois refere que o mesmo irá ficar com mobilidade

reduzida, necessitando do seu apoio.

Rita encontra-se desempregada neste momento. Afirma ter muitos problemas na sua

vida pessoal que lhe tiram a vontade de ver televisão «agora eu não tenho mesmo é

cabeça para ver televisão»; «tenho muita coisa na minha cabeça, não é que a TV não

seja importante, é a minha cabeça...». No entanto, quando questionada sobre o que

gosta de ver, Rita afirma gostar de ver programas de entretenimento como As Tardes

da Júlia, o telejornal, RTP África e RTP1 «Gosto de ver As Tardes da Júlia (...) o que

gosto de ver na Júlia é a comparação de vida, o debate que ela ali faz com a vida das

pessoas, é isso que gosto de ouvir (...) e o telejornal também vejo um bocadinho, o da

RTP África também gosto, assim como o Português».

Quando se encontrava a trabalhar, Rita refere que via mais televisão e gostava de ver

As Tardes da Júlia. No entanto, neste momento, são raras as vezes que liga a televisão

e, muitas vezes quando o faz, é para verificar as horas «às vezes gosto de abrir (a

televisão) mas é só para controlar as horas para sair... é isso que faço com TV». Rita

conta que está a passar uma altura muito difícil e muito complicada na sua vida, tendo

286

perdido o interesse em tudo, a única coisa que deseja é conseguir arranjar um

trabalho. Refere que durante a semana é o que faz: nos dias em que está melhor

emocionalmente, sai para a rua à procura de trabalho; nos outros dias, aqueles em que

se sente muito em baixo, diz ficar em casa, deitada a chorar ou a pensar na vida.

A televisão parece não ter relevância no seu dia-a-dia, raramente a liga, chegando a

passar dias sem a ligar. No entanto, afirma acompanhar a filha a ver TV quando a

mesmo se encontra vendo algum programa na TV. Rita apresentou-se preocupada em

relação ao serviço de TV que tem em sua casa, sentindo que foi enganada. Neste

momento, possui AR Telecom, um serviço a que aderiu numa campanha promocional.

Contudo, refere que não lhe foi explicado detalhadamente todos os aspectos do

serviço e da campanha que usufruiu, afirmando que neste momento lhe estão a cobrar

mais do que aquilo que ela calculou de início. Este motivo levou Rita a tentar cancelar

o serviço. No entanto, viu-se igualmente impedida de o fazer uma vez que o contracto

que assumiu implica a permanência do serviço por 18 meses sob a pena de pagamento

de uma caução elevada. Rita diz ainda que já teve MEO e teve de rescindir do mesmo

devido ao elevado valor. Ao longo da entrevista, a mãe desta família apresentou o seu

descontentamento com os diversos serviços de TV paga, o atendimento que os

mesmos proporcionam aos clientes e as cláusulas que os contractos incluem.

Transcrição da entrevista semi-estruturada

P1. Quais os programas favoritos?

Ouvir um bocadinho do telejornal, mas se estou a trabalhar mesmo não tenho tempo... Chego a casa e tenho de fazer o jantar e aquilo que há para fazer e não tenho tempo, e vou para a cama descansar... Quando não estou a trabalhar é que vejo assim os programas da Júlia, mas já passou o ano, ela também agora está na SIC, mas agora não tenho oportunidade de ver a Júlia, e de resto não sei, agora eu não tenho mesmo é cabeça para ver televisão... O que gosto de ver na Júlia é a comparação de vida, o debate que ela ali faz com a vida das pessoas, é isso que gosto de ouvir... e como sou uma pessoa sentimental às vezes choro, mas é isso que gosto de ouvir. E o telejornal também vejo um bocadinho, o da RTP África também gosto, assim como o Português.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

287

Não sei porque eu não sou de ver muita televisão. E se eu não gostar há pessoas que gostam porque uma vez disseram que meteram ali o pack família e isso eu não gosto e não quero. E até já lhes disse que na minha casa eu não quero e aquilo não é para mim, cobraram-me... e não é para mim...

P3. Que tipo de programas habitualmente vê? Via As Tardes da Júlia.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Nos tempos livres o que eu gosto de fazer é trabalhar mesmo aqui em casa, organizar tudo, sair muito é que eu não gosto, isso já é da minha natureza, eu fico em casa.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Eu sou capaz de ficar um dia sem abrir a televisão, isso na verdade não é muito importante e eu na minha cabeça tenho muitas coisas para pensar. Eu para ter a minha vida activa, a minha vida a 100% é quando estou a trabalhar, quando tenho vida organizada e só nessa altura que me posso divertir. Mas como estou assim (desempregada), francamente para abrir a televisão custa-me... Assim não... Eu sou assim, não é de agora, uma pessoa para ter vida feliz tem de estar a trabalhar e como não estou a trabalhar não estou bem... Eu estive doente, tive de ir para o meu país para fazer umas coisas de uso tradicional e agora estou aqui a fazer consultas e nunca viram a doença, ninguém sabe e por isso fiquei anos e anos a voltar para o meu país a tentar seguir essas coisas e agora já estou mais para ficar cá... E como tenho uma filha no 11º ano, tenho de trazer para cá para ela acabar os estudos e para ajudar o pai, pois ele também está doente... E por isso, está a ver, tenho muita coisa na minha cabeça, não é que a TV não seja importante, é a minha cabeça...

(repetição da pergunta)

Levanto cedo, e se não tenho coisas para fazer às vezes fico em casa e fico sem forças, sem vontade, e fico deitada, prefiro ficar deitada às vezes em vez de ir para a rua procurar trabalho e fico a chorar, mesmo que não durma, prefiro ficar... E também tenho o meu trabalho, como fiz o uso tradicional às vezes tenho de sentar e pensar na cerimónia que fui fazer à minha terra, é uma coisa que faz parte da minha vida e às vezes tenho de ficar sentada a pensar nisso.

P6. Conte como passa o fim-de-semana? No final de semana é igual à semana, a minha vida foi sempre trabalho-casa, mercado-casa e igreja. Agora nem à igreja vou... Vai só a minha filha, a minha cabeça não dá... Não dá mais. Eu quero estabilizar com um trabalho para me poder ajudar a mim e à minha filha, essa é a minha preocupação: arranjar um trabalho. Já fiz muita coisa e agora não tenho... Eu fazia qualquer coisa...

288

P7. Quantos dias por semana vê televisão (em média)?

Quando estou em casa e quando tenho tempo, e se estiver cá o meu irmão e minha filha, eu até vejo. Mas eu não tenho tempo... Estou aqui mas não quero... E de vez em quando lá fico ouvindo mas depois fico despercebida a pensar noutra coisa.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Vejo um bocadinho, as horas não sei... Pode ser uma hora, mas não estou concentrada na TV.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Eu não estou a trabalhar é indiferente.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Mesmo que eu esteja em casa eu não vejo quase... Mas estou sozinha. Mas mesmo que venha a minha filha, ela tem de estudar e por isso eu não a deixo ver. Ela gosta de estudar com TV ou rádio, mas eu não deixo. E às vezes gosto de abrir, mas é só para controlar as horas para sair... é isso que faço com TV.

P11. Onde vê mais televisão?

Na sala.

P12. Quantos televisores têm em casa? Em que divisões? (Quantas divisões tem a casa?)

Tenho uma no quarto e uma na sala, mas não abro.

P13. Quando compraram o último televisor?

Hum... Há dois anos, acho.

P14. Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Não.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura? Não sei o que é... Nem sei mexer...

289

Depois de melhor questionada: Sim, aparece escrito o que está a dar quando mudo de canal, consigo ver sim.

P16. Já ouviu falar em TV digital?

Não.

(Explicação do que é TV digital).

P19. Que tipo de TV tem em casa?

Não sei... (depois de ver a TV responde). AR Telecom.

P.17. Que vantagens associa a TV digital

Não sei.

P. 18. Que desvantagens associa a TV digital

Não sei...

P20. Porque razão tem TV digital?

Não sei...

P21. O sinal analógico de TV vai ser desligado, sabia?

Não.

(Depois de ouvir falar sobre os preços dos descodificadores)

Desculpe mas há pessoas que não querem pagar TV. Mas claro, também há pessoas que precisam ter mais canais mas por vezes as coisas complicam porque as pessoas que estão no terreno, os operadores, quando querem sensibilizar falam da maneira como querem ganhar. Sensibilizar é explicar uma coisa detalhadamente, bem explicada, não é assim e depois fugiram. Assim como a AR Telecom. Eu não sei se é você ou outra pessoa, mas sempre sei que falo no telefone com uma pessoa, não sei se é senhora se é menina, mas sei que falo com uma pessoa sobre o AR Telecom porque o operador esteve cá, fez o que fez e nunca mais apareceu... Conversamos uma coisa e saiu o contrário. E é por isso que tento conversar com eles, porque eu não me

290

interessa, não tenho tempo mas tenho sempre a minha filha e o meu irmão, e eles gostam... mas para explicar têm de explicar de forma que uma pessoa compreenda.

O operador que esteve aqui disse que eu devia pagar 22 euros por mês. E disse que ele desfazia o contracto com o MEO, mas não desfez nada e agora tenho andado a pagar as duas. O MEO são 150 euros! Tudo porque ele não foi lá! Já liguei para AR Telecom e eles respondem que o senhor não tinha de fazer isso, que era um favor. Agora o meu irmão é que teve de lá ir.

E um dia fui à estação e foi lá que me informaram que agora AR Telecom está numa campanha. Por isso é que é 22 euros e depois de passar um ano, passa para 40 e tal euros. Foi lá esse senhor que me informou bem. Por isso já disse à minha filha que temos de acabar com essa coisa.

Foi uma outra menina da nossa terra que também pôs e aconteceu o mesmo. O que me importa é que a minha filha está a estudar e precisa dessas coisas, como internet. Isso é que me interessava, a internet. E eu disse que podia ser, eram 22 euros e passado um ano ficava por 24 euros. E eu disse que sim.

E agora, sem dinheiro para procurar casa para ficar, porque o senhorio traz pessoas aqui a esta casa quase todos os dias que é para mostrar a pessoas para comprar. Mas a casa é alugada pela minha irmã e ela não me disse nada, quem paga sou eu porque ela não está. Eu disse que era melhor eu desfazer o contracto mas agora é que disseram que tinha de ficar no contracto por 18 meses, senão temos de pagar 300 e tal euros. Para desfazer seriam 300 e tal euros! Por isso eu disse que não valia a pena, não vou pagar esse valor e ainda mais ficar sem os canais, mas isso já uma aldrabice... Vocês têm de avisar os operadores que estão no terrenos que têm de sensibilizar melhor, para uma pessoa como eu não entrar nestas coisas... E quero é que tirem o nome da minha filha e coloquem o meu ou o da minha irmã. Mas nunca mais ninguém apareceu...

