Adorno no Egito Antigo: entre a religião e a beleza

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Adorno no Egito Antigo: entre a religião e a beleza Louise Mary E. Souza 1 A joalheria no Egito Antigo O uso de adorno é pessoal e universal, e já era usado entre as etnias mais primitivas. Estudiosos questionam, se seriam roupas ou ornamentos a serem às primeiras coisas usadas quando o homem saiu do "estado da natureza". (AMBROSE, 1940). Teria os ornamentos sua origem na vaidade? Ou na crença de que eles eram um meio mágico de proteção? Para BISOGNIN “o homem pré-histórico percebia a beleza nas coisas que o cercavam, espírito e matéria se uniam numa relação mítico-mágica, onde o resultado ficava plasmado nos objetos que fabricava.” Qualquer que seja a resposta a essas perguntas, estes são objetos que no passado, eram usados regularmente pelos indivíduos por razões espirituais e ou estéticas. Esses adornos deveriam ser importantes, para serem incluídos nos enterros de seus proprietários. Colocados no túmulo com o falecido para que eles pudessem continuar a adorná-lo e protegê-lo na vida e no Amduat. 1 E mail: [email protected]. Facebook: Loui Anippe Francisco Instagram: Louisecanhota

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Adorno no Egito Antigo: entre a religião e a beleza

Louise Mary E. Souza1

A joalheria no Egito Antigo

O uso de adorno é pessoal e universal, e já era usado entre as etnias mais primitivas.

Estudiosos questionam, se seriam roupas ou ornamentos a serem às primeiras coisas usadas

quando o homem saiu do "estado da natureza". (AMBROSE, 1940). Teria os ornamentos sua

origem na vaidade? Ou na crença de que eles eram um meio mágico de proteção? Para

BISOGNIN “o homem pré-histórico percebia a beleza nas coisas que o cercavam, espírito e

matéria se uniam numa relação mítico-mágica, onde o resultado ficava plasmado nos objetos

que fabricava.”

Qualquer que seja a resposta a essas perguntas, estes são objetos que no passado, eram usados

regularmente pelos indivíduos por razões espirituais e ou estéticas. Esses adornos deveriam ser

importantes, para serem incluídos nos enterros de seus proprietários. Colocados no túmulo com

o falecido para que eles pudessem continuar a adorná-lo e protegê-lo na vida e no Amduat.

1 E mail: [email protected]. Facebook: Loui Anippe Francisco Instagram: Louisecanhota

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Figura 1- Parte do papiro Amduat de Nesmut, com uma pequena imagem de um portal com serpente

guardiã na parte inferior esquerda. British Museum EA 9984.

O que é adorno? Aquilo que serve para enfeitar e embelezar. Podem ser denominados

como atavios, enfeites, artefatos, ornamentos ou adereços. Enquadram-se as joias, bijuterias,

ornamentos corporais.

“Examinando os materiais e símbolos presentes nesses ornamentos, pode-se alcançar

uma compreensão mais profunda dos pensamentos complexos que guiaram os artistas e artesãos

na criação desses objetos, bem como das esperanças e crenças daqueles que os usavam nos

tempos antigos.” Afirma a Dr.ª Jennifer H. Wegner (curadora da Seção Egípcia do Penn

Museum).

As joias eram elaboradas a partir de cristais pedras e pedras coloridas originárias do

deserto. Os nômades do Deserto Oriental trocavam matérias-primas tais como: Ouro, prata e

cobre com agricultores e criadores de gado sedentários do Vale do Nilo por seus produtos.

Existia também troca de produtos com nômades de origem semítica que habitavam a Península

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do Sinai por malaquita, turquesa e a lazulita (lápis-lazúli) pedra de cor azul que nunca existiu

nas montanhas egípcias. Estas eram importadas provavelmente do Afeganistão.

