AFETO DIÁRIO - jornalismo.ufv.br · Universidade Federal de Viçosa Departamento de Artes e...
59
MICHAEL DOUGLAS CASTRO MAIA AFETO DIÁRIO Viçosa - MG Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFV 2014
Transcript of AFETO DIÁRIO - jornalismo.ufv.br · Universidade Federal de Viçosa Departamento de Artes e...
MICHAEL DOUGLAS CASTRO MAIA
AFETO DIAacuteRIO
Viccedilosa - MG
Curso de Comunicaccedilatildeo SocialJornalismo da UFV
2014
MICHAEL DOUGLAS CASTRO MAIA
AFETO DIAacuteRIO
Projeto experimental apresentado ao Curso de
Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da
Universidade Federal de Viccedilosa como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Bacharel em Jornalismo
Orientadora Mariana Ramalho Procoacutepio
Xavier
Viccedilosa ndash MG
Curso de Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da UFV
2014
Universidade Federal de Viccedilosa
Departamento de Artes e Humanidades
Curso de Comunicaccedilatildeo de Social Jornalismo
Projeto experimental intitulado Afeto diaacuterio de autoria do estudante Michael Douglas
Castro Maia aprovada pela banca examinadora constituiacuteda pelas seguintes professoras
____________________________________________________
Profa Dra Mariana Ramalho Procoacutepio Xavier
Curso de Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da UFV
____________________________________________________
Profa Ma Laene Mucci Daniel
Curso de Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da UFV
____________________________________________________
Profa Ma Hideide Brito Torres
Doutoranda em Estudos Literaacuterios pela UFJF
Viccedilosa 02 de dezembro de 2014
Agraves diaristas matildees de uma cidade universitaacuteria
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho natildeo chegaria ao fim se eu natildeo tivesse contado com a ajuda
de inuacutemeras pessoas que sempre estiveram presentes em minha vida Primeiro
agradeccedilo a quem me deu forccedilas mesmo estando longe atendendo meus telefonemas agraves
seis e meia da manhatilde e dizendo calma filho vocecirc vai conseguir Sem o apoio de meus
pais e de toda a minha famiacutelia certamente natildeo concluiria o documentaacuterio Afeto diaacuterio
Aos professores e funcionaacuterios do DCM por ajudar a ter experiecircncias nas aacutereas
da comunicaccedilatildeo e principalmente pela ajuda nos empreacutestimos de equipamentos os
cartotildees e baterias de reservas
Fico feliz em agradecer aos meus grandes companheiros de Viccedilosa aos colegas
da COM 11 a minha segunda famiacutelia AchoCOM ao Helvio e ao Lucas melhores
amigos para dividir (e entregar) um apartamento E em especial agradeccedilo agraves pessoas que
me ajudaram a finalizar este trabalho de conclusatildeo de curso Mari pelas indicaccedilotildees na
hora das gravaccedilotildees Samuel por ajudar a carregar os equipamentos e conseguir fazer
piada de qualquer situaccedilatildeo os amigos do estaacutegio pelos ensinamentos em produccedilatildeo
audiovisual a amizade de Raul e principalmente paciecircncia por aguentar todos os
momentos de estresse Bia por me ajudar a confeccionar os DVDs e a Thalita
que para minha sorte apareceu com uma das melhores fontes que eu poderia arrumar
para este documentaacuterio
E a Cida dona Leleacute Cacilda e Raimunda Diaristas de vaacuterias repuacuteblicas e agora
pessoas que nunca esquecerei por terem me encaixado em seus horaacuterios concedido
entrevistas e pelos sorrisos e conversas
Natildeo poderia esquecer minha orientadora Mariana Procoacutepio pela paciecircncia e
apoio em todo esse percurso desde o final do primeiro semestre de 2014 mostrando as
melhores maneiras para conseguir finalizar Afeto diaacuterio Agradeccedilo imensamente pelos
conselhos e puxotildees de orelha
RESUMO
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um projeto experimental produzido como Trabalho de
Conclusatildeo de Curso do curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo na Universidade
Federal de Viccedilosa (UFV) O trabalho de diaristas eacute considerado raacutepido e realiza-se em
mais de uma casa por dia e semana Satildeo muitos clientes mas mesmo assim o afeto eacute
presente entre os dois polos Esta produccedilatildeo de meacutedia-metragem teve como finalidade
relatar este afeto presente nas relaccedilotildees entre as diaristas e os moradores de repuacuteblicas
estudantis em Viccedilosa-MG Os depoimentos referentes ao tema foram construiacutedos em
um roteiro sem a presenccedila de voz off O presente memorial aborda os pressupostos de
teoacutericos do gecircnero documentaacuterio e roteiro do trabalho domeacutestico e suas delimitaccedilotildees e
o tema central o afeto entre estudantes e diaristas Para a realizaccedilatildeo desse trabalho
organizou-se trecircs etapas preacute-produccedilatildeo (pesquisa e preacute-entrevistas) produccedilatildeo
(gravaccedilotildees de entrevistas e todo material) e poacutes-produccedilatildeo (montagem da narrativa e
ediccedilatildeo do documentaacuterio)
PALAVRAS-CHAVE
Diaristas trabalho domeacutestico afeto Viccedilosa documentaacuterio
ABSTRACT
The documentary Afeto diaacuterio is an experimental production for the Social
Communication in Journalism major final project of the Federal University of Viccedilosa
The work of daily housecleaners is considered rapid and takes place in several houses
per day and week Even though there are a lot of costumers affection is present on both
sides This production of a short-film had as the main goal to report this affection that
takes place between college housecleaners and fraternity students in Viccedilosa-MG The
testimonials concerning the subject were built in a script without voice off The stated
memorial conceives the premises of documentary gender and script housework and its
delimitations and the core of this project the affection between students and
housecleaners The realization of this short-film was achieved in three steps pre-
production (research and pre-interviews) production (interviews and other scenes
recording) and post-production (narrative set up and documentary edition)
KEYWORDS
Daily housecleaners housework affection Viccedilosa documentary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO11
11 Especificidades do trabalho das diaristas13
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto15
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO19
21 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos22
CAPIacuteTULO 3 RELATOacuteRIO TEacuteCNICO26
31 Preacute-produccedilatildeo26
32 Produccedilatildeo29
33 Poacutes-produccedilatildeo35
34 Material cronograma e orccedilamento37
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS39
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS41
ANEXOS44
9
INTRODUCcedilAtildeO
ldquoViccedilosa eacute uma cidade passageira noacutes vamos embora mas nosso coraccedilatildeo
permanece aquirdquo O autor eacute desconhecido soacute se sabe que foi algum aluno da
Universidade Federal de Viccedilosa que jaacute depois de sua formatura percebeu que amava
tanto a cidade E certamente a vida universitaacuteria viccedilosense em sua maioria eacute
temporaacuteria Mas os relacionamentos construiacutedos permanecem por muito tempo e foi
este o ponto chave que pretendi trabalhar em uma produccedilatildeo experimental
A cidade consiste em sua populaccedilatildeo estimada em 76 mil habitantes1 Insere-se
aqui uma das maiores universidades federais do paiacutes ocupando cerca de 16 milhotildees de
metros quadrados A populaccedilatildeo proveniente da UFV aproxima-se de 12 mil estudantes
da graduaccedilatildeo e 3500 da poacutes-graduaccedilatildeo2 fora alunos de outras duas faculdades e escolas
de ensino meacutedio que tambeacutem se instalam na cidade Por essa razatildeo grande parte das
atividades econocircmicas da cidade eacute referente agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos para os estudantes
Como trabalho de conclusatildeo de curso apresento Afeto diaacuterio um documentaacuterio
que propotildee relatar o relacionamento das diaristas de repuacuteblicas estudantis com seus
clientes Motivado por esse mesmo sentimento muacutetuo de carinho percebi que natildeo era
apenas comigo mas com muitos outros Aleacutem de que desde sempre admirei o trabalho
domeacutestico antes mesmo de chegar a Viccedilosa O trabalho de limpeza eacute imprescindiacutevel na
sociedade Hoje em dia natildeo eacute muito difiacutecil encontrar pessoas que utilizam deste serviccedilo
visto que o Brasil como apresentarei no proacuteximo capiacutetulo eacute o paiacutes que mais emprega
no setor
Procurei tambeacutem produzir um documentaacuterio que me incentivasse a experimentar
teacutecnicas aprendidas e fugir um pouco do jornalismo tradicional de televisatildeo podendo
usar enquadramentos e acircngulos natildeo convencionais utilizando de cacircmeras DSLRs3 e
suportes especiacuteficos Mas tambeacutem trabalhando o que o jornalismo tem de melhor nos
conselhos de Eliane Brum o bom repoacuterter ldquotem que se esvaziar dos preconceitos e
julgamentos e deixar se encher pelas histoacuterias dos outrosrdquo 4
1
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=317130ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completasAcessado em 09 de outubro de 2014 2
Disponiacutevel em httpwwwppoufvbrwp-contentuploads201205UFV-EM-NUMEROS-
2014-finalpdf acessado em 09 de outubro de 2014 3 Cacircmera digital de reflexo por uma lente em que a imagem eacute refletida por um espelho direto para o
visor Isso a torna excelente para captar imagens em ambientes escuros 4
Disponiacutevel em httpwwwinfocambiouniversitariocombrsem-categoriaeliane-brum-e-os-
historiadores-do-cotidiano acessado em 09 de outubro de 2014
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
MICHAEL DOUGLAS CASTRO MAIA
AFETO DIAacuteRIO
Projeto experimental apresentado ao Curso de
Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da
Universidade Federal de Viccedilosa como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de
Bacharel em Jornalismo
Orientadora Mariana Ramalho Procoacutepio
Xavier
Viccedilosa ndash MG
Curso de Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da UFV
2014
Universidade Federal de Viccedilosa
Departamento de Artes e Humanidades
Curso de Comunicaccedilatildeo de Social Jornalismo
Projeto experimental intitulado Afeto diaacuterio de autoria do estudante Michael Douglas
Castro Maia aprovada pela banca examinadora constituiacuteda pelas seguintes professoras
____________________________________________________
Profa Dra Mariana Ramalho Procoacutepio Xavier
Curso de Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da UFV
____________________________________________________
Profa Ma Laene Mucci Daniel
Curso de Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da UFV
____________________________________________________
Profa Ma Hideide Brito Torres
Doutoranda em Estudos Literaacuterios pela UFJF
Viccedilosa 02 de dezembro de 2014
Agraves diaristas matildees de uma cidade universitaacuteria
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho natildeo chegaria ao fim se eu natildeo tivesse contado com a ajuda
de inuacutemeras pessoas que sempre estiveram presentes em minha vida Primeiro
agradeccedilo a quem me deu forccedilas mesmo estando longe atendendo meus telefonemas agraves
seis e meia da manhatilde e dizendo calma filho vocecirc vai conseguir Sem o apoio de meus
pais e de toda a minha famiacutelia certamente natildeo concluiria o documentaacuterio Afeto diaacuterio
Aos professores e funcionaacuterios do DCM por ajudar a ter experiecircncias nas aacutereas
da comunicaccedilatildeo e principalmente pela ajuda nos empreacutestimos de equipamentos os
cartotildees e baterias de reservas
Fico feliz em agradecer aos meus grandes companheiros de Viccedilosa aos colegas
da COM 11 a minha segunda famiacutelia AchoCOM ao Helvio e ao Lucas melhores
amigos para dividir (e entregar) um apartamento E em especial agradeccedilo agraves pessoas que
me ajudaram a finalizar este trabalho de conclusatildeo de curso Mari pelas indicaccedilotildees na
hora das gravaccedilotildees Samuel por ajudar a carregar os equipamentos e conseguir fazer
piada de qualquer situaccedilatildeo os amigos do estaacutegio pelos ensinamentos em produccedilatildeo
audiovisual a amizade de Raul e principalmente paciecircncia por aguentar todos os
momentos de estresse Bia por me ajudar a confeccionar os DVDs e a Thalita
que para minha sorte apareceu com uma das melhores fontes que eu poderia arrumar
para este documentaacuterio
E a Cida dona Leleacute Cacilda e Raimunda Diaristas de vaacuterias repuacuteblicas e agora
pessoas que nunca esquecerei por terem me encaixado em seus horaacuterios concedido
entrevistas e pelos sorrisos e conversas
Natildeo poderia esquecer minha orientadora Mariana Procoacutepio pela paciecircncia e
apoio em todo esse percurso desde o final do primeiro semestre de 2014 mostrando as
melhores maneiras para conseguir finalizar Afeto diaacuterio Agradeccedilo imensamente pelos
conselhos e puxotildees de orelha
RESUMO
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um projeto experimental produzido como Trabalho de
Conclusatildeo de Curso do curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo na Universidade
Federal de Viccedilosa (UFV) O trabalho de diaristas eacute considerado raacutepido e realiza-se em
mais de uma casa por dia e semana Satildeo muitos clientes mas mesmo assim o afeto eacute
presente entre os dois polos Esta produccedilatildeo de meacutedia-metragem teve como finalidade
relatar este afeto presente nas relaccedilotildees entre as diaristas e os moradores de repuacuteblicas
estudantis em Viccedilosa-MG Os depoimentos referentes ao tema foram construiacutedos em
um roteiro sem a presenccedila de voz off O presente memorial aborda os pressupostos de
teoacutericos do gecircnero documentaacuterio e roteiro do trabalho domeacutestico e suas delimitaccedilotildees e
o tema central o afeto entre estudantes e diaristas Para a realizaccedilatildeo desse trabalho
organizou-se trecircs etapas preacute-produccedilatildeo (pesquisa e preacute-entrevistas) produccedilatildeo
(gravaccedilotildees de entrevistas e todo material) e poacutes-produccedilatildeo (montagem da narrativa e
ediccedilatildeo do documentaacuterio)
PALAVRAS-CHAVE
Diaristas trabalho domeacutestico afeto Viccedilosa documentaacuterio
ABSTRACT
The documentary Afeto diaacuterio is an experimental production for the Social
Communication in Journalism major final project of the Federal University of Viccedilosa
The work of daily housecleaners is considered rapid and takes place in several houses
per day and week Even though there are a lot of costumers affection is present on both
sides This production of a short-film had as the main goal to report this affection that
takes place between college housecleaners and fraternity students in Viccedilosa-MG The
testimonials concerning the subject were built in a script without voice off The stated
memorial conceives the premises of documentary gender and script housework and its
delimitations and the core of this project the affection between students and
housecleaners The realization of this short-film was achieved in three steps pre-
production (research and pre-interviews) production (interviews and other scenes
recording) and post-production (narrative set up and documentary edition)
KEYWORDS
Daily housecleaners housework affection Viccedilosa documentary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO11
11 Especificidades do trabalho das diaristas13
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto15
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO19
21 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos22
CAPIacuteTULO 3 RELATOacuteRIO TEacuteCNICO26
31 Preacute-produccedilatildeo26
32 Produccedilatildeo29
33 Poacutes-produccedilatildeo35
34 Material cronograma e orccedilamento37
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS39
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS41
ANEXOS44
9
INTRODUCcedilAtildeO
ldquoViccedilosa eacute uma cidade passageira noacutes vamos embora mas nosso coraccedilatildeo
permanece aquirdquo O autor eacute desconhecido soacute se sabe que foi algum aluno da
Universidade Federal de Viccedilosa que jaacute depois de sua formatura percebeu que amava
tanto a cidade E certamente a vida universitaacuteria viccedilosense em sua maioria eacute
temporaacuteria Mas os relacionamentos construiacutedos permanecem por muito tempo e foi
este o ponto chave que pretendi trabalhar em uma produccedilatildeo experimental
A cidade consiste em sua populaccedilatildeo estimada em 76 mil habitantes1 Insere-se
aqui uma das maiores universidades federais do paiacutes ocupando cerca de 16 milhotildees de
metros quadrados A populaccedilatildeo proveniente da UFV aproxima-se de 12 mil estudantes
da graduaccedilatildeo e 3500 da poacutes-graduaccedilatildeo2 fora alunos de outras duas faculdades e escolas
de ensino meacutedio que tambeacutem se instalam na cidade Por essa razatildeo grande parte das
atividades econocircmicas da cidade eacute referente agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos para os estudantes
Como trabalho de conclusatildeo de curso apresento Afeto diaacuterio um documentaacuterio
que propotildee relatar o relacionamento das diaristas de repuacuteblicas estudantis com seus
clientes Motivado por esse mesmo sentimento muacutetuo de carinho percebi que natildeo era
apenas comigo mas com muitos outros Aleacutem de que desde sempre admirei o trabalho
domeacutestico antes mesmo de chegar a Viccedilosa O trabalho de limpeza eacute imprescindiacutevel na
sociedade Hoje em dia natildeo eacute muito difiacutecil encontrar pessoas que utilizam deste serviccedilo
visto que o Brasil como apresentarei no proacuteximo capiacutetulo eacute o paiacutes que mais emprega
no setor
Procurei tambeacutem produzir um documentaacuterio que me incentivasse a experimentar
teacutecnicas aprendidas e fugir um pouco do jornalismo tradicional de televisatildeo podendo
usar enquadramentos e acircngulos natildeo convencionais utilizando de cacircmeras DSLRs3 e
suportes especiacuteficos Mas tambeacutem trabalhando o que o jornalismo tem de melhor nos
conselhos de Eliane Brum o bom repoacuterter ldquotem que se esvaziar dos preconceitos e
julgamentos e deixar se encher pelas histoacuterias dos outrosrdquo 4
1
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=317130ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completasAcessado em 09 de outubro de 2014 2
Disponiacutevel em httpwwwppoufvbrwp-contentuploads201205UFV-EM-NUMEROS-
2014-finalpdf acessado em 09 de outubro de 2014 3 Cacircmera digital de reflexo por uma lente em que a imagem eacute refletida por um espelho direto para o
visor Isso a torna excelente para captar imagens em ambientes escuros 4
Disponiacutevel em httpwwwinfocambiouniversitariocombrsem-categoriaeliane-brum-e-os-
historiadores-do-cotidiano acessado em 09 de outubro de 2014
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
Universidade Federal de Viccedilosa
Departamento de Artes e Humanidades
Curso de Comunicaccedilatildeo de Social Jornalismo
Projeto experimental intitulado Afeto diaacuterio de autoria do estudante Michael Douglas
Castro Maia aprovada pela banca examinadora constituiacuteda pelas seguintes professoras
____________________________________________________
Profa Dra Mariana Ramalho Procoacutepio Xavier
Curso de Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da UFV
____________________________________________________
Profa Ma Laene Mucci Daniel
Curso de Comunicaccedilatildeo Social Jornalismo da UFV
____________________________________________________
Profa Ma Hideide Brito Torres
Doutoranda em Estudos Literaacuterios pela UFJF
Viccedilosa 02 de dezembro de 2014
Agraves diaristas matildees de uma cidade universitaacuteria
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho natildeo chegaria ao fim se eu natildeo tivesse contado com a ajuda
de inuacutemeras pessoas que sempre estiveram presentes em minha vida Primeiro
agradeccedilo a quem me deu forccedilas mesmo estando longe atendendo meus telefonemas agraves
seis e meia da manhatilde e dizendo calma filho vocecirc vai conseguir Sem o apoio de meus
pais e de toda a minha famiacutelia certamente natildeo concluiria o documentaacuterio Afeto diaacuterio
Aos professores e funcionaacuterios do DCM por ajudar a ter experiecircncias nas aacutereas
da comunicaccedilatildeo e principalmente pela ajuda nos empreacutestimos de equipamentos os
cartotildees e baterias de reservas
Fico feliz em agradecer aos meus grandes companheiros de Viccedilosa aos colegas