(...)

P22. Sabe quando é a data limite para desligamento analógico?

Não faço a mínima ideia

(explicação da data limite e das zonas experimentais)

P.23. Quando não sabe como mexer com um determinado aparelho electrónico como resolve a situação?

Eu quando não sei, brinco com o telemóvel para conhecer, ou então passo numa loja. Mas quanto à TV o aparelho não sei quê, eu não tenho tempo para pôr música, eu sei cantar e invento as minhas músicas ou canto músicas da Igreja.

291

Então quando não sabe funcionar com um aparelho o que faz é pedir ajuda?

Sim, é isso. E como eu disse esse canal “pack família” não gosto porque todos nós fazemos filme, não vale a pena pagar para ver filme na TV. Aqui não precisamos, todos fazem filme, não há ninguém que não faça filme, é homem com homem, é homem com mulher, todos fazem filme.

P.24. Usar TV digital é mais simples ou mas complicado que TV analógica

Não sei.

P. 25. Daqui a 5 anos acha que vai ver mais TV ou menos do que vê hoje em dia?

Se tiver mais dinheiro, se me derem essa possibilidade, eu vejo mais TV. Com uma vida melhor, devo ver mais TV: odisseia, canal geográfico. Eu gosto.

P26. Como imagina que a TV venha a ser daqui a 10 anos?

Vai ser diferente. Todas as coisas agora são coisas para ensinar os miúdos, e coisas que os miúdos gostam. O que estão a fazer no mundo é pensar que as coisas que vemos na TV são coisas reais, às vezes são exemplos do mundo, mas pegam nas coisas e usam como coisas boas... Por isso se calhar, mais à frente, acho que vai dar mais problemas a TV. Problemas com os miúdos que estão a nascer com cabeça fraca, porque uma pessoa madura não vai pegar nos exemplos da TV para pôr em prática, mas agora mais à frente com esses filmes os miúdos quando virem vão pôr na prática e é por isso que há muitos crimes, roubos, e muitas coisas através dos filmes. TV é muito bom mas para quem tem conhecimento ou para quem tem quem lhes explique essas coisas que é para as crianças terem noção, senão as crianças pegam no exemplo que vêm na TV e metem em prática e depois já é tarde. Depois, já está...

Caracterização de cada indivíduo da família

Agregado familiar

Vivem 3 pessoas: Eu que tenho 47 anos, o meu irmão que tem 35 e minha filha que tem 20 anos.

Ocupação

Eu estou desempregada, o meu irmão está doente no hospital, teve um acidente, tiveram de lhe tirar dois músculos nos joelhos e tem o maxilar torto e ainda está no hospital. A minha filha a estudar, está a tentar estudar, está difícil, e a mãe não está ajudar. Vamos ver.

292

Habilitações

Não tenho escola nenhuma. Vim da Guiné em 2010. Estudei no meu país, acho que corresponde ao 12º ano. Fiz curso em educação física e desporto lá.

Usa de telemóvel?

Sim.

Usa de computador?

Não sei usar, só a minha filha e o meu irmão.

Usa Internet?

Só a minha filha.

Aparelhos de entretenimento pessoal

Não uso mais nada, é difícil. Nem no Natal e na passagem de ano eu abri.

293

Relatório da visita a casa da família 28 (“Cardoso”)

21 de Janeiro de 2011

Alenquer

Clara (mãe): 67 anos, secretária.

Jorge (pai): 70 anos, engenheiro agrónomo.

Jacinta (avó): 89 anos, reformada.

Pedro (filho): 29 anos, enólogo.

Carlos (filho): 35 anos, enólogo.

Sofia (filha): 37 anos, arquitecta.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Cardoso”, de Alenquer, no dia 21 de Janeiro

de 2011.

O agregado familiar dos “Cardoso” é composto por sete pessoas: os pais, Clara e Jorge,

de 67 e 70 anos, os filhos, Pedro, de 29 anos, Carlos, de 35 anos e Sofia, de 37 anos, e a

avó, Jacinta, de 89 anos. A visita começou pelas 14h00 e durou cerca de uma hora e

dez. Na entrevista participaram os pais, Clara e Jorge, e um dos filhos, Pedro, uma vez

que Jacinta estava a descansar e o resto da família não se encontrava em casa. A

Figura 1 – Na sala de estar da família “Cardoso”, há sempre jornais e revistas do dia. Há momentos em que os “Cardoso” preferem ler a imprensa a ver TV

294

família Cardoso tem seis televisores (na copa, em duas salas e nos quartos). Pedro é o

único que não tem televisão no quarto e parece ser o mais independente da família

em relação ao aparelho. O jovem afirma retirar do computador o entretenimento de

que necessita (filmes, música, redes sociais, etc.) e assume que tem visto cada vez

menos televisão. Apesar de passar menos de uma hora por dia em frente ao televisor,

explica que os seus programas favoritos estão ligados à cultura e ao desporto. «Eu

gosto muito de programas culturais, do National Geographic e desse tipo de canais

(Odisseia, Discovery, Travel). Gosto de alguns filmes também. Séries não vejo muito…

Eu cada vez vejo menos televisão. Há dias que compensam os outros, mas vejo menos.

Evidentemente que depois também gosto de canais de desporto, sobretudo de alguns

desportos radicais e de futebol também. Na Eurosport e na Sport TV às vezes

encontram-se alguns programas nesse sentido», explica Pedro, acrescentando que vê

poucos canais nacionais pela falta de qualidade destes. Ao contrário do resto da

família, o computador é o passatempo preferido de Pedro. «É mais o computador. E lá

vejo muitos filmes também. Porque enquanto no computador nós podemos escolher

os filmes que realmente queremos ver, na televisão estamos limitados ao que eles

podem pôr», argumenta o jovem. Já o pai, Jorge, confessa que, para além da leitura e

dos momentos em que dormita, quando está em casa, a sua principal actividade é ver

televisão. «As notícias, a Sport TV porque gosto de ver o futebol e gosto de alguns

programas de debate de actualidades, nomeadamente o Prós e Contras, da Fátima

Campos Ferreira. E depois, às vezes, também vejo um filme ou outro. E tudo quanto

são espectáculos de cariz português, seja teatral – o que a televisão dá muito pouco –

espectáculos de variedades, confesso que também gosto e procuro ver», conta o

engenheiro agrónomo. Jorge afirma ver entre uma a duas horas de televisão por dia,

mas tem uma opinião muito crítica em relação aos conteúdos. «Eu não gosto do lixo. E

realmente as nossas televisões, os nossos canais – sobretudo a SIC e a TVI – são uma

coisa abaixo de cão (…) Há ali uma lógica, um fio condutor, que se manifesta em todas

as circunstâncias. Por exemplo, relativamente às notícias, eu acho que o que seria

óptimo para essa estratégia da SIC e da TVI era o sangue a correr pela valeta e

intervenções em directo e tal. Acho que isso era o máximo para eles. Em todo o caso, o

menos mau da SIC e da TVI são as notícias. O que mais me choca porque

295

constantemente faz apelo ao anti-valor, à anti-cultura, ao anti-sociável. Estes canais

fazem apelo aos gostos mais medíocres da sociedade portuguesa», considera. As

críticas de Jorge recaem sobretudo nos operadores privados de televisão. Quanto à

RTP1 e RTP2, Jorge considera que estes têm prestado um verdadeiro serviço público,

apesar de sentir a falta de mais produção nacional. «Nitidamente. Confesso que não

faço grandes reparos ao canal 1 e 2 da RTP. Acho que são dois canais que se

complementam. O canal 2 nitidamente mais erudito, que ignora e escamoteia

completamente a problemática das audiências, até porque nem tem necessidade disso

porque não tem publicidade. Por outro lado, a crítica que faço não é por aquilo que

apresenta, mas por aquilo que não apresenta. Ou seja, a produção nacional é

realmente modesta. Uma coisa a que eu assisti, durante muito tempo, foi a uma certa

importância do teatro na televisão. Hoje é raríssimo». Por seu lado, Clara, que afirma

ver duas horas de televisão por dia, concorda com o marido e o filho quando estes

criticam alguns programas portugueses de entretenimento, mas lembra que também

se produzem alguns conteúdos de qualidade nesta área. «Dos “reality shows”, houve

um ou outro que eu gostava. Que eram aqueles primeiros da Operação Triunfo.

Realmente apareciam jovens com muito talento. Confesso que estes dois últimos não

me debrucei sobre eles. Sou um bocado suspeita, mas não sou a única a ter esta

opinião. Os dois primeiros programas eram feitos pela Catarina Furtado, os dois

últimos pela Sílvia Alberto e é notória a diferença dos programas de uma para a

Figura 2 – A família “Cardoso” tem seis televisores em casa e apenas um deles não tem mais do que quatro canais

296

outra». A propósito da questão das “estrelas” da TV, a família “Cardoso” também

critica o facto de as “caras” dos canais mudarem constantemente de estação. «A lógica

da programação da SIC e da TVI é muito semelhante e concorrente, de tal forma que

as estrelas de uns são contratadas para os outros», lembra Jorge. Normalmente Clara

refugia-se nos canais temáticos como a FOX - que tem os filmes policiais de que gosta -

o Discovery ou o National Geographic. Apesar de a casa dos “Cardoso” estar repleta de

televisões, é hábito verem mais televisão em família do que sozinhos, sobretudo na

sala de estar. Como referência do ano em que compraram o último televisor, a família

tem o Euro 2000, não estando prevista a compra de mais nenhum nos próximos

tempos.

A família “Cardoso” não usa teletexto. Pedro explica que não se justifica a procura de

informação através deste serviço. «Existe a vantagem agora nestas boxes de aparecer

a informação do canal quando se muda. E aí dá-nos logo a informação do que está a

acontecer naquele momento e do que irá acontecer a seguir».