Figura 2Colar 15.JW.184 ilustra a variedade de pedras semipreciosas usadas pelos joalheiros egípcios

antigos, incluindo ametista, cornalina, lápis-lazúli e turquesa.

Todas as joias do final do Quinto e do Quarto Milênio a.C que foram encontradas, eram

originárias de tumbas. Joias tais como: Colares, pulseiras braceletes, pulseiras para tornozelos

e cintos.

Figura 3Estatua feminina da época protodinástica com argolas pintadas nos tornozelos (Muller,2006).

Até figuras femininas de barro destinada a acompanhar o morto (noiva dos mortos) na

outra vida, mostra a forma com que as mulheres egípcias costumavam se enfeitar.

Segundo Muller (MÜLLER, 2006: 24) “Desde sua origem, as joias egípcias não foram

só um recurso para embelezar o corpo, mas também, principalmente, um amuleto, um objeto

destinado a prolongar a vida e a proteger contra todo tipo de perigos quem a usasse” (MÜLLER,

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2006).

Figura 4Colar egípcio Encontrado no cemitério de Abu Roash, a oeste do Cairo. Do túmulo de uma

mãe com seu filho Contas da Cornalina e um pingente de faiança verde (provavelmente uma imagem

de Hórus), ca.3000 - 2650 aC Rijksmuseum Amsterdã, Holanda

Mas como eram confeccionadas?

Foram encontradas contas pré-históricas confeccionadas a partir de diferentes tipos de

pedra. Levando a supor que existiam oficinas especializadas entre as povoações do Vale do

Nilo.

Escavações descobriram restos de uma fábrica do início do Segundo Milênio a.C, onde

foram encontradas contas inacabadas em processo de elaboração, bem como broca de sílex e

de cobre, que eram utilizados pelos joalheiros daquele período.

As contas eram enfiadas em finas tirinhas de couro, em fios feitos de linho ou pelo de

animais. Os colares e cintos eram unidos entre si por várias fileiras de contas por meio de

pequenos pedaços de ossos furados ou outros materiais que continham várias voltas.

E dependendo de suas características cada ornamento era destinado a proteger ou

reforçar um aspecto distinto da vida de cada indivíduo. Às pedras semipreciosas, eram

atribuídos diferentes poderes mágicos de acordo com sua cor. Cada cor tinha seu simbolismo

particular e foi criada a partir de elementos encontrados na natureza.

Sobre as cores

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Vermelho (desher): Feito de ferro oxidado e ocre vermelho, usado para criar

tons de carne e simbolizar a vida, mas também o mal e a destruição. O vermelho

estava associado ao fogo e ao sangue, simbolizando vitalidade e energia, mas

também poderia ser usado para acentuar certo perigo ou definir uma divindade

destrutiva - deus Seth. A Cornalina era utilizada frequentemente para confeccionar jóias, bem

como o grená e jaspe vermelho. (DAVID, Rosalie. Religion and Magic in Ancient Egypt: 2003.)

Azul (irtiu e khesbedj): Uma das cores mais usadas pelos artesãos,

normalmente chamada de "Azul Egípcio", feita de óxidos de cobre

e ferro com sílica e cálcio, simbolizando fertilidade, nascimento,

renascimento, vida e geralmente usada para representar a água e

os céus. O azul também simbolizava a proteção. Os amuletos de

fertilidade do deus-protetor Bes eram frequentemente azuis, assim

como as tatuagens que as mulheres usavam de Bes ou padrões em

forma de diamante na parte inferior do abdômen, costas e coxas.

