Adriano Luis Costa
Transcript of Adriano Luis Costa
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
UMA PROPOSTA CONCEITUAL E FERRAMENTAS PARA PREVENÇÃO
ADRIANO LUIS COSTA
Dissertação apresentada ao corpo docente do Curso de Pós-Graduação em
Engenharia Civil da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de MESTRE EM
ENGENHARIA.
Porto Alegre
Agosto de 1999
ii
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM
ENGENHARIA e aprovada em sua forma final pelo orientador e pelo Curso de Pós-
Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Orientador
Professor Carlos Torres Formoso
Ph.D. pela University of Salford
Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil
Professor Francisco P. S. L. Gastal
Banca Examinadora
Professor Ioshiaqui Shimbo
Dr. pela UNICAMP
Professor Irê Silva Lima
Dr. pela UFSC
Professor Ruy Alberto Cremonini
Dr. pela EPUSP
iii
AGRADECIMENTOS
Gostaria de deixar registrados os mais sinceros agradecimentos a todas as pessoas e
instituições que direta ou indiretamente contribuíram para que esta dissertação pudesse ser
realizada e, de forma especial:
! ao professor Carlos Torres Formoso, pela orientação e pelo incentivo dado a este
trabalho;
! à Capes, responsável pelos recursos que possibilitaram a realização deste curso de pós-
graduação;
! às empresas que participaram do projeto e gentilmente colocaram seus canteiros de
obras à disposição para a coleta dos dados;
! à minha família, que sempre incentivou de forma irrestrita os estudos;
! a Carolina Garcia, Luís Alberto Hermann do Nascimento, Andrei Indursky Pan,
Leonardo De Bonna Becker e Alexandre Kapper, auxiliares de pesquisa do NORIE, e a
Márcia Sperb, mestranda do NORIE, pelo esforço e dedicação dispensados ao
levantamento dos dados;
! a Fabiana Pires Rosa, mestranda do NORIE, pela amizade e pelo auxílio tanto na coleta
e tabulação dos dados, como na redação dos relatórios finais do projeto destinados às
empresas;
! aos amigos João Ilton Ribeiro de Oliveira, Eduardo Hilbk, Márcio Barata, Nelson Souza
e Maurício Bernardes, pelo interesse demonstrado nas valiosas discussões e pela
paciência nos últimos meses;
! à todos os amigos e colegas do NORIE, pela simpatia e pelos momentos agradáveis
proporcionados no decorrer do curso.
iv
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS...................................................................................... viii
LISTA DE TABELAS........................................................................................ix
RESUMO..............................................................................................................x
ABSTRACT ........................................................................................................xi
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................1
1.1 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA..................................................................................1
1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO.......................................................................................5
1.3 MÉTODO DE PESQUISA ..............................................................................................6
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO...............................................................................7
2 ANÁLISE DAS PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL SOB O ENFOQUEDA NOVA FILOSOFIA DE PRODUÇÃO.......................................................9
2.1 A NOVA FILOSOFIA DE PRODUÇÃO (NFP).............................................................9
2.1.1 A filosofia de produção convencional....................................................................10
2.1.2 A produção vista como um processo de fluxo .......................................................11
2.2 O SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO (STP) .........................................................12
2.2.1 O Mecanismo da Função de Produção (MFP) .......................................................16
2.3 IDENTIFICAÇÃO DAS PERDAS SEGUNDO A NFP E O STP................................18
2.3.1 O conceito de perda segundo Ohno........................................................................19
2.3.2 Identificação das perdas segundo Ohno e Shingo ..................................................21
2.3.2.1 Perdas por superprodução...............................................................................21
2.3.2.2 Perdas pela geração de estoques .....................................................................22
2.3.2.3 Perdas por transporte ......................................................................................23
2.3.2.4 Perdas nos movimentos ..................................................................................23
2.3.2.5 Perdas por espera ............................................................................................25
2.3.2.6 Perdas por fabricação de produtos defeituosos...............................................25
2.3.2.7 Perdas no processamento em si ......................................................................26
2.4 PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL..........................................................................27
3 ESTUDOS ANTERIORES SOBRE PERDAS NA CONSTRUÇÃOCIVIL..................................................................................................................32
3.1 ESTUDOS REALIZADOS POR SKOYLES................................................................32
3.1.1 Classificação das perdas segundo Skoyles .............................................................32
3.1.2 Resultados obtidos..................................................................................................34
v
3.1.3 Conclusões do estudo .............................................................................................35
3.1.4 Análise crítica dos estudos de Skoyles...................................................................36
3.2 ESTUDO REALIZADO POR PINTO...........................................................................38
3.2.1 Resultados obtidos..................................................................................................39
3.2.2 Conclusões do estudo .............................................................................................40
3.2.3 Análise crítica do estudo de Pinto ..........................................................................41
3.3 ESTUDO REALIZADO POR PICCHI .........................................................................41
3.3.1 Resultados obtidos..................................................................................................42
3.3.2 Conclusões do estudo .............................................................................................43
3.3.3 Análise crítica do estudo de Picchi.........................................................................43
3.4 ESTUDO REALIZADO POR SOIBELMAN...............................................................43
3.4.1 Método utilizado para o levantamento dos dados ..................................................44
3.4.2 Resultados obtidos..................................................................................................46
3.4.3 Conclusões do estudo .............................................................................................47
3.4.4 Análise crítica do estudo de Soibelman..................................................................48
3.5 ESTUDO REALIZADO EM HONG KONG ................................................................49
3.5.1 Definição de perdas na construção e suas principais origens.................................50
3.5.2 Quantificação e análise das perdas na construção..................................................51
3.5.2.1 Índice de perda do concreto............................................................................51
3.5.2.2 Índice de perda dos outros materiais usados em serviços úmidos..................52
3.5.3 Principais causas das perdas...................................................................................52
3.5.4 Análise crítica do estudo de Hong Kong................................................................53
3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................54
4 HISTÓRICO DO PROJETO “ALTERNATIVAS PARA A REDUÇÃODOS DESPERDÍCIOS DE MATERIAIS NOS CANTEIROS DEOBRAS” .............................................................................................................55
4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS .......................................................................................55
4.2 DESCRIÇÃO GERAL DO PROJETO..........................................................................55
4.2.1 Aspectos conceituais ..............................................................................................56
4.2.2 Método da pesquisa ................................................................................................57
4.2.2.1 Materiais e serviços estudados........................................................................57
4.2.2.2 Período de coleta dos dados............................................................................58
4.2.2.3 Forma de registro dos dados ...........................................................................59
4.2.2.4 Cálculo dos índices contábeis de perda ..........................................................60
4.2.2.5 Pessoal envolvido na pesquisa........................................................................62
4.3 DESCRIÇÃO DA PESQUISA REALIZADA EM PORTO ALEGRE ........................62
4.3.1 Empresas participantes do projeto..........................................................................62
4.3.2 Obras estudadas ......................................................................................................63
4.3.3 Levantamento dos dados ........................................................................................65
4.3.3.1 Período anterior às verificações iniciais (Vi) ..................................................65
4.3.3.2 Verificações iniciais (Vi) ................................................................................68
vi
4.3.3.3 Período situado entre as verificações iniciais (Vi) e verificações finais (Vf) .70
4.3.3.4 Verificações finais (Vf)...................................................................................72
4.3.4 Totalização dos dados e cálculo dos índices de perda............................................73
4.3.5 Análise dos resultados ............................................................................................77
5 APRESENTAÇÃO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS E AVALIAÇÃODO MÉTODO DE PESQUISA EMPREGADO NO PROJETO“ALTERNATIVAS PARA A REDUÇÃO DOS DESPERDÍCIOS DEMATERIAIS NOS CANTEIROS DE OBRAS” ............................................79
5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS .......................................................................................79
5.2 DIMENSÕES DA PESQUISA......................................................................................79
5.2.1 Equipes de pesquisa................................................................................................80
5.2.2 Empresas.................................................................................................................80
5.2.3 Obras.......................................................................................................................82
5.2.4 Materiais .................................................................................................................83
5.2.5 Serviços ..................................................................................................................84
5.2.6 Indicadores de perda...............................................................................................85
5.3 PRINCIPAIS RESULTADOS DO ESTUDO ...............................................................86
5.3.1 Brasil.......................................................................................................................86
5.3.2 Rio Grande do Sul ..................................................................................................86
5.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO ESTUDO NO RIO GRANDE DO SUL ...........89
5.4.1 Análise geral dos dados obtidos .............................................................................89
5.4.2 Análise específica por material nas obras de Porto Alegre ....................................93
5.4.2.1 Cimento ..........................................................................................................93
5.4.2.2 Areia ...............................................................................................................94
5.4.2.3 Concreto usinado ............................................................................................95
5.4.2.4 Aço..................................................................................................................96
5.4.2.5 Blocos e tijolos ...............................................................................................97
5.4.2.6 Eletrodutos......................................................................................................98
5.4.2.7 Tubulações hidrosanitárias .............................................................................98
5.4.2.8 Placas cerâmicas .............................................................................................99
5.4.2.9 Revestimento têxtil .........................................................................................99
5.5 AVALIAÇÃO CRÍTICA DA PESQUISA ....................................................................99
5.5.1 Método de pesquisa empregado ...........................................................................100
5.5.2 Cumprimento dos objetivos propostos .................................................................103
5.5.3 Avanços em relação aos estudos anteriores..........................................................103
6 PROPOSTA DE ESTUDO DAS PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVILCONSIDERANDO O CONCEITO MAIS AMPLO....................................105
6.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS .....................................................................................105
6.2 DEFINIÇÃO DE PERDA ADOTADA NESTE ESTUDO.........................................105
6.3 PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS .................................................107
vii
6.3.1 Perdas por superprodução.....................................................................................108
6.3.1.1 Perdas por superprodução quantitativa.........................................................108
6.3.1.2 Perdas por superprodução por antecipação...................................................109
6.3.2 Perdas por manutenção de estoques .....................................................................110
6.3.3 Perdas por transporte ............................................................................................112
6.3.4 Perdas nos movimentos ........................................................................................113
6.3.5 Perdas por espera..................................................................................................114
6.3.6 Perdas por elaboração de produtos defeituosos....................................................115
6.3.7 Perdas no processamento em si ............................................................................116
6.3.8 Perdas por substituição .........................................................................................117
6.3.9 Outras perdas ........................................................................................................118
6.4 ESTUDO DAS PERDAS SEGUNDO O CONCEITO MAIS AMPLO .....................119
6.4.1 Escolha da ferramenta ..........................................................................................119
6.4.2 Desenvolvimento das planilhas ............................................................................121
6.4.3 Aplicação e validação das planilhas .....................................................................124
6.4.4 Resultados do estudo piloto..................................................................................126
6.4.5 Conclusões preliminares sobre a ferramenta........................................................128
6.4.6 Diretrizes para o aprimoramento da ferramenta...................................................129
7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES................................................................131
7.1 CONCLUSÕES............................................................................................................131
7.2 SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS .............................................................134
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................135
ANEXO.............................................................................................................139
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 A visão convencional de um processo de produção (Koskela, 1992) .....................10
Figura 2.2 Produção como processo de fluxo (Koskela, 1992) ................................................12
Figura 2.3 A estrutura da produção (Shingo, 1988)..................................................................16
Figura 2.4 Divisão dos movimentos dos trabalhadores: trabalho e perdas...............................20
Figura 3.1 Ciclo PDCA no processo de melhoria contínua (Campos, 1992) ...........................38
Figura 4.1 Exemplo de instruções para registro dos canteiros de obras ...................................66
Figura 4.2 Modelo de planilha utilizada para levantamento dos quantitativos teóricos...........68
Figura 4.3 Exemplo de preenchimento de planilha na Vi. ........................................................68
Figura 4.4 Quadro de marcação do destino do cimento............................................................70
Figura 4.5 Exemplo de preenchimento de planilha na Vf. ........................................................73
Figura 4.6 Contabilização de estoques na Vi e na Vf................................................................74
Figura 4.7 Levantamento de quantitativos em projeto (total por pavimento)...........................74
Figura 4.8 Acompanhamento da quantidade de material entregue na obra..............................75
Figura 5.1 Número de empresas participantes..........................................................................81
Figura 5.2 Número de obras visitadas.......................................................................................82
Figura 5.3 Canteiro desorganizado e posto de produção de argamassa descoberto .................91
Figura 5.4 Operário projetando argamassa para revestimento com pá.....................................91
Figuras 5.5 e 5.6 Equipamentos apropriados para o trensporte dos materiais..........................92
Figuras 5.7 e 5.8 Dosagem de cimento com equipamentos inadequados.................................94
Figura 5.9 Vista parcial da cortina de concreto construída nos fundos do canteiro .................96
Figura 5.10 Vergalhões de diversas bitolas misturados e estoque de armaduras prontas.........97
Figura 5.11 Pilha de blocos com mais de 3 metros de altura....................................................98
Figura 6.1 Exemplo de lista de produção................................................................................120
Figura 6.2 Exemplo de lista de comprovação.........................................................................121
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 Resultados de perdas diretas obtidos em 114 canteiros ..........................................35
Tabela 3.2 Índices de perdas obtidos na pesquisa.....................................................................39
Tabela 3.3 Variação no consumo de argamassas nos serviços de revestimento.......................40
Tabela 3.4 Resultados obtidos da análise de perdas de materiais.............................................42
Tabela 3.5 Perda devido à espessuras adicionais de argamassas..............................................42
Tabela 3.6 Índices de perda de materiais para os diferentes períodos considerados ................47
Tabela 3.7 Composição média diária das perdas na construção por origem ............................50
Tabela 3.8 Principais causas das perdas em Hong Kong..........................................................53
Tabela 4.1 Características gerais das empresas de Porto Alegre ..............................................63
Tabela 4.2 Características gerais das obras estudadas em Porto Alegre...................................64
Tabela 5.1 Equipes de pesquisa envolvidas no projeto.............................................................80
Tabela 5.2 Porte das empresas em função do número de funcionários ....................................81
Tabela 5.3 Principal atividade das empresas ............................................................................82
Tabela 5.4 Tipo de edificação estudada....................................................................................83
Tabela 5.5 Número de obras em que cada material foi estudado .............................................84
Tabela 5.6 Número de obras em que cada serviço foi estudado...............................................85
Tabela 5.7 Dados nacionais sobre perda de materiais ..............................................................87
Tabela 5.8 Índices de perda de materiais no Rio Grande do Sul ..............................................88
Tabela 5.9 Dados rejeitados em Porto Alegre devido a incertezas quanto a sua validade .....102
Tabela 6.1 Listas de verificação desenvolvidas e seus respectivos códigos...........................122
Tabela 6.2 Número de obras em que foram aplicadas as listas de verificação.......................125
Tabela 6.3 Percentual de boas práticas verificado na execução das alvenarias......................127
x
RESUMO
A diminuição da disponibilidade de recursos financeiros para realização de novos
empreendimentos, as crescentes exigências por parte do mercado consumidor e a maior
mobilização da mão-de-obra em busca de melhores condições de trabalho, têm exigido das
empresas de construção civil maiores níveis de qualidade e produtividade em seus processos.
Para que isto ocorra, é necessária a disseminação dos novos conceitos e princípios de
gestão entre os profissionais e empresas de construção, de forma a remover alguns obstáculos
que dificultam o avanço do setor. Uma das decorrências do atraso deste segmento industrial é
o elevado índice de perdas que ocorre nos processos produtivos.
Apesar da importância do controle das perdas na construção, verifica-se que poucas
pesquisas têm sido realizadas para a obtenção de dados consistentes no Brasil. Observa-se,
além disso, que as pesquisas existentes possuem certa semelhança no que diz respeito ao seu
enfoque, e que seus autores dedicaram-se, quase que exclusivamente, ao estudo das perdas de
materiais de construção.
Considerando este contexto, objetivou-se com o presente trabalho adaptar para a
construção civil um conceito mais amplo de perdas, baseado nos conceitos e princípios da
Nova Filosofia de Produção e do Mecanismo da Função Produção. Tal adaptação ocorreu
através da proposição de uma classificação de perdas para a construção e do desenvolvimento
de uma ferramenta pró-ativa para auxiliar na identificação das perdas do setor, possibilitando
assim que iniciativas visando ao seu controle possam ser tomadas ainda no decorrer das obras.
xi
ABSTRACT
The lack of resources for financing new construction projects, the growing demand for
quality from consumers, and the demand for better working conditions from the labour force
have been forcing construction firms to improve their processes in terms of quality and
productivity.
The success of such change depends on the dissemination of new management concepts
and principles among professionals and firms, so that existing obstacles to the development of
the construction sector are overcome. One of the main results of the low performance of this
industry is the high incidence of waste.
Despite the importance of waste control in building, few research studies involving
consistent data collection have been developed in Brazil. Besides that, most of the work
carried out so far have focused exclusively on the waste of construction materials.
Considering such a context, the aim of this research work is to adapt a broader concept
of waste, strongly based on the New Production Philosophy and on the production function
mechanism, to the construction industry. This adaptation has been performed by proposing a
classification of construction waste, and by developing a pro-active control tool for supporting
the identification of waste, which allows waste to be controlled during the production stage.
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA
Nas últimas décadas, vem ocorrendo nos diversos setores da economia mundial uma
crescente busca por melhorias na qualidade dos produtos oferecidos pelas empresas aos
consumidores. A fabricação de produtos com qualidade superior, obtidos com alta
produtividade e baixo índice de desperdício, tornou-se um fator determinante do quão
competitiva é a empresa em relação aos seus concorrentes.
No Brasil, a busca pela competitividade por parte das empresas iniciou mais
recentemente e, com a abertura do mercado aos produtos estrangeiros, verificou-se que a
indústria nacional está bastante defasada em relação à indústria dos países desenvolvidos no
que diz respeito à qualidade. Observa-se, também, que, entre os diversos setores produtivos
do país, o grau de mobilização em busca da qualidade de produtos e processos é bastante
variado, estando os conceitos e métodos bem mais sedimentados em alguns segmentos do que
em outros.
A construção civil, particularmente o sub-setor edificações1, por se tratar de um
segmento que possui diversas peculiaridades, apresenta uma grande defasagem em relação à
indústria seriada, no que diz respeito à utilização de novos conceitos e métodos relacionados à
qualidade e produtividade, fato que não ocorre de forma tão acentuada nos sub-setores
montagem industrial e construção pesada, nos quais já houve uma maior penetração das
modernas filosofias gerenciais.
Porém, o sub-setor edificações no país está passando por uma fase de restruturação, pois
a diminuição da disponibilidade de recursos financeiros para realização de novos
empreendimentos, as crescentes exigências por parte do mercado consumidor e a maior
mobilização da mão-de-obra em busca de melhores condições de trabalho têm exigido uma
nova postura das empresas que nele atuam, no sentido da adoção de estratégias empresariais
mais modernas, centradas na busca de melhorias de qualidade e produtividade, possibilitando,
desta forma, a obtenção de um produto final melhor e mais barato.
1 Segundo a divisão proposta pela Fundação João Pinheiro (1984), a Indústria da Construção no Brasil distribui-se em três sub-setores: construção pesada, montagem industrial e edificações.
2
Neste processo de mudança, as empresas do setor, da mesma forma que as empresas da
indústria seriada, devem definir estratégias funcionais adequadas. Tais estratégias podem ser
entendidas como a determinação de políticas específicas para as diversas funções
empresariais, tais como, manufatura, marketing, finanças, recursos humanos e informações. A
função manufatura, ou função produção, tem recebido nos últimos anos maior atenção do que
vinha recebendo por parte dos empresários e gerentes, pois deixou de ser considerada apenas
uma simples aplicação de tecnologia para a obtenção de produtos e tornou-se uma fonte
potencial de vantagens competitivas para as empresas. Skinner (1969) foi um dos pioneiros a
difundir a importância das possíveis formas de configuração da manufatura em função dos
diferentes tipos de estratégias de negócios das empresas, defendendo que a manufatura deve
ser tratada como uma arma competitiva.
Slack (1993), porém, argumenta que os gerentes de manufatura não estão acostumados a
pensar, agir ou influenciar a organização de forma estratégica, o que faz com que seus
interesses sejam colocados em segundo plano dentro do conjunto de interesses da empresa.
Esta característica não é estranha aos gerentes de produção das empresas de construção,
uma vez que esses tendem a passar um tempo demasiadamente longo preocupados com
problemas emergenciais que freqüentemente surgem nas obras, situação que é popularmente
conhecida como “apagar incêndios”, o que os impede de se envolver com o desenvolvimento
de atividades que possibilitem a efetiva melhoria do desempenho da função produção, tais
como planejamento estratégico, racionalização do uso de recursos, organização dos canteiros,
aperfeiçoamento da mão-de-obra e outros. Picchi (1993) afirma que faz parte da cultura dos
profissionais da construção de edifícios uma grande tolerância com problemas crônicos do
setor, e cita como exemplo o elevado índice de desperdícios existente, considerado pela
maioria desses profissionais como normal, o que caracteriza o conformismo com níveis
medíocres de qualidade.
Para que ocorra uma mudança neste contexto, é fundamental que haja a disseminação
dos novos conceitos e princípios de gestão entre os profissionais e empresas de construção, de
forma que os fatores culturais predominantes, que dificultam o avanço do setor e
caracterizam-no como atrasado, possam ser modificados.
Uma das decorrências do atraso deste setor é o elevado índice de perdas que ocorre nos
processos produtivos. Ohno (1988), referindo-se à fabricação de automóveis, argumenta que
só faz sentido aumentar a eficiência da produção quando é necessário reduzir os custos e, para
3
alcançar este objetivo, torna-se essencial produzir apenas os produtos necessários usando a
mínima força de trabalho, ou seja, eliminando completamente as perdas.
De forma similar a este segmento industrial, na construção de edifícios, a ocorrência de
perdas também está associada à deficiências na produção, que elevam o custo do produto final
e tornam seu padrão de qualidade inferior. Isto ocasiona a diminuição dos lucros da empresa
ou o aumento do preço do imóvel, que acaba sendo repassado para os consumidores, situação
indesejada num mercado competitivo.
Sob o ponto de vista ecológico e social, Wyatt (1978)2 citado por Formoso et al. (1993)
coloca que a perda de materiais de construção pode gerar a redução da sua disponibilidade no
futuro, bem como dos recursos energéticos necessários para a sua obtenção. Segundo
Forsythe & Marsden (1999), existe uma forte iniciativa da comunidade na Austrália de tornar
a indústria da construção responsável pelas perdas que gera, pois estudos recentes revelaram
que o setor contribui com 20 a 30% do entulho sólido depositado em áreas de despejo. Os
mesmos autores afirmam que novas tendências na política ambiental daquele país buscam
identificar além dos geradores das perdas, os seus colaboradores, para então responsabilizá-
los por todos os custos associados às perdas. Desta forma, os clientes e fornecedores da
indústria da construção tornar-se-ão inerentemente responsáveis pelas perdas do setor. Esta
pressão visa influenciar principalmente os clientes, para que optem pelos serviços de
empresas de construção que controlam suas perdas, voltadas para as questões ambientais.
Levando-se em consideração a importância do controle das perdas, que são freqüentes
nos canteiros de obras, verifica-se que poucas pesquisas têm sido realizadas para a obtenção
de dados consistentes sobre o assunto. Destacam-se no exterior os estudos desenvolvidos por
Skoyles (1976) e pela Hong Kong Polytechnic (1993), e no Brasil, os desenvolvidos por Pinto
(1989), Picchi (1993) e Soibelman (1993).
Observa-se, além disso, que estas pesquisas possuem certa semelhança no que diz
respeito ao seu enfoque, e que seus autores, na tentativa de explicar algumas das ineficiências
do setor, dedicaram-se quase que exclusivamente ao estudo das perdas de materiais de
construção. De acordo com Taylor (1982), semelhante equívoco também ocorria dentre os
industriais norte-americanos no início do século, para os quais a noção de perdas estava
vinculada basicamente ao desperdício de materiais.
2 WYATT, D. P. Materials management – Part I. Berkshire: The Chartered Institute of Building, 1978.
4
Segundo o mesmo autor, porém, o problema das perdas é mais amplo. Para Taylor, o
prejuízo causado pelos desperdícios de material é menor do que o causado pelas ações
desastradas, ineficientes e mal orientadas dos homens. Estas últimas, contudo, não deixam
indícios visíveis e palpáveis. Desta forma, conclui o autor, a problemática das perdas está
diretamente relacionada, de forma genérica, à Administração Científica da produção e, em
particular, ao gerenciamento das pessoas.
Ford (1927)3, citado por Antunes Junior (1995), partindo do princípio que “os materiais
nada valem, adquirindo importância na medida em que chegam às mãos dos industriais” e que
“os materiais representam certa quantidade de trabalho humano já despendido”, coloca no
centro da problemática das perdas o trabalho humano.
Levando em consideração os princípios de Taylor e Ford, Antunes Junior (1995)
conclui que para aqueles autores, as perdas são causadas fundamentalmente por dois fatores: a
falta de uma visão sistêmica por parte da gerência em relação à necessidade de treinamento
das pessoas e a falta de uma análise detalhada dos processos que geram estas perdas.
Um outro tipo de perda, observado quando se examina o processo de forma mais ampla,
está relacionado à possível ociosidade dos equipamentos. Na indústria automobilística do
Japão, mais especificamente na Toyota Motor Company, onde o custo horário de máquinas e
equipamentos, segundo Shingo (1988), é bastante inferior ao custo horário da mão-de-obra, a
taxa de operação das máquinas é sempre sacrificada para evitar paradas dos trabalhadores.
Antunes Junior (1995), referindo-se à realidade das empresas brasileiras, afirma que a
preocupação em relação à ociosidade de pessoas ou equipamentos depende dos custos
relativos de cada um deles para a empresa. De acordo com Cardoso (1993), a mão-de-obra da
construção civil vem passando por um processo de degradação causado pelas formas
predatórias de contratação e pela baixa remuneração. Desta forma, é possível conjeturar que à
utilização de equipamentos desnecessariamente ou com capacidade ociosa, principalmente os
que possuem maior tecnologia agregada, pode ser atribuída uma parcela das perdas deste
setor.
Tais evidências levaram ao questionamento sobre a real forma de ocorrência das perdas
na execução dos serviços que compõem as etapas da construção de uma edificação,
consistindo num dos principais fatores que motivaram a realização desta pesquisa.
3 FORD, H. Hoje e amanhã. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1927.
5
Considerou-se também o fato que poucas pesquisas sobre perdas na construção,
baseadas em uma metodologia de coleta e análise de dados consistente, foram realizadas até o
momento. Além disso, como foi mencionado, a maioria dos estudos até então efetuados fixou-
se na avaliação exclusiva das perdas de materiais, suas origens e conseqüências, relegando a
um segundo plano as demais formas de ocorrência de perdas, oriundas da má utilização de
outros recursos, tais como mão-de-obra, equipamentos e capital.
Skoyles (1974) salienta que, apesar de existirem muitas publicações apontando as
perdas como um significante problema nos canteiros de obras, existem poucas informações
sobre o quanto realmente é perdido, ou como as perdas podem ser controladas.
Aproveitou-se, por fim, a ocasião da participação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), representada pelo Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação
(NORIE), de cuja equipe de pesquisadores o autor da presente dissertação foi membro, no
projeto “Alternativas para a Redução do Desperdício de Materiais nos Canteiros de Obras”,
proposto pelo Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construção Civil (ITQC) e
financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério de Ciência e Tecnologia
(FINEP) – Projeto Habitare.
O projeto contou com a participação de 16 universidades, que observaram um total de
69 obras, visando essencialmente levantar informações representativas sobre o desperdício de
materiais nos canteiros localizados em diferentes partes do país e, a partir destas, subsidiar
políticas de melhoria para o setor. O método de pesquisa empregado baseou-se principalmente
no estudo realizado por Soibelman (1993), sendo os índices de perda obtidos através do
confronto entre a quantidade de material utilizada para executar uma determinada parcela de
um serviço (consumo real) e a quantidade estimada a partir do projeto, necessária para
executar a mesma parcela do serviço (consumo teórico). Foram levantados ainda diversos
indicadores, que auxiliaram direta ou indiretamente na determinação das causas das perdas e
coletados dados qualitativos sobre as empresas e respectivas obras, que serviram para
caracterizá-las, viabilizando assim a comparação dos índices de perda obtidos.
1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO
O presente trabalho tem como objetivo principal adaptar para a construção civil o
conceito de perdas, levando em consideração o enfoque mais amplo, visando à obtenção de
melhores níveis de qualidade e produtividade para este segmento produtivo.
6
Os objetivos específicos do estudo são os seguintes:
a) propor uma classificação de perdas para a construção civil levando em consideração o
enfoque mais amplo;
b) desenvolver uma ferramenta pró-ativa que auxilie na identificação das perdas
(considerando o enfoque mais amplo), possibilitando assim que iniciativas visando ao seu
controle possam ser tomadas ainda no decorrer da obra;
c) avaliar o método de pesquisa empregado no projeto “Alternativas para a Redução do
Desperdício de Materiais nos Canteiros de Obras”.
Como hipótese de trabalho principal, estabeleceu-se que na construção civil, as perdas
em seu conceito mais amplo ocorrem nos processos produtivos que compõem a execução das
obras e são relevantes em termos de custo, sendo seu controle uma fonte potencial de
melhorias para o setor.
Como hipótese secundária foi proposto que o desenvolvimento de uma classificação
bem estruturada das perdas, permite a melhor compreensão dos conceitos envolvidos.
Estabeleceu-se também como hipótese que a utilização de uma ferramenta que propicia
respostas rápidas, ainda que superficiais, é indicada quando se busca obter resultados
positivos no decorrer da mesma obra.
1.3 MÉTODO DE PESQUISA
Este item apresenta resumidamente o método de pesquisa empregado na elaboração do
presente trabalho, que foi dividido nas seguintes etapas principais:
a) Revisão bibliográfica, realizada com o intuito de obter informações referentes a estudos
recentes sobre as perdas, que serviram de base para o desenvolvimento do trabalho.
Focalizou-se a atenção primeiramente nos conceitos e princípios desenvolvidos por Taiichi
Ohno e Shigeo Shingo, cuja aplicação tem viabilizado inúmeras melhorias, principalmente na
indústria de produção seriada. Estudou-se, a seguir, a forma diferenciada de visualizar a
construção civil, baseada na Nova Filosofia de Produção, proposta por Lauri Koskela.
Finalmente, foram analisadas as pesquisas anteriores mais relevantes sobre perdas, com o
objetivo de investigar os conceitos e os procedimentos operacionais de coleta de dados
empregados.
7
b) Participação no projeto “Alternativas para a Redução do Desperdício de Materiais nos
Canteiros de Obras”, com a tarefa de auxiliar na coordenação da equipe de pesquisadores, que
dedicou-se a coletar as informações necessárias para a obtenção dos índices de perda em
Porto Alegre. Neste período foram feitas várias visitas aos canteiros de obras, nas quais foi
possível observar como os fundamentos teóricos (revisão bibliográfica) inseriam-se nas
situações práticas então presenciadas. Tal aprendizado serviu também para explicar as causas
das perdas e para analisar criticamente o método de pesquisa adotado, salientando seus pontos
positivos e negativos.
c) Proposição de uma classificação das perdas considerando o enfoque mais amplo, com
base nas informações obtidas durante o desenrolar do projeto, referentes ao método de
pesquisa empregado e aos procedimentos executivos utilizados nas obras, juntamente com os
conceitos retirados das modernas filosofias gerenciais.
d) Desenvolvimento da ferramenta a partir da classificação proposta, das observações em
campo e de revisões bibliográficas sobre técnicas construtivas, através da qual objetivou-se
testar em campo a aplicabilidade dos conceitos envolvidos e obter subsídios para avançar no
conhecimento das perdas.
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Esta dissertação está dividida em sete capítulos sendo que o primeiro consiste na
introdução, na qual são apresentadas, além das justificativas para sua realização, os objetivos,
hipóteses, bem como a sua forma de organização.
No segundo capítulo são apresentadas as formas de visualização das perdas segundo a
nova filosofia de produção. Neste capítulo, discute-se primeiramente os conceitos de perdas
utilizados na indústria seriada, mais precisamente, na indústria automobilística japonesa,
passando-se aos trabalhos pioneiros de adaptação destes conceitos à construção civil.
No terceiro capítulo é realizada uma descrição dos estudos anteriores sobre perdas de
materiais mais relevantes, discutindo seus objetivos e conclusões.
O quarto capítulo apresenta o método de pesquisa utilizado no projeto “Alternativas
para a Redução do Desperdício de Materiais nos Canteiros de Obras”, do qual o autor da
presente dissertação participou como coordenador adjunto, e obteve as informações
necessárias para a elaboração da mesma.
8
No quinto capítulo são apresentados e discutidos alguns resultados obtidos no referido
projeto, e é realizada uma análise crítica a respeito do método de pesquisa empregado.
No sexto capítulo está a proposta de classificação das perdas, levando em consideração
o conceito mais amplo, juntamente com a descrição do estudo piloto, no qual foi empregada a
ferramenta Lista de Verificação, com o objetivo de testar a classificação proposta.
Por fim, o sétimo capítulo traz as conclusões sobre o estudo e sugestões para colaborar
com o prosseguimento das pesquisas nesta área.
9
2 ANÁLISE DAS PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL SOB O ENFOQUE
DA NOVA FILOSOFIA DE PRODUÇÃO
No início do século, quando via de regra as empresas dedicavam-se à produção de
apenas um produto, o modelo industrial utilizado, baseado principalmente nos trabalhos de
Taylor e Ford, mostrava-se bastante adequado (Johnson & Kaplan, 1993). À medida que as
empresas passaram a fabricar vários produtos e os processos de produção tornaram-se mais
complexos, este modelo tradicional, até então adotado, passou a ser obsoleto. Este fato não
passou desapercebido para industriais e pesquisadores, que começaram a estudar formas
alternativas para interpretar e organizar os fenômenos que ocorrem na produção. Algumas
destas diferentes formas de encarar a produção, propostas inicialmente por Taichi Ohno e
Shigeo Shingo na Toyota Motor Company, foram o ponto de partida para o desenvolvimento
da Nova Filosofia de Produção (NFP) (Koskela, 1992).
2.1 A NOVA FILOSOFIA DE PRODUÇÃO (NFP)
Em linhas gerais, a Nova Filosofia de Produção refere-se a um conjunto de conceitos,
princípios, métodos e ferramentas que teve origem no Japão nos anos 50, sendo a aplicação
mais notável o Sistema Toyota de Produção (STP), particularmente o just in time4 (JIT) na
produção de automóveis. Simultaneamente, tópicos sobre qualidade (Total Quality Control -
TQC) foram abordados pela indústria japonesa, sob orientação de consultores americanos
como Deming, Juran e Feigenbaum. Todas estas idéias que foram desenvolvidas e refinadas
por engenheiros e industriais num longo processo de tentativas (acertos e erros), difundiram-
se para a Europa e América tornando-se a principal abordagem emergente, praticada, pelo
menos parcialmente, pelas maiores companhias da indústria de manufatura (Koskela, 1992).
Apesar da NFP ter propiciado grandes ganhos em desempenho para a indústria de
manufatura, segmento produtivo que tem servido como referência e fonte de inovações para a
construção há muitas décadas, com exceção dos conceitos sobre TQC abordados nesta nova
filosofia, ela era pouco conhecida e não despertava muito interesse na construção (Koskela,
1992).
4 Segundo Slack et al. (1996), o just in time é uma filosofia de produção (aspecto mais geral) e ao mesmo tempoum conjunto de ferramentas e técnicas para a gestão da produção, que significa, em linhas gerais, produzir bens eserviços exatamente no momento em que são necessários, com qualidade e eficiência.
10
Baseado nesta situação, Koskela realizou um estudo com o objetivo de melhor
compreender os princípios e conceitos da NFP e suas implicações para a construção, estudo
este que consistiu no marco inicial no sentido de adaptar os conceitos da moderna engenharia
industrial ao contexto da construção.
2.1.1 A filosofia de produção convencional
Conforme Koskela (1992), o modelo conceitual que domina a visão convencional de
produção é o modelo de conversão e as noções a ele relacionadas de organização e
gerenciamento, esquematizado na figura 2.1. A produção neste modelo de conversão pode ser
definida da seguinte maneira:
a) um processo de produção consiste na conversão de um input em um output;
b) o processo de conversão pode ser dividido em subprocessos, que também são processos
de conversão;
c) o custo do processo total pode ser minimizado pela minimização do custo de cada
subprocesso;
d) o valor do output de um processo é associado aos custos (ou valor) dos inputs daquele
processo.
Figura 2.1 A visão convencional de um processo de produção (Koskela, 1992)
Entretanto, Koskela (1992) salienta que argumentos teóricos apresentados por Shingo e
evidências empíricas da indústria de manufatura indicam que o modelo de processo de
11
conversão, como aplicado para analisar e gerenciar operações produtivas, é mal direcionado
ou inadequado.
Esta crítica, que é baseada nos princípios do JIT, centra-se no fato que tal modelo
enfoca somente as conversões negligenciando os fluxos físicos existentes entre cada
conversão, fluxos estes que consistem em atividades de movimento, armazenamento e
inspeção. Apesar de ser uma idealização correta, pois, sob o ponto de vista do cliente estas
atividades são desnecessárias, já que não agregam valor ao produto final, na prática, tal
interpretação é errônea. Koskela (1992) explica que o modelo tem sido interpretado para que
as atividades que não acrescentam valor possam ser desconsideradas ou para que todas as
atividades sejam contempladas como conversões, sendo portanto agregadores de valor. Desta
forma, quando esforços para melhoramento do desempenho são realizados, ocorrem
investimentos também em atividades que não agregam valor, que deveriam ser suprimidas ou
eliminadas.
2.1.2 A produção vista como um processo de fluxo
O modelo conceitual da Nova Filosofia de Produção é uma síntese e generalização de
diferentes modelos sugeridos em vários campos, dentre eles o JIT e o TQC (Koskela, 1992).