Quanto ao uso, conhecimentos e expectativas em relação à TV Digital, a família

“Cardoso” demonstrou não estar completamente alheia ao tema, mas não dispunha

de informação suficiente sobre o assunto. Clara, Pedro e Jorge afirmaram já ter ouvido

falar na TV Digital, mas apenas Pedro foi capaz de apontar uma vantagem deste

sistema de transmissão, sugerindo que a televisão digital terá «provavelmente mais

nitidez». Clara explicou que ouviu falar no assunto através dos media, sobretudo na

rádio local. «Por acaso agora tem-se falado muito, nomeadamente o presidente da

Câmara, que disse que Alenquer vai ser pioneira na era da… (…) Zona-piloto para a

transição. Tem-se falado, mas ninguém sabe nada, ninguém sabe explicar nada e

portanto anda tudo assim…», lamentou Clara, acrescentando que o próprio autarca de

Alenquer não está informado sobre o processo de “switch-off” nas zonas-piloto. Da

pouca informação, aqui e ali, que foi recebendo, Clara ficou com a ideia de que terá

que adaptar a sua televisão à nova era, explicando o processo com algumas

hesitações. «Quando o sistema for desligado, estas televisões vão deixar de funcionar,

mas há hipótese de… De haver qualquer coisa que se adapte e que… (…) A única coisa

que sei é que será necessária uma adaptação. Deitar fora e comprar um já digital. Mas

ninguém sabe nada». Para Jorge, toda esta conversa é uma novidade. O engenheiro

297

agrónomo até brinca com a família dizendo «Vocês não me dizem nada…». Pedro e

Clara já tinham, de facto, ouvido falar no desligamento do sinal analógico. «Pelo facto

de sermos um dos concelhos pioneiros e piloto para o desenvolvimento dessa nova via

digital, evidentemente que se fala», diz Pedro. Quanto à data-limite para o processo, o

jovem imagina que seja «brevemente», mas não sabe ao certo quando, enquanto a

sua mãe aponta para Maio a data-limite do “switch-off” em Alenquer. Os “Cardoso” só

têm TV por satélite na televisão da sala. As restantes televisões recebem o sinal

analógico terrestre de televisão e, por isso, a questão de poder ter que vir a comprar

um descodificador coloca-se. Para Clara, «quanto menos tiver que gastar, melhor»,

mas o valor de 40/50 euros por descodificador é «justo», no ponto de vista da família.

No entanto, visto que teriam que comprar mais do que um descodificador, por terem

várias televisões, começam a colocar a hipótese de terem que «reduzir» o número de

televisores lá de casa. «Pois, tinha que se reduzir ou, pelo menos, não fazer todas ao

mesmo tempo», explica Clara, enquanto o filho mais novo diz que, se a casa fosse dele,

«estaria disposto a dar pouco» para continuar a ver televisão, já que esta é um

elemento secundário na sua rotina. Depois de lhes ter sido feita uma breve explicação

sobre o processo de transição para o digital, os “Cardoso” assumiram que este faz

parte da evolução tecnológica, mas consideraram que a motivação para mudar não é

muita. «O progresso é assim não é? Ninguém acha bem, toda a gente refila, mas

depois acaba por aceitar (…) Estou conformado com isso. Por outro lado, lá arranjaram

maneira de a gente pagar mais qualquer coisa», sugere Jorge. Clara considera que

«não há motivação» para mudar, e Pedro apoia o argumento da mãe, dizendo que a

melhoria de imagem e som não são suficientes. «E, de facto, não será uma mais-valia,

na minha opinião, se for só pela melhoria da imagem e do som. O que não falta aí hoje

são televisões com essa qualidade fantástica. Acho que não é uma mais-valia neste

momento a TV Digital ser só por isso», conclui o jovem.

No que toca às projecções sobre o futuro da televisão, os “Cardoso” começam por

dizer que não têm muitas ideias sobre o que gostariam de ver ou aceder no ecrã, até

porque o consumo que fazem não é muito significativo. Jorge mostra-se satisfeito por

ter uma «boa gama de oferta de canais» que lhe permitem escolher os conteúdos em

função das suas preferências. «É uma questão de paciência» para encontrar algo de

298

qualidade. Ainda assim, Jorge lembra que gostava que a televisão fosse uma espécie

de montra para a produção artística em Portugal. «Que fosse um estímulo para os

profissionais portugueses poderem caminhar em frente e seguir meritoriamente as

suas carreiras. Eu gostava que a televisão fosse efectivamente um bom meio para

desenvolver as artes portuguesas e os artistas portugueses», sublinha. A propósito

desta perspectiva de que a televisão deve defender os interesses nacionais, Jorge foi

questionado sobre as vantagens do desenvolvimento da televisão local ou regional em

Portugal e, apesar do engenheiro agrónomo considerar que «tudo quanto possa

exaltar as virtudes e os méritos dos portugueses é bem-vindo», respondeu com

alguma desconfiança sobre a pertinência deste tipo de projectos. «O país é pequeno e

pobre. Eu acho que é interessante aquela figura do TV Regiões. Dar uma nova

roupagem e uma nova dimensão a isso, dar-lhe mais importância. Mas acho que não

vale a pena estarmos a pensar em mais canais, porque a vida não é só televisão. Há

mais vida para além da televisão. A televisão tem alguns méritos e virtudes, mas tem

enormes defeitos. E é responsável por muita coisa má que se passa no país,

inclusivamente por muito ócio. A pessoa quando está em frente à televisão não está a

fazer nada (…) De maneira que, se eu mandasse, não daria mais poder à televisão do

que ela tem», conclui Jorge.

Transcrição da entrevista semi-estruturada I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Clara: As notícias, os filmes policiais, na Fox, e os concursos a nível cultural. Também gosto dos documentários do canal Discovery ou do National Geographic.

Jorge: As notícias, a Sport TV porque gosto de ver o futebol, e gosto de alguns programas de debate de actualidades, nomeadamente o Prós e Contras, da Fátima Campos Ferreira. E depois, às vezes, também vejo um filme ou outro. E tudo quanto são espectáculos de cariz português, que seja teatral – o que a televisão dá muito pouco – espectáculos de variedades, confesso que também gosto e procuro ver.

Estes espectáculos consegue vê-los mais na RTP Memória, certo?

Jorge: Também. Mas aqui há dias deu na primeira (RTP1), uma gala da Amália Rodrigues e eu vi com alguma atenção. Mas depois fico com a sensação de que perco

299

demasiado tempo em frente à televisão. Enfim, nem todos os programas são muito meritórios. Pelo contrário, a maioria é de fraca qualidade.

Acha que a televisão portuguesa tem pouca qualidade em termos de conteúdos?

Jorge: Bom, não seria tão pessimista… Hoje em dia, com os canais todos a que temos acesso, há uma escolha realmente muito ampla. E portanto é preciso ser muito esquisito para não encontrar nada que lhe interesse. Se pegarmos num único canal, aí, realmente, a visão é mais crítica. Agora como realmente se pode ver isto aqui, aquilo ali e acolá, quem tem paciência para buscar e até para ver a programação que é anunciada, poderá ver coisas de interesse. Confesso que também vejo com algum interesse o canal História e a National Geographic também tem programas muito interessantes.

Clara: O Travel também.

Jorge: E há uma coisa que raramente vejo, mas confesso também que gosto de ver pá… Que é uma coboiada à moda antiga (risos). Os filmes do Oeste americano tinham uma componente fortíssima, estavam no auge, quando eu tinha, sei lá, 15, 16, 17 anos. E são filmes que têm uma lógica muito directa, simplória, e que não deixam de ser um certo testemunho da colonização americana. E portanto tem o seu “quê” de histórico. Eu confesso que gosto. Acho graça a alguns. É claro que tem uma coisa que, na época, não era muito censurada, mas que hoje é censurada, que é uma certa violência. De qualquer maneira não defendo como um tema muito interessante. Eu gosto, acho piada, mas é raro ver. Quando aparece vejo uma coboiada.

Clara: Mas agora dão muito raramente.

Jorge: É. E cada vez será mais raro.

Pedro: Eu gosto muito de programas culturais, do National Geographic e desse tipo de canais (Odisseia, Discovery, Travel). Gosto de alguns filmes também. Séries não vejo muito… Eu cada vez vejo menos televisão. Há dias que compensam os outros, mas vejo menos. Evidentemente que depois também gosto de canais de desporto, sobretudo de alguns desportos radicais e de futebol também. Na Eurosport e na SportTV às vezes encontram-se alguns programas nesse sentido.

Jorge: (dirigindo-se ao filho) E aqueles que costumas ver de surf? São SportTV?

Pedro: Às vezes sim.

Clara: Não era no Extreme?

Pedro: Não.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Pedro: Há muitos (risos). Eu, muito sinceramente, programas nacionais vejo muito poucos porque acho que não têm muita qualidade.

Refere-se a “reality shows”, telenovelas…?

300

Pedro: Sim, tal e qual.

Clara: Quer dizer, os “reality shows” houve um ou outro que eu gostava. Que eram aqueles primeiros “OT” (Operação Triunfo). Os primeiros.

Só os “reality shows” ligados à música é que vos agradam… Os outros tipo Big Brother não gostam…

Clara: Nada, nada, nada. Esses são para esquecer.

Pedro: Esses programas traduzem um bocado o nosso país.

Clara: Os primeiros programas da Operação Triunfo, que eram feitos pela Catarina Furtado, esses sim acho que eram interessantes. Realmente apareciam jovens com muito talento. Confesso que estes dois últimos não me debrucei sobre eles. Eu sou um bocado suspeita, mas não sou a única a ter esta opinião. Os dois primeiros programas foram feitos pela Catarina Furtado, os dois últimos pela Sílvia Alberto e é notória a diferença dos programas de uma para a outra. Porque esta Sílvia Alberto quer imitar a Catarina e não consegue. Esforça-se em tudo. As expressões que ela emprega era o que a outra fazia. Mas não chega aos calcanhares da outra e eu acho que o programa perde um bocado por isso. Porque realmente os programas têm um bocado a ver com quem os está a apresentar. A Catarina Furtado é boa comunicadora e sobretudo tudo o que ela faz é espontâneo, com naturalidade. Não se vê ali esforço. Esta então (Sílvia Alberto) acho que vai à frente do espelho e ensaia as expressões. Mas eu sou um bocado suspeita porque não gosto dela.

Pedro: Já deu para perceber… (risos)

Clara: É a minha opinião e não sou a única.

Jorge: Eu não gosto do lixo. E realmente as nossas televisões, os nossos canais – sobretudo a SIC e a TVI – acho que são uma coisa abaixo de cão.

Clara: A informação não é? Querem pôr o lixo todo…

Pedro: Não. Os programas de entretenimento.

Jorge: Um pouco de tudo. Há ali uma lógica, um fio condutor, que se manifesta em todas as circunstâncias. Por exemplo, relativamente às notícias, eu acho que o que seria óptimo para essa estratégia da SIC e da TVI era o sangue a correr pela valeta e intervenções em directo e tal. Acho que isso era o máximo para eles. Em todo o caso, o menos mau da SIC e da TVI são as notícias. O que mais me choca porque constantemente faz apelo ao anti-valor, ao anti-cultura, ao anti-sociável. Estes canais fazem apelo aos gostos mais medíocres da sociedade portuguesa.

Acham que, de alguma forma, a RTP, como serviço público, foge a essa lógica dos canais privados?