Preto (kem): Feito de carbono, carvão moído, misturado com água e, às vezes, ossos de animais

queimados simbolizavam a morte, a escuridão, o submundo, assim como a vida, o nascimento

e a ressurreição. Segundo Richard H. Wilkinson (WILKINSON, 2002): "A associação

simbólica da cor com a vida e a fertilidade pode muito bem ter sua origem no fértil lodo preto

depositado pelo Nilo em suas inundações anuais, e Osíris – o deus do Nilo e do submundo -

era, portanto, frequentemente retratado com pele negra". (WILKINSON, 2002)

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Amarelo (khenet e kenit) - Feito de ocre e óxidos

originalmente, simbolizando o sol e a eternidade. O

amarelo foi escurecido pela cor dourada dos deuses

ou iluminado com branco para sugerir pureza ou

algum aspecto sagrado de um personagem ou objeto.

A Deusa Ísis, por exemplo, sempre é retratada com

pele dourada em um vestido branco, mas, às vezes,

seu vestido é amarelo claro para enfatizar seu aspecto

eterno.

Branco (hedj e shesep) - Feito de cal misturado com gesso, frequentemente usado como

clareador para outros tons e simbolizando pureza, sacralidade, limpeza e clareza. O branco era

da cor das roupas egípcias e, portanto, associado à vida cotidiana, mas frequentemente era usado

em peças artísticas para simbolizar a natureza transcendente da vida. Os sacerdotes sempre

usavam branco, assim como os assistentes do templo e as pessoas no templo, que estavam

participando de um festival ou ritual. A Coroa Branca do Alto Egito, por exemplo, é

constantemente referida como branca - e é retratada de forma realista - mas também simboliza

a estreita conexão com os deuses cultuados pelo rei - e representa simbolicamente a pureza e o

sagrado

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Verde (wadj): Misturado com malaquita, um mineral

de cobre e simbolizando bondade, crescimento, vida,

vida após a morte e ressurreição. A vida após a morte

egípcia era conhecida como “O Campo dos Juncos” ou

“O Campo da Malaquita” e sempre foi associada à cor

verde. Verde é a cor do deus ressuscitado Osíris e

também do Olho de Hórus. Turquesa, feldspato e jaspe

verde. Hathor estava intimamente associada à árvore

Sicômoro, como renovação, transformação e

renascimento. Múmias de mulheres tatuadas sugerem

que a tinta poderia ter sido verde, azul ou preta e as

tatuagens estão relacionadas ao culto de Hathor

(MARK, 2017).

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Dourado: Os escritos egípcios descrevem os corpos dos deuses em

detalhes. Eles são feitos de materiais preciosos; sua carne é dourada,

seus ossos são prateados e seus cabelos são lápis-lazúli. Eles exalam

um perfume que os egípcios comparavam ao incenso usado nos

rituais. Alguns textos apresentam descrições precisas de divindades

específicas, incluindo altura e cor dos olhos. No entanto, essas

características não são fixas; nos mitos, os deuses mudam sua

aparência para se adequarem a seus próprios propósitos.

Contas e Pedras

Contas coloridas, conchas de certos caracóis originários do vale do Nilo, válvas de

moluscos recolhidas no Mar Vermelho ou Mediterrâneo. Conchas de cauri (búzios) aparecem

mais em tumbas de mulheres, em cintos que ficavam ao redor dos quadris e ventre. Foram

encontradas pedras de cantarias no interior das conchas que possivelmente eram para produzir

som aos movimentos do corpo.

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Figura 5Cordão de conchas e contas de pedra, período Badarian (antes 4.000 aC), Pulseiras de

conchas, período Pré Dinástico (cerca de 3500 aC).

As conchas de cauri (búzios) eram usadas como amuletos

femininos, tinham o poder de afastar as doenças do ventre e

garantir que a gestação terminasse bem. As sementes de acácias

tinham a mesma função das conchas de cauri e frequentemente

apareciam como ligação ornamental entre as fileiras de contas nos

cintos femininos. Pequenas contas de meteoritos que contém ferro,

encontrados em uma tumba. Dentes de animais como

hipopótamos, chifres, casca de ovos de avestruz e garras de aves

de rapinas eram também usados nas confecções de adornos.

