Adulto e Idoso - Hemoterapia

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INTRODUÇÃO

A terapia transfusional é um processo que mesmo com indicação precisa e

administração correta, respeitando todas as normas técnicas preconizadas, envolve risco

sanitário. A segurança e a qualidade do sangue e hemocomponentes devem ser

assegurados em todo o processo, desde a captação de doadores até sua administração ao

paciente.

A participação do enfermeiro, em todas as fases do processo, desde a captação

do doador até a transfusão do sangue contribui para a garantia da segurança

transfusional, proporcionando aos doadores e receptores de sangue, produtos com

qualidade, minimizando os riscos à saúde dos mesmos.

Por isso, a importância de se cumprir com eficiência o ciclo hemoterápico cujo

processo inicia-se com a captação e seleção de doadores, seguindo-se a triagem

sorológica e imuno-hematológica, processamento e fracionamento das unidades

coletadas, dispensação, transfusão e avaliação pós-transfusional.

Segundo a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem n° 306/2006, o

enfermeiro tem como competência e atribuição as atividades de: “planejamento,

execução, coordenação, supervisão e avaliação dos procedimentos hemoterápicos e de

enfermagem nas unidades, visando a assegurar a qualidade do sangue e

hemocomponentes/hemoderivados coletados e transfundidos”

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HEMOTERAPIA

A hemoterapia consiste no tratamento terapêutico realizado através da transfusão

sanguínea, seus componentes e derivados e se trata de uma atividade assistencial de alto

risco epidemiológico, uma vez que o sangue, na condição de tecido vivo, é capaz de

transmitir diversas doenças (CAMARGO et al, 2007).

A transfusão de sangue ou hemoterapia é estudada há muitos anos e apresenta

grandes perspectivas futuras, sendo que no Brasil, essa prática, de acordo com Florizano

e Fraga (2007), pode ser divida em dois períodos, empírico e científico, cuja divisão se

faz pelo ano de 1900.

A fase empírica, que se estendeu até 1900, foi marcada por um grande número

de mortes relacionadas a fatores como a falta de informação acerca da quantidade de

sangue a ser coletada, o que deixava, na maioria das vezes, o doador anêmico; e o

desconhecimento dos grupos sangüíneos e da compatibilidade sanguínea que gerava

reações hemolíticas graves (FLORIZANO E FRAGA, 2007).

Em 1964, o Ministério da Saúde criou a Comissão Nacional de Hemoterapia que

através de decretos, portarias e resoluções, estabeleceu a doação voluntária de sangue e

a necessidade de medidas de proteção a doadores e receptores (JUNQUEIRA, 2005).

O papel da enfermagem em hemoterapia era irrelevante no passado e os serviços

prestados eram realizados por técnicos de laboratórios. Nas últimas décadas houve

mudanças em relação à prática assistencial hemoterápica e a presença do profissional

com conhecimento específico na área de atuação tornou-se fundamental, sendo que a

enfermagem não ficou alheia a essa mudança passando a desenvolver atividades em

várias áreas, como triagem clínica do doador, coleta de sangue, procedimento

transfusional de hemocomponentes e aplicação de hemoderivados (FLORIZANO E

FRAGA, 2007).

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AUTOHEMOTERAPIA

A Autohemoterapia - AHT é uma técnica bastante antiga. Em 1911 F. Ravaut

descreveu seu emprego em diversas doenças infecciosas, especialmente na febre tifóide

e nas dermatoses. Era também usada em casos de asma, urticária e estados anafiláticos.

TEIXEIRA (1940).

A AHT é uma terapia complementar de baixo custo, que consiste em coletar

certo volume de sangue de uma veia periférica do próprio paciente, comumente da

prega do cotovelo e aplicá-lo imediatamente em seu músculo (deltóide, ventroglúteo ou

dorsoglúteo), sem nada acrescentar ao sangue.

Este procedimento estimula o Sistema Retículo Endotelial, quadruplicando o

percentual de macrófagos em todo organismo, conforme preconizado por Teixeira

(1940), ao comprovar que o Sistema Retículo Endotelial (SRE) era ativado pela AHT

em seu estudo publicado e premiado na Revista Brasil - Cirúrgico, em março de 1940.

