AGOSTO 2015

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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, AGOSTO/2015 - ANO XVIII - N o 223 O ESTAFETA Nem bem teve início o mês de agosto, período de maior estiagem, constatamos o aumento do número de incêndios em nosso município. São muitas as encostas queimadas. Atingidas pelo fogo, essas áreas colocam em risco a fauna e os rema- nescentes de Mata Atlântica, além de em- pobrecer o solo, concorrer para o desapa- recimento de mananciais e deixar a paisa- gem calcinada. Piquete, que se orgulha de seu codinome Cidade Paisagem e do azulado de sua serra, deveria olhar com mais cuidado e carinho para a natureza. A fim de evitar danos irreparáveis, campanhas preventivas con- tra queimadas, a promoção do cuidado com aceiros e outras ações deveriam ser estimu- ladas. É evidente que essas queimadas – muitas delas criminosas – em agosto são resultantes de desinformação e/ou falta de conscientização quanto à necessidade de respeito ao meio ambiente. Há muito tempo, vimos agindo de forma equivocada em relação ao meio ambiente. Maltratamos tanto os animais quanto as plantas, como se essa atitude fosse natural. Não é! Essa ignorância histórica está em pro- cesso de mudança. Já é sabido que os seres vivos dependem uns dos outros; assim, for- mamos, todos, uma grande teia da vida. Antigamente era aceitável uma pessoa caçar, aprisionar ou maltratar pássaros, por exemplo. Hoje, muitas crianças já observam os animais com outros olhos e os preferem livres. Entende-se, agora, que eles fazem par- te do grande projeto evolucionário da natu- reza; além disso, eles embelezam com a plu- magem, acalmam com seu canto, controlam pragas, polemizam as flores e dispersam se- mentes... Eles têm, portanto, função essen- cial dentro desse projeto. Os comportamentos agressivos ao meio ambiente, provenientes de conceitos errô- neos, em sua maior parte, foram passados de geração para geração, tanto no ambiente familiar como no religioso e no escolar. Cri- aram-se falsos modelos segundo os quais a natureza está disponível para ser domada e o ser humano o centro de tudo. Atualmente, estamos conscientes de que somos apenas um dos elos de uma grande corrente. Não viemos para a Terra para dominá-la, mas, sim, para conviver em harmonia e com ela aprender a compartilhar e respeitar os seus recursos. A obrigação de cada cidadão é, portan- to, ampliar a percepção das outras pessoas sobre essa realidade. Provocar incêndios em campos e florestas, além de crime ambiental, é um atentado contra a vida. Mobilizada pelas redes sociais, a par- tir de junho de 2013 a população brasi- leira tem saído às ruas das grandes e médias cidades brasileiras exigindo de nossos governantes mudanças na ma- neira de se fazer política no país, além do reforço no combate à corrupção, infiltrada em todos os setores da admi- nistração pública. Já há muito tempo têm vindo a públi- co denúncias de que nossos políticos, de maneira vergonhosa, por meio das atribuições de seus cargos eletivos, san- gram descaradamente o erário. Das mais diversas formas, desde as pequenas ad- ministrações municipais aos mais altos escalões do poder federal, a corrupção se instalou e se infiltrou corroendo nos- so patrimônio. A operação Lava Jato, que vem escancarando as falcatruas do poder, aponta para a falência de nossas insti- tuições – as públicas e muitas das pri- vadas. As sucessivas denúncias de corrupção evidenciam o quanto a coisa pública foi contaminada pela falência moral do nosso sistema político e de seus agentes. O surgimento de um jo- vem e corajoso juiz, empenhado em des- vendar a roubalheira na maior empresa estatal do país, punindo corruptos e corruptores, enche de alento a socieda- de, atualmente descrente das institui- ções. Iniciada a investigação, foi-se pu- xando a meada de uma trama e, a partir de então, uma sucessão de escândalos e desvios até então nunca vistos na his- tória do país está sendo descoberta. Por trás desses desvios, persona- gens que ocupam altos cargos, blinda- dos pelo poder e pelo corporativismo, até então inatingíveis, estão sendo de- nunciados, julgados e colocados na ca- deia. De empreiteiros e doleiros delin- quentes chega-se, agora, à classe polí- tica. A recente denúncia, bem fundamen- tada pelo Procurador Geral da Repúbli- ca, encaminhada ao Supremo Tribunal Federal contra o Presidente da Câmara dos Deputados, mostra que ninguém está acima da Lei. Cabe, agora, aos minis- tros da mais alta Corte acabar com esse ultrapassado estilo de se fazer política, que transformou a desonestidade em qualidade essencial para se progredir nas empresas e na administração públi- ca. O país aguarda esse julgamento. Queimadas: é preciso combatê-las! Foto Arquivo Pró-Memória Nós, seres humanos, somos apenas um dos elos de uma grande corrente. Não viemos para a Terra para dominá-la, mas, sim, para conviver em harmonia e com ela aprender a compartilhar e respeitar os seus recursos. Provocar queimadas, além de crime ambiental, é um atentado contra a vida.

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Edição de número 223, do mês de agosto de 2015, do informativo O ESTAFETA, órgão da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.

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E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, AGOSTO/2015 - ANO XVIII - No 223

O ESTAFETA

Nem bem teve início o mês de agosto,período de maior estiagem, constatamoso aumento do número de incêndios emnosso município. São muitas as encostasqueimadas. Atingidas pelo fogo, essasáreas colocam em risco a fauna e os rema-nescentes de Mata Atlântica, além de em-pobrecer o solo, concorrer para o desapa-recimento de mananciais e deixar a paisa-gem calcinada.

Piquete, que se orgulha de seu codinomeCidade Paisagem e do azulado de sua serra,deveria olhar com mais cuidado e carinhopara a natureza. A fim de evitar danosirreparáveis, campanhas preventivas con-tra queimadas, a promoção do cuidado comaceiros e outras ações deveriam ser estimu-ladas. É evidente que essas queimadas –muitas delas criminosas – em agosto sãoresultantes de desinformação e/ou falta deconscientização quanto à necessidade derespeito ao meio ambiente.

Há muito tempo, vimos agindo de formaequivocada em relação ao meio ambiente.Maltratamos tanto os animais quanto asplantas, como se essa atitude fosse natural.Não é! Essa ignorância histórica está em pro-cesso de mudança. Já é sabido que os seresvivos dependem uns dos outros; assim, for-mamos, todos, uma grande teia da vida.

Antigamente era aceitável uma pessoacaçar, aprisionar ou maltratar pássaros, porexemplo. Hoje, muitas crianças já observamos animais com outros olhos e os preferemlivres. Entende-se, agora, que eles fazem par-te do grande projeto evolucionário da natu-reza; além disso, eles embelezam com a plu-magem, acalmam com seu canto, controlampragas, polemizam as flores e dispersam se-mentes... Eles têm, portanto, função essen-cial dentro desse projeto.

Os comportamentos agressivos ao meioambiente, provenientes de conceitos errô-neos, em sua maior parte, foram passadosde geração para geração, tanto no ambientefamiliar como no religioso e no escolar. Cri-aram-se falsos modelos segundo os quais anatureza está disponível para ser domada eo ser humano o centro de tudo.