Esmaltes e Pasta Vidrada

No 4ª. Milênio a.C, as contas de pedra sabão e quartzo aparecem revestidos de verniz

vidrado. O verniz provavelmente foi descoberto por acaso ao jogar resto de malaquita (utilizada

para maquiar os olhos), rica em oxido de cobre, e areia do deserto que é rica em carbonato de

sódio e quartzo quando são misturados, e ao fundir no calor se, transformam se em esmalte

vidrado. Outras descobertas dos artesãos egípcios foram às contas confeccionadas a partir de

Figura 6conchas de cauri

(búzios)

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uma pasta vidrada que era uma mistura de: Areia calcária do deserto e compostos de cobre

utilizados para dar cor, à qual era acrescentado carbonato de sódio a água.

A pasta era amassada modelada em uma forma de contas, deixada secar e provavelmente

nos primeiros tempos cozida em forno coberto com calcita em pó, cinza vegetal ricas em

substâncias alcalinas e composto de cobre. As contas eram feitas com uma porção de palha no

seu interior, para evitar o processo de perfurar.

Figura 7"Hipopótamo com flores de lótus, brotos e folhas, dinastia XII (por volta de 1950 aC)

popularmente chamada "William“,

Metais

Os metais utilizados eram o ouro, a prata e o cobre. Mas também utilizavam o metal

vindo do céu – ferro meteórico.

Figura 8A adaga forjada com ferro dos céus. O objeto foi

encontrado no túmulo do faraó egípcio Tutankhamon

datada de 1350 AEC, cerca de 200 anos antes da Idade do

Ferro. (Imagem: © Albert Jambon)

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Figura 9Punhal de sílex com cabo decorado

com lamina de ouro batido (MÜLLER, 2006: 28)

Figura 10 pepita de ouro

O Ideograma Ouro

O falcão Hórus pousado sobre o ideograma ouro. Seth, agachado sobre o ideograma

ouro.

Antes da primeira dinastia por volta do ano 3.000 a.C, a palavra “ouro” começou a ser

representada em forma hieroglífica como um colar de contas.

Este colar consistia de um semicírculo formando vário voltas de contas, que ficavam

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penduradas sobre o peito, cercavam os ombros e se fechavam atrás na nuca com duas fitas.

Tinha como acabamento na parte inferior do colar alguns pingentes em formato de lágrimas. A

raiz da palavra ouro (nb) é a mesma que a palavra utilizada para designar as brasas

candentes. (MÜLLER, 2006)

O hieróglifo egípcio que representa o ouro (Gardiner S12), valor fonético nb, é

importante devido ao seu uso no nome Hórus de Ouro.

Figura 11Antebraço de mulher adornado com 4 pulseiras, provavelmente das câmaras funerárias de

Djer. Cada pulseira tinha um significado, a que representavam o título real: “Falcão Hórus sobre a

fachada do palácio” (o Serekh)

Alguns amuletos mais encontrados

O ankh é dos símbolos mais reconhecíveis da iconografia egípcia. Esta palavra

significa “viver, vida, seres vivos”, ligando-se à força que simboliza a vida em

si própria. Quem possuiria esta força vital seriam os deuses, representando-se

várias vezes com um ankh na mão. Era utilizado como motivo decorativo,

adornava vários túmulos, joias e objetos como caixas, sendo utilizado muitas

vezes como amuleto, mais ligados aos vivos. Porém, a partir

do Império Novo são observáveis pinturas em que deuses

oferecem aos defuntos este símbolo de vida, representando

assim não só a vida enquanto se está vivo mas também a vida

que se obteria depois da morte, no reino de Osíris, a vida

eterna. Com este significado, vai-se integrar na visão da cruz ansata, dos cristãos coptas.

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O pilar djed, que é caracterizado por uma coluna larga com barras em cima

(três ou quatro), sendo associado à coluna de Osíris. Observa-se a presença

deste amuleto na vertical nos sarcófagos podendo-se fazer uma ligação à

própria coluna do defunto. Djed teria como significado “resistência” ou

“estabilidade”, utilizando-se por vezes em conjunto com outros amuletos.

