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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO AÇÕES DO PROGRAMA RIOS CARIOCAS PARA A REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRES ASSOCIADOS A INUNDAÇÕES SARAH BONITENCE ANTUNES 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

AÇÕES DO PROGRAMA RIOS CARIOCAS PARA A REDUÇÃO DO RISCO DE

DESASTRES ASSOCIADOS A INUNDAÇÕES

SARAH BONITENCE ANTUNES

2018

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AÇÕES DO PROGRAMA RIOS CARIOCAS PARA A REDUÇÃO DO RISCO DE

DESASTRES ASSOCIADOS A INUNDAÇÕES

SARAH BONITENCE ANTUNES

Programa de Graduação apresentado ao curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadora: Profa. Alessandra Conde de

Freitas

Co-orientador: Marcos Barreto de Mendonça

RIO DE JANEIRO

Maio de 2018

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AÇÕES DO PROGRAMA RIOS CARIOCAS PARA A REDUÇÃO DO RISCO DE

DESASTRES ASSOCIADOS A INUNDAÇÕES

Sarah Bonitence Antunes

PROGRAMA DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO

GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

________________________________________________

Alessandra Conde de Freitas

______________________________________________

Marcos Barreto de Mendonça

________________________________________________

Maria do Carmo Reis Cavalcanti

________________________________________________

Leandro Torres Di Gregório

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MAIO de 2018

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Antunes, Sarah Bonitence

Ações do Programa Rios Cariocas para a redução do

risco de desastres associado a inundações

Sarah Bonitence Antunes – Rio de Janeiro:

UFRJ/Escola Politécnica, 2018.

xii, 83 p.:il.; 29,7 cm.

Orientador: Alessandra Conde de Freitas

Co-orientador: Marcos Barreto de Mendonça

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Civil, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 78-80

1. Introdução 2. Histórico do Rio de Janeiro

3. Tipos de Desastres Associados

4. Conceitos do Trabalho 5. O Programa Rios Cariocas

6. Percepção quanto o programa e sugestões

de Freitas, Alessandra Conde; II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia

Civil. III.

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“Toda ação humana, quer se torne positiva ou negativa, precisa depender de motivação.”

Dalai Lama

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Dedico este trabalho aos meus pais,

Rosa Maria Bonitence Antunes e Humberto

Antunes.

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Resumo do Programa de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

AÇÕES DO PROGRAMA RIOS CARIOCAS PARA A REDUÇÃO DO RISCO DE

DESASTRES ASSOCIADOS A INUNDAÇÕES

Sarah Bonitence Antunes

Março de 2018

Orientadora: Alessandra Conde de Freitas

Co-orientador: Marcos Barreto de Mendonça

As comunidades do Município do Rio de Janeiro sofrem inúmeros problemas por

terem crescido, em sua maioria, em encostas, morros e margens de rios de forma

desorganizada e sem planejamento urbano e ambiental.

A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, em conjunto com as associações de

moradores de diversas comunidades, criou o Programa Rios Cariocas. O intuito do programa

é tratar rios que se encontram em situação crítica quanto aos problemas de assoreamento e

acúmulo de resíduos sólidos. Para tal tratamento é feita, preliminarmente, uma capacitação

dos membros do programa de modo que os mesmos sejam capazes de atuar na limpeza, na

avaliação do material coletado e na conscientização de outros moradores sobre questões

relativas ao descarte de resíduos dentro da comunidade.

A coleta, interpretação e análise dos dados gerados por programas públicos, como o

que é tema deste estudo, são importantes para a melhoria do escopo dos mesmos, para o

acompanhamento do trabalho realizado e para a formulação de novos programas de gestão de

riscos de desastres. Este trabalho tem como objetivo apresentar o Programa Rios Cariocas e

seus resultados e sugerir medidas para o aumento de sua eficiência, possibilitando uma maior

qualidade de vida para os moradores que residem em áreas de risco associados a enxurradas e

inundações. Os resultados do presente trabalho indicaram que as principais deficiências do

programa se referem a: escolha da comunidade a ser atendida; a interrupção do programa e da

coleta de informações; falta de uniformidade dos dados coletados relativos aos resíduos (peso,

volume); falta de mecanismos de controle e avaliação. A partir dessas evidências foram

propostas melhorias ao programa.

Palavras-chave: Planejamento Urbano; Riscos; Inundação; Enxurrada; Enchente.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

ACTIONS OF THE RIOS CARIOCAS PROGRAM FOR THE REDUCTION OF THE RISK

OF DISASTERS ASSOCIATED TO FLOODS

Sarah Bonitence Antunes

Março de 2018

Adviser: Alessandra Conde de Freitas

Co-adviser: Marcos Barreto de Mendonça

The communities of the Municipality of Rio de Janeiro suffer numerous problems

because they have grown, mostly, on hillsides, hills and riverbanks; disorganized and without

urban and environmental planning.

The City Hall of the City of Rio de Janeiro together with the Association of residents

of several communities made possible the creation of the Rios Cariocas Program. The purpose

of the program is to treat rivers that are in critical situation regarding the problems of

sedimentation and solid waste accumulation. Such treatment is done through training of

Program members so that they are able to work on cleaning, assessing the collected material

and raising awareness of other waste disposal issues within the community.

The collection, interpretation and analysis of the data generated by public programs,

such as the subject of this study, are important for the improvement of their scope, for the

monitoring of the work done and for the formulation of new disaster risk management

programs . This work aims to present the Rios Cariocas Program and its results and suggest

measures to increase its efficiency, allowing a higher quality of life for residents living in

areas of risk associated with floods and floods. The results of the present study indicated that

the main deficiencies of the program refer to: choosing the community to be served; the

interruption of the program and the collection of information; lack of uniformity of data

collected on waste (weight, volume); lack of control and evaluation mechanisms. Based on

these evidences, improvements were proposed to the program.

Keywords: Urban planning; Scratchs; Inundation; Flash flood; Flood.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1– REFERÊNCIAS VERSUS DEFINIÇÕES DE PERIGO ......................................................................................... 16

TABELA 2 – DEFINIÇÕES DE SUSCETIBILIDADE ........................................................................................................ 17

TABELA 3 – DEFINIÇÕES DE RISCO ENCONTRADAS NA LITERATURA ............................................................................. 21

TABELA 4 - FÓRMULAS RELACIONADAS AO CONCEITO DE RISCO (R) ENCONTRADAS NA LITERATURA.................................. 22

TABELA 5 – DEFINIÇÕES DE ENXURRADA .............................................................................................................. 26

TABELA 6 – DEFINIÇÕES DE INUNDAÇÃO .............................................................................................................. 30

TABELA 7 – CLASSIFICAÇÃO PARCIAL DOS DEZ PRINCIPAIS EVENTOS INCIDENTES NO BRASIL QUANTO A DESASTRES GEOLÓGICOS,

METEOROLÓGICOS, CLIMATOLÓGICO E HIDROLÓGICOS ................................................................................... 37

TABELA 8 - NÚMERO DE IDENTIFICAÇÃO NO MAPA E BAIRROS CORRESPONDENTES ........................................................ 42

TABELA 9 - LISTA DE COMUNIDADES ATENDIDAS PELO PROGRAMA, NOME DO RIO, EXTENSÃO DE TRABALHO E TAMANHO DA EQUIPE.

.......................................................................................................................................................... 45

TABELA 10 – ETAPAS DA FASE I DO PROGRAMA .................................................................................................... 52

TABELA 11 - MÉDIA DE LIXO MENSAL RETIRADA DURANTE OS ANOS DE 2001 E 2002. .................................................. 53

TABELA 12 – ETAPAS DA FASE II DO PROGRAMA ................................................................................................... 58

TABELA 13 – VOLUME EM M³ DE RESÍDUOS RETIRADOS PELOS GUARDIÕES DOS RIOS ............................... 59

TABELA 14 – TOTAL DE LIXO RETIRADO POR METRO LINEAR E TOTAL DE LIXO RETIRADO POR GUARDIÃO DO RIO NA FASE I, NOS ANOS DE

2001, 2002 E 2007. ............................................................................................................................ 63

TABELA 15 - VOLUME DE LIXO EM M³ RETIRADO PELOS GUARDIÕES DOS RIOS NO PERÍODO DE 2012 A 2015 ................... 66

TABELA 16 - POPULAÇÃO RESIDENTE POR COMUNIDADE NO CENSO DE 2010 DO IBGE................................................. 68

TABELA 17 – QUANTIDADE DE GUARDIÕES DO RIO POR COMUNIDADE E BACIA. .......................................................... 70

TABELA 18 – VOLUME MÉDIO EM M³ RECOLHIDO POR GUARDIÃO DURANTE A FASE II DO PROGRAMA ............................. 71

TABELA 19- VOLUME MÉDIO EM M³ RECOLHIDO POR COMUNIDADE E VOLUME MÉDIO EM M³ PRODUZIDO POR HABITANTE DURANTE A

FASE II DO PROGRAMA ........................................................................................................................... 71

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – DEFINIÇÃO DE VULNERABILIDADE EM DIFERENTES CONSTEXTOS ........................................................................... 20

FIGURA 2– ÁREA DECORRENTE DE ENXURRADA NA ZONA NORTE DO RIO DE JANEIRO .............................................................. 25

FIGURA 3 – MAPA DE REGISTRO DE ENXURRADAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO .................................................................. 28

FIGURA 4 – GRÁFICO COM EDIFICAÇÕES DESTRUÍDAS E DANIFICADAS PELAS ENXURRADAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, NO PERÍODO

DE 1991 A 2012 .............................................................................................................................................. 29

FIGURA 5 – GRÁFICO DOS DANOS MATERIAIS CAUSADOS POR DESASTRES DE INUNDAÇÕES NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, NO

PERÍODO DE 1991 A 2012 ................................................................................................................................. 32

FIGURA 6 – MAPA DE REGISTRO DE INUNDAÇÕES NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DE 1991 A 2012 .......................................... 33

FIGURA 7 – MUNICÍPIOS E MESORREGIÕES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ........................................................................... 38

FIGURA 8 – ÁREA DE ABRANGÊNCIA DO PROGRAMA POR BAIRROS ........................................................................................ 43

FIGURA 9 - ESTRUTURA OPERACIONAL DO PROGRAMA ....................................................................................................... 44

FIGURA 10 – GUARDIÕES RETIRANDO LIXO MANUALMENTE DO LEIRO DE UM RIO. .................................................................. 51

FIGURA 11– MARGENS DE CÓRREGO ANTES DAS ATIVIDADES REALIZADAS POR MEMBROS DO PROGRAMA NA COMUNIDADE VIEGAS NO

BAIRRO DE CAMPO GRANDE, MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. ................................................................................... 51

FIGURA 12 – MARGENS DE CÓRREGO DEPOIS DE PARTE DAS ATIVIDADES REALIZADAS POR MEMBROS DO PROGRAMA NA COMUNIDADE

VIEGAS ........................................................................................................................................................... 52

FIGURA 13 - GUARDIÃO RETIRANDO VEGETAÇÃO DA MARGEM DE UM RIO ............................................................................ 54

FIGURA 14 - PALESTRA E ATIVIDADE SOBRE RECICLAGEM NA ESCOLA MUNICIPAL ODILON DE ANDRADE ...................................... 56

FIGURA 15 - MATERIAL IMPRESSO UTILIZADO NO PROGRAMA GUARDIÕES DOS RIOS. .............................................................. 56

FIGURA 16 - RIO VIEGAS – PREPARO DO SOLO PARA PLANTIO .............................................................................................. 61

FIGURA 17 – REUNIÃO DE PLANEJAMENTO DA DIRETORIA DE SERVIÇOS DA ZONA OESTE, NA COMLURB .................................. 62

FIGURA 18 - AGENTES AMBIENTAIS VISITANDO MORADORES ............................................................................................... 62

FIGURA 19 – PRECIPITAÇÃO EM MM X MÊS – ANO DE 2002, MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO ................................................... 64

FIGURA 20 - PESO DE RESÍDUOS SÓLIDOS RETIRADO EM TONELADAS X MÊS – ANO DE 2002 ..................................................... 64

FIGURA 21 - PRECIPITAÇÃO EM MM X MÊS – ANO DE 2007, MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.................................................... 65

FIGURA 22 - PESO DE RESÍDUOS SÓLIDOS RETIRADO EM TONELADAS X MÊS – ANO DE 2007 ..................................................... 65

FIGURA 23 –GRÁFICO POPULAÇÃO PARTICIPANTE E NÃO PARTICIPANTE DO PROGRAMA ........................................................... 69

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

COBRADE - Codificação Brasileira de Desastres

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

SMAC - Secretaria de Meio Ambiente

CEA - Centro de Educação Ambiental

CRH - Coordenadoria de Recursos Hídricos

GRHRS - Gerência de Recursos Hídricos e Resíduos Sólidos

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Sumário

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1 INTRODUÇÃO

1.1 MOTIVAÇÃO DO ESTUDO

O Estado do Rio de Janeiro registra, anualmente, centenas de casos de inundações e

enxurradas. Boa parte destes eventos ocorrem em encostas e morros, ou próximo a estes

locais e em regiões planas de baixada nas proximidades de rios, lagoas e cursos d’água em

geral. Sabe-se, historicamente, que essas áreas foram ocupadas por pessoas de natureza

humilde que planejavam estar mais próximas dos centros urbanos e assim usufruir da

proximidade com seus locais de trabalho, lazer e comércio (Secretaria de Meio Ambiente,

2002).

A motivação principal desse estudo foi a possibilidade de acesso às informações

relativas a um programa que foi implantado pela Prefeitura do Rio de Janeiro com vistas a

redução do risco desastres associados a enxurradas e inundações. O Programa é conhecido

como Rios Cariocas e visa basicamente limpar os resíduos sólidos lançados às margens e

corpos dos rios e também promover a educação ambiental dentro das comunidades Teve sua

origem no ano de 2001, atendendo inicialmente pelo nome Guardiões do Rio. O Programa é

conhecido como “Rios Cariocas” e sua fase inicial teve duração de oito anos (2001 a 2008). O

programa foi concebido e implantado dentro dos limites territoriais do Município do Rio de

Janeiro (RJ). Ao longo dos quase oito anos de ação do programa no Município do Rio de

Janeiro foram atendidas 66 comunidades, em mais de sessenta bairros da cidade do Rio de

Janeiro. Foram contabilizadas mais de cento e vinte equipes de trabalho e mais de oitocentos e

cinquenta trabalhadores envolvidos. Em 2008 o programa foi desativado pela prefeitura. Ao

final de 2011 o programa voltou a funcionar a partir de um convênio firmado entre a

Prefeitura do Rio e uma Organização Social (O.S.) que assumiu ações de gerenciamento,

operação e execução de medidas em 3 macrorregiões de drenagem (Bacia de Sepetiba, Bacia

Oceânica e Bacia da Baía de Guanabara). O programa encerrou suas atividades em 2016,

porém, enquanto ativo representou um trabalho útil para a redução de riscos de desastres aos

moradores das comunidades participantes.

A Secretaria de Estado da Defesa Civil de Santa Catarina cita em seu site ações que

devem ser feitas para que as inundações e enxurradas não ocorram, sendo elas: jogar o lixo no

lixo, não descarta-lo em terrenos baldios ou na rua e não jogar sedimentos, troncos, móveis,

materiais e lixo que impedem o curso do rio, provocando transbordamentos; não jogar lixo

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nos bueiros (boca de lobo), para não obstruir o escoamento. Porém a Defesa Civil também

cita que quando essas ações já foram feitas e já há o excesso de rejeitos nas margens e

interiores dos rios, há a necessidade de implantação de um mutirão de limpeza e

conscientização para que os danos físicos ao leito do rio sejam resolvidos e a população seja

informada sobre como melhorar sua conduta e ajudar sua comunidade. A partir desses

conceitos e resoluções da Defesa Civil de Santa Catarina é possível enxergar que o programa

Rios Cariocas é para comunidades que precisam de serviços de limpeza e educação ambiental.

1.2 OBJETIVO

O presente trabalho descreve e analisa as informações relativas ao Programa “Rios

Cariocas”, desenvolvido pela Secretaria de Meio Ambiente do município do Rio de Janeiro. O

objetivo desse estudo é apresentar e analisar os resultados obtidos no Programa Rios Cariocas

nas duas fases de operação (2001 a 2008 e a partir de 2011 até 2016) e, também, propor

sugestões de medidas que possam ser implementadas para o aumento da eficácia do

programa.

Com base na coleta de dados realizada por meio de visitas técnicas e pesquisa

bibliográfica foi possível compilar os dados do Programa Rios Cariocas, interpretar as

informações obtidas e propor sugestões para melhoria do programa. Espera-se, assim, que o

presente trabalho possa contribuir para que a Prefeitura desenvolva práticas, programas e

projetos cada vez mais adequados do ponto de vista da gestão de risco e da redução de

desastres associados a enchentes e inundações.