Atualmente, estamos conscientes deque somos apenas um dos elos de umagrande corrente. Não viemos para a Terrapara dominá-la, mas, sim, para conviver emharmonia e com ela aprender a compartilhare respeitar os seus recursos.

A obrigação de cada cidadão é, portan-to, ampliar a percepção das outras pessoassobre essa realidade. Provocar incêndios emcampos e florestas, além de crime ambiental,é um atentado contra a vida.

Mobilizada pelas redes sociais, a par-tir de junho de 2013 a população brasi-leira tem saído às ruas das grandes emédias cidades brasileiras exigindo denossos governantes mudanças na ma-neira de se fazer política no país, alémdo reforço no combate à corrupção,infiltrada em todos os setores da admi-nistração pública.

Já há muito tempo têm vindo a públi-co denúncias de que nossos políticos,de maneira vergonhosa, por meio dasatribuições de seus cargos eletivos, san-gram descaradamente o erário. Das maisdiversas formas, desde as pequenas ad-ministrações municipais aos mais altosescalões do poder federal, a corrupçãose instalou e se infiltrou corroendo nos-so patrimônio.

A operação Lava Jato, que vemescancarando as falcatruas do poder,aponta para a falência de nossas insti-tuições – as públicas e muitas das pri-vadas. As sucessivas denúncias decorrupção evidenciam o quanto a coisapública foi contaminada pela falênciamoral do nosso sistema político e deseus agentes. O surgimento de um jo-vem e corajoso juiz, empenhado em des-vendar a roubalheira na maior empresaestatal do país, punindo corruptos ecorruptores, enche de alento a socieda-de, atualmente descrente das institui-ções. Iniciada a investigação, foi-se pu-xando a meada de uma trama e, a partirde então, uma sucessão de escândalose desvios até então nunca vistos na his-tória do país está sendo descoberta.

Por trás desses desvios, persona-gens que ocupam altos cargos, blinda-dos pelo poder e pelo corporativismo,até então inatingíveis, estão sendo de-nunciados, julgados e colocados na ca-deia. De empreiteiros e doleiros delin-quentes chega-se, agora, à classe polí-tica. A recente denúncia, bem fundamen-tada pelo Procurador Geral da Repúbli-ca, encaminhada ao Supremo TribunalFederal contra o Presidente da Câmarados Deputados, mostra que ninguémestá acima da Lei. Cabe, agora, aos minis-tros da mais alta Corte acabar com esseultrapassado estilo de se fazer política,que transformou a desonestidade emqualidade essencial para se progredirnas empresas e na administração públi-ca. O país aguarda esse julgamento.

Queimadas: é preciso combatê-las!

Foto Arquivo Pró-Memória

Nós, seres humanos, somos apenas um dos elos de uma grande corrente. Não viemos para a Terra paradominá-la, mas, sim, para conviver em harmonia e com ela aprender a compartilhar e respeitar os seusrecursos. Provocar queimadas, além de crime ambiental, é um atentado contra a vida.

Página 2 Piquete, agosto de 2015

Fotos Arquivo Pró-Memória

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Professor Luiz de Castro Pinto, 22Tels.: (12) 3156-1207

Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

O ESTAFETA

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Acontecimento social que agitou a co-munidade piquetense foi a inauguração, nodia 1º de setembro de 1959, à Rua do Pique-te no 35, da Sapataria Michel, agora em pré-dio próprio, com modernas instalações. Foium evento dos mais concorridos da época.Após a bênção do local, dada pelo capelãoda FPV, foi oferecido aos convidados sabo-roso coquetel regado a champagne e vinhoe iniciada a festa.

Com essa inauguração, a cidade ganha-va um estabelecimento comercial à altura dosencontrados nos grandes centros do país.A nova loja contava com grande estoquede calçados para homens, mulheres e crian-ças: lá podiam ser adquiridas as últimas no-vidades em calçados em cromo, camurça,vaqueta, pelica, búfalo etc. As vitrines, de-coradas com bom gosto e elegância, atraíamos olhares de todos e eram um convite parase visitar a loja. “A Sapataria Michel era umestabelcimento bem montado, com instala-ções amplas e modernas, podendo ser con-siderado um dos melhores e mais ‘chics”da região”, anunciava o “A Voz de Lorena”.Uma novidade para os piquetenses!

Para iniciar a solenidade de inaugura-ção, discursou o vereador Raul Soares deOliveira, que, em simples e bonitas palavrasenalteceu a simpática e moderna loja de cal-çados e os esforços dos irmãos Gosn emtrazer mais progresso para a cidade. Em agra-decimento às palavras de Raul Soares, fezuso da palavra o senhor Elias Gosn, irmão

do proprietário, que disse se sentir imensa-mente satisfeito com a presença de todosos convidados e também por poder propor-cionar a Piquete um estabelecimento à altu-ra do que a cidade merecia. Em seguida, foientregue à senhora Maria Nazaré de CastroViana um lindo par de sapatos Luiz XV comoprêmio por ter sido ela a vencedora do con-curso promovido pelo jornal “O Regente”,que definira o nome da nova casa de calça-dos – “Sapataria Michel”.

Michel Gosn, o proprietário da loja, che-gou a Piquete em meados de 1952. Integrou-se de imediato à sociedade piquetense. Aquijá residia, havia muito tempo, sua irmã,Nágila, casada com o senhor Elias Hankis.O casal foi pioneiro de uma loja de armari-nhos na Praça da Bandeira, que se tornariatradicional em Piquete. Além da irmã e docunhado, o irmão, Elias Gosn, já morava aqui,também. Ele era o proprietário da loja “AMarquesa”.

À inauguração da Sapataria Michel com-pareceram diversos representantes da soci-edade piquetense. Entre eles, ficaramregistrados os nomes de Luiz Vieira Soares,Christiano Alves Rosa, Antônio Brasilino,Luiz Gonzaga de Meirelles, Norival Crispimde Castro, major Michel, capitão AlfredoMarun, professores João Vieira Soares eJoão Evangelista do Prado, Josaph Cardo-so, Belmiro Correa Lima, Eupídio O. Souza,os irmãos José de Souza e Francisco Viana,e Dulce e Oswaldo Peixoto, Milton Costa,

as professoras Mirthes Mazza e SuelyTeixeira e as irmãs Mariinha, Matilde e Arle-te Ferreira, os vereadores Pedro Mazza, Ge-raldo Gonçalves, Carlos Vieira Soares eVicente Alves de Freitas, o jornalista Do-mingos José Antunes e esposa, ReginaSeichas Antunes, redator representante da“A Voz de Lorena”, Geraldo Dal Paggeto,gerente do Banco Moreira Sales, de Lorena,Mirthes de Oliveira, de São Paulo, FernandoGosn, do Rio de Janeiro, e muitas outraspessoas que passaram pelo local para cum-primentar o grande empreendedor.