da COM 11 a minha segunda famiacutelia AchoCOM ao Helvio e ao Lucas melhores
amigos para dividir (e entregar) um apartamento E em especial agradeccedilo agraves pessoas que
me ajudaram a finalizar este trabalho de conclusatildeo de curso Mari pelas indicaccedilotildees na
hora das gravaccedilotildees Samuel por ajudar a carregar os equipamentos e conseguir fazer
piada de qualquer situaccedilatildeo os amigos do estaacutegio pelos ensinamentos em produccedilatildeo
audiovisual a amizade de Raul e principalmente paciecircncia por aguentar todos os
momentos de estresse Bia por me ajudar a confeccionar os DVDs e a Thalita
que para minha sorte apareceu com uma das melhores fontes que eu poderia arrumar
para este documentaacuterio
E a Cida dona Leleacute Cacilda e Raimunda Diaristas de vaacuterias repuacuteblicas e agora
pessoas que nunca esquecerei por terem me encaixado em seus horaacuterios concedido
entrevistas e pelos sorrisos e conversas
Natildeo poderia esquecer minha orientadora Mariana Procoacutepio pela paciecircncia e
apoio em todo esse percurso desde o final do primeiro semestre de 2014 mostrando as
melhores maneiras para conseguir finalizar Afeto diaacuterio Agradeccedilo imensamente pelos
conselhos e puxotildees de orelha
RESUMO
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um projeto experimental produzido como Trabalho de
Conclusatildeo de Curso do curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo na Universidade
Federal de Viccedilosa (UFV) O trabalho de diaristas eacute considerado raacutepido e realiza-se em
mais de uma casa por dia e semana Satildeo muitos clientes mas mesmo assim o afeto eacute
presente entre os dois polos Esta produccedilatildeo de meacutedia-metragem teve como finalidade
relatar este afeto presente nas relaccedilotildees entre as diaristas e os moradores de repuacuteblicas
estudantis em Viccedilosa-MG Os depoimentos referentes ao tema foram construiacutedos em
um roteiro sem a presenccedila de voz off O presente memorial aborda os pressupostos de
teoacutericos do gecircnero documentaacuterio e roteiro do trabalho domeacutestico e suas delimitaccedilotildees e
o tema central o afeto entre estudantes e diaristas Para a realizaccedilatildeo desse trabalho
organizou-se trecircs etapas preacute-produccedilatildeo (pesquisa e preacute-entrevistas) produccedilatildeo
(gravaccedilotildees de entrevistas e todo material) e poacutes-produccedilatildeo (montagem da narrativa e
ediccedilatildeo do documentaacuterio)
PALAVRAS-CHAVE
Diaristas trabalho domeacutestico afeto Viccedilosa documentaacuterio
ABSTRACT
The documentary Afeto diaacuterio is an experimental production for the Social
Communication in Journalism major final project of the Federal University of Viccedilosa
The work of daily housecleaners is considered rapid and takes place in several houses
per day and week Even though there are a lot of costumers affection is present on both
sides This production of a short-film had as the main goal to report this affection that
takes place between college housecleaners and fraternity students in Viccedilosa-MG The
testimonials concerning the subject were built in a script without voice off The stated
memorial conceives the premises of documentary gender and script housework and its
delimitations and the core of this project the affection between students and
housecleaners The realization of this short-film was achieved in three steps pre-
production (research and pre-interviews) production (interviews and other scenes
recording) and post-production (narrative set up and documentary edition)
KEYWORDS
Daily housecleaners housework affection Viccedilosa documentary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO11
11 Especificidades do trabalho das diaristas13
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto15
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO19
21 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos22
CAPIacuteTULO 3 RELATOacuteRIO TEacuteCNICO26
31 Preacute-produccedilatildeo26
32 Produccedilatildeo29
33 Poacutes-produccedilatildeo35
34 Material cronograma e orccedilamento37
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS39
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS41
ANEXOS44
9
INTRODUCcedilAtildeO
ldquoViccedilosa eacute uma cidade passageira noacutes vamos embora mas nosso coraccedilatildeo
permanece aquirdquo O autor eacute desconhecido soacute se sabe que foi algum aluno da
Universidade Federal de Viccedilosa que jaacute depois de sua formatura percebeu que amava
tanto a cidade E certamente a vida universitaacuteria viccedilosense em sua maioria eacute
temporaacuteria Mas os relacionamentos construiacutedos permanecem por muito tempo e foi
este o ponto chave que pretendi trabalhar em uma produccedilatildeo experimental
A cidade consiste em sua populaccedilatildeo estimada em 76 mil habitantes1 Insere-se
aqui uma das maiores universidades federais do paiacutes ocupando cerca de 16 milhotildees de
metros quadrados A populaccedilatildeo proveniente da UFV aproxima-se de 12 mil estudantes
da graduaccedilatildeo e 3500 da poacutes-graduaccedilatildeo2 fora alunos de outras duas faculdades e escolas
de ensino meacutedio que tambeacutem se instalam na cidade Por essa razatildeo grande parte das
atividades econocircmicas da cidade eacute referente agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos para os estudantes
Como trabalho de conclusatildeo de curso apresento Afeto diaacuterio um documentaacuterio
que propotildee relatar o relacionamento das diaristas de repuacuteblicas estudantis com seus
clientes Motivado por esse mesmo sentimento muacutetuo de carinho percebi que natildeo era
apenas comigo mas com muitos outros Aleacutem de que desde sempre admirei o trabalho
domeacutestico antes mesmo de chegar a Viccedilosa O trabalho de limpeza eacute imprescindiacutevel na
sociedade Hoje em dia natildeo eacute muito difiacutecil encontrar pessoas que utilizam deste serviccedilo
visto que o Brasil como apresentarei no proacuteximo capiacutetulo eacute o paiacutes que mais emprega
no setor
Procurei tambeacutem produzir um documentaacuterio que me incentivasse a experimentar
teacutecnicas aprendidas e fugir um pouco do jornalismo tradicional de televisatildeo podendo
usar enquadramentos e acircngulos natildeo convencionais utilizando de cacircmeras DSLRs3 e
suportes especiacuteficos Mas tambeacutem trabalhando o que o jornalismo tem de melhor nos
conselhos de Eliane Brum o bom repoacuterter ldquotem que se esvaziar dos preconceitos e
julgamentos e deixar se encher pelas histoacuterias dos outrosrdquo 4
1
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=317130ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completasAcessado em 09 de outubro de 2014 2
Disponiacutevel em httpwwwppoufvbrwp-contentuploads201205UFV-EM-NUMEROS-
2014-finalpdf acessado em 09 de outubro de 2014 3 Cacircmera digital de reflexo por uma lente em que a imagem eacute refletida por um espelho direto para o
visor Isso a torna excelente para captar imagens em ambientes escuros 4
Disponiacutevel em httpwwwinfocambiouniversitariocombrsem-categoriaeliane-brum-e-os-
historiadores-do-cotidiano acessado em 09 de outubro de 2014
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
Agraves diaristas matildees de uma cidade universitaacuteria
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho natildeo chegaria ao fim se eu natildeo tivesse contado com a ajuda
de inuacutemeras pessoas que sempre estiveram presentes em minha vida Primeiro
agradeccedilo a quem me deu forccedilas mesmo estando longe atendendo meus telefonemas agraves
seis e meia da manhatilde e dizendo calma filho vocecirc vai conseguir Sem o apoio de meus
pais e de toda a minha famiacutelia certamente natildeo concluiria o documentaacuterio Afeto diaacuterio
Aos professores e funcionaacuterios do DCM por ajudar a ter experiecircncias nas aacutereas
da comunicaccedilatildeo e principalmente pela ajuda nos empreacutestimos de equipamentos os
cartotildees e baterias de reservas
Fico feliz em agradecer aos meus grandes companheiros de Viccedilosa aos colegas
da COM 11 a minha segunda famiacutelia AchoCOM ao Helvio e ao Lucas melhores
amigos para dividir (e entregar) um apartamento E em especial agradeccedilo agraves pessoas que
me ajudaram a finalizar este trabalho de conclusatildeo de curso Mari pelas indicaccedilotildees na
hora das gravaccedilotildees Samuel por ajudar a carregar os equipamentos e conseguir fazer
piada de qualquer situaccedilatildeo os amigos do estaacutegio pelos ensinamentos em produccedilatildeo
audiovisual a amizade de Raul e principalmente paciecircncia por aguentar todos os
momentos de estresse Bia por me ajudar a confeccionar os DVDs e a Thalita
que para minha sorte apareceu com uma das melhores fontes que eu poderia arrumar
para este documentaacuterio
E a Cida dona Leleacute Cacilda e Raimunda Diaristas de vaacuterias repuacuteblicas e agora
pessoas que nunca esquecerei por terem me encaixado em seus horaacuterios concedido
entrevistas e pelos sorrisos e conversas
Natildeo poderia esquecer minha orientadora Mariana Procoacutepio pela paciecircncia e
apoio em todo esse percurso desde o final do primeiro semestre de 2014 mostrando as
melhores maneiras para conseguir finalizar Afeto diaacuterio Agradeccedilo imensamente pelos
conselhos e puxotildees de orelha
RESUMO
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um projeto experimental produzido como Trabalho de
Conclusatildeo de Curso do curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo na Universidade
Federal de Viccedilosa (UFV) O trabalho de diaristas eacute considerado raacutepido e realiza-se em
mais de uma casa por dia e semana Satildeo muitos clientes mas mesmo assim o afeto eacute
presente entre os dois polos Esta produccedilatildeo de meacutedia-metragem teve como finalidade
relatar este afeto presente nas relaccedilotildees entre as diaristas e os moradores de repuacuteblicas
estudantis em Viccedilosa-MG Os depoimentos referentes ao tema foram construiacutedos em
um roteiro sem a presenccedila de voz off O presente memorial aborda os pressupostos de
teoacutericos do gecircnero documentaacuterio e roteiro do trabalho domeacutestico e suas delimitaccedilotildees e
o tema central o afeto entre estudantes e diaristas Para a realizaccedilatildeo desse trabalho
organizou-se trecircs etapas preacute-produccedilatildeo (pesquisa e preacute-entrevistas) produccedilatildeo
(gravaccedilotildees de entrevistas e todo material) e poacutes-produccedilatildeo (montagem da narrativa e
ediccedilatildeo do documentaacuterio)
PALAVRAS-CHAVE
Diaristas trabalho domeacutestico afeto Viccedilosa documentaacuterio
ABSTRACT
The documentary Afeto diaacuterio is an experimental production for the Social
Communication in Journalism major final project of the Federal University of Viccedilosa
The work of daily housecleaners is considered rapid and takes place in several houses
per day and week Even though there are a lot of costumers affection is present on both
sides This production of a short-film had as the main goal to report this affection that
takes place between college housecleaners and fraternity students in Viccedilosa-MG The
testimonials concerning the subject were built in a script without voice off The stated
memorial conceives the premises of documentary gender and script housework and its
delimitations and the core of this project the affection between students and
housecleaners The realization of this short-film was achieved in three steps pre-
production (research and pre-interviews) production (interviews and other scenes
recording) and post-production (narrative set up and documentary edition)
KEYWORDS
Daily housecleaners housework affection Viccedilosa documentary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO11
11 Especificidades do trabalho das diaristas13
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto15
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO19
21 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos22
CAPIacuteTULO 3 RELATOacuteRIO TEacuteCNICO26
31 Preacute-produccedilatildeo26
32 Produccedilatildeo29
33 Poacutes-produccedilatildeo35
34 Material cronograma e orccedilamento37
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS39
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS41
ANEXOS44
9
INTRODUCcedilAtildeO
ldquoViccedilosa eacute uma cidade passageira noacutes vamos embora mas nosso coraccedilatildeo
permanece aquirdquo O autor eacute desconhecido soacute se sabe que foi algum aluno da
Universidade Federal de Viccedilosa que jaacute depois de sua formatura percebeu que amava
tanto a cidade E certamente a vida universitaacuteria viccedilosense em sua maioria eacute
temporaacuteria Mas os relacionamentos construiacutedos permanecem por muito tempo e foi
este o ponto chave que pretendi trabalhar em uma produccedilatildeo experimental
A cidade consiste em sua populaccedilatildeo estimada em 76 mil habitantes1 Insere-se
aqui uma das maiores universidades federais do paiacutes ocupando cerca de 16 milhotildees de
metros quadrados A populaccedilatildeo proveniente da UFV aproxima-se de 12 mil estudantes
da graduaccedilatildeo e 3500 da poacutes-graduaccedilatildeo2 fora alunos de outras duas faculdades e escolas
de ensino meacutedio que tambeacutem se instalam na cidade Por essa razatildeo grande parte das
atividades econocircmicas da cidade eacute referente agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos para os estudantes
Como trabalho de conclusatildeo de curso apresento Afeto diaacuterio um documentaacuterio
que propotildee relatar o relacionamento das diaristas de repuacuteblicas estudantis com seus
clientes Motivado por esse mesmo sentimento muacutetuo de carinho percebi que natildeo era
apenas comigo mas com muitos outros Aleacutem de que desde sempre admirei o trabalho
domeacutestico antes mesmo de chegar a Viccedilosa O trabalho de limpeza eacute imprescindiacutevel na
sociedade Hoje em dia natildeo eacute muito difiacutecil encontrar pessoas que utilizam deste serviccedilo
visto que o Brasil como apresentarei no proacuteximo capiacutetulo eacute o paiacutes que mais emprega
no setor
Procurei tambeacutem produzir um documentaacuterio que me incentivasse a experimentar
teacutecnicas aprendidas e fugir um pouco do jornalismo tradicional de televisatildeo podendo
usar enquadramentos e acircngulos natildeo convencionais utilizando de cacircmeras DSLRs3 e
suportes especiacuteficos Mas tambeacutem trabalhando o que o jornalismo tem de melhor nos
conselhos de Eliane Brum o bom repoacuterter ldquotem que se esvaziar dos preconceitos e
julgamentos e deixar se encher pelas histoacuterias dos outrosrdquo 4
1
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=317130ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completasAcessado em 09 de outubro de 2014 2
Disponiacutevel em httpwwwppoufvbrwp-contentuploads201205UFV-EM-NUMEROS-
2014-finalpdf acessado em 09 de outubro de 2014 3 Cacircmera digital de reflexo por uma lente em que a imagem eacute refletida por um espelho direto para o
visor Isso a torna excelente para captar imagens em ambientes escuros 4
Disponiacutevel em httpwwwinfocambiouniversitariocombrsem-categoriaeliane-brum-e-os-
historiadores-do-cotidiano acessado em 09 de outubro de 2014
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho natildeo chegaria ao fim se eu natildeo tivesse contado com a ajuda
de inuacutemeras pessoas que sempre estiveram presentes em minha vida Primeiro
agradeccedilo a quem me deu forccedilas mesmo estando longe atendendo meus telefonemas agraves
seis e meia da manhatilde e dizendo calma filho vocecirc vai conseguir Sem o apoio de meus
pais e de toda a minha famiacutelia certamente natildeo concluiria o documentaacuterio Afeto diaacuterio
Aos professores e funcionaacuterios do DCM por ajudar a ter experiecircncias nas aacutereas
da comunicaccedilatildeo e principalmente pela ajuda nos empreacutestimos de equipamentos os
cartotildees e baterias de reservas
Fico feliz em agradecer aos meus grandes companheiros de Viccedilosa aos colegas
da COM 11 a minha segunda famiacutelia AchoCOM ao Helvio e ao Lucas melhores
amigos para dividir (e entregar) um apartamento E em especial agradeccedilo agraves pessoas que
me ajudaram a finalizar este trabalho de conclusatildeo de curso Mari pelas indicaccedilotildees na
hora das gravaccedilotildees Samuel por ajudar a carregar os equipamentos e conseguir fazer
piada de qualquer situaccedilatildeo os amigos do estaacutegio pelos ensinamentos em produccedilatildeo
audiovisual a amizade de Raul e principalmente paciecircncia por aguentar todos os
momentos de estresse Bia por me ajudar a confeccionar os DVDs e a Thalita
que para minha sorte apareceu com uma das melhores fontes que eu poderia arrumar
para este documentaacuterio
E a Cida dona Leleacute Cacilda e Raimunda Diaristas de vaacuterias repuacuteblicas e agora
pessoas que nunca esquecerei por terem me encaixado em seus horaacuterios concedido
entrevistas e pelos sorrisos e conversas
Natildeo poderia esquecer minha orientadora Mariana Procoacutepio pela paciecircncia e
apoio em todo esse percurso desde o final do primeiro semestre de 2014 mostrando as
melhores maneiras para conseguir finalizar Afeto diaacuterio Agradeccedilo imensamente pelos
conselhos e puxotildees de orelha
RESUMO
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um projeto experimental produzido como Trabalho de
Conclusatildeo de Curso do curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo na Universidade
Federal de Viccedilosa (UFV) O trabalho de diaristas eacute considerado raacutepido e realiza-se em
mais de uma casa por dia e semana Satildeo muitos clientes mas mesmo assim o afeto eacute
presente entre os dois polos Esta produccedilatildeo de meacutedia-metragem teve como finalidade
relatar este afeto presente nas relaccedilotildees entre as diaristas e os moradores de repuacuteblicas
estudantis em Viccedilosa-MG Os depoimentos referentes ao tema foram construiacutedos em
um roteiro sem a presenccedila de voz off O presente memorial aborda os pressupostos de
teoacutericos do gecircnero documentaacuterio e roteiro do trabalho domeacutestico e suas delimitaccedilotildees e
o tema central o afeto entre estudantes e diaristas Para a realizaccedilatildeo desse trabalho
organizou-se trecircs etapas preacute-produccedilatildeo (pesquisa e preacute-entrevistas) produccedilatildeo
(gravaccedilotildees de entrevistas e todo material) e poacutes-produccedilatildeo (montagem da narrativa e
ediccedilatildeo do documentaacuterio)
PALAVRAS-CHAVE
Diaristas trabalho domeacutestico afeto Viccedilosa documentaacuterio
ABSTRACT
The documentary Afeto diaacuterio is an experimental production for the Social
Communication in Journalism major final project of the Federal University of Viccedilosa
The work of daily housecleaners is considered rapid and takes place in several houses
per day and week Even though there are a lot of costumers affection is present on both
sides This production of a short-film had as the main goal to report this affection that
takes place between college housecleaners and fraternity students in Viccedilosa-MG The
testimonials concerning the subject were built in a script without voice off The stated
memorial conceives the premises of documentary gender and script housework and its
delimitations and the core of this project the affection between students and
housecleaners The realization of this short-film was achieved in three steps pre-
production (research and pre-interviews) production (interviews and other scenes
recording) and post-production (narrative set up and documentary edition)
KEYWORDS
Daily housecleaners housework affection Viccedilosa documentary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO11
11 Especificidades do trabalho das diaristas13
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto15
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO19
21 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos22
CAPIacuteTULO 3 RELATOacuteRIO TEacuteCNICO26
31 Preacute-produccedilatildeo26
32 Produccedilatildeo29
33 Poacutes-produccedilatildeo35
34 Material cronograma e orccedilamento37
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS39
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS41
ANEXOS44
9
INTRODUCcedilAtildeO
ldquoViccedilosa eacute uma cidade passageira noacutes vamos embora mas nosso coraccedilatildeo
permanece aquirdquo O autor eacute desconhecido soacute se sabe que foi algum aluno da
Universidade Federal de Viccedilosa que jaacute depois de sua formatura percebeu que amava
tanto a cidade E certamente a vida universitaacuteria viccedilosense em sua maioria eacute
