Agamben - O elogio da profanação

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    ELOGIO DA PROFAN/\ ;/\

    Sacrificio di /sacco, de Michelangelo Merisi da Caravaggio, tela de 1603-4.Gall~ria deqli uffizi, Florance

    Os juristas romanos sabiam perfeitarnente 0 que signlf a "prolilll.lI,1I "i II',llld I~ou rel igiosas eram as coi sas que de a lgum modo pcncn iarn :tlll, d '1 IIIn L : '1 11 11 1tais, elas eram subtraidas ao livre uso e ao comet-do dos ho m 'II~, un u 11, ,0111111ser vendidas nern dadas como fianya, nem ced idas em usufruro l)lIl1l,IV Idil~ II Iservidao, Sacrf lego era todo ate que violasse ou rransgredisse ~1.1' ,1111 I ,'J IIII Iiindisponibilidade, que as reservava exclusivamente aos douses " 1 , , , . 1 , ' (III Icaso eram denominadas propr iamente "sagradas") ou infemals ( rH '~~{ 'I ,I ' 111 '1 uusimplesrnenre chamadas "religiosas"). E se consagrar (sacrare) era 0 I'I'!Il11 filiidesignava a saida das coi sas da esfera do d irei to humano, pl 'Of a n : 1 1', pOI' ~ llo l v ' / ,significava restituf-las ao livre uso dos hornens. "Profano" - podln (..~{'VI'I ,Igrande jurista Trebacio - "em sentido pr6prio denomina-se aquilo que', ,I,'~ioso que era, e devolvido ao usa e a _r_fopriedadc c!1)S!IOIII 1 1 ' 1 " ,E "puro" era 0 lugar que havia side desv inculado da sua destinacio n ox c h'l I ,r 'dos marcos e ja nao era "nern sagrado, nem santo, nem religiose, Iibcll IltiO dr'codas as nomes desse genera" (D. 11, 7, 2).

    Puro, profano , l ivre dos names sagrados, e a que e restituido no 1 1 1 11 ) ( IImum dos hornens. Mas 0 usa aqui nao aparece como alga na tura l; :d.i:k 'Ii, Itern acesso ao mesmo au-aves de uma protanacao. Entre "usar" C "p 1'01 .1 " ,I I "parece haver uma relacao espec ial , que e importante esclarecer.

    Pode-se def inir como religiao aquilo que subtrai coisas, lugares , auim.rls flilpessoas ao uso cornum e as transfere para uma esfera separada, Nao s6 nnn 1 .religiao sem separacao, como toda separacao contern au conserva em o i 11111nucleo genuinamente rel igioso. 0 di sposi tive que rea li za e regula a separa~.HIII

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    " '"I( !iIi. I , , : ,III,IV,', d, 111,1.1,,1t ti l 11111.1.II I I I ' 1,,11 ,1111, III 1,It", '111',iIIHI";1v.lrinl.ldl' d.l~ l UIIIIl.I", "'III" I hilil II' t\ 1.111." 11\'1uuu r.u.uu 1 ',1110'11,,"'111,'1111,elc esrnbelcce, em tlJdn ';I.~O,;Ip;1S~:lgt'111 . I 1 1 ~ 1 ' d'l jll'lILLIILI.l!':l 'J S,lf~":lll(), d,lesfe ra hurnana para a divina. J ~ ' .esscncial o \.lIl'll' II.'I ,~cp:lr:las Lilias 'Sr~'I':IS,'Iimlar que a vi tirna deve at ravessa r, nfio importando se nu m scntldo OLI nOII-tro. 0 que foi separado ritualmente pede set' restitufdo, mediante 0 rite, ilesfe ra profana. Uma das formas mais simples de profanacao ocorre atravcs d 'contato (contagione) no rnesmo sacri ficio que realiza e regula a passagem eL ivitima da esfera humana para a divina. Uma parte del a (as entranhas, ex ta: 0Hgaclo, 0 coracao, a vesicula bil lar, os pulmoes) esta reservada aos deuses, en-quanto 0restante pode ser consurnido pelos hornens . Bas ta que os par ticipan-tes do rito to quem essas carnes para que se tornem profanas e possam sersimplesmen te comidas. Hi um contagio profano, um tocar que desencanta edevolve ao uso aquilo que 0sagrado havia separado e petrificado.

    A passagem do sagrado ao profane pode acontecer tarnbem por meio deurn uso (o u melhor, de urn reuso) totalmente incongruente do sagrado. Trata-se do jogo. Sabe-se que as esferas do sagrado e do jogo estao estreitarnentevinculadas. A maio r ia dos jogos que conhecemos der iva de antigas cer imoniassac ras, de ritua is e de prati cas divina torias que outrora pertenciam a esferareligiosa em sentido amplo. Brinca r de roda era origina lmente um ri to matri-

    1IIIIl li,d, 1111",111111111111.1l'I"'I,1I11 ,l 111[,1I"" ", II 'I ! " 1,,1.11")','" tiP " d , " ' ,jll!',O,~ c l . . 1".,11klIV,1111d' pr :ILi 'a s ula 1 1 1 : 1 1 1.~II p L J ( C (J j O ) ' , o .iI' x,ltlWI '1,1111iustrurn .ntos J.e adivinhacao, Ao analisar a rcla .50 entre jllgll (' rit, 1',11111,Benveniste mostrou que 0 jogo nao so provem cia csfe ra do ~: Ij',r: tdo, 111.1',tarnbem, de algum modo, representa a sua inversao. A potencin do ,IIII '"Igrado - escreve ele - reside na conjuncao do mito que narra a hblt'lri:t 11'111o rito que a reproduz e a poe em ceria. 0 jogo quebra essa u nidu d ': ,," II"ludus, ou jogo de acao, faz desaparecer 0 mito e conserva 0 ri to; .om, I./''' 1/1,ou jogo de palavras, ele cancela 0 rito e deixa sobreviver 0 rni to . "Sc 0 ,~,lj',1Ido pode ser definido arraves da unidade consubstancial entre 0 III i1q (' (Irito, poderiamos dizer que hi jogo quando apenas metade da opcr; ll"lcl ',,\grada e realizada, traduzindo so 0 mito em palavras e so 0 r ito em ac,n,"""

    Isso significa que 0 jogo libera e desvia a hurnanidade da esfera do sa!"I .I II II ,mas sem a abolir simplesmente. 0 uso a que 0 sagrado e devolvido ~ 11111 11' " iespecia l, que nao coincide com 0 consumo utilitarista, Assirn , a "p ro l iuuu ,II,"do jogo nao tern aver apenas com a esfera religiosa. As criancas, que brin. ,IIIIcom qua lquer bugiganga que lhes caia nas rnaos, t ransfonnam em br.illql ll'diltarnbern 0que pertence a esfera da economia, da guerra, do direito . d,I"out ras atividades que esta rnos acosturnados a considerar se rias. Um f IU[OIUo' ,vel, uma arma de fogo, um contrato juridico transformam-se improvis.ul.rmente em brinquedos. E comum, tanto nesses casos como na profan;ll ;~lI d ..sagrado, a passagem de uma religio, que ja e percebida como talsa OLl ()prl,,~qra, para a negl igencia como v e ra r e fi gi o. E essa nao signif ica descuido (ncul .nrna atencao resiste ao confronro com a da crianca que brinca), mas lima Ii(lV,1dimensao do uso que criancas e f il6sofos conferem a humanidade. Tra(a-s ' ti (urn uso cujo tipo Benjamin devia tel' em mente quando escreveu, em 0 1 1 1 1 1 1 0advogado, que 0 direito nao rnais aplicado, mas apenas esrudado, e a porra d,ljustica , Da. mesrna forma que a religio nao mais observada, mas jogada, all)(' , Iporta para 0 uso, assim tambern as potencias da eeonomia, do direito l' d,lpoli tica, desativadas em joga, tornarn-se a porta de uma nova fel icidack,

    I I

    o terrno religio, segundo uma etimologia ao mesrno tempo insipida e irie-xata, nao deriva de l 'e iigare (0 que liga e llne 0 humane e 0 divino), mas der e lege re , que indica a a titude de escrupulo e de atencao que deve caracteri zar asrelacoes com os deuses, a inquieta hesi tacao (0 "rele r") perante as formas - e asformulas - que se devern observar a om de respeitar a separacao entre 0 sagra-do eo profano. Religio nao eo que une hornens e deuses, mas aquilo que cuidapara que se mantenham dist intos. Por i sso, a religiao nao se opoern a incredu-lidade e a indiferenca com relacio ao divino, mas a "negligencia", uma ati tudelivre e "distraida" - au seja, desvineulada da reLigio das normas - diante dasco i sas e do seu uso, diante das formas da separacao e do seu significado. Profa-na r signifi ca abrir a possibilidade de uma forma especial de negligenc ia, queignora a separacao, ou melhor, faz dela urn usa parti cular.

    o jogo como 6rgao c ia profanayio esta em decadenc ia em todo lugar. ()III'o ho rnem moderno ja nao sabe jogar fica provado prec isamente pe la mul t ipl icacao vertiginosa de novos e velhos jogos. No jogo, nas dancas e nas festas, l'j,

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    Os filologos nao cansam de ficar surpreendidos com 0 duplice e contradi-torio significado que 0 verbo projtmare parece ter em latim: pOl' urn lado, tor-nar profane, por outro - em acepcao atestada so em POLlCOSasos - sacrificar.Trata-se de uma amhiguidade que parece inerente ao vocabulario do sagradocomo tal : 0 adje tivo s a c e r , com 11111 contra-sense que Freud ja havia percebido,signi ficaria tanto "augusto , consagrado aos deuses" , como "rnaldi ro, excluldoda comunidade". A ambiguidade, que aqui esta em jogo, nfio se deve apenas aLIm equivoco, mas e , par assirn dizer, consti tu tiva da operacao protanatoria(ou daguela , inversa , da consagracao). Enquanto se referem a LImmesmo obje-to que deve passar do profane ao sagrado e do sagrado ao profane, tais 0pera-1.1na ent re eles . No mundo profano, e inerente ao seu corpo urn r siduo irl'l'

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    1\ .1'11111 1111.1.11"11' ,1111.1("101".11.1111,1'111,, ,111,111111/,101 VIII (. II IJIIIII.IIl.I I",ilv,S'III pl'es -ntcs scm ;!Illhigiiid:ld ua rncsma P'SSU:l, assi rn t'Ol110 .i 11':111.'.1111',tanciacao ga.-antia que as cspcci .' do pio e do vinho sc translormas, Ill, ~c'llIrestduos, no corpo de Cristo. Acontece assim que, no cristianismo, CIII!! ,Ientrada de Deus como vitima do sacrificio e com a forte prc,~enl1ade rend ~Ilc ias rnessianicas que colocaram em cri se a di st incao ent re 0 sagraclo c 0 pruhno, a rnaquina religiosa parece aicancar um ponto limirrofe ou uma ZOI1~ < I t indec idibi lidade, em que a esfer a divina esta sempre prestes a colapsa r na esK:r:1humana, e 0 homern ja transpassa sempre para 0 divino,

    o capitalismo como religido e 0 t itulo de urn dos mais profundos fragmentospostumos de Benjamin. Segundo Benjamin, 0capitalismo nao representa ape-nas, como em Weber, uma secularizacao da fe protestante, mas ele proprioe , essencialmente, urn fenomeno re ligioso, que se desenvolve de modo para-sit ario a part ir do cristi ani smo. Como ta l, como re lig iao da rnodernidade , ele edefinido par tres ca rac tedsti cas: 1, E urna religiao cultual, ralvez a mais extremae absoluta que jamais tenha exisrido. Tudo nela tern signifi cado unicamentecom reterencia ao cumprimento de urn culto, e nao com respeiro a urn dogmaou a urna ideia, 2. Esse culto e permanente; e "a celebracao de um culto sanstreue et sans merci": Nesse caso, nao e possfve l d istinguir entre dias de Festa edias de traba lho, mas ha urn unico e ininterrupto dia de festa, em que 0 traba-lho coincide com a celehracao do cuito, 3, 0 culto capiralista nio esta voltadopara a redericao ou para a expiacao de urna culpa, mas para a propria culpa.

    o capitalismo e talvez 0 un ito caso de urn culto nao expiador, mas culpabilizante[ . . . J Uma monst ruosa consc ienc ia culpave l que nao conhece redencao t ransforma-se em culto, nao para expiar com cle a sua culpa, mas para torna-la universal [.. ,J epara, ao final , envolver 0proprio Deus na culpa [... J Deus nao esra morro, mas foiinco rpo rado ao destino do homem.Prec isamente po rque tende com todas as suas for

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    () I, 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 I ' I . I' 'I ' ,I I , j illi , ; 1 1 1 ' . 1 1 1 1 1 ( 1 11I!llIl 1 1 1 i" " ." l o I l , I " I , " H IP ,I t I ,1 ! I l~ , ,1 1 I110 sccu lo Xl l l pcl.1 (:(,rl.,l{ullI.1)):lILO l'OIlI,t')(111Ill \!lulllill "111'1111"'1.,,',,'('t",a Ordcm dos Franciscar os. Na sua rcivindi 'a~'(LOd ;l ";111rS~illl.1 Pll!Jll"/,:t", ()~franciscanos afirrnavarn a possibilidade de urn LLSO rotalrn ' l let , ; dcsvin libel" d:tesfera do direito, que eles, para 0distinguir do usuf ruto e de qualquer outredireito de usa, chamavam de usus foeti, usa de fato (au do faro), Contra eles,joao XXII, adversario implacavel da Ordern, escreve a sua bula Ad conditoremcanonum. Nas co isas que sao objeto de consumo - argumenta de -, como 0alirnento, as raupas etc. , nao pode haver urn uso diferente daquele da proprie-dade, porque 0mesmo se define integralmente no ato do seu consumo, ouseja, da sua desrruicao (abusus). 0 consumo, que destroi necessariarnente acoisa, nao e senao a impossibllidade ou a negacao do uso, que pressupoe que asubsrancia da coisa permanec;:a intacta (salva rei substantia). Nao s o isso: urnsimples uso de fato, distinto da propriedade, nao existe natural mente, nao e ,de modo algum, alga que se possa "ter". "0 proprio ato do uso nao existenaturalmente nern antes de 0 exercer, nem durante 0 tempo em que se exerce,nem sequer depois de te-lo exercido, 0 consumo, rnesmo no ato do sell exer-cicio, sempre e ja passado all futuro e, como tal, nao se pede dizer que existanaturalrnente, mas apenas na memoria ou na expectativa, Portanro, ele naopede rer sido a nao ser no instante do seu desaparecimento ."

    Dessa marieira, com uma profecia inconsciente, joao XXII apresenta 0paradigma de uma impossibi lidade de usar que iria a lcancar seu cumprimentomuitos seculos depots na sociedade dos consumos, Essa obstinada negacio dolISO percebe, porem, a sua natureza mais radical mente do que eram capazes defaze-lo os Clue 0 reivindicavam dentro da ordem [ranciscana. I5S0 porque 0puro uso aparece, na sua argumentac;:ao, nao tanto como alga inexisrente - eleexiste, de fato, instantaneamente no ato do consumo - quanto, sobretudo,como algo que nunca se pode ter , que nunca pode constituir uma p r op r i e dade(c/mninium). Assim, 0 usa e sempre relacao com 0 inapropriavel, referindo-sea s coisas enquanto nao se podem tornar obJeto de posse. Desse modo, porern,o uso evidencia tambern a verdadeira natureza da propr iedade, que nao e maisque 0 dispositive que desloca 0 livre usa dos homens para uma esfera separada,na qual e convertido em direito, Se hoje os consumidores ria sociedade demassas sao infelizes, nao e so porque consomem objetos que incorporaram em

    " ,11'1"1" Iii 11,1"11'.,111111,1.1.11,1111,1111111II' ,."t"1 11101111"'1'1""I' 1,.111111I"'(')(II~(' III 11',\'11 .IIJr,111I i( [llllpill,d,ld, ...dlll' 11',11\1,111(0" 1"1111,11d'I,,'IIIlldllli ll' .1P , 1 '1 , ' ,' ; d II~ 1'111(,111.11,

    / \ l r u po ss i h il i da c l e t i t : usa r 1(.;1110 i,;UlLlgar lopil'() 110MII~('II. /\ 1l1I1',1lil ,11"1,,do mundo e auialmcntc om dado de Iaro. Um:1 ;lP(',~ out ra, pl'(igll'~~iv'llllj Ill, as potencias cspirituais que definiam a vida dos ho r n cn s -:1 ;11'1(', .1 1'1,111',I,lll,[ilosofia, a ideia de natureza, ate mesmo a politica - rctirura rn-xc, 11111,1.I 1 11 1 1 0 1,docilmente, para 0Museu. Museu nao designa, ness aso, urn 1 1 I 1 ' , a l (III II!IIespa~o f isico determinado, mas a dimensao separada para a qual ~~{l .III"I"1I ,Ique ha urn tempo era percebido como verdadeiro e decisivo, c agO!':l j, ! 11.111o Museu pode coincidir, nesse sentido, com uma cidade inteira (r~vor;l. Vrllt1,1,declaradas por iS50 rnesrno pat rimo nio da humanidade), com urn n'j',i,1I1 (iI,clarada parque ou oasis natural), e ate mesrno com urn grupa dt ' ill

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    E possfvel, porem, que 0 Improfamivel, sobre 0 qual se funda a religiaocapitalista, nao seja de fa to tal, e que atualmente ainda haja formas eficazes d 'profanacao. Por isso, e preciso lernbrar que a profanacao nao restaura simples-mente alga parecido com urn uso natural, que preexistia a sua separacao naesfera reiigiosa, econornica ou juridica. A sua operacao - como mostra comclareza 0 exernplo do jogo - e mais astuta e complexa e nao se limita a abolir aforma da separacao para voltar a encoritrar, alern au aquern de!a, urn usa naocontaminado, Tarnbern na natureza acontecem profanacoes. 0 gato que brin-ca com um novelo como se Fosse urn rata - exatamente como a criarica faziacom antigos simbolos religiosos ou com objetos que pertenciam a esfera eco-nornica - usa conscientemente de forma gratu ita as comportamentos propriosda ar ividade predator ia (ou, no caso da crianca, prcprios do culto religioso oudo mundo do trabalho). Estes nao sao cancelados, mas, grayas a substituicaodo novel a pelo rata (ou do brinquedo pelo objeto sacra), eles acabam desativadose, dessa forma, abertos a um novo e possivel usa.

    Mas de que uso se trata? Qual e, para 0 gato, a usa possive! do novelo? Eleco nsiste em libertar urn comportamento da sua inscricio generica em urnaesfera determinada (a atividade predatoria, a caca). 0 comportamento liberta-do dessa forma reproduz e ainda expressa gestualmente as formas da at iv idadede que seemancipou, esvaziarido-as, porern, de seu sentido e da relacao irnpos-ta com uma finalidade, abrindo-as e disporido-as para um novo uso. 0 jogoCOI11 a novelo represema a libertacao do rata do fato de ser urna presa, e clibertacao da atividade predatoria do fato de estar necessariamente voltada paraa captura e a morte do rata; apesar disso, ele apresenta os mesmos cornporta-mentos que def iniam a cac;:a.A atividade que dn f rcsulrn t orna-se dessa formaurn puro meio, au seja, uma pratica q lIC , C IllI IO I;1 n il!;( 'IV I' tennzrn .ntc a sun1,1HIll"C'l.a de mcio, se cmancipnu .In ~1I,1 1 ,( ,1 .1 1,,1 11 1 11 11 1 II I,,,, I ll ll ll ld .l ,[ ,', " Ml 'l t" ,.'1I

    A separacfio da -se tarnbem c sobreiudo 11:1 's r' ra do (!tIl"I, 1 1'1 11 1> I ' I IIe separacao de determinadas f uncoes fisiah')git:as, UnHl ,~ tld, t" ( ' ,I , I'" Itranstorrna-las em meios puros,

    Nada e, porem, tao fragil e precario como a csfc:r;1 t I(\,~ li1l'lm 1'"1 ii', I 1 11 1bern a jogo, 1 1 < 1 . nossa sociedade, tern carritcr episodic, dcp!lil, dn II'I d I vl d Inormal cleve rcuuu.ir ~(1I curse (c 0 WH O a sun (":l~':J), F { li ll '\ II I~ ll I 1 1 1( ,1 1 11 1 1 . 1' 1' 111 'as r ia ll~ ;IS ,\,t!1I" '"1111 I""It, ser '1rroz e iIHlllic'l'IIIIl' 11111IIIII I I' , " -. ' 1 11 "1 '1 (1 '1 11 11 1 1 " U. I1) (III()IIg' , IiI'11 11 , I I"I' II II',( ) ill,~ In I I II I' ll 1 ) d ,' I i I IeI I ,h "I ' , , 11 11 1 '1 I I ',I' II I lilt I I I

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    um novo uso.

    1...1.lllitlllit""I" d,,. 1111O)"I,"I"',1 vldl11I1.1 "~I 1111 '1""11 VII 11'1,. 111.1~ '111''llI.d'lll(1 IIII!III. 11.11"(" u- r 1,.di/"I,j(l II ' ;

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