A Sapataria Michel, que tinha comoslogan “A casa que dá conforto aos seuspés”, foi, por muitas décadas, referência embom gosto e conforto para os pés, e marcono comércio de Piquete.

A “Sapataria Michel”

Imagem - Memória

O ESTAFETA Página 3Piquete, agosto de 2015

Lucas dos MarinsGENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

“A simplicidade é a verdadeira elegân-cia”. Esta frase representa perfeitamente apersonalidade do responsável pela criaçãoe manutenção do “Cantinho Histórico dosMarins”, local que já se tornou parada obri-gatória para quem visita o Bairro dos Marins,em Piquete.

A elegância natural de Lucas Rodrigues,nascido a 23/11/1942, é a primeira impres-são que se tem ao encontrá-lo. O acentuadosotaque desse “mineiro, nascido na atualMarmelópolis – desmembrada de DelfimMoreira –, torna ainda mais agradável ouvi-lo contar “causos” e a história de sua vida.

Lucas é o penúltimo dos quinze filhosdo casal José Carlos Rodrigues e FranciscaRibeiro Rodrigues. “Vim morar no Bairro dosMarins com cinco meses e tô plantado aquiaté hoje...”, afirma, bem-humorado e con-victo da importância do pequeno bairro ru-ral em sua vida. A infância foi sempre pelosmorros íngremes do Bairro. Conta que “nãogostava muito de estudar...”. Com aulas nacapelinha do bairro, cursou, então, até a ter-ceira série do primário “e um pouco do quar-to ano, em casa mesmo...”. Em sua casamoraram alguns professores, entre elesChico Máximo: “Certa noite, depois que to-dos já dormiam, o Chico, enrolado no co-bertor, foi corrigir os cadernos dos alunos àbeira do fogão a lenha... Dormiu lá mesmo ecaiu em cima do fogão...”, conta, entre ri-sos, ressaltando o carinho pelo professorque se tornou amigo.

“Meu negócio era o trabalho com gadoleiteiro, boi de arado e tropa de burros”, afir-ma. E foi assim que tocou sua vida... Aosdoze anos já era o responsável por levar,sozinho, o leite até a estrada, que fica a cer-ca de 14km de sua casa: “Era tudo no lombodo burro”, conta. Com cerca de quinze anos,aprendeu a amansar bezerros e passou a tra-balhar arando terras. O arado era conduzidocom uma junta de bois. Aos vinte anos ad-quiriu um “candeial” e viu-se obrigado acomprar uma tropa de burros para fazer otransporte da candeia. As atividades deenfeixar lenha, carregar os animais, tudo lhefoi ensinado pelo amigo Vitorino, que pas-sou a trabalhar com ele na condução da tro-pa. Até a primeira metade da década de 1980trabalhou com tropas: “Transportava detudo – candeia, lenha, feijão, tijolos, areia...Tinha a ajuda de irmãos e sobrinhos nalida...”. Afirma que, em função dessa ativi-dade “conhece o Bairro e as matas na palmada mão”.

Quando contava 23 anos – “um velhopra época” –, conheceu a futura esposa,

Maria Irene Pinto Rodrigues. Três anos de-pois – “uma eternidade”, afirma –, em 15 denovembro de 1969, casaram-se. Tiveram cin-co filhos, que lhes deram sete netos. “Meuúnico filho homem morreu com dezoitoanos”, conta, visivelmente emocionado.

Em 2002, incentivado pelo amigo ValdoNunes, Lucas montou o “Cantinho Históri-co dos Marins”, onde expõe apetrechos deseu trabalho, fotos e documentos da famíliae do bairro. Fazem parte do acervo duas ima-gens que mostram a construção da capelado bairro, em 1937, em pau a pique. Conta,orgulhoso, que a reforma da igrejinha foitocada pelo seu pai, em 1951, e que o localem que foi construída a escola do Bairro foidoação de sua família.

A simplicidade de Lucas lhe confere ele-gância ímpar, caracterizada, especialmente,pela educação, postura e gestos contidos.As mãos fortes movimentam a sanfona, suapaixão: “Gostei de sanfona a vida toda; to-car eu não sei, mas faço barulho... Toco nasfestas, na igreja...”, conta. “Quando moço,eu era um curisco na gaita de boca”,complementa...

Prestes a completar 73 anos, Lucas mos-tra-se um homem realizado. “Depois da mor-te de meu pai, tomei pra mim a responsabili-dade sobre a família. Terminei a obra inicia-da por ele e construí a minha...”. As lem-branças são boas: “Tem noites em que so-nho que tô trabalhando com burros... Quan-do acordo, fico triste... E estou cansado...”,

conta. Lucas preocupa-secom a continuidade das tra-dições. Diz que o neto dedoze anos já sabe tirar leite:“Eu aprendi com seteanos... Ele já tá até ‘velho’”.Mantém as característicasoriginais da casa dos pais,onde vive, e busca trans-mitir aos descendentes apreocupação com os valo-res que cultiva. Os suavesolhos azuis, que marejamsempre que fala da famí-lia, nos dão a certeza deque é certo o sucesso desua empreitada.

A letra de uma conhecida marchinhade carnaval diz “bandeira branca, amor! Euquero paz!”.

Penso que hoje as pessoas perderam anoção da beleza da paz, da plenitude debem-estar por ela proporcionada. O Brasilestá vivendo tempos em que o que menosse percebe é a paz. A mídia traz, diariamen-te, roubos, homicídios, chacinas, estu-pros... A estatística da violência no paísimpressiona: escancaram números superi-ores aos de países em guerra civil. Os mor-tos no trânsito brasileiro ultrapassaramquarenta mil em 2013; os feridos cento esetenta mil! Esses dados nos colocam en-tre os países que mais matam na “modali-dade” trânsito... Triste pódio!

Acredito eu que, no Brasil especifica-mente, a violência seja reflexo, entre ou-tros motivos, das barbaridades que asso-lam a população agredida diariamente pelacorrupção e pelos desmandos de uma clas-se política desconectada da realidade. Adesesperança e o descrédito em um paísmelhor, mais desenvolvido culturalmente,mais igualitário economicamente e lidera-do por políticos sérios e comprometidoslevaram o povo à inércia sentimental – oindividualismo exacerbado, um salve-sequem puder em que o que menos importa éo próximo. Nessa condição, tudo é motivopara reações explosivas de raiva e intole-rância. As redes sociais são um termôme-tro dessa condição: ainda mais isoladas,as pessoas vêm se tornando cada vez maisrefratárias a opiniões contrárias. Não hádebates saudáveis, pois não são aceitosos argumentos por nenhuma das partesenvolvidas. Dessa forma, não há troca deteses e, consequentemente, não há pro-gresso, não há crescimento. Essa intole-rância está se tornando crônica. E, nessecaso, parece-me, o estrago é mundial. Pu-lulam casos de extremismos por todo omundo. Como consequência, guerras emortes tornam-se banais.

O mundo está doente. E o cerne da pa-tologia é, em minha opinião, a intolerân-cia. A bandeira branca, que pede paz, hámuito foi recolhida. A vermelha, alertandopara o perigo, tomou seu lugar. Regredimosnas relações interpessoais e os resultadosdessa regressão levam, sem dúvida, a maisintolerância e ao agravamento da doença.