Jesse Teixeira provocou a formação de uma bolha na coxa de pacientes, com cantárida,

substância irritante. Fez a contagem dos macrófagos antes da autohemoterapia, a cifra

foi de 5%. Após a autohemoterapia a cifra subiu a partir da 1ª hora chegando após 8

horas a 22%. Manteve-se em 22% durante 5 dias e finalmente declinou para 5% no 7º

dia após a aplicação. METTENLEITTER (1936).

No ano de 2007, mais especificamente, desencadeou-se no País uma atuação

drástica dos Conselhos de Medicina e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária –

ANVISA – Nota Técnica nº 01 de 13/04/07, em alguns casos, amparados pelo

Ministério Público, no sentido de proibir a utilização da terapêutica, conforme

resoluções oficiais destes órgãos.

Os profissionais da área de saúde e as farmácias foram proibidos de realizar a

aplicação, sob ameaças de processo, de cassação de diplomas e de fechamento de

estabelecimentos. Os argumentos usados para fundamentar tal proibição são de que

faltam pesquisas e embasamento científico para a terapêutica e indicações e execuções

indiscriminadas da AHT.

Recentemente o Ministério da Saúde elaborou uma nova política aprovada pelo

Conselho Nacional de Saúde, prevendo orçamentos e recursos para a implantação de

tratamentos não convencionais na rede básica de saúde, com o objetivo de ampliar as

opções terapêuticas aos usuários do SUS com segurança e eficácia. Através da Portaria

n.971 de 03/05/2006; publicada no Diário Oficial da União, autoriza, reconhece o valor

terapêutico e incentiva as unidades de saúde a adotarem terapias não convencionais.

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O Conselho Federal de Enfermagem - COFEN em sua Resolução 197/1997;

reconhece as terapias alternativas como especialidade do profissional de enfermagem

qualificado, nas quais futuramente poderá ser incluída a AHT.

Por apresentar relação custo x beneficio x eficácia satisfatória, a

autohemoterapia (AHT), tornou-se um tratamento requisitado, despertando interesse de

pacientes portadores de doenças crônico-degenerativas, em especial as auto-imunes, que

apresentam pouca ou nenhuma melhora em seus quadros clínicos com os métodos

tradicionais. Estas pessoas reivindicam seu direito de realizar a AHT, ao mesmo tempo

em que os profissionais de saúde que acreditam no método, preocupam-se em lhes

proporcionar uma assistência de melhor qualidade, acessível e de baixo custo.

(SALOMÃO, 2006; FERREIRA e GEOVANINI, 2007; JUNIOR, 2008).

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O PAPEL DO ENFERMEIRO NA HEMOTERAPIA

O profissional de enfermagem realiza o acolhimento, recepcionando o paciente,

desde o momento em que chega, responsabilizando-se totalmente pelo o mesmo,

ouvindo-o, consentindo que ele comente seus problemas, queixas, angústias e também

colocando os limites precisos, com a finalidade de garantir atenção resolutiva e, se

necessário, a articulação com os outros serviços de saúde (equipe multiprofissional)

para que a assistência seja contínua.

O enfermeiro deve possuir conhecimentos específicos na área e habilidades no

processo de transfusão e doação de sangue, tendo como um dos principais objetivos a

prevenção de riscos. Durante a hemoterapia o enfermeiro desenvolve as seguintes

atividades: a triagem do doador de sangue, atua na equipe transfusional e no banco de

sangue. São atribuições do profissional de enfermagem (parte técnico-científica):

Esclarecer dúvidas;

Tranquilizar o paciente;

Colher informações (fazer perguntas);

Orientar.

Na equipe transfusional o enfermeiro:

Recebe a solicitação de transfusão sanguínea (pedido);

Verifica os dados do paciente (no caso, o receptor), assinatura e carimbo do

médico solicitante;

Rotula o tubo para amostra;

Coleta a amostra de sangue do paciente em tubo com anticoagulante;

Saliniza o acesso, quando possível, para ser utilizado durante a transfusão;

Guarda a amostra no recipiente de transporte;

Encaminha a amostra de sangue ao Serviço de Hemoterapia, transportando em

recipiente próprio.