Segundo esse autor, a NFP reconhece o modelo de conversão como incompatível com a
complexidade dos sistemas produtivos atuais, sendo necessário, portanto, desenvolver um
modelo que possa abranger todas as características importantes da produção, principalmente
aquelas que estão faltando no modelo até então utilizado. Este modelo reformulado,
representado na figura 2.2, pode ser definido como segue:
“Produção é um fluxo de material e/ou informação desde a matéria
prima até o produto final. Neste fluxo o material é processado (convertido),
é inspecionado, está parado ou está em movimento. Estas atividades são
essencialmente diferentes. O processamento representa o aspecto da
conversão da produção; a inspeção, o movimento e o armazenamento
representam o aspecto de fluxo da produção (Koskela, 1992).”
12
movimento armazenamento movimentoinspeção
rejeitos
processamento
Figura 2.2 Produção como processo de fluxo (Koskela, 1992)
Os processos de fluxo podem ser caracterizados por tempo, custo e valor. Valor refere-
se ao atendimento das exigências do cliente. Na maioria dos casos, somente atividades de
processamento agregam valor. Para fluxos de material, atividades de processamento são
mudanças de forma ou substância, montagem ou desmontagem.
Koskela (1992) prossegue afirmando que, em essência, a nova conceitualização implica
numa dupla visão de produção: consiste de conversões e fluxos. A eficiência geral da
produção é atribuída à eficiência (nível de tecnologia, habilidade, motivação) das atividades
de conversão realizadas, assim como à eficiência das atividades de fluxo através das quais as
atividades de conversão estão ligadas.
O autor destaca ainda que todas as atividades implicam em custo e consomem tempo,
mas só as atividades de conversão agregam valor ao material ou informação sendo
transformada em produto. Sendo assim, o melhoramento das atividades de fluxo deve
focalizar sua redução ou eliminação, enquanto que as atividades de conversão têm que ser
mais eficientes.
2.2 O SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO (STP)
Por seus princípios básicos terem servido para o desenvolvimento da NFP e estarem
centrados na extinção completa das perdas, cabe aqui realizar uma descrição mais abrangente
do STP, com destaque para o Mecanismo da Função de Produção (MFP) de Shingo.
O Sistema Toyota de Produção (STP) consiste num conjunto de conceitos e técnicas
desenvolvidos por Taiichi Ohno e Shigeo Shingo para aumentar a eficiência da produção da
Toyota Motor Company, através da eliminação completa dos desperdícios.
Esses autores publicaram diversos livros enfocando diferentes aspectos do STP. As
diferenças fundamentais entre suas abordagens estão no fato de que as obras de Taiichi Ohno
estão centradas nos conceitos, consistindo fundamentalmente numa descrição geral do
13
Sistema, enquanto as de Shigeo Shingo, abordam o tema sob a perspectiva da Engenharia de
Produção, realizando uma análise mais aprofundada, que apresenta, inclusive, vários estudos
de caso que fornecem aos leitores informações sobre aplicações práticas.
Segundo Shingo (1981), o STP evoluiu até sua presente condição após repetidas
tentativas de acertos e erros, que resultaram numa série de princípios básicos e filosofias sobre
os quais o Sistema foi fundado, seguindo a seqüência de desenvolvimento descrita
resumidamente a seguir: (a) princípio do não-custo, (b) princípio do estoque zero, (c)
utilização de fluxo de peças unitárias, (d) redução do tempo de troca de ferramentas e
matrizes, (e) eliminação das quebras e defeitos, (f) redução do custo da mão-de-obra, (g)
evolução desde a mecanização até a autonomação5, (h) operações-padrão e (i) sistema
kanban.
O princípio do não-custo foi o primeiro desenvolvido como base para o gerenciamento
da produção, visualizando a origem dos lucros de uma perspectiva diferente da tradicional. A
equação 2.1 apresenta a forma tradicional de determinação dos lucros:
Custo + Lucro = Preço de Venda (2.1)
Este princípio baseia-se no fato de que o mercado é que determina o preço, devendo os
produtores, desta forma, regerem-se pela equação 2.2 apresentada a seguir:
Preço – Custo = Lucro (2.2)
Através desta abordagem, as empresas deparam-se com a necessidade de reduzir os
custos para aumentar sua margem de lucro, sendo indispensável, portanto, eliminar
completamente as perdas.
Outro importante princípio foi a eliminação dos estoques desnecessários ou estoque
zero, que, para Shingo (1981), é a pedra fundamental de eliminação das perdas. Este princípio
surgiu a partir da indagação sobre a necessidade de manutenção dos tradicionais estoques
excessivos nas empresas, gerados pela produção em grandes lotes. Um exame mais detalhado
revelou serem estes estoques geradores de perdas por superprodução6, sendo assim
5 Segundo Shingo (1981), autonomação ou pré-automação ou automação com um toque humano significa dotaras máquinas de dispositivos (sensores) que desligam a máquina com segurança quando uma anormalidade édetectada, permitindo que muitas máquinas possam ser operadas por poucos trabalhadores.6 Perda por superprodução, segundo Shingo (1988), significa perda por produzir demais ou perda por produzirantecipadamente às necessidades.
14
perfeitamente dispensáveis. Contudo, para a empresa conseguir atender à demanda é
recomendável a adoção de um sistema de produção vinculado aos pedidos.
O terceiro princípio refere-se à implementação do fluxo de peças unitárias para
viabilizar o atendimento da demanda num sistema de produção vinculado aos pedidos. O
fluxo de peças unitárias, nos qual cada peça, ao invés de ser estocada (formação do lote), é
transferida para o processo seguinte assim que tenha sido processada, foi utilizado em
primeira instância apenas nas linhas de montagem da Toyota, passando a ser aplicado
posteriormente também nos processos de produção tais como usinagem, prensagem e outros,
o que permitiu que estes dois segmentos produtivos pudessem ser interligados.
A redução do tempo de troca de ferramentas e matrizes nas máquinas foi outro pré-
requisito indispensável para a produção vinculada aos pedidos, que trabalha com alta
diversidade de produtos, confeccionados em pequenos lotes. Para conseguir reduzir estes
tempos, Shingo propôs um sistema denominado Troca Rápida de Ferramentas – TRF (em
inglês, Single-Minute Exchange of Die – SMED), que permitiu a realização de trocas de
matrizes que levavam algumas horas em questão de minutos.
As quebras e defeitos foram eliminados através de uma política firme de parar uma
linha ou máquina, na ocorrência de uma situação anormal. Esta parada tem a finalidade de
investigar e resolver os problemas na sua raiz, evitando medidas paliativas que possam
acarretar o reaparecimento do defeito. O mesmo autor recomenda que se pergunte “por quê?”
cinco vezes ou mais, até que a real causa de um problema seja descoberta.
A redução do custo da mão-de-obra, considerada por Shingo como a segunda pedra
fundamental para eliminação das perdas, consistiu na implementação de melhorias nos
movimentos de trabalho humanos, antes que melhorias nos equipamentos fossem realizadas.
Feito isso, o próximo passo foi a mecanização do trabalho humano. Porém, apenas repassar o
trabalho manual de acionamento de chaves e fixação e remoção de peças para as máquinas
não foi suficiente, pois ainda havia a necessidade de operadores que as parassem ao final do
processamento ou em caso de irregularidades. Uma transferência a um nível mais alto das
funções mentais humanas fez-se necessária, e foi resolvida com a capacitação das máquinas
para detectar anormalidades. Por fim, foi implementada a automação completa, ou
autonomação, na qual as máquinas foram equipadas com dispositivos capazes de detectar
situações anormais, bem como responder a elas. O autor ressalta que os custos de mão-de-
obra das empresas que adotarem o STP cairão na medida em que os estágios descritos forem
vencidos.
15
As operações foram aperfeiçoadas gradualmente e operações-padrão foram
determinadas em cada etapa, o que facilitou a melhoria contínua e acelerou o
desenvolvimento do Sistema. De acordo com Shingo (1981), as operações-padrão são
executadas uma vez que as condições de trabalho tenham sido otimizadas, através da busca
contínua dos objetivos que estão por trás das seguintes questões: o quê, como, onde, quando e
quem irá produzir. Estas questões são usadas como roteiro para treinar novos trabalhadores, e
facilitam a coleta de informações necessárias para melhorias, pois a comparação entre as
condições vigentes com padrões indica se os resultados são aceitáveis ou não.
Por fim, foi necessário desenvolver uma ferramenta que sustentasse o funcionamento do
sistema de produção como um todo. Foi criado então o kanban, que é um sistema de controle
visual simplificado que permite uma resposta mais flexível da produção às variações da
demanda, e facilita a localização e resolução de problemas. Shingo (1988) define o sistema
kanban como um meio de controle e de coordenação da produção, que tem por objetivo
indicar o que deve ser produzido, quanto e quando produzir e para onde levar os produtos. O
mesmo autor, porém, alerta que, ao contrário do que muitos autores afirmam, a função do
kanban é simplesmente servir como um meio de controle, não sendo, portanto, a essência do
STP.
Slack et al. (1996) confirmam semelhante equívoco, mencionando que o termo kanban
foi utilizado algumas vezes como um equivalente ao planejamento e controle just in time, o
que não é correto, pois o kanban é o método que operacionaliza este sistema de planejamento
e controle.
Dentre os vários aspectos do Sistema Toyota de Produção, Ohno (1988) dá maior
importância ao que ele chama de método de produção estilo Toyota, que em linhas gerais
significa colocar um fluxo no processo de manufatura. Através da disposição das máquinas na
seqüência do processo de fabricação das peças e componentes, torna-se possível que um único
operário supervisione várias máquinas diferentes, ou seja, execute vários processos,
melhorando assim a produtividade. Esse autor destaca também o kanban, que é a ferramenta
operacional que viabiliza o just in time na produção, assegurando que as peças corretas
estejam disponíveis na hora determinada e na quantidade necessária, facilitando assim a
interação entre os muitos processos que ocorrem dentro da empresa e entre a empresa e suas
cooperadoras (fornecedores).
16
2.2.1 O Mecanismo da Função de Produção (MFP)
Segundo Shingo (1988), o Mecanismo da Função Produção (MFP)7 consiste em analisar
a produção como uma rede constituída por dois eixos que se interseccionam, o eixo dos
processos (eixo Y) e o das operações (eixo X). Esse autor considera que um processo é um
fluxo de materiais (objeto do trabalho) no tempo e no espaço, ou seja, a transformação da
matéria-prima em componentes semi-acabados e, posteriormente, em produtos acabados. Já as
operações podem ser visualizadas como o fluxo de pessoas e máquinas (sujeitos do trabalho)
no tempo e no espaço, ou seja, o trabalho realizado para efetivar os processos. A figura 2.3
ilustra como um processo é efetuado através de uma série de operações.
Figura 2.3 A estrutura da produção (Shingo, 1988)
Para Shingo (1981), existem quatro elementos distintos de processo que podem ser
identificados no fluxo da transformação de matéria-prima em produtos: processamento,
inspeção, transporte e espera. Na lógica do STP, apenas o processamento pode agregar valor
ao produto. Shingo (1988) argumenta que os outros três elementos do processo podem ser
considerados como perda, pois as inspeções não deveriam ter o propósito de descobrir
defeitos, mas preveni-los, e a necessidade de deslocamento de produtos, assim como as
7 Para entender a lógica do MFP na prática, pode-se considerar o seguinte exemplo: a produção de um estribopara uma armadura, a partir de uma barra de aço. A barra de aço é primeiramente cortada, depois dobrada e porfim amarrada, e estas transformações no material consistem no processo. O trabalhador cortando a barra com aserra, dobrando com a dobradeira de aço e amarrando com a torquês, são ações que consistem nas operações.
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esperas, deveriam ser eliminadas ou minimizadas. No passado, por desconsiderar tal
princípio, as melhorias abrangiam todos os elementos, acarretando o que Shingo denomina de
“melhoria da perda”. O mesmo autor deixa claro que melhorias fundamentais (efetivas) são as
que eliminam as causas das perdas.
No que tange às operações, Shingo (1988) deixa claro que existem quatro tipos de fluxo
de sujeitos (pessoas e equipamentos), correspondentes aos quatro fenômenos do processo, são
eles: processamento, inspeção, transporte e espera. Shingo classifica as operações da seguinte
maneira:
a) preparação e pós-ajuste: também chamadas de operações de setup8, referem-se às
preparações para a tarefa e a limpeza após o seu término;
b) operações principais: execução do trabalho propriamente dito, envolvendo
processamentos, inspeções, transportes e estocagens (esperas). Podem ser divididas em:
i) operações essenciais: ações que realmente executam as operações principais, como
usinar uma peça, por exemplo;
ii) operações auxiliares: auxiliam a concluir as operações principais, como prender a
peça no torno, por exemplo;
c) folgas marginais: atividades relacionadas indiretamente com as operações. Podem ser
divididas em:
i) folgas ligadas às operações: lubrificações, remoção de rebarbas, espera pelo
fornecimento de materiais, defeitos em máquinas, entre outras;
ii) folgas ligadas às pessoas: necessárias para descanso e satisfação de necessidades
fisiológicas.
Analisando as operações de forma semelhante aos processos, Shingo (1988) afirma que
apenas as operações essenciais agregam valor. Desta forma, para que melhorias efetivas sejam
realizadas, deve-se primeiramente eliminar todas as operações que não são essenciais, e só
então procurar as melhores maneiras de executar as operações restantes, evitando assim que
as perdas sejam melhoradas.
8 Uma definição mais detalhada de setup, segundo Shingo (1981), compreende tipicamente as quatro seguintesfunções: preparação da matéria prima, dispositivos de montagem ou acessórios; fixação e remoção de matrizes eferramentas; centragem e determinação das dimensões das ferramentas; e processamentos iniciais e ajustes.
18
Shingo (1988) afirma que distinguir claramente os processos das operações é
fundamental, pois torna evidente que nas iniciativas visando a melhoria da produção deve ser
dada prioridade máxima para os fenômenos de processo, ou seja, aumento da produtividade
através da melhoria dos processos, deixando em segundo plano as preocupações
convencionais com as operações. Entender este mecanismo, segundo o mesmo autor, é ponto-
chave também no desenvolvimento de novos sistemas de produção.
Por fim, observando-se idéias apresentadas por Koskela (item 2.1), é possível verificar
que seu raciocínio está de acordo, ou ao menos tem elementos em comum com o MFP, como
era de se esperar, uma vez que a NFP teve sua origem fundamentalmente baseada no TQC e
no JIT, cuja concepção foi influenciada por Shingo. Koskela (1992) deixa claro em sua visão,
que o modelo de fluxo está fortemente ligado ao eixo dos processos, privilegiando como
Shingo, as melhorias nos processamentos (conversões), inspeções, transporte (movimento) e
espera (armazenamento), dispensando, porém, pouca ou nenhuma atenção ao eixo das
operações, para o qual Shingo recomenda melhorias somente nas operações essenciais para
executar o trabalho.
2.3 IDENTIFICAÇÃO DAS PERDAS SEGUNDO A NFP E O STP
A ênfase na contínua redução das perdas nos processos de produção parece ser o pilar
central tanto da NFP quanto do STP. Sendo assim, é de fundamental importância que as
perdas sejam identificadas e caracterizadas, para que as ações realizadas no sentido de sua
minimização ou eliminação sejam eficazes.
Neste sentido, Koskela (1992) apresenta onze princípios9 desenvolvidos para projetar,
controlar e melhorar de forma ordenada os processos de fluxo, evitando assim a expansão das
atividades que não agregam valor. São eles:
a) reduzir a quantidade de atividades que não agregam valor
b) aumentar o valor do output através da observação sistemática das exigências do cliente
c) reduzir a variabilidade
d) reduzir o tempo de ciclo
e) simplificar, minimizando o número de passos e partes e eliminando interdependências
9 Uma discussão mais detalhada destes onze princípios é encontrada em Koskela (1992).
19
f) aumentar a flexibilidade do output
g) aumentar a transparência do processo
h) focalizar o controle global do processo
i) adicionar melhoramento contínuo ao processo
j) equilibrar o melhoramento do fluxo com o melhoramento da conversão
k) fazer benchmarking
Ohno (1988), por sua vez, destaca que para melhor compreender as perdas, é preciso
primeiramente entender as duas dimensões nas quais o movimento dos trabalhadores pode ser
dividido.
2.3.1 O conceito de perda segundo Ohno
Baseado na lógica do STP, Ohno (1988) enfatiza a importância de compreender
completamente a produção e a redução da força de trabalho10, para que ao examinarmos
cuidadosamente a área de produção, possamos detectar as perdas e os espaços para melhorias.
Para facilitar o entendimento sobre a composição do trabalho nas empresas, o autor
argumenta que é necessário dividir o movimento dos trabalhadores em dois diferentes
segmentos: o das perdas e o do trabalho.
As perdas constituem-se dos movimentos desnecessários realizados pelos trabalhadores,
que devem, portanto, ser imediatamente eliminados. Ohno (1988) cita como exemplo de perda
numa fábrica de automóveis, tarefas como esperar ou empilhar estoques de materiais
intermediários (em processo), transportar para local diferente do destino e outros.
O trabalho significa fazer o processo avançar efetivamente no sentido de completar as
tarefas, e pode ser subdividido em dois tipos: o que adiciona valor e o que não adiciona valor.
Para Ohno (1988), o trabalho que adiciona valor corresponde à ocorrência de algum tipo
de processamento, ou seja, a mudança da forma ou do caráter de um produto. Em outras
palavras, no processamento ocorre a transformação de matéria-prima ou de peças em
produtos, e isto adiciona valor. Quanto mais valor for adicionado, maior a eficiência do
10 Segundo Ohno (1988), reduzir a força de trabalho significa utilizar um número menor de trabalhadores paraatingir o mesmo nível de produção.
20
trabalho. Esse autor cita como exemplo de processamento na indústria automobilística,
atividades como: forjar, soldar, temperar, pintar e outras.
O trabalho que não adiciona valor, por sua vez, pode ser considerado como uma perda
no sentido convencional, todavia, é necessário para viabilizar o trabalho que adiciona valor.
Associa-se às atividades que devem ser realizadas diante das atuais condições de trabalho,
sendo necessário para eliminá-lo completamente, alterar tais condições. Como exemplo de
trabalho que não possui valor adicionado, Ohno cita: caminhar para apanhar peças, abrir
caixas de mercadorias, ligar e desligar máquinas, entre outros. A figura 2.4, adaptada de Ohno
(1988), ajuda a compreender a concepção de trabalho na função manufatura, na qual uma
parte dos movimentos dos trabalhadores é considerada como perda.
Figura 2.4 Divisão dos movimentos dos trabalhadores: trabalho e perdas
Por fim, Ohno (1988) enfatiza que o movimento dos operários na área de produção deve
ser movimento de trabalho, ou seja, movimento que agrega valor, pois estar se movendo não
significa estar trabalhando. O ideal, segundo esse autor, é ter 100% de trabalho com valor
adicionado. Para tanto, é preciso que os movimentos dos trabalhadores que constituem as
perdas sejam eliminados tanto quanto possível, possibilitando que haja uma redistribuição da
carga de trabalho entre estes, ou seja, menos pessoas obtendo a mesma produção.
É possível observar através da linha de raciocínio de Ohno, que as perdas, ao contrário
do que normalmente se convenciona, não estão atreladas somente aos materiais e
21
componentes, sendo necessário também, eliminar completamente as perdas de força de
trabalho que ocorrem enquanto os operários realizam suas atividades. Assim o conceito de
perdas tem um caráter mais amplo.
2.3.2 Identificação das perdas segundo Ohno e Shingo
Segundo Ohno (1988) e Shingo (1981) existem sete tipos de perdas que devem ser
suprimidas dos processos produtivos, segundo a lógica do Sistema Toyota de Produção (STP).
São elas:
a) perdas por superprodução
b) perdas por geração de estoques
c) perdas por transporte
d) perdas nos movimentos
e) perdas por espera
f) perdas por fabricação de produtos defeituosos
g) perdas no processamento em si
De acordo com Shingo (1981), por terem suas origens em disfunções dos processos
produtivos, os sete tipos de perdas normalmente são vinculados entre si, motivo pelo qual
estas devem ser atacadas de forma articulada e simultânea.
A seguir, apresenta-se a conceituação das sete perdas, proposta por Ohno e Shingo,
relacionando-as com o Mecanismo da Função Produção (MFP).
2.3.2.1 Perdas por superprodução
Para elucidar as perdas por superprodução, Ohno (1988) utiliza como exemplo uma
situação que por vezes ocorre nas indústrias de produção seriada, na qual os operários
trabalham adiantados, ou seja, realizando as tarefas seguintes, fora do sequenciamento
previsto. Esta antecipação vai gerar estoques, que deverão ser movimentados ou organizados,
e estes novos movimentos então necessários, podem ser considerados como perda. Para esse
autor, a perda por superprodução é altamente prejudicial à produção pois contribui para
ocultar outras perdas.
22
Da mesma forma, Shingo (1981) considera a eliminação das perdas por superprodução
como sendo o primeiro objetivo de melhorias do STP. Shingo demonstra que as perdas por
superprodução configuram-se de duas maneiras, a saber:
a) superprodução quantitativa: diz respeito a produzir em quantidades superiores às
necessárias;
b) superprodução por antecipação: associada à antecipação da produção em relação às
necessidades (etapas subsequentes da produção ou uso do produto).
Esse autor, porém, deixa claro que o STP preocupa-se principalmente com a
superprodução programada (por antecipação) ao invés da superprodução numérica
(quantitativa). Isto se deve ao fato de que, na Toyota Motors, as perdas por superprodução
quantitativa já foram praticamente eliminadas, restando então atacar as perdas por
antecipação, utilizando o sistema just in time.
2.3.2.2 Perdas pela geração de estoques
Segundo Ohno (1988), a maior fonte de perdas é o estoque em excesso. Esse autor cita
como exemplo o caso de uma fábrica onde existem muitos produtos para estocar, sendo
preciso construir um novo depósito, contratar mais trabalhadores para carregar estes produtos
para o depósito e provavelmente comprar um carrinho de transporte para cada trabalhador. No
depósito seriam necessárias pessoas para prevenção da ferrugem dos produtos e, mesmo
assim, alguns poderiam enferrujar-se ou sofrer danos, sendo preciso mais pessoas para repará-
los antes de serem removidos do depósito para uso. Além disso, devem ser realizados
inventários regulares e, dependendo do tamanho e diversidade dos estoques, é necessário
comprar computadores para facilitar o trabalho, e assim por diante. O autor utiliza esta série
de situações que podem parecer exageradas, mas que demonstram com clareza como as
perdas vão se configurando e os vínculos que existem entre elas.
Shingo (1988) justifica a adoção de estoques de produtos prontos nas empresas pela
capacidade que estes têm de absorver eficientemente os problemas que surgem durante a
produção, tais como produtos defeituosos, quebras de equipamentos, ausência de
trabalhadores, pedidos de última hora, paradas de máquinas e trabalhadores devido aos longos
tempos de setup, entre outros. Segundo o mesmo autor, os gerentes sentem-se mais seguros,
pois correm menos riscos quando podem contar com os estoques. Ohno (1988) compartilha de
tal afirmação, e ressalta que a sociedade industrial deve ter coragem e bom-senso para buscar
23
apenas o que é necessário no momento em que for necessário e na quantidade necessária, ou
seja, abolir completamente os estoques em excesso.
Antunes Junior (1995), baseado nas idéias de Shingo, atribui aos estoques de produtos
em processo outro fator de perda, que é a camuflagem dos problemas de qualidade, uma vez
que os defeitos levam muito tempo para serem descobertos.
2.3.2.3 Perdas por transporte
Shingo (1981) associa as perdas por transporte com as atividades de movimentação
interna de materiais, que geram custo e não agregam valor, devendo, portanto, serem
eliminadas ou minimizadas.
Shingo (1981) afirma que os custos da mão-de-obra para executar os processos são
compostos tipicamente por 45% de processamento, 5% de inspeção, 5% de esperas e 45% de
transportes, que nunca agregam valor. Esse autor deixa claro que melhorias reais de transporte
devem visar a eliminação da função de transporte tanto quanto possível, ao invés de melhorar
o trabalho de transporte, utilizando empilhadeiras, correias, calhas transportadoras ou outros
dispositivos. Melhorias no layout da fábrica são, segundo Shingo, a melhor maneira de
eliminar a necessidade de transporte. O próximo passo é tornar os meios de transporte mais
racionais.
Antunes Junior (1995), analisando os conceitos de Shingo, observa que incrementar
melhorias no transporte sem antes aprimorar o layout significa, na prática, mecanizar e
automatizar a ineficiência da concepção do sistema de transporte da organização.
2.3.2.4 Perdas nos movimentos
Perdas nos movimentos são oriundas de movimentos desnecessários realizados pelos
trabalhadores, quando estão executando as operações principais. Relacionam-se com a falta de
método de trabalho e com problemas nos postos de trabalho originados pela falta de
organização e layout mal planejado (Antunes Junior, 1995).
Ohno (1988) enfatiza que o simples fato dos operários estarem se movimentando não
significa que o trabalho esteja sendo realizado. Trabalho significa fazer progressos, com
pouca perda e grande eficiência. Desta forma, Ohno argumenta que é fundamental diferenciar
a “economia de mão-de-obra” da “economia de operários”. No primeiro caso, evita-se a perda
desnecessária de energia do operário, utilizando por exemplo, máquinas de alto desempenho.
24
No segundo caso, entretanto, reduz-se o número de operários, mantendo constantes as
quantidades produzidas.
De acordo com Shingo (1988), os movimentos dos trabalhadores podem ser melhor
compreendidos a partir dos estudos realizados por Frank Gilbreth. Chiavenato (1987) relata
que Gilbreth foi um engenheiro norte-americano que, de forma similar a Taylor, estudou os
esforços humanos procurando a melhor maneira de executar as tarefas e meios para elevar a
eficiência dos operários, com o objetivo de aumentar a produtividade. De uma forma mais
específica, o estudo foi realizado com as seguintes finalidades: evitar movimentos inúteis na
execução das tarefas, executar os movimentos úteis o mais economicamente possível (do
ponto de vista fisiológico) e dar aos movimentos selecionados uma seriação apropriada, de
maneira que a fadiga dos trabalhadores possa ser reduzida.
Segundo Chiavenato (1987), Gilbreth realizou ainda estudos estatísticos sobre os efeitos
da fadiga na produtividade dos trabalhadores e verificou que todos os movimentos que
produzem fadiga devem ser eliminados, uma vez que esta predispõe o operário para
diminuição da produtividade e da qualidade do trabalho, perda de tempo, aumento da
rotatividade no emprego, doenças, acidentes e diminuição da capacidade de esforço.
Gilbreth concluiu em seu estudo que todo trabalho manual pode ser decomposto em
dezoito movimentos elementares11, aos quais deu o nome de therbligs, possibilitando assim
definir quais movimentos são realmente necessários para a execução de uma tarefa qualquer.
Conforme Shingo (1988), Gilbreth defendia que “o tempo é meramente um reflexo do
movimento” e, desta forma, não pode haver redução significativa no tempo de execução de
uma tarefa sem que seja realizada uma profunda melhoria nos movimentos das pessoas
envolvidas, e nas condições de trabalho necessárias para realizar estes movimentos.
Shingo (1981) deixa claro que os esforços no sentido de melhorar os movimentos
devem ser direcionados, inicialmente, ao aprimoramento dos movimentos básicos das
operações, ao invés de realizar precipitadamente melhorias nos equipamentos, que seriam
uma mera mecanização de operações geradoras de perdas.
11 Segundo Shingo (1988), os movimentos elementares (therbligs) definidos por Gilbreth são: montar,desmontar, utilizar, transportar vazio (estender ou voltar a mão), apanhar, transportar, soltar, procurar, focalizar,selecionar, inspecionar, apanhar novamente, segurar, preparar, pensar, descansar, espera inevitável e esperaevitável.
25
2.3.2.5 Perdas por espera
De acordo com Antunes Junior (1995), as perdas por espera estão associadas aos
períodos de tempo em que os trabalhadores e as máquinas não estão sendo utilizados
produtivamente, embora seus custos horários estejam sendo despendidos. A maior
preocupação em relação à espera de pessoas ou de equipamentos depende dos custos relativos
de cada um deles para a empresa.
Shingo (1981) afirma que no STP é preferível diminuir as taxas de operação das
máquinas ao invés de aumentar o tempo de espera dos operadores. O fundamento lógico é que
as máquinas, após o período de depreciação, não custam mais para a empresa, enquanto que
os salários dos trabalhadores têm de ser pago periodicamente, com tendência de aumentar ao
longo do tempo. Shingo (1988) justifica tal opção pelo fato de que no Japão, o custo horário
de um trabalhador ocioso era, no início dos anos 80, em média, 3 a 5 vezes maior do que o
custo horário de uma máquina parada.
Para Shingo (1981), a perda por espera ocorre, por exemplo, em situações nas quais
homens monitoram máquinas mesmo que elas façam o trabalho automaticamente, pressionam
botões de ativação de máquinas, por motivos de segurança, durante todo o tempo de
funcionamento, quando poderiam dar a partida à máquina com um simples toque, adicionam
óleo, removem cavacos e outras.
Esse mesmo autor destaca que algumas das maiores causas de perda por espera na
indústria de produção de automóveis são: o elevado tempo de setup e falta de balanceamento
(equilíbrio entre as quantidades de produção e a capacidade de processamento das máquinas),
levando a problemas de sincronização da produção e a conseqüente espera de máquinas e
pessoas. Além disso, quebras de equipamentos, defeitos, mudanças nos planos de produção,
acidentes, atraso na chegada de matérias-primas e outros, também levam a perdas por espera.
2.3.2.6 Perdas por fabricação de produtos defeituosos
Para Antunes Junior (1995), as perdas por fabricação de produtos defeituosos ocorrem
quando peças, componentes e produtos acabados são produzidos sem atender as
especificações de qualidade requeridas pelo projeto. Este tipo de perda tem um certo custo
associado pois ocorre a perda de materiais e de trabalhos realizados (com valor adicionado).
Esse autor observa que o custo será tanto maior quanto mais próximo do final do processo o
26
problema for detectado, uma vez que, ao final, todos os custos de produção foram agregados
ao objeto de trabalho.
Ohno (1988) visualiza o problema de fabricar produtos defeituosos por outro ângulo.
Segundo ele, como processos de produção que utilizam o sistema just in time não precisam de
estoques adicionais, se o processo anterior gerar peças defeituosas, o processo seguinte deverá
parar a linha, inviabilizando o objetivo de produzir tão barato quanto possível. Além disso, a
devolução das peças defeituosas para o processo anterior gera uma situação embaraçosa para
o operário envolvido, pois na cultura japonesa a perfeição tem uma conotação ético-moral
muito forte. Sendo assim, quando não produz peças perfeitas, o operário é exposto ao ridículo
perante o grupo, motivo pelo qual este sempre dá o melhor de si para produzir sem defeitos.
Shingo (1981), por sua vez, alerta que é necessário estabelecer um sistema de inspeção
adequado para atacar as causas fundamentais das perdas por fabricação de produtos
defeituosos. O mesmo autor, porém, deixa clara a diferença entre realizar uma análise para
descobrir defeitos depois do produto estar pronto (inspeção por julgamento) e inspecionar
para impedir a ocorrência de defeitos durante o processamento (inspeção informativa).
No primeiro caso, faz-se apenas a distinção entre produtos defeituosos e não-
defeituosos, uma vez que o produto já está pronto e nada mais pode ser feito. Shingo chama
isto de emissão de “certificado postmortem”. Segundo esse autor, melhorar as inspeções por
julgamento, através do aumento do número de inspeções, pode aumentar a confiabilidade do
processo de inspeção, mas não terá efeito na redução de defeitos.
Já na segunda forma de inspeção, a produção é informada sempre que aparece um
defeito, possibilitando que medidas sejam tomadas para corrigir o método ou a condição de
processamento, impedindo assim a repetição do erro. De acordo com Shingo (1981), quanto
mais rápido um defeito for identificado, mais rápido e efetivo será o tratamento do problema.
Segundo Shingo (1988), dois tipos de procedimentos podem ser adotados para detectar
erros que causam defeitos, são eles: amostragem, na qual se realiza o controle estatístico da
qualidade e verificação 100%, que é mais cara e consome muito tempo.
2.3.2.7 Perdas no processamento em si
Segundo Antunes Junior (1995), as perdas no processamento em si são decorrentes de
atividades de processamento desnecessárias para que o produto adquira suas características
básicas de qualidade.
27
De acordo com Shingo (1981), pode-se localizar este tipo de perda através de duas
perguntas básicas: “por que este tipo de produto específico deve ser produzido?” e “por que
este método deve ser utilizado neste processamento?”. Esse autor deixa clara tal idéia, citando
a seguinte situação como exemplo: “ao invés de tentar fazer com que aumentos de velocidade
de corte sejam mais eficientes, devemos perguntar por que estamos fazendo esse determinado
produto e por que estamos usando esse método de processamento”.
Shingo (1988) argumenta que, para responder tais perguntas e evitar assim a ocorrência
de perdas no processamento em si, melhorias fundamentais voltadas à Análise de Valor e à
Engenharia de Valor devem ser realizadas em primeiro lugar nos processos.
2.4 PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
De acordo com Farah (1988), a construção é uma indústria muito antiga, na qual,
diferentemente dos outros ramos industriais, as máquinas foram introduzidas em pequena
escala, não alterando o processo de forma significativa. A produção se organiza em torno de
especializações, o trabalho manual é a base da atividade produtiva e algumas das ferramentas
de uso corrente, que já eram empregadas nas corporações de ofício na Idade Média, são de
propriedade dos próprios trabalhadores.
Outro fator característico deste setor são suas diversas peculiaridades, que o diferenciam
dos demais setores industriais, refletindo também no desenvolvimento histórico diferenciado.
As principais peculiaridades são destacadas por Meseguer (1991):
a) produção de um produto único e normalmente não seriado;
b) produto é fixo e os operários são móveis, ao contrário da produção seriada, dificultando
a organização e controle;
c) trata-se de uma indústria muito tradicional, que apresenta muita inércia às alterações;
d) mão-de-obra utilizada é pouco qualificada e o trabalho é essencialmente braçal;
e) emprego de especificações complexas, muitas vezes confusas;
f) é um trabalho sujeito ao clima.
Além disso, Farah (1988) salienta que a indústria da construção, particularmente no
Brasil, demonstra um relativo atraso se comparada às indústrias de transformação, pois
apresenta baixa produtividade, alta incidência de manifestações patológicas no produto final,
28
elevados índices de perdas, condições de trabalho adversas (higiene, segurança e outros) e
fatores culturais restringindo sua evolução.
Koskela (1992) apresenta algumas iniciativas tomadas especialmente após a Segunda
Guerra Mundial para entender a construção e seus problemas, bem como desenvolver
soluções na busca de melhorias, destacando a industrialização, a construção integrada por
computador e o gerenciamento da qualidade total. Algumas técnicas operacionais e táticas
como o planejamento de projeto e ferramentas de controle, métodos organizacionais e
métodos de melhoramento da produtividade também são citadas.
Porém, aquele autor argumenta que o conceito mais geral utilizado nestes esforços
realizados por construtores e pesquisadores parece ter sido o que entende a construção como
um conjunto de atividades dirigidas a um certo output, ou seja, conversões.
Segundo Koskela (1992), esta forma de visualizar a construção é fundamentada pelo
tradicional método de estimativa de custos, no qual a edificação é dividida em elementos
constitutivos e, para cada elemento, os custos dos materiais necessários e do trabalho são
estimados. Isto está de acordo com o modelo de conversão, pois assume-se que o processo
total de produção consiste em um conjunto de subprocessos que convertem um input num
output e que podem ser realizados e analisados isoladamente um do outro.
Koskela (1992) afirma que esta visão serve de base para vários conceitos gerenciais
utilizados na construção, e aponta tais conceitos convencionais como responsáveis por
problemas de fluxo que ocorrem neste setor, pois violam princípios de projeto e
melhoramento de processos de fluxo, gerando fluxos não desejáveis e aumento da parcela de
atividades que não agregam valor. As críticas a tais conceitos são direcionadas para três
possíveis fontes de problemas, são elas: o método seqüencial de realização dos projetos, a
falta de considerações de qualidade e o controle segmentado.
A primeira fonte está relacionada ao fato de que, na construção, a execução dos projetos
(arquitetônico, estrutural, instalações e outros) normalmente ocorre com espaçamento
temporal e é de responsabilidade de diferentes profissionais. Desta forma há pouca ou
nenhuma repetição no processo de projeto, as dificuldades de fases subsequentes não são
levadas em consideração nesta fase e há pouco feedback para os profissionais, levando a
soluções não desejáveis, grande número de pedidos de mudança, falta de inovação, perdas,
entre outros problemas.
29
A segunda fonte de problemas diz respeito às abordagens tradicionais da qualidade, que
não realizam nenhum esforço especial para eliminar defeitos, erros e omissões, ou consideram
que existe um nível fixo (ótimo) de qualidade. Souza & Mekbekian (1993) salientam que,
diferentemente de outros setores industriais, a implantação de sistemas de qualidade em
empresas de construção civil é um fenômeno recente no Brasil.
Por fim, os problemas podem ser causados pelo controle segmentado, existente em
organizações estruturadas hierarquicamente, nas quais as partes de um processo de fluxo são
controladas, ao invés do fluxo como um todo. Um exemplo típico de controle segmentado em
construção ocorre no gerenciamento de materiais, pois a compra é freqüentemente feita por
um departamento que visa minimizar os custos da compra e do transporte, sendo que o fluxo
resultante possivelmente não será ótimo do ponto de vista de operações na obra (Oglesby et
al., 198912 citado por Koskela, 1992).
Para melhor entender os problemas da construção, Koskela (1992) deixa claro que este
setor deve ser visto como sendo composto de processos de fluxo, o que leva a profundas
mudanças de conceitos e ênfases. Um empreendimento de construção pode ser então dividido
em dois processos principais: o processo de projeto e o processo de construção.
O processo de projeto, segundo Koskela (1992), é um refinamento de especificações no
qual as necessidades e desejos vagos dos clientes são transformados em exigências, chegando,
após vários passos, ao desenho detalhado do produto. Nesta fase deve haver a detecção e
solução de problemas.
Já o processo de construção é composto por dois diferentes tipos de fluxos: o processo
de material que consiste em fluxos de material para a obra e o processo de trabalho de equipes
da construção.