Jorge: Nitidamente. Confesso que não faço grandes reparos ao canal 1 e ao canal 2 da RTP. Acho que são dois canais que se complementam. O canal 2 nitidamente mais

301

erudito, que ignora e escamoteia completamente a problemática das audiências, até porque nem tem necessidade disso porque não tem publicidade. Por outro lado, a crítica que faço não é por aquilo que apresenta, mas é por aquilo que não apresenta. Ou seja, a produção nacional é realmente modesta. Uma coisa a que eu assisti, durante muito tempo, foi a uma certa presença e a uma certa importância do teatro na televisão. Hoje é raríssimo, super raro. Na área dos grandes programas de passagem de ano, por exemplo, é uma charutada do pior que se possa imaginar. E acho que naquela altura seria relativamente fácil e talvez muito interessante um bom programa de variedades, com bons artistas nacionais, etc. A lógica da programação da SIC e da TVI é muito semelhante e concorrente, de tal forma que as estrelas de uns são contratadas para os outros.

Clara: Pois, passeiam-se de canal para canal.

Jorge: Aqueles programas da tarde e da manhã não vejo com atenção, nem de uma forma seguida, mas de vez em quando vejo uns “flashes” e realmente toda aquela programação, aquilo tudo espremido, intoxica verdadeiramente a cultura popular portuguesa. O que acho lamentável e dramático. Fazer apelo àquilo que não presta, pôr num grande pedestal coisas que efectivamente são medíocres para mim é profundamente chocante e acho que é lamentável. Depois caiu-se nesta situação do vale tudo. A propósito do raio dos “shares” e das audiências vale tudo e pronto. Se a gente comparar as audiências, programas bom são completamente penalizados pelas audiências e, no peso lá das avaliações de audiências, têm zero ao lado de coisas que não prestam e têm vinte.

(…)

Eu acho que a produção do canal público devia, de facto, ter em conta a produção destes programas de ordem cultural e situar-se naquilo que é interessante e não naquilo que é lixo. E aí as pessoas escolherão. Evidentemente que, como sou muito pessimista, acho que vão escolher o lixo, como já escolhem hoje. Mas o fundamental é que haja alternativa. Mais que não seja, que eu não seja obrigado a ver lixo. Cá em casa, a não ser uma telenovela ou outra, que é inevitável… A televisão realmente entrou de armas e bagagens nas nossas casas e se não estivesse aqui a fazer a entrevista, a esta hora, estava tudo ligado e, mesmo que a gente não queira, acaba por ver. Depois também há uma coisa terrível. Eu quando estou nos restaurantes e vejo uma televisão não procuro uma cadeira de costas viradas porque, sem querer, a gente está sempre com os olhos naquilo. É automático, até porque a imagem mexe e a gente, sem querer, vê.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Pedro: Uma hora por dia é muito. Não chego a ver uma hora por dia semanalmente.

Jorge: A não ser que tenha futebol. Se houver futebol é logo hora e meia.

Clara: Eu não vejo duas horas por dia.

E ao fim-de-semana?

302

Pedro: Muito pouco. Menos ainda. Só ao domingo.

Clara: (Dirigindo-se ao filho) Ao domingo e é se for ao domingo à noite, porque durante o dia, se estiver bom, vais para o surf.

Jorge: Eu tenho alguma dificuldade em responder, porque eu vejo aqui deste lugar e estou aqui uma data de horas sentado por dia, mas muitas horas estou a dormir. Portanto, leio, vejo televisão e durmo. Eu diria que vejo entre uma e duas horas por dia. Quando estou cá, porque quando estou fora não vejo televisão.

Mas nessas alturas está só a ver televisão ou está a fazer outras coisas ao mesmo tempo?

Clara: Não. Vai lendo e vai fazendo alguma coisa ao mesmo tempo, a não ser que seja algum filme.

Então, nenhum de vocês chega a ver mais de duas horas por dia de televisão…

Clara: Não, não vemos.

P10. Vê mais televisão sozinho/a ou com companhia?

Jorge: (dirigindo-se à esposa) Mais acompanhados não é?

Clara: Pois.

Jorge: Sim, mais acompanhados.

P11. Onde vê mais televisão?

Clara: Vemos mais aqui na sala, sim.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões?

Clara: Ui, deixa cá ver… Uma, duas, três… Quatro… São seis. Na copa, na sala, na minha sala lá de cima, e nos quartos. O Pedro não tem no quarto.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Clara: O Pedro utiliza muito o computador, a Sofia (outra filha) também. O Jorge só para trabalho…

Para o Pedro a televisão não é, de todo, um passatempo que esteja em primeiro lugar…

Pedro: Não. É mais o computador. E lá vejo muitos filmes também. Porque enquanto no computador nós podemos escolher os filmes que realmente queremos ver, na televisão estamos limitados ao que eles podem pôr.

Clara: Eu quando tenho tempo, que é raro ultimamente, gosto de bordar, de ver revistas de decoração… Mas não tenho tido muito tempo para isso.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

303

Pedro: Ui, já foi no Euro 2000…

Clara: Foi? Ou foi no anterior?

Jorge: Aquela televisão não tem dez anos…

Clara: Tem, tem! Foi para aí em 2000, sim, no Euro.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Jorge: Não está previsto.

Clara: Só se algum se avariar.

P15. Usa teletexto?

Pedro: Não.

Porque não sabem ou não têm interesse em usar?

Pedro: Porque existe a vantagem agora nestas boxes para aparecer a informação do canal quando se muda. E aí dá-nos logo a informação do que está a acontecer naquele momento e do que irá acontecer a seguir.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Jorge: Já.

Clara: Já.

Sabem-me dizer algumas vantagens ou desvantagens associadas à TV Digital?

Jorge: Eu não.

Clara: Não…

Pedro: Provavelmente mais nitidez…

Onde é que ouviram falar na TV Digital? Nos média, em conversas?

Clara: Nos media também. Mas por acaso agora tem-se falado muito, nomeadamente o presidente da Câmara, que Alenquer vai ser a pioneira na era da…

Zona-piloto…

Clara: Zona-piloto para a transição. Tem-se falado, mas ninguém sabe nada, ninguém sabe explicar nada e portanto anda tudo assim…

Então ouviu o próprio presidente da Câmara de Alenquer a falar no assunto?

Clara: Sim, na rádio.

E o que é que ele disse?

304

Clara: Ele próprio não sabia nada, porque não tem informação. Foi contactado a dizer que seria Alenquer que teria sido escolhido como região-piloto e acho que Nazaré e…

Cacem.

Clara: Mas não lhe explicaram rigorosamente nada e portanto há a perspectiva de, a meio, serem desligadas estas para passar a ser digital, mas não há qualquer informação.

E ficou com a ideia de que estas televisões como a sua serão todas desligadas?

Clara: Não, não fiquei com essa ideia. Quando o sistema for desligado, estas televisões que estão programadas para esse sistema vão deixar de funcionar, mas há hipótese de… De haver qualquer coisa que se adapte a essa e que…

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Clara: TV por satélite numa das televisões e TV analógica terrestre nas restantes televisões da casa.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Pedro: Sim, também já tinha ouvido algumas ideias nesse sentido.

Jorge: Vocês não me dizem nada... (risos)

Onde é que ouviu essa informação?

Pedro: Pelo facto de sermos um dos concelhos pioneiros e piloto para o desenvolvimento dessa nova via digital, evidentemente que se fala…

P22. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Pedro: Não.

Clara: Em Maio… Não é?

Pedro: Eu sei que será brevemente.

P25. Sabe o que tem que fazer para continuar os 4 canais gratuitos de TV em casa?

Clara: A única coisa que sei é que será necessária uma adaptação. Deitar este fora e comprar um já digital. Mas ninguém sabe nada.

P27. Quanto estaria disposto/a a pagar para continuar a ter TV em casa? (nos restantes televisores)

Clara: Quanto menos, melhor (risos).

Pedro: Se fosse eu, se a casa fosse minha, acho que estaria disposto a dar pouco.

Ficava sem televisão?

305

Pedro: Sim.

Um descodificador custa, no mínimo, cerca de 40/50 euros. Estariam dispostos a pagar esse valor para continuarem a ter os 4 canais nos restantes televisores?

Pedro: Eu acho que sim. Esses valores são justos…

Clara: Sim.

Jorge: Mas para cada televisão um descodificador?

Poderá ter que ser um descodificador para cada televisão, sim.

Clara: É. Tem que ser. Senão fica-se sem ver a televisão.

Acham que fariam o investimento no descodificador para todas as televisões?

Clara: Sei lá… Se calhar não todas ao mesmo tempo, não é?

Pedro: Tinha que se reduzir.

Clara: Pois, tinha que se reduzir ou, pelo menos, não fazer a todas ao mesmo tempo.

P28. A quem se vai dirigir de forma a obter apoio ou ajuda para continuar a ter os 4 canais gratuitos TV em casa? (nos restantes televisores)

Clara: Tem que ser a um técnico…

Se nas televisões onde só têm os 4 canais passassem a ter um 5º canal generalista gratuito de televisão, isso seria uma motivação para comprarem um descodificador?

Pedro: Eu acho que não.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Clara: Eu confesso que não tenho nenhuma ideia. Não vejo assim tanta televisão que…

Jorge: Portanto, como eu disse no princípio, a televisão já tem uma boa gama de oferta, sobretudo desde o momento em que temos a Zon. É uma questão de paciência.

E nas outras televisões que só têm os 4 canais?

Jorge: Digamos que as grandes coisas se vêem aqui (na televisão com satélite). Lá em cima são as pequenas coisas. É quando estão a trabalhar e vêem um pouco de televisão ou à noite quando se vão deitar e ainda vêem um pouco de televisão. Eu gostaria de ver televisão pública com mais produção nacional. Eu acho que a televisão foi uma escola pública para uma série de áreas profissionais. Era bom que essa escola continuasse a valorizar aqueles que mostram as melhores capacidades para o fim em vista, televisivo. Portanto, mais produção nacional de qualidade. Que isso fosse um estímulo para os profissionais portugueses poderem caminhar em frente e seguir meritoriamente as suas carreiras. (…) Eu gostava que a televisão fosse efectivamente

306

um bom meio para desenvolver as artes portuguesas e os artistas portugueses. Por exemplo, a Operação Triunfo, aquilo é tudo em inglês.

Clara: Sim já tínhamos falado nisso. É tudo. Não há uma única em português.

Jorge: É evidente que a gente não pode obrigar os nossos jovens a cantar em português, mas podemos dar um empurrãozinho nesse sentido. Podemos dar um contributo para criar essa moda.

O facto de considerar que a televisão deve ser uma “montra” para a produção artística em Portugal, leva-o a interessar-se pela existência de um bom canal local ou regional?