Banco de sangue:

Recebe a amostra de sangue com a solicitação e verifica os dados;

Recusa amostra e/ou pedido que não estejam legíveis e completos;

Classifica a amostra de sangue do paciente: ABO, Rh (D), PAI;

Reclassifica a amostra do doador (ABO e Rh);

Realiza a prova de compatibilidade entre o sangue do doador e do paciente;

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Emiti etiqueta com os dados do paciente: nome, sobrenome, localização, grupo

ABO e Rh e data de validade para transfusão;

Examina o hemocomponente quanto ao aspecto e integridade do sistema e prazo

de validade;

Entrega o hemocomponente à Equipe de Enfermagem Transfusional;

Mantêm a amostra do sangue do paciente no refrigerador.

Na transfusão o enfermeiro deve:

Perguntar ao paciente seu nome completo;

Verificar o nome com os dados do rótulo da bolsa e da prescrição;

Certificar-se de que a indicação da transfusão na prescrição médica;

Comparar e anotar os sinais vitais pré e pós transfusão;

Deve anotar horário do início e término do procedimento;

Instalar o hemocomponente, para manter íntegro o sistema até a conclusão do

procedimento;

Passar as instruções a equipe de enfermagem para não infundir nenhum tipo de

medicamento concomitantemente com a transfusão (exceto solução fisiológica

9%);

Atentar-se para que o início da transfusão não ultrapasse 30 minutos após o

recebimento da bolsa;

Controlar a transfusão para que seu tempo máximo não exceda 4 horas;

Permanecer os primeiros 15 minutos da transfusão observando o paciente;

Atentar-se para sinais de reação transfusional;

Realizar a evolução da reação transfusional apresentada;

Assinar e carimbar no término da evolução transfusional;

Deve colar a etiqueta referente ao hemocomponente no prontuário do paciente;

Conferir se a contra-capa do prontuário já possui a etiqueta de tipagem do

paciente (grupo sanguíneo e fator Rh);

Devolver o hemocomponente ao Serviço de Hemoterapia caso não tenha sido

utilizado;

Na conclusão da transfusão, o enfermeiro deve recolher a bolsa e encaminhar

para o serviço de hemoterapia para ser autoclavada.

A comunicação é algo de extrema relevância, sendo competência necessária na

função do enfermeiro. Existe a necessidade de dialogar com o paciente, pois através da

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comunicação o cliente sente-se seguro. O profissional deve exercer um papel educativo,

de empatia e acolhedor com o doador/receptor do banco de sangue.

Segundo Carmen Lúcia Mottin Duro e Neíse Schöninger, a relação de empatia é

desenvolvida em situações gratificantes ou de frustração. Cuidar com empatia é

entender a situação do outro, envolvendo a atenção às necessidades físicas e psíquicas

do ser cuidado.

Deve-se otimizar a qualidade do serviço, portanto faz-se necessário empenhar-se

em proporcionar um atendimento de qualidade, a fim de oferecer uma assistência

humanizada. O enfermeiro avalia a saúde do paciente, se há capacidade em doar. Um

cuidado integral, tanto com o doador, quanto com o receptor.

Deve obter uma postura ética, seguindo os princípios, valores e normas, para

justificar suas ações, pois na prática acontecem situações que necessitam de

intervenções e escolhas, em que é preciso decidir o que é adequado naquela

circunstância.

É impreterível preparo científico, técnico e sensibilidade no atendimento, para

que sentimentos como medo e dor sejam vencidos pela eficácia dos procedimentos

realizados. Uma das estratégias para a doação de sangue é a confiança desenvolvida

pelo profissional e as instituições de saúde. Se houver condições favoráveis para um

bom atendimento, existe maior probabilidade do retorno do doador.

É papel do enfermeiro exercer essa relação de confiança, porque existem

sentimentos envolvidos na doação de sangue, como por exemplo, riscos físicos (aids),

sociais (responsabilidade moral), psicológicos, que devem ser considerados durante a

entrevista.

Os enfermeiros possuem a tarefa de proporcionar ações que promovam e

previnam o processo saúde-doença e de oferecer cuidados a partir de um trabalho

interdisciplinar, integral, que responda à complexidade dos problemas de saúde.

