Ágora Jornal 2012 - ED 06

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Semelhanças que fazem a diferença Adoção: um ato de amor que conquista novos adeptos a cada ano jornal Guarapuava-PR, 2012 Ed. 06, ano 02 Ágora, ideias jornalísticas Foto: Yarê Protzek p. 03 Ágora Laços genéticos que se transformam em laços de solidariedade: é esse o objetivo que o projeto Padrinhos de Sangue pretende proporcionar. A iniciativa do Hemocentro de Guarapuava facilitará o tratamento de pacientes com doenças crônicas. p. 8 Mulheres lutam contra o machismo e a violência em Guarapuava p. 10 As desvantagens da redução do IPI para os carros zero p. 05 Sete tecnologias clássicas da web 1.0 que ‘quase’ fazem falta p. 12

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Semelhanças que fazem a diferença

Adoção: um ato de amor que conquista novos adeptos a cada ano

jornalGuarapuava-PR, 2012 Ed. 06, ano 02

Ágora, ideias jornalísticas

Foto: Yarê Protzek

p. 03

Ágora

Laços genéticos que se transformam em laços de solidariedade: é esse o objetivo que o projeto

Padrinhos de Sangue pretende proporcionar. A iniciativa do Hemocentro de Guarapuava facilitará o

tratamento de pacientes com doenças crônicas. p. 8

Mulheres lutam contra o machismo e a violência em Guarapuava p. 10

As desvantagens da redução do IPI para os carros zero p. 05

Sete tecnologias clássicas da web 1.0 que ‘quase’ fazem falta p. 12

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Departamento de ComunicaçãoCoord. Prof. Edgard Melech

Jornal LaboratórioProf. Anderson Costa

Editor-chefe da edição 06Mário Raposo Jr.

RedaçãoAna Carolina Pereira, Bárbara Brandão, Ellen Rebello, Gabriela Titon, Giovani Ciquelero, Helena Krüger, Nathana D’Amico, Katrin Korpasch, Luciana Grande, Mario Raposo Junior, Poliana Kovalyk, Vinícius Comoti, Yorran Barone e Yarê Protzek

Tiragem: 500 exemplaresGráfi ca Unicentro Contato: (42) 3621-1088E-mail: [email protected] Download das ediçõeswww.unicentro.br/agora e www.redesuldenoticias.com.br

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“QUEREM ME SALVAR, QUEREM ME CURAR DO QUE EU NÃO SOFRO.QUEREM ME CURAR, QUEREM ME SALVAR, MAS EU SÓ OUÇO”.Ágora

O circo está na cidade

jornalTrecho da música “Mentiras”, da banda Titãs. A faixa está no álbum “Jesus não tem dentes no país dos banguelas”.

Mário Raposo Jr.Ruas estão sendo asfaltadas,

obras fi nalizadas e, principal-mente, a cidade está mais fl orida. É, estamos em ano eleitoral, épo-ca em que toda a inércia dos últi-mos três anos é rompida para se mostrar serviço no fi nal do man-dato. Uma forma de dizer “é isso o que eu posso fazer, caso eu seja reeleito. Então, votem em mim”.

É nessa época também que vemos novas e antigas fi guras nos trazendo a promessa de uma

solução para todos os problemas da cidade. Segundo eles, a edu-cação e a saúde de Guarapuava fi carão melhores do que nunca e o progresso fi nalmente dará as caras por esses lados. Eu gos-taria muito de acreditar nisso, quem não queria? Mas é difícil de acreditar que algo possa mu-dar enquanto nossos queridos políticos continuam os mesmos, senão nos rostos, pelo menos nos sobrenomes.

Desculpem-me pelo meu ce-ticismo, mas há 22 anos conhe-cendo essa cidade, foi pouco o progresso que vi chegar. Inclu-sive, vi cidades menores nos ul-trapassar, enquanto nós fi camos somente nas promessas. Não que Guarapuava seja uma cida-de ruim, longe disso, mas a parte política faz com que ela não con-siga atingir seu potencial. Quem sabe uma reformulada nesse as-pecto traria o tal do progresso de

que tanto falam e não mostram.Mas, enquanto essa mudan-

ça não surge, nos resta torcer para que, nessa nova leva que está vindo, apareça alguém que realmente traga algo mais para Guarapuava do que notícias ruins, estátuas bizarras e flores nas ruas. Enquanto isso, o jei-to é aproveitar as reformas que o ano eleitoral nos trouxe, até porque, mais dessas, só daqui a quatro anos.

“Tiago Silva é cartunista, designer de jornais, artista gráfi co, chato, hiperativo, ateu, muito chato, pai, marido, petulante, chato pra caramba. Se acha cronista e toca bateria nas escassas horas vagas. Tem 26 anos, nasceu em São João do Ivaí, mudou-se há cinco para Campo Mourão, ambas cidades do belíssimo estado do Paraná. Sim! Ele é super bairrista! E chato!” Tiago Silva

ao leitor

tirinha

expediente

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infância

Um novo lar, uma nova esperançaA ADOÇÃO TEM GANHADO MAIS ADEPTOS NOS ÚLTIMOS ANOS. CONHEÇA O PANORAMA DESSE PROCESSO EM GUARAPUAVA E SE APAIXONE POR ESSA AÇÃO

Matéria e diagramação:Bárbara Brandão

O ato da adoção já foi restrito a um pequeno grupo e visto como algo assustador e contestado. Com o passar dos anos, as leis foram se alte-rando e muita coisa mudou. Desde a década de 90, o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) ampliou a adoção para um maior número de pessoas, homens e mulheres, não importa o estado civil, desde que sejam maiores de 18 anos de idade e ofereçam um ambiente familiar adequado. Pessoas solteiras, homos-sexuais, viúvas ou divorciadas que tenham estáveis condições socioe-conômicas podem candidatar-se à adoção de uma criança.

De acordo com a assistente social do Saij (Serviço Auxiliar da Infância e da Juventude) Luciana Marcondes Almeida, a comarca de Guarapua-va abrange também as cidades de Campina do Simão, Turvo, Candói e Foz do Jordão, reunindo quatro ins-tituições que abrigam crianças. “Nós temos a Casa Lar de Candói, em Foz do Jordão a Casa Abrigo Benjamin Kraus, em Turvo a Associação Ca-naã de Proteção à Infância, em Entre Rios outra Associação Canaã e aqui na cidade temos a Fundação Prote-ger”. De janeiro de 2012 até o mês de junho, o Saij de Guarapuava realizou 35 adoções.

Essas instituições abrigam cerca de 120 crianças, algumas em busca de uma família e outras em situação

de risco, isto é, crianças que os pais não possuem condições de educar devido ao uso de entorpecentes ou abuso sexual. Nesses casos, o SAIJ propõe aos pais um programa de recuperação para ter o fi lho de vol-ta; se eles corresponderem o fi lho é liberado, caso contrário, a criança é encaminhada para o cadastro de adoção. “Nesse momento, a criança mais nova que nós temos liberado para adoção é de quatro anos, mas ela tem algumas implicações por ser uma criança especial. E a criança mais velha tem 17 anos”.

Em 2009, a lei federal 12.010, conhecida como Lei da Adoção, foi modifi cada, adicionando novos requisitos para quem deseja adotar. A lei instituiu que são necessários que todos os casais passem por uma preparação social, com ações como participar de grupos de apoio e pas-sar por entrevistas e orientações com profi ssionais de direito e psicologia. “Quando o pretendente chega até nós, já encaminhamos a documen-tação, as orientações que deve pro-curar. Também fornecemos infor-mações sobre o processo, mas o juiz quer ter certeza que realmente os pais já sanaram todas as suas dúvi-das e têm conhecimento sobre o que é a lei e seu caráter irreversível”.