Os processos, como mencionado anteriormente, podem ser caracterizados pelo seus
custos, duração e o valor para o cliente. De forma simplificada, pode-se considerar o projeto e
a construção apenas do ponto de vista do custo e do valor (Koskela, 1992). O valor tem de ser
avaliado segundo a perspectiva do próximo cliente ou do cliente final, consistindo em dois
componentes: desempenho do produto e ausência de defeitos (conformidade com as
especificações).
12 OGLESBY, C. H. et al. Productivity improvement in construction. New York: McGraw-Hill, 1989. 588p.
30
O custo, por sua vez, é composto pelos custos das atividades que agregam valor e de
perdas. As perdas no processo de projeto são oriundas de retrabalhos (devido a erros
detectados durante a execução do projeto) e atividades que não agregam valor em fluxos de
informação e trabalho. Já as perdas no processo de construção ocorrem devido a retrabalhos
(devido a erros de projeto ou de execução) e atividades que não agregam valor nos fluxos de
material e trabalho, tais como armazenamento, movimentação, inspeção dupla de atividades e
acidentes.
Koskela (1992) conclui desta análise que o objetivo principal no projeto é minimizar a
perda de valor enquanto que em construção é minimizar as perdas (desperdício).
Verifica-se, no raciocínio de Koskela, a ênfase dada à contínua redução das perdas. É
necessário, porém, para atingir este objetivo, ir além da simples quantificação das perdas.
Mais do que isto, é preciso analisar com base em um modelo bem estruturado, como estão
configurados os processos de produção, a fim de descobrir qual a origem das perdas, para
então propor diretrizes que visem sua eliminação. Neste sentido, Ohno (1988) afirma que, por
trás da idéia de que o STP objetiva reduzir custos, eliminando as perdas, está a compreensão
dos fatos que geram os custos. Shingo (1981) por sua vez, recomenda que se faça a pergunta
“por quê?” repetidas vezes, até que a resposta para um problema seja encontrada. Proceder
desta forma, argumenta o autor, impede que uma investigação termine antes de chegar à raiz
do problema, que é o objetivo fundamental da melhoria.
A análise das perdas baseada em um modelo estruturado, sistêmico, adaptado para a
realidade da construção, torna-se necessária à medida que existe o risco de que as iniciativas
em busca de melhorias, por parte de pesquisadores ou empresários do setor, sejam voltadas
apenas para a reprodução indiscriminada de técnicas e ferramentas utilizadas em outros
segmentos industriais.
Argumentos semelhantes são apresentados por Antunes Junior (1995), em suas
considerações críticas a respeito do STP e do conceito das sete perdas de Ohno e Shingo.
Segundo aquele autor, na forma de construção do STP pode-se observar claramente a
preocupação de caracterizá-lo como aberto e sistêmico, de forma que este possa ser adaptado
aos diferentes contextos produtivos, de acordo com a seguinte lógica hierárquica geral:
a) apresentação do conceito global de perdas e o detalhamento das sete perdas de modo
mais amplo;
31
b) construção de uma concepção de sistema produtivo a partir dos conceitos gerais de
perdas adaptado à realidade do país ou região em particular;
c) estabelecer um conjunto de técnicas apropriadas para a operacionalização do sistema.
Desta forma, verifica-se que os conceitos abordados no STP e na NFP podem ser usados
para embasar um modelo que viabilize melhorias efetivas na construção civil no Brasil,
principalmente no que tange à redução das perdas. Existe, porém, a necessidade de realizar
uma análise crítica das perdas propostas por Ohno e Shingo, no sentido de adequar tal visão à
realidade do setor, propor um sistema produtivo adaptado a este contexto, voltado para a
redução das perdas e, só então, operacionalizar este sistema através de técnicas e ferramentas
apropriadas.
32
3 ESTUDOS ANTERIORES SOBRE PERDAS NA CONSTRUÇÃO
CIVIL
De uma forma geral, as teorias apresentadas no capítulo anterior evidenciam que, para
melhor visualizar e compreender as perdas, é preciso levar em consideração uma visão mais
ampla de sua ocorrência.
Neste capítulo os principais estudos existentes sobre as perdas na construção civil,
realizados por Skoyles (1976) na Inglaterra, por Pinto (1989), Picchi (1993) e Soibelman
(1993) no Brasil e pela Hong Kong Polytechnic (1993) em Hong Kong, são descritos
resumidamente e uma análise crítica é realizada com o intuito de discutir o enfoque adotado
por estes pesquisadores em seus trabalhos.
3.1 ESTUDOS REALIZADOS POR SKOYLES
Skoyles desenvolveu uma série de estudos sobre as perdas de materiais na construção,
sendo a maior parte deles realizados no Building Research Establishment da Inglaterra.
De acordo com Skoyles (1976), devido à grande variedade de materiais utilizados na
construção, aos diferentes processos de execução e às características das edificações, é
impraticável englobar todos os tipos de perda, de construção e de materiais num único estudo.
Sendo assim, as investigações realizadas por aquele autor limitaram-se às perdas diretas de
alguns materiais, tais como tijolos, blocos, concreto, argamassas para revestimento e madeira,
e foram monitoradas em construções executadas com o emprego de tecnologias tradicionais,
sendo que a maioria dos projetos (60%) destinavam-se ao uso residencial.
3.1.1 Classificação das perdas segundo Skoyles
Skoyles (1976) classifica as perdas de materiais segundo seu controle (perdas naturais) e
segundo sua natureza (perdas diretas e indiretas).
Para definir as perdas naturais, Skoyles questiona sobre a economia que pode ser obtida
quando se evita o desperdício de um determinado material. Segundo esse autor, existe um
nível de perda considerado aceitável, além do qual os esforços despendidos não produzem
melhorias sensíveis, e os custos necessários para evitá-la são maiores do que o valor dos
próprios materiais envolvidos. Este nível aceitável refere-se às perdas naturais.
33
Skoyles (1976) deixa claro que qualquer iniciativa de controle das perdas deve ser
baseada em um balanceamento entre a economia obtida e o custo de obtê-la, porém, a
variabilidade nos níveis de perda encontrados nos seus estudos sugere que substanciais
economias podem ser conseguidas se as boas práticas empregadas nos canteiros forem
disseminadas.
As perdas diretas, por sua vez, envolvem os materiais que são danificados, e que não
podem ser recuperados para uso posterior, ou os que são perdidos durante o processo de
construção. Podem ser medidas através da diferença entre a quantidade de material utilizado e
a quantidade de material entregue no canteiro (Skoyles, 1976).
Skoyles & Skoyles (1987) evidenciam que as perdas diretas de materiais podem ocorrer
em qualquer estágio do processo de construção, originando-se a partir da combinação de
diferentes causas, dentre as quais destacam-se:
a) perdas na entrega: resultantes do transporte externo, do descarregamento ou estocagem
inicial dos materiais;
b) perdas no armazenamento ou trânsito interno: originadas no armazenamento
inadequado, na movimentação dentro do canteiro ou no manuseio e descarga dos materiais
nas frentes de trabalho;
c) perdas do gerenciamento: provenientes de decisões incorretas, indecisão ou falta de
supervisão;
d) perdas na adequação: decorrentes de cortes mal executados que acabam inutilizando o
material (blocos, madeiras);
e) perdas na execução: resultantes de materiais quebrados em quedas, estragados ou
rejeitados durante a sua utilização;
f) perdas por crimes: oriundas de roubo, vandalismo, entre outros;
g) perdas por uso incorreto: procedentes da utilização de materiais do tipo errado ou de
qualidade inferior à especificada.
Já as perdas indiretas, caracterizam-se pela perda financeira decorrente de erros, da
utilização dos materiais em excesso ou para fins diferentes dos especificados. Neste tipo de
desperdício não ocorre a perda física do material, e sua quantificação resulta da diferença
34
entre o custo do material que deveria ter sido usado e o custo do material efetivamente usado
(Skoyles, 1976).
Skoyles & Skoyles (1987) dividem as perdas indiretas da seguinte maneira:
a) perda por substituição: perda causada pelo uso, em determinada atividade, de material
de valor superior ao especificado. Um exemplo deste tipo de perda é a utilização de tijolos
previstos para paredes à vista na execução de paredes que posteriormente serão revestidas.
b) perda por produção: perda que se origina quando ocorrem situações não previstas, e
portanto, não inclusas em orçamento. O consumo adicional de concreto em fundações,
decorrente de características inesperadas do subsolo, exemplifica este tipo de perda.
c) perda por negligência: perda que ocorre devido aos erros no canteiro, que podem levar
à rejeição de determinados serviços executados ou à utilização de materiais
desnecessariamente. A execução de revestimentos mais espessos, devido a problemas na
geometria da estrutura, por exemplo, aumenta excessivamente o consumo de argamassa.
d) perdas conseqüentes: custos adicionais que ocorrem na construção em conseqüência da
perda de materiais, embora usualmente pareçam não estar relacionados às perdas. O tempo
despendido para corrigir uma situação com problemas gera custos que algumas vezes não são
percebidos, pois as perdas são geralmente associadas apenas aos materiais. Os mesmos
autores apresentam o seguinte exemplo: a perda de um determinado material pode tornar a
quantidade disponível no canteiro insuficiente para terminar um serviço em execução, e, por
conseqüência, haverá parada dos operários envolvidos além do necessário, diminuição da
produtividade, atraso no término do serviço, dispêndio de mão-de-obra no manuseio dos
materiais suplementares, dentre outros fatores, que acarretam custos adicionais.
3.1.2 Resultados obtidos
A tabela 3.1 apresenta resumidamente alguns resultados encontrados por Skoyles em
114 canteiros estudados. Estão discriminados os materiais observados, o número de canteiros
estudados, a amplitude dos resultados obtidos, a incidência média de perda direta destes
materiais e os índices usuais de perdas, assumidos nas tabelas de composição de custos para
orçamentos inglesas.
35
Tabela 3.1 Resultados de perdas diretas obtidos em 114 canteiros
ÍNDICE DE PERDAMATERIAL NO DECANTEIROS
AMPLITUDE DOSRESULTADOS (%) REAL (%) USUAL (%)
CONCRETOInfra-estrutura 12 3 – 18 8 2,5Super-estrutura 3 – 2 2,5
AÇO 1 – 5 2,5TIJOLOS
Comuns 68 1 – 20 8 4,0À vista 62 1 – 22 12 5,0Estruturais vazados 2 – 5 2,5Estruturais maciços 3 9 – 11 10 2,5
BLOCOSLeves 22 1 – 22 9 5,0Concreto 1 – 7 5,0
TELHASFrancesa 1 – 10 2,5Fibrocimento 1 – 8 2,5
MADEIRATábuas 3 12 – 22 15 5,0Compensado 2 – 15 5,0REVEST. ARGAMASSADOSParedes 4 2 – 7 5 5,0Forros 4 1 – 4 3 5,0
REVEST. CERÂMICOSAzulejos 1 – 3 2,5Pisos 1 – 3 2,5
TUBULAÇÕESCobre 9 – 7 2,5PVC 1 – 3 2,5Conexões de cobre 7 – 3 –
VIDROChapas 3 – 9 5Janelas pré-envidraçadas 2 – 16 0Fonte: Skoyles, 1976
3.1.3 Conclusões do estudo
Skoyles (1976) deixa claro nas suas conclusões que qualquer iniciativa no sentido de
reduzir as perdas deve estar baseada num balanceamento racional entre a economia possível
de ser alcançada e o custo necessário para obtê-la. As principais conclusões obtidas neste
estudo foram as seguintes:
a) para os principais materiais observados, a perda direta média que ocorre na prática é
aproximadamente o dobro da admitida nas estimativas de custos;
b) a variedade de índices de perdas verificados em obras similares, demonstra que muitas
das perdas de materiais são evitáveis;
36
c) as perdas não são decorrentes apenas de práticas incorretas utilizadas nos processos
produtivos, podendo ser originadas por deficiências nos projetos, pela falta de controle dos
materiais entregues, por atitudes geradoras de perda tomadas pelas pessoas que trabalham nos
canteiros e pela utilização de documentação contábil inadequada;
d) existe maior probabilidade de que as perdas sejam originadas por uma combinação de
eventos do que por um incidente ocorrido em uma única operação;
e) o nível de perda não está necessariamente relacionado com o tipo de construção;
f) as perdas não são necessariamente vinculadas à empresa construtora, mas com o
canteiro de obras e as pessoas com ele envolvidas;
g) a falta de gerenciamento dos materiais nos canteiros apresenta-se como a principal
causa das perdas;
h) a armazenagem e o manuseio dos materiais foram responsáveis por três vezes mais
perdas do que qualquer outra causa.
Posteriormente a esta primeira série de estudos, novos estudos foram realizados na
Inglaterra por Skoyles, visando, por um lado, compreender melhor as perdas e, por outro lado,
desenvolver um método capaz de tornar os gerentes de obras mais sensíveis em relação às
perdas, habilitando-os para percebê-las antes da sua ocorrência, o que seria uma medida
importante para a sua prevenção.
De acordo com Skoyles & Skoyles (1987), estes novos estudos também foram baseados
em observações realizadas nos canteiros de obras, porém, tiveram um avanço em relação aos
seus antecedentes no que diz respeito à coleta de dados qualitativos, que foram
correlacionados com os índices quantitativos de perdas. Tais estudos buscaram determinar se
as observações foram realistas e refletiam o nível de perdas obtido nos estudos quantitativos
mais detalhados.
3.1.4 Análise crítica dos estudos de Skoyles
Dentre as características positivas dos estudos realizados por Skoyles, destacam-se a sua
representatividade, uma vez que para alguns materiais, um elevado número de canteiros foi
investigado, disponibilizando uma amostra expressiva de dados para a análise, e o nível de
detalhamento conseguido, já que em uma parcela das obras acompanhadas foram mantidos
observadores de campo permanentemente. Estas peculiaridades, somadas ao fato dos estudos
37
posteriores realizados pelo autor terem confirmado os resultados e as conclusões obtidas nos
primeiros estudos, dão credibilidade às informações apresentadas.
É possível perceber também uma clara preocupação de Skoyles com o enfoque mais
amplo das perdas, quando este menciona as perdas do tipo conseqüente e quando correlaciona
os índices quantitativos obtidos com informações qualitativas relativas às obras, a fim de
verificar a confiabilidade dos mesmos. No que diz respeito ao aspecto conceitual, contudo,
fica evidenciado que tanto a obtenção dos índices de perda quanto as conclusões dos estudos
fundamentam-se nas classificações desenvolvidas por Skoyles, que não consideram, ao menos
explicitamente, os modernos conceitos gerenciais empregados nas indústrias de produção
seriada, que buscam proporcionar um meio eficaz de conhecer e controlar as perdas, baseado
em uma nova concepção da produção. Sendo assim, uma parcela das perdas (outros recursos)
e suas respectivas causas podem não ter sido percebidas pelo autor.
Uma das conclusões de Skoyles é que existe um nível de perdas aceitável (perdas
naturais) que pode variar de empresa para empresa, e até mesmo ser diferente para obras da
mesma empresa, em função das suas características específicas. A incorporação de inovações
tecnológicas13 aos produtos ou processos, contudo, pode proporcionar alterações no nível de
perdas naturais das empresas, uma vez que mudanças que afetam direta ou indiretamente a
produção são realizadas.
Para esta finalidade as empresas podem valer-se também do Ciclo PDCA14 de controle
de processos, que consiste, segundo Campos (1992), em uma abordagem gerencial apropriada
para a prática do controle. O mesmo autor afirma que o Ciclo PDCA pode ser usado tanto
para a manutenção quanto para a melhoria do nível de controle, sendo necessário conjugar os
dois tipos de gerenciamento para obter melhorias contínuas nos processos. A figura 3.1
mostra o conceito de melhoramento contínuo baseado na conjugação dos ciclos PDCA de
manutenção e melhorias.
13 De acordo com Koskela (1992), as inovações são freqüentemente associadas a novas descoberta, embora orefinamento também seja aceito como uma forma de inovação.14 O ciclo PDCA, também conhecido como ciclo de Deming, foi proposto na verdade por Shewart em 1939, eposteriormente (anos 50) adaptado e levado para o Japão por Deming (Deming, 1990). A sigla vem dos termosem inglês: Plan (planejar), Do (executar), Check (verificar, controlar) e Act (agir, realizar ação corretiva).
38
Figura 3.1 Ciclo PDCA no processo de melhoria contínua (Campos, 1992)
3.2 ESTUDO REALIZADO POR PINTO
Pinto realizou sua pesquisa sobre perdas de materiais em um Flat-Hotel edificado na
cidade de São Paulo, com 3658 m2 de área construída, distribuída em 18 pavimentos. A obra
foi executada utilizando processo convencional, com estrutura de concreto armado, vedação
com blocos de concreto celular autoclavado e revestimento com azulejos colados sobre
emboço, gesso aplicado sobre os blocos ou camada única de argamassa aplicada sobre os
blocos chapiscados.
Foram estimadas as perdas ocorridas nos serviços de execução da estrutura, vedação e
revestimento, sendo a escolha baseada pela disponibilidade de documentação detalhada sobre
tais serviços na construtora, e no fato dos materiais e componentes utilizados nestes serviços
serem encarados como potencialmente geradores de perdas.
Para a análise das perdas foram adotados os seguintes procedimentos:
a) análise de todos os documentos fiscais relativos ao período de execução, com a
discriminação dos serviços executados pela própria empresa construtora e serviços
empreitados a terceiros, para quantificação dos materiais utilizados;
b) verificação do conjunto de projetos executivos para quantificação dos materiais
teoricamente necessários;
c) realização de vistorias para definição das alterações feitas no decorrer da execução e
controle dimensional da obra acabada.
39
A quantificação dos materiais teoricamente necessários para a execução dos serviços foi
realizada utilizando composições unitárias de custo, reduzidas dos índices de perdas
normalmente considerados. Cabe ressaltar que as observações na obra foram realizadas após a
conclusão da edificação.
3.2.1 Resultados obtidos
Os resultados do estudo de Pinto são apresentados na tabela 3.2, referindo-se aos
materiais majoritariamente responsáveis pelas perdas, sendo os índices reais obtidos a partir
da diferença entre as quantidades de material compradas e as quantidades de material
definidas no levantamento em projeto. Os índices de perdas usuais são os adotados em uma
tabela de composição de custo brasileira.
Tabela 3.2 Índices de perdas obtidos na pesquisa
MATERIAIS ÍNDICE DE PERDA (%)
REAL USUALMadeiras em geral 47,45 15,00Concreto usinado 1,34 5,00Aço 26,19 20,00Componentes de vedação 12,73 5,00Cimento 33,11 15,00Cal hidratada 101,94 15,00Areia 39,02 15,00Argamassa colante 86,68 10,00Azulejos 9,55 10,00Cerâmicas de piso 7,32 10,00
Fonte: Pinto, 1989
Na tabela 3.3 são apresentados os dados obtidos na verificação das espessuras finais dos
revestimentos em argamassa (vedações e pisos). A variação das espessuras foi obtida levando
em consideração as espessuras tecnicamente recomendadas para cada um dos tipos de
revestimento utilizados na obra.
40
Tabela 3.3 Variação no consumo de argamassas nos serviços de revestimento
REVESTIMENTO Espessuraprojetada
(mm)
Consumoprojetado
(m3)
Espessuramedida(mm)
Consumomedido(m3) (1)
Variação(%)
Massa única interna – vedações 20 62,70 12 38,30 -38,90Massa única interna – tetos 20 40,00 38 75,90 89,75Massa única externa – fachadas 20 63,90 64 171,30 217,80Contrapiso 30 60,00 57 113,90 89,80
TOTAL 216,60 399,40 84,40Fonte: Pinto, 1989
(1) estimativa de consumo feita a partir das médias ponderadas das medidas realizadas
Pinto (1989) enfatiza que os resultados obtidos não podem ser generalizados, uma vez
que a análise foi realizada em uma única obra. O autor, porém, afirma que os índices
apresentados não são estranhos a quaisquer obras executadas convencionalmente.
3.2.2 Conclusões do estudo
As principais conclusões do estudo de Pinto (1989) foram as seguintes:
a) a perda total em peso foi de 18,26%, o que representou um acréscimo em torno de 6%
na expectativa de custo total. Para a determinação desta perda, foi calculado o peso total dos
materiais que deveriam estar incorporados e o peso dos materiais comprados;
b) as argamassas e seus constituintes representaram aproximadamente 60% do material
mais pesado removido da obra, enquanto os componentes de vedação representaram 30%;
c) o volume de argamassa perdida na recuperação dos rasgos das instalações foi de 3,15
m3, o que é insignificante para o tipo de vedação utilizada;
d) a perda de argamassa nos revestimentos foi de 84,4% em relação ao volume projetado,
representando uma perda física de 182,8 m3;
e) os revestimentos externos apresentaram espessura média de 64 mm, sendo
responsáveis pela maior parcela da perda de argamassa (117,4 m3);
f) o acréscimo no consumo de aço deveu-se ao desbitolamento do produto, à dificuldade
de programação do corte e à falta de aproveitamento das pontas em barras grossas;
g) a perda de chapas de compensado que foi de 122%, em relação a quantidade definida
em projeto, ocorrendo principalmente devido à má execução do serviço de formas.
41
3.2.3 Análise crítica do estudo de Pinto
O estudo de Pinto pode ser considerado superficial pois centrou-se apenas na
documentação da obra, a qual nem sempre condiz com a realidade, além de ter sido realizado
após esta estar concluída. Soma-se a isso o fato do estudo não possuir representatividade, uma
vez que foi baseado em dados de uma única obra.
Cabe ressaltar que sua inclusão nesta dissertação justificou-se pelo fato de ser o
primeiro estudo realizado sobre perdas na construção civil no país, o qual teve seus resultados
amplamente divulgados, despertando o interesse tanto da mídia, quanto dos profissionais do
setor, para a problemática das perdas.
No que tange à amplitude do estudo, o próprio autor menciona que as perdas vinculadas
à mão-de-obra e aos equipamentos não foram abordadas. Do ponto de vista das modernas
filosofias gerenciais, mais especificamente do Mecanismo da Função Produção de Shingo, ao
investigar as perdas físicas de materiais depois da obra terminada, Pinto não contemplou os
processos, etapas de transformação da matéria-prima em produto acabado, tampouco as
operações, trabalho realizado para efetivar estas etapas, o que proporciona uma visão restrita
de toda a dinâmica que envolve as perdas.
Cabe, por fim, ressaltar como ponto positivo, que este estudo chamou a atenção para o
fato de que uma elevada parcela das perdas de materiais ficam incorporadas às edificações,
enquadrando-se na categoria de perdas indiretas, definida por Skoyles.
3.3 ESTUDO REALIZADO POR PICCHI
De acordo com Picchi (1993), suas pesquisas sobre perda de materiais foram realizadas
em três obras de apartamentos residenciais (denominadas A, B e C), construídas nos anos de
1986 e 1987, com estrutura convencional e vedação de tijolos cerâmicos furados.
Nas obras A e B os dados foram obtidos através dos registros de retirada de entulho,
feita por caminhões da própria construtora, com caçambas de 3,5 m3. Os dados relativos à
obra C foram obtidos nos documentos fiscais fornecidos pelos empreiteiros que retiravam o
entulho, cobrando por volume. Nos três casos foram contabilizados os volumes retirados no
decorrer de toda a obra, não considerando, porém, os grandes volumes de terra retirados nos
primeiros meses, proveniente das escavações.
42
3.3.1 Resultados obtidos
Os resultados obtidos por Picchi em seu levantamento estão descritos na tabela 3.4, que
apresenta a área total de cada obra, a duração dos empreendimentos, o volume total de entulho
removido, a massa de entulho por metro quadrado e a relação entre a massa de entulho
retirada e a massa final estimada para as construções consideradas.
Tabela 3.4 Resultados obtidos da análise de perdas de materiais
OBRA ÁREACONSTRUÍDA
(m2)
DURAÇÃODA OBRA
(meses)
VOLUMETOTAL DE
ENTULHO (m3)
MASSA DEENTULHO
(t/m2) (1)
ENTULHO /MASSA
PROJETADA DOEDIFÍCIO (%) (2)
A 7619 17 606,5 0,095 11,2B 7982 15 707,7 0,107 12,6C 13581 16 1645,0 0,145 17,1
Fonte: Picchi, 1993
(1) foi considerada a massa específica de entulho de 1,2 t/m3
(2) foi considerada a massa final do edifício de 0,85 t/m2
Na tabela 3.5, é apresentado o cálculo realizado por Picchi para determinar o quanto as
espessuras adicionais, utilizadas com freqüência nos revestimentos em argamassa para
correção de imperfeições da estrutura e alvenarias, representaram nas obras avaliadas.
Tabela 3.5 Perda devido à espessuras adicionais de argamassas
PERDAREVESTIMENTO Espessuraprojetada
(cm)
Volumeprojetado
(l/m2)
Espessurarealizada
(cm)
Volumerealizado
(l/m2)Em
volume(l/m2)
Em % doprojetado
Em massa(Kg/m3)
Em relaçãoà massa
projetadado edifício
(2) (3)
Interno (paredes) 2,0 42,2 3,0 63,3 21,1 50,0 38,0 4,5Interno (tetos) 2,0 11,0 4,0 22,0 11,0 100,0 19,8 2,3Externo 3,0 23,1 6,5 50,1 27,0 116,8 48,6 5,7Contrapiso 3,0 22,2 6,0 44,4 22,2 100,0 40,0 4,7TOTAL 2,4 (1) 98,5 4,3 (1) 179,8 81,3 82,5 148,4 17,2Fonte: Picchi, 1993
(1) média ponderada(2) foi considerada a massa específica média de 1800 Kg/m3 de argamassa(3) foi considerada a massa final do edifício de 0,85 t/m2
43
3.3.2 Conclusões do estudo
As principais conclusões deste estudo foram as seguintes:
a) a massa de entulho variou de 0,095 t/m2 a 0,145 t/m2, o que representa de 11 a 17% da
massa final do edifício;
b) se o entulho gerado durante o decorrer da obra fosse armazenado e posteriormente
espalhado sobre todos os pisos, ter-se-ia uma espessura média de 8 a 12 cm, o que dá uma
noção física das perdas;
c) o consumo adicional de argamassa foi de 82,5%, em relação à espessura projetada dos
revestimentos, o que representou um acréscimo de 0,15 t/m2, equivalente a 17% da massa
projetada do edifício.
3.3.3 Análise crítica do estudo de Picchi
No que diz respeito ao número de edificações investigadas, o estudo de Picchi apresenta
maior representatividade do que o estudo de Pinto. No que tange ao método de obtenção dos
índices de perda empregado, porém, pode-se afirmar que este estudo foi pouco abrangente,
uma vez que foram levantadas apenas as perdas em massa, ou seja, a diferença entre a massa
de entulho retirado das obras e a massa projetada do edifício. Cabe evidenciar também que
alguns dados utilizados nos cálculos, como a massa específica do entulho e a massa final do
prédio, são estimados, o que confere um grau de subjetividade aos resultados.
Considerando o enfoque mais amplo das perdas, o estudo pode ser avaliado como
superficial, pois o autor, ao direcionar sua atenção para o entulho retirado dos canteiros, que
consiste num sintoma dos variados problemas que ocorrem no decurso de uma obra, não
enfatiza a origem dos problemas que causam estas perdas, tais como a existência de estoques
elevados de materiais, o excesso de transporte dos materiais, a elaboração de produtos
defeituosos e outros.
3.4 ESTUDO REALIZADO POR SOIBELMAN
A grande variedade de materiais, os diferentes tipos de edificações e a diversidade de
técnicas construtivas utilizadas na indústria da construção, levaram Soibelman a restringir o
número de materiais e canteiros de obras a serem analisados, uma vez que um dos objetivos
44
principais do trabalho, segundo esse autor, era estudar mais profundamente as causas das
perdas.
A pesquisa foi realizada em cinco obras de Porto Alegre, que se encontravam em
estágios de execução semelhantes, construídas com o emprego de tecnologia convencional,
com estrutura de concreto armado, vedação das paredes com blocos cerâmicos e
revestimentos em argamassa. Os empreendimentos pertenciam a empresas de pequeno porte e
eram destinados à classe média-alta.
Os materiais selecionados foram os mais representativos em termos de custos na
construção (aproximadamente 20% do custo total da obra), e sua escolha teve como base uma
análise feita na curva ABC dos insumos utilizados nos projetos de padrão normal, de quatro,
oito e doze pavimentos da NBR-12721 (ABNT, 1992). Os itens referentes à mão-de-obra,
bem como os materiais que possuem baixa probabilidade de ocorrência de perdas não foram
levados em consideração nesta análise.
3.4.1 Método utilizado para o levantamento dos dados
Segundo Soibelman (1993), o levantamento dos dados foi realizado considerando dois
períodos distintos. O primeiro período situou-se entre o início da obra e a data da vistoria
inicial (VI), quando foram efetuadas medições dos serviços até então executados e
determinadas as quantidades dos materiais pesquisados existentes em estoque. O segundo
período ficou compreendido entre a data da vistoria inicial (VI) e a data da vistoria final (VF),
na qual foram repetidos os procedimentos postos em prática na VI.
A coleta dos dados foi realizada por auxiliares de pesquisa, que tinham por função obter
informações sobre as obras e sobre os respectivos materiais estudados, que eram observados
desde sua chegada ao canteiro até a sua utilização nas frentes de trabalho, assim como
quantificar as perdas e registrar suas causas, incidências e freqüências.
Os dados obtidos nos canteiros foram registrados empregando diversas planilhas,
criadas especialmente para esta pesquisa. A função de cada planilha, em linhas gerais, era a
seguinte:
a) Planilha 1 - Identificação do canteiro em análise: Nestas planilhas foram anotadas
algumas características específicas de cada obra, como o nome da empresa construtora, o
responsável técnico, a área construída, o prazo de duração, os documentos fornecidos pela
empresa para o estudo, entre outros.
45
b) Planilha 2 - Avaliação do percentual executado dos serviços: Nestas planilhas foram
registradas as quantidades de cada serviço executadas até as datas da VI e da VF.
c) Planilha 3 - Controle do material adquirido e recebido até a data da VI: Nestas
planilhas foram anotadas as quantidades de materiais compradas e fornecidas às obras até a
data da VI, obtidas através das notas fiscais.
d) Planilha 4 - Medição de estoque: Nestas planilhas foram quantificados os estoques dos
materiais nas datas da VI e da VF.
e) Planilha 5 - Controle do material recebido durante o período entre a VI e a VF: Nestas
planilhas foram anotados os dados sobre as entradas e saídas dos materiais nas obras,
descrevendo as datas, especificações, quantidades e finalidades.
f) Planilha 6 - Transporte externo (descarregamento) e recebimento dos materiais: Estas
planilhas foram divididas em três partes, sendo uma para concreto, uma para tijolos e uma
para cimento, areia e argamassa regular. Em cada uma delas eram anotadas, dentre outros
dados, as datas de recebimento dos materiais, o tipo de equipamento de transporte externo, as
características do local de descarregamento e a ocorrência de duplo manuseio.
g) Planilha 7 - Transporte interno dos materiais: Nestas planilhas foram anotadas as datas
das observações, a atividade na qual o material era usado, os equipamentos de transporte
vertical e horizontal, as distâncias percorridas, as condições do percurso e outros dados
pertinentes.
h) Planilha 8 - Verificação qualitativa quanto à estocagem dos materiais: Nestas planilhas
foram descritas as características do local de estoque, a forma do estoque, a existência ou não
de contenções laterais, a altura dos estoques, entre outros.
i) Planilha 9 - Controle da execução dos serviços: Estas planilhas foram divididas em
duas partes, sendo uma para o controle da execução das alvenarias e a outra para o controle da
execução dos revestimentos argamassados. Em cada uma delas foram anotados dados
referentes às dimensões dos materiais, à metragem executada, à espessura das juntas e dos
revestimentos, ao número de observações, ao período de observação, aos traços usados, ao
número de peças rejeitadas e outros.
j) Planilha 10 - Verificação dos serviços executados: Estas planilhas foram divididas em
três partes, sendo uma para a verificação do prumo da estrutura, uma para verificação das
46
dimensões dos elementos estruturais (lajes, vigas e outros) e uma para verificação da
espessura dos revestimentos argamassados.
Para calcular a incidência das perdas de materiais a partir dos dados levantados,
Soibelman considerou três diferentes momentos. Primeiro, foi determinada a perda ocorrida
até a VI, através da análise contábil das notas fiscais dos materiais adquiridos até esta data
(Mreal), da medição do estoque feita na VI (EstVI) e da quantidade de materiais teoricamente
necessária para a execução dos serviços neste período (Mteo). Os índices de perda de cada
insumo na VI foram calculados através da equação 3.1.
Perda (%) = [Mreal - EstVI] / Mteo (3.1)
A seguir, foi calculada a perda ocorrida entre a VI e a VF, através da através da análise
contábil das notas fiscais dos materiais adquiridos entre estas datas, da medição do estoque
feita na VI e na VF e da quantidade de materiais teoricamente necessária para a execução dos
serviços neste período. Os índices de perda de cada insumo entre a VI e a VF foram
calculados através da equação 3.2.
Perda (%) = [Mreal + EstVI - EstVF] / Mteo (3.2)
Por fim, foi definida a perda ocorrida até a VF, através da análise contábil das notas
fiscais dos materiais adquiridos até esta data (Mreal), da medição do estoque feita na VF
(EstVF) e da quantidade de materiais teoricamente necessária para a execução dos serviços
neste período (Mteo). Os índices de perda de cada insumo na VF foram calculados através da
equação 3.3.
Perda (%) = [Mreal - EstVF] / Mteo (3.3)
A quantidade de materiais teoricamente necessária foi obtida através das composições
de custo publicadas pela Editora Pini e pela Regional Sul Orçamentos e Custos, descontadas
as perdas embutidas nas mesmas.
3.4.2 Resultados obtidos
Os resultados obtidos por Soibelman em seu estudo estão descritos na tabela 3.6, que
apresenta os índices de perda em termos percentuais para os materiais observados até a data
da VI, entre a data da VI e a data da VF e do início da obra até a data da VF. Os índices
apresentados correspondem à média dos índices obtidos em cada obra. Os índices de perda
usuais são os adotados nas referidas composições de custos.
47
Tabela 3.6 Índices de perda de materiais para os diferentes períodos considerados
ETAPA MÉDIA ATÉ AVI (%)
MÉDIA ENTREA VI E A VF (%)
MÉDIA ATÉ AVF (%)
PERDA USUAL(%)
Aço CA-60 1,87 – 6,86 20,00Aço CA-50 22,39 – 29,49 20,00Aço (total) 20,66 – 19,07 20,00Cimento 110,83 82,61 84,13 15,00Concreto 13,42 12,93 13,18 5,00Areia 47,46 44,37 45,76 15,00Argamassa – 93,60 91,25 15,00Tijolos furados 67,72 49,99 27,64 10,00Tijolos maciços 29,46 53,96 26,94 10,00Fonte: Soibelman, 1993
3.4.3 Conclusões do estudo
As principais conclusões deste estudo foram as seguintes:
a) as perdas de materiais na construção de edificações são efetivamente maiores do que as
normalmente aceitas pelas empresas construtoras em seus orçamentos;
b) nos empreendimentos observados, as perdas reais médias dos insumos possuem um
grande intervalo de variação e situam-se entre 0,85 e 8 vezes as perdas usuais admitidas, que
variam de 5% a 20%, dependendo do insumo considerado;
c) nas obras pesquisadas não havia política definida de administração de materiais e, na
sua maioria, não foram tomadas sequer medidas simples de prevenção das perdas,
demonstrando que uma elevada parcela destas poderia ter sido evitada;
d) existem diferenças nos índices de perda de cada material no mesmo empreendimento,
ou seja, se um insumo específico apresentou um elevado índice de consumo, superior às
demais obras pesquisadas, não significa que todos os insumos desta obra apresentaram a
mesma tendência;
e) as perdas ocorreram, de uma forma geral, por uma combinação de fatores e não por
incidentes isolados, comprovando que a falta de gerenciamento do canteiro é responsável pela
sua elevada incidência;
f) a gerência tem maior culpa pelas perdas do que os operários, apesar destes serem
considerados pelos empresários da construção como responsáveis pela baixa produtividade,
falta de qualidade e elevado índice de perdas de materiais.
48
Quanto às principais causas das perdas dos materiais pesquisados, Soibelman (1993)
chegou às seguintes conclusões:
a) aço: as principais causas da perda deste material não foram determinadas, apesar de ter
sido constatada a falta de monitoramento dos cortes e do grau de desbitolamento das barras.
b) cimento: execução de revestimentos argamassados e juntas das alvenarias com elevada
espessura.
c) concreto usinado: aumento da espessura das lajes em relação ao especificado em
projeto, falta de controle no recebimento, erros de cubagem e condições de transporte
inadequadas.
d) areia média: a principal fonte de perda deste insumo foi a elevada espessura das juntas
das alvenarias.
e) argamassa regular: perdas devido à elevada espessura do revestimento das fachadas.
f) tijolos furados: perdas no recebimento, estocagem e transporte dos tijolos, que
corresponderam a aproximadamente o dobro das perdas geradas na produção, além da perdas
devido ao corte e à falta de controle no recebimento do material.
3.4.4 Análise crítica do estudo de Soibelman
O estudo de Soibelman destaca-se dos demais realizados no país por abranger uma
amostra maior de obras (cinco no total), por estabelecer três índices de perdas
correspondentes a períodos distintos da execução das obras e por investigar com profundidade
as causas das perdas, com base em dados obtidos durante a construção, através de um método
de levantamento bastante abrangente.
Para viabilizar tal abrangência, no período compreendido entre a verificação inicial e a
verificação final, foram colocados observadores nas obras, munidos com as planilhas descritas
no item 3.4.1, nas quais foram coletadas informações sobre o canteiro e sobre os materiais
estudados, enfocando os recebimentos, descargas, transferências, transportes internos,
estocagens e manuseio destes nos postos de trabalho. Estas observações permitiram registrar
perdas, suas causas, incidências e freqüências.
É importante evidenciar o esforço de Soibelman para determinar detalhadamente não só
os níveis de perda de materiais, mas também o conjunto de fatores, que sozinhos ou
49
combinados causam estas perdas. Desta forma, as informações obtidas não serviram apenas
para apontar problemas, e sim, para subsidiar medidas de efetivo controle das perdas.