Jorge: O país é pequeno e pobre. Felizmente não temos a problemática das autonomias espanholas. Mas tudo quanto possa exaltar as virtudes e os méritos dos portugueses é bem-vindo. Acho que nós temos um enorme défice de auto-estima e tudo quanto contribua para essa auto-estima é bem-vindo. Há uns anos houve uma tentativa de regionalização, evidentemente que todos nós somos a favor da regionalização até determinado ponto. Há coisas que eu não acho graça nenhuma em termos de regionalização. Por exemplo, o caso do Porto e do norte. Não são nada melhores nem piores que o sul. E chateia-me quando alguém vem dizer que no norte é que são trabalhadores e são bons. Não são nada. São iguais aos outros. Se calhar culturalmente até são mais débeis. E portanto, tudo quanto exacerbe esses regionalismos é bom que a gente não vá por esse caminho. Agora que haja um regionalismo saudável e que as pessoas puxem pela sua terra, pela sua região, acho que isso é bem-vindo. Mas voltando ao país pequeno e pobre e às televisões regionais, eu acho que é interessante aquela figura do TV Regiões. Dar uma nova roupagem e uma nova dimensão a isso, dar-lhe mais importância, mas acho que não vale a pena estarmos a pensar em mais canais, porque a vida não é só televisão. Há mais vida para além da televisão. A televisão tem alguns méritos e virtudes, mas tem enormes defeitos. E é responsável por muita coisa má que se passa no país, inclusivamente por muito ócio. A pessoa quando está em frente à televisão não está a fazer nada. As pessoas que têm poder sobre a televisão não estão bem a ver esse filme. Ter audiências é que é importante. De maneira que eu, se pudesse e mandasse, não daria mais poder à televisão do que ela tem. Até, se possível, cortava-lhe um bocado, sobretudo no aspecto da formação dos jovens. Não sei como é que isso é possível fazer, porque não é possível dizer aos pequeninos: “Agora não vejas televisão”. Evidentemente que os pais podem e devem ter alguma interferência no sentido de limitar, mas esta não é a situação dominante, até porque, muitas vezes, os pais pensam “Enquanto eles estão em frente à televisão, não me estão a chatear”.

O que acham desta situação da transição obrigatória para o digital?

Jorge: O progresso é assim não é? Ninguém acha bem, toda a gente refila, mas depois acaba por aceitar.

Clara: Quer dizer, não há motivação…

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Pedro: E, de facto, não será uma mais-valia, na minha opinião, se for só pela melhoria da imagem e do som. O que não falta aí hoje me dia é televisões com essa qualidade fantástica. Acho que não é uma mais-valia neste momento a TV Digital ser só por isso.

Têm alguma coisa que gostassem de acrescentar?

Jorge: Nós começámos a ver a televisão a preto e branco, cheia de grão e achávamos que aquilo era o máximo. Hoje acho que uma televisão como esta, que é uma televisão “baratucha”, tem óptima qualidade.

Clara: Esta não foi “baratucha”! Na altura custou-nos mil euros!

Jorge: E fui eu que paguei isso? Vê lá tu os disparates que a gente faz! (risos). Portanto, estou conformado com isso. Por outro lado, lá arranjaram maneira de a gente pagar mais qualquer coisa.

Caracterização de cada indivíduo da família

P36. Idade Clara: 67 anos. Jorge: 70 anos. Jacinta: 89 anos. Pedro: 29 anos. Carlos: 35 anos. Sofia: 37 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Alenquer. P38. Ocupação e Profissão Jorge: Engenheiro Agrónomo. Sofia: Arquitecta. Carlos: Enólogo. Pedro: Enólogo. Clara: Secretária. Jacinta: Reformada. P39. Habilitações académicas Jorge, Carlos e Sofia são licenciados. Pedro tem o 12º ano. Clara tem o 7º ano e Jacinta a 4ª classe. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Sete pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam há alguns anos menos Jacinta. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam há alguns anos menos Jacinta. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?)

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Todos usam há alguns anos menos Jacinta. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Televisão, DVD, Rádio, Computadores portáteis e desktop.

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Relatório da visita a casa da família 29 (“Justino”)

10 de Fevereiro de 2011

Cacém

Amanda (mãe): 42 anos, doméstica. (A única participante na entrevista)

Carlos (pai): 43 anos, pedreiro.

Margarida (filha): 12 anos, estudante.

Maria (filha): 10 anos, estudante.

Fátima (filha): 5 anos.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Justino”, do Cacém, no dia 10 de Fevereiro

de 2011.

O agregado familiar dos “Justino” é composto por 5 pessoas: os pais, Carlos e Amanda,

de 43 e 42 anos, e as três filhas, Margarida, Maria e Fátima, de 12, 10 e 5 anos. A visita

começou pelas 15h00 e durou cerca de 45 minutos. Em casa, estavam apenas Amanda

e Fátima.

A família “Justino” emigrou do Brasil há 12 anos, mas Amanda garante que já se sente

portuguesa há muito tempo. Apesar de não estar empregada, a dona de casa afirma

ter o tempo todo “contadinho” perante uma família numerosa para cuidar. É para a

ajudar a organizar-se que a televisão entra, em primeiro lugar, na sua rotina. «Eu

levanto-me, de manhã, ligo a televisão porque me oriento pelos programas. Ouvindo,

eu vou identificando as horas. Quando termina o Goucha, por exemplo, já sei que é

uma hora, já tenho que ter alguma coisa para poder fazer naquele momento. A

televisão está sempre ligada», descreve. No entanto, o verdadeiro ponto forte da

televisão – que a leva a optar por estar em frente ao ecrã em vez de ler ou ouvir rádio

– passa pelo seu potencial educativo. «Como eu não tenho tempo nem paciência para

me sentar a ler o jornal, prefiro a televisão porque passa muita coisa e ensina muito

(…) Vemos o Malato e os Morangos com Açúcar em família. No Malato (Quem quer ser

Milionário?), vamos tentando descobrir as perguntas, dar respostas, ver quem

310

responde mais depressa… Aproveitamos a televisão para poder pôr as meninas a

raciocinar mais, a puxar pela cabeça (risos) (…) Nos Morangos com Açúcar sentamo-

nos com elas a ver, para explicar as situações. Porque se as crianças não tiverem

acompanhamento a ver esse programa tornam-se rebeldes. Nós vemos aquilo não

como um espelho para dentro de casa, mas sim como o que não devem fazer. Eu faço

um esforço para me poder sentar com elas a ver e a acompanhar. Todos os programas

que tenham assim dúvidas, eu tento passar para elas que esse programa está a ensinar

que elas não devem agir assim». Citando como canais preferidos a SIC Mulher, a TVI, o

canal História e o National Geographic, Amanda lembra também que gosta de ver os

canais brasileiros Record e Globo, onde privilegia o programa da meia-noite da Igreja

Universal do Reino de Deus. A dona de casa admite que assistir aos canais brasileira é

uma forma de se aproximar do seu país de origem, apesar de se identificar cada vez

menos com os conteúdos que não são portugueses. Para além disso, de acordo com

Amanda, os apresentadores brasileiros são mais comunicativos do que os portugueses.

«Houve um tempo em que passou uma apresentadora brasileira (na Record) num

programa daqueles de descobrir os nomes e a gente via e gostava. Depois, passado

uns tempos, a apresentadora foi substituída por uma rapariga portuguesa sem jeiteira

nenhuma. Até o meu próprio cunhado – que é português – admitiu que há diferença. É

como a comida. Eu posso tentar fazer a comida portuguesa, mas não tenho a essência,

a mão para fazer a comida portuguesa», considera. Amanda, que vê cerca de três

Figura 1 – Amanda gostaria que a televisão oferecesse mais serviços úteis de saúde e educação

311

horas de televisão por dia, afirma não ter nenhum programa de que não goste. «Eu

aproveito tudo. Às vezes posso não gostar da maneira como a pessoa fala, mas vejo

tudo». Com duas televisões por cabo em casa – uma na sala e outra no quarto das

crianças – a televisão dos “Justino” não é desligada nem ao fim-de-semana, sendo

Carlos quem vê mais televisão neste período, aproveitando assim as suas folgas. «Eu

tento ter tempo para ver mais televisão ao fim-de-semana por causa do meu marido,

para o acompanhar. Ele gosta muito de ver filmes». Questionada sobre se o marido vê

menos televisão do que ela, Amanda responde: «Sim, mas acho que o sábado e o

domingo compensam, porque no domingo ele vê televisão o dia todo (risos). Desde

que acorda até à noite». Carlos também tem por hábito utilizar o teletexto, tal como a

sua filha mais velha, de 12 anos. Normalmente procuram informações sobre a

meteorologia ou o futebol. «O meu marido e as minhas meninas é que têm mais

facilidade em usar. Para ver o tempo, as notícias ou, às vezes, onde está a farmácia… O

meu marido vê tudo pelo teletexto e a minha filha mais velha vai pelo mesmo

caminho. O meu marido também vê os resultados dos jogos… Pronto, o teletexto é

uma coisa que, por acaso, é muito usada nesta casa», revela Amanda.

No que toca ao conhecimento, atitudes e expectativas desta família em relação à TV

digital, foi perceptível que o termo não é estranho a Amanda nem a Carlos. «Ouvi o

meu cunhado aqui na sala a conversar com o meu marido sobre isso. Peguei essa

conversa no ar», explica Amanda. Questionada sobre se conhece as vantagens ou

desvantagens deste tipo de televisão, a dona de casa afirmou que ouviu dizer que «é

muito prática, útil, e essas coisas assim». Amanda explica que o marido deve estar

muito mais a par da situação do que ela, uma vez que Carlos tem conhecimentos

técnicos sobre a televisão, por ter trabalhado na área enquanto estava no Brasil. Em

princípio, a família Justino não irá ser afectada pelo “switch-off” visto que tem duas

televisões ligadas a duas boxes da TV Cabo. Ainda assim, Amanda demonstrou alguma

preocupação relativamente ao tema, sublinhando que «não sabe nada do que nos

espera». Depois de lhe ter sido feita uma breve explicação sobre a transição para o

digital, Amanda garantiu que, caso fosse afectada, iria procurar resolver a situação

rapidamente pois «a televisão faz falta». Questionada sobre o que pensa do assunto, a

312

dona de casa considerou: «se vão cortar estes canais para praticamente obrigar as

pessoas a colocar a televisão digital e ter a mesma coisa… Eu não acho bem».

No que respeita ao futuro da televisão, Amanda sublinhou que gostaria de ter acesso a

mais serviços na área da saúde e do bem-estar. «Mais serviços de instrução em relação

a cuidados. Eu acho que toda a gente devia ter formação sobre os primeiros socorros.