Era geralmente feito de faiança, porém o Livro dos Mortos recomendava que

se colocasse este amuleto, em ouro, à volta do pescoço da múmia. Durante o

festival anual de Sokar era erguido este pilar, como símbolo de ressurreição e de vitória de

Osíris contra a morte e os seus inimigos.

Nó de Ísis, ou tjet, este amuleto é semelhante ao ankh, e era colocado

normalmente no pescoço do defunto. O Livro dos Mortos dizia que deveria

ser sempre de cor avermelhada, sendo muitas vezes utilizado o jaspe

vermelho para o fabricação deste amuleto, assim como a cornalina. Era visto

como um símbolo de regeneração e estava, como o seu nome indica, ligado

à deusa Ísis, assemelhando-se a uma malha de tecido, a

partir da qual na extremidade inferior caia com dobras.

Pode representar um pano usado durante a menstruação.

De acordo com o feitiço 156 do Livro dos Mortos, este

amuleto fornecia a proteção de Ísis a qualquer pessoa que

fosse atacada. Este feitiço invocava o sangue da deusa, o seu poder e magia, sendo recitado por

cima do amuleto, para assegurar a sua aplicação direta nesse mesmo objeto. Por vezes pode

haver inscrições com nomes de algumas pessoas, referindo assim que a proteção se aplicava

especificamente àquela pessoa.

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O escaravelho é um dos animais mais representados como amuletos

no Antigo Egito, podendo-se inserir numa categoria de amuletos

naturalistas. Este inseto, conhecido como kheper, empurrava uma

bola de esterco na terra e era este movimento que os egípcios

começaram a associar ao movimento do disco solar no céu. Foi então

a partir desta observação que o escaravelho vinculou-se ao deus

Khepri e ao Sol nascente, como símbolo de renascimento dos

defuntos, pois o Sol renascia depois da noite. As primeiras

representações destes animais em amuletos datam do Império

Antigo, sendo simples, sem inscrições, tornando-se mais complexos

a partir do Império Médio, com selos emotivos decorativos,

apresentado por vezes textos na sua base. Como símbolo ligado ao renascimento, foi muito

utilizado na mumificação, como escaravelho do coração. Uma peça confeccionada era colocado

no peito do morto, preso na zona do coração ou pendurado no pescoço da múmia. Por vezes

apresentava uma cabeça humana com corpo de inseto.

O escaravelho do coração tinha como função evitar

que o coração do morto o traísse durante o

julgamento final, não se rebelando contra o seu dono,

como se verifica

por inscrições do

capítulo 30 do

Livro dos Mortos.

Figura 12 - imagens retiradas do livro AMULETS OF ANCIENT EGYPT - Carol Andrews - pag. 52

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Olho wdjat refere-se ao olho esquerdo que o deus Hórus perdeu

na contenda com o deus Set, sendo reposto pelo deus Tot, na

versão mais conhecida, ainda que muitas vezes esteja

representado o olho direito, ligado ao sol (deus Ra). Na visão

egípcia um símbolo de perfeição, proteção e poder. Usado como

amuleto tanto por vivos como por mortos.

Peixe. O colar Glencairn 15.JW.43 apresenta um amuleto de

peixe. Dada a importância do rio Nilo, não surpreende que

imagens de peixes sejam encontradas em adornos. Um tipo

de peixe, a tilápia, era um símbolo de renascimento e

regeneração. Os amuletos de peixe também podem ter sido

usados para proteger alguém de afogamento. Museu

Glencairn 15.JW.431.

Um famoso conto egípcio descreve uma jovem que está chateada por perder

seu pingente de peixe na água enquanto participa de uma festa real no barco.