temporaacuteria Mas os relacionamentos construiacutedos permanecem por muito tempo e foi
este o ponto chave que pretendi trabalhar em uma produccedilatildeo experimental
A cidade consiste em sua populaccedilatildeo estimada em 76 mil habitantes1 Insere-se
aqui uma das maiores universidades federais do paiacutes ocupando cerca de 16 milhotildees de
metros quadrados A populaccedilatildeo proveniente da UFV aproxima-se de 12 mil estudantes
da graduaccedilatildeo e 3500 da poacutes-graduaccedilatildeo2 fora alunos de outras duas faculdades e escolas
de ensino meacutedio que tambeacutem se instalam na cidade Por essa razatildeo grande parte das
atividades econocircmicas da cidade eacute referente agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos para os estudantes
Como trabalho de conclusatildeo de curso apresento Afeto diaacuterio um documentaacuterio
que propotildee relatar o relacionamento das diaristas de repuacuteblicas estudantis com seus
clientes Motivado por esse mesmo sentimento muacutetuo de carinho percebi que natildeo era
apenas comigo mas com muitos outros Aleacutem de que desde sempre admirei o trabalho
domeacutestico antes mesmo de chegar a Viccedilosa O trabalho de limpeza eacute imprescindiacutevel na
sociedade Hoje em dia natildeo eacute muito difiacutecil encontrar pessoas que utilizam deste serviccedilo
visto que o Brasil como apresentarei no proacuteximo capiacutetulo eacute o paiacutes que mais emprega
no setor
Procurei tambeacutem produzir um documentaacuterio que me incentivasse a experimentar
teacutecnicas aprendidas e fugir um pouco do jornalismo tradicional de televisatildeo podendo
usar enquadramentos e acircngulos natildeo convencionais utilizando de cacircmeras DSLRs3 e
suportes especiacuteficos Mas tambeacutem trabalhando o que o jornalismo tem de melhor nos
conselhos de Eliane Brum o bom repoacuterter ldquotem que se esvaziar dos preconceitos e
julgamentos e deixar se encher pelas histoacuterias dos outrosrdquo 4
1
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=317130ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completasAcessado em 09 de outubro de 2014 2
Disponiacutevel em httpwwwppoufvbrwp-contentuploads201205UFV-EM-NUMEROS-
2014-finalpdf acessado em 09 de outubro de 2014 3 Cacircmera digital de reflexo por uma lente em que a imagem eacute refletida por um espelho direto para o
visor Isso a torna excelente para captar imagens em ambientes escuros 4
Disponiacutevel em httpwwwinfocambiouniversitariocombrsem-categoriaeliane-brum-e-os-
historiadores-do-cotidiano acessado em 09 de outubro de 2014
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RESUMO
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um projeto experimental produzido como Trabalho de
Conclusatildeo de Curso do curso de Comunicaccedilatildeo Social ndash Jornalismo na Universidade
Federal de Viccedilosa (UFV) O trabalho de diaristas eacute considerado raacutepido e realiza-se em
mais de uma casa por dia e semana Satildeo muitos clientes mas mesmo assim o afeto eacute
presente entre os dois polos Esta produccedilatildeo de meacutedia-metragem teve como finalidade
relatar este afeto presente nas relaccedilotildees entre as diaristas e os moradores de repuacuteblicas
estudantis em Viccedilosa-MG Os depoimentos referentes ao tema foram construiacutedos em
um roteiro sem a presenccedila de voz off O presente memorial aborda os pressupostos de
teoacutericos do gecircnero documentaacuterio e roteiro do trabalho domeacutestico e suas delimitaccedilotildees e
o tema central o afeto entre estudantes e diaristas Para a realizaccedilatildeo desse trabalho
organizou-se trecircs etapas preacute-produccedilatildeo (pesquisa e preacute-entrevistas) produccedilatildeo
(gravaccedilotildees de entrevistas e todo material) e poacutes-produccedilatildeo (montagem da narrativa e
ediccedilatildeo do documentaacuterio)
PALAVRAS-CHAVE
Diaristas trabalho domeacutestico afeto Viccedilosa documentaacuterio
ABSTRACT
The documentary Afeto diaacuterio is an experimental production for the Social
Communication in Journalism major final project of the Federal University of Viccedilosa
The work of daily housecleaners is considered rapid and takes place in several houses
per day and week Even though there are a lot of costumers affection is present on both
sides This production of a short-film had as the main goal to report this affection that
takes place between college housecleaners and fraternity students in Viccedilosa-MG The
testimonials concerning the subject were built in a script without voice off The stated
memorial conceives the premises of documentary gender and script housework and its
delimitations and the core of this project the affection between students and
housecleaners The realization of this short-film was achieved in three steps pre-
production (research and pre-interviews) production (interviews and other scenes
recording) and post-production (narrative set up and documentary edition)
KEYWORDS
Daily housecleaners housework affection Viccedilosa documentary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO11
11 Especificidades do trabalho das diaristas13
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto15
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO19
21 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos22
CAPIacuteTULO 3 RELATOacuteRIO TEacuteCNICO26
31 Preacute-produccedilatildeo26
32 Produccedilatildeo29
33 Poacutes-produccedilatildeo35
34 Material cronograma e orccedilamento37
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS39
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS41
ANEXOS44
9
INTRODUCcedilAtildeO
ldquoViccedilosa eacute uma cidade passageira noacutes vamos embora mas nosso coraccedilatildeo
permanece aquirdquo O autor eacute desconhecido soacute se sabe que foi algum aluno da
Universidade Federal de Viccedilosa que jaacute depois de sua formatura percebeu que amava
tanto a cidade E certamente a vida universitaacuteria viccedilosense em sua maioria eacute
temporaacuteria Mas os relacionamentos construiacutedos permanecem por muito tempo e foi
este o ponto chave que pretendi trabalhar em uma produccedilatildeo experimental
A cidade consiste em sua populaccedilatildeo estimada em 76 mil habitantes1 Insere-se
aqui uma das maiores universidades federais do paiacutes ocupando cerca de 16 milhotildees de
metros quadrados A populaccedilatildeo proveniente da UFV aproxima-se de 12 mil estudantes
da graduaccedilatildeo e 3500 da poacutes-graduaccedilatildeo2 fora alunos de outras duas faculdades e escolas
de ensino meacutedio que tambeacutem se instalam na cidade Por essa razatildeo grande parte das
atividades econocircmicas da cidade eacute referente agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos para os estudantes
Como trabalho de conclusatildeo de curso apresento Afeto diaacuterio um documentaacuterio
que propotildee relatar o relacionamento das diaristas de repuacuteblicas estudantis com seus
clientes Motivado por esse mesmo sentimento muacutetuo de carinho percebi que natildeo era
apenas comigo mas com muitos outros Aleacutem de que desde sempre admirei o trabalho
domeacutestico antes mesmo de chegar a Viccedilosa O trabalho de limpeza eacute imprescindiacutevel na
sociedade Hoje em dia natildeo eacute muito difiacutecil encontrar pessoas que utilizam deste serviccedilo
visto que o Brasil como apresentarei no proacuteximo capiacutetulo eacute o paiacutes que mais emprega
no setor
Procurei tambeacutem produzir um documentaacuterio que me incentivasse a experimentar
teacutecnicas aprendidas e fugir um pouco do jornalismo tradicional de televisatildeo podendo
usar enquadramentos e acircngulos natildeo convencionais utilizando de cacircmeras DSLRs3 e
suportes especiacuteficos Mas tambeacutem trabalhando o que o jornalismo tem de melhor nos
conselhos de Eliane Brum o bom repoacuterter ldquotem que se esvaziar dos preconceitos e
julgamentos e deixar se encher pelas histoacuterias dos outrosrdquo 4
1
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=317130ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completasAcessado em 09 de outubro de 2014 2
Disponiacutevel em httpwwwppoufvbrwp-contentuploads201205UFV-EM-NUMEROS-
2014-finalpdf acessado em 09 de outubro de 2014 3 Cacircmera digital de reflexo por uma lente em que a imagem eacute refletida por um espelho direto para o
visor Isso a torna excelente para captar imagens em ambientes escuros 4
Disponiacutevel em httpwwwinfocambiouniversitariocombrsem-categoriaeliane-brum-e-os-
historiadores-do-cotidiano acessado em 09 de outubro de 2014
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
ABSTRACT
The documentary Afeto diaacuterio is an experimental production for the Social
Communication in Journalism major final project of the Federal University of Viccedilosa
The work of daily housecleaners is considered rapid and takes place in several houses
per day and week Even though there are a lot of costumers affection is present on both
sides This production of a short-film had as the main goal to report this affection that
takes place between college housecleaners and fraternity students in Viccedilosa-MG The
testimonials concerning the subject were built in a script without voice off The stated
memorial conceives the premises of documentary gender and script housework and its
delimitations and the core of this project the affection between students and
housecleaners The realization of this short-film was achieved in three steps pre-
production (research and pre-interviews) production (interviews and other scenes
recording) and post-production (narrative set up and documentary edition)
KEYWORDS
Daily housecleaners housework affection Viccedilosa documentary
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO11
11 Especificidades do trabalho das diaristas13
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto15
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO19
21 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos22
CAPIacuteTULO 3 RELATOacuteRIO TEacuteCNICO26
31 Preacute-produccedilatildeo26
32 Produccedilatildeo29
33 Poacutes-produccedilatildeo35
34 Material cronograma e orccedilamento37
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS39
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS41
ANEXOS44
9
INTRODUCcedilAtildeO
ldquoViccedilosa eacute uma cidade passageira noacutes vamos embora mas nosso coraccedilatildeo
permanece aquirdquo O autor eacute desconhecido soacute se sabe que foi algum aluno da
Universidade Federal de Viccedilosa que jaacute depois de sua formatura percebeu que amava
tanto a cidade E certamente a vida universitaacuteria viccedilosense em sua maioria eacute
temporaacuteria Mas os relacionamentos construiacutedos permanecem por muito tempo e foi
este o ponto chave que pretendi trabalhar em uma produccedilatildeo experimental
A cidade consiste em sua populaccedilatildeo estimada em 76 mil habitantes1 Insere-se
aqui uma das maiores universidades federais do paiacutes ocupando cerca de 16 milhotildees de
metros quadrados A populaccedilatildeo proveniente da UFV aproxima-se de 12 mil estudantes
da graduaccedilatildeo e 3500 da poacutes-graduaccedilatildeo2 fora alunos de outras duas faculdades e escolas
de ensino meacutedio que tambeacutem se instalam na cidade Por essa razatildeo grande parte das
atividades econocircmicas da cidade eacute referente agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos para os estudantes
Como trabalho de conclusatildeo de curso apresento Afeto diaacuterio um documentaacuterio
que propotildee relatar o relacionamento das diaristas de repuacuteblicas estudantis com seus
clientes Motivado por esse mesmo sentimento muacutetuo de carinho percebi que natildeo era
apenas comigo mas com muitos outros Aleacutem de que desde sempre admirei o trabalho
domeacutestico antes mesmo de chegar a Viccedilosa O trabalho de limpeza eacute imprescindiacutevel na
sociedade Hoje em dia natildeo eacute muito difiacutecil encontrar pessoas que utilizam deste serviccedilo
visto que o Brasil como apresentarei no proacuteximo capiacutetulo eacute o paiacutes que mais emprega
no setor
Procurei tambeacutem produzir um documentaacuterio que me incentivasse a experimentar
teacutecnicas aprendidas e fugir um pouco do jornalismo tradicional de televisatildeo podendo
usar enquadramentos e acircngulos natildeo convencionais utilizando de cacircmeras DSLRs3 e
suportes especiacuteficos Mas tambeacutem trabalhando o que o jornalismo tem de melhor nos
conselhos de Eliane Brum o bom repoacuterter ldquotem que se esvaziar dos preconceitos e
julgamentos e deixar se encher pelas histoacuterias dos outrosrdquo 4
1
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=317130ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completasAcessado em 09 de outubro de 2014 2
Disponiacutevel em httpwwwppoufvbrwp-contentuploads201205UFV-EM-NUMEROS-
2014-finalpdf acessado em 09 de outubro de 2014 3 Cacircmera digital de reflexo por uma lente em que a imagem eacute refletida por um espelho direto para o
visor Isso a torna excelente para captar imagens em ambientes escuros 4
Disponiacutevel em httpwwwinfocambiouniversitariocombrsem-categoriaeliane-brum-e-os-
historiadores-do-cotidiano acessado em 09 de outubro de 2014
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO9
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO11
11 Especificidades do trabalho das diaristas13
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto15
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO19
21 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos22
CAPIacuteTULO 3 RELATOacuteRIO TEacuteCNICO26
31 Preacute-produccedilatildeo26
32 Produccedilatildeo29
33 Poacutes-produccedilatildeo35
34 Material cronograma e orccedilamento37
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS39
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS41
ANEXOS44
9
INTRODUCcedilAtildeO
ldquoViccedilosa eacute uma cidade passageira noacutes vamos embora mas nosso coraccedilatildeo
permanece aquirdquo O autor eacute desconhecido soacute se sabe que foi algum aluno da
Universidade Federal de Viccedilosa que jaacute depois de sua formatura percebeu que amava
tanto a cidade E certamente a vida universitaacuteria viccedilosense em sua maioria eacute
temporaacuteria Mas os relacionamentos construiacutedos permanecem por muito tempo e foi
este o ponto chave que pretendi trabalhar em uma produccedilatildeo experimental
A cidade consiste em sua populaccedilatildeo estimada em 76 mil habitantes1 Insere-se
aqui uma das maiores universidades federais do paiacutes ocupando cerca de 16 milhotildees de
metros quadrados A populaccedilatildeo proveniente da UFV aproxima-se de 12 mil estudantes
da graduaccedilatildeo e 3500 da poacutes-graduaccedilatildeo2 fora alunos de outras duas faculdades e escolas
de ensino meacutedio que tambeacutem se instalam na cidade Por essa razatildeo grande parte das
atividades econocircmicas da cidade eacute referente agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos para os estudantes
Como trabalho de conclusatildeo de curso apresento Afeto diaacuterio um documentaacuterio
que propotildee relatar o relacionamento das diaristas de repuacuteblicas estudantis com seus
clientes Motivado por esse mesmo sentimento muacutetuo de carinho percebi que natildeo era
apenas comigo mas com muitos outros Aleacutem de que desde sempre admirei o trabalho
domeacutestico antes mesmo de chegar a Viccedilosa O trabalho de limpeza eacute imprescindiacutevel na
sociedade Hoje em dia natildeo eacute muito difiacutecil encontrar pessoas que utilizam deste serviccedilo
visto que o Brasil como apresentarei no proacuteximo capiacutetulo eacute o paiacutes que mais emprega
no setor
Procurei tambeacutem produzir um documentaacuterio que me incentivasse a experimentar
teacutecnicas aprendidas e fugir um pouco do jornalismo tradicional de televisatildeo podendo
usar enquadramentos e acircngulos natildeo convencionais utilizando de cacircmeras DSLRs3 e
suportes especiacuteficos Mas tambeacutem trabalhando o que o jornalismo tem de melhor nos
conselhos de Eliane Brum o bom repoacuterter ldquotem que se esvaziar dos preconceitos e
julgamentos e deixar se encher pelas histoacuterias dos outrosrdquo 4
1
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=317130ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completasAcessado em 09 de outubro de 2014 2
Disponiacutevel em httpwwwppoufvbrwp-contentuploads201205UFV-EM-NUMEROS-
2014-finalpdf acessado em 09 de outubro de 2014 3 Cacircmera digital de reflexo por uma lente em que a imagem eacute refletida por um espelho direto para o
visor Isso a torna excelente para captar imagens em ambientes escuros 4
Disponiacutevel em httpwwwinfocambiouniversitariocombrsem-categoriaeliane-brum-e-os-
historiadores-do-cotidiano acessado em 09 de outubro de 2014
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
9
INTRODUCcedilAtildeO
ldquoViccedilosa eacute uma cidade passageira noacutes vamos embora mas nosso coraccedilatildeo
permanece aquirdquo O autor eacute desconhecido soacute se sabe que foi algum aluno da
Universidade Federal de Viccedilosa que jaacute depois de sua formatura percebeu que amava
tanto a cidade E certamente a vida universitaacuteria viccedilosense em sua maioria eacute
temporaacuteria Mas os relacionamentos construiacutedos permanecem por muito tempo e foi
este o ponto chave que pretendi trabalhar em uma produccedilatildeo experimental
A cidade consiste em sua populaccedilatildeo estimada em 76 mil habitantes1 Insere-se
aqui uma das maiores universidades federais do paiacutes ocupando cerca de 16 milhotildees de
metros quadrados A populaccedilatildeo proveniente da UFV aproxima-se de 12 mil estudantes
da graduaccedilatildeo e 3500 da poacutes-graduaccedilatildeo2 fora alunos de outras duas faculdades e escolas
de ensino meacutedio que tambeacutem se instalam na cidade Por essa razatildeo grande parte das
atividades econocircmicas da cidade eacute referente agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos para os estudantes
Como trabalho de conclusatildeo de curso apresento Afeto diaacuterio um documentaacuterio
que propotildee relatar o relacionamento das diaristas de repuacuteblicas estudantis com seus
clientes Motivado por esse mesmo sentimento muacutetuo de carinho percebi que natildeo era
apenas comigo mas com muitos outros Aleacutem de que desde sempre admirei o trabalho
domeacutestico antes mesmo de chegar a Viccedilosa O trabalho de limpeza eacute imprescindiacutevel na
sociedade Hoje em dia natildeo eacute muito difiacutecil encontrar pessoas que utilizam deste serviccedilo
visto que o Brasil como apresentarei no proacuteximo capiacutetulo eacute o paiacutes que mais emprega
no setor
Procurei tambeacutem produzir um documentaacuterio que me incentivasse a experimentar
teacutecnicas aprendidas e fugir um pouco do jornalismo tradicional de televisatildeo podendo
usar enquadramentos e acircngulos natildeo convencionais utilizando de cacircmeras DSLRs3 e
suportes especiacuteficos Mas tambeacutem trabalhando o que o jornalismo tem de melhor nos
conselhos de Eliane Brum o bom repoacuterter ldquotem que se esvaziar dos preconceitos e
julgamentos e deixar se encher pelas histoacuterias dos outrosrdquo 4
1
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=317130ampsearch=||infogrE1ficos-
informaE7F5es-completasAcessado em 09 de outubro de 2014 2
Disponiacutevel em httpwwwppoufvbrwp-contentuploads201205UFV-EM-NUMEROS-
2014-finalpdf acessado em 09 de outubro de 2014 3 Cacircmera digital de reflexo por uma lente em que a imagem eacute refletida por um espelho direto para o
visor Isso a torna excelente para captar imagens em ambientes escuros 4
Disponiacutevel em httpwwwinfocambiouniversitariocombrsem-categoriaeliane-brum-e-os-
historiadores-do-cotidiano acessado em 09 de outubro de 2014
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
10
Nos paraacutegrafos seguintes eacute exposto o trabalho domeacutestico em sua atual
circunstacircncia seu breve histoacuterico suas delimitaccedilotildees e o presente tema desenvolvido no
documentaacuterio o afeto entre as diaristas e os estudantes Apresenta-se com contribuiccedilotildees
de autores como Monticelli (2013) Nunes (1993) Weber (2004) Fraga (2010) e tantas
outras pesquisas socioloacutegicas e econocircmicas voltadas para o serviccedilo domeacutestico
discursando sobre conceitos de afeto e o que vai aleacutem da troca entre capitalserviccedilo
A seguir apresenta-se contribuiccedilotildees teoacutericas de documentaristas e pesquisadores
de produccedilotildees do gecircnero sobre a teacutecnica de roteirizaccedilatildeo nesses produtos visto que em