Poderiam investir nisso. Agora falam muito de gastos. Se eu tivesse informação, dentro

da minha casa, havia coisas que eu podia fazer caso as minhas filhas estivessem

doentes. Em vez de ir para o centro de saúde cinco, seis horas. Se eu tivesse uma

informação certa, já poderia evitar isso. Ginástica também. Poderiam dar algumas

ginásticas para nós fazermos em casa. Temos que procurar ginásios e nem sempre

podemos ir». A possibilidade de ser criado um canal sobre a região onde vive - que

incluísse informação prática para os habitantes da zona do Cacém - também motivou o

entusiasmo de Amanda. «Às vezes a Segurança Social ou a Junta de Freguesia fazem as

coisas e eu não sei. Por exemplo, eu fiquei a saber, o ano passado, que havia praia para

as meninas e não cheguei a tempo porque não calhou passar ali na rua para ver o

cartaz. A Segurança Social é mesmo aqui perto, mas não calhou eu passar. Se eu

tivesse informação na televisão era mais fácil», considerou.

Amanda afirma não saber se vai ver mais televisão daqui a cinco anos, mas está certa

de que gostaria de o fazer. «Eu gostava de poder ver mais. Tenho mais preocupação

em ver as coisas onde a gente aprende, programas culturais». Para a dona de casa, «a

tendência actualmente é mudar tudo» e a televisão não é excepção. Quanto à forma, a

dona de casa prevê e espera que a televisão daqui a 10 anos já não seja como o

“balofo” que tem na sala, mas sim «mais bonitinha». Em relação aos conteúdos – o

mais importante, no seu ponto de vista – Amanda sugere que o sensacionalismo seja

eliminado da TV, para dar lugar a informação verdadeiramente útil. «Nestas notícias

que vemos hoje em dia na televisão, eu vejo muito drama e vejo ajudarem pouco as

pessoas. Há uma exposição desnecessária. Se esse tempo fosse investido em coisas

sobre saúde, alimentação, a ensinar as pessoas a fazerem ginástica, seria melhor

aproveitado», conclui.

313

Transcrição da entrevista semi-estruturada I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Amanda: SIC Mulher, Dr. Phill… Eu gosto muito de ver como se fazem as coisas, por isso, gosto muito do canal História, do canal “Geographic”… Gosto da Record (risos), da Globo… Vejo muito o jornal… Vejo a telenovela Espírito Indomável. O que vejo mais é a quatro. Vejo também aquele programa que tem aquele gordinho.

O Preço Certo?

Amanda: Não, da noite.

O Quem quer ser milionário, com o Malato?

Amanda: Isso! Vejo porque, de certa forma, a gente aprende. Muitas coisas eu não sei. Em termos de ilhas, geografia e coisas assim, que é completamente diferente da do Brasil. Então a gente sempre pega alguma coisinha, o que ajuda na escola das meninas. Liga uma coisa com a outra. Quando passava o programa Super Miúdos, na RTP2, eu via sempre com elas e tentava adivinhar as respostas, também para ajudá-las a captar alguma coisa, para não terem tantas dificuldades. Agora as minhas meninas vêem o 25, o 26 e o 27.

Desenhos animados?

Amanda: Sim.

Então, acha que a televisão pode ser uma boa forma de aprender?

Amanda: Muito. Até mesmo aquele programa… O Agora é que conta. Eu não tenho tempo para poder ver, mas as minhas meninas vêem. E vêem também os Morangos com Açúcar, mas aí eu já me sento com elas a ver, para explicar as situações. Porque se as crianças não tiverem acompanhamento a ver esse programa tornam-se rebeldes. Nós vemos aquilo não como um espelho para dentro de casa, mas sim como o que não devem fazer. Eu faço um esforço para me poder sentar com elas a ver e a acompanhar. Todos os programas que tenham assim essas dúvidas, eu tento passar para elas que esse programa está a ensinar que elas não devem agir assim.

Estava a dizer-me que gosta de ver os canais Record e Globo. É uma forma de matar saudades do Brasil?

Amanda: Sim, sim. Às vezes eu já não me identifico tanto com aquilo, mas gosto de ver.

Acha que os canais brasileiros são melhores do que os portugueses?

Amanda: Ah, sim.

Porquê? São mais divertidos?

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Amanda: Houve um tempo em que passou uma apresentadora brasileira num programa daqueles de descobrir os nomes e a gente via e gostava. Depois, passado uns tempos, a apresentadora foi substituída por uma rapariga portuguesa sem jeiteira nenhuma. Até o meu próprio cunhado – que eu tenho três cunhados portugueses – admitiu que há diferença. Claro que cada um tem o seu jeito de ser, mas há coisas que eu devo fazer e há coisas que eu não devo fazer. É como a comida. Eu posso tentar fazer a comida portuguesa, mas não tenho a essência, a mão para fazer a comida portuguesa.

Então acha que, a nível comunicativo, os brasileiros são mais fortes…

Amanda: Sim.

Há algum programa de que goste, em especial, nesses canais?

Amanda: Eu gosto de ver um que passa à meia-noite, que é aquele da IURD. Não sei o nome porque eu ligo e não tenho aquele cuidado de ver os nomes dos programas. Mas eu gosto de ver esse, porque a gente fica por dentro. Como eu não tenho tempo nem paciência para me sentar e ler o jornal, eu prefiro a televisão porque passa muita coisa e ensina muito também.

Também ouve rádio?

Amanda: Não, no rádio não tem jeiteira nenhuma. Não gosto do rádio.

Então o meio por que normalmente se informa e que a entretém é a televisão…

Amanda: Sim, é a televisão.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Amanda: Hum… Deixa-me pensar… Não tenho assim nenhum de que não goste. Eu aproveito de tudo. Às vezes posso não gostar da maneira como a pessoa fala, mas vejo tudo.

Onde é que a televisão entra na sua rotina?

Amanda: Eu levanto-me, de manhã, ligo a televisão porque me oriento pelos programas. Ouvindo os programas eu vou identificando as horas. Quando termina o Goucha, por exemplo, já sei que é uma hora, já tenho que ter alguma coisa para poder fazer naquele momento. A televisão está sempre ligada. Você viu, quando chegou. Eu estava na cozinha, mas a televisão estava ligada na sala. Ponho no Zig Zag, para elas verem os bonecos.

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Amanda: Vejo umas três horas.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

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Amanda: Eu tento ter tempo para ver mais televisão ao fim-de-semana por causa do meu marido, para o acompanhar. Ele gosta muito de ver filmes.

O seu marido vê mais televisão ao fim-de-semana?

Amanda: Sim, sim.

O que é que ele gosta de ver mais?

Amanda: História, o “Geographic”… Também gosta de ver o jornal. Acompanha o jornal todo, do princípio ao fim. E, durante a semana, também chega a tempo de ainda ver um bocadinho dos Morangos com Açúcar. Sentamo-nos todos aqui e vemos. E aquele do “Malouco”…” Mulato”…?

O Malato.

Amanda: O Malato (risos). Esse também vemos em família. Vamos tentando descobrir as perguntas, dar as respostas, ver quem é que responde mais depressa… É uma concorrência. Aproveitamos a televisão para poder pôr as meninas a raciocinar mais, a puxar pela cabeça (risos).

O seu marido vê menos televisão do que a senhora, não é?

Amanda: Sim, mas eu acho que o sábado e o domingo compensam, porque no domingo ele vê televisão o dia todo (risos). Desde que acorda até à noite.

P12. (família) Quantos televisores têm em casa? Em que divisões?

Amanda: Nós tínhamos três. Na cozinha, no quarto delas e aqui na sala. Mas a da cozinha já foi à vida (risos).

P13. (família) Quando compraram o último televisor? Já foi há mais de um ano?

Amanda: Sim, já tem tempo.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Amanda: Ai… Pelo sonho do meu marido já tínhamos comprado aquela televisão grandona, o plasma. Mas está a um preço bem puxado.

P15. Usa teletexto? Em caso positivo, que tipo de informação procura?

Amanda: Sim. O meu marido e as minhas meninas é que têm mais facilidade em usar. Para ver o tempo, as notícias ou, às vezes, onde está a farmácia… O meu marido vê tudo pelo teletexto e a minha filha mais velha também vai pelo mesmo caminho. O meu marido também vê os resultados dos jogos… Pronto, o teletexto é uma coisa que, por acaso, é muito usada nesta casa.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas P16. Já ouviu falar de TV digital?

Amanda: Já.

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O que é que ouviu dizer?

Amanda: Então… Que é muito prática, muito útil… Essas coisas assim.

Onde é que ouviu falar?

Amanda: Ouvi o meu cunhado aqui na sala a conversar com o meu marido sobre isso. Peguei essa conversa no ar.

Para além das vantagens que já mencionou, associa algumas desvantagens à TV digital?

Amanda: Não, não sei, porque eu peguei a conversa do ar. O meu cunhado é todo informatizado e entende muito dessas coisas e, quando eles estão a conversar, às vezes eu não compreendo.

Acha que o seu marido está mais a para do que a senhora do que é a TV digital?

Amanda: Ah sim, está bem mais a par do que eu.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Amanda: TV Cabo. As duas televisões têm boxes.

P23. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

Amanda: Não, por acaso a Isabel é que me falou mais ou menos.

P24. Quando é essa data-limite: tem ideia?

Amanda: Não. Não sei de nada do que nos espera.

(É explicado sucintamente o processo)

Sabe o que é que é quem não tem TV paga precisa de fazer?

Amanda: Não. Nós vamos voltar ao tempo antigo? Em que ter televisão era um luxo?

P23. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Amanda: Normalmente nós não temos desses problemas porque o meu marido sabe quase sempre resolver as situações. Lá no Brasil ele trabalhava nessa área. Mas quando acontece, por exemplo, a televisão desligar, eu ligo para a operadora. E eles mandam mexer aqui e ali e tal e eu consigo resolver. Nesses casos recorro sempre à operadora.

O que é que acha desta situação que lhe expliquei?

Amanda: Se eu não tivesse a televisão adaptada ia procurar alguém para resolver a situação. Teria que comprar o descodificador. (…) A televisão faz falta. Se vão cortar

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estes canais para praticamente obrigar as pessoas a colocar a televisão digital e ter a mesma coisa… Eu não acho bem.

Considera o preço dos descodificadores justo?

Amanda: Tendo em conta que a gente tem o que precisa em casa, eu acho que sim.

P31. O que gostaria de ver / aceder através da TV digital?