Todo o processo é importante, mas a atuação do enfermeiro é extremamente

significativa na triagem, pois diminui os riscos do receptor, evitando danos. Existem

muitos pacientes assintomáticos e aparentemente saudáveis, ocorrendo o risco de

transmissão de doenças e no momento da triagem que os problemas são identificados.

Em vista disso, devem-se tomar medidas preventivas, como por exemplo, fornecer

informação a população, triagem clínica dos doadores, exames laboratorias.

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CONCLUSÃO

O enfermeiro ocupa espaço de extrema importância como mediador do controle

de qualidade do processo de hemoterapia, já que sobre suas responsabilidades, segundo

a Resolução 306 do Conselho Federal de Enfermagem - COFEN,

"o enfermeiro deve planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar os

procedimentos de hemoterapia nas unidades de saúde, visando assegurar a qualidade

do sangue, hemocomponentes e hemoderivados"

não focando apenas na técnica, mas preocupando-se também com a melhoria dos

processos e a normatização dos procedimentos para atingir a qualidade do serviço.

Tais responsabilidades são reafirmadas por Florizano e Fraga (2007, p. 209)

quando colocam que a atuação do enfermeiro quanto ao controle de qualidade em

hemoterapia

"vai desde o critério com as anotações referentes ao procedimento como, por

exemplo, conferência da identificação do paciente, do hemocomponente prescrito, do

número e validade da bolsa",

até o acompanhamento das atividades realizadas pelos técnicos e atenção

especial aos minutos iniciais do procedimento transfusional, quando podem ocorrer

intercorrências, muitas vezes graves.

Sendo assim, a atuação da enfermagem na qualidade hemoterápica é destinada a

garantir a qualidade do cuidado de enfermagem e a eficácia do processo de transfusão

de sangue e seus componentes em todas as suas faces. O enfermeiro é o profissional

capacitado para mediar o controle de qualidade, pois além da formação profissional

participa de maneira expressiva da equipe multidisciplinar e acompanha o período pré,

intra e pós-transfusão podendo interferir para melhoria do processo transfusional.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMARGO, Johnny Francisco Ribeiro et al. A educação continuada em

enfermagem norteando a prática em hemoterapia: uma busca constante pela

qualidade. Revista Prática Hospitalar, ano IX, n. 51, maio-junho de 2007.

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução COFEN Nº

306/2006. Brasília � DF: COFEN, 2007.

FLORIZANO, Alderinger Aparecida Tulher; FRAGA, Otávia de Souza. Os

Desafios Da Enfermagem Frente Aos Avanços Da Hemoterapia No Brasil. Revista

Meio Ambiente Saúde, 2007.

JUNQUEIRA, Pedro C.; ROSENBLIT, Jacob; HAMERSCHLAK, Nelson.

História da Hemoterapia no Brasil. Revista Brasileira de hematologia e hemoterapia,

2005.

COFEN. Resolução 272 de 2002. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência

de Enfermagem – SAE nas Instituições de Saúde.

MS. Portaria Nº 971, de 3 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de

Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde.

COFEN. Resolução 197/1997. Reconhece as terapias alternativas como

especialidade do profissional de enfermagem.

SALOMÃO. S. M. C. e GEOVANINI, T. Autohemoterapia: Relatos de Casos

Clínicos. 95 paginas. monografia. Enfermagem – Faculdade de Ciencias da Saude,Juiz

de Fora - MG, 2006. Disponível em http://paginas.terra.com.br/saude/Autohemoterapia/

METTENLEITER, Michael W. M.D., F.A.C.S. "Autohemotransfusion in

Preventing Postoperative Lung Complications" assinado por Michael W.

Mettenletter (cirurgião do Pós-Graduate Hospital, de Nova York). Artigo publicado no

"The American Journal of Surgery" ; May, 1936 - pág.32 .

TEIXEIRA, Jesse. Complicações Pulmonares Pós- Operatórias

Autohemotransfusão. Revista BRASIL-CIRÚRGICO, Órgão oficial da Sociedade

Médico-Cirúrgica do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro,

vol. II, março de 1940, número 3, páginas 213 - 230. (revisado por Luiz Fernando

Sarmento,2007).

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