Ela se recusa a remar até encontrar o pingente de peixe. Frasco de cosmético

no Museu Britânico (EA2572) mostra um pingente em forma de peixe afixado

à trança de uma jovem ajoelhada. Imagem cortesia do Museu Britânico.

Pingente de peixe-gato do Nilo representa um Synodontis

Batensoda, mais conhecido como peixe-gato do Nilo, uma espécie

de peixe nomeada por sua barriga negra. Frequentemente usados no

final de uma trança de cabelo, amuletos como esse eram

usados por crianças e jovens para proteger contra

afogamentos. Este amuleto fino é feito de ouro com

incrustações de pedra, incluindo uma pedra vermelha para o

olho direito e uma pedra verde para a esquerda. Os amuletos

na forma do Synodontis Batensoda eram particularmente

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populares durante o Reino do Meio, quando os peixes poderiam ter sido identificados com uma

constelação astronômica. Ouro com faiança vidrada em verde egípcio, calcedônia, turquesa,

cornalina, lápis-lazúli e incrustações de pedra preta. Reino do Meio, 12a dinastia, ca. 1985-

1773 aC. Agora no Walters Art Museum.

Flores e frutos

Segundo Odessia Calugaru do Ancient Egyptian Portal:

A romã foi trazida para o Egito da Síria durante o governo dos hicsos (1600

aC). As romãs eram valorizadas no Egito como fonte de alimento e faziam

parte do suprimento de frutas necessárias na residência de um faraó.

Os egípcios antigos usavam a romã de várias

maneiras. Acreditava-se que o suco (chamado

Schedou) combatesse vermes intestinais, enquanto

a flor de romã era esmagada para formar um corante

vermelho e a casca era usada para tingir couro. A

romã tornou-se tão reverenciada que representações

de romãs foram encontradas em pinturas murais

egípcias em túmulos, simbolizando a vida após a morte. De fato, o rei Tut levou um vaso de

romã para a vida após a morte com ele.

A flor e botão de lótus representa o eterno renascimento usado joia

usado em vivos e mortos.

Conclusão

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Após leitura pormenorizada deste trabalho, é possível compreender que, as

contribuições da historiografia e das inúmeras pesquisas realizadas por especialistas da área

foram fundamentais para esclarecer as dúvidas que surgem através dos séculos sobre a temática

abordada ao longo do referido texto.

Pode-se ainda perceber que, à medida que a sociedade egípcia se tornava mais

sofisticada em determinada época e local, surgiam sinais cada vez mais claros de atividades

religiosas e joias produzidas de forma e cores mais elaboradas, pois no imaginário dos antigos

egípcios, havia estreita relação entre beleza, deuses, religião, magia e práticas funerárias.

Bibliografia

BISOGNIN, E. L. et al. Adornos nas civilizações pré-históricas sob a ótica da

ourivesaria. Revista Competência, Revista da Educação Superior do Senac – RS, Porto Alegre,

v.5, n. 1, p. 57-70, 2012.

https://www.metmuseum.org/toah/hd/egold/hd_egold.htm

Richard H. Wilkinson em seu Symbolism & Magic in Egyptian Art e a Encyclopedia of

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Winlock's 'Excavations at Deir el-Bahari, 1911-1931' has a small section about Mayet

who was found during the 1921 season. Plate 11 has an image of 'The Jewelry of Mayet and

her mummy in its coffins'.

https://www.academia.edu/17620202/As_rela%C3%A7%C3%B5es_do_Egipto_do_I

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The Palermo Stone: the Earliest Royal Inscription from Ancient Egypt Hsu, Shih-Wei

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Muller W, Hans / Thiem B. - O ouro dos Faraós Biblioteca Egito. 2006

Araujo, Luís Manuel - Seminário de História Antiga- Amuletos no Antigo Egipto 30 de

Maio de 2014 Portugal

Symbol & Magic in Egyptian Art (Book published February 1, 1999 Author Richard H.

Wilkinson

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