Amanda: Mais serviços de instruções em relação a cuidados. Eu acho que toda a gente devia ter formação sobre os primeiros socorros. Para a gente ter essa formação temos que fazer um curso e os cursos não são baratos. Eu acho que essa é uma formação que as pessoas precisavam de ter. Saber agir no momento. Acho que poderiam investir nisso. Agora falam muito de gastos. Se eu tivesse informação, dentro da minha casa, havia coisas que eu podia fazer caso as minhas filhas estivessem doentes. Em vez de ir para o centro de saúde cinco, seis horas. Porque se eu for às 07h00 da manhã para o centro de saúde marcar uma consulta só saio de lá às 10h00/11h00. Então, se eu tivesse uma informação certa, já poderia evitar isso. Ginástica também. Poderiam dar umas ginásticas para nós fazermos em casa. Temos que procurar ginásios e nem sempre podemos ir. Só gastamos dinheiro.

Se mais serviços interactivos na televisão possibilitassem que não tivesse de ir ao hospital tantas vezes, isso seria interessante?

Amanda: Era fixe. Isso era óptimo, até porque evitaria que ganhássemos novas bactérias.

Portanto, para si, os serviços na televisão poderiam evoluir mais na área da saúde. Certo?

Amanda: Sim, era essencial.

Se existisse um canal sobre a região do Cacém, acha que seria interessante?

Amanda: Acho que sim, muito. Porque é assim, eu falo de mim, tenho uma vida muito “contadinha”. Tenho que me levantar de manhã, tenho que fazer isto e fazer aquilo… E não estou por dentro das informações. Às vezes a Segurança Social ou a Junta de Freguesia fazem as coisas e eu não sei. Por exemplo, eu fiquei a saber, o ano passado, que havia praia para as meninas e não cheguei a tempo porque não calhou passar ali na rua para ver o cartaz. A Segurança Social é mesmo aqui perto, mas não calhou eu passar. Se eu tivesse informação na televisão era mais fácil.

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Amanda: Não sei… Eu gostava de poder ver mais. Tenho mais preocupação em ver as coisas onde a gente aprende, programas culturais. Nestas notícias que vemos hoje em dia na televisão, eu vejo muito drama e vejo ajudarem pouco as pessoas. Há uma exposição desnecessária. Se esse tempo fosse investido em coisas sobre saúde, alimentação, a ensinar as pessoas a fazer ginástica, seria melhor aproveitado.

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P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Amanda: Eu acho que não vai ser igual. Não sei como vai ser, mas acho que deve mudar muito, porque está tudo a mudar. A tendência é mudar tudo.

Acha que vai mudar para melhor ou para pior?

Amanda: Para quem sabe aproveitar, eu acho que é para melhor.

Acha que a televisão vai ser maior ou mais pequena?

Amanda: Com certeza que não vai ser este balofo aqui! (ri-se, olhando para a televisão da sala) Vai ser mais bonitinha.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Carlos: 43 anos. Amanda: 42 anos. Margarida: 12 anos. Maria: 10 anos. Fátima: 5 anos. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Cacém. P38. Ocupação e Profissão Amanda é doméstica e Carlos é pedreiro. P39. Habilitações académicas Amanda e Carlos estudaram no Brasil e têm habilitações que equivalem ao 9º ano em Portugal. P40. Nível de rendimento da família (Se tivesse de se enquadra num escalão de rendimento com 3 níveis: baixo, médio, alto. Em qual se enquadraria?) P41. Nº de pessoas no agregado familiar Cinco pessoas. P42. Uso de telemóvel (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Amanda e Carlos usam h+a muitos anos e têm facilidade em usar. P43. Uso de computador (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Todos usam menos Carlos. Amanda usa o computador para procurar receitas, jogos para as crianças e informações sobre saúde. P44. Uso de internet (S/N; if S, quantos anos de experiência ou nível de competência?) Sim. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal (rádio, VCR, DVD, etc) Têm um computador desktop, DVD e aparelhagem (que só usam para ouvir CDs).

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Relatório da visita a casa da família 30 (“Ribeiro”)

17 de Março de 2011

Cacém

Ana (mãe): 34 anos, funcionária pública. (A única participante na entrevista)

Luís (pai): 52 anos, controlador de tráfego aéreo.

Francisco (filho): 11 meses.

Este relatório apresenta uma síntese da sessão de observação e entrevista semi-

estruturada realizada em casa da família “Ribeiro”, do Cacém, no dia 17 de Março de

2011.

O agregado familiar dos "Ribeiro" é composto por três pessoas: Ana, de 34 anos, Luís,

de 52 anos, e Francisco, de 11 meses. A visita durou cerca de 30 minutos e a entrevista

baseou-se sobretudo na experiência de Ana. Na fase de observação, a jovem mãe

esteve praticamente sempre ocupada a tratar de Francisco. Entre os momentos de lhe

dar banho, alimentá-lo ou brincar com ele, a televisão está sempre em cena, pois ajuda

a distrair a criança. O ecrã só é substituído pela aparelhagem na altura de adormecer o

bebé, mas mesmo sem som, o televisor permanece ligado. Ana confessa que a

televisão é uma presença constante em sua casa. Luís chega tarde do trabalho e

aproveita o período nocturno para assistir aos seus programas preferidos

Figura 1 – Ana mantém a TV ligada, pois esta ajuda a entreter Francisco, de 11 meses

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(relacionados com rugby, ténis e basquetebol) e Ana começa o dia a ligar o televisor.

De facto, pode dizer-se que o casal vê televisão por turnos e, por isso, o aparelho

quase nunca é desligado. «A televisão está acesa 24 horas. 24 não... Mas 20, quase.

Porque o Luís chega a casa super tarde, deita-se tarde e vê sempre televisão à noite.

Para relaxar do trabalho ele vê televisão. E depois, de manhã, a primeira coisa que faço

é logo ligar a televisão, para o bebé se distrair. Mas muitas vezes está acesa e eu nem

estou a olhar. Está ligada, com som, e se qualquer coisa me desperta, vejo». Na

verdade, Ana faz questão de realçar que o tempo que a televisão está ligada não

corresponde, de todo, ao número de horas a que assiste TV com atenção. A jovem

funcionária pública explica que, durante a semana, acaba por ver somente uma hora

de televisão por dia. Ao fim-de-semana, é possível que passe mais uma hora em frente

ao ecrã, mas raramente ultrapassa esse limite. Ainda assim, por motivos profissionais,

Ana é obrigada a ver pelo menos mais uma hora e meia de televisão diária. Neste caso,

assiste apenas aos noticiários. Talvez por isso esteja tão bem informada sobre as

transformações tecnológicas por que a televisão está a passar. Apesar de a sua

experiência televisiva se constituir apenas pelo visionamento de filmes e canais de

notícias, a necessidade de assistir aos noticiários, no trabalho, todos os dias, contribuiu

para que estivesse bem informada sobre a transição da televisão analógica para o

digital.

Neste contexto, questionada sobre se já tinha ouvido falar na TV digital (P16.), Ana

respondeu prontamente que sim e enumerou algumas das vantagens deste tipo de

Figura 2 – Ana estava bem informada sobre a TV digital e o “switch-off”, demonstrando-se preocupada com os seus familiares mais velhos, julgando que estes terão mais dificuldades em adaptar-se

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transmissão televisiva, sublinhando que a TV digital vem contrastar com a má

qualidade da TV analógica: «As televisões com sinal analógico estão a dar cada vez

pior. As antenas de rua, de telhado, estão a ficar degradadas, já não se vendem, as

pessoas não arranjam e têm optado pelo cabo que, sem sombra de dúvida, tem uma

imagem melhor». De acordo com a entrevistada, estamos perante «o avanço da

tecnologia» e, apesar de muita gente não reparar, o desenvolvimento que a TV digital

implica é inquestionável. «Nunca falha a televisão porque há um temporal e ficámos

sem antena... A vantagem, basicamente, acho que é essa, além da melhoria da

qualidade de imagem... Mas isso são coisas que mulheres não reparam... Desde que se

veja bem e se consiga ler as legendas, tudo bem». Por outro lado, a transição para o

digital não está livre de desvantagens e estas vão ser notadas sobretudo pelos mais

velhos. «Para a nossa geração se calhar não, mas para a geração dos nossos pais, que

não estão habituados a lidar com novas tecnologias, a desvantagem é que o comando

é muito complexo. Porque há o comando da televisão e o comando da box... São dois

comandos... Qual é o comando de onde? E do quê? (...) A minha mãe vem aqui a casa e

fica completamente à toa: "Epá isto não dá nada, está tudo azul! E agora o que é que

eu faço?". Eu já lhe expliquei que tem que carregar no "source" várias vezes até

aparecer a imagem, mas ela não consegue... Portanto, vai ser o descalabro», prevê.

Questionada sobre a situação dos seus familiares mais próximos, que não têm

televisão digital em casa, Ana demonstrou ainda estar completamente a par dos

passos a seguir para que estes não fiquem sem sinal de televisão. «Ou compram uma

caixa, que faz a conversão, para a televisão antiga, ou têm que comprar uma televisão

nova. Até sei o preço dessa caixa: varia entre os 50 e os 250 euros».

Ana diz que não tem dificuldades em lidar com a tecnologia digital na televisão, pois a

sua geração «já quase nasceu com isto». No entanto, confessa que não utiliza todos os

serviços interactivos que a televisão lhe oferece e afirma nem sequer estar a par de

muitos deles. «O que eu utilizo na box é basicamente ver o que vai dar, se há algum

filme que me agrade, que eu sei que não posso ver, ponho a gravar... E sei que às vezes

o Quiquinho carrega num botão e aparecem vídeos para alugar e mais não sei o quê...

Mas nunca usei nada disso». Quando tem alguma dificuldade na utilização dos

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aparelhos tecnológicos, Ana recorre sozinha às instruções e, caso estas não sejam

suficientes, procura na Internet explicações mais alusivas.

Por fim, segura de que, no futuro, verá «exactamente o mesmo tempo de televisão do

que agora», Ana sugere que a tecnologia mudará de forma colossal. «Daqui a dez anos

não vamos ter sequer televisão. O aparelho de televisão, físico, tende a desaparecer.

Eles estão a aumentar os aparelhos... Estão a pô-los enormes... O que eu acho é que

todas as televisões vão passar a ser 3D, sem óculos. E a seguir as televisões

desaparecem para dar lugar a alguma coisa do género daqueles data shows, que se

transmitem na parede, em 3D. É o que eu acho que vai acontecer».

Transcrição da entrevista semi-estruturada

I – Televisão: posse, usos, preferências e atitudes P1. Quais os programas favoritos?

Ana: Filmes, noticiários... Basicamente é isso. Não vejo muita televisão.

P2. Quais os programas dos quais não gosta?

Ana: Não tenho.

P3. Que tipo de programas habitualmente vê?

Ana: Filmes e noticiários.

P4. O que mais gosta de fazer nos tempos livres?

Ana: Os meus tempos livres não existem... Mas talvez desporto.

P5. Conte como passa um dia normal de semana?