No que tange às empresas de construção que, segundo o próprio autor, convivem com
estimativas disparatadas sobre as perdas de materiais do setor, esse estudo disponibilizou além
de dados confiáveis sobre o tema, o conjunto de planilhas para que as próprias empresas
pudessem determinar os seus níveis de perda, e então agir buscando o seu controle efetivo.
No que diz respeito ao enfoque mais amplo das perdas, o estudo de Soibelman, apesar
de investigar as perdas de forma bastante abrangente, considerando os estoques, transportes e
outros fatores que segundo Shingo (1981) são responsáveis pela ocorrência destas, restringe-
se a analisar os materiais apenas, sem estabelecer em que nível as perdas vinculadas à mão-
de-obra e aos equipamentos afetam a produção negativamente. Cabe ressaltar que o autor
investiga a mão-de-obra em seu estudo, mas apenas para determinar a existência de correlação
entre a produtividade e a perda de materiais.
Além disso, a visão mais ampla das perdas faz a distinção entre atividades de conversão
e de fluxo, e define claramente quais atividades devem ser priorizadas quando se
implementam melhorias. Soibelman centrou-se nas atividades executadas durante a produção
de uma edificação, determinando como estas se relacionam com as perdas, não discriminando
porém, quais precisam ser aprimoradas e quais devem ser eliminadas ou minimizadas.
3.5 ESTUDO REALIZADO EM HONG KONG
O estudo realizado em Hong Kong por C. M. Cheung, juntamente com outros quatro
pesquisadores da Hong Kong Polytechnic, foi motivado pela insuficiência de espaço para
dispor o entulho (perdas) oriundo da construção naquele país.
Segundo o relatório da Hong Kong Polytechnic (1993), o entulho beneficiou no passado
a economia de Hong Kong, servindo para aterro em áreas de despejo públicas (locais de bota-
fora). Entretanto, tornou-se um problema nos anos recentes pois a redução das áreas
disponíveis causou o aumento dos descartes em aterros sanitários que, por sua vez, também
ficaram sobrecarregados. O mesmo autor afirma que uma solução para este problema seria
disponibilizar novas áreas para a deposição do entulho, porém isto causaria efeitos adversos
ao ambiente, além de prejudicar a paisagem. O governo local, desta forma, optou pela
cobrança de taxas para forçar a redução das perdas na construção.
50
3.5.1 Definição de perdas na construção e suas principais origens
De acordo com o relatório da Hong Kong Polytechnic (1993), a definição de perdas na
construção adotada na pesquisa foi a seguinte: perdas são os subprodutos gerados e removidos
da construção, reforma ou demolição de edificações e outras estruturas de engenharia civil.
Segundo o mesmo autor, adotando esta definição, as perdas na construção e suas origens
podem ser facilmente identificadas.
Com relação às origens das perdas na construção, o relatório da Hong Kong Polytechnic
(1993) apresenta um estudo realizado pelo Environmental Protection Department em 1991,
que identifica cinco grandes categorias e as respectivas porcentagens de participação na massa
total de entulho depositada por dia em aterros de Hong Kong. A tabela 3.7 apresenta os
resultados do estudo, referentes a dezoito materiais.
Tabela 3.7 Composição média diária das perdas na construção por origem
ORIGEM DAS PERDAS (massa em toneladas)MATERIAIS
Estradas Escavações Demoliçõesedificações
Reformasedificações
Limpezacanteiros
Total
Asfalto* 158,47 0,00 62,15 0,00 3,88 224,50Concreto* 313,24 49,31 770,42 85,83 274,67 1493,46Concreto armado* 10,85 46,26 1275,87 88,76 244,46 1666,20Terra* 113,08 763,20 459,09 171,90 905,12 2412,39Rochas* 47,75 484,93 263,02 82,83 288,60 1167,14Pedregulho* 0,00 22,25 177,05 162,87 418,69 780,87Madeira* 0,69 16,71 275,48 194,59 312,10 799,57Bambu* 0,00 0,42 11,79 0,59 8,86 21,65Blocos concreto* 0,00 0,00 42,65 11,98 26,72 81,34Tijolos* 0,00 4,90 244,09 127,52 148,19 524,70Vidro 0,00 0,00 7,67 8,04 16,62 32,32Orgânicos 0,00 4,52 49,91 28,01 90,50 172,92Tubos plásticos 0,00 0,00 23,42 3,83 33,61 60,85Areia* 31,18 149,57 55,37 34,63 50,28 321,02Árvores* 0,00 11,00 0,00 0,16 3,64 14,80Materiais elétricos 0,00 0,00 1,43 0,06 0,92 2,40Junco 0,00 0,00 2,82 1,45 7,00 11,27Metais* 0,00 7,37 131,30 64,94 129,22 332,82
TOTAL 675,25 1560,44 3853,51 1067,97 2963,05 10120,22% DA MASSA 6,67 15,42 38,08 10,55 29,28 100,00
Fonte: Hong Kong Polytechnic, 1993
* Materiais recicláveis
O estudo observou ainda que 97% do total de entulho era reciclável, dos quais 86%
consistiam em material granular inerte, 8% de madeira e 3% de metais.
51
3.5.2 Quantificação e análise das perdas na construção
Com o objetivo de quantificar as perdas na construção, identificar suas principais causas
e projetar, para os cinco anos seguintes, o montante de entulho que seria gerado pela
construção de novas edificações e demolição das obsoletas em Hong Kong, Cheung e sua
equipe estudaram entre junho de 1992 e fevereiro de 1993 um total de 32 canteiros de obras.
A determinação dos dados de maior relevância que seriam coletados foi feita previamente,
com base em um estudo piloto realizado pela equipe em dois canteiros de obras.
Os dados cumulativos foram coletados e registrados para cada mês. Através da
comparação da quantidade de materiais que entraram nos canteiros com a quantidade de
materiais gastos na execução dos serviços, o nível de perdas para cada canteiro foi
determinado. Foram selecionados os materiais utilizados em todos os serviços úmidos, tais
como concretagens, execução de alvenarias, revestimentos em argamassa e cerâmicos, pois
fora constatado no estudo piloto que, excetuando-se as escavações, estes serviços são
causadores da maior parte das perdas.
Nos contatos realizados com as empresas, os pesquisadores descobriram que os
construtores de Hong Kong não tinham registros próprios sobre os materiais utilizados nos
canteiros, com exceção do concreto e do aço. Cheung acredita que isto se deve ao fato da
concretagem ter maior implicação no custo do projeto do que outros serviços. Como a
obtenção do nível de perdas dependia da disponibilidade de dados compreensíveis sobre os
materiais usados e sobre os serviços executados, apenas o concreto e o aço foram
realisticamente quantificados. Porém, por não serem representativos na estimativa do
montante de entulho da construção, os dados referentes ao aço não foram incluídos no
relatório da Hong Kong Polytechnic.
3.5.2.1 Índice de perda do concreto
Para determinar os níveis de perda do concreto foram analisados 14 canteiros de obras.
Com base nas observações realizadas, foi obtida uma variação nos níveis de perda de concreto
entre 2,4% e 26,5%, correspondendo a um nível médio de 11% de perda. Cheung explica que
a diferença entre os índices encontrados pode ter ocorrido por distorções nos dados das obras,
pelo tipo de formas empregado, pelo tamanho dos elementos estruturais de concreto (pilares,
vigas, lajes e outros) executados e pela efetividade da supervisão do canteiro.
52
3.5.2.2 Índice de perda dos outros materiais usados em serviços úmidos
De acordo com o relatório da Hong Kong Polytechnic (1993), por insuficiência de
dados, os índices de perda dos outros materiais não puderam ser calculados através do mesmo
método adotado para o concreto. Desta forma, foi assumido que a perda de blocos e tijolos é
similar à perda de concreto e que os outros materiais têm um índice de perda maior do que
15%, devido a dois fatores principais. Primeiro, esses serviços envolvem trabalhos manuais e
necessitam de supervisão mais próxima, o que é muito difícil pois os trabalhadores se
distribuem por todo o canteiro. Segundo, como os materiais são distribuídos para os postos de
trabalho embalados em sacos ou caixas, as quantidades excedentes (sobras) podem ser
perdidas, pois dificilmente são coletadas para uso posterior.
3.5.3 Principais causas das perdas
Baseado nos dados coletados, Cheung identificou as principais causas das perdas de
alguns materiais empregados na construção. A tabela 3.8 mostra as conclusões do autor.
53
Tabela 3.8 Principais causas das perdas em Hong Kong
MATERIAL Nº OBRASOBSERVADAS
CAUSAS PARCELA DODANO (%)
Compra maior que a necessária 51,2Perdas durante a concretagem 22,0Formas quebradas 8,4Trabalhos provisórios 7,8Retrabalhos 5,2
CONCRETOUSINADO
25
Outras 5,4Perdas no corte 87,1Danos durante a estocagem 4,4Ferrugem 4,1Retrabalhos 3,5
AÇO 17
Outras 0,9Materiais misturados em demasia 58,8Perdas na execução 19,4Armazenagem inadequada 11,2
ARGAMASSA/CIMENTO
8
Outras 10,6Perdas no corte 39,6Danos durante a execução 18,9Danos durante o tranporte 15,8Compra maior que a necessária 14,6
TIJOLOS/BLOCOS
13
Danos durante a estocagem 11,1Perdas no corte 40,0Danos durante a estocagem 29,3Mudanças nos projetos 12,9Compra maior que a necessária 10,7
AZULEJOS 7
Outras 7,1Formas envelhecidas 56,1Perdas no corte 24,9Formas danificadas 10,4
MADEIRA 7
Outras 8,6Fonte: Hong Kong Polytechnic, 1993
3.5.4 Análise crítica do estudo de Hong Kong
Em primeiro lugar é preciso considerar a diferença deste estudo em relação aos demais.
Segundo o relatório da Hong Kong Polytechnic (1993), não houve a intenção neste estudo de
determinar as perdas na construção em função do seu valor econômico, mas sim pela
necessidade de preservação da paisagem local, de minimização dos distúrbios ecológicos
causados pelos entulhos na vida terrestre e aquática, e de preservação dos recursos naturais
para as gerações futuras. Isto justifica o fato do estudo ter sido centrado nas perdas relativas
aos materiais somente.
O enfoque mais amplo das perdas é considerado apenas de forma implícita, quando são
apontadas as causas das perdas, tais como danos oriundos da execução e dos transportes,
54
armazenagem inadequadas, misturas em excesso (superprodução), dentre outros. Além disso,
é importante destacar que neste estudo é realizada uma análise da influência que a etapa de
projeto das edificações exerce sobre as perdas na etapa de construção, e são recomendadas
algumas medidas para viabilizar o controle destas.
3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na revisão realizada nos principais estudos sobre perdas na construção
mencionados neste capítulo, e na análise crítica sobre o enfoque adotado por seus autores, foi
possível chegar à algumas conclusões, que fundamentaram a realização da presente
dissertação, dentre as quais destacam-se:
a) Em comparação com o estudo realizado na Inglaterra por Skoyles, no qual foram
investigados mais de uma centena de canteiros de obras, gerando uma representativa
quantidade de dados sobre perdas, verificou-se que existem poucos dados relevantes sobre o
tema no Brasil, o que justifica a realização de pesquisas desta natureza, para que as mais
variadas formas de perdas que ocorrem neste setor produtivo possam ser melhor conhecidas, e
então serem eliminadas tanto quanto possível.
b) Foi possível constatar que existe uma convergência nas conclusões destes estudos, no
que diz respeito ao nível de grandeza das perdas, às suas principais causas, à variabilidade, à
importância das perdas indiretas, entre outras, indicando que as perdas de materiais, de uma
forma geral, já são conhecidas, cabendo aos pesquisadores desenvolver ferramentas e propor
alternativas eficazes para a sua prevenção, que produzam resultados em curto prazo e que
possam ser incorporadas pelas empresas.
c) Conforme foi exposto na análise crítica dos estudos, em nenhum deles as perdas foram
consideradas segundo o sentido amplo, o que demonstra a importância da realização de novas
pesquisas, nas quais sejam contempladas todas as atividades que são desnecessárias para
efetivar a produção, de forma que seja disseminado entre os profissionais e estudantes do
setor uma visão mais abrangente sobre as perdas, permitindo assim seu real controle.
55
4 HISTÓRICO DO PROJETO “ALTERNATIVAS PARA A REDUÇÃO
DOS DESPERDÍCIOS DE MATERIAIS NOS CANTEIROS DE
OBRAS”
4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Como relatado no capítulo anterior, poucas pesquisas significativas foram realizadas
visando obter informações sobre as perdas na construção civil e propor soluções para reduzi-
las a níveis aceitáveis. Partindo desta realidade e levando em consideração a necessidade de
melhoria no desempenho que este segmento produtivo apresenta, foi iniciado em 1996 o
projeto de pesquisa intitulado “Alternativas para a Redução dos Desperdícios de Materiais nos
Canteiros de Obras” que, de acordo com o próprio título, teve como objetivo principal
levantar informações consistentes sobre o desperdício de materiais nos canteiros de obras e
subsidiar políticas de melhoria contínua para o setor, abrangendo empresas localizadas em
diferentes partes do país.
Por ter participado como coordenador adjunto da equipe de pesquisadores da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi possível para o autor do presente estudo
acompanhar todo o desencadeamento do projeto, desde sua concepção, passando pela coleta e
análise dos dados, até o seu encerramento com a apresentação do relatório final para as
empresas envolvidas.
Partindo desta particularidade e considerando o fato de que esta foi mais uma
importante iniciativa no sentido de estudar as perdas na construção de edificações, que atingiu
dimensões nacionais e uma amostra inédita de obras, será relatado neste capítulo o histórico
do projeto, principalmente no que tange ao método de pesquisa empregado, com o objetivo de
embasar a avaliação que é realizada no próximo capítulo, bem como a proposta de
classificação das perdas e a aplicação prática dos conceitos abordados, apresentadas no
capítulo 6.
4.2 DESCRIÇÃO GERAL DO PROJETO
A pesquisa foi proposta pelo Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade na
Construção (ITQC), teve a coordenação técnica do Departamento de Engenharia de
Construção Civil (PCC) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP) e
56
recebeu financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) do Ministério da
Ciência e Tecnologia – Programa Habitare.
Participaram inicialmente um grupo de sete universidades15, estudando um conjunto de
aproximadamente 40 canteiros de obras. Em seguida, outras três universidades16 aderiram ao
grupo inicial, adicionando mais 10 canteiros de obras à amostra. Por fim, um novo grupo de
universidades17 da região Nordeste do país, que teve como fonte de financiamento o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) da Bahia, iniciou a pesquisa em mais 30
canteiros de obras.
O projeto foi estruturado em três etapas: preparação geral, coleta local e análise geral.
Na primeira etapa, um conjunto de pesquisadores, vinculados, na sua maioria, ao primeiro
grupo de universidades, reuniu-se para discutir os aspectos conceituais e definir o âmbito do
estudo. A seguir, o grupo de pesquisadores dedicou-se a desenvolver o método da pesquisa,
definindo os procedimentos a serem adotados por todas as universidades participantes para a
coleta e análise dos dados. Já a etapa de coleta local consistiu no levantamento de dados
propriamente dito, realizado nas empresas e respectivas obras selecionadas. Por fim, foi
efetuada a etapa de análise geral, com o objetivo de processar os dados arrolados e obter os
resultados da pesquisa.
4.2.1 Aspectos conceituais
Os pesquisadores envolvidos com a concepção do estudo definiram primeiramente as
seguintes questões gerais:
a) seriam investigadas basicamente as perdas relativas aos materiais;
b) a determinação dos índices de perda seria feita de forma semelhante ao estudo de
Soibelman (1993), através da comparação entre as quantidades de materiais teoricamente
necessárias e as quantidades realmente consumidas;
15 Universidade de São Paulo - USP, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, UniversidadeFederal de São Carlos - UFSCar, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Universidade Federal de SantaMaria - UFSM, Universidade Federal do Ceará - UFC e Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS16 Universidade de Fortaleza - UNIFOR, Universidade Federal da Bahia - UFBA e Universidade Federal doEspírito Santo - UFES17 Universidade Federal de Sergipe - UFS, Universidade de Pernambuco - UPE, Universidade Federal da Paraíba- UFPB, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Universidade Federal do Piauí - UFPI eUniversidade Estadual do Maranhão - UEMA
57
c) seriam coletados dados qualitativos, através dos quais tentar-se-ia identificar as causas
das perdas.
4.2.2 Método da pesquisa
Tomando como base os conceitos de perdas previamente estabelecidos e os métodos de
pesquisa dos dois trabalhos de maior relevância realizados até então sobre o assunto no país
(Pinto, 1989 e Soibelman, 1993), foi desenvolvido o método de coleta e análise dos dados a
ser utilizado no referido projeto.
Para viabilizar uma pesquisa de dimensões nacionais, o método deveria ser
rigorosamente o mesmo, sendo, porém, flexível para adaptar-se às características da
construção civil das diferentes regiões abrangidas. Somente desta forma os dados obtidos
pelas diversas universidades poderiam ser posteriormente comparados.
É importante salientar também que, apesar do presente estudo possuir importantes
avanços metodológicos em relação aos estudos de Pinto e Soibelman, a utilização de um
método semelhante, permitiu que os resultados deste trabalho pudessem ser comparados em
relação aos resultados anteriores.
Assim, foram estabelecidos alguns aspectos fundamentais do método como o tipo de
informação buscada, os materiais e serviços a serem avaliados, o período de coleta dos dados,
a forma de registro dos dados, o pessoal envolvido e a forma de treinamento, dentre outros.
4.2.2.1 Materiais e serviços estudados
Diferentemente dos estudos anteriores, em que a quantidade de materiais observados foi
pequena, foi selecionado para o presente estudo um conjunto maior de materiais.
Compuseram a amostra pesquisada os seguintes insumos: areia lavada, cimento Portland,
pedra britada, concreto, argamassa produzida em obra, argamassa industrializada e pré-
misturada, aço em vergalhões, chapas de madeira compensada, blocos e tijolos cerâmicos, cal
hidratada, eletrodutos, condutores elétricos, tubos hidrosanitários, telhas cerâmicas e de
fibrocimento, revestimento cerâmico, revestimento têxtil e tintas.
Com o desenrolar do projeto, as chapas de madeira compensada foram descartadas da
lista de materiais, pois a quantidade de vezes que este material é reutilizado, varia de obra
para obra em função do número de pavimentos da edificação, da mão-de-obra envolvida na
58
confecção, montagem e desmontagem das formas, do tipo de forma utilizado, dentre outros
fatores, dificultando demasiadamente seu estudo através do método proposto.
O estudo das telhas também não foi realizado, em virtude da dificuldade de se obter
obras que utilizassem este material em quantidades substanciais.
Para compensar estas exclusões, foram inseridos na pesquisa outros dois materiais: o
gesso e o saibro. A escolha do saibro justificou-se por ser sua utilização muito comum na
Região Nordeste do país.
Outra peculiaridade do presente estudo, foi a busca de informações bastante detalhadas
sobre as perdas nos canteiros investigados. Desta forma, foi obtido para cada material
utilizado em vários serviços, além do indicador global de perda, que corresponde ao
percentual total de perdas na obra, indicadores de perda por serviço18, o que permitiu que os
resultados obtidos em obras com características diferentes pudessem ser comparados.
Assim sendo, foi acompanhada a execução dos seguintes serviços, nos quais os
materiais mencionados acima são empregados: estrutura de concreto (concreto produzido em
obra e usinado), armação, alvenaria (blocos e tijolos), revestimento em argamassa (interno e
externo), contrapiso, instalação elétrica (eletrodutos e condutores), instalação hidrosanitária,
revestimento cerâmico (pisos e paredes), revestimento em gesso, revestimento têxtil e pintura
(interna e externa).
4.2.2.2 Período de coleta dos dados
Visando obter dados confiáveis, dentro do prazo previsto de aplicação dos recursos da
FINEP, o acompanhamento da utilização dos materiais nesta pesquisa ocorreu durante um
determinado período da obra, e não durante toda a sua execução. Este período, de forma
semelhante aos procedimentos adotados por Soibelman, foi delimitado por duas datas, fixadas
para cada obra em função da etapa de produção dos serviços investigados e da rapidez com
que estes eram realizados, denominadas vistoria inicial (Vi) e vistoria final (Vf).
Nestas duas datas, os estoques dos materiais pesquisados existentes na obra foram
quantificados e os serviços executados até aquele momento foram detalhadamente aferidos,
permitindo assim precisar, ao término do período, que parcela de cada serviço foi efetuada e a
18 O percentual de cimento perdido na execução dos contrapisos é um exemplo de indicador de perda porserviço.
59
quantidade de materiais gasta. Cabe ressaltar que as transferências (entradas e saídas) de
materiais entre canteiros também foram consideradas.
4.2.2.3 Forma de registro dos dados
Para facilitar a coleta dos dados e permitir que estes fossem armazenados
adequadamente, foi criado um conjunto de sete séries de planilhas, cuja função é descrita
resumidamente a seguir:
Série 1 – Dados relativos às empresas e às obras: esta série de planilhas foi preenchida
pelos pesquisadores assim que as empresas, bem como as obras cedidas por estas para
realização do estudo, foram definidas. O objetivo de sua aplicação foi descrever em linhas
gerais as características da empresa (porte, faturamento anual, tipo de vinculação da mão-de-
obra, experiência prévia em gestão da qualidade) e das obras (área, número de pavimentos,
tecnologias empregadas). Para garantir o sigilo das informações, cada empresa e respectivas
obras receberam um código, evitando assim que estas pudessem ser identificadas diretamente
no banco de dados local ou nacional.
Série 2 – Medição de estoque: esta série de planilhas foi utilizada para quantificar os
estoques de materiais existentes no canteiro no momento da Vi e da Vf.
Série 3 – Medição dos serviços: esta série de planilhas foi usada para levantar, com base
nos respectivos projetos (arquitetônico, estrutural e instalações), a quantidade de cada serviço
que seria executada durante o período. Nas datas Vi e Vf, os pesquisadores percorreram as
obras portando estes levantamentos, anotando o percentual dos serviços já executado. A
avaliação in loco e o levantamento em projeto foram realizados, preferencialmente, por um
único pesquisador, para garantir que os mesmos critérios fossem adotados.
Série 4 – Controle do recebimento dos materiais: esta série de planilhas foi destinada ao
acompanhamento da entrada e saída dos materiais nos canteiros durante o período situado
entre a Vi e Vf. Seu preenchimento, bem como a responsabilidade pela veracidade dos dados
ficaram ao encargo da própria empresa.
Série 5 – Dados relativos aos materiais: esta série de planilhas foi aplicada uma ou mais
vezes durante o período situado entre a Vi e Vf, com o objetivo de caracterizar de forma
qualitativa o manuseio (transporte, descarregamento, armazenamento) dos materiais
pesquisados, usados na execução dos serviços.
60
Série 6 – Dados relativos aos serviços: esta série de planilhas também foi aplicada uma
ou mais vezes entre a Vi e Vf, com a finalidade de caracterizar qualitativamente a forma como
os serviços (concretagens, por exemplo) foram executados.
Série 7 – Indicadores de perdas: esta série de planilhas foi usada para a anotação das
informações necessárias para calcular os indicadores globais e parciais de perdas de materiais.
Estes últimos tiveram como objetivo justificar parcialmente os índices de perdas obtidos,
demonstrando de forma quantitativa os problemas ocorridos nos processos produtivos como
desvios de prumo de pilares, excesso de espessura nas juntas da alvenaria, dentre outros.
Nas séries 2, 4 e 5, foi destinada uma planilha específica para cada material, elaborada
em função das suas principais características. De forma similar, nas séries 3 e 6 foi destinada
uma planilha específica para cada serviço, elaborada em função das suas principais
características.
Além disso, para garantir que o levantamento dos dados fosse realizado da mesma
forma em todas as regiões envolvidas com a pesquisa, instruções detalhadas sobre a aplicação
de cada planilha foram elaboradas e anexadas ao seu verso.
4.2.2.4 Cálculo dos índices contábeis19 de perda
O índice contábil de perda é um número em forma de percentual, que expressa o quanto
foi perdido de um determinado material na execução de um serviço. O índice contábil é
obtido, de uma forma genérica, através de uma divisão que tem no numerador a quantidade de
material gasto para executar o serviço durante o período situado entre a Vi e a Vf e, no
denominador, a quantidade de material teoricamente necessária para a realização do serviço,
obtida a partir de levantamentos realizados nos respectivos projetos. A equação 4.1 foi
utilizada para calcular o índice contábil de perda de material.
∑
∑ ∑
=
= =
×
−−+
=n
1i
fiprojeto
k
1j
ffi
p
1m
transf.fipagoi
contábil
UNITÁRIACOMPOSIÇÃO)V,(VSERVIÇOS
)ESTOQUE(V)V,V(MATERIAL)V,V(MATERIAL)VESTOQUE(
(%)I (4.1)
Onde:
19 De acordo com Ferreira (1996), contabilizar é escriturar sistematicamente em livros apropriados, os fatosrelativos às atividades econômicas de um estabelecimento comercial. Como os dados relativos à rotatividade dosmateriais em estoque, utilizados para calcular os índices de perda do presente estudo, foram obtidos segundo esteconceito, o termo índice contábil foi empregado.
61
ESTOQUE(Vi) – estoque de material na verificação inicial
∑ MATERIALpago (Vi, Vf) – quantidade de material entregue no canteiro entre a
verificação inicial e a verificação final
∑ MATERIALtransf. (Vi, Vf) – quantidade de material transferido do canteiro entre a
verificação inicial e a verificação final
ESTOQUE(Vf) – estoque de material na verificação final
∑ SERVIÇOSprojeto – quantidade de serviço a ser executada obtida com base nos projetos
COMPOSIÇÃO UNITÁRIA20 – quantidade de cada material necessária para a execução
de uma quantidade unitária de serviço
Em se tratando de um material utilizado simultaneamente em vários serviços, como é o
caso do cimento, por exemplo, a equação acima não pôde ser empregada pois nela não é feita
a distinção para qual serviço o material foi destinado. A equação 4.2, que resulta no índice
contábil de perda por serviço, foi concebida para solucionar tal inconveniente. Cabe ressaltar
que ambas as equações consistem numa única equação, apresentada de maneiras distintas.
1001
MC
CMB
QS
CM)V ,V(QS
)V ,V(Qdade(%)I
fiy
fiserv(y)mat(x), realserv(y)mat(x), ×
−××
= (4.2)
Onde:
Qdadereal mat(x),serv(y) (Vi, Vf) – quantidade de material (x) destinada ao serviço (y) consumido
entre Vi e Vf
Qservy (Vi, Vf) – quantidade de serviço teoricamente executado entre Vi e Vf
CM/QS – consumo de material (x) por unidade de serviço (QS)21
CMB/MC – consumo de material básico por unidade de material composto22
20 Segundo Schmitt (1988), as composições unitárias de custo são basicamente um conjunto de insumos, aosquais são associados consumos unitários, que por sua vez, correspondem a unidades de serviço (comprimento,área, volume e outras). Exemplo simplificado: 30 blocos cerâmicos (20x15x10cm) / m2 de alvenaria.21 Na prática corresponde ao consumo unitário nas juntas de alvenaria, revestimentos de parede, contrapisos eoutros.22 Esta variável refere-se aos materiais utilizados na produção de outros materiais, como é o caso do cimento e dacal na produção de argamassa. Em termos práticos, é o consumo destes materiais por m3 obtido a partir do traço.Este cálculo é feito usando a equação apropriada para cada serviço.
62
4.2.2.5 Pessoal envolvido na pesquisa
Para a efetivação de todas as etapas que compuseram o presente estudo, fez-se
necessária a participação de várias pessoas, algumas vinculadas às universidades e outras
vinculadas às empresas.
A equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi
constituída por um total de nove pessoas, sendo o professor Carlos Formoso o coordenador e
o autor desta dissertação o coordenador adjunto. O grupo contou ainda com o apoio de duas
engenheiras civis, mestrandas do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação (NORIE), e
cinco auxiliares de pesquisa, graduandos em engenharia civil desta universidade.
Da parte das empresas foram envolvidos os engenheiros e arquitetos responsáveis pela
gestão da produção, mestres de obra, encarregados, apontadores e estagiários, sendo os
últimos graduandos do curso de engenharia civil ou estudantes de escolas técnicas.
4.3 DESCRIÇÃO DA PESQUISA REALIZADA EM PORTO ALEGRE
Como exposto anteriormente, a pesquisa foi posta em prática com a aplicação do
mesmo método em todas as universidades participantes. Desta forma, ao descrever como foi
realizada a etapa de levantamento de dados pela equipe de pesquisadores da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, é possível elucidar em linhas gerais, o procedimento adotado
em todo o país.
Cabe porém ressaltar que, devido às peculiaridades locais, como a organização e
disponibilidade do pessoal envolvido no trabalho, as características das obras investigadas, o
empenho das empresas participantes, dentre outros fatores, a maneira como a pesquisa foi
conduzida pode ter sofrido algumas variações de região para região.
4.3.1 Empresas participantes do projeto
Participaram do estudo em Porto Alegre cinco empresas construtoras que, na sua
maioria, já haviam estabelecido parcerias com o NORIE para a realização de pesquisas. Este
fato, que evidenciou o interesse das empresas em buscar alternativas para a melhoria de seus
processos, foi considerado no momento da seleção, uma vez que o levantamento de uma
parcela das informações (série 4 de planilhas), imprescindíveis para a obtenção dos
resultados, ficaria a cargo das mesmas. Para assegurar o sigilo das informações, cada empresa
63
participante do projeto foi identificada por um código. A tabela 4.1 apresenta as principais
características das empresas de Porto Alegre em dezembro de 1996.
Tabela 4.1 Características gerais das empresas de Porto Alegre
CARACTERÍSTICAS EMPRESAS
PA – A PA – B PA – C PA – D PA – E
Metragem quadrada construída nos últimos 5 anos 10000 33586 16600 – –Número de empregados em junho de 1996:a) registrados – 38 34 – 98b) sub-empreitados (inclui autônomos) 120 30 45 – 12Atividades da empresa em termos de faturamento:a) construção e incorporação (%) 15 90 100 90 75b) construção predial para terceiros (%) 85 3 – 10 25c) outros (%) – 7 – – –Participação em programas institucionais detreinamento para a qualidade:a) SEBRAE Qualidade Total – X – X Xb) NORIE X – – – –c) SENAI – – – X –d) empresas de consultoria – – X X –e) outros – – X – –Projetos de melhoria desenvolvidos na empresa:a) Programa 5S – X X – –b) segurança do trabalho – X X X Xc) alfabetização – X – X –d) padronização de processos – X X X Xe) implantação de normas ISO 9000 – – X – –
4.3.2 Obras estudadas
Após a escolha das empresas, foi marcada uma reunião com um representante de cada
uma delas com o intuito de apresentar o projeto de forma mais detalhada e selecionar, dentre
as obras em execução, aquelas que mais se enquadravam nos objetivos do estudo. Nestas
ocasiões foram preenchidas as planilhas da série 1 (ver item 4.2.2.3), ficando assim definidos
os serviços e materiais que seriam analisados em cada obra. Além disso, aproveitou-se a
oportunidade para solicitar às empresas cópias dos projetos (arquitetônico, estrutural e
instalações) que foram utilizados para a execução dos serviços escolhidos e cronogramas das
obras. Para assegurar o sigilo das informações, cada obra recebeu um código de identificação
nacional. A tabela 4.2 mostra as principais características das obras investigadas em Porto
Alegre.
64
Tabela 4.2 Características gerais das obras estudadas em Porto Alegre
OBRASCARACTERÍSTICAS
BR014
BR020
BR022
BR045
BR056
BR080
BR084
BR087
BR090
BR095
Tipo de edificação:a) residencial X X X X X – X X X Xb) comercial – – – – – – – – – –c) misto (residencial e comercial) – – – – – X – – – –Área real construída 3854 2295 1878 6050 3854 3705 1280 4281 1489 4214
Número de pavimentos 10 8 7 10 10 11 6 7 9 10Alvenaria:a) vedação – X X X X X – X X Xb) resistente (sem dimensionamento) – – – – – – X – – –c) estrutural X – – – – – – – – –Pilares:a) concreto moldado no local X X X X X X X X X Xb) concreto pré-moldado – – – – – – – – – –Vigas:a) concreto moldado no local – X X X X X X X X Xb) concreto pré-moldado X – – – – – – – – –Lajes:a) concreto moldado no local – X X X X X X X X Xb) concreto pré-moldado X – – – – – – – – –Equipamentos utilizados na marcaçãoda estrutura e alvenaria:a) nível de mangueira X X – X X X X X X Xb) equipamento a laser – – X – – – – – – –Equipamentos de transporte:a) elevador de obra X X X X X X X – X Xb) grua – – – X – – – X – –Sistema de formas:a) projeto executivo de formas X X X X – – – – X Xb) formas fabricadas no canteiro – – X X X X X X X –c) formas fabricadas fora do canteiro X X – – – – – – – XMaterial empregado nas formas(madeira – M, aço – A, alvenaria – V,cerâmica – C):a) pilares (molde/escoramento) M/M M/M M/A M/M M/M M/M M/M M/M M/M M/Ab) vigas (molde/escoramento) C/V M/M M/A M/M M/M M/M M/V M/M M/M M/Ac) lajes (molde/escoramento) C/M M/M M/A M/M M/M M/M M/M M/M M/M M/A
Coordenação modular:a) estrutura/alvenaria X X X – – – – – X Xb) alvenaria/inst. elétricas X X – – – – – – X Xc) alvenaria/inst. hidrosanitárias X X X – – – – – X X
Cabe comentar que os serviços escolhidos para serem estudados em cada obra variaram
em função de alguns critérios, dentre os quais se destacaram: a quantidade de obras nas quais
o serviço seria executado, a etapa de execução do serviço em cada obra, a representatividade
do serviço em termos de custo na construção e a probabilidade de ocorrência de perda de
materiais na execução do serviço.
65
4.3.3 Levantamento dos dados
Definidas as obras, serviços e materiais, iniciou-se a pesquisa propriamente dita. Num
primeiro momento, foi realizado um treinamento com os auxiliares de pesquisa, para que estes
se familiarizassem com as atividades que viriam a desenvolver no decorrer do estudo, tais
como visitas aos canteiros, levantamento de dados (preenchimento das planilhas), contatos
com o pessoal das empresas, dentre outras. As tarefas eram passadas para os auxiliares em
reuniões semanais, das quais participavam, além destes, o autor da presente dissertação e as
mestrandas que ajudaram na realização da pesquisa. Em cada reunião era feito o registro (ata)
dos assuntos tratados e da distribuição de atividades para a semana, de maneira que na reunião
seguinte, fosse possível verificar se as metas propostas para a semana haviam sido atingidas.
4.3.3.1 Período anterior às verificações iniciais (Vi)
A primeira tarefa da pesquisa consistiu em visitar cada obra com o intuito de registrar,
através de croquis e fotografias, detalhes do canteiro e da edificação que poderiam ser
necessários posteriormente para recordar e/ou compreender como foi executada a obra como
um todo e quais eram suas características gerais. A figura 4.1 apresenta as instruções para
registro do canteiro anexadas às planilhas da série 1 (ver item 4.2.2.3).
66
D. Registros da obraVista geral externa da obra Foto nº 1.2.1
Tapume da obra Foto nº 1.2.2
Grua Foto nº 1.2.3
Elevador de obra Foto nº 1.2.4
Paredes (se portantes - alvenaria estrutural) Foto nº 1.2.5
Vista geral da estrutura (pilar, vigas, lajes) Foto nº 1.2.6
Layout do canteiros de obras (ver instruções para elaboração) Croqui 1.1.1
E. Instruções para elaboração de croquisDevem ser desenhados croquis de todos os pavimentos necessários à perfeita compreensão do layout.Sugere-se utilizar folha A4 milimetrada e consultar o projeto arquitetônico, disponível no próprio escritórioda obra. Nos canteiros de dimensões usuais uma aproximação de 1:200 será suficiente, porém não énecessário rigidez na transferência de escala. Nestes croquis devem constar os itens que seguem:1. Definição aproximada do perímetro dos pavimentos, diferenciando áreas fechadas e abertas;2. Localização de pilares e outras estruturas que interfiram na circulação de materiais ou pessoas;3. Portões de entrada no canteiro (pessoas, veículos) e acesso coberto para clientes, se existir;4. Localização de árvores que restrinjam ou interfiram na circulação de materiais ou pessoas, inclusive nascalçadas;5. Localização das instalações provisórias (banheiros, escritório, refeitório, etc.), inclusive plantão devendas, se existir;6. Todos os locais de armazenamento de materiais, inclusive depósito de entulho;7. Localização da calha ou tubo para remoção de entulho, se existir;8. Localização da betoneira, elevador de obras e guincheiro, ou grua;9. Localização das centrais de carpintaria e aço;10. Pontos de içamento de formas e armaduras;11. Localização de passarelas, rampas e/ou escadas provisórias com indicação aproximada do desnível;12. Linhas de fluxo principais (produção de argamassa, remoção de entulho, movimentações até o elevadorde obras, entrada de clientes, deslocamentos de operários das instalações provisórias até os postos detrabalho e descargas de materiais, indicando duplos manuseios), utilizando a seguinte convenção:
" operação ∇∇∇∇ armazenagem #### movimentação13. Se as instalações estiverem distribuídas em vários pavimentos, desenhá-las em um corte da edificação.
Figura 4.1 Exemplo de instruções para registro dos canteiros de obras
A seguir, iniciou-se o levantamento das quantidades de cada serviço que teoricamente
deveriam ser executadas por obra, com base nos respectivos projetos (arquitetônico, estrutural
e instalações). Esta tarefa foi realizada pelos auxiliares de pesquisa nas dependências do
NORIE, porém informações adicionais (não fornecidas nos projetos) ou esclarecimentos
pertinentes eram buscados nos próprios canteiros ou junto aos seus responsáveis (engenheiros,
arquitetos, mestres). Foram levadas em consideração também, caso tenham ocorrido,
alterações de projeto que implicaram em mudanças na construção, para que a quantificação
fosse condizente ao máximo com a realidade.