Atendo-nos ao Brasil, a intolerância éacrescida pela revolta gerada pelacorrupção e pelos desmandos de políticosque governam o país sem comprometimen-to algum com o cidadão. Nosso país estáse dividindo entre “os bons” e “os ruins”– situação em boa parte alimentada peloatual governo – e essa condição está par-tindo a nação, retalhando o sentimento depátria e hasteando inúmeras bandeiras ver-melhas. Se não nos atentarmos para elas,não haverá salva-vidas que dê conta.

Bandeira vermelhaLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Lucas e Irene: uma família feliz!

O ESTAFETA Piquete, agosto de 2015Página 4

O papa Francisco tem revolu-cionado o pensamento da Igrejadentro da modernidade. Foi preci-so que um originário do MundoNovo chegasse à alta hierarquiaeclesiástica para termos um pen-samento renovado não aceito pe-los conservadores.

Prelados católicos conserva-dores reagiram contra documentopontifício que, segundo a mídia,divulgando a notícia, apresentauma abertura em relação aos ho-mossexuais e divorciados.

Documento que foi gerado em umSínodo durante a Assembleia Geral Extra-ordinária (2014). De acordo com esseSínodo – uma espécie de parlamento docatolicismo – é admitida, sem aceitaçãogeral dos participantes, a possibilidade daaprovação do casamento gay em nome de“um apoio precioso para a vida dos parcei-ros”. O papa Francisco, em sintonia comos reclamos da nova sociedade mais dis-posta a aceitar o outro se sensibilizou coma discutida questão e mostrou-se abertoao diálogo. As leis civis de alguns paísesjá aceitam essa forma contratual de com-portamento nas sociedades.

Outra formulação de Francisco é a deque fiéis divorciados que se casaram denovo não devem ser condenados, mas acei-tos em beneficio de suas famílias. Afinal,uma realidade socialmente constituída a serreconhecida e acatada.

Entretanto, a natureza dessas temáticascontinua a ser debatida na cúpula da Igreja,em que Francisco atua com cuidado em meioàs discussões entre liberais e conservado-res. O papa conhece muito bem a engrena-gem da Cúria Romana para mover as peçasmais emblemáticas e mexe-se com cuidado.O pensamento filosófico do papa apura-sena apresentação das propostas e prova serdesejoso de conduzir o Evangelho com ale-gria e paz. Afinal, o matrimônio para a Igrejaé um sacramento e este é um forte argumen-to pelos dissidentes.

Mas, corajoso, o papa Francisco segue

Francisco, um papa revolucionário

em propósito modernizador para admitir con-ceitos científicos ao lado de crenças arrai-gadas pela tradição.

Habilmente, Francisco, bom comuni-cador sobre a origem do mundo, argumentaque o Big Bang (a grande explosão de di-mensão universal), e que teria dado origemdo que chamamos mundo (o corpo celesteda Terra e dos demais astros), “não contra-diz a intervenção criadora, mas a exige”.Desse modo, a evolução da natureza nãoseria incompatível com a noção de criação.Pois, a citada evolução exigiria a criação deseres que evoluem.

O papa Francisco estaria apoiado em duasEncíclicas de Pio XII – a “Humani Generis”que considera que o que tenha havido veioda ação divina (1950), e a “Divino AfflanteSpiritu” (1943) que reconhece hipótesescomo as da evolução do Big Bang.

A discussão sobre o tema aconteceu emoutubro de 2014 em evento na PontifíciaAcademia de Ciências, no Vaticano. Foi re-gistrado pela mídia que o papa Franciscodisse, “Quando lemos no Gênesis (primeirolivro da Bíblia) sobre a criação, corremos orisco de imaginar que Deus tenha agidocomo um mago, com uma varinha mágicacapaz de criar todas as coisas. Mas não ébem assim”.

A partir dessas considerações diminu-em as tensões sobre a celeuma criada entrecientistas e religiosos. É de longa data a bus-ca da compreensão sobre a origem do mun-do – desde Galileu e Copérnico o estudodos astros e seus movimentos buscam en-

tender a complexidade do univer-so. Quando Pio XII discutiu o“Divino Afflante Spiritu” – sob ainspiração do Espírito Santo – re-comendava que os textos bíbli-cos não fossem interpretados aopé da letra.

A partir daí, provavelmentepoderemos dizer que as Teoriasdo Big Bang e da Evolução dasEspécies (Charles Darwin) passa-ram a ser aceitas pela Igreja Cató-lica, aceitação não popularmente

divulgada. Reservava-se aos encontros aca-dêmicos católicos e leigos. A absolvição deGalileu da condenação pelo Santo Oficio,por suas teorias avançadas, deu-se em 1992,pelo Papa João Paulo II, que admitiu o en-gano da condenação do cientista por insis-tir na Teoria Heliocêntrica de Copérnico, ad-mitindo ser o sol, centro do universo, e osoutros astros, atraídos por ele, girando-lheem tomo. Desde aí o progresso das pesqui-sas científicas enriqueceu os estudos as-tronômicos e permitiram chegar à Lua e de-senvolver a chamada corrida espacial.

O papa Bento XVI também elaborou co-gitações a partir das duas teorias e, filosofi-camente, considerou as teorias neo-darwi-nianas na impossibilidade de admitir a evo-lução como não planejada. Aí entra a açãodivina?

Lembro-me de uma excursão ao Rio deJaneiro de nossa turma da Escola Normalpara conhecer os grandes centros de pes-quisas, e entre eles o do “Instituto Mangui-nhos” e do “Museu Nacional”, que os pes-quisadores cientistas nos alertavam sobreas teorias admitindo cada uma em ação noseu campo. Deixaram-nos pensativos ecogitadores – intenção que era dos nossosmentores, o professor Leopoldo Marcondesde Moura e o então major Faro.

Afinal, em nossa época de alunosnormalistas fomos levados a Simpósios eCongressos em diferentes cidades – um ex-celente estímulo de nossa destacada Esco-la Normal Livre Duque de Caxias.

Doli de Castro Ferreira

Reprodução

Vai, menino.

Se não podes alcançar os céus de

teus sonhos,

dá linha à tua imaginação,

alcança as alturas

no dorso do vento

que sustenta o papagaio azul.

No dorso do ventoPor onde vagueia

a nossa solidão?

Por onde sozinha anseia?

Por onde?

Não sei...

Por onde

sozinho

vaguei.

Vácuo

Sérgio L. MaduroA.M.G.

Mulher poeta,

Enluarada e exata,

Santuário de flores, frutos e

segredos.

Tua palavra é incendiada seta

Que brota da alma

E vai florir nos dedos.