Ana: Acordo às 06h00 da manhã, tomo o pequeno-almoço, visto-me, apanho o metro às 07h00. Às 07h30 já estou no trabalho... Como estou com o horário de aleitação, às 14h30 já estou na rua, às 15h15, no máximo, estou em casa. Em casa, quando o Quiquinho me deixa, vou dormir a sesta porque acordei muito cedo. Quando ele não deixa, tenho a televisão acesa normalmente na SIC Notícias e ando aqui na sala com ele...

E a televisão costuma estar acesa...

Ana: Sim, sempre. A televisão está acesa 24 horas. 24 não... Mas 20, quase. Porque o Luís chega a casa super tarde, deita-se tarde e vê sempre televisão à noite. Para relaxar do trabalho ele vê televisão. E depois, de manhã, a primeira coisa que faço é logo ligar a televisão, para o bebé se distrair. Mas muitas vezes está acesa e eu nem estou a

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olhar. Mas está ligada, com som, e se qualquer coisa me desperta, vejo. Só tiro o som quando o bebé vai dormir, e fica sempre ligada.

Como agora...

Ana: Sim, está música, mas assim que ele adormece ou que o CD acaba, eu subo o som da televisão e ele já não acorda.

P6. Conte como passa o fim-de-semana?

Ana: Ao sábado, normalmente, sou eu que acordo cedo porque o Luís trabalha até tarde à sexta... Acordo cedo, também ligo logo a televisão, ponho baixinho... Normalmente, ao sábado de manhã, como ele está a dormir, ponho sem som, o Quico toma o pequeno almoço e fico aqui por casa até à hora de almoço. Depois, à hora de almoço, costumamos sair se fizer bom tempo. Se não estiver, fico em casa. À tarde damos aulas, por volta das 17h30, às 19h00 estamos de volta, e ficamos em casa. Domingo também acordamos cedo porque vamos com o bebé à natação, quando voltamos vimos dormir os três outra vez, e à tarde vamos novamente dar aulas.

Então, pode-se dizer que vê televisão todos os dias da semana?

Ana: Todos os dias. Mesmo que não veja, passo por ela e olho para o ecrã. Posso não estar atenta, mas...

Pode não ver um programa do princípio ao fim, mas acaba sempre por ligar a televisão...

Ana: Sim...

P8. Quantas horas de televisão vê por dia (em média)?

Ana: As que vejo de olhar? Ou que vejo atenta?

As duas coisas. Quantas horas por dia é que acha que a televisão está ligada, e quantas horas é que acha que vê?

Ana: A televisão está ligada de manhã à noite. Se o dia tiver 12 horas em que estejamos acordados, a televisão está ligada. Não sei se o trabalho conta, porque no trabalho, eu vejo, pelo menos, uma hora e meia de televisão. Depois, em casa, vejo uma hora, no máximo. Ao fim-de-semana, se calhar, vejo duas, mas nunca mais do que isso.

P9. Vê mais ou menos TV ao fim-de-semana?

Ana: Ao fim-de-semana.

E o Luís?

Ana: O Luís, por mais incrível que pareça, vê mais durante a semana. Quando ele chega das aulas, à noite, eu já estou a dormir, e ele fica aqui a ver ténis, rugby, basquete, até às 03h00/04h00 da manhã.

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P11. Onde vê mais televisão?

Ana: Na sala. Só na sala é que eu vejo televisão.

E têm mais televisões cá em casa?

Ana: No quarto. Eu acendo antes de me deitar, mas dura um minuto até eu adormecer. Dura um minuto, nem consigo fixar o que está a dar.

E fica ligada enquanto dorme?

Ana: Não. Apago.

Então têm duas televisões cá em casa... Uma na sala e outra no quarto...

Ana: Sim.

P13. (família) Quando compraram o último televisor?

Ana: Foi para aí em Fevereiro de 2010. Portanto, há um ano e poucos meses.

P14. (família) Estão a pensar comprar um televisor nos próximos 12 meses?

Ana: Não.

P15. Usa teletexto?

Ana: Não, nunca.

E faz uso da função da barra de informação sobre a programação, que aparece quando se muda de canal?

Ana: Sim, sim.

II – TV digital: conhecimento, atitudes e expectativas

P16. Já ouviu falar de TV digital?

Ana: Sim.

P17. Que vantagens associa à TV digital?

Ana: Eu acho que sim, porque as televisões com sinal analógico estão a dar cada vez pior. As antenas de rua, de telhado, estão a ficar degradadas, já não se vendem, as pessoas não arranjam e têm optado pelo cabo que, sem sombra de dúvida, tem uma imagem melhor.

Então, a qualidade de imagem é uma das vantagens, no seu ponto de vista?

Ana: Claro, é o avanço da tecnologia.

Mais alguma vantagem de que se lembre?

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Ana: Nunca falha a televisão porque há um temporal e ficámos sem antena... A vantagem, basicamente, acho que é essa, além da melhoria da qualidade de imagem... Mas isso são coisas que mulheres não reparam... Desde que se veja bem e se consiga ler as legendas, tudo bem.

E desvantagens?

Ana: Para a nossa geração se calhar não, mas para a geração dos nossos pais, que não estão habituados a lidar com novas tecnologias, a desvantagem é que o comando é muito complexo. Porque há o comando da televisão e o comando da box... São dois comandos... Qual é o comando de onde? E do quê?

Depois, às vezes, ao mexer no comando a televisão desliga...

Ana: Exactamente, e nós já sabemos que temos que ir ao "source", para ligar à box... Mas a minha mãe vem aqui a casa e fica completamente à toa: "Epá isto não dá nada, está tudo azul! E agora o que é que eu faço?". Eu já lhe expliquei que tem que carregar no "source" várias vezes até aparecer a imagem, mas ela não consegue... Portanto, vai ser o descalabro.

Pois, ainda por cima, a sua mãe não tem assim tanta idade quanto isso para estar a ter essas dificuldades. Não é?

Ana: Pois, ela tem 58 anos. Já nem falo da minha tia... Que tem 70.

A sua mãe e a sua tia têm televisão digital em casa?

Ana: Não, nem cabo. Têm os quatro canais portugueses. Cheios de chuva, mas estão lá.

P19. (família) Que tipo de TV tem em casa?

Ana: Zon. Já é televisão digital.

P20. Porque razão tem TV digital?

Ana: Não tenho razão nenhuma em especial. Desde que tenha televisão por cabo, com todos os outros canais que as antenas parabólicas também tinham, tanto faz. Essencialmente o que nos motiva é ter mais canais. No caso da Zon, que alia TV Cabo, internet e telefone, acho que era um bom pacote. Apesar de agora as empresas concorrentes também já terem tudo igual, é bom, porque, primeiro, não pagamos telefone - só pagamos mesmo a televisão e a internet...

Acabam por ter as três coisas...

Ana: Sim, as três coisas e só pagamos duas.

P21. O sinal analógico de TV, com os 4 canais de TV gratuitos, vai ser desligado - sabia?

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Ana: Já sabia. Dia 12 de Abril... Não, em Abril de 2012. O dia acho que ainda não está decidido.

Disse-me que a sua mãe e a sua tia não têm televisão digital em casa, não sei se elas já têm uma televisão que possa receber o sinal digital, mas se tiverem uma televisão antiga, essa vai deixar de receber televisão....

Ana: Sim, sim. Ou compram uma caixa, que faz a conversão, para a televisão antiga, ou têm que comprar uma televisão nova. Até sei o preço dessa caixa: varia entre os 50 e os 250 euros.

É isso mesmo...

Ana: Isto de ver notícias a toda a hora... (refere-se ao seu emprego de visionar os noticiários e transcrever os que são importantes para o Gabinete de Imprensa do Ministério das Obras Públicas)

P29. Quando não sabe como funciona um dado equipamento electrónico, como resolve a situação?

Ana: Vou ler as instruções.

Mais alguma forma de resolver o problema?

Ana: Se as instruções não me esclarecerem, vou à net procurar a marca e tento encontrar instruções com bonecos, que sejam de percepção mais fácil.

P30. Instalar e usar TV digital é mais simples ou complicado que a TV analógica, em sua opinião?

Ana: É mais complicado. Não para nós (jovens), que já estamos habituados, porque isto já quase que nasceu connosco, mas é mais complicado.

Esta box que tem já tem uma série de serviços interactivos. Certo?

Ana: Não sei. O que eu utilizo na box é basicamente ver o que vai dar, se há algum filme que me agrade, que eu sei que não posso ver, ponho a gravar... E sei que às vezes o Quiquinho carrega num botão e aparecem vídeos para alugar e mais não sei o quê...

Serviços como a consulta da meteorologia, das farmácias de serviço, o horóscopo...

Ana: Nunca usei nada disso.

Nem os outros serviços mais interactivos...

Ana: Nunca os vi. Mas isso são serviços pagos?

São serviços da Zon aos quais tem direito só por ter a box...

Ana: Nada disso. Nunca utilizo nada disso.

Agora que já sabe que existem, acha que estes serviços podem ser úteis para si?

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Ana: Não. Não faz falta...

P32. Daqui a 5 anos, acha que vai ver mais televisão, menos ou o mesmo tempo do que vê hoje em dia?

Ana: Acho que vou ver exactamente a mesma.

P33. Como imagina que a televisão venha a ser daqui a 10 anos?

Ana: Daqui a dez anos não vamos ter sequer televisão. O aparelho de televisão, físico, tende a desaparecer. Eles estão a aumentar os aparelhos... Estão a pô-los enormes... O que eu acho é que todas as televisões vão passar a ser 3D, sem óculos. E a seguir as televisões desaparecem para dar lugar a alguma coisa do género daqueles data shows, que se transmitem na parede, em 3D. É o que eu acho que vai acontecer.

Caracterização de cada indivíduo da família P36. Idade Ana: 34 anos. Luís: 52 anos. Francisco: 11 meses. P37. Localidade de residência/ Concelho de residência/ Distrito de residência Monte Abraão, Sintra. P38. Ocupação e Profissão Ana: Funcionária pública Luís: Controlador de tráfego aéreo (está em pré-reforma) e professor de tango argentino. P39. Habilitações académicas Ana: Licenciatura. Luís: 12º ano. Começou a frequentar uma licenciatura, mas não terminou. P41. Nº de pessoas no agregado familiar Três pessoas. Por vezes, quatro (refere-se a Cecília, a mãe, que está muitas vezes em casa deles ao fim-de-semana) P42. Uso de telemóvel Sim. Cada um, tem dois telemóveis. P43. Uso de computador Sim. P44. Uso de internet Sim. P45. Equipamentos de entretenimento doméstico e pessoal Aparelhagem, leitor de DVDs, computador portátil e fixo.