Para armazenar as informações de forma prática e organizada, foi utilizado o conjunto
de planilhas pertencentes à série 3 (ver item 4.2.2.3), cada qual destinada a um serviço
específico. O espaço reservado para anotação dos dados nestas planilhas foi estruturado na
67
forma de colunas, de maneira que o preenchimento seguisse uma seqüência lógica e que os
cálculos (áreas, volumes e outros) fossem feitos com facilidade.
O levantamento em projeto das quantidades de serviço a serem executadas foi realizado
considerando cada pavimento da edificação independentemente. Visando racionalizar esta
tarefa, para os pavimentos nos quais havia repetitividade dos serviços, como nos pavimentos
tipo, por exemplo, foram preenchidas as planilhas para um pavimento apenas e tiradas
fotocópias para os demais pavimentos, tomando o cuidado de realizar quaisquer alterações
que fossem necessárias.
Alguns dados como o volume de concreto e o comprimento ou a massa de aço já
estavam disponíveis nos projetos estruturais ou projetos específicos de armação (otimização
do corte de barras de aço), não sendo necessária, portanto, a realização de levantamentos
pormenorizados e cálculos. A tarefa, neste caso, resumiu-se apenas a repassar os dados às
respectivas planilhas.
A figura 4.2 apresenta uma planilha usada para determinar a quantidade de argamassa
necessária para executar o revestimento interno. Neste serviço, por exemplo, os auxiliares de
pesquisa identificavam em primeiro lugar o pavimento ao qual os dados se referiam, as faces
das paredes que seriam analisadas (previamente assinalada no projeto), o código do material
utilizado (correspondente ao traço da argamassa), possíveis variações na espessura do
revestimento, as dimensões das faces medidas com escalímetro diretamente no projeto e as
dimensões das aberturas. Por fim, calculavam a área líquida de revestimento descartando das
áreas das faces as áreas das aberturas.
68
Alternativas para redução do desperdício de materiais nos canteiros de obras
PLANILHA Nº 3.6.4 MEDIÇÃO DOS SERVIÇOS:REVESTIMENTO INTERNO – EMBOÇO OU MASSA ÚNICA
(ARGAMASSA PRODUZIDA EM OBRA)A. Identificação
Observador: Cód. Obra :Pavimento: Croqui No: Data VI: Data VF:
B. Medições EfetuadasFace Cód. Esp. Face (m) Abertura (m) Área % Completa Dif. Dif.
mat. (m) Comp. Altura Comp. Altura líquida (m2) VI VF (%) (m2)
Figura 4.2 Modelo de planilha utilizada para levantamento dos quantitativos teóricos
4.3.3.2 Verificações iniciais (Vi)
Com as quantificações prontas, partiu-se para a realização da vistoria inicial (Vi) (ver
item 4.2.2.2). De posse das planilhas da série 3 preenchidas, visitou-se cada obra percorrendo
todos os pavimentos a fim de avaliar a porcentagem de cada serviço que já havia sido
executada. Cabe salientar que a data da Vi variou de obra para obra e de serviço para serviço
em função do cronograma de execução. A figura 4.3 apresenta uma parte do levantamento da
porcentagem de revestimento interno executada até o momento da Vi na obra BR 045.
Alternativas para redução do desperdício de materiais nos canteiros de obras
PLANILHA Nº 3.6.4 MEDIÇÃO DOS SERVIÇOS:REVESTIMENTO INTERNO – EMBOÇO OU MASSA ÚNICA
(ARGAMASSA PRODUZIDA EM OBRA)A. Identificação
Observador: Luís Alberto Cód. Obra: BR 045Pavimento: 5º Croqui No: Data VI: 27/05/97 Data VF:
B. Medições EfetuadasFace Cód. Esp. Face (m) Abertura (m) Área % Completa Dif. Dif.
mat. (m) Comp. Altura Comp. Altura líquida (m2) VI VF (%) (m2)1A 6.1 3,15 2,65 – – 8,35 02A 6.1 1,40 2,40 0,60 0,80 2,88 1003A 6.1 0,60 2,40 – – 1,44 1004A 6.1 1,50 2,40 0,60 0,80 3,12 1005A 6.1 3,00 2,40 1,65 1,20 5,22 1006A 6.1 1,45 2,40 – – 3,48 0
Figura 4.3 Exemplo de preenchimento de planilha na Vi.
69
Nesta ocasião, os estoques de material presentes no canteiro foram inventariados, e as
quantidades foram anotadas nas planilhas da série 2 (ver item 4.2.2.3) específicas. Para não
haver enganos nesta tarefa, foram observadas as instruções anexadas no verso de cada
planilha. A quantificação dos materiais estocados a granel, como a areia, por exemplo, foi
feita determinando a altura e o perímetro da base do monte, sendo o volume calculado
posteriormente. Os demais materiais foram arrolados por contagem simples.
Foram também repassadas para os responsáveis de cada obra, envolvidos com o projeto,
as planilhas da série 4 (ver item 4.2.2.3), nas quais deveriam ser anotadas todas as quantidades
de material entregues no canteiro após a Vi, bem como as transferências de materiais entre
obras da empresa que porventura fossem realizadas. Para cada material foi destinada uma
planilha específica, organizada em forma de colunas, tendo em vista simplificar o trabalho de
coleta e posterior totalização dos dados.
Para não dar margem a mal entendidos, uma vez que estas planilhas eram fundamentais
para a obtenção dos resultados, ao responsável de cada obra foi dado um breve treinamento de
como obter as informações e como preencher as planilhas dentro do padrão da pesquisa, além
de terem sido anexadas instruções completas de preenchimento no verso de cada planilha.
Diferentemente da maioria dos materiais estudados, que eram destinados a serviços
específicos (eletrodutos, por exemplo), o cimento, a areia e as argamassas eram usados em
vários serviços simultaneamente (alvenaria, revestimentos, contrapiso e outros). Como
explicado anteriormente, um dos objetivos da pesquisa era levantar índices de perda de
material por serviço e não apenas na obra como um todo, o que é bastante complexo no caso
destes materiais.
Para solucionar este problema, criou-se um quadro23 para acompanhar o destino do
cimento em relação aos vários serviços executados, que seria controlado pelo operador da
betoneira. A cada betonada, o operador mudava o marcador de posição chegando ao final do
período (turno ou dia) ao total de betonadas realizadas. Estas quantidades eram então
repassadas a planilhas específicas, através das quais se conseguiria avaliar não só o consumo
de cimento, mas o de areia e argamassa também. A figura 4.4 apresenta o quadro de
acompanhamento do destino do cimento.
23 O referido quadro foi criado e utilizado em Porto Alegre. As demais universidades adotaram outras soluçõessimilares, como caixas com fichas, por exemplo.
70
Figura 4.4 Quadro de marcação do destino do cimento
4.3.3.3 Período situado entre as verificações iniciais (Vi) e verificações finais (Vf)
Ao término desta etapa inicial, o andamento da pesquisa começou a ocorrer de forma
mais estável, possibilitando então a efetivação de algumas tarefas que haviam sido
postergadas, tais como realização de croquis, complementação de planilhas da série 3, e
outras.
Durante o período situado entre a Vi e a Vf foram feitas visitas periódicas aos canteiros,
para acompanhar o preenchimento das planilhas da série 4 e fornecer para a empresa, caso
necessário, mais exemplares (cópias) destas. Aproveitou-se estas oportunidades também para
tirar as fotografias previstas no método de pesquisa que faltavam, e fotografias das boas e más
práticas que porventura fossem presenciadas, que poderiam auxiliar na justificativa dos
índices de perdas obtidos ou servir como exemplo, a ser seguido ou evitado pelas demais
empresas.
Nesta fase foram preenchidas também as planilhas da série 5, com dados relativos aos
materiais, e da série 6, com dados relativos aos serviços (ver item 4.2.2.3). Estas planilhas
consistiam basicamente em listas de verificação, cuja principal finalidade era tentar
71
caracterizar o patamar tecnológico e gerencial24 da empresa, servindo como fonte de
referência na etapa de conclusão do estudo, para justificar os índices de perdas obtidos.
Os itens presentes nas planilhas foram agrupados de forma a caracterizar
qualitativamente o recebimento, estocagem e manuseio em geral, no caso dos materiais e, no
caso dos serviços, caracterizá-los qualitativamente segundo as grandes etapas de execução das
obras, como projeto, planejamento e organização da produção e procedimentos de execução e
controle.
O preenchimento das listas de verificação foi efetivado pelos auxiliares de pesquisa sob
a supervisão do autor da presente dissertação, percorrendo os diversos pavimentos e
dependências das obras, observando e registrando as características solicitadas. Nos itens cuja
resposta não estava ao alcance dos observadores, era solicitada a ajuda do responsável pela
obra presente no momento (engenheiro, arquiteto, mestre ou encarregado).
No método de pesquisa foi prevista a realização desta tarefa várias vezes, já que as
obras mudam constantemente sua configuração em função da evolução da edificação. No caso
dos materiais, os locais e condições de estocagem, por exemplo, são alterados com freqüência
por necessidade de liberação de espaço. Os serviços, por sua vez, sofrem mudanças repentinas
na forma (procedimento) de execução por decisões em prol de melhorias. Nas obras estudadas
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul isto não ocorreu devido à falta de tempo,
tendo sido realizada apenas uma visita a cada canteiro para preencher as planilhas destas duas
séries.
Por fim, foram coletados os dados referentes aos indicadores de perdas, utilizando as
planilhas da série 7 (ver item 4.2.2.3). Estas planilhas, semelhantemente às demais, possuíam
instruções completas para que a obtenção das informações, muitas delas insubstituíveis em
função da evolução da obra, fosse feita de forma racional e sem imprevistos. Por este motivo,
na pesquisa em Porto Alegre foi designado um único auxiliar de pesquisa que, sob o controle
próximo da coordenação, deveria obter todos os indicadores previstos. A realização desta
tarefa por uma só pessoa garantiu também a utilização de um padrão uniforme de coleta dos
dados.
24 O termo patamar tecnológico e gerencial empregado nesta dissertação, corresponde ao nível dedesenvolvimento tecnológico e gerencial da empresa, que pode ser associado aos equipamentos e técnicasconstrutivas utilizadas, à organização do canteiro, à qualidade do produto acabado, ao nível de planejamento daconstrução, dentre outros.
72
Os indicadores levantados objetivavam descobrir a ocorrência de variações nos serviços
executados em relação a referenciais pré-estabelecidos e de erros na execução dos serviços
oriundos da inadequação dos projetos, da falta de capacitação da mão-de-obra e da falta de
cuidado em relação às especificações e ao manuseio dos materiais. Desta forma, os
indicadores tinham um papel fundamental na identificação das causas das perdas, podendo
assim justificar, ao menos em parte, os índices de perda que seriam encontrados.
A variação da espessura média das lajes em relação à especificada em projeto, o desvio
médio do prumo da estrutura, a variação dimensional dos blocos/tijolos nas três direções, a
variação da espessura média dos revestimentos internos em relação à especificada em projeto,
o percentual de peças cerâmicas cortadas nas paredes, dentre outros, são exemplos de
indicadores coletados.
4.3.3.4 Verificações finais (Vf)
No momento em que foi realizada a Vi foi possível prever, em função do cronograma de
execução de cada serviço e da etapa produtiva na qual cada um se encontrava (no caso dos
serviços já iniciados), uma época aproximada para a realização da Vf. Com algumas variações
em função do ritmo em que a obra se desenrolou ou por interesse da equipe de pesquisadores
(incluir no levantamento mais um pavimento da estrutura, por exemplo), deu-se início a etapa
de realização das Vf.
Nesta etapa os estoques dos materiais estudados foram novamente inventariados com o
uso das planilhas da série 2 empregadas na Vi, a porcentagem executada de cada serviço foi
novamente avaliada tendo em mãos as planilhas da série 3 e as planilhas da série 4 e de
acompanhamento do destino do cimento, de posse do pessoal da empresa, foram recolhidas. A
figura 4.5 mostra a mesma planilha da figura 4.3 com o preenchimento completo, após a
realização da Vf.
73
Alternativas para redução do desperdício de materiais nos canteiros de obras
PLANILHA Nº 3.6.4 MEDIÇÃO DOS SERVIÇOS:REVESTIMENTO INTERNO – EMBOÇO OU MASSA ÚNICA
(ARGAMASSA PRODUZIDA EM OBRA)A. Identificação
Observador: Luís Alberto Cód. Obra: BR 045Pavimento: 5º Croqui No: Data VI: 27/05/97 Data VF: 28/08/97
B. Medições EfetuadasFace Cód. Esp. Face (m) Abertura (m) Área % Completa Dif. Dif.
mat. (m) Comp. Altura Comp. Altura líquida (m2) VI VF (%) (m2)1A 6.1 3,15 2,65 – – 8,35 0 100 100 8,352A 6.1 1,40 2,40 0,60 0,80 2,88 100 100 0 03A 6.1 0,60 2,40 – – 1,44 100 100 0 04A 6.1 1,50 2,40 0,60 0,80 3,12 100 100 0 05A 6.1 3,00 2,40 1,65 1,20 5,22 100 100 0 06A 6.1 1,45 2,40 – – 3,48 0 100 100 3,48
Figura 4.5 Exemplo de preenchimento de planilha na Vf.
4.3.4 Totalização dos dados e cálculo dos índices de perda
De posse de todas as planilhas preenchidas, iniciou-se a totalização dos dados, ou seja,
fechamento dos quantitativos, para viabilizar o cálculo dos índices contábeis de perda
propriamente ditos, que seria efetuado empregando a equação genérica (1) apresentada no
item 4.2.2.4.
Traduzindo em termos práticos, os índices contábeis foram obtidos através de uma
divisão, na qual o dividendo continha a soma dos quantitativos da série 2 (materiais em
estoque na Vi) com os da série 4 (materiais entregues entre a Vi e a Vf), subtraída dos
quantitativos da série 2 (materiais em estoque na Vf), correspondendo assim à quantidade de
material efetivamente gasta para executar um determinado serviço. Por sua vez, o divisor
consistia na quantificação resultante da série 3 de planilhas, ou seja, o total de materiais
teoricamente necessários para realizar o mesmo serviço. O quociente desta divisão
correspondeu ao percentual de perda total de cada material usado para executar o serviço. A
seguir, apresenta-se um exemplo da aplicação desta equação genérica para o cálculo do índice
de perda de revestimento cerâmico em paredes, com base nos dados levantados na obra BR
045, presentes nas figuras 4.6, 4.7 e 4.8.
74
Alternativas para redução dos desperdícios de materiais nos canteiros de obrasPLANILHA No 2.16 MEDIÇÃO DE ESTOQUE (VI E VF):
REVESTIMENTO CERÂMICO PARA PISO E PAREDEA. Identificação da obra
Observador: Luís Alberto Código da obra: BR 045
B. Quantidade de materiais estocadosVI = 27/05/97 VF = 28/08/97
Código Quantidade(caixas)
Quantidade(m2)
Código Quantidade(caixas)
Quantidade(m2)
16.1 0 0 16.1 386 501,8
Cada caixa contém = 1,3 m2
Código EspecificaçãoComprim. (cm) Largura (cm) Espessura (mm) Piso ou parede
16.1 20 20 parede16.216.3
Figura 4.6 Contabilização de estoques na Vi e na Vf
Alternativas para redução do desperdício de materiais nos canteiros de obrasPLANILHA Nº 3.16.2 MEDIÇÃO DOS SERVIÇOS:
REVESTIMENTO INTERNO DE PAREDE – REVESTIMENTO CERÂMICOA. Identificação
Observador: Luís Alberto Cód. Obra: BR 045Pavimento: todos Croqui Nº: – Data VI: 27/05/97 Data VF: 28/08/97
B. Medições EfetuadasPvto. Cód. Esp. Face (m) Abertura (m) Área % Completa Dif. Dif.
mat. (cm) Comp. Altura Comp. Altura líquida (m2) VI VF (%) (m2)térreo 16.1 65,2 0 0 0 0
2 16.1 189,3 0 100 100 189,33 16.1 189,3 0 100 100 189,34 16.1 189,3 0 100 100 189,35 16.1 189,3 0 100 100 189,36 16.1 189,3 0 var(1) var 148,17 16.1 189,3 0 var var 29,08 16.1 189,3 0 0 0 0
cob. 16.1 19,7 0 0 0 0∑∑∑∑ 1410,0 934,30
Figura 4.7 Levantamento de quantitativos em projeto (total por pavimento)
1 Significa que a porcentagem executada nas diferentes paredes até a verificação final era variada
75
Alternativas para redução do desperdício de materiais nos canteiros de obrasPLANILHA Nº 4.16 CONTROLE DE RECEBIMENTO E ESTOQUE DE MATERIAIS:
REVESTIMENTO CERÂMICO PARA PISO E PAREDEA. Identificação da obra
Observador: Luís Alberto Código obra: BR 045Data de início (VI): 27/05/97 Data de término (VF): 28/08/97
B. Quantidade de material recebida de fornecedoresData Código Quantidade (m2) Ordem de Fabricante
Recebida Paga pagamento– 16.1 1480,0 1480,0
∑∑∑∑ 1480 1480
C. Transferência de material entre canteirosData Código Quantidade Data Código Quantidade
Figura 4.8 Acompanhamento da quantidade de material entregue na obra
Para simplificação do exemplo, os números apresentados nas planilhas referem-se a um
único tipo de placa cerâmica. Com base nas informações retiradas das planilhas, tem-se os
seguintes quantitativos para esta placa cerâmica específica:
ESTOQUE(Vi) = 0
∑ MATERIALpago (Vi, Vf) = 1480,0 m2
∑ MATERIALtransf. (Vi, Vf) = 0
ESTOQUE(Vf) = 501,8 m2
∑ SERVIÇOSprojeto = 934,3 m2
Aplicando-se estes dados na equação 4.1, o índice contábil de perda de placas cerâmicas
de 20 x 20cm para revestimento interno fica assim determinado:
Icontábil(%) = 0 + 1480,0 – 0 – 501,8 / 934,3 = 978,2 / 934,3 = 4,7
Para calcular o índice de perda dos materiais utilizados simultaneamente em vários
serviços na mesma obra, como é o caso do cimento, areia, argamassa pré-misturada e outros,
empregou-se a equação (4.2) apresentada no item 4.2.2.4, pois, como exposto anteriormente,
na equação (4.1) não é possível fazer a distinção para qual serviço o material foi destinado.
Cabe mencionar novamente que o quadro de acompanhamento do destino do cimento (figura
4.4), foi criado justamente para que esta equação pudesse ser utilizada. A seguir, apresenta-se
76
os cálculos realizados para a obtenção do índice de perda de cimento na execução dos
contrapisos da obra BR 045.
Dados sobre a obra BR 045, obtidos no levantamento:
Qdadereal cimento, contrapiso (Vi, Vf) = 44505 kg (referente a 1075 caixas de 36 dm3 cada)
Qservcontrapiso (Vi, Vf) = 1814,8 m2
CM/QS = 0,056 m3/m2 (este valor na prática corresponde à espessura do contrapiso)
CMB/MC = 328,5 kg/m3 (considerando o traço 1:4 em volume)
A aplicação dos dados acima na equação 4.2, resulta o seguinte índice de perda de
cimento na execução dos contrapisos:
Icimento,contrapiso(%) = 44505 (kg) / 1814,8 (m2) × 0,056 (m3/m2) × 328,5 (kg/m3)
Icimento,contrapiso(%) = 44505 / 33380,5 = 33,3
Como foi visto, através do conjunto de planilhas formado pelas séries 2, 3 e 4, foi
possível obter os índices de perda de cada material no decorrer do período fixado para o seu
estudo. Apesar de todo o cuidado despendido no levantamento de dados e das revisões
efetuadas após a conclusão do preenchimento das planilhas, não foi possível obter alguns dos
índices de perda previstos por falta ou incoerência dos dados.
Isto ocorreu nos casos em que os dados eram insubstituíveis, ou seja, não tendo sido
registrados no momento certo, não podiam ser obtidos posteriormente, tampouco coletados
novamente. Os principais problemas foram decorrentes do preenchimento incorreto da série 4
de planilhas ou das planilhas de acompanhamento do destino do cimento, das transferências
de materiais não registradas, dos erros na contabilização dos estoques na Vi e na Vf, das
mudanças na execução em relação ao previsto em projeto não detectadas ou não informadas,
dentre outros.
Estas conclusões foram obtidas pela equipe de pesquisa da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e, desta forma, não expressam necessariamente as opiniões das demais equipes
espalhadas pelo país. No capítulo 5 será realizado um comentário mais aprofundado sobre as
diversas causas pelas quais alguns índices de perda não puderam ser determinados.
77
4.3.5 Análise dos resultados
Os índices de perda de materiais obtidos, se analisados isoladamente, não permitem uma
avaliação eficaz da dimensão e das causas das perdas. Desta forma, para que se pudesse
afirmar se uma perda de 10% de um determinado material era razoável ou muito elevada, fez-
se necessário comparar as porcentagens encontradas com valores de referência (benchmarks)
obtidos em uma amostra representativa de obras.
Os índices de referência utilizados nesta análise foram os valores obtidos neste estudo
(âmbito nacional) e nos estudos de Soibelman (1993) e Pinto (1989), considerados como os
mais relevantes. Além destes, em alguns casos utilizou-se para fins de comparação os índices
de perdas assumidos nas Tabelas de Composição de Preços para Orçamentos – TCPO (1996),
da Editora Pini.
Esta confrontação de números, juntamente com as informações contidas nas planilhas
da série 1, os dados qualitativos das séries 5 e 6, os indicadores da série 7 (ver item 4.2.2.3),
as fotografias, os croquis, além dos registros pessoais dos pesquisadores envolvidos, serviram
para fundamentar as conclusões do estudo.
Após esta análise completa, alguns índices de perda acabaram sendo descartados, pois
os valores expressos neles, tanto nas porcentagens positivas (perda de material), quanto nas
porcentagens negativas (economia de material), não correspondiam às expectativas,
chegando, em certos casos, a serem absurdos. Uma explicação mais detalhada sobre os fatores
que motivaram a desconsideração destes índices será realizada no capítulo 5.
Por fim, os percentuais de perda remanescentes, devidamente justificados, foram
codificados para sigilo das empresas e enviados via correio eletrônico para a central de
processamento dos dados (USP), na qual, juntamente com os índices encontrados pelas
demais universidades participantes, estes foram analisados e formatados, com a finalidade de
compor os resultados gerais da pesquisa. A partir desta análise conjunta, foram elaborados os
relatórios finais do estudo (âmbito nacional), e estes, remetidos às universidades para
divulgação.
A nível local, redigiu-se relatórios que foram entregues para as empresas, servindo
como fonte de retroalimentação de informações para estas, além de ser uma forma de
agradecimento por terem colocado suas obras à disposição da pesquisa.
78
A entrega dos relatórios, bem como o fechamento do estudo ocorreu em um seminário
realizado no NORIE, do qual participaram representantes das empresas, participantes do
projeto e interessados do Curso de Pós-graduação em Engenharia Civil. Neste seminário
foram apresentados os principais índices de perda de materiais da construção civil e suas
causas, além de serem propostos novos estudos nos quais as perdas possam ser avaliadas de
uma forma mais objetiva e completa, ou seja, sob um enfoque mais amplo. Estes estudos
devem centrar-se no conceito de perdas da Nova Filosofia de Produção, que considera, como
mencionado no segundo capítulo, as atividades de conversão e de fluxo distintamente. Desta
forma, uma maior ênfase será dada, por um lado, à redução dos transportes, inspeções e
armazenamentos, e, por outro lado, à melhoria dos processamentos, que são as atividades que
realmente agregam valor ao produto. Estes novos estudos deverão envolver ainda, não apenas
as perdas de materiais, mas também as perdas de outros recursos.
79
5 APRESENTAÇÃO DOS PRINCIPAIS RESULTADOS E AVALIAÇÃO
DO MÉTODO DE PESQUISA EMPREGADO NO PROJETO
“ALTERNATIVAS PARA A REDUÇÃO DOS DESPERDÍCIOS DE
MATERIAIS NOS CANTEIROS DE OBRAS”
5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Como mencionado no capítulo anterior, após terem sido analisados em suas instituições
de origem, servindo para fundamentar os resultados locais e respectivos relatórios, os dados
de todo o país foram organizados segundo um padrão determinado no método de pesquisa e
enviados para uma central de processamento, para a elaboração do relatório conclusivo do
estudo, utilizado como referência geral neste capítulo.
Com o propósito de conferir a devida credibilidade aos índices obtidos, neste capítulo
são apresentadas primeiramente as dimensões da pesquisa no âmbito nacional. Estes números,
que retratam a amplitude do projeto como um todo, referem-se às pessoas envolvidas, às
empresas e obras participantes, aos materiais e serviços estudados, dentre outros.
São mostrados ainda os principais índices de perdas de materiais encontrados nas obras
do Rio Grande do Sul e do Brasil, acompanhados pelos índices obtidos em outros estudos
realizados sobre o assunto, que fornecem uma ordem de grandeza para referência do leitor.
Por fim é realizada uma avaliação crítica sobre o método de pesquisa adotado, sobre os
resultados obtidos em relação aos objetivos propostos e sobre os avanços em comparação com
os estudos anteriores.
5.2 DIMENSÕES DA PESQUISA
Como mencionado no capítulo anterior, a pesquisa em questão contou com a
participação de várias universidades, cada qual responsável pelo estudo de um conjunto de
obras, atingindo assim uma amostra de dimensões inéditas em trabalhos sobre perdas no país,
que disponibilizou importantes informações sobre este assunto. Esta característica, somada ao
fato da pesquisa ter utilizado um método semelhante aos anteriormente empregados em outros
estudos, indica que os resultados disponíveis para alguns materiais possuem um grau de
representatividade razoável para o setor.
80
Neste item são apresentados alguns números relativos aos materiais e serviços
acompanhados, pessoal envolvido, empresas e obras visitadas, entre outros, com o intuito de
dispor para o leitor uma noção geral das dimensões desta pesquisa.
5.2.1 Equipes de pesquisa
Constituídas em cada universidade para dar andamento ao projeto, as equipes de
pesquisa foram compostas por um ou mais coordenadores (professores em sua maioria),
analistas (pós-graduandos, engenheiros ou arquitetos) e auxiliares de pesquisa (graduandos ou
técnicos de edificações). A tabela 5.1 mostra a distribuição das equipes de pesquisa segundo a
instituição vinculada.
Tabela 5.1 Equipes de pesquisa envolvidas no projeto
PROFESSORES ANALISTAS PÓS-GRADUANDOS GRADUANDOS
USP 2 0 2 15UFRGS 1 0 3 5UFSM 1 1 0 6
UFSCar 1 1 0 10UFMG 1 1 0 4UFC 1 0 0 5UEFS 1 1 0 3UFES 1 1 0 4UFBA 2 1 0 3
UNIFOR 1 1 0 5UEMA 1 1 0 4UFPB 1 2 0 8UFPI 1 1 0 1
UFRN 1 2 0 3UFS 1 1 0 8UPE 1 1 0 6
TOTAL 18 15 5 90Fonte: Agopyan et al., 1998
5.2.2 Empresas
A pesquisa contou com a participação de um total de 52 empresas de construção civil,
distribuídas nas diversas regiões do país, como mostra a figura 5.1.
81
0 1 2 3 4 5 6 7
USP
UFSM
UFES
UFRGS
UFBA
UPE
UFMG
UFC
UNIFOR
UFPI
UFS
UFSCar
UEFS
UFRN
UN
IVE
RS
IDA
DE
S
Nº EMPRESAS
Fonte: Agopyan et al., 1998
Figura 5.1 Número de empresas participantes
O porte destas empresas é predominantemente pequeno, levando-se em consideração o
critério relativo ao número de funcionários estabelecido pelo SEBRAE25, como mostra a
tabela 5.2.
Tabela 5.2 Porte das empresas em função do número de funcionários
PORTE QUANTIDADE (%)
Micro 6 14Pequena 21 50Média 9 21Grande 6 14TOTAL 42(1) 100
Fonte: Agopyan et al., 1998
1 Somente 42 empresas disponibilizaram este dado
A principal atividade da maioria destas empresas é a construção e incorporação de
edifícios, como mostra a tabela 5.3.
25 O SEBRAE identifica o porte das empresas do segmento industrial através das seguintes faixas numéricas defuncionários: micro - 0 a 19; pequena - 20 a 99; média - 100 a 499; grande empresa - 500 ou mais funcionários.
82
Tabela 5.3 Principal atividade das empresas
ATIVIDADE QUANTIDADE (%)
Obras públicas 5 10Incorporação e construção 34 71Predial para terceiros 8 17Outras 1 2TOTAL 48(1) 100
Fonte: Agopyan et al., 1998
1 Somente 48 empresas disponibilizaram este dado
Além disso, 69% das empresas participantes do projeto possuem ou já participaram de
ações ou programas para a melhoria de qualidade, tais como Programa 5S, Padronização de
Processos, ISO 9000 e outros, o que demonstra que os índices obtidos nesta pesquisa,
correspondem a níveis de perda de empresas que, na sua maioria, já haviam se mobilizado em
prol de melhorias na qualidade (Agopyan et al., 1998).
5.2.3 Obras
Foram estudadas nesta pesquisa um total de 69 obras, vinculadas às várias instituições
envolvidas no projeto, distribuídas conforme mostra a figura 5.2.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
UFRGS
USP
UFSM
UFES
UFS
UPE
UFMG
UFBA
UFC
UFSCar
UNIFOR
UFPI
UEFS
UFRN
UN
IVE
RS
IDA
DE
S
Nº OBRAS
Fonte: Agopyan et al., 1998
Figura 5.2 Número de obras visitadas
A maioria das obras analisadas destinavam-se ao uso residencial, o que indica uma
relativa similaridade entre os projetos no que diz respeito à distribuição das áreas entre as
83
unidades, à configuração dos pavimentos (térreo, tipo e cobertura, por exemplo), dentre
outros. A tabela 5.4 demonstra a divisão das obras em função da sua finalidade de uso.
Tabela 5.4 Tipo de edificação estudada
TIPO QUANTIDADE (%)
Residencial 51 78Comercial 5 8Mista 6 9Escolas 3 5TOTAL 65(1) 100
Fonte: Agopyan et al., 1998
1 Algumas empresas participaram de mais de um programa
Dentre o total das edificações investigadas, 86% foram executadas com estrutura de
concreto armado moldado no local, 8% com alvenaria estrutural e 6% com alvenaria
resistente (paredes portantes, mas sem dimensionamento ou construídas com blocos não
estruturais) (Agopyan et al., 1998). Esta informação revela que a amostra estudada era
composta, em sua maior parte, por obras construídas com tecnologia tradicional.
5.2.4 Materiais
A relação de materiais que tiveram o índice de perda determinado pode ser consultada
no capítulo anterior (item 4.2.2.1). Na tabela 5.5 são apresentados os materiais e o número
total de obras nas quais cada um foi pesquisado.
84
Tabela 5.5 Número de obras em que cada material foi estudado
MATERIAIS NÚMERO DEOBRAS
Areia 28Cimento 44Pedra 6Concreto produzido em obra 1Concreto usinado 35Aço 12Blocos e tijolos 37Cal 12Argamassa produzida em obra 1Argamassa produzida fora obra 12Eletrodutos 3Condutores 3Tubos (instalações hidrosanitárias) 7Placas para revestimento cerâmico 18Revestimento têxtil 1Tintas 4Gesso 3Saibro 4TOTAL 231Fonte: Agopyan et al., 1998
5.2.5 Serviços
Visando aumentar o nível de detalhamento do estudo, para os materiais que foram
empregados paralelamente em vários serviços, ao invés de obter somente a porcentagem de
perdas relativa a toda a obra, determinou-se o índice de perda referente à execução de cada
um dos diferentes serviços. Isto permitiu também que os índices obtidos em obras de
características diversas pudessem ser comparados entre si. A tabela 5.6 exibe os serviços e o
número de obras nas quais estes foram acompanhados.
85
Tabela 5.6 Número de obras em que cada serviço foi estudado
SERVIÇOS NÚMERO DEOBRAS
Estrutura de concreto - concreto prod. obra 5Estrutura de concreto - concreto usinado 35Armação 12Alvenaria - blocos e tijolos 37Alvenaria - argamassa prod. obra 21Alvenaria - argamassa prod. fora obra 2Revest. interno - chapisco 12Revest. interno - emboço ou massa única 23Revest. interno -reboco 4Revest. externo - chapisco 4Revest. externo - emboço ou massa única 12Contrapiso - argamassa prod. obra 12Contrapiso - argamassa prod. fora obra 2Instalações elétricas - eletrodutos 3Instalações elétricas - condutores 3Instalações hidrosanitárias 7Revestimento cerâmico - piso 8Revestimento cerâmico - paredes internas 18Revestimento cerâmico - fachadas 2Revestimento em gesso 3Pintura externa 2Pintura interna 2Revestimento têxtil 1TOTAL 226
Fonte: Agopyan et al., 1998
5.2.6 Indicadores de perda
Os indicadores globais de perda podem ser calculados considerando apenas um serviço,
ou todos os serviços nos quais um determinado material foi usado (ver item 4.3.3.2). Por sua
vez, os indicadores parciais de perda são utilizados para verificar a ocorrência de variações
nos serviços executados em relação a referenciais pré-estabelecidos (dimensões,
consumo/área, dentre outros). Nesta pesquisa foram coletados, incluindo-se todas as
universidades participantes, 631 indicadores globais e 1001 indicadores parciais, totalizando
1632 indicadores de perda (Agopyan et al., 1998).
86
5.3 PRINCIPAIS RESULTADOS DO ESTUDO
5.3.1 Brasil
Na tabela 5.7 são mostrados para cada material investigado, o índice de perda mínimo e
máximo obtido, a média, a mediana26 e o número de obras às quais estes percentuais dizem
respeito.
Além dos resultados da pesquisa, a tabela 5.7 exibe, para fins de comparação, os índices
médios, mínimos e máximos encontrados por Soibelman (1993) em seu estudo realizado em
Porto Alegre, os índices obtidos por Pinto (1989) em São Paulo e os índices de perda
considerados nas Tabelas de Composições e Preços para Orçamentos (TCPO) da Editora Pini,
utilizada por diversas empresas para realização de orçamentos.
5.3.2 Rio Grande do Sul
Os índices de perda obtidos em Porto Alegre (UFRGS) juntamente com os de Santa
Maria (UFSM), correspondentes a um total de 16 obras, compuseram os resultados do
levantamento realizado no Rio Grande do Sul, como mostra a tabela 5.8. Para fins de
comparação, são apresentados também os percentuais mínimos, máximos e a mediana
encontrada no mesmo estudo (nível nacional) por Agopyan et al. (1998), além da média dos
índices de perda da pesquisa de Soibelman (1993).
26 A utilização da mediana como medida de tendência central tem como vantagem o abrandamento da influênciade valores extremos, o que não acontece com a média.
87
Tabela 5.7 Dados nacionais sobre perda de materiais
DADOS NACIONAIS (1) (2) DADOS RS (Soibelman, 1993)MATERIAIS BÁSICOS
Média Mediana Mínimo Máximo No obras Média Mínimo Máximo
DADOS DEPINTO(1989)
ÍNDICETCPO
Areia 76 44 7 311 28 46 21 110 39 15Saibro 182 174 134 247 4 – – – – –Cimento 95 56 6 638 44 84 34 152 33 15Pedra 75 38 9 294 6 – – – – 10Cal 97 36 6 638 12 – – – 102 15
ESTRUTURA E ALVENARIAConcreto usinado 9 9 2 23 35 13 1 25 1 5Concreto produzido em obra 6 6 6 6 1 – – – – –Aço 10 11 4 16 12 19 8 27 26 20Blocos e tijolos 17 13 3 48 37 28(3) 8 36 13 10Argamassa parcial ou totalmenteproduzida fora do canteiro – alvenaria
116 116 26 205 2 91 40 152 – –
INSTALAÇÕESEletrodutos 15 15 13 18 3 – – – – 5Condutores 25 27 14 35 3 – – – – 2Tubos para instalações hidrosanitárias 20 15 8 56 7 – – – – 1
OUTROS REVESTIMENTOSPlacas cerâmicas 16 14 2 50 18 – – – 10 10Gesso 45 30 -14 120 3 – – – – –Tintas 16 – 8 24 3 – – – – –Revestimento têxtil 14 14 14 14 1 – – – – 10Fonte: Agopyan et al., 1998
1 Todas as colunas são expressas em %, com exceção da coluna com o número de obras2 Dados referentes a 48 empresas3 Os dados apresentados neste estudo referem–se apenas a blocos. Os tijolos foram analisados separadamente por terem sido utilizados principalmente para encunhamento
88
Tabela 5.8 Índices de perda de materiais no Rio Grande do Sul
MATERIAIS BÁSICOS ESTRUTURA E ALVENARIA INSTALAÇÕES REVESTIMENTOSMATERIAIS
Areia Cimento Arga-massa
Concretousinado
Aço Blocos etijolos
Tubos Placascerâmicas
Revest.têxtil
BR001 – 27 – – – 36 – 7 –BR006 – – – – – – – 16 –BR014 – – – – – – – – 14BR020 – – – – – 16 – – –BR022 – 110 – – – – 36 27 –BR035 28 43 – – – 16 – – –BR045 – 43 – – – – – 6 –BR050 – – – – – – – 3 –BR051 – – – 7 – – – – –BR056 – 248 – 12 – 8 – – –BR071 – – – 7 – 32 – 9 –BR080 – 6 – 6 – 48 – – –BR084 – – – – – – 56 – –BR087 – 62 – 3 11 20 – – –BR090 – – – 22 12 – – – –
Dados dasobras do RS(1997) (1) (3)
BR095 – – – 7 16 – – – –Mediana 44 56 116 9 11 13 15 14 14Mínimo 7 6 26 2 4 3 8 2 14Máximo 311 638 205 23 16 48 56 50 14
Dadosnacionais
(Agopyan etal, 1998) (1) Nº de
observações28 44 2 35 12 37 7 18 1
Média de cinco obras doRS (Soibelman, 1993)
46 84 91 13 19 28(2) – – –
Fonte: Formoso et al., 1998
1 Da mesma forma que nos trabalhos de Pinto (1989) e Soibelman (1993), os índices de perdas estão expressos pela diferença, em termos percentuais, entre a quantidade dematerial adquirida e a quantidade necessária, obtida no projeto.2 Os dados apresentados referem-se apenas a blocos cerâmicos. Os tijolos foram analisados separadamente por terem sido utilizados principalmente para encunhamento.3 As obras de Porto Alegre são as marcadas com sombreamento.