Floração

Myrthes Mazza

O ESTAFETA Página 5Piquete, agosto de 2015

A conquista dos territórios na ocupa-ção dos espaços se deu através da luta nabusca dos terrenos férteis para a produçãode alimentos, fibras, e construção de abri-gos (origem das casas). Dessa forma, foipossível a sedentarização de povos nôma-des e, consequente-mente, osnucleamentos em vilas, bairros, de-pois cidades, e, finalmente, na or-ganização espacial polarizada numcentro de comando e administração– os Estados com soberania numdeterminado conjunto com jurisdi-ção própria, organizações trabalhis-tas e meios de circulação. Em cadanucleamento a definição de propó-sitos, os cuidados básicos comoeducação e saúde, e a idealísticaideia de pertencimento, identidade,soma de desejos aceitos mutuamen-te representados como nacionalida-des, cultivo de um idioma padrão,símbolos pátrios, isto é, dos locais de nas-cimento e constituição familiar, bases de umasociedade representada por selo, bandeira,hino, formas coesivas para manter uma for-ma de representação a ser respeitada e cul-tivada por todos.

O uso do disponível natural, terra, solo,tipo climático, água e condições topográfi-cas pelo trabalho sistemático, contínuo eorganizado, davam, por definição, os mol-des de produção, apropriação dos resulta-dos, abastecimento e expansão comercialdos excedentes, cujas trocas definiram ocomércio de mercadorias, bens e serviços.A economia, organização derivada desseselementos, constituiu-se por leis, normas eregulamentos.

A posse dos territórios, e, portanto, aocupação espacial complexamente organi-zada passava a expressar a constituição dopoder. A posse de um território como ex-pressão de poder exigia sua defesa, a cons-tituição de forças armadas. Estas, entendi-das militarmente, além de garantir a defesa,representavam forças de ataques extra-territoriais para expandir as áreas de domí-nio. As guerras tornaram-se comuns, e os

O espaço da lutageopolíticas, isto é, entre as sociedades eos Estados em suas relações e na preserva-ção do meio ambiente em nome da vida e denosso habitat, a nossa casa – a Terra. Daí orespeito que Francisco impõe e recebe emnome de uma Igreja moderna, humanizada,

que ele, com seu exemplo, açõese pronunciamentos, sabe seradmirado. O que lhe reforça aresponsabilidade da imagem.

As ações humanas na re-part ição dos espaços ter-ritoriais ligam-se aos aspec-tos políticos que gerenciam asorganizações. A conquistaterritorial, tornada uma neces-sidade, explica a expansão ma-rítima do século 16 em diante.As “descobertas” eram dadasnas áreas novas e não total-mente conhecidas, apenas fre-quentadas nos imaginários ri-

cos de lendas e símbolos. A expansão ma-rítima levou aos minérios, às especiariase matérias-primas estimulantes do comér-cio e das revoluções industriais. Nos es-tabelecimentos coloniais, os impérios do-minaram exterminando os povos nativos,escravizando, apropriando-se dos bense impondo a cultura da dominação, lín-gua e religião principalmente.

Hoje, libertas dos antigos jugos, as an-tigas colônias, constitutivas de novos Es-tados, vivem exauridas amargando os resul-tados negativos dos exploradores. As ideo-logias animam novos costumes e hábitos,mas afloram as tradições a serem recupera-das. É o chamado processo pós-colonialista.Entretanto, uma política de potênciasinstrumentaliza novas guerras, não maismundiais, mas tão destrutivas quanto aque-las. As migrações das antigas áreas coloni-zadas para as sedes europeias imperialistassão um episódio de desespero e frustrações.Migrações dadas inclusive, entre espaçosex-colonizados em situação de emergentescomo o Brasil.

Dóli de Castro Ferreira

motivos alegados, vários. Mas os fins, omesmo – o domínio territorial e tudo nelegerado.

O exercício científico em vários camposdo conhecimento humano deu margens aocabedal de realizações quer no campo da

ciência pura, investigativa e da aplicada emequipamentos de trabalho, e de lutas, comarmas cada vez mais sofisticadas. Um cam-po altamente competitivo a exigir cérebrosbem instrumentalizados, força de trabalho,treinamento de mão de obra até ao máximoda robotização. O homem dispensado pelamáquina com tempo para o lazer produtivono campo abstrato e cultural.

A complexidade desses sistemas é temade discussões intelectuais de alto nível en-quanto os meios computadorizados, virtu-ais e de alta tecnologia circulante nos espa-ços siderais, isto é, extraterritorializados, tor-nam porosas as fronteiras físicas e geopo-líticas criadas pelos Estados.

Como o ser humano encara esses de-safios?

A recorrência à memória, à defesa domeio ambiente, à preservação do espaço fí-sico e sua conservação inquietam os que sededicam a orientar o pensamento e a educaras comunidades no entendimento entre olocal, o regional e o nacional. Não é, assim,sem motivos que notamos o papa Francis-co, um dos grandes líderes mundiais, preo-cupado com o apaziguamento nas questões

Agosto, o Mês do Folclore

Reprodução

São Paulo foi o primeiro estado brasi-leiro a instituir agosto como o Mês do Fol-clore. Isto se deu por meio do Decreto48.310, de 27 de junho de 1967. A partir deentão, em todo o estado a preocupaçãocom o resgate e preservação de nossas tra-dições foi se tornando maior.

O Vale do Paraíba, região de coloniza-ção das mais antigas do Brasil, é riquíssimoem manifestações folclóricas. Isso se deveà formação do povo valeparaibano: as pri-meiras famílias brancas de origem ibéricaaqui se fixaram, no século XVII e passarama ter contato permanente com os índios ha-bitantes da região, o que resultou num pro-cesso irreversível de assimilação cultural.

Como herança indígena, constatamosem nossa região uma alimentação compos-

ta de cará, mandioca, inhame e farofa de içá.Também o uso de utensílios domésticoscomo cuia, gamela, potes de barro, pilão,balaios etc mostra traços dessa herança.Isso sem falar em lendas e tradições... Poroutro lado, a cultura ibérica permanece nareligiosidade, no modelo de administraçãopública, nas festas populares, lendas e tra-dições.

Com a introdução do negro como mão-de-obra escrava, especialmente no séculoXIX, para o trabalho na cultura cafeeira, no-vos valores culturais foram assimilados pelapopulação. Evidenciamos a influência ne-gra no sincretismo religioso, na alimenta-ção, nos instrumentos musicais etc. Nasdanças, a herança da cultura negra é muitorica: capoeira, batuque, jongo, samba etc.

Nós, valeparaibanos, somos herdeirosde uma cultura rica, fruto da miscigenaçãoe caldeamento dessas três raças. O folcloreé o retrato do homem. Em Piquete, a exem-plo de outros municípios, ele acontece du-rante todo o ano em diferentes manifesta-ções: folia de reis, boi de carnaval, SantaCruz, Cavalaria de São Benedito, festasjuninas, festa do tropeiro, ciclo de festasnatalinas e outras.

A criação do dia e do mês do Folclorepelo governo mostra que o poder públiconão pode ficar indiferente à difusão e à de-fesa do folclore, pelo que ele representacomo espelho da alma popular e amálgamade conhecimentos e práticas que contribu-em para fortalecer os laços da comunidade,da nação e da fraternidade humana.