grande parte satildeo coletas da realidade sem um conhecimento preacutevio do que poderaacute
acontecer ou relatar Discorre-se sobre a definiccedilatildeo dos documentaacuterios de acordo com
autores como Lucena (2009) Penafria (1999) Nichols (2011) Hampe (1997) e outros
e a significaccedilatildeo e importacircncia de roteiros nessas produccedilotildees de acordo com Puccini
(2013) Chion (1989) DocComparato (2009) e outros
No terceiro capiacutetulo a produccedilatildeo do documentaacuterio eacute descrita detalhadamente
desde o seu iniacutecio no primeiro semestre de 2014 As etapas da produccedilatildeo definidas por
Moletta (2009) satildeo descritas desde o primeiro momento ateacute a finalizaccedilatildeo do viacutedeo
concluindo com a organizaccedilatildeo do presente memorial
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
11
CAPIacuteTULO 1 VARRENDO O CHAtildeO E ENTENDENDO O TRABALHO
DOMEacuteSTICO
De acordo com a Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees (CBO) os trabalhadores
de serviccedilos domeacutesticos em geral tecircm as suas funccedilotildees descritas da seguinte maneira
Preparam refeiccedilotildees e prestam assistecircncia agraves pessoas cuidam de peccedilas
do vestuaacuterio como roupas e sapatos e colaboram na administraccedilatildeo da
casa conforme orientaccedilotildees recebidas Fazem arrumaccedilatildeo ou faxina e
podem cuidar de plantas do ambiente interno e de animais domeacutesticos
(BRASIL CBO 5121-20)5
Eacute possiacutevel perceber que os trabalhadores domeacutesticos possuem inuacutemeras funccedilotildees
dentro da casa desde o cuidado do estabelecimento amparar as pessoas que os
empregam e atentar para os pertences do lugar A CBO define quatro tipos empregado
domeacutestico de serviccedilos gerais (caseiro) empregado domeacutestico arrumador (arrumador no
serviccedilo domeacutestico) empregado domeacutestico faxineiro e empregado domeacutestico diarista
A Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) apresentou em 2013 um
relatoacuterio6 sobre o trabalho domeacutestico ao redor do mundo objetivando superar a
invisibilidade e divulgar a sua participaccedilatildeo na economia empregatiacutecia global exibindo o
nuacutemero de mais ou menos 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo e
promovendo a seguranccedila do empregado que sem seus direitos afirmados ele fica cada
vez mais exposto a um abuso
No mesmo ano no Brasil foi promulgada a PEC (Proposta de Emenda agrave
Constituiccedilatildeo) que viabiliza os direitos para as domeacutesticas iguais aos dos outros
trabalhadores como um salaacuterio miacutenimo ao mecircs jornada de trabalho de 8 horas
pagamento de horas extras respeito agraves normas de higiene e sauacutede exceto o
recolhimento do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviccedilo) que ainda eacute
facultativo Antes eram regulamentadas por uma legislaccedilatildeo especial e natildeo pela
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) De acordo com a legislaccedilatildeo artigo 3ordm da
CLT7 para um empregado domeacutestico ter um viacutenculo empregatiacutecio satildeo necessaacuterios os
requisitos de pessoalidade (somente ele presta o serviccedilo) onerosidade (recebe pela
5 Disponiacutevel em httpwwwmtecbogovbrcbositepageshomejsf Acessado em 26 de maio de 2014
6 Disponiacutevel em httpwwwiloorgwcmsp5groupspublic---dgreports---dcomm---
publdocumentspublicationwcms_173363pdf Acessado em 26 de maio 2014 7 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel5452htm Acessado em 24 de
outubro de 2014
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
12
execuccedilatildeo do serviccedilo) continuidade (o serviccedilo eacute prestado de forma natildeo eventual) e
subordinaccedilatildeo (o empregador define a realizaccedilatildeo do serviccedilo determinando por exemplo
o horaacuterio)
Apoacutes esta regulamentaccedilatildeo algumas discussotildees se fizeram mais frequentes na
sociedade brasileira Eliane Cristina Arauacutejo (2014 p78) descreve que ldquose por um lado a
referida lei pode melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho por outro lado ao elevar os
custos desse trabalho poderaacute se traduzir em resultados decepcionantes como
demissotildees subcontrataccedilotildees emprego irregular dentre outros reflexosrdquo
Importante afirmar que a conquista pelos direitos da profissatildeo veio tarde pois o
trabalho domeacutestico carrega um histoacuterico desde o periacuteodo escravocrata mesmo quando
as famiacutelias utilizassem de escravos domeacutesticos contratavam mulheres novas para ajudar
(MELO 1998)
Com a industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo o progresso brasileiro expandiu a classe
meacutedia e passou-se a procurar mais pelo serviccedilo ldquoTransformaram a chamada ldquoajudardquo em
serviccedilo domeacutestico ndash realizado sobre as bases de casa e comida - para a populaccedilatildeo
migrante de mulheres jovens brancas e natildeo-brancas nascidas no campordquo (MELO 1998
p 6)
Vale destacar que desde o iniacutecio dessa atividade trabalhista a procura era por
mulheres Essa constataccedilatildeo foi exposta recentemente pelo relatoacuterio da OTI no qual fora
verificado que dentre 53 milhotildees de trabalhadores domeacutesticos no mundo 43 satildeo do
sexo feminino ou seja 81 do total Natildeo eacute surpresa pois ldquoem nossa sociedade os
afazeres domeacutesticos satildeo tidos como responsabilidade da mulher qualquer que seja sua
situaccedilatildeo social sua posiccedilatildeo na famiacutelia e trabalhe ela ou natildeo fora do larrdquo (BRUSCHINI e
LOMBARDI 2000 p 70)
No Brasil paiacutes que mais emprega no setor domeacutestico do mundo cerca de 63
milhotildees os dados divulgados pela Pesquisa de Amostra por Domiciacutelio (PNAD 2012)8
apontaram que seis milhotildees de mulheres satildeo empregadas Poreacutem um ponto importante
estaacute na contrataccedilatildeo apenas 306 satildeo profissionais de carteira assinada refletindo
pouca formalizaccedilatildeo do trabalho Na cidade de Viccedilosa de acordo com o Censo 2010
8Disponiacutevel
emhttpwwwdomesticalegalorgbrPNAD_2012_Retrato_do_Emprego_DomesticopdfAcessado em
24 de outubro de 2014
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
13
estudo estatiacutestico do IBGE9 os nuacutemeros de trabalhadores domeacutesticos satildeo de 4 mil
sendo 2147 de carteira assinada e o restante sem carteira assinada
Nos dois uacuteltimos anos algumas reportagens e colunas em jornais impressos
promoveram discussotildees sobre o futuro do trabalho domeacutestico Considerando uma
ldquoevoluccedilatildeordquo e argumentando em favor de desenvolvimentos tecnoloacutegicos e econocircmicos
que revolucionaratildeo a sociedade o jornalista Gilberto Dimenstein da Folha de Satildeo
Paulo10
defende ldquoVai ocorrer o que ocorre em qualquer paiacutes civilizado () Os meninos
e meninas aprenderatildeo a limpar seus quartos Famiacutelias comeratildeo mais comida de fora e se
usaratildeo lavanderias puacuteblicas gerando novos empregosrdquo (DIMENSTEIN 2012 sp)
Todavia natildeo se pode considerar essa configuraccedilatildeo no setor de forma bruta
O trabalho domeacutestico remunerado vem se configurando de diversas
maneiras em nossa sociedade assim como as famiacutelias que dele se
utilizam mas ainda natildeo podemos analisar um bdquodesaparecimento‟ desse
setor trabalhista pois suas caracteriacutesticas estatildeo enraizadas na tradiccedilatildeo
patronal brasileira que desde os tempos coloniais contava com amas
babaacutes criadas serventes e escravas (MONTICELLI 2013 p20)
A contrataccedilatildeo do trabalho estaacute veiculada mais a questotildees de tempo e
disponibilidade da famiacutelia As tecnologias apenas facilitam o trabalho domeacutestico ldquomas
natildeo democratizam ou incluem como costume a divisatildeo igualitaacuteria das tarefas
domeacutesticasrdquo (MONTICELLI 2013 p20)
11 Especificidades do trabalho das diaristas
Ateacute o momento concentramo-nos na apresentaccedilatildeo do trabalho de domeacutesticas
mensalistas com viacutenculo com apenas um empregador No entanto o trabalho domeacutestico
possui a categoria das diaristas que excede esse viacutenculo dando ao empregado liberdade
para prestar serviccedilos para outros Eacute considerada como uma modalidade de trabalho
informal e natildeo encaixa no requisito de continuidade da CLT pois o seu serviccedilo eacute
eventual
9 Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minas-
gerais|vicosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de
2014 10
Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
14
Dessa forma a diarista eacute classificada como ldquotrabalhador autocircnomordquo resultando
em um atraso constitucional na busca de direitos para a profissatildeo As negociaccedilotildees
juriacutedicas dependem de ldquointerpretaccedilotildees de juiacutezes e advogados dado as lacunas deixadas
pela maacute formulaccedilatildeo de artigos e pela incompatibilidade das descriccedilotildees juriacutedicas com os
casos reaisrdquo (MONTICELLI 2013 p108) Assim em Viccedilosa dados do IBGE
demonstram que inuacutemeras diaristas natildeo se encaixam em uma categoria ou algumas
podem se encaixar nas 10 mil mulheres contribuintes na Previdecircncia Social ou nas 5
mil que natildeo contribuem11
A escolha de contribuir depende de cada uma basta registrar
como trabalhadora autocircnoma ou contribuinte individual12
Eacute interessante analisar que a diarista tambeacutem natildeo eacute uma profissatildeo recente Maria
Izilda Matos (1994) no artigo Porta Adentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-
1930 aponta que a escolha de lavadeiras lavadoras de vidraccedilas e engomadeiras para um
dia era comum jaacute antes e no iniacutecio do seacuteculo XX no Brasil ldquoAs formas de contrataccedilatildeo
eram realizadas para determinados serviccedilos e complementavam os trabalhos jaacute
realizados por outras criadasrdquo (MONTICELLI 2013 p25) As atividades foram
modificadas com o tempo antes eram serviccedilos especiacuteficos como ditos acima ou para
auxiliar a domeacutestica mensalista por um dia hoje na maioria das vezes as tarefas de
uma diarista satildeo todas as atividades da casa
Na maior parte as diaristas satildeo ex-domeacutesticas que terminam o contrato com os
empregadores Esta opccedilatildeo de finalizar suas relaccedilotildees eacute analisada por Cristine Girard
Ferreira Nunes (1993) como uma fuga de opressatildeo e investimento em uma atividade
menos formal Na obra Cidadania e Cultura o universo das empregadas domeacutesticas em
Brasiacutelia 1970-1990 a autora analisa como o setor trabalhista eacute diversificado e afirma
que ldquode fato se as domeacutesticas que morassem na casa dos patrotildees pudessem se
transformar em diaristas elas o fariamrdquo (NUNES 1993 p250)
A Promulgaccedilatildeo de Emenda Constitucional (PEC) das Domeacutesticas visava
promover o trabalho domeacutestico contratual natildeo mencionando o trabalho das diaristas
Poreacutem logo apoacutes o decreto portais de notiacutecias postaram sobre uma crescente procura
11
Disponiacutevel em
httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=317130ampidtema=107ampsearch=minasgerais|vi
cosa|censo-demografico-2010-resultados-da-amostra-trabalho--Acessado em 24 de outubro de 2014 12
Disponiacutevel em httpwwwprevidenciagovbrcontribuinte-individual Acessado em 25 de outubro de
2014
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
15
das profissionais O Globo13
noticiou que em dez anos cresceu o nuacutemero diaristas e o
IG14
sobre agecircncias de emprego que relataram sobre esta demanda
David Harris (2007) em sua tese Vocecirc vai me servir desigualdade proximidade
e agecircncia nos dois lados do equador identifica a profissatildeo diarista como exemplo do
neoliberalismo Segundo ele ldquorepresenta uma forma de emprego domeacutestico que tende a
exemplificar as caracteriacutesticas de um emprego mais bdquomoderno‟ bdquoracional‟ e bdquocapitalista‟
do que o caso da mensalista e particularmente da mensalista residente na casa dos
empregadoresrdquo (HARRIS 2007 p119)
Harris (2007) analisa tambeacutem o sentimento de modernidade que ela proporciona
para o empregador jaacute que o contrato eacute eficiente sem nenhuma responsabilidade legal
com a trabalhadora Denomina-se como uma nova forma de emprego domeacutestico o
Professional cleaning service O serviccedilo eacute considerado por ser mais raacutepido assim como
o contrato com o seu empregador pois eacute pago pelos dias trabalhados Como satildeo vaacuterias
casas para trabalhar em uma semana a agilidade na limpeza eacute requisito no empregado
Assim como satildeo definidas as relaccedilotildees entre as duas partes envolvidas nessa
relaccedilatildeo de trabalho Se elas natildeo precisam de um contrato o que seraacute que as manteacutem
unidas Tais questotildees seratildeo discutidas no proacuteximo toacutepico
12 Diaristas da informalidade do trabalho e do afeto
No dicionaacuterio de filosofia Nicola Abbagnano (1998) a definiccedilatildeo de afeto eacute
Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade a
benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o apego a gratidatildeo
ternura etc que no seu todo pode ser caracterizado como a situaccedilatildeo
em que uma pessoa ldquopreocupa-se comrdquo ou ldquocuida derdquo outra pessoa em
que esta responde positivamente aos cuidados (DICIONAacuteRIO DE
FILOSOFIA 1998 p21)
O afeto deve ser compreendido como diferente da paixatildeo natildeo caracterizado
como um sentimento totalitaacuterio e dominante mas como um conjunto de emoccedilotildees
positivas exclusivistas Essa ligaccedilatildeo do afeto com a preocupaccedilatildeo e zelo eacute interessante
13
Disponiacutevel em httpogloboglobocomeconomiadomesticas-em-dez-anos-numero-de-diaristas-
aumenta-enquanto-de-mensalistas-encolhe-9034073 Acessado 24 de outubro 14
Disponiacutevel em httpeconomiaigcombr2013-03-27lei-das-domesticas-eleva-busca-por-diaristas-
dizem-agencias-de-empregohtml Acessado 24 de outubro
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
16
analisar sob a perspectiva do trabalho domeacutestico remunerado em que nas relaccedilotildees estatildeo
presentes tais emoccedilotildees e interaccedilotildees interpessoais
Judith Butleer (2010) define o afeto pelo meio de marco interpretativo no qual
todo ser social eacute dirigido e pautado por interpretaccedilotildees do meio em que se situa
possibilitando entatildeo diferentes formas de afeto Isto significa que o afeto aparece
quando o sujeito estaacute em um circuito de afeto social nos meios sociais que compartilha
e naturaliza em seu dia a dia (BUTLER apud MONTICELLI 2013) Poderia entatildeo o
afeto construiacutedo entre as diaristas e seus empregadores ser natural
Max Weber (2004) teoriza na divisatildeo do sentimento e da razatildeo criando uma
dicotomia de um lado ldquoemoccedilotildeesrdquo e de outro ldquorelaccedilotildees frias e burocraacuteticasrdquo para
compreender o mundo moderno Em uma anaacutelise da troca do capital por serviccedilo o
trabalho das diaristas poderia se encaixar nesta polarizaccedilatildeo Entretanto essa visatildeo de
eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo levada pela objetividade deve ser reconsiderada
principalmente pautando-se por Viviana Zelizier (2009) em ldquoLa Negociacioacuten de
laIntimidadrdquo que afirma que as relaccedilotildees de trabalho quando envolvem intimidade satildeo
mais complexas A autora prega que os viacutenculos monetaacuterios satildeo analisados de acordo
com as relaccedilotildees sociais e universos culturais envolvidos ou seja os laccedilos afetivos
entram em conflito quando o empregador pensa se as formas de pagamento estatildeo ou natildeo
adequadas para o serviccedilo
Entatildeo como as pessoas definem quando a diaacuteria natildeo eacute suficiente Muitas vezes
as diaristas mantecircm relaccedilotildees afetivas com seus empregadores e satildeo mantidas aleacutem da
troca entre serviccedilocapital como foi perceptiacutevel nas entrevistas com algumas diaristas
nas quais as profissionais relataram que os estudantes as recebem com carinho
oferecem lanches e datildeo presentes de natal desde vinhos a eletrodomeacutesticos O autor
Alexandre Fraga quanto a esta afetividade compreende que ldquona falta do viacutenculo
empregatiacutecio a gratidatildeo faz agraves vezes de ligaccedilatildeo criando um elo para aleacutem da prestaccedilatildeo
de serviccedilos em sentido estritordquo (FRAGA 2010 p 137)
O sentimento de gratidatildeo eacute analisado por Arlie Hochschild (2008) conceituando
a economia de gratidatildeo como fundamentada ldquopela ideia de que as pessoas avaliam
conscientemente ou natildeo as coisas que ganham e recebem quando estatildeo inseridas nas
relaccedilotildees iacutentimasrdquo (HOCHSCHILD apud MONTICELLI 2013 p151) Satildeo atribuiacutedos
nesta economia mais do que o dinheiro alguns siacutembolos que satildeo considerados bons
para o relacionamento tambeacutem satildeo incluiacutedos
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
17
Em algumas entrevistas as diaristas demonstraram desprazer em algumas tarefas
das repuacuteblicas poreacutem justificavam a permanecircncia pelos estudantesempregadores
serem bons para elas ldquoEssas mulheres trabalham em casas em que sintam valorizadas e
que seus trabalhos sejam reconhecidosrdquo (MONTICELLI 2013 p152) Aleacutem do
reconhecimento eacute atribuiacuteda tambeacutem a confianccedila dada pelos patrotildees por exemplo a
diarista possuir liberdade para realizar os seus serviccedilos e manusear aparelhos
eletrocircnicos
Pode-se compreender que a economia da gratidatildeo aborda e demonstra as
desigualdades sociais pois ldquotoda essa gratidatildeo e afetos estatildeo conectados com relaccedilotildees
sociais desiguais de trabalho dessa forma os afetos aparecem aqui como meio para se
conseguir relaccedilotildees mais humanas que valorizem e reconheccedilam o outrordquo
(MONTICELLI 2013 p154) Os relacionamentos contribuem para as diaristas
escolherem os empregadores pelo que elas querem sentir De acordo com Butler (2010)
os afetos condicionam nas escolhas de cada um todas as emoccedilotildees colaboram com o ato
interpretativo Monticelli complementa
As escolhas e as seletividades das diaristas estatildeo imbricadas em sua
capacidade de agenciamento ou seja agrave medida que satildeo afetadas pelas
condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais em que estatildeo inseridas suas
interpretaccedilotildees perante as diversas posiccedilotildees encontradas em suas
relaccedilotildees satildeo modificadas influenciando suas escolhas e sua percepccedilatildeo
de si (MONTICELLI 2013 p124)
Por isso somos levados a crer que em quanto mais repuacuteblicas as diaristas
trabalharem mais aumentaraacute o relacionamento delas com os estudantes podendo
auxiliar na continuaccedilatildeo da escolha desses lugares para trabalhar Essa percepccedilatildeo foi
confirmada na entrevista com Cacilda Martins Campos Quando perguntei como foi
para ela trabalhar em casas de famiacutelia ela fechou a cara e respondeu era muito mais
chato depois que comecei com estudante nunca mais parei
Assim como eacute analisado por Chodorow (2003) ldquoos sujeitos agregam as
percepccedilotildees presentes agraves suas experiecircncias passadas e frente agraves circunstacircncias vividas
conseguem uma posiccedilatildeo ativa em situaccedilotildees que consideram desiguais e abusivasrdquo
(CHODOROW apud MONTICELLI 2013 p125) Eacute apresentada entatildeo uma realidade
das diaristas como autocircnoma tanto em seu trabalho como nos seus sentimentos natildeo
querendo se submeter a qualquer injusticcedila ou abuso
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
18
Conforme as referecircncias teoacutericas pesquisadas e as conversas e entrevistas com
diaristas e estudantes percebe-se que os relacionamentos vatildeo aleacutem do contrato verbal
Como dito anteriormente os relacionamentos trazem influecircncia do histoacuterico das
profissionais e dos proacuteprios estudantes e tambeacutem satildeo explicados pela economia da
gratidatildeo na qual as relaccedilotildees monetaacuterias natildeo satildeo suficientes para pagar os serviccedilos
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
19
CAPIacuteTULO 2 GEcircNERO DOCUMENTAacuteRIO E A CONSTRUCcedilAtildeO DO
ROTEIRO
As primeiras compilaccedilotildees de imagens cinematograacuteficas foram feitas pelos
irmatildeos Lumieacutere e eram de eventos do cotidiano como operaacuterios saindo da faacutebrica
Estudos de Lucena (2012) apontam que o explorador Robert Flaherty com o filme
Nanook o Esquimoacute (Nanook of the Nort 1922) foi percussor no gecircnero documental
onde satildeo inseridos personagens reais em seu habitat procurando uma representaccedilatildeo real
da comunidade de esquimoacutes
As primeiras produccedilotildees eram precaacuterias uma vez que os recursos limitavam os
equipamentos eram pesados as peliacuteculas tinham baixa sensibilidade necessitando de
maior incidecircncia de luz possiacutevel e os gravadores de som tinham que ser transportados
em caminhotildees aleacutem das cacircmeras de 35mm fazerem barulho na hora da gravaccedilatildeo Na
Segunda Guerra Mundial correspondentes de guerra testaram equipamentos mais leves
e silenciosos como o uso de cacircmeras e peliacuteculas de 16mm e o gravador Nagra primeiro
dispositivo magneacutetico portaacutetil que sincronizava a imagem e o som Tais inovaccedilotildees
trouxeram significativas mudanccedilas na produccedilatildeo dos documentaacuterios (LUCENA 2012)
Fato eacute que definir documentaacuterio natildeo eacute tarefa faacutecil Eacute importante analisar o
contexto histoacuterico do gecircnero para compreendecirc-lo jaacute que ldquoem cada eacutepoca quando se fala
em documentaacuterio estaraacute na mente de cada autor um determinado tipo de filme uma
determinada forma dominante de representaccedilatildeo da realidaderdquo (PENAFRIA 2011
p355)
Nichols (2001) entende que todo filme eacute documentaacuterio sendo os filmes de ficccedilatildeo
denominados de documentaacuterios de satisfaccedilatildeo de desejos pois satildeo representaccedilotildees do real
com recursos ficcionais A entatildeo distinccedilatildeo entre um filme de ficccedilatildeo para um
documentaacuterio eacute perceptiacutevel na proacutepria produccedilatildeo de cada um pois
uma diferenccedila marcante entre o documentaacuterio e o cinema de ficccedilatildeo eacute
aquele natildeo poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este
uacuteltimo o percurso para a produccedilatildeo do documentaacuterio supotildee uma
liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gecircnero Um
documentaacuterio eacute construiacutedo ao longo do processo de sua produccedilatildeo
Mesmo existindo um roteiro o formato final somente se define com as
filmagens a ediccedilatildeo e a montagem (MELO 2001 p 26)
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
20
De tal modo Nichols (2001) propotildee que representar o mundo em que se ocupa
com um produto audiovisual natildeo ficcional eacute caracteriacutestica do documentaacuterio assim como
eacute dever do documentarista selecionar e organizar o material da realidade social que se
propotildee mostrar Lucena (2012) expotildee que os filmes de natildeo ficccedilatildeo natildeo satildeo fieacuteis
reprodutores da realidade mas possuem caracteriacutesticas dela sendo representaccedilotildees do
campo simboacutelico ldquoNo entanto ao reelaborar as formas de produccedilatildeo simboacutelica pode-se
transfigurar perdendo a caracteriacutestica de busca de transcriccedilatildeo da realidade e tornando-se
uma espeacutecie de observaccedilatildeordquo (LUCENA 2012 p109)
Dentre as diferenccedilas entre os filmes de ficccedilatildeo e os de natildeo ficccedilatildeo eacute interessante
apontar que na maioria das vezes os personagens do documentaacuterio satildeo convidados a
representar eles mesmos como no cotidiano (como as diaristas do Afeto diaacuterio) ao
contraacuterio de filmes de ficccedilatildeo Distingue-se entatildeo que nos documentaacuterios as pessoas satildeo
denominadas de atores sociais e no outro gecircnero como atores culturais inteacuterpretes de
um papel Assim eacute de extrema importacircncia a responsabilidade eacutetica do documentarista
em natildeo alterar os depoimentos de modo a construir uma narrativa que viole os direitos
das pessoas de quem ele entrevistou
Apesar dessas diferenccedilas o documentaacuterio em termos teacutecnicos da produccedilatildeo se
assemelha a um filme de ficccedilatildeo exigindo enquadramentos cuidados com o som e a
iluminaccedilatildeo e um tema envolvente John Grierson (1932 apud LUCENA 2012) um dos
primeiros estudiosos do gecircnero afirma que eacute funccedilatildeo do documentarista tratar de forma
criativa o assunto que escolheu incluindo aleacutem de suas experiecircncias no produto a sua
visatildeo criacutetica O autor utiliza a criatividade com o olhar especial que possui O filme
documental eacute ldquouma porta aberta para o mundo para diferentes olhares sobre o mundo
para a reflexatildeo sobre o mundo e eacute para quem a eles se dedica um espaccedilo aberto para a
experimentaccedilatildeo e exploraccedilatildeo criativardquo (PENAFRIA 1999 p 7)
Ainda para elucidar as possiacuteveis especificaccedilotildees de gecircnero documentaacuterio Lucena
(2012) ressalta as suas especificidades teacutecnicas dizendo que trata-se de uma captaccedilatildeo
de um conteuacutedo por dispositivos como cacircmera filmadora celular que demonstra a
perspectiva do diretor apresentando roteiro e sem objetivo comercial A maior parte eacute
constituiacuteda por entrevistas e depoimentos dos personagens construiacutedos no discurso do
produto audiovisual O documentarista Eduardo Coutinho por exemplo na maioria de
seus longas explora a entrevista como o momento de encontro com a sua fonte
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
21
economizando outros recursos teacutecnicos e discursivos (como voz over15
) Poreacutem Puccini
(2012) para criar maior dinacircmica visual indica registrar os personagens em accedilatildeo
Essa accedilatildeo muitas vezes se revela mais uma atividade o personagem
encena para a cacircmera aquelas que seriam as suas atividades habituais
ligadas agrave vida domeacutestica ou profissional () Quebrando o monopoacutelio
do enquadramento de entrevista padratildeo (cacircmera fixa em plano meacutedio
ou primeiro plano) ao inserir uma maior variedade de composiccedilotildees
visuais no documentaacuterio (planos enquadramentos) () Tal recurso
possibilita ao documentarista cobrir momentos diversos na vida de
seus personagens (PUCCINI 2012 p44)
Documentaacuterios que contecircm grande parte de entrevistas satildeo associados agrave
monotonia de filmes considerados como talking heads nos quais satildeo mostradas apenas
cabeccedilas falantes e resultam na generalizaccedilatildeo da entrevista Ela ldquose tornou o feijatildeo com
arroz do documentaacuterio cinematograacutefico e televisivo Perderam-se as justificativas
iniciais quaisquer que fossem elasrdquo (BERNADET 2003 p285) Os longas de
Eduardo Coutinho mesmo que possuam muitas entrevistas procuram construir
narrativas atraveacutes das expressotildees e depoimentos extraiacutedos de suas conversas com os
interlocutores como em Santo Forte (1999) e Edifiacutecio Master (2002) A entrevista
estimula o exerciacutecio da retoacuterica segundo Puccini (2012) e pode gerar uma accedilatildeo
dramaacutetica proveniente por um confronto entre as duas partes o entrevistador e
entrevistado Tal situaccedilatildeo mesmo que natildeo prolongue durante o documentaacuterio
desenvolve a narrativa audiovisual
Quanto ao discurso no documentaacuterio Nichols (2001) afirma que ao contraacuterio dos
filmes de ficccedilatildeo ele eacute diretamente designado ao espectador e destacou as formas do
discurso falo deles ou disso para vocecirc falo de mim falo de algueacutem para vocecirc falamos
de noacutes para vocecirc (presente no documentaacuterio Afeto diaacuterio) Jaacute para Lucena (2012 p9) o
discurso divide-se em duas categorias ldquodireto em que uma voz fala com a cacircmera e
por extensatildeo conosco de forma direta e o discurso indireto que natildeo eacute dirigido agrave
cacircmera ou ao puacuteblico ndash como na ficccedilatildeordquo Podemos dizer assim que o discurso do
documentaacuterio em suma sustenta-se de ocorrecircncias do real de acontecimentos passados
ou presentes durante as gravaccedilotildees e natildeo em suposiccedilotildees do que poderia ter acontecido
como em filmes de ficccedilatildeo (PUCCINI 2012)
15
Usado quando a voz colocada no viacutedeo natildeo tem indicaccedilotildees de quem seja natildeo se sabe quem estaacute
falando Utilizada muito em narraccedilotildees da chamada ldquoVoz de Deusrdquo que eacute onipresente e onisciente na
histoacuteria
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
22
Eacute possiacutevel dizer que o documentaacuterio busca a legitimaccedilatildeo do tema utilizando de
todos os recursos na narrativa (imagens de arquivo graacuteficas tomadas in loco
depoimentos entrevistas etc) reunidos ldquopara formar uma asserccedilatildeo sobre determinado
fato que eacute externo ao universo do realizadorrdquo (PUCCINI 2012 p24) Para esta
concepccedilatildeo seraacute necessaacuteria a construccedilatildeo do roteiro eou do argumento
13 O roteiro e a construccedilatildeo de uma narrativa baseada em depoimentos
A necessidade do roteiro cinematograacutefico eacute consequecircncia do aumento da
metragem das peliacuteculas pois antes natildeo era necessaacuterio um texto escrito para orientar na
gravaccedilatildeo jaacute que a ideia do cineasta cabia apenas em um curta-metragem O texto era
em suma uma sinopse sem se ater a questotildees teacutecnicas relacionadas agrave montagem e
gravaccedilatildeo O planejamento das filmagens surge a partir do momento em que o
cameraman que antes era o dono do rolo do filme vira o diretor de cinema
comandando e direcionando a produccedilatildeo (BORDWELL STAIGER e THOMPSON
apud PUCCINI 2012)
Parecido com o texto teatral o roteiro foi criado para ajudar no planejamento do
filme visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliar o lucro na comercializaccedilatildeo do produto Isto
porque se as gravaccedilotildees de um cenaacuterio fossem feitas de uma soacute vez ao inveacutes de seguir a
ordem da narrativa dramaacutetica do filme o custo era menor ldquoPortanto historicamente o
roteiro surge natildeo como forma de expressatildeo do roteirista ou por desejo do diretor mas
como necessidade do produtorrdquo (LUCENA 2012 p39) Pode-se dizer que a
consolidaccedilatildeo do roteiro veio junto agrave da induacutestria cinematograacutefica e dos filmes de ficccedilatildeo
Mesmo que a produccedilatildeo dos filmes de ficccedilatildeo e dos de natildeo ficccedilatildeo seja diferente por
muito tempo grande parte dos documentaacuterios se guiou na produccedilatildeo dos longas
ficcionais Especificamente no periacuteodo de 1920 a 1950 quando se intitula a corrente
documentaacuterio claacutessico percebe-se uma preacutevia planificaccedilatildeo com base em um roteiro
cinematograacutefico (PUCCINI 2012) A partir desta eacutepoca surgem duas correntes de
produccedilatildeo documental que se apoiam nos equipamentos mais leves e que rompem essa
produccedilatildeo ligada ao planejamento do roteiro denominadas de documentaacuterio verdade e
documentaacuterio direto
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
23
O documentarista do cinema direto levava sua cacircmera para uma
situaccedilatildeo de tensatildeo e torcia por uma crise a versatildeo de Rouch do
cinema-verdade tentava precipitar uma O artista do cinema direto
aspirava agrave invisibilidade o artista do cinema-verdade era
frequentemente participante assumido O artista do cinema direto
desempenhava o papel de um observador neutro o artista do cinema-
verdade assumia o de provocador (BARNOUW apud DA-RIN 2006
p150-151)
Deixa-se de lado a escrita de um roteiro na preacute-produccedilatildeo resultando em um
trabalho aacuterduo da montagem na poacutes-produccedilatildeo e muito material gravado ldquoA regra eacute
jogar com o imprevisto e o improviso da filmagem o que valoriza sobremaneira o papel
do cinegrafista na construccedilatildeo do documentaacuteriordquo (PUCCINI 2012 p15) Poreacutem eacute
imprescindiacutevel notar que a maioria das produccedilotildees documentais eacute baseada no modelo
claacutessico aleacutem de que as duas correntes diretoverdade estimulam o mito de que o
gecircnero documental eacute uma simples produccedilatildeo audiovisual Esse equiacutevoco vem sendo
discutido por diversos teoacutericos e documentaristas (PUCCINI 2012)
O processo de roteirizar entatildeo no documentaacuterio eacute a seleccedilatildeo de diversos fatores
aleacutem da coleta dos depoimentos como definir locais de gravaccedilatildeo personagens
definiccedilatildeo de cenas sequecircncias enquadramentos planos de filmagem e a proacutepria escolha
do tema que definiraacute o documentaacuterio Eacute a seleccedilatildeo posta em uma narrativa que
necessariamente teraacute um comeccedilo meio e fim ldquoA principal duacutevida nasce do fato de que
nem todos os roteiros de documentaacuterio se assemelham a um tiacutepico roteiro de filme de
ficccedilatildeo marcado pelo encadeamento de diversas cenas dramaacuteticasrdquo (PUCCINI 2012
p16) Eacute comum entatildeo que o roteiro natildeo nasccedila na preacute-produccedilatildeo exigindo entatildeo a
elaboraccedilatildeo de uma proposta um argumento e o tratamento
A proposta eacute escrita pensando no suporte financeiro que a viabilize e na
orientaccedilatildeo e limitaccedilatildeo do tema do documentaacuterio Autores como Michael Rabiger (1998)
e Alan Rosenthal (1996) indicam modelos de proposta para o gecircnero dando atenccedilatildeo a
possiacuteveis conflitos e tensotildees sequecircncias de accedilatildeo personagens principais o puacuteblico-
alvo as entrevistas o estilo de filmagem captaccedilatildeo de som e iluminaccedilatildeo e a estrutura
narrativa A proposta eacute em suma uma forma de colocar no papel toda a pesquisa que o
documentarista fez sobre o tema
O argumento alguns autores como DocComparato (2009) o chamam tambeacutem de
grande sinopse jaacute Chion (1989) e Rodrigues (2002) completam afirmando que ele eacute
uma sinopse mais elaborada Eacute a especificaccedilatildeo da histoacuteria que seraacute contada um esboccedilo
do roteiro deve responder a seis questotildees ndash O quecirc Quem Quando Onde Como Por
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
24
quecirc - com a coleta do material Apesar dos documentaacuterios ldquovalorizarem situaccedilotildees
imprevistas provenientes do choque com o real (e em alguns casos ateacute mesmo
torcerem por elas) grande parte do conteuacutedo desses filmes pode e deve ser previsto
ainda na fase de preacute-produccedilatildeordquo (PUCCINI 2012 p38)
Por uacuteltimo o tratamento pensa na organizaccedilatildeo das ideias do documentarista
contidas no argumento cuida da estrutura propondo a visualizaccedilatildeo do possiacutevel produto
audiovisual ldquoO conteuacutedo dessas sequecircncias eacute descrito no tratamento de maneira
resumida mantendo uma abertura aos imprevistos que possam ocorrer quando se
iniciarem as filmagensrdquo (PUCCINI 2012 p59) Ele eacute basicamente a escrita de como
seratildeo trabalhados os conteuacutedos apresentados na proposta e no argumento
A estruturaccedilatildeo sugerida no tratamento requer do diretor uma construccedilatildeo de
imagens e sons diversos ligada agrave exposiccedilatildeo do tema escolhido e como ele seraacute exposto
no filme Segundo Barry Hampe
Um documentaacuterio normalmente natildeo possui a estrutura em trecircs atos
tiacutepica dos roteiros de filmes de ficccedilatildeo com seus pontos de virada
obstaacuteculos e outros elementos estruturais utilizados para avanccedilar a
trama Mas o documentaacuterio tambeacutem enfrenta a mesma necessidade
estrutural que eacute a de despertar e manter o interesse do espectador
desde o iniacutecio passando pelo longo desenvolvimento do meio ateacute a
resoluccedilatildeo e encerramento do fim (HAMPE 1997 p123)
Conforme Campos (2009) narrar uma histoacuteria em roteiro ficcional ou natildeo eacute
como tranccedilas de cabelo ldquovocecirc vecirc os fios de estoacuteria (ou cabelo) segue os fios eles
tambeacutem somem mas somem na mesma direccedilatildeo lado a lado arrumadinhosrdquo
(CAMPOS 2009 p 328) E natildeo como fios de uma macarronada onde natildeo eacute possiacutevel
acompanhaacute-los com o olhar A metaacutefora eacute interessante para analisar documentaacuterios pois
o material coletado nas gravaccedilotildees apoacutes a roteirizaccedilatildeo apresenta o iniacutecio meio e fim
Planejar a estrutura significa antes de tudo decidir como lidar com o
tempo porque a progressatildeo temporal eacute o elemento mais importante de
organizaccedilatildeo de qualquer narrativa Vocecirc deveraacute decidir em qual
ordem causa e efeito seratildeo mostrados e quais as vantagens dramaacuteticas
de alterar o encadeamento natural dos eventos (RABIGER apud
PUCCINI 2012 p 104)
Esta linearidade eacute possiacutevel com a montagem ou ediccedilatildeo do material Puccini
(2012) afirma que quando o documentarista natildeo planeja as filmagens natildeo escreve a
proposta ou argumento ou tratamento ele deve planejar a montagem ldquoNo
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
25
documentaacuterio o trabalho de montagem muitas vezes se inicia sem nenhum roteiro
predefinido o diretor tem apenas uma hipoacutetese inicialrdquo (PUCCINI 2012 p94)
Pertencendo a uma extremidade oposta a do roteiro na produccedilatildeo do filme
documental a montagem lida com pontos de corte e precisatildeo na sequecircncia Mesmo
estando opostas representam o ponto de encerramento de um ciclo de produccedilatildeo
As incontaacuteveis operaccedilotildees que constituem o ato de montar satildeo
determinadas a tal ponto por outras decisotildees anteriores tomadas na
elaboraccedilatildeo do roteiro no registro das imagens e dos sons que eacute
possiacutevel considerar que na verdade a montagem em sentido amplo
comeccedila quando o roteiro eacute escrito e continua a ser feita durante a
filmagem (ESCOREL apud PUCCINI 2012 p96)
O roteirista no entanto deve possuir noccedilotildees de montagem pois segundo os
autores Pascal Bonitzer e Jean-Claude Carrieacutere ldquoum roteirista que se recusasse a
adquiri-las e se restringisse a uma atividade estritamente literaacuteria estaria amputando
uma parte de si proacutepriordquo (CARRIEgraveRE e BONITZER apud PUCCINI 2012 p17) Eacute
importante destacar que o trabalho do montador nos documentaacuterios demanda de um
longo periacuteodo de tempo devido a grande quantidade de material coletado Indica-se
realizar uma decupagem teacutecnica de todas as entrevistas a fim de adiantar o processo de
roteirizaccedilatildeo da montagem Nela o filme eacute dividido em macroestrutura ordenaccedilatildeo das
cenas e a microestrutura ordenaccedilatildeo dos planos utilizados
Com base nas discussotildees de roteiro de documentaacuterios o processo de roteirizaccedilatildeo
ldquoentendido como organizaccedilatildeo do discurso que serve aos propoacutesitos da organizaccedilatildeo da
produccedilatildeo do filme natildeo estaacute localizado em apenas uma das trecircs fases de produccedilatildeordquo
(PUCCINI 2012 p125) eacute inserido em todo o cronograma de produccedilatildeo encontrando
uma forma final junto com o filme Em seu livro Roteiro de Documentaacuterio Seacutergio
Puccini (2012) afirma que fica a parte do documentarista escolher a sua maneira de
escrever o roteiro seja antes durante ou depois das gravaccedilotildees e ateacute mesmo caso prefira
uma improvisaccedilatildeo todavia ele indica a organizaccedilatildeo textual no processo
O filme eacute uma consequecircncia de escolhas feitas na proposta de filmagem
argumento e tratamento que definem os enquadramentos e duraccedilatildeo das tomadas na hora
das gravaccedilotildees e as escolhas na hora da montagem os cortes narraccedilotildees e estrutura da
narrativa Comparando a ideia inicial do documentarista com o filme pronto satildeo
expostas as suas escolhas que se ajustaram em um discurso (PUCCINI 2012) Foi com
base nessas orientaccedilotildees que criamos a narrativa de Afeto diaacuterio
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
26
CAPIacuteTULO 3 - RELATOacuteRIO TEacuteCNICO
31Preacute-produccedilatildeo
O documentaacuterio Afeto diaacuterio eacute um produto audiovisual que se baseou nas
instruccedilotildees de Alex Moletta (2009) para a sua realizaccedilatildeo Separando as etapas em preacute-
produccedilatildeo produccedilatildeo e poacutes-produccedilatildeo o presente trabalho foi iniciado no primeiro
semestre de 2014 na disciplina COM 390 Pesquisa da Comunicaccedilatildeo na qual realizei a
delimitaccedilatildeo do tema e grande parte da pesquisa teoacuterica
Assim para elaborar o projeto de trabalho de conclusatildeo de curso precisei definir
qual seria o meu objeto principal do documentaacuterio Pensando desde o momento em que
cheguei agrave cidade de Viccedilosa deparei com diversas diaristas que limpavam as repuacuteblicas
de amigos e as trecircs em que morei Sempre as encontravam arrumando os quartos e todas
agraves vezes elas aceitavam um pouquinho do cafeacute que eu fazia quando chegava da aula
Nesses momentos elas me contavam histoacuterias dos filhos do bairro onde moravam de
outros estudantes e comentavam sobre as novelas Lembrando-se dessas histoacuterias que
me contavam e suas rotinas de trabalho percebi que as profissionais seriam um objeto
de estudo que me traria oacutetimas experiecircncias
Escolhido o tema iniciei minha pesquisa e precisei delimitaacute-lo em empregadas
domeacutesticas ou diaristas visto que uma diferenciava da outra pelo ponto de que o tempo
de serviccedilo era uma escolha variaacutevel para a segunda Pesquisei com os estudantes em
repuacuteblicas de maior nuacutemero de pessoas (principalmente as que jaacute existiam haacute muito
tempo na cidade) e percebi que a maioria escolhia diaristas para realizar a limpeza dos
lugares16
Apenas cinco estudantes de uma repuacuteblica resolveram no ano passado
contratarem uma empregada tendo ela carteira assinada e todos os direitos Assim de
primeiro momento defini que meu objeto principal seriam as diaristas
Quando fui realizar a pesquisa teoacuterica sobre a ocupaccedilatildeo pude encontrar dois
pontos que me ajudaram a definir ainda mais o tema Primeiro encontrei a dissertaccedilatildeo
de mestrado Diaristas afeto e escolhas ressignificaccedilotildees no trabalho domeacutestico
remunerado de Thays Monticelli (2013) na qual um dos capiacutetulos focava no afeto entre
16Talvez a escolha por diaristas seja explicada pelos estudantes terem uma vida passageira na cidade A
maioria quando forma muda para outro lugar assim seria complicado realizar uma contrataccedilatildeo de tempo
determinado
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
27
diaristas e seus clientes E segundo nas preacute-entrevistas realizadas percebi que os
estudantes consideravam as diaristas como amigas da casa
Realizadas durante o primeiro semestre de 2014 com estudantes e diaristas em
todas as preacute-entrevistas o relacionamento era um tema que tinha mais assunto
Acompanhei tambeacutem todas as discussotildees sobre o setor nos uacuteltimos tempos para saber e
informar sobre os direitos do campo profissional domeacutestico Parti entatildeo para o segundo
semestre jaacute pensando em elaborar um produto audiovisual que documentasse os
relacionamentos entre esses dois polos
No iniacutecio apoacutes a primeira reuniatildeo de orientaccedilatildeo definimos quais seriam os
capiacutetulos teoacutericos que seriam abordados no memorial e quantas diaristas personagens
iriam estar presentes na produccedilatildeo Enquanto escrevia sobre o capiacutetulo de roteiro de
documentaacuterio fui procurando por diaristas Primeiro pensei em procurar as antigas que
jaacute conhecia desde a minha chegada poreacutem resolvi buscar em um grupo da UFV no
Facebook17
indicaccedilotildees de diaristas que eram ldquolegais e contadoras de histoacuteriasrdquo
Surgiram vaacuterias recomendaccedilotildees de estudantes alguns inclusive insistiram para que eu
procurasse as que eles sugeriram
Com oito contatos de diaristas segui as orientaccedilotildees de Moletta (2009) sobre a
fase da preacute-produccedilatildeo de produtos audiovisuais uma vez que nesta etapa satildeo
selecionadas as possiacuteveis fontes para o documentaacuterio Liguei e marquei com elas
conseguindo conversar com cinco em uma mesma semana e outras trecircs na outra tudo
nos locais de trabalho e nos intervalos entre uma casa e outra Algumas se mostraram
dispostas a conceder as entrevistas outras ficaram pensativas e deixaram para responder
depois Das oito cinco se propuseram a gravar isto no mecircs de setembro Ao mesmo
tempo me atentei para a parte teoacuterica pesquisando sobre roteirizaccedilatildeo de documentaacuterio
visto que desde o iniacutecio era uma parte da produccedilatildeo que eu mais preocupei pois se eu
queria que a sua narrativa construiacutesse a partir dos depoimentos coletados eu precisava
me instruir de como eu iria fazer esse processo
No final de setembro duas diaristas desistiram das entrevistas uma porque
alegava a timidez e a outra porque sentiu medo de contar a sua histoacuteria No caso a
diarista trabalhou muitos anos como domeacutestica na casa de uma famiacutelia viccedilosense e
quando saiu de laacute descobriu que os patrotildees natildeo pagaram nenhum mecircs de INSS para ela
isso em oito anos de contrato Ela afirmou ser um assunto muito delicado eu insisti um
17
Link httpswwwfacebookcomgroupsuniversidadefederaldevicosafref=ts acessado em 18 agosto
de 2014
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
28
pouco pensando que seria um dos pontos a abordar no documentaacuterio mas como percebi
que natildeo era uma situaccedilatildeo agradaacutevel para ela cancelamos a gravaccedilatildeo
Apoacutes a entrega do capiacutetulo teoacuterico do gecircnero documentaacuterio jaacute elaborando o
capiacutetulo especifico sobre diaristas deparei-me com a dificuldade de marcar as
entrevistas com as profissionais e coincidir nossos horaacuterios visto que elas possuem
muitas obrigaccedilotildees e servirem vaacuterias casas e eu tendo estaacutegio na maior parte da semana
Conseguimos coincidir alguns horaacuterios elas nos intervalos entre uma casa e outra e eu
em horas livres que possuiacutea Essa dificuldade refletiu na seleccedilatildeo de personagens no
documentaacuterio visto que apenas trecircs conseguiram um tempo para as gravaccedilotildees As
outras duas desistiram por estarem muito apertadas com os horaacuterios e por possuiacuterem
outras obrigaccedilotildees
De acordo com Moletta (2009) eacute tambeacutem na preacute-produccedilatildeo que definimos os
locais de gravaccedilatildeo o que realizei quando fui visitar as casas onde as personagens do
documentaacuterio trabalhavam Como elas trabalham em mais de uma casa durante a
semana facilitou a diversidade de lugares para as gravaccedilotildees na entrevista com Cacilda
pude escolher qual apartamento tinha a iluminaccedilatildeo melhor para a entrevista A
alternativa por filmar nos locais de trabalho veio por reparar que elas preferiram assim
desde o iniacutecio as diaristas se sentiram mais a vontade de gravar nas casas dos
estudantes
Elaboramos um roteiro de perguntas para as diaristas poreacutem ele sempre era
alterado na hora da gravaccedilatildeo pois entraacutevamos em um assunto especifico e discutiacuteamos
sobre ele Mas de iniacutecio em todas as entrevistas utilizei de tais perguntas Como eacute a sua
rotina Quantas casas vocecirc trabalha na semana Quando comeccedilou a trabalhar Como foi
o iniacutecio Vocecirc lembra-se de alguma histoacuteria que aconteceu nesse periacuteodo Trabalhou
em casa de famiacutelia Como foi Como eacute trabalhar para estudante Tem alguma repuacuteblica
que te marcou mais Por que Jaacute passou por algum momento ruim em sua vida e os
estudantes ajudaram Como eacute sua relaccedilatildeo com os estudantes Tem alguma histoacuteria
engraccedilada O que vocecirc pretende fazer daqui pra frente
Com tais questotildees realizei todas as entrevistas como conversas Preferi fazer
primeiro com as diaristas e logo depois com os estudantes porque assim elas me
contavam histoacuterias que eles participaram e era mais faacutecil de realizar as perguntas por
exemplo o presente de natal que Pedro e seus amigos deram para Cacilda Mas elas se
concentravam em trecircs iniciais Como conheceu a diarista Como foi a primeira
impressatildeo Como eacute a relaccedilatildeo de vocecircs
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
29
Marcadas as entrevistas com as trecircs personagens iniciei a segunda etapa do
processo de criaccedilatildeo do documentaacuterio as gravaccedilotildees e a coleta de todo o material que
constitui o viacutedeo Afeto diaacuterio
32 Produccedilatildeo
De acordo com Moletta (2009) eacute na etapa de produccedilatildeo que se realizam as
gravaccedilotildees definidas com o tema central A primeira gravaccedilatildeo foi com Cacilda Martins
Campos (figura 1) no final de setembro no alojamento pozinho da UFV Ela foi uma
indicaccedilatildeo de um ex-aluno do curso de Comunicaccedilatildeo Social afirmando que era ldquouacutenica e
especialrdquo para os alunos que moram no Poacutes e Pozinho18
A entrevista realizou-se em
uma segunda-feira agraves 11h30 da manhatilde horaacuterio em que ela estava terminando a faxina
Figura 1 A diarista Cacilda
Os equipamentos utilizados em todas as entrevistas foram duas cacircmeras DSLRs
Nikons D5100 com lente 18-55mm e D3200 com lente 18-105mm dois tripeacutes de
fotografia e um microfone lapela sem fio Para as imagens em movimento que utilizei
de ilustraccedilatildeo no documentaacuterio foram realizadas com o steadicam19
Para controle da
luz utilizei de um pedaccedilo de isopor algumas vezes para a refraccedilatildeo para evitar uma
longa exposiccedilatildeo que poderia estourar as cores na imagem Para as gravaccedilotildees tive ajuda
de amigos estudantes e interessados na aacuterea do audiovisual
18
Alojamentos masculinos da Universidade Federal de Viccedilosa de iniacutecio foram criados para alunos da poacutes
graduaccedilatildeo por isso os nomes populares de Poacutes e Poacutezinho
19 Suporte que acopla a cacircmera ao corpo do operador tendo apoio para o braccedilo afim de estabilizar a
imagem dando a impressatildeo de que a cacircmera flutua
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
30
Depois da entrevista com a Cacilda um estudante que ela mencionou em um dos
depoimentos chegou agrave repuacuteblica Aproveitei para perguntaacute-lo se ele cederia um
momento para uma entrevista O Pedro Henrique Santos Mota (figura 2) estudante de
engenharia florestal depocircs sobre a convivecircncia com a diarista e histoacuterias engraccediladas e
emocionantes que firmam o relacionamento entre os dois No mesmo dia realizei a
decupagem das duas entrevistas jaacute preparando uma montagem do documentaacuterio
Figura 2 o estudante Pedro Henrique Santos Mota
No periacuteodo das gravaccedilotildees utilizei tambeacutem as orientaccedilotildees de Puccini (2012)
sobre os enquadramentos utilizados em entrevistas De acordo com o autor eacute
preferencial variar entre plano meacutedio (distacircncia consideraacutevel do objeto em que ele
preencha parte consideraacutevel da imagem mas mantendo espaccedilo a sua volta) primeiro
plano (uacutenico personagem em enquadramento) e close (rosto ou parte do personagem em
destaque) Geralmente recomenda-se que no iniacutecio da entrevista comece com plano
aberto e com o tempo eacute que se utiliza de planos mais proacuteximos principalmente em
momentos ldquodelicadosrdquo ldquoEssa estrateacutegia combatida por alguns documentaristas no que
ela tem de clichecirc busca explorar um efeito dramaacutetico propiciado pelos depoimentosrdquo
(PUCCINI 2012 p68) Posicionei as duas cacircmeras de frente para o entrevistado
deixando que ele em cada imagem ficasse de lados diferentes (Figura 3) para que natildeo
houvesse alguma imagem repetida na hora de sincronizaacute-las com o aacuteudio
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
31
Figura 3 Na imagem da esquerda utilizo de um plano close e na da direita um plano mais aberto para
deixar visiacutevel que ela estaacute em um quarto
A segunda entrevista foi realizada com Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira
Santos a dona Leleacute (Figura 4) Consegui encontraacute-la em uma manhatilde na portaria de um
preacutedio em que ela iria fazer uma faxina Tiacutenhamos falado por telefone e natildeo sabia como
ela era mas quando ela chegou fez questatildeo de sentar e conversar comigo Foram 40
minutos de preacute-entrevista e marcamos jaacute para aquela semana as gravaccedilotildees Ela disse
qual era a casa que ela mais gostava de trabalhar e eu solicitei aos estudantes que
pudeacutessemos gravar laacute Todos foram de acordo e assim no dia pedi ajuda ao meu amigo
Samuel Salles estudante de Secretariado Executivo Triliacutengue e interessado em
produccedilotildees audiovisuais para acompanhar as gravaccedilotildees Dona Leleacute no dia explicou que
tinha perdido o ocircnibus por isso esperamos uma hora e meia e quando jaacute estaacutevamos
voltando para entregar os equipamentos recebi uma mensagem de que ela tinha
chegado agrave casa dos universitaacuterios Voltei e iniciamos as gravaccedilotildees aproveitando que ela
estava lavando os pratos e arrumando a cozinha posicionei ali mesmo as cacircmeras e
coloquei o microfone lapela
Figura 4 Maria do Perpeacutetuo Socorro Ferreira Santos conhecida pelos estudantes como dona Leleacute
Um imprevisto foi o cartatildeo de memoacuteria da cacircmera D3200 natildeo ter sido suficiente
para gravar toda a entrevista que durou mais de uma hora Assim sem nenhum
computador por perto para descarregaacute-lo tive que terminar os depoimentos com apenas
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
32
um acircngulo Outra dificuldade encontrada nesta entrevista foi a disposiccedilatildeo da diarista
que natildeo parava de se mexer Assim tive que controlar a cacircmera todo o tempo para
acompanhaacute-la
Terminada a entrevista e marcadas as outras com os estudantes da casa percebi
que a diarista estava muito mais a vontade conversando e brincando com todos
Aproveitei que natildeo tinha retirado o microfone dela ainda e fiz alguns takes deles
interagindo Ela quando percebeu que estava sendo gravada natildeo alterou ainda pegou
um oacuteculos escuros e pediu para que continuasse O momento foi oacutetimo para frisar o meu
objetivo do documentaacuterio
Na mesma semana gravei com dois estudantes que moram na repuacuteblica em que
dona Leleacute trabalha Primeiro agraves 18h30 (aproveitei a luz do sol do horaacuterio de veratildeo) com
o estudante de economia Patrick Guimaratildees Figueiredo e depois agraves 20h30 com a
estudante de economia domeacutestica Thamyrys Rodrigues (Figura 5) no mesmo dia
Queria ter entrevistado outro estudante o Junior Ferreira que conhecia a diarista haacute
mais tempo mas por falta de compatibilidade dos horaacuterios tivemos que desmarcar
Figura 5 na esquerda Thamyrys e direita Patrick estudantes da repuacuteblica onde dona Leleacute trabalha
Apoacutes a decupagem das entrevistas de dona Leleacute e os estudantes com apenas
uma entrevista para gravar (da diarista Raimunda) deparei com a situaccedilatildeo inesperada de
ter encontrado a diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva a Cida (Figura 6) que
trabalhava na casa de uma amiga O prazo de preacute-produccedilatildeo jaacute tinha ultrapassado estava
na segunda quinzena de outubro jaacute preparando o processo de montagem Poreacutem as
recomendaccedilotildees foram muitas Extrapolando o meu proacuteprio tempo definido na primeira
etapa procurei-a e por sorte na preacute-entrevista eu percebi que ela seria uma fonte
importante para o documentaacuterio
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
33
Figura 6 A diarista Maria Aparecida Ribeiro da Silva conhecida pelos estudantes como Cida
Encontrei-a em uma repuacuteblica de meninas perto da universidade ela parou a
faxina e junto com Mariana Bellozi estudante de jornalismo iniciamos a gravaccedilatildeo na
cozinha Nas primeiras perguntas ela se mostrou tiacutemida falando pouco Poreacutem quando
iniciamos os casos de estudantes e o relacionamento dela com eles se mostrou a
vontade durando 26 minutos de entrevista
Ela mencionou por exemplo que dois estudantes que formaram na UFV
voltaram para a cidade um para trabalho e o outro para a poacutes-graduaccedilatildeo e antes quando
calouros utilizavam de seus serviccedilos Agora os dois dividem um apartamento e Cida
trabalha para eles emocionada ela afirmou ter sido uma alegria enorme quando eles a
procuraram
No mesmo dia liguei para um desses estudantes que fazem parte da histoacuteria da
diarista o Geraldo Moreira Bittencourt doutorando em economia na UFV e
conseguimos marcar uma entrevista numa quarta dia seis de novembro de 2014 agraves 19h
No mesmo dia quando fui pegar equipamentos no Laboratoacuterio de Comunicaccedilatildeo agraves17h
uma chuva muito forte impossibilitou minha ida para casa e nenhum nuacutemero de taacutexi
atendia Com todos os equipamentos menos a cacircmera D5100 fiquei esperando a chuva
passar ateacute 18h40 e os proacuteprios entrevistados afirmaram que eu natildeo poderia atrasar
nenhum minuto sequer pois jaacute tinham outro compromisso Com sorte a chuva parou por
alguns minutos e eu corri para o centro encontrei um amigo Raul Luciano que jaacute
presenciou produccedilotildees audiovisuais em um intercacircmbio nos Estados Unidos e fomos
para o apartamento dos dois rapazes A entrevista foi com Geraldo e seu colega Jorge
Ribeiro ao mesmo tempo (Figura 7) sendo curta durando menos de dez minutos
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
34
Figura 7 Agrave direita o advogado Jorge Ribeiro e esquerda o doutorando Geraldo Moreira Bittencourt
Na sexta-feira dia sete de novembro pela manhatilde gravei com a diarista Maria
Raimunda Liberato Oliveira (Figural 8) que eu jaacute conhecia antes de iniciar as pesquisas
para o documentaacuterio A diarista trabalha em minha repuacuteblica desde 2013 e tornou-se
amiga da casa por isso desde que iniciei o projeto natildeo ficaria contente se ela natildeo
estivesse nele pois uma das inspiraccedilotildees foi a proacutepria No dia da gravaccedilatildeo o tempo
estava nublado entatildeo natildeo adiantaria gravar em um local aberto por isso gravamos na
sala Peguei alguns instrumentos de trabalho dela e deixei no plano de fundo para
ilustrar a imagem
Figura 8 A diarista Maria Raimunda Liberato Oliveira
De todas as diaristas a entrevista de Raimunda foi a que durou menos cerca de
dez minutos Foi algo inesperado visto que ela mesma quando inicia uma conversa dura
muito tempo mas talvez sua timidez atrapalhou um pouco Mesmo assim natildeo deixou de
contar as histoacuterias e depoimentos que fazem parte do documentaacuterio
Importante descrever que em todas as casas que fui com as diaristas pedi para
que deixassem gravar elas trabalhando ou conversando com os estudantes a fim de que
pudesse usar as imagens para transiccedilatildeo e ilustraccedilatildeo no documentaacuterio Todas elas foram
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
35
registradas com as DSLRs e com o suporte steadicam para evitar o desequiliacutebrio das
imagens Filmei tambeacutem de fora de repuacuteblicas imagens como toalhas penduradas
bicicletas e utensiacutelios de estudantes para representar a ideia proposta do documentaacuterio
Fechadas as entrevistas e realizadas a transcriccedilatildeo de todas para o papel pude
entrar para a etapa final do trabalho de conclusatildeo de curso a poacutes-produccedilatildeo
33 Poacutes-produccedilatildeo
Nesta etapa segundo Moletta (2009) seleciona-se o material para o viacutedeo
realizam-se as primeiras ediccedilotildees e finaliza a narrativa audiovisual Com todas as
entrevistas decupadas reli e fui selecionando as partes dos depoimentos que poderiam
entrar para o documentaacuterio Resolvi entatildeo fazer a montagem da histoacuteria bruta sem
pensar nos momentos iniciais pois segundo Lucena (2012) as partes que ilustram o
documentaacuterio que precisam de mais criatividade e atenccedilatildeo devem ser olhadas
posteriormente agrave criaccedilatildeo da histoacuteria central
De acordo com Moletta (2009) eacute nesta etapa que se constroacutei um roteiro mais
especiacutefico e teacutecnico depois de ter construiacutedo a narrativa do documentaacuterio a partir dos
depoimentos coletados
Iniciei a montagem de Afeto diaacuterio percebendo que seria interessante comeccedilar
pelas diaristas contando como foi quando comeccedilaram a trabalhar Todas as quatro
possuiacuteam histoacuterias interessantes desse iniacutecio e coloquei esses depoimentos de forma
que se encaixassem e chegasse no assunto de quando elas comeccedilaram a trabalhar com
estudantes e o tema casas de famiacutelia Desde o iniacutecio nas preacute-entrevistas percebi que elas
tinham histoacuterias desse periacuteodo em que trabalharam com famiacutelias e deixei a opiniatildeo delas
sobre esse assunto Apoacutes isso com o depoimento de Raimunda afirmando que gosta
muito mais de estudantes deixei imagens de transiccedilatildeo para iniciar a histoacuteria central do
documentaacuterio
Inicio esse bloco com o tema festas e bagunccedila com a diarista Cida narrando sobre
como eacute chegar agraves repuacuteblicas e deparar com desorganizaccedilatildeo dos alunos e jaacute mudo para
dona Leleacute contando sobre a rotina com os estudantes Aproveito de tal depoimento para
iniciar a narrativa principal do viacutedeo que eacute o relacionamento entre as duas partes
Intercalando histoacuterias como o estudante Patrick relata sobre como dona Leleacute preocupa
com eles e Thamyrys dizendo ela a animou em muitas vezes Cida dividindo o seu
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
36
almoccedilo com uma estudante quando Cacilda foi ajudada quando comeccedilou a construir em
sua casa e etc
Ao decorrer do documentaacuterio intercalo esses depoimentos para que nenhuma
diarista fique aparecendo demasiado e canse sua imagem no viacutedeo Interponho tambeacutem
os depoimentos de Cacilda e Pedro sobre a histoacuteria do presente de natal a fim de uma
maior dinamicidade Na narrativa propus natildeo dividir em blocos e deixar uma parte com
estudantes e outra com diaristas tentei montar Afeto diaacuterio como uma grande conversa
entre diaristas e estudantes na qual os casos e as histoacuterias afirmassem a proposta do
documentaacuterio
Quando Jorge relata que Cida possui a chave da casa e tem liberdade em entrar e
limpar a hora que quiser e com o depoimento de dona Leleacute ldquoeles me potildeem como se eu
fosse a dona da casa a matildee delesrdquo chego agrave parte final do documentaacuterio em que elas
mesmas concluem que eles satildeo seus filhos adotivos Inclusive Cida revela ter que lidar
com os ciuacutemes do filho mais velho dessa relaccedilatildeo com os estudantes
Apoacutes esta parte deixo que elas falem que nunca vatildeo deixar de trabalhar com os
estudantes finalizando com o depoimento de Cacilda ldquose eu tiver aguentando eu vou
trabalhar Se Deus quiserrdquo Apresento depoimentos em que as diaristas admitem ser
felizes com o trabalho acabando o documentaacuterio com o possiacutevel futuro das diaristas
Depois de finalizada a montagem da narrativa principal de Afeto diaacuterio parti para
pensar em uma introduccedilatildeo do viacutedeo que resumisse a sua ideia principal logo nos
primeiros minutos Coloquei primeiro depoimentos sobre a rotina das diaristas e logo
depois o de Cacilda dizendo para quantos estudantes ela trabalha no meio da contagem
ela diz ldquoimagina se fosse tudo meurdquo e assim a inseri a vinheta do documentaacuterio com a
muacutesica Jai pas de Lohstana David
Aleacutem dela incluiacute outras trilhas sonoras instrumentais e BGs para dramatizar e
suavizar a narrativa Para as imagens de ilustraccedilatildeo a muacutesica Coastal Path de Dan
Falvey e nos creacuteditos procurei uma muacutesica forte e marcante por isso inseri a Once I
Went You de Kara Square Todas as muacutesicas foram retiradas do site de distribuiccedilatildeo livre
jamendocom e todas em instrumental para natildeo confundir com os depoimentos
Utilizei dos programas Adobe Premiere para a ediccedilatildeo dos viacutedeos e SoundForge
para tratamento do aacuteudio A criaccedilatildeo da arte da capa de Afeto diaacuterio foi realizada em
uma reuniatildeo com o estudante e ilustrador Felipe Eller Pedi entatildeo para que a estudante
Shayene Martins a animasse com o programa Adobe AfterEffects visto que ela possuiacutea
teacutecnica nesse software
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
37
A confecccedilatildeo do memorial foi durante o processo de produccedilatildeo do documentaacuterio e
apoacutes a finalizaccedilatildeo de todas as partes do trabalho de conclusatildeo de curso teoacuterica e praacutetica
foi feita a confecccedilatildeo dos DVDs com capas estilizadas com o nome do documentaacuterio e o
desenho feito pelo ilustrador O documentaacuterio Afeto diaacuterio possui 29 minutos e foi
produzido em quatro meses editado em dois computadores diferentes uma CPU
equipada de processador Intel Core i3 4GB RAM e 25GHz e outra equipada de
processador Intel Core i7 8GB RAM e 29GHz
34 Materiais utilizados orccedilamento e cronograma
a) Material
Quantidade Descriccedilatildeo
1 Microfone lapela
1 Cacircmera digital Nikon D3200
1 Cacircmera digital Nikon D5100
2 Tripeacutes fotograacuteficos
1 Isopor
1 Cartotildees de memoacuteria de 8GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 16GB
1 Cartatildeo de memoacuteria 32GB
1 Suporte steadicam
2 Computadores para realizar a ediccedilatildeo e montagem
b) Orccedilamento
Descriccedilatildeo Quantidade Valor unit
Transporte (taacutexi) 5 R$ 1000
Pilhas 2 R$ 1500
DVD‟s 9 R$ 200
Impressatildeo e papelaria 1 R$ 4000
Ilustraccedilatildeo 1 R$ 3000
Animaccedilatildeo 1 R$ 4000
Total R$ 20800
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
38
c) Cronograma
AtividadesPeriacuteodos
Semestre
012014 Agosto Setembro Outubro Novembro
Pesquisa bibliograacutefica x x x
Reuniotildees de orientaccedilatildeo x x x x x
Preacute-entrevistas x x
Gravaccedilotildees x x
Decupagem x x
Montagem e ediccedilatildeo x
Produccedilatildeo do memorial x x x x
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
39
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Realizar um documentaacuterio sobre um tema tatildeo interessante como o de diaristas
me proporcionou bons momentos e um aprendizado que levarei por toda a vida Desde o
iniacutecio tornou-se um objetivo mostrar para as personagens o produto final como
agradecimento Como toda produccedilatildeo audiovisual ela demandou tempo dinheiro e
muita paciecircncia Pois natildeo haacute jeito de conseguir tudo na hora em que queremos
principalmente pessoas poderem conceder entrevistas nos nossos horaacuterios
Tais dificuldades apresentadas no terceiro capiacutetulo natildeo desmotivaram e
considero que natildeo surtiram efeito em minha produccedilatildeo final pois realizei um
documentaacuterio de 29 minutos que em minha anaacutelise desenvolveu o tema proposto Foi
preciso muita delicadeza para tratar com todas as fontes os horaacuterios em sua maioria natildeo
eram compatiacuteveis e houve alguns temas que natildeo eram confortaacuteveis para as diaristas
Bem como sensibilidade para definir quais seriam as personagens visto que algumas
nas preacute-entrevistas natildeo pareceram satisfeitas com o trabalho e tambeacutem foi necessaacuterio
escolher os locais de gravaccedilatildeo com muito cuidado preocupando-se com luz som e
qualquer outro empecilho que poderia surgir
Foi de extrema importacircncia para a realizaccedilatildeo de Afeto diaacuterio a pesquisa teoacuterica
em roteiro de documentaacuterio que me orientou desde o primeiro momento pois todas as
escolhas referentes ao viacutedeo definiram em sua narrativa as personagens os cenaacuterios os
enquadramentos e a proacutepria escolha do tema A pesquisa bibliograacutefica sobre o gecircnero
proporcionou tambeacutem uma visatildeo criacutetica de todos os procedimentos realizados na
produccedilatildeo audiovisual buscando uma finalizaccedilatildeo coerente ao que foi pesquisado e
discutido
O aprofundamento teoacuterico sobre o tema abordado e principalmente sobre o setor
trabalhista trouxe contribuiccedilotildees imprescindiacuteveis para a minha formaccedilatildeo A luta pelos
direitos do trabalho domeacutestico obteve um marco significativo em 2013 com a PEC
poreacutem as diaristas continuam como autocircnomas e infelizmente metade das que
conversei natildeo contribuem com a Previdecircncia e natildeo conseguiratildeo aposentar a tempo e
outros benefiacutecios A pesquisa me impulsionou a procurar por contadores e advogados e
a ajudar as diaristas que contatei auxiliando-as qual eram as suas melhores opccedilotildees e o
que poderiam fazer para conseguirem seus direitos Em relaccedilatildeo ao afeto eu pude ainda
observar com todos os depoimentos das trabalhadoras e dos estudantes que ele existe
sim e configura-se em accedilotildees de ambas as partes
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
40
A experiecircncia de ter dirigido produzido e montado um documentaacuterio como
Afeto diaacuterio proporcionou-me um enorme aprendizado no gecircnero pois estive presente
em todas as etapas de sua produccedilatildeo As possibilidades que ele trouxe de conhecer e
poder dialogar com diferentes pessoas certamente contribuiacuteram com a minha formaccedilatildeo
A escolha de um projeto experimental como trabalho de conclusatildeo de curso foi um
desafio visto que toda a responsabilidade de concluiacute-lo era minha Percebo que
nenhuma produccedilatildeo audiovisual pode ser feita em pouco tempo eacute necessaacuterio foco e
objetividade na realizaccedilatildeo de todas as etapas Espero que com ele consiga demonstrar o
que foi proposto desde o iniacutecio que o afeto natildeo depende de contrato de tempo ou de
qualquer outro meio para se realizar
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
41
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
ABAGNANO Nicolla Dicionaacuterio De Filosofia Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
ARAUJO Eliane Cristina Trabalho domeacutestico e trabalho decente no Brasil uma
anaacutelise das questotildees teoacutericas e das empiacutericas agrave luz da PEC 4782010Revista
GeoNordeste n 1 p 75-96 2014
BERNADET JC Cineastas e imagens do povo Satildeo Paulo Companhia das Letras
2003
BUTLER Judith Marcos de Guerra las vidas lloradas In MONTICELLI Thays
Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade
Federal do Paranaacute Curitiba 2013
BRUSCHINI Cristina LOMBARDI Maria Rosa A bipolaridade do trabalho feminino
no Brasil contemporacircneo Cadernos de pesquisa v 110 p 67-104 2000
CARRIEgraveRE J C e BONITZER P Praacutetica do roteiro cinematograacutefico Satildeo Paulo
JSN 1996
CBO ndash Classificaccedilatildeo Brasileira de Ocupaccedilotildees Disponiacutevel em
lthttpwwwmtecbogovbrgt Acessado em 26 de maio de 2014
CHION M O Roteiro de cinema Satildeo Paulo Martin Fontes 1989
CHODOROW Nancy J El Podel de los Sentimentos la significacioacuten personal em
elpsicoanaacutelisis el gecircnero y la cultura In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas
afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute
Curitiba 2013
DA-RIN Silvio Espelho partido tradiccedilatildeo e transformaccedilotildees do documentaacuterio Rio
de Janeiro Azougue 2006
DILMENSTEIN Gilberto Folha de S Paulo Domeacutestica vai virar luxo Diponiacutevel em
httpwww1folhauolcombrcolunasgilbertodimenstein1189259-domestica-vai-virar-
luxoshtml Acessado em 19 de outubro de 2014
DOMEacuteSTICA LEGAL Instituto Disponiacutevel em lthttpwwwdomesticalegalcombrgt
Acessado em 24 de outubro de 2014
ESCOREL E Adivinhadores de aacutegua Satildeo Paulo Cosac Naify 2005
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
42
FRAGA Alexandre Barbosa De Empregadas a Diaristas as novas configuraccedilotildees do
trabalho domeacutestico remunerado Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2010
GRIERSON John Princiacutepios iniciais do documentaacuterio In LUCENA Luiz
Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica de produccedilatildeo
Summus Editorial 2012
HAMPE B Making documentary films and reality videos Nova York Henry Holt
and Company 1997
HARRIS David Evan ldquoVocecirc vai me servirrdquo desigualdade proximidade e agecircncia nos
dois lados do equador Dissertaccedilatildeo de Mestrado apresentada a Universidade de Satildeo
Paulo 2007
HOCHSCHILD Arlie Russel La Mercantilizacioacuten de la Vida Iacutentima apuntes de la
casa y eltrabajo In MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas
Dissertaccedilatildeo de Mestrado pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel em
lthttpcidadesibgegovbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
ILO ndash International Labour Organization Disponiacutevel em lthttpwwwiloorggt
Acessado em 26 de maio de 2014
LUCENA Luiz Carlos Como fazer documentaacuterios conceito linguagem e praacutetica
de produccedilatildeo Summus Editorial 2012
MATOS M Izilda S Porta a dentro criados de servir em Satildeo Paulo 1890-1930 In
Maria Cristina Bruschini e Bila Sorj (Org) Novos Olhares mulheres e relaccedilotildees de
gecircnero no Brasil Sao Paulo Fund Carlos Chagas Marco Zero 1994 p 193-212
MELO Hildete Pereira de O Serviccedilo Domeacutestico Remunerado No Brasil de Criadas
A Trabalhadoras Texto para Discussatildeo do IPEA Rio de JaneiroRJ p 1-29 1998
MELO Cristina Teixeira de GOMES Isaltina MORAIS Wilma O documentaacuterio
jornaliacutestico gecircnero essencialmente autoral Anais do XXIV Intercom Campo Grande
2001
MONTICELLI Thays Almeida Diaristas afeto e escolhas Dissertaccedilatildeo de Mestrado
pela Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2013
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
43
NICHOLS Bill Introduccedilatildeo ao Documentaacuterio Satildeo Paulo Papirus 2001
NUNES Cristiane Girard Cidadania e Cultura o universo das empregadas
domeacutesticas em Brasiacutelia (1970-1990) Tese de doutorado apresentada ao Programa de
Poacutes Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade de Brasiacutelia 1993
PENAFRIA Manuela Perspectivas de Desenvolvimento para o documentarismo
Universidade de Beira Interior Covilhatilde 1999
PENAFRIA Manuela (org) Tradiccedilatildeo e Reflexotildees contributos para a teoria e
esteacutetica do documentaacuterio Covilhatilde Portugal Livros Labcom 2011
PPO-UFV ndash Proacute-reitoria de Planejamento e Orccedilamento da Universidade Federal de
Viccedilosa Disponiacutevel em lthttpwwwppoufvbrgt Acessado em 09 de outubro de 2014
PREVIDEcircNCIA SOCIAL ndash Ministeacuterio da Previdecircncia Social Disponiacutevel em
lthttpwwwprevidenciagovbrgt Acessado em 25 de outubro de 2014
PUCCINI Seacutergio Roteiro de documentaacuterio da preacute-produccedilatildeo agrave poacutes-
produccedilatildeo Capinas SP Papirus 2009
RABIGER M Directing the documentary Boston Focal Press 1998
RODRIGUES C O cinema e a produccedilatildeo Rio de Janeiro FaperjDPampA 2002
ROSENTHAL A New challenges for documentary BerkeleyLos AngelesLondres
University of California Press 1998
SANTO forte Direccedilatildeo Eduardo Coutinho Brasil 1999
WEBER Max A Eacutetica Protestante e o Espiacuterito do Capitalismo Satildeo Paulo Cia das
Letras 2004
ZELIZIER Viviana A La Negociacioacuten de la Intimidad Buenos Aires Fondo de
Cultura Econoacutemica 2009
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
44
ANEXOS
ROTEIRO AFETO DIAacuteRIO
Tempo
Data
141102014
TECTrecircs segundos
de frame preto
VINHETA AFETO
DIAacuteRIO
Muacutesica Jai pas de
Lohstana David
A MINHA ROTINA Eacute CANSATIVA NEacute TODO
DIA SAI DE UM LUGAR PASSA PRO OUTRO
SEGUNDA EU VOU EM DUAS POR DIA AS
VEZES TEM NA QUARTA EU VOU EM TREcircS
PORQUE IGUAL TEM UMA KITNET QUE EU
VOU DEPOIS QUE OS MENINOS FALAM PRA
MIM ASSIM Ocirc CIDA NAtildeO IMPORTA A HORA
QUE VC CHEGAR AQUI IMPORTANTE Eacute VC
VIR QUE EU FALO ASSIM AH EU NAtildeO VOU
NAtildeO VAI DAR NAtildeO AIacute VEM CIDA
INDEPENDE DA HORA A HORA EU QUE EU
CHEGO LAacute PRA ELES TAacute BOM
ASSIM EU VOU SEMANAR INTEIRA
TRBALAHO DE SEGUNDA A SAacuteBADO E
GRCcedilAS A DEUS O PESSOAL QUE EU
TRABALHO SAtildeO TUDO OacuteTIMO
E GRACcedilAS A DEUS TRABALHO CADA DIA
NUMA CASA FELIZ DA VIDA E Eacute BOM TER
SERVICcedilO DA GENTE NEacute
AH ISSO Eacute UM MONTE VIU CADA CASA
TEM 9 PRA VC TER IDEIA E EU TRABALHO
EM SEIS QUE TEM 9 ESTUDANTE E
TRABALHO COM UNS RAPAZ QUE ELES
ESTUDAM EM UNIVICcedilOSA 4 COM DUAS
MENINAS QUE EU TRABALHO COM ELAS
ALI PERTO DA PREFEITURA LAacute QUE Eacute
MENOS GENTE AQUI Eacute QUE Eacute MUITOS JAacute
PENSOU SE FOSSE TUDO MEU
CACILDA
CIDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
45
GC Cacilda Martins-
Diarista
GC Maria Raimunda-
Diarista
GC Dona Leleacute-
Diarista
GC Cida-Diarista
A O PRIMEIRO DIA FOI MUITO ASSIM
VERGONHOSO NEacute TODO PRIMEIRO DIA Eacute
MAIS DIFIacuteCIL NAtildeO SABIA O QUE FAZER
DEPOIS A GENTE FOI TREINANDO
A GENTE FICA ASSUSTADO NEacute
PREOCUPADO DE NAtildeO TA FAZENDO O
TREM DIREITO MUITO NOVO AINDA NEacute
MAS DEPOIS TUDO BEM NA PRIMEIRA
CASA TRABALHEI AIacute TEM UMAS AIacute
TRABALHEI UM TEMPO NUMA CASA
DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA OUTRA
EU TAVA MUITO NOVA AINDA SOLTEIRA
SAIacute DA ESCOLA MORAVA NA ROCcedilA SAIacuteA
CEDO PRA TRABALHAR SAIacuteA SEIS HORAS
DE CASA PEGAVA O SERVICcedilO FICAVA O
DIA INTEIRO TRABALHANDO CASA DE
FAMIacuteLIA TRABALHEI HAacute MUITOS ANOS
EM CASA DE FAMIacuteLIA DEPOIS QUE EU
CASEI FUI MORAVA NA TODA VIDA
MOREI NA ROCcedilA NUNCA MOREI NA
CIDADE SAIacuteA PRA TRABALHAR SEIS
HORAS E VOLTAVA SETE HORAS DA
NOITE TODO DIA
NA PRIMEIRA CASA TRABALHEI AIacute TEM
UMAS AIacute TRABALHEI UM TEMPO NUMA
CASA DEPOIS EU LARGUEI PEGUEI UMA
OUTRA FUI BABA TAMBEacuteM TRABALHEI
DE BABA TRABALHEI MAIS DE CINCO
ANOS DE BABA E FOI INDO ASSIM
MARCOU ASSIM EU ERA MUITO MAIS EU
TRAZIA MEU FILHO MAIS NOVO MAIS
VELHO TUDO PERTO DE MIM PUNHA ELES
SENTAR E TRABALHAR AIacute COMECcedilAVA A
CHORAR PARAVA PRA DA RMAMADEIRA
TUDO ISSO EU PASSEI TUDO COM MEUS
FILHOS PERTO DE MIM
EU TRABALHAVA NO EQUIPE DEPOIS
TRABALHEI NA PIF PAF AIacute DEPOIS TIVE
QUE PARAR AIacute COMECEI O MEU MENINO
TAVA DOENTE ADOECEU DEMAIS AIacute TIVE
QUE PEDIR CONTA E TRABALHAR COM
ESTUDANTE
CACILDA
RAIMUNDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
CACILDA
CIDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
46
A GENTE LAVAVA ROUPA PROS MENINO E
ELES ME PERGUNTAVAM ldquoVC LIMPA
TAMBEacuteM TEM UNS AMIGOS MEU QUE TAO
PRECISANDO DE LIMPAR LAacute NO POacuteSINHO
E NO POS AIacute EU FALEI LIMPOPRA MIM
ATEacute MELHOR AIacute COMECcedilAVA A LEVAR A
ROUPA DELES E TRABALHAR LEVANDO
DEPOIS PASSADO UNS TEMPOS EU
LARGUEI DE LAVAR ROUPA E ACHEI
MELHOR SOacute TRABALHAR DE FAXINA
AGORA DEPOIS DE UNS NOVE ANOS PRA
CAacute QUE EU RESOLVI VOLTAR TRABALHAR
SOacute PRA ALUNO
AIacute DEPOIS TIVE QUE PARAR TAMBEacuteM PQ
EU ENTREI EM DEPRESSAtildeO POR CAUSA DA
MORTE DA MINHA IRMAtilde QUE EU NAtildeO
ACEITEI FIQUEI COM DEPRESSAtildeO AIacute
DEPOIS COMECEI QUERER TRABALHAR E
MINHA IRMA SABIA DE UMA KITNET PQ O
RAPAZ QUE ELA TRABALHAVA A
NAMORADA PRECISA DE UMA PESSOA PRA
TRABALHAR AIacute EU QUERIA UM LUGAR
PEQUENO ASISM PQ EU ACHO QUE NAtildeO
VOU CONSEGUIR AIacute MINHA IRMA FALOU
VC VAI CONSEGUIR AIacute EU VOU AIacute FUI PRA
LAacute TRABALHAR NESSA KITNET AIacute A MOCcedilA
SAIacuteA MEIO PRA AULA PRA ALMOCcedilAR E
FICAR PRA UNIVERSIDADE MESMO AIacute ELA
CHEGAVA EU TAVA NA UNIVERSIDADE
AINDA UM QUARTINHO A TOA E UMN
BANHEIRO AIacute ELA FICAVA ASSIM Ocirc CIDA
NAtildeO PRECISA FICAR FAZENDO ASSIM NAtildeO
MAS Eacute PQ EU NAtildeO TINHA FORCcedilA PRA
TRABALHAR EU TAVA SIANDO DA
DEPRESSAtildeO AINDA NEacute AIacute TEVE UM DIA
QUE EU FUI E CONTEI PRA ELA QUE EU
TAVA SAINDO DA DEPRESSAtildeO AINDA E
TAL QUE EU NAtildeO TINHA FORCcedilA DIREITO
PRA TRABALHAR AIacute ELA MUDOU FOI
ORAR NUM APARTAMENTO COM CINCO
MOCcedilAS E MECHAMOU PRA TRABALHAR
COM ELA AIacute EU FALEI NAtildeO VOU NAtildeO
AGUENTO NAtildeO VOU TER CONDICcedilOtildeES ELA
FALOU VC VAI
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
47
Muacutesica BG Coastal
Path de Dan Falvey
AIacute ME LEVOU PRA LAacute EXPLICOU PRAS
MENINAS MEU PROBLEMA QUE EU
TAVA E ESSA MENBINA QUE ME DEU
AJUDA DEMAIS QUE EU SAI DA
DEPRESSAtildeO ASSIM
CASA DE FAMIacuteLIA EU NAtildeO GOSTEI
NAtildeO TRABALHEI UM MEcircS E POUCO E
NAtildeO GOSTEI NAtildeO Eacute MAIS ENJUADO
ERA MUITO SERVICcedilO E TINHA QUE
PEGAR DAS SETE AS CINCO PRA MIM
NAtildeO DAVA
TRABALHEI MUITO EM CASA DE
FAMIacuteLIA JAacute CUIDEI DE CRIANCcedilA A
NOITE PRAS MAE TRABALHAR PRA IR
PRA FARRA E FICAVA ATEacute MESMO
ANDAR EMBORA TRABALHEI OITO
ANOS NUMA MULHER NO BAIRRO DE
RAMOS ALI E OS MENININHO DELA
TAVAM TUDO PETITITINHO QUANDO
FOI EMBORA FORMOU FOI EMBORA
QUE EU LARGUEI E FUI PRA OUTRO
LUGAR
A ACHO QUE SEI LAacute FAMIacuteLIA AS
VEZES TEM GENTE QUE ME TRATOU
BEM MAS TEM GENTE QUE NAtildeO
TRATA A PESSOA BEM E ESTUDANTE
EU NAtildeO SEI MAS TAacute TAtildeO CARENTE
ASSIM NEacute LONGE DOS PAIS TRATA A
GENTE BEM AIacute EU ME SINTO MUITO
BEM
NOSSA ESTUDANTE Eacute BOM DEMAIS Eacute
BOM DEMAIS ELES NAtildeO AMOLAM A
GENTE ESTUDANTE Eacute OUTRA COISA
EU FALO O QUE TEM PRA FALAR EU
CHAMO ATENCcedilAtildeO DELES
MUITO BOM MUITO MELHOR DO QUE
CASA DE FAMIacuteLIA EU GOSTO MUITO
MAIS QUE VC VE ATEacute HOJE DESDE
MUITO TEMPO ATEacute HOJE EU NAtildeO
LARGO Eacute SOacute SE EU NAtildeO AGUENTATR
MESMO
CIDA
CACILDA
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
RAIMUNDA
Imagens de ilustraccedilatildeo
Poacutesinho diaristas
trabalhando dona Leleacute
conversando com os
alunos
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
48
JAacute TEVE REPUBLICA QUE CHEGAVA TAVA
BAGUNCcedilADA DE FESTA EU CHEGAVA E JAacute
VINHA PEDINDO DESCULPA Ocirc CIDA
DESCULPA TAacute MAS FOI FULANO QUE FEZ
FULANO QUE FEZ ESSA BAGUNCcedilA AQUI
SEMPRE PEDINDO DESCULPA AIacute EU FICAVA
BRAVA COM ELES NOSSA SENHORA GENTE
ESSA BAGUNCcedilA AQUI DENTRO DE CASA
PARECE BICHO AQUI NAtildeO Eacute LUGAR DE
BAGUNCcedilA NAtildeO FAZ BAGUNCcedilA LAacute EM CIMA
DA LAJE ALGUM LUGAR MAS NAtildeO DENTRO
DE CASA ASSIM CERVEJA ENTORNADA NO
CHAtildeO BANHEIRO AQUELA BAGUNCcedilA
COISA QUANDO EU CHEGAVA Ocirc CIDA
ALGUNS ATEacute JAacute ME LIGAVAM Ocirc CIDA NEacute
POR NADA NAtildeO MAS AMANHA NA HORA
QUE VOCE CHEGAR AQUI VOCE VAI VER
MAS FOI FULANO AH TAacute ENTAtildeO NAtildeO TEM
NINGUEM QUE FEZ NAtildeO NEacute ENTAtildeO UM
JOGAVA PERGUNTAVA O OUTRO NAtildeO FUI
EU NAtildeO CIDA ACHO QUE FOI FULANO MAS
ERAM ELES TODOS ERA AQUELA BAGUNCcedilA
DANADA
MAS ISSO Eacute NORMAL EU ACHO QUE Eacute SUPER
NORMAL EU NAtildeO ESQUENTO COM ISSO
NAtildeO PQ UNS FAZEM MUITA BAGUNCcedilA
MESMO MAS AQUI ISSO EU NAtildeO ESQUENTO
NAtildeO PQ ISSO Eacute NORMAL NAtildeO FICO COM
RAIVA NAtildeO EU FICO SOSSEGADA
AIacute TEVE UMA MOCcedilA QUE EU FUI FAZER
FAXINA PRA ELA AIacute VIROU PRA MIM E
FALOU NOSSA EU TO VENDO AQUI MUITA
INDICACcedilAtildeO SUA SOacute HOMI GATO EU FALEI
COM ELA Eacute CLARO MINHA FILHA EU
TRABALHO SOacute COM HOMI BONITORISOS AIacute
EU VOU VARRENDO E SOacute OLHANDO RISOS
AQUI ELES CONTAM SEGREDO AQUI E TIRA
RETRATO MEU VOCEcirc PRECISA VER |O QUE
QUE ELES FAZEM COMIGO MEU FILHO POE
MUSICA PRA MIM OLHA ESSE MAS
JUNINHO AQUI Oacute MUSICA Ocirc DONA LELEacute TA
BOA ESSA MUSICA IH TA DEMAISQUER VER
EU FICAR RAPIDINHA NO SERVICcedilO Eacute POR
UMA MUSICA E GOSTO DO TREM RAacutePIDO
TAMBEacuteM
CIDA
RAIMUNDA
CIDA
DONA LELEacute
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
49
GC Patrick
Figueiredo-estudante
de economia
GC Thamyrys
Rodrigues-estudante
de economia
domeacutestica
ESSES DOIS AQUI VC PRECISA DE VER MEU
FILHO TEM DIAS QUE FICAM CORRENDO
AQUI OPA QUE QUE Eacute ISSO AQUI GENTE PRA
FAZER GRACcedilA SABE IH VC PRECISA VER
COMO A GENTE BRINCA CONTA CASO POE
MUSICA EU DANCO
ENTAtildeO A DONA LELEacute QUALQUER PESSOA
QUE EHCGA AQUI DA MUITA COISA DA
MUITO ASSUNTO ELA ADORA CONVERSAR
SE VC PARAR QUALQUER MINUTINHO COM
ELA SE VC TIVER ATRASADO VC NAtildeO
CONVERSA COM ELA PQ VAI ATRASAR
ELA Eacute UMA PESSOA MUITO ALTO ASTRAL
FALA DEMAIS EU CHEGO ATRASADA TODA
QUARTA-FEIRA NA AULA PQ ELA VEM OITO
E EU TENHO AULA AS DEZ E ELA NAtildeO
CONSEGUE PARAR DE FALAR NEM EU AI A
GENTE FICA FALANDO FALANDO AIacute ELA Eacute
MUITO BOAZINHA ELA SEMPRE ESCUTA A
GENTE E SEMPRE FALA MUITO TAMBEacuteM
QUALQUER PROBLEMA QUE A GENTE TEM A
GENTE PODE FLAR COM ELA LEMBRO UNS
DIAS QUE EU CHEGUEI MUITO TRISTE E EU
FUI CONTATR PRA ELA ELA ME ANIMOU
Eacute TEM UNS QUE SAtildeO MAIS CARINHOSO Eacute
EDUCADO TEM GENTE QUE Eacute MUITO
INDUCADO TEM MUITOS TAMBEacuteM IGUAL
UMA MENINA QUE HOJE EM DIA AGORA
TEM BOLSA E TUD TEMPOS ATRAacuteS NAtildeO
ERA TODOS QUE TINHAM AIacute TINHA MUITA
DIFICULDADE DE ALIMENTAR FICAVA
COMENDO SOacute MIOJO AQUELE MACARRAtildeO
PURO FICAVA COM DOacute DELA AIacute EU
LEVAVA MINHA MARMITA QUE EU LEVO
TODO LUGAR QUE EU VOU EU LEVO MINHA
MARMITAINCLUSIVE EU TRABALHEI PRA
UMA SENHORA ELA SINDICA DO PREacuteDIO
AQUI ATEacute O MOCcedilO QUE FALOU VOU VER SE
CONSIGO ENCAIXAR A SENHORA NA SEXTA-
FEIRA AIacute ELA FALOU ASSIM Ocirc CIDA AIacute EU
LEVO MINHA MARMITA AIacute ELA PELO AMOR
DE DEUS AQUI NA MINHA CASA SE VOCEcirc
COMER MARMITA EU NEM TE QUERO AQUI
MAIS
DONA LELEacute
PATRICK
FIGUEIREDO
THAMYRYS
RODRIGUES
CIDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
50
AIacute EU FALEI NAtildeO EU TO ACOSTUMADA EU
MEXO COM ESTUDANTE ESTUDANTE NEM
ESQUENTA A CABECcedilA NAtildeO AIacute EU LEVO
NAtildeO TRAZ NAtildeO MAS EU LEVAVA MINHA
MARMITA AIacute ACABAVA DIVIDINDO A
MINHA COMIDA COM ELA
EU TRABALHO PRA ALUNO E FICO COM
MUITA PENA PQ AS VEZES UNS FICAM SEM
ALIMENTAR DIREITO PQ NAtildeO TEM TEMPO
UAI EU NAtildeO VI AQUELES QUE SAIacuteRAM SEM
LANCHAR NAtildeO UAI COITADOS VC VE
ELES FALANDO NAtildeO TEM QUE IR QUE TA
NA HORA Eacute VERDADE AS VEZES EU FALO
ASSIM AI MEU DEUS TA SAINDOS SEM
NADA AIacute TEM DIA QUE EU FALO FAZ UM
SUCO GENTE QUE EU SOU ASSIM EU NAtildeO
LIGO PRA COMIDA ARROZ COM FEIJAtildeO
NAtildeO MAS DEPOSI EU FACcedilO SUCO VAI LA
TOMAR AQUELE SUCO LA E ELES TAMBEacuteM
SAtildeO ASSIM TUDO QUE ELES FAZEM ELES
POE NA MINHA FRENTE E MANDAM EU
COMER SENHORA JAacute COMEU HOJE
AQUI NA EacutePOCA EU TAVA CONSTRUINDO
O MARCO AQUI ELE CONFIOU TANTO
NIMIM QUE EMPRESTOU EU UM DINHEIRO
PRA CONSTRUCcedilAtildeO NA HORA DO APERTO
DEPOIS EU TRABALHEI PAGUEI PRA ELE
DIREITINHO
O MEU FILHO LUCIANO QUE EU TE FALEI
CONVULSAtildeO NEacute ELE TEVE CONVULSAtildeO
UM DEMAIO QUE ELE TEVE ELE
ACORDOUPASSANDO MAL SABE AIacute EU
PEGUEI QUE QUE EU FIZ PEGUEI FUI NO
HOSPITAL E TUDO NEM FUI TRABALHAR
ESSE DIA AIacute EU CHEGUEI LAacute NO MEU
SERVICcedilO DOS ESTUDANTES NEacute PEGUEI E
FALEI AIacute ELE PEGOU AIacute EU PENSEI ASISM
EU VOU LEVAR ESSE MENINO NO
HOSPITAL MEDICO OLHOU E TUDO AIacute EU
PENSEI ASSIM EU VOU PASSAR PRA FAZ4ER
PARTICULAR MESMO QUE EU PASSAR
MUITO APERTO EU VOU FAZER
PARTICULAR PRA CUIDAR DELE
DIREITINHO ELES PEGARAM E ME
AJUDARAM FIZERAM OS EXAMES
PAGARAM OS EXAMES PRA MIM
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
RAIMUNDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
51
PAGARAM CONSULTA NANANNA MEU
FILHO NANANA E GRACcedilAS A DEUS
FICOU JOIA ENTAtildeO FOI MUITO BOM Eacute
UMA COISA QUE EU AGRADECcedilO A
ELES NUNCA VOU ESQUECER DISSO
FOI A TURMA QUE REUNIU E FEZ PRA
MIM
IH JAacute CUIDEI DE CACHORRO DE
ESTUDANTE
VCS ACREDITAM QUE ELES TINHAM
QUATRO CACHORRO ELES VIAJAVAM
PRA CASA DA MAE DELES E FALAVAM
COMIGO ASSIM Ocirc DONA LELEacute COMO Eacute
QUE A GENTE VAI FAZER COM ESSES
CACHORRO DEIXA COM A SNEHORA
OU AQUI AH MAS EU TO COM MEDO
DE LEVAR LA PRA CASA ESSES
CACHORRO FUGIR PQ A GENTE MORA
NA ROCcedilA PQ Eacute PERIGOSO NEacute E A
PAIXAtildeO DELES Eacute O CACHORRO E EUE
TAMBEacuteM GOSTO MUITO DE
CACHORRO MAS ACONTECE QUE EU
TINHA QUE UM O PEDRO FALOU
COMIGO ASSIM A SENHORA LEVA PRA
CUIDAR NAtildeO MELHOR EU VIM PQ AIacute
TEM O LUGAR DELES DE DORMIR Q JAacute
TO ACOSTUMADO PEGUEI ELES
VIAJOU SEMANA INTEIRA ESSES DIAS
SEMANA SANTA NATAL FERIADO AIacute
EU VOU E TRATO ABRO A PORTA OS
CACHORRO TUDO ME CONHECE
TRATAR ELES BEM TRATADOS DOU A
RACcedilAO DOU BANHO CONVERSO
MUITO ELES E VOU EMBORA AIacute LIGA
PRA MIM TA TUDO BEM DONA LELEacute
LIGA PRA MIM COMO Eacute QUE Eacute TA
TUDO BEM E O S CACHORRO TA TUDO
BEM PQ OS CACHORRO SENTE
SAUDADE DO DONO NAtildeO SENTE
TEM UMA TAMBEacuteM QUE ELA FOI
CHAMADA PRA SER MADRINHA DE
CASAMENTO AIacute O PAI DELA TAVA
MUITO APERTADO AIacute ELA FALOU
ASSIM AI CIDA COMO QUE EU VOU
FAZER
AIacute FIQUEI COM UMA DOacute EU GOSTAVA
DELA DEMAIS GOSTO ATEacute HOJE TEM
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
52
AIacute ELA CIDA COMO Eacute QUE EU FACcedilO CIDA
EU NAtildeO VO PQ Eacute CASAMENTO AIacute EU FALEI
NAtildeO PODE DEIXAR EU CONHECcedilO UMA
MENINA AIacute QUE TEM SOacute VESTIDO BONITO
AIacute LIGUEI PRA ELA ELA JAacute TINHA
MORADO EM UMA REPUacuteBLICA AIacute TAVA
MALCOM A FAMIacuteLIA AIacute PEGUEI AMIZADE
COM ELA E ELA SOacute VESTIDO BACANA E
ELA CIDA ELA NAtildeO VAI EMPRESTAR PRA
MIM AIacute EU PODE TER CERTEZA QUE
VESRIDO SERVINDO EM VOCEcirc ELA VAI TE
EMPRESTAR AIacute EU FALEI COM ELA ELA
NAtildeO TA CONDICCcedilOES VAI SER MADRINHA
PRECISANDO DE UM VESTIDO PRA ELA
PODER SER MADRINHA AH CIDA MAS
COMO QUE EU VOU EMPRESTAR ISSO AIacute
EU FALEI COM ELA NAtildeO TE DOU
GARANTIA ELA Eacute GENTE BOA QUE ISSO
CIDA PODE DEIXAR ELA FOI ENCONTROU
COM A MENINA MARCOU ENCONTRO NO
LUGAR ONDE EU TRABALHAVA COM A
MENINA E ELA FOI LEVOU VESTIDO FICOU
LINDO E FOI MADRINHA NESSE
CASAMENTO
AIacute VAI EU TENHO A MARCA ATEacute HOJE NO
FINAL DA HISTORIA AGORA QUE EU
TRABALHEI PRA ELE QUE MARCOMO ELE
FORMOU ELE TINHA UMA MAQUINA E EU
FALEI SE DEUS QUISER DEPOIS QUE EU
PARAR DE CONSTRUIR VOU COMPRAR
UMA MAQUINA DESSA PRA MIM AIacute ELE
FALOU COMIGO ASSIM QUE ELE ERA
MUITO BRINCALHAtildeO ENTAtildeO A GENTE
NAtildeO CONFIAVA MUITO QUE ELE FALAVA
ASSIM NEacute CONFIAVA E ASSIM MAS ELE
NAtildeO TINHA CONDICcedilAtildeO FALAVA ldquoMAS Oacute
CACILDA PODE DEIXAR DONA CACILDA
EU TO INDO PRA PARAacute EU VOU
EMPREGAR NO DIA QUE DAacute DOIS ANOS
EU VOU TE DAR ESSA MAQUINA DE
LAVARrdquo AIacute ELE PROMETEU ISSO PRA MIM
AIacute EU FALEI ASSIM AH CE TA ZUANDO
MINHA CARA ONDE Eacute QUE VOCEcirc VAI ME
DAR UMA MAQUINA DE LAVAR
CIDA
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
53
GC Pedro Mota-
estudante de
engenharia florestal
ENTAtildeO SEMPRE O PESSOAL DA CASATINHA
O CODORNA O CORNINHO TINHA A
TRADICcedilAtildeO TEM A TRADICcedilAtildeO DE TODO
NATAL DAR NO MIacuteNIMO UMA CAIXA DE
BOMBOM PRA ELA OU ALGUMA COISA
RELACIONADA A GENTE QUE Eacute MORADOR
DE ALOJAMENTO A GENTE SOFRE UM POUCO
AS CONDICcedilOtildeES FINANCEIRAS ESSAS COISAS
AIacute O PESSOAL FALOU ASSIM NAtildeO CACILDA
SE EU CHEGAR A TER DINHEIRO EU VOU TE
DAR UM PRESENTE ASSIM ASSIM AIacute O
CORNINHO FOI O MARCONE FORMOU EM
AGRONOMIA HOJE ELE TRABALHA NO PARA
ELE PROMETEU ELA FALOU Oacute CACILDA EU
VOU TE DAR UMA LAVANDERIA NEacute UMA
MAQUINA DE LAVAR AIacute ELE ME
PERGUNTOU NO FACEBOOK E AIacute PEDRO
DESCOBRE SE A CACILDA TA PRECISANDO
DE UMA MAQUINA DE LAVAR OU O QUE
QUE ELA TA PRECISANDO
AIacute ELE JOGANDO VERDE PRA COLHER
MADURO ELE CONVERSANDO COMIGO E
TUDO AIacute ELE Ocirc CACILDA QUE QUE VC
GOSTARIA DE GANHAR NO NATAL AIacute EU
FALEI ASSIM SE EU FALAR COM VOCEcirc QUE
QUE PRECISO VOCEcirc VAI ENCHER O
CAMINHAtildeO E LEVAR LAacute PRA CASA
BRINCANDO COM ELE
NAtildeO QUE ISSO NE ASSIM NAtildeO NE MAS AIacute
EU ACABEI ARRANCANDO DELA QUE ELA
PRECISAVA DE UMA TELEVISAtildeO
AIacute EU FALEI MAQUINA EU NAtildeO TO
PRECISANDO MAIS NAtildeO QUE EU JAacute
COMPREI AGORA TELEVISAtildeO SIM TO
PRECISANDO TO DOIDA COM UMA
TELEVISAtildeO DE TELA PLANA VC VAI ME DAR
UMA TELEVISAtildeO AIacute ELE NAtildeO DE JEITO
NAtildeO NEM NOacuteS TEM AQUI
AIacute EU FALEI COM O FORNINHO QUE ENTAtildeO
VAMO COMPRAR UMA TELEVISAtildeO PRA ELA
DE 42 POLEGADAS TELA PLANA
QUANDO FOI JANEIRO CHEGOU UMA
TELEVISAtildeO PRA MIM LAacute
PEDRO MOTA
CACILDA
PEDRO
CACILDA
PEDRO
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
54
A GENTE FOI LAacute NO FUNDAtildeO ONDE QUE ELA
MORA LEVAMOS A TELEVISAtildeO PRA ELA
NAtildeO SABIA DE NADA ELA FICOU SURPRESA
CONHECEMOS A FAMIacuteLIA OS FILHOS ASSIM
DELA TRABALHAM AQUI TAMBEacuteM TODO
MUNDO FICOU ASSUSTADO COM A
SURPRESA BRINCANDO COM ELA MAS FOI
BACANA A GENTE VIU QUE ELA FICOU
MUITO AGRADECIDA A MAtildeE DO CORNINHO
FOI LAacute TIROU FOTO COM A GENTE ELE
CASOU E ELE FALOU QUE ESSA Eacute UMA DAS
RECORDACcedilOtildeES QUE ELE QUERIA GUARDAR
ASSIM
TEVE VEZES QUE JAacute TIVE APERTADA
TAMBEacuteM EU VIA QUE ELES NAtildeO TINHAM
CONDICcedilOtildeES DE FICAR MEAJUDANDO MAS
ME AJUDARAM TAMBEacuteM NAQUELE APERTO
DELES REUNIRAM E ME DERAM AJUDA
VIRA E MEXE DE VEZ EM QUANDO TEM UM
QUE NAtildeO CIDA NAtildeO ASVEZES TEM HORA
QUE EU NAtildeO GOSTO NEM DE FALAR CIDA TA
TUDO BEM TEM UNS QUE EU NAtildeO POSSO
NEM CONTART MEUS PROBLEMA QUER
TENTAR ME AJUDAR A RESOLVER SABE
UM DIA TEVE UM QUE FICOU DEITADINHO
LAacute E DEIXOU UM BILHETE PRA MIM ASSIM
AH Eacute COMO QUE Eacute O APELIDO DELE XUXA
AIacute TAacute ASSIM DONA LELE NOVE HORAS ME
ACORDA PREU IR PRA UNIVERSIDADE AIacute
TODA HORA QUE EU OLHAVA NO QUARTO
TAVA COM A CABECcedilA COBERTA OLHAVA
DE NOVO TAVA COM A CABECcedilA COBERTA
AIacute COITADINHO DEVIA TER CHEGADO
TARDE DA NOITE NEacute AH NAtildeO VOU LAacute
CHAMAR ELE NAtildeO VOU NADA AI PENSEI
MEU DEUS ELE VAI PERDER A AULA AIacute
VOLTAVA DE NOVO TA COM A CABECINHA
COBERTA AH NAtildeO VOU NAtildeO AIacute FICAVA
SEM SABER AIacute QUANDO ELE LEVANTOU
AAAH DONA LELEacute A SENHORA NAtildeO EM
CHAMOU A EU IA TE OLHAR LAacute E VC TAVA
ASSIM SABE QUANDO DORME ASSIM EU
FICAVA COM DOacute AIacute VC ME DESCULPA VC
ME PERDOA
PEDRO
CIDA
DONA LELEacute
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
55
QUE EU SEI QUE EU ERREI PQ SE VC DEIXOU
O BILHETE ESCRITO LAacute ME ACORDA EU
ERREI NAtildeO ERREI
TEVE UMA VEZ QUE EU FUI NA COZINHA QUE
ELA TAVA LAVANDO A COZINHA QUE EU FUI
DE FININHO PRA NAtildeO SUJAR A COZINHA PQ
TAVA TUDO MOLHADA E ELA PATRICK QUE
FOI DONA LELEacute TA SUJANDO NAOtilde CALCcedilA O
CHINELO VC VAI ESCORREGAR O CHAtildeO TAacute
MOLHADO E ELA SUPER PREOCUPADA COM
A GENTE
Ocirc DONA LELEacute EU VOU CORTAR SEU CABELO
PORQUE ELES GOSTAM DE VER EU
BONITINHA NEacute QUE CORTAR CABELO
MENINO SABE QUANDO TEVE AQUELA COPA
AIacute ELES FALOU COMIGO EU VOU PINTAR O
CABELO DA SENHORA DE QUE DE VERDE
AH MAS CES VAO PINTAR MEU CABELO DE
VERDE QUE QUE EU VOU VIRAR VOU ME
JOGAR PEDRA NO MEIO DA RUA QUE ELES
GOSTAM DE ME VER BEM SABE
TEM UMA OUTRA TAMBEacuteM QUE PRECISAVA
DANCcedilAR QUADRILHA NEacute E ELA AI CIDA
COMO Eacute QUE EU VOU FAZER DANCcedilAR
QUADRILHA TO APERTADA DEMAIS AIacute EU
FALEI PERAIacute PODE DEIXAR CONHECcedilO UMA
MENINA QUE TEM UM VESTIDO DE
QUADRILHA RISO PRA VC AIacute FUI ATRAacuteS DA
MAE DA MENINA E PEDI A MENINA A MENINA
MORAVA LAacute PERTO DE CASA EU TINHA VISTO
ELA TAVA COM UM VESTIDO BONITO EU
FALEI TENHO CERTEZA ELA Eacute MAGRINHA
IGUAL VC EU VOU TENTAR SE A MAE DELA
EMPRESTAR EU CHEGO COM O VESTIDO PRA
VC AIacute LEVEI CONSEGUI O VESTIDO PRA VC
POSSO AJUDAR ASSIM EU GOSTO PESSOAS
ESTUDANTE EU FACcedilO DE TUDO
E VOCEcirc PRECISA VER A CASA QUE EU
TRABALHEI LAacute NO BAIRRO DE RAMOSO
RAPAZ PEGAVA A CANTAR PRA LAVAR O
BANHEIRO AIacute ELE FALOU ASSIM O DONA
LELEacute SENHORA GOSTA DE MUSICA NAtildeO
TINHA RADIO AIacute ELE FOI E COMPROU UM
RADIO PRA MIM
DONA LELEacute
PATRICK
DONA LELEacute
CIDA
DONA LELEacute
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
56
GC Geraldo
Bittencourt-
doutorando em
economia
MENINO MAS NO DIA QUE ELE COMPROU
UM RADIO PRA MIM RAFAEL QUE ELE
CHAMA HOJE ELE TA MORANDO LAacute NO
PARAISO COMPROU UM RADIO PRA MIM
POS A PILHA E POS O RADIO EM CIMA DA
GELADEIRA ELE POS ASSIM Ocirc DONA
LELEacute PRA SENHORA AH CE TA
BRINCANDO MENINO MAS ME DEU UMA
ALEGRIA NAQUELE DIA IH MAS EU
AGRADECI ELE DEMAIS
IGUAL OUTRO DIA EU TAVA COM UM
PROBLEMA COM A SKY acutePEDIA MEU FILHO
ELE QUE ME PEDIU PRA FAZER NEGOCIO
DA SKY AIacute EPDI PRA LIGAR PRA LAacute PRA
CANCELAR ESSE NEGOCIO PQ TEM HORA
QUE NAtildeO ENTENDO NEacute AIacute MEU FILHO
PEGAVA UM COISA AIacute FUI FALAR COM
UM ldquoNOSSA TO DOIDA PRA CANCELAR
ESSA SKY CADA UM DIA UM PRECcedilO AIacute
PECcedilO MEU FILHO PRA LIGAR PRA MIM PQ
TEM HORA QUE Eacute MUITA COISA EU NAtildeO
ENTENDOrdquo ldquoAIacute ELE PODE DEIXAR CIDA O
QUE VC TA QUERENDO EU TO QUERENDO
CANCELAR ESSE TREM PQ EU NAtildeO
GUENTO Eacute COISA PRA RESOLVER E MEU
FILHO NAtildeO RESOLVE AIacute ELE FOI PRA LAacute
SENTOU ASISM SENTEI LAacute NO QUARTO
DELE E FCOU MAIS DE DUAS HORAS E
MEIA PQ O NEGOCIO PRA CANCELAR VC
SABE COMO Eacute DIFIacuteCIL NEacute FIQUEI UM
TEMPAtildeO COMIGO ENQUANTO NAtildeO
RESOLVEU TUDO PQ ELES QUERIAM QUE
EU PAGASSE EU FALEI NAtildeO VAI PAGAR
NAtildeO VOU LEVAR NO PROCON ARRUMOU
AQUELA CONFUSAtildeO TODA E EU NAtildeO
PAGUEI NADA E PROBLEMA AIacute FOI
MUITAS VEZES RESOLVERAM PRA MIM
MINHA FAMIacuteLIA TODA CONHECE A CIDA
MEU PAI MINHA MAtildeE MINHA IRMA E A
MINHA OUTRA IRMA MAIS NOVA QUE
NAtildeO ESTUDOU AQUI MAS TAMBEacuteM
CONHECEU ELA ENTAtildeO LAacute E
CONVERSAVA COM ELA BASTANTE E JAacute
SABIA DO JEITO DELA ACOLHEDOR E
TUDO
DONA LELEacute
CIDA
GERALDO
BITTENCOURT
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
57
GC Jorge Ribeiro -
Advogado
TEVE UMA MENINA QUE EU CHEGUEI ELA
TINHA CAIacuteDO DE MOTO 0TAVA TODA
RALADA AIacute AS MENINAS QUE MORAVAM
COM ELA NAtildeO TAVAM NEM AIacute RPA ELA ELA
TVA DENTRO DO QUARTO AIacute EU CHEGUEI
EU SABIA QUE ELA TINHA CAIacuteDO AIacute NO
OUTRO DIA QUE EU FUI BATI NA PORTA DO
QUARTO DELA PRA VER COMO QUE ELA
TAVA ELA TAVA QUASE DESMAIANDO AIacute
NA HORA QUE EU CHEGUEI PERTO DELA
ELA JAacute DESMAIOU AIacute CONSEGUI PEGAR ELA
SOZINHA DENTRO DE CASA CONSEGUI
PEGAR ELA COLOCAR LAacute EM CIMA DA
CAMA E PERGUNTANDO PRA ELA NA HORA
QUE ELA FOI VOLTANDO PERGUNTANDO
PRA ELA SE TINHA COMIDO ELA NAtildeO TINHA
COMIDO NADA PQ ELA NAtildeO TINHA FORCcedilA
PRA SAIR DA CAMA E AS MENINAS QUE
MORAVAM COM ELA TAVAM NEM AIacute AIacute
QUE EU FIZ COM ELA TIVE QUE PEGA
PEGUEI UMA MACA FUI NA GELADEIRA
ABRI A GELADEIRA QUERO NEM SABER DE
QUEM QUE Eacute ISSO PEGUEI UMA MACcedilA
CORTEI UMA MACcedilAtilde UMA COLHERZINHA E
FUI RAPANDO EU VI QUE ELA TAVA
DESMAIADA DE FRAQUEZA E FUI RAPANDO
A MACcedilA ASSIM COLOCANDO NA BOCA
DELA DEVARGAZINHO AIacute QUE ELA FOI
COMENDO VOLTANDO VOLTANDO
ELA SEMPRE GOSTA DE CONTAR PAPO
HISTORIA PRA GENTE DA FAMILAI DELA O
QUE EU ACHEI BACANA PQ AS VEZES A
GENTE ACHA QUE AS PESSOAS NAtildeO DAO
VALOR MAS AS PESSOAS HUMILDES
SEMPRE DA MAIS VALOR SEMPRE A COISAS
PEQUENAS POR EXEMPLO NA MINHA
FORMATURAPOR EXEMPLO VC DA CONVITE
PRA MUITOS AMIGOS E ELES RASGAM
FORA AIacute FUI NA CASA DELA APOacuteS A
FORMATURA AIacute TAVA O MEU RETRATO DO
LADO DAS FOTOS DOS FILHOS DELA FOI
UMA COISA MUITO BACANA QUE VC VEcirc
QUE ELA GOSTAMUITO DA GENTE TEM UM
CARINHO MUITO GRANDE COM ELA SAtildeO
OITO ANOS ELA TEM A CHAVE AS VEZES
ELA TA DE FEacuteRIAS ELA TOMA CONTA PRA
GENTE
CIDA
JORGE RIBEIRO
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
58
TENHO A CHAVE DA CASA ELES CONFIAM
EM MIM EU CONFIO NELES A CHAVE TA NA
BOLSA ALI ABRO O PORTAO ENTRO ELES ME
POtildeEM COMO SE EU FOSSE A DONA DA CASA
A MAtildeE DELES
ESSE MENINO ME ASSUSTA TEM DIA QUE
CHEGA PEacute POR PEacute DA CADA GRITO COMIGO
PRECISA DE VER IGUAL MAE E FILHO
MESMO CONSIDERA ELES IGUAL MEUS
FILHOS MESMO COM ESSAS DOIDADA DELES
FALEI COM ELES NUNCA NESSA CASA NAtildeO
PARA DE ENTRAR DOIDO NAtildeO SOacute VAI
ENTRANDO MAIS DOIDO
A CACILDA A GENTE TEM QUE DAR UM
SUSTOS NELA AIacute PQ SENAtildeO SE A GENTE NAtildeO
QUEBRAR O GELO UM POUCO FICA MUITO
MONOacuteTONO A GENTE FICA COM O QUARTO
FECHADO ELA FALA Ocirc MENINO VAI
ESTUDAR VOCEcirc TAacute AQUI PRA ESTUDAR FICA
PUXANDO ORELHA AIacute COMO FORMA DE
BRIUNCAR A GENTE ESCONDE ATRAacuteS DA
PORTA BATE PEacute NO CHAtildeO DAacute UM GRITO AIacute
ELA FICA ASSUSTADA
TODOS QUE EU TRABALHO EU CONSIDERO
DEMAIS A MOCcedilA QUE EU TRABALHO COM
ELA CONSIDERO TUDO COMO FILHO
CONSIDERO GOSTO DELES TUDO TUDO SAtildeO
OacuteTIMOS
MENINO QUANDO UM FORMA QUE VAI
EMBORA EU FICO RUIM EU FICO MUITO
TRISTE
EU CHORO ELES TAMBEacuteM CHORA EU CHORO
ASSIM NEacute EU FICO DOIDA PRA ELES
VOLTAREM MAS SEI QUE ELES TAO INDO
PRA UMA COISA BOA NEacute MAS DA TRISTEZA
QUANDO VC TA ACOSTUMADA COM AQUELA
PESSOA O DIA A DIA ASSIM CONTAR SEUS
PROBLEMA QUE A PESSOA TE AJUDA AJUDA
AQUELA PESSOA CONVERSA E TUDO AIacute
PESSOA VAI EMBORA SINTO FALTA DEMAIS
AIacute TEM UNS QUE LIGAM PERGUNTA QUANDO
TEM QUE VIR AQUI EM VICcedilOSA AIacute ME
PROCURA ME LIGA CIDA ONDE Eacute QUE VC TAacute
EU TO EM TAL LUGAR
DONA LELEacute
CACILDA
PEDRO
RAIMUNDA
DONA LELEacute
CIDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
59
CREacuteDITOS
Afeto diaacuterio Filme de Michael Maia Orientaccedilatildeo Mariana Procoacutepio Imagens Mariana
BelloziMichael
MaiaRaul
LucianoSamuel
Salles
Arte capa Felipe Eller
Muacutesicas Jai pas ndash
Lohstana David
Coastal Path ndash Dan
Falvey Once I Went
You - Kara Square
Logo COM
AIacute CHEGA LAacute PRA ME ABRACcedilAR DESSE
JEITO Eacute UMA AMIZADE QUE FICA
MESMO
AIacute A MAE VEM CONVERSA COMIGO
TOMA CONTA COMIGO SE PRECIASAR
DAR UMA XINGADINHA EU DOU PQ A
MAE A MAE EU SOU MAE EU SEI COMO
QUE Eacute FILHO SAI VC FICA EM TEMPO DE
DAR UM TROCcedilO EU TENHO ELES COMO
FILHO MESMO DO JEITO QUE EU FACcedilO
PRA ELES EU FACcedilO PROS MEUS
FILHSOQUE PUDE RFAZER EU FACcedilO
MESMO
QUE ELA Eacute MUITO MAS MUITO APEGADA
MESMO COM A MINHA IRMA E NA
EacutePOCA ELA FALOU QUE TINHA NUMA
FESTA DE CRIANCcedilA TINHA PEGADO UNS
DOCINHOS LEVADO PRA CASA E
GUARDOU NA GELADEIRA UNS
DOCINHOS E O FILHO DELA FOI PEGAR E
ELA FALOU PRA ELE NAtildeO PEGAR QUE
ERA PRA MINHA IRMAtilde E O FILHO DELA
FICOU COM CIUacuteMES ATE POR CAUSA
DISSO QUE ELA TINHA GUARDADO OS
DOCINHOS PRA MINHA IRMAtilde
EU TENHO UM FILHO MEU MAIS VELHO
ELE TEM CIUacuteMES DOS ESTUDANTES NAtildeO
POSSO FICAR FALANDO MUITO NAtildeO Ocirc
MAtildeE OS ESTUDANTE DA SENHORA FALA
DESSE JEITO NAtildeO ANDREacute QUE ISSO MEU
FILHO EU GOSTO DE VC TAMBEacuteM
NAtildeO EU NAtildeO LARGO ESTUDANTE DE
JEITO NENHUM SOacute SE ELES ME
MANDAREM EMBORA MAS MUITOS
ANOS JAacute QUE EU TRABALHO E VOU SE
DEUS QUISER VOU CONTINUAR
NINGUEacuteM ME ABORRECE NAtildeO
AH NAtildeO QUERO LARGAR NAtildeO
ENQUANTO EU ESTIVER AGUENTANDO
EU VOU TRABALHANDO EU POSSO
APOSENTAR SE ELES TIVEREM ME
DANDO SERVICcedilO EU TIVER
AGUENTANDO EU VOU TRABALHAR SE
DEUS QUISER
CIDA
DONA LELEacute
GERALDO
CIDA
DONA LELEacute
CACILDA