89
5.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DO ESTUDO NO RIO GRANDE DO SUL
5.4.1 Análise geral dos dados obtidos
Comparando-se os índices de perda apresentados nos trabalhos anteriores com os
encontrados no presente estudo, é possível verificar que os valores não diferem
consideravelmente entre si, o que confirma os percentuais identificados nos primeiros.
Em uma análise mais ampla dos resultados apresentados na tabela 5.7 e 5.8, torna-se
necessário levar em consideração o fator representatividade, uma vez que, apesar de um
grande número de obras de diversas regiões do país ter sido estudado, foi possível obter uma
amostra relativamente grande apenas para alguns materiais, como a areia, o cimento e o
concreto usinado. Já para outros materiais, como condutores, tintas e revestimento têxtil, o
conjunto de obras investigado foi proporcionalmente pequeno.
Mesmo para os materiais cuja amostra foi relativamente grande, não é coerente afirmar
que as médias e medianas encontradas representam com fidelidade os níveis de perda do setor
como um todo. Isto se deve às distorções que os índices apresentados podem conter,
principalmente devido ao fato de que as empresas e, consequentemente, as obras investigadas,
não foram selecionadas de forma aleatória e estatisticamente prevista, haja visto que a maioria
das construtoras que se dispuseram a participar do estudo estão ou já estiveram envolvidas
com programas de melhorias. Além disso, cabe lembrar que muitos dos dados coletados
foram rejeitados por suspeita quanto à sua confiabilidade, dados estes que eram na maioria
dos casos, provenientes das empresas menos organizadas do grupo.
Agopyan et al. (1998) apresentam as curvas de freqüência relativas aos índices de perda
dos vários materiais estudados, mostrando que estas tendem a ter uma forma assimétrica, em
função de existência de um grande número de empresas com níveis de perda relativamente
baixos e um pequeno número com índices elevados. Tal forma assimétrica justifica a
diferença quantitativa entre a média e a mediana dos índices obtidos, e induz à utilização da
mediana como medida de tendência central (vide item 5.3.1).
Outra característica observada na presente pesquisa, foi a elevada variabilidade dos
dados obtidos. Da mesma forma que Soibelman (1993) em seu estudo, verificou-se que os
índices variaram bastante para o mesmo material quando consideradas as diferentes obras. Por
exemplo, o concreto usinado teve uma perda de aproximadamente 3% na obra BR 087 e
superior a 22% na BR 090 (vide tabela 5.8). Esta discrepância indica que os elevados índices
90
de perdas não são inerentes a todas as empresas do setor e confirma que parte das perdas são
evitáveis, sendo necessários, contudo, constantes esforços visando ao seu controle.
Constatou-se também significativa variação dos índices para os diferentes materiais
dentro de uma mesma obra. Por exemplo, a BR 087 apresentou perdas em torno de 3% para o
concreto usinado e da ordem de 62% para o cimento (vide tabela 5.8). Tal variação deixa
clara a existência de deficiências internas nas empresas com relação à gestão de seus
processos, que se refletem de uma maneira particular para cada material utilizado.
Com base em um exame mais detalhado em todas as informações disponíveis (item
4.3.3), foi possível chegar a algumas conclusões sobre as principais causas das perdas em
Porto Alegre que, de forma semelhante aos índices obtidos, foram bastante parecidas com as
apontadas nos trabalhos anteriores, tais como:
a) Algumas empresas analisadas, por falta de controle dos processos produtivos nas suas
obras, ou simplesmente devido à política de tratamento das perdas adotada, não tomam
algumas medidas relativamente simples para prevenção das perdas, apesar dos avanços
recentes em termos de gestão de processos neste setor.
Um exemplo deste problema ocorreu na obra BR 014, a qual possuía um amplo canteiro
onde seriam construídos vários edifícios. Esta disponibilidade de espaço, levou os envolvidos
com a construção a distribuírem os estoques dos materiais e os equipamentos em vários
pontos do canteiro sem nenhum critério, aumentando a necessidade de transporte em função
das grandes distâncias a serem percorridas, dificultando inclusive o acesso de caminhões.
Além disso, cabe destacar que o posto de produção de argamassa não possuía cobertura, que
não existiam contenções laterais nos estoques, sendo alguns materiais carregados pelas
chuvas, e a dosagem da argamassa realizada com pá (figura 5.3).
91
Figura 5.3 Canteiro desorganizado e posto de produção de argamassa descoberto
Já na obra BR 084, um pedreiro foi flagrado arremessando a argamassa de revestimento
em uma parede com pé-direito alto com uma pá, pois não fora providenciado um andaime
para executar tal tarefa (figura 5.4). Nas obras BR 056, BR 090 e BR 095, as concretagens
acompanhadas foram interrompidas, causando a parada total dos operários durante cerca de
trinta minutos, em função de defeitos no vibrador de imersão.
Figura 5.4 Operário projetando argamassa para revestimento com pá
92
b) Foi possível observar, em alguns dos canteiros visitados, que não era dada a atenção
merecida ao gerenciamento de materiais, fato este comprovado por deficiências encontradas
no armazenamento, transporte, processamento ou consumo destes. Em algumas empresas, tal
descaso pode ser justificado pela falta de monitoramento dos estoques e do nível de perda nas
suas obras, o que deixa menos evidente a necessidade de mobilização em busca de níveis
superiores de desempenho. Dentre as dez obras investigadas em Porto Alegre, apenas a BR
045 e a BR 087 mantinham o controle efetivo sobre a entrada e saída de materiais nos
canteiros.
c) Diversas medidas que podem viabilizar a redução das perdas a patamares mais baixos
dispensam grandes investimentos em tecnologia. A utilização de equipamentos apropriados
para o transporte de blocos e argamassa (figuras 5.5 e 5.6), contenções laterais para os
materiais estocados a granel, controle mais efetivo da espessura das juntas da alvenaria,
emprego de equipamentos dosadores mais precisos para o traço da argamassa, equipamentos
de marcação da obra a laser, manutenção da limpeza no canteiro, dentre outras, são exemplos
de medidas simples, bastante disseminadas no setor principalmente nos últimos anos, mas que
muitas vezes não são adotadas, mesmo em empresas mobilizadas em prol da melhoria de seus
processos produtivos. O emprego de escantilhão para o controle das juntas horizontais da
alvenaria na obra BR 020, por exemplo, possibilitou a obtenção de uma espessura média de
aproximadamente 1 cm.
Figuras 5.5 e 5.6 Equipamentos apropriados para o trensporte dos materiais
d) Grande parcela das perdas origina-se fora do canteiro, em função de problemas
ocorridos nas atividades que antecedem a produção, tais como incompatibilidade entre
projetos, falta de planejamento ou deficiências no fornecimento de materiais e outros. As
perdas nas placas de revestimento cerâmico da obra BR 022, por exemplo, ocorreram
93
principalmente devido a diferenças na espessura das vigas em relação à espessura de algumas
paredes, que ocasionaram muitos cortes e arremates.
e) A gerência tem maior culpa pelas perdas do que os operários, muitas vezes apontados
como responsáveis pela baixa produtividade, falta de qualidade e elevado desperdício de
materiais. Pode-se citar, como exemplo, a tentativa da gerência de introduzir alvenaria com
coordenação modular na obra BR 087, sem que a devida compatibilização com a estrutura
tivesse sido prevista em projeto, o que acarretou uma perda elevada dos blocos, baixa
produtividade da mão-de-obra e qualidade inferior das alvenarias prontas. Neste caso, ao
perceber o equívoco, a empresa retornou à técnica construtiva e aos blocos anteriormente
empregados.
f) O demasiado envolvimento dos profissionais responsáveis pelas obras com os
problemas emergenciais que nelas surgem, faz com que as oportunidades reais de melhorias,
que podem proporcionar a redução das perdas, passem desapercebidas.
g) Foi constatado também, da mesma maneira que Soibelman (1993) em sua pesquisa,
que as perdas de materiais, de uma forma geral, resultaram de uma combinação de fatores e
não de incidentes isolados.
5.4.2 Análise específica por material nas obras de Porto Alegre
5.4.2.1 Cimento
As principais causas da perda de cimento detectadas nesta pesquisa, igualmente às
identificadas por Soibelman (1993), associam-se à execução dos revestimentos em argamassa,
contrapisos e juntas da alvenaria com espessuras excessivas e à falta de controle na execução
dos traços das argamassas. Tais problemas originaram-se principalmente devido a desvios
dimensionais nas estruturas de concreto armado, pela falta de compatibilização dimensional
entre a estrutura e a alvenaria e pela irregularidade nas dimensões apresentadas pelos blocos e
tijolos.
Quanto aos traços das argamassas, verificou-se o emprego de equipamentos
inadequados para a dosagem, como pás e baldes, além da falta de cuidado com as proporções
dos materiais, mesmo em obras que possuíam quadros informativos sobre os traços, o que
demonstra a necessidade de maior conscientização e treinamento da mão-de-obra. Problemas
relacionados à mão-de-obra parecem ter sido também a causa das falhas no acompanhamento
94
do consumo de cimento por serviço (item 4.3.3.1), que acabaram inviabilizando os cálculos
dos índices de perda em algumas obras e distorcendo os que foram obtidos em outras.
Além disso, a utilização de equipamentos inadequados para o transporte da argamassa, o
armazenamento dos sacos de cimento em locais úmidos ou de difícil acesso, e em pilhas
demasiadamente altas, também contribuíram para as perdas de cimento, além de exigir da
mão-de-obra grandes esforços físicos.
Nas obras BR 020 e BR 014 foi possível observar o traço da argamassa sendo realizado
com pás e baldes (figuras 5.7 e 5.8), que são equipamentos inadequados para a execução deste
processo.
Figuras 5.7 e 5.8 Dosagem de cimento com equipamentos inadequados
O aumento de 130% na espessura das juntas da alvenaria da obra BR 056 em relação à
espessura de referência adotada na pesquisa, por exemplo, foi um dos principais fatores
responsáveis pelo alto índice de perda de cimento. Já na obra BR 014, os sacos de cimento
eram estocados em uma sala da edificação situada próxima ao posto de produção de
argamassa, da qual os sacos eram retirados através do vão da janela, o que demandava muitos
esforços dos trabalhadores (detalhe da figura 5.8).
5.4.2.2 Areia
Por ser um material comercializado a granel, a conferência do volume de areia entregue
no canteiro pelo fornecedor, bem como a quantificação dos estoques nas verificações iniciais
e finais tornou-se bastante difícil. Somou-se a isso o fato da areia ser empregada em
quantidades variadas na produção de argamassa, em função dos diferentes traços, e de ser
realizado um grande número de betonadas por dia, o que complicou o acompanhamento do
seu consumo. Tais fatores fizeram com que apenas uma das dezesseis obras investigadas
tivesse o índice de perda de areia determinado com base em dados confiáveis.
95
Da mesma forma que o cimento, concluiu-se que as elevadas espessuras de
revestimentos em argamassa, contrapisos e juntas da alvenaria foram as principais causas de
perda de areia. Além disso, verificou-se que em muitos canteiros os estoques não possuíam
contenções laterais, cobertura ou piso, possibilitando que o material fosse levado pelo vento
ou chuva e a mistura com solo ou com outros materiais.
5.4.2.3 Concreto usinado
Apesar de ser um material com elevado custo unitário, foi constatado um nível de perda
de concreto usinado relativamente alto nas obras estudadas. Verificou-se que as perdas, da
mesma forma que no estudo de Soibelman (1993), foram ocasionadas pelas variações
dimensionais dos elementos estruturais, principalmente nas lajes e cortinas de concreto
armado. No caso das lajes, devido à sua forma e ao elevado volume de material envolvido,
ficou evidenciado que até mesmo pequenos aumentos na espessura acarretam grandes
acréscimos no consumo total de concreto. As cortinas, por sua vez, possuíam apenas uma das
faces em contato com as formas, ficando a outra face em contato com o solo, o que gerou
variações dimensionais muito difíceis de serem medidas, não sendo, portanto, consideradas
com precisão nos cálculos.
Na obra BR 056, por exemplo, além de ter sido executada uma grande cortina de
concreto para contenção da encosta existente nos fundos do terreno (figura 5.9), foi
constatado um aumento de 14% na espessura real média das lajes em relação à espessura
definida em projeto. Na obra BR 090, esta variação não foi tão representativa, o que permitiu
concluir que a maior parte do volume de concreto perdido (69 m3), foi consumido na
execução da cortina de contenção que abrangia a frente e uma lateral inteira do terreno.
96
Figura 5.9 Vista parcial da cortina de concreto construída nos fundos do canteiro
5.4.2.4 Aço
Conforme mencionado anteriormente, no cálculo dos índices de perda de aço foram
considerados, após terem sido conferidos pela equipe de pesquisadores (levantamento de uma
parte dos quantitativos em projeto), os quantitativos indicados no próprio projeto estrutural. Já
as quantidades realmente gastas, tiveram a sua determinação complicada principalmente por
dois fatores: a dificuldade de controle físico dos estoques e a terceirização da produção das
armaduras. No primeiro caso, os grandes estoques de vergalhões de aço, com pedaços
menores de barras misturados, e a existência de armaduras já montadas no canteiro, tornaram
bastante difícil a tarefa de determinação das quantidades armazenadas (figura 5.10).
97
Figura 5.10 Vergalhões de diversas bitolas misturados e estoque de armaduras prontas
No caso das obras com a produção das armaduras terceirizada, foi bastante complicado
obter os quantitativos (série 4 de planilhas), uma vez que as empresas sub-contratadas
atendiam diversas obras simultaneamente, e não possuíam um controle do destino do aço por
obra.
Analisando-se as informações disponíveis, foi possível constatar que as principais
causas da perda de aço foram as substituições das barras, comprovadas por alguns índices
negativos obtidos em determinadas bitolas. Outro motivo, que ocasionou a perda nas barras de
bitolas maiores, foi a falta de otimização do corte e o comprimento das armaduras, pois os
pedaços pequenos que sobram, acabam não sendo aproveitados.
A sobra de pedaços de barras de bitolas maiores na obra BR 087, por exemplo,
ocasionou a perda de aproximadamente 27% dos vergalhões de 20 milímetros de diâmetro, o
que correspondem a uma massa de 1200 quilogramas de aço.
5.4.2.5 Blocos e tijolos
De forma similar às barras de aço, o levantamento das quantidades de blocos e tijolos
existentes em estoque foi bastante dificultado, devido ao tamanho e irregularidade das pilhas
e, em alguns casos, pela mistura de diferentes blocos na mesma pilha. Outro fator que
complicou a determinação do número de blocos e tijolos efetivamente consumidos foi a falta
de controle qualitativo e quantitativo das cargas entregues pelos fornecedores.
Dentre as principais causas das perdas destacam-se a utilização de equipamentos de
transporte inadequados (carrinhos de mão, giricas) em algumas obras, que permitem a queda e
98
muitas vezes a quebra de um número elevado de unidades; a altura exagerada das pilhas
(figura 5.11), que por vezes superam três metros, acarretando quebras devido à quedas e
esmagamentos; a falta de modulação entre a estrutura e a alvenaria, que requer muitos blocos
fracionados; e as variações dimensionais dos blocos e tijolos.
Figura 5.11 Pilha de blocos com mais de 3 metros de altura
Na obra BR 080, ocorreram muitas substituições de blocos por tijolos maciços, muitas
delas não detectadas no levantamento de quantitativos teóricos. Na obra BR 087, como
mencionado anteriormente, houve mudanças nos tipos de blocos e na técnica construtiva, no
decorrer da execução da alvenaria, que acarretaram o elevado índice de perda.
5.4.2.6 Eletrodutos
Apesar de ter sido estudado em seis obras, não foi possível obter os índices de perda
deste material em nenhuma delas, pois a execução dos serviços, bem como o fornecimento
dos materiais foi repassado para empresas especializadas em instalações elétricas, que não
mantinham o controle do destino dos materiais por obra, inviabilizando o preenchimento das
planilhas da série 4.
5.4.2.7 Tubulações hidrosanitárias
As tubulações de água fria e esgoto foram materiais que também apresentaram extrema
dificuldade para a obtenção de quantitativos, tanto teóricos, em função do pequeno tamanho
dos pedaços de tubos colocados nas instalações e o número de conexões existentes, quanto
dos realmente gastos, por terem sido as instalações, na maioria das obras, repassadas para
empresas especializadas que forneciam o material. Tais empresas, por atenderem a diversas
99
obras diferentes ao mesmo tempo, não possuíam um controle efetivo da quantidade de
material destinada a cada obra. Algumas causas das perdas, tais como substituição de bitolas
menores por maiores e aumento do consumo de tubos devido à improvisação de trajetos,
puderam ser verificadas.
Outro fator determinante das perdas de tubulações hidrossanitárias foi a falta de
logística na distribuição do material, pois a sua disponibilidade em grandes quantidades nos
postos de trabalho, pode ter incentivado os operários ao corte de pedaços em tubos inteiros, ao
invés de aproveitar as sobras de outras instalações.
5.4.2.8 Placas cerâmicas
O excesso de recortes das placas foi provavelmente a principal causa das perdas deste
material. Tais recortes ocorreram em conseqüência da falta de coordenação modular dos
projetos, particularmente na altura do pé-direito e nas dimensões dos compartimentos, e na
incompatibilidade entre a largura das vigas de concreto e as espessuras das paredes de
alvenaria, oriundas das decisões de projeto ou de desvios dimensionais ocorridos durante a
execução da edificação. Somou-se a isso a falta de logística na distribuição das placas
cerâmicas nos postos de trabalho que, de forma similar às tubulações hidrossanitárias,
também foi responsável pelo nível de perdas deste material. A execução do revestimento
cerâmico até a face inferior da laje do pavimento superior, mesmo nos compartimentos nos
quais seria colocado forro rebaixado, contribuiu, em algumas obras, para o elevado consumo
deste insumo.
Conforme mencionado anteriormente, as perdas de placas cerâmicas detectadas na obra
BR 022, justificaram-se, na sua maioria, pelo excesso de recortes realizados.
5.4.2.9 Revestimento têxtil
O levantamento de dados sobre este material foi realizado apenas na obra BR 014, na
qual a principal causa das perdas verificada foi o corte das peças para adequação às áreas dos
compartimentos.
5.5 AVALIAÇÃO CRÍTICA DA PESQUISA
Muitos dos problemas enfrentados pela equipe de pesquisadores no decorrer das etapas
de levantamento e análise dos dados originaram-se por limitações do método de pesquisa
empregado. É importante, desta forma, analisá-lo criticamente, visando tornar evidentes seus
100
pontos fracos, o que irá fornecer informações para que o método possa ser aperfeiçoado,
possibilitando assim que futuros desdobramentos deste estudo sejam mais eficazes. Para esta
finalidade, é conveniente também que sejam confrontados os resultados obtidos com os
objetivos propostos na etapa de concepção da pesquisa e, por fim, que sejam comentados os
avanços do presente estudo em relação aos trabalhos anteriores, no que diz respeito ao
conhecimento e controle das perdas.
5.5.1 Método de pesquisa empregado
Como mencionado no capítulo anterior (item 4.2.2), o método utilizado na presente
pesquisa foi desenvolvido a partir dos estudos realizados por Pinto (1989) e Soibelman
(1993), sendo realizadas adaptações às peculiaridades e aos objetivos do projeto em questão.
No entanto, mesmo com as devidas adequações, algumas das atividades planejadas não se
desenrolaram da maneira prevista ou não surtiram o efeito desejado, restringindo o resultado
do trabalho.
Com relação à etapa de levantamento dos dados, por vezes ocorreram problemas no
preenchimento das planilhas, apesar das instruções anexadas às mesmas. Tais dificuldades
originaram-se devido à falhas na concepção das próprias planilhas, que precisaram ser
corrigidas à medida que o trabalho evoluía. O fato da coleta dos dados ter sido iniciada sem
que todas as planilhas estivessem prontas e devidamente testadas também gerou alguns
atrasos no preenchimento. Além disso, alguns procedimentos de coleta eram relativamente
complexos e as instruções de difícil compreensão.
Sem dúvida, a tarefa de registro das informações foi bastante facilitada pelas planilhas,
porém, o elevado número de planilhas diferentes, cada uma delas apropriada a um único
material, tornou demasiadamente complexo o processo de arquivamento das informações,
devido à quantidade excessiva de papel, além de dificultar a totalização dos dados. Uma
alternativa viável teria sido utilizar diretamente planilhas eletrônicas, pelo menos para os
levantamentos realizados nos projetos.
Muitos indicadores que haviam sido concebidos para auxiliar na determinação das
causas das perdas, como a diferença percentual entre a massa linear real dos vergalhões de
aço em relação à nominal, ou a variação percentual do consumo de cimento por metro cúbico
de argamassa produzida em relação ao especificado, por exemplo, não puderam ser
101
levantados por dificuldades de ordem técnica, relacionadas à falta de equipamentos
apropriados ou de pessoal disponível.
Diferentemente do trabalho de Soibelman (1993) no qual os pesquisadores monitoravam
as obras continuamente, no presente estudo, devido à quantidade de obras investigadas, não
foi possível manter observadores em tempo integral nos canteiros, sendo realizadas apenas
observações discretas em momentos pré-estabelecidos. Desta forma, muitas das ocorrências
geradoras de perdas não foram presenciadas, dificultando a tarefa de justificativa dos índices
de perda encontrados.
Como não havia o caráter de intervenção, não foi realizado qualquer tipo de treinamento
ou mudança de procedimentos para o gerenciamento de materiais nas empresas participantes
da pesquisa, com exceção das informações passadas pela equipe de pesquisadores e das
instruções constantes nas planilhas. Desta forma, as empresas que possuíam menor nível de
organização tiveram dificuldades para aplicar corretamente a série de planilhas 4, nas quais
deveriam ser registradas as entradas e saídas de materiais, e a planilha de acompanhamento do
destino do cimento. Isto ocasionou muitos erros no registro das informações, erros estes
muitas vezes irreparáveis, que inviabilizaram a obtenção de determinados índices.
Este problema ocorreu também devido à falta de engajamento por parte de algumas
pessoas designadas pelas empresas para a coleta dos dados, principalmente as vinculadas a
sub-empreiteiros.
No que diz respeito à análise dos dados, foram enviadas instruções a todas as
universidades participantes para que o método utilizado fosse idêntico. Esta etapa foi
caracterizada pelo rigorismo, uma vez que os índices eram rejeitados sempre que havia
suspeitas de sua validade, evitando assim distorções nos resultados do estudo. Na obra BR
056, por exemplo, o índice de perda das barras de aço CA 50 com 5 milímetros de diâmetro
foi de 228%, sendo desconsiderado por não haver nenhuma evidência que justificasse tal
perda.
A incidência de dados rejeitados foi de fato relativamente grande, causada
principalmente pela falta de condições das empresas menos organizadas de registrar
adequadamente as entradas e saídas de materiais (mencionado acima) e pela extrema
complexidade do tipo de monitoramento adotado, em função do número de variáveis
envolvidas. A complexidade tende a aumentar ainda mais em obras que sofrem alterações nos
prazos, projetos ou especificações durante a sua execução.
102
Além disso, o processamento dos resultados demanda um tempo relativamente longo,
podendo exceder, inclusive, o período de execução da própria obra. Desta forma, a descoberta
de inconsistências nos dados ocorre muito tempo depois destes terem sido coletados, sendo
necessário, muitas vezes, desconsidera-los. Uma noção da amplitude com que estes fatores
afetaram o estudo pode ser obtida na tabela 5.9, que apresenta o número de obras nas quais o
levantamento de dados correspondente a cada serviço foi realizado, e o número de obras nas
quais os resultados acabaram sendo efetivamente obtidos.
Tabela 5.9 Dados rejeitados em Porto Alegre devido a incertezas quanto a sua validade
SERVIÇOS OBRASESTUDADAS
OBRAS COMRESULTADOS
EFETIVOS
Estrutura de concreto - concreto usinado 5 5Armação 4 3Alvenaria 5 4Revestimento interno 5 3Revestimento externo 4 2Contrapiso 4 2Instalações elétricas - eletrodutos 6 0Instalações hidrosanitárias 5 2Revestimento cerâmico - piso 2 1Revestimento cerâmico - paredes 3 2Pintura externa 1 0Pintura interna 2 0Revestimento têxtil 1 1
TOTAL 47 25
Através destas considerações buscou-se evidenciar alguns problemas constatados ao
longo do projeto, pois, mesmo que o método utilizado não tenha sido desenvolvido para ser
incorporado pelas empresas, o mesmo poderá ser adaptado no futuro para esta finalidade,
sendo tais observações bastante pertinentes para seu aprimoramento.
Tendo em vista a melhoria dos métodos de combate às perdas, é conveniente destacar
também a necessidade de que estes sejam desenvolvidos com um caráter pró-ativo,
permitindo assim que o controle destas possa ser efetivamente realizado nos canteiros de
obras que estão sendo avaliados. Neste sentido, é de fundamental importância que tais
métodos sejam simples para que as próprias empresas possam aplicá-los, de maneira que haja
retro-alimentação quanto ao seu desempenho em um espaço de tempo relativamente curto,
viabilizando a tomada de medidas para prevenção das perdas na obra analisada ou em futuras
obras.
103
Um primeiro esforço neste sentido foi o levantamento de dados qualitativos realizado
através das séries de planilhas 5 e 6. Segundo Formoso et al. (1998), além de sua função no
diagnóstico, estas séries de planilhas têm uma função pró-ativa, pois consistem numa
avaliação qualitativa, de aplicação e posterior obtenção de resultados relativamente rápida,
que serve para comparar o que é executado na obra, com o que é considerado como boa
prática do setor (benchmarking).
Como relatado no capítulo anterior (item 4.3.5), as informações contidas nas séries de
planilhas 5 e 6 foram utilizadas como fonte de identificação das causas das perdas. Apesar
disso, seu potencial foi pouco explorado, havendo a necessidade de aprimoramentos que
permitam às empresas utilizá-las de forma rotineira, objetivando o controle eficaz das perdas.
5.5.2 Cumprimento dos objetivos propostos
O principal objetivo da presente pesquisa era, como o próprio título indica, propor
alternativas para a redução dos desperdícios nos canteiros de obra. Para fundamentar tais
sugestões foi preciso, primeiramente, com base em um método adequado, detectar quais eram
os percentuais de perda de materiais na construção de edificações com as mais variadas
características.
Os percentuais de perda foram de fato determinados. Porém, o tempo despendido na sua
obtenção foi relativamente longo, consumindo grande parte dos recursos financeiros alocados.
Desta forma, os resultados do estudo restringiram-se aos índices de perdas e suas principais
causas, ficando as alternativas para a sua redução para serem propostas em futuros estudos.
5.5.3 Avanços em relação aos estudos anteriores
Como mencionado anteriormente, no presente estudo foram obtidos índices de perda
similares aos encontrados por Pinto (1989) e Soibelman (1993). Em termos de identificação
de causas das perdas, o presente estudo também não apresentou um panorama muito
diferenciado em relação a tais trabalhos.
As contribuições de estudos desta natureza para aumentar o conhecimento sobre as
perdas na construção civil, porém, são incontestáveis. A ampliação da amostra de obras
estudadas aumentou a quantidade de dados disponíveis sobre os materiais que já haviam sido
pesquisados, dando maior credibilidade aos índices de perda disseminados no setor. Para
materiais como tintas, tubos para instalações hidrosanitárias, eletrodutos, revestimentos
104
têxteis e outros, obteve-se as primeiras informações relativas aos níveis de perda e às suas
principais causas, que podem auxiliar as empresas na realização de orçamentos mais precisos
e no controle mais efetivo dos seus processos produtivos. Destaca-se ainda a determinação
dos índices de perda de materiais para serviços distintos, que foi uma tentativa de revelar de
forma mais detalhada quais serviços são mais propensos a originar perdas, além de permitir a
comparação do desempenho da empresa por serviço. Por fim, a rede de universidades
constituída neste estudo provavelmente irá facilitar a realização de outras pesquisas de porte
nacional, tanto sobre perdas, quanto de outros temas de interesse do setor.
É preciso, porém, ter em mente que a obtenção de informações deve ser motivada pela
necessidade das empresas de encontrar soluções para os problemas enfrentados no
gerenciamento de seus processos, ao invés de apenas tornar os problemas evidentes.
Desta forma, cabe persistir na importância de desenvolver ferramentas de caráter pró-
ativo e estudar as outras formas de ocorrência das perdas, que juntamente com as perdas de
materiais são responsáveis por relevante parcela das deficiências do setor. Neste sentido, o
levantamento de dados qualitativos, tais como o efetuado com as planilhas da série 5 e 6, tem
um papel indiscutivelmente importante, pois se estes forem vinculados a dados quantitativos
com eficácia, tomando como base os conceitos abordados pela Nova Filosofia de Produção e
pelo Mecanismo da Função Produção, poderão fornecer valiosas informações para o controle
das perdas na construção civil.
105
6 PROPOSTA DE ESTUDO DAS PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
CONSIDERANDO O CONCEITO MAIS AMPLO
6.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Como foi mencionado nos capítulos iniciais desta dissertação, uma característica
comum aos estudos sobre perdas na construção civil realizados anteriormente, tanto no país
como no exterior, é o enfoque principal centrado basicamente nas perdas físicas de materiais
de construção, sendo pouca ou nenhuma atenção dispensada às perdas em seu conceito mais
amplo. Isto indica que estas pesquisas, de uma forma geral, desconsideram a existência de
outros tipos de perdas nos processos produtivos deste setor, relacionadas principalmente à
realização de atividades desnecessárias durante a produção, e sugerem, de forma bastante
generalista, que o combate às perdas pode ser realizado através da implementação de algumas
melhorias, na sua maioria de caráter técnico, nas suas fontes originadoras, o que nem sempre
é correto.
Tomando como referência estas limitações dos estudos anteriores, frente à importância
do assunto, buscou-se desenvolver uma classificação de perdas e um conjunto de ferramentas,
com base nos conceitos e princípios das modernas filosofias gerenciais, para possibilitar que
as perdas nos canteiros de obras, considerando o sentido mais amplo, sejam mais facilmente
reconhecidas, aumentando assim a oportunidade de prevenção efetiva destas.
Neste capítulo, é apresentada a definição de perdas adotada neste estudo e uma proposta
de classificação de perdas considerando a visão mais ampla. A partir da classificação, é
sugerido um conjunto de planilhas para levantamento de informações qualitativas, voltadas à
identificação e controle das perdas e, ao final, apresenta-se uma avaliação da ferramenta
proposta, baseada na aplicação desta em estudos de caso.
6.2 DEFINIÇÃO DE PERDA ADOTADA NESTE ESTUDO
Com o intuito de melhor fundamentar a classificação de perdas proposta, é importante,
primeiramente, apresentar algumas definições de perdas empregadas por autores dedicados a
áreas de estudo distintas, bem como a definição adotada neste estudo.
106
De acordo com Antunes Junior (1995), perda é tudo que gera custos e não adiciona
valor aos produtos ou serviços.
Para Koskela (1992), as perdas estão relacionadas às atividades que tomam tempo,
recursos e espaço mas não agregam valor. Esse autor argumenta, porém, que os esforços
direcionados para evitar as perdas devem ser realizados com certa cautela, pois algumas
atividades tais como planejamento, contabilidade e prevenção de acidentes, não agregam
valor, porém produzem valor para os clientes internos.
Ohno (1988) por sua vez, conforme mencionado no item 2.3.1, divide o movimento dos
trabalhadores em duas dimensões: a do trabalho e a das perdas. As perdas constituem-se dos
movimentos realizados nas atividades desnecessárias. Já o trabalho pode ser subdividido em
trabalho que agrega valor e trabalho que não agrega valor. O primeiro consiste em algum tipo
de processamento, ou seja, mudar a forma da matéria-prima visando à obtenção dos produtos.
O segundo pode ser considerado uma perda no sentido convencional, porém, é necessário para
viabilizar o trabalho que adiciona valor, diante das atuais condições de trabalho.
Alarcón (1997), de uma forma geral, associa as perdas a todas as atividades que
produzem custos diretos ou indiretos, sem adicionar valor ou ajudar no avanço de um
empreendimento. Esse autor também menciona um outro tipo de perda, relacionado com a
eficiência dos processos e utilização dos equipamentos e pessoal, que é mais difícil de definir
e medir, pois requer o conhecimento da eficiência máxima que pode ser atingida, e isto nem
sempre é possível.
Martins (1996), no que se refere ao aspecto contábil, afirma que as perdas não são um
sacrifício financeiro realizado com intenção de obter receitas, apresentando, portanto, uma
característica de anormalidade e involuntariedade. O mesmo autor afirma que o gasto com
mão-de-obra durante um período de greve, por exemplo, consiste numa perda e não num
custo de produção.
Com base nestas definições, é possível verificar que existem diferentes pontos de vista a
respeito do conceito de perdas. Na presente dissertação, a definição adotada está de acordo
com a visão de Ohno, a qual faz a distinção entre o trabalho (que pode ou não agregar valor) e
as perdas. Sendo assim, de uma forma geral, as perdas associadas à produção contemplam as
atividades realizadas pelos trabalhadores que demandam seu tempo ou esforços, geram custos,
e não contribuem em nada para a obtenção do produto final. Tais atividades podem envolver
os materiais (transportar materiais desnecessariamente, por exemplo), os materiais e
107
equipamentos (produzir mais argamassa do que o necessário para um dia utilizando betoneira,
por exemplo) ou nenhum deles (trabalhadores a espera de ordens para iniciar um novo
processo, por exemplo). Uma ressalva a esta definição, no entanto, precisa ser feita com
relação aos estoques, que não possuem nenhuma ação relacionada (são apenas materiais ou
produtos parados), mas consistem em perdas, como será explicado mais adiante.
6.3 PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS
Conforme mencionado no item 2.4, o STP caracteriza-se por ser aberto e sistêmico,
podendo ser, portanto, adaptado aos diferentes contextos produtivos. É necessário, porém,
segundo os responsáveis pelo seu desenvolvimento, realizar inicialmente a devida adequação
dos seus conceitos e princípios para cada setor.
Desta forma, para desenvolver uma ferramenta eficaz para o tratamento das perdas, que
permitisse que estas fossem melhor visualizadas e compreendidas, foi preciso em primeiro
lugar propor uma classificação geral, que se adaptasse às características da construção civil,
baseada nos conceitos da NFP e do STP, com ênfase na classificação de perdas adotada por
Shingo e Ohno, e no MFP que, de acordo com o que foi descrito no item 2.2.1, separa a
produção em dois eixos distintos, o dos processos, que examina o fluxo dos materiais no
tempo e no espaço, e o das operações, que analisa o fluxo dos trabalhadores e dos
equipamentos no tempo e no espaço. Considera-se também, em algumas categorias de perda,
as definições empregadas por Skoyles & Skoyles.
Sendo assim, as perdas ficaram definidas e classificadas da seguinte maneira:
a) perda por superprodução
b) perda por manutenção de estoques
c) perda por transporte
d) perda no movimento
e) perda por espera
f) perda por elaboração de produtos defeituosos
g) perda no processamento em si
h) perda por substituição
108
i) outras perdas
Cabe enfatizar que estas nove categorias de perdas raramente ocorrem isoladamente.
Desta forma, para serem melhor compreendidas, as perdas devem ser analisadas sob uma
ótica mais ampla, considerando as possíveis articulações que possam existir entre elas.
6.3.1 Perdas por superprodução
As perdas por superprodução são bastante prejudiciais ao sistema produtivo, pois a sua
ocorrência pode acarretar outros tipos de perdas, principalmente associadas a estoques.
Conforme mencionado no segundo capítulo, existem perdas por superprodução de duas
naturezas distintas, a quantitativa (fazer mais do que o necessário) e a por antecipação (fazer
antes que seja necessário). A definição de perdas por superprodução de Ohno e Shingo,
porém, não se adapta diretamente às características da produção da construção civil, sendo
necessário atentar para algumas considerações realizadas a seguir.
6.3.1.1 Perdas por superprodução quantitativa
Diferentemente das indústrias de produção seriada, nas quais as peças, de uma forma
geral, são produzidas em lotes, dando margem a sobras e, consequentemente, à perda de
algumas unidades, nas empresas de construção este tipo de perda não ocorre com a mesma
freqüência, visto que os subprodutos normalmente são bem definidos, como, por exemplo, a
armadura específica para o pilar P12 do terceiro pavimento.
Na rotina das empresas de construção civil, tais perdas podem ocorrer quando
determinados subprodutos (estribos, vergas pré-moldadas e outros) ou componentes
(dispositivos que auxiliam a produção tais como cunhas, espaçadores para armaduras e
outros), em geral, de baixo custo associado, são produzidos em quantidades superiores às
requeridas. O processamento de materiais perecíveis em quantidades superiores às
necessárias, também consiste em uma fonte de perda por superprodução quantitativa
característica deste setor.
Para entender este tipo de perda, pode-se considerar a seguinte situação: a produção de
estribos para armaduras de vigas que possuam dimensões pouco usuais. Caso a quantidade
total de estribos a ser produzida não seja bem definida, poderão sobrar peças, que serão
provavelmente perdidas. Este exemplo pode parecer incoerente, já que os estribos por vezes
são produzidos com pedaços de barras de aço sobradas de outros serviços, que seriam até
109
mesmo transformadas em entulho. Porém, serve para ilustrar o sentido mais amplo das perdas
por superprodução, uma vez que não estão envolvidos apenas custos do material perdido, mas
também o valor que foi agregado na produção dos estribos, envolvendo custos com mão-de-
obra e equipamentos.
Por outro lado, caso estes estribos possam ser utilizados em uma outra obra, os mesmos
terão que ser estocados durante um determinado tempo (processo - estocagem), gerando
outros inconvenientes tais como transportes (processo e operação - transporte), ocupação de
espaço do depósito, dentre outros, que segundo a lógica do MFP, consistem em perdas
decorrentes da superprodução.