É comum que alguns requeren-tes procurem, no momento do ca-dastro de adoção, perfi s de crianças

que se aproximem com o biótipo da família. Um dos fatores que favore-cem a demora da adoção está dire-tamente relacionado com o perfi l de criança escolhido pelo casal. “Ainda é normal que os casais busquem crianças de 0 a 2 anos, mas trabalho aqui há bastante tempo, posso dizer que mudou esse perfi l. Já consegui-mos liberar crianças de 0 a 5 anos sem problemas. De 5 a 10 temos algumas difi culdades, mas a gen-te consegue. Crianças acima de 10 anos existe um caso ou outro, mas às vezes dá certo”.

A adoção tardia (acima de três anos) está nos processos mais di-fíceis de desenvolver. “Existe uma diferença grande entre a criança sonhada e a criança real. A criança sonhada é o bebê recémnascido que foi tirado do hospital. No abrigo, não existe essa criança. Quem está conosco são crianças de cinco e seis anos que desejam uma família.”

Na lei de 2009, os pretendentes a pais devem fazer duas visitas às ins-tituições para ter conhecimento de como funciona uma casa lar, como essas crianças vivem. Na última eta-pa, uma equipe do SAIJ promove vi-sitas à casa do requerente, e só então a juíza Rafaela Zarpelon aprova o cadastro de adoção. Atualmente, 53 pessoas estão na lista de espera para adotar, no entanto, esse número va-ria semanalmente.

Mesmo após a adoção, há um período de acompanhamento do SAIJ no processo de adaptação da criança e da família. “O juiz é res-ponsável por designar o prazo. O primeiro ano de adaptação é sempre mais difícil, por isso é importante esse acompanhamento e o grupo de apoio”. De acordo com a assistente social, devido a modernização da lei e a própria mudança na constituição familiar, o preconceito tem alcança-do índices menores. “É importante deixar claro que hoje para adotar não precisa ter casa própria ou uma renda alta. Pouco importa se o inte-ressado ganha um ou dois salários, o que a gente procura são pessoas que sejam bons pais e que possam lidar com a situação da adoção”.

Grupo de Apoio GamaA lei solicita que os interessados

em adotar passem por uma prepara-ção social e frequentem pelo menos três reuniões de grupos de apoio. O professor e psicólogo Matheus Brandão é o responsável pelo Gru-po Gama, realizado em um período quinzenal na Faculdade Guairacá. “O grupo é aberto. Qualquer pessoa que tiver interesse pode ingressar, além de futuros pais e aqueles que já adotaram. Nas reuniões ocorrem conversas e trocas de experiência”.

De acordo com a solicitação do participante, algumas reuniões são

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Foto: Bárbara Brandão

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temáticas. Já foi tema do grupo, por exemplo, o processo de adaptação das crianças e qual o momento certo para contar sobre a adoção. “A nos-sa intenção também é que os reque-rentes evitem fi car presos a alguns mitos, dúvidas”.

O interesse pela criação do Gama nasceu em 2007, de pais que já tinham adotado. Desde o início, mais de 400 pessoas frequentaram o grupo. Este ano, cerca de 100 pes-soas já participaram. “Infelizmente, muitos pais acabam desistindo do processo. Hoje, os casos são bem menores, mas ainda existem. Mui-tas vezes é por causa da difi culdade de compreender a diferença entre a criança sonhada e a criança real”.

Um caso de amorHá 11 anos, a professora Regina

Britto Fonseca, que tinha um fi lho de 12 anos, decidiu ter mais uma crian-ça. Entretanto, na ida ao médico, descobriu que precisava de um tra-tamento para engravidar, que talvez trouxesse futuros problemas a saúde dela. “Eu estava de férias na praia, com meu fi lho e meu marido, mas me sentindo ruim com aquela situ-ação, aí surgiu a ideia de adotar. Já de início, meu fi lho me apoiou, disse para eu fazer o que era melhor para mim, mas meu marido foi contra”.

No retorno para Guarapuava, Regina já havia mudado a opinião

do marido e estava pronta para a adoção. “Em uma quinta-feira, fui ao fórum e peguei tudo que precisa-va, conversei com a assistente social. Naquele momento, ela me explicou algumas coisas, e meu marido que estava viajando veio para Guara-puava. Nós participamos de uma reunião com a assistente social, no fi m deu tudo certo”. O processo de adoção da professora começou em março de 2001 e durou um ano. “Nós queríamos um bebê. Lembro até hoje do meu fi lho dizendo que queria uma irmã de sobrancelhas grossas e um pouco parecida com ele. Então contei para a assistente e

ela pediu uma foto dele para ver”. A escolha pela adoção fez com

que a vida de Regina tomasse ou-tros rumos. Ela reduziu a carga de trabalho, começou a preparar a casa para a chegada da nova moradora, comprou roupas de bebê e preparou para o dia em que Eloisa iria chegar. Como o processo é fechado, Regina não sabia a data exata em que iria receber Eloisa. “Um dia eu estava

na academia, às 4 horas da tarde, e meu fi lho estava em casa e ligaram lá. Meu fi lho não sabia onde eu es-tava, e quando soube que era do fó-rum ele já disse ‘então é minha irmã que chegou?’- e eles confi rmaram. Minha irmã foi ao meu encontro com uma fl or, ela me olhou e disse: ‘adivinha?’. Eu já disse, ‘a Eloisa che-gou?’ E ela respondeu que sim”, con-tou Regina, emocionada. “Quando eu vi aqueles olhinhos de jabuticaba ali, olhando para mim, eu não media esforços para levantar de noite no frio e cuidar dela. O sentimento é de entrega total, como eu me entregaria se fosse um fi lho biológico”.

Eloisa hoje tem dez anos e de acordo com Regina é agitada e esperta. “Eu vou educar como eduquei o meu fi lho. Ela é minha agora, está sob minha responsabi-lidade, nunca mais a gente desfaz esse laço. Continuo sendo a mesma pessoa, mas me sinto diferente e não sei como isso acontece”. Mes-mo com o ato de amor, ela con-ta que já foi interrogada pela sua

ação. “Acho que quando você deci-de, tem que estar bem resolvida e ser muito cabeça, porque existem pessoas que fi cam te questionando e não te dão paz”. O fato de Regi-na ser professora de história de um dos colégios da cidade fez com que a história dela se espalhasse rapida-mente, incentivando muitas pesso-as a realizarem a mesma ação.

Em nenhum momento, Regina escondeu da sua fi lha como ela nas-ceu. “Eu já contei várias vezes como ela veio para nossa casa, digo sempre que ela é fi lha do coração. Ela sem-pre me pede pra eu contar de novo”. A presença de Eloisa na vida de Re-gina e de sua família fez com que um novo sentimento nascesse. “O meu fi lho e o meu marido estão morando em outra cidade, mas ela está aqui comigo, ela é especial na minha casa, na minha família, para os tios, tias, primos. Ela não é um especial dife-rente, ela é algo que nasceu na nossa família e se tornou um exemplo para outras pessoas diariamente”.

A professora sabe que a fi lha está crescendo e pode questionar sobre os verdadeiros pais, mas Re-gina diz estar preparada para isso. “Sei que agora vem a adolescên-cia e ela vai passar por mudanças, mas acho que estou preparada para tudo. Estou do lado dela para apoiar qualquer decisão, como de-cidir conhecer os pais.”

Foto: Bárbara Brandão

Foto: Bárbara Brandão

“Eu vou educar como eduquei o meu fi lho. Ela é minha agora, está sob minha responsa-bilidade, nunca mais a gente desfaz esse laço. Continuo sendo a mesma pessoa, mas me sin-

to diferente e não sei como isso acontece”

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economia

A contra mão da redução do IPIA MEDIDA FACILITA A COMPRA DO CARRO ZERO, MAS, EM ALGUNS CASOS, PODE SER CONSIDERADA UMA DESVANTAGEM PARA O BRASILEIRO

Matéria e diagramação:Luciana Grande

Foto: Luciana Grande

No fi nal do mês de maio deste ano, o governo federal determi-nou a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros zero quilômetro. O desconto, que totaliza cerca de 7%, gera uma redução signifi cativa no valor total dos veículos. Um carro que normalmente custaria R$ 30 mil, por exemplo, fi caria na faixa de R$ 28 mil. Por tal motivo, essa medida atraiu muitas pessoas às concessionárias para a aquisição do tão sonhado carro zero.

De acordo com o economista Altamir Th imóteo, essa diminui-ção se deu em função da crise fi -nanceira que está ocorrendo na Europa e outros lugares do plane-ta, já que isso tem refl etido em vá-rias economias. Por isso, os pátios das montadoras estavam lotados de veículos que não conseguiam ser vendidos. Além disso, a apro-vação do crédito no Brasil está difícil em razão da inadimplência, o que também infl uencia nessa situação. “O mercado de carros,

que envolve muitos valores, esta-va estagnando o comércio. Então, como incentivo, o governo redu-ziu o IPI”. Essa medida vai per-manecer em vigor até o dia 31 de agosto deste ano.

As montadoras investiram muito em publicidade em diversas mídias, a fi m de convencer os bra-sileiros a comprarem um automó-vel. No entanto, apesar de toda a “mágica” que envolve o carro zero, a redução do IPI também trouxe consigo consequências negativas. A desvalorização dos veículos usa-dos e semi-novos foi uma delas.

Zero ou usado?O empresário Horst Hessert,

dono de uma garagem de carros multimarca em Guarapuava há 13 anos, fi cou bastante desconten-te com essa medida. Ele comenta que, em razão disso, teve que di-minuir entre 5 e 15% o preço dos carros usados da loja. “Se caiu o preço do novo, caiu também o do usado. Só que eu acredito que

isso não prejudica apenas quem possui revenda de carros usados, mas todo brasileiro que tem um, já que todos perderam parte do seu patrimônio pessoal”. Contudo, ele comenta que ainda não sentiu refl exo no número de vendas em função disso, mas sim em conse-quência da difi culdade de apro-vação dos fi nanciamentos, pois os bancos estão muito rigorosos.

Th imóteo concorda que a re-dução do IPI prejudica o comér-cio dos carros usados. “Às vezes, as pessoas só veem o fato de que vão pagar menos pelo zero e pron-to. Mas tem todo um contexto que envolve isso. A desvalorização dos usados é uma consequência, sem contar que, ao tirar o carro da loja, você já perde no mínimo 10% do valor pago”. Além disso, o economista acredita que essa re-dução poderia ter sido aplicada a outros setores. No entanto, como há multinacionais envolvidas, foi uma forma que o governo encon-trou para amenizar a situação.

Mas, na opinião dele, apenas uma reforma tributária seria capaz de solucionar os problemas da eco-nomia no país.

Horst conta que, desde que foi determinada a redução do IPI, ele já perdeu vários negócios com car-ros usados em sua loja. “Todos os dias vêm pessoas aqui em dúvida se compram zero ou usado. Aqui na minha loja eu também vendo carros zero quilômetro, de várias marcas, então ainda tenho a opção de oferecer. Mas várias garagens não trabalham dessa forma”.

O estudante e gerente de ven-das Lincoln Almeida é uma das pessoas que desistiu de comprar um carro usado em função da bai-xa do IPI. Segundo ele, o automó-vel que iria comprar sairia quase o mesmo preço do novo. Além disso, entende que uma grande vantagem é o fato de que, com o tempo, são lançados modelos novos e os an-tigos vão sendo depreciados. Por outro lado, assim como muitos, Lincoln vê no carro zero um sen-

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A difi culdade em trafegar e encontrar vagas para estacionar na

área central da cidade tem inco-modado a população. Por isso, o aumento na frota de automóveis

causado pela redução do IPI pode piorar ainda mais essa situação. Se-gundo Altair Bonassa, coordenanor

do Departamento de Trânsito de Guarapuava (Guaratran), há algum

tempo o número de registros de carros zero vinha crescendo e, com

a medida do governo, aumentou ainda mais. Ele explica que isso está sendo constatado pelas estatísticas, mas ainda não foi sentido nas ruas. “Acredito que as pessoas comecem

a notar esse aumento daqui um ou dois meses”. Hoje, a frota na cidade

é de aproximadamente 76 mil veículos, quantidade considerada

dentro da média por Bonassa.No que se refere aos problemas

do fl uxo e falta de vagas de estacio-namento na área central, o coorde-nador explica que, ao contrário do que parece, o crescimento da cida-de tende a melhorar essa situação. “O desenvolvimento dos bairros

gera um desmembramento da área central. Se há uma agência bancá-ria perto de onde a pessoa mora,

por exemplo, ela não precisa vir até o centro. Isso diminui o número

de veículos na área. No bairro Bonsucesso isso já está ocorrendo”.

Além disso, Bonassa explica que a utilização dos estacionamentos privados é uma ótima opção para quem vem até o centro. “A nossa

prioridade é melhorar o fl uxo, não os estacionamentos. As pessoas

precisam se conscientizar de que os espaços privados para estacio-nar proporcionam comodidade e segurança”. Ele destaca, ainda, que se houvesse maior interesse dos guarapuavanos neste tipo de alternativa, o segmento poderia

crescer, o que geraria concorrência e melhora nos preços.

Fluxo de veículos em Guarapuava

Fotos: Luciana Grande

tido especial. “Eu acho válido pelo prazer que você proporciona ao seu ego, porque carro zero é status, status é demonstração de poder e isso faz muito bem pra gente”. Po-rém, ele também acredita que a medida pode causar problemas. “A liberação do crédito não é um es-forço para girar a economia, fazer o trabalhador gastar aquele dinheiro que está guardado. Mas é preciso cuidado, porque nem todo mun-do tem esse dinheiro guardado e, mesmo com juros baixos, a falta de pagamento pode gerar um rombo”.

Já Horst entende que a vanta-gem do carro usado ou semi-novo é o fato de que a pessoa pode ad-quirir um veículo completo e mais confortável pelo mesmo preço do zero. “A propaganda divulgada na mídia pelas concessionárias é muito intensa, por isso o carro zero acabou virando um sonho de consumo para os brasileiros”. Já para aqueles que já possuem um automóvel, o empresário expli-ca que na troca de um usado por outro, o comprador sente menos o efeito da depreciação (que tende a variar entre 20 e 25% na troca por um veículo zero). Portanto, o pre-juízo é menor.

Embora discorde da decisão do governo em reduzir o IPI para os automóveis zero quilômetro, Horst acredita que a interven-ção foi positiva no que se refere à diminuição da taxa de juros. “A medida do IPI, na minha opinião, muito mais prejudicou do que aju-

dou o brasileiro. Mas os juros es-tão auxiliando bastante”.

Sobre a redução dos juros, Th i-móteo ressalta que essa situação é muito favorável para o setor produ-tivo. As taxas de juro diminuíram em função da taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custó-dia), que atingiu 8,5%. Além disso, o governo alterou a caderneta de poupança, o que refl etiu na baixa dos juros para fi nanciamentos.

Ainda no que diz respeito ao IPI, o economista entende que essa medida é positiva no sentido de incentivar as vendas e o comércio. No entanto, acredita que isso não seja algo tão vantajoso no contexto geral. “Se olharmos em termos de arrecadação, o governo deixa de coletar R$ 2 bilhões nesse perío-do. Ele não perde também, sempre acaba encontrando outra forma de arrecadar”. Ao mesmo tempo, Th imóteo atenta ao fato de que também não há muitas vantagens para o cidadão, já que se tratam de medidas paliativas estanques.

Por isso, o economista acon-selha que seja feita uma análise da situação antes de “aproveitar” essa redução do IPI, pois ela pode não trazer benefícios. “O carro zero é sempre chamativo. Se você tem o dinheiro e não vai fi nanciar, pode trocar de carro sem que isso seja prejudicial. Mas, se for trocar so-mente para ter um zero e fi nanciar dando o antigo de entrada, eu re-comendo que espere até setembro para não ter prejuízos”.

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UM RESUMO DO MELHOR E DO PIOR DASÚLTIMAS SEMANAS

Hospital Regional

Estrutura do Conselho Tutelar

O Albergue Noturno Frederico Ozanam está com o estoque precário de alimentos. Devido ao frio, o atendimento no local aumenta em 25%, o que gera mais gastos com alimentação. O albergue tem uma despesa por mês de até R$ 15 mil, mas recebe uma ajuda de custo de R$ 4 mil do município. Bazares são realizados para diminuir o dé� cit, porém, não chegam a pagar todos os custos.

Construção novas UPAsGuarapuava ganhará duas novas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). Uma delas, localizada no bairro Batel, já está em fase de construção, enquanto a Unidade de Saúde do Morro Alto está em processo de licitação. A construção dos dois prontos atendimentos facilitará os internamentos e encaminhamentos para os hospitais. Os locais também trarão agilidade no atendimento de saúde do município.

E se o estudante pagasse “meia” no pegágio?ENQUETE MOSTRA QUE GRANDE PARTE DOS PARANAENSES SÃO A FAVOR DESSA MEDIDA

Enquete:Luciana Grande

Acho justo, se não aumentar as taxas. Porque é caro pra todo mundo, mas pros estudantes é só alguns anos. Pro restante o aumento seria permanente.

Elton Gutoch Rosa

Camila Syperreck

Dificuldades no albergue

No dia 31 de maio, foram empossados os membros da comissão executiva responsável pela elaboração do projeto de implantação do Hospital Regional em Guarapuava. São 11 participantes de inúmeras entidades que pretendem viabilizar o andamento do projeto. A posse da comissão é mais uma etapa para a concretização do projeto em Guarapuava.

Os funcionários do Conselho Tutelar de Guarapuava encontram di� culdades para realizar suas atividades devido às más condições em que se encontra o prédio. Com apenas um centro para 167 mil habitantes, o local não tem condições de atender muitas pessoas ao mesmo tempo devido ao escasso número de computadores e impressoras, falta de privacidade das salas de atendimento (que são pequenas), pouca ventilação, in� ltração e difícil localização para a população, já que o conselho funciona na rodoviária.

Estudantes com carro, né? Porque a companhia de ônibus não

vai diminuir o preço da minha passagem. Muito pelo contrário.

Aí eu, sendo estudante, vou pagar mais caro ainda.

Everton Guilherme

No dia 15 de maio, a Assem-bleia Legislativa do Paraná apro-vou uma medida que benefi cia com uma isenção de 50% na taxa de pedágio estudantes e empresas que transportam alunos de colé-gio, escolas ou universidades. Isso é válido para quem estuda em uma cidade, mora em outra e pre-cisa passar por praças de pedágio no Paraná. A medida entra em vigor quando a lei for promulga-da. Porém, as concessionárias de pedágio alegam que isso causará

um aumento geral nas taxas, o que tende a prejudicar muitas ou-tras pessoas.

Por esse motivo, a decisão da Assembleia Legislativa gerou po-lêmica e ideias diversas a respeito. Na enquete realizada pelo jornal Ágora, perguntamos qual era a opinião dos internautas sobre o tema, sendo que 72% alegaram achar justo que estudantes pa-guem apenas metade da taxa, en-quanto 28% mostraram discordar da medida.

São pouquíssimos os estudantes que viajam, se comparado ao resto. Em geral, eles vão tirar ainda mais dinheiro do povo.

enquete foi bem, foi mal

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saúde

Laços de sangue e solidariedade

A CAMPANHA PADRINHOS DE SANGUE PRETENDE ENCONTRAR DOADORES 100% COMPATÍVEIS PARA OS PACIENTES QUE PRECISAM DE SANGUE FREQUENTEMENTE

Matéria e diagramação:Yarê Protzek

Foto: Yarê Protzek

Inúmeras campanhas são fei-tas para aumentar a quantidade de bolsas de sangue nos hemocentros dos municípios. A necessidade de doadores é frequente e importan-te, já que muitas vezes o sangue salva a vida daqueles que preci-sam. Pensando nisso, o médico responsável pelo Hemocentro de Guarapuava, Seme Youssef Reda, criou a campanha “Padrinhos de Sangue” para ajudar aquelas pes-soas que necessitam da doação com certa regularidade.

A campanha teve início em março de 2012 e pretende facili-tar a vida de pacientes de diversas enfermidades, como doença renal crônica, hematológicas, anemia falciforme etc. “Esses pacientes são complicados porque vão precisar de sangue quase o resto da vida. Então, o projeto nasceu com esta fi nalidade: resolver o problema do paciente que tem todo mês essa di-fi culdade e o estresse de achar um doador”, explica o médico.

Segundo Reda, a estrutura do sangue funciona como se fosse um sistema de chave e fechadu-ra. Os glóbulos vermelhos que compõem o sangue possuem 24 fenótipos, que são as fechaduras. Para os pacientes que precisam de sangue regularmente, essas fechaduras devem achar chaves correspondentes para que não haja complicações. São necessá-

rias 24 chaves idênticas às fecha-duras para que a transfusão seja perfeita. “O tipo sanguíneo e o Rh são só o início da chave. Se você pegar a membrana de um glóbu-lo vermelho e aproximar com um microscópio, vai ver todas 24 fe-chaduras. Cada fechadura pode dar uma complicação se eu não conheço a chave certa”.

O nome foi escolhido para sensibilizar e criar um laço entre doadores e receptores, já que, uma vez encontrados os padrinhos, o afi lhado só receberá sangue dessas pessoas. Reda explica que um pa-ciente pode ter vários padrinhos, dependendo da quantidade de sangue e a frequência que preci-sa para o tratamento, já que uma pessoa só pode doar sangue três vezes ao ano. “Achar doadores fe-notipados, ou seja, corresponden-tes, aleatoriamente era muito di-fícil. Então, pedíamos ajuda para outras cidades. Esse projeto vem para resolver isso”.

O médico comenta que quan-do alguém se torna padrinho de sangue fi ca responsável pelo afi -lhado porque ele dependerá da-quela doação para viver. “Não adianta você querer ser padrinho de sangue se não seguir certas re-gras, tiver uma vida mais discipli-nada. Por exemplo, não pode por piercing durante um ano, fazer tatuagem, maquiagem defi nitiva,

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Leland Gramazio Nunes, 29 anos, é do tipo sanguíneo A+ e é hemofílico. A hemo� lia é a

de� ciência dos fatores VIII ou IX presente no sangue. Ela prejudica o mecanismo de coagulação, fazendo

com que, ao se ferir, a pessoa comece a sangrar sem controle. A doença é hereditária e ocorre com

mais frequência nos homens. No caso de Leland, há a falta

do fator VIII, que ele adquire através de um medicamento. O

remédio é desenvolvido em outro país devido à alta tecnologia neces-sária para produzi-lo. Nunes toma

três doses intravenosas fornecidas pelo Governo Federal para a pre-venção de hemorragias. “Eu não tomo necessariamente o sangue,

mas preciso do fator VIII que está presente na corrente sanguínea. De qualquer forma, o sangue é utilizado para fazer o medica-

mento, ou seja, várias bolsas são usadas para conseguir esse fator”. O sangue utilizado para fazer o

medicamento não pode ser reuti-lizado. “Preciso de componentes

do sangue e acho que a campanha é importante, é um compromisso

entre o padrinho e o a� lhado”.

O sangue como medicamento

Vai demorar um pouco para a campanha funcionar. É uma

engrenagem grande e complexa; precisamos estudar corretamente

para que a roda da vida do bem não pare nunca”“

Seme Youssef Reda, médico responsável pelo projeto

entre outros fatores”. A lista de re-quisitos para saber se está apto a ser padrinho de sangue é a mesma para a doação convencional.

Até o momento, a campanha está em fase de cadastramento e pesquisa dos futuros voluntários. Cerca de 500 pessoas já estão ca-dastradas para o cargo de padri-nho. Os doadores mais procura-dos são aqueles que possuem o tipo sanguíneo “O” com o fator Rh negativo, já que são mais difí-ceis de encontrar em Guarapuava, pois apenas 8% da população tem esse tipo sanguíneo. Em seguida, serão feitos os cadastramentos de

quem é do tipo sanguíneo “A” com fator Rh negativo, e logo após os demais tipos. “Vai demorar um pouco para a campanha funcio-nar. É uma engrenagem grande e complexa; precisamos estudar corretamente para que a roda da vida do bem não pare nunca”.

Primeiro inscritoO médico do hemocentro

informou que, após pensar na criação da campanha, conversou com os membros do Exército para ver se tinham interesse em participar. “O coronel Rueda, do 26º GAC [Grupo de Artilharia

de Campanha, foi o nosso pri-meiro inscrito como padrinho de sangue. O pontapé inicial foi dos integrantes do Exército”.

De acordo com o coronel Willian Wilson Alexanfre Rue-da, do 26º GAC de Guarapuava, o Exército participa há muitos anos de campanhas voltadas a doação de sangue. Quando fi ca-ram sabendo dessa nova campa-nha, alguns também resolveram participar. “Achei interessante a ideia. Marcamos uma reunião no Exército, onde todos os ofi ciais participaram. A partir daí, demos início a campanha interna com

relação a doação dentro dessa nova sistemática”.

Rueda é do tipo sanguíneo A com fator Rh negativo e está dis-posto a ser padrinho de sangue. “Para mim é uma grande satisfação poder ajudar alguém. Temos que levantar as mãos aos céus e agra-decer que estamos podendo doar sangue e vamos doar com a maior boa vontade”. O coronel comple-ta afi rmando que, caso tiver um afi lhado de sangue, irá gostar de conhecer a pessoa. “Você cria uma empatia, um vínculo afetivo entre os dois e isso facilita muito mais esse comprometimento”

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cidadania

“Sou minha, só minha, e não de quem quiser”DESDE A INFÂNCIA, O DISCURSO MACHISTA É REPRODUZIDO EM DIFERENTES ESFERAS, CONTRIBUINDO PARA FORMAR ÍNDICES ASSOMBROSOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. EM GUARAPUAVA, A MARCHA DAS VADIAS FOI APENAS O PONTAPÉ INICIAL PARA QUE A SOCIEDADE SE CONSCIENTIZE E POLÍTICAS PÚBLICAS SEJAM IMPLEMENTADAS

Matéria e diagramação: Gabriela Titon

A frase do cartaz colado no caminhão de som não servia so-mente para aquela ocasião: “tire o seu machismo do caminho que eu quero passar com o meu corpo”. A 1ª Marcha das Vadias de Gua-rapuava, que aconteceu no dia 23 de junho, foi um marco para uma cidade que revela números as-sustadores em relação à violência contra a mulher. O estopim para a realização do protesto foi a divul-gação do Mapa da Violência 2012, em que o município fi gura como o 91º do Brasil e o 11º do Paraná no índice de homicídios femininos (confi ra mais dados no quadro da página ao lado).

Outra paródia de música rei-vindicava a liberdade para es-colher o que vestir, em resposta a alegações frequentes de que a mulher é estuprada em função de sua roupa inadequada e tem culpa se algo de ruim lhe acontece. “Eu só quero ser feliz, andar tranquila-mente com a roupa que escolhi. E poder me assegurar: de burca ou de sainha, todos vão me respeitar”. Durante o trajeto, performances lembraram o sofrimento de víti-mas que tiveram a vida interrom-pida pela força masculina e a falta de amparo a quem ainda pode sair dessa situação.

Apesar de bem-sucedida, a manifestação foi apenas o início da luta contra a opressão às mulheres. Além de provocar refl exão, ações políticas foram cobradas, como a construção de uma Casa Abrigo, a implementação da Secretaria Mu-nicipal da Mulher, a estruturação da Delegacia da Mulher e a nome-ação de uma delegada. Também foi lançado um abaixo-assinado solicitando a criação da secretaria, que será entregue aos candidatos a

NA MARCHA DAS VADIAS, CARTAZES MOSTRARAM A INDIGNAÇÃO COM O PENSAMENTO MACHISTA

prefeitura. O evento, que teve iní-cio com a ideia de acadêmicas de arte-educação da Unicentro, rece-beu apoio da Marcha Mundial das Mulheres, da APP-Sindicato, do Movimento Passe Livre, do Movi-mento das Mulheres do Primavera e do Levante Popular da Juventude.

EducaçãoA professora Terezinha dos

Santos Daiprai, uma das organi-zadoras da marcha e represen-tante da APP-Sindicato de Gua-rapuava, ressalta que a educação machista é a principal responsá-vel por agressões não somente fí-sicas, mas também verbais. “Essa educação é voltada para o poder que o homem acredita ter sobre o

corpo da mulher, e leva muitos a acharem que podem bater, tolher a liberdade, humilhar moralmen-te e abusar sexualmente”. Em vá-rios casos, a mulher se submete a essa situação por depender eco-nomicamente do companheiro, em todos os níveis sociais. Para que o ciclo da violência seja que-brado, é preciso que haja profi s-sionalização feminina; assim, ela poderá se sustentar sozinha e não precisará tolerar abusos.

O combate ao pensamento machista passa não só pela educa-ção escolar, mas também familiar, em questões como a divisão de ta-refas dentro de casa. “Existe essa divisão em algumas famílias isola-das, mas não como uma condição

de sobrevivência. Ninguém vive sem o trabalho doméstico, mas homens e mulheres não foram educados para dividir tarefas, isso precisa ser construído”. Os brin-quedos dados às crianças também reforçam a concepção de que so-mente a mulher é responsável por cuidar do lar e dos fi lhos.

As escolas, que podem cons-truir ou desconstruir discursos, têm papel fundamental na trans-formação da sociedade. Nesse sentido, a organização da marcha cobrará do Poder Executivo que considere as propostas delibera-das na Conferência Municipal das Mulheres de 2011. No evento, foi discutida a implementação do es-tudo da história das mulheres e das

Foto: Gabriela Titon

“Sou minha, só minha, e não de quem quiser” é um trecho da música “1º de julho”, composta por Renato Russo. A canção foi interpretada tanto pela banda Legião Urbana quanto pela cantora Cássia Eller.

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PERFORMANCE MOSTRA QUE, EM GUARAPUAVA, MULHERES QUE SOFREM VIOLÊNCIA NÃO ENCONTRAM AMPARO

ESTATÍSTICAS DA VIOLÊNCIAO Mapa da Violência 2012, realizado pelo Instituto Sangari, mostra

que em Guarapuava a taxa de homicídios é de 8,2 a cada 100 mil mu-lheres. O número representa quase o dobro da média nacional (4,4), o

que faz com que o Brasil seja o sétimo país em feminicídio. Nesse quesito, o Paraná é o terceiro Estado brasileiro, com 6,3 mortes a cada 100 mil

mulheres. Em âmbito nacional, a principal faixa etária no índice é de 20 a 29 anos (7,7 mortes a cada 100 mil mulheres). Em 68,8% dos

atendimentos a mulheres vítimas de violência feitos pelo SUS no Brasil, a agressão ocorreu nas próprias residência; em 51,6% dos casos há reinci-dência; e na faixa dos 20 aos 59 anos o principal agressor é o cônjuge.

Fonte: Mapa da Violência 2012 - www.mapadaviolencia.org.br

questões de gênero no currículo das escolas municipais. Infeliz-mente, tanto na educação básica quanto no ensino superior, falar sobre violência e machismo ainda é tabu, como destaca Terezinha.

Para demonstrar que a discri-minação está presente em diversas esferas, a funcionária da APP-Sin-dicato de Curitiba Rosani Moreira comenta que as mulheres sofrem preconceito dentro das próprias instituições de ensino. “A educa-ção é considerada uma área dos serviços e fi cou para as mulheres, 85% da categoria é composta por mulheres. Então, acham que não precisa de formação, de salário, de condições de trabalho...”.

Ideias reproduzidasAlém da educação, discursos

religiosos e midiáticos também ajudam a disseminar o pensamen-to machista e são introjetados na cabeça da população. Algumas re-ligiões pregam que a mulher deve ser delicada e submissa, represen-tando a harmonia do lar, como analisa Terezinha. Assim, o ma-chismo não parte somente dos ho-mens, mas também das mulheres.

“Muitas mulheres querem ca-sar e ter fi lho. Tudo bem, mas que seja uma escolha dela e não uma imposição da sociedade. Ainda é muito isso: a mulher tem que achar um bom marido com uma condição fi nanceira boa, ter fi lhos e viver em função disso”. Em ci-dades conservadoras, sobretudo, esse sentimento de obrigação ain-da é comum.

A acadêmica Jocelize Souza Santos, que estava na marcha, tem a mesma percepção. “Guarapua-va é muito religiosa. No Brasil, a religião manda muito. Inclusive em projetos de lei, se o Vaticano é contra ele interfere, como já acon-teceu. Essa questão de o homem ser superior vem muito da religião, com a ideia de a mulher ter sido criada da costela do homem”.

Já a mídia contribui para per-petuar a imagem da mulher en-quanto mercadoria e a necessidade de se buscar determinado padrão de beleza, entre outros aspectos. A professora universitária Angela Cristina da Silva, da área de psico-logia, afi rma que certos conceitos do nosso cotidiano são naturali-zados sem questionamentos, por isso a importância de refl etir sobre o que é apresentado em materiais

publicitários. “As propagandas fa-zem incitações machistas nem que seja em fração de segundos. E as pessoas não percebem. Quando você mostra, falam que é exagero; mas tem que direcionar o olhar para ver que existe outro grau de violência, que não é física. Isso vai sedimentando nas concepções da criança e quando ela crescer vai achar natural”.

Para que esse cenário se altere, ela acredita que o primeiro passo deve ser no ensino superior, for-mando profi ssionais responsáveis. “Mas, se essas mobilizações conti-nuarem acontecendo, quem já está no mercado vai se conscientizar e saber que dependendo do que fi -zer será questionado”.

Apoio masculinoO apoio dos homens no en-

frentamento a opressão é funda-mental, como observa o professor universitário Gilberto Malheiros. “O homem não pode conviver com a mulher como sendo uma luta eterna, ao contrário: homem e mulher se complementam, não são inimigos”. Para ele, a violência

é injustifi cável numa época em que a mulher tem participação ativa no Produto Interno Bruto do país. “A mulher tem que ser reconhecida, não só a que trabalha numa em-presa, mas a que trabalha em casa. O homem vai trabalhar enquanto a esposa toma conta da casa e dos fi -lhos para que ele produza e apareça num panorama econômico como alguém estatisticamente visível; mas a mulher que dá essa condição a ele de ir produzir nem aparece, ao contrário: tem em troca a violência dentro de casa. E muitas vezes ela tem seus direitos castrados pela Justiça, que se torna negligente”.

Para o acadêmico Mario Hen-rique de Mattos, é necessário mostrar que a violência é absur-da em Guarapuava. “Os dados demonstram a importância de se debater esse tema. O machismo impera aqui, tanto na questão do feminicídio quanto da homofo-bia. Em todo lugar a gente per-cebe que acontece: nas ruas, no trabalho, nas faculdades...”.

TransformaçãoEmbora a mulher venha con-

quistando espaço no mercado de trabalho, a igualdade de gêneros está distante de ser atingida. Na te-oria, os direitos estão assegurados na Constituição Federal, contudo, eles raramente são perceptíveis na prática. Para que aconteçam mu-danças, ações como a Marcha das Vadias são essenciais. Em Gua-rapuava, o protesto irreverente deixou claro que lugar de mulher é onde ela quiser. “Isso colabo-ra para que as pessoas se tornem mais participativas e criem senso crítico”, diz Jocelize.

De acordo com Rosani, o prin-cipal saldo da manifestação é orga-nizativo, já que as mulheres preci-sam estar juntas para contestarem e buscarem seus direitos. “Guara-puava é muito violenta para as mu-lheres e os homossexuais, por isso a importância de protestar numa cidade tão conservadora e agressi-

va. O machismo ajuda a nos mas-sacrar; e esse discurso mata, ensi-na as pessoas a tratarem as outras como se não fossem gente”.

Alguns avanços, como a exis-tência da Lei Maria da Penha, têm auxiliado a coibir casos de vio-lência. Contudo, a alteração desse quadro passa por várias questões, dentre elas a preparação dos profi s-sionais que atuam na área, já que, conforme Terezinha, as vítimas são humilhadas até mesmo dentro das delegacias. Na opinião da profes-sora, os políticos precisam se unir e cobrar do Governo do Estado o aparelhamento da Delegacia da Mulher, que atualmente funciona juntamente com a 14ª SDP (Subdi-visão de Polícia Civil). A constru-ção de uma Casa Abrigo também é urgente, visto que muitas mulheres em situação de violência são aco-lhidas pelo Albergue Noturno – o que, segundo Terezinha, é desuma-no, porque no local elas não con-tam com proteção e segurança.

“É uma questão de inteligência política investir nas políticas pú-blicas para as mulheres e na pre-venção da violência. A mulher que vive em situação de violência adoe-ce, com doenças desde a ansiedade e depressão até aquelas que a levam a morte. E elas vão se tratar na saú-de pública. Ou seja: o município não investe na prevenção e tem que investir nas consequências”.

VadiasA Marcha das Vadias surgiu no

Canadá, em 2011, após um policial afi rmar que as mulheres não deve-riam se vestir como vadias para que não fossem estupradas. Desde então, adotando o nome irônico, o movimento acontece em vários países, abordando a não-culpabili-zação da mulher em casos de vio-lência, entre outras questões. “Até nisso existe preconceito: quando um homem é chamdo de vadio, ele é preguiçoso; quando uma mu-lher é vadia, os adjetivos são ou-tros”, diz Terezinha.

Foto: Gabriela Titon

“O machismo ajuda a nos massacrar; e esse discurso mata, ensina as pessoas a tratarem

as outras como se não fossem gente”

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CONHEÇA ALGUMAS TECNOLOGIAS DE INTERNET QUE FORAM REVOLUCIONÁRIAS, MAS QUE, COM O PASSAR DOS ANOS, CAÍRAM EM DESUSO.

##**No$t@lgi@/w&b 1.0**##

No atual cenário online, é notório o avanço tecnológico. Ferramentas de internet como o sistema operacional Android, que fi guram em celulares e tablets; a facilidade na criação de portais, blogs e sites gratuitos; e o aumento na velocidade de internet, com

operadoras que disponibilizam serviços em banda larga, são algumas das evoluções que caracterizam nossa realidade.Apesar de os computadores e a internet não terem muitos anos de vida, poucos jovens de hoje conheceram os programas

responsáveis pelas primeiras revoluções, ainda na chamada web 1.0.Por isso, vamos relembrar aqui algumas das tecnologias que já foram o auge da internet e que caíram em desuso. Vai servir de

informação para a novíssima geração, e uma sessão nostalgia para os ‘jovens mais velhos’,. Caso você se lembre de algum destes programas, entre em contato e conte suas experiências, lembranças, como recebeu estas novidades ou indique outros progrmas que

não constam nesta lista. Enjoy!

mIRCSe, atualmente, conversas no ciberespaço residem nos chats do Facebook ou no MSN Messen-ger, muito se deve ao IRC (Internet Relay Chat), considerado uma das primeiras plataformas de interação online, em tempo real, além de possibilitar o compartilhamento de arquivos. O mIRC foi um dos programas com estas características. Lançado em 1995, foi bastante utilizado por muita gente, como o fotógrafo Renan Prando, de 27 anos, que começou a usar o programa em 1999. “Gostava pela possibilidade de manter contato com as pessoas”. O mIRC ainda circula pela rede, mas com bem menos adeptos.

ICQOutro importante item de evolução no quesito comunicação online foi o ICQ, lançado em 1997. Um dos pioneiros a permitir postagem de mensagens instantâneas, o sistema caiu no gosto do povo e é referência para os atuais formatos. Contudo, também já não consta na lista de preferências da maioria dos usuários desse tipo de tecnologia, como é o caso do jornalista Tiago Aramayo, 27. Na época, utilizador assíduo, ele não lamenta a queda, mas relembra que fez uso por bastante tempo. “Eu gostava muito do nome, I Seek You (eu procuro você) e achava uma pena o trocadilho não funcionar em português”.

NapsterFerramenta precursora em se tratando de compartilhamento de arquivos sonoros, o Napster protagonizou uma das maiores brigas judiciais do meio musical. A banda Metallica encabeçou um processo contra Shawn Fanning, criador do programa, contestando a legalidade em permitir essa troca de arquivos. Mesmo com a vitória no processo, a nova tecnologia já estava consolidada. Alguns anos passados, servidores com as mesmas funções, como Morpheus e Kazaa, deram conti-nuidade a ideia. Com início em 1999, o Napster foi comprado em 2002 por um grupo que passou a vender músicas. Em dezembro do ano passado, o programa saiu do ar o� cialmente.

tecnologia

Matéria e diagramação: Yorran Barone

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CadêA empresa Google, que hoje engloba serviços de so� ware online, é considerada a maior ferra-menta de busca pela internet. No passado, o serviço brasileiro Cadê, fundado em 1995, sob o formato do já existente Yahoo!, foi utilizado por muitos. Uma particularidade foi a “migração” das enciclopédias para o site. Bruno Bonadio, estudante de 22 anos, relata que no espaço a pro-cura por temas especí� cos é simples. “É muito mais fácil procurar na internet do que em livros, além de rápido”, destaca Bonadio, que, atualmente, busca temas relacionados a faculdade e assuntos futebolísticos.

GeocitiesEm 1994, o Geocities foi criado visando a hospedagem de sites gratuitos, produzidos, princi-palmente, pelo Front Page, programa já ultrapassado e de domínio da Microso� . Milhares de adeptos passaram a veicular suas produções e usuários, muitas vezes, localizavam esses sites no Cadê. Ao longo dos anos e com o lançamento de novas tecnologias virtuais, o sistema � cou ultrapassado. “Não atendia mais minhas necessidades e troquei pelo ONDA, que era mais barato, rápido e permitia outras funcionalidades”, relata o desenvolvedor de internet Caio Eduardo Pereira, 33, que postou sua página no HPG, sistema similar ao Geocities, que se extinguiu em 2009.

Netscape NavigatorNavegadores web como Google Chrome e Mozilla Firefox caíram no gosto do povo, mas poucos conhecem o Netscape Navigator, uma referência para os atuais modelos citados. Lançado em 1994, possuía um layout simples e poucas funções, mas justo com seu propósito, além de ser de fácil utilização. “Algumas con� gurações referentes a conexões ou favoritos eram um pouco diferentes do Internet Explorer, por exemplo, mas não havia di� culdades para quem utilizava a internet de maneira frequente”, relata o servidor público Christian Ciquelero, de 33 anos, que fora utilizador do navegador entre 1998 e 2002.

Usina do Som Fãs de músicas que buscavam na internet alternativas para ouvir preferências, o Usina do Som foi um grande canal. Com um acervo musical online de milhares de sons, a particularidade residia em poder escutar o que queria sem a necessidade de download. O estudante Phelippe Ferreira, 23, conta que a fácil utilização e rapidez para carregar as músicas foram pontos-chave para utilizá-lo com frequência e diz que parou de acessá-lo a partir do conhecimento de novas tecnologias. “Passei para a fase de baixar as músicas. Era possível adquirir discogra� as inteiras e deixar em arquivo”. Em 2005, o Usina do Som foi retirado do ar.

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Matéria: Mário Raposo Jr.

entrevista

Muito além do tênisEX-TENISTA E PROFESSOR, AGNALDO CONTA COMO COMEÇOU NO TÊNIS E FALA SOBRE SEU PROJETO, QUE AJUDA CRIANÇAS DENTRO E FORA DAS QUADRAS

AGNALDO AO LADO DE SEU MURAL, QUE REGISTRA GRANDES MOMENTOS DO PROJETO. ELE ENSINA TÊNIS PARA CRIANÇAS GUARAPUAVANAS HÁ 14 ANOS

Há 15 anos em Guarapuava, o professor Agnaldo Almeida, que veio de Londrina, tem en-grandecido o cenário guarapu-avano do tênis com seu projeto ‘Tô no Tênis’. Em entrevista ao Ágora, Agnaldo fala do seu começo no tênis, seus projetos e seus alunos.

Como foi o início no tênis?Eu estou no tênis desde os

seis anos de idade, comecei catando bolinha em um clube lá em Londrina. Meu irmão me levava para o clube e eu acabei gostando. Comecei com seis anos e fui jogando. Depois comecei a competir, inclusive uns empresá-rios me ajudavam com despesas, viagens, essas coisas.

A maioria das crianças dessa idade prefere o futebol, você foi para o tênis porque gostou ou não se dava bem no futebol?

Não, não. Às vezes, a gente

escapava do clube pra bater uma bolinha, mas o tênis me conquis-tou desde o início. Dá para dizer que eu era 90% do tênis e 10% do futebol.

Como você virou professor? Foi uma maneira de retribuir o que o tênis te deu?

Isso mesmo. Como eu disse, comecei catando bolinha e como rebatedor. Depois fiz cursos de aperfeiçoamento e desde os 16 anos dou aula de tênis. Quer dizer, professor mesmo eu virei depois dos 18. Até porque a con-federação, a ITF (International Tenis Federation) só pode liberar para ser professor depois dos 18.

Além de dar aula, você criou um projeto chamado ‘Tô no Tenis’. Fale um pouco sobre como ele funciona.

Eu estou aqui em Guarapu-ava há 15 anos, esse projeto já está indo para 14 anos. E come-

çou assim: era uma ideia que eu tinha quando eu vim para cá e passei para o Milton Meirelles (empresário) e tive o incentivo da prefeitura. Desde então, a gente vem procurando parcerias que ajudem a manter o projeto, até porque a gente tem custos com material, com comida, assistentes e tudo isso.

E quais os pré-requisitos para participar?

Tem que estar estudando, isso é prioridade, tem que manter a nota boa. Com exceção das crianças de quatro anos, que ainda não entraram na escola. Mas, para quem tem idade, se não trouxer resultados escolares, a gente dá uma punição de uns quinze dias sem jogar. Então, quando isso acontece, eles já sentem falta das aulas.

Já teve algum aluno desse pro-jeto que virou competidor?

Sim. Há um mês nós estive-mos em Palmas, três atletas do projeto participaram e os três foram campeões em suas catego-rias. Também temos o Carlinhos Almeida, que foi vice-campeão em Arapongas. Então a gente sempre dá uma peneirada e os que se destacam nas aulas a gente leva para os torneios. Os alunos estão sempre ralando, querendo competir, a tendência é só fortalecer isso.

Como você vê o cenário do tênis em Guarapuava?

Há uns 15 anos o tênis em Guarapuava era muito restrito, não tinham competições. Isso passava a ideia para os outros que no interior não existe tênis. E nós estamos há 14 anos tra-zendo torneios para cá e mos-trando que no interior tem tênis e bons tenistas, tanto na catego-ria adulto quanto juvenil.

Fotos: Mário Raposo Jr.

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Matéria e diagramação: Helena Krüger

Na editoria “há tempos”, a equipe do Ágora irá encontrar pessoas que apareceram nas linhas dos jornais guarapuanos há pelo menos cinco anos. Nesse espaço, daremos voz novamente a essas fontes e personagens do passado, e contaremos o que o estão fazendo hoje.

HELENA CAMARGO CONTA SOBRE SUA PAIXÃO PELO INCENTIVO A AMAMENTACAO E COMO ESTÁ O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO BANCO DE LEITE EM GUARAPUAVA

Muito antes de sair nas páginas do jornal Diário de Guarapuava, no dia 7 de outubro de 2003, fa-lando sobre a criação de um novo manual de aleitamento materno, a enfermeira Helena Ramos Camar-go já estava envolvida em ações de incentivo a amamentação. Há nove anos ela foi fonte na reportagem e falou sobre a importância da publi-cação de um manual que orientasse gestantes sobre as diversas vanta-gens do ato de amamentar.

A enfermeira contou ao Àgora sua trajetória profi ssional e como surgiu sua paixão em pesquisar e incentivar o aleitamento materno. “Quando tive a minha primeira fi lha, que hoje está com 32 anos, passei por muitas difi culdades para amamentar e não recebi apoio nem orientação, mas mesmo assim consegui superar e amamentei ela até um ano de idade. A partir dali

Enfermeira desenvolve ações a favor do aleitamento materno há 28 anos

aquilo me despertou interesse, e eu já cursava enfermagem. Hoje posso dizer que em toda minha caminhada profi ssional trabalhei envolvida com aleitamento”.

Desde que se formou, há 28 anos, Helena não mede esforços para orientar sobre o tema e exalta a importância da amamentação. “O leite materno é insubstituível. Em-bora haja grande disponibilidade de formas lácteas no mercado, nenhu-ma se aproxima da constituição do leite materno, porque ele é um fl u-ído humano. São inúmeras as van-tagens, a criança que mama no seio tem muito mais chances de ser física e mentalmente saudável, o leite é a primeira vacina. Na questão emo-cional, a amamentação cria um vín-culo ou o elo entre a mãe e o bebê”.

Segundo Helena, se a questão do aleitamento materno fosse leva-da mais a sério muitos dos proble-

HELENA JÁ CRIOU VÁRIOS PROJETOS EM PROL DO ALEITAMENTO

há tempos

mas de saúde pública como redução da mortalidade infantil, promoção e redução da mortalidade materna seriam amenizados. “A principal estratégia de combate é o aleita-mento materno e é um instrumento muito simples”. Nesse contexto, a enfermeira destaca a importância da criação de um banco de leite em Guarapuava e conta como está o andamento do projeto. “Acredi-to que até o fi nal do ano esteja em funcionamento. A estrutura e equi-pamentos devem chagar daqui uns meses no hospital fi lantrópico São Vicente. Mas não se pode esquecer que não basta instalar a estrutura sem um equipe bem capacitada. O banco de leite exige uma estru-tura complexa, já que depende de equipamentos e equipe treinada e especializada, por isso a demora da instalação. O banco é uma ne-cessidade da região, muitos bebês que precisam de leite humano, e em contrapartida quantas mães que estão amamentando até perdem de aproveitar o leite. A ideia é apro-veitar o excedente de produção das lactantes e direcionar para recém-nascidos prematuros ou que estão internados por outros motivos”.

Atualmente, Helena é profes-sora da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), enfer-meira da Regional de Saúde e está coordenando ações como os pro-jetos Cuida de Mim e Mame: res-

gatando o prazer por amamentar, que presta assistência a mães que têm difi culdade em amamentar. O ambulatório funcionará às quintas e sextas-feiras durante a tarde e será inaugurado na primeira semana de agosto, em comemoração a Semana Mundial de Aleitamento Mater-no. Nesse mesmo período, Helena também está a frente da realização do Seminário Regional de Aleita-mento Materno, que será nos dias 8 e 9 de agosto, na Unicentro. “Na época da matéria estávamos orien-tando estágios, em que tivemos a oportunidade de fazer o manual de aleitamento materno. Foi um tra-balho muito legal com as alunas de enfermagem. E depois esse material foi replicado e multiplicado dentro da Secretaria de Saúde. Utilizamos essa cartilha até hoje, ela será re-formulada no Projeto Mame. A publicação foi um marco, porque foi produzida aqui e voltada para a realidade de Guarapuava”.

Foto: Helena Krüger

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xO fi lme propõe a representação do preconceito racial em um núcleo fechado de mulheres domésticas na sociedade norte--americana nos anos 60. A história é simples, mas muito sensível. O preconceito racial consegue ser retratado com perfeição ao se confrontar com mulheres da alta sociedade da época, as quais mal sabem cuidar dos próprios fi lhos. Em alguns momentos, como na se-paração dos banheiros e no controle de papel hi-giênico, torna-se revoltante compreender que a

simples diferença da cor da pele pode gerar ameaças e perseguições tão medíocres. No entanto, a história caminha por um de-sejo de superação, de romper com as difi culdades e normas vigentes, para acreditar no sonho de liberdade. O fi lme consegue tratar de um contexto histórico com refl e-xos ainda na sociedade con-temporânea.

O longa-metragem retrata a desigualdade social na década de 60 nos Estados Unidos. Uma aspirante a jornalista decide contar as histórias das empregadas negras na casa dos patrões. No desenrolar do fi lme, são contadas histórias comoventes e em alguns trechos cômicas. O fi lme mostra como era a relação dos brancos e dos negros na época em que o direito do homem branco era defendido, como se os negros não pudessem ter os mesmos direitos. Com uma crítica sobre o racismo e o preconcei-to, o fi lme mostra as duas perspectivas exis-tentes naquele momento: a dos brancos e dos negros. Por se tratar de um gênero de fi lme que gosto muito (drama), achei a história interessante do início ao fi m.

Vale a pena assistir pela narrativa, pela construção dos persona-gens, trilha sonora, cenários escolhidos, enfi m, pelo con-texto em geral.

BÁRBARA BRANDÃO YARÊ PROTZEK

BÁRBARA

YARÊ

YARÊ PROTZEK

“Histórias cruzadas”, de Tate Taylor, se passa em Jackson, pequena cidade no Estado do Mississipi (EUA), na década de 60. Skeeter (Emma Stone) é uma garota da sociedade que retorna determinada a ser escritora. Ela começa a entrevistar as mulheres negras

da cidade, que deixaram suas vidas para trabalhar na criação dos fi lhos da elite branca. Aibileen Clark (Viola Davis), a empregada da melhor amiga de Skeeter, é a primeira

entrevistada, o que desagrada a sociedade como um todo. Apesar das críticas, Skeeter e Aibileen continuam trabalhando juntas e, aos poucos, conseguem novas adesões.

versus

indicações

ÁLBUM:THE STRANGE CASE OF BANDA: HALESTORMO segundo álbum da banda americana serve para eles se fi rmarem no cenário hard rock. The Strange Case Of... supera o álbum de estreia da banda, tanto em peso quanto em qualidade.

ÁLBUM: OMERTÁBANDA: ADRENALINE MOBDiferente do progressivo de suas outras bandas, aqui, os integrantes mostram um rock mais pesado e direto. Com onze faixas, Omertá traz uma grande estreia de uma banda promissora.

FILME: J. EDGARDIRETOR: CLINT EASTWOODJohn Edgar Hoover é um dos responsáveis pela criação do FBI. Porém, sua vida pessoal tem segredos sombrios o sufi ciente para acabar com sua carreira.

FILME: MILLENIUM DIRETOR: DAVID FINCHERÉ o primeiro fi lme de uma trilogia sobre a história do jornalista Mikael Blomkvist, contratado para solucionar um mistério que leva a uma trama muito maior.

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