O ESTAFETAPágina 6 Piquete, agosto de 2015

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

CientificaçãoEdival da Silva Castro

Já contei essa história mais de mil vezes.Agora resolvi deixá-la registrada...

Tudo começou em Piquete, quando em-barquei na Maria Fumaça, na estação daEstrela, às 8h de uma linda manhã de prima-vera, com destino à cidade de Lorena.

Desci na Ponte Nova e fui para a bocado cano (o condutor dos resíduos despeja-dos no rio Paraíba do Sul, provenientes domatadouro). Ali ajuntavam-se muitos pes-cadores, num festival colorido de varas echapelões de palha. A preferência deles eramos lambaris, fisgados até pelas costas detanto que tinha.

Eu costumava pescá-los com anzol “olhode mosquito” e linha 20mm, com boia de cor-tiça. A cada afundada da boia um lambariera erguido. Para se ter ideia, entre 8h e 14hpescavam-se entre 400 e 500 lambaris.

Eu e alguns amigos de Piquete costumá-vamos ir ao Paraíba pelo menos três vezespor semana. O lugar onde ficava a boca docano, por ser bastante frequentado, era des-provido de mato. O pescador ajeitava-senum assento improvisado e passava horase horas dando banho na minhoca...

Naquele dia a sorte me sorriu. Já tinhapescado uns trinta lambaris quando resolvideixar a vara de espera, tomar um cafezinhono bico duma garrafa de guaraná e acenderum cigarro. Após queimar o Continental, aoretomar posse da vara notei que a boia esta-va afundada e a linha pesada. Pensei: sópode ser enrosco. Alguns pescadores quese encontravam por ali já foram falando:“Esse é dos grandes!” E davam risada. Fi-quei na minha. Puxava a linha e nada... Avara envergava... Por pouco, muito poucomesmo, não se quebrou. Aí resolvi puxá-labem devagar e comecei a fazê-lo e a me afas-tar da margem. Começou a dar certo. O su-posto enrosco vinha emergindo. Eu, de frentepara o rio e andando de costas, continuavapuxando a linha lentamente... De repente,uma enorme cabeça de peixe apareceufisgada no minúsculo anzol. Um senhor quese encontrava do meu lado gritou: “Meni-no, vou pegar o puçá! Você pegou umpeixão!”

Somente a cabeça do peixe coube nopuçá. Era um dourado de tamanho razoável:presumíveis cinco quilos.

Quando fui extrair o anzol de sua boca,notei que o mesmo havia penetrado numdente cariado e o coitado do peixe, talvez dedor, não esboçara reação. Por isso não bri-gara para sobreviver.

Minha sorte foi ter mais de quarenta pes-cadores como testemunhas... Caso contrá-rio, ninguém acreditaria que o dente do dou-rado estava cariado...

Dente cariado

Uma notícia dada indiferentemente, porcerto considerada pelo informante como desegunda categoria, entre todas que me pôsa par do mundo da minha cidade natal, dei-xou-me meditativo.Entre as que com entu-siasmo contava, ela veio de cambulhada,mais parecendo uma notícia de rodapé depágina:

– Mataram o Manecão com três tiros!Teria parado aí a manchetinha não fosse

meu interesse pelo acontecimento. Tinha-se entregue à bebida e tornara-se o valen-tão da cidade. Sempre metido em arruaças,por diversas vezes tinha ido preso. Houveum entrevero num botequim. Muitos briga-ram, mas Manecão à frente. Não se sabequem disparou um revolver atingindo-o portrês vezes. Morreu na hora e o corpo foiabandonado na rua até a polícia encontrá-lo. Sua morte tinha sido considerada comogrande benfeitoria para todos, em resumo.Esta era a notícia, levada mais a fundo porminha curiosidade.

Conheci o Manecão apenas por um ano.Ele viera do sul de Minas Gerais e fizemosjuntos a quarta série primária. No ano se-guinte, mudei-me de cidade e nunca mais ovi. E o que me faz lembrar tão bem dele aponto de, passado tantos e tantos anos, anotícia de sua morte me deixar melancóli-co?! Simples... Vejam: tínhamos na época unsdozes anos de idade. Ele, por volta de ummetro e setenta, por aí... Corpanzil de ho-mem, destoava inteiramente da arraia miú-da, que éramos o resto. Embora fosse a tor-re eiffel da escola e eu o alicerce da ditacuja, nos dávamos muito bem. Creio ter sidoo único amigo de confiança dele. O que meera muito confortante, pois quem teria cora-gem de se meter comigo com um guarda-costas daquele como ensombro?!

Reclamava-me sempre de suamarginalização. Na escola, não podia brin-car com a turma porque era muito grandepara estar no meio da pirralhada. No bairro,era proibido de divertir-se com os do seutamanho, já que era muito criança. Vivia, as-sim, em isolamento, criando um mundo ondesó ele participava. Achavam-no estranho,introspectivo. Andava sempre só.

Na sala de aula, era desligadão. Senta-va-se na última carteira, por motivos óbvi-

os. A professora precisava falar pelo menosumas três vezes o seu nome para que res-pondesse “presente”. Aquela enorme mas-sa estava ali; ele, provavelmente em Minasou onde só Deus sabia. Dava umas duasalturas da professora, já idosa, coque nacabeça, óculos sempre pendurados na me-tade do nariz adunco. A “fessora” fica real-mente encabulada com suas adições. Nãoconseguia fazê-las nunca pelo método nor-mal – adicionar primeiro as unidades, de-pois as dezenas, centenas etc. Fazia-as in-versamente e acertava sempre.

Era inteligente, espirituoso e perspicaz.Talvez como defesa, a tudo ironizava. Lem-bro-me de que na festa de formatura quasematou o Diretor e o corpo docente de emba-raço. Naquele tempo, era solene a conclu-são do curso primário. Após a missa cam-pal, eis-nos, todos uniformizados, limpinhos,sentados nos bancos da frente do galpão,aguardando a composição da mesa que diri-giria a solenidade lá do palco. Abertura comHino Nacional, falas do diretor, do paraninfoe do orador das turmas, recitações, entregade medalhas aos primeiros alunos e, final-mente, a chamada nominal de cada forman-do. Conforme éramos chamados, aguardá-vamos a madrinha – geralmente as mãezi-nhas orgulhosas –, subíamos ao palco e re-cebíamos o canudinho verde contendo den-tro o tão almejado diploma. Apertávamosmãos que não acabavam mais... Descíamospela escada contrária, beijos na madrinha e,garbosos, retornávamos ao primitivo lugar.

Não se sabe como, de onde tirou oucomo surgiu aquilo, mas, na hora de descerdo palco, juntamente com sua mãe miudinha,Manecão aparece com um enorme cartuchode quase um metro de comprimento... Segu-rava-o bem ao alto da cabeça. Foi uma só esonora a gargalhada de todos os presentes.Dificílimo ao condutor dos trabalhos foi fa-zer voltar à respeitabilidade aquele ambien-te pomposo.

Entre as pequenas lembranças que te-nho do Manecão e o triste final de suavida um longo tempo percorrido... Levo-me a crer que seu insulamento na infânciaveio transformá-lo num desconvizinho domundo e, por desafronta, desrespeitou-o,enxovalhou-o...