Outro exemplo de perdas por superprodução quantitativa que ocorre na construção de
edificações, associa-se à produção de argamassa para revestimento em quantidade maior do
que a previsão de consumo num dia. Neste caso, por se tratar de uma combinação de materiais
que, após a mistura, possui um tempo restrito para o uso devido ao início da pega do cimento,
as sobras provavelmente transformar-se-ão em entulho. De forma análoga ao caso dos
estribos, além dos custos dos materiais perdidos, existem os custos relativos à mão-de-obra
que processou a argamassa e aos equipamentos empregados nesta atividade (processo e
operação - processamento), além de novos custos associados ao manuseio e transporte do
entulho.
6.3.1.2 Perdas por superprodução por antecipação
Este tipo de perda, mais freqüente na construção civil, está associado principalmente ao
adiantamento da produção de subprodutos (armaduras, formas e outros) ou à antecipação da
execução de determinados serviços.
Como exemplo deste tipo de perda, pode-se citar uma empresa que monta as portas em
uma central de processamentos, e então fixa o conjunto completo no vão da alvenaria.
Considerando que todas as portas do último pavimento tipo já estejam montadas, e ocorra
uma alteração no projeto a pedido do proprietário, modificando a entrada de um dos
apartamentos, um dos conjuntos será desnecessário, ao menos para esta obra. Esta porta
completa, será estocada temporariamente (processo – estocagem), necessitando transporte
(processo e operação – transporte), espaço em depósito e outros, que geram custos e não
agregam valor algum ao conjunto. Além disso, corre o risco de ser danificada, roubada e até
mesmo não ser útil em outras obras, em função de novas tecnologias que porventura a
empresa adote.
110
Outro exemplo que ilustra este tipo de perda, corresponde à execução da alvenaria de
todos os seis pavimentos de uma edificação, e só então iniciar os serviços de instalações e
revestimentos no primeiro pavimento. Desta forma, nos outros cincos pavimentos há uma
forma de estoque de alvenaria pronta, uma vez que as etapas subsequentes serão executadas
somente mais tarde. Este estoque de produto inacabado decorrente da superprodução, envolve
um montante de capital parado, que pode acarretar a perda de bons negócios para a empresa.
Este exemplo tem apenas a intenção de ilustrar as perdas decorrentes da superprodução.
Não estão sendo consideradas, desta forma, as estratégias produtivas27 que a empresa tenha
adotado, que justifiquem a maneira como foi conduzida a construção da edificação.
6.3.2 Perdas por manutenção de estoques
As perdas por estoque são originadas pela manutenção de materiais, componentes,
subprodutos ou produtos acabados em grandes quantidades no canteiro de obras, o que não
adiciona valor algum a estes e acarreta elevados custos financeiros para a empresa.
Além disso, estoques elevados podem gerar perdas diretas e indiretas de materiais, pois
normalmente estes são depositados sem os devidos cuidados, ficando a mercê de intempéries,
roubos, danos físicos (decorrentes de quedas, esmagamentos e outros) e mesmo
obsolescência, no caso de materiais que possuem maior tecnologia agregada.
Segundo Shingo (1981), estocar envolve além das esperas dos materiais ou peças semi-
acabadas (esperas de processo ou esperas do lote28) ou dos produtos, as operações de
manuseio, transporte e conferência dos estoques. A definição de perda por estoque empregada
nesta proposta de classificação, contudo, em função das características da construção, difere
um pouco da utilizada por esse autor, uma vez que as operações de manuseio, transporte e
outras, mesmo estando associadas aos estoques, não são consideradas nesta categoria de
perda. Desta forma, fica evidenciado que este tipo de perda possui uma ligação mais forte
com o eixo dos processos do MFP.
27 Um exemplo de estratégia produtiva adotado pelas empresas no caso da alvenaria, é executar inicialmente todaa alvenaria externa, para dar a impressão aos clientes que a obra está mais adiantada. Fatores climáticos comochuva e frio também podem influenciar tal decisão, em função do conforto proporcionado aos operários.28 Segundo Shingo (1981), esperas do processo ocorrem quando lotes inteiros permanecem esperando(estocados) outros lotes serem processados, inspecionados ou transportados. Esperas do lote, por sua vez,ocorrem durante as operações de um lote, pois, enquanto uma peça é processada, as demais permanecemesperando (estocadas).
111
A manutenção de estoques nos canteiros se justifica, de uma forma geral, pelo fato de
que os gerentes sentem-se mais seguros quando podem contar com grandes quantidades de
materiais armazenados, garantindo assim a continuidade da produção (evitar paradas), o que
torna evidentes os problemas gerenciais que existem em muitas empresas desse setor, tais
como a falta de planejamento, erros em orçamentos ou programação inadequada de entrega
dos materiais no canteiro. Outra peculiaridade da construção civil, que pode justificar a
manutenção de estoques elevados, são as vantagens financeiras conseguidas junto aos
fornecedores quando grandes quantidades de materiais são compradas.
Existe ainda um outro fator negativo associado à manutenção de grandes estoques, que é
a indução dos trabalhadores ao desperdício, pois estes tendem a diminuir seu cuidado com os
materiais quando estes existem em abundância no canteiro. Neste caso, as perdas são
camufladas pois sempre existem materiais à disposição no canteiro, o que não ocorre quando
as quantidades são menores e melhor controladas.
Cabe neste ponto realizar a distinção entre as perdas por superprodução e as perdas por
estoque. Na realidade, conforme exposto no item 6.3.1, a superprodução gera, além de outros
tipos de perdas, os estoques elevados de produtos. Estes, por sua vez, juntamente com
estoques provenientes da compra de matéria-prima em demasia, por exemplo, acarretam as
perdas por manutenção de estoques definidas acima.
Alguns exemplos podem elucidar as perdas causadas pelos grandes estoques nos
canteiros de obras. Por se tratar de um material perecível, o cimento necessita de condições
especiais de armazenamento. Seu acondicionamento deve ser feito em local de fácil acesso e
livre de umidade, onde possa ser praticado o sistema PEPS (primeiro saco que entra é o
primeiro que sai), em pilhas de no máximo 10 sacos, além de outros cuidados. Desta forma, a
manutenção de grandes estoques de cimento na obra requer um depósito de dimensões
avantajadas e uma série de cuidados, sem esquecer que para o cimento, como material de
construção, permanecer armazenado durante um determinado tempo não agrega valor algum.
A entrega de grandes quantidades de blocos ou tijolos pode tornar necessária a sua
estocagem em pontos diferentes do canteiro, devido à restrições de espaço. Neste caso, é
possível que as distâncias de transporte aumentem (processo e operação – transporte), e que
as condições de armazenamento não sejam as ideais. Além disto, da mesma forma que o
cimento, o fato dos blocos ou tijolos estarem estocados não adiciona valor a estes materiais.
112
6.3.3 Perdas por transporte
As perdas por transporte associam-se às atividades de movimentação interna de
materiais, componentes e subprodutos, que geram custos para a empresa, sem no entanto
agregar valor algum ao produto final.
Perdas deste tipo também podem ocorrer quando o transporte é realizado com
equipamentos mal cuidados ou inadequados para os objetos que estão sendo movimentados, o
que ocasiona com freqüência o manuseio excessivo (ajustes ou acomodações) ou a perda dos
materiais (quedas, esmagamentos, rasgos e outros), além da ociosidade ou desgaste
desnecessário do equipamento de transporte.
A definição de perda por transporte apresentada nesta classificação é bastante
semelhante à adotada por Shingo, adicionado o fato de que alguns materiais, utilizados em
quantidades expressivas na construção, tais como blocos, por exemplo, podem quebrar-se no
seu deslocamento. Outras diferenças que devem ser consideradas, é o tipo de produto final,
que no caso da construção, é imóvel, ao contrário das demais indústrias. Por fim, a relevância
da ociosidade dos equipamentos de transporte, que varia segundo as particularidades de cada
empresa.
Para aumentar a eficiência da produção, as empresas devem evitar o transporte, ao invés
de simplesmente mecanizá-lo. Desta forma, melhorias efetivas neste sentido podem ser
obtidas com o aprimoramento do layout dos canteiros, a manutenção da limpeza nos
canteiros, a programação dos serviços melhor elaborada, a maior precisão do sistema de
informações, entre outros. Cabe enfatizar ainda que, muitas vezes, o tempo ou os esforços dos
trabalhadores empregados no carregamento e na descarga dos materiais supera em muito os
que são despendidos no transporte em si, motivo pelo qual, o transporte consiste em uma
considerável fonte de perdas.
Um exemplo de perda por transporte é a movimentação de blocos, utilizando carrinho
de mão, em um canteiro sujo e sem planejamento de layout. Neste exemplo é possível ilustrar
como são originadas as perdas por transporte: a falta de limpeza e de planejamento do layout,
provavelmente acarretam o aumento da distância de transporte entre o estoque e o elevador de
carga, e entre o elevador e o posto de trabalho, fato este que, tanto para os blocos, como para a
parede da qual estes farão parte, não adicionou valor algum. O carrinho de mão não é o
equipamento adequado para o transporte de blocos e, desta forma, além de aumentar o
113
número de cargas e as respectivos carregamentos e descarregamentos, propicia que os blocos
fiquem inutilizados, caso caiam do carrinho.
Outro exemplo de perda no qual ocorre a ociosidade do equipamento de transporte, é a
utilização de uma grua, que é um equipamento que permite a movimentação de grandes
massas ou volumes com relativa rapidez, no transporte de um balde de argamassa até um
determinado pavimento.
6.3.4 Perdas nos movimentos
As perdas nos movimentos associam-se aos movimentos e esforços desnecessários
realizados pelos trabalhadores durante a execução das operações, que interferem
negativamente na produtividade.
Este conceito está plenamente de acordo com as considerações sobre perdas nos
movimentos feitas por Shingo para a indústria de produção seriada. Cabe aqui evidenciar que,
em função da sua própria definição (movimentos dos trabalhadores), tais perdas são
fortemente ligadas ao eixo das operações do MFP.
Como mencionado no segundo capítulo, Gilbreth concluiu em seu estudo que todas as
tarefas podem ser executadas a partir de dezoito movimentos elementares, sendo que a
redução no tempo de execução de uma tarefa só é obtida, quando profundas melhorias são
realizadas nos movimentos dos trabalhadores e nas condições de trabalho.
Nos canteiros de obras, de uma forma geral, tais perdas originam-se da falta de
organização dos postos de trabalho, da falta de método de trabalho, da falta de arranjo no
layout do canteiro, da inexistência de equipamentos para efetuar as tarefas ou emprego de
equipamentos inadequados, e de outras condições insatisfatórias de trabalho, relacionadas
principalmente aos esforços e às necessidades dos operários (ergonomia, necessidades
fisiológicas, descanso e segurança).
Para evitar a confusão entre as perdas por transporte e as perdas nos movimentos, cabe
lembrar que as primeiras associam-se particularmente aos materiais, enquanto que as últimas,
estão ligadas aos movimentos dos trabalhadores. É indispensável destacar, porém, que os dois
tipos de perda ocorrem de forma articulada. O seguinte exemplo pode ilustrar tal diferença: a
descarga de sacos de cimento em um canteiro que possui um aclive acentuado em relação à
rua, no qual não é possível que o caminhão do fornecedor chegue próximo ao depósito. A
necessidade de transporte dos sacos de cimento (movimentação excessiva do material), em
114
função da distância entre o caminhão e o depósito, associa-se à perda por transporte (processo
– transporte). O fato de existirem trabalhadores realizando tal transporte desnecessário
(operação – transporte), e o esforço físico extra dos operários para carregar os sacos em um
aclive acentuado, por sua vez, contempla a perda nos movimentos.
Nas obras em que os blocos são entregues em cargas de unidades isoladas, por exemplo,
os operários realizam os seguinte ciclo de movimentos elementares (therbligs) para cada
conjunto29 de blocos: selecionar, apanhar, segurar, transportar, soltar, transportar vazio e
descansar, podendo ocorrer ainda esperas evitáveis ou inevitáveis. Em obras nas quais o
fornecedor entrega os blocos em paletes, os operários realizam o transporte de cada palete de
uma só vez, o que reduz consideravelmente a quantidade de movimentos, que segundo a
lógica do MFP são perdidos.
O emprego de andaimes leves, que podem ser facilmente montados e adequados aos
postos de trabalho, pode diminuir o esforço físico dos operários e a perda de tempo com
operações de setup (montagens, ajustes e outros), além de melhorar as condições de
ergonomia e evitar movimentos desnecessários durante a realização das operações
propriamente ditas.
A utilização de equipamentos de segurança (EPI´s), a iluminação e ventilação adequada
dos postos de trabalho, a existência de sanitários em locais relativamente próximos aos postos
de trabalho, entre outros, proporcionam aos operários condições mais satisfatórias de trabalho
nos canteiros de obras, e podem reduzir o número de movimentos necessários.
6.3.5 Perdas por espera
Perdas relacionadas aos períodos de tempo nos quais os trabalhadores não estão
produzindo (agregando valor), apesar da empresa permanecer arcando com seus custos
horários. Desta forma, de maneira similar às perdas nos movimentos, por estarem associadas
diretamente ao trabalho dos operários, tais perdas são fortemente ligadas ao eixo das
operações do MFP.
De uma forma geral, as perdas por espera ocorrem devido à falta de planejamento da
produção, que gera problemas de sincronização entre as diversas atividades realizadas por
diferentes trabalhadores ou entre as atividades dos trabalhadores e o fluxo de materiais. Além
29 O conjunto de blocos refere-se à quantidade de unidades carregada por cada operário, que varia em função dasua capacidade de esforço físico e as dimensões, bem como a massa de cada bloco.
115
disso, o desbalanceamento entre a quantidade de trabalhadores e a capacidade de operação
dos equipamentos disponíveis, pode gerar esperas dos primeiros.
A diferença entre a definição sugerida nesta classificação e a adotada por Shingo, está
no fato de que as possíveis esperas das máquinas, diferentemente da realidade do Japão
apresentada por esse autor (segundo capítulo desta dissertação), podem ser mais relevantes no
Brasil, em função da baixa remuneração da mão-de-obra. Desta forma, a preocupação gerada
pela espera de pessoas ou de equipamentos deve estar associada aos custos relativos destes
para a empresa. No caso específico das empresas de construção, equipamentos com elevado
avanço tecnológico e, portanto, de custo horário elevado, são utilizados em menor intensidade
do que em outros segmentos produtivos.
Na construção, as perdas por espera ocorrem com certa freqüência, por exemplo, devido
ao dimensionamento incorreto das equipes de trabalho, tais como um servente atendendo três
pedreiros, o que pode acarretar esperas dos últimos e, sendo assim, perdas.
Outro exemplo é a parada na execução de serviços e, consequentemente, dos
trabalhadores envolvidos, que muitas vezes ocorre por falta de material no canteiro de obras.
Em obras onde muitos operários trabalham simultaneamente, apenas um elevador de cargas
pode não ser suficiente para atender toda a demanda de transporte vertical de materiais,
causando perdas por paradas da mão-de-obra. Por outro lado, durante o tempo que o elevador
não está operando, existe a perda por espera do equipamento, o que não é tão relevante, de
acordo com o que foi exposto acima.
6.3.6 Perdas por elaboração de produtos defeituosos
Este tipo de perda ocorre quando são elaborados subprodutos e produtos em
desconformidade com a qualidade requerida. Da mesma forma que Shingo, a definição de
perda por elaboração de produtos defeituosos proposta no presente estudo engloba os
problemas de qualidade que ocorrem na produção, bem como as deficiências nas inspeções a
eles relacionadas.
Na construção civil, tais perdas associam-se normalmente ao controle (inspeção)
deficiente do processo produtivo, à falta de especificações ou de detalhamento na
documentação da obra (projetos, manuais de procedimentos e outros), à utilização de
materiais defeituosos ou de qualidade inferior, à falta de capacitação dos operários e outros.
116
Entre as conseqüências de se produzir com defeito, destacam-se a redução do
desempenho do produto final e os retrabalhos. Na construção de edificações, os retrabalhos
ocasionados pela elaboração de produtos defeituosos e por mudanças nos projetos são
freqüentes, consistindo em uma considerável fonte de perda, uma vez que envolvem, além da
perda física dos materiais utilizados, perdas no transporte (processo e operação – transporte),
perdas por estoques (processo – estocagem) e perdas nos processamentos (trabalho
adicionado), realizados nos primeiros materiais ou subprodutos empregados, além das
inspeções (processo e operação – inspeção) que foram necessárias na primeira vez que o
produto estava sendo executado.
De uma forma geral, a qualidade do produto é controlada simplesmente através de
inspeções. Quanto à eficácia das inspeções, é preciso levar em consideração a diferença entre
a inspeção para descobrir defeitos depois do produto pronto e a inspeção para evitar a
ocorrência de defeitos durante o processamento, bastante evidenciada por Shingo (item
2.3.2.6).
Como exemplo de elaboração de produtos defeituosos na construção de edificações,
pode-se destacar as imperfeições na geometria das estruturas (desaprumos de pilares,
espessura de lajes e vigas diferentes das especificadas em projeto, entre outros) que ocorrem,
de uma forma geral, por falta de informações, de capacitação ou de supervisão dos operários.
Estas imperfeições na estrutura se refletirão na execução das alvenarias, gerando problemas
dimensionais, falta de esquadro entre paredes, necessidade de corte excessivo de blocos e
outros, o que prejudica diretamente as etapas seguintes, além de aumentar o tempo
despendido na execução dos próprios processos. Por fim, os problemas até então acumulados
deverão ser corrigidos com o revestimento. No caso dos revestimentos em argamassa, as
espessuras avantajadas normalmente necessárias geram perdas de material e dificuldades
operacionais na realização dos processos. Além disso, revestimentos em argamassa muito
espessos podem ser alvo de patologias como trincas, fissuras ou descolamentos de panos. No
caso de revestimentos cerâmicos, os problemas dimensionais e de esquadro geram a
necessidade excessiva de corte das peças, o que diminui a produtividade, além de prejudicar a
estética do produto final.
6.3.7 Perdas no processamento em si
Perdas oriundas da realização de atividades de processamento desnecessárias, ou
realização das atividades necessárias de maneira inadequada.
117
Tal definição sugerida está plenamente de acordo com a lógica utilizada por Shingo,
como pode ser verificado nas duas perguntas que este autor recomenda que sejam realizadas
para localizar tais formas de perda: “por que estamos fazendo um tipo de produto em
específico?” e “por que estamos usando um determinado método de processamento?”.
As perdas no processamento em si estão relacionadas com as características básicas de
qualidade do produto e, de uma forma geral, associam-se ao patamar tecnológico ou à técnica
construtiva adotada pela empresa.
Um exemplo de perda no processamento em si que ocorre na construção civil, é a
execução do chapisco chapado (argamassa projetada com colher), ao invés de empregar o
chapisco rolado (argamassa aplicada com rolo de espuma apropriado), que possibilita
menores perdas de material, diminui a necessidade de limpeza, necessita de menores esforços
dos operários, entre outros.
Outro caso que pode ser utilizado como exemplo de perda no processamento em si é o
acabamento fino (polido) em lajes de concreto que serão revestidas posteriormente, sem que
haja motivo especial para tal. Neste caso ocorrerão perdas no processo, pois ocorrem
mudanças na qualidade do material, bem como nas operações, em função das ações realizadas
para efetivar o melhor acabamento e os equipamentos empregados.
6.3.8 Perdas por substituição
Perdas por substituição são aquelas associadas à utilização de materiais de valor ou
características de desempenho superiores às especificadas, ao emprego de operários com
maior capacitação e, normalmente, de maior custo horário para a empresa, na realização de
operações mais simples, ou ao uso de equipamentos de relativo avanço tecnológico e, com
freqüência, de custo mais elevado, em operações nas quais equipamentos mais singelos
poderiam ser empregados.
A diferença entre a definição proposta na presente dissertação e a utilizada por Skoyles
& Skoyles está na introdução do fator humano (substituição de trabalhadores), pois estes
autores focalizam sua atenção somente para as substituições de materiais. A substituição de
equipamentos também não é abordada por estes autores, porém, cabe aqui realizar ressalvas
sobre este tipo de perda, pois na construção, a maioria dos equipamentos empregados são de
custo relativamente baixo.
118
Cabe ressaltar que esta categoria de perda não é contemplada por Shingo,
provavelmente em função do grau de organização que é possível ser implementado e mantido
em indústrias de produção seriada, no que tange aos materiais, operários e equipamentos. Na
construção civil, porém, substituições desta natureza são freqüentes, acarretando custos
excedentes para as empresas que não agregam valor algum ao produto final.
São exemplos de perda por substituição no sentido mais amplo, profissionais (pedreiros,
carpinteiros) transportando materiais (processo e operação – transporte) ou limpando o
canteiro de obras, tarefas que em geral são realizadas por serventes. No caso dos materiais,
pode-se citar o uso de concreto com fck maior do que o especificado, a utilização de chapas de
compensado de espessura maior ou de qualidade superior à necessária (plastificado ao invés
de resinado), o emprego de blocos com características portantes na vedação simples, entre
outros.
6.3.9 Outras perdas
De uma forma geral, nesta categoria incluem-se as perdas de natureza diferente das
consideradas nas categorias anteriores, mas que ocasionam prejuízos para as empresas,
devendo, desta forma, serem evitadas. As outras perdas associam-se a roubos, vandalismos,
acidentes, condições climáticas adversas, entre outras.
Este tipo de perda também não é mencionado por Shingo, contudo, na construção civil,
em função das suas particularidades, tais perdas muitas vezes ocorrem e podem ser uma fonte
de problemas para as empresas.
Cabe esclarecer que estes tipos de perda afetam cada obra de maneira diferente, uma
vez que podem variar devido a alguns fatores, como o local (bairro, cidade ou país) onde a
edificação está sendo construída, a situação econômica do país, os costumes dos trabalhadores
e habitantes da região, a forma como a empresa gerencia o empreendimento e outros. Sendo
assim, um tipo de perda qualquer pode originar uma nova categoria dentro da classificação,
em função da sua relevância ou da freqüência com que ocorrem nas obras de uma
determinada localidade ou país.
A perda do cimento por aventamento, em regiões de umidade elevada, ou chuvas
intensas que danificam elementos estruturais recém concretados, são exemplos de perdas por
fatores climáticos. Acidentes de trabalho, causados pela falta de manutenção de
119
equipamentos, por exemplo, que podem causar afastamentos, mortes e o pagamento de
indenizações, também são perdas.
6.4 ESTUDO DAS PERDAS SEGUNDO O CONCEITO MAIS AMPLO
De posse da classificação geral de perdas, partiu-se para a elaboração de uma
ferramenta a ser utilizada em campo, através da qual os fundamentos abordados na
classificação poderiam ser colocados em prática, na tentativa de detectar os possíveis focos de
perdas nos canteiros de obras.
Definida a ferramenta, foi desenvolvido um conjunto de planilhas para estudar alguns
processos normalmente executados na construção civil e seus respectivos insumos. Por fim,
foram visitados alguns canteiros de obras com o intuito de aplicar as planilhas em situações
reais, na tentativa de validá-las e ajustá-las, de modo que estas pudessem consistir numa
ferramenta eficaz para a identificação e controle das perdas segundo o sentido mais amplo.
6.4.1 Escolha da ferramenta
Para realizar a parte experimental do estudo dispunha-se de algumas ferramentas, que
poderiam, caso empregadas em conjunto, proporcionar uma análise bastante detalhada
(quantitativa e qualitativa) das perdas, considerando o sentido mais amplo.
Porém, devido à escassez de tempo, não seria possível desenvolver e validar várias
ferramentas. Optou-se, desta forma, por uma única ferramenta que apresentava as principais
características necessárias para o tipo de pesquisa em questão, entre as quais destacam-se:
adaptar-se a diferentes processos, ser de fácil e rápida aplicação e, principalmente, fornecer
retroalimentação em curto espaço de tempo, de forma a permitir que as medidas para o
controle das perdas, caso necessárias, possam ser tomadas em tempo real, isto é, ainda durante
a execução do processo na obra. Cabe ressaltar que tais características se adequavam também
ao fato de que, após consolidada, a ferramenta deveria ser incorporada pelas próprias
empresas.
Segundo Souza (1995), as empresas de construção normalmente não têm o costume de
registrar formalmente os procedimentos executivos de cada serviço, tendo assim seu domínio
tecnológico limitado e variável em função da rotatividade da mão-de-obra e empreiteiros.
Partindo desta afirmação, é possível conjeturar que, se as empresas não formalizam sequer os
procedimentos executivos, provavelmente não formalizam também procedimentos de
120
prevenção às perdas. Desta forma, a ferramenta escolhida poderia servir também como
documentação para a empresa a respeito das perdas em seus canteiros de obras.
A ferramenta mencionada, empregada na parte prática do estudo foi a Lista de
Verificação. De acordo com Meseguer (1991), por produzirem o efeito de associação de
idéias, as listas de verificação são, em essência, uma ajuda à criatividade do profissional que
as utiliza. Este autor destaca a existência de dois tipos de listas de verificação:
a) para planejar e executar uma tarefa sem esquecer nenhum aspecto da mesma;
b) para comprovar se uma tarefa foi realizada corretamente, sem esquecer nenhum
requisito.
O primeiro tipo de lista, denominado lista de produção, é mais evocativo do que
prescritivo, e seu formato é simplificado. Os itens são apresentados em forma de frases ou
palavras, requerendo apenas uma marcação simples do tipo “!”. Um exemplo deste tipo de
lista de verificação é apresentado na figura 6.1.
ETAPAS DE EXECUÇÃO DA CONCRETAGEM DE LAJES E VIGAS
1. Preparação final das formas(!) vedar as juntas entre painéis(!) limpar as formas(!) molhar as formas
2. Colocação do concreto nas formas(!) lançar o concreto(!) espalhar o concreto
3. Adensamento do concreto( ) vibrar o concreto
4. Acabamento da superfície( ) desempenar a superfície de concreto
5. Cura do concreto( ) aspergir água no concreto
Figura 6.1 Exemplo de lista de produção
Já o segundo tipo, denominado lista de comprovação, é uma lista bastante detalhada,
onde os itens são apresentados em forma de questionamento com três respostas possíveis:
“sim”, “não” e “não se aplica” (NSA). Neste tipo de lista, os itens apontados (perguntas)
devem vir sempre na forma afirmativa pois, desta maneira, uma resposta positiva (sim)
sempre representa que a tarefa foi realizada corretamente, ou seja, uma vantagem para a
empresa. A figura 6.2 mostra um exemplo deste tipo de lista de verificação.
121
ITENS DE VERIFICAÇÃO SIM NÃO NSA
1. As formas foram molhadas para evitar que a madeira absorva aágua contida no concreto?2. A aspersão de água no concreto é feita durante sete dias após oseu endurecimento?
Figura 6.2 Exemplo de lista de comprovação
Segundo Santos et al. (1996), os itens contidos nas listas de verificação auxiliam na
elaboração de planos de ação, estimulando o auto-questionamento e, consequentemente, a
criatividade das pessoas envolvidas na análise dos dados. Esses mesmos autores mencionam
que, uma vez consolidadas as listas de verificação, pode-se criar um sistema de pontuação
para cada um dos itens, atribuindo-se ponderações aos mesmos, para tornar a ferramenta ainda
mais completa. O cálculo dos percentuais é realizado comparando a quantidade de itens
assinalados com “sim”, com a soma de itens aplicáveis àquele canteiro (sim + não), e o
percentual de itens marcados com “não se aplica” (NSA), em relação ao total de itens
existentes na planilha.
Saurin (1997) menciona que as listas de verificação são ferramentas bastante
abrangentes, que permitem uma ampla análise qualitativa nos canteiros de obras. O mesmo
autor aplicou listas de verificação em vinte e cinco canteiros de obras localizados nas cidades
de Porto Alegre e Santa Maria, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de diagnosticar
aspectos de logística e layout, enfocando as instalações provisórias, questões ligadas à
segurança e sistemas de movimentação e armazenamento de materiais. Saurin atingiu com
sucesso os objetivos propostos em sua pesquisa, concluindo que as listas de verificação
cumprem com eficiência sua função de ferramenta gerencial de diagnóstico simplificado.
6.4.2 Desenvolvimento das planilhas
O primeiro passo na elaboração das listas de verificação para esta dissertação foi a
seleção dos processos e respectivos insumos que seriam pesquisados. Da mesma forma que
Soibelman (1993), analisou-se a curva ABC dos insumos utilizados em projetos de padrão
normal, de quatro, oito e doze pavimentos da NBR-12721 (ABNT, 1992), que é a norma
brasileira de avaliação de custos unitários e preparo de orçamentos de construção para
incorporação de edifícios em condomínio, para identificar os materiais mais representativos
em termos de custo na construção, e os processos nos quais estes materiais são empregados.
122
Desta forma, foram selecionados para serem estudados os seguintes materiais: areia,
cimento, aço, chapas de madeira compensada, blocos e tijolos cerâmicos, cal e argamassa pré-
misturada (intermediária). Foram escolhidos também os seguintes processos: concretagem,
execução de revestimentos em argamassa e contrapisos, confecção e colocação de armaduras,
confecção e montagem de formas e execução de alvenarias. Processos tais como colocação de
esquadrias, por exemplo, apesar de seu peso em termos de custo, foram excluídos do estudo
pela pequena possibilidade de ocorrer a perda dos materiais empregados.
Cabe ressaltar que, além do fator custo, a seleção restringiu-se aos materiais e
processos descritos acima em função do limitado período destinado à coleta dos dados,
considerando o número de obras a serem observadas e, principalmente, a velocidade de
execução das mesmas. Além disso, levou-se em consideração o fato de que quanto mais
materiais e processos fossem acompanhados, mais superficial seria o estudo de cada um deles.
Sendo assim, foram criadas doze listas de verificação para o estudo dos processos e
operações, sendo sete destinadas ao acompanhamento dos insumos desde a sua entrega nos
canteiros de obras até o seu armazenamento, e cinco destinadas à etapa de execução dos
processos propriamente dita, que abrangeu desde a retirada dos materiais do estoque, até a
finalização dos produtos (armaduras, formas, alvenarias e outros). Algumas das planilhas
desenvolvidas encontram-se no anexo da presente dissertação. A tabela 6.1 mostra a
distribuição das listas de verificação para acompanhamento da realização dos processos e
entrega dos materiais nos canteiros.
Tabela 6.1 Listas de verificação desenvolvidas e seus respectivos códigos
RECEBIMENTO DE MATERIAIS CÓDIGO
Areia M1Cimento M2Aço M7Chapas de madeira compensada M8Blocos/tijolos cerâmicos M9Cal M10Argamassa pré-misturada M11
EXECUÇÃO DOS PROCESSOS
Concretagem P5Revestimentos em argamassa e contrapisos P6Armaduras P7Formas P8Alvenaria P9
123
Apesar de não constar na lista de materiais selecionados, por ser fornecido de forma
diferenciada dos demais (com data e hora marcada) e apresentar algumas características
peculiares, tais como tempo restrito de utilização, impossibilidade de estocagem, entre outras,
o concreto usinado também foi estudado, porém, conjuntamente com a execução do processo
de concretagem.
Diferentemente das listas de verificação utilizadas no projeto “Alternativas para a
Redução do Desperdício de Materiais nos Canteiros de Obras”, onde os itens foram reunidos
segundo as grandes etapas de realização de uma obra (projeto, planejamento e organização da
produção e execução), as listas de verificação desenvolvidas para esta dissertação tiveram
seus itens agrupados segundo a classificação proposta, ou seja, de acordo com as diferentes
categorias de perdas abordadas.
Esta forma de estruturação das planilhas foi utilizada principalmente com o objetivo de
testar a aplicabilidade da classificação de perdas proposta. A escolha deste formato justificou-
se também pela tentativa de viabilizar uma análise mais metódica da execução de cada
processo, tornar a tarefa de aplicação das planilhas em campo mais objetiva, além de
evidenciar as perdas, que por vezes passam desapercebidas aos pesquisadores e empresários
do setor. Estes foram, dentre outros, os principais motivos que levaram ao desenvolvimento
de novas planilhas, ao invés de serem empregadas as planilhas das séries 5 e 6 do referido
projeto. Cabe ressaltar, porém, que alguns dos itens componentes das listas de verificação
propostas são coincidentes com os das planilhas das séries 5 e 6.
O mesmo princípio foi utilizado na elaboração das listas de verificação para o estudo
qualitativo das perdas no recebimento dos materiais, atentando, contudo, às simplificações e
adaptações que se faziam necessárias em função de determinadas perdas só poderem ser
associadas aos processamentos. Por exemplo, as perdas por processamento em si não constam
nas listas de verificação de recebimento dos materiais pois, desde a chegada ao canteiro até
sua estocagem, estes não sofrem nenhum processamento. As perdas por elaboração de
produtos defeituosos, por sua vez, também não ocorrem na entrega do material, sendo
enfocadas desta forma, nos possíveis defeitos dos materiais propriamente ditos (por exemplo,
areia com excesso de impurezas).
As listas de verificação desenvolvidas para esta dissertação são do tipo lista de
comprovação, com características informativas. As perguntas são bastante detalhadas e foram
criadas de forma que uma resposta negativa (“não”), corresponda a uma provável perda nos
processos ou operações envolvidas, ou seja, uma desvantagem para a empresa.
124
Na elaboração das planilhas foram consideradas algumas combinações de tecnologias,
técnicas construtivas, materiais e equipamentos usualmente empregadas na construção
tradicional, objetivando tornar seu campo de ação mais amplo. Por exemplo, ao analisar o
transporte vertical do concreto, selecionou-se entre o variado leque de equipamentos
disponíveis, as combinações mais usuais, tais como: elevador de cargas e girica ou carrinho
de mão, grua e caçamba, bomba estacionária e bomba-lança. No que tange à tecnologia,
questiona-se, por exemplo, sobre a utilização de formas mais racionais ou com maior grau de
tecnologia agregado, que permitem o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade do
produto final, tais como: formas metálicas, alvéolos, túnel, deslizantes, entre outras. As
técnicas construtivas referem-se, por exemplo, à opção de executar primeiramente a alvenaria
e, posteriormente, inserir as instalações elétricas e hidrosanitárias ou, ao invés disto, executar
a alvenaria e as instalações simultaneamente.
As informações foram retiradas de livros especializados, textos técnicos, normas e
publicações sobre construção, além da experiência prática do próprio autor desta dissertação,
adquirida em cursos técnicos e outros estudos realizados em canteiros de obras, e na aplicação
em campo e avaliação das listas de verificação (planilhas das séries 5 e 6) do projeto
“Alternativas para a Redução dos Desperdícios de Materiais nos Canteiros de Obras”.
6.4.3 Aplicação e validação das planilhas
As listas de verificação foram aplicadas em oito obras residenciais, escolhidas dentre as
dez obras do projeto “Alternativas para a Redução do Desperdício de Materiais nos Canteiros
de Obras” (item 4.3.2). As planilhas a serem aplicadas em cada obra foram determinadas em
função dos processos que estavam sendo executados na época da visita. A tabela 6.2, a seguir,
mostra em quantas obras cada lista de verificação foi aplicada.
125
Tabela 6.2 Número de obras em que foram aplicadas as listas de verificação
RECEBIMENTO DE MATERIAIS OBRAS
Areia 5Cimento 6Aço 2Chapas de madeira compensada 2Blocos/tijolos cerâmicos 3Cal 2Argamassa pré-misturada 3
EXECUÇÃO DOS PROCESSOS
Concretagem 4Revestimentos em argamassa e contrapisos 5Armaduras 2Formas 3Alvenaria 3
O número de visitas a cada canteiro restringiu-se a apenas uma, já que o objetivo
principal da aplicação das planilhas, num primeiro momento, era ajudar na compreensão dos
conceitos mais amplos de perdas, adaptados à construção civil, e testar o caráter pró-ativo
destas, isto é, se o retorno das informações se daria realmente em curto espaço de tempo.
Cabe ressaltar que não estava previsto qualquer tipo de intervenção nos processos e operações
então em uso nos canteiros investigados.
Esta etapa destinou-se também ao teste da ferramenta, no qual foi verificada a coerência
da estrutura empregada na sua concepção (classificação de perdas proposta) e dos itens
componentes (perguntas). Como é possível constatar na tabela 6.3, neste estudo piloto, cada
planilha foi utilizada no mínimo duas vezes, em visitas a canteiros distintos, fato suficiente
para constatar grande parte das falhas existentes e, então, realizar as modificações e ajustes
necessários visando aprimorar a ferramenta antes de aplicá-la novamente em campo.
O preenchimento das listas de verificação foi dividido em duas etapas: a de observação
e a de perguntas. Na etapa de observação, percorreu-se o canteiro tendo em mãos as planilhas,
tentando responder cada item sem auxílio de nenhuma pessoa envolvida com a obra. Isto fez-
se necessário porque evitaria que se tomasse muito tempo do mestre ou dos encarregados,
além de garantir a veracidade das respostas, já que alguns desses profissionais tendem a
minimizar ou encobrir os fatos negativos existentes em seus próprios canteiros. Na etapa de
perguntas buscou-se as respostas para os itens pendentes junto aos mestres ou encarregados de
cada serviço. Em ambas as etapas foram anotadas quaisquer observações julgadas relevantes,
que poderiam ser úteis na compreensão dos fatos.
126
Além do preenchimento das listas de verificação, foram tiradas fotografias para registrar
os fatos geradores de perdas. Este expediente é apropriado para a documentação visual,
podendo ajudar na identificação das causas das perdas e, posteriormente, na busca de
melhorias que permitam a sua prevenção.
Como descrito no capítulo 4, o método de coleta a análise dos dados desenvolvido para
o projeto “Alternativas para a Redução do Desperdício de Materiais nos Canteiros de Obras”
contou com sete séries de planilhas, entre as quais haviam duas séries (5 e 6) de listas de
verificação para o levantamento de dados qualitativos, que seriam coletados para tentar
justificar os índices de perda de materiais obtidos. Considerando este fato, as informações
obtidas através das listas de verificação propostas nesta dissertação puderam ser utilizadas
como uma fonte paralela de justificativas para os índices de perdas obtidos no projeto
mencionado, uma vez que os canteiros de obras investigados eram coincidentes.