1.3 METODOLOGIA

Para este trabalho optou-se pela pesquisa dos dados referentes ao programa Rios Cariocas

com visitas técnicas realizadas na prefeitura e nas comunidades participantes do mesmo.

Foram também realizadas conversas com gerentes do programa para entender o

funcionamento organizacional e sua visão de prós e contras do trabalho que estavam

realizando. A partir destas informações pertinentes ao tema proposto foi feito procedimento

reflexivo sistemático que possibilitou entender como essa ação pode ajudar a melhorar a

qualidade de vida dos moradores em comunidades do município do Rio de Janeiro e, também,

sugerir algumas ideias para que sua implantação seja mais eficiente.

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A partir das oito visitas técnicas realizadas de março a junho de 2018 foram recolhidas

informações diretamente com os moradores e trabalhadores do programa dentro das

comunidades. Em visitas a Prefeitura, realizadas no mesmo período, foi possível conversar e

entender a metodologia utilizada no programa com base em reuniões com gerentes e membros

da Secretaria de Meio Ambiente. Os encontros tinham o intuito de elucidar como o programa

funcionava e quais eram seus pontos fortes e fracos pelo ponto de vista dos diferentes atores

envolvidos, desde os colaboradores do programa até a população beneficiada.

Neste período a autora do presente trabalho pôde ter acesso a documentos internos da

prefeitura, os quais forneceram registros importantes para a elaboração desde trabalho.

Destaca-se aqui especialmente a contribuição da Secretaria do Meio Ambiente.A partir do

levantamento realizado foi possível compilar e organizar todo o conjunto de informações do

programa e interpretação das informações coletadas, o que possibilitou a elaboração de

propostas de melhoria do programa com vistas a futuras implementações em outras

localidades.

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2 DESASTRES SOCIOAMBIENTAIS ASSOCIADOS A INUNDAÇÕES E

ENXURRADAS

2.1 CONCEITOS BÁSICOS NA ÁREA DE GESTÃO DE RISCOS

A palavra risco e seu conceito vêm ganhando notoriedade não apenas no meio acadêmico,

mas também com a difusão da gestão de riscos em empresas de fornecimento de infraestrutura

de energia, em Programas de obras de barragens, execução de usinas nucleares e outras

atividades que com a gestão dos riscos nas fases de projeto, implantação, operação,

manutenção e controle tendem a agregar a esses processos uma maior clareza quanto a sua

viabilidade técnica e econômica. A Norma ISO 31000:2009 foi desenvolvida justamente pela

presença e variedade de segmentos envolvidos na gestão de riscos. Diante da

interdisciplinaridade do tema, julgou-se conveniente apresentar, nesse trabalho, os conceitos e

considerações sobre risco, perigo, suscetibilidade e vulnerabilidade associados aos problemas

de enxurrada, inundação e alagamento.

Nos itens seguintes serão apresentados os termos e conceitos principais utilizados pela

comunidade científica.

2.1.1 PERIGO

O termo perigo e pode ser entendido como sinônimo do termo ameaça. Um fenômeno

natural que ocorre em época e região conhecidas que podem causar sérios danos nas áreas sob

impacto. Assim, perigos naturais (natural hazard) são processos ou fenômenos naturais que

ocorrem na biosfera, podendo constituir um evento danoso e serem agravados pela atividade

humana, tais como a degradação do ambiente e urbanização (KOBIYAMA, 2006, p.17).

A Tabela 1 apresenta os conceitos de perigo encontrados na literatura de referência.

Tabela 1– Referências versus definições de perigo (Adaptado de Broda, 2015)

Referência Definição

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Diretiva Seveso 2 (1996) apud

Heitz (2009)

O perigo é definido como uma propriedade intrínseca de uma substância ou

de uma situação física que provoca danos para saúde humana e/ou para ao

meio ambiente.

Finlay e Fell (1997) Perigo é uma descrição do volume ou área (magnitude) e da probabilidade

de ocorrência de um ou mais deslizamentos

Alheiros (1998) apud Lucena

(2006) O perigo refere-se à probabilidade de ocorrência de um desastre.

Lucena (2006) Perigo é a situação de ameaça potencial a pessoas, bens ou ao

ambiente.

Ministério das cidades e IPT

(2007)

Perigo é uma condição ou fenômeno com potencial para causar uma

consequência desagradável.

Fell et al. (2008) apud Bressani et

al. (2013)

Perigo é uma condição com o potencial de causar uma consequência

indesejável dentro de um certo período de tempo

Heitz (2009) O perigo é toda fonte potencial de dano, de prejuízo ou de efeito nocivo

com respeito a um objeto ou uma pessoa.

UNISDR (2009)

Perigo é um fenômeno perigoso, substância, atividade humana ou condição

que possa causar perdas de vidas, ferimentos ou outros impactos a saúde,

danos materiais, perdas de meios de subsistência e serviços, ruptura social

e econômica ou danos ambientais.

Castro (2012)

Qualquer condição potencial ou real que pode vir a causar morte, ferimento

ou dano à propriedade. A tendência moderna é substituir o termo por

ameaça.

2.1.2 SUSCETIBILIDADE

No início do século XIX, a ocorrência de desastres naturais não era mais vista como

punição divina e o adquiria-se o entendimento do termo ‘suscetibilidade’ para traduzir

eventos que até antes tinham explicações abstratas e sem conhecimento científico e técnico

dos elementos da natureza.

A suscetibilidade não está diretamente relacionada, portanto, às consequências geradas por

algum evento, mas apenas com a probabilidade espaço temporal de ocorrer. As consequências

estão associadas ao conceito de vulnerabilidade, descrito e explicado no próximo item.

Na literatura existem algumas definições de suscetibilidade escritas por diferentes

estudiosos e que demonstram alguns olhares perante o termo; a tabela a seguir apresenta

definições que podem ser usadas para tratar da suscetibilidade de ocorrência de inundações,

enchentes e enxurradas.

Tabela 2 – Definições de suscetibilidade (Adaptado de Daniele Broda, 2015)

Referência Definição

Dauphiné (2009) apud Heitz A suscetibilidade se traduz, sobretudo, por uma

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(2009) probabilidade de ocorrência e intensidade de um

fenômeno.

Lucena (2006)

Suscetibilidade é a característica inerente ao meio, que

expressa a probabilidade de ocorrência de eventos ou

acidentes, sob determinadas condições.

Alain Marre em Dewolf e Bourrié

(2008) apud Heitz (2009)

Estudioso em Ciências da Terra o autor define a

suscetibilidade como um processo natural que faz parte

da evolução normal da superfície da Terra.

A partir de tais definições, nesse estudo, as áreas suscetíveis a enchentes, enxurradas e

inundações são consideradas como aqueles locais que possuem condicionantes naturais ou

artificiais que indicam sua predisposição à ocorrência dos mesmos. A chuva é uma forma de

precipitação (de água na forma líquida) que representa um dos deflagradores de riscos

hidrológicos. Do ponto de vista hidrológico entende-se precipitação como sendo a queda

d’água, em seus diferentes estados provenientes da atmosfera e atingindo a superfície terrestre

(MIGUEZ ET AL., 2018). Deste modo, características como o total precipitado (em

milímetros), a duração (em horas), a intensidade (mm/h) e a distribuição temporal e espacial

influenciam a ocorrência de enchentes e inundações, por exemplo. Já o processo de ocupação

urbana provoca mudanças significativas na situação original do ciclo hidrológico de uma dada

região, alterando o processo de geração de vazões que causam inundações e alagamentos, que

são, por sua vez, as ameaças a que a cidade se expõe.

2.1.3 VULNERABILIDADE

Sobre o conceito de vulnerabilidade, inicialmente estudiosos acreditavam que dependia

exclusivamente das características físicas dos elementos suscetíveis a danos, não

considerando em sua definição condições sobre o comportamento humano e a dimensão

temporal do desastre (Steinführer et al., 2007 apud Yang et al., 2010). Porém, anos depois,

com a inclusão das perspectivas sociais e geográficas e consequente interação entre sistemas

sociais, políticos e econômicos, o conhecimento ficou mais amplo e completo.

A inclusão da vulnerabilidade social nas análises de risco é recente. A abordagem

anteriormente era centrada no estudo da suscetibilidade e a gestão do risco uma resposta à

intensidade e a frequência dos fenômenos naturais. A sociedade era vista como vítima

passiva, cabendo somente gerir os impactos decorrentes do processo físico (Veyret e

Reghezza, 2006). Na análise de riscos executada atualmente existe uma maior consciência de

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que soluções com foco exclusivo no processo físico, excluindo os grupos sociais, são

deficientes e não representam o cenário real (Yang et al., 2010).

Reconhecer porque determinados elementos podem estar suscetíveis a maiores riscos que

outros requer conhecimentos sobre vulnerabilidade social, uma vez que as circunstâncias ou

características das vítimas dos desastres e a estrutura social a qual estão inseridas ajudam a

caracterizar e entender as possíveis ações para redução dessa vulnerabilidade e ao aumento da

capacidade de resposta da comunidade exposta ao perigo.

Segundo Heitz (2009) as abordagens para análise da vulnerabilidade são três:

a) Abordagem qualitativa: em que a vulnerabilidade é identificada e sofre o efeito de fatores

ligados ao crescimento demográfico, ao modo de ocupação e uso do solo e a fatores

socioeconômicos, socioculturais, históricos, culturais, psicológicos, técnicos, funcionais e

político administrativos.

b) Abordagem semi-quantitativa: que tem como fim a cartografia das zonas mais

vulneráveis, caracterizando a propensão a danos categorizados socialmente e espacialmente

em relação aos elementos expostos.

c) Abordagem quantitativa: baseada em elementos de vulnerabilidade passíveis de serem

medidos pela determinação de porcentagens de perda e de suas repercussões econômicas,

pelas análises de custo benefício das ações de prevenção e informação etc.

A Figura 1 a seguir (BIRKMANN, 2005) ilustra como a vulnerabilidade pode ser

analisada dependendo do contexto de pesquisa em que o termo está inserido; hora muito

abrangente em sua definição e hora mais focado e restrito para análises minuciosas. Esse

trabalho utilizará tal modelo para definição; pois em uma macro análise ele sempre indicará

que o meio social econômico e ambiental deve ser considerado; como será feito no estudo de

caso do Programa Rios Cariocas

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Figura 1 – Definição de vulnerabilidade em diferentes constextos (Birkmann, 2015)

Outro fator que demonstra a necessidade da análise do meio social para o conceito de

vulnerabilidade é que esse termo não é, por definição, uma tautologia da pobreza. Nesse

estudo os dois estão atrelados pois falam de áreas de crescimento em locais não-edificáveis

por famílias de baixo poder econômico. A pobreza e a vulnerabilidade são condições sociais

que se reforçam mutuamente. Porém, parte significativa da população é vulnerável, apesar de

não ser considerada pobre de acordo com os critérios estabelecidos pela linha da pobreza.

2.1.4 RISCO

O conceito de risco é apresentado para o tema em estudo segundo diferentes autores nas

Tabelas 3 e 4, sendo apresentado na Tabela 4 por meio de suas formulações.

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Tabela 3 – Definições de risco encontradas na literatura (Adaptado de Daniele Broda, 2015)

Referência Definição

Slovic (1992) apud

Campbell (2006)

Risco é inerentemente subjetivo, não existindo sem um contexto e

independente de nossas mentes e culturas, e por isso, não é possível

calculá-lo.

Diretiva Seveso 2

(1996) apud Heitz

(2009)

O risco é definido como a probabilidade de um efeito específico

negativo se produzir em um dado período ou dentro de circunstâncias

determinadas.

Finlay e Fell (1997)

Os pesquisadores definem o risco como a probabilidade de determinado

evento ocorrer durante certo período versus o grau de perda de pessoas

ou estruturas que integram uma área afetada pelo deslizamento.

Alheiros (1998)

apud Lucena (2006) O risco refere-se à probabilidade de ocorrência de um desastre.

Cunha (2005) apud

Vieira (2004) apud

Lucena (2006)

O risco refere-se a danos possíveis, sendo que se tem consciência do

dano

Lucena (2006)

Risco é a probabilidade de acontecer um acidente, um desastre ou uma

ação que deu errado. É a relação entre a probabilidade de que uma

ameaça de evento adverso ou acidente se concretize, com o grau de

vulnerabilidade do sistema receptor a seus efeitos. O grau de risco

dimensiona a probabilidade de ocorrência de acidentes, segundo uma

escala de intensidade.

Vargas (2006)

O risco é o produto de diferentes percepções que integram visões de

mundo, culturas e estruturas de sociabilidade específicas a determinados

grupos sociais.

Ministério das

Cidades e Cities

Alliance (2006)

O termo risco indica a probabilidade de ocorrência de algum dano a

uma população (pessoas ou bens materiais). É uma condição potencial

de ocorrência de um acidente

Ministério das

Cidades e IPT

(2007

Risco é a relação entre a possibilidade de ocorrência de um dado

processo ou fenômeno, e a magnitude de danos ou consequências

sociais e/ou econômicas sobre um dado elemento, grupo ou

comunidade.

Fell et al. (2008)

apud Bressani et al.

(2013

O risco é uma medida da probabilidade e severidade de um efeito

adverso à saúde, propriedade ou meio ambiente. O risco é

frequentemente estimado pelo produto da probabilidade de um

fenômeno de uma dada magnitude multiplicada por suas consequências.

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Tabela 4 - Fórmulas relacionadas ao conceito de risco (R) encontradas na literatura(Adaptado de

Daniele Broda, 2015)

Fórmulas Referência Descrição dos símbolos

Thouret e D’Ércole

(1996)

S: suscetibilidade ou características da

origem do risco; V: vulnerabilidade ou

lista de impactos do sistema social como

um todo; t: tempo; s: espaço

R = P x V Finlay e Fell (1997)

P: probabilidade de determinado evento

ocorrer sob determinado cenário do evento

deflagrador. V: vulnerabilidade ou grau de

perda de pessoas ou estruturas que integram

uma área afetada pelo deslizamento;

R = P(fA) x C(fV) x g−1

Ministério das

Cidades e Cities

Alliance (2006)

Um determinado nível de risco R

representa a probabilidade P de ocorrer um

fenômeno físico (ou perigo) A, em local e

intervalo de tempo específicos e com

características determinadas (localização,

dimensões, processos e materiais

envolvidos, velocidade e trajetória);

causando consequências C (às pessoas,

bens e/ou ao ambiente), em função da

vulnerabilidade V dos elementos expostos;

podendo ser modificado pelo grau de

gerenciamento g.

R = P x C

Fell et al. (2008)

apud Bressani et al.

(2013)

P: probabilidade de ocorrer um acidente

associado a um determinado perigo ou

ameaça; C: consequências danosas

potenciais do acidente.

𝑅 = 𝑃 𝑥 𝐶𝑠𝑜𝑐𝑖𝑎𝑙 Yang et al. (2008)

P: probabilidade de ocorrer um acidente

associado a um determinado perigo ou

ameaça; Vsocial: Vulnerabilidade social;

R = E x A x v Yang et al. (2008)

E: exposição das populações e bens; A:

ameaça ou perigo, V: vulnerabilidade de

pessoas e bens a essa ameaça;

Heitz (2009)

S: suscetibilidade; V: vulnerabilidade ou

lista de impactos do sistema social

Analisando-se as tabelas 3 e 4 é possível verificar que o conceito de risco é definido de

maneira ampla e divide opiniões, há pesquisadores que interpretam risco de forma objetiva e

simples, enquanto alguns o definem como sendo algo subjetivo ou numa combinação de

subjetividade e objetividade.

𝑅 = ∫(S, V)

𝑅 = ∫[S(t, s), V(t, s)]

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Quando inicialmente definido, o risco era conceituado como a probabilidade de um

evento ocorrer associado a um perigo. Esse conceito evoluiu e convencionou-se que, de forma

técnica, o risco seria produto entre a probabilidade de ocorrência de um evento danoso e

possíveis consequências desfavoráveis, o que representa uma perspectiva objetivista radical

(Lieber & Lieber, 2002 apud Mendonça & Pinheiro, 2013).

Apesar da definição citada, nem todos os especialistas consideram essa orientação.

Onde ainda há escritores que prezam pela subjetividade e seguem por defini-lo como não

mensurável e dependente de um contexto histórico e cultural (Slovic, 1992 apud Campbell,

2006).

Segundo Vargas (2006) o risco não pode ser tratado de forma objetiva e absoluta,

porque ele é objeto de uma construção social por grupos diferenciados baseada em crenças e

visões, que sustentam as relações sociais. Já para Campbell (2006) o risco é subjetivo no

sentido em que ele depende das experiências de vida, mentais e culturais, porque esses fatores

influenciam nas preferências do indivíduo ou grupo social. Critica-se a objetividade no trato

com a questão do risco, pois normalmente essa visão se confunde com a noção de

“obviedade”, na qual a população é banalizada e sua capacidade de enfrentamento para

redução dos desastres é negligenciada num ambiente de conflito de relações de poder, no qual

a população exposta ao risco de desastre não é ouvida, mas inferiorizada por suas escolhas.

(Vargas, 2006; Mendonça & Pinheiro, 2013; Mendonça, 2013).

Em meados de 1969, o risco começou a ser visto pela comunidade científica como

tanto de forma subjetiva, devido ao questionamento de Starr: “How safe is safe enough?”, que

faz refletir sobre os fatores, objetivos e subjetivos, que compõem o grau de aceitação do risco

(Heitz, 2009). A partir desse questionamento houveram reflexões sobre como se deveria tratar

o risco e que sua definição dependeria diretamente dos valores culturais de uma população

exposta. Os estudos quantitativos e suas fórmulas seguem com sua importância, pois há

necessidade de dados quantitativos e semi-quantitativos, que representem em números as

consequências do desastre, dado que trabalha-se também com perdas e danos de pessoas, bens

e do meio ambiente, diante de um evento físico previsível.

Para interpretação do presente trabalho, será utilizada a definição de risco como a

probabilidade de um evento acontecer multiplicada pela consequência causada por esse

evento; a exposição do evento.

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2.2 INUNDAÇÕES E ENXURRADAS

Quando pensamos em desastre geralmente relacionamos a destruição, seja de qual

origem for. Na prática o termo desastre indica uma séria interrupção do funcionamento de

uma comunidade causando mortes e/ou importantes perdas materiais ou ambientais, as quais

excedem a capacidade da comunidade afetada de lidar com a situação. Sendo assim, o

desastre é o resultado da combinação de ameaças/perigo, condições de vulnerabilidade e da

insuficiente capacidade ou medidas para reduzir as consequências negativas e potenciais do

risco. Em outras palavras, um desastre traz perdas e danos às pessoas, ao meio ambiente

(fontes de alimentação, água, saúde) e à infraestrutura (moradias, transportes, hospitais)

devido ao impacto de um perigo (ameaça) que ultrapassa a capacidade local de responder e

atender as consequências com eficácia. A comunidade afetada precisa de ajuda externa para

sair da situação (TRAJBER et al., 2009).

Das diferentes definições possíveis, há como descrever os desastres naturais como o

resultado do impacto de um fenômeno natural intenso ou extremo sobre uma comunidade,

área ou sistema social. Sua ocorrência causa sérios danos e prejuízos que excedem a

capacidade dos atingidos e afetados de conviver com o impacto (SILVIA SAIATO, 2012).

Nas últimas décadas os Desastres Naturais têm se tornado tema cada vez mais presentes no

cotidiano das populações. Há um aumento considerável não apenas na frequência de

ocorrência e na intensidade, mas também nos impactos gerados causando danos e prejuízos

cada vez mais consideráveis.

O aumento frequente do número de registros anuais de órgãos de Proteção e Defesa

Civil também está diretamente ligado a constante evolução quanto ao procedimento de

registro de desastres por meio de documentos oficiais, registros fotográficos e tecnologias

inseridas para computar desastres como os já citados: movimentações de massa, erosão,

inundações, enxurradas, alagamentos, vendavais, tempestades de granizo, secas, tornados,

ondas de frio, incêndios florestais, etc... Assim, acredita-se que pode haver carência de

informações sobre os desastres ocorridos no território nacional, principalmente em épocas em

que os órgãos de Proteção e Defesa Civil ainda não utilizavam nenhum software para

controlar e guardar esses dados, Calcula-se que isso ocorreu até o ano de 2011.(ATLAS

BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 2012).

Os itens a seguir descrevem dois tipos de ameaças, as quais podem ocasionar desastres,

que são abordados neste trabalho para o estudo do Programa Rios Cariocas: enxurradas e

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inundações. Serão explicados os termos e, mais a frente, as ações do Programa relacionadas à

redução dos impactos oriundos destas ameaças.

2.2.1 ENXURRADA

Antes chamadas de inundações bruscas, hoje, segundo a Classificação e Codificação

Brasileira de Desastres (COBRADE), proposta em 2012, passaram a ser denominadas

enxurradas e são definidas como Escoamento superficial de alta velocidade e energia,

provocado por chuvas intensas e concentradas, normalmente em pequenas bacias de relevo

acidentado. Caracteriza-se pela elevação súbita das vazões de determinada drenagem e

transbordamento brusco da calha fluvial. (BRASIL, 2012).

Figura 2– Área decorrente de enxurrada na Zona Norte do Rio de Janeiro (site da Defesa Civil do Rio

de Janeiro, acesso em dezembro 2018)

Existem diversas definições, por diferentes autores do termo enxurrada. Em inglês, o

termo flash flood é amplamente empregado para nomear as enxurradas (KOBIYAMA e

GOERL, 2007). Já em espanhol, geralmente, utiliza-se o termo avenidas súbitas, avenidas

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repentinas, avenidas, crecidas repentinas, inundaciones súbitas (MORALES et al., 2006;

SALINAS e ESPINOSA, 2004; CORTES, 2004). No Brasil, há termos, na literatura, como

inundação relâmpago, inundação ou enchente repentina e inundação brusca como sinônimos

de enxurradas (TACHINI, KOBIYAMA e FRANK, 2009; TAVARES, 2008; GOERL e

KOBIYAMA, 2005; MARCELINO, GOERL e RUDORFF, 2004). Em áreas da ciência, o

termo enxurrada está muitas vezes associado ao fluxo concentrado, aos processos e à perda de

solo (ALBUQUERQUE et al., 1998; CASTRO, COGO e VOLK, 2006; BERTOL et al.,

2010). Já MIGUEZ ET al. (2018) definem enxurrada como sendo inundação brusca que

ocorre em terrenos de alta declividade. O quadro a seguir apresenta parte das definições para

o termo:

Tabela 5 – Definições de enxurrada (Goerl e Kobiyama, 2005)

Termo Autor Definição

Flash flood National Disaster

Education

Coalitation (2004)

Inundações bruscas que ocorrem dentro de 6 horas, após

uma chuva, ou após a quebra de barreira ou reservatório,

ou após uma súbita liberação de água armazenada pelo

atolamento de restos ou gelo.

Flash flood NWS/NOAA

(2005)

Uma inundação causada pela pesada ou excessiva chuva

em um curto período de tempo, geralmente menos de 6

horas. Também uma ruptura da barragem pode causar

inundação brusca, dependendo do tipo de barragem e o

período de tempo decorrido.

Flash flood FEMA (1981) Inundações bruscas usualmente consistem de uma

rápida elevação da superfície da água com uma anormal

alta velocidade das águas, frequentemente criando uma

parede de águas movendo-se canal abaixo ou pela

planície de inundação. As inundações bruscas

geralmente resultam da combinação de intensa

precipitação, numa área de inclinações íngremes, uma

pequena bacia de drenagem, ou numa área com alta

proporção de superfícies impermeáveis.

Flash flood Choudhury et al.

(2004)

Inundações bruscas são inundações de curta vida e que

duram de algumas horas a poucos dias e originam-se de

pesadas chuvas

Flash flood IAHS-UNESCO-

WMO, (1974)

Súbitas inundações com picos de descarga elevados,

produzidos por severas tempestades, geralmente em

uma área de extensão limitada.

Flash flood Georgakakos

(1986)

Operacionalmente, inundações bruscas são de evolução

rápida e requerem a emissão de alertas pelos centros

locais de previsão e alerta.

Flash flood Kömüsçü et al.

(1998)

Inundações bruscas são normalmente produzidas por

intensas tempestades convectivas, numa área muito

limitada, que causam rápido escoamento e provocam

danos enquanto durar a chuva.

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Inundação

Brusca ou

Enxurrada

Castro (2003) São provocadas por chuvas intensas e concentradas em

regiões de relevo acidentado, caracterizando-se por

súbitas e violentas elevações dos caudais, que se escoam

de forma rápida e intensa.

Flash flood Kron (2002) Inundações bruscas geralmente ocorrem em pequenas

áreas, passado apenas algumas horas (às vezes, minutos)

das chuvas, e elas têm um inacreditável potencial de

destruição. Elas são produzidas por intensas chuvas

sobre uma pequena área.

No Brasil, Pinheiro (2007) argumenta que as enchentes ocorridas em pequenas bacias

são chamadas popularmente de enxurradas e, quando ocorrem em áreas urbanas, elas são

tratadas como enchentes urbanas. Para Amaral e Gutjahr (2011), as enxurradas são definidas

como o escoamento superficial concentrado e com alta energia de transporte, que pode ou não

estar associado a áreas de domínio dos processos fluviais. Autores como Nakamura e

Manfredini (2007) e Reis et al. (2012) utilizam os termos escoamento superficial concentrado

e enxurradas como sinônimos.

Nota-se que as definições ainda precisam amadurecer até que se chegue a um

consenso. Apesar da divergência entre nomes e classificações, em relação às características,

há mais consenso entre os diversos autores/pesquisadores. Montz e Gruntfest (2002)

enumeram os seguintes atributos das enxurradas: ocorrem de maneira súbita, com pouco

tempo de alerta; seu deslocamento é rápido e violento, resultando em muitas perdas de vida e

em danos à infraestrutura e às propriedades; sua área de ocorrência é pequena; geralmente

está associada a outros eventos como os fluxos de lama e de detritos. Em relação ao seu local

de ocorrência. Amaral e Ribeiro (2009) argumentam que os vales encaixados (em V) e

vertentes com altas declividades predispõem as águas a atingirem grandes velocidades em

curto tempo, causando inundações bruscas e mais destrutivas. Dessa maneira, as enxurradas

tendem a ocorrer em áreas ou bacias hidrográficas pequenas e declivosas, com baixa

capacidade de infiltração ou solos rasos que saturam rapidamente ou ainda em locais

urbanizados (TUCCI e COLLISCHOON, 2006; SUN, ZHANG e CHENG, 2012).

Com a redução da capacidade de infiltração nos solos devido a pisos não permeáveis e

a urbanização irregular ou sem planejamento; as enxurradas se tornaram frequentes em

diversos centros urbanos, estando muitas vezes associadas a alagamentos. Diferenciar os

termos alagamento e enxurrada ainda é algo complexo, visto que enxurradas, em maioria das

vezes, estão associadas a alagamentos, tornando essa distinção cada vez mais complexa.

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O Estado do Rio de Janeiro possui 251 registros oficiais de enxurradas severas

caracterizadas como desastre, entre os anos de 1991 e 2012. O mapa apresentado na Figura 4

indica a distribuição espacial dessas ocorrências no território fluminense.

Figura 3 – Mapa de registro de enxurradas no Estado do Rio de Janeiro (CEPED UFSC, 2012)

A análise do mapa demonstra que as regiões do Rio de Janeiro mais afetadas estão em

geral associadas a maior densidade demográfica. Esse é mais um fator que demonstra a

necessidades de ações para mitigar essas ocorrências, pois é sabido que as áreas mais afetadas

são aquelas onde estão comunidades carentes e moradias de pessoas de baixa renda.

Além da destruição de habitações, as enxurradas, assim como as demais ameaças

explicadas nesse trabalho, também comprometem estruturas públicas como hospitais e

escolas. Assim, a escolha dos locais para a construção de escolas, bem como postos de saúde

e outros serviços essenciais, deve sempre levar em consideração se são ou não áreas

susceptíveis a ocorrências de enxurradas ou outros tipos de eventos extremos. Caso esses

aparelhos públicos também sejam comprometidos em caso de emergência a situação torna-se

ainda mais extrema, pois não é possível dar a população o suporte necessário para acolhe-la

em momentos extremos. A Figura 5 indica as edificações destruídas ou danificadas por

enxurradas.

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Figura 4 –Edificações destruídas e danificadas pelas enxurradas no Estado do Rio de Janeiro, no

período de 1991 a 2012 (Brasil, 2013)

2.2.2 INUNDAÇÃO

As inundações, antes denominadas de “enchentes ou inundações graduais”, são parte

do grupo de desastres naturais hidrológicos, segundo a Classificação e Codificação Brasileira

de Desastres (COBRADE). Definem-se como: submersão de áreas fora dos limites normais de

um curso de água em zonas que normalmente não se encontram submersas. O

transbordamento ocorre de modo gradual, geralmente ocasionado por chuvas prolongadas em

áreas de planície (BRASIL, 2012).

As inundações ocorrem quando o fluxo de água em um trecho do rio é superior à

capacidade de drenagem de sua calha normal, e então ocorre o transbordamento do corpo

hídrico e a água passa a ocupar a área do seu leito maior (TUCCI, 1993; LEOPOLD, 1994).

MIGUEZ ET al. (2018) definem inundação como sendo o extravasamento da vazão do rio

para fora de sua calha secundária, ocupando a planície e inundação. Ocorre durante a

enchente do rio e pode ser mais crítica quando a planície encontra-se ocupada, por uma

cidade, por exemplo. As inundações podem ser graduais ou bruscas, dependendo da

topografia da região, que condiciona velocidades de escoamento e o tempo de ocorrência do

fenômeno. Já Para Castro (2003), sua ocorrência é de forma gradual e se caracteriza pela

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elevação das águas de forma paulatina e previsível, mantendo-se em situação de cheia durante

um intervalo de tempo, para depois escoarem gradualmente. São eventos naturais que

ocorrem com periodicidade nos cursos d’água, sendo características das grandes bacias

hidrográficas e dos rios de planície, como o Amazonas. Além de previsível, a onda formada

pelo fenômeno desenvolve-se de montante para jusante, com intervalos regulares.

Na língua inglesa, o evento inundação é denominado flood ou flooding. Na Tabela 6, pode-

se observar as definições utilizadas por diferentes autores para as inundações graduais. As

definições de inundação se assemelham entre si com características em comum nas diversas

descrições.

Tabela 6 – Definições de Inundação (Goerl e Kobiyama, 2005)

Termo Autor Definição

Flood NFIP (2005)

Uma condição geral ou temporária de parcial ou

completa inundação de dois ou mais acres de uma terra

normalmente ou de duas ou mais propriedades (uma das

quais é a sua propriedade), proveniente da inundação de

águas continentais ou oceânicas

Flood

National Disaster

Education

Coalition (2004)

Inundações ocorrem nas chamadas planícies de

inundação, quando prolongada precipitação por vários

dias, intensa chuva em um curto período de tempo ou

um entulhamento de gelo ou de restos, faz com que um

rio ou um córrego transbordem e inundem a área

circunvizinha.

Flood NWS/NOAA

(2005)

A inundação de uma área normalmente seca causada

pelo aumento do nível das águas em um curso d’água

estabelecido como um rio, um córrego, ou um canal de

drenagem ou um dique, perto ou no local onde as chuvas

precipitaram.

Flood FEMA (1981)

Inundação resulta quando um fluxo de água é maior do

que a capacidade normal de escoamento do canal ou

quando as águas costeiras excedem a altura normal da

maré alta. Inundações de rios ocorrem devido ao

excessivo escoamento superficial ou devido ao bloqueio

do canal.

Inundações

Graduais ou

Enchentes

Castro (1996)

As águas elevam-se de forma paulatina e previsível,

mantém em situação de cheia durante algum tempo e, a

seguir, escoam-se gradualmente. Normalmente, as

inundações graduais são cíclicas e nitidamente sazonais.

River Flood Choudhury et al.

(2004

Inundações de rios ocorrem devido às pesadas chuvas

das monções e ao derretimento de gelo nas áreas a

montante dos maiores rios de Bangladesh. O escoamento

superficial resultante causa a elevação do rio sobre as

suas margens propagando água sobre a planície de

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Sua ocorrência é em áreas adjacentes às margens dos rios que por determinados

períodos permanecem secas, ou seja, na planície de inundação. São provocadas por intensas e

persistentes chuvas e a elevação das águas ocorre gradualmente na maioria dos caos de

ocorrência. Como o nível da água sobe gradualmente, é possível notar um menor número de

mortes quando comparado com os números trazidos por enxurradas e alagamentos, pois há

tempo suficiente para que as pessoas deixem suas casas antes de uma inundação brusca.

Contudo, devido a sua área de abrangência, a quantidade total de danos acaba sendo elevada,

conforme mostrado na Figura 5. Casas, hospitais e habitações são tomados pela água,

consequentemente a área também perde as condições de abastecimento de água e de

fornecimento de energia elétrica e o acesso às redes de comunicação.

inundação.

Inundações

Ribeirinhas

Tucci e Bertoni

(2003)

Quando a precipitação é intensa e o solo não tem

capacidade de infiltrar, grande parte do volume escoa

para o sistema de drenagem, superando sua capacidade

natural de escoamento. O excesso de volume que não

consegue ser drenado ocupa a várzea inundando-a de

acordo com a topografia das áreas próximas aos rios.

Flood

Office of

Thecnology

Assessment

(1980)

Uma inundação de terra normalmente não coberta pela

água e que são usadas ou utilizáveis pelo homem.

River Flood Kron (2002)

É o resultado de intensas e/ou persistentes chuvas por

alguns dias ou semanas sobre grandes áreas, algumas

vezes combinadas com neve derretida. Inundações de

rios que se elevam gradualmente, algumas vezes em um

curto período de tempo.

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Figura 5 – Gráfico dos danos materiais causados por desastres de inundações no Estado do Rio de

Janeiro, no período de 1991 a 2012 (Brasil, 2013)

No Estado do Rio de Janeiro ocorreram 190 registros oficiais de inundações

excepcionais caracterizadas como desastre, entre os anos de 1991 e 2012. O Mapa abaixo

(Figura 6) apresenta a distribuição espacial desses registros no território fluminense, a região

Metropolitana do Rio de Janeiro, com 55 registros teve a mesma quantidade de registros que a

Norte Fluminense e ficou atrás somente da Mesorregião Noroeste Fluminense, que foi a mais

afetada com um total de 62 registros, representando 33% das ocorrências de desastres no

estado.

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Figura 6 – Mapa de registro de inundações no Estado do Rio de Janeiro de 1991 a 2012 (CEPED

UFSC, 2012)

2.3 A QUESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

O Brasil é um país incluído no grupo de países em desenvolvimento. Apesar disso, sua

tendência consumista segue o modelo de alguns países desenvolvidos, onde há uma grande

tendência a optar-se por produtos industrializados e não por produtos naturais. Este padrão

influenciado pela mídia pode induzir a compra de bens desnecessários e a manutenção de um

estilo de vida que reflete na crescente geração de resíduos sólidos.

A composição dos resíduos sólidos gerados não é uniforme e varia de comunidade

para comunidade. É importante entender os hábitos e costumes da população para que se

entenda sobre as características do material descartado. Outros fatores importantes são,

também, o número de habitantes do local, poder aquisitivo, clima, desenvolvimento, nível de

escolaridade dos moradores, podendo variar ainda dentro da mesma comunidade em

diferentes períodos do ano, como as estações do ano e feriados.

Conforme definição do dicionário Aurélio (2018), lixo é “o quê se varre da rua ou de

casa, coisa imprestável, entulho e o que se varre da casa e o que em geral não presta e se deita

fora, cisco, imundice, escória”. Já a norma brasileira NBR 10.004 que trata da classificação

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dos resíduos sólidos, define-os como: “resíduos nos estados sólido e semi- sólido que

resultam da atividades da comunidade, de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial,

agrícola, de serviços e de varrição”(ABNT,1987).

Com relação aos riscos potenciais ao meio ambiente e saúde pública; a NBR 10.004/2001

classifica os resíduos sólidos em duas classes:

• Classe I – Perigosos: São resíduos que tem propriedades físicas, químicas ou

infectocontagiosas que apresentam ou podem apresentar riscos à saúde pública. Podem

provocar ou acentuar um aumento de mortalidade ou incidência de doenças se manuseados ou

dispostos inadequadamente. Podem apresentar reatividade, inflamabilidade, corrosividade,

características patogênicas e toxicidade.

• Classe II – Não perigosos: São subdivididos em Classe IIA, não inertes – aqueles que

podem ter propriedades como degradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água- e

Classe IIB, inertes – são aqueles que não apresentam nenhum de seus constituintes

solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-

se aspectos de cor, turbidez, dureza e sabor.

Os resíduos sólidos urbanos são os resíduos produzidos em residências, comércio e

resíduos públicos. Estes são principalmente compostos de restos de comida, papel,

embalagens de papelão, de vidro, latas de alumínio, plásticos, metais, pano, madeira, osso, e

material inerte (poeira, terra, etc), oriundos das atividades cotidianas das moradias. A Figura 7

indica a geração de resíduos de toda cidade do Rio de Janeiro, bem como sua composição e

tipo de resíduos.

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Figura 7 - Valores estimados de geração de resíduos sólidos da cidade do Rio de

Janeiro (IPEA, 2012)

No Brasil a produção média de lixo gerado por habitante é a mesma que a da América

Latina e varia de 0,5 kg/hab a 1,2 kg/hab (Acurio et all, 1997). No Município do Rio de

Janeiro são contabilizados cerca de 8343 toneladas de lixo coletado por dia, sendo estes

destinados a aterros controlados ou sanitários e a estações de compostagem (IBGE, 2000).

Os resíduos oriundos de coleta pública são destinados ao Aterro Controlado de

Gramacho, por exemplo. No entanto, parte desse lixo gerado é destinada aos corpos hídricos

de forma irregular e incorreta, devido a falhas na coleta e na conscientização da população. Os

serviços de coleta de lixo urbano da cidade do Rio de janeiro, segundo dados do IBGE (2018),

atendem a uma faixa de 90 a 99% de domicílios com coleta de lixo.

Além dos problemas de coleta ou dos relativos ao comportamento da população, há

lugares onde há coleta do lixo, mas não é feita de modo suficiente para atender à demanda da

população. Há casos em que, por exemplo, o caminhão de coleta não tem acesso ao local

(como vielas, ruas de pequeno porte, ladeiras). Nestes casos, infelizmente, é muito comum a

disposição do lixo de forma inadequada em lixões, terrenos baldios ou em corpos hídricos.

A Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro alerta aos moradores

através de seu canal online alguns dos malefícios causados pela disposição irregular do lixo, é

disposto no site da secretaria os efeitos adversos causados pelo descarte irregular, que pode

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resultar não apenas em doenças ligadas a exposição do lixo. A irregular descarga de lixo a céu

aberto, sem as necessárias medidas de proteção, causa grande desconforto e acarreta inúmeros

malefícios à saúde dos moradores da região, em conseqüência do mau cheiro e da proliferação

de moscas, roedores, baratas e outros vetores. As moscas apresentam um ciclo reprodutivo de

12 dias e botam cerca de 120 a 150 ovos por dia, sendo responsáveis pela transmissão de cem

espécies patogênicas; os roedores transmitem doenças tais como a leptospirose e a

salmonelose, e em apenas um ano de vida uma fêmea gera 98 novos ratos; as baratas, por sua

vez, se reproduzem exageradamente, visto que em apenas um ano e meio a barata gera 1.300

novas baratas, transmitindo doenças como o vírus da poliomielite e bactérias intestinais.

Quando o depósito de lixo está situado numa área de preservação permanente, às

margens de um córrego, o córrego não está sujeito apenas à poluição hídrica, mas também à

erosão, que ocasiona o assoreamento do rio, acabando por provocar a degradação ambiental

da área e potencializando a ocorrência de desastres (Secretaria de Meio Ambiente, 2010).

2.4 PRINCIPAIS DESASTRES NO BRASIL, NO ESTADO E NO MUNICÍPIO DO

RIO DE JANEIRO

No Brasil, os elevados números de desastres indicam um cenário preocupante, em que

se percebe a necessidade da ação de órgãos responsáveis nas várias esferas (estadual,

municipal e federal) em parceria com a população para evitar ou minimizar os impactos

causados por esses eventos associados a ameaças naturais.

Com um relevo muito variado, apresentando escarpas elevadas, vasta região de

morros, colinas e vales e uma extensa área de planalto localizada em toda parte oeste do

território, o Brasil é uma área suscetível a eventos como: movimentos de massa, erosão,

inundações, enxurradas, alagamentos, vendavais, tempestades de granizo, secas, tornados,

ondas de frio e incêndios florestais, por exemplo.

A Tabela 7, a seguir, apresenta os principais tipos de desastres que tem ocorrem no

território brasileiro (CEPED UFSC, 2012). Os eventos seguem a classificação sugerida pela

Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE, 2013). Os desastres, de acordo com esta

classificação, são subdivididos em duas categorias: desastres naturais, subdivididos em

geológicos, hidrológicos, meteorológicos, climatológicos e biológicos; e os desastres

tecnológicos, como, por exemplo, os desastres associados a incêndios urbanos, ao colapso de

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edificações, ao colapso de barragens e ao transporte de passageiros e / ou produtos perigosos

e/ou radioativos.

Tabela 7 – Classificação parcial dos dez principais eventos incidentes no Brasil quanto a desastres

geológicos, meteorológicos, climatológico e hidrológicos (CEPED UFSC, 2012)

Grupo Tipo COBRADE

Geo

lógico

s

Movimentos de Massa

Quedas, Tombamentos e rolamentos – Blocos 11311

Quedas, Tombamentos e rolamentos – Lascas 11312

Quedas, Tombamentos e rolamentos – Matacões 11313

Quedas, Tombamentos e rolamentos – Lajes 11314

Deslizamentos de solo e/ou rocha 11321

Corridas de Massa – Solo/Lama 11331

Corridas de Massa – Rocha/detrito 11332

Subsidências e colapsos 11340

Erosão

Erosão Costeira/Marinha 11410

Erosão de Margem Fluvial 11420

Erosão Continental – Laminar 11431

Erosão Continental – Ravinas 11432

Erosão Continental – Boçorocas 11433

Meteo

roló

gico

s

Ciclones/vendavais

Ciclones – Ventos Costeiros (Mobilidade de

Dunas) 13111

Ciclones – Marés de Tempestade (Ressacas) 13112

Tempestade Local/Convectiva – Vendaval 13215

Tempestade Local/Convectiva – Granizo 13213

Estiagem/ seca Estiagem 14110

Seca 14120

Tempestade Local/Convectiva – Tornados 13211

Onda de Frio – Geadas 13322

Clim

ato-

lógico

Incêndio Florestal

14131

14132

Hid

ro-

lógico

s

Inundações 12100

Enxurradas 12200

Alagamentos 12300

Cumpre destacar que a perda de vidas e os danos materiais oriundos de desastres está

aumentando no planeta. A cada ano mais de 226 milhões de pessoas são afetadas por

desastres. Com o crescimento populacional, o intenso processo de urbanização e o grande

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impacto das mudanças climáticas, há mais pessoas vivendo em áreas consideradas de risco e

expostas aos perigos de eventos extremos(CEPED UFSC, 2012). De acordo com a Estratégia

Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR, 2005), mulheres e

crianças são 14 vezes mais propensas que homens a morrer durante um desastre.

O Estado do Rio de Janeiro possui uma extensão territorial de 43.780,172 km², sendo o 24º

maior estado brasileiro em dimensão territorial, correspondente a 0,51%, da área do país, e

4,73%, da Região Sudeste (IBGE, 2010a). Possui 92 municípios e de acordo com suas

características geográficas é dividido em seis mesorregiões: Sul Fluminense, Metropolitana do

Rio de Janeiro, Baixadas Litorâneas, Centro Fluminense, Norte Fluminense e Noroeste

Fluminense. Com relação ao clima, o estado do Rio de Janeiro, por classificação de Köppen

(1948), pode ser dividido amplamente em Clima Tropical, na área norte e leste, e Clima

Temperado, a oeste e ao sul do estado. No decorrer do ano, a distribuição de chuvas é mais

concentrada no verão (cerca de 70% a 80%), sendo a estação chuvosa, de outubro a março. E

a estação seca no inverno (com 20% a 30% das precipitações), entre os meses de abril e

setembro (ANDRÉ et al., 2008). A topografia do estado tem uma influência marcante no

regime de precipitação.

Segundo CEPED UFSC (2012) e conforme a Figura 7, os principais desastres no Estado do

Rio de Janeiro (95,19%) são os de enxurradas, movimentação de massa, inundações,

alagamentos e vendavais, respectivamente.

Figura 7 – Registros de desastres naturais por evento, nos municípios do Estado do Rio de Janeiro, no

período de 1991 a 2012 (CEPED UFSC, 2012)

Já cidade do Rio de Janeiro, que é a área de abrangência do Programa “Rios Cariocas” é a

capital do Estado do Rio de Janeiro apresenta os registros de desastres naturais mais

incidentes sendo os de: movimentação de massa, inundações e enxurradas (CEPED UFSC,

2012).

Neste trabalho são descritos dois dos principais tipos de desastres: inundações e

enxurradas. São estes os eventos que o programa Rios Cariocas, aqui discutido, contempla por

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meio de medidas como a limpeza dos rios e de suas margens e também por meio de

campanhas de conscientização da população.

3 O PROGRAMA RIOS CARIOCAS

3.1 FASE 1 DO PROGRAMA

O Programa Rios Cariocas teve sua origem no ano de 2001, sendo conhecido inicialmente

pelo nome Guardiões do Rio. A primeira fase de atuação tratou da organização de mutirões

formados por pessoas da comunidade que eram treinadas e então designadas para a limpeza

dos rios e canais e revegetação das margens dos mesmos. Os trabalhadores recebiam

treinamento de educação ambiental do Centro de Educação Ambiental (CEA), setor da

Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Guardiões do Rio manteve esse modelo de 2001 a

2008, a partir daí foi desativado pela Prefeitura do Rio de Janeiro até 2011.

A documentação relevante relativa a essa primeira fase do programa é parca e,

infelizmente, não fornece muitos dados sobre os resultados obtidos. Para esta etapa, é possível

mencionar, de acordo com Silva (2009) as atividades previstas, dentre as quais destacam-se:

• Coleta do lixo ao longo dos rios;

• Pesagem, quantificação e classificação do lixo coletado;

• Armazenagem do lixo para posterior coleta pela COMLURB;

• Monitoramento visual da qualidade das águas e coibição do lançamento de resíduos

nos rios;

• Construção de barreira física para captura de lixo flutuante e identificação de sua

origem;

• Eliminação de espécies de plantas invasoras;

• Revegetação das margens dos rios utilizando espécies de mata ciliar.

Segundo documento interno da Rio-Águas na fase de elaboração do programa, os

objetivos iniciais consistiam em (adaptado de SILVA, 2009):

• Limpeza dos canais;

• Redução de enchentes (elevação do nível do rio acima de sua vazão normal),

englobando aqui enxurradas (inundações bruscas), alagamentos (água acumulada em área

urbana por falha de funcionamento do sistema de drenagem) e inundações (extravazamento da

vazão do rio para fora de sua calha secundária, ocupando a planície de inundação);

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• Promoção da conscientização de conservação ambiental na comunidade;

• Estímulo a formação e atuação de agentes multiplicadores de educação ambiental no

local;

• Geração de emprego local.

Foram atendidas cerca de sessenta e seis comunidades, sendo mais de cento e vinte

equipes de trabalho e mais de oitocentos e cinquenta trabalhadores envolvidos. (SILVA,

2009). Atendendo, assim, todos os objetivos iniciais citados.

Com a paralisação em 2008 ficou a cargo da COMLURB prosseguir com as atividades

antes realizadas por Guardiões do Rio. Cumpre destacar que os funcionários da Prefeitura

consultados para a realização do presente trabalho afirmam não terem tido conhecimento das

reais causas da suspensão do Programa. Especula-se que essa paralização pode estar associada

a causas políticas, ausência de verba, fraudes e corrupção de acordo com reportagens nos

jornais online globo e folha dirigida, acessados em 2018.

3.1.1 ÁREA DE ABRANGÊNCIA

As informações a seguir se baseiam no Termo de Referência do programa Rios

cariocas(Secretaria de Meio Ambiente, 2011). O Rio de Janeiro apresenta em seu próprio

nome uma de suas mais importantes características naturais e também geográficas, o rio.

Apesar de que em 1502, quando as terras do Rio foram vislumbradas, de maneira incorreta,

achou-se que a Baía de Guanabara era a foz de um rio e, por isso, a nomeação de Rio de

Janeiro à uma das cidades que mais se destacam em turismo, belezas naturais, fauna e flora

dentro do Brasil.

Com belezas naturais marcantes, mas com problemas sociais complexos e de difíceis

soluções, a partir do início do século XX a cidade se viu obrigada a desenvolver planos

urbanísticos ousados na tentativa de conter a ocupação imprópria de áreas suscetíveis a

problemas associados a desastres naturais, problemas de saúde pública e de desordem espacial

dentro de uma metrópole expoente ao Novo Mundo.

Diante de fatos históricos e preponderantes como o fim da escravatura, o retorno dos

heróis da guerra do Paraguai, epidemias e outros fatores de transformação social, classes

menos privilegiadas, desde aquela época negligenciadas pelo Estado e Governos, viram na

ocupação de encostas e de áreas sujeitas a inundações, como nas margens de rios, a

oportunidade de estarem inseridas na área central da cidade.

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As comunidades foram crescendo carentes das mínimas condições de sobrevivência

humana. Constituídas de habitações precaríssimas e sem contar com infraestrutura pública, ao

longo do século XX e início do século XXI, essas comunidades multiplicaram-se de maneira

exponencial e quase que invariavelmente às margens de um rio carioca ou em encostas.

Com seus 267 rios cadastrados por órgãos municipais responsáveis, durante os últimos

60 anos, fatores como ausência de políticas públicas, especulação imobiliária e crescimento

populacional alto, foram determinantes para que, no Rio de Janeiro, a população mais carente

continuasse se instalando em áreas consideradas impróprias e com soluções alternativas de

sobrevivência, principalmente quanto às questões habitacionais.

Diante dos fatos descritos é possível perceber que essas comunidades formadas às margens

dos rios cariocas, com a ausência de esgotamento sanitário, deficiente logística de coleta de

lixo e drenagem, se valeriam das calhas hídricas naturais para a destinação final de parte de

seus rejeitos orgânicos e resíduos sólidos em geral.

A maior parte dessas comunidades cresceu de forma tão desorganizada que dificultou

e /ou impossibilitou, ainda que de forma tardia, a entrada do Estado para conseguir gerir de

forma adequada as questões relativas ao saneamento, à energia elétrica e a chegada de água

encanada e tratada nas residências. Os caminhos estreitos e as construções que não respeitam

as margens dos rios dificultam ou impossibilitam o acesso às calhas hídricas com

equipamentos mecanizados para retirada dos lixos domésticos da comunidade. Além do

caráter físico da situação de ocupação desordenada do solo e da topografia acidentada por

grandes desníveis, há também questões relativas à segurança pública.

O programa foi concebido e implantado dentro dos limites territoriais do Município do

Rio de Janeiro (RJ- Brasil). O município possui três importantes bacias hidrográficas, Baía de

Sepetiba, da Guanabara e a Oceânica, as quais em suas respectivas sub-bacias detém uma

importância social relativa já que recortam todo o município. Por este motivo, ao longo dos

quase oito anos de ação do programa no Município do Rio de Janeiro foi possível contemplar

inúmeras comunidades da cidade, em mais de sessenta bairros (Figura 8 e Tabela 8).

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Tabela 8 - Número de identificação no mapa e bairros correspondentes (Arquivo interno Prefeitura do

Rio de Janeiro, 2013)

Bairro

Identificação

no mapa Bairro

Identificação

no mapa Bairro

Identificação

no mapa

Caju 004 Lins de Vasconselos 062 Curicica 119

Rio Comprido 007 Engenho de Dentro 066 Freguesia 120

Estácio 009 Pilares 071 Tanque 123

Benfica 012 Irajá 076 Itanhangá 127

Santa Teresa 014 Colégio 077 Vargem Pequena 130

Cosme Velho 019 Campinho 078 Vargem Grande 131

Jardim Botânico 128 Madureira 083 Recreio dos Bandeirantes 132

São Conrado 031 Turiaçu 085 Deodoro 134

Tijuca 033 Rocha Miranda 086 Realengo 139

Alto da Boa Vista 034 Bento Ribeiro 089 Padre Miguel 140

Andaraí 037 Marechal Hermes 090 Bangu 141

Grajaú 038 Galeão 104 Santíssimo 143

Manguinhos 039 Guadalupe 106 Campo Grande 144

Olaria 042 Anchieta 107 Inhoaíba 146

Penha 043 Ricardo de Albuquerque 109 Cosmos 147

Brás de Pina 045 Coelho Neto 110 Paciência 148

Cordovil 046 Acari 111 Santa Cruz 149

Parada de Lucas 047 Pavuna 114 Sepetiba 150

Jardim América 049 Jacarepaguá 115 Guaratiba 151

Jacaré 051 Anil 116 Pedra de Guaratiba 153

Del Castilho 053 Gardênia Azul 117 Rocinha 154

Engenho da Rainha 055 Cidade de Deus 118

Complexo da Maré 157

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Figura 8 – Área de abrangência do programa por bairros (Adaptado Prefeitura, 2009)

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3.1.2 ESTRUTURA OPERACIONAL

O organograma apresentado na Figura 10 ilustra a hierarquia do programa e a quem os

mutirantes e encarregados deveriam reportar suas ações, sendo esta pessoa um gerente

(representado por gerente do programa II na Figura 10) que era um funcionário da Secretaria

de Meio Ambiente (SMAC), a qual respondia a ações do secretário de Meio Ambiente e do

prefeito.

O Centro de Educação Ambiental (CEA) era a parte responsável pelo planejamento,

coordenação e execução de ações que envolvessem atividades de educação ambiental. Os

gerentes I e II trabalhavam no prédio da prefeitura e também tinham a função de visitar e

acompanhar os agentes dentro da comunidade para orientá-los na execução de suas atividades.

Figura 9 - Estrutura operacional do programa (Arquivo interno Prefeitura do Rio de Janeiro, 2013)

As características de cada comunidade onde o Programa seria implantado eram a

principal forma de definir quantos mutirantes seriam necessários para a execução das

atividades de limpeza do rio, por exemplo. Dentre as características a serem consideradas

destacam-se: o volume de lixo a ser retirado, a extensão do rio e as características de outras

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atividades a serem realizadas. Na Tabela 9 são apresentados os dados coletados relativos às

equipes de mutirantes.

Tabela 9 - Lista de Comunidades atendidas pelo programa, nome do rio, extensão de trabalho e

tamanho da equipe (Dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente em 2008)

Comunidade Bairros de

origem Rio

Equipe de mutirante

Ext (m ) linear

1 Aguiar Torres Inhoaíba Papagaio 06 1.168

2 Alto Catrambi Alto da Boa Vista

São João 05 832

3 Amat Teixeira Pau da Fome Guerenguê 05 1.103

4 Amigos Artur Rios/Nova Joari

Campo Grande

Cabuçu 08 3.750

5 Amigos Guadalupe(Vila Eugênia)

Guadalupe Acari 08 754

6 Anchieta Anchieta Pavuna 06 1.538

7 Andaraí Andaraí Andaraí 11 1.418

8 Antares Santa Cruz Cação Vermelho 05 1.859

9 Árvore Seca Lins de Vasconcelos

afluente do Rio Jacaré 04 843

10 Associação Moradores do Barata

Realengo Piraquara 05 1.512

11 Bairro Nova Aguiar Campo Grande

do "A" 04 1.190

12 Baixa do Sapateiro Maré Canal do Eixo 200 05 451

13 Beira Rio Vargem Grande

Morto/C. de Sernambetiba 08 6.371

14 Bel Clima Campo grande Cantagalo 03 726

15 Bento Ribeiro Bento Ribeiro das Pedras 06 1.265

16 Boca do Mato Lins Méier 04 832

17 Brás de Pina - 1.029,00 paraliz.11/2007

Brás de Pina Arapogí

18 Cachoeira Grande Lins de Vasconcelos

Jacaré 05 890

19 Camarista Méier Engenho de Dentro

dos Frangos 06 1.120

20 Canal do Anil Anil/ Jacarepaguá

Anil 09 3.047

21 Canal do Tingui Marechal Hermes

Canal do Tingui 04 1.100

22 Caxinguelê Jardim Botânico

Macacos 06 1.434

23 Chico Mendes Recreio Lagoinha 06 1.438

24 Cidade de Deus Cidade de Deus

Banca da Velha 05 1.198

25 Comunidade Unida de Turiaçu

Turiaçu Sanatório 06 1.586

26 Conjunto Bandeirantes Vargem Pequena

Caçambé 07 706

27 Conjunto Campinho Campo Grande

do Campinho 04 1.401

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28 Conjunto da PM Cidade de Deus

Estiva 06 1204

29 Conjunto Esperança Maré C. do Eixo 300 05 725

30 Capão Vila Militar Caldereiro 05 1.100

31 Conjunto Urucânia Campo Grande

afluente do Rio Cação Vermelho(valão Urucânia)

05 1.251

32 Dique/Furquim Mendes Jardim America

Cambuí/São João de Mereti

06 2.800

33 Engenho da Rainha Engenho da Rainha

Timbó 06 1.100

34 Entre Rios Curicica Engenho Novo/Areal 06 1.397

35 Fazenda Botafogo Coelho Neto Acari 08 900

36 Fernão Cardim Pilares Faleiro/faria/Méier 09 2.514

37 Floresta da Barra/Muzema/Tijuquinha

Itanhangá da Figueira/C. do Leandro/Itanhangá/Muzema...

06 5.264

38 Formiga III Tijuca Cascata 10 973

39 Freguesia - encarregado do Canal do Anil

Jacarepaguá São Francisco 05 1.222

40 Gardênia Azul Gardênia C.da Isabel Domingues 05 772

41 Gouveia Paciência Cação Vermelho 09 1.095

42 Guararapes Cosme Velho Carioca 06 1390

43 IAPI Del Castilho Inhaúma Timbó 04 524

44 Iucurana Cosmo Papagaio 04 1.850

45 Ilha de Guaratiba Ilha de Guaratiba

C. da Olaria 09 7.748

46 Inácio Dias II Tanque Covanca 05 3.256

47 Indiana Tijuca Maracanã 07 1.536

48 Irajá Irajá dos Cachorros II 05 1.142

49 IV Centenário Curicica Guerenguê/Arroio Pavuna 09 1.335

50 Jard. N. S. das Graças Campo Grande

Guarajuba/da Prata do Mendanha

09 4.879

51 Jardim Bangu Bangu Sarapuí 08 2.760

52 Jardim Beira Mar Parada de Lucas

Lucas 06 1.508

53 Jardim Campo Belo Campo Grande

C. do Melo 05 4.095

54 Jardim Guaratiba Pedra de Guaratiba

Canal do Jd. Piai 05 1.000

55 Jardim Laranjeiras Santíssimo dos Cachorros III 06 1.728

56 Jardim Maravilha Guaratiba Cabuçu/ Valão José Sena/dos Porcos

09 5.808

57 Jardim Palmares Campo Grande

C. da Agaí 05 1.161

58 Jequia III Ilha do Governador

Jequiá 05 1.403

59 Madureira Madureira Ninguém 03 810

60 Magarça Campo Grande

Caiangá 06 1.487

61 Mandela de Pedra Manguinhos C. do Cunha 07 620

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62 Manguariba Paciência Campinho 04 1.073

63 Mãos Unidas de Benfica

Benfica Canal do Cunha 05 662

64 Moradores Anil Sangrador Guacha

Freguesia Córrego Panela 05 1.588

65 Morro Dourados Cordovil Irajá / Quitungo 05 805

66 Nelson Mandela Manguinhos Faria Timbó/Jacaré 05 1.062

67 Nova Divinéia Grajaú Jacó/Perdido 06 2.247

68 Ocidental/Fallet Santa Teresa Papa-Couve 05 1.077

69 Para Pedro Colégio Rio dos Cachorros 08 1.363

70 Parque Bela Vista Acari Acari Acari 11 1.300

71 Parque Evereste Del Castilho Timbó 05 1.300

72 Parque Proletário do Grotão - Canal da Gruçai

Penha Cortume Carioca :04 792

73 Parque Proletário Grotão

Penha Escorremão 06 803

74 Parque Ricardense Ricardo de Albuquerque

Calogi 05 2.718

75 Paula Ramos Rio Comprido Comprido 05 623

76 Pavuninha Curicica Pavuninha 04 1.126

77 Pedra Angular Campo Grande

C. do Melo 04 741

78 Pica-Pau Amarelo Jacaré Salgado 08 683

79 Piraquê Pedra de Guaratiba

Piraquê 10 3.271

80 Pq. Conquista/Boa Esperança

Caju Dom Carlos/das Rãs/Eixo 900

05 1.943

81 Pq. Nova Esperança Guadalupe Calogi 08 1.537

82 Ramiro Diana Campo Grande

Inhoaíba/Canal Central 04 950

83 Rio da Prata II Campo Grande

da Prata do Cabuçu 08 3.590

84 Rio das Pedras I Jacarepaguá das Pedras 05 713

85 Rio das Pedras II Jacarepaguá das Pedras 06 1.000

86 Rio das Pedras III Rocha Miranda

das Pedras 05 1.702

87 Rocinha II Rocinha Aquarela do Brasil 10 788

88 Rocinha III Rocinha Aquarela do Brasil 09 755

89 Rollas Santa Cruz Cação Vermelho/Boi Branco/Sardinha

06 2.757

90 São Carlos Estácio s/ nome 05 500

91 Sargento de Milícias Pavuna Pavuna 06 1.331

92 Sargento João Lima Campo Grande

da Prata do Cabuçu/Morto 06 2.546

93 Sepetiba Sepetiba Canal da Santa Úrsula 06 2604

94 Taquaral II Bangu do Lúcio 07 2.364

95 Tijuaçu Alto da Boa Vista

Cachoeira 08 2.486

96 Três Pontes Paciência Cação Vermelho 06 2.587

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97 Tubiacanga Ilha do Governador

Itacolomi 06 988

98 V Sto. Antônio II Realengo Piraquara 06 1.695

99 Vale do Rio Freguesia Quitite 04 1.069

100 Vigário Geral Vigário Geral Pavuna 05 1.200

101 Vila Amizade I Recreio C. das Taxas 06 1.842

102 Vila Amizade II Recreio C. das Taxas 08 1.039

103 Vila Autódromo/Asa Branca

Jacarepaguá dos Passarinhos 08 805

104 Vila Canoas São Conrado Canoas 04 1.479

105 Vila Cascatinha Olaria Nunes 06 800

106 Vila do Céu Cosmos Córrego das Rãs 06 978

107 Vila Esperança Acari Vala da Favela do Acari 04 798

108 Vila Eugênia/Muquiço Deodoro Acari 05 902

109 Vila Kennedy Vila Kennedy Sardinhas 04 1.150

110 Vila Mangueiral Campo Grande

Cabuçu 05 1.315

111 Vila Mar Guaratiba Piraquê 05 1.100

112 Vila Rudicéia Campo Grande

Cabuçu Mirim 04 1.555

113 Vila Sapê Curicica Guerenguê 04 747

114 Vila Sta Edwiges Castelo Branco

Canal da Castelo Branco 06 917

115 Parque Real Padre Miguel Catarino 05 1.618

116 Vila Ypê/Arco Iris Curicica EngNovo/Monjolo/ Guerengue

06 4.400

117 Parque Royal Ilha do Governador

Canais/Praias 04 1.110

118 AMACA Santa Cruz Santa Cruz Afluente Canal da Goiaba 06 1.550

119 Parque Bom Menino/Caiçara/Rio D'Douro

Irajá Irajá 07 1.200

120 AMOCAMP - Campinho Campinho Orfanato 05 2.500

121 Guadalupe II Acari Acari 06 850

122 Cafua Rocha Miranda

das Pedras 05 1.235

123 Jd Bela Vista Campo Grande

Canal do Melo 06 2.740

124 Praia da Rosa I. do Governador

Praia/Canal 05 1.100

A análise da tabela acima indica que, em geral, conforme citado, a extensão dos rios

foi levada em consideração na escolha do quantitativo de trabalhadores.

Os critérios para seleção de pessoal (guardiões – encarregados e mutirantes), segundo

a SMAC, incluíam:

• Ser morador da comunidade,

• Para a função de encarregado possuir ensino fundamental completo,

• Ser maior de idade;

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• Ter condições físicas de exercer a atividade,

• Estar desempregado,

• Ter total disponibilidade para participar das atividades de capacitação,

• Não ser presidente de associação de moradores, e

• Estar em dia com a vacinação de hepatite e antitetânica.

Já com relação a definição/escolha da localidade de implantação do Programa em uma

dada comunidade era feita de duas formas distintas:

(a) por solicitação da associação de moradores ou de outra frente de organização da

comunidade. Nesta situação era feita uma comunicação à Secretaria de Meio

Ambiente indicando o desejo de implantar o programa. Assim, gerentes do programa

iam até o local e analisavam as necessidades da área e a quantidade de funcionários

necessária;

(b) por indicação da prefeitura.

Os profissionais selecionados eram capacitados em um treinamento para atividades e

questões relativas ao lixo e à educação ambiental. Assim estariam preparados para exercer as

seguintes atividades: coleta, pesagem, quantificação, classificação e armazenagem do lixo;

monitoramento visual da qualidade das águas; coibição do lançamento de resíduos nos rios;

construção de barreira física para captura de lixo flutuante (cerco de flutuantes) e

identificação de sua origem; eliminação de espécies de plantas invasoras; revegetação das

margens dos rios utilizando espécies de mata ciliar e realização de atividades como agentes

ambientais na própria comunidade. Estas últimas visando à promoção da conscientização a

cerca da conservação ambiental na comunidade e o estímulo a agentes multiplicadores de

educação ambiental no local.

De acordo com as informações obtidas pela autora, em muitos momentos o treinamento

era realizado por membros mais antigos e experientes do Programa, os quais treinavam e

explicavam aos novos integrantes medidas de segurança requeridas, por exemplo, e, também,

os demais procedimentos a serem realizados.

Sobre o exercício e atividades dos mutirantes cabe ressaltar que o treinamento inicial –

ainda que, conforme citado, em determinadas ocasiões tenha sido realizado por integrantes

mais antigos, tinha uma carga horária de 30 h e era dividido em cinco módulos:

• Módulo 1: A bacia hidrográfica como unidade de gestão ambiental

• Módulo 2: A importância da vegetação ciliar

• Módulo 3: Saneamento básico e saúde

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• Módulo 4: Educação ambiental e cidadania

• Módulo 5: Você já é um guardião (aula prática)

Cada funcionário que desempenhava o papel de mutirante do projeto cumpria carga

horária de trabalho de cerca de quarenta e quatro horas semanais, sendo o controle de horário

feito através de folha de ponto. O salário no primeiro ano de atuação (2001) era de um mil e

cinqüenta reais (o salário mínimo do ano de 2001 era de aproximadamente duzentos reais)

para encarregados e de quinhentos e vinte reais e noventa e quatro centavos para serventes e

foi sendo reajustado anualmente, mas sem crescimento expressivo. Nesses valores estavam

inclusos os adicionais relativos à insalubridade.

A limpeza dos canais de córregos tinha como objetivo manter desimpedido o curso

d´água, fazendo com que a frequência de ocorrência e a severidade das enchentes e

inundações reduzissem. O profissional deveria fazer a retirada sistemática e permanente de

todo o material flutuante. Um dos processos utilizados era o uso de “cerco com flutuantes”.

Era também função do guardião manter as margens dos canais limpas e com a vegetação

apropriada para cada local, conforme orientação da gerencia do programa e de acordo com o

citado anteriormente.

As atividades inicialmente previstas para serem realizadas pelos guardiões podem ser

resumidas em:

• Coleta de lixo ao longo dos rios (Figura 10);

• Pesagem, quantificação e classificação do lixo coletado, identificando origem entre o

produzido na comunidade, de comunidades a montante, e o trazido pelas marés, conforme o

caso;

• Armazenagem do lixo para posterior coleta pela Comlurb, em recipientes suspensos;

• Monitorar a qualidade das águas, visualmente, e coibir o lançamento de lixo nos rios;

• Construir barreiras físicas para reter o lixo flutuante, facilitando coleta e

identificação de sua origem;

• Eliminação e controle de aguapé (Eichornia sp), capim colonião (Panicum

maximum) e outras espécies invasoras; e

• Revegetação das margens com espécies de mata ciliar ou de mangue.

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Figura 10 – Guardiões retirando lixo manualmente do leiro de um Rio (Arquivo interno prefeitura do

Rio de Janeiro, 2005)

As Figuras 11 e 12, obtidas do acervo da Prefeitura do Rio de Janeiro, ilustram o caso da

comunidade de Viegas, localizada no bairro de Campo Grande, a situação das margens antes e

após realização das atividades realizadas pelos guardiões, colaboradores do projeto.

Figura 11– Margens de córrego antes das atividades realizadas por membros do Programa na

Comunidade Viegas no bairro de Campo Grande, município do Rio de Janeiro (Arquivo interno

prefeitura do Rio de Janeiro, 2005)

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Figura 12 – Margens de córrego depois de parte das atividades realizadas por membros do Programa

na Comunidade Viegas (Arquivo interno prefeitura do Rio de Janeiro, 2005)

A Tabela 10 resume algumas das etapas executivas do programa e indica o

responsável por cada etapa.

Tabela 10 – Etapas da Fase I do Programa Programa Guardiões dos Rios - Fase 1 Responsáveis

1 Escolha da comunidade para a implantação do

programa Prefeitura do Rio de Janeiro

2 Escolha da equipe técnica Prefeitura do Rio de Janeiro

3 Treinamento dos guardiões Gerentes I e II

4 Treinamento dos guardiões sociais Gerentes I e II e Associação de

moradores

5 Limpeza dos rios e margens Encarregado e guardiões

6 Supervisão das equipes no campo Encarregado

7 Supervisão dos encarregados Gerentes I

8 Coleta e disposição do lixo em aterros Encarregado e guardiões

9 Ações sociais Guardiões sociais

Os funcionários, por orientação dos gerentes do Programa, também passaram a fazer a

pesagem do material coletado, porém sem classificá-lo ou separá-lo de nenhuma forma.

Infelizmente, não foi possível a obtenção de dados relativos ao volume de lixo retirado por

cada frente de trabalho ou do conjunto por não ter havido um controle sistêmico por parte da

SMAC.

Os dados obtidos da prefeitura (relativos aos anos de 2001 e 2002) e da SMAC

(apenas de 2007) encontram-se nas tabelas seguintes, nas quais constam o peso ou volume de

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resíduos coletados mensalmente, em média, por todas as frentes de trabalho. Nos demais

períodos, conforme citado, não houve o controle sistêmico.

Tabela 11 - Média de lixo mensal retirada durante os anos de 2001 e 2002 (Arquivo interno prefeitura

do Rio de Janeiro, 2002)

Peso de resíduo retirado (t)

Mês | Ano 2001 2002 2007*

Janeiro - 332 1097,6

Fevereiro - 407 583,6

Março - 388 591,4

Abril 108 1289 187

Maio 82 1283 278,8

Junho 56 425 548,8

Julho 250 534 208,8

Agosto 245 566 389

Setembro 208 666 971

Outubro 200 633 1217,6

Novembro 240 - 1903,6

Dezembro 614 - 1731,6

* estimativa a partir dos dados de volume coletado e peso específico de 2kN/m³

No ano de 2007 o levantamento de material coletado foi feito somente em termos de

volume. Para comparar com os dados dos anos 2001 e 2002 foi considerado um peso

específico de 2KN/m³ para os resíduos sólidos não compactados dispostos nos rios (Silveira,

2004). É possível notar que nesse mesmo ano de 2007 a coleta de lixo medida em toneladas

aumentou consideravelmente quando comparada com a quantidade de lixo recolhida nos anos

de 2001 e 2002. Algumas análises são feitas a seguir, porém com a falta de dados mais

específicos, para demonstrarem o motivo desse aumento, são especuladas algumas

explicações.

Considera-se nas análises que todas as 40 comunidades participantes dessa fase do

programa participaram do mesmo desde o início até o final do mesmo, ou seja, de 2001 a

2007.

A quantidade de lixo retirada dos rios participantes do Programa tem sua relevância

demonstrada na Tabela 11. Somente no primeiro ano do programa foram 2.003 (dois mil e

três) toneladas de lixo retiradas de rios do município do Rio de Janeiro. Ao longo dos dois

primeiros anos do programa (com cerca de quarenta comunidades atendidas) um total de

8.516 (oito mil quinhentos e dezesseis) toneladas de lixo foram retiradas dos rios e lagoas

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pelos guardiões dos rios. O lixo era proveniente da coleta das margens, resíduos flutuantes e

também resíduos submersos nas calhas dos rios onde a coleta era manual e executada pelo

mutirante ou em conjunto com instrumental simples, tais como pás e peneiras, conforme

ilustrado na Figura 13.

Figura 13 - Guardião retirando vegetação da margem de um Rio (Arquivo interno prefeitura do Rio de

Janeiro, 2005)

3.1.3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O PROGRAMA

Na primeira fase do programa ações de educação ambiental foram implantadas e

utilizadas de forma complementar às atividades dos guardiões dos rios. O Centro de Educação

Ambiental da Prefeitura do Rio (CEA) ofereceu um treinamento específico para formação de

agentes ambientais dentro das comunidades.

Os agentes ambientais (grupo quase totalmente composto por mulheres) eram pessoas

que residiam na comunidade e tinham sua atuação orientada por um supervisor (gerente I ou

II) e um encarregado. A região de trabalho dos agentes ambientais era definida em função da

proximidade com áreas em que o programa já estivesse atuando com ações realizadas por

agentes mutirantes.

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A metodologia utilizada pelos agentes comunitários era baseada em palestras

formuladas com a participação de três instituições: prefeitura, associação de moradores e

escolas da comunidade. As atividades eram postas em prática nas salas de aula (Figura 14) e

na associação de moradores ou por meio de distribuição de folderes e de mutirões de limpeza

em conjunto com os guardiões visando esclarecer a população quanto às questões ambientais.

Além das ações já anteriormente citadas, a realização da visita chamada “porta a

porta” também era frequentemente utilizada para tratar assuntos de relevância ambiental para

a comunidade, onde o agente informava ao morador as atividades realizadas no projeto. Essa

visita era utilizada, também, para esclarecer dúvidas e orientar a conduta do morador para que

o mesmo desempenhasse um papel colaborativo. Os moradores eram informados de quais

eram as ações de limpeza, quais áreas dos rios estavam sendo limpas e quais os benefícios

essas ações trariam à comunidade. Após essa conversa o morador poderia tirar suas duvidas

sobre qualquer aspecto do programa.

A Figura 14 ilustra palestra sobre reciclagem realizada na Escola Municipal Odilon de

Andrade, já a Figura 15 reproduz um dos folderes utilizados no projeto.

As agentes ambientais deveriam reportar suas atividades semanais à supervisão, por

meio de relatórios, contendo as atividades realizadas ao longo do período. No final do mês,

outro relatório deveria ser reportado à encarregada no CEA pela supervisão, mostrando as

atividades realizadas pelos agentes nas comunidades sob sua supervisão.

O controle das agentes ambientais, bem como o material utilizado para a realização de

cursos no CEA não puderam ser obtidos pela dificuldade de localização dos mesmos junto aos

departamentos envolvidos, não se encontrando disponíveis para consulta durante a elaboração

deste trabalho e por ocasião das visitas realizadas.

Ao final do projeto, em 2008, as agentes ambientais também foram desligadas e as

atividades de educação ambiental nas comunidades foram interrompidas, conforme citado

anteriormente.

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Figura 14 - Palestra e atividade sobre reciclagem na Escola Municipal Odilon de Andrade (Arquivo

interno prefeitura do Rio de Janeiro, 2005)

Figura 15 - Material impresso utilizado no Programa Guardiões dos Rios (Secretária do Meio

Ambiente, 2005)

3.2 FASE 2 DO PROGRAMA

O Programa Guardiões dos Rios foi reativado no final de 2011, a partir de um

convênio firmado entre a Prefeitura do Rio e uma Organização Social (O.S.) que assumiu

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ações de gerenciamento, operação e execução de medidas em 3 macrorregiões de drenagem

(Bacia de Sepetiba, Bacia Oceânica e Bacia da Baía de Guanabara) através de contrato com

vigência de 24 meses. Nessa segunda fase do programa, ficou a cargo da Coordenadoria de

Recursos Hídricos (CRH), atual Gerência de Recursos Hídricos e Resíduos Sólidos (GRHRS)

a fiscalização e controle das atividades de conservação e limpeza dos rios e margens.

A equipe técnica da organização social (O.S.) era composta por 9 funcionários, dentre

os quais: 1 coordenadora, 2 engenheiros, 1 auxiliar de escritório, 1 chefe de escritório, 1

secretária e 3 estagiários (PCRJ, 2014). O procedimento de contratação dos trabalhadores foi

o mesmo adotado na fase I. Eram moradores das áreas contempladas, recebiam capacitação e

bolsa auxílio. A limpeza dos rios e demais atividades eram realizadas de acordo com as

diretrizes do programa.

Nesta fase continuavam a compor a equipe de trabalho: os guardiões (operacional),

01(um) encarregado e 01(um) agente ambiental por área. Por vezes um mesmo agente

ambiental era encarregado das atividades de educação ambiental de mais de uma área e, por

isso, decidiu-se que os guardiões mais capacitados também tomariam a frente das instruções e

conscientização dos integrantes novos e com menor conhecimento. (SILVA, 2009).

Algumas ferramentas são previstas no plano de trabalho como: enxadas, pá, ancinho,

forcado, carrinho de mão, picareta, cesto telado, facão, machado, containers, entre outros

(PCRJ, 2014).

Não muito diferente da fase I, a fase II manteve objetivos semelhantes, porém

utilizando ferramentas um pouco mais avançadas e sendo mais cuidadosa na análise do lixo

coletado. A COMLURB foi acionada para recolher esse material e identificá-lo, por exemplo.

Foi divulgado no Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro, Edital nº01/2012 a

designação das atividades do programa. Tais atividades foram descritas conforme segue:

• Conscientização ambiental das comunidades envolvidas acerca da preservação do

curso d’água utilizando campanhas educacionais e afins.

• Monitoramento da qualidade das águas, através da observação visual, e coibição do

lançamento de lixo nos rios;

• Revegetação das margens com espécies de mata ciliar e de mangue, quando for o

caso e se possível;

• Monitoramento sistemático das faixas marginais de proteção visando impedir o seu

uso inadequado, como depósito de entulho, lixo e até mesmo construções irregulares sobre as

mesmas;

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• Construção de barreiras físicas, quando possível, tipo ecobarreira, para reter o lixo

flutuante, facilitando sua coleta e identificação de sua origem;

• Recolhimento sistemático do lixo ao longo dos rios, para sua classificação,

identificando sua origem entre o produzido na comunidade, de comunidades a montante e o

trazido pelas marés, conforme o caso;

• Separação dos resíduos, conforme a sua composição, com a finalidade de fomentar a

coleta seletiva;

• Armazenagem do lixo, para posterior coleta da COMLURB, em recipientes

adequados, evitando-se assim que fosse levado pela correnteza na ocorrência de cheias nos

rios de baixada.

• Revegetação das áreas para urbanização e melhor utilização do espaço.

Em 2016 o programa foi novamente encerrado nas 25 comunidades atendidas na

ocasião, deixando cerca de 250 trabalhadores que atuaram no programa com problemas

devido à falta de pagamento dos últimos meses de trabalho e encerramento repentino do

programa. Em muitos dos casos foi necessária a abertura de ação na justiça para recebimento

de salário em atraso. Assim como na primeira fase do programa, o governo não forneceu

resposta satisfatória para o novo cancelamento.

A segunda fase do Programa será descrita de forma mais sucinta, pois foi uma

retomada das atividades realizadas na fase 1, por isso serão frisados os quesitos que

funcionaram de forma distinta. A maior parte das atividades realizadas pelos guardiões dos

rios foi mantida, a estrutura organizacional e as atividades de educação ambiental dentro das

comunidades também. A volta do programa foi motivada pela disponibilidade de verba e por

mudanças políticas ocorridas. Algumas ações novas surgiram nessa fase do Programa. O

objetivo das mudanças feitas foi a otimização e melhoria do trabalho de limpeza dos rios e da

relação com a comunidade.

Com base na Tabela 13 é possível notar a inserção da COMLURB no efetivo do

programa e o que essa parceria possibilitou em termos de alteração das responsabilidades

internas das atividades executadas.

Tabela 12 – Etapas da Fase II do Programa (Revista Guardiões dos Rios, nº 3, 2015 – Prefeitura do

Rio de Janeiro)

Programa Guardiões dos Rios - Fase II Responsáveis

1 Escolha da comunidade para a implantação do programa Prefeitura do Rio de Janeiro

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2 Escolha da equipe técnica Prefeitura do Rio de Janeiro e COMLURB

3 Treinamento dos Guardiões Gerentes I e II

4 Treinamento dos Guardiões sociais Gerentes I e II e Associação de moradores

5 Limpeza dos rios e margens Encarregado e guardiões

6 Supervisão das equipes no campo Encarregado

7 Supervisão dos encarregados Gerentes I

8 Coleta e disposição do lixo em aterros Encarregado, guardiões e COMLURB

9 Ações sociais Guardiões sociais

A Tabela 13 apresenta os dados levantados pela Prefeitura do Rio de Janeiro sobre o

volume dos resíduos retirados dos rios de acordo com a localização das comunidades

beneficiadas e dos rios e bacias correspondentes.

O total de lixo coletado nas três bacias (Bacia Oceânica, Bacia da Baía de Guanabara e

Bacia da Baía de Sepetiba) equivale a 49.709 m³ nos 5 anos, equivalendo a dezoito piscinas

olímpicas. O lixo retirado das comunidades listadas acima era proveniente da coleta das

margens, resíduos flutuantes e também resíduos submersos nas calhas dos rios.

Tabela 13 – VOLUME EM M³ DE RESÍDUOS RETIRADOS PELOS GUARDIÕES DOS RIOS NO PERÍODO DE MAIO de 2012 A FEVEREIRO de 2015 (Revista Guardiões dos Rios, nº 3, 2015 –

Prefeitura do Rio de Janeiro)

BACIA HIDROGRÁFICA

AP Rio Comunidade Volume total (m3)

BACIA OCEÂNICA AP2.1

Rainha Rocinha 1.309,28

AP2.1

Canal da Rocinha Rocinha 4.262,02

AP2.1

Canoas Canoas 666,24

AP4 Itanhanga Tijuquinha 835,12

AP4 Rio das Pedras Rio das Pedras 1.726,06

AP4 Rio Anil Canal do Anil 3.027,99

AP4 Banca da Velha Cidade de Deus 1.794,64

AP4 Arroio Pavuna São Francisco de Assis

1.513,96

AP4 Guerenguê Vila Sapê 1.269,12

AP4 Canal das Taxas Vila Amizade 3.463,22

BACIA DA BAÍA DE GUANABARA

AP1 Papa Couve Complexo do Catumbi

3.176,90

AP3.3

Escorremão Complexo da Penha 872,22

AP3. Nunes Complexo do 1.484,75

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60

2 Alemão

AP3.1

Afluente do Timbó Complexo do Alemão

1.107,86

AP2.2

Andaraí Andaraí 3.331,80

AP2.2

Maracanã Borel 2.055,32

AP3.2

Canal da Vila Esperança

Complexo da Maré 1.100,76

AP5.1

Rio do Lúcio Vila Aliança 1.881,78

AP5.1

Sarapuí Jardim Bangu 1.630,92

AP5.1

Rio Viegas Viegas 2.988,94

AP3.1

Canais Diversos Tubiacanga 2.269,77

AP3.1

Jacaré Jacarezinho 2.125,94

AP3.5

Vala do Acari Acari 516,38

AP5.1

Piraquara Complexo do Nilo 666,60

AP3.1

Jequiá Jequiá 153,84

BACIA DA BAÍA DE SEPETIBA

AP5.2

Piraquê Piraquê 1.908,22

AP5.2

Guarajuba Carobinha 2.123,13

AP5.2

Guandu do Sena Carobinha 446,88

3.2.1 REVEGETAÇÃO E RESTAURAÇÃO DAS MARGENS DOS RIOS

A revegetação das áreas às margens dos rios e lagoas nas comunidades foi uma das

atividades incluídas no escopo do programa. A restauração de áreas degradadas com o plantio

de árvores nativas foi utilizada devido à exigência legal e, também, como elemento de

conscientização da população quanto à necessidade de reverter o estado de degradação do

meio ambiente.

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61

Os Guardiões dos Rios passaram a realizar atividades de intervenção ambiental e a

Prefeitura realizou o estudo de quais espécies deveriam ser plantadas nas áreas afetadas. As

espécies mais utilizadas foram mudas de Pau-ferro (Caesalpinia férrea Mart. Ex Tul.),

Aroeira-salsa (Schinus molle L.), Pau Cigarra/aleluia (Sena multijuga Rich. I. & B.) e Ipê-

rosa (Tabebuia impetiginosa – Mart. Ex DC. – Standl.). As mudas foram adquiridas /

compradas com verba do projeto e no caso das comunidades do Rio Viegas e do Rio Guandu

do Sena, foram doadas pela CEDAE – Magé. A Figura 16 ilustra fase preparatória para

plantio.

Figura 16 - Rio Viegas – preparo do solo para plantio (Arquivo interno Prefeitura do Rio de Janeiro,

2014)

O quantitativo de áreas que passaram por processo de revegetação, de mudas plantadas

e de área total não é completo. Porém há dados levantados que indicam a revegetação de 980

metros quadrados de trechos das margens do Rio Guandu do Sena e do Rio Viegas.

3.2.2 AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS

As escolas, prefeitura e associação de moradores continuaram a se reunir para

encontrar e propor soluções que conscientizassem as crianças e adultos a desempenharem um

papel ativo no combate à degradação dos rios da comunidade. Nas reuniões de planejamento

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eram estabelecidas metas a serem atendidas e definidos os meios para implementá-las. Novas

agentes comunitárias, além de algumas que já haviam participado de parte da fase I

compuseram a equipe de campanhas porta a porta, de distribuição de panfletos, de atividades

nas escolas e nas associações de moradores (Figuras 17 e 18).

Figura 17 – Reunião de planejamento da Diretoria de serviços da Zona Oeste, na COMLURB

(Revista Guardiões dos Rios – Prefeitura do Rio de Janeiro, 2015)

Figura 18 - Agentes ambientais visitando moradores (Revista Guardiões dos Rios nº4, Prefeitura do

Rio de Janeiro, 2015)

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63

4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS NO PROGRAMA E SUGESTÕES

4.1 ANÁLISE GERAL DOS RESULTADOS – FASE I

A fase I do programa Rios Cariocas apresenta informações mais espaçadas e sem

continuidade quando comparadas às disponíveis na Fase II, apesar das duas conterem hiatos

de informações. A partir dos dados da Fase I (item 3.1) foram realizadas algumas análises

com o intuito de entender: o padrão de descarte de resíduos sólidos nos rios; as épocas do ano

onde houve maior volume recolhido; a quantidade de lixo que um guardião do rio pode

recolher; e a quantidade de lixo retirado por metro linear.

Esses cálculos consideraram que todas as 124 comunidades do programa participaram

da ação de limpeza dos rios em todos os anos. Não se considerou possível interrupção das

atividades nas comunidades, pois não foram encontradas informações relativas a pausas no

serviço de retirada de resíduos dos rios e margens.

Tabela 14 – Total de lixo retirado por metro linear e total de lixo retirado por guardião do rio na Fase

I, nos anos de 2001, 2002 e 2007.

Ano Massa (t) Total lixo

retirado

Massa (Kg) de lixo retirado/ metro linear

de rio

Massa (Kg) de lixo retirado/ guardião do

rio

2001 2003 10,0 2755,2

2002 6523 32,6 8972,5

2007 9709 48,6 13354,9

Valor médio 6078,3 30,4 8360,8

Os valores médios calculados acima podem ser usados como dados complementares

para futuras implantações do projeto, auxiliando na estimativa da quantidade de guardiões

necessários. Cumpre destacar a importância da visita ao local de implantação para coleta de

informações relevantes para tomada de decisão, tal qual realizado nas fases I e II do

programa.

A Figura 19 apresenta os dados pluviométricos relativos ao ano de 2002 de duas

réguas do Instituto Nacional de Meteorologia localizadas na zona Norte do Rio de Janeiro,

esses dados foram comparados com o volume de lixo coletado relativo ao mesmo período,

Fase I. Essas figuras demonstram que depois do pico das precipitações, ocorridas nos meses

de janeiro e fevereiro de 2002, tem-se um aumento da quantidade de lixo recolhida (março ,

abril e maio). Essa observação sugere que, após as chuvas, o maior volume de água presente

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64

no rio provoca a entrada dos resíduos sólidos descartados indevidamente em suas margens

para dentro de seu leito.

Figura 19 – Precipitação mensal em mm – Ano de 2002; município do Rio de Janeiro (INMET, 2018)

Figura 20 - Peso de resíduos sólidos retirado em toneladas X mês – Ano de 2002

Essa observação não foi constatada para o ano de 2007 (Figuras 21 e 22). Uma das

possíveis explicações é o efeito positivo das ações de educação ambiental. Para uma análise

mais completa seriam necessárias informações adicionais, como: possíveis interrupções do

programa e a análise separada por comunidade em função da variação pluviométrica ao longo

do território municipal.

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150

200

250

300

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das

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65

Figura 21 - Precipitação mensal – Ano de 2007; município do Rio de Janeiro (INMET, 2018)

Figura 22 - Peso de resíduos sólidos retirado em toneladas X mês – Ano de 2007

O ano de 2001 não foi utilizado para análise entre a pluviometria e os picos de maior

retirada de resíduos sólidos dos Rios, pois o site do Instituto Nacional de Meteorologia não

contém os dados da pluviometria desse ano. Acredita-se também que no primeiro ano de

implantação do programa as 124 comunidades que participaram do programa não estavam

ainda com guardiões trabalhando efetivamente em seus rios. É provável que o programa tenha

0

50

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200

250

Pre

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2000

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66

começado com um número menor de comunidades e no decorrer do ano as outras

participantes tiveram suas ações iniciadas em meses e períodos diferentes.

A interpretação dos gráficos não segue um único padrão nos dois anos avaliados. Os picos

de chuva e de coleta não acontecem da mesma forma em cada período. Apesar disso, outras

hipóteses são levantadas de como ocorreu a coleta em cada um desses momentos. Pode ter

ocorrido, por exemplo, um aprendizado no ano de 2002, onde a coleta só foi realizada tempos

depois do picos da chuva e a comunidade pode ter se prejudicado com essa ação tardia.

Assim, após a chuva e sem que a coleta tenha sido realizada o mais cedo possível a

comunidade viu seus rios e córregos mais uma vez tomados pelo lixo. Só então, meses depois

a ação dos guardiões para a retirada dos resíduos ocorreu. Levando em conta o aprendizado a

partir dessa situação adversa citada acima, em 2007 a coleta ocorreu em período anterior e nas

proximidades dos picos de maior precipitação.

4.2 ANÁLISE GERAL DOS RESULTADOS – FASE II

Utilizando-se os dados da Tabela 15 é possível estimar a quantidade de lixo recolhida e

destinada corretamente na Fase II do Programa. Já para a fase I do programa não foram

obtidos os dados de forma contínua, o que dificulta uma análise geral dos resultados obtidos.

Para que a análise realizada nesse trabalho utilize dados considerados confiáveis serão

utilizados dados relativos à fase II.

Tabela 14 - Volume de lixo em m³ retirado pelos Guardiões dos Rios no período de 2012 a 2015

Bacia Oceânica Baía de Guanabara Baía de Sepetiba

Vol. m³ 19.867,65 25.363,78 4.478,23

Ao todo nove comunidades participaram do programa na bacia Oceânica: Rocinha,

Canoas, Tijuquinha, Rio da Pedras, Canal do Anil, Cidade de Deus, São Francisco de Assis,

Vila Sapê, Vila amizade. Já as comunidades que participaram do programa na bacia da Baía

de Guanabara são compostas pelo Complexo do Catumbi, Complexo da Penha, Complexo do

Alemão, Andaraí, Borel, Complexo da Maré, Vila Aliança, Tubiacanga, Jacarezinho, Acari,

Jardim Bangu, Viegas, Complexo do Nilo, Jequiá e juntas são um total de 14 (quatorze)

comunidades. Finalmente, as comunidades participantes na Bacia de Sepetiba são apenas

duas: Piraquê e Carobinha.

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67

Com base no censo do IBGE (2010) foi possível conhecer a média de moradores

residente em cada comunidade, conforme Tabela 16. Esses dados permitem estimar o total de

pessoas beneficiadas pelo programa. Neste sentido as ações de educação ambiental parecem

ser uma escolha abrangente e acertada. Somando-se toda a população beneficiada, tem-se um

total de 412.682 (quatrocentos e doze mil e seiscentos e oitenta e dois) habitantes que

puderam, de algum modo, presenciar a limpeza dos rios e córregos ou participar das ações de

educação ambiental. Segundo relatos, antes destas atividades os rios eram vistos/entendidos

pelos moradores apenas como elementos de perigo e de aumento do risco associado a

inundações e presença de vetores (ratos e baratas). Depois do início do programa se tornaram

locais que deixaram de serem vistos apenas como ameaças ou associados a desastres e

prejuízo.

Adicionalmente, moradores que participaram das atividades de educação ambiental

aprenderam como descartar seus resíduos domiciliares sem que os mesmos sejam causadores

de poluição/degradação e redução da calha dos rios da comunidade.

A população total residente nas comunidades do Município do Rio de Janeiro é de um

milhão novecentos e trinta e quatro mil e novecentos e setenta e cinco habitantes (1.434.975)

(IBGE, 2010). Dados levantados indicam que cerca de 30% da população, das comunidades

atendidas, participaram do projeto e tiveram sua qualidade de vida melhorada e seu estilo de

vida modificado por meio do conhecimento adquirido. Dentre as atividades consideradas

relevantes e com potencial transformador tem-se: o material de divulgação (cartilhas

explicativas sobre o descarte de resíduos), as atividades porta a porta para esclarecimentos e

as dinâmicas praticadas com os alunos das escolas das comunidades dentro e fora de sala de

aula.

Na Revista Guardiões dos Rios – edição de número 03 é apresentada entrevista com o

funcionário Paulo Tarcísio, gerente do Programa e membro da Comissão de Fiscalização

Municipal da Secretaria de Meio Ambiente, o qual relata sua satisfação com o Programa. O

funcionário descreve que após a implantação, os moradores aumentaram sua autoestima e a

ligação com o local em que moram e demonstraram uma maior preocupação com o descarte

final do lixo. A população passou, inclusive, a desempenhar importante papel de cobrança

para a constante melhoria dos serviços dos guardiões. Paulo destacou na ocasião, também,

que dentre todas as atividades desempenhadas, as que mais envolveram a comunidade foram

as relacionadas à educação ambiental realizadas nas escolas. O funcionário enfatiza que, de

acordo com seu ponto de vista, o melhor a ser feito para viabilizar a continuidade do projeto é

expandir o programa para outras comunidades não atendidas e nas comunidades em que os

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rios já foram limpos, dar continuidade apenas às atividades de conscientização e educação

ambiental.

Tabela 15 - População residente por comunidade no censo de 2010 do IBGE (IBGE, 2010)

BACIA HIDROGRÁFICA AP COMUNIDADE Nº de habitantes Total de hab.

BACIA OCEÂNICA

AP2.1 Rocinha 69.161

152.415

AP2.1 Canoas 758

AP4 Tijuquinha 8.908

AP4 Rio das Pedras 54.793

AP4 Canal do Anil 6.910

AP4 Cidade de Deus 4.596

AP4 São Francisco de Assis 1.698

AP4 Vila Sapê 4.167

AP4 Vila Amizade 1.424

BACIA DA BAÍA DE GUANABARA

AP1 Complexo do Catumbi 6.796

253.935

AP3.3 Complexo da Penha 36.862

AP3.2 Complexo do Alemão 60.583

AP2.2 Andaraí 1.760

AP2.2 Borel 10.090

AP3.2 Complexo da Maré 75.720

AP5.1 Vila Aliança 485

AP5.1 Jardim Bangu 4.087

AP5.1 Viegas 485

AP3.1 Tubiacanga 378

AP3.1 Jacarezinho 33.836

AP3.5 Acari 21.999

AP5.1 Complexo do Nilo 525

AP3.1 Jequiá 329

BACIA DA BAÍA DE SEPETIBA AP5.2 Piraquê 5.950

6.332 AP5.2 Carobinha 382

Na quarta edição da revista Guardiões dos Rios o Subsecretário Municipal de Meio

Ambiente, na ocasião, Altamirando Fernandes Morais foi entrevistado e respondeu a uma

série de perguntas com viés mais político. Comentou que o sucesso do programa era, de fato,

real, mas que seu maior desafio foi mobilizar e tornar os moradores parceiros dos guardiões

na tarefa de preservar os corpos d’água. Contou, também, que a melhor estratégia foi o

fortalecimento da parceria ao torná-los corresponsáveis pela gestão, através da mão de obra

local e das ações educativas. De acordo com o Subsecretário, o Programa trouxe claras

melhorias para as localidades contempladas, com redução de lançamento de lixo nos rios e

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69

por meio do monitoramento das faixas marginais de proteção e da remoção do acúmulo de

resíduos em galerias de drenagem. Esta atividade foi feita a partir de observação dos gerentes

e encarregados e trabalho dos guardiões, colaborando para o controle de enchentes e sendo

não só um ganho para a comunidade, mas sim para toda população do município.

O município do Rio de Janeiro, de acordo com o IBGE (2016) tem um total de

1.434.975 pessoas vivendo em áreas reconhecidas como comunidades. A Figura 23 ilustra a

participação das comunidades no projeto. Onde 29% representam um total de 412.682 de

pessoas que eram moradoras de comunidades que participaram do programa e 71%

representam um total de 1.022.293 pessoas que não tiveram suas comunidades participando

do programa.

Figura 23 - Gráfico população participante e não participante do Programa

Todas as Revistas Guardiões dos Rios, sendo essas as edições de um até quatro,

trazem pequenas entrevistas com opiniões dos moradores sobre as ações do programa. Com

base nestas entrevistas é possível observar que, para eles, o programa é visto sob o ponto de

vista de três vertentes distintas: a ambiental, a de geração de renda e emprego e a de inclusão

social. Os moradores relatam que, após o início do programa, não mais viam o rio como antes,

que após as atividades passou a haver um vínculo afetivo com o meio, propiciado pelo

projeto. Quanto às entrevistas com os funcionários (guardiões e encarregados) parece

prevalecer o orgulho de ajudar a comunidade e também a alegria em poder colaborar no

aumento da renda familiar. As entrevistas citadas, embora insuficientes para análise, sugerem

ser satisfatória a implantação e os resultados obtidos no Programa Guardiões dos Rios. O

Programa pareceu ser bem avaliado por quem o formulou, pelos que trabalharam nele e pelos

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70

que se beneficiaram por suas ações. No entanto, são necessárias mais informações técnicas

que sirvam para uma melhor avaliação do programa.

No item 6.3 do presente trabalho são feitas algumas sugestões para que o Programa

melhore alguns aspectos que, conforme analisado, poderiam ser melhor executados ou mais

bem definidos em seu escopo.

A Tabela 17 apresenta o quantitativo de guardiões por comunidade atendida. As

Tabelas 18 a 20 apresentam para a fase II (2012 a 2015) do Programa Guardiões dos Rios as

seguintes relações: Volume de material coletado por quantidade de guardiões, volume de

material coletado por quantidade de comunidades atendidas e volume de material coletado per

capita. Os dados foram apresentados em função das bacias hidrográficas: bacia Oceânica,

bacia da Baía de Guanabara e bacia da Baía de Sepetiba.

Tabela 16 – Quantidade de Guardiões do Rio por comunidade e Bacia (Revista Guardiões dos Rios,

2015)

BACIA HIDROGRÁFICA COMUNIDADE Nº de guardiões Total de guardiões

BACIA OCEÂNICA

Rocinha 14

87

Canoas 5

Tijuquinha 6

Rio das Pedras 6

Canal do Anil 11

Cidade de Deus 12

São Francisco de Assis 11

Vila Sapê 8

Vila Amizade 14

BACIA DA BAÍA DE GUANABARA

Complexo do Catumbi 10

99

Complexo da Penha 5

Complexo do Alemão 5

Andaraí 9

Borel 7

Complexo da Maré 8

Vila Aliança 7

Jardim Bangu 6

Viegas 6

Tubiacanga 7

Jacarezinho 10

Acari 7

Complexo do Nilo 7

Jequiá 5

BACIA DA BAÍA DE SEPETIBA Piraquê 8

15 Carobinha 7

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71

Tabela 17 – Volume médio em m³ recolhido por guardião durante a Fase II do Programa

Bacia Oceânica Baía de Guanabara Baía de Sepetiba

Vol. m³ 19.867,7 25.363,8 4.478,2

Nº de Guardiões 87 99 15

Vol(m³)/ Nº de guardiões 228,4 256,2 298,5

Tabela 18- Volume médio em m³ recolhido por comunidade e Volume médio em m³ produzido por

habitante durante a Fase II do Programa

Bacia Oceânica Baía de Guanabara Baía de Sepetiba

Vol. m³ 19.867,70 25.363,80 4.478,20

Nº de habitantes 152.415 253.935 6.332

Vol(m³)/ Nº de habitantes 0,1 0,099≈0,1 0,7

Nº de comunidades 9 14 2

Vol(m³)/ Nº de comunidades 2207,5 1811,7 2239,1

Desprezando-se possíveis interrupções e analisando os dados apresentados é possível

identificar que o volume médio de lixo recolhido nas comunidades e o volume médio

recolhido por cada guardião participante da Fase II do Programa é semelhante e mantém um

padrão similar. É possível dizer que anualmente um guardião recolhia um volume médio de

260 m³ (média aritmética - Tabela 18) e que o volume médio anual recolhido em cada

comunidade é de 2.084 m³ (média aritmética - Tabela 18).

A bacias da Baía de Sepetiba apresenta geração de resíduo muito elevada e esse

indicador sugere a necessidade de mais atenção às atividades de educação ambiental nessa

área. As bacias que possuem comunidades cujos moradores gerem resíduos de forma

significativa, não devem ser aquelas onde a única providência é a contratação de mais

guardiões e equipes mais extensas. Deve-se incentivar em áreas de grande geração de resíduos

as atividades de educação ambiental, por exemplo. Pois a proposta do programa não é que os

guardiões exerçam a atividade de coleta de lixo dos rios continuamente e sim que a população

tenha a oportunidade de ter acesso às informações necessárias para entender a relação do

descarte inadequado de lixo e aumento da frequência e severidade da ocorrência de

inundações.

Observa-se que os dados coletados relativos à baia de Sepetiba indicaram a maior

geração de lixo per capita (Tabela 20). No entanto é a região com menor quantidade de

comunidades contempladas, conforme indicado no mapa das comunidades atendidas

apresentado na Figura 9. Segundo o IBGE, a área de Sepetiba tem um dos menores IDH –

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72

Índice de Desenvolvimento Humano – do Município. Conforme já citado em outras partes

desse texto, o nível de instrução dos moradores e o seu nível de educação ambiental são

determinantes para entender como a comunidade se comporta. Logo, analisando o IDH geral

dessa área este trabalho permite interpretar que não são apenas as duas comunidades de

Sepetiba que causaram esse número tão elevado de descartes indevidos de resíduos sólidos. O

que possivelmente ocorre é que a população de toda área, e não somente das comunidades,

contribui para a disposição indevida de resíduos, visto que a população destas áreas ainda não

foram devidamente instruídas sobre tais problemas.

4.3 A LIMPEZA DOS RIOS E A REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRES

ASSOCIADOS A INUNDAÇÕES

Neste trabalho, as considerações sobre o Programa estudado serão realizadas analisando-se

as ações de todas as fases do Programa. Objetiva-se explicitar todas as áreas beneficiadas, as

pessoas atendidas e tenta-se compreender a importância das ações para evitar os riscos de

inundações e alagamentos nas comunidades beneficiadas. Não serão analisadas posturas e

ações no âmbito político ou econômico do Programa; evitando-se qualquer juízo de valor

quanto as questões internas relativas à Prefeitura do Rio de Janeiro.

O Programa Rios Cariocas, em todas as suas fases, buscou diminuir a probabilidade de

ocorrência de eventos potencializados pelo acúmulo de resíduos sólidos nas margens e leitos

dos rios; sendo os principais eventos as inundações e enxurradas (68,36% dos casos de acordo

com a Figura 7). A limpeza dos leitos, margens e proximidades dos rios são fundamentais

para impedir que qualquer resíduo sólido provoque assoreamento, entupimento ou diminua a

taxa de infiltração das áreas ao redor das margens.

O programa não considera em seu escopo a retirada da população das localidades onde

ela já está estabelecida. Seu principal objetivo é resgatar a qualidade de vida de pessoas que

vêm suas casas serem tomadas pelas águas em dias de chuva ou mesmo em períodos de alta

pluviosidade, por meio de ações que propiciem a redução do risco de desastres associados a

inundações e enchentes.

Nomear os funcionários como Guardiões dos Rios é um nome de bastante

representatividade, pois os próprios membros da comunidade atuam, se dedicam e fazem das

atividades realizadas no programa a forma de sustentarem suas famílias. Além disso, prestam

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73

um serviço que reflete na melhoria da comunidade, de suas vidas e de todos que ali vivem ou

circulam, sendo estes vizinhos, amigos, parentes ou frequentadores da comunidade.

A existência de população residente nessas áreas tão delicadas, e para muito

impróprias para se viver, faz com que os que ali insistem (por desejo ou oportunidade) e/ou

precisam se estabelecer sejam parte de comunidades com nível de exposição muito alta. Se

ações de educação não forem implementadas, além da exposição elevada à ameaça de

inundação, a vulnerabilidade social tende a também ser alta. Cumpre salientar que as ações de

esclarecimento precisam incorporar também as restrições de ocupação nas calhas dos rios e

diques de proteção de enchente.

A ocorrência de inundações e enchentes pode significar a possibilidade de ocorrência

de desastres associados a estas ameaças. O que para estas comunidades significa perda de

vidas e de bens materiais, além do comprometimento de uma série de outros elementos. As

consequências associadas a situação desastrosa também resulta em prejuízo para a

administração pública, que pelos direitos do cidadão deve estabelecer todo auxílio necessário

na ocorrência de algum evento danoso.

Infelizmente é comum que os principais prejudicados com os desastres associados a

enchentes e inundações também sejam protagonistas de atitudes que potencializam os eventos

danosos (inundações e enchentes). A desinformação de boa parte da comunidade, no

programa estudado, não foi entendida como um problema imutável. Guardiões do Rio trouxe

em sua resolução não apenas ações de limpeza dos rios, mas também o esclarecimento da

população sobre os riscos que corre e como pode ajudar. As ações porta a porta e em escolas

as atividades de orientação e de educação ambiental são focadas em ensinar e educar adultos e

crianças, possibilitando a aproximação da comunidade e fazendo com que a mesma também

seja, de forma literal, guadiã de seus rios e lares.

4.4 SUGESTÕES PARA MELHORIAS

Conforme objetivo inicial do presente trabalho foram avaliadas as necessidades e formas

de aprimoramento do trabalho que vinha sendo desenvolvido nas comunidades do Rio de

Janeiro no âmbito do programa Rios Cariocas. A lista abaixo elenca algumas sugestões que

poderiam ser implementadas com esse intuito:

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74

• O critério de escolha das comunidades: As comunidades que participaram do

programa foras escolhidas ou por solicitação da associação dos moradores - podendo

também ser outra associação representativa da comunidade - ou por escolha da

Prefeitura do Rio de Janeiro. Seria interessante se a definição das comunidades

contempladas pelo projeto, em novas etapas de realização do mesmo, fosse feita a

partir de um critério mais bem definido. Conforme apresentado neste trabalho, as

ações de limpeza dos rios realizadas pela prefeitura são de grande ajuda para evitar o

risco ao qual a população está exposta. O melhor cenário poderia ser aquele em que

uma análise prévia do risco de desastre associado a enchentes e inundações das

comunidades (ou das que possuam algum tipo de registro como sendo as mais

afetadas) fosse feita e a ordem de preferência de implantação do programa viesse a

partir desse estudo. A análise do risco, embora nem sempre simples, poderia ser feita

por engenheiros e demais profissionais de outras áreas envolvidos no projeto. Com

base em treinamento poderiam estar aptos a quantificar as probabilidades de

ocorrência dos fenômenos, o grau de exposição, as consequências, para um dado

cenário, de um desastre causado por chuvas e entupimentos das galerias dos rios .

Outra análise que poderia ser feita pelos gerentes do programa são as áreas que mais

apresentam ocorrências de inundação e enxurrada a partir dos mapas de registros

disponibilizados pela Defesa Civil. As comunidades localizadas nas áreas mais

expostas à essas ameaças seriam as primeiras a serem contempladas com o programa.

• Registro contínuo dos dados coletados: As informações e resultados obtidos pelo

programa foram apresentados, porém há muitos dados que não foram registrados

continuamente. Esses hiatos representam a ausência de dados por um mês ou até

mesmo por um ano ou mais. O ideal é que o peso, volume e as datas das retiradas dos

resíduos do lixo sejam medidos e tabelados sistemicamente e que essa informação

fique disponível em plataforma ou site da prefeitura para que sirva de base de dados

brutos para estudos. Seria interessante propor a divulgação das informações para as

próprias comunidades e que este procedimento tenha caráter educativo. Os dados

obtidos são de grande utilidade para compreender se a comunidade está reduzindo a

quantidade de lixo lançada nos rios, quantas toneladas em média que o programa retira

em certo período de tempo, se há épocas onde há maior descarte nos córregos e afins,

entre outras informações. A importância dos dados é porque eles refletem o impacto

das Ações socioeducacionais na comunidade e se elas estão obtendo resultados,

diminuindo o descarte incorreto dos resíduos sólidos. Outros dados importantes são o

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quantitativo de guardiões ao longo do tempo, a extensão de trecho de rio ou lagoa que

de fato está sendo atendida ao longo do tempo. Sugere-se também o uso de diários de

limpeza (semelhante ao diário de obra, usado na construção civil) onde fiquem

registradas as atividades do dia, se houve alguma paralização, as condições

meteorológicas e informações afins. Há também a ideia de se realizarem relatórios

fotográficos semanais com intuito de comparação do trabalho desde seu início até a

finalização das atividades de limpeza em uma comunidade.

• Parcerias com instituições e órgãos especializados na educação ambiental: A

iniciativa de educação ambiental é muito importante para que esse programa seja bem

sucedido em longo prazo. Há algumas instituições como, por exemplo, o instituto

estadual do ambiente (INEA), que desempenham um papel de educação e informação

na sociedade e poderiam se integrar a esse programa nas ações de educação, além dos

órgãos que já estabeleceram parceria (escolas, COMLURB, associação dos moradores

etc).

• Caracterização dos resíduos: Com a separação dos resíduos e caracterização dos

mesmos é possível obter levantamento dos tipos de resíduos descartados em maior

quantidade nos corpos hídricos e dessa forma, estimular a coleta seletiva destes,

objetivando-se a diminuição do descarte dos mesmos nos rios. A caracterização

permite também entender o padrão de consumo das comunidades o qual deve ser

objeto de reflexão em atividades educativas.

• Coleta seletiva: A coleta seletiva é uma complementação da sugestão de

caracterização dos resíduos; com ela é possível que o material seja armazenado e

direcionado para oficinas de reutilização e de reciclagem, gerando também mais uma

oportunidade de trabalho na comunidade e estimulando-se uma postura mais

sustentável nas áreas de implementação do projeto.

• Influências políticas: O melhor cenário para o programa Rios Cariocas é que ele

possa ter continuidade e êxito para cada vez beneficiar mais comunidades. As questões

políticas, as trocas de governos, os períodos de eleição e afins fazem com que a

continuidade do programa por vezes seja afetada. Isto ocorre em função de, por

exemplo, necessidade de liberação de verba a cada mudança governamental. O ideal é

que o programa não fosse afetado por transições políticas. No entanto, para que isso

ocorra é necessário que ela tenha visibilidade notável e que possua instrumentos

eficazes de avaliação e de divulgação de resultados.

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• Metodologia utilizada pelos agentes comunitários: era baseada em palestras –

elaboradas em parceria e com a participação de três instituições: a prefeitura, a

associação de moradores e as escolas consideradas representativas pelas comunidades.

As atividades eram postas em prática nas salas de aula e em atividades na associação

de moradores, por meio de distribuição de folders e por meio de mutirões de limpeza

em conjunto com os guardiões visando, também, esclarecer a população com relação

às questões ambientais. Além das ações já anteriormente citadas, a realização das

visitas chamadas “porta a porta” também era frequentemente utilizadas para trabalhar

assuntos de relevância ambiental para a comunidade. Nestas ocasiões o agente fazia a

aproximação/conexão do morador com as atividades realizadas no projeto. Essas

visitas eram utilizadas para esclarecer dúvidas e orientar a conduta do morador para

que o mesmo desempenhasse um papel colaborativo. Sugere-se que seja elaborado um

instrumento avaliativo que possa ser utilizado por ocasião das visitações. Os

resultados assim obtidos permitiriam a obtenção de uma série de informações

relevantes para o Programa.

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5 CONCLUSÃO

No presente trabalho é possível concluir que o programa Rios Cariocas aqui descrito e

analisado é de grande utilidade para garantir uma qualidade de vida à população residente nas

comunidades do Rio de Janeiro. Conclui-se que apesar dos moradores destas comunidades

serem pessoas que estão vivendo em áreas que não deveriam ser habitadas, essa ação tem

como objetivo auxilia-los a cuidar da sua comunidade, entender que estão em uma situação de

risco e como podem melhorar suas atitudes para não prejudicarem os rios. O trabalho de

guardião do rio é um trabalho que gerou empregos e conscientização na comunidade, os

funcionários puderam usar essa oportunidade como fonte de renda familiar e também para

compreender como deve funcionar a dinâmica de descartes de resíduos sólidos.

As ações de curto prazo de limpeza e as de longo prazo de educação ambiental, de

conscientização e de valorização dos corpos d’água são de grande benefício para os

moradores e, também, para os cofres públicos dos governos que não agem apenas de forma

emergencial, com a retirada do material do rio, mas também de forma preventiva com ações

de educação com intuito de estimular a conscientização ambiental. Logo, o programa

Guardiões dos Rios representa uma intervenção positiva e necessária no cenário atual de

poluição por resíduos sólidos.

Apesar da falta de informações relevantes complementares às aqui apresentadas, vale

citar alguns resultados de análises efetuadas no presente trabalho:

• Da quantidade de guardiões por comunidade – Estabelecendo uma estimativa da

quantidade de guardiões que devem ser convocados para futuras implementações do

programa em outras comunidades. A partir dos dados levantamentos na fase I e II do

programa, pode-se ter uma estimativa de quantos funcionários são necessários para a

limpeza e educação ambiental em outro rio ou comunidade.

• Do volume médio de resíduo recolhido por guardião – Estabelecer um índice de

produtividade do trabalho dos Guardiões dos Rios e conseguir estimar em quanto

tempo o projeto deve ser implementado em uma comunidade que venha a fazer parte

do programa

• Do volume médio de resíduo produzido por um morador da comunidade – São dados

necessários para entender o padrão de descarte da comunidade e assim poder atuar de

forma mais clara na conscientização da comunidade.

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• Da análise da correlação com a coleta de resíduos com a pluviometria – Estabelecer

uma relação entre as chuvas e a quantidade de resíduos sólidos nos rios significa

entender se depois de um período de precipitação, a quantidade de resíduos nas

margens e leitos dos rios aumenta ou não. Para que se entenda se o descarte do lixo da

comunidade está sendo realizado corretamente após a implementação do programa e

suas ações de educação ambiental.

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PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Revista Guardiões dos Rios, nº 02

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