O salesiano Padre Mário Bonatti lançou,neste mês de agosto, novo livro: “O que penso

da vida, do mundo e de Deus”, umaautobiografia espiritual e científica.

O lançamento ocorreu em eventos noUNISAL Lorena organizados pelo CentroUniversitário Salesiano de São Paulo.

Cidadão honorário piquetense, Pe. MárioBonatti é muito querido em nossa comunidade.Parabéns!

O ESTAFETAPiquete, agosto de 2015 Página 7

Era dia dos pais. Carregamos a pequenacaminhonete FIAT com móveis desmonta-dos, colchão, fogão e pequenas bugigan-gas de um lar. Partimos pouco antes do al-moço. Subimos a serra em direção a MinasGerais. Praticamente não havia carros nocaminho. Nenhuma ultrapassagem foi neces-sária. Também ninguém nos ultrapassou.Passamos rápido por Itajubá e chegamos aPouso Alegre num piscar de olhos. Nemmesmo na região de Santa Rita encontra-mos muitos carros. De Pouso Alegre aAlfenas foi ainda mais interessante: ninguémna estrada. Nesse dia, foram apenas duashoras e vinte minutos de Piquete até Alfenas.Eu e meu filho, lado a lado na pequenaFiorino. No caminho batemos papos des-pretensiosos. Falamos de sua faculdade,iniciada no meio do ano, da nova casa emque ele iria morar, dos problemas envolven-do computação, das equações de cálculo,de integrais e derivadas. Nós dois. Apenasduas horas e um pouco mais de estrada. Nomeu peito a sensação de levá-lo e de saberque ele havia chegado lá. Ficou uma recor-dação saborosa daquele dia dos pais. Umpai, um filho e um mundo pela frente. Ummundo de desafios e de vida.

Recordando esse fato, remeto-me a umpassado mais distante. Eu, meu pai e meuirmão na boleia de um caminhão, nas longassubidas vagarosas das serras. Terceira, se-gunda, primeira. O ‘abotoar’ da reduzida quemeu pai sempre fazia com um largo gesto. Orepicar da embreagem que foi aprendido noscaminhões de câmbio seco. A alavanca decâmbio sendo absorvida pela marcha redu-zida. Lembro-me do cantar triste do cami-nhão quase parando nos topes da vida.

Devagar. Lamúria de um motor. O calor daboleia e a gente lá. Na expectativa da próxi-ma brincadeira de meu pai. Um trava-línguaspara passar o tempo? “Pardal palro, por quepalras?”. E papai se divertia vendo a gentese enrolar tentando repeti-lo. Ou ele inven-tando nomes para as placas de trânsito: umaseta era “índio na pista”; pista escorregadiavirava “minhoca na pista”. Ou, ainda, a brin-cadeira de cutucar a gente para passar otempo. E, de vez em quando, a parada numposto. Que alegria! Lembro-me de ele ter ditoque o misto-quente se chamava “pão comsanduíche”. A gente sempre pedia isso. Osatendentes de posto sempre riam. Tenhocerteza de que ele contava que era mistoquente. Mas não víamos. Um pai e dois fi-lhos. Nas longas viagens, que foram sem-pre tão curtas. Os caminhões quebrados naserra. A gente indo embora a pé e ele pondomedo na gente: “Cuidado com a onça noescuro”. As brincadeiras nas praias aondeíamos de caminhão carregado de explosivos.Voltávamos num calor absurdo, cobertos desal e areia que roçava no banco das cabi-nes. Mas estávamos muito, muito felizes.

Isso me faz lembrar, ainda, das viagenspara visitar minha tia num hospital em Cam-pos do Jordão: meu avô, meus pais e nós.Numa velha rural (willys). Mamãe prepara-va o almoço e punha nas marmitas. No ca-minho por São Francisco, Onça e Charco,papai e vovô contavam piadas. Conversa-vam sobre tudo. A alegria e desventuras davida. Íamos lá nos fundos do carro admiran-do a mata e brincando. Às vezes brigando.No caminho, vovô com o bom humor carac-terístico e suas rezas. Comíamos no meio dohorto florestal sobre uma toalha e debaixo

dos pinhos bravos. Piquenique: arroz, tutu,carne assada com batata e um guaraná queera gelado no ribeirão. Em Campos, visitá-vamos a titia. Recordo-me dos pacientesrecebendo os parentes. Um violão tocavaAdoniram Barbosa: “Saudosa maloca,maloca querida...”. E o tempo se esvaía. Vol-távamos pelo mesmo caminho cheio de pe-dras e buracos. Pai e filho. Pai e filhos. Nãosei quantos anos eu tinha, mas não me es-queço dos momentos com meu avô. Ele deveestar rindo dessas lembranças (porque meuspensamentos chegam sempre até ele). Meupai certamente não se esquece também. Eeu me recordo  de meu pai sempre feliz quan-do um volante está em suas mãos. Levandonossas vidas com carinho pelos caminhosdo mundo. Caminhoneiro, taxista, motoris-ta.

Hoje sou eu que conto as histórias parameu neto. Para ele eu dirijo. Para ele sou oavô que conta as mesmas histórias e estóri-as de meu pai. Sou eu o motorista a brincare diverti-lo. Sou eu a fazer os seus momen-tos. Eu e meu genro. E ele se lembrará, umdia, bem no futuro, do avô que se foi e atémesmo do bisavô. E os momentos estarãoem seu coração.

Meu avô, meu pai, eu, meu filho e meuneto. E os grandes presentes que são osmomentos. E notar que os momentos jamaisacabam. Ainda que nossa mente envelheça.Ainda que façamos confusões com as his-tórias reais. Ainda que a borracha do temposeja impiedosa. Os momentos se fazem pre-sente e os melhores presentes são os mo-mentos.

Luiz Flávio Rodrigues

Dia dos Pais

Os 200 anos de Dom BoscoNeste mês, a comunidade católica

piquetense une-se à grande família salesiananas comemorações do bicentenário de nas-cimento de Dom Bosco. Essa data jubilar éuma oportunidade para se recordar a obradesse grande educador nascido em Turim,na Itália, em 16 de agosto de 1815.

A pedagogia e o carisma de Dom Bosco,baseados no tripé “razão, religião e afeto”,atravessou o Atlântico no final do século19, aportando no Rio de Janeiro em 14 dejulho de 1883. O trabalho salesiano em ter-ras brasileiras foi iniciado em Niterói, RJ, como Colégio Santa Rosa, que abriu suas por-tas tendo apenas dez alunos matriculados.Em pouco tempo, a atividade salesiana ga-nhou força e importância – o colégio cres-ceu, teve inicio o Oratório e foram abertosos chamados “cursos de artes e ofícios”,sem descuidar da formação geral, cultural ereligiosa. Era, já naquela época, o que hojechamamos de “formação integral” do edu-cando. O foco na educação dos jovens fi-lhos das classes populares, especialmenteex-escravos e imigrantes, foi preponderan-te na fundação da segunda obra salesianano Brasil: o Liceu Coração de Jesus, em SãoPaulo, em 1885.

Em 1890, os salesianos chegam a Lorena,construindo o Colégio São Joaquim, marcohistórico educacional no Vale do Paraíba.Pouco depois, em 1892, as primeiras Filhasde Maria Auxiliadora chegam a Guara-tinguetá para estender às meninas o carismaeducacional de Dom Bosco e Madre MariaMazzarelo. Em julho de 1894, a missãomissionária entre os povos indígenas, ou-tro ponto importante da proposta salesiana,

tinha início em Cuiabá, no estado de MatoGrosso. A pedagogia de Dom Bosco expan-diu-se por todo o país. Criaram-se escolas,da educação infantil ao ensino superior, cen-tros de formação profissionalizante, Ora-tórios, obras assistenciais e sociais.

A Diocese de Lorena deve muito aossalesianos. Eles ocuparam espaço signifi-cativo no processo de evangelização na re-gião em decorrência da carência de padresna diocese. Em Piquete, os salesianos fo-ram, por décadas, o sustentáculo da fé: aparoquia de São Miguel do Piquete, criadaem 1888, teve padre residente por apenasdois anos. Entre 1890 e 1934 – quando enfimchegou a Piquete o padre João Guimarães –,eram os filhos de Dom Bosco que ministra-vam os sacramentos. Não residiam em Pi-quete, mas se revezavam na assistência es-piritual aos paroquianos. Os piquetensesdevem também às Irmãs Salesianas a admi-nistração do Hospital da FPV, a partir de1949. Elas criaram e mantiveram até 1975 oOrfanato Maria Mazzarelo. Na década de1960 os salesianos criaram o Oratório SãoDomingos Sávio, que ainda presta relevan-tes serviços à comunidade. Nestes 200 anosde Dom Bosco há muito a se comemorar.

O ESTAFETA Piquete, agosto de 2015Página 8

Qual o maior problema do Brasil? Se fi-zéssemos essa pergunta genérica aos bra-sileiros provavelmente uma resposta seriaconstante: “A corrupção”. Alguns diriamainda mais: “A corrupção é não só o maiorproblema como é também a raiz de todos osoutros.” A fixação com o tema é tão grande,que somos levados a imaginar que o Brasilseria um paraíso de flores e anjos caso nãoexistisse o tal monstro horrendo que jogapelo ralo valiosos recursos públicos.

É fato que ninguém em sã consciência edotado de boas intenções questiona a gra-vidade do problema da corrupção. No en-tanto, sua instrumentalização para atacaropositores e maquiar as posições políticasmais profundas é tão frequente quanto aprópria prática. Taxar quem governa de cor-rupto não é inédito. Os republicanos jáapontavam a sujeira monárquica. A Primei-ra República, por sua vez, era atacada porseus conchavos obscuros. Carlos Lacerdaincendiou o governo Getúlio com ofamigerado editorial: “Somos um povo hon-rado governado por ladrões.” Jango,Fernando Henrique, Lula e Dilma. Nenhum

desses passou ou passa incólume frente àsacusações de acobertar ou liderar esquemasescusos em seus governos. Gastaríamosinfinitos papéis se fôssemos escrever so-bre todas as acusações falsas e verdadeirassobre o tema que já permearam o debatepúblico no país.

Não quero aqui, de maneira nenhuma,relativizar o problema da corrupção. Obvia-mente, não se pode delegar o poder de to-mar decisões importantes – seja no âmbitodos negócios públicos ou privados – a pes-soas que desvirtuam as finalidades coleti-vas em prol dos próprios interesses. O quebusco aqui é apontar a armadilha que guar-da o tema: a possibilidade de que reduza-mos a política a um campo binário, no qualtoda sua diversidade é apagada frente àpolarização entre honestos e malandros.

Tomemos como exemplo a atual Opera-ção Lava Jato e seu efeito frente à popula-ção. Segundo as investigações, o esquemadescoberto pode ter gerado um rombo gi-gantesco nas contas da maior empresa pú-blica do país, a Petrobrás. Razão mais doque suficiente para a mídia e parte majoritá-

ria da população legitimamente se indig-nar. O problema, no entanto, vem a seguir:fecham-se os olhos a todo o resto datemática política e passa-se a olhar para acorrupção como a causa única de todosnossos fracassos. A política econômica, porexemplo, que é orientada para, todos osdias, entregar a acionistas quantias infini-tamente superiores às perdidas nacorrupção da Petrobras, torna-se mera ques-tão de segunda ordem.

Em suma, a corrupção precisa, sim, sercombatida, mas não por moralistas de meia-tigela que marcham nas ruas enquanto so-negam impostos. São as ações das institui-ções ligadas ao Judiciário – Ministério Pú-blico, Polícia Federal e STF – juntamentecom uma profunda reforma nas regras definanciamento eleitoral que devem dar cabode tratar o tema. Quanto à política, é preci-so reconhecer sua diversidade de posições,interesses e ideologias e não deixá-la mor-rer na oposição burra entre honestos e de-sonestos. Corrupção é mais caso de polí-cia, e menos de política.

Rafael Domingues de Lima

Caso de polícia

19 de agosto: Dia Mundial da FotografiaA origem da data remete-nos à invenção

do daguerreotipo, um processo fotográfico

desenvolvido por Louis Daguerre na déca-

da de 1830 e anunciado em janeiro de 1839

pela Academia Francesa de Ciências. A 19

de agosto do mesmo ano, o governo fran-

cês considerou a invenção de Daguerre

como um presente “grátis para o mundo”.

O Dia Mundial da Fotografia é lembrado

com exposições, workshops, palestras, ma-

ratonas de fotografia. A data consiste na

celebração da arte de fotografar. Desde o

fotógrafo amador até o profissional, neste

dia o objetivo é reviver o amor pela fotogra-

fia e seu potencial de eternizar momentos,

guardar recordações, contar histórias por

meio das imagens sem palavras e também

uma forma de mostrar um modo próprio de

se ver o mundo ou, simplesmente, dar pra-

zer pela fotografia. Além de “congelar” o

momento, a fotografia é a arte da memória e

da celebração da vida. Foi a partir de sua

invenção e popularização que o mundo se

conheceu. Evoluiu com o tempo, mas se

mantém como meio de expressão que so-

breviveu ao cinema, à televisão, à imagem

digital e, mais recentemente, à internet. A

fotografia mostra-se acima de tudo; preva-

lece flexível e adaptável.

A fotografia deu origem a novos cam-

pos de experiência, penetrando cada uma

das instituições da vida moderna: jornalis-

mo, etnografia, arquitetura, publicidade,

moda, história, geografia, medicina, educa-

ção, turismo, direito, política, design e, na-

turalmente, a arte.

A fotografia nos cativa porque, mais do

que um tema, ela é um bilhete de viagem.

Fotos Arquivo Pró-Memória

Músicos em festa no Itabaquara - 1948

Os irmãos Chico Máximo e Clélia Ferreira (d),com sua tia Mariquinhas

Primeira diretoria da FPsF; aocentro, o Cel. Pederneiras