6.4.4 Resultados do estudo piloto
Por se tratar de uma ferramenta de coleta de dados qualitativos, é relativamente
complexo apresentar, de uma maneira clara e concisa, os resultados obtidos com o
preenchimento das listas de verificação. Na tentativa de demonstrar a amplitude das perdas
verificada nos canteiros de obras, atribuiu-se o peso um para todos os itens das planilhas, e
calculou-se o percentual de itens assinalados com “sim” em relação ao total de itens
aplicáveis a cada canteiro (“sim” + “não”), e o percentual de itens aplicáveis em ralação ao
total de itens da planilha. Estas proporções, de uma forma geral, servem para indicar o grau de
mobilização da empresa em busca do controle das diferentes categorias de perdas que podem
ocorrer nos seus processos produtivos, uma vez que, nas planilhas, cada resposta positiva
sempre está associada a uma boa prática empregada na obra. Na tabela 6.3 são apresentados
os resultados correspondentes à execução das alvenarias, obtidos em três canteiros de obras.
127
Tabela 6.3 Percentual de boas práticas verificado na execução das alvenarias
OBRATIPO DE PERDA
1 2 3MÍN(%)5
MÁX(%)6
MÉD(%)7
TI1
(nº)IA2
(nº)IA3
(%)IS4
(%)TI
(nº)IA(nº)
IA(%)
IS(%)
TI(nº)
IA(nº)
IA(%)
IS(%)
Superprodução 4 4 100 50 4 4 100 75 4 4 100 50 50 75 58Estoque 1 1 100 100 1 1 100 100 1 1 100 0 0 100 66Transporte 13 8 61 62 13 8 61 62 12 12 100 33 33 62 52Movimento 18 17 94 59 19 17 90 82 18 17 94 59 59 82 66Espera 8 7 87 71 8 7 87 85 8 8 100 87 71 87 81Produto defeituoso 17 10 59 50 17 12 70 83 17 14 82 78 50 83 70Processamento em si 5 5 100 40 5 5 100 60 5 5 100 40 40 60 46Substituição 3 3 100 100 3 3 100 100 3 3 100 66 66 100 88
TOTAL 69 55 80 60 70 57 81 79 68 64 94 59 59 79 66
1 Número total de itens por categoria de perda2 Número de itens aplicáveis (“sim” + “não”) por categoria de perda3 Percentual de itens aplicáveis em relação ao número total de itens, por categoria de perda4 Percentual de itens marcados com “sim” em relação ao número de itens aplicáveis, por categoria de perda5 Valor mínimo de IS6 Valor máximo de IS7 Média aritmética de IS
Com base em uma análise geral dos dados da tabela acima, é possível chegar a algumas
conclusões sobre a adoção de procedimentos para o controle das perdas na execução das
alvenarias dos canteiros pesquisados:
a) considerando-se todas as categorias de perdas, o percentual de itens positivos obtido
foi, em média, 66%, demonstrando que 34% da totalidade de boas práticas abordadas nas
planilhas, que poderiam ser úteis para evitar as perdas, não foram empregadas pelas empresas;
b) ao realizar a análise de um determinado percentual é fundamental observar quantos
itens aplicáveis foram considerados no seu cálculo, pois estes proporcionam uma melhor
noção da representatividade do índice, ou seja, o quanto a empresa está mobilizada para a
efetiva eliminação das perdas nos seus processos. Por exemplo, com relação ao controle das
perdas por transporte, tanto a obra 1 quanto a obra 3 apresentaram 4 itens com resposta
positiva, o que pode aparentar que em ambas houve a mesma preocupação com este tipo de
perda. Porém, se for considerado que a primeira possuía apenas 8 itens aplicáveis, totalizando
62%, enquanto na segunda, o número de itens era 12, baixando o percentual para 33%, é
possível que tenham ocorrido mais perdas por transporte na obra 3;
c) quando o número de itens aplicáveis é unitário (perdas por estoque, por exemplo), o
fato de uma obra apresentar 100% e outra apresentar 0% não significa necessariamente que a
128
primeira empresa é muito eficaz no combate às perdas e que a segunda apresenta alto nível de
perda, uma vez que o percentual é bastante sensível às variações no número de itens
aplicáveis. Neste caso, uma análise da perda em termos financeiros poderia auxiliar na
determinação da sua relevância;
d) a média dos percentuais é fortemente afetada pelos valores extremos, em função da
pequena quantidade de obras que foram investigadas, como é o caso dos estoques, por
exemplo.
Com relação aos demais processos e ao acompanhamento do recebimento de materiais,
cabe mencionar que os percentuais de itens marcados com “sim” em relação a totalidade de
itens aplicáveis para cada canteiros também foram calculados e analisados, porém, estes não
foram incluídos na presente dissertação.
6.4.5 Conclusões preliminares sobre a ferramenta
Com a aplicação das planilhas nas obras, verificou-se que estas possuem um caráter
pró-ativo, uma vez que seus itens permitiram visualizar imediatamente cada tipo de perda que
estava ocorrendo na execução dos processos, viabilizando assim que qualquer intervenção
objetivando o seu controle pudesse ser realizada em curto espaço de tempo.
Além disso, ao realizar uma reflexão sobre os itens assinalados com “não” nas
planilhas, comprovou-se a sua função de indução ao auto-questionamento. Dentre às várias
características das listas de verificação mencionadas, foi possível verificar que estas realmente
têm um papel sugestivo, podendo trazer à luz ações e procedimentos que incorporados à
rotina dos canteiros de obras podem proporcionar melhorias na sua organização e redução do
nível de perdas. Por exemplo, uma resposta negativa no questionamento sobre a lavagem das
formas com jato de alta pressão após a concretagem, induz à reflexão sobre as vantagens e
desvantagens da adoção deste procedimento.
A criação de um sistema de pontuação para cada um dos itens, mencionado no item
6.4.1, que tornaria as listas de verificação desenvolvidas na presente dissertação ainda mais
completas, não chegou a ser realizada, pois estabelecer pesos diferenciados aos itens é uma
tarefa bastante complicada, principalmente se for levado em consideração a intenção de
emprego da ferramenta de forma extensiva, por diferentes usuários.
As listas de verificação, uma vez preenchidas, realmente consistem num registro
formal e detalhado sobre as perdas que estão ocorrendo no canteiro de obras em um
129
determinado momento. Sendo assim, estas podem também ser utilizadas pela empresa como
documentação sobre as perdas, servindo para comparar a situação de canteiros distintos.
No que tange à classificação proposta, é importante mencionar que a elaboração,
aplicação e análise dos resultados das planilhas permitiu uma melhor compreensão dos
conceitos e princípios envolvidos, pois houve a necessidade de uma constante reflexão sobre
o assunto, a qual serviu para delinear com mais precisão cada categoria de perda, além de
solidificar o conjunto de conceitos que precisaram ser adaptados para a construção civil.
Por fim, algumas lições puderam ser aprendidas, principalmente no que diz respeito aos
incessantes esforços de Shigeo Shingo de demonstrar aos pesquisadores e empresários dos
mais variados segmentos produtivos, que todas as atividades de produção, independentemente
de diferenças na forma, número ou combinação, devem ser analisadas de acordo com a lógica
do MFP, ou seja, separando os fluxos de produtos (processos) dos fluxos de trabalho
(operações). Este ensinamento de Shingo, que evidencia a importância de priorizar os
fenômenos de processo, deixando em segundo plano as operações, juntamente com a
recomendação de que nenhuma melhoria fundamental em produção pode ocorrer apenas pela
adaptação superficial dos princípios do STP, foram de extrema utilidade na realização desta
parte da pesquisa.
6.4.6 Diretrizes para o aprimoramento da ferramenta
Como exposto anteriormente, as listas de verificação foram aplicadas apenas em caráter
experimental, em uma amostra pequena de canteiros de obras. Desta forma, é recomendável
que as planilhas sejam aplicadas mais extensivamente, o que irá proporcionar valiosas
informações para o seu refinamento.
Além disso, a quantidade de materiais e processos pesquisados poderá ser aumentada, a
medida que a classificação proposta e as planilhas desenvolvidas estiverem bastante
solidificadas. Neste caso, algumas recomendações podem ser registradas, com o objetivo de
tornar esta tarefa mais racionalizada. Primeiramente, é importante estudar detalhadamente a
atividade produtiva em questão, tendo em mente os conceitos da NFP e do MFP e a
classificação de perdas proposta na presente dissertação, a fim de conhecer como se realiza a
interação entre os processos e as operações, e como se configuram e interrelacionam as
diferentes formas de perdas.
130
Diferentemente da forma abrangente segundo a qual as planilhas foram desenvolvidas
neste estudo, com muitos aspectos de cada processo sendo abordados (equipamentos,
tecnologias e técnicas construtivas), recomenda-se que o estudo seja mais focalizado nos
detalhes relevantes dos processos e operações, o que tornará o desenvolvimento, aplicação e
análise das planilhas ainda mais objetivo.
Devido às restrições de tempo, empregou-se somente uma ferramenta (listas de
verificação) para a obtenção de informações sobre as perdas. É preciso considerar, contudo,
que apesar de apresentar muitas características vantajosas, tal ferramenta opera somente com
dados qualitativos, tendo portanto um alcance limitado no sentido de avaliar a relevância de
cada tipo de perda. Desta forma, é bastante recomendável que outras ferramentas tais como
cartão de produção, amostragem de trabalho, bem como indicadores de desempenho, que
fornecem dados quantitativos, sejam utilizadas em associação às listas de verificação para
tornar o diagnóstico mais completo.
Por se tratar de um número relativamente grande de planilhas, doze ao todo, entre
recebimento de materiais e execução dos processos, cada uma composta por uma quantidade
elevada de itens (perguntas), não foi possível, no âmbito desta dissertação de mestrado,
propor soluções corretivas para cada uma das perdas apontadas. Apesar das perguntas terem
sido concebidas de forma a facilitar a rápida identificação e induzir à reflexão sobre o controle
das perdas, como sugestão para melhoria da ferramenta, propõe-se que sejam explicitadas
alternativas e idéias de prevenção, que possam ser úteis aos usuários. Por exemplo, na
pergunta “A forma como são fixados os painéis dispensa a colocação de pregos?”, relativa ao
processamento em si das formas, no caso de uma resposta negativa, a solução para o problema
pode não ficar evidente para o usuário. Desta forma, é recomendável que sejam elencadas ao
menos algumas alternativas viáveis.
131
7 CONCLUSÕES E SUGESTÕES
7.1 CONCLUSÕES
Como foi definido inicialmente, o objetivo principal da presente dissertação era adaptar
para a construção civil o conceito de perdas, levando em consideração o enfoque mais amplo,
visando à obtenção de melhores níveis de qualidade e produtividade para este importante
segmento produtivo.
O método de pesquisa empregado na sua elaboração foi dividido em quatro etapas
principais, quais sejam: revisão bibliográfica, participação no projeto “Alternativas para a
Redução do Desperdício de Materiais nos Canteiros de Obras”, proposição de uma
classificação de perdas e desenvolvimento de uma ferramenta para aplicar os conceitos
abordados.
Na revisão bibliográfica foram estudados os princípios e conceitos abordados na visão
mais moderna da função de produção, proposta por Shingo, a qual divide as atividades de
produção em dois eixos distintos, o dos materiais (objeto do trabalho) e o da mão-de-obra e
equipamentos (sujeitos do trabalho), e determina que as melhorias, para serem efetivas,
devem centrar-se nos objetos do trabalho, ou seja, nos processos. Estes conceitos, juntamente
com os disseminados por Koskela, na Nova Filosofia de Produção adaptada para a construção
civil, foram fundamentais para embasar toda a parte teórica da presente pesquisa. Nesta etapa
buscou-se descobrir também, de que maneira outros segmentos produtivos mais organizados,
como a indústria automobilística japonesa, têm tratado a questão das perdas nas suas
atividades produtivas.
Ainda com respeito à bibliografia, foram examinados alguns estudos sobre perdas na
construção civil realizados anteriormente, analisando-os de forma crítica, com base nos
conceitos até então revisados e na visão mais ampla das perdas difundida na indústria de
produção seriada. Foi possível concluir que nesses estudos, de uma forma geral, pouca ou
nenhuma atenção foi dada às perdas em seu conceito mais amplo.
Outra característica comum verificada nas pesquisas realizadas sobre o assunto, foi a
coleta de muitos dados em campo, durante um longo período de tempo, exigindo a
colaboração de muitas pessoas e o dispêndio de grandes somas monetárias para finalmente
chegar aos índices percentuais de perdas. Para avaliar estes índices, é preciso necessariamente
132
compará-los a outros índices que servem de referência (benchmarks), índices estes obtidos em
situações ideais ou em outras empresas, que nem sempre possuem métodos produtivos
semelhantes, sendo por vezes discrepantes da realidade da empresa investigada.
No que tange à participação do autor da presente dissertação no projeto “Alternativas
para a Redução dos Desperdícios de Materiais nos Canteiros de Obras” em Porto Alegre, que
envolveu uma dezena de canteiros de obras, contemplando além de aspectos quantitativos, os
aspectos qualitativos das perdas, foi possível verificar, como mencionado anteriormente, que
os níveis de perda encontrados, bem como as suas causas, não variaram substancialmente em
relação aos outros estudos realizados sobre perdas na construção, tanto no país como no
exterior.
Com base nesta constatação, pôde-se concluir que a natureza das perdas de materiais na
construção, pelo menos para aqueles mais representativos em termos de custos, em linhas
gerais, já é conhecida, restando então propor alternativas efetivas para preveni-las.
Provavelmente esta mesma conclusão, que está de acordo com a visão de perdas utilizada até
o momento na construção, ou seja, as atividades consistem somente em conversões, foi obtida
pela maioria dos pesquisadores que participaram do referido projeto no país, a qual não está
totalmente incorreta. Contudo, segundo a bibliografia consultada, avanços significativos no
sentido de eliminar as perdas não estão relacionados a incansáveis esforços de quantificação
destas, mas sim, a uma mudança na forma de visualizá-las. Tal mudança, consiste na
separação entre as atividades que agregam valor (processamentos), que precisam ser
aprimoradas, as que não agregam valor (transportes, inspeções e armazenamentos) e, portanto,
devem ser minimizadas e as perdas.
A partir desta distinção, foi tomada a iniciativa de estudar as perdas na construção
considerando o sentido mais amplo. Para tanto, constatou-se que havia a necessidade de
formalizar, primeiramente, uma classificação de perdas, adequada às várias peculiaridades do
setor. Com base nos conceitos e princípios utilizados nas modernas filosofias gerenciais (MFP
e NFP), na visão mais ampla sobre as perdas empregada na indústria japonesa, nos estudos
anteriores sobre perdas em edificações realizados por outros pesquisadores e nas informações
obtidas na coleta de dados e visitas às obras do projeto “Alternativas para a Redução do
Desperdício de Materiais nos Canteiros de Obras”, foi proposta uma classificação de perdas
para a construção civil.
Para que a classificação sugerida pudesse ser testada e validada, foi escolhida uma
ferramenta, através da qual os conceitos abordados foram estudados em campo. A ferramenta
133
selecionada, que deveria adaptar-se a algumas características da pesquisa, principalmente, à
necessidade de incorporação por parte das próprias empresas (aplicação e análise dos
resultados) e à exigência de que esta possibilitasse um retorno das informações em curto
espaço de tempo (caráter pró-ativo), foi a lista de verificação. Desta forma, foi desenvolvido
um conjunto de doze planilhas, destinadas a estudar qualitativamente os processos e
operações, desde a entrada dos materiais nos canteiros, até a finalização dos produtos.
Estas planilhas foram aplicadas em uma amostra de oito canteiros, escolhida entre os
que foram investigados no projeto “Alternativas para a Redução dos Desperdícios de
Materiais nos Canteiros de Obras”. Cabe ressaltar, porém, que nem todas as planilhas foram
aplicadas em todos os canteiros. Mesmo assim, foi possível testar a coerência da classificação
proposta e refinar as planilhas, de forma que a sua estrutura, bem como os itens nelas
incluídos, permitissem a identificação e, sobretudo, levassem ao controle efetivo das perdas
nos canteiros de obras, considerando o enfoque amplo.
De uma forma geral, mais do que propor uma simples ferramenta para a observação das
perdas, buscou-se disseminar o conhecimento sobre as perdas nos processos produtivos,
considerando a visão mais ampla, oriunda de modernos e avançados conceitos sobre o tema.
Objetivou-se desta forma desenvolver a capacidade de percepção das pessoas com poder de
decisão na construção civil (empresários, engenheiros, arquitetos e outros), para que estas
consigam visualizar como as perdas se originam na realidade e, ao refletirem sobre este
problema, possam descobrir modos efetivos de combatê-las.
Ohno (1988) compartilha de tal idéia quando, ao referir-se às atividades produtivas de
uma fábrica, afirma que os dados são considerados de grande relevância, mas os fatos são
ainda mais importantes, ou seja, quando surge um problema, devemos fazer uma busca
completa da causa para que as ações efetivadas não fiquem desfocadas.
Finalmente, com base nas conclusões obtidas durante o decorrer do estudo, é possível
afirmar que, de uma forma geral, os objetivos que foram estabelecidos no início da presente
dissertação foram atingidos satisfatoriamente.
134
7.2 SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS
A partir das constatações desta pesquisa, foram selecionadas algumas sugestões para
que futuros estudos continuem disseminando os conceitos e idéias abordados na presente
dissertação, objetivando reduzir as perdas e melhorar cada vez mais a qualidade e
produtividade nos canteiros de obras do país:
a) desenvolvimento de métodos de controle de perdas que possam ser inseridos nos
sistemas de informação das empresas, de forma que a visão mais ampla das perdas torne-se
parte da cultura destas;
b) validar a classificação proposta em um número maior de obras;
c) desenvolvimento de novas ferramentas que permitam associar dados quantitativos
sobre as perdas a dados qualitativos, que levem em consideração o sentido amplo discutido
nesta dissertação;
d) medição da importância relativa de cada categoria de perdas em termos de custo;
e) realização do refinamento do conjunto de listas de verificação propostas e
desenvolvimento de novas listas que contemplem outros processos, testando em um maior
número de canteiros o seu caráter de ferramenta de auditoria;
f) sugestão de alternativas que possam auxiliar no efetivo combate às perdas, associadas
aos itens componentes das listas de verificação propostas.
135
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38 TAYLOR, F. W. Princípios gerais da administração científica. São Paulo: Atlas, 1982.
139
ANEXO
São apresentadas a seguir algumas das listas de verificação desenvolvidas neste
trabalho, correspondentes ao recebimento do cimento nos canteiros de obras (código M2), às
concretagens (código P5) e à execução das alvenarias (código P9), que podem servir de
modelo para a elaboração de planilhas que contemplem outros materiais e processos.
140
PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL (SENTIDO MAIS AMPLO)
PLANILHA – M.2 DADOS RELATIVOS AO RECEBIMENTO DOS MATERIAIS – CIMENTOOBRA: DATA: OBSERVADOR:
Versão: 07/07/1999
1. ESTOQUEITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.
1. O estoque de cimento é renovado conforme este vai sendo consumido,possibilitando a armazenagem em pequena quantidade2. É praticada a armazenagem do tipo PEPS (o primeiro saco que entra é o primeiroque sai)3. A armazenagem do cimento é feita em um único local do canteiro4. Os sacos ficam protegidos da umidade no local de armazenagem5. Existe estrado sob os sacos de cimento6. As pilhas têm no máximo 10 sacos7. As pilhas adjacentes à paredes estão há uma distância mínima de 30 cm parapermitir a circulação do ar8. O prazo de validade do cimento impresso nos sacos é respeitadoObs.:
2. TRANSPORTE2.1. RACIONALIZAÇÃO DO TRANSPORTE
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. O local destinado à armazenagem do cimento permite o acesso de caminhões,possibilitando que a descarga seja feita com o mínimo de transporte2. O trajeto entre o ponto de descarga e o local destinado à armazenagem do cimentonão possui obstruções, de forma que o deslocamento do material seja o menorpossível (distância de transporte aproximada: _____m)Obs.:
3. MOVIMENTO3.1. CONDIÇÕES DE TRABALHO ADEQUADAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. O trajeto entre o local de descarga e o local de armazenagem tem pavimentoregularizado e não possui desnível superior a 10%2. A empresa fornece EPI’s para os funcionários3. Os funcionários usam os EPI’s no manuseio com os sacos de cimentoObs.:3.2. UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS ADEQUADOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. São utilizados equipamentos ou dispositivos para auxiliar a descarga dos sacos decimento (rampas de madeira, por exemplo)2. São utilizados equipamentos para auxiliar no transporte entre o local de descarga eo local de armazenagemObs.:
4. ESPERA DA MÃO-DE-OBRA4.1. FORNECIMENTO DE MATERIAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Existe estoque de cimento no canteiro (número de sacos_____)2. Para evitar que falte cimento no canteiro, a solicitação de nova remessa é feita comantecedência3. O fornecedor entrega o cimento no canteiro sempre na data combinadaObs.:
141
5. PRODUTOS DEFEITUOSOS5.1. QUALIDADE DOS MATERIAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. É realizada a conferência visual dos sacos de cimento que entram no canteiro paraverificar se estes não estão rasgados, molhados ou manchados por impregnação deprodutos estranhos ou desconhecidos2. Os sacos de cimento que estão no canteiro estão isentos de rasgos ou manchaspor impregnação de produtos estranhos ou desconhecidos3. Os sacos de cimento rejeitados são devolvidos ao fornecedor para reposição ouacerto financeiroObs.:
6. OUTRASITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.
1. Durante a execução da edificação, o canteiro esteve livre do roubo de cimentoObs.:
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PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL (SENTIDO MAIS AMPLO)
PLANILHA – P.5 DADOS RELATIVOS AOS PROCESSOS – CONCRETAGEMOBRA: DATA: OBSERVADOR:
Versão: 07/07/1999
1. SUPERPRODUÇÃO1.1. QUANTIDADES NECESSÁRIAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. O concreto é produzido na quantidade certa, ou seja, baseada em uma estimativaracional do volume necessário nos elementos estruturais que serão concretadosObs.:2. TRANSPORTE2.1. RACIONALIZAÇÃO DO TRANSPORTE
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. O equipamento de transporte vertical (elevador de cargas, bomba estacionária, etc.)está posicionado próximo ao baricentro da edificação2. O caminhão betoneira tem acesso direto à base da bomba estacionária3. O posto de produção de concreto está localizado próximo ao elevador de cargas ouà base da bomba estacionária (distância: ____m)Obs.:2.2. APROVEITAMENTO DOS EQUIPAMENTOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. A movimentação do elevador de cargas é realizada com a quantidade máxima deequipamentos de transporte auxiliares (giricas, carrinhos de mão, etc.) suportadas poreste2. Existe um dimensionamento do volume da caçamba em função da capacidade dagruaObs.:3. MOVIMENTO3.1. CONDIÇÕES DE TRABALHO ADEQUADAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. A bomba-lança tem alcance suficiente para projetar o concreto diretamente emtodos os elementos estruturais dispensando transportes com outros equipamentos1. Existem passarelas para facilitar o deslocamento de equipamentos de transporteauxiliares (giricas, carrinhos de mão, etc.) e trabalhadores sobre as formas2. Os trajetos a serem percorridos com os equipamentos de transporte auxiliares(giricas, carrinhos de mão, etc.) durante a concretagem são regularizados e estãolivres de rampas com inclinação superior a 10%3. A quantidade de operários manuseando a mangueira da bomba-lança é compatívelcom o seu peso e com a vazão do concreto4. A empresa fornece EPI’s para os funcionários5. Os funcionários usam os EPI’s durante a concretagem6. A plataforma principal de proteção está no primeiro pavimento que esteja no mínimoum pé-direito acima do terreno (NR 18)7. Existem plataformas secundárias de proteção a cada 3 pavimentos, a partir daplataforma principal (NR 18)8. As plataformas contornam toda a periferia da edificação (NR 18)9. Existem proteções periféricas (guarda-corpo) instaladas no perímetro da área a serconcretada (NR 18)10. Para deslocar-se do posto de trabalho até os sanitários os operários percorremmenos de 150 m (NR 18)11. Existem banheiros volantes nos pavimentos (somente para prédios com mais de 5pavimentos)Obs.:
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3.2. UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS ADEQUADOSITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.
1. Na concretagem de escadas são utilizadas calhas ou outros dispositivos quefacilitem o transporte do concreto2. Na concretagem de pilares realizada em duas etapas (quando apenas as formasdos pilares estão montadas), são utilizadas plataformas para auxiliar a colocação doconcreto dentro da forma3. As plataformas são adequadas à altura dos pilares, dispensando esforçosdesnecessários do operários na execução da concretagem4. Após a concretagem, os equipamentos são lavados para evitar a aderência doconcreto e o conseqüente aumento de peso ou diminuição da vida útilObs.:
4. ESPERA DA MÃO-DE-OBRA4.1. TÉRMINO DE OUTROS PROCESSOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. No momento marcado para início da concretagem, a execução de todos os demaisprocessos (instalações elétricas, armaduras, formas, arremates, etc.) já foi concluída einspecionadaObs.:4.2. COMPATIBILIDADE DOS EQUIPAMENTOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Existe no canteiro quantidade suficiente de todos os equipamentos auxiliares(giricas, carrinhos de mão, vibradores de imersão, etc.) necessários durante aconcretagem2. Todos os equipamentos necessários para a concretagem estão em perfeitascondições de funcionamento3. A capacidade de operação dos equipamentos de transporte vertical (bomba,elevador de cargas, grua, etc.) disponíveis no canteiro é suficiente para atender ademanda da equipe durante a concretagemObs.:4.3. FORNECIMENTO DE MATERIAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. A bomba-lança já está posicionada e pronta para entrar em funcionamento nohorário marcado para início da concretagem2. O caminhão betoneira está devidamente posicionado no horário marcado para inícioda concretagem3. Os demais caminhões betoneira chegam à obra com pequena antecedência,respeitando o espaço de tempo previsto entre caminhões4. A troca de caminhões betoneira é feita rapidamente para evitar paradasdesnecessárias da equipe de concretagem (tempo médio aproximado: _____min)Obs.:
5. ELABORAÇÃO DE PRODUTOS DEFEITUOSOS5.1. CONTROLE DAS OPERAÇÕES
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. A cura do concreto é iniciada tão logo seja possível caminhar sobre a superfície(secagem ao tato)2. São utilizados nas armaduras os espaçadores necessários para garantir o seucobrimento3. As guias de nivelamento utilizadas permitem que as lajes fiquem com a espessuradefinida em projeto4. Existe Manual de Procedimentos para concretagem nesta obra5. Os operários conhecem e utilizam as informações presentes no Manual deProcedimentos para concretagemObs.:
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6. PROCESSAMENTO EM SI6.1. OPERAÇÕES NECESSÁRIAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. O padrão de acabamento dado nas lajes é função do tipo de contrapiso ourevestimento que será executado posteriormente2. A irrigação ou aspersão de água sobre o concreto é feita durante os 7 primeirosdias3. O tempo de vibração do concreto varia entre 10 e 30 segundos, terminando quandoa superfície fica “brilhante”Obs.:7. SUBSTITUIÇÃO7.1. MATERIAIS NECESSÁRIOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. O fck do concreto está de acordo com o determinado no projeto estruturalObs.:7.2. MÃO DE OBRA COMPATÍVEL COM A TAREFA
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Os profissionais (carpinteiros, armadores, etc.) restringem-se a realizar suasatividades (desempeno, adensamento, etc.), deixando para os serventes as atividadesmais simples (transporte, descarregamento, espalhamento, manuseio da mangueirada bomba-lança, etc.)Obs.:
8. OUTRASITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.
1. Em caso de chuva intensa, a concretagem é criteriosamente interrompida e ostrechos já concretados são protegidos por lona plásticaObs.:
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PERDAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL (SENTIDO MAIS AMPLO)
PLANILHA – P.9 DADOS RELATIVOS AOS PROCESSOS – ALVENARIAOBRA: DATA: OBSERVADOR:
Versão: 07/07/1999
1. SUPERPRODUÇÃO1.1. QUANTIDADES NECESSÁRIAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. A argamassa de assentamento é produzida na quantidade certa, ou seja, baseadaem uma estimativa racional do consumo no canteiro para um determinado período ounas quantidades encomendadas pelos pedreiros2. Os materiais complementares (blocos especiais, vergas e contravergas pré-moldadas, tacos para fixação de esquadrias, molduras para colocação de a.c., etc.)são produzidos a partir de uma previsão do consumo no canteiroObs.:1.2. MOMENTO CORRETO
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. A argamassa de assentamento é produzida no momento certo, ou seja, conformevai sendo solicitada pelos pedreiros2. Os materiais complementares (blocos especiais, vergas e contravergas pré-moldadas, tacos para posterior fixação de esquadrias, molduras para colocação dea.c., etc.) são produzidos conforme vão sendo necessáriosObs.:2. ESTOQUE
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. A argamassa de assentamento é depositada diretamente nas masseiras dospedreiros, sem passar por estoques centralizados nos andaresObs.:3. TRANSPORTE3.1. RACIONALIZAÇÃO DO TRANSPORTE
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. O equipamento de transporte vertical (guincho, bomba estacionária, etc.) estáposicionado próximo ao baricentro da edificação2. A betoneira está posicionada próximo ao guincho ou a base da bomba estacionária(distância aproximada: _____m)3. Os materiais utilizados na produção de argamassa são estocados próximos àbetoneira (distância média aproximada: _____m)4 Os blocos são estocados próximos ao elevador de cargas (distância médiaaproximada: _____m)5. A quantidade de argamassa servida aos pedreiros é a suficiente para executar atarefa na frente em que este está trabalhando, evitando assim reincidência detransportes6. A quantidade de blocos servida aos pedreiros é a suficiente para executar a tarefana frente em que este está trabalhando, evitando assim reincidência de transportes7. As paredes internas são executadas do ponto mais distante em direção ao pontomais próximo do equipamento de transporte vertical, para evitar o excesso detransporte8. Existem plataformas em todos os pavimentos para receber o material transportadopela gruaObs.:
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3.2. APROVEITAMENTO DOS EQUIPAMENTOSITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.
1. A movimentação do elevador de cargas é realizada com a quantidade máxima deequipamentos de transporte (giricas, carrinhos de mão, carrinhos porta pallets, etc.) oumateriais suportadas por este2. A grua é utilizada para o transporte de argamassa3. A grua é utilizada para o transporte de blocos4. O volume da caçamba para transporte de argamassa é dimensionado em função dacapacidade de carga da grua5. A quantidade de blocos colocados nos paletes é dimensionada em função dacapacidade de carga da gruaObs.:4. MOVIMENTO4.1. CONDIÇÕES DE TRABALHO ADEQUADAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Os locais destinados à passagem de equipamentos de transporte (giricas, carrinhosde mão, carrinhos hidráulicos, etc.) são regularizados e estão livres de rampas cominclinação superior a 10%2. Em obras que possuem bomba estacionária de argamassa, a boca da base dabomba está a uma altura acessível para os operários (caso não exista rampa)3. A iluminação dos postos de trabalho é suficiente (usar o bom senso)4. A empresa fornece EPI’s para os funcionários5. Os funcionários envolvidos com a execução da alvenaria usam os EPI’s enquantorealizam suas atividades6. A plataforma principal de proteção está no primeiro pavimento que esteja no mínimoum pé-direito acima do terreno (NR 18)7. Existem plataformas secundárias de proteção a cada 3 pavimentos, a partir daplataforma principal (NR 18)8. As plataformas contornam toda a periferia da edificação (NR 18)9. Para deslocar-se do posto de trabalho até os sanitários os operários percorremmenos de 150 m (NR 18)10. Existem banheiros volantes nos pavimentos (somente para prédios com mais de 5pavimentos)Obs.:4.2. UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS ADEQUADOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Os equipamentos que entram em contato com a argamassa de assentamento sãolavados após seu uso, para evitar que ocorra aumento no seu peso e diminuição davida útil, pela aderência de camadas sucessivas2. O transporte de blocos é realizado com os equipamentos apropriados (carrinhoshidráulicos, carrinhos polivalentes, etc.), evitando assim o uso de carrinhos de mão ougiricas3 Os andaimes e cavaletes utilizados no canteiro são leves, dispensando esforçosdesnecessários dos operários no seu transporte4. Os andaimes utilizados na empresa se adaptam às alturas dos funcionários e aospés-direito, possibilitando que estes trabalhem sem realizar esforços desnecessários5. A betoneira utilizada no canteiro é autocarregável, possui silo para abastecimentode materiais ou está em posição favorável para que o carregamento seja feito porcarrinhos dosadores6. A argamassa para execução da alvenaria é fornecida em masseiras leves(metálicas, PVC, etc.)Obs.:
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5. ESPERA DA MÃO-DE-OBRA5.1. COMPATIBILIDADE DOS EQUIPAMENTOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Existe compatibilidade entre a quantidade de equipamentos auxiliares (andaimes,giricas, masseiras, escantilhões, etc.) disponíveis no canteiro e a quantidade detrabalhadores envolvidos com a execução da alvenaria2. A capacidade de operação dos equipamentos (betoneira, elevador de cargas, grua,etc.) disponíveis no canteiro é suficiente para abastecer todos os trabalhadoresenvolvidos com a execução da alvenariaObs.:5.2. FORNECIMENTO DE MATERIAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Existe uma relação de 1 servente para cada 2 pedreiros envolvidos na execução daalvenaria2. Para evitar que haja parada dos pedreiros por falta de argamassa de assentamentono posto de trabalho, o pedido é realizado para o operador da betoneira com umacerta antecedência3. Os demais materiais (blocos, blocos especiais, vergas, molduras para a.c., tacospara fixação de esquadrias, etc.) são colocados à disposição dos pedreiros naquantidade suficiente para evitar a ocorrência de paradas4. Os blocos especiais (½ bloco, ¼ bloco, com furos para caixas de passagem, etc.),são entregues prontos pela central de componentes ou pelo próprio fornecedor5. Existe um operário responsável pela produção de blocos especiais no canteiro,evitando assim paradas dos pedreirosObs.:5.3. PRAZOS DE CARÊNCIA RECOMENDADOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. O prazo de carência para a execução do encunhamento ou da fixação da alvenariado último pavimento é de 7 dias após o término de toda alvenaria, sendo que esperaspor períodos maiores ocorrem por opção da empresaObs.:6. ELABORAÇÃO DE PRODUTOS DEFEITUOSOS6.1. CONTROLE DAS OPERAÇÕES
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. A alvenaria já executada está isenta de irregularidades (ondulações, falta de nível,esquadro, alinhamento ou prumo em paredes, falta de amarração, etc.) dispensandoretrabalhos2. As dimensões dos vãos deixados para a posterior fixação de esquadrias sãoadequadas às dimensões destas3. A marcação da alvenaria é feita por profissional capacitado, munido dos respectivosprojetos, para evitar erros na locação de paredes e aberturas, uso de blocos errados(execução de paredes com espessura diferente da projetada), etc.4. Em obras com modulação na alvenaria, existem projetos independentes para asduas primeiras fiadas (maior detalhamento para evitar erros durante a execução)5. As instalações elétricas e hidrosanitárias que são executadas simultaneamente àalvenaria, são controladas por profissionais capacitados, munidos dos respectivosprojetos, para evitar erros na locação, esquecimento de pontos de água ou luz, etc.6. O traço utilizado na confecção da argamassa foi dimensionado a partir de algumestudo prévio, evitando assim o aparecimento de patologias como esfarelamentos,trincas, etc.7. É realizado algum tipo de controle na execução de vergas in loco, para evitardefeitos como barras de aço expostas, falta de geometria, falta de transpasse nasextremidades do vão, etc.8. São deixadas molduras de concreto ou vazados na alvenaria, em ambientes ondeestá prevista a instalação de aparelhos de ar condicionado9. Os peitoris externos passam por baixo do caixilho da janela10. Os peitoris têm caimento para fora, facilitando o rápido escoamento da água
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11. Os peitoris projetam-se 3 a 4 cm para fora da face externa da parede, compingadeira nesta saliência12. Existe Manual de Procedimentos para execução de alvenaria nesta obra13. Os operários conhecem e utilizam as informações presentes no Manual deProcedimentos para execução de alvenariaObs.:6.2. QUALIDADE DOS MATERIAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Existe um controle da qualidade dos agregados utilizados na confecção daargamassa de assentamento, para evitar o posterior aparecimento de manifestaçõespatológicas (eflorescências, manchas, vesículas, etc.) nas alvenarias2. Os blocos adquiridos pela empresa possuem resistência suficiente para evitarquebras durante o armazenamento, corte ou assentamentoObs.:6.3. CARACTERÍSTICAS DIMENSIONAIS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. A espessura das juntas verticais é a determinada no Memorial Descritivo da obra2. A espessura das juntas horizontais é a determinada no Memorial Descritivo da obraObs.:
7. PROCESSAMENTO EM SI7.1. OPERAÇÕES NECESSÁRIAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Evita-se realizar rejuntamento (normalmente empregado em alvenaria à vista) nasparedes que receberão revestimento, apenas por motivo estético2. A argamassa possui trabalhabilidade suficiente para evitar as “batidinhas” nosblocos no momento do assentamento3. São utilizados equipamentos auxiliares mais racionais para execução da alvenaria(escantilhão, colher meia-cana, bisnaga para aplicação de argamassa, etc.), quepermitem aumento de produtividade e melhoria da qualidade final do produto4. O encunhamento é realizado com argamassa expansiva, evitando-se o uso deencunhamento tradicional (blocos inclinados)5. O tempo de mistura da argamassa na betoneira é de aproximadamente 5 minutosObs.:
8. SUBSTITUIÇÃO8.1. MATERIAIS NECESSÁRIOS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Existe no canteiro um quadro com o traço que deve ser utilizado na produção deargamassa para assentamento, evitando assim a realização de traçossuperdimensionados2. Evita-se a utilização de blocos com qualidade superior (empregados em alvenaria àvista) nas paredes que receberão revestimento2. Evita-se a utilização de blocos com qualidade superior (normalmente empregadosem alvenaria portante) nas paredes que têm apenas função de vedaçãoObs.:8.2. MÃO DE OBRA COMPATÍVEL COM A TAREFA
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Os pedreiros restringem-se a realizar as suas atividades deixando para osserventes as atividades mais simples (transporte, carga e descarga de materiais eequipamentos, etc.)Obs.:9. OUTRAS
ITENS DE VERIFICAÇÃO S N N.S.A.1. Durante a execução da edificação, o canteiro ficou livre de vandalismos contra asalvenarias (pixações, derrubamento de paredes recém executadas, etc.)Obs.: